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NEGÓCIOS TECNOLOGIA 42 AméricaEconomia Junho, 2014 Mesmo sem regulamentação específica, principalmente para operações em áreas urbanas, empresas brasileiras se destacam na produção e na comercialização de drones Rafael Américo, de São Paulo Robôs voadores... e lucrativos D e acordo com a consultoria americana Teal Group, espe- cializada em indústria aero- espacial, apenas no ano pas- sado, o mercado de vant (veículo aéreo não tripulado) movimentou US$ 5,2 bi- lhões em todo o mundo. Em dez anos, o setor deve mais do que dobrar, chegando a US$ 11,2 bilhões. O mercado é forte, principalmente nos Estados Unidos. Lá, os drones deverão criar 70 mil empregos até o ano que vem. No Brasil, o número de fabricantes de drones ainda é reduzido, mas quem atua na área comemora bons resultados. É o caso da XMobots e da BRVANT, cujas receitas só não são maiores por causa da ausência de regulamentação do setor. O Brasil é um país receptivo a novas tecnologias. Um estudo realizado no ano passado por uma parceria entre a Intel e a Penn Schoen Berland, empre- sa de pesquisas de mercado, revelou que oito em cada dez brasileiros veem os drones auxiliando no funcionamen- to da sociedade. Entre os entrevistados, 84% acreditam que eles podem ajudar em questões de segurança pública. Po- rém, essa não é a única área que é bene- ficiada pelo produto. “A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem investido em pesquisas voltadas para o sensoria- mento e o controle de culturas”, lembra Paulo Greco, doutor em engenharia ae- roespacial pela Universidade de Kansas e professor-doutor na Universidade de São Paulo. Além de agricutura e segu- rança, outros setores utilizam os drones. Um dos exemplos mais recentes e emble- máticos é o da loja virtual Amazon, nos Estados Unidos, que anunciou testes pa- ra a entrega de produtos leves utilizando os vants. No Brasil, a fabricante de ce- lulose Eldorado, localizada em Três La- goas, em Mato Grosso do Sul, e a Usina São Fernando Açúcar e Álcool, em Dou- rados, também em Mato Grosso do Sul, fazem uso do equipamento. Criada em 2007, a XMobots iniciou suas atividades como empresa incuba- da no Centro de Inovação, Empreende- dorismo e Tecnologia da Universidade de São Paulo (Cietec-USP), entidade co- nhecida como o maior celeiro de startups do Brasil. Em 2011, a empresa transfe- riu sua sede para São Carlos, no interior de São Paulo, onde continua até hoje. De acordo com seu diretor-presidente, Gio- vani Amianti, mestre em engenharia de controle e automação mecânica pela Es- cola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a razão da mudança foi a grande oferta de mão de obra qua- Foto: Divulgação lificada, vinda dos campi locais de uni- versidades como USP e UFSCar, e pe- la quantidade a facilidade de acesso às áreas disponíveis para a realização de voos com as aeronaves. No ano passado, a empresa faturou R$ 1,5 milhão, com a venda de 13 vants. A expectativa para este ano é ain- da mais animadora: receita de R$ 4 mi- lhões, com a colocação no mercado de 24 drones (de janeiro a abril de 2014, fo- ram vendidas nove aeronaves). Atual- mente, a XMobots possui 25 funcioná- rios diretos. A empresa ainda conta com colaboradores bolsistas em universida- des e instituições de pesquisa de todo o Brasil. Contando os estudantes, o nú- mero de colaboradores se aproxima de 100 pessoas. “A procura por nossos vants cresceu expressivamente. O maior desafio é jus- tamente atender a essa demanda. A meta é, até o final de 2014, transferir a sede pa- ra um espaço maior, pois a linha de pro- dução já está operando no limite”, revela Amianti. Outra novidade anunciada pe- lo executivo é a terceira versão do vant Apoena, primeira aeronave desenvolvi- da pela empresa e que ficou conhecida Em 2013, o mercado de vants movimentou US$ 5,2 bilhões em todo o mundo e até 2015 deverá criar 70 mil empregos só nos EUA

TECNOLOGIA Robôs voadores e lucrativos€¦ · nacionalmente por ser o primeiro drone a sobrevoar a Amazônia e hoje não está em operação. O drone estará disponível para venda

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  • NEGÓCIOSTECNOLOGIA

    42 AméricaEconomia Junho, 2014

    Mesmo sem regulamentação específica, principalmente para operações em áreas urbanas, empresas brasileiras se destacam na produção e na comercialização de dronesRafael Américo, de São Paulo

    Robôs voadores... e lucrativos

    D e acordo com a consultoria americana Teal Group, espe-cializada em indústria aero-espacial, apenas no ano pas-sado, o mercado de vant (veículo aéreo não tripulado) movimentou US$ 5,2 bi-lhões em todo o mundo. Em dez anos, o setor deve mais do que dobrar, chegando a US$ 11,2 bilhões. O mercado é forte, principalmente nos Estados Unidos. Lá, os drones deverão criar 70 mil empregos até o ano que vem.

    No Brasil, o número de fabricantes de drones ainda é reduzido, mas quem atua na área comemora bons resultados. É o caso da XMobots e da BRVANT, cujas receitas só não são maiores por causa da ausência de regulamentação do setor.

    O Brasil é um país receptivo a novas tecnologias. Um estudo realizado no ano passado por uma parceria entre a Intel e a Penn Schoen Berland, empre-sa de pesquisas de mercado, revelou que oito em cada dez brasileiros veem os drones auxiliando no funcionamen-to da sociedade. Entre os entrevistados, 84% acreditam que eles podem ajudar em questões de segurança pública. Po-rém, essa não é a única área que é bene-ficiada pelo produto.

    “A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem investido em pesquisas voltadas para o sensoria-mento e o controle de culturas”, lembra Paulo Greco, doutor em engenharia ae-

    roespacial pela Universidade de Kansas e professor-doutor na Universidade de São Paulo. Além de agricutura e segu-rança, outros setores utilizam os drones.Um dos exemplos mais recentes e emble-máticos é o da loja virtual Amazon, nos Estados Unidos, que anunciou testes pa-ra a entrega de produtos leves utilizando os vants. No Brasil, a fabricante de ce-lulose Eldorado, localizada em Três La-goas, em Mato Grosso do Sul, e a Usina São Fernando Açúcar e Álcool, em Dou-rados, também em Mato Grosso do Sul, fazem uso do equipamento.

    Criada em 2007, a XMobots iniciou suas atividades como empresa incuba-

    da no Centro de Inovação, Empreende-dorismo e Tecnologia da Universidade de São Paulo (Cietec-USP), entidade co-nhecida como o maior celeiro de startups do Brasil. Em 2011, a empresa transfe-riu sua sede para São Carlos, no interior de São Paulo, onde continua até hoje. De acordo com seu diretor-presidente, Gio-vani Amianti, mestre em engenharia de controle e automação mecânica pela Es-cola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a razão da mudança foi a grande oferta de mão de obra qua- Fot

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    lificada, vinda dos campi locais de uni-versidades como USP e UFSCar, e pe-la quantidade a facilidade de acesso às áreas disponíveis para a realização de voos com as aeronaves.

    No ano passado, a empresa faturou R$ 1,5 milhão, com a venda de 13 vants. A expectativa para este ano é ain-da mais animadora: receita de R$ 4 mi-lhões, com a colocação no mercado de 24 drones (de janeiro a abril de 2014, fo-ram vendidas nove aeronaves). Atual-mente, a XMobots possui 25 funcioná-rios diretos. A empresa ainda conta com colaboradores bolsistas em universida-des e instituições de pesquisa de todo o

    Brasil. Contando os estudantes, o nú-mero de colaboradores se aproxima de 100 pessoas.

    “A procura por nossos vants cresceu expressivamente. O maior desafio é jus-tamente atender a essa demanda. A meta é, até o final de 2014, transferir a sede pa-ra um espaço maior, pois a linha de pro-dução já está operando no limite”, revela Amianti. Outra novidade anunciada pe-lo executivo é a terceira versão do vant Apoena, primeira aeronave desenvolvi-da pela empresa e que ficou conhecida

    Em 2013, o mercado de vants movimentou US$ 5,2 bilhões em todo o mundo e até 2015

    deverá criar 70 mil empregos só nos EUA

  • Junho, 2014 AméricaEconomia 43

    desde a adolescência. Doutor e mestre do curso de engenharia eletrônica e compu-tação pelo Instituto Tecnológico de Ae-ronáutica (ITA), trabalhou sete anos na Embraer, até que no final da década pas-sada resolveu se aventurar em uma nova empreitada: tornar-se empresário.

    “Eu havia acabado de sair de uma empresa grande, a terceira maior do mundo, e caí no mercado. Tinha cerca de 30 anos, boa qualificação e duas possibilidades: ou procuraria emprego e me submeteria novamente à vida de funcionário de empresa grande ou se-guiria o sonho de caminhar pelas pró-prias pernas”, afirma Kuntz.

    De acordo com ele, os drones desen-volvidos pela empresa são construídos com base nas necessidades de clientes específicos e, em seguida, colocados no mercado. Um dos diferenciais da BR-VANT, que conta com 16 colaborado-res, é a proximidade com as Forças Ar-madas. “Hoje, as áreas civil e militar do governo são responsáveis por pratica-mente 80% da nossa receita. O restan-te é proveniente de clientes civis, que in-cluem empresas de energia, agricultura e segurança pública”, afirma o empresá-rio. A empresa conta com seis vants em seu portfólio: BRV-01, BRV-02, BRV-03, BRV-04W, BRV-X e BRV-Carde-al-55. Os preços variam de R$ 55 mil a R$ 680 mil.

    Kuntz não revela o faturamento da BRVANT, mas diz que, em 2013, a em-presa vendeu 20 drones. No início do ano, o empresário previa um crescimen-to de 30% nas vendas. No entanto, por causa de reduções nas verbas públicas,

    O que é?Os drones e os vants, também co-nhecidos como UAV (do inglês unna-med aerial vehicle), são aeronaves que não necessitam de pilotos em-barcados para ser guiadas. Esses aviões são controlados remotamen-te por meio eletrônico (computado-res ou smartphones).

    Amianti, da XMobots, espera chegar a R$ 4 milhões de faturamento neste ano

    nacionalmente por ser o primeiro drone a sobrevoar a Amazônia e hoje não está em operação. O drone estará disponível para venda no ano que vem. “Como em-presa de tecnologia, não podemos deixar de inovar”, afirma o executivo.

    Amianti ainda faz suspense sobre os próximos passos da XMobots: “A empresa também está trabalhando no desenvolvimento de novas tecnologias inovadoras que serão embarcadas em

    nossos drones, mas ainda é sigilo”. Ho-je, entre as opções disponíveis, estão o Echar 20A, minivant de 7 quilos e com valor de R$ 140 mil; e o Nauru 500A, de 15 quilos e valor inicial de R$ 220 mil.

    Outra fabricante de drones, a BR-VANT, localizada em Mogi das Cru-zes, foi fundada em 2009 por Rodrigo Kuntz. O interesse de Kuntz pelo novo começou cedo. O empresário desenvol-via seus “brinquedos”, como os chama,

  • NEGÓCIOSTECNOLOGIA

    44 AméricaEconomia Junho, 2014

    tanto de pesquisa em desenvolvimento como nas compras diretas do governo, foi necessário revisar os números. Hoje, a expectativa de 2014 é manter o bom re-sultado do ano anterior.

