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SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA SUMÁRIOS de Acórdãos 2003 SECÇÕES CÍVEIS Gabinete dos Juizes Assessores Luís Falcão - Nuno Sampaio - Vaz Gomes - Isabel Verde Responsabilidade civil Pedido genérico Ampliação do pedido Tendo o autor formulado pedido de condenação da Ré no pagamento de certa quantia e “o que mais se apurar no decurso da acção”, nesta última parte, o pedido é genérico, sendo legítima a posterior ampliação do pedido em razão de danos revelados no decurso do processo (art.º 569 do CC), nada tendo a ver com a situação, o disposto no art.º 273, n.º 5, do CPC. V.G. 14-01-2003 Agravo n.º 3987/02 - 6.ª Secção Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhães Silva Paixão Acidente de viação Dano morte Provando-se nas instâncias que o filho dos autores, vítima de um acidente de viação para o qual em nada contribuiu tinha, à data, 24 anos de idade e terminava o curso de Engenharia, é equitativo o montante de PTE 6.000.000,00 fixado nas instâncias a título de reparação pela perda do direito à vida. V.G. 14-01-2003 Revista n.º 3933/02 - 6.ª Secção Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhães Silva Paixão Acidente de viação

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA · Tendo o autor formulado pedido de condenação da Ré no pagamento de certa quantia e “o que ... Não é o depositante que acordou com o ... evidenciador

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  • SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIA

    SUMRIOS de Acrdos

    2003

    SECES CVEIS

    Gabinete dos Juizes Assessores

    Lus Falco - Nuno Sampaio - Vaz Gomes - Isabel Verde

    Responsabilidade civil Pedido genrico Ampliao do pedido Tendo o autor formulado pedido de condenao da R no pagamento de certa quantia e o que mais se apurar no

    decurso da aco, nesta ltima parte, o pedido genrico, sendo legtima a posterior ampliao do pedido em razo de danos revelados no decurso do processo (art. 569 do CC), nada tendo a ver com a situao, o disposto no art. 273, n. 5, do CPC.

    V.G. 14-01-2003

    Agravo n. 3987/02 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhes Silva Paixo

    Acidente de viao Dano morte Provando-se nas instncias que o filho dos autores, vtima de um acidente de viao para o qual em nada

    contribuiu tinha, data, 24 anos de idade e terminava o curso de Engenharia, equitativo o montante de PTE 6.000.000,00 fixado nas instncias a ttulo de reparao pela perda do direito vida.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 3933/02 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhes Silva Paixo

    Acidente de viao

  • Matria de facto O art. 1, n. 2 do CEst de 1954, uma norma primria sem sano especfica, devendo o seu contedo

    concretizar-se em factos que se possam subsumir s normas secundrias, nomeadamente mediante a alegao da velocidade a que o veculo interveniente no acidente seguia para se poder concluir que uma certa manobra de recurso pelo seu condutor feita para evitar a coliso com algo que se atravessou a 5 metros do veculo, de que resultou o seu despiste e consequentes danos, teve por causa uma conduo desatenta e descuidada.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4229/02 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhes Silva Paixo

    Compensao Juros de mora Invocando a R, na contestao, a compensao de crdito da autora com crdito seu sobre aquela, realizada a

    compensao dos crditos com referncia data da contestao, o crdito da autora que no ficou extinto (o valor no compensado), continuou a vencer juros desde o momento da constituio da R em mora.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4262/02 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhes Silva Paixo

    Contrato de mtuo Casamento Prova Proveito comum nus da prova I - No se tratando de aco de estado e se a situao de casado apenas invocada para efeitos patrimoniais, no

    constituindo thema decidendum, mas apenas mera condicionante, nada impede que se tenha como provada se no foi contestada ou impugnada.

    II - No se presumindo o proveito comum do casal, ao abrigo do n. 3, do art. 1691, do CC, alegando o autor, to s, que o emprstimo reverteu em proveito comum daquele, no se concretizando o destino dado ao veculo adquirido com o emprstimo concedido ao ru marido pela autora, no se sabendo se o emprstimo foi contrado dentro dos limites dos poderes de administrao do muturio, a r mulher no contraente, deve ser absolvida do pedido.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4346/02 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhes Silva Paixo

    Jogo Se na zona de raspagem da lotaria instantnea (raspadinha), existem 2 crculos tangentes ou de um oito e se cada

    um deles contm 6 nmeros e se do Regimento do Concurso consta descubra 3 quantias iguais e ganhe essa quantia. Pode ganhar nos dois coraes se encontrar 3 quantias iguais em cada., o prmio s atribudo a quem no seu bilhete tiver em cada um dos crculos, trs quantias iguais.

    V.G.

  • 14-01-2003 Revista n. 4118/02 - 6. Seco Armando Loureno (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Reivindicao Presuno nus da prova I - Para a procedncia da aco de reivindicao, basta que as autoras invoquem, a seu favor, a presuno legal

    que resulta do registo definitivo da coisa em seu nome. II - No logrando os rus fazer prova da aquisio, por usucapio, prevalece a invocada presuno (do art. 7 do

    CRgP), a favor das autoras, de que o ajuizado direito de propriedade existe e pertence a estas, sendo irrelevante a falta de prova de actos conducentes aquisio por usucapio, dado que quem tem uma presuno legal a seu favor, est dispensado de provar o facto a que ela conduz.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4122/02 - 6. Seco Azevedo Ramos (Relator) Silva Salazar Ponce de Leo

    Contrato de depsito bancrio Transferncia Autorizao I - No decorre do disposto no art. 1189, do CC, que a autorizao para transferncia bancria tenha de ser dada

    por escrito. II - Decorre da boa f nos negcios e seus preliminares, no fundo da autonomia das partes consagrada no art.

    405, do CC, o modo como deve ser entendida a autorizao a dar pelo depositante ao depositrio nas transferncia bancrias.

    III - Para salvaguarda quer do depositante quer do depositrio, a autorizao por escrito da operao, antes ou depois da mesma se efectuar, tem razo de ser.

    IV - As ordens de transferncia de vrias quantias da conta ordem da sociedade autora, emitidas pelo scio gerente, para as contas de outras sociedades, que tm o mesmo gerente que as obriga, ou para a conta ordem desse mesmo scio gerente, se o depositrio as aceitar como boas, tero os benefcios inerentes falta de documentao das autorizaes.

    V - A este nvel vale o acordo entre o depositante e o depositrio, face relao de confiana estabelecida. VI - No o depositante que acordou com o depositrio nessa tramitao transferencial de quantias de uma conta

    ordem para outras contas que tem legitimidade para, a posteriori e no seu interesse, colocar em crise esse acordo, pois caso de abuso de direito.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4048/02 - 1. Seco Barros Caldeira (Relator) Faria Antunes Lopes Pinto

    Letra de cmbio Ttulo executivo Comprovando-se nas instncias que a letra de cmbio dada execuo foi emitida com a clusula sem

    despesas, foi aceite e avalizada pelos embargantes, e que, posteriormente, a referida clusula e o aval foram riscados por inadvertncia de um funcionrio da exequente aps o vencimento do ttulo, a letra continua a

  • valer inter partes, dispensando o protesto, vinculando o avalista como ttulo executivo, nos termos do art. 46, alnea c) do CPC.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 509/02 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Acidente de viao Danos futuros Incapacidade parcial permanente Montante da indemnizao I - Para efeitos de indemnizao por danos resultantes de acidente de viao para o qual a vtima em nada

    contribuiu, no releva o que se ganha mas o que se perde e se do vencimento da vtima de acidente de viao era-lhe retido 20% pela entidade patronal para o IRS, o prejuzo incidir apenas sobre 80% do referido ven-cimento.

    II - Comprovando-se nas instncias que a vtima referida em I e que ficou a padecer de uma IPP de 45%, auferia a quantia mensal de PTE 223.500,00, acrescida de PTE 1.200.000,00 anuais sujeitos a reteno de IRS, equitativo fixar em PTE 20.000.000,00 a indemnizao pela perda da sua capacidade de ganho.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 3951/02 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) Lopes Pinto Ribeiro Coelho

    Preterio do tribunal arbitral Tendo a r na contestao excepcionado a excepo dilatria de preterio de tribunal arbitral necessrio,

    excepo essa que, no saneador, o juiz julgou improcedente, conhecendo oficiosamente, nesse momento, da incompetncia internacional dos tribunais portugueses, com consequente absolvio da r da instncia, recor-rendo apenas a autora, contra-alegando a r com a impugnao da matria de facto, nos termos do art. 684-A do CPC, trazendo colao o conhecimento da excepo do tribunal arbitral, impunha-se Relao conhecer dessa excepo pelo que, no o fazendo, incorreu o acrdo na nulidade por omisso de pronncia.

    V.G. 14-01-2003

    Agravo n. 3979/02 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) Azevedo Ramos Ribeiro Coelho

    Cheque Crime Prescrio Interrupo I - A participao crime pela emisso de cheque sem proviso contra os ento gerentes da sociedade sacadora do

    cheque, exprime directa ou indirectamente a inteno de exercer o direito ao ressarcimento, interrompendo a prescrio de seis meses prevista no art. 52 da LUCh, por fora do art. 323 do CC.

    II - Datado o cheque de 31-07-99, notificada a portadora dele do arquivamento do processo crime por carta de 06-10-2000 (por fora do art. 11, n. 3, do DL n. 316/97, de 19-11, devido a no se tratar de um cheque para pagamento imediato de uma dvida), instaurada a execuo em 30-11-2000 contra a sociedade sacadora, dentro do prazo de seis meses, aps aquela notificao, no prescreveu o direito de aco cambiria.

  • V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4017/02 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) Lopes Pinto Ribeiro Coelho

    Venda judicial Credor hipotecrio Contrato de arrendamento Caducidade I - O disposto no art. 1057, do CC, inaplicvel em processo executivo, sendo inoponveis ao comprador em

    venda judicial, por fora do n. 2, do art. 824, do CC, as relaes locatcias constitudas posteriormente ao registo de qualquer garantia.

    II - A subsuno da frmula legal demais direitos reais do n. 2 do art. 824 do CC de fazer por recurso analogia, por se presumir que, relativamente situao indicada em I, procedem as razes justificativas da regulamentao expressa adoptada para os direitos reais de gozo em geral contemplada no mesmo preceito da lei.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4264/02 - 6. Seco Fernandes Magalhes (Relator) Silva Paixo Armando Loureno

    Divrcio

    Dever de coabitao Dbito conjugal I - O comprometer a vida em comum integra em primeiro lugar um juzo de facto ( preciso que a falta tenha

    sensibilizado de tal modo o cnjuge ofendido que a vida em comum entre eles tenha cessado, que tenha incompatibilizado um com o outro como marido e mulher) e, em segundo lugar, essencial que esteja comprometida a possibilidade de vida em comum entre eles, o que integra um juzo hipottico de possibilidade, com alguns ingredientes de carcter tico.

    II - A prova da culpa do cnjuge que violou o dever conjugal de coabitao vem a ser, na realidade, uma prova indirecta reconduzindo-se prova das circunstncias ou dos que, de acordo com as regras da experincia, constituam indcios ou revelaes da mesma.

