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i UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: Manejo de bezerras leiteiras da concepção ao desmame Benedito Vicente da Silva Filho Orientador: Prof. Dr. Rogério Elias Rabelo JATAÍ 2010

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  • i

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    CAMPUS JATA

    CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS

    GRADUAO EM MEDICINA VETERINRIA

    RELATRIO DE ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO:

    Manejo de bezerras leiteiras da concepo ao desmame

    Benedito Vicente da Silva Filho

    Orientador: Prof. Dr. Rogrio Elias Rabelo

    JATA

    2010

  • ii

    BENEDITO VICENTE DA SILVA FILHO

    RELATRIO DE ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO:

    Manejo de bezerras leiteiras da concepo ao desmame

    Relatrio de estgio curricular supervisionado

    apresentado como requisito parcial para a concluso

    do curso de Medicina Veterinria junto Universidade

    Federal de Gois/Campus Jata.

    rea de Concentrao:

    Clnica, cirurgia em grandes animais e

    acompanhamento tcnico em propriedades leiteiras

    Orientador:

    Prof.Dr. Rogrio Elias Rabelo

    Supervisor:

    Md. Vet. Antnio Carlos Cordeiro Verssimo

    JATA

    2010

  • iii

    BENEDITO VICENTE DA SILVA FILHO

    Relatrio de estgio curricular supervisionado para concluso de curso de

    graduao em Medicina Veterinria, defendido e aprovado em 06 de dezembro de

    2010, pela seguinte banca examinadora:

    ______________________________________________

    Prof.Dr. Rogrio Elias Rabelo

    Presidente da banca

    ______________________________________________

    Prof. Dr. Valcinir Aloisio Scalla Vulcani

    Membro da banca

    ________________________________________________

    Md. Veterinrio Leuton Scharles Bonfim

    Membro da banca

  • iv

    Dedico este trabalho de concluso de

    curso ao meu pai Benedito Vicente,

    minha me Vilma Morais, meu irmo

    Vicente Benedito, e meus amigos, pelo

    incentivo, carinho e compreenso sendo

    eles responsveis por me tornar uma

    pessoa melhor a cada dia, com

    humildade, honestidade e dignidade.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus e Nossa Senhora Aparecida, por estar

    sempre ao meu lado me dando sade, fora para seguir em frente, coragem para

    enfrentar os problemas, a oportunidade e perseverana para conseguir alcanar

    meus objetivos.

    Ao Campus Jata/UFG, por ter fornecido os conhecimentos

    necessrios, que sempre serviro de base para minha vida profissional, e que me

    concedeu a realizao de um grande sonho na minha vida.

    minha famlia por estar sempre ao meu lado, me direcionando em

    tomar as decises corretas, servindo de apoio nos momentos difceis, em especial

    ao meu pai Benedito Vicente, um grande homem a quem sempre me espelho e

    tenho muito orgulho, a minha me Vilma Morais, uma mulher guerreira, especial,

    que sempre me apoiou e me deu foras, meu irmo Vicente Benedito, que muito

    mais do que um irmo, parte de mim, grande companheiro que sempre esteve

    ao meu lado.

    minha v Ariene, que eu considero muito e sempre foi uma pessoa

    muito importante na minha vida e responsvel por eu me tornar a pessoa que sou

    hoje.

    Ao meu professor, orientador, Rogrio Elias Rabelo, um excelente

    profissional que me ajudou muito em minha formao acadmica, sempre me

    passando conhecimentos, mostrando o caminho correto, servindo de esteio em

    decises importantes, se tornando a cada dia um grande amigo.

    Aos meus tios, em especialmente meu tio Zeneto e tia Janete, que me

    ensinaram muitas coisas, sempre me acolheram quando precisei, e cuidaram de

    mim como um filho, me deram muitos conselhos e orientaes como pessoa, que

    serviro por toda minha vida.

    Ao Antunes Murilo, um grande companheiro, irmo, que sempre esteve

    presente na minha vida acadmica e tenho grande admirao, seu pai Adair e sua

    me dona Ftima, a quem tenho eterna gratido por abrir as portas de sua casa e

    sempre ter me tratado to bem.

  • vi

    Aos companheiros da faculdade, Fausto Carrijo, Mrio Antnio, Juliano

    Pereira, Rmulo, Wiliam Fayad, Fabiano Curtina, Joo Pedro, e todos colegas de

    sala pelo companheirismo e amizade durante todos esses anos.

    Aos amigos Tiago Correia e sua famlia, Bufinha, tia J, Bruno e

    Charles, por serem to prestativos, acolhedores.

    Aos companheiros de Arau, Kaio Cesar, Joo Jil, Marcos Otvio,

    Fbio Onorato, Clio Jnior, pela sua amizade, por estarem sempre comigo,

    apoiando, dando conselhos, participarem de muitos momentos bons, muitas

    provas de lao e muitas festas.

    A todos os membros da Classivet, por contriburem diretamente com

    meus ensinamentos a campo, em especial meu supervisor Antnio Carlos C.

    Verssimo a quem me ensinou muito e se tornou um grande amigo.

    Queria agora poder achar uma forma de citar o nome de cada pessoa a

    quem devo toda minha gratido, mas isso tomaria algumas pginas e pginas de

    agradecimento; portanto, deixo aqui o direito a todos que me ajudaram de forma

    direta ou indireta, de se sentirem donos da minha gratido e do meu afeto. Muito

    obrigado

  • vii

    SUMRIO

    1 INTRODUO............................................................................................... .......1

    2 DESCRIO DO LOCAL DE ESTGIO......................................................... ......3

    3 RELAO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS......................................... ......4

    4 DESCRIO PORMENORIZADA DO CASO ESCOLHIDO ATENDIDO

    DURANTE O ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO............................ .....8

    5 CRIAO DE BEZERRAS DA CONCEPO AO DESMAME...................... ......9

    5.1 Introduo........................................................................................... ...............9

    5.2 Reviso da literatura........................................................................... .............10

    5.2.1 Cuidados com a parturiente........................................................... ...............10

    5.2.2 Parto............................................................................................... ...............12

    5.2.3 Bezerras leiteiras............................................................................ ............. 14

    5.2.4 Imunidade passiva colostro........................................................................14

    5.2.5 Principais enfermidades dos bezerros........................................... ...............16

    5.3 Relato de caso.................................................................................. ...............28

    5.3.1 Objetivo......................................................................................... ................28

    5.3.2 Motivo da consulta....................................................................... .................28

    5.3.3 Anamnese................................................................................... ..................29

    5.3.4 Inspeo da propriedade e animais............................................ ..................32

    5.3.5 Avaliao clnica de indivduos das categorias alvo............... .. ..................33

    5.3.6 Medidas adotadas pelo veterinrio............................................ ...................35

    5.4 Discusso................................................................................................... ......38

    5.5 Concluso................................................................................................... .....41

    6 CONSIDERAES FINAIS................................................................................42

    REFERNCIAS................................................................................................ ......43

  • 1

    1 INTRODUO

    A facilidade de acesso aos diversos meios de comunicao e a

    informatizao propiciaram mudanas importantes no modo de pensar do

    produtor rural e no modelo de administrar o seu sistema de produo de bovinos,

    independente da atividade desempenhada. Todavia, a globalizao com

    consequente abertura do mercado gerou um modelo comercial no qual a

    eficincia produtiva, produo em escala, qualidade e respeito s normas de bem

    estar animal e impacto ambiental, controle nos custos de produo, sanidade

    animal, biossegurana, qualificao de mo-de-obra, gesto e

    empreendedorismo, passaram a serem requisitos indispensveis permanncia

    do produtor rural no mercado.

    Na pecuria leiteira essas mudanas tambm esto ocorrendo de

    forma muito dinmica, sendo a intensificao da produo e a melhoria

    zootcnica do plantel a primeira preocupao por parte da maioria dos

    produtores. Como consequncia desse processo os problemas sanitrios que

    acometem o rebanho bovino so apontados como um dos principais pontos de

    estrangulamento da atividade. Apesar de existirem inmeros fatores de risco, a

    negligncia nos aspectos relacionados s medidas preventivas e biossegurana,

    mo de obra desqualificada, ausncia de assistncia de um tcnico especializado

    merece destaque.

    Os problemas referentes criao de bovinos de aptido leiteira,

    em especial de bezerros, embora sendo de extrema importncia e demandar

    maiores atenes aliadas a uma srie de medidas adequadas de manejo, nem

    sempre recebe a ateno devida, seja por desconhecimento ou mesmo pela

    iluso de um lucro rpido e aparente, baseado na conteno de despesas. Assim,

    temas relacionados com a sanidade dos bezerros, desde os cuidados com sua

    concepo e seu nascimento at o desmame so constantemente alvo de

    questionamentos. Desse modo, a importncia do veterinrio extensionista mostra-

    se imprescindvel, no s no controle desse problema como em todo o processo

    de gesto dessas propriedades rurais.

    Por ser de origem rural e ter tido contato principalmente com a

    atividade leiteira, pude perceber e conviver com as dificuldades que os produtores

  • 2

    vm passando ao longo de muito tempo, principalmente no assunto acima

    descrito. Aliado ao perfil de me tornar mdico veterinrio de campo, escolhi no

    s trabalhar com grandes animais como tambm realizar o estgio curricular

    supervisionado em uma empresa de consultoria a produtores rurais voltados

    explorao leiteira.

  • 3

    2 DESCRIO DO LOCAL DE ESTGIO

    O estgio supervisionado obrigatrio foi realizado no perodo de 02 de

    agosto a 11 de outubro de 2010, na empresa Classivet-Ltda, Consultoria em

    Agronomia e Veterinria, com sede na cidade de Orizona-GO. Atualmente a

    empresa atua em assistncia tcnica em 35 municpios do estado de Gois,

    contando atualmente com dez mdicos veterinrios, um engenheiro agrnomo,

    um tcnico em irrigao, trs tcnicos agrcolas e trs secretarias.

    A Classivet-Ltda presta assessoria em 140 propriedades rurais para

    diferentes empresas que beneficiam o leite, fornecendo servios de gesto e

    administrao rural, alm de assistirem tecnicamente, em diversas reas do

    conhecimento, com destaque para a medicina veterinria preventiva, reproduo,

    manejo nutricional e de pastagens, sanidade, clnica e cirurgia, controle de

    qualidade de leite e derivados, dentre outras. Essas 140 propriedades rurais

    assistidas fornecem aproximadamente 4,5 milhes de litros de leite mensalmente,

    o que resulta em produo mdia por fazenda de 32.143 litros/ms.

    A deciso de realizar o estgio curricular na Classivet-Ltda baseou-se

    em minha vocao frente aos desafios enfrentados pelo profissional extensionista

    que trabalha com animais de produo. Ressalte-se ainda que, em virtude da

    demanda de servios prestados pela referida empresa no cenrio estadual ou

    mesmo em outros estados, oportunidade em sedimentar conhecimento ou adquirir

    novas experincias, tambm motivaram a escolha da referida empresa como

    campo de estgio.

