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Superior Tribunal de Justiça AgInt no RECURSO ESPECIAL 1.583.852 - RS (2016/0035115-0) RELATORA : MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES AGRAVANTE : INSTITUTO LING ADVOGADOS : VINICIUS LUBIANCA E OUTRO(S) - RS050820 LEONARDO SANTANA DE ABREU - RS043188 AGRAVADO : FAZENDA NACIONAL EMENTA TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PRETENSÃO RECURSAL DE RECONHECIMENTO DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL, INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DO CPC/73, POR IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE MATÉRIA DE DIREITO CONSTITUCIONAL, PELO STJ, BEM COMO POR INCIDÊNCIA, NA ESPÉCIE, DAS SÚMULAS 7 DO STJ E 279 E 283 DO STF. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra acórdão publicado na vigência do CPC/73. II. In casu, cuida-se, na origem, de Mandado de Segurança, no qual a parte impetrante, ora agravante, pleiteou o não recolhimento do Imposto de Importação, do Imposto sobre Produtos Industrializados e do ICMS, em relação à importação de esquadrias de alumínio e vidros, para serem instalados em seu centro cultural, em Porto Alegre/RS, ao argumento de que teria ela preenchido os requisitos legais, previstos nos arts. 9º, IV, c, e 14 do CTN, de modo que faria jus à imunidade tributária, estabelecida no art. 150, VI, c, da Constituição Federal, na condição de instituição de educação, sem fins lucrativos. Regularmente processado o feito, sobreveio a sentença denegatória do Mandado de Segurança. Interposta Apelação, o Tribunal de origem negou provimento ao recurso. Houve a interposição simultânea dos Recursos Extraordinário e Especial, sendo certo que, no Especial, a parte impetrante indicou contrariedade aos arts. 9º, IV, c, e 14 do CTN, reafirmando que teria ela preenchido os requisitos previstos nesses dois dispositivos legais, de modo que faria jus à imunidade tributária, estabelecida no art. 150, VI, c, da Constituição Federal. III. Não obstante as razões recursais, o Tribunal de origem decidiu, com base no conjunto fático-probatório dos autos, que não houve comprovação dos requisitos necessários para o gozo da imunidade tributária, previstos nos arts. 150, § 4º, da CF/88 e 12 da Lei 9.532/97. Sendo assim, o Recurso Especial é manifestamente inadmissível, seja porque não constitui ele via recursal adequada para a análise de matéria de direito constitucional, seja porque não foi impugnada, especificamente, a aplicação do art. 12 da Lei 9.532/97 – o que atrai a incidência, por analogia, da Súmula 283/STF –, seja, ainda, porque o acolhimento da pretensão recursal pressupõe o reexame das provas produzidas no processo, o que é vedado, em recursos de natureza extraordinária, a teor das Súmulas 7/STJ e 279/STF. IV. Agravo interno improvido. Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 1 de 25

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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.583.852 - RS (2016/0035115-0)

RELATORA : MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃESAGRAVANTE : INSTITUTO LING ADVOGADOS : VINICIUS LUBIANCA E OUTRO(S) - RS050820

LEONARDO SANTANA DE ABREU - RS043188 AGRAVADO : FAZENDA NACIONAL

EMENTA

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.

PRETENSÃO RECURSAL DE RECONHECIMENTO DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.

INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL, INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DO

CPC/73, POR IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE MATÉRIA DE DIREITO

CONSTITUCIONAL, PELO STJ, BEM COMO POR INCIDÊNCIA, NA ESPÉCIE, DAS

SÚMULAS 7 DO STJ E 279 E 283 DO STF. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.

I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra

acórdão publicado na vigência do CPC/73.

II. In casu, cuida-se, na origem, de Mandado de Segurança, no qual a parte impetrante,

ora agravante, pleiteou o não recolhimento do Imposto de Importação, do Imposto sobre

Produtos Industrializados e do ICMS, em relação à importação de esquadrias de

alumínio e vidros, para serem instalados em seu centro cultural, em Porto Alegre/RS, ao

argumento de que teria ela preenchido os requisitos legais, previstos nos arts. 9º, IV, c,

e 14 do CTN, de modo que faria jus à imunidade tributária, estabelecida no art. 150, VI,

c, da Constituição Federal, na condição de instituição de educação, sem fins lucrativos.

Regularmente processado o feito, sobreveio a sentença denegatória do Mandado de

Segurança. Interposta Apelação, o Tribunal de origem negou provimento ao recurso.

Houve a interposição simultânea dos Recursos Extraordinário e Especial, sendo certo

que, no Especial, a parte impetrante indicou contrariedade aos arts. 9º, IV, c, e 14 do

CTN, reafirmando que teria ela preenchido os requisitos previstos nesses dois

dispositivos legais, de modo que faria jus à imunidade tributária, estabelecida no art.

150, VI, c, da Constituição Federal.

III. Não obstante as razões recursais, o Tribunal de origem decidiu, com base no

conjunto fático-probatório dos autos, que não houve comprovação dos requisitos

necessários para o gozo da imunidade tributária, previstos nos arts. 150, § 4º, da CF/88

e 12 da Lei 9.532/97. Sendo assim, o Recurso Especial é manifestamente inadmissível,

seja porque não constitui ele via recursal adequada para a análise de matéria de direito

constitucional, seja porque não foi impugnada, especificamente, a aplicação do art. 12

da Lei 9.532/97 – o que atrai a incidência, por analogia, da Súmula 283/STF –, seja,

ainda, porque o acolhimento da pretensão recursal pressupõe o reexame das provas

produzidas no processo, o que é vedado, em recursos de natureza extraordinária, a teor

das Súmulas 7/STJ e 279/STF.

IV. Agravo interno improvido.

Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 1 de 25

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Herman Benjamin, Og Fernandes e Mauro Campbell Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 09 de maio de 2017(Data do Julgamento)

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES Relatora

Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 2 de 25

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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.583.852 - RS (2016/0035115-0)

RELATÓRIO

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES: Trata-se de Agravo interno,

interposto por INSTITUTO LING, em 23/06/2016, contra decisão de minha lavra,

publicada em 13/06/2016, assim fundamentada, in verbis:

"Trata-se de Recurso Especial, interposto pelo INSTITUTO LING,

fundamentado na alínea a do permissivo constitucional, contra acórdão

do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim ementado:

'IMUNIDADE DO ART. 150, VI, 'C', DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS.

IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ENTIDADE EDUCACIONAL SEM

FINS LUCRATIVOS.

O reconhecimento da hipótese de imunidade está condicionada a

que os bens importados pela entidade sejam destinados à

prestação de seus serviços específicos, relacionados a suas

finalidades essenciais, na forma do § 4º do art. 150 da CF' (fl.

406e).

Opostos Embargos Declaratórios, foram rejeitados (fls. 957/960e).

No Recurso Especial, alega o recorrente ofensa aos arts. 9º e 14 do

CTN, asseverando, em síntese, que preenche os requisitos legais para

usufruir da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, c da Constituição

Federal (fls. 416/427e).

