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Tempos Gerais - Revista de Ciências Sociais e História - UFSJ Número #5 - 2014 - ISSN: 1516-8727 43 ESTRADA REAL: UM “LUGAR DE MEMÓRIA” DOS POVOS INDÍGENAS Maria Leônia Chaves de Resende* Cristiano Lima Sales** Leonardo Cristian Rocha*** Patricia Palma Santos**** Ricardo Carvalho Couto***** Resumo Considerando que a “Estrada Real” participou como palco de sucessivas ocupações humanas desde, no mínimo, 8000 AP, e embasados nos decretos e leis das políticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil, o presente artigo tem como objetivo evidenciar o papel ativo e fundamental das populações indígenas no contexto do processo de construção dos caminhos reais, bem como instrumentalizar as mesmas no sentido de acionarem os mecanismos jurídicos atuais, para legitimar e assegurar que a “Estrada Real” seja reconhecida como um patrimônio material e imaterial também de suas comunidades. Aborda ainda o “uso” turístico contemporâneo da “Estrada Real”, bem como o desenvolvimento de políticas públicas de Educação Patrimonial, essenciais para a preservação do patrimônio arqueológico. Palavras-chave: “Estrada Real”; arte rupestre; “lugar de memória”; povos indígenas; arqueoturismo; educação patrimonial. Introdução O Estado de Minas Gerais apresenta um vasto acervo de vestígios arqueológicos os quais se caracterizam como “todos os indícios da presença ou atividade humana em determinado local” (PROUS, 1992, p. 25). Tais vestígios são contemplados pelo patrimônio cultural brasileiro, que, segundo a Constituição Federal de 1998, no seu art. 216, é constituído pelos “bens de natureza material e imaterial, onde inclui o patrimônio arqueológico, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Dentre esses vestígios, destaca-se a vasta concentração e expressividade dos painéis com representações rupestres 1 existentes no entorno da “Estrada Real”. * Doutorado em História Social da Cultura pela UNICAMP. Professora de História no DECIS/UFSJ. Pesquisadora no CHAM-UNL. ** Mestre em História pela UFSJ. Professor de Artes Aplicadas no Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Artes Aplicadas - DAUAP/UFSJ. *** Doutorado em Geografia e Análise Ambiental pelo IGC/UFMG. Professor do Departamento de Geociências da UFSJ. **** Graduação em História pela UFSJ. Mestranda em História pela UFSJ. ***** Graduado e Especialista em Administração. Professor do IPTAN. 1 Como define Prous: “por ‘arte rupestre’ entendem-se todas as inscrições (pinturas ou gravuras) deixadas pelo homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas, matacões, etc.). A palavra rupestre, com efeito, vem do latim rupes – is (rochedo); trata-se, portanto, de obras imobiliares, no sentido de que não podem ser transportadas (à diferença das obras mobiliares, como estatuetas, ornamentação de instrumentos, pinturas sobre peles, etc.)” (PROUS, 1992, p. 510).

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Tempos Gerais - Revista de Ciências Sociais e História - UFSJNúmero #5 - 2014 - ISSN: 1516-8727

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ESTRADA REAL: UM “LUGAR DE MEMÓRIA” DOS POVOS INDÍGENAS

Maria Leônia Chaves de Resende*Cristiano Lima Sales**

Leonardo Cristian Rocha***Patricia Palma Santos****

Ricardo Carvalho Couto*****

Resumo

Considerando que a “Estrada Real” participou como palco de sucessivas ocupações humanas desde, no mínimo, 8000 AP, e embasados nos decretos e leis das políticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil, o presente artigo tem como objetivo evidenciar o papel ativo e fundamental das populações indígenas no contexto do processo de construção dos caminhos reais, bem como instrumentalizar as mesmas no sentido de acionarem os mecanismos jurídicos atuais, para legitimar e assegurar que a “Estrada Real” seja reconhecida como um patrimônio material e imaterial também de suas comunidades. Aborda ainda o “uso” turístico contemporâneo da “Estrada Real”, bem como o desenvolvimento de políticas públicas de Educação Patrimonial, essenciais para a preservação do patrimônio arqueológico.

Palavras-chave: “Estrada Real”; arte rupestre; “lugar de memória”; povos indígenas; arqueoturismo; educação patrimonial.

Introdução

O Estado de Minas Gerais apresenta um vasto acervo de vestígios arqueológicos os quais se caracterizam como “todos os indícios da presença ou atividade humana em determinado local” (PROUS, 1992, p. 25). Tais vestígios são contemplados pelo patrimônio cultural brasileiro, que, segundo a Constituição Federal de 1998, no seu art. 216, é constituído pelos “bens de natureza material e imaterial, onde inclui o patrimônio arqueológico, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Dentre esses vestígios, destaca-se a vasta concentração e expressividade dos painéis com representações rupestres1 existentes no entorno da “Estrada Real”.

* Doutorado em História Social da Cultura pela UNICAMP. Professora de História no DECIS/UFSJ. Pesquisadora no CHAM-UNL.** Mestre em História pela UFSJ. Professor de Artes Aplicadas no Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Artes Aplicadas - DAUAP/UFSJ.*** Doutorado em Geografia e Análise Ambiental pelo IGC/UFMG. Professor do Departamento de Geociências da UFSJ. **** Graduação em História pela UFSJ. Mestranda em História pela UFSJ.***** Graduado e Especialista em Administração. Professor do IPTAN.1 Como define Prous: “por ‘arte rupestre’ entendem-se todas as inscrições (pinturas ou gravuras) deixadas pelo homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas, matacões, etc.). A palavra rupestre, com efeito, vem do latim rupes – is (rochedo); trata-se, portanto, de obras imobiliares, no sentido de que não podem ser transportadas (à diferença das obras mobiliares, como estatuetas, ornamentação de instrumentos, pinturas sobre peles, etc.)” (PROUS, 1992, p. 510).

