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Este caderno é parte integrante da Revista da APM – Coordenação: Guido Arturo Palomba – Junho 2012 – Nº 236 SUPLEMENTO Isabelle Ribot Artista Plástica Fou du Roi (Bobo da Corte) Isabelle Ribot Na Grécia, desde a Roma Antiga e até os primeiros séculos de nossa era, sarcasmos, zombaria, farsas burlescas e insolên- cia tiveram um papel importante durante as festividades e outros encontros. Na Idade Média, na Inglaterra e na França, apareceram os Bouffons ou Fous (Loucos). A princípio, são verdadeiros loucos, jovens adolescentes ou homens ingênuos que divertem e fazem rir por serem desajei- tados. O papel deles é romper o tédio do Rei. Mas, pouco a pouco, isso se transforma, o Fou se torna mais técnico, ele não é tão louco assim. Começa então um jogo semelhante à co- média. O louco não só representa o errante, o imprudente, o irresponsável, mas também o ser livre. E, por isso, tem todos os direitos, ou, pelo menos, quase tudo lhe é permitido. Afinal, sob o pretexto de ser louco, não é possível falar tudo? O Fou acompanha o Rei em todas as ocasiões. Em particu- lar, durante as reuniões públicas, nos banquetes e em outras festas. Ele faz o papel do espelho do Rei, o alter ego, e é a úni- ca pessoa que tem direito de zombar do soberano. O louco é um provocador e, ao mesmo tempo, servidor, animador, ar- tista, caprichoso, imprevisível, fantasista, ele representa a consciência, a tentação, a desmistificação, usando a metáfora, a paródia e a imitação. Sua atuação e sua personalidade são importantes, sendo a primeira realizada para ironizar e também para exaltar o fer- vor de viver. Era uma profissão para a vida toda, de certa maneira, o equivalente a um emprego como funcionário público. Todos os Reis tiveram então seu próprio Fou, que podia ser… uma Folle (Louca), uma das raríssimas profissões que as mulheres tinham o direito de exercer naquela época. Na França, a primeira Folle se chamava Mathurine, a Folle de Henri IV (1553-1610). Assim como já narramos, o Fou se autorizava fazer reflexões e comentários que nenhum integrante da corte ou conselheiro do Rei poderia se permitir. Seu status de Louco lhe conferia todas as liberdades. Por isso, era uma pessoa que tinha certa influência política: por menor que seja, ela existia. Devemos relatar também que o Fou era, ao mesmo tempo, Garde-fou (Protetor): ia além da imitação habitual do Rei, re- velando as coisas que este não podia falar; como era conside- rado um divertimento, o Rei também usava seu Louco para expressar opiniões que ele não podia transmitir aos seus con- selheiros. Assim, o Fou o protegia. A época na qual apareceram os primeiros Fous, desajeitados, dispostos (ou usados) para divertir é muito distante da atual. A nova geração de Fous que aparece no século XI é constituí- da de homens e mulheres d’esprit, alguns verdadeiramente sábios. Aliás, na França, François I (século XVI) criou uma Ecole des Fous! A partir do século XVIII, o Fou não se faz mais necessário: nessa época, as sátiras viraram um exercício comum na Corte. Já não era preciso Fous para se divertir e falar com liberdade. Outros já tinham assumido essa tarefa! Os Bouffons, da Antiguidade, e mais tarde os Fous deram origem à commedia dell’arte, que divertiu e inspirou milhares de espectadores, já que os atores eram itinerantes. Os personagens ridicularizavam abertamente as regras em vigor. Suplemento_junho 2012.indd 1 28/05/2012 15:03:53

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Este caderno é parte integrante da Revista da APM – Coordenação: Guido Arturo Palomba – Junho 2012 – Nº 236

SUPLEMENTO

Isabelle ribotArtista Plástica

Fou du Roi(Bobo da corte)

Isabelle ribot

Na Grécia, desde a Roma Antiga e até os primeiros séculos de nossa era, sarcasmos, zombaria, farsas burlescas e insolên-cia tiveram um papel importante durante as festividades e outros encontros.