    Durante todo o perodo de estgio curricular, fui supervisionado pelo

    mdico veterinrio Antnio Carlos Cordeiro Verssimo, formado pela Universidade

    Federal de Gois, scio proprietrio da Classivet-Ltda. Nessa oportunidade foi

    possvel colocar em prtica os ensinamentos adquiridos durante os nove

    semestres de Universidade.

  • 4

    3 RELAO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

    Durante o perodo de estgio foi possvel acompanhar diversas

    atividades no contexto da medicina veterinria, com destaque para a medicina

    veterinria preventiva, clinica mdica, clnica cirrgica, nutrio e produo

    animal, reproduo e obstetrcia, gesto e administrao rural, medidas

    preventivas e de biossegurana. As atividades desenvolvidas podem ser

    observadas nas tabelas abaixo:

    TABELA 1 - Atividades desenvolvidas na rea de medicina veterinria preventiva

    no perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o

    estgio curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda.,

    Orizona-GO

    Procedimentos preventivos e coleta de

    material biolgico

    Espcie Total

    Colheita de sangue para exame de brucelose Bovino 508 (63,9%)

    Exame de tuberculose Bovino 88 (11,07%)

    Vacinao contra brucelose Bovino 61 (07,67%)

    Vacinao contra raiva Bovino 29 (03,65%)

    Vacinao contra clostridiose Bovino 29 (03,65%)

    Vermifugao de bezerras Bovino 80 (10,06%)

    TOTAL 795 (100%)

    Fonte: Classivet Ltda. (2010)

  • 5

    TABELA 2 - Atividades desenvolvidas na rea de clnica mdica animal no

    perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio

    curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO

    Atividades e/ou casos clnicos Espcie Total

    Abscesso na mandbula Bovino 01 (0,63%)

    Actinomicose Bovino 01 (0,63%)

    Artrite em bezerros Bovino 05 (3,14%)

    Ceratoconjuntivite infecciosa bovina Bovino 25 (15,72%)

    Dermatofilose Bovino 08 (05,03%)

    Diarria em neonatos Bovino 58 (36,47%)

    Hipocalcemia ps-parto Bovino 02 (01,27%)

    Intoxicao alimentar Bovino 01 (0,63%)

    Mastite clnica Bovino 21 (13,20%)

    Pneumonia em bezerros Bovino 14 (08,81%)

    Septicemia Bovino 01 (0,63%)

    Tratamento de leptospirose Bovino 07 (04,40%)

    Tristeza parasitria bovina Bovino 14 (08,81%)

    lcera de abomaso Bovino 01 (0,63%)

    TOTAL 159 (100%)

    Fonte: Classivet Ltda. (2010)

    TABELA 3 - Atividades desenvolvidas na rea de produo e nutrio animal no

    perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio

    curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO

    Atividades desenvolvidas (Propriedade) Espcie Total

    Anlise bromatolgica de silagem Milho 01 (0,71%)

    Manejo de machos e fmeas lactentes Bovino 23 (16,43)

    Manejo de ordenha (linha de ordenha) Bovino 16 (11,43%)

    Manejo de pastagem rotacionada Bovino 02 (01,43%)

    Manejo nutricional (formulao de dieta) Bovino 21 (15,%)

    Pesagem de bezerras e novilhas Bovino 77 (55%)

    TOTAL 140 (100%)

    Fonte: Classivet Ltda. (2010)

  • 6

    TABELA 4 - Atividades desenvolvidas na rea de clnica cirrgica animal no

    perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio

    curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO

    Atividades e/ou casos clnicos cirrgicos Espcie Total

    Abertura do esfncter de teto Bovino 01 (02,22%)

    Amputao de teto Bovino 01 (02,22%)

    Caudectomia Bovino 01 (02,22%)

    Deslocamento de abomaso Bovino 01 (02,22%)

    Enfermidades podais (casqueamento curativo) Bovino 12 (26,67%)

    Exrese de neoplasia de terceira plpebra Bovino 02 (04,44%)

    Mochao com ferro candente Bovino 25 (55,56%)

    Orquiectomia Bovino 01 (02,22%)

    Orquiectomia Suno 01 (02,22%)

    TOTAL 45 (100%)

    Fonte: Classivet Ltda. (2010)

    TABELA 5 - Atividade desenvolvida na rea de Obstetrcia e Reproduo Animal

    no perodo de 02 de agosto a 11 de outubro de 2010, durante o estgio

    curricular supervisionado realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO

    Fonte: Classivet Ltda. (2010)

    Atividades Espcie Total

    Abscesso uterino Bovino 01 (0,06%)

    Aderncia uterina Bovino 02 (0,12%)

    Diagnstico de gestao (ultrasson) Bovino 611 (36,35%)

    Diagnstico de gestao (palpao retal)

    Diagnstico de gestao (palpao retal)

    Bovino

    Equino

    923 (54,91%)

    01(0,06%)

    Endometrite Bovino 18 (1,07%)

    Exame ginecolgico Bovino 53 (03,15%)

    Parto distcico Bovino 01 (0,06%)

    Reteno de placenta Bovino 16 (0,95%)

    Sincronizao de estro Bovino 55 (03,27%)

    TOTAL 1681 (100%)

  • 7

    TABELA 6 - Atividades desenvolvidas na rea de zootecnia, produo animal e

    gesto de propriedades leiteiras no perodo de 02 de agosto a 11 de

    outubro de 2010, durante o estgio curricular supervisionado

    realizado na Classivet Ltda., Orizona-GO

    Atividades (Propriedade) Espcie Total

    Anlise de indicadores zootcnicos econmicos Bovino 03 (07,31%)

    Controle de custo Bovino 15 (36,59%)

    Controle zootcnico Bovino 23 (56,10%)

    TOTAL 41 (100%)

    Fonte: Classivet Ltda. (2010)

  • 8

    4 DESCRIO PORMENORIZADA DO CASO ESCOLHIDO ATENDIDO

    DURANTE O ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

    O estgio curricular foi realizado em uma empresa agropecuria que

    fornece assistncia tcnica, sobretudo em propriedades produtoras de leite.

    Dessa forma, optou-se por priorizar uma discusso sobre o manejo de bezerras

    leiteiras com nfase ao tema Da concepo ao desmame. Ciente da importncia

    que a adoo de boas prticas de manejo e a aplicao das medidas de

    biossegurana representam para a viabilidade dessa atividade, o assunto foi

    selecionado a fim de aperfeioar as prticas relacionadas a esse sistema de

    criao, contribuindo tanto para o aumento quanto para o melhoramento gentico

    do rebanho. Adicionalmente, esse trabalho pretende destacar a necessidade de

    uma maior ateno a categoria de bezerras leiteiras visto que estas apresentam

    papel essencial para a continuidade do plantel e da atividade leiteira. Contudo,

    apesar dessa importncia, no tem recebido cuidados necessrio.

    O manejo inadequado de bezerras leiteiras tambm determina

    prejuzos econmicos para o produtor, pois alm das perdas ocasionadas pelo

    aumento da mortalidade, custos referentes aquisio de medicamentos e

    contratao de mo-de-obra especializada para intervenes tambm oneram a

    sustentabilidade da atividade. Alem disso a criao de bezerras torna-se uma

    fonte de receita na propriedade, pois quando o rebanho est estabilizado, a

    quantidade excedente da reposio do rebanho uma tima fonte de renda.

    Sendo assim, justificvel a escolha do assunto dada a importncia que este

    tema representa na manuteno da viabilidade do sistema de produo de leite.

  • 9

    5 CRIAO DE BEZERRAS LEITEIRAS DA CONCEPO AO DESMAME

    5.1 Introduo

    O adequado manejo das bezerras leiteiras costuma ser prtica

    negligenciada no sistema de produo de leite que, normalmente, dispensa maior

    ateno as demais categorias, podendo chegar a taxas de mortalidade de

    bezerras maiores que 20% em alguns sistemas de produo (RODRIGUES et al.,

    2010). No entanto essa realidade precisa ser mudada, visto que as bezerras

    esto diretamente implicadas na reposio do rebanho, proporcionando assim

    continuidade da atividade e representando o futuro desse sistema de produo.

    O cuidado na criao do animal jovem o passo inicial para o sucesso

    da explorao leiteira, sendo que maior nfase precisa estar voltada para os

    mtodos preventivos em detrimento aos mtodos curativos. A adoo de medidas

    profilticas reduz as taxas de morbidade e mortalidade no plantel e ainda reduz

    custos com tratamentos de enfermidades diversas, alm de cursar com a

    produo de animais geneticamente superiores quando comparados aos que no

    recebem essa ateno (OLIVEIRA et al., 2005).

    Em relao adoo das medidas profilticas, diversos fatores devem

    ser considerados ao se iniciar com a escolha dos cruzamentos na propriedade. A

    sanidade do touro ou smen a ser utilizado, bem como a higidez das matrizes so

    fatores relevantes na produo de uma prole de qualidade. Sequencialmente, a

    fase de cria, que compreende desde a reproduo ao desmame, considerada

    crtica a fim de que esses animais se tornem ruminantes efetivos e se iniciam com

    o nascimento, seguido pela manuteno da homeostase no ambiente extra-

    uterino, crescimento e desenvolvimento ps-natal, estabelecimento de imunidade,

    mudanas metablicas, nutricionais e comportamentais.

    O manejo inadequado dos animais nesta etapa acarreta inmeras

    perdas econmicas por reduo de taxas de crescimento, da vida til das fmeas

    e do rebanho como um todo. Dessa forma a criao de bezerras repleta de

    desafios os quais devem ser superados para que cada animal expresse todo o

    seu potencial gentico. O papel do homem nessa fase essencial para otimizar a

    expresso de todo esse potencial e para isso adoo de medidas de manejo

  • 10

    adequadas bem como das medidas de biossegurana devem ser instauradas

    nesse sistema.

    5.2 Reviso de literatura

    A criao de bezerras sendo considerado um ponto de

    estrangulamento em um sistema de produo de bovinos leiteiros necessita de

    cuidados especiais. O manejo inadequado dos animais constitui em um dos

    principais fatores de risco que podem levar a ocorrncia de enfermidades nessa

    categoria animal. Os cuidados com a parturiente, parto, manejo com o recm

    nascido, fornecimento de colostro, ambiente e cura do umbigo, so apontados

    como medidas essenciais no criatrio e que quando negligenciadas ou

    executadas de forma errnea, levam a altos ndices de enfermidade podendo

    culminar na morte dos animais (REBHUN, 2000; SILVA et al., 2001).

    5.2.1 Cuidados com a parturiente

    A aplicabilidade de um manejo adequado para otimizao do

    desempenho do rebanho deve abranger as diferentes categorias da classe leiteira

    visando transpor os inmeros desafios a que estes animais so submetidos. O

    cuidado envolvendo a matriz o parmetro primrio a ser considerado entre os

    produtores que almejam a gerao de uma prole de qualidade (TONIOLLO &

    VICENTE, 1993; MARQUES, 2003).

