Tcc Graciele Timm

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    MINISTRIO DA EDUCAO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

    INSTITUTO DE BIOLOGIA

    CURSO DE CINCIAS BIOLGICAS

    ANEMIAS: CAUSAS E IMPLICAES DAS ALTERAES ERITROCTICAS

    GRACIELE TIMM

    Monografia de concluso de curso

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Campus Universitrio s/n

    Caixa Postal: 354 CEP: 96010-900 Pelotas RS Brasil

    [email protected]

    2005

  • 2

    Pelotas Estado do Rio Grande do Sul Brasil

    Julho 2005

    GRACIELE TIMM

    ANEMIAS: CAUSAS E IMPLICAES DAS ALTERAES ERITROCTICAS

    MONOGRAFIA apresentada ao Instituto de Biologia da UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, como requisitoparcial obteno do ttulo de Bacharel e Licenciado em Cincias Biolgicas

    Orientadora: MsC. Ana Paula da Silva Ferreira Banca Examinadora: Prof. Dra. Beatriz Helena Gomes Rocha Prof. MsC. Marta de Sousa Voltan MsC. Ana Paula da Silva Ferreira

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais, Paulo e Helena, minha eterna gratido. Obrigado a vocs

    que estiveram presentes em todas as horas, estendendo a mo, torcendo,

    incentivando e, principalmente, acreditando nos meus objetivos.

    Agradeo aos meus irmos Ana e Waguinho. A minha irm, que esteve

    sempre disposta e pronta para me ajudar. Ao meu irmo pois aprendi com ele

    muitas coisas da vida. muito bom ter vocs como irmos.

    Meus sinceros agradecimentos Iani, a quem tenho grande admirao, por

    todo o incentivo, ajuda e ensinamentos. Agradeo ao Dani por me socorrer em

    vrias horas e tambm pela pacincia em todas as minhas ausncias. A vocs

    dois obrigado pelo incentivo licenciatura.

    A minha grande amiga Gaby, agradeo por ter me mostrado o valor de uma

    verdadeira amizade. Apenas aqueles que tm amigos verdadeiros entendem o

    significado deste agradecimento. Obrigado amiga!

    Agradeo a minha orientadora e, acima de tudo, amiga Ana Paula, por ter

    me acolhido numa hora to difcil e decisiva. A ti, que no mediu esforos para me

    ajudar, devido ao pouco tempo que restava, o meu muitssimo obrigado. O tempo

    foi curto mas as aprendizagens foram muitas, e a oportunidade de conhecer uma

    pessoa to especial foi tima. Valeu!

    Aos professores, agradeo pelos ensinamentos e aos colegas pela

    convivncia e porque juntos chegamos at aqui.

  • 4

    Que a voz Natureza que sente

    Expresse dentro da gente

    A dor de florestas queimadas

    guas escuras, animais...

    Que a dor de um poeta que exclama

    O mundo que conspira

    E cria a cantiga inspirada na vida

    Que aos poucos se vai

    Cego no espao

    Caminha o planeta

    Perdido ao universo

    Da me Natureza

    Marquinho Brasil

  • 5

    SUMRIO

    1 INTRODUO 10

    2 OBJETIVOS 14

    3 SISTEMA HEMATOPOITICO 15

    3.1 RITRON 19

    3.1.1 VALORES HEMATIMTRICOS 21

    3.1.2 HEMOGLOBINA 25

    3.1.2.1 FUNO DA HEMOGLOBINA 25

    3.1.2.2 ESTRUTURA DA HEMOGLOBINA 26

    3.1.2.3 METABOLISMO DA HEMOGLOBINA 27

    3.1.2.3.1 SNTESE DA HEMOGLOBINA 27

    3.1.2.3.2 CATABOLISMO DA HEMOGLOBINA 28

    4 ERITROPOIETINA 29

    5 ANEMIAS 30

    5.1 CLASSIFICAO MORFOLGICA DAS ANEMIAS 30

    5.2 CLASSIFICAO ETIOPATOGNICA DAS ANEMIAS 30

    5.2.1 ANEMIAS POR DEFICINCIA DE PRODUO DE ERITRCITOS 32

    5.2.1.1 DEFICINCIA DE ELEMENTOS ESSENCIAIS 32

    5.2.1.1.1 FERRO ANEMIA FERROPRIVA 32

    12 (CIANOCOBALAMINA) 33

    5.2.1.2 DEFICINCIA DE ERITROBLASTOS 34

    5.2.1.2.1 APLASIA MEDULAR 34

    A) ERITROBLASTOPENIAS PURAS 36

    B) HEREDITRIAS (CONSTITUCIONAIS) 37

  • 6

    5.2.1.3 ANEMIAS RELACIONADAS S NEOPLASIAS 38

    5.2.1.4 INSUFICINCIA RENAL CRNICA 39

    5.2.2 ANEMIAS POR EXCESSO DE DESTRUIO DE ERITRCITOS 39

    5.2.2.1 CORPUSCULARES 39

    5.2.2.1.1 DEFEITOS DE MEMBRANA 39

    A) ENZIMOPATIAS 39

    B) HEMOGLOBINOPATIAS 40

    B1) ANEMIA FALCIFORME 40

    B2) TALASSEMIAS 42

    5.2.2.2. EXTRACORPUSCULARES 44

    5.2.2.2.1 ANTICORPOS 44

    5.2.2.2.2 DROGAS 44

    6 CONCLUSO 46

    7 REFERNCIAS 47

  • 7

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Hemopoiese............................................................................................16

    Figura 2. Esquema que representa os compartimentos das populaes de clulas

    hematopoiticas.....................................................................................................18

    Figura 3. Hematcrito.............................................................................................22

    Figura 4. Molcula de Hemoglobina.......................................................................27

    Figura 5. Clula falciforme......................................................................................42

  • 8

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Classificao morfolgica das anemias..................................................30

    Tabela 2. Classificao etiopatognica das anemias.............................................31

    Tabela 3. Classificao das aplasias medulares....................................................35

    Tabela 4. Aplasias isoladas da linhagem hematopoitica......................................36

  • 9

    RESUMO

    As anemias so manifestaes hematolgicas caracterizadas pela diminuio no nmero de eritrcitos, na concentrao de hemoglobina e hematcrito, e so

    as patogenias, como carncias nutricionais (ferro, cianocobalamina e cido flico), deficincia de eritroblastos (aplasias medulares e hereditariedade) e defeitos de membrana (hemoglobinopatia e enzimopatias). Nesta reviso descrevemos os processos anmicos de maior prevalncia na populao mundial, os quais so alvos de intensa pesquisa, porm ainda h muito a ser elucidado a respeito dos mecanismos que desencadeiam esses quadros.

  • 10

    1 INTRODUO

    O sangue constitui o principal sistema de transporte no organismo, portanto

    todas as funes que lhe so atribudas so inteiramente dependentes de sua

    circulao. Sendo assim, as funes do sangue possuem uma relao estreita

    com o sistema circulatrio, que se encarrega de cria

    que o sangue circule e seja, assim, distribudo por todo organismo (CINGOLANI &

    HOUSSAY, 2004).

    Devido a sua caracterstica de transporte, o sangue participa de forma

    direta ou indireta de todas as funes do organismo: funo

    transporta os gases respiratrios, oxignio e dixido de carbono; funo nutritiva:

    o sangue transporta os nutrientes necessrios para a vida celular, obtidos no

    sistema digestrio ou nos rgos de reserva, e os transfere ao lquido intersticial;

    funo excretora: o sangue transporta as substncias de resduo metablico, que

    devem ser eliminadas do organismo, para os rgos de excreo; funo

    imunolgica: o sangue transporta clulas especializadas e substncias qumicas

    denominadas anticorpos, que formam parte do sistema de defesa do organismo

    contra a invaso de agentes estranhos; funo de comunicao hormonal: o

    sangue transporta hormnios que, a partir de seus locais de produo nas clulas

    endcrinas, devem chegar a outras clulas para influenciar suas aes; funo de

    regulao trmica: o sangue, por sua rpida circulao, distribui o calor e tende a

    igualar as temperaturas das distintas partes do corpo; alm disso, quando

    necessrio, contribui para a perda de calor a partir da

    tamponante do pH: o sangue possui importantes sistemas de tamponamento do

    pH que contribuem para manter constante a concentrao de ons hidrognio nos

    lquidos corporais (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

  • 11

    O sangue a massa lquida contida num compartimento fechado, o

    aparelho circulatrio, que a mantm em movimento regular e unidirecional, devido

    essencialmente s contraes rtmicas do corao. O volume total de sangue, a

    volemia, em um indivduo normal, representa aproximadamente 8% do peso

    corporal nos homens: 5,6 litros e nas mulheres: 4,5 litros (CONSTANZO, 2004).

    O tecido sanguneo constitudo por trs tipos celulares principais,

    eritrcitos, leuccitos e plaquetas, suspensas em uma fase lquida denominada

    plasma, que contm alm das clulas um amplo espectro de protenas,

    substncias orgnicas e inorgnicas, hormnios e outros componentes. Cerca de

    95% do plasma composto de gua, o que facilita a circulao dos componentes

    do sangue.

