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SUMÁRIO Introdução: Um jeito diferente de

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SUMÁRIO

Introdução: Um jeito diferente deviver

Parte I: O fundamento davida crucificada

A importância da vida crucificada

O fundamento da experiênciacristã

A cruz pelo lado da ressurreição

A solidão da vida crucificada

Parte II: A dinâmica da vidacrucificada

Prosseguindo em direção à terraprometida

Um descontente com o statusquo

Rompendo com a inércia eavançando

O grande obstáculo à vidacrucificada

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Parte III: Os perigos da vidacrucificada

O preço da vida crucificada

Os véus que obscurecem a facede Deus

A estranha perspicácia do cristão

Permita que Deus seja Deus

Parte IV: As bênçãos da vidacrucificada

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A beleza das contradições

O refrigério de um avivamento

As recompensas eternas da vidacrucificada

Guias espirituais para a jornada

Conclusão: O propósito do fogodo Ourives

na vida crucificada

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UM JEITODIFERENTE DE

VIVERAlgumas datas são tão cruciais que alteram

todo o curso da História. Pena que muitas delasrepousam confortavelmente nas sombras da ob-scuridade. Uma dessas datas na vida de A. W.Tozer me desconcerta.

Conforme se conta, Tozer, pastor na época,visitava uma de suas livrarias favoritas no centrode Chicago. Enquanto vasculhava as prateleirasde livros usados tão familiares para ele, deparoucom um livro antigo que nunca vira. Comprou olivro e o levou para casa; e sua vida nunca maisfoi a mesma.

O nome do livro era Conselho espiritual, eseu autor, François Fénelon, aqueceu-lhe o cor-ação. Ainda que Tozer permitisse a outros tomaremprestados muitos livros de sua biblioteca par-ticular, ele nunca deixou que esse livro saísse deseu domínio até o dia de sua morte. Ele tanto fa-lava sobre o livro que as pessoas começaram aperguntar a respeito. Pelo que sabia, o livro es-tava esgotado e não havia outros exemplaresdisponíveis. Um homem ficou tão interessado naobra que, apesar de Tozer não lhe permitir tirá-lade sua biblioteca, autorizou que a consultasse edatilografasse capítulo por capítulo. Essa era aimportância que Tozer atribuía ao livro. Para seugrande prazer, o livro foi por fim republicadonuma edição atualizada e ampliada, com o títulode Perfeição cristã.

Quando lemos o livro de Fénelon, logo recon-hecemos um pulsar também compartilhado porTozer. Não há duas pessoas mais parecidas nocampo espiritual. De fato, a obra de Fénelon

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inspirou Tozer de tal maneira que, se você ouviros sermões dele com atenção, conseguirá captaras palavras de François Fénelon à espreita emmuitas ocasiões. Tozer, é claro, estava familiariz-ado com as obras de outros grandes escritores —A. B. Simpson, John Wesley e Andrew Murray,para citar alguns —, mas alguma coisa emFrançois Fénelon agitava as profundezas de seucoração e sua paixão por Deus.

O livro de Fénelon apresentou a Tozer todauma linhagem de "místicos" cristãos — uma pa-lavra pouco aceitável nos círculos evangélicos daépoca de Tozer (e mesmo agora) —, e ele passoua apresentar esses místicos à igreja evangélicadaquele período. Tozer estava menos interessadona literatura que na procura de Deus e, se umautor conseguia abrir seu coração para ter maisde Deus, ele estava interessado nessa pessoa. Àmedida que você ler este livro, descobrirá muitosdesses antigos santos de Deus que revolveram aimaginação de Tozer, aparecendo e

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desaparecendo, e enriquecendo a mensagem quelhe era tão importante.

Na juventude, Tozer era principalmente evan-gelista. Ainda que também fosse pastor numaigreja local, gastava boa parte do tempo percor-rendo os Estados Unidos em conferências deigrejas e em retiros. Sua mensagem na época eraevangelística. Entretanto, depois de encontrarFrançois Fénelon, sua mensagem começou amudar. Quando nos encontramos com Tozerneste livro, vemos um homem inflamado com amensagem da vida crucificada.

A VIDA CRUCIFICADA E APERFEIÇÃO CRISTÃ

O que Tozer, porém, entendia por 'Vida cru-cificada'? Este livro inteiro é uma resposta a essapergunta, mas aqui só podemos dizer que é a vidaque Cristo resgatou na cruz, redimiu do julga-mento do pecado e tornou um sacrifício digno e

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aceitável a Deus. Isso representa uma qualidadede vida que está muito acima de qualquer coisaque seja natural. É totalmente espiritual e res-ultado de uma inspiração dinâmica do alto.

Outro termo que não era comum entre osevangélicos dos dias de Tozer era "perfeição es-piritual". A expressão veio de François Fénelon erevela a paixão do coração de Tozer. Tozer foirápido em indicar que não queria nenhuma re-lação com algo que não tivesse autoridade bíblica— e também lançou fora tudo o que era extrabíblico. Entretanto, perfeição espiritual foi umtermo que Tozer descobriu ser bíblico, como es-creve Paulo em Filipenses 3.12: "Não que eu játenha obtido tudo isso ou tenha sido aper-feiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois paraisso também fui alcançado por Cristo Jesus".Essa deveria ser a grade paixão do coraçãocristão — prosseguir em direção ao que oapóstolo Paulo denominou "perfeição".

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Muitas coisas acerca da vida crucificada in-teressavam a Tozer. Era uma vida absoluta e irre-conciliavelmente incompatível com o mundo.Respirava o ar rarefeito do céu enquanto camin-hava sobre a terra. Para o cristão, significava amorte absoluta do ego e o ressurgimento deCristo em sua vida. Tozer ensinou enfaticamenteque Cristo não morreu na cruz só para salvar aspessoas do inferno; antes, morreu na cruz paraque todos possam tornar-se um com Cristo. Esseconceito foi tão importante para Tozer pessoal-mente que tudo o que ficasse entre ele e aquelaunidade com Cristo precisava ser enfrentado comcoragem e abolido a qualquer custo.

A mensagem da vida crucificada não era umconceito novo. O próprio Tozer observou que to-dos os grandes cristãos do passado escreveram dealgum modo acerca dessa ideia. Ela era o fatorunificador entre uma vasta diversidade decristãos ao longo dos séculos. O legado dos paisda Igreja, dos reformadores, dos avivalistas, dos

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místicos cristãos e dos hinistas ressoou sobre essamesma mensagem. E, ainda que possam dis-cordar em muitos pontos, nessa única área haviaentre eles uma unidade sem igual. A ênfase davida crucificada era prosseguir — sem consideraras dificuldades e apesar do custo — em direçãoao estado de perfeição espiritual.

UMA MENSAGEM DIFÍCIL

Tozer confessava com frequência que preferi-ria simples* mente falar sobre Deus o tempo todo— sobre como Deus é maravilhoso e como émaravilhoso estarmos a caminho do céu, des-frutando das bênçãos do Senhor dia após dia. Elepreferiria pregar sermões positivos desse tipo.Mas o Espírito o instou a explorar as questõesmais profundas relacionadas a Deus. A vidacristã era mais que ser simplesmente salvo dopassado e dos próprios pecados. Era mais que terum tempo feliz no caminho para o céu.

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Tozer via as igrejas evangélicas e fundament-alistas da época vendendo-se para o mundo, as-sim como as igrejas liberais haviam feito antesdelas; e isso o deixava muito perturbado.Incomodava-o ver aquelas igrejas comprometidascom os valores mundanos e escorregando para oerro sombrio do liberalismo. Ele se atormentavacom o fato de as igrejas evangélicas estarem ad-otando medidas mundanas para aumentarem aaudiência e percebia que muitos líderes estavamusando isso para se autopromoverem.

Era o retrato de uma época do que se podechamar de "credulidade barata". Simplificando, aideia era que, se você dissesse que acreditava emJesus, tudo mais estaria certo. Você não precisamudar nada, pois Deus o ama exatamente comoé. Esse tipo de mensagem deixava o dr. Tozerprofundamente indignado. E ele dava o seu mel-hor quando ficava indignado.

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Foi por esse motivo que, durante os últimosanos de sua vida, Tozer pregou e escreveu acercada importância de viver a vida crucificada. Elesentia uma urgência espiritual interior de fazersoar a trombeta conclamando a Igreja de volta àsraízes da mensagem cristã — a mensagem de"Cristo em vocês, a esperança da glória" (Colos-senses 1.27). Várias vezes, disse: "Deus não mechamou para coçar as costas das pessoas", equalquer um que o ouvisse pregando ou que lessealgum de seus editoriais saberia que isso era bemverdade. Ele não estava interessado em fazer queas pessoas se sentissem bem consigo mesmas;aliás, sua agenda era exatamente oposta. ParaTozer, não havia nada de bom nos seres hu-manos, nem mesmo nos cristãos — o único bemestava em Cristo.

O alvo de Tozer não era atacar ninguém, massempre procurava falar a verdade, conforme a re-conhecia, em amor. Como você pode imaginar,isso nem sempre lhe trazia amigos. Certa vez,

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Tozer disse ao dr. D. Martyn Lloyd-Jones que,pregando, ele se excluíra de todas as conferênciasbíblicas dos Estados Unidos. Claro que isso eraum exagero, porque ele foi requisitado para con-ferências bíblicas em todo o país até morrer. Masalguns lugares não o convidaram mais. Sem seimportar, ele permanecia firme e intransigentenessa questão por causa daquilo que entendiacomo a seriedade da condição da igrejaevangélica. Ele não se considerava chamado porDeus para alisar plumas desordenadas; pelo con-trário, seu chamado era para desordenar asplumas.

O rev. Ray McAfee, pastor assistente do dr.A. W. Tozer por muitos anos, contou-me certavez a seguinte história: Tozer estava participandode uma convenção de santidade que celebravaseu 509 aniversário. Seria o pregador principal, ehavia certo número de preliminares antes que elesubisse ao púlpito. As pessoas festejavam cort-ando pela metade a gravata dos homens, havia

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cantos improvisados nos moldes do que poder-íamos chamar de karaokê, e todos desfrutavamde um bom tempo às antigas, celebrando oaniversário. McAfee via Tozer batendo o pédireito. Quanto mais o tempo passava, mais elebatia o pé direito. McAfee sabia que Tozer estavaficando impaciente.

Quando Tozer subiu ao púlpito, suas primeir-as palavras foram: "O que aconteceu com vocês,povo da santidade?". Então os levou ao depósitode lenha espiritual para onde nunca tinham sidolevados. Nada era mais sério, para Tozer, que ascoisas de Deus. Ele tinha senso de humor, masnão considerava a reunião do povo de Deus umaocasião fútil e, sim, um tempo de culto e ador-ação a Deus. Para ele, se fosse preciso oferecerdiversão para reunir uma multidão, isso não seriacristão.

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O DESAFIO DA VIDACRUCIFICADA

Este livro é um remédio poderoso para aquiloque Tozer considerava uma doença espiritualgrave. Quanto mais grave a condição, mais radic-al o remédio; e, por esse motivo, Tozer se dis-punha a confrontar as pessoas de forma inflexívelcom a mensagem da vida crucificada.

Deve-se dizer que essa mensagem nãochegou a Tozer sem custo. Muitas vezes seus ami-gos e sua família não o compreenderam. Certavez ele escreveu um editorial intitulado: "Os san-tos andam sós", com base na própria experiência.E fácil seguir a multidão, mas aquele que se ded-ica a viver a vida crucificada sempre será dura-mente atingido pelos ventos da oposição e dosmal-entendidos.

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Assim, viver a vida crucificada não é umaproposição simples — aliás, você jamais enfrent-ará desafio maior. O preço certamente é alto. Atrilha é difícil. O caminho é, com frequência,solitário. Mas as recompensas de conhecer Deusnuma comunhão íntima compensarão a jornada.

Rev. James L. Snyder

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PARTE I

O FUNDAMENTO DAVIDA CRUCIFICADA

A IMPORTÂNCIADA VIDA

CRUCIFICADAPois sabemos que o nosso velho homem foi cruci-ficado com ele, para que o corpo do pecado seja

destruído, e não mais sejamos escravos dopecado.

ROMANOS 6.6

Nada pesa mais em meu coração que o temadeste estudo. Se não houvesse um ensino bíblicotão crucial, seria possível ignorar as controvérsiase seguir outro rumo. Entretanto, esse não é ocaso. O tema da vida crucificada é vitalmente im-portante para a saúde e o crescimento da igreja.

A igreja não é algo abstrato e impessoal flutu-ando no espaço. Pelo contrário, é composta por

indivíduos que confiaram em Jesus Cristo comoseu Senhor e Salvador. A saúde da igreja é direta-mente proporcional à saúde de cada indivíduocristão. Para a igreja crescer e ser saudável, os in-divíduos cristãos que formam a igreja precisamcrescer espiritualmente. Só uma igreja dinamica-mente saudável pode ter a esperança de cumprir acomissão de Cristo de ir pelo mundo todo epregar o evangelho a todas as pessoas (cf. Mar-cos 16.15).

E preciso entender uma coisa importante.Nem todos os cristãos são iguais. Jesus disse emMateus 13.23:

"E quanto à semente que caiu em boa terra, esse éo caso daquele que ouve a palavra e a entende, edá uma colheita de cem, sessenta e trinta porum".

Entre nós, muitos estão satisfeitos em seremcristãos de índice trinta. Mas o desejo de nosso

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Senhor é que haja esforço para nos tornarmoscristãos de índice cem. A pergunta, portanto, é:Como avançaremos para esse estágio?

Esse é o foco deste livro. Penso que a minhatarefa é instigar os cristãos de índice trinta e ses-senta a prosseguirem até a máxima experiênciacristã: serem cristãos de índice cem. O caminhopara isso é viver a vida crucificada. Não seria in-correto dizer que a maior parte da literatura cristãde hoje tem em vista os cristãos de índice trinta.Alguns podem arriscar-se, dirigindo-se aoscristãos de índice sessenta, mas é seguro dizerque poucos se concentram nos cristãos de índicecem. Este livro é dedicado exatamente a isso.Simplesmente o chamo de A vida crucificada.

Nesse caso, tenho a incumbência de definiralguns elementos que usarei ao longo de todo oestudo. Se eu usar um termo e o leitor o com-preender de um modo diferente daquele que eu oestiver usando, rompe-se a comunicação. Assim,

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permita-me definir alguns dos conceitos básicosque serão desenvolvidos em todo este estudo.

A VIDA CRUCIFICADA

Primeiro preciso estabelecer o que querodizer quando uso o termo "a vida crucificada".Uma variedade de expressões tem sidoempregada desde os dias apostólicos para definiro assunto — como "a vida mais profunda", "avida superior", "a vida inteiramente santificada","a vida cheia do espírito", "a vida cristã vitori-osa", "a vida transformada". Mas, depois de ex-aminar parte da literatura produzida sobre o as-sunto, nada me parece mais profundo, elevado,santo ou mais cheio do Espírito que o cristian-ismo comum. Para alguns, a expressão pareceuma simples frase de efeito.

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Inconsistência estranha

O que entendo por "vida crucificada" é umavida inteiramente entregue ao Senhor, em abso-luta humildade e obediência: um sacrifícioagradável ao Senhor A palavra "crucificada"leva-nos de volta ao que Cristo fez na cruz. Oversículo-chave para isso é Gálatas 2.20:

Fui crucificado com Cristo. Assim, já não euquem vive, mas Cristo vive em mim. A vida queagora vivo no corpo, vivo-a na fé no filho deDeus, que me amou e se entregou por mim.

Do ponto de vista natural, a vida crucificada écarregada de contradições. A maior contradição,claro, é o termo em si: "vida crucificada". Se umavida estiver realmente crucificada, estará morta,não viva. Mas como uma pessoa pode estar mortae viva ao mesmo tempo? Estar morto, mas aindavivo, é uma das inconsistências estranhas da vida

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estabelecida para nós pela morte de Jesus nacruz. Mas, ah, como são benditas essas incon-sistências aparentes!

Prova bíblica

Este estudo não defende nenhum tipo de ex-periência cristã que não esteja estritamentebaseada nos ensinos claros da Escritura. Tudo oque é ensinado neste estudo deve enquadrar-se naPalavra de Deus inteira. Qualquer um consegueprovar qualquer coisa juntando textos isolados.Qual é o ensino da Palavra de Deus toda? Essa éa questão que precisa ser considerada. Muito docristianismo contemporâneo é formado de em-préstimos das filosofias do mundo e até de outrasreligiões — frases e lemas que à primeira vistaparecem magníficos, mas não têm raízes nasEscrituras ou principalmente reforçam a autoim-agem de alguém.

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Qualquer que seja o ensino ou o professor,precisamos exigir rigorosamente provas bíblicas.Se não for possível apresentar essas provas, o en-sino deve ser rejeitado, de imediato. Isso podesoar legalista, mas é um dos absolutos que fazparte da experiência cristã. O cristão vive e morrepelo Livro.

Não estou defendendo neste estudo nada quenão possa ser provado pelas Escrituras, e nãoestou referindo-me a só um versículo aqui e ali,mas a todo o conselho de Deus. Cremos na Bíbliainteira, não em trechos e partes. A Bíblia todasustenta a ideia de progredir rumo à perfeição es-piritual na vida cristã. A perfeição espiritual é oque o apóstolo Paulo desejava e anunciava:

Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenhasido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo,pois para isso também fui alcançado por CristoJesus (Filipenses 3.12).

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A vida crucificada é uma vida absolutamentededicada a seguir Cristo Jesus. A ser mais pare-cido com ele. A pensar como ele. A agir comoele. A amar como ele. Toda essência da perfeiçãoespiritual está inteiramente relacionada a JesusCristo. Não a regras e regulamentos. Não ao quevestimos ou ao que fazemos ou deixamos defazer. Não devemos parecer iguais uns aos out-ros; devemos parecer com Cristo. Todos nóspodemos perder-nos nos detalhes da religião e ig-norar a alegria gloriosa de seguir Cristo. Qu-alquer coisa que nos atrapalhe na nossa jornadadeve ser tratada com um golpe mortal.

OS MÍSTICOS CRISTÃOS

Ao longo de todo este estudo, haverá citaçõesde alguns dos grandes místicos cristãos, remont-ando até os dias dos apóstolos. É importantedefinir o que entendo por "místico". Esse termotem sido muito mal empregado e compreendido.Talvez fosse bom adotar outro termo, mas

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sempre que algo recebe outro nome perde umpouco de seu sentido original. Assim, sem nen-hum remorso ou hesitação, vou manter-me fiel aesse velho nome.

Descobri em todo o meu estudo que esses an-tigos santos de Deus, "os místicos", realmente oconheciam. "Místico", portanto, refere-se a al-guém que mantém um relacionamento íntimo edireto com Deus. Em minha procura de Deus,quero saber o que eles conheciam acerca do Sen-hor e como vieram a conhecê-lo em bases tão ín-timas. (Isso não significa que concordo com tudoo que escreveram, da mesma forma que não con-cordaria com tudo o que qualquer outra pessoaviesse a escrever.)

Lá na fazenda, na Pensilvânia, tínhamos umavelha macieira. Era uma árvore torta, de aspectodesolador. Se a visse com displicência, a pessoaseria tentada a desconsiderá-la. Entretanto, apesardo aspecto terrível, a árvore produzia algumas

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das maçãs mais deliciosas que já comi. Eu tol-erava os galhos retorcidos para me deliciar comas frutas.

Sinto o mesmo em relação a alguns dessesgrandes antigos místicos da Igreja. Eles podemparecer retorcidos e austeros, mas produziramfrutos espirituais maravilhosos. O fruto é o querealmente importa, não sua aparência. Não im-porta se um homem veste uma túnica ou um ter-no; o homem é o que realmente conta. Tenho dis-posição para desconsiderar muita coisa se o autorconhece Deus de maneira genuína e "não deouvir falar", conforme costumava dizer ThomasCarlyle. Muitíssimos só repetem o que ouviramde alguém que ouviu de outro alguém. É res-taurador ouvir uma voz original. Cada um dessesmísticos tinha essa voz original.

A Igreja sempre teve esse grupo de pessoas— homens e mulheres — que tinham tamanhasede de Deus e tal paixão para conhecê-lo que

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tudo o mais ficava em segundo plano. Muitosdeles foram perseguidos e atormentados pelaigreja estabelecida. Alguns foram até martiriza-dos por causa dessa incontrolável paixão porDeus. Muitos viveram antes da Reforma e nãotinham ideia do que significava ser um protest-ante ou mesmo um evangélico. Geralmente, elesnão estavam interessados em rótulos. Só estavaminteressados em buscar Deus.

Esses homens e mulheres não eram protest-antes, católicos, fundamentalistas ou evangélicos;eram simplesmente cristãos em fervorosa buscapor Deus. Não agitavam bandeiras, exceto Javé-Nissi. Não tinham uma honra a preservar à partede Jesus Cristo. Testificavam de uma vida infla-mada de amor e adoração a Deus que nada podeextinguir. Nem todos os anos pós a morte delesforam capazes de apagar seu amor fervoroso aDeus.

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Felizmente para nós, parte da grande liter-atura devocional da Igreja pela qual esses ho-mens e mulheres deram a vida para escrever foipreservada. Ao ler essas grandes obras, somos re-tirados do nosso tempo e transportados para amaravilhosa mística da busca por Deus. É comose o tempo não tivesse passado entre o autor e oleitor. É difícil ler durante muito tempo esse ma-terial e não sentir a paixão pulsante do autor.Isso, na minha opinião, é o que está faltandoentre os cristãos hoje, especialmente na igrejaevangélica.

Pegue qualquer hinário, especialmente umantigo, e você encontrará muitos hinos dosgrandes místicos cristãos. O empenho deles àprocura de Deus só se comparava a seu desejo departilhar o objeto de seu amor com todos quantosquisessem ouvir. Quem sabe uma de suascitações ao longo deste estudo acenda um fogoem seu coração.

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O HINÁRIO CRISTÃO

A última coisa que desejo definir é o "hináriocristão". O meu coração sofre quando o vê cadavez mais negligenciado pelas congregações. Ohinário cristão é um dos maiores depositários davida e da experiência cristã. Os homens e as mul-heres por trás desses hinos escreveram com baseem experiências espirituais profundas. A poéticade alguns hinos pode não ser perfeita. Aliás, al-guns podem ser bem difíceis de cantar. Mas deix-ar de lado o hinário é renunciar a um dos maiorestesouros da Igreja. O hinário nos liga à nossa her-ança cristã, um legado que não deve ser negado aesta geração de cristãos. Se queremos avançarpara nos tornar cristãos de índice cem, para al-cançar a perfeição cristã e a vida crucificada, pre-cisamos dessa ligação vital com a igreja histórica.

Se você mostrar a condição da sua Bíblia e doseu hinário, poderei predizer corretamente a con-dição da sua alma. A alma precisa ser nutrida e

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cultivada, e nada é melhor para isso que o hináriocristão. Não consigo imaginar um cristão que nãoinveste um tempo de qualidade no hinário. Difi-cilmente deixo passar uma manhã sem que meajoelhe com a Bíblia aberta e um hinário, cant-ando confortavelmente, e fora do tom, os grandeshinos da Igreja.

Com frequência aconselho jovens cristãos,depois de terem a própria Bíblia e se disciplinar-em na leitura bíblica, a obter um hinário. Se umjovem cristão gastar um ano lendo os hinos deIsaac Watts e neles meditando, terá uma form-ação acadêmica melhor que quatro anos no insti-tuto bíblico e quatro anos no seminário. IsaacWatts e outros como ele conseguiram incutir ateologia em seus hinos. Esses autores de hinos —tanto homens como mulheres — estabeleceram ateologia cantada da geração deles. E a teologia docoração brota em adoração e louvor melodiosos.

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À PROCURA DA VIDACRUCIFICADA

Viver a vida crucificada não é uma jornadapara os fracos de coração. A jornada é dura e re-pleta de perigos e dificuldades, e não termina atévermos Cristo. Mas, ainda que a jornada possaser difícil, o resultado de ver Cristo face a facecompensa tudo.

Face a faceCarrie E. Breck (1855-1934)

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Face a face com Cristo, meu Salvador,Face a face — como será Quando em êxtase

contemplá-lo,Jesus Cristo, que por mim morreu?

Face a face irei contemplá-lo.

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Muito além do céu estrelado;Face a face em toda a sua glória,

Logo, logo o verei!Vejo-o agora indistinto,

Através de um véu escuro;Mas vem um bendito dia,

Em que sua glória será vista.Que alegria em sua presença,

Quando forem banidos a dor e o pesar;Quando os caminhos tortuosos forem retificados,

E as coisas obscuras, esclarecidas!Face a face! Ah, momento bendito!

Face a face para ver e conhecer;Face a face com meu Redentor,Jesus Cristo, que tanto me ama.

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O FUNDAMENTODA EXPERIÊNCIA

CRISTÃHá muito tempo Deus falou muitas vezes e de

várias maneiras aos nossos antepassados pormeio dos profetas mas nestes últimos dias falou-

nos por meio do Filho, a quem constituiu her-deiro de todas as coisas e por meio de quem fez o

universo.HEBREUS 1.1,2

Um velho provérbio chinês diz que a jornadade mil milhas começa com o primeiro passo. Seesse primeiro passo não é dado, realmente nadamais importa. Se você não está na jornada, nãoimporta falar sobre ela. Muitos cristãos falamsobre viver a vida crucificada, mas nada em sua

vida indica que algum dia eles iniciaram ajornada.

Entre os cristãos de índice trinta, há muitaalegria por terem sido salvos, mas nenhuma ex-pectativa de continuarem na jornada rumo à per-feição espiritual. Eles ficam tão felizes por nãoserem como eram que não conseguem ver o queDeus deseja que sejam.

O cristianismo tem um lado glorioso evitorioso que poucos cristãos experimentam. Setenho alguma coisa a dizer à igreja de Cristo epara os evangélicos no mundo, é nessa área davida cristã vitoriosa, neste viver a vidacrucificada.

A nossa fraqueza é que não prosseguimospara conhecer Cristo em intimidade e familiarid-ade enriquecidas; e, pior, nem estamos falandosobre fazer isso. Raramente ouvimos a seu re-speito, e esse tema não entra nas nossas revistas,

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nos nossos livros ou em qualquer tipo de min-istério midiático, e também não se encontra nasnossas igrejas. Estou falando desse anseio, dessedesejo ardente de conhecer Deus em medidacrescente. Esse anseio deveria empurrar-nos adi-ante, em direção ã perfeição espiritual.

Creio que dois motivos básicos explicamisso. Um está relacionado ao ensino da Bíbliasobre a experiência cristã mais profunda: amaioria das igrejas nunca passa do ensino básicode como tornar-se cristão. Mesmo aí, o ensino ébem diluído e em geral concentra-se no fato deque um dia morreremos e iremos para o céu. Ooutro motivo está ligado ao custo. Muitos não sedispõem a pagar o preço associado à vida cristãvitoriosa. Erroneamente, aprendem e creem que avida cristã é uma viagem gratuita que por fimacaba no céu. Afinal, Jesus pagou o preçointegralmente.

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Ao longo de todo este estudo, quero tratardesses dois fatores.

O QUE É SER CRISTÃO?

O primeiro fator a tratar é simplesmente: oque é ser cristão?

Todos os tipos de definições vagam em tornodo conceito, mas só as que têm raízes nas Escrit-uras são válidas. Quantos pensam que sãocristãos porque alguém lhes disse que são? Ima-gine seguir pela vida acreditando que você écristão porque alguém lhe disse que você era; en-tão, você morre e descobre que não era.

De modo bem simplificado, o cristão é aqueleque mantém um relacionamento correto com Je-sus Cristo. O cristão desfruta de um tipo de uniãocom Jesus Cristo que supera todos os outrosrelacionamentos.

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Esta é a geração das perguntas. Todos pare-cem ter as próprias perguntas. As perguntas sãoimportantes, porém é mais importante fazer asperguntas certas. Um advogado bem- -sucedidoganha ou perde a causa simplesmente pelas per-guntas que faz ou deixa de fazer. As perguntasnão têm fim, e podemos ficar atolados tentandoresponder a cada mínima pergunta, encontrar asaída do labirinto de perguntas hoje é uma rotaquase impossível.

Creio que tudo isso pode ser reduzido a umaúnica pergunta importante que, respondida cor-retamente, responderá a todas as outras perguntase as tornará irrelevantes.

A pergunta importante

Nunca foi intenção de Pedro falar a respeitodo exemplo heroico do nosso Senhor. Os ensinosde Cristo eram nobres, e vale imitar seu exemplo.O Novo Testamento concentra a ênfase em Cristocrucificado e ressuscitado e o apresenta como

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último objeto de fé alternativo. A pergunta im-portante, portanto, é não apenas "O que é sercristão?", mas "O que você pensa de Cristo?".

A igreja evangélica de hoje é alvoroçada porperguntas. Uma pessoa pode gastar todo o seutempo tentando responder a elas. "O que vocêpensa da Bíblia?" "O que você pensa da igreja?"E há outras que poderíamos anotar, mas todaselas estão ultrapassadas.

Por exemplo, a pergunta "O que você pensada Bíblia?" é ultrapassada e não faz sentidoporque a Bíblia foi confirmada pela ressurreiçãode Jesus Cristo. Jesus Cristo endossou a Bíbliapor inteiro.

A pergunta "O que você pensa da igreja?"também não faz sentido. Ninguém consegue per-guntar isso e ser realmente sincero a respeitoporque Cristo disse: "Sobre esta pedra edifica- rei

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a minha igreja, e as portas do Hades não poderãovencê-la" (Mateus 16.18).

Essas perguntas, e muitas outras semelhantes,são inadequadas. Assim, a pergunta diante denós, e a pergunta que realmente importa, ésimplesmente: O que você pensa de Cristo? H oque você fará com Cristo? Cada pergunta queporventura venhamos a propor reduz-se à questãode Jesus Cristo.

Todos precisamos responder a essa perguntaquanto ao que faremos acerca desse homem queDeus ressuscitou dentre os mortos. Cristo é a úl-tima palavra de Deus à humanidade. Está escrito:

Há muito tempo Deus falou muitas vezes e devárias maneiras aos nossos antepassados pormeio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu her-deiro de todas as coisas e por meio de quem fez ouniverso (Hebreus 1.1,2).

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Também está escrito: "Aquele que é a Palavratornou-se / carne e viveu entre nós" (João 1.14).Quando a Palavra se tornou carne, Deus falou.Ele falou sua Palavra em carne, e o Cristo /encarnado é essa Palavra. Isso resume tudo o queDeus um dia diria aos homens. Nenhum desen-volvimento na psicologia humana requer queDeus corrija ou edite o que ele já disse em l JesusCristo.

A nossa pergunta, pois, é acerca do próprioCristo; e todas as outras questões religiosas se re-duzem a: "O que você pensa de Cristo e o quevocê fará com ele?". A menos que isso seja ple-namente respondido, nada mais importa de fato.

Alguns alegam ter problemas com isso. Narealidade, estão apaixonados por si mesmos e ce-gos pelo egoísmo e amor-próprio.Respeitosamente, reclamo o direito de duvidar dasanidade dos que agora dizem: "Tenho problemascom a Bíblia. Tenho problemas com a igreja.

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Tenho problemas com a moralidade". Todosesses problemas reduzem-se a um. Deus falousua Palavra eterna em Cristo Jesus, o Senhor; as-sim, Cristo resolveu cada questão.

A pergunta dos que honestamente buscamprovas do cristianismo é falsa. Deus ressuscit-ando seu Filho dentre os mortos é única prova, eessa prova é infinitamente capaz de aquietar amente de qualquer um interessado e sincero.Assim, a pergunta não é se existem provas docristianismo; porque não estamos tratando docristianismo. Estamos tratando de Cristo.Estamos tratando de um homem que se tornoucarne, andou entre os homens, deu sua vida pelohomem e, para completar, ressuscitou dentre osmortos no terceiro dia. A pergunta não é o quevocê pensa do cristianismo, mas o que vocêpensa de Cristo e o que fará com ele.

O homem sincero também não pergunta:"Quem é Cristo e o que ele diz ser?". Alguns

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afirmam terem dúvidas e questionam se Cristo équem e aquilo que ele afirmou acerca de simesmo. Aqui não deve haver dúvida nenhuma,porque as Escrituras afirmam que Jesus foiaprovado por Deus entre os homens (v. Atos2.22). Grandes volumes de livros, quepreencheriam qualquer edifício do subsolo aosótão, foram escritos tentando mostrar que Jesusé o que ele afirmava ser. O coração do adoradorsabe que ele é o que afirmava ser, porque Deusenviou o Espírito Santo para trazer a confirmaçãoà consciência humana. Isso não diz respeito aprovas. A História não pode oferecer provas mel-hores que o fato de Deus ter ressuscitado Cristo eo colocado à sua direita.

Os ensinos morais de Jesus

A pergunta do homem sincero não é "Comocomparar os ensinos de Jesus com os dos filóso-fos morais e das religiões do mundo?". Algunsapresentam essa questão com um ar de pretensaauto importância. Essa pergunta está resolvida

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para sempre porque os ensinos morais de Jesuspermanecem ou caem com ele. Se alguém dis-cordar de Cristo, está liquidado no que diz re-speito a ser cristão. Ninguém pode discordar doSenhor; ninguém pode questionar a verdade doVerdadeiro; ninguém ousa levantar a questão deJesus ser ou não o Senhor, ou de seus ensinosserem ou não sadios, ou de ele ser ou nãoaprovado por Deus. Seus ensinos morais per-manecem ou caem com ele. O próprio JesusCristo, nosso Senhor, é o objeto da nossaatenção, não os ensinos dele.

Os ensinos de Jesus nos são caros e por meiodeles podemos guardar seus mandamentos e pro-var que o amamos. É a pessoa de Jesus que tornaválidos seus ensinos. Deus colocou a prova numnível espiritual. Ela não repousa na razão, mas naconsciência. Se a ressurreição de Cristo repousas-se na razão só as pessoas altamente racionais po-deriam ser convertidas. Se a ressurreição deCristo repousasse na capacidade humana de

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juntar e pesar provas, só o homem treinado parajuntar e avaliar provas poderia crer, mas o in-gênuo jamais poderia crer. O homem que tra-balha com as mãos e não tem muitos pensamen-tos profundos continuaria inconverso. ComCristo foi exatamente o contrário. As pessoascomuns o ouviam com satisfação.

Um coração aflito

O apelo de Jesus Cristo sempre foi ao homemsimples perturbado em sua consciência. Ele traziauma consciência pesada e lacerada a Cristo. Aconsciência sabia que Cristo havia ressuscitado eaparecido a Pedro e a 500 irmãos de uma só vez,e que Deus o havia aprovado, confirmado, valid-ado, marcado, selado o provado como seu Cristo.

Todos os tipos de pessoas se convertem, nãopor terem a habilidade de pesar provas. Se a sal-vação dependesse da minha capacidade de saberse algo é verdadeiro ou não, ou da minha capa-cidade de saber, como uma corte legal, se algo

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testifica ou não a verdade, então, claro, só ad-vogados e pessoas treinadas na área jurídica teri-am alguma possibilidade de salvação. Mas essaverdade de Cristo ressuscitando dentre os mortossobrepuja todo raciocínio humano, eleva-seacima dele e segue direto para a consciência decada pessoa, de modo que, assim que umamensagem é pregada, todos podem saber de ime-diato. Eles não precisam perguntar. Aliás, é umaafronta perguntar. Jesus Cristo ressuscitou eapareceu aos discípulos. Deus confirmou sua res-surreição, enviou o Espírito Santo e agora opróprio Deus Altíssimo, criador do céu e da terra,já anunciou o veredito. Deus enviou seu Espíritopara trazer o veredito à consciência do homem.

De acordo com o testemunho em Atos 2.37, oresultado da pregação de Pedro foi que oshomens "compungiram-se em seu coração" (Al-meida Revista e Corrigida). A palavra "compun-gir" aqui significa simplesmente "levemente per-furado". Levemente perfurado, mas também tão

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fundo que a palavra grega original trazia um pre-fixo restritivo e intensivo. Quando as Escriturasdizem que perfuraram o lado de Jesus com alança e descobriram que ele já estava morto (v.João 19.34), o termo "perfurar" é traduzido deuma única palavra. A palavra original empregadaem Atos traz um prefixo restritivo e intensivo, in-dicando que as palavras de Pedro entraram maisfundo no coração dos ouvintes que a lança dosoldado no lado de Jesus. Assim, o Espírito Santolevou a ponta da lança da verdade ao coração daspessoas, e elas clamaram: "Que faremos?" (Atos2.37). Pedro teve uma resposta imediata para eles(v. 38):

"Arrependam-se, e cada um de vocês seja batiz-ado em nome de Jesus Cristo, para perdão dosseus pecados, e receberão o dom do EspíritoSanto".

Pedro estava dizendo: "Vocês devem crer noSenhor Jesus Cristo e depois provar que creram

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identificando-se com ele no batismo. Vocêsdevem identificar-se com ele no batismo emostrar para o mundo que creem nesse Únicoque foi ressuscitado dentre os mortos". As pess-oas receberam sua palavra com alegria e forambatizadas; e naquele mesmo dia cerca de 3 milforam acrescidos à igreja (v. Atos 2.41). Fatos erazão não conseguem esse efeito. Eu poderia dis-cutir com alguém, argumentar com ele, pregarpara ele e, se fosse capaz de fazê-lo com aoratória de Cícero ou Demóstenes, quando ter-minasse tudo, só poderia convencer a mente dele.

A nossa consciência pode ser despertada pelapresença de Jesus que saiu do túmulo. Alguns fo-ram levados a acreditar que foi a vida de Jesusque nos salvou. Não, ele teve de morrer. Algunsdizem que na morte de Jesus fomos salvos. Não,ele precisava ressuscitar. Todos os três atos pre-cisavam estar presentes antes que pudéssemosrealmente dizer que temos um Salvador em quemconfiamos. Ele precisou viver entre os homens,

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santo e inocente, sem manchas nem defeitos.Teve de morrer pelos homens e depois ressuscitarno terceiro dia, de acordo com as Escrituras. Elerealizou os três. O que o Espírito de Deus leva aocoração, o Espírito Santo crava na nossa con-sciência, e não conseguimos fugir até fazermosalguma coisa a respeito de Jesus.

QUAL É O PREÇO?

O segundo fator a tratar é o preço da vida cru-cificada. Sim, Jesus pagou pela nossa salvação,mas ainda há um preço que cada um deve pagar.A vida cristã não é uma viagem grátis.

O "fazer" como condição

Que faremos? Pedro nunca teve medo da pa-lavra "fazer". Alguns nos círculos evangélicos atemem. Simplesmente inferem que é uma palavrainadequada. Mas Pedro não a temia, porque nãose trata do "fazer" do mérito — é o "fazer" da

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condição. O que devo fazer para que possa rece-ber os benefícios do Senhor Jesus Cristo naminha vida? Pedro disse: "Creia no Senhor JesusCristo e identifique-se com ele pelo batismo".

Isso é o que devemos fazer. Esse é o signific-ado da Páscoa, e dele você não consegue fugir.Podemos simplesmente celebrá-la uma vez porano, mas ela nos ronda o ano inteiro; e, se naprovidência de Deus você vier a morrer este ano,ela vai rondá-lo até a sepultura e por toda a etern-idade. Pois Deus deu seu filho, Jesus Cristo, aomundo e disse: "Creiam no meu Filho":

"[...] para que todo o que nele crer não pereça[...) mas quem não crê já está condenado, por nãocrer no nome do Filho Unigênito de Deus" (João3.16-18).

Esse é o "fazer" da condição. Se Cristo estávivo, você precisa fazer algo em relação a ele. SeCristo está vivo, ele ficará em sua consciência até

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que você faça algo a respeito. E a prova de queele está vivo é a descida do Espírito Santo paralevar as provas diretamente à consciência dohomem.

Uma consciência cravada

Graças a Deus, Cristo vive. Graças a Deus, aluta acabou. Graças a Deus, a batalha foi ganha ea vitória da vida é nossa. No entanto, até vocêfazer algo, isso permanece na sua consciência eali permanecerá até se passarem os séculos. Eleestá na consciência de milhões que nada fazem arespeito e tentam viver uma vida crucificada semencará-la.

Os outros podem tentar, mas eu não consigo.Cristo morreu por mim. Ele levou os meus peca-dos. Deus o ressuscitou dentre os mortos e envi-ou o Espírito Santo para dizer: "Este é o meuFilho [...] Ouçam-no!" (Mateus 17.5).

