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SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO EIXO ESTRUTURANTE PARA A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Alberto Farias Gavine Filho Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia Maria das Graças Ferreira Lobino Grupo e Estudos e Pesquisa/GEPEC Resumo Este texto tem como objetivo relatar a experiência didática que aconteceu no ano de 2013 na EMEF Trancredo de Almeida Neves onde se vivenciou o Projeto denominado “Alfabetização Científica no contexto da cidadania socioambiental na cidade de Vit ória/ES”. O projeto se desenvolveu a partir de uma metodologia de pesquisa-ação entendida como um estudo e uma intervenção em uma situação social buscando a melhoria da ação nessa mesma situação. Isto tendo em vista a realidade social da escola onde se deu a ação. O processo da experiência didática aconteceu em momentos diferenciados como o diagnóstico, o planejamento da ação, a avaliação, a reflexão e o replanejamento. Como resultado pode-se notar que a iniciativa foi válida e de certa forma começa a dar seus frutos, pois se trata da vivência de uma experiência diferenciada onde a aprendizagem a partir das hortas educativas não fica na horta pela horta, pois a mesma é apenas um artefato pedagógico que contribui para o ensino de ciências a crianças e adolescentes através de atividades práticas. Percebeu-se também que o Projeto institucional Cidadania Sustentável eleito pela comunidade escolar como ponto articulador entre as ações educativas da referida escola ajuda a sociedade repensar as questões básicas do processo educativo de nossas escolas públicas. O projeto de certa forma subverte a ação cotidiana da escola, na ânsia de iniciar a construção de uma cultura científica em especial a partir de crianças e adolescentes, desenvolve a cidadania socioambiental desde a visão crítica sobre a forma de produção e consumo contemporâneas até a discussão sobre questões como as relações culturais decorrentes do modus vivendi. Palavras-chave: Alfabetização científica; sustentabilidade socioambiental; hortas educativas. Introdução Sabe-se que a Educação Básica vem apresentando novas demandas por conta do desenvolvimento acelerado da tecnologia e das questões socioambientais. De uma maneira geral, o professor das disciplinas de Ciências da Natureza e das disciplinas correlatas tem sido cada vez mais forçado a repensar suas práticas pedagógicas, renovando as formas de contextualização para motivar o aluno a ter interesse pelo estudo das ciências, trazendo-o para sala de aula (DELIZOICOV et al., 2002). Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola EdUECE- Livro 1 04462

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SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO EIXO ESTRUTURANTE

PARA A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Alberto Farias Gavine Filho – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia

Maria das Graças Ferreira Lobino – Grupo e Estudos e Pesquisa/GEPEC

Resumo

Este texto tem como objetivo relatar a experiência didática que aconteceu no ano de

2013 na EMEF Trancredo de Almeida Neves onde se vivenciou o Projeto denominado

“Alfabetização Científica no contexto da cidadania socioambiental na cidade de

Vitória/ES”. O projeto se desenvolveu a partir de uma metodologia de pesquisa-ação

entendida como um estudo e uma intervenção em uma situação social buscando a

melhoria da ação nessa mesma situação. Isto tendo em vista a realidade social da escola

onde se deu a ação. O processo da experiência didática aconteceu em momentos

diferenciados como o diagnóstico, o planejamento da ação, a avaliação, a reflexão e o

replanejamento. Como resultado pode-se notar que a iniciativa foi válida e de certa

forma começa a dar seus frutos, pois se trata da vivência de uma experiência

diferenciada onde a aprendizagem a partir das hortas educativas não fica na horta pela

horta, pois a mesma é apenas um artefato pedagógico que contribui para o ensino de

ciências a crianças e adolescentes através de atividades práticas. Percebeu-se também

que o Projeto institucional Cidadania Sustentável eleito pela comunidade escolar como

ponto articulador entre as ações educativas da referida escola ajuda a sociedade repensar

as questões básicas do processo educativo de nossas escolas públicas. O projeto de

certa forma subverte a ação cotidiana da escola, na ânsia de iniciar a construção de uma

cultura científica em especial a partir de crianças e adolescentes, desenvolve a cidadania

socioambiental desde a visão crítica sobre a forma de produção e consumo

contemporâneas até a discussão sobre questões como as relações culturais decorrentes

do modus vivendi.

