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TANGRAM: DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO … · 2014-04-22 · Haja vista a importância que tem a manipulação, a visualização e a composição e decomposição das formas na construção

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TANGRAM: DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO GEOMÉTRICO

PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Edna Hideko Arita Okada1

Nelma Sgarbosa Roman de Araújo2

RESUMO

Este artigo visa socializar um relato de experiência, as reflexões e os resultados obtidos pelo Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, implementado no Colégio Estadual Reynaldo Massi, com alunos de determinado 7º ano do Ensino Fundamental, em período oposto ao de estudo, no ano de 2011. O objetivo geral do projeto foi possibilitar o desenvolvimento do pensamento geométrico e a construção do conhecimento matemático, relevantes na resolução de problemas por meio de material manipulável. A experiência em sala de aula revela a defasagem de muitos alunos em relação ao conteúdo geometrias. Haja vista a importância que tem a manipulação, a visualização e a composição e decomposição das formas na construção do pensamento geométrico, o Projeto envolveu o trabalho com o quebra- cabeças Tangram, por meio do qual foram abordados os conceitos de área e de polígonos. Também foram propostas situações-problema com o intuito de possibilitar o desenvolvimento do pensamento geométrico, proporcionando maior significado às atividades trabalhadas com o Tangram. Os resultados obtidos foram positivos, de maneira que é possível afirmar que esse quebra-cabeças é um material de apoio eficaz, haja vista a atração que exerce sobre os alunos, a diversidade de atividades que puderam desenvolver, utilizando-o, e a constatada aprendizagem pela maioria dos alunos. Dessa forma, considera-se que, quando um material é utilizado de forma consciente, com conhecimento e planejamento, ele possibilita a construção do conhecimento pelo aluno.

Palavras-chave: geometria plana; tangram; resolução de problemas.

1 INTRODUÇÃO

A geometria é um conteúdo essencial para promover o desenvolvimento do

pensamento lógico, da percepção espacial e da capacidade de abstração e de

generalização, entre outras importantes habilidades. No entanto, ao desenvolver o

1 Graduada em Ciências do 1º Grau, com Habilitação em Matemática, e Especialista em Administração e

Supervisão em Educação pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. Professora de

Matemática do Colégio Estadual Reynaldo Massi, em Diamante do Norte-Pr.

2 Doutoranda em Educação para a Ciência e a Matemática pela Universidade Estadual de Maringá. Professora

do Colegiado de Matemática da Universidade Estadual do Paraná – Unespar, Campus de Paranavaí/Fafipa.

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conteúdo geometria espacial no Ensino Médio, etapa em que se deveria aprofundar

o conhecimento que os alunos trazem sobre as geometrias, desde o Ensino

Fundamental, verifica-se que os alunos, na sua maioria, não têm o conhecimento

das noções básicas desse conteúdo matemático. Por esse motivo, justifica-se a

relevância do projeto, implementado com alguns alunos de determinado 7º ano do

Ensino Fundamental do Colégio Estadual Reynaldo Massi - EFMP- do Município de

Diamante do Norte-PR, que teve como tema de estudo o desenvolvimento do

pensamento geométrico com a utilização do Tangram e de uma das tendências em

Educação Matemática, proposta pelas Diretrizes Curriculares de Matemática do

Estado do Paraná (DCE), a Resolução de Problemas.

Algumas das questões que impulsionaram este estudo foram: O ensino da

geometria, que faz parte dos conteúdos do currículo de matemática na escola, deve

ficar restrito a cálculos, fórmulas e teoremas? Como possibilitamos o

desenvolvimento do pensamento geométrico pelos nossos alunos? A geometria é

relegada a segundo plano na escola, em detrimento do ensino da álgebra e da

aritmética?

As pesquisas bibliográficas realizadas (LORENZATO, 2009; KALEFF, 2005;

FAINGUELERNT, 1999; MURARI, 2005) e a experiência de magistério da primeira

autora apontavam a necessidade da utilização de um material manipulável no

desenvolvimento do conteúdo Geometrias. O Tangram, um quebra-cabeça chinês

cujas peças têm a forma de polígonos, é famoso no mundo todo, mas na escola

onde o projeto foi implementado não havia sido utilizado como material didático por

nenhum professor. Como passatempo, ele exerce uma verdadeira atração sobre

jovens e crianças. Na semana cultural, o Tangram faz o maior sucesso nessa

escola.

Pensando na possibilidade de amenizar algumas das problemáticas

existentes no ensino e aprendizagem de geometria plana dos alunos participantes,

este estudo foi realizado com a intenção de possibilitar o desenvolvimento do

pensamento geométrico e a construção do conhecimento matemático, relevantes na

resolução de problemas, por meio do material manipulável Tangram. Mais

especificamente, pretendeu-se atingir os seguintes objetivos: possibilitar o

desenvolvimento do pensamento geométrico, para que este seja utilizado na

resolução de situações-problema, na escola e no cotidiano do aluno; tornar possível

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a motivação do aluno para a aprendizagem, utilizando-se o lado lúdico do recurso

didático-pedagógico adotado, o Tangram; oportunizar ao aluno a aprendizagem dos

conceitos geométricos por meio da visualização, da manipulação, da construção e

da reflexão sobre o material manipulável; trabalhar, junto com o aluno, atividades

significativas que, para sua resolução, necessitem do pensamento geométrico;

revisar alguns conteúdos trabalhados em séries anteriores, como: área, perímetro e

figuras geométricas planas.

Outro intuito deste trabalho foi o de confeccionar e apresentar um material

didático que pudesse ser utilizado de imediato pelos professores da educação

básica. Após muitas pesquisas das autoras, foi produzida a unidade didática,

utilizada como material de apoio na implementação do projeto. Nesse material estão

contidos textos de fundamentação teórico-metodológica e, de forma detalhada,

todos os procedimentos utilizados, as tarefas propostas aos alunos e algumas

recomendações ao professor.

A utilização da tendência metodológica da Resolução de Problemas

proporcionou significado para essas atividades. As situações-problema selecionadas

para a implementação desse projeto exigiram o conhecimento geométrico e o

raciocínio lógico.

O trabalho com o Tangram mostrou que este é um ótimo material de apoio

didático-pedagógico. Os alunos apreciaram a realização das tarefas com esse

material e a maioria conseguiu aprender os conteúdos trabalhados. Ficou

comprovado que a resolução de problemas é uma metodologia expressiva para

ensinar e aprender matemática e, consequentemente, a construção do

conhecimento se dá de forma mais significativa.

Considera-se importante destacar também que, durante o segundo ano do

PDE, a primeira autora teve a oportunidade de apresentar o Projeto e a Produção

Didático-Pedagógica a um grupo de professores de Matemática da Rede Estadual

de Ensino, durante o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) on line, realizado no 2º

semestre de 2011. O Grupo de Trabalho em Rede – GTR – constitui uma atividade

do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE –, que tem como objetivo a

interação virtual entre os professores da Rede Pública Estadual, possibilitando

novas alternativas de formação continuada para estes.

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O GTR é formado por Fóruns e Diários. Nos Fóruns, os participantes

contribuem com respostas às perguntas propostas pelo professor PDE e se

interagem com outros cursistas. Nos Diários, eles respondem à questão sugerida

pelo professor PDE.

Com essas ações e ainda outras que foram oportunas no decorrer do

Programa, acreditou-se otimizar os processos de ensinar e aprender matemática,

colaborando com o sucesso pessoal de alguns alunos de determinado 7º Ano do

Ensino Fundamental assim como de outros professores, por meio das reflexões e da

diversidade de situações didáticas apresentadas.