    Alguns fatores devem ser analisados a partir do momento do

    acasalamento entre o touro e a matriz leiteira, ou ainda por ocasio da

    inseminao artificial. Inicialmente, uma abordagem clnica minuciosa das fmeas

    bovinas deve ser efetuada na busca de sinais clnicos e alteraes compatveis

    com enfermidades que possam afetar a reproduo e consequentemente todo o

    rebanho leiteiro. Outro ponto que deve ser levado em considerao a questo

    do touro a ser utilizado, onde este deve estar livre de doenas, em boa condio

    corporal, no deve transmitir caractersticas indesejveis de alta herdabilidade, e

  • 11

    ao escolher o acasalamento, o touro deve propiciar caractersticas de correo

    das deficincias pertinentes a matriz, melhorando assim o potencial da cria

    (CORRA & CORRA, 1992; TONIOLLO & VICENTE, 1993; HAFEZ & HAFEZ,

    2004).

    O peso corpreo tambm deve ser avaliado, visto que as novilhas

    necessitam apresentar um peso ideal para realizar o parto de acordo com o

    padro exigido para cada raa. Para SANTOS et al. (2002), para que o parto seja

    considerado ideal, raas de grande porte como Holandesa e Pardo Sua

    precisam atingir um peso corpreo entre 490 e 520kg, enquanto que para a raa

    Girolanda os pesos corpreos recomendados devem atingir 370kg e 390kg.

    Por outro lado, as matrizes no pr-parto apresentam exigncias

    nutricionais especficas visto que suas atividades metablicas encontram-se

    aumentadas. Assim, fatores como utilizao das reservas energticas para

    formao do feto, necessidade de manuteno da homeostasia para completar a

    gestao, alm do espao que o feto ocupa no interior da cavidade abdominal,

    necessitam ser priorizados a fim de se instituir uma dieta balanceada que

    contemple os requerimentos nutricionais do animal nesse perodo (MARQUES,

    2003; OLIVEIRA et al., 2005).

    Para as vacas no perodo de transio, a disponibilidade e o acesso ao

    alimento o principal fator para maximizar o consumo, sendo que fatores como

    conforto, linha de cocho, hierarquia, e estresse trmico determinantes no

    consumo de matria seca. Com relao protena bruta e energia, no tem

    demonstrado vantagens ao aument-los acima das recomendaes do NRC

    (1989), porm o uso de sais aninicos em valores recomendados nas dietas pr-

    parto, tem se mostrado diminuir a incidncia de hipocalcemia nos primeiros dias

    aps o parto (SANTOS & SANTOS, 1998; SANTOS et al., 2003).

    De modo geral, o estabelecimento de um bom programa nutricional

    para matrizes no pr-parto resulta em menor incidncia de mastite e algumas

    enfermidades de carter reprodutivo. Alm disso, favorece a concepo de

    bezerros saudveis, devido a maximizao do potencial gentico e incremento na

    imunidade desses animais (VAN SAUN, 1991; FONSECA & SANTOS, 2000).

    O calendrio profiltico das fmeas gestantes institudo com o

    objetivo de elevar os nveis de imunoglobulinas presentes no colostro que ser

  • 12

    oferecido ao bezerro logo aps o nascimento. Embora o calendrio vacinal possa

    variar de acordo com a regio geogrfica, considerando-se as enfermidades

    endmicas de cada regio, tal medida confere transferncia de imunizao

    passiva ao bezerro recm-nascido durante a amamentao para que este se

    adapte e resista aos desafios do meio-ambiente (OLIVEIRA et al., 2005;

    MARQUES, 2003; SILVA et al., 2001).

    importante destacar que alm do calendrio profiltico as medidas de

    biossegurana ainda so consideradas pilares importantes na preveno de

    enfermidades e reduo de prejuzos econmicos. Essas medidas devem ser

    adotadas concomitantemente s vacinaes, pois sabe-se que os desafios

    impostos aos animais, mesmo que imunizados, em algumas propriedades

    apresentam-se como pontos de estrangulamento importantes, fazendo com que

    os ndices de enfermidades estejam acima da mdia esperada (REBHUN, 2000;

    BLOWEY & WEAVER, 2006; CUNHA et al., 2010).

    A secagem das vacas prenhes, ou seja, a retirada das fmeas em

    lactao da rotina de ordenha consiste em prtica necessria para o

    desenvolvimento do feto em sua plenitude e tambm para propiciar a regenerao

    das clulas epiteliais da glndula mamria. Adicionalmente, contribui para o maior

    acmulo de colostro e enriquecimento deste com elevados nveis de

    imunoglobulinas, alm de completar as reservas energticas das desses animais

    proporcionando um ambiente homeosttico para o momento do parto,

    favorecendo ainda o crescimento fetal (MARQUES, 2003; OLIVEIRA et al., 2005).

    O procedimento de secagem das matrizes geralmente realizado no

    tero final da gestao, fase que concentra as maiores mudanas metablicas

    das vacas. As vacas devero ser secadas em mdia 60 dias antes do parto

    (FONSECA & SANTOS, 2000; AZEVEDO et al., 2008).

    5.2.2 Parto

    O conhecimento pleno da fisiologia do parto fundamental para

    interpretao dos sinais clnicos emitidos pela fmea bovina, bem como para

    intervir corretamente durante esse processo. importante destacar que o parto

  • 13

    distribudo em trs estdios principais, caracterizados de acordo com mecanismos

    observados em determinado perodo de tempo. Ressalte-se que apesar dessa

    pr-definio, variaes podem ocorrer entre fmeas bovinas at dentro da

    mesma raa (HAFEZ & HAFEZ, 2004).

    O primeiro estdio tem durao mdia de duas a seis horas e destaca-

    se pelo incio das contraes do miomtrio e dilatao da crvix. O segundo

    estdio definido como o momento entre o incio e a completa expulso do feto e

    possui durao mdia de 30 a 60 minutos. O estdio final, ou terceiro estdio do

    parto, identificado por meio de contraes que culminam com a expulso

    completa da placenta e seu tempo de durao varia entre quatro e 12 horas

    (TONIOLLO & VICENTE, 1993; MARQUES, 2003).

    Dessa forma evidenciada a importncia de se conhecer cada etapa

    que ocorre fisiologicamente para evitar intervenes precipitadas ou tardias,

    intervindo apenas no momento certo quando h problemas de distocia, reteno

    de placenta ou outra eventualidade. Desse modo recomenda-se a presena do

    mdico veterinrio no acompanhamento do parto para que este possa intervir

    prontamente quando houver necessidade (SILVA et al., 2001; HAFEZ & HAFEZ,

    2004).

    Medidas de manejo devem ser planejadas para garantir que a fmea

    possa ter um parto com tranquilidade. Assim, esses animais devem ser

    conduzidos para um ambiente limpo, seco, assombreado, estando nas

    proximidades da residncia da propriedade tornando a observao desses

    animais mais constante. Adicionalmente, recomenda-se evitar a exposio dessas

    fmeas a situaes de estresse, bem como retir-las da presena de animais

    agressivos (REBHUN, 2000; MARQUES, 2003; HAFEZ & HAFEZ, 2004).

    Outros fatores considerados relacionam-se ao descarte de fmeas que

    apresentem partos distcicos, priorizando as que apresentam facilidade em

    realizar o parto, a fim de garantir que os bezerros sofram menos estresse durante

    o nascimento com consequente aumento de seu desempenho produtivo. Os

    bezerros provenientes de partos distcicos podem morrer ou apresentar menor

    resistncia por falta de colostro. Alm disso, os partos distcicos predispem a

    uma diversidade de intercorrncias, como reteno de placenta, metrite e baixa

    condio corporal das matrizes (MACMANUS et al., 2008).

  • 14

    O procedimento de cesariana indicado quando todas as tentativas em

    relao s manobras obsttricas tenham fracassado. Em casos de monstros ou

    m formaes, rupturas e tores uterinas, incompatibilidade materno-fetal e

    hidropsias, constituem-se nas principais causas em que se indica a operao

    cesariana (SILVA et al., 2001; BORGES et al., 2006; GARNERO & PERUSIA,

    2006).

    5.2.3 Bezerras leiteiras

    A primeira semana de vida das bezerras leiteiras constitui a fase mais

    crtica de seu desenvolvimento. As atitudes desempenhadas pelo bezerro e sua

    me logo aps o nascimento devem ser observadas com preciso, visto que em

    muitos casos faz-se necessrio auxiliar o neonato com a remoo das

    membranas fetais e do excesso de muco provenientes das narinas e boca. O

    incio da respirao uma das mudanas fisiolgicas determinantes para a

    viabilidade do animal (DEGASPERI & PIEKARSKI, 1988; OLIVEIRA et al., 2005

    AZEVEDO et al., 2008).

    O ndice de mortalidade entre bezerros no Brasil considerado alto,

    superando 20% do nmero de animais nascidos vivos. As falhas na transferncia

    da imunidade passiva associada s onfalopatias so descritas como as principais

    determinantes dessa intercorrncia (SILVA et al., 2001; RODRIGUES et al.,

    2010).

    5.2.4 Imunidade passiva - Colostro

    A fmea bovina possui uma placenta do tipo sindesmocorial

    caracterizada pela proteo do feto contra agresses bacterianas e virais. No

    entanto esta propriedade implica que a membrana supracitada tambm

    responsvel por impedir a transferncia de protenas sricas, em especial as

    imunoglobulinas, no ambiente intra-uterino. Portanto, aps a expulso o animal

    encontra-se completamente desprovido de anticorpos e particularmente sensvel

  • 15

    s infeces. A proteo imunolgica ocorre passivamente nas primeiras horas

    aps o nascimento, por meio da ingesto do colostro (TONIOLLO & VICENTE,

    1993; SILVA et al., 2001; MACHADO NETO et al., 2004; AZEVEDO et al., 2008).

    O colostro constitui-se de uma mistura de secrees lcteas e

    componentes do soro sanguneo principalmente imunoglobulinas e protenas

    sricas. Este, alm de fornecer os primeiros anticorpos para o bezerro, promove

    uma barreira contra infeces. Acrescente-se ainda, que o colostro a primeira

    fonte de alimento ao recm nascido, carreando vitaminas, carboidratos e minerais

    essenciais para a sua manuteno. Paralelamente, o colostro possui efeito

    laxativo, auxiliando na eliminao do mecnio (SANTOS et al., 2002). De acordo

    com os mesmos autores, os bezerros apresentam alta taxa de absoro de

    imunoglobulinas durante as primeiras horas ps-nascimento, podendo ingerir

    altas quantidades de colostro, cerca de 5% do seu peso vivo, da a importncia de

    sua ingesto ocorrer nas duas primeiras horas aps o nascimento.

    O consumo do colostro durante as primeiras quatro horas precisa

    atingir uma mdia entre 2 a 2,5 kg, seguido da ingesto de aproximadamente

    6,8kg de colostro entre 36 a 48 horas. Para os animais das raas Holandesa e

    Pardo-Suio recomenda-se um consumo mdio de 10 kg de colostro nas

    primeiras 12 horas, enquanto que para bezerros de raas menores, como Jersey

    e Girolanda, cerca de 7 kg de colostro devem ser ingeridos (SILVA et al., 2001;

    SANTOS et al., 2002).

