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i
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
CAMPUS JATA
CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS
GRADUAO EM MEDICINA VETERINRIA
RELATRIO DE ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO:
Manejo de bezerras leiteiras da concepo ao desmame
Benedito Vicente da Silva Filho
Orientador: Prof. Dr. Rogrio Elias Rabelo
JATA
2010
ii
BENEDITO VICENTE DA SILVA FILHO
RELATRIO DE ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO:
Manejo de bezerras leiteiras da concepo ao desmame
Relatrio de estgio curricular supervisionado
apresentado como requisito parcial para a concluso
do curso de Medicina Veterinria junto Universidade
Federal de Gois/Campus Jata.
rea de Concentrao:
Clnica, cirurgia em grandes animais e
acompanhamento tcnico em propriedades leiteiras
Orientador:
Prof.Dr. Rogrio Elias Rabelo
Supervisor:
Md. Vet. Antnio Carlos Cordeiro Verssimo
JATA
2010
iii
BENEDITO VICENTE DA SILVA FILHO
Relatrio de estgio curricular supervisionado para concluso de curso de
graduao em Medicina Veterinria, defendido e aprovado em 06 de dezembro de
2010, pela seguinte banca examinadora:
______________________________________________
Prof.Dr. Rogrio Elias Rabelo
Presidente da banca
______________________________________________
Prof. Dr. Valcinir Aloisio Scalla Vulcani
Membro da banca
________________________________________________
Md. Veterinrio Leuton Scharles Bonfim
Membro da banca
iv
Dedico este trabalho de concluso de
curso ao meu pai Benedito Vicente,
minha me Vilma Morais, meu irmo
Vicente Benedito, e meus amigos, pelo
incentivo, carinho e compreenso sendo
eles responsveis por me tornar uma
pessoa melhor a cada dia, com
humildade, honestidade e dignidade.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente a Deus e Nossa Senhora Aparecida, por estar
sempre ao meu lado me dando sade, fora para seguir em frente, coragem para
enfrentar os problemas, a oportunidade e perseverana para conseguir alcanar
meus objetivos.
Ao Campus Jata/UFG, por ter fornecido os conhecimentos
necessrios, que sempre serviro de base para minha vida profissional, e que me
concedeu a realizao de um grande sonho na minha vida.
minha famlia por estar sempre ao meu lado, me direcionando em
tomar as decises corretas, servindo de apoio nos momentos difceis, em especial
ao meu pai Benedito Vicente, um grande homem a quem sempre me espelho e
tenho muito orgulho, a minha me Vilma Morais, uma mulher guerreira, especial,
que sempre me apoiou e me deu foras, meu irmo Vicente Benedito, que muito
mais do que um irmo, parte de mim, grande companheiro que sempre esteve
ao meu lado.
minha v Ariene, que eu considero muito e sempre foi uma pessoa
muito importante na minha vida e responsvel por eu me tornar a pessoa que sou
hoje.
Ao meu professor, orientador, Rogrio Elias Rabelo, um excelente
profissional que me ajudou muito em minha formao acadmica, sempre me
passando conhecimentos, mostrando o caminho correto, servindo de esteio em
decises importantes, se tornando a cada dia um grande amigo.
Aos meus tios, em especialmente meu tio Zeneto e tia Janete, que me
ensinaram muitas coisas, sempre me acolheram quando precisei, e cuidaram de
mim como um filho, me deram muitos conselhos e orientaes como pessoa, que
serviro por toda minha vida.
Ao Antunes Murilo, um grande companheiro, irmo, que sempre esteve
presente na minha vida acadmica e tenho grande admirao, seu pai Adair e sua
me dona Ftima, a quem tenho eterna gratido por abrir as portas de sua casa e
sempre ter me tratado to bem.
vi
Aos companheiros da faculdade, Fausto Carrijo, Mrio Antnio, Juliano
Pereira, Rmulo, Wiliam Fayad, Fabiano Curtina, Joo Pedro, e todos colegas de
sala pelo companheirismo e amizade durante todos esses anos.
Aos amigos Tiago Correia e sua famlia, Bufinha, tia J, Bruno e
Charles, por serem to prestativos, acolhedores.
Aos companheiros de Arau, Kaio Cesar, Joo Jil, Marcos Otvio,
Fbio Onorato, Clio Jnior, pela sua amizade, por estarem sempre comigo,
apoiando, dando conselhos, participarem de muitos momentos bons, muitas
provas de lao e muitas festas.
A todos os membros da Classivet, por contriburem diretamente com
meus ensinamentos a campo, em especial meu supervisor Antnio Carlos C.
Verssimo a quem me ensinou muito e se tornou um grande amigo.
Queria agora poder achar uma forma de citar o nome de cada pessoa a
quem devo toda minha gratido, mas isso tomaria algumas pginas e pginas de
agradecimento; portanto, deixo aqui o direito a todos que me ajudaram de forma
direta ou indireta, de se sentirem donos da minha gratido e do meu afeto. Muito
obrigado
vii
SUMRIO
1 INTRODUO............................................................................................... .......1
2 DESCRIO DO LOCAL DE ESTGIO......................................................... ......3
3 RELAO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS......................................... ......4
4 DESCRIO PORMENORIZADA DO CASO ESCOLHIDO ATENDIDO
DURANTE O ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO............................ .....8
5 CRIAO DE BEZERRAS DA CONCEPO AO DESMAME...................... ......9
5.1 Introduo........................................................................................... ...............9
5.2 Reviso da literatura........................................................................... .............10
5.2.1 Cuidados com a parturiente........................................................... ...............10
5.2.2 Parto............................................................................................... ...............12
5.2.3 Bezerras leiteiras............................................................................ ............. 14
5.2.4 Imunidade passiva colostro........................................................................14
5.2.5 Principais enfermidades dos bezerros........................................... ...............16
5.3 Relato de caso.................................................................................. ...............28
5.3.1 Objetivo......................................................................................... ................28
5.3.2 Motivo da consulta....................................................................... .................28
5.3.3 Anamnese................................................................................... ..................29
5.3.4 Inspeo da propriedade e animais............................................ ..................32
5.3.5 Avaliao clnica de indivduos das categorias alvo............... .. ..................33
5.3.6 Medidas adotadas pelo veterinrio............................................ ...................35
5.4 Discusso................................................................................................... ......38
5.5 Concluso................................................................................................... .....41
6 CONSIDERAES FINAIS................................................................................42
REFERNCIAS................................................................................................ ......43
1
1 INTRODUO
A facilidade de acesso aos diversos meios de comunicao e a
informatizao propiciaram mudanas importantes no modo de pensar do
produtor rural e no modelo de administrar o seu sistema de produo de bovinos,
independente da atividade desempenhada. Todavia, a globalizao com
consequente abertura do mercado gerou um modelo comercial no qual a
eficincia produtiva, produo em escala, qualidade e respeito s normas de bem
estar animal e impacto ambiental, controle nos custos de produo, sanidade
animal, biossegurana, qualificao de mo-de-obra, gesto e
empreendedorismo, passaram a serem requisitos indispensveis permanncia
do produtor rural no mercado.
Na pecuria leiteira essas mudanas tambm esto ocorrendo de
forma muito dinmica, sendo a intensificao da produo e a melhoria
zootcnica do plantel a primeira preocupao por parte da maioria dos
produtores. Como consequncia desse processo os problemas sanitrios que
acometem o rebanho bovino so apontados como um dos principais pontos de
estrangulamento da atividade. Apesar de existirem inmeros fatores de risco, a
negligncia nos aspectos relacionados s medidas preventivas e biossegurana,
mo de obra desqualificada, ausncia de assistncia de um tcnico especializado
merece destaque.
Os problemas referentes criao de bovinos de aptido leiteira,
em especial de bezerros, embora sendo de extrema importncia e demandar
maiores atenes aliadas a uma srie de medidas adequadas de manejo, nem
sempre recebe a ateno devida, seja por desconhecimento ou mesmo pela
iluso de um lucro rpido e aparente, baseado na conteno de despesas. Assim,
temas relacionados com a sanidade dos bezerros, desde os cuidados com sua
concepo e seu nascimento at o desmame so constantemente alvo de
questionamentos. Desse modo, a importncia do veterinrio extensionista mostra-
se imprescindvel, no s no controle desse problema como em todo o processo
de gesto dessas propriedades rurais.
Por ser de origem rural e ter tido contato principalmente com a
atividade leiteira, pude perceber e conviver com as dificuldades que os produtores
2
vm passando ao longo de muito tempo, principalmente no assunto acima
descrito. Aliado ao perfil de me tornar mdico veterinrio de campo, escolhi no
s trabalhar com grandes animais como tambm realizar o estgio curricular
supervisionado em uma empresa de consultoria a produtores rurais voltados
explorao leiteira.
3
2 DESCRIO DO LOCAL DE ESTGIO
O estgio supervisionado obrigatrio foi realizado no perodo de 02 de
agosto a 11 de outubro de 2010, na empresa Classivet-Ltda, Consultoria em
Agronomia e Veterinria, com sede na cidade de Orizona-GO. Atualmente a
empresa atua em assistncia tcnica em 35 municpios do estado de Gois,
contando atualmente com dez mdicos veterinrios, um engenheiro agrnomo,
um tcnico em irrigao, trs tcnicos agrcolas e trs secretarias.
A Classivet-Ltda presta assessoria em 140 propriedades rurais para
diferentes empresas que beneficiam o leite, fornecendo servios de gesto e
administrao rural, alm de assistirem tecnicamente, em diversas reas do
conhecimento, com destaque para a medicina veterinria preventiva, reproduo,
manejo nutricional e de pastagens, sanidade, clnica e cirurgia, controle de
qualidade de leite e derivados, dentre outras. Essas 140 propriedades rurais
assistidas fornecem aproximadamente 4,5 milhes de litros de leite mensalmente,
o que resulta em produo mdia por fazenda de 32.143 litros/ms.
A deciso de realizar o estgio curricular na Classivet-Ltda baseou-se
em minha vocao frente aos desafios enfrentados pelo profissional extensionista
que trabalha com animais de produo. Ressalte-se ainda que, em virtude da
demanda de servios prestados pela referida empresa no cenrio estadual ou
mesmo em outros estados, oportunidade em sedimentar conhecimento ou adquirir
novas experincias, tambm motivaram a escolha da referida empresa como
campo de estgio.
Durante todo o perodo de estgio curricular, fui supervisionado pelo
mdico veterinrio Antnio Carlos Cordeiro Verssimo, formado pela Universidade
Federal de Gois, scio proprietrio da Classivet-Ltda. Nessa oportunidade foi
possvel colocar em prtica os ensinamentos adquiridos durante os nove
semestres de Universidade.
