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Súmula n. 277

Súmula n. 277 - ww2.stj.jus.br · Direito e Aldir Passarinho Junior votaram com a Sra. Ministra Relatora. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 132 Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro

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Súmula n. 277

SÚMULA N. 277

Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos

a partir da citação.

Referência:

Lei n. 5.478/1968, art. 13, § 2º.

Precedentes:

EREsp 85.685-SP (2ª S, 18.02.2002 – DJ 24.06.2002)

EREsp 152.895-PR (2ª S, 13.12.1999 – DJ 22.05.2000)

REsp 78.563-GO (3ª T, 05.11.1996 – DJ 16.12.1996)

REsp 174.732-RO (4ª T, 08.02.2000 – DJ 04.09.2000)

REsp 211.902-MG (3ª T, 14.12.1999 – DJ 14.02.2000)

REsp 218.119-MG (3ª T, 14.12.1999 – DJ 24.04.2000)

REsp 224.783-DF (4ª T, 16.12.1999 – DJ 02.05.2000)

REsp 226.686-DF (4ª T, 16.12.1999 – DJ 10.04.2000)

REsp 240.954-MG (4ª T, 14.03.2000 – DJ 15.05.2000)

REsp 275.661-DF (4ª T, 06.02.2001 – DJ 02.04.2001)

Segunda Seção, em 14.05.2003

DJ 16.06.2003, p. 416

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 85.685-SP (97.0066072-9)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Embargante: Alair Pulhes - menor impúbere

Representado por: Naide Conceição Pulhes

Advogado: Liamara Soliani Lemos de Castro e outro

Embargado: Alair Cândido de Oliveira

Advogado: Célio Ernani Macedo de Freitas

EMENTA

Ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos.

Termo inicial da pensão alimentícia. Entendimento uniforme da

egrégia Segunda Seção do STJ. Dissídio notório. Incidência a partir

da citação.

- Os alimentos devidos em ação de investigação de paternidade,

decorrentes de sentença declaratória de paternidade e condenatória de

alimentos, são os defi nitivos, e, portanto, vige a disciplina do art. 13, §

2º, da Lei n. 5.478/1968, com retroação dos efeitos à data da citação.

- O art. 5º da Lei n. 883, de 21.10.1949, e o art. 7º da Lei n.

8.560, de 29.12.1992, discorrem também sobre a fi xação de alimentos

provisionais, e não impedem o arbitramento de verba alimentar de

natureza defi nitiva, na forma apregoada pela Lei de Alimentos, ainda

que não baseada em prova preconstituída da fi liação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer

dos embargos e os acolher nos termos do voto da Sra. Ministra-Relatora. Os

Srs. Ministros Castro Filho, Antônio de Pádua Ribeiro, Sálvio de Figueiredo

Teixeira, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Carlos Alberto Menezes

Direito e Aldir Passarinho Junior votaram com a Sra. Ministra Relatora.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler. Sustentou oralmente,

pelo embargado, o Dr. Donizetti Pereira.

Brasília (DF), 18 de fevereiro de 2002 (data do julgamento).

Ministro Barros Monteiro, Presidente

Ministra Nancy Andrighi, Relatora

DJ 24.06.2002

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi: Cuida-se de ação de investigação de

paternidade cumulada com alimentos, julgada procedente pelo e. TJSP, que

determinou como termo inicial dos alimentos a citação.

Interposto o recurso especial, este foi provido, parcialmente, por maioria

de votos, pela e. 4ª Turma, vencido o e. Min. Relator, para que os alimentos

incidissem a partir da sentença, cuja ementa foi lavrada nos seguintes termos:

Ação de investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos. Assertiva de julgamento extra petita. Fixação do montante da prestação alimentícia. Vinculação ao salário-mínimo. Termo inicial.

- Não prequestionamento do tema relativo ao julgamento extra petita.

- Inocorrência, de qualquer forma, do vício alegado.

- Inexistência de contrariedade ao art. 400 do CC, uma vez determinado o quantum da prestação alimentícia em face dos fatos e circunstâncias da causa (Súmula n. 7-STJ).

- Segundo a jurisprudência dominante no c. Supremo Tribunal Federal e nesta corte, admissível é fi xar-se a prestação alimentícia com base no salário-mínimo.

- Os alimentos na ação de investigação de paternidade julgada procedente são devidos desde a sentença. Posição vencido do relator.

Recurso especial conhecido, em parte, e provido parcialmente, a fim de estabelecer como termo inicial dos alimentos a data da sentença.

A autora opôs embargos de divergência no recurso especial, trazendo à

colação o REsp n. 34.425 da e. 3ª Turma.

Recebidos os embargos de divergência, pelo e. Min. Eduardo Ribeiro,

meu antecessor, o Réu embargado apresentou impugnação, afi rmando que o

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dissídio não foi comprovado e que não se aplica a Lei n. 5.478/1968 que trata,

especifi camente, de ação de alimentos.

Remetidos os autos à douta Subprocuradoria-Geral da República, em

11.11.1997, e devolvidos em 05.04.2001, opinou o ilustre representante do

Parquet, pelo acolhimento dos embargos de divergência.

Em 09.05.2001 o processo foi julgado, mas por não ter constado o nome

do atual patrono do recorrido, decidiu-se pela anulação do julgamento e sua

reinclusão em pauta com as necessárias alterações na capa dos autos.

As fl s. 684-693, o recorrido suscitou a ocorrência de perempção porque

o Ministério Público permaneceu com o processo por três anos e meio, para

ofertar parecer, sendo que aquele tem os mesmos deveres das partes.

Em 04.06.2001, o embargado pleiteou a nulidade do julgamento porque

não havia sido dele intimado pessoalmente. Obtida a declaração de nulidade

pleiteada, em 12.12.2001, embora não tenha requerido posterior intimação

pessoal naquela oportunidade, vem suscitar, em 16.01.2002, a superveniente

perda do interesse de agir do embargante porque a Jurisprudência da 2a Seção já

está pacifi cada.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora): Inicialmente, afasto a preliminar de “perempção”, que em nada se aproxima da escorreita técnica processual do art. 267, V do CPC. Na verdade, o recorrido pretende suscitar que o excessivo decurso do prazo implicaria na perda do direito recursal, porque a douta Subprocuradoria-Geral da República reteve os autos por três anos e meio.

De qualquer sorte, o Ministério Público Federal atuou como custus legis, e não como substituto processual, além do que o prazo excessivo de permanência do processo, na instituição, deve ser questionada na via administrativa adequada, perante os órgãos superiores de atividade correicional, não prejudicando o interesse da parte, em benefício daquele que se valeu da própria torpeza, ao não comunicar o fato da demora ao Relator do processo.

Os embargos de divergência merecem conhecimento, porque cuida-se de dissídio notório entre as Turmas integrantes da 2ª Seção, e que está pacifi cado pelo julgamento do EREsp n. 152.895, da lavra do e. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em 13.12.1999, em cuja ementa consta:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Investigação de paternidade cumulada com alimentos. Termo inicial dos alimentos.

1. Na forma do paradigma da Terceira Turma, “em ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos o termo inicial destes é a data da citação, com apoio no artigo 13, § 2º, da Lei n. 5.478/1968, que comanda tal orientação em qualquer caso”.

2. Embargos de divergência conhecidos e providos.

O embargante só alcançará a integral satisfação da sua pretensão com o julgamento do recurso, portanto assiste-lhe interesse recursal.

No EREsp n. 64.465, a e. Corte Especial, em acórdão cujo Redator designado foi o e. Min. Barros Monteiro, DJ de 06.04.1998, consignou-se que, sendo notório o dissídio, mitiga-se a exigência de citação do repositório ofi cial de jurisprudência e de autenticação das cópias dos acórdãos paradigmas:

Recurso especial. Divergência jurisprudencial. Caracterização. Autenticação das cópias dos arestos paradigmas ou indicação do repertório de jurisprudência em que se encontram publicados. Dispensa quando se tratar de dissídio notório.

As exigências de natureza formal (cópia autenticada dos arestos paradigmas ou a menção do repositório em que estejam publicados) devem ser mitigadas quando se cuidar de dissonância interpretativa notória, manifestamente conhecida do Tribunal.

Embargos conhecidos, mas rejeitados.

A e. 4ª Turma, em observância ao entendimento pacifi cado no seio da e. 2ª Seção, modifi cou seu anterior entendimento, o qual havia motivado a interposição dos presentes embargos de divergência, para reconhecer a fi xação de alimentos na sentença, mas com efeitos retroativos à citação, mesmo se tratando de ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos:

Investigação de paternidade. Alimentos. Termo inicial. Data da citação. Orientação da Segunda Seção. Ressalva de ponto de vista. Recurso desacolhido.

I - A Segunda Seção deste Tribunal fi rmou orientação no sentido de que, em ação de investigação de paternidade, cumulada com alimentos, o termo inicial destes é a data da citação.

II - Não se mostra razoável, até porque esta Corte tem por missão uniformizar o entendimento jurisprudencial no País, que se mantenha posicionamento contrário ao do próprio Tribunal, criando insegurança jurídica para as partes. (REsp n. 242.099, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 25.09.2000).

E, no REsp n. 257.885, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de

06.11.2000, decidiu-se que “A sentença de procedência da ação de investigação

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de paternidade pode condenar o réu em alimentos provisionais ou defi nitivos,

independentemente de pedido expresso na inicial. Art. 7º da Lei n. 8.560, de

29.12.1992”.

No EREsp n. 186.298, desta Relatoria, julgado em 28.03.2001, decidiu-se

no mesmo sentido.

Os alimentos devidos em ação de investigação de paternidade, decorrentes

de sentença declaratória de paternidade e condenatória de alimentos, são os

defi nitivos, e, portanto, vige a disciplina do art. 13, § 2º, da Lei n. 5.478/1968,

com retroação dos efeitos à data da citação.

O art. 5º da Lei n. 883, de 21.10.1949, e o art. 7º da Lei n. 8.560, de

29.12.1992, por seu turno, discorrem também sobre a fi xação de alimentos

provisionais, e não impedem o arbitramento de verba alimentar de natureza

defi nitiva, na forma apregoada pela Lei de Alimentos, ainda que não baseada

em prova preconstituída da fi liação.

Neste diapasão, o notável ensinamento deixado pelo e. Min. Waldemar

Zveiter, no REsp n. 2.203, RSTJ 26/305:

A ação de alimentos, embora cumulada com a investigatória, é de natureza condenatória e, consequentemente, em consonância com a regra geral, há de retrotrair à da propositura da demanda, melhor explicando, a contar da previsão legal, como afi rmado, da data da citação.

Há que se examinar, ainda, a possibilidade de se aplicar à espécie, a norma contida no § 2º do artigo 13, da Lei n. 5.478/1968, por se tratar de regra de natureza genérica, em contraste com a da antiga Lei n. 883/1949, art. 5º, a qual se restringe à verba alimentícia em apreço, resultante da investigatória da paternidade, que é de natureza específi ca. A última diz respeito aos alimentos provisionais, enquanto que a outra se refere tanto aos provisórios quanto aos defi nitivos.

E isto porque, como asseverou o e. Min. Aldir Passarinho, no EREsp

n. 152.895, “(...) o principal é que da ação de investigação, exatamente por

revelar o vínculo de parentesco, exsurgem inúmeros refl exos civis. O fi lho que é

reconhecido passa a ter, por exemplo, um pai, avós, eventualmente irmãos, etc.

Altera-se a sucessão, talvez obrigações contraídas no período de ignorância dessa

relação, v.g. doações feitas aos demais fi lhos. E, tudo isso fi ca alcançado pela

retroação dos efeitos da paternidade ou da maternidade declarada a posteriori”.

Forte nestas razões, acolho os embargos.

É o voto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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QUESTÃO DE ORDEM

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora): O presente embargos de divergência no recurso especial, originariamente da Relatoria do e. Min. Eduardo Ribeiro, foi-me atribuído, em 07.04.2001, quando retornou da douta Subprocuradoria-Geral da República com parecer.

