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*Autor para correspondência / Author for correspondence / Autor para la correspondencia: Rua José Martins de Oliveira, 08 Chafariz, Pocinhos - PB /Brasil CEP 58150-000 Tel 55 83 9176 6684 Data do recebimento do artigo: 26/10/2013 Data do aceite de publicação: 26/01/2014 Desk Review Double BlindReview Abstract on the last page Resumen en la última página RMS – Revista Metropolitana de Sustentabilidade Volume 4, número 2 – 2014 ISSN: 2318-3233 Editor Científico: Celso Machado Júnior Avaliação: Melhores práticas editoriais da ANPAD Endereço: http://www.revistaseletronicas.fmu.br/ SUSTENTABILIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL COOPERATIVA DE AGRICULTORES FAMILIARES NO AGRESTE DA PARAÍBA Jaqueline Guimarães Santos* Mestre em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. [email protected] Gesinaldo Ataíde Cândido. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. [email protected] RESUMO O cooperativismo é um modelo de economia solidária que procura maximizar o predomínio do fator trabalho sobre o fator capital, esta pode ser composta por associados, produtores autônomos ou produtores que formam unidades produtivas comuns (Oliveira 2007). Na agricultura o papel do associativismo apresenta relevância, haja vista a dificuldade que o agricultor tem para a execução de suas atividades. Nesse sentido, o objetivo desse estudo é analisar como a formação de associação cooperativa fortaleceu os agricultores familiares do Agreste da Paraíba. Os dados foram coletados através de entrevistas realizadas junto aos agricultores e complementadas com a análise de dados secundários e da observação não participante. Os principais resultados apontam que a formação da Associação de Desenvolvimento Econômico, Social e Comunitário (ADESC) dos produtores rurais do Município de Lagoa Seca, PB fortaleceu estes, de modo que a associação apresenta resultados positivos e foi incluída no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Palavras-chave: Cooperativismo; Agricultores familiares; Políticas públicas.

Sustentabilidade e Participação Social Cooperativa de Agricultores Familiares No Agreste Da Paraíba

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Agricultura

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  • *Autor para correspondncia / Author for correspondence / Autor para la correspondencia: Rua Jos Martins de Oliveira, 08 Chafariz, Pocinhos - PB /Brasil CEP 58150-000 Tel 55 83 9176 6684

    Data do recebimento do artigo: 26/10/2013 Data do aceite de publicao: 26/01/2014

    Desk Review Double BlindReview

    Abstract on the last page Resumen en la ltima pgina

    RMS Revista Metropolitana de Sustentabilidade

    Volume 4, nmero 2 2014

    ISSN: 2318-3233

    Editor Cientfico: Celso Machado Jnior

    Avaliao: Melhores prticas editoriais da ANPAD

    Endereo: http://www.revistaseletronicas.fmu.br/

    SUSTENTABILIDADE E PARTICIPAO SOCIAL COOPERATIVA DE

    AGRICULTORES FAMILIARES NO AGRESTE DA PARABA

    Jaqueline Guimares Santos*

    Mestre em Administrao pela Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.

    Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.

    [email protected]

    Gesinaldo Atade Cndido.

    Doutor em Engenharia de Produo pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.

    Universidade Federal de Campina Grande, Brasil.

    [email protected]

    RESUMO

    O cooperativismo um modelo de economia solidria que procura maximizar o predomnio do fator

    trabalho sobre o fator capital, esta pode ser composta por associados, produtores autnomos ou

    produtores que formam unidades produtivas comuns (Oliveira 2007). Na agricultura o papel do

    associativismo apresenta relevncia, haja vista a dificuldade que o agricultor tem para a execuo

    de suas atividades. Nesse sentido, o objetivo desse estudo analisar como a formao de associao

    cooperativa fortaleceu os agricultores familiares do Agreste da Paraba. Os dados foram coletados

    atravs de entrevistas realizadas junto aos agricultores e complementadas com a anlise de dados

    secundrios e da observao no participante. Os principais resultados apontam que a formao da

    Associao de Desenvolvimento Econmico, Social e Comunitrio (ADESC) dos produtores rurais

    do Municpio de Lagoa Seca, PB fortaleceu estes, de modo que a associao apresenta resultados

    positivos e foi includa no Programa de Aquisio de Alimentos (PAA).

    Palavras-chave: Cooperativismo; Agricultores familiares; Polticas pblicas.

  • Jaqueline Guimares Santos & Gesinaldo Atade Cndido

    Revista Metropolitana de Sustentabilidade - RMS, So Paulo, v. 4, n. 2, p. 47-63, maio/ago. 2014. 48

    INTRODUO

    A agricultura uma atividade agrcola indispensvel, visto que por meio desta assegurado

    que o alimento seja produzido para ser consumido pelos indivduos. Com o objetivo de produzir

    altas quantidades, esta atividade vem gerando algumas consequncias ao meio ambiente, devido

    principalmente ao uso excessivo de agrotxico, como por exemplo, a contaminao dos lenis

    freticos, empobrecimento do solo, dentre outros.

    Desse modo, visvel que o modelo agrcola adotado era insustentvel e, em meio a tantas

    discusses sobre desenvolvimento sustentvel, necessrio que a atividade agrcola seja

    reorientada, preservando os agroecossistemas, a fim de combinar a produo de alimentos e fibras

    com a sustentabilidade (Santos & Cndido, 2013).