    III - Tomando o ru marido deciso prpria no sentido de pr termo sua relao matrimonial, saindo o mesmo da residncia conjugal sem qualquer motivo, acompanhado de um comportamento evidenciador da ruptura conjugal, aquele intuito concretizou-se por uma deciso que viola alm do mais o dbito conjugal, ocorrendo violao culposa do dever de coabitao e comprometimento da vida em comum.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4347/02 - 6. Seco Fernandes Magalhes (Relator) Silva Paixo Armando Loureno

    Acidente de viao Interrupo da prescrio Reconhecimento da dvida I - A interrupo da prescrio, envolvendo um facto constitutivo do direito de indemnizao, tem de ser

    invocado pelo respectivo titular, nos termos do art. 342, n. 1, do CC.

  • II - A circunstncia de a r seguradora ter remetido autora cartas onde solicitava dados sobre o montante discriminado dos prejuzos eventualmente sofridos, no envolve o reconhecimento do direito do autor, nos termos do art. 326 do CC.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4177/02 - 1. Seco Lemos Triunfante (Relator) Reis Figueira Barros Caldeira

    Falncia Reclamao de crditos Crdito laboral Cessao do contrato de trabalho Privilgio creditrio I - Sendo os crditos reclamados pelos trabalhadores na sua quase totalidade decorrentes da cessao dos

    respectivos contratos de trabalho em consequncia e por efeito de ter acontecido a decretao da falncia, com a consequente cessao da actividade da falida, tais crditos so alheios realidade que se encontra prevista na Lei dos Salrios em Atraso (Lei n. 17/86, de 14-06).

    II - O regime da lei referida em I cominvel s rescises que tiverem lugar nas fronteiras do art. 6 desse diploma, pelo que assumindo a lei natureza excepcional, no comporta aplicao analgica.

    III - O privilgio creditrio contemplado na Lei n. 17/86, de 14-06, deve restringir-se aos crditos de natureza retributiva, o que resulta dos elementos histrico e teleolgico da interpretao.

    IV - A consagrao de privilgios imobilirios gerais em diploma avulso posterior ao CC, onde apenas se prevem privilgios imobilirios especiais, gera uma incompatibilidade apenas resolvel face ao art. 751, do CC, que estabelece um princpio geral segundo o qual os privilgios gerais estabelecem um determinado regime de graduao mas no a sua preferncia ou prevalncia sobre garantias especiais como sejam a hipoteca e o penhor.

    V - Os privilgios gerais devem ceder perante a garantia pignoratcia especial, pelo que, sendo o privilgio geral uma preferncia na graduao no pode funcionar como garantia real susceptvel de afastar as especiais preexistentes como as resultantes das hipotecas voluntrias e do penhor constitudos a favor de determinado banco credor.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4145/02 - 1. Seco Lemos Triunfante (Relator) Reis Figueira Barros Caldeira

    Contrato de trespasse Dever de informar Erro-vcio Anulabilidade I - No caso de dissimulao do erro, o dolo irrelevante se o dever de elucidar o deceptor no for imposto pela

    lei, conveno ou pelas concepes dominantes no comrcio jurdico. II - No representam dolo as condies vagas e gerais usadas no comrcio jurdico, mas j constitui dolo o

    engano especfico, a dissimulao do erro que v contra os deveres de lealdade e informao prprios da relao pr-contratual.

    III - A clusula de boa f contida no art. 227, n. 1, do CC engloba, no que aqui importa, os deveres de informao que obrigam as partes prestao de todos os esclarecimentos necessrios concluso honesta do negcio.

    IV - O limite do dolo tolerado ter que ser harmonizado com a esfera de aco do respectivo art. 227, do CC.

  • V - A obrigao lateral da prestao de informao pode resultar da exigncia da boa f, exactamente em ligao com os usos do trfico, com as excepes dominantes no comrcio jurdico.

    VI - Comprovando-se nas instncias que os recorrentes outorgaram como trespassrios na escritura pblica onde os trespassantes declaram entre o mais, serem donos e legtimos possuidores do estabelecimento comercial, existindo clusula vlida de reserva de propriedade do mesmos a favor de terceiro que veio a requerer a investidura na posse do estabelecimento, factos que os trespassantes omitiram aquando da escritura, ao actuarem desse modo, violaram os deveres acessrios de informao e de lealdade impostos pelo art. 227, do CC, com bvio relevo na formao da deciso de contratar.

    VII - Actuando do modo descrito em VI, os trespassantes actuaram com dolo ilcito, sendo o negcio anulvel, nos termos do art. 253 e 254, n. 1, do CC.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 2155/02 - 1. Seco Pinto Monteiro (Relator) Lemos Triunfante Reis Figueira

    Reivindicao Venda judicial Terceiro I - Mantm-se vlida a doutrina do acrdo uniformizador da jurisprudncia n. 3/99, de 18-05-99, publicado em

    10-07-99, segundo a qual Terceiros, para efeitos do disposto no art. 5 do CRgP do os adquirentes de boa f de um mesmo transmitente comum, de direitos incompatveis, sobre a mesma coisa.

    II - Comprovando-se que certa sociedade comercial vende um prdio ao autor que a no regista e que, depois, em aco executiva movida tambm contra aquela sociedade veio a ser penhorado o referido prdio e a penhora registada, com venda judicial subsequente do mesmo, estamos perante uma venda em que o transmitente comum pelo que, estando o ltimo adquirente de boa f, tendo registado essa aquisio, prevalece o direito deste ltimo sobre o do primeiro adquirente com prevalncia das regras do registo predial.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 1499/02 - 1. Seco Pinto Monteiro (Relator) Afonso de Melo Afonso Correia

    Matria de facto Poderes do Supremo Tribunal de Justia Comprovando-se nas instncias que, na petio de embargos execuo, foi alegado que o aceite da letra foi

    efectuado a pedido do gerente de Montemor-o-Novo, do embargado, e dos scios gerentes da referida firma X (art. 2 da p.i.) e que o Banco ao adquirir a letra exequenda por endosso, conhecedor que era do favor do mesmo aceite agiu com perfeita conscincia de o prejudicar (art. 26 da p.i.) e que esta factualidade no mereceu qualquer exame pela 1. instncia nem pela Relao, devem os autos ao abrigo dos art.s 729, n. 3 e 730, n. 1, do CPC, baixar ao tribunal recorrido, para, em ampliao da matria de facto se julgar novamente a causa pelos mesmos senhores Desembargadores se possvel, suportando as custas o vencido a final.

    V.G. 14-01-2003

    Revista n. 4137/02 - 6. Seco Silva Paixo (Relator) Armando Loureno Azevedo Ramos

    Recurso de agravo Oposio de acrdos

  • I - O n. 2 do art. 754 no prev, ao contrrio do que sucede com o n. 4 do art. 678, recurso destinado

    uniformizao de jurisprudncia nos termos dos art.s 732-A e 732-B, todos do CPC. II - O que sucede no caso de o acrdo confirmatrio estar em contradio com outro do Supremo ou de qualquer

    Relao o afastamento da interdio do recurso, regressando-se regra geral da sua admissibilidade, considerando o valor da causa, de acordo com o n. 1 do art. 754 e o n. 1 do art. 678, se outro motivo no obstar admissibilidade do recurso.

    I.V. 21-01-2003 Agravo n. 2036/01 - 6. Seco Afonso Correia (Relator) Afonso de Melo Fernandes Magalhes Contrato de arrendamento rural Prazo Transferncia do direito ao arrendamento Aplicao da lei no tempo Benfeitorias Indemnizao

    I - O art. 1025 do CC, que estabelece que a locao no pode celebrar-se por mais de trinta anos, uma norma

    geral, por isso aplicvel aos arrendamentos rurais. II - Por fora do disposto no art. 297, n. 1, do CC, o prazo de trinta anos imposto pelo citado art. 1025 ser o

    aplicvel ao arrendamento rural celebrado, em 1913, por noventa e nove anos, mas tal novo prazo s se conta desde a entrada em vigor do CC, ou seja, desde 01-06-1967.

    III - Entrado em vigor o DL n. 385/88, de 25-10, esse contrato passou a reger-se pelo regime nele prescrito, como expressamente dito no seu art. 36, n. 1, pelo que, j tendo ocorrido anteriormente uma transmisso por morte do arrendatrio, no h lugar a nova transmisso aos parentes em linha recta quando este transmissrio falecer (art. 23 desse diploma), caducando ento o arrendamento.

    IV - Nem todo o contedo dos contratos regulado pela lei vigente data da sua celebrao, antes o seu estatuto legal regulado pela lei nova, imediatamente aplicvel a todas as situaes pendentes mesmo que estas se encontrem reguladas por clusulas contratuais, pois, ento, tais leis, criando um conjunto de poderes ou faculdades e de deveres susceptveis de interessar a todos os membros da colectividade, so leis reguladoras de situaes jurdicas institucionais ou legais que constituem como que a base sobre a qual podem depois ser construdas as situaes jurdicas contratuais.

    V - O mesmo acontece com os contratos ditados ou normativos, como o arrendamento, em que o legislador conserva larga margem de conformao s condies scio-econmicas em cada momento dominantes.

    VI - Ao reduzir a trinta anos o prazo acordado de noventa e nove anos em contrato de arrendamento rural celebrado no tempo do Cdigo de Seabra, e mandando comear a contar este prazo mais curto da sua entrada em vigor, o CC de 1967 obedeceu a ponderosas razes de ordem pblica de regulao do uso da propriedade imvel, sem atingir desproporcionadamente as expectativas dos contratantes, no sendo por isso in-constitucional.

    VII - Ao mandar aplicar o novo regime do arrendamento rural a tais contratos, o DL n. 385/88 no atinge de forma arbitrria ou intolervel aquelas expectativas, nem desrespeita os mnimos de certeza e segurana postulados pelo princpio do Estado de direito democrtico, no sendo por isso inconstitucional.

    VIII - Nada obsta validade da clusula, contida em contrato de arrendamento, segundo a qual as benfeitorias realizadas pelo arrendatrio no lhe do direito a qualquer indemnizao.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 1008/02 - 6. Seco Afonso Correia (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

  • Impugnao pauliana Bens comuns do casal

    I - Com a redaco dada pelo art. 4 do DL n. 329-A/95, de 12-12, ao art. 1696 do CC, e pelo art. 1 do 825 do

    CPC, o credor pode fazer penhorar imediatamente bens comuns, ainda que s subsidiariamente responsveis pelo pagamento da dvida.

    II - Se tais bens foram transmitidos a terceiro, para que seja possvel penhor-los necessrio, primeiramente, impugnar essa transmisso (art. 818 do CC), abrangendo a impugnao pauliana todos os bens concretos e susceptveis de penhora, ainda que integrados na comunho conjugal, e no apenas o direito meao do obrigado, como antes acontecia.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4258/02 - 6. Seco Afonso Correia (Relator) Afonso de Melo Fernandes Magalhes

    Caminho pblico Requisitos Atravessadouro

    I - O Assento de 19-04-1989 - hoje com valor de acrdo de uniformizao de jurisprudncia - deve ser

    interpretado restritivamente, no sentido de a publicidade dos caminhos exigir ainda a sua afectao utilidade pblica, ou seja, o uso do caminho visar a satisfao de interesses colectivos de certo grau ou re-levncia.