2 REFERENCIAL

2.1 Educação Matemática

Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais de Matemática, discussões

sobre a Educação Matemática tiveram origem no final do século XIX e início do

século XX. No Brasil, porém, as produções nessa área começaram a partir da

década de 1970 (PARANÁ, 2008, p.47).

Fiorentini e Lorenzato (2001), mencionados nas DCE de Matemática,

afirmam que o objeto de estudo da Educação Matemática ainda está em construção,

mas está centralizado na prática pedagógica e envolve as relações entre o ensino, a

aprendizagem e o conhecimento matemático (PARANÁ, 2008, p.47).

Pesquisando e analisando sobre a realidade da educação no ensino da

Matemática, Fainguelernt (1999, p.82) constata:

Resultados de pesquisas nacionais e internacionais em Educação Matemática revelam que, de um modo geral, a maneira pela qual a Matemática vem sendo ensinada é automatizada e descontextualizada. A criança executa atividades rotineiras, onde é quase que totalmente desvalorizado o desenvolvimento do seu raciocínio e da sua intuição matemática, bem como o desenvolvimento do seu pensamento espacial.

Para se compreender melhor como se chegou a essa realidade, destacar-

se-ão apenas alguns fatos citados nos Parâmetros Curriculares Nacionais de

Matemática.

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Os movimentos de reorientação curricular ocorridos no Brasil desde a

década de 1920, não tiveram força suficiente para melhorar a qualidade da prática

docente, marcada pela excessiva “preocupação com o treino de habilidades e

mecanização de processos sem compreensão” (BRASIL, 1998, p.19).

Em 1980, o National Council of Teachers of Mathematics – NCTM –, dos

Estados Unidos, apresentou recomendações para o ensino de Matemática no

documento “Agenda para Ação” (1983), no qual a Resolução de Problemas seria o

foco do ensino da Matemática nos anos 1980. A percepção da relevância dos

aspectos sociais, antropológicos, linguísticos, além dos cognitivos, na aprendizagem

da Matemática, também influenciou o rumo das discussões curriculares (BRASIL,

1998, p. 20).

Essas ideias influenciaram as reformas que aconteceram em todo o mundo.

As propostas curriculares dos diversos países no período de 1980/1995 tinham

pontos em comum, como:

– direcionamento do ensino fundamental para a aquisição de

competências básicas necessárias ao cidadão e não apenas

voltadas para estudos posteriores;

– importância do desempenho de um papel ativo do aluno na

construção do seu conhecimento;

– ênfase na resolução de problemas, na exploração da Matemática a

partir dos problemas vividos no cotidiano e encontrados nas várias

disciplinas;

– importância de trabalhar com amplo espectro de conteúdos,

incluindo já no ensino fundamental, por exemplo, elementos de

estatística, probabilidade e combinatória para atender à demanda

social que indica a necessidade de abordar esses assuntos;

– necessidade de levar os alunos a compreender a importância do

uso da tecnologia e a acompanhar sua permanente renovação

(BRASIL, 1998, p.20).

Pode-se observar que a necessidade de mudanças no ensino da

Matemática já foi constatada nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática,

desde 1998:

Discussões no âmbito da Educação Matemática que acontecem no Brasil e em outros países apontam a necessidade de adequar o trabalho escolar a uma nova realidade, marcada pela crescente

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presença da matemática em diversos campos da atividade humana (BRASIL, 1998, p.19).

“A falta de formação profissional qualificada, as restrições ligadas às

condições de trabalho, a ausência de políticas educacionais efetivas e as

interpretações equivocadas de concepções pedagógicas” são alguns fatores que

influenciam a ensino da Matemática no Brasil (BRASIL, 1998, p.21).

Nesse sentido, nas Diretrizes Curriculares Estaduais de Matemática

(PARANÁ, 2008, p.47), o pensamento de Fiorentini e Lorenzato (2001) é de que “a

Educação Matemática é uma área que engloba inúmeros saberes, em que apenas o

conhecimento da matemática e a experiência de magistério não são considerados

suficientes para atuação profissional”. Ainda nas DCES (2008, p.47), Carvalho

(1991) complementa esse pensamento, mostrando que a Educação Matemática

“envolve o estudo dos fatores que influem, direta ou indiretamente, sobre os

processos de ensino e aprendizagem em Matemática”.

A proposta das DCE de Matemática é que:

Pela Educação Matemática, almeja-se um ensino que possibilite aos estudantes análises, discussões, conjecturas, apropriação de conceitos e formulação de ideias. Aprende-se Matemática não somente por sua beleza ou pela consistência de suas teorias, mas, para que, a partir dela, o homem amplie seu conhecimento e, por conseguinte, contribua para o desenvolvimento da sociedade (PARANÁ, 2008, p.48).

Nesse contexto, Onuchic (1999, p.215) ressalta que “a atividade matemática

escolar não se resume a olhar para coisas prontas e definitivas, mas para a

construção e apropriação, pelo aluno, de um conhecimento do qual se servirá para

compreender e transformar a realidade”.

No entanto, o que se almeja do professor é que ele seja um importante

mediador entre o aluno e o objeto do conhecimento e que proporcione ao aluno um

ensino que favoreça o uso do raciocínio lógico, da criatividade, da dedução, e que

faça relação com o cotidiano e vise ativar a parte cognitiva para que haja

compreensão e não, simplesmente, uma repetição mecânica e sem significado.

Será que a realidade descrita na década de 1990 é diferente da atual?

Apesar das mudanças curriculares, a realidade, antes descrita da sala de aula, ainda

persiste. A solução para isso é muito complicada e envolve muitos aspectos além da

formação do professor.

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Focalizando-se o ensino da geometria, observa-se na vivência escolar e lê-

se na pesquisa de Pavanello (1989) que essa modalidade da Matemática vem sendo

relegada a segundo plano nas escolas. Quando ensinada, é desvinculada da

realidade do aluno e baseada na repetição e memorização de fórmulas, conceitos e

definições.

Segundo Lorenzato (1995) apud Fainguelernt (1999, p.14), “no Brasil a

Geometria está praticamente ausente de sala de aula”. Dentre as principais causas,

relacionadas com as práticas pedagógicas, o autor destaca que “durante muito

tempo, o ensino da Geometria não se renovou e com isso perdeu o vigor”. Os alunos

são simples “copiadores”, agindo de forma passiva. Outra causa citada por ele é que

“a maioria dos professores não teve acesso aos conhecimentos de Geometria

necessários para a realização de sua prática pedagógica”. O autor ainda cita como

terceira causa, a estafante jornada de trabalho do professor e a falha na formação

deste que fazem com que ele dê “uma importância excessiva ao livro didático como

determinador dos conteúdos que devem ser desenvolvidos em sala de aula”. Livros

que, geralmente, não possibilitam a exploração, a construção dos conceitos e a

dedução.

É primordial que se reverta essa realidade. Estudos são realizados pelos

pesquisadores da Educação Matemática, entre eles, alunos e professores dos

programas de Pós-graduação em Educação Matemática das faculdades e

universidades que buscam elaborar materiais e projetos que ajudem a melhorar

esse quadro.

2.2 Pensamento geométrico

A importância do ensino de Geometria está no fato de esta proporcionar, ao

aluno, o desenvolvimento do pensamento geométrico. Esse pensamento envolve as

habilidades de percepção espacial e de pensamento lógico, a capacidade de

abstração e de generalização, tão importantes para a construção do conhecimento

do aluno e para resolver situações-problema do cotidiano deste e os propostos na

escola.

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Pela importância atribuída ao ensino de Geometria, alguns educadores

matemáticos, como Murari e Fainguelernt, estudam e se preocupam com a prática

pedagógica dos professores em sala de aula.

