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UNIVERSIDADE PAULISTA INTERATIVA UNIP INTERATIVA CURSO SUPERIOR DE SERVIÇO SOCIAL MARLI PAIXÃO PEREIRA DONÁRIA MENDES RODRIGUES ANGÉLICA NERI DE SOUZA CASA DE RECUPERAÇÃO MANANCIAL DE VIDA: A prevenção como pilar do trinômio prevenção-recuperação-repressão no combate ao uso de drogas na adolescência Santa Maria da Vitória / BA 2014

Tcc Serviço Social - Casa de Recuperação

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TCC Aprovado curso serviço social da Unip Interativa.

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  • UNIVERSIDADE PAULISTA INTERATIVA UNIP INTERATIVA

    CURSO SUPERIOR DE SERVIO SOCIAL

    MARLI PAIXO PEREIRA

    DONRIA MENDES RODRIGUES

    ANGLICA NERI DE SOUZA

    CASA DE RECUPERAO MANANCIAL DE VIDA:

    A preveno como pilar do trinmio preveno-recuperao-represso no combate

    ao uso de drogas na adolescncia

    Santa Maria da Vitria / BA

    2014

  • MARLI PAIXO PEREIRA

    DONRIA MENDES RODRIGUES

    ANGLICA NERI DE SOUZA

    CASA DE RECUPERAO MANANCIAL DE VIDA:

    A preveno como pilar do trinmio preveno-recuperao-represso no combate

    ao uso de drogas na adolescncia

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Universidade Paulista UNIP Interativa como requisito parcial para concluso do curso de Graduao em Servio Social.

    Orientador: Prof Karina Dala Pola

    Santa Maria da Vitria / BA

    2014

  • Pereira, Marli Paixo.

    ....Casa de recuperao Manancial de Vida: : A Preveno como pilar

    do Trinmio preveno-recuperao-represso no combate ao uso de

    drogas na adolescncia / Marli Paixo Pereira, Donria Mendes

    Rodrigues, Anglica Nri de Souza. - 2014.

    ....64 f. : il. color.

    ....Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) apresentado ao

    curso de Servio Social da Universidade Paulista, Santa Maria da

    Vitria, 2014.

    ....Orientador: Prof. Karina Dala Pola.

    ....1. Casa de Recuperao. 2. Drogas. 3. Adolescente. 4. Preveno.

    I. Rodrigues, Donria Mendes. II. Souza, Anglica Nri de. III. Pola,

    Karina Dala (orientadora). IV. Ttulo.

  • MARLI PAIXO PEREIRA

    DONRIA MENDES RODRIGUES

    ANGLICA NERI DE SOUZA

    CASA DE RECUPERAO MANANCIAL DE VIDA:

    A Preveno Como Pilar do Trinmio Preveno-Recuperao-Represso no

    Combate ao Uso de Drogas na Adolescncia

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Universidade Paulista UNIP Interativa como requisito parcial para concluso do curso de Graduao em Servio Social.

    Aprovado em:

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________/____/_____

    ___________________________________/____/_____

    ___________________________________/____/_____.

  • RESUMO

    O presente projeto de pesquisa tem o intuito de demonstrar o trabalho desenvolvido na Casa de Recuperao Manancial de Vida, instituio que trabalha sob a gide do trinmio preveno-recuperao-represso e vem apontar que a preveno, sem dvida o pilar destes trs termos. Toda a concepo e confeco desta pesquisa foram realizadas de forma qualitativa, embasando-se em vasto contedo bibliogrfico e estatstico extrados de literatura especializada, artigos cientficos e de amostra de dados coletados em livretos informativos e educativos do Conselho Municipal de Direitos da Criana e do Adolescente CMDCA em Correntina - Bahia, e livro de autoria da prpria Casa de Recuperao Manancial de Vida, localizada na referida cidade; sendo que, ambas contriburam com dados relevantes para esta pesquisa. Assim no decorrer desta pesquisa, verifica - se que a preveno deve ser realizada de diferentes formas que vo desde o apoio da famlia e da sociedade como um todo, como tambm estendem - se s alternativas explcitas que envolvem a seriedade com que se trata a problemtica das drogas em meio a sociedade atual. Esta pesquisa direciona - se no somente s Casas de Recuperao, mas tambm a participao efetiva da famlia que deve ser demonstrada e praticada com autoridade, pois, este fator relaciona - se ao termo represso que se estrutura nesse pilar de sustentao de resistncia s drogas, seja no lar, na escola ou at mesmo na comunidade local; sendo que desta forma, pode - se almejar uma sociedade em que os nossos adolescentes sejam orientados de forma correta, entrelaando-se ento, o trinmio utilizado para a realizao deste projeto de pesquisa. Quanto a apreciao de dados estatsticos coletados, foram estabelecidos com informaes em literatura especfica e anlise de pesquisa documental, alm da verificao de fontes eletrnicas, onde constatou - se outra vertente similar que enriqueceu a investigao. Diante desse estudo, levantou-se material suficiente para fazer um diagnstico, mesmo que considerado superficial, da situao que leva o adolescente ao uso de drogas e foi possvel evidenciar aes eficientes relativas ao trabalho realizado na Casa de Recuperao Manancial de Vida, o qual configura - se na recuperao dos jovens e adolescentes, mantendo como foco principal a preveno para a manuteno dessa juventude no que se pode chamar de bom caminho.

    Palavras chaves: Casa de Recuperao. Drogas. Adolescente. Preveno.

  • ABSTRACT

    This research project aims to demonstrate the work on Recovery House Fountain of Life, Institution working under the aegis of the triad-recovery-prevention and repression has pointed that prevention, undoubtedly is the pillar of these three terms. Throughout the design and manufacture of this research were conducted in a qualitative way, if basing on extensive bibliographical and statistical content extracted from the literature, scientific articles and sample data collected in educational and informational booklets of the Municipal Council for the Rights of Children and Adolescents - CMDCA in Correntina - Bahia, and authored the book itself Recovery House Purveyor of Life, located in that city; is that both contributed data relevant to this research. So during this study verifies that prevention should be carried out in various ways ranging from the support of family and society as a whole, but also extend the explicit alternatives that involve the seriousness with which it treats the problem of drugs amid the current society. This research directs not only to the Houses of Recovery, but also the effective participation of the family to be demonstrated and practiced with authority, therefore, this factor relates the term repression that this structure mainstay of drug resistance, either at home at school or even the local community; being that this way, you can crave a society in that our teenagers are oriented correctly, entwining then the triad used for carrying out this research project. As the appreciation of statistical data collected, were established with information in specific literature and documentary research analysis of literature and sources of verification electronic where noted another similar aspect that enriched research. Given this study, rose enough material to make a diagnosis, even if only superficial, the situation that leads adolescents drug use and was able to evidence efficient actions relating to work held at Recovery House Purveyor of Life, which sets on the recovery of children and young people, keeping the main focus prevention to maintain that youth in what you might call the "proper way.

    Keywords: Recovery House. Drugs. Teenager. Prevention.

  • LISTA DE SIGLAS

    APA - American Psychiatric Association

    C.F. Constituio da Repblica Federativa do Brasil

    CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente

    CNJ Conselho Nacional de Justia

    CONAD- Conselho Nacional de Polticas Sobre Drogas

    CREAS Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social

    DMF - Departamento de Monitoramento e Fiscalizao do Sistema Carcerrio

    DPJ - Departamento de Pesquisas Judicirias

    DSTs Doenas Sexualmente Transmissveis

    ECA Estatuto da Criana e do Adolescente

    FUNCAB Fundo de Preveno, Recuperao e de Combate ao Abuso de Drogas

    MT Mato Grosso

    OBID Observatrio Brasileiro de Informaes sobre Drogas

    ONGs Organizaes No Governamentais

    PNAD Poltica Nacional Antidrogas

    SENAD Secretaria Nacional Antidrogas

    SISNAD - Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas

    STJ Superior Tribunal de Justia

  • SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................ 7

    PREVENO X RECUPERAO ........................................................................... 17

    CAPTULO 1 DROGAS, QUESTO SOCIAL E CONCEITOS .............................. 19

    1.1 Questes sociais que perpassam o uso de drogas ....................................... 23

    1.2 Mas afinal, o que so as drogas? .................................................................... 27

    1.3 Conceitos de droga ........................................................................................... 28

    1.4 Conhecendo os tipos de drogas mais comuns .............................................. 29

    CAPTULO 2 - POLTICAS SOCIAIS E LEGISLAO ANTIDROGAS .................. 32

    2.1 Histrico das polticas de atendimento criana e ao adolescente em

    drogadio ............................................................................................................... 34

    2.2 PNAD Poltica Nacional Antidrogas .............................................................. 36

    2.3 Parceria Pblico - Privada ................................................................................ 38

    CAPTULO 3 - CASA DE RECUPERAO MANANCIAL DE VIDA ....................... 40

    3.1 O Trinmio Preveno-Recuperao-Represso ........................................... 44

    3.1.1 Preveno ....................................................................................................... 44

    3.1.2 Recuperao .................................................................................................... 46

    3.1.3 Represso ........................................................................................................ 47

    CAPTULO 4 - A PESQUISA E SEU DESENVOLVIMENTO ................................... 48

    4.1 Pesquisa realizada ............................................................................................ 48

    4.1.1 Metodologia ...................................................................................................... 48

    4.1.2 Resultados ....................................................................................................... 48

    4.1.3 Anlise dos Resultados .................................................................................... 53

    CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 55

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 57

    FONTES ELETRNICAS ......................................................................................... 61

  • 7

    INTRODUO

    A apresentao deste projeto de pesquisa tem a inteno de demonstrar que

    o trabalho realizado na Casa de Recuperao Manancial de Vida, trabalhando com o

    adolescente em drogadio tm muito a ofertar sociedade, sendo que o presente

    artigo pretende demonstrar atravs de levantamentos bibliogrficos que a

    preveno, ainda deve prevalecer sobre qualquer outro argumento para combater a

    drogadio na adolescncia, afinal a preveno [...] pretende atuar antes que haja o

    uso da droga e deve ser iniciada na infncia, e contar com o apoio de educadores

    naturais, sendo pais e professores (RIBEIRO apud BUCHER, 1991, p. 32) o que

    deixa claro que a preveno deve se iniciar dentro dos lares, em suas casas, onde

    partindo do exemplo a criana aprende a discernir o certo do errado.

    Porm, quando o problema efetivamente j se encontra no seio da famlia e

    por consequncia, da sociedade, trabalhos da linhagem das casas de recuperao

    so efetivamente resolutivos, pois nem todos esto preparados para lidar com

    situaes deste tipo e preferem empurrar o problema para debaixo do tapete,

    dando a impresso de que se no se enxergar o problema talvez ele deixe de existir.

    Hoje em dia, fato que os adolescentes tm acesso a muito mais

    informaes de que em outros tempos, assim sendo, estaria essa juventude

    predisposta a experimentar ento sempre mais e mais novidades, estando eles

    vidos por todas e quaisquer tipos de experincias?

