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1 IGOR MAGALHÃES VIDOR SURF RESIDENCE PROGRAMME Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Bacharelado de Artes Visuais: Gravura, Pintura e Escultura do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo como parte dos requisitos para a obtenção do grau de bacharel em Artes Visuais, sob orientação do Prof. Me. Luciano Zanette.

Surf Residence Programme

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IGOR MAGALHÃES VIDOR

SURF RESIDENCE PROGRAMME

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Bacharelado de Artes Visuais: Gravura, Pintura e Escultura do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo como parte dos requisitos para a obtenção do grau de bacharel em Artes Visuais, sob orientação do Prof. Me. Luciano Zanette.

São Paulo2010

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Banca Examinadora:

MAGALHÃES VIDOR, Igor Surf Residence Programme / Igor Magalhães Vidor – São Paulo: 2010 tantas.F Orientador Prof.ºMe. Luciano Zanette. Trabalho e conclusão de curso (Bacharelado) - Bacharealdo em Artes Visuais: Gravura Pintura e Escultura do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, 2010.

Inclui anexo e bibliografia

1. Experiência. 2.Residêcia. 3. Surf. I. Zanette, Luciano. II. Bacharelado em Artes Visuais: Gravura, Pintura e Escultura do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. III. Título

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São Paulo, ______________________2010

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Dedico aos meus pais que aceitaram, apoiaram e agüentaram minhas escolhas mais absurdas.Dedico à Paula pelo apoio incondicional.Dedico ao Mar.

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Não vim aqui para explicar, vim aqui para confundir.Chacrinha

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Agradeço primeiramente aos meus pais, por acreditarem em mim mesmo quando aquilo que eu falava pudesse parecer a mais estranha abstração.

Agradeço à Paula por sempre estar ao meu lado mesmo que contrariada.Agradeço à Paula por estar ao meu lado em momentos de fadiga e pouco raciocínio.Agradeço à Paula por simplesmente estar ao meu lado.

Agradeço a todos aqueles que contribuíram para minha formação que culmina nesta situação.

Agradeço aos professores, principalmente os que me tiraram do centro.

Agradeço aos amigos, os verdadeiros amigos.

Agradeço aos amigos residentes Alexandre, Criz, Dani, Leandro, Thomaz, Leandro, Diego, Paula, Silvio, Aline Daniel e Luciano por se defrontarem com uma incógnita.

Agradeço aos integrantes da banca, por conferirem a mim tempo e generosidade ao aceitarem fazer parte deste programa.

Agradeço ao meu Orientador e Amigo Luciano Zanette pela generosidade, paciência e ousadia por encarar junto comigo essa zona de desconforto.

RESUMO

Surf Residence Programme se constitui de várias situações (tempo e espaço) distintas. Tais situações como, projeto, realização, documentação, apresentação/exposição, são responsáveis pela tentativa de descentralizar a obra de arte como objeto absoluto. Porem é no termo Programme que podemos identificar alguma unidade.Também são esses momentos proporcionalmente opostos sob a qualidade da palavra experiência, fato que torna invariavelmente ESPECÍFICA cada situação em que Surf Residence Programme se encontra.Neste texto, como parte desses vários momentos, busco criar conexões com as várias outras situações, mas faço de forma que essas conexões não sejam apenas ilustrativas, garantindo maior autenticidade ao próprio texto como LUGAR. É sob a égide da experiência conduzida por esses várias situações que tento conduzir esse texto, proporcionando momentos possíveis somente nesse espaço.

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Palavras-chave:Residência. Experiência. Situação Específica. Obra/Documento. Artista/Público/Instituição.

ABSTRACT

Surf Residence Program is composed of various situations (time and space) separate. Situations such as, design, implementation, documentation, presentation / exhibition, are responsible for the attempt to decentralize the work of art as object absolute. Programme is at the end but we can identify some unity.These moments are in opposite proportion to the quality of the word experience, a fact that invariably makes every situation where PARTICULAR Surf Residence Programme is.In this text, as several of these moments, I seek to create connections with various other situations, but I do so that these connections are not just illustrative, providing greater authenticity to the text itself as PLACE. It is under the auspices of the experiment conducted by these various situations I try to lead this text, providing moments only possible in that space.

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Key-wordsResidence. Experience. Specific situation. Work / Document. Artist / Viewer / Institution.

Índice

Anexo 01 Descrição Estratégia e método 11

Enunciado 14

Origens e Vontades 15Sob

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Última parada antes de Surf Residence 15 Surf Residence 18

Ponto de partida do residente 19 Hospitalidade = Nova Zona de Conforto 21

Anexo 02

SILVIO SELVAGEM 24

Considerações )finais?( 35

Bibliografia 36

Anexo 03 Convite 38

Anexo 04 externo[caixa]Manual 01; about surf

Manual 02; three things before you surfManual 03; surfboards, what is?Manual 04; waves!

Anexo 05

Cardápio 39Anexo 06

Discografia 40Vídeografia

Anexo 07LEI Externo [caixa]

Anexo 08Tortilha e Ceviche 43

Anexo 09Diagrama de Fotos Externo [caixa]

Anexo 10

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Parafinas Externo [caixa]

Raspador Porção de areia catalogada

Anexo 11Planta baixa FUNDO[CAIXA]

Anexo 12Branco Externo [caixa]

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Anexo 01

DESCRIÇÃOEstratégia e Método

Surf Residence consiste em uma casa, na praia de Boracéia ,no litoral de São Paulo. Doze pessoas residiram por três dias nesta residência e lá receberam aulas de surf. Foram duas as situações de residência realizadas especificamente nos dias 22, 23 e 24 de Janeiro e posteriormente nos dias 26, 27 e 28 de Março. Das doze pessoas, oito foram na primeira situação e quatro na segunda.

