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ISKCON - Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna Artigos de capa das revistas Back to Godhead do ano de 2008, em português  Revista fundada no ano de 1944 por Sua Divina G raça A. C.  Bhaktivedanta Svam i Prabhupada – F undador-acarya da  ISKCON e BB T.

Swami Prabuphada - Volta Ao Supremo 2008

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ISKCON - Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna

Artigos de capa das revistas

Back to Godheaddo ano de 2008, em português

 Revista fundada no ano de 1944 por Sua Divina Graça A. C.

 Bhaktivedanta Svami Prabhupada – Fundador-acarya da ISKCON e BBT.

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 Artigos de capa das revistas Back to Godhead do ano de 2008, em português

 Back to Godhead 

© 2008 BBT Los AngelesTodos os direitos reservados.

1ª Edição

Articulistas: Arcana Siddhi Devi Dasi, Bir Krsna Svami, Caitanya Carana Dasa,

Indulekha Devi Dasi, Karuna Dharini Devi Dasi, Narada Rsi Dasa, Navin Jani,Sarvabhavana Dasa, Satyaraja Dasa, Urmila Devi Dasi, Yoginatha Dasa

Tradução: Bhagavan dasa (DvS)

Revisão: Prema-vardhana devi dasi (DvS)

Fundador-acarya: A.C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada

Visite-nos na internet: www.harekrishna.com.bre-mail: [email protected].

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Dedicado a Sua Santidade Dhanvantari Svami, Avyakta Rupa Prabhu, Giridhari Prabhu,

Lilananda Prabhu e a todos os demais Prabhupadanugas, que sempre sentem prazerouvindo as glórias do Senhor e de Seus devotos.

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APRESENTAÇÃO

Por sua biografia autorizada, o Srila Prabhupada Lilamrta, tomamos conhecimento dosfeitos sobre-humanos de Srila Prabhupada para cumprir a ordem de seu mestre

espiritual, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati, de apresentar a filosofia da consciência deKrsna em língua inglesa.

Dentre seus diversos empenhos para tal, está a revista  Back to Godhead , na qual SrilaPrabhupada criticava os hábitos das pessoas modernas e propunha o serviço devocionala Krsna como a solução de todos os problemas.

A primeira publicação da revista data do ano de 1944, quando Prabhupada,pessoalmente, escreveu os artigos, custeou a publicação e distribuiu as revistas, uma auma, pelas movimentadas ruas de Calcutá.

Posteriormente, Prabhupada realizaria que o capital aplicado nessas publicações“descartáveis” poderia ser melhor valorizado na edição e publicação de livros, uma vezque esses, ao contrário dos periódicos, tinham vida longa.

Todavia, as dificuldades financeiras de Prabhupada do começo, que lhe obrigavam aescolher entre os livros ou a revista, deixariam de existir. Assim, passou-se a distribuirtanto livros quanto periódicos, uma vez que os livros não substituem a revista,tampouco a revista substitui os livros.

Hoje, a revista continua circulando pelos Estados Unidos e Índia, mantida pordiscípulos e seguidores de Srila Prabhupada. Os artigos são de excelente qualidade, e de

temas variando de depoimentos devocionais a temas profundamente filosóficos.

É por essa trajetória que este pode hoje estar em suas mãos.

Desejando-lhe excelente leitura e realizações,Bhagavan dasa (DvS)

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SUMÁRIO

Janeiro/Fevereiro

Definindo o Divino, Oriente e Ocidente 6

Encontrando o Néctar nos Nomes de Krsna 11

ISKCON Ujjain: Um Novo Templo em um Antigo Local Sagrado 14

Março/Abril

Duas Sementes que Cresceram no Ferro 17

Provando do Amargor do Fel 22

Xeque-Mate: A Vitória da ISKCON na Rússia 28

Maio/Junho

Relatividade e o Caminho para o Absoluto 34

O Milagre Macmillan 37

Abrindo Caminho pela Trilha Não Aberta 40

Julho/Agosto

A Ciência do Conhecer Deus 42

Água: Uma Meditação 47

Retiro de Japa: A Cura Perfeita para o Auto-Negligenciamento 49

Setembro/OutubroSons Silenciosos 53

Hatha Yoga e o Bhagavad-gita 56

Um Convite ao Heroísmo Espiritual 60

Novembro/Dezembro

Livre do Infindável Karma 62

A Arte da Devoção 66

Minha Jornada ao Teísmo 69

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Definindo o Divino, Oriente e OcidenteDefining the Divine, East and West

por Satyaraja Dasa

“A Bhagavad-gita ensina uma visão panteísta de Deus”, ele disse, com sua confiança e anos de estudo

claramente expressos em seu tom autoritário. “A massiva visvarupa – a forma universal de Krsna, queabrange todo o fenômeno material, inclusive o tempo, diz-nos muito sobre Deus na Gita”.

Seu amigo, outro acadêmico de certo renome, pareceu discordar.

“A Gita vai além do panteísmo. Ela nos demonstra como perceber Deus em todas as coisas. O DécimoCapítulo, especialmente, mostra-nos como Krsna é o exemplar superlativo em setenta categorias, comoEle existe no mundo perceptível”.

Um terceiro colega também apresentou sua ponderada opinião: “A Gita, em última instância, ensinabhakti, devoção a Krsna, a Deidade pessoal e suprema. Neste sentido, a Gita não é diferente dasgrandes tradições monoteístas do ocidente. Eu acho que vocês ambos desconsideraram esse ponto”.

Eu assistia a uma mesa redonda de uma conferência da  American Academy of Religion, e, ouvindo aeles, notei que todos os três acadêmicos estavam corretos, cada um a sua maneira. Eu considereiprofundamente suas perspectivas individuais e realizei algo: O Gita tem tudo isso!

No ocidente, os teólogos tendem a falar de Deus de três maneiras, usando os termos panteísmo,panenteísmo e monoteísmo, com uma pequena variação entre eles. Em outras palavras, os teólogosocidentais falam de Deus (1) como impessoal, difundido por tudo o que vemos e além, ou como anatureza em si, (2) como existindo tanto dentro quanto fora de tudo, ou (3) como o Ser Supremo,onipotente, onisciente e todo o resto.

Aqueles familiarizados com o  Bhagavad-gita Como Ele É , de Srila Prabhupada, irão imediatamentereconhecer a correlação entres esses conceitos de Deus e  Brahman, Paramatma e  Bhagavan, os três

níveis do Supremo expressos mais sucintamente no Srimad-Bhagavatam (1.2.11): “Transcendentalistasversados, que conhecem a Verdade Absoluta, chamam essa substância não-dual de  Brahman,Paramatma e Bhagavan”.

Panteísmo e BrahmanPanteísmo é entendido de diversas maneiras relativas. Primeiramente, o panteísmo iguala Deus com anatureza, dizendo que Ele existe como tudo e que tudo é Deus. Em grego,  pân = tudo, e theos = Deus.De acordo com essa visão, o universo, incluindo toda matéria e energia, é uma entidade metafísica queé mais do que percebemos. O “Deus” panteístico – tanto impessoal quanto não-teísta (se considerarmoso sentido usual de teísmo) – é inteiramente imanente, se tivermos olhos para ver.

A doutrina do panteísmo vai freqüentemente mais a fundo, expondo “uma crença de que toda entidadeexistente é apenas um ser, e que todas as outras formas de realidade são ou modos (ou aparências)desse ser ou idênticos a ele”.1

1 H. P. Owen. 1971. Concepts of Deity (London: Macmillan).

Trata-se claramente de uma articulação ocidental de Deus como o  Brahman. Os Vedas descrevem o Brahman como uma divindade transcendental impessoal. O Rg Veda, em particular, diz-nos em umaoração conhecida como o Purusa-sukta (10.90.4) que o  Brahman, aqui em uma forma maispersonalizada, expandiu uma porção de Si como o mundo criado, onde Ele existe, sem personalidadeou forma, como a essência de tal mundo. Essa talvez seja a mais antiga referência ao panteísmo –mesmo não usando o termo – de toda a literatura religiosa, do oriente ou do ocidente.

No Gita, pode-se encontrar insinuações ao panteísmo (especialmente a unidade de Deus com ouniverso) no Capítulo Sete, onde Krsna Se identifica com vários fenômenos materiais: Ele é o sabor naágua, a luz no sol e na lua, o som no éter, a habilidade no homem e assim por diante. Uma visão mais

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acurada, todavia, revela que essas são manifestações de Sua energia, e que Ele Se mantém, de algumaforma, a parte delas. Ainda, Ele diz ser, em certo sentido, tudo aquilo que existe (vasudevah sarvamiti), e o Nono Capítulo do Gita tende a confirmar esse fato. (Vide versos 4, 5, 6, 16-18).

O Senhor elucida Sua natureza todo-penetrante novamente no Capítulo Dez, identificando-Se como omelhor de tudo: Ele é Siva, o oceano, o leão, Garuda, o Himalaia, a letra A, o tempo inexaurível,Brahma, a verdade em si, a vitória, a aventura e assim por diante. Mas, mais uma vez claramente, isso

não é tudo o que Krsna é, e, descrevendo-Se como acima, e muito mais, Ele diz tudo isso ser “meroindício” de Sua glória (esa tuddestah proktah, 10.40) e apenas uma centelha de Seu esplendor (mamatejo ‘msha-sambhavam, 10.41).

Uma visão panteísta aparece, de certa forma, mais evidente no Décimo Primeiro Capítulo do Gita, ondeo Senhor revela Sua Forma Universal (visvarupa). Detalhes dessa forma são apresentados no Srimad-Bhagavatam, Segundo Canto, particularmente nos capítulo um e seis. Ali, aprendemos que “agigantesca manifestação do mundo material fenomenal como um todo é o corpo pessoal da VerdadeAbsoluta...” (2.1.24); e que, “a esfera do espaço exterior constitui os orifícios de Seus olhos, e o globoocular é o sol como o poder da visão. Suas pálpebras são tanto o dia quanto a noite, e nos movimentosde Suas sobrancelhas, o Senhor Brahma e personalidades similares residem” (2.1.31). Neste sentido, oBhagavatam se desenvolve de forma a conceder uma elaborada meditação no Absoluto, permitindo ospraticantes a virtualmente “verem”-nO no mundo material.

Todavia, o Bhagavatam (1.3.30) é claro: “A concepção da forma universal virat  do Senhor, comoaparecendo no mundo material, é imaginária. Tem por fim permitir que os menos inteligentes [eneófitos] se adéqüem à idéia do Senhor ter uma forma. Mas, de fato, o Senhor não tem forma material”.Assim, a manifestação universal do Supremo se destina a levar os praticantes da compreensãoimpessoal do Absoluto para uma concepção mais avançada e pessoal do Senhor, e para ajudá-los arealizarem que, embora Ele não tenha forma material, Ele definitivamente tem uma forma espiritual.

Porque essa visão universal do Senhor iguala Deus com o mundo fenomenal – ou seja, como sendointegralmente amalgamado com a natureza invisível, e inseparável dela – trata-se de uma forma de

panteísmo, e precisa-se ir mais a fundo para entender a natureza espiritual de Deus. Um panteísta quefalha em ver além das majestosas e complexas manifestações da matéria talvez seja até mesmo tachadode ateísta, tendo rejeitado a origem pessoal, transcendente e todo-atrativa dessas.

Foi dito que uma visão mais liberal de panteísmo também pode ser encontrada nos ensinamentos doGita. Srila Prabhupada escreve:

“Panteísmo, em seu status mais elevado, não permite ao estudante formar um conceito impessoal daVerdade Absoluta, senão que estende a concepção da Verdade Absoluta ao campo da assim-chamadaenergia material. Tudo criado pela energia material pode ser conectado com o Absoluto através de umaatitude de serviço, que é a parte essencial da energia viva. O devoto puro do Senhor sabe a arte deconverter qualquer coisa pervertida na existência espiritual de tal coisa através da atitude de serviço, e

apenas com essa postura devocional a teoria panteísta pode ser perfeita” (Srimad-Bhagavatam 2.1.20,Significado).

Aqui, Prabhupada sugere que a perspectiva panteísta pode ser um estágio preliminar imperfeito quepode conduzir a uma realização mais madura e completa da Verdade Absoluta como algo muito maiordo que o que pode ser encontrado na natureza material. Isso é correlato à visão Vaisnava da realização

 Brahman como um conceito de Deus impessoal e primário.

Panenteísmo e ParamatmaEnquanto que o Gita vê o panteísmo como imaturo e incompleto, ele abraça mais prontamente a visãopanenteísta, vendo todas as coisas como imbuídas na presença de Deus e todas as coisas também comosendo Deus. Como que se opondo ao panteísmo, que vê Deus como tudo, o panenteísmo vê Deus emtudo ( pân = tudo, en = em, e theos = Deus) ou tudo em Deus. A palavra é usada nos dois sentidos. 2

2 Philip Clayton e Arthur Peacocke, eds. 2004. In Whom We Live and Move and Have Our Being: Panentheistic Reflectionson God’s Presence in a Scientific World (Grand Rapids, MI.: Eerdmans).

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O termo panenteísmo é atribuído ao filósofo alemão Karl Christian Friendrich Krause (1781-1832), quedesejava conciliar monoteísmo e panteísmo. De um ponto de vista Vaisnava, o panenteísmo temalgumas características libertadoras. Krsna, por exemplo, diz no Bhagavatam (11.15.35-36), “Eu existodentro de tudo como a Superalma, e fora de tudo em Meu aspecto todo-penetrante”. O Gita (6.30) nosencoraja a ver tudo em Krsna e Krsna em tudo:  yo mam pasyati sarvatra sarvam ca mayi pasyati. E oBrahma-samhita (5.35) nos traz: “todos os universos existem nEle [Krsna], e Ele está presente, em Suaplenitude, dentro de cada átomo”. Tratam-se claramente de afirmações panenteístas.

Agora, para Deus caber dentro de tudo, Ele teria de ser menor que o menor, e, para tudo caber dentrodEle, Ele teria de ser maior que o maior. Ele teria que ser ambos simultaneamente, algo inconcebível.De fato, é precisamente dessa forma que Ele é descrito em numerosas passagens escriturais. OSvetasvatara Upanisad (3.9), por exemplo, diz-nos que Deus é menor que o menor e maior do que omaior (anor aniyan mahato mahiyan). O Gita nos traz que Deus é tanto o menor (anor aniyamsam, 8.9)quanto o maior (vibhum, 10.12), e também revela que todos os seres estão em Krsna (mat-sthani-sarva-bhutani, 9.4).

O lado alternado do mesmo conceito, que Deus está dentro de tudo, conduz-nos ao assunto doParamatma. Panenteísmo, neste caso, deve ser considerado um equivalente ocidental para a realizaçãoParamatma, onde se vê Krsna (ou Sua expansão Visnu) como todo-penetrante – existindo dentro docoração de todo ser humano e, até mesmo, dentro de todo átomo. Trata-se de um aspecto mais pessoal elocalizado do Senhor se comparado com a concepção panteísta de  Brahman. Mas a coisa não é assimtão simples.

Há diferenças entre o panenteísmo, como comumente entendido, e a concepção Vaisnava deParamatma. Embora a similaridade de “Deus em tudo” exista em ambos, Paramatma vai mais além,dando uma “face” ao Deus do panenteísmo. O fator crítico aqui é a forma. Tanto o Gita quanto oBhagavatam (2.2.9-11), especialmente, são um tanto específicos quanto a como Visnu aparece em cadaátomo: “Ele tem quatro braços, carregando um lótus, uma roda de quadriga, um búzio e uma maça,respectivamente. Sua boca expressa Sua felicidade. Seus olhos são longos como pétalas de lótus; eSuas vestes, amarelas como o açafrão da flor kadamba, são adornadas com valiosas jóias; e Ele usa

refulgentes brincos e jóias para a cabeça”.Além do mais, embora a visão panenteísta advogue que tudo está em Deus e, às vezes, que Deus estáem tudo, nunca é clara a relação entre Deus percebido na natureza e o ser transcendental que é fonte detudo o que é visto. 3

3 Aquele que vê “Deus como tudo” (panteísta) pode facilmente cometer o freqüente erro de identificar-se com Deus, umavez que todo indivíduo é claramente parte do “todo”. Similarmente, uma pessoa que veja “Deus em tudo” (panenteísta) podetambém simplesmente ver o divino em si mesmo e erroneamente se identificar com Ele. Mas aquele que tem essasrealizações juntamente com a realização  Bhagavan, adorando Deus em um espírito de monoteísmo, está menos propício aser vitimado por tal compreensão errônea.

O Bhagavatam e o Gita dão-nos uma idéia muito mais desenvolvida – ou diríamos, sofisticada – acerca

dessa fonte. Tais textos Vaisnavas nos dizem que Krsna é a origem de todas as manifestações divinas, eque Paramatma é uma emanação da fonte original, compartilhando plenamente de Sua naturezatranscendental. A onipotente Pessoa Suprema pode reproduzir Seu ser essencial aparecendo em “umaforma pessoal expandida de Si mesmo”, como Prabhupada descreve Paramatma. Então, se podemosoferecer nova terminologia para a tradição teológica ocidental, chamemos a teologia de Paramatma de“Extensionismo Pessoal”. Isso difere tanto da visão de que Deus é, em certo sentido, idêntico a tudo oque é (panteísmo) quanto da visão de que Ele está impessoalmente dentro de tudo o que vemos(panenteísmo). Mas isso ainda não é o monoteísmo propriamente dito.

Monoteísmo e BhagavanQuando os acadêmicos falam sobre “as três grandes tradições monoteístas”, eles normalmente não

incluem o Vaisnavismo ou a tradição do Bhagavad-gita, senão que estão falando do Judaísmo, doCristianismo e do Islamismo. Mas se eles olhassem apenas um pouquinho abaixo da superfície, elestalvez encontrassem a mais antiga tradição monoteísta.

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É verdade que se deve ser cauteloso quando aplicando termos de um conjunto de tradições religiosasem outro com sua própria história, desenvolvimento e maneiras de pensar a espiritualidade. Pessoasque se identificam com a tradição judaico-cristã têm idéias muito particulares em mente quando sereferem ao monoteísmo, e isso deveria ser respeitado. O mesmo pode ser dito em relação aos termospanteísmo e panenteísmo. Mas feito este ressalvo, o Deus do Gita é claramente um Ser Supremo e orecipiente da adoração monoteísta: Krsna é descrito como o Deus dos deuses (10.14), a origem de todosos outros deuses (10.12), a pessoa primordial (11.38), o Senhor dos mundos (5.29), o criador emantenedor de tudo (8.9) e assim por diante. Como Krsna diz, ninguém é igual ou superior a Ele(11.43).

A supremacia de Krsna é, de fato, tão escancarada que se pergunta como podem existir dúvidas a esserespeito. Talvez por Ele ser contrastado com outros deuses – semideuses, ou especialmente seresdotados de poder – que servem de administradores universais. De fato, essa é a razão pela qual váriasformas de religião indiana são freqüentemente descritas como politeístas, ou como fomentadoras daadoração de vários deuses. Mas, ao menos em termos do Gita, tais encargos não encontram sustentação.Embora outros deuses talvez existam, Krsna é claramente supremo.

Estudantes bíblicos talvez queiram nos interromper aqui, clamando que, uma vez que outros deuses sãoaté mesmo reconhecidos, a religião do Gita não é verdadeiro monoteísmo, no senso tradicional dapalavra. Deve ser lembrado, todavia, que antigas tribos Israelitas praticavam a “monolatria” como emoposição ao monoteísmo estrito: eles adoravam um Deus Supremo dentre vários. Além do que, como jáexposto, usamos o termo monoteísmo com cautela.

Também deveria ser notado que o monoteísmo do Gita é distinto, merecendo uma terminologia própriapara si. Oportunamente, Graham M. Schweig, professor de estudos religiosos da UniversidadeChristopher Newport, Virgínia, chama o Vaisnavismo do Gita de “monoteísmo polimórfico”, ou seja,uma teologia que reconhece várias formas (ananta-rupa) de uma única, individual e unitária divindade.4

4 Graham M. Schweig, “Krishna, the Intimate Divinity,” in Edwin F. Bryant and Maria L. Ekstrand, eds., 2004. The HareKrishna Movement : The Postcharismatic Fate of a Religious Transplant (New York: Columbia University Press), p. 18.

Uma vez que é afirmado aqui que Deus tem muitas formas, uma pessoa poderia superficialmenteacusar a tradição de ser politeísta. Mas aqueles que entendem propriamente a tradição sabem que elaapenas reconhece a capacidade de Deus estar em vários lugares em várias formas ao mesmo tempo.Isso não quer dizer que toda forma seja forma de Deus. A literatura Védica é bem clara quanto àconstituição de uma forma do Senhor Supremo, e apenas essas devem ser adoradas.

O Gita promove a adoração a uma Suprema Personalidade de Deus, também conhecida por  Bhagavan.5

5 Em última instância, como aponta o Dr. Scweig, a tradição pode ser vista como bi-monoteísmo polimórfico, uma vez queatesta uma divindade de dois gêneros, cuja manifestação derradeira é Sri Sri Radha-Krsna (Ibid. p. 19).

Mas a adoração monoteística de  Bhagavan, amorosamente adorado como Krsna ou Visnu, é única nahistória das religiões, pois por aqui podemos de fato visualizar o Senhor de nossas orações. Se asescrituras estabelecem um rosto para Paramatma, descrevendo como Ele existe dentro de cada átomo,elas fazem muito mais por Sri Krsna. Os devotos se tornam íntimos de Suas numerosas característicasextasiantes e de Suas atividades diárias com Seus associados eternos no mundo espiritual.

Três Aspectos da Mesma VerdadeEu concordaria com os três acadêmicos mencionados no começo deste artigo, aceitando suasdiversificadas visões. Como o primeiro desses homens bem-intencionados, eu reconheço que o Gitapromove um tipo de panteísmo, a presença de Deus como uma dimensão metafísica da natureza. Maseu me adiantaria para adicionar que o panteísmo do Gita vai além do tipo de panteísmo que estamos

acostumados a ouvir no ocidente. Ele nos revela que há uma pessoa por detrás da divindade perceptívelno mundo material. Concordo, também, que o Gita nos revela uma forma de panenteísmo,compartilhando com seus leitores a imanência de Deus e como podemos perceber tal imanência emnossa vida rotineira. E, finalmente, é claro, concordo com o terceiro acadêmico mais do que todos –

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que o ensinamento último do Gita é bhakti, ou devoção pela Suprema Personalidade de Deus. Bhakti éa coroa do Gita.

Do que discordo é a maneira com que os três acadêmicos abordam a diversidade do Gita. O Gita nostraz diversas visões de Deus, todas legítimas e cada uma revelando diferentes aspectos do divino. Ofato de um desses aspectos estar correto não faz dos outros incorretos. Ao contrário, o Gita se diverteem uma realidade multifacetada, levando o seu leitor dos conceitos fundamentais da Verdade Absoluta

até Krsna, a Suprema Personalidade de Deus. Brahman, Paramatma e  Bhagavan são três aspectos da mesma Verdade, manifestando-se de formavariada de acordo com a realização e conhecimento de cada praticante da vida espiritual. Aqueles queabordam Deus através do conhecimento tendem a realizar Seu aspecto de eternidade e, em perfeição,essa é a realização Brahman. Yogis e místicos meditam no Senhor no coração, e o ponto mais alto detal meditação se chama realização Paramatma. Aí a pessoa não só realiza a eternidade, mas também ofim último de todo o conhecimento. Finalmente, a mais elevada e inclusiva busca teísta culmina nadevoção por Deus. Aqueles que adotam esse processo se focam em  Bhagavan, a adoração que conduzao amor divino. Aqui, obtém-se o benefício de todos os outros processos, proporcionando aopraticando o ápice, não apenas da eternidade e do conhecimento, mas também da bem-aventurança.Isso é o melhor que o panteísmo, o panenteísmo e o monoteísmo têm a oferecer.

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Encontrando o Néctar nos Nomes de KrsnaFinding the Nectar in Krishna’s Names

por Bir Krsna Svami

Os nomes de Krsna são o repositório de toda a felicidade e a maior riqueza. Se cantarmos

apropriadamente, não teremos de experimentar misérias materiais, mas estaremos aptos a experimentaro que os materialistas poderiam erroneamente categorizar como miséria: o êxtase espiritual de intensasaudade de Krsna.

Uma vez que tal bem-aventurança vem do cantar apropriado, talvez nos perguntemos como podemoscantar com atenção e concentração mesmo que ainda não sejamos devotos puros de Krsna. Comopodemos controlar a mente? Como podemos deixar de pensar nas outras um milhão de coisas além donome de Krsna?

Cantar corretamente demanda prática, e o primeiro ponto é abordar a prática de forma positiva. Quandoabordamos os santos nomes de forma negativa, freqüentemente pensamos mais sobre o que nãodeveríamos estar fazendo do que o que deveríamos estar fazendo. Como diz o ditado “ you can’t do a

don’t ” [Você não pode fazer um “não faça”]. Então, ao invés de pensar: “Agora eu tenho que controlarminha mente e não pensar em outras coisas”, podemos pensar: “Agora eu vou me concentrar nos nomesde Krsna, que são idênticos a Krsna. Por me concentrar nos nomes de Krsna, Krsna me dotará cominteligência plena, e eu irei amá-lO cada vez mais”.

Além da maneira positiva de pensar, há outras maneiras de manter-se focado nos nomes de Krsna. Nósfreqüentemente cantamos em duas situações: em kirtana, ou cantar em grupo, e em  japa, ou cantarprivado e sussurrante. Podemos abordar cada um de forma mais ou menos diferente.

Em kirtana, devemos dar nossa atenção aos santos nomes sem considerar a qualidade musical dokirtana. Eu costumava, por exemplo, ficar muito incomodado quando a pessoa cantando saía do tom,ou era um mau cantor, ou não sabia manter uma melodia. Às vezes parecia que eu estava

completamente rodeado por tais pessoas. Eu me encontrava, muitas vezes, em lugares em que quasetodos pareciam carentes de habilidades musicais. Então eu entendi que Krsna havia arranjado aquelassituações para que eu pudesse apreciar Seus nomes.

Dois Níveis de Relacionamento com o KirtanaRuci, o estágio de profundo gosto pelo santo nome, tem dois níveis. No primeiro, a pessoa tem umgosto por kirtana somente quando a pessoa que o lidera é um cantar perito e os instrumentos são todostocados em harmonia por músicos qualificados. No segundo nível, a pessoa tem um gosto verdadeiropor kirtana, independente da perícia musical daqueles que acompanham e daquele que lidera o kirtana– ela fica satisfeita desde que o nome esteja sendo cantado por devotos que estejam seguindoestritamente o processo do serviço amoroso a Krsna. É dito que o guru de Prabhupada, Srila

Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, colocaria, algumas vezes, o pior cantor entre os devotos paraliderar o kirtana apenas para encorajar os devotos a alcançarem o nível superior.

Assim, realizei que, pela misericórdia de meu mestre espiritual, Srila Prabhupada, e de meu avôespiritual, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, eu estava sendo conduzido a um nível superior deapreciação aos santos nomes. Finalmente eu me rendi, e entendi que o acompanhamento musical eraapenas o veículo pelo qual os santos nomes chegavam, e que eu não deveria estar apegado ao veículo.Eu devia estar apegado ao passageiro do veículo: Krsna na forma de Seus nomes. Então, com certaprática, tornei-me capaz de colocar meu foco nos santos nomes – Hare Krsna, Hare Krsna, KrsnaKrsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare – ao invés de me preocupar com ahabilidade musical daqueles executando o kirtana.

Depois que desenvolvi esta postura, passei a desfrutar de todo kirtana. Os santos nomes são incríveis.Devotos que verdadeiramente saboreiam os santos nomes sentem que jamais poderão ter o bastante

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deles. Como recita Srila Rupa Gosvami, o devoto irá orar por milhões de línguas e milhões de ouvidospara cantar e ouvir.

Meu antigo apego ao veículo era como alguém apegado ao prato ao invés da prasadam, o alimentoespiritual, nele. Imagine uma pessoa que rejeita uma prasada saborosíssima porque ela foi servida emum prato de folha ao invés de um de prata. Isso é ilógico.

Quando alguém participa de um kirtana, a pessoa deve simplesmente ouvir o maha-mantra e pensar em

seu significado: Estamos mendigando a Radha e Krsna para que nos situem a Seus pés de lótus,estamos implorando a Radha e Krsna que sejam misericordiosos conosco. Se eu medito em como estouimplorando a Radha e Krsna para que me concedam compaixão e outras qualidades devocionais, entãoo kirtana se torna um bem-aventurado momento de oração – independente da qualidade doacompanhamento musical.

Após praticar ouvir kirtanas com essa mentalidade, encontro dificuldade para entender pessoas quefazem afirmações do tipo: “Aquele kirtana foi extático!” (indicando que alguns outros não foram), oupessoas que pensam que têm que viajar centenas ou milhares de quilômetros para experimentar um“kirtana extático”. Kirtanas extáticos estão disponíveis a todos, em todo lugar e o tempo todo.

É claro que quando apresentamos a consciência de Krsna para outros é importante que oacompanhamento musical seja de primeira classe. Não deveríamos forçar a compreensão acimanaqueles que não estão prontos para tal.

Japa com FocoPara focar no santo nome durante a  japa, sentar-se com a coluna ereta costuma ajudar. Acomodar-seem uma almofada e cruzar as pernas na postura conhecida como “lótus” também pode ajudareventualmente. A pessoa pode, então, relaxar conscientemente cada músculo do corpo a fim de que aúnica tarefa seja prestar atenção nos santos nomes. Com uma mente tranqüila, a pessoa finalmente sefoca no som dos nomes de Krsna.

É muito bom estar consciente de algum pedido específico a Radha e Krsna, como mencionado

anteriormente na seção kirtana. O pedido a Radha e Krsna deve ser feito no humor de mendicânciaemocional. Quando cantamos, devemos sempre ter um sankalpa: um desejo ou propósito espiritual.

Então simplesmente deixe os santos nomes fluírem. Sem forçar. Sem lutar com a mente. Apenas orelaxante cantar dos nomes de Krsna. Quando se sentar para relaxar o corpo e cantar japa, diga à mentede forma positiva para se focar no som. Se você repetir isso por muitas vezes, a mente irá obedecer.Com o devido desejo e compreensão, nossa mente irá naturalmente se atrair pelo santo nome, e iremosnadar no oceano de néctar. Nada mais importará, e tempo e espaço deixarão de existir.

É importante ser estrito quanto a não usar o tempo da  japa para alguma outra atividade. Para algunsdevotos, o período da  japa no templo é usado para fins sociais ou administrativos. Exceto ememergências, eu não interrompo a minha japa.

Nós não queremos que o tempo da nossa  japa seja um mero momento de descontração social. Nósdevemos considerar isso tão seriamente quanto alguém querer conversar conosco enquanto lideramosum kirtana. Certamente não pararíamos o kirtana a não ser que fosse uma emergência. Devemos cantare ouvir como o Bhagavatam (2.3.10) recomenda, tivrena bhakti-yogena yajeta purusham param:devemos adorar o Senhor com grande intensidade.

