102
7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015 http://slidepdf.com/reader/full/super-interessante-dezembro-2015 1/102 EINSTEIN N.º 212 Dezembro 2015 Mensal l Portugal € 3,50 (Continente) aúde Natureza História Sociedade Ciência Tecnologia Ambiente Comportamento         5         6         0         1         7         5         3         0         0         2         0         9         6         0         0         2         1         2 www.superinteressante.pt facebook.com/RevistaSuperInteressante O regresso de Um século depois, nem tudo vai bem com a relatividade Clima O ativista adolescente Saúde Cuide do seu nariz Oxitocina A hormona que manda em nós Ideias O passado e o futuro

Super Interessante - Dezembro 2015

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    1/102

    EINSTEIN

    N. 212

    Dezembro 2015

    Mensal lPortugal

    3,50(Continente)

    ade INatureza IHistria ISociedade ICincia ITecnologia IAmbiente IComportamento

    5

    6

    0

    1

    7

    5

    3

    0

    0

    2

    0

    9

    6

    00212

    www.superinteressante.pt facebook.com/RevistaSuperInteressante

    O regresso de

    Um sculo depois, nem tudo vai bem com a relatividade

    Clima

    O ativistaadolescente

    Sade

    Cuide doseu nariz

    Oxitocina

    A hormona quemanda em ns

    Ideias

    O passadoe o futuro

    http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/
  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    2/1022 SUPER

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    3/1023Interessante

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    4/102

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    5/102

    Observatrio 4

    O Lado Escuro do Universo 5

    Motor 8

    Super Portugueses 10

    Histrias do Tejo 14

    Caadores de Estrelas 16

    Sociedade Digital 20

    Flash 48

    Marcas & Produtos 98

    H abitumo-nos de tal modo a considerar a teoria da relatividade geral comouma das criaes maiores do gnio humano que, para muita gente, into-cvel. Acontece que, em cincia, no h intocveis. Basta comearem a surgir pe-quenas discrepncias entre as previses e as medies para que toda a maquinariase ponha em marcha. A relatividade geral surgiu h precisamente um sculo. Deuboa conta dos fenmenos gravitacionais escala macroscpica e explicou muitasdas diferenas entre as observaes e a mecnica newtoniana, como a precesso doperilio de Mercrio. Alm disso, so as correes relativsticas que nos permitem

    usar satlites para fazer navegao por GPS. A teoria est bem ancorada nos resul-tados prticos. No entanto, ningum conseguiu cos-la com a mecnica quntica. escala atmica, a relatividade no faz sentido. No entanto, a mecnica qunticatambm tem provas dadas. Alm disso, vrios investigadores tm apontado, aqui ealm, nos ltimos anos, variaes mnimas entre a velocidade ou a posio de navesespaciais e aquilo que a teoria indica. Por fim, resultados divulgados em outubroparecem indicar ter sido alcanado algo que a relatividade geral impede: ao ins-tantnea distncia. Para a relatividade, nada pode viajar mais depressa do que aluz no vcuo, nem mesmo informao. Pois os cientistas conseguiram demonstrar,numa experincia considerada pelos seus pares como irrepreensvel (sem erros demedio nem de conceo), que, ao fazer colapsar a funo de onda de um eletro,essa informao se transmitia instantaneamente a outro, situado a 3,7 quilmetrosde distncia, com o qual estivera emparelhado. Bingo! E agora, sr. Einstein? Vamoster de revogar alguma coisa, no ? C.M.

    Olharpara cimaO concurso deastrofotografia doReal Observatriode Greenwichrecebeu esteano 2700 fotos.Mostramos-lhe

    algumas das queforam premiadas.Pg. 24

    Sociedade de vigilantesA paranoia social transforma-se facilmentenum sentido geral de insegurana. Um bomexemplo so os controlos nos aeroportos:no servem para apanhar terroristas, snos fazem sentir mais indefesos. Pg. 74

    EINSTEIN

    N.212

    Janeiro2 016

    Mensal Portugal

    3,50(Continente)

    Sade INatureza I Histria I So

    ciedade I CinciaITecnologia IA

    mbiente I Comportamento

    5

    6

    0

    1

    7

    5

    3

    0

    0

    2

    0

    9

    6

    0 0

    2 1 2

    www.superinteressante.pt fa

    cebook.com/RevistaSuperInteres

    sante

    Oregressode

    Umsculodepois, nemtudovai be

    mcomarelatividade

    Clima

    Oativista

    adolescente

    Sade

    Cuidedoseunariz

    Oxitocina

    Ahormonaquemandaemns

    Ideias

    Opassado

    eofuturo

    Centenria e revogvel Dezembro 2015212

    SECES

    www.superinteressante.pt

    Frio, frio, frio!Diversas equipas de cientistasesforam-se por chegar maisperto do zero absoluto e sabercomo se comporta a matrianessas condies. Pg. 30

    FSICA

    O puzzleno encaixa42

    Retratos de estrelas

    FOTOGRAFIA 24

    www.assinerevistas.com

    Por este rioabaixoOs rios, asribeiras e assuas margensso importantesecossistemas.S em temposrecentescomearama ser estudadose revelaram

    muitassurpresas.Pg. 80

    Assine com um clique!

    CORPO

    Uma sade de narizes68

    DOCUMENTO20 ideias revolucionrias

    49

    Uma ideia de gnio

    FSICA 36

    FSICA

    Um frio de rachar

    30

    BIOTECNOLOGIA

    Como curar o incurvel44

    PSICOLOGIA

    Investigar a oxitocina62

    PSICOLOGIA

    Vigie a paranoia

    74

    AMBIENTE

    Clima: gerao Guardies88

    FOTOGRAFIA

    O mundo em grande94

    AMBIENTE

    Os tesouros do ribeiro

    80

    DANNYMOLOSHOK

    CHAPHIMWONG

    ANDREWW.B.LEONARD/GETTY

    http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/http://www.assinerevistas.com/http://www.assinerevistas.com/http://www.superinteressante.pt/http://www.superinteressante.pt/
  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    6/102SUPER4

    Observatrio

    C

    onflito e Sobrevicnciafoi este anoo tema da competio de fotogra-fia amadora organizada pela RealSociedade de Biologia, de Londres.

    Fotgrafos de todo o mundo aceitaram odesafio de retratar em grande plano a luta pelasobrevivncia de diversas espcies vegetais e

    animais (incluindo a humana), em grande eem pequena escala. Entre as fotos premiadas,podem ver-se os violentos combates de bovi-nos rticos, as guerras pela comida travadas

    pelas aves marinhas, parasitismo entre esp-cies. As que aqui mostramos tiveram um pr-mio ou uma meno honrosa.

    A luta pelasobrevivncia

    FABIOP

    UPIN/

    ROYALS

    OCIETYOFBIOLOGYPA

    Luta entre dois machos de boi-almiscareirona poca de acasalamento (agosto), no ParqueNacional de Dovrefjell-Sunndalsfjella (Noruega).

    DEBDATTACHAKRABORTY/ROYALSOCIETYOFBIOLOGYPA

    Pescadores do Sri Lanka passamo dia espera de apanhar um peixe.

    Duas rs copulam sobre uua folha de ltusem Barrackpore (Bengala Ocidental, ndia).

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    7/102Interessante 5

    E ntre os candidatos a massa escura, me-recem destaque os axies, dada a suacapacidade de se transformarem em fotes(e vice-versa) na presena de fortes camposmagnticos, no que se conhece por efeitoPrimakoff. Deve-se a Peccei e Quinn a ideia

    dos axies, numa tentativa de explicar a au-sncia da quebra das simetrias combinadasde carga e paridade (CP) em interaesnucleares fortes. Sem carga eltrica e demassa muito baixa (entre os mili e os microeletro-Volt/c2), os axies podero ser pro-duzidos, por exemplo, no interior do Sol,atravs da converso de fotes trmicos napresena dos campos de Coulomb de pro-tes e eletres do plasma solar. Devemosassim esperar um fluxo de axies na Terra,que seria detetado por instrumentos comoo CAST, a sigla inglesa para Telescpio

    de Axies Solares do CERN. Na presenado magnete supercondutor do CAST, osaxies (com uma energia mdia de cerca 4,2keV) deviam converter-se novamente emfotes, mais propriamente em raios-X.Sendo muito baixas as suas interaesforte e fraca, os axies so escuros nessesentido, mas primeiro est por provar asua existncia, verificando-se depois se assuas propriedades correspondem ou no srestries impostas pelas caractersticas damassa escura. Outro aspeto cativante dosaxies que podem igualmente explicar emparte a energia escura, ao fazer desapare-cer parte da luz de supernovas distantes,que assim parecero menos brilhantes, ouseja, ainda mais distantes. Com o Sol aquito perto, no espanta, portanto, que hajamuitas experincias procura dos axies.Em outubro de 2014, uma equipa daUniversidade de Leicester (Inglaterra)publicou uma anlise muito completa dosdados acumulados ao longo de doze anospelo XMM, um satlite de raios-X da Agn-cia Espacial Europeia. O resultado sur-preendente tem a ver com um excesso deraios-X observado apenas quando o XMM

    se encontra entre a Terra e o Sol, mas noquando se encontra do lado da Terra maisdistante do Sol. No sendo capaz de expli-car tais dados por outras formas, os autoresadmitem a hiptese de que tais raios-Xresultem da converso de axies solares aoencontrarem o campo magntico terrestre. possvel, dizem uns. Outros argumentamque no, que provavelmente nos estar afaltar uma compreenso mais detalhada deinteraes no plasma residual do campomagntico terrestre.Enquanto no temos confirmao categri-

    ca da existncia dos axies e se de facto somaterial escuro ou no, outra avenida a

    explorar a dos sinais de polarizao linearda luz causada pelos axies. Entre outrosexemplos, ans brancas com fortes camposmagnticos (apenas cerca de 3% do totalda populao de ans brancas) devememitir luz mais polarizada linearmente do

    que outras ans brancas, caso os axiesexistam. A polarimetria de raios-X produzi-dos por estrelas de neutres (com camposmagnticos tipicamente mais intensos doque os das ans brancas) igualmente umamina a explorar. O problema que o fluxode raios-X de tais corpos estelares muito

    baixo e infelizmente a polarimetria de altasenergias (raios-X e gama) tem sido negli-genciada nas ltimas dcadas. Trata-se deuma das ltimas janelas ainda por abrir emastrofsica, a ponto de merecer destaqueem alguns programas de financiamento de

    coordenao cientfica a nvel da UnioEuropeia.Naturalmente, pode-se perguntar seo Sol proporciona um fluxo maior, oumais facilmente observvel, de tais sinaispolarimtricos. Sabemos que as erupesde raios-X esto associadas a fortes camposmagnticos da coroa solar. Satlites comoo RHESSI (da NASA) e o Coronas-F(Rssia) tm feito medidas da anisotropiados feixes de eletres e da configuraomagntica da coroa solar, para detalhar osprocessos de acelerao que a ocorrem,na gnese da emisso de raios-X. Lamen-tavelmente, porm, a situao com o Soltambm no totalmente satisfatria,pois as medidas polarimtricas sofrem deelevado rudo ou so feitas por detetores de

    baixa sensibilidade.Com alguns dos meus alunos, temosandado a pensar um pouco em tudo isto eestamos prestes a submeter uma propostaexperimental, para voar num balo estra-tosfrico financiado pela NASA. Os nossosparceiros sniores, de peso, so de Portugale de Itlia, tratando-se para j de uma expe-rincia mais passiva, para medir o rudo de

    fundo em termos de polarizao gama e X.Conforme as coisas evolurem, poderemosmais tarde pensar em algo dedicado ao Sol,para ver se podemos dar algum contributoinstrumental para clarificar a polarizaolinear dos raios-X. S depois de se concreti-zar essa multitude de passos que a cinciapoder, talvez, ficar mais perto de detetaraxies solares por via polarimtrica.