O local de residência foi montado para criar uma imersão dos residentes com o contexto histórico, visual, audiovisual, que gira em torno do surf, como estilo de vida (idealizado), produto (consumo) e prática esportiva. Haviam no espaço de residência, dispositivos visuais (fotografias, textos, elementos decorativos, revistas especializadas, pranchas de surfe, roupas especificas para prática),

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audiovisuais (filmes e vídeos de surfe), sonoros (musicas, trilhas sonoras) comestíveis (comidas leves e peixes). Todos dividiram (ocuparam) o mesmo espaço, que conta com uma única área de convivência (quarto, sala e cozinha ao mesmo tempo), um banheiro e uma lavanderia, além de quintal e piscina. (Ver anexo 11) Já as aulas de surf ocorreram nas manhas e tardes. Eu fui responsável por ministrar tanto as aulas teóricas quanto às práticas, contando com cronograma de alongamentos e instruções antes durante e depois da prática. Os residentes se agruparam em duplas, cabendo a cada parceiro auxiliar o outro e vice-versa. Cada dupla utilizou uma única prancha possibilitando o revezamento. Os residentes eram:Paula Tres Araujo, Thomaz Martinelli, Diego Derzie, Cristiane Muniz, Leandro Roman, Daniela Roman, Alexandre Furtado, Leandro Terron da Fonseca e ainda Luciano Zanette, Aline Dantas, Daniel Rubim e Silvio de Camillis Borges.

Apesar desta situação de residência, identifico a proposta em um espectro mais largo. Assim associo a palavra PROGRAMME ao lado do termo SURF RESIDENCE, dando o titulo de SURF RESIDENCE PROGRAMME (SRP).

A palavra PROGRAMME dá conta da continuidade que a proposta me impôs. Continuidade presente nos próprios residentes enquanto memória e repasse dessa experiência. Continuidade presente nas futuras realizações de residências. Continuidade presente nas discussões sobre a zona de entrelaçamento entre obra/documento. Tudo isso devido a reflexão sobre os vários momentos de deslocamento espacial e temporal que SRP possa conter, SEM QUE esses deslocamentos sejam gratuitos. Quero dizer que a palavra PROGRAMME contempla os vários momentos de Surf Residence, como o desenvolvimento do projeto, as duas residências realizadas até então, e os desdobramentos. É principalmente nos desdobramentos que identifico a qualidade contínua. Vejo este próprio texto como essa possibilidade de desdobramento, também como as situações de apresentação/exposição, neste caso a própria apresentação para a banca. Essa postura me permite pensar na condição desses momentos, tornando-os parte de SURF RESIDENCE, tornando esses vários momentos em um programa.

A palavra PROGRAMME talvez seja o único LUGAR onde possamos visualizar a proposta como um todo, como uma unidade.

Agora... podemos nos perguntar o que um anexo faz no começo deste )artigo(.

Este GESTO é uma estratégia, na qual e através dela, (EU) consiga maior ESPAÇO físico para o desenvolvimento de outras questões dentro do texto/artigo. Pode parecer incompetência na minha capacidade de síntese )o que de fato é( mas, prefiro atribuir um valor MAIS autêntico, conferindo ao GESTO, ao TEXTO, a essa ESTRATÉGIA a não-gratuidade ilustrativa citada anteriormente, fazendo com que essa experiência seja parte do mesmo. Assim como os anexos, a GRÁFIA, acaba indicando )ou não( intensidade e

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deslocamento dentro da própria leitura, conferindo POSSIBILIDADES particulares do entendimento dessas intervenções, por parte de quem lê este texto. Essa GRAFIA não é um método DE regras claras, mas um exercício de escrita intuitivo, ainda não sistematizado.

ENUNCIADO

Analisando a estrutura de Surf Residence Programme (projeto, convite, deslocamento, residência, convívio, pratica/surf, texto, exposição/apresentação) identifico alguns momentos de muita potência e proporcionalmente opostos sob a qualidade da palavra experiência. Tento conduzir este texto sobre a possibilidade que o programa me impôs de alargar seu espectro. Diante da proposta inicial e das demandas exigidas sobre o trabalho, como a apresentação para banca, a necessidade de exposição, e esse próprio texto, tento compreender a abrangência e qualidades do programa sob a égide da palavra experiência. Quero dizer que o programa me gerou problemas interessantes, pois em determinada situação, ele se coloca, também, fora de um espaço circunscrito, tradicionalmente destinado a obra de arte, ou ainda fora de um espaço de graduação no contexto acadêmico. Esses

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problemas me levam a pensar nos mesmo, enquanto o lugar, ou melhor, a situação do trabalho como obra, OU como documento, OU AINDA quando as duas condições acima são concomitantes (eliminando assim o OU) gerando mais possibilidades de alargar o programa, afinal, a residência, as experiências realizadas anteriormente a escrita desse parágrafo, ou a leitura de quem o lê, seria de impossível apreensão se não pela própria experiência, o que responsabiliza o próprio texto de criar a imagem (link), e também os problemas de todo esse processo. Talvez eu não resolva esses problemas neste espaço repleto de palavras, mas talvez o texto seja um gerador de mais problemas, levando a outros caminhos.

Ainda sobre o texto; É como se SRP fosse uma lagoa, porém, para que uma porção de água possa ser bebida necessitamos de algo que a envolva. Aqui a cápsula, o copo, aquilo que envolve essa porção é a palavra escrita. Aqui texto pode ser a porção de água, pode ser a conexão daquele que o lê com a "lagoa", a conexão com outras possibilidades de Surf Residence. Assim como qualquer apresentação que for exigida sobre o programa, penso que tais apresentações não sejam meramente ilustrativas, explicativas ou publicitárias, mas que de alguma forma criem conexões, sejam também "porções de água". Quero deixar claro que o texto não é encarado como subsídio para uma visualização absoluta do programa. Pretendo com ele não somente o obvio, a reflexão sobre o trabalho, mas que ele, de alguma forma, adicione mais camadas à trama de complexidades que SRP possa conter, unindo-se então a "porção de água".

Texto aqui não é obra,)sob o ponto de vista da totalidade, da plena visualização( MAS, faz parte de!

Assim PROPONHO a você que o lê a experiência da leitura, a experiência de Surf Residence EM texto.

Essa postura provém da reflexão sobre estruturas que sustentam o programa. Provém da reflexão sobre a necessidade textual que o mesmo possa ter, e neste caso, o con-texto acadêmico. É também uma reflexão sobre a impossibilidade daquele que o lê de presenciar as outras situações em que Surf Residence se locou.

