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A PESQUISA SOCIOLÓGICA COMO SUPORTE PEDAGÓGICO: O CASO DO COLÉGIO ESTADUAL DAURA SILVA BARBOSA Gilson Luiz Gabriel 1 RESUMO: Além de registrar uma experiência pouco usual na rede pública de educação básica do RJ, o presente artigo visa analisar trabalho de pesquisa elaborado e levado a efeito pelos corpos docente e discente do C. E. Daura Silva Barbosa, localizado em Valença-RJ. Tal pesquisa, objetivando reaproximar a Unidade Escolar da comunidade na qual está inserida, permitiu também a re- identificação do alunado residente no citado Bairro com sua própria realidade, sendo assim uma ferramenta de apoio crítico e produtora de alternativas sociais. PALAVRAS CHAVE: Educação; Pesquisa; Pesquisa sociológica; Suporte pedagógico. 1 Graduado em História pela FAFIVA Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Valença-RJ, pós-graduando em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. E-mail do autor: [email protected] Orientadora: Prof. Ma. Cleide Augusto.

Tcc a Pesquisa Sociológica Como Suporte Pedagógico

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Trabalho apresentado como exigência para conclusão de Pós Graduação.

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  • A PESQUISA SOCIOLGICA COMO SUPORTE PEDAGGICO:

    O CASO DO COLGIO ESTADUAL DAURA SILVA BARBOSA

    Gilson Luiz Gabriel1

    RESUMO: Alm de registrar uma experincia pouco usual na rede pblica de

    educao bsica do RJ, o presente artigo visa analisar trabalho de pesquisa

    elaborado e levado a efeito pelos corpos docente e discente do C. E. Daura Silva

    Barbosa, localizado em Valena-RJ. Tal pesquisa, objetivando reaproximar a

    Unidade Escolar da comunidade na qual est inserida, permitiu tambm a re-

    identificao do alunado residente no citado Bairro com sua prpria realidade, sendo

    assim uma ferramenta de apoio crtico e produtora de alternativas sociais.

    PALAVRAS CHAVE: Educao; Pesquisa; Pesquisa sociolgica; Suporte

    pedaggico.

    1 Graduado em Histria pela FAFIVA Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Valena-RJ, ps-graduando

    em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia pelo Centro Universitrio Baro de Mau, Ribeiro Preto, So Paulo, Brasil. E-mail do autor: [email protected] Orientadora: Prof. Ma. Cleide Augusto.

  • 1 A necessidade da pesquisa na Educao Bsica

    Pedagogos, filsofos, socilogos e cientistas de inmeras reas do

    conhecimento atestam a impossibilidade da produo do saber sem que se recorra

    pesquisa. ela quem vai permitir validar ou no o discurso acadmico e vai garantir

    desdobramentos do assunto sobre o qual se trabalha.

    Na escola de educao bsica no diferente. Para DEMO (2011), o que

    melhor distingue a educao escolar de outros tipos e espaos educativos o fazer-

    se e refazer-se na e pela pesquisa. Assim sendo o que se espera que o espao da

    educao bsica realmente privilegie a pesquisa, j que esta, ao mesmo tempo em

    que propicia a construo do saber sistemtico, produz o prprio cidado, visto este

    como o sujeito que percebe a realidade, analisa-a e, agindo sobre ela, transforma-a

    segundo a inteno do grupo do qual faz parte.

    Mas para se efetivar a cobrana pela pesquisa nas escolas de educao

    bsica h que se distinguir tambm as escolas em:

    a) Aquelas que so meras socializadoras do conhecimento, ou seja, restringem-

    se a reproduzirem o conhecimento produzido anteriormente, enxergando o aluno

    apenas como objeto de ensino e instruo, treinando-o para eventuais situaes

    futuras, e;

    b) As que optam pela ousadia de construir algo novo, fazendo, por isso, de seus

    alunos, parceiros. Tal viso tem natureza emancipatria e, talvez por isso, esteja ao

    largo das experincias didtico-pedaggicas mais desenvolvidas na atualidade.

