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CURSO DE DIREITO IVAN LUIZ CIDRIN O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: fatores condicionantes ao desvio comportamental

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CURSO DE DIREITO

IVAN LUIZ CIDRIN

O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: fatores condicionantes ao desvio comportamental

LONDRINA2012

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IVAN LUIZ CIDRIN

O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: fatores condicionantes ao desvio comportamental

Trabalho de Conclusão do Curso de Direito, apresentado à Faculdade Arthur Thomas como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. Ma Fernanda Martins Simões

LONDRINA

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2012

Cidrin, Ivan Luiz. C51o O adolescente em conflito com a lei: fatores condicionantes ao desvio comportamental / Ivan Luiz Cidrin – Londrina, Pr. 2012. 57 p. il.; 23 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) - Faculdade Arthur Thomas - FAAT Orientador: Fernanda Martins Simões.

1. Menor infrator. 2 . Ato infracional. 3 . Fatores condicionantes a criminalidade. I. Faculdade Arthur Thomas. II. Titulo.

CDU 347.157.1

Bibliotecária responsável: Rosemeyre L L Rizatto – CRB 1415/9Biblioteca Joel Rodrigues Pereira

Faculdade Arthur Thomas

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IVAN LUIZ CIDRIN

O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: fatores condicionantes ao desvio comportamental

Trabalho de Conclusão do Curso de Direito apresentado à Faculdade Arthur Thomas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito com nota final igual a 10,0 (dez), conferida pela banca examinadora formada pelos professores:

___________________________________________Orientadora: Profª Ma Fernanda Martins Simões

Faculdade Arthur Thomas

___________________________________________Prof. Esp. Camila Araújo Antônio

Faculdade Arthur Thomas

___________________________________________Prof. Ma Francielle Calegari de Souza

Faculdade Arthur Thomas

Londrina, 13 de dezembro de 2012.

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Dedico este trabalho a minha esposa Adriele pelo amor, carinho, incentivo e dedicação nos momentos em que estive ausente pelo empenho nos estudos, e principalmente por me dar uma linda princesinha, Alicia Mariana, o qual é a principal razão de encontrar forças para perseguir uma vida melhor.

AGRADECIMENTOS

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De imediato quero agradecer e destacar a presença Deus em todos os momentos, abençoando meu trabalho e minha vida.

Agradeço aos meus pais, Antônio Cidrin e Neide Tosti Cidrin pelas lutas e dedicação na formação e educação de seus filhos moldando a moral e nos transformando em cidadãos de bem.

Agradeço a atenção e comprometimento da minha orientadora professora Fernanda Martins Simões, pela paciência nos momentos de dificuldade, tanto neste projeto, como durante o período de formação acadêmica.

Agradeço aos professores da Faculdade Arthur Thomas, pois todos contribuíram para a chegada deste momento tão esperado.

Não se podem esquecer aqueles que durante cinco anos estiveram comigo, na maior parte do tempo da minha vida, sendo eles os colegas e amigos de classe, sempre apoiando, brincando, e alegrando nos momentos difíceis que traziam a vontade de desistir de tudo.

A Adriele Izabel Cavalari, pelo seu amor e compreensão.

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"Nunca deixe que alguém te diga que não pode fazer algo, nem mesmo eu, pois se você tem um sonho, tem que protegê-lo. As pessoas que não podem fazer por si mesmas, dirão que você não consegue. Se quer alguma coisa, vá e lute por ela. Ponto final."

(Chris Gardner)

CIDRIN, Ivan Luiz. O adolescente em conflito com a lei: fatores condicionantes ao desvio comportamental. 2012. 57f. Trabalho de Conclusão de Curso (Direito), Faculdade Arthur Thomas, Londrina, 2012.

RESUMO

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Este trabalho busca apresentar uma abordagem, especialmente sobre o adolescente infrator, a identificação das causas que os levam a buscar a delinquência, a origem da proteção no seu contexto histórico, o núcleo familiar e formas de educação em suas casas, tratamento nos lares, condições socioeconômicas da família, a educação escolar oferecida pelos Órgãos Públicos. Adiante expõe o momento em que o menor busca o caminho da criminalidade, e as causas que os levam a optar pela escolha do outro lado da linha social, a prática da violência familiar à criança e o adolescente dentro de sua própria casa e ainda pelas pessoas competentes a protegê-los. Fatores elementares como a fome, a miséria, a necessidade de ser reconhecida perante a sociedade, necessidade esta que quando ausente torna-os detentores de revolta com o mundo, com a família, com a sociedade, pouco importando com as consequências advindas de seus atos.

Palavras-chave. Menor infrator. Família. Educação. Necessidades sociais, Maioridade penal.

CIDRIN, Ivan Luiz. The adolescent in conflict with the law: conditioning factors to deviance. 2012. 57f. Completion of course work (Law), Faculty Arthur Thomas, Londrina, 2012.

ABSTRACT

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This research seek for a aproach, especialy about a violator child, the identification of the causes that lead them to seek the crime, the source of protection in its historical context, the nuclear family and forms of education in their homes, treatment at home, family social economic status, school education provided by public agencies. Ahead exposes the moment that infant search the path of crime, and the causes which impel them to opt for choice across the social line, the practice of family violence on children and adolescents within their own home and even by persons that have competence to protect them. Simple factors such as hunger, misery and the need to be recognized in society, when this is absent turn they revolted with the world, with family, with society, no matter the consequences arising from their acts.

Key-words: Juvenile offender. Family. Education. Social needs, Age of criminal.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de infrações cometidas por menores......................................... 48

Tabela 2 – Pessoas autuadas pela Polícia Civil por Faixa etária.............................. 49

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 11

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DO MENOR..................................... 14

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2.1 Evolução histórica no mundo.......................................................................14

2.2 Evolução histórica no Brasil.........................................................................15

3 OMISSÃO DO ESTADO NA PROTEÇÃO INTEGRAL DO ADOLESCENTE......21

4 CONCEITOS BÁSICOS REFERENTES AO ECA............................................... 25

4.1 O adolescente..............................................................................................25

4.2 O ato infracional...........................................................................................26

4.3 Medidas socioeducativas.............................................................................27

4.4 Direitos individuais do Adolescente infrator.................................................29

5 FATORES CONDICIONANTES À CRIMINALIDADE..........................................31

5.1 Delinquência juvenil.....................................................................................34

5.2 O convívio familiar....................................................................................... 37

5.3 Sistema educacional....................................................................................39

5.4 O trabalho infantil.........................................................................................42

5.5 Condições socioeconômicas....................................................................... 42

5.6 Inclusão digital.............................................................................................43

5.7 Bullying........................................................................................................ 45

5.8 Drogas......................................................................................................... 46

6 ATO INFRACIONAL E CRIMINALIDADE NA CIDADE DE LONDRINA..............48

7 PREVENÇÃO E REDUÇÃO DA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL..................50

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 52

REFERÊNCIAS........................................................................................................54

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1 INTRODUÇÃO

A violência no país atinge hoje índices alarmantes, mobilizando não

só as entidades públicas como também as privadas para o debate político sobre

soluções para a crise que se instala.

Diante da importância dos impactos do crime à vida saudável da

sociedade e do Estado, vislumbra-se a necessidade de buscar o desenvolvimento

de estudos para geração de informações para o combate exaustivo desse câncer

que destrói a base da sociedade, ou seja, a família.

Vale lembrar, que o Brasil está em evidência na mídia falada, escrita

e virtual, tanto nacional quanto internacional, especialmente na questão em grande

debate, ou seja, a estabilidade econômica em detrimento com a criminalidade,

sendo que na questão de estabilidade econômica, indicadores sinalizam o

crescimento, desempenho e evolução da economia brasileira após crise

internacional de 2009, trazendo consistência e dando abertura para o Brasil se impor

diante das grandes nações.

Sendo favoráveis, estes fatores ao Brasil, intensificou-se a aplicação

de investimentos de capital estrangeiro no país e ainda investimentos na indústria

brasileira, mais restando ainda uma negativa quanto à criminalidade, uma vez que a

mesma afasta investidores potenciais das regiões criticas reduzindo assim a

geração de renda e emprego devido a fatores como os altos gastos com segurança,

prejuízos e danos causados pelo crime, gerando alto risco de vida, tanto para

empregados quanto para proprietários.

Em se tratando dos grandes centros urbanos do Estado do Paraná,

a criminalidade marca presença significativa, dividindo-se em modalidades e

características mais especificas em cada região, ressaltando que as cidades

populosas aproximam as vítimas dos criminosos em potencial, sendo que estas são

as mais chamativas aos criminosos onde sua identidade acaba permanecendo no

anonimato pelo grande número da sua população, o qual dificulta a investigação e

manutenção da segurança pela polícia para buscar os indivíduos envolvidos em

atividades criminosas.

Associados a atividades ligadas a ilicitude de alto risco, inúmeros

adolescentes interagem com criminosos de alta periculosidade pela facilidade de

ação quanto à fragilidade da lei pátria, o qual leva ao estudo desta pesquisa, sendo

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esta, focalizada na vida e interação desses adolescentes, gerando assim, dados que

contribuirão como instrumentos aos estudiosos e operadores do Direito para

políticas de intervenção e prevenção de futuros delitos e delinquentes que tornarão

os criminosos de alto risco do futuro.

No Estado do Paraná o nível de criminalidade vem aumentado a

cada ano, sendo que a cidade de Londrina vem se destacando nesse índice

negativo, embora o combate e a prevenção estejam ganhando forças a cada dia

com a ajuda da imprensa, associações, policiamento e principalmente pelos serviços

sociais e educacionais.

Tendo em vista a grande preocupação da sociedade com o aumento

da criminalidade infanto-juvenil na cidade de Londrina, uma vez que a cidade se

desenvolve de forma conturbada e sem limites e ainda, sem levantamentos de

números e resultados preventivos, traz a baila o presente trabalho com o interesse

de auxiliar no conhecimento dos pontos críticos ao ingresso do menor nesta situação

de risco, uma vez que não há vacina sem o conhecimento da fonte geradora da

doença.

Diante do exposto, vale dizer que o desenvolvimento do presente

trabalho é fruto da necessidade de conhecimento dos principais pontos que

determinam o desvio comportamental do menor e viabilizando o momento em que

altera seu comportamento adentrando ao mundo da criminalidade e, praticando

assim o ato infracional.

Este estudo divide-se em seis partes. A primeira parte (capítulo 2)

apresenta algumas reflexões sobre a evolução histórica do direito da criança e do

adolescente como ela vem sendo vista pela sociedade em geral. Primeiramente

pelo mundo e na sequência pelo Brasil.

A segunda parte (capítulo 3) mostra algumas reflexões sobre a

omissão do Estado na proteção integral consagrada na Constituição Federal do

Brasil de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente, mostrando as falhas e o

desinteresse dos poderes constituídos para com a sociedade a qual estes

representam.

Na terceira parte (capítulo 4) elenca os principais conceitos

envolvendo as crianças e adolescentes, pois sem conhecer os meios e processos

não há como chegar a alguma definição.

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A quarta parte (capítulo 5) mostra os fatores condicionantes que

levam os menores a adentrarem ao mundo obscuro da sociedade, fatores estes que

nos perseguem no dia a dia em todos os lugares sendo necessária cautela com os

filhos, pois a qualquer momento do caminho poderá haver um entroncamento que o

desvie para o lado negro da sociedade.

