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Natashi Aparecida Lima Pilon
Técnicas de restauração de fisionomias
campestres do cerrado e fatores ecológicos
atuantes
CAMPINAS
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE BIOLOGIA
Natashi Aparecida Lima Pilon
Técnicas de restauração de fisionomias campestres do
cerrado e fatores ecológicos atuantes
Dissertação apresentada ao Instituto de Biologia
da Universidade Estadual de Campinas como
parte dos requisitos exigidos para a obtenção do
título de Mestra em Ecologia
ESTE ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA NATASHI APARECIDA LIMA PILON E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. GISELDA DURIGAN.
CAMPINAS
2016
3
4
Campinas, 20 de Janeiro de 2016
Banca Examinadora
Profa. Dra. Giselda Durigan
Profa. Dra. Alessandra Tomaselli Fidelis
Profa. Dr. Osmar Cavassan
Os membros da Comissão Examinadora acima assinaram a Ata de Defesa, que se encontra no processo de vida acadêmica do aluno.
5
Resumo
As fisionomias campestres do Cerrado têm tido suas áreas de ocorrência reduzidas
por fatores diversos, que incluem a conversão para a produção agropecuária, invasões
biológicas e até mesmo o adensamento decorrente da supressão do fogo. Ações para
garantir a conservação da diversidade que vem sendo perdida devem compreender o fim da
conversão, a viabilização de práticas de manejo e o desenvolvimento de técnicas de
restauração das fisionomias campestres. Para contribuir no âmbito dos desafios relativos à
restauração, neste estudo avaliamos o sucesso de diferentes técnicas de restauração
ecológica para fisionomias campestres do Cerrado – campo cerrado e vereda, bem como a
resiliência dos ecossistemas naturais que foram utilizados como fonte de propágulos. O
estudo foi realizado na Estação Ecológica de Santa Bárbara - EEcSB, onde coletamos
material nas áreas em que os ecossistemas se encontram intactos, para a restauração de
áreas em que a vegetação nativa foi totalmente suprimida pela invasão por Pinus elliottii,
não existindo potencial de regeneração natural. No campo cerrado aplicamos cinco
tratamentos de restauração: 1- remoção da camada de acículas remanescentes da invasão; 2
- semeadura direta; 3- transferência de topsoil; 4- transferência de topsoil + semeadura
direta; 5- transplante de material vegetal, que foram comparados com parcelas controle,
sem nenhuma intervenção. Na vereda aplicamos três tratamentos de restauração: 1-
remoção da camada de acículas remanescentes da invasão; 2- semeadura direta; 3-
transferência de material vegetal, que foram comparados ao controle. Para avaliar a
resiliência das áreas fonte de propágulos, a retirada do material foi feita em três diferentes
tamanhos de clareiras, em cada uma das fisionomias. Dentre as técnicas de restauração
testadas para o campo cerrado, a transferência de topsoil e o transplante de material vegetal
foram as técnicas mais bem sucedidas. Para a vereda, todos os tratamentos aplicados foram
efetivos, sendo que a simples remoção da camada de acículas já foi suficiente para permitir
o estabelecimento de uma comunidade estruturalmente similar ao ecossistema de
referência. O transplante de material vegetal foi o melhor tratamento em termos de
recuperação das espécies endêmicas, densidade e cobertura vegetal em ambas as
fisionomias. As áreas fonte de propágulos apresentaram alta resiliência frente ao distúrbio
decorrente da extração do material (plantas inteiras e topsoil), ultrapassando os valores de
riqueza da comunidade pré-distúrbio em menos de um ano. Portanto, foi possível restaurar
o campo cerrado e a vereda utilizando áreas naturais como fonte propágulos sem degradá-
las.
Abstract
The extension of areas occupied by grasslands in the Cerrado have been
dramatically reduced by different factors which include land conversion for agricultural
production, biological invasions and even the increase in woody biomass resulting from fire
suppression. Actions to ensure the conservation of these ecosystems must include stopping
land conversion, enabling sustainable management practices and developing restoration
techniques for grassland physiognomies. Aiming at to contribute to the challenges of
restoration, in this study we assessed the success of different ecological restoration
techniques to be applied to dry and wet Cerrado grasslands, as well as the resilience of
natural ecosystems that were used as propagule sources. The study was conducted at Santa
Bárbara Ecological Station, where material was collected from intact ecosystems to be used
in the restoration of areas where the native vegetation has been totally suppressed by the
invasive tree Pinus elliottii. After eradication of the invasive species, no potential for
natural regeneration was observed. To restore the dry grassland we compared five
restoration treatments: 1 - removing the needles remaining from of invasion; 2 - direct
seeding; 3 - transfer of topsoil; 4 - topsoil transfer + direct seeding, 5 - transplant of plant
material, and control plots. To restore the wet grassland, we used the treatments 1, 2 and 5,
and control plots. To assess the resilience of the areas used as source of propagules in both
physiognomies, the material (plants and top soil) was removed in plots of three different
sizes. Among the restoration techniques tested for dry grassland, transfer of topsoil and
transplant of plant material were the best treatments. For wet grassland restoration, all
treatments were effective, and simply removing the needles layer was enough to allow the
establishment of a plant community structurally similar to the reference ecosystem.
Transplantation was the best treatment in terms of recovery of endemic species, density and
vegetation cover for both physiognomies. Areas that were source of propagules showed
high resilience after disturbance by removing the material (plants and topsoil), overtaking
the richness of pre-disturbance community in less than one year. We concluded that it is
possible to restore dry and wet grasslands using natural areas as source of propagules
without degrading them.
Sumário
Dedicatória .......................................................................................................................................................... 9
Agradecimentos ................................................................................................................................................. 10
Introdução geral ................................................................................................................................................. 13
1. Tropical Grassy Biomes e o Cerrrado brasileiro...................................................................................... 13
2. Ameaças ao Cerrado .............................................................................................................................. 19
3. Legislação para conservação e restauração de fisionomias campestres do Brasil ..................................... 21
4. Restauração de fisionomias campestres e savânicas do Cerrado .............................................................. 24
5. Experimentação de técnicas de restauração ............................................................................................. 25
Objetivos ........................................................................................................................................................... 26
CAPÍTULO I: Técnicas de restauração ecológica para o campo cerrado utilizando áreas conservadas como
fonte de propágulos ................................................................................................................................ 28
Transição para o capítulo II ................................................................................................................................ 56
CAPÍTULO II: Transplante de material vegetal e semeadura como técnicas para a restauração de vereda .......... 58
Transição para o capítulo III ............................................................................................................................... 82
CAPÍTULO III: Caracterização da resiliência de fisionomias campestres do Cerrado frente à perturbação
por abertura de clareiras ......................................................................................................................... 83
Implicações para a prática ................................................................................................................................ 102
Referências bibliográficas ................................................................................................................................ 109
Apêndice 1: Espécies vegetais amostradas no ecossistema de referência e na área experimental de
restauração do campo cerrado .............................................................................................................. 126
Apêndice 2: Espécies vegetais amostradas no ecossistema de referência e na área experimental de
restauração da vereda ........................................................................................................................... 132
A Marineide, Aparecido Gilberto, Giselda, Kaliane, Lourdes e Fernando
Agradecimentos
Durante o desenvolvimento desta pesquisa pude contar com um time grande de
pessoas amigas que me ajudaram em vários sentidos. Sem elas a minha trajetória seria
muito diferente. Felizmente, não me faltam pessoas de boa vontade.
Gostaria de agradecer primeiramente à Giselda Durigan, por me ensinar o que é
ciência, por me mostrar o quanto o Cerrado é apaixonante e por todos seus bons conselhos
e correções, sejam eles para a ciência ou para vida. Agradeço pela sua enorme paciência em
ensinar e por ter me aceitado em seu laboratório em 2008, fato que fez toda a diferença na
minha vida.
Agradeço aos meus familiares, por me darem força durante todo o período de
disciplinas, qualificação e redação da dissertação. Agradeço especialmente aos meus pais
Marineide Pilon e Aparecido G. Pilon, por estarem sempre prontos para me ajudar e fazer
com que eu me sinta capaz, inclusive por ouvirem repetidamente o que significa resiliência
e como o termo se aplica na restauração, ao Vô Claúdio por todo o carinho e pelos passeios
na floresta, à Kaliane Pilon e Adenilce C. Lima, pela força e carinho.
Ao Fernando Belizotti, meus agradecimentos pela parceria incondicional, paciência,
amor, correções gramaticais e por estar sempre pronto para fazer qualquer coisa que eu
precisar.
À Flaviana Maluf de Souza, pela co-orientação e valiosas discussões que
permitiram aprimorar o projeto e esta dissertação.
Aos colegas de laboratório Mário, Márcio e Augusto (Guto), pelas valorosas
discussões ou ajuda com a estatística, à Geissianny, por ser uma grande parceira estando
presente em quase todos os momentos desta pesquisa com seus conselhos sempre
pertinentes, à Eliane (Honda) pelas valiosas conversas e deliciosos chás que me trouxeram
muita felicidade. Ao Antônio Carlos (Melo) pela ajuda na instalação dos experimentos e
pela companhia divertida.
Agradeço aos funcionários da Estação Ecológica de Santa Bárbara e Floresta
Estadual de Assis: Valdemir Melicio, José Rodrigues do Prado Filho (Zé Magrela), Ailton
11
Luiz Martins, Moacir de Oliveira, Marcos Antônio Soler, Edison Adriano Berto e Edison
Damasceno, pela valiosa ajuda na instalação dos experimentos e coleta de dados. Ao
funcionário Edison Adriano Berto, pela sua sabedoria e teimosia que nos mostrou a melhor
estação para coleta de sementes de capins nativos, que continue teimoso!
Aos amigos das repúblicas de Campinas e Assis: Regiane, Mariana, Yara, Diego e
Camila, pelos divertidos cafezinhos e agradável companhia. À Regiane, pela revisão de
alguns textos.
À professora Renata Giassi Udulutsch, que tornou possível minha matrícula no
programa de pós-graduação em Ecologia, agilizando toda a documentação necessária
quando tudo indicava que não daria tempo.
À professora Rosana Marta Kolb, por conduzir os testes de germinação das
sementes de gramíneas no laboratório da UNESP de Assis.
À professora Dra. Elisse Buisson e à Dra. Soizig Le Stradic, cujas pesquisas
inspiraram grande parte da minha pesquisa e até mesmo os objetivos e o modelo desta
dissertação.
Aos diretores do Instituto Florestal, por assinarem os termos que me permitiram
realizar a pesquisa na Estação Ecológica de Águas de Santa Bárbara e a toda a Equipe dessa
Unidade de Conservação, que a mantêm impecável, desde os gramados ao redor do
alojamento até as estradas que levam a todos os cantos da unidade, fazendo deste um dos
lugares mais agradáveis que eu conheço.
Aos colegas Lika e Victor, pela ajuda no trabalho de campo.
Aos pesquisadores Raquel Ronqui, Francisco F.M. Santos e Renata Giassi
Udulutsch, pela ajuda na difícil tarefa de identificar Cyperaceae, Xyridaceae e
Eriocaulaceae do campo úmido.
Agradeço às professoras que aceitaram compor a pré-banca para avaliação desta
dissertação: Dra. Cássia Beatriz Rodrigues Munhoz, Dra. Soizig Le Stradic e Dra.
Alessandra Tomaselli Fidelis. E aos professores que aceitaram serem membros da banca de
12
defesa: Dr. Osmar Cavassan, Dra. Alessandra Tomaselli Fidelis (membros titulares) e Dra.
Flaviana Maluf de Souza e Dra. Maria Teresa Zugliani Toniato (membros suplentes).
À FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pela bolsa
concedida (#2014/05573-1).
Agradeço ainda a todos que, em algum momento, colaboraram para a realização
desta pesquisa e não foram mencionados aqui.
OBRIGADA!!!!!!!
13
Introdução geral
1. Tropical Grassy Biomes e o Cerrrado brasileiro
Fisionomias campestres e savânicas ocupam 20% da superfície terrestre, sendo
responsáveis por ampla gama de serviços ecossistêmicos (Scholes e Archer 1997). Essas
vegetações ocorrem em extensas regiões nos trópicos, enquadrando-se no conceito
internacionalmente reconhecido de Tropical Grassy Biomes (TGBs) (Figura 1). TGBs são
compostos por tipos vegetacionais campestres, com nenhuma ou relativamente pouca
cobertura arbórea, até vegetações predominantemente lenhosas com até 80% de cobertura
de copas. São distintas de outras vegetações tropicais pela presença de gramíneas C4,
intolerantes à sombra e com recorrente ocorrência de fogo (Scholes e Archer 1997, Parr et
al. 2014).
Figura 1: Distribuição global das vegetações campestres e savânicas (grassy biomes) –
representadas pela cor amarela. Em destaque, entre os trópicos, fisionomias campestres e
savânicas tropicais (Tropical Grassy Biomes). (fonte: World Wildlife Fund-
http://www.worldwildlife.org/).
14
Pela histórica incidência de fogo nesses sistemas, no passado acreditava-se que
savanas e campos eram resultantes de atividades antrópicas, uma vez que o homem
conduzia queimadas como técnica de caça e renovação das pastagens (Oliveira-Filho e
Ratter 2002, Dias 2006). No entanto, atualmente existem evidências consistentes de que o
fogo nas savanas e campos já era frequente antes do homem começar a intervir em seus
processos ecossistêmicos, sendo um fator espontâneo que conduziu a evolução desses
ecossistemas (Simon et al. 2009, Simon e Pennington 2012, Maurin et al. 2014). Devido a
esse distúrbio natural, que moldou as savanas e campos hoje existentes, as plantas
desenvolveram grande diversidade de adaptações, como estruturas subterrâneas bem
desenvolvidas, que permitem às plantas rebrotarem inúmeras vezes após a passagem do
fogo (Coutinho 1990, Bond e Midgley 2001, Simon et al. 2009), formando um ecossistema
antigo, com grande estoque de carbono abaixo do solo (Veldman et al. 2015a). É
reconhecido que muitas dessas vegetações campestres e savânicas são extremamente
antigas, compostas por plantas que podem viver por décadas e até milênios (Alves e Kolbek
1994, Veldman et al. 2015a). É neste contexto, que Veldman et al. (2015a) introduziram o
conceito de “old-growth” para esses biomas, com a intenção de ressaltar sua importância
histórica, ecológica e econômica, ressaltando a necessidade de sua conservação. “Old-
growth” ainda não tem uma tradução em português consagrada, sendo aplicado para
vegetações prístinas ou primitivas, ou seja, ecossistemas antigos que ainda não foram
degradados pelo homem.
O Cerrado, com suas fisionomias campestres e savânicas, é representante dos TGBs
no Brasil, sendo composto por um gradiente que varia de campos, sem nenhuma cobertura
arbórea, até fisionomias florestais, com densas copas sombreando toda a superfície do solo
(Eiten 1972, Coutinho 1990, Ribeiro e Walter 2008). Porém, considerando a definição de
TGBs, entre as fisionomias classicamente reconhecidas para o Cerrado brasileiro, o
cerradão deve ser excluído, uma vez que não apresenta estrato graminoso.
O Cerrado, abrangendo 22% da superfície terrestre do Brasil (Oliveira-Filho e
Ratter 2002), é o segundo maior domínio fitogeográfico do país, sendo superado apenas
pela Floresta Amazônica (Ribeiro e Walter 2008). O termo Cerrado é utilizado de três
15
diferentes maneiras: a primeira refletindo todo o domínio geográfico de abrangência dessa
vegetação, sempre escrito com a inicial maiúscula; a segunda abrange a variação
fitofisionômica que ocorre dentro do domínio do Cerrado em terrenos secos, denominada
cerrado lato sensu; a terceira definição designa o tipo fisionômico de maior abrangência
geográfica dentro do cerrado lato sensu, que é o cerrado stricto sensu. O cerrado stricto
sensu é uma formação savânica, com árvores pequenas, esparsas e retorcidas, entremeadas
por estrato graminoso (Oliveira-Filho e Ratter 2002, Ribeiro e Walter 2008).
Dentro da definição de cerrado lato sensu, a caracterização e diferenciação dos tipos
fisionômicos é controversa, uma vez que diferentes autores utilizam diferentes abordagens
para essa classificação, criando diferentes subdivisões (Walter 2006). Como exemplo,
podemos citar as definições estabelecidas por Coutinho (1978), Eiten (1979), Ribeiro e
Walter (2008) e Oliveira-Filho e Ratter (2002), que usam denominações distintas para
referir-se às formações vegetais dentro do espectro de campos a florestas. Em sua
definição, Coutinho (1978) aborda cinco fitofisionomias, sendo os campos e o cerradão
(formação florestal) considerados como estados estáveis de um gradiente de fitomassa e
todas as fisionomias savânicas (campo sujo, campo cerrado e cerrado stricto sensu) são, por
esse autor, consideradas ecótonos. Nessa definição são totalmente desconsideradas as áreas
úmidas, como veredas e matas de galeria. Eiten (1979) descreve 27 categorias estruturais
vegetacionais, com uma caracterização longa e minuciosa que o autor considera ser
adaptada a outras vegetações do mundo. No entanto, a proposta não teve boa aceitação
entre os estudiosos do Cerrado. Ribeiro e Walter (2008) apresentam uma classificação,
amplamente utilizada atualmente, contendo 11 fisionomias principais, que podem ser
divididas em 25 subtipos, compreendendo formações florestais, savânicas e campestres,
sendo incluídas áreas úmidas, tais como mata ciliar, mata de galeria, campo limpo úmido,
campo sujo úmido e veredas. Para a divisão os autores basearam-se na fisionomia, definida
pela estrutura, formas de crescimento dominantes e possíveis alterações estacionais. Como
último exemplo, na classificação de Oliveira-Filho e Ratter (2002) 16 tipos fisionômicos
são apresentados, distintos especialmente pela estrutura da vegetação, pela presença de
estrato herbáceo e por relações pedológicas e hídricas. Nesta dissertação utilizamos a
definição de Oliveira-Filho e Ratter (2002), uma vez que a definição é a mesma utilizada na
Lei 12.651, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa (Art. 3º. inciso XII, da Lei
16
12.651, de 25 de maio de 2012), sendo também a definição utilizada na elaboração do plano
de manejo da Estação Ecológica de Santa Bárbara (Melo e Durigan 2011). Os principais
tipos fisionômicos, considerando Oliveira-Filho e Ratter (2002), e suas respectivas
denominações são apresentados na Figura 2. Na mesma figura, ilustramos onde se insere o
conceito de TGBs.
Figura 2: Esquema das principais fitofisionomias do Cerrado segundo Oliveira-Filho e
Ratter (2002) e representação das fisionomias do Cerrado que se inserem no conceito de
Tropical Grassy Biomes.
O mosaico de fitofisionomias no Cerrado é produto de uma série de fatores, entre os
quais se destacam a incidência de fogo, a sazonalidade climática, as propriedades físicas e
químicas do solo e a variação na altura do lençol freático (Eiten 1972, Coutinho 1990,
Oliveira – Filho e Walter 2008, Ribeiro e Walter 2008). Grande parte das fisionomias
campestres e savânicas do Cerrado ocorrem em regiões com características edafoclimáticas
que permitem o desenvolvimento de vegetações com maior fitomassa, como o cerradão, por
exemplo (Hirota et al. 2009, Staver et al. 2011). Estudos apontam que o fogo é um dos
principais fatores que garantem a manutenção das fisionomias abertas nessas regiões (Bond
e Keeley 2005, Bond et al. 2005), uma vez que a incidência de fogo gera um feedback
positivo, perpetuando as fisionomias savânicas e campestres ao longo do tempo. A alta
biomassa de capins acumulada durante a estação chuvosa gera combustível altamente
inflamável no período mais seco do ano, causando incêndios que retiram do sistema plantas
jovens de espécies florestais intolerantes ao fogo, induzindo a floração e a renovação do
estrato herbáceo (Bond et al. 2005, Hoffmann et al. 2012). As plantas dessas fisionomias
17
apresentam um conjunto grande de adaptações que permitem a sobrevivência após eventos
de fogo, como casca espessa – atua como isolante térmico; sistema subterrâneo bem
desenvolvido – que permite a rápida rebrota; massiva floração e frutificação logo após a
passagem do fogo (Eiten 1972, Coutinho 1990, Hoffmann et al. 2003, Simon et al. 2009,
Hoffmann et al. 2009, Hoffmann et al. 2012). Algumas plantas florescem exclusivamente
após episódios de fogo, permanecendo em estado vegetativo quando esse distúrbio é
suprimido (Munhoz e Felfili 2005). Portanto, o fogo é um fator de extrema importância
para a manutenção das fisionomias campestres e savânicas do Cerrado e de outras regiões
do planeta (Parr et al. 2014).
O Cerrado é considerado a savana mais diversa do mundo, apresentando altos níveis
de endemismos e, por isso, é considerado um dos hotspots para a conservação em escala
global (Myers et al. 2000, Hill et al. 2010), desempenhando diversos serviços
ecossistêmicos, estando estreitamente relacionado com a manutenção dos recursos hídricos
do país (Lima e Silva 2008). Por ocupar grande parte do planalto central brasileiro (Eiten
1972) e apresentar solos com alta capacidade de drenagem, o Cerrado desempenha
importante papel na dinâmica hídrica do país, sendo que no seu domínio se encontram as
nascentes que abastecem oito das doze grandes regiões hidrográficas do Brasil (Lima e
Silva 2008). Diante da importância dessa vegetação, há relativamente poucos estudos com a
finalidade de compreender profundamente quais são seus fatores condicionantes, qual a
abrangência geográfica de cada uma das suas fisionomias e quais práticas de manejo são
adequadas para sua total conservação. Grande parte da literatura existente são
levantamentos florísticos e fitossociológicos considerando quase que exclusivamente o
componente lenhoso (Walter et al. 2015). Portanto, o cenário é ainda mais crítico para as
fisionomias campestres do Cerrado, uma vez que são escassos inclusive os levantamentos
florísticos nessas áreas (Tannus e Assis 2004, Meira – Neto et al. 2007, Munhoz e Felfili
2007, Santos e Munhoz 2012). Adicionalmente, há a limitação tecnológica no efetivo
mapeamento dessas vegetações campestres por imagens de satélite (Sano et al. 2009), fato
que dificulta ainda mais sua conservação.