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No presente artigo, tenciona-se evidenciar o papel ativo e fundamental das populações indígenas no contexto do processo de construção dos caminhos reais, bem como instrumentalizar as mesmas no sentido de acionarem o poder público com vistas a implementar ações compensatórias em benefício de suas comunidades pelos danos causados historicamente a esses agentes sociais silenciados e ignorados nos processos estatais de construção social, tendo em vista que a “Estrada Real” veio sendo construída desde, no mínimo, 8000 AP. Buscando essa ancestralidade indígena na paisagem da “Estrada Real”, focamos especialmente os conjuntos de arte rupestre – manifestações culturais das mais antigas entre as encontradas na rota2. Eis que, após o esquecimento pelo poder público no século XX, a história da “Estrada Real” vem sendo recuperada e ressignificada pelo marketing político e pelo turismo do século XXI. E o patrimônio rupestre está lá, incluso nos itinerários turísticos atuais.

Inicialmente, discute-se, brevemente, a trajetória das políticas públicas de preservação do patrimônio cultural no Brasil. Num segundo momento, busca-se articular a “Estrada Real” à problemática dos “lugares de memória”3 os quais são essenciais para os sujeitos históricos, na medida em que, como mediadores, possibilitam o (re)encontro dos mesmos com as suas raízes bem como a (re)afirmação de suas identidades.

Posteriormente, tecem-se algumas considerações acerca do “uso” turístico contemporâneo da “Estrada Real”, bem como do desenvolvimento de políticas públicas de Educação Patrimonial, fundamentais para a preservação desse patrimônio de valor inestimável. A trajetória das políticas públicas de preservação do patrimônio cultural no Brasil

A origem da ideia de patrimônio histórico e artístico nacional está intimamente ligada à noção de Nação e constituição do Estado Nacional. Ao longo do século XIX, inúmeras nações, não apenas na Europa, mas também na América, elegeram símbolos nacionais que representariam a identidade nacional, haja vista que nação e patrimônio são noções historicamente forjadas. Especificamente, no caso brasileiro, “durante o Império, discutia-se quem seriam os brasileiros e, ainda mais, sobre como considerar negros e indígenas em relação a esse projeto de brasilidade” posto que “os brasileiros eram súditos do rei, os direitos políticos limitados aos poucos livres, alfabetizados e proprietários” (CARVALHO e FUNARI, 2010, p. 10). Nessa época, de certa maneira, as diversidades identitárias foram relegadas no âmbito do projeto de construção da identidade nacional.

2 O projeto “Cartografia da Arte Rupestre na Estrada Real: Itinerários Culturais no campo das Vertentes”, bem como o projeto de iniciação científica, intitulado �A pré-história na Estrada Real: Itinerário turístico-cultural da Arte Rupestre� e a dissertação de mestrado do Prof. Cristiano Lima Sales, intitulada �A Estrada Real nos cenários arqueológico, colonial e contemporâneo: Construções e reconstruções histórico-culturais de um caminho�, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), levantaram os sítios arqueológicos trabalhados no presente artigo que, além da localização, georreferenciamento, cadastramento e análise estilística dos sítios, diagnosticaram o estado atual desse patrimônio, atentando para as suas condições de uso; instalações e serviços existentes nos mesmos (disponibilidade de sanitários, placas indicativas e informativas, monitoria, áreas específicas para alimentação e descanso, material turístico impresso, entre outros). O presente artigo procurará dar continuidade aos estudos já produzidos por RESENDE, TÔRRES E MATOS, 2006; PEREIRA, 2007; VITRAL, 2008 e RESENDE, SALES, ROCHA e FONSECA, 2010.3 Conceito apropriado da obra de Pierre Nora (1993) “Entre memória e história: A problemática dos lugares”.

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A política estatal de preservação do patrimônio francês foi utilizada como modelo por inúmeros países da Europa, África e América Latina, incluindo-se aí o Brasil, que desenvolveu uma política de preservação norteada pelo ideário nacionalista da década de 1930. É nesse sentido que Mário de Andrade e os demais intelectuais modernistas, a partir da década de 1920, começam a (re)descobrir o Brasil, em busca de suas raízes e de uma memória nacional. Na busca pelo “autêntico”, pela criação genuinamente nacional, vários artistas ligados ao movimento modernista elegeram a arquitetura do período colonial, mais especificamente o “barroco mineiro” do século XVIII, como referência maior da brasilidade4. Assim, a construção de uma história nacional começava no período colonial e a cidade de Ouro Preto torna-se um ícone, em 1933, sendo elevada à categoria de monumento nacional5. De acordo com Lúcia Lippi Oliveira (2008, p. 116):

Essas viagens ao passado, ao encontro de uma herança até então abandonada e decadente, tiveram o efeito de produzir uma nova consciência: a da necessidade de salvar os vestígios do passado. Foi se constituindo um discurso que passou a dizer: é preciso proteger os monumentos do abandono, impedir a dilapidação daquele tesouro. Essa demanda surgiu nos anos 1920 e tomou forma na década de 1930, quando se reconheceu a necessidade da ação do Estado6.

O fomentador da ideia ampla de patrimônio é Mário de Andrade, primeiro diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo (1934-1937), por meio da elaboração do anteprojeto de um serviço nacional, encomendado ao mesmo por Gustavo Capanema, que foi utilizado nas discussões iniciais sobre a estrutura e os objetivos do órgão – o SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

No texto do anteprojeto, elaborado em 1936, o escritor defende a análise da diversidade artística nacional. Atenta, ainda, na definição de obra de arte patrimonial, tanto para o caráter material quanto imaterial, tangível ou intangível dos bens patrimoniais. Todavia, somente