    A permeabilidade intestinal responsvel pela absoro das

    imunoglobulinas presentes no colostro diminui rapidamente aps o nascimento,

    enquanto que a concentrao de imunoglobulinas tambm sofre reduo com as

    prticas de ordenhas e mamadas sucessivas (SANTOS et al., 2002). O manejo

    inadequado dos bezerros, baixa ingesto do colostro, ou a ingesto tardia deste

    resultar na absoro de nveis inadequados de imunoglobulinas resultando em

    animais mais susceptveis a enfermidades devido a falha na imunidade passiva

    (PAIVA et al., 2006).

    O fornecimento artificial de colostro pode ser considerado um eficiente

    procedimento visto que um mtodo prtico, de fcil aplicabilidade e pouco

    oneroso. Adicionalmente, o aleitamento artificial do colostro tambm proporciona

  • 16

    nveis adequados de imunoglobulinas ao bezerro neonato quando realizado de

    forma correta (PAIVA et al., 2006; AZEVEDO et al., 2008).

    A criao de um banco de colostro, que consiste na estocagem do

    colostro excedente produzido pelas vacas leiteiras, pode ser uma alternativa s

    propriedades que enfrentam altos ndices de mortalidade de bezerros. Todavia,

    algumas particularidades devem ser avaliadas por ocasio do armazenamento e

    manipulao deste contedo. O colostro pode ser armazenado em quantidades

    de at 600mL em geladeira por sete dias a uma temperatura mdia de 4C ou

    ainda por um perodo de seis meses, congelado entre -18 a -25C. O

    descongelamento deve ser efetuado em temperatura ambiente aps acondicionar

    o contedo em um recipiente contendo gua (SILVA et al., 2001). Em

    contrapartida, outros autores mencionaram que o descongelamento tambm pode

    ser realizado em banho-maria, temperatura de 37C, evitando o aquecimento

    excessivo e a perda de suas propriedades (AZEVEDO et al., 2008).

    5.2.5 Principais enfermidades dos bezerros

    As onfalopatias esto entre as principais enfermidades que acometem

    os bezerros recm-nascidos. Entretanto uma gama de outras enfermidades

    precisam ser citadas, sendo a adoo de medidas de manejo e biossegurana

    instauradas no criatrio a fim de minimizar a ocorrncia dessas enfermidades

    (REBUHN, 2000; SILVA et al., 2001). As diarrias neonatais (BOTTEON et al.,

    2008), hemoparasitoses (KIKUGAWA, 2009), pneumonias (MARGARIDO et al.,

    2008), clostridioses (SILVA et al., 2001) e dermatopatias (SMITH et al., 2006) so

    consideradas as enfermidades mais comuns entre bezerros. O conhecimento da

    etiologia, identificao dos sinais clnicos e a adoo de medidas profilticas so

    de fundamental importncia para eliminao dessas enfermidades que tanto

    acometem o rebanho leiteiro (REBHUN, 2000).

    a) Onfalopatias

  • 17

    O umbigo formado por um conjunto de trs estruturas, duas artrias e

    uma veia umbilical, que sofrem modificaes anatmicas e funcionais ao

    nascimento. Considera-se onfalopatia o conjunto de enfermidades que acometem

    a regio umbilical dos bezerros nas primeiras semanas de vida, visto que este

    local consiste em porta de entrada uma grande variedade de infeces

    (RADOSTITS et al., 2002; BLOWEY & WEAVER, 2003).

    A administrao incorreta do colostro, bem como as falhas na

    transmisso da imunidade passiva, deixam os animais mais susceptveis a

    bacteremia, septicemia e morte (RODRIGUES et al., 2010). Alm disso, os

    microrganismos podem ascender a partir dos vasos umbilicais e raco

    ocasionando diferentes enfermidades, tais como uvete, doena articular,

    abscesso heptico, meningite, e endocardite (RIET-CORREA, 2007). Os prejuzos

    econmicos ocasionados por essas afeces se transformam em um verdadeiro

    entrave para o produtor rural, pois gera custos com medicamentos, alm de

    interferir negativamente no ganho em peso e crescimento dos animais.

    Adicionalmente so descritos aumento dos gastos com assistncia mdico

    veterinria, depreciao da carcaa, bem como prejuzos relacionados ao bito de

    animais neonatos (SILVA et al., 2001; REIS et al., 2009).

    As principais onfalopatias observadas em bezerros leiteiros so as

    onfalites ou onfaloflebites. Esses termos so utilizados para caracterizar a

    inflamao das estruturas umbilicais de um modo geral, incluindo artrias e veia

    umbilical, raco e tecidos adjacentes ao umbigo. Alm das onfalites outras

    afeces, como hrnia umbilical, eventrao e granuloma tambm so

    frequentemente diagnosticados em bezerros recm-nascidos. O diagnstico

    precoce das onfalopatias consiste em uma tcnica fundamental na determinao

    de um prognstico favorvel dos portadores dessas afeces. Esta anlise

    baseia-se principalmente no histrico do animal associado aos achados do exame

    fsico (BLOWEY & WEAVER, 2003; SMITH et al., 2006).

    A palpao abdominal, efetuada por ocasio do exame fsico, mostra-

    se como ferramenta eficiente na identificao do aumento de volume da regio

    umbilical (KNIG & LIEBICH, 2004). A inflamao das artrias umbilicais pode

    ser detectada pelo aumento de volume da regio umbilical percorrendo

    caudalmente em direo a bexiga, enquanto que para veia umbilical esse

  • 18

    aumento mostra-se mais evidente cranialmente em direo ao fgado.

    Acrescente-se que o envolvimento das estruturas internas do umbigo nem sempre

    so identificadas por meio de palpao e dessa forma os exames hematolgicos

    constituem-se em ferramenta que contribui sumariamente para o estabelecimento

    do diagnstico. Os achados hematolgicos encontrados na maioria dos animais

    portadores de onfalopatias so leucocitose por neutrofilia (SMITH et al., 2006;

    REIS et al., 2009).

    O estabelecimento do diagnstico diferencial entre as diferentes

    onfalopatias tambm de fundamental importncia na instituio do tratamento

    especfico para cada enfermidade (BLOWEY & WEAVER, 2003).

    Dentre as opes de tratamento, o mtodo conservativo, por meio do

    uso de anti-spticos e antimicrobianos, e o procedimento cirrgico. Dessa forma,

    o mtodo conservativo empregado quando o diagnstico estabelecido

    precocemente e no apresenta complicaes secundrias. A interveno cirrgica

    preconizada quando os tecidos acometidos encontram-se gravemente

    comprometidos (RIET-CORREA, 2007; RODRIGUES et al., 2010).

    A falta de medidas profilticas, assim como as condies do ambiente

    so fatores determinantes para o alto ndice de onfalopatias dentro de um

    rebanho. Para minimizar a manifestao dessas intercorrncias diferentes aes

    devem ser adotadas logo aps o nascimento do animal e executadas com cautela

    e preciso (REIS et al., 2009).

    O corte e a ligadura dos cordes umbilicais apenas so indicados

    somente quando estes so muito compridos, ou seja, apresentam comprimento

    maior superior a dez centmetros (SILVA et al., 2001). A antissepsia do umbigo,

    sendo essa realizada com soluo iodada a 10% mostra-se necessria para

    reduzir os riscos de infeco, visto que esta estrutura anatmica permanece

    aberta por horas aps o nascimento, servindo como porta de entrada aos agentes

    patognicos causadores de onfalopatias e artrites, que podem resultar em bito

    do animal (REBHUN, 2000; SILVA et al., 2001).

    Concomitantemente a esses fatores a escolha de um ambiente propcio

    consonante para o pleno desenvolvimento do neonato, assim como para reduzir

    o ndice dessas afeces. O local mais propicio para a criao desses animais,

    um rea bem drenada contendo certo desnvel para que ocorra o escoamento de

  • 19

    gua, dejetos e restos alimentares, assim como ser protegida dos ventos e

    expostas ao sol quando no inverno (AZEVEDO et al., 2008).

    b) Diarrias neonatais

    A diarria neonatal uma das enfermidades mais importantes que

    acometem bovinos jovens, principalmente durante o primeiro ms de vida.

    Apresenta ndices variados de morbidade e mortalidade dependendo do sistema

    de criao, agente etiolgico e capacidade de resposta imunolgica do animal

    (CONSTABLE, 2004).

    A diarria decorre da interao entre o bezerro com o meio-ambiente,

    a nutrio recebida e a exposio aos agentes infecciosos. Como principais

    agentes causadores da diarria neonatal, se destacam entre eles a Escherichia

    coli, Salmonella spp. e Eimeria spp. (SILVA et al., 2001; SMITH et al., 2006).

    A colibacilose neonatal em bezerros, tambm conhecida como curso

    branco, causada pela bactria Escherichia coli (E. coli), um bacilo Gram-

    negativo presente na microbita intestinal do homem e dos animais. A

    enfermidade acomete bezerros entre um e dez dias de idade e se dissemina pelo

    contato entre o neonato e bovinos infectados atuando como fontes diretas de

    infeco (RADOSTITS et al., 2002). Adicionalmente o agente pode ser transmitido

    por exposio a medidas de manejo inadequadas, como pelo contato com

    fmites, superlotao dos piquetes, currais sujos, manejo inadequado das camas,

    entre outros (SILVA et al., 2001; SMITH et al., 2006).

    A patognicidade da E. coli enterotoxignica devido a presena de

    fmbria e plos que permitam que ela se ligue aos entercitos, alm de secretar

    uma enterotoxina que estimula a secreo de gua, sdio, e cloreto. Os bezerros

    infectados possuem uma reao inflamatria moderada na parede do intestino

    delgado e alguma atrofia de vilosidades. A E. coli entero-hemorrgico, pode

    produzir a toxina shigelide causando colite muco-hemorrgica na parede do

    clon e do reto podendo causar diarria com sangue em bezerros com dois dias a

    quatro semanas de vida (SMITH et al., 2006; UGRINOVICH et al., 2002).

  • 20

    A enfermidade pode ainda ser classificada em aguda e subaguda de

    acordo com os sinais clnicos apresentados. A forma aguda caracteriza-se por

    diarria ftida, branco-amarelada, inicialmente pastosa e posteriormente lquida.

    Conforme progresso da doena o animal pode apresentar hipotermia. Na forma

    subaguda, os bezerros apresentam-se febris, diarricos e frequentemente

    desenvolvem uma pneumonia secundria. Se os animais receberem terapia

    adequada e as defesas imunolgicas estiverem aptas a responder ao insulto os

    animais podem se recuperar. No entanto em casos mais graves a doena evolui

    para meningite e bito (SILVA et al., 2001; SMITH et al., 2006).