Palavras-chave: Alfabetização científica; sustentabilidade socioambiental; hortas

educativas.

Introdução

Sabe-se que a Educação Básica vem apresentando novas demandas por conta do

desenvolvimento acelerado da tecnologia e das questões socioambientais. De uma

maneira geral, o professor das disciplinas de Ciências da Natureza e das disciplinas

correlatas tem sido cada vez mais forçado a repensar suas práticas pedagógicas,

renovando as formas de contextualização para motivar o aluno a ter interesse pelo

estudo das ciências, trazendo-o para sala de aula (DELIZOICOV et al., 2002).

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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Neste sentido os educadores da Escola Municipal de Educação Fundamental

Tancredo de Almeida Neves (EMEF TAN), situada na Cidade de Vitória/ES,

desenvolveram um processo de alfabetização científica com seus alunos a partir da

“Horta escolar” como ponto de partida para exemplificar a formação na ação de

“agentes do desenvolvimento socioambiental” mediados pela Educação Ambiental/EA

crítica e transformadora, que estabelece segundo o art. 2º da Lei Federal 9795/99, que

a EA é um componente essencial e permanente da Educação Nacional, devendo estar

presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo,

em caráter formal e não formal. Nesses espaços aconteceu a educação em ciências e

matemática numa perspectiva Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA)

como aponta Lobino (2007).

Este texto tem como objetivo relatar a experiência didática que aconteceu no ano

de 2013 na EMEF TAN onde se vivenciou o Projeto denominado “Alfabetização

Científica no contexto da cidadania socioambiental na cidade de Vitória/ES”.

Para o desenvolvimento do Projeto firmou-se uma parceria com a finalidade

constituir uma cooperação técnica mútua entre o Estado do Espírito Santo, por

intermédio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação

Profissional e Trabalho (SECTTI), o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e o

Município de Vitória (PMV), visando a implementação do mesmo. O Projeto em

2013 teve como objeto formar agentes da sustentabilidade socioambiental a

partir das atividades da Horta Educativa (incluindo horta medicinal e cultivo de

plantas ornamentais) tendo como laboratório a EMEF TAN. O primeiro

momento da vivência do Projeto foi realizado em atividades sobretudo intra

muros (a experiência de 2013) e o segundo momento, em andamento, acontece a

partir da vivência do Projeto em diálogo com os espaço não formais da cidade,

de modo a implementar a experiência didática que é proposta no projeto .

Diante disso, a comunidade escolar centralizou sua participação na

democratização e popularização da Ciência & Tecnologia, potencial instrumentos para

uma cultura cidadã sustentável.

Os objetivos gerais do projeto foram assim definidos: implementar a

política de Educação Ambiental crítica e transformadora a partir do território vivido

em diálogo com o global; refletir e reorientar o processo educativo na EMEF TAN no

marco de uma Alfabetização Científica cuja centralidade fosse a vida na perspectiva de

um ambiente integral; desenvolver uma experiência, de Alfabetização Científica e

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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formação de Agentes de desenvolvimento socioambiental, piloto a ser realizada na

EMEF TAN, localizada na Região de São Pedro (Vitória/ES) em diálogo com os

Espaços não Formais das cidades da região metropolitana de Vitória/ES.

Explicitando o local e os sujeitos da pesquisa

Tratou-se de um projeto de extensão que buscou se articular à Pesquisa através

dos pesquisadores/orientandos do Programa de Pós Graduação em Ciências e

Matemática do IFES (Educimat) num processo de reflexão teoria/prática que envolveu

estudantes e professores de Ensino Fundamental, licenciandos dos cursos de Química e

seus respectivos professores numa perspectiva de reflexão entre a formação inicial e as

necessidades e competências requeridas para este nível de Ensino.