    Todas as classes e subclasses celulares sanguneas apresentam trs

    traos caractersticos: 1) a maioria das clulas dentro de cada classe so clulas

    maduras e geralmente muito diferenciadas; 2) a maioria das clulas maduras

    possui uma vida mdia curta, de semanas ou dias; 3) com exce

    todas as clulas sangneas maduras so incapazes de realizar atividade

    proliferativa, ou seja, perderam a capacidade de efetuar mitose (CINGOLANI &

    HOUSSAY, 2004).

    A limitada vida mdia das clulas sangneas maduras e sua incapacidade

    de realizar mitose tornam necessria a existncia de populaes celulares cuja

    funo gerar clulas maduras de cada tipo de clula sangnea. Essas

    populaes celulares constituem as chamadas clulas poiticas ou geradoras.

    ticas so aquelas com capacidade proliferativa e

    maturativa para gerar eritrcitos maduros, enquanto que as clulas

    granulopoiticas so aquelas que geram granulcitos. Todo o sistema de

    populaes celulares que geram clulas sangneas recebe o nome de sistema de

    clulas hematopoiticas ou sistema hematopoitico (CINGOLANI & HOUSSAY,

    2004).

  • 12

    Como o sangue constitudo por duas fraes, clulas sangneas e

    plasma, a volemia representa a soma do volume que as clulas ocupam volemia

    globular e do volume que o plasma ocupa volemia plasmtica. Considerando

    que a quantidade de eritrcitos circulantes muito superior das demais clulas

    sangneas, o termo volemia globular refere-se a volemia globular vermelha ou

    massa vermelha circulante (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    Quando a volemia inferior aos valores normais, fala-se de hipovolemia;

    quando maior, de hipervolemia. O termo normovolemia sugere um valor normal

    de volemia. Normovolemia, hipovolemia e hipervolemia podem, por sua vez, ser

    normocitmicas, oligocitmicas ou policitmicas, de acordo com valor da volemia

    globular. Por exemplo, durante a gravidez, o volume plasmtico pode aumentar

    at 40%, o que explica a anemia fisiolgica caracterstica desse estado. Nos

    casos de hemorragia, o volume sangneo total diminui, porm a quantidade de

    plasma restabelece-se rapidamente pelo aporte de lquido proveniente dos

    tecidos. Na maioria das anemias, o volume sangneo total est pouco diminudo,

    j que a queda do volume de eritrcitos compensada por um maior volume

    plasmtico (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    Na prtica, o volume de massa vermelha circulante raras vezes medido

    de forma direta, mas estimado a partir da concentrao de hemoglobina ou do

    hematcrito. Felizmente, ambos proporcionam uma boa estimativa desse volume

    na maioria das anemias e nas policitemias moderadas. Nas policitemias severas,

    no entanto, seu volume subestimado (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    Policitemia o termo utilizado para designar o aumento na concentrao do

    eritrcitos, podendo ser relativa, quando resultado de uma diminuio

    do volume plasmtico sem modificaes deste nmero, ou absoluta, quando

    representa um real incremento do nmero total de eritrcitos circulantes (BERNE

    & LEVY, 2000).

  • 13

    Anemia o termo comum para indicar reduo da taxa de hemoglobina

    abaixo de um valor entre 13-15 g/dl para indivduos que esto ao nvel do mar e

    apresentam um volume sanguneo total normal, a diminuio do nmero de

    eritrcitos (oligocitemia) no serve por si s, para

    embora com freqncia esteja presente em quase toda a anemia (LORENZI,

    2003).

    As anemias so provocadas por vrios fatores e so classificadas segundo

    dois critrios, morfolgico e etiopatolgico. Morfologicamante, as anemias so

    classificadas quanto ao aspecto dos eritrcitos circulantes, porm no indica a

    causa do processo anmico, a qual fornecida pelo critrio etiopatolgico

    (LORENZI, 2003).

  • 14

    2 OBJETIVOS

    Avaliar a importncia dos processos anmicos em sa

    Identificar os avanos no conhecimento sobre a etiologia dos processos

    Fornecer subsdios para estudos futuros.

  • 15

    3 SISTEMA HEMATOPOITICO

    As clulas maduras ou funcionais do sangue, leuccitos, eritrcitos e

    plaquetas, que desempenham funes vitais, como as de defesa, de imunidade,

    de transporte de oxignio, de regulao do pH e de hemostasia, tm vida muito

    curta exceto alguns linfcitos e fundamentalmente perderam sua capacidade

    de reproduo, de modo que existe um fluxo contnuo dessas clulas desde o seu

    lugar de formao, os rgos hemopoiticos, at o sangue. Esses tipos de

    tecidos, cujas clulas devem ser substitudas continuamente, so chamados de

    sistema de renovao contnua, assim como a pele, o epitlio intestinal, etc. Para

    ter uma idia da renovao de suas clulas, diariamente, por Kg de peso corporal,

    os rgos hemopoiticos liberam para o sangue 1,6 109 granulcitos neutrfilos,

    3 109 glbulos vermelhos, 2,8 109 plaquetas, etc., para substituir as clulas

    que morrem e manter assim um equilbrio estvel do sistema (CINGOLANI &

    HOUSSAY, 2004). As clulas do sangue passam por diversos estgios de

    diferenciao e maturao, antes de passarem para o sangue.

    Segundo JUNQUEIRA e CARNEIRO (1999) as primeiras clulas

    sangneas do embrio surgem muito precocemente, no mesoderma do saco

    vitelino. Posteriormente, o fgado e o bao funcionam como rgos

    hemocitopoiticos temporrios, porm, no segundo ms de vida intra-uterina a

    clavcula j comeou a se ossificar e inicia a formao da medula ssea

    hematgena em seu interior. medida que a ossificao pr-natal do resto do

    esqueleto avana, a medula ssea se torna cada vez mais importante como rgo

    Por tcnicas histolgicas, ao observar no microscpio esfregaos corados

    das clulas da medula ssea, podem ser identificadas as clulas precursoras, que

    do origem s clulas maduras do sangue. As mais primitivas (blastos) das

    linhagens eritroctica, leucoctica e megacarioctic -

    eritroblasto, o mieloblasto e o megacarioblasto. Ao multiplicar-se, diferenciar-se e

  • 16

    amadurecer, cada uma d origem a uma famlia de clulas perfeitamente

    caracterizadas e diferenciveis entre si at chegar a formar, respectivamente, os

    eritrcitos, os leuccitos e as plaquetas. Porm, essas clulas precursoras,

    morfologicamente conhecidas, possuem escassa atividade proliferativa e,

    medida que se reproduzem, diferenciam-se e amadurecem. Em determinado

    momento do processo perdem a propriedade de reproduzir-se e apenas

    continuam sua maturao final at a produo das clulas funcionais (leuccitos,

    eritrcitos e plaquetas), que passam para o sangue. Sendo assim, tratam-se de

    populaes celulares que no se auto-renovam (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    Figura 1. Hemopoiese. Fonte: Anatomy and Physiology: The Unity of Form and FunctionSecond Edition, Kenneth S. Saladin, 2002.

    Clula-Tronco

    Clulas comprometidas

    Precursores celulares Clulas maduras

    Hemocitoblasto

    Pr-eritroblasto

    Megacarioblasto

    Unidade Formadora de colnia

    Progenitor T

    Progenitor B

    Eritroblasto Normoblasto

    Reticulcito Eritrcito

    Megacaricito

    Plaquetas

    MIeloblasto Meilcito neutrofilco

    Mielcito eosinofilco

    Mielcito basofilco Monoblasto

    Precursor T

    Precursor B

    Neutrfilo

    Eosinfilo

    Basfilo

    Moncito

    Linfcito T

    Linfcito B

  • 17

    Todos os fatores relatados levaram necessidade de postular a existncia

    de um ou mais tipos de clulas muito primitivas, que permitiriam manter a

    hemopoiese normal durante toda a vida do indivduo, para dar origem

    continuamente , s clulas precursoras mencionadas (CINGOLANI & HOUSSAY,

    2004, JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999).

    Essas clulas muito primitivas, no-caracterizadas morfologicamente mas

    sim fisiologicamente, denominam-se clulas hemopoiticas tronco pluripotentes:

    CHTPs (stem cells) (AUERBACH, HUANG & LISHENG, 1996).

    A concentrao de CHTPs na medula ssea de 1 a 2 em cada 1000

    clulas nucleadas. Por meio de drogas citotxicas, estabeleceu-se que s uma

    pequena parte de sua populao encontra-se em ciclo celular (1 a 25%), ou seja,

    quando sintetizado cido desoxirribonuclico (DNA) para poder multiplicar-se,

    em consonncia com as necessidades hemopoiticas do momento (CINGOLANI &

    -tronco possuem a habilidade de escolher entre a

    auto-renovao prolongada ou a diferenciao. Elas foram identificadas em vrios

    tecidos adultos de mamferos, como epitlio, sangue, e tecido germinativo, onde

    contribuem para reposio celular normal, que ocorre por senescncia ou injria

    (ODORICO, KAUFMAN & THOMSON, 2001).