4
3 RELAO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o perodo de estgio foi possvel acompanhar diversas
atividades no contexto da medicina veterinria, com destaque para a medicina
veterinria preventiva, clinica mdica, clnica cirrgica, nutrio e produo
animal, reproduo e obstetrcia, gesto e administrao rural, medidas
preventivas e de biossegurana. As atividades desenvolvidas podem ser
observadas nas tabelas abaixo:
TABELA 1 - Atividades desenvolvidas na rea de medicina veterinria preventiva
no perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o
estgio curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda.,
Orizona-GO
Procedimentos preventivos e coleta de
material biolgico
Espcie Total
Colheita de sangue para exame de brucelose Bovino 508 (63,9%)
Exame de tuberculose Bovino 88 (11,07%)
Vacinao contra brucelose Bovino 61 (07,67%)
Vacinao contra raiva Bovino 29 (03,65%)
Vacinao contra clostridiose Bovino 29 (03,65%)
Vermifugao de bezerras Bovino 80 (10,06%)
TOTAL 795 (100%)
Fonte: Classivet Ltda. (2010)
5
TABELA 2 - Atividades desenvolvidas na rea de clnica mdica animal no
perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio
curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO
Atividades e/ou casos clnicos Espcie Total
Abscesso na mandbula Bovino 01 (0,63%)
Actinomicose Bovino 01 (0,63%)
Artrite em bezerros Bovino 05 (3,14%)
Ceratoconjuntivite infecciosa bovina Bovino 25 (15,72%)
Dermatofilose Bovino 08 (05,03%)
Diarria em neonatos Bovino 58 (36,47%)
Hipocalcemia ps-parto Bovino 02 (01,27%)
Intoxicao alimentar Bovino 01 (0,63%)
Mastite clnica Bovino 21 (13,20%)
Pneumonia em bezerros Bovino 14 (08,81%)
Septicemia Bovino 01 (0,63%)
Tratamento de leptospirose Bovino 07 (04,40%)
Tristeza parasitria bovina Bovino 14 (08,81%)
lcera de abomaso Bovino 01 (0,63%)
TOTAL 159 (100%)
Fonte: Classivet Ltda. (2010)
TABELA 3 - Atividades desenvolvidas na rea de produo e nutrio animal no
perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio
curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO
Atividades desenvolvidas (Propriedade) Espcie Total
Anlise bromatolgica de silagem Milho 01 (0,71%)
Manejo de machos e fmeas lactentes Bovino 23 (16,43)
Manejo de ordenha (linha de ordenha) Bovino 16 (11,43%)
Manejo de pastagem rotacionada Bovino 02 (01,43%)
Manejo nutricional (formulao de dieta) Bovino 21 (15,%)
Pesagem de bezerras e novilhas Bovino 77 (55%)
TOTAL 140 (100%)
Fonte: Classivet Ltda. (2010)
6
TABELA 4 - Atividades desenvolvidas na rea de clnica cirrgica animal no
perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio
curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO
Atividades e/ou casos clnicos cirrgicos Espcie Total
Abertura do esfncter de teto Bovino 01 (02,22%)
Amputao de teto Bovino 01 (02,22%)
Caudectomia Bovino 01 (02,22%)
Deslocamento de abomaso Bovino 01 (02,22%)
Enfermidades podais (casqueamento curativo) Bovino 12 (26,67%)
Exrese de neoplasia de terceira plpebra Bovino 02 (04,44%)
Mochao com ferro candente Bovino 25 (55,56%)
Orquiectomia Bovino 01 (02,22%)
Orquiectomia Suno 01 (02,22%)
TOTAL 45 (100%)
Fonte: Classivet Ltda. (2010)
TABELA 5 - Atividade desenvolvida na rea de Obstetrcia e Reproduo Animal
no perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio
curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO
Fonte: Classivet Ltda. (2010)
Atividades Espcie Total
Abscesso uterino Bovino 01 (0,06%)
Aderncia uterina Bovino 02 (0,12%)
Diagnstico de gestao (ultrasson) Bovino 611 (36,35%)
Diagnstico de gestao (palpao retal)
Diagnstico de gestao (palpao retal)
Bovino
Equino
923 (54,91%)
01(0,06%)
Endometrite Bovino 18 (1,07%)
Exame ginecolgico Bovino 53 (03,15%)
Parto distcico Bovino 01 (0,06%)
Reteno de placenta Bovino 16 (0,95%)
Sincronizao de estro Bovino 55 (03,27%)
TOTAL 1681 (100%)
7
TABELA 6 - Atividades desenvolvidas na rea de zootecnia, produo animal e
gesto de propriedades leiteiras no perodo de 02 de agosto a 11 de
outubro de 2010, durante o estgio curricular supervisionado
realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO
Atividades (Propriedade) Espcie Total
Anlise de indicadores zootcnicos econmicos Bovino 03 (07,31%)
Controle de custo Bovino 15 (36,59%)
Controle zootcnico Bovino 23 (56,10%)
TOTAL 41 (100%)
Fonte: Classivet Ltda. (2010)
8
4 DESCRIO PORMENORIZADA DO CASO ESCOLHIDO ATENDIDO
DURANTE O ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO
O estgio curricular foi realizado em uma empresa agropecuria que
fornece assistncia tcnica, sobretudo em propriedades produtoras de leite.
Dessa forma, optou-se por priorizar uma discusso sobre o manejo de bezerras
leiteiras com nfase ao tema Da concepo ao desmame. Ciente da importncia
que a adoo de boas prticas de manejo e a aplicao das medidas de
biossegurana representam para a viabilidade dessa atividade, o assunto foi
selecionado a fim de aperfeioar as prticas relacionadas a esse sistema de
criao, contribuindo tanto para o aumento quanto para o melhoramento gentico
do rebanho. Adicionalmente, esse trabalho pretende destacar a necessidade de
uma maior ateno a categoria de bezerras leiteiras visto que estas apresentam
papel essencial para a continuidade do plantel e da atividade leiteira. Contudo,
apesar dessa importncia, no tem recebido cuidados necessrio.
O manejo inadequado de bezerras leiteiras tambm determina
prejuzos econmicos para o produtor, pois alm das perdas ocasionadas pelo
aumento da mortalidade, custos referentes aquisio de medicamentos e
contratao de mo-de-obra especializada para intervenes tambm oneram a
sustentabilidade da atividade. Alem disso a criao de bezerras torna-se uma
fonte de receita na propriedade, pois quando o rebanho est estabilizado, a
quantidade excedente da reposio do rebanho uma tima fonte de renda.
Sendo assim, justificvel a escolha do assunto dada a importncia que este
tema representa na manuteno da viabilidade do sistema de produo de leite.
9
5 CRIAO DE BEZERRAS LEITEIRAS DA CONCEPO AO DESMAME
5.1 Introduo
O adequado manejo das bezerras leiteiras costuma ser prtica
negligenciada no sistema de produo de leite que, normalmente, dispensa maior
ateno as demais categorias, podendo chegar a taxas de mortalidade de
bezerras maiores que 20% em alguns sistemas de produo (RODRIGUES et al.,
2010). No entanto essa realidade precisa ser mudada, visto que as bezerras
esto diretamente implicadas na reposio do rebanho, proporcionando assim
continuidade da atividade e representando o futuro desse sistema de produo.
O cuidado na criao do animal jovem o passo inicial para o sucesso
da explorao leiteira, sendo que maior nfase precisa estar voltada para os
mtodos preventivos em detrimento aos mtodos curativos. A adoo de medidas
profilticas reduz as taxas de morbidade e mortalidade no plantel e ainda reduz
custos com tratamentos de enfermidades diversas, alm de cursar com a
produo de animais geneticamente superiores quando comparados aos que no
recebem essa ateno (OLIVEIRA et al., 2005).
Em relao adoo das medidas profilticas, diversos fatores devem
ser considerados ao se iniciar com a escolha dos cruzamentos na propriedade. A
sanidade do touro ou smen a ser utilizado, bem como a higidez das matrizes so
fatores relevantes na produo de uma prole de qualidade. Sequencialmente, a
fase de cria, que compreende desde a reproduo ao desmame, considerada
crtica a fim de que esses animais se tornem ruminantes efetivos e se iniciam com
o nascimento, seguido pela manuteno da homeostase no ambiente extra-
uterino, crescimento e desenvolvimento ps-natal, estabelecimento de imunidade,
mudanas metablicas, nutricionais e comportamentais.
O manejo inadequado dos animais nesta etapa acarreta inmeras
perdas econmicas por reduo de taxas de crescimento, da vida til das fmeas
e do rebanho como um todo. Dessa forma a criao de bezerras repleta de
desafios os quais devem ser superados para que cada animal expresse todo o
seu potencial gentico. O papel do homem nessa fase essencial para otimizar a
expresso de todo esse potencial e para isso adoo de medidas de manejo
10
adequadas bem como das medidas de biossegurana devem ser instauradas
nesse sistema.
5.2 Reviso de literatura
A criao de bezerras sendo considerado um ponto de
estrangulamento em um sistema de produo de bovinos leiteiros necessita de
cuidados especiais. O manejo inadequado dos animais constitui em um dos
principais fatores de risco que podem levar a ocorrncia de enfermidades nessa
categoria animal. Os cuidados com a parturiente, parto, manejo com o recm
nascido, fornecimento de colostro, ambiente e cura do umbigo, so apontados
como medidas essenciais no criatrio e que quando negligenciadas ou
executadas de forma errnea, levam a altos ndices de enfermidade podendo
culminar na morte dos animais (REBHUN, 2000; SILVA et al., 2001).
5.2.1 Cuidados com a parturiente
A aplicabilidade de um manejo adequado para otimizao do
desempenho do rebanho deve abranger as diferentes categorias da classe leiteira
visando transpor os inmeros desafios a que estes animais so submetidos. O
cuidado envolvendo a matriz o parmetro primrio a ser considerado entre os
produtores que almejam a gerao de uma prole de qualidade (TONIOLLO &
VICENTE, 1993; MARQUES, 2003).