    Segundo Bucher (1993, p. 52), ao percorrermos a histria da civilizao,

    podemos encontrar a presena de drogas desde os primrdios da humanidade,

    inseridas nos mais diversos contextos: social, econmico, medicinal, religioso,

    cultural, psicolgico, climatolgico, at mesmo militar, e to antigo quanto a

    humanidade, relatado inclusive na Bblia. Sua ocorrncia ao longo dos anos foi

    caracterizada como um fenmeno cultural. Porm, o que se observa nos dias de

    hoje uma expanso to grande e rpida que podemos falar em epidemia.

    (VEREA, 2012, p. 1).

    O que se evidencia ento como deixar claro para a criana e o adolescente

    o limite do correto e incorreto, do certo e do errado, em outras palavras, a

    possibilidade em estabelecer o controle com relao problemtica que os fazem

    ultrapassar a vertente do equilbrio natural. Sendo que, a preveno e combate ao

  • 8

    consumo de drogas tornam-se algo relevante diante da afoiteza da juventude, do

    excesso de informaes, da avidez por novas sensaes que empurram o jovem

    para a primeira experincia, o primeiro contato com as drogas.

    Verdadeiramente, os conceitos desenvolvidos nesta pesquisa no tm a

    inteno de determinar o que leva o jovem ao primeiro contato com tais substncias

    alucingenas, mas tentam sim, demonstrar que independente do que levou o

    adolescente a tal ponto, ou seja, ao uso de drogas, sejam elas lcitas ou ilcitas h

    como se recuperar, valendo-se de aes como as desenvolvidos na Casa de

    Recuperao Manancial de Vida em Correntina - BA; alm de demonstrar que com o

    fortalecimento do vnculo familiar e engajamento da sociedade como um todo, o

    trinmio preveno-recuperao-represso pode funcionar.

    Nesse sentido, o apoio da famlia desde a infncia, carinho e amizade,

    vnculos fortalecidos com a educao e insero da criana e do jovem no ambiente

    educacional; e tambm a autoridade, seja ela a exercida pelos pais desde a infncia,

    no confundindo com abuso de poder, seja a exercida por professores e educadores

    de uma forma geral, podem orientar esse jovem a uma postura de conhecimento e

    discernimento entre o certo e o errado.

    Brasil (1990) diz que dever da famlia, e da sociedade de um modo geral,

    incluindo-se o poder pblico assegurar, com absoluta prioridade, a efetuao dos

    direitos que dizem respeito vida, sade, alimentao, educao, esporte, lazer,

    profissionalizao, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivncia familiar e

    comunitria, porm sabido que a manuteno de tais direitos quase sempre de

    difcil acesso a grande parte da populao e que quando este direito no se faz valer

    e infelizmente o adolescente j est inserido no submundo das drogas, h que se

    pedir auxlio, principalmente, a famlia que quase sempre no sabe o que fazer e

    nem por onde comear.

    Nesse contexto, quando o jovem j entrou em contato com as drogas que

    entram em ao os colaboradores da Casa de Recuperao Manancial de Vida,

    pessoas engajadas em ajudar voluntariamente, a solucionar ou ao menos minimizar

    o sofrimento da famlia desestruturada pela situao em que se encontra seu jovem,

    seu filho, aquele que se espera que seja a continuao da linhagem.

    Quando solicitada, em casos extremos em que h internao compulsria, a

    Casa de Recuperao Manancial de Vida aciona as entidades, tais como: Conselho

    Tutelar e Ministrio Pblico; mas sempre orienta a famlia da necessidade do apoio

  • 9

    da mesma e esclarece que aquele jovem, precisa de orientao e carinho. (ARRAIS,

    2013, p. 4).

    introduzido tambm o conhecimento de que esse jovem por si s,

    independentemente de internaes, pode livrar-se do vcio das drogas,

    oferecendo-lhe ento acompanhamento psicolgico, terapias ocupacionais,

    atividades e prticas esportivas e atividades laborais, muitas vezes

    profissionalizantes.

    No obstante, a casa de recuperao no espera apenas que o adolescente

    se torne um dependente qumico, vai tambm s escolas, faz palestras pblicas e

    eventos de cunho religioso, onde sempre tenta demonstrar s famlias que como

    diz o ditado: melhor prevenir do que remediar", contudo, para que no acontea

    esse encontro nefasto entre o jovem e as drogas, os pais e responsveis devem

    demonstrar a autoridade, sempre com moral para orientar esses jovens.

    Como justificativa, para a realizao desta pesquisa apresenta-se o fato de

    que cotidianamente, chegam aos Conselhos Tutelares de todo Brasil situaes

    emergenciais envolvendo crianas, adolescentes, suas famlias e o uso ou abuso de

    drogas (GUIRAUD, 2009, p. 1) e quando chegam a essa situao, na maioria dos

    casos, a famlia j no sabe o que fazer, dando a impresso de que no h mais o

    que se prevenir que somente agora o possvel seria tentar recuperar esse

    adolescente, pois, acredita-se quase sempre que realmente o caminho seria a

    recuperao, sem jamais imaginar que de verdade a preveno nunca deve deixar

    de ser exercida afinal [...] para se "desdrogar" a sociedade so necessrias

    transformaes estruturais e qualitativas. Falar em preveno falar em uma

    sociedade menos patolgica. (VEREA, 2012, p. 2).

    O presente projeto em forma de pesquisa bibliogrfica e qualitativa, baseado

    tambm em busca documental, indica uma averiguao em que a abordagem to

    somente qualitativa, onde o pesquisador se limita descrio factual deste ou

    daquele evento, ignorando a complexidade da realidade social (FRANCO, 1985, p.

    35), tendo assim, o intento de demonstrar que quando se fala em uso de drogas por

    crianas e adolescentes, acredita-se, e isto comprovadamente verdadeiro, que a

    preveno sempre foi e ainda a melhor arma contra a entrada de nossos jovens no

    obscuro caminho do uso de drogas.

  • 10

    Torna-se bvio que, a finalidade desta pesquisa fica sendo a demonstrao

    de que se prevenindo pode se evitar que o consumo de substncias ilcitas faa

    parte do cotidiano dos adolescentes, porm evidenciando que quando a situao de

    crise j est instalada existem aes como a da Casa de Recuperao Manancial de

    Vida em que h efetivamente em nossa sociedade, demonstrando que muito tem

    que se fazer para tentar restaurar a ordem.

    Quanto s casas de recuperao de um modo geral o prprio Superior

    Tribunal de Justia (STJ) deu entendimento de que crianas e adolescentes no

    devem ser obrigatoriamente, internados por envolvimento com o trfico de drogas. O

    entendimento foi formalizado na Smula 492 do STJ, com o seguinte enunciado: O

    ato infracional anlogo ao trfico de drogas, por si s, no conduz obrigatoriamente

    imposio de medida socioeducativa de internao do adolescente. (BRASIL,

    2012, n.p.).

    Quando ento a sociedade, a famlia, a coisa pblica falha ou emperra, entra

    em ao projetos como a unidade Casa de Recuperao Manancial de Vida,

    ocupando o espao dos rgos pblicos na gesto da situao, tomando o lugar da

    famlia na preveno, do poder pblico na recuperao e culminando com s vezes

    tendo que fazer o policiamento e a represso para evitar que nossos adolescentes e

    s vezes at mesmo nossas crianas ingressem nesta vida sombria que o uso de

    entorpecentes proporciona.

    A presente pesquisa por si s j se justifica, visto que quando a sociedade, o

    poder pblico e a famlia esto desestruturados como se encontra hoje a nossa

    coletividade, acabam empurrando os jovens para o no fazer nada, o excesso de

    informaes, a velocidade com que elas so adquiridas tambm acabam tornando-

    as cmplices para uma situao de degradao familiar, levando o adolescente dos

    dias atuais, ao invs de se preparar para a vida adulta, estar sempre sfrego por

    mais e mais informaes, incluindo-se neste contexto o experimentar algo novo, ter

    novas sensaes, novas experincias.

    Assim, exatamente neste ponto que a pesquisa almeja demonstrar que se

    podem alcanar resultados satisfatrios na preveno ao consumo de drogas pelo

    adolescente, tentando desenvolver um projeto que alcance resultados efetivos e

    com objetivos claros.

    Dentre os objetivos da presente pesquisa cita-se como objetivo geral;

  • 11

    - Ampliar o conhecimento terico - cientfico no contexto da preveno-

    recuperao-represso relacionado ao consumo de drogas e seus efeitos, buscando

    verificar iniciativas j existentes, como a da Casa de Recuperao Manancial de

    Vida, e ainda disponibilizar informaes que considerem a importncia scio -

    cultural das medidas aplicadas preveno e luta contra a drogadio juvenil.

    Para tanto se aponta ento como objetivos especficos:

    - Demonstrar o quo as drogas so prejudiciais ao bem comum

    individualmente e no coletivo atravs de pesquisa bibliogrfica qualitativa

    documental;

    - Procurar apontar causas e efeitos do consumo de drogas por adolescentes

    realizando diagnsticos;

    - Deixar explcito a importncia da preveno;

    - Apresentar indicativos sociais sobre a relao adolescncia x droga x atos

    infracionais;

    - Levantamento da questo social que perpassa pelo uso das drogas;

    - Apresentar legislao especfica antidrogas, alm de polticas sociais para

    levantamento e conhecimento da questo da drogadio na adolescncia;

    - Apresentar conceitos de o que vem a ser droga e drogadio;

    - Apontar que todos somos responsveis pela soluo direta ou indireta do

    problema da drogadio e por consequncia, sua soluo;

    - Salientar a importncia de projetos como as Casas de Recuperao;

    - Proporcionar em linguagem de fcil alcance o entendimento sobre os riscos

    da drogadio na infncia e na adolescncia;

    - Apontar resultados, positivos ou no.

    Logo, dando seguimento pesquisa, tentando ser o mais coeso possvel,

    tentaremos evidenciar o que seria drogadio.

    Para Arajo (2012), conceitua-se drogadio:

    [...] todo e qualquer vcio bioqumico de seres humanos em relao alguma droga. Alm disso, o termo utilizado para se referir s causas do vcio qumico no que se refere incluso e excluso do indivduo na sociedade, fatores econmicos, polticos, genticos e biofarmacolgicos. (ARAJO, 2012)

  • 12

    Porm no sentido estrito da lngua portuguesa, Holanda (2007, p. 44)

    descreve o vocbulo drogadio como afeioado, dedicado, apegado, adjunto,

    adstrito, dependente, ou seja, por convenincia do diagnstico h que se relatar o

    significado do termo que ser bastante usado ao longo da anlise, o que significa

    que o tema proposto para esta pesquisa se refere a adolescentes em uso de drogas

    como relatado na sequncia.