    Para isolamento da E. coli recomenda-se o cultivo das fezes diarricas

    ou ainda, em casos que resultam em bito do animal, cultivo de contedo do

    clon e amostra de fgado para o diagnstico conclusivo de colibacilose

    (CORRA & CORRA, 1992).

    A Salmonella spp. o agente etiolgico responsvel pelo

    desencadeamento da salmonelose, enfermidade que acomete com frequncia

    bezerros leiteiros e caracterizada por episdios de diarria severa e septicemia

    (SMITH et al., 2006). A salmonelose causa srios prejuzos econmicos para os

    produtores de bovinos, devido aos gastos com medicamentos, bem como pelas

    perdas decorrentes de mortalidade e diminuio da produo (PEREIRA et al.,

    2004; SILVA et al., 2009; SILVA et al., 2008).

    As salmonelas so bactrias gram-negativas, pertencentes famlia

    Enterobacteriaceae, estando envolvidas de forma clssica na maior parte das

    infeces bacterianas que acometem o sistema digestivo, podendo acometer

    ocasionalmente o sistema msculo-esqueltico e nervoso (SMITH et al., 2006). A

    salmonelose transmitida por meio da ingesto de gua e alimentos

    contaminados, bem como pelo contato com fmites contaminados por matria

    fecal. O microrganismo tem predileo pelo epitlio intestinal onde estimula o

    desencadeamento de uma reao inflamatria fibrinopurulenta necrosante

    (CORRA & CORRA, 1992; SILVA et al., 2008).

    De acordo com SILVA et al. (2001) so descritos mais de 2.200

    sorotipos para as salmonelas, sendo estes capazes de infectar tanto o homem

    quanto os animais. Os sorotipos mais comums so a Salmonella typhimurium e a

    S. dublin (SILVA et al., 2001).

  • 21

    A salmonelose causada pelo sorotipo Typhimurium induz a um quadro

    clnico caracterizado principalmente por enterite auto-limitante, ou seja, com o

    decurso da doena determinado e limitado, j a infeco pelo sorotipo Dublin,

    induz a um quadro clnico mais grave, caracterizado por enterite severa, febre,

    desidratao e sintomas respiratrios (SILVA et al., 2009). O diagnstico definitivo

    para salmonelose feito por meio do isolamento e identificao da Salmonella

    spp. a partir das fezes dos bezerros acometidos (RADOSTITS et al., 2002).

    As diarrias podem ainda ser desencadeadas pela Eimeria spp.(E.),

    sendo que as espcies de E. bovis e E. zuernii as mais comumente relacionas a

    eimeriose ou coccidiose em bezerros leiteiros (SMITH et al., 2006). De forma

    semelhante s diarrias supracitadas, os bezerros se contaminam em decorrncia

    da ausncia da adoo das medidas biossegurana e manejo adequados

    (REBHUN, 2000).

    Os oocistos de Eimeria esporulados, forma infectante para os bovinos,

    so eliminados nas fezes de bovinos com infeces patentes e ao infectar a

    mucosa intestinal de um hospedeiro susceptvel promove a destruio das clulas

    epiteliais intestinais (RIET-CORREA, 2007). Ocorre alta perda de sangue e dessa

    forma h presena de diarria com muco e sangue, desidratao, tenesmo,

    anorexia, retardo no crescimento e ocasionalmente sinais neurolgicos podem

    estar associados (SMITH et al., 2006).

    O diagnstico da coccidiose baseado nos achados do exame fsico e

    na contagem de oocistos da Eimeria por grama de fezes, considerando como

    amostra positiva quantidades superiores a 1000 oocistos para cada grama de

    contedo fecal (MARQUES, 2003).

    Independente do agente etiolgico implicado na gnese das diarrias

    neonatais, a aplicao de medidas sanitrias adequadas nos primeiros dias de

    vida, assim como um bom manejo e alimentao, podem reduzir a mortalidade e

    os gastos com tratamento de enfermidades dos bezerros (BOTTEON et al., 2008).

    Sendo assim, deve-se avaliar o estado das imunoglobulinas dos

    bezerros por meio do soro sanguneo, a alimentao, o abrigo, a desinfeco do

    ambiente, a situao da vacinao e da sade. Enfim, medidas profilticas de

    biossegurana evitando ao mximo o contato dos bezerros com agentes

  • 22

    patognicos (CORRA & CORRA, 1992; REBHUN, 2000; RADOSTITS et al.,

    2002).

    c) Hemoparasitoses

    As hemoparasitoses tambm so afeces que merecem ateno na

    pecuria por ocasionarem grandes prejuzos econmicos na pecuria em pases

    de clima tropical e sub-tropical. O carrapato do bovino, anteriormente denominado

    de Boophilus microplus e que agora denominado de Ripicephalus microplus

    (KIKUGAWA, 2009) descrito como o principal veiculador dessas enfermidades,

    estando diretamente envolvido na transmisso de doenas infecciosas como

    anaplasmose e babesiose. Paralelamente os prejuzos causados por este caro

    incluem a hematofagia de bezerros susceptveis e reduo na qualidade do couro

    do animal (CARVALHO et al., 2008).

    A associao entre as hemoparasitoses babesiose e anaplasmose

    forma o complexo tristeza parasitria bovina (TPB), sendo este composto por

    enfermidades de carter parasitrio e infeccioso. A TPB tambm uma das

    doenas que mais culmina com o bito de bezerros nos primeiros meses de vida

    (KIKUGAWA, 2009).

    A babesiose, causada pelo protozorio Babesia spp. (B.), a primeira

    enfermidade infecciosa do complexo TPB a se manifestar, sendo que a B. bovis e

    a B.bigemina so as principais espcies responsveis por essa afeco

    (RADOSTITS et al., 2002). O perodo de incubao da Babesia spp. varia de sete

    a dez dias, j o do Anaplasma marginale geralmente superior a 20 dias. A

    Babesia bovis inoculada por larvas do carrapato no bovino j no primeiro dia de

    parasitismo. Em contrapartida, a B. bigemina s comea a ser inoculada pelo

    estgio ninfal, cerca de oito dias aps fixao das larvas. Assim em um lugar

    infestado por carrapatos com Babesia spp., sete a dez dias aps surgem os

    primeiros casos de tristeza parasitria bovina causadas por B. bovis e dias mais

    tarde, 15-20 aps a chegada dos bovinos ocorrem casos de B. bigemina,

    podendo coincidir com os primeiros casos de anaplasmose. Sendo assim, a faixa

    etria dos bezerros ou o tempo de exposio aos carrapatos infectados com

  • 23

    Babesia spp. ou Anaplasma marginale, uma ferramenta importante para auxiliar

    no diagnstico presuntivo a campo e consequentemente auxlio na escolha do

    tratamento a ser preconizado (RIET-CORREA et al., 2007).

    Os sinais da doena so inespecficos e resultam em um quadro de

    anemia branda, mucosas plidas, febre, taquicardia, taquipnia, e hemoglobinria

    (SOARES et al., 2000). A B. bovis se acumula principalmente em hemcias dos

    capilares cerebrais, desencadeando a babesiose cerebral ou nervosa e os sinais

    podem variar para sialorria, depresso, distrbios neurolgicos e tremores

    musculares (RIET-CORREA et al., 2007).

    A anaplasmose no Brasil de grande importncia devido a sua alta

    incidncia em bezerros levando-os a um quadro clinico grave podendo levar a

    morte. A transmisso do A. marginale se d por meio de insetos hematfagos,

    mediante a transferncia de hemcias infectadas a um animal susceptvel, as

    agulhas no esterilizadas podem transferir sangue de um animal infectado para

    outro susceptvel, ou por outros fmites contaminados (MARQUES, 2003).

    Seu efeito patognico caracterizado por uma intensa hemlise,

    reduzindo a contagem dos eritrcitos, sendo que os eritrcitos imaturos so

    comuns nesse estgio, e sua presena considerada um sinal favorvel. A A.

    marginale, identificada na periferia das clulas em at 10% dos eritrcitos nos

    casos subagudos e 50% dos eritrcitos nos casos superagudos (RADOSTITS et

    al., 2002).

    A anaplasmose provoca anemia grave, sendo que no pico da

    enfermidade, mais de 75% dos eritrcitos podem estar infectados. Os principais

    sinais descritos so: anemia hemoltica, ictercia, dispnia, taquicardia, febre

    fadiga, lacrimejamento, sialorria e anorexia (VIDOTTO et al., 1999).

    A babesiose sendo uma enfermidade que apresenta sinais clnicos

    inespecficos deve-se fazer o diagnstico diferencial para outras doenas como

    anaplasmose, leptospirose, hemoglobinria ps-parturiente, hepatopatias txicas

    e envenenamento com cobre crnico. O diagnstico definitivo pode ser feito ao

    encontrar a Babesia spp. nos esfregaos sanguneos corados pelo mtodo de

    Gram (REBHUN, 2000; MARQUES, 2003).

    O diagnstico presuntivo pode ser feito por meio dos achados clnicos,

    verificando a anemia severa em casos agudos, ictercia, e tambm por meio do

  • 24

    exame microscpico dos esfregaos de sangue corados com corantes de Wright,

    novo azul de metileno ou Giemsa, podendo permitir a identificao do A.

    marginale nas hemcias (REBHUN, 2000).

    d) Pneumonia

    A pneumonia importante causa de morbidade e mortalidade entre

    bezerros leiteiros, sendo um dos principais problemas de sade em bovinos em

    todo o mundo. A enfermidade de origem multifatorial resulta da interao entre

    diferentes microrganismos. Acrescente-se que fatores predisponentes como

    fatores ambientais, mecanismos de defesa do animal e estresse podem estar

    envolvidos (HRTEL et al., 2004).

    A pneumonia uma enfermidade infecciosa ocorrendo mais em

    bovinos jovens, geralmente confinados em grupos, associados a modernos

    sistemas intensivos em rebanhos de corte e leite. Os principais agentes

    encontrados, muitas vezes em sinergismo so o Mycoplasma dispar, M. bovis,

    Ureaplasma diversum, Pasteurella haemolytica (Mannheimia haemolytica), P.

    multocida, Haemophilus somnus, vrus sincicial respiratrio, vrus da

    parainfluenza 3, e herpesvrus bovino 1 (CARDOSO et al., 2002).

    A pneumonia sendo uma enfermidade das vias areas causa como

    sinais clnicos a rpida respirao, indicando que os pulmes esto em

    dificuldade. A tosse um sinal importante, e sua natureza varia de acordo com a

    leso. A broncopneumonia caracterizada com tosse mida, dolorosa e

    abundante secreo. Na pneumonia intersticial, a tosse seca e frequente. A

    secreo nasal pode estar presente dependendo da quantidade de exsudato nos

    bronquolos e brnquios, e inflamao das vias areas superiores. Geralmente o

    corrimento comea seroso, depois mucoso e purulento. Os animais ficam

    deprimidos, fracos, e sem apetite. Ao auscultar a broncopneumonia, percebemos

    estertores midos em razo do acmulo de exsudato. Na pneumonia intersticial, a

    auscultao revela sons altos e ntidos devido passagem do ar nos bronquolos

    estreitados (MARQUES, 2003).