Na quinta parte (capítulo 6) traz à baila a violência na cidade de

Londrina, não que seja especificidade desta, mas sim um esboço da área em que

vivenciamos no dia a dia.

No capítulo final, busca-se apresentar algumas medidas que sendo

empregadas pelos poderes e pela sociedade afastariam a grande massa juvenil do

caminho da marginalização.

Enfim com esse trabalho buscou-se discutir o que se entende sobre

a inserção do menor na criminalidade e no desvio comportamental, pressupondo

que para muitos, estes termos são entendidos como sinônimos. Assim sendo, este

estudo tem como objetivo refletir sobre esses conceitos, analisando quais as

percepções dos envolvidos no espaço territorial sobre o assunto.

Não há a pretensão de esgotar os temas aqui tratados, ao contrário,

tem-se a consciência de que foi aberto o debate para situações presentes que

urgentemente necessitam da intervenção geral, tanto do Estado, da família e de toda

a sociedade.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DO MENOR

Não há como se falar em presente e melhorias para o futuro sem o

conhecimento de fatos que moldaram a sociedade desde os primórdios, pois a

sociedade vem evoluindo, ou seja, aprendendo com os seus erros e assim aos

poucos modelando uma nova geração, com esperança de se chegar a um futuro

saudável com a convivência sociável entre todos os seres humanos.

Nestes termos vale explanar como o mundo chegou até a

valorização do menor e reconhecimento que este será o futuro das próximas

gerações.

2.1 Evolução histórica no mundo

Na Grécia antiga era costume popular as crianças serem

sacrificadas durante cultos de adoração, ou ainda quando estas nascessem com

deformidades físicas, infringindo assim todo e qualquer direito de ser humano, sendo

assim tratados como objetos o qual seus donos poderiam fazer o que bem

entendessem com sua prole.

Avançando no tempo, durante o antigo testamento, com a

perseguição ocasionada pelo rei Herodes que a época era o governador da Judéia

na época em que Jesus Cristo teria nascido, que ao receber a notícia de que o

Messias teria vindo ao mundo na cidade de Belém, Herodes buscou eliminar Cristo

antes que o tal salvador, de fato se transformasse em um problema para ele,

ordenando assim, que seus guardas matassem todos os meninos menores de dois

anos.

Notadamente verifica-se que na época de ouro do paganismo,

muitos direitos eram seriamente respeitados no fio do bigode, enquanto que outros

sequer existiam, sendo este período concentrado nas agressões e desrespeitos aos

direitos fundamentais, principalmente dos menores.

Chegando ao período de ouro do Império Romano, o qual

influenciou em grande parte o direito em todo o ocidente, mantendo-se até os dias

atuais a noção de família organizada sobre o pátrio poder, período este em que fora

manifestamente grande o desrespeito ao direito dos menores, onde os pais

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possuíam poder absoluto sobre os filhos podendo vendê-los, abandoná-los e

maltratá-los, sem que isso ocasionasse crime.

Foi durante esse período que se estabelece a primeira legislação

penal adotada para os menores, distinguindo-se os púberes e impúberes, ou seja,

verificando se o indivíduo havia atingido ou não o estágio das transformações

morfológicas funcionais e psicológicas passando da infância à adolescência.

Nesses termos ao impúbere, menores a partir dos sete anos, eram

reservados o discernimento do juiz, para aplicação de penas moderadas, e os

menores de sete eram considerados infantes absolutamente inimputáveis.

Adiante, o Código Francês de 1791, trouxe avanços na repressão da

delinquência juvenil com o intuito de recuperação do menor, trazendo assim as

primeiras medidas de reeducação e o sistema de atenuação das penas.

Em 1924, com a Declaração de Genebra foi de grande valor para a

proteção dos menores trazendo avanços no sentido da dignidade da pessoa

humana também a estes em fase de desenvolvimento, sendo esta a primeira

manifestação internacional sobre o assunto.

Pouco tempo depois vem a Declaração Universal dos Direitos da

Criança, adotada pela ONU em 1959, estabelecendo os princípios, considerando a

criança e o adolescente na sua imaturidade física e mental, evidenciando a

necessidade de proteção legal.

Com isso, nota-se que o século XX, foi o de maior expressão nos

termos de proteção e reconhecimento nos direitos da criança e do adolescente,

sendo declarado em 1979 o ano Internacional da Criança, levando a ONU a

organizar uma comissão com a missão de criação do texto protetivo e, sendo

proclamado o texto da Convenção dos Direitos da Criança no ano de 1989,

obrigando aos países signatários a adequação das normas pátrias às internacionais.

2.2 Evolução histórica no Brasil

Historicamente a proteção à criança e o adolescente inicia-se no

Brasil com a chegada dos portugueses à Terra de Vera Cruz em meados de 1500,

onde já existiam centenas de grupos étnicos, podendo dizer assim que a história da

criança e do adolescente tem seu marco inicial nesta época, onde sobre os olhos

europeus a criança e o adolescente não tinham quase nenhum valor, pois não

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produziam com a mesma capacidade de uma pessoa adulta, causando ainda gastos

com alimentação, medicamentos e roupas, sendo estes totalmente dependentes dos

adultos, situação em que pelo abandono, negligência ou exploração, tanto sexual

quanto laboral, acabava por perecer e muitas vezes atrapalhando o poder laborativo

de seus pais.

Avançando na história da colonização do Brasil o qual sofreu grande

descaso por parte da metrópole, onde somente lhes interessava a exploração de

riquezas, chega-se ao século XIX, mas precisamente no ano de 1822, sendo este o

ano da independência política do Brasil com a separação de Portugal através do

príncipe regente D. Pedro I, iniciando-se assim o Período Imperial Brasileiro, sendo

necessária a elaboração de uma lei maior, sendo criada e instalada a primeira

Assembleia Constituinte para elaboração da primeira constituição nacional.

Com a ascensão de D. Pedro I ao poder como o primeiro imperador

do Brasil e, tendo este forte tendência absolutista e autoritária, o mesmo dissolveu a

Assembleia Constituinte, pois esta, em seu projeto estaria criando meios para limitar

os poderes do imperador.

Com isso foi nomeado um conselho de Estado para a elaboração da

carta constitucional a qual fora outorgada em 25 de março de 1824, criada além dos

poderes básicos de um Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), um poder

particularmente seu, o poder Moderador, este a controle do imperador, ficando de

lado as propostas constituintes quanto aos direito das crianças, escravos e

assistidos.

A primeira legislação brasileira a referir-se a criança foi o código

criminal do império, o qual tratava da classe dos menores infratores, sendo incluídas

as pessoas com até 21 anos de idade incompleto, sendo considerados criminosos a

partir de quatorze anos e quando abaixo poderiam ser considerados criminosos

quando agissem com discernimento quanto à prática criminosa.1

Indubitável é que a criança no Direito Brasileiro apareceu como um

agente sem direitos e sem liberdade, mas já com o condão de assumir suas

responsabilidades diante da sociedade, ficando aclamada a destinação da lei as

aspirações sociais da época.1 Art. 10 §1º - Os menores de quatorze annos não serão julgados como criminosos, não podendo serem submetidos às penas criminais (...)Art. 13 - Se provar que os menores de quatorze annos, que tiverem commettido crimes, obraram com discernimento, deverão ser recolhidos ás casas de correção, pelo tempo que ao juiz parecer, com tanto que o recolhimento não exceda á idade de dezasete annos (...)

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Em consequência do avanço da nação na busca do fim da

escravidão, a partir de 1860, as ideias de liberdade retornaram com vigor, tendo

surgida a segunda norma tratando da criança, e ainda, sendo esta a primeira a dar a

proteção no seu direito ao convívio familiar e comunitário.

Nota-se o crescimento da proteção, sendo que ao chegar em 1871,

tem-se o advento da Lei do Ventre Livre2 e em 1888 a abolição da escravatura

outorgada pela Princesa Izabel, filha de D. Pedro I.

Com isso foram criadas categorias de crianças como os menores

criminosos e os riobrancos, estes que rejeitados pelos proprietários dos pais ficavam

a cargo do governo sendo esses órfãos abandonados a sua própria sorte,

engrossando assim o quadro de crianças deixadas pelas ruas ou nas portas de

casas com intuito de adoção, o que quase nunca acontecia.

Diante da situação foi outorgada a igreja católica o atendimento aos

órfãos e abandonados, sendo apoiadas também palas associações civis de

filantropia e caridade, as quais quase sempre serviam de fachada, onde as crianças

por muitas vezes eram submetidas a tratamento inadequado com o intuído de

aprendizagem de trabalhos domésticos para serem utilizadas como mão de obra

barata sem garantia de educação e pagamento.

Com a proclamação da República, surge o segundo Código Penal

(Código Penal dos Estados Unidos do Brazil), Decreto 847, de 11 de outubro de

1890, dispondo a não criminalização de menores de nove anos de idade completos,

nem os maiores de nove e menores de quatorze anos de idade que tivessem

discernimento quanto ao ato delituoso.3

A República caracterizou-se pela máxima "Ordem e progresso",

deixando claro que a simples assistência através da filantropia seria ínfima diante

das necessidades de assistência aos menores, trazendo ao Estado a

responsabilidade em assegurar de fato as providências cabíveis de forma oficial aos

menores.

Segundo Rizzini (1990, p. 80 e 82),

2 Lei Rio Branco ou do Ventre Livre, que dispunha que todos aqueles nascidos de mães escravas seriam considerados livres.3 Art. 30 do CP de 1890: Os maiores de nove anos e menores de quatorze anos que tivessem obrado com discernimento, serão recolhidos a estabelecimento disciplinar industrial, pelo tempo que ao juiz parecer conveniente, contanto que o recolhimento não exceda à idade de dezessete anos.

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Verifica-se o surgimento de um novo modelo de assistência à infância, fundada não mais somente nas palavras da fé, distanciando assim a igreja do Estado, mas também da ciência, basicamente médica, jurídica e pedagógica.

A assistência caritativa e religiosa começa a ceder espaço a um

modelo de assistência calçado na racionalidade científica onde o método, a

sistematização e a disciplina têm prioridade sobre a piedade e o amor cristão.

Adentra-se assim ao século XX, o qual o movimento da ciência e do

empenho de interessados na proteção, assistência e defesa do menor, cresceu em

número e grau a necessidade de uma norma especifica de amparo aos menores,

tendo como o projeto de Lopez Trovão em 1902, o primeiro projeto de uma lei

própria do menor, não tendo sucesso em tal empreendimento, seguindo assim a

Alcino Guanabara apresentar outros dois projetos de lei em 1906 e 1917, sendo

ambos abandonados.

Com as falhas que levaram os projetos anteriores a morte antes

mesmo do nascimento da Lei, surge em 1921 a Lei Federal nº. 4.242, de 5 de

janeiro, tratando da área criminal, sendo citado também a definição de crime

imputado aos menores, em seu artigo 3º, § 16, 20, 28 e 294.

A Lei nº. 4.242/21 trouxe disposições típicas de um código de

menores, como o conceito de abandono, institutos, suspensão e perda do pátrio

poder através de processos especiais, sendo esta uma das leis mais benéficas à

criança e o adolescente, aplicando a idade de 18 anos para a imputabilidade.

Em 1927 o então Presidente da República Washington Luís, aprovou

o Decreto nº. 17.943-A, de 12 de outubro, sendo conhecido como o primeiro Código

de Menores da América Latina, onde tratou de duas classes de protegidos: o

abandonado e o delinquente, ambos com menos de 18 anos de idade, ficando

definidos no Art. 265 do referido decreto.