    As populaes das clulas hemopoiticas (Figura 2) possuem cinco

    compartimentos consecutivos, cada um dos quais se origina no que o precede,

    exceto o compartimento de CHTPs, cujas clulas auto mantm sua populao:

    1. compartimento de clulas hemopoiticas tronco pluripotentes (CHTPs);

    2. compartimento de clulas progenitoras comprometidas;

    3. compartimento proliferativo de clulas precursoras, reconhecveis

    morfologicamente;

    4. compartimento no-proliferativo de clulas precursoras, reconhecveis

    morfologicamente;

    5. compartimento funcional.

  • 18

    Esses compartimentos celulares apresentam as seguintes caractersticas:

    a) a atividade proliferativa vai diminuindo desde o 1, onde mxima, at o 3 onde

    mnima; b) as clulas diferenciam-se e amadurecem sucessivamente at chegar

    ao estado funcional (5) ; c) os compartimentos 1, 2, 3 e 4 esto localizados nos

    rgos hemopoiticos medula ssea, no ser humano adulto, embora as clulas

    dos compartimentos 1 e 2 possam circular em pequenas quantidades no sangue;

    d) o compartimento funcional (5) situa-se no sangue (leuccitos, eritrcitos e

    plaquetas) e nos tecidos (leuccitos e macrfagos).

    1. CHTPs

    2. Clulas progenitoras comprometidas

    3. Clulas precursoras

    (compartimento proliferativo)

    4. Clulas precursoras (no proliferativas)

    (compartimento no-proliferativo)

    5. Clulas funcionais maduras

    Figura 2. Esquema que representa os compartimentos das populaes de clulas

    Fonte: CINGOLANI, HE.; HOUSSAY, AB.; Fisiologia Humana, 2004, ARTMED, 7 edio, Porto Alegre, Brasil. 1124p.

    As clulas hemopoiticas no se desenvolvem em qualquer tecido do

    organismo e, sim, nos chamados rgos hemopoiticos do

    homem adulto. A razo fundamental desse fato que as clulas no-

    hemopoiticas existentes na medula ssea clulas do estroma, como

    macrfagos, fibroblastos, clulas endoteliais, lipdicas e linfcitos, e a matriz extra-

  • 19

    celular, como fibras de colgeno, reticulina e protenas adesivas (laminina,

    proteoglicanos, fibronectina, hemonectina), - oferecem s clulas hemopoiticas

    ambiente e mediadores celulares (citocinas) adequados para sua manuteno,

    reproduo e diferenciao. Esse tecido denomina-se hemopoitico.

    3.1. ERITRON

    Os eritrcitos circulantes possuem trs caractersticas importantes:

    1) so clulas maduras, diferenciadas para o transporte dos gases

    xignio e dixido de carbono;

    2) apresentam uma vida limitada, varivel segundo as espcies (homem: 120

    dias; rato: 60 dias);

    3) perderam a capacidade de efetuar mitose.

    As duas ltimas caractersticas determinam que devam ser formados de

    rocesso que recebe o nome de eritropoiese) e que exista no

    organismo um compartimento gerador, constitudo pelas denominadas clulas

    eritropoiticas, as quais, mediante processos de proliferao e de maturao,

    daro origem aos eritrcitos maduros, que cumpriro suas funes de transporte

    em um compartimento funcional o sangue (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    Os eritrcitos maduros circulantes e as clulas eritropoiticas formam, em

    seu conjunto, o ertron, que pode ser considerado como um rgo que possui uma

    poro fixa (ritron fixo), constituda pelas clulas eritropoiticas relativamente

    fixas nos rgos eritropoiticos, e uma poro circulante (ritron circulante),

    representada pelos reticulcitos e pelos eritrcitos maduros do sangue

    (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

  • 20

    conveniente dividir as clulas do ritron em quatro categorias: 1) clulas

    nucleadas ou blastos (proeritroblastos, eritroblastos), 2) reticulcitos medulares, 3)

    reticulcitos sangneos e 4) eritrcitos maduros (JUNQUEIRA &

    CARNEIRO,1999).

    O ritron pode ser definido como uma unidade diferenciada para o

    transporte de oxignio e de dixido de carbono devido ao desenvolvimento de

    duas importantes protenas, a hemoglobina e a anidrase carbnica (CINGOLANI &

    HOUSSAY, 2004).

    Durante a embriognese o tecido eritropoitico origina-se no saco vitelino e

    passa ao fgado e ao bao. A partir do 5 ao 7 ms de vida intra-uterina, desloca-

    se, para a cavidade medular do esqueleto, onde reside a partir do nascimento. A

    distribuio da medula vermelha no ser humano adulto, como j citado, est

    limitada ao esqueleto axial e poro proximal dos ossos longos. O tecido

    eritropoitico gradativamente substitudo por gordura, fenmeno que pode ser

    reversvel (AUERBACH, HUANG & LISHENG, 1996).

    A estrutura da medula fornece um ambiente especial para a proliferao e a

    maturao das clulas eritropoiticas, em humanos os fatores mitognicos so

    necessrios para estimular a proliferao das unidades formadoras de colnias,

    incluindo entre estes o fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), o

    fator de crescimento epidermal (EGF), o fator bsico de crescimento dos

    fibroblastos, o fator b de crescimento e o fator 1 de crescimento tipo insulina

    (BIANCO et al.,2001).

    O eritrcito desenvolve-se a partir de uma clula grande e imatura, o

    proeritroblasto, que constitui a clula mais imatura do ritron fixo. Essa clula est

    geneticamente programada para efetuar 3 ou 4 divises mitticas e para sintetizar

    hemoglobina at que cada uma de suas 8 ou 16 clulas-filhas contenha uma

    quantidade de molculas do pigmento calculada em 300 milhes. Esse processo

  • 21

    tem necessidades gerais, comuns a todas as clulas proliferativas, entre as quais

    se incluem todas as substncias necessrias para a construo celular e

    necessidades especiais, ou seja, substncias necessrias para a sntese e a

    proteo da hemoglobina (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    A transformao do proeritroblasto em eritrcito implica uma srie de

    modificaes sucessivas, entre as quais merecem ser citad

    tamanho celular, com contrao e aumento da densidade do ncleo, a perda dos

    nuclolos, modificaes citoplasmticas associadas com a sntese de

    hemoglobina e, finalmente, a perda do ncleo (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    3.1.1 VALORES HEMATIMTRICOS

    As concentraes de eritrcitos e de hemoglobina e o valor do hematcrito

    podem ser usados para o clculo de certos ndices que definem o tamanho e o

    contedo de hemoglobina do eritrcito. Os principais ndices eritrocticos so o

    volume corpuscular mdio (VCM), a hemoglobina corpuscular mdia (HCM) e a

    concentrao hemoglobnica corpuscular mdia (CHCM) (CARVALHO, 1999).

    O ndice hematimtrico representado pelo hematcrito, o qual indica o

    percentual de eritrcitos circulantes de um indivdu

    o sexo, nos homens o hematcrito normal de 42 a 49% (mdia 47%) e nas

    mulheres est entre 38 a 45% (mdia 42%). A diminuio no hematcrito ou

    oligocitemia, serve como indicativo dos processos anmicos porm no sendo

    conclusivo, devendo sempre estar associado a outras medies (LORENZI,

    2003).

    O hematcrito obtido mediante centrifugao, em tubos especiais com

    anticoagulante. Os eritrcitos, por constiturem o maior nmero de clulas

    sanguneas, e apresentarem um peso especfico superior ao do plasma,

    depositam-se no fundo do tubo. Sobre ela forma-se uma delgada camada de

  • 22

    leuccitos e sobre esta uma banda clara de plasma (Figura 3). O valor alcanado

    pela banda vermelha lido diretamente no tubo graduado e constitui o

    hematcrito. O valor do hematcrito depende da velocidade da centrifugao, do

    anticoagulante usado e da forma e do tamanho do tubo em que se realiza a

    medida. Para a determinao do hematcrito devem ser usadas tcnicas

    padronizadas que permitam uma comparao entre valores obtidos em distintas

    condies (CARVALHO, 1999).

    Figura 3. Hematcrito. Fonte: Anatomy and Physiology: The Unity of Form and FunctionSecond Edition, Kenneth S. Saladin, 2002.

