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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO SUL E SUDESTE DO PARÁ FACULDADE DE ENGENHARIA DE MINAS E MEIO AMBIENTE LUCAS LACERDA FURTADO IMPLANTAÇÃO DE MELHORIA NO RETALUDAMENTO DAS MINAS DE FERRO DE CARAJÁS, PARAUAPEBAS, PARÁ MARABÁ PA 2013

Tcc Lucas Lacerda Furtado - Implantação de Melhoria No Retaludamento Das Minas de Ferro de Carajás, Parauapebas, Pará

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

FACULDADE DE ENGENHARIA DE MINAS E MEIO AMBIENTE

LUCAS LACERDA FURTADO

IMPLANTAÇÃO DE MELHORIA NO RETALUDAMENTO DAS MINAS DE FERRO DE

CARAJÁS, PARAUAPEBAS, PARÁ

MARABÁ – PA

2013

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LUCAS LACERDA FURTADO

IMPLANTAÇÃO DE MELHORIA NO RETALUDAMENTO DAS MINAS DE FERRO

DE CARAJÁS, PARAUAPEBAS, PARÁ

MARABÁ – PA

2013

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Faculdade de Engenharia de

Minas e Meio Ambiente da Universidade

Federal do Pará – UFPA, em

cumprimento às exigências para obtenção

do grau de Bacharel em Engenharia de

Minas e Meio Ambiente.

Orientadora: Profa. Karina Felícia Fischer

Lima Santiago.

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LUCAS LACERDA FURTADO

IMPLANTAÇÃO DE MELHORIA NO RETALUDAMENTO DAS MINAS DE FERRO DE

CARAJÁS, PARAUAPEBAS, PARÁ

Data da aprovação: __/__/____

Conceito: ______________________

Banca examinadora:

__________________________________________

Profa. Karina Felícia Fischer Lima Santiago

Professora da FEMMA

Universidade Federal do Pará

__________________________________________

Prof. Dr. Denílson da Silva Costa

Professor da FEMMA

Universidade Federal do Pará

__________________________________________

Prof. Dr. Raimundo Nonato dos Santos

Professor da FAGEO

Universidade Federal do Pará

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Faculdade de Engenharia de

Minas e Meio Ambiente da Universidade

Federal do Pará – UFPA, em cumprimento

às exigências para obtenção do grau de

Bacharel em Engenharia de Minas e Meio

Ambiente.

Orientadora: Profa. Karina Felícia Fischer

Lima Santiago.

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Aos meus pais,

maiores incentivadores e financiadores desta conquista.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, que sempre esteve presente em meu lar,

Ele que é a fonte de tudo em nossas vidas, e que sempre me ajudou a atravessar os períodos

de dificuldade.

A Nossa Senhora de Nazaré padroeira dos paraenses e nossa grande intercessora. Á

Santa Rita de Cássia, minha protetora que sempre me protegeu e atendeu às minhas preces.

Á minha família, em especial aos meus pais, Gilberto e Eliana, que abdicaram de

tudo para garantir a melhor educação possível para mim e minhas irmãs Lidia e Luciana

Helena, grandes parceiras, as quais amo muito.

Aos meus tios, tias, primos e primas. Em especial aos meus avós Walfrido (in

memorian), Lidia (in memorian) e Maria Cirene.

Á minha namorada Anne que sempre esteve ao meu lado me dando forças e apoio

imprescindíveis para a realização deste trabalho.

Aos amigos Antonio Lucas (véio), Anderson Meireles (negão), Filippe Bacelar

(toupeira) e ao grande “brother” Vinicius Lima (codó), que foram de fundamental importância

para a realização desta graduação, pois longe de minha família, posso dizer que estes

formaram a minha família aqui em Marabá.

Aos colegas de turma de Engenharia de Minas e Meio Ambiente de 2008, em

especial aos amigos: Raulim, Luiz Francisco, Artur, André, Elenilson, Leandro e Rafael.

Aos grandes amigos Gustavo Silva, Renan Tourinho, Adriano Paiva, Jackson

Rainério, Luiz Fabrício, Rafael Ferrari, Lorena Pereira, Aldo Alex, Jéssica Caroline, Paula

Sanz e Ivan Torres, que propiciaram muitos momentos de alegria e de verdadeira amizade.

Á Faculdade de Engenharia de Minas e Meio Ambiente, aos professores, técnicos e

demais alunos.

Aos mestres, e acima de tudo amigos, Denílson Costa e Raimundo Nonato que

ajudaram na execução deste estudo, com conselhos de grande contribuição para a finalização

do mesmo.

Á minha orientadora Karina, pela paciência atribuída e conselhos que foram de

fundamental importância para a execução deste trabalho de conclusão de curso.

Aos parceiros Rafael Peron, Arthur Calandrini, Saulo Calandrini, Renan Miranda,

Felipe Coimbra, Marcelo Sousa e Rafael Porto.

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Á empresa Vale S.A. pela oportunidade de estágio, onde foi possível a realização

deste trabalho. Em especial ao meu supervisor de estágio Roberto Francisco e ao meu

orientador Diogo Menezes, e aos funcionários: João Carvalho, Vagner Thom, Márcio

Andrade, Igor Hosken, César Barbosa e Éder Melão, que contribuíram tecnicamente e pela

atenção dada ao trabalho.

Ao funcionário da Sotreq Geizon Sá, que forneceu todo o seu conhecimento para a

execução desta tarefa.

Á todos que estiveram presentes durante a minha vida acadêmica, deixo aqui meu

muito obrigado!

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“...não nos levam a sério (o Pará), somente o nosso minério...”

Mosaico de Ravena

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RESUMO

Nas minas de ferro de Carajás, da empresa Vale S/A, se realizava o retaludamento com a

utilização de tratores de esteira Caterpillar D11, executando-se o corte e rebaixamento do

material excedente dos taludes, as escavadeiras Caterpillar 345D realizavam apenas a

conformação final do ângulo final do talude. A parceria entre a Sotreq e a Vale S/A implantou

melhorias na atividade de retaludamento, através da mudança de procedimento operacional,

utilizando-se de escavadeiras 345D, no lugar dos tratores D11, na realização da atividade. A

associação de duas escavadeiras frente á utilização de um trator gerou ganhos: operacionais,

produtivos, econômicos e de segurança. A produtividade foi aumentada em 440m3/h de

movimentação de material, com redução do consumo de 12 l/h de óleo diesel e 30% dos

custos de manutenção e reposição de materiais de desgaste. Operacionalmente foram

liberados mais tratores para outras atividades da operação de mina, além de eliminação de

riscos existentes na metodologia realizada anteriormente, gerando mais segurança durante a

execução da tarefa. Economicamente destaca-se a economia de R$ 2 milhões apresentada na

aquisição de duas escavadeiras 345D frente a aquisição de um trator D11.

Palavras Chave: retaludamento; trator de esteiras; escavadeira hidráulica; procedimento

operacional; e estabilização de taludes.

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ABSTRACT

In Carajas iron ore mines, for company Vale S / A, the reslope was executed by Caterpillar

bulldozers D11, who performed the cutting and lowering of excess material of slopes,

excavators Caterpillar 345D performed only the conformation of the end of the final angle

slope. The partnership between Vale and Sotreq S / A has implemented improvements in

activity of reslope by changing operating procedure, using the 345D excavators, tractors

instead of D11 in the activity. The association of two excavators front of the tractor using a

generated earnings: operational, productivity, economics and safety. The productivity was

increased to 440 m3/h of material movement, with reduced consumption of 12 b/h of oil diesel

and 30% of the costs of maintenance and replacement of materials of wear. Operationally

more tractors were released for other activities of mine operation, and elimination of risks in

the methodology previously performed, generating more security during task

execution. Economically there is the economy presented in R$ 2 million acquisition of two

excavators 345D front purchasing a D11 tractor.

Keywords: reslope; crawler tractor, hydraulic excavator, operating procedure, and slope

stabilization.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1- Ângulo de talude com a horizontal ................................................................. 19

FIGURA 2- Desenho esquemático ilustrando algumas das estruturas que compõem uma

cava ................................................................................................................. 20

FIGURA 3- Tipos e formas geométricas de taludes ou encostas ....................................... 21

FIGURA 4- Talude natural ................................................................................................. 22

FIGURA 5- Talude de corte na cava da mina de N5W, Carajás, Pará ............................... 22

FIGURA 6- Pilha de disposição de estéril, exemplo de talude de aterro ........................... 23

FIGURA 7- Á esquerda taludes da mina de N4WN, Carajás, Pará, exemplo de taludes em

rocha. Na direita, deslizamento em taludes construídos em solo ................... 23

FIGURA 8- Esquema de fluxo de detritos, exemplo de corrida ......................................... 27

FIGURA 9- Esquema clássico de um rastejo, evidenciado pela mudança da verticalidade

de árvores e postes .......................................................................................... 28

FIGURA 10- Esquema de subsidência causada por mineração ........................................... 29

FIGURA 11- Ocorrência de recalque em aterro sobre solo mole......................................... 29

FIGURA 12- Queda rochosa em Clear Creek Canyon, Colorado, EUA, em 2005 .............. 30

FIGURA 13- Esquema de tombamento ................................................................................ 30

FIGURA 14- Esquema de escorregamento rotacional ......................................................... 31

FIGURA 15- Esquema de escorregamento translacional ..................................................... 32

FIGURA 16- Tipos de superfícies de rupturas em taludes ................................................... 35

FIGURA 17- Execução adequada de bota fora, exemplo de obra de aterro visando a

estabilização de taludes .................................................................................. 38

FIGURA 18- Esquema de retaludamento ............................................................................. 38

FIGURA 19- Retaludamento através de corte com redução da altura do talude ................. 39

FIGURA 20- Estabilização de talude através da execução de aterro na sua base ................ 39

FIGURA 21- Muro de gabiões, á esquerda; crib-walls, á direita ......................................... 40

FIGURA 22- Esquema de muro de concreto armado ........................................................... 41

FIGURA 23- Exemplo de cortina cravada ........................................................................... 41

FIGURA 24- Esquema típico de ancoragem ........................................................................ 42

FIGURA 25- Exemplo de aplicação de uma cortina atirantada ........................................... 43

FIGURA 26- Exemplo de aplicação de estacas raiz, na estabilização de taludes ................ 43

FIGURA 27- Detalhes de uma terra armada ........................................................................ 44

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FIGURA 28- Indicação dos diversos dispositivos de um sistema de drenagem superficial 45

FIGURA 29- Aspecto visual de talude de corte onde foram aplicadas biomantas

antierosivas ..................................................................................................... 46

FIGURA 30- Corte em meia encosta .................................................................................... 47

FIGURA 31- Corte com canto de lâmina ............................................................................. 48

FIGURA 32- Escavadeira “shovel” trabalhando em taludes ................................................ 48

FIGURA 33- Acerto de taludes através da utilização de “drag-lines” ................................. 49

FIGURA 34- Escavadeira de acionamento hidráulico Caterpillar 345D ............................. 50

FIGURA 35- Localização do município de Parauapebas, Pará, e o seu entorno ................. 53

FIGURA 36- Localização da estrada de ferro que liga Carajás ao porto de Itaqui no

Maranhão ........................................................................................................ 53

FIGURA 37- Mapa geológico simplificado da Província de Carajás .................................. 55