Foi incluído em pauta no dia 26.04.2001, e julgado em 09.05.2001, decidindo-se pelo seu acolhimento, à unanimidade da 2ª Seção.

Quando foi impugnado o recurso, o embargado outorgou nova procuração, e não substabelecimento, e a Secretaria da Seção não atentou para alteração do nome do patrono na capa dos autos, o que levou a e. 2ª Seção ao julgamento do processo sem ciência do causídico, decorrendo nulidade por defeito de forma.

Embora o novo patrono não tenha requerido a anotação do seu nome na capa dos autos, nem requerido que as publicações fossem feitas no seu nome, o que contribuiu para o equívoco da Secretaria, a nulidade é inafastável, porque violou o devido processo legal.

Por estas razões, acolho a petição protocolada em 04.06.2001, para declarar a nulidade do julgamento e determinar a reinclusão dos embargos de divergência na pauta do dia 27.06.2001, independente de acórdão.

QUESTÃO DE ORDEM - VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: 01. Exmo. Sr. Presidente, cuida-se de

mera questão de ordem suscitada pela eminente Ministra Nancy Andrighi, a

quem foi atribuída a relatoria dos presentes Embargos de Divergência.

A ilustrada Relatora, com muita propriedade, como de hábito, assim expôs

a questão:

Quando foi impugnado o recurso, o embargado outorgou nova procuração, e não o substabelecimento. A Secretaria da Seção não atentou para a alteração do nome do patrono na capa nos autos, o que levou esta Seção ao julgamento do processo sem a ciência do causídico, decorrendo, então, a nulidade por defeito de forma. Embora o novo patrono não tenha requerido a anotação do seu nome na capa dos autos, nem requerido que as publicações fossem feitas em seu nome - o que contribuiu para o equívoco da Secretaria - a nulidade é inafastável, porque violou o devido processo legal.

Por essas razões, acolho a petição protocolada no dia 04 de junho de 2001, para declarar a nulidade do julgamento e determinar a reinclusão dos embargos

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RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 137

de divergência na pauta do dia 27 de junho, e deixaria, então, de lavrar o acórdão do julgamento anterior.

Destarte, a eminente Sra. Ministra declarou a nulidade do julgamento realizado no dia 09.05.2001, determinando a reinclusão do feito em pauta, no que foi acompanhada, sem explicitações, pelo ilustre Ministro Sálvio de

Figueiredo Teixeira.

02. Pedi vista dos autos para melhor exame da matéria, após o que de logo registro que ouso dissentir, data máxima venia, do entendimento da eminente Relatora.

E o faço com fulcro nos fundamentos a seguir expostos.

É certo que a jurisprudência desta Corte se consolidou no sentido de que, em caso de outorga de substabelecimento, mesmo que com reserva de iguais poderes, devem as intimações dos atos processuais se efetivar em nome do advogado substabelecido, desde que tenha este último requerido que as publicações se fi zessem em seu nome. Veja-se, apenas para exemplifi car, o REsp n. 57.934-RS, da relatoria do eminente Ministro Nilson Naves, publicado no DJ de 03.10.1995, onde citados diversos outros precedentes das Terceira e Quarta Turmas.

Todavia, considero que a presente hipótese merece tratamento diferenciado.

A uma, porque de substabelecimento não se trata, mas sim de juntada de novo instrumento de mandato outorgado a advogado diverso daqueles inúmeros outros constituídos durante todo o curso do processo, por sucessivos substabelecimentos, sendo certo que não houve qualquer revogação dos poderes anteriormente conferidos.

E nem valeria o argumento, não invocado pela parte - diga-se de passagem - de que o mandato posterior revoga o anterior, o que somente se admitiria se houvesse comunicação expressa de eventual revogação ao primeiro mandatário, conforme exige o art. 1.319 do Código Civil.

Tenho por certo, dessa forma, que o causídico que precedeu ao que agora suscita a nulidade, em cujo nome foi efetivada a publicação, mantém todos os poderes que lhe foram outorgados no processo.

A duas, porque conforme esclarecido pela própria Ministra Relatora, não houve qualquer requerimento por parte do advogado ora peticionante no sentido de que fosse feita a anotação do seu nome na capa dos autos ou que as publicações fossem feitas na sua pessoa.

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Em verdade, verifi co da peça de impugnação aos embargos que sequer houve o requerimento de juntada da novel procuração.

A três, porque não procede o argumento de que o advogado requerente teria sido constituído para atuar com exclusividade nesta instância de superposição, pois verifi co que tem registro na OAB do Estado de São Paulo (fl . 678), local onde reside, e que vem atuando regularmente no primeiro grau de jurisdição, naquele Estado, já que o processo se encontra em fase de execução (fl s. 611-612), ao passo que o patrono anteriormente constituído tem domicílio e escritório nesta Capital Federal, com a respectiva OAB do Distrito Federal.

03. Diante de tais pressupostos, tenho por não caracterizada a alegada nulidade, estando perfeitamente válida a publicação anteriormente efetivada.

É como voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Em 30.10.1997, ao impugnar os Embargos de Divergência, o embargado juntou a procuração com poderes outorgados ao Dr. Célio Ernani Macedo de Freitas (fl . 678), especifi camente para impugnar os embargos.

Quando do julgamento do EREsp, a nota publicada inclui o nome do anterior procurador do embargado, Dr. João Leal Júnior (fl . 693).

Penso que a outorga de amplos poderes ao novo advogado, com a fi nalidade específi ca de atuar nos embargos de divergência, fazia presumir que a intimação para a sessão de julgamento do recurso seria feita na pessoa do novo procurador. Não o fazendo, nulo o julgado naquela oportunidade proferido, que se há de renovar, com as cautelas da lei.

Acolho o pedido de fl . 690.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Ari Pargendler: O Dr. Célio Ernani Macedo de Freitas se

habilitou para representar Alair Cândido de Oliveira por meio de procuração (fl .

678), e não mediante substabelecimento.

O respectivo teor confere “amplos poderes para o foro em geral”, nada

importando que se tivesse referido, especifi camente, à impugnação dos embargos

de divergência - que era o primeiro ato processual a ser praticado no processo.

SÚMULAS - PRECEDENTES

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Essa nova procuração, salvo melhor juízo, revogou a anterior, que havia

sido outorgada ao Dr. João Leal Júnior, em nome de quem recaiu a intimação

para o julgamento dos embargos de divergência (fl . 693).

Voto, por isso, no sentido de que se renove o julgamento, após prévia e

regular intimação das partes.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 152.895-PR (98.171445-6) (6.858)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Embargante: Ministério Público Federal

Embargado: Rossini José de Oliveira

Advogados: José Ambrósio Dias Filho e outro

Interessados: Lucas Ramon Dombrosky Vrech

EMENTA

Investigação de paternidade cumulada com alimentos. Termo

inicial dos alimentos.

1. Na forma do paradigma da Terceira Turma, “em ação de

investigação de paternidade cumulada com alimentos o termo inicial

destes é a data da citação, com apoio no artigo 13, § 2º, da Lei n.

5.478/1968, que comanda tal orientação em qualquer caso”.

2. Embargos de divergência conhecidos e providos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros

da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, após o voto vista do Senhor Ministro Aldir

Passarinho Junior, por maioria, conhecer dos embargos e lhes dar provimento.

Votaram com o Relator os Senhores Ministros Aldir Passarinho Junior, Nilson

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Naves, Eduardo Ribeiro, Barros Monteiro e Ari Pargendler. Votaram em

divergência, os Senhores Ministros Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.

Ausente, justifi cadamente, o Senhor Ministro Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 1999 (data do julgamento).

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator

DJ 22.05.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Admiti os presentes

embargos de divergência, opostos pelo Ministério Público Federal, em despacho

assim motivado:

Vistos.

O Ministério Público Federal opõe embargos de divergência ao acórdão de fl s. 213 a 225, da 4ª Turma desta Corte, Relator o Senhor Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 08.09.1998, com a seguinte ementa:

Alimentos. Pretensão não fundada na Lei n. 5.478/1968. Ausência de prova preconstituída da paternidade. Sentença como termo inicial de incidência. Evolução do posicionamento da Turma. Distinção em relação às ações de revisão de alimentos. Posicionamento da Turma. Recurso desprovido.

I - A Lei n. 5.478/1968 (art. 13), pela sua própria teleologia, não incide nas ações em que se postula alimentos inexistindo prova preconstituída da paternidade.

II - Destarte, em não se aplicando a referida lei, o dies a quo da incidência dos pretendidos alimentos não pode ser a data da citação, mas sim a da sentença, mesmo que sujeita à apelação (CPC, art. 520, II). (fl s. 225).

O embargante, para comprovar a divergência, indica o REsp n. 98.654, de minha relatoria, DJ de 30.06.1997, assim ementado:

Recurso especial. Ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos. Termo inicial. Precedentes da Corte.

1. Como assentado em precedentes da Corte, em ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos o termo inicial destes é a data da

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 141

citação, com apoio no artigo 13, § 2º da Lei n. 5.478/1968, que comanda tal orientação em qualquer caso.

2. Recurso especial conhecido pela alínea c, mas improvido. (fl s. 230).

Decido.

A divergência está comprovada, razão porque admito os embargos.

Intime-se o embargado para apresentar impugnação. (fl s. 236).

O embargado não apresentou impugnação (fl s. 237v).

Opina o ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Roberto Casali,

pelo recebimento dos embargos, para reformar a decisão recorrida e acolher a

tese jurídica adotada pelo acórdão paradigma.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Embargos de

divergência admitidos para consolidar interpretação sobre o termo inicial dos

alimentos, sendo a ação não fundada na Lei n. 5.478/1968. A Quarta Turma,

com o voto condutor do Senhor Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira entende

que “não se aplicando a referida lei, o dies a quo da incidência dos pretendidos

alimentos não pode ser a data da citação, mas sim a da sentença, mesmo que

sujeita à apelação (CPC, art. 520 - II)”; A Terceira Turma no paradigma

apresentado, de que fui Relator, entende que “em ação de investigação de

paternidade cumulada com alimentos o termo inicial destes é a data da citação,

com apoio no artigo 13, § 2º, da Lei n. 5.478/1968, que comanda tal orientação

em qualquer caso”.

Neste feito, o recorrido é réu em ação de investigação de paternidade

cumulada com alimentos, julgada procedente. O Tribunal de Justiça do Paraná

acolheu o entendimento esposado no acórdão embargado. O Ministério Público

Federal opina pelo acolhimento dos embargos de divergência.

Não encontro razão para modifi car o meu entendimento. No paradigma

mostrei as raízes da divergência, destacando os diversos precedentes, merecendo

destacado o trecho que se segue de voto vista do Senhor Ministro Eduardo

Ribeiro, quando do julgamento do REsp n. 78.563-GO, de que foi Relator o

Senhor Ministro Waldemar Zveiter:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Tornando a meditar sobre a matéria, não modifi quei minha opinião, malgrado reconhecendo que ponderáveis os argumentos em contrário.

Alega-se que, nas ações de alimentos, cabível a retroação porque desde logo comprovada a paternidade, questionando-se apenas em relação ao quantum da pensão. Diversa a situação quando aquela só é reconhecida mediante o processo. Antes disso não haveria falar em obrigação de pagar alimentos.

Permito-me observar, com a devida vênia, que o processo em que se pleiteiam alimentos não visa apenas a fi xar o respectivo montante, mas a decidir sobre a própria existência da obrigação. Essa exige, além do vínculo de parentesco, que concorram a necessidade do alimentando e a possibilidade do alimentante, podendo sustentar o réu que nenhuma pensão é devida, por faltarem esses pressupostos fácticos. Não sendo viável afi rmar, antes do trânsito em julgado da sentença, que exista obrigação, também nesse caso não se justifi caria fossem os alimentos devidos desde a citação.

Creio impossível negar que a obrigação alimentar preexiste à sentença. Não é ela, evidentemente, que cria a relação de parentesco. Exigido seu adimplemento, pela citação, a partir daí será devida.