Apresentadas contrarrazões (fls. 455/456e), o Recurso Especial foi

admitido, na origem (fl. 465e).

A irresignação não pode prosperar.

De acordo com o art. 102, III, da Constituição Federal, compete ao

Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,

cabendo-lhe julgar, mediante Recurso Extraordinário, as causas

decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a)

contrariar dispositivo da Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade

de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local

contestado em face desta Constituição; d) julgar válida lei local

contestada em face de lei federal.

Por sua vez, o art. 105, III, da Constituição Federal prevê que compete

ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em Recurso Especial, as causas

decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais

Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e

Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei

federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local

contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 3 de 25

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divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

No presente caso, o Tribunal de origem, ao negar provimento à

Apelação interposta pela ora recorrente, decidiu à luz de disposições

normativas de direito constitucional, in verbis:

'Trata-se controvérsia acerca da legitimidade da cobrança do

Imposto de Importação, do Imposto sobre Produtos

Industrializados e do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços quando da importação de mercadorias por instituição

educacional sem fins lucrativos, considerando a imunidade

insculpida no artigo 150, inciso VI, 'c', da Constituição Federal de

1988, in verbis :

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

(...)

VI - instituir impostos sobre:

(...)

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,

inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos

trabalhadores, das instituições de educação e de assistência

social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

(...)

§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas 'b' e 'c',

compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,

relacionados com as finalidades essenciais das entidades

nelas mencionadas.

No que se refere ao alcance da norma constitucional, o Supremo

Tribunal Federal já pacificou a questão, firmando o entendimento

de que a imunidade das instituições de educação e de assistência

social, sem fins lucrativos, abarca também o Imposto de

Importação e o Imposto sobre Produtos Industrializados, que

incidem sobre bens que serão incorporados ao patrimônio da

entidade, para utilização na prestação de seus serviços

específicos. Nesse sentido:

'A imunidade prevista no art. 150, VI, c, da CF, em favor

das instituições de assistência social, abrange o Imposto

de Importação e o Imposto sobre Produtos

Industrializados, que incidem sobre bens a serem

utilizados na prestação de seus serviços específicos'

(STF, RE 243.807/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Ilmar Galvão, v.u,

Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 4 de 25

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j. 15.2.2000, DJU, Seção 1, de 28.4.2000, p. 1.529)

Contudo, o reconhecimento da hipótese de imunidade está

condicionada ao preenchimento dos requisitos do art. 14, incisos I

a III, do CTN, a teor da parte final da alínea c do inciso VI do art.

150 da CF, bem como a que os bens importados pela entidade

sejam destinados à prestação de seus serviços específicos,

relacionados a suas finalidades essenciais, na forma do § 4º do art.

150 da CF.

In casu, a impetrante importou esquadrias de alumínio e vidros,

para serem instalados em seu centro cultural (Declaração de

Importação nº 14/1426409-9 - evento 1, DECL). É certo, pois, que

os bens importados não se destinam à consecução dos objetivos

institucionais educacionais da impetrante, não fazendo jus à

imunidade.

(...)

Com efeito, em se tratando as mercadorias importadas de bens de

alto padrão e que não serão destinados à prestação de serviços

específicos da entidade, relacionados a suas finalidades

essenciais, não é aplicável a imunidade a que se refere o art. 195,

VI, alínea 'c', da Constituição Federal.

Agiu acertadamente, portanto, a juíza da causa ao denegar o

mandado de segurança' (fls. 402/405e).

Assim, por estar o acórdão do Tribunal de origem assentado em matéria

constitucional, o Recurso Especial é manifestamente inadmissível. A

propósito:

'TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM

RECURSO ESPECIAL. IPTU. CONCESSIONÁRIO DE SERVIÇO

PÚBLICO. IMUNIDADE RECÍPROCA. MATÉRIA DE ÍNDOLE

CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE EM SEDE

DE ESPECIAL. ARTIGOS 32 E 34 DO CTN. IMÓVEL

PERTENCENTE À CONCESSIONÁRIA. CONTRIBUINTE DO

IPTU. DISCUSSÃO ACERCA DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL.

QUESTÃO ATRELADA AO REEXAME DE MATÉRIA DE FATO.

SÚMULA 7/STJ.

1. A controvérsia referente à existência ou não de imunidade

tributária de imóvel pertencente à concessionária de serviço

público, quanto à cobrança de IPTU incidente sobre imóvel afetado

à prestação de serviço público, foi dirimida, pelo Tribunal a quo,

com base na interpretação do art. 150, VI, a, da CF. Nesse

contexto, é inviável reformar o acórdão recorrido, no STJ, sob pena

de usurpar a competência do Supremo Tribunal Federal (art. 102,

III, da CF/88).Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 5 de 25

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2. No tocante à suposta violação aos arts. 32 e 34 do CTN, que

disciplinam as hipóteses de incidência e a sujeição passiva do

IPTU, a jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que o

IPTU é inexigível da cessionária de imóvel pertencente à União,

quando esta detém a posse direta mediante relação pessoal, sem

animus domini. Incidência do óbice da Súmula 83/STJ.

3. No caso, o acórdão concluiu que o bem imóvel, utilizado pela

Cemig, na execução do serviço de fornecimento de energia

elétrica, está registrado em seu nome e não era de propriedade de

qualquer pessoa jurídica de direito público. Infirmar esse

entendimento, em sede de recurso especial, esbarra no óbice da

Súmula 7/STJ.

4. Agravo regimental não provido' (STJ, AgRg no AREsp

845.159/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,

SEGUNDA TURMA, DJe de 22/03/2016).

'PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

PRECATÓRIO. COMPENSAÇÃO DO MONTANTE DEVIDO COM

O VALOR CORRESPONDENTE AOS DÉBITOS LÍQUIDOS E

CERTOS CONSTITUÍDOS EM FACE DO CREDOR. TRIBUNAL

DE ORIGEM QUE AFASTOU O DISPOSTO NOS §§ 9º e 10º DO

ART. 100 DA CF/88 (INCLUÍDOS PELA EC 62/2009). ENFOQUE

CONSTITUCIONAL DA MATÉRIA.

1. O Tribunal de origem deixou de aplicar o disposto no art. 100, §§

9º e 10º, da CF/88, em face da natureza dos honorários

advocatícios.

2. O conhecimento do recurso especial está atrelado ao enfoque

dado à matéria pela Corte de Origem. Se na argumentação há a

predominância dos temas constitucionais, não há como conhecer

do recurso especial.

3. Agravo regimental não provido' (STJ, AgRg no REsp

1.499.767/CE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,

SEGUNDA TURMA, DJe de 14/04/2015).

Ante o exposto, com fundamento nos arts. 932, III, do CPC/2015 e 255,

§ 4º, I, do RISTJ, não conheço do Recurso Especial" (fls. 479/482e).

Inconformada, a parte agravante sustenta que:

"Afirmou-se na decisão monocrática que no acórdão da apelação o

Tribunal a quo 'decidiu à luz de disposições normativas de direito

constitucional'.

