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UniSALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Fernanda Silva Sant’ana Letícia Cavina Bispo A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DESIGUALDADE ENTRE GÊNEROS E SUAS INFLUÊNCIAS FAMILIARES: Um estudo da percepção de pais e mães acerca da educação dos filhos LINS – SP 2017

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UniSALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Fernanda Silva Sant’ana

Letícia Cavina Bispo

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DESIGUALDADE

ENTRE GÊNEROS E SUAS INFLUÊNCIAS

FAMILIARES: Um estudo da percepção de pais e

mães acerca da educação dos filhos

LINS – SP

2017

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FERNANDA SILVA SANT’ANA

LETÍCIA CAVINA BISPO

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DESIGUALDADE ENTRE GÊNEROS E SUAS

INFLUÊNCIAS FAMILIARES: UM ESTUDO DA PERCEPÇÃO DE PAIS E

MÃES ACERCA DA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia sob a orientação da Profª Ma. Liara Rodrigues de Oliveira e orientação técnica da Profª Ma. Jovira Maria Sarraceni.

LINS – SP

2017

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Sant’ana, Fernanda Silva; Bispo, Letícia Cavina

A Construção social da desigualdade entre gêneros: um estudo da percepção de pais e mães acerca da educação dos filhos / Fernanda Silva Sant’ana; Letícia Cavina Bispo – – Lins, 2017.

81p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2017.

Orientadores: Jovira Maria Sarraceni; Liara Rodrigues de Oliveira

1. Gênero. 2. Sexualidade. 3. Infância. 4. Sócio-Histórica. 5. Esteriótipos sexuais. I Título.

CDU 159.9

S223c

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FERNANDA SILVA SANT’ANA

LETÍCIA CAVINA BISPO

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA DESIGUALDADE ENTRE GÊNEROS E SUAS

INFLUÊNCIAS FAMILIARES: UM ESTUDO DA PERCEPÇÃO DE PAIS E

MÃES ACERCA DA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovada em: ____/____/____

Banca Examinadora:

Profª Orientadora: Liara Rodrigues de Oliveira

Titulação: Mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade

Católica de SP, PUC-SP

Assinatura: ____________________________

2º Prof.(a) ______________________________________________________

Titulação: ______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura: ____________________________

2º Prof.(a) ______________________________________________________

Titulação: ______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura: ____________________________

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Dedico a todas as mulheres e meninas, que lutam para conquistar seu

lugar de direito nessa sociedade que ainda se encontra tão condicionada à

naturalização da desigualdade e da violência, a todas que sofrem ou já

sofreram por serem mulheres.

A todos os homens e meninos, que também sofrem as consequências

da imposição da cultura machista, a todos que lutam e caminham na

contramão da violência, desconstruindo a desigualdade.

Fernanda Silva Sant’ana

Dedico a todos os professores do curso, à nossa orientadora Liara e a

todos os participantes desta pesquisa que de alguma forma foram tocados a

refletir sobre este tema de essencial importância para a nossa sociedade.

Letícia Cavina Bispo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me conceder a oportunidade de estar na

Psicologia, de entrar em contato com essa temática e por propiciar o

conhecimento e pesquisa pelo qual pude não só me identificar, mas também

vivenciar a temática desse projeto.

Aos meus pais, João e Sueli que sempre me apoiaram, incentivaram e

investiram para que eu estudasse e construísse não só minha profissão, mas

também minha vida, me dando todo o alicerce moral e ético necessário para

que eu chegasse até aqui.

À Letícia, minha companheira de estudos e amiga de todas as horas,

obrigada pela compreensão, pelo encorajamento e por dividir comigo essa

realização.

À nossa querida orientadora Liara, que nos aceitou, nos acolheu, e nos

incentivou a dar continuidade a nossa proposta de pesquisa nos dando todo o

suporte, sem o qual este trabalho não seria concretizado.

Ao meu querido amigo Nathã, que além de me apoiar e incentivar em

todas as situações de minha vida, me auxiliou também no processo de

construção deste trabalho.

A todos os professores do curso, que estiveram presentes e atuantes

em minha formação, propiciando o conhecimento da Psicologia integral e

cientifica, nos orientando e conduzindo da melhor forma.

Ao professor Maurício (in memoriam) em especial, que nos transmitiu

seu amor à Psicologia e mais do que isso nos deu a oportunidade de vivenciá-

la em sua integralidade, reconhecendo todos os seres humanos e trabalhando

para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, através da nossa

profissão, presente em todo lugar e atendendo a todos. Sem essa influência e

direcionamento, não teríamos essa consciência e nem esse trabalho realizado.

Minha eterna gratidão!

Fernanda Silva Sant’ana

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Agradeço primeiramente a Deus, aos meus pais Sergio e Renata e à

minha irmã Laylla que me deram a oportunidade de concluir este curso e foram

a minha fortaleza em todos os momentos, deixando-me sempre abastecida de

muito amor. Sem estas bases eu jamais chegaria até aqui.

Um agradecimento especial ao meu namorado Phelipe, que sempre

quando solicitado colaborava para a construção deste trabalho, compreendeu

de maneira muito paciente as minhas ausências, os meus estresses

momentâneos, passando longas madrugadas em minha companhia me dando

total apoio e me auxiliando na construção desta pesquisa.

À minha grande amiga Fernanda, parceira de faculdade e de TCC,

obrigada por me deixar fazer parte de sua vida e poder compartilhar a

concretização deste trabalho. Não conseguiria explicar nestas linhas a

importância de nossa amizade e companheirismo nestes anos e em muitos que

certamente virão.

À todos os professores que foram peças chaves para o meu crescimento

profissional e também pessoal.

À minha orientadora Liara um obrigado mais do que especial por ter nos

amparado e acolhido quando fomos afetadas pela triste notícia do falecimento

de nosso ilustre professor Mauricio.

Muito obrigada a este grande mestre Mauricio (in memoriam) que me

mostrou a sua paixão pela psicologia e a cada aula eu me apaixonava ainda

mais por este curso. Com ele compreendi a importância de conhecer e tocar de

maneira sutil aquilo que o ser humano tem de mais importante: seus

sentimentos e subjetividade. Sou eternamente grata a todos vocês!

Letícia Cavina Bispo

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“Tanto homens quanto mulheres devem se

sentir livres para serem sensíveis. Tanto

homens quanto mulheres devem se sentir livres

para serem fortes. É hora de entendermos

gênero como um espectro, ao invés de dois

conjuntos de ideais opostos.”

Emma Watson

Embaixadora da Boa Vontade da ONU

Mulheres.

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RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo a compreensão sobre o que os pais e mães consideram importante em relação à questão de gênero na criação e educação de seus filhos e como estes influenciam no desenvolvimento, considerando que a definição de gênero depende de um conjunto de fatores como, os aspectos biológicos, psicológicos e sociais, essa constituição ocorre por meio do contato com a sociedade e cultura que determina assim os papeis sexuais. Realizou-se a pesquisa quantitativa-descritiva com 15 mães e 15 pais com idades entre 25 e 55 anos de idade. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário com 25 questões sendo 12 fechadas e 13 abertas, onde as respostas foram categorizadas e analisadas a partir da Psicologia Sócio-Histórica, que nos permitiu olhar as relações sociais entre homens e mulheres a partir do contexto histórico e social no qual somos inseridos e compreender os sentidos e significados empregados nas palavras utilizadas pelos participantes da pesquisa. Através dos discursos obtidos nas entrevistas foi possível identificar a transmissão de crenças que refletem a desigualdade entre os sexos e corroboram para a limitação da menina quanto a atividades ligadas à força, coragem, lógica e o menino quanto à sua sensibilidade, expressão de emoções e potencialidades que sejam referentes à cuidados tanto à nível familiar, como pessoal e profissional.

Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Infância. Sócio-Histórica. Estereótipos

sexuais.

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ABSTRACT

The current research aims at understanding what parents consider

important in relation to the issue of gender in the creation and education of their children and how they influence development, considering that the definition of gender depends on a set of factors such as, the biological, psychological and social aspects, this constitution occurs through the contact with the society and culture that determines the sexual roles. The study quantitative-descriptive was carried out with 15 mothers and 15 fathers between 25 and 55 years old. For the data, a questionnaire was used with 25 questions, 12 of which were closed and 13 were open, which the answers were categorized and analyzed from Socio-Historical Psychology, which allowed us to look at the social relations between men and women from the historical context and social in which we are inserted and to understand the meanings and meanings used in the words used by the participants of the research. Through the speeches obtained in the interviews, it was possible to identify the transmission of beliefs that reflect the inequality between the sexes and corroborate the limitation of the girl (females) in relation to activities related to strength, courage, logic and the boy your sensitivity,expression of emotions and potentialities that are referring to care about family, personal and professional.

Keywords: Gender. Sexuality. Infancy. Socio-Historica. Sexual stereotypes.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Demonstrativo dos participantes de pesquisa identificados pela

sigla Q – Questionário, respectivo parentesco com a criança e/ou

adolescente e idades, sexo do filho(s) e idade(s) ........................ 44

Quadro 2: Agrupamento das respostas do que os participantes de pesquisa

consideram ser importante para a educação de seus filhos ........ 53

Quadro 3: Categorias das respostas sobre se os participantes de pesquisa

enxergam diferença entre filhos homens e mulheres .................. 55

Quadro 4: Características atribuídas pelos participantes de pesquisa sobre o

que consideram como próprias de ser homem ............................ 57

Quadro 5: Características atribuídas pelos participantes de pesquisa sobre o

que consideram como próprias de ser mulher ............................. 60

Quadro 6: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como vantagens de ser homem ............................... 62

Quadro 7: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como vantagens de ser mulher ................................ 65

Quadro 8: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como desvantagens de ser homem .......................... 66

Quadro 9: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como desvantagens de ser mulher ........................... 68

Quadro 10: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de

pesquisa consideram que existem facilidades para criar

meninos/meninas ......................................................................... 70

Quadro 11: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de

pesquisa consideram que existem dificuldades para criar

meninos/meninas ......................................................................... 73

Quadro 12: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de

pesquisa que consideram que existe diferença entre brinquedos

para meninas e para menino ........................................................ 74

Quadro 13: Categoria das respostas dos participantes de pesquisa referente

aos brinquedos e brincadeiras vivenciados por seus filhos ......... 76

Quadro 14: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de

pesquisa consideram a existência ou não de diferença nas

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obrigações entre as tarefas e deveres entre um menino e uma

menina .......................................................................................... 78

Quadro 15: Categorização de exemplos de profissões que os participantes de

pesquisa consideram ser mais apropriadas para homens e as mais

apropriadas para mulheres .......................................................... 81

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Demonstrativo de participantes da pesquisa por parentesco, idade

e estado civil ................................................................................. 49

Tabela 2: Demonstrativo por quantidade, idade e sexo dos filhos (as) dos

participantes da pesquisa ............................................................... 49

Tabela 3: Demonstrativo de ocupação e estudo por participante da pesquisa

....................................................................................................... 49

Tabela 4: Demonstrativo relativo à ocupação/trabalho dos participantes da

pesquisa ......................................................................................... 50

Tabela 5: Demonstrativo relativo ao estudo dos participantes da pesquisa .. 50

Tabela 6: Demonstrativo referente a moradia dos filhos ................................ 50

Tabela 7: Demonstrativo relativo a quais pessoas passam mais tempo com

os filhos (as) dos participantes da pesquisa .................................. 51

Tabela 8: Demonstrativo relativo a quais pessoas o participante da pesquisa

considera ser o(s) responsável pela educação de seus filhos(as) . 51

Tabela 9: Demonstrativo referente à existência de facilidades para se educar

uma criança/adolescente em relação ao gênero (feminino-

masculino) ...................................................................................... 51

Tabela 10: Demonstrativo referente à existência de dificuldades para se

educar uma criança/adolescente em relação ao gênero (feminino-

masculino) ...................................................................................... 52

Tabela 11: Demonstrativo acerca da(s) influência(s) na educação de

crianças/adolescentes .................................................................... 52

Tabela 12: Demonstrativo sobre a crença de diferenças entre brinquedos para

os gêneros femininos e masculinos ............................................... 52

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Tabela 13: Demonstrativo referente aos brinquedos e brincadeiras vivenciados

pelos filhos dos participantes da pesquisa ..................................... 53

Tabela 14: Demonstrativo sobre a crença de diferenças entre as tarefas e

deveres de uma criança/adolescente de acordo com seu gênero . 53

Tabela 15: Demonstrativo referente à opinião dos participantes da pesquisa

sobre a existência de profissões mais apropriadas de acordo com o

gênero (feminino-masculino) .......................................................... 53

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART: Artigo

FEM: Feminino

IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

MASC: Masculino

Nº: Número

ONU: Organização das Nações Unidas

OXFAM: Oxford Commitee for Famine Relief – Comitê de Oxford de Combate à

fome

PEA: População economicamente ativa

Q: Questionário

TCLE: Termo de consentimento livre e esclarecido

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 15

CAPÍTULO I – GÊNERO E SEUS DESDOBRAMENTOS: DEFINIÇÃO E DIFERENCIAÇÃO ........................................................................................... 18

1 CONCEITUAÇÃO DE GÊNERO .................................................................. 18

1.1 Diferenciação de identidade de gênero e identidade sexual ..................... 20

1.2 Interface com a psicologia ......................................................................... 23

CAPÍTULO II – PEDAGOGIAS DE GÊNERO E SUA INTERFACE PSICOLOGICA ............................................................................................... 26

1 SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL ............. 26

1.1 O enquadre do corpo ................................................................................ 29

CAPÍTULO III – IMPACTO SOCIAIS DA CONSTRUÇÃO DA DESIGUALDADE DE GÊNERO ..................................................................... 35

1 DADOS ESTATÍSTICOS ............................................................................. 35

1.1 Políticas públicas ....................................................................................... 38

1.1.1 Projeto de lei de licença para mulheres no período menstrual .............. 38

1.1.2 ONU Mulheres ........................................................................................ 39

1.1.3 Eles por Elas – “He for She” ................................................................... 40

1.1.4 Lei Maria da Penha ................................................................................ 41

CAPÍTULO IV – METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA 43

1 METODOLOGIA .......................................................................................... 43

1.1 Psicologia sócio-histórica .......................................................................... 45

1.2 Procedimento de análise de dados ........................................................... 46

1.3 Adaptação, desenvolvimento e aplicação do instrumento de pesquisa .... 48

1.4 Análise de dados ....................................................................................... 48

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ................................................................... 83 CONCLUSÃO ................................................................................................. 85 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 87 APÊNDICES.................................................................................................... 91 ANEXOS ......................................................................................................... 98

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho teve como objetivo pesquisar e analisar os sentidos

presentes na concepção de mães e pais acerca da educação de seus filhos, no

que concerne aos valores incorporados nessa educação. As pesquisadoras,

partindo do pressuposto de que a criação mediatizada no contexto familiar

pode ser o maior condutor de valores sociais e culturais, que por sua vez pode

vir a fomentar e reproduzir determinadas concepções estigmatizantes acerca

da questão de gênero preocuparam-se em investigar e analisar quais valores

estão presentes na concepção de pais e mães no tocante a educação de seus

filhos, de modo a constatar a presença ou não de tais conteúdos que

cristalizam e intensificam desigualdades existentes na dicotomia homem-

mulher na sociedade.

Os papéis sociais assumidos pelo homem e pela mulher – consolidados

histórica e culturalmente, são transmitidos ao longo das gerações e reforçados

muitas vezes de forma acrítica e a-histórica, desconsiderando as novas

configurações sociais e familiares, bem como os novos papéis assumidos pelo

homem e pela mulher. A psicologia voltada a compreensão dos fenômenos

psíquicos, sociais, afetivos e comportamentais deve se movimentar na mesma

proporção em que essas transformações ocorrem. Por isso, a inquietação das

pesquisadoras, no sentido de propor a compreensão e revisão de tais

conceitos presentes no contexto de socialização primária, tão responsável pela

formação do indivíduo, tal como preconiza Vigotsky (2000) ao se referir ao

desenvolvimento infantil e a aquisição da cultura e a aprendizagem. Entende

que o ser humano necessita de condições adequadas para que possa se

desenvolver em sua integralidade, ou seja, o meio em que está inserido irá

influenciar seu aprendizado e desenvolvimento integral.

Entende-se aqui como corrobora Louro (1997) a questão de gênero

como uma construção social, cultural, psíquica e biológica pelo qual todo

indivíduo está submetido. Desde a fase intrauterina é gerado as expectativas

em relação ao sexo do bebê e com isso a idealização dos estereótipos

femininos e masculinos (WHITAKER, 1988).

Todas essas ideias serão continuadamente transmitidas durante toda a

vida do indivíduo, inicialmente com a socialização primária que se dá com os

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pais – família, secundariamente na escola, e ademais pela mídia e tantos

outros meios aos quais se é inserido e consequentemente influenciado.

Atualmente, as desigualdades presentes na sociedade colocam a mulher

em posição inferior à do homem, levando em conta que segundo os dados da

Oxfam Oxford Committee for Famine Relief (Comitê de Oxford de Combate à

Fome), mulheres ganham 40% a menos que os homens, o Brasil é o 7º país do

mundo com maiores taxas de feminicídio, as mulheres preenchem um pouco

mais que 10% dos assentos no Congresso Nacional, 10% das prefeituras e

constituem 12% dos conselhos municipais.

A partir dos dados do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada,

as mulheres a partir dos 16 anos de idade gastam em média 25 horas

semanais dedicadas aos serviços domésticos enquanto os homens com a

mesma faixa etária gastam 10 horas, o que acarreta em sobrecarga no trabalho

(fora do lar) e falta de tempo para cuidados íntimos, emocionais e lazer.

A pesquisa foi organizada em 4 capítulos. Sendo o primeiro dedicado a

apresentação da conceituação da questão de gênero, identidade sexual e seus

desdobramentos, como a diferenciação do homem e da mulher nos aspectos

orgânicos, sociais e culturais, e por fim, às implicações da psicologia acerca da

sexualidade. Adiante, o capítulo 2 apresenta a concepção vygotskyana acerca

do desenvolvimento infantil atrelado ao contexto de socialização primária

somado a sua relação com a cultura. O capítulo seguinte versa sobre os

impactos sociais e desdobramentos políticos no que tange a desigualdade de

gênero e suas consequências. Por fim, o capítulo 4 apresenta a descrição

metodológica da pesquisa, seu delineamento e desenvolvimento, precedido da

apresentação dos resultados obtidos, sua análise, proposta de intervenção e

conclusão.