FIGURA 38- Visualização das minas de ferro de Carajás ................................................... 58

FIGURA 39- Trator de esteiras Caterpillar D11, realizando rebaixamento de material

excedente, com escavadeira Caterpillar 345D, realizando a conformação do

ângulo do talude ............................................................................................. 61

FIGURA 40- Trator D11 realizando retaludamento ............................................................. 62

FIGURA 41- Escavadeira 345D realizando conformação do ângulo de face do talude ...... 62

FIGURA 42- Esquema de execução de retaludamento com escavadeira 345D: a) construção

de leira de proteção; b) rebaixamento de talude; c) finalização de

retaludamento com atingimento do banco seguinte ....................................... 63

FIGURA 43- Realização de corte em trincheiras e rebaixamento de taludes por

escavadeiras 345D .......................................................................................... 64

FIGURA 44- Disposição de material no banco inferior ....................................................... 64

FIGURA 45- Trator Caterpillar D11 pronto para escarificar material ................................. 65

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LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1- Classificação dos movimentos de taludes e encostas segundo Varnes (1978)

........................................................................................................................ 25

TABELA 2.2- Classificação de Augusto-Filho (1992) .......................................................... 26

TABELA 2.3- Escala de velocidade de movimento de encostas e taludes, segundo Varnes

(1978) ............................................................................................................. 26

TABELA 2.4- Classificação dos movimentos de massa de acordo com a profundidade ...... 27

TABELA 2.5- Agentes e causas dos movimentos de massa .................................................. 34

TABELA 2.6- Recomendações para fatores de segurança admissíveis ................................. 37

TABELA 4.1- Produtividade de equipamentos no retaludamento, em m3/h ......................... 67

TABELA 4.2- Comparação de parâmetros econômicos entre duas escavadeiras Cat 345 D e

um trator Cat D 11 .......................................................................................... 68

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABGE - Associação Brasileira de Geologia de Engenharia

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

CBCN - Centro Brasileiro para Conservação da Natureza e Desenvolvimento

Sustentável

CPRM - Serviço Geológico Brasileiro

CVRD - Companhia Vale do Rio Doce

DIFN - Diretoria de Ferrosos Norte

DHP - Drenos Horizontais Profundos

FS - Fator de Segurança

GAMTN - Gerência de Área de Terraplanagem de Mina Norte

GEMIN - Gerência Geral de Operação de Mina Norte

GEORIO - Instituto Geológico do Rio de Janeiro

HD - Hematita dura ou compacta

HM - Hematita mole ou friável

IAEG - International Association for Engineering Geology/ Associação Internacional

de Geologia de Engenharia

IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas

IDESP - Instituto de Desenvolvimento do Estado do Pará

NBR - Norma Técnica Brasileira

PA - PARÁ

PRO - Procedimento Operacional

ROM - Run of Mine/ Produção da mina

SISPAD - Sistema de Padronização Vale

USGS - United States Geological Survey/ Serviço Geológico dos Estados Unidos

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SÍMBOLOS

c’ – Coesão do material

F – Coeficiente de segurança

∑ Fa – Somatório das forças atuantes

Fe – Ferro

∑ Fr – Somatório das forças resistentes

FS – Fator de segurança

FSadm – Fator de segurança admissível

Ga – Mil milhões de anos

∑ Ma – Somatório de momentos atuantes

∑ Mr – Somatório de momentos resultantes

Mt – Milhões de toneladas

S – Resistência ao cisalhamento do material

σ – Tensão normal ao plano de ruptura

ϕ – ângulo de atrito

π – Tensão cisalhante atuante

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 17

1.1 OBJETIVO ......................................................................................................................... 18

1.1.1 Objetivos específicos ...................................................................................................... 18

2 REVISÃO BIBLIOGRAFICA .......................................................................................... 19

2.1 TALUDES ......................................................................................................................... 19

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS TALUDES ................................................................................. 20

2.2.1 Classificação geométrica ............................................................................................... 20

2.2.2 Classificação quanto à formação .................................................................................. 21

2.2.3 Classificação quanto ao material.................................................................................. 23

2.3 MOVIMENTOS DE MASSAS EM TALUDES ............................................................... 24

2.3.1 Tipos de movimentos de massas ................................................................................... 24

2.3.1.1 Escoamentos ................................................................................................................. 27

2.3.1.2 Subsidências ................................................................................................................. 28

2.3.1.3 Escorregamentos ........................................................................................................... 31

2.4 ESTABILIDADE DE TALUDES ...................................................................................... 32

2.4.1 Análise de estabilidade de taludes ................................................................................ 33

2.4.2 Fatores de instabilização de taludes ............................................................................. 33

2.4.3 Superfícies de ruptura ................................................................................................... 35

2.4.4 Coeficiente de segurança ............................................................................................... 35

2.5 OBRAS DE ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES .............................................................. 37

2.5.1 Reconstrução em aterros............................................................................................... 37

2.5.2 Retaludamento ............................................................................................................... 38

2.5.3 Obras de contenção ....................................................................................................... 40

2.5.3.1 Muros de arrimo ........................................................................................................... 40

2.5.3.2 Obras especiais de estabilização ................................................................................... 42

2.5.3.3 Soluções alternativas em aterros .................................................................................. 44

2.5.4 Obras de drenagem ....................................................................................................... 44

2.5.5 Obras de proteção superficial ....................................................................................... 46

2.6 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS EM RETALUDAMENTO ........................................ 47

2.6.1 Trator de esteiras com lâminas .................................................................................... 47

2.6.2 Escavadeira com caçamba “shovel” ............................................................................. 48

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2.6.3 Escavadeira com caçamba “drag-line” ou de arrasto ................................................ 49

2.6.4 Escavadeira de acionamento hidráulico ...................................................................... 49

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 51

3.1 LOCALIZAÇÃO E ACESSO DA ÁREA ESTUDADA ................................................... 52

3.2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS ......................................................................................... 54

3.3 CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS ............................................................................. 55

3.4 ESTRUTURAÇÃO DA OPERAÇÃO DE MINA ............................................................. 57

3.5 PROJETO DE TALUDES ................................................................................................. 58

3.5.1 Etapas do processo de construção de taludes da cava ................................................ 59

3.5.2 Projeto geométrico e construção de taludes operacionais ......................................... 59

3.6 PROCEDIMENTO DE RETALUDAMENTO COM TRATOR CATERPILLAR D11 ... 61

3.7 MELHORIAS IMPLANTADAS NO RETALUDAMENTO ............................................ 63

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 66

4.1 ANÁLISE DE PARÂMETROS DE SEGURANÇA ......................................................... 66

4.2 ANÁLISE DE PARÂMETROS PRODUTIVOS .............................................................. 66

4.3 ANÁLISE DE PARÂMETROS OPERACIONAIS .......................................................... 67

4.4 ANÁLISE DE PARÂMETROS ECONÔMICOS ............................................................. 67

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 69

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 71

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1 INTRODUÇÃO

Em decorrência dos desastres ocorridos nos grandes centros urbanos em função dos

deslizamentos de encostas e de outros acidentes envolvendo movimentos de massas, os

estudos de estabilização de taludes naturais e artificiais se fazem cada vez mais necessários.

Pois na grande maioria destes acidentes, os danos não são somente materiais, mas humanos

também.

No caso das minas a céu aberto, o processo de estabilização de taludes se faz

importante pela garantia de segurança para a execução das operações de mina. Sendo que tal

procedimento é realizado de forma minuciosa e detalhada, pois os taludes de uma mina são

projetados antes do início da operação. O projeto consta basicamente de quatro etapas:

projeto, lavra, acabamento, manutenção e abandono dos taludes (plano de fechamento de

mina).

Na análise de estabilidade de taludes vários parâmetros são levados em consideração,

como fatores geológicos, geotécnicos, geométricos e hidrogeológicos. A partir da análise do

conjunto destes fatores e do método de análise utilizado (observacionais, probabilísticos e

determinísticos), será tomada a decisão de quais medidas serão adotadas para evitar o

acontecimento de movimentos de massas.

As técnicas utilizadas para garantir a estabilidade dos taludes se baseiam em obras

estabilizadoras, sendo divididas em: reconstrução de aterros, desenvolvimento de sistemas de

drenagem, obras de proteção superficial, contenções e retaludamento. O processo de

estabilização de taludes e encostas se torna mais eficiente quando são agrupados os diversos

sistemas estabilizantes existentes.

O retaludamento consiste basicamente na mudança de geometria ou de ângulo de

inclinação de um talude natural ou de escavação visando a sua estabilidade. Este

procedimento é executado por ser eficaz e apresentar baixo custo. O retaludamento é

executado à medida que se realiza o aprofundamento da cava.

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1.1 OBJETIVO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo a análise da atividade de

retaludamento executado nas minas de ferro de Carajás, Pará. Analisou-se o procedimento de

retaludamento antigo executado por tratores de esteiras com lâmina, Caterpillar D11, e o

procedimento implementado de melhorias proposto pela Sotreq, executado por escavadeiras

de acionamento hidráulico, Caterpillar 345 D.

Assim como a elaboração e implantação de um procedimento operacional padrão do

retaludamento na operação de mina de Carajás, realizado por escavadeiras de acionamento

hidráulico.

1.1.1 Objetivos específicos

Através da mudança de procedimento de execução do retaludamento, o estudo possui

como objetivos específicos:

Geração de ganhos em segurança, através da minimização dos riscos

existentes aos equipamentos e seus operadores na execução do retaludamento;

Realização de ganhos operacionais por via da liberação dos tratores de

esteiras para outras atividades da operação de mina;

Obtenção de ganhos produtivos através do aumento de produtividade em face

da troca de procedimento;

Realização de economia financeira com a redução de custos: com consumo de

óleo diesel; manutenção; materiais de desgaste; e aquisição de equipamentos.

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19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 TALUDES

Segundo Suassuna (2006), taludes são superfícies que formam um ângulo com o

plano horizontal de referência, definindo fronteira entre o interior do solo e a atmosfera

(figura 1).

FIGURA 1 - Ângulo de talude com a horizontal.

Fonte: Suassuna (2006).

Os taludes de uma mina a céu aberto são compostos basicamente por:

ângulo de face do talude, que é a inclinação apresentada individualmente por

uma bancada, formada pela interseção entre o plano da berma e o

alinhamento entre o pé e a crista;

ângulo entre rampas, é o ângulo de talude intermediário aos acessos e rampas

da cava, formado pelo alinhamento de um conjunto de bancos e o plano

horizontal do fundo da cava;

ângulo geral dos taludes, é o ângulo formado pelo alinhamento que passa pelo

pé do conjunto de bancos e plano horizontal do fundo da cava ou pilha de

estéril;

banco ou bancada: pacote compreendido entre a linha de pé da bancada

superior e a linha de pé da bancada imediatamente inferior ou vice-versa;

berma: superfície compreendida entre o pé da bancada superior e a crista da

bancada inferior;

crista da bancada: é o limite superior do perfil do banco ou bancada;

Talude: superfície inclinada ou não, formada pela face livre remanescente nas

regiões de lavra ou de disposição de estéril.

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20

A figura 2 permite a visualização das estruturas que compõem os taludes de uma

mina á céu aberto.

FIGURA 2 – Desenho esquemático ilustrando algumas das estruturas que compõem uma cava.