    Acompanhando o ndice determinado pelo hematcrito utiliza-se o teste de

    velocidade da eritrossedimentao, que determinada colocando-se sangue

    tornado incoagulvel em pipetas especiais (pipetas de Westergren de 2,5 mm de

    dimetro, graduadas em mm de 0 a 200) e medindo a distncia em milmetros que

    os eritrcitos caem por unidade de tempo, geralmente uma hora. Quando o

    nmero de eritrcitos por unidade de volume maior ou menor do que o normal,

    modifica-se a verdadeira velocidade de eritrossedimentao, a qual maior nas

    anemias e menor nas policitemias. Por essa razo, quando o hematcrito no

    COMPOSIO DO SANGUE

    Centrfuga

    Coleta de sangue

    Plasma

    Leuccitos e Plaquetas

    Eritrcitos

    Elementos formadores

  • 23

    normal, existem tabelas de correo para averiguar a verdadeira velocidade de

    eritrossedimentao (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    De acordo com CINGOLANI & HOUSSAY (2004), os valores normais da

    eritrossedimentao so distintos no homem e na mulher, 3,7 mm na primeira

    hora (entre 0 e 6,5 mm) e 9,6 mm (entre 0 e 15 mm), respectivamente. A diferena

    explicada pela distinta concentrao de eritrcitos que apresentam. Corrigindo

    esses valores para um hematcrito de 47%, a eritrossedimentao para a maioria

    de homens e de mulheres est entre 0 e 6 mm. Em condies normais, a

    -se constante.

    O VCM expressa o volume mdio dos eritrcitos circulantes em

    micrmetros cbicos (m3). Pode ser calculado aplicando-se a seguinte equao:

    VCM = hematcrito 10

    Concentrao de eritrcitos

    Os eritrcitos normais apresentam um VCM de 87 5 m3. Chamam-se,

    portanto, normcitos. So micrcitos aqueles eritrcitos cujo VCM inferior a 82

    m3, e macrcitos os que possuem um VCM superior a 92 m 3. O VCM

    representa somente a medida do volume mdio dos eritrcitos. imperativo,

    portanto, interpretar seus valores junto com uma cuidadosa inspeo citolgica, j

    que possvel obter um VCM normal em amostras de sangue com grande

    quantidade de micrcitos e macrcitos.

  • 24

    A HCM constitui uma expresso, em unidades absolutas, do peso mdio da

    hemoglobina contida em um eritrcito. Pode ser calculada assim:

    HCM = Concentrao de hemoglobina 10

    Concentrao de eritrcitos

    Os eritrcitos normais contm 29 2 picogramas (pg) de hemoglobina.

    -nascido, porque o VCM maior, e menor nas

    anemias por deficincia de ferro.

    Enquanto a HCM representa o peso mdio da hemoglobina em cada

    eritrcito, a CHCM expressa a concentrao mdia de hemoglobina em cada

    clula. Pode ser calculada aplicando-se a seguinte equao:

    CHCM = Concentrao de hemoglobina

    Hematcrito

    O resultado expressa-se como percentagem. Os eritrcitos maduros

    normais contm 34 2% de hemoglobina. O eritrcito normal contm todas as

    molculas de hemoglobina que pode, o que torna quase impossvel que a CHCM

    seja superior ao valor normal (hipercromia). Por outro lado, independentemente do

    seu tamanho, a clula pode possuir baixa concentrao de hemoglobina, o que

    indica que hipocrmica.

  • 25

    3.1.2 HEMOGLOBINA

    3.1.2.1 FUNO DA HEMOGLOBINA

    A hemoglobina (Hb) constitui o principal componente do eritrcito, e qual

    este deve a sua capacidade de transportar oxignio e dixido de carbono. Cem

    mililitros de plasma que no contenham Hb, equilibrados com uma mistura gasosa

    2 (PO2)= 100 mm Hg, transportam 0,3 mL de oxignio

    dissolvido; por outro lado, 100 mL de sangue, com concentrao normal de Hb,

    equilibrados com uma atmosfera similar, transportam 20,3 mL de oxignio.

    Portanto, a Hb responsvel pelo transporte de 99,2% do oxignio presente no

    sangue (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

    A quantidade de pigmento presente em 1 dL de sangue recebe o nome de

    concentrao de hemoglobina. Seu valor mdio mostra diferena sexual, j que

    de 15,4 g/dL (14,5 a 16,7 g/dL) no homem adulto e de 13,8 g/dL (12,2 a 15 g/dL)

    na mulher adulta. Em crianas a concentrao varia de 11 g/dL com um ano de

    vida a 13 g/dL aos 10 anos e no se observa diferena sexual. Os valores do

    adulto so alcanados ao redor dos 20 anos de vida ps-natal (CINGOLANI &

    HOUSSAY, 2004). De acordo com CARVALHO (1999), o dficit funcional mais

    importante causado pela baixa concentrao de hemoglobina o fornecimento

    insuficiente de oxignio necessrio ao funcionamento dos rgos.

    Durante seu desenvolvimento nos rgos eritropoiticos e no sangue, cada

    eritrcito sintetiza aproximadamente 30 pg (27 a 32 pg) de hemoglobina, valor

    conhecido com o nome de hemoglobina corpuscular mdia (HCM). A quantidade

    total de hemoglobina circulante, em um indivduo adulto normal de 70 kg de peso

    corporal, chega a 750 g; a produo e a destruio dirias oscilam em torno de 0,5

    g (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

  • 26

    3.1.2.2 ESTRUTURA DA HEMOGLOBINA

    Nos seres humanos, como em todos os mamferos, a hemoglobina uma

    protena conjugada, com um peso molecular prximo a 68 kDa. Sua molcula

    formada por dois componentes quimicamente distintos: uma metaloporfirina

    denominada heme (grupo prosttico) e uma protena denominada globina. Existem

    quatro grupos heme em cada molcula de hemoglobina, cada um dos quais

    contm um tomo de ferro, ligado por unies covalentes aos tomos de nitrognio

    de uma estrutura heterocclica denominada protoporfirina IX. O ncleo heme

    responsvel pela cor vermelha caracterstica da hemoglobina (CINGOLANI &

    HOUSSAY, 2004).

    A globina constitui 96% da molcula de hemoglobina e, em todos os

    mamferos, composta por quatro cadeias polipeptdicas que aparecem como

    -idnticos a e b (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004). De acordo com

    BORGES-OSRIO & ROBINSON (2001), na hemoglobina que predomina nos

    eritrcitos do ser humano adulto (HbA), duas cadeias polipeptdicas (um par

    idntico) contm 141 aminocidos e so denominadas cadeias alfa (). O par

    restante de cadeias idnticas contm 146 aminocidos, e so denominados

    cadeias beta ().

    No curso da vida fetal, a principal protena respiratria dos eritrcitos

    representada pela HbF (fetal), formada por duas cadeias alfa e duas gama (2 2),

    cidos). Durante a

    vida embrionria aparece outra espcie, a HbE (embrionria), na qual as cadeias

    alfa se combinam com cadeias epslon ( 2 2). Um terceiro tipo da

    heterogeneidade da hemoglobina nos seres humanos resulta de mutaes de

    genes que controlam a seqncia de aminocidos nas cadeias e , o que d

    origem a hemoglobinas anormais (CINGOLANI & HOUSSAY, 2004).

  • 27

    A forma na qual as cadeias polipeptdicas da hemoglobina dobram-se

    especificamente umas sobre as outras e se combinam com os quatro grupos

    heme d origem a uma molcula globular e funcional (CINGOLANI & HOUSSAY,

    2004), como demonstrado na Figura 4.

    Figura 4. Molcula de hemoglobina. Fonte: Anatomy and Physiology: The Unity of Form and FunctionSecond Edition, Kenneth S. Saladin, 2002.

    3.1.2.3 METABOLISMO DA HEMOGLOBINA

    O metabolismo da hemoglobina envolve dois processos opostos, o de sua

    sntese e de seu catabolismo, que sero analisados separadamente.

    3.1.2.3.1 SNTESE DA HEMOGLOBINA

    A hemoglobina sintetizada nos rgos eritropoiticos pelas clulas da

    prognie eritroctica e acumulada continuamente, durante o perodo de 5 a 6 dias

    que dura maturao eritroctica humana. Os eritrcitos maduros no sintetizam

    Hb durante o restante de sua vida na circulao (CINGOLANI & HOUSSAY,

    2004).

    ESTRUTURA DA HEMOGLOBINA

    Grupos Heme

  • 28

    O grupo heme formado a partir da incorporao de um tomo de ferro

    pela protoporfirina III, originada pela condensao do porfobilingeno que o

    cido tricarboxlico, onde o acetato transformado em succinil

    CoA e juntamente com a glicina d incio ao processo de formao da Hb

    enquanto a sntese da globina ocorre nos ribossomos dos eritroblastos, segundo

    -determinado (CARVALHO, 1999).

    3.1.2.3.2 CATABOLISMO DA HEMOGLOBINA

    Segundo CINGOLANI & HOUSSAY (2004), os eritrcitos senescentes so

    seqestrados e metabolizados primariamente pelas clulas reticuloendoteliais que

    revestem os sinusides do bao, embora o fgado e a medula

    processo, que recebe o nome de hemlise extravascular. Quando o seqestro

    extravascular de eritrcitos aumenta, como em certas anemias hemolticas, os

    locais secundrios de remoo eritroctica podem adquirir grande importncia no

    catabolismo da hemoglobina. Dos trs componentes da hemoglobina (globina,

    ferro e protoporfirina), a globina degradada, e os aminocidos liberados

    retornam ao pool orgnico, o ferro liberado reutilizado quase completamente,

    formando novos compostos que contm ferro; a molcula de protoporfirina, pelo

    contrrio, no se conserva e degradada enzimaticamente bilirrubina e a

    monxido de carbono, que so eliminados do corpo.