O método utilizado foi o qualitativo, com a investigação por meio de

questionário semiestruturado, aplicado junto a quinze pais e quinze mães, com

idades entre 25 e 55 anos. O questionário continha 25 questões, sendo 12

fechadas e 13 abertas, permitindo caracterizar os respondentes, bem como

acessar os sentidos presentes em suas respostas, analisando-as a luz da

psicologia sócio-histórica.

Assim, a pesquisa foi planejada tendo como referência teórica a

abordagem sócio-histórica da psicologia, que apresenta a concepção de

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sentidos e significados que auxiliam a compreensão dos discursos dos

indivíduos entrevistados, considerando o processo de constituição da dimensão

subjetiva da realidade, empregando assim o sentido como descreve Vigotsky

(2000) “uma formação dinâmica, fluída, complexa, que tem várias zonas de

estabilidade.” (p.165). E o significado da palavra, que só se configura como um

fenômeno de pensamento quando este se vincula à palavra e assim

substancializa-a. (VYGOTSKY, 2000).

Por meio da coleta de dados com o questionário de entrevista

semiestruturado (APÊNDICE A), foi possível constatar que os pais e as mães

transmitem aos filhos valores que refletem nas crianças e/ou adolescentes a

disparidade entre os gêneros.

A proposta de intervenção, portanto, reside na necessidade de

promoção de diálogos acerca das discrepâncias encontradas e condicionadas

para os sexos (feminino-masculino), como isso determina as desigualdades no

tocante ao gênero e uma revisão de como está sendo articulado a educação

das crianças e jovens, no tocante as especificidades de cada gênero.

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CAPÍTULO I

GÊNERO E SEUS DESDOBRAMENTOS: DEFINIÇÃO E DIFERENCIAÇÃO 1 CONCEITUAÇÃO DE GÊNERO

Os estudos acerca das representações de gênero vêm se modificando

ao longo da história, o conceito de sexismo e estereótipos sexuais reconhecem

o homem como forte e racional, enquanto as mulheres são vistas como

incapazes intelectualmente e pré-racional. Sendo anteriormente esta

caracterização de gênero uma condição vinculada apenas ao sexo biológico

(NUNES; SILVA, 2000).

Entendemos aqui como identidade de gênero aquele conjunto de significações causais explicativas sobre o Ser-Homem (masculino) e o Ser-Mulher (feminino). O gênero seria a primeira classificação simbólica, portanto, a primeira representação significativa, entre as identidades do homem e da mulher. As primeiras identidades de gênero encontram-se nas narrações míticas, cosmogônicas e cosmológicas, representando a suposta origem do homem e da mulher a partir de discursos narrativos carregados de determinismos de poder e simbologias de diferenciação (NUNES; SILVA; 2000, p.69).

O conceito de gênero está vinculado à história do movimento feminista

contemporâneo, diversas ações isoladas ou coletivas contra a discriminação e

aviltação das mulheres foram vistas em alguns momentos históricos, contudo

quando se fala sobre o cenário do feminismo como movimento social

organizado, remete-se ao Ocidente, século XIX (LOURO, 1997).

Para Foucault (1986), desde muito tempo tenta-se limitar a mulher em

sua sexualidade, considerando-as frágeis e geradoras de doenças, movimento

que desencadeou no século XVIII a patologização da mulher.

A mulher desde o início de seu ciclo menstrual (processo biológico

natural) tem seu corpo patologizado, ou seja, considerado um corpo doente. As

transformações pelas quais o corpo feminino passa (menstruação, gestação e

menopausa) não são compreendidas em sua veracidade e sim como

processos doentios, que necessitam de medicalização (WHITAKER,1988)

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Ora, os movimentos feministas aceitaram o desafio. Somos sexo por natureza? Muito bem, sejamos sexo mas em sua singularidade e especificidade irredutíveis. Tiremos disto as consequências e reinventemos nosso próprio tipo de existência, política, econômica, cultural... (FOUCAULT, 1986, p.234).

O maior movimento contra a opressão da mulher denominou-se

sufragismo, onde as mesmas não possuíam direitos de voto. Esta

manifestação chegou em vários outros países ocidentais, e ficou conhecida

como a primeira onda do feminismo. Tendo como objetivo imediato a inserção

das mulheres na política, maior oportunidade de estudo e acesso a outras

profissões. Inicia-se ao final da década de 1960 a chamada segunda onda

(LOURO, 1997).

Será no desdobramento da assim denominada “segunda onda” – aquela que se inicia no final da década de 1960 – que o feminismo, além das preocupações sociais e políticas, irá se voltar para as construções propriamente teóricas. No âmbito do debate que a partir de então se trava, entre estudiosos e militantes de um lado, e seus críticos ou suas críticas, de outro, será engendrado e problematizado o conceito de gênero (LOURO, 1997, p.15).

O ano de 1968 foi um marco da rebeldia e oposição, onde vários grupos

que eram vistos como a minoria oprimida passou a demonstrar suas

indagações no que envolvia tais arranjos sociais e políticos, a distinção,

segregação. É, portanto, diante deste cenário social e político que tais grupos

antes rejeitados passaram a participar de marchas e protestos públicos

(LOURO, 1997).

Tornar visível aquela que fora ocultada foi o grande objetivo das estudiosas feministas desses primeiros tempos. A segregação social e política a que as mulheres foram historicamente conduzidas tivera como consequência a sua ampla invisibilidade como sujeito – inclusive como sujeito da Ciência (LOURO, 1997, p.17).

Com as contribuições das teorias do feminismo se faz relevante

compreender que as distinções biológicas não justificam a desigualdade social,

e sim a forma como as características são evidenciadas e enaltecidas em

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determinadas culturas, desta forma, constituindo o que é compreendido como

feminino ou masculino. Este discurso será arquitetado em torno de uma nova

fala, onde gênero terá uma conceituação fundamental e trará mudanças

(LOURO, 1997).

A mudança é vista na ampliação do contexto da caracterização dos

gêneros, onde ser homem e ser mulher ultrapassa os limites biológicos e

passam a ser vistos e estudados a partir da visão integral do ser humano,

levando em conta o contexto cultural e social pelo qual o individuo está

inserido. Destarte, as variações de gênero estão ligadas à como o individuo se

sente, seja no masculino ou no feminino, independentemente do seu sexo

biológico e de seu genótipo, refere-se a uma vivência psíquica (SERRANO,

2008).

Louro (1997) retrata sobre a construção do ser homem e do ser mulher

em:

Homens e mulheres certamente não são construídos apenas através de mecanismos de repressão ou censura, eles e elas se fazem, também, através de praticas e relações que instituem gestos, modos de ser e de estar no mundo, formas de falar e de agir, condutas e posturas apropriadas (e, usualmente, diversas). Os gêneros se produzem, portanto, nas e pelas relações de poder (p.41).

Ou seja, entende-se que a definição de masculino e feminino se dá não

somente pelo seu sexo biológico, mas também de acordo com o contexto

cultural e social que irá influenciar as formas de comportamento referentes a

cada gênero.

1.1 Diferenciação de identidade de gênero e identidade sexual

O ser humano, visto como ser complexo e integral engloba em si uma

série de características, marcas e determinações, que podem ser de origem

biológica, social, cultural ou histórica.

Dessa forma, compreender a conceituação de sexo se torna substancial

para adentrar as questões pertinentes sobre identidade de gênero e sexual.

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O sexo pode ser entendido como a marca biológica do ser humano, a

caracterização genital e natural, aquilo que diferencia anatomicamente os

corpos femininos e masculinos (WEEKS, 2007).

A sexualidade é um conceito definido através da construção cultural de

uma significação pessoal e social de traço genital, que todos nós temos

naturalmente, característica inerente ao ser humano. Podendo ser definida

como uma questão pessoal, social e política, construída ao longo de toda vida,

de muitas maneiras (LOURO, 2007).

Podemos entender que a sexualidade envolve rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos, convenções ... Processos profundamente culturais e plurais. Nessa perspectiva, nada há de exclusivamente “natural” nesse terreno, a começar pela própria concepção do corpo, ou mesmo de natureza (LOURO, 2007, p.11).

Para Costa (2008) a sexualidade humana é tida como a mais complexa

dentre todos os animais, facultando que se caracterizem 11 maneiras de

manifestação e não somente duas. São elas: mulheres heterossexuais;

homens heterossexuais; homens homossexuais; mulheres lésbicas; mulheres

bissexuais; homens bissexuais; homens travestis; mulheres travestis;

transexuais masculinos; transexuais femininos; intersexo.

A sexualidade não se define apenas por características biológicas, mas

resulta também de aspectos psicológicos e interações com o contexto familiar e

social.

O cérebro é o principal órgão do Sistema Nervoso Central, no qual está

localizado as áreas relacionadas com as atuações psicológicas e sociais do ser

humano. No decorrer da gestação liberam-se hormônios que enviarão ao

cérebro uma conformação masculina ou feminina, destarte todos estes

hormônios juntamente com os valores do meio onde o indivíduo será educado,

irá delinear até os dois anos e meio, a identidade de gênero (COSTA, 2008).

Todavia, os aspectos psicológicos concernem-se à identidade sexual: a

identidade de gênero (masculina ou feminina) e a orientação sexual (hétero,

homo ou bissexual), sendo a identidade de gênero, sensação de ser homem ou

mulher, relacionando-se com a bagagem biológica e a inserção do sujeito em

determinada sociedade. Ao nascer apenas se considera a genitália externa,

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sendo neste momento, irrelevantes os demais aspectos biológicos, este

nascituro obterá uma certidão que será “definitiva”, desta maneira o menino

será tratado como tal por familiares e conhecidos, os mesmos irão moldá-lo de

acordo com os códigos sociais de comportamento de gênero masculino, enfim

o indivíduo “aprenderá” como deve ser o comportamento social de um menino

(COSTA, 2008).

Nesse raciocínio, pensemos na influência que os processos culturais

podem e acarretam nesse desenvolvimento e construção do que é natural e do

que não é, e produzimos e transformamos o nosso meio, logo fazemos

histórico. E então os corpos adquirem sentido social e a demarcação no gênero

– feminino ou masculino – vai ser realizada (LOURO, 2007).

Para Foucault (1988), a sexualidade é um dispositivo histórico, ou seja, é

uma invenção social construída a partir de múltiplos discursos sobre o sexo,

esses discursos regulam, normatizam, instauram saberes e produzem

verdades.

A definição das identidades sociais, seja relativa ao gênero, à

sexualidade, à raça ou nacionalidade são constituídas a partir do contexto

cultural e histórico no qual o sujeito está inserido, e é nessa junção das

variadas e distintas identidades e circunstâncias que o sujeito se reconhece e

se define. Entretanto, esse processo de constituição da identidade social revela-se

instável e complexo, haja vista, somos sujeito de múltiplas identidades que

requerem em desacordo lealdades distintas e até mesmo contraditórias, ou

num primeiro momento mostram-se atraentes e depois não mais, o que as

torna descartáveis e passíveis à rejeição e abandono (LOURO, 2007).

A identidade de gênero e a identidade sexual são consideradas as

principais representações daquilo que o sujeito é. Sendo que é a partir destas

que constantemente nos apresentamos e nos reafirmamos, estas parecem

traduzir com mais segurança o ser humano.

Em meio as tantas possibilidades e múltiplas formas de pertencimento

social, o indivíduo busca a certeza daquilo que é e sente, porque lidar com o

desconhecido, e com a incerteza gera a sensação de ameaça, de não ter uma

identidade estável. A tentativa de determinar uma identidade é para sustentar a

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ideia de continuidade e pertencimento, como se o que somos hoje é o que

sempre fomos (LOURO, 2007).

Weeks (2007) afirma que:

Só podemos compreender as atitudes em relação ao corpo e à sexualidade em seu contexto histórico específico, explorando as condições historicamente variáveis que dão origem à importância atribuída à sexualidade num momento particular e apreendendo as várias relações de poder que modelam o que vem a ser visto como normal ou anormal, aceitável ou inaceitável (p.43).

Assim é possível compreender a manifestação dos comportamentos

referentes a sexualidade como um processo de construção que são moldados

e constituídos pelas relações de poder, pelas significações pessoais e culturais.

1.2 Interface com a psicologia

O estudo de gênero e diferenças sexuais existe há quase um século. A

psicologia diferencial passou a não conceituar gênero como atributo inato do

sujeito (NUEMBERG, 2005).

As características subjetivas legitimavam as diferenças entre masculino

e feminino, onde ser e agir estavam vinculados ao sexo biológico. Com a

chegada da segunda guerra mundial e a necessidade de inserção das

mulheres no ambiente do trabalho houve um forte apelo para o confinamento

das mulheres, onde o principal argumento era que as crianças necessitavam

das mães em tempo integral para garantia de sua saúde mental (NUEMBERG,

2005).

Todavia, ao longo do tempo surgiram algumas explicações e descrições

para as diferenças sexuais e os papéis desempenhados por homens e

mulheres. Mudanças radicais precisam de alterações extremas em diversas

áreas, como a política e a psicologia. Pensar na transformação das percepções

de papéis sexuais compreende conceitos, cultura, atitudes e expectativas. Faz-

se necessário uma nova teoria psicológica para descrever as várias

possibilidades em ser homem e em ser mulher (BARROSO, 1975).

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Para Barroso (1975): “Além da elaboração da teoria de formação dos

papéis sexuais, a psicologia tem uma tarefa muito importante: a descrição

completa dos resultados destrutivos da desigualdade entre os sexos” (p.136).

A hierarquização entre os sexos que perdurou durante muito tempo na

literatura psicológica, encobriu as habilidades das mulheres em áreas muito

reconhecidas pela sociedade atual. Estas não tiveram as mesmas condições

para elaborar suas capacidades, afetando suas habilidades emocionais e

causando desmotivação. Todos esses valores aqui destacados estão

enraizados em nossa sociedade e talvez possam perdurar ainda por algum

tempo, essas barreiras construídas pela falta de equidade entre os gêneros

limitam o desenvolvimento de habilidades cognitivas, de tarefas e funções que

são rotuladas masculinas, onde envolve o conceito de sexismo, no qual define

diferenças pejorativas entre as identidades de gênero. Destarte criam-se

estereótipos sexuais, molda-se homens fortes e objetivos e mulheres fracas e

emotivas, esta falta de equidade poderá acarretar medo de sucesso e déficit

intelectual, devido a sociedade construir e instituir as diferenças de gêneros,

delimitando de maneira preconceituosa as habilidades cognitivas e

distribuições de tarefas (BARROSO, 1975).

É evidente a necessidade de construir uma ponte entre o feminino e

masculino, haja vista os modelos repressores engendrados em nossa cultura e

a falta de comunicação entre os gêneros. Por inúmeras vezes, mulheres e

homens estão inseridos em um mesmo ambiente de trabalho, estando

próximos fisicamente, destarte existe uma distância totalmente exacerbada

quanto aos significados simbólicos das funções que realizam. Como no

exemplo entre a aeromoça e o piloto de avião, ou esposas que passam a vida

inteira administrando jantares e recepções de seus maridos empreendedores,

até mesmo aquelas que são casadas com políticos e recebem o titulo sem

algum significado profissional. Não há como negar que algumas questões

sobre sexualidade vêm sendo discutidas com maior atenção, entretanto

observa-se o quanto a repressão sexual está incutida em nosso país

(WHITAKER,1988).

Felizmente as coisas estão mudando. A sexualidade é hoje abertamente discutida. Mas não nos iludamos com o discurso

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das vanguardas. O Brasil é um país imenso e cheio de subculturas diferenciadas. Eu diria que a repressão sexual continua a ser praticada contra meninas e adolescentes mulheres na maioria das famílias brasileiras. E não nos esqueçamos da repressão correspondente aos meninos, condenados à “impureza” pelos adultos apavorados com as possiblidades do homossexualismo (WHITAKER, 1988, p.91).

Contudo, faz-se necessário a inquietação e movimentação da Psicologia

e áreas afins (Sociologia, Antropologia, Assistência Social, Medicina, dentre

outras) para que a sociedade juntamente com as políticas públicas possam

possibilitar uma discussão e mobilização acerca de questões referentes à

desmistificação da construção da identidade de gênero e da sexualidade e

quais as implicações provocadas por essas crenças enraizadas.

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CAPÍTULO II PEDAGOGIAS DE GÊNERO E SUA INTERFACE PSICOLÓGICA

1 SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL Vygotsky (2000) defende a teoria Sócio interacionista, segundo a qual o

desenvolvimento humano acontece por meio das relações de trocas, através

de processos de interação e mediação. O autor enfatiza o processo histórico-

social e a função da linguagem.

A concepção do significado das palavras como unidade simultânea do pensamento generalizante e do intercâmbio social é de um valor incalculável para o estudo do pensamento e da linguagem. Permite-nos uma verdadeira análise genético-causal, um estudo sistemático das relações entre o desenvolvimento da capacidade intelectiva da criança e do seu desenvolvimento social (p.8).

O desenvolvimento psicológico é produzido a partir das interações,

estímulos e aprendizados nos quais são proporcionados à criança, visto que,

ela por si só não tem condições de se desenvolver e aprimorar seu aparato

psíquico, dependendo assim do meio em que está inserida e das experiências

que vivencia (VYGOTSKY, 2000). A socialização é entendida como o processo pelo qual todos os seres

humanos passam, onde neste ocorre a internalização de uma série de padrões,

modelos, crenças, que nos moldam e nos constitui como integrantes de uma

determinada cultura (WHITAKER, 1988).

Bock et al. (1995) colabora para o pensamento acerca da socialização

primária que se dá através da interação social. A criança quando nasce

começa a pertencer a um mundo social dado, organizado, mas que não está

acabado, onde a permanente construção deste ocorre através dos grupos

sociais.

A socialização é um processo de internalização (apropriação) do mundo social, com suas normas, valores, modos de

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representar os objetos e situações que compõem a realidade objetiva (BOCK et al., 1995, p.208).

O ser humano submetido a uma determinada classe social e cultural vai

aprender e caracterizar o seu eu, sendo assim seu modo de agir, seu modo de

falar e até mesmo de pensar.