ORIGENS E VONTADESSOB

Surf Residence Programme provém da vontade de proporcionar uma experiência como objeto artístico, )se é que a palavra objeto cabe neste con-texto(. Junto das iniciais intenções do programa, acompanha o desejo descentralizar a idéia de obra na qual podemos identificá-la como um objeto delimitado, absoluto. As várias situações que integram SRP, são possibilidades de deslocamento do todo, por parte de quem participa, vê, lê, etc. Até por se tratar da experiência como objeto, como apresentar isso em plenitude, em totalidade? )ou mais( Será que se trata de dar conta dessa totalidade?

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ÚLTIMA PARADA ANTES DE SURF RESIDENCE

Trabalhei em um instituto cultural aproximadamente dois anos. Das varias atribuições dirigidas a mim, a principal delas é recepcionar, acolher, os diversos grupos agendados que visitam o instituto para as exposições, em sua maioria ligadas às artes visuais, e repassar esses grupos aos educadores que fazem as visitas. Por muito tempo refleti sobre a necessidade desse procedimento. Depois de séries de discussões com varias pessoas as quais eu era subordinado, cheguei a conclusão que, além de facilitar o trabalho do educador )e não irei entrar nesse mérito aqui( a necessidade de tal recepção era de humanizar )ou docilizar1(o contato com o museu. Este, um espaço asséptico, um espaço ao qual as pessoas falam baixo, andam devagar, com as mãos para trás, enfim o velho cubo CULTURAL branco. )certa vez, um grupo de crianças de uma escola X chegou a porta do instituto. Ao passo que os primeiros alunos entravam no instituto a professora responsável desatou a berrar:- Já falei, quero todo mundo em silêncio, não quero ver ninguém abrir a boca, correr, tocar em nada, podem ficar todos em fila que o moço vai falar. O moço ou o carrasco?( Enfim, entendo a necessidade que uma instituição desse porte tem em criar maior proximidade com o grande público e esses esforços me agradam por um lado. Mas a partir desses indícios comecei pensar sobre o comportamento do público que "vê", que freqüenta os espaços destinados a arte e de como o público passa por uma série de mediações até se encontrar com a obra de arte, e como esses vários obstáculos podem cansar esse público, e mais, como esses obstáculos estão inclusos e inseparáveis da experiência artística sendo eles também parte desse momento de "suspensão" no contato com a arte.

Apesar de concordar quase plenamente com Kaprow2 quando escreve em seu artigo:

"...que os movimentos randômicos, como o transe dos consumidores em um supermercado, são mais ricos do que qualquer coisa feita na dança moderna...(KAPROW, Tradução por Carlos Klimick, P.02)"

, entendo que esses espaços institucionais são os espaços onde a ARTE está concentrada e pode ser visualizada, experimentada, etc. O importante agora não é um posicionamento contra, como vemos em Kaprow, mas como o artista e sua produção passam a demandar uma re-invenção, uma transformação desse espaço institucional, e ainda o espaço institucional no Brasil, esse extremamente carente.

1 No livro Vigiar e punir, Michel Focault, filosofo francês, 1926, escreve como na Idade Moderna as instituições deixam de ser lugares de suplicio, como castigos corporais, para se tornarem lugares de criação de “corpos dóceis”. Foucault viu na educação moderna atitudes de vigilância e adestramento do corpo e da mente. Apesar disso o filósofo não acreditava que a dominação e o poder sejam originários de uma única fonte, como o Estado ou as classes dominantes, mas que são exercidos em várias direções, evidenciado no livro Microfísica do Poder.

2 Allan Kaprow é conhecido como o criador do happening. Desde 1958, quando realizou os primeiros environments, que são instalações-ambientes, sua ação como artista passa a ser uma proposição de integração de espaço e materiais, em que o visitante é envolvido. É nesse processo que propõe uma relação em que o espectador assume a co-criação.

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Levando em conta algum desses comportamentos do público, do indivíduo, e sobre essas condições em que o público é submetido; a)suposta(importância sobre este momento de)suspensão(frente a visualização e experiência artística; passei a desenvolver Surf Residence. Dessa e de outras percepções nasce a vontade de que esse público seja mais incisivo = decisivo no trabalho.

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É sob a qualidade da palavra experiência em referência a alguns momentos de SRP que me detenho agora. De acordo com a história da filosofia existem várias vertentes que pensam a qualidade e definição da experiência.)não vou me debruçar aqui sobre essas vertentes, até por que não tenho competência para tal( Nas situações de desenvolvimento do projeto (anterior as realizações) e dentro da casa, a palavra experiência está ligada a mim, enquanto sujeito propositor, anfitrião, instrutor. O ESPECIALISTA. Neste caso a palavra experiência está ligada a competência, técnica e perícia. Experiência está ligada a bagagem e repertório adquirida ao longo do exercício constante da prática do surf )artística(, da proximidade com o contexto cultural do surf )artístico(, como aquele que se torna experiente dentro de suas funções de profissão. Como diz Andréia Meinerz3 em sua dissertação de mestrado:

“Quem tem acumulado experiência possui algo que lhe confere autoridade, evidenciando uma distância que separa a ingenuidade juvenil de experiência de vida própria ao ancião” (MEINERZ, 2008, P.19)

Assim em algumas situações possuo certo controle, ocupo um lugar centralizador indicando algumas ações. Aqui a qualidade de experiência referida é a do sujeito experiente, e como este(EU) propõe a criação de PARÂMETRO para EXPERIÊNCIA dos residentes.