  • 29

    4 ERITROPOIETINA

    O nvel da atividade eritropoitica na medula ssea depende do nmero de

    precursores eritrides envolvidos na diferenciao e proliferao celular, os

    estgios finais da eritropoiese so dependentes principalmente da ao do

    hormnio glicoproteico Eritropoietina (Epo), o qual induz a proliferao e a

    diferenciao final das clulas progenitoras comprometidas da linhagem

    eritroctica (CORAZZA, 1998).

    Em humanos adultos, a Epo produzida pelos rins, e a sua liberao

    controlada pelo mecanismo clssico de feedback negativo, a partir da resposta da

    a (CAZZOLA et al, 1990).

  • 30

    5 ANEMIAS

    5.1 CLASSIFICAO MORFOLGICA DAS ANEMIAS

    O critrio morfolgico das anemias de natureza qualitativa, demonstrando

    as alteraes que ocorrem na forma dos eritrcitos, porm, no indica a etiologia

    da patologia. Esta classificao realizada por mtodos de colorao, Leishman

    ou Giemsa, onde so observados a forma, o tamanho e as caractersticas tintoriais

    destas clulas correspondentes concentrao de hemoglobina, descritos na

    Tabela 1 (LORENZI, 2003).

    Tabela 1. Classificao morfolgica das anemias

    QUANTO A FORMA DO

    ERITRCITO

    CARACTERSTICAS

    Tamanho Tintorial

    Macroctica Grande volume Geralmente hipercrmica

    Microctica Pequeno volume Geralmente hipocrmica

    Normoctica Volume normal Geralmente normocrmica

    Fonte: Manual de Hematologia: proepedutica e clnica, Terezinha F. Lorenzi, 3 edio, Editora Medsi, 2003, Rio de Janeiro.

    5.2 CLASSIFICAO ETIOPATOGNICA DAS ANEMIAS

    Segundo CARVALHO (1999), as anemias so sempre secundrias, sempre

    existe uma doena bsica que as produz e no se justifica tratar a anemia mas

    sim a sua causa. A produo deficiente, a destruio excessiva e a perda

    sangunea, so os trs mecanismos bsicos responsveis pelo aparecimento das

    anemias, exemplificados na Tabela 2, de acordo com LORENZI (2003).

  • 31

    Tabela 2. Classificao Etiopatognica das anemias

    CLASSIFICAO ETIOPATOGNICA DAS ANEMIAS Anemias por deficincia de

    produo de eritrcitos Anemias por excesso de destruio de eritrcitos

    Anemias por perda de sangue

    Deficincia de elementos essenciais:

    - ferro - cido flico - vitamina B12 - protenas - outras vitaminas

    Corpusculares: - defeitos de

    membrana - enzimopatias - hemoglobinopatias - anemia sideroblstica - porfirias - outras:

    hemoglobinria paroxstica noturna, saturnismo

    Hemorragias agudas

    Deficincia de eritroblastos: - aplasia medular - eritroblastopenias

    puras - hereditrias

    (constitucionais) - anemias refratrias

    Extracorpusculares: - anticorpos: iso e auto-

    anticorpos - drogas - hiperesplenismo - traumas mecnicos:

    microangiopatia, prteses valvulares

    - infeces: malria, clostridiose

    Hemorragias crnicas: - lceras e tumores

    intestinais - parasitas intestinais - menstruaes

    abundantes

    Infiltrao medular: - leucemias agudas e

    crnicas - mieloma mltiplo - carcinomas e

    sarcomas - mielofibrose

    Endocrinopatias: - mixedema - insuficincia adrenal - hipertireoidismo

    Insuficincia renal crnica Outras:

    - cirrose heptica - doenas inflamatrias

    crnicas

    Fonte: Manual de Hematologia: proepedutica e clnica, Terezinha F. Lorenzi, 3 edio, Editora Medsi, 2003, Rio de Janeiro.

  • 32

    5.2.1 ANEMIAS POR DEFICINCIA DE PRODUO DE ERITRCITOS

    5.2.1.1 DEFICINCIA DE ELEMENTOS ESSENCIAIS

    Dentre os vrios elementos essenciais, o ferro, os folatos e a vitamina B12

    (cianocobalamina) so os mais significativos para a manuteno da eritropoiese

    normal, a carncia destes desencadeiam os quadros anmicos, associados a

    mltiplos fatores, de maior incidncia na populao.

    5.2.1.1.1FERRO

    ANEMIA FERROPRIVA

    A anemia ferropriva ocorre quando as reservas de ferro do organismo

    tornam-se insuficientes para manter a eritropoiese e, conseqentemente, a

    concentrao normal de hemoglobina no sangue (MIRANDA et al., 2003).

    Segundo LORENZI (2003), a anemia ferropriva incide preferentemente nas

    mulheres em idade frtil e em crianas, sendo mais rara nos homens. O ferro

    armazenado na forma de ferritina e hemossiderina. Nos homens, existem 600-

    1200 mg de ferro estocado, enquanto nas mulheres esta reserva inferior, de

    100-400 mg. Da a maior incidncia de anemia ferropriva no sexo feminino.

    A deficincia de ferro se instala por mecanismos diversos: aumento da

    necessidade, excesso de perda (hemorragias), m-absoro do ferro da

    alimentao e dieta deficiente de ferro (LORENZI, 2003).

    A maior necessidade de ferro ocorre durante os perodos de crescimento

    acelerado. Conseqentemente, as crianas menores de 2 anos e os adolescentes,

    particularmente o sexo feminino, so os mais vulnerveis sua ocorrncia

    (DeMAYER et al.,1989).

  • 33

    A deficincia de ferro est presente em todas as classes scio-econmicas,

    embora seja mais freqente entre as crianas de famlia com baixo poder

    aquisitivo. Nas cidades brasileiras estima-se que a mdia da freqncia de

    deficincia de ferro nas crianas at 3 anos de idade seja de 62% (MONTEIRO,

    SZARFARC & MONDINI, 2000).

    A mulher pode apresentar anemia decorrente da perda sangnea excessiva

    durante a menstruao (menorragia ou hipermenorria); quanto maior a

    quantidade de sangue, maior a perda de glbulos vermelhos e,

    ferro neles contido (COOK, FLOWERS & SKIKNE, 2003).

    A anemia ferropnica pode ainda estar associada s perdas sangneas, em

    ambos os sexos, relacionadas ao trato digestivo, por gastrite, lceras, parasitas,

    hemorridas etc. O sangue perdido sai atravs da massa fecal, o que torna as

    fezes escuras; no entanto, as pessoas, em geral, no possuem o hbito de

    observar as prprias fezes, por isso a perda de sangue quase nunca notada

    (CARVALHO,1999).

    LORENZI (2003) enfatiza perdas cutneas associadas a d

    descamativas de evoluo crnica que levam perda de ferro pela pele.

    5.2.1.1.2 CIDO FLICO E VITAMINA B12 (CIANOCOBALAMINA)

    O cido flico e a vitamina B12 (cianocobalamina) so elementos essenciais

    para hemopoiese, carncia nutricional ou a m absoro destes produz uma

    anemia geralmente macroctica associado a um quadro de disfuno neurolgica

    e cognitiva (KUZMINSKI et al., 1998). Freqentemente considera-se que a

    hemopoiese megaloblstica encontrada nas deficincias por cobalamina e cido

    flico, esto relacionadas a metilao do desoxiuridina monofosfato (dUMP) em

    timidina monofosfato (dTMP) o que leva a uma reduo no suprimento de timidina

    trifosfato (dTTP), alterando assim o pareamento das bases do DNA, alm desse

  • 34

    fator estuda-se ainda a incorporao errnea do uracil ao DNA em indivduos que

    apresentam o quadro de deficincia de cido flico e cianocobalamina,

    provocando assim o quadro anmico por deficincia destes elementos

    (WICKRAMASINGHE & FIDA, 1994).

    5.2.1.2 DEFICINCIA DE ERITROBLASTOS

    5.2.1.2.1 APLASIA MEDULAR

    Na aplasia medular a atividade hemopoitica est reduzida, ocorre uma

    formao deficiente dos precursores eritroblsticos medulares a partir da clula-

    tronco pluripotente (stem cell), apesar da formao normal do estroma (JUNEJA,

    LEE & GARDNER, 1989; BACIGALUPO et al. 1992).

    De acordo com PASQUINI (2000) as aplasias medulares englobam um

    grupo heterogneo de doenas, que se caracterizam por pancitopenia associada a

    medula ssea com grau variado de hipoceluridade, sem ev

    neoplsica e de sndrome mieloproliferativa, podendo ser parciais ou seletivas e

    globais, as quais envolvem as trs linhagens hematopoiticas, originando-se de

    uma alterao adquirida ou constitucional, como demonstrado nas tabelas 3 e 4.