    II - Os caminhos pblicos e os atravessadouros distinguem-se nos seguintes termos: um caminho, no uso directo e imediato do pblico, desde tempos imemoriais, que atravesse prdio particular ser pblico se estiver afectado utilidade pblica; de contrrio, e em especial quando se destinem apenas a fazer a ligao entre caminhos pblicos, por prdio particular, com vista ao encurtamento no significativo das distncias, os caminhos devem classificar-se como atravessadouros.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4375/02 - 6. Seco Afonso Correia (Relator) Afonso de Melo Fernandes Magalhes Contrato de mandato sem representao Abuso do direito Venire contra factum proprium

    I - So elementos essenciais do mandato sem representao:

    a) o interesse de uma pessoa na realizao de um negcio, sem interveno pessoal; b) a interposio de outra pessoa a intervir no negcio, por incumbncia, no aparente, do titular do

    interesse; c) a celebrao do negcio pela interposta pessoa, sem referncia ao verdadeiro interessado; e d) a transmisso para o mandante dos direitos obtidos pelo mandatrio.

    II - O mandato no representativo consensual, vigorando o princpio da liberdade de forma consagrado no art. 219 do CC.

    III - Tendo sido adquirido um prdio urbano pelo filho da autora, no cumprimento de um trato estabelecido entre ambos, para evitar que o prdio entrasse no patrimnio do marido daquela, j que ela afectara na compra numerrio exclusivamente seu, verificam-se os requisitos do mandato sem representao.

    IV - Actua com abuso do direito, na modalidade de venire contra factum proprium, a mulher do mandatrio adquirente que, tendo dado o seu acordo quele negcio, veio depois, no processo de divrcio que tem pendente contra o marido, a arrolar, como bem comum do casal, o prdio em questo.

  • I.V. 21-01-2003 Revista n. 2970/02 - 6. Seco Azevedo Ramos (Relator) Silva Salazar Armando Loureno (vencido) Conveno arbitral Percia contratual Avaliao vinculante

    I - No pode qualificar-se como conveno arbitral - tratando-se antes de uma percia contratual, na modalidade

    de avaliao vinculante - o acordo das partes que, num contrato-promessa de cesso de quotas, considerando subsistirem divergncias sobre o valor global das referidas posies sociais, assumiram o compromisso de honra de se vincularem ao resultado de uma avaliao a efectuar por uma empresa de auditoria, tendo ainda estabelecido uma clusula penal para o caso de incumprimento desse compromisso.

    II - O facto de as partes se terem comprometido a respeitar o resultado da avaliao no factor exclusivo da arbitragem; possvel a existncia de uma percia contratual vinculante, sem que a mesma se confunda com a arbitragem.

    III - Constitui obstculo possibilidade de ter sido concludo um compromisso arbitral o facto de ter sido nomeada uma sociedade para proceder avaliao, pois o art. 8 da Lei n. 31/86, de 29-08 s admite como rbitros pessoas singulares.

    IV - O estabelecimento de uma clusula penal para o caso de incumprimento do compromisso de aceitao do resultado da avaliao no se harmoniza com a existncia de uma deciso arbitral, deciso essa que se caracteriza por ser exequvel.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4281/02 - 6. Seco Azevedo Ramos (Relator) Silva Salazar Ponce de Leo Competncia territorial Carta precatria Recurso

    Para conhecer do recurso de um despacho proferido numa carta precatria competente o tribunal da Relao em

    cuja rea de jurisdio se situa o tribunal deprecante, onde corre a aco. I.V.

    21-01-2003 Conflito n. 1450/02 - 1. Seco Barros Caldeira (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Direito de reteno Requisitos

    O direito de reteno previsto no art. 754 do CC depende de trs requisitos:

    a) a deteno lcita de uma coisa que deve ser entregue a outrem; b) apresentar-se o detentor, simultaneamente, como credor da pessoa com direito entrega; e c) a existncia de uma conexo directa e material entre o crdito do detentor e a coisa detida, quer dizer,

    resultante de despesas realizadas com ele ou de danos pela mesma produzidos - constituindo esta conexo de crditos o alicerce bsico deste direito.

    I.V.

  • 21-01-2003 Revista n. 1651/02 - 6. Seco Fernandes Magalhes (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Sociedade por quotas Direito especial gerncia

    I - O simples facto de um scio ter sido nomeado gerente no pacto social no lhe concede, s por si, um direito

    especial gerncia. II - Na dvida, porque se trata de criar um direito e no simplesmente reconhec-lo, deve ser negado o direito

    especial gerncia. I.V.

    21-01-2003 Revista n. 3426/02 - 1. Seco Ferreira Ramos (Relator) Pinto Monteiro Lemos Triunfante Registo predial Registo provisrio Terceiro

    I - So terceiros entre si, para efeitos de registo predial (art. 5, n. 4, do CRgP), o credor hipotecrio e os

    compradores de um imvel, cujos direitos foram adquiridos das mesmas pessoas. II - Uma vez que o registo convertido em definitivo conserva a prioridade que tinha como provisrio (art. 6 do

    CRgP), a hipoteca inscrita provisoriamente antes da celebrao da escritura de compra e venda do imvel, e inscrio dessa aquisio, prevalece sobre esse contrato, ainda que o contrato de mtuo com hipoteca s de-pois da venda tenha sido celebrado.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 3934/02 - 1. Seco Ferreira Ramos (Relator) Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Ineptido da petio inicial Contrato-promessa de arrendamento Aco de despejo

    inepta a petio inicial de uma aco de despejo, onde se invoca, como causa de pedir, um contrato-promessa de

    arrendamento, por contradio entre o pedido e a causa de pedir. I.V.

    21-01-2003 Agravo n. 4001/02 - 1. Seco Ferreira Ramos (Relator) Pinto Monteiro Lemos Triunfante Solicitador Violao de segredo profissional

    I - Versando o depoimento prestado por solicitador sobre factos abrangidos pelo sigilo profissional, as respectivas

    declaraes no podem fazer prova em juzo, como resulta do n. 6 do art. 86 do Estatuto dos Solicitadores,

  • aprovado pelo DL n. 8/99, de 08-01, pelo que, logicamente, no podem valer para formar a convico do julgador da deciso de facto.

    II - Constando da fundamentao das respostas matria da base instrutria que o depoimento do solicitador foi considerado, devem os autos baixar ao tribunal recorrido para a reapreciao da matria de facto, nada obstando aplicao da faculdade prevista no n. 3 do art. 729 do CPC.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4139/02 - 1. Seco Ferreira Ramos (Relator) Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia Interpretao do negcio jurdico

    A interpretao das clusulas contratuais s envolve matria de facto quando importa a reconstituio da vontade

    real das partes, constituindo matria de direito quando, no desconhecimento de tal vontade, se deve proceder de harmonia com o n. 1 do art. 236 do CC.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 3448/02 - 1. Seco Garcia Marques (Relator) Ferreira Ramos Pinto Monteiro Acidente de viao Morte Danos no patrimoniais

    I - Dos n.s 2 e 3 do art. 496 do CC e da sua histria resulta, por um lado, que no caso de a leso ser mortal, toda

    a indemnizao correspondente aos danos no patrimoniais (quer sofridos pela vtima, quer pelos familiares mais prximos) cabe, no aos herdeiros por via sucessria, mas aos familiares por direito prprio, nos termos e segundo a ordem do disposto nesse n. 2.

    II - Pode acontecer que os danos no patrimoniais afectem as pessoas abrangidas na referida disposio legal por uma forma diferente da ordem de precedncias que o legislador estabeleceu, tal como pode suceder que a morte da vtima cause ainda danos no patrimoniais a outras pessoas a no contempladas - mas este um dos aspectos em que as excelncias da equidade tiveram de ser sacrificadas s incontestveis vantagens do direito estrito.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 3671/02 - 1. Seco Garcia Marques (Relator) Ferreira Ramos Pinto Monteiro Energia elctrica Caducidade Prescrio Aplicao da lei no tempo

    I - Os art.s 887 e 890 do CC so inaplicveis ao fornecimento de energia elctrica. II - O regime constante do art. 10 da Lei n. 23/96, de 26-07, em sede de prescrio e caducidade, no pode

    aplicar-se retroactivamente, sem prejuzo de ser aplicvel s relaes que subsistam data da sua entrada em vigor.

  • III - Os crditos por fornecimento de energia elctrica, por respeitarem a prestaes periodicamente renovveis, prescrevem no prazo de cinco anos, por imperativo do art. 310, al. g), do CC.

    IV - Em caso de erro de contagem por anomalia dos equipamentos respectivos, o prazo de prescrio s se comea a contar a partir do momento em que o fornecedor detectou o erro, pois s a ficou em condies de poder exercer o seu direito de reclamar o pagamento das diferenas de facturao (art. 306, n. 1, do mesmo cdigo).

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 3900/02 - 1. Seco Garcia Marques (Relator) Ferreira Ramos Pinto Monteiro Acidente de viao Prescrio Fundo de Garantia Automvel Sub-rogao

    I - O direito concedido ao Fundo de Garantia Automvel pelo art. 25 do DL n. 522/85, de 31-12, de sub-

    rogao, e no de regresso. II - O prazo de prescrio desse direito no comea a correr desde a data do acidente, mas apenas desde a data em

    que o Fundo indemnizou o lesado. I.V.

    21-01-2003 Revista n. 4110/02 - 1. Seco Garcia Marques (Relator) Ferreira Ramos Pinto Monteiro

    Simulao Requisitos

    I - A inteno de enganar terceiros (animus decipiendi), que requisito da simulao, no se confunde com a

    inteno de prejudicar (animus nocendi). II - Celebrando os pais a escritura de compra e venda de um imvel em nome dos filhos para os protegerem e para

    que esse bem no fosse includo no patrimnio do casal, para no responder por dvidas decorrentes da actividade do marido, e sabendo os vendedores que estavam a vender aos pais e que o que da escritura ficaria a constar no correspondia vontade real, h acordo simulatrio.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4233/02 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) Ribeiro Coelho Garcia Marques

    Letra de cmbio Literalidade Aval

    I - incongruente invocar o princpio da literalidade se o ttulo cambirio no chegou a entrar em circulao. II - A razo de ser do art. 31, IV, da LULL est na necessidade de proteger os interesses de futuros detentores do

    ttulo, os quais s surgem por via da sua transmisso. III - admissvel a prova por testemunhas para a interpretao da declarao negocial que, no verso da letra de

    cmbio, se expressou: P/aval ao subscritor.

  • IV - Apurando-se que o avalista da livrana quis garantir o aceitante e que foi isso o acordado com o sacador, tendo este sentido correspondncia no texto da letra, se bem que imperfeitamente expresso, com tal sentido que a declarao deve valer.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4266/02 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) Ribeiro Coelho Garcia Marques

    Inventrio Licitaes Tornas Falta de pagamento

    I - Tendo havido excesso de licitao e sendo requerida a composio do quinho, goza o licitante da faculdade de

    escolha, e s se a no exercer que o requerimento do credor de tornas pode ser atendido (art. 1377, n.s 1 a 3, do CPC).