Mas antes disso, é importante dizer que Surf Residence já começa no seu próprio desenvolvimento enquanto PROJETO. Todos os objetos, toda a montagem do espaço de residência foi pensado e montado, visando o convívio e imersão. Também como zona de mediação entre objetos, manuais, dinâmicas e os residentes, correspondente a prática do surf. As várias fotografias na parede foram selecionadas (através de banco de imagens) de acordo com momentos de prática e de bastidores do surf.)Isso gerou uma situação interessante já que eles viam fotografias de bastidores sendo que eles(+EU) estavam também em uma situação de bastidores; ver anexo 09(. Dispositivos visuais como revistas, fotografias, vídeos, todos pensados para criação de um PARÂMETRO, neste caso, estético/cultural do contexto (idealizado) do surf e da praia, como lugar de extrema qualidade de vida, etc. A escolha das molduras de cada fotografia, também estavam relacionada a uma estética próxima do contexto (idealizado). Assim madeiras claras, bambu, e todas essas molduras foram estrategicamente selecionadas, aproximando-se de uma estética mais praiana. Um cardápio foi desenvolvido para os três dias [ver anexo 05]. Todos os pratos feitos a base de peixe, na tentativa de construção de uma memória palatal. (A comida acabou atuando em uma esfera de hospitalidade, que veremos mais a frente). Uma discografia, [ver anexo 06] também foi selecionada, tudo isso pensando na imersão dos residentes.

3 Andréia Meinerz é mestre em filosofia pela UFRGS.

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Habitavam o espaço não só objetos para a casa, mas objetos no qual o contato maior seria na situação de prática. As pranchas de surf foram desenvolvidas por mim especificamente para SRP. Os modelos, LONGBOARDS [ver anexo 04; manual 03 surfboards, what is?], foram desenhados e projetados por mim, para iniciantes, já definindo assim um possível perfil de residente. Como o OUTLINE [ver anexo 04; manual 01 About Surf; Dicionário do Surf] das pranchas faz muita diferença na hora da prática, mesmo sendo todas do mesmo modelo, foi feito ao lado de um SHAPER 4, um estudo minucioso sobre medidas especificas, tentando dar conta da variedade de biótipos dos residentes [ver anexo 04 ; manual 03 surfboards, what is?]. As cores das pranchas foram desenvolvidas a partir da utilização de novas técnicas de produção de pranchas, mas privilegiando cores chapadas, conversando com uma estética já existente na confecção de pranchas de surf.

PONTO DE PARTIDA DO RESIDENTE

Assim como disse Daniel5:

"a coisa já começou no convite".

A partir do convite feito a cada pessoa, acabei estabelecendo um contato simbólico com o que poderia ser a situação de residência. Nesse momento o primeiro contato criou um enunciado, mas ao mesmo tempo o convidado se deparava com uma abstração já que o convite [ver anexo 03] não é claro em relação aos acontecimentos dos três dias de residência. O convite gerou um estado de expectativa não só no convidado, mas também em mim. Foram várias as negações. Aliás, várias negações em cima da hora, às vezes um dia antes da realização na praia.)essas desistências exigiram de mim certa habilidade e adequação das dinâmicas pretendidas( É claro que seria impossível dimensionar os reais motivos da desistência, mas ficou claro um desconforto em relação à incógnita da proposta, facilitando assim a desistência. Esse desconforto foi identificado, não pelos que negaram, mas através daqueles que aceitaram o convite. Perguntas inúmeras foram feitas por parte dos que aceitaram. Perguntas sobre condições, sobre situações operacionais, sobre dinâmicas, tudo isso na tentativa de criar uma imagem do que poderia ser a situação de residência. Sempre mantive sigilo sobre as dinâmicas e condições de convívio em que os convidados estariam, propositadamente, visando um primeiro encontro com o espaço, entre os residentes e com as dinâmicas.4 No processo de manufatura da prancha o Shaper é a peça chave no desenvolvimento (medidas, design) do shape. Veja que o termo em inglês shape refere-se a CORPO. Shaper é aquele que esculpi, desbasta o bloco de isopor. O termo foi adaptado ao português sem uma tradução. Cria-se uma analogia entre corpo e forma; aquele que dá corpo.

5 Daniel é um dos residentes da segunda realização; apreensivo e engraçado.

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Esse esforço)foi grande a pressão exercida pelos convidados(na tentativa de potencializar esse primeiro encontro, potencializar esse estranhamento. O deslocamento de uma condição de conforto, já propiciado através do convite, talvez seja um dos principais propulsores para potencialização da experiência.

Esse convidado ao ser retirado da sua zona de conforto proporciona uma expectativa muito positiva, sobre a potencialização da experiência nesses três dias. Lembremos, o convidado virá a ser residente, mas este também é o espectador(a) de exposições de arte, o estudante universitário, o pai(mãe) de família, o professor(a), o(a) artista, o diretor(a) de empresa, ETC. Este é deslocado já pelo convite, e mais a frente pelo deslocamento até a residência. Isso o tira de sua zona de conforto cotidiano,)sua casinha, seu cafezinho, seu ônibus lotado, seu trabalho atribulado, suas discussões familiares, o transito desgastante, seu controle remoto, todas situações já esperadas no coitado particular de cada residente( Eu encontro potência nessa imprecisão sobre o futuro imediato que cada residente se encontrou dentro da casa. Identifico nessa imprecisão, nessa situação desconfortável, grande responsabilidade pelo desencadeamento de uma experiência mais intensa. É na expectativa sobre o desconhecido, expectativa nesse estado de incógnita que potencializou enquanto experiência os acontecimentos futuros dentro da casa e também na situação de prática. )porque julgo esse estado de expectativa a propulsão para o que chamo de experiência?(

Talvez seja, ao colocar o (ainda)convidado neste estado dês-con-for-tá-vel, a faceta mas política de SRP, já que de maneira não didática, propõe uma situação de convívio e vivência distintas do automatismo cotidiano. Entendo esse automatismo como problema na apreensão da experiência, fato que certamente EMPOBRECE a presentificação, constatação e memorização da experiência. Aqui assumo um posicionamento em que aponta para a pobreza da experiência no nosso cotidiano automático.)Lembremos dos comportamentos dentro dos museus, constatados por mim no cerne das minhas funções como funcionário de um museu( Pobreza ao tentar, por exemplo, comunicar os acontecimentos de mais um dia rotineiro. Apesar desta constatação, também entendo o automatismo como uma defesa fisiológica, referente à quantidade de informações que temos que lidar diariamente. Mas talvez seja o automatismo (aquele que nos permite continuarmos sem surtar) o responsável pelo empobrecimento da experiência. Aqui me aproximo do pensamento de Giorgio Agamben6:

Pois o dia-a-dia do homem contemporâneo não contém quase nada que seja ainda traduzível em experiência: não a leitura do jornal rica em noticias do que lhe diz respeito a uma distancia insuperável, não a fila diante dos guichês de uma repartição ou visita ao país de Cocanha do supermercado nem os eternos momentos de muda promiscuidade

6 Giorgio Agamben é um filósofo italiano, 1942, autor de várias obras, que percorrem temas que vão da estética à política. O filósofo vem construindo uma obra extensa que visa dar conta, entre outras coisas, aos desafios próprios à ação política na contemporaneidade. Responsável pela edição italiana das obras completas de Walter Benjamin, ex-aluno de Heidegger e autor, juntamente com Deleuze, de trabalhos sobre teoria literária e filosofia, sua contribuição para o pensamento político tem-se revelado muito significativa, sobretudo no âmbito da reflexão biopolítica.