A preocupação com a prática pedagógica no ensino de Geometria na escola

não é recente e tem por fundamento a importância dessa parte da Matemática para

o desenvolvimento do pensamento matemático. Murari (2005, p.198) afirma que a

Geometria “é um ramo da Matemática que possui um campo muito fecundo e a

maneira como for estudada irá refletir no desenvolvimento intelectual, no raciocínio

lógico e na capacidade de abstração e generalização do aluno”.

Fainguelernt (1999, p.15) ressalta que a “Geometria é considerada como

uma ferramenta para compreender, descrever e interagir com o espaço em que

vivemos; é, talvez, a parte da Matemática mais intuitiva, concreta e real”.

Na interpretação de Lorenzato (2009, p.3), a Geometria:

[...] é um grande facilitador dos processos mentais, porque prestigia o processo de construção do conhecimento, valoriza o descobrir, o analisar e o experimentar; além do que elucida situações abstratas e comunica a idéia matemática com maior simplicidade [...].

Hoje, sabe-se que, para resolver problemas geométricos, é necessário mais

do que cálculos aritméticos e algébricos; o pensamento geométrico é imprescindível

nesse caso. Nesse contexto, Fainguelernt (1999, p.49), citando Vergnaud (1993),

Hershkwitz (1994) e Fischibein (1994), salienta que

[...] o renascimento e a reformulação do ensino de Geometria não é apenas uma questão didático-pedagógica, é também epistemológica e social. A Geometria exige do aprendiz uma maneira específica de raciocinar, uma maneira de explorar e descobrir. Não é suficiente conhecer bem Aritmética, Álgebra ou Análise para conseguir resolver situações-problema em Geometria.

O desenvolvimento da aprendizagem na Geometria e a construção do

conhecimento envolvem processos cognitivos complexos. Para Duval (1995) apud

Fainguelernt (1999, p.54), são três os tipos de processos cognitivos que estão

intimamente conectados:

processo de visualização com respeito à representação espacial;

processo de construção através de ferramentas (régua, compasso, esquadro e transferidor);

processo de raciocínio, o que é básico para ser demonstrado e comprovado (teoremas, axiomas e definições).

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Para que ensino da Geometria não se reduza a aplicações de fórmulas e

resultados de alguns teoremas, ressalta-se a importância de possibilitar ao aluno o

trabalho com experimentos e dedução dessas fórmulas e teoremas. O

desenvolvimento do pensamento geométrico se dá por meio da manipulação,

visualização, das construções geométricas e do uso da intuição (FAINGUELERNT,

1999, adaptado).

Nesse contexto, Fainguelernt (1985) apud Fainguelernt (1999, p.59) conclui

que:

é fundamental, na construção de um conceito, partir da percepção e da intuição de dados concretos e experimentais, explorar as representações e as aplicações e desenvolver o raciocínio lógico, para só então, chegar aos processos de abstração e de generalização.

No processo de aprendizagem do aluno, o papel do professor é decisivo.

Quanto a essa relevância e influência do professor no processo de ensino e

aprendizagem da Geometria, Lorenzato (2009, p.4) lembra que “não é suficiente um

material didático adequado, é preciso ter o domínio dos conteúdos geométricos que

pretende ensinar e assumir a postura de orientador nesse processo”.

Diante do exposto, a mudança que se espera no ensino da Geometria

depende muito da formação, da atuação e da sensibilização do professor. Este

precisa conhecer bem a Geometria para ter segurança e domínio desta, ter práticas

pedagógicas adequadas e se conscientizar da importância dessa área da

Matemática para a formação do aluno.

2.3 Histórico da Geometria

Apresentar-se-á um breve histórico sobre a Geometria, resumido da obra

“História da Geometria”, de Howard Eves (1992).

A Geometria, como ciência, tem sua origem no Egito antigo, no vale do rio

Nilo, ligado à agrimensura prática. De fato, a palavra “geometria” significa “medida

da terra”. Acredita-se que a Geometria surgiu das necessidades práticas das

atividades ligadas à agricultura e à engenharia. Há indícios históricos de que as

bacias de outros grandes rios, como o Tigre e o Eufrates na Mesopotâmia, o Indo e

o Ganges, na região centro-sul da Ásia, e o Hwang Ho e Yangtzé, na Ásia Oriental

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foram berços de formas avançadas de sociedade, onde a habilidade em engenharia

na drenagem de pântanos, irrigação, obras de defesa contra inundação e construção

de edifícios e estruturas, exigiam muita geometria prática. Os mais antigos registros

encontrados sobre Geometria datam do tempo dos sumérios, por volta do ano 3.000

a.C. e tábulas, provindas de períodos posteriores, mostram que os babilônios do

período 2.000 – 1.600 a.C. conheciam as regras gerais para o cálculo de área. O

teorema de Pitágoras já era conhecido, desde cerca de 2.000 a.C. Os papiros de

Moscou (1.850 a.C.) e Rhind (1.650 a.C.) são as principais fontes de informações a

respeito da geometria egípcia antiga. Esses papiros contêm textos matemáticos com

25 e 85 problemas, respectivamente. Desses, 26 são de Geometria. O mais antigo

instrumento de astronomia e agrimensura conhecido é procedente do Egito,

aproximadamente do ano 1.850 a.C. O mais antigo relógio de Sol é egípcio e data

de cerca de 1.500 a.C. A grande pirâmide de Giseh, foi construída em cerca de

2.900 a.C. e, essa construção envolveu geometria prática. As mudanças

econômicas e políticas diminuíram o poder do Egito e da Babilônia e os

desenvolvimentos posteriores da Geometria se devem aos gregos. Os gregos

transformaram a geometria empírica em demonstrativa. Até então as descobertas

eram feitas por indução, ensaio e erro. A Geometria era um conjunto de receitas

práticas e resultados de laboratórios. Informações a respeito da geometria primitiva

dos gregos datam de vários séculos depois de os originais terem sido escritos. A

geometria grega parece ter origem com o trabalho de Tales de Mileto na primeira

metade do século VI a.C. Ele é considerado o fundador da geometria demonstrativa

por ser o primeiro indivíduo conhecido a utilizar métodos dedutivos em Geometria.

Outro geômetra foi Pitágoras que deu continuidade à sistematização da geometria

iniciada por Tales, cerca de 50 anos antes. Possivelmente tenham estudado juntos.

Pitágoras fundou, ao Sul da Itália, a escola pitagórica, onde se estudavam Filosofia,

Matemática e Ciências Naturais. Durante cerca de 200 anos, os membros dessa

sociedade produziram grande quantidade de sólida Matemática. Na Geometria,

desenvolveram as propriedades das retas paralelas, contribuindo para a álgebra

geométrica grega e expandiram uma teoria das proporções que usaram para deduzir

propriedades de figuras semelhantes. Conheciam a existência de pelo menos três

dos poliedros regulares e descobriram a incomensurabilidade do lado e da diagonal

de um quadrado. Imagina-se que tenham aprimorado os conhecimentos dos

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babilônios. Por volta do ano 300 a.C., Euclides produziu sua obra memorável, os

Elementos, uma cadeia dedutiva única de 465 proposições, que compreende a

geometria plana e a espacial, teoria dos números e álgebra geométrica grega.

Euclides conseguiu organizar, em sua obra, o material desenvolvido por Pitágoras e

outros. Os Elementos de Euclides são o mais antigo exemplo do uso do modelo de

axiomática material. Além de os Elementos, Euclides escreveu vários outros tratados

em Geometria. Quase tudo o que se fez de significativo em Geometria tem sua

origem em algum trabalho dos três geômetras gregos mais importantes da

Antiguidade: Euclides (c.300 a.C.), Arquimedes (287–212 a.C.) e Apolônio (c.225

a.C.). Arquimedes escreveu tratados sobre a geometria plana e a geometria sólida.