A fim de ilustrar a escassez de estudos para as fisionomias campestres do Cerrado,
realizamos levantamento de artigos científicos publicados no período de 1980 – 2015,
18
utilizando como palavras-chave: cerrado, campo cerrado, vereda e campo úmido. O
levantamento foi efetuado na base de dados do Web of Science e no Google Acadêmico,
onde contabilizamos os artigos que abordavam os termos biodiversidade, conservação,
ecologia de comunidades e populações dentro dessas quatro palavras-chave (Figura 3). O
termo mais genérico “Cerrado” retornou grande quantidade de artigos, evidenciando
interesse crescente sobre o assunto na última década. No entanto, ao refinarmos a busca
para as fisionomias campestres (campo cerrado, vereda e campo úmido), os resultados
foram muito inferiores, sendo que apenas 3,7% dos artigos que tratam do Cerrado referiam-
se a essas fisionomias, refletindo o cenário, discutido acima, da escassez de estudos sobre
vegetação campestre no Brasil. Obviamente, uma busca mais aprofundada, considerando
teses, dissertações e capítulos de livros e outras palavras-chaves geraria números absolutos
maiores. Porém, é provável que as proporções encontradas entre artigos científicos, reflita
as proporções que encontraríamos para todos os trabalhos já realizados.
19
360 340
320 300
280 260
240 220
200 180
160 140
120 100
80 60
40 20
0
Ano
Vereda /Campo úmido Campo cerrado Cerrado
Figura 3: Artigos científicos publicados no período de 1980 – 2015 abordando os termos
Cerrado, Campo cerrado, Vereda / Campo úmido. (fonte: base de dados do Web of Science
e Google Acadêmico).
2. Ameaças ao Cerrado
Apesar do crescente reconhecimento da importância dos TGBs em escala global,
seus ecossistemas estão sendo perdidos ao redor de todo o planeta por diversas pressões
antrópicas, dentre elas a conversão para agricultura e pecuária de alta tecnologia, plantações
florestais, mineração, urbanização sem planejamento, introdução de espécies invasoras,
Nº
de
Art
igo
s
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
20
supressão de distúrbios naturais, elevação do carbono atmosférico e deposição de
nitrogênio (Parr et al. 2014).
No Brasil, o estudo mais recente e mais abrangente mostrou, com base em imagens
de 2002, que os remanescentes naturais do Cerrado ocupavam 60,5% da sua cobertura
original. Contudo, sendo que grande parte dessa porcentagem concentrava-se no centro e
norte do país (Sano et al. 2009). Os Cerrados concentrados na porção sul do país, nos
estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, têm sido extremamente degradados,
sobrando, em 2002, muito pouco de sua cobertura original, com 13%, 32% e 32%
remanescentes, respectivamente (Sano et al. 2004). Tal fato pode ser atribuído à expansão
da agricultura para exportação de grãos, que historicamente se iniciou nesses estados,
primariamente com a produção de café, e atualmente soja, cana-de-açúcar e milho (Jepson
2005, Klink e Machado 2005). Até a década de 1970, a pecuária não representava ameaça
às fisionomias campestres do Cerrado, uma vez que o gado pastava em campos compostos
por gramíneas nativas e, de certa maneira, contribuía para a manutenção dos campos
cerrados e campos limpos. Porém, a introdução de pastagens com gramíneas exóticas
(geralmente Urochloa spp.) tem ocasionado drástica mudança na paisagem, sendo que em
mais de 25% das áreas de Cerrado o estrato herbáceo é atualmente composto por gramíneas
exóticas de origem africana (Sano et al. 2000, Sano et al. 2008). Espécies exóticas
constituem grande ameaça para as fisionomias campestres, especialmente gramíneas dos
gêneros Urochloa e Melinis (Pivello et al. 1999a, Pivello et al. 1999b) e coníferas utilizadas
na silvicultura, como Pinus elliottii Engelm. var. elliottii (Almeida et al. 2010, Abreu e
Durigan 2011).
A supressão dos distúrbios naturais que moldam essas fisionomias, como fogo e
pastejo, também pode ser considerada como perturbação, uma vez que tem levado as
savanas e campos a rápido aumento de biomassa, com incremento de espécies lenhosas,
alterando o equilíbrio do sistema para outro estado estável, com estrutura e funcionamento
de floresta (Bond et al. 2005, Staver et al. 2011).O adensamento resulta em aumento na
cobertura de copas, e, portanto, diminui a quantidade de luz que chega ao solo, promovendo
a gradativa substituição das espécies características de fisionomias abertas por espécies
generalistas e florestais (Pinheiro e Durigan 2012, Durigan e Ratter, 2015). Quando
21
incêndios são suprimidos, espécies florestais conseguem avançar sobre as áreas campestres,
iniciando a formação de dossel fechado. Espécies de fisionomias abertas geralmente são
intolerantes à sombra e o adensamento do dossel torna o ambiente inadequado para sua
sobrevivência, aumentando a competição por recursos que antes da invasão eram
abundantes, como a luz, por exemplo (Pinheiro e Durigan 2009). O adensamento devido à
supressão do fogo tem sido registrado em diferentes regiões do Brasil (Durigan e Ratter
2006, Pinheiro e Durigan 2009, Pinheiro et al. 2010, Silva et al. 2013, Stanton et al. 2014),
tendo implicações diretas no abastecimento de água do país, uma vez que quanto maior a
cobertura arbórea menor é a recarga das águas subterrâneas (Jackson et al. 2005, Veldman
et al. 2015a).
3. Legislação para conservação e restauração de fisionomias campestres do Brasil
A legislação ambiental para proteção da vegetação nativa brasileira não estabelece
medidas claras para a conservação e restauração de fisionomias não florestais. Na nova lei
ambiental, equivocadamente chamada de Novo Código ‘Florestal’ (denotando o viés da
conservação no Brasil), instituído pela Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, art. 1º, inc. I,
as vegetações não florestais são enquadradas na categoria “demais formas de vegetação
nativa”. A lei não traz nenhum detalhamento sobre as tais outras formas de vegetação,
sendo tal denominação empregada repetidamente no corpo da referida Lei. A vereda é o
único tipo de vegetação, dentro da grande região de domínio do Cerrado, que recebeu
definição no corpo da Lei, a qual está expressa no art. 3º, inc. XII:
"vereda: fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente
com palmáceas, sem formar dossel, em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-
herbáceas".
Podemos considerar a falta de explicitação sobre o que viriam a ser “demais formas
de vegetação nativa” como uma perda durante o processo de reformulação da Lei, em
relação ao texto da Lei anterior - Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, onde se tratavam
das “demais formas de vegetação natural”, no art. 2º, com a seguinte redação, em seu texto
original:
22
"Demais formas de vegetação natural são populações de espécies vegetais
autóctones cuja origem se deu em condições ambientais específicas e diferentes
daquelas que originaram as florestas primitivas e, por isso mesmo, adquiriram
características distintas; como exemplos podem ser citadas: o cerradão, o cerrado,
os campos cerrados, os campos naturais, a caatinga, o mangue, a mata natural
regenerada em estágio inicial".
Assim, o que se verifica é a total negligência, na legislação federal, em relação à
ampla gama de formações não florestais do país, colocando em risco sua conservação e
restauração em áreas já degradadas.
Para o Estado de São Paulo, a Lei n° 13.550, de 02/06/2009 dispõe sobre a
utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Cerrado no Estado, e dá providências
correlatas, tendo sido regulamentada pela Resolução SMA - 64, de 10-9-2009, que dispõe
sobre o detalhamento das fisionomias da Vegetação de Cerrado e de seus estágios de
regeneração. Essas normas estabelecem critérios rigorosos para a autorização de
desmatamento, como segue:
Artigo 6º - A supressão de vegetação nos estágios médio e avançado de
regeneração para as fisionomias cerradão e cerrado “stricto sensu” dependerá de
prévia autorização do órgão ambiental competente e somente poderá ser
autorizada, em caráter excepcional, quando necessária à realização de obras,
projetos ou atividades de utilidade pública ou interesse social definidos nesta lei,
com comprovação de inexistência de alternativa técnica e locacional para o fim
pretendido, ressalvado o disposto no artigo 7º desta lei.
Parágrafo único - A autorização prevista no “caput” deste artigo estará
condicionada à compensação ambiental, na forma de preservação de área
equivalente a quatro vezes a área desmatada, em área ocupada por vegetação
pertencente ao Bioma Cerrado, ou à recuperação ambiental de área equivalente a
quatro vezes a área desmatada, na mesma bacia hidrográfica, preferencialmente na
mesma microbacia.
23
Porém, também na lei paulista as fisionomias campestres são negligenciadas, não
havendo qualquer restrição à sua supressão, exceto no Art. 4º. da Resolução SMA 64, que
traz a seguinte ressalva:
Artigo 4º - Se na avaliação das áreas objeto de licenciamento for identificado
remanescente que preserve íntegra a vegetação herbácea nativa das fisionomias
campestres naturais de Cerrado (campo limpo de cerrado, campo úmido de cerrado
e campo sujo), quando as fisionomias campestres naturais, em conjunto, ocuparem
área contínua superior a 50 hectares ou quando as fisionomias campestres naturais
compuserem o mosaico de fisionomias de Cerrado em fragmentos com área total
superior a 400 hectares, deverão ser submetidos à análise de colegiado formado
pelos Instituto Florestal, Instituto de Botânica, Fundação para a Conservação e a
Produção Florestal do Estado de São Paulo e o Departamento de Proteção da
Biodiversidade da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais, para
avaliação do nível de prioridade para conservação.
Além da negligência com as fisionomias campestres, as normas estaduais de SP
mencionam “estágios sucessionais de regeneração das fisionomias do cerrado”, expressão
que contraria o conhecimento ecológico vigente, que mostra que os modelos clássicos de
sucessão secundária não se aplicam ao Cerrado.
O reconhecimento da importância das fisionomias campestres surge na legislação
paulista por meio da Resolução SMA nº 32, de 03 de abril de 2014, que institui diretrizes e
orientação para elaboração e execução de projetos de Restauração Ecológica, a fim de
respaldar a recomposição da Reserva Legal e de Área de Preservação Permanente no
Estado. Esta norma reconhece claramente o mosaico de fisionomias do Cerrado,
estabelecendo protocolos diferenciados para a restauração e monitoramento de cada
fitofisionomia.
24
4. Restauração de fisionomias campestres e savânicas do Cerrado
Os desafios para a restauração de TGBs começam no adequado mapeamento dessas
vegetações em escala global, para que se identifiquem áreas prioritárias para conservação e
para a recuperação. Mapear a abrangência geográfica das fisionomias campestres e
savânicas do mundo é de extrema importância no contexto da restauração, uma vez que tem
sido comum a recomendação e até mesmo a execução de plantio de árvores sobre campos e
savanas naturais (Weisberget al. 2013, Veldman et al. 2015b, Veldman et al. 2015c). O
plantio de árvores em áreas que historicamente eram ocupadas por campos ou savanas
geralmente é proposto ou executado devido à compreensão errônea de que essas vegetações
são produto da degradação florestal (Ratnamet al, 2011, Veldman et al. 2015a). Tal visão
pode ter consequências catastróficas para a conservação dos TGBs, como é evidenciado
pelo mapa das oportunidades para a restauração florestal (Atlas of Forest and Landscape
Restoration Opportunities) publicado pelo World Resources Institute (WRI), que aponta
nove milhões de quilômetros quadrados de campos e savanas como áreas prioritárias para a
restauração florestal (WRI 2014, Veldman et al. 2015b). Nesse mapa, extensas áreas de
Cerrado são consideradas como oportunidades para a restauração florestal.
A restauração de savanas e campos tropicais degradados apresenta-se como um
grande desafio para a ciência, uma vez que estudos sobre técnicas aplicáveis a essas
vegetações são incipientes, tornando-se mais crítico quando o alvo são fisionomias
campestres. No Brasil, grande parte das técnicas de restauração foram desenvolvidas para
formações florestais, pautadas na sucessão secundária de florestas tropicais, efetuando-se o
plantio de mudas de espécies arbóreas (Kageyama e Gandara 2000, Rodrigues et al. 2009),
equívoco apontado por Durigan e Engel (2012), quando se trata de restauração de Cerrado.
Para o componente lenhoso do Cerrado, técnicas envolvendo plantio de mudas,
nucleação ou mesmo indução da regeneração natural por meio do banco de raízes têm sido
propostas em alguns estudos como caminhos para a restauração, apresentando resultados
relativamente promissores (Durigan et al. 1997; Durigan et al. 1998, Durigan 2003, Pilon e
Durigan 2013, Côrrea et al. 2015). No entanto, as plantas lenhosas do Cerrado apresentam
crescimento lento (Pilon e Durigan 2013), fato que torna a manutenção dos plantios
extremamente custosa, quando o estrato herbáceo é dominado por gramíneas invasoras, que
25
necessitam ser controladas para permitir o desenvolvimento das mudas. Para a restauração
do estrato herbáceo, a literatura é ainda mais escassa, destacando-se poucos estudos com o
uso da transposição de topsoil e feno (Le Stradic et al. 2014 a, Ferreira et al. 2015, Pilon et
al. em preparação, Fowler et al. 2015) e facilitação por meio de transplante de espécies
lenhosas (Le Stradic et al. 2014b).
Além das restrições técnicas, a aquisição de mudas tem sido um forte obstáculo para
a restauração da vegetação do Cerrado, uma vez que são poucos os viveiros que produzem
mudas das espécies nativas do bioma, sendo que não existem viveiros especializados na
multiplicação de espécies herbáceas e nem há tecnologia disponível para tal finalidade. São
muitos os desafios para a produção de mudas ou a comercialização de sementes de espécies
herbáceas do Cerrado. Faltam conhecimentos básicos sobre a ecologia das espécies,
indicando o momento mais preciso para a coleta de sementes, bem como quais são os
tratamentos adequados para a efetiva germinação (Lima et al. 2014).
5. Experimentação de técnicas de restauração
À medida que a restauração de ecossistemas ganhou espaço como estratégia para
ampliar as bases da conservação, pararelamente surgiu a necessidade de aprimoramento das
técnicas e aprofundamento da compreensão dos processos ecológicos envolvidos na
reversão da degradação dos ecossistemas. Nesse contexto, surgiu a Ecologia da
Restauração como ciência, com fortes interrelações com diversos outros campos do
conhecimento (Palmer et al. 2006). A experimentação de técnicas de restauração, hoje,
baseia-se nessa ampla fundamentação teórica e em aspectos fundamentais que nem sempre
são considerados em outros tipos de experimentos.
A sociedade de restauração (SER 2004) define a restauração ecológica como “o
processo de auxíliar a recuperação de um ecossistema que foi degradado, danificado ou
destruído”. A avaliação de técnicas de restauração tem sido, portanto, baseada nos atributos
do ecossistema que foi destruído. No contexto da restauração utiliza-se o termo
“ecossistema de referência” para referir-se ao ecossistema que se deseja restaurar. Uma vez
que nem sempre se tem informações anteriores à degradação sobre o ecossistema a ser
26
restaurado, podem ser utilizados como referência remanescentes próximos ou, em casos
extremos, depreende-se qual seria esse ecossistema com base nas condições ambientais ou
mesmo indivíduos isolados da vegetação pré-existente. Não há consenso na literatura,
porém, se o ecossistema de referência pode ser tratado como meta da restauração. Enquanto
alguns autores consideram esta uma meta possível de ser atingida (Aronson et al. 1995,
White e Walker 1997), a maioria dos autores admite que as ações de restauração
dificilmente serão suficientes para reconstruir o ecossistema pré-existente (Pickett e Parker
1994, White e Walker 1997, Choi 2004, Choi 2007, Hobbs 2007). Por isso, alguns autores
ponderam que referência e meta devem ser tratadas como parâmetros distintos (Suganuma
et al. 2014).
Além da comparação entre o ecossistema restaurado e o ecossistema de referência, a
eficácia das intervenções de restauração precisa considerar qual seria a trajetória do
ecossistema degradado se nenhuma ação fosse realizada. Ou seja, as técnicas precisam ser
comparadas com áreas controle (sem intervenção) (Osenberg et al. 2006).
A avaliação de técnicas de restauração em caráter experimental ou mesmo a
avaliação do sucesso de projetos baseiam-se em indicadores ecológicos, sendo os mais
comumente utilizados os que representam a estrutura e composição das comunidades e o
funcionamento dos ecossistemas (Ruiz-Jaen e Aide 2005, Suganuma e Durigan 2015). Os
indicadores aplicados devem demostrar o quanto o ecossistema em restauração é superior
em relação às áreas sem intervenção e, também, o quanto se aproxima do ecossistema que
foi destruído (Rey-Benayas et al. 2009.)
Objetivos
Esta pesquisa teve como objetivo geral o desenvolvimento de técnicas para a
restauração de duas fisionomias campestres do Cerrado – o campo cerrado e a vereda
(campo úmido). Para isto, realizamos experimentação de diferentes técnicas, que se
baseiam na extração de propágulos (sementes, plantas inteiras ou a camada superficial de
solo) de áreas naturais e, também, precisamos avaliar a resiliência das áreas-fonte após a
retirada desse material, essencial para que pudéssemos validar as técnicas de restauração.
27
Além do seu objetivo maior de caráter aplicado, a pesquisa visou também elucidar
os processos ecológicos envolvidos na manutenção ou na recuperação da resiliência desses
ecossistemas. Os experimentos instalados foram desenhados com base na teoria dos filtros
ecológicos, partindo da premissa de que o estabelecimento das espécies nativas poderia ser
dificultado por filtros relacionados com a espécie invasora pré-existente, com a dispersão, a
germinação ou o estabelecimento das espécies nas áreas a restaurar.
A dissertação é composta por três capítulos, com objetivos específicos. O capítulo 1
trata da avaliação de técnicas para a restauração do campo cerrado. O capítulo 2 trata da
avaliação de técnicas para restauração do campo úmido. No Capítulo 3 efetuamos a
avaliação da resiliência dos ecossistemas naturais após a extração dos propágulos em
clareiras de diferentes tamanhos nas duas fisionomias. Após os três capítulos, apresentamos
as implicações dos resultados obtidos para a prática da restauração ecológica dos
ecossistemas estudados.
28
CAPÍTULO I
Técnicas de restauração ecológica para o campo cerrado utilizando áreas conservadas
como fonte de propágulos
Tratamento de transplante de material vegetal um ano após instalação do experimento, com
gramíneas e ciperáceas dispersando sementes na área experimental.
29
Técnicas de restauração ecológica para o campo cerrado utilizando áreas conservadas
como fonte de propágulos
Resumo
Restaurar ecossistemas caracterizados por vegetação campestre configura-se em um
grande desafio para a ciência, não existindo, até o momento, técnicas consolidadas que
possam ser aplicadas em larga escala. Buscando preencher esta lacuna no conhecimento,
testamos seis técnicas de restauração ecológica para o campo cerrado em áreas que foram
invadidas por Pinus elliottii, onde a vegetação nativa pré-existente foi totalmente excluída
pela espécie invasora. Quatro anos após a erradicação da espécie invasora, na ausência de
regeneração natural, testamos as seguintes técnicas de restauração: 1) remoção da camada
de acículas, 2) semeadura de capins nativos, 3) transferência de topsoil, 4) transferência de
topsoil combinado com semeadura de capins e 5) transplante de material vegetal, que foram
comparadas com parcelas controle sem remoção das acículas remanescentes da invasão.
Para extração de topsoil e de material vegetal abrimos clareiras de 1m² em campo cerrado
conservado, utilizado como ecossistema de referência. Ao mesmo tempo em que
monitoramos as técnicas de restauração, acompanhamos a regeneração das clareiras de
extração de propágulos a fim de determinar a resiliência do ecossistema frente a essa
perturbação. Um ano após a instalação dos experimentos, o transplante de material vegetal
apresentou os melhores resultados em termos de recuperação das espécies endêmicas,
densidade e cobertura vegetal, sendo a transposição de topsoil a segunda melhor técnica. A
área fonte de propágulos apresentou alta resiliência frente ao distúrbio de retirada de
plantas e do solo superficial, principalmente devido às espécies com alta capacidade de
rebrota, atingindo os valores de riqueza e densidade da comunidade pré-distúrbio em menos
de um ano. No entanto, o transplante de material vegetal foi o único tratamento capaz de
introduzir espécies com capacidade de rebrota na comunidade em restauração. Concluímos
que é possível restaurar o campo cerrado utilizando áreas naturais como fonte propágulos
sem degradá-las e que o banco de estruturas subterrâneas tem papel fundamental na
resiliência do campo cerrado.
Palavras-chave: banco de estruturas subterrâneas, campo cerrado, resiliência, topsoil,
transplante de material vegetal
30
Introdução
O crescente impacto gerado por atividades antrópicas sobre diversos ecossistemas
tem causado alterações profundas em sua estrutura e funcionamento, não se sabendo até
que ponto estes suportarão o desenvolvimento econômico e social sem que sejam alterados
os serviços ecossistêmicos prestados (Folke et al. 2004). Assim, pesquisas devem ser
desenvolvidas para que se compreendam os processos de regeneração natural após distúrbio
(resiliência) e para o desenvolvimento de novas técnicas de restauração, especialmente para
ecossistemas negligenciados, como as formações campestres do Cerrado. Ainda que a
restauração de florestas já conte com técnicas bem sucedidas, que são baseadas na sucessão
secundária e na dinâmica de clareiras (Kageyama e Gandara 2000, Rodrigues et al. 2009,
Suganuma e Durigan 2015), essas técnicas não se aplicam às vegetações savânicas e
campestres (Durigan e Engel 2012).
O Cerrado brasileiro é considerado a savana com maior biodiversidade do mundo,
compreendendo um gradiente de fisionomias que varia de campos a florestas (Oliveira-
Filho e Ratter 2002), que proporciona alta diversidade taxonômica. A conversão de áreas de
Cerrado para uso agropecuário nas últimas cinco décadas reduziu a cerca da metade as
áreas naturais remanescentes dessa vegetação no Brasil (Sano et al. 2009) e no Estado de
São Paulo, os processos de degradação têm sido ainda mais rápidos. O Cerrado ocupava
aproximadamente 14% do território paulista no início do século XX, 4,18% em 1974 (Serra
Filho et al. 1974) e apenas 0,74% (2.100 km²) em 2001 (Kronka et al. 2005), evidenciando
sua rápida destruição. A situação torna-se ainda mais crítica para fisionomias campestres,
que estão presentes em menos de 10% dos fragmentos (Durigan e Ratter 2006), nunca
foram sequer mapeadas e são relativamente menos protegidas pela legislação ambiental
vigente (Lei Estadual n°13.550, de 2 de junho de 2009 e Resolução SMA 64 de 10 de
setembro de 2009), em relação às fisionomias em que predomina o componente arbóreo.