Buscou-se envolver no projeto a comunidade escolar, pais de alunos e

representantes da Associação de Bairro e congêneres no território onde a escola se

insere, bem como conselhos comunitários da cidade de Vitória que possuem relação

direta com o trabalho. Os alunos do ensino fundamental, sujeitos específicos do Projeto

eram todos da região de São Pedro. Essa se localiza na parte interna da Ilha de Vitória,

possui mais de três milhões de metros quadrados, compreende dez bairros na região

mais carente de Vitória e de povoação mais recente. Os bairros surgiram a partir da

ocupação do lixão da cidade, estendendo esta ocupação às áreas de manguezal, no final

da década de 70. Nesta região, há uma grande parcela da população vivendo a margem

do risco social. É de suma importância que haja oportunidades para diminuir os riscos

sociais das populações carentes, de forma especial a população jovem.

Foram convidados representantes da comunidade escolar (docentes e técnicos

administrativos) dos pais e representes da Associação dos Moradores para fazerem parte

do Projeto.

Metodologia

O projeto se desenvolveu a partir de uma metodologia de pesquisa-ação

entendendo-se que a mesma é “uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da

perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado como uma ação que cientificiza

a prática educativa, a partir de princípios éticos que visualizam a contínua formação e

emancipação de todos os sujeitos da prática” (FRANCO, 2005, p. 483).

Para Barbier (apud. FRANCO, 2005, p. 489) “A pesquisa ação torna-se a ciência

da práxis exercida pelos técnicos no âmago de seu local de investimento. O objeto da

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pesquisa é a elaboração de dialética da ação num processo pessoal e único de

reconstrução racional pelo ator social”.

Foram desenvolvidas várias etapas dentro desse processo metodológico. O

primeiro passo foi o diagnóstico. Identificar onde se buscou definir os problemas

comunitários relacionados ao desenvolvimento socioambiental, estabelecendo as

possibilidades de diversas ações para solucioná-lo. Fez-se a reconstrução da história da

EMEF TAN e sua prática educativa no sentido da educação socioambiental, no contexto

da região de São Pedro e da cidade. Esse passo contribuiu para contextualizar a situação

e os problemas encontrados na realidade das comunidades do bairro local e escolar.

No planejamento da ação analisaram-se as diversas possibilidades de ações que

poderiam contribuir com a solução do problema. Decidiram-se as ações e os meios para

alcançá-la. Discutiu-se os pontos fortes, os aspectos positivos e as limitações da

educação para o desenvolvimento socioambiental.

Organizada as informações obtidas na etapa anterior, iniciou-se a ação. Nesse

processo, aproveitou-se toda ocasião para envolver a comunidade: dia da matemática,

para a abertura dos trabalhos; contatos informais com lideranças da escola; reuniões

periódicas de estudo, elaboração de subprojetos, participação em eventos etc.

Realizavam-se avaliações constantes antes dos novos planejamentos. Discutiam-

se as ações realizadas, os acertos e desacertos, as percepções e expectativas dos

participantes sobre as atividades, técnicas e resultados obtidos durante o processo.

Outro passo realizado foi a reflexão avaliando o aprendizado dos participantes e

os resultados teóricos e práticos da experiência. Nessa etapa, o grupo, como um todo,

fez uma análise crítica do processo. A análise começou com a discussão do

cumprimento ou não das metas e dos objetivos.

Buscou-se ir registrando todo este processo em pequemos textos que não deixou

de ser uma forma do grupo apresentar à comunidade escolar a sistematização do projeto,

destacando os principais resultados, análise e interpretação. Dessas discussões surgiram

novos planejamentos e novas ações comunitárias. Os pesquisadores sempre tiveram em

mente que era necessário buscar a melhor forma de validação dos resultados.

