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GEOGRAFIA DO BRASIL I Quando analisamos os livros de história e geografia voltados para os Ensinos Fundamental e Médio, a idéia que eles nos passam é a de que descobrimento do Brasil foi fato muito comum. Este “descobrimento” era como se o país já estivesse "preparado" e aguardasse somente o “descobridor”, que por acaso era um navegador português, que o encontrasse. Contudo, decorridos mais de 500 anos desde o descobrimento do país, já não podemos compreendê-lo somente através de uma visão portuguesa, mas sim tentarmos analisar a construção do Brasil através de sua sociedade e de suas instituições que se consolidaram no decorrer deste período, através de nossa cultura e hábitos. O que a havia no Brasil do “descobrimento” era um espaço físico povoado por diversas etnias indígenas cada qual com um território e com costumes diferentes. Os colonizadores portugueses ao chegarem a este “nosso” Brasil incorporaram certos espaços, na maioria das vezes expulsando ou exterminando ou escravizando os índios que aqui habitavam, e, com o decorrer do tempo, foram incorporando os seus territórios, e criaram neste novo mundo uma sociedade diferente, que no decorrer dos séculos se tornou o Brasil que conhecemos como um Estado-Nação independente. Os pioneiros portugueses que para cá se deslocaram não tinham por objetivo se-rem meros agricultores, mas sim almejavam serem grandes proprietários fundiários. Outro fato a ser mencionado é que estes grandes proprietários (pois haviam recebido as terras diretamente da Coroa Portuguesa, como estímulo a ocupação da nova área recém-descoberta), quando chegaram às terras brasileiras, não iriam se submeter ao trabalho duro nas grandes lavouras monocultoras de cana-de-açúcar, logo nestas propriedades se desenvolveu o trabalho escravo nas terras brasileiras. Este cenário só começou a ser modificado no contexto do século XIX com a chegada Família Real Portuguesa em 1808, e depois de 1822, com a Independência, somente, nesta circunstância tornou-se possível falar em um país chamado Brasil. Podemos então conceber que, entre contexto englobado entre período colonial e as primeiras fases do Brasil independente, o processo de ocupação foi guiado fundamentalmente, para o aproveitamento de recursos

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GEOGRAFIA DO BRASIL I

Quando analisamos os livros de história e geografia voltados para os Ensinos Fundamental e Médio, a idéia que eles nos passam é a de que descobrimento do Brasil foi fato muito comum. Este “descobrimento” era como se o país já estivesse "preparado" e aguardasse somente o “descobridor”, que por acaso era um navegador português, que o encontrasse. Contudo, decorridos mais de 500 anos desde o descobrimento do país, já não podemos compreendê-lo somente através de uma visão portuguesa, mas sim tentarmos analisar a construção do Brasil através de sua sociedade e de suas instituições que se consolidaram no decorrer deste período, através de nossa cultura e hábitos. O que a havia no Brasil do “descobrimento” era um espaço físico povoado por diversas etnias indígenas cada qual com um território e com costumes diferentes. Os colonizadores portugueses ao chegarem a este “nosso” Brasil incorporaram certos espaços, na maioria das vezes expulsando ou exterminando ou escravizando os índios que aqui habitavam, e, com o decorrer do tempo, foram incorporando os seus territórios, e criaram neste novo mundo uma sociedade diferente, que no decorrer dos séculos se tornou o Brasil que conhecemos como um Estado-Nação independente. Os pioneiros portugueses que para cá se deslocaram não tinham por objetivo se-rem meros agricultores, mas sim almejavam serem grandes proprietários fundiários. Outro fato a ser mencionado é que estes grandes proprietários (pois haviam recebido as terras diretamente da Coroa Portuguesa, como estímulo a ocupação da nova área recém-descoberta), quando chegaram às terras brasileiras, não iriam se submeter ao trabalho duro nas grandes lavouras monocultoras de cana-de-açúcar, logo nestas propriedades se desenvolveu o trabalho escravo nas terras brasileiras.

Este cenário só começou a ser modificado no contexto do século XIX com a chegada Família Real Portuguesa em 1808, e depois de 1822, com a Independência, somente, nesta circunstância tornou-se possível falar em um país chamado Brasil. Podemos então conceber que, entre contexto englobado entre período colonial e as primeiras fases do Brasil independente, o processo de ocupação foi guiado fundamentalmente, para o aproveitamento de recursos naturais que permitissem extrair ou mesmo produzir bens exportáveis.Deste contexto histórico são exemplos: a produção do açúcar no nordeste, nos séculos XVI e XVII; de ouro nas Minas Gerais, no século XVIII, ou mesmo do café, em São Paulo, e no Rio de Janeiro, nos séculos XIX e XX, e da borracha na região amazônica.As transformações nos ciclos econômicos pelo país provocavam uma constante migração, ou seja, arrastavam atrás de si a população e o desenvolvimento regional. Por estes fatores não se podia falar neste período numa “Nação” chamada Brasil. Apesar de contar com um território unificado e independente, a população não conseguiu se consolidar em uma nação. As sequelas da escravidão, a pobreza e o racismo, o isolamento de grandes contingentes rurais, a submissão da economia ao exterior, a cultura da elite oligárquica exportadora, desinteressado dos interesses das grandes massas, todas as características eram de um país com território, mas um território sem nação.