Entre outros trabalhos, destaca-se que ele chegou ao método dos perímetros para

calcular e também antecipou alguns métodos do cálculo integral, fórmulas corretas

para as áreas da superfície esférica e volume da esfera. Apolônio, um astrônomo, é

famoso por sua obra Secções Cônicas. Foi ele que criou os termos “elipse”,

“parábola” e “hipérbole”. São conhecidos ainda outros seis trabalhos sobre

Geometria, de Apolônio. Houve outras contribuições na área da Geometria que não

se detalharão aqui. Com a elaboração da geometria analítica na primeira metade do

século XVII, o espaço passou a ser considerado uma coleção de pontos; e com a

invenção das geometrias não euclidianas clássicas, cerca de dois séculos depois, os

matemáticos aceitaram a situação de que há mais do que um espaço concebível e,

portanto, mais do que uma Geometria. No fim do século XIX, considerando um ramo

da Matemática um corpo abstrato de teoremas deduzidos de um conjunto de

postulados, cada Geometria tornou-se um ramo particular da Matemática. Há muitas

áreas da Matemática em que a Geometria simplifica tanto a compreensão quanto a

apresentação de determinado conceito ou desenvolvimento. Por isso muitos

matemáticos do século XX sentem que a melhor maneira de se descrever a

Geometria é como um ponto de vista – uma maneira particular de se observar o

assunto.

3 METODOLOGIA

Considerando que a Geometria é pouco trabalhada com o objetivo de

desenvolver o pensamento geométrico e que a Matemática é considerada, por

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grande parte dos alunos, difícil e abstrata, além de ser trabalhada de forma pronta e

acabada, pretendeu-se abordar o conteúdo geometria plana, de maneira

significativa, empregando-se o material manipulável/jogo Tangram e utilizando-se a

metodologia Resolução de Problemas, proposta pelas Diretrizes Curriculares de

Matemática do Estado do Paraná (DCE).

3.1 Resolução de Problemas

De acordo com as DCE de Matemática (PARANÁ, 2008, p.63), “os

conteúdos propostos devem ser abordados por meio de tendências metodológicas

da Educação Matemática que fundamentam a prática docente [...]”. Assim, para se

desenvolver o conteúdo geometria plana neste trabalho, escolheu-se a tendência da

Resolução de Problemas.

Vila e Callejo (2006, p.172) afirmam que não se aprende Matemática, de

maneira passiva, por transmissão direta. Segundo eles,

se aprende em interação com situações-problema e com outros sujeitos, que obrigam o aluno a ir modificando sua estrutura cognitiva mediante uma série de ações: experimentando, fazendo-se perguntas, particularizando situações, generalizando resultados, encontrando contra-exemplos, etc.[...]

Santaló (1996, p.19) também menciona que

[...] Atualmente, insiste-se muito na metodologia embasada na resolução de problemas. Mas isto não é nenhuma novidade, pois a verdadeira Matemática sempre consistiu na solução de problemas: jamais pode ser um sistema de definições e de descrições de propriedades [...].

Charnay (1996, p.37) confirma que “seria desnecessário dizer que a

atividade de resolução de problemas tem estado no próprio coração da elaboração

da ciência matemática. ‘Fazer matemática é resolver problemas!’, é o que muitos

não temem afirmar”.

Antes de se falar dessa tendência, é preciso definir qual o significado de

problema no ensino da Matemática.

Para o Professor Dante, “Qualquer situação que exija o pensar para chegar

a uma solução é um problema. E qualquer situação que exija a maneira matemática

de pensar e conhecimentos matemáticos para solucioná-la é um problema

matemático” (DANTE, 1994, p.9-10).

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Vila e Callejo (2006, p.29) definem o termo problema como:

uma situação, proposta com finalidade educativa, que propõe uma questão matemática cujo método de solução não é imediatamente acessível ao aluno/resolvedor ou grupo de alunos que tenta resolvê-la, porque não dispõe de um algoritmo que relaciona os dados e a incógnita ou de um processo que identifique automaticamente os dados com a conclusão e, portanto,deverá buscar, investigar, estabelecer relações e envolver suas emoções para enfrentar uma situação nova.

Os problemas podem ser propostos aos alunos, visando-se objetivos

variados, como “desenvolver estratégias e processos gerais ou específicos do

pensamento matemático ou motivar e tornar significativa a introdução de uma

noção”. A resolução de problemas pode ser objeto de aprendizagem quando o aluno

aprende a resolver problemas ou pode ser instrumento de aprendizagem quando ele

aprende resolvendo problemas (VILA e CALLEJO, 2006, p.149).

Destacadas algumas definições e considerações sobre os problemas,

destaca-se algumas orientações que os pesquisadores fornecem sobre a tendência

da Resolução de Problemas.

A tendência de Ensino-Aprendizagem de Matemática, por meio da

Resolução de Problemas, se constitui “num caminho para se ensinar Matemática

através da Resolução de Problemas e não apenas para se ensinar a resolver

problemas”. O problema é um ponto de partida e, por meio dessa tendência, “deve-

se fazer conexões entre os diferentes ramos da Matemática, gerando novos

conceitos e novos conteúdos” (ONUCHIC e ALLEVATO, 2005, p.220 - adaptado).

Pensando-se dessa forma, deve-se considerar o que escreveu Charnay

(1996, p.38): “o aluno deve ser capaz não só de repetir ou refazer, mas também de

resignificar em situações novas, de adaptar, de transferir seus conhecimentos para

resolver novos problemas”.

Para que a resolução de problemas seja eficaz na aprendizagem dos alunos,

é preciso ser cuidadoso ao selecionar os problemas a serem trabalhados. Dante

(1994, p.46-47) destaca as características que deve ter um bom problema: ser

desafiador, real e interessante para o aluno, ser o elemento desconhecido de um

problema realmente desconhecido, não consistir na aplicação evidente e direta de

uma ou mais operações aritméticas e ter um nível adequado de dificuldade.

Vila e Callejo (2006, p.95) acreditam que “para desenvolver a criatividade

por meio da resolução de problemas, é preciso propor aos alunos problemas

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verdadeiros, que sejam variados e motivadores”, destacando-se a importância de se

esperar o tempo que for necessário para solucioná-los.

A Resolução de Problemas exige uma dinâmica em que os alunos trabalhem

em grupo, discutam e exponham suas ideias para confrontá-las entre si ou com o

professor. Assim estarão ativando processos internos que o levarão ao

desenvolvimento do pensamento matemático (VILA e CALLEJO, 2006).

Dante (1994, p.30) lembra que, ao adotar a tendência da resolução de

problemas para suas aulas, o professor deve estar ciente de que se “envolve uma

variedade de processos de pensamento que precisam ser cuidadosamente

desenvolvidos pelo aluno com o apoio e incentivo do professor”. Para isso, Dante

(1994, p.31) orienta o professor a fazer várias perguntas para que os alunos possam

compreender o problema. O professor deve também encorajar os alunos a fazerem

perguntas a ele e entre si. Assim, compreenderão melhor o que o problema pede e

encontrarão os dados necessários para resolvê-lo.

