SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSÃO DAS COMUNIDADES LOCAIS

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    1/112

    ANTNIO DO NASCIMENTO GOMES

    SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPELDOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS

    COMUNIDADES LOCAIS

    Tese apresentada Universidade Federalde Viosa, como parte das exigncias doPrograma de Ps-Graduao em CinciaFlorestal, para obteno do ttulo de

    Doctor Scientiae.

    VIOSA

    MINAS GERAIS - BRASIL2005

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    2/112

    ANTNIO DO NASCIMENTO GOMES

    SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPELDOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS

    COMUNIDADES LOCAIS

    Tese apresentada Universidade Federal

    de Viosa, como parte das exigncias doPrograma de Ps-Graduao em CinciaFlorestal, para obteno do ttulo de

    Doctor Scientiae.

    APROVADA: 23 de fevereiro de 2005.

    Profa. France Maria Gontijo Coelho(Conselheira)

    Prof. Larcio Antnio GonalvesJacovine

    Prof. Sebastio Renato Valverde Prof. Luiz Fernando Schettino

    Prof. Agostinho Lopes de Souza(Orientador)

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    3/112

    Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Catalogao eClassificao da Biblioteca Central da UFV

    TGomes, Antnio do Nascimento, 1959-

    G633s Sustentabilidade de empresas de base florestal : o papel2005 dos projetos sociais na incluso das comunidades locais /

    Antnio do Nascimento Gomes. Viosa : UFV, 2005.ix, 99f. : il. ; 29cm.

    Inclui apndices.

    Orientador: Agostinho Lopes SouzaTese (doutorado) - Universidade Federal de Viosa.

    Referncias bibliogrficas: f. 84-93

    1. Florestas - Aspectos econmicos. 2. Poltica florestal.

    3. Desenvolvimento sustentvel. I. Universidade Federal deViosa. II.Ttulo.

    CDO adapt. CDD 634.96

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    4/112

    ii

    Nina e s nossas queridas filhas, Las eLuiza, pelos momentos de nossas vidas

    que deixamos de compartilhar.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    5/112

    iii

    AGRADECIMENTO

    O valor das coisas no est no tempo em que elas duram, mas na intensidade comque acontecem. Por isso existem momentos inesquecveis, coisas inexplicveis epessoas incomparveis. Fernando Pessoa.

    Este trabalho o resultado de muito esforo, dedicao e perseverana. Sem o

    apoio de todos aqueles que estiveram ao meu lado, ele no seria realidade. Meus

    agradecimentos especiais:

    Universidade Federal de Viosa e ao Departamento de Engenharia Florestal,

    pela oportunidade oferecida para a realizao deste curso.

    Aracruz Celulose S.A., na pessoa de Lcia Lucas Cantarella, e Bahia Sul

    Celulose, nas pessoas de Renato Carneiro e Remi Bertol, por dedicarem parte de seu

    escasso tempo para depoimentos e fornecimento de informaes, que fundamentaram

    este trabalho.

    Ao professor Agostinho Lopes de Souza, orientador e amigo, pela dedicao na

    orientao deste estudo, pelo incentivo e pela confiana.

    Aos professores Mrcio Lopes da Silva, Larcio Jacovine e Sebastio Valverde

    e professora France, pela amizade, pelo apoio, pelas sugestes e pelos conhecimentos

    compartilhados.

    Ao professor Luiz Fernando Schettino, pela valiosa colaborao e pelo apoio.

    Ao professor Hlio Garcia Leite e sua esposa, Silvana, pela amizade sincera e

    fraternal.

    Aos meus irmos e a todos os meus amigos, pelo amor que sempre mededicaram e por terem ficado sempre ao meu lado, mesmo quando ausentes.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    6/112

    iv

    A minha gratido s minhas filhas, Las e Luiza, e minha esposa, Nina.

    Nunca ser o suficiente eu dizer que s por elas, e s com elas, eu consigo realizar todos

    os meus sonhos e objetivos.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    7/112

    v

    BIOGRAFIA

    ANTNIO DO NASCIMENTO GOMES engenheiro florestal, formado pela

    Universidade Federal de Viosa em 1980. Concluiu o Mestrado em Cincia Florestal

    pela mesma universidade em 1983. Iniciou a carreira profissional em 1984 como

    Assessor de Planejamento Florestal da Copener Florestal Ltda., na Bahia, onde atuou

    at fevereiro de 2000.

    Atuou como consultor florestal durante o perodo de maro de 2000 a julho de

    2001.

    Iniciou o Programa de Ps-Graduao em Cincia Florestal, em nvel de

    Doutorado, na Universidade Federal de Viosa, em maro de 2001, defendendo tese em

    fevereiro de 2005.

    Em agosto de 2001 foi contratado pela Aracruz Celulose S.A. como

    Especialista em Manejo Florestal, assumindo a Gerncia Regional Florestal da Bahia, a

    partir de dezembro de 2003.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    8/112

    vi

    NDICE

    Pgina

    RESUMO.............................................................................................................. viiiABSTRACT.......................................................................................................... xINTRODUO.................................................................................................... 1

    CAPTULO 1 - SUSTENTABILIDADE SOCIAL EMEMPREENDIMENTOS DE BASE FLORESTAL ......................................... 81. INTRODUO................................................................................................ 82. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL...................................................... 93. SUSTENTABILIDADE................................................................................... 11

    3.1. Trip da sustentabilidade (The Triple Botton Line) ................................... 133.2. Modelo da teoria dos capitais .................................................................... 153.3. The Natural Step ........................................................................................ 173.4. Capitalismo natural .................................................................................... 18

    4. STAKEHOLDERS UM CONCEITO ESTRATGICO................................. 205. SUSTENTABILIDADE SOCIAL.................................................................... 24

    5.1. Social Accountability SA 8000............................................................... 295.2.Accountability- AA 1000.......................................................................... 30

    6. SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL ...................................................... 317. AGREGAO DE VALOR SUSTENTVEL............................................... 34

    CAPTULO 2 - ANLISE DOS PROJETOS SOCIAIS ................................ 391. INTRODUO................................................................................................ 39

    1.1. Relao empresa e comunidade................................................................. 432. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ..................................................... 48

    2.1. Caracterizao da pesquisa ........................................................................ 482.2. Anlise de contedo................................................................................... 492.3. Abrangncia do estudo............................................................................... 502.4. Descrio da rea ....................................................................................... 50

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    9/112

    vii

    Pgina

    2.5. Coleta de dados.......................................................................................... 542.6. A anlise e o tratamento de dados ............................................................. 55

    3. RESULTADOS E DISCUSSO...................................................................... 554. CONCLUSES E SUGESTES ..................................................................... 66

    CAPTULO 3 - MODELO DE GERENCIAMENTO DOENVOLVIMENTO COM AS COMUNIDADES............................................ 681. INTRODUO................................................................................................ 682. BASES METODOLGICAS DO MODELO.................................................. 693. DESCRIO DO MODELO........................................................................... 70

    3.1. Fase de comprometimento ......................................................................... 703.2. Fase de diagnstico.................................................................................... 71

    3.2.1. Identificao de problemas, riscos e oportunidades ........................... 71

    3.2.2. Identificao e priorizao das comunidades relevantes .................... 723.2.3. Avaliao das capacidades organizacionais ....................................... 74

    3.3. Fase de criao de valor............................................................................. 753.3.1. Definio de objetivos ........................................................................ 753.3.2. Definio de reas de envolvimento................................................... 763.3.3. Definio do nvel e das formas de envolvimento.............................. 773.3.4. Elaborao do programa de aes ...................................................... 78

    3.4. Fase de captura de valor............................................................................. 794. CONCLUSES SOBRE O MODELO ............................................................ 80

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 81REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................. 84GLOSSRIO........................................................................................................ 94APNDICE........................................................................................................... 96

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    10/112

    viii

    RESUMO

    GOMES, Antnio do Nascimento, D.S., Universidade Federal de Viosa, fevereiro de2005. Sustentabilidade de empresas de base florestal: o papel dos projetossociais na incluso das comunidades locais. Orientador: Agostinho Lopes deSouza. Conselheiros: France Maria Gontijo Coelho e Mrcio Lopes da Silva.

    Este estudo teve como tema principal a sustentabilidade empresarial, maisespecificamente a sustentabilidade do envolvimento das empresas com as comunidades

    onde esto inseridas. Formulou-se um referencial terico, a partir dos conceitos

    levantados na reviso de literatura, sobre a sustentabilidade como uma estratgia para

    criar e conservar valor para as empresas e para a sociedade. Para isso, torna-se

    imprescindvel a integrao das questes sociais nas estratgias e operaes do negcio,

    principalmente devido aos seus impactos sobre os elementos intangveis de valor em

    uma organizao, como imagem, lealdade dos clientes e licena para operar. Essaabordagem sustenta tambm que as empresas no estaro se desviando do objetivo

    principal de sua existncia, que a criao de valor para os seus acionistas, ao inserir as

    questes relacionadas s relaes com osstakeholdersnas suas estratgias e aes, pois

    um adequado gerenciamento desses pode melhorar a habilidade no gerenciamento de

    riscos, no desenvolvimento da confiana e na criao de valor para a empresa. A partir

    de estudo de casos buscou-se interpretar as aes sociais de empresas produtoras de

    celulose de fibra curta de mercado, localizadas no Estado do Esprito Santo e extremo

    sul da Bahia, com vistas a verificar a sua consistncia com a estratgia de

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    11/112

    ix

    sustentabilidade empresarial. Buscou-se caracterizar seus programas de aes sociais e

    sua abrangncia ao analisar o contedo dos instrumentos de divulgao das aes

    sociais das empresas e identificar a concepo que tem orientado as aes sociais dessas