4 “Rodrigo Melo Franco de Andrade, como mineiro, conhecia a antiga capital da província; Alceu Amoroso Lima visitou Ouro Preto em 1916; Mário de Andrade esteve pela primeira vez em Mariana em 1919; Lúcio Costa conheceu Diamantina em 1920. As viagens a Minas Gerais começaram a ganhar status de experiência de conversão à brasilidade, de redescoberta do Brasil. O mesmo se aplica ao encontro dos modernistas paulistas com os mineiros em 1924. Essa viagem a Minas constitui um relevante capítulo da história do movimento modernista no Brasil” (OLIVEIRA, 2008, p. 115). 5 “O título “monumento nacional” não se traduzia porém em instrumentos efetivos de proteção do acervo histórico e artístico da cidade. Só em 1938, depois da criação do SPHAN, é que foram realizados os primeiros tombamentos de cidades desencadeando uma política mais efetiva de proteção e conservação desses acervos” (PESSOA, 2011, p. 52).6 “Os modernistas, vale lembrar, não eram os únicos a pedir proteção para a arte colonial. Os neocoloniais – em São Paulo, Ricardo Severo, ‘arquiteto” português, cunhado de Santos Dumont e, no Rio de Janeiro, José Mariano Filho, figura de importante família pernambucana, foram as principais e primeiras lideranças a apresentar essa demanda. Gustavo Barroso, diretor do Museu Histórico Nacional, onde se instalara o primeiro órgão federal de proteção ao patrimônio – a Inspetoria dos Monumentos Nacionais, criada em 1934 -, era também ligado ao movimento neocolonial” (OLIVEIRA, 2008, p. 116). Ademais, “a institucionalização do das ações de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional (...) deve ser compreendida não isoladamente, como obra de ilustres intelectuais, mas em relação a outras instituições igualmente criadas para exercer o controle centralizado sobre o espaço e as pessoas – um território e seus habitantes integrantes de um Estado que se pretendia nacional, sob a ideologia do Estado tutor e protetor” (CHUVA, 2011, p. 42).

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partes do texto são utilizadas na criação do SPHAN, através da Lei n° 378, de janeiro de 1937, e do Decreto-lei n° 25, de 30 de novembro do mesmo ano, instituição que deu início a uma concreta ação federal de proteção no Brasil (NOGUEIRA, 2008).

Até a década de 1970, a noção de patrimônio remetia à ideia de monumentalidade e excepcionalidade. De acordo com o art. 1°, do Capítulo I (Do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), do Decreto-Lei n° 25 de 1937, ainda vigente, que ficou mais conhecido como a Lei do Tombamento, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, o conceito de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional abarca “o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”.

Dessa forma, ao lançar mão do instrumento jurídico do tombamento, a política preservacionista do SPHAN forjou uma memória nacional única para o Brasil, relegando ao esquecimento a riqueza de nossa diversidade cultural, conforme corroborado por Nogueira (2008, p. 241):

A redução do Brasil a esse repertório de bens de excepcional valor, traduzida pela exclusividade do tombamento, revela o caráter político da seleção de nosso legado cultural. Ao privilegiar as expressões culturais de uma determinada classe ou grupo social como a de tradição europeia - herança luso-colonial geralmente identificada com o poder constituído -, a noção de patrimônio e a política oficial de preservação revelaram-se elitistas e conservadoras, principalmente num país caracterizado pela contradição e pluralidade étnico-cultural como o nosso.

Mas se por muitos anos a identidade nacional e, por extensão, a preservação estabeleceu uma profunda relação com a “memória histórica” e a “história oficial”, nas décadas finais do século XX, os embates entre os sujeitos que buscavam prestígio e aceitação e as forças sociais hegemônicas se evidenciam no âmbito da proteção e do reconhecimento de bens culturais de naturezas diversas. Embates que suscitaram, paulatinamente, uma significativa ampliação do conceito de patrimônio, outrora restrito aos “bens de cal e pedra” (PELEGRINI, 2007).

No correr dos anos 60, uma nova vaga revolucionária ganha o mundo, aprofundando a crítica da sociedade branca, masculina, cristã e ocidental. A emergência da política das minorias trouxe a fragmentação dos discursos e impôs o reconhecimento de múltiplos pontos de vista e múltiplos sistemas epistemológicos. O movimento feminista, as revoluções estudantis, a contracultura, a luta pelos direitos civis e os movimentos revolucionários no terceiro mundo apresentaram novos sujeitos sociais, que fizeram do estigma da exclusão o emblema para sua afirmação identitária (ASSIS, 2011, p. 65).

Vencidas pela supremacia dos bens de valor “excepcional”, as ideias contidas no anteprojeto de Mário de Andrade serviram de fonte para as alterações na política de patrimônio introduzidas, no decorrer da década de 1970, por Aloísio Magalhães, quando são adicionadas

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aos trabalhos do CNRC - Centro Nacional de Referência Cultural (1975)7e da FNPM - Fundação Nacional Pró-Memória (1979)8 (NOGUEIRA, 2008).

Ao contrário de uma noção de patrimônio atrelada aos bens de valor “excepcional”, verifica-se o reconhecimento da diversidade, do patrimônio cultural de grupos que haviam sido até então ignorados e silenciados. Essa ampliação do conceito de patrimônio, segundo Pelegrini (2007, pp. 94-95), esteve vinculada ao “impacto destrutivo causado pela II Guerra Mundial (1939-1945), aos problemas gerados pelo intenso crescimento urbano e pelo questionamento das formas de poder e autoridade emergente nos anos sessenta”, que fomentaram as discussões identitárias e étnico-raciais.

O reconhecimento dos bens simbólicos enquanto patrimônio instigou, especialmente, as “minorias” e os grupos étnicos, que por décadas estiveram às margens daquela identidade única, a reivindicarem o reconhecimento dos seus referenciais culturais e identitários, respaldados pela Carta Constitucional de 1988, principalmente, pelos artigos 215 e 216:

Artigo 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, apoiará e incentivará a valorização e difusão das manifestações culturais.

§ 1. O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.§ 2. A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.

Artigo 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;II - os modos de criar, fazer e viver;III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1. O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.