  • 35

    Tabela 3 Classificao das aplasias medulares

    CLASSIFICAO DAS APLASIAS MEDULARES

    ADQUIRIDA

    Idioptica

    Secundria a radiao

    Secundria a drogas e agentes qumicos: Dependentes da dose: Citotxicos e benzeno

    No dependentes da dose: cloranfenicol,

    -esterides, anticonvulsivantes, ouro e outros.

    Secundria a exposio viral: vrus Epstein-Barr, HIV, vrus no definidos associados

    hepatite.

    Imunideficincias: Fasciite eosinoflica, hipogamaglobulinemias, timoma, carcinoma de

    -contra-hospedeiro.

    Hemoglobinria Paroxstica Noturna

    CONSTITUCIONAL OU HEREDITRIA

    Anemia de Fanconi

    Disceratose congnita

    Sndrome de Schwachmann/Diamond

    Disgenesia reticular

    Fonte: PASQUINI, R.; Transplante de medula ssea em anemias aplsticas. Simpsio transplante -231. Ribeiro Preto.

  • 36

    Tabela 4 Aplasias isoladas da linhagem hematopoitica

    APLASIAS ISOLADAS DA LINHAGEM HEMATOPOITICA

    ADQUIRIDAS HEREDITRIAS

    Aplasia pura dos eritrcitos

    Idioptica

    Imunolgica

    Drogas e toxinas

    Timoma

    Parvovrus p19

    Eritroblastopenia transitria da infncia

    Anemia Blackfan-Diamond

    Neutropenia

    Medicamentos

    Idioptica

    g

    Sndrome de Kostamann

    Sndrome de Schwachmann-Diamond

    Disgenesia reticular

    Trombocitopenia

    Idioptica amegacarioctica

    Drogas e toxinas

    Trombocitopenia amegacarioctica com

    ausncia de rdio

    Fonte:PASQUINI, R.; Transplante de medula ssea em anemias aplsticas. Simpsio transplante -231. Ribeiro Preto.

    A) ERITROBLASTOPENIAS PURAS

    ar-se, cursando com anemia e

    oligocitemia, porm o nmero de plaquetas e leuccitos permanece normal. Esse

    tipo de anemia pode ser constitucional (hereditria) ou adquirida

    (LORENZI,2003).

    A Anemia de Diamond-Blackfan uma doena congnita caracterizada

    pela maturao defeituosa do progenitor eritride, sendo geralmente

    diagnosticada durante o primeiro ano de vida. O principal sinal clnico uma

    anemia macroctica ou normocrmica profundamente isolada. Mais de um tero

    dos pacientes apresentam mal-formaes congnitas, freqentemente

  • 37

    envolvendo a elevao dos membros e da cabea e nos sistemas urogenital e

    cardiovascular (DIANZONI, GARELLI & RAMENGUI, 2000).

    A eritroblastopenia pura adquirida secundria a uma srie de causas

    de drogas, presena de viroses e lupus

    eritematoso sistmico, leucemia linftica crnica e linfoma no-Hodgkin. Em

    crianas esta doena costuma ser auto-limitada, podendo ser chamada de

    eritroblastopenia transitria da infncia (LORENZI, 2003).

    B) HEREDITRIAS (CONSTITUCIONAIS)

    ANEMIA DE FANCONI

    Anemia de Fanconi uma rara doena autossmica recessiva

    caracterizada por mltiplas anormalidades congnitas, falhas na medula ssea,

    suscetibilidade ao cncer (DANDREA & GROMPE, 1997), particularmente

    leucemia mielide aguda (FAIVRE et al, 2000), e atrofia de glndulas endcrinas

    (CARVALHO, 1999). Um grande nmero de pacientes pode apresentar

    malformaes congnitas mas no ser diagnosticado como Fanconi at comear

    apresentar falhas na medula ssea (LIU et al, 1994).

    A replicao do DNA surpreendentemente precisa, considerando que

    bilhes de pares de bases devem se replicar a cada multiplicao celular e que h

    grande nmero de mutgenos ao qual esto expostas. Um motivo primordial para

    o processo de reparo do DNA, que ocorre em todas as clulas

    normais de animais superiores. Avalia-se que este mecanismo de reparo corrija

    99,9% dos erros iniciais. Os defeitos nos sistemas de reparo podem levar a muitos

    tipos de doenas, entre as quais est Anemia de Fanconi. Acredita-se que at oito

    genes podem estar envolvidos, mas sua funo exata no reparo do DNA ainda

    et al, 2000).

  • 38

    Os pacientes apresentam atraso no crescimento e anormalidades na pele

    (hiperpigmentao generalizada e/ou pontos acastanhados), rins, sistema

    gastrointestinal e malformaes dos membros (frequentemente com defeitos no

    polegar ou antebrao). Pacientes homens possuem gnadas subdesenvolvidas e

    espermatognese defeituosa (DANDREA & GROMPE, 1997).

    5.2.1.3 ANEMIAS RELACIONADAS S NEOPLASIAS

    De acordo com SABA (1998), a anemia uma complicao comum das

    neoplasias e devido complexidade das causas e dos mecanismos envolvidos no

    quadro anmico, o termo multifatorial freqentemente utilizado. A anemia

    relacionada ao cncer pode ocorrer como um efeito direto da neoplasia, ou das

    substncias produzidas pelas clulas tumorais, ou ainda como resultado do

    Nas doenas neoplsicas h uma grande freqncia de anormalidades nas

    s hematopoeticas perifricas, as citopenias ou redues no nmero de

    eritrcitos, neutrfilos e plaquetas, tambm so observados, como resultado de

    uma eritropoiese deficiente ou aumento na destruio das clulas hematopoiticas

    (ZUCKERMAN, 1998).

    A incidncia de anemia em pacientes oncolgicos depende do tipo de tumor

    (portadores de neoplasias cerebrais, raramente desenvolvem anemia, ao contrrio

    daqueles com diagnstico de leucemia, linfoma, mieloma mltiplo, cncer de

    prstata e pulmo avanados), do estgio e durao da doena, assim como do

    esquema teraputico de sua intensidade (NOGUEIRA-COSTA, DUARTE &

    SOUSA, 1999).

  • 39

    5.2.1.4 INSUFICINCIA RENAL CRNICA

    A insuficincia renal crnica produz um quadro anmico multifatorial, que

    e ferro que ocorre durante a hemodilise e testes

    sanguneos, e a diminuio da absoro gastrointestinal deste elemento. A baixa

    concentrao de ferro interfere na formao do pigmento hemoglobina, este

    quadro anmico secundrio, interfere na atuao do h

    responsvel pela induo da produo de eritrcitos na medula ssea

    (GOODNOUGH, SKIKNE & BRUGNARA, 2000).

    5.2.2 ANEMIAS POR EXCESSO DE DESTRUIO DE ERITRCITOS

    5.2.2.1 CORPUSCULARES

    5.2.2.1.1 DEFEITOS DE MEMBRANA

    Alteraes da membrana eritrocitria, da composio enzimtica e da

    estrutura hemoglobnica dos eritrcitos so causas de excesso de hemlise que

    se traduzem nos vrios tipos de anemia hemoltica (LORENZI, 2003).

    A) ENZIMOPATIA

    A enzima glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD) cataliza o primeiro passo

    na via da hexose monofosfato (HMP), que oxida a glicose6-fosfato em 6-

    fosfogluconolactona, reduzindo o NADH em NADPH. Esta via a nica fonte de

    NADPH nos eritrcitos e tambm serve para produzir as riboses necessrias para

    a sntese de nucleotdeos nas vias de resgate. A principal funo desta via

    proteger os eritrcitos do estresse oxidativo, a glutationa peroxidase (GSHPx)

    remove o perxido dos eritrcitos, a glutationa reduzida (GSH) serve como

    substrato para esta enzima (GAETANI et al., 1989), e como o NADPH requerido

    para que ocorra a reduo da glutationa oxidase e dos grupos sulfdricos

  • 40

    (SRIVASTAVA & BEUTLER, 1970), est uma reao essencial para defender os

    eritrcitos contra o perxido. Clulas com deficinc

    responder adequadamente ao estresse oxidativo, dificultando seu metabolismo

    (YOSHIDA, 1973).

    A deficincia de G6PD, cursa com um quadro de anemia hemoltica, que

    classificada nas seguintes classes: Classe 1: anemia hemoltic

    esfercitica, Classe 2: deficincia severa, Classe 3: deficincia mdia, Classe 4:

    A anemia hemoltica resultante desta deficincia pode ser desencadeada

    por diversos fatores, tais como: medicamentos, alimentos, infeces e Diabete

    mellitus (BEUTLER, 1994).

    B) HEMOGLOBINOPATIAS

    B1) ANEMIA FALCIFORME

    De acordo com JORDE et al (2000), a mais importante das anomalias

    estruturais de hemoglobina a anemia falciforme, um distrbio que afeta

    aproximadamente 1/400 a 1/600 nascimentos afro-americanos. ainda mais

    comum em parte da frica, onde pode afetar at um de cada 50 nascimentos, e

    tambm se manifesta ocasionalmente nas populaes mediterrneas e do Oriente

    A hemoglobina S foi a primeira variante detectada eletroforeticamente por

    PAULING (1949), citado por BORGES-OSRIO & ROBINSON (2001). A nica

    diferena estrutural entre HbS e HbA ocorre na posio 6 da cadeia da globina,

    onde o cido glutmico substitudo por valina:

  • 41

    DNA da cadeia da HbA:

    GTG-CAC-CTG-ACT-CCT-GAG-GAG-AAG

    Cadeia :

    val-his-leu-tre-pro-glu-glu-lis-...