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Assim, preciso escutar, ouvir, identificar, ad-mitir, seguir, devotar-me, dedicar-me. Precisoseguir o Cordeiro por onde ele for. Ele fica naminha consciência até eu fazer alguma coisa. Aminha consciência está cravada no fato de que elese levantou em triunfo na ressurreição e na con-firmação da graça salvadora para toda a raçahumana.

O cristianismo repousa sobre um funda-mento: Jesus Cristo. Antes que alguém possacompreender a profundidade da experiênciacristã e a dinâmica da vida crucificada, é precisoestabelecer esse fundamento. Nenhum prédiopode exceder a capacidade de seus alicerces.Quanto mais importante o prédio, mais import-antes seus fundamentos.

A pergunta correta a fazer é simplesmente:"Quem é Jesus Cristo?". E logo depois: "O quefarei com ele?".

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Que farás com Jesus?A. B. Simpson (1843-1919)

___________________________________Jesus está em pé no salão de Pilatos,

Sem amigos, abandonado, traído por todos;Ouçam!

O que significava o súbito chamado? Que faráscom Jesus?

Que farás com Jesus? Neutro não podes ser;Um dia teu coração perguntará: "Que fará Ele

comigo?".Jesus está em pé quieto, sendo julgado,

Podes ser falso com ele, se quiseres,Podes ser fiel para o bem e para o mal: Que farás

com Jesus?Vais evitá-lo como Pilatos? Ou vais escolhê-lo,

haja o que houver?E em vão que te esforças para dele esconder-te:

Que farás com Jesus?Irás, como Pedro, teu Senhor negar?

Ou desdenharás fugir de seus inimigos,

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Com a ousadia de por Jesus viver ou morrer?Que farás com Jesus?

"Jesus, hoje te dou meu coração!Jesus, te seguirei por onde fores,

Grato te obedecerei!", dirás: "Isso farei comJesus!".

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A CRUZ PELOLADO DA

RESSURREIÇÃOPortanto, já que vocês ressuscitaram com

Cristo, procurem as coisas que são do alto, ondeCristo está assentado à direita de Deus. Manten-ham o pensamento nas coisas do alto, e não nascoisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a

sua vida está escondida com Cristo em Deus.COLOSSENSES 3.1 -3

O ponto de partida da nossa jornada é con-hecer quem realmente é Jesus Cristo. É nesseponto que estabelecemos a nossa fé como funda-mento para a Jerusalém celestial. Nosso alvomaior é ver Cristo face a face. Assim como emtodos os outros tipos de jornada, a jornada davida crucificada possui muitos obstáculos. Se nos

apoiarmos na nossa própria força, falharemos.Entretanto, há em Jesus Cristo a força que fazque a jornada crista seja bem-sucedida.

O sucesso na vida cristã não é automático. Aalma precisa ser cultivada como um jardim, e avontade precisa ser santificada e feita cada vezmais cristã. Os tesouros celestiais precisam serbuscados, e nós precisamos buscar as coisas doalto e morri ficar as coisas de baixo. Isso talveznão esteja escrito nos anais das igrejasevangélicas modernas, mas está escrito no NovoTestamento.

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São muitos os que, satisfeitos com a situação,nunca se empenham em serem cristãos de índicecem. Satisfeitos em apenas "ser", muitos nãochegam ao "fazer". O nosso objetivo é concluir acorrida. Muitos iniciam, mas poucos cruzam alinha de chegada. Qual o segredo para avançar?Onde encontrar a força para suportar a corrida atéo fim?

A RAZÃO DE TUDO

O triunfo de Cristo sobre a morte, o funda-mento e a fonte da nossa fé, significava tudo paraos primeiros cristãos enlevados. A ressurreiçãode Cristo foi primeiro uma coisa admirável, de-pois se tornou um milagre feliz e então uma con-vicção radiante sustentada por muitas provas in-falíveis, testemunhada pelo Espírito Santo. Issopara os primeiros cristãos tornou-se a razão detudo.

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O grito de guerra daqueles primeiros cristãosera "Ele ressuscitou", e esse grito se tornou paraeles coragem absoluta. Nos primeiros duzentosanos, centenas de milhares de cristãos morreramcomo mártires. Para aqueles primeiros cristãos, aPáscoa não era um feriado, nem mesmo um diasanto. Não era apenas uma data comemorativa.Era um fato consumado que vivia com eles o anointeiro e se tornara a razão para sua condutadiária. "Ele vive", diziam, "e nós vivemos. Eletriunfou, e nele triunfamos. Ele está conosco enos conduz, e nós o seguimos".

Eles se voltaram para uma vida totalmentenova porque Cristo havia ressuscitado. Não cel-ebravam a ressurreição de Cristo dentre os mor-tos e então voltavam para a vida cotidiana, esper-ando outro ano para se comprometerem nova-mente. Viviam pelo fato de Cristo ter ressuscitadodentre os mortos e de eles terem sido ressuscita-dos com ele.

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"Portanto, já que vocês ressuscitaram comCristo..." Não se trata de uma incerteza. O sen-tido é "vocês já foram ressuscitados com Cristo".Paulo declarou em Romanos 6.4, Efésios 2.6,7 eoutros trechos que, quando Cristo ressuscitoudentre os mortos, seu povo ressuscitou com ele.A mortalidade ressuscitou com ele. A espiritual-idade ressuscitou com ele. E essa ressurreição erae é um fato consumado.

OS TESOUROS DO CÉU

O que Paulo quer dizer quando fala das"coisas que são do alto"? Não aponta para al-guma generalização abrangente, como pode pare-cer a princípio. Essas coisas podem ser identifica-das. Podemos traçar uma linha no meio de umapágina e posicionar no lado esquerdo as coisasque são da terra e, no lado direito, as coisas quesão do céu. As coisas terrenas pertencem i\ visão,à razão e aos sentidos. As coisas celestiais per-tencem à fé, ao crédito e à confiança em Deus.

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Do lado esquerdo, posicionamos os prazeresda terra e, no lado direito, o prazer no Senhor. Àesquerda, posicionamos os tesouros da terra; àdireita, os tesouros nos céus, "onde a traça e aferrugem não destroem, e onde os ladrões não ar-rombam nem furtam" (Mateus 6.20). À esquerda,posicionamos a reputação entre os homens e onosso desejo de agradá-los; à direita, o nossodesejo de agradar a Deus. A esquerda, posi-cionamos uma rica moradia; à direita, a mansãolá em cima. À esquerda, posicionamos o desejode andar com a melhor companhia aqui na terra;à direita, o desejo de andar com Deus aqui naterra. A esquerda, posicionamos a filosofia hu-mana; à direita, as revelações de Deus. À es-querda, cultivar a carne; a direita, viver para oEspírito. À esquerda, viver por um tempo; àdireita, viver por toda a eternidade.

Em contraste, vemos quão diferentes somoscomo cristãos. Somos muito diferentes domundo, completamente diferentes. Passe os olhos

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pelo lado esquerdo, e você terá a visão, a razão eos sentidos; eles lhe dão os prazeres terrenos queo fazem desejar os tesouros terrenos. Eles queremque você busque uma boa reputação entre os ho-mens e uma rica morada aqui. Eles o fazem quer-er andar na melhor companhia e seguir a filosofiahumana.

As coisas que são de Deus formam a nossa fé,o crédito e a confiança em Deus e nos fazem terprazer no Senhor e valorizar os tesouros que sãode cima. Elas querem que fiquemos no alto comDeus numa mansão celestial, que andemos comDeus aqui embaixo e sigamos a revelação divina,vivendo para a alma e para a eternidade.

UMA IGREJA DIFERENTE DOMUNDO

Paulo escreve aos cristãos para tratar de umgrande erro que sempre cometemos. Devíamossaber disso, mas sempre estamos confundindo o

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mundo com a igreja e tentando conseguir que omundo faça o que nós, cristãos, temos di-ficuldade de fazer. Estamos sempre pregando ser-mões, escrevendo artigos e cantando hinos, tent-ando equiparar o nosso país e a civilização mod-erna — ou qualquer civilização — com o cristi-anismo. Isso não é possível.

A Igreja cristã é algo à parte. Não é negranem branca, não é vermelha nem amarela. AIgreja cristã não é para canadenses ou amer-icanos, alemães, britânicos ou japoneses. A Igrejacristã é uma nova criação nascida do EspíritoSanto, daquilo que saiu do lado ferido de Cristo,e é uma raça totalmente distinta. É um povo queestá acima da raça presente, e devemos ser difer-entes do mundo porque fomos ressuscitados comCristo. "Procurem as coisas que são do alto, ondeCristo está assentado à direita de Deus" (Colos-senses 3.1). Esse é o centro da verdade.

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As Escrituras ensinam que Cristo está fora dotúmulo, vivo para sempre e presente de maneiraconstante para aqueles que têm fé. Ele se junta aseu povo onde quer que ele se reúna, toda vezque se encontra — até numa gruta, escondido daperseguição. Pode ser na cocheira da mula ounuma catedral, mas seja lá onde o povo de Deusse reúne, Deus está com ele. Eles ministram paraDeus e oram. Assim, a Igreja de Cristo vive,porque Cristo vive, não importam as estações doano. Cristo está fora do túmulo e jamais voltarápara lá. A morte não tem domínio sobre ele.Assim, porque ele se levantou do túmulo, nóstambém seremos levantados com ele para buscaras coisas do alto.

Certos imperativos nos são impostos porqueCristo ressuscitou, e cada voz santa do céu clamae nos exorta a cumprirmos essas ordens na nossavida. As Escrituras dizem "procurem" e "manten-ham". "Procurem [...] e mantenham opensamento nas coisas do alto" e afastem os

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modos antigos, perdoem a todos no mundo e ded-iquem seu tempo ao Senhor.

É muito comum dedicarmos a Deus só os res-tos cansados do nosso tempo. Se Jesus Cristo nostivesse dado só o resto de seu tempo, estaríamostodos rumando para as trevas. Cristo não nos deuas sobras esfarrapadas de seu tempo; ele nos deutodo o tempo que tinha. Mas alguns de nós só lhedamos as sobras do nosso dinheiro e dos nossostalentos, nunca entregando o nosso tempo plenopara o Senhor Jesus Cristo que nos deu tudo.Porque ele deu tudo, temos o que temos; e elenos convoca: "neste mundo somos como ele" (lJoão 4.17).O CULTIVO DE UMAMENTALIDADE RELIGIOSA

Como um exemplo, devemos ter a mentalid-ade cristã. A dificuldade é que temos uma men-talidade secular e uma mentalidade religiosa.Fazemos a maior parte das coisas com a

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mentalidade secular e reservamos uma áreaminúscula para aquilo que denominamos mental-idade religiosa, Com a nossa mentalidade reli-giosa, tentamos servir ao Senhor da melhormaneira possível. Desse jeito, não funciona. Ocristão não deve ter nenhuma mentalidade secu-lar. Se você é cristão, deve "procurar as coisasque são do alto" — não deve haver nada de men-talidade mundana em você.

Alguns talvez perguntem: "Como conduzir osmeus estudos? Como realizar as minhas tarefasdomésticas? Como cuidar dos meus negócios?".Você cuida dos seus negócios, realiza as suastarefas domésticas e conduz os seus estudostornando- -os parte de uma oferta a Deus, exata-mente como você entrega o seu dinheiro na caixade ofertas ou qualquer coisa que você ofereça demaneira aberta e pública a Deus.

A vida crucificada evita essa vida dividida.Uma vida em parte secular, em parte espiritual,

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em parte deste mundo e em parte do mundoacima não é, de modo algum, o que o NovoTestamento ensina. Como cristãos, podemostransformar a maior parte das ações inúteis emreuniões de oração maravilhosamente espirituais,desde que simplesmente as entreguemos paraDeus.

Nicolas Herman, conhecido como IrmãoLourenço, era um simples lavador de pratos nainstituição em que vivia. Ele dizia que lavavatoda aquela louça para a glória de Deus. Quandoterminava sua tarefa humilde, deitava-se no chãoe adorava a Deus. Fazia tudo o que lhe era orde-nado para a glória de Deus. Ele testemunhou: Eunão faria nada, nem mesmo catar uma palha dochão, sem que fosse para a glória de Deus".

Um santo louvava a Deus toda vez que bebiaum copo de água. Ele não fazia uma cena, masagradecia a Deus no coração. Toda vez que saiode casa, dirijo-me a Deus, esperando que ele me

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abençoe e me guarde pelo caminho. Toda vezque estou num voo, espero que o Senhor meproteja, faça-me aterrissar em segurança e meleve de volta para casa. Se ele me quiser no céumais do que me quer na terra, responderá não aessa oração, e pronto — mas, seja lá o queacontecer, estarei com ele. Enquanto ele me quis-er aqui, vou agradecer-lhe a cada hora e a cadadia por tudo.

Vamos descartar nossa mentalidade secular emundana e cultivar uma mente santificada. Pre-cisamos fazer trabalhos mundanos, mas, se osfizermos com uma mente santificada, eles já nãosão mundanos, mas parte da nossa oferta a Deus,como tudo mais que lhe oferecemos.

TAL QUAL UM GANSODESAJEITADO

Cristo ressuscitou, e nós ressuscitamos comele e nos sentamos à direita do Pai com ele, em

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espírito — e um dia desses o faremos com umcorpo humano. Por enquanto, devemos agir comose estivéssemos em cima, no céu, mas de maneiraum pouco diferente. Um menino da zona ruralvem à cidade e age diferente porque pertence àzona rural. O menino da cidade vai para a zonarural e age diferente porque pertence à cidade. Ohomem que não vive na zona rural com cuidado,tentando evitar o barro e manter os sapatoslimpos. Ele age como um homem da cidade nazona rural. Como cristãos, precisamos agir dessemodo.

De certa forma, pertencemos ao alto. A nossacultura pertence ao alto. O nosso pensamentopertence ao alto. Tudo pertence ao alto. É claroque, quando você está aqui embaixo, as pessoas oreconhecem e dizem: "Bem, aquele sujeito per-tence ao céu". Conheço muitas pessoas que per-tencem ao céu. Acho que uma das coisas maisfeias no mundo inteiro é ver um ganso andandopela terra. Mas uma das visões mais graciosas

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nos céus é ver um ganso selvagem com as asasabertas rumando para o sul ou para o norte. Achoque agimos de modo desengonçado aqui porquepertencemos ao alto.

As pessoas que trabalham em grandes es-critórios, rodeadas por não cristãos, não con-seguem entrar facilmente em uma conversa dur-ante os intervalos. Você age de maneira desen-gonçada, fica temeroso e envergonhado, semsaber o motivo. É porque pertence a Deus. Vocêtem outro espírito; conhece outra língua e fala alíngua deste mundo com certo sotaque.

Quando outras pessoas mencionam a religião,falam sobre ela com sotaque. Essas pessoas per-tencem à terra; você pertence a Deus nos céus e,claro, elas não concordam. Acham que você andadesengonçado aqui embaixo, mas ainda não oviram com as asas abertas. Espere chegar otempo em que os filhos de Deus vão abrir as asase levantar voo para encontrar o Senhor na glória.

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Então todos verão como eles são graciosos. Porenquanto, na terra, claro, as pessoas não nosveem assim.

JÓIAS NESTE MUNDO

Essa questão de estarmos escondidos comCristo em Deus pode ser naturalmente divididaem quatro segmentos. O primeiro ponto: "a suavida". O segundo ponto: "está escondida". O ter-ceiro ponto: "com Cristo". E então o últimoponto: "em Deus". Eis sobre a terra as joias docéu. A sua fé é sua segurança reforçada, e aquiestá a cura de todas as curas: "A sua vida estáescondida com Cristo em Deus".

A esperança da Igreja é que, "quando Cristo,que é a sua vida, for manifestado, então vocêstambém serão manifestados com ele em glória"(Colossenses 3.4). Essa é a esperança da Igreja.Não temos todos os detalhes. Éramos inteligentesdemais uma geração atrás, quando pensávamos

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conhecer todos os detalhes. Sabíamos exatamentetudo o que era possível saber acerca das profe-cias. Agora é diferente. Temos de falar nas profe-cias porque o que nos ensinaram nos foi arran-cado de sob os pés e de algumas das nossas opin-iões. Sem dúvida, Cristo virá e, quando vier, vocêestará com ele em glória. Exatamente como vocêestava com ele quando Cristo morreu e ressuscit-ou, estará com Cristo quando ele vier em glória.Por enquanto, espera-se que você aja de acordocom aquilo em que crê.

É como a noiva que deve ser separada donoivo por um breve momento. Ela escreve algu-mas cartas e é ávida por lhe telefonar. Quer estarcom ele. Ele está fora, em algum lugar, tentandoconseguir uma casa para viver com ela. Ela diz:"Não me importa a casa. Quero estar com você".O importante não é a casa, com os enfeites e amobília e todo o resto. Ela anseia por ele É o queacontece com Jesus Cristo. Desejamos JesusCristo, e a glória virá por si.

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A GLÓRIA DE DEUS

Tenho lido o livro de Apocalipse e os hinosda Igreja e tentado aprender acerca da glória. Amaioria de nós ainda não sabe muito a respeitodo céu. Podemos ficar surpresos com o queveremos ali e o que denominamos glória. Nãoconseguimos saber mais do que sabemos agoraaté Cristo voltar, mas podemos sabê-lo com in-timidade cada vez maior. Conhecendo-o, vamosconhecer a glória porque ele é a glória daquelelugar — ali o Cordeiro é a luz.

A vida crucificada começa pela ressurreiçãoapós a cruz. Jesus está vivo; portanto, nós vive-mos. Mas não sou eu. É Cristo o tempo todo.

Cristo já ressuscitouCharles Wesley (1707-1788)

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___________________________________Cristo já ressuscitou, Aleluia!

Sobre a morte triunfou, Aleluia!Tudo consumado está; Aleluia!Salvação de graça dá. Aleluia!Gratos hinos entoai; Aleluia!

Ao Senhor Jesus honrai, Aleluia!Pois à morte quis baixar, Aleluia!

Pecadores para salvar. Aleluia!Uma vez na cruz sofreu; Aleluia!Uma vez por nós morreu, Aleluia!

E pra sempre reinará. Aleluia!(versão de Henry Maxwell Wright, Hinário para

o culto cristão)

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A SOLIDÃO DAVIDA

CRUCIFICADAUma coisa pedi ao SENHOR; É o que procuro:

que eu possa viver na casa do SENHOR todos os di-as da minha vida, para contemplara bondade do

SENHOR e buscar sua orientação no seu templo.SALMOS 27.4

Davi foi o homem que escreveu o salmo 27.Ele buscou Deus porque sabia que "os que bus-cam o SENHOR de nada têm falta" (Salmos 34.10).E declarou: "como a terra árida, tenho sede de ti"(Salmos 143.6). Disse mais: "A minha alma des-cansa somente em Deus; dele vem a minha sal-vação Descanse somente em Deus, ó minha alma;dele vem a minha esperança" (Salmos 62.1-5).Davi ainda clamou: "O Deus, tu és o meu Deus,

eu te busco intensamente; a minha alma tem sedede ti! Todo o meu ser anseia por ti, numa terraseca, exausta e sem água" (Salmos 63.1). E osalmista continuamente repetia: "A minha almaapega-se a ti; a tua mão direita me sustém" (Sal-mos 63.8).

Essa é a linguagem do homem Davi. Vocêencontrará esse mesmo tom em Abraão e todo oAntigo Testamento. Hoje, buscamos Deus e para-mos de sondá-lo, enquanto os antigos santos bus-cavam Deus, encontravam-no e continuavambuscando-o mais e mais.

SIGA E AME PROFUNDAMENTE

Algumas grandes almas nos parecem in-comuns por causa de sua qualidade de vida. Nãocoloco nenhuma delas num pedestal, pois al-cançam a virtude no mesmo lugar onde podemosalcançar a nossa — no Senhor Jesus Cristo. Omérito delas vem da mesma fonte que a nossa; e

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o nosso, da mesma fonte que o mérito deles. Oapóstolo Paulo disse: "Não que eu já tenha obtidotudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, masprossigo para alcançá-lo, pois para isso tambémfui alcançado por Cristo Jesus" (Filipenses 3.12).

Essa forma de pensar produziu pessoas comoSanto Agostinho e John Tauler, Thomasà Kem-pís, Richard Rolle, Bernardo de Claraval, Bern-ardo de Cluny, João da Cruz, Madame Guyon,François Fénelon e Henry Suso. Esses nomessoam estranhos para alguns, mas estão associadosà multidão de cristãos que "anseiam por Deus",aqueles que cultivaram no coração o mesmo tomdo antigo Davi.

Eu poderia listar nomes que talvez sejammais familiares: Samuel Rutherford, John Wes-ley, A. B. Simpson. Uma sede e um anseio pelaágua fresca dirigiram esses homens e mulheres.Quando a encontravam, buscavam-na novamente.A tragédia nos nossos dias é que somos

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ensinados a crer em Cristo e aceitá-lo, e parar debuscá-lo.

É nesse ponto em que está a igreja evangélicahoje. O que estou tentando fazer é encorajar aspessoas a desejarem buscar Deus. Qualquer fle-cha rumo a um alvo precisa estar na direção cor-reta. O que importa é a direção e o movimento.Se Deus é a direção e se você se move para ele,fico feliz.

No Antigo Testamento há um livro que pou-cos leem. Eu também hesito em fazê-lo porque éum tanto rude. A maioria não o lê porque nãosabe o que significa. Refiro-me ao Cântico de Sa-lomão. Um dos antigos místicos, Bernardo deClaraval, começou a escrever uma série de ser-mões sobre o Cântico de Salomão (intitulada Ser-mões sobre o Cântico dos Cânticos), mas sóhavia terminado de pregar o primeiro capítuloquando morreu. Então suponho que tenha con-cluído a exploração do livro na glória.

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O Cântico de Salomão é a história de umamoça profundamente apaixonada por um jovempastor. É de fato uma linda história de amor e as-sim tem sido compreendida pela Igreja. Um doshinos de Charles Wesley, "Tu, Pastor de Israel emeu Pastor", é baseado nesse livro:

Tu, Pastor de Israel e meu Pastor,Alegria e desejo do meu coração,Por maior comunhão anseio,Anelo residir onde estás;A pastagem que almejo encontrarOnde todos os que obedecem ao PastorSão alimentados, reclinados em teu coloE protegidos do calor do dia.

Ah! Mostra-me aquele lugar feliz,O lugar de morada de teu povo,Onde os santos numa visão extasiadaEsperam num Deus crucificado:Teu amor por um pecador declarar,Tua paixão e morte no madeiro;

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Meu espírito suporta o Calvário,Para sofrer e triunfar contigo.

É ali com as ovelhas de teu rebanho,Só ali ambiciono descansar,Deitar-me ao pé da rocha,Ou levantar para me abrigar em teu peito;É ali que permaneceria sempre,E nem por um momento sequer me afastaria,Escondido no rasgo de teu lado,Eternamente guardado em teu coração.

Esse hino fala acerca de Deus sem ser irrever-ente. A nossa mentalidade atual, porém, é umcristianismo do tipo "Eu acredito em Cristo;agora vamos tomar um refrigerante". A Igreja deJesus Cristo nunca se guia pela cabeça. A Igrejase guia pelo coração. O Espírito Santo nunca en-che a cabeça do homem. O Espírito Santo encheo coração humano. Os esforços atuais de "apoiar"o cristianismo com a filosofia e a ciência receber-ão um olhar atravessado do Deus onipotente que

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então os deixará seguir às cegas rumo ao liberal-ismo. Em algum lugar, Deus terá seu própriopovo, composto por aqueles que continuamclamando pelo Deus a quem amam.

Esse não é o lugar da ética humana. O autoranônimo de A nuvem do não-saber escreveu: "Dabrevidade da palavra e da impossibilidade de al-guém se elevar até ele, pela curiosidade intelectu-al ou pela imaginação [...]. Lembre-se dele ansi-ando por Deus, ambos tentaram resolver o prob-lema raciocinando por si". Em outras palavras,não é pelo seu pensar ou pela sua imaginação quevocê alcança Deus. Em tudo isso há um elementodesconhecido.

PENSAMENTO FÚTIL

Não me deterei por nada menos que o pro-fundo vício divino a que denominamos Deus eme empenharei para viver além do poder da ima-ginação. A dificuldade básica na igreja

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evangélica é que temos tentado pensar no nossocaminho para Deus. Nada poderia ser mais fútil efrustrante.

E somente pela graça que você pode ter aplenitude do conhecimento de Deus, mas nenhumhomem consegue, por si só, pensar em Deus.Você não consegue pensar a respeito dele oucomo ele; de fato, não consegue nem mesmoconceber a ideia de Deus. Mas aquela fome noseu coração buscará e sondará até encontrar o ob-jeto do amor do seu coração, o próprio Deus.

Como, então, podemos conhecer Deus?Como podemos perfurar a nuvem de trevas e seratingidos pelo dardo afiado do amor ardente?Pela sede de Deus sem nenhum outro motivo quenão alcançar o próprio Deus. Muitos per-manecem aquém e se satisfazem com as obras deDeus e até com a teologia. Sem dúvida, opensamento é necessário e correto, mas em úl-tima análise é impotente porque a busca vai além

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do âmbito intelectual. Você não consegue chegara Deus com a cabeça. O hino de William Cowper"A luz e a glória da Palavra" reflete isso:

O Espírito sopra sobre a Palavra,E traz à tona a verdade;Preceitos e promessas fornecemUma luz que santifica.

Uma glória recobre a página sagrada,Majestosa como o Sol:Prove luz para todas as épocas;Provê, mas nada toma emprestado.A mão que a deu ainda supreA luz e o calor pela graça:Suas verdades sobre as nações alvorecem;Alvorecem, mas nunca se põem.

Gratidão eterna recebaPor tão reluzente manifestaçãoQue faz um mundo de escuridão brilharCom raios do dia celestial.

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Minha alma exulta em perseguirOs passos daquele a quem amo,Até a glória irromper à minha vistaEm mundos mais brilhantes, acima.

UM PREENCHIMENTOPODEROSO

Ainda que tenha ocorrido de modo não inten-cional, as Escrituras se tornaram para alguns osubstituto de Deus. A Bíblia tornou-se uma bar-reira entre eles e Deus. "Temos a Bíblia", dizemcom certo orgulho, "e não precisamos de maisnada". Examine a atitude deles, e você descobriráque a Bíblia não causou impacto real no estilo devida. Lembre-se que uma coisa é acreditar naBíblia; outra, totalmente diferente, é permitir quea Bíblia, pelo ministério do Espírito Santo, exer-ça impacto e mude sua vida.

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O problema de alguns é crerem que, se leramalgo na Bíblia, já o experimentaram. Uma coisa éler a respeito do novo nascimento na Bíblia;outra, totalmente diferente, é nascer de cima, peloEspírito do Deus vivo. Uma coisa é ler a respeitode ser cheio do Espírito Santo; outra, bem difer-ente, é experimentar o poderoso enchimento doEspírito Santo que muda radicalmente a nossavida para uma vida de adoração maravilhada eextasiada com as coisas de Deus. Ler e experi-mentar são coisas bem diferentes.

À parte do Espírito Santo soprando sobre ela,a Bíblia pode ser algo inútil, apenas outro livroliterário. Pode ser boa literatura, mas há algo in-finitamente mais valioso que a Bíblia.

Aproprie-se das promessas

Podemos lembrar-nos de ter cantado naEscola Dominical um cântico que diz "Cadapromessa no Livro é minha". Mas não chegamosa perceber que uma coisa é acreditar numa

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promessa; outra, bem diferente, é apropriar-sedela na vida. É como um homem tropeçando naescuridão da noite, sem conseguir ver a mão di-ante do próprio rosto. Seu companheiro pergunta:"Como você consegue enxergar nessaescuridão?".

"Eu consigo", responderia ele, "porque tenhoum farolete 110 bolso". O fato de simplesmentepossuir um farolete no bolso não ilumina o seucaminho até você tirá-lo do bolso e ligá-lo.Simplesmente acreditar na Bíblia não resolve, atéretirarmos as promessas divinas da Bíblia e, pelafé, apropriarmo-nos delas na nossa vida.

Um pequeno lema que circula nos meiosevangélicos é "Deus disse, eu creio, e isso basta".O problema é que, se você não crê em algo o su-ficiente para tomar posse disso na sua vida, estárealmente crendo? A Bíblia exorta a "andarmosna luz". Mas a luz não tem valor algum, a menosque estejamos andando nela.

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Separe-se

Alguns cristãos chegaram ao ponto de falar-em sobre quase tudo o que conseguiram com-preender. Nunca chegarão mais longe com acabeça, de modo que podem dar descanso a ela.É o coração sedento que finalmente penetrará ovéu e encontrará Deus, mas isso ocorrerá nos re-cessos solitários do coração, longe das coisas domundo natural. E nesse lugar que Deus nos en-contrará — longe da multidão enlouquecedora.

Estude o tabernáculo do Antigo Testamento,e você terá uma ideia do que estou dizendo. Osumo sacerdote precisava cumprir vários estágiosaté finalmente se separar da luz natural e entrarna presença de Javé. Naquela presença estava ailuminação sobrenatural da presença de Deus.

Sem nada que o protegesse, exceto a oferta desangue e a garantia da promessa de Deus, o sa-cerdote ficava ali na presença daquele brilho

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sobrenatural. Permanecia ali sozinho. Ninguémpodia acompanhá-lo dentro daquele lugarbrilhante.

É muito difícil para os cristãos modernoscompreenderem isso. Vivemos numa era deauxílios. Em nenhuma outra época da Históriahouve mais auxílios à vida cristã. E um estranhooximoro que, quanto mais auxílios à Bíbliatemos, menos poder espiritual manifestamos. Éporque esses auxílios só conseguem chegar atéesse ponto.

A professora pode ensinar o aluno a ler, masna realidade isso é tudo o que consegue fazer. Oque o aluno lê realmente cabe a ele. A professorapode ajudá-lo até ali; depois fica por conta dele.Isso é verdade para a vida inteira. Há algumascoisas na vida que precisamos fazer por nós mes-mos. Ninguém pode ajudar-nos. Ninguém podeauxiliar- -nos ao longo do caminho. Por isso háuma decadência nos círculos evangélicos de hoje.

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Queremos confiar uns nos outros. Queremos ex-ercer o "ministério de socorro". Não somos nada,a menos que tenhamos uma multidão à volta, semperceber que penetrar na presença de Deus é umajornada muito solitária.

Ainda que possa haver muitos companheirosao longo do caminho quando vivemos a vida cru-cificada, ninguém pode vivenciar as nossas ex-periências por nós. Além disso, não podemosvivenciar as experiências dos outros. Tudo se re-sume a Deus e nós. E, quando chegamos àpresença do Senhor, chegamos por nós mesmos.A comunhão cristã é maravilhosa, mas existe ummomento em que até ela se torna um obstáculo.Você estará sozinho mesmo que a multidão orodeie. Ainda que houvesse 3 mil convertidosmediante a pregação de Pedro no dia de Pente-coste, cada um se converteu por si só. Quando oEspírito Santo desceu no Pentecoste, não se es-tabeleceu sobre eles em massa. O Espírito veiosobre eles individualmente, e cada um passou

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pela experiência como se fosse o único ser hu-mano presente.

É provável que você queira ajudar os outros;então ajudeis ao máximo, mas Deus quer que vo-cê prossiga para onde não há luz natural que oajude. Você não pode confiar em nada naturalquando está na presença de Deus.

Renove sua mente

Um homem escreveu numa revistaevangélica: "Aceitei as doutrinas de uma denom-inação assim e assim". Ele havia permitido queoutra pessoa moldasse sua mente. E por isso quemilhões são católicos (ou metodistas, ou presbi-terianos) satisfeitos: porque alguém pensa poreles. Alguém lhes diz uma palavra de fé, amor econsolo, e já pensou tudo para eles. Alguém su-perior assumiu toda responsabilidade. Tudo o queprecisam fazer é obedecer sem questionar.

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Não quero ser antipático. Só estou res-saltando que é por isso que certas denominaçõesreligiosas podem segurar seu povo sem nuncadizer "É entre você e Deus". Você precisa encon-trar Deus "como a corça anseia por águas cor-rentes" (Salmos 42.1). Você precisa buscar Deussozinho. Posso ajudar você com as Escrituras efazer o máximo para o auxiliar; mas, quando eleo encontrar, você estará só. Você não pode tomaremprestado a autoridade de outra pessoa. Nin-guém pode chegar e dizer: "Tudo bem, está feito.Agora declaro que, a partir de hoje, nesta hora,você está bem".

Um jovem cristão que buscava sinceramenteDeus me disse: "Acho que você chegou lá".Graças a Deus, eu estava atento, porque aquilopoderia ser o meu fim. O nosso desejo é que cadaum clame a Deus e olhe em sua direção sem nadamais, exceto o puro propósito de buscar o próprioDeus. Quero Deus e nada mais.

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Alguns acreditam que "justificados por suaredenção" seja simplesmente uma figura de lin-guagem. Creio que, quando Jesus Cristo disse"quem me recebe, recebe aquele que me enviou"(Mateus 10.40), quis dizer que ele me recebeu. Enão serei exposto por nenhum estudioso brilhanteque diz que as palavras de Jesus eram uma ilus-tração extraída de um tribunal legal estrangeiro.Talvez a ilustração ou figura tenha sido extraídadali, mas, por trás da figura de linguagem que asustenta, está a realidade concreta da minha vidae do meu futuro, e a esperança de que seja maisque mera ilustração.

É um fato glorioso e concreto, firmado sobrea rocha eterna; pois Jesus removeu todos os em-pecilhos legais pelos quais eu não iria para o céu.Mas creio que um Deus santo precisa reger seuUniverso de acordo com sua lei santa. Se ele regeseu reino de acordo com sua lei santa, não mepreocupo, porque quebrei cada uma de suas leis,seja na intenção, seja de propósito. Assim, a

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justificação deve estar em algum lugar. A re-denção deve estar em algum lugar. Deve-se fazeralgo legal para permitir que eu tenha Deus e eleme tenha. E isso foi feito. Graças a Deus, isso foifeito!

Creia em Deus

Há momentos em que tudo o que podemosfazer é crer em Deus e naquilo que ele diz.Acreditar nele em amor. O autor de A nuvem donão-saber diz: "Deus mesmo nenhum homemconsegue pensar [...]. Ele pode ser amado, masnão pensado". Deus onipotente criou o Universo,e sua presença transborda em graus imensos e ja-mais pode ser circunscrita naquela coisa pequen-ina chamada nossa cabeça, nosso intelecto. Elesabe que tudo o que podemos fazer é buscar,porém jamais chegar a Deus.

Esvazie-se

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Um fenômeno da natureza é que não existealgo que possa ser chamado de vácuo. O vácuonão existe na natureza e também não existe nomundo espiritual. Enquanto um recipiente estácheio de algo, nada mais pode entrar. E é aquique uma lei espiritual entra em cena. Enquantohouver algo na minha vida, Deus não podepreenchê-la.

Se eu esvaziar metade da minha vida, Deussó pode encher essa metade. E a minha vida es-piritual seria diluída com as coisas do homemnatural. Essa parece ser a condição de muitoscristãos hoje. Eles estão dispostos a se livraremde algumas coisas na vida, e Deus vem e ospreenche o máximo que consegue. Mas até queeles estejam dispostos a renunciar a tudo e a en-tregar tudo no altar, de certo modo Deus nãopode preencher sua vida inteira.

Uma das coisas estranhas acerca de Deus éque ele entrará à medida que permitimos que o

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faça. Digo com frequência que o cristão é cheiodo Espírito Santo conforme deseja. Podemos im-plorar para sermos cheios do Espírito Santo. Po-demos falar a respeito disso; contudo, até estar-mos dispostos a nos esvaziar, jamais teremos aplenitude do Espírito Santo na nossa vida. Deusnos preenche de acordo com o que lhe permiti-mos preencher.

Quando criamos um tipo de vácuo na nossavida, estamos na realidade convidando o EspíritoSanto para chegar logo. No dia de Pentecoste,houve o som "como de um vento muito forte"(Atos 2.2). O motivo para isso é que aqueles dis-cípulos se colocaram diante de Deus, esvaziadosde tudo. Eles não tinham espaço para nada, ex-ceto para Deus. E, quando se apresentaram comorecipientes vazios diante do Senhor, ele correupoderosamente para enchê-los.

Não importa a geração que você observe ou oséculo que você estude, descobrirá uma coerência

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naquilo que o Espírito Santo está dizendo efazendo. Desde o dia de Pentecoste até o mo-mento presente, só existe uma coisa na mente doEspírito Santo: preencher a Igreja com suapresença gloriosa. Sua mensagem ésimplesmente: "Esvaziem-se, e eu, o EspíritoSanto, virei para encher vocês atétransbordarem".

UM AUTOLIVRAMENTO

Alguns podem dizer: "Pastor, eu seria umcristão melhor se tivesse um pastor melhor". Eugostaria que isso fosse verdade. Mas você sabeque não se trata disso, porque, quanto melhor opastor, mais parasita espiritual você seria, des-cansando nele. Com frequência as pessoas maisespirituais frequentam igrejas cujos pregadoresnão conseguem entregar seu sermão sem umlenço de papel ao lado. O motivo é que, por ter-em pouco auxílio do púlpito, esses cristãos pre-cisam aprender a confiar em Deus. Se você

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obtém muita ajuda do púlpito, tende a se tornarum parasita e descansar no seu pastor. Creio nosacerdócio dos cristãos.

Livre-se de si mesmo. Quando você ficar tãoatolado na lama que só Deus o conseguirá res-gatar, haverá um som que poderá ser ouvido auma quadra de distância. Pare de pensar que vocêé alguém. Pare de pensar que vai conseguir serum teólogo abençoado. Isso é tudo o que vocêsabe. Como disseram certa vez: "Pelo amor, épossível amar a Deus e ser santo, mas jamais en-sinado". Tenha o cuidado de não tentar entrar navida mais profunda por sua inteligência ou ima-ginação. Não tente olhar para Deus por si mesmoe mantê-lo no seu próprio coração. Não estoudizendo que não é bom chegar ao altar para orar.A questão é outra. Estou falando sobre a solidãoda alma tirada da multidão.

Mesmo quando a mulher avançava emdireção a Jesus e era comprimida pela multidão

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que o apertava por todos os lados, ela continuouavançando e finalmente tocou a barra das vestesdele. Jesus disse: "Quem tocou em mim?" (Mar-cos 5.31; Lucas 8.45).

Os discípulos de Jesus observaram que ele es-tava cercado por todos os lados, mas Jesus retru-cou: "Eu não quis dizer isso.

Quero saber quem me tocou com fé" (v. Lucas8.46). Os discípulos ficaram apenas perturbados.Eles estavam com Jesus, mas só ficaram perturb-ados. No entanto, a mulher que estava só, sep-arada, avançou na direção de Jesus, e foi tocadapor ele em fé e amor.

Precisamos ter o coração curado. Precisamoster a unção de Deus no coração. Um antigo hinode A. B. Simpson atesta esse fato:

Sim, há bálsamo, há bálsamo em Gileade;

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Ali há um grande Médico!Levemos a ele todas as nossas enfermidades,Lancemos sobre ele toda a nossa ansiedade.

A vida crucificada é uma vida abençoada,mas é uma vida solitária que nenhum homempode percorrer no lugar de outro.

A luz e a glória da PalavraWilliam Cowper (1731 -1800)

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O Espírito sopra sobre a Palavra,E traz à tona a verdade;

Preceitos e promessas fornecemUma luz que santifica.

Uma glória recobre a página sagrada,Majestosa como o Sol;

Prove luz para todas as épocas;Provê, mas nada toma emprestado.

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A mão que a deu ainda supreA luz e o calor pela graça:

Suas verdades sobre as nações alvorecem;Alvorecem, mas nunca se põem.

Gratidão eterna recebaPor tão reluzente manifestação

Que faz um mundo de escuridão brilharCom raios do dia celestial.

Minha alma exulta em perseguirOs passos daquele a quem amo,

Até a glória irromper à minha vistaEm mundos mais brilhantes, acima.

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PARTE II

A DINÂMICA DAVIDA CRUCIFICADA

PROSSEGUINDOEM DIREÇÃO À

TERRAPROMETIDA

"Meu servo Moisés está morto. Agora, pois,você e todo este povo, preparem-se para atraves-

sar o rio Jordão e entrar na terra que eu estoupara dar aos israelitas. Como prometi a Moisés,

todo lugar onde puserem os pés eu darei avocês."