Fonte: Vale S/A (2008).

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS TALUDES

Para a classificação dos taludes são considerados três fatores: o geométrico, o

genético e o material que compõe o talude. Pois geometricamente os taludes podem

apresentar várias formas distintas, e geneticamente estes podem ser naturais ou de escavação.

2.2.1 Classificação geométrica

Segundo Gerscovich (2009) em relação à forma geométrica os taludes são

classificados em: lineares, côncavos e convexos. Podendo apresentar características de mais

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21

de uma classificação, pois são analisadas as geometrias da face do talude, da crista e do pé do

talude (figura 3).

FIGURA 3 – Tipos e formas geométricas de taludes ou encostas.

Fonte: Chorley (1984 apud GERSCOVICH, 2009).

2.2.2 Classificação quanto à formação

Em relação à formação dos taludes, estes são classificados em taludes naturais e

artificiais ou de escavação.

Taludes naturais ou encostas naturais são definidos como superfícies inclinadas de

maciços terrosos, rochosos ou mistos (solo e rocha), originados de processos geológicos e

geomorfológicos diversos (figura 4). Os taludes naturais possuem estrutura particular, e estão

intimamente ligados ao histórico de tensões sofridos: erosão, tectonismo, intemperismo,

dentre outros. Durante a sua formação fatores geológicos (litologia, estruturação e

geomorfologia) e fatores ambientais (clima, topografia e vegetação) atuam de forma isolada

ou em conjunto (MARANGON, 2007).

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FIGURA 4 – Talude Natural.

Fonte: Passos et al. (2010).

Segundo Passos et al.(2010), taludes artificiais são os declives de aterros diversos

construídos pelo homem, onde as ações humanas alteram as paisagens primeiras, atuando

sobre os fatores ambientais, modificando a vegetação, alterando topografias, podendo

inclusive alterar o clima da região.

Os taludes artificiais são subdivididos em duas classes: taludes de corte e taludes de

aterro.

Taludes de corte são originados a partir de escavações antrópicas diversas, como

taludes da cava de uma mina (figura 5), os taludes presentes nas margens de rodovias e

outros.

FIGURA 5 – Talude de corte na cava da mina de N5WN, Carajás, Pará.

Fonte: Furtado (2012).

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Taludes de aterro referem-se ao declive de aterros construídos a partir de materiais de

diferentes granulometrias e origens, incluindo rejeitos industriais, urbanos ou de mineração

(figura 6).

FIGURA 6 – Pilha de deposição de estéril, exemplo de talude de aterro.

Fonte: Gomes (2010).

2.2.3 Classificação quanto ao material

Como citado anteriormente no conceito de talude, os taludes podem ser classificados

em relação ao material em que o mesmo está inserido. Este material pode ser: solos, rochas ou

outros materiais como resíduos industriais (escórias), resíduos de mineração, lixo e etc...

(figura 7).

FIGURA 07 – Á esquerda taludes da mina de N4WN, Carajás, Pará, exemplo de taludes em rocha. Na direita,

deslizamento em taludes construídos em solo.

Fonte: Furtado (2012)/Gerscovich(2009).

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24

2.3 MOVIMENTOS DE MASSAS EM TALUDES

Guidicini & Nieble (1984) definem movimento de massas como todo e qualquer

movimento coletivo de materiais terrosos e/ou rochosos independentemente da diversidade de

processos, causas, velocidades, formas e demais características apresentadas pelo fenômeno.

Segundo a Associação Brasileira de Geologia de Engenharia - ABGE (1998 apud

MARANGON, 2007), a execução de cortes em maciços pode ser fator condicionante para a

ocorrência de movimentos de massa ou, mais especificamente, escorregamento de taludes,

desde que as tensões cisalhantes ultrapassem a resistência ao cisalhamento de materiais, ao

longo de determinadas superfícies de ruptura. Assim pode-se dizer que taludes provenientes

da má execução de aterros, também podem levar ao movimento de massas de solos.

2.3.1 Tipos de movimentos de massas

Os movimentos de massa se distinguem em função de dois fatores: velocidade de

movimentação e forma de ruptura. A partir da identificação destes fatores, os movimentos de

massas podem ser classificados nas seguintes categorias: escoamentos, subsidências e

escorregamentos (GEORIO, 2000).

As erosões, também são movimentos de massa, muitas vezes não podem ser

classificadas em um único grupo. Os mecanismos deflagradores dos processos erosivos

podem ser constituídos de vários agentes, fazendo com que as erosões sejam tratadas

separadamente (GERSCOVICH, 2009).

Segundo Menezes (2012) existem vários sistemas classificadores em relação aos

movimentos de massa propostos pelos autores, devido a grande variedade de enfoques

possíveis na análise dos movimentos de massas. A elaboração e a adoção destes são

importantes para correlacionar os tipos de movimentos com um conjunto de características e

os fatores que os deflagram. Estas características podem ser a geometria do movimento, a área

de alcance, os fatores condicionantes do movimento, o material instabilizado entre outros.

Para Gerscovich (2009) os movimentos de massa são classificados basicamente em

relação a três fatores: ao tipo de movimento; a velocidade do movimento de massa, e a

profundidade em que ocorreu o movimento.

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25

A classificação proposta por Varnes (1978) é a mais utilizada internacionalmente,

esta distingue os movimentos de massas, juntamente com o material e a sua quantidade

(Tabela 2.1). O sistema de classificação proposto por Varnes é considerada a classificação

oficial da IAEG (International Association for Enginneering Geology).

TABELA 2.1 – Classificação dos movimentos de taludes e encostas segundo Varnes (1978).

TIPO DE MOVIMENTO

TIPO DE MATERIAL

Rocha Solo

Fino Grosseiro

Quedas/Tombamentos de rocha de terra de detritos

Escorregamento Rotacional abatimento de

rocha abatimento de terra

abatimento de

detritos

Escorregamento

Translacional

Poucas Unidades de blocos rochosos de blocos de terra de blocos de detritos

Muitas Unidades de rocha de terra de detritos

Expansões Laterais de rocha de terra de detritos

Corridas/Escoamentos de rocha (rastejo

profundo)

de terra (rastejo de

solo)

de detritos (rastejo

de solo)

Complexos Combinação no tempo e no espaço de 2 ou mais dos principais

tipos de movimento

Fonte: Varnes (1978).

Os métodos de classificação apresentam características peculiares às áreas onde

foram realizados os estudos. Por isso muitos não podem ser utilizados de forma global. No

caso brasileiro o método de classificação proposto por Augusto-Filho (1992) é considerado o

mais adequado (Tabela 2.2).

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26 TABELA 2.2- Classificação de Augusto-Filho (1992).

Processos Características do movimento, material e geometria

Rastejo ou fluência

Vários planos de deslocamento (internos);

Velocidades de muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com a

profundidade;

Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes;

Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada;

Geometria indefinida;

Escorregamentos

Poucos planos de deslocamentos (externos);

Velocidades de médias (km/h) a altas (m/s);

Pequenos a grandes volumes de material;

Geometria e materiais variáveis;

Planares: solos pouco espessos, solos e rochas com um plano de

fraqueza;

Circulares: solos espessos homogêneos e rochas muito fraturadas;

Em cunha: solos e rochas com dois planos de fraqueza;

Quedas

Sem planos de deslocamento;

Movimentos tipo queda livre ou em plano inclinado

Velocidades muito altas (vários m/s)

Material rochoso;

Pequenos a médios volumes;

Geometria variável: lascas, placas, blocos etc.

Rolamento de matacão

Tombamento

Corridas

Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas à massa em

movimentação);

Movimento semelhante ao de um líquido viscoso;

Desenvolvimento ao longo das drenagens;

Velocidades de médias a altas;

Mobilização de solo, rocha, detritos e água;

Grandes volumes de material;

Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas;

Fonte: Gerscovich (2009).

Segundo Azevedo & Marques (2002), a tabela 2.3, apresenta os termos utilizados

para caracterizar qualitativamente a velocidade dos movimentos de massas, também de

acordo com Varnes (1978).

TABELA 2.3 – Escala de velocidade de movimentos de encostas e taludes, segundo Varnes (1978).

Nomenclatura Velocidade

Extremamente rápido > 3m/s

Muito Rápido 0,3m/s a 3m/s

Rápido 1,6m/dia a 0,3m/s

Moderado 1,6m/mês a 1,6m/dia

Lento 1,6m/ano a 1,6m/mês

Muito lento 0,06m/ano a 1,6m/ano

Extremamente lento < 0,06m/ano

Fonte: Gerscovich (2009).

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Em relação à profundidade os movimentos de massa podem ser classificados de

acordo com a tabela 2.4.

TABELA 2.4 – Classificação dos movimentos de massa de acordo com a profundidade.

Nomenclatura Profundidade

Superficial < 1,5m

Raso 1,5m a 5m

Profundo 5m a 20m

Muito Profundo > 20m

Fonte: Gerscovich (2009).

2.3.1.1 Escoamentos

Para Guidicini & Nieble (1984), os escoamentos correspondem a uma deformação,

ou movimento contínuo com ou sem superfície definida de movimentação, estão classificados

segundo as características do movimento em dois tipos: corrida e rastejo ou reptação.

Os fenômenos de corridas (figura 8) são escoamentos rápidos, de caráter

hidrodinâmico, ocasionados pela perda de atrito interno, em virtude da destruição da estrutura

em presença do excesso de água (GUIDICINI & NIEBLE, 1984). O processo de fluidificação

pode ser gerado por: adição de água; esforços dinâmicos; e ou amolgamento de argilas muito

sensitivas (GERSCOVICH, 2009).

FIGURA 8 – Esquema de fluxo de detritos, exemplo de corrida.

Fonte: USGS (2008).

Conforme a United States Geological Survey (USGS, 2008), as corridas são

subdivididas em: corridas de terra, corridas de areia, corridas de areia ou silte, corridas de

lama, e avalancha de detritos.

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Segundo a USGS (2008), denomina-se de rastejo o fluxo lento de terra, este consiste

de um movimento vagaroso, imperceptível e contínuo, direcionado para baixo do solo que

forma o talude (figura 9). É causado por tensão de cisalhamento interna suficiente para causar

deformação, mas insuficiente para causar rupturas. As reptações são subclassificadas em:

sazonais onde o movimento ocorre no interior e no fundo do solo afetado por alterações

sazonais, em sua mistura e temperatura; contínuos no qual a tensão de cisalhamento contínua

excede a resistência do material; e progressivo, no qual os taludes atingem o ponto de ruptura

gerando outros tipos de movimentação de massas.

FIGURA 9 - Esquema clássico de um rastejo, evidenciado pela mudança da verticalidade de árvores e postes.

Fonte: USGS (2008).

2.3.1.2 Subsidências

Subsidências são deslocamentos finitos, ou deformações contínuas, de direção

vertical. São classificadas em três tipos: subsidências propriamente ditas, recalques e

desabamentos ou quedas de blocos.

A subsidência é definida como a consequência do deslocamento da superfície gerada

pelo adensamento ou afundamento de camadas, como resultado da remoção de uma fase

sólida, líquida ou gasosa (figura 10). Geralmente envolve grandes áreas e as causas mais

comuns são: ação erosiva de águas subterrâneas; bombeamento de águas subterrâneas;

exploração de poços petrolíferos e de gás; atividades de mineração; e efeitos de vibração em

sedimentos não consolidados (GERSCOVICH, 2009).