Dois elementos marcaram o desenvolvimento metodológico do projeto: a busca

da sistematização dos trabalhos mais relevantes e a atenção ao diário de pesquisa que

alguns investigadores fizeram para o registro do desenvolvimento do projeto. Nos

diários podiam-se ler as informações sobre o pesquisador, o que ele fez e o processo da

pesquisa.

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Escolheu-se esta metodologia porque a mesma tem como aspecto central a

participação das pessoas que vivem na situação pesquisada ou que podem ser afetadas

pelos resultados da ação. Foram estudados também os graus de participação das

pessoas.

Marcos conceituais

Os marcos conceituais e diretrizes do projeto foram estabelecidos à luz da:

Constituição Federal de 1988; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9394

de 1996; Diretrizes Curriculares Nacional- RES.02/1998 – CEB/CNE; Política

Nacional de Educação Ambiental/PNEA nº 9795 de 1999; Decreto Federal

Regulamentador da PNEA nº 4281/2007; Política Estadual de EA- nº 9265 e Diretrizes

Curriculares Nacional de EA- RES.02/2012

Alguns pressupostos que serviram de base para a proposta inovadora para o

ensino das Ciências foram assim definidos: a prática social como ponto de partida capaz

de potencializar a curiosidade e interesse dos educandos através de observação e

reflexão do senso comum para a reconstrução do conhecimento científico com o fito de

melhorar a qualidade de vida; perceber a relativização da ciência, bem como a

desconstrução do mito da neutralidade da ciência e da tecnologia; construção de uma

racionalidade socioambiental a da confluência entre os princípios da

interdisciplinaridade e da complexidade.

Lobino (2012) mostra a urgência do ensino das Ciências da Natureza na relação

dialética com a cultura local como ponto de partida, a partir do Ensino de Física &

Química que devem compor o conteúdo curricular desde o inicio da escolaridade.

Mostra ainda como as temáticas transversais ou temas geradores (FREIRE, 1976),

Snyders (1974), temas e conceitos unificadores Angotti & Delizoicov (1990) e

conceito-chaves (LOBINO, 2001), amplia-se como conceitos facilitadores

representados pelos fenômenos naturais e sócio-culturais que nos afetam

cotidianamente, conforme estabelece RES.CNE / CEB n º 02/98 de, IV-do art.3 º:

[...] Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade ao acesso para os

alunos a uma base nacional comum, uma maneira de legitimar uma unidade e a

qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional. A base nacional comum

e sua parte diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular,

que visa estabelecer uma relação entre a educação fundamental e: a) a vida

cidadã através da articulação entre vários dos seus aspectos como: 1. Uma

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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saúde; 2. Uma sexualidade; 3. Vida familiar e social; 4. O Meio Ambiente, 5.

O trabalho; 6. A ciência e a tecnologia; 7. cultura; 8. Como linguagens.

Desse modo, tais práticas e pesquisas educativas podem ser reinventadas, onde a

Química e a Física poderão se constituir como base no processo de formação de eco-

educadores(1) no sentido de plantar e cultivar uma educação científica para a

sustentabilidade a partir de projetos interdisciplinares e interinstitucionais capazes de

acionar cumplicidades para além muro da escola com potenciais para transformar tais

projetos em políticas públicas articuladas na base do território vivido.

O tema escolhido pela escola para o ano letivo de 2013 foi “cidadania

socioambiental”, dai a Educação Socioambiental ser eleita como eixo estruturante do

currículo a partir do artefato pedagógico Horta Educativa, já desenvolvida através das

aulas de matemática, geografia e outras.