O bom cantar pela manhã começa na noite anterior. O que fazemos logo antes de dormir à noite afetanossa consciência não apenas enquanto descansamos, mas também no dia seguinte, especialmentedurante a manhã. Os Vedas descrevem dois estágios no dormir – inconsciência e sonho – e elesenvolvem diferentes atividades da mente. Enquanto sonhamos, por exemplo, processamos (o querecebemos no passado), predizemos (trabalhamos eventos com os quais possivelmente teremos de lidar

no futuro) e descarregamos (jogamos fora informações desnecessárias ou indesejadas). Tais atividadesenvolvem a mente subconsciente. Então, se nossos pensamentos estão absortos em algo antes de irmos

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dormir, por exemplo, processamos aqueles pensamentos durante a noite e isso afeta a nossa consciênciaquando acordamos pela manhã.

Alguns anos atrás, quando eu era adolescente, meu pai comprou para mim um carro de câmbio manual,que eu não sabia como dirigir. Toda tentativa que eu fiz foi mal-sucedida. Então eu estudei osmovimentos e a teoria por detrás da troca de marchas do carro, meditei nisso, sonhei com isso e, namanhã seguinte, eu estava apto a usar qualquer carro de câmbio manual sem dificuldades.

Srila Prabhupada entendia bem esse princípio. Por isso ele advogava um programa devocional noturno,especialmente a leitura de seu livro Krsna: A Suprema Personalidade de Deus antes de a pessoa irdescansar à noite. Se você se absorve em krsna-katha (tópicos relativos a Krsna) antes de descansar ànoite, durante a noite sua mente e cérebro irão processar krsna-katha, você irá acordar pensando emKrsna, e seu corpo sutil será purificado. Que maneira maravilhosa de se tornar consciente de Krsna!

Pode acontecer de que enquanto lemos krsna-katha durante a noite fiquemos tão empolgados com ospassatempos do Senhor que fiquemos andando de um lado para o outro e não consigamos dormir. Isso,eu diria, pode ser uma ocupação arriscada! Então, sendo esse seu caso, você pode adotar um tipo dekrsna-katha mais meditativo.

Cantando ao AcordarComo devemos acordar pela manhã? Geralmente as pessoas acordam cambaleantes, mas isso éreduzido se você está ouvindo krsna-katha à noite. De qualquer forma, independente do estado em queacordemos, podemos imediatamente começar a cantar o maha-mantra em voz alta.

Eu canto enquanto faço minha higiene rotineira. Eu costumo aproveitar essa oportunidade para praticarnovas melodias de kirtana. Cantar assim é às vezes tão agradável que tenho que me lembrar que tenhooutras coisas para fazer de manhã além de cantar em minha casa para mim mesmo. Outra alternativa éouvir uma aula ou kirtana de Srila Prabhupada. É importante que se escute uma aula ou kirtanasomente de pessoas que estejam praticando serviço devocional. Devemos ser muito criteriosos nessesentido. Por ouvir o cantar ou palestras de pessoas não estritas na prática da consciência de Krsna, a

nossa consciência pode se tornar encoberta pelos modos da natureza.O Padma Purana afirma:

avaishnava-mukhodgirnam

 putam hari-kathamrtam

shravanam naiva kartavyam

sarpocchishtam yatha payah

“Não se deve ouvir nada sobre Krsna de um não-Vaisnava. O leite tocado pelos lábios de uma serpentetem efeito venenoso; similarmente, palestras sobre Krsna [hari-kathamrta] dadas por um não-Vaisnavatambém são venenosas”.

Assim, as duas sugestões acima – o que fazer antes de dormir e o que fazer ao acordar – prepara amente para cantar uma boa japa.

Se nos aproximarmos dos santos nomes, em kirtana e  japa, com muito cuidado e atenção, logoentenderemos quão simples e sublime a vida espiritual pode ser.

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ISKCON Ujjain: Um Novo Templo em umAntigo Local Sagrado

ISKCON Ujjain: A New Temple in an Ancient Holy Place

por Sitarama Dasa

Recentemente, após um longo afastamento, fui convidado a retornar à vida espiritual por Sua SantidadeBhakti Caru Svami, com quem eu havia desenvolvido um relacionamento firme. Ele ajudou minhafamília a se mudar da África do Sul para o templo de um ano de idade Radha-Madana-Mohana emUjjain, Madhya Pradesh. Tendo abandonado minha vida artística hedonista, enchi-me de incerteza,agitação e medo.

Já haviam se passado vinte e dois anos desde que me tornara um discípulo iniciado. No começo dosanos oitenta, eu fui o primeiro negro sul-africano a se afastar da agonia do apartheid  e ir para aconsciência de Krsna, longe de todo aquele pandemônio político. Consumido pelo violento ódio doregime do apartheid , fui afortunado de meu caminho se cruzar com o movimento Hare Krsna atravésde um Bhagavad-gita que ganhei de presente. Impressionado pela qualidade lírica e espiritual daquelasrevelações, tornei-me enojado do contínuo ritual de violência – doméstica, social, política e até mesmoacadêmica – que acompanhou minha existência. Eu decidi abandonar meu estilo de vida  Rastafari

 fumador de ganja para empreender uma busca pelas razões verdadeiras.

A aventura me levou a um programa da ISKCON Reino Unido para novos devotos, em um templo nocentro da Inglaterra; em seguida, recebi iniciação na Bhaktivedanta Manor e fui fazer serviçodevocional no templo da rua Soho em Londres. Eu deixei a Sociedade no meio dos anos oitenta enovamente passei a atuar como ativista artístico na África do Sul. Durante esse período, eu me casei eme tornei o infame terrorista cultural iconoclasta Zebulon Dread, famoso por satirizar e diminuirdestemidamente a sociedade. Publiquei seis livros e dez revistas profanas, pueris e nocivas, e meapresentava no palco em monólogos com o distinto objetivo de vomitar humor irônico sobre a

sociedade. Depois de duas décadas sendo “o grande entristecedor”, eu tive o bastante daquilo e decidi,mais uma vez, mudar de vida. Dessa vez, pelo plano de Krsna, eu levei uma família inteira comigo.

Descendo na ÍndiaMumbai era quente, barulhenta e movimentada às 2 horas da manhã, quando saímos do avião. Emnossa primeira vez na Índia, tínhamos de pegar um trem para Ujjain sem nenhuma idéia do que esperar.A pessoa delegada a nos assistir se esqueceu de entregar as nossas passagens de trem em Mumbai. Deforma impressionante, nenhum dos oficiais no trem se aborreceu. Todos foram muito solícitos, e com orecebimento de um longo telefonema confirmando os números de nossas passagens, toda a situação foiamigavelmente resolvida. O solicito condutor ficou muito satisfeito em receber um pouco de  prasadamde Radha-Rasavihari, a Deidade presidente da ISKCON Mumbai. Eu fiquei impressionado com a

maturidade e tranqüilidade com que toda a situação foi conduzida.Pela manhã, após uma viagem que nos dera apenas alguns pequenos vislumbres da vida indiana, o tremparou na milésima estação e, olhando para fora, para o que parecia ser uma represa, sentamo-nosnovamente pensando que não poderia ser ali. Mas, então, um intrépido passageiro nos disse, de formafrenética, que ali era, sim, Ujjain – e que era melhor nós andarmos rápido. Muitas mãos apareceram emuma corrida alucinante para ajudar a minha família a rapidamente desembarcar.

A viagem ao longo das ruas de Ujjain foi um alerta. Vacas mastigavam suas rações pelo meio da rua.Os motoristas se cruzavam como pilotos kamikazes japoneses. Um camelo, um elefante, um carro deboi e numerosos carros de mão disputavam por espaço na rua. Minhas filhas gritavam surpresas emgrande espanto, absortas no louco caos. Ao perguntarmos ao nosso guia, Laksminatha, se aquilo eranormal, ele apenas riu. Havia pessoas por toda a parte!

De repente, um gigantesco outdoor anunciou a ISKCON Ujjain. Eu havia perguntado anteriormente aLaksminatha sobre os vários outros templos que eu via pela paisagem da cidade. Ele disse que Ujjain

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tem muitos templos do Senhor Shiva, mas que ali era onde Krsna e Balarama estudaram sessenta equatro matérias por vários dias sob a tutela de Sandipani Muni, cujo ashram continua como um localsagrado muito visitado. Ujjain é a morada do Templo e Comunidade Mahakaleshvar, onde uma belaShiva-linga é adorada. Ujjain é reverenciada como um dos sete locais onde Shiva reside eternamentecomo o protetor dos locais sagrados.

O Kumbha Mela de Ujjain

A cidade de Ujjain é tradicionalmente conhecida como uma das sete cidades sagradas da Índia e umdos quatro locais onde o néctar eterno dos semideuses caiu na terra após um forte impasse com osdemônios. Esse antigo acontecimento deu a Ujjain o peso espiritual que marca o Kumbha Mela, umfestival que acontece a cada doze anos. Durante esse tempo, a cidade fica repleta de alguns milhões deperegrinos que vêm de toda a Índia.

Também em Ujjain, às margens do sagrado rio Shipra, está o Rama Ghat, reverenciado e adorado comoo local onde o Senhor Ramacandra se banhou há muitas eras atrás.

Notável Templo NovoEm meio a esse ambiente de cultura milenar, que ressoa com grandiosos sinos, está a nova estrela do

pedaço: o contemporâneo templo Sri Sri Radha-Madana-Mohana, obra-prima do mármore.Majestosamente vestido em mármore branco do Makrana, Rajastão, o mesmo que decora o Taj Mahal,o templo se projeta imponente, como que dizendo para os devotos da ISKCON continuaremexpandindo a missão de Sri Caitanya Mahaprabhu.

Impressionados com o calibre do templo, nós avidamente buscamos o darshana de Suas OnipotênciasRadha-Madana-Mohana, Krsna-Balarama e Gaura-Nitai (Caitanya Mahaprabhu e Nityananda Prabhu),que adornam tronos cuidadosamente esculpidos e folheados a ouro que, sob a delicada e balanceadailuminação, brilham como feixes de ouro derretido. A refulgência que emana do altar nos dá umsentimento de lisonja e boas-vindas que ridiculariza qualquer descrição poética. O processo de folhear aouro, fomos informados, é um procedimento meticuloso que requer grande paciência, dedicação e

devoção. Pela primeira vez em minha vida, vi o Senhor Supremo em Sua cor azul-enegrecida de nuvemde chuva e imediatamente desejei, um dia, levá-lO para a África do Sul. Todos devem reparar em Suaforma bem vestida e curvada em três pontos de forma a deleitar Sua eterna consorte, Srimati Radharani.Eu meio que fiz um voto que, se Ele me permitisse ficar e reformasse meu caráter incorrigível, eu iria,um dia, construir para Ele um templo magnífico para adorá-lO como Sri Sri Radha-SyamasundaraÁfrica-Isvara. Srimati Radharani emite um sorriso radiante e recatado e um olhar amável e encantador.As gopis Lalita e Vishakha acompanham Radha-Madana-Mohana. Vendo-as com as bochechas rosadasde êxtase, minhas dramáticas filhas suspiram de prazer.

O altar é um espetáculo espiritual de cores dramáticas, e o ar é perfumado com aquela fragrânciaconhecida apenas pelos devotos que já viveram em um templo. Esse aroma nos acompanha por toda avida. Expirando pela primeira vez, eu respiro profundamente e choro internamente por ter ficadoafastado por tanto tempo.

Olhando para cima, ficamos todos atônitos com o afresco que adorna o teto – uma esplêndida retrataçãodo Senhor em Sua rasa-lila. Habilidades sobre-humanas trouxeram à vida essa inocente dança quederrete os corações dos transcendentalistas sinceros.

A Inspiração por Trás da ConstruçãoO templo continua um trabalho em progresso, mas já é mais do que um incentivo para o objetivo dosdevotos, inspirados por seus líderes, de terminarem a construção principal dentro de um ano. Comapenas um pequeno exército de jovens devotos com pouca ou nenhuma experiência em construção,Bhakti Caru Svami bajulou, repreendeu, entusiasmou e inspirou sua equipe a superar todos os

obstáculos para fazer dessa visão incrível uma realidade.“Às vezes me pergunto como fizemos para construir este templo em dez meses”, Bhakti Caru Svamidisse a Avantika, a revista do templo. “A única resposta que vem a minha mente é que isso aconteceu

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pela misericórdia de Krsna. Isso definitivamente prova que se nós, com sinceridade, tentamos servir aKrsna, Krsna ajuda, e o resultado é que acontece todo o tipo de coisas maravilhosas”.

Pouco tempo depois de nossa chegada, um grupo de devotos chegou de Taiwan. Eles embelezaramUjjain com seu tinido Mandarim e contagiante entusiasmo acompanhado da humildade chinesa. Peranteas Deidades, eles ficaram emudecidos e de olhos arregalados vendo as resplandecentes vestes eparafernálias que brilhavam juntamente com os Senhores refulgentes. Vendo aqueles devotos, lembrei-

me que Srila Prabhupada havia construído uma casa para o mundo inteiro viver.Os membros do grupo taiwanês eram alguns dos primeiros visitantes a desfrutarem dos vinte e oitoquartos do completo hotel. O Restaurante Govinda, no térreo, com seus requintados pratosvegetarianos, tem seu espaço em harmonia com todo o ambiente santificado, livre da onipresentemúsica bollywoodiana que polui a atmosfera onde quer que você vá. Na cobertura, um auditórioaguarda idéias inovadoras para teatros conscientes de Krsna, bem como música clássica, dançatradicional e conferências devocionais. Em uma construção adjacente, reside o brahmacari ashram, comseu hall de prasadam e secretaria central. Como o hotel, é coberto de mármore branco.

Em Ujjain, abundam generosas apreciações para esse magnífico feito. O templo se tornou um novolocal sagrado de Ujjain, visitado por milhares, que tornaram este antigo local empoeirado em uma arena

sempre festiva. Os visitantes ficam maravilhados com os bem-cuidados jardins e os kirtanasempolgantes, e se servem fartamente nos balcões de livros e quiosques de prasadam. Fiquei muito felizao ver os motoristas e ciclistas que passavam pararem, desembarcarem e oferecerem reverências da ruapara seguirem com suas atividades diárias. É um milagre muito emocionante Ujjain ter Krsna eBalarama de volta após cinco mil anos.

Esta cidade renomada por suas instituições educacionais e cultura orgulhosamente recebeu esse novointegrante na sua grandiosa história espiritual. Aqueles que nunca haviam visto anteriormente apomposa adoração de um templo ficaram assombrados. Eu às vezes gostaria de ser capaz de saber oque os falantes e sempre animados moradores locais estão dizendo. O templo atrai multidões depessoas a cada aratik matinal, quando Sri Krsna, de acordo com o nível de devoção de cada um, conduz

todas as pessoas rumo à Verdade Suprema, que é Ele mesmo. Eu imagino que o Senhor Shiva, o maiordos devotos, deve estar muito feliz.

Sentindo-me em CasaÀ medida que nossa vida espiritual vai se encorpando, eu e minha família absorvemos vários elementosespeciais da cultura Vaisnava. Em uma esquina, no lado norte do templo, um jardim de Tulasi crescecom lindas arvorezinhas usadas diariamente nos rituais devocionais. Ali é um recanto para se meditarem Vrndavana. Próximo, um curral insinua o que irá se tornar um próspero programa de proteção àsvacas. Minhas filhas gritam de felicidade testemunhando o nascimento de dois bezerros. Encantadaspor essa vida mística, elas constantemente cantam canções de encher o coração. Eu nunca deixei queelas entrassem no sistema público de ensino. Elas são intocadas pela cultura popular moderna.

Muitos planos majestosos prometem futuro próspero à ISKCON Ujjain, alguns já tomando forma. Umprojeto de distribuição de alimento ao meio dia está começando a entrar em ação com a meta dealimentar 21.000 crianças estudantes com uma refeição nutritiva ao dia. Um projeto de fabricação demurtis fornece deidades de Prabhupada para todo o mundo. Um IT center e um estúdio de filmagemestão entre os projetos também, e terras estão sendo adquiridas para uma escola primária. Residênciasfamiliares irão ampliar a hotelaria.

“Isso é só o começo”, diz Bhakti Caru Svami. “Viemos aqui para fazer algo tão grandioso que todo omundo irá contemplar maravilhado e reconhecerá a grandeza da Índia. Nós, então, convidamos a todospara se juntarem a nós na execução dessa gloriosa missão”.

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Duas Sementes que Cresceram no FerroTwo Seed that Grew in Iron

por Urmila Devi Dasi

A meta era uma nação de ateístas. Por três gerações – setenta anos – o governo defendeu explicita e

determinadamente a política de criar tal nação. Como em outras Repúblicas Soviéticas, a propagandaateísta permeava a educação formal e a vida social da Armênia. Qualquer indício de prática devocionala Deus, sob o rótulo de qualquer religião, quer de forma pública ou privada, freqüentementeacarretavam em imediatas conseqüências brutais.

Um dia, em uma vila montanhosa da Armênia, um típico engenheiro ateísta, um homem bemrespeitado em sua comunidade, sentou-se ao ar livre para fumar. Quando um caminhão estacionoupróximo a ele para lhe entregar um pacote, ele e seu amigo, o motorista do caminhão, conversaramsobre as novidades na cidade. Enquanto o motorista carregava o pacote para a casa do engenheiro, oengenheiro viu um livro diferente no caminhão: uma tradução para o russo do Sri Isopanisad . Curioso,ele o pegou.

Ele olhou para a foto de Srila Prabhupada na parte detrás e pensou: “Que impressionante existir alguémcomo este homem vivendo no planeta!”.

Então, ele espontaneamente se jogou ao chão e ofereceu reverências à foto.

“Que livro é este?”, ele perguntou ao motorista que saía de sua casa.

“Ah, um rapaz me empurrou esse livro. Você quer ficar com ele? Eu não ligo para ele”.

O engenheiro passou o resto do dia absorto na tradução de Prabhupada deste Upanisad chave do Yajur Veda. Naqueles dezenove versos e comentários, o engenheiro encontrou dois pontos que ele decidiucolocar em prática imediatamente, não apenas para si, mas para toda a sua família. A partir daquele dia,sua família, incluindo seus seis filhos, tornaram-se vegans e passaram a cantar o maha-mantra Hare

Krsna.Dois anos depois, o engenheiro que mais tarde seria iniciado com o nome de Brahmananda Puri Dasaconseguiu se encontrar com outros devotos de Krsna. Ao saber que eles estavam secretamenteimprimindo livros espirituais, muitas vezes compilados à mão ou com equipamentos precários, eleofereceu sua espaçosa casa e seu celeiro para que se fizessem ali as impressões. Com um pouco dedinheiro de sua reserva pessoal e de alguns livros vendidos anteriormente, ele passou a procurar porequipamento de impressão. Uma vez que imprimir era ilegal, conseguir o equipamento não era algocomo ir à loja e comprar, senão que era algo muito perigoso e que demandava muita engenhosidade.Muitas vezes ele tinha de agir ilegalmente até mesmo para conseguir papel, de maneira geralindisponível sob qualquer preço.

Após algum tempo, Brahmananda Puri tinha todo o equipamento de impressão em seu celeiro. Sendo ocabeça da impressão de livros religiosos proibidos, ele era o devoto a mais se arriscar dentre todos osdevotos soviéticos. Enquanto aqueles produzindo e vendendo livros em pequena quantidade estava soba constante ameaça de serem torturados e presos em cadeias ou hospitais psiquiátricos por alguns mesesou poucos anos, a captura de Brahmananda Puri teria resultado em mais de quinze anos de puniçãoseguida por execução.

Depois que o Comunismo entrou em colapso nos países soviéticos e a impressão de livros se tornoulícita, Brahmananda Puri imprimiu quase dez milhões de livros com capital muito reduzido. Hoje ele éuma das principais pessoas comprometidas em tornar o planejado templo de Moscou uma realidade. Éele quem consegue as autorizações e aprovações governamentais e que faz com que o processo siga em

frente

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A Descoberta de um CientistaDistante daquela vila armênica, um cientista ateu caminhava pelas ruas de Moscou. O ano era 1977, eele era um acadêmico brilhante, cursando o curso de Química na Universidade Estadual de Moscou. Aidéia de que sua vida pudesse ser associada à religião era a última coisa que ele poderia imaginar. Masdepois da Feira do Livro de Moscou, na qual os devotos “perderam” alguns livros e folhetos, um deseus amigos se tornou vegetariano. Ele também notou que seu amigo estava mais reservado do que o

habitual. O estudante cientista, sob a influência de seu amigo, também deixou de comer carne, peixe eovos, e leu o Bhagavad-gita em russo, embora fosse uma tradução que não a de Srila Prabhupada. Logoele descobriu a razão por trás do comportamento dissimulado recentemente adotado por seu amigo:Para evitar ser preso, ele estava escondendo seu cantar do mantra Hare Krsna.

Esse cientista, que mais tarde aceitou a ordem renunciada e o nome de Bhakti Vijnana Gosvami, ficouchocado ao ler o Gita. Seu pai e seu avô eram cientistas grandes e respeitados, e toda a sua família eraateísta. Todavia, o Gita afetou sua vida como apenas um outro livro – o Evangelho Segundo João –havia feito. Após ler o Gita, ele percebeu que não poderia viver mais como vinha vivendo até então. Olivro apresentava uma visão tão harmoniosa e cativante da vida que o convidou a deixar a existênciaque não mais o satisfazia.

Ele notou, no entanto, que a principal diferença entre ler o Gospel e ler o Gita era que, depois de terlido o primeiro, ele não sabia como mudar ou o que mudar. Agora, com o Gita, seu amigo havia lhedado a prática dos quatro princípios reguladores (não se intoxicar, não praticar sexo ilícito, não jogar enão comer carne, peixe ou ovos) e do cantar do mantra Hare Krsna – Hare Krsna, Hare Krsna, KrsnaKrsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

A iniciativa de Bhakti Vijnana Gosvami em passar a cantar Hare Krsna é particularmente notável dadoque seu amigo não lhe explicou nada sobre o significado ou natureza do mantra. Ele apenas lhe disseque o cantar seria bom para ele, sem nem mesmo lhe dizer quem era Krsna. A edição que BhaktiVijnana Gosvami havia lido não trazia o nome de Krsna, senão que apenas Bhagavan (significandoDeus, aquele pleno de todas as opulências). Em todo caso, como um cientista, ele decidiu fazer uma

experiência com o mantra. Para sua grande felicidade, o mantra o mudou profundamente.Ele sabia que, se pego cantando, seria preso e torturado. Assim, a primeira japa de Bhakti VijnanaGosvami, ao invés da tradicional japa de 108 contas, era um cordão de vinte e sete contas, que podiaser escondido mais rapidamente se necessário. Quando seu amigo o levou para conhecer outrosdevotos, Bhakti Vijnana Gosvami se decepcionou. A maioria não era intelectual como os colegas deseu meio. Ele apreciou o fato deles serem pessoas tranqüilas, e encontrou grande prazer juntando-se aoskirtanas que eles realizavam. Ele estava intrigado e continuou cantando, mas não estabeleceu nenhumcompromisso formal ali.

Encontrando-se com a KGBUm dia, enquanto Bhakti Vijnana Gosvami caminhava pelo campus onde estudava na Universidade, elerecebeu o recado de que seu orientador acadêmico queria vê-lo. Enquanto subia as escadas que davamem sua sala, ele encontrou com seu orientador, normalmente um homem extrovertido e seguro de si,vindo em sua direção com o rosto pálido como papel branco.

Trêmulo e com a voz embargada, seu orientador disse: “Alguém quer vê-lo em minha sala”.

Na sala no andar de cima, esperava-lhe um homem três vezes o seu tamanho. O homem gigantescosorriu e então mostrou sua identificação – um coronel da KGB. O estudante que havia estado conectadocom o movimento Hare Krsna apenas remotamente não esperava por um encontro do tipo. Ali ele tevecerteza de estar com grandes problemas.

O coronel da KGB nem mesmo tentou um estabelecer um diálogo com o jovem assustado.

“Você é um homem estudado, com um futuro e uma carreira brilhante pela frente. Mas de algumaforma você se envolveu com pessoas que são muito perigosas. Espero que você saiba que é seu devernos reportar tudo sobre eles. Não estamos pedindo muito. Mas se você assim agir, sua carreira será

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próspera. Você será promovido. Se você não cooperar, por outro lado, você terá seus estudosinterrompidos e não terá futuro algum. Você poderá até mesmo ir para a prisão, onde todas essaspessoas também acabarão indo”.

A única coisa que ele pôde dizer foi: “Senhor, eu não tenho condições de lhe responder agora”.

O oficial então falou menos áspero.

“Tudo bem, mas você deve ir à nossa central em três dias para nos dar as informações que queremos”.O jovem estudante cientista com breve interesse pela vida espiritual ficou deveras amedrontado comtudo aquilo.

“O que irá acontecer?”, ele se perguntou. “Eu não terei futuro. Eu irei para a prisão”.

Mas então ele pensou de maneira diferente.

“Por que a KGB leva este cantar tão a sério a ponto de enviar um coronel para intimidar um estudanteque o cantou algumas poucas vezes? Esse cantar deve ser muito poderoso e importante”.

Dessa maneira, o coronel da KGB atuou como uma espécie de guru, incentivando Bhakti VijnanaSvami a se envolver seriamente com a vida espiritual.

Conselho Poderoso de uma Fonte DelicadaSua nova determinação foi cedendo aos poucos em seu coração pelo temor à ameaça da KGB. Eledecidiu se consultar com o devoto mais intelectual das proximidades, uma delicada jovem de dezenoveanos de nome Malini Devi Dasi. Ele confidenciou exclusivamente a ela sobre o encontro que teve como oficial da KGB, ao que ela riu e disse com grande convicção: “Eles não podem fazer nada com você.Você é uma alma eterna”.

Suas palavras o acertaram com um raio.

“Eles não podem fazer nada contra o eu verdadeiro”, ele realizou.

Uma atmosfera de paz o rodeou, e seus temores logo se dissiparam.“Esta pequena garota transformou minha visão”, ele concluiu.

Mais tarde nesse mesmo dia, ele foi para a sua entrevista marcada com a KGB sentindo-se tranqüilo econfiante.

A entrevista secreta se deu em um dos hotéis internacionais da cidade, todos os quais ficavam sobconstante observação do governo. Em uma pequena sala, o coronel e um outro homem se sentaramsorrindo.

“Então,” o coronel disse com uma voz suave, “você pensou sobre minha oferta?”.

“Eu não vou trabalhar para você, porque isso é contra meus princípios”.

O coronel levantou de sua cadeira em um salto e gritou: “Quais princípios vocês idiotas estúpidos têmalém dos quatro princípios reguladores? Vá embora daqui, mas tenha certeza que vocês estãoacabados!”.

Bhakti Vijnana Goswami caminhou calmamente para fora da sala e foi para o apartamento vazio queum amigo havia lhe dado ali em Moscou. Ele teve para si que tudo ficaria bem, de uma maneira ou deoutra.

Festival FatídicoSuas práticas espirituais em casa se tornaram muito mais sérias e intensas, e ele decidiu realizar umgrande festival em sua casa. O kirtana do festival foi grandioso, exuberante. Bhakti Vijnana Gosvami

sentiu-se muito satisfeito por ter realizado uma celebração tão grande e importante. Mas, três diasdepois, metade dos participantes do festival estavam presos. Os oficiais levaram Bhakti VijnanaGosvami para sua central sob o pretexto de tê-lo como uma testemunha das acusações contra osdevotos. O que eles chamavam de interrogatória era, de fato, tortura. Os oficiais recontaram a ele

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detalhes do festival, incluindo o que havia sido dito por quem, quando e em qual circunstância. Paracriar uma atmosfera de medo com o sentimento de que esconder qualquer coisa seria inútil, elesqueriam dar a impressão de que eles estavam por toda a parte e sabiam de tudo.

Após este incidente em 1983, Bhakti Vijnana Gosvami encerrou suas atividades em Moscou epraticamente correu de Moscou para sua cidade natal para se refugiar nos seus bem-conceituados pai eavô. A incansável mão da KGB o alcançou lá após três dias sob a forma de uma carta exigindo um

novo encontro.Toda semana eles exigiam que ele fosse a um novo encontro, onde agentes o torturavampsicologicamente. Ele era bem situado materialmente, e eles sempre ameaçavam arruinar sua vida. Asituação era assustadora, mas, durante essas seções, a voz doce do mantra viria invariavelmente até ele.O mantra era diferente da voz de sua própria mente, e tinha poder similar às encorajadoras palavras deMalini. Assim, em todo encontro com os oficiais da KGB, ele começaria muito amedrontado, masentão o mantra vinha e ele ficava calmo ao ponto de rir em seu íntimo. Ao mesmo tempo, ointerrogador, que antes parecia muito energético, de repente ficaria tímido e inseguro.

Partindo da RússiaApós quatro seções, Bhakti Vijnana Gosvami decidiu simplesmente não ir mais aos encontrosmarcados. Para sua surpresa, pelos próximos dois anos ele não ouviria nada sobre a KGB. Ele estavaensinando sobre Krsna para outras pessoas, distribuindo livros e encontrando com os devotos paradiscutir sobre Krsna. Ele também defendeu com sucesso sua tese de doutorado em biologia molecularpela Academia Soviética de Ciências. Tudo seguia em paz.

Durante este tempo, um devoto americano, Kirtiraja Dasa, vinha trabalhando para ajudar os devotossoviéticos. Ele queria que Bhakti Vijnana Gosvami traduzisse os livros de Prabhupada para a línguarussa, porque ele era o mais bem letrado dos devotos. A maior parte das primeiras traduções russas doslivros em Inglês de Prabhupada havia sido feita por devotos com pouco ou muitas vezes nenhum estudoformal de Inglês. Então, alguém fora da Rússia, que se submetera a reduzido estudo de Russo, revisavae editava os livros usando um dicionário Inglês-Russo pré-revolução. Os resultados eram muito pobres

de um ponto de vista literário. Os termos de Prabhupada como, por exemplo, “serviço devocional aoSenhor” e “servos” se tornaram respectivamente “escravidão devocional” e “escravos”. Conquanto oslivros tivessem esse tipo de problema, e fossem muitas fezes feitos à mão – com páginas faltando ecom a letra às vezes difícil de ser decifrada –, muitos aceitaram a Consciência de Krsna emconseqüência da leitura desses livros. Mas Kirtiraja queria levar os livros russos a um padrãointernacional.

Se Bhakti Vijnana Gosvami permanecesse na Rússia para traduzir, ele estaria sob uma constanteameaça de prisão. Para assegurar que a tradução de alta-qualidade poderia continuar ininterruptamente,Kirtiraja queria levar Bhakti Vijnana Gosvami para a central da Bhaktivedanta Book Trust da Suécia.Através de várias manobras, incluindo devotos suecos jejuando e protestando do lado de fora da

embaixada russa, Bhakti Vijnana Gosvami recebeu autorização para emigrar para a Suécia, onde elepassou oito anos traduzindo para o Russo os livros de Prabhupada. Hoje Ele é um dos principais líderesespirituais no antigo bloco soviético (ou bloco do leste) e está à frente do projeto do templo de Moscou.

As décadas de ateísmo induzido pelo governo do bloco soviético apenas aumentaram a fome dapopulação por vida espiritual. Agora que a cultura de consumo foi introduzida, a população se tornoufrustrada em ambos os lados. Ela sabe que tanto o Comunismo quanto o Capitalismo são baseados emmentiras, porque a felicidade material não aumentou. Para encontrar a felicidade duradoura e sempre-crescente que alma a busca, é preciso ir à fonte de prazer, o Senhor Supremo, Sri Krsna. Devotos comoBrahmananda Puri e Bhakti Vijnana Gosvami não estão contentes em beber sozinhos nessa fonte. Elesquerem levar a oportunidade do serviço amoroso a Krsna a todos aqueles que têm sede por satisfação

plena. Em Oman, olíbanos crescem a partir de pedras sólidas. Aqui na Rússia, a mais bela e fragranteplanta do amor a Deus cresceu a partir do ferro frio e fosco. Quem plantou tais sementes?