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29

FIGURA 10 – Esquema de subsidência causada por mineração.

Fonte: Singh & Kendorski (1981).

Já os recalques são definidos como movimentos verticais de uma estrutura

provocados pelo próprio peso ou pela deformação do subsolo por outro agente (figura 11). As

causas mais comuns são: ação do peso próprio; remoção do confinamento lateral devido às

escavações; e rebaixamentos de lençóis freáticos (GUIDICINI & NIEBLE, 1984).

FIGURA 11 – Ocorrência de recalque em aterro sobre solo mole.

Fonte: IPT (1991).

Desabamentos ou tombamentos e quedas são formas de subsidências bruscas,

envolvendo colapso na superfície, provocadas pela ruptura ou remoção total, ou parcial do

substrato (GUIDICINI & NIEBLE, 1984).

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As quedas são movimentos repentinos de rochas ou terra, ou ambos que se

desprendem de taludes íngremes, são causados pela erosão regressiva do talude por processos

naturais (figura 12); atividades humanas como escavações para construção de estradas, por

exemplo; terremotos ou outras vibrações intensas (USGS, 2008).

FIGURA 12 – Queda rochosa em Clear Creek Canyon, Colorado, EUA, em 2005.

Fonte: Colorado Geological Survey (2005 apud USGS, 2008).

Os desabamentos ou tombamentos são identificados por uma rotação frontal de uma

massa de solo ou rocha para fora do talude, em torno de um ponto, ou eixo, abaixo do centro

da gravidade da massa deslocada (figura 13). Ás vezes são causados pela gravidade exercida

sobre o peso do material na parte superior da massa deslocada, podem conter tanto rochas,

como detritos ou terra (USGS, 2008).

FIGURA 13 – Esquema de tombamento.

Fonte: USGS (2008).

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31

2.3.1.3 Escorregamentos

Os escorregamentos são movimentos rápidos de porções de taludes. Apresentam

superfície de ruptura bem definida, que é função do tipo de solo ou rocha, da geometria do

talude e das condições de fluxo d’água (IPT, 1991).

Para Guidicini & Nieble (1984), os escorregamentos são deslocamentos finitos ao

longo de superfícies definidas de deslizamento, preexistente ou de neoformação, estes se

classificam também em dois subtipos, segundo ocorra predomínio de rotação ou de

translação.

Em solos relativamente homogêneos a superfície tende a ser circular. Caso ocorram

materiais ou descontinuidades que apresentem resistências mais baixas, a superfície torna-se

mais complexa, podendo incluir trechos lineares. A anisotropia com relação à resistência pode

acarretar em achatamento da superfície de ruptura. Os escorregamentos rotacionais (figura 14)

podem se apresentar de forma múltipla (GERSCOVICH, 2009).

FIGURA 14 – Esquema de escorregamento rotacional.

Fonte: USGS (2008).

Segundo a USGS (2008) a massa de um escorregamento translacional (figura 15)

move-se para fora ou para baixo e para fora simultaneamente, ao longo de superfícies

relativamente planas, apresentando pequeno movimento rotacional ou uma leve inclinação

para trás. Este tipo de escorregamento pode progredir por distâncias consideráveis, se a

superfície da ruptura estiver suficientemente inclinada, ao contrário dos escorregamentos

rotacionais que tendem a restaurar o equilíbrio do escorregamento. Comumente ocorrem ao

longo de descontinuidades geológicas tais como falhas, junções, superfícies, estratificações,

ou o ponto de contato entre rocha e solo.

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32

FIGURA 15 – Esquema de escorregamento translacional.

Fonte: USGS (2008).

2.4 ESTABILIDADE DE TALUDES

Segundo Azevedo & Marques (2002) a estabilidade de taludes é tratada a partir de

dois pontos de vista na engenharia: o projeto de taludes de cortes e aterros, com fatores de

segurança contra rupturas prescritas; e o estudo da estabilidade de taludes de rocha e de obras

de terra existentes, taludes potencialmente instáveis, taludes que se romperam ou taludes a

serem reprojetados.

O conceito de estabilidade de um talude é indeterminado, pois taludes projetados não

fornecem garantia de estabilidade por muitos anos. Condições climáticas, hidrológicas e

tectônicas, atividades antrópicas na área ou em suas adjacências, escavações subterrâneas ou

obras de terra podem trazer mudanças que afetem a estabilização dos taludes (AZEVEDO &

MARQUES, 2002).

Segundo Sayão (1994 apud FIAMONCINI, 2009) a estabilidade ou instabilidade de

taludes dependem dos fatores enumerados:

ângulo de repouso, o valor deste ângulo varia em função do tamanho, forma e

grau de seleção do material;

natureza do material na encosta, a estabilidade de encostas com materiais

consolidados depende de outros fatores, como estrutura da rocha (fraturas,

acamamento, etc.) e posição das estruturas em relação ao relevo;

quantidade de água infiltrada nos materiais, reduz a coesão, ou seja redução das

tensões efetivas, entre as partículas da massa de solo. Esse efeito depende, entretanto,

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33

da quantidade de água infiltrada que por sua vez depende da porosidade e

permeabilidade dos materiais;

inclinação da encosta, é um fator de estabilidade muito importante. Isso porque

com o aumento da inclinação da encosta aumenta o efeito da força de gravidade em

relação à força de atrito;

presença de vegetação, é um fator adicional que define a condição de

estabilidade das encostas.

2.4.1 Análise de estabilidade de taludes

Pimenta (2005) disserta que a análise de estabilidade de taludes envolve um conjunto

de procedimentos, que visam à determinação de um índice ou de uma grandeza que permita a

quantificação do quão próximo da ruptura um talude ou uma encosta se encontra, de acordo

com o conjunto de condicionantes atuantes (pressões neutras, geometria, ângulo do talude,

material, sobrecargas e outras).

Segundo Pimenta (2005) os métodos de análise de estabilidade são divididos em três

grupos: analíticos, experimentais e observacionais. Os métodos analíticos são baseados na

teoria do equilíbrio limite, análise limite e em modelos matemáticos de tensão (stress) e

deformação (strain). Já os métodos experimentais são fundamentados em modelos físicos de

diferentes escalas. Enquanto que os métodos observacionais são amparados na experiência

acumulada com a análise de rupturas anteriores (retroanálise, ábacos de projetos, opinião de

especialistas, dentre outros).

2.4.2 Fatores de instabilização de taludes

De acordo com Fiamoncini (2009) as primeiras análises que se devem levar em conta

nos taludes são os possíveis fatores instabilizantes que podem atuar ao longo do tempo sobre

a sua estrutura. Os processos de instabilização são controlados por diferentes comportamentos

cíclicos com origem na própria formação da rocha e na ação geológica e geomorfológica

consequente (GUIDICINI & NIEBLE, 1984).

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34

Segundo Terzaghi (1952 apud FIAMONCINI, 2009) as causas são divididas em:

internas, externas e intermediárias. As causas internas são as que atuam reduzindo a

resistência interna do material constituinte do talude, sem que haja mudança no aspecto

geométrico (aumento da pressão hidrostática, diminuição de coesão e ângulo de atrito interno

por processo de alteração). Causas externas são provocadas pelo aumento das tensões de

cisalhamento, sem que haja a diminuição da resistência que igualando ou superando a

resistência intrínseca do material levam o maciço a condição de ruptura (aumento da

declividade por processos naturais ou artificiais de decomposição de material nas porções

superiores, abalos sísmicos e vibrações). E as causas intermediárias são as que causam os

efeitos de agente externos, no interior de encostas (liquefação espontânea, rebaixamento

rápido e erosão regressiva ou piping).

De acordo com Guidicini & Nieble (1984), as causas de instabilidade são definidas

de acordo com o modo de atuação de determinado agente, ou seja, um agente pode ocorrer

por meio de uma ou mais causas (tabela 2.5).

TABELA 2.5 – Agentes e causas dos movimentos de massa.

Agentes Causas

Predisponentes Efetivos Internas Externas Intermediárias

Preparatórios Imediatos

Complexo

geológico,

complexo

morfológico,

complexo

climatológico,

complexo

hidrológico,

gravidade solar,

tipo de

vegetação

Pluviosidade,

erosão pela água

e pelo vento,

congelamento e

degelo, variação

da temperatura,

dissolução

química, ação de

fontes e

mananciais,

oscilação do nível

freático, e

antrópica

Chuvas

intensas, fusão

do gelo e

neves, erosão,

terremotos,

ondas, vento e

ação do

homem

Efeito das

oscilações

térmicas,

redução dos

parâmetros de

resistência por

intemperismo

Mudanças na

geometria do

sistema, efeitos

de vibrações,

mudanças

naturais na

inclinação das

camadas

Elevação do nível

piezométrico em

massas

homogêneas,

elevação da

coluna de água

em

descontinuidades,

rebaixamento

rápido do lençol

freático, erosão

subterrânea

retrogressiva

(piping),

diminuição do

efeito de coesão

aparente

Fonte: Guidicini & Nieble (1984).

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2.4.3 Superfícies de ruptura

Segundo Hudson (1997) as superfícies de ruptura são classificadas em: ruptura plana,

ruptura circular, ruptura em cunha, e superfícies de ruptura qualquer (figura 16).

FIGURA 16 – Tipos de superfícies de rupturas em taludes. Fonte: González de Vallejo (2002 apud TAVARES, 2010).

Superfícies de ruptura circular apresentam forma de arco, em solos homogêneos sua

forma é circular ou cilíndrica; já superfícies de rupturas planas desenvolvem-se ao longo da

fratura ou plano de acamamento, com inclinação próxima a 90º; superfícies de ruptura

qualquer ocorrem com maior incidência em solos que possuem plano de fraqueza e baixa

resistência, a superfície é formada por vários segmentos de reta (FIAMONCINI, 2009).

2.4.4 Coeficiente de segurança

O coeficiente de segurança ou fator de segurança (FS) é definido através da relação

existente entre a resistência ao cisalhamento do solo (S) e a tensão cisalhante atuante ), de

acordo com a equação 1 (SAYÃO, 1994, apud FIAMONCINI, 2009).

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36

(1)

Sendo que S, em termos de tensões efetivas,onde c’ é a coesão do material, σ é a

tensão normal atuante, e ϕ’ é o ângulo de ruptura da superfície, é dado por:

S = c’ + σ.tgϕ’ (2)

De acordo com Sayão (1994, apud FIAMONCINI, 2009), as definições mais usuais

de FS em análises de estabilidade de taludes são:

Fator de segurança relativo ao equilíbrio de momentos: usado em analises de

movimentos rotacionais, considerando-se superfície de ruptura circular, onde ∑ Mr é o

somatório dos momentos resistentes e ∑ Ma é o somatório de momentos atuantes.

(3)

Fator de segurança relativo ao equilíbrio de forças: usado em analises de

movimentos translacionais ou rotacionais, considerando-se superfícies planas ou

poligonais, onde ∑ Fr é o somatório de forças resistentes e ∑ Fa é o somatório de

forças atuantes.

(4)

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através da

NBR 11682 (2006), o fator de segurança varia de acordo com o grau de segurança exigido em

cada projeto. Gomes (2003 apud TAVARES, 2010) afirma que esse grau de segurança

resultará do julgamento das consequências que poderão advir da estabilidade de um talude.