4 Art. 3º da lei Federal 4.242 de 5 de janeiro de 1921.§16 - O menor de quatorze annos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção, não será submetido a processo penal de nenhuma espécie;§ 20 - O menor indigitado autor de crime ou contravenção que contar com mais de 14 annos e menos de 18, será submettido a processo especial;§ 28 - Si no momento da perpetração do crime ou contravenção, o menor tinha mais de 18 annos e menos de 21, o cumprimento da pena será, durante a menoridade do condenado, completamente separado dos presos maiores;§ 29 - Os vadios, mendigos e capoeiras que tiverem mais de 18 anos e menos de 21 serão recolhidos á Colônia Correcional, pelo praso de um a cinco annos (...)5 Art. 26. "Consideram-se abandonados os menores de 18 annos: I. que não tenham habitação certa, nem meios de subsistência, por serem seus paes fallecidos, desapparecidos ou desconhecidos ou por não terem tutor ou pessoa sob cuja, guarda vivam; II. que se encontrem eventualmente sem habitação certa, nem meios de subsistencia, devido a indigencia, enfermidade, ausencia ou prisão dos paes. tutor ou pessoa encarregada de sua

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Na sequência, com a Constituição Federal de 1937, durante o

Estado Novo de Getúlio Vargas, teve o lançamento de dispositivos modernos em

proteção ao menor carente a quem se deu maior atenção, sendo garantidas a este,

condições mínimas para o seu desenvolvimento, ficando o Estado com a

obrigatoriedade provê-las.

Em 1943 é aprovado o Decreto-Lei nº. 6.026, o qual excluiu a

palavra delinquente, e em 1946, é aprovada a nova Constituição Federal, não sendo

alterado nada de substancial, apenas renovando a obrigação estatal de provimento

da defesa dos menores.

A Constituição de 1967 não trouxe alterações, somente repetindo as

Cartas Constitucionais passadas, adicionando somente a obrigação do ensino

gratuito a crianças até 14 anos e uma com a proibição do trabalho para pessoas

menores de 12 anos.

Em 1979 é aprovado o 2º Código de Menores do Brasil, Lei Federal

nº. 6.697, de 12 de outubro de 1979, acolhendo a chamada Doutrina da situação

irregular do menor, aonde situações irregulares vinham enumeradas exaustivamente

no Art. 2º da Lei, não sendo esta lei dirigida a todos os adolescentes e crianças

brasileiras, sendo dirigida a menores abandonados, vitimas de maus tratos e

infratores.

Assim, o que acontecia com a nova lei, é que ainda não era

dispensada a todas as crianças, mas somente aquelas carentes de necessidades,

onde o Estado não garantia os direitos inerentes à idade, mas apenas resgatava-os

no momento de perigo.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a proteção à

criança e o adolescente tomaram um grande impulso, uma vez que a Constituição

Federal não cogitou apenas a proteção a esses menores, mas também, à família, à

guarda; III, que tenham pae, mãe ou tutor ou encarregado de sua guarda reconhecidamente impossibilitado ou incapaz de cumprir os seus deveres para, com o filho ou pupillo ou protegido; IV, que vivam em companhia de pae, mãe, tutor ou pessoa que se entregue á pratica de actos contrarios á moral e aos bons costumes; V, que se encontrem em estado habitual do vadiagem, mendicidade ou libertinagem; VI, que frequentem logares de jogo ou de moralidade duvidosa, ou andem na companhia de gente viciosa ou de má vida. VII, que, devido á crueldade, abuso de autoridade, negligencia ou exploração dos paes, tutor ou encarregado de sua guarda, sejam: a) victimas de máos tratos physicos habituaes ou castigos immoderados; b) privados habitualmente dos alimentos ou dos cuidados indispensaveis á saude;  c) empregados em occupações prohibidas ou manifestamente contrarias á moral e aos bons costumes, ou que lhes ponham em risco a vida ou a saude; d) excitados habitualmente para a gatunice, mendicidade ou libertinagem; VIII, que tenham pae, mãe ou tutor, ou pessoa encarregada de sua guarda, condemnado por sentença irrecorrivel; a) a mais de dous annos de prisão por qualquer crime; b) a qualquer pena como co - autor, cumplice, encobridor ou receptador de crime commettido por filho, pupillo ou menor sob sua guarda, ou por crime contra estes".

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comunidade, à sociedade em geral e o Estado, trazendo assim a obrigatoriedade do

envolvimento de todos para o desenvolvimento social.

Após a promulgação da nova Constituição, veio a ser aclamada a

Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque, em 20 de

novembro de 1989, integrando a Convenção dos Direitos da Criança e sendo

subscrita por mais de 150 países, tendo o Brasil como um dos primeiros ratificadores

trazendo raízes para a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei

Federal nº. 8.069, de 13 de julho de 19906.

Após longa discussão tendo como envolvidos, a sociedade,

instituições e o Poder Público, o Estatuto foi aprovado por maciça maioria nas duas

casas do Congresso Nacional, tendo recebido a sanção presidencial na integra.

Diante do exposto vale destacar que o Estatuto da criança e do

adolescente de 1990, trouxe em seu Art. 131 o Conselho Tutelar7 como o

encarregado da proteção dos direitos da criança e do adolescente.

3 OMISSÃO DO ESTADO NA PROTEÇÃO INTEGRAL DO ADOLESCENTE

A garantia dos direitos da criança e do adolescente previstos na

Constituição Federal de 1988 e na Lei 8.069/90 trouxe à baila a definição de

proteção integral, reconhecendo a condição de sujeitos de direitos, os quais devem

6 O Estatuto da Criança e do Adolescente foi a lei complementar que surgiu para regular os dispositivos constitucionais da área de proteção à infância e à juventude (Art. 24, XV da CF/88).7 Art. 131 - O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.

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ser garantidos pela família, sociedade e Estado, independentemente de sua

condição social, econômica ou familiar.

Apesar de esta proteção estar exaustivamente expressa na

Constituição e na Lei especial, vale ressaltar que as garantias inerentes à proteção

desses direitos não tem sido contempladas, principalmente pelas autoridades

competentes, os quais abandonam sua competência tratando de assuntos

meramente políticos, sendo as proteções raramente garantidas.

Constantemente se verifica a violação desses direitos,

principalmente quanto à aplicação das medidas socioeducativas, tendo em vista que

na maior parte das vezes, esta é aplicada de forma incorreta, não condizente com o

ambiente social, político e econômico do menor infrator, sem ensinar-lhes o caminho

do bem, mas muitas vezes aproveitando do menor como mão de obra barata, e

ainda de forma momentânea e provisória sem qualquer meio de acompanhamento,

para a efetividade da aplicação da medida socioeducativa.

No entendimento de Paula (2002, p.138):

A precariedade caracteriza a tutela socioeducativa de vez que o seu objeto-medida socioeducativa sempre é realizada a título provisório, decorrência natural da instrumentalidade da tutela, de modo que cumpridas suas finalidades desaparece a justificativa, podendo, em consequência, ser revogada a qualquer tempo.

Não destarte a isso Macedo (2008, p. 139) traz que:

 As medidas socioeducativas, aplicáveis aos adolescentes em conflito com a lei, têm previsão legal e taxativa no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo impostas de acordo com as circunstâncias da gravidade da infração e com os aspectos pessoas e subjetivos do agente.

Conforme exposto, vislumbra-se a precariedade das medidas

conforme explica Costa (2005), trazendo que a omissão do Estatuto estabelece que

a aplicação das medidas socioeducativas ocorra sem a determinação temporal,

devendo estas medidas estar sempre sujeitas a novas avaliações pelo magistrado.

Na busca da aplicação da medida ao adolescente, necessário se faz

o estudo minucioso da aplicação correta, o local de cumprimento, se estará em meio

a pessoas de iguais condições financeiras, pois de outro modo o adolescente seria

fragilizado podendo voltar a delinquir, sendo-lhe aplicada de forma coerente a

medida condizente ao caso concreto.

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Neste contexto, diga-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente

trouxe o rol taxativo das medidas que poderão ser aplicadas, mas dando liberdade

ao aplicador da lei a análise da medida mais adequada a ser aplicada ao infrator

dependendo da situação fática.

Vale aqui ressaltar que nem sempre o aplicador da lei vislumbra a

consequência de aplicar logo no inicio a medida mais drástica, uma vez que, no

caso de aplicação da medida menos severa poderia resolver desde logo a situação,

preservando assim o menor, sendo que a aplicação de medida mais drástica logo no

inicio poder revoltar o menor, trazendo para o lado do mal apenas por achar que

todos estão contra ele.

Com isso, se vê conforme o exposto que a aplicação de medidas

inversamente proporcionais ao sistema de proteção integral e omissão do Estado na

redução da desigualdade social, negando a previsão legal de proteção integral da

criança e do adolescente, prejudica as relações de recuperação do adolescente.

Como consequência da irregularidade estatal quanto à aplicação das

medidas, necessário se faz que o Estado se organize de forma a criar meios que

permitam que a criança e o adolescente tenham garantidos os seus direitos

assegurados pela Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente.  

Não se pode olvidar que se a proteção a que consta nas normas da

Magna Carta e no Estatuto estivessem presentes na aplicação social no dia a dia a

prática de atos infracionais teria a sua redução a proporções consideradas

aceitáveis pela sociedade, facilitando assim a ressocialização do pequeno

percentual restante.

A grande negativa quanto à inércia do Estado é a própria inércia da

sociedade, onde tudo está bom se não estiver sendo atingida, não buscando assim

mudanças, pois políticos somente lembram-se dos cidadãos no momento das

eleições com promessas infundadas e muitas vezes fora da sua competência.

Vale a pena dizer que a sociedade critica o Estatuto da Criança e do

Adolescente indagando a sua mudança, o que seria desnecessário se a própria

sociedade respeitasse as normas encontradas no corpo do Código, ou seja, a

sociedade é que deverá adaptar-se ao código, é não o código a sociedade, nesta

mão, Borges (2008, p. 123) traz a melhor explicação:

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Não podemos aceitar o argumento de que o Estatuto da Criança e do Adolescente precisa mudar porque é moderno demais. O próprio Estado é o maior infrator contra os direitos das crianças, porque os entes federativos não garantem condições mínimas e seguras para que elas possam brincar livremente nas ruas, frequentar escolas de qualidade, ter boa alimentação e moradia decente.

 Sobre a ineficácia da Lei temos o posicionamento de Machado

(2003, p. 374), o qual traz a baila seguinte posicionamento:

Todas as classes de direitos fundamentais situam-se na problemática da eficácia das normas constitucionais da mesma maneira, ou na mesma posição, independentemente do grau de aplicabilidade que uma norma constitucional específica, ligada a um direito fundamental específico, possa ter, em face da conformação concreta que aquele direito recebeu no texto constitucional, ditada pela sua “fase” de desenvolvimento histórico.

Traz ainda que:

O processo, ou o fenômeno, de subjetivação e de positivação de cada direito fundamental, sob a ótica lógico-estrutural, é idêntico para qualquer direito fundamental; o grau de tutela concreta que cada um deles alcançou em dado ordenamento é que pode ser distinto.  

