Sustentabilidade e Acessibilidade-Relação

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A sustetabilidade e a acessibilidade.

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  • Diagnstico da Escola de Gente Comunicao em Incluso

    Qual a relao entre acessibilidade e sustentabilidade?

    A Escola de Gente Comunicao em Incluso agradece aos(s) seguintes consultores(as) a indispensvel colaborao para a concepo deste diagnstico: Elvis Bonassa, Mariana Khler e Romeu Kazumi Sassaki.

  • Diagnstico: Qual a relao entre acessibilidade e sustentabilidade?

    Toda e... nenhuma. Intrnseca e... opcional. Complexa e... superficial. Urgente e... adivel. Basilar e.... circundante. Comunitria e... individual. Republicana e.. .inconsistente.

    Enfim: Uma relao inexplorada e no reconhecida como estruturante por especialistas, lideranas e gestores das duas reas do conhecimento e que, consequentemente, se apresenta como flutuante, precria ou at contraditria nos processos de reflexo e de tomada de deciso.

    Aps realizao de pesquisa apoiada pela Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos das Pessoas com Deficincia da Secretaria de Direitos Humanos, o diagnstico da Escola de Gente consolida a percepo inicial da organizao, aquela que deu origem pesquisa:

    urgente explorar o potencial da relao acessibilidade sustentabilidade no contexto da garantia de direitos humanos para o avano de polticas pblicas inclusivas e tambm sustentveis. Para a Escola de Gente, no h futuro para o binmio humanidade-planeta sem que a relao entre acessibilidade e sustentabilidade se estabelea e seja aprimorada, de modo que os movimentos por sociedades sustentveis incorporem as necessidades especficas de pessoas com deficincia, e de outras populaes que tambm se beneficiam de recursos da acessibilidade. No h sustentabilidade sem acessibilidade. No h vida sem acessibilidade. No h futuro sem acessibilidade. Este o pensamento da Escola de Gente.

    Maio de 2011 Claudia Werneck

    Fundadora da Escola de Gente Comunicao em Incluso

  • Resumo Executivo da elaborao do diagnstico

    1. Incio e trajetria - reflexes norteadoras

    Este diagnstico parte suplementar de pesquisa realizada pela Escola de Gente com o apoio da Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos das Pessoas com Deficincia da Secretaria de Direitos Humanos e que incluiu a realizao de anlise documental sobre legislao, tendncias, normas e indicadores de sustentabilidade e de acessibilidade. A pesquisa um desdobramento do Termo de Parceria 714364/2009 celebrado entre a Escola de Gente e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica (SDH) para a realizao do I Encontro Brasileiro de Juventude pela Acessibilidade, o I JUVA.

    O I JUVA aconteceu no Rio de Janeiro, nos meses de agosto e setembro de 2010, no mbito do Programa de Juventude pela Incluso da Escola de Gente (que conta com o apoio institucional da Fundacin Avina), e reuniu no Rio de Janeiro 49 jovens - 20 deles(as) com deficincia de 20 cidades de 15 estados de todas as regies do Brasil com o objetivo de form-los(as) como Agentes de Promoo da Acessibilidade. O I JUVA trabalhou a formao da juventude em trs eixos: sustentabilidade; comunicao e cultura e educao. Os resultados do I JUVA deram origem ao livro Polticas Inclusivas: Juventude, Participao e Acessibilidade, a ser lanado no segundo semestre de 2011 tambm em formatos acessveis e objeto do mesmo Termo de Parceria.

    O tema acessibilidade para a sustentabilidade foi um dos temas escolhidos pela Escola de Gente para compor o I JUVA por duas razes:

  • 1) O desejo de contribuir para uma aproximao do Movimento de Cidades Acessveis (da SDH) com o Movimento de Cidades Sustentveis (Plataforma de Cidades Sustentveis);

    2) Dar continuidade ao processo de criao de Indicadores de Participao Humana visando colaborar para a implementao de polticas pblicas inclusivas nos municpios, especialmente naqueles que integram a Plataforma de Cidades Sustentveis.

    Ao propor abordar o tema da sustentabilidade em um Encontro sobre acessibilidade para a juventude, o I JUVA, a Escola de Gente deu continuidade a estudos que j vinha desenvolvendo desde 2008 e que apontavam para estas concluses:

    a) O dilogo entre as reas de sustentabilidade e de acessibilidade, quando acontece, ainda restrito conceitualmente e, portanto, pouco inclusivo, raramente alinhado com os princpios da Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia da ONU, ratificada no Brasil em 2008 com valor constitucional;

    b) H ausncia de estudos, registros e indicadores que apontem a rara convergncia entre as reflexes das reas de sustentabilidade e acessibilidade e indiquem possibilidades de fomentar essa aproximao;

    c) H escassez de estratgias consolidadas para reverter a falta de convergncia entre as reas de sustentabilidade e acessibilidade;

    d) H necessidade de investir na criao de indicadores sensveis o suficiente para captar as especificidades de pessoas com deficincia em seus dilogos com a sociedade. A ausncia de indicadores dessa natureza tem gerado distores na elaborao e na implementao de

  • polticas pblicas e graves danos a crianas, adolescentes e jovens que vivem na pobreza.