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com o desconhecido no elevador ou no ônibus. O homem moderno volta para casa à noitinha extenuado por uma mixórdia de eventos – divertidos ou maçantes banais ou insólitos, agradáveis ou atrozes – entretanto nenhum deles se tornou experiência. (AGAMBEN, 2005, P.22).

Este trecho pode criar uma imagem ao que estou me referindo.

Também é aqui que minha presença VOLTA a atuar como suporte, como "porto seguro", para aqueles que se lançaram em uma incógnita.

Veja a primeira pergunta de Thomaz7 quando chegou à residência:

“… como se fala )pronuncia( SURF ou SURFE ? " (inglês) (adaptação ao português)

Nesta colocação não vejo outro motivo se não a tentativa de se adequar a um contexto distante, na busca de uma situação de conforto, mesmo que fonética. Talvez até uma aprovação em futuras conversas com pessoas do meio. )respondendo a pergunta, não há maneira certa de pronunciar a palavra surf(e), neste próprio texto escrevo das duas formas, surf/surfe. Isso se justifica pela própria condição de invenção e adaptação com que várias palavras em inglês foram submetidas dentro do contexto surfístico no Brasil, principalmente em relação à fonética. Veja o próprio nome do trabalho em inglês, não é uma proposição gratuita; ver anexo 04;Manual 01about surf; Dicionário do Surf ( Neste momento, entendo que meu papel, minha presença, AINDA, é o grande referencial dentro da residência. O papel de MEDIADOR/ANFITRIÃO fica evidente e estabelecido em uma escala hierárquica nesta condição.)o que é extremamente natural( Meu papel ainda é predominante se pensarmos em uma situação autônoma de comportamento dos residentes.

HOSPITALIDADE = NOVA ZONA DE CONFORTO

Sendo meu papel predominante dentro da residência, foram também algumas situações de abordagem aos residentes responsáveis por compensar esses outros estímulos que proporcionaram incertezas e desconforto. Algumas situações eram quase paradoxais. Ao mesmo tempo em que o convite, o deslocamento até a residência, ou ainda a sensação de não pertenciamento ao contexto, geram desconforto, outras situações como a recepção e cuidados com os residentes, começam a gerar uma zona segura. Logo na entrada da casa, tochas iluminavam o caminho até a residência. Foram entregues LEI [ver anexo 07] aos residentes antes de entrarem. Ao se acomodarem, organizando suas bagagens no lugar onde melhor entenderam, foram convidados a saborear, tortilhas e ceviche8 [ver anexo 08] desenvolvido especificamente para SRP. Todas essas situações, junto de alguns 7 Thomaz é um dos residentes da primeira realização; extremamente engraçado e pró-ativo.

8 Na primeira realização foram servidas tortilhas e na segunda ceviche.

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elementos de imersão como a música a comida, OS TRES DIAS DE RESIDÊNCIA, foram responsáveis por inverter a sensação de desconforto, imposta a princípio pela incógnita da proposta.

Como disse Silvio9:

“… o ceviche me deixou mais tranqüilo, quebrou com certo desconforto que senti por chegar de última hora". )Silvio foi a residência na última hora, estava receoso por não ter sido convidado anteriormente, já que sua vinda foi por acompanhar Aline(

Essa inversão repousa sobre a condição de hospitalidade. A residência mesmo atuando como essa situação de deslocamento acabou se tornando um espaço de conforto, conforme os residentes foram se adequando ao lugar, as situações de convívio entre eles(+EU) . Naquele momento, a hospitalidade gerenciava esse viver coletivo, fornecendo parâmetros, mas que foram subvertidos e adequados pelas particularidades de cada residente. Uma aceitação sobre o território de convívio de cada um, no qual se expandiu ao outro, à medida que as relações se aprofundaram. Algumas ações dentro da residência, foram traduzidas sutilmente pelo repertório subjetivo de cada um no decorrer dos dias, levando em consideração que esse convívio ainda não passou por uma sistematização (me refiro ao automatismo), assim cada escolha consistia numa tentativa de entender as fronteiras e intercâmbios refletidos entre eles(+EU).Simples escolhas exprimindo a realidade criada pela percepção das zonas de trocas sejam elas, uma saudação, o compartilhamento, ou o silêncio perante o outro.

Talvez essa atmosfera, tenha proporcionado uma zona de conforto calcado na generosidade.

Generosidade que percebeu fronteiras de língua, de raciocínio, repertório, mas que não fizeram dessas fronteiras barreiras. Utilizaram essas linhas de demarcação para enriquecer e ampliar a relação com o outro, consequentemente consigo mesmo em correspondência ao espaço, as situações, ao programa. Todas essas particularidades geravam situações de convívio extremamente específicas.

Mas mesmo assim, AINDA era (EU) responsável pela maioria das indicações sobre os acontecimentos.

Também eram mais nítidas minhas intervenções em relação aos acontecimentos dentro da casa, pois o ESPECIALISTA atuava intensamente. Nas ferramentas em que propunha aos residentes me referindo à prática do surfe, é que esse papel PROFESSOR/INSTRUTOR determinava certa hierarquia. O desenvolvimento dos manuais [ver anexo 04] e o repasse do seu conteúdo, em estrutura

9 Silvio é um dos residentes da segunda realização; ele foi um dos responsáveis por um dos momentos mais lógicos e equacionais da residência.

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de aula, era responsável por criar parâmetro para prática, )como já dito( também instigar os residentes à possibilidades futuras e ainda culturalizar, proporcionando talvez uma sensação de pertencimento ao contexto. Assim como a aplicação de parafina nas pranchas [ver anexo 10 e 4 three things before you surf ; como passar parafina/surfwax], os manuais tinham função de responder perguntas como as de Thomaz. Eram OS MANUAIS responsáveis por dar ferramentas para a situação de prática e adicionar camadas (culturais) a experiência de prática.

Porém foi na situação real de prática em que a balança entre eu e os residentes se tornou equivalente. Até então, o descrever das situações ocorridas, analisadas por mim principalmente pelos comportamentos e relatos dos residentes, me parece um exercício QUASE cientifico, sob o ponto de vista do experimento, da causa e efeito. Este procedimento dialético, que se fez tão falho na busca de VERDADES pela ciência, aqui faz jus a qualidade de experiência do perito, do ESPECIALISTA )que talvez seja falho como a busca científica(.Muitas vezes esse exercício analítico sobre os acontecimentos, pode ser visto no texto como um exercício especulativo. Porém é na tentativa de transportar a qualidade da experiência da prática do surf sob o ponto de vista dos residentes)impossível(que encontro o MAIOR e o MELHOR dos problemas.

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Como comunicar o incomunicável? Como comunicar o que é da ordem da experiência se não por ela mesma? Será então o exercício de comunicar uma perda de potência se for mera referência ao acontecimento? Talvez seja na INCAPACIDADE humana de comunicar a experiência em sua plenitude que encontramos POESIA. Ou melhor, será possível apreendermos em total consciência e plenitude a EXPERIÊNCIA? A partir de algumas questões como essas, me deparei com um enorme problema com este texto, com este lugar. Como dimensionar minimamente AQUI a relação de experiência que os residentes tiveram com a prática do surfe, sem que este fosse apenas um exercício especulativo. Sem que a EXPERIÊNCIA de forma científica fosse codificada e se tornasse um EXPERIMENTO. A saída então é tornar poética a maior das abstrações. É BRINCAR10 com essa relação entre experimento e experiência, nessa esfera dialética entre o metodológico e o puramente sensório cuja confirmação não poderia ser outra se não a possibilidade empírica. É na impossibilidade de qualquer sistematização que encontro saída para o problema. É no absurdo resultante dessa especulação que encontro poesia. Codifiquemos então? )poetizemos então?( Com base em alguns relatos e constatações proponho aqui comunicar o incomunicável.

Aline11 e)eu(estávamos no mar apenas olhando (eu filmando) Luciano, Silvio e Daniel totalmente em êxtase. Aline diz:

"Igor não tem o Fabio Fabuloso12, tem também o SILVIO SELVAGEM".

Foram muitas as risadas após a constatação da Aline referente ao comportamento ensandecido, vorás e perigoso que o Silvio se encontra frente à possibilidade de natureza, e

prática do surfe. O termo SILVIO SELVAGEM, criado como brincadeira, como constatação, 10 No seu artigo The Education of the Un-Artist, traduzido pela revista eletronica Concinnitas, Allan Kaprow discorre sobre o termo play no tópico “Todo lugar como playground”. Play pode ser traduzido para o português tanto por jogar como brincar e ainda tocar (instrumento), porém Kaprow enfatiza a qualidade não competitiva do termo, uma idéia que envolve prazer e alegria sem disputas. Relaciona o termo a uma condição ritualística, envolvendo a capacidade de imitação de certas brincadeiras (play) exercidas por crianças: “Entre si, os jovens imitam seus pais em seus movimentos, sons e padrões sociais. Sabemos com alguma certeza que fazem isso para crescer e sobreviver. Eles, porém, jogam-brincam sem essa intenção consciente, aparentemente, e sua única razão evidente é o prazer que isso lhes proporciona. Assim, sentem-se próximos e se tornam parte da crescente comunidade”.

11 Aline residiu na segunda realização; silenciosa porém perspicaz em suas colocações

12 Fábio Fabuloso foi um filme feito em homenagem a Fábio Govea um dos maiores nomes do surfe brasileiro. No filme o narrador utiliza características de cancioneiro para contar o percurso profissional de Gouvea. Essa narrativa proporciona a criação de termos e fonemas poéticos e fazem referência a origem nordestina de Fábio Gouvea.

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demonstra não só relação do sujeito EM experiência, mas a possibilidade de construção do termo somente por quem está presente e imerso na mesma. A experiência aqui é presenciada e vivida na sua etimologia. É "atravessando o perigo" na sua mais Sublime face, que se caracteriza a equação entre os elementos que a prática/experiência pode proporcionar. A partir destes elementos, proponho uma equação)absurda(como forma de constatação da experiência.

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SILVIO +MAR+PRANCHA+MOVIMENTO+ETC*

(*ETC da conta de uma série de outros elementos possíveis da situação especifica que poderiam se juntar à soma. Elementos sensoriais como vento, luz, temperatura, cheiro, outros como areia, pessoas, elementos também culturais, como o gênero artístico paisagem, mas tudo isso proporcionado pela equação)

Essa soma acaba resultando em um ciclo não respectivo de;

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ÊXTASE COMDESCONTROLE COM

EXAUSTÃO COMINTENSIDADE COM

ETC

tudo isso sintetizado no termo SILVIO SELVAGEM.