    O Lado Escuro do Universo

    Axies e polarimetria de raios-X

    PAULO AFONSO

    Astrofsico

    N.R. Paulo Afonso escreve segundo o novoacordo ortogrfico, embora sob protesto.

    Vermes parasitaram estes caracisatravs do aparelho digestivo. A foto foiobtida em Genemuiden (Pases Baixos).

    BEVERLEYBROUWER/RSBPA

    DARPANBASAK/ROYALSOCIETYOFBIOLOGYPA

    Alevins de peixe-palhao refugiam-seem anmonas do mar das Filipinas.

    PADDYRYAN/ROYALSOCIETYOFBIOLOGYPHOTOGRAPHYAWARD

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    8/102SUPER6

    Observatrio

    Entre as constelaes do Cisne e da Lira,brilha uma estrela desconcertantepara os astrnomos que manejam otelescpio espacial Keplere deteta-

    ram o anormal padro luminoso enviado peloobjeto, chamado KIC 8462852 e situado a 1480anos-luz. O Keplerprocura automaticamenteestrelas que sofrem a intervalos regularespequenas quedas de brilho durante umas horasou uns dias, o que indica a possvel presena

    de um planeta a orbit-las. No entanto, coma KIC 8462852, passa-se algo raro: a sua lumi-nosidade cai 20 por cento, demasiado parapoder ser um planeta, e o fenmeno duraentre cinco e 80 dias. H quem acredite queo obscurecimento poderia dever-se a umamegaestrutura, construda por uma civilizaomais avanada do que a nossa, por exemplopara recolher energia da sua estrela. Esta hip-tese recupera uma das ideias mais inovadorasdo fsico Freeman Dyson, que especulou, nosanos 60, sobre a possibilidade de civilizaesavanadas construrem centrais energticasem torno das estrelas. No entanto, a maioriados astrnomos deixa esta explicao paraltima opo. Entre as outras causas propos-tas, conta-se uma cintura de asteroides, umanuvem de cometas ou, simplesmente, umaavaria do telescpio.

    Amicrogravidade acarreta consequncias fsicaspara os astronautas que passam longas tempo-

    radas no espao. Podem perder at dois por cento dasua massa ssea, e a sua coluna vertebral chega a cres-

    cer sete centmetros, visto que no tem de suportar opeso do corpo. Muitos deles acabam as misses comfortes dores de costas, e estima-se que tenham quatrovezes mais probabilidades de sofrer uma hrnia discal.Para evitar estes e outros males, o engenheiro aeroes-pacial australiano James Waldie concebeu o SkinSuit,que se cola ao seu utilizador como uma segunda pelee contraria parte dos efeitos da falta de gravidade so-bre o sistema msculo-esqueltico. O SkinSuit apertao corpo, desde os ombros at aos ps, com uma forasemelhante que sentimos quando estamos na super-fcie terrestre. Aps testes em voos parablicos, foiexperimentado em outubro pelo astronauta Andreas

    Mogensen, da ESA, na Estao Espacial Internacional(na foto). A anlise dos resultados ditar se ou nouma soluo para o problema.

    Ataviados para o espao

    A estrela

    obscura

    Duas explicaes para o obscurecimento da estrela: uma esfera de Dyson para aproveitara sua energia (em cima) ou uma nuvem de asteroides como a que rodeia Vega (em baixo).

    NASA

    /JPL-CALTECH

    SPL

    ESA

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    9/102ODELO RELGIOCOPPERHEAD WWW.POLICELIFESTYLE.COM POLICELIFESTYLE

    WatchPlanetSA

    213428308

    Omeujogo,asminhasregras

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    10/102

    Dentro da sua colaborao com oestado japons, para a reduode acidentes de trnsito, a Toyotaintroduziu no seu modelo de topo

    para o mercado domstico, o Crown, um novosistema que estabelece comunicao entreo automvel e infraestruturas dedicadas ins-taladas nas ruas das cidades, para alertar ocondutor de possveis situaes de perigo. Aprioridade foi dada aos cruzamentos, ondeacontecem 45 por cento dos acidentes maisgraves, sobretudo nas situaes de viragem direita, cruzando o trnsito que vem em sen-tido contrrio no esquecer que, no Japo,se conduz esquerda. Um emissor instaladoem alguns cruzamentos deteta se est a che-gar trfego de frente e emite um aviso para opainel de instrumentos do Crownque estiverprestes a virar direita, possivelmente atrsde um camio e por isso sem visibilidade. Ocondutor pode assim travar e evitar a manobrade risco. Outra funcionalidade j em funciona-

    Seguranacooperativa

    Motor

    8 SUPER

    mento o avisador de semforos, que acon-selha o condutor do Crowncom antecednciase deve acelerar ou travar, consoante o tempoque resta de sinal verde. Esta funo tem tam-bm a vantagem de avisar da probabilidadede pees a atravessar uma passadeira, apsuma viragem direita. O sistema est em cres-cimento e prev alertas para mais situaesde perigo, bem como a comunicao entreautomveis. Neste caso, ser necessrio queambos os automveis estejam equipadoscom o sistema, o que permitir ao carro dafrente avisar o de trs, por exemplo em casode engarrafamento sbito ou acidente na via.Esta funo pode at funcionar atravs docruise controladaptativo, que assim se tornatambm cooperativo. O governo japons eos municpios tomaram a responsabilidadede financiar e instalar as infraestruturas deaviso nas ruas, existindo para j apenas vinteem Tquio, com plano para aumentar o seunmero para cinquenta at maro de 2016.

    Raio X

    1

    2

    Anova gerao doAudi R8mudou maisdo que parece, olhando para a esttica

    exterior. Uma viso de raio-X permite des-cobrir as novidades tecnolgicas do modelomais desportivo da Audi, que se tornou umverdadeiro superdesportivo, rivalizandocom adversrios da Lamborghini e da Fer-rari. Custa 243 mil euros.1 Asa traseira em fibra de carbono.Em conjunto com o fundo plano, gera 140quilos de downforce velocidade mxima.2 Motor de 5,2 litros, V10 com injeodireta e indireta, a primeira para baixas car-gas. As duas funcionam a cargas intermdiase a segunda faz 85% do trabalho, a cargas

    7

    BMW X1 18d sDriveABMW substituiu o seu SUV mais pequenopor uma nova gerao, com o novoX1a utilizar uma nova plataforma, conhecidainternamente como UKLe partilhada com osmodelos da Mini. Alm de um claro aumentode eficincia, esta plataforma tem a grandediferena de passar a ter motor transversal,em vez de longitudinal, e de a trao s rodastraseiras ter mudado para as dianteiras, nasverses de trao apenas a duas rodas, como osDriveaqui testado. Tambm existem versesxDrivede quatro rodas motrizes. O motor 18d

    partilhado com outros modelos da marca,tratando-se de um 2,0 litros de 150 cavalos. Acarroaria aumentou claramente de altura, face

    ao anteriorBMW X1, tendo agora as propor-es convencionais de um SUV e uma posiode conduo mais alta, o que facilita a visibi-lidade sobre o trnsito. A colocao relativade bancos, pedais, volante e alavanca da caixa exemplar e, na verso conduzida, com caixade velocidades automtica de oito relaes, afacilidade de operao , logicamente, melhor.No interior, merecem destaque as funciona-lidades de ligao internet, o amplo espaodisponvel nos trs lugares traseiros e a elevadaqualidade dos materiais empregues, realmente

    no topo do segmento. Em termos dinmicos, aconduo em cidade mostra-se muito fcil, comboa resposta do motor Diesel a baixos regimes,

    CARRO DO MS

    Audi R8 V10 Plus

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    11/102

    Asegurana rodoviria continua a serum problema mundial. Onde quer

    que haja carros, h acidentes e fatalida-des. At agora, o papel das autoridadesestatais na guerra a este problema tem--se resumido rede viria e ao policia-mento: melhorar as estradas, melhorar asinaltica e depois policiar a velocidade

    mxima. pouco, como evidentementeos resultados tm demonstrado. Oestado japons parece estar a tomaruma nova abordagem, motivado por umobjetivo de reduo das fatalidades nasestradas em quase metade, nos prximosquatro anos. So metas muito ambiciosasque o governo japons traou para siprprio, por isso no ser suficiente con-tinuar com a mesma atitude de sempre, preciso fazer algo de novo. As autori-dades decidiram, assim, instalar disposi-tivos eletrnicos capazes de comunicarcom alguns automveis, equipados parao efeito, de que o primeiro exemplo oToyota Crown, como se pode ler nestaspginas. Para j, s o princpio desteprograma, com a monitorizao e o lan-amento de alertas aos automobilistasem cinco tipos de situaes de trnsitopotencialmente perigosas, mas outrassituaes esto a ser estudadas e vo serimplementadas, com o nmero de dispo-sitivos instalados a crescer rapidamente.Como todas as boas ideias, no Japo, asua disseminao sempre muito acele-rada, e o estado no tem problemas em

    chamar a si a responsabilidade de finan-ciar o programa, em colaborao comas autoridades locais. Em vez de gastaro dinheiro em asfalto e beto, gasta-oem novas tecnologias na esperana deresolver o problema antigo com umasoluo nova, em vez de insistir apenasna soluo de sempre. O pragmatismo uma das virtudes culturais dos japone-ses, sempre foi, e um motivo de invejapara aqueles que confundem o interessepblico com o interesse do pblico.

    Opinio

    O papel do estado

    altas. Tem desativao de cilindros, quandose rola nas quatro das sete relaes superiores,para poupar consumos. No tem turbocom-pressores, nem precisa, pois a potncia mxima de 610 cavalos s 8250 rotaes por minuto.OAudi R8 V10 Plusatinge os 330 quilmetrospor hora e acelera de 0 a 100 km/h em 3,2segundos.3 Caixa de dupla embraiagem e sete relaes,com patilhas no volante e funo bolina, quedesengata o motor da transmisso, quando sedesacelera a ritmos constantes, para poupargasolina. Consumo mdio: 12,3 l/100 km.4 Traves de composto de cermica e fibra decarbono, perfurados. So 12,5 kg mais leves doque os traves de ao. Maxilas de seis mbolos, frente, e quatro, atrs.

    5 Transmisso s quatro rodas comembraiagem multidiscos e comando eletro--hidrulico para distribuir binrios entreo eixo da frente e o de trs. Comea nos20 por cento para a frente e 80% para trs,mas pode chegar aos 100% para um doseixos, em situaes de diferena extrema deaderncia.6 Estrutura mista de alumnio com 13%de fibra de carbono nos pilares centraisdo tejadilho, na parede de separao entrehabitculo e motor e no tnel central. 10 kg mais leve do que se fosse toda emalumnio e 44% mais rgida.7 Suspenso de tringulos sobrepostoscom amortecimento ajustvel pelo condu-tor em trs nveis.

    Interessante 9

    4

    56

    FRANCISCO MOTADiretor tcnico doAuto Hoje

    3

    mas a suspenso podia ser um pouco maisconfortvel. Em autoestrada, a serenidadea bordo s incomodada pelo rudo domotor, que consegue consumos muitobons, na casa dos quatro litros aos 100 qui-lmetros, respeitando os limites de veloci-dade. Passando para estradas secundriascom muitas curvas, oX1 sempre seguro eprevisvel, mas no to divertido de guiarcomo os outrosBMW X, o que poderdesiludir os condutores mais entusiastas.O preo base desta verso de 41 194

    euros, mas a lista de opcionais to grandee completa que facilmente se acrescentamvinte mil euros.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    12/102SUPER10

    D. Afonso Henriques fundou o reino

    independente de Portugal, mas D. Afonso II,

    seu neto, fez deste reino um verdadeiro estado.