Cumpre ter-se em conta, permito-me insistir, que a Lei n. 883 refere-se a alimentos provisórios e disso não se cogita. Aqui se cuida dos defi nitivos que são devidos desde a citação, mas exigíveis apenas quando se viabilizar a execução. Os provisórios é que poderão ser desde logo exigidos.

Motivo relevante costuma ser trazido e o foi no voto do Ministro Ruy Rosado, dizendo com o pesado encargo, eventualmente insuportável, que recairá sobre o alimentante que, ao fi m de um processo, muitas vezes demorado, terá de arcar com o pagamento imediato de dezenas de prestações vencidas. E sob ameaça de prisão. Ademais, o pagamento mais signifi cará indenização ao autor, não tendo propriamente a fi nalidade de alimentá-lo.

A isso se pode contrapor que a adoção da tese de que só a partir da sentença serão devidos os alimentos servirá de estímulo ao não reconhecimento voluntário da paternidade. Convirá retardar ao máximo seja proferida a sentença, em detrimento daquele que carece de meios para seu sustento e a eles tem direito, embora isso não possa ser logo proclamado.

Creio que viável a adoção de certas medidas, tendentes a minorar os efeitos de pensões atrasadas, sugeridas em acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, mencionado por Yussef Cahali (Dos Alimentos - RT - 2ª ed. - p. 503). Assim é que se pode deixar de determinar a prisão, se o recomendarem as circunstâncias, parcelar o respectivo pagamento e mesmo arbitrá-las em valores distintos para as diversas épocas. Negar que já existe a obrigação alimentar é que não me parece compatível com a ordem jurídica e a própria natureza das coisas.

Essas razões são mais do que sufi cientes para que eu conheça dos embargos

de divergência e lhes dê provimento para que o termo inicial dos alimentos seja

a data da citação, na forma do paradigma.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 143

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Discute-se nos presentes embargos

sobre o marco inicial para o pagamento da prestação alimentar em ação de

investigação de paternidade.

Enquanto o aresto a quo, da Egrégia 4ª Turma, fi xa os alimentos a partir

da sentença que reconhece a relação de parentesco, a decisão paradigmática, da

Colenda 3ª Turma, estabelece como começo a citação do réu-alimentante.

Ambas as correntes se acham respaldadas em argumentos sólidos e em

percuciente doutrina.

Inclino-me, dentre elas, pela tese sufragada pelo aresto trazido a confronto,

da 3ª Turma.

Dispõe a Lei n. 5.478, de 25.07.1968, que:

Art. 13 (...)

§ 2º. Em qualquer caso, os alimentos fi xados retroagem à data da citação.

No caso da investigação de paternidade, não se sabe se o réu é parente

do autor, de modo que - argumenta-se para afastar a aplicação da citada regra

legal - inexistiria uma resistência ao pedido, mas uma incerteza que somente se

dissipa com a decisão judicial que declara a existência da relação.

Entretanto, o principal é que da ação de investigação, exatamente por

revelar o vínculo de parentesco, exsurgem inúmeros refl exos civis. O fi lho que é

reconhecido passa a ter, por exemplo, um pai, avós, eventualmente irmãos, etc.

Altera-se a sucessão, talvez obrigações contraídas no período de ignorância dessa

relação, v.g. doações feitas aos demais fi lhos. E, tudo isso fi ca alcançado pela

retroação dos efeitos da paternidade ou da maternidade declarada a posteriori.

Daí não me parecer melhor que se interprete a obrigação alimentar como

uma exceção, ou seja, se os efeitos, no geral, remetem, com o reconhecimento

da relação, a datas até do nascimento do fi lho, como exemplifi cado acima, não

vejo porque limitar-se a repercussão do dito reconhecimento apenas a partir da

decisão monocrática que o declara quando se cuide da prestação do dever do pai

de prover o sustento da sua prole.

Embora para muitos seja a paternidade encarada como uma surpresa, salvo

hipóteses excepcionais há de se convir que difi cilmente o réu pode ignorar, por

completo, que se colocou em determinada situação - que não depende apenas

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

144

dele, pois são duas as pessoas envolvidas que poderia, em tese, gerar uma prole.

A ignorância, portanto, nunca é absoluta.

E se assim é, razoável esperar que o réu, de boa-fé, não retarde a solução da

questão, submetendo-se, de logo, aos exames técnicos pertinentes, o que torna

pouco signifi cante o lapso temporal entre a citação e a conclusão pericial.

Já a tese oposta permite ao réu, de má-fé, utilizar-se de expedientes

processuais para retardar a prestação jurisdicional, criando incidentes e

utilizando-se até o último dia dos prazos legais para protelar o momento da

sentença, que marcaria o início da prestação alimentar.

Finalmente, estou em que, no plano metajurídico, mais próprio é esperar

que o pai aceite auxiliar seu fi lho do que o oposto, e mesmo fi xando-se como

data inicial a da citação, não se pode deixar de atentar que por todo o período

anterior o alimentado, além de ignorar quem era seu genitor, fi cando sem seu

apoio pessoal, também dele nada recebeu em termos materiais.

Desejo, todavia, adiantar preocupação que tenho relativamente à

possibilidade de prisão civil em casos que tais, muito embora não esteja o tema

agora em julgamento. Penso que, em face da particularidade da hipótese, a

constrição não pode se vincular às parcelas correspondentes ao período anterior

à decisão, pois não representa, propriamente, uma dívida vencida, de sorte que

somente entendo cabível a coação quanto às prestações que se vencerem após a

sentença.

Ante o exposto, conheço dos embargos e dou-lhes provimento, aderindo

ao voto do eminente relator, Min. Carlos Alberto Menezes Direito.

É como voto.

APARTE

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Não se aplicaria o entendimento

jurisprudencial de que a prisão não se referiria a prestações pretéritas, limitada a

ameaça de coerção pessoal ao inadimplente das três últimas?

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, na egrégia Quarta Turma,

também tenho uma posição defi nida em vários pronunciamentos. Tenho me

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 145

mantido na posição minoritária naquela Turma. Até o momento tenho sido o

único vencido, sustentando que os alimentos, nessas hipóteses, fl uem a partir da

citação. Não bastasse a expressa disposição do art. 13, § 2º, da Lei n. 5.478, há

circunstâncias relevantes de que essa sentença proferida na ação de investigação

de paternidade cumulada com alimentos tem também caráter declaratório, daí

por que se justifi ca o termo inicial dos alimentos na forma referida.

Acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - Também tenho, Sr. Presidente, na

Quarta Turma, uma posição já defi nida e no mesmo sentido da decisão aqui

embargada que é do seguinte teor:

A divergência está bem demonstrada, por isso mesmo é que conheço do recurso.

A Lei n. 883, de 21.10.1949, que dispunha sobre o reconhecimento de fi lhos ilegítimos, pontifi cava no seu art. 5º que “na hipótese de ação investigatória da paternidade, terá direito o autor a alimentos provisionais desde que lhe seja favorável a sentença de primeira instância, embora se haja, desta, interposto recurso”.

A Lei n. 8.560, de 29.12.1992, que “regula a investigação de paternidade dos fi lhos havidos fora do casamento e dá outras providências”, pontifi ca, no seu art. 7º, que “sempre que na sentença de primeiro grau se reconhecer a paternidade, nela se fi xarão os alimentos provisionais ou defi nitivos do reconhecido que deles necessite”.

Desses dispositivos percebe-se que o propósito do legislador foi o de assegurar alimentos ao fi lho desde o primeiro momento em que se der um reconhecimento judicial que abone a sua pretensão, pois a partir de então já milita uma forte presunção a seu favor.

Não se aplica ao caso o § 2º do art. 13, da Lei n. 5.478, como consignou o r. aresto hostilizado, pois tal dispositivo refere-se aos cônjuges e aos parentes já previamente assim considerados, e na ação proposta com base nesse Diploma Legal discute-se apenas se estão presentes os demais pressupostos para a estipulação dos alimentos (necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante de prestá-los).

Já a Lei n. 883, e agora a Lei n. 8.560, regulam, de início, o reconhecimento dos fi lhos havidos fora do casamento, em que, quando da propositura da ação, não militava em prol do fi lho a presunção da fi liação, que só passa a existir depois da sentença.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

146

Com efeito, a obrigação do pai de prestar alimentos ao fi lho não pode retroagir à data da citação, porque o reconhecimento só se dá quando expresso na sentença, de que o dever alimentar passa a ser decorrente.

Diante de tais pressupostos, conheço do recurso, pela divergência, para lhe dar provimento, modifi cando o r. aresto atacado para o fi m de determinar que os alimentos são devidos a partir da sentença. (REsp n. 5.887-SP, de minha relatoria, in DJ de 08.09.1998).

Assim, peço vênia para discordar dos eminentes Ministros que me antecederam, por entender que os alimentos, na hipótese, são devidos a partir da

sentença, e não da citação.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: - Sr. Presidente, também peço vênia ao eminente Relator para manter o entendimento predominante na egrégia Quarta Turma, isso porque, em se tratando de ação de investigação de paternidade, a lei determina - já era assim na Lei n. 883 - que somente depois da sentença são concedidos alimentos ao investigante. A determinação que está na Lei de Alimentos é apenas para os casos em que o autor, ao propor a ação, já disponha de prova pré-constituída da relação originária da obrigação alimentar. Mais recentemente, a Lei n. 8.560, de 1992, veio estabelecer, dispondo sobre a investigação de paternidade de fi lhos havidos fora do casamento que “sempre que na sentença de primeiro grau se reconhecer a paternidade, nela se fi xarão os alimentos provisionais ou defi nitivos do reconhecido que deles necessite”. Daí por que, penso eu, nos termos da legislação vigente, os alimentos, nesses casos, são devidos a partir da sentença.

RECURSO ESPECIAL N. 78.563-GO (95.0056886-1)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Recorrente: Odenir José da Silveira

Recorrido: Elvis Henrique Ribeiro - menor impúbere

Representado por: Magali Luiza Ribeiro

Advogados: Joaquim Alves de Castro Neto

José Alves Teixeira

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 147

EMENTA

Ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos.

Matéria de fato. Fixação do termo inicial da pensão alimentícia a

partir da citação.

I - Matéria de fatos e provas não se reexamina em sede do

especial (Súmula n. 7, do STJ).

II - Reconhecida a paternidade, a obrigação de alimentar, em

caráter defi nitivo exsurge, de forma inconteste, desde o momento em

que exercido aquele direito, com o pedido de constrição judicial, qual

seja, quando da instauração da relação processual válida, que se dá com

a citação. Inteligência do parágrafo 2º, do art. 13, da Lei n. 5.478/1968.

Precedentes do STJ.

III - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros

da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista

do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, por unanimidade, não conhecer do recurso

especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Costa Leite,

Nilson Naves e Eduardo Ribeiro. Não participou do julgamento o Sr. Ministro

Menezes Direito (§ 2º, art. 162, RISTJ).

Brasília (DF), 05 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 16.12.1996

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Elvis Henrique Ribeiro - menor impúbere,

representado por sua mãe Magali Luiza Ribeiro, ajuizou Ação de Investigação de

Paternidade, cumulada com Pensão de Alimentos, contra Odenir José da Silveira.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

148

A sentença julgou procedente o pedido, determinando a expedição do Mandado Averbatório no Cartório de Registro Civil; fi xando o termo inicial dos Alimentos, a partir da citação; e condenando, ainda, o vencido nos ônus da sucumbência (fl s. 86-100 e 104-105 - Embargos Declaratórios).

Interposta apelação (fl s. 106-114), a Terceira Turma Julgadora da Primeira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça de Goiás, à unanimidade, negou-lhe provimento, consignando “Em sede de investigação de paternidade, todos os meios de prova são admitidos com amplidão desmedida, eis que o ato sexual é, por princípio, realizado às escondidas, na intimidade do casal. Comportável, pois, a prova indiciária e as presunções que a verdade dos fatos oferece, para a formação da convicção judicial.” (fl s. 150-160).