Diante da exposição supracitada nota-se que a opinião de vários

doutrinadores sobre a causa tem sentido, pois entendem que o Estado vem agindo

erroneamente quanto à aplicação demasiadamente rigorosa e repressiva na forma

de aplicação das medidas socioeducativas, uma vez que essas vêm sendo

aplicadas aos adolescentes na mesma medida quando aplicadas aos imputáveis,

não tendo o fundamental objetivo de sua existência qual seja, a recuperação e

ressocialização do infrator.

Nestes termos, convém ressaltar que a forma de aplicação

explicitada na Lei 8.069/90 são medidas a serem utilizadas em caráter emergencial,

ou seja, quando se tratar de última forma para buscar a reeducação do infrator e não

como estão sendo aplicadas, pois aplicadas de forma errada estas medidas, as

chances de persistência na ilicitude apenas mantém o patamar ou são aumentadas

substancialmente, motivo o qual, uma vez da inserção do infrator entre menores sem

chances de recuperação, a tendência será o aperfeiçoamento na prática ilícita, pois

estará participando ativamente da escola do crime.

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4 CONCEITOS BÁSICOS REFERENTES AO ECA

Para apresentar um assunto tão intenso, o qual é fruto da própria

sociedade e, sem esta não há sociedade, uma vez que o menor é o futuro da

geração presente, merecendo ser preservado para a existência da própria

humanidade onde, necessário se faz o entendimento de certos conceitos ligados a

Constituição Federal, ao Código Penal e principalmente ao Estatuto da criança e do

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Adolescente, como o conceito de adolescente, o conceito de ato infracional e ainda

das medidas socioeducativas.

4.1 O adolescente

Tem se como adolescente aquele ser humano, conforme o Estatuto

menorista, que está com idade entre os 12 e 18 anos de idade, sendo este o período

das descobertas, Sociais, morais e sexuais.

Para Veronese (2001), trata-se da fase em que o ser humano esta

com intensos processos conflituosos e persistentes esforços de autoafirmação,

sendo esta fase a de grande absorção dos valores sociais e ainda, buscando sua

integração social.

Nestes termos, a adolescência trata-se de uma fase de transição o

qual a criança deixa de existir buscando a percepção do mundo e se preparando

para enfrentá-lo ao chegar à idade adulta, forjando assim sua identidade, sua

sexualidade e definindo o seu espaço social.

Vitiello (1994, Apud CABRAL, 2010, p. 10) traz ainda que:

No período da puberdade, que corresponde ao componente orgânico da adolescência, o indivíduo volta suas atenções para as mudanças do corpo e concentra suas energias no processo psíquico de perda do corpo infantil e de aceitação de novas formas.

Além disso, explica ainda que:

A ansiedade gerada pela puberdade é decorrente, além de outros aspectos, do medo de fisicamente não conseguir atingir o padrão socialmente aceito e ser então desprezível, induzindo muitas vezes a fugir dos padrões sociáveis e adentrar ao limite traçado pela sociedade.

A visão sobre a adolescência é como de uma fase inevitável pela

qual todos os jovens deverão passar, fortificando-se para a difícil missão de viver em

um mundo onde os fortes dominam, necessitando assim da proteção e auxilio da

sociedade e do Estado para que não desistam na primeira dificuldade que

depararem pelo caminho.

Nestes termos vale lembrar que não existe uma padronização de

adolescente uma vez que estes buscam caminhos de crescimento e equilíbrio

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através de culturas diferentes, interesses diferentes, sexualidades diferentes,

devendo ser compreendidos na sua essência e protegido, não só como adolescente,

mas também como um ser humano portador dos direitos inerentes a todo ser

humano, principalmente ao princípio republicano o qual a dignidade da pessoa

humana.

4.2 O ato infracional

O ato infracional trata-se de uma nova categoria jurídica trazida pelo

Estatuto da criança e do adolescente no seu artigo 103, tendo como definição "a

conduta descrita como crime ou contravenção penal", tendo, portanto, como sujeito

ativo do ato praticado, uma criança ou um adolescente, ou seja, aqueles com até 18

anos de idade, conforme o artigo 2º do Estatuto da criança e do adolescente8.

O crime é uma violação de algum bem jurídico do Estado, e como o

Código Penal não trouxe uma definição de crime, deixou aos estudiosos do Direito a

missão de satisfazer essa lacuna, coexistindo assim varias definições, mas sempre

chegando ao mesmo fim, principalmente entre os penalistas, sendo que para

Noronha, o Estado tem a finalidade de alcançar o bem comum, mantendo a ordem,

a harmonia e o equilíbrio social, agindo assim na proteção dos bens, e sancionando

o infrator no caso de violação, enquanto que para Mirabete (1997), o Estado valora

bens e interesses individuais e coletivos, protegendo-se, através da lei penal,

aqueles mais atingidos pela transgressão do ordenamento jurídico.

Paulo Lucio Nogueira (1996) se posiciona na afirmação que o ato

infracional deve se enquadrar na mesma categoria jurídica dos crimes e das

contravenções, sendo o mesmo ato praticado por uma pessoa adulta tendo como

diferença apenas o poder de discernimento do sujeito ativo, ou seja, a criança e o

adolescente até os 18 anos de idade, são inimputáveis, sendo a estes reservadas às

normas do Estatuto, o qual determina medidas socioeducativas aos adolescentes, e

de proteção às crianças9.

A grande importância de saber imputável ou inimputável o agente

delituoso, está na capacidade de entendimento quanto ao ato ilícito praticado, saber

8 Art. 2º/Eca Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade.9 Art. 228/CF - São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.

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o que está fazendo, poder agir conforme sua vontade, tornando inimputável quando

não entender o que faz ou, entendendo, não há condição de determinar-se conforme

sua vontade.

Nesse sentido, o ato infracional toma a forma de simples sinônimo

de crime ou contravenção como expõe Sêda (1991), o qual coloca que a prática de

ato infracional se dá “quando as crianças e os adolescentes agem como os

criminosos adultos”.

Em termos gerais, cabe ressaltar que o ato infracional é aquela

conduta praticada por pessoa quando não atingida à idade de 18 anos, ficando

assim considerada como uma situação diferenciada, situação esta que não será

regida pela lei penal nacional, mas sim pelas normas do estatuto menorista.

4.3 Medidas socioeducativas

  

Para efetivar a aplicação dos direitos inerentes à criança e o

adolescente consagrados na Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e

do Adolescente traz medidas necessárias a fim de evitar que os mesmos sejam

vitimas de tratamentos que extrapolem as medidas necessárias para sua

ressocialização, explicitando assim em seu capítulo IV, em seu artigo 11210, as

medidas socioeducativas como remédios para a correção do menor infrator, uma

vez que o interesse do Estado é ressocialização do menor e não punição.

Neste ponto vale esclarecer que as medidas socioeducativas são

atividades impostas aos adolescentes quando cometem atos infracionais, tendo

essas medidas caráter de aprendizagem e ressocialização, criando alicerces de

cunho pedagógico, social, preventivo, psiquiátrico e psicológico para a nova inserção

no meio da comunidade.

Estas são aplicadas conforme análise do Juiz da Vara da Infância e

Juventude, observando-se as circunstâncias e a gravidade do delito, principalmente

as circunstâncias pessoais do adolescente, sua personalidade em sociedade, suas

10 Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

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referências familiares e sociais, e ainda a capacidade de cumpri-las de acordo com a

sua aplicação.

O Estatuto da Criança e do Adolescente traz à aplicação de medidas

não privativas de liberdade, sendo elas, a advertência, a reparação do dano, a

prestação de serviços à comunidade, a liberdade assistida e as medidas

socioeducativas privativas de liberdade que são semiliberdade e Internação.

De acordo com Macedo (2008), o artigo 112 da Lei 8.069/90, traz

enumeradas as medidas socioeducativas que devem ser aplicadas ao adolescente

infrator, o qual determina que sejam observadas as circunstâncias da gravidade da

infração e os aspectos pessoais e subjetivos do agente, não podendo sofrer

interpretação extensiva.

Outro ponto essencial para o estudo da Lei 8.069/90 é a proibição do

aplicador da Lei de criar novos tipos de medidas, ou seja, as tipificadas no Estatuto

são taxativas tendo, portanto interpretação restritiva, não podendo interpretar de

forma diversa da prevista em lei, sendo vedada a analogia neste ponto.

Segundo Greco (2008), conforme o maior número de infrações

penais cometidas, menores serão as possibilidades de serem efetivamente punidas

as condutas infratoras, tornando-se ainda mais seletivo e maior a cifra negra, pois

após o indivíduo envolver-se inteiramente ao crime, este dificilmente terá

oportunidades para retirar-se deste mundo antissocial.

Greco (2008, p. 36) traz ainda o seguinte posicionamento:

      

Entre a escolha de cometer ou não um delito, a pena deveria ser utilizada como fator de dissuasão nesta escolha, ou seja, na comparação entre o mal da pena e o benefício a ser alcançado pela prática da infração penal, aquele teria de ser um fator desestimulante ao agente. Por meio de uma espécie de balança, o agente colocaria em seus pratos as vantagens da infração penal e as desvantagens da pena que a ele seria aplicada, e nessa compensação a pena deveria desestimulá-lo, pois que superior às vantagens obtidas por meio do delito.

 

Em linhas gerais nota-se que apesar dos Juizados da Infância e

Juventude e ainda os legisladores buscarem efetivar as medidas, falta-lhes a

estrutura adequada para se fazer cumprir o que efetivamente deveria ser cumprido,

sento efetuado somente o mínimo possível para não dizer que nada foi feito, sendo

que ao aplicá-las de forma ineficaz, não haverá como se falar em resultados

específicos.

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4.4 Direitos individuais do Adolescente infrator

Não há como se falar em atos infracionais sem exemplificar

juntamente os direitos assegurados para que se evite o abuso e crimes contra esses

menores, uma vez que a violência não pode ser combatida com violência, muito

menos se a violação do direito for causada por agentes públicos.

Coloca-se assim que a apreensão do adolescente somente poderá

ocorrer no caso de flagrante delito de ato infracional ou por ordem escrita e

fundamentada da autoridade competente, sendo que no caso da violação fora das

hipóteses legais restará configurado o crime previsto no artigo 106 do Estatuto11,

podendo os agentes responder por ação ou omissão.

Ainda conforme o disposto na Constituição da República do Brasil

em seu artigo 5º, no inciso LXIV, dispõe que toda pessoa presa tem o direito a

identificação do agente que efetuou a sua prisão, devendo ainda ser informado de

seus direitos, sendo este inciso da Constituição inserida no Estatuto em seu artigo

106, Parágrafo único12, referindo-se ao ato infracional praticado por adolescente.

Caberá ainda no caso de apreensão do adolescente a comunicação

imediata à autoridade judiciária competente e a família do menor, ou ainda, por

alguém por ele indicado, conforme regra do artigo 5º, LXII da CF, sendo reproduzida

no caput artigo 107 do estatuto menorista13.

Tem-se ainda que a apreensão do adolescente, o qual poderá

ocorrer à internação provisória não poderá ultrapassar o prazo máximo de 45 dias e

sendo assegurada que seja apenas nos casos de flagrante delito e ainda de ordem

escrita da autoridade judicial, lembrando que somente o juiz tem o poder de ordenar

a prisão e nunca autoridades administrativas, como o delegado, oficial da policia

militar, Comissão Parlamentar de Inquérito entre outros14.