JOSUÉ 1.2,3

E sempre possível testar a qualidade do en-sino religioso pela recepção entusiástica recebidapor parte dos não salvos. Se o homem natural orecebe com entusiasmo, não é do Espírito deDeus. Paulo diz claramente que o homem natural

não consegue entender as coisas espirituais. Paraele, as coisas espirituais são loucura (v. 1 Corín-tios 2.14).

Há um tipo de ensino religioso que é com-preendido, aceito e considerado perfeitamente ló-gico pelo homem natural. Mas o homem naturalnão entende aquilo que é do Espírito de Deus. Elenão tem capacidade de discerni-lo.

O homem natural é deste mundo. Ele podeestar em perfeita saúde e ter um QI de 180. Podeser tão belo quanto uma estátua grega ou, sendomulher, um perfeito exemplo de fina feminilid-ade. O homem natural, ainda que nesse estado,não é abençoado e está fora da graça.

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Contrário ao homem natural é o homem es-piritual. Esse é o cristão maduro em sua fé, con-duzido, ensinado e controlado pelo EspíritoSanto, aquele a quem o Espírito de Deus podefalar.

Depois há o homem carnal. O homem carnalé o cristão imaturo. Já não é um homem natural,pois foi renovado pela graça de Deus e vive numestado de graça, mas não é espiritual. Está nomeio do caminho, entre o homem natural e o es-piritual. Foi regenerado, mas não avança na vidaespiritual. Não é influenciado nem dirigido peloEspírito Santo; antes, é controlado por suanatureza inferior.

Dos três tipos, é o homem espiritual que estávivendo A vida crucificada. Ele é habitado, con-duzido, ensinado, influenciado e controlado peloEspírito Santo.

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PROTÓTIPOS DO ANTIGOTESTAMENTO

O protótipo do homem natural no AntigoTestamento — dos que não vivem num estado degraça — era Israel no Egito. Os israelitas est-iveram no Egito por quatrocentos anos, e a maiorparte desse tempo eles viveram sob escravidão.Então veio Moisés que, por meio do sangue, daexpiação e do poder, conduziu os filhos de Israelpara fora do Egito, com o mar Vermelhofechando-se entre Israel e a terra do faraó. Aquilocorrespondia ao novo nascimento.

A regeneração, ou renascimento, torna cristãoo homem natural, tirando-o da natureza eelevando-o a um estado de graça. Israel saiu doEgito e atravessou o mar; o mar fechou-se atrásdeles e o inimigo morreu. Pela primeira vez emquatrocentos anos, Israel era uma nação livre,redimida pelo sangue e pelo poder.

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Isso é semelhante ao cristão que por toda avida se sujeitou a escravidões de vários tipos —correntes, grilhões e algemas sobre o seu espírito.Agora, pelo sangue do Cordeiro, o poder doEspírito, ele é tirado do Egito, e o mar Vermelhose fecha atrás dele. Costumávamos cantar o hino"Dei as costas para o mundo", de Elisha A.Hoffman:

Dei as costas para o mundo Com todos os seusprazeres vãos, E fixei o coração em coisas mel-hores, Em tesouros mais elevados, mais santos;Nunca mais seu brilho, sua luz E a vaidade mecegarão; Atravessei a linha de separação, Edeixei para trás o mundo.

Essas palavras descrevem com exatidão o queaconteceu a Israel na terra de Canaã. Era intençãobenevolente de Deus que 0 homem natural es-cravizado no Egito saísse do Egito e fizesse Umajornada de 11 dias até a terra santa oferecida aAbraão por Deus na aliança. A terra santa — que

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recebe vários nomes, como terra prometida, terrada promessa e Canaã — seria a terra natal deIsrael.

Israel não só sairia do Egito, como tambémestaria na terra santa, sua terra natal espiritual.Deus os tirou para fazê-los entrar. Esse pontoperdeu-se no nosso ensino hoje. Deus nos tiranão para ficarmos fora, mas para sermos levadospai a dentro.

Deus salva um criminoso não para falar a re-speito disso uma vez por ano pelos próximosquarenta anos, mas para que esse homem possatornar-se um santo. Deus o tira da escravidãopara poder conduzi-lo à terra prometida. E,quanto mais longe ele chega, menos precisaráfalar a respeito de onde estava. Não é marca deespiritualidade quando falo longamente acerca dequem eu era. Israel queria esquecer o que era e sólembrava ocasionalmente de agradecer a Deuspor seu livramento.

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Hoje amplificamos o que éramos e escreve-mos livros para falar ao mundo sobre isso. Paulodisse: "Essas coisas nem devem ser mencionadasentre o povo de Deus" (v. Efésios 5.12). Elasnem devem ser citadas nas conversas. Deus tirouvocê da escravidão, mas não o deixa no limbo.Ele tira você para fazê-lo entrar, e essa era avontade de Deus.

Depois que Deus tirou Israel do Egito,mostrou-lhes, após 11 dias de marcha, a terra pro-metida. O inimigo poderia ter sido expulso, e elespodiam tomar posse da terra santa da promessaque Deus lhes havia feito séculos antes. Não seriaroubo. Eles a estariam ocupando como possessãoprópria. Deus, que a possuía, a tinha dado aAbraão e seus descendentes. A descendência deAbraão havia sido tirada dali e levada ao Egito.Deus agora trazia Israel de volta para colocar opovo na terra. Eles não seriam usurpadores —não para tomar a cerra —, mas para ocupar a

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terra que era propriamente deles por dádivadaquele que a possuía: Deus.

Metaforicamente, Deus tirou os israelitas dopecado, de modo que pudesse colocá-los na vidaespiritual. A marcha dos israelitas era uma jor-nada abençoada por Deus, Deus pairava sobreeles e a shekinah os iluminava, conduzindo-osdiretamente para a terra santa. Quandochegassem à terra da promessa da qual Abraãohavia saído séculos antes, deviam ser homens es-pirituais. Eles representam um protótipo dohomem espiritual no Antigo Testamento.

O HOMEM NATURAL

Se você é um homem natural, mesmo queseja muito culto, muito talentoso, muito bonitoou muito desejável, não sabe nada acerca deDeus e nada a respeito da vida espiritual. Vocênão possui as faculdades para conhecê-la.

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Se um homem totalmente surdo ficasse lendoenquanto alguém toca uma sinfonia de Mozart,você não o condenaria por ler em vez de ouvir amúsica. Ele não tem a capacidade de desfrutar amúsica. A capacidade que você tem de ouvir asinfonia está morta nele.

Ou, se você estivesse apreciando pinturasnuma galeria de arte e houvesse um homem com-pletamente cego sentado num banco, você não di-ria: “Por que esse bárbaro está aí sentado? Porque não se levanta para apreciar as obras dearte?". Ele não tem a capacidade de ver. A capa-cidade que você tem de apreciar pinturas estámorta nele.

Não importa quem você é ou quanto você éculto ou religioso, se não foi regenerado, ren-ovado, reconstruído, trazido à luz pelo impulsodo Espírito Santo, não consegue entender Deus.Você não consegue entender as coisas espirituaisde modo algum; só consegue entender a história

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das coisas espirituais. Qualquer entusiasmo quevocê possa ter por religião não passa de ilusão.

O HOMEM ESPIRITUAL

Paulo diz que nós, cristãos, que fomos des-pertados para a vida — filhos de Deus não maisno estado da natureza, mas num estado de graça—, mas continuamos sem progredir ano apósano, vagamos espiritualmente em vez de nosmovermos direto à frente. Às vezes podemosficar um pouco mais peno do Egito que da terrasanta; depois chegamos um pouco mais perto daterra santa; então voltamos para o Egito. Assimoscila o nosso pêndulo, para trás e para a frente, eàs vezes olhamos para o mar lembrando queéramos escravos.

Então vamos a alguma reunião de oração oualgum aviva mento, tomamos nossas armas e nosmovemos para tão perro da terra santa que quaseconseguimos tocá-la. Mas não estamos indo para

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lugar algum. Não estamos voltando para o mundonem estamos avançando para a vida espiritual.Dessa forma, avançamos para trás e para a frente,oscilando entre o velho mundo de onde viemos eo novo mundo onde devíamos estar.

Continuar ano após ano sem progredir édesenvolver um tipo de doença crônica do cor-ação. O seu coração começa a endurecer cada vezmais com o passar do tempo. O melhor momentopara mergulhar na vida espiritual mais profunda equando você é cristão novo, tem entusiasmo epode formar hábitos bem enraizados.

Se eu tentasse aprender japonês na minha id-ade, seria quase impossível. Eu poderia aprendera ler e a escrever. Contudo, jamais seria capaz defalar bem o suficiente para ser compreendido,porque eu já vivi muito, e a minha língua, osmeus lábios e o meu palato estão muito acos-tumados a só formar palavras no meu idioma nat-ivo. Todas as pequenas torções, voltas e res-

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valos da língua materna cabem na minha boca.Quanto mais velho, maior a dificuldade para euaprender uma nova língua. Entretanto, um jovempode pronunciá-la perfeitamente em poucotempo. Quanto mais jovem, mais fácil aprender efalar uma nova língua, porque com o tempo oshábitos tendem a restringir-nos.

O HOMEM CARNAL

Agora, o que dizer do homem carnal? Ohomem carnal é o cristão imaturo que nãoprossegue nem avança. Ele é atrasado em seudesenvolvimento espiritual e não é influenciadoou controlado pelo Espírito Santo, mas pela pró-pria natureza inferior.

Quando Israel chegou a Cades-Barneia de-pois de marchar Um pouco rumo à terra pro-metida, parou (v. Números 13 — 14). Moisésdisse ao povo: "Estamos prestes a entrar na terra

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que tem sido objeto de sua esperança desde queDeus tirou vocês do Egito".

Israel respondeu: "Estamos um pouco temer-osos. Então, envie 12 homens para espiar a terra".Assim, Moisés enviou 12 homens para examinara terra e relatar se eles podiam ou não ocupá-la.Quando os espiões voltaram, todos relataram queera uma terra excelente. Havia água. Para o povodaquela terra, a Agua equivalia a riquezas indizí-veis. Era mais valiosa que a praia, o ouro e osdiamantes. Assim, relatar que se tratava de umaterra excelente, em que havia muita água, equi-valia a dizer que era um tipo de paraíso.

Eles encontraram uvas tão grandes que pre-cisaram de dois homens para carregar um galho.Encontraram tâmaras tão doces, que seriam equi-valentes aos atuais açúcar, balas, compotas,marmelada e refrigerantes. Todos tem seu docepreferido, e eles tinham as tâmaras. Os figos e astâmaras eram, provavelmente, a parte mais doce

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de sua dieta. E havia as romãs. As romãs são ba-gas, mas suficientemente próximas das frutascítricas, para serem classificadas como tais. Sãoliteralmente recobertas de vitaminas. Vale a penacomê-las.

Depois havia o leite e o mel. Quando a Bíbliafala sobre uma terra "onde manam leite e mel",não se trata de linguagem descuidada (Êxodo3.8). Havia muitas abelhas na terra. Havia tantomel que as árvores não conseguiam sustentartudo, de modo que o mel pingava literalmentesobre grandes rochas. E havia leite abundante deovelhas e cabras. Essa terra era muito diferentedo Egito, a terra de onde haviam saído poucoantes.

Agora, ao voltarem, desses 12 homens, 10 re-lataram como era a terra, mas disseram: "Acon-selhamos vocês a não subir para a cerra porque,ainda que o solo seja excelente, com muita terra,uvas, figos, romãs, leite e mel, o povo é grande e

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forte. Há gigantes ali e as cidades deles são gran-diosas e muradas até o céu".

Uma terra com mananciais de água, uvas, fi-gos, romãs, leite e mel não me soa como ali-mento para seus habitantes gigantescos. Alémdisso, os espias não haviam ficado tempo sufi-ciente para observar os habitantes comendo al-guma coisa. Os 10 homens estavam simples-mente temerosos e, cheios de incredulidade,aconselhavam os israelitas a não seguiremadiante.

"Vamos ficar aqui no deserto", era o conselhodeles. "Estamos livres do Egito, graças a Deus, ejá não somos escravos. Estamos no deserto e,ainda que não seja o melhor, vamos nos estabele-cer aqui em vez de sair contra aqueles gigantesnaquela maravilhosa terra natal prometida."

Então Calebe e Josué se adiantaram e dis-seram a Moisés: "Estamos prontos para entrar.

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Não dê atenção a esses pessimistas. Podemos to-mar a terra facilmente e haverá pão para nós. Aterra nos pertence, Deus nosso Pai a deu para nós— para Abraão, nosso pai — e é nossa. Vamostomá-la".

Calebe e Josué falaram das ricas vantagens naterra e não estavam dispostos a permitir que osnumerosos e fortes gigantes das cidades muradasos impedissem.

Todo ensino de hoje acerca da igreja como ademocracia perfeita e de como não deve haverlíderes é pura balela, sem nada no Antigo ou noNovo Testamento que o justifique. Doze líderesforam enviados como espiões à terra, e o povoera mais OU menos dependente do que aqueleslíderes diziam. Assim como você e eu somos, emgrande medida, dependentes dos nossos líderesna democracia em que vivemos atualmente. E naIgreja de Cristo acontece o mesmo.

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O povo ouviu o relato desfavorável dos 10homens; ou seja, o relato da maioria. Calebe eJosué deram o relatório da minoria, mas eram só2. O povo chorou e caiu diante da porta de suastendas, desejando que não tivesse saído do Egito.Ele reclamou a Moisés, dizendo: "Quisesse Deusque voltássemos para o Egito".

Tudo o que os israelitas conseguiam ver eramas cidades muradas e os gigantes. Eles não con-seguiam ver as uvas ou o leite manando das cab-ras ou árvores gotejando a doçura do mel sobre agrama. Eles não conseguiam ver os campos on-dulantes nem os ribeiros e rios. Eles se esque-ceram de que Deus havia dito: "Subam, e a dareia vocês". Então disseram: "Vocês vão matar asnossas pobres mulheres. Vocês vão matar asnossas crianças".

Esse é sempre o argumento do homem nãoespiritual: "Preciso pensar na minha família. Afi-nal, tenho uma família, irmão, e Deus quer que

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eu seja sábio; não posso exagerar. Não posso serespiritual demais porque preciso cuidar da minhafamília. Não posso sujeitar a minha esposa e osmeus filhos a dificuldades. Não posso jogar car-gas sobre eles". Sempre agradando a esposa e afamília, esse homem se esquece de que a melhorherança que um marido pode deixar para afamília é a memória de que ele foi uma pessoa.Uma mulher espiritual também enfrenta pedrasde tropeço. Sua família pode atacá-la com lin-guagem agressiva, censurá-la com palavrassarcásticas, opor-se a ela e fazê-la sentir-se comoboba. Entretanto, uma mulher espiritual seafastará quieta, mais triste, porém mais sábia, econcordará que a melhor herança que pode deixarpara a família é ter sido uma pessoa boa.

Bastava terem crido, e os israelitas teriamlevado as esposas e as famílias para a terra santaem poucas horas. Tomariam posse de toda aquelaterra. Em vez disso, por quarenta anos, vagarampelo deserto. Tinham tanto medo de que as

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esposas e os filhos fossem mortos se entrassemnaquela terra que terminaram andando quarentaanos, rodando, rodando e voltando a rodar nodeserto. Ora pendiam de volta às proximidadesdo Egito onde haviam estado, ora faziam umagrande andança para perto da terra prometidaonde deviam estar. De volta ao Egito, onde nãoestavam, e então outra volta, na rotação, de novoperto do lugar em que deviam estar.

Eles vagaram por quarenta anos até aquelascrianças chegarem à meia-idade e aquelas mul-heres morrerem. Quarenta anos no desertoporque os homens choramingaram, dizendo:"Não podemos ir. Sairia muito caro. Não po-demos maltratar a nossa família. Precisamos estarcom a nossa família nas noites de domingo equarta e durante todo o congresso missionário.Precisamos estar com a nossa família. Não po-demos correr o risco de os nossos filhos se torn-arem delinquentes".

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O melhor modo de um marido salvar afamília da delinquência é mostrar a ela o exemplode um homem que ama a Deus incondicional-mente. Um homem que procura ser espiritual,mesmo que isso lhe custe sangue. Um homemque não dá ouvidos às artimanhas do Diabo:"Você já dá mais do que deve para a obra do Sen-hor e prejudicará sua família se tentar tornar-seespiritual".

Israel peregrinou no deserto por quarentaanos por causa do julgamento divino. Deus disse:"Nenhum de vocês entrará na terra" (Números14.30). O medo da morte, as dúvidas e as re-clamações deles desagradaram a Deus porque opovo difamou a terra (Números 14.36).

Todo homem que fica nas sombras e difama avida espiritual mais profunda está difamando aluz solar. Todo homem que se recusa a entrar navida santa está no deserto, difamando a pátria daalma. Por quarenta anos, Israel peregrinou sem

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rumo. Deus estava com eles. Deus não os destru-iu; pelo contrário, deixou-os morrer um a um. Àsvezes os punia, mas não os destruiu como nação.

FRACASSOS ESPIRITUAIS

Recuso-me a ficar desanimado por qualquercoisa, mas o meu coração pesa de andar entrecristãos que estão rodando há quarenta anos nodeserto, sem voltar para o pecado, mas sem tam-bém entrar na vida santa. Vagando em círculossem propósito, às vezes um pouco mais quentes,às vezes um pouco mais frios, às vezes um poucomais santos e às vezes muito profanos, masnunca avançando. Adquiriram hábitos difíceis dequebrar, c é quase certo que viverão e morrerãocomo fracassos espirituais. Para mim isso éterrível.

Um homem resolve ser advogado e gastaanos estudando leis e finalmente abre seu es-critório. Logo ele descobre algo no próprio

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temperamento que lhe impossibilita ser um bomadvogado. E um completo fracasso. Está com 50anos, foi admitido na ordem aos 30 e, vinte anosdepois, não foi capaz de se estabelecer como ad-vogado. Como advogado, e um fracasso.

Um empreendedor compra um negócio etenta operá-lo. Ele faz tudo o que sabe, massimplesmente não consegue fazer o negócio pro-gredir. Ano após ano, as contas estão no ver-melho, e ele não obtém nenhum lucro. Tomaemprestado o que consegue, encontra um poucode ânimo e um pouco de esperança, mas esse ân-imo e essa esperança morrem, e ele vai à falên-cia. Finalmente ele vende tudo, com uma dívidaimpossível, e torna-se um fracasso no mundo dosnegócios.

Uma mulher é educada para ser professora,mas simplesmente não consegue conviver com asoutras mestras. Algo em sua constituição ou cmseu temperamento não lhe permite um bom

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relacionamento com crianças ou jovens. Então,depois de ser jogada de uma escola para outra, fi-nalmente desiste, vai para algum lugar e arranjaum serviço no qual lida com uma máquinagrampeadora. Ela simplesmente não consegueensinar e é um fracasso no mundo da educação.

Conheço ministros que pensavam terem sidochamados para pregar. Eles oraram e aprenderamgrego e hebraico, mas de algum modo não con-seguiram fazer o público ouvi-los. Simplesmentenão conseguiram. Eram fracassos no mundocongregacional.

E possível ser cristão e, ainda assim, ser umfracasso. Isso é o mesmo que Israel no deserto,vagueando. Os israelitas eram o povo de Deus,protegidos e alimentados, mas fracassados. Nãoestavam onde Deus queria que estivessem. Elescederam. Estavam no meio do caminho, entreonde haviam estado e onde deviam estar. E issodescreve muitos que pertencem ao povo de Deus.

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Eles vivem e morrem como fracassos espirituais.Sou grato por Deus ser bom e generoso. Os fra-cassados podem engatinhar até os braços deDeus, relaxar e dizer: "Pai, baguncei tudo. Souum fracasso espiritual. Não que eu tenha feitomaldades por aí, mas estou aqui, Pai, estou velhoe pronto para ir, e sou um fracasso".

O nosso Pai celestial, bondoso e gracioso,não dirá a essa pessoa: "Afaste-se de mim —nunca o conheci", porque essa pessoa creu e crêem Jesus Cristo. O indivíduo simplesmente temsido um fracasso ao longo da vida. Ele estápronto para morrer e está pronto para o céu. Ima-gino se não foi isso o que Paulo, o homem deDeus, quis dizer, ao declarar:

Porque ninguém pode colocar outro alicerce alémdo que já está posto, que é Jesus Cristo. Se al-guém constrói sobre esse alicerce, usando ouro,prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha,sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à

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luz; pois será revelada pelo fogo, que provará aqualidade da obra de cada um. Se o que alguémconstruiu permanecer, esse receberá recompensa.Se o que alguém construiu se queimar, esse so-frerá prejuízo; contudo, será salvo como alguémque escapa através do fogo (1 Coríntios 3.11-15).

Penso que esse é o significado, certamente.Precisamos ser o tipo de cristãos que conseguesalvar não apenas a nossa alma, mas também anossa vida. Quando Ló deixou Sodoma, nadamais possuía além das roupas do corpo. Graças aDeus, havia saído. Mas teria sido muito melhorse, depois de despedir-se no portão, tivesse saídocom os camelos carregados com seus pertences.Ele poderia ter saído de cabeça erguida, altivo,dizendo adeus à velha Sodoma. Seria muito mel-hor se pudesse ter partido dali com a família. E,quando se estabeleceu num novo lugar, poderiaestar "ricamente provido" ao entrar (v. 2Pedro1.11).

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Graças a Deus, você vai conseguir. Mas vocêquer conseguir do jeito que anda agindo ultima-mente? Vagando, perambulando sem destino?Quando haverá um lugar em que Jesus derramara"o óleo de alegria" sobre a sua cabeça, um lugarmais doce que qualquer outro no mundo todo, otrono da graça comprado com sangue (Salmos45.7; Hebreus 1.9)? A vontade de Deus e que vo-cê entre no Santo dos Santos, viva à sombra dotrono ela graça e saia dali e sempre volte para serrenovado, recarregado e realimentado. A vontadede Deus é que você viva no trono da graça,vivendo uma vida separada, limpa, santa, sacrifi-cial — uma vida de contínua diferença espiritual.Isso não seria melhor que o caminho em que vo-cê anda agora?

Estamos marchando para Sião

Isaac Warts (1674-1748)

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Cheguemos, nós, que amamos o Senhor,Que nossa alegria seja conhecida;

Juntar-nos em um cântico de doce harmonia,Juntar-nos em um cântico de doce harmonia

E assim circundar o trono,E assim circundar o trono.

Estamos marchando para Sião,Bela, bela Sião;

Estamos subindo para Sião,A bela cidade de Deus.

Deixemos os que se recusam a cantarOs que nunca conheceram nosso Deus;

Mas os filhos do Rei celeste,Mas os filhos do Rei celeste

Podem suas alegrias alardear,Podem suas alegrias alardear.

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O monte de Sião produzMilhares de doçuras sagradas

Antes de alcançarmos os campos celestes,Antes de alcançarmos os campos celestes,

Ou andarmos nas ruas de ouro,Ou andarmos nas ruas de ouro.

Então que nossos cânticos se multipliquem,E cada lágrima seja seca;

Estamos marchando pelas terras de Emanuel,Estamos marchando pelas terras de Emanuel,

Para mundos melhores no alto,Para mundos melhores no alto.

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UMDESCONTENTECOM O STATUS

QUO"Pois quem quiser salvar a sua vida, a perdera,mas quem perdera vida por minha causa e pelo

evangelho, a salvará. Pois, que adianta aohomem ganhar o mundo inteiro e perder a sua

alma? Ou, o que o homem poderia dar em trocade sua alma? Se alguém se envergonhar de mime das minhas palavras nesta geração adúltera epecadora, o Filho do homem se envergonharádele quando vier na glória de seu Pai com os

santos anjos. "MARCOS 8.35-38

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Depois da salvação, o Espírito Santo logodesperta, encoraja o novo cristão a prosseguir einsiste para que ele exorte outros a prosseguirem.A ideia de que há uma vida cristã melhor do quea maioria das pessoas conhece não é uma ideiamoderna. Remonta ao Antigo Testamento e à ex-periência de Israel.

A história de Israel é, de fato, uma ilustraçãodessa verdade. Deus tirou milagrosamente os is-raelitas do Egito, pelo mar Vermelho, levando-ospara o deserto e depois fazendo-os atravessar orio Jordão para entrarem na terra santa. Durantetodo o percurso, Israel foi conduzido por umanuvem durante o dia e uma coluna de fogo ànoite. O povo bebeu água de uma rocha, e a com-ida era angelical, vinda de cima. Toda a históriade Israel está repleta de milagres, um após outro.

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No entanto, logo vieram as mudanças. Essasmudanças não ocorreram da noite para o dia, masgradualmente, ao longo dos anos. Devagar, mas,sem dúvida, os israelitas se moveram do centropara o perímetro. Logo se prenderam ao exteriorEm vez de serem liderados por Deus dia após dia,passaram a se contentar em viver na rotina.Faziam hoje o que fizeram ontem, porque haviamfeito no dia anterior.

O FOGO DA INTERIORIZAÇÃO

É aqui que os profetas do Antigo Testamentointerferiram e chamaram Israel de volta para ocentro, para seguirem Javé.

E o mesmo com a Igreja hoje. Deus nos quercontentes, mas ficamos satisfeitos com meras pa-lavras. Quando podemos simplesmente dizer al-gumas palavras, de certa medida satisfazemos a

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consciência. Amamos a forma sem adoração, masDeus quer adoração, com ou sem forma.

Como Israel antigamente, a Igreja hoje estásatisfeita com palavras, cerimônias e formas. Aspalavras que os profetas disseram aos israelitassão igualmente verdadeiras para nós hoje: Deusquer que tenhamos contentamento, amor e ador-ação — a realidade espiritual interior daquelefogo divino interno.

Quando esse fogo da interiorização se apaga,a exterioridade começa a se desenvolver. E nessemomento que Deus envia profetas e videntes paracensurarem a forma vazia de culto que é mera-mente ritual e pleitearem aquilo que chamamosde vida mais profunda ou vida crucificada. Essavida cristã é mais profunda que a vida da médiados cristãos e está mais perto do cristianismoideal do Novo Testamento, que devia ser anorma.

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Não é difícil ver na história da Igreja uma in-clinação gradual para a exterioridade. Por vezes,Deus anima seu povo com um avivamento poder-oso. Começa a derramar seu poder, e as pessoassão movidas e rompem com a exterioridade ecom os rituais vãos e sem valor que ocupamgrande parte de seu culto. Avançam para uma ex-periência com Deus acima da média e do queconheciam até aquele ponto. Muitos dos grandeshinos da Igreja surgiram desses grandes aviva-mentos divinos.

O MECANISMO DOINSTITUCIONALISMO

Por mais que esses movimentos divinos se-jam grandes e maravilhosos, logo começa a lentavolta para a exterioridade. Uma vez que a exteri-oridade ganha terreno, o institucionalismocomeça a prevalecer. Seguem-se então a forma, acerimônia e a tradição. E a igreja começa a celeb-rar aquilo que foi e aqueles que foram. Uma

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cerimônia exterior substitui o fogo interior doEspírito Santo.

Os profetas de Deus censuravam isso. No liv-ro de Malaquias, há uma pequena passagem, umadas mais adoráveis e ternas que se possa imagin-ar. E o testemunho do profeta Malaquias, quatro-centos anos antes dos macabeus e da vinda deCristo. Malaquias foi o último profeta que apare-ceu em Israel para lhes trazer a palavra sagradade Deus. Malaquias censurou e alertou de todasas maneiras. Exortou e instou o povo que haviacaído na exterioridade e estava satisfeito com amáquina funcionando e o movimento das peças epartes, mas não se importava com o pulsar da ad-oração e da vida interior no coração. Eis o ternopequeno testemunho acerca daqueles quediríamos terem visto a vida cristã mais profunda:

Depois, aqueles que temiam ao SENHOR con-versaram uns com os outros, e o SENHOR os ouviucom atenção. Foi escrito um livro como

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memorial na sua presença acerca dos que temiamao SENHOR e honravam o seu nome.

"No dia cm que eu agir", diz o SENHOR dos Exérci-tos, "eles serão o meu tesouro pessoal. Eu tereicompaixão deles como um pai cem compaixãodo filho que lhe obedece. Então vocês verãonovamente a diferença entre o justo e o ímpio,entre os que servem a Deus e os que não oservem" (Malaquias 3.16-18).

Esse grupo de pessoas não era grande, masera composto pelos chamados. Eles temiam oSenhor e falavam com frequência uns aos outros,e o Senhor se agradava, de modo que Malaquiasescreveu sobre eles no livro. Aquela era a ador-ação de acordo com o Antigo Testamento.

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O TROPEÇO DA IGREJA NONOVO TESTAMENTO

Então chegamos ao Novo Testamento comtodas as maravilhas da encarnação, crucificação,ressurreição de Cristo e o derramamento doEspírito Santo no Pentecoste. A igreja começoucomo Israel, antes dela, havia começado: infla-mada de vida e poder. A igreja era conhecida porsua simplicidade, junto com a fé, o amor, apureza e a adoração.

De novo, porém, o fogo interior acabou re-duzido às cinzas da exterioridade. Então, denovo, Deus enviou seus profetas. SantoAgostinho encontrou Deus de um jeito maravil-hoso e admirável. Ainda que vivesse na estruturada igreja organizada, Agostinho conheceu Deuscom tremor extasiado e adoração, e escreveuacerca disso em seus livros magníficos e justi-ficada- mente famosos.

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Depois veio Bernardo de Cluny no séculoXII. Ele sonhou que algum dia visitaria Roma e,após muito esforço e preparação, conseguiu real-izar seu sonho. Foi a Roma e visitou a sede daigreja. Ali viu o que ocorria. Viu a pompa esolenidade dos sacerdotes. Viu que aquela formae cerimônia, com pouca espiritualidade ver-dadeira em toda parte, mesmo entre aqueles emaltos postos, havia prevalecido. Aquilo feriu seucoração de tal maneira que ele voltou a seupequeno vale e se escondeu, escrevendo seufamoso A pátria celestial, uma das obras literári-as mais extasiantes já escritas por um ser humanona terra. Foi um clamor poderoso de um homemsedento de Deus, protestando contra todo formal-ismo — e particularmente contra a corrupção —que via na igreja.

São Francisco de Assis também chegou prot-estando contra esse formalismo na igreja. Pensoque quase invariavelmente sua ordem cresceu deum grande avivamento no coração desse homem.

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Ele formou sua ordem para dar à religião umachance de vida. Mal havia morrido, indo des-cansar com seus pais, quando o formalismo e aexterioridade voltaram a predominar. Essa temsido a história da igreja ao longo dos anos.

Esses homens criticaram e buscaram, lutandopor uma vida que era real. Deus sempre teve ho-mens para buscarem e desejarem sinceramenteser santos e ter dentro de si o que sabiam ser oensino da Bíblia.O SURGIMENTO DA IGREJAPROTESTANTE

Até aqui, vim dando exemplos da Igrejacatólica romana, mas agora deixe-me entrar naigreja protestante. Digo a você com muitatristeza, porque devo dizê-lo, que a tendênciapara a exterioridade é tão forte dentro da igrejaprotestante quanto foi em Israel ou na igreja antesdos tempos de Lutero. É muito difícil resistir àtentação de permanecer no exterior, nas palavras,

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tradições, formas, costumes e hábitos. Car-regamos nas costas fardos inteiros de tradiçõesque não têm espaço na obra de Deus. Jesus ensin-ou: "Em vão me adoram; seus ensinamentos nãopassam de regras ensinadas por homens" (Mateus15.9). Se pudermos permitir que uma palavrasubstitua o ato, ficaremos com a palavra, nãocom o ato.

O vitral embaçado

Sempre que vou a uma cidade, tiro um tempopara visitar catedrais e grandes centros religiosos,quer católicos quer protestantes. Numa cidade,um homem que me guiava disse: "Essas janelasque você vê são réplicas exatas de uma famosacatedral europeia. O artista foi à Europa, copioucom precisão os vitrais da famosa catedral e ostrouxe para este país. Essa é uma réplica perfeitada catedral tal e tal, com todos esses belosvitrais".

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Depois disse algo mais surpreendente:"Quero mostrar algo a você. Você consegue ver oque parecem ser manchas e borrões aqui e ali?Percebe que, descendo ao longo da borda, pertoda moldura, está um pouco desbotado?".

Notei isso e confirmei. "Essas janelas têmcentenas de anos e estão em pé há séculos, en-quanto nações e reinos se levantam e caem, e elasforam lavadas naturalmente só pela chuva. Agoraguardam sobre si certo embaçamento e descolor-ação, além da poeira dos séculos. Alguns acred-itavam que a poeira e a descoloração realmenteaprimoravam e suavizavam as janelas, fazendo-asparecer melhores que antes. Assim, quando oartista foi copiá-las, não as lavaram nem tentaramcopiá-las sem a sujeira. Mas copiaram a sujeira eas janelas, de modo que temos aqui não só a artee os vitrais da catedral, mas, além disso, perfeita-mente reproduzida, a poeira de centenas de anosacumulada nas janelas".

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Essas janelas são uma ilustração perfeita doque aconteceu com Israel, com a igreja cristãprimitiva, e do que ocorreu a cada ordem que seestabeleceu, cada nova denominação que nasceude um desejo sincero de levar os homens a Deus.Elas ficaram como esses vitrais embaçados. Apoeira dos séculos se acumula sobre elas e torna-se parte de suas crenças e parte de suas práticas,de modo que dificilmente é possível dizer o quevem de Deus e o que é um simples acúmulo demanchas dos séculos.

É exatamente isso o que temos feito nos nos-sos dias. Não imagine nem um minuto queficamos sem os nossos profetas e videntes que selevantam e nos alertam, tentando nos levar devolta para Deus. Deus ainda tem os que não sesatisfazem com o culto superficial. Não são todosde uma denominação, mas estão descontentescom a religião superficial. Eles anseiam por recu-perar a verdadeira interioridade da fé e insistemna realidade. Não querem nada artificial; querem

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saber que tudo o que têm é real. Preferem serpequenos e reais a grandes e irreais. "Até um ca-chorro vivo é melhor do que um leão morto!",conforme se diz no Antigo Testamento (Eclesi-astes 9.4).

Assim, é melhor ter uma igreja pequena e realque uma grande igreja artificial. É melhor teruma religião simples e real que ter uma grandecerimônia ornada apenas oca e vazia.

A exclusividade do NovoTestamento

Infelizmente, há os que nada querem à parte oNovo Testamento. Esses vivem entre todo o povode Deus. Encontro-os aqui e acolá nas minhasviagens e creio que há alguns deles em quase to-do grupo religioso. Lembre-se disto: você e eusomos levados à Bíblia, que é a rocha da qual be-bemos a nossa água. Esse é o nosso maná. É aplanta com a qual construímos a nossa catedral. E

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o nosso guia pelo deserto selvagem. É o nossotudo em tudo, e nada mais desejamos. O povo dequem estou falando não quer nada que não estejano Novo Testamento.

A dificuldade ao longo dos anos, em regra,não foi que os homens ensinaram falsas doutri-nas, mas que não viveram de acordo com adoutrina que ensinavam. Isso não se manifestaaté um reformador ou profeta aparecer para cen-surar a igreja por sustentar a doutrina, sem ter arealidade interior dela. Quando homens comoJoão Wesley surgiram, não tentaram endireitar aigreja ou corrigir suas doutrinas. Eles insistiramnum testemunho do coração de que as coisas en-sinadas fossem reais em nós. Nós seguimos essesreformadores e profetas porque eles encontraramna Palavra de Deus a realidade para o própriocoração e nada desejavam, exceto a Bíblia.Simplesmente desejavam o que a Bíblia tinhapara eles.

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Esses, a respeito dos quais falo, só tinhamuma fonte de riquezas, e todas essas riquezas es-tão em Cristo. Para eles, Jesus Cristo era sufi-ciente. Não era Cristo mais alguma coisa. JesusCristo era tudo em tudo para eles, plenamente su-ficiente. Os que buscam uma vida cristã maisprofunda e os que desejam as riquezas que estãoem Cristo Jesus, o Senhor, não buscam nenhumlugar, nenhum valor, nenhuma coisa, só Cristo.

Caçadores de vantagens

Hoje em dia, muitos homens usam a religiãocomo fonte de riquezas, fama, publicidade ououtra coisa. Usam a religião para obter algo parasi. É óbvio que estão tirando vantagens do queacontece no momento, caçando os benefícios danovidade que surge, seja qual for. Tenho sobre-vivido a inúmeros grupos que chegaram tentandolucrar com o que fosse popular na época.

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Enquanto esses homens se agarravam ao queera popular no momento, continuei firme,pregando o evangelho. Nunca preguei a grandesmultidões, pelo menos não na minha própriaigreja. Mas preguei um Cristo coerente. Essedesejo de obter seguidores, de ser conhecido, deter reputação, não é para os que estão vivendo avida crucificada. Os que andam e vivem segundoa vida crucificada não desejam essas coisas e es-tão dispostos a perder a reputação, se preciso,para continuarem com Deus e prosseguir rumo àperfeição. Eles não buscam nenhum lugar, nen-hum valor, nenhuma coisa. Os que têm sede deDeus não voltarão a cabeça para serem eleitos emalgum lugar para alguma coisa. Só cristãos estáti-cos buscam posições eclesiásticas elevadas. Elesquerem ser alguém antes de morrer.

Por vezes, ouço acerca da morte de algum po-deroso aos olhos do mundo. Digo de imediato amim mesmo: E agora, irmão? Enquanto vocêvivia, galgou os degraus do sucesso, espezin-hando outros homens em nome de Cristo e da

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religião. Agora está morto. Os vermes vão comervocê, enquanto sua pobre alma suja e manchadaagora enfrenta o Juiz de toda a terra. E agora,meu caro?

A VIDA CRUCIFICADA DOS QUEBUSCAM DEUS

Os que vivem a vida crucificada não buscamlugar ou riqueza, fama ou altos postos. Pelo con-trário, querem conhecer Deus e estar onde estáJesus. Só conhecer Cristo — isso é tudo. Paulodisse: "Mais do que isso, considero tudo comoperda, comparado com a suprema grandeza doconhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, porquem perdi todas as coisas. Eu as considerocomo esterco para poder ganhar a Cristo"(Filipenses 3.8).

Os que buscam Deus ficam profundamenteinsatisfeitos com meras formas. Não se pode

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iludi-los com berloques pintados; eles queremconteúdo.

Em todas as denominações, em todos oslugares, há pessoas devotas buscando a face deJesus. E a bondade e a caridade me fazem dizerque alguns deles estão do lado de lá da cerca. Porexemplo, Thomas Merton buscava Deus. Creioque ele era um exemplo daqueles que nunca deix-aram a antiga Igreja católica romana, mas conhe-ceram Deus e o buscaram. Pessoalmente, nãoconsigo entender por que não a deixaram, mascreio que há outros poucos desses homens e mul-heres. Assim, Deus tem pessoas em toda parte,conhecidas pelo fato de odiarem meras formas.Ainda que possam conviver com elas, têm algodentro de si que é maior que tudo isso.

Quando o Irmão Lourenço (nascido IrmãoNicolau), autor de Praticando a presença deDeus, estava em seu mosteiro, disse:

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Aprendi sozinho a orar para Deus. Eu simples-mente falava com Deus o tempo todo, tudo o queestava fazendo — lavando louça, viajando, o quefosse — estava falando com meu Pai celeste.Desenvolvi tal senso da presença de Deus pertode mim, que nunca perdi por quarenta anos. Nãopreciso das formas deles. Eles me deram horasmarcadas para orar, e eu fiz isso. Fui obediente.Orava nas horas estabelecidas, mas isso não eranada mais do que eu fazia em todos os outrosmomentos. Eu tinha aprendido sozinho o segredointerior da comunhão com Deus. Eu já tinha en-contrado Deus e estava em comunhão com ele otempo todo.

O Irmão Lourenço fazia o que lhe era ordenado esorria, mas dizia que aquilo não significava nada.