Atividades realizadas

Para consecução das ações de cooperação foi constituída uma Unidade

Gestora de Projeto (UGP,) composta por representantes das partes, à qual

competiu estabelecer a programação das ações, monitorar e avaliar seu

desenvolvimento e divulgar os resultados alcançados, sendo coordenado por

representante da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação

Profissional e Trabalho, e secretariado pelo Instituto Federal de Educação Ciência e

Tecnologia do Espírito Santo nos termos em que fora firmado o termo de cooperação.

Definido no Planejamento do ano o tema que serviria de eixo para todas as ações,

a cidadania socioambiental, cada professor buscou fazer seu planejamento tendo em

vista o mesmo buscando a interdisciplinaridade. Algumas ações que envolveram a

escola foram: o trabalho com a horta de olericultura, desenvolvido por uma professora

de matemática; o trabalho desenvolvido com a hora medicinal por uma professora de

ciências, e um o trabalho desenvolvido, também por uma professora de ciências, que

visava o reaproveitamento de óleo utilizado em frituras produzindo sabão. Ao mesmo

tempo desenvolveu-se e um curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) para

formação de agentes do desenvolvimento sócio ambiental, lugar onde era refletida as

diversas ações do projeto. Essas ações envolveram alunos das séries finais do ensino

fundamental, professores e alunas da licenciatura em química e do Mestrado em

Ciências e Matemática. Nesse curso houve também a articulação escola/ comunidade

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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através da atuação junto aos líderes comunitários e comunidade escolar realizada pela

equipe de formação.

Resultados alcançados

A etapa do projeto vivenciada em 2013 foi avaliada no final do ano. Entre as

constatações dos participantes do projeto em termos daquilo que foi significativo

podemos ler os seguintes depoimentos: “a importância de estudarmos os „fazeres‟ que já

realizamos e as possibilidades a partir das trocas que os saberes (diferentes) nos

proporcionam a desenvolvermos outras/novas ações em favor do coletivo”; “em minha

opinião foi bom, porque eu quase não sei nada. Eu acordei (sic) tendo bastante

conhecimento com as pessoas que tem experiência! Claro que nem tudo sai perfeito,

pode ser que houve alguma coisa que deveria ser com mais organização, etc., mas, com

isso, aprendemos para até mesmo estar melhorando nas próximas oportunidades”; “os

encontros mesclaram atividades de sensibilização com aprofundamentos das questões.

A formação foi uma oportunidade para debater o tema EA/Alfabetização científica”;

[que bom] “que pensaram e configuraram esse projeto com uma abordagem crítica e

coerente da EA, dando espaço para o pensar crítico sobre os vários fatores a que a

natureza, e nós, parte dela, está submetido [...]”; “tive mais conhecimento, até porque eu

não sabia de quase nada... Ex.: do dia que falou sobre o chá que tem que tomar com

cuidado, de como você faz ele, porque pode fazer mal em vez de bem!”; “ter aprendido

sobre a inserção da EA na vida dos estudantes e população num todo”. “Conhecer na

prática sobre algumas ervas medicinais e sua aplicação”. “A importância de ter EA na

atualidade para que possamos ter uma vida mais ecológica”. “Ter participado da 10ª.

Semana Estadual de Ciência e Tecnologia”; “tive acesso a conhecimentos que até então

eu não tinha, como: a conscientização ambiental e os princípios ativos e o aumento do

conhecimento sobre as plantas medicinais”; “a interação com os participantes de várias

áreas e representantes sociais, contribuindo para se entender que a EA envolve a

participação de todos, desde os alunos e jovens, bem como sujeitos articulados com os

movimentos e pais”. “Apreensão de conhecimento sobre a horta medicinal e a EA e

sustentabilidade”. “Foi muito gratificante ouvir de cada um como o projeto é importante

para a sociedade”; “o contato com a escola e com a comunidade; o envolvimento dos

alunos de todos os níveis”; “adorei a troca de conhecimentos. Conhecer pessoas novas

tão interessantes”; “foi um aprendizado muito eclético, onde pude contribuir com

experiências próprias e aprendi muito com todas as exposições. Aprendi mais que

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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contribuí”.