    empresas na sua relao com as comunidades influenciadas pelas suas reas de

    produo de eucalipto. A coleta de dados foi feita por meio de pesquisa bibliogrfica e

    documental, utilizando tcnicas de anlise de contedo, alm da entrevista semi-

    estruturada com os responsveis pela gesto dos projetos. Os documentos objetos desta

    anlise foram os relatrios anuais, o relatrio social e ambiental e o balano social das

    empresas, referente ao ano de 2003. Os resultados da pesquisa permitiram identificar

    que a motivao central das empresas estudadas para as aes de envolvimento com a

    comunidade a agregao de valor por meio da minimizao dos riscos potenciais e que

    os seus discursos evidenciam que elas consideram que as responsabilidades das

    empresas devem ir alm da responsabilidade clssica de maximizar os retornos dos

    acionistas, e demonstram uma viso de que as aes de responsabilidade social so

    fontes de agregao de valor para as mesmas. Os resultados tambm indicam que as

    empresas devem mudar a postura na identificao e definio de seus projetos de

    envolvimento com as comunidades, passando a definir os objetivos, as prioridades e a

    forma de atuao, considerando os seus objetivos de agregao de valor e de

    sustentabilidade empresarial. Alm disso, as empresas devem estruturar um

    procedimento planejado de avaliao, tanto das metas estabelecidas quanto dos

    impactos dos projetos, definindo critrios e indicadores e utilizando o processo de

    avaliao como instrumento para melhorar sua atuao direta sobre o pblico-alvo e

    sobre o seu processo de gesto, bem como estratgia de divulgao dos projetos. Com

    base nesses resultados e no referencial conceitual estabelecido, apresenta-se, ao final,

    um modelo de gerenciamento do envolvimento das empresas com as comunidades, com

    o propsito de orientar no apenas a identificao e a priorizao das comunidades parao envolvimento, mas, sobretudo, o conhecimento de seus temas crticos e pontos de

    suscetibilidades onde podero ser criadas parcerias e oportunidades de criao de valor.

    O modelo proposto tem como objetivo contribuir para o alcance do desenvolvimento

    sustentvel das empresas, devendo ser aplicado na forma de estudo de caso, para testar a

    sua validade, avaliar as limitaes e aperfeioar e validar a sua estrutura.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    12/112

    x

    ABSTRACT

    GOMES, Antnio do Nascimento, D.S., Universidade Federal de Viosa, February2005. Sustainability of forest base companies: the role of social projects in theinclusion of the local communities. Adviser: Agostinho Lopes de Souza.Committee Members: France Maria Gontijo Coelho and Mrcio Lopes da Silva.

    This study had as its main subject the business sustainability, and, morespecifically, the sustainability of the involvement of the companies with the

    communities in which they are inserted. Based in the concepts found in the literature it

    was conceived a reference framework on the sustainability as a strategy to create and to

    conserve value for the companies and the society. For this, the integration of the social

    matters in the strategies and operations of the business becomes essential, mainly due to

    its impacts on the intangible elements of value for an organization, such as image,

    loyalty of the customers and license to operate. This approach also supports that themain companies' goal, which is to add value for its shareholders, is kept when inserting

    the questions related to the relations with stakeholders in its strategies and actions,

    therefore one adjusted management of these can improve the ability in the management

    of risks, in the development of the confidence and in the creation of value for the

    company. The objectives of this study was to interpret, from the study of cases, the

    social actions of producing companies of market short fiber pulp, located in the State of

    Esprito Santo and Southend of the Bahia State, viewing to verify its consistency with

    the strategy of business sustainability; to characterize its programs of social actions and

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    13/112

    xi

    its scope; to carry out analysis of the content of the instruments of communication for

    the social actions of the companies and to identify the conception that has guided the

    social actions of these companies in its relation with the communities influenced by its

    areas of production of eucalyptus. The collection of data was made by means of

    documental and bibliographical research, using techniques of content analysis, besides a

    semi-structured interview with the responsible ones for the management of the projects.

    The documents subjected to analysis were the 2003 Companies Annual Report and the

    Social and Environment Report. The results of the research had allowed to identify that

    the central motivation of the companies studied for actions of involvement with the

    community was the aggregation of value by means of the minimization of the potential

    risks and that its speeches evidence that they consider that the responsibilities of the

    companies must go beyond the classic responsibility maximizing the returns of the

    shareholders, and demonstrate a vision that the social actions are sources of aggregation

    of value for themselves. The results also indicated that the companies must change their

    models of identification and definition of their projects of involvement with the

    communities, starting to define the objectives, priorities and models of actions,

    considering their objectives of aggregation of value and business sustainability.

    Moreover, the companies must structuralize a planned procedure of evaluation of the

    established goals and of the impacts of the projects, defining criteria and indicators and

    using the evaluation process as a tool to improve its direct performance on the targeted-

    public and its process of management, as well as the strategy of divulgation of the

    projects. In accordance with these results and with the reference framework, this

    research presents a proposal for a management model for the involvement of the

    companies with the communities. The purpose of the model is to guide the

    identification and the process of to direct the communities for the involvement, as well

    as to identify the critical and weak points for subjects partnerships and chances ofcreation of valor can be created. The proposed model aims to business sustainable

    development and it has to be applied in the form of case study, to test its validity, to

    evaluate the limitations, to improve and to validate its structure.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    14/112

    1

    INTRODUO

    O complexo agroindustrial de celulose de fibra curta de mercado caracteriza-se

    pela concentrao espacial, tcnica e econmica, sendo considerado uma atividade

    indutora da desconcentrao industrial, geradora de substanciais divisas para o Pas e de

    significativa receita tributria. Por outro lado, o modelo econmico adotado pelo setor

    tem sido alvo de muitas crticas de grupos sociais organizados, movimentos sociais ou

    at mesmo instituies pblicas, que percebem nele uma fonte causadora de exclusoeconmica e social e de inmeros conflitos sociopolticos nas comunidades onde

    concentram suas atividades florestais.

    Diante dessas crticas as empresas tm, ao longo dos anos, implementado

    projetos denominados sociais, apresentados como parte de seu esforo para alcanar o

    desenvolvimento sustentvel, os quais tm sido amplamente divulgados. dentro desse

    contexto que se coloca o problema desta pesquisa.

    No se pode deixar de reconhecer que as mudanas econmicas, polticas esociais das ltimas dcadas tm transformado a viso e a concepo do homem a

    respeito do mundo. Dentre essas mudanas destacam-se as modificaes radicais nos

    modelos ideolgicos; os processos de democratizao da tecnologia e da informao

    (Internet); a globalizao; a abertura dos mercados e o conseqente acirramento da

    concorrncia; e o crescimento e fortalecimento das organizaes no-governamentais

    (ONGs) e de outros grupos da sociedade civil. Alm disso, o mercado consumidor

    torna-se mais exigente e participativo, o que coloca o desafio de novos padres deconduta empresarial.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    15/112

    2

    A crescente adoo do modelo socioeconmico neoliberal, a partir da dcada

    de 1980, fortaleceu o papel do mercado como mecanismo quase exclusivo de otimi-

    zao de recursos, de maximizao da produo e do emprego, de corretor automtico

    de eventuais desajustes econmicos, de fiador do investimento produtivo e do

    desenvolvimento econmico, transferindo ao setor privado e ao mercado, gradualmente

    e de forma sustentada, as funes econmicas anteriormente entregues ao Estado.

    Nesse contexto, as empresas tm se transformado em uma poderosa fora

    econmica na sociedade atual: das 100 maiores entidades econmicas do mundo, 51 so

    empresas e 49 so pases, devendo-se ressaltar que as 200 maiores empresas do mundo

    empregam menos de 1% da populao mundial, mas controlam 27,5% de toda atividade

    econmica internacional (ANDERSON e CAVANAGH, 2000).

    Tudo isso tem contribudo para o aumento crescente da desconfiana do

    pblico em geral em relao ao poder econmico e poltico das corporaes, de modo

    que a sociedade passou a influenciar o desempenho das empresas, evidenciado pela

    maior fiscalizao e exigncias em relao postura e licena para operar das orga-

    nizaes, exigindo mudanas significativas nos seus sistemas tradicionais de gesto.

    A licena para operar pode ser conceituada como a necessidade de manter a

    aceitao e a confiana da sociedade, como um todo, na legitimidade das operaes e

    conduta da empresa. Este tipo de licena pode ser revogado a qualquer instante, sendo

    um dos fatores mais crticos para a sobrevivncia e prosperidade a longo prazo.

    Essas novas exigncias para manuteno da competitividade das empresas vm

    trazendo implicaes de cunho mais amplo e sistmico para a gesto, de forma que as

    oportunidades de negcio oferecidas pelas atuais condies econmicas geram uma

    forte demanda por um novo contrato social global (KREITLON e QUINTELLA,

    2001).

    Nesse sentido, as agendas da responsabilidade social corporativa e dodesenvolvimento econmico esto comeando a convergir para as grandes questes

    humanitrias, como incluso social, diversidade e diminuio da pobreza. A chave para

    essa tendncia o reconhecimento de que os impactos econmicos das empresas so

    fatores crticos para obteno de resultados social e ambiental satisfatrios nas

    comunidades pobres (MONAGHAN et al., 2003).

    Reconhecendo a crescente importncia dos negcios para as questes sociais,

    por iniciativa do Senhor Kofi Annan, secretrio geral das Naes Unidas, foi lanadoem 1999 o Pacto Global (The Global Compact), com o objetivo de sensibilizar,

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    16/112

    3

    mobilizar e engajar a comunidade empresarial internacional em torno de questes

    relevantes para a sociedade contempornea. O Pacto sugere que as empresas devem

    aderir e assumir compromissos globais, incorporando ao cotidiano dos negcios

    princpios que se baseiam no paradigma do desenvolvimento humano sustentvel e que

    ressaltam a importncia das empresas na construo de uma sociedade mais justa e mais

    equnime. Os principais cuidados a serem observados se referem, por um lado,

    ateno das empresas para com os impactos potenciais (atuao preventiva) de seus

    planos, metas e estratgias nas comunidades em que atuam e na sociedade em geral. Por

    outro, referem-se ao envolvimento das empresas com uma agenda de ao local,

    estimulando um vnculo pragmtico dos negcios com o desenvolvimento sustentvel

    no plano internacional (ETHOS, 2004a).