No entanto, percebe-se que o acórdão que motivou o recurso especial

da Agravante contrariou diretamente o CTN em seus artigos 9º e 14,

Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 6 de 25

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pois o dispositivo constitucional violado, art. 150, VI, 'c', da Constituição

Federal, depende de um complemento infraconstitucional quando refere

'atendidos os requisitos da lei'. A lei a que se refere essa norma é o

Código Tributário Nacional, mais precisamente os seus artigos 9º e 14.

Logo, a decisão do Tribunal a quo recorrida no Recurso Especial violou

lei federal – Código Tributário Nacional - no momento em que não

reconheceu que a Agravante preenche os requisitos do art. 14 do CTN

para fruição da imunidade tributária positivada no art. 150 da

Constituição Federal e do art. 9º do CTN.

Veja-se, não só a Constituição foi violada, mas claramente foram

contrariados os arts. 9º, IV, 'c', e o art. 14, ambos do Código Tributário

Nacional. (...)

Desde a origem, a Agravante demonstrou que preenche os requisitos do

artigo 14 do CTN para fruição do benefício instituído pelo art. 9º, IV, 'c',

do mesmo diploma.

A argumentação das instâncias ordinárias para não concessão da ordem

pretendida embasou-se meramente na alegação de que os bens

importados não se referem à atividade essencial da Agravante, por se

tratarem de 'bens de alto padrão' (!).

Claramente foram contrariados os dispositivos do CTN (lei federal)

citados acima.

Veja-se que o próprio acórdão do TRF4, citado pela Eminente

Ministra Relatora em sua decisão monocrática, reconhece o viés

infraconstitucional da matéria discutida:

(...)

Contudo, o reconhecimento da hipótese de imunidade está

condicionada ao preenchimento dos requisitos do art. 14,

incisos I a III, do CTN, a teor da parte final da alínea 'c' do inciso

VI do art. 150 da CF, bem como a que os bens importados pela

entidade sejam destinados à prestação de seus serviços

específicos, relacionados a suas finalidades essenciais, na forma

do § 4º do art. 150 da CF.

(...) (grifou-se)

Ora, nota-se que o acórdão do TRF4 reconhece a incidência do CTN no

caso e, ainda, nota-se que a decisão citada olvidou-se de verificar

ponto a ponto, inciso por inciso do art. 14 do CTN, se de fato a

Agravante se enquadra ou não nas hipóteses exigidas para fins de

imunidade tributária. Diga-se, deveria ter fundamentado objetivamente

o entendimento no sentido de julgar que a Agravante não faz jus à

imunidade. Contudo, não o fez e, por tal razão, contrariou esses

dispositivos de lei federal.

Assim, entende a Agravante que embora a discussão abranja matéria

constitucional, não se pode deixar de reconhecer também a

incidência de matéria infraconstitucional na presente demanda,

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configurada pela ofensa direta aos mencionados artigos do CTN.

Diante da flagrante violação dos artigos 9º e 14 do CTN (lei federal),

entende a agravante que se está diante de situação de competência

desse Egrégio STJ, que deve julgá-la em sede de recurso especial. Eis

por que merece ser conhecido e provido o recurso especial da Agravante

ao qual foi negado conhecimento em sede de decisão monocrática.

Portanto, necessário seja conhecido e provido presente agravo interno

visando à reconsideração ou reforma da decisão monocrática agravada

para que, conseqüentemente, seja conhecido e julgado o recurso

especial da Agravante.

DA VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 9º E 14 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO

NACIONAL

A Recorrente ao efetuar importação de esquadrias de alumínio e

respectivos vidros para serem instalados no seu centro cultural, o qual

estava em construção em Porto Alegre/RS (notícias e documentos

anexados com a exordial) foi surpreendida com a exigência da

autoridade coatora do recolhimento do Imposto de Importação para

liberação das mercadorias.

Destaque-se que os referidos bens foram incorporados ao seu ativo

imobilizado. Logo, fazem parte de seu patrimônio.

Ao solicitar a liberação das mercadorias constantes na DI nº

14/1426409-9 junto à autoridade coatora obteve a seguinte negativa ao

seu pedido (comprovante anexado com a exordial):

'A Imunidade Tributária estabelecida pela Constituição

Federal, nos termos da alínea 'c', inciso VI, do Artigo 150, é

assegurada aos:

1) Partidos Políticos e suas Fundações;

2) Entidades Sindicais dos Trabalhadores;

3) Instituições de Educação e Assistência Social, sem fins

lucrativos.

O importador não comprovou pertencer a nenhuma classe

desses destinatários, desta forma recolher os tributos devidos

com juros e multa de mora.

Recolher multa de 1% sobre o valor aduaneiro, mínimo R$

500,00, conforme artigo 711 do Decreto 6.759, de 05/02/2009.'

Ou seja, entendeu a autoridade coatora que a Recorrente não se

enquadra nas hipóteses previstas pelo artigo 150 da Constituição

Federal, repetido no art. 9º do CTN, para fins de fruição da imunidade

tributária.

Veja-se que na negativa administrativa não houve qualquer restrição

ao direito à imunidade em face da natureza dos bens. O argumento

utilizado foi de que a Agravante não se enquadra no conceito de

'instituição de educação sem fins lucrativos'.

Dessa forma, a Recorrente no Mandado de Segurança impetrado

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comprovou o preenchimento dos requisitos do artigo 14 do CTN para

fruição da imunidade, conforme documentação juntada com a exordial,

senão vejamos:

A) Estatuto Social, no qual resta demonstrado que não há

distribuição de renda e que a Recorrente é pessoa jurídica

sem fins lucrativos, com atuação na área educacional e

cultural;

B) Título de Utilidade Pública Federal;

C) Relatório de atividades e demonstrativos contábeis;

D) Balanço Patrimonial e balancetes de verificação;

Na documentação acostada restou comprovado que (I) a Recorrente não

distribui qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a

qualquer título; (II) aplica integralmente, no País, os seus recursos na

manutenção dos seus objetivos institucionais; (III) mantém escrituração

de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades

capazes de assegurar sua exatidão.

Logo, a Agravante demonstrou satisfatoriamente, de forma

incontroversa, que preenche os requisitos do art. 14 do CTN, o qual foi

contrariado pelo Tribunal a quo.

E não venha o Recorrido alegar que pelo fato da Recorrente financiar

bolsas de estudo nas melhores instituições de ensino do mundo a

desqualifica do seu propósito educacional conforme preconiza o seu

estatuto.

O significado da palavra 'educação' não pode ficar restrito aos cursos

ministrados com a aprovação do MEC, sob pena de se obstaculizar a

diversificação do ensino.

Mesmo assim, entendeu-se no acórdão da apelação, objeto do Recurso

Especial não conhecido, que, para fruição do beneficio da imunidade

tributária em relação aos bens adquiridos no exterior, seria necessário o

preenchimento dos requisitos do art. 14, incisos I a III, do CTN, a

teor da parte final da alínea 'c' do inciso VI do art. 150 da CF, bem como

a que os bens importados pela entidade sejam destinados à prestação

de seus serviços específicos, relacionados às suas finalidades

essenciais, na forma do § 4º do art. 150 da CF.