O Movimento para a Consciência de Krsna da Rússia teve início com a visita de três dias a Moscou deSrila Prabhupada, onde ele iniciou um único discípulo, Ananta Shanti Dasa. Naquela terra de escassez,

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onde duas horas de espera por um pouco de pão ou leite era algo comum, as pessoas ansiavam porreceber qualquer coisa que alguém estivesse disposto a dar.

Assim, Ananta Shanti perguntaria a todos que encontrasse: “Você já tem um mantra?”.

Não sabendo o que era um mantra, eles diriam: “Não, eu não tenho isso”.

“Ah, todos os meus amigos já cantam um mantra. Por que você também não experimenta?”.

Em pouco tempo, aqueles que ele induzira a cantar estavam imprimindo panfletos explicando o cantarde um ponto de vista científico, também se referindo à parapsicologia, ciência muito popular na UniãoSoviética. Pelo menos setenta porcento das pessoas que leram esses panfletos começaram a cantar HareKrsna. O movimento começou a expandir-se.

Hoje, uma visita ao festival anual Hare Krsna da Rússia em setembro o coloca em meio à maiormultidão de devotos de todos os festivais da ISKCON. Dentre todas as localidades do mundo, os paísesdo antigo bloco soviético é o local onde o movimento cresce mais rapidamente. É comum que famíliasinteiras – filhos já crescidos, pais, avós, tios e tias – decidam devotar juntos suas vidas ao SenhorKrsna. É claro que é extremamente justo que esses devotos, que sacrificaram suas vidas pelo serviçodevocional ao Senhor, tenham um local de adoração tão grandioso quanto sua dedicação.

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Provando do Amargor do FelA Taste of Salted Bread

por Sarvabhavana Dasa

Os trechos que seguem são do livro Salted Bread [sem tradução para o português] de Sarvabhavana

dasa, que tem por foco como ele e seu amigo Sacisuta serviram o Senhor Krsna e distribuíram Seusensinamentos na União Soviética. O livro enfatiza a dedicação de Sacisuta e sua prisão subseqüente.Estes trechos, retirados de diversos capítulos de Salted Bread , foram selecionados por Urmila devidasi, editora associada da revista Volta ao Supremo e editora do livro.

O ComeçoEu tive uma infância bem típica na Armênia, crescendo como qualquer outro garoto. A grande fortunade minha infância foi ter um excelente amigo próximo que eu chamava de Sako. Nós adotamos ovegetarianismo juntos desde os quinze anos de idade. Meu maior sonho era um dia me banhar nosagrado rio Ganges, visitar todos os templos antigos e subir os Himalaias para me encontrar com osyogis de lá.

Entrando no Mundo EspiritualMeu amigo Senik me levou ao centro Hare Krsna de Yerevan depois que eu saí do exército. Logo mevi em meio aos devotos cantando e batendo palma. Eu pensava que aquele momento duraria parasempre. Os címbalos e tambores eram tão harmoniosos que senti como estivesse no céu. Todosbalançam seus corpos para frente e para trás como ondas em um oceano de bem-aventurança. Algunsdevotos traziam ininterruptamente bandejas de comida e tocavam sininhos de mãos; eles estavamoferecendo o alimento para Krsna. Foi então que notei que as frutas que eu havia trazido estavam sendooferecidas no altar, e olhei ao meu redor para ver se alguém tinha percebido que aquelas eram as frutasque eu havia trazido.

Eu não sei como isso aconteceu, mas eu comecei a liderar o cantar. O que me forçou parar foi achegada da polícia, a KGB, que estava tentando arrombar a porta. Alguns devotos corriam de uma salaa outra escondendo livros, máquinas de escrever e outros itens.

Após algum tempo, os devotos decidiram abrir a porta. Cinco homens muito irados praticamentevoaram para dentro do lugar e começaram a gritar ordens. Eles começaram a vasculhar todo e cadalugar; eu não podia entender o que eles estavam procurando tão avidamente.

Eles começaram a registrar os nomes de todos ali e a verificar seus documentos. Depois que tudo seacalmou, cinco minutos depois, os devotos começaram a servir a comida santificada, prasadam, comose nada tivesse acontecido.

“Sinto muito pela noite passada”, um devoto me disse na manhã seguinte. “A KGB pegou seu nome?”.

“Sim, pegaram”.

“Então isso significa que você é um de nós. Você é um devoto Hare Krsna!”.

“Tudo bem”, eu disse.

Todos os devotos, incluindo eu mesmo, começaram a rir.

Momento Certo para uma Decisão, e a Caminho de KrsnaAssim que entrei em minha casa voltando do centro dos devotos, vi que a KGB havia passado ali evasculhado a casa onde eu morava com minha família. Sem muito tardar, Sako e depois eu nosmudamos para o centro de Yeravan.

Meu Novo Estilo de Vida

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Sako me encorajou a distribuir livros. Então eu decidi tentar. A primeira vez em minha vida que oferecium livro a alguém, um jovem universitário ficou com ele com grande satisfação. O segundo homem,todavia, leu algumas frases do livro e então o atirou contra o meu rosto. Ele me disse que os HareKrsnas eram loucos e que um de seus parentes havia aceitado a Consciência de Krsna.

Ele gritava: “E agora ele está completamente louco – ele não está comendo carne, ovos, peixe e nemmesmo bebe álcool! Que loucura é esta? Deus criou tudo para nós desfrutarmos, e esse idiota está

dizendo que ele não pode comer com os amigos!”.Eu me senti ofendido, mas, sem perder o entusiasmo do primeiro rapaz que comprara meu livro,continuei distribuindo mais.

O único problema que eu tinha agora era que eu não queria que a polícia incomodasse meus pais, masisso era quase impossível, pois meu nome e endereço já estavam na lista negra. Dois ou três meses apóseu me mudar para o templo, eu ouvi que a polícia na Rússia estava começando a deter os devotos e alevá-los para a prisão.

Todos se tornaram como tigres selvagens – passando a imprimir e distribuir ainda mais panfletos elivros. Um dia, após a distribuição, quando chegamos no corredor, vimos que todos os devotospareciam comemorar alguma coisa. Apertamos nosso passo para dentro do centro e vimos o Bhagavad-

gita e a Coming Back russos em Armênio.

Perguntei ao nosso líder, Sannyasa dasa, se eu podia dar uma olhada neles, mas ele me disse: “Elesserão usados como os originais para as impressões posteriores. Então é melhor não tocarmos neles paranão deixarmos nenhuma impressão digital eventual em alguma página ou ilustração”.

Em algumas poucas semanas, Sannyasa nos trouxe as primeiras páginas impressas do Gita. Emseguida, ele nos ensinou como agrupar as folhas, e todos nós nos sentamos para montar um livro. Nósaplicamos cola na lateral do maço de folhas, pressionamo-no contra a capa e o colocamos debaixo dealgumas maletas pesadas perto do aquecedor para que ele secasse rápido. Depois que ele estava seco,Sannyasa então começou a cortar o papel extra com um estilete e uma régua de metal.

Em pouco tempo tínhamos nosso primeiro livro artesanal. Um devoto quis pegar o livro para abri-lo elê-lo, mas outro o impediu segurando sua mão e disse que primeiro tínhamos de oferecer o livro paraguru e Krsna, e só então poderíamos nós mesmos desfrutar dele. Então, colocando-o no altar,começamos um kirtana extático e único. Naquela época, eu não havia me dado conta de todo osignificado do grandioso sacrifício do qual eu estava participando naquela pequena sala do nono andarde um de muitos prédios. Após muitos anos, pude entender que estávamos dando início a uma poderosamissão no bloco soviético. Eu não podia imaginar que aqueles livros fariam uma grande revolução eque, após apenas dez ou quinze anos, haveria centenas de templos e milhares de devotos de Krsna naUnião Soviética simplesmente por causa daqueles pequenos livros artesanais.

Minha Primeira Detenção

Em poucos dias, Sannyasa encheu uma sala de páginas impressas do  Bhagavad-gita, e todos nosocupamos em montar os livros com os ensinamentos de Srila Prabhupada. Foi extático ver como nossoprimeiro livro saiu da sala e foi vendido logo ali, do outro lado da rua. Sannyasa nos dizia que tínhamosde aprender todos os passos da manufaturação perfeitamente para o caso de que, se algum devoto nãopudesse estar ali, outros pudessem fazer sua parte. O que ele queria dizer era que, se algum devotofosse preso, os outros poderiam dar continuidade à produção de livros. Nós estávamos tentando nãofalar muito deste assunto, mas, algumas vezes, era impossível evitá-lo. Praticamente todos os dias apolítica levaria alguns devotos detidos, bateria neles, pegaria seus livros e então os libertariam algumashoras ou dias depois.

Ninguém dizia, mas todos contavam com a possibilidade de ser o próximo a ser pego.

Eu também estava pensando neste sentido: “E se eles me pegarem? O que eu farei? O que falarei aeles?”.

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Quando eu comecei a distribuir os livros, eu era levado algumas vezes a encontrar pessoas que estavaredigitando os livros com papel carbono para fazer mais cópias. Eles estariam fazendo isso em uma salaàs escondidas, porque na Armênia você não podia ter uma máquina de escrever ou uma fotocopiadora,a não ser que você tivesse permissão especial, o que não era fácil de se obter. E, sem prática, elesdigitavam bem devagar, usando apenas um ou dois dedos.

Quando eu lhes perguntava o que estavam fazendo, eles diziam: “Tantas pessoas me perguntam se eu

posso lhes emprestar este livro, mas eu não quero emprestá-lo, porque quem sabe quando vão medevolver? Por isso estou fazendo cópias”.

Eu então dizia: “Por que você apenas não compra mais?”.

Eles ficariam boquiabertos e perguntariam: “Tem mais?”, como se nunca tivesse cogitado apossibilidade de haver mais.

Começamos a vender livros para a Rússia através do correio. Por algum tempo isso funcionou bem, atéa KGB descobrir. Eles criaram uma nova lei de que um pacote com mais do que certo peso e dimensãoestaria sujeito à inspeção.

Então começamos a contrabandear livros para fora da Armênia através de caminhões. Contatamos

pessoas que traziam mercadorias para a Armênia e então levavam outros produtos de volta para aRússia. Eles sabiam como esconder nossas caixas na frente do caminhão atrás de outras caixas.

Uma manhã, após o desjejum, eu acidentalmente ofereci um livro a um homem na rua que, por acaso,era um agente da KGB. Ele começou a me fazer tantas perguntas que comecei a suspeitar de algumacoisa, mas eu não sabia o que fazer.

Ele por fim sacou sua identificação policial e disse: “Coloque suas mãos atrás de suas costas e mesiga”.

Foi a primeira vez que recebi ordem para caminhar com minhas mãos atrás de minhas costas. Eu sóhavia visto esse tipo de comando em filmes, e, há apenas um ano atrás, eu jamais imaginaria que algumdia eu seria tratado daquela forma.

Eu comecei a cantar o maha-mantra em minha mente enquanto eu caminhava pela delegacia. Erapossível ouvir alguém gritando à distância. Um dos policiais era gordo e feio; o outro era magro esorria para mim. Essa é a tática padrão da polícia; com o tempo eu me familiarizei com isso. Um é parabater em você, e o outro faz perguntas gentilmente.

Em Todas as Vilas e CidadesEsse tipo de breve detenção se tornou algo rotineiro. Muitos devotos haviam sido detidos várias vezes eseguiam com o que tinham de fazer. Em cada detenção, a KGB confiscava os livros, sobre os quaisdespendíamos muito tempo e energia, e também o dinheiro coletado com as vendas. Muitos devotosestavam deixando o templo ou deixando de ir ao templo por não quererem ser detidos mais e mais

vezes.Cada vez mais, muitos devotos vinham de diferentes partes da União Soviética à Armênia parapegarem livros de Srila Prabhupada e panfletos informativos.

Um devoto disse: “Seria uma medida sábia se vocês devotos armênios não mais saíssem para distribuirlivros. Apenas imprimam e montem livros de boa qualidade para nós e nós viremos aqui, pegaremos oslivros e os distribuiremos para vocês. Se eles prenderem vocês, onde conseguiremos livros?”.

Outro devoto disse: “Devotos estão fazendo fotocópias do  Bhagavad-gita e montando livros em casapara distribuírem. Alguns devotos não têm os livros originais, então o que eles vendem é muitas vezesuma fotocópia de quinta ou sexta geração, que é quase ilegível. Às vezes as páginas estão trocadas e

não é possível encontrar a página correta. Mas, ainda assim, as pessoas continuam comprando esseslivros dos devotos porque elas têm sede pelo conhecimento da Consciência de Krsna”.

Pregar é a Essência

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Sako, que posteriormente recebeu o nome de iniciado de Sacisuta dasa, retornou da distribuição delivros. Ele começou a colar alguns livros e empacotou alguns dos livros em Russo para seremtransportados para fora de navio. A atmosfera era pacífica, com alguns devotos cantando um docekirtana. Alguns estavam conversando sobre a Consciência de Krsna, e outros cozinhavam.

Então, de repente, alguém começou a gritar: “A KGB está aqui!”.

Depois do quarto dia, ficou claro para nós que a KGB já havia levado os nossos líderes da delegacia

para a prisão. Ter nossos líderes presos era tão deprimente que algumas vezes não sairíamos por dias,ficando apenas cantando, comendo e dormindo. A única pessoa que seguia fazendo trabalho ativo eraSacisuta – ele produzia mais e mais livros para serem distribuídos, e quase não falava conosco. Eleestava sério, e era como se estivesse em outro mundo. Ele era freqüentemente o único a limpar o chão,a fazer compras, a lavar os utensílios após cozinhar e a fazer as demais tarefas.

Minha Última DetençãoEu havia perdido a conta de quantas vezes eles haviam me detido e me liberado, mas, depois dadetenção de Sannyasa e Kamalamala, eu pensei que, porque a polícia estava agora convencida de terem sua custódia os líderes de nosso movimento da Armênia, eles não iriam mais ficar nos detendo. Maseu estava errado. A polícia deteve a mim e outros devotos várias vezes depois daquilo. Durante esseperíodo, nós alugamos uma outra casa para guardar os livros e itens importantes, e iríamos não mais doque uma vez por semana nela.

Uma manhã, por volta de oito horas, Sacisuta e eu estávamos indo para essa casa, levando algumasfolhas do Gita que faltavam para completar os livros. No caminho, enquanto no ônibus, eu tive umaestranha premonição. Eu perguntei a Sacisuta se ele experimentava a mesma sensação que eu. Ele disseque também pressentia algum perigo, mas não sabíamos o que fazer ou que direção tomar, seguir emfrente ou voltar.

Por nós dois compartilharmos daquela intensa sensação de perigo, decidimos voltar sem levar maisnenhuma página para os livros. Eu não me lembro de Sacisuta voltando atrás em nenhuma outra

situação. Fomos novamente detidos naquele dia.Uma vez detidos, um policial gordo me machucou como nunca, até mesmo pisando duramente emmeus dedos com seu coturno, o que me trouxe uma dor excruciante.

“Então”, ele disse enquanto me pisava, “agora eu acho que vocês podem nos dizer onde são impressosseus livros e onde vocês os estocam”.

“Eu não sei, senhor”, eu disse. “Eu realmente não sei. Eu já lhe disse isso várias vezes”.

“Certo, depois que eu lhe preparar um bom assento você irá nos dizer tudo sem demora”.

Ele acenou para um policial próximo a ele e pediu para que trouxesse uma garrafa de cerveja. Então elese aproximou de mim e, com toda a sua força, deu seu último passo sobre a ponta dos meus dedos com

seus pesados coturnos.“Meu Deus”, eu pensei, “esta é uma das piores situações que já experimentei”.

Então um policial veio com uma garrafa de vidro em sua mão e a posicionou no centro da sala.

“Eu vou lhe perguntar agora pela última vez. Ou você nos diz o que queremos saber ou você irá sentarna garrafa”.

Eu abaixei minha cabeça e comecei a cantar bem alto “ Namaste narasimhaya” e orei por socorro.

Então ele veio e torceu minhas mãos enquanto outro segurou minhas pernas, assim eles me levantaramdo chão. O terceiro veio e tentou tirar meu cinto. Eu comecei a pular e a sacudir todo o meu corpo deforma que eles não pudessem tirar minhas calças. Então o policial gordo, provavelmente com toda asua força, socou-me na barriga, e eu pensei que eu seria rasgado ao meio ali. Mas, ainda assim, eu nãodeixei de me debater.

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Eu comecei a chutá-los e arranhá-los tanto quanto eu podia. Eu rasguei completamente a camisa dopolicial que estava segurando minhas mãos, o que o deixou ainda mais irritado. De alguma maneira,mesmo após muito espancado, eu ainda tinha uma grande quantidade de força e continuei capaz deimpedir que aqueles três homens retirassem minhas calças. Eu comecei a gritar mais alto do que eu

 jamais havia sonhado gritar em minha vida, movendo-me e gritando como um leão por um longotempo. Eu comecei a pensar na altura em que Nrsimhadeva devia ter gritado quando apareceu paramatar o demônio Hiranyakasipu. Assim que eles me levaram para perto da garrafa, eu me debati rápidoe a garrafa caiu. Depois de tentarem por inúmeras vezes, eles finalmente me soltaram e saíram da sala.

Eles depois me levaram para um andar inferior e me trancaram em uma de muitas salas. Algunscriminosos também estavam na sala, e começaram a me fazer muitas perguntas. Alguns deles já haviamouvido sobre Krsna, e um deles já havia até mesmo lido um pouco do Bhagavad-gita.

Entrando no InfernoEu costumava comer apenas um pedaço de pão e uma colherada de açúcar pela manhã. O pão era deuma péssima qualidade. Ele era preto e úmido, e, se você o apertasse, escorreria um pouco de água dedentro dele. Assim, eu mantinha o pão na janela por três ou quatro dias até que ele ficasse seco ecrocante e só então eu o comia. Ali eu aprendi como fazer contas de japa com pão.

Uma manhã, um policial usou minhas contas para bater em meu rosto e em meu corpo até ele ficarexausto. Aquela japa era minha única posse; para fazê-la eu havia guardado muitos pedaços de pão.Logo, realizamos que mesmo japas de cinqüenta e quatro contas eram muito arriscadas de se manter,então começamos a fazer cordões de vinte e sete contas. Sendo menores, eles eram mais fáceis deserem escondidos de pessoas antagonistas. A única diferença era que tínhamos que cantar quatro vezespara completarmos 108, ou uma volta. Algumas vezes eu usava até mesmo uma japa de nove contas,mantendo-a quase que o tempo todo empunhada.

Após algum tempo, todos na prisão sabiam sobre Krsna. Algumas pessoas de outras celas começaram aperguntar a mim e aos outros devotos sobre a Consciência de Krsna. Em pouco tempo, oferecer oalimento antes de comer se tornou uma tradição em nossa cela. Todos na prisão estavam tomando

 prasadam com os devotos. Mesmo aqueles que eram contrários à Consciência de Krsna comiam algode nossas oferendas. Muitos dos presidiários disseram que podiam de fato distinguir entre alimentooferecido e alimento não-oferecido.

Quem Está Louco?Um dia, mudamos para um hospital psiquiátrico. Encontrando lá com Sannyasa dasa, eu não podiaacreditar que a pessoa na minha frente era ele mesmo. Ele era apenas pele e osso. Ele se movialentamente e produzia sons ininteligíveis. Seu queixo havia ficado comprido, e seus olhos haviamafundado para dentro do rosto. Seu belo rosto, que trazia um pouco de barba, estava muito pálido.Cerca de um mês antes de minha chegada, eles haviam começado a dar à força injeções diárias nosdevotos com uma droga neuropsicológica. Algumas vezes, enquanto falava, a boca de Sannyasa secariae seus olhos girariam como os de um homem bêbado. Outras vezes ele se sentaria e fixaria seu olharem um ponto por um longo tempo, sem fazer nenhum movimento nem dizer nada. Após algum tempo,ele se levantaria e tremeria como se estivesse com frio. Sannyasa é uma personalidade muito forte, e,não importando o que acontecesse ou em que situação estivesse, ele cantaria todos os dias suasdezesseis voltas do maha-mantra Hare Krsna – uma determinação que me surpreendeu e renovouminhas energias para seguir em frente. Algum tempo mais tarde, eles nos levaram de volta para a prisãopara aguardarmos julgamento.

Dias IndesejadosEm minha nova prisão, o pior guarda era um homem rude e sempre suado. Ele gritou: “Hoje você irá

me dizer onde vocês estavam imprimindo seus livros e quem estava imprimindo para vocês. Eu sei quevocê não disse para mais ninguém, mas eu vou fazer você falar. Você está entendendo?”.

Ele pegou seu cassetete e se pôs a bater muito violentamente em meu rosto e em minhas têmporas.Então ele me deu um golpe provavelmente com toda a sua força. A pancada me atirou para o outro lado

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da sala, e eu cai ao chão enquanto muito sangue escorria do meu nariz e também de minha boca. Entãoele veio em minha direção e começou a chutar minhas costas e meu peito com tanta agressividade queperdi minha consciência e não me posso me lembrar de nada depois daquilo. Eu abri meus olhos apósalgum tempo e vi que ele arrastava meu corpo no chão. Enquanto me praguejava, ele pisava sobre meuestômago e sobre o meu rosto sem nenhuma misericórdia. Para proteger meu rosto, eu me virei. Tãologo eu estava de costas, ele chutou minha espinha e eu desmaiei novamente. Tudo ficou preto. Meusouvidos estavam completamente bloqueados, e apenas um som estranho apitava constantemente emmeus ouvidos. Ele então me atirou em minha cela e fechou a porta enquanto me xingava.

Meus únicos infortúnios duradouros foram minha dor de coluna crônica e meu problema nos olhos. Afalta de visão foi uma grande mudança em minha vida, e eu tive que me acostumar com minha novasituação. Eu teria de seguir em frente com apenas metade da visão e quase inválido.

Uma vez os devotos pagaram três vezes mais do que o custo usual da propina para nos enviar uma cestarepleta de maravilhosa  prasadam. Um prisioneiro estava partindo o pão quando encontrou algunspedaços de papel escondidos dentro dele. Eram palavras nos encorajando a sermos fortes, a nãoesquecermos de Krsna e dizendo que deveríamos seguir cantando e seguindo as regulações tantoquanto possível em nossa situação difícil. Lágrimas escorriam de meus olhos enquanto eu lia seussentimentos sinceros, e minhas mãos tremiam.

A Decisão do TribunalApós nosso julgamento, fomos enviados a um campo de trabalho na Sibéria, onde cumpri o restante deminha sentença.

EncerramentoApós o registro da ISKCON, muitas condições mudaram na União Soviética. Mas tal oficialização nãofoi fácil de ser obtida. Ela resultou de inúmeros manifestos diante de vários prédios oficiais e depasseatas por muitas ruas de Moscou. De maneira geral, durante essas manifestações, havia conflitocom a polícia e muitos devotos eram detidos.

Em 1989, pela primeira vez na história, um grupo de cinqüenta devotos foi autorizado pelo governorusso a ir à Índia em peregrinação. A maior parte deles estava sendo torturada pela KBG alguns mesesatrás. Foi organizada uma excursão de dois meses. Eu fui afortunado o suficiente para fazer parte dessaperegrinação histórica. Apenas um ano atrás, eu estava sofrendo na prisão, mas agora estávamoscantando e dançando com centenas de devotos de todo o mundo.

O Templo de Radha-Govinda da ISKCON em Calcutá foi o primeiro templo de verdade que vimos emnossas vidas. Havia uma recepção nos aguardando, e milhares de flores foram derramadas da sacadasobre nós devotos soviéticos. Nós lentamente subimos as escadas e entramos no templo.

Os rostos de Radha e Govinda, belos como a lua cheia, sorriam para nós como se dissessem:“Finalmente chegaram em casa. Não há nenhuma KGB aqui, então, por favor, cantem e dancem tantoquanto queiram”.

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Xeque-Mate: A Vitória da ISKCON na RússiaCheckmate: ISKCON’s Victory in Russia

por Satyaraja Dasa

O sol se pusera há pouco em 11 de julho de 1972. Amantes do xadrez enchiam um estádio em

Reykjavik, Islândia, enquanto milhões acompanhavam pela TV ou por rádio. O jogo acontecia sob orótulo de “A Partida do Século”. Bobby Fischer desafiava o russo Boris Spassky pelo seu título decampeão mundial, plenamente ciente de que sua emergente vitória teria implicações na Guerra Friamundial.

Apenas um ano atrás, Srila Prabhupada vinha planejando uma estratégia para levar Deus à Rússiasoviética ateísta. Se pensássemos na resolução de Prabhupada como uma partida de xadrez, seria comose ele tivesse poucas peças em jogo, enquanto os Soviéticos dispunham ainda de cavalos, torres ebispos e dominassem as casas estratégicas do tabuleiro. Mas mesmo um único peão ou bispo, seapoiado por um poderoso casal real, pode algumas vezes derrotar um brilhante estrategista e colocarabaixo as muralhas de seu castelo; e é assim que a vitória de Prabhupada eclipsa a partida ordinária dexadrez do Campeonato Mundial de 1972.

Srila Prabhupada primeiramente tentou entrar na União Soviética como um representante oficial daÍndia, escrevendo uma carta ao Ministro da Cultura com suas intenções. Mas lhe foi negado ingresso nopaís sem nenhuma explicação. Finalmente, após diversas tentativas, foi-lhe dado um visa de turista quelhe garantia uma breve estadia, ainda que não o autorizasse a palestrar na Universidade de Moscou –uma das razões para Prabhupada desejar ir à Rússia.

Não obstante, os cinco dias que Prabhupada esteve em solo russo dispuseram a seu favor aoportunidade de se posicionar apropriadamente para o derradeiro xeque-mate que seu movimento dariaposteriormente na União Soviética. Sua estratégia inicial foi colocada em prática quando, através deseu discípulo e secretário Syamasundara dasa, ele se encontrou com um jovem e sincero inquiridorrusso – Anatoly Pinyayev – que logo se tornaria Ananta-shanti dasa, seu destemido e solitário seguidorsoviético. Outra jogada adiante foi a conversa de Prabhupada com o professor universitário G. G.Kotovsky, o então coordenador do Departamento de Estudos Indianos e Sul-Asiáticos da AcademiaCientífica da União Soviética. Prabhupada deixou uma impressão distinta em Kotovsky, que publicou aconversa entre eles em um importante periódico russo, o Otkrytyi Forum, sob o nome de“Vaisnavismo”. Mas foi Ananta-shanti quem tornou seu coração aberto para a residência da mensagemde Prabhupada, e passou a distribuir sozinho e com grande entusiasmo o que havia aprendido paracentenas de soviéticos, muitos dos quais se tornaram devotos.

Após se encontrar com o entusiasmado jovem russo, Prabhupada observou: “Assim como você podedizer se o arroz está devidamente cozido pegando apenas um pequeno grão, você também podeconhecer toda uma nação observando um de seus jovens”.

Posteriormente, em 1977 e 1979, a Bhaktivedanta Book Trust recebeu um convite da prestigiosa FeiraInternacional do Livro de Moscou, levando pela primeira vez os livros de Prabhupada ao conhecimentodos moscovitas. O New York Times (31 de julho de 1983) grifou a importância do acontecimento: “[Afeira] fez crescer a curiosidade dos russos, os livros se alastraram e os Hare Krsnas conseguiram suaentrada na Rússia”.

Mas, em 1980, sob o governo de Brezhnev, muitos devotos foram atirados na prisão, iniciando umarelação tensa e muitas vezes traumática entre a ISKCON e a União Soviética.

Em meados dos anos 80, Yuri Andropov assumiu o poder e intensificou a campanha já em vigor naépoca em prol do banimento do movimento Hare Krsna. Ele via os devotos como que representando

todas as idéias religiosas, e estava determinado a acabar definitivamente com eles. Em virtude doentusiasmo contagiante de Ananta-shanti e os impressionantes resultados da Feira do Livro, SemyonTsvigun, o vice-capitão da KGB, sob a ordem de Andropov, disse que as três principais ameaças àUnião Soviética eram “a música pop, a cultura ocidental e o movimento Hare Krsna”.

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Tais pronunciamentos, e os sentimentos que os nutriam, tiveram por conseqüência uma intensaopressão contra os devotos Hare Krsnas.

A ISKCON se Movimenta pelo TabuleiroAssim, com a ISKCON declarada como uma das grandes ameaças à nação soviética, a batalha emcurso teve seguimento. Mas não era algo como Fischer versus Spassky – dois adversários nivelados eem duelo um a um. Essa guerra se deu com um estado totalitário contra um relativamente pequenonúmero de devotos de Krsna. Conseqüentemente, dúzias de soviéticos recém adeptos da ISKCONforam conduzidos a prisões, campos de trabalho e hospitais psiquiátricos, sofrendo cruéis maltratos nasmãos de políticos e policiais adoradores do Estado. Muitos devotos foram torturados e mortos nasprisões, sem, no entanto, abandonarem o que acreditavam.

Harikesha Svami, o então GBC da ISKCON União Soviética, não ficaria parado diante de tais horrores.Como força propulsora para uma reforma, ele tornou a tragédia uma preocupação mundial. Kirtirajavinha atuando como secretário regional da ISKCON União Soviética desde 1979. Ele deu início a umacampanha internacional de divulgação e de manifestações de forma a pressionar as autoridadessoviéticas a libertarem os devotos aprisionados e a interromperem a perseguição ao movimento HareKrsna. Para dar seguimento a esta iniciativa, ele fundou o Comitê para Liberação dos Hare Krsnas

Soviéticos. Vozes de apóio se ouviram na reunião de cúpula Reagan-Gorbachev, em Reykjavik, nasNações Unidas, e em jornais internacionais. No encontro de novembro de 1986 em Viena da Comissãode Segurança e Cooperação Européia, a organização internacional que monitora o cumprimento dosdireitos humanos da Declaração de Helsinki, membros do movimento Hare Krsna novamentechamaram atenção para a condição crítica dos devotos soviéticos aprisionados.

A situação atingiu seu cume posteriormente naquele ano quando Sri Prahlada dasa, então um devotopré-adolescente de uma escola australiana da ISKCON, juntou-se aos esforços de Kirtiraja. Ele e osKrsna Kids gravaram um álbum com o selo internacional da EMI, uma das maiores gravadoras domundo. O álbum incluía a música Free the Soviet Krsnas, um apelo a Gorbachev que também foilançado como um single. Prahlada freqüentemente ia a programas de TV e rádio para promover o

álbum e compartilhar sua ansiedade quanto à condição dos devotos na Rússia. Por fim os devotosforam libertados, criando um novo começo para o tema religião na antiga União Soviética.

Peões, Gambitos e Meias-VitóriasEm um belo dia primaveril de 1988, o Conselho de Assuntos Religiosos registrou oficialmente aSociedade Moscovita para a Consciência de Krsna, dando fim, ou assim parecia, à longa animosidadeentre os devotos e o Estado. (Era a primeira sociedade religiosa registrada na União Soviética desde aSegunda Guerra Mundial). Agora os devotos podiam cantar em público e praticar livremente todos osaspectos de sua religião. Naquele mesmo ano, mais de 1600 novas comunidades religiosas, a maiorparte delas russas ortodoxas, foram registradas.