    Ao realizar tal distino fica ntida a necessidade de se discutir a prpria

    natureza da escola atual, j que as primeiras, definitivamente, mantero alunado e

    professorado num mesmo patamar onde a comunidade escolar vista apenas como

    receptculo do que se produz noutras esferas educativas e as segundas, ento,

    comporiam um conjunto de instituies que no s preparariam o aluno para a vida

    social (incluindo a o mercado de trabalho) como dariam a ele a chance de

    posicionar-se ativa e propositivamente frente os problemas enfrentados em sua

    rotina. Tal posicionamento cidado vincular-se-ia a uma re-identificao do aluno

    com sua realidade mais imediata - o Bairro onde mora, j que grande parcela das

    Escolas, principalmente aquelas que oferecem o Ensino Mdio, o obrigam a

  • desligar-se de tal realidade, o que se explica pelo fato destas Unidades Escolares

    situarem-se, em sua maioria, nas reas mais centrais da cidade (neste caso

    especfico, a cidade de Valena-RJ). Tal distanciamento leva o aluno a um universo

    diversificado e diferente daquele sob o qual vivia at ento, j que a maioria dos

    componentes deste alunado vem de outras periferias da cidade, cada um com

    suas perdas e expectativas sobre o novo espao educativo no qual se inseriro.

    Percebida ento esta distncia do aluno de sua realidade imediata e seu

    estranhamento diante de um novo que no se desenha de pronto, a proposta da

    pesquisa encaixa-se de maneira bastante pertinente. Primeiro, ela o ajudaria a

    identificar-se como algum que, no momento da mudana de espao educativo

    visto, at ento, como mero objeto. Algo que se joga de um lado para outro de

    acordo apenas com o interesse de terceiros, ainda que esses terceiros desejem a

    melhor qualidade possvel em sua educao. Segundo, se ele assim se percebe,

    coloca-se para ele a oportunidade de repensar-se e enxergar-se como possvel

    sujeito noutras etapas de sua vida. Os questionamentos surgidos neste momento

    poderiam propiciar respostas que o ajudassem a delinear um mapa futuro,

    adquirindo a noo do onde se encaixar nos prximos momentos de mudanas. E

    em terceiro, o alunado perceber-se-ia como um todo formado por componentes

    diversos, mas, que neste momento, se identificam. Quase todos vindos das

    periferias da cidade, tendo passado por processos parecidos de perdas sem, ao

    mesmo tempo poderem vislumbrar integralmente o que se avizinha. Mas tambm

    verdadeiro afirmar, neste momento, que tal proposta no se realizar sem o

    compromisso do professor. DEMO (2011) quem afirma que condio fatal da

    educao pela pesquisa que o professor seja pesquisador. E ainda que no seja um

    profissional da pesquisa precisa se definir por ela discutindo e rediscutindo sempre:

    a) o projeto poltico pedaggico;

    b) o material didtico utilizado;

    c) a sua prtica pedaggica.

    Ou seja, fazendo-se pesquisador, visto aqui como aquele que constri e

    reconstri sempre as condies do prprio universo no qual se insere e ao faz-lo se

  • apropria da construo do espao educativo no qual se inscreve, o professor se

    transforma na ferramenta essencial para gerar alunos pesquisadores.

    A situao aqui relatada, do distanciamento escola comunidade e o uso da

    pesquisa sociolgica como suporte da ao pedaggica e como instrumento de

    resgate qualitativo de tal relao, objeto ento do presente Artigo, tendo por base

    a anlise do projeto Meu bairro, minha histria, idealizado e executado por

    professores e alunos do Colgio Estadual Daura Silva Barbosa, localizado no Bairro

    da Biquinha, periferia do Municpio de Valena, Rio de Janeiro. O Artigo se ancora

    tambm nos argumentos de defesa da pesquisa como projeto educacional em

    autores como Pedro Demo, j citado, inclusive, e Antnio Chizzoti, fundamentais

    para o entendimento do prprio instrumento pesquisa como forma de se atingir o

    objetivo da produo do saber.