Na Idade Média, na Inglaterra e na França, apareceram os Bouffons ou Fous (Loucos).

A princípio, são verdadeiros loucos, jovens adolescentes ou homens ingênuos que divertem e fazem rir por serem desajei-tados. O papel deles é romper o tédio do Rei. Mas, pouco a pouco, isso se transforma, o Fou se torna mais técnico, ele não é tão louco assim. Começa então um jogo semelhante à co-média. O louco não só representa o errante, o imprudente, o irresponsável, mas também o ser livre. E, por isso, tem todos os direitos, ou, pelo menos, quase tudo lhe é permitido.

Afinal, sob o pretexto de ser louco, não é possível falar tudo?O Fou acompanha o Rei em todas as ocasiões. Em particu-

lar, durante as reuniões públicas, nos banquetes e em outras festas. Ele faz o papel do espelho do Rei, o alter ego, e é a úni-ca pessoa que tem direito de zombar do soberano. O louco é um provocador e, ao mesmo tempo, servidor, animador, ar-tista, caprichoso, imprevisível, fantasista, ele representa a consciência, a tentação, a desmistificação, usando a metáfora, a paródia e a imitação.

Sua atuação e sua personalidade são importantes, sendo a primeira realizada para ironizar e também para exaltar o fer-vor de viver.

Era uma profissão para a vida toda, de certa maneira, o equivalente a um emprego como funcionário público.

Todos os Reis tiveram então seu próprio Fou, que podia ser… uma Folle (Louca), uma das raríssimas profissões que as

mulheres tinham o direito de exercer naquela época. Na França, a primeira Folle se chamava Mathurine, a Folle de Henri IV (1553-1610).

Assim como já narramos, o Fou se autorizava fazer reflexões e comentários que nenhum integrante da corte ou conselheiro do Rei poderia se permitir. Seu status de Louco lhe conferia todas as liberdades. Por isso, era uma pessoa que tinha certa influência política: por menor que seja, ela existia.

Devemos relatar também que o Fou era, ao mesmo tempo, Garde-fou (Protetor): ia além da imitação habitual do Rei, re-velando as coisas que este não podia falar; como era conside-rado um divertimento, o Rei também usava seu Louco para expressar opiniões que ele não podia transmitir aos seus con-selheiros. Assim, o Fou o protegia.

A época na qual apareceram os primeiros Fous, desajeitados, dispostos (ou usados) para divertir é muito distante da atual. A nova geração de Fous que aparece no século XI é constituí-da de homens e mulheres d’esprit, alguns verdadeiramente sábios. Aliás, na França, François I (século XVI) criou uma Ecole des Fous!

A partir do século XVIII, o Fou não se faz mais necessário: nessa época, as sátiras viraram um exercício comum na Corte. Já não era preciso Fous para se divertir e falar com liberdade. Outros já tinham assumido essa tarefa!

Os Bouffons, da Antiguidade, e mais tarde os Fous deram origem à commedia dell’arte, que divertiu e inspirou milhares de espectadores, já que os atores eram itinerantes. Os personagens ridicularizavam abertamente as regras em vigor.

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2 SUPLEMENTO cULTUraL

Ilha dos amoresNelson Di Francesco

Você sabia que, distando 1,5 quilômetro da sede da Asso-ciação Paulista de Medicina – Avenida Brigadeiro Luís Antô-nio, 278 – e por volta de 135 anos atrás, existiu uma ilha? Sim, era a Ilha dos Amores.

Vou explicar. Localizava-se no espaço que hoje é preenchido pelo Termi-

nal de ônibus Parque D. Pedro II, podendo ser acessado fa-cilmente por quem sair da sede da APM pelo seguinte caminho sequencial: Avenida Brigadeiro Luís Antônio – Viaduto Dona Paulina – Praça João Mendes – Praça da Sé – descer a Aveni-da Rangel Pestana até quando ela encontra o Parque D. Pedro II e virar à esquerda.