Uma mudança estava claramente acontecendo, e muitos especialistas atribuíram a mudança, em grandeparte, aos devotos. Apenas dois anos depois, respondendo a uma solicitação da ISKCON, asautoridades moscovitas cederam um deteriorado sobrado de dois andares para ser usado como templo.Depois de reformarem a propriedade, os devotos abriram o primeiro templo da ISKCON da história daRússia e do bloco soviético, um templo também freqüentado por extenso número de Hinduístas.

Então em 1991, a ISKCON solicitou um terreno em que pudesse construir um autêntico templo Védicoem Moscou, um projeto gigantesco. Surpreendentemente, a solicitação foi aprovada, e os devotoscomeçaram a procurar por um terreno adequado. Parecia que o governo estava disposto a dar aosdevotos russos tudo o que quisessem.

Mas isso não durou. As autoridades russas logo sucumbiram aos mesmos preconceitos religiosos que

ostentavam no passado. O Conselho de Bispos da Igreja Ortodoxa Russa fez uma declaração oficialchamando os ensinamentos do  Bhagavad-gita de “produto de uma falsa religião”; e trataram todas asdemais religiões como uma ameaça à unidade de consciência nacional e identidade cultural da Rússia.

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Em 1997, um projeto de lei foi aprovado pelo Duma [a assembléia legislativa da Rússia] reconhecendoa Igreja Ortodoxa Russa como a única religião preeminente da Federação Russa, com um adendoreconhecendo apenas outras três fés “tradicionais” ali: o Judaísmo, o Islamismo e o Budismo. Outrasreligiões não teriam o mesmo status legal ou qualquer apóio em seus trabalhos missionários.

Mas os devotos, mais uma vez, não se deixariam intimidar. O templo da ISKCON havia se tornado oúnico local de adoração para mais de dez mil indianos. Ao longo dos anos 90, a Consciência de Krsna

na Rússia começou a prosperar, resultando em 97 comunidades registradas, 22 monastérios e 250grupos domésticos.

Com o alvorecer do novo milênio, o primeiro ministro da Índia, A. B. Vajpayee, inteirou-se do trabalhoda ISKCON. A despeito da gentil aprovação de Vajpayee, o governo de Moscou decidiu utilizar a áreaao redor do já tradicional templo da ISKCON, ameaçando novamente a prática dos devotos daConsciência de Krsna.

E assim se sucedeu que, em 2004, o governo moscovita reouve a construção para si e a destruiu deacordo com os planos de reforma da cidade, privando milhares de devotos de seu local de adoração.

Procurando apoio, a ISKCON pediu ajuda a políticos indianos preeminentes. Até a data deste evento,Vajpayee, o antigo primeiro ministro, já acompanhava os eventos na Rússia há alguns anos. Ele seencontrou com os devotos em muitas ocasiões, tanto na Índia quanto em Moscou, para estudarem amelhor maneira de solucionar o dilema.

Em janeiro de 2004, após anos de luta, o prefeito de Moscou finalmente assinou uma ordemproclamando que uma nova terra seria dada para um novo templo da ISKCON em uma localizaçãoprestigiosa de Moscou e livre de impostos – certamente em virtude da solicitação dos importantespolíticos indianos. O terreno se localizava na principal estrada de Kremlin para o aeroportointernacional, a cerca de dez minutos de carro do coração de Moscou. Os devotos se mudaram comgrande contentamento para uma edificação temporária em seu recém-adquirido terreno e começaram ase preparar para desenvolver o novo templo e complexo cultural.

Não levou muito tempo, entretanto, para que a Igreja Ortodoxa Russa, juntamente com autoridadesMuçulmanas e Judias, manifestassem-se contra essa construção, opinando que a religião de Krsna eracompletamente adversa à tradição russa. Protestantes se reuniram na praça Pushkin, no centro dacapital, erguendo bandeiras e banners como avisos do tipo “Seguidores de Krsna Fazem LavagemCerebral” e “Amigos, Defendam Sua Fé. Somos Contra a Propagação de Seitas. Cuidado!”.

Os protestos ofenderam aproximadamente 100.000 seguidores do Senhor Krsna ao longo do país. Emresposta, a comunidade indiana da Rússia, liderada por Sanjit Kumar Jha, presidente da Associação deIndianos na Rússia, retaliou, e uma veemente discussão tomou lugar novamente. Embora os devotossoubessem que Krsna emergiria vitorioso ao fim, parecia que, naquele momento, havia reveses para osdevotos. Assim como Spassky realizou alguns movimentos estratégicos nas primeiras jogadas dapartida contra Fischer, Kremlin parecia estar assumindo o controle agora. Em outubro de 2005,

repentinamente, o prefeito de Moscou, Yury Luzhkov, desfez sua ordem a favor do cedimento doterreno para a ISKCON, e o templo foi então demolido.

De forma bastante conveniente, o escritório do procurador executivo da cidade encontrou discrepânciaslegais na redação da ordem original e decidiu revisar o documento. O pedido de revisão foi apenas umsubterfúgio para que pudessem gradualmente cancelar de forma definitiva a cessão do terreno. Emsuma, os devotos não tinham onde dormir, nem um local de base para suas práticas e trabalhos depregação.

Nessa situação, inúmeros jornalistas e repórteres foram dos principais jornais, programas de rádio eredes de TV foram ao encontro dos devotos, inclusive o principal noticiário russo, o “Vremyachko”.Sua Santidade Bhakti Vijnana Gosvami, presidente da ISKCON Rússia, foi entrevistado, assim como

foram muito membros preeminentes da comunidade indiana, que expuseram claramente sua indignaçãoe revolta com tudo aquilo. O Vishwa Hindu Parishad interveio, concordando em organizar uma

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campanha de nome “Defesa dos Hindus Russos”. Os dignitários indianos e russos se manifestaram, atéque suas vozes foram ouvidas em alto e bom som.

Fim de JogoO prefeito de Moscou finalmente alocou terra à ISKCON, apesar das objeções da Igreja Ortodoxa, queameaçaram fazer novos protestos contra a construção de um templo Hare Krsna. Mas a sorte foilançada, e o prefeito voltar atrás quanto à sua decisão parece bastante improvável. Os devotos fizeramuma jogada determinante.

A importância da alocação de um terreno de forma definitiva deve ser claramente entendida. OCristianismo, Islamismo, Budismo e Judaísmo, juntamente com a Igreja Ortodoxa Russa, são astradições religiosas russas, consideradas parte de sua herança; e a religião Hare Krsna – o Vaisnavismoe também seus parentes Hindus – não é parte desse grupo exclusivo, que o governo concede valorhistórico. Não foi concedido terreno nem mesmo para seitas Católicas e Protestantes; a única seitaCristã a conseguir terras foi a Igreja Ortodoxa Russa. Assim, além das outras três religiões aceitas, aISKCON foi a única a receber terra.

Uma importante voz a influenciar a decisão do prefeito foi aquela da Ministra de Delhi, Sheila Dikshit,que havia ido à Rússia para participar do Delhi Culture Fest e para renovar relações diplomáticas. Elaestava transtornada com a demolição do templo e insistia que a situação deveria ser imediatamenteremediada.

Anteriormente, a questão havia sido levantada em vários encontros diplomáticos, com o presidenteRusso, Vladimir Putin, assegurando ao Primeiro Ministro indiano, Man Mohan Singh, que eleinvestigaria o caso. Ao que parece, ele realmente o fez.

K. Raghunath, embaixador da Índia na Rússia, fez o seguinte pronunciamento circulado nacionalmente:

Eu também gostaria de pronunciar algumas palavras no que diz respeito à Sociedade Internacional para a Consciênciade Krsna, a ISKCON. Somos muito próximos dessa organização. A ISKCON obteve grande sucesso na disseminaçãoda filosofia do Bhagavad-gita e na sua aplicação na vida diária. Além disso, a ISKCON trabalha seriamente parapreservar e proteger a cultura ímpar da Índia. A ISKCON também é digna de glorificação por não deixar que o laço deamizade entre a Rússia e a Índia se afrouxe.

A campanha para construir o novo templo, conhecida como Temple of the Heart [Templo do Coração],está recebendo suporte de patrocinadores do mundo inteiro.

O outono de 2006 testemunhou um novo nascer para a ISKCON Rússia: Mais de seis mil pessoas, amaior parte indianos, foram ao ainda inacabado mas belíssimo templo para celebrar o Janmastami, odia em que se comemora o advento do Senhor Krsna neste mundo. O evento contou com a presença doembaixador do Nepal, do Sri Lanka e das Ilhas Maurícias, e do diretor do Centro Cultural J. Nehru. Umano mais tarde, também no Janmastami, a ISKCON assinou um contrato para dar início aos planosarquitetônicos do novo templo. Nesse dia, a ISKCON também assegurou todas as autorizaçõesgovernamentais necessárias para começar a construção.

Embora algumas intrigas persistam, com grupos de interesses pessoais tentando frustrar o empenho dosdevotos, nada pode detê-los agora. Eles têm importantes líderes políticos ao seu lado, e o público geralficou bem ciente de toda a situação. Qualquer tentativa de vetar o projeto tomaria rapidamente a mídia.Graças aos esforços resolutos dos devotos, ao governo indiano e a outras entidades internacionais, aISKCON Rússia agora repousa sobre solo firme.

“Foi tudo arranjo de Krsna”, diz Bhakti Vijnana Gosvami, um dos GBCs da ISKCON Moscou (ao ladode Niranjana Svami e Gopala Krsna Gosvami). “Apesar de toda a trama política e dos tempos difíceis,terminamos com a posse do melhor terreno possível – imensamente melhor do que o anterior, ebastante similar a Vrndavana, onde Krsna viveu na Terra há cinco mil anos. Ele se localiza próximo aocentro da cidade e está no meio de dois belos rios, rodeado de montanhas e belas áreas florestais. Krsnasabia o que estava fazendo. Centenas de milhares de pessoas virão para aprender meditação mântrica ea filosofia da Consciência de Krsna”.

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Mesmo em 2003, quando passavam por momentos difíceis, os devotos conseguiram considerávelsucesso: Quase 6.000 pessoas visitaram o templo nesse ano, e um adicional de 14.500 estudantesprestaram serviços no templo como parte de uma experiência extra-classe obrigatória. Devotoscantaram regularmente pelas ruas de Moscou, distribuíram prasadam profusamente, e colocaram maisde 160.000 livros em mãos russas.

Naturalmente, com o novo templo, as coisas apenas cresceram. A congregação indiana conta com

aproximadamente 15.000 pessoas, muitos deles estudantes de faculdades e de outras instituições deensino. Muitos nativos moscovitas se tornam devotos em tempo integral ou freqüentam os serviços efestivais do templo da ISKCON ao longo do ano. Os livros de Prabhupada aparecem agora em dez daslínguas oficiais da Rússia, e mais de onze milhões de cópias de seu  Bhagavad-gita Como Ele É , emrusso, foram distribuídas.

O Centro Cultural VédicoCom tudo narrado até aqui, o novo templo é claramente o grande troféu da batalha da ISKCON Rússiapela liberdade religiosa. Como atualmente planejado, além do templo, o Centro Cultural Védico contacom os seguintes projetos:

1. Central de Exposição Multimídia

2. Centro Cultural e Educacional

3. Biblioteca de Clássicos Védicos

4. Centro de Serviços Sociais

5. Centro de Saúde Preventiva

6. Salão de Conferências

7. Restaurante de Culinária Védica

8. Jardim de Inverno

Devotos preeminentes da ISKCON de todo o mundo visitaram o ainda-engatinhante projeto do templode Moscou, ouviram a visão de futuro de seus líderes, e foram embora muito bem impressionados, nãopodendo deixar de reconhecer seu potencial e a repercussão que teria mundialmente.

Bhakti Tirtha Svami (1950-2005) disse pouco antes de deixar este planeta: “Podemos notar que osdevotos russos são os devotos mais entusiastas do mundo. Muitos devotos estão sendo feitos, muitaoportunidade de pregação, muitas pessoas se empenhando. Precisamos, portanto, de algoverdadeiramente grande, verdadeiramente maravilhoso, para acomodar todas essas pessoas [...]. Ahistória mostrará como os devotos da CEI, principalmente da Rússia, foram investidos de poder paraestabelecer esse templo grande e glorioso, que ficará mundialmente conhecido”.

“Estamos muito empolgados”, ele continuou. “Queremos encorajar tantas pessoas quanto possível paraapoiarem esse empenho – pois não se trata de algo apenas para a CEI, ou para a Rússia, mas [...] para omundo inteiro, algo que Srila Prabhupada desejou muito. Prabhupada se preocupava em pregar nomundo inteiro, e, em seus últimos dias aqui, ele focou muito na pregação da ISKCON em paísescomunistas”.

Radhanatha Svami também se manifestou sobre o poder de extensão do projeto na Rússia: “Eusinceramente acredito que a construção desse templo em Moscou é um dos projetos mais importantesda história do movimento Hare Krsna”.

“Srila Prabhupada esteve pessoalmente em Moscou no começo dos anos 70”, diz Radhanatha Svami,“e, embora o país estivesse sob a Cortina de Ferro, onde o ateísmo e o comunismo eram preeminentes,Srila Prabhupada viu os russos com excelente potencial para aceitarem a doutrina do amor puro eincondicional pelo Senhor Sri Krsna. Assim ele escreveu que, se os devotos se esforçassem juntos ecom sinceridade, [...] esse templo se tornaria uma realidade. Ele enfatizou diversas vezes que isso seriaum grande triunfo”.

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Bhakti Caru Svami também falou com grande entusiasmo sobre a importância do trabalho dos devotosna antiga União Soviética: “Quem poderia imaginar que a Consciência de Krsna se espalharia pelaRússia? Mas Caitanya Mahaprabhu predisse que o Movimento para a Consciência de Krsna seespalharia por todas as vilas e cidades do mundo, e, sendo Ele a Suprema Personalidade de Deus, Suapredição é infalível”.

Bhakti Vijnana Gosvami conclui: “O estabelecimento deste templo na Rússia é algo grandioso –

histórica, simbólica, emocional e espiritualmente. O templo também será grande em tamanho,acomodando milhares de devotos, visitantes e pessoas buscando por Krsna. Já estamos vendo isto emum nível prático, e seu impacto só fica atrás dos templos da Índia. Com o passar do tempo, suainfluência será sentida por todo o mundo, não apenas na Europa Oriental, Rússia e antiga UniãoSoviética. Ele será de grande valor para a ISKCON e para além da ISKCON, será de grande valor parao mundo”.

Boris Spassky perdeu a partida pelo título de campeão mundial de xadrez para Bobby Fischer. Emborao enxadrista russo tenha detido o título por mais de cinqüenta anos, essa foi a primeira vez que um

 jogador soviético entraria em uma partida para perder. No jogo de xadrez, a estratégia superior semprevence no final, mas, na vida, o melhor é sempre situar-se no lado dos íntegros e virtuosos. Como o

 Bhagavad-gita nos diz em seu verso conclusivo: “Onde quer que esteja Krsna, o Senhor de todos osmísticos, e onde quer que esteja Arjuna, o arqueiro supremo, com certeza também haverá opulência,vitória, poder extraordinário e moralidade”. Praticamente todo moscovita hoje se beneficia com oslivros de Srila Prabhupada e com os santos nomes de Krsna, o que é a jogada da vitória. E embora aPraça Vermelha continue, por ora, como a localidade mais famosa da cidade de Moscou, a chegada donovo Templo do Senhor Krsna logo colocará tudo mais em xeque.

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Relatividade e o Caminho para o AbsolutoRelativity and the Path to the Absolute

por Arcana Siddhi Devi Dasi

Meu esposo e eu estávamos aconselhando um casal, e fazíamos algum progresso, mas então chegamos

a um impasse. O esposo insistia que suas percepções das interações do casal eram a realidade e quequalquer coisa diferente daquelas percepções era falsa ou ilusória. Em outras palavras, a visão de suaesposa era errada se diferente da sua. Meu esposo e eu fizemos o melhor que podíamos para ajudá-lo aexpandir sua perspectiva. Nós esperávamos que ele poderia se interessar pela possibilidade de ver ascoisas de maneira diferente. Mas ele não largaria seu posicionamento, e ele, por fim, encerrou oaconselhamento matrimonial.

Depois deste incidente, refleti sobre um apaixonado debate que eu havia tido com um amigo antes deme tornar devota. Ele insistia que não havia realidade absoluta, mas apenas nossa realidade subjetivaindividual, enquanto que minha postura era que havia sim uma realidade absoluta – nós apenas nãopodíamos percebê-la. Ele insistia que minha posição era apenas minha realidade subjetiva. Nós doisvoltamos para casa frustrados e irritados.

Posteriormente, depois de me tornar devota, descobri que, de acordo com os ensinamentos Védicos,minhas assertivas estavam corretas. Mas agora eu podia compreender algo sobre a natureza de talrealidade absoluta: ela é Krsna. Tudo o que vemos neste mundo vem de uma das muitas energias deKrsna. Mas Sua energia ilusória (maya) priva-nos de perceber as coisas apropriadamente. Da mesmaforma que um mágico pode fazer-nos pensar que estamos vendo algo que não está ali, Krsna usa Suaenergia ilusória para criar nossa suposta realidade.

Talvez uma pessoa se pergunte a razão para Deus querer privar-nos de ver a verdade. Na realidade, essenão é o Seu desejo, antes Ele está apenas amparando o nosso desejo de desfrutarmos separadamentedEle. Quando estamos completamente desconectados de nosso Senhor, não podemos perceber arealidade. Ao invés disso, acreditamos em uma “realidade” ilusória, como pessoas sob o feitiço de umhipnotizador que pensam serem patos ou cachorros. Pela influência de maya, a alma no mundo materialrealmente pensa ser um pato ou um cachorro ou um homem ou uma mulher. Mas tal realidade relativa étemporária e irá desaparecer com a morte. Apenas a alma eterna segue.

Dhruva Supera a IlusãoAlgumas vezes, mesmo grandes devotos são desnorteados pelas ilusões da energia material. DhruvaMaharaja era um poderoso rei e devoto do Senhor. No entanto, quando vingando a morte de seu irmão,Dhruva foi desnorteado pelas proezas mágicas de seus oponentes, os Yaksas, que eram peritos nacriação de ilusões arrebatadoras. Dhruva acreditava estar no meio de uma grande devastação. Ele viatroncos de corpos humanos caindo do céu juntamente com armas letais e grandes pedregulhos. Ele viu

um tsunami e também um grande número de animais selvagens vindo devorá-lo.A energia divina protege os grandes devotos. Para Dhruva, essa energia divina veio na forma demisericordiosos sábios que se aproximaram dele para ensiná-lo como desfazer a ilusão. Seguindo suasinstruções, Dhruva se lembrou de Krsna e de Seus santos nomes e assim foi capaz de ver além dasilusões criadas pelos Yaksas. Esse mesmo refúgio divino está disponível a todos nós. Quando cantamosHare Krsna, a ilusão do reino material começa se a dissipar. Krsna nos envia ajuda na forma de guiasespirituais que nos ensinam como desfazermos as ilusões materiais e redespertarmos nosso adormecidoamor a Deus. Então nos tornamos perfeitamente situados na realidade absoluta.

Filtro MentalO esposo que estávamos aconselhando estava certo da existência de uma realidade absoluta, mas eleequivocadamente acreditava ser possível percebê-la através de sentidos imperfeitos. A ciência nos dizque a todo instante somos bombardeados por mais de seis milhões de bits de informação que corrempara o nosso interior através de nossos sentidos. Os cientistas postularam que o sistema de ativação

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reticular, localizado na base do cérebro, age como um porteiro, impedindo que sejamos subjugadospelo excesso de informações. Esse sistema de filtragem permite que entrem em nossa percepçãoconsciente informações baseadas em nossas experiências e em nossas crenças sobre nós mesmos.

No Bhagavad-gita, Krsna explica a Seu amigo e discípulo Arjuna que Ele é a fonte de toda lembrança,de todo conhecimento e de todo esquecimento. Krsna, como a Superalma dentro de nossos corações,sanciona quais informações vão até nossa percepção consciente. De acordo com nossos desejos, Krsna

fortalece nossa fé em certas percepções ou idéias de forma a apoiar uma experiência em particulardentro do reino material.

Embora a ciência moderna e a sabedoria antiga nem sempre estejam em harmonia, explicaçõescientíficas podem, algumas vezes, serem úteis na apresentação de pontos filosóficos. Podemos, porexemplo, dizer que nosso prarabdha karma (karma manifesto) se manifesta por meio dos cromossomosou do DNA. Similarmente, a Superalma pode, por meio do sistema reticular, filtrar informaçõescontrárias a nossas crenças. Se algumas pessoas, por exemplo, dizem que sou uma pessoa legal, eutalvez rejeite essas percepções e pense que elas querem me vender algo ou me manipular de algumamaneira.

Além desse filtro de informações no cérebro, nossos sentidos também cometem erros. Podemos ver

uma corda e pensar que se trata de uma cobra. E, dependendo do tamanho de nossa determinação emconvencer outros sobre o que pensamos, podemos apresentar informações enganadoras ou mentirosas.O desejo de um experimentador por um resultado específico freqüentemente contamina osexperimentos científicos.

Até que tenhamos purificado nossa consciência, nossa natureza condicionada irá influenciar nossospensamentos e nossa habilidade de compreender até mesmo o conhecimento absoluto advindo de fontespuras. Se, por exemplo, em razão de minha criação, eu acredito que Deus é vingativo e irado, eu ireifiltrar as informações que expõem como Ele é amável e misericordioso com Seus devotos. Portanto, éprudente questionarmos nossas próprias percepções da realidade e estarmos abertos as de outros,especialmente das pessoas espiritualmente avançadas.

Estágios do PensarOutro aspecto de nossa constituição psicológica que afeta nossa habilidade em perceber a realidadeabsoluta é nosso desenvolvimento cognitivo, ou a maneira com que nosso processamento depensamentos se desenvolve. William Perry, um psicólogo desenvolvimentista, descreve estágios dedesenvolvimento cognitivo que acredito poderem ser úteis para os devotos distinguirem entre fanatismoe iluminação. O primeiro estágio é o pensar preto e branco, no qual não podemos tolerar pontos de vistadiferentes dos nossos e no qual o nosso pensar é rígido e dogmático. Alguns de nós não vão além desseestágio; o restante progride para o pensar relativista e ouve e considera diferentes perspectivas eopiniões. O pensar relativista ajuda as pessoas a iniciarem e manterem relacionamentos íntimos. Oestágio final, que Perry diz ser raramente alcançado, é o comprometimento. A pessoa nesse estágio tem

crenças fixas, mas tolera as percepções de outros. De acordo com a pesquisa de Perry, as pessoas deconsciência espiritual altamente elevada que poderiam ser classificadas dentro desse último estágiofazem parte de um grupo pequeno e seleto.

À primeira vista, o pensador preto e branco e o comprometido talvez pareçam iguais: ambos estãoconvencidos de suas crenças, diferentemente do pensador relativista (estágio dois). Mas o pensadorcomprometido irá aceitar outros, enquanto o pensador preto e branco é freqüentemente fanático eirredutível. Terroristas estão presos no estágio um e criam grande perturbação no mundo por pensaremque sua realidade subjetiva é a única verdade. A missão deles é converter outros à sua abominávelmaneira de pensar. Como a história moderna mostra, esse tipo de pensamentos sectário com vestes dereligião é extremamente perigoso.

Perigos do SectarismoSrila Prabhupada, um Vaisnava superlativamente comprometido, enfatizou por diversas vezes que suasociedade, a Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna, era não-sectária. Ele não estava

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concentrando esforços para converter pessoas de uma religião para outra; ele queria ajudar as pessoas adesenvolverem amor por Deus. Bhaktivinoda Thakura, predecessor de Prabhupada, listou o sectarismocomo um dos principais obstáculos ao progresso espiritual por ele dificultar o encontro de um guru e aassociação com devotos sinceros que possam não estar contidos no grupo rigorosamente definido dapessoa.

Juntamente com a aceitação da Verdade Absoluta, temos de lembrar que vivemos em um mundo

relativo e que nossas percepções e experiências são subjetivas. Se eu sinto frio e outra pessoa sentecalor, está calor ou está frio? Dizer “eu estou com frio” expressa minha realidade subjetiva, mas dizer“está frio” é uma imposição de minha realidade subjetiva sobre os outros. Prabhupada nos ensina a nãoconfiarmos em nossa realidade subjetiva para entendermos a verdade. Ele dá o exemplo de um grupode homens cegos tentando dizer a identidade de um elefante tocando nele. Um dos homens, sentido suatromba, declara que a criatura é uma grande cobra. Outro, envolvendo uma das pernas do elefante comseus braços, conjectura que o elefante é um grande pilar. A percepção limitada e subjetiva de cadahomem do grupo falha na identificação correta do objeto. Para conhecerem a verdade, eles precisam daajuda de uma pessoa com visão.

Relatividade é algo que irá nos influenciar até que nossa natureza condicionada seja purificada.Prabhupada, portanto, ensina-nos a cultivarmos uma atitude humilde e de serviço para com os outros,especialmente para com as almas avançadas. Unicamente pela misericórdia delas podemos entender oreino do Absoluto. Quando deixamos de defender nossas impressões e percepções como o padrãoabsoluto e aceitamos as experiências de outros, tornamo-nos mais amáveis.

Esse tipo de pensamento irá aprimorar nossa efetividade na difusão dos ensinamentos do Vaisnavismoe também irá auxiliar na manutenção de nossos relacionamentos com outros Vaisnavas, inclusive comnosso esposo ou esposa. O pensamento preto e branco torna um casamento instável e com altaprobabilidade de divórcio. Se nos encontramos entrincheirados no desejo de estabelecermos nossasperspectivas relativas como absolutas, devemos orar pelo progresso para além desse estágio depensamento.

Irmos para além do pensamento preto e branco irá nos ajudar a avançarmos espiritualmente. Então, umdia, entraremos na realidade absoluta, onde nossas percepções subjetivas são perfeitas. Nesse estágio,não mais contaminados pela energia material, ficamos sob a influência da energia interna de Krsna evemos a realidade espiritual através de nossa relação particular com Krsna. Os vaqueirinhos vêemKrsna como o seu melhor amigo, os vaqueiros e vaqueiras mais velhos vêem-nO como seu filho, e as

 jovens vaqueirinhas vêem-nO como seu amante. Todos eles acreditam que sua posição é a melhor, etodos eles estão subjetivamente corretos.

Através de sinceridade, serviço e misericórdia, podemos transcender a existência material e entrar emum mundo destituído de tensão entre as realidades subjetivas e absolutas. No mundo material, orelativo e o absoluto competem pela supremacia e podem destruir relacionamentos. No mundoespiritual, o relativo e o absoluto trabalham juntos na intensificação dos relacionamentos amorosos.

Uma vez lá, nunca mais teremos de voltar para este mundo onde há apenas duas possibilidades: “ou euestou certo ou você está errado”.

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O Milagre MacmillanThe Macmillan Miracle

por Satyaraja Dasa

O Bhagavad-gita era importante para Srila Prabhupada. Ele o via como o livro perfeito para comunicar

a mensagem da Consciência de Krsna, dado que ele consiste das palavras do próprio Krsna e de Suasinterações com Seu amado devoto. Em 1939, apenas sete anos depois que Prabhupada havia sidoiniciado por seu mestre espiritual, ele escreveu em inglês uma extensa introdução ao livro, antevendosua tradução integral e comentários, que apareceram logo depois que começou sua missão no ocidente.

Quando Prabhupada chegou a Nova Iorque em 1965, ele priorizou o seu trabalho do Gita. Na Índia, ele já havia completado uma tradução, que se estendia por mais de mil páginas, mas ela foi roubada. Emmarço de 1966, Prabhupada estava se ajustando à vida no mundo ocidental quando um evento lhetrouxe grande perda: sua máquina de escrever, seu gravador e diversos livros seus foram roubados. Masele era resiliente e estava determinado a terminar seu trabalho. Em 1967, ele terminou o novomanuscrito, novamente perfazendo mais de mil páginas, e decidiu conseguir uma editora grande erenomada para que sua mensagem fosse ouvida por todo o mundo.

Nesse período, Allen Ginsberg, famoso poeta da Geração Beat, visitava o templo de Nova Iorque, e eledesfrutava de uma relação amigável com Srila Prabhupada. Uma vez que Ginsberg era um autor comexperiência de publicação, Prabhupada pediu a ele que mostrasse o manuscrito a seus contatos, o queGinsberg fez. Eles, no entanto, não deram muita atenção, afirmando que o livro tinha pouco apelocomercial.

Prabhupada, então, deu o manuscrito a Rayarama Dasa, um discípulo antigo com alguma experiênciano mundo editorial. Rayarama também foi mal-sucedido em seu empenho, com seus contatosmostrando hesitação basicamente pela mesma razão dos de Ginsberg.

E o Milagre Tem Início

Entra Brahmananda Dasa (Bruce Scharf), um dos primeiros discípulos de Prabhupada. Como se tivesseacontecido ontem, ele relata a história vividamente, embora ela tenha, de fato, acontecido há mais dequarenta anos.

"Eu não sabia nada sobre publicação", ele admite. "Mas Prabhupada colocou o manuscrito em minhasmãos, dizendo, 'Você tem que fazer isto ser publicado'. Assim, eu sabia o que tinha de ser feito".

O que ele não sabia era como fazê-lo. Se Ginsberg e Rayarama não eram capazes de fazer o livro serpublicado, como ele seria?

"Eu comprei dois ou três livros sobre o processo de publicação e estava prestes a fazer um curso sobreo assunto na Universidade de Nova Iorque – eu simplesmente não sabia o que fazer. Mas Prabhupada

queria que eu fizesse seu livro ser publicado, e fim de conversa".Por volta desse período, os devotos haviam lançado o álbum "Happening", uma coletânea de músicasdevocionais cantadas por Prabhupada com acompanhamento instrumental. Eles haviam colocado umanúncio da coletânea musical no jornal Village Voice e estavam recebendo pedidos de várias partes daCosta Oeste.

Um de tais pedidos veio da parte alta de Manhattan, relativamente próximo à pequena lojinha queservia de templo para Prabhupada e seus primeiros discípulos. Brahmananda levou a carta até seumestre.

"Olhe, Swamiji [como Prabhupada era então chamado]. É um pedido da Macmillan. Eles são uma

daquelas grandes editoras mundiais".Prabhupada olhou deliberadamente dentro dos olhos de seu discípulo e lhe deu as seguintes diretrizes:"Não envie este pedido por correio como fazemos com os outros. Ao invés disso, leve a coletânea atéos escritórios da Macmillan e a entregue nas mãos da pessoa que nos enviou a carta".

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Brahmananda concordou com a cabeça, ciente de que Krsna estava o usando como instrumento.

"Quando você entregar o álbum", Prabhupada continuou, "diga a eles que você é discípulo de um guruda Índia e que ele traduziu o Bhagavad-gita. Eles irão publicá-lo, não se preocupe".

Brahmananda estava impressionado. Prabhupada parecia muito confiante. Não havia dúvidas de que olivro seria publicado - e pela Macmillan! Ninguém poderia fazer melhor do que isso!