Para orientar melhor os alunos nesse processo, é importante que o

professor conheça os estágios pelos quais o aluno passa para resolver um

problema. Polya (2006, p.4-15) distingue quatro fases que permeiam a Resolução de

Problemas e afirma que “cada uma destas fases tem a sua importância”. São elas:

1. Compreensão do problema – O enunciado verbal do problema

deve ficar bem entendido para que o aluno tenha condições de

identificar as partes principais, a incógnita, os dados, a

condicionante.

2. Estabelecimento de um plano – É necessária a concepção da idéia

de um plano para se resolver um problema. “As boas idéias são

baseadas na experiência passada e em conhecimentos previamente

adquiridos”. Neste caso, conhecimento matemático já adquirido,

pode advir de problemas anteriormente resolvidos e/ou teoremas

anteriormente demonstrados. Para conseguir isso é preciso, além de

conhecimentos anteriores, de bons hábitos mentais e de

concentração no objetivo.

3. Execução do plano – Executar um plano é muito mais fácil do que

concebê-lo; nesta fase, paciência é o mais importante. É preciso

verificar cada passo ao colocar o plano em prática.

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4. Retrospecto da resolução completa – É preciso verificar todos os

passos para ter certeza de que o problema foi resolvido

corretamente.

Nessa tendência, o mais importante é analisar os procedimentos utilizados

para a resolução de um problema e os progressos que o aluno possa ter, pois não

basta que o aluno encontre a resposta. É durante esse processo que o aluno reflete,

busca conteúdos adquiridos, relaciona, faz conjecturas e questiona para criar

estratégias de solução. É aí que ele tem a possibilidade de desenvolver e construir

seu conhecimento matemático.

Na tendência da Resolução de Problemas, de acordo com Brito (2006, p.48),

“ao final, os estudantes devem ser solicitados a justificar oralmente ou por escrito,

individualmente ou em grupo, os diferentes procedimentos empregados, as idéias

utilizadas e as descartadas e o que aprenderam na atividade”.

Considerando-se o aluno nesse processo, vê-se que o interesse e a

predisposição daquele podem interferir no processo de aprendizagem.

Nessa linha de pensamento, Vila e Callejo (2006, p.172) salientam que

aprender matemática requer “um certo nível de intencionalidade e de predisposição

por parte do sujeito que aprende”. Interesse e desejo de aprender podem ser

despertados, mas não é uma tarefa fácil, pois para isso os conteúdos precisam ser

significativos ou, ao menos, atrativos para o aluno.

Para Vila e Callejo (2006), a interação do professor com os seus alunos tem

importância vital na abordagem da Resolução de Problemas. Em função disso, eles

comentam:

[...] pensamos que os professores devem ser um modelo de conduta metacognitiva. Seu papel deve ser: - orientar mais que “guiar por um caminho”; - perguntar, incitar e questionar para fazer refletir mais que proporcionar respostas; - duvidar, refletir, explorar, experimentar e conjecturar mais que informar (p.150).

No texto “Ensino-aprendizagem de Matemática através da Resolução de

Problemas”, Onuchic (1999, p.216-217) esquematizou uma aula e contou com a

participação dos professores. Embasada nas suas leituras, chegou a uma proposta

básica:

Formar grupos – entregar uma atividade

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Os alunos trabalharão em grupos para terem a oportunidade de aprender

uns com os outros.

O papel do professor

O papel do professor muda de comunicador de conhecimento para o de

observador, organizador, consultor, mediador, interventor, controlador e incentivador

da aprendizagem.

Resultados na lousa

Com o trabalho dos alunos terminado, o professor anota na lousa os

resultados obtidos pelos diferentes grupos.

Plenária

Como todos trabalharam sobre o problema dado, estão ansiosos quanto a

seus resultados. Em assembleia, procuram defender seus pontos de vista e

participam.

Análise dos resultados

Nesta fase, os pontos de dificuldade, encontrados pelos alunos, são

novamente trabalhados.

Consenso

A partir da análise feita, com a devida retirada das dúvidas, busca-se um

consenso sobre o resultado pretendido.

Formalização

É realizada uma síntese do que se objetivava aprender a partir do problema

dado. São colocadas as devidas definições, identificadas as propriedades e feitas as

demonstrações.

Onuchic (1999, p.211) menciona que

Nenhuma intervenção no processo de aprendizagem pode fazer mais diferença do que um professor bem informado, inteligente e hábil. Investir na qualidade de ensino é o que mais importa. A preparação do professor tem um efeito direto na realização dos alunos, pois ninguém despende tanto tempo ou tem tanta influência sobre os alunos quanto os próprios professores.

Dessa forma, pode-se afirmar que o professor é um dos agentes mais

importantes no processo de ensino e aprendizagem.

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3.2 Uso de materiais didáticos manipuláveis e/ou jogos pedagógicos

Pesquisando-se sobre a importância do ensino de Geometria para a

construção do conhecimento matemático e para o desenvolvimento de habilidades

cognitivas, vê-se que a visualização e a manipulação são essenciais na

aprendizagem da geometria plana. Percebe-se, então, a importância de se recorrer

a um material didático manipulável/jogo nesse processo de aprendizagem.

A respeito da utilização do material didático nas aulas de Matemática, Murari

(2005, p.199) ressalta que as atividades de Geometria “em que os estudantes são

estimulados a explorar idéias geométricas utilizando material que se pode manipular,

proporcionam condições para a descoberta e o estabelecimento das relações

geométricas existentes no universo”.

Coaduna com essas reflexões, Lorenzato (2009, p.4) quando este afirma

que

É necessária a utilização de vários tipos de material didático, pois eles despertam a curiosidade, principalmente aqueles que podem ser manipulados pelos alunos. Despertar a curiosidade com o auxílio de material didático interessante favorece o aprendizado.

Deneca (2008, p.6-7), discorrendo sobre a importância dos materiais

didáticos manipuláveis, escreveu que

A partir do momento que o estudante já conseguiu abstrair os conceitos matemáticos já não sente mais a necessidade de métodos e técnicas que o auxiliem na abstração, mas quando essa capacidade ainda não foi desenvolvida, independentemente da faixa etária do estudante os materiais manipuláveis podem facilitar-lhe o trabalho e auxiliá–lo de tal maneira que o estudante compreenda os conteúdos matemáticos e construa conhecimentos.

Borin (2007) trabalha com jogos em suas aulas de Matemática e afirma que

os jogos pedagógicos desenvolvem habilidades inerentes à resolução de problemas.

Ela escreveu que

[...] a atividade de jogar, se bem orientada, tem papel importante no desenvolvimento de habilidades de raciocínio como organização, atenção e concentração, tão necessárias para o aprendizado, em especial da Matemática, e para a resolução de problemas em geral.[...] De fato,quando analisamos o comportamento e a atividade mental de um jogador disposto a ganhar, verificamos que a postura é a mesma de um cientista em busca de solução para um problema.[...] (BORIN, 2007, p.8)

Moratori (2003), no texto de Deneca (2008, p.5) sobre os materiais

manipuláveis, afirma que “o processo de criação está diretamente relacionado à

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imaginação e a estrutura da atividade com jogos permite o surgimento de situações

imaginárias”.

Fiorentini e Miorim (1990, P.4) salientam a importância do jogo na formação

educativa do aluno, citando Albuquerque (1954) : "... através do jogo ele deve treinar

honestidade, companheirismo, atitude de simpatia ao vencedor ou ao vencido,

respeito às regras estabelecidas, disciplina consciente, acato às decisões do juiz..."

Souza et al (2008, p.4) ressaltam a importância da reflexão do aluno sobre o

material e afirmam que:

A aprendizagem não decorre do material e das atividades propostas ao aluno, mas sim, das relações que ele estabelece em nível de pensamento entre significados e conceitos. Assim, o material representa apenas uma estratégia para promover a reflexão do aluno sobre alguns aspectos de um determinado conceito que se quer desenvolver.