    O adolescente antes de tudo um ser em transformao, uma transformao

    nem sempre muito bem assimilada por ele prprio, o tornando assim extremamente

    susceptvel a mudanas externas, e internas, quer sejam de humor, quer sejam

    relativas ao ambiente que os rodeia.

    Sabemos que a adolescncia uma fase de transio, onde o indivduo est

    ainda em formao de carter, de personalidade, o que o torna bastante vulnervel

    e o faz transitar entre o certo e o errado se no for corretamente conduzido no

    ambiente familiar, no ambiente escolar e principalmente em seu ciclo de amizades.

    Quando no se faz esse elo, quando no h estruturao familiar, o

    adolescente fica deriva, pois, por vezes, ele v na sua prpria casa, lugar onde

    deveria ter o melhor exemplo possvel, a desintegrao da entidade familiar, muitas

    vezes presenciando brigas em casa, uso excessivo de lcool, seja em festas, seja

    para ver um joguinho de futebol, ou simplesmente pra comemorar sabe-se l o

    qu, e isso o faz pensar que a sua iniciao ao uso de bebidas alcolicas o tornaro

    um cara descolado, que fica por dentro de tudo que h de bom.

    Ao mesmo tempo, quando ele presencia brigas em casa, ele transfere para a

    rua essa agressividade e tenta extravasar a violncia que ele presencia, quando

    surge ento, o ponto onde se inicia outro agravante, o uso de bebida alcolica na

    adolescncia, pois em determinados grupos para ele ser aceito ele tem que cumprir

    certos rituais, como ingerir bebidas alcolicas desmedidamente, para provar aos

    amigos que macho, tem que entrar em brigas sem justificativas, e o que acontece

    na verdade que se abre outra porta, uma porta perigosa, para o uso de

    entorpecentes ilcitos, iniciando normalmente pela maconha, mas podendo chegar

    drogas mais pesadas como cocana e crack.

    Muitos fatores de risco podem ser associados aos adolescentes infratores,

    para Silveira (apud ASSIS, 1999)

  • 13

    [...] fatores como: crculo de amigos, consumo de drogas, determinados tipos de lazer, valores do que certo e do que errado, auto-estima dos adolescentes, se h na famlia vnculos afetivos, o nmero e a posio entre irmos, a escola e a dor e o sofrimento devido a violncia sofrida pelos pais. (SILVEIRA apud ASSIS, 1999, p. 30).

    Fica evidenciado, deste modo que tais fatores esto sempre ao redor do

    adolescente, tentando-o, o que quase sempre torna para os mesmos a tarefa de

    evit-los quase herclea.

    A questo a ser discutida passa a ser ento: como a droga entra na casa das

    pessoas, como a criana e o adolescente efetivamente se enveredam por esse

    caminho?

    No se pode deixar de questionar tambm o que nossa sociedade como um

    todo tem feito para diminuir tal evento, como chegamos a esse ponto, at que ponto

    nossa legislao efetivamente resguarda a criana e o adolescente, afinal todo o

    processo de introduo do indivduo no mundo das drogas passa pela estrutura

    inicialmente encontrada nos lares; lares esses muitas vezes desestruturados por um

    sistema perverso e desigual.

    Pesquisas mostram que o adolescente infrator na grande maioria dos casos

    quando passa por medida socioeducativa usurio de drogas, o que leva

    concluso de que para o uso de substncias ilcitas entrada no mundo do crime e

    da marginalidade h um caminho muito curto.

    Grfico 1 - Uso de drogas por adolescentes em medidas socioeducativas

    Fonte: Pesquisa Conselho Nacional de Justia / DMF / DPJ (2012)

  • 14

    Seria ento as casas de recuperao o salvo-conduto para desencargo de

    nossas conscincias? Caso se posa entender como sim, onde fica ento a mxima

    de que prevenir melhor do que remediar?

    Acreditando que, se partirmos do princpio de que a preveno o pilar do

    trinmio preveno-recuperao-represso, tentaremos demonstrar nesta pesquisa

    que muito pode se fazer, e que o primeiro lugar em que se h o que fazer so em

    nossos lares, em nossa comunidade, atravs de exemplos e ensinamentos que

    possam posteriormente passar para a vida escolar com a conscincia de que a ideia

    principal do adolescente evitar o contato com as drogas, sejam lcitas ou ilcitas,

    ficando as casas de recuperao para situaes extremas, onde realmente todo o

    sistema que deveria ser pr estabelecido falhou.

    Quanto metodologia do trabalho acadmico aventa-se de um estudo sobre

    determinado tpico especifico, com valor emblemtico e que obedece a um prvio e

    rigoroso processo. Descreve-se como uma Investigao sobre um tema proposto

    seguindo padres pr-determinados no s em profundidade, mas tambm em

    todos os seus ngulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destinam.

    (SALOMON, 1999, p. 152).

    Para Braga (2012 apud PREVIDELLI e CANONICE)

    Os trabalhos apesar de servir como instrumento de avaliao, diferenciam-se fortemente das avaliaes realizadas em sala de aula por diversos motivos, dentre os quais esta o ambiente, e condies de desenvolvimento dos mesmos, tempo e local do desenvolvimento do trabalho e custo da pesquisa. (BRAGA apud PREVIDELLI e CANONICE, 2012, p. 2)

    Nesta perspectiva, seguindo os conceitos metodolgicos j descritos para

    realizao de um projeto de pesquisa, utilizaremos o mtodo qualitativo colhido com

    informaes de pesquisa bibliogrfica que a pesquisa [...] elaborada a partir de

    material j publicado, constitudo principalmente de livros, artigos de peridicos e

    atualmente com material disponibilizado na Internet. (NUNES apud GIL, 1991, p.

    48).

    Quanto natureza qualitativa, utiliza-se de medidas, buscando resultados quantificveis sendo correto afirmar que no se preocupa com a qualidade ou uso

  • 15

    de estatstica bsica ou avanada. (SILVA apud GIL, 1999, VERGARA, 2005,

    BERVIAN, 2002).

    Destarte o desenvolvimento desta pesquisa, embasa - se em coleta de

    material bibliogrfico: livros de autores diversos que versam sobre o tema, peridicos

    coletados nos rgos relacionados problemtica da pesquisa e pesquisas digitais

    realizadas em diversos stios; levantando assim amplo material bibliogrfico,

    coletando informaes para fundamentar a pesquisa atravs de dados no s

    bibliogrficos, mas estatsticos encontrados nestas publicaes.

    Para a realizao deste estudo foi utilizada a abordagem metodolgica

    qualitativa, que envolve a obteno de dados descritivos em contato direto com

    publicaes de manuais e livretos relacionados situao estudada. H que se

    observar ainda que o presente trabalho configure - se em estudo de caso no mbito

    da Casa de Recuperao Manancial de Vida, e conforme descrito anteriormente,

    vale ressaltar que as informaes da referida entidade se limitam s anlises de

    dados estatsticos constantes das publicaes j mencionadas.

    Cabe destacar que, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, possvel obter

    uma grande quantidade de informaes a partir de poucas amostras (MERRIAN,

    1998).

    Sendo assim, a este trabalho est dividido em 6 partes. Na primeira tem - se

    aos aspectos tericos / metodolgicos que embasam e apresentam a referida

    pesquisa.

    Na segunda parte, encontra - se a fundamentao terica onde revisaremos a

    literatura sobre a preveno x recuperao envolvendo as drogas, e seus

    pressupostos tericos descritos no formato de primeiro captulo.

    Na terceira parte, mostra - se um acervo terico sobre polticas sociais, bem

    como os aspectos legais da legislao voltada para a preveno e tratamento da

    drogadio na adolescncia, e suas implicaes na vida em sociedade; estando

    esse assunto no formato de segundo captulo.

    Na quarta parte, encontra-se o terceiro captulo, onde abordado o estudo de

    caso, tendo como instrumento de pesquisa a Casa de Recuperao Manancial de

    Vida.

    Na quinta parte, o quarto captulo aborda os resultados e discusses da

    pesquisa, onde os dados coletados atravs de pesquisa bibliogrfica e documental

    foram analisados e comparados com a literatura que trata sobre o assunto.

  • 16

    As consideraes finais, na sexta parte, fecham o trabalho apresentando os

    aspectos importantes identificados na pesquisa e possveis contribuies do estudo

    para efetivar a preveno no combate s drogas.

    Assim, espera-se ao final desta pesquisa a concretizao de uma efetiva

    contribuio ao enfrentamento s substncias alucingenas lcitas ou ilcitas, com

    vistas para a demonstrao de que dentre os mtodos de se evitar que o

    adolescente entre em drogadio, a preveno a principal arma para se evitar esta

    fatalidade; e que mesmo em uso da represso e da recuperao, como o caso das

    Casas de Recuperao, a preveno sempre estar agindo como pilar para se

    tentar afastar o adolescente das drogas.

  • 17

    PREVENO X RECUPERAO

    Tentaremos neste tpico atravs de referncias tericas justificar o tema e a

    problemtica da pesquisa, tentando demonstrar com fundamentao que o assunto

    a ser levantado e debatido amplo e rico sob a tica da pesquisa.

    Muitas vezes o adolescente busca no consumo de drogas o que s vezes

    pode no ter encontrado dentro do prprio lar,

    [...] centenas de milhares de crianas e adolescentes afastaram-se do nosso mundo somente por decepo, porque os adultos no souberam dar-lhes a imagem de uma comunidade humana onde eles tivessem seu lugar, qual gostariam de se integrar, onde encontrassem compreenso, segurana e calor. (HORST, 1986 apud HERMANN e RIECK, 1986, p. 3).

    Freitas (apud KALINA, 1973):

    [...] para trabalhar com adolescentes, necessrio conhecer o significado destas condutas to diferentes e variveis, alm das tcnicas de abordagem para cada uma delas. [...]. Esta nova exigncia pode ser definida numa nica palavra: elasticidade. O elstico possui limites firmes mas no rgidos, permitindo amplo jogo de movimentos entre as posies-limite. (FREITAS apud KALINA, 1973, p. 26)

    Enquanto para Bessa e Pinsky (2009, p. 1) poucos fenmenos sociais geram

    mais preocupaes entre pais e professores, custos com justia e sade,

    dificuldades familiares e notcias na mdia do que o uso (e o abuso) de lcool e

    drogas.

    Fenmeno que se torna inteligvel porque as duas condies necessrias e

    suficientes para que algum se torne um toxicmano so: a primeira que ele

    encontre a droga; a segunda sua relao com a transgresso da Lei. (FREITAS

    apud OLIEVENSTEIN,1982, p. 18).

    Conforme descrito pelos autores acima, a problemtica com as drogas

    influencia diretamente em custos com sade, justia, e tambm nos dias atuais

    provoca o temido bullying, alm de todo o problema na estrutura familiar e na

    sociedade.

    Nesse contexto, a Casa de Recuperao Manancial de Vida, se enquadra

    como clinica residencial comunitria para recuperao e desintoxicao de

  • 18

    dependentes de substncias qumica, sejam lcitas ou no. Ela oferecem ambiente

    ambulatorial de moradia livre de substncias, funcionando com transio para

    pacientes em recuperao que ainda no so capazes de se manterem de forma

    independente sem significativo risco de recada. (APA, 2006, p. 28).