    II - Se o credor de tornas optar, porm, por requerer o seu pagamento e se o devedor, notificado para as depositar, no o fizer, o credor pode requerer que lhe sejam adjudicadas verbas por si escolhidas, no se concedendo neste caso ao licitante a faculdade de escolha.

    I.V. 21-01-2003 Agravo n. 4472/02 - 1. Seco Lopes Pinto (Relator) Ribeiro Coelho Garcia Marques

    Sociedade comercial Distribuio de lucro

    nula a clusula do contrato de sociedade que remete para deliberao, por maioria simples, da assembleia geral,

    a distribuio dos lucros do exerccio. I.V.

    21-01-2003 Revista n. 3437/02 - 6. Seco Ponce de Leo (Relator) Afonso Correia Afonso de Melo

    Casamento urgente Casamento catlico Registo

    I - No passvel de aplicao aos casamentos catlicos urgentes o n. 2 do art. 1670 do CC, que ressalva os

    direitos de terceiro que sejam compatveis com os direitos e deveres de natureza pessoal dos cnjuges e dos filhos e que tiverem sido adquiridos anteriormente transcrio do casamento - pois a transcrio destes casamentos nunca poder ser efectuada dentro dos sete dias a referidos.

    II - Falecendo um dos cnjuges antes da transcrio do seu casamento catlico urgente, o cnjuge sobrevivo deve ser considerado seu herdeiro, cabendo-lhe o cargo de cabea-de-casal.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4340/02 - 6. Seco Ponce de Leo (Relator) Afonso Correia

  • Afonso de Melo

    Contrato de cesso de crdito Notificao Mediao imobiliria Falta de licenciamento

    I - Nada impede que a notificao da cesso de crditos ao devedor se faa atravs da citao para a aco

    correspondente, em que o devedor seja ru. II - A interveno de um mediador imobilirio no autorizado na realizao de um contrato no torna este nulo,

    apenas acarretando sujeio a uma coima do interventor que como tal se apresente.

    21-01-2003 Revista n. 3281/02 - 1. Seco Reis Figueira (Relator) * Barros Caldeira Faria Antunes

    Propriedade industrial Denominao social Logotipo

    I - O registo de um nome na Internet no confere qualquer tipo de direito exclusivo ou de prioridade em Portugal,

    onde regem as normas do RNPC e do CPI. II - H imitao quando, havendo semelhanas, elas induzam em confuso, mas de modo que as semelhanas

    relevam mais que as diferenas. III - Haver ou no semelhanas entre marcas (ou outros sinais distintivos) em confronto questo de facto; haver

    ou no imitao, em presena das semelhanas e diferenas, questo de direito.

    21-01-2003 Revista n. 3531/02 - 1. Seco Reis Figueira (Relator) * Barros Caldeira Faria Antunes

    Propriedade horizontal Assembleia de condminos Deliberao Comunicao Aco de anulao Prazo

    I - Havendo condminos ausentes da assembleia, as deliberaes tomadas tm de lhes ser comunicadas nos termos

    do art. 1432, n. 6, do CC. II - O direito de propor a aco de anulao, no tendo havido assembleia extraordinria, caduca no prazo de vinte

    dias contados da deliberao, quanto aos condminos presentes, e contados da data em que a deliberao lhes foi comunicada, quanto aos ausentes.

    21-01-2003 Revista n. 3883/02 - 1. Seco Reis Figueira (Relator) * Barros Caldeira (declarao de voto) Faria Antunes Contrato-promessa de compra e venda

  • Sinal Mora

    Havendo sinal, a lei afasta-se do regime geral, permitindo que todas as consequncias previstas no n. 2 do art.

    442 do CC actuem em caso de simples mora, sem necessidade de prvia converso da mesma em in-cumprimento definitivo.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 3931/02 - 1. Seco Ribeiro Coelho (Relator) Garcia Marques Ferreira Ramos

    Contrato misto Contrato de depsito Contrato de empreitada Furto

    I - O contrato estabelecido entre o utente de um automvel e aquele a quem o confia para uma reparao, a

    realizar nas instalaes deste, um contrato misto de empreitada e de depsito, uma vez que o segundo contraente fica obrigado a realizar uma obra e a conservar o veculo at o restituir ao primeiro.

    II - Consequentemente, so de observar, pela empreiteira-depositria, as obrigaes a que se refere o art. 1187 do CC.

    III - No pode acolher-se a tese de que em caso de furto da coisa depositada o depositrio no tem que provar a sua falta de culpa.

    IV - O art. 1188, n. 1, do CC, abrange apenas os casos em que a privao da deteno da coisa depositada no devida a causa imputvel aos depositrio.

    V - de concluir pela verificao da culpa da empreiteira-depositria se o veculo que lhe foi entregue para reparao, embora fechado e sem as chaves respectivas, estava parqueado dentro das suas instalaes, vedadas e com uma s entrada que estava aberta por serem horas de expediente, e sem vigilncia, o que permitiu que aquele viesse a ser furtado e nunca mais recuperado.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 3963/02 - 1. Seco Ribeiro Coelho (Relator) Garcia Marques Ferreira Ramos Contrato de arrendamento para comrcio ou indstria Fim subordinado Habitao

    O arrendamento de uma cave e rs-do-cho para comrcio de caf e snack-bar e restaurante, ramo de hotelaria,

    com dormida na cave para os empregados ou para a inquilina, deve ser qualificado como arrendamento para comrcio, no sendo a habitao sequer um fim subordinado (ao principal, de comrcio), pois que no pode confundir-se dormida com habitao.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 1955/02 - 6. Seco Silva Paixo (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Responsabilidade civil Prescrio

  • Frias judiciais I - Iniciando-se o prazo de prescrio de trs anos a 15-09-96 (data em que o autor teve conhecimento do seu

    direito de indemnizao), o seu termo ocorreu s 24 horas do dia 15-09-99, ou seja, no primeiro dia til subsequente frias judiciais.

    II - Tendo a aco sido proposta a 14-09-99 (ainda em frias judiciais), tem de considerar-se afastada a prescrio, apesar de a citao do ru s ter ocorrido a 24-11-99, pois no era exigvel ao autor nem que intentasse a aco antes de comearem as frias - o que traduziria um arbitrrio encurtamento do prazo - nem que a intentasse no decurso destas - o que seria intil, uma vez que os processos no andam neste perodo.

    I.V. 21-01-2003 Revista n. 4235/02 - 6. Seco Silva Paixo (Relator) Armando Loureno Azevedo Ramos

    Aco de reivindicao Pedido

    Na aco de reivindicao, desnecessria a formulao expressa de um pedido de reconhecimento do direito de

    propriedade - desde que invocados os respectivos factos integrantes - o qual, se no for feito, se deve considerar implicitamente abrangido no pedido de restituio.

    I.V. 21-01-2003 Agravo n. 4172/02 - 6. Seco Silva Salazar (Relator) Ponce de Leo Afonso Correia

    Aco de anulao Deciso arbitral Citao I - Com a Lei n. 31/86, de 29-08, foi arredado o princpio da legalidade das formas processuais, sucedendo que

    no caso de as partes no fixarem a tramitao processual a observar (princpio da autonomia de partes na escolha do procedimento adequado), esta fixada por rbitros.

    II - A regra iniciar-se a instncia arbitral com a notificao da arbitragem que, concomitantemente, serve para iniciar o procedimento de constituio do tribunal arbitral, havendo aqui influncia da Lei Uniforme aprovada pela Conveno Europeia de Estrasburgo de 1996, tendo a parte contrria o prazo de um ms para responder ao objecto do litgio mencionado na notificao.

    III - Tendo a parte A procedido notificao de arbitragem de B por meio de carta registada com A/R que B confessa ter recebido, entregando o contedo da notificao, que precisava o objecto do litgio, ao seu advogado com quem tinha contactado para a defender no processo arbitral e que, em consequncia, dentro de trinta dias formulou a resposta e reconveno, tendo o tribunal arbitral em 27-07-99, dentro dos seus poderes conformadores da tramitao processual estabelecido que foram observadas as regras adequadas resoluo do litgio com a notificao de A, nos termos do art. 11 da Lei n. 31/86, de 29-08, a contestao da parte contrria, bem como as posteriores respostas de A e da outra parte, no foi violado o princpio do direito de defesa de B por falta de citao.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 4581/02 - 6. Seco Afonso de Melo (Relator) Fernandes Magalhes Silva Paixo

  • Articulado superveniente Tempestividade Nulidade Admissibilidade I - A alegada omisso de produo de prova sobre a tempestividade de um articulado superveniente, sendo

    geradora de nulidade, devia ter sido objecto de arguio tempestiva perante o tribunal de 1. instncia. II - A deciso que sobre ela recasse que deveria ter sido objecto de recurso. III - O despacho de admisso do articulado superveniente s poderia ser objecto de arguio de nulidade com os

    fundamentos previstos no art. 668, do CPC, no podendo a nulidade do despacho fundar-se na omisso da produo de prova sobre a tempestividade desse articulado, pelo que s do reconhecimento desta nulidade poderia resultar ao nulidade dos actos subsequentes.

    IV - Se o recorrente, com o recurso, pretende dizer que no est provada a tempestividade do articulado superveniente e que, no estando provada, no deveria ter sido admitido, a Relao com capacidade para julgar sobre os factos s teria de pronunciar-se sobre se estava ou no provada a tempestividade, decidindo em conformidade, no podendo declarar nulo o despacho de admissibilidade.

    V.G. 28-01-2003

    Agravo n. 4146/02 - 6. Seco Armando Loureno (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Acidente de viao Dano morte I - No exacto afirmar-se que o direito reparao pelo dano resultante da leso do direito vida j se no

    verifica na esfera jurdica do seu titular ou que o lesado j no teve tempo de adquirir o correspondente direito reparao.

    II - O que vem a coincidir com a morte a obrigao de indemnizar, pois aquele direito j precede esta obrigao.

    III - Toda a leso do direito vida objecto de reparao, sendo que este direito reparao no deixa de entrar logo na esfera jurdica da vtima, constituindo elemento do seu patrimnio hereditrio, ainda que se trate de morte instantnea, e, segundo a ordem natural das coisas, nada impede que venha a transmitir-se aos seus herdeiros mortis causa consoante as regras gerais da sucesso.

    IV - No h duplicao entre a indemnizao pelo dano da perda do direito vida e a indemnizao pelos outros danos prprios sofridos pelos autores em resultado da morte do respectivo marido e pai.

    V - No excessivo o valor de PTE 6.000.000,00 fixado nas instncias como compensao pelo dano da perda do direito vida, considerando que a vida o bem supremo, a fonte de todos os direitos.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 834/02 - 6. Seco Azevedo Ramos (Relator) Silva Salazar Ponce de Leo

    Expropriao por utilidade pblica Caducidade Tribunal competente I - No h que confundir a aco destinada expressamente a obter a caducidade da declarao de utilidade pblica

    da expropriao, que da competncia, dada a sua natureza administrativa, dos tribunais administrativos, com a defesa por excepo, arguindo-se a caducidade da declarao de utilidade pblica, para que so competentes na fase judicial, os tribunais comuns.