O Presidente da Província à época, Dr. João Theodoro Xavier (gestão 1872-1875), promoveu diversos melhoramen-tos na cidade de São Paulo, substituindo parte dos terrenos paludosos e miasmáticos existentes à margem direita do Rio

Tamanduateí por jardins, na então extensa Várzea do Carmo, junto à atual Rua 25 de Março, criando no ano de 1874 a Ilha dos Amores.

Uma ilha artificial estabelecida com a duplicação do canal do Rio Tamanduateí, “em área próxima a um depósito de lixo, ficou totalmente submersa nas primeiras chuvas de verão, em 1874” (Cf. CAMPOS, Eudes. Jardins públicos paulistanos no tempo de João Teodoro. Informativo do Arquivo Histórico Muni-cipal. São Paulo: PMSP/SMC/DPH, ano 1, n. 14, 2006).

Era um espaço público destinado a banhos, esportes, divertimentos náuticos, contendo restaurante e botequim (para a venda de bebidas, como caramuru ou gengibirra, ambas à base milho). A ilha chegou a ser chamada de poé-tica, aprazível, saudável e teve exaltados os seus caraman-chões perfumados... Nas extremidades, havia pequenos bosques semelhantes ao do paisagismo inglês.

Ilha dos Amores, s/d , Marc Ferrez

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SUPLEMENTO cULTUraL 3

Nelson Di FrancescoPesquisador Histórico

“... então ainda linda, muito florida e garrida, com seus canteiros perfumados, com sua pontezinha alta e recurva, à moda chinesa, deixando lá embaixo as águas claras do Tamanduateí...” (Cf. CARVALHO, Afonso José de. São Paulo antigo (1882-1886). Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, v. 41, p. 51, 1942).

Frequentada principalmente pelos estudantes de Direito que ali realizavam serenatas, o local possuía vocação para encontros de namorados. E não acredito que fosse recomen-dado às “mocinhas de família”...

O Arquivo do Estado guarda importantes ofícios encami-nhados ao Presidente da Província e a outras autoridades, abordando aspectos daquele cotidiano. Entre eles:

• “Em cumprimento as ordens de V. Exª vou principia (sic) a construção da Ponte pª a Ilha dos Amores, rogo a V. Exª para que mande abrir credito, pª essa obra afim de pagar os materiais comprados e encomendados...” – o Inspector dos Jardins, Antonio Bernardo Quartim, em 29 de maio de 1874.

• “... Tenho a honra de informar a V. Exª que a Casa de Banhos funcionou desde o dia 22 de Agosto do anno próximo passado ate 31 de Dezembro do dito anno atin-gindo o seu rendimento a quantia de cento e dezessete mil e duzentos reis (117$200 rs.) tendo se despendido vinte e oito mil e setecentos reis (28$700 rs.)...” – Joaquim Marcellino de Alvarenga, em 20 de janeiro de 18761.

• “Achando-se a tempo feixado (sic) o Botequim da Ilha dos Amores desta Cidade... onde se ajunta a noite varias pessoas s de profissão ignorada para fins desconhecidos, onde see acumula carnes deterioradas causando miasmas e mau cheiro as pessoas que por lá tranzitão (sic), recolhendo flores da referida Ilha...” – o Inspector dos Jardins, Antonio Bernardo Quartim, em 16 de dezembro de 1882.

Pelo que já resgatei sobre o assunto, não acredito que a “ilha” fosse esse espaço aprazível como descrito (nos primei-ros anos de funcionamento, talvez sim), sendo dignas de menção as Notas de viagem, de Firmo de Albuquerque Diniz, a esse respeito:

“... Quem descendo pela rua municipal (atual Rua General Carneiro) encaminhar-se para o aterrado do Gasômetro observará um curioso contraste, logo que chegar à primei-ra parte: terá a sua direita a ilha ajardinada, e à sua esquerda o depósito de lixo, distante dali poucos passos. Se não quiser olhar para as flores e aspirar seus perfumes, pode volver-se à esquerda e encontrará variedade de objetos, muito agradáveis aos olhos, tais como ossos, sapatos velhos, latas enferrujadas, colchões, travesseiros apodrecidos e mais... No inverno não se pode estar ali porque toda a vár-zea é varrida pelo vento bastante frio e úmido; no verão, tempo das chuvas, fica ela em parte alagada, pelo transbor-damento do Tamanduateí. Nos dias sempre que se sucedem aos de chuva, dias de calor, quem for à Ilha há de arriscar-se a voltar para casa, trazendo o germe de grave moléstia: a temperatura elevada nessa estação, a umidade do solo e do subsolo e a decomposição de detritos orgânicos natural-mente desenvolverão elementos mórbidos...”