Nadando no Espesso Oceano de NéctarNo dia seguinte, trajando terno e gravata, Brahmananda colocou-se a caminho do arranha-céu daMacmillan na terceira avenida 866, no final da 52ª rua. Com expectativas tão grandes quanto aqueleedifício, ele se desapontou ao descobrir que o pedido do álbum partira de um simples funcionário dodepartamento de correspondências.

"Isto nada tem a ver com a editora - foi só um funcionário que se interessa por mantras e meditação".

Então Brahmananda cumpriu seu dever de entregar o álbum, mas já havia abandonado praticamentetoda a esperança de que o Gita de seu instrutor fosse publicado. Foi então que, no meio de umadaquelas breves conversas sociais, um jovem executivo apareceu em cena desejoso de pegar suacorrespondência. O funcionário o apresentou a Brahmananda.

"Este é James O’Shea Wade, nosso editor-chefe".

Brahmananda viu que aquele era o momento.

"Eu sou discípulo de um guru da Índia", ele disse tentado repetir precisamente as palavras dePrabhupada. "Ele traduziu o Bhagavad-gita".

"O que?", Wade respondeu incrédulo. "Nós acabamos de publicar uma linha completa de livrosespirituais, e estávamos procurando por um Bhagavad-gita para completar a coleção".

Brahmananda ficou boquiaberto. Embora sem palavras, ele contemplou a potência das de Prabhupada:"Eles irão publicá-lo, não se preocupe"

Wade então quebrou o deselegante silêncio."Traga os manuscritos amanhã", ele ofereceu, “e nós iremos publicá-lo, no susto".

Brahmananda correu de volta à lojinha que dava de frente para a rua e contou a Prabhupada asnovidades. À sua maneira inimitável, Prabhupada agiu sem demonstrar surpresa, como se ele soubessepor antecedência tudo o que acontecia.

Corroboração de Primeira MãoAgora, serão estas as memórias de um discípulo excessivamente empolgado, uma exagerada nota derodapé na história dos quarenta anos da ISKCON? Eu decidi descobrir.

Eu encontrei James Wade, e ele confirmou os eventos em questão. Ele se lembrava do incidente comuma clareza surpreendente, dando suporte à história de Brahmananda e oferecendo um adendo.

"Eu me lembro vividamente da agitação causada em nosso sério e tedioso escritório no dia em que oSvami veio nos visitar acompanhado por seus seguidores em vestes alaranjadas".

Aparentemente, Prabhupada levou pessoalmente o manuscrito na Macmillan no dia seguinte à visita deBrahmananda.

Wade compartilhou comigo seus pensamentos sobre a espiritualidade de Prabhupada.

"Eu me lembro do Svami como sendo uma figura muito imponente e notável, com uma poderosa auraespiritual. Seu perfil nunca havia sido visto anteriormente nos escritórios da Macmillan. Naquela

época, também publicamos as obras de Alan Watts e John Bleibtreu, que estavam envolvidos nomovimento comunitário e espiritual chamado Arica. A Macmillan tinha a tradição de publicar livrossobre espiritualidade e religião naquele tempo. Acho que essa fase terminou pouco depois que deixei aMacmillan para me tornar o editor-chefe da agora extinta World Publishing Company. Mas o Svami

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era especial. Isto era claro".

Pedi a Wade que falasse mais sobre o encontro fatídico.

"Nosso escritório era um tanto austero, com a fria decoração moderna. Eu me lembro de ter ficado umpouco apreensivo se o Svami se sentiria confortável naquele ambiente alienígena, mas ele se revelouum homem que estava em paz e em casa em qualquer lugar que estivesse. Eu me lembro dele como umhomem deveras alto, fisicamente imponente. Mas obviamente ele não era tal homem, sendo até

bastante baixo e nada intimidador. Ele era silencioso, modesto e rodeado por uma espécie de quietude,um sentimento de paz que era - como posso dizer - bem-vindo. Não posso pensar em uma palavra maisprecisa. Ele estava no mundo e, ao mesmo tempo, não estava. Ele sabia que nós vivemos em umaespécie de mundo com uma ciência ilusória, que nos ensina das partículas subatômicas e mecânicaquântica até a teoria das supercordas. Eu lembro que ele queria que o  Bhagavad-gita Como Ele É tivesse o máximo de exposição possível nos Estados Unidos. Coisas como o movimento Hare Krsna,como me lembro, estavam nos primeiros estágios. Diferente do que acontece hoje, espiritualidadesalternativas, como o Zen ou o Budismo Tibetano, por exemplo, não haviam chegado nem perto dasmentes e espíritos das pessoas".

James Wade foi editor-chefe da Macmillan de 1965 a 1969. Mas em seus poucos anos ali atuante, ele

fez história ao publicar uma edição do  Bhagavad-gita de um devoto puro. A versão reduzida veioprimeiro, em 1968, e, em conseqüência das sementes plantadas por James Wade, a Macmillan publicoua versão integral do Bhagavad-gita Como Ele É de Srila Prabhupada em 1972.

Uma Tradução com Poder EspiritualA tradução e os comentários de Srila Prabhupada não são apenas seus; eles trazem a clara compreensãode seus predecessores na sucessão discipular. Por isso chamou sua edição do Bhagavad-gita de "ComoEle É". O nome audaciosamente anuncia a seus leitores que não se trata de uma outra interpretação,mas sim da mensagem original do locutor primário do livro: Krsna, a Suprema Personalidade de Deus.Coerentemente, o Gita de Prabhupada foi a primeira edição em língua inglesa a levar os leitores para aConsciência de Krsna, a torná-los devotos e devotas de Krsna, o que é o propósito do livro (vide Bg.

18.65).O Gita de Prabhupada tornou-se a edição mais importante do mundo moderno, freqüentementesuperando a venda de tanto traduções populares quanto acadêmicas. Clamando por milhões de leitoresem cinqüenta e cinco línguas diferentes, do polonês ao japonês, do alemão ao azerbaidjano, dodinamarquês ao croata, do inglês a numerosas línguas indianas, o Gita de Srila Prabhupada é umfenômeno. Ele pode ser encontrado em residências, livrarias, bibliotecas e instituições acadêmicas aoredor de todo o mundo.

A história do encontro de Prabhupada com a Macmillan mostra que James Wade, então editor sênior daeditora, atuou como um instrumento nas mãos de Krsna, que já havia assinado o contrato.

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Abrindo Caminho pela Trilha Não AbertaPaving the Way on Unpaved Roads

por Yoginatha Dasa

Vanamali raramente caminha. Como a maioria das crianças de seis anos, ela salta, gira, se mexe e se

sacode enquanto viaja pelo seu mundo nas trilhas e estradas da Vila Saranagati na remota ColúmbiaBritânica. Suas numerosas viagens, e aquelas de outros antes dela, desgramaram o caminho pelafloresta de pinheiro e abeto da própria casa à escola.

O nome de Vanamali Dasi significa “serva de Krsna, aquele que usa belas flores silvestres comoadorno”. Ela é membro da “terceira geração” da ISKCON, filha de filhos de discípulos de SrilaPrabhupada. Ela nasceu em casa, na Vila Saranagati, e agora está sendo educada ali. As marcas dosdevotos vivendo aqui formaram o caminho que ela usa – atalhos entre as casas, das casas para otemplo, e para lugares especiais na floresta, como “a ponte vermelha”.

Vinte anos atrás, não havia trilha alguma. O vale agora conhecido como Saranagati foi, certa vez, umespaço utilizado no verão para a prática de caçada por parte dos nativos indianos. Na década de 30,

imigrantes chineses tentaram cultivar repolho e batatas aqui. Então, em 1987, estimulados por umaintensa paixão por satisfazer o desejo de Srila Prabhupada pelo estabelecimento do sistemavarnasrama, um grupo de devotos de Vancouver juntou seu dinheiro e o usou para dar entrada na terra.

Não havia casas, e não havia água corrente ou eletricidade. Havia algumas poucas estradasprofundamente sulcadas, algumas cercas cinzas de outra época quebradas, e dois mil acres de soloalcalino, levemente rochoso e não trabalhado rodeado de árvores. Não havia nenhuma razão para sepensar que essa terra poderia sediar uma vila varnasrama. Na verdade, não havia história conhecida deassentamento humano na terra. Contudo, era ali que neopioneiros como os avós de Vanamali, citandoslogans de auto-suficiência e vida simples, decidiram construir a nossa comunidade modelo.

Diferente dos peregrinos europeus que chegaram a seu Novo Mundo armados com firmeza física e

habilidades básicas de sobrevivência, a única habilidade que pude trazer de minha infância nossubúrbios de Seattle e de dois anos de faculdade era como acender um fósforo. Em 1987, abandonandotoda lógica e todo bom senso, eu e outros devotos igualmente despreparados enchemos a carroceria decaminhões com algumas ferramentas manuais, algumas janelas usadas e outros implementos variados.Nós então nos aventuramos cega, tola e empolgadamente para dentro da terra setentrional fria e áridaconhecida hoje como Saranagati, queimando em entusiasmo por servir nosso guru e seu movimento.

A Visão de PrabhupadaAntes de sua partida, Srila Prabhupada freqüentemente falou sobre varnasrama-dharma, o sistemasocial Védico designado para ajudar todos a fazerem progresso espiritual gradual. Tal sistemacertamente era um raio na roda de seu esquema missionário.

“Nosso dever é que também devemos arranjar os assuntos externos tão bem que, um dia, eles virão paraa plataforma espiritual muito facilmente, abrindo caminho... Vaisnava não é tão simples. Ovarnasrama-dharma deve ser estabelecido para que a pessoa se torne Vaisnava. Não é tão fácil setornar Vaisnava”. – Srila Prabhupada, Mayapur, Índia, 14/02/77

Embora nenhum de nós fosse capaz de descrever precisamente uma “comunidade varnasrama”,tínhamos certeza disto: que um punhado de devotos bem-intencionados com um mandato para seremconsciente de Krsna soltos na selva da Colúmbia Britânica, com propriedade privada de suas casas euma terra compartilhada ao redor, iriam, com o tempo, manifestar o varnasrama. Isso é algo similar ase jogar um punhado de sementes de milho em um campo abandonado e sem cultivo na primavera eretornar no outono com a esperança de colher uma safra – uma inútil técnica que experimentei uma

vez.O que aconteceu?

Carregar baldes de vinte litros de água descendo ladeiras escorregadias era algo um tanto desmotivador

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após uma vida inteira abrindo torneiras. Deitar-se sobre as costas na lama fria para prender pesadascorrentes de metal nas rodas de um caminhão encalhado em uma estrada lamacenta parecia mais vidaestúpida do que vida simples. Cavar a terra com as mãos para produzir algumas poucas cenouras ebatatas ao invés de ir à mercearia parecia uma perda de tempo. E passar um dia inteiro na florestacortando e carregando lenha era muito mais difícil para as costas do que girar o termostato.

Ainda posso sentir o pesaroso desapontamento de plantar minha primeira safra de espinafre

empurrando as sementes 10 centímetros para dentro do solo – não sabendo que eu as estava enviando aum mundo de eterna escuridão.

Apesar destes e de outras incontáveis lutas, Saranagati ainda existe.

Houve uma miraculosa transformação na paisagem? Através da perseverança e da graça de Deus osdevotos transformaram um deserto em Indraprastha, um céu na terra, uma gloriosa vitória contra todosos obstáculos? Não exatamente. Nós estabelecemos sim jardins, uma escola, um templo e vinte e cincocasas, variando do rústico ao elegante. E a felicidade de nossa nova vida nas montanhas de algumaforma conquistou nossos corações.

Há uma satisfação primordial em poder abrir sua porta da frente a qualquer momento do dia ou da noitee gritar “Jaya Radhe-Syama!” tão alto quanto você queira sem temer a censura dos vizinhos.

É um alívio saber que ir para o trabalho significa caminhar até o canteiro de framboesa. Dormir noritmo das estações ao invés de dormir no ritmo do relógio parece completamente correto. O céu élimpidamente cristalino, e suas estrelas brilham e tranqüilizam a mente. O vivaz cantar dos passarinhossubstitui o ensurdecedor resmungo de uma gigante máquina urbana.

Esses pequenos prazeres tornaram o fardo do “viver sem” parecer trivial. Mas e quanto ao nossomandato original. E quanto à nossa missão? Nós estabelecemos o varnasrama? Chegamos algo maispróximos de compreender o que é isso? Satisfizemos os desejos de nosso Guru Maharaja?

Um Caminho SimbólicoSe o varnasrama requer reis e brahmanas e supostamente visa afunilar os grhasthas para a ordemrenunciada, então falhamos. E se o varnasrama deve ser a recriação de um sistema social multimilenarcom divisões de trabalho bem ordenadas, então novamente falhamos. Por outro lado, se o espírito dovarnasrama é criar um estilo de vida simples e sem adornos que apóie a consciência de Deus ao invésde constantemente desafiá-la; e se varnasrama destina-se a oferecer um ambiente estável, seguro ecalmo, um lugar onde, como coloca Bhaktivinoda Thakura, “a vida espiritual pode ser executada fácil eautomaticamente” (Kalpataru, Canção 13), então a trilha de Vanamali e a vila do século vinte e um deSaranagati merecem uma reconsideração.

Um caminho trilhado por três gerações da mesma família de devotos certamente simboliza estabilidade.Nós ainda não sabemos se Vanamali e seus amigos de folguedo viverão a profecia de serem osprimeiros verdadeiros Vaisnavas ocidentais, mas, ao menos, plantamos as sementes, e elas brotaram.

Essas crianças não foram atiradas em terras incultas de uma instituição impessoal ou empurradas paradentro do solo do materialismo grosseiro ou da diversão eletrônica. Elas estão crescendo na terra fértilde Saranagati, onde podem correr livremente e respirar ar fresco. Aqui, elas voltam para casa e seencontram com jardins de legumes e kirtana. Todos os seus vizinhos usam tilaka e contas de pescoço.

O tempo dirá se este é, de fato, o começo do varnasrama, como desejado por Srila Prabhupada. Hoje,Saranagati é um lugar maravilhoso para se buscar a vida interna da consciência de Krsna. E, se um diaas crianças de Vanamali alegremente caminharem pela trilha de sua mãe, então uma rara e preciosafloresta talvez tenha verdadeiramente nascido do rochoso solo de Saranagati.

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A Ciência do Conhecer DeusThe Science of Knowing God

por Navin Jani

 Deus: A Evidência;  Deus, um Delírio;  Deus: A Hipótese Fracassada; A Linguagem de Deus: Um

Cientista Apresenta Evidências de que Ele Existe. Aparentemente, escrever sobre Deus é a última modaentre os cientistas, tanto teístas como ateístas. Muitos de tais autores também foram convidados apalestrar a multidões em faculdades, e eles causam considerável alvoroço. Seria esta, contudo, a melhormaneira de se abordar a questão acerca da existência de Deus? A ciência convencional, particularmentesuas formas “rígidas”, como a Física e a Biologia, não parece oferecer a instrumentária e técnicasapropriadas com as quais se chegar a uma resposta definitiva. Por outro lado, muitas abordagensreligiosas parecem impedir a aplicação rigorosa da razão e a oportunidade para experimentaçãoindividual. Entre essas duas alternativas menos do que satisfatórias, a literatura Védica da Índia antigaoferece o que poderia ser uma promissora terceira opção. Para nos convencer de que tal opção é de fatopromissora, teremos, primeiramente, de analisar por que a ciência convencional não dá conta doserviço; seguiremos, então, em frente para compreender como a ciência espiritual da literatura Védica é

bem-sucedida em tal tarefa sem comprometer o que as pessoas modernas gostam na ciência.Duas doutrinas cardinais apresentam grandes obstáculos para a ciência convencional como um meiopara se conhecer Deus. A primeira é a doutrina do naturalismo, a suposição de que todo fenômenonatural possui causas naturais. ( Natural, neste contexto, significa empiricamente observável, ouperceptível através dos cinco sentidos). Esta é uma suposição fundamental da pesquisa científica, e suaaceitação descarta efetivamente qualquer realidade além do alcance dos sentidos.

Tendo dito isto, há interpretações, de certa forma, mais leves dessa doutrina. Alguns cientistasdistinguem entre naturalismo metafísico e metodológico. Naturalismo metafísico é a visão descritaacima de que, por trás de tudo no mundo, há uma causa empírica. De acordo com essa visão, o solnasce em virtude da rotação da Terra, e certamente não em conseqüência de ser puxado por uma

entidade imperceptível conduzindo uma quadriga dourada. O naturalismo metodológico, contudo,apenas limita o modo com que estudamos o mundo a observações empíricas (o que podemos tocar, ver,sentir e assim por diante), sem necessariamente desconsiderar explicações sobrenaturais para essasobservações. Segundo essa visão, uma quadriga poderia possivelmente puxar o sol, mas o único modopara testar essa proposição seria usar telescópios e instrumentos similares. Assim, fenômenossobrenaturais talvez existam, mas meios sobrenaturais não são permitidos como forma de verificá-los.Embora essa perspectiva seja mais acomodatícia, veremos a seguir que ainda é desnecessariamenterestritiva para uma pessoa seriamente comprometida com a investigação da existência de Deus.

O segundo obstáculo é a doutrina da falsificação. Popularizada pelo filósofo da ciência Karl Popper,esta doutrina defende que, para uma declaração ser considerada científica, alguém deve ser capaz de

provar que ela é falsa. Em outras palavras, se o cientista A faz alguma alegação, mas não há como ocientista B demonstrar que tal alegação é falsa, então a alegação é considerada não-científica. Se elanão pode ser testada, ela é desconsiderada. Uma conseqüência interessante de se aceitar tal critério paraa ciência, conseqüência esta que exploraremos de modo mais completo posteriormente, é que se tornaimpossível provar algo. A pessoa pode apenas desprovar . Este é, no entanto, o funcionamento daciência sob a doutrina da falsificação. A ciência aceita uma teoria se ela pode ser usada de forma aexplicar e previr fidedignamente um fenômeno natural e se nenhum dado a contradiga. Se a teoria érefutada em algum ponto, então outra teoria é aceita, e, assim, o ciclo continua. Embora oconhecimento mercurial produzido de tal abordagem possa ser aceito para outros propósitos, ele não éuma base apropriada para a compreensão de Deus.

Duplamente CegantesPor que essas doutrinas gêmeas da ciência convencional, o naturalismo e a falsificação, tornam-se tãoproblemáticas quando aplicadas ao estudo do divino? Porque são injustificadamente cegantes.Realizemos um experimento mental para descobrirmos como. Suponha que os teístas veementes e

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talentosos, inigualáveis em sua execução de investigação científica convencional e consumados em suadedicação a um ser divino onipotente, repentinamente tomam posse de todas as grandes universidades egrandes institutos de pesquisa. Passadas décadas de tempo, quão longe tais gênios tementes a Deuspoderiam ir? Eles certamente poderiam descreditar toda teoria científica alguma vez proposta que nãoincluísse uma rigorosa concepção de Deus. Eles também poderiam propor elaborados modelos decomposição própria tanto centrados em Deus como perfeitamente de acordo com todo dato empírico jáobservado. Mas a pergunta de um milhão de dólares é: Eles provariam a existência de Deus?

A resposta é não. Eles certamente tornariam o ateísmo uma postura irrazoável e que nenhuma pessoainteligente teria a esperança de justificar. E eles elaborariam uma visão abrangente do mundo comodependente de Deus em todos os aspectos. Mas eles não provariam que Deus existe. O naturalismo osimpediria de apresentarem dados e evidências transcendentais aos cinco sentidos, e a falsificação osimpediria de estabelecerem qualquer espécie de verdade conclusiva. Presos por tais algemasideológicas da ciência convencional que limita toda investigação a desprovar teorias por meio de dadosnaturais, eles jamais seriam capazes de produzir evidências positivas de uma entidade sobrenatural.

Então, onde ficamos nós, os racionalistas espiritualmente indagadores? Se, mesmo em tal cenário ideal,a ciência convencional não poderia nos dar a satisfação de saber que Deus existe, resta-nos apenas a fécega no que as autoridades nos dizem? Não há nenhuma forma de se empregarem métodos racionais deobservação e experimentação a fim de se compreender o Supremo? As escrituras Védicas da antigaÍndia disponibilizam-nos precisamente tal alternativa.

Raízes IluministasPara apreciarmos o valor do que a literatura Védica oferece, devemos, primeiramente, compreender queo estabelecimento científico estima o naturalismo e a falsificação em virtude desses ajudarem nadistinção entre ciência e pseudociência. Os pesquisadores atuais são descendentes intelectuais doIluminismo, um movimento na Europa oitocentista que mudou a visão da humanidade dos céus para aterra e cujos proponentes estimam a razão e o progresso sobre o dogma e a tradição. Deste modo, osmembros da comunidade científica constantemente buscam delimitar a ciência de sorte a explorar o

mundo através da razão e do intelecto, um caminho que é aberto ao empenho e à iniciativa individuais.Em contraste, eles vigilantemente expulsam ao reino da pseudociência qualquer abordagem que vejamcomo dependente de emoções subjetivas ou de recepção passiva, o que, para eles, comumente incluireligiões de todo tipo. Tanto o naturalismo como a falsificação auxiliam em tal separação, daí ospesquisadores do mainstream terem aceito-os como doutrinas.

Reconhecendo que a motivação fundamentadora de sua aceitação é bona fide – distinguindo indagaçõesdisciplinadas de alegações caprichosas – uma questão crítica é se tais doutrinas são o único meio para aobtenção desse fim, inobitenível pela aplicação da sabedoria Védica. Enquanto evitando as armadilhasque o naturalismo e a falsificação apresentam, a literatura Védica nos dá um meio para obtermos oconhecimento, meio este, no entanto, rigoroso, sistemático e verificável. Na verdade, o método Védicotradicional para se conhecer a Deus – como apresentado em escrituras como o  Bhagavad-gita e oSrimad-Bhagavatam – é um modelo de boa ciência, embora uma ciência adaptada de maneirasinevitáveis para o estudo do espírito.

Métodos de Ciências BrandasA primeira adaptação – que, em virtude de sua natureza óbvia, é quase indigna de menção – é arealização de que Deus é uma pessoa com a qual se deve lidar de acordo, não como um substratuminerte do universo que podemos escavar e colocar no microscópio. Assim, se vamos olhar para aciência como um modelo, devemos olhar para as ciências sociais, e não tanto para as ciências naturais.

Certamente, muitos cientistas “rígidos” fazem escárnio da idéia de disciplinas como psicologia,sociologia e economia serem consideradas ciências, mas isto não impediu legiões de homens

pensadores a tentarem aplicar o método científico para estudar os seres humanos e suas sociedades.Tais cientistas sociais são forçados simplesmente a levar em conta em suas áreas qualidades como aautoconsciência e a autodeterminação, o que os cientistas naturais, que pesquisam matéria inerte eespécies subumanas, geralmente se dão a liberdade de ignorar. Uma vez que mesmo o estudo de

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humanos como agentes conscientes é uma temática para a ciência social, por que usaríamos os métodosdas ciências naturais para estudar Deus? Se ainda há dúvidas, Ele é sobre-humano.

Como, então, poderíamos definir a ciência sócio-espiritual da literatura Védica? Podemos definir aciência social convencional ou similar como “a observação objetiva do reino natural através dossentidos e de suas extensões”. Dado, todavia, que Deus é conhecido na literatura Védica comoAdhoksaja (aquele além do alcance dos sentidos) e Acintya (inconcebível), a necessidade de se adaptar

tal definição ao estudo da transcendência revela-se óbvia. Uma definição para a ciência transcendentalque leva em conta a natureza transcendental de Deus poderia ser “a experiência subjetiva do reinotranscendental através da consciência e de acordo com a direção das escrituras reveladas”.

Tal definição deixou de ser científica? Srila Prabhupada parece acreditar que não; ele se referia àprática da vida espiritual como a ciência da auto-realização. Revisemos os componentes dessa ciênciae vejamos se tal perspectiva é justificada.

Para começarmos, a nossa nova definição de ciência envolve subjetividade ao invés de objetividade. Aciência moderna, no entanto, – através do princípio da incerteza de Heisenberg e da física quântica –trouxe o observador para dentro das equações físicas e o impediu de permanecer seguro na lateral docampo. Assim, a presença e as percepções da pessoa no ato de mensurar tingem sob todos os aspectos a

mensuração, e não existe tal realidade expressa como conhecimento independente do conhecedor. Sim,tais verdades operam na escala quântica infinitesimal, mas o ponto é que a ciência convencionalmostrou essencialmente que a objetividade é ilusória; de forma prática, portanto, não podemos sercriticados por falar em ciência com base em experiências subjetivas.

O próximo componente de nossa definição de ciência espiritual é o uso da consciência, ao invés denossos sentidos físicos, como nosso instrumento primário de pesquisa. Isto obviamente viola a doutrinado naturalismo metodológico, a qual restringe as mensurações a instrumentos que expandem ossentidos; mas nossa definição ainda é científica em termos significativos?

Isomorfismo

Consideremos o princípio de isomorfismo, que dita que o instrumento usado para mensurar certofenômeno deve ser apropriadamente compatível ao fenômeno. Depender unicamente dos cinco sentidose de suas extensões mecânicas em nossa busca por Deus viola este princípio, visto que eles são capazesde perceber apenas matéria e visto que o nosso assunto é espiritual. Considerando esta limitação, ésimplesmente razoável substituí-los por uma ferramenta de mensuração mais apropriada.Dogmaticamente ater-se somente aos instrumentos com os quais se está familiarizado ou com os quaisse sente confortável – em face de sua óbvia impropriedade – é o sinal de um pesquisador destituído derazão, e não de um bom cientista. Como escrito décadas atrás pelo famoso químico John Platt noperiódico Science:

Esteja atento ao homem de um método ou de um instrumento, seja experimental ou teorético. Ele tende a se tornarorientado pelo método ao invés de orientado pelo problema. O homem orientado pelo método está algemado; o homem

orientado pelo problema está, pelo menos, ascendendo livremente em direção ao que é mais importante.Caso queiramos pesquisar com sucesso a existência de Deus; como bons cientistas, devemos nos valerde qualquer método que melhor se adéqüe ao problema em mãos. A literatura Védica nos informa que,a fim de compreender o espírito supremo, a consciência suprema, o eu supremo, o único instrumentoadequado é o nosso próprio espírito, nossa própria consciência, o nosso próprio eu. Na verdade, apenasem nossa capacidade como porções de Sua divindade podemos nos conectar com Deus.

O Uso da Consciência para a Investigação acerca de DeusTendo sagaciosamente escolhido a consciência como o nosso instrumento, como devemos aplicá-la? Éneste ponto que a orientação das escrituras reveladas se torna crucial. Seguir as escrituras significaestudar Deus em Seus próprios termos, pois Ele é a fonte última das escrituras.

Adaptações às necessidades e demandas de um tema não é algo alheio à pesquisa sócio-científicaconvencional. Consentimento e acesso são da maior importância visto que os seres humanos nãopodem ser manipulados contra a vontade deles como se fossem meras vias de elementos químicos ou

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chimpanzés de laboratório. Se tais considerações são críticas para o estudo de pessoas ordinárias, nãodevemos nos surpreender com a constatação de que são importantes no estudo de Deus. Se queremosser bem-sucedidos, precisamos que Ele consinta com o nosso estudo e nos permita ter acesso a Ele.Nós talvez consideremos esse posicionamento subordinado como intragável, mas devemos aceitar queestamos tentando nos encontrar com a pessoa mais ocupada, mais rica, mais poderosa e mais famosa naexistência.

Pesquisadores de ciências sociais freqüentemente falam de pessoas criticamente posicionadas quepodem ajudá-los a fazer importantes contatos como “guarda-cancelas”. Como resultado, Deus tem Seuspróprios guarda-cancelas, e precisamos trabalhar com eles para obtermos uma audiência com Deus, damesma forma com que trabalharíamos com uma hierarquia corporativa para arranjarmos um encontrocom um CEO.

Para a nossa fortuna; no Bhagavad-gita, Deus apresenta elaboradamente os procedimentos pelos quaispodemos ganhar acesso a Ele. Dentre esses, o mais fundamental é a necessidade de se aceitar um guru.Tal movimentação é não-científica? De forma alguma. Assim como qualquer doutorando aprende a artede pesquisar com um orientador, o aspirante espiritual também deve receber instruções de umespecialista. Qualquer pesquisador experiente, seja do espírito ou da matéria, pode transmitir técnicas epráticas melhores.

A abordagem Védica para o conhecimento de Deus viola, deste modo, a doutrina do naturalismo emsua aceitação de métodos sobrenaturais; ela é, no entanto, surpreendentemente consistente com oespírito científico, e mesmo com muitos de seus princípios essenciais. Trata-se de uma ciênciaaprimorada, dado que permite acesso a uma dimensão de realidade inteiramente diferente, mas demodo sistemático e passível de repetição.

E quanto ao outro impedimento do conhecimento científico convencional para o acesso a Deus, adoutrina da falsificação? Como a ciência da literatura Védica aborda essa limitação?

Duas Perspectivas de Conhecimento

Mais uma vez, um pouco de discussão preliminar se faz necessário antes que possamos responder taisquestões. A ciência convencional e a ciência Védica possuem perspectivas dramaticamente divergentesacerca do conhecimento. A primeira defende que os seres humanos não podem conhecer algo positiva eindependentemente. Ao contrário, com base em dados empíricos, que coletamos observando einteragindo com o mundo físico, nós constantemente refinamos o que nós consideramos a verdade.Nossa base de conhecimento é, portanto, relativa e sempre em mutação.

Em última instância, o significado disso é que, em verdade, não conhecemos nada. Eu talvez possadizer que o sol irá nascer amanhã ou que há um país chamado China do outro lado do mundo, mas omeu pretenso conhecimento é baseado apenas em minha experiência. Se, amanhã, o sol não nascer ouse pego um avião para a China e descubro que ela não existe, eu certamente revisaria a minhaconsideração de verdade. O conhecimento dependente de hoje é a mitologia de amanhã. À luz de tal

compreensão de conhecimento, a doutrina da falsificação tem sentido. Nós não podemos saberverdadeiramente o que é a verdade, então usemos o nosso tempo simplesmente expondo o quedefinitivamente não é verdade e aceitemos o que sobrar como bom o suficiente por ora.

As escrituras Védicas apresentam uma visão de conhecimento diferente. Elas clamam podermosconhecer as coisas de modo certo, intrínseco e independente. Este conhecimento absoluto não é sujeitoaos fluxos de nosso mundo sempre a mudar. De forma nada surpreendente, este princípio acomoda daforma mais poderosa e gloriosa a pergunta cuja resposta mais deveríamos querer: existe um Deus? Soaexcelente, talvez digamos, mas este conhecimento propostamente absoluto é científico? Certamente eleo parece ser. Conquanto apresentado em escrituras reveladas, a pessoa não precisa aceitá-lo cegamente,baseado unicamente nas palavras e experiências de outra pessoa. Em verdade ao espírito de indagação

científica, ele pode ser verificado por empenho individual.Mais Científico do que a CiênciaDe fato, alguém poderia argumentar que este processo é até mesmo mais científico do que a ciência

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convencional, mas, afinal, por que tantas pessoas escolhem a ciência ao invés de, digamos, religiãocomo um meio para a aquisição de conhecimento? Suponho que assim o é porque, se terão de dependerde informações oriundas de uma fonte externa, em detrimento de alguma sorte de figura de autoridade,eles preferem seus próprios sentidos (que são uma fonte externa no senso que sou diferente de meusolhos, os quais podem me enganar – e de fato me enganam). Ao menos, eles estão envolvidos, assim,no processo, e não se encontram meramente como recipientes passivos. A literatura Védica, entretanto,declara fortemente que você não tem que depender de alguma fonte externa – você pode conhecerpessoalmente. O conhecimento não necessita ser externamente dependente, seja de uma figura deautoridade seja de nossos próprios sentidos, mas pode tornar-se algo genuinamente interno. O quepoderia ser mais satisfatório a pessoas que querem ver por si mesmas?