    Assim sendo, uma das formas de atividade agrcola, esta apoiada nos princpios de

    sustentabilidade, quais sejam: equilbrio e equidade entre as dimenses ambiental, social e

    econmica a agroecologia. Sua premissa bsica uma produo ambientalmente sustentvel,

    socialmente justa e economicamente vivel. Esta, por sua vez, faz entender a agricultura como um

    processo de construo social e no simplesmente como a aplicao de algumas tcnicas, da a

    importncia do desenvolvimento sustentvel no meio rural (Sevilla Guzmn, 1999).

    Segundo Caporale Costabeber (2004), a Agroecologia uma cincia para o futuro

    sustentvel, haja vista que a agroecologia integra e articula conhecimentos de diferentes cincias,

    assim como o saber popular, permitindo tanto a compreenso, anlise e crtica do atual modelo do

    desenvolvimento e de agricultura industrial, como o desenho de novas estratgias para o

    desenvolvimento rural e de estilos de agriculturas sustentveis, com uma abordagem

    multidisciplinar e holstica.

    Acredita-se que prticas pautadas pelos conhecimentos agroecolgicos so componentes

    chaves de um caminho em direo agricultura sustentvel, ou seja, uma agricultura que promova o

    desenvolvimento rural e social, sem extinguir os recursos naturais.

    O modelo de agricultura sustentvel aqui percebido como prximo do modelo da

    agricultura familiar. Neste sentido, a agroecologia passa por uma transformao da sociedade, e o

    fortalecimento da agricultura familiar com a reestruturao fundiria do pas (Moreira, Adami, &

    Rudorff, 2004).

    As mudanas decorrentes do processo de globalizao no Brasil geram a vulnerabilidade da

    economia, a fragmentao da sociedade, a excluso e o desemprego. Assim, o fortalecimento da

    agricultura familiar pode colaborar para incluso social, desenvolvimento econmico e elevao dos

    ndices de capital social. Para tanto, faz-se necessria a unio, a cooperao dos agricultores a fim

    de se fortalecerem enquanto grupo social (Nazzari, Miyazaki & Bordin, 2008).

    Para Nazzari (2003) a valorizao da cultura local no meio rural poderia contribuir para

    promover nos cidados ndices favorveis de capital social, este capital entendido como um

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    processo e instrumento de cidadania que pode mudar as relaes pessoais e intercmbios sociais que

    gerem mais redes de cooperao e solidariedade (Baquero, 2001).

    As principais variveis do capital social so: confiana, cooperao e a participao poltica

    dos cidados, que colaboram para incrementar polticas pblicas a fim de que estas se tornem

    eficazes para o desenvolvimento das comunidades (Nazzari, Caminati, Antunes, Silva & Teodoro,

    2004).

    Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo analisar como a formao de associao

    cooperativa fortaleceu os agricultores familiares do Agreste da Paraba. Entende-se que a aquisio

    de gneros alimentcios produzidos por agricultores locais, atravs da utilizao de polticas e

    programas pblicos, um componente importante para promover o desenvolvimento local da

    agricultura baseada em preceitos agroecolgicos.

    O estudo caracterizado como um estudo exploratrio e descritivo, sob a forma de um

    estudo de caso na Associao de Desenvolvimento Econmico, Social e Comunitrio (ADESC),

    localizada em Lagoa Seca - PB. Os atores sociais pesquisados constituram-se dos produtores

    vinculados a associao, envolvendo a realizao de entrevistas a partir de um roteiro

    semiestruturado, complementados com dados secundrios e da observao no participante.

    Como forma de melhor compreenso, esse artigo est dividido em cinco sees. Alm da

    presente introduo, a segunda seo trata do referencial terico, em seguida apresentado os

    procedimentos metodolgicos para a realizao da pesquisa, logo aps a anlise e apresentao dos

    resultados e, por fim, a quinta seo trata das consideraes finais.

    REFERENCIAL TERICO

    Esta seo trata dos principais temas e tericos sobre a temtica em discusso, quais sejam:

    Agricultura e Sustentabilidade, Agricultura familiar e sua vinculao com Participao Social

    Cooperativa, e por ltimo as polticas pblicas para a Agricultura Familiar.

    Agricultura e Sustentabilidade

    A busca pelo desenvolvimento sustentvel vem sendo difundida h algum tempo, pois no

    final da dcada de 60 em diversas partes do planeta, um novo modelo de agricultura, identificado

    como a Revoluo Verde, foi implantado. Este modelo se baseou na intensificao e na

    especializao da produo, isto , no aumento do rendimento da terra, da mo-de-obra e na

    monocultura de produtos vegetais, fazendo uso de sementes geneticamente melhoradas, fertilizantes

    qumicos, moto-mecanizao, pesticidas, herbicidas e irrigao.

    A Revoluo Verde foi um processo de modernizao agrcola por meio dos quais os pases

    pobres puderam aumentar a produo e a produtividade da sua agricultura. Esse processo de

    mudana se assentou no chamado pacote tecnolgico, ou seja, um conjunto de recomendaes

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    tcnicas que incluam o uso de sementes melhoradas geneticamente e o uso intensivo de qumicos e,

    que este deveria resolver o problema da fome nesses pases (Santos, Gama, Faria, Souza, Melo,

    Ochaves & Neto, 2005).