    GTG-CAC-CTG-ACT-CCT-GTG-GAG-AAG

    Cadeia :

    val-his-leu-tre-pro-val-glu-lis-...

    A modificao que d origem a HbS faz com que, a baixas tenses de O2,

    presentes nos pequenos vasos capilares, essa hemoglobina se polimerize,

    formando estruturas filamentosas, os polmeros de desoxi-hemoglobina. As baixas

    temperaturas e a queda do pH aumentam a formao da desoxi-hemoglobina. A

    microscopia eletrnica pode mostrar o enrolamento desses filamentos que vo

    modificar a morfologia dos eritrcitos. Formam-se hemcias em foice ou

    falciformes (Figura 5). Isso ocorre porque a HbS libera o O2 mais rapidamente do

    que a HbA, que tambm existe nas clulas. As hemcias em foice so mais

    rgidas e tendem a ficar estagnadas em rgos em que a circulao lenta. Com

    isso h anxia relativa, que, por sua vez, facilita a falcizao de novas hemcias.

    -se verdadeiros trombos, que levam a enfarte do tecido

    adjacente. Este enfarte seguido de fibrose e at de calcificao (LORENZI,

    2003).

    Algumas clulas permanecem irreversivelmente falciformes, aps episdios

    repetidos de hipoxia e reoxigenao, sendo destrudas prematuramente, em crises

    Podem ocorrer crises aplsticas, por exausto da medula ssea,

    durante as quais h um agravamento da anemia, diminuindo a quantidade de

    eritroblastos e reticulcitos no sangue perifrico. As clulas falciformes aumentam

    a viscosidade do sangue e impedem a circulao normal nos pequenos vasos

    sangneos. A viscosidade aumentada pela elevada concentrao de hemoglobina

  • 42

    e a rigidez da membrana possivelmente diminuem a capacidade das clulas

    falciformes irreversveis para atravessarem os capilares. Em longo prazo, a

    obstruo recorrente da circulao (crises vaso-oclusivas) acarreta dano

    significativo aos rgos internos, especialmente corao, pulmes e rins

    (BORGES-OSRIO & ROBINSON, 2001). O bao torna-se aumentado

    (esplenomegalia), mas os infartos eventualmente destroem este rgo, produzindo

    alguma perda de funo imune. Isso contribui para as recorrentes infeces

    bacterianas (especialmente pneumonia) que so comumente vistas em indivduos

    com anemia falciforme, e que freqentemente causam a morte (JORDE et al,

    2000).

    Figura 5. Clula falciforme. Fonte: http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/spanish/ency/esp_imagepages/1223.htm

    B2) TALASSEMIAS

    As talassemias resultam de mutaes que causam um defeito na sntese de

    uma ou mais cadeias de globina, levando a um desequilbrio entre a produo de

    cadeias a e a de cadeias no-a. Sua denominao origina-se do grego thalassa

    (=mar) e hemos (=sangue), visto que essas doenas so mais freqentes nas

    pessoas oriundas da regio do Mediterrneo, ndia e Oriente Mdio (BORGES-

  • 43

    OSRIO & ROBINSON, 2001) bem como em partes da frica e sudeste da sia

    (JORDE et al, 2000).

    Os eritrcitos em forma de alvo caracterizam as talassemias, tambm

    conhecidas como anemia de Cooley, anemia mediterrnea ou sndromes

    -OSRIO & ROBINSON, 2001).

    A talassemia pode ser dividida em dois grandes grupos, a-talassemia e b-

    talassemia, dependendo da cadeia de globina que est reduzida em quantidade.

    Quando um tipo de cadeia est em nmero diminudo, o outro tipo de cadeia,

    incapaz de participar da formao normal de um tetrmero, tende a formar

    molculas que consistem em quatro cadeias apenas do tipo em excesso

    (denominadas homotetrmeros, em oposio aos heterotetrmeros normalmente

    formados pelas cadeias a e b). Na a-talassemia, as cadeias de a-globina so

    deficientes, de modo que as cadeias b so encontradas em excesso, estas

    formam homotetrmeros com capacidade muito baixa de ligao de oxignio,

    produzindo hipoxemia. Na b-talassemia, o excesso de cadeias a forma tetrmeros

    que se precipitam e danificam as membranas celulares das clulas precursoras de

    eritrcitos, o que leva a uma destruio prematura destes eritrcitos e anemia

    (JORDE et al, 2000).

    As membranas em ambos tipos de talassemias, apresentam rigidez, porm

    a instabilidade destas um pouco diferente, na talassemia tipo a, a membrana

    hiperestvel, enquanto na talassemia tipo b ela apresenta-se instvel,

    particularmente em pacientes esplenectomizados (SCHRIER, RACHMILEWITZ,

    MOHANDAS, 1989; SCHRIER, 1994).

  • 44

    5.2.2.2 EXTRACORPUSCULARES

    5.2.2.2.1 ANTICORPOS

    As anemias hemolticas auto-imunes correspondem a um grupo de doenas

    cujo quadro clnico de anemia resulta do encurtamento da sobrevida dos

    -anticorpos circulantes dirigidos contra antgenos de

    glbulos vermelhos. A anemia desenvolve-se quando a produo dos eritrcitos

    pela medula no compensa o aumento de destruio devido hemlise (SILVA,

    2003).

    5.2.2.2.2 DROGAS

    Muitas drogas so capazes de induzir anemia hemoltica imune (PETZ &

    GARRATTY, 1980). A patognese, subjacente deste efeito colateral, causado pelo

    tratamento com drogas no est completamente entendido, mas pelo menos trs

    diferentes mecanismos parecem estar envolvidos (PACKMAN & LEDDY, 1995,

    PETZ, 1993). O primeiro a induo da formao auto-anticorpos e a ligao

    destes aos eritrcitos produzida por algumas drogas, como a metildopa e a

    procainamida, e mesmo depois de descontinuado o tratamento a hemlise pode

    persistir (SCHWARTZ, BERKMAN & SILBERSTEIN, 1991, PACKMAN & LEDDY,

    1995). O segundo mecanismo, produzido por drogas como a penicilina e a

    cefalotina, gera uma ligao covalente com as protenas de membrana dos

    eritrcitos e atua como haptenos, induzindo anticorpos especficos para o

    complexo droga-protena (PACKMAN & LEDDY, 1995, EHMANN, 1992) A

    hemlise causada por esses dois mecanismos de intensidade mdia e pode ser

    ainda sub-clnica.

    O terceiro mecanismo de induo de hemlise por uso de frmacos, como

    por exemplo o diclofenaco, usualmente mais

    caracterizado pela ligao dos anticorpos aos eritrcitos normais, somente quando

  • 45

    a droga sensibilizante est presente no plasma (PACKMAN & LEDDY, 1995,

    PETZ & MUELLER-ECKHARDT, 1992).

  • 46

    6 CONCLUSO

    As anemias representam um quadro clnico importante pois esto

    associadas a inmeras etiologias como demonstram os estudos sobre o tema.

    Entre as etiologias primrias encontram-se as carncias nutricionais, que

    afetam grande parte da populao, em particular as crianas, que necessitam de

    um aporte de elementos essenciais como o ferro, a cianocobalamina e o cido

    flico, para o desenvolvimento orgnico. Em indivduos adultos a necessidade

    destes elementos permanece, por serem fundamentais para a produo celular. A

    carncia de ferro, que resulta em anemia ferropriva, apresenta uma alta

    prevalncia entre as mulheres, em funo do ciclo menstrual, onde ocorre uma

    perda mensal de ferro, e da gestao, que aumenta a necessidade deste

    elemento, este quadro anmico tambm secundrio em processos hemorrgicos

    crnicos e agudos.

    Os processos anmicos relacionados hereditariedade vm sendo

    esclarecidos por inmeros estudos, que incluem a base gentica destas

    enfermidades, estes processos em geral, apresentam uma grande dificuldade

    quanto ao tratamento. Hoje a terapia com clulas-tronco oferece uma perspectiva

    para melhoria da qualidade de vida dos portadores de alguns destes distrbios.

    Os estudos relacionados s anemias tm uma importncia relevante para

    ampliar os conhecimentos sobre os mecanismos envolvidos no seu

    desenvolvimento, elucidando os sinais qumicos, a base gentica e molecular

    deste quadro, proporcionando tratamentos mais adequados para cada tipo de

    anemia.

  • 47

    7 REFNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AUERBACH, R.; HUANG, H.; LISHENG, L. Hematopoietic stem cells in the mouse

    embryonic yolk sac. Stem Cells, 1996; 14:269-280.