  • II - A alterao em abstracto do contedo das regras de caducidade do acto de declarao de utilidade pblica prevista no art. 10, n. 3, do DL n. 438/91, de 09-11, abrange a relao expropriativa aqui em apreo que subsistia data da entrada em vigor desse diploma.

    III - Nos termos do art. 297, do CC, o processo expropriativo que comeara antes da entrada em vigor do diploma referido em II, deveria ter sido remetido a juzo no prazo de dois anos, a partir da data da entrada em vigor desse diploma, ou seja a partir de 10-02-1992 e, como em 10-02-1994 o mencionado processo no se encontrava em juzo, apesar de a constituio de arbitragem ter ocorrido em tempo, ao abrigo do art. 9, n. 2, do DL n. 845/76, de 11-12, inicialmente aplicvel ao processo, caducou a declarao de utilidade pblica urgente.

    V.G. 28-01-2003

    Agravo n. 4284/02 - 1. Seco Barros Caldeira (Relator) Faria Antunes Lopes Pinto

    Caso julgado perfeitamente vlido, por legal, que a parte que viu julgada improcedente aco ou reconveno por deficincia

    da causa de pedir, venha, em nova aco, recompor a causa de pedir deficiente, com a alegao de facto ou factos essenciais no articulados inicialmente.

    V.G. 28-01-2003

    Agravo n. 4392/02 - 1. Seco Barros Caldeira (Relator) Faria Antunes Lopes Pinto

    Caso julgado I - Pedir o pagamento em moeda de determinado pas no a mesma coisa que pedir o pagamento em moeda de

    outro pas. II - Se fosse indiferente o pedido de condenao numa ou noutra moeda (no caso vertente em escudo ou em liras

    italianas), no se justificaria o comando do art. 558 do CC. III - Se, na primeira aco a referncia a coisa era determinada quantia na moeda com curso legal, poca, no

    nosso pas, e na aco sub iudice a coisa uma quantia na moeda com curso legal na Itlia, data do incio da instncia respectiva, trata-se de pedidos que no so idnticos.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 4320/02 - 1. Seco Faria Antunes (Relator) Lopes Pinto Ribeiro Coelho

    Acidente de viao Caso julgado Se, no processo crime que foi instaurado contra o condutor e proprietrio do veculo automvel interveniente em

    acidente de viao onde a aqui autora ali deduziu pedido cvel de indemnizao contra a seguradora do veculo conduzido pelo arguido, este foi absolvido de um dos crimes e foi considerada extinta por amnistia a responsabilidade criminal pelo crime do art. 148, n. 3, do CP e se a se considerou no estar demonstrada a posio de sucessora da vtima do crime por parte da autora e se concluiu pela improcedncia do pedido na sua totalidade, no se formou caso julgado sobre o mrito da causa pois a absolvio se deu por razes mera-mente processuais.

    V.G.

  • 28-01-2003 Agravo n. 1177/02 - 1. Seco Ferreira Ramos (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Direito real de habitao peridica Incumprimento do contrato Comprovando-se nas instncias que a r empresa de investimento imobilirio no Algarve assumiu o compromisso

    de revender os direitos reais de habitao peridica adquiridos pelo autor pelo valor das respectivas aquisies, tendo garantido a revenda ao preo de compra e/ou preo de mercado e que o autor, tendo pago a totalidade do preo daqueles direitos que adquiriu, veio a perder interesse nos mesmos, accionando a mencionada clusula contratual, sem xito, conclui-se pelo incumprimento contratual da vendedora, sendo devido a ttulo de indemnizao pelos prejuzos sofridos pelo autor os montantes entregues pelo autor r.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 4443/02 - 1. Seco Ferreira Ramos (Relator) Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Contrato de seguro automvel Direito de regresso Conduo sob o efeito de lcool Comprovando-se nas instncias que o ru teve culpa no acidente, no se provando que tenha dado causa ao evento

    lesivo subsequente quele agindo influenciado sob o efeito do lcool, no assiste autora seguradora o direito de regresso sobre aquele pelas quantias que pagou ao lesado, a ttulo de indemnizao por danos decorrentes do acidente.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 4588/02 - 1. Seco Ferreira Ramos (Relator) Pinto Monteiro Lemos Triunfante

    Recuperao de empresa Caso julgado Comprovando-se nas instncias que um credor de certa empresa pede a condenao desta no pagamento de certa

    quantia e que numa outra aco a referida empresa veio, ao abrigo das disposies contidas no CPEREF requerer a aplicao de medida de recuperao, onde a autora tambm reclamou o seu crdito que foi aprovado, esta aprovao no constitui caso julgado na presente.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 3965/02 - 1. Seco Garcia Marques (Relator) Ferreira Ramos Pinto Monteiro

    Contrato de seguro automvel Direito de regresso Conduo sem habilitao legal Nexo de causalidade

  • nus da prova I - Se o acidente ocorreu em consequncia da falta da habilitao do condutor, esse risco, porque excedente ao

    contratado com a seguradora do veculo e no abrangido pelo respectivo prmio, no fica coberto pelo contrato de seguro.

    II - Porque se trata de um risco no abrangido pelo contrato de seguro nas suas relaes internas, justo que venha a ser suportado pelo condutor no habilitado e no pela seguradora.

    III - Esse risco acrescido s se verifica quando o acidente foi causado, exclusivamente ou em parte, pela no habilitao do condutor e no nos casos em que tal falta de habilitao no concorreu para a respectiva pro-duo.

    IV - Constituindo o direito de regresso da seguradora contido na 1. parte, da alnea c), do art. 19, do DL n. 522/85, de 31-12, um direito ex novo com a extino da obrigao para com o lesado, ficando a seguradora na posio de credora em relao ao condutor que conduza sem habilitao legal, facto que constitutivo do seu direito, recai ainda sobre a seguradora o nus de provar que o acidente teve como causa adequada a falta de habilitao do condutor, ou, pelo menos, que tal carncia foi uma das causas do acidente.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 4352/03 - 1. Seco Garcia Marques (Relator) Ferreira Ramos Pinto Monteiro

    Acidente de viao Comisso Culpa presumida do condutor I - A apreciao da culpa, como censura da conduta do agente que podia e devia ter actuado doutro modo,

    matria de direito, mas j no assim as ilaes que as instncias tiraram da matria de facto apurada. II - A questo da determinao do nexo de causalidade entre o facto ilcito e o dano acaba por se reconduzir a um

    problema de interpretao do contedo e fim especfico da norma que serviu de base imputao dos danos. III - Comprovando-se nas instncias que o veculo automvel interveniente no acidente que ocorreu em 1992 era,

    na altura, conduzido por um empregado da sociedade r, proprietria do mesmo, devidamente autorizado pela entidade patronal, sob as ordens da mesma, viatura que tinha sido distribuda a esse empregado, est caracterizada a relao de comisso e, por isso, presume-se a culpa do condutor na ocorrncia do acidente.

    IV - Se o pedido ultrapassar o valor do seguro obrigatrio, verificando-se os demais pressupostos da obrigao de indemnizar, so solidariamente responsveis pelo seu pagamento a sociedade proprietria do veculo e a seguradora.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 41/02 - 1. Seco Pinto Monteiro (Relator) Azevedo Ramos Silva Salazar

    Contrato-promessa de compra e venda Incumprimento definitivo Resoluo I - Comprovando-se nas instncias que o autor prometeu comprar aos rus e estes prometeram vender quele certo

    terreno como fazendo parte de um loteamento j autorizado, s faltando levantar o alvar e estruturar, para o que os rus j dispunham do suporte financeiro, vindo, depois, a Cmara Municipal respectiva a reprovar o loteamento, ocorre violao do dever de informao previsto no art. 573, do CC, que as regras da boa f exigem seja observado.

  • II - Tendo o contrato-promessa sido considerado vlido, tendo o autor cumprido as suas obrigaes dele decorrentes, recusando-se os rus a cumpri-lo, mediante a outorga da escritura definitiva, ocorre incumprimento definitivo do negcio, a justificar a sua resoluo pelo autor.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 3541/02 - 1. Seco Pinto Monteiro (Relator) Lemos Triunfante Reis Figueira

    Contrato de arrendamento Nulidade Converso Deciso surpresa Comprovando-se nas instncias que o autor, por escrito particular de 25-09-95, deu de arrendamento r certo

    imvel com destino instalao e explorao de um restaurante pastelaria e similares, mediante o pagamento de certa quantia a ttulo de renda, tendo o imvel sido entregue r e tendo esta pago as rendas at certa data, pedindo a autora que se decrete o despejo e a condenao da r no pagamento das rendas vencidas e vincendas, ocorrendo a nulidade do negcio jurdico, por fora do art. 7, n. 2 do RAU, no se demonstrando uma vontade hipottica ou conjectural diferente, o tribunal deve conhecer e declarar essa nulidade com as suas legais consequncias, sem que uma tal deciso constitua uma deciso surpresa ou viole os meios de defesa permitidos r.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 3574/02 - 1. Seco Pinto Monteiro (Relator) Lemos Triunfante Reis Figueira

    Acidente de viao Transporte gratuito Comprovando-se nas instncias que dois veculos colidiram entre si numa estrada municipal em 02-09-91, sem

    que a nenhum dos condutores se possa assacar a culpa efectiva, sendo o lesado transportado gratuitamente num dos veculos, no ao condutor do outro que se deve impor a obrigao de indemnizar o transportado, antes a responsabilidade do que transporta deve ser aferida pela medida do risco com que contribuiu para o acidente, nos termos do art. 506, n. 1, do CC, e, se as instncias fixaram a medida da contribuio de cada um dos veculos para a produo do acidente em 50%, a r seguradora do veculo no transportador, respon-de em 50% pelos danos corporais e patrimoniais sofridos pelo transportado.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 3967/02 - 1. Seco Pinto Monteiro (Relator) Lemos Triunfante Reis Figueira

    Aco de apreciao negativa Clusula contratual geral Telecomunicaes As disposies dos art.s 16, n. 2 e 21, n. 5, do Regulamento Anexo ao DL n. 199/87, de 30-04 (Regulamento

    do Servio Telefnico Pblico), no so clusulas contratuais gerais a que se deva aplicar o regime do DL n. 446/85, de 25-10, antes verdadeiras disposies legais, aplicveis a todos os operadores de telecomunicaes em termos de plena paridade legislativa.

  • V.G. 28-01-2003

    Revista n. 3471/02 - 6. Seco Ponce de Leo (Relator) Afonso de Melo Afonso Correia

    Matria de facto Princpio da plenitude da assistncia dos juzes Presuno Registo predial I - O princpio da plenitude da assistncia dos juizes no absoluto, sendo prefervel a repetio dos actos

    praticados por outro juiz e por maioria de razo apreciao de novos quesitos, sempre que esses actos tenham importncia de tal forma reduzida no conjunto da prova que no justifique a deslocao do magistrado que anteriormente interveio no processo.