    Foi um medieval moderno.

    SUPER Portugueses

    P oucos tero sido os historiadores oumesmo os simples estudiosos queanotaram uma coincidncia curiosa:o reconhecimento internacional deD. Afonso Henriques como rei de Portugal estcontido na bula Manifestis Probatum(1179), dopapa Alexandre III; ora, em 1218, o papa Hon-rio III enviou a D. Afonso II uma outra bula cujottulo exatamente o mesmo e que, essencial-mente, confirma o que est expresso na pri-meira Manifestis Probatum. Pode no ter sidopor acaso que Honrio III escolheu aquele nome,mas certamente o pontfice no podia, ento,apreciar o significado da ao do rei portugus.No entanto, a sua bula como que consagra umasegunda fundao

    Tudo isto seria mais conhecido dos portugue-ses se o terceiro rei de Portugal no fosse umenjeitado da histria. Foi-o, essencialmente,por ser gordo e no ter no seu ativo um nicofeito militar.

    O que se h de fazer com um rei assim, paramais numa poca heroica de reconquista criste grandes feitos de armas? Fingir que ele no

    existiu. Mas esperem, o homem fez coisas queso, como hoje se diz, incontornveis! Bem,nesse caso, fala-se dele o menos possvel, evita--se atribuir-lhe diretamente os mritos e faz--se do tipo uma exceo gloriosa regra, umaovelha negra.

    O problema est em que o que sabemosde Afonso II no corresponde a essa imageme que impossvel no lhe atribuir os mritosde uma ao poltica que foi sua. Este homem,gordo por doena, sofrendo tambm de umadoena de pele (falou-se mesmo em lepra, mash outras hipteses), que no podia envergar

    uma armadura, foi um governante enrgicomas tambm espantosamente inovador.Apesar da sua frgil sade, no se poupou a

    O segundofundador

    esforos fsicos, in clusive para cumprir osseus deveres. Alis, talvez seja com ele quesurge em Portugal a noo do dever e da res-ponsabilidade do governante.

    Os nossos dois primeiros reis foram, essen-cialmente, batalhadores. No que Afonso I eSancho I no se tenham preocupado com avalorizao e o povoamento do territrio, masa expanso para sul e a defesa das conquistasfeitas tinham prioridade, mesmo porque eram,perante a Santa S (o mesmo dizer: perantea Europa), a razo de ser e a fonte de legitimi-dade da jovem monarquia portuguesa.

    Porm, aps o governo de dois bons chefesmilitares, faltava ao novo reino uma coernciainterna, um corpo legislativo comum e umadefinio clara do papel e da posio da coroacomo poder central. Sem esta estrutura bsica,esse Portugal recm-nascido podia facilmenteimplodir e desaparecer como unidade poltica,destrudo pelos jogos e pelas ambies dossenhores feudais.

    AGILIDADE POLTICA

    Foi esse o grande trabalho de Afonso II, e nose pode dizer que tivesse subido ao trono nasmelhores condies para o executar, bem pelocontrrio: por um lado, os almadas ameaavamos reinos cristos da pennsula e Portugalno era exceo; por ou tro, o testamento deD. Sancho I, prevendo largussimos benefciospara a Igreja e para os filhos do rei, legtimose bastardos, constitua um autntico desafio ideia de um poder central capaz de assumirplenamente as suas funes. Era, digamos, umtestamento feudal, mas o testamenteiro,esse, tinha um esprito bem mais moderno.

    D. Afonso II no estava disposto a sacrificara posio da coroa s decises do pai, larga-mente motivadas por remorsos e pelo medo

    das punies com que os eclesisticos oameaavam.

    Logo aps a sua aclamao, o novo rei noperde tempo. Comea por convocar cortespara Coimbra; so as primeiras de que hnotcia em Portugal e talvez, at, ele as tenhaconvocado ainda em vida do pai. destas Cor-tes de Coimbra (1211) que sai o primeiro corpolegislativo portugus e notvel a moderni-dade do seu esprito. A coroa afirma-se comosoberana, acima dos grandes e dos pequenos,mas ela tambm obrigada a respeitar as leis.

    Entretanto, D. Afonso II apressa-se a enfrentaro problema do testamento do pai. Paga a Romaos censos em atraso: o seu av proclamara oreino vassalo de So Pedro, mas nem ele nemo seu pai tinham sido vassalos pontuais nospagamentos devidos. Ora, o rei precisa de umatrgua com a Santa S para resolver as questesque se levantam com os legados de Sancho Iaos seus irmos e irms.

    A mais grave dessas questes relacionou--se com as heranas das infantas D. Teresa eD. Sancha, pois ambas tinham recebido vriasterras e castelos. Ora, o rei concordava em exe-cutar o testamento, desde que elas lhe pagas-sem os direitos rgios, e desde que aceitas-sem, para os castelos, alcaides que ele prprionomearia.

    As irms no se submeteram: apelaram paraRoma e tambm para Afonso IX de Leo. Nocaber neste espao a histria desse conflito,que envolveu guerra civil, uma invaso estran-geira, embaixadas e conversaes. Durou,

    alis, todo o reinado, pois s veio a terminarem 1223, o ano da morte de Afonso II.Terminou com a vitria do rei, mas, entre-

    O selo do rei foi usado em numerososdocumentos deste monarca que se distinguiucomo bom administrador do reino.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    13/102Interessante 11

    D. AFONSO II (11851223)

    O reie o reino

    Aao legislativa de D. Afonso

    II veio estabelecer, sem ambi-guidades, um princpio que, naEuropa medieval, estava longe deser geralmente aceite: o reino no propriedade do rei. A coroa est,como os seus sbditos, sujeita lei. interessante considerar algumasdas disposies legais estabelecidaspelas Cortes de Coimbra de 1211.Assim, por exemplo: ficava abolidaa prtica de a fazenda rgia ou osgrandes senhores poderem adquirirprodutos a preo inferior ao justo

    valor; salvo no caso de ataque aorei ou famlia real, a coroa nopodia tomar posse dos bens doscriminosos sentenciados, que per-tenceriam aos herdeiros legtimos;o matrimnio passava a ser livre eningum poderia ser forado a con-tra-lo; era proibida a vingana pri-vada; uma sentena de morte ou demutilao (que s podia ser dadapelo rei) nunca seria executadaantes que se passassem trintadias, para evitar que o monarcaaplicasse a justia em sanha, isto, dominado pela clera. Quantos confirmaes e s inquiries,visavam afirmar o poder real ecorrigir desvios que subtraamrendimentos devidos coroa, masvisavam igualmente fazer justiaa favor dos mais pobres, vtimasde abusos por parte dos grandes.Importa tambm mencionar o tes-tamento de D. Afonso II. Na poca,os testamentos reais eram fontes dedireito, e este, em particular, temum profundo significado. O rei,

    que j estava doente, estabeleceuque, se morresse antes da maiori-dade do herdeiro da coroa, a tuteladesse herdeiro e a tutela do prprioreino (isto , a regncia) ficariamentregues aos vassalos. Por vas-salos entende-se, evidentemente,os nobres, pois muito cedo parase falar, politicamente, em povo,mas o princpio assim enunciado muito claro: a regncia e a educa-o do herdeiro no so assunto defamlia e sim assunto de estado; o

    rei e a sua famlia no so donos doreino.

    tanto, custara muito sangue e muitos sacrifcios. significativo que D. Afonso II, poltico realista

    e hbil, capaz de jogar aos avanos e recuos,haja sido to persistente: tinha a perfeita noode que estava em causa a prpria estruturado estado, embora certamente no lhe desseesta designao.

    Assim, recuando quando sentia menos fora,avanando quando tinha vantagem, foi condu-zindo a luta contra as irms. Ao mesmo tempo,e para que as leis aprovadas em Coimbra noficassem letra morta, comeou a reorganizara administrao, apoiado no sbio chancelerJulio Pais, que j servira os seus dois anteces-sores.

    Um tal trabalho, evidentemente, no se presta composio de epopeias. No potico nemlrico criar um notariado para registar e dar valor

    jurdico a documentos privados. Nem criar oposto de tabelio rgio. Na verdade, a maior

    parte do governo de Afonso II foi consumidanestas e noutras tarefas semelhantes. Porm,se os poetas no encontraram nele inspirao e, de facto, no encontraram , a populaoencontrou grandes benefcios, diretos e indi-retos, em vida do rei e no futuro. De fac to,parte do mrito de D. Dinis foi conseguir imporcomo prtica aquilo que fora concebido peloseu av, D. Afonso II.

    Alm da reforma administrativa e legislativa,alm do conflito com as irms, o rei gordo tinhaainda outro objetivo prioritrio: impor a auto-ridade da coroa ao alto clero e travar o exage-

    rado enriquecimento da Igreja. O que, automa-ticamente, o colocava em conflito com Roma.A segunda bula Manifestis Probatum, j referida,

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    14/10212 SUPER

    JOO AGUIAR

    Este artigo foi publicado originalmente

    na SUPER 122. Joo Aguiar faleceu em 2010.

    marcou somente uma curta trgua, tal como opagamento do censo em atraso no fora maisdo que um preldio suave. Afonso II teve con-flitos com o bispo de Lisboa e com o arcebispode Braga que, alis, fugiu para Roma e foiexcomungado por duas vezes.

    NO GUERREOU, MAS VIAJOU verdade que, pela primeira vez desde a

    fundao da monarquia, as tropas portuguesascombateram sem ter frente o seu rei. Este reino tinha fsico para isso, nem se interessoupela expanso do territrio. Protegeu as ordensmilitares, que considerou importantes para adefesa; respondeu ao apelo de Afonso VIII deCastela, enviando-lhe um contingente de tropasque fez muito boa figura na clebre batalha deNavas de Tolosa, ao lado dos efetivos castelha-

    nos, aragoneses e franceses, que esmagarama ofensiva almada; e permitiu, sem se meterdemasiado no assunto, que Alccer do Sal fossedefinitivamente conquistada aos mouros.Poderemos critic-lo, talvez, por no se teraplicado mais afinal de contas, a sua ausnciaem Navas de Tolosa permitiu que Afonso VIII seapresentasse como o campeo da cristandade.A bem dizer, Afonso II de Portugal no estavainteres sado nesse papel, pelo menos antes deconquistar o seu prprio reino para a auto-ridade da coroa.

    Nesta conquista interna, o rei no se poupou.

    Percorreu incessantemente o pas para fazerconfirmaes, ou seja, para avaliar a validadedas doaes feitas pelos monarcas anteriores

    e confirm-las ou no. Isto mexeu, e muito,com o orgulho e os interesses dos gran dessenhores, incluindo os membros da hierarquiaeclesistica, mas D. Afonso II mostrou umaenergia e uma persistncia pouco comuns.

    No ficou por aqui. Em 1220, ordenou quefossem feitas inquiries sobre os direitos dospossuidores de terras. Tal como as confir-maes, esta iniciativa foi uma inovao emPortugal que, de resto, se antecipou a outrosreinos, como a Frana, em mais de vinte anos.Estas primeiras inquiries poucos efeitostero tido, tanto mais que o rei morreu trsanos depois e que o seu sucessor imediato,Sancho II, no mostrou ser propriamente umgnio administrativo, mas tiveram o grandemrito de dar um exemplo e estabelecer umprincpio.

    Num balano, ainda que breve, podemosdizer que Afonso II teve um reinado decisivo paraa nossa histria e foi, portanto, um verdadeirosuperportugus. Exagero? Devaneio potico?Nem tanto. Foi preciso aquele homem obeso enada guerreiro, mas inteligente, determinadoe politicamente honesto, para estabelecero primado do direito sobre a fora, para lan-ar as bases de uma administrao capaz deassegurar aquilo a que poderamos (se nofosse anacrnico) chamar unidade nacional.Tarefa pouco vistosa, mas muito, muito impor-tante.

