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Taipas

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documento sobre a vila das taipas

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Page 1: Taipas

No seu período áureo as Taipas foram o destino comum de diversas

personalidades de relevo do Portugal de então. Nos jornais da época

encontramos diversos nomes ligados às mais diversas áreas da vida pública

portuguesa de então que frequentavam as Taipas e que usufruíam dos seus

banhos.

As propriedades das suas águas termais atraíram às Taipas inúmeras pessoas

do pais e do estrangeiro que ali procuravam a cura para os seus males.

Passando por vezes longas temporadas nas Taipas, os banhistas desde cedo

procuraram uma forma de ocuparem os seus tempos livres. Com os

melhoramentos realizados no estabelecimento termal a partir da segunda

metade do século XIX, as Taipas conheceram a sua época dourada. Neste

período, a afluência de banhistas aumentou e o tipo de oferta para os

veraneantes diversificou-se e ganhou em quantidade e em qualidade. Com a

perda de qualidade do estabelecimento termal o número de banhistas que

procuravam aliar a cura para os seus males a algum conforto e qualidade terá

diminuído gradualmente. O mesmo aconteceu com a oferta hoteleira da vila e,

supomos, terá acontecido com outros estabelecimentos. Ao longo da segunda

metade do século XX, os tempos áureos das Taipas enquanto estância termal

iam desaparecendo da memória daqueles que os tinham conhecido. Na

imprensa local pode ler-se um ou outro lamento sobre esta matéria. Tudo

parecia mudado...

No final do século XX, o brilho dos bailes, convívios, torneios e festividades que

outrora tinham animado a estância termal das Taipas já não era mais do que

uma doce lembrança.

A título meramente exemplificativo deixamos alguns nomes encontrados em diversos números

dos jornais consultados para a elaboração deste trabalho: Camilo Castelo Branco, Ferreira de

Castro, Ramalho Ortigão, Francisco Ribeiro Martins da Costa (Francisco Agra),  Conde de Vila

Pouca (com casa nas Taipas), General La Cueva (com propriedades nas Taipas), Condes de

Margaride, Baronesa de Almargem, António Bernardo Ferreira (filho de Maria Antónia Ferreira,

“A Ferreirinha”), Visconde da Trindade, Barão do Valado, Vasco Leão (Deputado), António

Alves Carneiro (Deputado), Gaspar Teixeira de Magalhães e Lacerda (Deputado), Francisco

Martins Sarmento, Silva Caldas (Professor e Bibliófilo), entre muitos outros.

Publicada por Francisco Brito à(s) 08:11 Sem comentários: Enviar a mensagem por e-mailDê a sua opinião!Partilhar no TwitterPartilhar no FacebookPartilhar no PinterestEtiquetas: Caldas das Taipas

Page 2: Taipas

terça-feira, 28 de agosto de 2012Taipas (parte IV) - estância termal de escritores e artistas

Camilo Castelo Branco

Um dos primeiros escritores, se assim lhe podemos chamar, a fazer referência

às Taipas foi Frei Cristóvão dos Reis que em 1779 faria a apologia das águas

termais das Caldas das Taipas. Outros se seguiram, fazendo o elogio às águas

termais ou descrevendo em breves palavras a localidade, como foi o caso de

William Graham durante a Guerra Peninsular (o texto foi publicado em 1820).

Mas se falarmos de escritores que realmente frequentaram as Taipas enquanto

banhistas a primazia recairá em Camilo Castelo Branco. Num episodio bem

conhecido, narrado nas suas “Memórias do Cárcere”, Camilo conta como

esteve fugido à justiça nas Taipas, onde, apesar de ser procurado pelas

autoridades, não se coibiu de frequentar a Assembleia  local. Nessa altura

alojou-se numa casa perto do Hotel Villas (já no século XX Ferreira de Castro

sugeriu a colocação de uma placa alusiva à estadia de Camilo Castelo Branco

nas Taipas, tal ideia nunca chegou a concretizar-se e, anos mais tarde, a casa

terá sido demolida ou descaracterizada). Pouco tempo depois Camilo voltaria

às Taipas, embora estivesse alojado na Casa da Ponte em Briteiros (a convite

de Francisco Martins Sarmento). Mais tarde, e já sem problemas com a justiça,

regressaria de novo às Taipas, como testemunham algumas cartas escritas

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nas décadas de setenta e oitenta do século XIX. Também nos seus romances

Camilo usou as Taipas e as suas vizinhanças como elementos da narrativa.