Dessa forma, tem-se:

alto grau de segurança (FS = 1,5), exigido no caso de proximidade imediata de

edificações habitacionais, instalações industriais, obras de arte (viadutos, elevados,

pontes, túneis, etc), condutos (gasodutos, oleodutos, adutoras), linhas de transmissão

de energia, torres de sistemas de comunicação, barragens, rodovias e ferrovias dentro

do perímetro urbano;

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médio grau de segurança (FS = 1,3): possível em todos os casos citados

anteriormente quando houver, entre o talude e o local a ser ocupado, espaço de

utilização não permanente, considerado como área de segurança;

baixo grau de segurança (FS = 1,15): aceitável desde que sejam instituídos

procedimentos capazes de prevenir acidentes em rodovias, túneis em fase de

escavação, minas, barragens etc.

TABELA 2.6 – Recomendações para fatores de segurança admissíveis.

FS adm RISCO DE PERDA DE VIDAS HUMANAS

Desprezível Médio Elevado

RISCO DE

PERDAS

ECONÔMICAS

Desprezível 1,1 1,2 1,4

Médio 1,2 1,3 1,4

Elevado 1,4 1,4 1,5

Fonte: Georio (2000 apud TAVARES, 2010).

2.5 OBRAS DE ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

Segundo o IPT (1991) as obras de estabilização de taludes e encostas são

classificadas nas seguintes técnicas: reconstrução em aterros; retaludamento; obras de

contenção; obras de drenagem; e obras de proteção superficial.

2.5.1 Reconstrução em aterros

De acordo com o IPT (1991) as obras de reconstrução em aterro são utilizadas nos

casos de escorregamentos em áreas aterradas, estes ocorrem devido à má execução na

construção dos mesmos (figura 17). Para que estas obras possam atingir a eficácia desejada

devem seguir os seguintes parâmetros: escolha da jazida do solo, que deve ser função do tipo

de solo, volume a ser extraído e localização da extração; os solos devem possuir umidades

próximas à faixa especificada, destorroados e homogeneizados; limpeza do terreno na

preparação da fundação; estocagem do solo superficial e da matéria orgânica para futura

utilização; preparação da superfície de contato do terreno natural e do novo aterro;

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implantação de sistemas de drenagem de base e de superfície, além de proteção vegetal

superficial; e compactação do solo em espessuras adequadas aos equipamentos utilizados.

FIGURA 17 – Execução adequada de bota-fora, exemplo de obra de aterro visando à estabilização de taludes.

Fonte: IPT (1991).

2.5.2 Retaludamento

Segundo o IPT (1991) retaludamento são obras de terraplanagem, com vistas à

estabilização de um talude ou uma determinada região. Ou seja, são a execução de cortes que

visam abrandar a inclinação dos taludes de um determinado local, visando à estabilização dos

mesmos (figura 18).

.

FIGURA 18 – Esquema de retaludamento.

Fonte: Téchne (2004 apud FIAMONCINI, 2009).

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Para Hoek & Londe (apud GUIDICINI & NIEBLE, 1984), retaludamento é a

mudança de geometria de um talude através da redução da sua altura ou do ângulo do talude.

A maior vantagem apresentada pelo retaludamento sobre os outros métodos é de que

seus efeitos são permanentes, já que a melhora na estabilidade é atingida por uma mais efetiva

utilização das propriedades inerentes ao maciço e pelas mudanças permanentes no sistema de

forças atuantes no talude (GUIDICINI & NIEBLE, 1984).

Porém Guidicini & Nieble (1984) afirmam que nem sempre as obras de

retaludamento são as mais efetivas, pois a redução da altura (figura 19), ou do ângulo do

talude (figura 20), não só reduz as forças solicitantes que tendem a induzir a ruptura, mas

também reduzem a tensão normal e, portanto a força de atrito resistente, esta depende

basicamente da tensão normal atuante na superfície considerada. Isto é reafirmado por

Loturco (1983 apud FIAMONCINI, 2009) que disserta sobre a inviabilidade de aplicação do

retaludamento quando o espaço é escasso ou a vegetação não pode ser retirada devendo ser

previstas canaletas de coleta e escadas hidráulicas para descarte da água com recobrimento

vegetal a fim de evitar a erosão.

FIGURA 19 – Retaludamento através de corte com redução da altura do talude.

Fonte: IPT (1991).

FIGURA 20 – Estabilização de talude através de execução de aterro na sua base.

Fonte: IPT (1991).

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2.5.3 Obras de contenção

Contenção é todo elemento ou estrutura destinado a contrapor-se a empuxos ou

tensões geradas em maciço cuja condição de equilíbrio foi alterada por algum tipo de

escavação, corte ou aterro (RANZINI et al. 1998 apud FIAMONCINI, 2009).

Segundo o IPT (1991) obras de contenção são todas aquelas estruturas, que uma vez

implantadas em um talude, estas oferecem resistência à movimentação deste ou à sua ruptura,

ou ainda que reforcem uma parte do maciço, de modo que esta parte possa resistir aos

esforços tendentes à instabilização do mesmo.

As obras de contenção são classificadas em: muros de arrimo, obras especiais de

estabilização e soluções alternativas em aterros.

2.5.3.1 Muros de arrimo

Os muros de arrimo são estruturas de contenção utilizados juntamente a base de

taludes que apresentam instabilidade: os muros de arrimo estão classificados em três classes:

muros tipo gravidade, muros de concreto armado e cortinas cravadas.

Os muros tipo gravidade podem ser dos seguintes tipos: muros de pedra seca; muros

de pedra argamassada; muros de concreto ciclópico; muros de solo cimentado; muro de

gabiões; e crib-walls (figura 21).

FIGURA 21 – Muro de gabiões, á esquerda; e Crib-walls, à direita.

Fonte: Passos et al.(2010).

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De acordo com o IPT (1991), os muros de arrimo de concreto armado são associados

à execução de aterros ou reaterros, estes garantem a estabilidade através do seu próprio peso e

do peso da porção de solo adjacente, que funciona como parte integrante da estrutura de

arrimo (figura 22).

FIGURA 22 – Esquema de muro de concreto armado.

Fonte: IPT (1991).

São indicadas para estabilização de taludes e encostas de baixo porte. São suscetíveis

à flexão, são deformáveis e, em geral, utilizadas de forma provisória (figura 23). Consiste de

estacas ou perfis metálicos cravados no solo justapostos ou descontínuos, no segundo caso, o

vão é fechado com pranchões de madeira ou placas de concreto armado (LOTURCO 1983

apud FIAMONCINI, 2009).

FIGURA 23 – Exemplo de cortina cravada.

Fonte: IPT (1991).

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2.5.3.2 Obras especiais de estabilização

As obras especiais de estabilização são as seguintes: tirantes e chumbadores; cortinas

atirantadas; e microestacas.

Os tirantes possuem como objetivo ancorar massas de solo ou blocos de rocha,

através do incremento de força gerada pela protensão destes elementos, que transmitem os

esforços diretamente a uma zona mais resistente do maciço através de fios, barras ou

cordoalhas de aço (figura 24).

FIGURA 24 – Esquema típico de ancoragem.

Fonte: Incotep (2008 apud FIAMONCINI, 2009).

Chumbadores são barras de aço fixadas com calda de cimento ou resina, com o

objetivo de conter blocos isolados, fixar obras de concreto armado, sem o uso de protensão

(IPT, 1991).

As cortinas atirantadas são consideradas, dentre as obras de contenção de taludes e

encostas, as de maior eficácia, versatilidade e segurança. Trata-se da execução de elementos

verticais ou subverticais de concreto armado, que funcionam como paramento e que são

ancorados no substrato resistente do maciço através de tirantes protendidos (figura 25).

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FIGURA 25 – Exemplo de aplicação de uma cortina atirantada.

Fonte: IPT (1991).

Segundo o IPT (1991) o uso de microestacas em taludes naturais ou de cortes é feito

através da introdução das estacas na forma de reticulados (figura 26). A armadura das estacas,

assim como a cobertura de cimento ou argamassa, funciona como reforço ao maciço,

otimizado pela injeção sob pressão que produz excelente aderência entre a estaca e o terreno

circundante.

FIGURA 26 – Exemplo de aplicação de estacas raiz, na estabilização de taludes.

Fonte: IPT (1991).

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2.5.3.3 Soluções alternativas em aterros

As soluções alternativas para estabilização de aterros mais utilizados são as obras de

terra armada (figura 27) e o reforço de aterros com utilização de geotêxtil.

Os maciços em terra armada são constituídos através da associação de solo

compactado e armaduras, completada por um paramento externo composto de placas,

denominado de pele (IPT, 1991).

FIGURA 27 – Detalhes de uma terra armada.

Fonte: IPT (1991).

Aterros reforçados com geotêxtil são maciços formados por uma composição básica

de dois materiais: solo e mantas geotêxteis. Este tipo de obra apresenta baixo custo, facilidade

e rapidez na execução (IPT, 1991).

2.5.4 Obras de drenagem

De acordo com o IPT (1991) as obras de drenagem têm por finalidade a captação e o

direcionamento das águas do escoamento superficial, assim como a retirada da água de

percolação interna do maciço.

Segundo o Centro Brasileiro para Conservação da Natureza e Desenvolvimento

Sustentável (CBCN, 2010), o objetivo de uma drenagem eficiente é efetuar um escoamento

seguro para locais com estabilidade geotécnica, evitando a mobilização de partículas do solo

em decorrência do escoamento superficial. As estruturas de drenagem devem possuir as

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seguintes características: confiabilidade dos materiais utilizados; durabilidade dos materiais

utilizados; facilidade de manutenção; e segurança. As obras de drenagem são classificadas

em: obras de drenagem superficial e em obras de drenagem subterrânea ou profunda.

A drenagem superficial realiza a captação do escoamento das águas em superfície

através de canaletas, valetas, sarjetas ou caixas de captação e, em seguida, conduz estas águas

para um local adequado. Através da drenagem superficial se evitam as erosões na superfície

dos taludes e se reduz á infiltração da água nos maciços, diminuindo os efeitos da saturação

do solo sobre a sua resistência (IPT, 1991). Os sistemas de drenagem superficial mais

utilizados são: canaletas longitudinais de berma; canaletas transversais de berma; canaletas de

crista; canaletas de pista; canaletas de pé ou de base; saídas laterais; escadas d’água; caixas de

dissipação; e caixas de transição (figura 28).

FIGURA 28 – Indicação dos diversos dispositivos de um sistema de drenagem superficial.

Fonte: IPT (1991).

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A drenagem subterrânea ou profunda tem como objetivo promover processos que

resultem na retirada de água da percolação interna do maciço, reduzindo a vazão de

percolação e as pressões neutras intersticiais.

A drenagem subterrânea pode ser realizada por drenos sub-horizontais, que

funcionam por fluxo gravitacional, poços de alívio, ponteiras, trincheiras drenantes ou

galerias. Em encostas naturais e taludes de corte, empregam-se com maior frequência drenos

sub-horizontais (chamados também de drenos horizontais profundos ou DHP) (IPT, 1991).