    Observao sobre o item d:

    A Escola de Gente vem trabalhando desde 2008 na criao de Indicadores de Participao Humana. A primeira fase do estudo teve o apoio da Save the Children Suecia, Fundacin Avina, Ministrio da Educao e da Organizao dos Estados Iberoamericanos (OEI) e foi inspirado na garantia de direitos humanos por meio da ampla e diversificada oferta de recursos de acessibilidade para pessoas com deficincia, com transtorno global de desenvolvimento e analfabetas, entre outros grupos que igualmente se beneficiam da acessibilidade. Os Indicadores de Participao Humana foram apresentados nos dias 23 e 24 de setembro de 2009, em Braslia, para especialistas da antiga Secretaria de Educao Especial do Ministrio da Educao em uma Oficina de Monitoramento e Avaliao da primeira verso desses indicadores. Alm da equipe e de integrantes do quadro de conselheiros(as) consultivos(as) da Escola de Gente participaram desta oficina como convidados(as) o Fundo das Naes Unidas para a Infncia (Unicef) e o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) da presidncia da Repblica.

    Ao final da Oficina, uma srie de recomendaes foram feitas, entre elas: Aprimorar os indicadores de modo a se tornarem teis para movimentos considerados de interesse pblico, como as redes de cidades sustentveis a partir, por exemplo, de indicadores focados na acessibilidade.

    A Escola de Gente seguiu essa recomendao e decidiu que o tema sustentabilidade deveria ser aprofundado no I JUVA. Para isso, convidou jovens representantes das duas redes: Cidades Acessveis e Cidades Sustentveis. E tambm especialistas nas duas reas para serem entrevistados(as) pela juventude presente ao I JUVA durante Falas Dialogadas.

  • Concluses ps I JUVA

    Ao final do I JUVA, a Escola de Gente apresentou para a Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos das Pessoas com Deficincia um levantamento informal sobre caractersticas dos dois movimentos:

    O movimento de sustentabilidade....

    tem adquirido mais velocidade que o de acessibilidade; mobiliza um conjunto maior e mais diversificado de

    atores nacional e internacionalmente por diversas razes;

    desenvolve-se mais rapidamente medida que as mudanas climticas se intensificam;

    ganhou uma importncia generalizada para a opinio pblica;

    passou a estar presente na mdia diariamente; ainda no percebeu que nada sustentvel sem

    acessibilidade.

    O movimento de acessibilidade...

    no costuma ter uma viso sistmica de seu papel nas reflexes sobre sustentabilidade;

    desperta interesse parcial da opinio pblica e da mdia quando o tema , de fato, incluso, sendo ainda hoje muito difcil encontrar uma reportagem que no reduza o tema da incluso a vises fragmentadas e dicotmicas;

    tem pouca afinidade com o sistema de garantia de direitos, principalmente quando se trata da infncia com deficincia;

    mobiliza poucos e bem definidos atores;

  • ainda se fragiliza por disputas entre os diferentes tipos de deficincia em relao aos investimentos em acessibilidade;

    ainda no percebeu que nada sustentvel sem acessibilidade.

    A partir desse levantamento, a Escola de Gente solicitou Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos das Pessoas com Deficincia um aditivo ao Termo de Parceria em fase de execuo para a realizao de uma pesquisa sobre acessibilidade e sustentabilidade, proposta aceita em novembro de 2010.

    Ao propor a realizao dessa pesquisa, o objetivo da Escola de Gente era:

    Complementar e potencializar a formao dos(as) Agentes de Promoo da Acessibilidade para que pudessem mobilizar com ainda mais segurana e capacidade de dilogo outros(as) agentes de transformao, ampliando desse modo a escala de suas incidncias em quaisquer fruns e instncias de poder.

    Avanar em levantamentos, pesquisas e anlises documentais e de legislao na relao dos temas acessibilidade e sustentabilidade tornando pblico o diagnstico dessa pesquisa, disponibilizado tambm no site da Escola de Gente:www.escoladegene.org.br.

    Avanar no aprimoramento da criao de Indicadores de Participao Humana visando contribuir para qualquer movimento por cidades sustentveis por meio da realizao de uma Cmara Tcnica (que aconteceu no Rio de Janeiro nos dias 3 e 4 de maio de 2011, em fase de sistematizao).

  • 2. Um contexto sustentvel?

    A Escola de Gente Comunicao em Incluso trabalha com a viso de que a acessibilidade, mais do que um instrumental, um direito humano sendo, portanto, eixo estruturante, e no secundrio, de qualquer projeto de sustentabilidade.

    Foi com essa perspectiva que, com a ajuda de consultores(as), a organizao vem realizando uma pesquisa que rene anlise documental sobre legislao, tendncias, normas e indicadores de sustentabilidade e acessibilidade, material que forneceu importantes dados para este diagnstico.

    O texto completo da pesquisa ser entregue Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos das Pessoas com Deficincia, assim como a segunda gerao dos Indicadores de Participao Humana desenvolvidos a partir de insumos recolhidos de quase 50 especialistas e profissionais das reas de acessibilidade, sustentabilidade, direitos humanos, gesto pblica e legislao, entre outras, que participaram da Cmara Tcnica pela Escola de Gente em maio de 2011.

    Sustentabilidade

    No que se refere sustentabilidade, duas terminologias foram pesquisadas: desenvolvimento sustentvel e responsabilidade social.

    Observao: Aqui a Escola de Gente toma a liberdade de utilizar algumas terminologias de modo amplo, reproduzindo pequenos resumos de todo o contedo que foi pesquisado.

  • Desenvolvimento Sustentvel um conceito amplamente aceito que ganhou reconhecimento internacional atravs da publicao, em 1987, do relatrio da Comisso das Naes Unidas em Desenvolvimento e Meio Ambiente: Nosso Futuro Comum. Desenvolvimento Sustentvel significa atender as necessidades das sociedades vivendo no limite ecolgico do planeta sem ameaar a habilidade da gerao futura em atender suas necessidades, o que realizado atravs de trs dimenses interdependentes: econmica, social e ambiental.