    No obstante, para Costa (2008, p. 52), as casas de recuperao tm o

    objetivo de isolar o usurio ou dependente qumico, durante o perodo de sua

    recuperao, fazendo assim que o indivduo fique afastado do ambiente que o

    estimula ao consumo de drogas, dando-lhe um ambiente calmo e aprazvel, onde

    esteja seguro evitando assim possveis reincididas.

    Liberati (1991) aborda a respeito do tema relativo teraputica especializada:

    J est provado que o tratamento especializado de orientao a alcolatras e toxicmanos o melhor caminho para sua reabilitao e cura e para a preveno da delinqncia, tendo em vista que existe forte correlao entre alcoolismo e criminalidade. [...] O toxicmano, por sua vez, relaciona-se estreitamente com a criminalidade e arrasta a criana e o adolescente para um comportamento anti-social e perturbado. (LIBERATI 1991, p. 45)

    Diante do exposto, Arrais (2013, p. 9) afirma a respeito da preveno que

    somente com a preveno se pode evitar que a criana ou o adolescente tenha a

    curiosidade de experimentar pela primeira vez uma substncia psicoativa.

    Entretanto, Dihel e Figlie (2014) comentam:

    O jovem como foco: investir para o desenvolvimento de sua criatividade crtica e construo de seus prprios mecanismos alternativos s drogas, alm de uma postura reflexiva sobre significados subjetivos e sociais delas. Enfatiza a construo do conecimento crtico, a modelagem tica e a escolha informada e reflexiva. (DIEHL e FIGLIE, 2014, p. 235).

    Em suma, ao se consultar diversos autores em diferentes obras encontraram-

    se vasto material literrio que enriquecem o assunto relativo preveno e

    recuperao relacionadas s drogas; porm so necessrias alternativas com

    posturas verdadeiramente preventivas, que se mostrem na prtica e que se

    fundamentem em tericos; mas que se constatem principalmente na convivncia e

    atuao scio- cultural por jovens e adolescentes.

  • 19

    CAPTULO 1 DROGAS, QUESTO SOCIAL E CONCEITOS

    Para Raupp e Costa (apud ESCOHOTADO, 1996 e BASTOS e COTRIM,

    1998):

    Apesar de o uso de drogas ser uma prtica presente desde os primrdios da humanidade, nas ltimas dcadas, indicadores apontam que o abuso dessas substncias vem tomando dimenses preocupantes, por vezes trazendo srios prejuzos populao, principalmente entre adolescentes e adultos jovens. Entre os diversos danos secundrios associados ao consumo abusivo de drogas, destacam-se os acidentes de trnsito, as overdoses, as doenas cardiorespiratrias, os prejuzos escolares e ocupacionais, assim como a violncia decorrente da ao farmacolgica dessas substncias, qual associa-se, muitas vezes, ocorrncia de brigas, homicdios e prtica de atos ilcitos entre os jovens. (RAUPP e COSTA, apud ESCOCHOTADO,1996 e BASTOS e COTRIM, 1998, p. 1).

    Desta forma surge o questionamento de quais questes sociais influenciariam

    ou levariam ao adolescente experimentar substncias entorpecentes, ficando o

    questionamento de que se seria prevenvel chegar a este ponto.

    Tal ponto de preveno justificar-se-ia com a gama de informaes e acesso

    quase que irrestrito a levantamentos realizados sobre tais substncias indicando,

    demonstrando o prejuzo que advm com seu uso, ento porque mesmo assim os

    jovens insistem em se enveredar por esse caminho?

    Queiroz (1992) afirma que as principais causas dos jovens usarem drogas

    so relacionadas a:

    - Fuga de problemas solido, revolta, frustrao, pobreza extrema... Mas os principais problemas que levam ao uso de drogas so os familiares [...]. - Meio ambiente ms companhias, ms leituras... A gente no quer sentir-se rebaixado perante os colegas [...]. - Curiosidade por que ningum toma formicida para ver como ? - Personalidade mal estruturada causada principalmente pela instabilidade emocional e insegurana. - Uso excessivo de medicamentos. (QUEIROZ, 1992, p. 30).

  • 20

    Queiroz (1992) ao citar, sob sua tica, os motivos pelos quais os

    adolescentes iniciam-se no uso de drogas, justifica ao mesmo tempo o pano de

    fundo que leva aos tpicos citados, demonstrando a verdadeira causa que culmina

    com a drogadio juvenil. Inclusive percebe-se que o autor incorporou certo repdio

    quando cita o tpico curiosidade, visto que como j dito, com tanta informao, a

    curiosidade seria quase que intolerada como justificativa para a primeira

    experimentao relacionada a substncias entorpecentes, tornando-se

    definitivamente uma justificativa a seu ver, falha, mas e quanto aos demais tpicos,

    seriam ento aceitveis?

    H que se perceber que o uso ou abuso de drogas demonstram sempre um

    desequilbrio, mesmo sendo inmeros os motivos para se usar tais substncias, mas

    o que sempre tem que se levar em conta que quase sempre as pessoas que de

    drogas acabam fazendo uso acabam no tendo conscincia do processo em que

    esto envolvidos. (DRUMMOND e FILHO, 2004, p. 40).

    No grfico 2 fica demonstrado a idade mdia em que os adolescentes

    experimentam pela primeira vez algum tipo de substncia psicoativa.

    Grfico 2 - Idade mdia na qual se usou pela primeira vez algum tipo de substncia

    psicoativa.

    Fonte: Levantamento Nacional sobre o consumo de Drogas Psicotrpicas entre Estudantes do Ensino fundamental e mdio da rede pblica de ensino nas 27 capitais brasileiras 2004. Disponvel em: .

    10 10,5 11 11,5 12 12,5 13 13,5 14 14,5

    Cocana

    Maconha

    Crack

    Tabaco

    lcool

    14,4

    13,9

    13,8

    12,8

    12,5

  • 21

    Evidenciou-se que invariavelmente o adolescente comea pelo uso de

    bebidas alcolicas e posteriormente vai galgando para outras substncias, que

    apresentam efeitos cada vez efeitos mais potentes, iniciando-se seu consumo em

    mdia aos doze anos e meio, culminando at antes dos quinze anos para o uso de

    cocana.

    Segundo Pinsky e Bessa (2009), notoriamente v-se que com mais

    frequncia que bebidas alcolicas tornam-se uma companhia cada vez mais comum

    para o adolescente, sendo utilizado como agente socializador, pois normalmente

    sob seu efeito o adolescente se sente mais desinibido, abrindo ento a porta de

    entrada para a experimentao, para o uso de substncias mais potentes.

    No grfico 3 pode se perceber que segundo estudo do NEAD (2001) nota-se

    o quo o uso de bebidas alcolicas largamente superior ao uso das demais

    substncias psicoativas consumidas no Brasil at o ano de 2001, porm nota-se que

    h tambm o consumo de outras substncias psicotrpicas sejam elas lcitas ou

    ilcitas e que o consumo dessas mesmas substncias j no ano de 2012 sofre uma

    mudana em seus ndices percentuais (grfico 4), demonstrando uma queda do

    consumo de bebidas alcolicas em detrimento ao consumo de outras substncias

    psicotrpicas.

    Grfico 3 - Drogas mais utilizadas no Brasil (2001)

    Fonte: NEAD - Ncleo Einstein de lcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

    Crack1%

    Cocana2%

    Calmantes e Xaropes

    5%

    Inalantes 5%

    Maconha 7%

    Tabaco15%

    lcool65%

  • 22

    Grfico 4 - Drogas mais utilizadas no Brasil (2012)

    Fonte: Costa et. al. via reacaosocial.com(1)

    O que pode se perceber ento que houve uma diminuio considervel do

    consumo de bebidas alcolicas, porm com o agravante de que tal substncia

    deixou de ser consumida, ou teve seu consumo diminudo devido ao aumento do

    uso de outras substncias psicoativas, demonstrando, portanto que o consumo de

    drogas ilcitas teve um aumento importante, com destaque para o aumento no

    consumo de maconha, cocana e crack.

    Considerando que a presente pesquisa bibliogrfica dar-se- no estado da

    Bahia, apresentam-se ento nmeros para endossar os grficos anteriormente

    mencionados, demonstrando que entre os anos 1987 e 2004, especificamente na

    cidade de Salvador, houve uma reduo no percentual de consumo de bebidas

    alcolicas ao mesmo tempo em que houve um aumento como mencionado de

    substncias ilcitas como maconha e cocana (tabela 1).

    Tal fato entre estudantes nos remete a ausncia da chamada preveno

    indicada [...], que focaliza estudantes que j esto desenvolvendo evidncias leves,

    _____________________

    (1) Disponvel em:

    Nia1%

    Crack3%

    Calmantes e Xaropes

    4%Inalantes

    5%

    Tabaco15%

    Maconha16%

    Cocana 16%

    Pasta de cocana 17%

    lcool23%

  • 23

    porm detectveis, do problema. (DIMEFF et. al., apud GORDON, 1987, p. 17).

    Tabela 1 Nmeros de estudantes que utilizaram algum tipo de substncia psicoativa (%) em Salvador / BA

    Drogas Anos dos Levantamentos 1987(%) 1989(%) 1993(%) 1997(%) 2004(%)

    lcool 79,9 80,0 77,7 79,5 63,1 Tabaco 17,9 22,8 19,3 30,5 17,7

    Maconha 1,7 1,6 2,4 8,3 3,4 Cocana 0,2 0,4 0,4 1,0 1,6

    Solventes 18,4 17,6 13,1 14,4 11,9

    Fonte: OBID - Ano IV - N. 06 - Junho de 2005 - Secretaria Nacional Antidrogas

    1.1 Questes sociais que perpassam o uso de drogas

    Hoje em dia muito se fala em consumo demasiado de substncias

    psicoativas, a impresso que se tem que foi inventada uma frmula mgica, algo

    que nos transporta para um mundo livre de problemas, que ao chegarmos em casa

    estressados tomamos um usque ou ingerimos qualquer comprimido mgico e

    teremos uma noite mais tranqila, ficaremos relaxados a ponto de os problemas

    desaparecerem momentaneamente.

    Acselras (2005) aponta que:

    O uso de certas drogas lcitas, como o lcool continuam sendo evocados de forma glamourizada associadas juventude, beleza, ao sucesso de figuras pblicas e incentivado, como na recente publicidade do experimenta numa abordagem bem diferente dos clips das campanhas contra as drogas de uso ilcito: nesse caso o prazer totalmente negado, predominando imagens de perigo, doena, escurido, degradao fsica, horror, morte. Assim, permanece a confuso do verdadeiro e do falso, que no contribui para esclarecer as diferenas de uso que foram, e continuam sendo, construdas historicamente. O esclarecimento se compromete, assim como a construo de uma conscincia de riscos (ACSELRAD, 2005, p.195).