Alguns fatores devem ser analisados a partir do momento do
acasalamento entre o touro e a matriz leiteira, ou ainda por ocasio da
inseminao artificial. Inicialmente, uma abordagem clnica minuciosa das fmeas
bovinas deve ser efetuada na busca de sinais clnicos e alteraes compatveis
com enfermidades que possam afetar a reproduo e consequentemente todo o
rebanho leiteiro. Outro ponto que deve ser levado em considerao a questo
do touro a ser utilizado, onde este deve estar livre de doenas, em boa condio
corporal, no deve transmitir caractersticas indesejveis de alta herdabilidade, e
11
ao escolher o acasalamento, o touro deve propiciar caractersticas de correo
das deficincias pertinentes a matriz, melhorando assim o potencial da cria
(CORRA & CORRA, 1992; TONIOLLO & VICENTE, 1993; HAFEZ & HAFEZ,
2004).
O peso corpreo tambm deve ser avaliado, visto que as novilhas
necessitam apresentar um peso ideal para realizar o parto de acordo com o
padro exigido para cada raa. Para SANTOS et al. (2002), para que o parto seja
considerado ideal, raas de grande porte como Holandesa e Pardo Sua
precisam atingir um peso corpreo entre 490 e 520kg, enquanto que para a raa
Girolanda os pesos corpreos recomendados devem atingir 370kg e 390kg.
Por outro lado, as matrizes no pr-parto apresentam exigncias
nutricionais especficas visto que suas atividades metablicas encontram-se
aumentadas. Assim, fatores como utilizao das reservas energticas para
formao do feto, necessidade de manuteno da homeostasia para completar a
gestao, alm do espao que o feto ocupa no interior da cavidade abdominal,
necessitam ser priorizados a fim de se instituir uma dieta balanceada que
contemple os requerimentos nutricionais do animal nesse perodo (MARQUES,
2003; OLIVEIRA et al., 2005).
Para as vacas no perodo de transio, a disponibilidade e o acesso ao
alimento o principal fator para maximizar o consumo, sendo que fatores como
conforto, linha de cocho, hierarquia, e estresse trmico determinantes no
consumo de matria seca. Com relao protena bruta e energia, no tem
demonstrado vantagens ao aument-los acima das recomendaes do NRC
(1989), porm o uso de sais aninicos em valores recomendados nas dietas pr-
parto, tem se mostrado diminuir a incidncia de hipocalcemia nos primeiros dias
aps o parto (SANTOS & SANTOS, 1998; SANTOS et al., 2003).
De modo geral, o estabelecimento de um bom programa nutricional
para matrizes no pr-parto resulta em menor incidncia de mastite e algumas
enfermidades de carter reprodutivo. Alm disso, favorece a concepo de
bezerros saudveis, devido a maximizao do potencial gentico e incremento na
imunidade desses animais (VAN SAUN, 1991; FONSECA & SANTOS, 2000).
O calendrio profiltico das fmeas gestantes institudo com o
objetivo de elevar os nveis de imunoglobulinas presentes no colostro que ser
12
oferecido ao bezerro logo aps o nascimento. Embora o calendrio vacinal possa
variar de acordo com a regio geogrfica, considerando-se as enfermidades
endmicas de cada regio, tal medida confere transferncia de imunizao
passiva ao bezerro recm-nascido durante a amamentao para que este se
adapte e resista aos desafios do meio-ambiente (OLIVEIRA et al., 2005;
MARQUES, 2003; SILVA et al., 2001).
importante destacar que alm do calendrio profiltico as medidas de
biossegurana ainda so consideradas pilares importantes na preveno de
enfermidades e reduo de prejuzos econmicos. Essas medidas devem ser
adotadas concomitantemente s vacinaes, pois sabe-se que os desafios
impostos aos animais, mesmo que imunizados, em algumas propriedades
apresentam-se como pontos de estrangulamento importantes, fazendo com que
os ndices de enfermidades estejam acima da mdia esperada (REBHUN, 2000;
BLOWEY & WEAVER, 2006; CUNHA et al., 2010).
A secagem das vacas prenhes, ou seja, a retirada das fmeas em
lactao da rotina de ordenha consiste em prtica necessria para o
desenvolvimento do feto em sua plenitude e tambm para propiciar a regenerao
das clulas epiteliais da glndula mamria. Adicionalmente, contribui para o maior
acmulo de colostro e enriquecimento deste com elevados nveis de
imunoglobulinas, alm de completar as reservas energticas das desses animais
proporcionando um ambiente homeosttico para o momento do parto,
favorecendo ainda o crescimento fetal (MARQUES, 2003; OLIVEIRA et al., 2005).
O procedimento de secagem das matrizes geralmente realizado no
tero final da gestao, fase que concentra as maiores mudanas metablicas
das vacas. As vacas devero ser secadas em mdia 60 dias antes do parto
(FONSECA & SANTOS, 2000; AZEVEDO et al., 2008).
5.2.2 Parto
O conhecimento pleno da fisiologia do parto fundamental para
interpretao dos sinais clnicos emitidos pela fmea bovina, bem como para
intervir corretamente durante esse processo. importante destacar que o parto
13
distribudo em trs estdios principais, caracterizados de acordo com mecanismos
observados em determinado perodo de tempo. Ressalte-se que apesar dessa
pr-definio, variaes podem ocorrer entre fmeas bovinas at dentro da
mesma raa (HAFEZ & HAFEZ, 2004).
O primeiro estdio tem durao mdia de duas a seis horas e destaca-
se pelo incio das contraes do miomtrio e dilatao da crvix. O segundo
estdio definido como o momento entre o incio e a completa expulso do feto e
possui durao mdia de 30 a 60 minutos. O estdio final, ou terceiro estdio do
parto, identificado por meio de contraes que culminam com a expulso
completa da placenta e seu tempo de durao varia entre quatro e 12 horas
(TONIOLLO & VICENTE, 1993; MARQUES, 2003).
Dessa forma evidenciada a importncia de se conhecer cada etapa
que ocorre fisiologicamente para evitar intervenes precipitadas ou tardias,
intervindo apenas no momento certo quando h problemas de distocia, reteno
de placenta ou outra eventualidade. Desse modo recomenda-se a presena do
mdico veterinrio no acompanhamento do parto para que este possa intervir
prontamente quando houver necessidade (SILVA et al., 2001; HAFEZ & HAFEZ,
2004).
Medidas de manejo devem ser planejadas para garantir que a fmea
possa ter um parto com tranquilidade. Assim, esses animais devem ser
conduzidos para um ambiente limpo, seco, assombreado, estando nas
proximidades da residncia da propriedade tornando a observao desses
animais mais constante. Adicionalmente, recomenda-se evitar a exposio dessas
fmeas a situaes de estresse, bem como retir-las da presena de animais
agressivos (REBHUN, 2000; MARQUES, 2003; HAFEZ & HAFEZ, 2004).
Outros fatores considerados relacionam-se ao descarte de fmeas que
apresentem partos distcicos, priorizando as que apresentam facilidade em
realizar o parto, a fim de garantir que os bezerros sofram menos estresse durante
o nascimento com consequente aumento de seu desempenho produtivo. Os
bezerros provenientes de partos distcicos podem morrer ou apresentar menor
resistncia por falta de colostro. Alm disso, os partos distcicos predispem a
uma diversidade de intercorrncias, como reteno de placenta, metrite e baixa
condio corporal das matrizes (MACMANUS et al., 2008).
14
O procedimento de cesariana indicado quando todas as tentativas em
relao s manobras obsttricas tenham fracassado. Em casos de monstros ou
m formaes, rupturas e tores uterinas, incompatibilidade materno-fetal e
hidropsias, constituem-se nas principais causas em que se indica a operao
cesariana (SILVA et al., 2001; BORGES et al., 2006; GARNERO & PERUSIA,
2006).
5.2.3 Bezerras leiteiras
A primeira semana de vida das bezerras leiteiras constitui a fase mais
crtica de seu desenvolvimento. As atitudes desempenhadas pelo bezerro e sua
me logo aps o nascimento devem ser observadas com preciso, visto que em
muitos casos faz-se necessrio auxiliar o neonato com a remoo das
membranas fetais e do excesso de muco provenientes das narinas e boca. O
incio da respirao uma das mudanas fisiolgicas determinantes para a
viabilidade do animal (DEGASPERI & PIEKARSKI, 1988; OLIVEIRA et al., 2005
AZEVEDO et al., 2008).
O ndice de mortalidade entre bezerros no Brasil considerado alto,
superando 20% do nmero de animais nascidos vivos. As falhas na transferncia
da imunidade passiva associada s onfalopatias so descritas como as principais
determinantes dessa intercorrncia (SILVA et al., 2001; RODRIGUES et al.,
2010).
5.2.4 Imunidade passiva - Colostro
A fmea bovina possui uma placenta do tipo sindesmocorial
caracterizada pela proteo do feto contra agresses bacterianas e virais. No
entanto esta propriedade implica que a membrana supracitada tambm
responsvel por impedir a transferncia de protenas sricas, em especial as
imunoglobulinas, no ambiente intra-uterino. Portanto, aps a expulso o animal
encontra-se completamente desprovido de anticorpos e particularmente sensvel
15
s infeces. A proteo imunolgica ocorre passivamente nas primeiras horas
aps o nascimento, por meio da ingesto do colostro (TONIOLLO & VICENTE,
1993; SILVA et al., 2001; MACHADO NETO et al., 2004; AZEVEDO et al., 2008).
O colostro constitui-se de uma mistura de secrees lcteas e
componentes do soro sanguneo principalmente imunoglobulinas e protenas
sricas. Este, alm de fornecer os primeiros anticorpos para o bezerro, promove
uma barreira contra infeces. Acrescente-se ainda, que o colostro a primeira
fonte de alimento ao recm nascido, carreando vitaminas, carboidratos e minerais
essenciais para a sua manuteno. Paralelamente, o colostro possui efeito
laxativo, auxiliando na eliminao do mecnio (SANTOS et al., 2002). De acordo
com os mesmos autores, os bezerros apresentam alta taxa de absoro de
imunoglobulinas durante as primeiras horas ps-nascimento, podendo ingerir
altas quantidades de colostro, cerca de 5% do seu peso vivo, da a importncia de
sua ingesto ocorrer nas duas primeiras horas aps o nascimento.
O consumo do colostro durante as primeiras quatro horas precisa
atingir uma mdia entre 2 a 2,5 kg, seguido da ingesto de aproximadamente
6,8kg de colostro entre 36 a 48 horas. Para os animais das raas Holandesa e
Pardo-Suio recomenda-se um consumo mdio de 10 kg de colostro nas
primeiras 12 horas, enquanto que para bezerros de raas menores, como Jersey
e Girolanda, cerca de 7 kg de colostro devem ser ingeridos (SILVA et al., 2001;
SANTOS et al., 2002).