Aspecto importante a ser considerado é que a inserção de uma família em uma classe social de uma sociedade determinada faz com que o mundo e seus acontecimentos sejam “filtrados” para a criança (BOCK et al., 1995, p.209).

A socialização primária acontece dentro do grupo familiar, ou seu

substituto como a creche, ou instituição de acolhimento. É a partir da família

que as representações de mundo chegam até a criança com significação. A

família é a instituição de alta significação e impacto sobre a criança e é ela que

vai reproduzir as relações sociais mais amplas, os valores morais e éticos.

Como no exemplo:

Uma família que mora numa favela pode passar para o filho seus sentimentos e opiniões a respeito da discriminação social que vive, em função de sua condição de moradia, de pobreza. Isto será internalizado pela criança (BOCK et al., 1995, p.210, grifo nosso).

Rappaport, Fiori, Davis (2007) nos traz sobre a Teoria da Aprendizagem

Social, onde objetiva que as experiências vividas pelos próprios sujeitos e

aquelas que o mesmo observou outro indivíduo viver definem comportamentos

de tal elemento. Todavia, a maneira adotada para se comportar em um dado

momento, é produto das expectativas assimiladas em contextos parecidos

àquela com que o sujeito hoje se apresenta. Desta forma, para Rappaport,

Fiori, Davis (2007 p.89) “o ambiente controla o indivíduo na mesma medida em

que é controlado por este”.

Destarte, é possível compreender a influência que a família detém sobre

a criança que sucedendo a socialização primária, a secundária é marcada

pelas relações externas, ou seja, com todos os grupos sociais pelos quais o

indivíduo tem contato durante a vida, como na escola, grupos de amigos e mais

tarde no grupo de trabalho e tantos outros grupos sociais sendo que o

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processo de socialização e assim consequentemente de internalização é

ininterrupto, sendo onde ocorre a formação da identidade do indivíduo.

Os conteúdos desse processo vão-se diversificando, tornando-se cada vez mais complexos; as exigências do grupo quanto ao desempenho de seus membros vão-se diferenciando, e o indivíduo vai adquirindo, cada vez mais, o poder de interferir no processo de construção de sua própria subjetividade e na construção do cenário social, contribuindo para a manutenção ou transformação (BOCK et al., 1995, p. 212).

Retomando ao início da vida, temos uma dinâmica envolvida na gravidez

e nas expectativas depositadas nesse período e também em seu planejamento

e idealização. É sabido que os sentimentos e emoções geradas pela mãe ainda

na fase intrauterina influencia e altera o psiquismo do bebê (WHITAKER,1988)

Socialmente, de acordo com as diferenças de cada local e cultura são

estabelecidos e assumidos preconceitos em torno dos gêneros e quanto ao

valor dado a ser homem e à ser mulher. Visto que, em certas culturas há uma

supervalorização do homem em detrimento do sexo feminino e

consequentemente a idealização de se gerar um menino.

Belotti (1983), corrobora sobre as crenças populares envolvidas na

descoberta do sexo de crianças que estão próximas ao nascimento, revela que

as expectativas e idealizações envolvidas nas discrepâncias entre o que se

espera que os gêneros sejam e produzam se inicia no período de gravidez.

Assim, tem-se o que Whitaker (1988) denominou como a “didática da

gravidez”, que têm como referência três principais aspectos, são eles:

- a maior valorização do bebê de sexo masculino, esperado com mais ansiedade e desejado mais ardentemente do que o bebê de sexo feminino; - a atribuição de maior vivacidade e vitalidade ao sexo masculino e de passividade ao sexo feminino, configurando os modelos a serem seguidos pela criança que vai nascer, cujos efeitos pedagógicos atuam muito eficientemente sobre as crianças à volta da gestante, as quais naturalmente participam desse jogo fascinante de expectativas; - a atribuição de características doentias ao feto do sexo feminino que deixaria a futura mãe “pesada ou redonda”, com pernas inchadas, prenunciando um parto difícil, o que anuncia a medicalização do corpo da mulher (1988, p.19-21 – grifo nosso).

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Com esses três aspectos pode-se entender sobre a complexidade pela

qual está inserido o período de gestação, e que esse contexto de valorização

de um gênero e depreciação de outro, fazem com que meninas tenham baixa

autoestima, carência essa provocada e internalizada a partir fase intrauterina.

Essa condição vai sendo reforçada e potencializada no meio familiar e logo no

meio externo, de socialização da gestante, onde se é aprendido que ser mulher

tem menor valor em comparação a ser homem (WHITAKER, 1988).

Com o passar dos anos e com o advento da modernização, os homens

avançam para uma sociedade industrial, um paradoxo em que a didática da

gravidez repercute de forma mascarada, ditando que é mais benéfico ter filho

homem, porque mulheres tendem mais ao sofrimento, o que traz a reflexão:

Homem não sofre? Ou o homem é ensinado através de vários fatores sociais e

culturais que não pode demonstrar sofrimento, ou até mesmo chorar?

(WHITAKER, 1988).

Mas quando se pensa sobre a concepção de meninas, estas também

são desejadas, mas os fatores que justificam esse anseio são representados

por meio do trabalho doméstico e/ou características subjetivas projetadas sobre

como ser mulher. Dessa forma, ter uma filha é benéfico para auxiliar nos

cuidados com a casa e com os irmãos homens, além de serem consideradas

mais dóceis e carinhosas são encarregadas nos cuidados dos pais na velhice

ou casos de invalidez, doença (WHITAKER, 1988).

É na família que ocorre a primeira construção psíquica de como deve

ser e agir uma mulher e de como deve ser e agir um homem. Como afirma

Castañeda (2006): “O machismo é uma forma de relação que todos nós

aprendemos desde a infância e que, por essa razão, se intromete como moeda

corrente em todo intercâmbio pessoal” (p.19).

1.1 O enquadre do corpo A criança através da socialização vai incorporando a cultura do grupo

no qual ela faz parte, considerando a subjetividade de cada ser humano, há

situações ou comportamentos os quais não serão aceitos, onde será produzida

uma resistência a imposições permanentes. Quando o indivíduo resiste à algo:

“Daí que a socialização se transforma em educação” (WHITAKER, 1988, p.24).

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A palavra educação tem como definição, consultada através do

Dicionário Aurélio (2011): “1. Ato de educar (- se), ou o resultado deste ato; 2.

Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser

humano: educação física; educação básica, educação religiosa; 3. Civilidade,

cortesia, polidez” (FERREIRA, 2011, p. 345).

Vamos pensar na educação como um meio de socialização artificial,

porém imprescindível levando em consideração a sociedade na qual

vivenciamos, que exige métodos e formas especiais para reproduzi-la, dentre

eles a escola.

Para compreender os mecanismos que influem e demarcam as

desigualdades sociais entre os gêneros é necessário diferenciar as duas

dimensões do processo educacional: a educação formal (produzida pela

escola) e a educação considerada informal (desenvolvida através das relações

sociais, principalmente por adultos que exerçam influência e meios de

comunicação, em geral).

No terreno nebuloso da educação informal estão escondidas as raízes de todos os problemas que massacram homens e mulheres, obstaculizando, principalmente para estas, a entrada no mundo das profissões e criando entraves até para viver naquele mundo onde supostamente deveriam estar bem, isto é, o mundo do lar e do casamento (WHITAKER, 1988, p.25).

Para Whitaker (1988), é na família que são construídos os primeiros

moldes, nos quais as crianças são induzidas e programadas a se encaixar para

continuarem a reprodução dos hábitos e costumes familiares. Entretanto esses

moldes podem ser repugnados, uns em maior grau de resistência outros em

menor, seja para ambos os sexos.

Desde muito pequenas, as crianças dividem-se até mesmo na atividade

lúdica, meninas são dirigidas a brincar de bonecas e casinha, brincadeiras

estas que descrevem o mundo doméstico. No que diz respeito aos meninos,

estes são encorajados a chutar bola, subir em árvores, brincar com carrinhos e

de lutar, influência que estimula as noções de espaço e direção, importantes

para compreensão e desenvolvimento dos conceitos de matemática, geografia,

física.

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Aos meninos são dispensados qualquer atividade ou incentivo que dê

margem à homossexualidade, dessa forma são podados à manifestação de

sentimentos e de sua sensibilidade nata (WHITAKER,1988).

As brincadeiras refletem as representações sociais investidas no lúdico,

à mulher é reservada a tarefa de ser mãe, de cuidar do outro e ser dócil, já o

homem é dispensado da tarefa de ser pai, estando sempre na condição da

ação, o que as brincadeiras trazem como simbologia de ousadia, movimento,

agressividade.

O problema não está nas brincadeiras em si, mas na limitação a

modelos e padrões de brincadeiras. É necessário que tanto as meninas quanto

os meninos desenvolvam habilidades e raciocínios ainda na primeira infância,

que vão colaborar para a execução de tarefas profissionais ou até mesmo para

aprender na vida adulta à dirigir um carro ou motocicleta (WHITAKER, 1988).

A infância é marcada por ser um período castrador, tanto para meninas

quanto para os meninos. A família assume a função educacional de punir e

domar as crianças, nesse contexto, há uma discrepância entre os gêneros,

sendo que os modelos femininos impostos são sempre mais artificiais,

requerendo submissão e repressão (WHITAKER, 1988).

A escola se apropria da função de produzir gêneros, definindo e

impondo como ser homem e como ser mulher, investindo no corpo e sobre o

corpo. Dessa forma, o menino é estimulado a fazer esportes, a ser

competitivo, ser “durão”, o que dificulta que eles expressem os seus

sentimentos para amigos, as meninas em contraposição, precisam ser

amáveis, dóceis, gentis, educadas. Nunes e Silva (2000) colaboram apoiados

sob o preconceito de sexo, denominado como sexismo:

Convencionou-se definir como sexismo o chamado preconceito de sexo, que consiste em identificar características que evoquem determinismos diferenciais e conceituações significativas pejorativas entre as identidades de gênero. Significaria reconhecer que o homem, grosso modo, tomado aqui como identidade de gênero, seria identificado e definido como essencialmente lógico, forte, objetivo, autônomo, voltado para atividades afirmativas, solidárias, conscientes, racionais e determinadas em oposição a uma concepção de feminilidade intuitiva, emocional, sensitiva, voluntarista e pré-racional (p.69).

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Concomitantemente ao tentar definir e marcar as diferenças entre cada

gênero, a escola também trabalha para adiar ao máximo o interesse das

crianças e jovens em questões relativas à sexualidade.

Um corpo disciplinado pela escola é treinado no silêncio e num determinado modelo de fala; concebe e usa o tempo e o espaço de uma forma particular. Mãos, olhos e ouvidos estão adestrados para tarefas intelectuais, mas possivelmente desatentos ou desajeitados para outras tantas (LOURO, 2007, p. 21 – 22).

A escola é o primeiro ambiente social no qual a criança é inserida e nela

existem grandes possibilidades do educador notar o início da sexualidade nos

educandos. A principal vivência relatada por professores de escolas primárias é

a prática da manipulação dos órgãos sexuais. Este ato proporciona

descobertas e diferentes sensações, sendo essa busca causada por impulsos

biológicos e psíquicos, sendo impróprio coibi-la como “masturbação”, onde por

questões culturais há maior permissividade entre os meninos (NUNES; SILVA,

2000).

A manipulação obedece a impulsos biológicos e psíquicos que satisfazem às crianças e lhe proporcionam uma apropriação sensorial de seu corpo e suas potencialidades. Trata-se de uma prática que pode apresentar-se como circunstancial ou passageira como pode ainda estruturar-se de maneira mais observável entre os meninos, pelas características culturais e educacionais de maior permissividade e estimulação de expressão social da sexualidade masculina, contrapondo-se aos eficientes mecanismos de repressão das meninas. É mais difuso entre as meninas, que podem manifestar-se no toque genital ou no auxílio de objetos, brinquedos, posições que provoquem estímulos prazerosos. Aos quatro anos é mais frequente esta manipulação genital tornar-se social e impulsiva (NUNES; SILVA, 2000, p. 77 – 79).

Foucault (1986), descreve sobre a “masturbação infantil” e sobre a

inaceitação deste comportamento que mantém sob a criança um olhar de que

elas são problemas em comum para os pais, educadores, instituições de

ensino e de higiene pública. Assim, o sexo das crianças configurou-se em um

instrumento de poder e vigia com objetivo de controle da sexualidade infantil.

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O menino busca sua realização e afirmação através do adestramento do

corpo, moldando-o para que consiga alcançar seus interesses e desejos e

neles são admirados e exacerbados as qualidades referentes à esperteza,

coragem, ousadia, sendo permissível estar desarrumado, despenteado ou sujo,

contanto que exerça a “masculinidade” (LOURO, 2007; WHITAKER, 1988).

No desenvolvimento da autonomia das meninas é imposto desde muito

cedo que elas precisam aspirar a beleza. O conceito de beleza é marcado pela

artificialidade, ligado à necessidade de estarem sempre limpas, depiladas,

perfumadas, enfeitadas, maquiadas, de usar o salto alto. Não é pensado e

muitas vezes ignorado as consequências desses modelos de feminilidade,

tanto a nível psíquico como à possíveis danos físicos – corporais (WHITAKER,

1988).

Um fato importante para as meninas é a menarca, a primeira

menstruação. Esse acontecimento é um marco de transitoriedade para as

meninas que a partir desse momento passam a “ser moças”. Antes esse tema

era apenas visto e tratado no sentido das mudanças que ocorrem com a

menina, entretanto com o advento da medicalização da menstruação e com a

imposição do uso de produtos de higiene especifico, essas questões perdem

força e significado (LOURO, 2007).

As queixas a respeito das cólicas, dores de cabeça e desconforto

causados pelo período menstrual entram em confronto com a imagem da

mulher idealizada pela mídia, onde são todas resistentes e imbatíveis.

Nas escolas, essa era uma justificativa aceita para dispensa das aulas de educação física e muitas garotas faziam uso desse expediente todos os meses, pois, afinal, nesses dias estavam “doentes”. As professoras também tinham direito à falta mensal justificada, supostamente devido ao fato de que suas condições para dar aulas “naqueles dias” poderiam não ser adequadas (LOURO, p.25, 2007).

Atualmente, no Brasil o deputado Carlos Bezerra criou um projeto de Lei

6784/16 cuja proposta permite a mulher uma licença de três dias durante seu

período menstrual, baseado em uma empresa britânica que adotou esse tipo

de licença, a proposta conta com dados estatísticos, como que 65% das

mulheres sofrem de dismenorreia, 70% tem queda da produtividade no trabalho

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causado pelas dores de cabeça, inchaço nas pernas, enjoo, diarreia (NOBRE,

2017).

Amadurecidos, homens e mulheres são formados por comportamentos e

atitudes advindos de uma série de identidades que foram construídas a partir

de vivências, da cultura local, da família, do círculo de amizades, igreja, mídia e

lei.

Se as múltiplas instâncias sociais, entre elas a escola, exercitam uma pedagogia da sexualidade e do gênero e colocam em ação várias tecnologias de governo, esses processos prosseguem e se completam através de tecnologias de auto disciplinamento e autogoverno que os sujeitos exercem sobre si mesmos. Na constituição de mulheres e homens, ainda que nem sempre de forma evidente e consciente, há um investimento continuado e produtivo dos próprios sujeitos na determinação de suas formas de ser ou “jeitos de viver” sua sexualidade e seu gênero (LOURO, 2007, p. 25 – 26).

A sociedade incorporada a todas essas mudanças, contradições e

fragilidades opera em busca de ações que possam fixar nos sujeitos um gênero

pré-definido, precisa-se ser homem ou ser mulher, de acordo com o sexo

biológico e também a necessidade de enquadramento na “normalidade” da

identidade sexual: modelo de identidade heterossexual. Os que não seguem e

aceitam essas imposições estão prejudicando a ordem e ferindo os estigmas

acordados entre a sociedade e instituições (LOURO, 1997).

Em contrapartida, a escola tem a função de assegurar e estimular a

sexualidade “normal” dos alunos, sem que isso estimule-os ao interesse em

questões voltadas à sexualidade e sua prática.

Ao atingir a idade de dois ou três anos e adentrar na Educação infantil a

criança entra em relação direta com outros meninos e meninas, vendo a si e os

outros, tendo a figura do professor (a) como instituição de poder. A carência de

uma conversa natural sobre a sexualidade tanto dos pais quanto dos

professores gera medos e ansiedades que podem comprometer o

desenvolvimento de todo o processo psicossexual (NUNES; SILVA, 2000).

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CAPÍTULO III IMPACTOS SOCIAIS DA CONSTRUÇÃO DA DESIGUALDADE DE GÊNERO 1 DADOS ESTATÍSTICOS

Segundo os dados da Oxfam Brasil, 2017 - Oxford Committee

for Famine Relief (Comitê de Oxford de Combate à Fome) sobre rendimentos

salariais dos sexos masculinos e femininos, existem melhoras nos últimos

anos. Desvencilhamo-nos de um cenário onde mulheres recebiam 40% do

valor dos honorários dos homens para uma proporção de 62% em 20 anos,

mormente devido ao crescente ingresso da mulher no mercado de trabalho.

Hoje, ainda há uma implausível discrepância: o faturamento médio do homem

brasileiro era de R$ 1.508,00 em 2015, enquanto o das mulheres era de R$

938,0063. Conservada a linha dos últimos 20 anos, a Oxfam Brasil calcula que

mulheres terão nivelamento salarial apenas em 2047.

Ponderando somente a renda do trabalho, mulheres são mais

numerosas na faixa salarial de 0 a 1,5 salário mínimo, e ocupam um menor

espaço em todas as faixas decorrentes. 65% das mulheres recebem até 1,5

salário mínimo, em dissemelhança com 52% dos homens, e existe por volta de

dois homens para cada mulher com renda superior a 10 salários mínimos. Por

volta de 1991 e 2010, a parcela de mulheres que buscaram inclusão no

mercado de trabalho alavancou de 35% para 53% (OXFAM, 2017).

Esta parcela era de apenas 17% em 1960, apontando uma disposição

histórica relativamente recente, e ainda inacabada. Os 47% de mulheres que

não conseguem ingressar na População Economicamente Ativa (PEA) têm, em

sua maior parte, um perfil singular: estão em idade de reprodução, possuem

escolaridade média superior à dos homens inativos, têm filhos e são casadas.

Isto tudo são características de uma sociedade patriarcal, que deixa com à

mulher grande parte do trabalho de reprodução, ou seja, não remunerado.