    SUPER Portugueses

    Os sucessores

    curioso verificar a evoluo polticaportuguesa a seguir morte deD. Afonso II. Como se sabe, os doissucessores imediatos foram ambos filhosseus: D. Sancho II e D. Afonso III. ComSancho II, a prioridade volta a ser oesforo militar de reconquista; por mui-tos defeitos que possam ser apontadosa este monarca, h que reconhecer quefoi um excelente general. Assim, o reino,cuja coerncia interna e cuja mquinaadministrativa haviam sido aliceradaspor Afonso II, lana-se de novo naexpanso territorial. Porm, Sancho IIfoi um mau administrador e um polticoinbil; essas falhas, pagou-as ao serafastado do poder e substitudo pelo

    irmo, Afonso, conde de Bolonha. EmD. Afonso III operou-se como que umasntese positiva dos reinados anteriores,ou seja, este rei juntou as qualidades dopai e do irmo mais velho: capacidadepoltica e administrativa associada a umaalta capacidade de comando militar. Nose perdeu, portanto, a orientao dadapor Afonso II, e se a este se devem asprimeiras cortes de que h registo, ao seufilho Afonso III devem-se as primeirascortes (Leiria, 1254) em que tomaramassento representantes dos concelhos,

    que assim passaram a participar na vidapoltica, tal como o clero e a nobreza.

    D. Sancho II foi um bom general, masmau administrador. Afonso II no esteve presente n a batalha de Navas de Tolosa, mas enviou as melhores tropas.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    15/10213Interessante

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    16/102SUPER14

    Nos tempos antigos, o Tejo foi palco de solenese festivas entradas de princesas em Lisboa

    o equivalente, no passado, ao tapete vermelhoque leva as estrelas de Hollywood da limusina

    entrada da cerimnia dos scares.

    Histrias do Tejo

    O s casamentos reais eram de con-venincia. No importava a idade,a beleza ou a personalidade daprincesa, desde que politicamentefosse um bom partido alguma estrangeirade uma famlia nobre de um qualquer estadoeuropeu que, nesse momento, convinhapuxar para o lado dos amigos. Muitas vezes,os reis nem conheciam a mulher ou meninacom quem iam trocar falsos votos de fideli-dade eterna. No caso portugus, quase todasas noivas reais tinham um ponto em comum:uma faustosa entrada em Lisboa pelo Tejo.No havia melhor forma de impressionar umafutura rainha.

    Entre os casamentos por interesse, poucostiveram a importncia do matrimnio do prn-cipe Afonso, filho de Joo IV. O pai reconquis-tara a autonomia de Portugal, face dinastiados Filipes, em 1640, e uma inteligente unio doherdeiro Coroa seria meio caminho andadopara a sua consolidao (a morte de Teodsio,

    o primognito do rei portugus, lanara o frgilAfonso na direo do trono). Frana, reinoinimigo de Espanha, foi o terreno de caaescolhido: Lus XIV, o famoso Rei-Sol e a cara doabsolutismo (O estado sou eu), partilhavaa mesma vontade e disponibilizou uma meninado seu sangue. Em 1655, ficou ento acordadoo casamento entre Afonso e Maria FranciscaIsabel de Saboia duas crianas de doze e noveanos. No ano seguinte, Joo IV morreu e o filhotomou o seu lugar como Afonso VI, com a me,Lusa de Gusmo, a assegurar a regncia at orapaz completar 18 anos.

    Em 1666, Maria Francisca, j com a mais doque casadoira idade de 20 anos, partiu de Parispara La Rochelle, na costa francesa do golfo

    da Biscaia. A, em junho, foi assinado o matri-mnio, por procurao, sem que os noivosalguma vez se tivessem visto. A nova rainha dePortugal embarcou, no dia 4 do ms seguinte,num navio oferecido pelo tio, o duque deBeaufort, rumo capital portuguesa. Umaesquadra de dez vasos de guerra acompa-nhava Maria Francisca, no fossem os espa-nhis tentarem intercetar o navio e rapt-la. Odote real a bordo, equivalente a 324 contos dereis da poca, tornava a jovem um alvo aindamais apetitoso.

    A viagem acabou por correr sem incidentes.A 9 de agosto, pouco mais de um ms apsa partida, a frota entrou no Tejo e fundeouao largo da Junqueira. O conde de CasteloMelhor, primeiro-ministro, subiu embarca-o, para cumprimentar a rainha e conduzi-laao Pao Real de Alcntara, onde a esperavaAfonso. Contam os cronistas da poca que abeleza de Maria Francisca entusiasmou o rei,embora os retratos da francesa no lhe pare-

    am fazer a devida justia, certamente porincompetncia dos artistas. Numa igreja dopalcio, junto margem do rio, o casal confir-mou o casamento.

    UNIO DE POUCA DURAA curta vida da unio entre Afonso VI e

    Maria Francisca ficou marcada pela maiorhumilhao pblica que um rei portugusalguma vez passou e provocada pela rai-nha. Poucos dias depois do casamento, j aconsorte se queixava ao seu confessor quedificilmente o pas teria um sucessor ao trono.

    Seguiu-se um julgamento em que mais demeia centena de testemunhas jurou que o reiera impotente. O papa anulou o casamento

    por falta de consumao, Afonso VI abdicoue desterrou-se nos Aores e Maria Franciscacasou-se com o cunhado, Pedro II, novo rei de

    Portugal. O pobre Afonso morreria em cati-veiro em setembro de 1683; ironicamente, asua desleal ex-mulher sucumbiu a uma doenatrs meses mais tarde, com 37 anos.

    D. Pedro II apanhou-se vivo, sem filhosvares, e imediatamente ordenou aos seusconselheiros que lhe procurassem esposa.Desta vez, o rei no escolheu s cegas: man-dou um homem da sua confiana espreitar aovivo as vrias princesas disponveis e escre-ver-lhe um pormenorizado relatrio sobrecada uma. Optou pela germnica Maria SofiaIsabel de Neuburgo.

    Em agosto de 1687, Maria Sofia (j casadacom Pedro II por procurao) largou de Hei-delberg e subiu o Reno at ao mar do Norte.

    Passadeira

    de rainhas

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    17/102Interessante 15

    Este artigo uma adaptaode um doscaptulos do livroHistrias do Tejo,de Lus Ribeiro(A Esfera dosLivros, 2013)http://bit.ly/1hrY8Zc

    Uma embarcao emprestada pelo rei ingls,Jaime II, levou-a a Plymouth, de onde reembar-cou para Lisboa, escoltada por uma armada.

    Chegou Barra ao final da manh do dia 12de agosto. O rio engalanou-se para recebera rainha, em cujo ventre tantas esperanastinham sido depositadas (Maria Francisca sdera luz uma menina de frgil sade, a prin-cesa Isabel Lus, que morreria aos 21 anos).Navios de guerra cobertos por bandeirasencontravam-se ancorados em perfeita posi-o de boas-vindas, todas as igrejas lisboetasbadalavam os seus sinos, foguetes faziam-seouvir nas alturas, canhes das fortalezas dis-paravam salvas e centenas de barquinhos, detodas as cores, tamanhos e feitios, flutuavam

    no Tejo o povo queria ver a sua soberana deperto, e quem que no possua um simplesbote acotovelava-se nas margens.

    Ao contrrio do seu irmo Afonso, Pedro IImostrou-se um cavalheiro e no hesitouem ir pessoalmente buscar a rainha. Com o

    caminho aberto por 24 bergantins coloridosrepletos de membros da nobreza, a galeotareal aproximou-se do iate, impulsionada pordezenas de remadores vestidos com roupasberrantes e cintilantes. O rei subiu ao convs,desceu ao quarto da rainha, deu-lhe a mo eacompanhou-a afetuosamente at galeota,rodeados por um povo em xtase, num dosmais romnticos momentos alguma vez pre-senciados por aquelas guas. Desembarcaramnum cais da Casa da ndia coberto por ricos esumptuosos ornamentos, construdo de pro-psito para o evento, e seguiram para a capela

    real do Pao da Ribeira, sempre debaixo dasmais vivas e sonoras aclamaes, para rece-berem a bno nupcial. Um matrimnio de

    conto de fadas, sabe-se, nem sempre resultanuma feliz e fiel vida conjugal: Pedro II tevevrias amantes e perfilhou dois rapazes depelo menos duas delas, enquanto durou ocasamento.

    Ao contrrio da sua antecessora, MariaSofia alimentou o amor e a admirao dopovo, nos anos seguintes, mas no teve umavida longa. Morreu 12 anos depois da gloriosachegada a Lisboa, a dois dias de fazer 32 anos,e depois de gerar oito crianas (sublinhe-se:em 12 anos), incluindo o futuro D. Joo V, oRei-Sol portugus.

    FILHA DE IMPERADORA nora de Maria Sofia Isabel de Neuburgo

    percorreu praticamente os mesmos passos.Maria Ana de ustria (Maria era um nome popu-lar entre a realeza europeia), filha do impera-dor alemo Leopoldo, casou com D. Joo V seu primo direito pelo lado da me porinterposta pessoa, embarcou no mar do Norte,passou por Inglaterra e navegou para Lisboa,guardada por 18 navios.

    Maria Ana viu a capital portuguesa pela pri-meira vez a 27 de outubro de 1708, mas no

    contou com o mesmo empenho lrico por partede Joo V que o seu sogro dedicara a MariaSofia de Neuburgo. O rei no se ter dado aotrabalho de abandonar o Pao da Ribeira. Arainha desembarcou no meio dos festejos quea ocasio exigia e foi conduzida para junto dorei numa excurso de sete magnficos coches.

    Nos anos seguintes, a frieza de D. Joo Vpara com a sua mulher manteve-se ao con-trrio do calor que reservava para as suasinmeras amantes, incluindo vrias freiras ,e a rainha encontrou um companheiro no pr-prio Tejo. Ladeada pelas suas damas de com-

    panhia, dava longos passeios pela margemdo rio, tentava no perder o lanamento denovos navios dos Estaleiros da Ribeira e at

    D. Amlia foi a ltima rainha portuguesaa chegar a Lisboa pelo Tejo, embora j semvida. Morreu no exlio em 1951, e uma fragatafoi buscar o seu corpo a Frana. Milhares depessoas esperavam-na nas margens do rio.

    http://bit.ly/1hrY8Zchttp://bit.ly/1hrY8Zchttp://bit.ly/1hrY8Zc
  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    18/10216 SUPER

    embarcava em bergantins para navegar nasreconfortantes guas do esturio, coisa aindapouco comum poca. Num dia ou noutro,cruzava-se no Tejo com o marido, que ia mui-tas vezes de barco at Belm, Pao de Arcos eCarcavelos para pescar. Ou no.

    Mais de cem anos aps a chegada de MariaAna (na verdade, 101 anos depois), outra rai-nha chamada Maria protagonizou, no Tejo,mais um famoso episdio da histria portu-guesa desta vez, usou a passadeira parafazer o caminho inverso. Estava-se no finalde novembro de 1807, as tropas de Napoleopalmilhavam os ltimos quilmetros antes deLisboa e a famlia real embarcava apressada-

    mente na frota ancorada no rio, preparadapara navegar para o Brasil e assim escaparaos franceses. Na lufa-lufa, com toda a genteespicaada pelo medo, a rainha Maria I soltoua frase No corram tanto, que vo pensarque estamos a fugir. Por estas e por outras,a regncia estava nas mos do filho, Joo VI,e D. Maria I passou aos anais como RainhaLouca.