Opostos Embargos de Declaração (fl s. 162-165), foram acolhidos, em parte, para sanar omissão apontada, e de conseqüência passo a incorporar o decisum anterior, integrando-o em sua plenitude. No mais, ratifi cado o acórdão embargado (fl s. 168-174).

Inconformado, interpôs o apelante Recurso Especial, fundado no art. 105, III, a e c, da Constituição, alegando negativa de vigência dos artigos 363, II, do Código Civil; 515, §§ 1º e 2º, 333, I, parágrafo único, do CPC. Aponta, ainda, dissídio jurisprudencial (fl s. 176-184).

Com contra-razões (fls. 186-188) e após manifestação do Ministério Público Estadual pelo indeferimento de seu processamento (fl s. 191-192), o nobre Presidente daquela Corte o admitiu, apenas, pela letra c (fl s. 195-199).

Remetidos os autos a esta Superior Instância, opinou a douta Subprocuradoria-Geral da República pelo não conhecimento do apelo extremo (fl s. 206-208).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Para melhor compreensão da

controvérsia e em face ao acerto com que se houve, é ler, no ponto, o que dispôs

o acórdão (fl s. 156-158):

No caso dos autos, creio que o julgador agiu com ponderado bom senso e extrema cautela, depurando os fatos e as provas constantes dos autos.

A realidade emerge do processo com altivez: o apelado foi concebido em relação sexual haurida entre o apelante e a mãe do apelado. A genitora, na época,

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 149

tinha apenas 16 anos e deixara o serviço de doméstica na casa do apelante face ao constante assédio que sofria por parte do mesmo.

É o que se depreende dos documentos constantes dos autos.

As testemunhas do apelante são muito lacônicas e, ainda assim, nada puderam afi rmar que comprometesse a conduta da menor, mãe do apelado. Aliás, a bem da verdade, isso não é tão importante, especialmente face ao exame hematológico que não exclui a possível paternidade.

Reporto-me por oportuno, ao bem elaborado parecer de fl s. 131-136, na parte em que o Promotor de Justiça assevera:

Em momento algum, conseguiu o apelante provar ter Magali mantido relações plúrimas à época da concepção de Elvis, não merecendo crédito as testemunhas por ele (apelante) arroladas, porquanto claramente tendenciosas.

Mesmo que se quisesse atribuir-lhes algum crédito, a única relação sexual noticiada, que Magali teria mantido com o tal Alemão do Pit Dog, data-se do fi nal de 1991 para começo de 1992.

Ora, o congresso carnal de que resultou a concepção do autor, data-se de 14 de abril de 1992, período em que não se tem notícias de qualquer outro relacionamento concomitante, estando, pois, descartada a hipótese da exceptio plurium concubentium.

A corroborar as provas documentais, vários outros indícios despontam dos autos, a saber:

a - o exame hematológico, ao invés de excluir, só veio reforçar ainda mais a convicção do condutor do feito, porquanto sendo a mãe do autor do grupo sangüíneo “O”, e o requerido, do grupo “A”, pertence o apelado também ao grupo “A”.

b - A má vontade demonstrada pelo apelante, procurando furtar-se à coleta do sangue, através de subterfúgios, bem revela a convicção de ser ele o pai da criança; e

c - a incrível semelhança fisionômica entre o criador e sua obra, ou melhor, entre o apelante e o autor, no contorno dos olhos, os olhos, formato do rosto, nariz e testa, não deixam dúvida quanto à paternidade.

Ao teor do exposto e acolhendo o judicioso parecer ministerial de fl s. 143-147, conheço do apelo mas nego-lhe provimento, mantendo a sentença apelada em sua integralidade e por seus próprios fundamentos.

Vê-se, assim, que o aresto, ao decidir como feito, arrimou-se nas provas

e circunstâncias constantes dos autos. Daí porque o recurso tal como posto,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

150

implicaria em reexaminar matéria de fato, defeso na via eleita do Especial, por

expressa disposição da Súmula n. 7, deste Superior Tribunal de Justiça.

No tocante ao termo inicial da pensão alimentícia, por igual, a insurgência

não merece prosperar.

A propósito do tema, confi ra-se os acórdãos proferidos pela Turma quando

do julgamento dos REsp’s n. 2.203-SP (RSTJ 26/305) e n. 31.340-9-SP (DJ

de 10.05.1993), de minha relatoria, ambos citados pelo Dr. Juiz singular, onde,

assim, sustentei:

Reconhecida a paternidade, a obrigação de alimentar exsurge, de forma inconteste, desde o momento em que exercido aquele direito, com o pedido de constrição judicial, qual seja, quando da instauração da relação processual válida, que se dá com a citação do réu, no caso, o investigando.

A ação de alimentos, embora cumulada com a investigatória, é de natureza condenatória e, conseqüentemente, em consonância com a regra geral, há de retrotrair à da propositura da demanda, melhor explicitando, a contar da previsão legal, como afi rmado, da data da citação.

Há que se examinar, ainda, a possibilidade de se aplicar à espécie, a norma contida no § 2º do artigo 13, da Lei n. 5.478/1968, por se tratar de regra de natureza genérica, em contraste com a da antiga Lei n. 883/1949, art. 5º, a qual se restringe à verba alimentícia em apreço, resultante da investigatória da paternidade, que é de natureza específi ca. A última diz respeito aos alimentos provisionais, enquanto que a outra se refere tanto aos provisórios quanto aos defi nitivos.

Nesse mesmo sentido, os REsp’s n. 21.115-SP, n. 28.345-SP e n. 34.425-SP.

De igual, os precedentes da Quarta Turma: REsp’s n. 40.436-RJ e n.

44.927-8-SP.

No que diz com as alegadas violações da Lei tomo do despacho de

admissão os tópicos seguintes que com correção os repeliu assim (fl s. 197-198):

A análise do acórdão não revela as violações legais argüidas.

Na ação de investigação de paternidade, predominam os fatos. O fato principal, que é o relacionamento sexual da mãe do investigante com o investigado, no período da concepção, não tem, via de regra, testemunha, daí a doutrina seguida pela jurisprudência segundo a qual todos os meios de prova são admissíveis, inclusive indícios e presunções, na referida ação. De fatos demonstrados por qualquer meio parte-se para a presunção de paternidade. A presunção é, pois, “a conclusão ou conseqüência, que se tira de um fato conhecido, para se admitir como certa, verdadeira e provada a existência de um fato desconhecido ou duvidoso.”

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 151

O acórdão pôs em prática a doutrina, sem cometer os deslizes a que se refere o recorrente, relativamente à valoração da prova, que não se confunde com o exame da prova.

No entender do recorrente, o acórdão teria infringido dois princípios probatórios, invertendo o ônus da prova de paternidade e admitindo a conclusão do exame hematológico sobre a não exclusão da paternidade como afi rmação da paternidade.

O acórdão não cometeu tais erros. Ao contrário do que assevera o recorrente, em momento algum, ele admitiu que o recorrente é pai do recorrido porque aquele “não conseguiu provar que não é o pai”.

A leitura dos acórdãos, especialmente o proferido nos embargos de declaração, mostra que a Turma Julgadora interpretou corretamente a conclusão do exame hematológico, não como prova da paternidade, mas como revelação de que a paternidade do recorrente não podia ser excluída.

Quanto ao dissídio com o acórdão de Minas quanto ao dies a quo para

início do pensionamento, resultou superado, em face do entendimento uniforme

da Corte, o que impõe incidir o Enunciado de sua Súmula n. 83 eis que

determinado a partir da citação e não da sentença.

Forte nesses lineamentos, não conheço do recurso.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Em relação ao reconhecimento da

paternidade, acompanho simplesmente o Relator. O pedido de vista que

formulei prendeu-se ao outro ponto, ou seja, o momento a partir do qual serão

devidos os alimentos. Tive como necessário voltar a refl etir sobre o tema, em

atenção ao fato de que existe divergência entre as Turmas que compõem a

Segunda Seção deste Tribunal.

Em um período inicial a jurisprudência era uniforme. Terceira e Quarta

Turmas tinham como certo que os alimentos seriam devidos a partir da citação,

ainda quando a condenação ao pagamento daqueles se condicionasse a que,

no mesmo processo, se reconhecesse judicialmente a paternidade. Ocorre,

entretanto, que a Quarta Turma, após haver assim decidido em alguns casos

(REsp n. 6.583 e n. 26.692), em que vencido o Ministro Sálvio de Figueiredo,

veio a modifi car seu entendimento, a partir do julgamento do REsp n. 56.905,

de que Relator o Ministro Ruy Rosado. Passou-se a entender que os alimentos,

em tal caso, seriam devidos a partir da sentença.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

152

Esta Terceira Turma persistiu na anterior orientação e assim tenho votado,

ainda que salientando a excelência dos votos, até então vencidos, proferidos pelo

Ministro Sálvio de Figueiredo. Assim me manifestei, a propósito, ao apreciar o

REsp n. 21.115.

O tema sujeita-se a controvérsia mas, neste Tribunal, domina o entendimento acolhido pelo acórdão. Esta 3ª Turma assim decidiu no julgamento dos Recursos Especiais n. 2.203 e n. 6.826. No mesmo sentido a Egrégia 4ª Turma, ao apreciar o Recurso Especial n. 1.273.

Cumpre assinalar que o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo proferiu substancioso voto divergente, sustentando a inaplicabilidade do disposto no artigo 13 § 2º da Lei n. 5.478/1968. Esta Lei regularia ações de alimentos quando houvesse “prova pré-constituída da paternidade, de vínculo conjugal ou de laços de parentesco”. Sujeitando-se a concessão de alimentos à prejudicial de reconhecimento da paternidade, o procedimento seria o ordinário.

Como assinalei no julgamento do REsp n. 2.203, já sustentei também o entendimento por que propugno o recorrente. Vim, entretanto, a mudar de opinião e nela persisto, malgrado a excelência das razões deduzidas no citado voto discordante do Ministro Sálvio de Figueiredo, cuja autoridade na matéria é sobejamente reconhecida.

Considero que não é mister se invoque o disposto naquela lei especial para que se possa reconhecer que os alimentos serão devidos a partir da citação. Não se pode razoavelmente colocar em dúvida que declaratória a sentença, na parte em que reconhece a paternidade, seja incidentemente, como prejudicial, seja quando integre o pedido. A existência desse vínculo acrescendo-se a necessidade do alimentando e a possibilidade do alimentante, tem-se presente a obrigação de pensionar. Solicitado que o fizesse, haveria de adimplir a obrigação de imediato. Formalizada a demanda e aperfeiçoada a citação, o alimentante está em débito desde esse momento, embora só o trânsito em julgado da sentença permita afi rmá-lo com certeza. Supérfl uo, a rigor, o dispositivo da lei específi ca, a determinar que os alimentos sejam devidos a partir da citação. Entendo que foi inserido apenas para espancar possíveis dúvidas.

Por fi m, parece-me desvaliosa a invocação do disposto no artigo 5º da Lei n. 883/1949. Aí se cogita de alimentos provisionais. Favorável ao investigante a sentença, aqueles serão devidos e, por conseguinte, desde logo exigíveis. Aqui se cuida de alimentos definitivos, cujo pagamento se haverá de pleitear em execução de sentença.

Tornando a meditar sobre a matéria, não modifiquei minha opinião,

malgrado reconhecendo que ponderáveis os argumentos em contrário.

Alega-se que, nas ações de alimentos, cabível a retroação porque desde logo

comprovada a paternidade, questionando-se apenas em relação ao quantum da

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 153

pensão. Diversa a situação quando aquela só é reconhecida mediante o processo.

Antes disso não haveria falar em obrigação de pagar alimentos.

Permito-me observar, com a devida vênia, que o processo em que se pleiteiam alimentos não visa apenas a fixar o respectivo montante, mas a decidir sobre a própria existência da obrigação. Essa exige, além do vínculo de parentesco, que concorram a necessidade do alimentando e a possibilidade do alimentante podendo sustentar o réu que nenhuma pensão é devida, por faltarem esses pressupostos fáticos. Não sendo viável afi rmar, antes do trânsito em julgado da sentença, que exista a obriga o, tamb m nesse caso não se justifi caria fossem os alimentos devidos desde a citação.