Todavia, este é um dos nossos maiores reveses para a atenuação drástica de

falta de equidades de gênero no Brasil (OXFAM, 2017).

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A Oxfam Brasil (2017) relata que mesmo a escolaridade média superior

de mulheres sendo maior do que a dos homens – 8,4 anos de estudo e 8

respectivamente – existe uma exacerbada diferença salarial tendo com base as

mesmas faixas educacionais.

Mulheres com o terceiro grau completo ganham, em média, R$ 1.338,00,

ou seja, 66% do que ganham os homens com respectiva escolaridade (R$

2.023,00). Na faixa de graduação, mulheres recebem R$ 3.022,00 em média,

apenas 63% do que recebem homens com a mesma condição educacional (R$

4.812,00). Médicas ganham, em média, 64% dos honorários de homens

médicos, e mulheres economistas recebem 61% do que ganham, em média, os

economistas homens. As formações de baixa remuneração com grande

atuação feminina, como letras, mulheres ganham por volta de 80% do que

ganham os homens (OXFAM, 2017).

Considerando que um terço das famílias brasileiras é governada por

mulheres, e metade delas é monoparental, as mulheres dedicam mais do que o

dobro de seu dia para as atividades de casa do que os homens. A taxa de

feminicídio dobrou entre 1980 e 2011, e uma mulher é executada a cada duas

horas, tendo como assassinos homens com os quais possuem relações

íntimas.

O Brasil é o sétimo país do mundo com maiores taxas de feminicídio.

Em 2012, o número de estupros foi superior a 50.000. O Brasil ocupa o 121º

lugar no ranking de participação das mulheres na política, ou seja as mulheres

preenchem um pouco mais de 10% dos assentos no Congresso Nacional. As

mulheres também desempenham apenas 10% das prefeituras e constituem

12% dos conselhos municipais, mesmo com o cumprimento da lei de cotas

(30%) conquistado pela primeira vez nas eleições municipais de 2012. Desta

forma, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa

das Nações Unidas o Brasil ocupa a 85ª posição em desenvolvimento humano

e desigualdade de gênero.

Segundo o relatório A distância que nos une: um retrato das

desigualdades brasileiras - Oxfam Brasil, mulheres e negros são maiores

utilizadores do sistema público de saúde. As admissões de mulheres a

hospitais, postos de saúde e vacinação, entre outros serviços públicos, estão

por volta de 60% a mais que os de homens (OXFAM, 2017).

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Outra diferença exacerbada entre os gêneros se dá nas questões dos

afazeres domésticos. De acordo com o artigo intitulado “Retrato das

Desigualdades de Gênero e Raça” realizado pelo Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA):

Em 2009, 69,4% da população com mais de 10 anos e 70,8% da população com mais de 16 anos cuidavam dos afazeres domésticos. Praticamente não há diferença entre as populações branca e negra, mas ela é bastante significativa em relação aos sexos: 49,1% dos homens com mais de 10 anos declararam cuidar destes afazeres, em face de 88,2% das mulheres, resultado bastante semelhante ao da população com mais de 16 anos (IPEA, 2011, p.36–37).

Desde os 5 anos de idade as meninas são induzidas a realizarem

tarefas domésticas, enquanto meninos não são estimuladas para estas

atividades. Esta diferença perdura durante a vida adulta, onde a média de

horas dedicadas aos serviços do lar por mulheres acima de 16 anos é de 25

horas semanais e por homens com a mesma faixa etária é de 10 horas. Todas

essas horas dedicadas aos serviços domésticos, causarão impactos em

relação as horas trabalho, acarretando sobrecarga de trabalho para as

mulheres, haja vista que muitas delas cuidam do lar e trabalham fora (IPEA,

2011).

A violência está presente em nossa sociedade, sendo ela física, verbal,

sensação de medo ou insegurança de estar em determinados lugares, tentativa

de roubo e furto. Nota-se que os gêneros sofrem violências de maneiras

diferentes.

Em relação às ocorrências de roubo e furto, de modo geral, os homens enfrentam, proporcionalmente, mais este tipo de situação. Cerca de 4% deles foram vítimas de roubo e 4,5% de furto, no período de um ano, ao qual a pesquisa se referiu. Para as mulheres, estes valores são um pouco menores, alcançado 3,2% e 3,5% respectivamente. Estes dados confirmam a ideia de que a população masculina vivencia um tipo de violência praticado no espaço público, enquanto as mulheres, conforme se verá a seguir, enfrentam, com mais intensidade, a violência no espaço doméstico (IPEA, 2011, p.39).

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Vale notar que a existência de sensação de insegurança do sexo feminino

dentro de seus próprios lares, onde as vítimas são agredidas pelos seus

cônjuges, ex-cônjuges ou outros parentes. De acordo com IPEA:

Entre os homens, 46,4% dos autores eram pessoas desconhecidas, mas somente 2% eram cônjuges ou ex-cônjuges, e 5,7% eram parentes. Para 26% das mulheres, a violência era perpetrada por seus próprios companheiros ou ex-companheiros, e para 11,3%, por algum parente. Ainda que em uma proporção alta (29%), a agressão física de mulheres por desconhecidos era menos significativa que a de homens (p.39, 2011).

É perceptível o quanto as agressões variam de acordo com o gênero, ou seja, a mulher é a principal vítima de violência doméstica.

1.1 Políticas públicas

1.1.1 Projeto de lei de licença para mulheres no período menstrual O projeto de lei do Deputado Senhor Carlos Bezerra (2016), surgiu a

partir de uma matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, onde relatava o

caso de uma britânica ter conseguido afastamento remunerado no período

menstrual, em uma pequena empresa residida em Britol (Reino Unido). Este

afastamento nomeia-se como licença-menstrual, dando direito a funcionária

que sofre neste período a trabalhar em casa, a ter maior flexibilidade de

horários e compensar estas horas se necessário.

Esta licença existe há décadas nos países Asiáticos, como China e

Japão sendo cientificamente defendidas pelos médicos, tendo como

justificativa as inúmeras alterações causadas no corpo feminino devido a

menstruação.

O Deputado Sr. Carlos Bezerra, apoia:

Entendemos, portanto, que a norma proposta beneficiará as mulheres trabalhadoras, que padecem por ter que trabalhar com todos os incômodos causados pela menstruação, mas também trará vantagens para as empresas, que disporão da força de trabalho feminina sempre no melhor nível de produtividade (Projeto de lei 6784/16, 2016).

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De acordo com a lei de 2016, esta licença trará benefícios à empregada

e ao empregador pelo fato da mulher ter maior disposição fora do período

menstrual.

PROJETO DE LEI 6784/16 DE 2016 (Do Sr. Carlos Bezerra)

Acrescenta-se ao artigo à Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada

pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, para dispor sobre o

afastamento do trabalho durante o período menstrual da empregada

(PROJETO DE LEI, 2016).

O Congresso Nacional decreta: Art. 1º A Consolidação das Leis do

Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa a

vigorar acrescida do seguinte artigo:

“Art. 373-B. A empregada poderá se afastar do trabalho por até 3 (três)

dias ao mês, durante o período menstrual, podendo ser exigida a compensação

das horas não trabalhadas.”

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Há mulheres que entram em estado de grande sofrimento devido ao seu

período menstrual, gerando uma dificuldade da mesma em exercer dadas

funções, com esta lei a mulher sente-se amparada dentro do mercado de

trabalho, contudo sem prejudicar sua função, aja vista que esta poderá

compensar os 3 dias de afastamento (PROJETO DE LEI, 2016).

1.1.2 ONU Mulheres

A ONU Mulheres foi criada em 2010, com objetivo de fortalecer e ampliar

os esforços mundiais voltados à defesa dos direitos humanos das mulheres. Os

principais eixos de atuação são: liderança e participação política das mulheres;

empoderamento econômico; fim da violência contra mulheres e meninas; paz e

segurança e emergências humanitárias; governança e planejamento; normas

globais e regionais (ONU, 2017).

As sedes da ONU Mulheres estão centradas em: Nova Iorque, Estados

Unidos e possui escritórios regionais em países da África, Américas, Ásia e

Europa. Nas Américas e Caribe, o escritório regional está situado no Panamá.

No Brasil, o escritório atua em Brasília.

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No momento atual, a ONU Mulheres está trabalhando pela iniciativa “Por

um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”,

direcionado para os líderes mundiais, governos, empresas, universidades,

sociedade civil e mídia, para acelerar a concretização de ações que favoreçam

os direitos das meninas e mulheres.

1.1.3 Eles por Elas – “He for She”

Eles por Elas – He for She é um movimento de solidariedade da ONU

Mulheres criado com o intuito de alcançar a igualdade de gênero e o

empoderamento das Mulheres, um esforço a nível global para criar condições

para que homens e meninos estejam juntos com as mulheres e meninas

trabalhando na extinção das barreiras sociais e culturais impostas que

impedem as mulheres de alcançar o seu potencial máximo e causam à elas

violências físicas, psicológicas e emocionais.

O movimento entende que para a promoção da igualdade entre os

gêneros é necessário a inclusão dos homens e meninos, como agentes

transformadores, que irão juntamente com as mulheres descontruir a ideia de

submissão e inferioridade feminina.

O Eles por Elas (He for She) tem como objetivo:

Engajar homens e meninos para novas relações de gênero sem atitudes e comportamentos machistas. Para a ONU Mulheres, a voz dos homens é poderosa para difundir para o mundo inteiro que a igualdade para todas as mulheres e meninas é uma causa de toda a humanidade (ONU MULHERES, 2014).

O Eles por Elas pretende ampliar a reflexão e o diálogo acerca dos

direitos das mulheres e assim agilizar os avanços para atingir a equidade de

gênero, que só será alcançada por meio de uma reformulação sobre essas

questões, fazendo que esta deixe de ser apenas um problema das mulheres

para se tornar uma questão que exige a participação e atenção de homens e

mulheres, o que beneficiará toda a sociedade nos âmbitos social, político e

econômico.

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O movimento é organizado através das diretrizes seguintes: Atenção:

educação, sensibilização e conscientização; Argumentação: impacto através de

políticas e planejamento; Ação: captação de recursos e outras ações.

1.1.4 Lei Maria da Penha

“É mulher de malandro.” “Por que você provocou ele?” “É a primeira vez que ele te agrediu?” “Por que não denunciou antes?” “Está com ele porque quer!”

A violência doméstica e familiar contra o sexo feminino infelizmente se

faz presente no Brasil e no restante do mundo, ocasionando crimes hediondos.

Apesar disto, muitas vezes estas agressões não são vistas como alarmantes,

haja vista que a violência doméstica está engendrada em nossa sociedade

machista sendo estas em muitos casos vistas como culpa da mulher.

Estes abusos tornam-se de fato um problema social, de acordo com o

Dossiê Violência doméstica e familiar realizado pela Agência Patrícia Galvão

(2015):

É comum os homens serem valorizados pela força e agressividade, por exemplo, e muitos maridos, namorados, pais, irmãos, chefes e outros homens acham que têm o direito de impor suas opiniões e vontades às mulheres e, se contrariados, recorrem à agressão verbal e física. Com base em construções culturais desse tipo, que vigoram há séculos, muitos ainda acham que os homens são ‘naturalmente superiores’ às mulheres, ou que eles podem mandar na vida e nos desejos delas, e que a única maneira de resolver um conflito é apelar para a violência.

A Lei Maria da Penha foi criada no ano de 2016 e aprovada pelo então

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a intenção de coibir as violências

familiares e domésticas contra a mulher.

Categorizou-se como agressões: violência física, psicológica, sexual,

patrimonial e moral, foram formuladas medidas de prevenção, realizadas

campanhas e palestras educacionais com o intuito de mostrar a sociedade o

valor da mulher.

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Caso houver denúncia, fica garantida a proteção à vítima, onde será

decretada a importância de sua integridade física e mental. Ao confirmar a

queixa, a mulher deverá ser protegida pela polícia, sendo encaminhada ao

hospital, disponibiliza-se transporte a vítima e seus dependentes. A mesma é

encaminhada ao tratamento multidisciplinar, onde ela e seus dependentes

terão atendimento de psicólogos e do juizado.

De acordo com a lei Nº11.340, de 7 de agosto de 2006:

Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social (BRASIL, 2006).

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CAPÍTULO IV

METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA

1 METODOLOGIA O projeto foi submetido na Plataforma Brasil atendendo a resolução 466

do Ministério da saúde e aprovado pelo comitê de Ética e Pesquisa do Centro

Universitário Católico Salesiano Auxilium – Parecer nº 2.358.232 - data da

relatoria: 30 de outubro de 2017 (ANEXO A). Todos os participantes tiveram

ciência da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (ANEXO B) de forma voluntária.

O tipo de pesquisa utilizado no estudo foi a Pesquisa de Campo que

segundo Fonseca: “Caracteriza as investigações em que para além da

pesquisa bibliográfica e/ou documental, se coletam dados juntos com pessoas,

utilizando diversos tipos de pesquisa (2002, p.32). A pesquisa de campo quantitativo-descritiva, subdividida em estudos de

avaliação de programa, que se utiliza de um questionário como coleta de

dados, que de acordo com Marconi e Lakatos (2003):

Consistem nos estudos quantitativo-descritivos que dizem respeito à procura dos efeitos e resultados de todo um programa ou método especifico de atividades de serviços ou auxílio, que podem dizer respeito à grande variedade de objetivos, relativos à educação, saúde e outros. As hipóteses podem ou não estar explicitamente declaradas e com frequência derivam dos objetivos do programa ou método que está sendo avaliado e não da teoria. Empregam larga gama de procedimentos que podem aproximar-se do projeto experimental (p.187).

Para a coleta de dados utilizou-se uma entrevista semiestruturada

(APÊNDICE A), na qual há uma combinação de perguntas fechadas e abertas

em que o entrevistado pode falar sobre o tema proposto sem respostas e

exigências pré-estabelecidas (MINAYO, 2000).

Esse questionário é composto por 12 questões fechadas e 13 questões

abertas que procurou produzir e levantar informações sobre: identidade e

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formação de gênero; postura dos pais em relação à sexualidade e estereótipos

de gênero. Os participantes da entrevista foram 15 pais entre 29 a 51 anos de idade

e 15 mães entre 25 a 55 anos de idade de crianças e adolescentes que

possuem entre 0 a 18 anos de idade da região de Lins/SP.

Quadro 1: Demonstrativo dos participantes de pesquisa identificados pela sigla

Q – Questionário, respectivo parentesco com a criança e/ou adolescente e

idades, sexo do filho(s) e idade(s)

(continua) Participantes Parentesco Idade Filhos

Sexo Idade

Q1 Mãe 30 anos Fem 3 anos;3 anos

Q2 Mãe 41 anos Masc; Fem 8 anos; 20 anos

Q3 Mãe 46 anos Fem;Masc 13 anos;28 anos

Q4 Mãe 42 anos Fem; Masc; Fem; Masc 12 anos;6 anos;20

anos;22 anos

Q5 Mãe 25 anos Fem 7 anos

Q6 Mãe 31 anos Masc 4 meses

Q7 Mãe 31 anos Fem 12 anos

Q8 Mãe 30 anos Fem 2 anos

Q9 Mãe 25 anos Fem 2 anos

Q10 Mãe 45 anos Fem 4 anos

Q11 Mãe 55 anos Masc; Masc 18 anos; 30 anos

Q12 Mãe 46 anos Fem; Masc; Masc 10 anos; 14 anos; 25

anos;

Q13 Mãe 28 anos Masc 7 meses

Q14 Mãe 30 anos Masc; Masc; Masc 2 anos;4 anos;21 anos

Q15 Mãe 27 anos Masc; Fem 3 anos;4 anos

Q16 Pai 45 anos Masc 11 anos

Q17 Pai 46 anos Fem; Fem 7 anos;10 anos

Q18 Pai 48 anos Masc; Fem 3 anos;15 anos

Q19 Pai 33 anos Fem 2 anos

Q20 Pai 43 anos Fem 4 anos

Q21 Pai 33 anos Fem 1 anos

Q22 Pai 38 anos Masc; Masc 10 anos;14 anos

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(conclusão) Participantes Parentesco Idade Filhos

Sexo Idade

Q23 Pai 51 anos Fem; Fem 9 anos;15 anos

Q24 Pai 36 anos Fem 2 anos

Q25 Pai 34 anos Fem; Masc 1 ano;9 anos

Q26 Pai 40 anos Masc; Fem 11 anos;12 anos

Q27 Pai 29 anos Masc 4 anos

Q28 Pai 34 anos Masc 7 anos

Q29 Pai 33 anos Fem 2 anos

Q30 Pai 32 anos Fem 3 anos

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A aplicação da entrevista semiestruturada, deu-se em locais de

circulação pública, com grande concentração de pessoas, já que o intuito da

pesquisa é justamente acessar a compreensão do senso comum acerca da

temática em questão. As pesquisadoras a partir do parecer favorável pelo Comitê de Ética

demarcaram as datas e os locais os quais as entrevistas foram aplicadas,

foram tomados todos os cuidados necessários para a preservação da

identidade dos participantes. Todos os participantes foram esclarecidos acerca

do público-alvo da pesquisa, os objetivos, a atividade a ser realizada, duração,

ausência de ônus para a participação, possibilidade de desistência em

qualquer momento e a garantia do sigilo das informações fornecidas, em caso

de divulgação científica dos dados analisados, através da Carta de informação

ao participante de pesquisa (APÊNDICE B). Depois de todas as dúvidas

esclarecidas, os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido – TCLE, autorizando a própria participação.

1.1 Psicologia Sócio-Histórica

O estudo, bem como sua compreensão e interpretação das informações

investigadas, estão mediados pela abordagem Sócio-Histórica da psicologia,

que se debruça sobre a análise do discurso do sujeito, buscando compreender

os sentidos pessoais e significados construídos socialmente presentes na sua

percepção. Assim, pressupõe-se que o discurso objetivo do indivíduo abarca a

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sua dimensão subjetiva, aquilo que ele concebe, percebe, constitui no plano

psíquico acerca da realidade.

É possível dizer que o homem constrói seu mundo psicológico por meio de sua relação com o ambiente sociocultural. Enquanto atua sobre o mundo, modifica não apenas a realidade externa como também constrói sua própria realidade psíquica. Esse é um processo no qual o ser humano objetiva sua subjetividade, ao mesmo tempo em que torna subjetivo a realidade objetiva, por meio da capacidade de registro cognitivo e afetivo de suas experiências (BOCK e GONÇALVES, 2009, p.57).