    Responsabilidade Social tem a organizao como foco e diz respeito a responsabilidade da organizao com a sociedade e meio ambiente. O objetivo final da atuao socialmente responsvel seria contribuir para o desenvolvimento sustentvel.

    Na primeira parte da anlise documental, a Escola de Gente pesquisou as ferramentas e os indicadores mais importantes no cenrio da responsabilidade social empresarial e os mais utilizadas pelas empresas brasileiras: Indicadores Ethos; ndice de Sustentabilidade Empresarial (ISE); Relatrio de Sustentabilidade Global Reporting Initiative (GRI); o Global Compact das Naes Unidas e as Normas e Diretrizes de Responsabilidade Social ISO 26.000, alm do Censo GIFE 2009/2010.

    Importante relatar que nem todas as informaes e critrios de avaliao de projetos e programas so pblicas, como o caso do Guia Exame de Sustentabilidade que concede uma premiao s 20 empresas-modelo em relao ao seu desempenho econmico financeiro, social e ambiental.

    A Escola de Gente tambm pesquisou a chamada Agenda 2012, da Prefeitura do municpio de So Paulo. um programa de metas para a gesto 2009-2012. Sua elaborao atende s exigncias da emenda n 30 Lei Orgnica do Municpio que foi aprovada pela Cmara Municipal a partir de iniciativa do Movimento Nossa So Paulo.

  • A emenda obriga os prefeitos a apresentarem um programa de metas quantitativas e qualitativas para cada rea da administrao municipal. A Agenda 2012 contm 223 metas para toda a cidade e regies. As propostas esto divididas por eixos: Cidade de Direitos, Cidade Sustentvel, Cidade Criativa, Cidade de Oportunidade, Cidade Eficiente e Cidade Inclusiva. A questo da acessibilidade fsica e comunicacional j aparece na Agenda, ainda que restrita a algumas metas e tipos de deficincias.

    Na segunda parte da anlise, a Escola de Gente observou em que medida a agenda de acessibilidade est presente nos movimentos de cidades sustentveis, reunidos no pas na Plataforma de Cidades Sustentveis, que sistematiza experincias de cidades organizadas em torno de 12 Eixos temticos.

    A misso da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentveis, lanada na cidade de Belo Horizonte no ano de 2008, comprometer a sociedade e sucessivos governos com comportamentos ticos e com o desenvolvimento justo e sustentvel de suas cidades na Rede Brasileira por Cidades Justas e Sustentveis e na Plataforma de Cidades Sustentveis.

    J a Plataforma de Cidades Sustentveis fruto de uma parceria entre a Rede Brasileira por Cidades Justas e Sustentveis, a Rede Nossa So Paulo e a Fundao Avina com o objetivo de inspirar aes de gestores pblicos, empresas e outras instituies atravs de experincias bem sucedidas no mundo.

    Em resumo, o movimento de sustentabilidade marcado pela presena de instrumentos de auto-regulao de carter voluntrio que auxiliam as organizaes a enfrentar desafios de cunho socioambiental e incorporar as expectativas mais amplas da sociedade na conduo dos seus negcios. Tais instrumentos so desenvolvidos nacional e internacionalmente por diversos atores; entre eles universidades, ONGs, empresas, associaes empresariais, organismos de normalizao, organizaes

  • multilaterais e outros que atuam como promotores de mudanas na direo de um modelo de desenvolvimento, que seja sustentvel para a sociedade.

    Acessibilidade

    O componente acessibilidade foi observado a partir de uma viso crtica que buscou saber de que acessibilidade os documentos de sustentabilidade esto falando, uma vez que raramente outras formas de acessibilidade, para alm da arquitetnica e fsica, costumam ser contempladas.

    A Escola de Gente procurou saber em que lugar o tema da acessibilidade est sendo abordado: Direitos humanos? Acesso ao trabalho? Acesso justia? Diversidade e equidade?

    A acessibilidade tambm foi dissociada da palavra incluso, bastante desgastada, e frequentemente utilizada de forma distorcida ampliada ou reduzida nos debates em empresas e fruns de responsabilidade social.

    A expresso negcios inclusivos, por exemplo, no sinaliza em sua definio preocupao com a democratizao de recursos de acessibilidade como parte integrante de qualquer negcio; e sim com a democratizao de acesso a negcios, ao empreendedorismo. Neste caso, percebe-se uma dicotomia na oferta de possibilidades de negcios inclusivos entre quem pobre com quem pobre e tem alguma deficincia ou mobilidade reduzida; ou tem necessidades outras como no saber ler - que lhe impea de criar um negocio inclusivo ou trabalhar nele sem oferta de acessibilidade.

    No que se refere acessibilidade, os principais documentos estudados foram: Decreto Federal n 5.296/04, a Conveno Interamericana para a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao contra Pessoas com Deficincia (Decreto Federal n 396/01, a Conveno sobre os Direitos das Pessoas com

  • Deficincia da ONU ratificada no Brasil com status de Constituio (Decreto Legislativo n 186/08 e Decreto Federal n 6.949/09) e os indicadores do movimento de Cidades Sustentveis, um projeto institudo pela Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos de Pessoas com Deficincia da Secretaria de Direitos Humanos no ano de 2010 com o lema: Cidade Acessvel Direitos Humanos.

    Pioneiro e inovador, o projeto Cidades Acessveis Direitos Humanos parte do princpio que o pleno exerccio da cidadania depende da implementao de polticas pblicas de moradia, transporte, educao, mobilidade urbana, esporte, cultura, lazer, entre outras, esto sendo pensadas de forma inclusiva, removendo barreiras que impedem o acesso de direitos por parte de quem tem deficincia.