Na avaliação do projeto apareceram questões que apontaram para as falhas que

aconteceram durante o processo. As falhas foram sentidas especialmente nas seguintes

falas dos participantes: “[que pena] de termos uma presença pequena dos inscritos [no

curso de FIC] e consequente empobrecimento dos encontros”; “a participação

descontinuada de algumas pessoas, muitos ruídos na participação; debates muito

abertos, escapando do foco”; “que não pude vivenciar algumas ações iniciais do projeto

e poder agir na proposição de atividades”; “claro que nem tudo sai perfeito, teve alguns

momentos e coisas que deveriam ser feito com mais organização”; “não ter tido mais

prática na medicina fitoterápica e a não inserção de visitas nos parques da Ilha de

Vitória e a utilização da Mata de restinga na praia de Camburi, pois o que acontece hoje

é o plantio de plantas invasoras e exóticas”; “o tempo que a gente teve para absorver

todos esses conhecimentos foi muito curto, não deu para absorver completamente tudo”;

“os atrasos recorrentes; pouco tempo e corrido para se discutir os assuntos; alguns

encontros não tiveram muita participação”; “que ainda tem gente que não entendeu o

processo. Muita falta e pouca participação nas oficinas” “não conseguirmos a

participação de um número grande de professores da escola. Não pude participar da

oficina de plantas medicinais. Não pudemos empreender tantas atividades práticas como

gostaria. Falta de tempo para as discussões”; que faltou mais participação popular, ou

seja, de entidades e ONG”.

A reflexão sobre os pontos acima destacados apontam para algumas ações que

deverão ser desenvolvidas a partir do planejamento para a continuidade do projeto.

Alguns desses pontos surgiram dos próprios participantes, sobretudo quando teceram

sugestões para que o processo seja melhor vivenciado. Segundo as falas dos

participantes: “melhorar a estrutura dos encontros, com atenção aos

materiais/equipamentos utilizados”; “garantir o foco das discussões; usar mais

produções/oficinas [...]”; “a realização de atividades que avancem no sentido de trazer

ou ir à comunidade externa. E inserir a questão do ensino por investigação nas

discussões”; “melhorar na hora de explicar algumas coisas e ano que vem voltar com o

projeto”; convidar ONG [que discutam questões] ambientais; aprender mais sobre a

utilização de ervas medicinais e levá-las para os apartamentos e residências; aprender

sobre a legislação ambiental; desdobrar (sic) mais sobre as áreas verdes da comunidade

[...]; levar as experiências da horta para todas as EMEF”; “acontecerem oficinas com

mais tempo ou com mais assuntos, para que haja tempo para se discutir melhor os

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 104469

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assuntos”; “participar do Planejamento do próximo ano”; “aumentar o número de

atividades práticas integradas aos conceitos; ampliar a participação dos conselheiros”;

“divulgar mais externamente para atrair a sociedade”; “talvez introduzir, a princípio,

oficinas de saneamento básico, recursos sólidos, recursos hídricos, poluição

atmosférica, etc”.

Numa reflexão final pode-se dizer que a iniciativa foi válida e de certa forma

começa a dar seus frutos, pois se trata da vivência de uma experiência diferenciada onde

a aprendizagem a partir das hortas educativas não fica na horta pela horta, pois a mesma

é apenas um artefato pedagógico para contribuir com o ensino de ciências a crianças e

adolescentes através de atividades práticas. Houve na fala dos participantes ainda