    Desse modo, as empresas que eram vistas apenas como instituies econ-

    micas tm presenciado o surgimento de novos papis que devem ser desempenhados em

    interao com outros agentes sociais para garantir a sua sobrevivncia, sendo

    consideradas, de acordo com Kwasnicka (1995), como uma propriedade com grande

    responsabilidade social.

    Entretanto, na maioria das empresas as questes sociais permanecem como um

    elemento dissociado do objetivo da organizao, freqentemente no integrado de

    forma sistemtica e consistente com a estratgia, nas operaes e no gerenciamento do

    negcio (FIGGE et al., 2001), estando assim vulnerveis indiferena ou subalocao

    de recursos.

    Nessa perspectiva, a incorporao do conceito da sustentabilidade passa a ser

    um instrumento essencial para um novo posicionamento estratgico, visando responder

    s grandes tendncias sociais e ambientais que esto remodelando os mercados de forma

    contnua.

    O no-engajamento nessa agenda pode levar alienao da empresa emrelao ao resto da sociedade, resultando em reduzida reputao, custos crescentes,

    perda de competitividade e reduo de seu valor econmico e poltico (como instituio

    de ordenamento da vida social).

    Apresentao do problema

    Grande parte da produo da indstria florestal brasileira baseada em

    plantaes florestais de rpido crescimento, principalmente de eucaliptos.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    17/112

    4

    O segmento de florestas plantadas no Brasil mantm atualmente cerca de

    5,3 milhes de hectares cultivados com eucalipto e pinus, tendo sido responsvel por

    6% do valor das exportaes em 2004 e 15% do supervit comercial, o que representou

    um valor de aproximadamente US$ 5 bilhes, recolhendo US$3,8 bilhes de impostos egerando 1,5 milhes de empregos diretos, dos quais as atividades de silvicultura

    representam 40% e as atividades industriais os outros 60% (ABRAF, 2005).

    A importncia estratgica e expressiva do setor florestal brasileiro decorre

    tanto do pioneirismo das tcnicas silviculturais de manejo de florestas de rpido

    crescimento, como tambm da liderana do Pas na produo de celulose de fibra curta

    e na de chapas.

    Segundo BRACELPA (2004), a indstria brasileira de celulose e papel

    constitui uma atividade indutora da desconcentrao industrial e do desenvolvimento

    em regies menos dinmicas, estando presente com unidades industriais e plantaes

    em 450 municpios de 16 Estados brasileiros, nas cinco Regies do Pas, colaborando

    para a reduo do desequilbrio no desenvolvimento regional, gerando tambm

    substanciais divisas para o Pas, alm de considervel receita tributria. Alm disso, h a

    criao de diversos e significativos efeitos indiretos, a exemplo do fortalecimento

    financeiro do poder pblico (via gerao de impostos), da ampliao da infra-estrutura

    viria, de comunicao e servios, do incremento do setor tercirio local, entre outros.O plantio de florestas caracteriza-se ainda por uma atividade capaz de

    absorver tanto mo-de-obra de baixa qualificao profissional, como altamente espe-

    cializada. Dentre os primeiros esto principalmente os operrios braais, sendo os

    demais geralmente pesquisadores, tcnicos, engenheiros, administradores, entre outros

    (BRACELPA, 2004).

    Por outro lado, o setor de celulose e papel tem sido fortemente criticado e

    pressionado por organizaes no-governamentais (ONGs) e por setores da sociedade

    que no participam efetivamente dos benefcios gerados por esses empreendimentos,

    devido aos impactos sociais oriundos da sua concentrao espacial, econmica e

    tcnica; do tamanho dos projetos de base florestal e de suas complexas inter-relaes

    com setores das economias nacional e internacional, alm do fato de a matria-prima ser

    de base biolgica.

    Como exemplo do nvel extremado de crticas, Carrere e Lohmann (1996)

    relataram que o progresso associado com as plantaes tem beneficiado somente uma

    minoria, devendo-se ressaltar que a concentrao de terra e poder, a migrao, o

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    18/112

    5

    rompimento social, a degradao da qualidade de vida e a degradao ambiental a longo

    prazo tm sido os resultados amargos para o Brasil como um todo.

    Dentre os impactos sociais apontados destacam-se: a destruio do modo de

    vida de comunidades locais, causando xodo rural e a conseqente disperso de muitascomunidades; a perda da identidade e riqueza cultural; o processo de isolamento das

    comunidades rurais que esto circundadas pelos plantios; e a violao dos direitos de

    povos indgenas, de remanescentes de quilombolas e de outras minorias.

    Visando minimizar os efeitos das crticas ou dos impactos sociais de seus

    empreendimentos, as empresas tm, ao longo dos anos, buscado viabilizar e beneficiar

    projetos denominados sociais de vrios tipos, com vrios focos e objetivos, como

    educao e cultura, plantios comunitrios, saneamento, esportes e lazer, apoio sade e

    educao ambiental, tendo sido investido, em 2003, cerca de US$ 16 milhes nesses

    projetos (BRACELPA, 2004). Esses projetos so apresentados pelo setor como parte de

    um esforo das empresas para se inclurem no conceito de empresa sustentvel. Esse

    discurso tem sido amplamente divulgado.

    Entretanto, quais seriam, de fato, a eficcia e a eficincia dessas aes empre-

    sariais, do ponto de vista da sustentabilidade das empresas? Esses projetos estariam

    agregando valor e reduzindo riscos para as empresas, ou seriam apenas projetos de

    cunho assistencialista e filantrpico? Seriam esses projetos auto-sustentveis e comcapacidade de transformao multiplicadora e de insero socioeconmica dentro dos

    princpios de desenvolvimento sustentvel?

    Como hiptese de trabalho tem-se que, para maior eficincia e eficcia

    empresarial, no basta somente fazer os investimentos ao acaso ou apenas reativos

    diante de presses de organizaes e movimentos sociais ou fazer investimento macio

    em propaganda sem implementar processos que tratem a questo de forma mais

    estruturada e que as aes estejam inseridas no gerenciamento da empresa e na vida

    cotidiana das populaes atingidas pelo empreendimento.

    Objetivos

    Objetivo geral

    Interpretar as aes dos projetos sociais de empresas de produo de

    celulose de fibra curta de mercado, localizadas no Estado do Esprito

    Santo e extremo sul da Bahia, com vistas a verificar a sua consistnciacom a estratgia de sustentabilidade empresarial.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    19/112

    6

    Objetivos Especficos

    Apresentar os conceitos fundamentais, as ferramentas e os modelos de

    gerenciamento relacionados idia de sustentabilidade e de integrao

    das questes sociais nas estratgias empresariais.

    Analisar e caracterizar os projetos de aes sociais e sua abrangncia.

    Descrever o contedo dos instrumentos de divulgao das aes sociais

    das empresas.

    Identificar a concepo que tem orientado as aes sociais dessas empre-

    sas na sua relao com as comunidades influenciadas por suas reas de

    produo de eucalipto.

    Como sugesto final, elaborar um modelo de gerenciamento do envolvi-mento das empresas com essas comunidades.

    Estrutura da tese

    Esta tese est estruturada conforme descrito na Figura 1.

    O captulo 1 apresenta o referencial terico para anlise da sustentabilidade

    social de empreendimentos de base florestal,abordando alguns conceitos fundamentais

    presentes no debate sobre a sustentabilidade de empresas, cujas atividades produtivas

    so baseadas em utilizao dos recursos do meio ambiente. Neste sentido, so

    discutidos conceitos de desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade, stakeholders

    (uma pessoa ou um grupo de pessoas que afetam e so afetados pelas atividades da

    empresa), sustentabilidade empresarial, sustentabilidade social e formas de agregao

    de valor. Alm disso, so descritos algumas ferramentas e modelos para gerenciamento

    da sustentabilidade empresarial e integrao das questes sociais na estratgia das

    empresas.

    O captulo 2 apresenta os resultados da anlise dos projetos sociais das

    empresas estudadas, procurando estabelecer relaes com o contexto terico utilizado.

    E por fim, no captulo 3 apresentado o modelo proposto para gerenciamento

    do envolvimento das empresas com as comunidades, desenvolvido a partir do

    referencial terico utilizado e dos resultados das anlises realizadas no captulo 2.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    20/112

    7

    Figura 1 Fluxograma operacional da tese.

    Captulo 2

    Avaliao dos Projetos Sociais

    Captulo 3

    Modelo de Gerenciamento do Envolvimento

    com as Comunidades

    IntroduoCaptulo 1

    Referencial Terico

    Captulo 2

    Avaliao dos Projetos Sociais

    Captulo 3

    Modelo de Gerenciamento do Envolvimento

    com as Comunidades

    IntroduoIntroduoCaptulo 1

    Referencial Terico

    Captulo 1

    Referencial Terico

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    21/112

    8

    CAPTULO 1

    SUSTENTABILIDADE SOCIAL EM EMPREENDIMENTOS DE BASEFLORESTAL

    1. INTRODUO

    Atualmente, o principal desafio empresarial tem sido o de balancear o

    gerenciamento dos negcios, atendendo s exigncias de alta eficincia operacional,baixo custo e alto padro de qualidade dos produtos, como tambm s demandas

    ambientais e sociais da sociedade civil.