11 Art. 106, ECA. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.12 Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos. 13 Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.14 Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

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Em linhas gerais vale ressaltar que aquele apreendido o qual possuir

documento civil, como por exemplo, Cédula de Identidade, Carteira de Trabalho,

certidão de nascimento etc., não será submetido à identificação criminal, uma vez

que não se faz necessário buscar prova sobre um ato que já está evidente, sendo

que no caso de dúvidas quanto à veracidade de tais documentos será assegurada a

autoridade policial a identificação criminal por meio datiloscópico e fotografias

anexas em ficha criminal anterior, sendo este direito consagrado no artigo 5º da CF

e reproduzido no artigo 109 do Estatuto da Criança e do Adolescente15.

Ademais, vale trazer à baila a necessidade de informação o qual para

cada ação há uma reação sendo assim no caso de uma ação ou omissão contra os

direitos individuais do infrator haverá uma punição para aqueles que deviam evitar e

assim não o fizeram, sendo indicadas as penalidades nos artigos 230 e 231 do

Estatuto da Criança e do Adolescente16.

5 FATORES CONDICIONANTES AO ENVOLVIMENTO COM A CRIMINALIDADE

O envolvimento com a criminalidade não é presente ao indivíduo no

seu nascimento como pensavam os estudiosos da criminologia, mas sim por fatores

ligados a estrutura social do agente como a família, a convivência, a necessidade

básica, a falta de educação básica, oportunidades entre outras.

15 Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.16 Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:Pena - detenção de seis meses a dois anos.Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:Pena - detenção de seis meses a dois anos.

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Com isso destaca-se que o envolvimento do indivíduo com a

criminalidade, resulta de uma série de fatores condicionantes ligados a socialização

e trazendo efeitos a economia do país, como ressalta Borilli e Shikida (2006, p. 32):

Atualmente alguns economistas têm demonstrado interesse por este problema, posto que o aumento da criminalidade possa arrefecer o nível de atividade econômica de uma região à medida que desestimula novos investimentos, os preços dos produtos são majorados com a incorporação dos custos com a segurança, entre outros.

Diante desta situação, nota-se que os baixos níveis de escolaridade

e desempenho acadêmico da população infanto-juvenil associados com os altos

índices de miserabilidades em que encontram as famílias de baixa renda onde se

encontra o maior nível populacional de crianças, uma vez que nas classes médias e

altas o controle da natalidade tem um controle feito de acordo com os seus recursos

enquanto que na classe menos abastada por desconhecimento de meios protetivos,

falta de cuidado e desinteresse no cuidado da criança caso seja concebida, servem

de condicionantes para que a criança e do adolescente atravessem a linha da

pessoa social para a da pessoa criminosa.

A falta de maturidade e conhecimento das causas advindas da

criminalidade traz à baila a sensação de legalidade conforme expõe Ramidoffi (2008,

p. 53):

A prática de um ato tido como infracional, na sua grande maioria, é decorrente de uma ação inconsciente. Destarte, pode-se mesmo afirmar que uma parcela mínima de jovens tinha consciência do que realmente decidiam quando desencadeavam a sua atuação conflitante com a lei.

Cita ainda que:

A permanência e a repetição de ações conflitantes com a lei, também, podem ser assim consideradas como uma vocação inconsciente pela qual os jovens que nesta situação se encontram ainda não se despertaram, ou não desejam despertar.

Como argumento sobre a escolaridade e educação ser um fator de

destaque, a Fundação Getúlio Vargas realizou em 2009 uma pesquisa referente ao

grau de educação nas idades iniciais das crianças, tendo como resultado que a

educação iniciada precocemente pode evitar que o indivíduo seja um criminoso no

futuro. A pesquisa mostra que a probabilidade da criança que passa por um bom

programa de educação infantil, principalmente iniciado na idade mais terra (4 meses

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a 1 ano) é metade (50%) em relação a que não passou (não teve acesso) de se

envolver em atividades criminosas na idade adulta.

Aqui fica reconhecido o grande problema do Brasil, uma vez que a

pesquisa mostra que apenas 9% das crianças de zero a três anos têm acesso a

escolas de educação infantil e na faixa etária de quatro a seis anos o número é de

61%.

Mostra ainda que a precariedade e o acesso restrito à educação

para crianças em inicio de educação escolar, consistindo no baixo nível de

frequência e deficiência do ensino no país, sendo que este baixo nível desestimula

os alunos na continuidade da educação e ainda, não podendo esquecer que o direito

à educação das crianças e adolescentes se encontra assegurado na Constituição

Federal de 1988 em seu artigo 22717 onde trata dos deveres da família, da

sociedade e do Estado perante esses seres humanos em desenvolvimento.

Através de estudos busca-se a discussão dos motivos que levam o

indivíduo a ingressar em atividades ilícitas, principalmente no caso dos menores

infratores, uma vez que é nesse período da vida que na maioria dos casos inicia-se

a vida criminosa como ressalta Kodato e Silva (2000), o criminoso em geral inicia

sua atividade ilícita ainda quando menor de idade, ressaltando ainda sobre as

condições e adequações para o desenvolvimento do menor, que segundo Leiria

(1980), quando as crianças nascem e crescem em ambientes de maus tratos,

privações, negligências familiar e estatal, virão a sofrer desajustamentos

duradouros, expondo ainda que diante do meio social a criança também poderá

sofre distúrbios emocionais.

Traz ainda Leiria (1980, p. 76) que:

As crianças que vivem em meios emocionalmente frios ou carentes de estímulos, como em instituições onde são atendidas de forma rotineiras (ex. creches fora dos padrões pedagógicos e instituições de abrigo), ou sem a devida atenção da família, poderão se tornar inativas, infelizes e perturbadas emocionalmente, carentes ou desmotivadas.

Conforme sua explicação, Leiria explicita que as crianças criadas em

favelas, cortiços, locais barulhentos, agitados, emocionalmente carregados poderão

17 Art. 227, CF - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente com absoluta prioridade o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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se tornar agressivas, perversas e irritadiças, perdendo o respeito, a moral, e a

definição do que e certo ou errado.

Não destarte a isso, Oliveira (2005), expõe que a presença de

famílias monoparentais chefiadas por mulheres representa uma condição de

vulnerabilidade que afeta positivamente a criminalidade, onde a mãe quase sempre

necessita abandonar o filho com outras pessoas para poder trabalhar, sendo esse

fator essencial para sobrevivência da família não podendo abster-se do emprego

para cuidar de seu filho.

Através de estudos realizados no Cense, unidade destinada à

apreensão de adolescentes infratores da cidade de Londrina, traz o reforço do

enunciado de Oliveira, conforme pesquisa realizada por Pavan (2005 p. 29) trazendo

a informação que se segue:

A respeito da representatividade legal 53,9% dos adolescentes responderam que a mãe é sua representante legal; a pesquisa procurou saber se seus pais vivem juntos, 67% responderam não, 23% sim e 10% sem resposta.

Trata-se de caso de um grande número de famílias carentes, onde

apenas a mãe ou o pai tem um elevado número de filhos sob a sua

responsabilidade, dificultando assim suprir a necessidade de todos.

Por esse olhar dinâmico da sociedade, crianças e adolescentes de

comunidades carentes certamente são mais vulneráveis ao recrutamento para

atividades ilícitas, principalmente no tráfico de drogas onde os responsáveis

necessitam estar ausentes em parte do tempo por necessidade de trabalho e não

tem condições financeiras para cumprirem com os deveres básicos com os seus

filhos.

Segundo Oliveira (2005) a ausência de escola na vida do indivíduo

afeta na formação de valores morais e na acumulação de capital humano, e ainda

para Kume (2004) um ano a mais de estudo pode provocar uma queda de 6% na

taxa de criminalidade no curto prazo e de aproximadamente, 12% no longo prazo.

Outro fator importante relacionado à baixa escolaridade e que esta

afeta diretamente os empregos, onde o mercado é exigente e competitivo, trazendo

assim a dificuldade do indivíduo sem qualificações adentrar ao mercado de trabalho,

estando assim condenado ao desemprego ou a atividades que proporcionam

baixíssima remuneração, ou seja, o cansaço acaba desvirtuando a personalidade do

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agente, onde muitos fazem pouco e ganham muito e outros fazem muito e ganham

pouco trazendo ao subconsciente do individuo o porque de ser honesto.

Vê-se nesse contexto que inúmeras são as causas da inicialização

do indivíduo na criminalidade, sendo que Santos e Kassouf (2007, p. 109)

exemplifica entre essas causas as seguintes:

As causas da criminalidade no Brasil, as principais causas destacadas são a desigualdade de renda, pobreza, ineficiência do ensino básico e deficiências na estrutura familiar, criando riscos que contribuem para o aumento das taxas de homicídios.

Além disso, vale destacar ainda outras possibilidades que levam o

adolescente a cometer atos infracionais e adentrar a vida contraposta a da

sociedade de bem, como a dificuldade financeira, o consumismo, a vulnerabilidade,

a busca de status perante seus pares, problemas mentais, dependência de drogas,

desestruturação familiar entre outras causas, sendo estas citadas apenas

demonstrativas, pois existem outras muitas causas que geram o descontentamento

com a sociedade levando à criança e o adolescente a criminalidade.

Em linhas gerais, cabe ressaltar que diante do grande número de

motivos que levam o menor a infringir a lei é fator essencial de estudo para a

prevenção, uma vez que a repressão é o reconhecimento da falha da sociedade em

cuidar de seus próprios, buscando o aprendizado dos motivos e formas de

participação e conhecimento dos pontos críticos e suas localidades.

5.1 Delinquência juvenil

Explicitando as principais causas do desvio comportamental do

individuo, necessário se faz conhecer o passado, ou seja, o surgimento da

expressão delinquência juvenil que nos tempos modernos foi renomeado como ato

infracional ganhando nova definição conforme supracitado no item 4.2 do presente

estudo.

Conforme explicação da psicóloga Maria Augusta Bolsanello (1991),

o termo delinquência juvenil surgiu na Inglaterra nos meados de 1815 quando cinco

crianças entre oito e doze anos de idade foram condenadas a morte.

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Diante do ocorrido Peter Bladford levanta fundos e cria uma

sociedade para a prevenção da delinquência juvenil com intuito de investigar as

causas do fenômeno.

Já na década de 20 do século XIX, educadores e filantropos norte-

americanos desenvolveram um método semelhante, sendo que nesta mesma época

os juristas dos Estados Unidos resolveram criar tribunais especiais para julgar os

menores acusados de cometerem qualquer ato ilegal.

Mas e hoje, como são tratados esses menores delinquentes?

São tratados como inimputáveis nos termos do artigo 228 da CF18, e

no artigo 27 do CP19, ambos trazendo a inimputabilidade do menor, os quais

estabelecem a estes a sujeição de normas estabelecidas em legislação especial.

Nestes termos, mesmo que o menor possua a plena capacidade de

entender sobre seus atos e ainda, sobre a ilicitude de tais ações, o Código Penal

Brasileiro adotou a teoria Biopsicológica, caracterizando o inimputável pelo fator

biológico, ou seja, quando menor de dezoito anos de idade, tornando assim os

menores de 18 anos como pessoas com o psicológico em formação e, sendo

tratados como se do dia pra noite formasse a sua plena convicção intelectual, sendo

que com 17 anos, 11 meses e 29 dias a pessoa seria totalmente incapaz de

entender os seus atos, e ao dormir acordaria transbordando de conhecimentos

relativos à pessoa adulta.