    O problema que a introduo do lcool, uma droga lcita, uma porta

    aberta ao incio do consumo de substncias psicoativas ilcitas, caracterizando

    assim o incio do uso de drogas mais potentes, iniciando-se o consumo de maconha

    ou cocana, por exemplo, muitas vezes dentro de nossos prprios lares, onde o

  • 24

    adolescente tem acesso ao primeiro contato com algum tipo de substncia

    psicoativa.

    Pinsky e Bessa (2009)

    A adolescncia um perodo de vida em que, naturalmente, h dificuldades para se suportar as recorrentes condies de estresse [...] Afinal [...] h uma forte carga de presso social a exigir que os jovens [...] tornem-se menos dependentes. Cabe aos adultos encontrar o ponto exato de equilbrio para no impedir esse gradativo e necessrio processo de autonomia pessoal e, ao mesmo tempo, evitar que em nome de uma pretensa liberdade o adolescente se torne, por exemplo, presa fcil da droga. (PINSKY e BESSA, 2009, p. 18).

    Jeols, Paulilo e Capelo (2007, p. 156) verificaram que o aumento do uso

    abusivo de drogas entre os jovens acontece com prevalncia entre 12 e 16 anos de

    idade, uma fase de alta instabilidade emocional, indicando uma fase de risco para a

    dependncia qumica e ainda que depois de instalado o vcio, a tentativa de trazer

    de volta o adolescente bem mais complicada e difcil.

    Segundo Lima (2011, p. 1) o consumo de substncias psicoativas fenmeno

    recorrente e disseminado em diversas sociedades humanas, enraizado, atrelado a

    eventos familiares, associado inicialmente alegria e festa, entretanto, os modos

    pelos quais essa existncia e esses usos so concebidos e vivenciados variam

    histrica e culturalmente.

    Vergara (2002, p.32) afirma que aps um sculo tentando eliminar as drogas,

    o mundo descobriu que isso impossvel. Devendo ento saber como conviver com

    elas, inclusive esta situao se comprova, pois, hoje ocorrem debates na sociedade

    civil sobre a legalizao de determinadas substncia que mostram - se

    consideravelmente ilegais, como o caso da maconha, porm a inteno da

    pesquisa no adentrar no mrito desta questo.

    O que poderia se dizer ento que estamos entregues ao bel prazer da

    sorte? O que de fato podemos fazer para proteger nossos jovens e por

    consequncia nos proteger?

    Nos dias atuais o consumo de drogas vem aumentando cada vez mais e

    mais. Seria resultado de uma sociedade que valoriza o consumo de tais

    substncias? Seria o desejo de se encontrar solues mgicas para os problemas?

  • 25

    Drummond e Filho (1998) descrevem que O uso de drogas um fenmeno

    contemporneo. O modo de vida atual transmite aos homens a idia de que sempre

    h uma soluo externa, mgica e imediata para resolver quaisquer dificuldades.

    (DRUMMOND e FILHO 1998, p. 15).

    Sendo que ainda os autores citados anteriormente so incisivos em dizer que

    exatamente esse o aparente papel das drogas e essa ideia que corrompe o

    adolescente, a iluso de que a droga seria uma soluo mesmo que temporria para

    determinadas situaes, levando-o a no se preocupar com o resultado negativo

    para si mesmo e para outrem.

    Entretanto, diante dessa realidade, as atitudes quase sempre leviana de

    quem se inicia no uso e consumo de substncias psicoativas sempre passa pelo

    desgaste psicolgico e emocional, no s de si mesmo, mas tambm envolve sua

    famlia e a sociedade como um todo.

    Novais (2012) descreve claramente como a droga afeta as famlias:

    Esse mal atinge a humanidade principalmente de quatro formas: Primeira, a pessoa-usuria, que vive amarrada a um sistema de criminalidade para adquirir a droga, substncia destruidora de sua prpria sade; Segunda, a famlia da pessoa-usuria, que, dia aps dia, carcomida pelo sofrimento de acompanhar um ente querido destruir paulatinamente a prpria vida, em razo de sua dependncia qumica; Terceira, o Estado, por assistir sua autoridade sendo afrontada e confrontada pela ao dos traficantes; e Quarta, a sociedade, que vive aterrorizada pelas aes criminosas, movidas em torno do trfico de drogas: furta-se, rouba-se e mata-se em decorrncia da maldita da droga. (NOVAIS, 2002, p. 1, grifo nosso)

    Com tal linha de pensamento, suscita-se o entendimento quanto ao fato de

    que o adolescente se v numa situao de confronto interno. Assim, vrios autores

    apontam que a situao adversa que conduz o adolescente para o caminho das

    drogas, situaes como a de incluso em determinados grupos por exemplo.

    Para Robaina (2010, p. 22) [...] o adolescente v-se obrigado a aceitar essas

    regras a fim de poder ingressar no grupo. [...] Se a droga for um dos valores

    importantes de seu grupo, isso pode levar o adolescente novo ao grupo a us-la, de

    inicio s para experimentar.

    Ilusrio, este o verdadeiro nome do aparente resultado que o consumo de

    drogas pode provocar, pois gera apenas um distanciamento ilusrio dos problemas e

  • 26

    percalos que existem e findados seus efeitos, surgem ento outros problemas,

    piorados, pois, acrescenta-se aos problemas j existentes o uso de tais substncias.

    Estaramos ento realmente numa luta desigual? Nada podemos fazer para

    evitar a drogadio juvenil?

    A questo social que deriva do uso de drogas pelo adolescente implica em

    dois aspectos relevantes que necessitam de serem afrontados:

    1) Como produzida, quem a produz, quem s vende, como se chega s

    mos do adolescente?

    2) Como e onde se d seu consumo, quais as implicaes de seu uso?

    A primeira questo se responde baseando-se na lei do livre comrcio, a

    chamada lei da oferta e da procura, assim descrita: Quando tratamos do mercado

    de consumo, fica ntida a relao entre o que pode ser produzido, a oferta, e o que

    se deseja e possvel consumir, a procura. (RATTO, 2008, p. 43).

    Em termos gerais, fcil se concluir que a produo s existe se houver

    busca, procura, e que tal demanda estimula cada vez mais a produo, ou seja, uma

    cadeia em que se no houver o rompimento de um dos elos, dificilmente findar.

    Considerando para essa questo, no basta buscar culpados, atribuir o nus

    da culpa dificilmente diminuir o problema surgido com a introduo das drogas em

    nossa sociedade.

    Silva (apud TIBA, 1999, p. 1) tambm se mostra bem interessado por esta

    questo, e alerta que as polticas antidrogas precisam romper com a perspectiva

    exclusivamente repressiva e investir maciamente em aes preventivas.

    Nesse sentido, as casas de recuperao so, comprovadamente, a melhor

    opo para situaes em que se podem aplicar medidas socioeducativas, porm,

    no basta apenas procurar casas de apoio para amontoar adolescentes em situao

    de drogadio.

    Segundo Liberati (1991):

    J est provado que o tratamento especializado de orientao a alcolatras e toxicmanos o melhor caminho para sua reabilitao e cura e para a preveno da delinqncia, tendo em vista que existe forte correlao entre alcoolismo e criminalidade. [...] O toxicmano, por sua vez, relaciona-se estreitamente com a criminalidade e arrasta a criana e o adolescente para um comportamento anti-social e perturbado. (LIBERATI, 1991, p. 45)

  • 27

    Diante de tal fato, correto alegar que as drogas devem ser enfrentadas no

    s pela sociedade civil, mas tambm pelo Estado e entidades de defesa como as

    ONGs, ou seja, que se unam primeiro, segundo e terceiro setores em prol dessa

    causa socioeducativa .

    Quanto ao questionamento apontado no segundo item, correto afirmar que

    o uso indiscriminado de substncias entorpecentes pelo adolescente fruto de uma

    sociedade omissa, que no v o que passa diante de seus olhos por ser mais

    conveniente, afinal se tratando o efeito e no as causas, tm-se impresso de que

    estaremos remediando algo.

    Teria o adolescente nos moldes atuais da nossa sociedade direito de

    escolha? So dadas alternativas para que esse indivduo ainda em fase de

    transformao, de liberao de hormnios, tenha escolha?

    Para Brasil (2013), o direito de escolha considerado, por muitos, um dos

    mais fundamentais que uma sociedade pode oferecer, todavia h que se

    proporcionar verdadeiramente esse direito de escolha, afinal a escolha somente

    uma opo quando se tem informao.

    Dessa maneira, pauta - se por um momento de reflexo sobre o "termo

    escolha", pois, as questes anteriormente citadas, podem ser um ponto de partida

    para um aprendizado amplo, com vistas para novas modalidades voltadas para um

    olhar critico em relao s drogas e sociedade atual.

    Enfim, a verdade que quando so difundidas alternativas de escolhas em

    meio aos convencionalismos sobre certos temas polmicos envolvendo a

    drogadio juvenil, a pesquisa fundamentada e estatstica reais pode superar a

    impresso de que o direito de escolha no uma opo, e que estamos condenados

    a aceitar uma situao pr-determinada.

    1.2 Mas afinal, o que so as drogas?

    Primeiramente, para se levantar uma abordagem conceitual sobre as drogas,

    se faz necessrio que se concentre sobre o que seriam as drogas, quais os tipos,

    efeitos, e como so consumidas, alm das questes sociais que decorrem de seu

    consumo.

    Segundo Giglioti e Bessa (2004):

  • 28

    Quando refletimos sobre o conceito da palavra droga, logo pensamos em cocana, herona, maconha, craque entre outros tantos nomes que so dadas s drogas lcitas e ilcitas existentes. No nos deportamos ao lcool como sendo uma das drogas mais utilizadas [...] (GIGLIOT e BESSA 2004, p. 03).

    importante considerar, portanto, que para entender tal assunto, devemos

    suscitar quais so os fatores de risco que levam ao uso e ao abuso de drogas, no

    apenas conhecendo o conceito mas sim sabendo que tais fatores agem de forma

    diferente em pessoas diferentes, e que fazem parte dessa diversidade o modo de

    vida, condies sociais e psicolgicas, e tambm que todos esses determinantes

    tornam algumas pessoas so mais inclinadas ao uso de tais substncias.

    Vilela (2012, p. 4), descreve que problemas relacionados ao uso de drogas

    surgem, de fato, de um encontro entre trs fatores bsicos demonstrando que

    operando juntos, tais fatores provocam as aberturas que levam a experimentao e

    posteriormente at mesmo a dependncia.

    So eles:

    - droga, o "produto" e seus efeitos;

    - a pessoa, a personalidade e seus problemas pessoais;

    - a sociedade, o contexto scio-cultural e econmico, suas presses e

    contradies.