    2 O caso do Colgio Estadual Daura Silva Barbosa Reaproximando Escola e

    Comunidade

    O Colgio Estadual Daura Silva Barbosa tem sua inaugurao ao final da

    dcada de 1960, tendo como marca fundamental em grande parte de sua histria a

    participao ativa da Comunidade do Bairro da Biquinha, Valena-RJ, desde sua

    construo. As vrias Direes que se sucederam frente dela mantiveram, em boa

    medida, uma proximidade com a Comunidade extramuros, mantendo-a como

    parceira em grande parte de suas atividades. Tal relao, observados sucessos e

    insucessos, manteve-se at a dcada de 1990 quando, visando uma suposta

    garantia da ordem, a Direo vigente poca optou por desvincular suas aes

    das da populao do Bairro, mantendo apenas o atendimento ao alunado como

    ligao a tal populao.

    Distanciando-se de tal maneira da Comunidade do Bairro o Colgio firmou-se

    como campo de ao exclusivo da Direo escolar tendo, inclusive com o corpo

    docente, relao conflitante, o que se explicitou em vrios momentos da sua histria.

    A partir do reconhecimento de tal situao, o que ocorreu j na primeira dcada do

    sculo XXI, mais precisamente em 2008, tticas comearam a ser pensadas a fim de

    recuperar a proximidade Escola-Comunidade. Esta reaproximao possibilitaria,

    segundo a avaliao da Direo escolar e do corpo docente, seno uma

    reapropriao da Escola pela Comunidade pelo menos uma retomada dos vnculos

  • anteriores, oxigenando a discncia e oferecendo novas alternativas de insero e

    interferncia do alunado tanto na Escola quanto no prprio local de moradia. A

    encurtar o caminho para a almejada reaproximao definiu-se ento um projeto de

    Feira de Cultura e, inserido em tal contexto, um projeto ganhou corpo: o Meu bairro

    minha histria, e com ele uma pesquisa sociolgica com o objetivo de permitir a

    docentes e discentes uma leitura mais objetiva da realidade local. Essa leitura

    permitiria analisar ainda as motivaes para o esvaziamento do Ensino Mdio

    oferecido pelo Colgio aos moradores do Bairro e adjacncias.

    2.1 O que e como pesquisar

    Definida a justificativa da pesquisa, Professores de diferentes reas

    coordenaram, junto aos alunos, a construo do projeto em tela. Como trabalho

    interdisciplinar, vrios enfoques foram lanados, unindo, num mesmo trabalho,

    caractersticas tanto quantitativas quanto qualitativas. Tais enfoques permitiram ter,

    ao fim do trabalho, informaes a respeito da situao econmica da populao do

    Bairro, sobre a situao de moradia, sobre as condies de sade daquela

    populao, bem como opinies a respeito da prestao de servios pela Prefeitura

    Municipal e sobre a viso da Comunidade sobre a prpria Escola.

    A utilizao das definies quanto ao tipo da pesquisa pode ser balizada por

    muitas publicaes, inclusive pela produzida por DA SILVA, Ktia Viviane.

    DIFERENA ENTRE PESQUISA QUALITATIVA E QUANTITATIVA. PIBIC

    JR/FUNDECT/CNPq. 2011, onde se aponta que:

    Uma vez definido o tema da pesquisa, deve-se escolher entre

    realizar uma pesquisa qualitativa ou uma quantitativa. Uma no

    substitui a outra: elas se complementam.

    As pesquisas qualitativas tm carter exploratrio: estimulam

    os entrevistados a pensar e falar livremente sobre algum tema,

    objeto ou conceito. Elas fazem emergir aspectos subjetivos,

    atingem motivaes no explcitas, ou mesmo no conscientes,

    de forma espontnea.

    As pesquisas quantitativas so mais adequadas para apurar

    opinies e atitudes explcitas e conscientes dos entrevistados,

    pois utilizam instrumentos padronizados (questionrios). So

    utilizados quando se sabe exatamente o que deve ser

  • perguntado para atingir os objetivos da pesquisa. Permitem

    que se realizem projees para a populao representada.