    II - A presuno do art. 7 do CRgP no abrange os elementos de identificao do prdio constantes da descrio. V.G. 28-01-2003

    Revista n. 3922/02 - 6. Seco Ponce de Leo (Relator) Afonso de Melo Afonso Correia

    Contrato de compra e venda internacional Conveno de Bruxelas Competncia internacional I - Sendo a relao jurdica internacional, na medida em que nela so partes sociedades de dois Estados

    contratantes - Portugal e Itlia - indiscutvel a aplicabilidade da Conveno de Bruxelas de 27-08-68, com as alteraes da Conveno de Lugano de 16-09-88 e pela Conveno de Adeso de Portugal quela Conveno e ao Protocolo relativo sua interpretao pelo Tribunal de Justia publicado no DR, I srie A, n. 250, suplemento de 30-10-91 e ratificado por Decreto do Presidente da Repblica n. 52/91, de 30-10.

    II - Fora dos casos do art. 2, em matria contratual, o requerido, com domiclio no territrio de um Estado contratante pode ser demandado num outro Estado contratante, perante o Tribunal do lugar onde a obrigao que serve de fundamento ao pedido deve ser cumprida.

    V.G. 28-01-2003

    Agravo n. 4323/02 - 6. Seco Ponce de Leo (Relator) Afonso de Melo Afonso Correia

    Revelia Conveno de Haia Citao I - Tratando-se de ru revel a nulidade de citao equiparada falta de citao. II - A nulidade de citao resultante de no ter sido feita pela autoridade competente e por no terem sido

    traduzidos para a lngua alem (lngua indgena do citando), com violao dos art.s 5, 1 e 21 da Conveno de Haia publicada em avisos no DR I srie n. 132, de 09-06-98, depois de ter conhecimento de que contra si pendia aco judicial, mas sempre dentro dos 60 dias a que se refere o art. 772, n. 2, alnea b), do CPC.

    V.G. 28-01-2003

  • Revista n. 4251/02 - 1. Seco Reis Figueira (Relator) Barros Caldeira Faria Antunes

    Contrato de compra e venda nus da prova I - Se a autora, na petio inicial, refere que forneceu r diversos bens e servios, sem identificar a

    expressamente tais fornecimentos remetendo para um documento que junta com a prpria petio do qual consta a identificao das facturas referentes aos mesmos, os quais ficaram a ser pelo menos ento do conhecimento da r, esta ficou em condies de saber a que fornecimentos a autora se referia podendo impugn-los, e, se no o fez, s pode resultar que os mesmos lhe foram feitos.

    II - Deve considerar-se invocada pela via mencionada em I, a necessria causa de pedir consistente em factos concretos traduzidos nos fornecimentos a que se referem as facturas indicadas no dito documento junto pela autora.

    V.G. 28-01-2003

    Revista n. 4013/02 - 6. Seco Silva Salazar (Relator) Ponce de Leo Afonso Correia

    Contrato de arrendamento rural Denncia do contrato Oposio Caducidade Reforma agrria Reserva Aplicao da lei no tempo Lei interpretativa

    I - A oposio efectivao da denncia e o respectivo prazo de caducidade estabelecido no art. 19 da LAR (DL

    n. 385/88, de 25-10) pressupem que a oposio tenha por fundamento o facto de o despejo pr em risco a subsistncia econmica do arrendatrio e do seu agregado familiar.

    II - Outras eventuais formas de oposio - que a lei em causa no prev - no podem ser abrangidas por aquela caducidade, antes se regularo pelo instituto em concreto que serve de base oposio.

    III - Assim, se o arrendatrio pretende ver declarada a invalidade da denncia efectuada, com a consequente ampla ineficcia por no poder produzir os efeitos a que tendia, no estar vinculado quele prazo, mas antes ao prazo de caducidade legalmente previsto para a invocao das diversas formas de invalidade (um ano no caso de anulabilidade; a todo o tempo na situao de nulidade da denncia).

    IV - A Lei n. 46/90, de 22-08, no reveste natureza interpretativa, uma vez que no veio solucionar qualquer incerteza ou divergncia doutrinal ou jurisprudencial sobre a aplicao da Lei n. 109/88, de 26-09. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3686/02 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) Oliveira Barros Miranda Gusmo

    Respostas aos quesitos Matria de facto Matria de direito Poderes da Relao

  • I - Por aplicao analgica do disposto no art. 646, n. 4, do CPC, deve ter-se por no escrita a resposta dada a um quesito que tenha matria conclusiva e no factual.

    II - A Relao, ao considerar no escritas as respostas a determinados pontos conclusivos e ao determinar, na baixa do processo 1. instncia, que eles sejam eliminados da base instrutria, desenvolve actividade que nada tem a ver com a faculdade conferida s Relaes pelo art. 712 do CPC, de alterar a deciso da 1. instncia sobre a matria de facto, mas antes se traduz na expurgao da matria de direito que se continha no quadro pretensamente fctico fixado pelo tribunal a quo. L.F. 09-01-2003

    Agravo n. 3693/02 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) Oliveira Barros Miranda Gusmo

    Falncia nus da prova

    I - Demonstrados pelo credor requerente da falncia os pressupostos factuais das situaes delimitadas pelos n.s 1

    e 3 do art. 8 do CPEREF (aprovado pelo DL n. 132/93, de 23-04), fica este dispensado de provar a impossibilidade financeira do devedor.

    II - Assim, provado pelo credor requerente da falncia a existncia da dvida e da impossibilidade, por parte do requerido, de a solver, tal como generalidade das demais obrigaes, incumbe ao devedor a demonstrao da sua viabilidade, que o mesmo dizer da possibilidade de recuperao.

    III - A prova a fazer pelo requerido no a de qualquer eventual possibilidade de recuperao, mas sim a da viabilidade e recuperabilidade concretas, fundamentadas nos factos provados, que permitir ao juiz assegurar-se de que deve optar pela recuperao em detrimento da falncia. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3882/02 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) Oliveira Barros Miranda Gusmo

    Direito de preferncia Prdio rstico

    Para excluir o direito de preferncia com fundamento no disposto no art. 1381, al. a), do CC, no necessrio

    que o terreno vendido ou dado em cumprimento se encontre j afecto, data da alienao, a um fim diferente da cultura. O fim que releva, para efeito da aplicao da referida norma, aquele que o adquirente pretenda dar ao terreno, mesmo que essa inteno no conste da escritura de alienao. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3914/02 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) Oliveira Barros Miranda Gusmo

    Contrato-promessa Nulidade Conhecimento oficioso Falta de assinatura Resoluo Mora

  • I - A circunstncia de a parte ter vindo invocar a nulidade do contrato-promessa apenas em sede das alegaes apresentadas ao abrigo do art. 657 do CPC, no preclude o respectivo conhecimento, uma vez que a nulidade dos negcios jurdicos, sendo invocvel a todo o tempo, de conhecimento oficioso do tribunal.

    II - Nas promessas bilaterais as assinaturas dos contraentes podem incluir-se em documentos recprocos ou paralelos.

    III - O princpio de que a simples mora do devedor no permite que o credor resolva o negcio jurdico celebrado tambm aplicvel ao regime sancionatrio do n. 2 do art. 442 do CC, no mbito do incumprimento de um contrato-promessa. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3947/02 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) Oliveira Barros Miranda Gusmo

    Acidente de viao Responsabilidade pelo risco Caso de fora maior

    I - A presena de areia sada de uma curva, no demonstrada a existncia de qualquer sinalizao prvia que

    para tal alertasse, motivo, naturalmente imprevisto, que obsta a que um condutor normal possa tomar precaues tendentes a evitar aquele obstculo (que desconhece), sem dvida apto a provocar o deslizamento, derrapagem e despiste do veculo, com as consequncias inevitveis (e aleatrias) da decorrentes.

    II - A existncia de areia na estrada nas apontadas circunstncias, que origina a que o veculo entre em derrapagem, aps o que se verifica o seu despiste e capotamento, constitui causa de fora maior no estranha circulao do veculo. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 4014/02 - 7. Seco Arajo de Barros (Relator) Oliveira Barros Miranda Gusmo

    Contrato de arrendamento urbano Obras Urgncia Matria de facto Poderes da Relao

    A concluso tirada pela Relao, para efeitos do disposto no art. 1036 do CC, de que determinadas obras

    revestiram natureza urgente, consubstancia, j que a definio dessa natureza no se encontra feita em qualquer normativo legal, um juzo de facto da competncia daquele tribunal. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3004/02 - 2. Seco Ablio Vasconcelos (Relator) Duarte Soares Simes Freire

    Livrana Aval Endosso em branco Presuno

    I - O aval em branco tem de constar da face anterior da livrana.

  • II - O endosso pode consistir na simples assinatura do endossante (endosso em branco strictu sensu), mas para ser vlido, deve ser escrito na face posterior da livrana ou da folha anexa - art.s 13, II, e 77, da LULL.

    III - A referida norma - art. 13, II - no estabelece, porm, a presuno de que essa assinatura valha como endosso, limitando-se a dispor que o endosso em branco strictu sensu s pode ser escrito no verso, isto com a finalidade de evitar confuses com a assinatura do dador do aval (art. 31, III). L.F. 09-01-2003

    Revista n. 2608/02 - 7. Seco Dionsio Correia (Relator) Quirino Soares Neves Ribeiro

    Penhora Bens comuns do casal Moratria Impugnao pauliana

    I - Face nova redaco dada ao n. 1 do art. 1696 do CC pelo art. 4 do DL n. 329-A/95, de 12-12 - e que o art.

    27, aditado pelo DL n. 180/96, de 25-09, declarou aplicvel s causas pendentes data da entrada em vigor do diploma (1-1-97) - deixou de haver dvidas da exclusiva responsabilidade de um dos cnjuges sujeitas moratria prevista na anterior redaco do n. 1 daquele preceito.

    II - Adjectivando este novo regime, o n. 1 do art. 825 do CPC, na redaco dada por aquele DL n. 329-A/95, veio permitir ao credor, na execuo movida contra um dos cnjuges, a nomeao penhora de bens comuns determinados, desde que pea a citao do cnjuge do executado para requerer a separao de bens.

    III - Assim, podendo o credor nomear penhora os bens comuns do casal na execuo movida contra o cnjuge devedor, desde que requeira a citao do cnjuge no devedor para requerer a separao de bens, esses bens constituem em princpio a garantia patrimonial do crdito, garantia essa que pode ficar definitivamente assente, se no vier a ser requerida a mencionada separao ou se nesta tais bens vierem a caber ao exe-cutado.

    IV - impugnao pauliana da doao de um bem comum do casal, doao essa levada a cabo por ambos os cnjuges, no obsta a circunstncia de a dvida ser da responsabilidade de apenas um deles. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3424/02 - 7. Seco Dionsio Correia (Relator) Quirino Soares Neves Ribeiro

    Empreitada de obras pblicas Apropriao irregular Coliso de direitos Indemnizao Brisa

    I - Verifica-se a chamada via de facto no caso de ocorrer:

    a) uma actividade material de execuo da parte da Administrao; b) da qual resulte um grave atentado a um direito de propriedade imobiliria ou mobiliria do particular; c) enfermar a actuao da Administrao de uma ilegalidade de tal modo, flagrante, grave e indiscutvel, que

    seja manifestamente insusceptvel de ser referida ao exerccio de um poder pertencente Administrao. II - Estas consideraes so aplicveis s concessionrias de obras pblicas como a Brisa, com legitimidade para

    requerer a expropriao (art.s, 1, n. 1, 17, n. 1, do CExp, Base II, do Anexo ao DL n. 315/91, de 20-08, e Base II e IV do Anexo ao DL n. 294/97 de 24-10).