    Assim, a competitividade das empresas passa a ser, cada vez mais, avaliada por

    sua sustentabilidade econmica, social e ambiental, dentro de uma viso de longo prazo

    do negcio. Com isso, elas esto operando em um ambiente onde o limite entre as

    ameaas e as oportunidades est cada vez mais tnue.

    Dentro desse crescente contexto de exigncias em relao s empresas e seus

    valores ticos, da possibilidade de vantagens competitivas dentro do mercado e da

    importncia de gerar desenvolvimento com sustentabilidade indispensvel, para a

    prtica de uma gesto responsvel, que os administradores tenham plena compreenso

    da filosofia e das propostas do desenvolvimento sustentvel e da razo pela qual essa

    abordagem crucial para a perpetuidade dos empreendimentos.

    Portanto, o objetivo deste captulo foi descrever a sustentabilidade como uma

    estratgia empresarial competitiva, contextualizando-a e conceituando-a teoricamente, e

    explicitando a importncia dos temas relacionados aos aspectos sociais e aosstakeholderse s oportunidades de agregao de valor.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    22/112

    9

    2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    Em 1987, a Comisso Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento

    (Comisso Brundtland) publicou o relatrio intitulado Nosso Futuro Comum, que

    passou a constituir a referncia central para o desenvolvimento futuro, propagando o

    conceito de desenvolvimento sustentvel: desenvolvimento que atende as necessidades

    e aspiraes do presente, sem comprometer a capacidade de atendimento das futuras

    geraes (CONFERNCIA DAS NAES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE

    E DESENVOLVIMENTO, 1998).

    A partir da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, os conceitos de desenvol-

    vimento sustentvel e sustentabilidade transformaram-se em um importante referencialpara as estratgias de desenvolvimento social e ambiental para as organizaes privadas.

    Entretanto, no h um consenso sobre o significado preciso ou operacional

    desses conceitos. Souza (1998) relatou que a proposta de desenvolvimento sustentvel,

    como uma forma alternativa de desenvolvimento, possui todos os ingredientes de uma

    proposta utpica, j que busca a conciliao de interesses contraditrios, sem que a

    ordem estabelecida em nvel da economia mundial atual seja, sequer, mexida.

    Contudo, alguns autores afirmam que o desenvolvimento sustentvel pode servisto como um novo paradigma cultural e cientfico, pois anseiam pela construo de

    novos valores, percepes, conceitos e pensamentos que determinaro como a sociedade

    ir enxergar a realidade vivida e como a cincia ir se organizar, diante desse novo

    campo de atuao disciplinar ou interdisciplinar (MOREIRA, 1994).

    De forma mais operacional, o desenvolvimento sustentvel pode ser com-

    ceituado como o processo de mudana social e de elevao das oportunidades da

    sociedade, compatibilizando, no tempo e no espao, o crescimento e a eficinciaeconmica, a conservao ambiental, a qualidade de vida e a eqidade social, partindo

    de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre geraes (BUARQUE,

    1996).

    Em consonncia com esse conceito, o Forum for the Future (2004) relatou que

    o desenvolvimento sustentvel um processo dinmico que permite que todas as

    pessoas realizem seu potencial e melhorem sua qualidade de vida de maneira que,

    simultaneamente, protejam e melhorem os sistemas de suporte de vida da Terra.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    23/112

    10

    Assim sendo, o desenvolvimento compreende as seguintes condies: social,

    no sentido de acesso a educao, moradia, servios de sade, alimentao, uso racional

    e sustentvel dos recursos e respeito da cultura e tradies no seu entorno social;

    econmico, em relao s oportunidades de emprego, satisfao das necessidades

    bsicas e uma boa distribuio da riqueza; e poltico, a respeito da legitimidade no s

    em termos legais, mas tambm em termos de prover a maioria da populao de

    benefcios sociais (REYES, 2004).

    Esses conceitos evidenciam a integrao dos propsitos sociais, econmicos e

    ambientais, orientados para a qualidade de vida, estando em sintonia com a tese de SEN

    (2000), na qual o desenvolvimento pode ser visto como um processo de expanso das

    liberdades reais que as pessoas desfrutam.

    Nesse sentido, o desenvolvimento requer que se removam as principais fontes

    de privao da liberdade: pobreza e tirania, carncia de oportunidades econmicas e

    destituio social sistemtica, negligncia dos servios pblicos e intolerncia ou

    interferncia excessiva de Estados repressivos (SEN, 2000).

    A aplicao do conceito de desenvolvimento sustentvel evidencia a necessi-

    dade de avaliar os impactos da execuo de projetos industriais e de seus papis sociais

    como elementos importantes na implementao de polticas pblicas de incluso social

    e de proteo e uso racional dos recursos naturais. O elemento essencial dessa avaliao

    est na potencializao dos impactos positivos e na minimizao dos negativos e seus

    controles no momento das decises econmicas.

    A agricultura e a utilizao dos recursos florestais so temas centrais para o

    desenvolvimento sustentvel, devido grande quantidade de empregos gerados, ao

    valor econmico da produo e aos impactos extensos e diretos que ambas tm sobre os

    recursos renovveis e o meio ambiente (SCHMIDHEINY, 1992) e sobre as relaes

    sociais.As plantaes de eucaliptos, segundo Kengen (1985), tm sido vistas apenas

    como uma unidade de produo de madeira, sendo ignorado o contexto ambiental,

    social e cultural da regio onde se instalam. Segundo Guerra (1997), somente um

    modelo responsvel e conseqente de administrao dos recursos florestais, dentro dos

    princpios do desenvolvimento sustentvel, poderia trazer o progresso e a modernizao

    para as regies onde os empreendimentos esto instalados, alm de garantir a

    sustentabilidade e a qualidade de vida razovel para os trabalhadores e suas famlias.Assim, de acordo com Schettino et al. (2000), o estabelecimento de modelos de

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    24/112

    11

    desenvolvimento com base em planos de gesto sustentvel a melhor forma de

    aproveitamento das potencialidades oferecidas pelas florestas, o que pode contribuir

    para o desenvolvimento socioeconmico de regies que tenham vocao florestal.

    3. SUSTENTABILIDADE

    H um amplo consenso de que a sustentabilidade edifica-se em diferentes

    dimenses que, segundo Sachs (1993), podem ser analisadas individual ou coletiva-

    mente:

    Sustentabilidade social busca o estabelecimento de um padro de

    desenvolvimento que conduza distribuio mais eqitativa da renda,

    assegurando a melhoria dos direitos das grandes massas da populao e areduo das atuais desigualdades sociais.

    Sustentabilidade econmica possvel atravs de inverses pblicas e

    privadas e da alocao e do manejo eficiente dos recursos naturais para

    reduo dos custos sociais e ambientais.

    Sustentabilidade ecolgica entendida como o aumento ou a manuteno

    da capacidade de suporte do planeta, mediante intensificao do uso do

    potencial de recursos disponveis, compatvel com um nvel mnimo dedeteriorao deste potencial; e a limitao do uso dos recursos no-reno-

    vveis pela substituio por recursos renovveis e, ou, abundantes e

    inofensivos.

    Sustentabilidade espacial - busca uma configurao urbano-rural mais

    equilibrada, evitando-se a concentrao da populao em reas metro-

    politanas ou em assentamentos humanos em ecossistemas frgeis.

    Sustentabilidade cultural garantia da continuidade das tradies e

    continuidade da pluralidade dos povos.

    De acordo com o economista Welford (1997), a sustentabilidade est mais

    relacionada a processos do que a resultados tangveis, sendo os elementos-chave da

    sustentabilidade: a eqidade (estmulo participao dos interessados, proporcionando-

    lhes poder de deciso); a futuridade (precauo e uso consciente dos recursos); a

    preservao da biodiversidade; o respeito aos direitos humanos; e a incorporao do

    conceito de ciclo de vida e responsabilidade sobre os produtos.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    25/112

    12

    ORiordan e Voisey (1998) afirmaram que a transio para a sustentabilidade

    um processo permanente, uma vez que a sustentabilidade pura nunca ser, de fato,

    alcanada. Dentro dessa perspectiva, os autores identificam os vrios estgios da susten-

    tabilidade, variando em uma escala que vai de sustentabilidade muito fraca, implicando

    pequenas mudanas de prticas ambientais, at sustentabilidade muito forte, mais

    inclusiva, auto-sustentada e que se preocupa em envolver as pessoas afetadas pelos

    processos produtivos nas decises. A sustentabilidade envolve, portanto, educao,

    mudana cultural e considerao dos interesses coletivos nas decises (MARINHO,

    2001).

    De acordo com Serageldin (1993), os esforos no sentido de identificar as

    implicaes operacionais da sustentabilidade s atingiro seus objetivos com a

    integrao dos pontos de vista econmico, ecolgico e social. Isto porque todas as

    atividades comerciais e econmicas esto inseridas em sistemas ecolgicos e sociais

    mais amplos e deles dependem fundamentalmente, devendo ser ressaltado que se um

    aspecto for comprometido a estabilidade dos outros elementos inter-relacionados estar

    ameaada (WAAGE, 2004).

    Ressalta-se que a sustentabilidade est tambm associada ao tipo de negcio e

    sua relao com os recursos naturais e com o contexto social. As empresas que, pela

    sua natureza, so consumidoras intensivas de recursos naturais, energia ou gua e

    aquelas atividades que implicam altos riscos para as populaes ou geram grandes

    impactos ambientais ou sociais (ex. usinas nucleares, indstria de cigarro), sem uma

    profunda transformao na sua forma de produzir ou das caractersticas dos seus

    produtos, teriam maiores dificuldades de se enquadrar no conceito de sustentabilidade

    (MARINHO,2001).