Para a restauração do Cerrado, técnicas baseadas no plantio de mudas e semeadura
de espécies lenhosas, nos moldes do que se aplica para florestas, têm sido objeto de
experimentação no Brasil (Garrido e Poggiani 1980, Toledo Filho 1988, Melo et al. 2004a e
2004b, Melo et al. 2009, Silva e Côrrea 2008, Pilon e Durigan 2013, Silva et al. 2015), até
com resultados promissores de recuperação da vegetação arbórea. Apesar de
desconsiderarem totalmente os componentes não arbóreos da vegetação do Cerrado, tais
31
técnicas têm sido divulgadas e recomendadas em publicações técnicas e manuais (Correa e
Melo Filho 1998, Durigan 2003, Correa 2005, Felfili et al. 2005, Sampaio et al. 2008,
Durigan et al. 2011) e têm sido eficazes para restabelecer uma certa diversidade e parte dos
serviços ecossistêmicos esperados da restauração. A restauração passiva ou assistida por
meio da indução dos processos de regeneração natural também oferece bons resultados para
recuperação da vegetação lenhosa nativa quando existem estruturas subterrâneas que
possam rebrotar (Durigan et al. 1997, Durigan et al. 1998, Durigan 2005). Porém, tanto
para os plantios de mudas ou semeadura quanto para as técnicas de restauração por
regeneração natural, o estrato herbáceo nas áreas de Cerrado em restauração é ocupado
integralmente por gramíneas exóticas e algumas espécies ruderais, que só declinam quando
o sombreamento pelas copas das árvores impossibilita sua permanência.
Estudos abordando técnicas alternativas para a restauração do estrato herbáceo de
vegetações savânicas e campestres tropicais (tropical grassy biomes – TGB) ainda são
incipientes no Brasil e no mundo, destacando-se poucos estudos com o uso da transposição
de topsoil e feno (Le Stradic et al. 2014 a, Ferreira et al. 2015, Pilon et al. em preparação,
Fowler et al. 2015) e facilitação por meio de transplante de espécies lenhosas (Le Stradic et
al. 2014b). Assim, o que se verifica é que não existem recomendações consolidadas para o
componente não arbóreo das fisionomias savânicas ou para as fisionomias estritamente
campestres tropicais.
Técnicas de restauração para diferentes tipos de vegetação campestre têm sido
desenvolvidas e aplicadas fora do Brasil, especialmente em regiões temperadas do
hemisfério Norte. Estudos têm apontado a transferência de topsoil, turfa (transplantes de
blocos de material vegetal e substrato) e a semeadura direta de espécies alvo como técnicas
promissoras para a restauração de ampla gama de ecossistemas campestres (e.g. campos
secos, campos úmidos, charcos, e estepes) (Vécrin e Muller 2003, Dickson e Busby 2009,
Kiehl 2010, Török et al. 2011, Coiffait – Gombault et al. 2012, Jaunatre et al. 2012),
especialmente na Europa e América do norte.
Diante da inexistência de técnicas consagradas para a restauração de fisionomias
campestres de Cerrado e do crescente reconhecimento da importância dessa vegetação, esta
pesquisa teve como objetivo a avaliação da efetividade da remoção da camada de acículas
oriundas da invasão de pinus, transferência de topsoil, transplante de material vegetal
32
(gramíneas, ervas, raízes e xilopódios) e da semeadura direta de espécies de gramíneas
nativas como possíveis técnicas para a restauração do campo cerrado. Partindo da premissa
de que a retirada do topsoil e de material vegetal de áreas naturais causaria impacto ao
ecossistema, também avaliamos a resiliência das áreas fonte (das quais o material foi
removido), adotando como conceito de resiliência o tempo necessário para que o
ecossistema retorne à condição pré-distúrbio (Pimm 1984, Gunderson 2000, Folke et al.
2004).
A partir das técnicas de restauração testadas neste estudo, buscamos elucidar as
seguintes questões: 1) é possível reproduzir espécies herbáceas do campo cerrado a partir
da transposição de topsoil e material vegetal extraído de áreas naturais? 2) A semeadura
direta é uma técnica viável para a restauração/reabilitação dessa fitofisionomia? Entre as
técnicas testadas, qual apresenta os melhores resultados? 3) Ecossistemas naturais, em bom
estado de conservação, podem servir como fontes de propágulos para a restauração do
campo cerrado sem que sejam degradados?
Esperamos que pelo menos uma parte da flora nativa do ecossistema natural possa
ser propagada por essas técnicas e que a recobertura do terreno aconteça em intervalo de
tempo razoável. Além disso, esperamos que as áreas fonte sejam cicatrizadas rapidamente,
para que se possa considerar viável uma técnica que se baseia na retirada do material de
áreas naturais.
Material e Métodos
Local de estudo
O estudo foi conduzido na Estação Ecológica de Santa Bárbara - EEcSB, que ocupa
área de aproximadamente 2700 ha, localizada no município de Águas de Santa Bárbara, SP,
entre as coordenadas geográficas 22°46’ a 22°41’ S e 49°16’ a 49°10’ W. A EEcSB contém
diferentes fitofisionomias de cerrado e florestas ripárias, mas é nas fisionomias campestres
que está a grande importância desta unidade para a conservação. Estima-se que a EEcSB
possua de 4 a 9,5% do total de espécies do bioma, com expressiva riqueza da vegetação de
Cerrado (Meira Neto et al. 2007). A EEcSB está em região de clima do tipo Cfa – clima
quente e úmido com inverno seco, segundo a classificação de Köppen, mas é sujeita a
33
geadas esporádicas, que podem ser severas (Alvares et al. 2013). A temperatura média dos
meses mais frios é de 18°C e a dos meses mais quentes ultrapassa 22°C, com índices
pluviométricos anuais de 1000 a 1300 mm. O solo da região é caracterizado de forma geral
como Latossolo Vermelho, mas nas áreas de campo cerrado é Neossolo Quatzarênico. As
fisionomias campestres correspondem a 435 ha (14% da unidade de conservação), sendo
225 ha de campo cerrado (Melo & Durigan 2011), que são as áreas de onde foi retirado o
material para a instalação do experimento (Figura 4).
Figura 4: Campo cerrado de onde foi extraído o material utilizado no experimento de
restauração (sementes, top soil e transplante), tratado como ecossistema de referência para
avaliação das técnicas aplicadas, na Estação Ecológica de Santa Bárbara – EEcSB, SP.
Desenho experimental
Instalamos experimento para avaliação de técnicas de restauração para o campo
cerrado e, adicionalmente, experimento para a avaliação da resiliência da área fonte de
propágulos para a restauração do campo cerrado, detalhados nos itens seguintes. O
experimento de resiliência foi instalado na Zona de Interferência Experimental e o de
restauração na Zona de Recuperação, segundo as normas do Plano de Manejo da unidade
(Melo e Durigan 2011).
Técnicas de restauração
34
O experimento de restauração foi instalado em março de 2014 em área onde a
vegetação natural previamente existente foi maciçamente invadida por Pinus elliottii
Engelm. var. elliottii, causando a total supressão da vegetação nativa (Figura 5a). A
erradicação da espécie arbórea invasora foi realizada em março de 2010 (Abreu 2013).
Porém, mesmo após quatro anos o solo encontrava-se quase totalmente descoberto (Figura
5b), sem indícios de regeneração natural da vegetação nativa. O material que foi utilizado
no experimento de restauração foi proveniente do campo cerrado natural, sem indícios de
perturbação e sem espécies invasoras.
Figura 5: Área experimental invadida por Pinus elliottii var. elliottii em janeiro de 2010 (a)
e aos quatro anos após erradicação da espécie invasora (b), Estação Ecológica Águas de
Santa Bárbara.
O experimento foi instalado no mesmo dia da coleta do material retirado das áreas
naturais por meio de abertura de clareiras no ecossistema de referência (campo cerrado
íntegro). O desenho experimental foi em blocos ao acaso (os tratamentos aleatorizados
dentro de cada bloco), com 10 blocos contendo uma réplica de cada tratamento, portanto,
10 repetições de cada tratamento. Os tratamentos foram aplicados em parcelas circulares de
1 m² (113 cm de diâmetro), dentro das quais todo o material vegetal eventualmente
existente (incluindo restos da camada de acículas de Pinus) foi removido, deixando o solo
exposto. A parcela controle sem eliminação das acículas foi sistematicamente disposta na
face norte de cada bloco, respeitando a distância entre as demais parcelas (pelo menos 3
metros). No centro de cada uma das parcelas fixamos uma estaca numerada permanente, de
35
PVC azul, para fácil visualização. A área de cada parcela, quando da aplicação dos
tratamentos e coleta de dados, foi delimitada por um anel rígido de PVC (móvel). Os
tratamentos que fizeram parte do desenho experimental são descritos a seguir.
Tratamento 1. Controle (C): parcelas sem nenhuma intervenção, em que o solo permaneceu
coberto pela camada de acículas remanescentes da invasão pelas árvores de Pinus.
Tratamento 2. Remoção de acículas (R): solo nu, para verificar o potencial de regeneração
natural mediante a simples eliminação da camada de acículas.
Tratamento 3. Semeadura direta (remoção de acículas + semeadura) (S): em cada parcela
foi lançada uma mistura de sementes de seis gramíneas nativas (Andropogon leucostachyus
Kunth, Aristida megapotamica var. brevipes Henrard, Axonopus pressus (Nees ex Steud.)
Parodi, Eustachys distichophylla (Lag.) Nees, Loudetiopsis chrysothrix (Nees) Conert,
Sorghastrum minarum (Nees) Hitchc., sendo 100 sementes de cada espécie, ou seja, em
densidade de 600 sementes por metro quadrado, semeadas diretamente sobre a superfície
do terreno. As sementes foram cobertas por fina camada de solo local, a fim de reduzir a
predação de sementes e o espalhamento pelo vento.
Tratamento 4. Topsoil (remoção de acículas + Topsoil) (T): disposição de uma camada de
topsoil com 10 mm de espessura, na superfície do terreno no interior da parcela.
Tratamento 5. Topsoil + Semeadura direta (remoção de acículas + Topsoil + Semeadura
direta) (TS): as sementes, na mesma densidade do tratamento T3 (600 sementes por metro
quadrado, de seis espécies) foram incorporadas ao topsoil, que foi disposto, em uma
camada com 10 mm de espessura, diretamente sobre o terreno.
Tratamento 6. Transplante (remoção de acículas + transplante) (TR): o material vegetal
retirado de dez clareiras de 1 m² (touceiras de gramíneas, plantas inteiras e estruturas
subterrâneas), acompanhado do solo que veio aderido às raízes, foi primeiramente
homogeneizado (de modo a obter composição floristicamente semelhante para todas as
36
parcelas) e em seguida foi distribuído nas dez parcelas experimentais de restauração que
receberam este tratamento. Assim, a proporção entre a área fonte de propágulos e a área em
restauração foi de 1:1.
Procedimentos para instalação dos experimentos
Para a instalação dos experimentos, retiramos topsoil e material vegetal das parcelas
do experimento de resiliência e realizamos a colheita manual de sementes de gramíneas
nativas abundantes no campo cerrado de referência. Essas atividades são descritas a seguir.
Coleta de topsoil e material vegetal
O material vegetal (placas de solo + raízes + plantas) e o topsoil (solo + raízes das
plantas) foram retirados em camada de 5 cm de profundidade, que é onde se concentra a
maior parte das sementes (Vécrin& Muller 2003), utilizando-se enxadão, enxada e pá.
Realizamos a coleta do material no final da estação chuvosa (março de 2014), período em
que a maioria das gramíneas dispersa suas sementes na EEcSB e que, portanto, apresenta
topsoil rico em propágulos (Pilon et al. 2015 em preparação). Antes da extração do
material, efetuamos poda de toda a vegetação a ser transplantada, à altura aproximada de 10
cm, utilizando roçadeira costal (STIHL F5 160, a gasolina), para diminuir a transpiração e o
estresse por deficiência hídrica dos indivíduos transplantados. Imediatamente após a
extração, o material foi embalado em sacos de ráfia de cor branca, para evitar desidratação
durante o transporte até a área a ser restaurada.
O topsoil coletado em dez parcelas de 1 m² de campo cerrado foi misturado e
homogeneizado para a disposição nas parcelas experimentais de restauração. As touceiras
de gramíneas, bem como outras plantas que acompanharam o topsoil foram separadas,
homogeneizadas e replantadas em covas nas dez parcelas do tratamento Transplante,
compondo um dos tratamentos de restauração já descritos. A homogeneização consistiu em
misturar o material coletado nas 10 clareiras (topsoil e material vegetal separadamente) a
fim de garantir que todas as parcelas de restauração tivessem composição similar.
Obtenção de sementes
37
Coletamos as sementes manualmente no período correspondente ao final da estação
chuvosa (fevereiro-março 2014), na EEcSB, período em que ocorre o pico de dispersão de
sementes de gramíneas nessas áreas (Carmona et al. 1999, Munhoz & Felfili 2005). As
sementes foram armazenadas em sacos de papel em temperatura ambiente até o momento
da semeadura em março de 2014. Coletamos e identificamos sementes de seis espécies de
gramíneas que apresentam alta frequência no campo cerrado de referência, de forma a obter
uma mistura de espécies que aumentasse a probabilidade de colonização por pelo menos
algumas delas. Semeamos 100 sementes de cada espécie nos tratamentos 2 e 3 já descritos.
Esses valores foram definidos com base na literatura sobre banco de sementes do Cerrado,
bem como em procedimentos para formação de pastagens, uma vez que não há
recomendações técnicas sobre semeadura de capins nativos para a restauração do Cerrado.
Sabemos que o banco de sementes de plantas herbáceas no Cerrado varia entre 100 a 230
por m² (Ikeda et al. 2008, Xavier 2011) e que para a formação de pastagens são utilizadas,
em média, até 200 sementes por metro quadrado (Zimmer 1983). Semeamos em densidade
superior a esses valores, na expectativa de obter boa densidade de plântulas germinadas.
Para a determinação da qualidade fisiológica das sementes de todas as espécies coletadas
realizamos testes de germinação, com cinco réplicas de 20 sementes para cada espécie, em
condições controladas (germinador com fotoperíodo de 12 horas e temperatura de 25º C) e
em condições de viveiro. No viveiro, as sementes foram colocadas para germinar sobre
latossolo vermelho, substrato utilizado para a produção de mudas de espécies do Cerrado.
Os testes foram realizados nesses dois ambientes porque acreditamos que as condições de
viveiro se aproximam mais das condições de germinação em campo, eliminando-se o fator
deficiência hídrica (resultados dessas análises em Kolb et al.2016).
Caracterização do banco de sementes
Consideramos necessário caracterizar o banco de sementes para obter o número de
espécies e a quantidade de sementes que poderiam germinar a partir do topsoil do campo
cerrado em condições ideais (sem deficiência hídrica). Portanto, realizamos um teste em
viveiro, onde o material coletado (camada de 5 cm de espessura de solo superficial), depois
de homogeneizado, foi depositado em cinco caixas de PVC com dimensões de 30 x 50 cm e
altura de 10 cm. As caixas foram parcialmente preenchidas com solo utilizado no viveiro da
38
Floresta Estadual de Assis, SP, para a produção de mudas do cerrado (solo com
características físicas e químicas semelhantes às do solo onde ocorre cerrado na Estação
Ecológica de Santa Bárbara). Sobre este solo, foi disposta uma camada de topsoil do campo
com a mesma espessura utilizada no experimento (10 mm). Cinco caixas contendo apenas
solo utilizado regularmente como substrato no viveiro foram mantidas como controle, para
detectar contaminação.
Avaliação da resiliência da área fonte de propágulos
A resiliência das áreas de extração do material (para os tratamentos de transposição
de topsoil e de transplante de material vegetal) foi avaliada com base no tempo necessário
para cicatrização da área impactada e na recuperação da riqueza de espécies vegetais.
Adotamos como referência a comunidade existente anteriormente ao distúrbio,
considerando ser este procedimento coerente com a definição de resiliência.
Abrimos 10 clareiras (parcelas) de 1 m² no campo cerrado de referência, distribuídas
em 10 locais distantes entre si em pelo menos 200 metros. A vegetação a ser extraída foi
podada para reduzir o estresse decorrente de perdas por evapotranspiração e assim
aumentar as chances de estabelecimento das plantas. A seguir as plantas e o topsoil foram
retirados com o uso de enxada e enxadão, ficando abertas as clareiras. . No centro de cada
parcela fixamos uma estaca numerada permanente, de PVC azul, para fácil visualização. A
área de cada parcela, quando da aplicação dos tratamentos e coleta de dados, foi delimitada
por um anel rígido de PVC (móvel) (Figura 6).
39
Figura 6: Clareira aberta para a retirada de topsoil e material vegetal no campo cerrado de
referência, onde foi avaliada a resiliência do ecossistema das áreas fonte (Estação
Ecológica Águas de Santa Bárbara, SP)
.
Anteriormente à retirada do material, efetuamos levantamento florístico detalhado
dentro da área de cada parcela de onde seria extraído o material. A relação de espécies
amostradas foi utilizada, tanto nas análises de resiliência quanto na avaliação das técnicas
de restauração, como parâmetro de riqueza, cobertura e composição florística do
ecossistema que foi destruído ou que está sendo restaurado.
Coleta de dados
O experimento de restauração e as parcelas de monitoramento da resiliência
(clareiras) foram amostrados cinco vezes ao longo de um ano. Em cada ocasião,
quantificamos a cobertura da vegetação por estimativa visual e todas as plantas em
regeneração dentro de cada parcela foram identificadas e contabilizadas para obter as
variáveis riqueza de espécies e densidade. Para gramíneas, cada touceira foi tratada como
um indivíduo. Para as demais plantas, cada caule separado ao nível do solo foi considerado
um indivíduo. Quando não foi possível a identificação em campo, coletamos material de
cada morfoespécie para identificação posterior, com ajuda de especialistas e consultas a
herbários. Após abertura das clareiras, em cada monitoramento, identificamos a origem dos
indivíduos em regeneração, se oriundos de rebrota de estruturas subterrâneas ou a partir de
sementes. Com base nesses dados, pudemos classificar a origem dos indivíduos registrados
nos tratamentos de transposição de topsoil e transplante de material vegetal (essa
classificação encontra-se no anexo 1).
Análise de dados
Os resultados de densidade e riqueza para cada um dos tratamentos aplicados no
campo cerrado um ano após a instalação do experimento foram comparados entre si por
40
modelos lineares generalizados (GLM) com distribuição Poisson (função de ligação log).
Uma vez detectada superdispersão, os erros foram corrigidos utilizando um modelo Quasi –
GLM (Quasi - Poisson). Os dados de cobertura para cada um dos tratamentos foram
comparados entre si por análise de variância (ANOVA), uma vez que atenderam a todos os
pressupostos para essa análise. Em todos os modelos estatísticos gerados foi declarado o
efeito do bloco, uma vez que o desenho experimental, foi em blocos ao acaso. Para os testes
que apresentaram diferenças significativas realizamos testes post hoc (Tukey) para
múltiplas comparações entre tratamentos. As comparações post hoc foram realizadas
utilizando o pacote agricolae (Mendiburu, 2014).
Calculamos a proporção de espécies amostradas no ecossistema de referência que se
estabeleceram na área experimental a partir de cada tratamento de restauração. A
similaridade florística dos tratamentos de restauração com o ecossistema de referência foi
calculada por meio do índice de similaridade de Jaccard (ISj), considerando presença e
ausência das espécies (Legendre e Legendre 2012). Também calculamos a similaridade
florística do topsoil em condições de viveiro com os tratamentos topsoil e topsoil
combinado com semeadura, que foram aplicados na área experimental para restauração do
campo cerrado. Adotamos o critério de Mueller-Dombois e Ellenberg (1974), pelo qual o
coeficiente deve ser superior a 25% para que duas comunidades sejam consideradas
similares.
Modelamos a evolução das comunidades estabelecidas pelos diferentes tratamentos
de restauração por meio de modelos lineares em que as variáveis resposta foram cobertura,
densidade e riqueza e a variável preditora foi o tempo, expresso em número de dias após a
instalação do experimento. Selecionamos a equação que melhor se ajustasse aos dados pelo
maior valor de R2. Para cada regressão extraímos um valor de p. Com base nesses modelos,
estimamos o tempo necessário para que sejam atingidos os valores obtidos para aquelas
variáveis no ecossistema de referência, conforme Suganuma e Durigan (2015) e Liebsch et
al. (2008).
A resiliência foi avaliada por meio do ritmo de recuperação da riqueza de espécies,
densidade e cobertura do solo exposto, em comparação com os valores anteriores à indução
do distúrbio. Modelamos a resiliência por análises da dispersão dos dados de cobertura,
densidade e riqueza em função do número de dias após a abertura das clareiras.
41
Selecionamos a equação que melhor se adequasse aos dados pelo maior valor de R2. Para
cada regressão extraímos um valor de p, bem como o tempo necessário para que cada
variável (riqueza, densidade e cobertura) alcançasse os valores anteriores ao distúrbio
(valores de referência).
Todas as análises foram realizadas utilizando o software R (R Development Core
Team 2014).
Resultados
Comparação entre as técnicas de restauração ecológica
Quando comparamos o número médio de espécies por parcela um ano após a
instalação do experimento de restauração, a comunidade restaurada por transplante de
material vegetal apresentou maior riqueza do que os demais tratamentos, seguida da
comunidade resultante da transferência de topsoil associado ou não com a semeadura, que
apresentou riqueza superior à simples semeadura remoção de acículas e controle (F= 26.57
e P <0,0001) (Figura 7a).
A densidade de plantas obtida por transposição de topsoil (16 ind. m-2
) não diferiu
do transplante de material vegetal (15 ind. m-2
), ambos os tratamentos com resultados
superiores aos demais. O tratamento contendo topsoil+ semeadura resultou em densidade
superior à semeadura isolada (F=59.36 e P< 0,001) (Figura 7b).