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O PROGRESSO DO CRISTÃOMEDIANO HOJE

O progresso do cristão mediano hoje não ésuficiente para satisfazer os anseios daqueles quebuscam Deus. Eles querem algo melhor. Ocristão mediano hoje não faz muito progresso es-piritual. Ele se converte, una-se à igreja, e cincoanos depois está de volta ao ponto ondecomeçou. Dez anos depois, ainda está onde es-tava ou até um pouco atrás. Isso não é satisfatóriopara os que buscam Deus, têm sede e fome dele."Como a corça anseia por águas correntes, aminha alma anseia por ti, ó Deus. A minha almatem sede de Deus, do Deus vivo" (Salmos42.1,2). Esse é o testemunho de quem buscaDeus. Ele não permitirá que o lento progresso dealguém o detenha.

Esses buscadores de Deus são impacientescom os substitutos oferecidos hoje. Quando você

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não tem algo real dentro de si, tenta conseguiralgo no exterior que simule algo real. É con-hecido o fato de que, quando o fogo desaparecena fornalha, pintam o exterior para dar a im-pressão de que o fogo continua.

Infelizmente, a igreja também age assim. Eisso inclui até as igrejas evangélicas e as do"evangelho pleno". Algo do coração se perdeu,de modo que enfeites e penduricalhos são usadosdo lado de fora para fingir que há algo real no in-terior. Mas não se consegue enganar os que bus-cam Deus com esse tipo de coisa. Eles têmdiscernimento.

A que ponto chegamos, em que o povo deDeus não é impactado o bastante pelo Calvário,com um homem morrendo na cruz sobre ummonte nos arredores de Jerusalém? E não umsimples homem, mas o Deus-homem, morrendopelos pecados do mundo? Por que isso os deixaindiferentes e intocados? O surgimento das artes

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cênicas modernas agora toma conta do protest-antismo. O que se iniciou como uma sementinhacresceu. A semente do dragão gerou maisdragões. Os que buscam Deus não gostam do queestá acontecendo, mas os santos de coraçãofaminto não querem isso, de modo que leem comgrande entusiasmo a vida dos santos nos livrosdevocionais de séculos passados. Mas onde ficamas ações?

A COMUNHÃO DOS PROFETAS

Pergunto se você já leu Sermões sobre oCântico dos Cânticos ou Deus há de ser amado,de Bernardo de Claraval. Você porventura leu Anoite escura da alma, de São João da Cruz? Ou Aescala da perfeição ou O aguilhão do amor, deWalter Hilton? Ou A emenda da vida, de RichardRolle? Ou A vida do servo ou O pequeno livro dasabedoria eterna, de Henrique Suso? Ou osgrandes sermões de John Tauler e Mestre Eck-hart? E quanto à Imitação de Cristo, de Thomas à

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Kempis? Ou a Introdução à vida devota, de Fran-cisco de Sales? Ou A nuvem do desconhecido, ouAs cartas de Samuel Rutherford} ou as obras deGuilherme Law, ou as cartas de FrançoisFenelon, ou o diário de John Fox? E quanto aosescritos de Nicolau de Zinzendorf, Andrew Mur-ray,John Wesley e A. B. Simpson? Esses homensse levantaram como os profetas de Israel e nãomudaram a própria doutrina; simplesmente a pro-fessaram contra a exterioridade vazia do mundo.Eles procuraram recapturar a glória que estavaem Jesus Cristo, o Senhor, de adoração e oraçãoe do desejo de ser santo.

Esses homens formaram uma comunhãosagrada ao longo dos anos. Mas não os encontro,de modo algum, na corrente principal do movi-mento evangélico atual. Há homens no movi-mento evangélico atual que são simplesmentecomuns, sem sede de Deus. Eles ressoam seussermões semana após semana, fazem pequenasviagens aqui e acolá, pescam e jogam golfe por aí

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e depois voltam para pregar. Seguem adiante epassam a vida desse modo. Mas não se conseguefalar muito tempo com eles, porque não há nen-huma substancia para comentar após alguma con-versa fiada.

Nem rodos os pregadores são assim. Háaqueles com quem podemos falar horas sem fime conversar sobre Deus e Cristo. Essas pessoassão práticas, limpas e serenas, e não têm simpatiapor falsas doutrinas, mantendo distância dos ex-tremos da excitação e do fanatismo. Elas só quer-em saber de Deus e de serem santas. Querembuscar a face de Jesus até brilharem com a luzdele.

Descrevi essas pessoas porque o que real-mente quero saber é se descrevi você. Não setrata de saber a que profundidade você chegou,mas se está com a roupa de mergulho. Não per-gunto a distância que a flecha alcançou, mas seela saiu do arco. Não se você é perfeito, mas se

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tem sede da perfeição. Ou sua religião é social?Você está satisfeito com a religião do tipo "umavez no domingo"?

Deus deu a você o vento, a chuva e um corpopara abrigar a sua maravilhosa alma. Ele con-cedeu a você unia mente maravilhosa e muitashabilidades. Ele o sustenta, o apoia, mantém seucoração batendo e espera receber você adiante.Mas você joga migalhas para ele, de modo queDeus fica com as sobras? Deus só consegue osrestos do seu tempo, e você ainda diz que éseguidor do Cordeiro? Não se engane. Você nãoé, se não entrar fundo na vida crucificada.

Você está cansado de exterioridade e temsede de Deus? Eu tenho sede de Deus. Isso não éconversa de velhos nem resultado de algo que eutenha lido, exceto a Bíblia. Isso tem crescido emmim com os anos. A única coisa gratificante quetenho à parte de minha comunhão com Deus é oconhecimento de que não estou só na jornada.

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Deus tem em todos os lugares os seus que se re-voltam contra fingimentos, textualismos, exteri-oridade e tradições. Eles querem buscar Deuspelo que ele é, conforme revelado nas Escrituraspelo Espírito Santo.

Deus tem o seu povo, mas não há muitosnesse povo. Você é um?

Castelo forte é nosso DeusMartinho Lutero (1483-1546)

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Castelo forte é nosso Deus, escudo e boa espada;Com seu poder defende os seus, a sua Igreja

amada.Com força e com furor nos prova o Tentador,

Com artimanhas tais e astúcias infernaisQue iguais não há na terra.

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A nossa força nada faz, estamos nós perdidos,Mas nosso Deus socorro traz e somos protegidos.

Defende-nos Jesus, o que venceu na cruz,Senhor dos altos céus, que, sendo o próprio Deus,

Triunfa na batalha.

Se nos quisessem devorar demônios nãocontados,

Não nos podiam assustar, nem somos derrotados.O grande acusador dos servos do Senhor

Já condenado está, vencido cairáPor uma só palavra.

Sim, que a Palavra ficará sabemos com certeza,Pois ela nos ajudará com armas de defesa.Se temos de perder família, bens, poder,E, embora a vida vá, por nós Jesus está

E dar-nos-á seu Reino.

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ROMPENDO COMA INÉRCIA EAVANÇANDO

Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.Portanto, permaneça m firmes e não se deixemsubmeter novamente a um jugo de escravidão.

GÁLATAS 5.1

Um dos grandes problemas que remonta àigreja primitiva é o dos cristãos estáticos. Ocristão estático é o atrasado em seu progresso es-piritual. Esse é um problema que também precis-amos enfrentar hoje na Igreja cristã. O grande de-safio é como conseguir que tais cristãos se in-teressem e se tornem mais que crentes do tipomediano que vemos em toda parte. Assim,

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muitos cristãos são estáticos ou estão tornando-seestáticos na experiência cristã.

O apóstolo Paulo disse: "Vocês corriam bem.Quem os impediu de continuar obedecendo à ver-dade?" (Gálatas 5.7). Assim, o progresso espiritu-al é interrompido, freado e não vai a lugar nen-hum — é estático. Junto com isso há uma falta dedinâmica moral que todo cristão deve conhecer.Creio que, se prestássemos atenção, ouviríamosDeus dizer: "Aquele que tem ouvidos ouça o queo Espírito diz às igrejas" (Apocalipse 2.7). Sepudéssemos ouvir o que o Espírito está dizendohoje, ouviríamos:

"Meu servo Moisés está morto. Agora, pois, vocêe todo este povo preparem-se para atravessar orio Jordão e entrar na terra que eu estou para daraos israelitas. Como prometi a Moisés, todo lugaronde puserem os pés eu darei a vocês" (Josué1.2,3).

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Creio sinceramente que vamos ouvir oEspírito de Deus dizer: "Avancemos até a per-feição". Vamos seguir além do arrependimentodos pecados passados, além do perdão e da puri-ficação, além da concessão da vida divina.Vamos primeiro ter certeza de que esses pontosestão estabelecidos com absoluta segurança. Nãopode haver vida mais profunda antes queprimeiro seja estabelecida a vida. Não se podefazer nenhum progresso no caminho até estarmosno caminho. Não pode ocorrer nenhum cresci-mento antes do novo nascimento. Todos os es-forços rumo à vida mais profunda, a vida cruci-ficada, só trarão desapontamento, a menos quetenhamos resolvido as questões relativas ao arre-pendimento de obras mortas, ao perdão dos peca-dos, à recepção da luz divina e à conversão.

Quero esmiuçar para você duas exigênciasmuito importantes da vida crucificada. Esses doiselementos serão de grande ajuda no rompimentoda condição estática. Primeiro, viver a vida

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crucificada implica abandonar completamente omundo. Segundo, vida crucificada significavoltar-se totalmente para o Senhor Jesus Cristo.Essa é a ênfase da Bíblia nos dois Testamentos,Antigo e Novo, e a fórmula padrão que chegou anós dos primeiros dias da igreja. Você a encon-trará escrita nos grandes hinos da Igreja e nosgrandes livros devocionais que atravessaram osanos. Esses dois fatores são necessários para ocristão que deseja prosseguir e romper a condiçãoestática da própria vida para tornar-se um cristãoque cresce, movimenta- -se, progride e édinâmico.

ABANDONANDOCOMPLETAMENTE O MUNDO

E inteiramente possível ser religioso, ir àigreja todo domingo e ainda não ter abandonado,de modo algum, o mundo. A prova é que vocêpode encontrar cristãos professos em qualquerlugar onde encontra não cristãos. Quero ser o

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mais liberal e justo possível nisso. Suponho quehá lugares em que você não encontrará umhomem afirmando ser cristão. Não sei se entre oscriminosos que habitualmente destroem seusrivais — tirando-os do lugar onde estão e atir-ando neles — você encontrará ou não algumcristão professo. Sei, porém, que certos crim-inosos, ao morrerem — baleados ou de qualqueroutro jeito —, foram ouvidos murmurando algosobre terem fé em Deus, e suponho que pensaramter sido escoltados para o Reino de Deus. Alguns,porém, fazem muito esforço para colocar esseshomens sanguinários no Reino de Deus, sem sal-vação, sem bênção, sem perdão. Homens quenem têm tempo de dizer: "Deus, tem misericórdiade mim, pecador". As pessoas tentam colocá-losno céu simplesmente realizando um culto reli-gioso ou dizendo que o criminoso pertencia aessa ou àquela religião.

Lembro-me de um jovem assassino sentenciado àmorte na cadeira elétrica na prisão do condado de

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Cook. Sua morte havia sido marcada para certodia, mas a data foi alterada porque caía originari-amente num feriado da religião dele. Não |queriam matá-lo num dia santo para ele. Assim,trocaram o dia f de sua morte para honrar o feri-ado religioso.

Dessa forma, você encontrará cristãos — oualguns que alegam ser cristãos — em quase todolugar. Não se inventou nenhum esporte violentoou agressivo o suficiente para não encontrarmoscristãos por perto assistindo, com um NovoTestamento no bolso da calça. Acho que não ex-iste em nenhum lugar algum prazer mundano emque você não encontre um participante cristão. Epossível ser religioso e não abandonar o mundo.E possível abandonar o mundo no corpo, semnunca o abandonar no espírito. É possível aban-donar o mundo exteriormente e ainda sermundano por dentro. Mas ninguém pode sercristão no sentido correto da palavra sem terabandonado o mundo.

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Freiras isoladas

A situação entre as freiras é exatamente essa— abandonar o mundo e voltar-se totalmentepara Cristo —, mas não para todas elas. Não digoisso por ser protestante, mas porque li o que asfreiras dizem a respeito de si mesmas. Grandesalmas cristãs tentaram reformar freiras no séculoXIII e conseguir que fossem na vida interior oque eram na vida exterior, visível. Elas foramescondidas do mundo e tiveram o corpo vestidode certo modo, para mostrar que eram separadasdo mundo. Mas algumas dessas grandes almasdeclararam que essas mesmas pessoas que se sep-araram do mundo eram mais mundanas que algu-mas que não se haviam separado.

Grandes autores devocionais empenharam-separa despertar a igreja da época deles para que asfreiras pudessem ser por dentro o que profes-savam ser exteriormente. Um desses autores foi

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Walter Hilton, que viveu duzentos anos antes donascimento de Lutero, de modo que ele nuncaouviu falar sobre o protestantismo ou a Reforma.Mas esse cristão inglês tinha tanta fé que escre-veu uma série de cartas para as freiras de certoconvento e as alertou quanto a esse exato prob-lema. A série de cartas é chamada A escala daperfeição. É um livro mais que maravilhoso.

O capítulo de abertura é dedicado a esse as-sunto. Hilton desafia as irmãs a viverem no in-terior o que aparentam no exterior. Em essência,ele diz: "Vocês saíram do mundo e fecharam aporta sobre si mesmas para vestirem certos trajesque indicam que estão separadas do mundo.Agora cuidem para não levar o mundo com vocêspara dentro do convento e serem tão mundanascomo eram quando andavam pelas ruas.Lembrem-se de que é o abandono do mundo noseu coração o que as faz deixarem de sermundanas".

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Hilton alerta com urgência que é inteiramentepossível vestir o hábito de freira, viver num con-vento e ainda ser mundana por dentro. É possívelabandonar o mundo no corpo, mas não no es-pírito. Nunca é possível, porém, abandonar omundo em espírito se ele não é abandonado naprática.

Satisfação incerta

E necessário mencionar isso porque algunscristãos supostamente liberais fariam quase tudoo que qualquer um faria. Percebi que tudo o quevocê precisa fazer é acrescentar "para Deus" ou"para Jesus" a alguma coisa e, vejam só, aquiloque a igreja vem repudiando e cristãos sincerosabandonaram há anos torna-se repentinamentesantificado. "Estou fazendo isso para Deus.""Estou fazendo isso para Jesus."

Basta você colocar essas frases propositivasao final e algo que nunca foi considerado correto

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pela Igreja ao longo de gerações de repenteparece certo. Essa atitude domina quase tudo oque o mundo já fez. Um dia desses, ainda vououvir falar da Associação dos Barmen Cristãosque estão "fazendo isso para Jesus". "Ah, nãosomos como o mundo. Não estamos servindoesse veneno só em nosso nome. Antes de aceitarCristo, costumávamos fazer isso para nós mes-mos e pelo dinheiro que ganhávamos, mas agoraestamos fazendo isso para Jesus." A situação nãochegou tão longe ainda, mas é questão de tempo— estamos a caminho. Tudo o que precisamosfazer é esperar um pouco, e acabaremos santific-ando quase tudo dizendo que o estamos fazendopara Jesus.

Aviso que você não pode fazer para Jesusalgo que ele mesmo não faria. Você não podefazer por Deus algo que o próprio Deus proibiu econtra o qual voltou os cânones do julgamento. Aúnica coisa que posso fazer para Deus é aquiloque é santo como ele, e a única coisa que posso

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fazer por Jesus é o que Jesus consentiu, permitiue ordenou que eu fizesse. Mas é contraditórioviver como o mundo e dizer: "Estou separado domundo em espírito, e não preciso separar-me domundo porque estou separado em espírito". Seide onde veio essa ideia. Se você aspirasse umpouco, qual seria o cheiro? Enxofre. Porque essadeclaração vem do inferno e certamente pertencea ele, não à Igreja de Cristo. Não é possível aban-donar o mundo em seu espírito e não abandoná-lona realidade. Deixe-me ilustrar o que quero dizer.

Alguns exemplos bíblicos

Considere Noé. Deus disse a Noé: "Voudestruir o mundo. Faça uma arca para mim; façacom madeira de cipreste" (v. Gênesis 6.13-14).Noé obedeceu.

Agora suponha que eu tivesse pregado sobrea separação do mundo e dissesse a Noé: "Noé,você não acha que deve entrar na arca?".

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"Por quê?", perguntaria Noé. "Essa ideia é ul-trapassada. Afinal, o que é o mundo?"

A Igreja atual não consegue concordar sobreo que significa "o mundo". De acordo com o en-sino moderno, "sou separado do mundo em meucoração, mas vou permanecer aqui mesmo naterra e dormir sob arbustos e comer das árvores eviver como as outras pessoas. Mas não serei domundo porque estou separado no meu coração".

O que teria acontecido a Noé se tivesse essaatitude? Logo estaria soltando bolhas, quando asfontes do grande abismo se abrissem, a chuvadescesse e o dilúvio cobrisse o topo das montan-has. O corpo de Noé teria flutuado e afundadojunto com o resto. Entretanto, Noé sabia queabandonar o mundo significava abandonar omundo. A Bíblia diz que ele foi para a arca, eDeus fechou a porta (v. Gênesis 7.16).

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Agora considere Abraão. Deus disse a ele"Saia da sua terra, do meio dos seus [...] e vá paraa terra que eu lhe mostrarei" (Gênesis 12.1).Abraão poderia ter dito: "Recebi um chamado deDeus para abandonar o meu país e o meu povo eseguir para outra terra. Mas não acho que devaentender isso literalmente. Acho que significaabandonar no espírito. Então vou viver aquimesmo em Ur dos caldeus e seguirei para a terrasanta em espírito".

Ridículo. Abraão teve de sair do país de fatoe então, partiu com Ló e sua família. Ele teve deabandonar um lugar para entrar em outro.

Tome Ló como outro exemplo. Ló finalmentechegou a Sodoma e se tornou oficial da cidade.Os anjos vieram a ele e disseram: "Fuja por amorà vida! Não olhe para trás" (Gênesis 19.17).

Ló poderia ter dito: "Vamos fazer um painelde discussão sobre 'Fuja por amor à vida e não

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olhe para trás'. Qual o significado disso?".Estando envolvido na discussão, debatendo o as-sunto, o fogo teria caído e destruído Sodoma eLó, junto com o restante. Mas Ló sabia que "Fujapor amor à vida" significava sair de Sodoma epermanecer fora, pois o fogo estava chegando.

A comunidade cristã

Quando os primeiros cristãos ouviram que oamor ao mundo e às coisas do mundo significavaque eles não amavam a Deus, não discutiramsobre o significado de "mundo" ou até onde po-deriam chegar sem deixar de agradar a Deus.Eles saíram do mundo; eles se separaram com-pletamente de tudo o que tinha o espírito domundo. Como resultado, fizeram recair sobre aprópria cabeça a fúria do mundo.

O mundo daquela época ainda existe hoje. Ogrande Deus Onipotente cedo ou tarde confirm-ará essa verdade, mas o mundo agora não é

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diferente de quando crucificaram Jesus e martir-izaram os primeiros cristãos. E o mesmo mundo.Adão sempre é Adão, não importa onde você oencontre, e ele nunca muda. O motivo pelo qualnos damos tão bem com o mundo é que compro-metemos a nossa posição e permitimos que elenos conduza, enquanto temos pouca permissãopara conduzir o mundo. O resultado é que bempoucos entre nós estão de algum modo incomod-ados com o mundo.

O que a igreja precisa temer é tornar-se aceitana comunidade. Uma igreja aceita pela comunid-ade mundana jamais é uma igreja cheia doEspírito Santo. Uma igreja que esteja cheia doEspírito Santo, separada do mundo e andandocom Deus, jamais será aceita por algumacomunidade mundana. Ela sempre será consid-erada excêntrica. Podem estabelecer leis para nosproteger, e a civilização pode ser tal que oscristãos não sejam fisicamente atacados, mas os

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cristãos crucificados serão considerados um tantodivergentes do que se considera normal.

Já se sugeriu que todo cristão deveria entrarnum traje espacial, voar alto e ficar o mais longepossível da terra. Não estou dizendo isso. Estoudizendo que há um mundo que não é o mundo aque Deus se refere quando diz "Não amem [aban-donem] o mundo". Você precisa trabalhar eviver, beber e dormir, tomar banho e crescer, ger-ar descendentes e criar seus filhos no mundo queDeus criou. Não é a esse mundo que me refiro.

O mundo que precisamos abandonar é aqueleque se organiza e se preenche de incredulidade.O mundo que passa a se divertir, a se edificarsobre dúvidas, incredulidade e justiça própria. Je-sus estava no mundo, mas não era do mundo.Não há contradição aqui no que estou dizendo.Há uma distinção entre aquela parte do mundoque é dada por Deus, na qual os cristãos plantam,colhem, semeiam, trabalham e vivem seguindo os

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mandamentos de Deus. Deus queria que assimfosse, e isso não é "mundanismo". Mundanismo éa soberba da vida e o desejo daquilo que os olhosveem e o anseio da alma ambiciosa por posiçõese por tudo o que o mundo faz em razão dopecado que existe nele. Isso inclui tudo o que é omundo que transborda em milhares de coisas quea Igreja tradicionalmente rejeita.

VOLTE-SE TOTALMENTE PARAO SENHOR JESUS CRISTO

Assim, o primeiro passo é abandonar com-pletamente o mundo que é todo negativo e voltaras costas para ele. Ao fazê-lo, você se volta parao Senhor Jesus Cristo, que é todo positivo. E im-possível ter um positivo sem um negativo. A ba-teria do seu automóvel tem positivo e negativo.Se fosse 100% positiva, não funcionaria. E, sefosse 100% negativa, também não funcionaria. Épreciso haver um equilíbrio de positivo comnegativo.

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Há os que querem pregar todos os positivos,mas os positivos não existem sem os negativos.Há também os que querem pregar só os negat-ivos, uma lista de todas as coisas que você nãopode fazer. Mas você não pode ter o amor sem oódio. Você não pode ter a luz sem a escuridão.Um segue o outro.

Se devo seguir inteiramente o Senhor JesusCristo, preciso abandonar tudo o que é contrárioa ele. O seguir é contingente ao abandonar. Opositivo deve ser equilibrado com o negativo.

É isso o que define viver a vida crucificada,não a mudança completa de direção. Isso é negat-ivo. Você pode abandonar o mundo, parar de jog-ar, parar de beber, parar de fumar, parar de viverpara o mundo, parar de ir a qualquer lugar deprazeres mundanos, parar de dançar. Você podeparar com todos esses negativos e não ter con-dições de participar de nenhuma vida de qualquer

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tipo. Mas esses negativos são necessários paraque possa haver o positivo.

O positivo é que você se volta para JesusCristo. Isso é o que dá poder e autoridade e a pro-funda satisfação de "alegria indizível e gloriosa"(l Pedro 1.8). O negativo jamais pode brilhar. Onegativo nunca pode ser musical. O negativonunca pode ser fragrante. Um homem pode vivernuma caverna, deixando tudo para trás comgrande desgosto, como o tempo no vácuo. Podeescapar para a floresta, viver numa caverna emesmo assim não ter nenhum poder, nenhumbrilho de alegria, nenhuma glória interior. Isso sóocorre quando se volta para Jesus Cristo. E osdois podem ocorrer num ato. Se estou voltadopara o norte e Deus ordena que eu me volte parao sul, posso fazer isso com um movimentosimples. Assim, quando Deus diz para você aban-donar o mundo e voltar-se para Cristo, isso podeser feito com um movimento, um ato livre e fácil.O ato de deixar o mundo é o meu ato de voltar-

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me para Cristo. Nem sempre ocorre desse jeito,mas pode ocorrer.

Suponha que alguém tivesse grande poder edecidisse fazer algo com as trevas. Suponha queesse alguém tivesse uma porção de duendes ouanjos ou algo assim sob seu comando e dissesse:"Estou cansado dessa escuridão. Quero que vocêslivrem os céus da escuridão". Suponha que eletivesse mil, 1 milhão ou 10 milhões de duendes(ou algum outro tipo de ser imaginário) com vas-souras, e as criaturas varressem dos céus todas astrevas. Ainda estaria escuro. E só esperar o solnascer. O nascer do sol fará o que toda varredurados céus jamais conseguirá fazer. É só esperar osol, é tudo.

Imagine um jovem que não bebe um refriger-ante porque a bebida é mundana. Aí ele sentaperto do balcão de refrigerantes e fica perturbadocom uma garrafa de soda na frente dele e reclamaque se sente um tanto mundano. Bem, ele é só

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um infeliz. Nunca vi um cristão feliz que, aindaassim, tivesse escrúpulos com relação ao mundoou estivesse preocupado com ele. Nunca.

Também nunca vi um cristão feliz que, aindaassim, não fosse tomado por Jesus Cristo, o Sen-hor. O sol nasce, e a escuridão vai embora. Nen-huma criatura no Universo pode limpar roda a es-curidão dos céus; só o Sol pode fazer isso.Quando o sol nasce de manhã, quebra a escur-idão; as nuvens fogem, e as sombrasdesaparecem.

Assim, quando nos voltamos de todo o cor-ação para Jesus Cristo, nosso Senhor, encon-tramos a vida mais profunda, a vida crucificada.Encontramos nele o poder para amadurecer e asatisfação e a "alegria indizível e gloriosa".Quando voltamos os nossos olhos para o Filho deDeus, e o nosso coração é tomado pela pessoadele, cada instrumento dentro do nosso coraçãomusical soa, e a música começa. Então desponta

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a radiação, e, como Pedro disse, "exultamos comalegria indizível e gloriosa".

É isso o que quero dizer com voltar-se para avida crucificada. Esses dois atos podem ser real-izados de uma só vez. Deixe o mundo e volte-separa Cristo. E todas as coisas naturais, como, porexemplo, comer, beber, comprar, vender, casar— todas as coisas que Deus criou para seremfeitas e não são do espírito do mundo, mas sãonaturais e de Deus — serão santificadas. Elas setornarão combustível para o fogo do altar deDeus. Assim, as coisas comuns, que consid-eramos seculares, já não serão seculares para nós.As coisas mundanas já não serão mundanas, mascelestiais. O ato mais comum pode ser realizadopara a glória de Deus quando damos as costaspara o inundo e os modos do mundo e contem-plamos a face do Filho de Deus. O sol brilhará, enem todos os duendes do inferno conseguirãoapagar sua luz.

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O inferno pode enviar uma legião de de-mônios para apagar a luz solar, e eles poderiamseguir desesperadamente o Sol em torno da Terrae jamais seriam bem sucedidos na tarefa demanter seus raios longe da Terra, porque, quandoo Sol brilha sobre a Terra, há raios de sol. Assim,o inferno não consegue destruir a terra ou inter-romper a felicidade espiritual de sua visão daface de Jesus. Somos tão livres quanto o Filho dajustiça "trazendo cura em suas asas" (Malaquias4.2).

Você vai dar as costas para o mundo e voltar-se totalmente para Cristo? Isso romperá parasempre a condição de ser um cristão estático.

Todo teu — Senhor, eu quero serAlfred C. Snead (1884-1961)

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Todo teu — Senhor, eu quero serTodo entregue, Senhor, a ti.

Depois de tudo no altar deixar, toda entregafazer,

Tu pagaste meu resgate; eu me apresento a ti.

Todo teu — vida, tempo e tudo,Tudo o que me deste, ao teu chamado.

Fala para mim uma palavra, grato te seguirei,Agora e eternamente obedecerei a meu Senhor.

Todo teu — prata e ouro,Teu, quem me deu riquezas indizíveis.

Tudo, tudo pertence a ti, pois me compraste,Para ainda mais teu ser, Jesus, meu Senhor.

Todo teu — Senhor, sou teu;Todo teu, Salvador divino!

Vive tua vida em mim; toda plenitude habita emti;

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Não eu, mas Cristo em mim, tudo em tudo,Cristo.

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O GRANDEOBSTÁCULO À

VIDACRUCIFICADA

Confie no SF N H O R de todo o seu coração e não seapoie em seu próprio entendimento; reconheça oSF N H O R em todos os seus caminhos, e ele endireit-

ará as suas veredas.PROVÉRBIOS 3.5,6

Paulo era um homem que sabia em que cria eonde estava. Ele conhecia Deus e tinha uma con-fiança cósmica, mas esse mesmo homem nãotinha nenhuma confiança em si. Paulo era grande,mas não confiava em si próprio.

Diante dos homens, Paulo era firme comoleão; mas, diante de Deus, tudo o que podia dizercontra si mesmo não era bastante. Quando estavadiante de Deus, Paulo realmente não tinha nen-huma confiança em si. Sua confiança em Deusera inversamente proporcional à confiança em sipróprio. O nível de autoconfiança de Paulo eratão baixo quanto era alto o nível de confiança queele tinha em Deus.

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O que entendo por "autoconfiança"? Simples-mente a respeitabilidade e a convicção pessoalque vêm por meio da educação. É o que vocêaprende e o que seus amigos dizem sobre você eo melhor que você pode dar. A autoconfiança é oúltimo grande obstáculo à vida crucificada, e épor isso que giramos em torno do profundo riodivino como animais cm volta de uma cisterna,com medo de entrar porque a água pode sermuito funda. Nunca compreendemos isso direito.

Quero citar um homem de nome fantástico:Lourenço Scupoli (1530-1610). Foi um daquelescatólicos estranhos que, em vida, era consideradomais ou menos herético por causa de sua culturaevangélica.

Ele escreveu um livro intitulado O combateespiritual, um manual prático para a vida. Scu-poli começa ensinando que a essência da vida é aluta contínua contra os nossos desejos egoístas.

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Scupoli diz que o meio para ganhar a luta é sub-stituir os nossos desejos de autossatisfação poratos de caridade e sacrifício. Quem não faz issoperde e sofre a eternidade no inferno. Quem ofaz, sem confiar na própria força, mas no poderde Deus, triunfa e será feliz no céu.

Scupoli analisa algumas situações comuns davida real e aconselha quanto à maneira de lidar-mos com elas para manter a nossa consciêncialimpa e aumentar a nossa virtude. Qualquer umque continue agindo contra Deus é a causa detudo o que é ruim. Todo bem vem de Deus, cujabondade é ilimitada. Scupoli escreveu:

Tão necessária é a autodesconfiança nesse con-flito que, sem ela, você será incapaz, não apenaspara alcançar a vitória desejada, mas até para su-perar a menor de suas paixões. Que isso fiquebem impresso em sua mente; pois nossa naturezacorrupta nos inclina muito facilmente a uma falsanoção de nós mesmos; de modo que, nada sendo

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na realidade, nos consideramos alguma coisa epresumimos, sem o menor fundamento, nossaprópria força.

Essa é uma falta que não discernimos com muitafacilidade, mas muito desagradável para Deus.Pois ele deseja e ama ver em nós um reconheci-mento franco e sincero dessa verdade mais quecerta, de que toda virtude e graça que está em nósderiva somente dele, a fonte de todo bem, e quenada de bom pode proceder de nós, nem aomenos um pensamento pode encontrar aceitação

aos seus olhos.[1]

Por que a autoconfiança e tão errada? A auto-confiança é errada porque usurpa Deus. Deus diz:"Pode um homem roubar de Deus? Contudo vo-cês estão me roubando. E ainda perguntam:'Como é que te roubamos?' Nos dízimos e nasofertas" (Malaquias 3.8). Temos roubado deDeus e tomado aquilo que a ele pertence. Paulodeclara que Deus é a fonte de tudo, e nada, nem

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mesmo os bons pensamentos, pode sair de nós, amenos que venha antes de Deus (v. Romanos11.35,36). Se você ignora o fato de que Deus é afonte de tudo e considera fonte o eu convertido esantificado, isso é péssimo, porque a confiançafinal em Deus é removida. O eu julga Deus e ohomem, e considera Deus menor do que é, e ohomem, maior do que é. Esse é o nossoproblema.

Estude teologia e aprenda como Deus é a ori-gem e a fonte de todas as coisas. Aprenda sobreos atributos de Deus e veja se em seu coração vo-cê ainda acredita que Deus é menor do que é, evocê, maior do que é. Pense na Lua. Se a Luapudesse falar como os homens e ter uma person-alidade, diria: Brilho sobre a Terra e sempre queestou por perto a Terra fica linda. Se alguémpudesse responder à Lua, falaria: "Ouça, vocênão faz isso por si. Você não sabe que foiestudada e desvendada? Você não brilha de jeito

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nenhum. Você só reflete a luz solar, então, naverdade é o Sol que brilha".

Então o eu vem socorrer a Lua. "Você estádeixando sua luz brilhar e fazendo um bom tra-balho", diz. "Quando não está no alto, um ladointeiro da Terra fica no escuro. Mas, quandoaparece, um lado brilha, e consigo ver filas de ca-sas. Você está fazendo um serviço excelente". ALua não diria: "A glória é de Deus, porque é sópela graça de Deus que sou assim". O tempo todoa Lua está pensando que brilha.

Quando a Lua está brilhando, é apenas a luzsolar refletida. E, se a Lua realmente com-preendesse, poderia brilhar com ousadia e falardisso, porque saberia que não está brilhando.Assim também, Paulo sabia que não tinha em simesmo nada condizente com o céu. Ele só tinha agraça de Deus. Era Deus, não ele. Ele não con-fiava em si mesmo de modo completo e radical.

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Nenhum homem pode realmente conhecer a simesmo; ele não é capaz de saber o que sente.

Todos acham que sabem como soam até seouvirem num gravador. Uma das coisas mais hu-milhantes que já me aconteceu foi quando grav-aram um sermão meu. Pela primeira vez ouvi osom da minha própria voz, e aquela gravação nãomentiu para mim. Até então, diziam que eupregava com boa voz. Aí ouvi por mim mesmo, eninguém mais precisa falar sobre isso. Ouvi amim mesmo e sei como soa. Nenhum homemconhece o som da própria voz até se ouvir, e nen-hum homem sabe como é fraco até ser expostopor Deus; e ninguém quer ser exposto.

E importante compreendermos como é peri-goso confiar nos nossos bons hábitos e nas nossasvirtudes. Só Deus pode levar-nos ao ponto decompreendermos que a nossa força é na realidadea nossa fraqueza. Qualquer coisa em quepodemos apoiar-nos ou confiar pode ser a nossa

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ruína. Não percebemos como somos fracos até oEspírito Santo começar a expor essas coisas paranós.

LIDANDO COM AAUTOCONFIANÇA

A pergunta que preciso apresentar é simples-mente: Como aprendemos essa autodesconfi-ança? Basicamente, Deus usa quatro meios difer-entes para lidar com essa questão. Eles são apoia-dos e confirmados por escritores devocionais,grandes autores de hinos e biógrafos cristãos. Sãotecidos como um fio em comum pela vida dosque se dedicam a viver a vida crucificada.

Um clarão de inspiração santana sua alma

Creio que o primeiro e melhor meio para lidarcom a autoconfiança é Deus lançar um clarão de

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inspiração santa na sua alma, expondo-a. Issoaconteceu a muitas pessoas. Por exemplo, aconte-ceu com o Irmão Lourenço. Em Praticando apresença de Deus, ele escreveu que, por quarentaanos, nunca ficou fora da presença consciente deDeus: "Quando tomei a cruz e decidi obedecer aJesus e percorrer essa via santa, concluí que teriade sofrer muito". Depois ele disse algo muito es-tranho: "Por algum motivo, Deus nunca me con-siderou digno de muito sofrimento. Ele simples-mente me permitiu continuar confiando nele edeixei de lado toda a minha autoconfiança evenho confiando completamente em Deus". OIrmão Lourenço estava vivendo a vida cruci-ficada, crendo que Cristo estava nele, em tornodele e perto dele. E orava o tempo todo.

Deus lançou alguma inspiração santa no cor-ação de Iady Juliana de Norwich e, por causa dasrevelações que ela recebeu, soube instantanea-mente que não era boa e que Jesus Cristo eratudo. Ela permaneceu nessa posição até morrer.

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Penso que, provavelmente, é o meio mais fácil deentender isso — o Senhor nos dar uma explosãodoce e repentina de inspiração santa dentro donosso coração, mostrando-nos o nosso verdadeiroeu. Evidentemente, é aqui que nossa doutrinapode interferir. Podemos crer em todo conselhode Deus, e a nossa vida pode ainda estar de talmaneira infestada de orgulho, a ponto de escond-er a face de Deus. E esse orgulho que nos impedede prosseguirmos vitoriosos. Isso não pode sercorrigido por uma preleção sobre a doutrina cor-reta. Em lugar disso, precisamos que o EspíritoSanto nos mostre a verdadeira condição da nossaalma. Precisamos que ele nos revele como somosmaus e nos tire do nosso atoleiro espiritual.

Disciplina física imposta porDeus

Outro meio pelo qual Deus lida com a nossaautoconfiança está no campo físico. Muitas pess-oas têm dificuldade em acreditar que Deus

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realmente pode causar danos físicos ao nossocorpo. Mas as Escrituras sustentam o fato de quea dor física é um dos meios efetivos de Deus paralidar com uma pessoa indisciplinada.

O Antigo Testamento está repleto de exem-plos de sofrimentos físicos impostos por Deus,mas é provável que Jó se destaque acima dos out-ros. Uma leitura superficial da história de Jó podenão identificar o verdadeiro problema que ele en-frentou. Decerto Jó era bom, e as Escriturasdeixam isso claro. O problema era que ele erabom e sabia disso. Se você é bom, mas não sabe,Deus o pode usar. Entretanto, se você sabe comoé bom e notável, deixa de ser um veículo peloqual Deus pode enviar sua bênção.

O único meio pelo qual Deus podia chegar aocentro do problema de Jó era a dor física. Àsvezes esse é o único modo que Deus tem paraconseguir a nossa atenção. Ele é capaz de usaresse método para lidar com os problemas de

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orgulho e autoconfiança. E o sofrimento enviadopor Deus às vezes não pode ser curado por remé-dio algum. É claro que a única cura para tal en-fermidade física é renunciar a nós mesmos e noshumilhar diante de Deus.

Ninguém gosta de falar sobre essas coisas ho-je. Todos queremos ouvir pensamentos in-spiradores e alegres que nos façam sentir bem. Épor isso que, para conseguir que muita gente vá àigreja hoje, precisamos de guizo no pescoço, deum serrote musical ou de um cavalo falante paraoferecer alguma diversão e uma dose de entret-enimento àqueles que ficam entediados com aPalavra de Deus simples e básica. Ninguém querouvir de disciplina física ou dor. Afinal, cremosna cura.

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Provações e tentaçõesextremas

Outro método que Deus usa para desenvolvera autodesconfiança são as provações e astentações extremas. Ouvindo alguns pregadores elendo alguns livros, é fácil concluir que, depoisque a pessoa nasceu de novo, acabou: nada deprovações ou tentações. Os que creem no enchi-mento do Espírito Santo também comunicaramde algum modo a ideia de que esse é o fim detoda experiência cristã. Mas a Bíblia nos diz que,depois de ser cheio do Espírito, Jesus foi levadoao deserto para algumas tentações severas.

Quando um cristão enfrenta uma provação ouuma tentação difícil ou extrema, ele é tentado ajogar a toalha, dizendo: "Deus, não adianta. Nãosou bom. Obviamente, o Senhor não me quer, en-tão estou perdido". Enquanto isso, ele se esquecede que Deus nos deseja ensinar, por meio dessas

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provações e tentações, que a autoconfiança éperigosa e não podemos contar com ela. Àsvezes, quando algo nos faz explodir de raiva,pensamos que tudo acabou, em vez de entenderque isso é uma prova de que não somos cristãosmaduros. Precisamos entender a explosão comoprova de que estamos mais perto do nosso lareterno hoje do que estávamos ontem. Precisamoscompreender que o nosso Pai celeste está per-mitindo que essas coisas nos aconteçam para nosfazer parar de confiar em nós mesmos e nos levara depender exclusivamente do Senhor JesusCristo.

Alguns acham que o arrependimento deve serum caso de expulsão que inclui derrotar a simesmo. Penso que precisamos começar no arre-pendimento, mas então vem um tempo em quesimplesmente entregamos tudo a Deus edeixamos de fazer essas coisas. Esse é o melhorarrependimento do mundo. Se você fez na sem-ana passada algo de que se envergonha, e sente-

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se culpado e condenado, simplesmente diga: "Eume arrependo". Entregue isso ao Senhor, falecom ele a respeito, e depois deixe de praticá-lo.