Creio impossível negar que a obrigação alimentar preexiste à sentença. Não é ela, evidentemente, que cria a relação de parentesco. Exigido seu adimplemento, pela citação, a partir daí será devida.

Cumpre ter-se em conta, permito-me insistir, que a Lei n. 883 refere-se a alimentos provisórios e disso não se cogita. Aqui se cuida dos defi nitivos que são devidos desde a citação, mas exigíveis apenas quando se viabilizar a execução. Os provisórios é que poderão ser desde logo exigidos.

Motivo sem dúvida relevante costuma ser trazido, e o foi no voto do Ministro Ruy Rosado, dizendo com o pesado encargo, eventualmente insuportável, que recairá sobre o alimentante que, ao fi m de um processo, muitas vezes demorado, terá de arcar com o pagamento imediato de dezenas de prestações vencidas. E sob ameaça de prisão. Ademais, o pagamento mais significará indenização ao autor, não tendo propriamente a finalidade de alimentá-lo.

A isso se pode contrapor que a adoção da tese de que só a partir da sentença serão devidos alimentos servirá de estímulo ao não reconhecimento voluntário da paternidade. Convirá retardar ao máximo seja proferida sentença, em detrimento daquele que carece de meios para seu sustento e a eles tem direito, embora isso não possa ser de logo proclamado.

Creio que viável a adoção de certas medidas, tendentes a minorar os efeitos do acumulo de pensões atrasadas, sugeridas em acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, mencionado por Yussef Cahali (Dos Alimentos - RT - 2ª Ed. - p. 503). Assim é que se pode deixar de determinar a prisão, se o recomendarem as circunstâncias, parcelar o respectivo pagamento e mesmo arbitrá-las em valores distintos para as diversas épocas. Negar que já existisse a obrigação alimentar é que não me parece compatível com a ordem jurídica e a própria natureza das coisas.

Acompanho o Relator.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

154

RECURSO ESPECIAL N. 174.732-RO (98.0037539-2)

Relator: Ministro Barros Monteiro

Recorrente: José Mário de Melo

Advogado: Gilson Luiz Juca Rios

Recorrido: Alexandre Felipe Domingos (menor)

Representado por: Dalva Margarete Domingos

Advogado: Rosângela Lázaro de Oliveira

EMENTA

Investigação de paternidade. Cumulação com pedido de alimentos. Termo a quo da prestação alimentícia.

- Segundo assentou a Eg. Segunda Seção, em ação de investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos, o termo inicial destes é a data da citação (EREsp n. 152.895-PR).

Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas: Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Júnior e Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília (DF), 08 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Barros Monteiro, Relator

DJ 04.09.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: - Alexandre Felipe Domingos, menor

impúbere, representado por sua mãe Dalva Margarete Domingos, com

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 155

fundamento nos arts. 363, II, do Código Civil e 227, § 6º da Constituição

da República, ajuizou ação de investigação de paternidade, cumulada com

pedido de alimentos, contra José Mário de Melo, afi rmando que, ao tempo da

concepção, a sua mãe mantinha exclusivo relacionamento sexual com o réu.

O MM. Juiz de Direito da Segunda Vara de Família da Comarca de Porto

Velho-RO julgou parcialmente procedente a ação para declarar que o autor é

fi lho do requerido, bem como para fi xar a pensão alimentícia no montante de

10% dos rendimentos líquidos do requerido, inclusive sobre o 13º salário, a

partir da data da citação.

Foram interpostos apelação do réu e do Ministério Público e, bem assim,

recurso adesivo do autor. A Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Rondônia,

à unanimidade, rejeitou a preliminar de intempestividade do recurso do autor;

no mérito, deu parcial provimento ao apelo do réu e negou-o aos recursos do

Ministério Público e o do autor, em acórdão cujos os fundamentos se resumem

na seguinte ementa:

Triplo apelo. Investigação de paternidade. Percentual alimentício. Fixação e início.

A pensão alimentícia é devida desde a citação e deve ser fi xada em percentual sobre o salário líquido do alimentante.

Custas judiciais. Ônus da sucumbência. Cumprimento.

Somente após o trânsito em julgado da sentença pode·se exigir do sucumbente o pagamento das custas processuais.

Recurso do réu provido parcialmente.

Percentual alimentício fixado na sentença em 10% sobre os rendimentos. Majoração. Mãe do alimentando sadia e possuidora de emprego fi xo. Contribuição dos pais para o sustento do menor.

Os apelos interpostos pelo autor e pelo MP pedindo a majoração da pensão alimentícia não podem prosperar, uma vez que emerge dos autos ser a mãe do alimentando mulher jovem, sadia e possuir emprego fixo, devendo também contribuir com o sustento do fi lho. (fl . 180).

Rejeitados os declaratórios, o réu manifestou o presente recurso especial

com arrimo nas alíneas a e c, do permissivo constitucional, alegando negativa

de vigência dos arts. 5º da Lei n. 883/1949; 7º da Lei n. 8.560/1992 e 13 da Lei

n. 5.478/1968, além de dissídio jurisprudencial. Sustentou, em síntese, que nas

ações de investigação de paternidade cumulada com alimentos, estes são devidos

a partir da sentença e não da citação.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

156

Oferecidas as contra-razões, o recurso foi admitido na origem, subindo os autos a esta Corte.

O Subprocurador-Geral da República opinou pelo conhecimento e provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): - Dado o conteúdo declaratório da decisão que julga a ação de investigação de paternidade, os alimentos retroagem à data da citação. Segundo assentou a C. Terceira Turma desta Corte, a ação de investigação de paternidade, dotada de natureza declaratória, não cria laço de parentesco, mas tão-somente estabelece sua certeza jurídica (REsp n. 2.203-SP, relator Ministro Waldemar Zveiter, in RSTJ, vol. 26, p. 3.305-312).

Reza o art. 13, § 2º, da Lei n. 5.478, de 25.07.1968, que “em qualquer caso, os alimentos fi xados retroagem à data da citação”.

Escorreita, pois, a diretriz fi rmada pelas instâncias ordinárias no sentido de que os alimentos, nessa hipótese, são devidos desde a citação, tal como acabou de defi nir recentemente a Eg. Segunda Seção deste Tribunal quando do julgamento do EREsp n. 152.895-PR, relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.

Não ocorre, pois, a alegada afronta a normas de lei federal, nem tampouco é passível de concretizar-se o dissídio pretoriano, nos termos do Verbete Sumular n. 83-STJ.

Do quanto foi exposto, não conheço do recurso.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - Acompanho o eminente Ministro Relator, com ressalva do meu entendimento.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Presidente): - Acompanho o

eminente Sr. Ministro Relator, com ressalva do meu entendimento, pois a lei

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 157

determina que, nesses casos, os alimentos são devidos depois da sentença de

procedência da ação de investigação.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Acompanho o eminente Sr. Ministro-Relator, com ressalva do meu entendimento.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Acompanho, com ressalva do ponto de vista pessoal.

RECURSO ESPECIAL N. 211.902-MG (99.0038247-1)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Marcelo Penido de Oliveira

Advogado: Segismundo Gontijo e outros

Recorrido: Th iago Henrique Marchi Nicolao (menor)

Representado por: Mara Lucia Nicolao

Advogado: Rubens Francisco Duarte

EMENTA

Civil. Alimentos. Termo inicial na ação de investigação de paternidade. Na ação de investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação. Precedente da Egrégia 2ª Seção (EREsp n. 152.895-PR). Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

158

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito, Nilson Naves e

Eduardo Ribeiro. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 14 de dezembro de 1999 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministro Ari Pargendler, Relator

DJ 14.02.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: A Egrégia Quarta Câmara Cível do

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, Relator o eminente

Desembargador Francisco Figueiredo, confi rmou sentença de procedência de

ação de investigação de paternidade proposta por Th iago Henrique Marchi

Nicolao contra Marcelo Penido de Oliveira, à base da seguinte motivação:

A questão - em que pese ter se arrastado por anos - é de fácil desate. Na presente ação investigatória - depois de muita procrastinação - o Réu acabou por submeter-se ao exame de DNA e o resultado confi rmou ser ele o pai do Autor, nascido de relacionamento íntimo, confessado em seu depoimento pessoal. Diante destas evidências e com as demais provas produzidas, o ilustre Juiz sentenciante decidiu pela procedência da ação. Quanto ao pedido de “Alimentos”, fi xou a pensão em cinco (05) salários mínimos e, como não poderia deixar de ser, em razão de jurisprudência dominante, a começar pelo Superior Tribunal de Justiça, a partir da citação. O Apelante junta um rol de arestos dando pela obrigação a partir da sentença. Rol respeitável, mas, pelas datas dos arestos, vê-se que os citados entendimentos estão superados pela dinâmica do tempo. A vigência é a partir da citação, pois não existe “prato de comida de graça”. Alguém responde por ele! (...) A ação e seu risco, a partir da citação do Réu, já não são para este novidade. Não são as indenizações e expropriatórias passíveis de correção e juros a partir do ato ilícito ou ato incivil? Por que não a Investigatória, com muito mais razão. Assim, de total acerto o decisum do nobre e brilhante colega de primeira instância, com o que anuiu o Órgão Ministerial de ambas as instâncias (fl s. 500-501).

Seguiram-se embargos de declaração (fl s. 509-518), rejeitados (fl s. 520-

522), bem assim o presente recurso especial, interposto por Marcelo Penido

de Oliveira, com base no artigo 105, inciso III, letras a e c, da Constituição

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 159

Federal, por violação do artigo 5º da Lei n. 883, de 1949, do artigo 7º da Lei n.

8.560, de 1992 e do artigo 13, § 2º, da Lei n. 5.478, de 1968, e por divergência

jurisprudencial (fl s. 525-548) - admitido pela letra c (fl s. 599-600).

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): A 3ª e 4ª Turmas do Superior

Tribunal de Justiça divergiam a respeito do tema, conforme se vê dos seguintes

precedentes:

REsp n. 98.654-MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito.

Recurso especial. Ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos. Termo inicial. Precedentes da Corte. 1. Como assentado em precedentes da Corte, em ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos o termo inicial destes é a data da citação, com apoio no artigo 13, § 2º, da Lei n. 5.478/1968, que comanda tal orientação em qualquer caso. 2. Recurso especial conhecido pela letra c, mas improvido (DJU 30.06.1997).

REsp n. 172.834-PR, Rel. Min. Eduardo Ribeiro.

Alimentos. Investigação de paternidade. Termo inicial. Na ação de alimentos, ainda que não submetida ao procedimento da Lei n. 5.470/1968, serão devidos a partir da citação (DJU 16.03.1999).

REsp n. 84.077-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo.

Alimentos. Pretensão não fundada na Lei n. 5.478/1968. Ausência de prova preconstituída da paternidade. Sentença como termo inicial de incidência. Evolução do posicionamento da Turma. Distinção em relação às ações de revisão de alimentos. Recurso desprovido. I - A Lei n. 5.478/1988 (art. 13), pela sua própria teleologia, não incide nas ações em que se postula alimentos, inexistindo prova preconstituída da paternidade. II - Destarte, em não se aplicando a referida lei, o dies a quo da incidência dos pretendidos alimentos não pode ser a data da citação, mas sim a da sentença, mesmo que sujeita a apelação (CPC, art. 520, II) (DJU 17.03.1997).

REsp n. 200.254-SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar.

Na ação de investigação de paternidade julgada procedente, os alimentos são devidos desde a publicação da sentença. Precedentes da Quarta Turma. Recurso conhecido e provido (DJU 02.08.1999).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

160

Na sessão de ontem, todavia, 13 de dezembro de 1999, a Egrégia 2ª Seção,

decidiu no EREsp n. 152.895-PR, que, na ação de investigação de paternidade,

os alimentos retroagem à data da citação.