    Participam do projeto Cidade Acessvel Direitos Humanos as cidades de Campinas, Fortaleza, Goinia, Joinville, Rio de Janeiro e Uberlndia, que tm o desafio de multiplicar seus conhecimentos e resultados, incentivando outras gestes municipais a implementar polticas pblicas de incluso para pessoas com deficincia em seus territrios. As cinco cidades recebem investimento e consultoria tcnica da Secretaria de Direitos Humanos.

    Cabe aqui ressaltar o significado da aprovao com valor de Constituio da Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia da ONU, em 2008, com mais de dois teros de votao nos plenrios da Cmara e do Senado, fato indito, processo do qual a Escola de Gente participou e que foi liderado com inigualvel sucesso pela gesto da antiga Corde, hoje Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos das Pessoas com Deficincia.

    A Conveno, primeiro tratado internacional a contar com a participao da sociedade civil em seu processo de construo e aprovao, foi assinada pela ONU em 2007 e ratificada no Brasil apenas um ano depois. Tornou-se, assim, o primeiro tratado internacional de direitos humanos a adquirir este status, processo que se deu tambm em outros pases da Amrica Latina.

  • No intuito de valorizar ainda mais a agilidade e o prestgio com que a Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia da ONU foi incorporada legislao brasileira, a Escola de Gente cita informaes do jornal O Globo publicadas no dia 15 de maio de 2011. Segundo o jornal h, no momento, quase meia centena de tratados internacionais aguardando para serem votados pelo congresso brasileiro. Foi assinada h duas semanas a Conveno sobre o Desaparecimento Forado de Pessoas, um dos pilares jurdicos da Organizao dos Estados Americanos (OEA) sobre direitos humanos. O tratado tramitava h 17 anos e torna crime um(a) agente do Estado usar como desculpa seguir ordens ou em misso militar como razo para no ser punido(a) por prender uma pessoa, no comunicar essa priso e ainda priv-la de qualquer tipo de ajuda legal.

    O diagnstico

    Em que medida se d o dilogo entre os movimentos de cidades sustentveis e cidades acessveis?

    De que forma podem contribuir entre si?

    Para elaborar este diagnstico, a partir de estudos, anlises e levantamentos, a Escola de Gente elegeu um grupo estratgico de informaes que foram coletadas com o objetivo de refletir ou no as premissas nas quais o estudo se baseia, ou seja, de que h, de fato, uma ausncia de dilogo entre as reas de acessibilidade e sustentabilidade, o que interfere fortemente na garantia de direitos humanos, como o direito participao, especialmente no que se refere comunicao, mas sem, em qualquer momento, desmerecer outras formas de acessibilidade, como a fsica e a atitudinal.

  • A Escola de Gente optou por tratar a presena de recursos de acessibilidade no contexto da acessibilidade observando processos e resultados.

    Duas perguntas guiaram o trabalho:

    De que forma pessoas com deficincia conseguem exercer seu direito participao nos fruns nos quais se discute sustentabilidade?

    De que forma as decises tomadas nesses fruns leva em conta as necessidades especficas de pessoas com deficincia como sujeitos de direitos?

    No que se refere a primeira pergunta, nossa avaliao apontou para o fato de que raramente h preocupao em garantir recursos de acessibilidade para pessoas com deficincia em fruns e eventos nos quais se discute desenvolvimento sustentvel ou responsabilidade social. Falta acessibilidade fsica e na comunicao. Materiais so impressos apenas em tinta e no costuma haver presena de intrprete de Libras (a Lngua de sinas brasileira) no fruns.

    A falta de acessibilidade na comunicao um dos temas de estudo sistemtico da Escola de Gente, organizao fundada e formada por profissionais da rea de comunicao. nesse sentido que inserimos neste diagnstico, com o objetivo de torn-lo o mais didtico possvel, algumas contribuies sobre o sentido e importncia de se garantir acessibilidade na comunicao.

  • 3. Como acabar com a excluso e promover cidades sustentveis sem transformar a comunicao? Impossvel

    A Escola de Gente acredita que durante a comunicao, para alm do contedo dessa comunicao, que ocorrem os mais graves atos de discriminao em relao a pessoas com deficincia.

    Essa discriminao se d pela ausncia de recursos de acessibilidade na comunicao. Falta material em braile; em meio digital; intrprete da Lngua de sinais; subtitulao e audiodescrio nos teatros, fruns e congressos; livros editados em distintos formatos alm do impresso em tinta, como o udio.

    Segundo a Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia da ONU e Decretos Federais, como o de n 5.296/04, nenhum contedo de uso coletivo ou pblico pode ser editado apenas em tinta.

    Uma obra ou um folder publicados apenas em tinta fortalecem a discriminao que, muitas vezes, o prprio texto dessa obra e desse folder se dizem dispostos a combater.

    Um contedo publicado apenas em tinta se torna excludente ao impedir o acesso informao ali contidas para quem cego(a), tem baixa viso, deficincia intelectual, psicossocial ou mltipla ou, por qualquer outra razo, no possa ler. Uma pessoa sem informao dificilmente tem acesso a bens, servios e direitos oferecidos pelos Estados.

    Um material impresso apenas em tinta pune duplamente quem no teve acesso escola e no aprendeu a ler. A Amrica Latina tm uma enorme populao de jovens e adultos(as) analfabetos(as). No Brasil, so cerca de 2,8 milhes de pessoas, com idade entre 15 e 29 anos, segundo o Censo IBGE do ano de 2000. O analfabetismo de jovens e adultos(as) um dos raros ndices que os ltimos governos no conseguiram reverter.