  • 25

    A broncopneumonia bacteriana, causada principalmente pelas cepas

    de Mannheimia haemolytica e de Haemophilus somnus so patgenos primrios

    capazes de causarem infeces nas vias areas inferiores. Esses agentes no

    precisam de ajuda de agentes ambientais, de tratamento ou outros agentes

    infecciosos para provocar uma pneumonia. A broncopneumonia bacteriana

    tambm pode ser encontrada como problema secundrio de bovinos infectados

    por patgenos virais do trato respiratrio ou micoplasma, animais estressados,

    insuficincia de transporte ou ventilao (REBHUN, 2000).

    e) Clostridiose

    As clostridioses compem um grupo de infeces e intoxicaes

    causadas por bactrias anaerbicas do gnero Clostridium, econtradas

    principalmente no solo e trato digestivo de bezerros susceptveis (CORRA &

    CORRA, 1992; RADOSTITS et al., 2002; RIET-CORREA, 2007). Os principais

    agentes envolvidos na etiologia das clostridioses so o Clostridium butulinum,

    Clostridium tetani, Clostridium perfringens, Clostridium chauvoei, Clostridium

    septicum, Clostridium novyi, e Clostridium hemolyticum (SILVA et al., 2001;

    MARQUES, 2003).

    A enterotoxemia em bezerros leiteiros causada principalmente pelo

    Clostridium perfringens tipo C, onde geralmente sua ocorrncia espordica e

    endmica. Os bezerros afetados por essa enfermidade, geralmente encontram-se

    em uma condio excelente, com uma boa nutrio. Os C. perfringens tipo B e D

    tambm podem ser identificados nos bezerros e nos bovinos adultos, embora o

    tipo C envolva mais comumente nas doenas dos bezerros. Os C. perfringens tipo

    C so habitantes normais do trato gastrintestinal dos animais, levando a doena

    quando o ambiente propicia a sua proliferao devido ao consumo excessivo de

    alimentos fermentveis, geralmente em alterao da dieta, ou, quando a dieta

    altera a microbiota intestinal normal (REBHUN, 2000).

    A enterotoxemia afeta geralmente bezerros de trs dias e seis meses

    de idade, podendo tambm acometer bovinos adultos. Essa enfermidade causa a

    morte principalmente em animais jovens, ocorrendo retardo no crescimento

  • 26

    daqueles que sobreviveram a infeco. Normalmente a doena se manifesta de

    forma superaguda ocorrendo mortes em torno de 12 a 72 horas (SILVA et al.,

    2001).

    O C. perfringens tipo C elabora toxinas alfa, beta e delta, sendo que a

    quantidade dessas toxinas determina a patognicidade e capacidade de produzir

    sintomas de enterite necrosante em animais jovens. Nos achados clnicos,

    observa diarria amarela, e nos casos hemorrgicos a colorao castanha. A

    mucosa com necrose libera estrias cinzentas-avermelhadas nas fezes, os animais

    apresentam-se desidratados, fracos e deprimidos, e a mortalidade alta

    (MARQUES, 2003).

    O achado mais caracterstico na necropsia a necrose da mucosa do

    intestino delgada, principalmente na poro do jejuno. A cavidade abdominal

    freqentemente encontrada com grande quantidade de lquido. provvel de

    encontrar o intestino grosso normal, porm, com sangue intraluminal. Nos

    achados microscpicos, a mucosa e submucosa do intestino acometido apresenta

    hemorragias, as extremidades das vilosidades necrosadas ficam recobertas por

    grandes bastonete Gram-positivos (SMITH et al., 2006).

    f) Dermatopatias

    As dermatofiloses e as dermatofitoses so dermatopatias de ocorrncia

    comum em gado leiteiro e sua importncia relaciona-se a prejuzos econmicos,

    trasmissibilidade e carter zoontico (CORRA & CORRA, 1992; REBHUN,

    2000; SMITH et al., 2006).

    O agente bacteriano Dermatophilus congolensis, agente etiolgico da

    dermatofilose, um microorganismo gram-positivo, pertencente classe dos

    actinomicetos. As infeces por esse agente geralmente atingem a camada

    epidermal da pele, apresentando-se na forma de dermatite hiperplsica ou

    exudativa, com presena de erupes cutneas crostosas e escamosas (RIET-

    CORREA et al., 2007).

    Caractersticas ambientais como excesso de umidade e pelagem longa

    so fatores predisponentes a instalao dessa enfermidade. Acredita-se que o D.

  • 27

    congolensis no seja capaz de invadir a pele saudvel, sendo necessria alguma

    leso. Parasitas externos como pulgas, piolhos e carrapatos podem ser

    suficientes para desencadear uma infeco, assim como leses cutneas,

    abrases por coceira, lambedura, dermatite mida, e pelame arranhado.

    provvel que o D. congolensis faa parte da flora normal de alguns bovinos,

    podendo desenvolver leses em casos de estresse, imunidade baixa, tratamentos

    com corticides, ou ambiente muito mido (REBHUN, 2000).

    Inicialmente ocorre uma leso pustular primria, com presena de

    exsudato e crostas friveis de difcil remoo. Sequencialmente as crostas

    tornam-se endurecidas. Nos estgios iniciais, as crostas provocam dor ao tentar

    tira-las. Abaixo dessas crostas h tecido de granulao e pus, sendo que nos

    estgios finais as crostas se separam da pele ficando aderida aos plos. Essas

    leses ocorrem geralmente no pescoo, corpo, podendo estender-se para os

    lados e as partes inferiores das pernas. Comumente elas comeam na cernelha

    estendendo-se at a garupa. Nos bezerros jovens a infeco inicia-se no focinho,

    provavelmente devido a o contato com o bere infectado, as leses estendem

    para a cabea e pescoo (RADOSTITS et al., 2002).

    O diagnstico feito por meio dos achados clnicos, podendo ser feito

    os esfregaos direto do exsudato em lmina corados em Gram. Pode-se tambm

    cultivar as crostas para o microrganismo em cultura (SMITH et al., 2006).

    As dermatofitoses so micoses cutneas infecto-contagiosas

    determinadas por um grupo de fungos, principalmente dos gneros Microsporum

    e Trichophyton, sendo o Trichophyton verrucosum o mais ocorrente. So

    queratinoflicos afetando plos, cascos, e clulas queratinizadas da pele e

    anexos. Infectam vrios animais, inclusive o homem (RIET-CORREA et al., 2007).

    Os organismos causadores so bastante resistentes, sobrevivendo em

    objetos inanimados, na cama, e no solo por meses. O agrupamento dos bovinos

    jovens aumenta a incidncia. Os dermatfitos afetam camadas queratinizadas

    cutneas graas a toxinas e alrgenos com exudao, formao de crostas e

    alopecia. A infeco por contato acelerada por irritao por objetos

    contaminados como bretes, correias de pescoo, cabrestos, peias de ordenha

    entre outros. As leses geralmente so arredondadas, formando crostas e

  • 28

    alopecia variando de 1 a 5 cm de dimetro. Nos bezerros afetam mais a regio

    periocular, as orelhas, o focinho, o pescoo, e o tronco (REBHUN, 2000).

    O diagnstico pode ser feito atravs da microscopia a fresco raspando

    o bordo e o centro de uma ou mais leses procurando colocar plos e escamas.

    Observar no microscpio fresco, com pouca iluminao, distinguindo hifas e

    aleursporos (CORRA & CORRA, 1992).

    5.3 Relato de caso

    5.3.1 Objetivo

    Prestao de assistncia tcnica de rotina nas diversas reas da

    medicina veterinria em uma propriedade rural destinada criao de bovinos de

    aptido leiteira.

    5.3.2 Motivo da consulta

    Prestao de servios veterinrios, orientando o produtor rural na

    conduo correta de programas e estratgias que proporcionem a

    sustentabilidade do sistema de produo, garantindo que este permanea na

    atividade. As visitas tcnicas ocorrem mensalmente nas fazendas cadastradas.

    Dessa forma, foi realizada uma visita na propriedade do Sr. Lucas

    Rassi, no municpio de Piracanjuba-GO, no dia 24 de agosto de 2010, onde

    buscou-se avaliar as condies de manejo na propriedade e pontos de

    estrangulamento no processo produtivo avaliando questes administrativas,

    sanitrias, biossegurana, controle de qualidade, dentre outras, para posterior

    tomada de decises.

    Apesar de se tratar de uma fazenda j assistida pela Classivet com

    gado predominante girolando, poucas visitas haviam sido realizadas em virtude

    do pouco tempo que a mesma havia credenciada ao modelo de assistncia

    proposto. Neste sentido, muitos problemas ainda estavam sendo diagnosticados.

  • 29

    Por ocasio dessa visita, focou-se a criao de bezerras como ponto de

    estrangulamento para ser resolvido, sendo este motivo de preocupao por parte

    do proprietrio, tendo em vista o alto ndice de mortalidade e de enfermidades

    presente no criatrio nessa categoria. Os prejuzos econmicos apresentavam-se

    altos, comprometendo todas as outras categorias.

    5.3.3 Anamnese

    Na visita a propriedade, buscou-se em primeiro momento estabelecer

    como critrio a coleta de informaes acerca da propriedade, mo-de-obra,

    manejo sanitrio e nutricional e as principais queixas do proprietrio e da mo-de-

    obra.

    Segundo informaes do proprietrio, o principal problema em questo

    em seu sistema de produo era a criao de bezerras, j que os machos ao

    nascimento eram doados ou vendidos a um preo irrisrio, devido ao seu baixo

    desempenho para o corte e alto valor agregado. A criao de bezerras estava se

    tornando muito onerosa, pois os animais adoeciam com muita frequncia,

    culminando na maioria das vezes com a morte.

    Para o proprietrio e funcionrio o problema no estaria relacionado a

    uma enfermidade em especial, mas uma srie de doenas que afetava as

    bezerras nas mais diversas idades, sendo as diarrias, pneumonias e a

    tristezinha as causas de morte mais comuns. A medicao parecia no mais ter a

    mesma eficcia antes observada, sendo comum, mesmo depois de realizada a

    medicao, os animais piorarem o quadro clnico.

    Dessa forma, foi relatado que o aumento de custos, devido aquisio

    de medicamentos, maior demanda de mo-de-obra e a morte ou deficincia no

    desenvolvimento do bezerro, era responsvel por um prejuzo muito grande para

    a propriedade. A fim de resolver esse gargalo, o proprietrio pediu ateno

    especial para essa categoria, buscando de maneira eficiente, a melhoria dos

    animais e diminuio da alta incidncia de doenas, bem como a adoo de um

    controle profiltico mais adequado.

  • 30

    De posse dessa solicitao para que fosse focada a assistncia aos

    animais jovens, procurou-se direcionar o atendimento para as categorias

    consideradas alvo".