    As definies de sustentabilidade no contexto de desenvolvimento sustentvel

    so muito amplas, comportando diversas interpretaes, de acordo com a perspectiva eos interesses envolvidos na anlise. Dentre as diferentes abordagens identificam-se

    os seguintes modelos conceituais que servem como base para as estratgias de

    gerenciamento em busca da sustentabilidade das organizaes: Trip da sustentabilidade

    (The Triple Botton Line); Modelo dos capitais; The Natural Step(TNS) e Capitalismo

    natural.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    26/112

    13

    3.1. Trip da sustentabilidade (The Triple Botton Line)

    Neste conceito as empresas no so focadas apenas no valor econmico que

    produzem, mas tambm nos valores ambientais e sociais que produzem ou destroem.

    Neste sentido, muitas empresas falham em no reconhecer que o sucesso financeiro no

    igual ao sucesso econmico, e que as suas escolhas econmicas so crticas para a

    realizao de resultados social e ambiental, uma vez que, por natureza, o pilar econ-

    mico intrinsecamente ligado aos pilares sociais e ambientais (MONAGHAN et al.,

    2003).

    A dimenso econmica da sustentabilidade refere-se aos impactos da

    organizao sobre as circunstncias econmicas de seus stakeholders e os sistemas

    econmicos nos nveis local e global. Assim, o desempenho econmico engloba todosos aspectos das interaes econmicas da organizao, incluindo as medidas tradi-

    cionais usadas na contabilidade financeira e os valores intangveis que no aparecem

    sistematicamente nas citaes financeiras (GRI, 2003).

    Essencialmente, a idia do trip da sustentabilidade que as empresas

    obtenham sua licena para operar no somente satisfazendo os seus acionistas atravs de

    lucros e dividendos (trip econmico), mas pela satisfao simultnea de outros

    stakeholders da sociedade (empregados, comunidades, clientes e outros), atravs domelhor desempenho nos trips ambiental e social (SIGMA PROJECT, 2002).

    Em termos estratgicos, esse modelo prope que atravs de um bom

    gerenciamento do seu desempenho e dos seus impactos econmicos, ambientais e

    sociais, as empresas aumentam o seu valor a curto e a longo prazos, bem como criam

    maiores oportunidades e reduzem riscos.

    Os pontos a seguir representam o comportamento e as atitudes essenciais que

    so evidenciados nas empresas que buscam gerenciar e reportar de acordo com a linhado trip da sustentabilidade (SUGGETT e GOODSIR, 2002):

    Aceitao de responsabilidade: o modelo baseado na concepo de que

    as empresas so responsveis no somente pela gerao de valor para os

    acionistas ou proprietrios, mas tambm para osstakeholders.

    Transparncia: as empresas tm a obrigao, dentro dos limites

    comerciais, de ser transparentes em relao s suas atividades e aos seus

    impactos, alm do desempenho financeiro.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    27/112

    14

    Operaes e planejamento integrados: para a empresa contribuir para a

    prosperidade econmica (incluindo o retorno aos acionistas), a qualidade

    ambiental e o bem-estar social, necessrio que essas dimenses sejam

    refletidas no planejamento estratgico.

    Comprometimento com o engajamento dosstakeholders: a interao com

    os stakeholders internos e externos um processo que informa os

    objetivos do negcio e desenvolvido com base em rigorosa pesquisa e

    dilogo.

    Avaliao e relatrio multidimensional: a anlise sistemtica e a veri-

    ficao do desempenho econmico, ambiental e social, em conjunto com

    uma comunicao estruturada dos resultados, so os mecanismos mais

    freqentes para tornar concreto o que a empresa sustenta, como age e

    como assume os seus compromissos.

    O conceito do trip da sustentabilidade tornou-se amplamente conhecido entre

    as empresas e os pesquisadores, sendo uma ferramenta conceitual til para interpretar as

    interaes extra-empresariais e especialmente para ilustrar a importncia de uma viso

    da sustentabilidade mais ampla, alm de uma mera sustentabilidade econmica.

    Ao considerar esse conceito, possvel perceber que os sistemas de

    certificao florestal, como o FSC e CERFLOR, alm de serem um instrumento institu-

    cionalizado de diferenciao (NARDELLI, 2001), podem ser considerados como um

    importante instrumento na busca pela sustentabilidade empresarial, principalmente

    porque so constitudos por um conjunto de normas ou padres que obedecem a

    princpios e critrios aceitos internacionalmente, porm passveis de ser adaptados s

    condies locais, relacionadas com desempenho ambiental, social e econmico da

    empresa. Alm disto, essa conceituao motiva mecanismos de monitoramento externose de prestao de contas.

    Esses sistemas tm como filosofia a avaliao e o monitoramento dos efeitos

    ambientais, sociais e econmicos das atividades e a participao e a priorizao de

    benefcios s comunidades sob influncia do empreendimento florestal (GARLIPP,

    1995).

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    28/112

    15

    3.2. Modelo da teoria dos capitais

    O modelo dos capitais conceitua a sustentabilidade em termos dos conceitos

    econmicos de capital e lucro.

    Dyllick e Hockerts (2002) identificaram trs tipos principais de capital

    (econmico, natural e social) e sugeriram que dentro desses trs tipos h vrios

    subtipos. Por sua vez, para o Forum for the Future (2004a), os capitais essenciais para a

    sustentabilidade so:

    O capital natural: o estoque e o fluxo de energia e matria que produz

    bens e servios de valor. O capital natural a base para a produo e para

    a prpria vida.

    O capital humano: a habilidade do ser humano de adicionar valordevido aos seus conhecimentos, habilidades e motivaes, os quais so

    requeridos para o trabalho produtivo. Melhorar o capital humano o

    ponto central para uma economia prspera.

    O capital social: o valor adicionado a algum processo econmico pelas

    relaes e cooperaes humanas. O capital social toma a forma de estru-

    tura ou instituies, que permite aos indivduos manter e desenvolver seu

    capital humano em sociedade com outros, e inclui famlias, comunidades,empresas, sindicatos, escolas e organizaes voluntrias.

    O capital manufaturado: compreende bens materiais ferramentas,

    mquinas, construes e outras formas de infra-estrutura e contribui

    com o processo de produo, mas no se incorporam nos seus produtos.

    O capital financeiro: reflete o poder produtivo de outros tipos de capital,

    permitindo que sejam possudos e comercializados. Entretanto, diferen-

    temente de outros tipos de capital, ele no tem valor intrnseco. Oseu valor puramente representativo do capital humano, social ou

    manufaturado.

    Baseando-se no mesmo princpio que suporta o trip da sustentabilidade, o

    modelo de capitais argumenta que nossa economia necessita mais do que dos tipos

    tradicionais de capitais para funcionar adequadamente e que esses outros capitais devem

    tambm ser mantidos.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    29/112

    16

    Desse modo, de acordo com a regra do capital constante, o desenvolvimento

    pode ser chamado sustentvel se garantir que os estoques de capital, ou pelo menos os

    servios de capital, permaneam constantes ao longo do tempo (FIGGE e HAHN,

    2004).

    Assim, a sustentabilidade dos recursos naturais renovveis requer, sob essa

    tica econmica, que a taxa de uso no exceda a taxa de regenerao, assim como a

    deposio de resduos em determinado compartimento ambiental no ultrapasse sua

    capacidade assimiladora. Tratando-se de recursos no-renovveis, preciso determinar

    sua taxa tima de utilizao e buscar medidas alternativas ou compensatrias reduo

    de seu estoque, como a substituio pelos recursos renovveis (PEARCE e TURNER,

    1989).

    Uma questo importante no gerenciamento dos mltiplos capitais a possi-

    bilidade de um capital ser substitudo por outro. Neste sentido surgem os conceitos de

    sustentabilidade fraca e sustentabilidade forte.

    A sustentabilidade fraca implica que todas as formas de capital so substi-

    tuveis por outras e que alguma perda em um tipo de capital pode, em teoria, ser

    substituda por um excedente em outras formas de capital (CABEZA, 1996). Entretanto,

    muitos autores tm demonstrado que nem todos tipos de capital podem ser substitudos

    pelo capital financeiro.

    A caracterstica central da sustentabilidade forte a crena de que pelo menos

    algum tipo de capital no pode ser substitudo por outro e, conseqentemente, h a

    necessidade de conservar estoques crticos no-substituveis. A razo para isto que

    o capital manufaturado, o capital natural e, ou, o capital social so, pelo menos

    parcialmente, complementares. Assim, a sustentabilidade forte impe nveis crticos ou

    padres mnimos de segurana para, pelo menos, algum capital natural, a fim de evitar

    perdas irreversveis (FIGGE e HAHN, 2004).Outra questo importante levantada pelo modelo dos capitais para a susten-

    tabilidade o fato de que a deteriorao do capital natural e social, ao contrrio do

    capital financeiro, freqentemente irreversvel (WRI et al., 2001).

    Similar ao raciocnio macroeconmico, no nvel corporativo tambm deve ser

    considerado o grau de substituio dos diferentes tipos de capital. Deste modo, a

    sustentabilidade forte requer um desempenho aprimorado em pelo menos uma das

    dimenses (social, econmica e ambiental), enquanto mantm pelo menos constante odesempenho nas demais dimenses. Isso pode ser visto como um esforo em direo a

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    30/112

    17

    uma situao de Pareto timo (FEINDT, 2000, citado por FIGGE e HAHN, 2004), que

    assume uma capacidade ilimitada de substituio de capital que permite a deteriorao

    de desempenho em uma dimenso seja compensada por um melhor desempenho em

    outra dimenso (FIGGE e HAHN, 2004).

    3.3. The Natural Step

    O modelo do Natural Step foi desenvolvido no sentido de fundamentar a

    sustentabilidade sob a perspectiva cientfica, de acordo com os seguintes princpios

    bsicos da termodinmica e da biologia celular (KRANZ e BURNS, 1997):

    A matria e a energia no podem ser criadas ou destrudas.