    Assim, compreende-se que a agricultura convencional resulta em srios problemas para o

    meio ambiente, tendo esta como principal objetivo o alcance de alta produtividade agrcola, sem se

    preocupar com os impactos causados. No entanto, a crise socioambiental deste final de sculo

    colocou em xeque as bases tericas e metodolgicas que sustentaram o estabelecimento do atual

    modelo de crescimento econmico e sua reiterada inobservncia dos limites impostos pela natureza,

    especialmente no que concerne aos meios de produo (Oliveira, 2007).

    Desse modo, faz-se necessrio uma mudana na estrutura dos meios de produo

    conciliando-os com o desenvolvimento sustentvel local, seja urbano ou rural. Nesse contexto o

    ideal de sustentabilidade apoiado nos princpios de uma agricultura sustentvel exige entender a

    agricultura como um processo de construo social e no simplesmente como a aplicao de

    algumas tecnologias, da a importncia do desenvolvimento sustentvel no meio rural (Sevilla

    Guzmn, 1999).

    Assim sendo, aponta-se a Agroecologia como uma prtica agrcola que no impacta o meio

    ambiente e considera os princpios de sustentabilidade, quais sejam: o equilbrio e equidade entre as

    dimenses ambiental, social e econmica, de modo que contribui para o alcance do

    desenvolvimento sustentvel rural.

    A Agroecologia um campo de conhecimentos de carter multidisciplinar, com princpios,

    conceitos e metodologias que permitem estudar, analisar, construir, orientar e avaliar agrossistemas

    familiares, caracterizados pela agricultura familiar, para o processo de transio do modelo de

    agricultura convencional para estilos de agricultura ecolgica ou sustentvel (Vasconcelos, 2008),

    conforme ser discutido na seo seguinte.

    Agricultura Familiar

    Nos anos de 1960, a modernizao agrcola afetou bastante a explorao familiar que, em

    grande parte, foi excluda de tal processo. O Estado direcionou suas polticas pblicas,

    representadas, sobretudo, pelas polticas de crdito, pesquisa agropecuria e extenso rural para a

    grande produo em favor dos agricultores patronais, fator que foi fundamental na consolidao

    desse modelo modernizante. A agricultura familiar, por sua vez, enfrentou e ainda enfrenta

    dificuldades de acesso s tecnologias e ao capital, diminuindo sua capacidade de influenciar as

    decises pblicas, marginalizando-se no aspecto socioeconmico (Guanziroli, 2001).

    A denominao agricultura familiar recente na literatura e nos trabalhos cientficos

    brasileiros. J foi designada de agricultura camponesa, de pequena produo, entre outros

    termos, adquirindo fora e notoriedade nos anos 1990, pela ao de movimentos sociais

    organizados e a partir da criao do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

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    (PRONAF), em 1996, quando passou a ser reconhecida de fato e de direito pelo Estado (Schneider,

    2003).

    Sabe-se que a agricultura familiar uma forma social de produo capaz de se desenvolver

    no interior das mais diferentes formaes econmico-sociais, e, por mais que foras internas tentem

    determinar o comportamento interno da unidade produtiva, estas foras dependem do que acontece

    no meio externo dessas unidades (Domiciano, 2007).

    Segundo Oliveira (2007), a agricultura familiar uma das principais responsveis pela

    manuteno do agricultor no campo e, por conseguinte, a diminuio do xodo rural, justamente por

    sua maior capacidade gerencial, pela sua flexibilidade e, sobretudo, por sua maior aptido para a

    diversificao das culturas.

    Recentemente, alguns trabalhos foram realizados com o intento de analisar a situao da

    agricultura familiar no Brasil. Eles mostram que existe uma grande variao dessas exploraes e

    que elas no podem ser compreendidas como um padro nico, devendo-se levar em considerao a

    diversidade dos ambientes socioeconmico-culturais em que esto inseridas, que vo interferir

    diretamente nas formas de produo e nos valores que orientam as estratgias e decises a serem

    tomadas. Assim, constata-se que uma grande parcela dos agricultores familiares se encontra

    desassistida e demanda alguma forma de apoio para conseguir sua insero no mercado (Guanziroli,

    2001; Lamarche, 2007; Baiardi, 2009).

    Nessa perspectiva, a participao de agricultores familiares em cooperativas constitui uma

    forma de luta social contra um processo de dominao e explorao econmica, promovendo assim

    o fortalecimento dos produtores familiares. Surge essa necessidade a partir de alguns aspectos, tais

    como: os problemas da baixa produtividade, socializao do conhecimento, pela proximidade dos

    locais de trabalho (sistemas agroeclogicos) e, por fim a necessidade de unir foras a fim de superar

    os obstculos, cujos princpios devem estar aliados ao esprito de solidariedade e democracia.

    Assim, espera-se que a formao de cooperativas auxilie na promoo e maior participao

    social dos agricultores familiares como forma de torn-los mais fortes enquanto classe social.

    Abramovay (2000, p. 61) afirma que a participao social o processo mediante o qual as diversas

    camadas sociais tomam parte na produo, na gesto e no usufruto dos bens de uma sociedade

    historicamente determinada.