O Brasil é comumente considerado um país de grandes contrastes regionais; por isso, alguns geógrafos afirmam que não existe um Brasil, mas vários brasis. A riqueza de alguns contrasta com a pobreza de muitos. A região Nordeste, graças à economia açucareira, foi a região que mais acumulou capital entre os XVI e XVII. No século seguinte, essa posição passou a ser ocupada pelo estado de Minas Gerais, devido à

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mineração do ouro e pedras preciosas. A partir do contexto do século XIX, foi a vez do Rio de Janeiro (a então capital do país) e São Paulo por causa da economia cafeeira. A industrialização do Brasil e sua concentração geográfica no eixo Sul e Sudeste, especialmente em São Paulo, criaram um modelo de organização espacial do tipo centro-periferia. Essa forma de organização do espaço geográfico liga-se a uma divisão inter-regional do trabalho: o Sudeste do país especializou-se em produção industrial e as demais regiões em fornecerem matérias-primas, gêneros agrícolas e até mão de obra. Além disso, as indústrias paulistas, ao se expandir e penetrar nas demais regiões do país, acabaram provocando a falência de muitos estabelecimentos industriais que ali existiam, notadamente no Nordeste, pois eram mais competitiva, produziam com custos menores que a indústria nordestina e puderam dominar o mercado. Nos anos 1990, devido às importantes transformações ocorridas no contexto mundial, o ambiente econômico brasileiro sofre grandes mudanças. Dentre as principais destacam-se uma política de abertura comercial intensa e rápida, a priorização à chamada"integração competitiva", reformas profundas na ação do Estado e finalmente a implementação de um programa de estabilização da moeda nacional, o Real, iniciado em meados de 1994, com um plano econômico que leva o mesmo nome. No contexto da Era Vargas, o Brasil promoveu uma regionalização pela primeira vez com intuito de melhor conhecer a realidade do país. Para isto é criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que seria o órgão responsável pelo desenvolvimento dos estudos necessários à caracterização dos diversos espaços brasileiros, para assim promover um levantamento demográfico, econômico e social das estruturas produtivas do país. Foram adotados como critério de regionalização os aspectos naturais. Com base nisto, o país foi dividido em cinco macrorregiões (Norte, Nordeste, Leste, Sul, Centro-Oeste); sendo que os limites de cada região coincidem com os limites dos Estados.

A questão agrária tem marcado a vida nacional e esteve presente em todos os seus momentos, vindo a se constituir em um dos fatores determinantes dos rumos tomados pelo país.A ocupação colonial foi caracterizada pelo regime de capitanias/sesmarias, da monocultura para exportação e do trabalho escravo, fatores estes que, compatibilizados, deram origem ao latifúndio, propriedade rural sobre a qual se pautou a ocupação do espaço rural brasileiro.Ao longo destes mais de cinco séculos, o Brasil foi marcado pelos vários ciclos bem definidos que caracterizaram a dinâmica econômica do país, até o século XX.Estes ciclos estiveram associados a uma forma particular de latifúndio. Primeiramente, ocorreu a extração do pau-brasil, caracterizada pela permuta entre os indígenas e o colonizador português. Esta fase estendeu-se pelos primeiros trinta anos. A exploração da madeira, entretanto, esteve presente durante todo o período colonial. Com o surgimento da pecuária, atividade adequada à promoção da ocupação das áreas interioranas, a tendência à formação de imensos latifúndios foi acentuada e gerou o denominado latifúndio pastoril, como uma consequência, em parte, de seu passado de ocupação colonial e, pela sua forma de ocupação recente, o Brasil apresenta uma estrutura fundiária extremamente concentrada, vislumbrada com uma abrangência nacional, entretanto geograficamente muito diferenciada, tanto em seu uso, como em sua posse. Nesse período, teve início no Brasil um perverso e violento processo de relação de trabalho, que persiste ainda hoje em alguns estados do país: a “escravidão por dívida”, que no passado vitimava os imigrantes estrangeiros e, hoje em dia, em alguns estados do país, ainda vitima muitos trabalhadores rurais e a população de baixa renda ou desempregada da periferia das grandes cidades.

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Durante o mandato de Fernando Collor de Mello (1990-1992), os assentamentos foram paralisados e não houve nenhuma desapropriação de terras para fins de reforma agrária. Já o governo de Itamar Franco (1992-1994) realizou o assentamento de 80 mil famílias.Ao longo dos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), cerca de 500 mil famílias foram assentadas — metade das quais, segundo estimativas, em condições precárias de infraestrutura. A questão da disputa de terras no Brasil vem assumindo proporções tão particulares, pois são inúmeras as diferenças estaduais e regionais, que já não é mais possível se tentar discutir políticas e ações fundiárias baseado em diagnósticos com índices nacionais. Ao longo de toda a ditadura militar, a média de assentamentos foi de apenas seis mil famílias por ano. É no contexto do final do período militar que surge no Brasil o MST, movimento de trabalhadores rurais que vai promover uma luta mais acirrada por uma verdadeira Reforma Agrária no Brasil. Este movimento promove desde esta época até os dias atuais uma série de invasões de terra.Na década de 1990, multiplicaram-se as pressões pela Reforma Agrária, e foi nessa fase que ocorreu o maior volume de assentamentos. Mesmo assim o número foi muito baixo, diante dos milhões de trabalha-dores que reivindicavam terras para trabalhar. Além disso, a maioria das famílias assentadas não tinha nestes assentamentos as mínimas condições básicas de sobrevivência, tais como abastecimento de água e energia elétrica, ou mesmo o acesso às estradas. Isto nos leva a crer que o processo de distribuição de terras, na maioria dos casos, tem sido feita, sem levar em consideração que estes assentamentos tenham condições de produção ao pequeno agricultor não garantindo, ao contrário dos resultados estatísticos apresentados, o objetivo fundamental da reforma agrária, que é a fixação do homem no campo.