    Elas testam, de forma precisa, as hipteses levantadas para a

    pesquisa e fornecem ndices que podem ser comparados com

    outros.

    Tambm CHIZZOTTI (2003), contribuiu para a definio do perfil da pesquisa

    afirmando que a abordagem qualitativa parte do fundamento que h uma relao

    dinmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependncia viva entre o sujeito e

    o objeto, um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do

    sujeito. Ou seja, ao produzir conjuntamente pesquisas qualitativas e quantitativas, o

    Colgio realmente poderia ter acesso ao pensamento da populao e a sua viso

    inclusive quanto relao histrica entre Escola e Comunidade.

    Definida a tipologia, definiu-se tambm o tamanho da amostra a ser

    explorada. Optou-se por um valor que satisfizesse tanto anlise quantitativa

    quanto qualitativa, embora valorizando mais a ltima j para a mesma necessita-

    se de uma menor populao pesquisada por conta de natureza explicitada na

    citao acima. De uma populao total de aproximadamente 4000 (quatro mil)

    moradores, foram pesquisadas 216 (duzentas e dezesseis) famlias, num

    quantitativo prximo a 900 (novecentos moradores), ou seja, a pesquisa atingiu mais

    de 20% (vinte por cento) da populao total do Bairro.

    Dentro da proposta anteriormente definida e observada a tipologia da

    pesquisa, elaborou-se, tambm como trabalho interdisciplinar e com a colaborao

    do alunado das trs sries do Ensino Mdio, um questionrio a ser aplicado

    populao. Esta aplicao deu-se por conta dos discentes do Ensino Mdio do

    Colgio Estadual Daura Silva Barbosa, observada a distribuio, por srie, das

    diversas regies do Bairro. Tal tarefa foi utilizada tambm como instrumento

    avaliativo para as citadas sries, visando o quarto bimestre do ano de 2008, sendo a

    valorao do instrumento decidida pelos professores avaliadores e segundo a

    possibilidade oferecida, j que outros instrumentos de avaliao deveriam ser

    utilizados para a composio das notas bimestrais dos alunos.

  • 2.2 A execuo da tarefa e seus resultados

    A aplicao da pesquisa, tomando aproximadamente um ms, ou seja, quase

    a metade do ltimo bimestre do ano de 2008, realizou-se a partir da definio dos

    prprios alunos e levou em conta:

    a) A disponibilidade de tempo dos mesmos;

    b) A proximidade de seus domiclios com a regio do Bairro a ser pesquisada; e,

    c) A possibilidade de locomoo dos mesmos, sem que isto representasse

    custo realizao da tarefa.

    Observadas as orientaes acima, o desenvolvimento da atividade deu-se

    sem ressaltos, acidentes ou incidentes, o que permitiu uma tabulao a contento de

    resultados. Os resultados, dada a necessidade de apresentao pblica dos

    mesmos e a possibilidade de sua transformao em atividades prticas para

    interferncia junto Comunidade, foram transformados em grficos. Tais grficos,

    durante a realizao da Feira Cultural citada no incio deste, foram dados a

    conhecimento geral.

    Acompanhando as apresentaes dos resultados, as anlises realizadas

    pelos corpos docente e discente do Colgio apontaram a necessidade da

    solidificao da relao Escola-Comunidade, mas ao mesmo tempo indicaram as

    brechas deixadas pela ausncia do Estado no Bairro pesquisado. Percebe-se

    claramente que, em alguns aspectos, o Estado limita-se a oferecer servios sem, no

    entanto, desenvolver preocupao com sua qualidade ou mesmo com os reflexos de

    uma m assistncia populao local, o que fica mais ntido quando se observa

    como servios de assistncia sade, coleta de lixo e oferecimento de gua

    potvel, fundamentais qualidade de vida da populao so negligenciados

    conforme se afirma acima, ou seja, existem, mas no tm a devida manuteno.