  • Mas a acessibilidade na comunicao deve ser praticada - e comunicada. Por esta razo, a Escola de Gente informa suas plateias de leitores(as) com mensagens desta natureza:

    Direito acessibilidade

    Por favor, informe a pessoas cegas, com baixa viso, analfabetas ou que por qualquer razo no possam ler o contedo deste material que existe um DVD na terceira capa com os mesmos contedos em meio digital e um vdeo com audiodescrio, lngua de sinais e subtitulao. Essas medidas seguem o disposto na Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia da ONU.

    Em todo o mundo, desenvolvido e em processo de desenvolvimento, falta acessibilidade na comunicao em programas destinados a fomentar a participao democrtica e acesso justia, cultura, sade, educao, vida afetiva e sexual, preveno de DST/Aids, segurana pblica, sustentabilidade, entre outros.

    At mesmo a tecnologia que tanto fascina a humanidade pela sua competncia e velocidade quase sempre provoca mais discriminao, pois aumenta as possibilidades de acesso informao apenas para o mesmo e homogneo grupo de pessoas aquelas que no tm deficincia. Fenmeno que atinge as redes sociais.

    A ausncia de recursos de acessibilidade na comunicao gera discriminao cotidiana e dolorosa. Fere os princpios gerais do Artigo 3 e o Artigo 9 da Conveno da ONU, que se refere acessibilidade em geral, com referncia explcita comunicao.

  • O resultado mais discriminao para quem no se parece com modelos de formas e condies humanas. Discriminao que tem impacto direto no exerccio de outro direito, com o qual a Escola de Gente trabalha: o direito de se comunicar.

    O direito de se comunicar um direito humano negado a pessoas com deficincia pela ausncia de acessibilidade na comunicao.

    Pessoas com deficincia so reais. Tm direito a bens, servios, direitos... Mas sua existncia continua despercebida. A no percepo do grande nmero de pessoas com deficincia no mundo se reflete no modelo de comunicao adotado at por quem discute comunicao. Fruns municipais, estaduais e nacionais de comunicao no tm garantido a pessoas que no enxergam, tem tetraplegia, no ouvem, so analfabetos(as) ou nasceram com uma deficincia intelectual o direito de participar das conversas. Sem acesso informao pessoas com deficincia no podem contribuir criativa e criticamente para o projeto de futuro das naes.

    Um impacto direto da falta de acessibilidade nos planejamentos para um planeta e uma vida humana sustentvel a dificuldade de se encontrar filmes informativos com audiodescrio, subtitulao e Libras e material informativo como folders em meio digital e braile produzido por organismos de cooperao internacional e instituies nacionais de qualquer natureza. Resultado: pessoas com deficincia ficam sem acesso a informaes sobre preveno a acidentes, epidemias e aviso de catstrofes, por exemplo.

    Quem no enxerga e no ouve pode ficar sem proteo para a sua vida? Como proteger populaes de desastres naturais sem ampla oferta de acessibilidade?

    H poucos estudos que comprovem esta informao, mas estima-se, no por acaso, que a populao de pessoas surdas dos pases em desenvolvimento detm um dos maiores ndices de contaminao pelo vrus da Aids.

  • Em desastres naturais, pessoas que j tinham deficincia e tambm aquelas que adquirem deficincia com a tragdia so as primeiras a falecer.

    Falta acessibilidade na comunicao aos sistemas de emergncia em hospitais, empresas, aeroportos, metrs em todo o mundo.

    Em resumo, a no garantia do direito acessibilidade est intimamente relacionada ao no exerccio do direito vida, especialmente de quem tem deficincia e vive na pobreza.

    Crianas e jovens com deficincia e pobres so um dos alvos preferidos da violao de direitos humanos no planeta. So, tambm, as vtimas mais comuns de desastres naturais, guerras civis e conflitos armados. Moram em locais perigosos sem gua, comida, acesso sade, educao, cultura, esporte, lazer e saneamento... Enfrentam riscos dirios que agravam suas limitaes. A tendncia ficarem mais pobres.

    Como acabar com este cenrio de excluso sem mudar a comunicao? Impossvel.

    Como discutir sustentabilidade sem prever acessibilidade?

    Segundo a ONU, nos prximos 30 anos, o nmero de pessoas com deficincia ir aumentar 120% nos pases em desenvolvimento; e 40% nos pases desenvolvidos. Com seus modos de vida, orientao sexual, religio, estado civil, vocao para esporte ou msica, pessoas com deficincia tm o direito ao planeta e de nele viver com dignidade.

    Tendo em vista que a ausncia de acessibilidade na comunicao impede a liberdade de expresso e interfere negativamente no processo democrtico, a Escola de Gente deduz que as reflexes sobre sustentabilidade, por no garantirem acessibilidade na

  • comunicao, impedem a participao de uma populao de pelo menos 24 milhes de pessoas com deficincia (provavelmente sero 27 milhes de pessoas pelo Censo IBGE 2010, que ainda no liberou essas informaes).

    Este fato, no entendimento da Escola de Gente, coloca em risco as decises tomadas, porque provavelmente ( impossvel garantir, apenas supor...), tais decises no levam em conta as necessidades especficas de pessoas com deficincia em suas relaes de vida no planeta. Contemplar essas necessidades especficas significa mudar planejamento e, tambm, oramentos.

    O desempenho econmico uma das dimenses adotadas por organizaes e redes que pensam a sustentabilidade no mundo como a Global Reporting Initiative, a GRI. A GRI uma instituio multistakeholder com sede em Amsterd e que se utiliza do dilogo intersetorial para sistematicamente aprimorar seus indicadores.