A permeabilidade intestinal responsvel pela absoro das
imunoglobulinas presentes no colostro diminui rapidamente aps o nascimento,
enquanto que a concentrao de imunoglobulinas tambm sofre reduo com as
prticas de ordenhas e mamadas sucessivas (SANTOS et al., 2002). O manejo
inadequado dos bezerros, baixa ingesto do colostro, ou a ingesto tardia deste
resultar na absoro de nveis inadequados de imunoglobulinas resultando em
animais mais susceptveis a enfermidades devido a falha na imunidade passiva
(PAIVA et al., 2006).
O fornecimento artificial de colostro pode ser considerado um eficiente
procedimento visto que um mtodo prtico, de fcil aplicabilidade e pouco
oneroso. Adicionalmente, o aleitamento artificial do colostro tambm proporciona
16
nveis adequados de imunoglobulinas ao bezerro neonato quando realizado de
forma correta (PAIVA et al., 2006; AZEVEDO et al., 2008).
A criao de um banco de colostro, que consiste na estocagem do
colostro excedente produzido pelas vacas leiteiras, pode ser uma alternativa s
propriedades que enfrentam altos ndices de mortalidade de bezerros. Todavia,
algumas particularidades devem ser avaliadas por ocasio do armazenamento e
manipulao deste contedo. O colostro pode ser armazenado em quantidades
de at 600mL em geladeira por sete dias a uma temperatura mdia de 4C ou
ainda por um perodo de seis meses, congelado entre -18 a -25C. O
descongelamento deve ser efetuado em temperatura ambiente aps acondicionar
o contedo em um recipiente contendo gua (SILVA et al., 2001). Em
contrapartida, outros autores mencionaram que o descongelamento tambm pode
ser realizado em banho-maria, temperatura de 37C, evitando o aquecimento
excessivo e a perda de suas propriedades (AZEVEDO et al., 2008).
5.2.5 Principais enfermidades dos bezerros
As onfalopatias esto entre as principais enfermidades que acometem
os bezerros recm-nascidos. Entretanto uma gama de outras enfermidades
precisam ser citadas, sendo a adoo de medidas de manejo e biossegurana
instauradas no criatrio a fim de minimizar a ocorrncia dessas enfermidades
(REBUHN, 2000; SILVA et al., 2001). As diarrias neonatais (BOTTEON et al.,
2008), hemoparasitoses (KIKUGAWA, 2009), pneumonias (MARGARIDO et al.,
2008), clostridioses (SILVA et al., 2001) e dermatopatias (SMITH et al., 2006) so
consideradas as enfermidades mais comuns entre bezerros. O conhecimento da
etiologia, identificao dos sinais clnicos e a adoo de medidas profilticas so
de fundamental importncia para eliminao dessas enfermidades que tanto
acometem o rebanho leiteiro (REBHUN, 2000).
a) Onfalopatias
17
O umbigo formado por um conjunto de trs estruturas, duas artrias e
uma veia umbilical, que sofrem modificaes anatmicas e funcionais ao
nascimento. Considera-se onfalopatia o conjunto de enfermidades que acometem
a regio umbilical dos bezerros nas primeiras semanas de vida, visto que este
local consiste em porta de entrada uma grande variedade de infeces
(RADOSTITS et al., 2002; BLOWEY & WEAVER, 2003).
A administrao incorreta do colostro, bem como as falhas na
transmisso da imunidade passiva, deixam os animais mais susceptveis a
bacteremia, septicemia e morte (RODRIGUES et al., 2010). Alm disso, os
microrganismos podem ascender a partir dos vasos umbilicais e raco
ocasionando diferentes enfermidades, tais como uvete, doena articular,
abscesso heptico, meningite, e endocardite (RIET-CORREA, 2007). Os prejuzos
econmicos ocasionados por essas afeces se transformam em um verdadeiro
entrave para o produtor rural, pois gera custos com medicamentos, alm de
interferir negativamente no ganho em peso e crescimento dos animais.
Adicionalmente so descritos aumento dos gastos com assistncia mdico
veterinria, depreciao da carcaa, bem como prejuzos relacionados ao bito de
animais neonatos (SILVA et al., 2001; REIS et al., 2009).
As principais onfalopatias observadas em bezerros leiteiros so as
onfalites ou onfaloflebites. Esses termos so utilizados para caracterizar a
inflamao das estruturas umbilicais de um modo geral, incluindo artrias e veia
umbilical, raco e tecidos adjacentes ao umbigo. Alm das onfalites outras
afeces, como hrnia umbilical, eventrao e granuloma tambm so
frequentemente diagnosticados em bezerros recm-nascidos. O diagnstico
precoce das onfalopatias consiste em uma tcnica fundamental na determinao
de um prognstico favorvel dos portadores dessas afeces. Esta anlise
baseia-se principalmente no histrico do animal associado aos achados do exame
fsico (BLOWEY & WEAVER, 2003; SMITH et al., 2006).
A palpao abdominal, efetuada por ocasio do exame fsico, mostra-
se como ferramenta eficiente na identificao do aumento de volume da regio
umbilical (KNIG & LIEBICH, 2004). A inflamao das artrias umbilicais pode
ser detectada pelo aumento de volume da regio umbilical percorrendo
caudalmente em direo a bexiga, enquanto que para veia umbilical esse
18
aumento mostra-se mais evidente cranialmente em direo ao fgado.
Acrescente-se que o envolvimento das estruturas internas do umbigo nem sempre
so identificadas por meio de palpao e dessa forma os exames hematolgicos
constituem-se em ferramenta que contribui sumariamente para o estabelecimento
do diagnstico. Os achados hematolgicos encontrados na maioria dos animais
portadores de onfalopatias so leucocitose por neutrofilia (SMITH et al., 2006;
REIS et al., 2009).
O estabelecimento do diagnstico diferencial entre as diferentes
onfalopatias tambm de fundamental importncia na instituio do tratamento
especfico para cada enfermidade (BLOWEY & WEAVER, 2003).
Dentre as opes de tratamento, o mtodo conservativo, por meio do
uso de anti-spticos e antimicrobianos, e o procedimento cirrgico. Dessa forma,
o mtodo conservativo empregado quando o diagnstico estabelecido
precocemente e no apresenta complicaes secundrias. A interveno cirrgica
preconizada quando os tecidos acometidos encontram-se gravemente
comprometidos (RIET-CORREA, 2007; RODRIGUES et al., 2010).
A falta de medidas profilticas, assim como as condies do ambiente
so fatores determinantes para o alto ndice de onfalopatias dentro de um
rebanho. Para minimizar a manifestao dessas intercorrncias diferentes aes
devem ser adotadas logo aps o nascimento do animal e executadas com cautela
e preciso (REIS et al., 2009).
O corte e a ligadura dos cordes umbilicais apenas so indicados
somente quando estes so muito compridos, ou seja, apresentam comprimento
maior superior a dez centmetros (SILVA et al., 2001). A antissepsia do umbigo,
sendo essa realizada com soluo iodada a 10% mostra-se necessria para
reduzir os riscos de infeco, visto que esta estrutura anatmica permanece
aberta por horas aps o nascimento, servindo como porta de entrada aos agentes
patognicos causadores de onfalopatias e artrites, que podem resultar em bito
do animal (REBHUN, 2000; SILVA et al., 2001).
Concomitantemente a esses fatores a escolha de um ambiente propcio
consonante para o pleno desenvolvimento do neonato, assim como para reduzir
o ndice dessas afeces. O local mais propicio para a criao desses animais,
um rea bem drenada contendo certo desnvel para que ocorra o escoamento de
19
gua, dejetos e restos alimentares, assim como ser protegida dos ventos e
expostas ao sol quando no inverno (AZEVEDO et al., 2008).
b) Diarrias neonatais
A diarria neonatal uma das enfermidades mais importantes que
acometem bovinos jovens, principalmente durante o primeiro ms de vida.
Apresenta ndices variados de morbidade e mortalidade dependendo do sistema
de criao, agente etiolgico e capacidade de resposta imunolgica do animal
(CONSTABLE, 2004).
A diarria decorre da interao entre o bezerro com o meio-ambiente,
a nutrio recebida e a exposio aos agentes infecciosos. Como principais
agentes causadores da diarria neonatal, se destacam entre eles a Escherichia
coli, Salmonella spp. e Eimeria spp. (SILVA et al., 2001; SMITH et al., 2006).
A colibacilose neonatal em bezerros, tambm conhecida como curso
branco, causada pela bactria Escherichia coli (E. coli), um bacilo Gram-
negativo presente na microbita intestinal do homem e dos animais. A
enfermidade acomete bezerros entre um e dez dias de idade e se dissemina pelo
contato entre o neonato e bovinos infectados atuando como fontes diretas de
infeco (RADOSTITS et al., 2002). Adicionalmente o agente pode ser transmitido
por exposio a medidas de manejo inadequadas, como pelo contato com
fmites, superlotao dos piquetes, currais sujos, manejo inadequado das camas,
entre outros (SILVA et al., 2001; SMITH et al., 2006).
A patognicidade da E. coli enterotoxignica devido a presena de
fmbria e plos que permitam que ela se ligue aos entercitos, alm de secretar
uma enterotoxina que estimula a secreo de gua, sdio, e cloreto. Os bezerros
infectados possuem uma reao inflamatria moderada na parede do intestino
delgado e alguma atrofia de vilosidades. A E. coli entero-hemorrgico, pode
produzir a toxina shigelide causando colite muco-hemorrgica na parede do
clon e do reto podendo causar diarria com sangue em bezerros com dois dias a
quatro semanas de vida (SMITH et al., 2006; UGRINOVICH et al., 2002).
20
A enfermidade pode ainda ser classificada em aguda e subaguda de
acordo com os sinais clnicos apresentados. A forma aguda caracteriza-se por
diarria ftida, branco-amarelada, inicialmente pastosa e posteriormente lquida.
Conforme progresso da doena o animal pode apresentar hipotermia. Na forma
subaguda, os bezerros apresentam-se febris, diarricos e frequentemente
desenvolvem uma pneumonia secundria. Se os animais receberem terapia
adequada e as defesas imunolgicas estiverem aptas a responder ao insulto os
animais podem se recuperar. No entanto em casos mais graves a doena evolui
para meningite e bito (SILVA et al., 2001; SMITH et al., 2006).
Para isolamento da E. coli recomenda-se o cultivo das fezes diarricas
ou ainda, em casos que resultam em bito do animal, cultivo de contedo do
clon e amostra de fgado para o diagnstico conclusivo de colibacilose
(CORRA & CORRA, 1992).
