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Rua Capistrano de Abreu, 29 – Botafogo / Rua Marques, 19 – Humaitá – 2535-2434 www.sapereira.com.br / [email protected] Turma da Beijoca / TAT Educação Infantil Relatório do Primeiro Semestre de 2007 1 "A criança, como sujeito social, precisa fazer parte de grupos sociais diferenciados da sua família para se munir de instrumentos para o convívio em sociedade. Isso ocorre ao interagir com seus pares – crianças da mesma idade – e com os diferentes, como professores e demais funcionários da instituição, construindo subsídios para atuar em situações coletivas de vida em grupo e exercer papéis diferentes dos que já exerce em seu núcleo familiar." Maria Clotilde Rosseti-Ferreira e Kátia de Souza Amorim, Revista Pátio I niciamos nosso ano com a expectativa e o desafio de construir um novo grupo. Num primeiro momento nos deparamos com muita curiosidade, timidez, prazer, estranhamentos, alegria e choros. O reencontro das crianças que já freqüentavam a escola no ano anterior, José, Clarice, Carolina Maia, Rafael e Bento foi marcado por muita farra e alegria. Para eles, a escola já era um espaço conhecido, recheado de lembranças felizes. Olhavam-se e se procuravam para brincadeiras, sentavam-se juntos na hora do lanche e durante as atividades de artes. A nova organização do grupo provocou alguns questionamentos, mas aos poucos, suavemente, foram se aproximando dos novos companheiros. Entender o porquê dessas mudanças requer um tempo de elaboração. Com o nosso apoio e no decorrer da rotina, foram se sentindo mais seguros, tornando-se referência para as crianças novas da turma e auxiliando-as no entendimento da cultura desse espaço. As crianças que chegavam à pela primeira vez, observavam toda essa movimentação com olhares atentos. Com o tempo, foram se encantando e se envolvendo com a rotina escolar, mostrando-se mais seguras. Para elas, tudo era novidade e encantamento! Gostavam de manipular os brinquedos, a massinha de modelar, dar banho nas bonecas e bonecos, empilhar coisas, brincar de supermercado e percorrer o espaço, estabelecendo, assim, um sentimento de familiaridade e pertencimento. Ficavam sozinhas nas suas investidas ou acompanhadas por seus responsáveis. Para algumas, apenas uma leve aproximação de Turma Alice Kodama Flexor Angelo Riccetto Antonio Armond Boechat Neto Antonio Bento de Oliveira Barbalho Antonio Teixeira Estellita Lins Carolina Galvão Maia Carolina Grinberg Limoncic Clarice Xavier Ferreira de Sá Eduardo Augusto Cury Fabião Gabriel Carneiro Landim de Brito Guilherme Intrator Rodrigues João Eduardo Santos Pollhuber José Hermeto Kubrusly Luna Gonçalves Dias Rafael Vicente Geraldi Gomes Filho Sofia Leite de Oliveira Castro Sofia Tostes da Cunha e Menezes Theo Buarque de Hollanda Professores e Auxiliares de Turma Carina Monteiro Samão Jean Philippe T Conilh de Beyssac Maria Aparecida de Jesus da Silva Maria Nazareth de Souza Salutto Roberta Porto da Silva

tat 1 2007 - Escola Sá Pereira · ... "Ah! Nossa turma pode ser turma da ... equipe e equipe resolve as coisas juntos né ... tem / Sete saias de filó / É mentira da barata ela

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Turma da Beijoca / TAT Educação Infantil Relatório do Primeiro Semestre de 2007 1

"A criança, como sujeito social, precisa fazer parte de grupos sociais diferenciados da sua família para se munir de instrumentos para o convívio em sociedade. Isso ocorre ao interagir com seus pares – crianças da mesma idade – e com os diferentes, como professores e demais funcionários da instituição, construindo subsídios para atuar em situações coletivas de vida em grupo e exercer papéis diferentes dos que já exerce em seu núcleo familiar."