7 “O centro objetivava mapear, documentar e entender a diversidade cultural do Brasil. As referências da dinâmica cultural brasileira seriam então incorporadas e articuladas em banco de dados – realidades virtuais – para depois serem devolvidas às comunidades. De 1975 a 1979 foram desenvolvidos pelo CNRC projetos reunidos em quatro programas: artesanato, levantamentos socioculturais, história da tecnologia e da ciência no Brasil e levantamentos de documentação sobre o Brasil” (OLIVEIRA, 2008, p. 125). 8 “A pluralidade de iniciativas da Fundação Nacional Pró-Memória indica o alargamento do sentido de patrimônio. Sob a coordenação da FNPM foram empreendidas ações inovadoras, entre as quais pode-se citar a aprovação, pelo Conselho Consultivo do Sphan, em decisão inédita, do tombamento da mais antigo terreiro de candomblé no país, o Casa Branca, em Salvador (BA)” (OLIVEIRA, 2008, p. 127).

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§ 2. Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.§ 3. A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.§ 4. Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.§ 5. Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

Cabe destacar, ainda, a importância da edição do Decreto n° 3.551, de 2000, que estabeleceu o inventário e o registro de bens culturais de natureza imaterial.

A eleição dos novos bens, ou melhor, de novas formas de se conceber a condição de patrimônio cultural nacional, também permite que diferentes grupos sociais, utilizando as leis do Estado e o apoio de especialistas, revejam as imagens e alegorias do passado, do que querem guardar e definir como próprio e identitário. O decreto abre a possibilidade para o surgimento de novos canais de expressão cultural e luta política para grupos da sociedade civil antes silenciados, que são detentores de práticas culturais imateriais locais e tidas como tradicionais (ABREU, 2007, p. 356).

As alterações advindas da promulgação da Carta Constitucional de 1988 são consequências das modificações pelas quais vem passando o direito na pós-modernidade. A ordem constitucional reconheceu o caráter plural da sociedade humana em virtude da necessidade do diálogo como ferramenta de legitimação da instância jurídica, de modo que no direito pós-moderno há o reconhecimento e a proteção das identidades, que se traduz em um “pluralismo discursivo, no qual os atores tradicionais (…) passam a reconhecer os discursos culturais diferentes, reconhecendo-lhes legitimidade e proteção jurídica” (ASSIS, 2011, p. 67).

Uma nova concepção de patrimônio, múltiplas memórias e, consequentemente, novas identidades surgem. Um novo cenário se configura, resultado de uma ampliação do conceito de cultura, entendida como processo, construção, de modo que o “patrimônio segue o movimento das memórias e acompanha a construção das identidades” (CANDAU, 2011, p. 163). Nesse sentido, memória e identidade apresentam-se como fenômenos atrelados, imbricados.

... não se discute mais se o patrimônio cultural constitui-se apenas dos bens de valor excepcional ou também daqueles de valor documental cotidiano; (...) se dele faz parte tão só a arte erudita ou de igual modo a popular; se contém apenas bens produzidos pela mão do homem ou mesmo os naturais; se esses bens naturais envolvem somente aqueles de excepcional valor paisagístico ou, inclusive, ecossistemas; se abrange bens tangíveis ou intangíveis. Todos esses bens estão incluídos no patrimônio cultural brasileiro, desde que portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da nacionalidade ou sociedade brasileiras, nos exatos termos constitucionais (MILARÉ 2007, p. 252, apud ASSIS, 2011, p. 74).

Maurice Halbwachs (2006) considera que existem dois tipos de memória: a individual e a coletiva. A memória individual diz respeito às lembranças pessoais sobre acontecimentos,

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já a memória coletiva contém as memórias individuais, mas não se confunde com elas, ou seja, pertence a um contexto maior que o que envolve a memória individual. Segundo Halbwachs (2006, p. 69), “a memória coletiva tira sua força e sua duração do fato de ter por suporte um conjunto de homens; não obstante, eles são indivíduos que se lembram, enquanto membros do grupo. Cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva”.

De posse dos conceitos de memória e identidade, Rodrigues (2003, p.17) salienta que:

(...) os remanescentes materiais de cultura são testemunhos de experiências vividas, coletiva ou individualmente, e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaço, de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepção de um conjunto de elementos comuns, que fornecem o sentido de grupo e compõem a identidade coletiva. (...) preservar o patrimônio cultural – objetos, documentos escritos, imagens, traçados urbanos, áreas naturais, paisagens ou edificações – é garantir que a sociedade tenha maiores oportunidades de perceber a si própria9.

De acordo com Nora (1993, p. 9) “memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações”. Nesse sentido, “o que a memória individual grava, recalca, exclui, relembra, é evidentemente o resultado de um verdadeiro trabalho de organização” (POLLAK, 1992, p. 204). Nora (1993, p. 18) salienta que quando a memória não está mais em todo lugar, ela se perderia se um indivíduo não decidisse dela se encarregar. Para o historiador, quanto “menos a memória é vivida coletivamente, mais ela tem necessidade de homens particulares que fazem de si mesmos homens memória”, os quais, por meio de suas lembranças, instituem os chamados “lugares de memória” – nos três sentidos da palavra (material, simbólico e funcional) - onde a memória é ancorada, condensada e exprimida.

Ao se materializar, a memória democratizou-se. Ao passo que, nos tempos clássicos, o seu registro era restrito às grandes famílias, à Igreja e ao Estado, hoje ela é produzida por qualquer pessoa, uma vez que “produzir arquivo é o imperativo da época” (NORA, 1993, p. 16). Os “lugares de memória” procuram manter vivo um passado que se encontra ameaçado pela aceleração da história.

Ao abordar a temática da identidade cultural no contexto a que se denomina pós-modernidade, Stuart Hall (2005, p. 8) parte do pressuposto de que “as identidades modernas estão sendo descentradas, deslocadas ou fragmentadas”, ou seja, os referentes identitários dos sujeitos abalam-se. Ao contrário das concepções tradicionais, que compreendem as identidades como algo acabado, inato, essencial ou permanente, as identidades são construídas sempre com relação ao outro e ao grupo, num processo permanente de ressignificação, de forma que é definida historicamente.