A Salmonella spp. o agente etiolgico responsvel pelo
desencadeamento da salmonelose, enfermidade que acomete com frequncia
bezerros leiteiros e caracterizada por episdios de diarria severa e septicemia
(SMITH et al., 2006). A salmonelose causa srios prejuzos econmicos para os
produtores de bovinos, devido aos gastos com medicamentos, bem como pelas
perdas decorrentes de mortalidade e diminuio da produo (PEREIRA et al.,
2004; SILVA et al., 2009; SILVA et al., 2008).
As salmonelas so bactrias gram-negativas, pertencentes famlia
Enterobacteriaceae, estando envolvidas de forma clssica na maior parte das
infeces bacterianas que acometem o sistema digestivo, podendo acometer
ocasionalmente o sistema msculo-esqueltico e nervoso (SMITH et al., 2006). A
salmonelose transmitida por meio da ingesto de gua e alimentos
contaminados, bem como pelo contato com fmites contaminados por matria
fecal. O microrganismo tem predileo pelo epitlio intestinal onde estimula o
desencadeamento de uma reao inflamatria fibrinopurulenta necrosante
(CORRA & CORRA, 1992; SILVA et al., 2008).
De acordo com SILVA et al. (2001) so descritos mais de 2.200
sorotipos para as salmonelas, sendo estes capazes de infectar tanto o homem
quanto os animais. Os sorotipos mais comums so a Salmonella typhimurium e a
S. dublin (SILVA et al., 2001).
21
A salmonelose causada pelo sorotipo Typhimurium induz a um quadro
clnico caracterizado principalmente por enterite auto-limitante, ou seja, com o
decurso da doena determinado e limitado, j a infeco pelo sorotipo Dublin,
induz a um quadro clnico mais grave, caracterizado por enterite severa, febre,
desidratao e sintomas respiratrios (SILVA et al., 2009). O diagnstico definitivo
para salmonelose feito por meio do isolamento e identificao da Salmonella
spp. a partir das fezes dos bezerros acometidos (RADOSTITS et al., 2002).
As diarrias podem ainda ser desencadeadas pela Eimeria spp.(E.),
sendo que as espcies de E. bovis e E. zuernii as mais comumente relacionas a
eimeriose ou coccidiose em bezerros leiteiros (SMITH et al., 2006). De forma
semelhante s diarrias supracitadas, os bezerros se contaminam em decorrncia
da ausncia da adoo das medidas biossegurana e manejo adequados
(REBHUN, 2000).
Os oocistos de Eimeria esporulados, forma infectante para os bovinos,
so eliminados nas fezes de bovinos com infeces patentes e ao infectar a
mucosa intestinal de um hospedeiro susceptvel promove a destruio das clulas
epiteliais intestinais (RIET-CORREA, 2007). Ocorre alta perda de sangue e dessa
forma h presena de diarria com muco e sangue, desidratao, tenesmo,
anorexia, retardo no crescimento e ocasionalmente sinais neurolgicos podem
estar associados (SMITH et al., 2006).
O diagnstico da coccidiose baseado nos achados do exame fsico e
na contagem de oocistos da Eimeria por grama de fezes, considerando como
amostra positiva quantidades superiores a 1000 oocistos para cada grama de
contedo fecal (MARQUES, 2003).
Independente do agente etiolgico implicado na gnese das diarrias
neonatais, a aplicao de medidas sanitrias adequadas nos primeiros dias de
vida, assim como um bom manejo e alimentao, podem reduzir a mortalidade e
os gastos com tratamento de enfermidades dos bezerros (BOTTEON et al., 2008).
Sendo assim, deve-se avaliar o estado das imunoglobulinas dos
bezerros por meio do soro sanguneo, a alimentao, o abrigo, a desinfeco do
ambiente, a situao da vacinao e da sade. Enfim, medidas profilticas de
biossegurana evitando ao mximo o contato dos bezerros com agentes
22
patognicos (CORRA & CORRA, 1992; REBHUN, 2000; RADOSTITS et al.,
2002).
c) Hemoparasitoses
As hemoparasitoses tambm so afeces que merecem ateno na
pecuria por ocasionarem grandes prejuzos econmicos na pecuria em pases
de clima tropical e sub-tropical. O carrapato do bovino, anteriormente denominado
de Boophilus microplus e que agora denominado de Ripicephalus microplus
(KIKUGAWA, 2009) descrito como o principal veiculador dessas enfermidades,
estando diretamente envolvido na transmisso de doenas infecciosas como
anaplasmose e babesiose. Paralelamente os prejuzos causados por este caro
incluem a hematofagia de bezerros susceptveis e reduo na qualidade do couro
do animal (CARVALHO et al., 2008).
A associao entre as hemoparasitoses babesiose e anaplasmose
forma o complexo tristeza parasitria bovina (TPB), sendo este composto por
enfermidades de carter parasitrio e infeccioso. A TPB tambm uma das
doenas que mais culmina com o bito de bezerros nos primeiros meses de vida
(KIKUGAWA, 2009).
A babesiose, causada pelo protozorio Babesia spp. (B.), a primeira
enfermidade infecciosa do complexo TPB a se manifestar, sendo que a B. bovis e
a B.bigemina so as principais espcies responsveis por essa afeco
(RADOSTITS et al., 2002). O perodo de incubao da Babesia spp. varia de sete
a dez dias, j o do Anaplasma marginale geralmente superior a 20 dias. A
Babesia bovis inoculada por larvas do carrapato no bovino j no primeiro dia de
parasitismo. Em contrapartida, a B. bigemina s comea a ser inoculada pelo
estgio ninfal, cerca de oito dias aps fixao das larvas. Assim em um lugar
infestado por carrapatos com Babesia spp., sete a dez dias aps surgem os
primeiros casos de tristeza parasitria bovina causadas por B. bovis e dias mais
tarde, 15-20 aps a chegada dos bovinos ocorrem casos de B. bigemina,
podendo coincidir com os primeiros casos de anaplasmose. Sendo assim, a faixa
etria dos bezerros ou o tempo de exposio aos carrapatos infectados com
23
Babesia spp. ou Anaplasma marginale, uma ferramenta importante para auxiliar
no diagnstico presuntivo a campo e consequentemente auxlio na escolha do
tratamento a ser preconizado (RIET-CORREA et al., 2007).
Os sinais da doena so inespecficos e resultam em um quadro de
anemia branda, mucosas plidas, febre, taquicardia, taquipnia, e hemoglobinria
(SOARES et al., 2000). A B. bovis se acumula principalmente em hemcias dos
capilares cerebrais, desencadeando a babesiose cerebral ou nervosa e os sinais
podem variar para sialorria, depresso, distrbios neurolgicos e tremores
musculares (RIET-CORREA et al., 2007).
A anaplasmose no Brasil de grande importncia devido a sua alta
incidncia em bezerros levando-os a um quadro clinico grave podendo levar a
morte. A transmisso do A. marginale se d por meio de insetos hematfagos,
mediante a transferncia de hemcias infectadas a um animal susceptvel, as
agulhas no esterilizadas podem transferir sangue de um animal infectado para
outro susceptvel, ou por outros fmites contaminados (MARQUES, 2003).
Seu efeito patognico caracterizado por uma intensa hemlise,
reduzindo a contagem dos eritrcitos, sendo que os eritrcitos imaturos so
comuns nesse estgio, e sua presena considerada um sinal favorvel. A A.
marginale, identificada na periferia das clulas em at 10% dos eritrcitos nos
casos subagudos e 50% dos eritrcitos nos casos superagudos (RADOSTITS et
al., 2002).
A anaplasmose provoca anemia grave, sendo que no pico da
enfermidade, mais de 75% dos eritrcitos podem estar infectados. Os principais
sinais descritos so: anemia hemoltica, ictercia, dispnia, taquicardia, febre
fadiga, lacrimejamento, sialorria e anorexia (VIDOTTO et al., 1999).
A babesiose sendo uma enfermidade que apresenta sinais clnicos
inespecficos deve-se fazer o diagnstico diferencial para outras doenas como
anaplasmose, leptospirose, hemoglobinria ps-parturiente, hepatopatias txicas
e envenenamento com cobre crnico. O diagnstico definitivo pode ser feito ao
encontrar a Babesia spp. nos esfregaos sanguneos corados pelo mtodo de
Gram (REBHUN, 2000; MARQUES, 2003).
O diagnstico presuntivo pode ser feito por meio dos achados clnicos,
verificando a anemia severa em casos agudos, ictercia, e tambm por meio do
24
exame microscpico dos esfregaos de sangue corados com corantes de Wright,
novo azul de metileno ou Giemsa, podendo permitir a identificao do A.
marginale nas hemcias (REBHUN, 2000).
d) Pneumonia
A pneumonia importante causa de morbidade e mortalidade entre
bezerros leiteiros, sendo um dos principais problemas de sade em bovinos em
todo o mundo. A enfermidade de origem multifatorial resulta da interao entre
diferentes microrganismos. Acrescente-se que fatores predisponentes como
fatores ambientais, mecanismos de defesa do animal e estresse podem estar
envolvidos (HRTEL et al., 2004).
A pneumonia uma enfermidade infecciosa ocorrendo mais em
bovinos jovens, geralmente confinados em grupos, associados a modernos
sistemas intensivos em rebanhos de corte e leite. Os principais agentes
encontrados, muitas vezes em sinergismo so o Mycoplasma dispar, M. bovis,
Ureaplasma diversum, Pasteurella haemolytica (Mannheimia haemolytica), P.
multocida, Haemophilus somnus, vrus sincicial respiratrio, vrus da
parainfluenza 3, e herpesvrus bovino 1 (CARDOSO et al., 2002).
A pneumonia sendo uma enfermidade das vias areas causa como
sinais clnicos a rpida respirao, indicando que os pulmes esto em
dificuldade. A tosse um sinal importante, e sua natureza varia de acordo com a
leso. A broncopneumonia caracterizada com tosse mida, dolorosa e
abundante secreo. Na pneumonia intersticial, a tosse seca e frequente. A
secreo nasal pode estar presente dependendo da quantidade de exsudato nos
bronquolos e brnquios, e inflamao das vias areas superiores. Geralmente o
corrimento comea seroso, depois mucoso e purulento. Os animais ficam
deprimidos, fracos, e sem apetite. Ao auscultar a broncopneumonia, percebemos
estertores midos em razo do acmulo de exsudato. Na pneumonia intersticial, a
auscultao revela sons altos e ntidos devido passagem do ar nos bronquolos
estreitados (MARQUES, 2003).