Maria Clotilde Rosseti-Ferreira e Kátia de Souza Amorim, Revista Pátio

I niciamos nosso ano com a expectativa e o desafio de construir um novo grupo. Num primeiro momento nos deparamos com muita curiosidade, timidez, prazer, estranhamentos, alegria e choros. O reencontro das crianças que já freqüentavam a

escola no ano anterior, José, Clarice, Carolina Maia, Rafael e Bento foi marcado por muita farra e alegria. Para eles, a escola já era um espaço conhecido, recheado de lembranças felizes. Olhavam-se e se procuravam para brincadeiras, sentavam-se juntos na hora do lanche e durante as atividades de artes. A nova organização do grupo provocou alguns questionamentos, mas aos poucos, suavemente, foram se aproximando dos novos companheiros. Entender o porquê dessas mudanças requer um tempo de elaboração. Com o nosso apoio e no decorrer da rotina, foram se sentindo mais seguros, tornando-se referência para as crianças novas da turma e auxiliando-as no entendimento da cultura desse espaço.

As crianças que chegavam à pela primeira vez, observavam toda essa movimentação com olhares atentos. Com o tempo, foram se encantando e se envolvendo com a rotina escolar, mostrando-se mais seguras. Para elas, tudo era novidade e encantamento! Gostavam de manipular os brinquedos, a massinha de modelar, dar banho nas bonecas e bonecos, empilhar coisas, brincar de supermercado e percorrer o espaço, estabelecendo, assim, um sentimento de familiaridade e pertencimento. Ficavam sozinhas nas suas investidas ou acompanhadas por seus responsáveis. Para algumas, apenas uma leve aproximação de

Turma

Alice Kodama Flexor Angelo Riccetto

Antonio Armond Boechat Neto Antonio Bento de Oliveira Barbalho

Antonio Teixeira Estellita Lins Carolina Galvão Maia

Carolina Grinberg Limoncic Clarice Xavier Ferreira de Sá

Eduardo Augusto Cury Fabião Gabriel Carneiro Landim de Brito

Guilherme Intrator Rodrigues João Eduardo Santos Pollhuber

José Hermeto Kubrusly Luna Gonçalves Dias

Rafael Vicente Geraldi Gomes Filho Sofia Leite de Oliveira Castro

Sofia Tostes da Cunha e Menezes Theo Buarque de Hollanda

Professores e Auxiliares de Turma

Carina Monteiro Samão

Jean Philippe T Conilh de Beyssac Maria Aparecida de Jesus da Silva

Maria Nazareth de Souza Salutto Roberta Porto da Silva

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Turma da Beijoca / TAT Educação Infantil Relatório do Primeiro Semestre de 2007 2 nossa parte já era motivo para abandonarem seus brinquedos e procurarem o colo de seus acompanhantes. Paciência, delicadeza, olho no olho... O tempo e a convivência diária foram fazendo seu trabalho de mansinho, mediado pelos adultos e pelos seus pares.

O clima carnavalesco envolveu a todos e empolgou a garotada. No baile de carnaval, que tivemos na escola, não faltou animação entre confetes e serpentinas.

Após uma semana de recesso, retomamos nossa rotina. Alguns chorinhos e pedidos de colo são comuns nesse retorno. Respeitando o tempo de cada criança, sugerimos brincadeiras, histórias e atividades que privilegiavam o coletivo, para propiciar uma adaptação tranqüila.

A aproximação promovida pela convivência diária foi responsável pela constituição do grupo. Sendo assim, começamos a sondar e a instigar os pequenos para a escolha do nome da turma, um processo fundamental para a formação da

identidade do grupo. Foi então que José nos presenteou com uma lista de sugestões, sobre as quais conversamos. Um dia, durante uma brincadeira no pátio, Rafael nos sugeriu: "Ah! Nossa turma pode ser turma da Beijoca!". A sugestão agradou e a criançada acolheu. Passamos a nos chamar TURMA DA BEIJOCA. Uma escolha feliz, que nos remete a um gesto gostoso e nos lembra carinho e delicadeza.

"Eu gosto de dar muitas beijocas na minha mãe, porque ela me ama" José.

"Eu gosto de dar beijoca porque é muito legal" Carolina Maia

"Eu gosto de dar beijo porque eu adoro beijo!" Clarice

Brincamos com o nome da turma através de diferentes músicas. Com CD's trazidos de casa pelas crianças, ampliamos o nosso repertório, conhecemos alguns ritmos. Nas aulas de Expressão Corporal brincamos com o próprio corpo e com o do amigo. Reconhecer o outro e começar a perceber nossas diferenças, foi um dos fatos que nos levou, gradativamente, ao tema do primeiro projeto da turma: "Nossa história, nossa identidade".