2.5.5 Obras de proteção superficial

A função, das obras de proteção superficial, é impedir a formação de processos

erosivos e diminuir a infiltração de água no maciço através da superfície exposta no talude,

estas obras são classificadas de acordo com a natureza dos materiais utilizados, naturais ou

artificiais (IPT, 1991).

As obras de proteção superficial naturais mais utilizadas são: cobertura vegetal de

médio a grande porte; cobertura vegetal com gramíneas; proteção com pano de pedra; e

biomantas (figura 29).

FIGURA 29 – Aspecto visual de talude de corte onde foram aplicadas biomantas antierosivas.

Fonte:CBCN (2010).

Em relação as obras de proteção superficial artificiais, os materiais mais utilizados

são: proteção com imprimação asfáltica; proteção com argamassa; proteção com concreto

projetado ou gunita; e proteção com telas.

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2.6 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS EM RETALUDAMENTO

Os equipamentos de terraplanagem mais utilizados na execução do retaludamento de

encostas ou de taludes de corte e aterro são: trator de esteiras com lâmina; escavadeira com

caçamba “shovel”; escavadeira com caçamba “drag-line” ou de arrasto; motoniveladoras; e

escavadeiras de acionamento hidráulico.

2.6.1 Trator de esteiras com lâmina

Os tratores de esteiras com lâmina são os equipamentos mais versatéis utilizado em

terraplanagem, utilizados em todas as etapas deste tipo de obra. Em obras de retaludamento

este equipamento executa com muita eficiência cortes em meia encosta (figura 30), cortes

com canto de lâmina e escarificação de material resistente (CATALANI & RICARDO, 2007).

FIGURA 30 – Corte em meia encosta.

Fonte: Catalani & Ricardo (2007).

Segundo Catalani & Ricardo (2007), os tratores com lâmina podem ser empregados

no acabamento dos taludes de corte, utilizando-se a inclinação lateral da lâmina e executando

o corte com o canto da mesma. Esta operação, apresenta o incoveniente de obrigar o

equipamento a operar com forte inclinação, sobrecarregando os esforços sobre uma das

esteiras, o que ocasiona desgaste desigual na parte rodante (figura 31).

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FIGURA 31 – Corte com canto de lâmina.

Fonte: Catalani & Ricardo (2007).

2.6.2 Escavadeira com caçamba “shovel”

São utilizados para escavar taludes situados acima do nível em que se encontra a

escavadeira. Não é o equipamento mais recomendado pois não atinge com eficácia o ângulo

exigido pelo plano geométrico (figura 32).

FIGURA 32 – Escavadeiras “shovel” trabalhando em taludes.

Fonte:Catalani & Ricardo (2007).

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2.6.3 Escavadeiras com caçamba “drag-line” ou de arrasto

Escavadeiras do tipo “drag-line” são utilizadas para escavar materiais pouco

consistentes. Estes equipamentos escavam taludes situados abaixo do nível em que a máquina

se encontra (figura 33). A correção de defeitos decorrentes da alteração do ângulo de talude,

através da utilização de “drag-lines”, é muito difícil de ser feito, este equipamento realiza a

remoção da terra que tenha ficado em excesso, mas isto implica em um trabalho difícil e

oneroso (CATALANI & RICARDO, 2007).

FIGURA 33 – Acerto de taludes através da utilização de “drag-lines”.

Fonte: Catalani & Ricardo (2007).

2.6.4 Escavadeiras de acionamento hidráulico

O retaludamento executado através de retroescavadeiras de acionamento hidráulico é

executado com cortes em trincheira. A profundidade do corte é o mesmo do comprimento do

braço da escavadeira (stick). São utilizadas para realizarem a conformação final do ângulo de

face do talude, para isso as escavadeiras são posicionadas frontalmente ao talude (figura 34).

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FIGURA 34 – Escavadeira de acionamento hidráulico Caterpillar 345D.

Fonte: Caterpillar (2009).

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado durante o período de estágio realizado na empresa

Vale S/A, nas minas de minério de ferro, localizadas no complexo minerador de Carajás, no

município de Parauapebas, Estado do Pará, durante os meses de julho a novembro de 2012.

A empresa Vale S/A possui uma parceria com a empresa Sotreq, revendedora de

equipamentos Caterpillar e responsável também por consultorias e apoio ao cliente. Com isso

a Sotreq oferece aos seus consumidores consultorias de melhorias operacionais, visando o

aumento da produtividade dos equipamentos de seus clientes, através de mudanças de

procedimentos operacionais, ou substituição de equipamentos por outros mais adequados às

necessidades de seus compradores, promovendo ganhos: operacionais, produtivos,

operacionais, ambientais e de segurança.

Com a execução do programa de melhoria contínua realizado entre a Sotreq e a Vale

S/A, foram analisados, durante o período citado, a realização de retaludamento por tratores de

esteiras com lâmina e escavadeiras de acionamento hidráulico, visando à implantação de

melhorias no procedimento utilizado para estabilizar os taludes, das cavas existentes no

complexo de Carajás.

Toda atividade operacional e que possua riscos á segurança dos funcionários, deve

possuir um procedimento operacional padrão, indicando como a atividade deve ser realizada,

com a maior segurança possível.

O retaludamento de mina foi implantado na Gerência Geral de Operação de Mina

Norte (GEMIN), porém a atividade não possuía um procedimento operacional padrão (PRO),

registrado no Sistema de Padronização Vale (SISPAD).

Analisou-se toda a atividade de retaludamento, desde o recebimento da solicitação de

serviço até a informação de conclusão de serviço, para a criação do PRO da atividade. O

acordo entre a Sotreq e a Vale S/A propiciou a análise do procedimento executado,

proporcionando a implantação de melhorias para o mesmo.

Foram realizados acompanhamentos in loco das operações de retaludamento, com o

objetivo de verificar variáveis que tornem a atividade improdutiva, e contabilização dos ciclos

executados pelos equipamentos envolvidos na atividade.

A produtividade dos equipamentos foi calculada através da tomada de horas

produtivas das máquinas, durante o acompanhamento em campo, e com o cálculo da

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quantidade de material movimentado, realizado através da diferença fornecida pelos serviços

de topografia realizados antes e após a execução da atividade.

Ganhos em segurança foram propostos através da análise de como era realizada a

atividade, e assim houve a criação de procedimentos que propiciam a execução do

retaludamento com mais segurança.

Economicamente, foram analisados os ganhos proporcionados pelo aumento da

produtividade, assim como redução de gastos com: manutenção, materiais de desgaste,

consumo de óleo diesel e preço de aquisição de escavadeiras de acionamento hidráulico

Caterpillar 345D e tratores de esteiras Caterpillar D11.

Do ponto de vista operacional se analisou os movimentos executados em campo

pelos operadores, que ofereciam riscos aos equipamentos, e consultados os manuais dos

mesmos, fornecidos pelos seus fabricantes, para realização da escolha dos maquinários mais

adequados as necessidades operacionais apresentadas.

Os itens subsequentes apresentam detalhes: geográficos, geológicos e fisiográficos

da região onde o trabalho de conclusão de curso foi realizado, a metodologia de

retaludamento anteriormente utilizada, e as melhorias propostas e utilizadas atualmente nas

minas de ferro de Carajás, para execução da estabilização dos taludes de mina através de

obras de retaludamento.

3.1 LOCALIZAÇÃO E ACESSO DA ÁREA ESTUDADA

As minas de minério de ferro de Carajás estão localizadas na Serra de Carajás,

município de Parauapebas (figura 35). O município de Parauapebas localiza-se no sudeste do

Estado do Pará, se encontra a 547 km (em linha reta) da capital Belém. Parauapebas faz

fronteira com os seguintes municípios: Marabá (ao norte), Curionópolis (a leste), São Félix do

Xingu (a oeste), Canãa dos Carajás (ao sul) e Água Azul do Norte (ao sul).

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FIGURA 35 – Localização do município de Parauapebas, Pará, e o seu entorno.

Fonte: Sepof (2011 apud FURTADO & BURIL, 2012).

A cidade pode ser acessada via aérea através do aeroporto de Carajás. O município

também pode ser acessado via rodoviária através da PA -275 que interliga o município a

Eldorado dos Carajás, onde se encontra com a PA-150 que liga a capital Belém ao sul e

sudeste paraense. Via rodoviária Parauapebas se localiza a cerca de 720 km de Belém. Outra

alternativa de acesso ao município é via ferroviária através da linha férrea Carajás-Itaqui, que

liga a serra dos Carajás ao Porto de Itaqui, localizado no município de São Luís, capital do

Estado do Maranhão. A ferrovia é utilizada para escoar a produção de minério de ferro

proveniente das minas de Carajás (figura 36).

FIGURA 36 – Localização da estrada de ferro que liga Carajás ao porto de Itaqui no Maranhão.

Fonte: Frasa (2000 apud SILVA, 2011).

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As minas de ferro de Carajás localizam-se a cerca de 45 km da zona urbana de

Parauapebas, o acesso é feito através de via rodoviária, pela Rodovia Raymundo

Mascarenhas.

3.2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS

O relevo da região de Parauapebas possui grande variação altimétricas, as cotas mais

baixas variam entre 200 a 300 metros, já os níveis mais elevados oscilam entre 800 a 900

metros de altitude, e são localizados em áreas das Serras dos Carajás, Arqueada, do Buriti ou

do Rabo (IDESP, 2011).

O município encontra-se na bacia hidrográfica do rio Itacaiúnas, que é uma sub-bacia

da bacia do rio Tocantins. O rio Itacaiúnas é o mais importante da região, ele nasce a sudoeste

de Parauapebas, na região da Serra da Seringa, e atravessa regiões serranas como a da Serra

dos Carajás, limitando em parte com o município de Marabá, onde desagua no rio Tocantins.

Durante seu percurso recebe pela sua margem direita os rios Novo e Parauapebas, que banha a

sede do município. E pela margem esquerda recebe os rios Água Preta, Piranhas e Caeté

(IDESP, 2011).

Segundo a classificação de Köppen o clima da região enquadra-se na categoria de

equatorial superúmido. A temperatura média anual é de 26,35ºC, com máxima de 32,01ºC e

mínima de 22,71ºC. A umidade relativa do ar apresenta oscilações entre 52% a 100%, com

média de 78%. O índice pluviométrico anual está em torno de 2.000 mm, sendo o período de

novembro a maio o mais chuvoso (IDESP, 2011).

O grande domínio vegetal de Parauapebas é da floresta de terra firme, a qual sofre

alterações tipológicas, de acordo com as variações de solo e relevo, proporcionando a

ocorrência dos subtipos: floresta densa dos platôs, floresta densa submontana, floresta aberta

latifoliada (cipoal) e floresta aberta mista (cocal). Dominando o cimo de algumas cristas e

chapadas, ao Sul da Serra de Carajás, encontram-se campos e cerrados, com predominância

de vegetação xerofítica. A implantação de fazendas de pecuárias e de cultivos migratórios

propiciou a ocorrência de pastagens cultivadas e vegetação de capoeira.

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3.3 CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS

Os enormes depósitos de ferro da Serra dos Carajás são depósitos do Neo-Arqueano

(2,8 – 2,5 Ga) localizado no Cráton Amazonas (figura 37).

FIGURA 37 - Mapa geológico simplificado da Província Carajás.

Fonte: DOCEGEO (1988), Souza (1994) e Lindenmayer et al. (1998) (apud CPRM, 2003).