    Agricultores Familiares e a Participao Social Cooperativa

    Cooperativismo vem de cooperativa, que por sua vez originou-se do termo cooperao que

    etimologicamente, vem do verbo latino cooperari, de cum e operari, produzir junto, produzir em

    conjunto (Cavalcanti, 2006, p. 11), ou seja, refere-se a uma construo coletiva a partir da unio

    conjunta de foras.

    Cavalcanti (2006) esclarece, ainda, que o cooperativismo uma doutrina econmica

    estruturada para a gerao de riquezas por meio do livre associativismo entre pessoas que,

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    espontaneamente, concordam em criar uma cooperativa, unidas pelos mesmos ideais e tendo os

    mesmos objetivos.

    Assim, destaca-se a importncia dos agricultores familiares se organizarem em

    cooperativas/associaes, que se caracteriza como aquelas que desenvolvem atividades

    econmicas caracterizadas pela gesto democrtica e autnoma das organizaes e pela primazia

    das pessoas sobre o lucro (Pimenta, Saraiva & Corra, 2006, p. 84). Essas atividades seriam

    exercidas por sociedades cooperativas, organizaes mutualistas e associaes.

    Sperry, Carvalho e Mercoiret (2003), afirmam que, aps a criao de associaes formadas

    por pequenos agricultores, as lavouras desse tipo apresentaram-se como possibilidades bem maiores

    do que as de fundo assistencial. A explorao da forma coletiva do trabalho surgiu como fonte de

    renda e experimentao tecnolgica para tornar sustentveis algumas atividades de produo

    coletiva dessas associaes.

    As associaes/cooperativas so organizaes que necessitam de um alto grau de capital

    humano e capital social para a sustentao das relaes humanas que podem ser encontradas no

    interior destas e no seu relacionamento com o meio externo. Isso possvel se houver a confiana e

    reciprocidade, de modo a favorecer o desenvolvimento econmico e local (Daz, Martel & Rojas,

    2007).

    Para Putmam (2002), capital social refere-se s caractersticas da organizao social, como

    confiana, normas e sistemas, que contribuem para aumentar a eficincia da sociedade, facilitando

    as aes coordenadas. De acordo com Nazzari, Miyazaki & Bordin (2008), as sociedades com forte

    capital social tendem a terem uma estrutura mais democrtica e mais permevel em relao

    confiana de seus membros, ampliao do associativismo e potencial de desenvolvimento. O

    pressuposto essencial que o capital social gerado por redes de confiana.

    As dimenses do conceito de capital social envolvem o plano individual, social e

    institucional: No plano individual desencadeia o sentimento de confiana, reciprocidade, identidade;

    no plano social, fortalece a cooperao sistmica, coeso social, atitudes virtuosas e padres

    valorativos e ticos no espao pblico; e no plano institucional leva ao engajamento em associaes

    voluntrias e na vida cvica, participao poltica e horizontalidade nas relaes sociais e

    institucionais (Nazzari et al., 2004).

    Assim sendo, so evidentes os benefcios resultantes do cooperativismo como uma das

    principais formas de fortalecer a agricultura familiar, podendo colaborar para a incluso social, o

    desenvolvimento econmico e a elevao dos ndices de capital social dos cooperados. Santos e

    Cndido (2013) citam alguns exemplos dos benefcios para os agricultores familiares, quais sejam:

    a reduo dos custos em relao s receitas e a conquistas de maiores fatias do mercado, ou seja, o

    fortalecimento da estrutura de mercado, que no caso dos produtores agroecolgicos, maior

    participao em feiras agroecolgicas e conquista do Programa de Aquisio de Alimentos (PAA),

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    criado pelo governo federal que obriga as escolas pblicas inserir em seu planejamento de compra

    de merendas escolares, a aquisio de 30% de produtos orgnicos aos produtores familiares de cada

    municpio.

    Entretanto, destaca-se o papel do poder pblico para o fortalecimento dos pequenos

    agricultores, assim como dar condies destes fazerem a transio da agricultura convencional para

    a ecologicamente mais correta. Alguns aspectos so tratados na seo abaixo.

    Polticas Pblicas para Agricultura Familiar

    A reflexo sobre as polticas pblicas compe uma rea de conhecimento multidisciplinar

    em que, a partir das contribuies tericas e metodolgicas da cincia vrias cincias, buscam

    compreender como as mudanas em curso na sociedade contempornea so influenciadas (e ao

    mesmo tempo influenciam) pelo que os governos fazem ou deixam de fazer; assim como tentam

    explicar e interpretar as decises polticas e governamentais sobre o que deve e o que no deve ser

    feito (Arretche, 2003).

    Dessa forma, as polticas agrcolas mais importantes a serem destacadas so: a implantao

    de permetros irrigados; o financiamento da agricultura familiar via PRONAF; a poltica de

    assentamentos de famlias de trabalhadores rurais sem terra, a poltica de desenvolvimento

    territorial e o Programa de Aquisio de Alimentos (PAA).

    Com exceo da poltica de criao de permetros irrigados, estas polticas pblicas

    definiram como seus alvos preferenciais aquelas parcelas das populaes rurais tradicionalmente

    excludas do acesso a recursos pblicos, mas que s se viabilizaram e continuam a se viabilizar

    como resultado da luta dos movimentos sociais e da organizao dos agricultores familiares.