    Passou-se mais meio sculo e outra popu-lar rainha consorte entrou em Lisboa peloTejo: Estefnia de Hohenzollern-Sigmaringen,mulher de D. Pedro V , eternizada como Dona

    Estefnia. A sua chegada teve um interesseacrescido a viagem serviu para inaugurara corveta real Bartolomeu Dias, o primeiro

    navio portugus com motor (a vapor, claro).A rainha de origem germnica, casada, comohabitual, por procurao, assomou a Belm nodia 17 de maio de 1858, com 20 anos de idade(era dois meses mais velha do que o marido), econfirmou a unio na Igreja de So Domingos,no dia seguinte, ao lado de D. Pedro V. O reie a rainha no se conheciam, mas logo cres-ceu um enorme carinho entre os dois jovens.Passeavam de mo dada, trocavam presentes,visitavam hospitais e faziam obras de caridadejuntos. A felicidade durou pouco. Estefniamorreu de difteria 15 meses depois de chegara Portugal, aos 22 anos; Pedro sucumbiu febre tifoide dois anos depois, com 24.

    EM VIDA E NA MORTEA morte do casal, sem descendncia, obri-

    gou o irmo mais novo de Pedro a subir aotrono. A Lus I calhou em sorte a princesaitaliana Maria Pia de Saboia. O casamento foiassinado por representantes seus, em Turim,no dia 27 de setembro de 1862. Dois diasdepois, o rei enviou rainha um longo e por-menorizado programa das festas, para assegu-rar que a italiana no seria surpreendida peloprotocolo, chegada ao Tejo, marcada parao dia 6 de outubro. Referindo-se-lhe como

    minha muito amada e prezada esposa ( oque se chama amor antes da primeira vista recorde-se que nunca os dois se tinham sequer

    visto), Lus I descreveu como decorreriam oscinco dias de comemoraes. Assim que hou-vesse notcias da sua aproximao ao Tejo, oseu irmo Augusto, duque de Coimbra, iria aoseu encontro, ainda ao largo da costa; pas-sagem da Barra, os fortes de So Julio e deSo Loureno disparariam salvas, seguidaspor todas as outras torres e navios de guerraancorados no rio; o rei e a sua famlia subiriam,ento, a bordo, para cumprimentar a rainha;s no dia seguinte Maria Pia desembarcaria noTerreiro do Pao.

    O casamento durou 27 anos, at a rainhaconsorte ficar viva de D. Lus I. A italianaviveu para passar pela dolorosa morte do

    filho e do neto, no regicdio de 1908, e morreuexatamente nove meses aps a implantaoda Repblica.

    A sua nora, a inglesa Amlia de Orlees, viriaa ser a derradeira rainha de Portugal e tambma ltima a chegar a Lisboa pelo Tejo, mas jsem vida. Obrigada a abandonar Portugal em1910, Dona Amlia morreu no exlio em 1951.A moderna fragata Bartolomeu Dias(hom-nima da corveta que transportara as rainhasEstefnia e Maria Pia) foi buscar o seu corpo aFrana e transportou-o para Lisboa. chegada,milhares de pessoas esperavam-na nas mar-

    gens do rio mesmo morta, a ltima rainha foirecebida com as honras das suas antecessoras,ao longo dos sculos.

    Histrias do Tejo

    Cinco dias de festa

    O extenso programa das celebraes chegada de Maria Pia a Lisboa, enviadopor D. Lus, no deixava de fora um nico

    pormenor. As fortalezas de mar e terra e osnavios de guerra portugueses daro as salvasdo estilo. Sero permitidas as iluminaes,os repiques de sinos e quaisquer outras de-monstraes de regozijo pblico. [] Oprimeiro dia de gala ser o da chegada deSua Majestade a Rainha, destinado para amesma augusta senhora receber, a bordo dacorveta que a conduz, a visita da Famlia Real.O segundo dia ser do desembarque de SuaMajestade a Rainha para a sua entrada soleneem Lisboa, e para a celebrao das cerimniasda ratificao do real consrcio e bnos

    nupciais. Em se anunciando telegraficamenteestarem vista as embarcaes que conduzemSua Majestade a Rainha e o squito respetivo,sair Sua Alteza Real o Serenssimo SenhorInfante Dom Augusto a cumprimentar SuaMajestade. [] Assim que chegar foz doTejo, as torres de S. Loureno e S. Julio daBarra, e todas as outras fortalezas e os naviosde guerra daro uma salva real. Alm destas

    salvas gerais, cada uma das fortalezas dar,por seu turno, uma salva de continnciaquando pela frente delas passar a corveta real.

    Nos vasos de guerra, embandeirados de gala,haver conjuntamente estas demonstraesdo estilo, dadas pelas equipagens sobre as

    vergas. [] A corveta fundear em frente aoCais de Belm. Nessa mesma ocasio, SuaMajestade El-Rei, acompanhado de toda aFamlia Real, e seguido de uma guarda dehonra de cavalaria, sair do Pao da Ajuda pa-ra aquele cais. Ali estar preparada a galeota,em que El-Rei h de embarcar com a FamliaReal, a fim de irem a bordo da corveta visitarpessoalmente Sua Majestade a Rainha. Notrnsito para a corveta Sua Majestade El-Rei

    ser acompanhado pelo Ministrio, pelo Con-selho de Estado e pelos oficiais-mores da CasaReal, em escaleres do Estado.[] QuandoSua Majestade El-Rei embarcar na corveta,e quando dali sair para terra, as fortalezas enavios do Estado daro uma salva real. []No dia seguinte, pelas nove horas e meia damanh, a corveta, levantando ferro, vir anco-rar em frente ao Cais das Colunas. Nesse dia,

    ter lugar a entrada e receo pblica de SuaMajestade a Rainha em Lisboa, desde o lugardo desembarque na Praa do Comrcio at

    igreja do extinto convento de S. Domingos,destinada para a celebrao das cerimniasreligiosas dos desposrios reais, e desde aque-le templo at ao Pao da Ajuda. entrada daPraa do Comrcio, entre o Cais das Colunase a esttua equestre, haver um pavilho paraSuas Majestades receberem as felicitaes dacmara municipal de Lisboa. No terceiro dia noite tencionam Suas Majestades honrarcom a sua Augusta presena o teatro nacio-nal de Dona Maria II. No quarto dia, SuasMajestades recebero no Pao da Ajuda, pelauma hora da tarde, as felicitaes do corpo

    diplomtico, e seguidamente as homenagensda Corte, tribunais, cmaras municipais deLisboa e Belm, e mais corporaes e pessoasque costumam ser admitidas a semelhantessolenidades. noite, iro Suas Majestadesassistir representao lrica no Teatro de S.Carlos. No quinto dia, Sua Majestade El-Reipassar revista a todas as tropas formadas emgrande parada no Campo Pequeno.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    19/10217Interessante

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    20/102SUPER18

    No certo que se torne visvel a olhonu, mas constitui boa expectativa,tanto mais que se trata de um

    cometa que, quase de certeza,no voltar a passar pelo Sol. Descoberto emfinais de 2013, no mbito de um programa deobservao do cu desenvolvido na Universi-dade do Arizona, o cometa receberia o nomedo referido projeto (Catalina) e no deixaria deser seguido com o objetivo de lhe determinara trajetria e prever a evoluo do seu brilho medida que se aproximasse do Sol.

    Deduziu-se j que se tratar de um cometarecentemente sado da nuvem de Oort, umaregio que envolve o sistema solar a uma dis-tncia estimada em 50 mil unidades astron-

    micas (uma unidade astronmica a distnciaentre a Terra e o Sol) e que recebeu o nomedo holands Jan Oort, o segundo astrnomo

    (depois de Ernst Opik) que, como justificaopara o facto de surgirem cometas de todas asdirees do espao, sugeriu a existncia de

    uma nuvem de aglomeraes de materialcongelado, numa distribuio esfrica em tornoda parte central do sistema solar.

    Para alm disso, o que as observaes j per-mitiram calcular indica que o Catalina tem umarbita aberta, significando isso que, depois deter passado o mais perto possvel do Sol (a umpouco mais de 120 milhes de quilmetros),em meados de novembro, continuar viagempara o exterior do sistema solar, o que, a con-firmar-se, ter como consequncia no voltara ser visto da Terra.

    Depois de visibilidade favorvel para o hemis-

    frio sul do nosso planeta por se projetarem regies da esfera celeste visveis daquelaparte da Terra , o Catalina emergiu recen-

    Caadores de Estrelas

    Vem a um cometa!temente no horizonte das nossas latitudes eelevar-se- durante algum tempo. No fosse ofacto de a observao s ser possvel de madru-

    gada, dir-se-ia ser uma boa prenda de Natal,mesmo que se tivesse de utilizar binculos etelescpios para o contemplar. Mesmo assim,valer a pena o sacrifcio de retirar algumashoras ao sono e apreciar alguns aspetos que,para alm do cometa, o cu proporcionar. Porexemplo, na madrugada do dia 8 de dezembro,uma eventual tentativa de ver o Catalina porvolta das seis da manh ser, certamente,suspensa pela bela viso do brilhante planetaVnus, situado ligeiramente acima do finocrescente que a Lua apresenta. Vnus estarento esquerda de uma estrela notvel

    Espiga, da constelao da Virgem sendo bemvisvel, um pouco mais acima e no alinhamentodas trs estrelas que constituem a cauda da

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    21/102

    O cu de dezembro

    N o cu deste ms, j possvel ver,ao princpo das noites, as mais be-las constelaes de inverno, das quaisse destaca Orionte, que aparece j com-

    pletamente acima do horizonte, emboraainda suficientemente baixa para que aatmosfera terrestre prejudique a nitidezda magnfica nebulosa (M42) que ocu-pa a regio central da constelao, umpouco abaixo das trs Marias, as trsestrelas alinhadas que, em conceesantigas, correspondiam ao cinturo deum gigante ali imaginado. esquerda eum pouco acima , encontra-se a cons-telao dos Gmeos, regio do cu deonde parecer cair a chuva de estrelascadentes conhecida pelo nome de G-minidas, exatamente porque o radianteda chuva de meteoros que todos osanos ocorre com maior intensidade por

    volta de 14 de dezembro se situa naquelaconstelao. Se o cu no estiver nubla-do, a ocasio ideal, no s porque todaa constelao est acima do horioznte ese podem ver meteoros em todas as di-rees, mas tambm porque, tendo sidoLua Nova trs dias antes, ainda no hluar que apague os traos luminosos demenor intensidade. Como habitualmen-te, as previses mais otimistas indicamque poderemos ver at 120 meteoros em

    cada hora, embora tal suposio impli-que a observao e contagem a partir deum local escuro e por um mtodo (umgrupo de vrias pessoas ou um equipa-mento fotogrfico que possa cobrir todaa esfera celeste) que garanta que se vtodo o cu, de modo a no escapar um.Cinco dias depois, no dia 19, ocorreroutra chuva, ento muito menos co-piosa, admitindo-se que a taxa seja deapenas cinco meteoros por hora. Nestaocasio, o radiante situa-se na constela-o da Cabeleira de Berenice, uma cons-

    telao constituda por estrelas de pe-quena luminosidade e que se situa perto

    da extremidade da cauda da Ursa Maior.Nesta poca, a Cabeleira de Berenice sse avistar a partir do incio da madru-gada, o que significa que nas primeiras

    horas da noite se avistaro ainda menosmeteoros do que os cinco previstos. Estems de dezembro no terminar semum outro fenmeno fcil de observar,que envolve alguma beleza e, neste caso,no exige qualquer sacrifcio. Trata-seda ocultao de uma estrela notvelpela Lua e logo ao princpio da noite.No dia 23, antevspera de Natal, poucodepois de o Sol se esconder, comeama ser visveis as estrelas de maior brilho.Uma delas Aldebar, da constelao doTouro estar ligeiramente esquerdada Lua, ento a dois dias de Lua Cheiae, devido ao deslocamento do nosso sa-tlite natural em relao s estrelas, umaobservao atenta e ao longo de algumtempo (uma ou duas horas, por exem-plo) permitir ver o bordo esquerdo daLua a tapar Aldebar. O acontecimentocomear s 18 horas, ou seja, nessemomento a estrela ficar por detrs daLua e s voltar a ser avistada um poucomais de uma hora passada, por volta das19h05. O momento mais interessanteser talvez o incio da ocultao, poisa Lua, como ainda no alcanou a fase

    de Lua Cheia, no mostrar o bordoesquerdo completamente iluminado, doque resultar o apagar repentino daestrela numa parte do cu onde nada se

    v. No entanto, a poro de limbo lunarno iluminada est l! Depois, esperaruns minutos mais do que uma hora para

    ver Aldebar reaparecer no bordo lunarque vista desarmada ou com bincu-los se v no lado direito, agora comoque colada ao limbo e separando-seprogressivamente da Lua que, em cadahora que passa, se deslocar para a es-

    querda uma poro de cu equivalenteao seu dimetro.MXIMO FERREIRADiretor do Centro Cincia Viva de Constncia

    Vnus e a Lua, em 9 de outubro passado.