Na ocasião, enfatizei que a regra geral de que a sentença é ditada como

se proferida no momento do ajuizamento da demanda só cede diante de lei

expressa.

Diz-se que a Lei n. 883, de 1949, dispôs excepcionalmente no sentido de

que os alimentos só retroagissem até a sentença de procedência da ação.

Sem razão, o aludido diploma legal se refere aos alimentos provisionais,

não aos defi nitivos.

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

RECURSO ESPECIAL N. 218.119-MG (99.0049327-3)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Agostinho Resende

Advogado: Orlando Resende e outros

Recorrido: Maria das Dores

Advogado: Almir José dos Santos e outro

EMENTA

Alimentos. Investigação de paternidade. Termo inicial.

Os alimentos são devidos a partir da citação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso

especial, mas negar-lhe provimento.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 161

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Ari Pargendler, Menezes Direito e Nilson Naves.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 14 de dezembro de 1999 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator

DJ 24.04.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais deu parcial provimento à apelação inteposta por Agostinho Resende, réu de ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos, para reduzir o valor da pensão alimentícia a um salário mínimo, mantendo a sentença nos demais pontos, inclusive no que se refere à citação como termo inicial da condenação ao pagamento da verba alimentar.

Opostos embargos de declaração pelo réu, foram rejeitados.

Contra essas decisões apresentou o réu recurso especial. Sustentou que o termo inicial para pagamento da pensão alimentícia é a sentença. Alegou que, sendo a ação de alimentos cumulada com a de investigação de paternidade, incide o artigo 5º, da Lei n. 883/1949, não se aplicando o artigo 13, § 2º, da Lei n. 5.478/1968, que somente regula as hipóteses nas quais já existe prova pr -constituída da fi liação. Apontou, ainda, dissídio com acórdãos dessa Corte. Pediu fosse o pedido inicial julgado improcente, tendo em vista que não consideradas as provas que demonstrariam o comportamento promíscuo da mãe da autora. Por fi m, invocando o artigo 218 do Código de Processo Civil, afi rmou ser nulo o processo, desde a citação, pois, sofrendo o réu de atrofi a cerebral, imprescindível a nomeação de curador especial.

Contra-arrazoado, foi o recurso admitido, vindo os autos a esta Corte.

O Ministério Público Federal opinou pelo não provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): - Três as questões versadas no

recurso. Uma, pertinente à existência de provas a demonstrar ser o réu o pai da

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

162

autora. Outra, relativa à capacidade processual do réu. Finalmente, a última; referente ao termo inicial da obrigação de pagar alimentos. Fixou-o o acórdão na citação e o recorrente sustenta que o deveria ter sido na sentença.

As duas primeiras dizem com matéria de fato. Constitui entendimento mais que pacífi co neste Tribunal não se viabilizar o especial enquanto pretenda reexame da prova produzida, objetivando verifi car se efetivamente conduziria à demonstração de determinados fatos. A base fática do julgamento, afi rma-se reiteradamente, é a estabelecida na instância ordinária. Não é dado, pois, sopesar provas, para avaliar se delas efetivamente resultaria a conclusão, relativa aos fatos, acolhida pelo Tribunal de origem. A decisão da Corte mineira que declarou ser o réu o pai da autora, sob a simples perspectiva da análise das provas, é, portanto, soberana. Da mesma forma, partindo-se da premissa insuperável de que a idade avançada do réu não afetou suas faculdades mentais, não se pode ter como violado o artigo 218 do Código de Processo Civil. Incide a Súmula n. 7 desta Corte.

Conheço do recurso, entretanto, tendo em vista o dissídio quanto ao terceiro ponto, nego-lhe, contudo, provimento.

Controvertida a questão pertinente à obrigação de pagar alimentos, decorrente do reconhecimento judicial da paternidade, ainda não havendo consenso entre as Turmas que compõem a Seção de Direito Privado desta Corte.

A jurisprudência desta Terceira Turma, todavia, adota a citação como o momento a partir do qual é devida a verba alimentar. Neste sentido, os Recursos Especiais n. 2.203, n. 21.115, n. 28.345, n. 98.654 e n. 141.468. Peço vênia para transcrever os fundamentos aduzidos por ocasião do julgamento do REsp n.

21.115, por mim relatado:

Não se pode razoavelmente colocar em dúvida que declaratória a sentença, na parte em que reconhece a paternidade, seja incidentemente, como prejudicial, seja quando integre o pedido. À existência desse vínculo acrescendo-se a necessidade do alimentando e a possibilidade do alimentante, tem-se presente a obrigação de pensionar. Solicitado que o fi zesse, haveria de adimplir a obrigação de imediato. Formalizada a demanda e aperfeiçoada a citação, o alimentante está em débito desde esse momento, embora só o trânsito em julgado da sentença permita afi rmá-lo com certeza. Supérfl uo, a rigor, o dispositivo da lei específi ca, a determinar que os alimentos sejam devidos a partir da citação. Entendo que foi inserido apenas para espancar possíveis dúvidas.

Por fi m, parece-me desvaliosa a invocação do disposto no artigo 5º da Lei n. 883/1949. Aí se cogita de alimentos provisionais. Favorável ao investigante a

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 163

sentença, aqueles serão devidos e, por conseguinte, desde logo exigíveis. Aqui se cuida de alimentos definitivos, cujo pagamento se haverá de pleitear em execução de sentença.

Pelo exposto, conheço parcialmente do recurso, mas nego-lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 224.783-DF (99.0067523-1)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

Recorrido: Darci de Souza

Advogado: João Cyrino Filho

Interessadas: Fernanda Virgini - menor

Maria Helena Virgini

Advogada: Adeline Cecília Castilho Dias

EMENTA

Direito Civil. Direito de família. Investigação da paternidade cumulada com alimentos. Termo inicial destes. Petição inicial. Fixação dos alimentos. Reexame de prova. Impossibilidade.

- Na ação de investigação de paternidade cumulada com postulação de alimentos, estes são devidos a partir da citação. Precedente da Segunda Seção.

- Adequação do percentual fi xado a título de alimentos. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. (Súmula n. 7-STJ).

- Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

164

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do

recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Aldir

Passarinho Júnior e Sálvio de Figueiredo Teixeira. Ausente, ocasionalmente, o

Sr. Ministro Barros Monteiro.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 1999 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 02.05.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - Cuida a hipótese de ação de

investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos ajuizada pela

menor impúbere Fernanda Virgini, representada por sua mãe Maria Helena

Virgini, em face do ora recorrido Darci de Souza, que foi julgada procedente

em ambas as instâncias, do que resultou a condenação deste último a pagar a

obrigação alimentar fi xada em 12% de seus rendimentos brutos, deduzidos os

descontos obrigatórios, a partir da r. sentença que os concedeu.

O v. acórdão hostilizado recebeu a seguinte ementa, verbis:

Civil. Investigação de paternidade c.c. alimentos. 1. Recurso do réu. O laudo de exame DNA, aliado às declarações das testemunhas, são provas sufi cientes para o reconhecimento da paternidade. 2. Alimentos reduzidos de 15% para 12% dos rendimentos brutos do alimentante. Apelação provida parcialmente. 3. Recurso da autora. Na ação de investigação de paternidade c.c. pedido de alimentos serão estes devidos desde a sentença que os concedeu e não a partir da citação. Jurisprudência do STJ. Apelação desprovida. (fl . 198).

Inconformado, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, na

qualidade de fi scal da lei e por meio de seu Vice-Procurador-Geral de Justiça,

o Exmo. Sr. Romeu Gonzaga Neiva, interpôs o recurso especial em exame com

base nas letras a e c do permissor constitucional, por suposta contrariedade

ao artigo 13, § 2°, da Lei n. 5.478/1968 e ao artigo 5º da Lei n. 883/1949,

pretendendo que a obrigação alimentar retroaja à data da citação; e ao artigo

400 do Código Civil, pleiteando a fi xação dos alimentos no patamar de 15% dos

rendimentos brutos do alimentante.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 165

Aduz, ainda, divergência com o entendimento sufragado pelo Superior

Tribunal de Justiça sobre a matéria.

Respondido, o recurso foi admitido na origem, tendo a douta

Subprocuradoria-Geral da República opinado pelo seu não conhecimento.

Recebi o processo em 03.11.1999, e remeti-o para pauta no dia 26 do

mesmo mês.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Registro, prefacialmente,

que a pretendida majoração do percentual fi xado a título de alimentos sobre os

rendimentos do alimentante, por sugerida vulneração ao artigo 400 do Código

Civil, tem amparo em substratos exclusivamente fáticos, consubstanciados na

aferição da capacidade contributiva de ambos os genitores da alimentada, além

da necessidade desta última, que se pretende rediscutir.

Ademais, verifi co que a questão recebeu a devida análise no Tribunal de

origem, restando consignado que “elevado se torna o percentual de 15% porque

se trata de inativo possuidor de esposa como dependente, devendo, portanto,

sustentar a si e a esta” (fl . 204). Adicionou-se, por fi m, que “dentro desse quadro,

parece-me razoável estabelecer os alimentos em 12% dos rendimentos brutos do

apelante, deduzidos os descontos compulsórios” (fl . 205).

Assim sendo, o acolhimento do recurso nessa parte demandaria o reexame

do conjunto fático-probatório, tarefa esta imune ao crivo do Superior Tribunal

de Justiça, consoante a orientação sumulada no Verbete n. 7.

No tocante ao prazo inicial para a incidência dos alimentos, a divergência

está bem demonstrada, por isso mesmo é que conheço do recurso.

Efetivamente, após inicial divergência entre as Terceira e Quarta Turmas,

a matéria foi levada à apreciação da Seção de Direito Privado no julgamento

do EREsp n. 152.895-PR, da relatoria do eminente Ministro Carlos Alberto

Menezes Direito, em 13.12.1999, momento em que prevaleceu o entendimento

de que na ação de investigação de paternidade, quando cumulada com o pedido

de condenação em prestação de alimentos, estes são devidos retroativamente,

desde a data da citação.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

166

Assim, com a ressalva de meu entendimento pessoal, revejo meu

posicionamento anterior para adequá-lo ao precedente uniformizador da

jurisprudência no âmbito da egrégia Segunda Seção.

Diante de tais pressupostos, conheço parcialmente do recurso pela

divergência e, nessa extensão, dou-lhe provimento, para determinar que os

alimentos retroajam à data da citação.

RECURSO ESPECIAL N. 226.686-DF (99.0071842-9)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

Recorrido: Edo Antonio Ferreira de Freitas

Advogado: Marcio Machado Vieira e outros

EMENTA

Investigação de paternidade. Ministério Público. Recurso.

Legitimidade. Alimentos. Data inicial.

O Ministério Público tem legitimidade para recorrer da sentença

que fi xa alimentos.

Os alimentos concedidos na sentença de procedência de ação

de investigação de paternidade são devidos a partir da citação inicial.

Orientação adotada pela 2ª Seção no julgamento do EREsp n.

152.895-PR.

Ressalva do relator.

Recurso conhecido, pela divergência, e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 167

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator

os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Cesar

Asfor Rocha. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Barros Monteiro.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 1999 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente e Relator

DJ 10.04.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: João Victor Rêgo da Trindade, representado por sua mãe, Maria Nilma Rêgo Trindade, promoveu ação de investigação de paternidade c.c. alimentos contra Edo Antônio Ferreira de Freitas, alegando que Maria Nilma mantivera com o réu relacionamento amoroso desde 1989, daí a concepção e o nascimento do autor em 26 de novembro de 1990. Pleiteou o reconhecimento de sua paternidade, com a conseqüente condenação do pai em alimentos.

A demanda foi julgada procedente, declarando-se o autor fi lho do réu, “garantindo-lhe o direito de incluir em seu nome o apelido paterno e a inclusão em seu registro de nascimento do nome de seus avós paternos, por força do vínculo de parentesco que ora se lhe reconhece”. Outrossim, o réu foi condenado ao pagamento de alimentos a partir da citação, fi xados em 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos do réu.