    A misso da GRI consiste em desenvolver e disseminar globalmente diretrizes para a elaborao de relatrios de sustentabilidade. Essas diretrizes so de uso voluntrio para as organizaes que desejam relatar, para alm dos aspectos financeiros de suas atividades, produtos e servios, tambm as dimenses sociais e ambientais. A GRI a metodologia mais difundida e adotada atualmente na elaborao de relatrios de sustentabilidade em todo o mundo. A Escola de Gente participou de algumas etapas do processo de construo da GRI no Brasil.

    Para a GRI, o desempenho econmico de uma empresa no medido apenas por demonstraes financeiras, mas sim pelo quanto aquela organizao contribui para um sistema econmico mais amplo. Por exemplo, como se d o fluxo de capital entre diferentes stakeholders de uma empresa? Caso a empresa no tenha um site com acessibilidade e no produza toda a sua comunicao de marketing e publicidade com essa preocupao, com certeza o fluxo de capital entre ela e potenciais

  • consumidores(as) de seu servio ou produto ficar extremamente reduzido e ela deveria ser mal avaliada nessa item.

    O quanto um projeto deve investir em acessibilidade para garantir direitos humanos a pessoas com deficincia?

    lei, mas muitas decises ainda so tomadas de forma pessoal e dependem do valor humano, social, poltico ou econmico atribudo a pessoas com deficincia por quem lidera cada processo de tomada de deciso. Pode ser um(a) especialista em poltica pblica, o(a) gestor(a) financeiro(a) de uma escola, a liderana comunitria que est organizando um evento cultural. Por falta de informao, as polticas, as leis e a Constituio brasileira so desrespeitadas.

    4. Polticas pblicas inclusivas so necessariamente sustentveis?

    Para a Escola de Gente, uma poltica pblica inclusiva aquela capaz de atender s necessidades de acessibilidade de qualquer ser humano em dilogo com seus territrios de origem, nos quais vivem e se relacionam, presencial ou virtualmente, em infinito processo de adaptao e participao republicana.

    No Brasil, poucas polticas de Estado so, de fato, polticas inclusivas. Quando se trata de pessoas com deficincia e de uma proposta de efetiva incluso, investimentos considerados fundamentais nesta perspectiva facilmente podem passar a ser percebidos, indevidamente, como custos extras e, portanto, adiveis. A opinio pblica e a mdia, incluindo formadores(as) de opinio de diversas reas no desenvolveram viso analtica e crtica para entender e apoiar a implementao de polticas pblicas inclusivas.

    Muitas vezes o governo avana, a legislao avana, mas no a sociedade.

  • Qual a efetiva contribuio da acessibilidade para a sustentabilidade?

    Segundo definio do relatrio Brundtland, importante marco regulatrio do movimento de sustentabilidade, o objetivo do desenvolvimento sustentvel satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir suas prprias necessidades.

    Por essa definio, a Escola de Gente entende que a acessibilidade que d legitimidade a processos e a resultados, tornando-os, portanto, sustentveis.

    a oferta de acessibilidade que garante a participao de qualquer pessoa com deficincia, sem escolaridade, com transtornos globais de desenvolvimento, em fase de recuperao por causa de um acidente ou que precise estar nos lugares com uma criana no colo, entre outras situaes to comuns - no que est sendo pensado, proposto, construdo.

    Pode ser uma lei federal, a reforma de um parque ou a criao de uma rede de cidades sustentveis; independentemente da etapa do processo ou da meta, e do enfoque dado - mais ambiental, social ou econmico - a acessibilidade parte da sustentabilidade, embora o fato de uma poltica ser inclusiva no a torne, necessariamente, sustentvel.

    Um modo efetivo de se avaliar o quanto uma poltica, uma instituio ou uma pessoa avanaram na implementao de no monitoramento da acessibilidade, como pressuposto da incluso, por meio de anlises oramentrias.

    Literal e metaforicamente, o mundo j sabe quanto custa discriminar crianas, adolescentes, jovens, adultos e idosos com deficincia. So os oramentos que temos hoje, nos quais

  • investimentos de ajudas tcnicas e tecnologias assistivas raramente aparecem. So oramentos pblicos que impedem a participao com autonomia de que no anda, no ouve, no fala, no raciocina do modo esperado, no consegue aprender a ler por conta de uma deficincia psicossocial.

    Discriminar custa muito caro - no corao e no bolso. caro para as pessoas e caro para as naes, empresas, famlias, escolas, instituies... Emocionalmente, esse dano est relacionado humilhao imposta a pessoas com deficincia, principalmente quelas que vivem na pobreza e que, por no acessarem os sistemas pblicos de sade ou educao, entre outros, esto sempre com suas vidas sob enorme risco. Objetivamente, o custo da discriminao feita pelo Estado, ou por qualquer grupo, pode ser calculado, em nmeros, pela ausncia de rubricas de acessibilidade fsica e na comunicao nos oramentos. Os oramentos pblicos atuais nos dizem exatamente quando custa discriminar. Agora precisamos saber quanto custa no discriminar. um dos estudos que a Escola de Gente vem desenvolvendo.

    Todas as convenes de Direitos Humanos de algum modo solicitam proteo contra discriminao. Mas, at onde a Escola de Gente tenha pesquisado, no relacionam o enfrentamento discriminao a mudanas estruturantes nos oramentos pblicos das naes.

    At mesmo a Conveno da ONU, que se no estabeleceu novos direitos definiu com clareza quais so as obrigaes dos Estados para promover, proteger e garantir direitos universais a quem tem uma deficincia, no deu o devido valor aos chamados oramentos pblicos inclusivos aqueles que contemplam as necessidades especficas de comunicao e outras de quem tem deficincia sensorial, intelectual, mltipla, por exemplo. H apenas uma referncia garantia dos direitos econmicos de pessoas com deficincia no Artigo 4 das Obrigaes Gerais.