Com referências ao lugar das Gaias em São Martinho de Sande, às “saudosas

carvalheiras de Santo António das Taipas” ou falando apenas das pescarias

que ali fazia nas margens do Ave, Camilo Castelo Branco mostrou ser um

grande conhecedor das Taipas, terra que frequentava regularmente e onde fez

bons amigos. Camilo fez referência às Taipas em muitos dos seus livros como

por exemplo, “Memórias do Cárcere”, “Novelas do Minho”, “Doze Casamentos

Felizes”, “Amor de Salvação”, “Duas Horas de Leitura”, entre outros.

Ainda no século XIX, as Taipas são visitadas por Ramalho Ortigão, outro nome

maior da literatura portuguesa. No seu trabalho “Banhos de Caldas e águas

minerais” o escritor descreve a paisagem, o cenário rural envolvente, as

propriedades das águas e, tal como Camilo, realça a beleza das “largas copas

de magníficos carvalhos” que pontificam no centro da povoação. Este escritor

classificaria as Taipas como uma das melhores estâncias termais do país.

Também no século XIX (entre 1885 e 1886) as Taipas conheceriam a visita de

José Augusto Vieira, autor da obra “Minho Pittoresco”. Neste livro podemos

encontrar uma descrição das Taipas e dos seus banhos onde, mais uma vez, é

destacada a beleza da paisagem envolvente e a tranquilidade que a localidade

oferecia. É também no “Minho Pittoresco” que podemos encontrar algumas das

primeiras imagens captadas das Taipas e ali reproduzidas como gravuras.

No século XX a grande figura do universo literário que marcaria as Taipas de

então foi, sem margem para dúvidas, Ferreira de Castro. O autor de “A Selva”

era uma visita habitual do Hotel das Termas das Taipas, onde passava grandes

temporadas. Simpatizava com as Taipas onde, segundo palavras do próprio “o

Ave de dia e a lua de noite falam muito comigo”. Interessou-se pela vida local

tendo indagado sobre a estadia de Camilo nas Taipas e, como já anteriormente

foi referido, sugeriu que na casa onde Camilo esteve refugiado fosse colocada

a seguinte inscrição: “Nesta casa viveu escondido por uma questão de amor o

grande romancista Camilo Castelo Branco”. Homem afável e humilde granjeou

a simpatia dos taipenses que em sua homenagem encomendaram ao escultor

António Duarte um busto do escritor que foi colocado onde hoje se encontra em

1971. Ferreira de Castro esteve presente na homenagem mas o seu feitio

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humilde fez com que deixasse de frequentar as termas das Taipas após a

colocação do seu busto numa das principais artérias daquela vila.

Muitos outros escritores e artistas devem ter frequentado as termas das Taipas

nos finais do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, altura em que

as termas taipenses conheceram o seu apogeu. A afirmação não é gratuita.

Para esta investigação foi encontrada em correspondência particular um

exemplo de relevo, mas, uma análise mais profunda de correspondência e de

espólios particulares traria certamente mais novidades. Através de três 

bilhetes postais enviados das Caldas das Taipas ficamos a saber que o grande

pintor Amadeu de Sousa Cardoso  esteve nas Taipas pouco antes do seu

prematuro falecimento. Sousa Cardoso esteve nas Taipas entre Julho e Agosto

de 1918, possivelmente já afectado pela “gripe espanhola” que nesse ano

matou milhares de portugueses. Nos postais, dirigidos a sua mulher Lucie

Panchette de Sousa Cardoso, afirmava estar a fazer dois tratamentos por dia

nas termas. Falava também na vontade de ir para Espinho, onde se encontrava

a sua família. Não sabemos por quanto tempo permaneceu Amadeu de Sousa

Cardoso nas Taipas. Sabemos apenas que, de facto, poucos meses após ter

estado nas Taipas foi para Espinho, onde viria a falecer no dia 18 de Outubro

do mesmo ano (1918) com apenas 31 anos.

A inegável qualidade das águas termais taipenses, bem como a paisagem que

envolvia o complexo termal, fez das Taipas um destino de eleição para quem

procurava tratatamento ou descanso. Foi assim entre a segunda metade do

século XIX e as primeiras décadas do século XX.