25
A broncopneumonia bacteriana, causada principalmente pelas cepas
de Mannheimia haemolytica e de Haemophilus somnus so patgenos primrios
capazes de causarem infeces nas vias areas inferiores. Esses agentes no
precisam de ajuda de agentes ambientais, de tratamento ou outros agentes
infecciosos para provocar uma pneumonia. A broncopneumonia bacteriana
tambm pode ser encontrada como problema secundrio de bovinos infectados
por patgenos virais do trato respiratrio ou micoplasma, animais estressados,
insuficincia de transporte ou ventilao (REBHUN, 2000).
e) Clostridiose
As clostridioses compem um grupo de infeces e intoxicaes
causadas por bactrias anaerbicas do gnero Clostridium, econtradas
principalmente no solo e trato digestivo de bezerros susceptveis (CORRA &
CORRA, 1992; RADOSTITS et al., 2002; RIET-CORREA, 2007). Os principais
agentes envolvidos na etiologia das clostridioses so o Clostridium butulinum,
Clostridium tetani, Clostridium perfringens, Clostridium chauvoei, Clostridium
septicum, Clostridium novyi, e Clostridium hemolyticum (SILVA et al., 2001;
MARQUES, 2003).
A enterotoxemia em bezerros leiteiros causada principalmente pelo
Clostridium perfringens tipo C, onde geralmente sua ocorrncia espordica e
endmica. Os bezerros afetados por essa enfermidade, geralmente encontram-se
em uma condio excelente, com uma boa nutrio. Os C. perfringens tipo B e D
tambm podem ser identificados nos bezerros e nos bovinos adultos, embora o
tipo C envolva mais comumente nas doenas dos bezerros. Os C. perfringens tipo
C so habitantes normais do trato gastrintestinal dos animais, levando a doena
quando o ambiente propicia a sua proliferao devido ao consumo excessivo de
alimentos fermentveis, geralmente em alterao da dieta, ou, quando a dieta
altera a microbiota intestinal normal (REBHUN, 2000).
A enterotoxemia afeta geralmente bezerros de trs dias e seis meses
de idade, podendo tambm acometer bovinos adultos. Essa enfermidade causa a
morte principalmente em animais jovens, ocorrendo retardo no crescimento
26
daqueles que sobreviveram a infeco. Normalmente a doena se manifesta de
forma superaguda ocorrendo mortes em torno de 12 a 72 horas (SILVA et al.,
2001).
O C. perfringens tipo C elabora toxinas alfa, beta e delta, sendo que a
quantidade dessas toxinas determina a patognicidade e capacidade de produzir
sintomas de enterite necrosante em animais jovens. Nos achados clnicos,
observa diarria amarela, e nos casos hemorrgicos a colorao castanha. A
mucosa com necrose libera estrias cinzentas-avermelhadas nas fezes, os animais
apresentam-se desidratados, fracos e deprimidos, e a mortalidade alta
(MARQUES, 2003).
O achado mais caracterstico na necropsia a necrose da mucosa do
intestino delgada, principalmente na poro do jejuno. A cavidade abdominal
freqentemente encontrada com grande quantidade de lquido. provvel de
encontrar o intestino grosso normal, porm, com sangue intraluminal. Nos
achados microscpicos, a mucosa e submucosa do intestino acometido apresenta
hemorragias, as extremidades das vilosidades necrosadas ficam recobertas por
grandes bastonete Gram-positivos (SMITH et al., 2006).
f) Dermatopatias
As dermatofiloses e as dermatofitoses so dermatopatias de ocorrncia
comum em gado leiteiro e sua importncia relaciona-se a prejuzos econmicos,
trasmissibilidade e carter zoontico (CORRA & CORRA, 1992; REBHUN,
2000; SMITH et al., 2006).
O agente bacteriano Dermatophilus congolensis, agente etiolgico da
dermatofilose, um microorganismo gram-positivo, pertencente classe dos
actinomicetos. As infeces por esse agente geralmente atingem a camada
epidermal da pele, apresentando-se na forma de dermatite hiperplsica ou
exudativa, com presena de erupes cutneas crostosas e escamosas (RIET-
CORREA et al., 2007).
Caractersticas ambientais como excesso de umidade e pelagem longa
so fatores predisponentes a instalao dessa enfermidade. Acredita-se que o D.
27
congolensis no seja capaz de invadir a pele saudvel, sendo necessria alguma
leso. Parasitas externos como pulgas, piolhos e carrapatos podem ser
suficientes para desencadear uma infeco, assim como leses cutneas,
abrases por coceira, lambedura, dermatite mida, e pelame arranhado.
provvel que o D. congolensis faa parte da flora normal de alguns bovinos,
podendo desenvolver leses em casos de estresse, imunidade baixa, tratamentos
com corticides, ou ambiente muito mido (REBHUN, 2000).
Inicialmente ocorre uma leso pustular primria, com presena de
exsudato e crostas friveis de difcil remoo. Sequencialmente as crostas
tornam-se endurecidas. Nos estgios iniciais, as crostas provocam dor ao tentar
tira-las. Abaixo dessas crostas h tecido de granulao e pus, sendo que nos
estgios finais as crostas se separam da pele ficando aderida aos plos. Essas
leses ocorrem geralmente no pescoo, corpo, podendo estender-se para os
lados e as partes inferiores das pernas. Comumente elas comeam na cernelha
estendendo-se at a garupa. Nos bezerros jovens a infeco inicia-se no focinho,
provavelmente devido a o contato com o bere infectado, as leses estendem
para a cabea e pescoo (RADOSTITS et al., 2002).
O diagnstico feito por meio dos achados clnicos, podendo ser feito
os esfregaos direto do exsudato em lmina corados em Gram. Pode-se tambm
cultivar as crostas para o microrganismo em cultura (SMITH et al., 2006).
As dermatofitoses so micoses cutneas infecto-contagiosas
determinadas por um grupo de fungos, principalmente dos gneros Microsporum
e Trichophyton, sendo o Trichophyton verrucosum o mais ocorrente. So
queratinoflicos afetando plos, cascos, e clulas queratinizadas da pele e
anexos. Infectam vrios animais, inclusive o homem (RIET-CORREA et al., 2007).
Os organismos causadores so bastante resistentes, sobrevivendo em
objetos inanimados, na cama, e no solo por meses. O agrupamento dos bovinos
jovens aumenta a incidncia. Os dermatfitos afetam camadas queratinizadas
cutneas graas a toxinas e alrgenos com exudao, formao de crostas e
alopecia. A infeco por contato acelerada por irritao por objetos
contaminados como bretes, correias de pescoo, cabrestos, peias de ordenha
entre outros. As leses geralmente so arredondadas, formando crostas e
28
alopecia variando de 1 a 5 cm de dimetro. Nos bezerros afetam mais a regio
periocular, as orelhas, o focinho, o pescoo, e o tronco (REBHUN, 2000).
O diagnstico pode ser feito atravs da microscopia a fresco raspando
o bordo e o centro de uma ou mais leses procurando colocar plos e escamas.
Observar no microscpio fresco, com pouca iluminao, distinguindo hifas e
aleursporos (CORRA & CORRA, 1992).
5.3 Relato de caso
5.3.1 Objetivo
Prestao de assistncia tcnica de rotina nas diversas reas da
medicina veterinria em uma propriedade rural destinada criao de bovinos de
aptido leiteira.
5.3.2 Motivo da consulta
Prestao de servios veterinrios, orientando o produtor rural na
conduo correta de programas e estratgias que proporcionem a
sustentabilidade do sistema de produo, garantindo que este permanea na
atividade. As visitas tcnicas ocorrem mensalmente nas fazendas cadastradas.
Dessa forma, foi realizada uma visita na propriedade do Sr. Lucas
Rassi, no municpio de Piracanjuba-GO, no dia 24 de agosto de 2010, onde
buscou-se avaliar as condies de manejo na propriedade e pontos de
estrangulamento no processo produtivo avaliando questes administrativas,
sanitrias, biossegurana, controle de qualidade, dentre outras, para posterior
tomada de decises.
Apesar de se tratar de uma fazenda j assistida pela Classivet com
gado predominante girolando, poucas visitas haviam sido realizadas em virtude
do pouco tempo que a mesma havia credenciada ao modelo de assistncia
proposto. Neste sentido, muitos problemas ainda estavam sendo diagnosticados.
29
Por ocasio dessa visita, focou-se a criao de bezerras como ponto de
estrangulamento para ser resolvido, sendo este motivo de preocupao por parte
do proprietrio, tendo em vista o alto ndice de mortalidade e de enfermidades
presente no criatrio nessa categoria. Os prejuzos econmicos apresentavam-se
altos, comprometendo todas as outras categorias.
5.3.3 Anamnese
Na visita a propriedade, buscou-se em primeiro momento estabelecer
como critrio a coleta de informaes acerca da propriedade, mo-de-obra,
manejo sanitrio e nutricional e as principais queixas do proprietrio e da mo-de-
obra.
Segundo informaes do proprietrio, o principal problema em questo
em seu sistema de produo era a criao de bezerras, j que os machos ao
nascimento eram doados ou vendidos a um preo irrisrio, devido ao seu baixo
desempenho para o corte e alto valor agregado. A criao de bezerras estava se
tornando muito onerosa, pois os animais adoeciam com muita frequncia,
culminando na maioria das vezes com a morte.
Para o proprietrio e funcionrio o problema no estaria relacionado a
uma enfermidade em especial, mas uma srie de doenas que afetava as
bezerras nas mais diversas idades, sendo as diarrias, pneumonias e a
tristezinha as causas de morte mais comuns. A medicao parecia no mais ter a
mesma eficcia antes observada, sendo comum, mesmo depois de realizada a
medicao, os animais piorarem o quadro clnico.
Dessa forma, foi relatado que o aumento de custos, devido aquisio
de medicamentos, maior demanda de mo-de-obra e a morte ou deficincia no
desenvolvimento do bezerro, era responsvel por um prejuzo muito grande para
a propriedade. A fim de resolver esse gargalo, o proprietrio pediu ateno
especial para essa categoria, buscando de maneira eficiente, a melhoria dos
animais e diminuio da alta incidncia de doenas, bem como a adoo de um
controle profiltico mais adequado.
30
De posse dessa solicitao para que fosse focada a assistncia aos
animais jovens, procurou-se direcionar o atendimento para as categorias
consideradas alvo".