    Ursa Maior, a estrela Arcturo, com a sua carac-terstica colorao avermelhada. O cometaencontra-se sobre a linha imaginria que liga

    Vnus a Arcturo, embora mais perto do planetado que da estrela.

    At ao final do ano, haver boas condiespara olhar o cometa, tendo em conta a suaaltura acima do horizonte. Ainda que exista aexpectativa de que ele se torne observvel vista desarmada, ser melhor encarar a hip-tese de ser necessrio recorrer a binculosou telescpios ou, de preferncia, a procurarlocais (observatrios, clubes de astronomia)onde existam pessoas e equipamentos queajudem a alcanar o objetivo de forma o maisagradvel possvel.

    Tirada em 11 de agosto, esta foto doObservatrio de Siding Spring (Austrlia)mostra o cometa Catalina, descobertoem 2013, em todo o seu esplendor.

    IANSHARP

    JOSEPHBRIMACOMBE

    Interessante 19

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    22/102SUPER20

    Mapa do Cu

    Vire-se para sul e coloque a revista sobrea cabea, de modo que a seta fique apontadapara norte. Se se voltar em qualquer das outrasdirees (norte, este, oeste), pode rodar

    a revista, de modo a facilitar a leitura, desdeque mantenha a seta apontada para norte.Os planetas e a Lua estaro sempre pertoda eclptica. O cu representado no mapa(no que se refere s estrelas) corresponde s21h30 do dia 5. A alterao que se verifica aolongo do ms, mesma hora, no muitoimportante. No entanto, com o decorrerda noite, as estrelas mais a oesteiro mergulhando no horizonte,enquanto do lado este vo surgindooutras, inicialmente no visveis.

    Como usar

    As fases da Lua

    Quarto Minguante Dia 3 s 07h40Lua Nova Dia 11 s 10h29

    Quarto Crescente Dia 18 s 15h14Lua Cheia Dia 25 s 11h11

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    23/102Interessante 21

    NORTE

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    24/102SUPER22

    O Parlamento Europeu deliberou hpoucas semanas sobre a questoda neutralidade da rede e sobre ofim do roamingno espao europeu.O que foi mais noticiado na comunicao socialfoi a questo do roaming, mas o que era ver-dadeiramente importante era o resto! Emprimeiro lugar, porque a regulamentao daneutralidade da internet afeta uma grandediversidade de servios e, em segundo lugar,porque todas as estatsticas demonstram quehoje gastamos mais tempo a processar dadosnos nossos telemveis do que a fazer chama-das de voz, e processar dados significa, emtermos prticos, navegar na internet.

    Tim Berners-Lee, o criador da World WideWeb, emitiu uma declarao antes da votao,na qual defendia, como tem vindo a fazer nosltimos anos, que a manuteno de uma internetlivre e aberta fundamental para estimular ainovao e o progresso social, e que a neutrali-dade da rede o elemento central que tem per-mitido manter a internet livre e aberta desdea sua criao.

    primeira vista e numa leitura superficial

    (que foi aquela que a maioria das pessoas fez),a legislao agora aprovada pelo ParlamentoEuropeu at afirma o objetivo de preservar aneutralidade da rede, mas, como refere TimBerners-Lee, a verdade que deixa muitosalapes em aberto que permitem aos distri-buidores de sinal criar uma internet a vriasvelocidades. Ou seja, os operadores compro-metem-se a no discriminar no servio queatualmente propem, mas na condio depoderem criar vias rpidas para certos ser-vios especializados. Ou, em alternativa, pode-rem isentar do pagamento do trfego certos

    servios e fornecedores de contedos, dando--lhes assim uma vantagem comparativa sobretodos os concorrentes. Ambas as coisas so,

    ao fim ao cabo, uma internet no-neutral.H cerca de um ano, o debate sobre a neutra-

    lidade da rede esteve igualmente muito acesonos Estados Unidos e, aps grande presso daopinio pblica e dos movimentos ativistas, opresidente Obama acabou por recomendar entidade reguladora que categorizasse a inter-net como um servio de telecomunicaese no como um servio de informao, colo-cando-a assim a salvo das ameaas mais ime-diatas neutralidade.

    POR QUE RAZO IMPORTANTE?Porque que a neutralidade da internet to

    importante? A questo fica mais clara quandose explica com um exemplo simples. Hoje emdia, considerando que os pacotes de informa-o que circulam na internet so tratados todosda mesma forma, uma pessoa que decida criarum blogue tem as mesmas possibilidades deser ouvida e encontrar audincia que qualquerwebsiteimportante. Com uma internet a duasvelocidades, esse blogue pessoal navegaria nafaixa lenta da internet, enquanto o sitedereferncia pagaria um preo para navegar na

    faixa rpida. O que isso significa, do pontode vista social, que o potencial nivelador eempoderador da internet seria muito maislimitado do que hoje. Do ponto de vista eco-nmico, por outro lado, isso quereria dizer quenovos servios propostos na internet teriam deenfrentar uma barreira de entrada mais limita-dora do que aquela que enfrentam atualmente.Muitos dos novos servios que todos os diassurgem na internet no poderiam despontarse esse fosse o contexto econmico vigente.

    Por isso que podemos ver o estado atual dainternet como uma oposio entre o valor social

    da abertura e o valor econmico do fecha-mento. Por um lado, a abertura e a facilidadede acesso permitidas pela internet so um ele-

    Sociedade Digital

    Uma sinistra

    alianaAs duas grandes ameaas neutralidade

    da internet so os governos, por um lado,

    e as empresas, por outro. Em nome de uma

    internet mais controlvel e mais rentvel,

    pode estar a formar-se entre ambas uma sinistra

    aliana prejudicial aos cidados europeus.

    mento que permite aumentar a capacitaodos indivduos e das comunidades, constituindoportanto uma melhoria da sua vida social. Poroutro lado, a abundncia de informao (e decanais de informao) que a internet implica um elemento desvalorizador dos modelos denegcio associados produo e distribui-o de informao. Ou seja, a abertura gera a

    abundncia, e o fechamento, neste contexto,gera uma forma artificial de escassez que tornamais vivel a criao de novos modelos denegcio associados internet. Se houver umadistino entre quem pode navegar na faixarpida da internet e quem s pode usar afaixa lenta, a internet assume uma naturezaescassa que contradiz artificialmente nos os seus objetivos iniciais como os seus pr-prios fundamentos tecnolgicos.

    Estamos, portanto, perante dois interessescontraditrios: o interesse social em manter aabertura e a liberdade da internet, atravs da

    sua neutralidade, e o interesse econmico noseu fechamento e aproveitamento comercial,de que a internet a duas velocidades um

    Tim Berners-Lee, o pai da WWW,defendeu em http://webfoundation.orguma internet livre e aberta para todosos cidados, mas a aliana entregovernos e empresas levou a melhor.

    http://webfoundation.org/http://webfoundation.org/
  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    25/102

    elemento estruturante. No fundo, trata-se depermitir ou no que a internet deixe de sero meio de comunicao neutro e aberto quehoje para se transformar em mais um canalde entretenimento para explorao comercial. isso que est em causa quando se fala emservios especializados, na regulamentaoeuropeia recentemente aprovada.

    POLTICA E NEGCIOSDesde que existe a internet tal como hoje a

    conhecemos que se discute com alguma regu-laridade se a maior ameaa sua abertura eneutralidade ( sua liberdade, portanto) virdo poder poltico, preocupado com a perdade controlo que a desregulao implica,ou do poder econmico, assustado com adeteriorao dos seus modelos de negcio tra-dicionais. Ora, o que torna a situao presenteparticularmente periclitante o facto de opoder poltico e o poder econmico terem

    neste caso um interesse simbitico no con-trolo da internet e na sua compartimentao.Uma internet a vrias velocidades, com acesso

    reservado e regulamentado a cada umadelas, interessa tanto aos governos como sempresas. Esta realidade ainda mais evi-dente na Europa, porque, ao contrrio do queacontece nos Estados Unidos, ns no temossequer um setor de internet suficientementeforte para defender a atual regulamentaode acesso rede.

    Compete portanto aos cidados, se real-mente acharem que os benefcios sociaisde uma internet aberta e livre merecem serdefendidos, meterem mos obra para o faze-rem, seja apoiando as campanhas nesse sen-tido, seja pressionando os seus representantespolticos para o fazerem.

    Como dizia Tim Berners-Lee num eventorecente realizado na Europa, se ns gasta-mos 95 por cento do nosso tempo a usar ainternet, ento devemos usar cinco por centoa defend-la para que continue aberta e livre.Porque uma internet que no seja aberta e

    livre, que no esteja igualmente ao alcance detodos os cidados, no a internet tal como aimaginamos.

    H uns meses, o Facebookanunciouo lanamento daquilo a que cha-

    mouInstant Articles. Uma nova forma depublicar contedos noticiosos naquelarede social que vivem dentro da pr-pria aplicao do Facebooke que, devido

    a esse facto, carregam mais depressa eso mais amigos do utilizador. Os edito-res e as empresas de mediareagiram comexcitao novidade, por vrias razes.Em primeiro lugar, porque no existeatualmente outro stio que concentretanta audincia como o Facebook; emsegundo lugar, porque osInstant Articlespreveem uma partilha de receitas publici-trias entre o fornecedor de contedo e arede social. Para os executivos de media,essa partilha de receitas poderia acabarpor ser mais rentvel do que tentar atrair

    os utilizadores do Facebooka visitaremos seus sites, para ento a lhes servirempublicidade. Parecia (parece), portanto,um negcio vantajoso para todas as par-tes: para os utilizadores, que recebem oscontedos mais bem apresentados; parao Facebook, que recebe mais contedos;para os prprios media, que obtm maisreceita pelos seus contedos.O problema o controlo. Houve queminvocasse Fausto, sublinhando que osmediaque embarquem nesta aventuraesto de certo modo a vender a alma aodiabo, permitindo ao Facebookcontro-lar o que resta da internet e desistindode tentar captar audincias com os seusprprios argumentos.O que est aqui em causa, no fundo, outra forma de limitar a neutralidade darede. Se estesInstant Articlescarregammuito mais depressa nos telemveis dosutilizadores, isso quer dizer que todosos outros contedos carregam maisdevagar, e que s os produtores de con-tedos que aceitam os termos do acordoproposto pelo Facebookestaro no grupodos que navegam na faixa rpida. Se

    consideramos que o Facebook a maiorrede social onlinee que para muitos utili-zadores ela quase sinnimo de internet(, comprovadamente, por exemplo, aprincipal fonte de notcias para a maioriados utilizadores), ento aplica-se nestecaso tudo o que foi dito no texto prin-cipal sobre o interesse das empresas emfechar os utilizadores dentro da rede eo interesse social em que ela seja o maisaberta e neutra possvel.