    A matria e a energia tendem a dispersar-se. A sociedade consome qualidade, pureza ou estrutura da matria, e no

    suas molculas.

    Aumentos na ordem ou na qualidade lquida de material na terra so

    produzidos quase que integralmente atravs de processos induzidos pelo

    sol.

    A partir desses princpios, o modelo apresenta as condies mnimas neces-

    srias para uma sociedade sustentvel, denominadas condies do sistema (THENATURAL STEP, 2004):

    A natureza no pode estar sujeita ao aumento sistemtico de concen-

    traes de substncias extradas da crosta terrestre.

    A natureza no pode estar sujeita ao aumento sistemtico de

    concentraes de substncias produzidas pela sociedade.

    A natureza no pode estar sujeita ao aumento sistemtico da degradao

    por meios fsicos.

    A capacidade dos seres humanos de satisfazer suas necessidades em todo

    o mundo no pode ser sistematicamente minada.

    Essas condies foram desenvolvidas atravs de uma perspectiva sistmica e

    levando-se em considerao o ponto final desejvel: a sustentabilidade. Conseqen-

    temente, elas so gerais o suficiente para ser relevantes para todas as atividades e reas

    e, ainda assim, concretas o suficiente para orientar o pensamento e a tomada de deciso.

    Alm disso, elas tambm no se sobrepem (WAAGE, 2004) e no podem ser

    facilmente atingidas no sistema econmico atual.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    31/112

    18

    Em nvel organizacional, esses quatro princpios servem como uma bssola na

    jornada para a sustentabilidade, fornecendo organizao um conjunto de condies s

    quais deve tentar se alinhar. Assim, o Natural Step uma ferramenta de planejamento

    estratgico que ajuda a organizao a identificar os riscos e oportunidades associadas

    com a sustentabilidade.

    Esta metodologia de planejamento chamada de backcasting. No contexto de

    desenvolvimento sustentvel, isto significa iniciar o planejamento com base na

    descrio das condies futuras de uma sociedade sustentvel e, a partir desta viso

    de futuro e da anlise das atividades e competncias atuais, definem-se as estrat-

    gias necessrias para se alcanar o objetivo pretendido a partir da situao atual

    (HOLMBERG e ROBRT, 2000).

    Na prtica, as condies dos sistemas, segundo Robrt et al. (2002),

    significam:

    substituir certos minerais que so escassos na natureza por outros mais

    abundantes, usando eficientemente todo material extrado, e reduzir

    sistematicamente a dependncia de combustveis fsseis;

    substituir sistematicamente certos componentes no-naturais e persis-

    tentes por outros que so normalmente abundantes ou degradveis mais

    facilmente na natureza, e usar eficientemente todas substncias produ-

    zidas pela sociedade;

    extrair recursos somente de ecossistemas bem manejados, buscando

    sistematicamente o uso mais produtivo e eficiente para os recursos da

    terra e tendo cautela em todos os tipos de modificao da natureza; e

    usar todos os recursos eficientemente, de forma justa e correta, de modo

    que as necessidades de todas as pessoas nas quais ocorrem os impactos e

    as necessidades futuras das pessoas que ainda no nasceram mantenhama melhor chance de serem alcanadas.

    3.4. Capitalismo natural

    O conceito do capitalismo natural recente e foi introduzido no livro de

    mesmo nome, publicado em 1999.

    Segundo Hawken et al. (2000), o capitalismo natural amplia a idia de

    ecoeficincia e ecologia industrial, apresentando estratgias especficas para reduzir o

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    32/112

    19

    dano ambiental, criar crescimento econmico e aumentar o emprego de forma

    significativa. Para isto necessrio integrar todos os aspectos relevantes da sociedade

    em um sistema de tomada de deciso, particularmente aqueles que esto constantemente

    se tornando escassos, ou esto sob alto risco.

    As suposies bsicas do capitalismo natural so: a viso da economia como

    um subconjunto do ambiente global; o capital natural ser mais limitante do cresci-

    mento econmico do que o capital manufaturado; aumentos radicais na produtividade

    dos recursos sero necessrios para eliminar a presso sobre o capital natural,

    requerendo uma avaliao completa de todas as formas de capital nos sistemas de

    mercado; e uma mudana de foco para os servios que garantem as necessidades

    humanas, em vez dos bens propriamente ditos, como um meio de tratar as desigualdades

    de renda e bem-estar e reforar a produtividade dos recursos (ROBRT et al., 2002).

    O capitalismo natural combina quatro estratgias que se reforam mutuamente.

    A primeira estratgia promover o aumento radical na produtividade dos recursos. Esta

    estratgia totalmente alinhada com o conceito da ecoeficincia, que corresponde

    produo de bens e servios a preos competitivos que satisfaam as necessidades

    humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo que reduz progressivamente os

    impactos ambientais e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nvel, no

    mnimo, equivalente capacidade de sustentao estimada da Terra (WBCSD, 2002).

    Ou seja, trata-se de uma estratgia de gerenciamento que combina o desempenho

    econmico e ambiental e agrega mais valor com menos impactos.

    Dessa forma, dentro do contexto da teoria do capitalismo natural, um trabalho

    fortemente focado no aumento da ecoeficincia pode ser compreendido como um passo

    inicial no sentido de mudanas de alcance muito maior (WAAGE, 2004).

    A segunda estratgia, explorar as possibilidades do biomimetismo, tem o

    objetivo de redesenhar os sistemas industriais, segundo linhas biolgicas, para possi-bilitar a reutilizao constante de materiais em ciclos fechados contnuos e a eliminao

    de toxicidade. Isso reduz as presses sobre os sistemas naturais, transforma os materiais

    descartados em aportes para novos compostos ou para o reaproveitamento lucrativo e

    permite que produtos de qualidade superior sejam obtidos com custos mais baixos

    (HAWKEN et al., 2000).

    A terceira estratgia estabelecer uma economia de servio e fluxo atravs da

    criao de sistemas que assegurem que os bens circulem, em vez de serem usados edescartados. Finalmente, a ltima estratgia do capitalismo natural reinvestir os lucros

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    33/112

    20

    na restaurao, na manuteno e na expanso do capital natural, com o objetivo de

    incrementar a produo de recursos biolgicos e servios de ecossistemas (HAWKEN

    et al., 2000).

    4.STAKEHOLDERS UM CONCEITO ESTRATGICO

    Na anlise dos recursos como capitais para os empreendimentos, o conceito de

    stakeholders apresenta-se esclarecedor do papel constitutivo de instituies e comu-

    nidades atingidas pelas aes empresariais. Nesse sentido, FREEMAN (1984)

    esclareceu que a conceituao de stakeholder inclui qualquer grupo, entidades, insti-

    tuies ou indivduo que possa afetar ou ser afetado pela realizao dos objetivos de

    uma empresa. Evidencia-se assim o reconhecimento da externalidade, que, segundoKNEESE (1964), ocorre toda vez que a ao de uma unidade econmica (pessoa ou

    empreendimento, consumidor ou produtor) afeta, de forma positiva ou negativa, a ao

    de outra, mesmo no intencionalmente.

    Com o objetivo de melhor especificar o conceito, Clarkson (1994) considerou

    que as relaes entre os stakeholderse as organizaes devem envolver o sentido da

    perda ou de um risco associado. Neste sentido, o autor diferenciou osstakeholdersem

    voluntrios e involuntrios. O stakeholder voluntrio aquele que incorre em algumrisco por ter investido alguma forma de capital, humano ou financeiro, ou seja, algum

    tipo de valor no empreendimento.Osstakeholdersinvoluntrios so aqueles que esto

    sujeitos a riscos decorrentes da atuao do empreendimento.

    Seguindo essa mesma perspectiva, Kochan e Rubenstein (2000) afirmaram que

    qualquer um que arrisca alguma coisa de valor (por exemplo, capital, sade, bem-estar,

    ou felicidade) ao interagir com uma empresa pode ser apontado como tendo um

    interesse na mesma.

    Existe uma variedade de interesses ou riscos que grupos de pessoas mantm em

    relao s organizaes. Os riscos dos investidores esto baseados no retorno do inves-

    timento. Outros stakeholders diretos, incluindo clientes, empregados, competidores,

    fornecedores e credores, tm interesses ou riscos econmicos na empresa eles podem

    afetar ou ser diretamente afetados pelo sucesso financeiro do empreendimento. Os

    sindicatos de trabalhadores, grupos comunitrios, organizaes ambientalistas, organi-

    zaes de direitos humanos e dos consumidores esto expostos ao risco dos impactos da

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    34/112

    21

    empresa sobre as pessoas e o ambiente, bem como do impacto econmico (SVENDSEN

    e WHEELER, 2002).

    Para Eden e Ackermann (1998), somente podem ser considerados como

    stakeholderspessoas ou grupos que tm o poder para afetar o futuro da organizao.

    Contudo, para Mitchell et al.(1997), a definio dosstakeholdersdeve considerar, alm

    do poder para influenciar o comportamento da empresa, a legitimidade das reivindi-

    caes e o seu impacto sobre a organizao.

    Assim, numa perspectiva empresarial, o stakeholder pode ser considerado

    como sendo uma pessoa ou um grupo que pode causar prejuzo ou lucro ao negcio. Os

    stakeholders que detm poder suficiente para afetar o desempenho da empresa, de

    forma positiva ou negativa, so importantes para o futuro da empresa, sendo consi-

    derados osstakeholdersprioritrios (LASZLO et al., 2004).

