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Tablets no ensino podem ser revolução ou ilisão
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Tablets no ensino podem ser revolução ou ilusão
08 de novembro de 2011, 21:53
Governo pretende utilizar tablets no ensino público: com acesso à
web, aplicativos e capacitação de professores, pode ser uma
revolução educacional.
Por Romain Mallard
Recentemente, o Governo revelou os seus planos para equipar os estudantes brasileiros com tablets. Citaram
o projeto de aquisição de centenas de milhares de dispositivos para reforçar o sistema de ensino público,
projetando investimentos significativos em infraestrutura.
Embora o anúncio deixe todo mundo animado com as perspectivas, ainda é necessário debater os desafios
que surgem com a inserção de uma tecnologia tão avançada nas instituições de ensino.
Além da necessidade de entender as reais oportunidades oferecidas, o impacto efetivo deste dispositivo na
qualidade da educação vai depender dos aplicativos que serão desenvolvidos e da capacidade do sistema
educacional brasileiro em absorver, de maneira sustentável, tamanha inovação.
A oportunidade de usar as tablets em escala como dispositivos educacionais é recente, pois, se apoia em um
tripé de evoluções que, aos poucos, se tornaram viáveis financeiramente.
Usabilidade
O primeiro elemento é a usabilidade. A partir de 2010, foram concebidos sistemas operacionais específicos
que, junto com as melhorias do hardware, tornaram esses dispositivos surpreendentemente fáceis de usar.
Virou tão simples e intuitivo, que até uma criança de três anos consegue ligar e acessar um programa sem a
mínima orientação.
Acesso à web
O segundo ponto que faz a diferença é a hiperconectividade das tablets, que são realmente aproveitadas
quando conectadas à internet. Oferecer tablets sem se preocupar com o acesso à web seria como distribuir o
papel sem a caneta.
Aplicativos
O último ponto e, provavelmente, o mais efetivo no contexto educacional, é a riqueza de aplicativos
específicos ao qual eles dão acesso, pois, são estes pequenos programas que definem o real potencial dos
dispositivos.
As tablets constituem uma pequena revolução na relação do homem com o computador, trazendo
mobilidade, conectividade e versatilidade a usuários que, muitas vezes, nem estavam inseridos no mundo
digital. Pesquisar na internet, participar de redes sociais, instalar um novo programa, ou assistir a um filme,
se resume a tocar duas vezes na tela. Tanta facilidade deixa qualquer um desconcertado.
A grande questão para a generalização das tablets nas escolas está nas modalidades de uso, que dependerá
tanto dos dispositivos quanto dos aplicativos e conteúdos aos quais elas darão acesso. O desafio das editoras
e dos provedores de tecnologias educacionais está na concepção de programas que promovem a interação do
aluno com o dispositivo, com outros alunos, com os professores etc.
O que melhora o aprendizado
O consumo de informação não é suficiente para a aprendizagem e os mecanismos de produção serão
determinantes para definir o que os estudantes aprenderão com eles. Todas as pesquisas recentes apontam: o
que realmente melhora o aprendizado não é a tecnologia em si, mas as possibilidades que ela oferece para
que o aluno aprenda a construir os seus conhecimentos.
Este ponto é crucial, pois, estamos em uma área de abundância de informação e a capacidade de selecionar,
sintetizar, compilar e produzir é bem mais relevante que a capacidade de buscar, que está em crescente
automatização.
Finalmente, o ponto crucial a ser debatido é como o sistema educacional pode garantir uma melhoria
qualitativa da aprendizagem dos alunos com uma tablet. A escola segue programas e tem um ambiente
relativamente controlado, baseado na interação entre professores, corpo administrativo e alunos.
Fornecer acesso à internet aos alunos abre um universo de possibilidades que tem que ser canalizado, pois,
sem planejamento seria como deixar as crianças na frente de uma mesa cheia de brigadeiros e refrigerantes e
acreditar que elas terão uma alimentação saudável.
Capacitação de professores
Mais uma vez, a capacitação dos professores no uso dessas tecnologias é a pedra angular de todo
dispositivo. Eles devem, antes de tudo, descobrir como usar os aplicativos e inseri-los nas rotinas dos alunos
de maneira pertinente. Quando estes chegarem à idade adulta, com certeza, lembrarão mais do cuidado, da
atenção e do empenho que os professores tiveram em ensiná-los do que dos detalhes de um dispositivo que,
até lá, estará ultrapassado.
Concluindo, não podemos esquecer que o propósito da educação é desenvolver os talentos individuais e a
capacidade de colaboração dos estudantes, criando condições para uma sociedade mais justa, equilibrada e
sustentável.
O Brasil está ocupando uma posição de destaque promissora em um cenário mundial turbulento e os
governos, assim como as instituições de ensino e as próprias empresas têm a enorme responsabilidade de
criar e disseminar conhecimentos diferenciados para a população.
Neste cenário, as oportunidades oferecidas pela tecnologia devem ser aproveitadas. No entanto, vale lembrar
que a tecnologia precisa se manter a serviço de propósitos maiores, que farão com que os alunos respondam
aos desafios futuros, inspirados pela diversidade da cultura brasileira.
Afinal, como ressaltou William Gibson, autor de ficção científica: “O futuro já está aqui, ele só não está bem
disseminado ainda.” [Webinsider]
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Sobre o autor
Romain Mallard ([email protected]) é diretor de tecnologia da Digital SK. Engenheiro mecânico,
especialista em gestão da inovação, mestre em informática aplicada e sistemas de informação.