A Psicologia Sócio-Histórica tem como referência básica de análise a

historicidade das experiências humanas. Essa que é entendida como toda

atividade realizada pelo ser humano a fim de acolher suas necessidades que

consequentemente produz sua própria existência. As atividades realizadas pelo

homem – experiências concretas demandam a produção de ideias e a

representação sobre elas, nas quais repercutem como ações e relações

(BOCK, GONÇALVES, FURTADO, 2009).

Essa abordagem parte das categorias trabalho e relações sociais para

localizar o homem na sua historicidade, que percebe o homem por meio da

transformação da natureza, em sociedade, para assim produzir sua existência.

O conjunto de ideias produzidas pelo homem inclui crenças, valores e conhecimentos de toda ordem. Esse referencial é o materialismo histórico e dialético e, de acordo com essa concepção, as ideias e conhecimentos produzidos pelo homem em determinado momento histórico, ou seja, o pressuposto é de que a origem das ideias produzidas socialmente está na base material da sociedade (BOCK, GONÇALVES, FURTADO, 2009, p. 39).

Tendo a psicologia Sócio-Histórica como referencial teórico-

metodológico, pretendeu-se através da aplicação do questionário de pesquisa

acessar a compreensão que os pais possuem acerca da educação transmitida

aos seus filhos, conhecendo seu discurso.

1.2 Procedimento de análise de dados

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A análise do discurso foi realizada por meio da categorização das

respostas. Assim, foram aglutinadas em categorias as respostas que se

aproximam, de modo a entender quais valores sociais e sentidos pessoais

permeiam o discurso presente na educação incutida em seus filhos.

A pesquisa de caráter qualitativo se fundamenta em bases

epistemológicas, na qual é necessária a formação de um cenário de pesquisa,

onde se caracterizará o desenvolvimento desta através do envolvimento com

os participantes. A principal função do cenário de pesquisa é dar sentindo

aquilo que está sendo produzido, no sentido subjetivo (REY, 2005).

A análise qualitativa, não se objetiva trabalhar com números estatísticos,

mas sim com a compreensão da subjetividade colhida através dos resultados

do questionário semiestruturado.

Na pesquisa qualitativa, a qual se apoia nos princípios da Epistemologia Qualitativa, mostra-se como um sistema aberto que, conjuntamente com as representações teóricas mais gerais assumidas pelo pesquisador desde um marco teórico estabelecido, integra localmente tanto as ideias desse pesquisador como o momento empírico particular caracterizador do momento atual da pesquisa (REY, 2005, p. 30).

Os dados coletados através da pesquisa foram analisados pela

abordagem qualitativa, sob o prisma da Psicologia Sócio-Histórica, assim

categorizados e subdivididos em temas para análise e compreensão.

Dessa forma, a psicologia Sócio-Histórica visa compreender os sentidos

e significados presentes no discurso dos sujeitos investigados. Analisando o

conteúdo das respostas dos sujeitos, buscar-se-á extrair os sentidos pessoais

que concebem acerca da temática da questão de gênero, e identificar também

os significados sociais manifestos nas respostas, que representem as

ideologias de gênero que são nosso campo de investigação.

Significado e sentido são momentos do processo de construção do real e do sujeito, na medida em que objetividade e subjetividade são também âmbitos de um mesmo processo, o de transformação do mundo e constituição dos humanos. Jamais poderão ser considerados e, assim, apreendidos dicotomicamente. Desse modo, será por meio da categoria mediação que construiremos as possibilidades de acessá-los, de apreendê-los na sua singularidade, totalidade e

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complexidade, em sua unidade dialeticamente contraditória (BOCK e GONÇALVES, 2009, p. 60).

Para melhor organização e rendimento do estudo, os dados coletados

foram categorizados e apresentados em tabelas.

As categorias representam formas de concretização e de organização do processo construtivo – interpretativo que permitem seu desenvolvimento por meio de núcleos de significação teórica portadores de uma certa estabilidade. Sem categorias pode-se desfigurar diante da falta de organização do processo construtivo (REY, 2005, p. 138 e 139).

Apresentar os dados coletados por meio de categorias permite uma

sistematização dos resultados não de forma rígida ou fragmentada, mas como

uma maneira de dar visibilidade a uma produção teórica, em um processo

aberto onde às informações e as categorias estão em constante movimentação

dentro do processo de construção da pesquisa (REY, 2005).

1.3 Adaptação, desenvolvimento e aplicação do instrumento de pesquisa

Como garantia de validade e funcionamento do questionário de

pesquisa, foi realizado o pré-teste, que foi aplicado previamente de modo a

testar o instrumento de pesquisa com uma pequena parte da amostra da

pesquisa. Geralmente, é necessário realizar a mensuração com 5 ou 10 % do

tamanho da amostra. (MARCONI e LAKATOS, 2003). Após a validação do

instrumento de pesquisa, deu-se início a coleta de dados com a aplicação das

entrevistas semiestruturadas.

Os participantes foram abordados pelas pesquisadoras em lugares de

circulação pública, verificada correspondência entre o perfil do respondente e

os critérios de inclusão e exclusão, sendo pais e mães que tenham filhos entre

0 e 18 anos de idade. O participante foi convidado a responder, mediante

consentimento por assinatura do TCLE - Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

1.4 Análise de dados

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Tabela 1 - Demonstrativo de participantes da pesquisa por parentesco, idade e estado civil.

Mãe 50% Pai 50% 25 a 35 anos 53% 36 a 45 anos 27% 46 a 55 anos 20% Casado 80% Solteiro 13% Divorciado 7%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A pesquisa realizada teve como participantes 15 mães e 15 pais com

idades entre 25 e 55 anos, com predominância de estado civil casados.

Tabela 2: Demonstrativo por quantidade, idade e sexo dos filhos (as) dos participantes da pesquisa.

1 filho(a) 57% 2 filhos(as) 37% 3 filhos(as) 3% 4 filhos(as) ou mais 3% 0 a 5 anos 43% 6 a 10 anos 21% 11 a 15 anos 21% 16 a 18 anos 2% Acima de 18 anos 13% Feminino 60% Masculino 40%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A maioria dos entrevistados tinha apenas 1 filho com idade entre 0 a 5

anos, sendo que 60% destes do sexo feminino.

Tabela 3: Demonstrativo de ocupação e estudo por participantes da pesquisa (continua)

Questionário Trabalho Estuda Q1 Psicóloga clínica Pós-graduação em Psicologia Q2 Não trabalha Não estuda Q3 Secretária escolar Não estuda Q4 Agente de organização escolar Graduação em Psicologia Q5 Empresária Não estuda Q6 Cabelereira Não estuda Q7 Vendedora Não estuda Q8 Empresária Não estuda Q9 Vendedora Não estuda Q10 Coordenadora escolar Não estuda

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(conclusão) Q11 Bancária Não estuda Q12 Não trabalha Não estuda Q13 Pedagoga Não estuda Q14 Dentista Não estuda Q15 Vendedora autônoma Não estuda Q16 Comprador Não estuda Q17 Advogado Não estuda Q18 Autônomo Não estuda Q19 Farmacêutico Não estuda Q20 Comerciante Não estuda Q21 Representante comercial Não estuda Q22 Operador de máquinas Não estuda Q23 Corretor de imóveis Não estuda Q24 Representante comercial Não estuda Q25 Advogado Não estuda Q26 Advogado Não estuda Q27 Não trabalha Curso técnico de eletricista Q28 Não trabalha Graduação em Engenharia Q29 Mecânico Não estuda Q30 Gestor Graduação em Marketing

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Tabela 4: Demonstrativo relativo à ocupação/trabalho dos participantes da pesquisa.

Você trabalha? Trabalha 87% Não trabalha 13%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Tabela 5: Demonstrativo relativo ao estudo dos participantes da pesquisa. Você estuda?

Não estuda 83% Estuda 17%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Relevante destacar a existência de 20 profissões diferentes entre os

entrevistados, que a grande maioria – 87% dos participantes trabalham e que

apenas 17% destes estudam (5 participantes: 2 mulheres e 3 homens).

Tabela 6: Demonstrativo relativo à moradia dos filhos. Todos os seus filhos moram com você?

Sim 100% Não 0%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

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Consta como um dos critérios de inclusão para participação da pesquisa

que os entrevistados morassem com seus filhos, ou com pelo menos um filho,

por isso a resposta sim é absolutamente predominante.

Tabela 7: Demonstrativo relativo a quais pessoas passam mais tempo com os

filhos (as) dos participantes da pesquisa.

Quem passa a maior parte do tempo com seus filhos? Mãe 54% Pai 19% Avó/Avô materno 14% Avó/Avô paterno 7% Irmão mais velho 2% Irmã mais velha 2% Cuidador 2%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Interessante observar que em 54% dos entrevistados é com a mãe que

a criança passa sua maior parte do tempo em contraposição do pai que

aparece em 19% das respostas. Esse resultado revela a predominância dos

cuidados maternos para com os filhos.

Tabela 8: Demonstrativo relativo a quais pessoas o participante da pesquisa considera ser os responsáveis pela educação de seus filhos (as).

Quem são os responsáveis pela criação/educação dos seus filhos? Mãe 42% Pai 35% Avó/avô materno 13% Avó/avô paterno 4% Irmão mais velho 3% Outros 3%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Na maioria das respostas pode-se verificar que tanto os pais quanto as

mães entrevistadas consideram que os responsáveis pela educação dos filhos

são eles – pai e mãe. Tabela 9: Demonstrativo referente à existência de facilidades para se educar uma criança/adolescente em relação ao gênero (feminino-masculino).

Você considera que existem facilidades para educar meninos/ meninas? Não 73% Sim 27%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

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Tabela 10: Demonstrativo referente à existência de dificuldades para se educar uma criança/adolescente em relação ao gênero (feminino-masculino).

Você considera que existem dificuldades para educar meninos/meninas? Sim 73% Não 27%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Através das tabelas 9 e 10 – representam as questões 19 e 20 do roteiro

de questionário para participantes (APÊNDICE A) foi possível verificar que na

mesma proporção entre facilidades e dificuldades, os pais e mães acreditam

que não existe facilidades referentes à educação de meninos/meninas.

Tabela 11: Demonstrativo acerca das influências na educação de crianças/adolescentes.

O que/quem você acredita que mais influencie na educação dos seus filhos?

Os pais 32% A sociedade 17% As amizades 15% A escola 13% A mídia (tv/internet) 13% A mãe 5% Outros 4% O pai 1%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Os pais e mães consideram ser a maior influência na educação de seus

filhos, seguidos pela sociedade, amizades, escola e mídia.

Tabela 12: Demonstrativo sobre a crença de diferenças entre brinquedos entre os gêneros.

Você acredita que existe diferença entre brinquedos para meninas e para meninos?

Sim 73% Não 27%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A partir do resultado de pesquisa foi possível constatar que em maioria –

73% dos participantes acreditam que existem diferenças relacionadas a

brinquedos para meninos e meninas.

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Tabela 13: Demonstrativo referente aos brinquedos e brincadeiras vivenciados pelos filhos dos participantes da pesquisa.

Com quais brinquedos/brincadeiras seus filhos brincam? Com eletrônicos 15% Boneca 13% Bola 13% Livros 13% Panelinhas 12% Casinha 11% Carrinho 10% Pipa 8% Na rua 4% Outros 1%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Tabela 14: Demonstrativo sobre a crença de diferenças entre as tarefas e deveres de uma criança/adolescente de acordo com seu sexo.

Existe diferença nas obrigações entre as tarefas e deveres de um menino e de uma menina?

Não 57% Sim 43%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Tabela 15: Demonstrativo referente à opinião dos participantes da pesquisa sobre a existência de profissões mais apropriadas de acordo com o sexo (feminino-masculino).

Você considera que tenha profissões que sejam mais apropriadas para homens e outras mais apropriadas para as mulheres?

Sim 50% Não 50%

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Quadro 2: Agrupamento das respostas do que os participantes de pesquisa consideram ser importante para a educação de seus filhos.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Valores morais

Q 1 Valores morais. Q 2 Princípios e valores.

Q 3

Valores herdados; Classificou os valores: honestidade, educação, humanidade.

Q 4 Normas e limites. Q 5 Honestidade e caráter. Q 7 Valores / responsabilidade. Q 9 Humildade e responsabilidade. Q 10 Limites. Q 11 Respeito e limites. Q 12 Ser responsável, não falar palavrão.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos Q 13 Responsabilidade.

Q 14 Respeito com o próximo.

Q 15 Respeito, mostrar o que é certo e errado.

Q 16 Mostrar o que é certo e errado. Q 17 Respeito com as pessoas e natureza. Q 18 Responsabilidade. Q 20 Valores morais. Q 21 Limites. Q 23 Base da família. Q 24 Limite. Q 26 Exemplos morais. Q 27 Respeito de pai para filho. Q 28 Limite. Q 30 Exemplos dos pais.

Princípios educacionais

Q 1 Princípios educacionais. Q 2 Estrutura intelectual. Q4 Acompanhamento do processo escolar. Q5 O estudo. Q7 Os estudos. Q 9 Ser educado. Q 12 Estudar. Q 22 Eficiência dos professores.

Q16 Professores capacitados, que tenham compromisso em ensinar.

Princípios religiosos

Q1 Princípios religiosos. Q 15 Ensinar sobre de Deus. Q 19 Deus. Q 20 Sustento espiritual. Q 26 Exemplo cristão. Q 30 Igreja.

Aspecto intelectual Q 2 Estrutura intelectual. Aspecto financeiro Q 2 Estrutura financeira.

Valores afetivos

Q 4 Carinho, amor, atenção. Q 8 Carinho. Q10 Amor, carinho. Q 17 Amor ao próximo, ser humilde. Q 19 Amor, carinho. Q 23 Carinho, afeto. Q 28 Amor.

Diálogo

Q 4 Diálogo Q 8 Muita conversa Q 18 A conversa é boa aliada. Q 29 Muito dialogo.

Disciplina

Q 8 Rigidez. Q 13 Disciplina, compromisso. Q 19 Disciplina. Q 28 Disciplina.

Trabalho Q 9 Trabalhador. Diversos fatores Q 25 A criação envolve diversos fatores.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

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Ao serem questionados sobre as questões consideradas importantes na

educação de seus filhos, 80% dos participantes incluíram em suas respostas o

item valores morais, que pode ser entendido como o conceito do que é certo ou

errado, discernimento das ações e comportamentos que são aprendidos

através da socialização primária e secundária fundamentada na cultura pelo

qual o indivíduo está inserido (BOCK, 1995; VIGOTSKY, 2000).

Quadro 3: Categorias das respostas sobre se os participantes de pesquisa enxergam

diferença entre filhos homens e mulheres.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Existe diferença

Q1 Há diferenças nas cores estipuladas, brinquedos, profissão, comportamentos.

Q3 Muita. Vivemos em uma sociedade machista. Os direitos e deveres são diferentes.

Q5 Com meninas precisa de mais cuidado e proteção.

Q6 A menina é mais aprisionada, têm horários e o menino é mais solto.

Q7 O filho homem tem mais liberdade.

Q8 A menina se controla mais, e o menino é mais arteiro.

Q12 A menina é mais delicada.

Q13 Com o menino existe mais liberdade.

Q20 Homem é homem, mulher é mulher.

Q21 As mães são mais amorosas e mostra

mais sentimentos. Pais são práticos.

Q23 Meninos são brutos e meninas delicadas.

Q25 Existe particularidades de cada sexo.

Q26 Existe.

Q28 Tem que ser diferente. Mais limite para

mulher.

Q29 Com homem tem que ser mais firme para

futuramente não agredir as pessoas.

Q30 Mulher é mais delicada e carinhosa.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Não existe diferença

Q2 A educação, bons modos, e aplicação de

caráter é a mesma.

Q4 A educação deve ser a mesma

independente do gênero.

Q9 É tudo igual.

Q10 A criação é uma só.

Q11 Todos tem que ser educados igual.

Q14 Respeito e caráter independe de ser

homem e mulher.

Q15 A educação em geral não tem diferença.

Q16 A criação deve ser igual para ambos,

tendo os mesmos direitos e obrigações.

Q17

Os itens que considero importantes na

educação podem ser desenvolvidos em

qualquer um dos filhos.

Q18

Na criação não há diferença, mais eles

são diferentes, homens são mais

“espoletas” e meninas mais doces.

Q19 Os valores morais independem do sexo.

Q22 Diferença de sexo não faz parte da

criação

Q24 Os dois devem ser criados com os

mesmos limites.

Q26 Não existe.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Quando questionados sobre a existência de diferenças na criação de

filhos homens e mulheres, 16 participantes afirmaram haver diferenças

justificadas por considerarem desproporcional as características femininas das

características masculinas, tais como foram citadas no questionário. Às

meninas são empregadas as particularidades como: precisar de mais cuidado e

proteção, ser aprisionadas, ter horários, a existência de mais limites, ser mais

controlada, mais delicada e carinhosa.

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Aos meninos são considerados os atributos, tais como: ser mais solto,

arteiro, bruto, ter mais liberdade e a necessidade de ser mais firme na

educação de meninos para futuramente não agredir as pessoas.

Esses resultados reforçam a ideia de Whitaker (1988) que retrata que é

na família que são construídos os primeiros arquétipos da dicotomia homem –

mulher, onde aprende-se a dar continuidade nos hábitos e costumes familiares.

Considerando ainda que o período da infância é definido por ser repressor,

tanto para os meninos quanto para as meninas, porque é quando são impostos

os modelos de como ser e agir cada gênero, determinando as meninas a

superficialidade e características vinculas a submissão e a repressão.

O pai (Q29) disse: “Com o homem tem que ser mais firme para

futuramente não agredir as pessoas”, o que revela o pensamento da

vulnerabilidade em que os meninos se encontram referente à manifestação de

comportamentos violentos que pode ser compreendido pelas atuais estatísticas

de violência contra a mulher, onde o maior agressor são os homens (OXFAM,

2017).

É notável a questão de gênero nas concepções sobre o que é levado em

consideração para a diferenciação da educação de seus filhos (menino-

menina), pais e mães reproduzem a vinculação da menina à sensibilidade e

repressão e o menino quanto à violência e independência (WHITAKER, 1988).