Coaduna com essa afirmação Onuchic ao mencionar o que afirmaram

Putnan et al (1991):

[...] ensinar matemática com compreensão não pode se reduzir a

usar o livro-texto adequado, a fazer os alunos trabalharem em grupos

e a usar manipulativos ou trabalhar atividades ligadas a situações do

mundo real. Todas essas atividades servem como recursos para um

bom ensino de matemática. Todas são importantes. É a forma como

os professores usam esses recursos que molda o ambiente de

aprendizagem dos alunos[...] (ONUCHIC, 1999, p.213).

Concorda-se com a ideia dos autores acima citados de que o material

manipulável ou os jogos pedagógicos são apenas instrumentos de apoio para o

processo de ensino e aprendizagem. Nesse processo, o professor é um agente

fundamental, pois será o mediador entre o aluno e o objeto de aprendizagem.

Referindo-se à relação do material didático com o processo ensino-

aprendizagem, destaca-se o pensamento de Fiorentini e Miorim (1990, p.5):

[...] Ao aluno deve ser dado o direito de aprender. Não um ‘aprender’ mecânico, repetitivo, de fazer sem saber o que faz e por que faz. Muito menos um aprender que se esvazia em brincadeiras. Mas, um ‘aprender’ significativo do qual o aluno participe raciocinando, compreendendo, reelaborando o saber historicamente produzido e superando, assim, sua visão ingênua, fragmentada e parcial da realidade. O material pode ser fundamental para que isto ocorra. Neste sentido, o material mais adequado, nem sempre, será o visualmente mais bonito e nem o já construído. Muitas vezes, durante a construção de um material o aluno tem a oportunidade de aprender matemática de forma mais efetiva. Em outros momentos, o mais importante não será o material, mas sim, a discussão e a

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resolução de uma situação problema ligada ao contexto do aluno, ou ainda, a discussão e utilização de um raciocínio mais abstrato.

Na perspectiva de despertar o interesse do aluno para a aprendizagem de

geometria plana, além da tendência da Resolução de Problemas, escolheu-se o

Tangram como material de apoio/jogo pedagógico. A expectativa é de que este

venha possibilitar o desenvolvimento do pensamento geométrico ao mesmo tempo

em que exerça um poder de atração sobre o aluno e desperte interesse deste para o

trabalho a ser realizado.

3.2.1 Tangram

O material de apoio/jogo pedagógico que se escolheu para desenvolver o

conteúdo de geometria plana neste trabalho é um quebra-cabeça chinês,

denominado Tangram. Ele é formado por sete peças que possuem a forma de

figuras geométricas: triângulos em três tamanhos, quadrado e paralelogramo. Esse

material é usado para recreação e passatempo e é conhecido pela maioria dos

alunos. Aqui se propõe um enfoque diferente para esse material, o uso pedagógico

para se trabalhar conteúdos.

Figura 01: Tangram (Disponível em: <http://ensinarevt.com/jogos/tangram/index.html>).

Esse quebra-cabeça de origem milenar é formado por apenas sete peças

com as quais é possível montar cerca de 1.700 figuras diferentes, entre plantas,

animais, pessoas, objetos, números, letras, figuras geométricas e outras. A regra

básica é usar todas as peças, sem sobrepô-las, para montar as figuras.

Segundo Souza et al (2008, p.2), “Esse jogo foi trazido da China para o

Ocidente por volta da metade do século XIX e em 1818 já era conhecido na

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América, Alemanha, França, Itália e Áustria”. Existem várias versões para o

significado e origem da palavra tangram. Uma delas diz que

[...] a parte final da palavra – gram – significa algo desenhado ou escrito como diagrama. Já a origem da primeira parte – Tan – é muito duvidosa e especulativa, existindo várias tentativas de explicação. A mais aceita está relacionada à dinastia T’ang (618 – 906) que foi uma das mais poderosas e longas dinastias da história chinesa, a tal ponto que em certos dialetos do sul da China a palavra T’ang é sinônimo de chinês. Assim, segundo essa versão, Tangram significa literalmente, quebra-cabeça chinês. Os chineses conhecem o Tangram por “Tchi Tchao Pan”, cuja tradução seria “Sete Peças da Sabedoria”. O que nos faz crer que seu criador tivesse algum propósito religioso ou místico ao empregar as sete peças para descrever o mundo. Não existem registros históricos sobre o assunto. O que se sabe é que o Tangram vem demonstrando seu caráter sedutor que tem envolvido várias gerações, quer seja como passatempo ou como manifestação artística (SOUZA et al, 2008, p.2).

Na sala de aula, segundo Souza (2008), esse quebra-cabeça é utilizado

como material didático nas aulas de Artes e objetiva o desenvolvimento da

criatividade e da imaginação por meio da criação de figuras. Atualmente, o Tangram

é muito utilizado nas aulas de Matemática. Os professores veem nesse material “a

possibilidade de inúmeras explorações, quer seja como apoio ao trabalho de alguns

conteúdos específicos do currículo de matemática, ou como forma de propiciar o

desenvolvimento de habilidades de pensamento” (p.3).

Os quebra-cabeças geométricos:

têm sido utilizados na sala de aula como motivadores para o estabelecimento de situações que levam a criança a identificar, diferenciar, reconhecer e comparar formas; comparar distâncias; visualizar figuras; analisar características das figuras; conjecturar sobre relações entre figuras; observar movimentos realizados no plano, etc. Portanto essas situações possibilitam que a criança vivencie precocemente atividades dinâmicas que valorizem a visualização, as características e as regularidades das formas (KALEFF et al, 2005, p.16).

Kaleff et al constatam que os quebra-cabeças geométricos auxiliam na

organização das imagens visuais, que se transformam em imagens mentais, e que

estas ”são fundamentais para a formação e para a organização do pensamento

lógico-abstrato necessário ao desenvolvimento das idéias matemáticas e científicas”.

Os autores ainda destacam que

segundo o casal de professores e pesquisadores holandeses Dinah e Pierre Van Hiele (1986), que estudaram como a criança desenvolve o pensamento geométrico, a criança inicia a formação das idéias

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geométricas através da visualização e do reconhecimento das formas (KALEFF et al, 2005, p.16-17).

Diante do exposto, na escolha do material, levou-se em conta as

possibilidades de se oportunizar a manipulação de materiais para auxiliar na

construção do pensamento geométrico.

3.3 Desenvolvimento do projeto

O Projeto de Intervenção Pedagógica produzido no PDE (Programa de

desenvolvimento Educacional) foi implementado no Colégio Estadual Reynaldo

Massi – EFMP, com alunos de determinado 7º ano, em horário oposto ao de aula.

Para se desenvolver o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, no

segundo semestre de 2011, foi produzido um material didático pedagógico em forma

de Unidade Didática, buscando-se alternativas para se ensinar o conteúdo de

geometria plana e proporcionar ao aluno uma aprendizagem significativa, bem como

fornecer um material de apoio ao professor que atua em sala de aula. Essa Unidade

Didática foi organizada em cinco etapas, cada uma dividida em tarefas, as quais

serão descritas no decorrer desta seção.

Ressalta-se que, antes de se dar início à implementação do Projeto de

Intervenção, houve a exposição deste projeto para os funcionários, professores,

pedagogos e direção do colégio, para que tomassem conhecimento do evento que

se sucederia.