Porém ao determinar essa equação de soma, identifico um problema na projeção

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imagética da mesma. A soma aqui acaba criando uma justaposição dos elementos somados, mantendo-os separados de seu resultado. Quero dizer que a soma cria uma seqüência narrativa, e que ao seu fim obtemos um resultado, como se durante operação de soma os elementos se mantivessem inalterados e só no final de tal procedimento seria possível visualizar um resultado. Para então resolver esse vácuo da relação entre os elementos, determinado pela operação de adição, proponho que o sinal de adição (+) seja substituído pelo sinal de multiplicação (x). Entendo então a multiplicação como geradora de resultados dentro do próprio procedimento, tornando a relação entre os elementos a serem multiplicados um conjunto de entrelaçamentos, apresentando assim resultados também entrelaçados e multiplicadores.portanto;

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SILVIOxMARxPRANCHAxMOVIMENTOxETC

também resultando em;

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Falemos da construção do termo SILVIO SELVAGEM em sua especificidade. Quais

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são as possibilidades e ferramentas cognitivas para a criação do termo enquanto situação especifica? Fabio Fabuloso atua como referencial simbólico e cultural (cultura surf) para determinação do termo ou fonema, SILVIO SELVAGEM. Só é a partir da ferramenta cultural, o filme Fábio Fabuloso, e da intensidade dos atos da equação SILVIOxMARxPRANCHAxMOVIMENTOxETC, codificado por aquele ou melhor aquela (no caso Aline) que vê mas que também participa, poderia surgir a criação de tal termo. SILVIO SELVAGEM não só atua na BRINCADEIRA entre a comparação fonética com Fabio Fabuloso, mas INTENSIFICA-SE e PROJETA no termo CRIADO a noção de que só poderia tê-lo criado quem participou daquela situação especifica, participou da multiplicação da equação, resultando em todas essas qualidades da experiência pertinentemente especifica. Quando Aline propõe a qualidade SELVAGEM ao lado da palavra SILVIO ela refere-se a uma qualidade não só percebida, mas uma qualidade vivida. Aline também compõe a equação proposta, Aline também é SILVIO SELVAGEM.

Também é Aline SELVAGEM.

Também é ALINE SELVAGEM.

É por estar como elemento da equação que Aline pode criar o termo SILVIO SELVAGEM. Aline enquanto integrante da equação pode encontrar-se no elemento ETC. No caso, o que vê, mas sabe como atuam os resultados entrelaçado das outras multiplicações da equação. Por pertencer como elemento multiplicador da equação, Aline consegue projetar o termo SILVIO SELVAGEM.

Isso me leva a constatar sua especificidade enquanto SITUAÇÃO.

Apesar do termo ser criado a partir de situação especifica, me aproprio do mesmo, pois dessa codificação estabelecida como termo/brincadeira, é fácil identificar SILVIO SELVAGEM em todos aqueles que experiênciaram Surf Residence (realização 01 e 02). Como termo criado, aquela situação especifica se generaliza. SILVIO SELVAGEM enquanto termo pode ser agora projetado para abranger qualidades de comportamento. SILVIO SELVAGEM enquanto termo pode ser entendido como lugar. Lugar no qual essas qualidades de comportamento podem se locar. É na similaridade desses comportamentos que SILVIO SELVAGEM se estabelece enquanto TERMO/CONCEITO.

Vejamos. Dos acordos estabelecidos por mim, anteriores a prática do surfe, nenhum deles foi cumprido pelos participantes. Dentro de uma logística coletiva, foi proposto por mim que os participantes atuassem em duplas. O intuito era que um ajuda-se o outro, segurando a prancha e impulsionando o parceiro para melhor aproveitamento na prática do surf, facilitando entrada na onda, o DROP [ver anexo 04; manual 01 About Surf; Dicionário do Surf]. E como disse não foi cumprido.)Porque?( Potencializa-se assim o DESCONTROLE do sujeito propositor)eu(sobre a condição proposta.

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Entendo o DESCONTROLE como o desvinculo do indivíduo (cada participante) com o sujeito propositor/centralizador)eu(e o desapego das orientações dadas anteriores ao surf. Entendo o DESCONTROLE não como uma possível falha metodológica, mas como falha metodológica frente à porção de natureza, frente à possibilidade da equação INDIVIDUOxMARxPRANCHAxMOVIMENTOxETC, esta extremamente mais potente do que qualquer método (substituo agora a palavra SILVIO pela palavra INDIVÍDUO, colocando todos os participantes em igual condição de experiência, dentro de cada individualidade). Agora quem rege as "condições" são as situações específicas em que cada indivíduo se encontra dentro da equação, a qual)eu(posso até pertencer, mas não como elemento determinante.

O contato com a porção de natureza, a equação atuando em sua potência, foi bem percebida por Luciano13 como uma situação Sublime14. O Sublime não como o lindo, o belo, mas COMO, ou melhor, EM perigo veemente. Perigo da onda que te deixa em êxtase, mas que ao mesmo tempo pode te matar. É sobre esse estado que atua a equação. É sob a égide do ÊXTASE frente à possibilidade do Sublime proporcionado pelos elementos da equação que a metodologia se torna irrisória independente da capacidade objetiva que ela possa ter. (entende-se o objetivo como o "ficar de pé" na prancha). É possível identificar esse ÊXTASE em vários momentos, não só nos comportamentos insanos dos participantes, mas em suas resistências também. A EXAUSTÃO do corpo atuando, também como elemento da equação, reflete essa

13 Luciano foi um dos residentes da segunda realização; dá apreensão à redenção.14 No tópico Enciclopédia, no site do Itaú Cultural, podemos nos deparar com a seguinte definição sobre o Sublime: “O termo sublime, do latim sublimis, entra em uso no século XVIII indicando uma nova categoria estética, distinta do belo e do pitoresco, e remete a uma gama de reações estéticas com a sensibilidade voltada para os aspectos extraordinários e grandiosos da natureza. Para o sublime, a natureza é ambiente hostil e misterioso que desenvolve no indivíduo um sentido de solidão. Empregado primeiro na retórica e na

poesia, o conceito obtém aceitação mais ampla com a tradução francesa do Tratado sobre o Sublime, atribuído a Longino (século III d.C.), feita pelo escritor Nicolas Boileau, editada em 1674. Longino descreve as coisas do mundo natural em termos de imensidão e violência. Em pleno classicismo, a estética do sublime, apoiada na idéia do temor reverencial à natureza, interpela os valores reinantes ligados à ordem, ao equilíbrio e à objetividade. O sublime se dirige ao ilimitado, ao que ultrapassa o homem e todas as medidas ditadas pelos sentidos” e ainda “É na Inglaterra que vem à luz o mais importante tratado sobre o conceito, Uma Investigação Filosófica sobre a Origem de Nossas Ídéias do Sublime e do Belo, 1757, de Edmund Burke. Burke apresenta o sublime como uma modalidade da experiência estética mais ampla, encontrada não apenas na literatura. Segundo sua definição, a natureza do sublime relaciona-se ao infinito e, sobretudo, ao sentimento do terror. Para Burke, "tudo aquilo que serve para, de algum modo, excitar as idéias de dor e perigo... ou versa sobre objetos terríveis, ou opera de maneira análoga ao terror, é origem do sublime; ou seja, é causador da mais forte emoção que a mente é capaz de sentir". Uma das primeiras obras a enfatizar o poder de sugestão como elemento fundamental para a imaginação - "as imagens escuras, confusas e incertas, mais do que aquelas claras e determinadas, têm sobre a fantasia um poder maior de formar as grandes paixões" -, o tratado de Burke sinaliza um distanciamento em relação às idéias clássicas e racionalistas do início do século XVIII, anunciando preocupações que viriam a ser exploradas pelo romantismo. O impacto das idéias de Burke na Alemanha se faz sentir por intermédio do filósofo Immanuel Kant, principalmente em suas Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime, 1764 e na Crítica do Juízo. 1790, em que define o "sublime como aquilo que é absolutamente grande".

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condição de resistência diante do fim, diante do termino da condição multiplicadora em que se encontravam. Continuar a surfar, mesmo com assaduras na barriga como Leandro15, ou o cansaço evidente de Daniel [ver anexo 09] revelam uma resistência poética. A equação em sua potência, mesmo resultando em EXAUSTÃO, demonstra uma INTENSIDADE incrível. Esta INTENSIDADE, concomitante ao ÊXTASE, a EXAUSTÃO e principalmente ao DESCONTROLE, foi o responsável por equilibrar a balança. Foram nessas posturas, nesses comportamentos os quais todos os residentes, agora praticantes, surfistas, equiparam os pólos de atuação e definição dos acontecimentos.

NESTE momento quem sou )eu( ?

Aqui é onde a balança se equivale, são eles que ditam as regras. Nesse momento perco o controle SOBRE, e me torno COM. O imprevisto metodológico alarga o campo de atuação do programa. O imprevisto nunca foi tão bem vindo. No exato momento da equação em sua potência o ESPECIALISTA, INSTRUTOR, ANFITRIÃO, PROFESSOR, ARTISTA se torna ETC16. Os parâmetros não são mais estabelecidos por mim, mas individualmente dentro de cada realidade corporal e mental. Quando estou na água COM eles, agora, surfistas, me coloco também experimentando. São eles que me sugerem a equação através desses outros padrões de comportamento. Me pego envolvido pela atmosfera equacional e por muitos instantes também estou )eu(, em ÊXTASE COM DESCONTROLE COM EXAUSTÃO COM INTENSIDADE COM ETC.

Neste momento Surf Residence Programme se FAZ potência.

15 Leandro Roman residiu na primeira realização; sua persistência é proporcional ao seu tamanho

16 Ricardo Basbaum(1961) artista, propõe o conceito artista-etc a partir de reflexão sobre o próprio papel do artista, ou quando este se coloca nessa condição de refletir sobre seu papel. Segundo Basbaum esse posicionamento faz com que os artistas transitem em outras esferas do sistema de arte, fazendo com que o artista assuma outras funções, posicionando-se a respeito do fazer artístico e suas repercussões no campo ampliado da cultura. Assumindo então essas várias funções como artista-produtor, artista – teórico, artista-ativista, artista-alguma coisa, esse artista se torna artista-etc. Apesar proposição de Basbaum, entendo o termo ETC aqui como o jargão ou a postura desinteressada sobre outras classificações ou coisas ou situações.

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CONSIDERAÇÕES )finais?(

Luciano conversando com Daniel:

"parece que estou aqui a um mês de tão intenso".

Como foi visto)experienciado(neste texto, Surf Residence gerou uma série de problemas ao ponto de se tornar um programa. Na própria condição FINAL que denomina este tópico SRP se mostra novamente problemático, pois enquanto programa, vejo esse próprio texto como potência desse problema, já que na continuidade e nas várias outras experiências e realizações futuras, este texto pode ser totalmente reformulado, pode ele cair por terra a partir de outras constatações. Fato que me impossibilita de usar o termo FINAL, para qualquer consideração feita neste espaço. Pretendo também que SRP transite em espaços institucionais, forçando algumas estruturas, alargando alguns limites, assim transformando posicionamentos, como os que o programa se deparou dentro do próprio contexto acadêmico no qual foi primeiramente apresentado. Isso me satisfaz enquanto indivíduo inserido no contexto artístico, pois eu talvez consiga com este programa, fazer um exercício complicado de desapego à proposta, sob o ponto de vista da autonomia da mesma. Devo confessar que não imagino quais as possibilidades futuras que esse programa pode encontrar, se locar e se transformar, porém é também nessa incógnita que me re-reconheço. É no desconhecido que posso me reinventar, sobre todos os PAPEIS que assumi durante os momentos de realizações, ao qual se incluem esse texto. Surf Residence se mostrou uma grata surpresa em suas várias adequações, em seus vários imprevistos, FORÇANDO não só o contexto em que se inseria, mas FORÇANDO também o sujeito propositor )eu( a uma série de reavaliações sobre os caminhos a seguir.

Surf Residence Programme gera dois legados importantes para mim. O primeiro é referente à condição de experiência, em que artista e público podem estar inseridos, deixando cada vez mais nebulosa a visualização do papel de cada um, eliminando assim barreiras hierárquicas dentro de uma proposta. É claro que tudo isso só é possível através do segundo legado que são esses vários momentos, essas várias situações invariavelmente específicas em que SRP foi envolvido. Esses deslocamentos, classificados aqui como projeto, realizações, texto, apresentação/exposição indicam um campo vasto de pesquisa sobre os mesmos e como atuam na relação entre:

ARTISTA - OBRA - PÚBLICO - DOCUMENTO - INSTITUIÇÃO

Deixo aqui, como último anexo, páginas em BRANCO para que possam ser preenchidas com mais camadas de complexidades, dando cada vez mais corpo a SURF RESIDENCE

PROGRAMME.

Obrigado, a você que o leu, pela generosidade e atenção.

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