Desta maneira, o método Védico nos permite transcender as restrições da falsificação e adquirirconhecimento positivo verdadeiro, mas de um modo harmonioso com idéias científicas, comoobservação independente e verificação.

É claro que começamos pela aceitação da versão das escrituras com base em fé, mas, novamente, seráisto algo tão imensamente não-científico? Toda pesquisa investigativa convencional começa com umahipótese, uma formulação do que o pesquisador espera encontrar. Esse pressentimento pode advir deteoria, observação, pesquisa pretérita, experiência de vida, intuição – de qualquer fonte. Enquanto osmétodos usados na investigação das hipóteses forem rigorosos, sua fonte é irrelevante. Assim, por quenão começar pelas escrituras?

Portanto, mesmo antes de começarmos a nossa investigação, as escrituras têm sim um importantepapel. A fim de que não tenhamos problemas imaginando como é ter tal conhecimento positivo, asescrituras usam analogias para nos inspirar. O Senhor Krsna explica na abertura do capítulo maisconfidencial do  Bhagavad-gita (Capítulo 9) que o conhecimento que Ele está prestes a descreverconcede “experiência direta” ( pratyaksa). Muito embora a temática sendo discutida seja claramenteespiritual, a palavra sânscrita utilizada é a mesma usada em sensações físicas. E, caso isto não bastepara nos transmitir a idéia, o Srimad-Bhagavatam (11.2.42) nos assegura:

Devoção, experiência direta do Senhor Supremo e desapego das outras coisas – estes três ocorrem simultaneamentepara aquele que se refugia na Suprema Personalidade de Deus, da mesma forma que prazer, nutrição e alívio da fomemanifestam-se simultânea e crescentemente a cada mordida para uma pessoa ocupada em comer.

Seguindo fielmente os procedimentos dados por Deus na literatura Védica, podemos esperarexperimentá-lO de um modo tão tangível como experimentamos uma refeição. E isto não se restringe auma experiência interior. Ao contrário, tanto o Gita (6.30) quanto o  Bhagavatam (11.2.45) nosinformam que, em certo estágio de avanço, veremos Deus em tudo e em todos.

Neste ponto, deve estar claro que o que é oferecido pela literatura Védica é um meio genuinamentecientífico para se conhecer Deus. Ao invés de invocar mero sentimentalismo ou fé cega, ele apresentaum processo coerente que incorpora tanto razão como empenho individual, e então convida as almasdesejosas a fazerem sua própria investigação. Então, para aqueles de nós que realmente querem

pesquisar a existência de Deus, a dificuldade é clara: Correndo sobre os dois trilhos do naturalismo e dafalsificação, a locomotiva da ciência convencional pode nos levar até certa distância na direção correta.Cedo ou tarde, entretanto, temos que embarcar no aeroplano da ciência Védica para alcançarmos onosso destino desejado. Por que, então, esperar até o fim dos trilhos?

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Água: Uma MeditaçãoWater: A Meditation

por Urmila Devi Dasi

No Havaí, límpidas ondas azuis celestes batiam em meus joelhos enquanto uma tartaruga marinha

multicolorida suavemente alimentava-se próxima de meus pés. É o encantamento da água que leva aspessoas àquele local pacífico e muito belo, como tantos lugares buscados pelas pessoas com o intentode relaxar e rejuvenescer. Muitos meses depois, em Londres, a dois oceanos do Havaí, alguns amigosme levaram para me exercitar em uma piscina coberta de água aquecida. Embora o clube esportivocarecesse de beleza e a água fosse repleta de produtos químicos, minha estadia na água foi, aindaassim, refrescante.

A água é uma das categorias da energia de Krsna, como descrito em escrituras como o  Bhagavad-gita eo  Brahma-samhita. Krsna sempre existe como uma pessoa transcendental, separado de Sua energia,enquanto que, ao mesmo tempo, Ele está presente nessa energia. Assim, embora a água não seja Krsna,Krsna é a água.

De que maneiras podemos apreciar Krsna na água? Ele é o sabor ou a essência da água, a qualidade quesacia a nossa sede e traz satisfação. Enquanto eu nadava na piscina de Londres, pensei na brandura ouliquidez da água. Uma das qualidades de Krsna é Sua suavidade. Seu corpo espiritual é tão suave queele muda de cor onde é levemente tocado por uma folha. Seu corpo suave é um estímulo ao amor deSeus devotos por Ele.

As escrituras descrevem que o Senhor e Sua forma são idênticos. Assim, tanto Seu corpo quanto Seussentimentos são suaves. Especialmente quando Krsna assume a disposição de Sua maior devota eaparece como o Senhor Caitanya, Seu coração derrete em compaixão por todos os seres vivos, e Eleconcede gratuitamente amor a Deus sem considerar o mérito do candidato. Seu coração, portanto, écomo manteiga ao fogo, suave e fluídico. A liquidez da água mostra-nos essa qualidade de fluidez ederretimento do amor e da doçura do Senhor.

A água também é poderosa, tão poderosa que seu rápido fluir pode prover toda a eletricidade de umacidade, ou uma enorme onda pode causar grande destruição em um instante. O poder da água noslembra que umas das opulências de Krsna é a força ilimitada. Ele cria, mantém e destrói incontáveisuniversos sem fazer qualquer esforço. Ele carrega planetas sobre Sua cabeça com tamanha indiferençaque Ele quase não tem ciência do peso deles. Se todo o poder cinético em potencial de toda a água domundo fosse combinado em uma gigantesca onda, ela não igualaria a menor fração da força de Krsna.

Essa natureza dúplice da água – suave, mas poderosa – lembra-nos como Krsna, cuja forma espiritualeterna é de um delicado rapaz de dezesseis anos, facilmente lutou contra musculosos demônios queestavam atormentando os cidadãos inocentes e os matou.

Passatempos na ÁguaMuitas das espirituais atividades transcendentais do Senhor se relacionam com a água. Quando Krsnacria o mundo material, Ele assume uma forma de tamanho incomensurável e Se deita em uma espéciede sono, em transe ióguico, em Sua encarnação como a serpente Sesa, que flutua sobre o vivente eespiritual oceano causal. Incontáveis universos, um dos quais nós agora habitamos, vêm do corpo doSenhor quando Ele exala.

Então, o Senhor entra em cada universo e cria a partir de Sua transpiração um oceano que preenchemetade da fechada estrutura universal. Ele Se deita nessa água, e Sua consorte, a deusa da fortuna,massageia Seus pés.

O Senhor desfruta flutuar sobre esse oceano cósmico com Sua consorte. Porque cada um de nós é umapequena parte do Senhor, temos Suas propensões em um grau diminuto. Assim, o desejo do homemcomum de flutuar sobre um barco, uma balsa ou outro engenho similar com a pessoa amada vem doSupremo, a fonte de tudo.

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Outro exemplo de passatempos de Krsna envolvendo água ocorreu no começo da história do universo.Na cosmologia Védica, os planetas são pessoas conscientes. A Terra, certa vez, caiu dentro da águauniversal quando pessoas demoníacas perturbaram sua órbita perfurando-a em busca de óleo e afetandoseu equilíbrio. Seres celestiais, chamados devas, que controlam o universo a serviço de Krsna, queriamque a Terra fosse resgatada. Atendendo ao pedido deles, o Senhor veio salvá-la. Ele assumiu a forma deum esplêndido e gigantesco javali (Varaha), mergulhou no fundo do oceano universal, pegou a Terra egentilmente a carregou sobre Suas presas até a superfície da água. Tendo-o feito, um grande demônioos desafiou. O Senhor Varaha então cuidadosamente colocou a temerosa Terra sobre a água e deu a elaa habilidade de flutuar. Uma luta entre o Senhor e o demônio se deu dentro do grande oceano. Apósderrotar o demônio, o Senhor Varaha retornou ao céu espiritual.

Algumas vezes, uma enchente devasta o universo, e Krsna assume a forma de um peixe dourado ebrinca na água. Amarrado ao chifre no centro de Sua cabeça está um barco transportando sábios, oconhecimento Védico e as sementes que repovoarão o mundo após o dilúvio. Durante este passatempo,Krsna desfruta tanto de Seu brincar na água como de Sua relação amorosa com os grandes sábios.

Krsna, em Sua forma original, freqüentemente Se diverte na água com Seus amigos e Suas amadas.Para a realização de Seus passatempos aquáticos, Ele escolhe rios como o Ganges e o Yamuna, quetambém são deusas puras em amor a Ele. Krsna também brinca em lagos grandes e pequenos repletosde lótus e cisnes e rodeados por pavilhões enfeitados com pedras preciosas. Tais corpos d’água sãopessoas, devotos Seus, vivos em amor e bem-aventurança.

Aguando a Planta de Nossa DevoçãoAlém de meditarmos em como a água nos lembra das qualidades e dos passatempos de Krsna, podemosaumentar nossa percepção dEle quando usamos a água em nossa vida cotidiana. Para a manutençãobásica da saúde, por exemplo, precisamos de água limpa para bebermos e nos banharmos, e precisamosdela para limpar nossas roupas e nossa casa. Precisamos do sistema estabelecido por Krsna para osuprimento de água limpa através da evaporação e da chuva. No mínimo, devemos regularmenteagradecer o Senhor por essas dádivas que mantêm vivos os nossos corpos. Além disso, devemos ser

gratos pela água nos servir de ímpeto para a lembrança de Krsna, pois essa lembrança irá aumentar onosso serviço e o nosso amor a Ele, aguando a planta de nossa devoção.

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Retiro de Japa: A Cura Perfeitapara o Auto-Negligenciamento

Japa Retreat: The Perfect Cure for Self-Neglect

por Karuna Dharini Devi Dasi

Imagine-se de férias, longe das distrações de casa e do trabalho. Ar fresco, densas florestas emontanhas altas e azuis ao seu redor, e você tem a chance de estar com professores experientes paraexplorar o grandioso benefício espiritual do cantar do maha-mantra Hare Krsna.

Quando o despertador toca, você não é obrigado a se levantar para outro dia de trabalho; ao invés disso,você se levanta para ouvir um corrente rio de néctar partindo das bocas dos devotos que dedicam suasvidas ao doce cantar de Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama,Rama Rama, Hare Hare. Por meio do cantar, de discussões, exercícios interativos, agradáveis práticasem grupo e muitas trocas afetuosas entre os devotos, você é gentilmente conduzido em direção àperfeição do cantar.

Permitir-se deste modo é autocomplacência? Não. Nossas autoridades espirituais recomendam o ouvir eo cantar dos nomes de Krsna como o serviço mais importante que um devoto pode fazer. Cantar é amelhor maneira de meditar no Senhor e de sentir Sua presença. O maha-mantra é uma oração: “SenhorKrsna, por favor, ocupai-me em Vosso serviço devocional”. Contudo, nossas atarefadas vidasfreqüentemente negam-nos o tempo e a atmosfera apropriada de que precisamos para diminuirmos oritmo e prestarmos atenção.

Todos precisam parar um pouco, ou tirar férias, de vez em quando, mas os devotos tendem a exigirmais do que a locação de um carro e a estadia em hotéis. Até mesmo uma viagem a lugares sagrados daÍndia pode ser repleta de distrações. O Retiro de Japa, agora sendo conduzido por devotos da ISKCONem várias partes do mundo, oferece a oportunidade de se descansar e de se desenvolver a práticaespiritual em uma localização bela e rodeada por montanhas, ou uma localização próxima ao mar, ouainda em um local sagrado da Índia.

Retirando-se do Auto-NegligenciamentoPara aqueles que, como eu, cantam há anos e, ao mesmo tempo, mantêm hábitos lamentáveis, o Retirode Japa é um modo de se presentear com um generoso gole do néctar dos santos nomes. Eu me pegueipensando: “Ah! Agora me lembro por que me tornei Hare Krsna!”.

O Retiro de Japa de que participei foi organizado pela agência da Bhagavat Life, uma organizaçãoprestadora de serviço criada por Purusa Sukta Dasa e Divyamabara Devi Dasi. (Adi Purusa Dasa, doVIHE, em Vrndavanda, também conduz retiros de  japa). O desejo deles de organizar Retiros de Japa(este descrito neste artigo é o quinto nos Estados Unidos) vem da inspiração de Sua Santidade

Sacinandana Svami. Tendo experienciado muitos insights acerca do cantar, Sacinandana Svami sugeriua realização de retiros para o canto a fim revitalizar os devotos que gostariam de “retomar nossaverdadeira ocupação”.

No retiro que participei, Sacinandana Svami disse: “Nosso problema é que não desejamos entrar na lutada vida interna da boa  japa [o cantar individual]. Mas, sem nos ocuparmos nesse empenho, semconsiderarmos a japa como essencial para o nosso serviço a Krsna, outros serviços tendem a fracassar.À medida que avaliarem este retiro ao longo das semanas que o seguirão, vocês irão entender que vocêsreceberam muito mais do que esperavam para auxiliá-los rumo à meta do cantar efetivo”.

Recursos para um Melhor Cantar

Um de nossos professores no retiro foi Mahatma Dasa, de quem me lembro de San Diego como umtreinador de novos devotos altamente qualificado. Ele pediu que déssemos uma nota de um a dez para anossa japa, de horrenda a perfeita. Muitos de nós tivemos de nos pontuar como quatro ou cinco, níveisestes que ele disse significarem atentos o suficiente para permanecer boiando no néctar dos santos

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nomes. Estávamos cantando bem o bastante para permanecermos devotos do Senhor. Se a  japa notacinco podia nos dar isso tudo; como seria, então, se aumentássemos para um seis, ou, quem sabe, atémesmo um oito? Estaríamos prontos para a liberdade de toda a ansiedade material e para o serviçodevocional puro resultante do doce e intenso cantar da japa?

Mahatma falou sobre vários recursos para a obtenção de um melhor relacionamento com os santosnomes, incluindo estar em um espaço sagrado e escrever textos de reflexões introspectivos.

O Espaço Sagrado e a Redação DevocionalEle primeiramente descreveu como todo exitoso recitador do santo nome precisa de “um espaçosagrado”. Para onde você vai quando começa a cantar? Devemos estar onde possamos dar as boas-vindas ao maha-mantra assim como daríamos a um convidado muitíssimo importante, com toda aatenção e respeito.

Alguns locais nos ajudam a ouvir o nome de Krsna, e outros não. Um templo, por exemplo, ou umasala de templo na própria casa ou um jardim silencioso podem ser livres de distração. A sala de TVprovavelmente não será.

Espaço sagrado tem muito a ver com programação. É difícil cantar em meio às atividades domésticas;

programe sua  japa, portanto, para um momento com o mínimo de distrações. As escriturasrecomendam as primeiras horas da manhã, antes do sol nascer, como um momento especialmentetranqüilo. Se você puder cantar sob essa recomendação, isso também será de grande utilidade.

Talvez mais intrínseco é o espaço sagrado entre a própria boca e os próprios ouvidos, o caminho que osanto nome percorre. Menor do que um jardim ou uma sala, trata-se de uma rota direta para a própriaalma. Nesse espaço sagrado, pode acontecer o derretimento do coração quando tentarmos ouvir o somde modo sério e humilde.

Outro recurso útil é escrever respostas a questões relevantes: Como o santo nome influenciou a minhavida? Como sou grato ao santo nome? Em que aspecto preciso aprimorar minha relação com o nome?

Um Mantra de Cada VezNarayani Devi Dasi, uma discípula de Prabhupada que serve nos templos de Sua Divina Graça na Índia já há muitos anos, apresentou-nos muitas reflexões úteis sobre o cantar do santo nome. Seu lema é “ummantra de cada vez”.

Após tentar repetidamente cantar com sinceridade um mantra de cada vez, eu me perguntei: serápossível que eu canto voltas completas com 108 mantras sem ouvir sequer um deles? Será queregularmente permito que minha mente sabote a minha prática? Ela nos instou a apenas tentarmos ouviratentamente um mantra de cada vez e tentarmos estar no presente. Cantamos juntos em uníssono.Como uma criança aprendendo a ler, senti-me recompensado pelo esforço.

Narayani conduziu-nos em uma análise da oração Siksastaka de Sri Caitanya Mahaprabhu. Cada um

dos oito versos representa uma qualidade essencial do praticante do cantar: gratidão, lamentação,humildade, gosto, dependência, ânsia pela perfeição devocional, sentimento de separação e rendiçãocompleta. Fomos solicitados, então, a pensarmos em exemplos escriturais de grandes devotos quedemonstraram essas várias qualidades.

Narayani orientou-nos em um exercício no qual ela pediu que visualizássemos nossa Deidade ouilustração favorita de Krsna, e, juntos, cantássemos uma volta dedicada a Ele. Cantamos Seus nomespara Ele, cantando tão atentamente quanto possível. A meditação foi venturosa, visto que o foco eraoferecer o som dos nomes para o prazer do santo nome – o Senhor supremamente belo de nossoscorações.

Hatha Yoga?Devotos adeptos à hatha-yoga explicaram como nosso aspecto fisiológico afeta o psicológico. Nossosmovimentos e nossa conduta durante o dia tendem a dispersar a nossa energia; podemos, no entanto,canalizar essa energia para uma  japa atenta. A fim de fazer isso, uma mente alerta e consciente deve

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preceder o cantar. Praticamos alguns exercícios e técnicas respiratórias antes do cantar. Os exercíciosenfatizavam sentarmos com a coluna ereta, e a cabeça e o pescoço em uma boa posição para se cantar.

Uma respiração inapropriada durante o cantar da  japa faz com que percamos o ritmo e bocejemos oufiquemos com falta de ar. A prática de técnicas de  pranayamas pode ser de boa valia.

Você Está Pronto para o Grande Choque de Sua Vida?

Yajna Purusa Dasa, um dos instrutores, disse-nos que ele canta sessenta e quatro voltas dos santosnomes de Krsna em suas contas toda segunda-feira para ajudá-lo a lidar com as demandas exigidas delecomo presidente de templo. Uma das características do retiro era nós mesmos cantarmos sessenta equatro voltas; ouvimos, então, o que ele tinha a dizer, sabendo que o nosso sucesso dependia disso. Eledescreveu como a mente está sempre ocupada em duas atividades: aceitar e rejeitar.

“Esse aceitar e rejeitar segue a fim de aplacar o ego. Em um humor de entrega do falso ego aos pés delótus do Senhor, devemos dar à mente tola e patifa uma simples instrução: ‘Apenas tente ouvir ummantra’. E se você realmente conseguir ouvir um mantra, então se glorifique. E, não se esqueça, vocêestá um passo mais próximo de se encontrar com Krsna, a Suprema Personalidade de Deus”.

“Você está pronto para se encontrar com Krsna? Você está pronto para o grande choque de sua vida?

Quão doce e maravilhoso será! Se você realmente ouvir um mantra, isso será tão prazeroso que vocênão será capaz de esperar para ouvir e cantar o próximo!”.

“Se você der à patifa da mente a chance de ouvir os nomes de Krsna, ela dirá: ‘Nossa! O que foi isso?’.Por fim, chegaremos ao ponto em que o santo nome irá nos abraçar. Krsna irá nos agarrar e assumirá adireção. Tendo compreendido isso, talvez tenhamos que admitir que a  japa talvez seja o aspecto maisnegligenciado de nossa relação com Krsna”.

Mauna-vrata e o Cantar de Sessenta e Quatro VoltasCom a chegada do terceiro dia de retiro, já havíamos ouvido os nossos professores e trabalhado bemum com os outros, compartilhando nossos pensamentos e desafios ao longo de vários exercícios.

Havíamos desfrutado de muitos rios sagrados de aprazíveis bhajanas realizados por Bada Haridasa epela banda Retiro de Japa. Havíamos nos entregado a uma apresentação de slides – um verdadeirobanquete de Krsna para os olhos – organizada por Dravida Dasa, apresentação esta que incluía arecitação de orações escriturais muitíssimo doces, as quais ele traduzira de forma poética. Havíamosdesfrutado de conhecer muitos novos amigos devotos e havíamos comido até a nossa plena satisfação akrsna-prasadam de primeira classe amorosamente cozinhada por Apurva Dasa e por sua esposa,Kamalini. Sentíamo-nos bem por estarmos juntos como um grupo de esperançosos recitadores do santonome. Estávamos tão prontos quanto poderíamos estar para o próximo seguimento do programa.

Juntos, todos os vinte e cinco que éramos, aceitamos um voto de completo silêncio ( mauna-vrata) ecomeçamos a cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, RamaRama, Hare Hare. Sentamo-nos em um círculo ao redor de uma bela plantinha de Tulasi em um vasoornamental dourado. Cantamos lentamente em uníssono boa parte das primeiras voltas: uma sílaba decada vez, um santo nome de cada vez, um mantra de cada vez. Não queríamos perder nada.

Repetidamente, fracassei em ouvir. Senti vontade de chorar. Por que tanto  páthos se o nome é tãosublime? Por que a presença de fracasso após tantas instruções positivas?

Bem, a mente gosta de um drama, e a repetição aparentemente interminável de dezesseis palavras nãoparece algo muito dramático. Contudo, rejeitando decididamente as distrativas temáticas que a mentevelha, patifa e tola gosta de oferecer, devemos continuar trazendo a nossa atenção de volta ao som,chamando pelo nome muito humilde e submissamente.

Srila Prabhupada escreve: “O santo nome do Senhor possui tal poderosa potência. Mas há uma

qualidade para sua recitação também. Ela depende da qualidade do sentimento. Um homemdesamparado pode proferir o santo nome do Senhor com grande sentimento, enquanto que um homemque profere o santo nome do Senhor em grande satisfação material não pode ser muito sincero”.(Srimad-Bhagavatam 1.8.26, Significado)

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Rechacei minha mente com toda a força proveniente daquilo que eu havia aprendido durante o retiro,embora esse esforço tenha me levado a chorar. Entretanto, eu finalmente me lembrei de algo de que hámuito me esquecera: O nome de Krsna é muitíssimo querido a mim. Quando cheguei a trigésimasegunda volta próximo do meio-dia, sentia-me tão conectada e feliz que não me distraí com o almoço.Compreendi que eu não cantava apropriadamente há muito tempo, mas, agora, tornei-me fascinada pelosanto nome.

ReflexõesO dia seguinte ao dia do cantar de sessenta e quatro voltas foi dedicado a identificarmos o quehavíamos acabado de aprender com aquilo. Os devotos se revezaram descrevendo os “picos e vales” desua experiência extrema de um dia inteiro com o santo nome.

Um jovem Vaisnava, Anapayini, disse: “Quando eu estava cantando e tinha algum sentimento dapresença de Krsna, eu entendia que Krsna sempre esteve ali. Ele nunca me deixa. Sou eu quem Odeixa”.

“Para mim”, disse a discípula de Prabhupada, Mahamaya Dasi, “o resultado dessa concentração nosanto nome é que, finalmente, após trinta e seis anos de japa mecânica, eu tenho algum desejo e algumahabilidade de me focar na audição de minha  japa. Que grande diferença faz uma japa atenta! Isso eraexatamente o que eu precisava para realmente fazer a diferença em meu cantar e ouvir”.

Cerimônia SankalpaOutro excelente recurso que nos foi dado foi criarmos uma “intenção interna” para o nosso cantar. Semuma intenção desenvolvida em nossos corações, é menos provável o acontecimento de  japa-yoga.Como uma última cerimônia do retiro, escrevemos nossa intenção interna a Sri Sri Gaura-Nitai. Foiuma carta fácil de se escrever, porque era baseada em todas as notas e exercícios e realizações dosquatro dias. Não seria possível que nos faltassem inspirações para escrevermos.

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Sons SilenciososSilent Sounds

por Urmila Devi Dasi

É fácil imaginar como seria ser cego. O simples fechar dos olhos em um local relativamente escuro ou

o caminhar por um ambiente às escuras pode nos dar a oportunidade de desenvolvermos empatia poraqueles que não podem ver. Tornar-se temporariamente surdo, entretanto, é algo quase impossível.Antes de mais nada, é difícil selar completamente a abertura dos ouvidos – colocar as nossas mãossobre nossos ouvidos ou o uso de tampões de ouvido bloqueia o som apenas parcialmente. Além disso,muito do som é transmitido por meio dos ossos de nosso crânio, ignorando os ouvidos. A empatia deuma pessoa ouvinte para com um surdo, portanto, é limitada.

Meu interesse pelo mundo surdo é, possivelmente, diferente do interesse que tem a maior parte daspessoas ouvintes. A base da bhakti-yoga, como ensinada pelo movimento Hare Krsna, é ouvir e cantaro nome e as glórias do Senhor. Como os surdos-mudos poderiam fazê-los? Um dia, busquei a respostadesbravando o mundo do silêncio. Visitei quatro escolas para surdos em Indore, na Índia, a fim deensinar às crianças sobre o Senhor Krsna.

“É este o trem? Qual vagão?”.

Nós quatro caminhamos pelo trem e finalmente chegamos a um vagão não-leito, onde fizemos o nossodesjejum. A cidade de Ujjain, a qual estávamos deixando, rapidamente se fez sumir de vista.

Os demais ocupantes do vagão fitavam-nos curiosos. Éramos os únicos trajando dhotis e sáris eexibindo marcas de tilaka na testa, indicando que somos devotos de Krsna. Três de nós tambémtínhamos a pele clara, o que costuma atrair alguns olhares na Índia. Mas não era a nossa aparênciaexterna o mais fora do habitual; era o modo com que estávamos nos comunicando: em silêncio.

Os gestos que, em geral, complementam a fala haviam se tornado o meio integral. Um membro donosso grupo, Dayal Gauranga Dasa, é surdo desde seu nascimento em uma família indiana no ReinoUnido. Prema Pradipa Dasa, da Espanha, estava ali como seu intérprete. Kesava Bharati Dasa e euestávamos acompanhando-os. Estávamos viajando para as escolas como “oradores” convidados. Comose daria o nosso ensinamento de bhakti com as crianças surdas que estávamos para visitar?

Dayal Gauranga e Prema Pradipa haviam recentemente tornado-se discípulos iniciados de Bhakti CaruSvami. Eles levam vida espiritual a surdos da Inglaterra há muitos anos (vide Volta ao Supremo 28/2,1994). Eu tentei, com pouco sucesso, comunicar-me diretamente com Dayal Gauranga, efreqüentemente precisava me valer da ajuda de Prema Pradipa.

A Má Situação dos Surdos na ÍndiaApós cerca de duas horas de viagem, Gyanendra Puroit, o diretor de uma escola, pegou-nos na estação

ferroviária. Ele nos explicou que a Índia possui a segunda maior comunidade de surdos do mundo, masque poucos são treinados no uso da língua de sinais ou obtêm a chance de subsistirem por si mesmos.De fato, apenas cerca de dez por cento dos surdos indianos recebem alguma forma de educaçãoespecializada. A sua escola era uma das poucas que ensinam a crianças e adolescentes as habilidadesque eles precisam para o mundo. Gyanendra Puroit queria a nossa ajuda para dar a eles também umarica vida espiritual.

A maior parte dos que enchiam a sala eram garotos. A aparência atrativa deles, seu olhos alegres e suasexpressões intensamente impacientes tomaram a minha atenção. Muitos destes estudantes tinham deviver na escola. Eu fui a primeira a falar, com o diretor traduzindo as minhas palavras para a língua desinais.

Uma vez que eu freqüentemente viajo a países onde o inglês não é a língua nativa, estou acostumada adar palestras traduzidas. Algumas traduções são simultâneas, o que requer grande habilidade por partedo tradutor. Em geral, os tradutores preferem trabalhar com frases ou seguimentos bem curtos, com oorador falando um pouco e eles então traduzindo. Para ensinar sob tais circunstâncias, a pessoa tem que

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manter sua linha de pensamento enquanto freqüentemente pausa e fragmenta idéias em pequenas“porções”. Quando aulas têm que ser traduzidas, tento dispor a sala de forma que as pessoas possamver a linguagem corporal tanto do tradutor quanto a minha, dado que a linguagem corporal constituiaproximadamente setenta por cento da comunicação. Naturalmente, estes estudantes não podiam ouviro tom da minha voz, o que perfaz cerca de vinte e três por cento de como entendemos e nos fazemosentender. Mas eu pensei: que eles, ao menos, possam ver minhas expressões faciais e gestos. Pensandodessa maneira, sentei-me bastante próxima ao tradutor.

Fixos no TradutorEu estava prestes a ter uma surpresa. Quão pouco eu meditara no mundo da surdez! Toda a atençãodeles tinha de estar centrada no tradutor, porque eles tinham que ler seus sinais, os quais, para mim,pareciam uma confusão de movimentos. Nem mesmo por um instante, eles podiam divergir sequer amenor porcentagem de atenção para mim.

Eu falei a eles sobre como não somos este corpo. Cada um de nós é uma alma que tem um corpoespiritual original com sentidos espirituais. Nossa cobertura corpórea restringe nossa habilidade de ver,ouvir e assim por diante. No corpo humano, todavia, a alma tem o recurso especial de poder despertar anatureza espiritual verdadeira, da mesma forma que águias têm habilidades especiais relacionadas à

visão, e cachorros têm um olfato extraordinário. Embora a prática de bhakti-yoga tivesse de ser feitasob medida para suas restrições corpóreas, expliquei que Krsna é completamente livre e pode revelar-Se completamente a qualquer um que se aproxime dEle com amor, independente de sua situaçãocorpórea. Eu ficava imaginando quão revigorante devia ser para aqueles jovens entenderem, mesmoque teoricamente, que suas identidades verdadeiras nada têm a ver com seu corpo temporário.

Em seguida, descrevi como o Senhor Krsna é maravilhoso – Suas opulências, Sua natureza, Suasatividades. E expliquei como nos conectarmos com Krsna através de bhakti, a  yoga do amor e dadevoção. Considerando que o cantar do nome do Senhor seria muito difícil para eles, concentrei minhaapresentação em alguns dos outros aspectos de bhakti, especialmente a lembrança do Senhor, aadoração a Ele e o serviço a Ele.

Os estudantes praticamente pularam para fazer perguntas, gesticulando tão rapidamente que pareciamexplodir de entusiasmo.

“Por favor, conte-nos histórias de Krsna!”, eles pediam repetidamente.

Eu contei uma história após a outra, e a alegria deles iluminou a sala. Alguns fizeram detalhadasperguntas filosóficas. Eu fiquei impressionada com a grande inteligência deles e a sede que tinham porconhecimento espiritual.

Um Colega Toma a PalavraPor fim, Dayal Gauranga “falou”. Embora formas imensamente diferentes de língua de sinais sejamusadas em diferentes países, ele domina muitas delas e conhece formas universais que ele pode usar emmuitos locais. Algumas vezes, o diretor tinha de assisti-lo com particularidades do sistema indiano,mas, na maior parte, ele podia sinalizar diretamente com os estudantes.

Como estavam felizes! Ali estava um deles, alguém que os compreendia e havia seriamente adotadouma prática espiritual baseada, em sua maior parte, no som. Enquanto Dayal Gauranga sinalizava suaapresentação, Prema Pradipa traduzia os sinais em inglês falado para Kesava Bharati e para mim.Vivemos tão fora de seu intercâmbio visual quanto eles viveram fora do nosso verbal.