Ora, como se demonstrou, houve de fato o preenchimento dos requisitos

dos incisos I a III do art. 14 do CTN. Ainda assim, contudo, negou-se o

direito líquido e certo à imunidade da Agravante. Daí a violação da lei

federal ora demonstrada, que configura também coação ilegal.

Entendeu-se que por ter importado esquadrias de alumínio e vidros, para

serem instalados em seu centro cultural (Declaração de Importação nº

14/1426409-9 - evento 1, DECL), os referidos bens importados não se

destinam à consecução dos objetivos institucionais educacionais da

Recorrente, não fazendo jus à imunidade (!).

Ora, tal entendimento feriu de morte o Código Tributário Nacional, além

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de desrespeitar a Constituição Federal.

Em relação à referida violação constitucional a Recorrente interpôs o

respectivo Recurso Extraordinário perante o STF.

No âmbito infraconstitucional, ressalta-se, a decisão objeto do recurso

especial feriu de morte o artigo 9º, IV, 'c', e o artigo 14, ambos do Código

Tributário Nacional, os quais determinam:

Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios:

(...)

IV - cobrar imposto sobre:

c) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive

suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das

instituições de educação e de assistência social, sem fins

lucrativos, observados os requisitos fixados na Seção II deste

Capítulo;

(...)

Art. 14. O disposto na alínea 'c' do inciso IV do artigo 9º é

subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas

entidades nele referidas:

I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas

rendas, a qualquer título;

II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na

manutenção dos seus objetivos institucionais;

III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros

revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

§ 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no § 1º

do artigo 9º, a autoridade competente pode suspender a aplicação

do benefício.

§ 2º Os serviços a que se refere à alínea 'c' do inciso IV do artigo

9º são exclusivamente, os diretamente relacionados com os

objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo,

previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivos.

Assim, as pessoas jurídicas indicadas na alínea 'c' do artigo 150, VI, da

Constituição Federal (e no art. 9º, IV, 'c', do CTN), uma vez preenchidos

os requisitos do art. 14 do Código Tributário Nacional, terão direito à

imunidade.

O acórdão da apelação, ao contrário da negativa administrativa do

Agravado, reconhece implicitamente que estariam comprovados os

requisitos formais e materiais da imunidade, no entanto, entendeu

que não restou atendido o § 4º do artigo 150 da Constituição

Federal, considerando que os bens importados pela entidade não

se destinam à prestação de seus serviços específicos.

Ora, inequívoco que os bens importados integraram o patrimônio da

Recorrente, sendo essa premissa fundamental para a fruição da

Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 1 0 de 25

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imunidade, pois não se pode cobrar imposto sobre patrimônio de

instituição educacional sem fins lucrativos.

A Recorrente construiu um Centro Cultural da cidade Porto Alegre,

sendo que os vidros e esquadrias importadas foram instalados no

referido imóvel, no qual são desenvolvidas as atividades educacionais e

culturais. Logo, óbvio que os materiais importados, bem como todo o

prédio construído, relacionam-se diretamente com a atividade fim da

Agravante.

É de se ressaltar que o Supremo Tribunal Federal tem

posicionamento consagrado no sentido de que o que importa é se o

bem adquirido, no mercado interno ou externo, integra o patrimônio

da entidade abrangida pela imunidade.

Nesse sentido:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ICMS. IMUNIDADE

TRIBUTÁRIA. INSTITUIÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. C.F.,

art. 150, VI, c. I. - Não há invocar, para o fim de ser restringida a

aplicação da imunidade, critérios de classificação dos impostos

adotados por normas infraconstitucionais, mesmo porque não é

adequado distinguir entre bens e patrimônio, dado que este se

constitui do conjunto daqueles. O que cumpre perquirir,

portanto, é se o bem adquirido, no mercado interno ou

externo, integra o patrimônio da entidade abrangida pela

imunidade. II. - Precedentes do STF. III. - Agravo não provido (RE

225.778-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ

10.10.2003). (grifou-se).

Há ainda outros julgados nessa direção: RE 237.497-AgR, Rel. Min.

Nelson Jobim, DJ 18.10.2002; e AI 378.454-AgR, Rel. Min. Maurício

Corrêa, DJ 29.11.2002.

Entende a Recorrente, por tais razões, que estão preenchidos os

requisitos legais para o reconhecimento de tal imunidade, a qual abarca

a importação dos bens constantes na DI 14/1426409-9, já que são

destinados a integrar seu ativo fixo e que estão sendo utilizados no

seu Centro Cultural.

A documentação anexada demonstra que a importação foi feita

diretamente pela Recorrente. Trata-se de esquadrias e vidros destinados

à atividade exercida pela Recorrente de cunho educacional e cultural. Os

bens foram instalados no centro cultural da Recorrente.

Ora, não há razoabilidade no entendimento de que os bens

(esquadrias, para construção de centro cultural) não se referem à

atividade da Recorrente. Seria o mesmo que dizer que o prédio de

um hospital ou de uma escola não guarda relação com a atividade

exercida naqueles locais! Ou que o quadro negro e o giz não fazem

parte dos materiais essenciais para a atividade docente, por

exemplo.Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 1 1 de 25

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A concluir pelo argumento do Recorrido, a Recorrente deveria exercer

suas atividades a céu aberto, ou no meio da rua. Por certo que é

equivocado esse entendimento, pois a atividade educacional e cultural

da Recorrente depende de diversos recursos, materiais (estrutura

física de salas e auditórios, móveis, material de escritório,

computadores, equipamentos audio-visuais, etc.) e humanos,

dentre os quais certamente se compreendem as instalações físicas

da instituição.

Ademais, a Recorrente é pessoa jurídica sem fins lucrativos, com

atuação na área educacional e cultural, e que foi reconhecida com o

Título de Utilidade Pública Federal.

O Constituinte concebeu a educação (arts. 6º e 250) como objetivo e

dever fundamental do Estado e da sociedade:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 250. Com o objetivo de assegurar recursos para o pagamento

dos benefícios concedidos pelo regime geral de previdência social,

em adição aos recursos de sua arrecadação, a União poderá

constituir fundo integrado por bens, direitos e ativos de qualquer

natureza, mediante lei que disporá sobre a natureza e

administração desse fundo.

Não é outro o entendimento do Supremo Tribunal Federal que

reconheceu que o conceito de educação está dissociado do ensino

curricular, na forma do voto do Ministro Relator Joaquim Barbosa no

RMS n.24.283, 2ª Turma, DJe 07.10.2010:

'CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. INSTITUIÇÃO

DE ENSINO. ENSINO DE LINGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS).

CARACTERIZAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO

REGIMENTAL.

1. O ensino de línguas estrangeiras caracteriza-se como atividade

educacional para aplicação da imunidade tributária (art. 150, VI, c

da Constituição).

2. A distinção relevante para fins de aplicação da imunidade

tributária é o conceito de 'atividade assistencial', isto é, a

intensidade e a abrangência da prestação gratuita ou altamente

subsidiada do ensino da língua inglesa a quem necessitar.

Agravo regimental ao qual se nega provimento.'