    De acordo com relatos do funcionrio da propriedade, os animais ao

    nascerem, eram deixados com a me por 24 horas no piquete de pr-parto, sendo

    que muitas vezes a observao do mesmo s ocorria uma vez ao dia. Este

    piquete era localizado prximo a sede para facilitar a observao, porm, abaixo

    da rea do curral de manejo dos animais. Segundo o gerente da propriedade,

    devido ao excesso de atividades, o tempo destinado ao cumprimento de todas as

    tarefas era insuficiente. Desse modo era comum ocorrer o nascimento de

    bezerros e no haver a verificao da ingesto do colostro, cura do umbigo bem

    como a observao da parturiente, quanto possvel ocorrncia de hipocalcemia

    ps-parto ou mesmo reteno de envoltrios fetais. Tambm foi relatado que

    algumas vacas possuam tetos grandes sendo que muitos bezerros apresentavam

    dificuldade de mamar, e o auxlio era necessrio.

    Foi relatado que a cura do umbigo era efetuada por meio de imerso

    do coto umbilical em uma soluo de iodo a 10% por uma nica vez, sendo

    realizada quando o animal era separado da matriz e colocado junto com os

    demais em um piquete. Todavia, no souberam informar o tempo de imerso e

    nem sua importncia, sendo esse procedimento realizado sem nenhum critrio.

    Tambm se pde, por meio da conversa, notar que nenhum cuidado era tomado

    em relao ao tipo de frasco em que a soluo de iodo era acondicionada nem do

    local onde o frasco era guardado.

    Quanto ingesto do colostro foi relatado que esse ato era realizado

    naturalmente pelo bezerro sem nenhum tipo de auxlio, no havendo verificao

    se o animal havia realizado a mamada, quantidade ingerida e o tempo entre o

    nascimento e incio da primeira ingesto.

    As bezerras eram amamentadas ao mesmo tempo em que se realizava

    a ordenha, retirando-se uma teteira do conjunto do peito da vaca, deixando este

    livre para a bezerra mamar (Figura 1). Dessa forma, no havia o controle de

    quanto estava mamando e nem quanto essa vaca estava produzindo de leite.

    Apesar de terem conhecimento sobre os pontos negativos desse ato,

    principalmente quanto ao aumento da contaminao na sala de ordenha

  • 31

    juntamente com a mo-de-obra dos funcionrios, a mudana desse manejo era

    considerada de difcil implantao, tanto pelo funcionrio quanto pelo proprietrio.

    FIGURA 1 - Bezerra efetuando a mamada ao mesmo

    tempo em que a ordenha estava sendo

    realizada.

    Foi relatado que no havia separao por lote conforme a categoria de

    bezerras, sendo essas manejadas em um nico piquete. A alimentao baseava-

    se no pastejo, sendo o capim Andropogon a gramnia predominante. Durante o

    perodo seco os animais recebiam silagem de milho e rao concentrada, no

    sendo a dieta balanceada por um profissional.

    O calendrio profiltico constava de vacinao contra febre aftosa,

    observando a campanha, clostridioses, preconizando uma vacina polivalente, em

    todos os animais acima de cinco meses e vacina contra brucelose. A dose reforo

    era negligenciada, sendo que o bezerro s recebia a segunda dose na prxima

    campanha de aftosa. A vermifugao era realizada logo somente por ocasio do

    desmame e somente quando a carga parasitria de ectoparasita aumentava muito

    no lote, realizada a aplicao de ivermectina.

    O critrio para o desmame, no obedecia muitas anlises zootcnicas,

    sendo que pelo sistema de ordenha adotado pela propriedade, os animais s

    eram desmamados aps a secagem de suas respectivas mes. Essa secagem

    estava relacionada ao estgio de gestao da me, sendo essa na atual realidade

  • 32

    feita aproximadamente, tendo em vista que o controle zootcnico estava sendo

    realizado h pouco tempo.

    O controle de carrapatos era efetuado somente nos animais que

    possuam uma alta a moderada carga parasitria, deixando de lado aqueles que

    possuam infestaes leves.

    Aps a coleta dessas informaes deu-se incio inspeo da

    propriedade, instalaes e dos animais.

    5.3.4 Inspeo da propriedade e animais

    Antes de realizar a avaliao dos animais doentes, independente da

    fase ou estgio da enfermidade, procurou-se inspecionar o ambiente onde esses

    animais permaneciam.

    Em primeiro momento foi avaliado o piquete das bezerras, onde se

    pde constatar que este se localizava abaixo do curral. A uma anlise mais

    detalhada do piquete foi verificado presena de uma canalizao do esgoto da

    ordenha. Como consequncia, toda a gua que era utilizada na limpeza dos

    dejetos, utenslios da ordenha, dentre outros resduos, era destinada ao local

    onde as bezerras permaneciam. Alm disso, se formava uma possa de gua

    originando muita lama nas proximidades do bebedouro, tornando o ambiente

    muito mido o que dificultava o acesso para as bezerras (Figura 2).

    Os animais eram criados soltos, no havia distino entre diferentes

    idades e categorias. A rea de cocho alm de ser insuficiente para a quantidade

    de animais encontrava-se numa posio que dificultava o acesso dos bovinos

    menores ao alimento. Alm disso, a competio mostrava-se evidente, e a

    diferena de escore corporal entre alguns animais apresentava-se discrepante.

    Notou-se tambm que a nica sombra do piquete era proveniente de

    uma rvore, a competio pelo sombreamento tambm alvo de preocupao. Ao

    inspecionar o cocho de gua, observou-se que se tratava de um cocho grande,

    com pouca vazo sendo a limpeza realizada de forma inadequada, pois a gua e

    a o cocho apresentavam-se sujos, com odor desagradvel, alm de resduos de

    capins e insetos, j em decomposio.

  • 33

    FIGURA 2 - A: Piquete das bezerras situado abaixo do curral com

    bezerras de diferentes idades. B: Vazamento no bebedouro

    provocando lama com livre acesso aos animais.

    Aps a inspeo da propriedade e dos animais, foram feitos os exames

    clnicos de alguns exemplares enfermos ou no para obter dados mais concretos

    da realidade da propriedade, e tambm fazer o tratamento dos animais doentes.

    5.3.5 Avaliao clnica de indivduos das categorias alvo

    Por considerar que as categorias alvo, pontos de gargalo do sistema

    de produo, ser a categoria bezerro, preconizou-se desde a concepo, ou seja,

    vacas prenhes, at o desmame, como categorias a serem avaliadas.

    Em primeiro momento, foram examinadas as matrizes inseminadas a

    mais de trinta dias. Como a escriturao apresentava pontos falhos, aproveitou-se

    a oportunidade para efetuar o diagnstico de gestao de 20 vacas que haviam

    sido inseminadas a mais de quatro meses e que encontravam-se em lactao.

    Para esse exame utilizou-se o ultrasson como equipamento de

    trabalho, sendo seu diagnstico considerado pelo veterinrio mais preciso (Figura

    3). Dessa forma, ao confirmar a gestao, estabelecer a data prevista para o

    parto a partir da data da inseminao, e tambm estabelecer a previso de

    secagem desses animais para que tenham um descanso em torno de 60 dias

    antes do parto, sendo os animais encaminhados nessa ocasio, para o piquete

  • 34

    maternidade, onde a dieta pr-parto iria ser elaborada pela equipe tcnica, j por

    ocasio da visita sequencial.

    FIGURA 3 - Realizao do diagnstico de gestao

    com auxilio de equipamento de

    ultrasson.

    Aps o diagnstico de gestao, foi dada ateno especial aos animais

    do bezerreiro, avaliando as enfermidades que estavam os acometendo. Ao exame

    clinico, foram diagnosticadas cinco bezerras com diarria, no qual apresentava

    fezes amarelada de consistncia pastosa a aquosa, desidratao, apatia e

    anorexia, sendo os bezerros acometidos at trs semanas de vida.

    Por ocasio da inspeo dos animais notou-se de forma geral que

    muitos bezerros apresentavam-se com escore corporal baixo, com plos

    arrepiados e sem brilho, alm de tosse e corrimento nasal em sete indivduos.

    Tambm foi possvel observar que um nmero grande de animais apresentava

    reas de alopecia, principalmente nas regies do pescoo, ventre e extremidades

    dos membros locomotores e lacrimejamento ocular. Sete bezerros que se

    apresentavam com sinais claros de enfermidade foram contidos para que o

    veterinrio realizasse uma avaliao clnica mais minuciosa. Dos sete animais

    examinados, todos apresentavam as mucosas oral, vaginal e conjuntival

    hipocoradas, a carga de carrapatos tambm considervel. Secreo nasal uni ou

    bilateral, tosse e dispnia foram sinais evidenciados em quatro dos sete bezerros

  • 35

    avaliados. Apesar de no ser notado quadro de diarria em nenhum animal nessa

    ocasio, em muitos bezerros notou-se sequelas ou restos de fezes na regio

    perineal apontando para um possvel quadro recente de diarria.

    5.3.6 Medidas adotadas pelo veterinrio

    De inicio, as recomendaes do veterinrio diante daquela situao

    comeavam por ocasio do nascimento. Dessa forma aps constatar a data

    correta da prenhs, o profissional sugeriu ao proprietrio que apontasse um

    piquete prximo a sede, porm, se possvel, localizado acima da rea do curral

    para evitar sujidades e facilitar a drenagem. Este tambm teria de possuir uma

    vasta rea de sombreamento e rea de cocho suficiente para evitar competio e

    possveis traumas. Aconselhou tambm que fosse elaborada uma dieta pr-parto

    adequada categoria e que esse piquete fosse, pelo menos trs vezes ao dia

    observado por um funcionrio quanto possveis problemas com a parturiente,

    como distocias e problemas metablicos.

    Tambm sugerido nessa mesma ocasio, agendamento de um curso

    para os funcionrios pelo prprio corpo tcnico da Classivet. Neste treinamento

    seriam abordados aspectos inerentes higienizao, cura de umbigo, vias e

    formas de aplicao de medicamentos e importncia do colostro para o recm

    nascido, dentre outros assuntos. Como forma de valorizar os funcionrios seria

    oferecido, ao trmino do curso, um certificado para atestar a competncia

    daqueles indivduos, quanto s informaes repassadas. Todavia, algumas

    informaes bsicas das condutas a serem seguidas foram repassadas at a

    realizao do curso proposto.

    Quanto cura do umbigo, o tcnico aconselhou que logo aps o

    nascimento do bezerro a cura do umbigo deveria ser efetuada pelo menos duas

    vezes ao dia por trs dias consecutivos, empregando soluo de iodo a 10%.

    Apontou tambm a importncia de que essa imerso fosse feita, deixando o

    umbigo pelo menos um minuto imerso na soluo. O frasco aps o uso deveria

    ser guardado em local ventilado e com pouca claridade e o frasco ser de cor

    escura evitando contato direto da luz com a soluo.

  • 36

    Outra medida a ser tomada, seria o auxlio aos bezerros recm

    nascidos mamada do colostro nas primeiras horas de vida, fazendo assim com

    que o neonato ingerisse o colostro em quantidade suficiente e o mais rpido

    possvel aps o nascimento. Para sedimentar a importncia dessa informao, o

    veterinrio relatou ao funcionrio e proprietrio que o colostro funcionaria como

    uma vacina para o bezerro evitando uma srie de doenas e que para melhorar

    ainda mais a situao essa vacina seria de graa. Essa forma de explicao

    mais adequada ao entendimento do funcionrio e do produtor.