    Assim sendo, chega-se ao denominador comum de que a porta de entrada

    para o consumo de drogas ilcitas, quase que invariavelmente passa pelo consumo

    de bebidas alcolicas, principalmente, na fase da adolescncia em que ocorre um

    perodo de desorganizao temporria, em que o distanciamento dos pais, os

    comportamentos estranhos so meios que os adolescentes empregam para evoluir

    a um padro de relacionamento mais adulto. (ROBAINA, apud MEDA e LEITE 2011,

    p. 3), o que aponta claramente a situao de que se prevenindo desde o lar, com o

    modo de se comportar dos pais, por exemplo, torna - se uma possvel entrada deste

    adolescente ao desejo de se adentrar neste caminho sombrio menos tentador.

    1.3 Conceitos de droga

    As drogas so qualificadas conforme sua concentrao e onde atuam. Assim

    sendo, as chamada substncias psicotrpicas so estabelecidas e elencadas

  • 29

    conforme seu modo de ao no Sistema Nervoso Central e subdivididas em

    vrias classes.

    Para Longenecker (2008) a definio de droga :

    Droga toda e qualquer substncia, natural ou sinttica que, introduzida no organismo modifica suas funes. As drogas naturais so obtidas atravs de determinadas plantas,de animais e de alguns minerais. Exemplo a cafena (do caf), a nicotina (presente no tabaco), o pio (na papoula) e o THC tetrahidrocanabiol (da maconha). As drogas sintticas so fabricadas em laboratrio, exigindo para isso tcnicas especiais. O termo droga, presta-se a vrias interpretaes, mas comumente suscita a idia de uma substncia proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivduo, modificando-lhe as funes, as sensaes, o humor e o comportamento. [...] O termo droga envolve os analgsicos, estimulantes, alucingenos, tranquilizantes e barbitricos, alm do lcool e substncias volteis. (LONGENECKER, 2008, p. 309)

    Entretanto, algo que passa a ideia de tamanha nocividade, visto que modifica

    as funes do organismo, porque assim to procurado?

    Novamente evoca-se a situao de status, colocao em determinado grupo,

    que o adolescente anseia por estar inserido em galeras, o que o leva a enveredar

    por caminhos nem sempre corretos quando no encontra apoio familiar, estrutura,

    educao e outros fatores; mesmo sabendo dos malefcios que as drogas causam

    sociedade como um todo, tanto quanto ao individual, mesmo assim o adolescente

    acaba tendo contato com a droga, seja ela lcita ou ilcita.

    Sendo assim, o tema que deveria ser levantado e analisado ento seria: at

    que ponto a questo social do uso de drogas influencia no nosso modo de viver.

    Estaramos ento mais preocupados em cuidar dos efeitos, sem questionar

    ou combater as causas? At que ponto nossa sociedade tolerante com o uso de

    drogas pelos adolescentes?

    1.4 Conhecendo os tipos de drogas mais comuns

    Brasil (2010) conceitua as drogas da seguinte forma:

    Drogas so substncias que produzem mudanas nas sensaes, no grau de conscincia e no estado emocional das pessoas. As alteraes causadas por essas substncias variam de acordo com as caractersticas

  • 30

    da pessoa que as usa, da droga escolhida, da quantidade, frequncia, expectativas e circunstncias em que consumida. Essa definio inclui os produtos ilegais (cocana, maconha, ecstasy, herona...) e tambm produtos como bebidas alcolicas,cigarros e vrios remdios, que so legais, apesar de haverem sua comercializao. Por exemplo: proibida a venda de bebidas alcolicas para menores de idade. (BRASIL, 2010, P. 5).

    O Observatrio Brasileiro de Informaes sobre Drogas (OBID) d como

    definio de drogas:

    [...] drogas utilizadas para alterar o funcionamento cerebral, causando modificaes no estado mental so chamadas drogas psicotrpicas. O termo psicotrpicas formado por duas palavras: psico e trpico. Psico est relacionado ao psiquismo, que envolve as funes do sistema nervoso central; e trpico significa em direo a. Drogas psicotrpicas, portanto, so aquelas que atuam sobre o crebro, alterando de alguma forma o psiquismo. Por essa razo, so tambm conhecidas como substncias psicoativas. As drogas psicotrpicas dividem-se em trs grupos: depressoras, estimulantes e perturbadoras. (BRASIL, 2007 OBID / MJ).

    As chamadas drogas depressoras, que agem, sobre o sistema nervoso

    central diminuem o funcionamento do crebro, tornando-o mais lento, causando

    ansiedade, diminuindo a concentrao, e as capacidades do intelecto e de

    memorizao. (BRASIL, 2007, OBID). So as bebidas alcolicas, os medicamentos

    derivados de benzodiazepnicos, anticonvulsivantes clorofrmio (cheirinho da lol) e

    opiceos.

    Brasil (2007) tambm define como drogas estimulantes aquelas que agem no

    sistema nervoso central acelerando seus sistemas neurais, o que provoca estado

    de alerta aumentado, rapidez e confuso de pensamentos, alm de insnia, so os

    estimulantes, energticos, cocana e o tabaco de um modo geral.

    Concluindo a definio de drogas, restaram as chamadas drogas

    perturbadoras, que agindo sobre o sistema nervoso central produzem uma srie de

    distores qualitativas no funcionamento do crebro, como delrios, alucinaes e

    alterao na senso-percepo. [...] so tambm chamadas de alucingenos.

    (BRASIL, 2007, OBID).

    Entram nesta categoria de psicotrpicos a maconha, o cido lisrgico (LSD),

    ecstasy, os medicamentos anticolinrgicos e plantas alucingenas.

  • 31

    Destarte, apesar de vrias substncias serem psicoativas, sendo elas lcitas

    ou ilcitas, nota-se que o que h de consumo corriqueiro so, inicialmente, o uso de

    bebidas alcolicas, migrando posteriormente para as chamadas drogas mais

    pesadas como maconha, cocana, ecstasy e at mesmo o crack.

    No Brasil o uso de drogas normalmente se inicia muito cedo, s vezes por

    curiosidade, s vezes por rebeldia, mas na maioria dos casos serve para a criana

    ou o adolescente se inclurem em algum grupo especfico, para ter status.

    A Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) afirma que os ltimos vinte anos,

    o consumo de drogas, principalmente o de bebidas alcolicas, vem aumentando no

    Brasil. O mesmo tem acontecido com o uso de maconha, cocana e crack. (BRASIL,

    2010).

    Ento como combater o que no se conhece?

    Torna-se evidente que para se prevenir, e se combater o uso de drogas h

    que se conhecerem os tipos de drogas mais comuns, seus efeitos, e sinais e

    caractersticas que o usurio possa apresentar, para assim, identificar quando o

    adolescente ou a criana esto em uso de tais substncias entorpecentes.

  • 32

    CAPTULO 2 - POLTICAS SOCIAIS E LEGISLAO ANTIDROGAS

    Segundo a Constituio Federal de 1988, Todos so iguais perante a lei,

    sem distino de qualquer natureza, garantindo-se [...] direito vida, liberdade,

    segurana e propriedade. (BRASIL, 1988, C.F.).

    Sabendo que tal preceito vigente em nossa carta magna, torna-se

    tenebroso saber que esse direito no respeitado, tornando assim o futuro sombrio

    e vivenciando-se o desinteresse e descaso pela adolescncia ruminada por drogas

    extremamente potentes na deteriorao da existncia (MEDA e LEITE, 2011, p. 8).

    Deveramos ento tomar a iniciativa sobre o problema da drogadio? Seria

    correto deixar para as autoridades competentes a soluo do problema e nos

    eximirmos de qualquer culpa?

    Acreditando que cada qual deve chamar a responsabilidade para si, correto

    afirmar que todos somos responsveis, tanto pela situao, quando pela tentativa de

    soluo; no se pode fechar os olhos e esperar que os rgos governamentais ou

    iniciativas como as das casas de recuperao solucionem o problema da

    drogadio, seja ela em qual fase da vida for, no existem solues mgicas.

    Segundo Petry (2005, p. 29) o problema da droga no existe em si, o

    resultado do encontro de um produto, uma personalidade e um modelo scio-

    cultural. Qualquer pessoa, a qualquer momento, pode encontrar um produto txico,

    legal ou ilegal, em seu caminho.

    No Brasil, efetivamente o discurso extremamente simplista, dando mostras

    de que o que se deve fazer to somente reprimir, dando a impresso de que desta

    forma o problema seria resolvido.

    Acserald (2005) versa brilhantemente sobre o tema levantado:

    No Brasil, predomina ainda o discurso repressivo, no havendo registro de polticas democrticas, identificadas com o interesse pblico no que se refere s drogas. A poltica governamental foi, durante muitos anos, uma expresso do texto legal Lei n. 6368, elaborada em 1976, que dispe sobre medidas de preveno e represso ao trfico ilcito e uso indevido de substncias entorpecentes ou que determinem dependncia fsica ou psquica (nascida com base na Segurana Nacional) durante a ditadura militar 1964-1979. Essa Lei mantm presentes as caractersticas de um perodo de exceo: todos os brasileiros devem prevenir o uso e combater o trfico ilcito, sob risco de penalizao; as escolas que no colaborarem correm o risco de perder subvenes eventuais. Professores devero receber formao sobre o tema durante a graduao, benefcio at hoje no implementado. Criminaliza-se o usurio, penalizam-se todos os

  • 33

    que estiverem prximos, como cmplices, facilitadores (ACSERALD, 2005, p.190).

    Ento, o que o governo tem feito pela resolutividade do que se pode chamar

    hoje de epidemia social no caso do uso de drogas. Sabemos que necessrio muito

    mais que um discurso miditico e governamental de que a medida autoritria da

    internao compulsria resolver o problema histrico das drogas no Brasil.

    (BRITES, 2013 n.p.).

    Vrias medidas foram tomadas pelo Governo Federal como criao de uma

    Secretaria Nacional Antidrogas, atravs da Lei de n 8.764, de 20 de dezembro de

    1993 que tinham como norteadores, seu 4 artigo:

    Art. 4 Incumbe Secretaria Nacional de Entorpecentes promover a integrao ao Sistema Nacional de Preveno, Fiscalizao e Represso de Entorpecentes dos rgos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios que exeram atividades concernentes preveno, fiscalizao e represso do uso e trfico ilcitos de entorpecentes e substncias que determinem dependncia fsica ou psquica. (BRASIL, 1993, n.p.)

    E seu artigo 10 que dava nova redao ao Artigo 1 da Lei n 7.560, de 19 de

    dezembro de 1986, ficando com o seguinte texto:

    Art. 1 Fica institudo, no mbito do Ministrio da Justia, o Fundo de Preveno, Recuperao e de Combate ao Abuso de Drogas (Funcab), a ser gerido pela Secretaria Nacional de Entorpecentes, cujos recursos devero ter o seu plano de aplicao e projetos submetidos apreciao prvia do Conselho Federal de Entorpecentes. (BRASIL, 1993, n.p.).