No voto condutor o Ministro Relator esclareceu que para gozar da

referida imunidade, independentemente do valor cultural do ensino,

propriamente dito, a entidade de fins não econômicos pode se dedicar a

um ramo específico do conhecimento técnico, desde que o faça com

induvidosa seriedade, nestes termos:

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Em uma série de precedentes, esta Corte tem assegurado o

benefício constitucional independentemente do valor cultural

relativo do objeto de ensino. Basta que a educação tenha por

centro conhecimento técnico ou acadêmico de induvidosa

seriedade. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal reconheceu

a aplicação da imunidade à Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa

(RE 249.980-AgR, rel. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ de

14.6.2002, RE 183.216-AgR-Edcl, rel. Ministro Marco Aurelio,

Segunda Turma, DJ de 02.06.2000 e AI 38.802, rel. Ministro

Evandro Lins, Primeira Turma, DJ 16.03.1967), ao Conselho

Cultural Thomas Jefferson (RE 354.988-AgR, relator Ministro Ellen

Gracie, Segunda Turma, DJ de 20.04.2006).

Todos os esforços, tanto do Poder Público como da sociedade, devem

estar voltados para a educação, seja ela curricular ou não, pois inegável

ser ela a matéria prima necessária ao desenvolvimento de qualquer

nação.

Inclusive, o Brasil encontra-se cada vez mais carente de iniciativas e de

resultados na área da educação. É dever do Estado, nesse caso por

meio do Poder Judiciário, amparar as instituições que se esforçam pelo

desenvolvimento nacional.

É incontroverso que a Recorrente oferta bolsas de estudo a brasileiros

que queiram estudar no exterior. Entretanto, isso não desfigura a

aplicação de recursos no País. Ao contrário, representa um investimento

ainda mais sólido na educação destes profissionais que, num curto

espaço de tempo, retornarão mais capacitados para aplicar seus

conhecimentos no Brasil.

A aplicação de recursos no aprimoramento da formação de

cidadãos brasileiros, ainda que instituições estrangeiras, é

sinônimo de aplicação de recursos no País.

A atividade da Recorrente agrega qualificação aos profissionais e

acadêmicos brasileiros, gerando um efeito multiplicador do

desenvolvimento, porquanto profissionais mais capacitados podem

capacitar outros novos profissionais e também podem melhorar a

produtividade nas suas áreas.

No mundo cada vez mais globalizado em que vivemos, urge que o Brasil

produza profissionais altamente capacitados a nível internacional. Nesse

sentido, deve-se reconhecer que os recursos aplicados pela Recorrente

na capacitação de talentos altamente especializados, ainda que em

cursos no exterior, fatalmente retorna multiplicada para o Brasil.

A solidez e o aprimoramento pessoal são provenientes desta troca de

conhecimentos do que aqui existe e daquilo que se desenvolve no

exterior.

O conhecimento globalizado é valido para todo e qualquer profissional

em qualquer área de especialização. Isso torna o Brasil mais

Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 1 3 de 25

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competitivo.

Logo, claramente demonstrado que a Recorrente faz jus a

imunidade por aplicar no Brasil os seus recursos, uma vez que

conforme seu estatuto busca preparar jovens talentos que venham

a contribuir para o desenvolvimento do país.

Daí porque deve ser provido o presente agravo, para que com o

julgamento do recurso especial anteriormente não conhecido, seja

reformado o acórdão do TRF4 recorrido, uma vez que restou

comprovado que a Recorrente é reconhecida com o Título de Utilidade

Pública Federal conforme certidão anexada aos autos, e para tanto é

condição sine qua non o preenchimento dos seguintes requisitos, dentre

outros: a) que se constituiu no país; b) que tem personalidade jurídica; c)

que esteve em efetivo e contínuo funcionamento, nos três imediatamente

anteriores, com a exata observância dos estatutos; d) que não são

remunerados, por qualquer forma, os cargos de diretoria e que não

distribui lucros, bonificados ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou

associados, sob nenhuma forma ou pretextos; e) que,

comprovadamente, mediante a apresentação de relatórios

circunstanciados dos três anos de exercício anteriores à formulação do

pedido, promove a educação ou exerce atividades de pesquisas

científicas, de cultura, inclusive artíst icas, ou filantrópicas, estas de

caráter geral ou indiscriminado, predominantemente; f) que seus

diretores possuem folha corrida e moralidade comprovada; g) que se

obriga a publicar, anualmente, a demonstração da receita e despesa

realizadas no período anterior, desde que contemplada com subvenção

por parte da União, neste mesmo período. (Redação dada pelo Decreto

nº 60.931, de 4.7.1967)

O que devemos questionar é se os bens adquiridos, no mercado

interno ou externo, integram o patrimônio da Recorrente, fato este

incontroverso.

Merece transcrição o posicionamento do Professor Ives Gandra da Silva

Martins sobre o tema:

As imunidades tributárias, neste caso, ao contrário do que

apregoam os detentores do poder, não são uma renúncia fiscal,

um ‘favor’ que o Poder Público presta à sociedade, mas, ao

contrário, um ‘favor’ que a sociedade presta ao Estado em

aceitálas, pois, ao deixarem apenas de pagar impostos, tais

entidades, que gastam muito mais do que recebem em

desonerações fiscais, fazem pelo Poder Público e para o povo o

que é obrigação do Estado fazer e que não faz. Nas imunidades,

não há renúncia fiscal, mas sim renúncia dos cidadãos, que, aos

se dedicarem a atividades sociais e educacionais, deixam de atuar

em áreas lucrativas e onde poderiam legitimamente ganhar e

enriquecer. Aqueles que se dedicam a cuidar da saúde da

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população e prestar assistência social, a ensinar etc., pensam no

país mais do que os detentores do poder e fazem pela educação,

pela saúde e pela assistência social, tranqüilamente, muito mais do

que os políticos que entram pobres na política e dela saem com

polpudo patrimônio nos dias atuais.

Por fim, como norte, importante a reprodução do voto do Min. Celso de

Mello no julgamento do RE 376.462 AgRg-ED-ED, Rel. Min. Celso de

Mello, Segunda Turma, julgado em 25/02/2014:

'É importante destacar, neste ponto, que as cláusulas da

Constituição da República institutivas de imunidade tributária

permitem que se dê interpretação extensiva ao 'favor

constitutionis', considerada a própria teleologia da regra

constitucional, em ordem a autorizar que se outorgue máxima

eficácia ao texto normativo que consagra intransponível limitação

constitucional ao poder de tributar do Estado.

Tenho sempre enfatizado – com fundamento em autorizada lição

doutrinária (HUGO DE BRITO MACHADO, 'Curso de Direito

Tributário', p. 248, item n. 3.12, 20ª ed., 2002, Malheiros; ROQUE

ANTONIO CARRAZZA, 'Curso de Direito Constitucional Tributário',

p. 681, item n. 4.4.3, 17ª ed., 2002, Malheiros; REGINA HELENA

COSTA, 'Imunidades Tributárias', p. 192, item n. 2.4.5, 2001,

Malheiros, v.g.) – a possibilidade de interpretação extensiva do

postulado constitucional da imunidade tributária, considerando,

para esse efeito, a própria teleologia da cláusula que impõe, ao

Estado, essa específica limitação constitucional ao poder de

tributar.