Então, outra surpresa: Dayal Gauranga os fez ficarem de pé e cantarem o mantra Hare Krsna com ele.Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.Ele fez isso com o estabelecimento de um sinal específico para cada uma das três palavras: Hare, Krsnae Rama. Repetidamente, todos “cantaram” o mantra com suas mãos e olhos. Normalmente, o cantar emgrupo, kirtana, é um sonoro e doce misturar de vozes e instrumentos nos conectando com o SenhorSupremo enquanto Ele Se manifesta por meio do som. Neste kirtana, contudo, não havia tambores, nãohavia címbalos, não havia harmônio. Na verdade, não havia som algum. O Senhor, no entanto, presente

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em Seu nome, estava palpavelmente presente naquela assembléia.

Em seguida, visitamos as outras três escolas, duas das quais tinham crianças com dificuldades maisseveras do que a primeira. Uma escola cuidava dos miseráveis, e a outra cuidava tanto de criançassurdas como de crianças cegas. Nosso guia me disse o quanto os quatorze milhões de surdos da Índiavalorizam livros de ilustrações, e como seus estudantes anseiam ter tais livros, em inglês, sobre como oSenhor Krsna é maravilhoso.

O Cantar dos SurdosNo trem de volta a Ujjain, pedi a Dayal Gauranga para me explicar como ele canta o mantra HareKrsna em seu voto como discípulo. Quando membros da ISKCON se tornam discípulos de um guru,eles prometem se abster de sexo ilícito, intoxicação, jogos de azar e consumo de carne. Eles tambémfazem o voto de cantar o mantra Hare Krsna em cada uma das 108 contas, dando uma volta completapelas contas, no mínimo, dezesseis vezes ao dia.

Dayal Gauranga tem quatro métodos de canto, e ele alterna entre eles a fim de manter sua mentefocada. O primeiro é a visualização dos gestos manuais para cada palavra do mantra. O segundo é avisualização das palavras impressas do mantra. O terceiro é a visualização da forma do Senhor como aDeidade adorável; “Hare” é Radharani, e “Krsna” e “Rama” são Krsna. Seu quarto método é formar aspalavras com sua boca e focar-se no que sente sua boca em cada palavra.

Quando experimentei seus métodos, vi-me automaticamente também verbalizando os sons do mantra,quer em voz alta, quer em minha mente. Era muito difícil meditar apenas na visão ou na sensação semo som. Era também muito devagar.

“A princípio”, Dayal Gauranga sinalizou, “eu levava, pelo menos, meia hora para terminar uma voltade 108 contas”.

Pessoas ouvintes levam, em geral, entre cinco e sete minutos para o mesmo.

“Após muitos anos, com crescente prática e concentração, fui capaz de reduzir o tempo para vinteminutos por volta. Muitos anos depois, consegui a média de quinze minutos, que é o quanto levoatualmente”. Devido à sua situação pouco comum, seu voto é de, no mínimo, quatro voltas ao dia,embora ele continuamente tente cantar mais.

Ouvintes talvez considerem que tais métodos de meditação mântrica não são verdadeiramente, nosentido técnico, ouvir e cantar. Todavia, Krsna, Ele que compreende todas as línguas e pode ouvir comqualquer um de Seus sentidos, certamente aceita o serviço sinceramente oferecido de acordo com acapacidade de cada um. Além disso, Prabhupada nos informa que o mantra retratado em letras tambémé Krsna. Finalmente, podemos observar na prática que as pessoas surdas que aderem ao cantar estão setornando purificadas e alentadas espiritualmente.

Nós talvez freqüentemente consideremos, enquanto queremos vida espiritual, que as práticas são

excessivamente árduas. Contudo, aqui está alguém com razões para apresentar desculpas, mas que nãoo faz. Seu rosto brilha com a felicidade de sua dedicação condizente com seu desejo de ajudar aspessoas surdas a encontrarem profunda satisfação espiritual. Ele tem a fortuna de possuir o amor de seuirmão, de sua cunhada e de seu sobrinho, todos dedicados e gentis devotos de Krsna. Ele também tem oapoio do templo Hare Krsna de Londres, o Bhaktivedanta Manor.

De modo geral, poucos ouvintes sabem do profundo desejo de muitos surdos de obterem respostas paraos problemas da vida a partir de uma plataforma espiritual. Como Krsna me demonstrou incontáveisvezes e de várias maneiras diferentes, aqueles que freqüentemente considero terem menos do que eusão os que, na verdade, possuem muito mais.

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Hatha Yoga e o Bhagavad-gitaHatha Yoga and the Bhagavad-gita

por Satyaraja Dasa

De acordo com uma pesquisa de 2003 realizada pela Associação Manufatureira de Artigos Esportivos

[Sporting Goods Manufacturers Association], uma estimativa de 13.4 milhões de americanos praticamyoga, e muitos outros experimentam a prática todos os anos. Yoga está em toda parte – de Mumbai aMoscou a Monte Claro. Mas, embora a yoga se destine a levar as pessoas para mais perto de Deus,muitos dos yogis atuais têm um compromisso diferente com a prática, sendo o mais comum manter ocorpo em forma.

“Eles não são necessariamente buscadores de profundeza espiritual, mas buscam fazer yoga como outraforma de exercício”, diz Jennifer McKinley, co-fundadora e administradora geral da Plank, umafabricante de sofisticados tapetes de yoga para consumidores de alto poder econômico, de bolsas e deoutros acessórios. Lançada em 2005, a companhia espera que as vendas para o próximo ano rivalizemcom a venda de equipamentos da ginástica ocidental.

Em um mundo crescentemente secular, nós naturalmente queremos adaptar valiosas técnicas milenaresa propósitos contemporâneos, mas a yoga está perdendo sua essência nesse processo.

Yoga é uma ciência deixada para nós pelos sábios da Índia. A palavra  yoga significa literalmente“unir”, e sua implicação, originalmente, era similar à raiz latina da palavra religião, que significa“religar”. Assim, tanto yoga quanto religião se destinam a nos levar ao mesmo fim: unir-nos e religar-nos a Deus.

A Mensagem Interna dos Yoga-sutrasOs yogis atuais possivelmente considerarão interessante saber que, tradicionalmente, o textopreeminente da yoga é o Bhagavad-gita – e não os famosos Yoga-sutras de Patanjali. Mas o Gita não écomo o seu conhecido manual de yoga, repleto de posturas corporais difíceis e extenuantes técnicas demeditação. Ao contrário, ele delineia a prática para se obter a meta da yoga – a conexão com Deus –encorajando o cantar dos nomes de Krsna, ensinando como agir sob a ordem de Krsna e explicando aimportância de se cumprir o próprio dever em consciência espiritual. Essas atividades, realizadasapropriadamente sob a orientação de um adepto, permitem à pessoa transpor muito do que éconsiderado essencial na yoga convencional.

Há, contudo, harmonia entre o Gita e os Yoga-sutras. Tanto o Senhor Krsna como Patanjali indicam,por exemplo, que devemos transcender toda falsa concepção de “eu” e desenvolver amor por Deus, oque Patanjali chama de isvara-pranidhana, “dedicação a Deus”.

Patanjali escreveu no século terceiro EC, mas pouco se sabe sobre sua vida. Seu único texto

sobrevivente, o Yoga-sutra, indica que um físico harmonioso e tabernáculos mentais são úteis na buscapela verdade espiritual. De fato, seu maior feito é que ele se valeu de práticas antigas destinadas aoaprimoramento do corpo e da mente e as codificou para o benefício dos praticantes espirituais.

Entretanto, os Yoga-sutras de Patanjali apenas aludem às verdades elucidadas no Bhagavad-gita, quedeve ser considerado a pós-graduação do estudo da obra de Patanjali. Mesmo assim, Patanjaliintencionou que seu método fosse utilizado com vista ao benefício espiritual último, como alguns deseus versos, especialmente aqueles mais próximos do fim, deixam claro. Apesar disso, muitospraticantes de yoga atuais utilizam seu método somente com o intento de obter saúde física e mental emrazão de, no começo de sua obra, Patanjali focar principalmente os métodos básicos relacionados aocorpo e à mente, sem muito comentário espiritual.

No sutra 3.2, por exemplo, aprendemos que dhyana, ou meditação, é o contínuo movimentounidirecional da mente em direção a um único objeto. A técnica de Patanjali, no entanto, pode serutilizada para se concentrar em qualquer objeto, não apenas em Deus. E muito embora ele diga a seusleitores o ponto de seus sutras – a aproximação de Deus – a pessoa pode ser tentada a utilizar seus

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métodos para fins egoístas, como ele diz posteriormente na obra. Em última instância, a concentraçãounidirecional tem Deus como foco, embora a pessoa não possa compreender claramente como fazerisso até que se gradue até o Bhagavad-gita.

Como o professor Edwin Bryant aponta em seu excelente artigo “Patanjali’s Theistic Preference, Or,Was the Author of the Yoga-sutras a Vaishnava?” [Sem tradução ao português] (1), Patanjali estavatentando guiar sua audiência diversa em direção à adoração à Suprema Personalidade de Deus, mesmo

que o esteja fazendo indiretamente. Assim como hoje, muitas formas de religião sitiavam a Índia de seutempo; praticantes adoravam numerosos aspectos do Supremo. Conseqüentemente, ele optou por umaabordagem gradual em seus Yoga-sutras, acreditando que, assim, acomodaria sua variada audiência.

Ele defende, todavia, que o objeto último de meditação é Isvara, que significa “controlador”, e, emgeral, refere-se a Deus. Conquanto haja muitos controladores e muitas formas do Supremo, o

 Bhagavad-gita (18.61) afirma que o isvara último é Krsna. Outros textos também nos dizem isso.Levemos em consideração o multimilenar Brahma-samhita (5.1):

isvarah-paramah krsnahsac-cid-ananda vigrahah

anadir adir govindah

sarva-karana-karanam“Krsna, que é conhecido como Govinda, é o Senhor Supremo [isvarah-paramah]. Ele tem um corpoespiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem nenhuma outra origem, e Ele éa causa primeira de todas as causas”.

Patanjali aconselha sua audiência a optar por um ista-devata, uma deidade à sua escolha. Sua razão étransparente: Ele está tentando ensinar um método de meditação, e o aprendizado de tal método é maisfácil se o indivíduo o pratica com um tema que lhe é próximo ao coração.

Patanjali tinha Krsna em mente quando delineou o processo de yoga e sua meta de amor a Deus? Paraalguém versado na literatura Védica, é óbvio que a resposta é sim. Nas palavras de Edwin Bryant:

Krsna é [...] é promovido pelo Gita como possuidor de todas as [...] qualidades listadas por Patanjali como pertencentesao isvara, a saber, ser transcendental ao karma, possuir insuperável onisciência, ser professor dos antigos, ser intocadopelo Tempo, ser representado pelo om e ser o outorgador da iluminação. Krsna não é tocado ou preso pelo karma (Gita4.14, 9.9), e, em termo de onisciência, ele é o começo, o meio e o fim de tudo (10.20 e 32), aquele que penetra todo ouniverso com um mero fragmento de si mesmo (10.42). Krsna ensina os antigos (aqui, com a especificação deVivasvan, o deus do sol, que, após instruído por Krsna, transmitiu o conhecimento a Manu, o progenitor da humanidade[4.1]), e é, ele próprio, o Tempo (10.30 e 33, 11.32). Ele também é a sílaba om (9.17). E, é claro, Krsna assegura a seusdevotos que ele irá livrá-los das ciladas deste mundo de maneira que alcancem a meta suprema (9.30-32, 10.10, 8.58).Há, portanto, perfeita compatibilidade entre o não nomeado isvara de Patanjali e o Krsna retratado no Gita. (2)

A tradição de comentários dos Yoga-sutras carrega isso. Os principais comentadores de Patanjali foramVyasa (século quinto EC, não confundir com o compilador da literatura Védica), Vacaspati Misra(século nono EC), Bhoja Raja (século décimo primeiro EC), e Vijnanabhiksu (século décimo sexto

EC). Todos identificam o isvara dos Yoga-sutras como Visnu ou Krsna e demonstram como o Bhagavad-gita expressa a culminação de toda a sabedoria Védica relativa à yoga.

Os Oito Membros do GitaO Bhagavad-gita aborda todos os oito membros da raja-yoga, a forma de yoga popular na atualidadecomo astanga-yoga ou hatha-yoga (3). Yama, por exemplo, o primeiro membro, consiste em cincoprincípios éticos: veracidade, continência, não-violência, não-ganância e abstinência de roubo. Essasdisciplinas fundamentais da yoga são mencionadas no Gita, assim como o é niyama, o segundomembro, que consiste em adoração, limpeza, contentamento, austeridade e auto-reflexão.

Agora, o terceiro membro do método de Patanjali, asana, é menos óbvio no Gita. O termo asana

aparece infreqüentemente nos lábios do Senhor Krsna. Mas, quando Ele o faz, Ele se refere a “o lugaronde se senta para a prática espiritual”. O Gita não oferece instruções sobre posturas sentadas. O SextoCapítulo do mesmo, todavia, chega perto disso. Os versos 11 e 12 afirmam: “Para praticar yoga, deve-se ir a um local reservado e deve-se estender grama kusa no chão e então cobri-la com a pele de um

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veado e um tecido macio. O assento [asana] não deve ser nem muito alto nem muito baixo, e devesituar-se em um lugar sagrado. O yogi deve então se sentar sobre ele muito firmemente e praticar yogapara purificar o coração controlando sua mente, seus sentidos e suas atividades fixando a mente em umponto”.

Aqui, Krsna usou a palavra asana em um sentido geral, e não técnico. Ele está falando sobre sentar-separa focar a mente.

É fácil perder o foco, e esse é basicamente o argumento de Arjuna contra a hatha-yoga. De fato, opróprio Patanjali identifica nove obstáculos no caminho: dúvida, doença, letargia, preguiça mental,falsa percepção, falta de entusiasmo, apego à gratificação sensorial, falta de concentração, e perda daconcentração. Seus comentadores ainda listam muitos outros, incluindo a imoderada atração porpoderes ióguicos, uma visão equivocada de meditação, excessiva simplificação dos oito membros dayoga, e irregularidade na prática. A origem de todos esses problemas é traçável à natureza difícil dométodo de Patanjali e é a razão para Arjuna ver a hatha-yoga como virtualmente impossível. Ao fim doSexto Capítulo, ele denuncia tal yoga como excessivamente difícil. Krsna concorda dizendo a Arjunaque o yogi mais elevado sempre pensa em Deus. Krsna vai além e lhe diz que tal meditação é averdadeira yoga, implicando que o uso do próprio corpo e da própria mente no serviço a Krsna é oasana perfeito.

O Gita também discute pranayama, ou controle respiratório, o quarto membro. Krsna diz que os yogispodem usar o ar que entra e o ar que sai como oferendas a Ele. Ele fala sobre a dedicação do próprio arvital a Deus. Ele diz a Arjuna que o prana de Seus devotos, ou o ar da vida, destina-se a Deus, e queArjuna deve usá-lo “para vir a Mim”. De fato, se alguém segue o exemplo de Arjuna e oferece todarespiração a Krsna – falando sobre Ele, cantando Suas glórias e vivendo para Ele – há poucanecessidade de controle respiratório da forma delineada nos sutras de Patanjali. Respirar para Deus é aessência do pranayama. Srila Prabhupada escreve: “O cantar do santo nome do Senhor e o dançar emêxtase também são considerados pranayama”. (Srimad-Bhagavatam 4.23.8, Significado)

O quinto membro da yoga , pratyahara, lida com a retenção dos sentidos, um tema de destaque no

 Bhagavad-gita. No Segundo Capítulo, Krsna diz a Arjuna que o yogi retira seus sentidos dos objetosdos sentidos “assim como a tartaruga recolhe seus membros para dentro da carapaça”. Abordadosuperficialmente, isso pode parecer estar sugerindo a completa renúncia do mundo. Mas isso não é deforma alguma o que Krsna está propondo. Ao contrário, como outros versos deixam claro, Ele estáensinando como se renunciam os frutos do trabalho, não o trabalho em si, e como estar no mundo semser do mundo. Em outras palavras, Seu ensinamento centra-se em como recolher o apego pelo desfrutepessoal dos objetos dos sentidos. Ele nos instrui a usarmos esses mesmos objetos no serviço a Deus.Isso é a verdadeira pratyahara.

Os Ramos SuperioresE, então, temos a culminação da prática de yoga – os três últimos ramos da raja-yoga: dharana, dhyana

e samadhi, ou concentração, meditação e absorção completa.Enquanto  yama e niyama são passos preliminares, estes três são chamados samyama, “a disciplinaperfeita” ou “a prática perfeita”. O  Bhagavad-gita fala extensivamente sobre estes ramos superiores.Por exemplo, o Senhor Krsna declara: “Apenas fixe sua mente em Mim, a Suprema Personalidade deDeus, e ocupe toda a sua inteligência em Mim. Deste modo, você sempre viverá em Mim, sem dúvidaalguma. Meu querido Arjuna, Ó conquistador de riquezas, se você não pode fixar sua mente em Mimsem desvios, então siga os princípios reguladores da bhakti-yoga [abhyasa-yogena]. Deste modo,desenvolva o desejo de Me alcançar”. (Bg. 12.8-9)

O processo da consciência de Krsna é dharana prática, ou concentração espiritual. Vendo pinturas deKrsna, usamos o nosso sentido da visão para Deus; cantando e ouvindo, ocupamos a língua e o ouvido;

oferecendo incenso para Krsna, ocupamos o nosso sentido do olfato. Todos os sentidos podem nosajudar a nos ocuparmos em dharana, conduzindo-nos a estados superiores de meditação e absorção.

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O santo nome é particularmente efetivo nesse sentido. Esta é a razão para Krsna dizer que, dasausteridades, Ele é a austeridade da japa, o cantar privado, especialmente enquanto se canta em contas.Cantar é o rei das austeridades porque, cantando, podemos facilmente auferir a meta da yoga. Tudovem junto na prática da  japa porque, através do cantar dos nomes de Deus, focamo-nos nEle com anossa voz, com os nossos ouvidos e com o nosso sentido do tato. E o kirtana, o cantar congregacional,não só nos leva a níveis profundos de absorção, mas também ocupa os sentidos dos espectadores eouvintes. No sutra 1.28, Patanjali também promove o “cantar constante”.

De modo geral, a ambivalência de Patanjali pode parecer confusa. Quando ele menciona isvara- pranidhana, dedicação a Deus, ele apresenta o mesmo como opcional, ao passo que, posteriormente,ele dá muito mais atenção a isso, com seis versos detalhando a natureza do isvara. No começo, eleparece permitir variedade no objeto de meditação (1.34-38), mas, por fim, ele aconselha o yogi a sefocar no isvara, que, nas palavras de Patanjali, é a “especial alma suprema”, o único que pode concedersamadhi, a perfeição ióguica.

Patanjali diz no sutra 3.3 que samadhi ocorre quando o objeto de meditação da pessoa aparece nocoração de seus corações sem nenhuma distração ou competidor. Você não tem nenhum outrointeresse; como se sua natureza intrínseca perdesse o sentido.

O  Bhagavad-gita esclarece melhor. No samadhi, sua natureza intrínseca não perde o sentido. Aocontrário, ela obtém novo sentido: você se vê em relação a Krsna. Você agora é Seu devoto; Ele é ofoco de sua vida. Esse estado de absorção perfeita e completa se chama consciência de Krsna.

Notas:

(1). Edwin F. Bryant, “Patanjali’s Theistic Preference, Ou, Was the Author of the Yoga-sutras a Vaishnava,” em The Journal of Vaishnava Studies, Volume 14, Número 1 (Outono de 2005).

(2). Ibid.

(3). Isso foi apontado por meu amigo Graham Schweig, professor de religião da Universidade Christopher Newport,Virgínia. Grande parte do material deste artigo sobre os oito membros da yoga deriva-se de suas entrevistas e palestras.

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Um Convite ao Heroísmo EspiritualA Call to Spiritual Heroism

por Caitanya Carana Dasa

O Ramayana é uma antiga saga Védica de ação, romance, sabedoria e aventura, uma saga que inspirou

grande parte da população mundial por milênios; uma saga que descreve um passado em que seres compoderes celestiais - tanto divinos quanto demoníacos - interagiam em nosso reino terrestre; uma sagacom a batalha entre o bem e o mal, uma saga na qual Deus advém e ensina virtude, retidão eespiritualidade por meio de Seu sólido exemplo pessoal.

A despeito da antiguidade histórica do Ramayana, seu enredo é similar ao de um filme típico: ele trazum herói, uma heroína e um vilão que deseja a heroína, e narra um empolgante confronto entre o heróie o vilão, confronto este que culmina na morte do vilão e na reunião do herói com a heroína. Mas háuma diferença vital entre o Ramayana e um filme moderno: em um filme, o herói, a heroína e o vilãosão todos, na verdade, vilões.

Por quê? Muitos pensam em um vilão como alguém que desfruta através da exploração e da injúria de

outros. Embora não incorreta, tal concepção de mal é incompleta e ingênua visto que ignora umarealidade fundamental: nosso pai amável e supremamente responsável, Deus. Muitos de nós jamaistivemos a educação espiritual necessária para entender que é Deus quem abnegadamente nos provênossa alimentação diária. É verdade que temos que trabalhar para sobrevivermos, mas nosso esforço ésecundário. É como o árduo trabalho dos pássaros buscando por grãos: Sem Deus provendo os grãosatravés da natureza, a busca deles, independente de o quanto minuciosa, seria infrutífera. Similarmente,sem a criação de Deus do milagroso mecanismo da fotossíntese, que transforma "lama em mangas"(uma proeza muito superior ao que fazem os melhores cientistas e computadores de última geração) enos permite ter acesso a algum alimento, não haveria qualquer relevância para o quanto nosesforçássemos. Todas as nossas necessidades – calor, luz, ar, água, saúde – são similarmente satisfeitasprimeiramente por arranjo divino e secundariamente por empenho humano.

Infelizmente, nossas mídia, cultura e educação nos ocupam com tantos atrativos materialistas queficamos cegos ao fato de nossa dependência de Deus e de nossos deveres para com Ele. Temor a Deusé o começo da sabedoria, assim como o medo saudável de um pai amável é necessário para que umacriança inquieta e levada se torne disciplinada e responsável. E amor a Deus é a culminação dasabedoria, assim como gratidão e amor por um pai benevolente demonstra a maturidade de um filhocrescido.

Lamentavelmente, os formadores de opinião de nossa sociedade nem amam a Deus nem O temem,senão que exaltam o materialismo egoísta e ímpio. Conseqüentemente, nos dias atuais, muitas pessoassão extremamente egoístas em sua relação com Deus. Elas não dedicam sequer alguns instantes àpessoa que lhes deu a própria vida. Em uma família, se um filho não cuida de seu pai, que é sua

conexão com seus irmãos, ele logo deixará de se importar com eles também. De fato, ele talvez atémesmo se torne mal disposto com eles porque eles serão seus competidores na obtenção da herança. Demaneira similar, egoísmo para com Deus é a origem de todo o mal. Todos nós plantamos essa sementemaligna em nossos próprios corações e agora estamos forçosamente tendo de nos alimentar de seusfrutos amargos – terrorismo, corrupção, crime, exploração – tudo isso produto de nossa luta entre nósmesmos pelo domínio sobre os recursos do mundo, a herança de Deus para nós.

Heróis DivinosO Ramayana nos brinda com um vislumbre de heroísmo e vilania, de amor desmotivado e de luxúriaegoísta. O Senhor Rama e Sua consorte, Sita, são os eternos herói e heroína. Hanuman, o heróireligioso, personifica a tendência de desinteressadamente assistir ao Senhor em Seu amor divino; aopasso que Ravana, o irreligioso vilão, personifica a tendência egoísta de nos assenhorearmos dapropriedade do Senhor para a nossa própria satisfação luxuriosa. O piedoso herói aspira desfrutar comDeus, enquanto que o impiedoso vilão deseja desfrutar como Deus.

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Entretanto, em um filme típico, todos os personagens principais – o herói, a heroína e o vilão – têm amesma mentalidade nociva de querer desfrutar sem se importar com Deus. No herói e na heroína, asvestes de romance mascaram essa disposição mental, enquanto que o vilão a expressa sem reservas.Mas todos eles são Ravanas, a diferença estando apenas nas tonalidades de cinza.

Nosso empenho egoísta em imitar heróis e heroínas, quer em filmes quer na vida real, éintrinsecamente maléfico, e serve de combustível para todos os males maiores que tememos. Em última

instância, nosso mal retorna para nós tal qual um bumerangue, pois ele perpetua a ilusão de nossaidentificação corpórea equivocada, e nosso corpo nos sujeita às torturas da velhice, da doença, da mortee do renascimento – mais uma vez, mais uma vez e mais uma vez.

É claro que não temos que sufocar nosso impulso natural de querermos ser especiais. Como Hanuman,todos nós também podemos ser heróis – a serviço do herói supremo. Infelizmente, nossa sociedadeapresenta a tendência Ravânica como heróica e a propensão Hanumânica como ultrapassada.

Uma Lição de EsperançaO Ramayana revela que Ravana, apesar de sua extraordinária propensão, nunca estava satisfeito, masantes sempre ávido por mais. Não é essa a condição de nossa civilização moderna? Todo o poderio eriqueza de Ravana não puderam nem lhe dar felicidade nem salvá-lo da destruição final. A derrota finalde Ravana nos lembra do destino que aguarda a nossa sociedade se ela continuar com seu egoísmoateu.

Contudo, a queda de Ravana não é apenas um aviso apocalíptico; é também um arauto de esperança efelicidade, porque nos ensina que o Senhor é competente na destruição do mal tanto interior comoexterior. O mesmo Senhor Rama que destruiu Ravana há milênios apareceu agora como Seu santonome para destruir o Ravana no íntimo do coração das pessoas. O santo nome nos oferece felicidadeverdadeira, não por meio da imitação de Deus, mas por meio do amor a Deus; não nos tornando heróisde imitação, mas nos tornando heróis-servos.

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Livre do Infindável KarmaFreedom from Never-ending Karma

por Narada Rsi Dasa

Em Sydney, Austrália, 1993, meu amigo me mostrou uma das praias mais atrativas do mundo, com

água cristalina e areia branca como a neve. Enquanto caminhávamos ao longo da praia, comentei que ocenário era extremamente belo. Então, nós dois refletimos sobre o fato de que nada é permanente nestemundo e que não podemos permanecer eternamente em nenhuma situação. Pensei sobre comodeveríamos utilizar a nossa vida temporária com o objetivo de parar a repetição de nascimentos emortes e para nos livrarmos das garras do infindável karma.

Karma é definido, de modo geral, como as atividades materiais e suas reações. As pessoasnormalmente parafraseiam o conceito de karma como “Tudo o que vai volta”, ou, como declara aBíblia, “O que o homem semear, isso também ceifará”.

O Sri Caitanya Siksamrta explica que o karma nasce do esquecimento de nossa svarupa, ou formaessencial, nossa identidade como servos de Deus. Não compreendendo o karma, as entidades vivas

seguem com a tentativa de dominar a natureza material, tendo o sofrimento como resultado. Asatividades materialistas nos mantêm presos dentro do reino material em uma ininterrupta corrente derepetidos nascimentos e mortes. Sem direção apropriada, a  jiva (a entidade viva) não é capaz deescapar, assim como um passarinho pego pela rede de um caçador bate suas asas inutilmente.

Presa dentro do mundo material, amarrada pelos três modos da natureza material, a entidade viva pensaque o desfrute dos sentidos é a meta última.

As leis do karma são intrincadas e difícil de serem compreendidas. A literatura Védica antiga, contudo,explica claramente o problemático envolvimento com a natureza material e como a pessoa pode selivrar dele. Seguindo a prescrição da filosofia Védica, como ensinada pelos instrutores puros dasucessão discipular, certamente cortaremos as amarras do karma e alcançaremos a perfeição espiritual.

A Prisão dos DesejosSendo parte do Senhor Supremo, a entidade viva é espiritual por natureza, mas seu desviante desejo porgratificação sensorial – gratificação da mente e dos sentidos – é a causa primária de seucondicionamento material. Tentando desfrutar da vida material, a entidade viva permanece dentro docontínuo ciclo de nascimento, morte, velhice e doença. Realizando atividades materiais continuamente,a alma vaga de uma espécie a outra interminavelmente. Isto se chama reencarnação ou samsara-cakra, aroda de nascimentos e mortes.

As pessoas costumam encontrar dificuldades para compreenderem o conceito de reencarnação.Primeiramente, é preciso compreender a alma, Deus e a relação entre os dois. Krsna diz que a alma é

eternamente parte Sua. Como tal, tanto Deus como a alma são eternos, assim como a relação entre eles.Rejeitando Deus, a alma aceita um corpo após o outro, fornecidos por Deus em resposta ao desejo daalma de desfrutar separadamente dEle. Isto é reencarnação. Para nos tornarmos livres dessecondicionamento, devemos nos empenhar no restabelecimento de nossa relação eterna com o Senhor.

Permanecemos no mundo material porque ele nos parece belo e atrativo. As experiências, entretanto,deveriam nos ensinar que ele contém muitas crueldades. Pela lei do karma, sofremos devido às nossaspróprias atividades. O Senhor nos concede independência para agirmos de acordo com as nossaspropensões individuais, e colhemos os resultados. A mais devastadora reação kármica é o perpétuoenredamento no mundo material, um lugar muito perigoso. As escrituras explicam que, no mundomaterial, uma entidade viva sobrevive aos custos de outra ( jivo jivasya jivanam). O tigre na florestacaptura o cervo e desfruta do banquete. Os ricos oprimem os pobres, e os fortes subjugam os fracos.

Esta é a lei da natureza.Deus não é cruel, mas Ele cria este sistema a fim de manter equilíbrio na natureza. É importantecompreender que, quando um tigre mata sua presa, tal ato é livre de reação pecaminosa ou mau karma.

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Os animais agem em decorrência de sua propensão natural (dharma) de sobrevivência. Por outro lado,quando o homem faz as mesmas atividades, como abater vacas ou mesmo matar um inseto, ele sesujeita a ser punido.

Os seres humanos possuem um cérebro desenvolvido e o potencial de cultivar conhecimento superior erestabelecer sua relação com o Senhor. Das 8.400.000 espécies, os humanos são superiores a todos osoutros em razão de sua potencialidade para desenvolver conhecimento espiritual. Agindo nesse

conhecimento, eles podem se livrar do condicionamento do karma. Se nos damos completa esinceramente à vida espiritual, podemos cortar os laços de nosso karma e obter liberdade, felicidade eperfeição espiritual completas.

Mrgari TransformadoO Caitanya-caritamrta reconta uma história do Skanda Purana sobre um caçador de nome Mrgari(literalmente, matador de animais), que matava muitos animais e deixava outros semimortos para quesofressem. Quando refugiou-se no grande devoto Narada Muni, que se tornou seu mestre espiritual, eledeixou suas atividades pecaminosas e não seria capaz de pisar sequer em uma formiga. Cantando HareKrsna sob a ordem de Narada Muni, ele ascendeu a uma elevada posição espiritual. O seu serviçodevocional destruiu as reações kármicas de suas atividades pecaminosas. (Krsna declara abertamente

que aqueles que prestam serviço devocional a Ele eximem-se de todas as reações pecaminosas; é,todavia, uma grande ofensa cometer atividades pecaminosas intencionalmente premeditando neutralizá-las em seguida com o poder do serviço devocional).

