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104 TN Petróleo 89 suplemento especial C om as presenças de José Gol- demberg (presidente do Con- selho de Sustentabilidade da Fecomércio-SP), Jorge Abrahão (presidente do Instituto Ethos), Simão Pedro Chiovetti, secretário municipal de Serviços; Bruno Co- vas, secretário estadual de Meio Ambiente, e Ney Maranhão, se- cretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Ethos e o grupo de trabalho sobre resídu- os sólidos da entidade lançaram a Carta de Compromissos pela Ges- tão de Resíduos Sólidos. Trata-se de um documento pioneiro para o tema, que busca adesão voluntária de empresas de todos os setores para o cumprimen- to de alguns compromissos e a de- manda de ações dos governos que visam agilizar a implementação da Política Nacional de Resíduos Sóli- dos (PNRS) no âmbito corporativo e nos governos. Entre as ações voluntários que as empresas se comprometeram a pôr em prática na gestão dos seus negócios estão: dar destino am- bientalmente correto aos resíduos gerados nas próprias atividades; promover coleta seletiva em pro- jetos patrocinados pela empresa; e estimular pesquisas sobre ciclo de vida dos produtos. Entre as ações governamentais requeridas por essa Carta estão: harmonização das políticas muni- cipais, estaduais e federal; revisão do ambiente fiscal e tributário, para ampliar o mercado da reciclagem e da logística reversa; criação de mecanismos eficientes de fiscali- zação e autuação, para garantir os acordos setoriais; investimentos para a abertura de mais aterros sanitários no país. Já aderiram à iniciativa, entre outras, as seguintes empresas: As- sociação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa); Associação Brasi- leira de Empresas de Limpeza Pú- blica e Resíduos Especiais (Abrel- pe); Associação Técnica Brasileira da Indústria do Vidro (Abividro), Bombril, Cushman & Wakefield, Ecoassist Serviços Sustentáveis Ltda, Estre Ambiental, Federação de Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Grupo Promon, Haztec Tecnologia e Planejamen- to Ambiental S/A, Kimberly Clark Brasil, Lexmark Internacional do Brasil Ltda, Libra Terminais S/A, Marfrig Alimentos S/A, Natura Cosméticos S/A, Nextel Telecomu- nicações, Suzano Papel e Celulose, Unimed do Brasil e Walmart Brasil. Na abertura do evento, o pro- fessor José Goldemberg ressaltou que a Fecomércio-SP, uma das pri- meiras entidades a assinar a carta- -compromisso, sempre foi atenta aos problemas dos resíduos sólidos. “O comércio sabe qual o seu papel para o sucesso da PNRS”, afirmou Goldemberg. “Também já percebeu que lixo não existe mais; existem resíduos que têm grande potencial lucrativo, mas as atividades ain- da precisam de apoio”, destaca ele, comple- mentando que o apoio, sobretudo de governos, não é necessariamente ou apenas financeiro, mas de capacitação, de ensinar o “como fazer”. Goldem- berg também reconheceu que ain- da existem segmentos resistentes à PNRS no próprio comércio, sob a alegação de que reciclar não dá dinheiro. “Essas pessoas precisam saber que nada é pior do que não reciclar”, adverte o professor. Segundo a Abrelpe, a quantida- de de resíduos sólidos gerados no Brasil em 2011 totalizou 61,9 mi- Compromisso com a gestão sustentável de resíduos sólidos Ethos: Carta de Compromissos pela Gestão de Resíduos Sólidos. Em evento realizado dia 14 de maio, na Fecomércio-SP, mais de 60 empresas assumiram compromissos voluntários. Elas solicitam medidas governamentais que agilizem a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

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104 TN Petróleo 89

suplemento especial

Com as presenças de José Gol-demberg (presidente do Con-selho de Sustentabilidade da

Fecomércio-SP), Jorge Abrahão (presidente do Instituto Ethos), Simão Pedro Chiovetti, secretário municipal de Serviços; Bruno Co-vas, secretário estadual de Meio Ambiente, e Ney Maranhão, se-cretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Ethos e o grupo de trabalho sobre resídu-os sólidos da entidade lançaram a Carta de Compromissos pela Ges-tão de Resíduos Sólidos.

Trata-se de um documento pioneiro para o tema, que busca adesão voluntária de empresas de todos os setores para o cumprimen-to de alguns compromissos e a de-manda de ações dos governos que visam agilizar a implementação da Política Nacional de Resíduos Sóli-dos (PNRS) no âmbito corporativo e nos governos.

Entre as ações voluntários que as empresas se comprometeram a pôr em prática na gestão dos seus negócios estão: dar destino am-bientalmente correto aos resíduos gerados nas próprias atividades; promover coleta seletiva em pro-jetos patrocinados pela empresa; e estimular pesquisas sobre ciclo de vida dos produtos.

Entre as ações governamentais requeridas por essa Carta estão: harmonização das políticas muni-cipais, estaduais e federal; revisão do ambiente fiscal e tributário, para ampliar o mercado da reciclagem

e da logística reversa; criação de mecanismos eficientes de fiscali-zação e autuação, para garantir os acordos setoriais; investimentos para a abertura de mais aterros sanitários no país.

Já aderiram à iniciativa, entre outras, as seguintes empresas: As-sociação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa); Associação Brasi-leira de Empresas de Limpeza Pú-blica e Resíduos Especiais (Abrel-pe); Associação Técnica Brasileira da Indústria do Vidro (Abividro), Bombril, Cushman & Wakefield, Ecoassist Serviços Sustentáveis Ltda, Estre Ambiental, Federação de Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Grupo Promon, Haztec Tecnologia e Planejamen-to Ambiental S/A, Kimberly Clark Brasil, Lexmark Internacional do Brasil Ltda, Libra Terminais S/A, Marfrig Alimentos S/A, Natura Cosméticos S/A, Nextel Telecomu-nicações, Suzano Papel e Celulose, Unimed do Brasil e Walmart Brasil.