    A poltica de financiamento da agricultura familiar sistematizada e executada a partir da

    segunda metade da dcada de 1990. E, finalmente, a poltica de desenvolvimento territorial

    proposta apenas na dcada de 2000. So quase 40 anos de polticas pblicas com seus diferentes

    enfoques, trajetrias e configuraes de poder, que tm ajudado a moldar a agricultura de todo o

    Brasil (Nazzari, Miyazaki & Bordin, 2008).

    Dentre os programas existentes, destaca-se neste estudo o PAA, Este foi implementado por

    meio de cinco modalidades, em parcerias com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB),

    governos estaduais e municipais. Para participar do Programa, o agricultor deve ser identificado

    como agricultor familiar, enquadrando-se no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

    Familiar PRONAF (Ministrio Desenvolvimento Social [MDA], 2011).

    O PRONAF (MDA, 2011), que outro programa, atua na direo de viabilizar a produo, a

    industrializao e a comercializao dos produtos gerados nos ncleos de agricultura familiar. Para

    isso, so oferecidos o acesso ao crdito, s pesquisas e s novas tecnologias e assistncia tcnica.

    Atravs desse programa, os processos deixam de ser amadores para se profissionalizarem e

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    oportunizarem benefcios, inclusive a agregao de valor aos produtos rurais e comercializao

    direta com o consumidor, garantindo assim, um aumento de renda para o produtor rural.

    De acordo com o Manual de Operaes, o PRONAF visa apoiar o desenvolvimento rural,

    tendo como base o fortalecimento da agricultura familiar atravs de apoio tcnico e financeiro.

    Como objetivo geral, o programa consiste em propiciar condies para o aumento da capacidade

    produtiva, a gerao de emprego e a melhoria da renda, contribuindo para a melhoria de vida e a

    ampliao da cidadania por parte dos agricultores familiares (MDA, 2011b). Especificamente, o

    programa visa o ajustamento de polticas pblicas realidade dos agricultores familiares, o

    financiamento da produo da agricultura familiar e de infra-estruturas e servios, e tambm a

    capacitao de tcnicos e agricultores (Grisa, 2012).

    Como um dos Programas ligadas ao PRONAF est o PAA, a qual o Governo Federal

    instituiu no artigo 19 da Lei n. 10.696, de 2 de julho de 2003, e regulamentou no Decreto n.

    4.777, de 2 de junho de 2003 o Programa, este pode ser visto como um instrumento para a

    superao de obstculos enfrentados pelos agricultores familiares agroecolgicos e tambm para

    promover sua participao como fornecedores de produtos para a alimentao escolar.

    O PAA uma das aes do Fome Zero, um programa do Governo Federal brasileiro que

    integra diversos ministrios, com o objetivo de promover a segurana alimentar e assegurar os

    direitos humanos e a conquista da cidadania da populao mais vulnervel fome. O objetivo do

    PAA garantir o acesso aos alimentos em quantidade, qualidade e regularidade necessrias s

    populaes em situao de insegurana alimentar e nutricional e promover a incluso social no

    campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar (MDA, 2011a).

    Somando a necessidade do desenvolvimento de estratgias para o desenvolvimento da

    agricultura familiar com as do Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE), percebe-se que,

    por um lado existe a produo de gneros alimentcios e a procura de mercados e, de outro, a

    procura por ofertas de produtos alimentares de qualidade. Desta forma, a utilizao do PAA no

    PNAE para a aquisio de gneros alimentcios na alimentao escolar, pode ser um fator relevante

    para a gerao de renda aos agricultores familiares, alm de promover a segurana alimentar e o

    conceito de qualidade nutricional. A integrao e divulgao destes conceitos, conhecimentos e

    prticas demonstram grande potencial em contribuir com o desenvolvimento rural e social, fazendo

    um uso mais responsvel e racional dos recursos naturais (Shirmann, Rosar & Pereira, 2007).

    Dessa forma, entende-se a importncia dos agricultores familiares se organizarem em

    cooperativas/associaes, como umas das formas de se alcanar maiores nveis de capital social,

    resultando em um maior fortalecimento para lutarem em favor dos seus direitos enquanto grupo

    social e, assim, possibilitar a participao em programas do Governo Federal, com o PAA.

    Com o objetivo de operacionalizar a pesquisa, so indicados na prxima seo os

    procedimentos metodolgicos utilizados.

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    PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Com o intuito de compreender como a formao de associao cooperativa fortaleceu os

    agricultores familiares do Agreste da Paraba, este estudo foi caracterizado como uma pesquisa

    exploratria e descritiva, na medida em que objetiva descrever as caractersticas de determinado

    fenmeno. Quanto tipologia optou-se por um estudo de caso, visto que este tipo, segundo

    Creswell (2010), caracteriza-se pela seleo de objeto de pesquisa restrito, com o objetivo de

    aprofundar-lhe os aspectos caractersticos.

    No tocante a abordagem, esta pesquisa considerada como de ordem qualitativa (Flick,

    2009), no qual os dados da pesquisa de campo foram obtidos a partir de entrevistas junto aos

    produtores e foram complementadas com dados secundrios e a observao no participante.