Em contrapartida, 14 participantes relataram que não há diferença, haja

vista que a educação/criação dos filhos deve ser a mesma independente do

sexo da criança e/ou adolescente.

O Q18 obteve uma resposta reflexiva: “Na educação não existe

diferença, mas eles são diferentes (meninos e meninas), homens são mais

“espoletas” e meninas mais “doces“. O que revela a contradição da resposta

quanto a sua justificativa.

Quadro 4: Características atribuídas pelos participantes de pesquisa sobre o

que consideram como próprias de ser homem. (continua) Agrupamento temático Participantes Relatos Racionalidade e lógica Q 1 Lógica e racionalidade.

Força

Q 1 Força. Q 10 Forte. Q 27 Mais fortes.

Poder Q 3 Poder.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Coragem Q 1 Coragem. Q 10 Corajoso. Q 20 Coragem.

Valores morais Q 2 Caráter.

Q 15 Responsável, respeitar o próximo.

Comportamento

Q12 Folgado Q 13 Rude.

Q 23 Suas atitudes são mais bruscas.

Machismo

Q 4 Mulher precisa atender suas necessidades.

Q 5 Homem é sempre machista.

Q 8 A sociedade ensina o homem que ele deve apenas ajudar a mulher.

Q 9 São machistas. Q 11 Machista. Q 14 Machismo.

Não há.

Q 6 Não há. Q 17 Não há.

Q 24 Varia de homem para homem.

Imaturidade Q 7 São imaturos

Liberdade Q 10 Liberal. Q 20 Independência. Q 26 Maior independência.

Desatenção Q 8 Desatento. Q 12 Desatento e lento.

Bondade Q 14 Características próprias de homem ou mulher é a bondade.

Provedor

Q 15 Tem que ser o provedor. Q 21 Provedor da casa. Q 22 Ser pai e avô. Q 30 Chefe da família

Racionalidade Q 16 Mais rústico, menos delicado e emocional.

Q 18 Bruto.

Aspectos físicos

Q 19

Nos dias atuais não consigo imaginar características próprias dos homens além de físicas.

Q 22 No próprio aspecto físico.

Q 25 Basta simplesmente analisar os aspectos fisiológicos de cada um.

Protetor Q 28 Mais protetor. Q 29 Cuidar da família.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

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Indagados sobre as características próprias de ser homem percebeu-se

grande variedade nas respostas, sendo as mais citadas: não há diferença,

machismo, comentários sobre a submissão da mulher, força e provedor da

casa.

A mãe Q4 relata: “Mulher precisa atender suas necessidades (dos

homens)”, resposta que demonstra a submissão e inferiorização da mulher em

relação ao homem, ou seja, a mulher é criada e educada de modo à atender as

necessidades e expectativas dos homens, em vários aspectos como: alimentar,

social, sexual e emocional.

Segundo Castañeda:

A castidade é valorizada na mulher, mas não no homem; considera-se que a mulher deve ser passiva na relação sexual: o sexo é associado mais ao poder que ao amor; as tarefas domésticas, como a compra e a preparação de alimentos, são consideradas femininas; o pai é modelo para o filho, e a mãe para a filha... (2006, p.31–32).

Na resposta da mãe Q8 ela contribui: “A sociedade ensina o homem que

ele deve apenas ajudar a mulher”, o que reafirma que os cuidados domésticos

são construídos e reafirmados como de exclusiva obrigação da mulher e que

os cuidados paternos, acontecem apenas como um auxílio.

Segundo o IPEA (2011). a menina é incitada as tarefas domésticas

desde os 5 anos de idade, enquanto o menino é isento desse estímulo e

obrigação, por conseguinte, a média de horas dedicadas aos serviços do lar

por mulheres acima de 16 anos é de 25 horas semanais e por homens com a

mesma faixa etária é de 10 horas.

E como pode ser visto na tabela 7, que demonstra que em 54% das

respostas dos entrevistados é com a mãe que a criança e/ou adolescente

passa a maior parte do tempo, em oposição aos 19% das respostas em que

aparece o pai.

O pai Q16 caracteriza o homem como: “Mais rústico, menos delicado e

emocional” o que demonstra a limitação que o homem é submetido durante

toda sua vida, sendo que, é podado de poder vivenciar seus sentimentos e

emoções. Whitaker (1988) ratifica:

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Quanto aos meninos, também sofrem a carga de características a eles atribuídas e que nem sempre possuem. Considerados agressivos e ativos por natureza, devem apresentar comportamento dominante para fazer jus à virilidade. Alguns ainda acreditam piamente que os homens são mais racionais do que as mulheres, o que os obriga a procurar profissões ligadas à matemática, como se houvesse mais racionalidade numa disciplina do que em outra, esquecidos todos de que a racionalidade está nos cérebros humanos e não nas disciplinas (p. 42).

Frequentemente observamos homens sendo valorizados pela sua força

e vistos como superiores às mulheres, de uma maneira extremamente natural,

engendrada em nossa cultura há séculos, por estes motivos os homens

acreditam ter direitos sob às mulheres e se refutados usam de suas forças

físicas (Instituto PATRÍCIA GALVÃO, 2015).

Quadro 5: Características atribuídas pelos participantes de pesquisa sobre o

que consideram como próprias de ser mulher.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Delicadeza

Q 1 Delicadeza. Q 5 Sempre delicadas. Q 9 Meiga. Q 10 Delicada. Q 11 As mulheres são delicadas. Q 16 Delicada. Q 18 Doce, delicada e meiga. Q 22 Delicada e meiga. Q 27 Delicada.

Instinto maternal Q 1 Cuidado maternal. Q 5 Instinto maternal.

Sensibilidade

Q 3 Sensível e desprotegida. Q7 Sentimentais. Q 10 Sútil, sensível, emotiva. Q 12 Chorona, manhosa. Q 13 Sensível. Q 28 Maior sensibilidade.

Intuição Q 1 Intuição. Valores morais Q 2 Caráter

Cuidados com o lar

Q 4 Função de cuidadora. Q 6 Se priva das atividades

para cuidar dos filhos. Q 8 Cuida da criança e da casa. Q 29 Cuida das tarefas

domésticas. Maturidade Q 7 Maduras.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Multifuncionalidade Q 8 Trabalha, cuida de casa. Q 15 Faz mil e uma atividades.

Inteligência Q 9 Inteligente, esforçada. Q 27 Inteligentes.

Trabalho Q 9 Trabalha muito. Feminista Q 14 Feminista.

Amorosidade Q 16 Mais amorosa.

Aspectos fisiológicos

Q 19 Apenas as fisiológicas. Q 22 Menstruação. Q 25 Aspectos fisiológicos. Q 15 Gerar um filho. Q 30 Gerar um filho.

Autoconhecimento Q 20 Autoconhecimento em sua sexualidade.

Não consegue responder

Q 17 Não consegue responder Q 21 Não consegue responder

Q 23 Varia de mulher para mulher.

Dependência Q 26 Muita dependência. Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Sobre as características femininas destacou-se: cuidadora do lar,

delicadeza, sensibilidade e aspectos fisiológicos como: menstruar e gerar

filhos.

Tendo em vista os quadros 4 e 5 as características apontadas

relacionam-se aos estereótipos sexuais criados pela sociedade sexista desde

os primórdios.

Cria-se homens fortes e objetivos e mulheres emotivas. Deste modo,

estão inseridos em uma sociedade construída a base de diferenças de

gêneros, delega-se determinadas distribuições de tarefas e habilidades

cognitivas de maneira preconceituosa. (BARROSO, 1975).

Como observado nas respostas sobre as características masculinas, ser

provedor e chefe da família, e nas femininas dedicar seu tempo para o lar e

para cuidados com a família.

Algumas respostas dos participantes evidenciam a diferenciação entre

as características consideradas próprias de cada gênero, como expressou a

mãe Q6 alegando que a mulher: “Se priva das atividades para cuidar dos

filhos”, o que demonstra que as mulheres se abstém de atividades fora do

ambiente doméstico para dar prioridade aos cuidados com os filhos.

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A mãe Q11 considera como características próprias da mulher ser:

“Chorona, manhosa” e o pai Q18 responde a questão descrevendo a mulher

como: “Doce, delicada e meiga”. Pertinente comparar ambas as respostas,

que mesmo vindas de uma mãe e de um pai atribuem em essência as mesmas

características para a mulher, que designam peculiaridades que remetem a

limitação da coragem e a intensificação da sensibilidade, como se fosse algo

inato a mulher. Whitaker (1988) colabora:

Quando se trata das diferenças entre homens e mulheres, o processo ideológico gerado pela educação informal é tão forte que até fica difícil argumentar. A mulher é considerada passiva (não-agressiva), intuitiva (?), dócil e portanto submissa (p. 42).

Quadro 6: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como vantagens de ser homem.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Área profissional

Q 1 Vantagens na colocação profissional.

Q 3 Maior valorização profissional.

Q 4

Maior facilidade para ingressar na área profissional. Melhores salários. Cargos elevados.

Q 5

O homem pode trabalhar com qualquer coisa, até trabalho pesado.

Q 15 Mais oportunidade de trabalho.

Q 19 Maior cargo no trabalho. Q 20 Maior preferência nos

serviços. Q 21 Preferências por homens

no trabalho. Q 29 Mais emprego.

Área financeira

Q 1 Retorno financeiro. Q 15 Maior remuneração. Q 19 Maiores salários.

Sociedade

Q 1 Aceitação de vícios Q 16

Devido a sociedade machista os erros dos homens são mais tolerados.

Q 20 É mais respeitado Q 26 Respeito.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Q 29 Menos cobrança no trânsito.

Liberdade

Q 3 Maior liberdade.

Q 7 O homem tem mais liberdade.

Q 8 Andar sem camisa, ficar com várias mulheres.

Q 9

Lugares que podem ser frequentados só por homens.

Q 10 Gostam de beber, de festas e são liberais.

Q 13 Homem pode fazer o que quiser.

Q 30

Andar sem camisa, menos dificuldade em usar o banheiro público, ir em eventos sociais com maior facilidade.

Responsabilidade Q 3 Tem menos responsabilidade.

Tarefas domésticas Q 11 Menos preocupação com

os deveres de casa.

Q 12 Quando chega do serviço não faz nada.

Uso do banheiro Q 2 Ir ao banheiro mais rápido.

Facilidades

Q 4

A sociedade facilita para o homem todas as etapas necessárias para o sucesso pessoal e profissional.

Q 13 Mais facilidades em ter emprego.

Q 15 Não tem TPM, licença maternidade, não precisam buscar filhos na escola.

Família Q 28 A força que transmite para sua esposa.

Não existe

Q 6 Em nossa sociedade não tem mais vantagens para homens.

Q 14 Na sociedade moderna, homem e mulher tem que correr atrás do que é seu.

Q 17 Não há. Q 18 Não há. Q 22 Não há. Q 23 Não há. Q 24 Não há. Q 25 Não há. Q 27 Não há.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

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Nesta questão onde pergunta-se sobre as vantagens em ser homem,

oito participantes (Q6, Q14, Q17, Q18, Q22, Q23, Q25, Q27) responderam que

não existem vantagens. Foi observado pelas entrevistadoras que não apenas

estes participantes mas também como a grande maioria não tinha uma opinião

formada sobre essas diferenças entre os gêneros, o que gerou respostas

únicas e vagas.

Dentre as respostas coletadas, podem ser agrupadas em: ausência de

vantagens, área profissional e financeira, maior permissividade social, maior

liberdade, menor responsabilidade, menor preocupação com as tarefas

domésticas.

Nove participantes (Q1, Q3, Q4, Q5, Q15, Q19, Q20, Q21, Q29)

responderam que a área profissional é uma das vantagens do homem, como a

maior valorização no mercado de trabalho, melhores cargos e maiores

oportunidades.

De acordo com a Oxfam (2017), mulheres têm escolaridade superior à

dos homens, todavia recebem salários menores, nas mesmas faixas

educacionais.

Mulheres que finalizaram o ensino médio ganham em torno de R$

1.338,00, sendo este valor apenas 66% do que recebem os homens com igual

escolaridade.

Médicas ganham, em média, 64% dos honorários de homens médicos, e

mulheres economistas recebem 61% do que ganham, em média, os

economistas homens. As formações de baixa remuneração com grande

atuação feminina, como letras, mulheres ganham por volta de 80% do que

ganham os homens (Oxfam Brasil).

O pai Q16 respondeu: “Devido a sociedade machista os erros dos

homens são mais tolerados”. Conforme Castañeda, (2006, p.44) “elas estão

geneticamente programadas para casar e eles para fugir do relacionamento.

Daí a infidelidade de uns e fidelidade de outros”.

Estas seriam explicações biológicas sobre a promiscuidade dos homens

e a timidez e cautela das mulheres, porém pesquisas realizadas com primatas

refutam essas informações, onde as chimpanzés fêmeas mostram desejo

sexual igual ou superior aos machos. Uma pesquisa genética feita na África

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ocidental apontou que metade dos filhotes de determinado grupo de

chimpanzés eram de machos forasteiros (CASTAÑEDA, 2006).

Tendo como ponto de partida a visão da evolução humana, houve uma

delimitação e atribuições de tarefas: mulheres donas de casa e homens

caçadores.

Quadro 7: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como vantagens de ser mulher.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Equidade de gênero Q 1

Possibilidade de desmitificar a discrepância ainda existente entre gêneros através da atuação capacitada da mulher.

Área profissional Q 10 Trabalhos mais leves.

Não existe

Q 2 Não há. Q 4 Não há. Q 6 Não há. Q 8 Não há. Q 15 Não há. Q 17 Não há. Q 22 Não há. Q 23 Não há. Q 25 Não há. Q 26 Não há. Q 27 Não há. Q 30 Não há.

Maternidade Q 14 Passar grande parte do

tempo com seus filhos.

Q 24 Ter mais tempo com o filho após o nascimento.

Vaidade

Q 3 Gosto de me produzir. Q 10 Se maquiar.

Responsabilidade Q 7 Ser responsável. Q 12 Se preocupa com tudo.

Independência Q 9

No mundo de hoje conquistou-se espaço para mulheres.

Sociedade

Q 16 Prioridades.

Q 20 Não precisa servir ao exército.

Q 28 Todos os direitos que queira.

Q 29 As pessoas são mais gentis com as mulheres.

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66

(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Políticas públicas

Q 11 Mulheres são protegidas pela lei.

Q 13 São protegidas pelas políticas públicas.

Q 19 Maior licença maternidade

Q 21 Ter lei que permite ficar mais com os filhos.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Neste quadro destaca-se 10 participantes (Q2, Q4, Q6, Q8, Q15, Q22,

Q23, Q25, Q27, Q30) que alegaram a ausência de vantagens em ser mulher.

As mães Q3, Q5 e Q12 citaram sobre a vantagem de ter filhos, e as

mães Q11 e Q13 sobre serem protegidas pela lei.

Reis (2008) colabora:

As vantagens em ser mulher relacionam-se mais a maternidade e à educação dos filhos. Tanto os aspectos biológicos de gerar alguém e também a vida social da maternidade foram enfatizados como sendo vantagens relacionadas ao feminino. Associado a isso, a legislação favorece as mulheres para cuidar do filho ao nascer e em algumas situações também a protege (p.76).

Evidencia-se novamente as questões ligadas aos estereótipos sexuais

onde considera-se que mulheres necessitam de maior proteção e que elas tem

vantagens em relação aos homens pela existência de leis que estabelecem os

direitos e asseguram a segurança física e emocional da mulher, entretanto não

ponderam sobre a necessidade dessas políticas públicas, como visto nas

estatísticas sobre as violências pelas quais as mulheres são acometidas

(OXFAM, 2017).

Quadro 8: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como desvantagens de ser homem.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Sentimentos Q 1 Não ser estimulado a lidar com sentimentos.

Provedor

Q 1 Buscar o sustento familiar. Q 10 Pagar contas.

Q 16 Muito mais cobrado para ser provedor.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Q 20 O homem é a base de tudo.

Q 26 Função de líder em casa e no trabalho.

Q 2 Depende das escolhas e decisões.

Não existe

Q 3 Não existe.

Q 4 Nenhuma, quero nascer homem na próxima encarnação.

Q 6 Não existe. Q 8 Não existe. Q 9 Não existe. Q 11 Não existe. Q 14 É muito relativo. Q 17 Não existe. Q 18 Não existe. Q 22 Não existe. Q 23 Não existe. Q 25 Não existe. Q 29 Não existe.

Sociedade

Q 5 Sempre desconfiam do homem.

Q 21 Em tudo, a nossa sociedade não olha homem e mulher do mesmo jeito.

Reponsabilidade Q 7 Menos responsabilidades.

Área profissional

Q 12 Todo trabalho braçal fica para o homem.

Q 10 Não pode gerar uma vida.

Filhos

Q 19 Licença paternidade pequena.

Q 24 Licença paternidade pequena.

Não soube responder Q27 Não soube responder.

Políticas públicas Q 30

As leis contra o sexo masculino, onde uma mulher pode te provocar uma agressão e você não pode revidar.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Quando questionados sobre as desvantagens masculinas, destaca-se

os 13 participantes (Q3, Q4, Q6, Q8, Q9, Q11, Q14, Q17, Q18, Q22, Q23, Q25

e Q29) que afirmaram a ausência de desvantagens em ser homem. Como

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pode ser exemplificado na resposta da mãe (Q4): “quero nascer homem na

próxima encarnação.”

Através da resposta da mãe Q1 que considera como desvantagem em

ser homem: “Não ser estimulado a lidar com sentimentos” é possível refletir

acerca dos impactos desse condicionamento no qual somos inseridos, cria-se

meninos tamponando seus sentimentos, reprimindo choros, evitando o colorido

e proibindo o afeto, assim quando adultos vão reproduzir esses

comportamentos e sofrer as consequências de forma velada, como revela

Whitaker (1988):

Impedido de curtir os filhos pequenos, condenado ao trabalho alienante mais impositivamente do que a mulher, escravizado pelo sistema produtivo, o homem passa a maior parte da vida privado do colorido, da sensibilidade poética e de certas tensões primárias que aliviam angústias (p. 80).

Estes pais consideram, Q20: “O homem é a base de tudo”, Q26:

“Função de líder em casa e no trabalho”.