Mrgari foi salvo refugiando-se em Narada Muni, o representante de Krsna. Esse é o meio autorizadopara se voltar a Krsna. Em seu comentário ao Bhagavad-gita, Srila Prabhupada apresenta a metáfora dedois pássaros em uma árvore. Um pássaro representa a alma individual, e o outro representa Krsna nocoração, que está simplesmente assistindo. O pássaro que come (karma) desfruta dos frutos da árvore –alguns doces, outros amargos. No momento em que volta seu rosto em direção ao seu amigo Krsna, noentanto, ele se torna livre do karma. Não se refugiando no Senhor através de seus devotos, as almassofrem os resultados de suas ações até que realizem a verdade superior de que devem se render a Krsna.

Krsna nos dá liberdade, mas o mau uso de tal liberdade resulta em perpétuo condicionamento nomundo material. A energia material nos condiciona a agir de certas maneiras; em ignorância.Destituídas de conhecimento transcendental, as almas rebeldes nascem repetidamente por cometerematividades pecaminosas repetidas vezes. Elas continuamente ocupam seus sentidos em gratificaçãoegoísta ao invés de os ocuparem no serviço devocional ao Senhor Supremo, que é Hrsikesa, o mestredos sentidos.

As entidades vivas são constitucionalmente servas do Senhor Supremo. Aqueles que rejeitam Seuserviço direto têm de servi-lO de qualquer maneira. Enredadas na vida condicionada, elas são forçadasa servir Sua energia material (maya). Diferentemente dos devotos do Senhor, tais entidades vivasnadam no oceano do karma e jamais se livram dele.

Unicamente o serviço devocional puro pode quebrar os vínculos do interminável karma. Krsnapessoalmente recomenda: “Tudo o que fizeres, tudo o que comeres, tudo o que ofereceres ou deres,bem como quaisquer austeridades que praticares – deves fazer tudo isso como uma oferenda a Mim”( Bhagavad-gita 9.27). Krsna quer que direcionemos todas as nossas atividades a Ele.

Práticas PrescritasAs escrituras Védicas recomendam que regularmente pratiquemos algumas técnicas simples para nostornarmos devotos puros do Senhor.

Devemos sempre cantar os santos nomes do Senhor: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Cantar este maha-mantra é o principal processo para

limparmos o nosso coração, a nossa mente e os nossos sentidos da sujeira acumulada por muitas vidas,sujeira esta que são as reações e os desejos materiais. Para compreendermos verdades superiores –como o eu, sua relação com Deus, as complexidades do karma, o processo de reencarnação e liberação

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– devemos estudar regularmente o  Bhagavad-gita, o Srimad-Bhagavatam e outros livros Védicos quepromovam a devoção pura ao Senhor Supremo.

Para nos livrarmos de todo karma, bom e ruim, devemos comer somente alimento que tenha sidooferecido a Krsna. Ele aceita somente alimentos vegetarianos puros, e podemos receber os remanentescomo Sua misericórdia ( prasadam). Krsna afirma claramente: “Se alguém Me oferece, com amor edevoção, uma folha, uma flor, frutas ou água, Eu aceitarei” (Bg. 9.26). Ele deseja alimento vegetariano

puro, não carne, peixe, ovos ou bebidas alcoólicas. Quando oferecemos alimentos vegetarianos comamor, devoção e profunda fé, nossa oferenda se torna livre de reações kármicas. “Aqueles, entretanto,que preparam alimento para o desfrute de seus próprios sentidos comem apenas pecado”. (Bg. 3.13)

O vegetarianismo também é importante porque, com sua ajuda, evitamos o pecado de matar animais oude nos ligarmos à matança dos mesmos. A lei do karma dita que aqueles que matam animais e oscomem serão mortos e comidos em sua próxima vida.

Também devemos buscar pela associação de devotos tentando se livrar do karma. Assim como ocontato com um homem doente pode nos contagiar com sua doença, o contato com Krsna ou com Seudevoto puro eleva a pessoa espiritualmente. Podemos, assim, curar-nos do que Srila Prabhupadachamou de “a doença material”.

O cultivo da consciência de Krsna nos lembra que tanto o sofrimento quanto o desfrute vêm, de acordocom nossas atividades boas e ruins, sem serem convidados. Todavia, a devoção pura ao Senhorultrapassa qualquer coisa.

Krsna é conhecido como bhakta-vatsala, ou aquele que é muito misericordioso com Seus devotos. Eleestá mais preocupado com a nossa volta ao lar, nossa volta ao Supremo, do que nós estamospreocupados com Ele. Ele quer que saiamos deste mundo material miserável para nos juntarmos a Eleem Sua morada eterna. “Todo aquele que se rende a Mim”, Krsna diz, “Eu o recompenso de acordo”.(Bg. 4.11)

O Brahmana e o Sapateiro

Aqui está um exemplo de dois devotos do Senhor, o qual demonstra como Ele viu a devoção deles e osrecompensou de acordo com Sua promessa no Gita.

Certa vez, Narada Muni estava para ir encontrar-se com o Senhor Narayana, a forma de quatro braçosde Krsna, no mundo espiritual. Tanto um smarta brahmana (um indivíduo apegado a rituais, masdestituído de devoção) quanto um sapateiro solicitaram que Narada perguntasse ao Senhor quando elesiriam de volta ao lar, de volta ao Supremo. Eles também pediram a Narada para contar-lhes o que oSenhor estava fazendo quando ele O viu.

Após a partida de Narada, o smarta brahmana manteve-se ocupado em rituais com o intento de obterriquezas e perfeições, enquanto que o sapateiro pobre cantava Hare Krsna enquanto consertava sapatospara manter a sua família.

Quando Narada retornou, o smarta brahmana o perguntou: “Meu querido Narada Muni, diga-me, porfavor, o que o meu Senhor estava fazendo quando você O viu”.

“Ah!”, Narada exclamou. “O Senhor estava passando um elefante pelo buraco de uma agulha”.

Cego pelo falso ego e pela falsa devoção, o smarta brahmana disse: “Isso é impossível! Como pode umelefante passar pelo buraco de uma agulha?”.

Quando o smarta brahmana perguntou quando ele voltaria ao Supremo, Narada Muni respondeu quedemoraria tantos milhões de anos quanto há folhas em um tamarineiro.

Quando o sapateiro ouviu que o Senhor estava passando um elefante através do buraco de uma agulha,

ele exclamou: “Sim! Sim! Isto é possível! O meu Senhor pode tornar possível o impossível. Nada éimpossível para Ele. Ele pode facilmente passar um elefante pelo buraco de uma agulha, da mesmaforma que Ele empacota milhões de tamarineiros dentro das sementes”.

Narada então contou ao sapateiro que ele retornaria ao Senhor ao fim daquela mesma vida.

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Como é maravilhoso o arranjo do Senhor Supremo! A devoção simples do sapateiro o qualificou a selivrar do ciclo kármico e a voltar ao lar, voltar ao Supremo, ao passo que o orgulho e a pretensão dosmarta brahmana foram obstáculos para o seu sucesso espiritual.

Quando, assim como o sapateiro, uma pessoa conhece o simples processo da consciência de Krsna epossui algum amor e alguma devoção pelo Senhor, seus esforços se tornam bem-sucedidos. Outros,como o brahmana smarta, fracassam apesar de conhecerem muitas coisas. O smarta fracassou por

causa de suas motivações incorretas, enquanto que o sapateiro pobre, a despeito de sua ocupaçãohumilde, foi favorecido pelo Senhor Supremo e se elegeu a ir de volta ao lar, de volta ao Supremo.

Por que não todos nós? Desfaçamo-nos de todo o nosso karma. Se um sapateiro pobre pode fazê-lo,então certamente podemos também. E o façamos de todo o coração. Ricos ou pobres, todos são sujeitosàs leis o karma; mas aqueles que são conscientes de Krsna superam tudo. Todo aquele quesinceramente canta Hare Krsna, seja um grande industrialista ou um mendigo, pode alcançar a moradado Senhor. O Bhagavatam promete que o cantar de Hare Krsna é capaz de queimar todo o nosso karma,exatamente como um incêndio florestal reduz a cinzas árvores gigantescas ou como o sol desfaz umnevoeiro através de seus raios.

As atividades espirituais estão além das leis do karma, e, portanto, nenhum condicionamento pode

parar ou aprisionar os devotos puros dentro do mundo material. Nós podemos sim escapar cortando asamarras do infindável karma por meio do serviço devocional contínuo, inflexível e determinado. Talserviço irá sempre nos lembrar de nossa posição natural como servos eternos de Krsna, e este é ocaminho positivo que pode nos conduzir de volta à Sua morada.

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A Arte da DevoçãoThe Art of Devotion

por Indulekha Devi Dasi

“Eu adoro aquela morada transcendental conhecida como Svetadvipa . . . onde toda palavra é uma

canção, todo passo é uma dança, e a flauta é a companheira favorita”. (Sri Brahma-samhita 5.56)Qual é o propósito da arte? Na faculdade de Artes, aprendi que se trata de um modo de expressar algosobre si mesmo, algo original. Válido, mas qual é o ponto de tudo isso? Qual deveria ser a razão deuma obra de arte, de uma dança, de uma música? Para muitos, é a criação em si, ou mesmo o desejopela fama decorrente de se fazer algo jamais criado antes.

Tendo sido apresentada à Consciência de Krsna por uma amiga na escola, deixei a faculdade com essaquestão queimando em meu coração. Eu li os livros de Prabhupada, mas passei mais tempo meabsorvendo na beleza das obras de arte a retratarem os passatempos de Deus em toda a sua variedade.Quase que imediatamente, comecei a trabalhar na produção de detalhadas ilustrações do Senhor Krsnae de Seus passatempos em Vrndavana. Descartei muitas de tais ao longo dos anos, mas elas serviram

como base para idéias posteriores.Permaneci no asrama por algum tempo e então parti para a Índia, onde a beleza da dança e da músicaclássicas tomou os meus sentidos. Às vezes, eu ouvia fios melódicos das mais doces músicas vindo dacasa ou do jardim de alguém, e eu freqüentemente permanecia em um lugar até memorizar a melodia.Outras vezes, eu via dançarinos com seus longos olhos negros, rostos ricos em expressões, péspoderosos e elegantes e sonorizados por dúzias de sininhos. Decidi que me tornaria uma artista deDeus, de Krsna, e esta seria a minha causa, a razão para ser artista.

Pouco eu compreendia até então sobre quão profundamente os antigos sábios da Índia haviampesquisado sobre música, dança e arte. A Índia tradicional tem uma forma maravilhosa de descobrir aessência espiritual de qualquer aspecto de nossa experiência humana e de criar poderosas manifestações

artísticas como conseqüência. Uma história antiga conta-nos sobre o sábio Bharata, autor do  NatyaSastra, o mais antigo tratado indiano referente a artes performáticas. Brahma, o engenheiro douniverso, deu o  Natya Sastra a Bharata, que, juntamente com grupos de Gandharvas e Apsaras –musicistas e dançarinas celestiais – realizou uma apresentação diante do Senhor Siva. Ao ver aestonteante apresentação, o Senhor Siva lembrou-se de sua própria dança majestosa, a tandava-nritya, eele e sua consorte, Parvati, ensinaram Bharata a arte da dança, a qual foi posteriormente trazida à Terra.

DançaPessoas espiritualistas às vezes vêem a dança como narcisista. É possível dançar para o Senhor semdeslizar para o desejo de obter fama e adulação? Eu acredito que sim, mas isso deve ser feito na formade sadhana, ou prática espiritual.

Em 1933, comecei o treinamento na dança Bharata Natyam com Guru Prakash Yadagudde, professorresidente da Bharatiya Vidya Bhavan, uma organização com centros na Índia e no Reino Unido com ofim de promover as artes culturais indianas. Juntamente com esse treinamento, estudei música karnática(sul-indiana) para melhor compreender como a dança e a música são tecidas juntas. Descobri que eutinha aptidão para o canto, algo do que eu era apenas um pouco ciente antes. Pouco tempo depois, euhavia me diplomado em canto e estava até mesmo lecionando.

O treino para Bharata Natyam é árduo e requer compromisso para que seja exitoso, mas me cativei porsua profundidade espiritual e pela beleza requintada dos movimentos. Em seu livro  Bharata Natyam,Sunil Kothari descreve a dança belamente: “Trata-se de um dos estilos de dança artística mais sutil,sofisticado e gracioso do mundo. Flores se abrem nas mãos da dançarina, e passarinhos voam a partir

das pontas dos dedos; o corpo se move, agora orgulhoso, agora devocional... Tal dança dramática,realizada por meio do veículo do corpo de acordo com as mais delicadas nuanças musicais ou poéticas,é certamente uma arte irrivalizável”.

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Como uma devota de Krsna, aprendi que bhakti é a yoga da ação, um modo de se canalizar a própriaocupação no serviço ao Senhor Krsna simplesmente ocupando-se em um humor devocional. Comodançarina, descobri que isso é verdade. Passada a austeridade inicial do aprendizado de uma forma deauto-expressão alheia à minha cultura nativa, aprendi a retratar os passatempos de Sri Krsna com Suascaracterísticas travessuras, disposição brincalhona e sofisticada inteligência. Passei horas em frente aoespelho tentando emular Krsna e Seus devotos tão naturalmente quanto possível.

A famosa dançarina Rukmini Devi Arundale disse: “Um artista verdadeiramente espiritual é aquele queesquece de si e que, nesse auto-esquecimento, atinge a bem-aventurança chamada ananda”. Deve-seadicionar aqui que auto-esquecimento indica que o dançarino ou a dançarina se permite tornar-se umrecipiente através do qual uma deidade é canalizada. Qualquer um que tenha visto grandes dançarinoscompreenderão que a fama deles não é produto de sua técnica física, visto que existem muitosdançarinos tecnicamente perfeitos, mas que é produto da maneira com que sua retratação da divindadepode fazer com que uma apresentação de duas horas pareça durar dois minutos. Há algo estonteanteacerca de um dançarino que aparece no palco vestido de vermelho e assumindo a personalidade de umviolento semideus, e então entra novamente em cena como a afável mãe do Senhor Rama, Kaushalya.Nossas emoções acompanham as transformações, e nos absorvemos nos pensamentos e nas emoçõesrelacionadas ao Senhor e a Seus servos.

MúsicaMinha jornada pela música vem-se revelando a experiência mais espiritualmente transformadora deminha vida. Três anos atrás, comecei a me graduar em um bacharelado em música norte-indiana/sikhcom o professor Surinder Singh, o diretor de uma organização chamada Raj Academy, um gruposediado em Londres com foco nos aspectos curativos da música indiana. A música tradicional indiana ébaseada em algo chamado raga, um conceito com muitas camadas de significado. No nível maisbásico, raga é uma escala musical de cinco a sete svaras, ou notas, ascendentes e descendentes. Hámilhares de ragas, muitas delas possuidoras dos mesmos svaras. O que faz a diferença é que, a cadaescala, é dada personalidade e rasa, ou humor, colocando-se diferentes ênfases em certas notas erelacionando-as umas com as outras de vários modos. Uma raga, portanto, é uma expressão de

profunda emoção em toda a sua complexidade. Ragas podem ser espirituais ou mundanas, dependendode sua musicologia ou da maneira com que foram arranjadas.

Certa vez vi alguém que exemplificou o que significa devotar a própria vida ao sadhana da arte comodevoção. Pandit Ram Narayan é conhecido por muitos como o maestro de sarangi da Índia. Sarangi éum instrumento que se acredita ter sido criado por Ravana, o demônio de dez cabeças do  Ramayana eum hábil musicista. A palavra sarangi significa “todas as cores”, indicando que o instrumento é capazde capturar todas as emoções, tanto mundanas como espirituais. Panditji explicou à audiência que adeidade está verdadeiramente presente na raga. Ele então tocou a raga Sri, a personificação de Parvati,a consorte do Senhor Siva. Ao término da apresentação de Panditji, o silêncio tomou a sala, uma vezque a audiência, em primeira instância, estava estupefata demais para aplaudir. A presença da deusa era

inegável.A ciência indiana da música está quase perdida nos dias atuais, até mesmo para os musicistas indianos;dentre os quais, a maior parte considera o que é dito nos textos antigos como mitologia. Um dos maisfamosos musicólogos do período Védico foi Narada, que muitos acreditam ser o Narada Muni dospassatempos de Krsna. Em seu  Naradiya Siksa, o sábio delineia ragas e suas relações com humores,cores, planetas, cakras e outros fatores esotéricos fundamentalmente conectados ao som e àmanifestação do mesmo no mundo. Seu texto é particularmente o primeiro a escrever sobre o que éconhecido como srutis, ou os sons que existem entre as doze notas comumente usadas.  Ragas sãotocadas ou cantadas com ênfase alta ou baixa dos srutis. Embora, para a pessoa comum, essasminúsculas mudanças de som sejam imperceptíveis, elas são percebidas sutilmente e podem mudar

nossa disposição e nossos sentimentos. O uso consciente dos srutis e as características notas emglissando das ragas é o que torna a música indiana obviamente diferente da música ocidental.

Muitos de nossos Vaisnavas Gaudiyas predecessores eram musicistas peritos e com extensoconhecimento de raga, métrica poética e taal, ou ritmos específicos. Jayadeva Gosvami, em seu Gita

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Govinda, nomeia as ragas que acompanham cada poema e explica seu aparecimento e suapersonalidade. Candidasa, um poeta adorado por Sri Caitanya Mahaprabhu, escreveu seu Sri KrsnaKirtana em diferentes ragas, assim como o fizeram Govinda Dasa e Vidyapati em seus tratados.Embora nosso foco deva sempre ser no santo nome e não em nossa competência musical, acredito quesó temos a ganhar com a compreensão do efeito das ragas musicais e com a aplicação desteconhecimento em nossos bhajanas e kirtanas.

ArteAlguém que dança ocupa o corpo a serviço do senhor; alguém que canta, os ouvidos e a voz. Para opintor, os olhos estão absortos na beleza da forma de Deus, que Se manifesta do coração para a tela.Horas se transformam em instantes à medida que a forma de Sri Krsna aparece: Seus olhos inquietos,Sua pele azul como uma nuvem de chuva, Seus encaracolados cabelos negros. Uma canção deBhaktivinoda Thakura diz: “Ó filho de Nanda, permita-me adorá-lO com a lamparina de meus olhos”.

Como uma artista espiritual, criei o Nataki [www.nataki.co.uk], um website dedicado à propagação dadança, da música e da obra de arte espiritual. A palavra nataki significa artista mulher, uma dançarinageralmente. Na Índia antiga, isto quase sempre implicaria uma carreira devocional como uma artista detemplo. Criei o Nataki em razão da minha profunda crença de que toda cura, toda devoção e todo

avanço espiritual pode ser obtido por meio da posição de artista. Embora eu ainda seja estudante,espero que o meu website encoraje outros a compreenderem, como eu compreendi, a profundidade, abeleza e a devoção inerentemente presentes nas formas artísticas tradicionais da Índia. A antiga Índiatransformou toda possível faceta da vida em arte. De fato, esta talvez seja a contribuição mais marcanteda literatura Védica. Todos nós buscamos uma maneira de ocupar nossos sentidos em algo que tenhasignificado absoluto para a nossa alma.

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Minha Jornada ao TeísmoMy Journey to Theism

por Narada Rsi Dasa

Quando um estudante de quatorze anos, encontrei-me com um comunista, o qual me deu alguns livros

para ler. Ler era o meu hobby favorito, e eu tinha grande interesse em ler diferentes tipos de livros. Eu,então, comecei a ler os livros comunistas. Eu estava na idade em que muitos garotos e garotas queremse revoltar contra as tradições e normas, e eu não fui exceção. Ao contrário, eu era mais revolucionáriodo que os meus colegas de classe, e os livros comunistas apenas pioraram as coisas.

Os livros diziam que os capitalistas enganam as pessoas em nome de Deus e de religião. Os livrosexplicavam como o nosso sistema solar havia sido criado e como o nosso planeta Terra e outrosplanetas haviam sido criados a partir do sol há alguns bilhões de anos. Anteriormente, eu haviaaprendido que Deus criara tudo, mas eu não sabia os detalhes de como Ele havia feito isso. Foi por issoque, quando li que a Terra havia sido criada em decorrência da grande atração entre o sol e uma outraestrela, eu prontamente aceitei tal fenômeno sem questionamento. Minha mente estava pronta paraabarcar essas idéias, que eram fantásticas e contra a tradição. Como resultado, tornei-me ateístabastante jovem, e continuei a sê-lo por cerca de trinta anos, até a idade de cinqüenta e quatro.

Quando na faculdade, nunca parei de ler muitos livros. Eu sempre queria aprender mais. Aos dezoitoanos, já na faculdade, decidi, repentinamente, que eu queria conhecer Deus. Embora eu fosse ateísta,Deus sempre me atraía, e Ele era um verdadeiro mistério para mim. Eu saí de casa com a esperança deme juntar a alguma religião e me tornar monge. Então, através de meditação, eu me devotaria aconhecer e a descobrir Deus.

Eu fui para a Índia e me juntei a um grupo da Missão Rama Krsna a fim de me tornar um mongeperfeito. A Missão tinha regras muito rígidas e severas. Todos tinham que acordar muito cedo pelamanhã para meditar e realizar outras atividades regulares. Eu, todavia, não estava acostumado alevantar cedo, e era viciado em cigarro, o que era estritamente proibido na sede da Missão. Após trêsmeses, deixei o grupo e retornei para casa, não conhecendo nada sobre Deus. Minha missão pessoalhavia falhado. Na minha idade, entretanto, a tentativa foi, de qualquer modo, bastante empolgante.

Posteriormente, voltei para a universidade para estudar. Todo meu empenho foi direcionado para aobtenção de mais e mais conhecimento de forma que eu pudesse desprovar Deus em qualquer debateou discussão. Eu ignorava as pessoas que eram religiosas e acreditavam em Deus. Gradualmente, osteístas me pareciam serem grandes tolos estúpidos. Algumas vezes, eu pensava: “Como é possível quealguém seja cego a ponto de acreditar em Deus?”. O teísmo parecia-me uma superstição extrema. Ateoria do Big Bang, a teoria da evolução de Darwin, bem como os fantasiosos livros de OVNIs e seresextraterrestres, fizeram-me mais e mais ateísta.

O Incômodo Cantar de Meu PaiNasci e cresci em um ambiente onde meu pai era Vaisnava e vegetariano desde o nascimento. Quando ovia não comendo peixe ou carne, eu o considerava estúpido, pois estava além de minha imaginação queuma pessoa pudesse deixar de comer carnes e peixes deliciosos e comer apenas legumes e verduras. Elelevantava da cama bem cedo, às 4 horas, e, sozinho, cantava o maha-mantra Hare Krsna com algunsinstrumentos musicais. Isso me incomodava porque eu não conseguia dormir confortavelmente, mas eununca fui capaz de pará-lo.

Dias, meses e anos se passaram. Gradualmente, pude sentir algo dentro de mim: À proporção que eutentava saber mais e mais para desprovar Deus, eu via que há alguns problemas e limitaçõesfundamentais que os cientistas nunca poderão solucionar. Os cientistas dizem, por exemplo, que o

universo foi criado a partir do Big Bang. Eles tentam descrever todos os estados do universo logo apóso Big Bang até o tempo atual. Eles dizem que o espaço-tempo foi criado a partir do Big Bang e que esteestá se expandindo ainda hoje. Eles tentam mostrar como as várias categorias de partículas e sub-partículas foram criadas naquele estágio primeiro do universo e como esse universo imensamente

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harmonioso veio a ser o que é agora. Entretanto, surpreendentemente, nenhum cientista pode dizer porque o Big Bang ocorreu e por que ocorreu há cerca de quinze bilhões de anos atrás ao invés de maiscedo ou mais tarde. Finalmente, de onde a singularidade (a “coisa” que explodiu para se tornar o BigBang) obteve sua massa de densidade infinita?

Os cientistas não são capazes de responder a tais questões fundamentais. Ao contrário, eles podemapenas sugerir possibilidades e promover suas opiniões pessoais. Comecei a duvidar de suas teorias

porque me pareceu que os próprios cientistas acreditam em algo de que eles nada sabem. Em nome deciência, eles promovem suas crenças, e isso está errado.

Assim, minha questão foi: Se tanto os teístas como os cientistas acreditam em algo que eles nãoconhecem verdadeiramente, qual é a diferença entre eles? Isso me fez pensar novamente em Deus.Ocupei-me em tentar conhecer Deus pela via da exploração científica. Em 1992, li o best-seller  deStephen Hawking, Uma Breve História do Tempo. Em 1980, quando ele escreveu o livro, ele disse quea Teoria do Campo Unificado deveria ser descoberta dentro de vinte anos. Vinte e oito anos sepassaram, mas os físicos continuam confusos. A Teoria do Campo Unificado é um empenho emexplicar o mundo com uma teoria todo-poderosa, mais provavelmente sem Deus. Em um sentidoestrito, a TCU é o esforço com o intento de se encontrar a partícula única a partir da qual todas asoutras partículas foram construídas e desvendar o mistério do universo. Teoreticamente, no entanto,descobrir a TCU é impossível, dado que é impossível criar alguma temperatura infinita em umlaboratório ou em algum outro lugar para, através desta, ser possível criar artificialmente um Big Bangem miniatura. Isso é necessário para se obter toda a informação acerca daquilo que aconteceu durante osuposto Big Bang original.

Eu estava sempre ocupado com esta sorte de pensamento. Por ser ateísta, eu não estavaverdadeiramente feliz. Provando um vazio interior, eu pensava que a vida não possuía um significadoou um propósito superior. Eu, todavia, não estava disposto a me considerar um animal, como advoga odarwinismo.

Fazendo as Conexões

Um dia, enquanto eu estava indo para o meu escritório em minha motocicleta, eu pensava em Deus etentava conectar Deus, Sua criação, as explorações científicas e as teorias de origem do universo.Repentinamente, houve uma tempestade dentro de minha mente. Pensei em como o universo éimpecavelmente harmonioso, com equilíbrio apropriado em grande escala, embora, de acordo com asegunda lei da termodinâmica, o universo não devesse ser harmonioso e equilibrado. Ele deveria chegara um estado de desordem com o tempo. A fim de justificar essa discrepância, os cientistas imaginamuma espécie de matéria negra disseminada por todo o universo criando equilíbrio. Os cientistas dizemque somente dez por cento da massa do universo é visível; os noventa por cento restantes sendo matérianegra invisível.

Lembrei-me que a palavra Krsna significa tanto “negro” como “atração”. Pensei que talvez Krsna fosse

a solução para esse grande problema fundamental.Mudei a rota de minha motocicleta. Ao invés de ir para o escritório, fui ao templo local da ISKCON ecomprei um Bhagavad-gita e uma coleção completa do Srimad-Bhagavatam. Fui para casa e comecei aler primeiramente o Gita, sem qualquer demora. Assim como uma pessoa prestes a morrer de sede, bebiafoitamente as palavras. Aqui estão alguns dos versos que me deixaram especialmente perplexo:

“Ó conquistador de riquezas, não há verdade superior a Mim. Tudo repousa em Mim como pérolasensartadas em um cordão”. (7.7)

“No começo do dia de Brahma, todas as coisas se tornam manifestas a partir do estado imanifesto, e,posteriormente, quando a noite cai, todas as coisas são imersas no imanifesto novamente”. (8.18)

“Ó filho de Kunti, ao fim do milênio, todas as manifestações materiais entram em Minha natureza, e, aocomeço de outro milênio, por Minha potência, Eu as crio novamente”. (9.7)

“Toda a ordem cósmica está submetida a Mim. Sob a Minha vontade, ela é automaticamente manifesta

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repetidamente; e, sob a Minha vontade, ela é aniquilada ao fim”. (9.8)

“Esta natureza material, que é uma de Minhas energias, está trabalhando sob a Minha direção, Ó filhode Kunti, produzindo todos os seres móveis e inertes. Sob o critério dela, esta manifestação é criada eaniquilada repetidas vezes”. (9.10)

“A substância material total, chamada Brahman, é a fonte do nascimento, e é esse Brahman que Euimpregno, tornando possível o nascimento de todos os seres vivos, Ó descendente de Bharata”. (14.3)

Eu estava imensamente surpreso. Instantaneamente, compreendi que esta é a verdadeira teoria dacriação do universo. Os cientistas procuram por isto há muito tempo, mas do modo equivocado – comoir para o Japão quando se está procurando pela América.

Compreendi que “tornam-se manifestas” (8.18) se refere à criação do universo e de suas quatrodimensões (sendo o tempo a quarta). O estado imanifesto é o mundo virtual de mais do que quatrodimensões. Os cientistas teorizam um mundo virtual de nada menos do que onze dimensões, e elesdizem que o nosso universo será destruído um dia e então criado novamente. De acordo com a Teoriadas Cordas e outras teorias, esse processo se repete continuamente. O verso seguinte afirma a mesmaidéia: “Repetidamente, quando o dia de Brahma chega, todas as coisas vêm a ser, e, com a chegada desua noite, elas são desamparadamente aniquiladas”. (8.19)

Sem mais nenhum tardar, deixei o ateísmo e me tornei teísta, tendo desperdiçado trinta valiosos anos deminha vida. Mas considero-me afortunado, e fico feliz em pensar que o Senhor Krsna derramou Suamisericórdia sobre mim. Agora, seguindo o exemplo de Arjuna, refugio-me de todo o coração aossantos pés do Senhor Krsna. Como Ele nos instrui: “Ocupe sua mente em sempre pensar em Mim,torne-se Meu devoto, ofereça-Me reverências e adore-Me. Completamente absorto em Mim,certamente você virá a Mim”. (9.34)

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ÍNDICE DOS TÍTULOS EM PORTUGUÊS

Abrindo Caminho pela Trilha Não Aberta 40

Água: Uma Meditação 47Arte da Devoção, A 66

Ciência do Conhecer Deus. A 42

Convite ao Heroísmo Espiritual, Um 60

Definindo o Divino, Oriente e Ocidente 6

Duas Sementes que Cresceram no Ferro 17

Encontrando o Néctar nos Nomes de Krsna 11

Hatha Yoga e o Bhagavad-gita 56

ISKCON Ujjain: Um Novo Templo em um Antigo Local Sagrado 14

Livre do Infindável Karma 62

Milagre Macmillan, O 37

Minha Jornada ao Teísmo 69

Provando do Amargor do Fel 22

Relatividade e o Caminho para o Absoluto 34

Retiro de Japa: A Cura Perfeita para o Auto-Negligenciamento 49

Sons Silenciosos 53

Xeque-Mate: A Vitória da ISKCON na Rússia 28

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ÍNDICE DOS TÍTULOS EM INGLÊS

Art of Devotion, The 66

Call to Spiritual Heroism, A 60Checkmate: ISKCON’s Victory in Russia 28

Defining the Divine, East and West 6

Finding the Nectar in Krishna’s Names 11

Freedom from Never-ending Karma 62

Hatha Yoga and the Bhagavad-gita 56

ISKCON Ujjain: A New Temple in an Ancient Holy Place 14

Japa Retreat: The Perfect Cure for Self-Neglect 49

Macmillan Miracle, The 37

My Journey to Theism 69

Paving the Way on Unpaved Roads 40

Relativity and the Path to the Absolute 34

Science of Knowing God, The 42

Silent Sounds 53

Taste of Salted Bread, A 22

Two Seed that Grew in Iron 17

Water: A Meditation 47