Quem sou eu? Quem é esse outro com quem me encontro e divido tanta coisa todas as tardes? Essas e outras perguntas foram detonadoras do novo projeto. Assim, compartilhando gostos e saberes, fomos construindo a identidade do nosso grupo. Atitudes como ceder, ouvir, esperar, compartilhar e cuidar estiveram presentes em nossa rotina. Poder exercitar e conciliar os desejos pessoais com as propostas coletivas como

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forma de promover um encontro significativo entre todos foi um dos nossos principais objetivos.

"De abóbora faz melão, de melão faz melancia...".

Embalados pelo prazer de falar sobre o próprio gosto e de conhecer o dos amigos, organizamos um lanche coletivo com os alimentos favoritos da garotada. Aromas, cores, texturas... A sala se encheu de um perfume que misturava manga, abacaxi, laranja, melancia, banana, pêra, maçã, ameixa e tangerina. A Turma da Beijoca experimentou, com prazer, frutas e outras guloseimas trazidas de casa.

Depois, selecionaram, com seus familiares, objetos pessoais para trazerem para a escola. Num primeiro momento, para alguns ainda era difícil compartilhar os seus brinquedos pessoais. Aos poucos, mediados por nós e observando as atitudes de outras crianças, todos, movidos pela curiosidade própria da infância, deixaram de lado a resistência inicial, dando lugar a momentos de parceria e muita troca. Vimos a turma da Beijoca costurar, com afeto e solidariedade, os fios dessa história, superando, dia a dia, os desafios que a convivência oferece. Certa vez, quando algumas crianças brincavam com um jogo trazido pelo Rafael, se viram diante de um impasse que não conseguiam resolver. Nesse momento, Carina os ajudou a solucioná-lo e José lhe disse: "Isso Carina! Nós somos uma equipe e equipe resolve as coisas juntos né?!".

O projeto também deu oportunidade às crianças de exercitarem suas escolhas e alimentarem seus desejos pessoais, inclusive na elaboração de seus trabalhos de Artes. Utilizando muitas cores e diferentes técnicas e materiais, os pequenos

selecionaram algumas de suas produções para serem colocadas num livro que construíram.

Foi com emoção e orgulho que a Turma da Beijoca recebeu suas famílias para a Festa Pedagógica. Numa gostosa oficina de corpo, as crianças mostraram um pouco do que já

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tinham aprendido na escola.

Mas, nossas aventuras e descobertas terminaram por aqui? Não! Com fôlego e disposição ainda nos envolvemos com brincadeiras que enriqueceram nossos pátios. Com a ajuda dos pais, ampliamos o repertório, aprendendo novas regras e formas de brincar. Através da observação das obras de artistas como Portinari, Tarsila do Amaral, Brüegel e outros, as crianças exploraram plasticamente alguns elementos presentes nas obras, como a ciranda, que encantou a todos.

Numa tarde ensolarada e agradável fizemos nosso primeiro passeio. No Jardim Botânico, corremos pelo amplo espaço, lanchamos, nos divertimos muito no parquinho e observamos, com tranqüilidade, as tartarugas, desfrutando do prazer de estarmos juntos compartilhando tantas conquistas e descobertas.

Foi um semestre intenso, brindado com o gosto bom do encontro e do convívio em grupo.

Agora, uma pausa para reabastecermos as energias. Em breve nos veremos para compartilhar nossas lembranças das férias e partir rumo a novas aventuras!

Música _________________________________________________________

A Turma da Beijoca, sempre amorosa, não teve dificuldade de se sentir acolhida e acolher os novos amigos que estavam chegando. E, cá entre nós, a música sempre nos ajudou nesse momento. Gostando tanto de ouvir como de se

expressar corporalmente, a turma brincou um bocado com o repertório de brinquedos cantados, como a Linda Rosa Juvenil e, no final, todos despertos pelo beijo do Rei, pareciam reforçar a máxima som é movimento. Na história da minhoca e do minhoco, as crianças puderam escutar um beijo tão barulhento e sem fim... Aliás, pudemos, também, perceber a imensa diversidade de beijos que existem, de borboleta a esquimó. Até a piaba saiu da lagoa e deu um beijinho também. "Põe a mão na cabeça, outra na cintura / Dá um

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remelexo no corpo e dá um beijinho no outro." A boca do peixinho parecia fazer biquinho, mas a do tubarão...! Medo não pintou também com a baratinha Cucaracha; descobrimos que a capa do violão era uma perfeita fantasia da cascuda e logo todos viraram baratinhas. “La Cucaracha, ya no puede caminar”. Lembramos outras baratinhas. "A barata diz que tem / Sete saias de filó / É mentira da barata ela tem é uma só".

Com nossos instrumentos, passamos a obedecer alguns comandos, como o “pediu prá parar parou”, e também passamos a esperar a própria vez, tarefa que exigiu muita concentração. Aprendemos os nomes de vários instrumentos. E com as palavras mágicas "Vento que venta, Caxinguelá" só determinado instrumento podia tocar.

Temos percorrido, agora, outros caminhos, com a proximidade de São João. "No caminho da roça / Tem maracujá / ... / Dona Mariquinha rodei / Dona Mariquinha rodá / Um beijinho beijei / Um beijinho beijá". Nesse momento, aproveitamos para contar algumas histórias musicadas sobre as festas de São João, seu boizinho encantado, Pai Francisco e Catirina.

Expressão Corporal _________________________________________________________ "Sem os analisar, a criança imita com desembaraço os movimentos observados nos outros, e isso lhe facilita numerosas aquisições; seu gesto delicado e diferenciado lhe acompanha e sublinha a palavra, seus sentimentos se exprimem sem inibição alguma, em seus pulos alegres como em seus trejeitos, ou em suas investidas metediças. Está inteira em seu gesto e belisca, bate ou põe a língua com o mesmo desembaraço com que salta atrás da bola".

Paul Ostherrieth

Acreditando que os objetos podem intermediar as ações e as relações, escolhemos a bola azul gigante para atrair o interesse das crianças no nosso primeiro contato. Brincar, ainda

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que individualmente, foi a maneira escolhida para as apresentações. Segurando-as pela cintura, passeamos pela bola, trabalhando a extensão e flexão da coluna e estabelecendo um vínculo de confiança. Aos poucos, as crianças foram se apresentando, dizendo seus nomes, abrindo sorrisos.

Com a vinda para o Salão, ganhamos um espaço novo e novos materiais para explorar. Passeamos com bolinhas pelo corpo, ativando a propriocepção e preparando-o para receber novos estímulos. Pintamos a sala com panos coloridos, nos movimentando livremente e explorando o espaço. Desbravamos uma floresta e brincamos com as diferentes formas de andar dos animais rastejando, engatinhando, cavalgando, mergulhando, saltando. Nessa atividade, as crianças saíram do lugar de observadoras e reprodutoras da movimentação proposta e passaram a criar sua própria movimentação, escolhendo os animais a serem imitados.

Continuamos as nossas descobertas. O próprio corpo, o do outro, um novo toque, um outro olhar, um ritmo novo, uma nova escuta. Se estivermos atentos, teremos sempre surpresas para serem percebidas e partilhadas. Tal premissa permitiu que a Turma da Beijoca começasse a estabelecer novas relações; a perceber, devagarzinho, o eu e o outro (ainda que intitulado amigo). Brincamos com os opostos: pequeno e grande, dentro e fora, alto e baixo e nos aproximamos do projeto da turma, que a princípio se relacionava ao nome que a identificava.

Aproveitando o nome da turma, inventamos os beijos de cotovelo, de calcanhar, de bumbum, de ombro, apresentando as partes do corpo, nomeando-as e favorecendo a construção da imagem corporal.

Com o grupo formado e as crianças cada vez mais envolvidas com as descobertas, iniciamos a nossa rodinha, onde trabalhamos o aquecimento articular e a flexibilidade de uma maneira lúdica, cantando e contando histórias.

Durante o semestre, percebemos que algumas crianças já entravam no Salão pedindo por determinados exercícios, expressando suas expectativas, fazendo suas escolhas, o que foi extremamente prazeroso.

N os circuitos criados com os materiais -- bambolês, pontes de equilíbrio, túnel, colchonetes, pula-pula, experimentamos diversos caminhos que exigiam equilíbrio e concentração. Brincamos com os diferentes apoios, viramos

cambalhotas, saltamos, criamos o nosso próprio caminho. Observar o outro e aprender a esperar pela sua vez foram aprendizados importantes.

É com todas essas conquistas, desembaraço motor, liberdade e espontaneidade que fechamos esse primeiro semestre fazendo grandes planos para o retorno das pequenas férias de julho.