    No setor, é fácil perceber certo in-cômodo quanto à ausência de regras especí ficas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Por meio de nota, a entidade afirma que está em proces-so de desenvolvimento da regulamen-tação de operações não experimentais dos vants em áreas segregadas. A pro-posta deverá ser submetida ao proces-so de audiência pública neste ano. Ho-je, não existe restrição à compra de um drone por um cidadão, uma instituição ou uma empresa. Entretanto, sua opera-ção depende da emissão do Certifica-do de Autorização de Voo Experimen-tal (Cave), concedida pela Anac depois da comprovação de segurança e aerona-vegabilidade por parte do interessado.

    De acordo com o especialista Pau-lo Greco, o setor já deveria estar regu-lamentado. “Isso é fundamental e deve-ria ser feito o mais rapidamente possível. As reuniões e as discussões para tratar do assunto já vêm ocorrendo há mui-tos anos. Existe um esforço autêntico no sentido de criar as normas ouvindo to-dos os especialistas na área. Talvez falte empenho político no sentido de acelerar o processo”, avalia.

    Rodrigo Kuntz, da BRVANT, afir-ma que entende o lado da Anac e desta-ca que não é só no Brasil que o setor não foi regulamentado: “Nos Estados Uni-dos e na Austrália, por exemplo, não há uma regulamentação específica para os vants. O que existe são portarias circu-lares que delimitam a operação”. No en-tanto, o executivo pondera: “Fica difícil para as empresas desenvolverem suas tecnologias [sem a regulamentação]”.

    Hoje, no Brasil, a iniciativa mais impor-tante para a regulamentação é a de uma

    Na cultura popularVistos com frequência nos telejornais, os drones agora fazem parte da cultura popular. A atual novela das 7 da Rede Globo, Geração Brasil, exibe um festi-val de tecnologia, incluindo drones, ho-logramas e robôs. O seriado 24 Horas, exibido na FOX, canal de TV paga, narra em sua mais recente temporada, após um intervalo de quatro anos sem novos episódios, a saga de Jack Bauer (Kiefer Sutherland) enfrentando ciberativistas e drones militares. Os vants também foram vistos no jogo Call of Duty e no filme O Legado Bourne.

    comissão da Associação Brasileira de In-dústria de Defesa (Abimde). “Essa comis-são se reúne periodicamente e os temas debatidos são referentes à regulamenta-ção. Eles levam em conta opiniões de em-presas, do operacional e da Anac”, diz Kuntz. No entanto, o empresário lamenta que a situação ainda não tenha sido solu-cionada: “O único ponto falho que eu ve-jo nisso é o atraso dessas leis”.

    Giovani Amianti, da XMobots, diz

    que haver regras é fundamental para o desenvolvimento do setor, mas destaca as medidas de segurança atuais da Anac. “O certificado [Cave] traz mais seguran-ça para o setor e acaba funcionando co-mo um selo de confiabilidade para os vants, pois a Anac não emite autoriza-ções de voo para equipamentos que não sejam de alta qualidade”, afirma.

    Os vants que tiverem o Cave podem voar nas áreas rurais do Brasil. Voos em áreas urbanas ainda não estão autoriza-dos pela agência e a captação de imagens feitas por avião não tripulados nessa área é ilegal. “O principal desafio da agência será a regulamentação de drones em área urbana. Estamos vendo muitos casos de aviões que estão filmando grandes even-tos, sem nenhuma norma que defina os parâmetros desses voos”, diz Amianti. O executivo lembra de um episódio, no mês passado, noticiado por agências in-ternacionais, em que um avião da Ameri-can Airlines quase colidiu com um drone no estado da Flórida: “Se isso realmente viesse a ocorrer, seria uma catástrofe de-sastrosa para o setor e, provavelmente, as operações com drones seriam proibidas. Estamos lidando com vidas, por isso é preciso total responsabilidade”.

    BRV-01, da BRVANT: 80% dos clientes são do governo federal

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  • NEGÓCIOSInvestImentos

    38 Américaeconomia Outubro, 2014

    Apesar da alta taxa de desemprego e do êxodo para cidades norte-americanas, Porto Rico procura atrair investidores com leis de incentivo e baixas taxas de impostos Rafael Américo, de São Paulo

    A gangorra porto-riquenha

    C enário de praias deslumbran-tes, florestas tropicais e cons-tante roteiro de cruzeiros que cruzam o Caribe, Porto Ri-co esconde um complicado vaivém de mazelas econômicas. Desde 2006, a ilha exibe uma taxa média de desem-prego de 15,4% e se aproxima da reces-são. Hoje, tem uma dívida que supera os US$ 70 bilhões. O panorama é preocu-pante, mas, habituados a reviravoltas, os porto-riquenhos acreditam na recupera-ção e oferecem cada vez mais atrativos para recuperar os investimentos no país.

    Os anos de ouro da economia da ilha, iniciados na década de 1970, foram um reflexo da Seção 936 do Código da Re-ceita Federal Americana, que isentava de impostos companhias americanas com operações em Porto Rico. Em 1995, os lucros acumulados e depositados por essas companhias em bancos porto-ri-quenhos atingiram a marca de US$ 7,6 bilhões. Com a extinção da medida em 2006 e a consequente fuga das reservas, o déficit orçamentário do Estado alcan-

    çou US$ 3,3 bilhões e a avaliação de cré-dito do país chegou muito perto da clas-sificação “alto risco”. No mesmo ano, Luis Fortuño, governador de Porto Rico, reagiu, promovendo, entre outras medi-das, um enxugamento dos orçamentos governamentais em mais de 20%. Em 2011, a avaliação da dívida de Porto Ri-co, de acordo com a Agência Moody’s, passou de Baa3 para A3, seu melhor re-sultado em 35 anos. O custo de vida e o desemprego, porém, mantiveram-se al-tos e, apesar de medidas como o aumen-to de impostos e a revisão das pensões, adotadas pelo sucessor de Fortuño e atu-al governador Alejandro García-Padilha, em 2014 as agências Standard & Poor’s e Moody’s reduziram a nota da dívida de Porto Rico para a posição “lixo”, alegan-do dificuldade do território em financiar seu déficit, então de US$ 2,2 bilhões. O cenário intensificou o êxodo de porto-ri-quenhos em busca de emprego nos esta-dos norte-americanos próximos, como Flórida e Texas, para fugir do desempre-go, que se encontrava em 15,4%. Algo

    que não preocupa o economista porto-ri-quenho Vicente Feliciano. “Assim que a economia melhorar, os porto-riquenhos voltarão para sua terra”, acredita.

    Mas como reverter o cenário? “Esta-mos protegendo nossa base industrial, ex-pandindo as empresas que já estão lá e tra-balhando com outros segmentos, como o aeroespacial”, responde Antonio Medina, diretor executivo da Companhia de Fo-mento Industrial de Porto Rico. O execu-tivo lembra que, em abril deste ano, a Luf-

    O 51o estadO americanO? Porto Rico faz parte dos Estados Unidos, porém, é um estado livre associado e

    tem autonomia fiscal. Há décadas é discutida a possibilidade de que a ilha seja considerada um estado americano; e em três referendos (1967, 1993 e 1998) a integração foi rejeitada pelos porto-riquenhos. Em novembro de 2012, finalmen-te, a maioria dos cidadãos disse “sim” para a inserção de Porto Rico aos Estados Unidos, quando 61% dos porto-riquenhos votaram a favor de a ilha se tornar o 51o estado americano. Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, havia se com-prometido a respeitar o que decidisse a maioria. No entanto, para que isso se tor-ne realidade, é necessária a aprovação do Congresso dos Estados Unidos, que, segundo a mídia internacional, não vê com bons olhos a possibilidade de acolher a ilha em grave crise econômica.

    A ilha se destaca por seu desempenho nas áreas farmacêutica e de biotecnologia

  • Outubro, 2014 Américaeconomia 39

    thansa anunciou a construção de uma base de reparações de aeronaves em uma área de 1.580 hectares no Aeroporto Interna-cional Rafael Hernández, em Aguadilla, a qual, em seus primeiros meses de fun-cionamento, no ano que vem, deverá con-tar com cerca de 400 técnicos.

    Embora Porto Rico seja mais conheci-do pelo turismo, a ilha tem atrativas leis de incentivo para manufatura e exporta-ção de serviços, além de baixas taxas de imposto, ao redor de 4%. Foi esse o moti-vo que levou Nicholas Prouty, fundador e principal executivo da Putnam Bridge Funding, empresa voltada para a aquisi-ção e a gestão de propriedades com pro-blemas econômicos nos Estados Unidos e no exterior, a investir em Porto Rico. “Existe um ecossistema bem atraente e desenvolvido em Porto Rico para os ne-gócios, já que a ilha possui um sistema de tributação nada burocrático”, afirma.

    Medina ainda reforça a importância do investimento nas principais áreas de negócios de Porto Rico – produção de rum, indústrias têxtil, farmacêutica de biotecnologia e dispositivos médicos. As três últimas, somadas, representam 25%

    do PIB do Estado, e 12 das 20 maiores empresas farmacêuticas e de biotecno-logia do mundo operam na ilha. Só a in-dústria farmacêutica, que atua em Porto Rico há mais de 50 anos, emprega cerca de 18 mil pessoas. “Uma empresa farma-cêutica localizada na ilha conseguirá a aprovação da Administração de Drogas e Alimentos [FDA, na sigla em inglês, é um órgão do governo dos Estados Uni-dos que controla a liberação de remédios e tratamentos médicos] de forma muito mais fácil do que em qualquer outro lu-gar do mundo”, diz Prouty.

    Apesar desse potencial, Porto Ri-co ainda enfrenta grandes desafios pa-ra mudar de forma definitiva sua eco-nomia. A infraestrutura deixa a desejar, especialmente na área de energia e lo-gística, e os empresários reclamam das regulamentações governistas e das po-líticas fiscais. Para Robert Shapiro, di-retor da iniciativa de globalização da NDN, instituição que estuda o alcance das novas tecnologias e seu impacto na política, a melhor alternativa para a ilha é se inspirar na Irlanda – que tem sido capaz de posicionar-se como opção de baixo custo para as empresas estrangei-ras interessadas no mercado lucrativo do Reino Unido. Porto Rico pode oferecer aos investidores estrangeiros um ponto de acesso ao mercado norte-americano. Além disso, acrescenta, há no território mão de obra qualificada de baixo custo e população bilíngue.

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    a seçãO 936A Seção 936 do Código da Receita Federal Americana foi criada em 1976 para

    fazer deslanchar os mais diversos negócios na região. Inicialmente vista como bênção, a medida acabou, porém, revelando-se uma maldição para os nativos. Ao isentar de impostos companhias norte-americanas que operavam em Porto Rico, o mecanismo produziu uma onda de investimentos, que geraram empregos e impulsionaram o setor bancário – fortemente beneficiado pela alta liquidez dos depósitos dos investidores. A festa durou até 1996, quando o Congresso dos Estados Unidos revogou a Seção 936, permitindo que as empresas existentes mantivessem os benefícios previstos pela lei por dez anos. Em 2006, com o fim definitivo da isenção de impostos, a economia porto-riquenha caminhou para uma verdadeira derrocada. Com a ausência de incentivo, muitas empresas saíram da ilha, deixando para trás milhares de cidadãos desempregados.

  • 60 AméricaEconomia Agosto, 2014

    EMPREENDEDORISMOEDUCAÇÃO

    Depois de contar sua história em um e-book que virou best-seller, a brasileira Bel Pesce deixou a carreira no Vale do Silício para formar empreendedores no Brasil Rafael Américo, de São Paulo

    A receita da menina do Vale

    O largo sorriso é o primeiro atributo que se destaca quan-do se conhece Bel Pesce. De-pois de ouvi-la por alguns minutos, é fácil perceber sua paixão pelo trabalho, sua perseverança e habilidade comunicativa. Com apenas 26 anos, Bel já exibe uma invejável lista de metas al-cançadas antes de abrir, no ano passado, a FazINOVA, escola de empreendedoris-mo e inovação brasileira que já formou mais de mil alunos nos cursos presenciais e mais de 30 mil na versão on-line.

    Nascida em uma família de classe mé-dia em São Paulo, a empresária demons-trou desde cedo seu interesse em conhecer e analisar o mundo a seu redor. Construía computadores com 12 anos e desenvol-via websites aos 14. “Eu era aquela típica nerd chata que quer saber como tudo fun-ciona”, afirma. Foi em 2005, quando ain-da frequentava o colégio, que surgiu a ideia de estudar no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Quando tentou prestar o vestibular para a instituição, porém, descobriu que as ins-crições estavam finalizadas. Mesmo as-sim, foi até a escola que aplicava uma pro-va escrita exigida pelo MIT. A insistência valeu a pena: um dos inscritos não compa-receu e ela conseguiu não só fazer o exame como ser aprovada no processo seletivo da renomada instituição, onde cursou enge-nharia elétrica e ciências da computação.

    Os estudos e a vida nos Estados Unidos foram bancados com o trabalho que conse- F

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  • Agosto, 2014 AméricaEconomia 61

    guiu no próprio MIT, onde passou por di-versas áreas, “do telemarketing ao conser-to de robôs quebrados”. Durante as férias, corria em busca de estágios. Foi assim que passou por corporações como a Microsoft, em Seattle, e a Google, no Vale do Silício, perto de São Francisco. Somando as ex-periências profissionais e educacionais, já graduada, decidiu se estabelecer no Vale do Silício: “Eu tinha gostado muito do Va-le. Existia algo que havia chamado minha atenção. Reparei que o local era, de longe, o mais competitivo, mas, ao mesmo tem-po, o mais colaborativo do mundo”.

    Na região, gerenciou três times de en-genheiros na Ooyala, plataforma de vídeo on-line líder em relatórios de analítica, e se tornou sócia da Lemon Wallet, espécie de carteira em versão digital que alcançou 1 milhão de usuários em apenas três meses. O aplicativo armazena dados de cartões e recibos com a câmera do smartphone, que funciona como um scanner.

    Enquanto trabalhava na Lemon, embar-cou em uma nova empreitada por acaso, mas que a tornou famosa no mundo todo: escreveu o livro A Menina do Vale. “Era só um projetinho de brincadeira”, diz. O resultado surpreendeu. Condensadas em um e-book disponibilizado em meados de 2012, suas experiências no Vale do Silício e no MIT foram lidas por cerca de 100 mil pessoas em apenas cinco dias. “O que era para ser uma distração entrou no coração.”

    Na publicação em formato PDF, Bel acrescentou uma conta de e-mail para estimular o contato com seus leitores e, logo no início, viu sua vida tomar outro rumo: “A primeira mensagem que eu li era de uma senhora de 92 anos dizendo que havia criado a conta de e-mail de-pois de ler o livro, pois precisava se co-

    municar comigo. Ela dizia que, havia dez anos, sonhava em criar uma fran-quia de trufas e que nunca tinha tido coragem. Mas, após a leitura do livro, criou essa coragem e abriu a franquia em Campinas com a melhor amiga de-la, de 94 anos”, afirma.

    Com mais de 2 milhões de downloads e milhares de mensagens chegando por e-mail, Bel começou a formatar um pro-jeto de educação no Brasil. Foi assim que nasceu a FazINOVA. A escola, localiza-da no bairro da Liberdade, em São Pau-lo, é voltada para o empreendedorismo e oferece cursos sobre criatividade, foto-grafia, inovação e branding, criação de modelo de negócios, entre outros.

    Com a ajuda de nove pessoas que tra-

    balham diretamente na empresa e dos professores convidados para dar aulas e palestras, a FazINOVA atrai por seus di-ferenciais, como o modelo de coworking oferecido pela escola, por meio do qual pessoas e empresas pagam para utilizar seu espaço. Com R$ 500, por exemplo, é possível ter acesso a 50 horas mensais na FazINOVA. Já por R$ 1.500 (mais R$ 1.250 por pessoa da equipe) mensais, o interessado tem direito à utilização ilimitada do local. Em sua versão digi-tal, a empresa se destaca pelas videoau-las com conteúdo próprio e de pequena duração – de 30 segundos a 2 minutos – que não comprometem a atenção do usuário online.

    Bel não fala sobre o faturamento da em-

    presa e afirma que o lucro não é o mais importante, já que sua meta é democra-tizar conteúdos relevantes e disseminá--los de forma acessível. A escola não é a única fonte de renda da empresária, que ainda atua como conselheira de diversas startups e tem uma carreira em ascensão como escritora. Depois de A Menina do Vale, que se tornou best-seller, a autora lançou seu segundo livro no ano passado, Procuram-Se Super-Heróis, em que ofe-rece conselhos ao público em geral sobre relacionamentos interpessoais. Neste ano, ela pretende lançar outro título, mais se-melhante ao primeiro sucesso, com dicas de empreendedorismo.

    Embora avance como resultado da ima-gem positiva de Bel, que foi eleita um dos

    100 brasileiros mais influentes de 2012 pe-la revista Época, a FazINOVA também de-ve seu crescimento ao constante aumento da demanda por formação empreendedora no Brasil. Segundo pesquisa da Endeavor, organização internacional sem fins lucrati-vos, o número de empreendedores aumen-tou 44% no Brasil nos últimos dez anos.

    Na avaliação de Bel, o pulo do gato da FazINOVA é a oferta de formação que vai além do aprendizado específico sobre o negócio. “O empreendedor cria produ-tos para tocar vidas”, afirma. Por isso, antes de ensinar a empreender, a escola procura ajudar as pessoas a desenvolver as próprias ideias e a descobrir seus ta-lentos. E é seguindo essa receita que Bel constrói sua trajetória. F

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    Modelo de coworking, cursos diferenciados e localização privilegiada são os destaques da escola

    Em dez anos, o número de empreendedores cresceu 44% no país. Esse movimento é um dos

    responsáveis pelo sucesso da FazINOVA

  • 72 AméricaEconomia Novembro, 2014

    250 maiores BaNCos Da amériCa latiNaCultura

    Com apoio de leis de incentivo, bancos brasileiros apostam no marketing cultural para associar imagem a iniciativas bem vistas pela sociedade Rafael Américo, de São Paulo

    Investir para aparecer

    N as últimas décadas, a disse-minação de incentivo à cultu-ra por meio do marketing tor-nou-se cada vez mais comum na sociedade. Seja patrocinando even-tos, seja batizando teatros e salas de cinema com seus nomes – os chama-dos naming rights, empresas brasilei-ras têm investido em ações de marke-ting cultural com o intuito de estreitar as relações com seus clientes. No caso específico dos bancos, qual o benefício de colocar dinheiro em iniciativas artís-ticas e culturais?

    No ano passado, o Banco do Bra-sil investiu R$ 91,9 milhões em marke-ting cultural. Boa parte desses recursos – R$ 41,9 milhões – foi para o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O projeto começou no Rio de Janeiro em 1989. “Várias empresas, inclusive ban-cos privados, já investiam em cultura. No entanto, eram patrocínios isolados, sem a frequência desejável, ou então sa-las simples de exposições. O BB ino-vou quando criou um espaço amplo e multidisciplinar, com atrações regula-res e concentradas em um canal”, afir-

    ma Hayton Jurema da Rocha, diretor de marketing e comunicação da instituição.

    Em 25 anos, já foram realizados mais de 3.500 projetos envolvendo cinema, teatro, música, dança e exposições, atingindo mais de 60 milhões de visi-tantes nas quatro unidades do CCBB, localizadas em São Paulo, Rio de Janei-ro, Brasília e Belo Horizonte. Encerra-da em setembro, a exposição de Salva-dor Dalí, no CCBB do Rio de Janeiro, por exemplo, chegou a receber um pú-blico de quase 1 milhão de pessoas em quatro meses.

    Exposição de Salvador Dalí, no CCBB, no Rio de Janeiro: 1 milhão de visitantes

  • Novembro, 2014 AméricaEconomia 73

    Além do benefício de imagem, o in-vestimento em cultura vem acompa-nhado de benefícios fiscais. Rocha re-vela que, em 2013, 94% dos recursos aplicados na programação dos centros foram realizados com benefício fiscal pela Lei Rouanet – que permite isen-ção fiscal até 30% de imposto devido.

    O Bradesco não informa quanto inves-te em marketing, mas revela outros nú-meros para comprovar sua atuação no ce-nário cultural brasileiro. No ano passado, o banco apoiou 350 eventos, alguns de grande porte, como o Carnaval do Rio de Janeiro e o de Salvador e o Festival Fol-clórico de Parintins, no Amazonas. Mu-sicais como Hair Spray, Gaiola das Lou-cas e Shrek também foram incentivados.

    Para Jorge Nasser, diretor de marke-ting do banco, esses patrocínios con-tribuem, e muito, para a imagem da instituição. “O apoio a manifestações culturais reforça a lembrança de nossa marca, e esse reconhecimento nos mo-tiva a continuar investindo”, diz. Os pro-jetos do Bradesco são escolhidos por uma área específica de patrocínios que analisa as vantagens para o posiciona-mento da marca à abrangência das so-licitações. O banco também faz uso do naming rights, batizando teatros em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e salas de cinema em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, com seu nome.

    Sem revelar o total destinado ao mar-keting cultural, o Itaú Unibanco conta, por meio de sua assessoria de imprensa, que, no ano passado, R$ 422,7 milhões foram investidos em ações voltadas pa-

    ra educação, cultura, esporte e mobili-dade urbana. Desse total, R$ 248,2 mi-lhões correspondem a patrocínios com recursos das empresas do banco e dos orçamentos próprios e R$ 174,5 mi-lhões a recursos com incentivo fiscal por meio de leis como Rouanet e Incentivo ao Esporte. A atuação da instituição na cultura e no esporte é ampla: tornou-se banco oficial da Copa do Mundo da Fi-fa 2014™, criou o Itaú Cultural, espaço que abriga exposições, peças de teatro e shows, o Espaço Itaú de Cinema e ainda apoia festas populares, como o Festival de Teatro de Curitiba e o Rock in Rio.

    A Caixa Econômica Federal investiu R$ 81,8 milhões em marketing cultural no ano passado. “O patrocínio artístico é

    uma ferramenta para efetivar a universa-lização da cidadania, promover a inclusão social e formar novos públicos para a cul-tura nacional”, afirma Gerson Bordignon, superintendente nacional de promoções e eventos da Caixa. O executivo destaca duas no setor: o Cinema no Ar e a Orques-tra Criança Cidadã. A primeira foi patro-cinada entre 2012 e 2013 e exibiu 280 ses-sões gratuitas de cinema ao ar livre em 62 cidades do Nordeste brasileiro, atingindo 70 mil espectadores. A outra, patrocinada desde 2009, em Recife, ganhou reconhe-cimentos internacionais, como o da Orga-nização das Nações Unidas, que definiu o projeto como uma boa prática de inclusão social, em dezembro de 2010.

    MENTE E CORAÇÃO Em termos de imagem, os bancos es-tão no caminho certo ao apoiar esses projetos? Para Kluk Neto, economis-ta e professor de marketing na Funda-ção Armando Álvares Penteado (Faap), a resposta é sim. “A lembrança de uma marca passa pela conquista de uma po-sição na mente e no coração das pes-soas, e com os bancos isso não é dife-rente”, avalia. Segundo o especialista, as leis de incentivo, como a Rouanet, foram fundamentais para o desenvol-vimento do marketing cultural nos úl-timos anos. “Elas [as leis] criaram um ambiente de patrocínio no país. Embora existam muitas críticas em relação à de-pendência que podem gerar, é impossí-vel negar sua importância”, afirma Neto.

    Mesmo diante das altas cifras de in-vestimento do setor bancário na cultu-ra, ainda assusta o número de brasileiros sem acesso a nenhuma atividade ligada à área no país. De acordo com o relatório Panorama Setorial da Cultura Brasilei-ra, publicado em setembro pela pesqui-sadora e docente da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Gise-le Jordão, cerca de 42% da população – de um universo de 1.620 pessoas entre-vistadas – não consome nenhum tipo de cultura, ou seja, não participa de ativida-des ligadas a música, arte, cinema, tea-tro, museus e leitura.

    O QUE ELES APOIAM Cifras e principais projetos dos bancos brasileiros no país

    Banco do Brasil

    Quanto investe? R$ 91,9 milhões

    em 2013 PrinciPal Projeto:

    CCBB

    Bradesco

    Quanto investe? Não revela

    PrinciPais Projetos: Carnavais do Rio de

    Janeiro e de Salvador e Festival Folclórico

    de Parintins, no Amazonas

    itaú UniBanco

    Quanto investe? Não especifica

    PrinciPais Projetos: Copa do Mundo da Fifa 2014, Rock in

    Rio e Espaço Itaú de Cinema

    Quanto investe? R$ 81,8 milhões

    em 2013 PrinciPais Projetos:

    Cinema no Ar e Orquestra Criança

    Cidadã

    caixa econômica Federal

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    Nasser, do Bradesco: apoio a cultura reforça lembrança da marca

  • 66 AméricaEconomia Novembro, 2014

    250 maiores BaNCos Da amériCa latiNaQUaliDaDe

    Participação dos bancos nos rankings de reclamações diminui, mas instituições ainda lideram listas de queixas, sobretudo ao cobrar por serviços não prestadosRafael Américo, de São Paulo

    A equação da eficiência

    C obrança indevida, insatisfação com o atendimento e as mais variadas falhas fazem parte da lista de queixas de clientes sobre os bancos brasileiros em ouvido-rias e nos sistemas do Banco Central e dos órgãos de defesa do consumidor. No ano passado, segundo levantamento do Procon-SP, oito das 20 empresas com o maior número de reclamações eram do setor. Neste ano, até setembro, o cená-rio foi melhor: o número de bancos en-tre as 20 empresas mais reclamadas caiu para cinco. AméricaEconomia indagou aos bancos o porquê desse movimento e a resposta foi unânime entre as institui-ções: priorizou-se a busca pela qualida-de do atendimento.

    Quarto colocado no ranking dos 250 Maiores Bancos da América Latina, o Bradesco afirma ter sido pioneiro nessa busca de qualidade. Em 1985, a institui-

    ção criou o Alô Bradesco, um dos pri-meiros canais de reclamações do setor financeiro. “Vemos que o consumidor é capaz de fazer com que as empresas repensem continuamente a performan-ce esperada dos produtos e serviços e o aperfeiçoamento das relações de con-sumo no Brasil”, afirma Nairo Vidal, gerente da ouvidoria do banco.

    No caso do Santander – quinto co-locado no ranking –, uma das estraté-gias é realizar pesquisas internas para mapear a experiência de cada clien-te, fóruns, comitês e premiações aos funcionários com o melhor desempe-nho no atendimento, inclusive com au-mentos salariais. Segundo Nilo Carva-lho, diretor de qualidade do banco, um dos projetos que se destacam é o Pro-grama de Atendimento A+, que anual-mente seleciona 100 funcionários que se sobressaem no relacionamento com

    o cliente levando-os para cursos de reciclagem fora do país. “É imprová-vel desenvolver qualquer plataforma de negócio sustentável sem priorizar a qualidade do atendimento”, afirma, não revelando, porém, o investimento do banco na área.

    O Banco do Brasil – vencedor do ranking dos 250 Maiores – possui uma carteira de mais de 60 milhões de clien-tes. Segundo Gueitiro Matsuo Genso, diretor de clientes pessoa física da ins-tituição, são realizados constantemen-te treinamentos para os funcionários. “As sugestões e as reclamações recebi-das são analisadas para retroalimentar processos”, afirma o executivo.

    Segundo colocado no ranking, o Itaú Unibanco também ressalta a im-portância da satisfação dos clientes. “Essa busca não se trata de apenas um bordão ou uma frase pendurada na pa-rede. Ela representa nossa forma de encarar e fazer negócios”, afirma Leila Melo, diretora da ouvidoria da institui-ção. No ano passado, segundo ela, uma das medidas adotadas pela instituição foi a redução do prazo de atendimento

    NO QUE ELES PECAMReclamações mais recorrentes no Procon de São Paulo

    Reclamação 2012* 2012** 2013* 2013** 2014*

    cobrança indevida 5.933 6.543 6.644 5.975 4.507

    contrato (não cumprimento, alteração, transferência, irregularidade, rescisão etc.)

    3.454 3.981 3.684 3.526 2.262

    Falha bancária em transações eletrônicas (transferência indevida, saque indevido)

    1.019 1.078 916 783 657

    Tarifas bancárias (cobrança não autorizada) 385 909 593 478 221

    cálculo de prestação/taxa de juro 503 868 539 618 357

    Outras 4.417 5.919 4.910 5.035 3.755

    Total 15.711 19.298 17.286 16.415 11.759

    Banco Posição no Ranking geRal

    Itaú Unibanco 3º

    Bradesco 5º

    Caixa Econômica Federal 11º

    Santander 12º

    Banco do Brasil 20º

    Fonte: Procon-SP

    TOP 5 - OS MAiS rECLAMAdOSDe janeiro a setembro de 2014

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    *1º semestre – **2º semestre

  • Novembro, 2014 AméricaEconomia 67

    no SAC, de cinco para três dias úteis. A Caixa Econômica Federal – tercei-

    ra no ranking –, além de treinamento, afirma estar investindo na ampliação de sua rede de atendimento. De acor-do com Valter Gonçalves Nunes, dire-tor executivo de atendimento e negócios da instituição, as unidades que alcança-rem ou superarem as expectativas rece-berão certificações. “Desenvolvemos campanhas com o intuito de obter a me-lhor percepção do cliente, reconhecen-do as unidades que se destacam”, conta.

    O HSBC – oitavo no ranking dos 250 Maiores – afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que a estraté-gica da instituição é resolver a “causa raiz”, ou seja, buscar o fator que moti-vou o problema. Além disso, todos os gerentes de relacionamento do banco são avaliados com métricas de reco-mendação e satisfação.

    POSITIVO, MAS NEM TANTO Ainda que tenham comemorado a di-minuição da participação do setor nos rankings de queixas, os bancos con-tinuam encabeçando as listas de re-

    clamações. No caso de São Paulo, por exemplo, segundo o Procon, no acu-mulado dos nove primeiros meses do ano, Itaú Unibanco, Bradesco e Santan-der figuraram entre as dez companhias mais reclamadas. “A queixa é nossa oportunidade de solucionar problemas e nos reaproximar do cliente. O consu-midor hoje é muito mais consciente de seus direitos”, afirma Maria Lúcia Et-tore, ouvidora do Santander.

    Nairo Vidal, do Bradesco, afirma que está na maior bancarização do país o fato de as reclamações terem aumentado. “Com a migração das classes sociais, uma parcela cada vez maior da sociedade passa a ter aces-so aos produtos e serviços bancários, tornando o setor financeiro um dos que possuem a maior base de clien-tes ativos”, diz. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o ín-dice de bancarização brasileiro alcan-çou 57% no ano passado, enquanto em 2009 era de 49%.

    O gerente do Bradesco ressalta, ain-da, que os resultados nos rankings de

    reclamações se devem também ao fato de o cliente buscar antes esses órgãos do que a solução nos bancos. “Uma parcela desses clientes tem a percep-ção de que somente os órgãos de de-fesa do consumidor são capazes de colocar a qualidade dos serviços em perspectiva e não procuram os canais internos, como as agências, o SAC e a ouvidoria, para a solução de suas de-mandas”, afirma.

    Alexandre Modonezi, diretor execu-tivo do Procon-SP, afirma que o traba-lho da fundação não é só ajudar o con-sumidor a resolver um problema, mas também fazer com que as empresas melhorem seus índices de solução e, consequentemente, sua imagem. “Até a primeira quinzena de outubro des-te ano, o índice de solução de recla-mações de bancos girava em torno de 80%, o que é considerado baixo. O ide-al é ter tal resolução acima de 95%”, explica o executivo. Segundo ele, hou-ve, de fato, um avanço no atendimen-to, mas ainda é preciso melhorar muito para atingir a excelência.

    Modonezi, do Procon-SP: o índice de solução de problemas tem de melhorar

    Genso, do BB: queixas avaliadas

  • EMPREENDEDORISMOMúsica

    40 américaEconomia Novembro, 2014

    Professor fica milionário vendendo DVDs que ensinam música após sucesso com vídeos tutoriais no YouTube Rafael Américo, de São Paulo

    Na sala de aula ou de casa

    Um violão e uma câmera. As-sim Heitor Castro se tornou um dos nomes mais popu-lares da educação de músi-ca na cidade do Rio de Janeiro. Somente no ano passado, o ex-analista de siste-mas de 45 anos afirma ter lucrado quase R$ 1 milhão com uma estratégia consi-derada obsoleta num mundo altamen-te conectado como o de hoje: a venda de DVDs com dicas de canto, violão e piano.

    O caminho para o sucesso, entretanto, começou em 1996, quando abriu, na Bar-ra da Tijuca, a primeira das quatro uni-dades da escola Mais que Música. Dez anos depois, em 2006, um canal no You-Tube, onde dava dicas aos alunos matri-culados, foi o trampolim para ampliar seus negócios: 20 milhões de acessos e a ideia de vender os DVDs. “No começo, eram lembretes direcionados aos alunos que treinavam algum instrumento em casa e se esqueciam de um detalhe es-pecífico”, conta. Com o sucesso na rede, o empresário decidiu se aventurar pelos mares do ensino a distância. E ele tinha razão: segundo o último censo da Asso-ciação Brasileira de Educação a Distân-cia (Abed), os cursos a distância soma-ram, em 2012, 5,8 milhões de matrículas – um crescimento de 52,5% em compa-ração com o ano anterior.

    Inicialmente, por volta de 2008, Cas-tro vendia em bancas de jornal os DVDs acompanhados de uma revista com aulas de violão. Após alguns meses, focou ape-nas os discos, adotando um método que

    ele diz ser o sucesso de seu negócio. “En-sino com sinceridade, mostro o esperado de alguém depois de um mês de aula no curso de violão, por exemplo, e estabele-ço uma meta real após o período, como um pequeno solo de poucas notas. Quan-do o aluno consegue alcançar essa meta, eu ganho sua confiança. Minha didáti-ca é simples: proponho pequenas tarefas para o estudante se sentir bem-sucedi-do de forma gradual e, dessa forma, es-timulá-lo a continuar estudando”, revela. As vendas dos discos são feitas pela in-ternet, onde, segundo ele, existem mui-tas propagandas prometendo ensinar a ser um grande músico em pouco tempo, mas que são enganosas.

    A história de Castro no mundo da mú-sica começou há 20 anos, quando largou

    a informática para morar em Los An-geles, nos Estados Unidos. Ele só havia feito a faculdade de ciências da compu-tação por receio de assumir a música e

    Heitor Castro em números

    Lucrou R$ 1 milhão no ano passado

    Ensinou mais de 10 mil pessoas

    Mais que Música: 600 alunos em 4 unidades no Rio

    DVDs: 85 mil vendidos

    YouTube: 20 milhões de acessos

    As aulas pela internet começaram em 2006; dois anos depois, a venda de DVDs

  • Novembro, 2014 américaEconomia 41

    não conseguir viver dela. Na terra do Tio Sam, estudou durante um ano na con-ceituada Guitar Institute of Technology (GIT) e se virava trabalhando como en-tregador de pizzas e mensageiro, até tes-tar seu aprendizado em shows de casas noturnas na região.

    Voltou para o Brasil dois anos mais tarde e começou a dar aulas de música em casa. O constante fluxo de estudan-tes passou a se tornar um incômodo pa-ra seus pais, com quem morava até então, e a abertura da primeira Mais que Mú-sica, em 1996, na Barra da Tijuca, virou uma necessidade. “Já tinha cerca de 40 alunos quando inaugurei a escola. Desde o início tive sorte”, afirma. Hoje, a Mais que Música tem 600 alunos e representa um terço do faturamento do empresário.

    Os outros dois terços vêm dos mais de 85 mil DVDs vendidos até hoje. Se-gundo ele, a demanda pelos discos cres-

    ce cerca de 5% ao mês. No ano passado, o músico lucrou R$ 1 milhão, mas não revela qual a expectativa de receitas pa-ra este ano. Cada DVD – que tem exa-tamente o mesmo conteúdo ministrado em um mês de aula na Mais que Música, segundo ele – custa cerca de R$ 40, en-quanto a mensalidade da escola gira em torno de R$ 300.

    Indagado se pretende deixar as esco-las e, com elas, os custos com funcioná-rios e manutenção para focar apenas as aulas gravadas, a resposta é categórica: não. Segundo Castro, a instituição criada por ele dá credibilidade à marca. “Embo-ra um dos maiores benefícios dos DVDs seja o fato de não oferecerem limitações físicas, a escola assegura a interativida-de entre os alunos que alguns conside-ram essencial”, pondera. Além disso, há público para as duas estratégias, traduzi-das na divisão da procura por faixa etá-

    ria. Nas aulas presenciais, a maioria dos alunos tem 20 anos, mas há estudantes de 3 a 60 anos. Já os DVDs são consu-midos, na maior parte, por pessoas de 25 a 40 anos.

    Planos para o futuro? O professor des-carta a possibilidade de abrir uma nova unidade porque afirma que não conse-guiria gerenciá-la de maneira satisfa-tória. Mas deixa escapar a vontade de transformar a Mais que Música em uma rede de franquias. “Recebi muitas pro-postas, mas ainda não estou focado em transformar isso em realidade”, diz. Por enquanto, seu plano principal é expan-dir a comercialização dos DVDs. E isso já está acontecendo por meio da oferta de dois novos cursos, em preparação, que ensinarão guitarra e baixo. Com eles, o professor espera atrair novos alunos para seu método “sincero” de ensino, enquan-to vai aumentando o saldo bancário. Fot

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  • NEGÓCIOSPESCA

    24 AméricaEconomia Dezembro, 2014 Dezembro, 2014 AméricaEconomia 25

    A pesca esportiva cresce no país gerando renda em regiões isoladas, mas pode ser ameaçada pela prática amadora e predatóriaRafael Américo, de São Paulo

    O mar está pra peixe

    O Brasil tem 8.500 quilôme-tros de costa e um dos mais ricos ecossistemas do globo. Das variadas carpas ao dou-rado, a região conta com mais de 2.500 diferentes espécies de peixe, valor cor-respondente a 10% da fauna de água doce do mundo. Segundo dados do Estudo de Ideias de Negócios para 2014, divulgado

    pelo Serviço de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (Sebrae), a pesca praticada por lazer, ou seja, sem que ela dependa da subsistência do pescador, conta com mais de 280 mil pescadores amadores esporti-vos licenciados no Brasil.

    Esse número é ainda maior se contar-mos as pessoas quem têm o hábito de pescar no país, como esporte e para la-

    zer. De acordo a Ipsos/Marplan, empresa de pesquisa e inteligência, em dez anos, quase dobrou o número de praticantes de pesca no Brasil, passando de 4 milhões para 7,8 milhões. E os números expres-sivos não param por aí: a pesca esporti-va movimentou R$ 1 bilhão em 2013 no país e gera cerca de 200 mil empregos di-retos e indiretos. Estão incluídos nesse

    universo lojas de material de pesca, re-de hoteleira especializada, gastronomia, criadores de iscas vivas, guias para o es-porte, condutores de embarcações etc.

    Um exemplo de local especializado na prática da pesca como esporte – e com muito luxo – é o EcoLodge da Barra, lodge flutuante móvel e especializado em pesca esportiva fluvial, localizado na divisa dos estados de Amazonas, Pará e Mato Grosso, na confluência dos rios Teles Pires e Juruena, onde se forma o Tapajós. Lá, pela bagatela de R$ 9 mil é possível pescar por uma semana na pri-vilegiada região, sem contar a passagem até Manaus, ponto de encontro dos gru-pos. “O EcoLodge foi inspirado em ex-periências internacionais e foi feito nos moldes americanos e europeus. O ame-

    ricano, por exemplo, quer levar somen-te roupas para a viagem de pesca. Com o sistema all inclusive, a única preocu-pação do hóspede é com a pesca”, afir-ma Roberto de Carvalho Veras, sócio--diretor do empreendimento. Veras não revela o faturamento do negócio, mas afirma que, no ano passado, teve mais de 620 hóspedes.

    Para este ano, contudo, a meta é atin-gir 75% da ocupação de 2013. “Alguns fatores nos prejudicaram, como a maior cheia da história da região, a Copa do Mundo e a crise do Brasil, que se encon-tra em recessão”, lamenta.

    Distante do Tapajós, no coração do Pantanal, o Hotel Pesqueiro da Odila, localizado em Corumbá, destaca-se pe-la propaganda boca a boca dos hóspe-des devido ao sucesso que vem fazendo na região. Criado pela advogada Odi-la Silveira, apaixonada pela pesca por in fluência do marido, e há mais de 20 anos no mercado, o negócio oferece vi-sitas aos melhores pontos de pesca da área com peixes como pintado, cacha-ra e pacu, além de apartamentos confor-táveis e restaurantes com comida típica da região. Segundo Odila, o empreendi-mento surgiu após sua decepção com a profissão, quando era advogava em Be-lo Horizonte. “Eu não estava feliz e fica-va cada dia mais claro que eu não havia nascido para essa dinâmica vida forense. Com o tempo, minha vocação para a na-tureza foi ficando cada vez mais explíci-ta”, revela. Ela visitou a região pela pri-meira vez em 1987 e, encantada com o local, inaugurou uma empresa de turis-mo em Belo Horizonte mesmo, dedica-da completamente ao turismo de pesca esportiva. Em 1994, então, fundou o ho-tel. “Como eu já estava nesse segmento há algum tempo, pude suprir as necessi-dades e as exigências que os pescadores tanto almejavam”, conta.

    Hoje, Odila colhe os frutos do traba-lho. O faturamento do hotel neste ano vai se aproximar de R$ 1,5 milhão e o inves-timento realizado entre 2013 e 2014 foi de menos da metade – R$ 600 mil. O Fot

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    Setor é dominado peloS eUaO bilhão movimentado pelo setor da pesca esportiva pode impressionar a prin-

    cípio, mas, se comparado como valor nos Estados Unidos, por exemplo, pode ge-rar frustração. Lá, os quase 40 milhões de pescadores esportivos gastam anu-almente cerca de US$ 45 bilhões em equipamento, transporte, hospedagem e outras despesas associadas, com um impacto econômico de aproximadamente US$ 125 bilhões e geração de cerca de 1 milhão de empregos.

    O que é?De acordo com uma portaria

    do Ibama, a pesca é divida em duas categorias: a “esportiva”,

    em que o peixe é capturado e logo em seguida devolvido ao rio (pesca e solte), e a “amadora”, em que o

    peixe é levado com o pescador (comumente conhecida como

    pesca e pague).

    No rio Tapajós, entre os estados de Pará, Amazonas e Mato Grosso, turistas pagam cerca de R$ 9 mil por uma semana de pesca esportiva no EcoLodge da Barra

  • NEGÓCIOSPESCA

    26 AméricaEconomia Dezembro, 2014

    custo de uma semana no local com hos-pedagem, pescaria, alimentação e bebi-das gira em torno de R$ 3 mil. O negó-cio conta com 16 colaboradores fixos e recebe cerca de 50 hóspedes por semana.

    ALÉM DO TURISMOOutro negócio relacionado à pesca – a de venda de caiaques – também tem muito o que comemorar com o crescimento da prática no país. Fundada há 15 anos, a Brudden Náutica, empresa que hoje de-tém o título de maior fabricante nacional de caiaques, chega a vender, em média, 20 mil embarcações por ano. A compa-nhia tem 45 colaboradores e 800 clientes ativos, além de manter um centro técnico para teste e avaliação de seus produtos. O preço do caiaques varia de R$ 1.500 a R$ 2.950. “Desde que começamos o ne-gócio, presenciei o crescimento da pesca esportiva, principalmente relacionada a uma cada vez maior consciência ambien-tal do brasileiro”, acredita André Comi-no, gerente comercial da empresa.

    Essa consciência ecológica, aliada à vontade de maior divulgação da prática “pesca e solte”, aliás, é fundamental para a perpetuidade do negócio, segundo os empresários do setor. “Alguns executi-vos já investiram em pousadas enormes para a prática e acabaram encerrando seus negócios por causa da pesca preda-tória. Se acaba o peixe, acaba o empre-

    peSca na américa latina

    ArgentInA – Dourado, jaú, juru e pacu são algumas espécies encontradas nas águas do país. Por causa da proximidade com a Região Sul do Brasil, empresas localizadas no Paraná especializaram-se no envio de pescadores às águas argentinas. Alguns exemplos são o site Pesca Argentina e a Pousada Cascavel. ChIle – Com mais de 4 mil quilômetros de costa, o país ainda conta com grande número de lagos e rios onde é possível pescar. Alguns exemplos são o Lago Fagnano, o Lago Palena e a Lagoa Puelo, onde se pesca salmão o ano todo. Sites como o Go Chile oferecem informações detalhadas sobre locais e tipos de peixe para pescadores em potencial ao redor do mundo.

    Peru – Linguado, merlin, pâmpano, truta e corvina são algumas das espécies que podem ser pescadas nas águas do país. Sites como o Pesca en Peru oferecem dicas preciosas para quem pretende praticar o esporte na região.

    uruguAI – A pesca do dourado no rio Uruguai é um dos destaques no país. Sites como o River Plate Pesca oferecem o serviço.

    endimento e acaba toda a redistribuição de renda e criação de empregos”, afirma Veras, do EcoLodge da Barra.

    Marcelo Claro, membro fundador da Associação Nacional de Ecologia e Pesca Esportiva (Anepe) e integrante do Grupo Técnico de Trabalho de Turismo Náuti-co, do Ministério do Turismo, faz coro ao discurso: “Quando o peixe, que é o protagonista, falta, o negócio acaba. Al-guns peixes esportivos têm sumido, sen-do vendidos por alguns reais o quilo em feiras. Se esse peixe estivesse no rio, ge-raria muito mais renda do que na feira”. Odila Silveira, do Hotel Pesqueiro da Odila, concorda com Vera e Claro: “Infe-lizmente, a pesca esportiva no Brasil é to-talmente esquecida por nossos governan-tes. Eu gostaria que a prática fosse vista

    com mais carinho e que sua divulgação, tanto em âmbito nacional quanto interna-cional, fosse acentuada”.

    Uma das áreas mais afetadas pela ca-ça predatória, a Amazônia, foi cenário do declínio do pirarucu, que hoje faz par-te da lista das espécies ameaçadas de ex-tinção, produzida pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Ex-tinção (Cites), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “No estado do Acre, grupos de pescadores estão implantando medidas de manejo dessa espécie. Esses grupos são capazes de fazer estimativas confiáveis do número de pirarucus adultos e jovens nos lagos. Com isso, eles deter-minam, junto com os órgãos ambientais, uma cota de pesca sustentável”, afirma Antônio Oviedo, especialista em conser-vação do Programa Amazônia do WWF--Brasil. A iniciativa, segundo ele, já ajudou a crescer cerca de 50% a quantidade de pi-rarucus nos lagos manejados.

    Pescadores esportivos, como Davi Cas-ciano da Cruz, que pratica a modalida-de desde os 13 anos, chegando a fisgar até mesmo um filhote de jacaré, segundo con-ta, preocupam-se com o futuro da ativida-de. Para ele, o caminho para a longevidade do esporte é a conservação. “Nós [pesca-dores] vemos o pesque e solte como o fu-turo, pois somente com essa atividade será possível que gerações futuras pratiquem a pesca como nós”, acredita. E, claro, gas-tem uns bons tostões com a prática.

    Fábrica da Brudden Náutica, em São Paulo: 20 mil caiaques vendidos por ano

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  • EMPREENDEDORISMOVAREJO

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    Das barracas em feiras livres à liderança no ramo de hortifrúti paulistano: conheça a trajetória da empresa que atende 300 mil clientes por mês e emprega 1.300 pessoas Rafael Américo, de São Paulo

    Lucro que vem da terra

    F lorisvaldo Ruiz, de 51 anos, só-cio-diretor do Natural da Terra – empresa paulistana do ramo de hortifrúti –, orgulha-se dos frutos colhidos nos 13 anos de existên-cia do grupo que comanda. Oito espa-çosas lojas na maior cidade da América Latina, R$ 240 milhões de faturamento anual e 1.300 colaboradores são alguns dos argumentos utilizados para com-provar a importância da rede no setor de venda de frutas, verduras e legumes. Entretanto, o maior deles é a lideran-ça no setor em São Paulo, alcançada no ano passado. O empresário, paranaense, nascido na cidade de Paranavaí, não se destaca apenas pela posição que obte-ve, mas também pelo fato de seu negó-cio hoje milionário ter nascido de uma simples barraca de feira.

    Ruiz, que teve o primeiro contato com o ambiente das feiras livres aos 11 anos, como ajudante na venda e no carrega-mento de frutas na zona leste de São Paulo, conseguiu uma barraca própria quando tinha 19 anos, na zona sul da ci-dade. O espírito empreendedor, soma-do com a rotina de trabalho intensa, em poucos anos, resultou para o empresá-rio o total de 30 barracas sob seu co-mando. E, na própria feira, conheceu aqueles que se tornariam seus parcei-ros na jogada que seria o grande pon-tapé de sua carreira: Luiz Vasconcelos (43 anos), Edair Scotini (65) e Walter Vasconcelos (55). Na época concorren-tes, os feirantes firmaram parceria com o simples intuito de comprar alimentos em grande quantidade por menor pre-ço. Tudo mudou quando Scotini, que morava em Moema, encontrou um es-paço para alugar na região e os feiran-

    tes decidiram abrir uma loja que teria a praticidade e a diversidade da feira em um espaço agradável e aconchegante.

    “O começo foi desafiador, pois ne-nhum de nós tinha experiência em montar e gerenciar uma loja, mas aprendemos muito com a empreita-da”, afirma Ruiz, que saía todos os dias para “estudar e conhecer” o mercado, avaliar as possibilidades existentes e as melhores opções para desenhar o projeto. A primeira grande dificuldade

    foi encontrar alguém que pudesse tra-duzir o desejo dos sócios em um pro-jeto de arquitetura, o que não aconte-ceu. Então, desde a primeira loja, Ruiz assumiu a incumbência de desenhar o layout e acompanhar as obras. O come-ço não foi fácil. “Tínhamos a aborda-gem carismática e vendedora da feira, mas não conhecíamos o sistema de cai-xas e não sabíamos como contratar pro-fissionais experientes para áreas espe-cíficas, como açougue e peixaria. Até o relacionamento com as grandes marcas foi complicado”, lembra.

    A experiência no atendimento ao pú-blico foi essencial para desenhar um projeto que atendesse a consumido-res exigentes com variedade, qualida-de, atendimento e oportunidades, co-mo promoções instantâneas. “É claro que apresentar produtos exóticos tem seu valor de mercado e toda uma ope-

    ração complexa nos bastidores, mas, de maneira sucinta, a ideia é apresentar ao consumidor um espaço onde ele encon-tre quase todas as opções de alimentos durante todo o ano”, diz Ruiz.

    O sucesso no bairro de Moema fez com que a marca se expandisse pela ci-dade. O Natural da Terra tem unida-des em Higienópolis, Vila Madalena, Brooklin, Alto da Boa Vista, Itaim Bi-bi e Granja Viana. No mês passado, em Interlagos, a oitava loja foi inaugurada, com investimento de R$ 8 milhões e já preparada para atender 30 mil clientes ao mês. “Nosso objetivo foi criar um es-paço capaz de surpreender nossos clien-tes. Acreditamos que a unidade fun-cionará como uma loja-conceito das inovações que trazemos constantemente para nosso grupo”, afirma o executivo.

    A inauguração em Interlagos faz par-te de um ambicioso plano da rede de hor-tifrúti de abertura de mais 21 unidades em até dez anos, possivelmente iniciado em 2015, com a criação de uma a duas lo-jas por ano. O grande projeto propõe, pela primeira vez, a abertura para a participa-ção de investidores, permanecendo o con-trole acionário nas mãos dos atuais sócios. “A marca já possui seu espaço no mercado e um conceito inovador, que propicia o su-cesso desse novo desafio”, comenta.

    A ROTINA Desde o início do projeto, o dia de tra-balho de Ruiz é iniciado, de segun-da a sábado, às 5 horas na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), onde o empresá-rio negocia e verifica pessoalmente a qualidade e o abastecimento ideal dos produtos, funções que faz questão de acompanhar para, de acordo com ele, manter vivo o espírito de negociação. Em seguida, ele acompanha as áreas administrativas na matriz e no centro Fot

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    de distribuição e, no começo da tar-de, visita as lojas para verificar a ex-posição dos produtos, o atendimen-to e o contato com os líderes de cada unidade. Ruiz ainda afirma que, para

    garantir o alto padrão do setor de fru-tas, legumes e verduras durante todo o ano, é feita uma seleção das melho-res colheitas. No total, são 8 mil itens comercializados, provenientes de 700 fornecedores. “Vamos buscar o forne-cedor capaz de entregar o produto de melhor qualidade, independentemen-te de onde ele esteja”, diz o empresá-rio. Comparando o início com a fase atual da empresa, Ruiz destaca que as mesmas empresas que não se mos-travam tão interessadas em forne-

    Em até dez anos, mais 21 unidades deverão ser inauguradas em São Paulo. Entre os planos está a abertura para participação de novos investidores

    NATURAL DA TERRA EM NÚMEROS 300 MiL clientes por mêsR$ 240 MiLhõES de faturamento anual8 MiL produtos comercializados7 MiL M² de área de vendas 1.300 colaboradores diretos 700 fornecedores cadastrados 8 lojas

    Abastecimento de produtos é diárioRuiz, sócio-diretor da companhia é feirante desde os 11 anos de idade

  • EMPREENDEDORISMOVAREJO

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    cer para o Natural da Terra hoje batem à sua porta para inserir produtos em suas prateleiras. Mesmo focadas no hortifrúti, as lojas do grupo oferecem ainda ampla variedade de carnes, pei-xes, artigos de mercearia, queijos, vi-nhos nacionais e importados, além de produtos de higiene, limpeza, conve-niência e até floricultura.

    CONCORRENTESCom o mesmo intuito de atrair clien-tes interessados no frescor de produ-tos de uma feira livre com o conforto de um supermercado, a carioca Hor-tifruti e a mineira Oba se posicionam como as principais concorrentes do Natural da Terra. A Hortifruti é a lí-der do setor no país, com 29 lojas es-palhadas por São Paulo, Rio de Janei-ro e Espírito Santo, atendendo quase 2 milhões de clientes ao mês e em-pregando 5 mil pessoas. Fundada nos anos 1980, a rede chegou a São Pau-lo no final de 2012 com a inauguração de uma loja no Brooklin, na zona sul.

    A mineira Oba teve sua primeira loja inaugurada em 1979 em Belo Horizon-te e hoje conta com 39 unidades em São Paulo, Brasília, além da capital mineira. O grupo emprega 4.300 pessoas. Assim co-mo o Natural da Terra, as lojas das concor-rentes não vendem apenas frutas e horta-liças, oferecendo carnes, peixes, vinhos e artigos de mercearia. Além disso, o setor continua aquecido com as feiras livres e os hipermercados. Buscando ser um contra-ponto dos concorrentes, o Natural da Ter-ra investiu na conquista de um público de alto poder de consumo, que prioriza qua-lidade e conforto. Aspectos como boa lo-calização, atendimento personalizado e instalações sofisticadas, aliados a servi-ços como estacionamento gratuito, mano-bristas, lanchonete e degustações, garanti-ram ao grupo a marca de 300 mil clientes ao mês e proporcionam um crescimento de 18% de vendas em cada loja ao ano. “O diferencial do Natural da Terra é o amplo leque de produtos e alimentos diferentes, o que nos leva a ser a opção do consumidor mais exigente”, acredita Ruiz.

    FATURANDO COM hÁBiTOS SAUDÁVEiS Um dos mantras de Florisvaldo Ruiz, sócio do Natural da Terra, é que a busca por

    hábitos mais saudáveis pelo consumidor brasileiro só tende a aumentar. Segundo uma pesquisa da Alelo, empresa do setor de benefícios, realizada neste ano, em par-ceria com o Ibope, com mais de 2 mil pessoas, 56% dos brasileiros afirmam ter uma alimentação saudável, enquanto 70% do total dos entrevistados afirma buscar um prato equilibrado com legumes, verduras, proteínas e carboidratos. No ano passa-do, uma pesquisa do Ibope Media traçou um cenário similar. De acordo com o estu-do, 51% dos brasileiros procuram ter uma dieta balanceada. O número é menor en-tre os jovens de 20 a 34 anos (47%) e maior entre os idosos de 65 a 75 anos (62%). Entretanto, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o panorama brasileiro não é tão positivo como se imagina. Mais da metade (50,8%) dos brasileiros está acima do peso, índice 19% superior ao que havia sido identificado em 2006. A obesidade no mesmo período também saltou de 11,8% para 17,5%.

    O perigo do sobrepeso é evidenciado por um estudo da University College London (UCL), divulgada neste semestre, que comprova que a relação entre uma alimenta-ção saudável e uma vida longeva é ainda mais direta do que se imaginava. A princi-pal descoberta da pesquisa foi obtida na comparação de pessoas que comem me-nos de uma porção de frutas e vegetais ao dia com aquelas que comem a porção. O risco de morte por qualquer causa é reduzido a 14% no grupo que come de uma a três porções, 29% no que come de três a cinco, 36% naqueles que comem de cinco a sete e 42% no grupo que come sete ou mais. A pesquisa levou em conta hábitos alimentares de 65.226 ingleses entre 2001 e 2013.