    Petry (apud MESQUITA, 2004) acredita que o nome atribudo Secretaria foi

    bastante infeliz e justifica que a droga uma substncia inerte, incapaz de por si s

    causar qualquer problema.

    Destarte, tais medidas mostraram-se ineficientes. Tornando-se necessrio

    algo mais que um discurso enrgico, ou leis inconsistentes, que eram incuas.

    Sabendo ento do quanto o Estado estava omisso na questo social relativo

    uso de drogas, o governo ento, editou a Lei n 11.343, de 23 de Agosto de 2006.

    Institui o Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para preveno do uso indevido, ateno e reinsero social de usurios e dependentes de drogas; estabelece normas para

  • 34

    represso produo no autorizada e ao trfico ilcito de drogas; define crimes e d outras providncias. (BRASIL, 2006, n.p.).

    Porm as polticas sociais no que tangem ao combate ao uso de drogas

    basicamente se limitaram Poltica Nacional Antidrogas criada nos anos 2000,

    tendo sido um avano, pois at a dcada de 1980 a criana e o adolescente em

    drogadio, quando pobre, era criminalizado e por vezes retirado do convvio

    familiar. (SENAD, 2013, n.p.).

    2.1 Histrico das polticas de atendimento criana e ao adolescente em drogadio

    Brasil (apud CONCEIO e OLIVEIRA, 2013),

    At o fim da dcada de 1970, a orientao jurdica para as aes relativas infncia e adolescncia era guiada pelas representaes sociais disseminadas, expressando distores e preconceitos. As crianas das classes populares eram percebidas como bandidos em potencial. Considerava-se que, se essas crianas fossem afastadas de seus lares, por meio da institucionalizao, as situaes de risco associados pobreza seriam prevenidas. As famlias, por suas condies precrias de vida, eram consideradas incompetentes para promover o desenvolvimento adequado das crianas. (BRASIL apud CONCEIO e OLIVEIRA, 2013, ps. 279 - 280).

    Nota-se que at o final dos anos 70 do sculo XX, acreditava-se que a

    responsabilidade pela criana e o adolescente em condio social de risco era de

    competncia to somente da famlia que em situao de pobreza quase no tinha

    condies de conduzir esse jovem, onde a sociedade se isentava de qualquer

    responsabilidade, causando a criminalizao da criana e do adolescente que

    entrasse em situao de drogadio, transformando a violncia poltica em violncia

    social. (RINKE, 2012, p. 140).

    Em seguida, editada no governo do Presidente Joo Figueiredo a Lei 6.697

    de 10 de outubro de 1979, conhecida como o Cdigo de Menores, termo usado

    poca para identificar crianas e adolescentes, foi uma ferramenta que passou a

    impor algumas prticas sociais, visto que o texto legislativo mudava a tica da

    questo da drogadio juvenil e orientava para a integrao familiar e social da

    criana e do adolescente.

  • 35

    A lei em questo apresentava falhas do ponto de vista social, e poucas

    mudanas aos atos j praticados, pois centrava-se ainda no carter arbitrrio e na

    adoo das noes de menor em situao irregular e de periculosidade, o que

    legitimava qualquer mandado judicial de recluso (BRASIL, 2013, p. 280).

    Posteriormente foi revogada, pois surtindo poucos efeitos, houve um clamor

    da sociedade que aumentou com a realizao da assemblia constituinte e

    posteriormente da Constituio de 1988 que previa e propunha polticas sociais e

    aes especiais, com vistas garantia de direitos infncia e adolescncia.

    (BRASIL, 1988, C.F.).

    Por fim, encerrando este tpico, versaremos sobre a criao do ECA, sob a

    forma de Lei de n 8.069 de 13 de julho de 1990 que institui o Estatuto da Criana e

    do Adolescente, que a posteriori revogou a Lei 6.697 citada anteriormente.

    Conceio e Oliveira (2011), aponta a diferena crucial do foco do ECA,

    diferentemente da Lei 6.697

    A grande transformao advinda da criao do novo estatuto a mudana no enfoque: em vez de proteger a sociedade dos menores infratores, prope-se garantir a proteo criana e ao adolescente na condio de seres em desenvolvimento. Esses sujeitos passam a ser concebidos no mais como meros objetos de medidas judiciais e, sim, como pessoas de direitos. (CONCEIO e OLIVEIRA, 2011, n.p.).

    Entre as modificaes na legislao institucionalizado juridicamente pelo ECA

    ficam os progressos relativos aos direitos e garantias da criana e do adolescente,

    detalhadamente, garantindo aos indivduos por ele abrangidos passando a v-los e

    trat-los como seres em desenvolvimento, necessitando desta forma de proteo

    especial pela famlia, pela sociedade e pelo Estado, em regime de responsabilidade

    compartilhada. (RAUPP e COSTA, 2006, n.p.).

    Podemos ver portanto, que com a edio do ECA a criana e o adolescente

    foram vistos finalmente como seres humanos ainda em desenvolvimento,

    necessitando amparo e proteo, orientando-os para se conseguir chegar, no caso

    da pesquisa, preveno da drogadio juvenil.

  • 36

    2.2 PNAD Poltica Nacional Antidrogas

    Antes de se falar em polticas antidrogas, h que se falar primeiramente sobre

    polticas sociais, o que segundo Brs (2012) tem como objetivos:

    [...] prevenir situaes de risco atravs do desenvolvimento de potencialidades e aquisies, e o fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios. Destina-se populao que vive em situao de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privao (ausncia de renda, precrio ou nulo acesso aos servios pblicos, dentre outros) e, ou, fragilizao de vnculos afetivos relacionais e de pertencimento social (discriminaes etrias, tnicas, de gnero ou por deficincias, dentre outras). (BRS, 2012, p. 18).

    Porm quando se fala em polticas sociais no h que se pensar que somente

    deva se esperar dos rgos governamentais, devemos cobrar, pressionar e

    participar mais chamado terceiro setor e no somente aceitar os programas

    oferecidos. Devemos e temos o direito de receber e exigir projetos e medidas que

    condizem com as reais necessidades, e no somente esperar polticas sociais

    paliativas. (OLIVEIRA, 2008, p. 11).

    H que se efetivamente participar da produo de tais polticas, pois das

    polticas sociais que vo surgir os projetos e programas, inclusive as polticas

    antidrogas.

    Toda esta preocupao se d devido ao consumo excessivo de

    entorpecentes e os malefcios que so produzidos por seus efeitos, e a criao de

    leis especficas fazem-se necessrias, pois ponderando que suas sequelas atribuem

    abundante dano a todos, sem conseguir delimitar fronteiras, tendo avano

    considervel o consumo dessas substncias psicotrpicas, no respeitando

    limitaes geogrficas, afetando assim, tanto homens quanto mulheres, adultos,

    adolescentes e crianas, sem distinguir classe ou grupo social ou grupos tnicos, o

    governo resolveu ento implementar no ano de 2006 a PNAD.

    Para Capez (2007) a Lei n. 11.343/2006 que institui o SISNAD trouxe

    inmeras modificaes relacionadas figura do usurio de drogas, como:

    - Criou duas novas figuras tpicas: transportar e ter em depsito; - Substituiu a expresso substncia entorpecenteou que determine dependncia fsica ou psquica por drogas; - No mais existe a previso da pena privativa de liberdade para o usurio;

  • 37

    - Passou a prever as penas de advertncia, prestao de servios comunidade e medida educativa; - Tipificou a conduta daquele que, para consumo pessoal, semeia, cultiva e colhe plantas destinadas preparao de pequena quantidade de substncia ou produto capaz de causar dependncia fsica ou psquica. (CAPEZ, 2007, n.p.)

    Teixeira (apud PALOMO, 2009, p. 6) observa que grande parte do consumo

    de drogas ilcitas no Brasil recreativo, havendo ento a necessidade realmente de

    mudana na legislao antidrogas no Brasil, portanto h que se mudar este

    pensamento errneo, que acaba influenciando a criana e o adolescente.

    Teixeira (2009, p. 63), tambm descreve os motivos imperiosos que urgiram

    para a mudana ocorrida na legislao antidrogas e que trouxeram grandes

    benefcios, sendo:

    - Um precioso tempo do Estado tem sido dedicado aos pequenos delitos de

    drogas, em detrimento da ateno diminuio da violncia e da garantia da

    segurana das pessoas diante dos crimes contra a vida, o patrimnio, o

    constrangimento das comunidades e outros crimes mais graves contra a

    sociedade;

    - A polcia investe grande parte do seu tempo nas prises, a justia no

    julgamento e o Estado na manuteno de pessoas envolvidas em pequenos delitos

    de drogas;

    - As prises cumprem o papel de recrutamento e incentivo de pessoas para a

    prtica continuada de crimes contra o patrimnio e contra a vida, convertendo os

    pequenos comerciantes de drogas em grandes criminosos;

    - O proibicionismo tem feito com que os usurios consumam drogas de baixa

    qualidade, com mistura de substncias qumicas altamente prejudiciais sua

    sade, alm de descuidos no uso que provocam outros problemas, como as

    Doenas Sexualmente Transmissveis (DSTs), Hepatites, etc.;

    - O proibicionismo tem empurrado os usurios para uma arriscada relao

    com o comrcio de drogas, seja pelos mecanismos de emprego da violncia na

    cobrana de dvidas relacionadas ao consumo, seja pelo recrutamento dos usurios

    para o comrcio como forma de custear seu consumo;

    - O proibicionismo tem gerado maior violncia nas comunidades pobres, pois

    a ao repressiva do Estado tem recado principalmente sobre as camadas mais

    populares da sociedade e tem um acentuado vis de discriminao racial.

  • 38

    Finalmente, ou aparentemente luz da legislao foi ento implantada e

    implementada uma lei que aparentemente fez a diferena, que passou a impresso

    de que agora sim, estamos no caminho certo, porm, segundo Petry (2005, p. 34)

    O que a sociedade precisa uma poltica voltada para os usos problemticos,

    respeitosa dos direitos de cidadania, baseada em uma tica de uso equilibrado e

    responsvel, tendo em vista os padres de consumo atuais incorporados.

    Desta forma, correto afirmar que correntes distintas, com diferentes formas

    de pensar sempre podero concordar ou no com determinada lei ou atos

    governamentais, mas independente da corrente que se siga, correto afirmar que a

    dificuldade decorre pela indisponibilidade de recursos, pela insuficincia de

    profissionais treinados e/ou desinteresse poltico (PETRY apud DELGADO, 2005).

    2.3 Parceria Pblico - Privada

    Segundo Mukai et. al. (2006) as parcerias pblico-privadas foram

    regulamentadas pela Lei Federal de n 11.079 datada de 30/12/2004, vindo cooperar

    para estender as discusses, provocando uma verdadeira mistura, unindo interesses

    pblico e privado.