    Alguns dos itens constantes do formulrio, compilados dos registros do

    Colgio Estadual Daura Silva Barbosa2, e que puderam ser transformados em

    apresentaes grficas so exemplificados a seguir:

    2 Registros do Colgio Estadual Daura Silva Barbosa realizados pelo corpo docente e disponibilizados para o

    presente TCC.

  • Figura 1

    Aspectos da renda familiar no Bairro da Biquinha

    Pode-se observar a partir deste grfico que mais de 80% (oitenta por cento)

    das famlias moradoras no Bairro vivem com uma renda mensal de at 03 (trs )

    salrios mnimos, ou seja, ainda hoje Biquinha um Bairro de pequeno poder

    aquisitivo, embora conte com uma populao trabalhadora bastante grande.

    Figura 2

    Distribuio da populao local segundo o local de trabalho

    Pelas informaes contidas no presente grfico possvel inferir, por

    exemplo, que 71% (setenta e um por cento) da populao trabalhadora do Bairro

    necessariamente desloca-se para o Centro da Cidade a fim de trabalhar, o que

  • representa um consumo considervel dos recursos advindos do trabalho,

    contribuindo tambm para o empobrecimento da populao.

    Figura 3

    Utilizao dos transportes coletivos pela populao local

    O presente grfico confirma o que j se apreendeu no anterior e mostra

    tambm que a imensa maioria da populao depende dos servios de transportes

    coletivos. Grande parcela da populao os utilizam para fins educacionais, valendo-

    se da gratuidade legal para os estudantes das redes Estadual e Municipal, o que,

    em parte, explica a opo da populao em idade escolar em no estudar no

    Colgio Estadual Daura Silva Barbosa.

    Alm das informaes acima a pesquisa constatou que:

    a) 100% (cem por cento) das famlias so servidos por coleta regular de lixo;

    b) 100% (cem por cento) das famlias so atendidos por rede de

    abastecimento de gua;

    c) Apenas 1% (um por cento) das famlias no conta com esgotamento

    sanitrio; e,

    d) 93% (noventa e trs por cento) das famlias pagam IPTU;

    e) No bairro existem reas acmulo de lixo a cu aberto;

  • f) Embora as redes de esgotos e gua sirvam a praticamente toda a

    populao do Bairro, as redes no contam com manutenes preventivas

    ou corretivas, o que s vezes, prejudica o abastecimento ou a coleta dos

    esgotos, o que se explicita nas imagens a seguir:

    Figura 4

    Depsito de lixo a cu aberto no Bairro da Biquinha

    Figura 5

    Rede de gua com vazamento nas proximidades do CEC Daura Silva Barbosa

  • Figura 6

    Lixo acumulado nas bordas de bueiro em rua do Bairro da Biquinha

    2.3 Sem continuidade

    Infelizmente o que se apresentou como ferramenta capaz de alterar

    positivamente as relaes entre a Escola e a Comunidade pesquisadas no obteve

    a ateno necessria. A proposta da pesquisa, embora oferecendo suporte a um

    sem nmero de demandas da comunidade escolar e da extramuros, no continuou,

    tampouco recebeu anlises criteriosas de nenhuma das partes envolvidas

    integralmente. Alguns docentes, de fato, produziram, a partir dela, materiais a serem

    utilizados em suas aulas, cumprindo a proposta do fazer e refazer-se j apontada

    anteriormente. Colocaram a pesquisa a servio da rediscusso do espao

    educacional da Escola e produziram revises sobre suas prticas pedaggicas. Mas

    tambm se verificou, nos momentos posteriores concluso das tarefas da Feira

    Cultural, inclusive da pesquisa propriamente dita, um distanciamento da proposta

    original por parte de Diretores e Professores.