De acordo com relatos do funcionrio da propriedade, os animais ao
nascerem, eram deixados com a me por 24 horas no piquete de pr-parto, sendo
que muitas vezes a observao do mesmo s ocorria uma vez ao dia. Este
piquete era localizado prximo a sede para facilitar a observao, porm, abaixo
da rea do curral de manejo dos animais. Segundo o gerente da propriedade,
devido ao excesso de atividades, o tempo destinado ao cumprimento de todas as
tarefas era insuficiente. Desse modo era comum ocorrer o nascimento de
bezerros e no haver a verificao da ingesto do colostro, cura do umbigo bem
como a observao da parturiente, quanto possvel ocorrncia de hipocalcemia
ps-parto ou mesmo reteno de envoltrios fetais. Tambm foi relatado que
algumas vacas possuam tetos grandes sendo que muitos bezerros apresentavam
dificuldade de mamar, e o auxlio era necessrio.
Foi relatado que a cura do umbigo era efetuada por meio de imerso
do coto umbilical em uma soluo de iodo a 10% por uma nica vez, sendo
realizada quando o animal era separado da matriz e colocado junto com os
demais em um piquete. Todavia, no souberam informar o tempo de imerso e
nem sua importncia, sendo esse procedimento realizado sem nenhum critrio.
Tambm se pde, por meio da conversa, notar que nenhum cuidado era tomado
em relao ao tipo de frasco em que a soluo de iodo era acondicionada nem do
local onde o frasco era guardado.
Quanto ingesto do colostro foi relatado que esse ato era realizado
naturalmente pelo bezerro sem nenhum tipo de auxlio, no havendo verificao
se o animal havia realizado a mamada, quantidade ingerida e o tempo entre o
nascimento e incio da primeira ingesto.
As bezerras eram amamentadas ao mesmo tempo em que se realizava
a ordenha, retirando-se uma teteira do conjunto do peito da vaca, deixando este
livre para a bezerra mamar (Figura 1). Dessa forma, no havia o controle de
quanto estava mamando e nem quanto essa vaca estava produzindo de leite.
Apesar de terem conhecimento sobre os pontos negativos desse ato,
principalmente quanto ao aumento da contaminao na sala de ordenha
31
juntamente com a mo-de-obra dos funcionrios, a mudana desse manejo era
considerada de difcil implantao, tanto pelo funcionrio quanto pelo proprietrio.
FIGURA 1 - Bezerra efetuando a mamada ao mesmo
tempo em que a ordenha estava sendo
realizada.
Foi relatado que no havia separao por lote conforme a categoria de
bezerras, sendo essas manejadas em um nico piquete. A alimentao baseava-
se no pastejo, sendo o capim Andropogon a gramnia predominante. Durante o
perodo seco os animais recebiam silagem de milho e rao concentrada, no
sendo a dieta balanceada por um profissional.
O calendrio profiltico constava de vacinao contra febre aftosa,
observando a campanha, clostridioses, preconizando uma vacina polivalente, em
todos os animais acima de cinco meses e vacina contra brucelose. A dose reforo
era negligenciada, sendo que o bezerro s recebia a segunda dose na prxima
campanha de aftosa. A vermifugao era realizada logo somente por ocasio do
desmame e somente quando a carga parasitria de ectoparasita aumentava muito
no lote, realizada a aplicao de ivermectina.
O critrio para o desmame, no obedecia muitas anlises zootcnicas,
sendo que pelo sistema de ordenha adotado pela propriedade, os animais s
eram desmamados aps a secagem de suas respectivas mes. Essa secagem
estava relacionada ao estgio de gestao da me, sendo essa na atual realidade
32
feita aproximadamente, tendo em vista que o controle zootcnico estava sendo
realizado h pouco tempo.
O controle de carrapatos era efetuado somente nos animais que
possuam uma alta a moderada carga parasitria, deixando de lado aqueles que
possuam infestaes leves.
Aps a coleta dessas informaes deu-se incio inspeo da
propriedade, instalaes e dos animais.
5.3.4 Inspeo da propriedade e animais
Antes de realizar a avaliao dos animais doentes, independente da
fase ou estgio da enfermidade, procurou-se inspecionar o ambiente onde esses
animais permaneciam.
Em primeiro momento foi avaliado o piquete das bezerras, onde se
pde constatar que este se localizava abaixo do curral. A uma anlise mais
detalhada do piquete foi verificado presena de uma canalizao do esgoto da
ordenha. Como consequncia, toda a gua que era utilizada na limpeza dos
dejetos, utenslios da ordenha, dentre outros resduos, era destinada ao local
onde as bezerras permaneciam. Alm disso, se formava uma possa de gua
originando muita lama nas proximidades do bebedouro, tornando o ambiente
muito mido o que dificultava o acesso para as bezerras (Figura 2).
Os animais eram criados soltos, no havia distino entre diferentes
idades e categorias. A rea de cocho alm de ser insuficiente para a quantidade
de animais encontrava-se numa posio que dificultava o acesso dos bovinos
menores ao alimento. Alm disso, a competio mostrava-se evidente, e a
diferena de escore corporal entre alguns animais apresentava-se discrepante.
Notou-se tambm que a nica sombra do piquete era proveniente de
uma rvore, a competio pelo sombreamento tambm alvo de preocupao. Ao
inspecionar o cocho de gua, observou-se que se tratava de um cocho grande,
com pouca vazo sendo a limpeza realizada de forma inadequada, pois a gua e
a o cocho apresentavam-se sujos, com odor desagradvel, alm de resduos de
capins e insetos, j em decomposio.
33
FIGURA 2 - A: Piquete das bezerras situado abaixo do curral com
bezerras de diferentes idades. B: Vazamento no bebedouro
provocando lama com livre acesso aos animais.
Aps a inspeo da propriedade e dos animais, foram feitos os exames
clnicos de alguns exemplares enfermos ou no para obter dados mais concretos
da realidade da propriedade, e tambm fazer o tratamento dos animais doentes.
5.3.5 Avaliao clnica de indivduos das categorias alvo
Por considerar que as categorias alvo, pontos de gargalo do sistema
de produo, ser a categoria bezerro, preconizou-se desde a concepo, ou seja,
vacas prenhes, at o desmame, como categorias a serem avaliadas.
Em primeiro momento, foram examinadas as matrizes inseminadas a
mais de trinta dias. Como a escriturao apresentava pontos falhos, aproveitou-se
a oportunidade para efetuar o diagnstico de gestao de 20 vacas que haviam
sido inseminadas a mais de quatro meses e que encontravam-se em lactao.
Para esse exame utilizou-se o ultrasson como equipamento de
trabalho, sendo seu diagnstico considerado pelo veterinrio mais preciso (Figura
3). Dessa forma, ao confirmar a gestao, estabelecer a data prevista para o
parto a partir da data da inseminao, e tambm estabelecer a previso de
secagem desses animais para que tenham um descanso em torno de 60 dias
antes do parto, sendo os animais encaminhados nessa ocasio, para o piquete
34
maternidade, onde a dieta pr-parto iria ser elaborada pela equipe tcnica, j por
ocasio da visita sequencial.
FIGURA 3 - Realizao do diagnstico de gestao
com auxilio de equipamento de
ultrasson.
Aps o diagnstico de gestao, foi dada ateno especial aos animais
do bezerreiro, avaliando as enfermidades que estavam os acometendo. Ao exame
clinico, foram diagnosticadas cinco bezerras com diarria, no qual apresentava
fezes amarelada de consistncia pastosa a aquosa, desidratao, apatia e
anorexia, sendo os bezerros acometidos at trs semanas de vida.
Por ocasio da inspeo dos animais notou-se de forma geral que
muitos bezerros apresentavam-se com escore corporal baixo, com plos
arrepiados e sem brilho, alm de tosse e corrimento nasal em sete indivduos.
Tambm foi possvel observar que um nmero grande de animais apresentava
reas de alopecia, principalmente nas regies do pescoo, ventre e extremidades
dos membros locomotores e lacrimejamento ocular. Sete bezerros que se
apresentavam com sinais claros de enfermidade foram contidos para que o
veterinrio realizasse uma avaliao clnica mais minuciosa. Dos sete animais
examinados, todos apresentavam as mucosas oral, vaginal e conjuntival
hipocoradas, a carga de carrapatos tambm considervel. Secreo nasal uni ou
bilateral, tosse e dispnia foram sinais evidenciados em quatro dos sete bezerros
35
avaliados. Apesar de no ser notado quadro de diarria em nenhum animal nessa
ocasio, em muitos bezerros notou-se sequelas ou restos de fezes na regio
perineal apontando para um possvel quadro recente de diarria.
5.3.6 Medidas adotadas pelo veterinrio
De inicio, as recomendaes do veterinrio diante daquela situao
comeavam por ocasio do nascimento. Dessa forma aps constatar a data
correta da prenhs, o profissional sugeriu ao proprietrio que apontasse um
piquete prximo a sede, porm, se possvel, localizado acima da rea do curral
para evitar sujidades e facilitar a drenagem. Este tambm teria de possuir uma
vasta rea de sombreamento e rea de cocho suficiente para evitar competio e
possveis traumas. Aconselhou tambm que fosse elaborada uma dieta pr-parto
adequada categoria e que esse piquete fosse, pelo menos trs vezes ao dia
observado por um funcionrio quanto possveis problemas com a parturiente,
como distocias e problemas metablicos.
Tambm sugerido nessa mesma ocasio, agendamento de um curso
para os funcionrios pelo prprio corpo tcnico da Classivet. Neste treinamento
seriam abordados aspectos inerentes higienizao, cura de umbigo, vias e
formas de aplicao de medicamentos e importncia do colostro para o recm
nascido, dentre outros assuntos. Como forma de valorizar os funcionrios seria
oferecido, ao trmino do curso, um certificado para atestar a competncia
daqueles indivduos, quanto s informaes repassadas. Todavia, algumas
informaes bsicas das condutas a serem seguidas foram repassadas at a
realizao do curso proposto.
Quanto cura do umbigo, o tcnico aconselhou que logo aps o
nascimento do bezerro a cura do umbigo deveria ser efetuada pelo menos duas
vezes ao dia por trs dias consecutivos, empregando soluo de iodo a 10%.
Apontou tambm a importncia de que essa imerso fosse feita, deixando o
umbigo pelo menos um minuto imerso na soluo. O frasco aps o uso deveria
ser guardado em local ventilado e com pouca claridade e o frasco ser de cor
escura evitando contato direto da luz com a soluo.
36
Outra medida a ser tomada, seria o auxlio aos bezerros recm
nascidos mamada do colostro nas primeiras horas de vida, fazendo assim com
que o neonato ingerisse o colostro em quantidade suficiente e o mais rpido
possvel aps o nascimento. Para sedimentar a importncia dessa informao, o
veterinrio relatou ao funcionrio e proprietrio que o colostro funcionaria como
uma vacina para o bezerro evitando uma srie de doenas e que para melhorar
ainda mais a situao essa vacina seria de graa. Essa forma de explicao
mais adequada ao entendimento do funcionrio e do produtor.