9 Importante ressaltar que consideramos da mesma forma os bens de caráter imaterial. Sobre a relação entre patrimônio material e imaterial, ver SOUZA e CRIPPA, 2011.

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Nas palavras do autor (2005, pp. 38-9):

A identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. (...) Ela permanece sempre incompleta, está sempre ‘em processo’, sempre ‘sendo formada’. (...) Assim, em vez de falar da identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar de identificação, e vê-la como um processo em andamento. A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é ‘preenchida’ a partir de nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros.

Nesse contexto de emergência de vozes plurais, do surgimento da identidade em suas várias formas – de gênero, étnica, nacional e regional – as nações deixam de ser os referenciais tradicionais de identidade, pois

(...) as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação. (...) Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos – um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos /ãs legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional (HALL, 2003, pp. 48-49).

É nesse sentido que sujeitos históricos, portadores de memórias plurais e identidades múltiplas, em processo constante de construção e reconstrução, lançam mão de mecanismos, tal como a seleção de determinados referenciais simbólicos (lugares e manifestações) de identidade e pertencimento, para se identificar nas comunidades em que vivem, daí a preferência de Hall pela utilização do conceito de identificação. “A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 2005, pp. 12-13).

A “Estrada Real” como um “lugar de memória” dos povos indígenas

Conforme salientado anteriormente, o texto da Carta Constitucional de 1988 reconhece o caráter pluriétnico da nação brasileira e oferece ferramentas para que os grupos, que tiveram suas vozes silenciadas por uma história que privilegiava o chamado patrimônio de “pedra e cal”, reivindiquem suas identidades e acionem o poder público com o intuito de implementar ações compensatórias em benefício de suas comunidades pelos danos historicamente causados a esses atores sociais. No art. 231, do Capítulo VIII (Dos Índios), especialmente dedicados aos indígenas, fica bastante claro o referido reconhecimento, bem como a enunciação sistemática dos direitos destes:

São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo a União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

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No art. 231, parágrafo 1°, do Capítulo VIII (Dos Índios), define-se por terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas aquelas “por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. Decorre dessa definição que se trata de todas as terras que, segundo seus usos, costumes e tradições, auxiliam na preservação das singularidades dos povos indígenas, não somente daquelas ocupadas fisicamente por eles.

Ademais, a Constituição Federal, no art. 232, do Capítulo VIII (Dos Índios), reconhece os índios, suas comunidades e organizações como partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesse, conferindo ao Ministério Público o papel de intervir em todos os atos do processo.

Para além dos monumentos de caráter excepcional, o alargamento da concepção de patrimônio favoreceu o reconhecimento de outras formas de representação simbólica e espiritual das comunidades, tais como espaços e práticas cotidianas, revestidos de memória, marcados por simbolismos, por experiências vivenciadas historicamente pelos diferentes grupos sociais.

Nessa linha de raciocínio, retomamos aqui a noção de “lugares de memória” proposta por Pierre Nora, uma vez que concebemos a “Estrada Real” como tal, “(...) com efeito nos três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, simultaneamente, somente em graus diversos. (...) Os três aspectos coexistem sempre” (NORA, 1993, pp. 21-22). Estabelece-se como material, na medida em que existe efetivamente, ocupada há milênios por populações indígenas de culturas diversas e (re)apropriada ao longo das relações sociais. No âmbito funcional, deixou de centralizar a história da movimentação econômica, cultural e social em torno da mineração e assumiu contemporaneamente um caráter turístico. Por fim, é simbólica devido ao seu caráter imaterial, uma vez que está impregnada de simbologias, significados, imaginários e subjetividades dos múltiplos grupos sociais.

As “Estradas Reais” participaram da construção da identidade histórica do povo brasileiro, como palco privilegiado da dinâmica territorial das mais diversas etnias indígenas, das guerras de conquista empreendidas pelos colonos, dos processos de resistência indígena e de fusão étnica, das trocas culturais, da economia cotidiana, dos movimentos de sublevação contra o domínio metropolitano e de muitos outros movimentos históricos transcorridos ao longo dos séculos.

Dese modo, dentro do entendimento de “lugar de memória”, a “Estrada Real” pode despertar nos sujeitos históricos sentimentos de identificação, pois carrega muitas simbologias que podem parar o tempo, bloquear o esquecimento, fixar, imortalizar, materializar o imaterial, de forma que é isso que os torna apaixonantes: “que os lugares de memória só vivem de sua aptidão para a metamorfose, no incessante ressaltar de seus significados e no silvado imprevisível de suas ramificações” (NORA, 1993, p. 22).

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FIGURA 1 - Mapa da arte rupestre na rota turística da Estrada Real.Fonte: IBGE, NASA. Elaboração: Bráulio M. Fonseca.

Uma “Estrada Real” turística

Os turistas geralmente se interessam por roteiros que exploram as descobertas e manifestações culturais do passado, pois esse conhecimento se refere a todos nós, está relacionado ao nosso próprio processo de humanização e aprendizagem.

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No Brasil, onde não possuímos construções monumentais pré-coloniais, os sítios arqueológicos de maior visibilidade são aqueles com pinturas rupestres, e roteiros como o da “Estrada Real” tem incluído pontualmente esses sítios entre seus atrativos.

Para discutir essa utilização dos conjuntos de arte rupestre somos levados a pensar uma série de conceitos e questões. Roteiros que exploram o patrimônio arqueológico geralmente são concebidos dentro da lógica do turismo cultural, definido como o segmento turístico que trata tanto das viagens de estudo (definição estreita), quanto daquelas viagens em que o turista se dispõe a participar de uma imersão na cultura local da área visitada (definição ampla). O turismo cultural efetiva-se quando da apropriação de algo que possa ser caracterizado como bem cultural. Um conjunto de bens com suas características únicas e particulares, geralmente associado a lugares específicos, forma o patrimônio cultural (FUNARI e PINSKY, 2003).