Qual o propósito dessas provações etentações severas que às vezes nos fazem fracas-sar? Não é mostrar que você não é cristão de ver-dade. Pelo contrário, é mostrar que a sua con-sciência é sensível e que você está muito perto deDeus. O Senhor está tentando ensinar aquela úl-tima lição para você ver-se livre da autoconfi-ança. Quanto mais perto de Deus você estiver,tanto mais sensível será a sua consciência diantedo Senhor, e tanto mais severas serão as suasprovações e tentações. Alguns na Igreja mentempara nós, dando a entender que a vida cristã é de-sprovida de dificuldades, problemas e provações.A verdade é exatamente oposta.

Grandes personagens da Bíblia lançam al-guma luz sobre o assunto. Lembra-se da tentaçãode Jacó? Lembra-se da tentação de Pedro? Ao

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longo das Escrituras (e de toda a história daIgreja), inúmeros indivíduos enfrentaram grandesprovações e tentações. Hebreus 11 nos apresentamuitos desses heróis da fé — os que suportaramprovações e tentações extremas na vida.

Às vezes uma provação chega e corremospara a Bíblia, sacamos uma citação e dizemos:"De acordo com as Escrituras, bem aqui, con-seguimos". Temos certa confiança em nós mes-mos. Pensamos que sabemos exatamente o queestá acontecendo. O problema é que não sabemoso que está acontecendo, e assim Deus lidará coma nossa autoconfiança.

Deus certamente conhece os nossos senti-mentos. Ele sabe que temos tanto orgulho da pre-cisão com que dividimos a Palavra da verdade edo modo pelo qual destrinchamos um textobíblico como um açougueiro preparando umfrango para o churrasco. Com palavras todascuidadosamente perfiladas e sabendo exatamente

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onde colocar o dedo aqui ou ali, você é espertodemais para ser abençoado por Deus. Você sabedemais, mas o querido Pai celestial sabe que vocêna realidade não sabe de nada. Ele deixa as coisasacontecerem até você reconhecer que não sabe oque está acontecendo. Os seus amigos tambémnão sabem. E, quando você busca alguém emquem possa confiar, a pessoa também não écapaz de o fazer. Essa é uma notícia realmenteboa.

Seria de fato terrível se tivéssemos algum SãoFrancisco sagrado a quem todos pudéssemos re-correr para descobrir onde estamos, o que estáacontecendo conosco e em que consiste a vida.Deus nos ama demais para isso. Ele está tentandonos ensinar a confiar nele, não nas pessoas — adepender dele, não das pessoas. Tenho muito re-ceio de que as pessoas comecem a acreditar e aconfiar em mim. Entretanto, não tenha medo!Deus me tira as muletas de vez em quando sópara ver se pode confiar em mim.

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Como cristão, você conhece alguns dos meiosusados por Deus para ensinar seu povo. Comocristão, você ama a Deus, mas está enojado comtoda incoerência do mundo. Está enojado comtoda incoerência na igreja. O seu coração clamapor Deus como a corça anseia por águas cor-rentes. O seu coração e a sua carne clamam peloDeus vivo. Apesar de tudo isso, porém, vocêainda confia em si mesmo. Você testifica queama a Bíblia e que o seu tempo de oração é pre-cioso, mas a sua tendência ainda é confiar em simesmo.

É mais difícil lidar com essa tendênciaporque não falamos mais sobre isso. Esse ensinodeixou a igreja evangélica e fundamentalista háuma geração. Hoje em dia, quando alguém se tor-na cristão, todos batem em suas costas, dizendo:"Glória a Deus, irmão, você nasceu de novo!".

Ah, mas o Senhor diz: "Isso é só o começo".As Escrituras ensinam que Deus exultará por nós

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com alegria e canto. Esse não é o retrato de umDeus irado. Antes, é um quadro de um Pai amor-oso que é eternamente paciente conosco, seus fil-hos. Deus não nos está julgando. Deus só desejaque seus filhos cresçam e se desenvolvam até setornarem cristãos plenamente desenvolvidos. Àsvezes, para realizar isso, Deus nos faz passar porprovações e tentações severas e duras. Mas o des-tino é a perfeição cristã na pessoa do Senhor Je-sus Cristo.

Os rastros dos antigos santos

Posso condensar o quarto meio usado porDeus para lidar com a nossa autoconfiança emum pensamento simples: Procure em volta osrastros dos santos exatamente onde você estáagora. Você não está sozinho nessa jornada. Pro-cure em volta os rastros e descubra quem os deix-ou. Você perceberá que os rastros são dosgrandes santos que viveram em eras passadas.

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Não estou interessado em nenhum dos rastrosmodernos. Só estou interessado naqueles rastrosque atravessaram séculos. Se você olhar em voltae encontrar esses rastros, descobrirá que todosseguem na mesma direção. Descobrirá que elesseguem os rastros de Jesus. Todos estão seguindona mesma direção. Olhe com cuidado, e vocêverá alguns deles voltando um pouco para trásocasionalmente, mas também verá que acabaramencontrando o caminho e voltaram a seguir Jesus.Todos estão seguindo Cristo.

CONFIE EM DEUS

Agora, o cristão absolutamente alegre e con-fiante pode esperar o mesmo. Você quer que oSenhor faça algo em seu favor, não? Quer que elevenha sobre você com uma onda de graça. Comocongregação, queremos ver de novo a reforma ouum avivamento descer sobre nós com poder.Queremos ver poder na nossa vida individual.Queremos que o Espírito Santo venha sobre nós e

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demonstre seu poder. Queremos ver tudo isso,mas precisamos cuidar para não tentar conseguirisso por nós mesmos.

Não pretendo tentar criar nada. Você nãopode subir a escada de Jacó sem suor, transpir-ação e trabalho duro. O trabalho de Deus não de-pende de nenhum planejamento humano.

Raramente sei para onde está rumando a jornadada minha vida, mas, depois de passar um ano porali, olho para trás e vejo que a minha trilha temsido relativamente reta. Busco Deus, escrevo asminhas orações, espero nele e faço-o lembrar,mas nada parece acontecer. Parece que não estouindo a lugar algum, e então, de repente, as coisasbrotam ao meu redor. Olho para trás e vejo queDeus esteve dirigindo cada passo meu, e eu nempercebi.

Eu não sabia para onde estava indo, mas, ol-hando para trás, consigo ver onde estive. Não

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penso que devamos sempre olhar para trás, maspelo menos devíamos ser capazes de olhar paratrás e ver o terreno por onde Deus nos tem con-duzido — os vales e as planícies pelos quais elenos fez passar porque nos ama, apesar do quesomos.

Quanto mais a minha confiança repousa emDeus, tanto menos confio em mim mesmo. Serealmente desejamos viver a vida crucificada,precisamos livrar-nos da autoconfiança e confiarapenas em Deus.

Damos a ti o que é teuWilliam W. How (1823-1897)

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Devolvemos o que é teu,Seja a dádiva qual for;

Tudo o que temos é só teu,Depósito teu, ó Senhor.

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Que tua generosidade, assim,Possamos como verdadeiros mordomos receber,

E gratos, como nos abençoaste,A ti nossas primícias dar.

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Ah, corações estão feridos e mortos,E lares desguarnecidos e frios,

E cordeiros por quem sangrou o PastorEstão afastados do rebanho.

Consolar e abençoar,Encontrar um bálsamo para a aflição,

Cuidar do solitário e do órfãoÉ o trabalho dos anjos embaixo.

Libertar o cativo,A Deus levar o perdido,

Ensinar o caminho da vida e da pazÉ ser semelhante a Cristo.

E cremos em tua Palavra,Por mais tênue que seja nossa fé;

O que por ti fazemos, seja o que for,Para ti fazemos, ó Senhor.

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PARTE III

OS PERIGOS DAVIDA CRUCIFICADA

O PREÇO DAVIDA

CRUCIFICADAMas o que para mim era lucro, passei a con-

siderar como perda, por causa de Cristo. Maisdo que isso considero tudo como perda, com-parado com a suprema grandeza do conheci-

mento de Cristo Jesus, Senhor; por cuja causaperdi todas as coisas. Eu as considero como es

terço para poder ganhar a Cristo.FILIPENSES 3.7,8

Quando Deus chama um homem para que osiga, chama-o para que o siga a qualquer custo. Oinimigo pode fazer o pior, mas, se o homem estánas mãos de Deus, nenhum dano lhe sobrevém.Ninguém pergunta quanto custaria para alguémse tornar um grande jogador de futebol. Ou

quanto custaria para alguém se tornar umadvogado bem-sucedido. Ou quanto custaria paraalguém se tornar bem-sucedido nos negócios.Todos sabem que, quanto mais importante o ob-jeto, mais alto o preço. O que custa pouco ounada, vale exatamente esse tanto. O desafio di-ante de nós é simples: O que estamos dispostos apagar, sacrificar ou rejeitar para progredir na vidacrucificada?

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A história da Igreja e as biografias cristãs es-tão repletas de exemplos do que as pessoas sedispuseram a pagar para viver a vida crucificada.Os mártires da Igreja formam uma linhagemlonga e gloriosa. Da perspectiva do mundo natur-al, esse tipo de vida não parece glamoroso. Noentanto, quando olhamos do ponto de vista deDeus, a perspectiva 6 totalmente diferente. Oprimeiro mártir cristão foi Estêvão, que morreuaos pés de Saulo, mais tarde o grande apóstoloPaulo. Tenho certeza de que a morte de Estêvãocausou grande impressão no jovem Saulo.

Nenhuma pessoa bem informada negará que,nos últimos cinquenta anos, tem ocorrido um de-clínio contínuo na qualidade espiritual da religiãocristã. Não me refiro ao liberalismo ou ao mod-ernismo, mas àquela ala evangélica do cristian-ismo à qual pertenço por convicção teológica eescolha pessoal. Creio que a situação se tornoutão séria que o observador sincero é forçado a

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questionar se a nossa religião evangélica popularde hoje é de fato a fé verdadeira dos nossos paisou simplesmente alguma forma de paganismolevemente disfarçado com um verniz de cristian-ismo para torná-lo aceitável aos que desejamdenominar-se cristãos.

Visite sites de igrejas, e o seu coração ficaráapertado. Chegamos a este estado precário porcausa de uma ênfase quase fanática na graça,chegando à total exclusão da obediência, daautodisciplina, da paciência, da santidade pess-oal, do chamado para levar a cruz, do discipuladoe de outras doutrinas neotestamentárias igual-mente preciosas. Essas doutrinas não harmon-izam com a doutrina da graça do modo que en-sina a maioria dos pais modernos da Igreja. Cer-tamente, ainda que esses ensinos não sejam neg-ados, são ou deixados à morte por negligência ourelegados a uma nota de rodapé com tantas ex-plicações e interpretações que deixam de serefetivos.

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A graça que surpreendeu os nossos pais —que os colocou de joelhos em lágrimas e ador-ação com tremor — tornou-se por familiaridademortal, tão mundana que quase não nos afeta.Aquilo que era tão maravilhosamente preciosopara os morávios, os metodistas e seus descend-entes espirituais tornou-se algo sem valor parauma geração de cristãos devotada às própriasconquistas e entretida em seus próprios prazeres.

DIETRICH BONHOEFFER

Na minha mente, um homem sintetiza o quealguém precisa pagar ou renegar pela vida cruci-ficada. Esse homem foi Dietrich Bonhoeffer, queviveu sob a sombra do louco niilista Adolf Hitler.

Bonhoeffer estava na casa dos 30 quando osnazistas chegaram ao poder. Ele era acadêmico,teólogo e líder brilhante na Igreja confessional daAlemanha, e sua mente arguta e perceptiva lhe

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disse que as consequências políticas do social-ismo nacional seriam unia guerra sangrenta paraa Alemanha e o mundo. Seu coração cristãosensível recuou diante da inacreditável malignid-ade de Hitler e seu bando de assassinos. Comopregador do evangelho, Bonhoeffer foi cora-josamente à rádio alertar sua nação para as con-sequências inevitáveis de um sistema político"que corrompeu e desviou flagrantemente anação que fez do 'fubrer' seu ídolo e Deus".

Quando as nuvens de guerra se formaramsobre a Europa, Bonhoeffer deixou a Alemanha epassou a trabalhar na Inglaterra. Não levou muitotempo até que sua consciência cristã não lhe per-mitisse continuar num lugar seguro, enquanto seupaís experimentava grande distúrbio:

"Não terei direito de participar da reconstruçãoda Alemanha após a guerra", disse, use não partil-har das provações deste tempo com meu povo[...]. Os cristãos na Alemanha enfrentarão a

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alternativa terrível de ou desejar a derrota da pró-pria nação para que a civilização cristã possasobreviver, ou desejar a vitória de sua nação ecom isso destruir nossa civilização. Sei qual des-sas alternativas devo escolher; mas não possofazer essa escolha em segurança."

Depois de retornar à Alemanha, Bonhoeffertrabalhou para a igreja confessional e com apolítica clandestina. Logo foi capturado e presopela famosa Gestapo, juntamente com outrosmembros da família. Dali em diante, foi mandadopara diferentes prisões e campos de con-centração. Durante esse período, serviu aos com-panheiros de prisão testemunhando, pregando,consolando e ajudando de todas as maneiras pos-síveis. Aqueles que o conheceram na época falamsobre sua "calma e autocontrole [...] até nas situ-ações mais terríveis". Ele era, dizem, "um gigantediante dos homens [...J mas uma criança diante

de Deus".[2]

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Luterano e alemão, Bonhoeffer foi homem denotável percepção espiritual. Fazia de tudo parapregar Jesus Cristo como o Salvador e abraçou oque chamou de "graça preciosa". Disse que nãodevíamos tentar chegar ao céu de forma barata,pois a graça de Deus nos custaria tudo o quetemos. A graça de Deus é preciosa porque custoua Cristo seu sangue, e nos custará tudo — talvezaté nossa vida.

No início da guerra, Bonhoeffer estava noivode uma jovem adorável. Na época, sua irmã, seupai e outros parentes estavam vivos. Os nazistasrecorreram ao velho truque totalitário: "É melhorse dobrar e calar, porque temos sua família comorefém. E, se você não fizer o que mandamos, ésua família que vai sofrer". Essa era a técnicadeles, de modo que disseram a Bonhoeffer:"Renda-se e cale a boca sobre a graça preciosa ea liberdade no evangelho de Jesus Cristo. Pare dealertar contra Hitler e os nazistas, ou vamosmatar sua família".

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Esse tipo de ameaça costumava funcionar,mas os nazistas nunca tinham encontrado umhomem como Dietrich Bonhoeffer. Com a calmae a serenidade que só Cristo pode dar, Bonhoef-fer respondeu: "A minha família pertence a Deus,e vocês nunca vão conseguir que eu me rendaameaçando matar a minha família".

Anos antes, Bonhoeffer havia escrito:"Quando Deus chama um homem, ele o chama

para vir e morrer".[3]

Em 9 de abril de 1945, nocampo de concentração de Flossenburg, Bon-hoeffer foi chamado para fazer exatamente isso.Ele se recusou a ser resgatado para não arriscar avida de outros. Assim, "seguiu resoluto em seucaminho para ser enforcado e morreu com calma

e dignidade admiráveis".[4]

Muitíssimos do povo alemão se haviam tor-nado arrogantes por orgulho nacional e se in-flavam com o sucesso temporário. Assim, Deus

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em sua misericórdia enviou seu homem — umhomem que enxergava — ao país dos cegos. Masa nação de cegos enforcou seu profeta, cremouseu corpo e espalhou suas cinzas. Foi muito pou-co depois que nenhum deles tinha o corpoqueimado, e suas roupas nem sequer tinhamcheiro de fumaça (v. Daniel 3.27).

Dinheiro

O dinheiro é outro grande véu que obscurecea face de Deus diante do cristão. Como é fácilficar enredado numa teu de finanças. Isso incluinão só ter muito dinheiro, mas também não terdinheiro suficiente. Salomão foi sábio, ao dizer:

Duas coisas peço que me dês antes que eu morra:Mantém longe de mim a falsidade e a mentira;não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-meapenas o alimento necessário. Se não, tendo de-mais, eu te negaria e te deixaria, e diria: 'Quem éo SENHOR?' Se eu ficasse pobre, poderia vir a

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roubar, desonrando assim o nome do meu Deus(Provérbios 30.7-9).

O véu do dinheiro nunca diz respeito à quan-tidade de dinheiro que você possui, mas a quantoo dinheiro possui você. Para a maioria de nós,não é preciso muito dinheiro para obscurecer aface sorridente de Deus. Qualquer coisa que fiqueentre você e Deus é o que basta.

Amizades

A amizade é o véu mais difícil e que noscausa maior pesar. As nossas amizades podemficar entre Deus e nós. Não estou pensando sónas nossas amizades com pessoas não salvas. Aminha experiência tem sido que, depois da minhaconversão a Cristo, os meus amigos não salvosme deixaram. Estou pensando principalmente nasamizades que temos dentro da igreja. Às vezesessas amizades se tornam mais importantes paranós que o nosso relacionamento com Deus. O

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problema aqui é que há uma grande dose depressões no sentido de nos ajustarmos uns aosoutros. O denominador comum somos nós mes-mos. Somos chamados não para nos ajustarmosuns aos outros, mas para nos ajustarmos a Deus.Nada é mais maravilhoso e encorajador que aamizade cristã, mas, quando essa amizadecomeça a substituir a nossa comunhão com Deus— e é fácil isso acontecer —, ela se torna um véude obscuridade.

A nossa posição social

Para muitos de nós, esse é o véu mais difícilde tirar. A maioria de nós estabelece sua iden-tidade pela posição que ocupa. Essas posições en-tão determinam a nossa influência na igreja e nacomunidade. Não precisamos manter umaposição importante ou de grande renda. Pode atéser uma posição à qual você se ofereceu volun-tariamente. O perigo à espreita está em permitir

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que a nossa posição substitua a aprovação divinana nossa vida. A aprovação dos homens pode dis-torcer a aprovação de Deus.

Arranque os véus

Todos esses véus são aspectos da vida que, àprimeira vista, parecem inocentes, mas certa-mente podem tornar-se algo que obscurece a facede Deus. Alguns cristãos percebem isso. Algunscompreendem essa verdade e fazem algo a re-speito. Mas outros são como os israelitas. Vão aCades-Barneia uma vez por semana por anos edepois voltam ao deserto. Então querem saberpor que têm tanta areia nos sapatos.

Simplificando, eles não passarão de Cades-Barneia. Não avançarão para a terra prometida.Seguir adiante rumo a uma esses mesmos cegosenfrentaram humilhação nacional e colapso final.

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Sem dúvida, a maior contribuição do min-istério de Bonhoeffer é seu livro Discipulado.Mesmo antes da guerra, esse profeta enxergavaclaramente. Ele escreveu: "A graça barata é o in-imigo mortal de nossa igreja. Estamos lutandohoje pela graça preciosa".6

Só o conhecimento de que a verdade é uni-versal e que a humanidade é exatamente igual nomundo inteiro nos permite compreender comoesse jovem ministro luterano, examinando o cris-tianismo alemão em meados da década de 1930,pôde diagnosticar com tanta habilidade a doençaque ameaça destruir a igreja evangélica uma ger-ação mais tarde. O que me preocupa é que aquiloque Bonhoeffer disse das condições da Alemanhade então é terrível e ameaçadoramente verdadeiroem relação ao cristianismo de hoje. O paralelo éalarmante.

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PERNAS MUNDANAS

Por que o povo de Deus não salta rápido enão começa a andar, crescer, subir, planar e es-calar? Por que precisa ser mimado, afagado,cuidado, acompanhado e sustentado? O motivo éque nunca adquirem pernas espirituais sob ocorpo, e a face de Deus está longe deles. Ou seja,pensam que é isso o que está acontecendo; a ver-dade é que Cristo fez plena expiação por nós,portanto não há nenhum impedimento entre ocristão e Deus. A expiação de Cristo foi tão per-feita e completa que transforma tudo o que estácontra nós em algo a nosso favor. Isso transfor-mou todos os nossos deméritos em méritos.

Isso moveu tudo o que estava na coluna de débitopara a coluna de crédito da contabilidade. Tudo oque estava contra nós passou para o nosso lado.Essa é a maravilha da expiação em Jesus Cristo.

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Assim, por que levamos tanto tempo para noslivrar desse véu de obscuridade? Por que levamostanto tempo para colocado de lado, ver o brilhodo Sol e percorrer o nosso caminho rumo aocume da nossa fé?

Não é falha de Deus, porque a divagação nãofaz parte do plano de Deus para nós. Deus desejaque seus filhos cresçam na graça e no conheci-mento de Jesus Cristo. Deseja que prossigamospara a perfeição. Deseja que sejamos santos.Assim, por que não nos empenhamos para ser-mos santos? O principal problema é quegostamos demais de nós mesmos. Nós nos em-penhamos para nos manter de cabeça erguida.

DE CABEÇA ERGUIDA

Tenho visto alguns chegarem ao altar embusca de piedade, mas, em regra, não tenho dódeles por estarem em luta. Alguns podem dizer:"Olhem aquilo. Não é maravilhoso?". Mas eu

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digo: "Sabe por que estão lutando? Estão lutandocom Deus". Nunca é algo agradável de ver. Elesestão tentando manter a cabeça erguida, nãoquerem render-se, não querem que as pessoassaibam como são desimportantes, inúteis epequenas. Não querem que ninguém flagre apobreza do coração deles. Assim, lutam paramanter a cabeça erguida.

Homens e mulheres contemporâneos gastambilhões de dólares por ano para manter a cabeçaerguida. Rasgue a máscara de alguém comum, evocê descobrirá que ele é um pobre mendigo noespírito, na mente e no coração. Tentamos escon-der esse estado interior, disfarçar a nossa pobrezae preservar a nossa reputação para manter algumaautoridade para nós mesmos. Queremos ter umpouco de autoridade no mundo. Não queremosrenunciar a ele por inteiro. Mas Deus quer tirartoda a autoridade das nossas mãos e nos levarpara onde não reste nenhuma autoridade. Elequer tomá-la e nunca nos abençoará até a tomar

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por completo. Enquanto você estiver nocomando, enquanto disser "Ouça agora, Deus,vou dizer como fazer isto", você será um cristãomedíocre, surdo para ouvir, frequentando retiros,igrejas e tendo todos os meios da graça à dis-posição, mas ainda assim não chegará a lugaralgum.

Gostamos de ter um pouco de glória para nósmesmos. Estamos dispostos a deixar Deus ter umpouco de glória, mas queremos uma comissão, sóum pouquinho para nós. Queremos livrar parte denós de pagar esse preço.

Estou inclinado a pensar que algumas pessoassimplesmente nasceram para serem pequenas.Elas nunca juntam muito. Se forem ao céu, serápela graça de Deus, e não levarão nada para lá —vão seguir de mãos vazias. Elas vão entrar pelamisericórdia de Deus. Esse é o único meio paraalguém entrar, mas Deus deseja que você leveconsigo riquezas, diamantes, pérolas, prata e ouro

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provados no fogo. Ele deseja que tenha uma col-heita de almas. Deseja que você envie suas boasobras diante de si. Deseja que você seja umcristão produtivo e frutífero.

Contudo, muitos cristãos não terão nada paramostrar a Deus. Simplesmente não estão dispos-tos a pagar o preço. O autor de Hebreus disse:"Vocês se tornaram lentos para aprender"(Hebreus 5.11). Ele não podia falar aos leitoresda maneira que desejava porque, ainda quetivessem tido tempo suficiente para crescer eamadurecer, isso não ocorrera.

AUTODEFESA

A verdade é que precisamos parar de nos de-fender, de estar sempre com os pulsos fechados.Nós tivemos uma querida senhora que costumavaajudar-nos junto ao altar. Quando ela via alguémorando com os punhos fechados, dizia: "Agoraabra os punhos, querido. Orar com os punhos

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cerrados significa que você está agarrado a al-guma coisa. Solte. Solte. Abra as mãos paraDeus. É isso".

Qualquer coisa que o mantém afastado é umvéu entre você e Deus, e é formado por coisasque são simplesmente bobas. Você nunca deixaráde ser um cristão comum até desistir dos própriosinteresses e parar de se defender. Entregue-se nasmãos de Deus e deixe-o só. Pare de tentar ajudarDeus.

Nunca aconteceu de eu ter um dente arran-cado sem tentar ajudar o dentista empenhado natarefa. Sempre que viajo de avião, tento in-stintivamente ajudar o piloto, inclinando- mepara a esquerda e depois para a direita. Somosigualmente tolos no que diz respeito às coisas deDeus. Queremos ajudar Deus. Não. Entregue-separa Deus. Volte-se para ele e diga: "Pai, estoucansado de ser um cristão comum. Estou fartodessa mediocridade, de estar na metade do

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caminho de onde devia estar, de ver os outroscristãos felizes, quando eu mesmo não estou fel-iz. Estou enjoado de tudo isso. Quero prosseguire conhecer-te".

Um homem teve uma grande experiência comDeus, algo que floresceu e se desenvolveu numaexperiência ainda mais maravilhosa. Ele andoucom Deus e tornou-se conhecido como umhomem de Deus. As pessoas chegavam a ele ediziam: "Irmão, por muito tempo você foi con-hecido como alguém mediano, mas de repente es-tá coberto de bênçãos. O que aconteceu comvocê?"

"Bem", respondeu ele. "Não sei direito, masaqui está o que aconteceu e como. Um diabusquei a presença de Deus e orei: 'Deus, precisodizer uma coisa. Nunca, enquanto viver, direi emoração algo que não seja sincero'. E a partir daítudo começou".

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A MOEDA DE TROCA

A maioria dos cristãos está satisfeita vivendoa vida inteira como cristãos comuns. Eles nuncaexperimentam as riquezas daquilo que realmentesignifica ser cristão. Sem uma fome profunda einsaciável pelas coisas de Deus, não há nada den-tro deles que os incite a prosseguirem rumo àperfeição. A condição da Igreja cristã de hoje é oresultado do excesso de cristãos comuns em fun-ções de liderança. Mais uma vez, precisamos deum grande mover do Espírito Santo para romper-mos a rotina espiritual e prosseguirmos para aperfeição espiritual. Esse mover precisa começarcom indivíduos cristãos que estejam dispostos aentregar tudo para Deus e viver a vidacrucificada.

Contudo, qual é, exatamente, a moeda asso-ciada à vida crucificada? Qual é, exatamente, amoeda que precisa ser empregada nesse câmbio?

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Deixe-me enumerar alguns elementos que con-sidero necessário trocar para seguirmos adiantena nossa jornada pela vida crucificada.

Segurança

Uma das primeiras coisas que precisamos tro-car é a nossa segurança. Os que insistem numambiente seguro nunca avançarão na jornada paraa vida crucificada. Dietrich Bonhoeffer não tevesegurança na vida. Para fazer o que Deus queriaque ele fizesse, Bonhoeffer teve de abdicar da se-gurança. Se a segurança fosse importante paraele, Bonhoeffer jamais teria voltado para a Ale-manha e enfrentado o que sabia que enfrentaria.Se sua segurança é tão preciosa que você precisapreservá-la a todo custo, você sofrerá interferên-cia na sua jornada na trilha da vida crucificada. Asua segurança é o preço que você paga paraavançar a novas perspectivas espirituais.

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Conveniência

Outro aspecto da nossa moeda ao longo dessatrilha é a conveniência. Ninguém sobre quem já liconsiderava conveniente a morte. A jornada pelatrilha da vida crucificada será paga por "montan-has" de inconveniências. Aqueles que estão dis-postos a se desfazer da conveniência progredirãopara serem cristãos de índice cem.

Prazer

Talvez nunca tenha havido uma geração decristãos mais apaixonada pelo prazer que a atual.Mas isso também faz parte da moeda com que sepaga a jornada para a vida crucificada. Nenhumdos caminhantes da Igreja a considerouprazerosa. Os grandes reformadores da Igrejasantificaram o prazer para fazer o que Deus tinhadiante deles. Resume-se a isto: apegue- -se ao seu

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prazer ou troque-o pelo progresso rumo à per-feição espiritual.

Popularidade

Muitos hoje tentam popularizar ocristianismo comercializando-o como se fosseum produto na prateleira de uma loja. Jamaisdescobri em alguma parte das minhas leituras dehistória que aquilo que era popular entre as mul-tidões fosse correto.

Na maior parre dos casos, para seguir adiante, amaioria dos grandes homens e mulheres de Deusteve de se curvar contra o vento da popularidade.O preço do avanço deles foi a popularidade.Sucesso mundano

Mais uma coisa que preciso mencionar entreas que devem ser trocadas nesta jornada é o su-cesso mundano. Você está disposto a trocar seusucesso nos negócios, nos esportes, em sua

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carreira, para prosseguir e alcançar a perfeiçãoespiritual?

Se consideramos o sucesso da perspectiva domundo, o ministério de Jesus foi um terrível fra-casso. Todos os apóstolos falharam no que diz re-speito aos critérios do mundo. Os grandesmártires da igreja foram fracassos absolutos. Deacordo com o critério do que o mundo entendepor sucesso, William Tyndale, que morreu porcausa de sua obra, foi um fracasso absoluto.

O homem ou a mulher que tiver disposiçãopara trocar e render todos os aspectos de seu su-cesso é aquele que prosseguirá com Deus. Nãovivemos para este mundo, mas para o mundo porvir. A economia em que estamos negociando nãoé a deste mundo, mas a do mundo em que JesusCristo está preparando um lugar para nós. Temoso notável privilégio de trocar o sucesso destemundo pelo favor do nosso Pai que está no céu.

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A vida crucificada é uma proposição quecusta caro. Qualquer um que estiver disposto apagar o preço é alguém que seguirá adiante emabsoluta vitória e alegre comunhão com Cristo.Cristo pagou o preço da nossa salvação; nósagora pagamos o preço da nossa plena identi-ficação com ele e do nosso andar e peregrinaçãorumo à perfeição espiritual.

Ano-novo 1945Dietrich Bonhoeffer (1906-1945)

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Por bons poderes fielmente cercado,maravilhosamente protegido e consoladoassim com vocês estes dias desejo passar

e com vocês também num novo ano entrar.

O antigo nosso coração ainda torturae o fardo de maus dias nos traz amargura.

Senhor, dá à nossa alma assustadaa salvação para a qual foi criada.

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Se nos estendes o cálice pesado e amargodo sofrimento, cheio até a borda,

nós o tomaremos gratos e sem tremordas tuas mãos plenas de bondade e amor.

Mas, se ainda quiseres dar-nos alegriascom este mundo e o brilho dos seus dias,

então nos lembraremos do passado eentregaremos nossa vida ao teu cuidado.

Faze que chamejem as velas cálidas e claras,que tu mesmo trouxeste para as nossas trevas.

Permite, se possível, que outra vez nosencontremos!

É a tua luz que brilha na noite, bem o sabemos.

Quando se espalhar profundo o silêncio,faze que ouçamos aquele som intenso

do mundo que invisível se estende ao nossoredor,

de todo o teu povo que a ti está rendendo louvor.

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Por bons poderes maravilhosamente protegidos,esperamos consolados o que nos será trazido.

Deus está conosco de noite e de manhã,e com toda a certeza a cada novo amanhã.

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OS VÉUS QUEOBSCURECEM AFACE DE DEUSIrmãos, não penso que eu mesmo já o tenha

alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-medas coisas que ficaram para trás e avançando

para as que estão adiante, prossigo para o alvo}a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial

de Deus em Cristo Jesus.FILIPENSES 3.13,14

A mensagem, os objetivos e os métodos doNovo Testamento permanecem adormecidos.Atos realizados no nome do senhorio de JesusCristo são senhorio só no nome. Substituindo overdadeiro senhorio de Cristo, introduzimos anossa própria mensagem, os nossos próprios ob-jetivos e os nossos próprios métodos para

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alcançar esses objetivos que são, em todos oscasos, absolutamente não bíblicos.

Seria heresia — será que se constitui umamente radical — se você orasse pedindo queDeus purificasse a intenção do seu coração com oindizível dom de sua graça? Essa, claro, é agrande oração do autor de A nuvem do não-saber."Deus [...] suplico-te que purifique a intenção demeu coração com o indizível dom de tua graça,para que eu possa amar-te perfeitamente elouvar-te dignamente".

Ansiar amar a Deus e louvá-lo dignamentedeve significar mais que as palavras que vocêpronuncia. Deve custar-lhe tudo.

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Seria isso heresia? Alguém deveria ser preso porisso? Deveria por isso ser condenado ao ostra-cismo de acordo com a nossa hinódia, de acordocom nossos livros devocionais, de acordo com ahistória da Igreja remontando até Paulo e deacordo com a vida de todos os santos? Não, nãopenso que seria.

O apóstolo Paulo disse que, para ganharCristo, teria renunciado a todo este mundo (v.Filipenses 3.7,8). Ele queria que todos conhe-cessem Cristo como uma experiência consciente,para usar uma linguagem moderna, e para recebero Reino dos céus. Informou que orava todo otempo pedindo que Cristo habitasse no coraçãode cada cristão (v. Efésios 3.17). Declarou aoscoríntios: "Examinem-se para ver se vocês estãona fé; provem-se a si mesmos. Não percebem queCristo Jesus está em vocês? A não ser que ten-ham sido reprovados!" (2Coríntios 13.5). E aosromanos: "Se alguém não tem o Espírito de

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Cristo, não pertence a Cristo" (Romanos 8.9). Epela habitação de Jesus que recebemos asriquezas de Deus e vemos seu rosto sorridente.

Infelizmente, entre os cristãos e a face deDeus tem-se desenvolvido o que chamarei de"véus de obscuridade". Esses véus escondem aspreciosas riquezas de Deus daqueles dentre nósque prosseguem rumo à perfeição. O efeito é quejá não conseguimos ver a face sorridente deDeus.

RECONHEÇA OS VÉUS

Num dia nublado e escuro, o brilho do Solfica obscurecido. O Sol ainda está lá, mas a nossacapacidade de aproveitar os raios solares ficagrandemente reduzida. Assim é no mundo espir-itual. Há certos véus que se colocam entre nós eDeus e têm efeito semelhante. Esses véus são emgeral de confecção nossa. Permitimos que sedesenvolvam na nossa vida e, na maior parte das

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vezes, nem temos consciência do impacto que ex-ercem sobre nós. Deixe-me descrever alguns dosvéus mais problemáticos.

Orgulho e teimosia

Sem dúvida os primeiros e mais fortes dessesvéus são o orgulho e a teimosia. Nada é maisadâmico que isso. A raiz de ambos é uma opiniãoinflada sobre nós mesmos. Aquilo que nos causao maior problema é o que mais honramos.

O termo muitas vezes usado nesse sentido é apalavra "ego". Essa única palavra expressa a raizde todos os nossos problemas com nós mesmos,com a nossa família, os nossos amigos e certa-mente com o nosso Deus. É quando usurpamos olugar que cabe a Deus que ocorrem os problemas.O motivo pelo qual fazemos isso é que temosopinião mais elevada sobre nós mesmos do quesobre todos os outros, inclusive Deus.

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Mesmo quando achamos que estamos erra-dos, a teimosia nos impede de reconhecer essefato, de modo que não conseguimos seguir adi-ante. O problema com o orgulho e a teimosia éque eles se concentram em nós e obscurecem aface de Deus, aquele que em todos os casos provêa solução para nossos problemas. O orgulho e ateimosia distorcem a importância da autoridadede Deus na nossa vida.

Vontade própria

Associada ao orgulho e à teimosia, está avontade própria. O aspecto perigoso desse véu éque se trata de algo muito religioso. No mundonatural, a vontade própria é algo positivo. Levadaao contexto da igreja, contudo, pode serdevastadora.

A vontade própria sempre usurpa a vontadede Deus. A primeira vista parece muito boa, maspasse por pessoas com vontade própria e veja o

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que acontece. Deixe que algo desafie a vontadeprópria de alguém, inclusive a sua, e veja comoisso é realmente. A vontade própria distorce aface sorridente de Deus e esconde o fato de que avontade de Deus tem em mente o nosso melhorinteresse a longo prazo. A vontade própria só seimporta com o agora.

Ambição religiosa

A ambição religiosa é provavelmente o maisenganoso de todos os véus. Uma pessoa pode serambiciosa de maneira muito religiosa. Vemosisso o tempo todo. Infelizmente, a ambição reli-giosa em geral distorce a vontade de Deus.

Ela funciona mais ou menos assim. A maioriadas pessoas deseja que sua igreja cresça e sejauma força poderosa para Deus na comunidade. Eisso é admirável. Mas junto vem uma pessoa reli-giosamente ambiciosa que gera tanta empolgaçãoentre o povo que este se esquece de todo

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propósito da comunidade. O que Deus honra nãoé a grandeza. Aliás, na maior parte do tempo,vastas multidões impedem o que Deus realmentequer fazer.

Alguns pastores estão empurrando suas igre-jas além do escopo da autoridade divina. Algu-mas igrejas estão mais interessadas na política.Outras, nas questões sociais. Para outras, ainda, ogrande interesse é a educação. Todas essas coisassão boas, mas nenhuma delas faz parte da comis-são que Deus deu à igreja. O fato de uma pessoasimplesmente revestir algo de terminologia cristãnão o torna uma obra aprovada por Deus.

A ambição religiosa distorce facilmente aaprovação de Deus sobre um grupo de pessoas.

Defesa de direitos

E aqui que encontramos muitas dificuldades.Tudo o que reclamo para mim corna-se um véu

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que obscurece Deus aos meus olhos. Aquilo aque não renuncio de maneira absoluta e entregopara Deus fica entre mim e Deus. Alguns cristãosacreditam que, se jejuarem o suficiente e oraremsobre algo por tempo suficiente, Deus mudará deideia sobre certo assunto. Não nesse caso. Nemtodo jejum e oração do mundo podem removeresse véu.

Depois que eu colocar tudo no altar, o brilhoda face sorridente de Deus será visco. Penso que,depois que Abraão renunciou a qualquer direitosobre Isaque, passou a olhar o mundo de maneirabem diferente. Aquilo a que você se apega o pux-ará para baixo e o atrapalhará em sua busca daperfeição espiritual.

Medo

O pai do medo é a incredulidade. O medo dis-torce o aspecto sorridente da face de Deus.Acredito realmente que Deus tem em mente o

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melhor para mim? Ou há um pouco de medo nomeu coração obscurecendo suas boas intenções?As minhas circunstâncias não servem para indi-car se o divino favor sorridente está sobre mim.O medo faz que eu olhe as circunstâncias emvolta em vez de levantar o olhar para a face sor-ridente de Deus.

Se os três filhos hebreus na fornalha acesativessem mais consciência do fogo em tornodeles do que de Deus que estava com eles, po-deriam ter ficado desencorajados. Mas eles ol-haram além do fogo e viram a face sorridente deDeus. Tinham tanta consciência de Deus e de seufavor sobre eles que as Escrituras nos contamque, quando saíram da fornalha, vida crucificadaexigirá algum trabalho e compromisso da nossaparte, e uma das coisas que precisamos fazer é ar-rancar os nossos véus de obscuridade para que aluz da face sorridente de Deus brilhe sobre nós.

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A face de Deus está sempre sorrindo, e nemtodos os véus que mencionei, nem mesmo o Di-abo, podem fazê-lo parar de sorrir na nossadireção. O Diabo pode soprar uma tempestade ecolocá-la entre nós e a face de Deus, mas Deusainda está sorrindo. Somos nós que estendemosos véus que obscurecem a visão.

Não tenha rivais para Deus

O nosso Deus é um amante ciumento e nãosuporta rivais. Qualquer rival que você venha aconstruir torna-se uma obstrução entre você e seuDeus. Não digo que você não está ligado a ele ounão justificado pela graça. Digo que essa mara-vilhosa iluminação divina, essa habilidade de am-ar a Deus perfeitamente e louvá-lo de maneiracondigna fica velada. Fica bloqueada e derrotadae, agora, deixou de ser ensinada há uma geração.

Se você arrancar os véus e os colocar sob ospés, descobrira que eles escondem tudo o que o

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incomoda. Tudo o que o amedronta passará, enada haverá senão o céu limpo em cima. Cristonão precisa morrer de novo. Nenhuma cruz ja-mais precisa ser erguida novamente. Nada pre-cisa ser acrescentado à expiação. A face de Deuscontinua sorrindo para seu povo; entretanto, háuma nuvem, um véu, escondendo essa face e essesorriso.

Não se deixe enganar

Alguns dizem que a apostasia acontece entreos pecadores, mas jamais entre os cristãos. Podeacontecer com as massas, mas não conosco. Masos cristãos dos dias de hoje foram ensinados quepodem fazer bater o coraçãozinho e obter umsentimento quente e aconchegante de cânticosrurais, teatralismo grandioso e todo o resto queformam o culto em muitas igrejas modernas.