E também conforme o já citado historiador Eudes Campos: “... Curiosa era a luminária decorativa de ferro fundido, figu-rando um Pajem do século XVI, assentada numa base de al-venaria disforme e descomunal. Depois de desmanchada a ilha artificial, a escultura foi transferida para o Largo do Arouche, mais tarde para o jardim da sede do Centro de Es-tudos Jurídicos da Prefeitura (Cejur)”.

E nos dizeres do historiador Afonso Antonio de Freitas: “... Obstruído em 1888, o pequeno canal que separava da Rua 25 de Março, a primitiva restinga de terra transformada em ilha, arrasados os canteiros e também as instalações de banhos públicos ali existentes, destruídas ou removidas as obras de arte que ornamentavam o belo logradouro. Construiu-se em seu lugar o Mercado do Peixe e também o de Verduras, os quais, por seu turno, não tardaram em desaparecer para com-plemento do atual Parque D. Pedro II”.

Infelizmente, a história da Ilha dos Amores ainda não foi contada, constituindo -se como mais um dos vários capítulos não explorados da nossa historiografia paulistana. Pouco material impresso existe sobre ela; fotos ou mesmo gravuras são raras, e a maioria da população desconhece aquele espaço (poético ou não), outrora existente na região central de nossa cidade.

1 Joaquim Marcellino de Alvarenga (1841-1912) morou na Rua da Boa Morte (atual Rua do Carmo), foi zelador da Ilha dos Amores entre 1876 e 1877 e é meu bisavô materno!

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4 SUPLEMENTO cULTUraL

carreira funcional no Sistema Único de Saúde (SUS)?

Nelson Guimarães Proença

Introdução

Em Campos do Jordão, vem sendo realizado um projeto de Educação Médica Continuada (EMC), que foi denomi-nado ATUALIZE. Ele está aberto para receber inscrições dos médicos que atendem não somente nesta cidade, mas também nas cidades vizinhas. Iniciado em 2009, já realizou 35 jornadas (mensais), abordando temas de todas as áreas da Medicina, os quais foram escolhidos pelos próprios médicos participantes, refletindo, assim, a preocupação de manter elevado, de maneira qualitativa, o nível do atendi-mento diário que é oferecido ao paciente. ATUALIZE é uma iniciativa bem-sucedida e já consagrada pela prática.

Não obstante, um aspecto despertou a atenção e suscitou algum debate: foi o baixo número de inscrições para parti-cipar do ATUALIZE de médicos que atendem ao Sistema Único de Saúde, o SUS. No entendimento dos organizado-res, seria este um importante público-alvo a ser alcançado.

É conhecido o fato de o Governo Estadual de São Pau-lo (e, até certo ponto, também o Governo Federal) estar empenhado em criar uma carreira funcional para os médi-cos do SUS, possibilitando, assim, a promoção de nível e de salários. Acredita-se que, sendo adotada a carreira fun-cional, estará aberto o caminho que despertará o interesse pelo trabalho no serviço público. Sem dúvida, a criação da carreira será um incentivo que pode mudar radicalmente o cenário atual, no qual predominam fortes críticas sobre o desempenho do SUS.

Caso venha a ser implantada a carreira, de imediato sur-girá a questão da qualidade dos serviços oferecidos, que passa, é claro, por instalações e equipamentos adequados. Mas depende, sobretudo, da qualificação do material hu-mano que comporá o quadro funcional. E é aqui que poderá ser útil a experiência acumulada com a execução do ATUALIZE.