    III - Caso se trate de ilegalidade simples e leve, como o de obra pblica construda por erro em propriedade privada, est-se ante apropriao irregular, hiptese em que, de acordo com a "teoria da expropriao indirecta" e para salvaguarda do princpio da intangibilidade da obra pblica, o juiz no pode ordenar a

  • destruio da obra pblica erigida por erro nessa propriedade, mas apenas conceder ao proprietrio uma indemnizao.

    IV - A referida doutrina pode encontrar apoio no disposto no art. 335 do CC, sobre a coliso de direitos, de espcie diferente - o direito de propriedade do particular e o da intangibilidade da obra pblica - prevalecendo o ltimo por dever considerar-se superior. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3575/02 - 7. Seco Dionsio Correia (Relator) Quirino Soares Neves Ribeiro

    Documento particular Fora probatria

    S o declaratrio pode invocar em seu favor a prova plena dos factos compreendidos na declarao inserta em

    documento particular contrrios aos interesses do declarante; em relao a terceiros, a declarao constante do documento particular apenas vale como elemento de prova a apreciar livremente pelo tribunal, tal como sucede com a confisso extrajudicial. L.F. 09-01-2003

    Agravo n. 4003/02 - 7. Seco Dionsio Correia (Relator) Quirino Soares Neves Ribeiro

    Responsabilidade civil Acidente de viao Causa de pedir Prescrio Procedimento criminal

    I - Nas aces destinadas a efectivar a responsabilidade civil emergente de acidente de viao a causa de pedir

    uma realidade complexa, havendo um nico facto gerador de mltiplas responsabilidades e no diversos factos isolados.

    II - Enquadrando-se a conduta do R., porque dela resultou, alm do mais, a morte de uma pessoa, no ilcito criminal de homicdio involuntrio cujo procedimento criminal prescreve no prazo de cinco anos, esse, nos termos do n. 3 do art. 498 do CC, o prazo de prescrio do direito de indemnizao, mesmo em relao a outros lesados para os quais as consequncias do acidente, tendo sido menos gravosas, no configurem qualquer ilcito criminal.

    III - Porm, se arrumada a questo da responsabilidade penal em processo onde se concluiu pela culpa exclusiva do condutor do veculo da A., e no qual esta no se apresentou a deduzir a sua pretenso, a questo fica limitada s consequncias exclusivamente civis do acidente e, consequentemente, para efeitos de prescrio, no pode j atender-se qualificao do facto como ilcito criminal para cuja prescrio a lei estabelea prazo mais longo. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3459/02 - 2. Seco Duarte Soares (Relator) Ferreira Giro Simes Freire (declarao de voto)

    Abuso do direito

  • Para que se considere abusivo o exerccio de um direito necessrio que o respectivo titular, observando embora a estrutura formal do poder que a lei lhe confere, exceda manifestamente os limites que lhe cumpre observar, em funo dos interesses que legitimam a concesso desse poder. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3659/02 - 2. Seco Eduardo Baptista (Relator) Moitinho de Almeida Joaquim de Matos

    Obrigao de informao Sociedade comercial Desconsiderao da personalidade jurdica

    I - Para que possa dar-se como efectivamente existente a obrigao de informao (art. 573 do CC), torna-se

    necessrio que aquele que se arroga na titularidade de um dado direito possua justificada dvida acerca da sua existncia (o se) ou do seu contedo (o an ou o quantum) - neste ltimo requisito se incluindo os reais contornos do mago ou cerne desse direito - e uma outra qualquer entidade terceira esteja em condies de prestar as informaes necessrias concretizao prtica desse direito.

    II - Compete ao julgador uma apreciao casustica, ainda que a titulo meramente incidental ou indicirio, do bom fundamento dos requisitos da necessidade/utilidade do pedido de informaes (dvida fundada acerca da existncia do direito ou do seu contedo), o que implica, tambm e necessariamente, uma apreciao perfunctria do bom fundamento (fumus boni juris) do direito arrogado e pretendido exercer in futurum sombra das solicitadas informaes.

    III - A desconsiderao da personalidade colectiva das sociedades s se torna possvel quando dela haja sido feito um uso abusivo ou contrrio ao princpio da boa f. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3034/02 - 2. Seco Ferreira de Almeida (Relator) Ablio Vasconcelos Duarte Soares

    Competncia material Tribunal comum Tribunal administrativo

    I - Reconduzindo-se a questo dirimenda central - subsistncia ou insubsistncia de um negcio jurdico de

    doao - a uma relao jurdica de direito privado, como tal regulada pelas normas e princpios do direito civil comum, sem embargo de nela terem tido interveno como partes contraentes duas pessoas colectivas de direito pblico, j que actuando ambas em pleno p de igualdade e sem a exercitao por parte de qualquer delas do respectivo jus imperium, a dirimncia dessa questo estar, por sua prpria natureza, arredada da jurisdio especial dos tribunais administrativos, desde logo pela disposio expressa da al. f) do n. 1 do art. 4 do ETAF 84 (DL n. 129/84 de 27-04).

    II - Havendo um segundo segmento do pedido para o conhecimento do qual, se considerado uti singuli - apreciao da legalidade do acto jurdico (acto administrativo tout court ou contrato administrativo) de concesso - seriam claramente competentes os tribunais administrativos (desde logo ex vi dos art.s 3 e 51, n. 1, al. g), do citado ETAF 84), tal controvrsia, apresentando-se como questo secundria ou dependente, j que meramente consequente da da subsistncia desse negcio celebrado a montante, perde a sua autonomia para efeitos de impugnao contenciosa.

    III - Perfila-se, no fundo, uma hiptese em tudo semelhante da "extenso da competncia" ou de "competncia por conexo" do tribunal comum, nos termos e para os efeitos do n. 1 do art. 96 do CPC, cuja ratio essendi reside precisamente em evitar a suspenso da causa principal at ao julgamento no tribunal prprio das questes prejudiciais ou incidentais.

  • IV - Da que, sendo o tribunal da comarca o competente em razo da matria para o conhecimento da "questo" principal ou fundamental pelo A. submetida ao escrutnio judicial, ser tambm ele o competente para o conhecimento das restantes questes conexas ou dependentes deduzidas na petio inicial e, outrossim, das questes deduzidas pelos rus nas respectivas contestaes em sua defesa, ainda que para umas e outras, enquanto isoladamente consideradas, fosse competente o foro administrativo. L.F. 09-01-2003

    Agravo n. 4241/02 - 2. Seco Ferreira de Almeida (Relator) Ablio Vasconcelos Duarte Soares

    Acrdo da Relao Nulidade de acrdo Suprimento da nulidade

    Alegado para o STJ o agravo em 2. instncia e discutindo-se na alegao a eventual nulidade do acrdo objecto

    do recurso, a Relao s pode pronunciar-se sobre essa nulidade para a suprir e no para defender ou reafirmar a posio anteriormente assumida em tal acrdo. L.F. 09-01-2003

    Agravo n. 3957/02 - 2. Seco Joaquim de Matos (Relator) Ferreira de Almeida Ablio Vasconcelos

    Acidente de viao Danos no patrimoniais

    ajustado e conforme equidade o montante indemnizatrio de 3.000.000$00 atribudo por danos no

    patrimoniais lesada em acidente de viao que sofreu leses graves (traumatismo craniano com perda de conhecimento, traumatismo da bacia, fractura dos ramos leo-pbicos, fractura do ramo isquio-pbico direita, fractura da asa do ilaco direito e fractura do acetbulo direito), esteve internada no hospital durante quase um ms, esteve completamente imobilizada, sem se poder mexer, durante mais de quarenta dias, neces-sitou de utilizar canadianas durante cerca de oito meses, ficou com sequelas graves (limitao do movimento de aduo da anca direita, artrose ps-traumtica incipiente da anca direita e dor intermitente mobilizao da coxa femural direita), que a podero obrigar a nova interveno cirrgica (o que lhe provoca grande ansiedade), ficou com incapacidade permanente de 20% (o que lhe provoca angstia) e sofreu dores, enormes desconfortos, graves preocupaes e incmodos, no s aquando do acidente, mas igualmente durante os tratamentos a que teve de ser submetida (quantum doloris significativo, qualificado como considervel pelo IML, com o grau de 5, numa escala de 1 a 7). L.F. 09-01-2003

    Revista n. 4018/02 - 2. Seco Loureiro da Fonseca (Relator) Eduardo Baptista Moitinho de Almeida

    Acrdo Omisso de pronncia Inexistncia jurdica

    O acrdo do STJ que, em face de recursos interpostos por ambas as partes, apenas profere deciso sobre um

    deles, olvidando a apreciao do outro, omite o conhecimento de assunto que devia apreciar, mas no est ferido de qualquer vcio que ponha em causa o seu valor como acto jurisdicional.

  • L.F. 09-01-2003

    Agravo n. 4289/02 - 2. Seco Moitinho de Almeida (Relator) Joaquim de Matos Ferreira de Almeida

    Aco de condenao nus da prova

    Nas aces de condenao, ao autor incumbe a prova dos pressupostos exigidos por lei para o reconhecimento do seu direito, e ao ru incumbe alegar e provar a no violao do direito invocado por cumprimento da obrigao a que se encontrava adstrito. 09-01-2003

    Revista n. 3955/02 - 7. Seco Miranda Gusmo (Relator) * Sousa Ins Nascimento Costa

    Abuso do direito Venire contra factum proprium

    No se pode falar em abuso do direito, na modalidade de venire contra factum proprium quando entre o primeiro

    comportamento e o segundo, aparentemente contraditrios, tenham ocorrido factos que justifiquem a mudana de atitude do agente. 09-01-2003

    Revista n. 3923/02 - 7. Seco Miranda Gusmo (Relator) * Sousa Ins Nascimento Costa

    Contagem dos prazos Tolerncia de ponto

    O n. 3 do art. 144, do CPC, na redaco dada pelo DL n. 329-A/95, de 12-12, estabeleceu a regra da

    equiparao dos dias de tolerncia de ponto ao encerramento dos tribunais. 09-01-2003

    Agravo n. 3983/02 - 7. Seco Miranda Gusmo (Relator) * Sousa Ins Nascimento Costa

    Matria de facto Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    I - Se no se verificar alguma das excepes inalterabilidade da resoluo de facto, o STJ tem de aceitar a

    matria de facto apurada pela Relao, a menos que haja lugar ampliao dela, em face do art. 729, n. 3, do CPC.

    II - A faculdade contida no mencionado art. 729, n. 3, para ser exercida quando as instncias seleccionem imperfeitamente a matria de facto, amputando-a, assim, de elementos que consideram dispensveis mas que se verifica serem indispensveis para o STJ definir o direito. L.F. 09-01-2003

  • Revista n. 4021/02 - 7. Seco Miranda Gusmo (Relator) Sousa Ins Nascimento Costa

    Documento particular Fora probatria Factos supervenientes Estabelecimento comercial Ocupao Liquidao em execuo de sentena

    I - S o documento particular com fora probatria plena, e invocado inter partes, confere competncia a este STJ

    para alterar a deciso da matria de facto. II - A aplicao do disposto na parte final do n. 1 do art. 663, do CPC, pressupe que as partes tragam esses

    factos ao processo - art. 659, n. 2 - atravs de articulados supervenientes - art.s 506 e 507 - ou que eles sejam notrios - art. 514.