Os depósitos de ferro de Carajás são associados à sequência vulcanossedimentar

característica do Grupo Grão Pará, esta é constituída basicamente de três unidades: unidade

vulcânica máfica inferior, denominada Formação Parauapebas; unidade de jaspilitos

intermediária, denominada Formação Carajás; e unidade vulcânica máfica superior. Nas três

unidades ocorrem a intrusão de rochas máficas a intermediárias (CPRM, 2003).

Ao longo da Serra dos Carajás, o grupo Grão Pará é dividido em três segmentos:

Serra Norte, Serra Leste e Serra Sul, onde o grau de metamorfismo varia sensivelmente, sendo

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nitidamente mais elevado na Serra Sul, onde a empresa Vale S/A está realizando

investimentos vultosos para a implantação do Projeto S11D que terá um “start up” inicial de

90 Mt de ROM (Run of mine).

O desenvolvimento atual da mineração a céu aberto do depósito de minério de ferro

de Carajás atualmente é realizado nos corpos N4 e N5, onde o metamorfismo é ausente e

limitado a zonas de cisalhamento locais. Nesses corpos, o protominério é constituído por uma

camada de jaspilitos, com espessura variando entre 100 e 400 m, totalmente preservados

(MEIRELLES, 1986, apud CPRM, 2003).

Os jaspilitos de Carajás apresentam bandas alternadas de minerais de ferro, hematita

e magnetita, e de jaspe (SiO2), as quais definem macroscopicamente mesobandas com

espessuras que variam de milímetros a centímetros.

A região ferrífera dolomítica ocorre na base dos jaspilitos. A dolomita é um

carbonato com características de substituição e deve pertencer a uma fase hidrotermal rica em

CO2 posterior a formação jaspelítica.

O minério de Carajás é usualmente subdividido em dois grupos: hematita friável ou

hematita mole (HM); e hematita compacta ou hematita dura (HD). O minério friável ocorre

principalmente de duas formas, minério pulverulento com a estrutura original totalmente

destruída e minério placóide composto de finas placas milimétricas, intercaladas com material

pulverulento. Ambos os materiais ocorrem em todos os depósitos com predominância local de

um ou outro tipo (SILVA, 2011). Corpos de minério compacto de alto teor (teor maior do que

67% de Fe por tonelada) estão preferencialmente localizados próximos ao contato com as

rochas vulcânicas/subvulcânicas inferiores, da formação Parauapebas, e normalmente

apresentam auréolas de alteração hidrotermal nas rochas encaixantes. O minério compacto

apresenta-se concordante com o acamamento (CPRM, 2003).

Na formação de Carajás a canga ocorre capeando as ocorrências de formação

ferrífera. Destacam-se no relevo por serem responsável pela sustentação dos platôs. Na região

se separam dois tipos distintos de canga: canga de minério, que flanqueia os afloramentos de

minério in situ, e é formada por blocos de hematita cimentados por óxidos hidratados de ferro.

Possui teor de ferro mais alto que a canga estrutural e menor teor de alumina; e canga

estrutural que cobre geralmente as rochas máficas (ferro-magnesianas, rochas escuras)

decompostas e não possui continuidade estrutural com as rochas subjacentes. O cimento da

canga é a goethita com estruturas coloformes e abundantes poros e cavidades. O teor de Fe é

baixo, sendo elevado o fósforo e a alumina (DOCEGEO, 1988).

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O minério de ferro explorado pela Vale S/A foi originado a partir da atuação dos

mecanismos de alteração laterítica que provocaram uma dessilificação (lixiviação supergênica

da sílica) dos jaspilitos e uma concentração residual da hematita.

A contaminação por fósforo presente na parte superior do perfil de alteração é de

origem orgânica.

Atualmente a produção de Carajás é de cerca de 110 Mt de minério de ferro com teor

médio de 64,5% de Fe/t (VALE S/A, 2013). As reservas totais foram estimadas como

superiores a 18 bilhões de t de minério com teores variando entre 60 a 67% de Fe (CPRM,

2003).

3.4 ESTRUTURAÇÃO DA OPERAÇÃO DE MINA

A província mineral de Carajás possui reservas dos mais diversos minérios de metais

como: ferro, cobre, níquel, ouro, prata, platina e outros. Mas as de maior destaque são as

imensas reservas de minério de ferro de alto teor, existentes na província.

Os depósitos de ferro se encontram em exploração desde 1985 pela empresa Vale

S/A, antiga estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Atualmente estão em exploração

os corpos N4 e N5 de Serra Norte, com um total de cinco minas. São as minas de N4E,

N4WN, N5W, N5E e mais recentemente N5S, onde as explorações foram iniciadas em 2012

(figura 38). E encontra-se em fase de desenvolvimento a mina de N4WS.

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FIGURA 38 – Visualização das minas de ferro de Carajás.

Fonte: Frasa (2000 apud SILVA, 2011).

A Diretoria de Ferrosos Norte (DIFN) é responsável por toda a gestão das minas de

ferro situadas no complexo de Carajás, esta diretoria possui seis gerências gerais, dentre elas a

Gerência de Operação de Mina Nortes (GEMIN), responsável por todas as atividades

executadas na operação das minas de minério de ferro. A GEMIN possui outras quatro

gerências de área dentre elas a Gerência de Terraplanagem de Mina Norte (GAMTN), que é

responsável pelos serviços de manutenção e desenvolvimento de pistas, rampas e acessos,

drenagem de mina, sinalização de mina, e estabilização de taludes através da execução das

obras de retaludamento.

3.5 PROJETO DE TALUDES

O planejamento de longo prazo é a área responsável pelo planejamento anual das

cavas, esta indica a necessidade de construção ou modificação das diversas estruturas ao

longo do tempo, considerando o horizonte previsto no plano de desenvolvimento de longo

prazo da empresa.

A equipe de geotecnia de mina é a responsável pela gestão das estruturas

geotécnicas, incluindo: os projetos geométricos e de drenagens, acompanhamento da

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execução de obras civis, monitoramento das obras e estruturas geotécnicas, realização de

inspeções periódicas dos taludes, instrumentação geotécnica e desativação de estruturas de

mina.

O planejamento de curto prazo é a área responsável pelo acompanhamento e

fiscalização da execução dos taludes, realizada pelo setor de operação de mina.

3.5.1 Etapas do processo de construção de taludes da cava

O planejamento de longo prazo, a partir do modelo geológico-estrutural e

geomecânico, elabora o projeto da cava final e das cavas intermediárias, onde é definida a

geração de minério e estéril.

Com a definição da cava economicamente mais interessante é elaborado o projeto

geométrico da cava matemática. A partir dessa cava, a equipe de geotecnia e hidrogeologia

faz a análise de estabilidade dos taludes e indica para o planejamento os ângulos mais

adequados, segundo as características geomecânicas e setorização da cava. Essa nova cava

gerada é analisada do ponto de vista econômico pela equipe de planejamento e discutida com

a equipe de geotecnia até chegar-se à melhor alternativa, tanto do ponto de vista operacional e

econômico, quanto de estabilidade de taludes e segurança operacional. Após consolidação

final, deve ser elaborado um projeto de drenagem superficial para a cava.

A partir deste projeto, a área de Meio Ambiente inicia os estudos ambientais

necessários para o processo de licenciamento junto aos órgãos competentes.

A área de Geotecnia de Mina deverá concluir o Projeto Executivo atendendo os

prazos necessários para orçamento, contratação e implantação das obras iniciais, de

responsabilidade da Engenharia, cumprindo o planejamento do Longo Prazo para início de

operação da mina obedecendo aos taludes projetados.

3.5.2 Projeto geométrico e procedimento construtivo de taludes operacionais

O Projeto Geométrico para os taludes necessários para atender a demanda de longo

prazo de uma determinada cava deve contemplar geometria final estável geotecnicamente. A

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equipe de geotecnia faz as análises ou contrata o projeto dos taludes mais adequados à

estabilidade dos diferentes maciços existentes e fornece para o planejamento de longo prazo,

responsável por projetar as cavas operacionais segundo as dimensões calculadas. Eventuais

ajustes são discutidos em conjunto, para se chegar à melhor configuração geométrica do ponto

de vista econômico, com a maior segurança operacional e vida útil dos taludes.

Os taludes de lavra, por serem provisórios, em geral são estáveis no tempo de

retomada. Caso necessário, a equipe de geotecnia vai dar o apoio necessário para a operação

ou infraestrutura de mina na escavação dos taludes de lavra.

Em alguns pontos da mina, durante a lavra, pode ser necessário o retaludamento,

devendo ser acionada a equipe geotécnica para avaliação e projeto. Em casos mais

complicados, pode ser necessário a contratação de consultoria externa e desenvolvimento de

projeto específico.

Deverá ser feito um limite de lavra, variável para cada tipo de maciço e para as

condições locais, onde a operação será responsável pelo projeto e execução. A partir desse

limite, próximo aos taludes finais a responsabilidade pelo projeto será conjunto com a equipe

de geotecnia, seguindo as especificações do projeto de lavra. Nesse limite deverão ser

empregadas técnicas para o acabamento dos taludes da cava.

A gerência de planejamento de longo prazo é responsável pela elaboração da

geometria dos taludes finais que depende da validação da geotecnia de mina. Este projeto é

desenvolvido baseado em topografia disponível e deve contemplar: mapeamento geológico e

geotécnico de superfície (se possível, realizar investigações preliminares); geometria e seções

típicas da cava, e acessos; seção típica de rebatimento, quando for o caso; estudos

hidrológico-hidráulicos; sistema de drenagens superficial; análises de estabilidade para os

taludes da cava; sequenciamento da lavra; projeto conceitual de instrumentação; e planilha

preliminar de quantitativos.

Nos taludes finais prevê-se a aplicação de técnicas de desmonte controlado em rocha

e de conformação de taludes em solo, para adequá-lo às condições geométricas de projeto.

Nesse caso são necessárias marcações topográficas, delimitando a área de acabamento dos

taludes finais e indicando crista e pé dos taludes, conforme projeto. Caso necessário, podem

ser implantados dispositivos de drenagem e realizado a revegetação, protegendo

superficialmente os taludes. Nos casos onde forem necessários serão implementados os

instrumentos geotécnicos para monitoramento e indicados os níveis de alerta. Caso

necessário, a equipe de infraestrutura de mina será acionada para eventual manutenção nesses

taludes.

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3.6 PROCEDIMENTO DE RETALUDAMENTO COM TRATOR CATERPILLAR D11

Primeiramente se demarca a área disponibilizada para a execução do retaludamento,

a partir da demarcação topográfica ou da limitação da leira, para evitar que os equipamentos

que trabalhem no retaludamento avancem sobre a área da berma projetada, evitando danos ao

projeto geométrico dos taludes. Então inicia-se o rebaixamento da parte excedente de material

existente no banco, este material é cortado pelos tratores de esteiras Caterpillar D11 e

tombado para o nível posterior (figura 39).

Figura 39 – Trator de esteiras, Caterpillar D11, realizando rebaixamento de material excedente, com

escavadeira ao fundo realizando a conformação do ângulo do talude.

Fonte: Sotreq (2012 a).

As escavadeiras de acionamento hidráulico Caterpillar 345D realizam a conformação

final da face do talude, fazendo com que esta atinja o ângulo projetado que deve ficar entre

57º a 60º.