    Paralelamente as condutas acima citadas, o veterinrio sugeriu que

    uma mudana estrutural fosse feita em carter de urgncia, mas que no iria

    acarretar custos adicionais relevantes ao proprietrio. Aconselhou que o piquete

    dos bezerros fosse mudado de local, sendo uma rea acima do curral, bem

    drenada e sombreada. Sugeriu tambm que um novo reservatrio de gua fosse

    construdo, sendo esse pequeno, porm, com alta vazo. Este deveria ser lavado

    pelo menos duas vezes por semana.

    Quanto a questo sanitrio e de biossegurana o tcnica pediu que o

    lote de bezerras fosse subdividido em pelo menos trs lotes, tornando o peso dos

    animais o parmetro para essa adequao, sendo trs lotes criados, bezerro 1,

    bezerro 2 e bezerro 3. O piquete indicado, como possua rea compatvel, poderia

    ser dividido por cerca eletrificada, devido ao custo pouco oneroso. A partir dessa

    adequao seria balanceada uma dieta indicada para cada categoria de bezerro,

    independente da estao do ano, para que os animais tivessem acesso ao

    concentrado durante todo o ano. Foi sugerida tambm a criao de um piquete

    extra, indicado para alocar animais portadores de enfermidade, se possvel, logo

    aps a constatao dos sinais clnicos, denominado de piquete enfermaria. O

    veterinrio explicou que muitas das doenas que acometia os bezerros eram

    contagiosas e que a separao dos indivduos doentes dos saudveis evitaria a

    contaminao de outros animais.

    Preconizou que o combate ao carrapato fosse efetuado de forma mais

    eficiente, sendo indicada a pulverizao a cada vinte dias pelo menos at o

    controle da situao. Como muitos animais apresentavam sinais claros de tristeza

    parasitria, o veterinrio sugeriu um tratamento em massa com produto a base

    de imidocard (Imizol, Coopers Brasil Ltda., So Paulo, SP) sendo essa aplicao

  • 37

    efetuada pelo prprio tcnico. Tambm preconizou a vermifugao dos animais

    empregando vermfugo oral, sendo o protocolo indicado repetido mensalmente.

    Para o veterinrio esse produto mostrava-se eficiente e de baixo custo.

    Quanto ao calendrio de vacinao utilizado, o veterinrio apenas

    enfatizou a importncia do reforo vacinal aps 60 dias da primeira vacinao.

    Todavia, inicialmente no recomendou que outro tipo de vacina fosse utilizado.

    Apesar do modelo de ordenha e manejo dos animais no permitir a

    ordenha sem bezerro ao p, o veterinrio relatou ao proprietrio os

    inconvenientes advindos desse manejo e que o mesmo comeasse a pensar

    sobre possveis mudanas. Como alguns dos animais de ordenha j eram

    acostumados dar leite sem bezerro ao p, seria interessante a mudana gradativa

    do plantel uma vez que a atividade leiteira era o ramo de opo da fazenda e que

    a estrutura j existente permitiria. Tal manejo favorecia muito a prtica diria,

    alm de favorecer consideravelmente a criao dos bezerros. Todavia, a

    mudana teria que ser planejada e gradativamente instituda. Sendo assim, foi

    sugerido um sistema de criao individual das bezerras em aleitamento.

    Quanto aos problemas de enfermidade j observados, o veterinrio

    prescreveu a seguinte medicao e orientou o funcionrio, conforme os sinais

    apresentados para cada animal. Para os casos de diarria prescreveu-se

    antibioticoterapia a base de sulfadoxina, trimetropin, hidrxido de sdio,

    dietanolanina e glicerinformol (BORGAL, Hopchst Rousstl Vet. Ltda., So Paulo,

    SP) por via intravenoso na dosagem de 1mL para cada 10kg de peso vivo de 24

    em 24 horas por 4 dias. Alm disso, orientou que fosse realizada a hidratao

    desse animal como soro caseiro, sendo ministrados aproximadamente trs litros

    dirios por via oral.

    Para as bezerras com problemas pulmonares a orientao do

    veterinrio foi a realizao de antibioticoterapia a base de enrofloxaxino a 10%

    (KINETOMAX, Bayer sade Animal Ltda., So Paulo, SP) por via intramuscular

    na dosagem de 1 ml para cada 20kg de peso vivo de 24 em 24 horas durante 4

    dias. Aplicar tambm Flunixin Meglumine (Banamine , Intervet Shering-Plough,

    So Paulo, SP) por intramuscular na dosagem de 1 ml para cada 20kg de peso

    corporal de 24 em 24 horas por trs dias.

  • 38

    Alm desses protocolos o veterinrio solicitou o isolamento dos animais

    enfermos no piquete enfermaria.

    5.4 Discusso

    Por ocasio do atendimento, o mdico veterinrio procurou

    previamente inspeo da propriedade e avaliao clnico dos bovinos realizar

    uma criteriosa anamnese tanto com o proprietrio quanto com o funcionrio da

    propriedade, a fim de conseguir o mximo de informaes que poderiam ajudar a

    direcionar as suspeitas clnicas bem como visibilizar possveis pontos de

    estrangulamento na propriedade. A atitude do profissional, independente da

    enfermidade, mostrou-se correta, concordando com a literatura, que descreve que

    uma anamnese bem elaborada e criteriosa direciona a suspeita clnica, revelando

    informaes importantes para direcionamento do profissional quanto s condutas

    a serem seguidas para concluso efetiva do diagnstico (REBHUN, 2000;

    RADOSTITS et al., 2002; RIET-CRREA et al., 2007).

    Aps anamnese, inspeo da propriedade e animais, o veterinrio

    focou nos aspectos bsicos, tentando sensibilizar o produtor e funcionrio de que

    a adoo de medidas bsicas em relao ao manejo dos animais jovens poderia

    evitar uma srie de problemas sanitrios nessa categoria. Outros pesquisadores

    tambm relatam que medidas simples que demandam pouco recurso financeiro

    para sua consolidao, como por exemplo: cura de umbigo, manejo do colostro,

    cuidado com higiene e gua, local do piquete, dentre outras trazem, em curto

    prazo, resultados animadores, reduzindo a ocorrncia de enfermidades

    consideravelmente, respaldando a atitude do profissional (SILVA et al., 2001;

    SANTOS, 2002; BLOWEY & WEAVER, 2003).

    Apesar de na propriedade em questo adotarem a cura do umbigo com

    soluo de iodo a 10% essa conduta era realizada de forma inadequada. A

    indicao quanto forma de realiz-la, no referida atendimento, bem como da

    importncia de sua execuo foram apresentadas ao proprietrio e ao funcionrio

    como um dos principais requisitos, juntamente com a ingesto correta do colostro

    pelo bezerro, para o controle e preveno de vrias doenas. Essas

    preocupaes do tcnico bem como a maneira apresentada pelo mesmo para sua

  • 39

    execuo foram consideradas corretas estando embasadas com a literatura

    especializada (TONIOLLO & VICENTE, 1993; SILVA et al., 2001; MACHADO

    NETO et al., 2004; AZEVEDO et al., 2008). Outro fator ainda dentro deste

    contexto e que mereceu ateno do tcnico foi ateno dada observao

    eficiente do piquete maternidade, principalmente para as vacas que possuam

    tetos grandes, devido dificuldade do bezerro em ingerir o colostro. O argumento

    do profissional junto ao produtor e funcionrio, ao dizer que o colostro funcionaria

    como uma vacina e era de graa, mostrou experincia e inteligncia, uma vez

    que entende que o sucesso de um profissional de campo encontra-se

    primeiramente no conceito citado por SILVA et al. (2001): compreender e se

    fazer compreendido.

    A preocupao do tcnico em relao ao piquete onde os bezerros se

    encontravam, principalmente com os aspectos referentes ao excesso de

    contaminao, umidade, falta de sombreamento mostraram pertinentes, sendo a

    resoluo do problema apresentada ao produtor sem a demanda de altos

    investimentos. Respaldam essa conduta, SILVA et al. (2001) e RADOSTITS et al.

    (2002) relataram que todos os fatores acima descritos constituem em srios

    fatores de risco e que, se no controlados, podem ser responsveis por srios

    problemas sanitrios, principalmente em bovinos jovens. O controle de

    enfermidades como a verminose, onfalopatias, conjuntivites, pneumonias,

    diarrias, dentre outros, mostra-se difcil acarretando grandes prejuzos ao

    criatrio.

    Outro ponto de estrangulamento apontado pelo profissional foi

    questo da qualidade da gua e forma de armazenamento. Para o profissional

    haveria necessidade de um tanque com menor capacidade de armazenamento e

    de alta vazo, sendo este lavado semanalmente. Concordando com essa

    afirmao, outros autores tambm citaram que a gua pode ser considerada um

    fator de risco importante, uma vez que vrios microrganismos patognicos, com

    destaque para a Eimeiria bovis, podem ser transmitidos por ocasio da ingesto

    de gua contaminada. Depsitos muito grandes, em que a lavagem e troca de

    gua apresenta-se difcil, devem ser preteridos, principalmente em piquetes de

    animais jovens (CORRA & CORRA, 1992; REBHUN, 2000; SMITH et al.,

    2006), concordando com a atitude do tcnico.

  • 40

    A separao em lotes com o intuito de evitar competio entre

    indivduos mostrou-se correta. Para outros autores, alm da competio a

    homogeneidade dos lotes, controle sanitrio e o bem-estar dos animais so

    conseguidos com maior facilidade, quando se tm lotes bem distribudos

    (REBHUN, 2000; MARQUES, 2003; SMITH, 2006).

    Apesar de no prescrever outro tipo de vacina para ser inserido no

    calendrio profiltico da fazenda o veterinrio alertou que o reforo vacinal era

    importante e sem este, os bovinos estariam desprotegidos. Essa importantes

    consideraes tambm foram apontadas por outros autores, que acrescentaram

    ainda que nenhuma vacina protege 100% o rebanho e que se os fatores de risco

    no forem identificados a enfermidade, mesmo com a vacinao poder ocorrer

    (REBHUN, 2000; BLOWEY & WEAVER, 2006; CUNHA et al., 2010).

    A melhoria da dieta, com fornecimento de concentrado durante todo o

    perodo do ano, sendo este balanceado por um profissional qualificado so

    requisitos importantes para o sucesso na criao de qualquer categoria animal,

    com destaque para os animais jovens, concordando com a literatura (LUCCI,

    1989; NUSSIO, 2003).

    Apesar de todas as recomendaes relacionadas s mudanas de

    manejo e biossegurana visando o controle de enfermidades que acometiam os

    bezerros, o veterinrio medicou e deixou um protocolo para ser utilizado para

    algumas doenas que por ventura acometesse os animais. Ape