    Segundo esses autores, osstakeholderspodem ser divididos em econmicos e

    sociais.Osstakeholderseconmicos so aqueles que participam diretamente da cadeia

    de valor atravs da adio de valor econmico ao produto final ou servio da empresa,

    ou seja, os clientes, investidores, empregados e fornecedores. Os stakeholderssociais

    so externos cadeia de valor, mas podem exercer influncia significativa na adio de

    valor da empresa, como o caso freqente com os governos, a mdia, a comunidade, os

    sindicatos, as universidades, as ONGs e os movimentos sociais.

    Apesar de terem uma variedade de interesses, conforme pode-se constatar no

    Quadro 1, os stakeholders tm somente trs tipos de poder para influenciar o com-

    portamento da corporao. Osstakeholderstradicionais (acionistas, diretores e gerentes

    executivos) possuem poder formal dentro da corporao e podem influenciar as

    decises atravs do direito de voto. Os clientes, fornecedores, credores e empregados

    tm o poder econmico na medida em que so capazes de influenciar a estrutura de

    custo e receitas da corporao. Por sua vez, governos, comunidades, grupos de presso eativistas possuem poder poltico pela sua influncia nas condies polticas e sociais nas

    quais a corporao opera (WARTICK e WOOD, 1998).

    De acordo com BARON (1995), as foras dessas partes podem atrasar a

    entrada em novos mercados, limitar aumentos de preos e elevar os custos de

    competio. Elas podem, por outro lado, abrir mercados, reduzir a regulao, limitar os

    concorrentes e gerar vantagens competitivas. Essas foras so manifestadas fora dos

    mercados, mas freqentemente trabalham em conjunto com eles. Alm disso, a aodesses grupos organizados exerce uma presso sobre as empresas, incitando-as a adotar

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    35/112

    22

    comportamentos social e ambientalmente responsveis, que levem gerao de

    externalidades sociais e ambientais positivas, que podem tornar compatveis o

    crescimento econmico, o progresso social e a conservao ambiental.

    Quadro 1 Relao dosstakeholderse seus interesses (adaptado de GRAYSON e HODGES, 2002)

    Stakeholder Interesse

    Investidores Retorno do investimento, preservao do patrimnio

    Empregados Empregos, salrios justos, segurana, benefcios e reconhecimento

    Fornecedores Pedidos e pagamentos regulares

    Consumidores Produtos e/ ou servios seguros, confiveis e com preos justos

    Comunidades Locais Gerao de empregos, contribuio economia local e operaesambientalmente corretas

    GovernosGerao de empregos, servios aos cidados e pagamento deimpostos

    Desse modo, importante reconhecer que, assim como os stakeholderspodem

    apresentar riscos e destruir valor, podem tambm gerar oportunidades e suporte para a

    realizao dos objetivos da empresa. Neste sentido, um adequado gerenciamento dosstakeholderspode melhorar a habilidade para gerenciar riscos, desenvolver confiana e

    criar valor.

    Assim, a administrao dosstakeholdersir afetar, direta ou indiretamente, os

    resultados da empresa, no sendo, portanto, inconsistente com a viso estabelecida por

    FRIEDMAN (1962), na qual a nica responsabilidade social dos negcios aumentar,

    tanto quanto possvel, os lucros dos acionistas dentro das regras do jogo.

    O valor do stakeholder, segundo Lazlo et al. (2004), freqentemente malgerenciado em funo de um conhecimento incompleto referente aos seus impactos

    sobre a empresa e como esses impactos podem afetar o valor futuro da empresa, da

    fragmentao dentro da estrutura da organizao das responsabilidades e do

    conhecimento das questes sociais e ambientais, que so freqentemente delegadas s

    pessoas fora do grupo gerencial e da deficincia de ferramentas prticas para avaliao e

    gerenciamento das implicaes do desempenho social e ambiental das empresas e da

    cultura gerencial voltada para atendimento das necessidades dos acionistas.

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    36/112

    23

    Segundo Savage et al. (1991), existem duas dimenses crticas que devem ser

    avaliadas na gesto dosstakeholders: o potencial de perigo e o potencial de cooperao.

    Com base nestas dimenses, os stakeholderspodem ser classificados em quatro tipos

    distintos, existindo conseqentemente quatro estratgias para gerenci-los:

    1. Stakeholder de suporte: so os que apiam os objetivos e as aes da

    organizao, apresentando baixo potencial de perigo e alto potencial para

    cooperao. Muitas vezes so ignorados comostakeholdersque devem ser

    gerenciados e por isto o seu potencial cooperativo pode tambm ser

    desprezado.

    2. Stakeholder marginal: aquele que no altamente perigoso e nem

    especialmente cooperativo. Apesar de ter interesse na organizao e nas

    suas decises, geralmente no est preocupado com a maioria das questes.

    Entretanto certas questes, como segurana dos produtos e poluio,

    podem ativar um ou mais dessesstakeholders, aumentando o seu potencial

    de perigo ou de cooperao.

    3. Stakeholderque no apia: apresentam alto potencial de perigo e baixo

    potencial de cooperao, sendo os mais estressantes para a organizao e

    seus administradores.

    4. Stakeholders mistos: representam o principal papel. So aqueles cujo

    potencial de ameaar ou de cooperar so igualmente altos, podendo tornar-

    se mais ou menos apoiador.

    Uma das grandes mudanas ao se relacionar com osstakeholder tratar vises

    divergentes e posies conflitantes. Aes que criam valor para um segmento podem

    destruir valor para outro. As empresas devem aceitar que mesmo ao encontrar solues

    desejveis, algunsstakeholderspodem continuar a perceber uma perda de valor. Outrospodem ter questes legtimas que a empresa no est em posio para alter-las

    significativamente. Outros stakeholderspodem manter posies extremas que refletem

    uma estreita fatia da opinio pblica. Na maioria dos casos, entretanto, a tenso que

    aparece das vises divergentes pode ser uma fonte de criatividade capaz de impulsionar

    a empresa a desenvolver solues criativas que no poderiam ser encontradas no curso

    normal do negcio. Outra mudana no diagnstico de valor dos stakeholders que

    percepes so freqentemente mais importantes que fatos cientficos (LASZLO et al.,2004).

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    37/112

    24

    Savage et al. (1991) afirmaram que para sobreviver no futuro as organizaes

    deveriam estabelecer objetivos para as suas relaes com os stakeholders atuais e

    potenciais, como parte de seu processo de gerenciamento estratgico. Esses objetivos

    deveriam considerar o impacto potencial sobre as estratgias corporativas. Ao focar no

    potencial de risco e de cooperao dos stakeholders-chave, pode-se evitar a imple-

    mentao de planos que iro ser por eles combatidos, reconhecer suas necessidades

    emergentes, modificar planos para envolv-los e evitar os problemas associados com

    uma organizao por eles pressionada. Neste sentido, encontra-se no Quadro 2 o resumo

    das oportunidades de ganhos ou minimizao de riscos de acordo com o stakeholder

    envolvido.

    Quadro 2 Relaostakeholder- oportunidades de ganhos e minimizao de riscos(adaptado de MACHADO FILHO, 2002)

    StakeholderEnvolvido Oportunidades Minimizao de Riscos

    Investidores Gerao de valorMinimizar risco de fuga deinvestidores

    Empregados Aumento do ComprometimentoMinimizar risco de

    comportamento

    Comunidade Criao de legitimidade

    Minimizar risco de m aceitao/

    conflitos

    Consumidores FidelizaoMinimizar risco de m aceitao/

    Desentendimentos

    Parceiros comerciais ColaboraoMinimizar risco de

    defeco

    Agentes reguladores Ao legal favorvelMinimizar risco de ao

    legal

    Mdia Cobertura favorvelMinimizar risco de coberturadesfavorvel

    Ativistas - Minimizar risco de boicote

    5. SUSTENTABILIDADE SOCIAL

    O conceito do trip da sustentabilidade cristalizou a viso de que no

    possvel obter um nvel desejado de sustentabilidade ecolgica, social e econmica

    separadamente, sem a obteno simultnea, no mnimo, de um nvel bsico de todas as

    trs formas de sustentabilidade (SUTTON, 2001).

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    38/112

    25

    Contudo, a incorporao da questo social no mbito empresarial no tarefa

    simples, pois os problemas no se limitam a reaes de causa e efeito, e envolvem a

    participao no apenas da empresa. Alm disso, as questes sociais inevitavelmente

    evidenciam subjetividades, diferenas de opinies e expectativas em relao a tica e

    valores, sendo, por isso, mais complexas que as questes financeiras e ambientais, que

    so mais fceis de ser objetivamente quantificadas (FIGGE et al., 2001).

    Entretanto, quando associada estratgia global de negcio, essa incorporao

    pode otimizar as oportunidades (ZADEK, 1998; DRUCKER,1999) e trazer benefcios,

    como atrao de pblicos-alvos para a organizao, melhoria das relaes com a

    comunidade e melhoria da imagem e reputao da empresa, de forma a obter boa

    vontade destas para conseguir licena para operar em momentos de crise (BORGER,

    2001).

    Esse fato foi evidenciado na concluso do estudo sobre a responsabilidade

    social corporativa (RSC), realizado pelo WBCSD em 2000, na qual uma estratgia

    coerente de RSC, baseada em integridade, honestidade e na viso de longo prazo,

    oferece benefcios visveis s empresas e uma contribuio positiva ao bem-estar da

    sociedade, gerando a oportunidade para demonstrar a face humana do negcio.

    Para entender a sustentabilidade social, preciso compreender que existe uma

    rede interdependente de relacionamento entre a empresa e os seus stakeholders, a qual

    tende a evoluir em decorrncia das prticas sociais. Esta rede ir definir a interao dos

    seus vrios componentes e ser responsvel por ganhos ou perdas empresariais, de

    acordo com a atuao da empresa.