O autor apelou, e a eg. Quarta Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por votação majoritária, deu parcial provimento ao recurso, assim ementando o acórdão:

Investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos. Percentual e termo inicial dos alimentos. Honorários advocatícios.

1 - Provado que a concepção do autor ocorreu no período de relacionamento amoroso de sua mãe com o investigado, com ela sempre fi el a esse, e não afastada a paternidade por exames de sangue, impõe seja essa reconhecida.

2 - Fixados os alimentos em percentual compatível com as necessidades do credor e com as possibilidades do devedor, é de se manter o percentual arbitrado.

3 - Na ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos esses são devidos a partir da sentença.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

168

- Honorários que atendem os critérios do § 3º do art. 20 do CPC não reclamam alteração.

Apelo provido parcialmente. (fl . 240).

Votou vencido o il. Des. Revisor, que deferia alimentos a partir da citação.

O Ministério Público opôs embargos infringentes.

Às fl s. 284-285, as partes formalizaram composição amigável, requerendo

sua homologação, após a oitiva do d. MP.

O MP opinou pela homologação do acordo, com a consequente extinção

do feito (fl s. 289-293).

À fl . 309, o em. Des. Waldir Leôncio proferiu despacho no sentido de que

“a homologação de transação após o julgamento do feito refoge às atribuições

do relator (art. 68, V, do RITJDF), devendo ser submetida à apreciação do MM.

Juiz da causa, após o trânsito em julgado.”

A eg. Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e

Territórios, por maioria de votos, negou provimento aos embargos infringentes,

assim sumulando o v. acórdão:

Ministério Público. Ação de investigação de paternidade julgada procedente. Termo inicial da obrigação. Legitimidade do Ministério Público para perseguir a solução mais favorável ao menor.

1. A legitimação do Ministério Público para recorrer em favor do menor visando uma posição mais vantajosa exsurge do disposto no art. 499, § 2º, do CPC, considerando-se que se trata de peculiar modalidade de intervenção do órgão ministerial, como assistente diferenciado do incapaz, ad coajuvando, com os amplos poderes de assistente litisconsorcial, sem, todavia, com este se confundir, porque não detém relação jurídica com a parte contrária.

2. Subsiste na doutrina e na jurisprudência dissenso sobre o termo a quo para a obrigatoriedade alimentar nas ações de investigação de paternidade cumulada com alimentos, preferindo uns que se iniciem com a citação, enquanto outros defendem a data da prolação da sentença como marco inicial. Opção pela derradeira. A retroação dos alimentos à data da citação decorre de expressa previsão legal para as ações de alimentos em que a paternidade é conhecida e declarada (art. 13, § 2º, da Lei n. 4.768/1968); para a paternidade reconhecida por meio de provimento judicial a regra é outra. Inicialmente a do artigo 5º da Lei n. 883/1949. Atualmente a do artigo 7º da Lei n. 8.560/1992. Esta Lei é especial em relação à Lei de Alimentos que dava substrato legal à citação válida como marco inicial para exigibilidade da obrigação alimentar, por isso há de prevalecer. (fl . 295).

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 169

O d. MPDF ingressou com recurso especial por ambas as alíneas, alegando

“afronta ao § 2º do art. 13 da Lei n. 5.478/1968 e a indevida aplicação do art. 5º

da Lei n. 883/1949 e do art. 7º da Lei n. 8.560/1992”, (fl . 316), além de dissídio

jurisprudencial com os REsp’s n. 161.347-DF, n. 98.654-MG e n. 118.467-

RS. Sustenta que os alimentos devem retroagir à data da citação, não só pela

determinação do art. 13, § 2º, da citada lei, mas porque a sentença que reconhece

a paternidade é de natureza declaratória. Afi rma, ainda, a inaplicabilidade do

art. 5º da Lei n. 833/1949.

Com as contra-razões, o Tribunal de origem admitiu o recurso especial,

subindo os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. A primeiro questão

diz com a legitimidade do MP para oferecer o recurso especial a fi m de alterar a

data inicial da obrigação alimentar do investigado.

Reiteirando entendimento mais de uma vez exposto, penso que o MP,

como custos legis, pode recorrer de decisão ou sentença proferida nos autos.

Assim também é a orientação deste eg. Tribunal.

Ministério Público. Recurso, em ação de investigação de paternidade, com pedido de alimentos, proposta pela mãe em nome do fi lho, menor impúbere. Legitimidade. Ofi ciando, em processos, como parte (órgão agente) ou como fi scal da lei (órgão interveniente), tem o Ministério Público legitimidade (ou interesse) para recorrer, sempre. Cód. de Pr. Civil, art. 499, par-2º.

Recurso Especial conhecido e provido, para que seja retomado o julgamento da apelação. (REsp n. 5.333-SP, 3ª Turma, rel. em. Ministro Nilson Naves, DJ 25.11.1991).

I - O Ministério Público, mesmo quando atua no processo como custos legis, o que acontece em inventário no qual haja menor interessado, tem legitimidade para intervir, inclusive para argüir a incompetência relativa do juízo. (REsp n. 100.690-DF, 4ª Turma, rel. em. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 08.03.1999).

I - Consoante entendimento fi xado pela Turma, o Ministério Público detém legitimidade para recorrer nas causas em que atua como custos legis, ainda que se trate de discussão a respeito de direitos individuais disponíveis e mesmo que

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

170

as partes estejam bem representadas. (REsp n. 160.125-DF, 4ª Turma, rel. em. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 24.05.1999).

Separação judicial. Legitimidade do Ministério Público para apelar. Custos legis. Incidência da Súmula n. 99-STJ.

1. Ausência de nulidade do acórdão porque o Tribunal a quo, expressamente, reconheceu a ilegitimidade passiva.

2. A teor da Súmula n. 99-STJ, tem o Ministério Público, na qualidade de custos legis, legitimidade para apelar nos autos de separação judicial, ainda que a parte interessada não tenha recorrido.

3. Recurso Especial conhecido e provido. (REsp n. 102.040-MG, 3ª Turma, rel. em. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 15.09.1997).

Ministério Público. Custos legis. Recurso. Legitimidade.

Separação judicial. O Ministério Público tem legitimidade para recorrer de sentença proferida em processo de separação judicial, ainda que inexista recurso das partes. Art. 499, par. 2º do CPC e Súmula n. 99-STJ. Recurso conhecido e provido. (REsp n. 176.632-MG, 4ª Turma, de minha relatoria).

2. O acordo celebrado entre as partes (fl . 284) ainda não foi homologado e

não inclui cláusula sobre o ponto ora em exame.

3. A divergência é notória, como bem exposto nos autos e lavra no

âmbito desta Turma. Sustentando que deveria ser paga a partir da sentença de

procedência da ação de investigação de paternidade, já assim votava:

A regra do § 2º do artigo 13 da Lei n. 5.478/1968: “Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação”, refere-se especificamente às situações criadas nos processos regulados pela Lei de Alimentos, a qual pressupõe uma prova preconstituída da obrigação alimentar e, por isso mesmo, impõe ao juiz o dever de fi xar alimentos provisórios já ao despachar a inicial (artigos 2º e 4º). Como nos processos submetidos a esta lei sempre serão deferidos alimentos provisórios, a eventual revisão deles, na forma do § 1º do artigo 13, implicará a retroação, não integral (à data do despacho inicial) mas à da citação (§ 2º do artigo 13).

Diferentemente ocorre na ação de investigação da paternidade, onde se está em busca da prova da relação de fi liação, suporte do dever alimentar. Para estes, não se deferem provisórios, nomenclatura restrita à Lei n. 5.478; sobrevindo sentença favorável ao investigante, o artigo 5º da Lei n. 883/1949 autoriza a concessão de provisionais. Penso eu que apenas a partir da sentença, uma vez que não existe, para o caso, regra semelhante àquela do artigo 13, que favorece os que encontram abrigo na lei especial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 171

O sistema legal, assim interpretado, merece aplausos. Enquanto na hipótese da Lei n. 5.478 haveria apenas a necessidade de reajustar prestações devidas desde a citação, nas ações de investigação da paternidade o réu seria confrontado, ao fi nal de um processo sabidamente demorado, com o dever de pagar o valor equivalente a 30, 40 ou mais prestações, relativas ao tempo pretérito, o que signifi ca a constituição de uma dívida difi cilmente suportável pelo comum dos cidadãos, à qual se acrescenta a pena de prisão.

Para este entendimento muito pesa sobre as conseqüências da decisão, de que nos fala Hassemmer, preocupação que devo ter sempre presente.

Nessa linha de raciocínio pondero. Ainda, que o investigante chegou à sentença de primeiro grau independentemente do deferimento dos provisionais e a sua concessão a posteriori, com efeito retroativo, mais servirá para indenizar o autor do que para alimentá-lo, o que parece ser um desvio de fi nalidade.

Essa a argumentação que expendera no julgamento do REsp n. 44.927-8-SP, de 17.05.1994, quando votei acompanhando o voto vencido do eminente Min. Sálvio de Figueiredo, que entendeu contrariar o sistema a concessão de alimentos, na ação de investigação de paternidade, com efeito retroativo à citação.

O caso dos autos evidencia bem a gravidade da situação que resultará do deferimento da pensão desde a citação inicial, para a qual chamo a atenção da eg. Turma: o réu, que é garçom, está sendo condenado a pagar uma dívida de 96 salários mínimos, correspondente ao tempo pretérito, desde março de 1987, pois a ação se arrasta há mais de oito anos, além das prestações vincendas. É fácil deduzir que o investigado não tem condições econômicas para fazer frente a esse débito, criando-se com isso uma situação insustentável, com a constituição de dívida impagável, cujo descumprimento, porém, pode resultar em prisão. Se o devedor percebe 4,5 salários mínimos por mês, deverá passar os próximos três anos reservando a totalidade da sua renda para resgatar o débito já vencido e pagar a prestação mensal vincenda, que é de um salário mínimo mensal.

Isto posto, conheço do recurso, por violação ao art. 5º da Lei n. 883/1949, e pela divergência, sufi cientemente demonstrada, para deferir os alimentos a partir da data de publicação do acórdão que julgou procedente a ação de investigação. (REsp n. 56.905-RS, 4ª Turma, de minha relatoria).

4. Agora, porém, o dissídio já está superado com o julgamento da eg. 2ª

Seção, que acolheu a tese de que, em situação como a dos autos, os alimentos

são devidos desde a citação para a ação de investigação de paternidade. (EREsp

n. 152.895-PR, rel. em. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em

13.12.1999).

5. Submetendo-me a essa orientação, com ressalva da posição pessoal,

conheço do recurso e lhe dou provimento, para deferir alimentos a partir da

citação.

É o voto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

172

RECURSO ESPECIAL N. 240.954-MG (99.0110654-0)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Recorrente: Manoella Alves Malheiros (menor)

Representado por: Juliana Paula Alves Malheiros

Advogado: Arthur Bernardes da Silva Júnior

Recorrido: Marcus Vinicius Abritta Garzon Leite

Advogados: Luiz Carlos Abritta e outros

EMENTA

Civil. Ação de investigação de paternidade. Alimentos. Marco

inicial. Citação.

I. Os alimentos, na ação de investigação de paternidade, têm

como termo inicial a data da citação do réu.

II. Jurisprudência pacificada no âmbito do STJ (EREsp n.

152.895-PR, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 2ª Seção,

julgado em 13.12.1999).

III. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer

do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira,

Barro Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 14 de março de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator

DJ 15.05.2000

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 173

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Manoella Alves Malheiros

interpõe, com base nas letras a e c do art. 105, III, da Constituição Federal,

recurso especial contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Minas

Gerais, assim ementado (fl . 311):

Ementa: investigação de paternidade c.c. alimentos. Valor da pensão. Data inicial da obrigação.

Os alimentos são fi xados com observância da necessidade do alimentando e da possibilidade do alimentante e, quando deferidos em ação de investigação de paternidade, têm por termo inicial a data da condenação.

Sustenta a recorrente que a decisão violou o art. 23, parágrafo 2º, da Lei n.