É possível, então, viabilizar um atendimento de melhor qualidade do SUS à população? Acredito que sim e peço condescendência para apresentar uma proposta, para dis-cussão. Se for inexequível, que seja rejeitada. Se for viável, por que não tentar?

Objetivo

1) É preciso oferecer, permanentemente, EMC aos médicos que atendem o SUS.

2) É necessário estabelecer uma carga horária anual obrigatória de EMC.

3) É indispensável realizar testes sobre os temas abor-dados, para avaliar a agregação de conhecimento.

4) Tendo em vista a promoção funcional, é preciso considerar como pré-requisito a frequência aos cur-sos de EMC e os resultados das avaliações.

apoio logístico

Para assegurar o nível de um programa de EMC, são necessárias parcerias:

1) Participação de Escola Médica, preferencialmente localizada em cidade da região onde vai ser realizada a EMC, permitindo o acesso fácil às jornadas. O

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SUPLEMENTO cULTUraL 5

Nelson Guimarães ProençaProfessor Emérito da Faculdade de Ciências Médicas

da Santa Casa de São Paulo, Membro Titular da Academia de Medicina de São Paulo, Ex-Presidente

da Associação Médica Brasileira e Ex-Presidente da Associação Paulista de Medicina.

curso deve ser reconhecido e oficializado por essa Escola Médica, sendo então expedido o competente certificado, tanto aos expositores como aos inscritos.

2) Como expositores serão convidados, principalmen-te, os docentes dessa Escola Médica, é necessário mantê-los motivados, buscando para tanto possíveis fatores de incentivo.

3) As jornadas devem ser programadas para ocorrerem no auditório da cidade que disponha de equipamentos de projeção e som adequados. De preferência, que seja em hospital público ou privado (neste caso, convenia-do ao SUS).

4) É recomendável obter o apoio dos médicos da cida-de-sede, buscando, com esse propósito, parceria com a Associação Médica que os representa. Supõe-se que esses médicos, mesmo não pertencendo ao SUS, tenham interesse em se manterem atualizados.

5) É indispensável a parceria com a(s) Secretaria(s) Municipal(ais) de Saúde, do(s) município(s) onde se realiza a EMC.

Instrumentos sugeridos

1) Buscar entrosamento com a rede de teleconferências. No caso de São Paulo, ajustar -se ao programa Educa-SUS, já mantido por convênio existente entre a Secre-taria de Estado da Saúde, a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e a Federação das Misericórdias do Estado de São Paulo.

2) Organizar a EMC, levando também em conta recur-sos já existentes, ou que venham a ser criados, por meio da internet.

3) Solicitar a colaboração dos docentes que participam do ATUALIZE, visando a tornar disponíveis suas exposições, por meio de textos inseridos na internet.

avaliação periódica

1) Organizar testes de avaliação sobre os temas que foram abordados.

2) Para os frequentadores da EMC, com teste de ava-liação favorável, conceder incentivos para a partici-pação em eventos científicos (jornadas, congressos etc.), bem como estágios de curto período em Facul-dades/Escolas de Medicina.

3) Registrar em ficha funcional as participações no pro-grama de EMC, bem como as respectivas avaliações.

4) Para efeito de promoção funcional e/ou salarial, levar em consideração não só critérios de antiguidade, mas

sobretudo o mérito resultante da atualização do conhecimento.

Padronização do atendimento, visando à qualidade

1) Atualmente, a avaliação do atendimento médico ofe-recido à população, que tem cobertura pelo SUS, carece de instrumentos confiáveis, como a carteira de vacinações, utilizada em toda a rede básica. Protoco-los que estimulem um melhor atendimento precisam ser desenvolvidos.

2) Esses protocolos devem ser feitos, pois permitem melhor acompanhamento de variados processos mórbidos. Não devem ser longos ou complexos nem difíceis de preencher. Mesmo sendo curtos e ágeis, podem representar uma ferramenta útil para avaliar os resultados do atendimento oferecido pelo SUS.