    Opinio

    A outra ameaa

    JOS MORENO

    Mestre em Comunicao e Tecnologias de [email protected]

    23Interessante

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    26/102SUPER24

    Fotografia

    Dana astral. A 26 de maro, a Luainterps-se entre a Terra e o Sol. O eclipsesolar viu-se melhor em terras mais a norte,como as ilhas Svalbard, a meio caminhoentre a Noruega (a que pertencem) e o Polo

    Norte. Esta foto foi a grande vencedorada edio do concurso em 2015.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    27/10225

    A arte de registar o universo

    Retratos deESTRELAS

    O Real Observatrio de Greenwich (Reino Unido)

    criou em 2009 um concurso anual para elegeras melhores imagens do cosmos. Este ano,

    houve mais de 2700 fotos em competio, que

    os jurados tiveram de analisar at chegarem s 32

    premiadas. Estas so algumas das vencedoras.

    Interessante

    LUCJAMET

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    28/102SUPER26

    A exposio das fotos vencedorasestar patente at junho de 2016

    PAOLOPORCELLANA

    SEBASTIANVOLTMER

    CHAPHIMWON

    G

    Cu de seda. Uma delicada auroraboreal ergue-se sobre o perfil de

    uma montanha do Parque Nacionalde Abisko, no norte da Sucia.

    Tudo gira. O Pico do Pr do Sol a terceira montanha mais alta de Hong

    Kong (869 metros) e um bom lugar paraolhar o cu. Uma longa exposio registouo movimento das estrelas durante a noite.

    tangente. O cometa C/2013 A passajunto a Marte e recorda-nos de forma

    inquietante que, por vezes, estes objetos seaproximam perigosamente dos planetas.

    Chamuscados. A nossa estrelad-nos vida, mas melhor no chegarmuito perto. Esta violenta labaredaalcanou um comprimento de maisde 700 mil quilmetros, quase o dobroda distncia entre a Terra e a Lua.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    29/102Interessante 27

    JAMENPERCY

    DAVIDTOLLIDAY

    Protagonista. A uns 1500 anos-luzdos problemas humanos, a nebulosa

    de Orion a rainha do cu noturno.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    30/102SUPER28

    A maioria das fotos foi feita comcmaras acopladas a telescpios

    LEFTERISVELISSARATOS

    MICHAELVANDOORN

    ANDRSPAPP

    Carrocel de cores. A galxia do Tringulo gira em espiral a quase trs milhes de anos-luzde distncia. No ncleo, podem ver-se estrelas em tons azulados e nebulosas avermelhadas.

    Simetria perfeitaAs plancies e as craterasda parte do nosso satlitebanhada pela luz solarveem-se aqui com grandenitidez, assim como oterminador lunar, a fronteiraque separa a zona iluminadada que permanece ocultanuma escurido absoluta.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    31/102Interessante 29

    Dardo espacialH coisas que s se

    veem uma vez na vida:o cometa C/2014 E2(Jacques) atravessa

    o universo tendo comopano de fundo a nebulosa

    NGC 896, situada na

    constelao de Cassiopeia,a 6000 anos-luz de ns.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    32/102SUPER30

    Fsica

    A cincia do zero absoluto

    Um frio deRACHAR

    O lugar mais glido conhecido no se encontra na

    Antrtida nem no espao exterior, mas num dospoucos laboratrios que competem para alcanar

    o limite das baixas temperaturas: 273,15 C,

    altura em que at os tomos se imobilizam.

    N o prximo ano, o stio mais frio douniverso estar cerca de 400 quil-metros acima das nossas cabeas,na Estao Espacial Internacional.O responsvel ser o projeto Cold Atom Labora-tory, integrado por uma espcie de frigorficoatmico que ser colocado no laboratrio orbi-tal para tentar algo de extraordinrio: descerabaixo dos 100 picokelvin, apenas dez bilion-simos acima do zero absoluto (ou 273,15 C),uma temperatura a que praticamente cessa omovimento dos tomos.

    Para podermos compreender o que istosignifica, h que recordar que a temperatura, essencialmente, uma medida da agitaoatmica, ou seja, um reflexo da energia dostomos. O zero absoluto seria, pois, um pontoem que no existiria qualquer tipo de energiacalorfica que se pudesse extrair de uma subs-

    tncia. Porm, se os tomos e as molculas seencontram, segundo a fsica clssica, numacontnua vibrao (exceto quando se alcanao zero absoluto), um sistema nunca poderencontrar-se num estado de energia zero,devido s flutuaes qunticas. O chamadoprincpio da incerteza formulado por Heisen-berg no o permite.

    Isso significa que, medida que nos aproxi-mamos de 273,15 C (equivalente a zero grausKelvin, ou 0 K), os efeitos mecano-qunticosso cada vez mais importantes. Encontramosum exemplo disso no hlio, a nica subs-

    tncia na natureza que no congela a umapresso normal, o que se deve ao facto de,

    mesmo nos limites do zero absoluto, os tomosno deixarem de vibrar, mesmo que debilmente.

    Ora, a atrao que surge entre dois tomosdo levssimo hlio muito pequena. At a escas-sssima energia que o estado fundamentalpossui no zero absoluto suficiente para impedirque se unam, formando uma rede slida. Assim,o hlio permanece lquido mesmo quandosofre um arrefecimento intenso: para se tornarslido, seria necessrio submet-lo a umapresso superior a 25 atmosferas. Poderamosperguntar se o mesmo acontece com o hidro-gnio, o elemento mais leve do cosmos. A res-posta no. A energia da unio que surge entreos tomos de hidrognio maior do que as flu-tuaes qunticas associadas ao zero abosluto:o hidrognio solidifica.

    PROEZA IMPOSSVEL

    Em 1908, o fsico holands Heike K. Onnesconseguiu o que parecia, na altura, quaseimpossvel: liquefazer hlio. Tratava-se de umaverdadeira faanha, sobretudo se tomarmosem considerao que esse elemento ferve a269 C. Depois disso, Onnes utilizou o hliolquido para congelar outras substncias, comoo mercrio, que solidifica a 38,89 C. Dessemodo, descobriu uma das propriedades ocultasno frio: ao medir a condutividade eltrica domercrio, observou que quanto menor era atemperatura melhor conduzia a corrente. A269 C, a resistncia eltrica desaparecia por

    completo. Acabava de descobrir a supercon-dutividade.

    ANDREWW.B.LEONARD/GETTY

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    33/102Interessante 31

    Gelado de CO2. O gelo seco dixido

    de carbono slido. Embora no funda,sublima a 78 C, isto , passa diretamente

    do estado slido para o gasoso.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    34/102SUPER32

    O ultrafrio permitiu fabricarum novo estado da matria

    pelo indiano Satyendra Nath Bose, em 1925: ocondensado de Bose-Einstein (CBE), um novoestado de agregao da matria que antecedeo slido. Ambos teorizaram que, quando sebaixa a temperatura de uma substncia atse aproximar do zero absoluto, transforma-senum CBE.

    ESTRANHAS PROPRIEDADESOra isso s pode acontecer com partculas

    que sejam boses, isto , cujo nmero qunticode spinseja um nmero inteiro (0, 1, 2 e 3). Aspartculas, ou grupos de partculas, com um

    spinsemi-inteiro (1/2, 3/2 ou 5/2), como o doseletres ou dos protes, so designadas porfermies e no partilham o mesmo destino. Porexemplo, o segundo elemento mais abundantedo universo, o hlio, pode ser encontradoem duas verses ou istopos: o hlio-4, quepossui dois protes e dois neutres, e o hlio-3.O primeiro um boso; o segundo, um fermio.Essa subtil diferena faz os dois apresenta-rem propriedades muito diferentes: assim,enquanto o 4He alcana a superfluidez abaixode 2,17 K (270,98 C), o 3He f-lo a tempera-turas inferiores a 0,000.93 K.

    Alm disso, possvel apinhar todos os bosesque quisermos no mesmo espao e ao mesmotempo, algo impossvel com os fermies. O que

    Curiosamente, Onnes passou ao lado deuma das propriedades mais supreendentesdo hlio lquido que surgem a tais temperatu-ras: a superfluidez. Trata-se de um fenmenosemelhante ao da supercondutividade, masrelacionado com a viscosidade.

    Todos os lquidos oferecem uma certa resis-tncia a fluir devido frico que surge entreas molculas do prprio fluido e as das paredesdo recipiente que o contm. No caso do hlio,quando a temperatura desce abaixo de 271 C,a condutividade trmica aumenta, passandoa ser 200 vezes maior do que a do cobre, e a

    sua viscosidade desce para um dcimo mil-simo da do hidrognio gasoso. Por outraspalavras, desaparece e o hlio transforma-senum superfluido. As consequncias do fen-meno so extraordinrias. Como no existefrico com as paredes do recipiente, no hmaneira de cont-lo, pois sobe por elas acimae derrama-se. Alm disso, escoa-se por qual-quer orifcio, mesmo com um dimetro inferiora poucos milsimos de milmetro.

    A superfluidez foi descoberta, em 1937, pelorusso Piotr Kapitsa e pelos canadianos JohnAllen e Austin Misener. No ano seguinte, o fsico

    Fritz London sugeriu que essa transio paraa superfluidez poderia ser um exemplo de umfenmeno j descrito por Albert Einstein e

    significa isso? A temperaturas normais, os to-mos de um gs, seja de boses ou de fermies,esto distribudos por todo o volume do reci-piente que os contm. Porm, quando soextremamente baixas, de poucos bilionsimosde grau acima do zero absoluto, os bosesperdem a sua identidade e comportam-secomo se fossem um nico supertomo. o CBE.

    O princpio de excluso de Pauli no favo-rvel aos fermies: como dois no podem ocu-par o mesmo estado quntico, tambm noconseguem formar um condensado. Se dois seunirem para ficarem ligados, o resultado serum boso, que ir comportar-se como tal.Assim, os eletres so fermies, mas podemformar uma associao denominada paresde Cooper, em honra de Leon N. Cooper, umdos autores da teoria padro da supercondu-

    tividade, pelo que podem formar um CBE. Seo processo de criao de um par de Cooperpudesse ser copiado num gs de, por exem-plo, hlio-3, representaria um avano notvelna compreenso de um dos grandes mistriosda fsica, com importantes consequncias tec-nolgicas: a supercondutividade de alta tem-peratura.

    At 1995, tudo o que se pudesse dizer doCBE era pura teoria. Nesse ano, Wolfgang Ket-terle, do Instituto Tecnolgico do Massachu-setts, Carl Wieman, da Universidade do Colo-rado em Boulder, e Eric Cornell, do Instituto

    Nacional de Padres e Tecnologia dos EstadosUnidos, criaram o primeiro CBE. Para isso, ostrs investigadores arrefeceram 2000 tomos

    VOLKERSTEGER/AGE

    Gelo quntico. Em 2001, Wolfgang Ketterle(na foto) Eric. A. Cornell e Carl E. Wiemanpartilharam o Nobel pelos seus estudossobre o condensado de Bose-Einstein.

    Milagre! Alguns graus acima do zeroabsoluto, a resistncia eltrica de algunsmateriais desaparece, um fenmeno quese aplica nos manes supercondutorespara conseguir a levitao magntica.