Castañeda (2006) colabora:

Numa sociedade machista, estabelece-se uma hierarquia entre os papéis que o homem e a mulher têm dentro de casa. O homem da casa e o chefe da família, pai, marido ou irmão, e desempenha teoricamente várias funções “masculinas” dentro da família. Tradicionalmente, elas foram três: sustentar a família, protegê-la e agir com autoridade máxima (p.183–184).

Logo, percebe-se a divisão de papéis entre os sexos feminino e

masculino, e que esta ocorre de forma impositiva e ao mesmo tempo sutil, ou

seja, somos inseridos nesses padrões e reproduzimos esses comportamentos

muitas vezes, automaticamente, sem passar por um crivo.

Quadro 9: Categorias das respostas sobre o que os participantes de pesquisa

consideram como desvantagens de ser mulher.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Responsabilidades

Q 1 Acúmulo de tarefas e responsabilidades.

Q 3 Inúmeras responsabilidades.

Q 13 Tarefas domésticas.

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(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Influências Q 2

Cada uma escolhe o que é melhor para si, o meio em que se vive não se pode influenciar em suas escolhas.

Área profissional

Q 3 Não ser reconhecida. Q 4 Baixo salário. Q 8 Ganham menos. Q 10 Menores salários.

Q 11 Dificuldade em arrumar emprego.

Q 12 Não é aceita em alguns empregos por ter filhos.

Q 15 Emprego menos remunerado.

Q 19 Menores salários. Menos oportunidade de emprego.

Relacionamentos afetivos Q 3 A mulher não pode ter

vários homens.

Violência

Q 4 Violência de diversas formas contra a mulher.

Q 5 Assédio. Q 6 Preconceitos e abusos.

Q 8 Desrespeitada no trânsito, sofrem assédios.

Q 10 Assédios.

Q 16 Sofre preconceitos, machismo e até violência física.

Q 20 Sofrem mais com agressões verbais, físicas e culturais.

Q 26 Preconceito. Q 29 Violência no trânsito.

Frágil

Q 7 Muito sensível. Q 14 Sensível. Q 28 Ser mais frágil.

Sociedade

Q 9 Há lugares que não podem ir porque ficam mal faladas.

Q 12 Não pode frequentar alguns lugares, porque ficam mal faladas.

Q 21 Nossa sociedade olha diferente para o homem e para a mulher.

Q 24 A mulher é vista como objeto.

Q 30 A sociedade as julgam incapazes.

Não existe

Q 17 Não há. Q 18 Não há. Q 22 Não há.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Q 23 Não há. Q 25 Não há.

Não soube responder Q 27 Não sei responder. Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A respeito das desvantagens das mulheres, a maior parte das respostas

referem-se a área profissional, violência e o julgamento da sociedade.

O pai (Q19) destacou: “Menores salários. Menos oportunidade de

emprego.”

A mãe (Q8) aponta: “Desrespeitada no trânsito, sofrem assédios.”

E sobre a sociedade, as mães Q9, Q12 destacaram sobre lugares que

mulheres não podem frequentar por ficarem mal faladas.

O gênero feminino sempre é lembrado por situações de preconceito no

trânsito e de julgamento por frequentarem determinados lugares ditos

“masculinos” e violência doméstica. (REIS, 2008)

Uma análise comparativa entre os quadros 8 e 9, mostra notórias

desvantagens apresentadas relativas às mulheres com relação à sociedade,

violência e principalmente o aspecto profissional, se comparadas as

desvantagens de ser homem, que predominou: “nenhuma desvantagem”.

Desde muito cedo se observa diferenças entre as expectativas

masculinas e femininas. Mulheres são criadas para realizar inúmeras funções,

os jogos infantis femininos promovem a cooperação e conciliação. A

valorização da mulher para a área profissional não é estimulada, pelo contrário,

uma “moça” bem sucedida é aquela que se dedica às tarefas de casa e ao

futuro marido.

Todavia, meninos são estimulados a buscar conquistas e êxitos

profissionais, os jogos “masculinos” estimulam o raciocínio lógico, a competição

e ambição (CASTAÑEDA, 2006).

Quadro 10: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de

pesquisa consideram que existem facilidades para criar meninos /meninas.

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(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Existem facilidades

Q 3

É mais fácil educar um menino, porque pode ser educado com mais liberdade.

Q 5 Os dois são fáceis, depende da criação e dos valores transmitidos.

Q 14 Meninas são mais difíceis, a preocupação com o mundo lá fora é outra.

Q 19 Existem facilidades e dificuldades.

Q 27 Hoje em dia a internet tem facilitado muito.

Q 28 Meninos são mais independentes, meninas mais compreensivas.

Q 29 Meninos é mais fácil, têm mais liberdade.

Q 30 Meninos, os pais não têm preocupação de com quem ele vai se relacionar.

Não existem facilidades

Q 1 Na atualidade qualquer criança tem suas dificuldades.

Q 2 Na minha opinião, o maior e melhor valor é Deus.

Q 4 A forma de educar é a mesma independente do gênero.

Q 6 A base é a mesma. Q 7 Muito difícil para ambos. Q 8 Tem que educar igual. Q 9 O mundo está muito difícil.

Q 10 A educação está muito difícil, sem limites e diálogos.

Q 11 Está muito difícil educar por causa do mundo de fora.

Q 12 Não existe facilidades, os dois são criados da mesma forma.

Q 13 Não existe facilidades hoje no século 21.

Q 15 Não é fácil para nenhum gênero.

Q 16 Depende da personalidade da criança, sem depender do sexo.

Q 17 Não há.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Q 18 Não é uma tarefa fácil.

Q 19

As lições de moral são as mesmas para ambos. As lições de moral são as mesmas para ambos.

Q 20 Existem muitas dificuldades, drogas, prostituição.

Q 21 Sempre tem dificuldades.

Q 22 Em sala de aula existe homem e mulher.

Q 23 Hoje em dia precisamos estar atentos

Q 24

Q 25 Há de se observar nas particularidades de cada sexo.

Q 26 Ambos impõem a mesma facilidade.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Entre os pais e mães entrevistados, 8 deles consideram que existam

facilidades para educar meninos/meninas. As explicações dadas referem-se

aos estereótipos designados à cada gênero.

As meninas: por ser mais compreensivas e em oposição no relato Q14:

“Meninas são mais difíceis, a preocupação com o mundo lá fora é outra”.

Na menina busca-se desde seu nascimento repreender qualquer tipo ou

reflexo de agressividade, domestica-se para que elas sejam doces e passivas,

assim como compreensivas (WHITAKER, 1988).

A preocupação dos pais gerada pelas possibilidades mundo a fora como

no relato do Q14 pode ser explicada hipoteticamente pelos altos índices em

que as mulheres sofrem agressões e são socialmente consideradas

vulneráveis e frágeis, ou seja, passíveis de violência e subservientes ao

homem (OXFAM, 2017; WHITAKER, 1988).

Aos meninos: por poder ser educado com mais liberdade; são mais

independentes; os pais não têm preocupação de com quem ele vai se

relacionar.

Whitaker (1988) corrobora, que os meninos são estimulados a

agressividade, ou seja, desenvolvem-se para o poder e sobreposição à mulher.

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Os pais e mães que afirmam que não existe facilidades para a

educação de seus filhos, grande maioria 73% dos entrevistados, argumentam

que a dificuldade é encontrada para os filhos dos ambos os sexos.

As dificuldades apresentadas para educar meninos e meninas foram

descritos e alegados pelos pais e mãe de acordo com os estereótipos sexistas.

Os meninos entram na explicação como sendo criados mais soltos, com

mais liberdade, independentes e mais difíceis de colocar limites.

As meninas são citadas nas justificativas como portadoras de atributos

contrários aos dos homens, tais como, não são criadas soltas e nem com

liberdade, têm sua forma de sentar e não pode ir onde quer e a hora que quer,

precisa de mais cuidado em relação ao homem.

Quadro 11: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de

pesquisa consideram que existem dificuldades para criar meninos /meninas.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Existem dificuldades

Q 1 As dificuldades estão em vários aspectos, desde os sociais até os emocionais.

Q 3 Meu filho foi criado mais solto, com mais liberdade e minha filha não.

Q 4 Todo processo educacional tem suas dificuldades.

Q 5 Principalmente pela grande divulgação de conteúdos de sexo.

Q 6 Não se sabe mais como será o futuro, caso tenha uma filha mulher.

Q 7 Esta geração está difícil de educar, existem muitas tecnologias.

Q 8 Porque outras pessoas influenciam na educação

Q 9 Porque em casa você oferece uma educação e fora recebe outra.

Q 10 Tudo depende da educação que os pais passarão para a criança.

Q 11 Devido as amizades.

Q 12 Porque os meninos são mais liberais. As meninas tem sua forma de sentar e

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

não pode ir onde quer e a hora que quer.

Q 13 Eles tem acesso a tudo do mundo.

Q 18 Porque na mídia tem muitas informações.

Q 20 As dificuldades giram em torno do mundo.

Q 21 Existe dificuldades, pois depende da criança.

Q 23 Temos que estar atentos a todos os tipos de drogas, violências.

Q 24 Existe dificuldade.

Q 26 Ambos os sexos, pela tentativa de “desconstituição da família.

Q 27 Sempre tem, mas a internet tem facilitado.

Q 28 Meninos são muito independentes, mais difícil de colocar limites.

Q 29 Precisa de mais cuidado com a mulher.

Q 30 Ambos, por conta das más influências.

Não existem dificuldades

Q 2 Para educar é preciso amor, carinho e dedicação.

Q 14 É tudo igual.

Q 15 Hoje as crianças nascem sabendo dos direitos e se esquecem dos deveres.

Q 16 Depende da personalidade da criança.

Q 17 Educa-se da mesma forma. Q 19 Cada pessoa é única. Q 22 Não soube responder.

Q 25 Há de observar as particularidades de cada sexo.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Quadro 12: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de

pesquisa consideram que existe diferença entre brinquedos para meninas e

para menino.

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(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Há diferenças.

Q 1 Não deveria, mais ainda existe.

Q 2 A criança brinca de tudo, a diferença está na mente dos adultos.

Q 3

Minha criação foi machista, então sempre vou achar que existe diferença.

Q 4

Normalmente brinquedos para meninas são dirigidos para cuidados com o lar e com filhos, para meninos são mais construtivistas.

Q 6 A boneca e o carrinho.

Q 7

A sociedade impõe para homens o azul é para mulheres o rosa e assim é com os brinquedos.

Q 8

Porque os meninos se divertem com os brinquedos deles e as meninas são induzidas a limpar e cozinhar.

Q 11 Tem brinquedos que é só pra menina e outros só pra menino.

Q 12 Meninos tem que brincar com carrinho e pipa.

Q 13 Os brinquedos podem influenciar na sexualidade da criança.

Q 15

Por mais que eu brinquei de tudo, eu não incentivaria minhas filhas a brincarem de lutinha e futebol.

Q 16 Não consigo achar normal que um menino goste de brincar de boneca.

Q 18 Meu filho gosta de brincadeiras “brutas”. Já minha filha é zelosa.

Q 20

Com certeza! Carrinho é para menino e boneca para menina, não devemos misturar.

Q 22 Meninas bonecas, meninos carrinhos.

Q 23

Quando são crianças devemos sim dar o brinquedo apropriados para cada um.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Q 24 Tem brinquedo de meninas e meninos

Q 25 Pela ordem natural das coisas.

Q 26 Boneca menina, menino carrinho.

Q 27 Brinquedos de meninos são carrinhos e de meninas bonecas e fogão.

Q 28 Menina boneca e carrinho menino.

Q 29 Brinquedos influenciam a sexualidade.

Q 30 Porque influencia na sexualidade.

Não há diferenças

Q 5 Não existe.

Q 9 Deixo minha filha brincar com tudo.

Q 10 O que existe é preconceito.

Q 14

Bonecas – os meninos podem aprender a ser papais. Carrinhos – as meninas podem aprender a ser motoristas.

Q 17

As crianças gostam dos brinquedos mais improváveis, como uma garrafa pet.

Q 19 Não acredito que o tipo de brinquedo influencie.

Q 21 Menina pode brincar de bola e menino pode brincar de boneca.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Quadro 13: Categorias das respostas dos participantes de pesquisa referente

aos brinquedos e brincadeiras vivenciados por seus filhos.

(continua) Participantes Sexo dos filhos Brincadeira correspondente

Q 1 Fem Bola; panelinha; boneca; eletrônico; carrinho;

Q 2 Fem; Masc Com todos. Q 3 Fem Eletrônicos.

Q 4 Fem; Masc Com todos mais quebra-cabeça e jogos educativos.

Q 5 Fem Bola; pipa; panelinha; casinha; boneca; eletrônicos; livros;

Q 6 Masc Bola; pipa; carrinho; na rua; Q 7 Fem Eletrônicos; livros;

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(conclusão) Participantes Sexo dos filhos Brincadeira correspondente

Q 8 Fem Panelinha; boneca; eletrônicos; livros;

Q 9 Masc Bola; pipa; panelinha; casa; boneca; eletrônicos;

Q 10 Masc Bola; panelinhas; boneca; eletrônicos; livros; pipa; casinha;

Q 11 Masc Bola; carrinho; pipa;

Q 12 Masc; Fem Bola; boneca; eletrônicos; livros; pipa; casinha; carrinho;

Q 13 Masc Bola; pipa; casinha; carrinho; eletrônicos; livros;

Q 14 Masc Com todos.

Q 15 Fem Panelinha; casinha; boneca; eletrônicos; rua; livros;

Q 16 Masc Bola; pipa; carrinho; eletrônicos; rua; livros;

Q 17 Fem Bola; panelinha; casinha; boneca; livros;

Q 18 Masc; Fem Bola; casinha; boneca; carrinho; eletrônicos; livros;

Q 19 Fem Bola; panelinhas; boneca; eletrônicos; livros; pipa; casinha; carrinho;

Q 20 Fem Panelinha; boneca; eletrônicos;

Q 21 Fem Bola; panelinha; boneca; casinha; carrinho; eletrônicos; livros;

Q 22 Masc; Fem Eletrônicos; na rua;

Q 23 Fem Bola; panelinha; casinha; boneca; eletrônicos; livros;

Q 24 Fem Bola; panelinha; boneca; carrinho;

Q 25 Masc; Fem Panelinha; boneca; eletrônicos; rua; bola;

Q 26 Masc; Fem Boneca; carrinho; eletrônicos;

Q 27 Masc Bola; pipa; carrinho; eletrônicos; livros;

Q 28 Masc Bola; pipa; panelinha; casinha; livros;

Q 29 Fem Panelinha; casinha; boneca; eletrônicos; livros;

Q 30 Fem Panelinha; casinha; boneca; eletrônicos;

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

A existência de diferença entre brinquedos de meninas e meninos se fez

explícita, onde a maior parte afirmou que cores e brinquedos podem influenciar

na sexualidade de uma criança. 23 participantes disseram existir diferença e

apenas 7 disseram que ambos podem brincar do que desejarem.

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Praticamente desde o início de seu desenvolvimento há diferenças entre

as atividades lúdicas para meninas e meninos, eles são estimulados a correr,

subir em árvores, lutar, jogar futebol; as garotas ficam com as atividades

manuais e delicadas, referindo-se aos cuidados maternos e domésticos, sendo

estas: casinha e panelinhas. Cria-se o gênero masculino para o mundo e o

feminino para a domesticação. (WHITAKER,1988) Como traz o pai (Q20): “Carrinho é para menino e boneca para menina,

não devemos misturar”.

O problema maior não se dá entre as escolhas dos brinquedos, mas sim

sobre o que isto poderá inferir na educação futuramente, criando limitação e

padrões, privando os meninos a terem acesso aos cuidados considerados

maternos e meninas a desenvolverem habilidades racionais. (WHITAKER,

1988).

A mãe Q13 e o pai Q30 referem-se aos brinquedos e brincadeiras como

agente de influência na sexualidade das crianças, como relatam: “Os

brinquedos podem influenciar na sexualidade da criança” e “Existe diferença

porque influencia na sexualidade”.

Os brinquedos e brincadeiras precisam ser compreendidos como um

meio de aprendizagem e diversão, no qual a sexualidade não entra em

questão, assim como na fala da mãe Q14: “Bonecas – os meninos podem

aprender a ser papais. Carrinhos – as meninas podem aprender a ser

motoristas”.

Castañeda (2006) afirma:

Parece-nos bom que as meninas evoluam, que possam crescer mais livres que antes; mas os meninos permanecem enredados nos estereótipos de uma masculinidade inamovível, supostamente ditada pela biologia. É injusto, é lamentável que os meninos não possam brincar de boneca, ter aulas de balé e desenvolver livremente sua sensibilidade (p.51).

Quadro 14: Agrupamentos dos motivos pelos quais os participantes de pesquisa consideram a existência ou não de diferença nas obrigações entre as tarefas e deveres entre um menino e uma menina.

(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Existe diferença Q 1 Não deveria existir, mas existe.

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(continua) Agrupamento temático Participantes Relatos

Q 3

Queremos que as meninas aprendam a cuidar dos serviços de casa e os meninos a lavar o carro.

Q 7 A menina é influenciada a cuidar da casa e o menino é mais “quintal”.

Q 8 Meninos não são ensinados a cuidar da casa.

Q 10 As meninas são criadas para cozinhar e meninos não.

Q 11 Cuidar da casa para mim é obrigação das mulheres.

Q 13 A menina ajuda a mãe a limpar a casa e o menino assiste tv.

Q 20

Existe, mas meninos ou meninas tem que ter suas obrigações e tarefas desde pequeno.

Q 25 Sim, pela ordem natural das coisas

Q 29 A mulher fica com grande parte das tarefas e o homem ajuda.

Não existe diferença

Q 2

Os pais precisam preparar os filhos para que na dificuldade possam se virar.

Q 4

Na minha família as tarefas e deveres não são definidos considerando gêneros.

Q 5 Na minha casa não tem.

Q 6 Não só a menina, mas também o menino tem que saber fazer de tudo.

Q 9 Todos têm que fazer igual.

Q 12 Quando forem morar sozinhos já vão saber.

Q 14 Tarefas e deveres fazem parte da vida.

Q 15 Os dois podem fazer as mesmas tarefas.

Q 16 Deve ser igual.

Q 17 Devem aprender desde cedo que a vida é uma comunidade.

Q 18 Ambos têm as mesmas obrigações.

Q 19 Não.

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(conclusão) Agrupamento temático Participantes Relatos

Q 21 Não.