É preciso ter presente, na análise do tema em exame, que a

garantia da imunidade estabelecida pela Constituição republicana

brasileira reveste-se de significativa importância de ordem

político-jurídica, destinada a preservar e a assegurar a integridade

de valores em função dos quais essa prerrogativa de índole

constitucional foi conferida, instituída e assegurada.

O instituto da imunidade tributária não constitui um fim em si

mesmo. Antes, representa um expressivo fator de contenção do

poder do Estado, na medida em que esse postulado fundamental,

ao inibir, constitucionalmente, o aparelho estatal no exercício de

sua competência impositiva, impedindo-lhe a prática de eventuais

excessos, prestigia, favorece e tutela o espaço em que se

desenham as hipóteses inibitórias da prerrogativa extraordinária de

tributar' (grifou-se).

Assim, deve ser integralmente provido o presente Recurso Especial para

o efeito de determinar a reforma do acórdão recorrido aos artigos 9º e 14

do Código Tributário Nacional.

CONCLUSÃO

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Em face do exposto, conclui-se que o direito à imunidade tributária da

Agravante decorre da sua condição de instituição educacional sem fins

lucrativos e de que os bens importados referem-se à sua atividade

essencial, sendo que integram seu patrimônio.

Assim, comprovou-se, nos termos dos incisos do art. 14 do CTN, que a

Agravante (I) não distribui qualquer parcela de seu patrimônio ou de

suas rendas, a qualquer título; (II) aplica integralmente, no País, os seus

recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; (III) mantém

escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de

formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

Igualmente, nos termos do art. 9º, IV, 'c', do CTN, demonstrou-se que os

bens importados não devem ser tributados, pois integram o patrimônio

da Agravante. Igualmente, demonstrou-se que se referem à consecução

da atividade essencial da Agravante, na forma do § 2º do art. 14 do CTN.

Portanto, merece provimento o presente agravo interno para que,

reconsiderando ou reformando a decisão monocrática de não

conhecimento do recurso especial da Agravante, seja o mesmo

conhecido e julgado por esse Egrégio STJ ante a flagrante violação de

dispositivos de lei federal, qual seja, art. 9º, IV, 'c' e art. 14, ambos do

CTN" (fls. 490/501e).

Por fim, requer "se dignem Vossas Excelências a receber e dar provimento

ao presente agravo interno, visando à reconsideração da decisão monocrática proferida

pela Exma. Ministra Relatora ou a reforma da mesma em sede de julgamento

colegiado, para o fim de que seja conhecido e posteriormente provido o Recurso

Especial da Agravante, por toda a argumentação exposta" (fls. 501/502e).

É o relatório.

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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.583.852 - RS (2016/0035115-0)

VOTO

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES (Relatora): Não obstante os

argumentos da parte agravante, as razões deduzidas neste recurso não são aptas a

desconstituir os fundamentos da decisão atacada, que merece ser mantida.

De início, registra-se que, a respeito da vigência do novel diploma

processual, o Plenário do Superior Tribunal de Justiça, na sessão realizada dia

02/03/2016 (Ata de Julgamento publicada em 08/03/2016), por unanimidade, aprovou o

Enunciado Administrativo 1, firmando a posição de que a vigência do novo Código de

Processo Civil, instituído pela Lei 13.105, de 16/03/2015, iniciou-se em 18 de

março de 2016.

De igual modo, na sessão realizada em 09/03/2016, em homenagem ao

princípio tempus regit actum – inerente aos comandos processuais –, o Plenário do

STJ também sedimentou o entendimento de que a lei a reger o recurso cabível e a

forma de sua interposição é aquela vigente à data da publicação da decisão

impugnada, ocasião em que o sucumbente tem a ciência exata dos fundamentos do

provimento jurisdicional que pretende combater.

Tal entendimento restou assim firmado:

"Enunciado Administrativo 2:

Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a

decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os

requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as

interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça".

Na hipótese, trata-se de Agravo interno aviado contra decisão publicada

em 13/06/2016, que, por sua vez, julgara Recurso Especial interposto contra acórdão

publicado na vigência do CPC/73.

In casu, cuida-se, na origem, de Mandado de Segurança, no qual a parte

impetrante, ora agravante, pleiteou o não recolhimento do Imposto de Importação, do

Imposto sobre Produtos Industrializados e do ICMS, em relação à importação de

esquadrias de alumínio e vidros, para serem instalados em seu centro cultural, em

Porto Alegre/RS, ao argumento de que ela, a parte impetrante, teria preenchido os

requisitos legais, previstos nos arts. 9º, IV, c, e 14 do CTN, de modo que faria jus à

imunidade tributária, estabelecida no art. 150, VI, c, da Constituição Federal, na

condição de instituição de educação, sem fins lucrativos.

Das informações prestadas pela autoridade impetrada, por sua vez,

destacam-se os seguintes argumentos: a) "além da aplicabilidade do art. 14 do CTN,

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são também aplicáveis os artigos 12, 13 e 14 da Lei 9.532/97"; b) quanto à impetrante,

"sua condição de instituição de assistência social está pendente de certificação, nos

termos da Lei 12.101/2009, que dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes

de assistência social. Em seus art. 21 a 25 se estabelece a procedimentalização para

obtenção da correspondente certificação que, na espécie cabe ao Ministério da

Educação"; c) "tratando-se de importação comum, ou seja, móveis de luxo, ocorre o

fato gerador do II, IPI e das contribuições, razão pela qual não há então como se afastar

administrativamente a exigibilidade dos tributos devidos no despacho"; d) "Mesmo na

hipótese de uma interpretação elástica da imunidade em questão, não há ainda prova

suficiente de que, nos termos da lei, a instituição cumpre de fato as exigências para ser

reconhecida como de assistência social e, ainda, se efetivamente a importação

destina-se aos fins sociais de seu objeto social"; e) "O rol de documentos apresentados

omite o principal: o Certificado de Entidade de Assistência Social - CNAS, a que alude o

art. 18 da Lei 8.742/93, de 7 de dezembro, regulamentado pelo Decreto 2.536/98".

Regularmente processado o feito, sobreveio a sentença denegatória do

Mandado de Segurança.

Interposta Apelação, o Tribunal de origem negou provimento ao recurso,

consoante o voto condutor do acórdão recorrido, a seguir reproduzido, na íntegra:

"Admissibilidade

Cabe conhecer da apelação, por ser o recurso próprio ao caso, e se

apresentar formalmente regular e tempestivo.

Preliminar - ausência de fundamentação da sentença

Afasto a preliminar de nulidade da sentença, uma vez que o ato judicial

recorrido motivadamente afastou as alegações da impetrante para que

lhe fosse reconhecida a imunidade quanto a tributos incidentes na

importação.