O patrimônio arqueológico integra esse cenário patrimonial dos lugares, podendo ser conceituado como o conjunto de expressões materiais remanescentes das culturas indígenas pré-coloniais, bem como dos outros diversos segmentos da sociedade nacional (inclusive das situações de contato interétnico), potencialmente incorporáveis à memória local, regional e nacional, compondo parte da herança cultural brasileira (ALMEIDA, 2003).

O crescimento da importância dada pelo poder público ao patrimônio fundamenta-se no reconhecimento de seu valor cultural e identitário para o país, mas também na sua potencialidade como mercadoria de consumo cultural. O patrimônio cultural, ambiental e paisagístico invariavelmente é mola propulsora de qualquer iniciativa no universo do turismo cultural, incluindo-se, aqui, o patrimônio arqueológico, presente no universo patrimonial das comunidades e entendido como bem de uso especial, comum ao povo brasileiro.

A atividade turística é produto da sociedade capitalista industrial e se desenvolveu por motivações diversas, que incluem o consumo de bens culturais. O turismo cultural, tal qual o concebemos atualmente, implica não somente na oferta de espetáculos ou eventos, mas também na existência de um patrimônio cultural preservado nos locais a serem visitados. Conservar esse patrimônio deve ser, portanto, do absoluto interesse do Estado, dos empreendedores do turismo e das comunidades (RODRIGUES, 2003).

O turismo como opção de desenvolvimento social e econômico só pode acontecer sob respaldo de um planejamento previsto nas políticas públicas geradas pela União, pelos estados e pelos municípios. E, em se tratando do uso do patrimônio arqueológico para fins turísticos, há de se considerar as expectativas da comunidade que detém o patrimônio no seu atual território, a necessária intervenção da comunidade acadêmica na elaboração dos projetos turísticos e a legislação vigente que orienta a interface entre arqueologia e turismo (MORAIS, 2003).

A sensibilização e o envolvimento das comunidades desde os primeiros passos na formulação dos projetos e políticas públicas voltados para o turismo determinará seu sucesso ou fracasso, pois à comunidade caberá a realidade cotidiana de convivência com o turista e de salvaguarda do patrimônio arqueológico. E não há comprometimento quando não existe identificação com o objeto em torno do qual giram essas ações. Não se vive uma história que não é sua.

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Estranhamente, é comum perceber que a maioria dos cidadãos em contato com o patrimônio arqueológico, mesmo nas comunidades tradicionalmente ligadas a ele, não se reconhece declaradamente nesse patrimônio. Ainda assim, mesmo inconscientemente, os elementos que compõem a paisagem de um lugar são referenciais da história para seus habitantes atuais. Nesse sentido, os sítios arqueológicos são locais que contêm evidências humanas que relembram configurações sociais, significações simbólicas e mesmo fatos referentes às populações que outrora viveram naquela paisagem. A sua presença em um lugar, inegavelmente, reverbera no tempo presente, constituindo símbolos de identificação nacional e local.

Os sítios arqueológicos, assim como os objetos arqueológicos, fazem parte desses referenciais por duas vias: primeiro, remetem-se ao passado e são, portanto, parte da história, da memória daquela comunidade; segundo, porque, embora remontem ao passado, eles estão presentes no presente. Eles fazem parte não da paisagem antiga, mas da paisagem atual. É pelos vestígios, pelas ruínas, que os indivíduos elaboram suas representações do passado. Esses elementos materiais que se perpetuaram na paisagem não são, em si, a memória, mas a sua fonte; são a base material para a construção do imaginário histórico (JEUDY, 1990). O patrimônio arqueológico, nessa perspectiva, além de ser uma referência ao passado, é uma referência do presente, porque é no presente que são estabelecidas as relações entre os indivíduos e o patrimônio; é no presente que os interesses de grupos sociais distintos elegem o seu patrimônio (...) (ALMEIDA, 2003, p. 281).

Mas a tomada de consciência sobre o que os sítios arqueológicos expressam em uma paisagem pela população local que detém o território no qual os sítios estão atualmente inseridos é mais complexa.

Pensando sobre as possibilidades de explicação para o aparente descaso da população brasileira pelo patrimônio público, incluindo aí os sítios arqueológicos, alguns autores começam por considerar que, no Brasil, de maneira geral, não há uma distinção clara entre o que é público e o que é privado. A própria história do país ilustra essa confusa situação, desde a doação e arrendamento das terras e estradas “da Coroa” a particulares no período colonial, até as políticas de privatização em vigor nos atuais modelos neoliberais de gestão e uso do patrimônio nacional. Essas situações demonstram que, no Brasil, o Estado historicamente estabeleceu relações pessoais, de favor, clientela e tutela para com seus cidadãos o que acarretou a noção de que o que é público, em termos legais, não é aquilo que é de todos, mas o que é propriedade privada do Estado (CHAUÍ, 2000; FUNARI, 1995; FUNARI, 1999, apud ALMEIDA, 2003). Essas relações de clientela ou tutela configuram situações de dependência, obrigação, sujeição. A discordância em relação a essa condição de subserviência traduz-se num sentimento de desobrigação que faz com que o cidadão não se perceba como responsável pelo que, a seu ver, não lhe pertence. E mais, quando desobedece ou burla as regras estabelecidas pela legislação estatal o indivíduo demonstra sua insatisfação, exercendo, mesmo que equivocadamente, uma atitude de resistência (ALMEIDA, 2003).