  • Nos anos seguintes, mesmo sendo reeditada a Feira de Cultura, esta no

    contou com novos trabalhos de pesquisa, revelando um cotidiano majoritariamente

    alheio a tal prtica. Mesmo os profissionais que perceberam a proposta como

    fundamental para o aprofundamento das relaes Escola-comunidade e como

    possibilidade de reapropriao dos espaos comunitrios pelo alunado no se viram

    estimulados a produzir novos trabalhos do gnero. A postura destes profissionais

    explica-se basicamente pela falta de apoio das Direes e Coordenaes

    Pedaggicas que, diante da possibilidade da produo de discursos dotados de

    criticidade preferem a passividade e a manuteno de um status inserido numa

    ordem de carter positivista, sob a qual imperam a disciplina, a obedincia e a

    aceitao completa de normas, por mais absurdas que sejam. Assim agindo,

    Direes e Coordenaes Pedaggicas ajudam a explicar, tambm, as respostas

    dadas por entrevistados quanto a no estudarem ou no manterem seus filhos no

    Colgio em questo. Boa parte dos entrevistados apontou um suposto autoritarismo

    da Direo e problemas com funcionrios como justificativas para estudarem ou

    levarem seus filhos para escolas do Centro da cidade. Ou seja, parcelas da

    populao possuam, na ocasio, posturas crticas em relao Direo, o que no

    se mostrou suficiente para demov-la da forma de gesto estabelecida.

    3.0 Concluindo

    Analisado o trabalho realizado no Colgio Estadual Daura Silva Barbosa,

    percebida a mobilizao dos corpos docente e discente para sua execuo e

    analisados os seus resultados ficam algumas constataes:

    a) Professores e alunos dispem-se a utilizar a pesquisa como instrumento de

    ensino e aprendizagem desde que encontrem ambiente favorvel no interior das

    escolas com as quais se relacionam;

    b) A comunidade extramuros sente-se valorizada quando partcipe de aes como a

    analisada. V-se como agente da histria local j que suas opinies sustentam

    propostas para interferncia social de outras categorias sociais no interior da

    prpria comunidade e em seus espaos de convivncia mtua;

    c) O alunado envolvido v-se como sujeito de algo que pode transformar

    qualitativamente as relaes entre Escola e Comunidade, o que se reflete no s

  • no aumento do nmero de alunos matriculados no Colgio analisado, oriundos

    do Bairro onde est localizada a escola, mas na qualidade da relao que se

    estabelece. Tal alunado percebe-se como pea fundamental tanto na construo

    quanto na execuo deste projeto de escola. A Escola, por sua vez, tem a

    chance de fazer-se parceira deste alunado, estimulando-o a buscar cada vez

    mais o conhecimento e as vises de mundo populares, o que se torna material

    concreto para a produo de novos projetos pedaggicos;

    d) O professorado envolvido consegue perceber com nitidez os desdobramentos do

    Projeto Poltico Pedaggico da Escola, agregando-se efetivamente equipe. Sua

    participao objetiva na realizao da proposta estabelece sentido ao seu fazer

    pedaggico o que, em conseqncia, produz crescimento profissional e humano.

    uma oportunidade mpar para que ele, professorado, atue e desenvolva um

    agir que ultrapasse os limites institucionais impostos pelo Estado e perceba-se

    tambm como fruto da Comunidade pesquisada, j que h, entre eles, professor

    e comunidade, relao de complementaridade dialtica;

    e) Se a escola distancia-se da comunidade, de seus problemas, de seus anseios,

    se a trata apenas como a comunidade extramuros, se no a v como parceira

    na execuo das tarefas educacionais e s a percebe como geradora de

    problemas, a relao entre elas fatalmente se petrificar, o que no permitir a

    oxigenao do ambiente escolar pelo saber popular e, por outro lado, impedir o

    retorno do saber acadmico comunidade, o que permitiria a esta a construo

    de novas vises de mundo ou mesmo a reviso de seus conceitos;

    f) Tal oxigenao viria, primeiramente, pela busca da escola como espao

    privilegiado de convivncia, onde as diversas formas do saber complementar-se-

    iam. Esta busca levaria a comunidade a defender intransigentemente sua

    existncia no interior do Bairro, garantindo a apropriao do que se construiu. No

    caso especfico do Colgio analisado, este deixaria de ser o objeto estranho no

    qual se tornou atravs de sua histria e voltaria a ser obra e parte da

    comunidade, onde se estreitariam os laos entre saberes diversos, mas

    necessrios existncia tanto de um Escola quanto de outro a

    Comunidade;