    As questes sociais devem ser gerenciadas, principalmente devido aos seus

    impactos sobre os elementos intangveis de valor para uma organizao, como imagem,

    lealdade dos clientes e licena para operar (FIGGE e HAHN, 2001). Este tema, captura

    de fontes intangveis de valor, central para os esforos de integrar as questes sociaiscom a estratgia e as operaes de uma empresa.

    A empresa socialmente responsvel aquela que possui a capacidade de ouvir

    os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionrios, prestadores de servios,

    fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e de conseguir

    incorpor-los no planejamento de suas atividades, buscando atender s demandas de

    todos, no apenas dos acionistas ou proprietrios (ETHOS, 2004). Borger (2001) relatou

    que as empresas que desempenham um papel de liderana por suas iniciativas na reasocial evidenciam que a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) mais do que uma

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    39/112

    26

    srie de iniciativas, gestos ou prticas isoladas motivadas pelo marketing social,

    relaes pblicas ou outros benefcios e afirmou que as iniciativas devem ser um

    esforo sistemtico da empresa para atingir as metas e os objetivos sociais e que os

    programas devem ser vistos como partes integrantes das operaes de negcios das

    empresas, envolvendo o apoio da alta administrao. A falta de clareza sobre a relevn-

    cia estratgica do desempenho social leva indiferena de gerenciamento ou

    subalocao de recursos.

    Como uma estratgia de negcio, a RSC requer o engajamento em um dilogo

    aberto e parcerias construtivas com os vrios nveis do governo, com organizaes

    intergovernamentais, organizaes no-governamentais, outros elementos da sociedade

    civil e, em particular, as comunidades locais. Na sua implementao, as empresas

    devem tomar iniciativas especficas, reconhecendo e respeitando as diferenas de local

    e de cultura, enquanto mantm elevados padres globais e polticas consistentes

    (WBCSD, 2000).

    O conceito de responsabilidade social das empresas vem se consolidando de

    forma multidimensional e sistmica, buscando interdependncia e interconectividade

    entre os diversos stakeholdersligados, direta ou indiretamente, ao negcio da empresa

    (ASHLEY et al., 2000; ASHLEY, 2001). Por conseguinte, o foco se desloca de aes e

    projetos filantrpicos e assistenciais, direcionados comunidade, para uma viso de

    redes de relacionamento desenvolvida a partir de padres de conduta aplicveis

    totalidade das atividades da empresa, ou seja, do planejamento e da implementao das

    atividades existentes inerentes ao negcio.

    Nesse novo contexto, a responsabilidade social associa-se a um conjunto de

    polticas, prticas, rotinas e programas gerenciais que perpassam por todos os nveis e

    operaes do negcio e que facilitam e estimulam o dilogo e a participao perma-

    nentes com os stakeholders, de modo a corresponder com as suas expectativas. Hinterao entre os diversos agentes sociais, abarcando os aspectos econmicos, como

    vem acontecendo classicamente na administrao, e tambm relaes de confiana e

    normas ticas (ASHLEY, 2001).

    De acordo com Melo Neto e Froes (1999), existe uma grande diferena entre as

    aes de responsabilidade social e as aes de filantropia: a responsabilidade social est

    diretamente relacionada com a promoo da cidadania e com a sustentabilidade das

    comunidades.Por sua vez, a filantropia baseia-se em aes assistencialistas que visamcontribuir para a sobrevivncia de grupos sociais desfavorecidos. Alm disso, as aes

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    40/112

    27

    de responsabilidade social abrangem toda a cadeia de negcios da empresa, ou seja, o

    grupo de stakeholders, exigindo periodicidade, mtodo e sistematizao e, princi-

    palmente, gerenciamento efetivo por parte das empresas. J as aes de filantropia se

    restringem a doaes a grupos ou entidades e prescindem de planejamento, organizao,

    monitoramento, acompanhamento e avaliao.

    Segundo Ethos (2004), a filantropia trata basicamente de ao social externa da

    empresa, tendo como beneficirio principal a comunidade em suas diversas formas

    (conselhos comunitrios, ONGs, associaes comunitrias e outras). A responsabilidade

    social foca a cadeia de negcios da empresa e engloba preocupaes com um pblico

    maior, cujas demandas e necessidades a empresa deve buscar entender e incorporar em

    seus negcios. Assim, a responsabilidade social trata diretamente dos negcios da

    empresa e como ela os conduz.

    Apesar de Borger (2001) afirmar que a relao entre desempenho financeiro e

    desempenho social complexa, de acordo com ICSS (2002) vrios estudos associam o

    retorno superior responsabilidade corporativa, sendo decorrente dos seguintes

    benefcios: maior reconhecimento das marcas e melhor imagem junto aos consumidores

    e outras partes interessadas; atuao pr-ativa em antecipao a regulamentaes mais

    restritivas por parte das agncias governamentais; maior produtividade dos empregados,

    em decorrncia de maior motivao, menor absentesmo e giro de pessoal; menor risco

    de litgios legais em relao ao ambiente, empregados e consumidores; e a preocupao

    com a sustentabilidade do negcio um indicador indireto de melhor qualidade

    da gesto empresarial e de que a alta administrao tem um senso estratgico mais

    qualificado que o dos concorrentes.

    Outra evidncia nesse sentido o desempenho dos fundos mtuos de investi-

    mentos em aes de empresas socialmente responsveis, que continuam apresentando

    surpreendente crescimento nos volumes aplicados e, conseqentemente, registrandoaumento expressivo de sua participao sobre o total do mercado destes fundos mtuos.

    De acordo com ICSS (2002), nos Estados Unidos 13% do total de recursos sob gesto

    profissional esto alocados em algum tipo de investimento que envolvem empresas

    socialmente responsveis. Atualmente, esses fundos movimentam mais de 3 trilhes de

    dlares no mercado financeiro (ETHOS, 2005).

    Fombrun et al.(2001) salientaram que no se pode estabelecer uma correlao

    direta entre o desempenho social corporativo e o desempenho financeiro, pois asatividades que geram o primeiro no afetam diretamente a performance financeira, mas

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    41/112

    28

    afetam o estoque de capital reputacional e, conseqentemente, o valor financeiro dos

    ativos intangveis da organizao.

    Por outro lado, o desempenho social inadequado e a falta de polticas bem

    elaboradas de cunho social podem ter srias implicaes organizacionais, acarretando

    prejuzos materiais e morais de modo a aumentar os custos e perder oportunidades de

    mercado. No h como ignorar a responsabilidade social na gesto da empresa, pois a

    questo no parte apenas de uma sensibilizao social e tica, mas, principalmente, de

    sensibilizao econmica, institucional e mercadolgica (LAYRARGUES, 2000).

    O comportamento social das empresas difere de organizao para organizao.

    As crenas e os interesses da alta administrao so diferentes e variam de acordo com

    o ambiente institucional em que a empresa se insere. No existe a convergncia para um

    modelo nico de responsabilidade social. Este deve adotar princpios de transparncia e

    honestidade e se adequar ao tamanho, ao setor e cultura da organizao, sempre de

    acordo com os seus princpios, polticas e valores organizacionais.

    Assim, a integrao das questes sociais na estratgia e nas operaes do

    negcio depende das percepes que se do dentro da organizao, da cultura organi-

    zacional, da liderana e estrutura gerencial, da srie de eventos internos e externos que

    levaram a organizao situao atual e do contexto dentro do qual a organizao

    opera.

    O alinhamento do sucesso empresarial com os princpios da sustentabilidade

    crucial para a integrao das questes sociais na estratgia e nas operaes das

    empresas, e os esforos de integrao devem ser focados onde possa ser criado valor na

    empresa (PARK, 2002).

    Algumas normas e padres vm sendo criados, com patrocnio global, para

    auxiliar as organizaes no gerenciamento das questes sociais. So iniciativas volun-

    trias, desenvolvidas por meio de parcerias que envolvem elementos do setorempresarial, governos, organizaes trabalhistas e organizaes no-governamentais, e

    no esto relacionadas s questes e aos procedimentos de regulao, apesar de muitas

    obterem parte da sua legitimidade pela referncia a convenes e regulamentos

    internacionais. Neste aspecto exemplificam respostas organizacionais inovadoras em

    relao ao atual ambiente sociopoltico empresarial.

    De acordo com McIntosh et al. (2003), essas iniciativas podem ser diferen-

    ciadas em princpios e padres: os princpios so um conjunto de valores abrangentesque sustentam um comportamento, que pela sua natureza no so especficos em termos

  • 7/23/2019 SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE BASE FLORESTAL: O PAPEL DOS PROJETOS SOCIAIS NA INCLUSO DAS COMUNIDADES LOCAIS

    42/112

    29

    comportamentais; os padres, por sua vez, so especficos e defendem um conjunto de

    referncia que devem ser conquistados e se dividem em diferentes tipos:

    Padres de processo: definem os procedimentos que uma empresa

    deveria por em prtica, tais como conduzir um dilogo com os

    stakeholders, como se comunicar com os stakeholders ou desenvolver

    sistemas de gerenciamento.

    Padres de desempenho: definem o que a empresa deveria ou no fazer,

    como o pagamento de salrio mnimo ou a preveno da discriminao.

    Padres de fundamentao: buscam desenvolver os fundamentos para um

    novo campo, descrevendo o que constitui as melhores prticas na rea

    emergente.

    Padres de certificao: estabelecem sistemas que servem para certificar

    as empresas que atendem s especificaes aps uma auditoria indepen-

    dente (terceira parte).

    A vantagem de se ter uma norma de padro internacional que h uma

    padronizao dos termos, uma consistncia nos processos de auditorias, um mecanismo

    para melhoria contnua por meio da participao dos rgos e entidades, alm do

    envolvimento de todas as partes interessadas (HATZ, 2001).

    Dentre essas iniciativas destacam-se no cenrio internacional as normas SA

    8000 e a AA 1000.

    5.1. Socia