Ao comparar a porcentagem de cobertura vegetal obtida, o transplante de material
vegetal resultou em cobertura superior aos demais tratamentos, com exceção da
transposição de topsoil. A transposição de topsoil não apresentou resultados diferentes com
ou sem a adição de sementes. Porém, o topsoil com semeadura e a semeadura não diferiram
do tratamento com a simples remoção das acículas, sendo que a semeadura também não
diferiu do controle (F= 12.75 e P<0.001, Figura 7c). O controle, onde as acículas não foram
removidas, apresentou os piores resultados para a recuperação da riqueza, densidade e
cobertura de espécies nativas do campo cerrado.
42
Figura 7: Comparação da riqueza, densidade e cobertura de plantas nativas resultantes das
diferentes técnicas de restauração para o campo cerrado um ano após a instalação do
experimento. (a) Riqueza, (b) densidade, expressa em indivíduos por metro quadrado (c)
cobertura, expressa em porcentagem. C: controle; R: remoção de acículas; S: semeadura; T:
transposição de topsoil; TR: transplante; TS: transposição de topsoil + semeadura. Colunas
seguidas por letras iguais não diferem entre si ao nível de 95% de probabilidade; as barras
ao alto de cada coluna representam o erro padrão da média amostral.
43
A semeadura direta foi o único tratamento que não diferiu do tratamento com
simples remoção de acículas em nenhuma das variáveis testadas (riqueza, densidade e
cobertura) (Figura 7), uma vez que as sementes não foram capazes de germinar e se
estabelecer na área experimental. Poucas espécies de gramíneas apresentaram altas taxas de
germinação em condições controladas e em condições de viveiro. Para a maioria das
espécies as maiores taxas de germinação foram obtidas em viveiro (tabela 1). Os poucos
indivíduos que foram capazes de germinar e se estabelecer nas condições da área
experimental pertencem a espécies que tiveram baixo desempenho em laboratório e em
viveiro: Aristida megapotamica var. brevipes com sete indivíduos, e Loudetiopsis
chrysothrix com apenas um indivíduo, valores correspondentes a toda a área amostral onde
o tratamento com semeadura foi aplicado. As espécies com maiores taxas de germinação
em laboratório ou em viveiro – Andropogon leucostachyus e Eustachys distichophylla –
não foram capazes de se estabelecer nas parcelas amostrais.
Tabela 1: Porcentagem de germinação das espécies de gramíneas utilizadas no tratamento
de semeadura para o campo cerrado, em condições constantes de temperatura (25ºC) e em
condições de viveiro. Os valores são acompanhados pelo erro padrão.
Germinação (%)
Espécies
Condições
controladas
Viveiro
Andropogon leucostachyus
2 ± 2.74
59 ± 19.49
Aristida megapotamica var. brevipes 6 ± 5.00 28 ± 14.40
Axonopus pressus 0 ± 0.00 0 ± 0.00
Eustachys distichophylla 76 ± 4.18 67 ± 8.37
Loudetiopsis chrysothrix 0 ± 0.00 4 ± 4.18
Sorghastrum minarum 0 ± 0.00 8 ± 9.08
44
Aristida megapotamica var. brevipes apresentou número maior de indivíduos
estabelecidos no tratamento com topsoil + semeadura do que na simples semeadura.
Axonopus pressus também germinou e se estabeleceu nas parcelas com o tratamento topsoil
+ semeadura sem que tenha germinado no laboratório ou no viveiro. Porém, esta espécie
também apareceu no tratamento com topsoil apenas, podendo ser, portanto, produto do
banco de sementes e não das sementes introduzidas.
Mesmo com os resultados promissores encontrados, especialmente para os
tratamentos com transplante de material vegetal, quando os valores das variáveis testadas
são plotados juntamente com os valores encontrados no ecossistema de referência (campo
cerrado preservado), verificamos que, após um ano, as comunidades restauradas pelas
diferentes técnicas aqui testadas estão muito aquém do ecossistema pré-existente.
Analisando a evolução da riqueza ao longo do tempo, evidenciamos que as
comunidades estabelecidas pelos diferentes tratamentos apresentam número reduzido de
espécies quando comparadas com o campo cerrado natural (Figura 8). As curvas
apresentam tendência de estabilização da riqueza para os tratamentos de semeadura de
capins nativos, transposição de topsoil e transposição de topsoil combinado com semeadura
(Figura 8b, 8c e 8d). No entanto, essa tendência não foi significativa para a comunidade
restaurada pelo transplante de material vegetal, tratamento que apresentou um terço do
número de espécies encontrado no ecossistema de referência (Figura 8e).
45
Figura 8: Evolução da riqueza média (número de espécies por parcela) ao longo do tempo
para comunidades de campo cerrado resultantes da aplicação de diferentes técnicas de
restauração: (a) remoção de acículas, (b) semeadura de capins nativos, (c) transposição de
topsoil, (d) transposição de topsoil combinado com semeadura de capins e (e) transplante
de material vegetal. A linha horizontal azul representa a riqueza encontrada no campo
cerrado de referência. O primeiro ponto da curva corresponde à observação realizada aos 25
dias após aplicação dos tratamentos. As barras em cada observação representam o erro
padrão da média.
A evolução da densidade também apresentou tendências de estabilização em todos
os tratamentos de restauração aplicados (Figura 9). Após um ano, a densidade nas
comunidades estabelecidas pelos melhores tratamentos - transferência de topsoil e
46
transplante de material vegetal, representam 22% e 20%, respectivamente, da densidade
registrada no campo cerrado de referência (Figura 9c e 9e).
Figura 9: Evolução da densidade média (indivíduos por metro quadrado) ao longo de um
ano, para comunidades de campo cerrado resultantes de diferentes técnicas de restauração:
(a) remoção de acículas, (b) semeadura de capins nativos, (c) transposição de topsoil, (d)
transposição de topsoil combinado com semeadura de capins e (e) transplante de material
vegetal. A linha horizontal azul representa a densidade encontrada no campo cerrado de
referência. O primeiro ponto da curva corresponde à observação realizada aos 25 dias após
aplicação dos tratamentos. As barras em cada observação representam o erro padrão da
média.
A cobertura vegetal apresentou tendência linear ao longo do tempo para todos os
tratamentos (Figura 10). Para os dois tratamentos mais bem sucedidos - transposição de
topsoil (10c) e transplante de material vegetal (10e) - a cobertura do solo do ecossistema de
47
referência é uma meta factível de ser atingida em intervalo de tempo razoável para projetos
de restauração (três e dois anos, respectivamente), estimado a partir da regressão.
Figura 10: Evolução da média de cobertura do terreno ao longo de um ano para
comunidades de campo cerrado em processo de restauração pelas técnicas: (a) remoção de
acículas, (b) semeadura de capins nativos, (c) transposição de topsoil, (d) transposição de
topsoil combinado com semeadura de capins e (e) transplante de material vegetal. A linha
horizontal azul representa a cobertura média encontrada no campo cerrado de referência. O
primeiro ponto da curva corresponde à observação realizada aos 25 dias após aplicação dos
tratamentos. As barras em cada observação representam o erro padrão da média.
Similaridade florística
O transplante de material vegetal foi a única técnica que resultou em comunidade
floristicamente semelhante ao ecossistema de referência (ISj = 28%). Com este tratamento
48
foi possível, no período de um ano, recuperar 34% das espécies que ocorrem no campo
cerrado de referência (Figura 11). Os demais tratamentos apresentaram índices de
similaridade de Jaccard inferiores a 25% (topsoil ISj = 12%, semeadura ISj = 11%,
topsoil+semeadura = 13% e remoção de acículas ISj = 7%, controle = 1%).
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
C R S T TS TR
Figura 11: Porcentagem do número total de espécies amostradas no ecossistema de
referência (campo cerrado) que se estabeleceram pelas diferentes técnicas de restauração no
período de um ano de monitoramento: Controle (C), Remoção das acículas (R), Semeadura
(S), Topsoil (T), Topsoil+semeadura (TS), Transplante de material vegetal (TR).
A comunidade estabelecida na área em restauração pela transferência de
topsoil+semeadura foi floristicamente semelhante ao topsoil disposto para germinar em
condições de viveiro (ISj de 25%). Este tratamento apresentou 42% de espécies em comum
com o topsoil que germinou no viveiro. Para o tratamento apenas com topsoil essa
porcentagem foi de 32%, não apresentando, porém, similaridade com o topsoil levado para
o viveiro (ISj = 19%). No entanto, o número de espécies foi praticamente o mesmo para
ambos (topsoil+ semeadura=20 e topsoil=19 espécies).
Esp
écie
s (%
)
49
Resiliência das áreas fonte de propágulos
A riqueza nas clareiras abertas após a remoção da vegetação e do topsoil que foram
utilizado nas técnicas de restauração atingiu o número de espécies presentes no momento
anterior à retirada do material em 327 dias, apresentando tendência à estabilização (Figura
12a). Quando avaliamos a evolução da densidade de plantas (Figura 12b), houve
incremento ao longo do tempo, ultrapassando os valores anteriores ao distúrbio em 34%. O
tempo para recuperação dos valores anteriores ao distúrbio foi de 144 dias, com tendência
de estabilização.
A cobertura foi a única variável que não atingiu, nas clareiras em regeneração, os
valores encontrados na condição pré-distúrbio, dentro do período de quase um ano de
observações. Estimamos, com base na equação gerada a partir da regressão linear, que o
tempo necessário para as clareiras alcançarem os valores de cobertura do ecossistema de
referência (momento anterior ao distúrbio) será de 652 dias (Figura 12c).
50
Figura 12: Evolução da (a) riqueza média (número de espécies por parcela), (b) densidade
média (expressa em indivíduos por metro quadrado) e (c) cobertura média do terreno (%)
ao longo do tempo para comunidade de campo cerrado após distúrbio por abertura de
clareiras. A linha horizontal azul representa os valores de referência anteriores ao distúrbio.
O primeiro ponto da curva corresponde à observação realizada aos 25 dias após a abertura
das clareiras. As barras em cada observação representam o erro padrão da média
Aos 100 dias após a abertura das dez clareiras, aproximadamente 70% dos
indivíduos que as colonizaram eram oriundos da rebrota por raízes remanescentes mediante
o distúrbio. Dentre as espécies que apresentaram rápida colonização por rebrota,
destacaram-se, pela abundância, as espécies Andira humilis Mart. ex Benth., Aspicarpa
pulchella (Griseb.) O'Donell & Lourteig, Eugenia anomala D.Legrand, Licania humilis
Cham. & Schltdl e Pradosia brevipes (Pierre) T.D.Penn. Dentre as espécies com
capacidade de rebrota (anexo 1), 10 foram capazes de se estabelecer na área em processo de
restauração, sendo o transplante de material vegetal o tratamento mais efetivo em recuperar
esse grupo funcional (28% das espécies).
Discussão
Nosso estudo traz importantes avanços relativos à restauração de fisionomias
campestres do Cerrado, considerando-se não só os grandes desafios tecnológicos existentes
para a restauração de vegetações campestres tropicais, mas também a rápida degradação
51
que esses ecossistemas vêm sofrendo (Sano et al. 2009). Dentre os tratamentos de
restauração testados para o campo cerrado, a simples remoção da camada de acículas foi
melhor do que não efetuar nenhuma intervenção, uma vez que este material remanescente
da invasão pelo Pinus constitui forte barreira para a regeneração natural do ecossistema na
área experimental. O transplante de material vegetal foi a técnica de restauração mais
efetiva em termos de recuperação da riqueza de espécies endêmicas e da cobertura do solo
exposto na área experimental, sendo o único tratamento que resultou em comunidade
floristicamente similar ao ecossistema de referência no período de um ano. A transferência
de topsoil foi a segunda melhor técnica, mas neste caso a cobertura do terreno evolui em
ritmo mais lento em comparação com o transplante.
A semeadura direta de gramíneas nativas do campo cerrado após a remoção das
acículas e a simples remoção da camada de acículas apresentaram os piores resultados entre
as técnicas testadas, diferentemente do encontrado para outras fisionomias campestres do
mundo, nas quais a semeadura de gramíneas e de outros grupos funcionais tem apresentado
bons resultados (Rydgren et al. 2010,Török et al. 2011,Coiffait – Gombault et al. 2012,
Jaunatre et al. 2012). Geralmente, esses ecossistemas são compostos por espécies herbáceas
anuais (Coiffait – Gombault et al. 2012, Jaunatre et al. 2012), o que facilita técnicas de
restauração utilizando semeadura, uma vez que plantas com ciclo de vida anual apresentam
boas taxas de germinação. Nos testes de germinação em viveiro e em condições controladas
obtivemos baixas taxas de germinação para as sementes de gramíneas utilizadas, assim
como tem sido observado para espécies não arbóreas do Cerrado em estudos anteriores
(Lima et al. 2014, Le Stradic et al. 2015).
As maiores taxas de germinação obtidas em condições de viveiro, em comparação
com condições de temperatura constante em germinador, são evidências de que estas
condições não reproduzem o ambiente ideal para a germinação dessas espécies. A
dormência de sementes ocorre em muitas espécies herbáceas de ambientes savânicos, como
estratégia para prevenir o estabelecimento em condições desfavoráveis (Baskin e Baskin
2014). Porém, a baixa viabilidade das sementes também é comum em gramíneas do
cerrado, destacando-se o gênero Axonopus (Carmona 1999). São necessários novos testes,
com outras espécies de gramíneas nativas do cerrado, testando outras técnicas de
germinação, e incluindo métodos para a quebra de dormência. Encontrar pelo menos uma
52
espécie herbácea nativa que apresente bom desenvolvimento e rápida capacidade de
recobrir o solo exposto é um grande desafio para a restauração pelo menos, da estrutura da
vegetação campestre do Cerrado. Uma vez reabilitada a área degradada por pelo menos
uma espécie nativa, a riqueza poderia ser reintroduzida aos poucos por meio de técnicas
suplementares, tais como a transposição de topsoil e transplante de material vegetal.
A espécie de gramínea semeada que apresentou melhores taxas de germinação na
área experimental foi Aristida megapotamica var. brevipes. No entanto, sua germinação,
tanto em viveiro quanto em germinador, foi muito baixa. Essa gramínea germinou ainda
melhor no tratamento de topsoil combinado com semeadura, o que pode indicar que no
topsoil se encontram sementes que já superaram a dormência ou que o topsoil contém
propriedades que facilitam sua germinação. Juntamente com o topsoil são transportados
fungos micorrízicos e nutrientes, que podem permitir melhores condições para o
estabelecimento das plântulas nas áreas em processo de restauração (Neto et al. 2010),
especialmente em locais como a área experimental deste estudo, onde a estrutura e a vida
microbiana do solo foram profundamente modificadas pela invasão por Pinus. Alguns
estudos já demonstraram o efeito positivo de fungos micorrízicos no estabelecimento e
crescimento de espécies do gênero Aristida em regiões savânicas (Veenendaalet al. 1992,
Martins et al. 1999).
A baixa velocidade com que a cobertura da comunidade estabelecida a partir da
transposição de topsoil evolui e a falta de sucesso nos tratamentos com semeadura direta
demonstram que os filtros que impedem a regeneração natural na área experimental não
estão relacionados com a chegada de propágulos em si, mas sim com as condições adversas
para o estabelecimento das plântulas. A baixa proporção (58%) de espécies que estavam no
topsoil, mas só germinaram e se estabeleceram no viveiro sob irrigação, reforça esta
conclusão e aponta a restrição hídrica como fator limitante ao estabelecimento. Por isso, o
transplante configura-se em técnica promissora, uma vez que supera o filtro para o
estabelecimento. Os indivíduos transplantados podem criar núcleos, alterando condições
edafoclimáticas em microescala, permitindo o estabelecimento de outras plantas. Diante
disso, o transplante de material vegetal poderia ser usado em conjunto com a transferência
de topsoil, uma vez que as plantas transplantadas podem melhorar as condições ambientais
para a germinação das sementes presentes no topsoil. No entanto, devemos considerar que a
53
principal estratégia de regeneração da maioria das plantas de vegetações savânicas é por
rebrotamento e não pelo estabelecimento a partir de sementes (Bond e Midgley 2001), fato
que pode explicar o sucesso do transplante em comparação com o topsoil.
Tanto a transferência de material vegetal quanto o transplante de topsoil são técnicas
consideradas destrutivas e de alto custo (Török et al. 2011), uma vez que dependem da
perturbação de uma área conservada doadora de propágulos. Portanto, essas técnicas só são
viáveis se a área de onde o material for retirado apresentar boa capacidade de regeneração.
As clareiras abertas no campo cerrado de referência apresentaram recuperação em riqueza e
densidade em menos de um ano, ou seja, a resiliência do ecossistema fonte mediante a
técnica adotada de extração de propágulos não causa impactos significativos. Esta área está
há nove anos sem ocorrência de fogo e, portanto, vem passando por um consequente
aumento de biomassa, como observado em outras fisionomias savânicas (Pinheiro e
Durigan 2008, Bond e Parr 2010, Staver et al. 2011). Com a supressão do fogo aumenta a
biomassa de capins, viva e morta, que pode suprimir, pelo sombreamento, espécies
herbáceas e subarbustivas, predominantemente heliófitas. Portanto, a abertura de clareiras
quando da extração de material para restauração em outro local promoveu efeito positivo
análogo ao do fogo, aliviando a competição por recursos, especialmente luz, e assim
permitindo que um conjunto maior de espécies pudesse se regenerar, inclusive em maior
densidade.
A única variável que não atingiu os valores anteriores à condição pré-distúrbio foi a
porcentagem de cobertura vegetal no interior das clareiras, mas a previsão é de que este
processo não demore mais que dois anos. Nosso estudo mostra que o campo cerrado
utilizado como área fonte de propágulos apresentou alta resiliência ao distúrbio que
induzimos quando abrimos clareiras para remoção do solo superficial. Atribuímos essa
resiliência à capacidade de rebrota de estruturas subterrâneas remanescentes da retirada do
material utilizado nas técnicas de restauração. Este fato nos leva a inferir que o componente
que mantém o campo cerrado em um estado resiliente são as espécies capazes de rebrotar
após uma perturbação ou degradação induzida, ou seja, subarbustos com sistema
subterrâneo altamente desenvolvido. Portanto, ações de restauração devem contemplar a
reintrodução de espécies nativas com capacidade de rebrota, importante grupo funcional
das fisionomias campestres (Zaloumis e Bond 2011), que irão garantir a resiliência dos
54
ecossistemas em processo de restauração frente a distúrbios inerentes ao campo cerrado.
Foi possível restaurar esse componente principalmente por meio da transposição de
material vegetal. Ferreira et al. (2015) obtiveram alto número de espécies com capacidade
de rebrota a partir da transferência de uma espessa camada de topsoil em uma área em
processo de restauração de cerrado no Brasil. No entanto, a extração de topsoil em maiores
profundidades poderia comprometer a resiliência da área fonte de propágulos.
Conclusão
Podemos concluir que é possível restaurar o campo cerrado utilizando áreas naturais
como fonte de propágulos sem degradá-las. A compreensão dos processos ecológicos
envolvidos na resiliência dos ecossistemas naturais mediante distúrbio permite fazer
importantes inferências sobre como restaurar a resiliência de ecossistemas degradados.
Contudo, cabe a ressalva de que uma sobre-exploração pode levar a um colapso dos
sistemas naturais. Não temos elementos para avaliar até que ponto, em termos de dimensão
espacial ou intensidade do distúrbio decorrente da extração de material (topsoil e
transplantes), a extração é possível sem comprometer a capacidade de regeneração do
ecossistema. Mas, considerando-se que a cobertura do solo é a propriedade que se recupera
mais lentamente (em comparação com a riqueza ou densidade de plantas nas áreas fonte),
este é um bom indicador que pode ser aplicado para monitorar a recuperação das áreas
fonte, no caso do campo cerrado.
Quando comparamos a riqueza, densidade e cobertura da comunidade em processo
de restauração com o ecossistema de referência, os resultados ainda estão muito inferiores
aos valores encontrados no campo cerrado preservado. Porém, já podemos afirmar que o
transplante de material vegetal e a transferência de topsoil apresentam potencial para, no
mínimo, reabilitar áreas altamente degradadas de campo cerrado cuja resiliência foi
perdida, reestabelecendo importantes serviços ecossistêmicos envolvidos com a proteção do
solo contra erosão e a manutenção dos processos hidrológicos. Uma vez que o
restabelecimento da resiliência é um dos principais requisitos para se considerar restaurado
um ecossistema, o transplante de material vegetal apresenta resultados promissores até
mesmo para fisionomias campestres altamente degradadas, cujo banco de estruturas
55
subterrâneas tenha sido destruído. O desafio passa a ser o desenvolvimento de tecnologias
que possibilitem a aplicação das técnicas em larga escala.
56
Transição para o capítulo II
No capítulo I demonstramos a viabilidade de restaurar o campo cerrado após
massiva invasão por Pinus elliottii Engelm. var. elliottii, que resultou em um terreno
praticamente estéril, sem indícios de regeneração natural após quatro anos de abandono.
Para isso, tivemos sucesso utilizando áreas naturais como fonte de propágulos. O
ecossistema de referência utilizado como fonte de material para a restauração apresentou
rápida recuperação, atestando a eficácia da transposição de topsoil e transplante de material
vegetal como técnicas de restauração dessa fisionomia. Contudo, a invasão por Pinus não
ocorre apenas no campo cerrado, sendo uma grande ameaça para zonas úmidas do Cerrado,
especialmente em fisionomias campestres (Zanqueta e Pinheiro 2007, Almeida et al. 2010).
Se a literatura sobre conservação e restauração do campo cerrado é escassa, para
veredas a situação é ainda pior. Veredas são fisionomias campestres ocorrentes no domínio
do Cerrado, sendo comum a presença de Mauritia flexuosa L. f. em algumas regiões
(Oliveira -Filho e Ratter 2002). No Estado de São Paulo, os buritis aparecem apenas no
extremo norte do estado, onde as geadas são muito raras, de modo que as veredas em geral
têm o aspecto de um campo úmido e são usualmente assim denominadas. Essa vegetação
apresenta alto valor para conservação, estando diretamente relacionada com a provisão de
recursos hídricos no país, além de serem hábitats para grande quantidade de espécies
endêmicas (Roselon et al. 2015). No Brasil, as zonas úmidas do Cerrado são altamente
negligenciadas, refletindo na ausência de instrumentos jurídicos para sua conservação e de
programas adequados para sua restauração ecológica. A título de ilustração dessa questão,
podemos citar as doze áreas úmidas que o país incorporou à lista Ramsar (Brasil, 2015), em
que apenas uma dessas áreas (Ilha do Bananal) representa as zonas úmidas existentes no
Cerrado. No domínio do Cerrado se encontra o chamado “arco das nascentes”, sendo essa a
região das nascentes dos rios que abastecem oito das doze grandes regiões hidrográficas
brasileiras (Lima e Silva 2008) (Figura 13). A ausência de áreas de veredas na lista Ramsar
é reflexo do total desconhecimento da importância dessas fisionomias na manutenção dos
recursos hídricos nacionais.