A intenção era trabalhar com um grupo de 15 alunos. Inicialmente, o convite

foi feito aos alunos com maior defasagem na disciplina de Matemática. Depois foi

estendido aos demais alunos de uma turma do 7º ano do Ensino Fundamental. O

segundo passo foi pedir a autorização dos pais ou responsáveis e esclarecer sobre

o projeto. Quinze alunos se inscreveram. Uma nunca compareceu. Um desistiu por

compromisso com o treino de futebol. Três faltaram muito e desistiram (uma por

desinteresse, dois por terem afazeres domésticos impostos pela família). Nove

alunos persistiram e chegaram até o fim. A implementação foi realizada em 32

h/aula: 2 a 3 h/aulas por semana.

No primeiro dia de trabalho com os alunos, foi proposta uma atividade

escrita para diagnóstico de alguns conhecimentos básicos sobre Geometria:

nomenclatura, construção de um segmento de reta, medição de um segmento de

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reta, cálculo de área e perímetro, medidas de comprimento, identificação de

triângulos, entre diversas figuras. A constatação foi de que a maioria conhecia o

nome de figuras - retângulo, quadrado, triângulo e círculo - assim como as figuras na

posição comumente apresentada, e não quando mudada a posição destas. Apenas

um dos alunos conseguiu realizar o cálculo de perímetro e de área e tinha noção da

definição destes.

Na sequência, o histórico do Tangram foi apresentado e a construção do

Tangram Quadrado foi uma estratégia para se trabalhar a decomposição desse

quadrilátero. Esse momento foi importante para se corrigir alguns alunos que

estavam medindo os segmentos a partir da ponta da régua, ao invés de iniciar pelo

zero. A maioria conseguiu recortar a figura, embora sem muita agilidade e precisão.

As diversas tarefas realizadas com o Tangram (desenho e recorte do

quebra-cabeça, contorno das peças, escrevendo-se o nome dos polígonos

desenhados, montagem dos polígonos solicitados a partir da quantidade de peças

estabelecidas, construção livre de figuras, construção de figuras a partir da

visualização de silhuetas, construção de figuras geométricas sobrepondo-se as

peças na silhueta desenhada) proporcionaram aos alunos o contato direto com as

formas, fazendo-os perceber, por exemplo, que dois triângulos pequenos formam

um médio, dois triângulos formam um quadrado, etc. O curioso foi que alguns alunos

colocaram o quadrado na posição inclinada e disseram que aquilo era um triângulo

( ). Alguns também disseram que o paralelogramo era um triângulo, o que

comprovou que não conheciam a definição dessas duas figuras geométricas. Esse

momento foi o ideal para a intervenção da professora, que mostrou a definição de

triângulo, instigando uma comparação deste com o quadrado e com o

paralelogramo.

Para se trabalhar a definição de polígonos, foram utilizadas algumas

atividades escritas e outras com mosaicos e malhas geométricas, de forma que os

alunos tiveram que identificar as figuras das composições geométricas.

O próximo conceito abordado foi o de área, usando-se o Tangram

construído. Em grupo de dois ou três, os alunos mediram a área de um quadrado

com as mesmas dimensões do quadrado que recortaram na construção do quebra-

cabeça. Entremearam, em papel dobradura, triângulos pequenos colando-os no

quadrado desenhado, verificando qual era a medida dele, utilizando os triângulos

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pequenos, como unidade de medida não convencional. Mediram a superfície da

figura, fazendo o mesmo com os triângulos médios e grandes e também com os

quadrados. Alguns alunos fizeram questão de escolher as cores e formaram

composições geométricas. Todas as equipes fizeram a previsão de quantas peças

deveriam recortar.

Em seguida, as medidas de superfícies convencionais foram apresentadas e

os alunos confeccionaram o metro e o centímetro quadrado em papel, utilizados

para se medir superfícies próximas. Logo após esse momento, calcularam a medida

da área de figuras retangulares e quadradas em papel quadriculado. Essa atividade

foi empregada para introduzir o cálculo da área dessas figuras. Depois desse

procedimento, propuseram algumas atividades para que os alunos percebessem

que todo triângulo corresponde à metade de um quadrado ou de um retângulo,

levando aqueles à conclusão de que a área do triângulo é a metade da área do

quadrado ou da do retângulo. Nesse projeto, pretendeu-se estudar apenas as áreas

do quadrado, do retângulo e do triângulo.

Na etapa seguinte da implementação do Projeto de Intervenção, em duplas

ou trios, os participantes receberam situações-problema escritas. Como

recomendado na unidade didática, seguiram-se os passos sugeridos por Onuchic

(1999, p.216-217). Eles fizeram a leitura da situação e perguntaram à professora os

termos não conhecidos. Depois de aguardado determinado tempo, o representante

da equipe escreveu na lousa a resolução, explicando como chegaram ao resultado.

Depois de analisados os resultados dos grupos, os alunos chegaram ao consenso

de quais eram os corretos. Foi necessária uma constante intervenção do professor

na resolução dos problemas, principalmente quanto à leitura e à verificação do

resultado. Dois desses participantes conseguiram resolver as situações com poucas

intervenções, os outros tiveram muita dificuldade, pois não persistiam e desistiam

muito rápido. Além de não estarem habituados com o trabalho em grupo, não

gostavam de resolver problemas, achavam essa tarefa difícil e se autolimitavam,

situação essa comum em sala de aula.

Os alunos que se dedicavam, ouviam e viam com atenção as explanações,

que levavam a sério as aulas aprenderam algo e evoluíram do estágio inicial. No

entanto, aqueles que não deram a devida importância ao trabalho realizado, que

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precisavam ser chamados o tempo todo para olharem, ouvirem, participarem, não

evoluíram ou evoluíram o mínimo.

Dos nove participantes que concluíram as atividades propostas na Unidade

Didática, dois não apresentaram evolução significativa de seu conhecimento. Mesmo

se propondo um trabalho diferenciado, não foi possível atingir a todos os alunos.

Dessa forma, pode-se afirmar que a aprendizagem e a construção do conhecimento

dependem também do aluno. Não se deve esquecer de que cada um tem o seu

tempo para aprender; no entanto, considera-se que é preciso vontade, acima de

tudo.

O papel do professor como agente intermediário entre o aluno e o

conhecimento é primordial, mas o do aluno também. A vontade, o interesse e o

esforço deste são fatores que contribuirão diretamente para a construção do seu

conhecimento.

Para se conhecer a avaliação dos alunos a respeito das aulas do Projeto de

Intervenção, realizou-se um seminário, oportunidade em que cada um se

manifestou, dando sua opinião. Todos disseram que gostaram muito, por terem

aprendido de forma diferenciada, por apreciarem o Tangram e as atividades

realizadas. Complementaram, dizendo que gostariam de participar de outros eventos

como esse. Fizeram também uma avaliação por escrito, de forma bem resumida,

mas voluntária, sem reclamar, escrevendo o que expressaram oralmente.

A professora de Artes da escola colaborou com a implementação do Projeto

de intervenção, trabalhando, no horário normal das aulas, com todas as turmas de 7º

ano, mosaicos com as formas das peças do Tangram. Os alunos realizaram lindos

trabalhos, utilizando a técnica de pintura de Romero Britto3 (pintura pop - chapada

com contorno preto). Os trabalhos selecionados pela professora como os melhores

foram expostos em uma das salas do Colégio ao final da implementação do projeto,

para visitação de todos os alunos da escola. Nessa mesma sala foram colocados

vários jogos do Tangram à disposição de todos os alunos, para montagem das

figuras nas silhuetas confeccionadas pelos participantes e para mostrar esse

quebra-cabeça aos que ainda não o conheciam. Com essa exposição, a

implementação do Projeto foi finalizada.