Pinheiro (2009) em estudos relativos à alteração da maioridade

penal traz que para aquele menor de dezoito anos de idade presume-se que a

inimputabilidade é absoluta, não importando o seu grau de discernimento quando ao

ato praticado.

Nestes termos, mesmo que um menor com plena capacidade

intelectiva e volitiva pratique um ato ilícito, não responderá por crime algum, mas

somente pelo ato infracional equiparado ao crime.

Entretanto sabe-se que os menores não são vitimas apenas de seus

familiares, uma vez que através do abandono pela sociedade esta se torna coautora

da omissão e criação do infrator, uma vez que em vez de socorro apenas os julgam

e apedrejam.

18 Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.19 Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.

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Adiante, a própria violência urbana se apresenta como um problema

que acomete principalmente os menos favorecidos, uma vez que através do próprio

ato ilegal busca muitas vezes a propria sobrevivência, dessa forma Hutz (2005, p.81)

traz a deixa que:

A violência refletida nos indicadores da criminalidade urbana acomete crianças e adolescentes de todas as camadas sociais, principalmente quando se pensa nos roubos e nos homicídios. Entretanto, é no grupo social mais desfavorecido que se concentram as vitimas e os responsáveis pelas mortes violentas. A questão da delinquência costuma estar associada à questão de estratos sociais. É vista como problema dos pobres, das crianças de rua ou institucionalizadas.

Desse modo se vislumbra que a grande influencia do ambiente,

modifica drasticamente o desenvolvimento dos comportamentos dos menores,

principalmente durante seu desenvolvimento mental, moral e físico sendo, portanto

possível que jovens que crescem em uma área cerceada pela criminalidade poderão

tornar-se um delinquente mesmo que os seus genitores não sejam envolvidos com a

criminalidade.

Nestes termos, vale ressaltar que os delinquentes juvenis do

presente serão os mesmo criminosos do futuro sendo que o ambiente em que vivem

os transforma dia a dia, necessitando cada vez mais se impor entre a sociedade e a

criminalidade para sua própria sobrevivência, uma vez que no meio da sociedade do

mal somente sobrevivem os mais fortes.

Não obstante a isso vale lembrar que muitas vezes a delinquência

começa no próprio trabalho forçado imposto pelos pais quando colocam os filhos

para pedir esmolas ou vender doces em sinaleiros, aumentando assim a cobrança

para o menor que nesse entremeio, quando se chega a sua casa sem dinheiro

muitas vezes será espancado ou ficará sem comida como castigo, causando um

trauma e deixando este menor com medo dos dias que virão e necessitando de

qualquer modo arrumar o dinheiro para levar para casa, não por satisfação laboral

mais sim por medo do que lhe poderá advir.

A medida encontrada pelo menor é abandonar a escola e ficar nas

ruas buscando um serviço ou outro como engraxate, limpador de para-brisas de

carros nos sinaleiros ou ainda catador de papel para auxiliarem seus pais, ou para

tentar suprir as suas próprias necessidades, uma vez que não supridas geram a

negativa pelo seu próprio psicológico, trazendo à tona a questão já formulada

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37

preteritamente, “tantos tem tanto e porque eu tenho tão pouco”, gerando assim no

seu subconsciente uma serie de dúvidas que extrapolam a diferenciação se

realmente vale a pena ser honesto.

Não só a isso, quase sempre o pouco que ganha é utilizado pelos

pais para o consumo de drogas, onde muitas vezes estes são alcoólatras violentos,

espancando os filhos, e com isso expurgando o resto de consciência do que é certo

e do que é errado, causando uma revolta para com os familiares e à sociedade,

sendo que isto irá refletir no seu ingresso à criminalidade.

Outro ponto importante é o que a grande parte dos delinquentes

juvenis nasceu em condições infra-humanas, onde, muitas vezes não desejados

pelos pais, sendo largados por se tratarem de uma boca a mais para atrapalhar o a

economia da família, trazendo assim aos menores o sentimento de baixa estima,

sentindo-se rebaixados e brotando assim o sentimento de que o mundo esta contra

si tornando este o seu maior inimigo.

Em linhas gerais, ressalte-se que para o menor tornar-se um

delinquente juvenil é necessário sopesar a balança, sendo que de um lado o

carinho, e do outro a privação, violência entre outros, sendo aquele muito aquém do

desejado enquanto este em grande quantidade.

5.2 O convívio familiar

Qualquer pessoa média tem o pleno conhecimento que a família é

base à formação da pessoa humana, onde uma vez ausentes às necessidades

supridas pela família uma criança virá a ter plena dificuldade de desenvolvimento,

tanto moral, religioso, educacional e principalmente social, onde necessitando de

integração poderá buscar os meios negativos a vivência em sociedade, uma vez que

para a criminalidade é interessante à utilização de crianças e adolescentes já que

sabedores da “impunidade” causada pela utilização desses seres indefesos.

Conforme expõe Gomide (1998, p.39):

O enfraquecimento da família em nossa sociedade dá-se em função de vários fatores. Sua unidade interna foi minada pela pauperização, assolada pela arbitrariedade policial nos grandes bairros periféricos, pelo tráfico de drogas, pelo alcoolismo, pela violência, pela prostituição e pelo abandono dos filhos. Sem que os pais assumissem nenhuma responsabilidade sobre os filhos, as mães repetiam casamentos similares várias vezes, perdendo-

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se os filhos dos primeiros matrimônios na rejeição e na violência das relações familiares degradadas.

Não obstante a isso, intensos maus-tratos ocorrem quase sempre no

anonimato, e às mães e vizinhos, não remetem o acontecimento às autoridades por

temerem represálias, pois quase sempre estes acontecimentos ocorrem na periferia,

e a presença de polícia no local acabaria jogando os comandos do tráfico contra sua

família.

Notoriamente observa-se por meio de noticiários que na maioria das

vezes o adolescente que ingressou na criminalidade nasceu em famílias

desestruturadas onde o pai apenas gerou o filho e nunca quis saber de sua

existência, ou ainda famílias que para sustentar a si e seus filhos trabalham o dia

inteiro fora deixando as crianças em casa sozinhas, sendo manipulados e aliciados

por adultos da sua comunidade.

Verifica-se ainda que muitas das crianças e adolescentes sejam

obrigados pelos pais a mendigar, traficar, prostituir, roubar, furtar e praticar ainda

vários crimes para que possam sustentar seus vícios.

Kodato e Silva (2001 p. 72) traz uma pesquisa elaborada sobre o

assunto:

Verifica-se que, no geral, 80,3% dos meninos tiveram como pais homens cujo modo de vida e comportamentos permitiram caracterizar o seu abandono como abandono moral. Da mesma forma, 84,7% dos que tornaram infratores são frutos da desestruturação familiar, motivadas pela condição de vida do pai, ao contrário do que ocorre com os órfãos propriamente ditos, que são poucos no grupo geral e menos ainda entre os infratores.

Expõe-se deste modo que na maioria das vezes, os pais que nem

sempre deram apoio e ensinamentos a seus filhos, quando estes praticam condutas

inaceitáveis pelos pais, estes acabam hostilizando-os, fazendo que se sintam

desencorajados, desanimados e com varias aberturas para o aprendizado do mal

sendo assim bem recebidos pela criminalidade.

Diante disso, o menor uma vez familiarmente abandonado acaba

nos braços de traficantes inescrupulosos que os aliciam como se fossem

verdadeiros guardiões, fixando assim na mente do menor que estará sempre

protegido por este, abandonando assim conceitos de certo, criando falsamente o

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conceito de que o errado e certo, e o certo é errado, ou seja, a inversão de valores,

levando-os a praticar condutas antissociais.

Diante da exposição chega-se ao patamar do pressuposto que

quando no convívio familiar o menor absorve aquilo que lhe é oferecido, sendo que

uma vez semeado ódio, rancor, miséria, trapaça entre outros males do mundo, ele

colherá frutos envenenados, entretanto se for semeado amor, carinho,

compreensão, apresentará os melhores frutos a serem colhidos pela sociedade,

comprovando assim que, quando o menor busca o caminho da delinquência, quase

sempre é proveniente do ambiente violento no seu próprio lar.

5.3 Sistema educacional

Para iniciarmos este tópico necessário se faz o entendimento do

conceito família, sendo este apresentado de acordo com Brasil – Ministério da

Saúde (2002 apud INSTITUTO PROMUNDO, 2003, p.44).

A família é um grupo de pessoas com vínculos afetivos de consanguinidade ou de convivência. A família é o primeiro núcleo de socialização dos indivíduos. É por meio dela que os valores e os costumes irão formar a personalidade.

Nesses termos é importante dizer que a família é a principal

obrigada constitucionalmente a cuidar dos seus pares educando seus filhos, dando-

lhes segurança e afeto, trazendo a baila mais especificamente por Cury, Garrido e

Marçura (2000, p.231) os quais relatam que:

Convencidos de que a família, como grupo fundamental da sociedade e ambiente natural para o crescimento e o bem estar de todos os seus membros e em particular das crianças, deve receber a proteção e a assistência necessária a fim de poder assumir suas responsabilidades dentro da comunidade; reconhecendo que a criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão.

Indubitavelmente sabemos que a sociedade aponta que a instituição

escolar é a principal fonte de referência ao se tratar da formação disciplinar do

menor. Entretanto Aquino (2004, p.34) relata a ocorrência em contrário:

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Em vez de educadores, convertem-se em pregadores dos “bons costumes” e ou fiscalizadores da conduta alheia; e a sala de aula se vê transmutada em um grande reformatório dos hábitos inadequados do alunado e, especialmente, da “má índole” de alguns. Uma estratégia correcional fadada ao fracasso.

Nestes termos vê-se que isto se torna um jogo de empurra, o qual os

pais que possuem a maior obrigação de educar seus filhos, jogam essa missão a

escola, tendo essa que deixar seus ensinamentos de lado para cuidar das atitudes

transgressivas do menor.

Vislumbra-se que o principal fator a contribuição para o baixo

desempenho dos menores nas escolas, é sem dúvida a violência doméstica, o

abandono moral, a fome, o baixo índice de investimento governamental entre outros.

Fatores estes que o Estado não tem interesse de corrigi-los, pois como já explicado,

uma nação culta dificulta os planos de governos ditatoriais, então é mais fácil dar o

peixe do que ensina-los a pescar.

Deste modo e sabedores de que grande parte da população vive de

esmolas governamentais e não estão nem preocupados com mudança de vida, é o

ponto necessário para o interesse governamental, onde o Estado se aproveita

oferecendo várias bolsas em vários setores de necessidades básicas, que surgem a

cada dia mais e mais, o qual são entregues muitas vezes a pessoas que sequer

necessitam do benefício, deixando assim os principais necessitados na mesma

carência anterior, uma vez que o controle desses investimentos são ínfimos,

servindo apenas para camuflar a falta de investimentos do Estado para com a

educação séria e de boa qualidade.

Com isso muitos jovens mesmo que interessados pela educação

são abandonados à própria sorte, e somente aqueles que intrinsicamente tiveram

sua moral edificada, mesmo que na dificuldade, correrão atrás do prejuízo para se

livrar das dificuldades impostas pela sociedade.