  • g) perfeitamente vivel projetar e executar aes como as aqui descritas, ou seja,

    estabelecidas as condies necessrias e utilizando-se ferramentas que

    sensibilizem e motivem, os componentes das comunidades envolvidas produzem

    de maneira eficaz e permanente. Neste caso, Direes, Coordenaes

    Pedaggicas, Professores e Alunos precisam compor um quadro nico, onde o

    objetivo seja, a partir da aceitao e da implantao da pesquisa como essncia

    da educao escolar, a construo de conhecimentos diversos;

    h) O principal obstculo a no utilizao da pesquisa como suporte pedaggico a

    prpria escola quando se resume a mero espao de socializao e reproduo

    de conhecimentos anteriormente produzidos. Na situao analisada percebemos

    quatro momentos dspares. O primeiro percebido na construo da Escola que

    conta com o envolvimento ativo da Comunidade, j que esta anseia por ter uma

    Escola concretizada em seu interior e com a qual caminhar junto por longo

    perodo. O segundo vislumbra-se, j aps a passagem de diversas Direes pela

    Unidade Escolar, com o rompimento entre Escola e Comunidade, o que se d em

    nome de uma suposta normatizao da ordem. O terceiro quando, percebendo

    seu distanciamento da comunidade na qual est inserida, a escola reage

    incentivando seus parceiros a analisar a qualidade de tal relao e alimenta a

    formulao e execuo do projeto Meu bairro, minha histria no sentido de

    resgatar a proximidade perdida. E o quarto quando, passada a necessidade

    primordial de reaproximar-se da comunidade do Bairro, a escola fecha-se

    novamente participao da comunidade, retomando uma prtica j condenada

    pelos moradores do Bairro, o que se explicitou, como j afirmado anteriormente,

    na busca pela populao de outras Unidades Escolares nas quais matricularem

    seus filhos.

    Faz-se mister ento lanar mo constantemente da pesquisa. Como j

    afirmado, ela no s pode nortear a ao pedaggica como dar rumo s prticas

    populares no sentido de produzir mudanas significativas nos locais de moradia,

    tornando-os espaos de vivncia e socializao de experincias mais adequados.

    Alm disso, os jovens e adolescentes inseridos no universo da pesquisa podero

    utiliz-la extrapolando os muros da escola, j que a prtica pode transform-los em

    cidados mais conscientes de seus papeis sociais e, portanto, conseguindo analisar

    e agir sobre suas realidades imediatas, modificando-as na medida do possvel e de

  • acordo com as necessidades. O nvel de criticidade atingido atravs da prtica da

    pesquisa permitir que esses jovens e adolescentes deixem de aceitar

    passivamente sua situao social assim como podero enfrentar os conceitos do

    senso comum sobre sua existncia, modificando-os segundo a nova realidade

    percebida e passvel de alteraes a partir da prtica da pesquisa.

    Ao professorado imbudo do esprito da pesquisa no restar outro caminho

    seno o de manter acesa tal conscincia, contribuindo assim para uma nova e

    inequvoca prtica pedaggica que valorize a produo e no apenas a reproduo

    de saberes alheios.

    FONTE PRIMRIA

    Arquivos do Colgio Estadual Daura Silva Barbosa.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    CHIZZOTTI, Antnio. Pesquisa em cincias humanas e sociais. 6 edio. So

    Paulo: Cortez, 2003.

    DA SILVA, Ktia Viviane. DIFERENA ENTRE PESQUISA QUALITATIVA E

    QUANTITATIVA. PIBIC JR/FUNDECT/CNPq. 2011. Disponvel em

    http://programapibicjr2010.blogspot.com.br/2011/04/diferenca-entre-pesquisa-

    qualitativa-e.html. Acessado em 25/10/2013.

    DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 9 edio revista. Campinas-SP: Autores

    Associados, 2011.