Paralelamente as condutas acima citadas, o veterinrio sugeriu que
uma mudana estrutural fosse feita em carter de urgncia, mas que no iria
acarretar custos adicionais relevantes ao proprietrio. Aconselhou que o piquete
dos bezerros fosse mudado de local, sendo uma rea acima do curral, bem
drenada e sombreada. Sugeriu tambm que um novo reservatrio de gua fosse
construdo, sendo esse pequeno, porm, com alta vazo. Este deveria ser lavado
pelo menos duas vezes por semana.
Quanto a questo sanitrio e de biossegurana o tcnica pediu que o
lote de bezerras fosse subdividido em pelo menos trs lotes, tornando o peso dos
animais o parmetro para essa adequao, sendo trs lotes criados, bezerro 1,
bezerro 2 e bezerro 3. O piquete indicado, como possua rea compatvel, poderia
ser dividido por cerca eletrificada, devido ao custo pouco oneroso. A partir dessa
adequao seria balanceada uma dieta indicada para cada categoria de bezerro,
independente da estao do ano, para que os animais tivessem acesso ao
concentrado durante todo o ano. Foi sugerida tambm a criao de um piquete
extra, indicado para alocar animais portadores de enfermidade, se possvel, logo
aps a constatao dos sinais clnicos, denominado de piquete enfermaria. O
veterinrio explicou que muitas das doenas que acometia os bezerros eram
contagiosas e que a separao dos indivduos doentes dos saudveis evitaria a
contaminao de outros animais.
Preconizou que o combate ao carrapato fosse efetuado de forma mais
eficiente, sendo indicada a pulverizao a cada vinte dias pelo menos at o
controle da situao. Como muitos animais apresentavam sinais claros de tristeza
parasitria, o veterinrio sugeriu um tratamento em massa com produto a base
de imidocard (Imizol, Coopers Brasil Ltda., So Paulo, SP) sendo essa aplicao
37
efetuada pelo prprio tcnico. Tambm preconizou a vermifugao dos animais
empregando vermfugo oral, sendo o protocolo indicado repetido mensalmente.
Para o veterinrio esse produto mostrava-se eficiente e de baixo custo.
Quanto ao calendrio de vacinao utilizado, o veterinrio apenas
enfatizou a importncia do reforo vacinal aps 60 dias da primeira vacinao.
Todavia, inicialmente no recomendou que outro tipo de vacina fosse utilizado.
Apesar do modelo de ordenha e manejo dos animais no permitir a
ordenha sem bezerro ao p, o veterinrio relatou ao proprietrio os
inconvenientes advindos desse manejo e que o mesmo comeasse a pensar
sobre possveis mudanas. Como alguns dos animais de ordenha j eram
acostumados dar leite sem bezerro ao p, seria interessante a mudana gradativa
do plantel uma vez que a atividade leiteira era o ramo de opo da fazenda e que
a estrutura j existente permitiria. Tal manejo favorecia muito a prtica diria,
alm de favorecer consideravelmente a criao dos bezerros. Todavia, a
mudana teria que ser planejada e gradativamente instituda. Sendo assim, foi
sugerido um sistema de criao individual das bezerras em aleitamento.
Quanto aos problemas de enfermidade j observados, o veterinrio
prescreveu a seguinte medicao e orientou o funcionrio, conforme os sinais
apresentados para cada animal. Para os casos de diarria prescreveu-se
antibioticoterapia a base de sulfadoxina, trimetropin, hidrxido de sdio,
dietanolanina e glicerinformol (BORGAL, Hopchst Rousstl Vet. Ltda., So Paulo,
SP) por via intravenoso na dosagem de 1mL para cada 10kg de peso vivo de 24
em 24 horas por 4 dias. Alm disso, orientou que fosse realizada a hidratao
desse animal como soro caseiro, sendo ministrados aproximadamente trs litros
dirios por via oral.
Para as bezerras com problemas pulmonares a orientao do
veterinrio foi a realizao de antibioticoterapia a base de enrofloxaxino a 10%
(KINETOMAX, Bayer sade Animal Ltda., So Paulo, SP) por via intramuscular
na dosagem de 1 ml para cada 20kg de peso vivo de 24 em 24 horas durante 4
dias. Aplicar tambm Flunixin Meglumine (Banamine , Intervet Shering-Plough,
So Paulo, SP) por intramuscular na dosagem de 1 ml para cada 20kg de peso
corporal de 24 em 24 horas por trs dias.
38
Alm desses protocolos o veterinrio solicitou o isolamento dos animais
enfermos no piquete enfermaria.
5.4 Discusso
Por ocasio do atendimento, o mdico veterinrio procurou
previamente inspeo da propriedade e avaliao clnico dos bovinos realizar
uma criteriosa anamnese tanto com o proprietrio quanto com o funcionrio da
propriedade, a fim de conseguir o mximo de informaes que poderiam ajudar a
direcionar as suspeitas clnicas bem como visibilizar possveis pontos de
estrangulamento na propriedade. A atitude do profissional, independente da
enfermidade, mostrou-se correta, concordando com a literatura, que descreve que
uma anamnese bem elaborada e criteriosa direciona a suspeita clnica, revelando
informaes importantes para direcionamento do profissional quanto s condutas
a serem seguidas para concluso efetiva do diagnstico (REBHUN, 2000;
RADOSTITS et al., 2002; RIET-CRREA et al., 2007).
Aps anamnese, inspeo da propriedade e animais, o veterinrio
focou nos aspectos bsicos, tentando sensibilizar o produtor e funcionrio de que
a adoo de medidas bsicas em relao ao manejo dos animais jovens poderia
evitar uma srie de problemas sanitrios nessa categoria. Outros pesquisadores
tambm relatam que medidas simples que demandam pouco recurso financeiro
para sua consolidao, como por exemplo: cura de umbigo, manejo do colostro,
cuidado com higiene e gua, local do piquete, dentre outras trazem, em curto
prazo, resultados animadores, reduzindo a ocorrncia de enfermidades
consideravelmente, respaldando a atitude do profissional (SILVA et al., 2001;
SANTOS, 2002; BLOWEY & WEAVER, 2003).
Apesar de na propriedade em questo adotarem a cura do umbigo com
soluo de iodo a 10% essa conduta era realizada de forma inadequada. A
indicao quanto forma de realiz-la, no referida atendimento, bem como da
importncia de sua execuo foram apresentadas ao proprietrio e ao funcionrio
como um dos principais requisitos, juntamente com a ingesto correta do colostro
pelo bezerro, para o controle e preveno de vrias doenas. Essas
preocupaes do tcnico bem como a maneira apresentada pelo mesmo para sua
39
execuo foram consideradas corretas estando embasadas com a literatura
especializada (TONIOLLO & VICENTE, 1993; SILVA et al., 2001; MACHADO
NETO et al., 2004; AZEVEDO et al., 2008). Outro fator ainda dentro deste
contexto e que mereceu ateno do tcnico foi ateno dada observao
eficiente do piquete maternidade, principalmente para as vacas que possuam
tetos grandes, devido dificuldade do bezerro em ingerir o colostro. O argumento
do profissional junto ao produtor e funcionrio, ao dizer que o colostro funcionaria
como uma vacina e era de graa, mostrou experincia e inteligncia, uma vez
que entende que o sucesso de um profissional de campo encontra-se
primeiramente no conceito citado por SILVA et al. (2001): compreender e se
fazer compreendido.
A preocupao do tcnico em relao ao piquete onde os bezerros se
encontravam, principalmente com os aspectos referentes ao excesso de
contaminao, umidade, falta de sombreamento mostraram pertinentes, sendo a
resoluo do problema apresentada ao produtor sem a demanda de altos
investimentos. Respaldam essa conduta, SILVA et al. (2001) e RADOSTITS et al.
(2002) relataram que todos os fatores acima descritos constituem em srios
fatores de risco e que, se no controlados, podem ser responsveis por srios
problemas sanitrios, principalmente em bovinos jovens. O controle de
enfermidades como a verminose, onfalopatias, conjuntivites, pneumonias,
diarrias, dentre outros, mostra-se difcil acarretando grandes prejuzos ao
criatrio.
Outro ponto de estrangulamento apontado pelo profissional foi
questo da qualidade da gua e forma de armazenamento. Para o profissional
haveria necessidade de um tanque com menor capacidade de armazenamento e
de alta vazo, sendo este lavado semanalmente. Concordando com essa
afirmao, outros autores tambm citaram que a gua pode ser considerada um
fator de risco importante, uma vez que vrios microrganismos patognicos, com
destaque para a Eimeiria bovis, podem ser transmitidos por ocasio da ingesto
de gua contaminada. Depsitos muito grandes, em que a lavagem e troca de
gua apresenta-se difcil, devem ser preteridos, principalmente em piquetes de
animais jovens (CORRA & CORRA, 1992; REBHUN, 2000; SMITH et al.,
2006), concordando com a atitude do tcnico.
40
A separao em lotes com o intuito de evitar competio entre
indivduos mostrou-se correta. Para outros autores, alm da competio a
homogeneidade dos lotes, controle sanitrio e o bem-estar dos animais so
conseguidos com maior facilidade, quando se tm lotes bem distribudos
(REBHUN, 2000; MARQUES, 2003; SMITH, 2006).
Apesar de no prescrever outro tipo de vacina para ser inserido no
calendrio profiltico da fazenda o veterinrio alertou que o reforo vacinal era
importante e sem este, os bovinos estariam desprotegidos. Essa importantes
consideraes tambm foram apontadas por outros autores, que acrescentaram
ainda que nenhuma vacina protege 100% o rebanho e que se os fatores de risco
no forem identificados a enfermidade, mesmo com a vacinao poder ocorrer
(REBHUN, 2000; BLOWEY & WEAVER, 2006; CUNHA et al., 2010).
A melhoria da dieta, com fornecimento de concentrado durante todo o
perodo do ano, sendo este balanceado por um profissional qualificado so
requisitos importantes para o sucesso na criao de qualquer categoria animal,
com destaque para os animais jovens, concordando com a literatura (LUCCI,
1989; NUSSIO, 2003).
Apesar de todas as recomendaes relacionadas s mudanas de
manejo e biossegurana visando o controle de enfermidades que acometiam os
bezerros, o veterinrio medicou e deixou um protocolo para ser utilizado para
algumas doenas que por ventura acometesse os animais. Ape