57
Figura 13: Localização do Cerrado e do Arco das Nascentes em relação às doze bacias
hidrográficas brasileiras. Pontos escuros no mapa representam áreas Ramsar de proteção.
(Adaptado de: Lima e Silva 2008, RAMSAR: www.ramsar.org).
Pouco se sabe sobre a abrangência geográfica das veredas no país e não existem
análises indicando o seu estado de conservação (França e Sano 2011). Contudo, sabe-se que
a taxa de conversão dessas áreas pela intensificação e expansão da agricultura é muito alta
(Roselon et al. 2015) e que as alterações nessas comunidades após invasão por Pinus são
profundas (Abreu e Durigan 2011). Diante deste cenário, o principal objetivo do capítulo II
desta dissertação foi explorar técnicas de restauração ecológica dessa vegetação.
58
CAPÍTULO II
Transplante de material vegetal e semeadura como técnicas de restauração de vereda
Área experimental de restauração de vereda após invasão massiva por Pinus. À esquerda,
camada de acículas remanescente da invasão; à direita, regeneração natural promovida pela
retirada de acículas.
59
Transplante de material vegetal e semeadura como técnicas para a restauração de
vereda
Resumo
Fisionomias campestres que ocupam terrenos úmidos em regiões de Cerrado
desempenham importantes serviços ecossistêmicos, especialmente aqueles relativos à
manutenção dos processos hidrológicos e garantia da produção de água e de sua qualidade.
Porém, essas áreas estão sendo destruídas muito rapidamente, não são adequadamente
mapeadas, não são devidamente protegidas pelas leis ambientais vigentes e não existem
técnicas de restauração ecológica para a recuperação desses ecossistemas em áreas que já
tenham sido degradadas. Neste contexto, visamos, com este estudo, testar a efetividade da
semeadura de capins nativos e o transplante de material vegetal como técnicas de
restauração para a vereda. O experimento foi desenvolvido na Estação Ecológica de Santa
Bárbara, Águas de Santa Bárbara, SP, em área de vereda que foi massivamente invadida
por Pinus elliottii var. elliottii. Aos dois anos após a derrubada das árvores invasoras (que
não foram retiradas do local), instalamos experimento de técnicas de restauração da vereda,
comparando os seguintes tratamentos: 1) controle (sem remoção da camada de acículas), 2)
remoção da camada de acículas, 3) semeadura de capins nativos da vereda e 4) transplante
de material vegetal. Para a extração do material vegetal abrimos clareiras de 1m² em uma
vereda preservada, que também foi utilizada como ecossistema de referência. Monitoramos
a comunidade vegetal nas clareiras ao longo do tempo para determinar se a vereda
conservada era resiliente frente a esse distúrbio. Monitoramos também a profundidade do
lençol freático nas áreas experimentais, para verificar se este fator influenciaria os
resultados. Dentre as técnicas de restauração testadas, a transferência de material vegetal
apresentou os melhores resultados em termos de recuperação da riqueza e da cobertura
vegetal em período de tempo mais curto. No entanto, a simples remoção da camada de
acículas permitiu o restabelecimento do potencial de regeneração natural da vereda
previamente invadida por pinus. A área fonte de propágulos apresentou alta resiliência
frente ao distúrbio de extração do material utilizado para restauração, atingindo
rapidamente os valores de riqueza da comunidade pré-distúrbio, atestando a efetividade do
transplante de material vegetal de áreas conservadas como técnica para a restauração de
60
veredas degradadas. Portanto, concluímos que é possível restaurar a vereda utilizando áreas
naturais como fonte propágulos sem degradá-las. Caso exista fonte de propágulos nas
proximidades da área degradada, a recobertura do terreno pode ser desencadeada pela
simples remoção da camada de acículas, expondo o solo à colonização pela chuva de
sementes.
Palavras – chave: capins nativos, Cerrado, invasão biológica, regeneração natural,
resiliência, vereda
Introdução
Zonas úmidas cobrem pelo menos 6,5% da superfície do planeta (Russi et al. 2013),
sendo responsáveis por 40% dos serviços ecossistêmicos globais renováveis (Costanza et
al. 1997). Dentre os diversos serviços ecossistêmicos que dependem da integridade dessas
zonas, podemos citar a purificação da água, controle de sedimentos, controle de erosão,
regulação do nível dos corpos d’água, reabastecimento de aquíferos e sequestro de carbono
(Zedler 2000, Weisberg et al. 2013, Russi et al. 2013). No Brasil, aproximadamente 20% do
território é coberto por áreas úmidas (Junk et al. 2014). No entanto, são poucos os estudos
dedicados ao levantamento e caracterização de ecossistemas associados a esses ambientes,
principalmente dentro do domínio do Cerrado (Araújo et al. 2003, Tannus e Assis 2004,
Munhoz e Felfili 2007, Eugênio et al. 2011), evidenciando a necessidade de estudos
ecológicos e inventários em escala nacional (França e Sano 2011).
As fisionomias campestres presentes em terrenos úmidos no Cerrado recebem
denominações como campos úmidos, campos limpos úmidos, campos sujos úmidos,
veredas ou campos de murundus, havendo divergência entre autores sobre a delimitação e
definição dessas diferentes fisionomias. Ribeiro e Walter (2008), ao caracterizarem
detalhadamente os tipos fisionômicos do Cerrado, diferenciam os campos (limpos ou sujos)
úmidos das veredas porque estas se destacam na paisagem pela presença de palmeiras,
especialmente buritis. A presença das palmeiras seria, portanto, a única diferença entre
veredas e campo úmidos. Porém, exceto pelas palmeiras, a composição florística e os
processos ecológicos são muito semelhantes entre esses tipos vegetacionais. Por essa razão,
61
Oliveira-Filho e Ratter (2002) agrupam todas aquelas fisionomias sob o termo vereda, que
definem como vegetação campestre em terrenos sujeitos à saturação hídrica pela elevação
do lençol freático na estação chuvosa, podendo ocorrer conjuntos de buritis. Esta parece ter
sido a definição adotada no texto da nova lei ambiental brasileira (Lei 12.651, de 25 de
maio de 2012), em seu Art. 3º. inciso XII:
"vereda: fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos,
usualmente com palmáceas, sem formar dossel, em meio a agrupamentos de
espécies arbustivo-herbáceas".
Pela definição da lei, portanto, campos úmidos são considerados veredas, mesmo
que não possuam palmeiras. Para veredas, a Lei 12.651 estabelece como área de
preservação permanente - APP uma faixa ao redor da área úmida, de modo que o
ecossistema, em si, fica desprotegido:
Art. 4o. inciso XI – em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal,
com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço brejoso e
encharcado. (Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).
As veredas apresentam altos níveis de endemismos e elevado valor como habitat
para a fauna, exercendo importantes serviços ecossistêmicos, principalmente referentes à
manutenção dos recursos hídricos (Cianciaruso e Batalha 2008, Russi et al. 2013). No
entanto, são cenários altamente ameaçados devido à rápida conversão para uso
agropecuário, plantações florestais ou pela invasão por espécies arbóreas exóticas do
gênero Pinus (Zanchetta e Pinheiro 2007, Almeida et al. 2010, Roselon et al.2015), não
havendo estimativas do quanto já foi perdido. Assim, o que se verifica é a necessidade
urgente de políticas públicas específicas para a conservação desses ecossistemas (Junk et al.
2014, Roselon et al. 2015), bem como o desenvolvimento de técnicas consolidadas para a
sua restauração. Dentro do mosaico vegetacional que compõe o Cerrado, as fisionomias que
ocupam áreas úmidas destacam-se pelo importante papel que exercem durante a estação
seca, pois são importantes locais de refúgio e fontes de recursos para a fauna. Atualmente,
pouco se sabe sobre a estrutura das comunidades vegetais nas veredas, ou sobre sua
composição biológica, ciclagem de nutrientes, dinâmica e funcionamento, o que dificulta
62
ações concretas e formulação de políticas públicas para sua conservação e manejo, bem
como para a sua restauração (Oliveira et al. 2009).
Em 1993, o Brasil tornou-se signatário da Convenção sobre Zonas Úmidas de
Importância Internacional, conhecida como Convenção Ramsar (Brasil, 2015). Doze áreas
no Brasil foram declaradas e incorporadas à lista Ramsar desde então. Porém, apenas uma
dessas áreas (Ilha do Bananal) representa as zonas úmidas existentes no Cerrado. O Cerrado
desempenha importante papel em relação aos recursos hídricos do país. Nesta região se
encontram nascentes dos rios que abastecem oito das doze grandes regiões hidrográficas
brasileiras (Lima e Silva 2008), como, por exemplo, rio Araguaia, Tocantins, Xingu, São
Francisco, Paranaíba e Paraná. A ausência dessas áreas entre os sítios Ramsar é evidência
da total negligência das zonas úmidas do Cerrado, que reflete na ausência de instrumentos
jurídicos específicos para sua restauração e conservação (Junket al. 2014, Roselon et al.
2015). Adicionalmente, é comum que se recomende ou até mesmo que se execute o plantio
de árvores sobre campos úmidos naturais, visando à "restauração da mata ciliar". Estas
ações, em vez de beneficiar a conservação, levam a perdas de importantes hábitats e
funções ecossistêmicas que diferem daqueles promovidos por florestas ripárias (Weisberg
et al. 2013), sendo um fator a mais de degradação. Neste contexto, além de políticas
públicas para a conservação, faz-se necessário o desenvolvimento de técnicas de
restauração específicas para fisionomias campestres úmidas, que em muito diferem do que
vem sendo aplicado na restauração de florestas ripárias.
Em outras regiões do mundo, zonas úmidas campestres já contam com legislação
específica para sua conservação e com técnicas de restauração ecológica consolidadas,
principalmente no hemisfério norte (Pywell et al. 1995, Tiner 1999, Rasran et al 2007,
Hölzel e Otte 2003, Klimkowska et al 2010). Técnicas baseadas na transposição de material
vegetal (e.g. turfa) ou semeadura direta de espécies endêmicas têm se mostrado efetivas na
restauração de campos úmidos temperados (Pywell et al. 1995, Donath et al. 2006, Kiehl et
al. 2010, Törok et al. 2011). No entanto, nenhuma dessas técnicas foi testada na restauração
de campos úmidos brasileiros.
Neste estudo, objetivamos testar a efetividade do transplante de material vegetal e a
semeadura de capins nativos como técnicas de restauração ecológica para a vereda
anteriormente invadida por Pinus elliotti Engelm var. elliottii, doravante denominado Pinus
63
neste estudo. Entendemos que o transplante de material vegetal é uma técnica destrutiva
que pode envolver a degradação de uma área fonte de propágulos (Pywell et al. 1995). Por
isso, monitoramos a cicatrização da vereda fonte, uma vez que sua resiliência pode atestar a
efetividade da técnica. A resiliência é definida como o tempo necessário para que o
ecossistema retorne à configuração característica do estado anterior à degradação (Pimm
1984, Gunderson 2000, Folke et al. 2004). Com este estudo, buscamos elucidar as seguintes
questões: 1) É possível restaurar a vereda após massiva invasão por Pinus? 2) Entre as
técnicas testadas, qual é a mais efetiva em recuperar a estrutura e a diversidade da vereda
degradada? 3) Veredas naturais podem ser fonte de propágulos para a restauração de áreas
degradadas sem que seja comprometida sua resiliência?
Material e Métodos
Local de estudo
Realizamos este estudo na Estação Ecológica de Santa Bárbara - EEcSB, que ocupa
área de aproximadamente 2700 ha, localizada no município de Águas de Santa Bárbara -
SP, entre as coordenadas geográficas 22°46’ a 22°41’ S e 49°16’ a 49°10’ W. O clima da
EEcSB é caracterizado como Cfa – clima quente e úmido com inverno seco, segundo a
classificação de Köppen, sujeita a geadas esporádicas (Alvares et al. 2013). A temperatura
média dos meses mais frios é de 18°C e a dos meses mais quentes ultrapassa 22°C, com
índices pluviométricos anuais de 1000 a 1300 mm. O solo da região é caracterizado de
forma geral como Latossolo Vermelho, mas os campos úmidos ocorrem sobre Neossolo
Quartzarênico hidromórfico, que se caracteriza pelos altos teores de areia, acidez e teores
de alumínio elevados e baixa fertilidade. A EEcSB apresenta extensas áreas invadidas por
Pinus, especialmente em zonas úmidas, situadas ao redor das nascentes e ao longo das
margens de dezenas de cursos d'água existentes na área protegida. A espécie invasora, que
já ocupou maciçamente cerca de 132 ha na EEcSB (Melo e Durigan 2011), vem sendo
erradicada gradualmente. No entanto, em áreas de invasão maciça onde a operação de
manejo já foi executada, o ecossistema não tem apresentado potencial de regeneração
natural. O experimento de restauração foi instalado em uma das áreas onde a erradicação da
espécie invasora foi realizada, situada na Zona de Recuperação e o experimento de
64
resiliência na Zona de Interferência Experimental, segundo as normas do Plano de Manejo
da unidade (Melo e Durigan 2011).
Desenho experimental
O estudo compreendeu dois experimentos, instalados em áreas ocupadas
originalmente por vereda, ao redor das nascentes de dois pequenos córregos no interior da
EEcSB. O primeiro experimento consistiu na comparação de técnicas de restauração em
áreas onde as árvores de Pinus haviam sido erradicadas dois anos antes da instalação do
experimento, após um período aproximado de 20 anos de invasão, que causou a total
supressão da vegetação nativa. O segundo experimento tratou da avaliação da resiliência da
vereda natural, após a extração de material que foi utilizado para a restauração em outro
local (Figura 14).
Figura 14: Vista das áreas experimentais antes da instalação dos experimentos. (a) Vereda
de referência e (b) vereda após erradicação de Pinus elliotii, Estação Ecológica de Águas de
Santa Bárbara, Águas de Santa Bárbara, SP.
Experimento1: técnicas de restauração
Adotamos o desenho experimental em blocos ao acaso (os tratamentos aleatorizados
dentro de cada bloco), sendo 10 blocos distantes em pelo menos 10 metros entre si.
Aplicamos os tratamentos de restauração em parcelas circulares de 1 m² (113 cm de
diâmetro), que tinham a superfície em ligeira depressão em relação ao restante do terreno,
65
devido à remoção da camada de acículas e de seus restos em decomposição. No centro de
cada uma das parcelas fixamos uma estaca numerada permanente, de PVC azul, para fácil
visualização. A área de cada parcela, quando da aplicação dos tratamentos e da coleta de
dados, foi delimitada por um anel rígido de PVC (móvel). Cada bloco continha uma
repetição de cada um dos seguintes tratamentos:
Tratamento 1: Controle (C): sem nenhuma intervenção. Após a retirada da espécie
invasora, a camada de acículas, com espessura aproximada de 5 cm, foi mantida intacta,
representando a condição do ecossistema em áreas de veredas invadidas, após a erradicação
da invasora.
Tratamento 2. Remoção de acículas (R): removemos a camada de acículas de modo a
manter o solo nu, para facilitar a emergência eventual de banco de sementes ou a
colonização por chuva de sementes.
Tratamento 3. Semeadura direta (remoção de acículas + semeadura) (S): após a remoção
das acículas, semeamos diretamente na superfície do terreno a mistura de sementes de seis
espécies de gramíneas nativas da vereda de referência (Andropogon virgatus Desv. ex
Ham., Axonopus brasiliensis (Spreng.) Kuhlm., Axonopus siccus (Nees) Kuhlm., Panicum
parvifolium Lam., Paspalum cordatum Hack. e Paspalum hyalinum Nees ex Trin.), na
densidade de 600 sementes por metro quadrado, sendo 100 sementes de cada espécie.
Cobrimos as sementes com uma fina camada de solo a fim de reduzir a predação e o
espalhamento pelo vento. Com este tratamento, esperávamos simular a chuva de sementes
como processo indutor da colonização das parcelas.
Tratamento 4. Transplante (remoção de acículas + transplante) (TR): após a remoção das
acículas, transplantamos o material oriundo do campo natural. O material transplantado foi
retirado de dez clareiras de 1 m² (touceiras de gramíneas e plantas inteiras), acompanhado
das placas de solo + matéria orgânica que vieram fortemente aderidas às raízes. Assim, a
proporção entre a área fonte e a área em restauração foi de 1:1.
Experimento 2: Avaliação da resiliência
Avaliamos a resiliência em 10 clareiras (parcelas circulares) de 1m² abertas na
vereda natural. A distribuição espacial das clareiras foi feita buscando representar toda a
66
mancha de vereda existente ao redor das nascentes difusas de um pequeno córrego.
Avaliamos a resiliência com base no tempo necessário para cicatrização da cobertura
vegetal e recuperação da riqueza de espécies vegetais no interior das clareiras de onde foi
retirado o material para restauração por transplante no experimento anterior. Todo o
material vegetal vivo (plantas e seus sistemas subterrâneos), mais a serapilheira e o solo
foram retirados com o uso de enxadão, enxada e pá, até uma profundidade aproximada de 5
cm. No centro de cada uma das parcelas fixamos uma estaca numerada permanente, de
PVC azul, para fácil visualização. Durante a aplicação dos tratamentos e a cada coleta de
dados, delimitávamos a área circular de cada parcela utilizando um anel rígido de PVC
(móvel).
Procedimentos para instalação dos experimentos
Para a instalação dos experimentos retiramos o material vegetal das parcelas do
experimento de resiliência e realizamos a colheita de sementes de gramíneas. Como a
flutuação do lençol freático poderia afetar o sucesso das técnicas de restauração, bem como
a recuperação das clareiras, instalamos poços piezométricos nos dois experimentos. Os
poços foram abertos com trado, em profundidade suficiente para expor o lençol freático
mesmo nas épocas mais secas do ano. Em cada poço foi instalado um cano de PVC de 2",
com as laterais perfuradas e revestidas por manta geotextil, de modo a permitir a passagem
da água e evitar a passagem de partículas de solo. As medições eram feitas com um
piezômetro que consiste em uma trena graduada acoplada a um sensor que emite sinal
sonoro em contato com a água.
Coleta e transplante de material vegetal
Antes da extração do material, efetuamos poda de toda a vegetação a ser
transplantada, à altura aproximada de 10 cm, utilizando roçadeira costal (STIHL F5 160, a
gasolina), para diminuir a transpiração e, portanto, o estresse por deficiência hídrica dos
indivíduos transplantados. O material a ser transplantado (placas de solo + sistemas
subterrâneos + plantas) foi retirado em camada de 5 cm de profundidade, que é onde se
concentra a maior parte das sementes e o emaranhado de raízes na vereda, utilizando-se
enxadão, enxada e pá. A coleta do material foi feita no final da estação chuvosa (março de
67
2014), período em que a maioria das gramíneas dispersa suas sementes na vereda (Tannus
et al. 2006).
Antes do plantio, o material extraído das 10 parcelas foi homogeneizado
(subdivididas as placas obtidas de cada clareira e as partes misturadas, de modo a obter
composição floristicamente semelhante para todas as dez parcelas de 1 m² a restaurar) e em
seguida distribuído nas dez parcelas experimentais de restauração que receberam este
tratamento. Distribuímos as touceiras no interior das parcelas sobre a terra nua e
preenchemos o espaço entre elas com o solo que foi retirado da área natural junto com as
touceiras.
Obtenção de sementes e testes de germinação
As sementes foram coletadas manualmente no período correspondente ao final da
estação da estação chuvosa (fevereiro-março 2014), na EEcSB, período em que ocorre o
pico de dispersão de sementes de gramíneas nas fisionomias campestres do Cerrado
(Carmona et al. 1999, Tannus et al. 2006). Coletamos sementes de seis espécies de
gramíneas que apresentam alta frequência na vereda, de forma a obter uma mistura de
espécies que aumentasse a probabilidade de colonização por pelo menos algumas delas.
Para a determinação da qualidade fisiológica das sementes de todas as espécies coletadas,
realizamos testes de germinação. Os testes de germinação foram realizados com cinco
réplicas de 20 sementes para cada espécie em condições controladas (germinador a 25ºC
com fotoperíodo de 12h) e em condições de viveiro, que mais se aproximam das condições
de germinação em campo, eliminando-se o fator deficiência hídrica, já que no viveiro
houve irrigação duas vezes ao dia. Em condições de viveiro as sementes foram dispostas
sobre uma camada de subsolo com 5 cm de profundidade (Latossolo vermelho extraído de
área previamente ocupada por vegetação de Cerrado).
Caracterização do ecossistema de referência
Caracterizamos a comunidade vegetal na vereda natural para avaliação tanto da
eficácia das técnicas de restauração quanto da resiliência do ecossistema fonte.
Anteriormente à retirada do material que foi transposto, efetuamos levantamento florístico
detalhado (todas as formas de vida e todas as classes de tamanho) e quantificação da
68
cobertura da comunidade vegetal da vereda não perturbada, para gerar valores de referência
que pudessem ser comparados aos resultados experimentais. Para esta amostragem,
utilizamos as dez parcelas de 1 m² de onde seria extraído o material para transplante. As
espécies foram identificadas em campo, quando possível. Quando necessário, coletamos
material para identificação com base na literatura especializada ou por consulta a herbários
e especialistas. A relação de espécies amostradas foi utilizada, tanto nas análises de
resiliência quanto na avaliação das técnicas de restauração, como parâmetro de riqueza,
cobertura e composição florística do ecossistema que foi destruído ou em restauração.
A cobertura de cada parcela foi estimada visualmente em porcentagem da área da
parcela coberta por vegetação.
Caracterização do banco de sementes na área a ser restaurada
Consideramos necessário caracterizar o banco de sementes para isolar a
contribuição do banco de sementes pré-existente sob a camada de acículas remanescentes
das árvores invasoras, que foram erradicadas dois anos antes da instalação do experimento,
na área de restauração da vereda.