Não os culpo. Mas eles estão sendo engana-dos, e os líderes religiosos têm mentido para eles

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e os lesados, assim como ocorreu nos dias de Je-sus. Jesus andou entre os líderes de seus dias comos olhos abertos e a visão arguta e exortou: "Oque eles dizem e fazem pode ser teologicamentecorreto, mas não sejam como eles". Os líderes re-sponderam: "Vamos matar esse homem". E omataram. No terceiro dia, porém, ele ressuscitou.Então enviou o Espírito Santo para este mundo, eo Espírito é seu e meu.

Não crie limites para o EspíritoSanto

Não deixe que ninguém diga quanto vocêpode ter do Espírito Santo. Só Deus pode dizerquanto você pode ter dele. Falsos mestres o in-struem a não ficar empolgado e fanático, mas nãolhes dê ouvidos.

A geração passada foi levada a igrejas ecomunidades evangélicas. O que agora é funda-mentalismo em pouco tempo será liberalismo.

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Precisamos ter o Espírito Santo de volta nasnossas igrejas. Precisamos ter a face de Deusbrilhando e velas acesas iluminando a nossaalma. Precisamos perceber, sentir e conhecer amaravilhosa iluminação divina daquele que disse:"Eu sou a luz do mundo" (João 8.12).

Dizer isso faz de mim um fanático? Se isso éfanatismo, então, ó Deus, mande-nos mais fanat-ismo. O verdadeiro fanatismo é quando você vaicontra as Escrituras, acrescenta coisas e inter-preta mal a Palavra de Deus. Mas nenhuma linhada Palavra de Deus foi mal interpretada poraquilo que estou dizendo aqui. Tudo é baseado nadoutrina da fé — a fé dos nossos pais que aindavive.

Pare de vaguear

A questão é: Você está disposto a arrancar osvéus do orgulho e da teimosia, da vontade pró-pria, da ambição religiosa, da defesa de direitos,

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do medo, do dinheiro, das amizades e da posiçãosocial? Você está disposto a esmagá-los sob ospés?

Talvez você esteja sob esses véus há muitotempo. Você tenta contorná-los orando, mas nãofunciona. Você precisa colocar esses véus sob osseus pés e erguer-se sobre eles. Precisa afastar to-das essas coisas que existem entre você e a pazde Deus e olhar para a luz do sol. Então relaxe.Não há nada mais que você possa fazer. O nossoDeus aguarda, otimista, querendo ajudar você.Ele está querendo fazer isso; aliás, ele está ansio-so para fazê-lo.

Não cruze os braços e não se deixe desanim-ar. Talvez você tenha estado em muitos altares elido tantos livros que ficou confuso. Arranque osvéus entre você e Deus e se deite ao sol de seusorriso eterno. Pois até que o povo de Deuscoloque os véus sob os pés, nada acontecerá.

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Eu recebo, ele assumeA. B. Simpson (1843-1919)

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Aperto a mão do Amor divino,Reclamo a graciosa promessa

E acresço à dele meu selo"Eu recebo" — "Ele assume".

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Eu te recebo, bendito Senhor,Entrego-me a ti,

E tu, de acordo com tua palavra,Assumes por mim.

Recebo a salvação plena e gratuita,Por meio daquele que deu a vida por mim,

Ele assume tudo o que serei,"Eu recebo" - "Ele assume".

Eu o recebo como minha santidade,Meu espírito imaculado, veste celestial,

Recebo o Senhor, minha justiça,"Eu recebo" — "Ele assume".

Recebo o Espírito Santo prometido,Recebo o poder do Pentecoste,Para me encher e transbordar,"Eu recebo" — "Ele assume".

Eu o recebo por sua estrutura mortal,Recebo minha cura por seu nome,

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E toda a sua vida ressurreta reclamo,"Eu recebo" — "Ele assume".

Simplesmente o recebo por sua palavra,Louvo-o, pois minha oração escuta,

E reclamo minha resposta do Senhor,"Eu recebo" — "Ele assume".

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A ESTRANHAPERSPICÁCIA DO

CRISTÃOTudo posso naquele que me fortalece.

FILIPENSES 4.13

O objetivo diante de nós é conhecer Cristo.Precisamos aprender dele, conhecer o poder daressurreição de Cristo, ser conformados à suamorte, experimentar em nós o que temos emCristo. Para isso, temos de considerar "tudo comoperda, comparado com a suprema grandeza doconhecimento de Cristo Jesus" (Filipenses 3.8).Permita-me entrar num limbo e declarar algo deque não tenho certeza; é um palpite sagazbaseado no conhecimento das leis espirituais. Esimplesmente isto: uma vez que a pessoa começa

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sua jornada de viver a vida crucificada, durantesua primeira fase dessa jornada, experimenta al-gumas das piores semanas da vida. É nesse pontoque muitos desanimam e desistem. Os que per-severam descobrem que, em vez de chegarem aum sol claro e brilhante, bem diante delesencontram-se mais desalentos, dúvidas eenganos.

Em vez de o elevar, esse tipo de ensino jogavocê ao chão. Mas deixe-me explicar: Os que fo-ram assim desencorajados — os que bateram acabeça no teto ou rasgaram o queixo na calçada— e sofreram algum tipo de derrota são os mes-mos que estão chegando mais perto de Deus. Osque não são afetados — os que ainda podem sermundanos e não se importam com isso — fizer-am o progresso mínimo. Mas os que descobriramcoisas ocorrendo contra eles — aqueles que an-seiam e clamam pela vida crucificada, os que es-peram que Jesus Cristo os lidere e se surpreen-dem por estarem sendo desencorajados por ele

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—, esses provavelmente não percebem que estãomuito perto do Reino de Deus.

"QUE ELE POSSA VERSIMPLESMENTE PELA GRAÇA"

Quero dar a você outra frase curta: "Que elepossa ver simplesmente pela graça". Ou em lin-guagem moderna: "Que vejam os que conseguemver pela graça de Deus". Ou na linguagem daBíblia: "Aquele que tem ouvidos, ouça!" (Mateus11.15; Marcos 4.9; Lucas 8.8).

Discordo um pouco do autor anônimo de Anuvem do não- saber. Se a pessoa não conseguiaver, ele simplesmente se afastava. Ele de fato de-clarou: "Não quero ver tagarelas e amantes dodinheiro. Quero que eles nem olhem meu livro".Ele era bem intransigente quanto a isso.

Sou um pouco mais flexível. Vou dizer queDeus peneira os que não conseguem ver para

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continuar conduzindo pela graça os que con-seguem enxergar. Lembre-se: ainda que onúmero dos escolhidos seja semelhante ao daareia no mar, só um remanescente será salvo (v.Gênesis 22.17; Ezequiel 6.8). Ainda que muitospossam ter esfriado, sempre há um remanescente.

Lemos sobre a vida de Adoniram Judson edizemos: "Deus, quero que faças isso comigo".Lemos sobre a vida de D. L. Moody e dizemos:"Senhor, quero que faças para mim o que fizestepara Moody". Queremos dizer para Deus comofazê-lo e ao mesmo tempo queremos reservar umpouco da glória e manter algumas áreas da nossavida fora da cruz. O que realmente queremos éuma crucificação técnica. Ficamos muito felizesao ouvir outra exposição do capítulo 6 de Ro-manos, sobre como estamos crucificados comCristo, mas poucos na realidade desejamos issode fato.

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Até que nos coloquemos nas mãos de Deus eo deixemos fazer o que quiser conosco, seremosexatamente o que somos: cristãos medíocres can-tando canções felizes para não ficarmos com-pletamente deprimidos e tentando manter-nos damelhor maneira possível. E, enquanto agimos as-sim, não estamos alcançando nenhum progressorumo à vida crucificada e não sabemos o que é aexperiência de ser um com Deus. O nosso cor-ação precisa ser purificado, e o nosso verdadeiropropósito deve ser amá-lo perpetuamente elouvá-lo como ele merece. Então poderemos sercheios de seu Espírito e andar em vitória.

Você não sabe o que significa ver Deus e de-pois se afastar, deixando-o cuidar da sua vidacomo ele quer. Você tem medo disso. Você es-pera que ele seja bom, acredita que ele é bom esabe que a Bíblia diz: "Deus tanto amou"; masvocê ainda teme que, se deixar a sua vida nasmãos de Deus, algo ruim vai acontecer.

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"Veja quem pela graça pode ver." Vamosassentar-nos, envelhecer e esperar o agente funer-ário. Vá às conferências ano após ano, sem gan-har nada com isso. Ouça sermões ano após ano,sem aprender nada. Estude a Bíblia ano após ano,mas não faça nenhum progresso, mal con-seguindo manter o queixo fora da água. Somosestranhamente perspicazes em resolver a nossavida cristã para poder obter um pouco de glória eseguir o nosso caminho em vez de entrar no cam-inho de Deus.

François Fénelon fez unia observação in-teressante: "Somos estranhamente perspicazesem buscar perpetuamente o nosso próprio in-teresse; e o que o mundo faz abertamente e semse envergonhar, os que desejam ser dedicados aDeus também fazem, mas de maneira refinada".Seria engraçado se não fosse verdade. Evidente-mente o homem, que não poderia inventai nada,pode inventar um meio de buscar os própriosinteresses.

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CINCO RECURSOSENGENHOSOS DOS CRISTÃOS

Parece haver cinco maneiras pelas quais caí-mos nessa estranha perspicácia. A primeira é bus-car os nossos próprios interesso enquanto bus-camos os interesses espirituais sob a alegação deserem interesses divinos. Servir a si mesmo éonde começa a estranha perspicácia dos cristãos.Sob o disfarce e a alegação de buscar o interessedivino, temos uma maneira esperta de servir aosnossos próprios interesses. Nós nos tornamosmuito hábeis nisso. Mas só enganamos a nósmesmos, achando que estamos "cuidando dosnegócios de nosso Pai", quando na realidade es-tamos cuidando dos nossos próprios interesses.

Um pastor pode filiar em edificar a igreja egastar o tempo realizando a obra do Reino para aglória de Deus. Ele pode ser bastante eloquentenisso, mas o que realmente está fazendo e

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promovendo-se de maneira desavergonhada, aomesmo tempo que diz: "Estou fazendo isso poramor a Jesus". Quando se analisa mais fundo,porém, realmente é o trabalho dele, a influênciadele, a ambição dele. Esse é o verdadeiro motivode estar fazendo isso.

Músicos podem seguir no ministério demúsica a pretexto de servir ao Senhor, enquantoestão ao mesmo tempo se promovendo. Há umalinha fina entre a autopromoção e a exaltação deCristo. Essa linha às vezes se torna tão tênue queas pessoas realmente não sabem de que lado es-tão. Embora finjam estar buscando os interessesde Deus, estão presas à autopromoção. Queremosque Deus tenha a glória, mas ao mesmo tempogostaríamos de receber uma pequena comissãopor todo o trabalho que realizamos. Afinal, Deusestá "usando-nos para sua glória"; e nós precis-amos ganhar a vida.

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Uma segunda maneira é falar sobre a cruz eviver à sombra dela, mas nunca realmente serendera ela. Não encontro muitas pessoasfalando sobre a cruz ultimamente. Mas os poucosque mencionam a cruz parecem apenas viver àsombra desse ensino. Eles nunca realmente serendem à cruz como um instrumento de mortepara si mesmo. Queremos morrer na cruz, mas,no último momento, sempre parecemos encontrarum jeito de nos salvar.

Nada é mais fácil de falar do que morrer nacruz e nos entregar, mas nada é mais difícil doque realmente fazer isso. Falar é fácil; o que real-mente importa ê fazer. Alguns cristãos têmpintado a cruz com pinceladas românticas. A vidaplenamente entregue é glamourizada e populariz-ada, mas raramente concretizada. Podemos falarsobre nós mesmos subindo à cruz, mas pareceque no último momento sempre encontramosuma razão para dar meia-volta.

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Uma terceira via é implorar que o EspiritoSanto nos encha e ao mesmo tempo rejeitar aobra de Cristo em nós e manter as coisas sob onosso controle. Acho que outra estranha habilid-ade entre os cristãos está na área do EspíritoSanto. Seria difícil encontrar um cristão sem in-teresse em ser cheio do Espírito Santo. É evid-ente que uma variedade de definições dessadoutrina circula há anos, toldando o ensino claroda Palavra de Deus. Deixando isso de lado porenquanto, todo cristão realmente deseja ser cheiodo Espírito Santo. Até encontro cristãos que pe-dem Deus que os encha do Espírito. O únicoproblema é que, quando Deus começa a movê-los, eles rejeitam esse mover.

Eles querem que Deus assuma todo o con-trole da vida deles, mas ao mesmo tempo queremmanter tudo sob o próprio controle. O EspíritoSanto nunca encherá um homem ou uma mulherque não aceita render-se ou entregar a ele todo ocontrole da vida inteira. Mantenha um

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compartimento de sua vida afastado do EspíritoSanto, e isso o entristecerá de tal modo que elenão poderá seguir adiante.

De novo, circulam ideias românticas sobre aobra do espírito Santo na vida do cristão. Masquero salientar que a obra do Espírito Santo podeser às vezes dura e rotineira. Antes d e ser pos-sível plantar num campo, ele precisa ser arado, eessa e uma ação dura e profunda. De modosemelhante, há coisas na minha vida que precis-am ser extirpadas, e é exatamente isso o que oEspírito Santo deseja fazer.

Nós, por outro lado, queremos dar a nossavida ao Espírito Santo, mas ao mesmo tempoqueremos controlar o que o Espírito Santo faz nanossa vida. Queremos sentar na sala de controle.Queremos dar as ordens e afirmar "Assim diz oSenhor". Concluí há muito tempo que o EspíritoSanto trabalha sozinho no meu coração e não

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precisa da minha ajuda , apenas que eu simples-mente me entregue absolutamente a ele .

Um quarto modo de cairmos nessa estranhaarmadilha e falar sobre a noite escura da alma,mas rejeitar a escuridão. Tenho lido artigos e atélivros tratando do velho tema da "noite escura daalma". Depois de ler um pouco, logo fica evid-ente que a maioria dos autores não tem ideia doque realmente é a noite escura da alma. E é aquique a estranha perspicácia do cristão entra emcena. Abraçamos a noite escura da alma e, aomesmo tempo, rejeitamos a escuridão.

A noite escura da alma não é algo agradávelde transpor e não termina com um jantar decomunhão após o culto, domingo à noite. E umaexperiência extremamente árdua que requer umdesapego absolutamente estrito de tudo aquilo deque você costuma depender, de modo que vocêfica só com Cristo.

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A noite escura da alma separa os que estãogenuinamente interessados em seguir Cristo dosque só têm curiosidade acerca das "profundezasde Deus". Certamente queremos que Deus façasua obra na nossa vida, mas queremos que asluzes continuem acesas. Queremos que Deus façano nosso coração e na nossa vida aquilo que lhetraga honra e glória, mas queremos conhecer ecompreender cada passo que ele dá na nossavida.

A escuridão se refere ao não saber. Queremosque Deus faça, mas queremos que ele faça o queele faz no escopo da nossa compreensão. A noiteescura da alma, porém, é uma obra do EspíritoSanto que excede a capacidade de compreensãode qualquer homem ou mulher. Quando atraves-samos a noite escura da alma, não sabemos o querealmente nos aconteceu, mas sabemos quem acausou.

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O último recurso é usara religião para pro-mover os nossos interesses e avanços pessoais.Essa é outra estranha habilidade do cristão.Surpreende-me ver como as pessoas podemtornar-se religiosas. Até a pessoa que rejeitouDeus em Cristo e a igreja parece ter uma estru-tura religiosa forte que a mantém firme. Mas esseuso da religião para si também pode ser vistodentro da igreja naqueles que abraçaram Cristo eandam na luz de sua Palavra.

Queremos ser envolvidos na obra do Senhor,mas queremos também ser conhecidos como ser-vos fiéis do Senhor Queremos fazer a obra deDeus, mas queremos que as pessoas saibam queestamos fazendo a obra de Deus. Somos engen-hosos e concebemos ideias religiosas que nãotêm outra função, a não ser fazer alguém avançarna carreira.

Estamos perfeitamente dispostos a ser o maisreligiosos possível, desde que nos possamos

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promover. Pode parecer estranho, talvez até en-graçado, mas é um dos elementos mais danososque operam na Igreja hoje. E isso o que estároubando desta geração de cristãos a espiritualid-ade necessária para levar adiante o Reino deDeus. Talvez o exemplo mais estranho dessa per-spicácia no cristianismo de hoje seja visto no as-pecto do entretenimento e das personalidades re-ligiosas que promovem o homem à custa deDeus.

A CURA NA CRUZ

A única cura para o nosso mundanismo é acruz. Não podemos colocar-nos na cruz. Não po-demos escolher a cruz em que seremos crucifica-dos. Fénelon fala sobre os vários tipos de cruz —ouro, prata, madeira, papel. A única coisa queelas tem em comum é que crucificam. Como acruz será usada na sua vida, isso é prerrogativado Espírito Santo.

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Se eu fosse escolher a minha cruz e a hora daminha crucificação, sempre escolheria o menorde dois males. Mas, quando o Espírito Santoescolhe, ele escolhe tanto a hora da crucificaçãoquanto a cruz sobre a qual ele nos crucificará. Anossa responsabilidade é nos render à suasabedoria e permitir a ele fazer a obra sem nen-hum conselho nosso.

Na cruz vou permanecerIsaiah Baltzell (1832-1893)

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Ó Jesus, Salvador, quero descansar,Perco da cruz onde morreste;

Pois há esperança para o peito arqueado;Na cruz vou permanecer,

Na cruz (na cruz) vou permanecer, (voupermanecer,)

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Na cruz (na cruz) vou permanecer, (voupermanecer,)

Na cruz vou permanecer, Ali empregado é seusangue,

Na cruz vou permanecer.

Meu Jesus moribundo, meu Salvador, Deus,Que minha culpa e pecado suportou,

Lava-me agora, purifica-me com teu sangue,Mantém-me sempre puro e limpo.

Ó Jesus, Salvador, faze-me teu agora,Jamais me permitas afastar-me de ti;O lava-me, purifica-me, pois és meu,

E teu amor é pleno e livre.

O poder purificador de teu sangue aplica,Toda minha culpa e pecado remove;Oh, ajuda-me enquanto fico na cruz,

Enche minha alma com perfeito amor.

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PERMITA QUEDEUS SEJA DEUS

Não estou dizendo isso porque esteja neces-sitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e

qualquer circunstância.FILIPENSES 4.11

Quando Deus disse: "Façamos o homem ànossa imagem", firmou um abismo in-transponível entre os homens e todas as outrascriaturas. Da perspectiva de Deus, o homem é aforma de criação mais elevada. (Deus tambémconcedeu ao homem, acima de todas as outrascriaturas, a máxima honra de seu Filho, que foienviado na forma de um homem.) Algo nohomem corresponde a algo em Deus, o que é umelo místico que nenhuma outra criatura possui.Assim, para conhecer e compreender o homem,

precisamos chegar a um conhecimento íntimo deDeus.

Você pode colocar a estátua de uma pessoanum parque; você pode escrever seu nome nasparedes de prédios famosos; você pode dar-lhe oPrêmio Nobel da Paz e todo tipo de prêmios queconseguir imaginar. No entanto, depois de dizer efazer tudo, não pode dizer nada mais acerca dessapessoa, senão que Deus lhe deu certo tipo devida, certo conjunto de hábitos e certo ambienteno qual ela foi criada — tudo vem de Deus.

Até os anjos, arcanjos e serafins não podemdizer nada mais que isso acerca de si mesmos.

Em última análise, porém, não importa quemsomos, somos tão atingidos pela pobreza quantoo restante da raça humana porque temos medo deusar a nossa imaginação religiosa e medo deacreditar no que a Bíblia nos ensina. A Bíblia falasobre anjos, arcanjos, serafins, querubins,

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sentinelas, santos, principados e poderes. En-tretanto, insistimos apenas em pessoas; é tudo.Temos medo de deixar que a nossa imaginaçãocheia de fé desfrute da maravilha do Universo.

O homem não é como as demais criaturas dacriação de Deus. O homem cumpre uma funçãoque nenhuma outra criatura pode cumprir. Namedida em que cada criatura viva permanece nopróprio ambiente e vive o tipo de vida que Deusdeu a ela, essa criatura cumpre o propósito para oqual foi criada.

As criaturas sobre a terra, no ar e no marvivem, todas, em perfeita harmonia dentro dopróprio ambiente. Dia após dia cumprem opropósito para o qual foram criadas, sendosimplesmente elas mesmas no ambiente em queDeus as colocou. O homem é a única criação queestá fora de seu ambiente original.

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OBSTÁCULOS PARA OCONHECIMENTO DE DEUS

Um velho teólogo alemão disse certa vez:"Não existe nada no Universo mais parecido comDeus que a alma humana". Tudo na Bíblia re-pousa sobre essa verdade. Deus criou o homemcom uma alma e nessa alma está a capacidade deconhecer Deus e ter com ele uma comunhãodiferente da comunhão com qualquer outracriação.

Parte da nossa experiência de adoração éelevar-nos numa imaginação cheia do Espírito,ver com os olhos da fé e contemplar e adorarDeus em surpresa e admiração. Com os pés firm-emente arraigados nas Escrituras, podemos subiràquela altura misteriosa de espiritualidade e tertanta consciência de Deus a ponto de perdemos anoção de todas as outras coisas. Ah, perder-nosna maravilha que é Deus! Essa é a nossa herança

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espiritual. Essa é a plenitude da nossa redençãoem Jesus Cristo.

Precisamos aceitar isso como parte da nossacriação e não ter medo de que, se crermos nisso,alguém nos acusará de acreditarmos que ohomem está bem. O homem não está bem. Ohomem é uma criatura decaída. O homem é comoum automóvel que deixou a estrada numa curva erolou para o meio das pedras. O homem não estábem. O homem está perdido.

Com frequência ouço pregadores falando daalma pobre, perdida, maldita. Você está perdidose não se converter. Você está perdido, mas não émaldito, isso é bem diferente.

Deus criou o homem para ser conhecido porele e para ser conhecido em grau maior quequalquer outra criatura pode conhecê-lo. Nen-huma outra criatura tem Cristo, e nenhuma outracriatura tem a capacidade de conhecer Deus.

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Os anjos têm certas capacidades. Eles sãosantos e obedecem a Deus. Os serafins sentam-seem volta de seu trono e conhecem Deus, mas nãoconhecem Deus como o homem conhece Deus.Deus queria que o homem fosse mais elevadoque os anjos, e o criou de tal maneira quepudesse elevá-lo acima dos anjos. Quando tudoestiver terminado e formos conhecidos comosomos conhecidos, vamos subir na hierarquia deDeus mais alto do que os próprios anjos.

O homem perdeu o rumo por causa dopecado. Lemos acerca disso em Romanos 1.21:"Porque, tendo conhecido Deus, não o glorifi-caram como Deus, nem lhe renderam graças, masos seus pensamentos tornaram-se fúteis e o cor-ação insensato deles obscureceu-se". Pelopecado, o homem perdeu o conhecimento deDeus. Ele tem o potencial para conhecer Deus deum modo que nenhuma outra criatura é capaz,mas ainda não o conhece porque sua conduta é

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indigna e seu coração está tomado por um vastovazio.

Esse é o motivo pelo qual experimentamoscrises o tempo todo. Perdemos o rumo e estamosà deriva num mar de incertezas.

Não buscar o Deus que existe

O que há de errado com a humanidade?Fomos criados para conhecer Deus, mas porcausa do pecado nos tornamos vãos na nossaimaginação. Não gostamos de ter Deus no nossoconhecimento. Substituímos Deus por tudo,menos Deus. Criamos um Deus da nossaimaginação.

Esse c o estado do homem não regenerado,mas o que quero saber é por que os cristãos con-hecem Cristo e Deus tão pouco. Compreendo porque o homem não regenerado vaga na incerteza,

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mas por que a única criação de Deus feita à suaimagem sabe tão pouco acerca do Criador?

Posso depurar tudo em uma frase: Não per-mitimos que Deus seja ele mesmo. Perdemos to-do senso de conhecer Deus como ele é e, porconseguinte, tentamos produzir um Deus com oque ele não é. Em vez de aceitar que fomos cria-dos à sua imagem, caímos ao ponto de acreditarque Deus foi criado à nossa imagem.

Deus não é como nós. Nós, porém, somoscomo Deus, porque fomos criados à imagemdele. Por que, então, essa disparidade? Por que,então, esse abismo tão intransponível entre Deuse nós?

Os meus pensamentos nessa questão não res-ultam da minha idade avançada. Pensei issoquando me converti, aos 17 anos. Na época, cer-tamente não os havia desenvolvido tanto, mascom o tempo voltei às raízes da minha existência.

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Estudei as verdades do cristianismo. Essa é amaravilha de aprender acerca do nosso Deus: vo-cê pode voltar à antiga fonte da sua fé ecompreendê-la outra e outra vez. E então con-hecerá Deus novamente — onde Adão começou,e voltando mais, onde o mundo começou, e aindamais, onde os anjos começaram, e àquela antigafonte gloriosa que denominamos a existência deDeus. E em Jesus Cristo também voltamos ali.

Você não pode conhecer Deus como conhecea tabuada ou o código Morse. Você pode con-hecer quase tudo. Entretanto, quando Paulo disse:"Quero conhecer Cristo" (Filipenses 3.10), nãopensava em termos intelectuais, mas experienci-ais. Isso significa que, para conhecer Deus pess-oalmente, o meu espírito precisa tocar o espíritodele, e o meu coração precisa tocar o coraçãodele. Então experimentarei o conhecimento con-sciente de Deus.

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Uma coisa é ouvir acerca desse conceito;outra é vivê-lo. Uma coisa é ouvir que de repenteencontraram um planeta; outra, bem diferente, éviver nesse planeta. Posso alegar que, lendo,posso conhecer sobre um lugar, tanto quanto amaioria das pessoas que vão até lá. Mas cada umque vai a algum lugar e volta é só sorrisos porrealmente ter estado ali. Se você realmente foi atéo local, você o conhece de um jeito que não podeconhecer se apenas ler sobre ele num livro.

O máximo que o homem não regeneradopode fazer é conhecer a respeito de Deus. Elepode estudar os céus e ver a obra-prima de Deus.A vastidão do Universo revela a natureza ilimit-ada de Deus. Uma pequena flor delicada desab-rochando na primavera revela a ternura de Deus.Tudo à nossa volta é indicação do que Deus é.Mas nada na natureza nos permite desfrutar a in-timidade da comunhão com Deus.

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Podemos pensar nos atributos de Deus e exul-tar em sua graça. Mas o homem não regeneradosó pode fazer isso como um exercício acadêmico.Para o incrédulo, Deus só pode ser compreendidopelas lentes do microscópio. Deus só pode ser ex-aminado no laboratório da ciência. Mas é só nocoração tocado pelo Espírito Santo que Deuspode realmente ser conhecido.

Optar por um conhecimento desegunda mão

Com toda a nossa educação, ainda não con-hecemos Deus em pessoa muito bem. Nãosabemos que comunhão podemos ter com ele.Deixamos todo o tempo para o nosso conheci-mento mútuo. Nós nos reunimos para comunhãoe atividades religiosas e todas as rotinas religio-sas, apoiamos uns aos outros e depois vamos em-bora. Jesus disse que tinha um trabalho a fazer;tinha de curar, abrir e destampar ouvidos e re-sponder a perguntas. Mas Jesus também tinha um

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conhecimento pessoal de Deus que era íntimo eele era sempre capaz de confiar em Deus.

Os cristãos modernos ficam tão ocupadosfazendo isso e aquilo, indo para cá e para lá, quesó conhecem Deus de ouvir falar. Ouvimos isso eaquilo, mas nunca ouvimos algo dito por nósmesmos. Nós nos contentamos facilmente comsubstitutos, não com o que é real. Nessas circun-stâncias, o máximo que podemos esperar ouvir éo eco indistinto da voz de Deus.

Querer coisas em vez de Deus

Outro motivo pelo qual os cristãos conhecemCristo e Deus tão pouco é que queremos coisasem vez de querer Deus. Estamos mais interessad-os na dádiva que no doador. Deus quer dar-separa nós. Deus quer partilhar-se junto com seudom. Separado de Deus, o dom é perigoso.

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Viver com pecados

O que mais interfere no nosso caminho paraessa intimidade com Deus é, falando em termossimples, o pecado. O atalho para a intimidadecom Deus é o perdão dos pecados. A importânciadesse elemento na vida do cristão é amplamentesubestimada. O pecado é responsável pelos nos-sos problemas. O pecado é o motivo pelo qual re-cebemos textos como 1 João 1.9: "Se confessar-mos os nossos pecados, ele é fiel e justo para per-doar os nossos pecados e nos purificar de todainjustiça".

A pergunta que devíamos estar fazendo é: Porque Deus perdoa pecados? Ele perdoa porque opecado é o obstáculo entre nós e ele. Para algumdia conhecermos Deus, o obstáculo precisa serremovido. Assim, Deus pode perdoar o pecado.Por que Deus derrama seu Espírito sobre nós?Para que o Espírito possa vir e nos mostrar as

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coisas de Deus. Por que Deus responde às or-ações? Para que, respondendo, possa revelar aprópria face para nós.

Confiar na Bíblia como um fimem si mesma

Por que Deus nos deu as Escrituras? É pelaleitura das Escrituras que podemos conhecerDeus. Mas as Escrituras não são um fim em simesmas. Ouvimos falar sobre elas como sefossem um fim em si mesmas. Nenhum homemconsegue acreditar mais que eu na inspiraçãoverbal das Escrituras conforme dadas originaria-mente. Mas a inspiração verbal ou qualquer outrateoria de inspiração que torna a Bíblia um fim emsi mesma é perigosa. O propósito da Bíblia não ésubstituir Deus; o propósito da Bíblia é levar-nosa Deus.

A Bíblia nunca é um fim em si mesma. Oropara que Deus levante alguém capaz de fazer a

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Igreja ortodoxa, o povo da Bíblia, os fundament-alistas e os evangélicos verem e compreenderisso. Lembre-se de que Deus mesmo afirmou serum "Deus zeloso" (Êxodo 20.5). Não queremosque nada nem ninguém, mesmo que remota-mente, tome o lugar dele.

Trilhas para conhecer Deus

Os únicos cristãos que você deseja ouvir sãoos que dão a você mais fome de Deus. Você nãopode conhecer tudo o que Deus é, mas pode con-hecer tudo o que Deus revelou em Cristo para asua alma, o que é infinitamente mais do que vocêsabe agora. Quando a Igreja de Cristo voltar a en-sinar isso — quando se tornar séria, deixar debrincar e começar a pregar o próprio Deus e to-dos os dons dele —, Deus mesmo chegará pertorapidamente. Todas as bênçãos de Deus virãocom ele. Queremos que a plenitude do Espíritonos encha, queremos uma vida devota, queremosum amor divino, queremos tudo isso; mas, se

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mantivermos essas coisas à parte do próprioDeus, só teremos encontrado uma rosa com umespinho.

Se você encontrar Deus, encontrará todas es-sas coisas em Deus. Agora você diz: "AceiteiCristo", e isso é maravilhoso. Paulo se converteue foi um dos maiores cristãos do mundo, masainda escreveu: "Quero conhecer Cristo, o poderda sua ressurreição e a participação em seus so-frimentos, tornando- -me como ele em suamorte" (Filipenses 3.10).

Todos querem saber o que é a vida mais pro-funda, no que consiste a vida crucificada. Quaseevito falar a respeito, porque as pessoas discutema vida crucificada e a vida mais profunda, porémninguém parece querer Deus. Quando me apro-fundo no conhecimento do Deus trino, o meucoração se move para mais dentro de Deus, eDeus se move para mais dentro de mim. Con-hecer Deus é experimentar uma vida mais

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profunda em Deus. Qualquer coisa que me im-peça de conhecer Deus é meu inimigo. Equalquer dom que fica entre mim e ele é uminimigo.

Não creio em chaves desse tipo, mas, sehouver uma chave para destrancar o mistério davida crucificada, é simplesmente esta: Permitaque Deus seja Deus. Isso talvez pareça simples.Mas, se fosse realmente, os cristãos não precis-ariam ser incentivados a prosseguirem rumo àperfeição espiritual.

Os cristãos têm a má fama de tentar colocarDeus numa caixa. O Deus que cabe numa caixanão é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.O Deus que cabe na caixa é o Deus que pode sercontrolado pelo homem e está às suas ordens.Mas esse não é o Deus da Bíblia. O Deus daBíblia é uma força impressionante e poderosaneste Universo — o Deus que criou os céus e aterra e tudo o que neles há — e ele não pode ser

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colocado numa caixinha criada por um simpleshomem.

Quando insistimos em deixar que Deus sejaDeus, surge no nosso íntimo uma explosão derealidade com respeito a pessoa de Jesus Cristo.O nosso entendimento a respeito dele vai além doacadêmico e entra num mundo maravilhoso deintimidade pessoal.

Talvez a máxima verdade aqui é que, quandopermitimos que Deus seja Deus, então — e só en-tão — descobrimos quem somos e o que somoscomo homens e mulheres. Então estaremos bemno nosso caminho para viver a vida crucificada.

Meu Senhor, tão plena de docecontentamento

Madame Guyon (1647-1717)___________________________________

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Meu Senhor, tão plena de doce contentamento;Passo meus anos de banimento!

Onde quer que eu more, moro contigo.No céu, na terra ou no mar.

Não me sobra nem lugar nem tempo;Meu país é em qualquer clima;

Posso estar calma e livre de cuidadosEm qualquer praia, pois Deus ali está.

Lugares buscamos ou lugares evitamos,E a alma em nenhum encontra a felicidade;

Mas, com um Deus para nos dirigir o caminho,É igual alegria ir ou ficar.

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Pudesse eu ser lançada onde não estás,De fato seria terrível a sina:

Mas nenhuma região remota considero,Segura de encontrar Deus em todas.

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PARTE IV

AS BÊNÇÃOS

DA VIDACRUCIFICADA

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A BELEZA DASCONTRADIÇÕES

Fui crucificado com Cristo. Assim, já não soa euquem vive, mas Cristo vive em mim. A vida queagora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de

Deus, que me amou e se entregou por mim.GÁLATAS 2.20

Uma leitura casual das Escrituras poderialevar alguém a concluir que há contradições naBíblia. Os inimigos da Bíblia se extenuam paratrazer à tona todas essas aparentes contradições.Talvez de todas as "contradições11 na Bíblia,nenhum outro autor do Novo Testamento tenhasido acusado de se contradizer com maior fre-quência que o apóstolo Paulo.

Considere por exemplo o que o apóstoloPaulo diz em 2Coríntios 12.10: "Por isso, poramor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nosinsultos, nas necessidades, nas perseguições, nasangústias. Pois, quando sou fraco é que souforte". O que poderia ser mais contraditório?Paulo diz que, quando é fraco, então é forte. Issoé, obviamente, uma grande contradição. Comovocê pode ser forte quando é fraco? E como podeusar o verbo "regozijar-se" na mesma sentençaafirmativa que "fraquezas", "insultos", "necessid-ades", "perseguições" e "angústias"? Nenhumhomem com a mente sadia associaria essas coisasentre si.

O ponto é exatamente este: Paulo não estácom a "mente sadia". Está de fato operando eministrando pela mente de Cristo. O que faz sen-tido para a mente humana não faz sentido para amente espiritual. E o que faz sentido para a menteespiritual parece contraditório para a mente dohomem natural ou mesmo do homem carnal.

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DUAS ESCOLASCONTRADITÓRIAS DEPENSAMENTO

Elementos contraditórios podem ser encontra-dos mesmo entre os cristãos de hoje. Dentro daestrutura da cristandade há duas escolas contra-ditórias de pensamento. Não me refiro ao calvin-ismo e ao arminianismo, nem ao liberalismo e aofundamentalismo. Estou falando sobre o motivopelo qual pensamos que Jesus veio ao mundo.

Jesus veio para nos ajudar

Uma escola de pensamento sustenta que oSenhor Jesus Cristo veio a este mundo para nosajudar. Ou seja, para tirarmos dos conflitos e dassituações difíceis em que entramos durante avida. A ideia é que estamos bem, exceto por al-guns obstáculos e desvios aqui e ali, que

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certamente o Senhor pode endireitar. O homem ébasicamente bom, a não ser por alguns pequenosenganos ocasionais.

Esse pensamento também sustenta que opropósito do cristianismo é fazer-nos pessoasmelhores. Sendo cristãos, podemos ser mais pop-ulares e bem-sucedidos no mundo. Não importaqual seja o seu negócio, o cristianismo e os ensi-nos de Jesus podem tornar você bem-sucedido.Por exemplo, se você é cantor de uma casanoturna nas sarjetas do mundo, Deus o ajudará aser o melhor cantor da noite que você poderia ser.Se você está no comando de um negócio escuso,ora, o Senhor o ajudará a ter sucesso e popularid-ade também aí.

Essa mentalidade pega todas as coisassupostamente boas nas Escrituras e as reclamapara nós. Deus simplesmente quer tornar-nosbons (ou boas). Sentimentos de baixa autoestimapodem ser rapidamente erradicados quando

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cremos que em Jesus podemos ser o melhor pos-sível. Não importa qual seja nosso problema,Cristo pode fazê-lo desaparecer. O cristianismo,de acordo com essa escola de pensamento, é umtipo de edição de luxo da vida e ajuda a resolveros problemas importantíssimos de autoestima quepossamos ter. Ele nos ajuda a nos sentirmos mel-hor a respeito de nós mesmos, o que é consid-erado o objetivo máximo de toda religião.

Esse cristianismo do "sentir-se melhor" pro-moveu toda uma nova indústria de autoajuda reli-giosa. Tudo o que um autor precisa para ter umlivro campeão de vendas hoje em dia e aalegação de que o que você diz ajudará as pess-oas a se sentirem melhor a respeito de si mesmas.O cristianismo é simplesmente um vasto séquitode pessoas que acreditam que os ensinos de Jesusnas Escrituras podem ajudar a autoimagem delas,inflar seu ego e fazê-las felizes e alegres. Visitequalquer livraria, e você verá prateleiras de livrosescritos para encorajar esse tipo de mentalidade.

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Para os que acreditam que Jesus veio só paraajudá-los — e isso é o que faz doer o meu cor-ação —, Jesus morreu na cruz e sofreu tão in-tensa dor e agonia apenas para que cristãos medi-anos possam sentir-se bem consigo mesmos. Ho-je, ministérios inteiros são devotados a esse tipode coisa, que se transformou num "entreteni-mento" cristão.

Em vez de pregar sermões que "despertemcom essas lembranças a sua mente sincera" (v. 2Pedro 3.1), agora precisamos entreter a con-gregação com as mais recentes formas de entret-enimento de que dispomos. A igreja evangélicade hoje está repleta de todo tipo de brinquedos ediversões: projetores, bandas, luzes, barulho —tudo para captar a atenção dos pobres cristãosimaturos e subdesenvolvidos. Se a fala é superfi-cial, se faz alguém rir, é aceita de braços abertosna igreja hoje.

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Se alguma igreja local resolve deixar de ladotodos esses instrumentos de prazer e se concentrana pregação e no ensino da Bíblia, as multidõescom certeza encontrarão outra igreja que caia emsua graça. O discipulado cedeu o lugar para aconstrução da autoestima. O importante não étanto o que você sabe, mas a sua aparência e oque você sente que é importante. Essa forma decristianismo não tem raízes na verdade bíblica,mas na relatividade cultural, no exagero do ma-terialismo. Mas ai da igreja que não é relevantepara a cultura ao redor.

Para ser justo, a tentação é grande demaispara alguns pastores, e eles sucumbem ao im-pulso da carne. Desde que o entretenimento seja"limpo", não deve haver problema. Em minhamente, porém, substituir o culto intenso a Deuspor um entretenimento carnal é perder completa-mente de vista o que significa ser cristão.

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Não é preciso dizer que esse tipo depensamento acerca do cristianismo satisfaz acarne. Desde que a carne seja respeitável, é aceitana igreja dos dias de hoje. Se atrai uma multidão,não deve haver problema. Se as pessoas querem,por que não dar? Afinal, o raciocínio é quequalquer coisa que as faça entrar na igreja é boa,desde que possamos compartilhar Jesus com elas.Mas pergunto que Jesus estariam partilhandocom essa multidão que deseja satisfação para acarne.

Preciso destacar aqui que o "eu" tem feitomuitas coisas boas neste mundo. Tem construídohospitais e orfanatos, tem alimentado famintos evestido pobres. O eu anda ocupado realizandomuitas boas obras. Mas o problema dessas boasobras é que o eu requer a glória por todas essascoisas. Agora, se esse eu é altamente religioso,está disposto a dar 99% da glória para Deus, masquer reter pelo menos 1% da glória, de modo queas pessoas saibam como o eu é um fiel servo do

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Senhor. Isso vai contra o ensino bíblico de queDeus deseja toda a glória. Ele não quer dividirnenhuma porcentagem de sua glória com homemalgum.

Jesus veio para dar um fim aoeu

A outra escola de pensamento entre cristãos éque Jesus Cristo veio para dar um fim ao eu. Nãopara educá-lo ou polí-lo, mas para acabar comele. Não para cultivá-lo, dar-lhe amor por Bach,Platão e Da Vinci, mas para dar um fim ao eu.Essa posição pronuncia uma sentença de mortesobre todas as coisas relacionadas ao eu, ou ego.O apóstolo Paulo estabeleceu o padrão quandodisse: "não sou eu [...], mas Cristo" (Gálatas2.20). O eu precisa ser inteiramente eliminadopara Cristo ser mantido na devida posição nanossa vida.

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Devo avisar que qualquer igreja que se espe-cializar nesse ministério pagará um preço alto. Asmultidões não acorrem a tal ministério porquebuscam algo para satisfazer a carne. Elas queremalgo superficial para distraí-las, acarinhá-las efazê-las sentir-se bem consigo mesmas.

Contudo, não penso que isso seja necessaria-mente negativo. Os que chegam a essas igrejaspossuem um apetite insaciável por Deus e dese-jam, acima de tudo, ver Cristo glorificado na pró-pria vida. A glória de Deus sempre vem sacrific-ando o eu. Prefiro ter uma congregação de 25pessoas que procuram honrar Deus 100% e lhedão toda a glória a ter uma congregação de 2.500sobrecarregados pela maldição do "entreteni-mento", onde Deus terá de lutar por uma por-centagem mínima da glória. Ter Deus escondidonas sombras da igreja é não ter Deus nessa igreja.

Muitas pessoas subestimam o poder que oego tem para distrair e enganar e, em última

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análise, seu poder para comprometer o cristian-ismo bíblico sólido. Toda a ênfase da teologia doNovo Testamento é que os antigos valores lig-ados ao eu são falsos, que a sabedoria do ego équestionável e que sua bondade simplesmentenão existe. O velho eu precisa partir a todo custo.Na velha vida do eu, nada há que possa ser redi-mido. Não importa quanto o velho eu é purific-ado, ainda contém um centro irremediável decorrupção.

O novo homem está em Cristo e, a partir daí,precisamos reconhecer que estamos mortos parao pecado, mas vivos para Deus em Jesus Cristo.A questão que se apresenta é: Como lidamos como velho eu? Se isso é tudo o que as Escriturasdizem que ele é, o que fazer com ele?

Aqui chegamos a outra aparente contradiçãonas Escrituras. Gálatas 2.20, o versículo-chavepara a vida crucificada, é o testemunho de Paulo,um lindo tipo de teologia pessoal lançado numa

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epístola que não é tão bela. (Os gálatas ficaramconhecidos pelo seu desvio.) Em Gálatas 2, oapóstolo colocou um pequeno diamante que, peloque entendo, está no centro da epístola toda: "Fuicrucificado com Cristo. Assim, já não sou euquem vive, mas Cristo vive em mim. A vida queagora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho deDeus, que me amou e se entregou por mim"(Gálatas 2.20).

Observe que esse pequeno versículo contémalgumas contradições. Paulo começa o versículocom "Fui crucificado". À primeira vista, issoparece uma contradição. Sabemos que ninguémque foi crucificado viverá para falar a respeito.Assim, ou Paulo não foi crucificado e pode falardisso, ou ele foi crucificado e, nesse caso, nãopode falar a esse respeito.

Ninguém jamais disse: "Doutor, chame oagente funerário porque eu morri". Se a pessoanão morreu e estava com a mente lúcida, não

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teria dito que morreu, E, se morreu, não seriacapaz de dizer nada ao médico. Mas eis Paulodizendo que foi crucificado, e isso em si é umacontradição.

4<Vivo." Posso aceitar que por alguma mara-vilha um homem possa dizer "Fui crucificado",como se estivesse no mundo por vir, falando paraeste mundo. Mas então Paulo se contradiz,dizendo: "Vivo". Se ele tinha sido crucificado,como, então, poderia viver?

Paulo contradiz também isso, ao dizei": "Nãosou eu". Então, indo além, diz: "A vida que agoravivo no corpo |eu, que fui crucificado], vivo-apela fé no filho de Deus, que me amou e se en-tregou por mim". Quantas contradições!

Destaquei deliberadamente as contradiçõesnesse versículo não porque creia que há contra-dições básicas, mas porque não se pode passarpor cima desse versículo, como se faz com tanta

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frequência com a Oração do Senhor ou o Salmo23. Ou o versículo significa alguma coisa, ounão. Se significa alguma coisa, quero saber o quesignifica. Se não significa nada, devo descobririsso e ignorá-lo daqui em diante. Acredito que elesignifica alguma coisa. E não só acredito que sig-nifica alguma coisa, como também acredito quepode ser praticado, trabalhado e vivido nestepresente mundo na vida de cada um de nós.

O velho eu precisa ser absolutamente cruci-ficado. É sobre isso que Paulo está falando emGálatas 2.20. Ninguém pode morrer parcial-mente. Ou a pessoa está morta, ou está viva. Ébem parecido com beber um copo de água en-venenada. O copo não precisa estar 100% cheiode veneno para matá-lo. Mesmo que só 1% dolíquido no copo seja veneno, fará efeito. Aliás, aminha opinião é de que, se apenas 1% do líquidoé veneno, o copo é mais perigoso porque o ven-eno é menos óbvio. Um copo com 100% de ven-eno vai matar você na hora. Um copo com 1% de

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veneno certamente o vai matar, mas sua morteserá mais lenta e mais sofrida.

Na nossa experiência cristã, se ainda há umfragmento muito pequeno do velho eu, o perigo égrande. Esse pedacinho destruirá tão certamentequanto se o eu inteiro fosse veneno.

E sobre isso que Paulo está falando. O velhoeu deve sair inteiramente, e o novo eu precisa en-trar inteiramente. O eu do ego antigo está cruci-ficado. Estamos mortos, mas vivemos como senunca tivéssemos vivido. Não é a nossa vida, masa vida do nosso bendito Redentor que permeiacada essência do nosso ser. Por meio dessa cruci-ficação do eu, a vida de Cristo pode ser praticada,trabalhada e vivida neste mundo presente na vidados cristãos.

"Não sou eu quem vive, mas Cristo vive emmim" é a frase mais importante em Gálatas 2.20.É Cristo em mim que faz toda a diferença no

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mundo. E até o velho eu ser suprimido, a vida deCristo não pode chegar. Entretanto, muitoscristãos apegam-se desesperadamente ao velhoeu. Têm tanto medo de perder alguma coisa quese esquecem do que Jesus ensinou: "Pois quemquiser salvar a sua vida, a perderá, mas quemperder a sua vida por minha causa, a encontrará"(Mateus 16.25).

Até nos dispormos a perder, jamais encon-traremos o que Deus tem para nós.

Que grande cristianismo nós, evangélicos,temos hoje em dia. Os liberais nos criticam;quanto a mim, não os culpo. Eles têm direito; nãotêm nada melhor para fazer. Que bando de pess-oas sem valor nós, evangélicos, tornamo-nos,com a ousadia de nos levantar por nós mesmos epregar para uma audiência inteligente que a es-sência, o propósito final e a causa de Cristo é nossalvar do inferno! Como podemos ser tão

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estúpidos e ainda afirmar sermos seguidores deCristo?

O propósito de Deus não é nos salvar do in-ferno; o propósito de Deus é salvar-nos para nostornarmos como Cristo e nos tornarmos comoDeus. Deus não terminará sua obra em nós até odia em que virmos sua face, quando seu nome es-tiver em nossa fronte; e seremos como ele porqueo veremos como ele é.

Como é barato, como parece um cristianismode balcão da esquina o que diz: "Eu tinha umadívida, Jesus veio e a pagou". Certamente ele fezisso, mas por que a ênfase? "Eu estava indo parao inferno e Jesus me deteve e me salvou." Certo,ele fez isso, mas não é o que devemos destacar. Oque precisamos destacar é que Deus nos salvoupara nos tornarmos como seu Filho. Seupropósito é nos capturar na nossa corridaselvagem para o inferno, fazer-nos dar meia-voltaporque ele nos conhece, trazer julgamento sobre

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o velho eu e depois criar um novo eu dentro denós, que é Jesus Cristo.

A BELEZA DO SENHOR

O versículo mais bonito na Bíblia encontra-seem Salmos 90.17: "E seja sobre nós a formosurado Senhor nosso Deus" (Almeida Corrigida eRevisada Fiel). Quão maravilhosa é a formosurado Senhor nosso Deus? O contraste pronunciadocom a beleza do Senhor nosso Deus é a minhafeiura, a feiura do eu. O autor anônimo de Teolo-gia germânica disse: "Nada queima no inferno,exceto a vontade própria". Isso seria o "meu", o"mim", o "eu" e o "me", que são o combustíveldo inferno.

Na grande negociação divina, Deus seoferece para trocar o nosso velho eu, que nostrouxe tantos problemas, por um novo eu, que éCristo. O apóstolo Paulo diz: "A vida que agora

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vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus,que me amou e se entregou por mim".

A chegada a esse ponto justifica a jornada. Ador associada ao sacrifício do velho eu nada é,comparada à alegria de experimentar aquela in-spiração que desce do alto e penetra cada aspectoda nossa vida. No mundo natural, a vida cruci-ficada pode parecer repleta de contradições,porque a velha natureza, a vida do eu, é com-pletamente incompatível com Deus e contrária àsua natureza. No entanto, quando crucificamos oeu, Deus nos dá sua formosura, sua alegria, seuFilho.

Não eu, mas Cristo

Francês E. Bolton (m. 1926)___________________________________

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Não eu, mas Cristo, seja honrado, amado,exaltado,

Não eu, mas Cristo, seja visto, conhecido,ouvido;

Não eu, mas Cristo, em cada olhar e ação,Não eu, mas Cristo, em cada pensamento e

palavra.

Ah, ser salvo de mim mesmo, Senhor querido!Ah, estar perdido em ti!Ah, que já não seja eu,

Mas Cristo que vive em mim!

Não eu, mas Cristo, para com brandura aliviar ador,

Não eu, mas Cristo, para secar a lágrima querola;

Não eu, mas Cristo, para levantar o peso quecansa,

Não eu, mas Cristo, para afastar todo temor.

Cristo, só Cristo! nenhuma palavra vã,

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Cristo, só Cristo, nenhum som enérgicodesnecessário;

Cristo, só Cristo; nenhuma conduta importantepara meu ego,

Cristo, só Cristo; nenhum eu a deixar algumrastro.

Não eu, mas Cristo, suprindo-me cadanecessidade,

Não eu, mas Cristo, para ser minha força e saúde;Não eu, mas Cristo, para o corpo, alma e espírito,

Cristo, só Cristo, aqui e na eternidade.

Cristo, só Cristo logo encherá minha visão;Glória excelente logo, pleno logo verei

Cristo, só Cristo, cada desejo meu cumpridoCristo, só Cristo para meu tudo em tudo ser.

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O REFRIGÉRIODE UM

AVIVAMENTOPermaneçam cm mim, e eu permanecerei em vo-cês.Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo,se não permanecer na videira. Vocês também

não podem dar fruto, 5c não permanecerem emmim.

JOÃO 15.4

Talvez o maior resultado de viver a vida cru-cificada seja que ela periodicamente nos levapara lugares de grande vitória espiritual. Aolongo de toda a História, esses períodos têm sidodenominados avivamentos. Nada mais ê ne-cessário na igreja contemporânea que umavivamento.

Um avivamento pode ocorrer em um de trêsníveis. Pode ocorrer em nível pessoal, quando umindivíduo é avivado. Pode ocorrer no nível daigreja, quando a igreja inteira recebe um novoímpeto espiritual. Pode ocorrer no nível de umacomunidade, quando uma igreja transborda e oímpeto espiritual se estende à comunidade.

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Uma pessoa solitária pode entrar num aviva-mento e ter uma revitalização de sua vida espir-itual; uma onda de poder e um enchimento dagraça que a faz vivenciar uma experiência tãomaravilhosa que as palavras não conseguemdescrever. Mas isso não afetaria a igreja que essapessoa esteja frequentando. Em igrejas um tantofrias, houve indivíduos grandemente avivados,mas essas igrejas não experimentaram aviva-mento porque se opuseram, negligenciaram ouconsideraram essas pessoas fanáticas ou ex-tremistas e basicamente as expulsaram,boicotando-as.

Uma igreja local pode experimentar um des-pertamento, causando impacto em todos os indi-víduos da congregação e pode até aumentar onúmero dos indivíduos que frequentam a igreja.As pessoas são recuperadas e renovadas; e dasfontes congeladas, o gelo se quebra e a águacomeça a fluir. Mas com frequência não se

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consegue ir além da igreja local. Muitas igrejaslocais têm despertamentos e renovações, masesses aviva- mentos não vão além dos muros daigreja e não chegam à comunidade.

Então há o avivamento de toda uma comunid-ade, em que a Palavra entra na comunidade, pas-sando de uma igreja para outra, de um bairro paraoutro, até a cidade inteira ser avivada.

O avivamento de uma comunidade podecomeçar com um indivíduo, estender-se para aigreja e expandir-se ainda mais para incluir acomunidade, mas nunca pode ocorrer no sentidoinverso. Nunca pode começar na comunidade, amenos que uma igreja tenha sido avivada, e nen-huma igreja jamais foi avivada antes que indiví-duos da igreja fossem avivados.

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AVIVAMENTO PESSOAL

O que entendo por avivamento "pessoal'? Omelhor meio que tenho para descrevê-lo é que ésemelhante a um doente voltando à saúde plena.Suponha que um homem esteja com nível desangue tão baixo que mal consegue sair da camae ficar em pé por uma hora. Então, de repente,chega a um lugar em que é capaz de trabalharduro o dia inteiro, jogar num time de beisebol efazer tudo o que deseja porque foi restauradopara ter saúde em abundância. Ou imagine umabateria fraca que mal consegue ligar o motor docarro. Uma vez recarregada a bateria, fica cheiade energia e uma faísca sai dela e liga a máquina.É isso o que significa ser avivado como cristão. Éum novo sopro refrescante de poder divino.

Isso não só pode ocorrer com o indivíduo,mas também com uma igreja. Mas deve primeiroocorrer nos indivíduos dessa igreja. Quero deixar

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isso muito claro, porque é importante pensarmoscorretamente a respeito. Aqui não há uma ideiaabstrata. Gostamos de orar: "Ó Senhor, descesobre tua igreja". De algum modo imaginamosuma igreja abstrata em algum lugar e o EspíritoSanto descendo e enchendo a igreja sem que osindivíduos dentro dela sejam afetados. Mas oEspírito Santo só pode descer sobre indivíduos.Não é possível uma igreja ser abençoada sem queos membros dela sejam tocados. Oramos: "Sen-hor, abençoa tua igreja abstrata", e imaginamosuma igreja à parte dos indivíduos, algum tipo deigreja ideal pela qual Cristo morreu. Mas Deusnão pode derramar seu Espírito sobre a igreja, amenos que primeiro o derrame sobre os indivídu-os dentro da igreja. O Espírito Santo pousousobre os discípulos no Pentecoste e assimpousará sobre cada um de nós (Atos 2.3).

Cada igreja local só é boa na medida em queos membros são bons, nem mais nem menos. SeDeus tivesse algum teste de QI pelo qual pudesse

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testar a nossa fé ou se tivesse algum meio demedir o nosso pulso espiritual, então poderíamossomar todos os membros e conseguir a média, e aigreja seria essa média. Lembre-se sempre,porém, de que a média não forma a igreja, pois aigreja é composta por indivíduos.

A alma solitária pode ser revivida. Fico con-tente por poder dizer isso. Deus pode enviar on-das de glória, um novo ânimo para o indivíduosolitário. Como um indivíduo solitário, quer outrapessoa em sua igreja receba renovação, quer não,você não precisa dizer: "Gostaria de ver a nossaigreja ser abençoada", e depois esperar que,quando ela for abençoada, você também seja. Aigreja jamais pode ser abençoada até que você ououtros indivíduos em sua igreja o sejam. Quer aigreja faça algum progresso, quer se desvietornando-se liberal, você pode ser abençoadocomo indivíduo, e ninguém pode impedir isso.Você pode ser abençoado sozinho, não importa

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se seu pastor tem ou não conhecimento pessoaldisso.

Quando eu tinha cerca de 18 anos, Deuschegou para mim de um modo maravilhoso e fezcoisas maravilhosas na minha vida, mas a minhaigreja não aprovou aquilo. Aliás, praticamenteme disse que eu era um tanto extremado e que aigreja ficaria melhor sem a minha companhia.Não fui expulso; fui apenas convidado a nãoficar. Então saí e fui para uma igreja da AliançaCristã e Missionária. Não importa se a igreja crêou não, você pode ter tudo o que Deus reservoupara você como indivíduo. Se a sua esposa, o seumarido, ou o seu pai, ou a sua mãe, ou o seuamigo concorda ou não, isso não faz a menordiferença. Deus sempre está pronto para ajudar oindivíduo solitário.

A história do Antigo Testamento está repletade histórias de indivíduos solitários — homens emulheres — que se encontraram com Deus. A

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história dos avivamentos ao longo das eras temsido a história de homens solitários encontrando-se com Deus, de homens saindo e encontrandoDeus completamente sós. Às vezes eles foramaos porões da igreja, às vezes a grutas, às vezessaíram ao ar livre e se postaram sob árvores, àsvezes perto de montes de feno, mas seguiram sóspara se encontrarem com Deus, e então o aviva-mento saiu dali. Digo que você, pessoalmente,pode ser abençoado e mesmo assim não ter umavivamento na sua igreja. Se você está parti-cipando de uma igreja que sofre de alguma enfer-midade espiritual, de baixo nível de espiritualid-ade ou até está espiritualmente morta, nunca seinferiorize para acompanhar o nível. Em vezdisso, diga a si mesmo: Pela graça de Deus, sereio que devo ser independentemente disso.

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COMO TER UM AVIVAMENTOPESSOAL

A grande questão, portanto, é: Como po-demos experimentar um avivamento pessoal?Para ver um novo derramar do Espírito Santo nanossa vida, quatro elementos precisam ser orde-nados. A obra do Espírito Santo não é volúvel;pelo contrário, há certas regras espirituais bemdefinidas que governam sua obra na nossa vida.

Fique firme como uma rocha

Primeiro, para ter um avivamento pessoal,você deve ficar firme como uma rocha (Isaías50.7, Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Oarado que será usado no solo precisa ter pontasafiadas. Além disso, se você quer um avivamentopessoal, precisa ser inflexível por causa de todosos esquemas e truques do mundo. Precisa ficar

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firme como a rocha e dizer: "Sigo pela graça deDeus. Quero tudo o que o Novo Testamento tempara mim".

Foque o seu coração em Jesus

Segundo, você precisa focar o seu coração emJesus Cristo. Seja onde for que ele o leve, siga-o.Seja o que for que ele afastar de você, ouça-o eobedeça ao que ele diz. Seja quem for aquele quevocê tiver de desconsiderar, afaste-se. Se vocêquer ser tudo o que Deus quer que você seja,fique firme como uma rocha e foque diretamenteem Jesus.

Sempre serei grato a Deus porque a Bíblia in-clui a passagem em que o cego diz: "Jesus, Filhode Davi, tem misericórdia de mim!" (Marcos10.47). Seus discípulos saíram e disseram aohomem: "Fique quieto. Não se faz isso na igreja.Mantenha a calma". Em vez de ficar desanimadocom as palavras dos discípulos, aquilo motivou o

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cego a gritar mais, até que Jesus se voltou edisse: "O que você quer?".

"Quero ser curado."

E Jesus disse: "Tudo bem, aqui está suacura". O homem recebeu a visão porque nãoligou para os "cronometristas e árbitros" que sóserviam para manter as pessoas longe de Jesus.

Recentemente vi de novo o livro de JohnBunyan, O peregrino, e li uma ou duas páginas,mais pelo estilo que por qualquer outra coisa.Mas não se consegue ler Bunyan muito tempo sópelo estilo, porque a história de Cristão e comoele se mete em problemas em sua jornada éfascinante.

Logo no começo Cristão diz: "Descubro poreste livro [a Bíblia] que estou em grande apuro.Preciso deixar a minha terra natal da Destruição eviajar para um lar celestial". Assim, ele planeja

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começar a viagem para o lar celeste. Está so-frendo uma angústia terrível antes de começar efinalmente se prostra diante dos filhos e diz: "Ah,querida esposa e filhos, estou numa condição ter-rível. Simplesmente terrível".

Sua família basicamente responde: "Sabemoso que está errado em você. Você só estácansado". Então o colocam na cama e, na manhãseguinte, quando ele se levanta, perguntam:"Como você se sente, pai?".

"Não dormi nem um pouco. Não consegui es-quecer que estamos vivendo na cidade daDestruição."

Bunyan diz que, quando a família de Cristãodescobriu que não conseguia aquietá-lo econsolá-lo, quando não conseguiram bater emsuas costas e dizer: "Volte para a cama e durma,durma até esquecer", começaram a ser rudes comele e a ridicularizá-lo. Então, como ele não queria

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desistir apesar do desprezo dos familiares, pas-saram a ignorá-lo.

Pensei enquanto lia: Primeiro eles o ac-almam, depois batem em suas costas e esperamque você se acalme. Então, usam palavras duras,acusando-o de pensar que é melhor que os out-ros. E, quando isso não funciona, desprezam-noe começam a caçoar de você. E quando isso nãofunciona, simplesmente o ignoram.

É exatamente assim que acontece quando vo-cê foca seu coração em Jesus e busca um aviva-mento pessoal. Se você decide buscar um relacio-namento mais profundo com Deus, encontrá-lopor si e receber uma renovação de Deus para sedesvencilhar das velhas amarras, pesos e ob-struções e ter de volta um novo espírito,descobrirá alguns que dirão: "Bem, você só estáempolgado. Você só se deixou impressionar poraquele sujeito, Tozer". John Bunyan disse que,quando Cristão era tratado daquele modo, ele saíapara ficar só e orar.

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Submeta-se ao exame divino

A terceira coisa que você precisa fazer paraexperimentar um avivamento pessoal é expor suavida ao exame de Deus. O problema é que nosfechamos e encobrimos o nosso coração. AsEscrituras dizem: "Quem esconde os seus peca-dos não prospera, mas quem os confessa e osabandona encontra misericórdia" (Provérbios28.13). Por hábito, tentamos esconder os nossospecados. Se você quer um avivamento, precisapermitir que as Escrituras sejam as Escrituras nasua vida.

Exponha toda a sua vida a Jesus Cristo.Exponha-se em oração. Exponha-se nas Escritur-as. Exponha o seu coração em obediência.Exponha-o pela confissão e pela restituição."Restituição" é uma palavra esquecida hoje; nin-guém mais a usa. Mas está na Bíblia. "Restitu-ição" significa acertar com as pessoas. Quando

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você fizer restituição, ficará surpreso com amaravilhosa sensação em você.

Estabeleça afirmações santaspara si

A quarta coisa de que você precisa para umavivamento pessoal é fazer algumas afirmaçõessantas. Algumas afirmações que tive de fazer di-ante de Deus mudaram o meu caminhar comocristão de maneira significativa. Deixe-mecompartilhá-las com você, e você continua apartir delas.

Declare diante de Deus nunca possuir nada.Não estou dizendo para você livrar-se de algoque você pode usar. Quero dizer que você devedesvencilhar-se daquele monte de tranqueiras quejunta na vida. Muitos cristãos são como ratos deporão que juntam tudo o que conseguem achar.Se você encontrar o ninho de uma pega-rabuda,encontrará várias coisas: um espelho, um cabide,

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um caco de vidro, talvez uma moeda. A ave nãoconsegue usar essas coisas; apenas gosta delas eentão as coleciona. De modo semelhante, porcausa de um espírito ganancioso, muitos cristãoscolecionam coisas que realmente não conseguemusar.

Tenha em mente que, se você sente que pos-sui alguma coisa, na realidade isso o está puxan-do para baixo. Livre-se da posse desse item, e en-tão Deus deixará que você o possua. Solte-o dedentro de você, e Deus deixará que você tenha acoisa fora de si. Isso diz respeito aos seusautomóveis, propriedades, roupas e tudo o quevem colecionando pela vida. Tome tudo e digaque é de Deus. Não imagine nem por um minutoque, se der 10% a Deus, você pode guardar os90% restantes. Deus precisa dos 100%. Depoisque você entregar tudo para ele, ele se certificaráde que você tenha o suficiente para cuidar de simesmo e de sua família.

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Se você possui alguma coisa que Deus nãopode ter, você nunca terá um avivamento. Se vo-cê possui alguma coisa que Deus não pode ter,você não pode ter Deus. Deus tem o direito demandar o que ele quiser na hora em que quiser.No momento em que Deus souber que pode terqualquer coisa que você tem a qualquer hora, en-tão o Senhor provavelmente permitirá que você omantenha, e isso será uma bênção para você, emvez de uma maldição. Isso ajudará você a elevar-se, em vez de ser uma âncora puxando-o parabaixo.

Outra afirmação que tem sido importante paramim ê nunca me defender. Isso ê difícil, aindamais para americanos como eu. Ao longo dosanos, tenho levado muitas pessoas ao capítulo 23de Êxodo para ensiná-las a confiar em Deus enão temer os inimigos. Se você tentar lutar contraas pessoas, acabará ensanguentado e contundido,sentindo-se miserável. Você continuará sendo um

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cristão imaturo e jamais terá um avivamento.Mas, se deixar Deus lutar por você, sairá inteiro.

Outra afirmação que tem sido importante paramim é nunca difamar um companheiro cristão.Com isso quero dizer: nunca acreditar no mal arespeito dele nem falar mal dele. Lembre-se deseu passado e da sua tendência de cair emtentação. Acho que às vezes o Espírito de Deusnão consegue chegar até nós porque difamamosum irmão ou uma irmã em Cristo. Esse relatoruim torna-se arma nas mãos do Diabo.

Como pastor e membro de uma comissão ex-ecutiva, quando ouço acusações contra a vida dealguém, sou forçado, sob Deus, a proteger aigreja de Deus contra esse homem. Mas isso nãosignifica que difamarei esse homem ou qualqueroutro por acreditar em tagarelices ou espalhá-las.

Outra afirmação importante é jamais receberou aceitar uma glória. Ah, como amamos a

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glória. Só queremos tomar um pouco dela paranós. Cantamos músicas atribuindo a glória aDeus e dando-lhe toda a glória, mas ás vezes nãosomos realmente sinceros. Queremos que Deusfique com a maior parte da glória, masgostaríamos de reservar só um pouquinho paranós. Afinal, acreditamos que merecemos.

Por que você deve buscar umavivamento pessoal

Não espere uma tragédia para o conduzir aDeus. Alguns cristãos começam a esfriar no cor-ação e aí acontece alguma tragédia, ou para si oupara a sua família, e em meio àquela dor elesdizem: "Perdoa-me, Deus". Querem recomeçar.Mas é preciso ser sempre assim? Precisamossempre esperar que Deus nos fustigue? Precisam-os sempre chegar a Deus com as costas emsangue? Resolva diante de Deus que você não vaiesperar que uma tragédia o conduza até ele.Tome a sua cruz voluntariamente.

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Muitos anos atrás, quando ainda era umpregador muito jovem, falei numa cidade cha-mada Despard, em West Virgínia. Em geral aspessoas a chamavam Estanho, por causa de umagrande fábrica de estanho ali, mas também erauma área de mineração de carvão. Eu e algunsoutros fomos para aquela área e tivemos algunsencontros evangélicos. Os encontros não foramexatamente como imaginávamos, e algunscomeçaram a se sentir incomodados com o fatode não estar acontecendo nenhum avivamento.Ao encontro, certa noite, veio um mineradorloiro, alto e bonito. Ele disse à esposa: "Vocêsabe, o nosso pessoal precisa de Deus. Eles pre-cisam de Deus, e este negócio não está indo bem.Querida, se você concordar, vou tirar o dia aman-hã e esperar em Deus, orar e jejuar o dia inteiro.Quero esperar em Deus para que haja um aviva-mento nesta cidade".

No dia seguinte, em vez de ir trabalhar,colocou-se de joelhos e esperou em Deus o dia

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inteiro com a Bíblia aberta. No dia seguinte,voltou ao trabalho de esvaziar os carrinhos decarvão. Ele estava trabalhando naquele lugar,quando, de repente, houve um acidente. O carrosaiu do trilho, bateu e se partiu. Os carrosnaquela mina eram do tipo antigo, feitos demadeira, e esse quebrou formando lascas pontu-das como lanças, e uma delas rasgou sua coxa.Aquilo atingiu uma artéria, e o homem de 47anos morreu de hemorragia no chão sujo.

Lembre-se: ele passou o dia anterior comDeus. Aquilo me atingiu como uma mensagemdo céu e desde então penso: Querido Deus>como seria maravilhoso passar o meu último diasó contigo em oração.

Ora, o minerador não podia tirar todos os diaspara orar, pois precisava trabalhar e sustentar afamília. Acho que foi maravilhoso que estivessetão perto de Deus um dia antes de morrer. Ele sederramara diante de Deus na noite anterior. Não é

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possível passar o dia inteiro com Deus e não estarpronto para ir para o céu no dia seguinte.

Não me pergunte por que Deus levou aquelehomem. Nunca saberei. Deus nunca me deixa en-tender todos os seus planos secretos. Só sei queaquele homem poderia ter morrido em qualquerlugar, a qualquer hora. Mas o Espírito de Deus oinstou a passar o dia em oração pela própria almae por sua igreja. E se ele estivesse frio demaispara escutar e longe demais para ouvir? E se eleestivesse como alguém no piloto automático, nãodando ouvidos ao chamado de Deus? Teria mor-rido junto aos carros, tudo bem, mas quantadiferença!

Talvez Deus esteja chamando você para fazeralgo extraordinário, algo que não aparece no seucalendário ou agenda, algo para renovar a suaprópria alma. Talvez Deus o esteja chamandopara fazer algo radical e extremo por sua alma. Aminha esperança e oração é que o mundo e seus

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prazeres não sejam tão grandes que você seja in-capaz de ouvir Deus. A maior coisa no mundonão é se você vive até os 100 anos; a maior coisano mundo é se você consegue ouvir Deus falandoagora com você. Isso é o que conta.

Deus está falando alguma coisa para você?Você pode ter um avivamento, mesmo que nin-guém mais tenha. Não há motivo pelo qual vocênão possa firmar-se como uma rocha e focar oseu coração em Jesus. Quando o encontrar,descobrirá as comportas da misericórdia. Encon-trará óleo novo. E encontrará uma maravilhosavida nova.

Poder de outroraPaul Rader( 1878-1938)

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Estamos reunidos para tua bênção,Vamos esperar em nosso Deus;

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Vamos confiar naquele que nos amou,E nos comprou com seu sangue.

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Espírito, agora derrete e moveTodo nosso coração com amor,

Sopra do alto em nósCom o poder de outrora.

Vamos nos gloriar em teu poder,Vamos cantar a graça maravilhosa;

Ao nosso meio, conforme prometeste,Vem, ó vem, e toma teu lugar.

Humilha-nos em oração diante de ti,E com fé inspira nossa alma,

Até que clamemos, pela fé, a promessaDo Santo Espírito e do fogo.

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ASRECOMPENSASETERNAS DA

VIDACRUCIFICADA

Como é bom e agradável quando os irmãos con-vivem em união!SALMOS 133.1

O valor de qualquer jornada sempre pode sermedido pelas dificuldades ao longo do caminho.Quanto mais difícil a jornada, mais satisfatório odestino. Tenho pensado na vida crucificada comouma jornada. Tem um começo, é claro, mas o fimnunca está deste lado da glória. Sou lembradodisso por um hino chamado "A mensagem real":

Sou forasteiro aqui; em terra estranha estou;Celeste pátria, sim, anunciando vou.Embaixador, por Deus, de reinos de além-

céus,Venho em serviço do meu Rei.

Não são muitos os cristãos que se consideramestrangeiros "em terra estranha". Mas é exata-mente isso que somos se somos cristãos. Secomeçamos a jornada e estamos vivendo a vidacrucificada, este mundo certamente não é o nossolar. E por isso que nunca deveríamos estar muitoconfortáveis nesta vida.

Alguns foram mal informados sobre a vida cristãe a vida crucificada. Por algum motivo, elespensam que é um caminho fácil. Acreditam queDeus eliminará todos os problemas e dificuldadese que eles serão capazes de viver sem nenhumtipo de distração ou perturbação. Como qualquerum que tenha feito essa jornada sabe, não é o que

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acontece. Se a sua jornada não é atravancada dedificuldades, provações e fardos, você simples-mente pode estar no caminho errado.

É impossível ler a Bíblia e não ver que cadahomem e cada mulher de Deus enfrentaram di-ficuldades e problemas extremos. A história daIgreja também está repleta de casos de lutas en-frentadas pelos cristãos, até maiores que osmártires da Igreja sofreram. Se a vida cristã é tãofácil como alguns acreditam, então por que todaessa história de lutas e dificuldades e martírios?

TIPOS DE DIFICULDADES

As dificuldades podem ser divididas em algu-mas categorias. Primeiro, as dificuldades podemser uma distração. Por "distração", quero dizerque elas podem tirar-nos do curso principal.Voltando à fazenda na Pensilvânia, arávamosusando um cavalo. Para aquele cavalo não se dis-trair, precisávamos colocar antolhos nele.

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As dificuldades que atravessam o nosso cam-inho podem distrair-nos do nosso verdadeiropropósito diante de Deus. Podemos ficar tãoimersos nas nossas dificuldades que não vemosmais nada. Podemos esquecer a direção que es-távamos seguindo. Se você estudar a história deIsrael, descobrirá que toda a jornada desse povofoi cheia de distrações após distrações. Ele estavaandando em certa direção, e então algo ocorriapara distraí-lo e o empurrava para a esquerda ouà direita.

É claro que as dificuldades que atravessam onosso caminho nos podem desanimar. Muitostêm dificuldade em acreditar que um cristãopossa ficar desencorajado em algum momento.Quando um cristão tem dificuldades que o levama ponto de desanimar, ele é tentado a acreditarque na realidade não nasceu de novo. A verdadeé que as várias dificuldades que ele enfrenta têmo potencial de encobrir seu bom senso e anuviá-lo com uma boa dose de desânimo.

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E triste ler ou ouvir de uma pessoa quecomeçou bem, mas de algum modo se distraiu emorreu no caminho. O apóstolo Paulo lidou comisso entre os cristãos gálatas:

Será que vocês são tão insensatos que, tendocomeçado pelo Espírito, querem agora se aper-feiçoar pelo esforço próprio? (Gálatas 3.3).

Os gálatas haviam começado bem, mas al-guma coisa no caminho os havia distraído dopropósito original, levando-os a um estado dedesânimo. Eles começaram a sentir como setivessem de lutar por si sós. É aí que nós tambémencontramos problemas. As dificuldades são umaspecto comum da vida. Mas deveríamos ser en-corajados por aquilo que Paulo escreveu aoscoríntios:

Não sobreveio a vocês tentação que não fossecomum aos homens. E Deus é fiel; ele não per-mitirá que vocês sejam tentados além do que

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podem suportar. Mas, quando forem tentados, elelhes providenciará um escape, para que o possamsuportar (1 Coríntios 10.13).

Penso, nesse mesmo sentido, que o valor deuma pessoa sempre pode ser medido pelo queocorre quando ela está realmente enfrentandoproblemas. É certo que vamos enfrentar di-ficuldades e problemas. O caminho da vida cruci-ficada traz muitos obstáculos, impedimentos eperigos. Assim, não é o fato de termos essas di-ficuldades, mas o que realmente determina aqualidade do nosso relacionamento com Deus écomo lidamos com elas. Se desistimos, o que issomostra a respeito da nossa confiança em Deus?

O EXEMPLO DO REI DAVI

Ninguém teve mais dificuldades e problemasque o rei Davi, conforme se registra no AntigoTestamento. Estou certo de que em algumasocasiões ele mesmo criou dificuldades e

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problemas para si. Na maior parte dos casos, con-tudo, suas dificuldades e pesares foram causadospelo chamado de Deus em sua vida.

Davi reconta essas dificuldades no salmo 57.Esse salmo é extraordinário porque nos faz vis-lumbrar o coração desse homem. A qualidade davida de Davi é percebida na maneira pela qual eleenfrentou sua dificuldade.

No salmo 57, Davi confessa a natureza an-gustiante de suas dificuldades. No versículo 1 eleas chama de "calamidades" (Almeida Revista eAtualizada). E sempre bom reconhecer o prob-lema que está à sua frente. Quantas vezes as pess-oas desconsideram um problema ou realmentenão o veem bem diante delas? Nada é mais peri-goso que estar diante de um problema ou di-ficuldade e não ter conhecimento disso.

Davi não desconsiderou suas "calamidades"Ele as reconheceu como eram de fato. Não tentou

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explicá-las, ignorá-las ou culpar alguém por elas.É isso o que fazemos com frequência quando ex-perimentamos calamidades. Por algum motivo,acreditamos que, se pudermos culpar alguém pornossos problemas, os problemas desaparecerão.Isso simplesmente não acontece.

Não penso que havia um único osso covardeno corpo de Davi. Desde o momento em que en-frentou Golias até seu leito de morte, Davi nadatemeu, exceto Deus. Imagine um adolescente empé, com cinco pedras lisas na mão, diante de umdos maiores soldados de sua época. Golias eraum gigante em muitos sentidos. Não era apenasgrande, mas também uma máquina de combate.Acho que é seguro dizer que Golias nunca haviaperdido uma batalha. A história de suas lutas eratremenda. Por isso os filisteus enviaram Goliaspara lutar com o exército de Israel. Sabiam doque ele era capaz.

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Entretanto, Golias nunca tinha visto Davi.Golias acusou Davi de não saber o que estavafazendo. Acusou-o de não compreender o querealmente estava em jogo. Mas Davi disse a Goli-as que não lutaria com forças próprias, mas emnome de Javé, o Deus de Israel. Desde que Daviestivesse do lado de Deus, não havia nada quetemer.

O embate de Davi com Golias estabeleceuum padrão para o restante de sua vida.

O LADO POSITIVO DASDIFICULDADES

Há um lado positivo em encarar problemas edificuldades severos. Podemos aprender muitoquando os enfrentamos. Precisamos lembrar-nos,contudo, de que o inimigo que enfrentamos,aquele que nos ataca, pode discernir a nossa con-dição espiritual e usar isso contra nós. Essa é aestratégia do inimigo. Ele conhece os nossos

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pontos fracos e os ataca com toda malignidade dofogo do inferno. Mas eis o que o Diabo não sabe.O apóstolo Paulo nos mostra:

Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nasfraquezas, nos

insultos, nas necessidades, nas perseguições,nas angústias.

Pois, quando sou fraco é que sou forte(2Coríntios 12.10).

Os que estão na jornada da vida crucificadaconhecem a dinâmica espiritual dessa declaração.E na nossa fraqueza que Deus se manifesta demaneira poderosa. O rei Davi sabia que sua forçanão estava em si mesmo, mas em Deus.

SOLUÇÕES FALSAS PARA ASNOSSAS DIFICULDADES

Assim como enfrentamos muitas dificuldadese problemas na nossa jornada, assim também

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encontramos muitas soluções. Livros aos montesnos oferecem soluções para uma ou outra dasnossas dificuldades ou problemas. Em sua maior-ia, porém, esses livros ficam aquém do alvo.

Uma solução oferecida esses dias é amarrar oinimigo. Quando sentimos o inimigo atacar, pre-cisamos firmar os pés e confrontá-lo. Isso é umamanifestação de machismo espiritual. Queremosmostrar ao criador de problemas, e a qualquer umque esteja nos observando, que não podemos serenganados.