    Empresa oferece 8 mil produtos provenientes de 700 fornecedores

  • 70 AméricaEconomia Maio, 2014

    NEGÓCIOSintErnEt

    George Mountbatten, empresário e primo da rainha Elizabeth II, quer ensinar educação financeira com a startup MoneyGuruRafael Américo, de São Paulo

    O guru é um lorde

    H á dois meses, o site MoneyGu-ru – plataforma que compara preços de contratação de ser-viços como consórcios, assis-tência médica e planos de telefonia celular – foi lançado oficialmente no país. A em-presa iniciou suas operações no ano pas-sado e atualmente conta com 30 colabora-dores. Em um ano, seu fundador, o inglês George Mountbatten, espera ver esse nú-mero subir para 100. No mesmo período, o executivo almeja atingir a ambiciosa marca de 2 milhões de usuários.

    Mas por que lançar um site que com-para preços de serviços no Brasil? A res-posta, para Mountbatten, é a burocra-cia no país: “O Brasil está onde o Reino Unido estava há 14 anos – com milhões de internautas procurando comprar sem interrupções e com apenas um clique. Hoje, no Brasil, você pode solicitar um consórcio ou um plano de saúde pela internet, mas depois é necessário que a formalização seja feita pessoalmen-te. Isso acontece porque ainda existem muita burocracia e papelada”, afirmou o empresário em entrevista à América-Economia. Por isso, o objetivo do execu-tivo é facilitar esses processos de contra-tação de serviços.

    Mountbatten é um lorde britânico, pri-mo da rainha Elizabeth II e quarto mar-quês da Milford Haven. Seu faro para negócios se manifestou em 2000, quan-do fundou o uSwitch, site similar ao Mo-neyGuru, que também compara preços

    de serviços. Na década passada, o e--commerce estava apenas começando na Europa e o desempenho do uSwitch foi tão promissor que levou seu funda-dor a vendê-lo por 210 milhões de li-bras em 2006.

    Aos 52 anos e milionário, o executi-vo poderia ter se aposentado e aprovei-tado sua considerável fortuna. No en-tanto, quis voltar à ativa. Buscou novas oportunidades de negócios em diferen-tes países, como China, Austrália, Ale-manha e Turquia, e acabou selecionando dois: Espanha e Brasil. No país europeu, criou o Kelisto – que entrou em opera-ção no ano passado e também compara preços de serviços –, e aqui desembar-cou com o MoneyGuru. Sua confiança no sucesso do website em solo brasileiro é evidenciada pelo fato de o lorde já ter investido 3 milhões de libras do próprio bolso no projeto.

    Junior Borneli, especialista em star-tups e vice-presidente de negócios e re-lacionamento da Angels Club, enxerga o website de forma positiva. “A idealiza-ção do MoneyGuru trouxe aos brasilei-ros um meio facilitador de encontrar o melhor negócio. Acredito no novo hábi-to brasileiro de transição da compra off--line (em lojas) para online”, diz.

    A escolha do Brasil como berço do MoneyGuru representa um movimen-to importante: a chegada de estrangei-ros interessados em investir no potencial do país por meio da criação de startups. Fot

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    Mountbatten: fazendo fortuna por meio da comparação de preços de serviços

    Exemplos não faltam: Max Reichel, ale-mão que montou a Oppa, loja de móveis com design a preços mais acessíveis; Flo-rian Otto, também alemão, fundador do Groupon Brasil, site de compras coleti-vas; e Kimball Thomas, americano e co-fundador da Baby, empresa que comer-cializa produtos para bebês e crianças.

    Mountbatten, agora como parte desse hall de estrangeiros interessados no país,

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    mercializadas 791 mil unidades desse ti-po de computador de mão.

    No ano passado havia, de acordo com o Centro de Estudo sobre as Tec-nologias da Informação e da Comuni-cação (Cetic.br), 81 milhões de usuá-rios de internet no país. “Por ter uma população jovem altamente conectada, o Brasil é tido, lá fora, como um am-biente ideal para o surgimento de star-tups”, afirma Borneli, da Angels Club. Renato Fonseca, gerente de desenvolvi-mento e inovação do Sebrae-SP, com-partilha a mesma opinião. “O Brasil é um mercado consumidor de massa e

    chama a atenção de investidores e em-preendedores internacionais”, salienta.

    Um dos principais desafios do em-presário inglês é a integração de parcei-ros ao site. “Eles estão animados com a ideia do site. Estamos negociando ago-ra com muitas companhias, como as de seguros e bancos”, diz o marquês, que já assegurou parceria com o Itaú e com a Mapfre. Outro ponto importante do Mo-

    neyGuru é seu conteúdo editorial. Com a intenção de ser um auxiliador do usuá-rio e evitar que ele caia em ciladas, o site traz textos em que revela, por exemplo, as obrigações de companhias aéreas, dá dicas de como escolher um pacote apro-priado de TV por assinatura e até mes-mo os detalhes que fazem uma apólice de carro ficar mais barata.

    A estratégia de sucesso de Mountbatten é confiar em seus instintos, mas ele tam-bém não teme cometer erros. “Para fazer sucesso, você deve errar antes – se algum empresário falar o contrário, ele ou ela es-tará mentindo”, afirma. E, como qualquer

    empreendedor de sucesso, arrependimen-tos fazem parte de seu histórico. “Eu me arrependo de ter vendido o uSwitch em 2006, já que atualmente a empresa vale mais do que na época.” Entretanto, o exe-cutivo afirma que a venda abriu outras possibilidades para ele como investidor, incluindo a criação do MoneyGuru. A ex-pectativa, agora, é que o mesmo desfecho não ocorra por aqui. A conferir.

    O Brasil tem quase 82 milhões de usuários de internet e fôlego para a abertura de startups, que

    geralmente captam de US$ 20 mil a US$ 100 mil

    explicou a escolha do Brasil definindo-o como “sólido” e destacando sua potencia-lidade online e o tempo que os brasileiros passam na internet. Dados da consultoria IDC divulgados no mês passado indicam que os tablets, por exemplo, já represen-tam 49% do mercado de PCs brasileiro – um avanço de 56% nas vendas desse mês na comparação com o mesmo período do ano passado. Só em fevereiro foram co-

    Não é tão simples quanto pode pa-recer criar e fazer uma startup no Bra-sil dar certo. De acordo com o relatório mais recente do Sebrae, 24% dos negó-cios abertos no país são fechados antes de completar dois anos de existência. Grande parte das novas companhias necessita de aportes de investidores para aumentar a chance de sobrevida.

    Contudo, é possível observar que, no ce-nário atual brasileiro, investidores estão pensando duas vezes antes de confiar em novos negócios. A Aspen Network of De-velopment Entrepreneurs, rede que pro-move o empreendedorismo em mercados emergentes, divulgou em meados do ano

    Paraíso das novatas? passado um estudo sobre as pequenas empresas em crescimento no Brasil. De acordo com o documento, negócios em es-tágio inicial – geralmente buscando captar aportes de US$ 20 mil a US$ 100 mil em capital flexível – têm dificuldade em encon-trar fundos dispostos a investir.

    Renato Fonseca, do Sebrae-SP, frisa que investidores olham com mais cau-tela para startups com planos de ne-gócios menos maduros. “Quem inves-te está interessado em negócios que já deram certo de alguma forma, algo ino-vador e que, se tivesse clientes, valeria mais aos olhos do mercado do que uma ideia no papel”, avalia.

  • NEGÓCIOSTurismo

    68 AméricaEconomia Março, 2014

    Bom momento do turismo brasileiro e proximidade da Copa de 2014 aceleram a expansão de sites especializados em aluguel de imóveis por temporadaRafael Américo, de São Paulo A té pouco tempo atrás, alugar uma casa de praia para pas-sar alguns dias de férias sem conhecer o imóvel era consi-derado um risco. Hoje, cada vez mais pes-soas viajam a um país desconhecido e se hospedam em uma casa ou em um apar-tamento escolhido pela internet. Gostam tanto da experiência que, na volta, trazem na bagagem a ideia de colocar um cômo-do de sua casa ou, quem sabe, o seu imó-vel inteiro para locação temporária na web.

    A disseminação da internet e a criação de sites especializados contribuíram para

    essa mudança de comportamento. Mas os altos preços dos hotéis e a chegada da Co-pa de 2014 estão dando uma nova dimen-são à atividade no Brasil. O maior site do mundo dedicado a esse tipo de hospeda-gem, o Airbnb, tem visto crescer a deman-da brasileira por anúncios de aluguel por causa da Copa. E, segundo seu diretor-ge-ral no Brasil, Christian Gessner, a procura vai aumentar ainda mais. “Abrir as portas da casa para um estrangeiro é uma boa for-ma de aumentar a renda familiar”, avalia.

    O Airbnb surgiu quando três empre-endedores, Brian Chesky, Joe Gebbia e

    Nathan Blecharczyk, decidiram tirar pro-veito de uma feira internacional de design em São Francisco, em 2007, que lotou os hotéis da cidade. Os rapazes ofereceram cama (especificamente, colchões de ar) e café da manhã aos interessados. O no-me da empresa veio da junção dos itens (Airbnb é a abreviação de “camas de ar” e “café da manhã”, em inglês). A ideia virou site em agosto de 2008 em São Francisco, na Califórnia.

    A empresa, de capital fechado, não reve-la seus resultados e hoje conta com anún-cios em mais de 34 mil cidades de 192 Fot

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    Entre, a casa é sua

    Apartamento no Vidigal (RJ), anunciado no Airbnb: diária média de R$ 200,00

  • Março, 2014 AméricaEconomia 69

    países. No Brasil, o Airbnb registra mais de 15 mil anúncios, 6 mil apenas no Rio de Janeiro – a cidade mais importante para o site na América Latina. No escritório, em São Paulo, trabalham 25 pessoas.

    Usar o Airbnb significa poder escolher cidade, data da viagem e filtrar as pro-priedades por preço, bairro e comodida-des oferecidas (estacionamento, ar-con-dicionado, internet etc.). A comunicação entre proprietário e hóspede é iniciada assim que o imóvel é escolhido. O trâmi-te financeiro é intermediado pelo Airbnb. O usuário utiliza cartão de crédito inter-nacional ou sua conta no PayPal (sistema que permite a transferência de dinheiro entre indivíduos usando um endereço de e-mail, evitando métodos tradicionais, como cheque e boleto bancário). O loca-tário recebe o pagamento 24 horas após o check-in do locador.

    O anúncio no site é gratuito. A empresa lucra na hora do fechamento da transação: uma taxa de 3% é cobrada cada vez que o proprietário aceita uma reserva (o an-fitrião tem 24 horas para aceitar ou recu-sar pedidos de reserva), enquanto hóspe-des pagam uma taxa de 6% a 12% sobre o valor da reserva.

    Para Ricardo Uvinha, professor de lazer

    e turismo da USP, o site é sucesso no Brasil porque tem uma estrutura similar às redes sociais, que já caíram no gosto do brasilei-ro. “Além disso, o aluguel por temporada é uma possibilidade de ampliação de ren-da e ainda é possível se ambientar com no-vos idiomas, como o inglês e o espanhol, por meio da integração entre hóspede e an-fitrião”, completa o especialista.

    Outro benefício desses sites é a econo-mia. Enquanto um hotel três estrelas em Copacabana cobra R$ 1.750,00 pela esta-

    dia em um quarto para casal durante se-te noites, no final do mês um apartamen-to no mesmo bairro e no mesmo período, com duas televisões, wi-fi e cozinha com-pleta sai por R$ 1.450,00. Detalhe: o local acomoda quatro pessoas. De acordo com um comparativo feito por um site de via-gens, a média de custo semanal de pro-priedades para aluguel de temporada com dois quartos é a metade do custo semanal de dois quartos em um hotel três estrelas. Segundo a pesquisa, quem se hospedou

    os sites de aluguel de temporada

    airbnb Com mais de meio milhão de anúncios ao redor do mundo, em 34 mil cidades de 192 países, é conhecido como o site de aluguel de temporada mais difundido do mundo.

    aluguetemporada Braço brasileiro do grupo HomeAway, é especializado no mercado nacional e disponibiliza mais de 15 mil anúncios no país.

    Wimdu Com 350 funcionários no mundo, oferece 300 mil propriedades em mais de 100 países. Assim como o Airbnb, intermedia os pagamentos entre proprietário e hóspede.

    lodgis Especializado em aluguel de apartamentos mobiliados em Paris, conta com 50 funcionários e mais de 6 mil propriedades.

    only apartments Oferece mais de 20 mil apartamentos em 106 países. Focado no aluguel de apartamentos para estadias curtas.

    Spitzman, do AlugueTemporada: 15 mil anúncios no BrasilGessner, da Airbnb: mais demanda com a Copa de 2014

  • NEGÓCIOSTurismo

    70 AméricaEconomia Março, 2014

    em hotel no Rio de Janeiro entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014 desembolsou R$ 6.323,00. Quem optou por um imóvel gastou R$ 3.438,00.

    Como o Airbnb, existem vários outros sites de aluguel de temporada no mundo. Muitos com atuação específica em deter-minados países – caso do Lodgis, espe-cializado na França. O maior site do seg-mento no Brasil, o AlugueTemporada, do grupo americano HomeAway, funciona, como diz seu presidente, Nicholas Spitz-man, como a seção de classificados de um grande jornal, na qual os viajantes podem encontrar anúncios de imóveis. Ao contrá-rio do Airbnb, por exemplo, o pagamento é realizado diretamente ao locatário, sem in-termediação do AlugueTemporada.

    Os negócios do site vêm crescendo, se-gundo o executivo, porque “o retorno que oferecemos ao proprietário tem poten-cial de ser muito maior do que seu investi-mento”. O site garante o dinheiro de volta aos que oferecem sua propriedade por três meses (pagando R$ 199,00) e não obtêm o mínimo de 15 contatos de interessados. Segundo Spitzman, o grupo ainda não as-sociou a evolução da demanda à Copa de 2014. “Mas é possível observar que o au-mento no número de propriedades anun-ciadas é significativo e que as pessoas es-tão mais dispostas a investir por meio do anúncio de seus imóveis”, pondera.

    O grupo HomeAway conta com 1.443 funcionários, é listado na Nasdaq e tem valor de mercado de mais de US$ 2,15 bi-lhões. No Brasil, a equipe do AlugueTem-

    porada tem 40 funcionários e, no ano pas-sado, o site teve mais de 22 milhões de acessos, 10 milhões de visitantes e possi-bilitou 9 milhões de contatos entre proprie-tários e hóspedes.

    O aluguel de quarto ou imóvel por tem-porada pela web pode ser um bom negó-cio em tempos de megaeventos. De acordo com o Ministério do Turismo, são espera-dos 600 mil turistas na Copa do Mundo e, segundo estimativas da Embratur, os turis-tas brasileiros e estrangeiros vão gastar R$ 25,2 bilhões durante os jogos.

    Na outra ponta, os preços das diárias dos hotéis vivem nas manchetes. “É pos-sível ver que alguns hotéis anunciam pre-ços exorbitantes e que, em dias de jogos, o aumento da diária sobe de três a quatro

    O OutrO ladOO crescimento de sites especializados em aluguel por temporada não assus-

    ta o setor hoteleiro. É o que diz Carolina Piber, diretora de marketing para a Amé-rica Latina da Hoteis.com. “Esse movimento não está ameaçando nosso setor. A indústria global de viagens movimenta 1 trilhão de dólares, ou seja, há muito es-paço para as empresas que oferecem opções e experiências de viagem diferen-tes aos clientes”, salienta.

    Além da infraestrutura, que inclui restaurantes, piscinas, spa e academia, a exe-cutiva destaca a confiabilidade como um dos fatores-chave para a escolha de um hotel. “Nossa experiência mostra que os clientes se sentem mais seguros saben-do que há especialistas disponíveis para esclarecer quaisquer dúvidas e dar apoio nos arredores e mesmo em situações inesperadas”, afirma.

    vezes”, observa o professor Uvinha. Deve--se, porém, levar em conta aspectos como a legislação vigente em cada local. A cida-de de Nova York, por exemplo, processou o Airbnb por violar uma lei que proíbe ci-dadãos de alugar residências inteiras por menos de um mês.

    Em Paris, a locação de imóveis por me-nos de um ano também é proibida. Nessas cidades, não são raros os casos de proprie-tários multados por essa prática.

    No Brasil, lembra o professor Uvinha, não há determinação legal que impeça o proprietário de alugar seu imóvel por tem-porada. Mas, se o anfitrião mora em um condomínio, é necessário verificar se exis-te alguma cláusula vigente que proíba tal atividade comercial. Para o hóspede, ob-servar as avaliações da propriedade no si-te, estudar o entorno do imóvel e conver-sar com o anfitrião até se sentir confortável para fechar o negócio são alguns procedi-mentos para evitar “cair em uma roubada” e ver as férias se tornar pesadelo.

    A despeito do bom momento do turis-mo nacional, será que essa modalidade te-rá fôlego para continuar crescendo ao fi-nal da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil? Para o professor Uvinha, a respos-ta é sim. “Tudo leva a crer que esses sites fariam sucesso de qualquer forma, mas é inegável que grandes eventos sejam catali-sadores desse crescimento”, diz.

    Rio de Janeiro: o mercado mais importante na América Latina

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  • EMPREENDEDORISMOinternet

    42 Américaeconomia Novembro, 2014

    Com um portfólio que vai do diário virtual ao gerenciamento de agenda e compra de fraldas, o Daily Baby cresce vendendo assinatura, publicidade e tecnologia Rafael Américo, de São Paulo

    Cegonha digital

    P elos dados do IBGE, a cada ho-ra nascem cerca de 320 bebês no Brasil. E a maioria dos pais se vê às voltas com um mundo novo, repleto de alegria e também de ex-pectativas e incertezas. Foi juntando da-dos como esses à sua experiência particu-lar que Anderson Gomes, um paulistano de 35 anos, decidiu criar o Daily Baby, si-te que funciona como um diário vir tual para grávidas e crianças de até 5 anos.

    Além de possibilitar o envio de imagens e ví deos, a startup oferece aos pais a op-ção de receber alertas via e-mail ou men-sagens de texto de datas importantes (co-mo a da reunião de pais na escolinha ou a da próxima vacina) e outras providên-cias indispensáveis (a reposição do esto-que de fraldas, por exemplo). No ar desde 2013, o site tem a meta de chegar ao final do ano com 30 mil usuários e faturamen-to médio mensal de R$ 100 mil.

    A ideia de montar a Daily Baby surgiu do espírito empreendedor de Gomes. Fi-lho de um corretor de imóveis com uma dona de salão de beleza e neto de uma vendedora ambulante, Gomes teve seu primeiro contato com o “empreende-dorismo” aos 11 anos. “Vendia revistas e gibis usados na calçada com um ami-go. Fizemos tanto sucesso que a dona da banca da região nos procurou dizendo que estávamos roubando os clientes de-la”, conta. Formado em administração e pós-graduado em marketing estratégico, Gomes trocou, há dez anos, a vida agi-tada da capital paulista pela atraente Flo-rianópolis, onde trabalhou em empresas como Santander e Telefônica.

    Em 2012, com a gravidez de sua espo-sa, Gomes sentiu a necessidade de com-partilhar o dia a dia dela e a evolução do bebê com amigos e familiares de for-ma restrita. “Procurei algo no mercado que pudesse atender a essa necessida-de e, na época, não encontrei. Então, de-senvolvi um site para a Luana, minha fi-lha. Mostrei a amigos, que gostaram da ideia, o que me fez perceber que pode-

  • Novembro, 2014 Américaeconomia 43

    ria se tornar um negócio”, afirma. Aria-ne Anselmo, analista e desenvolvedora de sistemas, Jader Bittencourt, forma-do em sistemas de informação, Samuel Blazius, advogado, e Thiago Jorge, res-ponsável pela comunicação, tornaram-se sócios de Gomes, que investiu R$ 30 mil de seu próprio capital para fazer a em-presa nascer.

    A Daily Baby entrou no ar com fun-cionalidades que ainda existem, como a árvore genealógica personalizada, o ál-

    bum de fotos e vídeos e os históricos de vacinas, dentição e peso/altura. Um dos destaques da startup é o alerta de indica-ção de baixo estoque de fraldas. Por meio da inserção do total de fraldas compra-das (por exemplo, 50) e da média de con-sumo da criança (por exemplo, cinco por dia), o sistema avisa à mãe ou ao pai, por SMS ou e-mail, quando o estoque atin-ge 15% de sua capacidade.

    Buscando inovação, no ano passado a empresa entrou no programa de capaci-

    tação Startup SC, realizado pelo Sebrae em parceria com o governo de Santa Catarina. O projeto seleciona 20 negó-cios por semestre e tem uma média de 150 inscrições. “O programa tem dura-ção de quatro meses e conta com men-tores e consultores que discutem métri-cas, modelos de negócios e projeções financeiras, auxiliando os empreende-dores a expandir seu negócio”, diz Ale-xandre Souza, gestor do projeto. Segun-do ele, a Daily Baby foi a única startup direcionada a pais e bebês que partici-pou do projeto até hoje.

    Foi durante esse período que Gomes conheceu e passou a utilizar o white-la-bel, uma forma de ampliar a receita ob-tida com publicidade e com a assinatu-ra de usuários (o site oferece um plano gratuito e três pagos). O serviço fun-ciona da seguinte forma: uma empre-sa (fornecedora) produz e revende uma tecnologia para outras companhias, que a apresentam ao mercado como se fosse dela. Essas companhias pegam a tecno-logia “emprestada” e a aplicam em seus respectivos negócios. O sistema nada mais é do que um “aluguel” da inteli-gência da fornecedora.

    Ao apresentar o conceito às empresas, porém, Gomes enfrentou certa resistên-cia. “Algumas não conseguiam enten-der bem como o white-label seria aplica-do”, conta. A primeira empresa a aderir à proposta de Gomes foi o Mamãe eu Ke-ro, uma plataforma de compra e venda de produtos para pais e filhos, que passou a oferecer a seus usuários as funcionali-dades da startup de Gomes. “Hoje, com nosso discurso alinhado, estamos nego-ciando com muitas empresas, entre elas um hospital e maternidade e uma grande multinacional do ramo têxtil”, diz.

    A confiança do criador do site no whi-te-label é tal que, segundo suas expecta-tivas, até o final do ano esse modelo de negócios deve ter um aumento no núme-ro de usuários de 5 mil para 30 mil. “Te-mos uma previsão bem real, baseada em contratos assinados, de que vamos fe-char o ano com faturamento mensal de R$ 100 mil”, anima-se. Fot

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    Para os bebês de quatro Patas Tão promissor quanto o de bebês, o mercado de animais de estimação também

    entrou no radar de Anderson Gomes, criador do Daily Baby. Segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), em 2014 o crescimento do faturamento do setor pet será de 8,2%, atingindo a marca de R$ 16,47 bilhões. Diante desse potencial, Gomes tornou-se sócio-mentor de outra startup, que segue a mesma lógica da Daily Baby, só que destinada aos “pais” e às “mães” de animais de estimação. Dirigida por Ariane Anselmo (sua sócia na Daily Ba-by), a Daily Pet já está no ar, mas ainda está em fase inicial e