51

Tem gato na tuba e outros poemas

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tem gato na tuba e outros poemas
Page 2: Tem gato na tuba e outros poemas

LITERATURA EM MINHA CASA

Volume 1- POESIA

Tem Gato na Tuba e Outros Poemas

Sidónio Muralha • Cecília Meireles

Menotti del Picchia • Casimiro de Abreu

Olavo Bilac • Gonçalves Dias

Braguinha • Alberto Ribeiro

Cartola • Carlos Cachaça

Hermínio Bello de Carvalho

Marino Pinto • Paulo Soledade

Ilustrações de

GILBERTO MIADAIRA

1ª edição

Martins Fontes

São Paulo 2002

Page 3: Tem gato na tuba e outros poemas

Copyright© 2002, Livraria Martins Fontes Editora Ltda.,

São Paulo, para a presente edição.

1ª edição

junho de 2002

Consultoria

Alba Regina Spinardi Bueno

Glossário

Alba Regina Spinardi Bueno

Preparação do original

Helena Guimarães Bittencourt

Revisão gráfica

Luzia Aparecida dos Santos

Ivete Batista dos Santos

Projeto gráfico

Katia Harumi Terasaka

Paginação

Moacir K. Matsusaki

Produção gráfica

Geraldo Alves

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP. Brasil)

Tem gato na tuba e outros poemas / introdução e apresentação dos autores e

das obras Elias José : ilustrações Gilberto Miadaira. — São Paulo : Martins

Pontes, 2002. — (Coleção literatura em minha casa : v. 1)

Vários autores.

ISBN 85-336-1581-7

I. Poesia brasileira — Coletâneas — Literatura infanto-juvenil

I. José. Elias. II. MIADAIRA, Gilberto, III. Série.

02-2612 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Poesia : Antologia : Literatura infanto-juvenil 028.5

2. Poesia : Antologia : Literatura juvenil 028.5

ISBN 85-336-1581-7

Todos os direitos para a presente edição reservados à

Livraria Martins Fontes Editora Ltda.

Rua Conselheiro Ramalbo. 330/340 01325-000 São Paulo SP Brasil

Tel (11) 5241-3677 Fax (11) 5105-6867

e-mail:[email protected] http://www,.martinsfontes.com.br

Page 4: Tem gato na tuba e outros poemas

Caro aluno,

Você está recebendo uma coleção composta por cinco livros

de diferentes tipos de texto: poesia, conto, novela, literatura

universal e teatro ou literatura popular.

A importância desses livros é muito grande: com eles, você

irá descobrir muitas coisas novas, conhecer pessoas diferentes e

mundos diferentes. Você também irá saber que existem muitas

maneiras de se escrever e que cada uma delas serve para passar ao

leitor, isto é; para você, um tipo de mensagem.

Esta coleção foi feita para que você possa ler quando quiser e

o texto que quiser. Eles vão estar todos ali, aguardando uma

oportunidade para mostrar-lhe novos lugares, novas pessoas e

despertar novos — e velhos — sentimentos.

Não esqueça, também, que esta é uma pequena coleção. Há

muitos outros livros mundo afora e você poderá descobri-los na

biblioteca de sua escola ou de sua cidade.

Esperamos que esta coleção possa contribuir para aumentar

sua vontade de conhecer o mundo da leitura e aventurar-se no

universo das palavras.

Aproveite para contar a seus amigos e parentes sobre essa

aventura, que está apenas começando.

http://groups.google.com.br/group/digitalsource

Page 5: Tem gato na tuba e outros poemas

Este livro pertence à

..........................................................................

Page 6: Tem gato na tuba e outros poemas

Um recado

Agora que você escreveu seu nome neste livro, ele é seu.

Guarde-o em casa, leve-o para a escola, leia-o quintas vezes

quiser. A cada leitura, você vai conhecê-lo melhor, compreendê-

lo melhor, como se fosse um amigo. Leia-o para seus pais, seus

irmãos, as crianças da vizinhança, enfim, para quem tiver vontade

de ouvir.

Fazer um livro não é só escrever a história, os poemas ou os

contos que estão nele. Esses textos precisam ser apresentados de

um jeito agradável, para que sua leitura dê maior prazer. Observe

bem as formas e a cor das letras, o tipo de papel, as ilustrações

deste livro. Tudo isso foi resolvido e realizado por profissionais

preocupados em fazer um livro bonito. E, no fina1, ainda houve

gente que leu e revisou cada página, para verificar se estava tudo

correto. Todos trabalharam pensando no leitor, que é você.

Chegou sua vez de aproveitar. Boa leitura!

A Turma da Editora

Page 7: Tem gato na tuba e outros poemas

Por que ler poesia

Amigo leitor

Por que ficamos comovidos quando ouvimos uma música

bonita, quando vemos um bom filme, quando apreciamos uma

pintura? Porque em tudo isso existe poesia, uma beleza difícil de

explicar mas que nos emociona.

Os textos de novelas, romances e contos são textos em prosa.

Eles podem ser cheios de poesia. Mas há um tipo especial de

texto, em que o autor emprega as palavras, as frases e os

parágrafos de um jeito diferente. Ele escreve em versos, usando o

ritmo para transmitir os sentimentos de um modo mais forte. Ele

usa as palavras com um sentido mais rico, como se elas quisessem

dizer alguma coisa a mais. Esse tipo de texto é o poema. Aqui

vamos falar da poesia em forma de poema.

As linhas de um poema chamam-se versos. Cada verso tem

uma beleza especial, mesmo que não tenha sentido completo. Um

grupo de versos, que forma um sentido mais completo, chama-se

estrofe. A divisão em versos e em estrofes é que marca o ritmo do

poema.

No poema, a divisão em versos e estrofes forma um desenho

na página, que muitas vezes também ajuda a compor a beleza do

poema.

Ler poesia, então, é se emocionar com as palavras, é ouvir o

ritmo das frases, é ver o desenho dos versos.

Neste livro você vai encontrar vários poemas, de diferentes

poetas brasileiros, todos eles belas obras de poesia.

Elias José

Page 8: Tem gato na tuba e outros poemas

Os poemas e seus autores

Este livro é uma antologia, uma reunião de poemas. Ele foi

feito para que você tenha uma idéia dos melhores poemas

brasileiros escritos nas várias épocas.

Você vai encontrar primeiro obras de autores mais modernos,

de um tempo mais próximo do nosso, como Sidónio Muralha,

Cecília Meireles e Menotti dei Picchia.

Em seguida, vêm poemas de autores mais antigos,

considerados grandes clássicos da nossa literatura. E o caso de

Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias e Olavo Bilac.

Mas a poesia brasileira não são só os poemas que estão nos

livros. Nesta antologia você também vai encontrar obras de

alguns poetas chamados populares, poetas-compositores que

descrevem com beleza e poesia as coisas simples da vida. Você

talvez já tenha ouvido e até cantado algumas dessas músicas. Mas

será que percebeu que suas letras tão lindas são pura poesia?

Elias José

MODERNOS

SIDÓNIO MURALHA nasceu em 29 de julho de 1921, em

Portugal. Faleceu em 1982. Depois de viajar pelo mundo,

escolheu o Brasil para morar. Fixou-se em Curitiba, atraído por

uma bela médica paranaense, com quem se casou. Ele dizia

"Escrevo como quem respira. Escrever é participar..." Seus livros

para crianças mais famosos são: A televisão da bicharada, A

dança dos pica-paus, A revolta dos guarda-chuvas e Os três

cachimbos.

CECÍLIA MEIRELES nasceu em 7 de novembro de 1901, no Rio

de Janeiro. Foi jornalista, professora de alunos de 1ª a 4ª série e de

Literatura na Universidade. Após ficar viúva, casou-se novamente

com um professor universitário e teve a oportunidade de viajar

Page 9: Tem gato na tuba e outros poemas

pelo mundo, divulgando nossa cultura, em palestras e

publicações. Sua obra e extensa e Ou isto ou aquilo, seu maior

sucesso para o público infantil, foi editada em 1964. Neste mesmo

ano, faleceu no Rio de Janeiro, em 9 de novembro.

MENOTTI DEL PICCHIA, escritor, jornalista e político, nasceu

em São Paulo (SP) em 20 de março de 1892 e faleceu na mesma

cidade, em 23 de agosto de 1988. Foi advogado, agricultor,

deputado estadual e federal. Seu poema mais conhecido e

apreciado é Juca Mulato (l917). Escreveu vários romances,

contos. crônicas, novela, além de livros para crianças.

CLÁSSICOS

CASIMIRO DE ABREU nasceu no Rio de Janeiro, em 4 de

janeiro de 1839. Tinha saúde fraca e levava vida boêmia. Morreu

jovem, vítima de tuberculose, em 18 de outubro de 1860, na

cidade de Nova Friburgo (RJ). Seu maior sucesso foi a obra As

primaveras, livro de poemas. Publicou também ficção e peças de

teatro.

OLAVO BILAC nasceu no Rio de janeiro em 16 de dezembro de

1865 e morreu na madrugada de 28 de dezembro de 1918, de

edema pulmonar, em conseqüência de problemas cardíacos. Foi

eleito Príncipe dos Poetas brasileiros. Ficou famoso por seus

discursos nacionalistas.

GONÇALVES DIAS nasceu em Boa Vista, no Maranhão, em 10

de agosto de 1823. Aos 7 anos é alfabetizado e aos 9 já fazia a

escrituração na firma do pai. Com 19 anos publica seus primeiros

poemas. Dedicou grande parte de sua obra a poemas indianistas,

destacando-se OS Timbiras. Voltando da Europa, doente e muito

fraco, veio a falecer à vista do Maranhão, num naufrágio.

Page 10: Tem gato na tuba e outros poemas

POEMAS DE RAÍZES POPULARES

BRAGUINHA (CARLOS ALBERTO FERREIRA BRAGA)

Carlinhos para a família, Braguinha para os amigos e João de

Barro para a música brasileira, nasceu em 29 de março de 1907,

no Rio de Janeiro. Cantava desde criança, acompanhado ao piano

pela avó. As marchinhas de Carnaval são as suas mais famosas

criações: Chiquita bacana, As pastorinhas. Pirata da perna de

pau, etc. É considerado um dos "monstros sagrados" da música

popular brasileira, pelas letras e melodias criadas.

ALBERTO RIBEIRO (DA VINHA) nasceu no Rio de Janeiro,

em 27 de agosto de 1902 e faleceu em 10 de novembro de 1971.

Era médico, exercia a profissão como obra humanitária, cobrando

preços simbólicos pelas consultas. Foi na música que se

consagrou, pelos versos e melodias que compunha em parceria

com Braguinha, como a famosa Touradas em Madri, dentre as

inúmeras criações, que ultrapassaram 300 composições.

CARTOLA (AGENOR DE OLIVEIRA) nasceu no Rio de

Janeiro, em 11 de outubro de 1908 e morreu em 30 de novembro

de 1980. Desde menino participou das festas de rua, tocando

cavaquinho, que aprendera com o pai. Foi ele que escolheu o

nome e as cores verde e rosa da Estação Primeira de Mangueira, a

famosa escola de samba do Rio.

CARLOS CACHAÇA (CARLOS MOREIRA DE CASTRO)

nasceu em 3 de agosto de 1902, no Rio de Janeiro. Seu apelido

vem de sua bebida preferida. Esteve em atividade até sua morte,

aos 97 anos. Conheceu Cartola, que se tornaria um de seus

grandes parceiros e passou a dedicar-se a sambas-enredo para a

escola de samba da Mangueira, sendo um de seus fundadores e o

primeiro a introduzir elementos históricos nos enredos.

HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO nasceu no Rio de Janeiro,

Page 11: Tem gato na tuba e outros poemas

em 28 de março de 1935. Desde cedo conviveu de perto com a

música e com os músicos brasileiros. Foi agitador cultural,

compositor, descobridor de talentos e também poeta, tendo

lançado vários livros. Escreveu programas educativos ligados à

música para a rádio MEC.

MARINO PINTO (MARINO DO ESPÍRITO SANTO PINTO)

nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1916 e morreu em 28

de janeiro de 1965, no Rio de Janeiro, trabalhou como jornalista.

Deixou cerca de 300 composições, inclusive muitos sucessos de

Carnaval.

PAULO SOLEDADE (PAULO CURGEL VALENTE DO

AMARAL) nasceu em Paranaguá (PR), em 26 de junho de 1919 e

faleceu em 27 de outubro de 1999. Trabalhou como ator, piloto e

repórter no jornal A Noite. