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Susana Maria Cardoso da Costa Lima A MEMÓRIA DE CURTO PRAZO E A SÍNDROME DE DOWN: A RELAÇÃO ENTRE CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO Tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Doutor em Psicobiologia. Natal 2011

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Susana Maria Cardoso da Costa Lima

A MEMÓRIA DE CURTO PRAZO E A SÍNDROME DE DOWN: A RELAÇÃO

ENTRE CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO

Tese apresentada à Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, para obtenção do título

de Doutor em Psicobiologia.

Natal

2011

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Susana Maria Cardoso da Costa Lima

A MEMÓRIA DE CURTO PRAZO E A SÍNDROME DE DOWN: A RELAÇÃO

ENTRE CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO

Tese apresentada à Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, para obtenção do título

de Doutor em Psicobiologia.

Orientadora: Dra. Regina Helena da Silva

Co-orientadora: Dra. Fabíola Albuquerque

Silva

Natal

2011

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Titulo: A memória de curto prazo e a síndrome de Down: a relação entre contextos

de desenvolvimento

Autor: Susana Maria Cardoso da Costa Lima

Data da defesa: 19/08/2011

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Regina Helena da Silva

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Dra. Alessandra Mussi Ribeiro

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Dra. Fívia de Araújo Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Dra. Flávia Heloísa dos Santos

Universidade Estadual Paulista – Campus de Assis

Prof. Dr. Flávio Freitas Barbosa

Universidade Federal da Paraíba

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer inicialmente a Universidade Federal do Rio grande

do Norte e ao Deptº. de Fisiologia pela oportunidade de desenvolver esse

trabalho e a FAPERN pela ajuda financeira ao projeto.

Agradeço o apoio da Associação Síndrome de Down do Rio Grande do

Norte, da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais das cidades de Natal,

Mossoró e Caicó e do Centro de Reabilitação Infantil do RN, sem o qual essa

pesquisa não se realizaria.

Um especial obrigado às companheiras de trabalho da Subcoordenadoria

de Educação Especial da Secretaria de Educação do RN e das Diretorias de

Ensino das cidades de Mossoró e Currais Novos que me apoiaram na

empreitada.

Através dos meus primeiros alunos com síndrome de Down Débora,

Olívia, Marcelo, Paulo Henrique e Pedro Ivo agradeço, a todos voluntários dessa

pesquisa e aos seus pais.

A professora Drª. Regina Helena Silva agradeço pela orientação e

disponibilidade.

A professora Dra. Fabíola da Silva Albuquerque, meu eterno

agradecimento por ter me acompanhado e me ensinado tanto nesses cinco

anos! A ela as palavras nunca serão suficientes!

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A professora Dra. Fátima Campos meu muito obrigado por seus

ensinamentos sempre sábios.

Agradeço ao professor Dr. João Alchieri pela sua participação nas

discussões dos testes psicológicos.

Aos meus colegas de jornada agradeço a valiosa contribuição: Raphael

pela ajuda fundamental na elaboração dos testes de memória, a Cândida e

Diego pela aplicação e leitura dos testes psicológicos.

Um especial agradecimento pela dedicação incondicional do amigo

Cleanto, que se tornou parceiro indispensável desse trabalho em todas as fases!

Ao amigo Flávio pelo apoio durante vários períodos no decorrer dos meus

estudos.

A todas minhas amigas e amigos meu muito obrigado pela presença e

carinho.

A minha filha Manuela e aos meus netos Gabriel, Cecília e Beatriz, peço

desculpas pela longa ausência da mãe e da avó. A Guilherme agradeço o

suporte.

Enfim, fecho os agradecimentos com o coração: aos meus filhos Daniel e

Tiago companheiros de jornada e parceiros também desse trabalho, meu mais

profundo reconhecimento.

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Resumo

A síndrome de Down é uma das causas mais freqüentes da deficiência

intelectual, afetando um a cada 600 a 1.000 bebês nascidos vivos. Estudos

demonstram que pessoas com síndrome de Down (SD) apresentam uma menor

capacidade de memória de curto prazo (MCP) e memória operacional (MO), que

são apontadas como possível base dos processos de aprendizagem. Os

indivíduos com SD são cada vez mais incluídos no sistema regular de ensino, e,

no entanto, poucas pesquisas foram realizadas para investigar a influência do

contexto escolar no desenvolvimento da memória nesses indivíduos. Nesse

sentido, esse estudo buscou investigar a relação da escolar regular e da escola

especial com o desempenho nos testes para MCP, assim como a relação desse

desempenho com a estimulação precoce (EP). Duas pesquisas foram

realizadas. Os testes utilizados na primeira pesquisa foram o span de dígito, o

de recordação livre e de reconhecimento de palavras, e subtestes da Escala

Wechsler de Inteligência para Crianças – terceira edição (WISC-III). Os

indivíduos matriculados na escola regular obtiveram maiores pontuações no

teste de span de dígito e nos subtestes do WISC-III. Nos testes de recordação

livre e de reconhecimento de palavras nenhuma diferença foi encontrada. Este

estudo indicou que o contexto escolar pode influir no desenvolvimento da

memória dos indivíduos com SD e aponta para a necessidade de futuras

investigações. A segunda pesquisa investigou os efeitos da EP e os testes

realizados foram o span de dígito, a recordação livre de palavras e subtestes do

WISC-III. Os resultados dos testes evidenciaram melhor desempenho na fase

adulta das pessoas que receberam EP antes dos seis meses de idade. Os dois

trabalhos demonstraram melhora na MCP tanto nas pessoas que freqüentaram

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ou freqüentavam a escola regular, como aquelas que se beneficiaram da EP

antes dos seis meses de idade. Entretanto, algumas questões ainda precisam

ser aprofundadas. Qual a relação dessa estimulação com a escolarização do

indivíduo? Uma vez que estimulação precoce pode refletir maior envolvimento

familiar com o indivíduo, qual o papel dos componentes emocionais resultantes

desse envolvimento na melhora cognitiva? Essas e outras questões fazem parte

da continuidade desse estudo.

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Abstract

Down syndrome (DS) is one of the most frequent causes of intellectual disability,

affecting one in every 600 to 1000 live births. Studies have demonstrated that

people with DS have a lower capacity for short-term memory (STM) and working

memory (WM), which affects their capability to learn new words and to follow

spoken instructions, specially when they involve multiple information or

consecutive orders/orientations. It seems that the basis of the learning process,

as it happens with language and mathematics comprehension and reasoning,

relies in the STM and WM systems. Individuals with DS are increasingly included

in mainstream education, and yet, very few researches have been conducted to

investigate the influence of memory development and the type of enrollment

(regular school and special school). This study investigated the relationship

between the type of school enrollment with the performance on STM tests and

also, the relationship of this performance with early stimulation (ES). The tests

used in the first research were the digit span, free recall, word recognition and

subtests of the Wechsler Intelligence Scale for Children Third Edition (WISC-III).

Individuals enrolled in the regular schools group had higher scores on the digit

span test and the subtests of the WISC-III. In the free recall and recognition tests,

no differences were found. This study indicates that the type of enrollment might

influence the memory development of individuals with DS and clearly points the

need for future investigations. In the second research, the tests used were the

digit span, free word recall and subtests of the WISC-III. The test results showed

better performance by adults that received ES before six months of age. The

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studies showed improvement in STM both in people who attended or were

attending regular school, as well as those who benefited from ES before six

months of age. However, some issues still need to be better understood. What is

the relation between this stimulation with the individual’s education? Since ES

may reflect a greater family involvement with the individual, what is the role of

emotional components derived from this involvement in the cognitive

improvement? These and other questions are part of the continuity of this study.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

1.1 Memória .......................................................................................................... 1

1.1.1 História ............................................................................................ 2

1.1.2 Tipos de memória ........................................................................... 5

1.1.3 Modelos ........................................................................................... 7

1.1.4 Memória de curto - prazo e tipos de testes ................................ 10

1.2 Síndrome de Down ...................................................................................... 11

1.2.1 História ....................................................................................... 11

1.2.2 A síndrome .................................................................................... 12

1.2.3 Síndrome de Down e Memória de Curto-Prazo .......................... 15

1.3 Estimulação precoce, modelo animal e enriquecimento ambiental ......... 19

1.3.1 Estimulação precoce, escolarização e Síndrome de Down ........ 23

2 OBJETIVO ...................................................................................................... 24

3 PRIMEIRO ARTIGO: SÍNDROME DE DOWN: ESTUDO EXPLORATÓRIO DA

MEMÓRIA NO CONTEXTO DE ESCOLARIDADE ........................................... 25

3.1 Objetivo ........................................................................................................ 25

3.2 Resumo ........................................................................................................ 26

4 SEGUNDO ARTIGO: EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO PRECOCE SOBRE A

MEMÓRIA DE CURTO PRAZO EM PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN

NO RIO GRANDE DO NORTE1 ......................................................................... 42

4.1 Objetivo ........................................................................................................ 42

4.2 Resumo ........................................................................................................ 43

4.3 Abstract ........................................................................................................ 44

4.4 Introdução .................................................................................................... 45

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4.5 Metodologia.................................................................................................. 50

4.6 Resultados ................................................................................................... 54

4.7 Discussão ..................................................................................................... 58

4.8 Referências .................................................................................................. 64

5 CONCLUSÃO GERAL .................................................................................... 71

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 72

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 74

ANEXOS ............................................................................................................ 87

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Memória

“As formas mais elevadas da comunicação humana somente são possíveis

porque o pensamento do homem reflete uma realidade conceitualizada” (Vygostsky

1987 p.5).

Aprendemos através de percepções sensoriais que aos poucos vão

adquirindo sentido, corpo, significado. A possibilidade de se armazenar informações

através das sensações nos permite a compreensão do ambiente que nos rodeia.

Aos poucos, a linguagem se acopla, se imprime aos objetos dando-lhes significado

através das ações criadas e repetidas e das emoções experimentadas. A

intermediação deste processo acontece no meio social onde os objetos passam a

existir além das propriedades específicas e que irão se desvelando a partir da

necessidade e do uso pelo indivíduo. O aglomerado de informações que aumentam

com a interação do indivíduo com o ambiente irá construir um mundo pleno de

significados e com possibilidades de ações sobre o mesmo. Esta habilidade básica

de manter a generalização dos objetos, sensações e emoções, é a memória, base

da aprendizagem e formadora da mente/identidade humana. A memória nos permite

projetar para o futuro e voltar ao passado. A falta dela nos aprisiona no presente

(Squire & Kandel 2003).

Nos humanos o relacionamento com o ambiente proporciona mudanças

constantes no comportamento (aprendizagem), através de conhecimentos

codificados e consolidados e passíveis de serem recuperados (memória). Esta

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dinâmica expressa o entrelaçamento entre os conceitos de aprendizagem e memória

(Kandel et al. 2003).

1.1.1 História

O estudo da memória iniciado na filosofia foi se circunscrevendo para a

psicologia com o nascimento da mesma e finalmente foi relacionado à biologia. No

entanto foi na convergência das áreas da psicologia e da biologia que o estudo da

memória ampliou-se e que as pesquisas vêm sendo realizadas desde o início do

século XX (Squire & Kandel 2003).

Na década de 1880, o então psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus,

organizou de forma objetiva, listas de sílabas sem significado (cerca de 2.300

sílabas) construídas com uma consoante, uma vogal e uma consoante e as utilizou

para realizar seus experimentos, sendo ele próprio o sujeito da experimentação. Nas

suas experiências de aprendizagem de listas de sílabas através da repetição,

Ebbinghaus descobriu dois princípios-chave sobre o armazenamento de memória:

os diferentes tempos de duração das memórias e o fato de que a repetição seria a

chave da perfeição na aprendizagem (Ebbinghaus 1913; Squire & Kandel 2003).

Como resultado dos seus experimentos ele elaborou a curva de aprendizagem e a

de esquecimento. A curva de aprendizagem demonstra a aprendizagem sendo mais

eficiente à medida que se repete o material a ser aprendido com intervalos de tempo

regulares de no mínimo uma hora. A curva de esquecimento se traduz numa curva

exponencial (assim como a de aprendizagem) que demonstra como o esquecimento

ocorre nos primeiros de 20 minutos, em um dia e assim por diante. Este novo

paradigma de se estudar a memória de adultos através de listas de sílabas sem

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significado possibilitou a criação de testes a serem realizados em laboratórios

(Bower 2000).

Uma década após a publicação do trabalho de Ebbinghaus, o médico,

psicólogo e filósofo William James publicou o livro The Principles of Psychology

(1890) no qual dedicou um capítulo à memória e a dividiu em memória primária- a

memória recente e secundária – a memória de longo- prazo (Squire & Kandel 2003).

Porém ainda nos meados do século XX persistia a tendência em se compreender a

memória como um único sistema. Foi Donald Hebb em 1949 que retornou a questão

do duplo sistema de memória, especificamente a de curto prazo que dependeria

mais de atividades elétricas temporárias no cérebro e a de longo prazo que

dependeria de mudanças neuronais duráveis (Baddeley 2007).

A contribuição do caso de um paciente, o Sr. Henry Gustav Molaison, marcou

uma nova era de descobertas importantes sobre a compreensão da formação das

memórias. Henry Molaison ou H.M. como ficou conhecido mundialmente, foi

acompanhado durante 54 anos por cientistas interessados em descobrir o que se

poderia inferir da relação entre as áreas removidas cirurgicamente do seu cérebro e

a amnésia a qual foi acometido (Corkin 2002). Morreu em dezembro de 2008 aos 82

anos. Em dois períodos ainda em vida, teve seu cérebro escaneado através de

ressonância magnética (IMR) por duas equipes distintas (Corkin et al. 1997; Salat et

al. 2006). Mas, só imediatamente após sua morte foi possível fazer uma varredura

completa do seu cérebro através IRM e prepará-lo para os futuros estudos (Carey

2008).

H. M. adquiriu uma forma grave de epilepsia um ano após ter sido atropelado

aos nove anos por uma bicicleta e sofrer uma lesão no crânio. Aos 16 anos suas

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convulsões pioraram e aos 27 anos foi operado pelo neurocirurgião William Scoville

após todas as tentativas de controle das crises através das drogas disponíveis na

época. A cirurgia removeu toda área da formação hipocampal, a amígdala e partes

da área multimodal do córtex temporal bilateralmente (Milner 1998). A epilepsia não

foi curada, mas passou a ser controlada por remédios. H.M. apresentou, porém,

importantes seqüelas da cirurgia : incapacidade para formar novas memórias

(amnésia anterógrada) e perda dos fatos que aconteceram num período de

aproximadamente três anos antes da operação (amnésia retrógrada). (Scoville e

Milner 1957; Corkin 2002).

Este caso foi exaustivamente acompanhado pela psicóloga Brenda Milner,

professora de neurociência cognitiva do Instituto de Neurologia de Montreal e da

Universidade McGill. Três anos após a cirurgia, em 1957, Scoville e Milner publicam

artigo no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, no qual apresentam o

caso H.M. e de mais oito pacientes submetidos a cirurgias semelhantes, chamando

a atenção para a possibilidade de serem estas áreas responsáveis pela aquisição da

memória.

Os estudos decorrentes do trabalho de Brenda Milner possibilitaram o

estabelecimento de alguns princípios básicos, hoje bem estabelecidos: a memória é

uma função cerebral distinta de outras, como a percepção e outras funções

cognitivas; existem áreas específicas responsáveis pela consolidação de novas

memórias (região do sistema de memória do lobo medial temporal: hipocampo e os

córtices entorrinal, perirrinal e parahipocampal), além de se ter evidenciado a

separação da memória de curto prazo e da memória de longo prazo. O tipo de

amnésia apresentada por HM, também demonstrou que o lobo temporal medial não

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é a região de armazenamento definitivo das memórias (Squire 2009). Com a

continuidade do acompanhamento do paciente H.M., Brenda Milner comprovou que

existe mais de um tipo de memória (a de procedimento) que não é dependente da

área retirada de seu paciente, tendo H.M. aprendido uma tarefa visuomotora com

êxito, mesmo sem ter a consciência de que a estava aprendendo (Milner 1998). Nos

anos seguintes, experiências com outros pacientes amnésicos demonstraram uma

gama de ações que poderiam ser armazenadas independentes desta região.

1.1.2 Tipos de memória

Endel Tulving em 1995 elaborou uma divisão para a memória declarativa,

classificando-a em episódica, a memória para eventos e experiências pessoais, e

semântica, para conceitos aprendidos (Bower 2002). As memórias declarativas ou

explícitas são as memórias dependentes do lobo temporal medial e que podem ser

recordadas conscientemente (Tulving 2002). A memória a qual H.M. manteve

intacta foi classificada de memória não-declarativa ou implícita. Este tipo de memória

implícita que não se declara, mas, que se expressa através do comportamento, não

depende da região temporal medial e compreende, segundo Tulving (2002), um

conjunto de outras memórias as quais subsidiam diferentes tipos de aprendizagens

como: as de habilidades e hábitos (dependentes do estriado), as associativas, seja

por condicionamento clássico ou operante (amígdala para respostas emocionais e

cerebelo para respostas da musculatura esquelética), as não-associativas como

habituação e sensibilização (vias reflexas) e finalmente as aprendizagens através de

pré-exposição (dependentes do neocórtex) (Fig.1.1) (Xavier 1996; Squire 2009;

Kandel et al. 2003 ).

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Figura 1.1 – Sistemas de memória. Adaptado de Squire e Zola (1996).

A atenção dos pesquisadores recaiu sobre como a memória se processava e

como as memórias de curto prazo (MCP) se consolidavam em memórias de longo

prazo (MLP). Através dos testes para memória e mais recentemente, com auxílio

das técnicas de imagem cerebral por ressonância magnética funcional (IRMf)

durante a realização de testes, conseguiu-se mapear as regiões cerebrais nas quais

uma informação é processada. Inicialmente, os estímulos sensoriais, através das

áreas associativas como os córtices pré-frontais, límbico e parieto-occipto-temporal,

seriam decodificados para em seguida as informações serem conduzidas para os

córtices parahipocampal e perirrinal, para o córtex entorrinal, o giro denteado, o

hipocampo, o subículo e de volta ao córtex entorrinal (Kandel et al. 2003). Entende-

se por que a psicóloga Brenda Milner (1998) em sua autobiografia escreve que o

prejuízo gerado pela seqüela deixada pela cirurgia experimental realizada em H.M.

foi maior do que o benefício provocado pela mesma após a comprovação da

importância das áreas removidas na cirurgia.

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1.1.3 Modelos

Para explicar como as memórias se processam, Atkinson e Shiffrin, em 1971,

elaboraram um modelo que ficou conhecido como o modelo modal (Bower 2000)

(Figura 1.2).

Figura 1.2 - Modelo modal de memória de Atkinson e Shiffrin. Adaptado de Baddley et al. (2011).

Este modelo é constituido de uma entrada para informações sensoriais que

seriam inicialmente armazenadas em um registro sensorial. De acordo com a

atenção recebida (foco) as informações seriam selecionadas e temporariamente

armazenadas na MCP, onde permaneceriam por poucos segundos. Posteriormente,

através do ensaio, as informações poderiam ser consolidadas e transformadas em

MLP (Figura 1). Entretanto, poderiam ser perdidas dependendo da quantidade de

ensaiou e / ou com a superposição de atividades conflitantes (Gazzaniga et al. 2006,

Bower 2000).

O modelo hierárquico descrito, entretanto, cai em contradição com resultados

da pesquisas de Shallice e Warrington (1970). Os testes realizados com o paciente

K.F. evidenciaram déficits na MCP, com resultados muito baixos (dois ou um) nos

testes clássicos de repetição imediata de dígitos e letras, enquanto seus resultados

de testes para MLP foram considerados dentro da normalidade. Para enfrentar este

paradoxo, Baddeley e Hitch (1974) propuseram um novo modelo no qual, além de

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considerarem diversas fontes de estímulos a serem memorizados, ainda

possibilitaram a separação da MCP e da memória operacional (MO).

Esse modelo está em constante relacionamento com a MLP e corresponde a

um sistema de multicomponentes flexíveis que apóiam os processos mentais, várias

atividades, das mais simples às mais complexas, são dependentes dos sistemas de

MCP e MO, tais como: cálculos matemáticos, discar números de telefone, a escrita

de nomes não conhecidos e soletrados. Soma-se as essas atividades, a

recuperação de informações na memória de longo prazo, responsável por sustentar

e dar continuidade aos processos do pensamento humano (Baddeley 2003). De

acordo com esse modelo, as atividades que, necessitam de um alto nível de controle

para manter e manipular informações durante a realização de tarefas estariam

relacionadas a MO. Já as atividades que se utilizam de pouco ou nenhum controle,

envolvendo apenas os subsistemas de armazenamento do modelo, se relacionariam

com a MCP (Baddeley 2007, Gathercole 2008).

O modelo proposto por Baddeley e Hitch (1974) é um sistema composto por

subsistemas responsáveis por tarefas distintas, porém relacionadas. Faz parte deste

sistema o executivo central, responsável pela coordenação do fluxo de informações,

pelas estratégias de recuperação de traços da memória de longo prazo e pelo

raciocínio lógico - matemático localizado no córtex pré-frontal. Dois outros sistemas

subsidiários, a alça fonológica – localizada na área de Wernick, feixe arqueado e

área de Broca e o rascunho visuoespacial - localizado no córtex parieto-occiptal

(Baddeley 2007, Guyton e Hall 2006), responderiam respectivamente pela captação

e compreensão dos sons lingüísticos e pela informação visual com seus respectivos

atributos físico e sua relação com o espaço. O subsistema da alça fonológica, por

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sua vez seria constituído por dois subcomponentes: o armazém fonológico, com a

função de reter a informação com capacidade limitada, e a alça articulatória

responsável pelo processo de ensaio subvocal que possibilita a manutenção das

informações durante o período necessário ao desempenho da função (Baddeley

1998; Baddeley 2007). Um terceiro subsistema foi acrescentado posteriormente ao

modelo inicialmente proposto para responder a função de integração das

informações: o retentor episódico. Ele teria o papel de formar episódios integrados a

partir das informações dos dois outros subsistemas, a alça fonológica e o rascunho

visuoespacial, e de se relacionar com a MLP (Baddeley 2000) (Figura 1.3).

Figura 1.3 – Modelo de múltiplo componentes de memória operacional de Baddeley e Hitch. Adaptado de Baddeley, Anderson e Eysenck (2011).

A relação entre a MCP, a MO e aprendizagem evidencia-se nos trabalhos

desenvolvidos com crianças com problemas de desenvolvimento de ordem

conhecidas, como a SD (Hulme e Mackenzie 1992) a outras de etiologias não

específicas consideradas com dificuldade de aprendizagem, principalmente na

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linguagem (Swanson & Howell 2001) e matemática (Swanson & Sachse-Lee 2001).

Considera-se que a base do processo da aprendizagem estaria nos sistemas de

MCP e MO (Gathercole & Alloway 2008).

1.1.4 Memória de curto - prazo e tipos de testes

O teste mais utilizado para avaliar a MCP é o teste auditivo de repetição em

sequencia de dígitos, o span de dígitos. A repetição de sílabas, pseudo- sílabas,

palavras ou pseudo – palavras também pode ser utilizada (Santos e Siqueira 2002).

No teste de span de dígitos a variação na qual o voluntário repete a sequencia na

ordem inversa ditada pelo examinador (sequencia decrescente) pode ser utilizada na

avaliação da MO (Rosenthal e colaboradores 2006).

No teste de recordação livre de palavras a repetição dos itens não necessita

seguir a sequencia, tendo o experimentando a liberdade de falar a palavra na ordem

em que forem recordadas. Neste teste verifica-se o fenômeno de primazia e

recência que se trata de maior recordação para os itens do início, que pode ser

relacionado com a memória de longo-prazo e do fim da lista, memória de curto-

prazo, respectivamente, em detrimento dos itens do meio. Este efeito é demonstrado

repetidamente em diferentes elaborações de listas. No entanto, o excesso de itens e

ou aumento de sílabas por palavras eliminam o efeito de primazia, ocasionando

mais o efeito de recência (Bower 2000).

O teste memória de reconhecimento de palavras e/ou figuras, consiste na

apresentação de uma lista de palavras, geralmente 10 palavras alvo, em que são

apresentadas uma a uma ao voluntário na fase de aprendizagem e em seguida na

fase teste, são apresentadas 20 palavras (10 palavras-alvo mais 10 distratoras). O

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voluntário deve responder sim para as palavras alvo e não para as distratoras

(Barbosa, 2005).

Para avaliar memória visuoespacial o teste mais utilizado é o de Blocos de

Corsi. Esse teste é realizado com um tabuleiro de madeira no qual estão distribuídos

de forma irregular nove blocos de dimensões iguais, que podem ser identificados

pelo examinador, mas não pelo testando, através dos números em uma de suas

faces. Durante a avaliação, o examinador toca com o dedo indicador uma série de

blocos e em seguida, o voluntário deve apontar os blocos na mesma ordem em que

foram apontados pelo examinador. A dificuldade é aumentada progressivamente

aumentando-se o número de blocos em cada série, até que a recordação se mostre

incorreta. A capacidade da memória espacial é definida pela extensão da maior série

recordada corretamente (Orsini et al. 2001). As variações utilizadas com esses

testes se estruturam de acordo com os objetivos do experimentador. No entanto, há

limitações impostas pelos próprios voluntários, como é o caso do indivíduo com SD,

alvo do presente estudo.

1.2 Síndrome de Down

1.2.1 História

A síndrome foi descrita mais detalhadamente pela primeira vez no ano de

1866 no artigo intitulado Observations on Ethnic Classification of Idiots escrito por

Sir Langdon Down em Londres. Como superintendente de um asilo para pessoas

com deficiência mental, Down fez a primeira distinção entre crianças cretinas

(nomenclatura da época para designar crianças com uma condição que viria a ser

descrita mais tarde como hipotireoidismo, as quais tinham características

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próximas às da SD) e as que ele se referiu de mongóis por possuírem

características da raça mongólica:

“O aspecto é tão marcante que é difícil acreditar que são filhos dos mesmos

pais... O cabelo não é preto, como um mongol típico, mas de cor castanha, liso e

escasso. A face é achatada e larga. Os olhos posicionados em linha oblíqua, com

cantos internos afastados. A fenda pálpebra é muito curta. Os lábios são grossos,

com fissuras transversais. A língua grande e larga. O nariz, pequeno... É difícil

acreditar que se trate de europeus... Eles são, na maioria, exemplos de

degeneração originada de tuberculose dos pais”. Sir Langdon Down, 1866.

A especulação sobre a possível causa ser uma anormalidade cromossômica

veio só a partir da década de 30 no século passado. Mas foi em 1959 que dois

pesquisadores com trabalhos independentes, Patricia Jacobs (Inglaterra) e

Jérôme Léjeune (França), determinaram a causa como sendo uma trissomia do

cromossomo 21(Leshin 1997a). Foi o Dr. Léjeune que denominou a trissomia do

21 de síndrome de Down em homenagem ao Dr. Langdon Down. A síndrome foi

conhecida por muito tempo como Idiotia Mongólica (Mustacchi & Peres 2000).

1.2.2 A síndrome

A síndrome de Down é a forma mais comum de deficiência intelectual, afetando

cerca de um bebê para cada 600 a 1.000 bebês nascidos vivos (Evans-Martin 2009).

No Brasil, o censo do IBGE/ 2000, contabilizou 300 mil pessoas com a SD e calcula-

se que, baseado na proporção por nascimento, a cada ano nasça mais 8.000 bebês

(Silva & Kleinhans 2006).

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13

Essa trissomia se caracteriza pela existência de um cromossomo extra ou

parte dele, causando uma triplicação ao invés da duplicação do material genético

referente ao par cromossômico 21 (Kozma 1986). Sabe-se que a SD pode ser

causada por três tipos de transtornos cromossômicos:

1- trissomia simples - na fase de meiose da célula ainda na forma de gameta

feminino ou masculino, por uma não disjunção no cromossomo 21 acarretando a

trissomia simples correspondendo a 96% dos casos, no qual toda linhagem das

células serão trissômicas. Neste caso a probabilidade maior é da trissomia ocorrer

no gameta feminino por eles já possuírem uma vida longa, ao contrário dos

gametas masculinos que são produzidos diariamente.

2- trissomia por translocação Robertsoniana - o braço longo do cromossomo 21

se desprende e liga-se geralmente ao cromossomo 14, representando 3,0 a 3,5%

da população sindrômica e também neste caso todas as linhagens das células do

organismo serão trissômicas. Neste tipo de trissomia há possibilidade de ser

hereditária.

3- mosaicismo: acontece quando a não disjunção ocorre no zigoto (fase de

mitose). O individuo terá linhagens de células trissômicas e outras não. A

incidência é bastante rara, cerca de 0,5 a 1% das pessoas com SD, no entanto

esta diferença não significa necessariamente um indivíduo mais ou menos

“afetado” pela síndrome (Evans-Martin 2009, Leshin 1997b, Pennington et al.

2003, Mustacchi & Peres 2000).

O transtorno cromossômico influenciará todo o desenvolvimento do sistema

nervoso central (SNC) (Flórez 2005). O desequilíbrio da função reguladora que os

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genes exercem sobre a síntese de proteínas se traduz na perda de harmonia

durante todo o desenvolvimento tanto pré-natal, como pós-natal. Proteínas que

são reguladas pelo cromossomo 21 podem aparecer em excesso, em menor

quantidade e/ou em níveis normais. Além de proteínas que não dependem

diretamente do cromossomo 21 podem estar alteradas por excesso ou defeito na

sua composição. Todo o processo da neurogênese se compromete: as redes e

circuitos neurais irão se estabelecer de forma precária, com alterações na

arborização dendrítica como o atraso no desenvolvimento dos dendritos com

número reduzido de espinhas, baixa densidade de neurônios, precoce redução

dos neurônios piramidais responsáveis pela conduta associativa, com baixo grau

de mielinização. Também há comprometimento da eficiência na sinaptogênese,

como na síntese dos fatores de transcrição, no intercâmbio dos sinais entre os

neurônios, na formação do citoesqueleto, na regulação da oxidação neuronal e na

condução do corno sináptico do axônio (Flórez 2007; Nadel 2003).

Outras modificações típicas também são observadas, tais como diferenças

no tamanho entre regiões do encéfalo. Por exemplo, observa-se a hipoplasia

cerebelar, a redução do lobo frontal (Pinter et al. 2001), do hipocampo (Aylward et

al. 1999), assim como uma diminuição no volume do córtex na região do planum

temporale e um aumento do volume ventricular (Frangou et al. 1997). Ainda no

processo de ontogênese, há um descompasso no desenvolvimento entre as áreas

hipocampal, cerebelar e do córtex pré-frontal (Nadel 2003). O excesso da carga

gênica irá persistir e incidir sobre muitas das funções da pessoa com SD,

imprimindo diferenças que serão reconhecidas como típica da síndrome e outras

de caráter individual de acordo com as interações específicas de cada indivíduo

com seu ambiente ao longo de toda sua vida (Flórez 1999). Este quadro de

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alteração será o responsável pela deficiência intelectual apresentado pelas

pessoas com a SD. Essas alterações afetam o desenvolvimento de habilidades

cognitivas que utilizam os recursos da linguagem, como pensar, raciocinar e

relembrar. Nadel (2003) sugere que a dificuldade de aprendizagem e de memória

na SD faça parte do fenótipo da síndrome.

Com o avanço nas pesquisas médicas, um número sempre crescente de

complicações clínicas vêm sendo descritas. As mais comumente encontradas são

a cardiopatia congênita (40 a 50%), a hipotonia muscular generalizada (80 a

100%), os problemas de audição (50 a 70%), de visão (15 a 50%), da tireóide

(15%), neurológicos (5 a 10%) e de obesidade e envelhecimento precoce

(Mustacchi & Peres 2000, Moreira et al. 2002).

O aspecto físico é característico da raça mongólica, como observou Down

(1866), acrescenta-se a implantação das orelhas um pouco abaixo da linha dos

olhos, a prega única palmar (prega simiesca) que pode estar presente em ambas

as mãos ou em uma só, o dedo pequeno das mãos e dos pés menores

(clinodactilia) e com um afastamento alargado. O pescoço do bebê se apresenta

mais curto e largo, geralmente com excesso de pele na parte posterior

(Cunningham 1988; Mustacchi & Peres 2000). Hoje vários mitos sobre a causa da

síndrome foram ultrapassados, como ser decorrente da tuberculose dos pais ou

uma degeneração da raça.

1.2.3 Síndrome de Down e Memória de Curto-Prazo

Vários estudos têm demonstrado que pessoas com SD apresentam menor

capacidade de MCP e MO deficitária em comparação a indivíduos com

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desenvolvimento típico (Bower & Hayer 1994; Broadley et al. 1995; Jarrold et al.

2002; Bayliss et al. 2003; Seung & Chapman 2004; Purser & Jarrold 2005).

A capacidade da MCP nas crianças com SD não aumenta com a idade e com

a velocidade com que ocorre com o resto da população. Crianças não afetadas

retêm aos três anos três dígitos em média e aos 16 anos, retêm de sete a oito

dígitos (Gathercole 1998). Nas crianças com SD esta aquisição é mais lenta e pode

nunca alcançar o máximo de uma criança não afetada pela síndrome.

O fraco desempenho na SD nos testes para memória auditiva e de

recordação de histórias, acrescidos de um empobrecimento do vocabulário e a

dificuldade na aquisição e desenvolvimento da linguagem, indicam déficit na MCP e

na MO. Especificamente, estudos apontam que tais problemas ocorreriam por uma

limitação no subsistema da alça fonológica (Jarrold & Baddeley 2001; Jarrold et al.

2002; Brock & Jarrold 2005; Gathercole & Alloway 2006). Sugere-se que esta

limitação dificultaria o acompanhamento de instruções faladas, especialmente se

elas envolverem múltiplas informações, ordens ou orientações consecutivas

(Gathercolle & Alloway 2006). Apesar da clara relação entre a alça fonológica e o

desenvolvimento da linguagem, estes autores são unânimes em apontar a

necessidade de se esclarecer mais profundamente tanto as conseqüências como o

que causa o déficit fonológico na MCP dessas pessoas.

Em ordem a se avaliar as possíveis causas do déficit na MCP/MO encontrado

nas pessoas com SD, pesquisas vêm investigando a importância na seqüencia das

informações (Bird & Chapman 1994), na velocidade da fala e a capacidade de

armazenamento na MCP (Seung & Chapman 2000), bem como o envolvimento das

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dificuldades articulatórias na linguagem da SD com o déficit na MCP (Jarrold et al.

2002).

Na pesquisa desenvolvida por Bird e Chapman (1994) foram avaliados 47

sujeitos com SD, com idades variando entre cinco e 20 anos, e 47 sujeitos com

desenvolvimento típico, pareados pela idade mental, medida pelo coeficiente de

inteligência (QI), entre dois e seis anos. O objetivo foi verificar se o déficit na

memória de curto prazo, apresentado nos indivíduos com SD era específico para a

ordem dos itens. Foram utilizados três testes, um de recordação de histórias, outro

de span de dígito e outro de seqüencia de contas. Nos resultados dos testes para

recordação de história e do span de dígito, o grupo de indivíduos com SD

apresentou um desempenho inferior ao do grupo controle. Esses resultados são

confirmados em todas as pesquisas que utilizam o span de dígito. Entretanto, esses

autores apontaram uma alta variabilidade entre os indivíduos na SD, devendo-se

evitar generalizações. Para o teste de seqüencia de contas, o grupo de indivíduos

com SD apresentou melhor desempenho que o grupo controle. Uma possibilidade é

que a memória auditiva, mais especificamente a alça fonológica, seja mais limitada

(em termos de capacidade de armazenamento) do que outras, como é o caso da

memória visual e que esta limitação da memória auditiva prejudicaria o desempenho

das atividades que demandam a expressão verbal, o que não é o caso do teste de

seqüência de contas.

Seung e Chapman (2000) investigaram a relação entre o desempenho no

span de sentenças e a expressão da linguagem, avaliando o papel da velocidade da

fala e a habilidade de expressão da linguagem. Eles se basearam em uma premissa

decorrente do modelo de MO de Baddeley e Hitch (1974), na qual o déficit da

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memória verbal de curto prazo poderia advir de uma lentidão no processamento da

fala. Os autores compararam um grupo de crianças e jovens com SD (média de 17

anos), com um grupo de crianças com desenvolvimento típico (média de quatro

anos, pareados ao grupo com SD pelo QI) e com um terceiro grupo (média de três

anos), pareados pela capacidade de produção lingüística (vocabulário). A medida de

desempenho considerada foi a quantidade de sílabas que compõem as palavras da

sentença lembrada na ordem correta, a velocidade da fala, calculada pelo número

de sílabas por segundo e a velocidade na duração da repetição das palavras,

medida pelo tempo gasto entre o início e o fim da resposta. O grupo dos indivíduos

com SD não apresentou déficit na velocidade da fala em relação aos outros dois

grupos, porém apresentou menor span na recordação das sentenças. Os resultados

dos testes mostraram que o déficit na MCP no grupo das pessoas com SD altera a

produção da linguagem e não se relaciona à velocidade da fala.

Um outro estudo avaliou se o déficit na MCP das pessoas com SD era

extensivo para todo o sistema, ou se afetaria diferentemente os subsistemas da alça

fonológica e o visuoespacial. Aplicando os testes específicos de span de dígito e

Corsi de Blocos, Jarrold e colaboradores (2002) estudaram dois grupos de 19

crianças e jovens cada (SD e dificuldade de aprendizagem), com idades variando de

oito a 17 anos e, um terceiro grupo controle de 19 crianças com desenvolvimento

típico, de quatro a seis anos, sendo todos os grupos pareados pelo grau de

desenvolvimento lingüístico (vocabulário). Além dos testes mencionados,

examinaram o impacto do déficit auditivo, através de testes de span de dígito com e

sem apoio visual e a dificuldade motora da fala (articulatória) com os testes de

recordação livre e seqüenciada. Os resultados do estudo mostraram que o déficit

observado foi específico para a memória verbal e não uma simples conseqüência de

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uma dificuldade auditiva. Segundo os autores, estes resultados sugerem que o

déficit esteja mais relacionado à capacidade de armazenamento da alça fonológica

do que a uma ineficiência no ensaio articulatório, coerentemente com que já haviam

proposto Bird e Chapman em 1994.

1.3 Estimulação precoce, modelo animal e enriquecimento ambiental

A estimulação precoce (EP) é “um conjunto dinâmico de atividades e de

recursos humanos e ambientais incentivadores que são destinados a proporcionar à

criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para alcançar

pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo” (Brasil 1995). Os principais

componentes da definição para a EP são: o início do trabalho de estimulação o mais

cedo possível, o foco ser a criança e a família, apoio psicológico para os pais e

trabalho interdisciplinar (Pretis 2000). A EP no Brasil desenvolveu-se inicialmente

nas instituições privadas que atendiam crianças com deficiências nas regiões sul e

sudeste na década de 1970. Com os avanços nas pesquisas sobre a

neuroplasticidade, a compreensão dos mecanismos relacionados aos benefícios

gerados pela estimulação precoce em crianças com síndromes, com deficiências

sensoriais e paralisia cerebral foram se ampliando. Além disso, outras crianças

pertencentes a grupos de risco (recém-nascidos com baixo peso, prematuros, filhos

(as) de genitoras com histórico de abuso de drogas), passaram a ser indicadas para

receber a EP (Majnemer 1998).

A plasticidade cerebral ou neuroplasticidade refere-se à habilidade que possui

o sistema nervoso em promover alterações estruturais e funcionais para responder

e, sobretudo, para adaptar-se às modificações ambientais, externas ou internas. É

considerada um mecanismo adaptativo que emergiu da própria seleção natural (May

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20

et al. 2006; Balbernie 2001; Flórez 2005). A EP propõe minimizar os efeitos

decorrentes da SD antes que padrões de desenvolvimento atípicos tenham sido

instalados, aumentando as possibilidades de interação do organismo com o

ambiente, visando a obtenção de respostas motoras próximas ao padrão da

normalidade (Mattos 2010). A influência da EP nos processos cognitivos superiores

como linguagem e memória na SD tem sido muito discutida, especialmente

considerando-se o tipo de programa seguido: protocolos centrados no indivíduo ou

na família. Os estudos apontam para melhores resultados quando os programas

incluem a família como co-autor do processo (Connolly et al. 1984; Hanson 2003;

Bonnier 2008). A ênfase neste tipo de programa, que se contrapõe ao serviço

centrado no indivíduo, é corroborada pelos resultados das pesquisas realizadas por

Lebeer e Rijke (2003). Os autores defendem o conceito de desenvolvimento

ecológico (desenvolvido por Bronfenbrenner na década de 1970) no qual todo

estudo relacionado ao desenvolvimento humano deve levar em consideração o meio

ecológico onde o sujeito se desenvolve (Bronfenbrenner 1994). Partindo deste

pressuposto, os resultados positivos no desenvolvimento de habilidades motoras,

sociais e psicológicas de sujeitos com desvantagens no desenvolvimento cerebral

não se atrelariam exclusivamente a programas de estimulação, mas também em

oportunidades diversas possibilitadas pelo ambiente em que o sujeito se relaciona.

Vários trabalhos dedicam-se à avaliação dos programas de EP e muitos deles

apontam para a importância da família na participação ativa de todo o processo.

(Connolly 1984; Guralnick 1998; Hanson 2003; Bonnier 2008). No Brasil, em 1997

durante o II Congresso Brasileiro e I Encontro Latinino-Americano sobre Síndrome

de Down , em alguns trabalhos apresentados sobre EP, já havia a compreensão

sobre o papel relevante da familia. Durante sua comunicação Schmidt coloca “... não

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podemos conceber um trabalho com criança que não inclua os pais, auxiliando-os a

elaborarem sua depressão e a estabelecerem um vínculo positivo e sadio com a

criança, amando-a e aceitando-a a despeito de suas falhas” (p.45). O tipo de

trabalho fragmentado por diversos terapeutas que dificilmente conversam entre si,

falhando-se na percepção do sujeito como um todo e dificultando sua constituição

como um sujeito único (Flórez 2005 e Schimidt 1997), ainda é o sistema mais

utilizado no nosso estado, seja pelo sistema de saúde do governo, seja pelas

clínicas particulares.

Para a síndrome de Down, a orientação é a estimulação precoce que seja

ministrada ao zero ano (Brasil 1995). Conforme os estudos neurofisiológicos

realizados através de tarefas com condicionamento operante com bebês com SD

aos três meses de idade, não foram observadas diferenças significativas com grupo

de bebês com desenvolvimento típico da mesma idade. Porém aos seis meses já se

evidenciam diferenças nessas tarefas assim como no comportamento (Ohr & Fagen

1991, 1993, 1994).

Hoje, sabe-se que a despeito de todas as dificuldades aqui apresentadas,

com os avanços alcançados com a estimulação precoce e com uma intervenção

educativa sistemática se consegue desenvolver as capacidades dos indivíduos

com S.D (Flórez 2006).

A importância da EP para as crianças SD hoje se considera inquestionável. É

imprescindível a avaliação dos programas oferecidos por ser a prática de programas

bem constituídos determinantes para o desenvolvimento motor e cognitivo dos

mesmos. Agrega-se a importância da educação oferecida de forma consistente e

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adequada para que o cérebro se utilize dos recursos da neuroplasticidade (Flórez

2005).

Para se responder questões sobre como a estimulação precoce poderia

interferir no desenvolvimento das funções dependentes do SNC e como, onde e

quando a sobreposição gênica no cromossomo 21 atua no organismo das pessoas

com síndrome de Down foi necessário começar o trabalho com modelos animais. O

primeiro modelo proposto no início da década de 70 foi o Ts16. Uma linhagem foi

conseguida através do cruzamento de camundongos heterozigotos ( um com

translocação Robertsoniana no cormossomo 16 e outro camundongo do tipo

selvagem) . Entretanto, apesar de muitas semelhanças com a SD, este modelo

restringe o alcance das pesquisas por não apresentar sobrevida pós - nascimento.

Outros modelos foram desenvolvidos por duplicação ou deleção de segmentos no

cromossomo 16 (Ts1Rhr, Ts1Cje – duplicação- e Ms1Rhr – deleção). O modelo

geneticamente modificado e de maior sucesso e investimento de pesquisa tornou-

se, sem dúvida, o camundongo com trissomia parcial do cromossomo 16, o Ts65Dn

(Davisson 2005; Epstein 2002). Este modelo é o que mais se aproxima do fenótipo

da trissomia do cromossomo 21 humana, e a sobrevida dos animais possibilita as

pesquisas nas áreas da cognição, memória e comportamento. A comparação entre

as expressões fenotípicas dos vários modelos possibilita a identificação de quais

grupos de genes são responsáveis por quais fenótipos, diminuindo a amplitude entre

os subgrupos de genes estudados (Davisson 2005). O modelo animal para a SD

tornou-se o veículo para se estudar o substrato micro-anatômico da deficiência

mental na SD e para se desenvolver novas estratégias de tratamento (Dierssen et al.

2003 Davisson 2005).

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A maioria dos trabalhos com o camundongo Ts65Dn procura investigar os

efeitos do enriquecimento ambiental (EA) sobre a expressão do fenótipo e sua

resposta relacionada ao ambiente. O EA é o que mais se aproxima da EP para

humanos. O EA “consiste na exposição de animais a ambientes ricos em

estimulação sensorial, gerada por objetos inanimados, como rodas de atividades,

canos e brinquedos, e/ou caixas com infra-estruturas mais complexas, contendo

tocas, galerias de túneis e/ou plataformas com diferentes níveis de acesso” (Frajblat

et al 2008 p.46). Segundo Martinéz-Cué e colaboradores (2002) o EA promove

efeitos morfológicos, fisiológicos e comportamentais. Dentre as mudanças

morfológicas estão o aumento do peso e da espessura cortical, um aumento no

número de sinapses por neurônio, na arborização dendrítica e no número de

espinhas. Esta estimulação possibilita um acréscimo no número e no tamanho das

junções sinápticas, bem como a facilitação do processo de neurogênese em áreas

específicas (Martinéz-Cué et al. 2002). Na região hipocampal foi observado aumento

da potenciação de longa duração (LTP, do inglês long term potentiation), um

mecanismo relacionado à plasticidade sináptica funcional (Kleschevnikoe et al

2004).

1.3.1 Estimulação precoce, escolarização e Síndrome de Down

A consequencia da prática da EP para as crianças com SD a curto prazo foi o

aumento da matricula nas escolas de ensino regular, por alcançarem com menor

diferença, os patamares de desenvolvimento típico nos processos motores, como

andar e melhor adaptação ao meio social (Brasil 1995).

No ano de 1981, foi o ano em que programas da UNESCO começam a

direcionar para a inclusão das pessoas com deficiência no sistema de ensino,

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através da proclamação do Ano Internacional da Pessoa Deficiente e do Programa

de Ação Mundial Voltado para as Pessoas Deficientes (Steenlandt, D. 1995).

Os estudos sobre o efeito do tipo de escolarização e a síndrome de Down

desenvolvidos no Reino Unido, comparando os alunos da escola especial com a

escola do sistema regular de ensino, comprovaram o melhor desenvolvimento na

escrita e leitura (Bochener et al, 2001), na matemática e a manutenção dessas

habilidades após os anos escolares (Turner et al. 2008), na adequação social

(Buckley et al. 2002), na linguagem expressiva (fala) e receptiva (compreensão) , no

desenho e na idade mental (Casey et al. 1988) para os alunos matriculados na

escola regular. No Brasil estudos comparativos sobre desempenho das pessoas

com SD, tipo de escola e memória são inexistentes. Nosso estudo exploratório

pioneiro, comparando-se as matrículas (escola especial vs. escola regular), verificou

aumento no alcance nos resultados dos testes para MCP para os alunos

matriculados na escola de ensino regular (Costa-Lima et al. 2009).

Acredita-se que a escola do sistema regular de ensino enfatize o currículo

acadêmico (leitura, escrita, numeração etc.) e que a escola especial valorize mais os

aspectos socializantes e o currículo natural, baseado no desenvolvimento das

atividades da vida diária (vestir-se, alimentar-se, higiêne pessoal etc.) (Lorenz et al.

1985; Buckley et al. 2002).

2 OBJETIVO

Investigar a influência no tipo de escola e do exercício da estimulação

precoce na memória de curto prazo nas pessoas com síndrome de Down.

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3 PRIMEIRO ARTIGO: SÍNDROME DE DOWN: ESTUDO EXPLORATÓRIO DA

MEMÓRIA NO CONTEXTO DE ESCOLARIDADE

Susana C. Lima, Cândida Sousa, Rafael B. das Chagas Leite, João C. Alchieri,

Regina H. Silva, Fabíola S. Albuquerque*

Laboratório de Estudos de Memória, Departamento de Fisiologia, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil

*Autor para correspondência: Departamento de Fisiologia — Centro de Biociências -

UFRN.

Av. Salgado Filho, s/n — Caixa Postal 1511, CEP 59078-970 - Natal, RN, Brasil.

Fax: +55 84 32119206.

Endereço eletrônico: [email protected] (F. S. Albuquerque).

Artigo publicado em Ciências & Cognição.

3.1 Objetivo

Investigar o desempenho nos testes de memória de curto prazo em pessoas com

SD comparando aquelas que freqüentam ou freqüentaram escolas especiais com

aquelas que freqüentam ou freqüentaram escolas regulares.

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3.2 Resumo

Indivíduos com síndrome de Down (SD) são cada vez mais incluídos no sistema

regular de ensino, no entanto, poucas pesquisas foram realizadas para investigar a

influência no desenvolvimento da memória e o tipo de matrícula. Este estudo

compara nove indivíduos com síndrome de Down matriculados em escolas especiais

(grupo EE) e nove indivíduos no sistema regular de ensino (grupo ER). Os testes

utilizados para a análise dos sujeitos foram o span de dígito, o de recordação livre e

de reconhecimento de palavras e subtestes do WISK-III. Os indivíduos do grupo ER

obtiveram maiores pontuações no teste de span de dígito (p=0,001) e nos subtestes

do WISK-III. Nos testes de recordação livre e de reconhecimento de palavras

nenhuma diferença foi encontrada. No entanto, os dois grupos demonstraram

comportamentos diferentes em relação ao teste de reconhecimento de palavras. No

total dos testes, o tempo de reação (TR) entre o estímulo auditivo e a resposta do

sujeito no grupo ER apresentou uma média de 2.041ms, enquanto o grupo EE

alcançou uma média de 4.306ms. Essa diferença foi estatisticamente significativa

em algumas etapas do teste. Este estudo indica que o tipo de matrícula pode influir

no desenvolvimento da memória dos indivíduos com SD e claramente aponta para a

necessidade de futuras investigações. © Cien. Cogn. 2009; Vol. 14 (2): 035-046.

Palavras-chave: síndrome de Down; memória de curto-prazo; educação especial.

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4 SEGUNDO ARTIGO: EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO PRECOCE SOBRE A

MEMÓRIA DE CURTO PRAZO EM PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN

NO RIO GRANDE DO NORTE1

Susana Costa Lima, Cleanto Rogério Rego Fernandes, Diego Silveira Souza,

João C. Alchieri, Regina Helena Silva1 e Fabíola da Silva Albuquerque2.

Laboratório de Estudos de Memória1, Departamento de Fisiologia, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil

Av. Salgado Filho, s/n — Caixa Postal 1511, CEP 59078-970 - Natal, RN, Brasil.

Fax: +55 84 32119206.

Universidade Federal da Paraíba2, João Pessoa, Brasil

Rua deputado José Mariz, 1140 apto. 101, CEP 58042-020 João Pessoa – PB

1Artigo em preparação

4.1 Objetivo

Investigar a influência da estimulação precoce aplicada antes dos seis

meses de idade em indivíduos pré-adolescentes, adolescentes e adultos jovens

com síndrome de Down, no desempenho em testes para memória de curto

prazo.

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4.2 Resumo

A síndrome de Down (SD) é uma alteração da genética humana causada pela

triplicação do cromossomo 21, cuja causa ainda não é conhecida, e afeta um a

cada 600 a 1000 nascidos vivos. O indivíduo com SD apresenta prejuízos tanto

na memória de curto-prazo (MCP) como na memória operacional (MO). A base

do processo de aprendizagem como a compreensão da linguagem, da

matemática e do raciocínio estaria nos sistemas de MCP e MO. Há indícios de

que a estimulação precoce (EP) poderia propiciar avanços de desenvolvimento

cognitivo, além de motores, possivelmente por meio de mecanismos

relacionados à neuroplasticidade. Nossa proposta foi investigar o desempenho

de pessoas com SD que receberam a EP antes dos seis meses de idade em

testes de MCP, comparando o desempenho com aquelas que não receberam

EP. Os participantes foram separados em três faixas etárias, pré-adolescentes,

adolescentes e adultos, e submetidos aos testes para MCP, o teste de span

dígito e de recordação livre, além de cinco testes da Escala Wechsler de

Inteligência para Crianças 3ª Ed. Os resultados mostraram um efeito positivo da

EP sobre a MCP apenas na faixa etária de adultos, sugerindo que os efeitos

dessa estratégia se evidenciam no longo prazo. Entretanto, uma vez que a EP

parece refletir maior envolvimento familiar com o indivíduo, o resultado obtido

pode estar relacionado a outros fatores inerentes às relações familiares que

não a EP específica. Dessa forma, mais estudos são necessários para melhor

esclarecimento dos efeitos da EP sobre a MCP de indivíduos com SD

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4.3 Abstract

Down syndrome (DS) is an alteration of human genetics through the triplication of

part of chromosome 21. Its causes are still unknown and it affects one in every

600 to 1000 live births. Individuals with DS have a deficit in their short-term

memory (STM) and working memory (WM). It seems that the basis of the

learning process, as it happens with language and mathematics comprehension

and reasoning, relies in the STM and WM systems. Since there are indicators

that early stimulation (ES) can lead to advances in cognitive, as well as motor

development, our intent was to investigate if any improvement in the performance

of individuals with DS that received ES before six months of age could be

evidenced through STM tests, in comparison with individuals that did not receive

ES. Participants were divided into three age groups, pre-adolescents,

adolescents and adults. They were tested for STM, through the digit span and

free recall tests, and also, five tests from the Wechsler Intelligence Scale for

Children 3rd edition. Our research identified a positive effect of ES on the STM

only in the adult group, possibly indicating that the results of this strategy are

evidenced in a long term. However, since ES seems to reflect a greater family

involvement with the individual, the outcome may have been influenced by this

uncontrolled bias. Our data thus indicates the need for further research in this

area.

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4.4 Introdução

A síndrome de Down (SD) afeta cerca de um a cada 600 e até um a cada

1000 bebês nascidos vivos. Caracteriza-se pela existência de um cromossomo

extra no par 21 cuja causa ainda não é definitivamente conhecida (Evans-Martin

2009; Mustacchi & Peres 2000). A síndrome freqüentemente acarreta

complicações clínicas que acabam por interferir no desenvolvimento global da

criança, sendo as mais comumente encontradas alterações cardíacas, hipotonia,

complicações respiratórias e alterações sensoriais, principalmente relacionadas

à visão, à audição e à deficiência intelectual. A deficiência intelectual aparece

sempre em maior ou menor proporção e está relacionada às alterações na

ontogênese cerebral, na sinaptogênese e na formação dendrítica (Nadel 2003;

Pueschel & Pueschel 1993).

Nas crianças com SD, observa-se um comportamento dentro dos padrões

de desenvolvimento típico até os três meses de idade (Ohr & Fagen 1991,

1993). Aos nove meses, este comportamento já apresenta um atraso no que se

refere à imitação e à coordenação dos movimentos (Ohr & Fagen 1994). A

hipotonia generalizada da musculatura, característica da síndrome, faz com que

sustentar a cabeça, sentar, ficar em pé, andar e ações que necessitam do

fortalecimento de músculos e ligamentos, sejam alcançadas com atraso em

relação às crianças com desenvolvimento típico. Essa hipotonia é o que mais

chama a atenção dos pais, fazendo-os procurarem o serviço de saúde.

As alterações continuam a acontecer em diversas fases de

desenvolvimento do indivíduo. Uma vez que as alterações deste transtorno

gênico variam em intensidade de acordo com a qualidade da interação do

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indivíduo com o ambiente, propõe-se a estimulação precoce (EP) (Flórez 2005)

como forma de minimizar os efeitos decorrentes da síndrome, antes que padrões

de postura e movimentos atípicos tenham sido instalados (Mattos 2010). O

favorecimento da neuroplasticidade é o mecanismo proposto para a influência da

EP sobre o desenvolvimento de crianças com SD (Evans-Martin 2009).

A EP propagou-se na década de 70 com um programa interdisciplinar para

a SD no Child Development Center no Estado americano do Tenessee. No

Brasil, o programa mais sistematizado teve início no ano de 1975 nas

Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) da região sudeste do

país (Ribeiro et al. 2007) e foi reconhecido na década de 90 como um

instrumento fundamental de desenvolvimento das pessoas com deficiência,

tendo reflexos em sua educação formal. Essa posição foi explicitada num

documento produzido pelo Ministério da Educação (MEC 1995). Nesse

documento, elaborado com a participação da UNESCO, estipulou-se diretrizes

para o atendimento das crianças com necessidades especiais e indicaram a

estimulação precoce para todas as crianças com SD, devendo o

acompanhamento ser multidisciplinar e apontado-se a participação dos pais

como fundamental para o sucesso do programa. Contudo, devido a fatores

geográficos, culturais e de desinformação de profissionais, ainda não há

completa incorporação dessas diretrizes pela sociedade, principalmente nas

cidades mais distantes dos grandes centros urbanos. Os benefícios da EP para

o desenvolvimento motor da pessoa com SD são claros e conhecidos (Petris

2000), já os efeitos no desenvolvimento cognitivo, ainda são pouco esclarecidos

(Guralnick 1998; Nilholm 1996). Crianças com SD submetidas à EP apresentam

comportamentos cerca de três a quatro meses antes do que aquelas sem a EP

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(Petris 2000; Ribeiro et al. 2007). Por outro lado, a influência da EP em

alterações de funções cognitivas superiores na SD, como linguagem e memória,

têm sido muito discutida e os efeitos não são tão conclusivos quanto àqueles

sobre a motricidade (Nilholm 1996). Mas, alguns estudos apontam efeitos

positivos, como por exemplo o estudo longitudinal descrito por Jururanatasirikul

e colaboradores (2007) com crianças tailandesas com SD submetidas a EP no

qual os resultados demonstraram avanços na linguagem. Geralmente, na SD a

emissão de frases simples surge entre quatro e cinco anos, mais atrasada em

relação ao desenvolvimento motor. Com a EP foi possível antecipar a emissão

de palavras intencionais para os sete meses de idade e frases simples, para os

dois anos.

Entre os déficits intelectuais, os indivíduos com SD apresentam prejuízos

na memória de curto-prazo (MCP) (Bower & Hayes 1999; Broadley et al. 1995;

Jarrold & Baddeley 2001; Jarrold et al. 2002; Seung & Chapman 2000; Laws

2002; Purser & Jarrold 2005; Brock & Jarrold 2005). Esse tipo de memória

refere-se a eventos que acontecem num tempo muito curto em relação ao

presente (Gathercole 1998). A avaliação típica da MCP é baseada em testes

auditivos nos quais o sujeito escuta e repete uma série de palavras ou dígitos. O

teste mais utilizado para se avaliar a MCP é o de span de dígito, que consiste na

quantidade máxima de itens imediatamente evocados na mesma ordem em que

foram apresentados (Jarrold & Baddeley 2001). Gathercole (1999) aponta áreas

distintas no córtex cerebral que respondem aos testes de MO e de MCP, sendo

as áreas do córtex pré-frontal responsável pela primeira e a área posterior

parietal, responsável pela última. O modelo teórico da memória operacional

(MO) de Baddeley & Hitch (1974) propõe um sistema com diferentes sub-

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componentes controlados pelo executivo central, envolvido com o mecanismo de

atenção e da inibição de estímulos irrelevantes. Os sub-componentes alça

fonológica e esboço visuoespacial, armazenariam temporariamente

características dos materiais, sendo o primeiro específico para os aspectos

auditivos e o segundo para os aspectos visuais e espaciais (Baddeley & Hitch

1974; Baddeley 1992). Outro subsistema encarregado de integrar as

informações visuais e auditivas, além de relacioná-los com o executivo central e

com a MLP, foi acrescentado posteriormente, o retentor episódico (Baddeley

2000). A MCP de acordo com esse modelo proposto corresponderia à função de

armazenamento dos subsistemas, utilizando-se minimamente do controle

executivo (Gathercole 1999).

O span de dígito é um teste extremamente simples, mas delicado para as

pessoas com SD que na sua maioria apresentam alguma dificuldade auditiva ou

na expressão das palavras (problema articulatório). Contudo, essas dificuldades

não interferem nos resultados dos testes de MCP, não sendo consideradas as

causas do baixo desempenho (Marcell & Cohen 1992). Os sujeitos com

desenvolvimento típico melhoram o desempenho no span ao longo do

crescimento e quando adultos, conseguem repetir em torno de sete itens (Miller

1956; Chi 1976; Baddeley 2006). Indivíduos com SD dificilmente alcançam esta

quantidade e a melhora no desempenho no teste não ocorre na idade e com a

velocidade com que ocorre com o resto da população (Gathercole et al. 2004).

Bird & Chapman (1994), num estudo com 45 crianças e jovens adultos com SD,

verificaram uma variação nos resultados do teste de span de dígito de dois a

seis itens, com a média de três e meio, metade da média da população com

desenvolvimento típico.

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Outro teste utilizado para se avaliar a MCP é o de recordação livre, no qual

o sujeito após escutar uma lista de itens a repete em ordem aleatória. Nesse

caso, o teste precisa levar em consideração algumas variáveis importantes: o

desempenho em listas de palavras com uma única sílaba melhora o

desempenho (ensaio subvocal facilitado) (Baddeley 2007); palavras que evocam

imagem apresentam efeito facilitador (Bower 2000; Baddeley 2007); listas com

palavras com relação semântica, também melhoram o desempenho (Bower

2000; Majerus & Linden 2003; Melby-Lervag & Hulme 2010; Walker e Hulme

1999).

A alça fonológica e sua capacidade de armazenamento são apontadas

como responsáveis pela aquisição de vocabulário nas crianças (Gathercole &

Pickering 2000; Baddeley 2003; Gathercole et al. 2006) e na aquisição de língua

estrangeira nos adultos (Baddeley et al. 1988). Esse sistema de armazenamento

provisório de informação torna-se fundamental para o processo de

aprendizagem de todas as crianças, principalmente no que se refere à

aprendizagem de processos cognitivos superiores como a compreensão da

linguagem, da matemática e do raciocínio (Gathercole 1999). Uma vez que há

indícios de que a EP poderia propiciar avanços de desenvolvimento cognitivo,

além de motores, nossa proposta foi investigar se algum avanço poderia ser

evidenciado no desempenho nos testes para MCP de pessoas com SD que

receberam a EP antes dos seis meses de idade, em comparação com aquelas

que não receberam EP.

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4.5 Metodologia

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da UFRN e os responsáveis

assim como os voluntários participantes assinaram o “Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido”. O critério de exclusão para participação foi possuir outra(s)

deficiência(s) agregadas à síndrome ou qualquer outro impedimento que

comprometesse a realização dos testes, como uma deficiência auditiva.

Participaram do estudo 63 indivíduos com SD (número baseado em 20%

das 311 matrículas em escolas de todo o estado do Rio Grande do Norte no ano

de 2006) 34 do sexo feminino, com idade variando entre 10 e 30 anos. O tipo da

SD de um único indivíduo foi declarada como moisacismo, enquanto os demais

apresentam trissomia simples. Esses indivíduos eram oriundos das diferentes

regiões do Estado do Rio Grande do Norte, sendo 36 da região do Litoral, que

inclui a capital Natal, 10 da região do Seridó, sete da região do Alto Oeste e 10

da região do Agreste.

Os participantes formaram dois grupos: COM EP (n=36), pessoas que

iniciaram o trabalho com a EP antes dos seis meses de idade e completaram o

protocolo até concedida a liberação do tratamento pelo profissional (variada

conforme a necessidade da criança) e SEM EP (n=27) pessoas que nunca

procuraram os serviços da EP, ou a procuraram após os seis meses de idade e

não seguiram o protocolo proposto pelos terapeutas com sistematização

(freqüência). Esses grupos foram separados em três faixas etárias (FE): Pré-

adolescentes (PREA) - 10 a 12 anos - 20 participantes (10 com EP);

Adolescentes (ADO) - 13 a17 anos - 25 participantes (14 com EP) e Adultos

(ADU) - 18 a 30 anos – 18 participantes (12 com EP). As médias de idade foram

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descritas, conforme o grupo, na tabela 1. Os sujeitos foram recrutados entre os

alunos matriculados em escolas do ensino público ou privado e entre aqueles

atendidos por serviços públicos ou privados de saúde.

No primeiro contato com o responsável, os dados sobre a situação sócio-

econômica da família, a escolaridade dos pais, escolaridade do participante, seu

histórico médico e sua autonomia em tarefas rotineiras, foram coletados através

de um questionário estruturado (anexo I). Não foi possível obter esses dados

para três dos participantes do grupo COM EP. Em relação à renda familiar, a

classificação do IBGE agrupa na classe E renda de até dois salários mínimos;

classe D, de dois a quatro salários mínimos; classe C, de quatro a dez salários

mínimos e B, acima de dez salários mínimos. No grupo COM EP, 67%

pertenciam às classes D ou E, 33% às classes C ou B; no grupo SEM EP,

apenas um participante pertencia à classe B, os demais, às classes D ou E. Em

relação à escolaridade dos pais, 58% do grupo COM EP apresentavam

formação de ensino médio ou superior e os 42% restante, ensino fundamental;

no grupo SEM EP, 26% apresentavam ensino médio ou superior e os 74%

restante, ensino fundamental. Exceto um participante, todos os demais do grupo

COM EP realizavam ao menos duas atividades de reabilitação. Para o grupo

SEM EP, 15% não realizavam nenhuma atividade; 33% apenas um tipo de

atividade e 52%, mais de dois tipos de atividades.

No segundo contato, os participantes realizaram os testes. O local da

realização variou de acordo com a conveniência das famílias e dos participantes.

A maioria dos testes foi realizada no Centro de Reabilitação Infantil na capital do

Estado do Rio Grande do Norte e os demais nas instituições especializadas em

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atendimentos as pessoas com deficiência nas três maiores cidades do interior:

Mossoró, Caicó e Currais Novos. Um número pequeno de testes foi realizado

nas residências dos participantes. Em todas as situações, foram observadas as

condições do ambiente necessárias para a realização dos testes, ou seja, um

local reservado e tranqüilo.

Cada participante respondeu a dois testes para MCP (um teste de span em

ordem direta, um teste imediato de recordação livre (Anexo II)) e cinco testes da

Escala Wechsler de Inteligência para Crianças – terceira edição (WISC III).

O teste de span consistia na repetição imediata dos algarismos ditados

pelo pesquisador, sendo instruído que a ordem da repetição deveria ser a

mesma da apresentação. A resposta era fornecida verbalmente pelo participante

e anotada pelo pesquisador em uma ficha de registro. A quantidade de

algarismos em uma seqüência, ou seja, o tamanho da seqüência iniciava com

dois dígitos e seguia até o máximo que o participante conseguisse repetir na

ordem correta. Para cada tamanho, duas seqüências eram apresentadas e, para

continuar no teste, o participante deveria acertar pelo menos uma delas. Quando

o participante errava as duas seqüências de mesmo tamanho, seu span era

definido como o tamanho da seqüência imediatamente anterior que foi

respondida corretamente.

O teste de recordação livre utilizou uma lista composta por sete palavras,

substantivos comuns representando nomes de animais (em anexo). Essas

palavras foram gravadas em estúdio e, durante o teste, eram reproduzidas com

o auxílio de um computador. Os participantes utilizavam fones de ouvido para

garantir melhor condição para a audição. Após ouvir a seqüência das palavras, o

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pesquisador solicitava que o participante verbalizasse aquelas palavras que ele

recordava independente da ordem em que foram ouvidas. As palavras eram

então anotadas em uma ficha de registro pelo pesquisador.

Os subtestes da escala de execução do WISC-III utilizados foram:

Completar Figuras, Arranjo de figuras, Cubos, Armar Objetos e Labirintos. Com

essa escala, foi possível mapear de maneira geral o modo de funcionamento

cognitivo dos participantes (Wechsler 2002). Apesar da escala ser indicada para

pessoas até 16 anos, o WISC-III foi escolhido por ser mais compreensível para

todos os sujeitos da nossa amostra. Os testes do WISC foram aplicados por um

psicólogo colaborador do estudo. Antes da aplicação de cada teste, o

pesquisador realizava demonstrações para favorecer a compreensão dos

participantes a respeito das instruções dos testes e também da utilização dos

equipamentos, quando necessário. Na aplicação dos testes não foram

observados os critérios de interrupção pelo tempo para os subtestes Completar

Figuras e Arranjo de Figuras.

Os resultados do teste de span de dígito e do total de palavras recordadas

do teste de recordação livre de palavras por cada participante foram submetidos

as teste de correlação de Pearson (r) com as variáveis: idade, escolaridade dos

pais e renda familiar.

As médias do span e do total de palavras recordadas de cada grupo (com e

sem EP), conforme a faixa etária (FE): PREA, ADO e ADU, foram submetidas a

ANOVAs e testes T confirmatórios.

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4.6 Resultados

Considerando todos os participantes, observamos uma correlação positiva

moderada e significativa (r=0, 473; p<0,01) entre a idade do sujeito e o

desempenho no teste span de dígito e uma correlação positiva fraca, mas

significativa (r=0, 317; p=0,01) entre idade e o teste de recordação livre.

Também identificamos correlação positiva e moderada entre as duas medidas

de desempenho, span e recordação livre (r=0, 466; p<0,01); entre span e a

renda familiar (r=0, 439; p<0,01); fraca correlação entre span e a escolaridade

dos pais (r=0, 325; p=0,01) e forte correlação entre renda familiar e a

escolaridade dos pais (r=0, 805; p<0,01).

Ao realizar essa análise separando os indivíduos em relação à EP, todas

as correlações foram identificadas para o grupo que recebeu EP e apenas uma

para o grupo sem EP: correlação positiva e moderada entre a idade e o

desempenho do span (r=0, 639; p<0,01) e da recordação livre (r=0, 417;

p=0,01); entre as duas medidas de desempenho, span e recordação livre (r=0,

533; p<0,01); entre span e a renda familiar (r=0, 500; p<0,01); fraca correlação

entre span e a escolaridade dos pais (r=0, 384; p=0,03) e forte correlação entre

renda familiar e a escolaridade dos pais (r=0, 829; p<0,01). Esta última, a única

identificada no grupo sem EP (r=0, 630; p<0,01).

Submetemos os resultados do span a uma ANOVA de duas vias: com ou

sem estimulação precoce (EP) e conforme a faixa etária (FE). O resultado

indicou efeitos principais e interativos entre as variáveis, ou seja, o span variou

se houve ou não EP (F(1,57) =6, 321, p=0,02), de acordo com a FE (F(2,57) =6

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224, p=0,01) e dentro de cada FE, se houve ou não estimulação (F(2,57) =3,

872, p=0,03) (figura 1).

Análises post hoc (Teste T) do resultado do span confirmaram a diferença

entre os grupos com e sem EP, independente da faixa etária (t(61) =2, 303,

p=0,03). Em relação à faixa etária, a comparação entre os grupos identificou

diferença entre o grupo ADU em relação aos demais (ADO x ADU: t(41) =-3212;

p<0,01 e PREA x ADU: t(36) =-4, 221; p<0,01), mas não houve diferença

significativa entre os grupos PREA e ADO. Considerando a interação entre os

efeitos principais, na comparação entre grupos com e sem EP, a única diferença

significativa ocorreu no grupo ADU (t(16) =3, 939, p <0,01) (figura 1).

O resultado do teste de recordação livre também foi submetido a uma

ANOVA de duas vias: com ou sem estimulação precoce (EP) e conforme a faixa

etária (FE). Nesse caso, só foi identificado efeito principal da FE (F(2,57) =5,

705, p=0,01) (figura 2). Testes t post hoc identificaram esse efeito na diferença

do grupo ADU em relação ao demais (ADO x ADU: t(41) =-3, 988, p<0,01 e

PREA x ADU: t(36) =-2, 850, p=0,01).

Também foi encontrada diferença significativa (p < 0,05) entre os grupos

que receberam e não receberam EP para a soma de todos os subtestes de

execução da Escala Wechsler de Inteligência para Crianças terceira edição

(WISC-III). Referente à comparação inter-testes, verificou-se uma forte

correlação entre Cubos e Armar Objetos (r = 0, 677; p < 0,05). Considerando os

dados de cada subteste, encontrou-se diferença significativa entre os grupos de

EP somente para o subteste Completar Figuras, tendo o grupo com EP melhor

desempenho do que o grupo sem EP (p < 0,05). Foram obtidas correlações

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moderadas entre a idade e o desempenho no subteste Armar Objetos (r = 0,

437; p < 0,05), entre a idade e o subteste de Cubos (r = 0, 553; p < 0,01) e entre

a idade e soma de todos os subtestes (r = 0, 401; p < 0,05).

Tabela 4.1 - Média e erro padrão da idade e dos resultados dos testes de MCP para cada faixa etária e conforme o grupo de estimulação precoce

Estimulação precoce

N Faixa etária*

Idade Span Recordação

livre

Sim 10 PREA 10,8 (0,3) 1,5 (0,2) 1,8 (0,4)

14 ADO 13,9 (0,3) 1,7 (0,2) 1,5 (0,3)

12 ADU 24,2 (1,2) 3,0 (0,2) 2,7 (0,1)

36 MÉDIA 16,5 (1,0) 2,1 (0,2) 2,0 (0,2)

Não 10 PREA 10,7 (0,3) 1,4 (0,2) 1,3 (0,5)

11 ADO 14,3 (0,4) 1,6 (0,3) 1,5 (0,3)

6 ADU 24,3 (1,7) 1,7 (0,2) 2,5 (0,6)

27 MÉDIA 15,2 (1,1) 1,6 (0,1) 1,6 (0,3)

TOTAL 63 MÉDIA 15,9 (0,7) 1,9 (0,1) 1,8 (0,1)

* PREA: Pré-adolescente; ADO: Adolescente; ADU: Adulto.

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Figura 4.1 - Média ± EP do span conforme a faixa etária e a estimulação precoce – círculos representam o grupo com estimulação; triângulos representam o grupo sem estimulação.

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Figura 4.2 - Média ± EP da recordação livre conforme a faixa etária e a estimulação precoce – círculos representam o grupo com estimulação; triângulos representam o grupo sem estimulação.

4.7 Discussão

Nossos dados apontaram para um possível benefício cognitivo da EP no

desempenho da MCP em pessoas com SD, ainda que limitado ao arcabouço

genético da síndrome, evidenciado na fase adulta. Nas faixas etárias

precedentes (PREA e ADO), a diferença entre os grupos com e sem EP não foi

significativa. Talvez, o fato do desenvolvimento na SD ser mais lento não permita

que o efeito seja evidenciado de imediato, deixando que ele só venha a aparecer

posteriormente, quando o indivíduo estiver na fase adulta. Entretanto, não

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poderemos concluir a esse respeito, pois o nosso estudo não foi longitudinal e

cada grupo etário constituiu uma amostra diferente de participantes.

Conforme indicado na introdução desse artigo, há muitos registros do efeito

positivo da EP sobre o desenvolvimento motor na SD (Petris 2000; Ribeiro et al.

2007; Mattos 2010), embora sobre o desenvolvimento cognitivo os resultados

ainda sejam pouco conclusivos. Os efeitos positivos da EP podem decorrer da

maior interação da pessoa com SD com ambientes extra-familiar (escola,

clínicas, etc.) para manter essas atividades é necessário o envolvimento da

família. Talvez por isso, os programas de EP que incluem a família como co-

autor do processo de desenvolvimento, tenham melhor resultado (Connolly et al.

1984; Guralnick 1998; Hanson 2003; Bonnier 2008).

Os benefícios propagados levaram a UNESCO a orientar que a EP fosse

realizada em todas as crianças com SD, atitude incorporada pelo governo

brasileiro (MEC 1995). No Rio Grande do Norte, esse papel é desempenhado

por centros de saúde que oferecem, entre outros serviços, os de EP. Quando

uma criança ao nascer é diagnosticada com SD, geralmente o pediatra

comunica o fato à família e a orienta procurar os centros que realizam o trabalho

de EP mais próximo (ASD-RN 2011). Entretanto, de acordo com nossas

entrevistas e conversas com as mães, nem todas seguem tal orientação, talvez

pelo fato de até os seis meses não perceberem tantas diferenças das outras

crianças no mesmo período (Spiker & Hopmann 1997). Outros fatores que

podem estar envolvidos com a não adesão à EP são as limitações estruturais,

como a distância para os centros de atendimentos e a falta de recurso para

chegar até eles. De fato, no presente estudo, encontramos a maior proporção de

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60

famílias de menor renda e de mais baixa escolaridade no grupo sem EP. Por

outro lado, destacamos que no quesito renda, no grupo com EP, 67% das

famílias recebiam até quatro salários mínimos, ou seja, mais da metade do

grupo era equivalente ao grupo sem EP. A crença fatalista como sugeriram

algumas colocações de mães, sobre a pessoa com SD ser predestinada a uma

eterna criança, pode ser mais um viés para a falta de incentivo no investimento

da família na criança.

Qualitativamente, observamos que no grupo com EP, a família além de

procurar o atendimento antes dos seis meses, manteve a constância nos

atendimentos e uma postura mais confiante em relação ao futuro do seu filho.

Podemos admitir que a escolha por adotar a EP seja um exemplo do próprio

envolvimento da família com a pessoa com SD. Mas, não acreditamos que seja

possível concluir o envolvimento apenas por essa variável muito menos associá-

lo ao desempenho na MCP (Petris 2000). Ressaltamos que por envolvimento

não atribuímos nenhuma valoração moral e sim a responsabilidade de

supervisionar e transmitir conhecimentos capazes de garantir autonomia mínima

à pessoa.

A emoção é um aspecto relevante da modulação da memória (Albuquerque

& Silva 2009). O cuidado dedicado às crianças com SD pode apresentar esse

viés atuando na modulação da MCP. Uma vez que a MCP está diretamente

implicada em outros aspectos do desenvolvimento, como a aprendizagem da

linguagem, a aquisição de vocabulário (novas palavras) e a aprendizagem da

matemática (Adam & Gathercole 2006; Baddeley 1992), a melhoria na MCP para

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pessoas com SD poderia ter repercussões bastante amplas para a qualidade de

vida dessas pessoas, principalmente na escola (Gathercole & Alloway 2008).

Por outro lado, não podemos descartar que o efeito sobre a melhoria em

algum parâmetro cognitivo associado à realização da EP poderia decorrer direta

ou indiretamente da melhora evidente na motricidade. As redes nervosas

associadas ao controle motor não estão definitivamente desconectadas da

função cognitiva. As ações integradoras do encéfalo, atividade simultânea de

conjuntos específicos de neurônios – produz a cognição (Kandel et al. 2003).