“sensibilização” para a temática, “participação comunitária”, pois embora não sendo

muitos a presença da comunidade na escola não deixa de ser um diferencial; houve a

aprendizagem de “conhecimentos científicos” desta forma atingindo um dos objetivos

da ação que é a alfabetização científica. Segundo ainda os participantes foi uma

oportunidade de “falar sobre aspectos ambientais” concebendo o ambiente como um

todo e abrindo espaço para novas discussões. Houve ainda “iniciação da Educação

Ambiental (EA) na vida dos jovens” lembrando que a inovação buscada é a vivência de

uma nova realidade educacional onde a partir do eixo da EA se aprende ciência de

forma contextualizada, desenvolve-se a conscientização política e o senso crítico. Outra

constatação na própria reflexão dos participantes do projeto foi a riqueza gerada na

abertura da escola para o conhecimento popular, isto ficou claro quando os alunos

foram conhecer a “prática da medicina tradicional” no meio do povo. Outro ponto visto

como válido segundo a visão dos participantes na forma como foi desenvolvido o

projeto foi a “apresentação e exploração dos parques e espaços de áreas verdes”. Na

verdade foi um início já que a proposta é fazer a descoberta das potencialidades dos

espaços educativos da cidade e isso inclui também parques. Percebeu-se a introdução ao

conhecimento da “legislação ambiental” e que a “horta oferece oportunidade ótima para

o aprendizado”. Houve oportunidade de formação política uma vez que os participantes

do processo perceberam a “morosidade no processo da legitimação” e tomaram

consciência de que nos Municípios Capixabas não há uma legislação ambiental e que a

legislação que existe no Estado não é vivenciada. Destacou-se ainda a questão

democrática do processo, pois o “planejamento a partir das opiniões de cada um” ajudou

na vivência de processos democráticos. Percebeu-se ainda a dificuldade dos professores

em acompanhar essas ações quando se pede que se “amplie o envolvimento e

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

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participação dos professores”, sabe-se, porém das dificuldades que o professores da rede

pública encontram para acompanharem ações que são realizadas fora de seu horário e

mesmo durante o seu planejamento, já que não são poucas as suas atribuições.

Além desses aspectos na reflexão dos participantes do projeto apareceram outros

conceitos no processo como a “criticidade”, a experiência da participação em uma

“extensão universitária” bem como da vivência de uma “integração multidisciplinar:

matemática, geografia, história e ciências”. Percebeu-se ainda o empenho dos

participantes em dar continuidade ao projeto com atenção aos seguintes pontos:

“redesenhar os objetivos e finalidades dos sujeitos formados como agentes sócio-

ambientais”, organizar melhor o tempo, planejar a partir da práxis da primeira etapa, a

segunda etapa do projeto e aprofundar a reflexão sobre “quem são os agentes

ambientais?”.

Considerações conclusivas

O Projeto institucional Cidadania Sustentável eleito pela comunidade escolar

EMEF TAN como ponto articulador entre as ações educativas da referida escola ajuda

a sociedade repensar as questões básicas do processo educativo de nossas escolas

públicas. O projeto de certa forma subverte a ação cotidiana da escola, na ânsia de

iniciar a construção de uma cultura científica em especial a partir de crianças e

adolescentes, desenvolve a cidadania socioambiental desde a visão crítica sobre a forma

de produção e consumo contemporâneas até a discussão sobre questões como as

relações culturais decorrentes do modus vivendi.

Sabe-se que a escola não é o único, mas um dos espaços com potenciais de

contribuição de transformação ou perpetuação da cultura. Depende da opção inscrita em

seu PPP. A opção da EMEF TAN pela Cidadania Sustentável, a partir de ações como o

Curso de Formação de Educadores Socioambientais e os subprojetos propostos pela

comunidade escolar, ou não, busca a melhoria da qualidade de vida nas suas famílias,

em suas ruas, no bairro, na cidade, no Estado, no país e no planeta.

Referências

ANGOTTI, J. A. P.; DELIZOICOV D. Metodologia do ensino de ciência. São Paulo:

Cortez, 1990.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 104471

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(1) Ecoeducador é neologismo para designar o termo ecoprofessor utilizado por Lobino (2002), como

aquele que pensa planetariamente e age localmente, além de ser um intelectual orgânico, cujo objetivo

é promover a vida na concepção gramsciana.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 104473