5.478/1968, que determina a retroação dos alimentos fi xados à data da citação

do réu, e que se assim não for entendido haverá prejuízo aos alimentandos,

uma vez que premiará os desidiosos, permitindo o uso de recursos protelatórios

para retardar a decisão do litígio, o que se contrapõe à aplicação social da lei,

princípio preconizado no art. 5º, da LICC.

Aduz que a orientação fi rmada pela Corte a quo diverge do entendimento

de diversos outros Tribunais sobre a mesma matéria, citando precedentes a

respeito.

Contra-razões às fl s. 338-350, alegando a inaplicabilidade à espécie da

norma legal tida com violada, eis que se dirige apenas aos casos de prova

preconstituída da paternidade, inocorrente na hipótese da ação investigatória,

em que existe dúvida, até a sentença, sobre quem é o genitor da alimentanda.

Afi rma, mais, que o dissídio jurisprudencial não se acha demonstrado na

forma regimental, invocando, por fi m, doutrina em apoio à tese de mérito que

defende.

O recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho

presidencial de fl s. 352-353.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Inicialmente, tenho

que o dissídio jurisprudencial não se acha demonstrado, seja porque transcritos

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

174

os arestos paradigmáticos apenas por suas ementas, seja por haver faltado o

confronto analítico.

Todavia, interposto também o recurso pela letra a do permissivo

constitucional, tem-se que a questão foi prequestionada no âmbito do Tribunal

a quo, pelo que passo ao exame do mérito.

A controvérsia aqui confi gurada já foi motivo de amplo debate no Superior

Tribunal de Justiça, encerrado recentemente quando do julgamento, em

13.12.1999, pela Colenda 2ª Seção, do EREsp n. 152.895-PR, de relatoria do

eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.

Naquela oportunidade, manifestei, após pedir vista dos autos para melhor

exame do tema, o seguinte voto, litteris:

Discute-se nos presentes embargos sobre o marco inicial para o pagamento da prestação alimentar em ação de investigação de paternidade.

Enquanto o aresto a quo, da Egrégia 4ª Turma, fi xa os alimentos a partir da sentença que reconhece a relação de parentesco, a decisão paradigmática, da colenda 3ª Turma, estabelece como começo a citação do réu-alimentante.

Ambas as correntes se acham respaldadas em argumentos sólidos e em percuciente doutrina.

Inclino-me, dentre elas, pela tese sufragada pelo aresto trazido a confronto, da 3ª Turma.

Dispõe a Lei n. 5.478, de 25.07.1968, que:

Art. 13 (...)

§ 2º Em qualquer caso, os alimentos fi xados retroagem à data da citação.

No caso da investigação de paternidade, não se sabe se o réu é parente do autor, de modo que - argumenta-se para afastar a aplicação da citada regra legal - inexistiria uma resistência ao pedido, mas uma incerteza que somente se dissipa com a decisão judicial que declara a existência da relação.

Entretanto, o principal é que da ação de investigação, exatamente por revelar o vínculo de parentesco, exsurgem inúmeros refl exos civis. O fi lho que é reconhecido passa a ter, por exemplo, um pai, avós, eventualmente irmãos, etc. Altera-se a sucessão, talvez obrigações contraídas no período de ignorância dessa relação, v.g. doações feitas aos demais fi lhos. E, tudo isso, fi ca alcançado pela retroação dos efeitos da paternidade ou maternidade declarada a posteriori.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 175

Daí não me parecer melhor que se interprete a obrigação alimentar como uma exceção, ou seja, se os efeitos, no geral, remetem, com o reconhecimento da relação, a datas até do nascimento do fi lho, como exemplifi cado acima, não vejo porque limitar-se a repercussão do dito reconhecimento apenas a partir da decisão monocrática que o declara quando se cuide da prestação do dever do pai de prover o sustento da sua prole.

Embora para muitos seja a paternidade encarada como uma surpresa, salvo hipóteses excepcionais há que se convir que difi cilmente o réu pode ignorar, por completo, que se colocou em determinada situação, que não depende apenas dele, pois são duas as pessoas envolvidas, que poderia, em tese, gerar uma prole. A ignorância, portanto, nunca é absoluta.

E se assim é, razoável esperar que o réu, de boa-fé, não retarde a solução da questão, submetendo-se, de logo, aos exames técnicos pertinentes, o que torna pouco signifi cante o lapso temporal entre a citação e a conclusão pericial.

Já a tese oposta permite ao réu, de má-fé, utilizar-se de expedientes processuais para retardar a prestação jurisdicional, criando incidentes e utilizando-se até o último dia dos prazos legais para protelar o momento da sentença, que marcaria o início da prestação alimentar.

Finalmente, estou em que, no plano metajurídico, mais próprio é esperar que o pai aceite auxiliar seu fi lho do que o oposto, e mesmo fi xando-se como data inicial a da citação, não se pode deixar de atentar que por todo o período anterior o alimentado, além de ignorar quem era seu genitor, ficando sem seu apoio pessoal, também dele nada recebeu em termos materiais.

Desejo, todavia, adiantar preocupação que tenho relativamente à possibilidade de prisão civil em casos que tais, muita embora não esteja o tema agora em julgamento. Penso que, em face da particularidade da hipótese, a constrição não pode se vincular às parcelas correspondentes ao período anterior à decisão, pois não representa, propriamente, uma dívida pré-constituída, de sorte que somente entendo cabível a coação quanto às prestações vencidas após a sentença.

Ante o exposto, conheço dos embargos e dou-lhe provimento, aderindo ao voto do eminente relator, Min. Carlos Alberto Menezes Direito.

Firmado, assim, por este Tribunal, o entendimento fi nal sobre a matéria

- e as razões ora trazidas pelo recorrido não logram infi rmá-las - conheço do

recurso especial e dou-lhe provimento, para fi xar como marco inicial da pensão

alimentar a data da citação do réu.

É como voto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

176

RECURSO ESPECIAL N. 275.661-DF (2000.0089148-7)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Recorrente: Pedro Diniz Goncalves (menor)

Representado por: Tatiana Diniz Gonçalves

Advogados:Tulio Marcio Cunha e Cruz Arantes e outros

Recorrido: Antonio Diurive Ramos Jube Pedroza

Advogados: Elcio Curado Brom e outros

EMENTA

Investigação de paternidade. Alimentos. Termo inicial. Data da citação. Orientação da Segunda Seção. Honorários advocatícios. Art. 20, § 3º, CPC. Majoração. Despesas de tratamento anteriores ao ajuizamento e não postuladas na inicial. Recurso parcialmente provido.

I. - A Segunda Seção deste Tribunal firmou orientação no sentido de que, em ação de investigação de paternidade, cumulada com alimentos, o termo inicial destes é a data da citação.

II. - Em havendo pedido cumulado de condenação em alimentos, legítima a incidência do § 3º do art. 20, CPC.

III. - Eventuais despesas de tratamento, anteriores ao ajuizamento da ação e não postuladas na inicial, somente podem ser deferidas em via própria.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior.

Brasília (DF), 06 de fevereiro de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 02.04.2001

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 177

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Em ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos, ajuizada pelo recorrente, que teve seu pedido julgado procedente em sentença, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, dentre outros pontos, reconheceu que os alimentos seriam devidos desde a data da sentença.

Interpôs o autor recurso especial, fundamentado nas alíneas a e c do autorizativo constitucional, apontando, além de divergência com julgados deste Tribunal, violação dos arts. 4º e 400 do Código Civil e 20, § 3º, CPC, sustentando, em primeiro lugar, ser a data da citação o termo inicial da cobrança dos alimentos. No mais, questiona o percentual dos honorários advocatícios e postula o ressarcimento das despesas médicas, referentes ao parto e ao tratamento de doença congênita que possui desde o nascimento, desembolsadas antes da instauração da relação processual.

Sem as contra-razões, foi o recurso admitido na origem, opinando o Ministério Público Federal, em parecer da lavra do Dr. Washington Bolivar

Júnior, pelo provimento do recurso apenas quanto ao termo inicial dos alimentos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. A Segunda Seção deste Tribunal, no julgamento dos EREsp n. 152.985-PR (DJ 22.05.2000), ao uniformizar a jurisprudência entre as duas Turmas que a compõem, fi rmou orientação diversa, consoante esta ementa:

Investigação de paternidade cumulada com alimentos. Termo inicial dos alimentos.

1. Na forma do paradigma da Terceira Turma, “em ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos o termo inicial destes é a data da citação, com apoio no artigo 13, § 2º, da Lei n. 5.478/1968, que comanda tal orientação em qualquer caso”.

2. Embargos de divergência conhecidos e providos.

Esta Turma, já com a nova orientação, ementou:

Alimentos. Ação de investigação de paternidade. Os alimentos são devidos desde a data da citação do réu em ação de investigação julgada procedente.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

178

Precedente da 2ª Seção.

Recurso não conhecido (REsp n. 219.338-SC, DJ 12.06.2000).

Não vejo razão para deixar de acolher a orientação fi rmada pela Segunda

Seção, notadamente porque esta Corte tem por missão constitucional

uniformizar o entendimento jurisprudencial no País, não sendo razoável que se

mantenha posicionamento contrário ao fi xado pelo próprio Tribunal, criando

insegurança jurídica para as partes.

2. No que toca ao quantum dos honorários advocatícios, de igual forma o

recurso merece guarida.

Não se nega, é bem verdade, que a questão relacionada com o quantum dos

honorários advocatícios está normalmente envolta com os fatos da causa, pelo

que seria, em princípio, inapreciável no âmbito do recurso especial.

Cuidando-se, no entanto, de questões de direito ou quando a estipulação

feita nas instâncias ordinárias desborda dos critérios estipulados em lei, seja

porque se distanciam do juízo de equidade, seja porque desatendem aos

limites previstos, esta Turma tem conhecido dos apelos visando à alteração do

quantitativo escolhido, para elevá-los ou reduzi-los.

No caso dos autos, ao fi xar os honorários em três por cento sobre o valor

da causa, além de estabelecer quantum reduzido para a causa, deixou o acórdão

impugnado de atentar para o § 3º do art. 20, CPC, que estabelece mínimo e

máximo para a fi xação dos honorários. In casu, não obstante se cuide, como

pedido principal, de investigação de paternidade, ação constitutiva, portanto, há

pedido cumulado de alimentos, de natureza condenatória.

Destarte, com base nos elementos descritos no art. 20, § 3º, alíneas a a

c, levando em conta as circunstâncias da causa, arbitro os honorários em 15%

(quinze por cento) sobre o valor da causa, assim como fez a sentença.

3. Por fi m, não prospera a alegada violação dos arts. 4º e 400 do Código

Civil. O eg. Tribunal de origem não afi rmou que a sentença declaratória de

paternidade não teria efeitos a partir da concepção, mas sim que as despesas

anteriores à citação do réu nesta ação constituíam “gastos pretéritos, levados a

efeito sem a competente perquirição do fato possibilidade, um dos termos do

binômio a ser, inquestionavelmente, observado para que se possa compelir o

devedor de alimentos a prestá-los” (fl . 573).

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (21): 127-179, agosto 2011 179

Não fosse por isso, certo é que os gastos com despesas médicas integram os

alimentos. Logo, se esses são devidos apenas a partir da citação, por essa mesma

razão as despesas anteriores à essa data não podem ser impostas ao alimentante,

e nem cobradas pelo alimentando nesta via.

Por outro lado, nada impede que os interessados possam postular, pelas

vias judiciais próprias, a cobrança de eventuais gastos (hospedagem, remédios,

médicos, deslocamentos etc.) desembolsados no tratamento da criança, que

nasceu com “lábios leporinos e fenda palatina (garganta de lobo)” e com suspeita

de “síndrome de binder.”

4. Pelo exposto, conheço do recurso pelo dissídio e dou-lhe parcial provimento

para fi xar a data da citação como o termo inicial da incidência dos alimentos, e,

aplicando o direito à espécie (art. 257, RISTJ), fi xar os honorários advocatícios

em 15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, nos termos da sentença.