    III - A ocupao ilcita de um estabelecimento comercial concedido, mediante contrato, para a sua explorao, causa dano que reside na circunstncia de quem o explora ser privado temporariamente do gozo pleno e exclusivo dos direitos de uso e fruio desse estabelecimento.

    IV - S possvel deixar para liquidao em execuo de sentena a indemnizao respeitante a danos relativamente aos quais, embora se prove a sua existncia, no existem elementos indispensveis para fixar o seu quantitativo, nem sequer recorrendo equidade. 09-01-2003

    Revista n. 4161/02 - 7. Seco Miranda Gusmo (Relator) * Sousa Ins Nascimento Costa

    Contrato de compra e venda a prestaes Resoluo

    I - imperativa a norma contida no art. 934 do CC. II - Adquirido pelo vendedor o direito resoluo do contrato, ele no est dispensado de seguir as normas gerais,

    devendo nomeadamente recorrer ao art. 808, n. 1 do CC. 09-01-2003

    Revista n. 3961/02 - 7. Seco Nascimento Costa (Relator) * Dionsio Correia Quirino Soares

    Propositura da aco Prazo de caducidade Prazo peremptrio Frutos Venda Contrato de locao

    I - So prazos de caducidade os prazos de propositura de aces, aplicando-se o disposto nos art.s 328 e ss. do

    CC. II - So prazos de precluso, a que se no aplica aquele regime, os prazos processuais peremptrios, finais ou

    resolutivos, como o prazo de contestao. III - H que no confundir a locao com a venda dos frutos, nomeadamente dos pastos.

  • IV - Para os distinguir h que analisar os direitos das partes, sua inteno e outras particularidades do caso. 09-01-2003

    Revista n. 4059/02 - 7. Seco Nascimento Costa (Relator) * Dionsio Correia Quirino Soares

    Contrato de prestao de servio Contrato de mandato Revogao Justa causa

    I - So aplicveis aos contratos de prestao de servios as regras do contrato de mandato - art. 1156 do CC. II - O mandato puro (no in rem propriam) pode ser revogado ad nutum. III - Se o mandante proceder revogao e se tratar de mandato oneroso, ele deve indemnizar a outra parte

    sempre que o mandato tenha sido conferido por certo tempo. IV - Fica excludo o dever de indemnizar caso se verifique justa causa para a revogao. V - Verifica-se justa causa se o prestador de servios se recusa a prestar os mesmos de acordo com as instrues

    recebidas, que se afiguram alis atendveis. 09-01-2003

    Revista n. 4134/02 - 7. Seco Nascimento Costa (Relator) * Dionsio Correia Quirino Soares

    Expropriao por utilidade pblica Responsabilidade civil Dano causado por edifcios ou outras obras

    I - Tanto os particulares como os entes pblicos tm o dever de velar pela conservao dos edifcios em seu poder,

    todos estando sujeitos responsabilidade civil prevista no art. 492 do CC. II - Na posse de um prdio em resultado da expropriao do mesmo, o Municpio, enquanto lhe no der o destino

    ou dele no fizer o uso que justificou a expropriao, fica sujeito, como qualquer particular, ao dever de dele cuidar, de modo a evitar os danos ocasionados por runa. L.F. 09-01-2003

    Agravo n. 4293/02 - 7. Seco Nascimento Costa (Relator) Dionsio Correia Quirino Soares

    Fundamentao por remisso Constitucionalidade

    Posto que, nesse caso, o tribunal ad quem recebe e perfilha os fundamentos da deciso recorrida, o uso do n. 5 do

    art. 713 do CPC no envolve violao da obrigao de motivao ou fundamentao das decises imposta no n. 1 do art. 205 da CRP. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 1501/02 - 7. Seco Oliveira Barros (Relator) Miranda Gusmo Sousa Ins

  • Gravao da prova Poderes da Relao Presunes judiciais Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    I - Ao tribunal de recurso compete apenas apurar se a convico do tribunal recorrido encontra, ou no, suporte

    razovel em quanto da gravao da prova resulte, ultrapassando a funo daquele, despojado do muito mais que a imediao faculta, a busca de uma nova convico.

    II - A absteno do uso de presunes naturais pelas instncias, ou a utilizao que estas faam de tais presunes (com possvel ressalva de ilogismo manifesto), ultrapassa o mbito do conhecimento prprio do STJ. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3630/02 - 7. Seco Oliveira Barros (Relator) Miranda Gusmo Sousa Ins

    Causa de pedir Teoria da substanciao Poderes do tribunal

    I - No que respeita causa de pedir, isto , relativamente aos fundamentos da aco, encontra-se, consoante o art.

    498, n. 4, do CPC, consagrada no nosso direito a denominada teoria da substanciao, de harmonia com a qual ela deve entender-se constituda pelos factos concretos que integram a situao a apreciar in-dependentemente da qualificao jurdica que lhes venha atribuda, a qual, como se esclarece no art. 664 do mesmo cdigo, ao tribunal que, em ltimo termo, cabe ou compete determinar ou apurar.

    II - No deve, pois, confundir-se a causa de pedir, assim definida, com os motivos ou razes de ordem jurdica de que a parte se serve para sustentar a sua pretenso. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3654/02 - 7. Seco Oliveira Barros (Relator) Miranda Gusmo Sousa Ins

    Acidente de viao Crdito hospitalar Incapacidade parcial permanente

    I - Havendo terceiro, legal ou contratualmente responsvel pelo acto que provocou a prestao de cuidados de

    sade por parte de hospital pblico, a ele cabe a responsabilidade pelo pagamento, que constitui receita do Servio Nacional de Sade, a acrescentar receita bsica, que a proveniente do Oramento de Estado (Base XXXIII, n. 1, al. b), da Lei de Bases da Sade).

    II - A incapacidade permanente, para alm de envolver prejuzos de natureza no patrimonial, constitui um indiscutvel dano patrimonial, porque se reflecte na importante componente da afirmao do indivduo que a capacidade de ganho, de prover ao seu sustento e ao seu progresso material, em condies de igualdade com os respectivos semelhantes. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3675/02 - 7. Seco Quirino Soares (Relator) Neves Ribeiro Arajo de Barros

  • Contrato de doao Aceitao tcita Sentena estrangeira Fora probatria Uniformizao de jurisprudncia

    I - Como a generalidade das declaraes negociais, a aceitao das liberalidades tambm pode ser manifestada

    tacitamente, mesmo que a lei lhe confira caracter formal (art. 217, n. s l e 2, do CC); quanto a esta ltima condicionante, a exigncia do formalismo ser cumprida desde que os factos concludentes constem de documento de idntica solenidade exigida para a doao.

    II - Revela, sem margem para quaisquer equvocos, que teve conhecimento da doao e que a aceitou, a atitude da beneficiria de incluir o bem doado na partilha do patrimnio do casal.

    III - A sentena de divrcio proferida pelo tribunal do Estado da Califrnia que homologou o acordo de partilhas onde se incluiu o referido bem, apesar de no revista e confirmada no espao judicirio portugus, , todavia, atendvel como meio de prova, de acordo com a doutrina do Assento do STJ de 16-12-88 (DR, I srie, n. 50, de 01-03-89), que no h razes para abandonar (na sua actual valncia de mero uniformizador de juris-prudncia). L.F. 09-01-2003

    Revista n. 3669/02 - 7. Seco Quirino Soares (Relator) Neves Ribeiro Arajo de Barros

    Contrato de distribuio Boa f Dever de informao Dever de assistncia tcnica

    O contrato de distribuio constitui ampla categoria que abrange diversos negcios, tpicos e atpicos, destinados

    a cobrir as modernas necessidades de uma distribuio fluida e controlada dos produtos e servios das grandes empresas, contando-se entre tais negcios o contrato de agncia, o de mandato comercial, o de comisso, o de mediao, e o de concesso comercial, todos eles implicando, para a distribuidora, uma especial conformao do dever de boa f que deve acompanhar o cumprimento de qualquer obrigao, e que se concretiza em particulares deveres de informao e assistncia tcnica, tanto mais instantes quanto mais sofisticado for o equipamento ou o servio fornecido. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 4240/02 - 7. Seco Quirino Soares (Relator) Neves Ribeiro Arajo de Barros

    Acrdo da Relao Omisso de pronncia

    Dizer-se apenas, no acrdo da Relao, quanto a determinada questo suscitada no recurso, que a soluo

    firmada pelo magistrado (da 1. instncia) corresponde a um desfecho que no incomum na doutrina e na jurisprudncia, no decidir, nem sequer por adeso, sobre tal questo. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 4042/02 - 2. Seco Simes Freire (Relator) Loureiro da Fonseca Ferreira Giro

  • Contrato misto Contrato de compra e venda Preo Contrato de doao Escritura pblica Fora probatria Prova testemunhal

    I - A fora probatria da escritura notarial no vai ao ponto de constituir prova plena de que o preo acordado e

    efectivamente pago foi o declarado e no outro, de que o preo j se encontrava efectivamente pago quando foi outorgada a escritura e, principalmente, de o preo, seja o declarado, seja o efectivo, corresponder ao valor real do prdio vendido.

    II - Nada obsta a que o preo da compra e venda seja de montante superior ou inferior ao do valor real da coisa, o que pode suceder, designadamente, em virtude de uma das partes, por esprito de liberalidade e custa do seu patrimnio, querer beneficiar a outra, quer acordando-se e pagando-se um preo superior ao valor efectivo da coisa (de sorte a que o comprador beneficie o vendedor), quer acordando-se e pagando-se um preo inferior ao valor efectivo da coisa (de sorte a que o vendedor beneficie o comprador).

    III - Nestas situaes est-se em presena de contrato misto, permitido pelo art. 405 do CC, em que o contrato, continuando a ser de compra e venda, absorve um elemento do contrato de doao enquanto uma das partes, por liberalidade, faz uma atribuio patrimonial outra.

    IV - Nada exige que o referido espirito de liberalidade seja expressamente declarado na escritura; ele compagina-se com a objectiva diferena entre o valor de mercado da coisa e o preo. O que est aqui em causa a finalidade, o motivo dessa diferena de valores que nada impede que seja alcanada por qualquer meio de prova, nomeadamente testemunhal. L.F. 09-01-2003

    Revista n. 4056/02 - 7. Seco Sousa Ins (Relator) Nascimento Costa Dionsio Correia

    Advogado Responsabilidade profissional Responsabilidade civil

    I - So pressupostos da responsabilidade civil nos termos da norma do art. 83, n. 1, al. d), do EOA, conjugada

    com a do art. 483 do CC, o facto voluntrio e culposo do advogado com violao dos seus deveres deontolgicos, o dano e a ocorrncia de nexo de causalidade adequada entre o facto e o dano.

    II - O procedimento do advogado tem que ser culposo, no sentido de merecer censura deontolgica, de constituir um indesculpvel erro de ofcio; no se exige ao advogado que seja infalvel, muito menos que seja capaz de adivinhar qual o entendimento que o trib