    BACIGALUPO, A; FIGARI,O.; TONG, J.; PIAGGIO, G.; MICELI,S.; FRASSONI, F.;

    CACIAGLI,P.; BADOLATI,G.; MARMONT,AM. Long-term marrow culture in

    patients with aplastic anemia compared with marrow transplant recipients and

    normal controls. Exp. Hematol, 1992, 20:425.

    BERNE, RM.; LEVY, MN. Fisiologia, 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan

    2000. 1034p.

    BEUTLER, E. G6PD deficiency. Blood, 1994. 84:3613-3636.

    BIANCO, P.; RIMINUCCI, M.; GRONTHOS, S.; ROBEY, PG. Bone marrow stromal

    stem cells: nature, biology and potential applications. Stem cells, 2000, 19:180-

    192.

    BORGES-OSRIO, MR; ROBINSON, WM. Gentica humana 2 ed. Porto Alegre:

    Artmed, 2001. 459p.

    CARVALHO,WF. Tcnicas mdicas de hematologia e imunohematologia. 7 ed. ,

    Belo Horizonte: COOPMED, 1999.

    CAZZOLA, M.; GUARNONE, R.; CERANI, P.; CENTENARA, E.; ROVATI, A.;

    BEGUIN, Y. Red blood cell precursor mass as an independent determinant of

    serum erythropoietin level. Blood, 1990, 91:2139-2145.

  • 48

    CINGOLANI, HE.; HOUSSAY, AB.; Fisiologia Humana, 7 ed. Porto Alegre:

    ARTMED, 2004. 1124p.

    COOK, JD.; FLOWERS, CH.; SKIKNE, BS. The quantitative assessment of body

    iron. Blood, 2003. 101: (9)3359-3364.

    CORAZZA, F.; BEGUIN, Y.; BERGMANN, P.; ANDR, M.; FERSTER, A.;

    DEVALCK, C.; FONDU, P.; BUYSE, M.; SARIBAN, E. Anemia in children with

    cncer is associated with decreased erythropoietic activity and not with inadequate

    erythropoietin production. Blood, 1998. 92:1793-1798.

    COSTANZO, LS. Fisiologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2004. 466p.

    DANDREA, AD.; GROMPE, M. Molecular biology of Fanconi anemia: implications

    for diagnosis and therapy. Blood,1997, 90(5): 1725-1736.

    DeMAYER, E.; DALLMAN,P.; GURNEY, JM; HALLBERG, L.; SOOD, SK. &

    SRIKANTIA, SG. Preventing and controlling iron deficiency anaemia through

    primary health care: a guide for health administrators and programme managers.

    Geneva, 1989. World Health Organization.

    DIANZONI, I.; GARELLI, E.; RAMENGHI, U. Diamond-blackfan anaemia: an

    overview. Pediatric Drugs 2000, 2: 345-355.

    EHMANN, WC. Cephalosporin-induced hemolysis: a case report and review of the

    literature. Am. J Hematology, 1992. 40:121.

    ENCICLOPDIA MEDLINE PLUS. Disponvel em:

    http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/spanish/ency/esp_imagepages/1223.htm.

    Acesso em: 27 de junho de 2005, 22:47:24.

  • 49

    FAIVRE, L.; GUARDIOLA,P.; LEWIS,C.; DOKAL, I.; EBELL,W.; ZATTERALE,A.;

    ALTAY,C.; POOLE,J.; STONES,D.; KWEE, ML.; WEEL-SIPMAN, M.; HAVENGA,

    C.; MORGAN,N.; WINTER, J.; DIGWEED,M.; SAVOLA,A.; PRONK, J.; RAVEL, T.;

    JANSEN,S.; JOENJE, H.; GLUCKMAN,E.; MATHEWS,CG. Association of

    complementation group and mutation type with clinical outcome in Fanconi

    anemia. Blood, 2000. 96(13) 4064-4070.

    GAETANI, GF; GALIANO, S; CANEPA, L; FERRARIS, AM; KIRKMAN, HN.

    Catalase and glutathione peroxidase are equally active in detoxification of

    hydrogen peroxide in human erythrociytes. Blood, 1989. 73:334.

    GOODNOUGH, LT; SKIKNE, B; BRUGNARA, C. Erythropoietin, iron, and

    erythropoiesis. Blood, 2000. 96:823-833.

    JORDE, LB.; CAREY, JC.; BAMSHAD, MJ.; WHITE, RL. Gentica humana, 2

    edio, Guanabara Koogan, 2000, 297p.

    JUNEJA, HS.; LEE, S.; GARDNER, FH. Human long-term bone marrow cultures in

    aplastic anemia. Int. J. Cell Cloning, 1989, 7: 129.

    JUNQUEIRA, LC.; CARNEIRO, J. Histologia bsica. 9 ed. Rio de Janeiro:

    Guanabara Koogan, 1999. 540p.

    KUZMINSKI, AM; DEL GIACCO, EJ; ALLEN, RH; STABLER, SP; LINDENBAUM,

    J. Effective treatment of cobalamin deficiency with oral cobalamin. Blood, 1998. 92:

    1191-1198.

    LIU, JM.; BUCHWALD, M.; WALSCH, CE.; YOUNG, NS. Fanconi anemia and

    novel strategies for therapy. Blood, 1994. 84(12): 3995-4007.

  • 50

    LORENZI, TF. Manual de hematologia: propedutica e clnica. 3 ed. Rio de

    Janeiro: Medsi, 2003. 655p.

    MIRANDA,AS,; FRANCESCHIN, SCC,; PRIORE, SE.; EUCLYDES, MP.;

    ARAJO, RMA.; RIBEIRO, SMR.; NETTO, MP.; FONSECA,MM.; ROCHA, DS.;

    SILVA, DG.; LIMA, NMM.; MAFFIA, UCC. Anemia ferropriva e estado nutricional

    de crianas com idade de 12 a 60 meses do municpio de Viosa, MG. Revista de

    -169.

    MONTEIRO, CA.; SZARFARC, SC.; MONDINI, L. Tendncia secular da anemia

    na cidade de So Paulo (1984-1996). Revista de Sade Pblica, 2000,

    34:6.

    NOGUEIRA-COSTA, R.; DUARTE, RC.; SOUSA, CC. Anemia no paciente

    oncolgico: causas, diagnsticos e tratamento, 1999, Revista Sociedades

    6: 36.

    ODORICO, JS; KAUFMAN, DS; THOMSON, JA. Multilineage differention from

    human embryonic stem cell lines. Stem cells 2001;19:193-204.

    PACKMAN, CH; LEDDY, JP. Drugs-induced immune hemolytic anemia, in Beutler

    F., Lichtman, M.,Collar, BS., Kipps, tj. (eds). Hematology (ed.5). New York, NY,

    McGraw-Hill, 1995, p 691.

    PASQUINI, R.; Transplante de medula ssea em anemias aplsticas. Simpsio

    transplante de medula ssea. 2000, 33:219-231. Ribeiro Preto.

    PETZ, LD; GARRATTY, G. Acquired immune hemolytic anemias. New York, NY,

    Churchill Livingstone, 1980. p 267.

  • 51

    PETZ, LD.; MUELLER-ECKHARDT, C. Drug-induced immune hemolytic anemia.

    Transfusion, 1992. 32:202.

    PETZ, LD. Drug-induced autoimmune hemolytic anemia. Transfus. Med. Rev.

    1995. 7:242.

    SABA, HI. Anemia in cancer patients. Introduction an overviews. Cancer Control,

    1998, 5(2):3:5.

    SCHRIER, SL.; RACHMILEWITZ, E.; MOHANDAS, N. Cellular and membrane

    properties of alpha and beta thalassemic erythocytes are different: implication for

    differences in clinical manifestations. Blood, 1989, 74:2194.

    SCHRIER, SL. Thalassemia: pathophysiology of red cell changes. Annu Rev Med,

    1994, 45:211.

    SCHWARTZ, RS; BERKMAN, EM; SILBERSTEIN, LF. The autoimmune hemolytic

    anemias, in Hoffman, R; Benz, FJ; Shattil, SJ; Furie, B; Cohen, HJ; (eds)

    Hematology, basics principles and practice. New York, NY, Churchill Livingstone,

    1991, p 422.

    SILVA, MLP. Transfuso em anemia hemoltica auto-imune. Prtica Hospitalar,

    2003, 5:29.

    SRIVASTAVA, SK; BEUTLER, E. Gluatathione metabolism of the erythrocyte. The

    enzymic cleavage of glutathione-haemoglobin preparations by glutathione

    reductase. Biochem Journal, 1970. 119:353.

    WICKRAMASINGHE, SN; FIDA, S. Bone marrow cells from vitamin B12 and folate-

    deficient patients misincorporate uracil into DNA. Blood, 1994. 83:1656-1661.

  • 52

    YOSHIDA, A. Hemolitic anemia and G6PD deficiency. Science, 1973. 179:532.

    ZUCKERMAN, KS. Hematopoietic abnormalities in patients with cancer. Cancer

    Control, 1998, 5(2): 6:11.