Q 22 Diferença de sexo não interfere nas obrigações.

Q 23

Simplesmente, porque na minha casa devemos cooperar com as tarefas e deveres.

Q 24 Pais tem que cuidar para a vida, para o mundo.

Q 26

A sociedade impõe que as meninas conheçam mais cedo as tarefas domésticas.

Q 27 Todos são capazes de ajudar.

Q 28 Tem que ser igual.

Q 30 Meninas são mais influenciadas em realizar tarefas domésticas.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

Neste demonstrativo, 20 participantes disseram não haver diferenças

entre os afazeres femininos e masculinos. Porém, contrapondo o quadro 12 e o

13, nota-se maiores estímulos aos cuidados domésticos para as meninas.

Whitaker (1988) corrobora:

Do meu ponto de vista, todo mundo deve ser educado para o lar. Afinal, um lar é formado, regra geral, por homens e mulheres. Mas não. Nesse importante segmento do nosso sistema educacional, as meninas aprendem conceitos de culinária e higiene (!), cuidados com o bebê, costura e economia doméstica. Quanto aos meninos, aprendem coisas realmente técnicas: eletrônica, impressão, rudimentos de marcenaria, fotografia etc. A disciplina dos meninos chama-se artes industriais (p. 65).

Contudo, nota-se uma evolução nesta questão entre os participantes.

Onde muitos começaram a refletir sobre a importância de colaborarem com as

atividades do lar, sendo que a vida se faz em comunidade.

Um arranjo em que todos saem ganhando: a mulher, que não perde suas chances profissionais; o homem, que se aproxima da família; e principalmente as crianças, que adquirem novos referenciais masculinos para sua identificação com o mundo. Mas acima de tudo cai aquela ideia aparentemente progressista de que o marido deve “ajudar” a mulher em tarefas

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que “são dela”. Surge a ideia da divisão das responsabilidades (WHITAKER, 1988, p.82).

Quadro 15: Categorização de exemplos de profissões que os participantes de pesquisa consideram ser mais apropriadas para homens e as mais apropriadas para mulheres. (continua) Participantes Profissões são definidas

por gênero Participantes Profissões não são

definidas por gênero Q 3 Profissões que exigem

força para homens e mais sensibilidade para mulheres.

Q 1 Quanto maior o nível intelectual menos diferença com relação ao gênero.

Q 7 Mestre de obras: homens e manicures: mulheres.

Q 2 Deus fez o ser humano capaz de fazer tudo.

Q 8 Policiais, quartéis são profissões perigosas e são para homens.

Q 4 As profissões não apresentam mais estas características femininas e masculinas.

Q 9 Mecânico para homens. Q 5 Indústrias e cabelereiro são unissex.

Q 13 Pedreiro para homem e professora para mulher.

Q 6 Não.

Q 14 Força muscular e trabalho pesado para homem.

Q 10 Mas a sociedade limita as profissões para mulheres, fazendo delas sexo frágil.

Q 20 Caminhoneiro para homem e professora para mulheres.

Q 11 Depende a visão de cada um.

Q 24 Homens com relação ao trabalho que exige força.

Q 12 Não escolhemos e sim enfrentamos pela necessidade.

Q 25 Mais esforço físico, pela ordem natural são mais apropriadas para homens.

Q 15 Hoje em dia todos podem fazer o que quiser.

Q 26 Esforço físico é função exercida por homem.

Q 16 Depende do esforço de cada um.

Q 29 Homem: serviço braçal e mulher: beleza.

Q 17 Depende da aptidão da pessoa.

Q 30 Homem: pedreiro. Mulheres e gays: moda.

Q 18 Homens e mulheres podem exercer as mesmas funções.

Q 19 Não. Q 21 Não.

Q 22 A eficiência de profissões vem com o tempo e não com a diferença de sexo.

Q 23 Independe do sexo. Q 27 Uma mulher pode

trabalhar em construção e tem homens que ganham a vida como domésticos.

Q 28 Tem que ser igual. Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

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Novamente nota-se a dicotomia sexista em nossa sociedade. Onde a

força do homem está estritamente ligada a trabalhos braçais e a delicadeza,

dedicação ao lar e tarefas domésticas estão vinculadas as mulheres.

Por inúmeras vezes, mulheres e homens estão inseridos em um

mesmo ambiente de trabalho, com diferentes significados simbólicos das

funções que realizam. Como no exemplo entre a aeromoça e o piloto de avião,

ou aquelas que se casam com políticos e recebem o título não possuindo um

significado profissional. (WHITAKER,1988)

Como cita a mãe (Q3): “Profissões que exigem força para homens e

mais sensibilidade para mulheres”, e o pai (Q30): “Homem: pedreiro, mulheres

e gays: moda.

Assim, a nova divisão sexual do trabalho cria a ilusão de que a mulher conquistou o mundo das profissões e de que só não trabalha se não quiser. E também de que não faz carreira brilhante porque não é capaz (WHITAKER, 1988, p.71).

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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO A partir do estudo desenvolvido evidenciou-se a pertinência e relevância

do tema abordado, em primeiro lugar a partir do levantamento bibliográfico e

também por meio do levantamento de dados sociodemográficos, e finalmente

coroado pelos resultados obtidos que corroboraram a preocupação inicial das

pesquisadoras, sendo possível constatar que o conteúdo presente na

concepção dos pais e mães abordados, revela ainda a predominância de um

discurso estigmatizante que tende a reforçar o lugar e o papel social da mulher

como subserviente a posição do homem.

Destarte, a imprescindibilidade da promoção de espaços que propiciem

reflexões e diálogos entre homens e mulheres, meninos e meninas, acerca das

discrepâncias encontradas no tocante aos gêneros – feminino e masculino e

que demonstrem os impactos que essa constituição acarreta na vida de uma

mulher - impedindo que ela se desenvolva integralmente em equilíbrio e que

alcance seu potencial máximo e de um homem limitando- o quanto a

construção de habilidades e conhecimentos ligados as emoções e cuidados

para si e para o outro.

Durante a execução das entrevistas foi notório o desconhecimento sobre

a temática gênero com a maioria dos entrevistados e que nunca tinham feito o

exercício de reflexão acerca das questões relativas a desigualdade entre os

gêneros, o que justificava a dificuldade em responder as questões referentes

as vantagens e desvantagens de ser homem e de ser mulher.

Faz-se necessário a reformulação dos conceitos e crenças acerca de

como transmitimos as crianças os estereótipos de acordo com seu gênero,

essa mudança pode ser implementada nas escolas, da educação infantil ao

ensino superior, para que se trabalhe toda a construção social, estimulando as

meninas na idade escolar a também brincarem com brinquedos que favoreçam

as habilidades motoras e matemáticas assim como nos meninos o estímulo ao

que é sensível, ao que é relacionado as emoções, para que se eduque

crianças equilibradas e com capacidades e habilidades múltiplas, sem

prejuízos determinados por ser homem ou mulher. Quando na adolescência e

fase adulta é importante trabalhar com os comportamentos e atitudes que têm

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reproduzido, condicionados ou não para que possam tomar consciência da

necessidade de mudança e readaptação.

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CONCLUSÃO Com o levantamento das respostas das pesquisas realizadas, em

consonância com as bibliografias referenciadas foi possível analisar e

categorizar os relatos de pais e mães dentro do contexto Sócio Histórico, que

nos permitiu verificar o que estes consideram importante em relação à questão

de gênero na educação dos filhos.

Foi constante dentre os relatos dos participantes o condicionamento da

fragmentação entre ser homem e ser mulher, caracterizando os estereótipos

sexistas, como os modelos femininos em que a mulher é considerada delicada,

frágil, maternal e cuidadora do lar, e os modelos masculinos sempre ligados à

força, coragem, agressividade, racionalidade.

Essa dicotomia ocorre de maneira muito natural e sutil, desde o

momento da concepção de um filho, onde destina-se aos meninos o uso de

azul, brinquedos que remetem a liberdade e aventuras, frases que estimulam

sua sexualidade e sua força. Para as meninas, os registros que começam a

serem instalados é o de delicadeza, vaidade e tarefas domésticas, sendo

incentivadas a brincarem de ninar bonecas, fazer comidinhas, usar e gostar do

rosa e repreendidas se quiserem entender sua sexualidade.

Todas essas reproduções impostas pela nossa sociedade implicam em

uma série de bloqueios e limitações para a sociedade em geral, haja vista,

meninos e meninas são acometidos pela caracterização desses estereótipos.

De um lado, meninas que não desenvolvem habilidades racionais e práticas, de

outro lado, meninos privados de sua sensibilidade, do afeto e do colorido.

Há um investimento excessivo para que sejamos moldados e assim

então, para que sejamos enquadrados no ideal de masculinidade e

feminilidade, mesmo que para isso seja necessário anular a singularidade e

subjetividade do sujeito. Pode-se constatar essa imposição quanto aos

brinquedos e brincadeiras infantis, onde, a boneca para um menino é

enxergado para alguns pais como uma ameaça a sexualidade heteronormativa.

Em geral, pode-se constatar que tanto os pais quanto as mães

reproduzem o discurso sexista para seus filhos, e que muitos deles quando

indagados sobre as vantagens e desvantagens de ser homem e de ser mulher

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tiveram dificuldades em caracterizar esses tópicos, embora em outras questões

deixaram evidentes a separação do que é considerado próprio a cada gênero.

Entendemos, a condição entre os gêneros como um processo histórico e

social, no qual a autonomia da mulher só vai acontecer quando houver o

desprendimento do homem as suas resistências, ao sentir-se livre dos padrões

relacionados a sexualidade, ou seja, não haverá libertação a mulher enquanto

o homem ainda estiver preso a esses ideais, e o mesmo com o homem, que

não alcançará a mudança de comportamento enquanto as mulheres estiverem

reproduzindo e reafirmando essa condição.

Faz-se relevante a continuidade dos estudos científicos sociais que

abordem a temática da desigualdade entre os gêneros, sua reprodução e

condicionamento, para que possamos encontrar meios e alternativas para lidar

com essa condição estigmatizante e compreender de modo mais específico e

prático como e o quanto esses padrões sexistas interferem no desenvolvimento

das capacidades psicológicas, sociais, cognitivas e físicas tanto dos meninos

quanto das meninas.

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____. Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2017/05/Glossario-ODS-5.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2017. OXFAM BRASIL. A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras. São Paulo, 2017. 98 p. Disponível em: <https://www.oxfam.org.br/sites/default/files/arquivos/Relatorio_A_distancia_que_nos_une.pdf>. Acesso em: 12 set. 2017. PRIVADO, Pesquisa mulheres brasileiras nos espaços público e privado. Disponível em <http://www.compromissoeatitude.org.br/pesquisa-mulheres-brasileiras-nos-espacos-publico-e-privado-fundacao-perseu-abramosesc-2010/>. Acesso em: 1 nov. 2017. RAPPAPORT, C; FIORI, W; DAVIS, C. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Pedagógica e Universitária Ltda, 1981. REIS, K. C. F. Infância, Gênero e Estereótipos Sexuais: análise do relato de mães de crianças de 4 a 6 anos. 2008. Dissertação (Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem) – UNESP, Faculdade de Ciências, Bauru. Disponível em: <file:///C:/Users/Fernanda/Desktop/ARQUIVOS/reis_kcf_me_bauru.pdf>. Acesso em: 6 maio 2017. REY, F. G. Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de construção da informação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. SERRANO, A. I. Sobre o gênero de gente que não quer mais viver. In: LAGO, M. C. de S. et al. (Orgs). Gênero e pesquisa em Psicologia Social, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. VIGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000. _____________. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. VIOLÊNCIA doméstica e familiar. Disponível em: <http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/violencia-domestica-e-familiar-contra-as-mulheres/>. Acesso em: 2 nov. 2017.

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WEEKS, J. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, G. L. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p.37-82. WHITAKER, D. Mulher & Homem: o mito da desigualdade. 7. ed. São Paulo: Moderna, 1988.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO PARA PARTICIPANTES

Data de aplicação: ___/___/___ Local: ______________________________

Nome (iniciais): Idade: ____________ Sexo: ( )

feminino ( ) masculino Parentesco com a criança e/ou adolescente: ( ) pai ( ) mãe ( ) outro:

____________________

1. Quantos filhos você tem? ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ou mais.

2. Qual a idade e o sexo do(s) seu(s) filho(s)?

3. Qual seu estado civil? ( ) solteiro ( ) casado ( ) divorciado

4. Você trabalha? ( ) sim ( ) não

5. Se sim, qual a sua ocupação atual?

________________________________

6. Você estuda? ( ) sim ( ) não

7. Se sim, o que você estuda?

_______________________________________

8. Todos os seus filhos moram com você? ( ) sim ( ) não

*se nenhum filho mora com o participante atualmente, o questionário deve ser

interrompido

9. Quem passa a maior parte de tempo com seus filhos? ( ) mãe ( ) irmã ( ) irmão mais velho ( ) cuidador

( ) pai ( ) avó/avô materna ( ) avó/avô paterno

Outra: __________________

10. Quem são os responsáveis pela criação/ educação dos seus filhos? ( ) mãe ( ) irmã ( ) irmão mais velho ( ) cuidador

( ) pai ( ) avó/avô materna ( ) avó/avô paterno

Outra: __________________

I: __ ( ) F ( ) M I: __ ( ) F ( ) M I: __ ( ) F ( ) M

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11. O que você considera ser importante para a educação de seus filhos? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

12. Você enxerga diferença na criação entre filhos homens e mulheres?

( ) sim ( ) não Explique.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

13. Quais características são próprias de ser homem? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

14. Quais características são próprias de ser mulher? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

15. Na nossa sociedade, quais as vantagens de ser homem? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

16. Na nossa sociedade, quais as vantagens de ser mulher? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

17. Na nossa sociedade, quais as desvantagens de ser homem? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

18. Na nossa sociedade, quais as desvantagens de ser mulher? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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19. Você considera que existem facilidades para educar meninos/meninas? ( ) sim ( ) não Explique.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

20. Você considera que existem dificuldades para educar meninos/meninas? ( ) sim ( ) não Explique.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

21. O que/quem você acredita que mais influencie na educação dos seus filhos? ( ) os pais ( ) a mãe ( ) o pai

( ) a sociedade ( ) a escola ( ) as amizades

( ) a mídia (tv/internet) ( ) outros: __________________

22. Você acredita, que existe diferença entre brinquedos para menina e para menino? ( ) sim ( ) não Explique.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

23. Com quais brinquedos/ brincadeiras seus filhos brincam? ( ) bola ( ) panelinhas ( ) boneca ( ) com eletrônicos

( ) livros ( ) pipa ( ) casinha ( ) carrinho ( ) na rua

( ) Outros: _____________________

24. Existe diferença nas obrigações entre as tarefas e deveres de um menino e de uma menina? ( ) sim ( ) não Explique:

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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25. Você considera que tenha profissões que sejam mais apropriadas para homens e outras mais apropriadas para mulheres? ( ) sim ( ) não

Dê exemplos:

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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APÊNDICE B - CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DE PESQUISA.

A pesquisa intitulada A construção social da desigualdade entre

gêneros e suas influências familiares – um estudo da percepção de pais e mães acerca da educação dos filhos, tem como objetivo verificar o que os

pais e mães consideram importante em relação à questão de gênero na criação

dos filho, e também compreender a concepção de pais e mães acerca da

diferença de gênero; levantar quais e como são transmitidos os conceitos de

gênero na educação de crianças e adolescentes; conhecer as implicações

sobre a questão de gênero introjetadas nas formas de educação adotadas por

pais e mães.

Para realização desta pesquisa será utilizado um questionário composto

por 25 questões fechadas e abertas que pretende alcançar informações sobre:

identidade e formação de gênero; postura dos pais em relação à sexualidade e

estereótipos de gênero.

Os riscos que a pesquisa pode trazer aos participantes é que estes

entrem em conflito em relação à educação de seus filhos ou que sintam – se

incomodados com as questões. Para amenizar esses riscos as questões são

elaboradas de modo a não influenciar os participantes. Caso algum participante

sinta-se lesado estaremos dispostos a oferecer esclarecimento e em casos

mais graves atendimento psicológico pela clínica de psicologia do Unisalesiano

Lins.

A finalidade dessa pesquisa é levantar dados acerca da influência dos

pais na transmissão aos filhos de ideias e comportamentos que revelem a

desigualdade entre os gêneros e através disso pensar alternativas para

promover a reflexão do tema, fazer pensar que as diferenças criam hierarquia

entre o sexo masculino e feminino e levar em conta que existem várias

possibilidades de ser homem e mulher e assim consequentemente favorecer a

equidade entre estes. Faça a leitura atenciosa desta carta e das instruções oferecidas pela

Equipe e/ou pesquisador e, caso concorde com os termos e condições

apresentados, uma vez que os dados obtidos serão utilizados para pesquisa e

ensino (respeitando sempre sua identidade), você ou seu representante legal

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deve assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e esta Carta de

Informação ao Participante da Pesquisa, ressaltando que você tem total

liberdade para solicitar sua exclusão da pesquisa a qualquer momento, sem

ônus ou prejuízo algum. Por estarem entendidos, assinam o presente termo.

Lins, _____ de _____________ de 2017.

_____________________________

_____________________________

Participante da pesquisa Liara Rodrigues de Oliveira

Pesquisadora responsável

CPF: 326.835.848-90 CRP: 06/85631

Curso de Psicologia

UniSALESIANO de Lins

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ANEXOS

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ANEXO A - APROVAÇÃO PLATAFORMA BRASIL

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ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – T.C.L.E.

Eu ............................................................................................................. ,

portador do RG n°. .............................................., atualmente com ......... anos,

residindo na ............................................................................................. , após

leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA,

devidamente explicada pela equipe de pesquisadores Fernanda Silva Sant’ana

e Letícia Cavina Bispo , apresento meu CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO em participar da pesquisa proposta, e concordo com os

procedimentos a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.

Concordo também com o uso científico e didático dos dados,

preservando a minha identidade.

Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou

ciente de que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial

guardada por força do sigilo profissional e que a qualquer momento, posso

solicitar a minha exclusão da pesquisa.

Ciente do conteúdo, assino o presente termo.

Lins, ............. de ............... de 2017.

.............................................................

Assinatura do Participante da Pesquisa

.............................................................

Liara Rodrigues de Oliveira

Pesquisadora Responsável

CRP: 06/85631