Não obstante a isso, nota-se que o sistema educacional brasileiro

não chega nem a proximidade do básico, uma vez que falta tudo, desde professores,

materiais e principalmente interesse de aprender, lembrando que a decadência do

ensino já tem um longo período de duração, desde os anos 80, sem soluções claras,

não existindo um trabalho massivo no ensino pré-escolar, uma vez que a formação

educacional ai se inicia, e na maioria das vezes nem pré-escolas existem como já

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explicitados anteriormente, sendo que nesse caso a criança fica abandonada a

própria sorte enquanto os pais saem para obter o sustento familiar.

O principal motivo do caos que assola a educação, sem sombra de

dúvidas é o ensino público, uma vez que os professores estão desmotivados com

salários de mendicância, e sabedores de que muitos de seus alunos somente

frequentam as escolas por causa da merenda escolar ou porque são obrigados

pelos pais.

Diante da calamidade no ensino público com professores mal

remunerados e desmotivados não se impõe o ensino pedagógico de maneira correta

onde os professores muitas vezes são dominados pelos alunos que estão vendo os

mestres como inimigos e não como o maior amigo que uma criança pode ter,

sofrendo assim ameaças e violência pelas próprias crianças que necessitam da sua

ajuda para evolução intelectual.

Não destarte a isso a escola não garante mais a transmissão dos

conhecimentos básicos, onde esta instituição não se adaptou ao crescimento

populacional e ao ensino de massa, limitando-se há poucas horas semanais ficando

as crianças o resto do tempo abandonadas a própria sorte.

Ainda em muitos casos quando do aluno problemático os pais não

assumem a responsabilidade pela educação dos filhos e colocam a culpa do desvio

comportamental dos filhos nos professores e na escola conforme explicita a Diretora

Edna Magalhães de Souza da Escola Dr. Fernando de Barros Pinto no conjunto

Jácomo Violin na Zona Norte de Londrina.

Ainda de acordo com a Epsmel em Londrina, desenvolvedora do

Projeto Murialdo de ressocialização de menores infratores, o perfil dos menores

praticantes de atos infracionais que passam pela instituição 8,74% cursaram ou

cursam entre a 1ª e 4ª série, 81,24% cursam entre a 5ª e 8ª series, 6,40% cursando

o ensino médio, 0,21% concluíram o ensino médio.

Isso mostra que a grande maioria desiste dos estudos

principalmente durante o ensino fundamental, demonstrando que muitos não sentem

vontade de retornar a escola uma vez que não veem condições ou mesmo

motivação para o retorno.

5.4 O trabalho infantil

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O trabalho infantil é uma forma de violência exercida contra a

criança e o adolescente principalmente quando fere a dignidade da pessoa humana,

impedindo o acesso à educação e a diversão, entre outros direitos inerentes a estes

seres em desenvolvimento.

Tem-se que este tipo de exploração infantil é vedado no país

existindo apenas algumas exceções previstas em lei, como no caso do aprendiz ou

no trabalho familiar, sendo totalmente vedadas nos casos de trabalhos cruéis e

nocivos os quais não se tratam apenas de proibições, mas sim constituindo crime.

Legalmente o trabalho infantil é vedado, mas apesar disto é comum

verificar-se varias crianças e adolescentes em cruzamentos das grandes cidades do

Brasil vendendo doces e outros objetos.

Diante dessa situação crítica muitas dessas crianças são forçadas

pelos pais a efetuar este trabalho, os quais quase sempre ocasionam violência

psicológica e física, rendendo assim possibilidades para que as mesmas adentrem

ao mundo do crime.

5.5 Condições socioeconômicas

Não há porque responsabilizar explicitamente a pobreza, a falta de

educação, abandono moral e material e a violência doméstica como únicos

responsáveis pelo envolvimento do menor à criminalidade, mas sim, do continuo

envolvimento com situações circunstanciais do dia a dia, principalmente quando são

tratados como se maiores fossem, explorando-os com o trabalho, deixando assim

diminuto o tempo disponível para os estudos e muitas vezes cansado são

desestimulados, tanto psicologicamente como fisicamente.

Faz se assim necessário expor a que nível encontra-se a sociedade

nas atitudes envolvendo menores no Brasil, conforme Oliveira (2005):

Alguns buscam nivelar cada vez mais o adolescente ao indivíduo maior de 18 anos, ou seja, imputável, argumentando que a complacência sugerida pela legislação só concorre para o aumento do desvirtuamento social dos menores. Em outras palavras, acreditam que não há menor infrator vítima da pobreza, do abandono ou da falta de oportunidade de estudo ou trabalho, mas produtos de exposições continuadas a situações de carência moral e que se entregam ao crime por vontade própria, mesmo porque, a consciência dos jovens da atualidade, acerca do que é ou não salutar para o seu desenvolvimento em sociedade, está aguçada desde o fim da segunda infância. Assim, o adolescente já é capaz de saber o que é licito.

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Sabe-se que um adulto desempregado e principalmente quando

possui uma família para sustentar, fica desorientado psicologicamente, e com o

menor não é diferente, pois o mesmo tem anseios e desejos por viver em um mundo

capitalista que os manipula com o fim de desestruturar o seu psicológico caso não

siga a linha do modismo.

Nota-se que a maioria dos adolescentes envolvidos na vida

criminosa advém de famílias que vivem a margem da pobreza, haja vista que a

maior parte deles são oriundos de famílias miseráveis, o que significa que nem todo

jovem que reside nas favelas tornarão se marginais, uma vez que não é somente o

fator econômico que o torna delinquente, mas sim, a soma da pobreza com a

violência familiar, como melhor explica Bolsanello (1991):

Os delinquentes em especial são vulneráveis a ação patogênica dos fatores sociais e familiares. A intranquilidade pessoal e os conflitos psicológicos resultantes de relações familiares desajustadas, também pesam bastante na origem da delinquência juvenil.

Vale destacar que as maiorias dos menores infratores não adentram

a criminalidade forçados e sim por vontade própria, na maioria das vezes são

aliciados e induzidos, uma vez que a promessa de mudança de vida pelos

criminosos é muito chamativa uma vez que estão privados de bens, famintos e

excluídos da sociedade.

5.6 Inclusão digital

Cumpre-se observar que, com a atualização tecnológica,

principalmente no caso da inclusão digital, vê-se o crescimento da violência virtual

onde através de jogos, filmes, novelas entre outros, o menor tem seu consciente

totalmente alterado pela violência imposta nessas apresentações teatrais, onde se

leva a impressão da desvalorização da vida, uma vez que nos filmes morre muitas

pessoas em curto espaço de tempo, a guerra entre a polícia e bandido vira sinônimo

de diversão, nos jogos, matar pessoas nas ruas geram pontos para o jogador, em

novelas, sexo, drogas e violência é o que torna o ator um ídolo uma vez que a

impunidade corre solta pelas telas.

De acordo com Gomide (2000, apud Joly, 2009 p. 83):

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A teoria da aprendizagem social de Bandura auxilia para compreendermos o efeito produzido nas pessoas ao participarem ativamente nos filmes, mas não como atores reais e sim no seu consciente onde se vivencia o que se assiste.

Desse modo vale dizer que legalmente existem vedações, mas a

cada dia isso se torna mais brando uma vez que os costumes sociais acabam

transformando uma cena que ontem era absurda em uma cena aceitável amanhã,

melhor explicando Gomide (2000) o qual expõe ainda dois trabalhos de Bandura,

Ross e Ross o qual traz a afirmação de que após assistir ou jogar varias horas de

programas e jogos violentos, as pessoas deixem de considerar os comportamentos

agressivos passando a aceitá-los como maneira apropriada para resolver problemas

reais.

Outro fator importante é o nível de amizades das crianças e

adolescentes por meio da internet onde muitos dos amigos virtuais são

desconhecidos e apenas coletando dados ou influenciando as pessoas a fazerem

coisas que desejam, aliciando assim os mesmos a adentrar além do limite imposto

pelos pais.

Neste interim, o departamento de comunicações da Inglaterra Ofcom

divulgou em outubro do corrente ano, seu relatório anual sobre o comportamento

das crianças e dos pais perante as mídias sociais, demostrando assim que crianças

e adolescentes não conhecem 25% das pessoas que adicionam nos seus perfis

como o facebook, Orkut entre outros.

No Brasil não é diferente uma vez que o desejo de ser mais

conhecido que seus amigos fazem com que a criança e o adolescente saia

adicionando qualquer pessoa, buscando somente números e, sendo que nesses

números acabam aceitando diversas armadilhas.

Diante dessa situação devem-se buscar meios de vigilância uma vez

que o perigo está batendo a porta das pessoas e esperando somente que se abra a

porta para destruir uma família alicerçada.

5.7 Bullying

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O bullying existe como um dos principais eventos que levam a

criança e o adolescente ao caminho da violência, o da discriminação, principalmente

pelas injúrias que abalam o espírito da pessoa, principalmente da criança, podendo

levar este menor a nunca recuperar desses traumas de infância, tornando-o violento

e mais tarde buscando vingança a sociedade uma vez que imagina que toda a

sociedade o vê como os seus atacantes.

Este termo é derivado da língua inglesa se referindo a todas as

formas de atitudes verbais, agressivas ou ainda de violência física. Essas violências

são de forma repetitivas e intencionais podendo ser realizado por vários elementos,

causando muito sofrimento, dor e angústia a vitima, como por exemplo, levantar

injuria sobre um menino gordo, uma menina sardenta, um órfão, sendo utilizado algo

do mais intimo da pessoa, algo que fere a alma deste com o objetivo de intimidar o

vitimado sem este possuir a capacidade de se defender, o qual ocorre dentro de

uma relação de forças desiguais.

Vale dizer que o bullying pode ser encontrado não só nas escolas,

mas em qualquer meio social onde existam varias pessoas, como na igreja,

universidades, favelas, cidades, família entre outros.

As principais testemunhas da violência do bullying, quase sempre se

calam uma vez que se sentem pressionadas, e como na maioria das vezes são

alunos, temem pela represália que poderão sofre caso sejam os denunciantes da

ocorrência, contaminando assim o meio em que estão inseridos, sendo afetados

negativamente sofrendo medo e ansiedade.

Rematando o exposto, cabe ressaltar que uma criança ou

adolescente ao sofrer o bullying, poderão tornar-se adultos ansiosos, tímidos e com

baixa estima, levando os mesmos contrair comportamentos agressivos, e muitas

vezes tentarem o suicídio como forma de fugir da falsa realidade que fora inserido

em seu subconsciente.

5.8 As drogas

Outro fator preponderante que atrai cada vez mais a juventude e

muitas vezes tendo seu inicio na infância, é o consumo de drogas e afins,

substâncias estas que destroem a personalidade humana criando assim um ser

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desgarrado que luta contra a sociedade, buscando assim, como um ser irracional

conseguir a maldita droga para subsidiar o seu vício.

O comércio e principalmente o consumo de drogas consideradas

ilícitas são os principais responsáveis pelo elevado índice de criminalidade e

aliciamento de adolescentes, pois crimes considerados graves como os homicídios,

roubos e furtos em sua maioria, estão originariamente ligados ao tráfico de drogas,

crimes esses que na sua grande maioria dão subsídio ao grande mercado ilícito das

drogas, passando desde pelos usuários que praticam pequenos furtos a angariar

recursos para o consumo de drogas, passando até por crimes de grande impacto, o

qual busca angariar fundos para adquirir grande quantidade de drogas para

abastecer o mercado consumidor da cidade, tendo como objetos desses crimes

contra o patrimônio os veículos de alto valor ou residências localizadas em áreas

nobres ou contra a vida que geralmente ocorrem por disputas por pontos de venda

de drogas ou por dívidas com traficantes, uma vez que a justiça do crime ainda trata-

se da vingança privada dos primórdios da sociedade.