Mérito

Trata-se controvérsia acerca da legitimidade da cobrança do Imposto de

Importação, do Imposto sobre Produtos Industrializados e do Imposto

Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços quando da importação de

mercadorias por instituição educacional sem fins lucrativos,

considerando a imunidade insculpida no artigo 150, inciso VI, 'c', da

Constituição Federal de 1988, in verbis:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e

aos Municípios:

(...)

VI - instituir impostos sobre:

(...)

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive

suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das

instituições de educação e de assistência social, sem fins

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lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

(...)

§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas 'b' e 'c',

compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,

relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas

mencionadas.

No que se refere ao alcance da norma constitucional, o Supremo

Tribunal Federal já pacificou a questão, firmando o entendimento de que

a imunidade das instituições de educação e de assistência social, sem

fins lucrativos, abarca também o Imposto de Importação e o Imposto

sobre Produtos Industrializados, que incidem sobre bens que serão

incorporados ao patrimônio da entidade, para utilização na prestação de

seus serviços específicos. Nesse sentido:

'A imunidade prevista no art. 150, VI, 'c', da CF, em favor das

instituições de assistência social, abrange o Imposto de

Importação e o Imposto sobre Produtos Industrializados, que

incidem sobre bens a serem utilizados na prestação de seus

serviços específicos' (STF, RE 243.807/SP, 1ª Turma, Rel. Min.

Ilmar Galvão, v.u, j. 15.2.2000, DJU, Seção 1, de 28.4.2000, p.

1.529).

Contudo, o reconhecimento da hipótese de imunidade está condicionada

ao preenchimento dos requisitos do art. 14, incisos I a III, do CTN, a teor

da parte final da alínea 'c' do inciso VI do art. 150 da CF, bem como a

que os bens importados pela entidade sejam destinados à prestação de

seus serviços específicos, relacionados a suas finalidades essenciais, na

forma do § 4º do art. 150 da CF.

In casu, a impetrante importou esquadrias de alumínio e vidros, para

serem instalados em seu centro cultural (Declaração de Importação nº

14/1426409-9 - evento 1, DECL). É certo, pois, que os bens importados

não se destinam à consecução dos objetivos institucionais educacionais

da impetrante, não fazendo jus à imunidade.

No que respeita à questão, a juíza da causa, em bem fundamentada

sentença, assim se manifestou:

Ao apreciar o pedido de liminar, assim se manifestou este juízo

(evento 16):

'O provimento liminar, na via mandamental, está sujeito aos

pressupostos do art. 7º, inciso III, da Lei 12.016/2009, quais sejam:

a) a relevância dos fundamentos e b) a possibilidade de ineficácia

da medida, caso deferida apenas ao final da tramitação do

processo.

No caso em tela, não vislumbro a ocorrência do primeiro dos

requisitos acima mencionados.

Primeiramente, em relação à aplicabilidade da Súmula 323 do

Supremo Tribunal Federal ao caso, é necessário frisar que não

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tem a Receita Federal a obrigação de liberar a mercadoria

importada, independentemente de qualquer exigência referente ao

pagamento de multa e diferenças tributárias relativas aos tributos

incidentes na importação. Nesse sentido:

TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. LIBERAÇÃO

DE MERCADORIA IMPORTADA MEDIANTE GARANTIA

PROCEDIMENTO DE FISCALIZAÇÃO. REGULARIDADE DA

EXIGÊNCIA DE GARANTIA PARA LIBERAÇÃO DA

MERCADORIA. 1. Não há ilegalidade na regra do § 1º do art.

511 do Decreto 4.543/2002 c/c cláusula primeira da Portaria

MF nº 389/1976, que determinou a prestação de garantia

para liberação de mercadoria objeto de litígio acerca da

existência de crédito tributário devido em operação de

importação. Esses atos normativos exerceram o poder

regulamentar nos limites conferidos pelo Decreto-lei 37- 1966

(§ 1º do art. 51) e Decreto-lei 1.455/1976 (art. 39). 2. Não

tem aplicação a Súmula 323 do STF, que proíbe a apreensão

de mercadoria como meio coercitivo para forçar o pagamento

de tributos, visto que a exigência de garantia é medida de

cautela fiscal que não se confunde com o pagamento de

tributo objeto de litígio. (TRF4, AC 5006346-

51.2011.404.7208, Primeira Turma, Relator p/ Acórdão Jorge

Antonio Maurique, juntado aos autos em 22/08/2014).

No caso em tela, a impetrante juntou ao feito apenas a informação

da Receita Federal de que existiam diferenças tributárias e multa a

serem recolhidas.

No que tange à questão de fundo, asseverou a requerente que

faz jus à imunidade prevista no artigo 150, inciso VI, alínea 'c',

da Constituição Federal, o que teria restado comprovado

através do Título de Utilidade Pública Federal, dentre outros

documentos.

Tenho, todavia, que o mencionado Título de Utilidade Pública

Federal não lhe concede nenhum benefício ou vantagem -

conforme consta até mesmo da informação trazida ao feito

pelo próprio impetrante.

É claro que, associado a outros elementos, tal documento

pode auxiliar na demonstração do preenchimento dos

requisitos previstos em lei para a caracterização da imunidade

da instituição, o que, todavia, não ocorreu no caso dos autos.

Friso ainda que, ao menos em um juízo perfunctório, entendo

não estar devidamente comprovado que os móveis de luxo

importados pela impetrante realmente destinar-se-ão aos fins

culturais e educacionais previstos em seu estatuto social,

conforme preconiza o § 4º do artigo 150 da Constituição

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Federal.

Ante o exposto, INDEFIRO A LIMINAR postulada.'

Não vejo motivos para modificar a decisão acima transcrita,

especialmente tendo em vista que, no caso concreto, não

restaram devidamente comprovados os requisitos previstos

no artigo 12 da Lei 9.532/97.

Não desconheço a celeuma doutrinária a respeito da

constitucionalidade de tal dispositivo. Todavia, a sua adequação ao

ordenamento constitucional vem sendo reconhecida pelo Tribunal

Regional Federal da 4ª Região, como exemplifica o seguinte

julgado:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO EXISTENTE.

Devem ser acolhidos os embargos de declaração para sanar

omissão do acórdão, que deixou de analisar requisito para a

concessão de imunidade controvertido nos autos. MANDADO

DE SEGURANÇA. IMUNIDADE. ART. 195, § 7º DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ENTIDADE BENEFICENTE DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL. LEI 9.532, DE 1997, ART. 12,

CAPUT. É indevido o benefício da imunidade previsto no

art. 150, VI, 'c', da Constituição Federal à entidade, que

embora atenda aos requisitos formais do art. 14 do

Código Tributário Nacional, não é qualificada como

instituição de educação e assistência social, nos termos

do caput do art. 12 da Lei 9.532, de 1997, por não voltar

seus serviços à população em geral, mas apenas a

determinada categoria profissional. (TRF4

5005301-55.2010.404.7108, Segunda Turma, Relator p/

Acórdão Rômulo Pizzolatti, juntado aos autos em

24/09/2014).