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Outra explicação para a pouca identificação do povo brasileiro com o patrimônio arqueológico pode advir do fato de que boa parte da população ignora ou não reconhece suas origens mais antigas. E o problema não está apenas no desconhecimento, mas na forma como se conhece. A imagem do povo brasileiro veio sendo forjada pelos grupos culturais e classes dominantes, sempre orientadas pelos padrões europeus. “Pode-se dizer, então, que não somos um povo sem memória, mas um povo que não participa ativamente da construção de sua memória e, por essa razão, não se identifica com o patrimônio cultural de forma ampla” (ALMEIDA, 2003). Além do que, as populações locais, por exemplo, ainda que tenham plena consciência das suas origens ancestrais, geralmente procuram ocultá-las, temendo a estigmatização e a discriminação social. É que no nosso país a ideia da modernidade e do desenvolvimento veio acompanhada da negação do passado, da negação da tradição e dos vestígios que nos ligam especialmente à nossa ancestralidade indígena.

A arte rupestre como vestígio de cultura material é evidência da ocupação territorial pretérita, colocando Minas Gerais e a �Estrada Real� no cenário do debate internacional sobre a ocupação da América e, por extensão, do Brasil10, passando a ser de interesse público a manutenção desses vestígios que, investigados, poderão responder a diversas indagações ainda sem respostas.

A relação entre a população e o patrimônio, portanto é mediada pela identidade, e para que o indivíduo construa e assuma sua identidade é preciso que ele entenda e dê significação à realidade ao seu redor. Para que seja possível abandonar a condição de subserviência e passividade, o indivíduo precisa construir um olhar crítico sobre seu mundo, assumir seu lugar histórico e compreender-se como sujeito na construção da sua identidade (FREIRE, 2002). Nesse processo o patrimônio arqueológico pode entrar como um potente instrumento de construção identitária, uma vez que encarna parte da memória social que pode ser assumida pelo indivíduo. Como destaca Márcia Almeida (2003, p. 287),

é necessário contribuir para a mudança da representação social do patrimônio arqueológico. Se os objetos e sítios arqueológicos não forem significados como emblemas de resistência, da transformação e da identidade, não podemos esperar que tenham valor para a sociedade.

Em resumo, o problema do cidadão brasileiro está não no esquecimento das memórias ancestrais, mas no fato de não ter por que lembrar.

A relação de identidade entre o patrimônio arqueológico e a sociedade é preocupação constante da chamada “arqueologia pública”.

10 Informações detalhadas sobre o debate acerca do povoamento das Américas e da antiguidade do homem no território mineiro encontram-se em: BELTRÃO, 1988; FUNARI e NOELLI, 2002; NEVES, 1992; NEVES e PILÓ, 2008; PROUS,1992; PROUS, BAETA e RUBBIOLI, 2003.

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A arqueologia pública, tal como a compreendemos, engloba um conjunto de ações e reflexões que objetiva saber a quem interessa o conhecimento produzido pela Arqueologia; de que forma nossas pesquisas afetam a sociedade; como estão sendo apresentadas ao público, ou seja, mais do que uma linha de pesquisa da disciplina, a Arqueologia Pública é inerente ao exercício da profissão (...) (ALMEIDA, 2003, p. 275-276).

Essa vertente da ciência arqueológica vem, pois, procurando discutir a questão “para que serve a arqueologia?”, e, nesta linha de pensamento, o comprometimento profissional passa por mostrar ao público que a arqueologia, longe de ser uma atividade de entretenimento, é, antes, um instrumento de construção da memória, da história, da identidade e da cidadania nacionais (ALMEIDA, 2003). Passa também pela necessidade de projetar e oferecer situações adequadas de contato do público com o patrimônio arqueológico. E esse público precisa ser o mais diversificado possível, não podendo ficar restrito às classes abastadas. O acesso ao conhecimento científico produzido pela arqueologia precisa ser franqueado a todos, superando, nos termos de Bourdieu, as complexas e desiguais relações estabelecidas dentre a posse de capital econômico e de capital cultural, simbólico (BOURDIEU, 1987).

Por meio de programas de educação patrimonial é possível mostrar aos cidadãos como a imagem da nação brasileira foi forjada no “mito fundador” representado pela chegada dos portugueses em 1.500; mostrar que a milenar história pré-colonial do Brasil está presente na formação desse “mito fundador” por exclusão ou, no máximo como uma “alegoria”. É preciso fazer com que os cidadãos construam uma visão crítica, mesmo a respeito dos livros didáticos, nos quais os últimos 500 anos ocupam quase todas as páginas, relegando os milhares de anos de nossa “pré-história” a uma pequena introdução, justamente porque nossas origens mais remotas são ainda pouco consideradas ou ocultadas pelo “poder dominante que manipulou nosso passado, impondo-nos uma memória e uma história da qual não participamos e com a qual não nos identificamos” (ALMEIDA, 2003, p. 290).

Os projetos de educação patrimonial precisam ser pensados em interface com os projetos turísticos regionais. O turismo e a cidadania podem ser intimamente relacionados quando a comunidade anfitriã for suficientemente preparada para estar consciente do seu papel de agente de proteção do patrimônio e quando, nas viagens, além de conhecer outras realidades, é oferecida adequadamente ao turista a possibilidade de perceber e valorizar a diversidade cultural brasileira. Nesse processo a interação com as comunidades envolvidas na preservação de seus bens culturais é imprescindível, tanto para a fruição do passeio, quanto para o crescimento do “cidadão turista”. A cidadania só se constrói com o reconhecimento e o respeito pelas muitas expressões culturais e formas de viver e pensar o mundo que podem ser encontradas nas viagens bem planejadas. Nessa perspectiva, o patrimônio cultural presente em toda parte – dos vestígios pré-coloniais até as manifestações populares de hoje em dia – passa a ser entendido não simplesmente como mercadoria de consumo para o turista, mas como fonte de reflexão sobre sua própria posição no mundo e sobre os rumos da nossa sociedade contemporânea. A cultura, como componente central de estímulo aos deslocamentos, torna-se importante instrumento de formação de uma cidadania crítica e de conscientização social (FUNARI e PINSKY, 2003).