  • A Conveno da ONU ratifica que os Estados-Membros no devem discriminar pessoas com deficincia e define que a garantia da acessibilidade nos ambientes fsicos e naqueles relacionados tecnologia da informao e da comunicao uma medida importante para atingir este objetivo.

    Mas como garantir tecnologia e acessibilidade sem alterar os oramentos?

    Oramentos pblicos inclusivos so particularmente decisivos quando se trata dos direitos da infncia. A infncia o sujeito de direitos mais precioso do planeta. A Conveno dos Direitos da Infncia talvez seja a nica das convenes internacionais a reconhecer que crianas com deficincia necessitam de proteo extra para no serem discriminados(as) em funo de suas deficincias. Omite-se, entretanto, tambm, em relao a oramentos inclusivos.

    5. Planeta e humanidade polticas de conexo

    Para um futuro sustentvel preciso considerar o binmio planeta-humanidade como algo indivisvel. Um sistema nico e interligado no qual a espcie humana exercita duplamente a sua tica: frente prpria espcie e frente Terra, que a acolhe.

    Tem sido mais fcil para a espcie humana, mesmo com mltiplas dificuldades e atrasos, caminhar na direo da tica com o planeta. Diante de outro ser humano, principalmente se ele tem alguma deficincia, muitas convices ticas, ao serem testadas, desaparecem ou pelo menos se fragilizam.

    Por isso interessante valorizar o movimento que alguns setores da rea dos direitos humanos tm feito de se aproximar das empresas, o que recente na histria do Brasil, levando para a rea empresarial a

  • perspectiva da incluso de pessoas com deficincia. Direitos humanos para todo e qualquer humano um bom lema a ser fortalecido quando se acredita que no h sustentabilidade possvel para o binmio planeta-humanidade sem a presena, as contribuies e o acesso de pessoas com deficincia a bens, servios e direitos. Para a Escola de Gente no h desenvolvimento sem sustentabilidade. No h vida sem sustentabilidade. No h sustentabilidade sem acessibilidade.

    H uma dvida a ser paga pela sociedade a pessoas com deficincia.

    Mas ningum paga uma dvida se no a reconhece como sua.

    A sociedade reconhece apenas parte de suas dvidas. Entre elas com as crianas que passam fome.

    Mas o mundo no se percebe em dvida com crianas com deficincia intelectual que esto fora da escola e que no sabem ler, por exemplo. Este continua sendo um problema das famlias. Para a Escola de Gente, ao contrrio, um problema da rea de sustentabilidade e de responsabilidade social.

    Por exemplo, quando as empresas apiam projetos de educao sem garantir que sejam, de fato, inclusivos, so de algum modo cmplices na formao de novas geraes de crianas com deficincia que se tornaro jovens e adultos sem escolaridade, sem condies de trabalhar e de viver com dignidade.

    6. Concluso

    1. A Escola de Gente entende que ainda no h afinidade conceitual e convergncia entre os movimentos de acessibilidade e sustentabilidade no Brasil e, portanto, cumplicidade entre especialistas e lideranas das duas reas para a criao de estratgias conjuntas que objetivem a criao de polticas pblicas inclusivas sustentveis para todas as condies humanas.

  • 2. No Brasil e no mundo, entretanto, j h esforos importantes no sentido de inserir o tema da incluso de pessoas com deficincia nos sistemas que certificam o desenvolvimento sustentvel e a responsabilidade social das empresas. A ISO 26.000, por exemplo, lanada internacionalmente no final de 2010 e como norma da ABNT em janeiro de 2011, considera a Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia da ONU como um dos sete instrumentos internacionais essenciais para a garantia dos direitos humanos. Mesmo que a urgncia na oferta de acessibilidade no seja claramente explicitada, um avano importante.

    3. O tema incluso de pessoas com deficincia, com raras referncias acessibilidade geralmente acessibilidade fsica - aparece de forma dispersa e difusa em perspectivas diversas nos documentos do movimento de sustentabilidade, tanto na rea empresarial quanto no que se refere a Rede de Cidades Sustentveis.

    4. A palavra incluso nem sempre utilizada para se referir a presena e participao de pessoas com deficincia. Pode ser usada apenas em relao a quem vive em situao de vulnerabilidade econmica, como acontece a negcios inclusivos. Neste caso, no h relao direta com acessibilidade.

    5. A acessibilidade est praticamente fora dos oramentos pblicos e privados brasileiros, tambm daqueles que se destinam a programas de sustentabilidade.

    6. No h preocupao sistemtica e abrangente em garantir a pessoas com deficincia o direito de participar de fruns municipais e estaduais nos quais se discute acessibilidade. Nem sempre h ampla e diversificada oferta de acessibilidade.

    7. No h preocupao sistemtica e abrangente em garantir a pessoas com deficincia o direito de participar de fruns e eventos nos quais se discute desenvolvimento sustentvel ou responsabilidade social. Falta acessibilidade fsica e na comunicao. Reunies so realizadas em locais sem entrada e

  • banheiros acessveis, materiais distribudos so impressos apenas em tinta e no costuma haver presena de intrprete de Libras (a Lngua de sinas brasileira) ou audiodescritor(a).

    8. A sociedade ainda cr que apenas dos governos a responsabilidade de arcar com a oferta de acessibilidade. Ao contrrio, de acordo com a Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia da ONU cabe a todos os segmentos da sociedade a responsabilidade pela promoo da acessibilidade para pessoas com deficincia. O Estado legisla, o governo estabelece polticas para a promoo desse direito, inclusive criando linhas de financiamento especficas para o desenvolvimento de tecnologias; e o empresariado assume seus custos junto a stakeholders internos(as) e externos(as) para contemplar a acessibilidade.

    9. No h planejamento nem previso oramentria nas polticas pblicas para a garantia do direito de se comunicar a pessoas com deficincia. A vontade poltica que grupos e governos expressam de avanarem para a prtica de uma sociedade inclusiva no costuma se expressar nos seus planejamentos e oramentos.

    10. As plataformas conceituais e os indicadores utilizados pelos movimentos e organizaes por cidades acessveis no relacionam a presena de acessibilidade como condio para que as cidades sejam sustentveis.

    11. A acessibilidade na comunicao um tema pouco conhecido mesmo entre os movimentos que atuam pela incluso de pessoas com deficincia.

    12. Persiste a ideia de que um oramento acessvel caro. Ao contrrio, apenas leva em conta a multiplicidade da existncia humana, ou seja, trabalha a partir do real, e no do desejvel.

  • 13. As plataformas conceituais e os indicadores utilizados pelos movimentos por cidades sustentveis raramente levam em conta as necessidades especficas de pessoas com deficincia em suas formulaes de indicadores.

    14. O movimento pela acessibilidade tem pouca visibilidade no movimento de sustentabilidade. O contrrio tambm acontece. O dilogo entre os dois movimentos limitado.

    15. O tema sustentabilidade praticamente no aparece nos documentos nacionais e internacionais que se referem acessibilidade e incluso.

    16. As redes por cidades acessveis e por cidades sustentveis no se reconhecem como agentes de um mesmo espao cidado.

    17. No mbito do desenvolvimento sustentvel e da responsabilidade social, o tema acessibilidade pouco aparece. Quando aparece, costuma estar vinculado a polticas de incluso de pessoas com deficincia, polticas de trabalho e emprego, valorizao da diversidade, polticas de no-discriminao, aes afirmativas e dilogo com a sociedade, quase sempre no universo das empresas.

    18. As normas que regem os movimentos de sustentabilidade raramente levam em conta a existncia de pessoas com deficincia. Muitas decises estratgicas vem sendo tomadas ignorando essa populao.

    19. Os movimentos de acessibilidade e incluso no tm uma viso sistmica de suas contribuies para a sociedade, reduzindo o significado do que pensam e prope e, portanto, correndo riscos de aumentarem a distncia conceitual entre acessibilidade e sustentabilidade.

    20. Os movimentos de sustentabilidade e de responsabilidade social ainda se referem acessibilidade como um instrumental importante apenas para pessoas com deficincia, e no para outros grupos.

  • 21. A palavra acessibilidade ainda tem uma conotao eminentemente de acessibilidade fsica.

    22. As sociedades continuam criando sistemas de garantias de direitos que ignoram a existncia da infncia que tem deficincia, especialmente daquela que vive na pobreza.

    7. Contribuio final

    A ausncia de ampla e diversificada oferta de acessibilidade em todos os momentos da vida em sociedade, principalmente de acessibilidade na comunicao, parece indicar que a participao de pessoas com deficincia est sendo pensada como de menos valor em relao a pessoas sem deficincia. Por que? Porque sem previso de acessibilidade as possibilidades de participao de pessoas com deficincia inexiste. No possvel optar entre sustentabilidade e acessibilidade. Sem acessibilidade, mesmo que haja presena, no h dignidade nem participao. Sem participao, no h sustentabilidade possvel. A Escola de Gente considera arriscado para governos e sociedades continuarem tomando decises estratgicas ignorando parte de seu pblico beneficirio. No caso do Brasil, como pensar o futuro desprezando as necessidades especficas de locomoo, moradia, comunicao e mobilidade, entre outras, de quase 27 milhes de pessoas com deficincia que s podem estar nos lugares, navegar pela internet ou dar sua opinio graas acessibilidade fsica e na comunicao? a oferta de acessibilidade que d legitimidade a processos e a resultados, tornando-os, portanto, sustentveis. a oferta de acessibilidade que garante a participao democrtica de qualquer pessoa com deficincia, sem escolaridade, com transtornos globais de desenvolvimento, em fase de recuperao por causa de

  • um acidente ou que precise estar nos lugares com uma criana no colo, entre outras situaes to comuns - no que est sendo pensado, proposto, construdo. Pode ser uma lei federal, a reforma de um parque ou a criao de uma rede de cidades sustentveis; independentemente da etapa do processo ou da meta, e do enfoque dado - mais ambiental, social ou econmico - a acessibilidade parte da sustentabilidade.

    Como fazer para que o tema acessibilidade, como instrumental e/ou direito, seja incorporado ao desenvolvimento de marcos tericos e de indicadores por quem hoje pensa a sustentabilidade no mundo acadmico e fora dele, como nos eventos de responsabilidade socioambiental?

    Desafio, tambm para a Escola de Gente. Nessa direo, a organizao tem atuado de distintas formas: 1) Tenta estreitar o dilogo entre sustentabilidade e acessibilidade; 2) Investe na formao de uma juventude brasileira apta para pensar o planeta com esse olhar.

    3) Aperfeioa seus Indicadores de Participao Humana, focados na ampla e diversificada oferta de acessibilidade, com a colaborao de especialistas em acessibilidade e sustentabilidade, entre outros(as).

    A Escola de Gente agradece antiga Corde e a atual Secretaria Nacional de Promoo dos Direitos das Pessoas com Deficincia da Secretaria de Direitos Humanos o apoio para a realizao de mais uma etapa dessa caminhada. Obrigada aos(s) demais parceiros(as) e consultores(as).

    Claudia Werneck Fundadora da Escola de Gente Comunicao em Incluso