3 Romero Brito ficou conhecido pelo seu estilo alegre e colorido, por apresentar uma arte despojada da estética

clássica e tradicional (Disponível em: <http://www.e-biografias.net/romero_britto/>. Acesso em 25 mai. 2012).

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Como já foi mencionado na introdução deste artigo, a professora que

implementou o projeto interagiu, em tempo paralelo à implementação deste, com 14

professores de Matemática, da Rede Estadual de Ensino que participaram do Grupo

de Trabalho em Rede (GTR). A avaliação do Projeto de Intervenção Pedagógica, da

Unidade Didática e da Implementação do Projeto na Escola foi feita por esses

professores, que discutiram e analisaram a viabilidade dele, além de contribuírem

com sugestões. Essas discussões e análises apontaram apenas aspectos positivos

às produções apresentadas.

Com relação à análise do Projeto de Intervenção Pedagógica realizada pelos

participantes do GTR, houve alguns comentários sobre a importância do estudo da

Geometria para a abstração nas demais áreas da Matemática. Eles ressaltaram que,

com o despertar dos alunos para a Geometria, as dificuldades destes poderiam ser

amenizadas. Comentou-se também sobre a importância de se partir das

experimentações para se chegar ao saber sistematizado no ensino de Geometria.

Os cursistas também comentaram que, em sua prática, percebem a

existência da defasagem dos alunos relativa aos conhecimentos dos conceitos

geométricos. Analisando o ensino da Geometria, os poucos comentários dos

cursistas a respeito, ajudam na constatação de que é real o abandono desse ensino

nas escolas. Foram citadas, como prováveis causas disso, a prioridade dada ao

ensino da álgebra e da aritmética; esse conteúdo é deixado para o final do ano letivo

por seu conteúdo ser de difícil assimilação e, muitas vezes, acaba nem sendo

trabalhado; a falta de domínio do conteúdo pelo professor; e a diminuição da carga

horária da disciplina de Matemática nas escolas.

Há um consenso entre esses professores de que é necessário promover

mudanças na sua prática pedagógica no intuito de atrair a atenção, o interesse e o

gosto dos alunos para a Matemática. Por outro lado, aqueles também concordam

que muitos alunos não têm persistência, esforço e perseverança, o que se torna um

obstáculo para a aprendizagem destes.

Quanto à tendência metodológica da Resolução de Problemas, ficou

implícito nos poucos comentários dos professores, apesar de terem sido estimulados

com questionamentos, que ela não é conhecida ou não é utilizada conforme

abordado na fundamentação teórica do Projeto.

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De acordo com os cursistas do GTR, as situações-problema tornam a

aprendizagem mais significativa e desafiadora; os conteúdos inseridos em um

contexto possibilitam ao aluno construir o seu conhecimento de forma mais

consistente. Porém, paralelamente a essas considerações, o trabalho com as

situações-problema é citado pelos cursistas como um desafio, pela rejeição

apresentada pelos alunos nas aulas de Matemática. Então, a persistência dos

professores é citada várias vezes como aspecto essencial nesse trabalho.

Citou-se também a importância do trabalho em grupo, por este possibilitar o

desenvolvimento da cooperação entre os alunos, da troca de ideias, da

responsabilidade e do trabalho em conjunto. Foi possível perceber, durante a

implementação do projeto, que esse trabalho auxilia no desenvolvimento do aluno

com defasagem a partir da interação e da ajuda dos colegas. No entanto, os alunos

não estão habituados com essa metodologia de trabalho, o que traz alguns

transtornos, talvez porque não seja abordada desde os anos iniciais.

O Tangram é do conhecimento da maioria dos professores cursistas. Já o

utilizaram como recurso didático na abordagem de conteúdos matemáticos, com

sucesso. Segundo os participantes, esse quebra-cabeça exerce atração sobre os

alunos e torna o trabalho com a Geometria mais significativo, dinâmico,

descontraído, interessante, prazeroso, motivador e lúdico. Além disso, possibilita o

desenvolvimento da concentração, da atenção, da paciência, da persistência e da

percepção. É um material confeccionado em madeira, de fácil acesso e baixo custo,

existente na grande maioria das escolas. Alguns dos professores ressaltaram que o

trabalho com material manipulável deve ser adotado desde os anos iniciais na

educação matemática da educação básica, possibilitando a redução da defasagem

dos alunos das séries finais.

Com relação à análise do Material Didático produzido, o parecer dos

professores participantes do GTR também foi favorável. Consideram-no viável para

ser utilizado nas escolas públicas, pois contém várias informações para o aluno; a

linguagem utilizada é adequada à turma; contém atividades diversificadas,

interessantes e desafiadoras e ideal para a idade em que se encontram os alunos do

7º ano do Ensino Fundamental. Segundo esses professores, esse material propõe a

observação, a criatividade e o desenvolvimento do raciocínio lógico dos alunos.

Também mencionaram que as situações-problema são significativas. Enfim,

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consideraram-nos um material de fácil aplicação, simples e possível de se trabalhar

em sala de aula e que, pela falta de tempo dos professores para criar atividades

diferenciadas, esse material será muito útil.

Na última tarefa proposta no GTR, os professores fizeram relatos de

experiências de suas aulas com o conteúdo Geometria, que foram compartilhados

e, com certeza, serviram de sugestão de atividade e modelo de conduta para cada

participante.

No Projeto de Intervenção apresentado aos professores cursistas,

considerou-se relevante proporcionar uma fundamentação teórica que colocasse em

foco a importância do ensino da Geometria ao lado da álgebra e da aritmética, os

passos adotados na tendência metodológica da Resolução de Problemas, de acordo

com os pesquisadores em Educação Matemática, e a relevância das situações-

problema na aprendizagem da Matemática. O Material Didático foi elaborado com a

intenção de ser algo simples, possível de ser utilizado e em conformidade com a

realidade vivida nas escolas. Pelas análises feitas pelos professores, foi possível

verificar que o objetivo desse GTR foi alcançado. Foram de extrema importância as

sugestões e a avaliação feitas pelos professores, que são experientes e

conhecedores da realidade da sala de aula.

De maneira geral, todas as atividades realizadas durante a implementação

do Projeto de Intervenção Pedagógica foram positivas e trouxeram contribuições

significativas à prática pedagógica da primeira autora deste artigo. Espera-se

também poder contribuir para a reflexão e mudança na prática de outros professores

de Educação Matemática da Educação Básica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando-se o objetivo principal do projeto de intervenção pedagógica, que

era o de possibilitar o desenvolvimento do pensamento geométrico por meio de

material manipulável, conclui-se que foi possível atingir esse objetivo, pois houve

aprendizagem dos alunos que participaram da implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica.

Constatou-se que a Resolução de Problemas é uma tendência importante no

processo de ensino e aprendizagem, visto que é o momento em que o aluno é

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desafiado a pensar e a utilizar os conceitos apreendidos. Constatou-se também a

eficácia do Tangram como material didático manipulável no ensino de conteúdos.

A intenção deste artigo foi a de produzir um material útil aos demais

professores. Conhecendo-se a opinião de colegas professores por meio do GTR e

observando-se os resultados obtidos na implementação do Projeto, constatou-se

que o Material Didático produzido é acessível e que a sua aplicação é viável nas

escolas públicas. Nesse sentido, também pode-se afirmar que o objetivo foi

alcançado.

Os estudos feitos para a elaboração dos trabalhos do PDE contribuíram para

a ampliação do conhecimento das autoras em relação à Educação Matemática. A

experiência vivida com os estudos realizados para a produção dos trabalhos do PDE

e com a implementação do Projeto trouxeram valiosas contribuições para a prática

pedagógica.

5 REFERÊNCIAS

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