A figura 39 mostra uma situação improdutiva, pois o trator ao realizar corte com o

canto de sua lâmina não executa o total enchimento da lâmina, assim o equipamento não

atinge a sua produção máxima. O trabalho com canto de lâmina promove o desgaste dos

seguintes itens: desgaste irregular da bordas e do canto da lâmina, desgaste irregular da esteira

e desgaste acelerado da embreagem lateral e do freio. Além disso, tal condição de trabalho

representa riscos, pois o equipamento encontra-se paralelamente ao talude, podendo ocorrer

deslizamento de material sobre o equipamento, além da possibilidade de colisão do

equipamento com o talude.

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A figura 40 mostra outra condição danosa ao equipamento, esta operação causa

danos aos retentores do eixo pivô, a barra equalizadora recebe impacto ao colidir com o

chassis. Para a realização desta operação com trator de esteiras este deveria ter roda motriz

baixa e uma lâmina apropriada para a situação.

Figura 40 – Trator D11 realizando retaludamento.

Fonte: Sotreq (2012 a).

A situação apresentada na figura 41 representa uma situação improdutiva, pois o

equipamento é apenas utilizado para realizar a conformação final do talude, não realizando

movimentação considerável de material. O material gerado pela atividade fica depositado no

pé do talude, este deveria ser movimentado o mais distante possível pelo equipamento, para

evitar o retrabalho do trator de esteiras.

FIGURA 41 – Escavadeira 345D realizando conformação do ângulo da face do talude.

Fonte: Sotreq (2012 a).

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3.7 MELHORIAS SUGERIDAS PARA O RETALUDAMENTO

A Sotreq sugeriu a troca da utilização dos tratores de esteiras D11 por escavadeiras

de acionamento hidráulico Caterpillar 345D.

As escavadeiras construiriam primeiramente as leiras no limite da marcação

topográfica, realizada para demarcar o limite da berma, definida no projeto geométrico. Em

seguida a própria escavadeira executaria a escavação e tombamento do material para o banco

seguinte (figura 42).

FIGURA 42 – Esquema de execução do retaludamento com escavadeiras de acionamento hidráulico, Caterpillar

345D: a) construção de leira de proteção; b) rebaixamento do talude; c) finalização do

retaludamento, com atingimento do banco seguinte.

Fonte: Vale (2012).

A escavação é realizada com posicionamento da escavadeira de forma que sua esteira

fique paralela ao talude, esta executará um corte em trincheira (figura 43), a profundidade do

corte é a mesma do braço do equipamento. Para que o material possa ser disposto no banco

inferior (figura 44), a largura da área a ser cortada deve possuir a mesma dimensão do alcance

máximo da lança e do braço da escavadeira.

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Figura 43 – Realização de corte em trincheira e rebaixamento de talude, por escavadeira 345D.

Fonte: Sotreq (2012 a).

FIGURA 44 – Disposição de material no banco inferior.

Fonte: Sotreq (2012 a).

Os tratores de esteiras com lâmina só passariam a ser utilizados no retaludamento nos

seguintes casos:

quando a escavadeira apresenta dificuldade de escavar o material, por este

ser muito competente, então necessitaria de que os tratores escarificassem a

região a ser rebaixada, facilitando a escavação das escavadeiras (figura 45).

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FIGURA 45 – Trator Caterpillar D11 pronto para escarificar material.

Fonte: Furtado (2012).

quando a largura da área a ser cortada for maior que o alcance da lança e do

braço da escavadeira, será necessário o apoio de um trator D11 para realizar

a disposição do material cortado pela escavadeira para o banco inferior.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e as discussões pertinentes são apresentados em relação aos seguintes

parâmetros: de segurança, produtivos, operacionais e econômicos. m3

4.1 ANÁLISE DE PARÂMETROS DE SEGURANÇA

A melhoria sugerida trouxe ganhos de segurança de grande relevância para o

processo, pois a troca dos tratores de esteiras D11 por escavadeiras 345D, minimizaram a

possibilidade de tombamento de material dos taludes em corte sobre os equipamentos,

podendo gerar danos materiais e humanos. O risco de colisão dos tratores de esteiras com os

taludes também foi minimizado.

O risco de tombamento de material do talude em corte sobre as escavadeiras também

existe, porém este risco é bem menor que o anterior, pois à medida que a área cortada é

rebaixada, as escavadeiras executam a retirada do material excedente no talude, através da

conformação do ângulo final do talude, exigido pelo projeto geométrico.

4.2 ANÁLISE DE PARÂMETROS PRODUTIVOS

Em relação á produtividade dos equipamentos, a execução de retaludamento com a

utilização de tratores de esteiras apresenta produtividade pouco maior do que quando utilizada

escavadeiras de acionamento hidráulico.

Segundo os dados apresentados na tabela 2.7, os tratores D11 apresentam

produtividade média aproximada a 600 m3/h, enquanto que as escavadeiras produzem cerca

de 520 m3/h (SOTREQ, 2012 b).

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67 TABELA 4.1.- Produtividade dos equipamentos no retaludamento, em m

3/h.

Equipamento Produtividade

Trator D11 600

Escavadeira 345D 520

Fonte: Sotreq (2012 b).

Estes dados foram obtidos através da alocação de equipamentos em áreas em

retaludamento, foi feita a medição do volume da área demarcada a ser retaludada pela equipe

de topografia, ao final da execução do retaludamento foi realizada uma nova medição para se

obter os volumes movimentados durante a operação. As horas de equipamento alocadas na

área foram obtidas através de acompanhamento em campo, realizando as devidas anotações

de realização de escavação ou de paradas (troca de turno, alimentação, abastecimento,

manutenção e etc...) e comparadas com os dados do sistema de controle smart mine, da

gerência de controle operacional, responsável por alocar os equipamentos de terraplanagem

nas áreas de operação (Sotreq, 2012 b).

Apesar de a utilização de tratores de esteira apresentar-se mais produtiva, esta deve

ser eliminada, pois como será apresentada na análise econômica, esta apresenta custos

elevados, que justificam a implantação da melhoria proposta.

4.3 ANÁLISE DE PARÂMETROS OPERACIONAIS

Do ponto de vista operacional, a implantação da melhoria gerou a liberação dos

tratores D11 para outras atividades de terraplanagem de mina, como: construção e

manutenção de pistas, acessos, rampas, limpezas de fundo de cava, construção e manutenção

de pulmões e pilhas de deposição de estéril. Nestas atividades é indispensável a utilização dos

tratores de esteiras.

4.4 ANÁLISE DE PARÂMETROS ECONÔMICOS

Economicamente os ganhos apresentados pela melhoria proposta são inúmeros.

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Em primeiro lugar o gasto com consumo de óleo diesel foi reduzido, pois segundo os

manuais dos equipamentos Caterpillar, as escavadeiras apresentam média de consumo de 24

l/h de óleo diesel, enquanto que os tratores D11 consomem aproximadamente 60 l/h de óleo

diesel, na execução das atividades de retaludamento (CATERPILLAR, 2009).

Ainda segundo os dados da Sotreq, a implantação da melhoria gerou redução nos

gastos com manutenção e troca de materiais de desgaste. Os custos com manutenção e troca

de materiais de desgaste dos tratores D11 em relação às escavadeiras de acionamento

hidráulico são cerca de 130% maiores (SOTREQ, 2012 b).

TABELA 4.2 – Comparação de parâmetros econômicos entre duas escavadeiras Cat 345 D e um trator Cat

D11.

PARÂMETROS 2 ESC CAT 345 D 1 TRATOR CAT D

11

Consumo de óleo diesel 48 l/h 60 l/h

Produtividade 1.040 m³/h 600 m³/h

Custo de aquisição R$ 3 milhões R$ 5 milhões

Custos com manutenção

e materiais de desgaste

Custos de 1 trator são 30% mais elevados do que

o de escavadeiras em conjunto

Fonte: Sotreq (2012 b), Caterpillar (2009) e Vale (2012).

Segundo as consultas de mercado as escavadeiras de acionamento hidráulico custam

cerca 1,5 milhão de reais enquanto que um trator D11 custa aproximadamente 5 milhões de

reais (SOTREQ, 2012 b).

Fazendo-se da utilização de duas escavadeiras de acionamento hidráulico em uma

mesma área de retaludamento têm-se uma produtividade de cerca de 1.040 m3/h, apresentando

uma economia de 30% em relação aos custos de manutenção e trocas de materiais de

desgaste. Pois somente um D11 apresenta custos 130% maiores do que uma escavadeira. Em

relação ao consumo de óleo diesel duas escavadeiras apresentam um consumo aproximado de

48 l/h de óleo diesel, uma economia de 12 l/h em relação á utilização de tratores D11. A

aquisição de duas escavadeiras gera uma economia aproximada de 2 milhões de reais frente à

aquisição de um trator D11.

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5 CONCLUSÃO

Como se pode observar a implantação de melhorias para a execução do

retaludamento de mina, propostas pela Sotreq, geraram diversos ganhos na execução do

processo de estabilização de taludes.

A troca dos tratores de esteira Caterpillar D11 por escavadeiras de acionamento

hidráulico Caterpillar 345D gerou ganhos em todos os parâmetros analisados: econômicos,

operacional, produtivo e de segurança.

A alocação das escavadeiras 345D no retaludamento geraram um aumento de 133%

de produtividade na execução do retaludamento. Operacionalmente ocorreu a liberação de

tratores D11 para a execução das demais obras de terraplanagem de mina e eliminação de

situações improdutivas, como a utilização de escavadeiras unicamente para conformação do

ângulo final.

Do ponto de vista da segurança, foram eliminados os principais riscos apresentados

pela atividade, o tombamento de material sobre os tratores de esteiras ao executarem corte

com canto de lâmina e a possibilidade de colisão dos tratores D11 com o talude.

Economicamente destaca-se a economia na utilização de óleo diesel, pois ao utilizar

duas escavadeiras 345 D frente a um trator D11, se teve uma redução média de 20% no

consumo de combustível, apresentando aumento de produtividade. Além de redução de 30%

dos gastos com materiais de desgaste e manutenção. Deve-se destacar a economia de 2

milhões de reais gerada na aquisição dos equipamentos, que torna-se maior ainda, quando

dimensionada a frota ideal de escavadeiras e tratores necessárias para a execução do

retaludamento nas minas de Carajás.

Através dos ganhos apresentados, a GAMTN adotou as medidas propostas pelo

programa de melhoria, e o padronizou para toda a operação da empresa. O

procedimento foi registrado no SISPAD como PRO-006679, este documento destina-se a

todos os operadores de escavadeiras de acionamento hidráulico e tratores de esteiras da área

de terraplanagem de mina.

É importante salientar que a ocorrência de tais ganhos operacionais e econômicos só

se torna possível através da execução de um bom treinamento dos operadores dos

equipamentos de terraplanagem de mina.

Propõem-se para trabalhos futuros os seguintes temas: influência do treinamento de

operadores no ganho de produtividade de atividades de terraplanagem; estudo do

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comprimento ideal de lança e braço de escavadeiras hidráulicas, utilizadas no retaludamento;

estudo de caçamba ou concha ideal para retaludamento; e estudo da influência do número,

tipo e comprimento dos dentes utilizados nas caçambas das escavadeiras alocadas no

retaludamento.

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