Realizamos teste em viveiro, onde o material coletado (camada de 3 cm de
espessura de solo superficial) foi depositado em cinco caixas de PVC com dimensões de 30
x 50 cm e altura de 10 cm, sobre uma camada de 5 cm de espessura de sub-solo arenoso,
que é utilizado como substrato no viveiro de mudas da Floresta Estadual de Assis, SP. Em
cada caixa, foi disposta sobre o solo uma amostra do banco de sementes com espessura de
10 mm. Cinco caixas contendo apenas solo do viveiro foram mantidas como controle, para
detectar possível contaminação.
Monitoramento da profundidade do lençol freático
Supondo que, na vereda, além dos tratamentos que estão sendo comparados, poderia
haver influência da profundidade do lençol freático na resiliência e no sucesso da
restauração, esta variável ambiental foi monitorada durante todo o período de observações.
Em um ponto central de cada bloco de parcelas da vereda em restauração e ao lado de cada
parcela de extração de material na vereda de referência foi aberto um poço piezométrico,
69
totalizando 20 poços. A profundidade do lençol freático foi medida a cada três meses, em
cada ocasião de coleta de dados.
Caracterização das comunidades vegetais ao longo do tempo
Para caracterização das comunidades vegetais ao longo do tempo nos dois
experimentos, adotamos os mesmos procedimentos utilizados para caracterizar o
ecossistema de referência.
Amostramos os dois experimentos (técnicas de restauração e resiliência da área
fonte de propágulos) em cinco ocasiões ao longo de um ano. Em cada ocasião, todas as
plantas em regeneração dentro de cada parcela foram identificadas e a cobertura do terreno
pela vegetação foi quantificada por estimativa visual. Não quantificamos a densidade, uma
vez que não foi possível individualizar as plantas dentro das parcelas, devido a expansões
radiculares, fato também observado em outros estudos em vereda (Munhoz et al. 2008).
Análise de dados
Os resultados de riqueza e cobertura para cada um dos tratamentos de restauração
aplicados na vereda foram comparados um ano após a instalação do experimento por
análise de variância com um fator (ANOVA), uma vez que todos os pressupostos para a
análise foram atendidos. Quando o teste apontou diferenças significativas realizamos o
teste post hoc (Tukey). Em todos os modelos estatísticos gerados foi declarado o efeito do
bloco, uma vez que o desenho experimental das técnicas de restauração foi em blocos ao
acaso. Para as comparações post hoc, utilizamos o pacote agricolae (Mendiburu, 2014).
Para o tratamento de semeadura, o sucesso de germinação foi quantificado em relação ao
potencial germinativo obtido em viveiro e em condições controladas em laboratório.
Modelamos a evolução das comunidades estabelecidas pelos seguintes tratamentos
de restauração: retirada de acículas, semeadura e transplante de material vegetal, por
análises da dispersão dos dados de cobertura e riqueza em função do número de dias após a
instalação do experimento. Selecionamos, para análise da trajetória das comunidades, a
equação que melhor se adequasse aos dados pelo maior valor de R2. Para cada regressão
extraímos um valor de p. O controle com acículas não foi modelado, uma vez que esse
permaneceu estável ao longo do monitoramento.
70
Calculamos a similaridade florística dos tratamentos de restauração com o
ecossistema de referência por meio do índice de similaridade de Jaccard (IS j), considerando
presença e ausência das espécies (Legendre e Legendre 2012). Na interpretação dos valores
de similaridade, adotamos o critério de Mueller-Dombois e Ellenberg (1974), pelo qual o
valor do índice deve ser superior a 25% para que duas comunidades sejam consideradas
floristicamente semelhantes.
Para investigar o efeito da profundidade do lençol freático sobre o ecossistema em
restauração, utilizamos modelos lineares simples, tendo como variáveis explanatórias a
profundidade máxima, a profundidade mínima e a amplitude de variação da profundidade
do lençol (∆) em cada bloco de parcelas durante todo o período de monitoramento. Como
variáveis resposta utilizamos a riqueza e a cobertura da comunidade vegetal das parcelas
experimentais ao final do período de observações. Para essa análise, foi contabilizada a
riqueza de cada bloco, sem descriminação de tratamento. A cobertura utilizada foi a média
das coberturas apresentadas nas parcelas experimentais dentro de cada bloco.
A resiliência do ecossistema na área fonte foi avaliada pelo ritmo de recuperação da
riqueza de espécies e da cobertura do solo exposto, em comparação com os valores
anteriores à indução do distúrbio. Modelamos a resiliência por análises da dispersão dos
dados de cobertura e riqueza em função do número de dias após a abertura das clareiras.
Selecionamos a equação que melhor se adequasse aos dados pelo maior valor de R2. Para
cada atributo extraímos um valor de p para o modelo selecionado, bem como estimamos o
tempo necessário para que a comunidade alcançasse os valores para aquele atributo
anteriores ao distúrbio (valores de referência).
Todas as análises foram realizadas utilizando o software R (R Development Core
Team 2014).
Resultados
Comparação entre técnicas de restauração ecológica
Quando comparamos o número médio de espécies por parcela, todos os tratamentos
foram superiores ao controle (F=100,3 e P<0,001) (Figura 15a). A comunidade em
processo de restauração proveniente do transplante de material vegetal apresentou maior
71
riqueza do que a simples retirada de acículas ou a semeadura, que não diferiram entre si
(Figura 15a). Assim como para a riqueza, em todas as intervenções de restauração a
cobertura (com valores superiores a 90%) foi superior às parcelas sem intervenção
(controle), em que a cobertura média foi de 2,5% (F= 936, 2 e P <0.001) (Figura 15b). A
cobertura resultante do transplante superou também os resultados da simples remoção de
acículas, mas não diferiu da semeadura, que por sua vez não diferiu da remoção de acículas.
Os resultados da semeadura não diferiram da simples remoção de acículas para nenhuma
das variáveis testadas (Figura 15). Embora todas as espécies semeadas tenham germinado
nas parcelas de semeadura, essas espécies, com exceção de Axonopus brasiliensis, foram
registradas também no tratamento que foram apenas removidas as
acículas (Anexo 2).
Os experimentos de germinação em condições controladas de viveiro e laboratório
para as espécies semeadas apontaram taxas de germinação muito baixas, inferiores a 20%,
tanto em viveiro quanto em condições constantes de temperatura e umidade (25ºC,
fotoperíodo de 12h) (tabela 2).
O banco de sementes da área experimental levado para o viveiro revelou um
conjunto muito pobre em espécies, apenas com presença de Bulbostylis hirtella (Schrad.)
Urb. (L.) C.B. Clarke e Scoparia dulcis L., indicando que a colonização das parcelas não
pode ter sido dirigida pelo banco de sementes.
72
Figura 15: Comparação da (a) riqueza e (b) cobertura de plantas nativas resultantes das
diferentes técnicas aplicadas para restauração da vereda um ano após a instalação do
experimento: C: controle; R: remoção de acículas; S: semeadura; TR: transplante. Colunas
encimadas por letras iguais não diferem entre si ao nível de 95% de probabilidade; as barras
ao alto de cada coluna representam o erro padrão da média amostral.
Tabela 2: Porcentagem de germinação das espécies de gramíneas utilizadas no tratamento
de semeadura para a vereda, em condições constantes de temperatura (25ºC) em câmara de
germinação e em condições de viveiro. Valores acompanhados pelo erro padrão.
Espécies Germinação
(%) 25ºC
Viveiro
(%)
Andropogon virgatus 1 ± 0,45 7 ± 8.37
Axonopus brasiliensis 0 ± 0,00 4 ± 4.18
Axonopus siccus 17 ± 2,07 16 ± 6.52
Panicum parvifolium 0 ± 0,00 5 ± 8.66
Paspalum cordatum 11 ± 0,84 12 ± 7.58
Paspalum hyalinum 3 ± 0,89 5 ± 6.12
73
Quando as variáveis estudadas (riqueza e cobertura) resultantes de cada tratamento
foram comparadas com os valores obtidos no ecossistema de referência da vereda ao longo
do tempo, todos os tratamentos apresentaram riqueza superior à referência (Figura 16).
Após a simples remoção de acículas e a semeadura de capins nativos, a riqueza atingiu o
patamar do ecossistema de referência em aproximadamente 161 e 132 dias,
respectivamente, apresentando tendência linear de incremento em riqueza até o último
monitoramento, após um ano (Figura 16a e 16b). A comunidade estabelecida pela
transferência de material vegetal atingiu mais rapidamente a riqueza encontrada no
ecossistema de referência, em aproximadamente 38 dias, apresentando tendência à
estabilização por volta de 20 espécies por metro quadrado (Figura 16c), quase o triplo da
riqueza encontrada no ecossistema natural em área de um metro quadrado.
Figura 16: Evolução da riqueza média (número de espécies por m²) ao longo do tempo para
comunidades de vereda em processo de restauração após erradicação da invasão por Pinus,
pelas técnicas de a) remoção de acículas, b) semeadura de capins nativos e c) transplante de
material vegetal. A linha horizontal azul representa a riqueza encontrada em 1 m² na vereda
de referência. As barras em cada ponto representam o erro padrão da média amostral.
Para a variável cobertura, as comunidades estabelecidas pelo transplante, semeadura
e remoção de acículas atingiram os valores do ecossistema de referência em um ano (Figura
17). O controle com remoção das acículas e a comunidade estabelecida através da
semeadura atingiram os valores de cobertura do ecossistema de referência em períodos
74
muito semelhantes, de 363 e 353 dias, respectivamente, apresentando tendência linear em
incremento da cobertura vegetal (Figura 17a e 17b). Já a comunidade oriunda do
transplante de material vegetal alcançou os valores da referência em 329 dias,
aproximadamente (Figura 17c). Em um ano, portanto, todos os tratamentos haviam
recuperado a cobertura próxima de 100%, característica da vereda natural.
Figura 17: Evolução da cobertura média do terreno ao longo do tempo para comunidades de
vereda em processo de restauração após erradicação da invasão por pinus pelas técnicas de
a) remoção de acículas, b) semeadura de capins nativos e c) transplante de material vegetal.
A linha horizontal azul representa a cobertura encontrada na vereda de referência. As barras
em cada ponto representam o erro padrão da média amostral.
Influência do lençol freático sobre a comunidade em processo de restauração
As variáveis porcentagem de cobertura vegetal e riqueza das parcelas apresentaram
relação negativa significativa com a profundidade mínima do lençol freático observada ao
longo do período de estudo, de modo que quanto menor a profundidade do lençol, mais
altos foram os valores de cobertura e riqueza (R² = 0,24 e p <0,01 e R² = 0,4 e p =0,04,
respectivamente) (Figura 18a e 18b). Ou seja, quanto mais próximo o lençol da superfície,
maior foi a cobertura e o número de espécies, para a amplitude de profundidades na área de
estudo (mínima 22 cm e máxima de 115 cm). A profundidade máxima e a oscilação
da profundidade (∆) ao longo do tempo de monitoramento não influenciaram
75
significativamente a porcentagem de cobertura das parcelas e nem o número de espécies
(Figura 18).
Figura 18: Influência da profundidade do lençol freático na cobertura e riqueza de espécies
da comunidade em processo de restauração da vereda. a) Cobertura em função da
profundidade mínima do lençol freático, b) riqueza em função da profundidade mínima do
lençol freático, c) cobertura em função da profundidade máxima da coluna d’água, d)
riqueza em função da profundidade máxima da coluna d’água, e) cobertura em função da
amplitude de variação (∆) da altura da coluna d’água no período estudado e f) riqueza em
função da amplitude de variação (∆) da altura da coluna d’água no período estudado. A
riqueza corresponde a 3 m² da área amostral.
76
Similaridade florística das áreas em processo de restauração com o ecossistema de
referência
Todos os tratamentos foram floristicamente similares ao ecossistema de referência –
vereda não degradada, apresentando valores que indicam similaridade florística (remoção
de acículas ISj= 26%, semeadura de gramíneas ISj= 26% e transplante de material vegetal
ISj= 41%), com exceção do controle (ISj= 3%). O transplante de material vegetal foi o
tratamento que recuperou maior porcentagem de espécies que ocorrem em áreas não
degradadas de vereda (81%) (Figura 19).
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
C R S TR
Figura 19: Porcentagem de espécies amostradas no ecossistema de referência (vereda) que
se estabeleceram pelas diferentes técnicas de restauração ao longo de um ano de
monitoramento: Controle (C), Remoção das acículas (R), Semeadura (S), Transplante de
material vegetal (TR).
Resiliência das áreas fonte de propágulos
As clareiras de onde foi extraído material para compor a técnica de restauração de
transferência de material vegetal atingiram a riqueza pré-distúrbio em 125 dias. Houve
Esp
écie
s %
77
incremento de 90% no número de espécies, apresentando tendência linear dentro do
período observado (Figura 20a). Para a cobertura, os valores atuais estão abaixo do
encontrado no ecossistema antes do distúrbio. Estimamos, com base na equação gerada a
partir da regressão linear, o tempo médio de 660 dias para que as parcelas alcançassem os
valores de referência (Figura 20b). Quando plotamos a evolução da cobertura juntamente
com a oscilação do lençol freático ao longo do tempo, para o período estudado, observamos
uma queda na evolução da cobertura que coincide com o período em que a coluna de água
encontra-se mais profunda em relação à superfície do solo (Figura 19b). No entanto, a
recuperação na riqueza não parece ter sido afetada pela oscilação anual do lençol freático.
Figura 20: Evolução da riqueza (espécies/m²) (a) e cobertura (b) ao longo do tempo para
comunidade de vereda após distúrbio por abertura de clareiras. A linha horizontal azul
representa os valores de referência anteriores ao distúrbio e a linha em azul claro representa
a oscilação da profundidade do lençol freático.
Discussão
A restauração de fisionomias campestres úmidas do Cerrado enfrenta desafios
provavelmente maiores do que qualquer outra vegetação campestre no Brasil. Além das
limitações metodológicas para restauração, há total desconhecimento sobre a importância
desses ecossistemas, as espécies que o compõem, seu funcionamento e seus serviços
ecossistêmicos. Por sua localização junto a corpos d’água, é comum que se proceda a sua
78
“restauração” pelo plantio de mudas de espécies arbóreas, contrariando a sua natureza
campestre e modificando seu funcionamento (Weisberget al. 2013).
Nossos experimentos mostraram que é possível restaurar uma vereda após massiva
invasão por Pinus elliottii, uma das grandes ameaças para esse ecossistema no estado de
São Paulo (Almeida et al. 2010, Abreu et al. 2011) e para vegetação campestre em outras
regiões do Brasil e do mundo (Boulant et al. 2008). O tratamento em que não foi retirada a
camada de acículas permaneceu estático ao longo do tempo de monitoramento, com baixa
riqueza e cobertura, diferentemente do tratamento com a simples remoção desta camada.
Esse resultado nos mostra que a remoção da camada de acículas é melhor do que não
efetuar nenhuma intervenção após a erradicação da espécie exótica invasora. Dessa
maneira, todos os demais tratamentos testados foram eficazes em restaurar a comunidade
de vereda em um ambiente praticamente deserto depois de muitos anos de invasão por
Pinus. A melhor técnica dentre os tratamentos testados foi o transplante de material vegetal,
que permitiu a recuperação de aproximadamente 80% das espécies encontradas na vereda
de referência, apresentando também altos valores de cobertura vegetal em um período de
tempo mais rápido que os outros tratamentos. Essa técnica vem apresentando bons
resultados para campos temperados (Vécrin e Muller 2003,Rasranet al. 2007, Truenan et al.
2007), sendo tradicionalmente consolidada para uma ampla gama de comunidades vegetais
na Europa (Kiehl et al. 2010). O transplante de material vegetal permite o estabelecimento
de uma comunidade já madura (Pywell et al. 1999), e, portanto, a recuperação mais rápida
dos atributos encontrados no ecossistema de referência.
Para o experimento como um todo, onde a camada de acículas foi removida,
observamos alta regeneração natural e altos valores de similaridade florística com o
ecossistema de referência. A regeneração natural foi possível devido à retirada da camada
de acículas que representava uma barreira para a germinação, bem como pela provável
chegada de propágulos provenientes da vereda preservada que se encontra a poucos metros
da área experimental. Devido à baixa riqueza encontrada no topsoil da área experimental,
acreditamos que a chuva de sementes seja responsável pela regeneração natural após
remoção das acículas. Assim, em áreas de vereda com massiva invasão por pinus, a simples
remoção da camada de acículas após o corte da espécie invasora pode ser suficiente para
restabelecer a resiliência da comunidade, desde que haja fonte de propágulos na vizinhança.
79
Na ausência de fonte de propágulos, o transplante de material vegetal seria a alternativa
mais viável.
A semeadura direta (após remoção de acículas) não diferiu da simples remoção de
acículas em nenhuma das variáveis analisadas como indicadores. As espécies que
colonizaram ambos os tratamentos foram semelhantes, sendo que as espécies introduzidas
por semeadura também apareceram nas parcelas em que não foram semeadas,
provavelmente oriundas da chuva de sementes a partir de comunidades naturais
remanescentes na vizinhança.
Campos úmidos geralmente ocorrem sobre gradiente de profundidade do lençol
freático, que resulta em zonas muitas vezes espécie-específicas (Guimarães et al. 2002,
Munhoz et al. 2008, Oliveira et al. 2009, Santos e Munhoz 2012). Portanto, a altura do
lençol freático ao longo da área experimental poderia ser um fator atuante no sucesso da
restauração. Entre as variáveis utilizadas para verificar esta hipótese, a profundidade
mínima do lençol freático foi a única variável que influenciou a comunidade em processo
de restauração, em termos de riqueza e cobertura. Ou seja, nos blocos onde o nível do
lençol estava mais próximo da superfície a riqueza e a cobertura foram maiores. No
entanto, não houve afloramento do lençol freático em nenhum dos blocos na área
experimental, fato que poderia prejudicar o estabelecimento de algumas espécies e mesmo
retardar a evolução dos tratamentos aplicados. O afloramento do lençol é considerado como
um fator de estresse nesses ambientes, sendo que apenas espécies adaptadas podem se
estabelecer e sobreviver a essas condições (Tiner 1999, Amorim e Batalha 2006).
O ecossistema natural de onde retiramos o material para a restauração da vereda
degradada apresentou alta capacidade de regeneração natural, sendo que, após um ano, os
valores para riqueza praticamente dobraram em comparação com os valores encontrados
anteriormente ao distúrbio. A abertura das clareiras promoveu, provavelmente, um alívio na
competição por luz e outros recursos. Portanto, esse distúrbio causou efeito positivo para a
comunidade, aumentando a riqueza local por meio do estabelecimento de espécies que não
existiam antes do distúrbio. Essa resposta positiva a distúrbios específicos, como por
exemplo, pastejo ou roçada, tem sido registrada em outras regiões do mundo onde ocorrem
áreas campestres úmidas (Zedler 2000, Rasran 2007).
80
A cobertura vegetal foi a única variável que ainda não atingiu os valores pré-
distúrbio. Aparentemente, essa variável evoluiu mais lentamente devido à alta sazonalidade
inerente à vereda. A altura do lençol freático é variável ao longo do ano na vereda (Oliveira
et al. 2009), neste estudo sendo, em média, oito vezes maior a profundidade na estação seca
em relação à estação chuvosa. Os períodos mais secos parecem retardar a recuperação da
cobertura. Ocorreu uma queda no ritmo de recuperação da cobertura vegetal, associada com
o período do ano em que o lençol freático tornava-se mais profundo em relação à superfície
do solo. Essa oscilação na altura do lençol freático ao longo do ano pode fazer com que a
evolução da cobertura ocorra em pulsos, considerando-se uma pausa durante a estação mais
seca e posterior retomada do crescimento no período mais chuvoso do ano.
Diante do sucesso do transplante de material vegetal em recuperar a riqueza e a
cobertura encontradas no ecossistema de referência, consideramos promissora esta técnica
para a restauração de veredas isoladas onde não existam remanescentes próximos que
possam atuar como fonte de propágulos. A ampla recomendação dessas técnicas, porém,
depende da sua validação em larga escala.
Conclusão
A restauração de vereda degradada após massiva invasão por Pinus é possível, seja
por restauração passiva, desde que haja fonte de propágulos e remoção da camada de
acículas remanescente da invasão ou, quando não houve fonte de propágulos, por
transplante de material vegetal. O transplante de material vegetal permite o estabelecimento
de uma comunidade já madura, de modo que a riqueza e cobertura da área degradada se
recuperam mais rapidamente. A eficácia do transplante de material vegetal como técnica de
restauração para a vereda é atestada inclusive pela rápida resiliência encontrada na área
fonte de propágulos. Porém, este estudo não revela o quanto de material vegetal, em escala
espacial, pode ser retirado de uma área conservada sem degradá-la. O ideal é não promover
novos distúrbios até que a riqueza e a cobertura alcancem os valores anteriores à abertura
das clareiras.
A resposta positiva da comunidade após a abertura de clareiras na vereda de
referência demonstrou a necessidade de distúrbios para a manutenção da riqueza de
81
espécies. Esta constatação tem implicações explícitas para o manejo conservacionista
desses ecossistemas e deve ser considerada por gestores de unidades de conservação.
82
Transição para o capítulo III
Os resultados apresentados nos capítulos I e II apontam técnicas promissoras para a
restauração de fisionomias campestres do Cerrado. As áreas naturais foram resilientes à
remoção de propágulos, que é a base das técnicas mais bem sucedidas de restauração para
mabas as fisionomias. No entanto, como se sabe que a intensidade de distúrbios pode gerar
respostas diferentes no ritmo de recuperação das comunidades (Gunderson 2000, Folket al
2004), testar diferentes tamanhos de áreas de remoção de material poderia trazer
informações mais consistentes sobre a melhor maneira de utilizar ecossistemas naturais
como fonte de propágulos sem degradá-los.
Além da avaliação comparativa da abertura de clareiras de diferentes tamanhos
dentro de cada fisionomia, ao monitorarmos os mesmos atributos para averiguar a
resiliência do campo cerrado e da vereda, criamos a possibilidade de comparação do ritmo
de recuperação entre as duas fisionomias. Dessa maneira, o objetivo deste último capítulo
foi investigar a influência do tamanho de clareiras na velocidade de recuperação de cada
fisionomia e se os tipos fisionômicos estudados apresentam padrões de recuperação
distintos. Cabe ressaltar que neste estudo tratamos resiliência e resistência como
propriedades da estabilidade que garante a manutenção do sistema em uma determinada
configuração, sendo a resiliência mensurada como tempo de retorno às condições pré-
distúrbio (Pimm 1984). Portanto, gostaríamos de esclarecer que em nossa concepção do
termo de resiliência baseado nos textos clássicos de Pimm (1984), Westmann (1978) e
Webster et al. (1983), não fundimos os termos resiliência e resistência, considerando-os
como propriedades distintas do ecossistema.