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O gerenciamento do patrimônio arqueológico, considerando, inclusive, as diferentes formas de seu aproveitamento, é normatizado por uma legislação concorrente e supletiva que compete à União e aos estados, cabendo aos municípios legislar localmente, em caráter suplementar11. A inclusão do patrimônio arqueológico entre as potencialidades turísticas de um município deverá ser precedida de legislação específica que discrimine também as garantias quanto à sua proteção e preservação. Isso porque a herança arqueológica indígena, bem como a africana, a europeia e suas mesclas, interessa ao povo brasileiro como Nação, superando os interesses locais circunscritos nos limites de um único município. A mesma preocupação devem ter os proponentes de circuitos turísticos regionais: atender à legislação da União, dos estados e dos municípios, para utilizar adequadamente um patrimônio que é da Nação e não pode ser submetido apenas às demandas econômicas, muito menos quando voltadas para atender a interesses privados. O espaço público é a arena onde a memória e a história se constroem, onde ocorrem seus movimentos de produção, manutenção, esquecimento, apagamento, enfim, de transformação.

No caso brasileiro em especial, é preciso reconhecer a herança indígena plasmada nos caminhos que construíram a paisagem e a identidade nacional. E, finalmente, cabe também ao Estado que os envolveu e que usou do seu conhecimento para se estruturar geográfica e socialmente, assumir a responsabilidade de oferecer às populações indígenas contemporâneas oportunidades de usufruir do legado que seus ancestrais deixaram. Sobretudo porque as populações indígenas têm sistematicamente rememorado e se apropriado dos espaços de memória, realizando tradicionalmente seus ritos e práticas culturais em lugares que evocam essa lembrança ancestral, como alguns sítios no entorno “Estrada Real”, vivificando seu patrimônio.

Na contemporaneidade diversas nações americanas, incluindo o Brasil, partindo justamente da evolução da pesquisa historiográfica e das demais ciências sociais e humanas, reconheceram a necessidade de ressarcimento aos grupos culturais (e seus descendentes) que sofreram todas as formas de violência nos processos de “ajuste” levados a cabo pela imposição do modelo de organização estatal ocidental.

Esses processos de “emergência social e política dos grupos tradicionalmente submetidos a relações de dominação” (HILL, 1996, apud. BARTOLOME, 2006, p. 39) são conhecidos, no jargão antropológico, como “etnogêneses contemporâneas”12.

A reafirmação da identidade étnica e o reconhecimento do papel histórico desempenhado pelos indígenas na construção da paisagem geossocial do país deve tornar-se uma arma política pela conquista dos seus direitos.

11 A legislação brasileira referente ao patrimônio cultural, incluindo o arqueológico, pode ser acessada em: http://www.iphan.gov.br. Textos críticos referentes a essa legislação: BAETA, Alenice. “Patrimônio arqueológico e licenciamento ambiental em Minas Gerais”. In: OLIVEIRA, Ana Paula de Paula Loures de (Org.). Arqueologia e Patrimônio de Minas Gerais. Juiz de Fora: Editar, 2007, p. 145-151. MORAIS, José Luiz de. “A arqueologia e o turismo”. In: FUNARI, Pedro Paulo e PINSKY, Jaime (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: Contexto, 2003. 3ª Ed.12 “Tem-se chamado de etnogênese o desenvolvimento de novas configurações sociais, de base étnica, que incluem diversos grupos participantes de uma mesma tradição cultural. Também já se qualificou de etnogênese o ressurgimento de grupos étnicos considerados extintos, totalmente ‘miscigenados’ ou ‘definitivamente aculturados’ e que, de repente, reaparecem no cenário social, demandando seu reconhecimento e lutando pela obtenção de direitos ou recursos” (BARTOLOME, 2006, pp. 39-40).

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Considerações finais

Desde o final da década de 1970, a concepção de patrimônio foi sendo paulatinamente substituída por uma noção mais ampla, consagrada na Constituição Federal de 1988. Nesse contexto, o conceito de “lugar de memória” torna-se imprescindível, na medida em que viabiliza o entendimento do caráter vivo, histórico, do patrimônio, que abarca as dimensões tangíveis e intangíveis. Esses “lugares” têm sido apropriados contemporaneamente pela indústria turística, mais especificamente pela sua vertente cultural, tal como ocorre com o patrimônio arqueológico localizado no entorno da “Estrada Real”.

Tendo em vista que a “Estrada Real” participou como palco de sucessivas ocupações humanas desde, no mínimo, 8000 AP, e embasados nos decretos e leis das políticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil, faz-se necessário, urgentemente, que o poder público, nos âmbitos municipal, estadual e federal, potencialize ações que possam subsidiar o desenvolvimento de políticas de reparo em benefício das populações indígenas (a critério das comunidades) pela herança de bens materiais e imateriais, tendo em vista a vasta contribuição histórico-cultural dessas populações, bem como o intenso “uso” turístico contemporâneo da “Estrada Real”.

Este artigo é justamente um subsidio para que as populações indígenas remanescentes de Minas Gerais, no exercício de seu amplo direito, acionem os mecanismos jurídicos atuais, para legitimar e assegurar que a “Estrada Real” seja reconhecida como um patrimônio material e imaterial também dos povos indígenas.

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ANEXOS

À esquerda: vista geral do paredão e da base do sítio arqueológico Toca do Índio, Andrelândia. À direita: as “letras” na Gruta de São Tomé – Sítio arqueológico encontrado na praça central de São Thomé das Letras.

Fotos: C. Lima.

Serra do Lenheiro (São João del-Rei) e os desenhos de cervídeos (à esquerda). À direita: grafismos antropomórficos e bastonetes. Fotos: C. Lima.

Sítio Pedra Pintada (Barão de Cocais): predomínio de zoomorfos, sobreposições, policromia, “pontilhismo” e figuras que remetem à T. Agreste (na última foto). Fotos: C. Lima.

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Imagens do Grande Abrigo, Santana do Riacho. Fotos: C. Lima.

Imagens dos grafismos do sítio Mendes I, Diamantina. Fotos: C. Lima.