O Supremo Tribunal Federal também já se manifestou sobre o

tema. De acordo com Pretório Excelso, na regulação da imunidade

prevista no artigo 150, inciso VI, alínea 'c', somente se exige lei

complementar para a definição dos seus limites objetivos

(materiais), e não para a fixação das normas de constituição e de

funcionamento das entidades imunes (aspectos formais ou

subjetivos), os quais podem ser veiculados por lei ordinária.

Tal questão foi debatida na ADI 1.802, de relatoria do Ministro

Sepúlveda Pertence, na apreciação da Medida Cautelar ajuizada

em face da Lei 9.532/97, ocasião em que o Supremo estabeleceu

distinção acima mencionada, restringindo a reserva de lei

complementar à regulamentação tão somente dos limites objetivos

(materiais).

Com fundamento nesta diferenciação, a Corte Suprema reputou

constitucional o caput e o § 3º, art. 12, Lei 9.532/97, que

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restringiam a imunidade às entidades de assistência social que

prestassem serviços à comunidade em geral e não possuíssem

fins lucrativos, quanto aos impostos.

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal reafirmou tal

entendimento no RE 636.941, de relatoria do Ministro Luiz Fux,

onde era discutida a imunidade prevista no § 7º do artigo 195 da

Constituição Federal.

Restou consignado no voto do relator que:

18. Instituições de educação e de assistência social sem fins

lucrativos são entidades privadas criadas com o propósito de

servir à coletividade, colaborando com o Estado nessas

áreas cuja atuação do Poder Público é deficiente.

Consectariamente, et pour cause, a constituição determina

que elas sejam desoneradas de alguns tributos, em especial,

os impostos e as contribuições.

19. A ratio da supressão da competência tributária funda-se

na ausência de capacidade contributiva ou na aplicação do

princípio da solidariedade de forma inversa, vale dizer: a

ausência de tributação das contribuições sociais decorre da

colaboração que estas entidades prestam ao Estado.

Tal passagem é significativa para o deslinde do presente feito. A

imunidade prevista pelo legislador constituinte não é aleatória. Esta

se funda na 'ausência de capacidade contributiva ou na aplicação

do princípio da solidariedade de forma inversa', ou seja, tem por

base a idéia de que tais recursos são aplicados em uma finalidade

essencial para a sociedade e, portanto, não devem sofrer

expressiva redução em razão da incidência de tributos.

De fato, não é difícil perceber que uma instituição de educação ou

de assistência social sem fins lucrativos presta um serviço

extremamente relevante para a coletividade.

Todavia, quando tal instituição adquire bens de luxo, de padrão e

preço muito superiores aos necessários para a consecução dos

objetivos em tese almejados pela entidade - como ocorre nas

importações realizadas pelo impetrante, as quais constituem o

objeto deste e de outros mandados de segurança impetrados pelo

requerente -, desaparecem, ao meu sentir, as razões que servem

de fundamento para a imunidade.

Nesse sentido, prevê o § 4º do artigo 150 da Constituição Federal,

que as 'vedações expressas no inciso VI, alíneas 'b' e 'c',

compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,

relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas

mencionadas'. Uma análise teleológica deste dispositivo revela que

somente estão abarcados pela imunidade os recursos essenciais

para a realização da finalidade que motivou o benefício.

Entendo, portanto, que, no caso em tela, ainda que restassem Documento: 1601931 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/05/2017 Página 2 2 de 25

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demonstrados todos os requisitos formais e materiais da

imunidade, não estaria atendido o § 4º do artigo 150 da

Constituição Federal, considerando a natureza e o valor das

mercadorias importadas.

Com efeito, em se tratando as mercadorias importadas de bens de alto

padrão e que não serão destinados à prestação de serviços específicos

da entidade, relacionados a suas finalidades essenciais, não é aplicável

a imunidade a que se refere o art. 150, VI, alínea 'c', da Constituição

Federal.

Agiu acertadamente, portanto, a juíza da causa ao denegar o mandado

de segurança.

Dispositivo

Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação" (fls. 401/405e).

Houve a interposição simultânea dos Recursos Extraordinário e Especial,

sendo certo que, no Especial, a parte impetrante indicou contrariedade aos arts. 9º, IV,

c, e 14 do CTN, reafirmando que teria ela preenchido os requisitos previstos nesses

dois dispositivos legais, de modo que faria jus à imunidade tributária, estabelecida no

art. 150, VI, c, da Constituição Federal.

Entretanto, ao contrário do que pretende fazer crer a parte impetrante, a

leitura do voto condutor do acórdão recorrido, integralmente reproduzido acima,

notadamente dos trechos destacados em negrito, revela que o Tribunal de origem

decidiu – com base no conjunto fático-probatório dos autos – que não houve

comprovação dos requisitos necessários para o gozo da imunidade tributária, previstos

nos arts. 150, § 4º, da CF/88 e 12 da Lei 9.532/97.

Sendo assim, o Recurso Especial é manifestamente inadmissível, seja

porque ele não constitui via recursal adequada para a análise de matéria de direito

constitucional, seja porque não foi impugnada, especificamente, a aplicação do art. 12

da Lei 9.532/97 – o que atrai a incidência, por analogia, da Súmula 283/STF –, seja,

ainda, porque o acolhimento da pretensão recursal pressupõe o reexame das provas

produzidas no processo, o que é vedado, em recursos de natureza extraordinária, a teor

das Súmulas 7/STJ e 279/STF.

Por fim, levando-se em conta a declaração de inadmissibilidade do

Recurso Especial, o seu não conhecimento impede qualquer pronunciamento do STJ

sobre o respectivo mérito recursal.

Quanto à incompatibilidade da decisão de não conhecimento do recurso

com o pronunciamento do Tribunal sobre o mérito recursal, pertinente a lição doutrinária

de JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA, segundo a qual "é evidentíssimo que não

configura vício algum – muito ao contrário! – o silêncio do órgão judicial sobre matéria

cuja apreciação seria incompatível com a decisão tomada. Assim, por exemplo, não têm

como vingar embargos de declaração em que se alega a 'omissão' do acórdão no

tocante a questões de mérito, se o tribunal não conheceu do recurso, por falta de

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requisitos de admissibilidade" (Comentários ao Código de Processo Civil, Vol. V, 11ª

edição, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 550).

Ante o exposto, nego provimento ao Agravo interno.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA TURMA

AgInt no

Número Registro: 2016/0035115-0 REsp 1.583.852 / RS

Números Origem: 50051350520144047101 RS-50051350520144047101

PAUTA: 09/05/2017 JULGADO: 09/05/2017

RelatoraExma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES

Presidente da SessãoExma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. MÁRIO JOSÉ GISI

SecretáriaBela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : INSTITUTO LING ADVOGADOS : VINICIUS LUBIANCA E OUTRO(S) - RS050820

LEONARDO SANTANA DE ABREU - RS043188 RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL

ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Impostos - II - Imposto sobre Importação

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : INSTITUTO LING ADVOGADOS : VINICIUS LUBIANCA E OUTRO(S) - RS050820

LEONARDO SANTANA DE ABREU - RS043188 AGRAVADO : FAZENDA NACIONAL

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."

Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Herman Benjamin, Og Fernandes e Mauro Campbell Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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