    A referida lei regida no seu artigo 4 com as seguintes diretrizes:

    I eficincia no cumprimento das misses de Estado e no emprego dos recursos da sociedade; II respeito aos interesses e direitos dos destinatrios dos servios e dos entes privados incumbidos da sua execuo; III indelegabilidade das funes de regulao, jurisdicional, do exerccio do poder de polcia e de outras atividades exclusivas do Estado; IV responsabilidade fiscal na celebrao e execuo das parcerias; V transparncia dos procedimentos e das decises; VI repartio objetiva de riscos entre as partes; VII sustentabilidade financeira e vantagens socioeconmicas dos projetos de parceria. (BRASIL, 2004, n.p.).

    Senn (1992, p. 61 - 82) descreve trs formas evidentes de cooperao entre o

    setor pblico e o privado: a cooperao financeira, a cooperao organizacional e

    cooperao estratgica, porm s ser exemplificada a forma aplicada ao presente

    projeto de pesquisa que a Cooperao Estratgica, que indica a vontade de

    cooperar entre ambas as partes. (ARRAIS, 2013, p. 6).

  • 39

    Aplicando-se a legislao, portanto, realidade local, foi firmada uma parceria

    pblico-privada entre a Casa de Recuperao e o CREAS Centro de Referncia

    Especializado de Assistncia Social (Fig. 1), sendo financiado pelo Fundo Municipal

    de Assistncia Social, onde os casos de medidas socioeducativas so enviados para

    a unidade e em contra partida a administrao pblica financia projetos da casa de

    recuperao.

    Fig. 1 CREAS Correntina

    Fonte: Site Oficial Prefeitura Municipal de Correntina, 2014

    Segundo Arrais (2013, p. 8) a parceria estratgica a melhor forma de

    parceria quando se fala de uma iniciativa que teve um incio tmido, contando a

    princpio com servio voluntariado de pessoas ligadas igreja a qual o autor citado

    era ordenado pastor.

    Para explicitar melhor, no prximo captulo discorreremos sobre o trabalho da

    casa de recuperao.

  • 40

    CAPTULO 3 - CASA DE RECUPERAO MANANCIAL DE VIDA

    Segundo Sanchez (2006) o tratamento religioso para dependncia de drogas

    ganha espao na sade pblica no Brasil, compartilhando responsabilidades com o

    servio de sade convencional, buscando como justificativa a ausncia ou pouca

    presena do estado.

    Seguindo esta linha de raciocnio, fica claro a importncia da prtica de uma

    religio e da f no estabelecimento adequado da sade, em diversos nveis, que

    vem sendo estudada e confirmada por muitos meios. (SANCHEZ, apud MOREIRA-

    ALMEIDA et al, 2006; CHAMBERLAIN & HALL, 2000; KOENIG et al, 2001).

    O Conselho Nacional de Polticas Sobre Drogas (CONAD), levando em

    considerao a necessidade de regulamentao de entidades religiosas ou no que

    acolhem indivduos com problemas causados pelo uso, abuso ou dependncia de

    substncia psicotrpica, denominadas ou no de comunidades teraputicas em

    minuta de resoluo a ser publicada, regulamentando tais casas de recuperao de

    cunho religioso diz que Considerando a necessidade de prever garantias s

    pessoas acolhidas, com vistas a preservar seus direitos e evitar a sua

    institucionalizao:

    Art. 2 As entidades que realizam o acolhimento de pessoas com problemas decorrentes do uso, abuso ou dependncia de substncia psicoativa, denominadas ou no de comunidades teraputicas, so pessoas jurdicas, sem fins lucrativos, que apresentam as seguintes caractersticas: I - oferta de programas de acolhimento que empregam a estratgia da abstinncia; II adeso e permanncia voluntrias, formalizadas por escrito, entendidas como uma etapa transitria para a reinsero social e econmica do acolhido; III - ambiente residencial, propcio formao de vnculos, com a convivncia entre os pares; IV oferta de atividades previstas no art. 12 desta Resoluo; V promoo do desenvolvimento pessoal, focado no acolhimento de pessoas, em situao de vulnerabilidade, em decorrncia de problemas decorrentes do uso, abuso ou dependncia de substncia psicoativa. (CONAD, 2014, n.p.).

    Logo, percebe-se que mais que atividade de cunho religioso, as casas de

    recuperao, mesmo que oriunda de algum seguimento cristo, ortodoxo ou no, h

  • 41

    que estarem preparadas para receber a pessoa, o usurio em situao de uso,

    abuso ou dependncia qumica.

    Criada em meados de 2009, a Casa de Recuperao Manancial de Vida,

    localizada na cidade de Correntina / BA (fig. 2), inicialmente prestava um servio de

    evangelizao, apresentando aos mais diversos segmentos da sociedade suas

    credenciais, que eram ajuda aos mais necessitados, que iam desde mendigos,

    passando por alcolatras e usurios de drogas. (ARRAIS, 2013, n.p.)

    Fig. 2 Vista area parcial Correntina localizao casa de recuperao

    Fonte: Google Maps, 2014

    Inicialmente, a Casa de Recuperao tentou amoldar-se ao modelo

    determinado pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria que sobre modelos de

    servios de ateno a toxicodependentes, afirma:

    Servios de ateno a pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substncias psicoativas (SPA), em regime de residncia ou outros vnculos de um ou dois turnos, segundo modelo psicossocial, so unidades que tm por funo a oferta de um ambiente protegido, tcnica e eticamente orientados, que fornea suporte e tratamento aos usurios abusivos e/ou dependentes de substncias psicoativas, durante perodo estabelecido de acordo com programa teraputico adaptado s necessidades de cada caso.

  • 42

    um lugar cujo principal instrumento teraputico a convivncia entre os pares. Oferece uma rede de ajuda no processo de recuperao das pessoas, resgatando a cidadania, buscando encontrar novas possibilidades de reabilitao fsica e psicolgica, e de reinsero social (BRASIL, 2001, p.2).

    A princpio tornava-se de certo modo invivel a manuteno do centro de

    recuperao, pois, a estrutura era insuficiente, o que tornava o trabalho quase que

    voluntrio de pessoas que se interessavam em fazer esse trabalho de recuperao a

    adolescentes em drogadio.

    Quando seu idealizador conheceu o projeto desenvolvido pelo Ministrio

    Pblico de Mato Grosso (MT) - (Fig. 3), passou-se a olhar com outros olhos a

    situao do adolescente usurio de drogas, percebeu-se que ele necessitava de

    tanto ou mais auxlio de que pessoas desestruturadas e em situao de risco social.

    Fig. 3 - Campanha Ministrio Pblico MT

    Fonte: site projeto todos contra as drogas

    Arrais (2013, p. 10) compreendeu, ento, que prevenindo a drogadio na

    adolescncia e recuperando o adolescente em situao de dependncia qumica,

    estariam assim ento, evitando que o mesmo se tornasse um adulto problemtico,

    ou mesmo nem chegasse idade adulta.

  • 43

    Procurou-se ento um modelo a ser seguido at que a casa de recuperao

    encontrasse o seu estilo prprio, adequado s necessidades locais, suprindo assim,

    verdadeiramente ao propsito para o qual foi criada.

    Prontamente resolveu-se seguir o modelo criado pelo Ministrio Pblico do

    Mato Grosso, que se mostrou bastante rico e com objetivo claros sem esquemas

    complexos ou at mesmo mirabolantes, visto que questes desta natureza geram a

    necessidade de aes cada vez maiores por lugares adequados, incluindo

    aproximaes que satisfaam as necessidades desse pblico, fornecendo-lhes

    alternativas. (RAUPP e COSTA, 2006, n.p.).

    O projeto demonstrou ter sido esquematizado alicerado no trinmio

    preveno-recuperao-represso, algo que demonstrou ser bastante interessante e

    de certo modo at mesmo eficiente em relao a outros mtodos levantados, muitas

    vezes pouco ortodoxos.

    A Casa de Recuperao Manancial de Vida (Fig. 4) faz um trabalho com os

    adolescentes que acolhem, podendo ser infratores ou no, realizando atividades de

    cunho educativo, esportivo e ocupacionais, aulas de msica, alm de evangelizao

    dos indivduos que nela se encontrem. (ARRAIS, 2013, p. 18).

    Barbanti et. al. (2002, p. 22) afirma que o esporte pode e deve fazer parte da

    felicidade do homem, seja por caractersticas biolgico-naturais ou pelas scio-

    culturais. Nota-se ento que a prtica de esportes um excelente mtodo de

    terapia ocupacional para aplicar com os jovens em tratamento para dependncia

    qumica, alm de ser um excelente mtodo preventivo.

    As atividades de crio educativo envolvem leituras, as mais diversas e que

    despertem o interesse individual, inclusive com incentivo para que os adolescentes

    retornem ao ambiente escolar, havendo inclusive, aulas de msica, onde os

    adolescentes podem aprender a tocar instrumentos ou mesmo aulas de canto,

    despertando assim o interesse pela msica e cultura, incluindo hbitos musicais

    locais. (ARRAIS, 2013, p. 3).

    Tais atividades esportivas e culturais servem como excelente terapia

    ocupacional, despertando interesses antes no buscados nesses jovens, ficando

    sempre o questionamento de que at onde podemos ir para buscar salvar vidas,

    tornando o trabalho da casa de recuperao importante, pois tais atividades so

    supervisionadas tambm [...] profissionais qualificados, que entendam tanto do

  • 44

    efeito das drogas no organismo como das suas implicaes sociais [...]. (PETRY,

    apud KOWALSKY, 1997, p. 24).

    Fig. 4 Casa de Recuperao Manancial de Vida

    Fonte: Google Imagens, 2014

    3.1 O Trinmio Preveno-Recuperao-Represso

    3.1.1 Preveno

    Para Laranjeira (2004, p. 9), poucos fenmenos sociais ocasionam mais

    gastos com justia e sade, percalos familiares, e notcias nos meios de

    comunicao do que o consumo excessivo de lcool e drogas. Este fato nos leva a

    crer que o pilar, o alicerce para o combate a drogadio na adolescncia, realmente

    deve ser a preveno.

    Arrais (2013, p. 9) afirma que somente com a preveno se pode evitar que a

    criana ou o adolescente tenha a curiosidade de experimentar pela primeira vez uma

    substncia psicoativa, mas sabendo que quando a drogadio j est instalada h

    que se acolher o indivduo e recuper-lo, o que fica bem claro e no deixa sombra

    de dvida, visto que [...] o programa de preveno no pode ter como meta principal

    pr fim a toda e qualquer ocorrncia com drogas [...] ou propr que os usurios

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    simplesmente deixem de existir. preciso tomar cidado para no cair na armadilha

    [...]. ( MALUF et. al., 2011, p. 37-38).

    Partindo deste pressuposto, Brasil (2007) aponta que iniciar um trabalho de

    preveno nas escolas mais fcil, pois nesses ambientes j se encontram uma

    estrutura organizacional mais adequada, porm nem sempre ser na escola onde se

    encontraro os jovens com maiores desvios de conduta, pois normalmente esses

    adolescentes poucos frequentam ou j abandonaram a escola.

    Sab