3) A introdução de protocolos pode ser divulgada e discutida em jornadas do projeto de EMC.

conclusões

1) Há sinais de que o Governo do Estado de São Pau-lo vê com simpatia a criação da carreira funcional para o médico que presta atendimento ao SUS. Por essa razão, julgamos pertinente fazer as presentes considerações.

2) O principal ponto a ser discutido é que a decisão de criar uma carreira ascendente, com correspondente melhoria salarial, não visa apenas aos critérios “tem-po de serviço” e “cumprimento de horários de tra-balho”. É preciso levar em conta, também, a promo-ção decorrente do mérito daquele que está sendo proposto, para obter uma promoção funcional.

3) O mérito tem duas faces: a) a preocupação em manter o conhecimento atualizado, por meio da participação em cursos de EMC; b) o trabalho com protocolos que permitam avaliar se as metas qualitativas do Poder Público, na área da Saúde, estão sendo atingidas.

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6 SUPLEMENTO cULTUraL

Em dorsos gigantes cobertos de matas

estende-se a serra de vales profundos...

Do húmus fecundo, resíduo dos tempos,

ostenta-se o viço da flora nativa

da Serra Japi... Adornada de flores

de vários matizes, em todos os cantos

tem aves canoras, cigarras que trilam

no verde cambiante da espessa folhagem...

Já é primavera... Da terra trescalam

olores de vida de espécies infindas...

caNTOS, ÁGUaS E ENcaNTOS(Um tributo à Serra Japi)

antonio J. amadi

Ipês, manacás e silvestres florinhas

ostentam seu néctar a mil beija-flores,

a enxames de abelhas e azuis borboletas...

Solenes retumbam as forças do cio

na mata fechada... Fiéis aos registros

das notas da pauta de suas melodias,

a seus territórios demarcam os sabiás,

na forte cadência de pios de sem-fins

e ariscos nhambus... Tangarás agrupados

em saltos de dança nas altas ramagens

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SUPLEMENTO cULTUraL 7

antonio J. amadiEscritor

exibem os ritos de seus esponsais...

Em doce marulho regatos translúcidos,

a sombra escorrendo de enormes xaxins,

adiante despencam em serena cascata,

batendo, espumando, nas pedras limbosas,

vapores de orvalho deixando nas folhas,

nos líquens, nos caules das plantas da margem...

.................................................................................

Ali nos confins de grotões esquecidos,

recanto de encanto, de canto e das águas,

ouvindo o silêncio de paz e aconchego,

a Mãe Natureza da Serra Japi

oculta mistérios e tece louvores

nas sombras da mata, nos seres de Deus...

.................................................................................

Japi, minha serra de histórias, de lendas,

de espectros sombrios das crenças de infância,

em que a onça vagueava esturrando feroz...

Ah! Serra dos sonhos dos tempos de moço,

no canto das aves eu ouço tua voz!

Perene povoas as minhas saudades,

num mundo de imagens que guardo de ti,

pois vives nas trilhas de minha emoção...

És como um retrato que levo escondido

no escrínio pulsante de meu coração!

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8 SUPLEMENTO cULTUraL Coordenação: Guido Arturo PalombaJunho 2012

DEParTaMENTO cULTUraLDiretor: Guido Arturo Palomba – Diretor adjunto: Carlos Alberto Monte Gobbo

conselho cultural: Duílio Crispim Farina (in memoriam), Luiz Celso Mattosinho França, Affonso Renato Meira,José Roberto de Souza Baratella, Arary da Cruz Tiriba, Luiz Fernando Pinheiro Franco e Ivan de Melo de Araújo

cinemateca: Wimer Bottura Júnior – Pinacoteca: Guido Arturo Palomba

Museu de História da Medicina: Jorge Michalany (curador), Nílceo Schwery Michalany (vice ‑curador)

O Suplemento Cultural somente publica matérias assinadas, as quais não são de responsabilidade da Associação Paulista de Medicina.

analogias em Medicina (n. 32)

Eos: a deusa da madrugadaA mitologia grega registra a famosa tríade das divindades

celestes e comenta sobre suas inúmeras e indispensáveis ati-vidades. São representadas por Hélio, o Sol, Eos, a Aurora e irmã de Hélio e Selene, e a Lua, esposa do Sol. Hélio é a per-sonificação da luz solar, sendo filho do titã Hipérion e da ti-tânide Téia. Os gregos o imaginavam como um enorme olho que via tudo das alturas, ou como um esplendoroso jovem com cabelos de ouro e coroa de raios.