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    35/102Interessante 33

    de rubdio a uma temperatura de apenas 170bilionsimos de grau acima do zero absoluto.

    esse o cenrio em que se insere o referidoprojeto Cold Atom Laboratory, da Estao Espa-cial Internacional, cujo objetivo observar oque acontece quando se colocam em contatodois CBE. A teoria assegura que eles no se mis-turam como um gs normal, mas podem inte-ragir como as ondas num lago: camadas finase paralelas de matria separadas por outrasigualmente finas de espao vazio. Por outraspalavras: um CBE pode unir-se a um tomo deoutro e no produzir qualquer tomo. Um dosprincipais objetivos da experincia estudaressa surpreendente propriedade, alm damais bvia, a de misturar gases a temperaturasmuito baixas.

    Trata-se de combinar diferentes tipos de

    tomos que podem flutuar juntos quase total-mente livres de perturbaes, o que nos per-mitir medir interaes muito fracas, explicao fsico molecular Robert Thompson, um dosimpulsionadores do projeto, doJet PropulsionLaboratoryda NASA. O certo que o estudodestes gases ultra-arrefecidos num meio demicrogravidade, algo inacessvel na superfciedo nosso planeta, poderia permitir aos cientis-tas encontrar novos fenmenos qunticos athoje ignorados.

    MATRIA CONDENSADA

    Durante o sculo XX, ir caa das temperatu-ras mais baixas era uma das diverses de umaestranha espcie de cientistas, os fsicos da

    Armadilhapara neutrinos

    Um exemplo de como esta corridapara chegar temperatura mais

    prxima do zero absoluto pode iluminaraspetos obscuros de outros campos dafsica pode ser encontrado no CUORE

    (Observatrio Criognico Subterrneopara Eventos Raros). Em setembro doano passado, os cientistas que participamno projeto, uma colaborao entre 130investigadores de Itlia, Estados Unidos,China, Espanha e Frana, reduziram atemperatura de um recipiente de cobrede um metro cbico e 400 kg de pesoa 273,144 C. Durante quinze dias, oInstituto de Fsica Nuclear do Laborat-rio Nacional de Gran Sasso, o pico maisalto dos montes Apeninos, alojou o me-tro cbico mais frio do universo conheci-

    do. Contudo, o objetivo do CUORE no obter baixas temperaturas, mas estudaras propriedades dos neutrinos e procurarprocessos estranhos, como aqueles quepossam proporcionar pistas sobre a ma-tria e a energia escuras.

    matria condensada. O que est subjacente aessa denominao, aparentemente frvola, acompreenso das propriedades da matria e odesenvolvimento de novas tecnologias, comoos SQUIDS (dispositivos supercondutores deinterferncia quntica, utilizados, por exemplo,nas magnetoencefalografias), ou o desenvolvi-mento de relgios atmicos precisos.

    Seja como for, impossvel prever o quepoder aparecer ao arrefecer a matria. Mesmoa temperaturas criognicas, muito acima das quetemos vindo a referir, muitos materiais com-portam-se de forma inslita. Assim, a borrachatorna-se extremamente quebradia. Se intro-duzirmos uma corrente eltrica num anelmetlico arrefecido at se tornar um semicon-dutor, a corrente continua a circular pelo anel epode ser detetada horas depois. As possibilida-

    des tecnolgicas de tudo isto so inimaginveis.Por exemplo, a capacidade de um semicondutorpara manter uma corrente inspirou a criao demdulos experimentais de memria para com-putador que funcionam a temperaturas extre-mamente baixas.

    No mesmo sentido, uma descoberta feita,em 2012, pelo fsico Leo Kouwenhoven e pelasua equipa da Universidade Tecnolgica deDelft (Pases Baixos), pode significar um gigan-tesco passo em frente no desenvolvimento deuma nova forma de computao. Os investi-gadores descobriram, dentro de um pequeno

    semicondutor de vidro, arrefecido a uma tem-peratura inferior do espao exterior, umaestranha partcula conhecida por fermio de

    Majorana, um fermio que a sua prpriaantipartcula. Confirmaram, assim, a teoriadefendida, em 1937, pelo esquivo cientista ita-liano Ettore Majorana, que desapareceria semdeixar rasto no ano seguinte. Segundo MichaelFreedman, o gnio da matemtica que dirige aEstao Q da Microsoft, empenhada no desen-volvimento de um qubittopolgico capaz decodificar os dados de uma forma atualmenteinimaginvel, essa descoberta abre as portasao futuro computador quntico. Tudo graasao frio extremo.

    ARREFECIMENTO POR ETAPASComo se consegue arrefecer uma substncia

    a temperaturas to baixas? O segredo faz-lopor etapas. As primeiras so semelhantes aosmtodos que j existiam na poca em que Onnes

    conseguiu liquefazer o hlio. Um baseia-se naexpanso de um gs comprimido. Vemo-lo dia-riamente, por exemplo, quando utilizamos umspraypara limpar o teclado do computador. medida que sai, o aerossol arrefece. O outro,muito mais eficaz, baseia-se na evaporao deum lquido induzida por bombear o seu vapor.Para compreender o processo, temos de sabercomo se comportam os fluidos escala mole-cular. Um lquido (ou um gs) uma coleo demolculas que se movem a diferentes velocida-des, seguindo a distribuio de Maxwell: algu-mas deslocam-se muito devagar, outras muito

    depressa, mas a maior parte f-lo a uma veloci-dade intermdia entre as duas anteriores.O que acontece quando uma das molculas

    GETTY

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    36/102SUPER34

    bombearmos essas molculas para fora do reci-piente, o lquido continuar a perder energiae as molculas mais rpidas continuam a esca-par. O efeito observvel que o lquido vaiarrefecendo.

    No entanto, no podemos faz-lo para sem-pre. Se ficarmos sem a presso do vapor sobrea superfcie do lquido, no poderemos conti-nuar a bombear vapor. Isso ocorre quando seatinge determinada temperatura, que dependedo tipo de substncia que estejamos a utilizar.Por exemplo, com o oxignio, ocorre ao alcan-ar algumas dezenas de graus Kelvin; com ohlio, quando se atinge cerca de 1 K, ou 272 C.

    Curiosamente, possvel alcanar por esteprocesso, aproveitando as diferentes proprie-dades dos dois istopos do hlio, temperaturasde 300 milikelvin. Heinz London explicou como

    faz-lo num congresso sobre baixas tempera-turas realizado em Oxford, em 1951. Teve a ideiade bombear hlio-3 num meio que tivesse

    rpidas de um lquido se aproxima da superfcie?Consegue escapar-se. Do nosso ponto de vista,o que ocorre que se forma vapor sobre asuperfcie do lquido. Porm, isso no podeacontecer constantemente. H um momento

    em que a superfcie fica saturada de vapor. Oque acontece se comearmos a extrair o vaporque se formou? Nessa altura, nunca atinge asaturao e, por conseguinte, as molculasrpidas podem continuar a escapar-se.

    A velocidade das molculas de um lquidoest relacionada com a sua temperatura:quanto maior a velocidade, maior a energia.Assim, quanto mais depressa se movem aspartculas que formam um fluido, maior ser asua temperatura. Se as molculas mais velozes(as que tm mais energia) so as que passama fazer parte do vapor que mencionmos, o

    lquido est a perder energia, algo que deixade suceder quando se suspende a fuga e osistema lquido-vapor alcana o equilbrio. Se

    Alguns laboratrios conseguemchegar a 0,000.000.000.1 K

    Exploso de borracha. A muito baixastemperaturas, muito materiais comportam-sede forma estranha. A borracha, por exemplo,torna-se to quebradia como o vidro

    Abaixo de zero

    Embora os fsicos tenham conscinciade que no se pode alcanar exata-

    mente o zero absoluto, por muito que searrefea um sistema, alguns continuam ainterrogar-se sobre se no seria possvelconceber uma forma de fazer o term-metro ir mais longe e marcar uma tempe-ratura absoluta negativa. partida, pare-ce um contrassenso. Como alcanar umatemperatura negativa quando se tem depassar pelo zero? Ou no ser assim? Aprimeira coisa a tomar em considerao que um sistema com temperaturanegativa armazena muito mais calor doque outro com temperatura positiva. Isto: se forem colocados em contato, o detemperatura negativa ceder energia aode positiva. Neste ponto, h que ter emlinha de conta que, aqui, a temperaturano se define como um movimentomolecular, mas como o intercmbio

    de energia e entropia, uma quantidadeassociada ao nvel de desordem de umsistema: se acrescentarmos energia a umsistema com temperatura positiva, a suaentropia aumentar; noutro com tem-peratura negativa, diminuir. Claro queestamos perante um fenmeno estrita-mente quntico, sem paralelo no mundoque vemos com os nossos olhos. Porm,no apenas uma ideia terica: em 2013,investigadores da Universidade Ludwig--Maximilians, de Munique, e do InstitutoMax-Planck, de Garching (Alemanha),

    desenvolveram um gs atmico que pos-sui temperaturas negativas.

    GETTY

  • 7/23/2019 Super Interessante - Dezembro 2015

    37/102Interessante 35

    maior pureza do que o vcuo. Ser que existealgo assim? Sim: um superfluido. Assim, se sub-mergirmos 3He num superfluido, poderemoscontinuar a bombear mesmo a temperaturazero. O mais interessante que o 4He se tornaum superfluido a pouco mais de 2 K, pelo quepodemos us-lo como um parceiro silencioso.Se utilizarmos uma mistura de ambos os is-topos de hlio nas quantidades adequadas,atingiremos o nosso objetivo: um refrigerador

    de diluio.Contudo, nem mesmo com esse engenhoso

    dispositivo se consegue alcanar temperaturasa roar o zero absoluto. Para isso, temos derecorrer tcnica da desmagnetizao adiab-tica, que utiliza campos magnticos num tipode materiais denominados paramagnticos,como o alumnio, os quais se transformam emmanes na sua presena. Quando se retira ocampo, deixam de s-lo, perdem energia e, porconseguinte, a temperatura diminui.

    Assim, possvel alcanar 0,002 K; se, em vezde tomos, a mesma tcnica for aplicada aos

    ncleos atmicos, possvel descer abaixo de0,000.01 K. Em 2004, Rudi Grimm e os seuscolegas da Universidade de Innsbruck (ustria)

    aproveitaram o fenmeno para obter um con-densado ferminico (semelhante ao CBE, mascom superfluidez) a partir de um gs de ltioarrefecido a 5 bilionsimos de grau acima dozero absoluto.

    RECORDMUNDIALPor sua vez, Juha Tuoriniemi e o seu grupo

    do Laboratrio de Baixa Temperatura (Finln-dia) arrefeceram um pedao de rdio a 100 pK:

    0,000.000.000.1 graus acima do zero absoluto.Demoraram nove anos a completar os prepa-rativos. O seu objetivo no era bater o recordda baixa temperatura (embora ainda dete-nham o ttulo), mas estudar o magnetismo dosncleos deste metal que reveste, habitual-mente, as joias de ouro branco. Cada um dosmilhares de milhes de ncleos presentes nessepedao de rdio possui um diminuto momentomagntico, que podemos imaginar como sendoa agulha de uma bssola. Ao descer a tem-peratura, os cientistas esperavam que essesmomentos congelassem (ou seja, que ficassem

    a apontar todos na mesma direo), comoacontece com o cobre ou a prata. Todavia, issono aconteceu, o que abre as portas a novas

    interrogaes. Alm disso, descobriram que ordio se transforma em supercondutor a umatemperatura de apenas 325 microkelvin.

    Os estudos com CBE levaram-nos desco-berta de novas propriedades da matria ocultasno frio extremo. A fsica dinamarquesa LeneVestergaard Hau, da Universidade de Harvard(Estados Unidos), utilizou um CBE para abran-dar a luz at conseguir det-la. Ao projetar umfeixe laser em direo a um CBE, Hau reduziu

    a sua velocidade de uma bicicleta e, depois,conseguiu par-la, mant-la engarrafadadentro do CBE, observ-la, br