    Realizou-se uma pesquisa de campo, com amostra do tipo no-probabilstica por acessibilidade

    junto aos agricultores familiares vinculados Associao de Desenvolvimento Econmico, Social e

    Comunitrio (ADESC) localizada no Municpio de Lagoa Seca PB. Esta associao foi escolhida

    devido os seguintes critrios principais: ter maior representatividade no Municpio, participar de

    feiras agroecolgicas, ser uma associao reconhecida, com estatuto e reunies peridicas, alm de

    ter um nmero considervel de associados.

    O universo da pesquisa composto por todos os agricultores cadastrados na associao, que

    totalizam 55 associados, destes apenas 30 participam atualmente das atividades da associao. A

    amostra foi concluda tomando por base o critrio de saturao e resultou em 16 agricultores

    entrevistados.Ademais, foi realizada uma visita Associao de Agricultores rurais localizada na

    zona rural do Municpio de Lagoa Seca, PB, no qual foi possvel registrar por meio de fotografias e

    observar a dinmica de trabalho dos associados.

    A anlise e tratamento dos dados foram feitas a partirdo mtodo de anlise de contedo

    (Bardin, 2009). Neste sentido, foi realizada leitura comparativa das citaes do sujeito de pesquisa,

    bem como, sua ordenao, classificao e categorizao. Os resultados obtidos com a entrevista

    foram avaliados paralelamente s anotaes realizadas durante a fase de observao. A seguir so

    apresentados os resultados da pesquisa.

    APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS

    O Agreste da Paraba uma regio de destaque na produo de produtos orgnicos. Dentre

    os Municpios da regio, Lagoa Seca (ver Figura 1) destaca-se por sua grande produo agrcola,

    sendo a agricultura a atividade preponderante.

    Segundo dados da Prefeitura Municipal, Lagoa Seca apresenta uma populao de 26.000

    habitantes, em mdia, com 66,4% da populao absoluta residentes na zona rural. Est situada a 126

    km da capital do Estado (Prefeitura Municipal de Lagoa Seca [PMLS], 2010).

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    Figura 1. Mapa dos Municpios do Estado da Paraba.

    Fonte: Santos, J.G. (2010). A Sustentabilidade da Agricultura

    Orgnica Familiar dos produtores vinculados a Associao de

    Desenvolvimento Econmico, Social e Comunitrio de Lagoa Seca

    PB. Trabalho de Concluso de Graduao em Administrao. Universidade Federal de Campina Grande. Campina Grande, PB,

    Brasil.

    Com grande parte da parte da populao residente na zona rural, a agricultura a atividade

    de destaque no Municpio, caracterizada por grande parte de agricultores familiares rurais.

    A formao de associaes/cooperativas de agricultores familiares fundamental para que

    estes fortaleam enquanto grupo, pois aumenta a autonomia e, por conseguinte, sua capacidade de

    obter xitos em suas atividades, quer seja na participao das feiras agroecolgicas, na insero do

    PAA, dentre outros, como afirmado pelos agricultores 12 e 15:

    Fazer parte desta associao pra ns um orgulho, sempre ns se ajudar por aqui e isso

    deixa a gente mais forte pra lutar por nossos direitos (Agricultor 12).

    Essa associao muito bacana, aqui a gente se rene, conversa, troca sugestes, e sempre

    um ajuda o outro, o que ajudou a gente a ir pra feiras vender nosso produto (...) (Agricultor

    15).

    As feiras agroecolgicas geram uma ascenso econmica para as famlias, garantindo a

    segurana alimentar, assim como o momento de socializao entre os agricultores, j que

    participam diversos produtores do brejo paraibano, alm de oferecer produtos mais saudveis aos

    consumidores. Outro aspecto importante e que merece destaque que atravs das feiras diretas

    (produtor consumidor) h a diminuio de intermedirios da cadeia, como por exemplo, a Ceasa,

    chegando o produto diretamente da fonte ao consumidor final, por conseguinte, h a diminuio dos

    preos dos produtos para os clientes, alm de obter produtos sem agrotxicos.

    Assim, vale ressaltar a importncia desses agricultores organizados em associao, sendo

    esta uma alternativa para fortalecimento destes pequenos agricultores. Segundo Brito (2002), as

    associaes ou cooperativas podem contribuir nos seguintes aspectos: fortalecimento do pequeno

    agricultor no contexto social, poltico e econmico; apoio a produo, permitindo um maior acesso

    a assistncia tcnica, ao crdito, a tecnologia, a comercializao; o acesso a capacitao e a

    elaborao de projeto.

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    Dentre os aspectos citados por Brito (2002), este estudou comprovou, segundo a maioria dos

    entrevistados, que os agricultores tornaram mais fortalecidos, o que permitiu a vinculao da

    ADESC ao PAA, contribuindo para uma ascenso econmica dos agricultores, alm de captao de

    alguns recursos para viabilizao de alguns projetos da associao, conforme ser evidenciado a

    posteriori.

    O PAA um programa do governo federal que estabelece que as prefeituras adquiram no

    mnimo 30% da merenda escolar aos produtores do Municpio. Assim sendo, a associao est em

    fase de organizao de suas atividades para o planejamento e programao de produo a fim de

    atender a demanda. Dessa forma, fica evidente o fortalecimento ainda maior dos pequenos

    agricultores, e, por conseguinte, melhores condies de vida do homem do campo.