83
CAPÍTULO III
Caracterização da resiliência de fisionomias campestres do Cerrado frente à
perturbação por abertura de clareiras
Evolução de clareira aberta (1 m²) em campo cerrado ao longo de um ano de monitoramento
0 dias
280 dia
Antes
s
365 dias
84
Caracterização da resiliência de fisionomias campestres do Cerrado frente à
perturbação por abertura de clareiras
Resumo
O Cerrado tem sido submetido a pressões antrópicas diversas e crescentes,
associadas à conversão do uso da terra para agropecuária e silvicultura. Compreender a
resposta dos ecossistemas do Cerrado às perturbações é essencial para direcionar ações
adequadas de manejo e conservação. Neste contexto, o presente estudo objetivou
caracterizar a resiliência da comunidade vegetal de campo cerrado e vereda mediante a
eliminação da vegetação e da camada superficial do solo e comparar o ritmo de recuperação
entre fisionomias. A intensidade da perturbação consistiu na abertura de clareiras de três
tamanhos diferentes (0,0625 m², 0,25 m² e 1 m²) e monitoramos a evolução da riqueza,
cobertura e similaridade florística com a comunidade pré-existente, ao longo de um ano.
Utilizamos como ecossistema de referência o que foi descrito no momento anterior à
perturbação e comparamos o ritmo de recuperação entre os tamanhos de clareira e entre
fisionomias. As comunidades não apresentaram diferentes ritmos de recuperação em
resposta aos diferentes tamanhos de clareira testados. Em parcelas intermediárias e grandes,
a vereda apresentou recuperação mais rápida da riqueza do que o campo cerrado.
Superando o esperado, em apenas um ano o número de espécies registrado nas clareiras foi
maior do que a riqueza pré-existente em ambas fisionomias. Podemos concluir que o campo
cerrado e a vereda são fisionomias resilientes mediante a remoção de sua cobertura vegetal
e da camada superficial do solo na escala testada, sendo ambas beneficiadas pela abertura
de clareiras.
Palavras-chave: campo cerrado, incremento em riqueza, ritmo de recuperação, vereda
85
Introdução
A concepção sobre conservação da natureza tem passado por uma mudança de foco
em todo o mundo, de modo que o manejo para a conservação de espécies alvo tem sido
substituído pela preservação de processos ecológicos (Prober & Dunlop 2011) e
consequente manutenção dos serviços ecossistêmicos. É neste contexto que o termo
resiliência ganha espaço nas políticas de conservação, bem como nos grandes tratados de
manutenção da biodiversidade. Como exemplo, podemos citar as metas estabelecidas na
décima Convenção sobre a Diversidade Biológica, conhecidas como metas de Aichi, onde
na meta 15 é declarado que a resiliência dos ecossistemas deverá ser aumentada até 2020
(Brasil). No entanto, essa meta só será alcançada se tivermos pleno conhecimento sobre o
quanto os ecossistemas naturais são resilientes e quais são os fatores que garantem a
manutenção do sistema em um estado resiliente.
A resiliência foi inserida na ecologia pelo clássico manuscrito de Holling (1973),
como uma medida de persistência de um sistema em uma determinada configuração,
mesmo após distúrbios. O termo resiliência é oriundo da física, referindo-se à propriedade
elástica de retorno à condição inicial de um material após uma força deformadora (Love
1893). Mais próximo desse conceito físico, há a definição de Pimm (1984), que considera a
resiliência como um atributo da estabilidade de um sistema ecológico, sendo medida pelo
tempo de retorno às condições iniciais após distúrbio. Na ecologia, o termo ganhou espaço
e vem sendo aplicado de muitas maneiras para elucidar os fatores que mantêm o sistema em
um estado desejado (Gunderson 2000, Elmqvist 2003, Standish et al. 2014), entendendo-se
como estado desejado a configuração que assegura os serviços ecossistêmicos e garante a
conservação da biodiversidade (Gunderson 2000). Portanto, elucidar os processos que
garantem a resiliência de ecossistemas naturais é um ponto crucial para políticas e
estratégias de conservação frente a um mundo em constante mudança, possibilitando assim
um suprimento estável dos serviços ecossistêmicos (Elmqvist 2003).
Ecossistemas savânicos são reconhecidos por apresentarem alta resiliência frente a
distúrbios naturais como o fogo e o pastejo (Parr e Andersen 2008, Scott et al. 2010,
Andersen et al. 2012), apresentando adaptações evolutivas que garantem sua persistência
(Bond e Keeley 2005, Simon et al. 2009,Maurin et al. 2014). Estudos revelam que a alta
86
capacidade de regeneração pós-distúrbio em savanas está geralmente associada à rápida
rebrota de espécies com sistema subterrâneo desenvolvido, e às cascas suberosas das
árvores, que garantem proteção isolante contra o fogo (Bond e Midgley 2001, Lawes et al.
2011, Hoffmann et al. 2012, Pausas & Keeley 2014). No entanto, grande parte da literatura
sobre este assunto está voltada para o componente lenhoso das savanas, de modo que
modelagens da resiliência desses sistemas ecológicos como um todo são incipientes
(Ludwig et al. 2001, Gil-Romera et al. 2010). Entender os fatores que garantem a
resiliência da vegetação savânica é de extrema importância, uma vez que savanas ao redor
de todo o mundo estão sob forte pressão de degradação, seja por atividades antrópicas
diretas, como a conversão para produção e urbanização, ou invasões biológicas e aumento
de biomassa devido à supressão de distúrbios naturais (Pivello 1999, Sano et al. 2009, Parr
et al. 2014). No Brasil, a literatura sobre resiliência do Cerrado é escassa (Durigan et al.
1998, Silva 2013, Reis et al. 2015), e, portanto, não se sabe o quanto esses sistemas são
frágeis frente a distúrbios naturais ou antrópicos e nem o tempo necessário para sua
recuperação.
A savana brasileira é reconhecida pela sua grande diversidade e altos níveis de
endemismos (Klink & Machado 2005), além de abrigar as nascentes da maioria dos grandes
rios do país (Lima e Silva 2008), proporcionando serviços ecossistêmicos de extrema
relevância. Portanto, entender a resposta da vegetação do Cerrado frente a perturbações é
de extrema importância para o manejo adequado das áreas protegidas em unidades de
conservação, assim como para o desenvolvimento de técnicas de restauração ecológica.
Neste contexto, o presente estudo visou caracterizar a resiliência (sensu Pimm 1984) de
duas fisionomias campestres do Cerrado – campo cerrado e vereda (sensu Oliveira-Filho e
Ratter 2002), frente à perturbação por abertura de clareiras. A abertura de clareiras, no caso
deste estudo, seria o distúrbio resultante da coleta de material para a restauração de áreas
degradadas. Testamos diferentes tamanhos de clareiras, buscando responder às seguintes
questões: i) A resiliência é influenciada pelo tamanho da área impactada? ii) A resiliência
das fisionomias campestres de cerrado é variável entre ambientes secos ou úmidos? iii) Ao
longo do tempo após o distúrbio, a composição e a estrutura dos sistemas impactados tende
a evoluir para o estado pré-existente?
87
Considerando que a resposta da comunidade pode variar de acordo com a
intensidade do distúrbio, esperávamos que clareiras menores se recuperassem mais
rapidamente.
Material e Métodos
Local de estudo
A pesquisa foi realizada na Estação Ecológica de Santa Bárbara - EEcSB, que ocupa
área de aproximadamente 2700 ha, localizada no município de Águas de Santa Bárbara -
SP, entre as coordenadas geográficas 22°46’ a 22°41’ S e 49°16’ a 49°10’ W. O campo
cerrado e a vereda, que na unidade ocupam 434 ha (Melo e Durigan 2011), são hoje
extremamente raros no estado de São Paulo e sua preservação foi o argumento para o
decreto de criação da unidade. Estima-se que a EEcSB possua de 4 a 9,5% do total de
espécies do bioma, com expressiva riqueza da vegetação de Cerrado (Meira Neto et al.
2007). A EEcSB está em região de clima do tipo Cfa – clima quente e úmido com inverno
seco, segundo a classificação Köppen, mas é sujeita a geadas esporádicas, que podem ser
severas (Alvares et al. 2013). A temperatura média dos meses mais frios é de 18°C e a dos
meses mais quentes ultrapassa 22°C, com índices pluviométricos anuais de 1000 a 1300
mm. O solo da região é caracterizado de forma geral como Latossolo Vermelho, mas nas
áreas de campo cerrado é Neossolo Quatzarênico e na vereda é Neossolo Quartzarênico
hidromórfico. Os experimentos de resiliência foram instalados na Zona de Interferência
Experimental, segundo as normas do Plano de Manejo da unidade (Melo e Durigan 2011).
Avaliação da resiliência (campo cerrado e vereda)
A resiliência foi avaliada, no campo cerrado e na vereda, com base no tempo
necessário para cicatrização da área impactada e na recuperação da riqueza e composição
de espécies vegetais. Supondo-se que a resiliência fosse variável em função do tamanho da
clareira, foram comparadas clareiras circulares de diferentes tamanhos (tratamentos):
0,0625 m² (28,2 cm de diâmetro), 0,25 m² (56,4 cm de diâmetro) e 1 m² (113 cm de
diâmetro).
Em cada fisionomia (campo cerrado e vereda) instalamos 10 blocos, com uma
réplica de cada um dos três tratamentos, representados pelos diferentes tamanhos de
88
clareira, com o centro das parcelas equidistante em 3 m. Os tratamentos dentro de cada
bloco foram aleatoriamente distribuídos. Instalamos estaca numerada permanente de PVC
azul no centro de cada uma das parcelas, para fácil visualização.
Procedimentos para instalação dos experimentos
Para a instalação dos experimentos, a perturbação induzida consistiu na retirada da
camada superficial do solo, até a profundidade de 5 cm (topsoil), e de todo o material
vegetal (plantas inteiras, estruturas subterrâneas e serrapilheira) existente dentro das
parcelas (Figura 21). As estruturas subterrâneas que se encontravam em profundidade
maior que5 cm permaneceram nas parcelas. Procedemos a abertura das clareiras com
enxadão, enxada e pá. O material retirado das parcelas de 1 m² (topsoil e material vegetal)
foi utilizado nos experimentos de restauração do campo cerrado e vereda, apresentados nos
capítulos 1 e 2 desta dissertação.
Figura 21: Procedimento de abertura das clareiras no campo cerrado e vereda. a) remoção
do material vegetal das parcelas, b) clareira de 1 m² no campo cerrado e c) clareira de 1 m²
na vereda, com o topsoil e todo o material vegetal já removido.
Coleta de dados
Anteriormente à instalação dos experimentos de resiliência, efetuamos levantamento
florístico detalhado dentro da área de cada parcela que se tornou clareira. Todas as espécies
foram identificadas e a cobertura do solo por gramíneas e não-gramíneas foi quantificada
89
por meio de estimativa visual. Quando não foi possível a identificação em campo,
coletamos material de cada morfoespécie para identificação posterior, com ajuda de
especialistas e consultas a herbários. Os dados desse levantamento foram utilizados para a
avaliação da resiliência, sendo a referência do estado anterior à perturbação.
Após a abertura das clareiras, todas as parcelas foram amostradas cinco vezes ao
longo de um ano, tanto no campo cerrado quanto na vereda. Em cada ocasião, todas as
plantas em regeneração dentro de cada parcela foram identificadas e a cobertura do terreno
pela vegetação foi quantificada por estimativa visual.
Análise de dados
A resiliência foi avaliada pelo ritmo de recuperação da riqueza de espécies e
cobertura do solo exposto ao longo do tempo (Pimm 1984), para os diferentes tamanhos de
clareiras, em comparação com os valores anteriores à perturbação. Modelamos a resiliência
por análises da dispersão dos dados de riqueza e cobertura em função do número de dias
após a abertura das clareiras. Para cada regressão extraímos um valor de R² e p, e
estimamos o tempo necessário para que os tratamentos alcançassem os valores anteriores ao
distúrbio (valores de referência). Os dados para riqueza e cobertura foram transformados
em valores relativos, onde 100% representa os valores encontrados no momento anterior ao
distúrbio. Essa transformação permitiu a comparação do ritmo de recuperação entre os
tamanhos de clareiras e entre as fisionomias campestres estudadas, por meio da inclinação
de suas respectivas retas na regressão linear. Para testar a diferença entre a inclinação das
retas utilizamos ANCOVA (Aho 2014).
Calculamos a similaridade florística ao longo do tempo entre a comunidade em
regeneração como um todo, em cada observação, e comparamos com a mesma comunidade
no momento anterior ao distúrbio, por meio do índice de similaridade de Jaccard (ISj).
Efetuamos a mesma análise separando as espécies por grupos funcionais (graminóides,
herbáceas e lenhosas) (Durigan et al. 2004, Lista de Espécies da Flora do Brasil), para
comparação de sua similaridade florística no momento anterior e um ano após a abertura de
clareiras. Estas análises foram feitas para cada uma das fisionomias, considerando presença
e ausência das espécies (Legendre e Legendre 2012). Adotamos o critério de Mueller-
Dombois e Ellenberg (1974), pelo qual o coeficiente deve ser superior a 25% para que duas
90
comunidades sejam consideradas similares. Representamos a evolução da similaridade ao
longo do tempo por meio de diagramas de Venn referentes a cada momento de coleta de
dados.
Todas as análises foram realizadas utilizando o software R (R Development Core
Team 2014).
Resultados
Comparação entre tamanho de clareiras
Os tamanhos de clareira testados neste estudo não diferiram no ritmo de
recuperação da riqueza e cobertura vegetal após distúrbios no campo cerrado (Figura 22) e
nem na vereda (Figura 23). Ou seja, a inclinação das retas para os diferentes tamanhos de
clareiras não diferiu entre clareiras de diferentes tamanhos pelo teste de ANCOVA.
Figura 22: Comparação da velocidade de recuperação (a) da riqueza e (b) da cobertura
vegetal ao longo do tempo entre os diferentes tamanhos de clareiras abertas no campo
cerrado. (Pequena: 0.065 m², Média: 0.25 m² e Grande: 1 m²). Valores de F e P representam
o resultado da comparação entre os tamanhos de clareiras, com alfa estabelecido em 5%. As
barras em cada ponto representam o erro padrão da média amostral.
91
Figura 23: Comparação do ritmo de recuperação (a) da riqueza e (b) da cobertura vegetal
entre os diferentes tamanhos de clareiras abertas na vereda ao longo do tempo. (Pequena:
0,065 m², Média: 0,25 m² e Grande: 1 m²). Valores de F e P representam o resultado da
comparação entre os tamanhos de clareiras, com alfa estabelecido em 5%. As barras em
cada ponto representam o erro padrão da média amostral.
Comparação entre as comunidades do campo cerrado e vereda após distúrbio por
abertura de clareiras
Em termos de riqueza, todos os tamanhos de clareiras (0,0625 m², 0,25 m² e 1 m²)
recuperaram o número de espécies presentes no momento anterior à retirada do material
para ambas as fisionomias. Nas clareiras menores (0,0625 m²), as parcelas de campo
cerrado levaram 81 dias, em média, para alcançar os valores de referência, enquanto que as
parcelas de vereda atingiram os valores de referência em 80 dias (Figura 24a). Não houve
diferenças significativas entre a inclinação das retas relativas à riqueza da vereda e do
campo cerrado para a menor parcela (F = 4,43 e P = 0,08). Um ano após a abertura das
clareiras houve incremento no número de espécies em 76% para o campo cerrado e 102%
para a vereda, em comparação com o momento anterior ao distúrbio. Nas clareiras
intermediárias (0,25 m²), a vereda apresentou recuperação mais rápida da riqueza, atingindo
92
os valores de referência em 125 dias, enquanto as parcelas de campo cerrado levaram 194
dias. A inclinação das retas diferiu significativamente (F= 6,86 P = 0,03) para as parcelas
de tamanho intermediário entre a vereda e o campo cerrado. Assim como para as parcelas
pequenas, também houve incremento no número de espécies, superando os valores de
referência em 28% para o campo cerrado e 85% para a vereda (Figura 24b). Nas maiores
clareiras (1 m²), a vereda também apresentou recuperação mais rápida, alcançando os
valores de referência em 131 dias, enquanto que a comunidade do campo cerrado após
distúrbio só alcançou os valores de referência em 311 dias após a abertura de clareiras
(Figura 24c), sendo que a inclinação das retas foi diferente entre as duas fisionomias (F =
51,88 e P < 0,001). Neste tratamento, a comunidade da vereda também apresentou aumento
de 90% no número de espécies.
93
Figura 24: Evolução da riqueza relativa ao longo do tempo para a comunidade vegetal do
campo cerrado e de vereda após distúrbio por abertura de clareiras. (A) Clareiras com
0,0625 m², (b) clareiras com 0, 25 m² e (c) clareiras com 1 m². A linha horizontal azul
representa os valores de referência anteriores ao distúrbio. Os valores de R² são
acompanhados do valor p para a regressão, com alfa estabelecido em 5%. As barras em
cada ponto representam o erro padrão da média amostral.
94
A recuperação da cobertura apresentou-se, de modo geral, mais lenta do que a
recuperação da riqueza para ambas as fisionomias. Para cobertura e apenas em clareiras
pequenas, a recuperação foi mais rápida no campo cerrado do que na vereda (F= 10,08 e P
= 0,01, Figura 24), não diferindo entre fisionomias para os outros tamanhos de clareiras. Os
resultados da ANCOVA para a comparação da inclinação das retas entre fisionomias foi de
F = 2,02 e P = 0.21 para as clareiras intermediárias e F= 0.6126 e P= 0.46 para as clareiras
grandes. Estimamos, com base na equação gerada pela regressão linear, o tempo necessário
para o campo cerrado e vereda alcançarem os valores de referência. Nas parcelas pequenas
do campo cerrado, a cobertura alcançou e ultrapassou os valores de referência dentro do
período de estudo, em 306 dias, sendo de 569 dias para as clareiras intermediárias (Figura
25b) e 652 dias para as clareiras maiores (Figura 25c). Já para a vereda o tempo estimado
foi de 852 dias para as clareiras pequenas (Figura 25a), 873 dias para as clareiras
intermediárias (Figura 24 b) e 660 dias para as clareiras de maior tamanho (Figura 25c).
95
Figura 25: Evolução da cobertura do terreno pela vegetação em regeneração ao longo do
tempo para comunidade de campo cerrado e vereda após distúrbio por abertura de clareiras.
(A) Clareiras com 0,0625 m², (b) clareiras com 0, 25 m² e (c) clareiras com 1 m². A linha
horizontal azul representa os valores de referência anteriores ao distúrbio. Os valores de
cobertura correspondem à porcentagem registrada em relação ao valor pré-existente. Os
valores de R² são acompanhados do valor p para a regressão com alfa estabelecido em 5%.
As barras em cada ponto representam o erro padrão da média amostral.
96
Similaridade florística com o ecossistema de referência (momento pré-distúrbio)
A comunidade que se estabeleceu nas clareiras mostrou-se floristicamente similar à
comunidade encontrada no momento anterior ao distúrbio em todas as observações
realizadas, para as duas fisionomias campestres estudadas. Verificamos aumento na riqueza
ao longo do tempo, ilustrado nos diagramas de Venn apresentados na figura 26. Para o
campo cerrado, juntamente com o aumento na riqueza, houve queda sutil no índice de
Jaccard na última avaliação (365 dias, ISj = 45%) (Figura 26).
97
Campo cerrado Vereda
Antes Depois
93 dias (ISJ = 0.45)
Antes Depois
93dias (ISJ = 0.38)
187 dias (ISJ = 0.48)
187 dias (ISJ = 0.35)
280 dias (ISJ = 0.49)
280 dias (ISJ = 0.40)
365 dias (ISJ = 0.45)
365 dias (ISJ = 0.38)
Figura 26: Diagramas de Venn ilustrando a similaridade florística e o aumento no número
de espécies ao longo do tempo após abertura das clareiras em campo cerrado (azul) e
vereda (verde). Antes representando o período anterior à abertura de clareiras e Depois
representando o período após distúrbio, ISj= índice de similaridade de Jaccard. As áreas nas
figuras são proporcionais ao número de espécies.
98
Quando comparamos a similaridade florística entre a comunidade antes e a
comunidade que se regenerou um ano após distúrbio, separando as comunidades em grupos
funcionais (formas de vida), todas as categorias foram similares à referência (Figura 27), ou
seja, com ISj igual ou superior a 25%.
Figura 27: Similaridade florística entre a comunidade em regeneração um ano após abertura
de clareiras e a comunidade anterior ao distúrbio, para cada forma de vida em cada uma das
duas fisionomias – vereda e campo cerrado. (ISj= índice de similaridade de Jaccard, sendo
que a linha vermelha representa 25% de similaridade, limiar a partir do qual duas
comunidades são consideradas floristicamente semelhantes).
Discussão
As fisionomias campestres do Cerrado estudadas apresentaram alta resiliência após
distúrbio, assim como já evidenciado em outras savanas no mundo (Parr e Andersen 2008,
Scott et al. 2010, Andersen et al. 2012, Silva 2013), recuperando a riqueza e a composição
encontradas anteriormente ao distúrbio em menos de um ano. Não houve diferenças no
99
ritmo de recuperação da riqueza e cobertura entre clareiras de diferentes tamanhos para
nenhuma das duas fisionomias. A alta resiliência encontrada provavelmente está
relacionada com a alta capacidade de rebrota encontrada nas espécies lenhosas (Durigan et
al. 1998; Hoffmann et al. 2012) no caso do campo cerrado e com a chuva de sementes na
vereda, como evidenciado nos capítulos I e II desta dissertação.