O único problema é que o Diabo nunca en-frentará você diretamente. E é melhor eu dizer: oDiabo não joga limpo. Ele usa regras forjadas porele ao longo do caminho. Um cristão achar queconsegue adivinhar as intenções do Diabo é,provavelmente, a ideia mais perigosa que se podeabrigar.

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O Diabo adora quando o convidamos para abatalha. É para isso que ele vive. Ele sabe quenão pode vencer, mas sabe também que podecausar algum dano no processo. Toda a agendado inimigo pode ser resumida em um objetivo:atrapalhar

Deus por meio de seus filhos. O Diabo pensouque podia fazer isso com Jó no Antigo Testa-mento. Mas o que o Diabo não sabia era queDeus tinha controle absoluto de cada passo docaminho.

Outra solução que alguns cristãos tentam éusar as Escrituras para desafiar o inimigo. Mas oque esses cristãos não percebem é que o Diaboconhece as Escrituras melhor que alguns teólo-gos. O coração do Diabo não está cheio de dúvi-das, mas de ódio e ciúmes. Seu ódio e seusciúmes de Deus o cegam para a realidade do sen-horio de Deus.

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Para qualquer cristão, usar as Escrituras semo Espírito é como entrar numa batalha com umaespada de papel. Não é só a palavra que fará oDiabo dar meia-volta; não, é a Palavra e o poder.O Diabo pode citar as Escrituras melhor quequalquer professor de seminário, mas, quando aPalavra está sob a direção do Espírito Santo, elasempre atingirá seu alvo mortal.

A SOLUÇÃO DE DUAS PARTESPARA AS NOSSASDIFICULDADES

Quando Daniel foi lançado na cova dos leões,nada fez para se defender. Ele não tentou prendero inimigo. Não tentou desafiar os inimigoscitando as Escrituras. Simplesmente deixou asituação nas mãos de Deus. Isso me leva àsolução de Davi para seus problemas. No salmo57, Davi revela a única solução para dificuldades,problemas e calamidades. Essa solução possuiduas partes.

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Parte um: Refugie-se em Deus

Em Salmos 57.1, Davi diz: "Eu me refugiareià sombra das tuas asas, até que passe o perigo"(Salmos 57.1). Em vez de sair para lutar as pró-prias lutas, Davi se refugiou em Deus. Como eledeve ter sido tentado a mostrar sua força e seupoder ao inimigo! Mostrar ao inimigo que ele nãoera alguém com que se podia mexer deve ter sidouma grande tentação para um homem como Davi.Em vez de se envolver com o inimigo, porém,Davi refugiou-se na sombra das asas de Deus.

Que verdade bendita compreender que, emmeio a todas as nossas dificuldades e calamid-ades, temos um refúgio. Certamente há mo-mentos de entrar na batalha e envolver-se com oinimigo. Mas isso só deve acontecer sob as or-dens diretas do Capitão da nossa salvação. Ojovem Davi compreendeu isso quando deparoucom Golias.

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"Todos os que estão aqui saberão que não épor espada ou

por lança que o SENHOR concede vitória; pois abatalha é

do SENHOR, e ele entregará todos vocês emnossas mãos."

(1 Samuel 17.47)

A batalha sempre é do Senhor.

Parte dois: Exalte Deus

O outro aspecto da solução de Davi encontra-se em Salmos 57.5. Davi se refugiou em Deus e,ao mesmo tempo, deu uma oportunidade paraDeus ser exaltado. "Sê exaltado, ó Deus." Essaera a paixão de Davi. O único meio de Deus serexaltado era Davi encontrar refúgio nele.

Davi não era oportunista. Ou seja, ele nãobuscava oportunidades de se exaltar acima do

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povo que liderava, nem mesmo de se exaltaracima de seus inimigos. Decerto, ao longo docaminho, ele havia tido muitas oportunidadespara fazer isso.

Ainda que não fosse um homem perfeito,Davi tinha perfeita confiança em Deus, não em simesmo. É aqui que arranjamos problemas. Certa-mente confiamos em Deus; mas por algummotivo confiamos em nós acima de Deus, só parao caso de Deus não dar conta do recado. Davinão era assim. Ele se colocava em tal posiçãoque, se Deus não desse conta, tudo estariaperdido.

De novo, considere o exemplo de Davi e Go-lias. Você aprecia o grande risco assumido porDavi? Muitas vezes me pergunto por que o reiSaul permitiu que Davi fosse até lá enfrentar Go-lias daquela maneira. Se Davi tivesse falhado, Is-rael teria falhado. Toda a situação entre Israel eos filisteus se resumiu a um adolescente de nome

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Davi e suas cinco pedras lisas e uma funda. É di-fícil imaginar Davi em pé diante do gigante. SeDeus não desse conta, tudo estaria perdido para ogaroto e para os israelitas.

A LINGUAGEM DO CÉU

O resumo é: Você está disposto a dizer "ÓSenhor, exalta-te acima de mim e de tudo o quesou — posses, amigos, confortos, prazeres,reputação, saúde e vida — tudo. Testa-me, Sen-hor, e vê se eu realmente consigo deixar tudo emtuas mãos. Coloca minha vida na linha, para queeu não seja totalmente eu, mas totalmente teu,conhecendo a verdade de que posso refugiar- -meem ti".

Se você chegou até aqui, sugiro mais umpasso em sua oração: "Ó Senhor, dispara uma ca-deia de circunstâncias que me leve ao lugar emque eu possa dizer sinceramente: 'Sê exaltadoacima dos céus'".

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Você já se perguntou que linguagem se falano céu? É isso. Essa é a linguagem do céu. Elesvirão do norte, do sul, do leste e do oeste. Virãode países que falam alemão, espanhol, grego esírio. Virão de todo o mundo e nunca terão de sesentar e se submeter ao processo de aprender umanova língua. No Reino de Deus todos falarão amesma língua, cuja tônica será: "Digno é oCordeiro que foi morto de receber a glória, ahonra e o poder" (v. Apocalipse 4.11). Você con-hecerá a linguagem do céu quando chegar lá semter de estudá-la — e você não falará com sotaque.

O alvo da vida crucificada é deixar-se colocarnuma posição tal em que Deus é exaltado.Quando você permitir que Deus seja exaltado nassuas dificuldades, estará na condição perfeitapara aspirar a doce fragrância da presença dele.

Saudai o Nome de Jesus

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Edward Perronet (1726-1792)___________________________________

Saudai o nome de Jesus,Arcanjos vos prostrai.

O Filho do glorioso Deus,Com glória coroai.

O Filho do glorioso Deus,Com glória coroai.

Ó escolhida geraçãoDo bom, eterno Pai,

O grande autor da salvação,Com glória coroai.

O grande autor da salvação,Com glória coroai.

Ó perdoados por Jesus,Alegres adorai.

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O Deus de paz, o Deus de luz,Com glória coroai.

O Deus de paz, o Deus de luz,Com glória coroai.

O tribos, raças e nações,Ao Rei divino honrai.

A quem quebrou os vis grilhões,Com glória coroai.

A quem quebrou os vis grilhões,Com glória coroai.

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GUIASESPIRITUAIS

PARA A JORNADAEntão eu lhes darei governantes conforme a

minha vontade, que os dirigirão com sabedoria ecom entendimento.

-JEREMIAS 3.15

O caminho da vida crucificada pode serprecário, tornando indispensável um guia espir-itual. Mas é importante ter um guia que com-preenda suficientemente o caminho e possa darinstruções claras sobre como viver a vida cruci-ficada. A igreja não carece de pessoas que deemconselhos. Carece, porém, de guias espirituaiscom a sabedoria necessária para navegar numavida tão precária. A questão a considerar é:Como reconhecer um verdadeiro guia espiritual?

É crucial estarmos alertas para os falsosguias. Para cada guia verdadeiro, há uma mul-tidão de falsos guias. O uso de falsos guias é umaestratégia popular do inimigo para destruir a obrade Deus na vida de uma pessoa. Alguns guias sãoobviamente falsos e é fácil reconhecê-los comotais porque os ensinos deles estão completamentefora dos eixos. O que me preocupa, entretanto,são aqueles falsos guias que estão perto daverdade.

Uma das primeiras coisas que deve chamar anossa atenção acerca de um guia potencial é ouso que ele faz das Escrituras. O guia espiritualmais perigoso é a pessoa 95% fiel às Escrituras.Lembre-se: não é a verdade que o machuca; é omal. Os 95% de verdade são vencidos pelo mal.Isso nosso arqui-inimigo sabe muito bem.

O verdadeiro guia espiritual acolhe rodas asEscrituras, enquanto o falso guia evitará certaspassagens. Isso é algo que só o cristão bem

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informado pode reconhecer plenamente. Infeliz-mente, o problema hoje é que muitos cristãos nãosão versados nos ensinos das Escrituras.

Outro sinal é o uso de materiais extra bíbli-cos. Muitos desses falsos guias começam com al-guma passagem bíblica e gradualmente passampara materiais extra bíblicos. Pode ser um livroou série de ensaios ou alguma poesia. Não im-porta o que seja. Tudo deve ser provado pela Pa-lavra de Deus, que é a autoridade final para ocristão. O lugar da Bíblia no ensino deve indicar-nos a genuinidade de um guia espiritual.

Mais um sinal de guias espirituais falsos é suaênfase indevida em si mesmos. Quando o ensinosempre focaliza o professor, é indício de que algoestá errado. O verdadeiro guia espiritual con-centrará todo o ensino em Jesus Cristo e só noCristo da Bíblia.

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GUIAS ESPIRITUAISVERDADEIROS

A maioria dos guias espirituais verdadeiroscorresponde ao que costumo chamar de "místicosevangélicos". Sei que a terminologia não éaceitável em muitos círculos cristãos; entãodeixe-me explicar o que quero dizer. Por "místicoevangélico" quero dizer alguém que tem os pésfirmes e irrevogavelmente plantados nas Escritur-as. Essa é a primeira qualificação absoluta dosguias espirituais verdadeiros. Eles aceitaram as

Escrituras como sua única regra de fé e prática edepositaram sua fé e confiança no Senhor JesusCristo da Bíblia. Não preciso de nenhumasuposição misturada a especulações inconsist-entes. Quero saber que o meu guia espiritual temcompromisso com a Palavra de Deus.

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Eles diagnosticam a vidaespiritual interior

Há vários outros aspectos importantes nessesguias espirituais. Primeiro, os guias espirituaisverdadeiros são o que eu chamaria de cirurgiõesda alma que possuem o poder de diagnosticar avida espiritual interior. Viajando pelas trilhas davida crucificada, certamente necessitamos de ummédico da alma que possa discernir com habilid-ade os problemas do nosso coração. O dia-gnóstico espiritual é muito valioso para a ma-nutenção de uma saúde espiritual sólida. Umacoisa é diagnosticar um problema; outra, total-mente diferente, é prescrever um remédiobaseado nas Escrituras, não na sabedoria domundo.

A sabedoria deste mundo não tem nada aoferecer para o clamor interior da alma apaixon-ada por Deus. Toda terapia do sentir-se bem não

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consegue tocar de maneira alguma as profun-dezas da alma. Precisamos de um guia espiritualque conheça Deus, domine a Palavra de Deus ecompreenda a natureza humana.

Eles praticam a vida interior

Os guias espirituais efetivos serão apóstolosda vida interior sem jamais serem meramente in-trospectivos. Eles sondam as profundezas daalma a fim de poderem voltar os olhos interiorespara fora, concentrando-se na pessoa de Cristo. Oalvo deles é elevar a alma até a maravilha que éDeus.

Eles exalam umaespiritualidade renovada

O que torna esses guias espirituais tão recon-fortantes é sua originalidade espiritual. Ao ler al-gumas de suas obras, você captará um senso de

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frescor do orvalho da presença de Deus. Eles nãoescrevem só uma coleção de termos paraproduzir cópias, mas palavras poderosas queproduzem no coração do homem que anseia porDeus uma fragrância da presença divina. Ao leressas obras, temos a sensação de que estamos en-contrando as palavras de um verdadeiro profeta,alguém que sabe o que fala.

Estamos muito acostumados nestes dias a lerlivros escritos por autores que copiaram livrosdos outros ad nauseam. Esses livros têm o cheiromofado da repetição impensada e do fracasso es-piritual. Quando chegamos à literatura dessesguias espirituais, logo sentimos a diferença.Neles não há repetição da ideologia religiosa,mas uma revelação sagrada do coração e damente de Deus baseada nas Sagradas Escrituras.

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Eles experimentam as mesmasdificuldades que nósexperimentamos

O que torna tão genuínos os guias espirituaisverdadeiros é o fato de que eles vivem uma vidareal e enfrentam dificuldades reais. Muitos forammártires pela causa de Cristo e deixaram provasde sua incrível devoção a Deus. Eles sabiam oque significa passar necessidade pela causa deCristo. Não viviam em torres de marfim, abri-gados das dificuldades e amarguras da oposiçãodo mundo à verdadeira espiritualidade. Muitosdeles se viram no exílio por causa do com-promisso com a vida profunda. Seus caminhosnão foram fáceis e forrados de rosas, mas havia afragrância da presença de Deus, o que, para eles,fazia toda a diferença.

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Eles se dedicamexclusivamente a Deus

Os verdadeiros guias espirituais são homens emulheres dedicados exclusivamente a Deus. Avida deles não depende da razão, da imaginaçãoou do sentimento humano. Eles também não es-tão empenhados em falar com eloquência sobreas coisas divinas e em vomitar pensamentos bril-hantes acerca de Deus, coisas bem distantes docristão mediano. Eles descobriram a simplicidadeda comunhão e da solidão com Deus.

Eles odeiam o mal

A marca de devoção que esses homens e es-sas mulheres têm é um horror comum em relaçãoao mal e ao pecado. Nada instila a ira deles comoo mal ao redor, especialmente o mal na igreja.Nada instiga mais a imaginação deles que os

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pensamentos de Deus e seu reino interior. Elescultivam dentro de si um hábito perpétuo deouvir a doce voz interior de sua presença. Dessasexperiências interiores brota uma determinaçãoradical de obedecer àquela voz, independente-mente do preço.

A LITERATURA DOS GUIASESPIRITUAIS DO PASSADO

A literatura desses místicos e guias espirituaisevangélicos concentra-se no adorador, não noaluno. Tudo é preparado para os enamorados porDeus que o buscam acima de todas as outrascoisas e desdenham as coisas deste mundo.

A poesia desses místicos evangélicos voapara os céus acima com alegria encantadora e de-liciosa harmonia com o divino. Ler a poesiadesses guias espirituais é experimentar a paixãoque eles tinham por Deus. Com frequência, apósler tais poesias, baixo o livro e suspiro

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profundamente no coração, satisfeito com amaravilhosa verdade de que o escritor conseguiuexpressar os meus sentimentos mais profundospor Deus numa linguagem muito melhor do queeu seria capaz de fazer

Seja lendo um livro de ensaios, seja depoemas, é preciso ter em mente que não se pre-tendia que aquilo fosse usado em público. Essasobras deviam ser lidas na privacidade do cultopessoal. Rodeado pela solitude da maravilha queé adorar, esses autores elevam o nosso coraçãoem alegre antecipação da presença manifesta deDeus.

Depois de dizer isso tudo, porém, preciso es-tabelecer algumas linhas para orientar a leitura dealguns desses grandes livros de devoção espiritu-al. Nunca se aproxime desses livros como vocêchegaria a outro tipo de literatura. São muitas aspessoas que, na pressa de terminar a leitura,deixam escapar a quietude de experimentar a

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presença de Deus. Alguns desses livros o levarãoespiritualmente a lugares em que você nuncaesteve.

Chegue com o espírito sedento

A primeira coisa que devemos ter em mentequando lemos um desses clássicos devocionaiscristãos é chegar com o espírito sedento. Os quepossuem forte senso de curiosidade não precisamler esses livros. Não haverá nada para saciar suacuriosidade. Esses clássicos exigem que o leitorchegue com um forte desejo de conhecer Deus.Sem esse forte desejo, o leitor logo se cansará eficará entediado com o livro. Nada aqui servepara o coração leviano. Nada aqui serve para en-treter o cristão maduro. Tudo instila um desejoinsaciável de conhecer Deus na plenitude de suarevelação. Feito isso, toda a vida interior

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Chegue depois de orar emeditar nas Escrituras

Outra recomendação está na área da oração.Só chegue a esses livros depois de um tempo sig-nificativo em oração e meditação nas Escrituras.Qualquer um que chegue despreparado e apres-sado deixará escapar todo intento desses livros.Se o nosso coração não estiver pronto para rece-ber, nosso tempo nesses livros não será bemempregado.

Esse é um dos principais elementos erradosna igreja cristã de hoje. Na pressa de acompanhara cultura à nossa volta, reservamos pouco tempopara esperar quietos diante de Deus e meditar emsua Palavra. O leitor que prepara o coração e amente experimentará nesses clássicos panoramasda gloriosa revelação de Deus.

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Tenha uma atitude devocional

Outra coisa diz respeito à nossa atitude. Émuito difícil encontrar tempo, muito menos in-tenção, de esperar diante do Senhor em quietude.Quando chegamos a um desses grandes clássicosespirituais, porém, precisamos adotar uma atitudede devoção. Isso é difícil para nós, ocidentais.Corremos daqui para lá com uma energia que nãopode durar para sempre. Então entramos emcolapso, exaustos pelo cansaço acumulado.

Para aproveitar esses livros ao máximo, é im-portante aprender a desenvolver as disciplinas dosilêncio e da meditação. O mundo está muito en-tranhado em nós. Precisamos aprender a nos liv-rar dele e entrar dignamente na presença do Deusonipotente. Creio que a nossa humildade nosilêncio diante de Deus criará dentro de nós umverdadeiro espírito de expectativa daquilo querealmente esperamos que Deus faça no livro e

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por meio do livro que temos diante de nós. É porisso que eu disse antes que esses livros não sãopara leitura pública. São para alguém ficar só eler em silêncio, devagar e em meditação. Fugir detoda distração ajudará a desenvolver a disciplinada concentração nas coisas de Deus.

Renda-se e consagre-se

Antes de começar a ler um desses clássicos, éimportante certificar-se de que você se rendeu ese consagrou a Deus. Os guias espirituaiscomeçam onde os outros terminam. A pres-suposição, da perspectiva deles, é que você estápronto para se embrenhar nas profundezas deDeus, que você já está começando a viver a vidacrucificada. Assim, antes de começar a ler, gasteum tempo a sós com Deus e deixe seu coraçãonuma posição tão submissa e obediente que Deuspossa começar a falar com você por meio dasvozes desses guias espirituais.

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Se na sua vida há grandes áreas que ainda nãose renderam a Cristo, a leitura desses livros pou-co beneficiará você. Faça a renúncia. Todas essasobras têm o propósito de ajudar o peregrino aolongo do caminho, mas você precisa já ter en-trado no caminho correto.

Seja sincero

Outro aspecto importante é chegar com umsenso de sinceridade. Esses autores entendem queos leitores são sérios. Eles não estão escrevendopara satisfazer a curiosidade daqueles que nãotêm intenção sincera de colocar em prática o en-sino. Esses livros são para a alma daqueles quetêm sede de Deus — e só de Deus. Os livros nãovão entreter você. Nenhum deles foi escrito como propósito de entreter ou divertir.

Já li muitos desses livros e nunca considereinenhum deles divertido. Cada um me levou maisfundo ou mais alto na presença de Deus, e o

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caminho não é fácil. Não é para covardes. Pelocontrário, é para os que querem conhecer Deus enão se importam com o preço. Não há "diversão"nesses livros, mas você pode estar certo de quehaverá muita glória para os que buscam seus en-sinos com sinceridade.

Leia devagar

É preciso estabelecer aqui outro ponto. Haltamente recomendável que você nunca leiamais de um capítulo por dia. E impossível entrarcorrendo nesses livros e receber todo o benefícioque eles possuem. Desacelere, medite longa-mente e com seriedade em todo e qualquercapítulo, parágrafo, sentença e, sim, até palavra.É preciso estudar, meditar, marcar, orar e leresses livros enquanto eles continuarem minis-trando à alma.

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Forme uma biblioteca

Na literatura cristã, há livros que podem serlidos só uma vez e depois esquecidos. Sir FrancisBacon escreveu: "Alguns livros devem ser prova-dos, outros, sorvidos, e alguns poucos devem sermastigados e digeridos: ou seja, alguns livros de-vem ser lidos só em partes, outros devem serlidos, mas não por curiosidade, e alguns poucosdevem ser lidos totalmente e com grande diligên-cia e atenção". Os grandes clássicos cristãos seenquadram nesta última categoria.

Recomendo enfaticamente que você formeuma biblioteca desses livros que devem ser lidose ruminados pelo resto da sua vida. Parece-mealtamente improvável que alguém algum diadomine a riqueza encontrada nesses volumes.

A jornada c dura. O caminho que precisamostrilhar é repleto de perigos e afligido por

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dificuldades. Só um guia fidedigno pode ajudar-nos ao longo do caminho e permitir-nos viver avida crucificada com grande vitória.

Escondido em tiWilliam O. Cushing

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Ah, seguro para a Rocha mais elevada que eu,Minha alma em seus conflitos e dores voaria;Tão pecador, tão cansado, teu, teu eu seria;

Bendita Rocha eterna, escondido estou em ti.

Escondido em ti, escondido em ti,Bendita Rocha eterna,Escondido estou em ti

.Na calma do meio-dia, na hora solitária da dor,Quando a tentação lança sobre mim seu poder;

Nas tempestades da vida, no mar amplo eagitado,

Bendita Rocha Eterna, escondido estou em ti.

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Quantas vezes no conflito, pressionado peloinimigo,

Tenho voado para meu refúgio e expressadominha angústia;

Quantas vezes, quando as provações rolam comoas ondas do mar,

Tenho me escondido em ti, ó Rocha da minhaalma.

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CONCLUSÃO

O PROPÓSITO DOFOGO DO

OURIVES NAVIDA

CRUCIFICADA"Se formos atirados na fornalha em chamas,

o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos,e ele nos livrará das tuas mãos, ó rei. Mas, se elenão nos livrar; saiba, o rei, que não prestaremosculto aos teus deuses nem adoraremos a imagem

de ouro que mandaste erguer; "

DANIEL.3.17,18

Deus tem em seu arsenal um número infinitode instrumentos que emprega com critérios

próprios para cumprir seu perfeito propósito nanossa vida. É claro que a pergunta que deve pre-valecer é: Qual o propósito de Deus na nossavida? A resposta a essa única pergunta abrirá to-do um mundo de entendimento a respeito do queDeus está fazendo nas nossas circunstâncias.

Alguns têm a ideia de que o propósito deDeus é tornar a nossa vida mais tolerável aqui naterra. Isso barateia o que Cristo fez na cruz. Setudo o que ele queria fazer era tornar a nossa vidatolerável, podia tê-lo feito numa variedade deoutros meios. O propósito supremo de Deus paranós é nos tornar como seu Filho, Jesus Cristo. Secompreendermos que tudo o que nos acontece épara nos tornar mais parecidos com Cristo, issoresolverá grande parte da nossa ansiedade.

Se, por outro lado, temos a ideia de que opropósito de Deus é tornar esta vida um céu naterra, então Deus tem uma porção de explicaçõesa dar. Não está funcionando. A trilha é dura, e o

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caminho está cheio de todos os tipos de dis-trações e distúrbios.

Em todo o livro, venho referindo-me à cruzcomo um instrumento para cumprir o propósitode Deus, seu propósito máximo na nossa vida.Agora quero referir-me a outro instrumento quesegue junto com este: o fogo do Ourives. Deixe-me destacar a diferença entre eles. A cruz diz re-speito à nossa vida pessoal: colocar o eu na cruze crucificá-lo absolutamente sob Cristo. Mas ofogo do Ourives tem outra abordagem. Opropósito do fogo do Ourives é queimar toda es-cravidão que nos é imposta pelo mundo.

Quando falo acerca do "mundo", não me re-firo a montanhas e vales, campos e florestas.Estou falando sobre o espírito deste mundo que édiametralmente oposto a tudo o que Deus repres-enta. O espírito deste mundo é supervisionadopor ninguém mais que o inimigo da nossa alma,Satanás em pessoa, a quem as Escrituras se

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referem como "o príncipe do poder do ar" (Efési-os 2.2). O apóstolo Paulo também se refere a elecomo o deus deste mundo:

O deus desta era cegou o entendimento dosdescrentes, para que não vejam a luz do evan-gelho da glória de Cristo, que é a imagem deDeus (2Coríntios 4.4).

Assim como Deus Pai não livrou seu Filhodas dores e sofrimentos da cruz, também não noslivrará de nenhuma dor para nos levar à posiçãomáxima de semelhança com Cristo. Como de-clara o autor de Hebreus:

"... pois o Senhor disciplina a quem ama, e cas-tiga todo aquele a quem aceita como filho".

Suportem as dificuldades, recebendo-as comodisciplina; Deus os trata como filhos. Ora, qual ofilho que não é disciplinado por seu pai?(Hebreus 12.6-7).

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Uma leitura casual das Escrituras levará àconclusão de que Deus nunca entra na rotina. Emgeral, ele raramente se repete. Só havia umDaniel na cova dos leões; só uma vez três filhoshebreus foram lançados na fornalha acesa; eDeus só apareceu uma vez numa sarça ardentepara um homem. Deus, em sua infinita sabedoriae por critérios completamente próprios, lida comseu povo para levá-lo ao lugar por ele atribuído.

O fogo do Ourives é simplesmente um instru-mento pelo qual Deus cumpre seus propósitos nanossa vida. Jamais devemos adorar o fogo.Lembre-se de que Israel caiu na idolatria cultu-ando a serpente de bronze que deteve o anjo damorte. A serpente de bronze existiu apenas paralembrá-los do que Deus havia feito, mas elesficaram mais enamorados pelo objeto do que peloDeus por trás do objeto. Precisamos permitir queDeus use qualquer instrumento ou ferramentapara cumprir seu propósito. De novo, essepropósito é nos levar a um ponto de absoluta

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semelhança com Cristo, uma vez que é por meiodo Filho que Deus é glorificado.

Compreender Deus e sua natureza é com-preender que nada impuro pode permanecer di-ante dele. Assim, ao lidar conosco como filhos efilhas, precisamos corresponder a seus padrões depureza. Nada impuro, nada deste mundo, nadacontrário à natureza e ao caráter de Deus pode re-star na nossa vida.

Alguns aspectos da nossa vida são tão resistentesà graça de Deus que necessitam de fogo para ser-em completamente consumidos.EXIGÊNCIAS DA VIDACRUCIFICADA

Em Daniel 3 lemos a história do rei babilônioNabucodonosor que mandou fazer uma imagemde ouro e ordenou que todas as pessoas de seureino se curvassem e a adorassem. Quando Sad-raque, Mesaque e Abede-Nego — homens que

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serviam ao Senhor — recusaram curvar-se à im-agem, o rei mandou jogá-los numa fornalhaacesa. As ações desses três filhos dos hebreusrevelam alguns aspectos cruciais na vidacrucificada.

Obediência

Primeiro, Sadraque, Mesaque e Abede-Negoforam obedientes ao Senhor. A obediência é umcomponente básico da vida cristã. Observe que aobediência deles não exigia que soubessem omotivo do que acontecia com eles, nem exigiaque Deus fizesse tudo de acordo com o entendi-mento deles. Tenho certeza de que eles não tin-ham ideia do motivo pelo qual tudo aquilo re-pentinamente lhes sobreviera. Eles tinham sidobons servos de Nabucodonosor, e este os haviahonrado com posições de autoridade. Agora tudoparecia estar contra eles.

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Ao pensar nessa história, tenha em menteque, para começar, a obediência deles a Deus é oque os colocou no problema. Foi a porta da for-nalha. Como mencionei anteriormente, em algummomento os cristãos desenvolveram a ideia deque, se obedecerem a Deus, isso os manterálivres de problemas. Mas esse não é o propósitoda obediência. Ao observar a vida de homens emulheres do Antigo e do Novo Testamentos, eaté ao longo da história da Igreja, descobrimosque foi justamente a obediência que muitas vezesos colocou em dificuldades.

Já me referi a Dietrich Bonhoeffer. Sua obed-iência o enviou diretamente à forca. Ele podia terescapado, mas isso comprometeria seu relaciona-mento com Deus, coisa que ele jamais cogitoufazer. A verdadeira obediência é a recusa emcomprometer de modo algum o nosso relaciona-mento com Deus, sem medir as consequências.

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Tenha em mente que o deus deste mundo nãose importa que você creia em Deus. "Você crêque existe um só Deus? Muito bem! Até mesmoos demônios creem — e tremem!" (Tiago 2.19).O Diabo crê em Deus, de modo que você está nomesmo barco que ele. O Diabo não se importaque você cultue a Deus, desde que também cultueos deuses deste mundo. Enquanto você acreditarem Deus como milhões acreditam hoje e nãofizer dele a prioridade número 1 na sua vida, oDiabo não terá problemas com você. A igrejaevangélica hoje está seguindo o curso do movi-mento liberal e entrando pela mesma trilha dasconcessões. Uma concessão aqui, outra ali, e logosobra bem pouca diferença, se sobrar alguma,entre o chamado cristão e o homem do mundo.

A verdadeira obediência, conforme ilustradana história dos três filhos dos hebreus, semprenos leva a um ponto sem volta. É aí que entra afé. Não precisamos compreender o que estáacontecendo para obedecermos a Deus. Não

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precisamos saber o resultado para obedecermos aDeus. Essa obediência nos leva a um ponto dedecisão pessoal em que não precisamos ser liv-rados do nosso problema.

Obediência é reconhecer a soberania e aautoridade de Deus e submeter-se a ele sem ques-tionar e sem considerar as consequências. Vemosessa completa obediência quando Sadraque,Mesaque e Abede-Nego disseram: "Se formosatirados na fornalha em chamas, o Deus a quemprestamos culto pode livrar-nos [...]. Mas, se elenão nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremosculto aos teus deuses nem adoraremos a imagemde ouro que mandaste erguer" (Daniel 3.17,18).A obediência deles não exigia que Deus os resga-tasse de uma dificuldade. Eles sabiam que Deuspodia resgatá-los, mas, se não o fizesse, isso nãoinfluiria na absoluta obediência deles a Deus.

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Rendição

A obediência absoluta dos três filhos doshebreus a Deus colocou-os num lugar de absolutarendição às circunstâncias. Não gostamos de falardisso. Queremos falar de Deus livrando- -nos dedificuldades para podermos dizer: "Glória aDeus, ele me livrou". Rendição, porém, não énada disso.

A essência da rendição é sair do caminhopara que Deus possa fazer o que quer. E muitocomum estarmos numa posição em que Deus nãopode fazer sua obra. Então ficamos à espera, per-guntando por que nada acontece. Nada aconteceporque estamos obstinados diante de Deus,recusando-nos a nos render à situação que seapresenta.

Nabucodonosor foi bondoso o suficiente paradar aos três uma oportunidade de reconsiderar

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sua posição. Afinal, a filosofia do mundo é quevocê precisa ceder um pouco para avançar umpouco. Ele tentou facilitar a vida dos três. Natur-almente, eles estavam numa posição em que alealdade a Nabucodonosor contribuiria muitopara o livramento do povo de Israel. Aquilo sólhes custaria uma ou outra concessão. E assimque o mundo funciona, mas não é como funcionao Reino de Deus.

Uma coisa que os três compreendiam eraquem é o governante supremo neste mundo.Nabucodonosor se considerava poderosíssimo,mas não representava nenhuma ameaça àquelesjudeus fiéis e leais só a Deus. Alguns nos fariamacreditar que, rendendo-nos a uma situação, es-tamos exercendo um ato de covardia. A únicapessoa que aceitaria essa filosofia é a que nãoconhece os caminhos de Deus. Embora seja ver-dade que há momentos em que precisamoscolocar-nos contra certa situação ou problema —quando repudiar a situação é a ordem do dia —,

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nunca devemos confundir isso com uma opor-tunidade de nos rendermos de maneira que saí-mos do meio do caminho de Deus e permitimosque ele faça em nós o que quer fazer por nossointermédio.

A fornalha representava o pior que o mundopodia fazer. De fato, Nabucodonosor estava tãoirado com aqueles judeus que ordenou que a for-nalha fosse aquecida sete vezes mais. QuandoSadraque, Mesaque e Abede-Nego se renderamàs chamas daquela fornalha, estavam entrando naarena de Deus.

Observo com grande satisfação que os ho-mens de Nabucodonosor, cuja função era lançaraqueles judeus na fornalha acesa, foram os únicosconsumidos por aquele fogo. Aliás, as únicascoisas que as chamas consumiram foram os ho-mens de Nabucodonosor e as amarras dos filhosdos hebreus. Aquilo que era do mundo, Nabu-codonosor e as amarras, foi absolutamente

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consumido pelas chamas daquela fornalha. Masnada de Deus sofreu danos.

Os sátrapas, os prefeitos, os governadores c osconselheiros do rei se ajuntaram em torno deles ecomprovaram que o fogo não tinha ferido o corpodeles. Nem um só fio do cabelo tinha sidochamuscado, os seus mantos não estavamqueimados, e não havia cheiro de fogo neles.(Daniel 3.27)

Não vejo por que o mundo representa algumaatração para alguém. Qualquer um que possa leralguma coisa de história compreenderá que omundo sempre destrói os seus. Josué com-preendeu isso quando disse aos israelitas: "Se,porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escol-ham hoje a quem irão servir, se aos deuses que osseus antepassados serviram além do Eufrates, ouaos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês es-tão vivendo. Mas, eu e a minha família ser-viremos ao SENHOR" (Josué 24.15). Se vocês

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querem seguir o deus deste mundo, disse Josué,então prossigam. Mas, como testificou comgrande confiança, ele e sua casa serviriam aoSenhor. Ele compreendeu que o mundo semprese volta contra os próprios filhos.

Os homens de Nabucodonosor foram destruí-dos porque os três filhos dos hebreus obedecerama Deus e se renderam à fornalha. De que maneiravocê derrotaria homens desse tipo? Como forçá-los à submissão? A chama não lhes causou danoalgum. Aquilo foi assombroso no que diz respeitoa Nabucodonosor. Aquilo que fora preparadopara destruir os homens de Deus havia saído pelaculatra, destruindo apenas seus homens.

Se ao menos conseguíssemos entender isso.Se ao menos pudéssemos realmente acreditar queDeus possui uma agenda neste mundo e quefazemos parte dessa agenda. Ainda que as circun-stâncias da nossa vida sejam oportunidades paraDeus derrotar o mundo, a única coisa que

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atrapalha no meio do caminho é o cristão hesit-ante exigindo que Deus o livre de todos os prob-lemas. Mas o problema é justamente o quepermite que Deus receba a glória.

A mesma chama que consumiu o mundo nat-ural e a escravidão imposta pelo mundo sobre oscristãos é a chama que purifica o cristão. Achama queima as impurezas e leva o ouro a umestado de purificação. Quanto mais intensa achama, tanto mais puro o ouro.

Revelação

Assim, se desejamos viver a vida crucificada,precisamos submeter-nos completamente emobediência ao Senhor e render a nossa vida àautoridade divina para que ele possa fazer suaobra. Quando saímos do meio do caminho deDeus, ele tem a oportunidade de revelar-se a nóse ao mundo ao redor de um modo ímpar. Comfrequência, o único meio de o mundo conseguir

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ver Cristo é pela revelação trazida pela experiên-cia do cristão no fogo do Ourives.

Depois que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego foram lançados nas chamas, Nabucodono-sor olhou dentro da fornalha e viu algo que ja-mais esperava ver. Ele pensava que aquelaschamas que mandara acender consumiriam os ho-mens. Em vez disso, não só os viu vivos e ilesos,como também viu um quarto homem na fornalha.

Mas, logo depois o rei Nabucodonosor, alar-mado, levantou- -se e perguntou aos seus consel-heiros: "Não foram três homens amarrados quenós atiramos no fogo?"

Eles responderam: "Sim, ó rei".

E o rei exclamou: "Olhem! Estou vendo quatrohomens, desamarrados e ilesos, andando pelofogo, e o quarto se parece com um filho dosdeuses" (Daniel 3.24,25).

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Ei, vejam aquele quarto homem no fogo!Essa é a revelação de Deus. O que é preciso paraexperimentar Deus desse jeito? É preciso umafornalha. É preciso obediência a Deus e submis-são a ele em absoluta rendição. Isso é tudo.

A ALEGRIA DA PRESENÇA DEDEUS

O fogo na fornalha revela Cristo no meio deseu povo, participando de sua comunhão. O fogoda fornalha de Nabucodonosor não anulou a fra-grância da presença de Deus. Imagine a alegriadaqueles homens nas chamas. Não há alegriacomparável à de estar num lugar em que Deus in-clui você numa doce comunhão. Nunca num mer-cado. Nunca no cume de um monte. Lembre-sede Pedro no monte da Transfiguração. Ele querialevantar duas tendas, esquecer o resto do mundoe desfrutar da comunhão com Deus. Mas o valorda experiência no cume do monte é revelado novale, lá embaixo, que precisamos trilhar.

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A revelação de Deus é o fruto da chama.Quantas vezes deixamos escapar a fragrância dapresença de Deus porque resistimos à fornalha, àtribulação e ao sofrimento diante de nós? Temostudo preparado. Lemos um par de versículos dasEscrituras e dizemos: "Eu creio". Isso resolve.Pensamos que então podemos seguir felizes pelocaminho rumo ao céu, assobiando: "When theSaints Come Marching In" [Quando os santos en-trarem marchando]. Queremos ser mimados nonosso caminho para o céu e ter uma vida tran-quila. Queremos ter certeza de que iremos para océu quando morrermos, mas por enquanto quere-mos desfrutar dos prazeres do mundo.

Não há revelação divina quando se segue essatrilha. Não há experiência da fragrância dapresença de Deus. Não se queimam as amarrasque o mundo nos impôs, impedindo-nos deseguirmos o nosso Senhor. Sim, andamos pela fé.Mas há alguns momentos gloriosos em que Deusse revela a nós. Eu digo a você: essa terra é santa.

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Essa é uma área de santidade que não se comparaa nada mais neste lado da glória.

Tenha em mente que Deus reserva uma visãopara nós além da fornalha. O fogo cumpre seupropósito, queimando as amarras do mundo epurificando o nosso relacionamento com Deus, eentão seguimos adiante. Sadraque, Mesaque eAbede-Nego saíram daquela fornalha. Imagine otestemunho que devem ter tido para o resto davida. Eles certamente eram criaturas tiradas dofogo. Eram homens de Deus que haviam encon-trado Deus de modo maravilhoso e glorioso, semcomparação com tudo mais na vida deles. Elesforam considerados dignos de sofrerem porCristo.

Se quisermos de algum modo ver Deus naplenitude de sua manifestação, precisamos sercomo esses homens. Precisamos obedecer aoSenhor irrestritamente e nos render de talmaneira que ele possa colocar-nos onde quer

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colocar-nos para nos mostrar o que ele quermostrar-nos. E o que ele fará para nós tambémfará por meio de nós para confundir a sabedoriado mundo, que não consegue decifrar quemsomos.

Os instrumentos divinos mais delicados sãoreservados para seus filhos especiais. Para ocristão na trilha da vida crucificada, Deus in-troduzirá nessa trilha a fornalha acesa, o fogo doOurives, e mostrará a esse cristão quanto real-mente o ama.

Nada entre minha alma e o SalvadorCharles Albert Tindley (1851-1933)

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Nada entre minha alma e o Salvador,Nada dos sonhos ilusórios deste mundo;

Renunciei a todo prazer pecaminoso;

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Jesus é meu, não há impedimento algum.

Nada entre minha alma e o Salvador,Para que sua face bendita possa ser vista;

Nada impedindo seu mínimo favor,Mantenha-se aberto o caminho!

Que não haja impedimento algum.Nenhum impedimento, como o prazer mundano;Hábitos de vida, por mais inócuos que pareçam,

Não devem dele meu coração afastar;Ele é meu tudo, não há impedimento algum.

Nenhum impedimento, como orgulho ou posição;Vida pessoal ou amigos não hão de interferir;Ainda que me possa custar grande tribulação.Estou resolvido; não há impedimento algum.

Nenhum impedimento, ainda que muitas durasprovações,

Ainda que o mundo inteiro contra mim se reúna;Vigiando em oração e muita abnegação,

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Triunfarei por fim, sem impedimento algum.429/431

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