Após o nascimento, o desenvolvimento cerebral continua num processo

acelerado estimulado por variações ambientais tais como o toque, a

alimentação, os sons, a percepção do claro e escuro, a sensação de molhado e

seco, etc. (Ulrich 2010). Para o bebê com a SD, todo este corpo de sensações

pode ser prejudicado pelo seu aparato neural deficitário. Segundo Kandel e

colaboradores (2003 p383) o conhecimento é um “processo construtivo, que

depende não somente da informação inerente em um estímulo, mas também da

estrutura mental do indivíduo que o percebe”. A EP propicia situações

sistematizadas, organizadas com a finalidade de estimulação dos sentidos,

induzindo, através de um trabalho consistente e persistente, a neuroplasticidade

(Ulrich 2010). Desse modo, ter sido submetido a um protocolo de EP pode ter

favorecido um melhor desenvolvimento das redes associadas à MCP.

Na nossa amostra, no grupo que foi submetido à EP, quanto maior a idade,

melhor o desempenho nos testes de MCP e do WISC-III, correlação não

encontrada no outro grupo. Especificamente no teste de span, adultos do grupo

com EP apresentaram melhor desempenho do que aqueles sem EP. Embora a

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detecção de correlação estatística não se configure causalidade, a melhora com

a idade contrasta com a literatura que aponta que a capacidade de span para

SD não modificaria com a idade (Mackenzie & Hume 1987). Uma vez que os

resultados do grupo EP divergiram nesse sentido, possivelmente a EP pode ter

afetado o desempenho.

Com ou sem EP, nossos dados trazem um alerta importante a respeito do

desenvolvimento das crianças com SD no Estado do RN. As médias do span

identificadas nos nossos grupos, conforme as faixas etárias estão abaixo

daquelas encontradas em outros países. Uma pesquisa realizada no Reino

Unido com uma amostra de pré-adolescentes identificou um span médio de 3,1

(Mackenzie & Hume 1987), enquanto a maior média que encontramos foi 1,7

para o grupo com EP. Outra pesquisa, realizada nos Estados Unidos da América

com uma amostra de maior variedade de idade (entre cinco e 20 anos),

identificou a média de 3,5 para o span de pessoas com SD (Bird & Chapman

1994). A média que mais se aproximou disso foi o grupo de ADU com EP (3,0).

Conforme a história da SD nesses dois países, a EP já era oferecida de

forma abrangente desde a década de 1960 (Majnemer 1998). Por isso

acreditamos que esses dados estejam refletindo o efeito produzido por esses

programas, ajudando as pessoas com SD a alcançarem o melhor que poderiam

ir diante de suas limitações. Isso nos leva a pensar sobre a necessidade de

mudanças nas políticas públicas que busquem reverter esses resultados, seja

através de novas pesquisas para ampliar o conhecimento a esse respeito, seja

na adoção de novas diretrizes que possa trazer avanços.

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63

Concluindo, nossa pesquisa identificou um efeito positivo da EP sobre a

MCP apenas no grupo ADU, possivelmente sinalizando que os resultados dessa

estratégia se evidenciam no longo prazo. Entretanto, uma vez que a EP parece

refletir maior envolvimento familiar com o indivíduo, o resultado pode ter sido

influenciado por esse fator. Melero (1999) resume, expressando a necessidade

de que para se trabalhar com pessoas com SD há de se qualificar o contexto em

que elas vivem. Em se tratando da EP, este contexto é a família. Dentro dos

programas de EP os pais geralmente compartilham experiências com outros pais

e formam grupos que provê apoio tanto social, como emocional, além de trocas

de informações sobre outros possíveis serviços existentes na comunidade

(escola, lazer, etc.) (Spiker e Hopmann 1997).

De todo modo, nossos dados fortalecem a necessidade de aprofundar as

investigações neste tema. Além disso, servem como alerta para a necessidade

de se avaliar a efetividade das políticas públicas para SD no Estado do Rio

Grande do Norte.

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5 CONCLUSÃO GERAL

A SD é uma das causas mais freqüentes da deficiência intelectual,

afetando uma a cada 600 a 1000 bebês nascidos vivos. Com as práticas da

estimulação precoce e com o movimento de inclusão escolar, o fenótipo

comportamental das pessoas com SD estão aos poucos se modificando. Hoje,

as pessoas com SD exercem sua cidadania, na escola, no trabalho. Muito

diferente de há trinta anos no início dos movimentos pró-inclusão. Essa

conquista tem sua base nos movimentos organizados de pais e profissionais de

áreas relacionadas à deficiência. Esse trabalho apontou para possíveis fatores

que permitem a melhora na qualidade de vida dessas pessoas. Os dois

trabalhos demonstraram melhora na MCP tanto nas pessoas que freqüentaram

ou freqüentavam a escola regular, como aquelas que se beneficiaram da EP

antes dos seis meses de idade. Apesar de se comparados os resultados com

dados de pesquisas internacionais, veremos que ainda se está abaixo do

desejado, do possível a ser alcançado. As bases da construção da identidade,

dos relacionamentos, das construções das imagens dos objetos, passam pela

capacidade mnemônica. O trabalho mental alinhado à construção do

pensamento, é fundamental para a aprendizagem dos indivíduos. É nesta base

que se encontra a MCP e é justamente onde se encontra um dos maiores

problemas para o desenvolvimento intelectual das pessoas com SD. Acredito

que os dados coletados nas duas pesquisas, estejam refletindo o efeito

produzido por esse novo status quo vivenciado pelas crianças, jovens e adultos

com SD. A inclusão e os programas de EP, mesmo não sendo o ideal, estão

ajudando as pessoas com SD a alcançarem o melhor que poderiam ir diante de

suas limitações. Concluo ressaltando a necessidade de mudanças nas políticas

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72

públicas que busquem reverter esses resultados, seja através de novas

pesquisas para ampliar o conhecimento a esse respeito, seja na adoção de

novas diretrizes que possa trazer avanços.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A luta pela inclusão das pessoas com SD no nosso estado, teve início no

início da década de 80, luta iniciada pela Associação Síndrome de Down do Rio

Grande do Norte, que ainda se chamava Associação de Pais e Amigos de

Mongolóides. Poucas eram as crianças que tinham o direito ao acesso a escola

do seu bairro. Os pais eram instruídos a matricularem seus filhos com deficiência

nas escolas especiais como as mantidas pela Associação de Pais e Amigos de

Excepcionais – APAE. Porém, no ano de 1996 a legitimidade da inclusão destes

alunos na escola regular foi reconhecida através da resolução do Conselho

Estadual de Educação do Rio Grande do Norte, conhecida como Resolução

nº1/96 que define no seu artigo 2º inciso I o aluno com deficiência “ aquele que,

em razão de apresentar deficiências de natureza sensorial, mental, física ou

múltipla, necessita, seja no ambiente escolar, seja fora deste, cuidados especiais

para seu desenvolvimento”. Em seguida o artigo 3º assegura: “Aos alunos de

que trata o artigo 2º acesso ao ensino regular ministrado pelas redes de

estabelecimento de ensino públicos e privados que integram o sistema escolar

do Estado, bem assim a consequente e efetiva participação nas respectivas

atividades educativas” e culmina com o artigo 5º que diz: “ A aprendizagem

acadêmica deve ocorrer em sala de aula do ensino regular, em conjunto com os

demais alunos que a esta frequentam” (Rio Grande do Norte 1996 e Costa-Lima

1997).

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“Sabemos que nem todas as pessoas têm a escola como único caminho,

mas é através dela que a maioria começa a sua vida fora do círculo familiar. É

isto que também queremos para as pessoas que nasceram com algum tipo de

deficiência, ou a adquiriram por quaisquer que fossem as razões. Que esta

escola, pois, seja capaz de acolher a todos. Acolher a todos pode não ser uma

tarefa fácil, mas certamente de sumo valor, principalmente para o aluno com

deficiência, e para de fato começarmos a falar da nova escola do Século XXI, a

escola de todos e para todos”. (Costa-Lima 2005, p.75)

A proposta da escola aberta à diversidade no Brasil necessita primeiro da

desconstrução do modelo atual através de um currículo significativo para que

possa atender a todas as meninas e meninos e não só os pertencentes às

classes e culturas dominates (Blanco 2005)

O primeiro artigo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que explicita a

abrangência da educação como : “os processos formativos que se desenvolvem

na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino

e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais” (Brasil, 1996) fecha as considerações sobre o papel da

escola nas pessoas com síndrome de Down dando à educação o cunho

ecológico consonante com as propostas mais afirmativas referentes aos

trabalhos tanto de EP como os desenvolvidos na área da educação para estas

pessoas.

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87

ANEXOS

Anexo I

LEME - LABORATÓRIO DE ESTUDOS SOBRE A MEMÓRIA

MEMÓRIA OPERACIONAL EM PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN

E SUA RELAÇÃO COM O TIPO DE ESCOLA.

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Identificação:

Nome:___________________________________________________________

Data de Nascimento: _____/____/_____. Telefone para contato:_____________

Nome dos pais ou responsável legal:___________________________________

Endereço: Rua/Av. :________________________________________ nº._____

Bairro:_____________ cidade__________________ UF:___ CEP:_________

Escolaridade dos pais:

( ) Ensino fundamental completo ( ) incompleto ( ) cursando

( ) Ensino médio completo ( ) incompleto ( ) cursando ( ) Ensino superior

ID S COD

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Renda Familiar: ____________________ (aproximação em salários mínimos)

Escolaridade do aluno:

Tipo de escola: ( ) Regular ( ) Especial ____ Ano

Reabilitação:

Recebeu estimulação precoce? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, quais foram os tipos

de atendimentos?

( ) Fonoaudiológico ( ) Fisioterápico ( ) Terapia

ocupacional.

( ) Outros.__________________________ Tempo médio: _________________

Atualmente recebe algum suporte seja na área da reabilitação, seja na área da

educação? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, especifique o(s) atendimento(s):

________________________________________________________________

Saúde:

Atualmente toma alguma medicação controlada ou se utiliza de outra medicação

regularmente?

( )Sim ( ) Não. Se sim, especifique:

________________________________________________________________

Genotipagem realizada: local: _________________________ Resultado: ( )

trissomia 21 ( ) translocação ( ) mosaico

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Desenvolvimento psicomotor: resposta em anos(a)/meses(m)

Sentou ___ Engatinhou ___ Andou ___ Falou palavras ___ Frases

Rotina doméstica:

Atividades realizadas Com autonomia Com ajuda

Necessidades fisiológicas

Banho

Escova os dentes

Penteia os cabelos

Escolhe e veste a roupa

Faz o prato

Ajuda nas tarefas domésticas

Guarda seus brinquedos/arruma

seu quarto

Liga aparelhos eletrônicos

Anexo II

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ID S COD

LEME - LABORATÓRIO DE ESTUDOS SOBRE A MEMÓRIA

MEMÓRIA OPERACIONAL EM PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN

E SUA RELAÇÃO COM O TIPO DE ESCOLA.

Lista de Palavras teste Recall

1. Vaca

2. Tartaruga

3. Elefante

4. Lobo

5. Sapo

6. Macaco

7. Tubarão

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Lista de números para o teste “span de dígitos”

1 71 59 83

2 52 83 58

3 254 826 284

4 361 539 429

5 3146 8472 9637

6 8365 2739 2851

7 26495 69217 73619

8 39516 18562 25816

9 629341 793761 375196

10 962157 962958 937612