Nossos resultados diferem daqueles encontrados para campo rupestre por Le Stradic
et al. (2014), que constataram baixa resiliência após severa perturbação. No entanto, a
abertura de clareiras no campo cerrado e na vereda não pode ser considerada como uma
perturbação severa, uma vez que mesmo com a remoção do banco de sementes e parte do
banco de raízes, ainda permaneceram fontes de propágulos oriundos da vegetação do
entorno das parcelas. Porém, estudos indicam que arbustos e subarbustos lenhosos que
ocorrem no campo cerrado apresentam alta capacidade de rebrota mesmo após muitos anos
de perturbação, como, por exemplo, conversão da terra para pastagens de gado ou mesmo
no sub-bosque de plantações florestais como pinus e eucalipto (Durigan et al. 1998, Neri et
al. 2005, Viani et al. 2010, Abreu et al. 2011). Portanto, a rebrota é importante processo que
garante a resiliência das fisionomias savânicas do Cerrado frente a profundas intervenções
antrópicas, desde que o banco de estruturas subterrâneas não seja comprometido. Na vereda
há baixa cobertura de espécies lenhosas, sendo sua constituição quase que exclusivamente
composta por espécies herbáceas (Araújo et al.2003, Tannus e Assis 2004, Munhoz e Felfili
2007). Assim, o que se verifica é um grande emaranhado de raízes fortemente aderidas ao
solo e próximas à superfície, provavelmente em resposta à oscilação do lençol freático. Ao
abrirmos as clareiras retiramos o banco de sementes e as estruturas subterrâneas, reduzindo
consideravelmente o potencial de rebrota. A resiliência da vereda, portanto, deve-se
essencialmente à chuva de sementes da comunidade remanescente no entorno da clareira.
No entanto, novos estudos precisam ser desenvolvidos em veredas para que possam ser
compreendidas a ecologia das espécies que a compõem, os fatores que determinam a
resiliência e o quão resiliente é este ecossistema mediante outras formas de distúrbio.
Quando o ritmo de regeneração foi comparado entre as fisionomias campo cerrado e
vereda, a recuperação da riqueza encontrada no momento anterior ao distúrbio foi mais
rápida na vereda do que no campo cerrado nas clareiras grandes e médias. Este resultado
100
pode ser explicado pela maior disponibilidade hídrica ao longo do ano encontrada na
vereda, que permitiu o rápido estabelecimento das espécies. No campo cerrado, há o
período de estresse hídrico que pode ter sido o fator que retardou a recuperação da
vegetação, especialmente para as espécies herbáceas sem capacidade de rebrota, que
recrutam exclusivamente por sementes. Cabe lembrar que a cobertura vegetal ainda não
atingiu os valores anteriores à perturbação, exceto para as menores clareiras do campo
cerrado. A abertura de clareiras promoveu um efeito positivo adicional, aliviando a
competição por recursos, especialmente luz, permitindo que um conjunto maior de espécies
pudesse se regenerar. Considerando que a riqueza ultrapassou rapidamente os valores
anteriores ao distúrbio em praticamente todas as parcelas, não se pode descartar a hipótese
de que a biomassa aérea que foi retirada estivesse causando inibição maior ao
estabelecimento das espécies na vereda do que no campo cerrado e, portanto, a resposta à
eliminação da vegetação teria sido mais vigorosa na vereda por esta razão.
A sutil queda na similaridade florística na última avaliação do campo cerrado é
evidência da chegada de novas espécies que não estavam presentes anteriormente à abertura
das clareiras, não apresentando espécies exóticas invasoras. Provavelmente, assim que a
cobertura do solo atingir os valores anteriores ao distúrbio haverá redução na riqueza,
sobretudo devido ao restabelecimento da competição por luz e outros recursos. Portanto,
além dessas fisionomias serem resilientes ao distúrbio por abertura de clareiras, ou seja,
retornarem ao estado anterior ao distúrbio em termos de riqueza, composição florística e
composição de grupos funcionais rapidamente, elas parecem ter sido também beneficiadas
pelo distúrbio, aumentando a riqueza na comunidade como um todo, como tem sido
observado em vegetação campestre em outras regiões do mundo (Rasran et al. 2007).
Conclusões
A retirada da vegetação e da camada superficial do solo em clareiras iguais ou
menores que 1 m² não compromete a resiliência da vereda e do campo cerrado. Assim,
áreas naturais com essas fisionomias podem servir como fontes de propágulos para a
restauração desses ecossistemas em áreas degradadas, sem que suas propriedades sejam
101
comprometidas. A evidência de que a diversidade de plantas nas áreas de extração de
material superou a condição anterior ao distúrbio em muito pouco tempo tem implicações
altamente relevantes para a restauração dos ecossistemas campestres do Cerrado. Além de
validar as técnicas experimentadas nos capítulos anteriores, que dependem da extração de
material de ecossistemas naturais, tais resultados apontam também para a necessidade de se
repensarem as práticas de manejo conservacionista atualmente utilizadas no Cerrado,
geralmente baseadas na total supressão de distúrbios. Porém, não se pode extrapolar os
resultados altamente positivos deste estudo para áreas de Cerrado que tenham sido
impactadas por revolvimento do solo, adição de fertilizantes e corretivos, cultivo de
espécies exóticas ou outras práticas de uso da terra que resultam em erradicação do banco
de estruturas subterrâneas e dos estoques de sementes no solo ou na paisagem, que possam
recolonizar áreas degradadas. A resiliência dos ecossistemas depende da natureza, da
intensidade e da extensão do distúrbio, além das especificidades das espécies que os
compõem.
102
Implicações para a prática
As técnicas apresentadas nesta dissertação representam um caminho promissor para
a restauração de fisionomias campestres do Cerrado após massiva invasão por Pinus, sendo
atestadas pela resiliência das áreas naturais que foram utilizadas com fontes de propágulos.
Nossos resultados indicam que o primeiro passo para a restauração de áreas onde o Pinus
foi erradicado é a remoção da densa camada de acículas remanescente da invasão. Essa
camada cria um impedimento para o estabelecimento de possíveis plantas cujos propágulos
possam chegar à área degradada. Embora outras condições de degradação não tenham sido
avaliadas neste estudo, acreditamos que o acúmulo de biomassa de gramíneas invasoras,
mesmo após controle químico com herbicidas, pode resultar em situação muito semelhante
à ocasionada pelas acículas de Pinus, formando camada de impedimento à germinação e
estabelecimento de plantas nativas. Assim, a eliminação da espécie exótica e de todos os
seus restos é etapa crucial para que ações de restauração ativa de vegetação campestre do
Cerrado possam ser bem sucedidas.
Dentre todos os tratamentos testados, que envolvem a reintrodução das espécies a
semeadura de capins nativos apresentou os piores resultados, sendo confirmados pelos
testes conduzidos em viveiro e em casa de vegetação, em que as espécies apresentaram
baixas taxas de germinação. Para o uso da semeadura direta, de capins nativos ou de
qualquer outro conjunto de plantas herbáceas nativas em programas de restauração de
campo cerrado e vereda, estudos adicionais são necessários para compreensão dos fatores
ambientais que promovem a germinação dessas espécies e, possivelmente,
desenvolvimento tecnológico para viabilizar a semeadura em larga escala. As demais
técnicas testadas apresentaram peculiaridades que devem ser consideradas separadamente
na tomada de decisão sobre o melhor caminho para a restauração de cada fisionomia. Nas
Figuras 28 e 29 apresentamos uma síntese, com base em nossos resultados, dos passos para
a restauração do campo cerrado e vereda após erradicação das árvores invasoras de Pinus.
103
Figura 28: Síntese das recomendações para restauração de campo cerrado após remoção da
invasão massiva de Pinus elliottii Engelm. var.elliottii.
104
Figura 29: Síntese das recomendações para restauração de vereda após remoção da invasão
massiva de Pinus elliottii Engelm. var. elliottii.
Para a efetiva restauração do campo cerrado se faz necessária a introdução, além de
gramíneas, de plantas capazes de desenvolver sistemas subterrâneos que permitam a rebrota
após perturbações naturais inerentes ao campo cerrado, como o fogo, por exemplo. O
monitoramento das clareiras abertas no campo cerrado nos mostrou que a rebrota é o
principal fator que garantiu a resiliência do campo cerrado após a perturbação. Depois da
completa remoção da parte aérea, as espécies com sistemas subterrâneos bem
105
desenvolvidos rebrotaram e se multiplicaram vegetativamente, colonizando rapidamente as
clareiras. Portanto, se a área que se deseja restaurar não teve destruição do banco de raízes,
a transposição de topsoil pode ser aplicada para recuperar as espécies que compõem o
estrato herbáceo. Contudo, se houve revolvimento do solo e o banco de raízes foi perdido, o
transplante de material vegetal é a técnica mais indicada, podendo ser utilizada em conjunto
com a transposição de topsoil.
Para a restauração da vereda, todas as técnicas são efetivas em recuperar a estrutura
e a composição características do ecossistema de referência, desde que seja eliminada a
camada de acículas. A simples remoção da camada de acículas remanescentes da invasão
por Pinus promoveu a recuperação da comunidade vegetal. Contudo, esse resultado só foi
possível devido à existência de fonte de propágulos remanescente junto à área
experimental. Portanto, se existir fonte de propágulos nas proximidades da vereda que se
deseja restaurar não se faz necessária a reintrodução de espécies. A única intervenção de
restauração recomendada é a retirada da camada de acículas, que poderia ser feita
facilmente e sem custos com o uso de queima controlada. Na ausência de fontes de
sementes, o transplante de placas de vegetação da vereda é uma alternativa viável, uma vez
que essa técnica permite o estabelecimento de uma comunidade madura e rica em espécies.
Por ser uma técnica trabalhosa, e, portanto, mais cara que a simples remoção de acículas, as
placas podem ser instaladas formando ilhas na área em processo de restauração. Essas ilhas
atuariam como fontes de propágulos promovendo a colonização do restante da área, uma
vez que em menos de um ano as plantas desse tratamento na vereda iniciaram processos
reprodutivos (dados não apresentados).
As técnicas de restauração testadas nos permitiram inferir sobre os filtros que
estariam impedindo a regeneração natural nas áreas de campo cerrado e vereda após a
erradicação do Pinus. Em ambas as áreas em processo de restauração a camada de acículas
foi o principal filtro dificultando a germinação e o estabelecimento das espécies nativas do
campo cerrado e da vereda (figuras 30 e 31). Para o campo cerrado, especificamente, o
segundo filtro mais atuante na área degradada foi o estresse hídrico, que dificultou o
estabelecimento das espécies presentes no topsoil, bem como das gramíneas semeadas. O
transplante de material vegetal foi a única técnica, dentre as que testamos, que permitiu a
106
superação parcial deste filtro, com a recuperação do maior número de espécies ocorrentes
no ecossistema de referência (figura 30).
Figura 30: Filtros ecológicos atuantes na área em processo de restauração de campo cerrado
após a erradicação do Pinus. Os círculos azuis representam as técnicas de restauração
aplicadas e a porcentagem dentro de cada círculo representa a quantidade de espécies que
ocorrem no ecossistema de referência e que se estabeleceram na área degradada a partir de
cada intervenção.
Para a vereda, após a remoção da camada de acículas que permitiu o retorno de um
grande número de espécies, alguns filtros ainda persistiram, relativos à limitação de
dispersão ou características desfavoráveis do substrato da área degradada. O transplante de
material vegetal superou esses prováveis filtros, permitindo o estabelecimento de 81% das
espécies que compõem a vereda de referência (figura 31).
107
Figura 31: Filtros ecológicos atuantes na área em processo de restauração de vereda após a
erradicação do Pinus. Os círculos azuis representam as técnicas de restauração aplicadas e a
porcentagem dentro de cada círculo representa a quantidade de espécies que ocorrem no
ecossistema de referência que se estabeleceram na área degradada a partir de cada
intervenção.
O efeito positivo da abertura de clareiras nos ecossistemas naturais que serviram de
fontes de propágulos, promovendo aumento no número de espécies em ambas as
fisionomias, é um indicador de que essas comunidades estavam com excesso de biomassa,
e, portanto, as plantas deveriam estar competindo por luz e outros recursos. Com a abertura
de clareiras houve alívio na competição, que permitiu o restabelecimento de espécies que já
tinham saído do sistema, provavelmente devido ao sombreamento imposto pela alta
biomassa de capins. Esses dados são mais uma evidência da necessidade de distúrbios que
reduzam a biomassa de capins nas áreas naturais de fisionomias campestres do Cerrado,
para permitir o estabelecimento de outras espécies, efeito que é naturalmente promovido
pela passagem do fogo. Portanto, nossos dados reforçam a necessidade de manejo adequado
108
das fisionomias campestres do Cerrado para a efetiva conservação do conjunto total de
espécies.
Para as técnicas de restauração analisadas, fica a ressalva de que este estudo serve
como um piloto, demonstrando quais caminhos são mais promissores para a restauração de
campos cerrados e veredas após invasão por Pinus. Contudo, as técnicas precisam ser
testadas em larga escala e permanece o desafio de encontrar áreas naturais que possam
atuar como fonte de propágulos.
109
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ANEXOS
Apêndice 1: Espécies vegetais amostradas no ecossistema de referência e na área experimental de restauração do campo cerrado. Reb:
espécie que rebrota; Ref: ecossistema de referência; Con: controle; RA: retirada de acículas; Sem: semeadura; Top: topsoil; TS: topsoil
+ semeadura; Trans: transplante.
Espécie Reb Ref Con RA Sem Top TS Trans
Anacardium humile A.St.-Hil. x x
Andira humilis Mart. ex Benth. x x
Andropogon leucostachyus Kunth x
Anemopaegma arvense (Vell.) Stellfeld ex de Souza x
Aristida jubata (Arechav.) Herter x x
Aristida megapotamica var. brevipes Henrard x x x
Aspicarpa pulchella (Griseb.) O'Donell & Lourteig x x
Axonopus marginatus (Trin.) Chase x x
Axonopus pressus (Nees ex Steud.) Parodi x x x x x
Baccharis dracunculifolia DC. x
Baccharis sessiliflora Vahl x
Borreria poaya (A.St.-Hil.) DC. x x
Bulbostylis fimbriata (Nees) C.B.Clarke x x x x x
127
Espécie Reb Ref Con RA Sem Top TS Trans
Bulbostylis hirtella (Schrad.) Urb. x x x x x x x
Byrsonima intermedia A.Juss. x x
Byrsonima subterranea Brade & Markgr. x x
Byttneria ramosissima Pohl x
Camarea hirsuta A.St.-Hil. x
Centrosema pubescens Benth. x
Chamaecrista flexuosa (L.) Greene x x x
Chamaecrista langsdorffii (Kunth ex Vogel) Britton ex Pittier x x
Chamaecrista ramosa (Vogel) H.S.Irwin & Barneby x x
Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene
x
x
x x
Chromolaena congesta (Hook. & Arn.) R.M.King & H.Rob. x x x
Chromolaena squalida (DC.) R.M.King & H.Rob. x x x
Chrysolaena obovata (Less.) Dematt. x x x
Cordiera obtusa (K.Schum.) Kuntze x x x
Crotalaria flavicoma Benth. x x
Croton glandulosus L. x x
Crumenaria polygaloides Reissek x x
128
Espécie Reb Ref Con RA Sem Top TS Trans
Cuphea micrantha Kunth x x x x
Cyperaceae indet. x
Cyperus aggregatus (Willd.) Endl. x x x x x x
Desmanthus tatuhyensis Hoehne x
Diodella teres (Walter) Small x
Diospyros hispida A.DC. x
Echinolaena inflexa (Poir.) Chase x
Elyonurus muticus (sprengel) O. Kuntze x
Eragrostis leucosticta Nees ex Döll x x
Eragrostis polytricha Nees x x
Eriosema heterophyllum Benth. x x
Eryngium juncifolium (Urb.) Mathias & Constance x x
Erythroxylum campestre A.St.-Hil. x
Eugenia linearifolia O.Berg x x x
Eugenia livida O.Berg x
Eustachys distichophylla (Lag.) Nees x
Evolvulus sericeus Sw. var. sericeus x x x
129
Espécie Reb Ref Con RA Sem Top TS Trans
Fimbristylis dichotoma (L.) Vahl x x x x
Froelichia procera (Seub.) Pedersen
Gymnopogon foliosus (Willd.) Nees
Gymnopogon spicatus (Spreng.) Kuntze
x x
x
x
x
x
x
x
x
x
Handroanthus ochraceus (Cham.) Mattos
Jacaranda decurrens Cham.
Lessingianthus brevifolius (Less.) H.Rob.
x
x
x
x
x
x
Lessingianthus grandiflorus (Less.) H.Rob.
Licania humilis Cham. & Schltdl.
Lippia lupulina Cham.
x
x
x
x
x
x
x
Loudetiopsis chrysothrix (Nees) Conert
Melinis repens (Willd.) Zizka
Mimosa debilis Humb. & Bonpl. ex Willd.
x x x
x
x
x
Mimosa xanthocentra var. subsericea (Benth.) Barneby
Mitracarpus hirtus (L.) DC.
Orthopappus angustifolius (Sw.) Gleason
Ouratea spectabilis (Mart.) Engl.
x
x
x
x
x
x
x
x
130
Espécie Reb Ref Con RA Sem Top TS Trans
Paspalum ammodes Trin. x x
Paspalum pilosum Lam. x
Peltaea polymorpha (A.St.-Hil.) Krapov. & Cristóbal x x x x
Peritassa campestris (Cambess.) A.C.Sm. x x
Pfaffia tuberosa (Spreng.) Hicken x x
Poaceae indet. x
Polycarpaea corymbosa (L.) Lam. x
Pradosia brevipes (Pierre) T.D.Penn. x x
Psidium laruotteanum Cambess. x x
Pterocaulon virgatum (L.) DC. x
Rhynchospora consanguinea var. rigida (Kunth) Kük. x
Ruellia bulbifera Lindau x x
Ruellia geminiflora Kunth
x
x
Sisyrinchium weirii Baker x
Smilax fluminensis Steud. x x
Solanum lycocarpum A.St.-Hil. x
Sorghastrum minarum (Nees) Hitchc.
131
Espécie Reb Ref Con RA Sem Top TS Trans
Steinchisma laxum (Sw.) Zuloaga x
Stryphnodendron rotundifolium Mart.
Stylosanthes acuminata M.B.Ferreira & Sousa Costa
x
x
x
x
Tibouchina gracilis (Bonpl.) Cogn.
Tontelea micrantha (Mart. ex Schult.) A.C.Sm.
x
x
x x x
Trachypogon plumosus (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Nees
Waltheria communis A.St.-Hil.
x
x
x
x
x
x
x
Zornia latifolia Sm.
Zornia reticulata Sm.
x
x
x
132
Apêndice 2: Espécies vegetais amostradas no ecossistema de referência e na área experimental de restauração da vereda.
Espécie
Referência
Controle
Remoção de
acículas
Semeadura
Transplante
Acisanthera alsinaefolia (DC.) Triana x x x x
Andropogon bicornis L. x x x
Andropogon leucostachyus Kunth x x x
Andropogon virgatus Desv. x x x x
Axonopus aureus P.Beauv. x x
Axonopus brasiliensis (Spreng.) Kuhlm. x x
Axonopus siccus (Nees) Kuhlm. x x x x
Baccharis trimera (Less.) DC. x x
Borreria multiflora (DC.) Bacigalupo & E.L.Cabral x x x x
Barrosoa betoniciformis (DC.) R.M. King & H. Rob. x x x x
Bulbostylis hirtella (Schrad.) Urb. x x x x x
Cecropia pachystachya Trécul x x x
Chelonanthus alatus (Aubl.) Pulle x x
Coccocypselum lymansmithii Standl. x
Cuphea micrantha Kunth x
Cyperaceae indet. x x
133
Espécie
Referência
Controle
Remoção de
acículas
Semeadura
Transplante
Cyperus aggregatus (Willd.) Endl. x x x
Desmocelis villosa (Aubl.) Naud. x x x x
Drosera communis A.St.-Hil.
Eleocharis capillacea Kunth x x x
Eleocharis filiculmis Kunth x
Eleocharis subarticulata (Nees) Boeckeler x
Eriocaulaceae indet. x x
Hyptis caespitosa A.St.-Hil. ex Benth. x
Ilex affinis Gardner x
Lagenocarpus tenuifolius (Boeckeler) C.B.Clarke x x x
Laurembergia tetrandra (Schott) Kanitz x x x x
Leandra lacunosa Cogn. x
Lycopodiella alopecuroides (L.) Cranfill x x
Miconia albicans (Sw.) Triana x x x
Miconia ligustroides (DC.) Naudin x x x
Miconia stenostachya DC.
Microlicia fulva (Spreng.) Cham. x
134
Espécie
Referência
Controle
Remoção de
acículas
Semeadura
Transplante
Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez x
Paepalanthus chiquitensis Herzog x
Paepalanthus lundii Körn. x x x
Panicum schwackeanum Mez. x x x x
Panicum sellowii Nees x
Paspalum commutatum Nees x
Paspalum cordatum Hack. x x x
Paspalum flaccidum Nees x x
Paspalum hyalinum Nees ex Trin. x x x
Paspalum pilosum Lam. x x
Pleroma oleifolia R. Romero & Versiane x x x
Poaceae indet. x
Polygala tenuis DC. x
Polygala timoutoides Chodat x x
Pterolepis glomerata (Rottb.) Miq. x x x
Rhynchospora albiceps Kunth x x
Rhynchospora albobracteata A.C.Araújo
135
Espécie
Referência
Controle
Remoção de
acículas
Semeadura
Transplante
Rhynchospora tenuis Link x x x x
Sauvagesia erecta L. x
Sauvagesia racemosa A.St.-Hil. x x x x
Scleria hirtella Sw. x x x x
Scoparia dulcis L. x x x x
Sipanea pratensis Aubl. x
Sisyrinchium weirii Baker x
Steinchisma decipiens (Nees ex Trin.) W.V.Br. x
Stryphnodendron rotundifolium Mart. x
Syngonanthus helminthorrhizus (Mart. ex Körn.) Ruhland x
Thesium brasiliense A.DC. x x
Tibouchina gracilis (Bonpl.) Cogn. x x x x
Tibouchina stenocarpa (Schrank & Mart. ex DC.) Cogn. x
Trachypogon vestitus Andersson x
Xyris ciliata Thunb. x
Xyris jupicai Rich. x x x x
Xyris macrocephala Vahl x x
136
Espécie
Referência
Controle
Remoção de
acículas
Semeadura
Transplante
Xyris savanensis Miq. x x x x
Xyris schizachne Mart. x
Xyris tortula Mart. x x
137
138