Na abertura do evento, o pro-fessor José Goldemberg ressaltou

que a Fecomércio-SP, uma das pri-meiras entidades a assinar a carta--compromisso, sempre foi atenta aos problemas dos resíduos sólidos. “O comércio sabe qual o seu papel para o sucesso da PNRS”, afirmou Goldemberg. “Também já percebeu que lixo não existe mais; existem

resíduos que têm grande potencial lucrativo, mas as atividades ain-da precisam de apoio”, destaca e l e , c o m p l e -mentando que

o apoio, sobretudo de governos, não é necessariamente ou apenas financeiro, mas de capacitação, de ensinar o “como fazer”. Goldem-berg também reconheceu que ain-da existem segmentos resistentes à PNRS no próprio comércio, sob a alegação de que reciclar não dá dinheiro. “Essas pessoas precisam saber que nada é pior do que não reciclar”, adverte o professor.

Segundo a Abrelpe, a quantida-de de resíduos sólidos gerados no Brasil em 2011 totalizou 61,9 mi-

Compromisso com a gestão sustentável de resíduos sólidos

Ethos: Carta de Compromissos pela Gestão de Resíduos Sólidos.

Em evento realizado dia 14 de maio, na Fecomércio-SP, mais de 60 empresas assumiram compromissos voluntários. Elas solicitam medidas governamentais que agilizem a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

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lhões de toneladas, 1,8% a mais do que no ano anterior e duas vezes maior que o crescimento demográ-fico, que foi de 0,9%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desse total, 55,5 milhões de toneladas foram coletadas, mas enviadas a locais inadequados, como lixões e aterros controlados, em vez de irem para a reciclagem. Desafios – Esses números mostram o tamanho do desafio que as em-presas, os governos e a sociedade têm pela frente, até 2014.

Por isso, durante o evento, re-presentantes da Natura, da Abivi-dro e da Cushman & Wakefield, três signatárias do documento, comen-taram como veem esses desafios.

Para a diretora jurídica e de Relações Governamentais da Natura, Lucilene Prado, o tema dos resíduos sólidos é talvez dos mais complexos de toda a gestão sustentável, es-tando mesmo a sua gestão uma condição essen-cial para que outro modelo de economia, mais sustentável, pos-sa emergir. “A gestão dos resíduos altera as taxas de retorno dos in-vestimentos”, explicou ela. “Qual a nova curva necessária para um reequilíbrio rápido? Ou melhor, com qual nova ótica empresarial podemos estabelecer uma taxa de retorno que resolva a gestão dos resíduos? Essa é a pergunta que precisa de resposta”, advertiu.

Para o supe-rintendente da Abividro, Lu-cien Belmon-te, a PNRS não vai avançar en-quanto os pro-jetos bem-suce-didos localmente não mostrarem

que podem ser replicados no nível nacional.

O diretor de Engenharia e Sustentabilidade da Cushman & Wakefield, João Alves Pacheco, trouxe o caso concreto adotado pela empresa. Deno-minado Edifício Vivo, o programa estabelecido em 2009 faz a gestão de resíduos peri-gosos (pilhas, ba-terias, celulares) e de resíduos sólidos em 30 condo-mínios comerciais administrados pela corporação. Em 2012, por meio desse programa, foram recolhidos 8,5 toneladas desses resíduos e 50 mil lâmpadas fluorescentes. Governos – Simão Pedro Chio-vetti, secretário municipal de Serviços, destacou o esforço que a prefeitura de São Paulo está fa-zendo para cum-prir as metas da PNRS até 2014. Lembrando que a coleta seletiva na cidade já foi instituída há 20 anos e que nun-ca houve um processo de conti-nuidade, o secretário afirmou que pretende torná-la uma atividade mais estruturada, com apoio às cooperativas de catadores.

Bruno Covas, secretário esta-dual do Meio Ambiente, garantiu que São Paulo vai erradicar os lixões até 2014 e que vai aumentar consideravelmen-te os indicadores de coleta seletiva e reciclagem, por meio de acordos com setores, como aqueles já firmados entre a Fecomér-cio e o governo do estado.

O representante do Ministério do Meio Ambiente, Ney Maranhão,

salientou que a PNRS é uma lei que privilegia o diálogo e a inclu-são de brasileiros deserdados, os catadores. Sem minimizar o es-forço que precisa ser feito para se chegar às metas de 2014, Maranhão enfatizou os casos bem-sucedidos de reciclagem e de logística rever-sa. Citou especificamente o das embalagens de agrotóxicos, com 100% de devolução ao produtor e reaproveitamento. Articulação – No encerramento do evento, o presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, comentou a articulação que a entidade vem fazendo entre amplos setores da sociedade e com respeito a vários temas, para fazer avançar agen-das importantes para transformar as empresas e o país. “É res-peitando a so-ciedade civil e dialogando com os governos que as empresas podem ter um papel protagonista relevante na solução dos problemas que ainda afligem a nossa sociedade”, salientou ele.

“Não temos o domínio sobre as empresas, mas tentamos influen-ciar suas agendas de negócios, mos-trando que aquelas que investem no longo prazo obtêm mais resulta-do”, observou Abrahão, que também mencionou a experiência de cons-trução de compromissos voluntários empresariais que o Ethos possui. “Hoje, mostramos mais uma vez que a rara combinação de diálogo transparente com vontade política pode produzir iniciativas que fazem avançar tanto a agenda dos negócios e da sociedade rumo ao desenvol-vimento sustentável”, finaliza Jorge Abrahão.