Todas as manhãs, Hélio ajeitava-se em um carro alado, conduzido por cavalos de fogo, iniciando sua viagem do Oriente até a profunda corrente do rio Oceano, para passar pela Terra e alcançar a cúpula celeste. Ao meio -dia, encontra-va-se no ponto mais alto do céu para, em seguida, descer lentamente, chegando ao Ocidente e fundindo-se com o Ocea-no, o rio que circundava o mundo.

Eos, a Aurora, a deusa da madrugada, de cor róseo-aver-melhada, trazia a primeira luz da manhã e anunciava a viagem do Sol. É a divindade dos “dedos cor-de-rosa”, segundo o poeta Homero. Seu brilho incomparável e a frescura que continha foram motivos de admiração e, por consequência, objetos do desejo e do amor de muitos jovens.

De acordo com a tradição, Ares enamorou-se de Eos e a cortejou, porém foi rejeitado por ela. Afrodite, a deusa do amor, insatisfeita com a conduta de Aurora, condenou-a a enamorar-se de todos os jovens belos que encontrasse. Assim, Eos se uniu a vários jovens. Contudo, foi raptada por Titono, que, em seu carro de fogo, levou-a ao seu palácio, onde se casaram. Para o marido sempre a seu lado, Eos rogou a Zeus que o fizesse imortal. Zeus atendeu o seu pedido, mas não concedeu ao esposo a infinita juventude. Assim, chegou o momento em que Titono estava tão consumido pelo tempo, que mal se podia escutar sua voz. Eos, para libertar-se de semelhante tormento, transformou-o em cigarra.

A deusa grega da madrugada, Eos (do ingl., The greek goddess of the dawn), serviu de inspiração conveniente para a palavra

eosina – corante róseo-avermelhado muito usado em histologia, histopatologia, hematologia e microbiologia. O corante eosina é um sal sódico da tetrabromofluoresceína e faz parte também da composição de tintas e cosméticos.

O termo eosinófilo foi criado por Paul Ehrlich – bacterio-logista e imunologista alemão – para denominar os glóbulos brancos, que têm afinidade para os corantes ácidos e, por isso, exibem grânulos róseo-avermelhados no citoplasma. Trata-se de um tipo de leucócito muito importante na defesa contra helmintos, sobretudo nos que invadem tecidos. Adere-se ao corpo de parasitos e libera substâncias com efeito helminto-cida. Sua presença é também indispensável na caracterização e no diagnóstico de certas doenças.

Outros termos relacionados e muito conhecidos dos profis-sionais da saúde incluem eosinofilia e eosinopenia, isto é, o maior ou menor número de eosinófilos no sangue periférico; eosinofí-lico, que significa elementos celulares ou teciduais que se coram facilmente pela eosina; eosinofilúria: presença de eosinófilos na urina; eosinotaxia: movimento de eosinófilos com referência a um estímulo que os atrai ou os repele; eosofobia: pavor mórbido das madrugadas ou do amanhecer (eos: madrugada, amanhecer; fobos: medo). O antipositivo eo(s) ocorre também em cultismos, preferencialmente da terminologia geológica e mineralógica.

Texto baseado nas seguintes referênciasMAVROMATAKI, M. Mitología griega. Atenas: Ediciones Xaitali, 1997.PENA, G. P.; ANDRADE-FILHO, J. S. Analogies in medicine: valuable for learning, reasoning, remembering and naming. Adv in Health Sci Educ, 2010 Oct; 15(4):609-19. Epub 2008, Jun. 5, e outras fontes.

José de Souza andrade FilhoProfessor de Anatomia Patológica da Faculdade de

Ciências Médicas de Minas Gerais

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