    Este programa (PAA) possui instrumentos que procuram incentivar a agricultura familiar e

    viabiliza a utilizao dos seus produtos em escolas, creches, hospitais e outros projetos da prefeitura

    do Municpio de Lagoa Seca. Estes instrumentos esto situados na modalidade de aquisio

    intitulada como Compra para Doao Simultnea. Esta modalidade divide-se em: Compra Direta

    Local da Agricultura Familiar e a Compra Antecipada Especial com Doao Simultnea, que so

    operacionalizadas respectivamente, pelo Governo Estadual e Municipal e, pela Companhia

    Nacional de Abastecimento (CONAB).

    Em suas diretrizes esto previstas algumas modalidades para a compra da alimentao

    escolar que podem beneficiar a agricultura familiar. So abrangidos por esta modalidade produtos

    alimentcios oriundos da agricultura familiar, prprios para consumo humano, inclusive alimentos

    perecveis e caractersticos dos hbitos alimentares locais. O valor mximo de aquisio por

    beneficirio produtor de R$ 3.500,00 (trs mil e quinhentos reais) para cada ano civil.

    A partir das visitas a ADESC, foi possvel verificar que h uma socializao saudvel entre

    os membros da associao e que estes pretendem continuar produzindo produtos orgnicos. O

    momento de socializao d-se nas reunies que so feitas mensalmente, no qual esse o momento

    de compartilhar informaes, problemas, experincias, perspectivas entre os membros da

    associao, conforme relatou a presidente da associao.

    Neste momento oportuno foram realizadas as entrevistas, no qual foi possvel perceber que

    existem sentimentos importantes de cooperao, confiana, respeito, dentre outros, entre os

    cooperados, estes sendo fundamentais para ocapital social como forma dos cooperados se

    fortalecerem em prol de solucionar possveis entraves que dificultem suas atividades. Vale ressaltar

    que todos dos entrevistados afirmaram que esto dispostos a continuarem a produo de produtos

    orgnicos, j que estes so mais saudveis e garantem a segurana familiar.

    Para que as atividades agrcolas se fortaleam fundamental que polticas pblicas, quer

    seja de mbito Federal, Estadual e/ou Municipal, sejam direcionadas a promover a agricultura. A

    partir das entrevistas, percebeu-se que no h assistncia tcnica ou financeira do Governo Estadual

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    e Municipal, assim como da Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (EMATER) local,

    conforme pode ser visualizado nos trechos descritos a seguir:

    (...) ns no recebemos nenhum auxlio no, se no for a gente se virando por aqui, ns no

    pranta nada (Agricultor 3).

    O secretrio disse que ia ajuda a ns, mas fica s na conversa, a presidente da associao

    vai atrs e nada, a sorte a associao que nos ajuda muito, a gente sempre dar um jeito por

    aqui mermo (Agricultor 8).

    Destaca-se a necessidade do poder pblico apoiar os agricultores familiares locais,

    proporcionando apoio financeiro, tcnico, oferecer cursos de capacitao, sementes para o plantio,

    dentre outras iniciativas.

    No tocante ao apoio do Governo Federal, os entrevistados apontaram que recebem algum

    auxlio relacionado com o Programa de Aquisio Alimentar o PAA, assim como o Programa

    Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Instituto Nacional de Reforma

    Agrria (INCRA), que de certa forma so programas que apoiam a agricultura familiar.

    Uma contribuio significativa a Cooperativa ADESC foi da Energisa e da Eletrobrs, que

    juntas beneficiaram a associao com uma usina de beneficiamento da mandioca, no qual so

    produzidos vrios produtos, estes para o consumo prprio dos agricultores como tambm

    comercializados nas feiras agroecolgicas.

    Outro apoio que a ADESC recebe diretamente do Sindicato do Municpio. Foram relatados

    pelos agricultores 22 e 25 que membros do sindicato fazem visitas de acompanhamento nas

    propriedades, ajudam a aplicar os produtos para defesa contra pragas e observa, junto com as

    famlias, o desenvolvimento da plantao, assim como disponibilizam biofertilizantes, o estrume

    (insumo que utilizado para a adubao do solo), alm de oferecer cursos, palestras aos agricultores

    sobre melhores formas de trabalhar com a agricultura.

    De forma indiretamente os produtores tambm recebem apoio do Plo Sindical da

    Borborema e de uma Organizao No Governamental, a Assessoria e Servios a Projetos em

    Agricultura Alternativa (AS-PTA), pois o Sindicato participa de reunies junto ao Plo e a AS-

    PTA, que passa informaes, recursos para que o Sindicato possa dar assistncia aos agricultores.

    Algumas fotografias (ver Figura 2) foram feitas em momentos oportunos de coletas de dados

    (reunio dos associados e visitas as feiras agroecolgicas) e esto sendo divulgadas a partir de

    consentimento dos agricultores rurais. As duas primeiras tratam do momento das reunies dos

    cooperados realizadas sempre no primeiro domingo de cada ms, a terceira fotografia um dos

    instrumentos utilizados no beneficiamento da mandioca e as duas ltimas fotos referem-se ao

    momento de comercializao dos produtos nas feiras em Lagoa Seca e Campina Grande/PB.