Nestes termos, vale expor, conforme Kodato e Silva (2000, p. 513)

que:

O consumo de drogas constitui-se assim em uma das principais portas de entrada para os atos infracionais e para o tráfico. Adolescentes pobres dependentes passam a praticar pequenos delitos para pagar dívidas assumidas com o uso de substâncias entorpecentes. Aos poucos, assume bronca de traficantes maiores, inserindo-se assim numa rede de conflitos e disputa de mercados. Dentro dessa dinâmica de vida comercial ilícita, de economia de troca conturbada, de intenso porte de armas, no convívio intergrupal, é inevitável que os pequenos desacordos sejam resolvidos de forma violenta, intensificando-se até suas últimas consequências.

Existem no mundo milhares de tipos de drogas conhecidas pelos

seres humanos muitas com fator destrutivo em poucas aplicações no organismo,

destruindo o sistema nervoso e transformando a pessoa em um ser sem condições

de controle pelo seu próprio corpo.

Encontra-se entre as principais drogas conhecidas, a anfetamina e

cocaína a qual apresentam propriedades que aumentam a agressividade, e ainda,

os esteroides anabolizantes, além de aumentar a agressividade, podem provocar

episódios psicóticos de mania.

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Logo após podemos citar a maconha, esta com o poder de reduzir a

agressividade, sendo esta muito utilizada na indústria laboratorial-medicinal para o

tratamento de colapsos nervosos entre outros.

Não se pode esquecer-se da principal droga licita que embora

permitida seja a principal causa da violência familiar, o álcool, sendo que este pode

aumentar a agressividade em alto nível devido ao seu efeito desinibidor.

Importante também dizer sobre a nicotina, pois esta aumenta a

atividade dopaminérgica, apresentando efeitos inibidores da agressividade, e ainda

lembrando de que esta droga licita já se encontra bem controlada uma vez que a

nova geração vem se abstendo do cigarro.

Como exemplos temos ainda o ácido dietilamida lisérgico, conhecido

no Brasil pela sigla LSD, apresentando atividades inibidoras as quais facilitam a

agressividade de acordo com o seu consumo.

Vale ressaltar que este rol é apenas exemplificativo, pois seguindo

uma explicação detalhada e em números taxativos, haveria muito a falar e este não

é o foco do presente trabalho.

6 ATO INFRACIONAL E CRIMINALIDADE NA CIDADE DE LONDRINA

Nota-se que a cada ano que passa os atos praticados por menores

vem aumentando mais e mais, estando assim próximo do insuportável para a

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sociedade, pois a grande maioria da população está permanecendo trancafiada

dentre de suas casas, com cercas elétricas, amedrontadas com a situação de caos

que se alastra na cidade de Londrina, necessitando assim levantamentos para

buscar as falhas, as localidades, as faixas etárias, e principalmente onde nascem

estas feridas sociais, tendo por objetivo a prevenção, uma vez que a repressão não

é interessante, pois esta somente gera mais violência, enquanto que aquela traz o

grande beneficio da reeducação e inserção do infrator novamente no meio social

como pessoa de bem.

Assim, Londrina tem buscado a melhoria em vários setores como na

economia, na religião, no serviço social, na Polícia Militar, nos Juizados, no

Conselho Tutelar de forma a obter números quantitativos dos menores infratores

como segue nos próximos parágrafos.

Nestes termos conforme Estudos do Fórum Desenvolve Londrina,

realizado na Vara da infância e da Juventude, no Cense, na 10ª SDP de Londrina, e

no Programa Murialdo da Epsmel, chegou-se a um quadro com estatísticas para

obter-se um patamar sobre as pessoas envolvidas na criminalidade na cidade de

londrina, crimes equiparados estes praticados por menores.

Tabela 1 - Número de infrações cometidas por menores

Informação

Ano

2005 2006 2007 2008 2009 2010

Número 1.147 1.076 1.039 1.185 1.300 1.143

Fonte: Fórum desenvolve Londrina, a partir de dados obtidos juntos a Vara da Infância e da Juventude.

Observa-se que existe oscilação entre os anos, com um aumento

durante o ano de 2009 e caindo novamente em 2010, mas verificando que desde

2005 o número se mantém quase sempre no mesmo nível, com diferenças ínfimas

entre um período e outro.

Não obstante a isso foi realizado ainda a pesquisa na 10ª Subdivisão

Policial de Londrina com o intuito de levantar os números de prisões e apreensões

dentro de faixas etárias o qual tem sua representação na tabela abaixo.

Tabela 2 - Pessoas autuadas pela Polícia Civil por Faixa etária.

Ano

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Faixa etária

(anos)

2009 2010 2011 (Janeiro/Maio)

Número % Número % Número %

12 - 17 518 34,5 542 32,1 534 32

18 - 25 514 34,2 525 32 558 33,5

Acima de 25 472 31,3 572 34,9 574 34,5

Total 1.502 100 1.639 100 1.666 100

Fonte: Fórum Desenvolve Londrina, a partir de dados básicos obtidos junto a 10ª SDP (Palestra do Delegado Chefe Dr. Marcio Vinicius Ferreira Amaro em 09/06/2011).

Conforme nota-se na apresentação do Ilustríssimo Delegado-Chefe

Dr. Marcio Amaro da 10ª Subdivisão Policial de Londrina em junho de 2011, os

números de menores são elevadíssimos, aonde o número de jovens chega a ser

menor que de adolescentes e menores infratores, sendo este um dado de

preocupação, pois este número vem a cada dia aumentando, comprovando assim

que a prevenção, principalmente na infância e adolescência não vem surtindo um

efeito satisfatório.

7 PREVENÇÃO OU REDUÇÃO DA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL

Preliminarmente vale lembrar que a repressão pelo Estado através

da polícia é ineficiente, pois esta se encontra sucateada, abandonada pelos

governantes, pois lhes faltam meios de trabalho, contingente e principalmente

animo. Sofrem ainda repreensões muitas vezes infundadas dando assim ensejo ao

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velho ditado em que violência gera violência, o qual por muitas vezes, acabam

descontando na própria família ou em outras pessoas na rua durante

patrulhamentos de rotina.

Não obstante a isso os estabelecimentos prisionais parecem

verdadeiros zoológicos, depósito de pessoas, amontoadas uma em cima da outra,

muitas vezes em celas que deveriam conter 10 pessoas e são mantidas mais de 100

em um espaço ínfimo, sem condições de higiene entre tantos outros males.

Desta forma uma das soluções à criminalidade não é o

fortalecimento do grupo policial e sim do preparo e eficácia da forma de prevenção,

uma vez que na repressão já existe um criminoso, enquanto que na prevenção evita-

se a formação desse criminoso, conforme elucida Molina (2000) sobre a eficácia da

prevenção, onde traz que para tornar-se eficaz a prevenção do crime é necessária

maior efetividade do controle social, ou seja, melhor integração e sincronização

entre os órgãos instituídos ou delegados pelo Estado para essa função.

Outro fato de relevância que deve ser tratado e a responsabilidade

da escola, pois somente esta não pode ser responsabilizada pela educação do

menor, onde este deve ter seu desenvolvimento não somente educacional, mas

também todos os aspectos de formação social como a saúde, instituições de

proteção social e a policia no combate ao crime agindo diretamente sobre as causas

geradoras dos desvios comportamentais, o que automaticamente se reduzirá as

taxas de criminalidade que aumentam em todas as áreas e níveis sociais.

Ainda, deve-se destacar que a prevenção familiar é uma

necessidade urgente, pois a falta de planejamento gera uma família fora dos

padrões sustentáveis pelos pais, pois uma família com baixa renda não terá as

condições necessárias para o sustento de vários filhos uma vez que algumas delas

não possuem condições para seu próprio sustento.

Por último, o Estado é a principal chave para solucionar este

problema, pois é este o guardião dos direitos fundamentais e da dignidade humana,

é o distribuidor da renda, o solucionador de conflitos, o gerador da educação, e

somente através de iniciativas estatais é que buscará meios de formação de

entidades com iniciativa real e não como se encontra hoje.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho não se esgota nas considerações realizadas

até este momento. Ao contrário, traz a necessidade de aprofundamento e verificação

nas várias áreas e não somente na área familiar e educacional, área essas que

poderão ser investigadas futuramente visando buscar ainda mais o conhecimento e

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a manutenção da situação crítica, obtendo assim mais subsídios para combater toda

espécie de violência contra a futura geração.

Percebe-se pelo trabalho, que a sociedade muitas vezes reage aos

problemas que surgem de maneira automática, sem refletir, sem aprofundar nas

suas causas e nas possíveis consequências, ou seja, deixa os problemas

aumentarem até que possam jogar a culpa no Estado, e o menor no lixo, pois o

pensamento maior é que só acontece nas outras famílias e não na nossa, e quando

isso acontece fingimos que não vemos para não reconhecer a propria culpa.

O trabalho pedagógico precisa ser organizado de forma que busque

a prevenção dos problemas e não apenas combatê-los quando ocorrem. Diante do

que pudemos analisar fica evidente que este trabalho muitas vezes parece ser

estafante e não ter um objetivo específico.

Observa assim que o trabalho feito pelo Estado e pela sociedade

diante dos problemas de indisciplina e violência parece ter como objetivo apenas

recolher o menor, retirando-o da sociedade com o intuito de escondê-lo dos olhos

atentos da sociedade, de forma que não atrapalhe os demais andamentos e não

com o propósito de reeducação para inseri-los na sociedade como um cidadão.

Não basta apenas ter conhecimentos sobre o que acontece dentro

da sociedade através das ocorrências, mas sim é necessário trabalhar para que

todos tenham consciência de como agir para que a boa convivência social possa

acontecer em todos os meios.

Assim, necessário se faz cuidar sem descanso das crianças e não

desanimar diante da árdua tarefa de educar, de retomar ao princípio por inúmeras

vezes, de buscar métodos, ideias, soluções das mais diversificadas para tentar

ajudá-los a se entenderem, compreender o mundo e encontrarem sentido para sua

existência.

Porém é da responsabilidade do Estado, da família, da sociedade,

escola e principalmente dos educadores, perceber as necessidades reais de cada

um e envolver-se neste trabalho de formação social.

A violência sempre existiu e a mídia faz com que ela fique ainda

mais em evidência. Precisamos desconfiar das manchetes. Muitas vezes as notícias

não são como aparentam, as comunicações nos apresentam problemas e não

soluções e isso faz com que desistamos e nos entreguemos como vencidos.

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Conclui-se com esta pesquisa o quanto é árduo, a busca de

soluções para os problemas que envolvem a criança e o adolescente, pois a maior

briga não é contra os traficantes, pois este apenas aproveita as falhas que se

apresentam enquanto o Estado, a família e a sociedade brigam entre si.

Nestes termos se reconhece que a necessidade do Estado é de

formar profissionais que além do domínio técnico tenham as habilidades humanas,

ou seja, formar cidadãos que construam uma sociedade mais justa, fraterna e

solidária e sem esquecer que as crianças e os adolescentes não são somente o

futuro do país, e sim que o futuro delas de nós depende é que a sociedade presente

é a principal responsável pela preservação da sociedade futura.

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