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    Figura 2. Fotografias feitas nas coletas de dados Fonte: Coleta de dados

    Foi possvel perceber que, apesar de no terem apoios por parte das diversas instncias

    institucionais, a cooperativa ADESC apresenta um capital social entre os membros desta favorvel

    (confiana entre os cooperados, esprito de equipe, cooperao, etc), que faz fortalecer os pequenos

    agricultores familiares, enquanto grupo social, importante para o Municpio de Lagoa Seca e regio,

    haja vista que este e outros Municpios so responsveis pelo abastecimento de produtos agrcolas

    em todo o Agreste paraibano.

    Destaca-se tambm que a participao dos agricultores familiares no PAA se deu graas

    formao da Associao de Desenvolvimento Econmico, Social e Comunitrio da zona rural de

    Lagoa Seca, PB.

    CONSIDERAES FINAIS

    Desde algum tempo, a sociedade vem tomando conhecimento de que a unio entre

    indivduos de objetivos comuns, que compartilhem dos sentimentos de cooperao e confiana,

    capaz de fortalecer o grupo e galgar novos horizontes.

    Sabendo disso e tomando como base os dados apresentados, percebeu-se que a formao da

    ADESC foi fundamental para que os pequenos agricultores se fortaleam para conseguirem

    resultados positivos para sua associao, fazer valer seus direitos, ter maior autonomia, obterem

    maiores recursos para o aprimoramento de suas atividades agrcolas, para a insero em programas,

    a exemplo do Programa de Aquisio Alimentar, dentre outras iniciativas.

    Com a implantao do Programa de Aquisio de Alimentos no Municpio, a associao de

    agricultores, pesquisada neste estudo, obtive mudanas visveis, a rea rural passou a ser mais

    valorizada e os agricultores passaram a dar mais acuidade ao que plantam e colhem, at a cultura

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    local foi evidenciada. O produtor ficou estimulado para a transio agroecolgica, pois com o PAA

    conseguiram ver esperana no futuro, uma vez que o referido Programa garante a gerao de renda

    mais justa, sem o intermdio de atravessadores.

    A experincia teve grande importncia tanto para o produtor, ajudando escoamento e

    valorizao de seus produtos, incentivando o pequeno agricultor a produzir e diversificar suas

    culturas, quanto para as entidades que recebem esses produtos, beneficiando assim as pessoas em

    situao de risco alimentar e nutricional.

    Diante dos resultados apresentados, percebeu-se que h um capital social favorvel entre os

    cooperados vinculados a ADESC, um esprito de equipe entre estes. Por outro lado, evidencia-se

    ausncia de apoio por parte dos rgos pblicos, bem como a falta de polticas pblicas para que

    estes se fortaleam.

    Mesmo sem este apoio, a cooperativa apresenta bons resultados graas a outros apoios

    recebidos, alm dos agricultores estarem bem fortalecidos enquanto grupo social, demonstrando que

    a formao de cooperativa umas formas que podem fortalecer os grupos a obterem maior

    legitimidade e melhores nveis de capital social, e, por conseguinte, melhores resultados em suas

    atividades agrcolas.

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    SUSTAINABILITY AND SOCIAL PARTICIPATION COOPERATIVE FAMILY

    FARMERS IN THE ARID ZONE OF PARABA

    ABSTRACT

    The cooperative is a model of solidarity economy that seeks to maximize the predominance of

    labor over capital factor, this can consist of associated, independent producers or producers

    that make common production units (Oliveira, 2007). In agriculture the role of associations has

    relevance, given the difficulty that the farmer has to perform its activities. In this sense, the

    objective of this study is to analyze how the formation of cooperative association strengthened

    family farmers Wasteland of Paraba. Data were collected through interviews with farmers and

    supplemented with secondary data analysis and non participant observation. The main results

    show that the formation of the Association for Community Economic Development, and Social

    (ACEDS) of farmers in the municipality of Lagoa Seca, PB strengthened these, so that the

    association presents positive results and was included in the Food Acquisition Program (FAP).

    Key Words: Cooperatives, Farmers family; Public policy.

    SOSTENIBILIDAD Y PARTICIPACIN SOCIAL EN LA FAMILIA DE AGRICULTORES

    COOPERATIVA DE AGRESTE PARABA

    RESUMEN

    La cooperativa es un modelo de economa solidaria que tiene como objetivo maximizar el

    predominio del trabajo sobre el factor de la capital, esto puede consistir en, productores o

    productores independientes asociados que componen las unidades de produccin comunes

    (Oliveira, 2007). En la agricultura el papel de las asociaciones tiene relevancia, dada la dificultad de

    que el agricultor tiene que llevar a cabo sus actividades. En este sentido, el objetivo de este estudio

    es analizar cmo la formacin de la asociacin de cooperacin reforzada agricultores familiares

    Wasteland de Paraba. Los datos fueron recolectados a travs de entrevistas con los agricultores y se

    complementaron con anlisis de datos secundarios y la observacin no participante. Los principales

    resultados muestran que la formacin de la Asociacin para el Desarrollo Econmico de la

    Comunidad y Social (ADESC) de los agricultores en el municipio de Lagoa Seca, PB fortaleci

    estos, por lo que la asociacin presenta resultados positivos y se incluy en el Programa de

    Adquisicin de Alimentos (PAA).

    Palabras clave: Cooperativa; Los agricultores familiares; Polticas Pblicas.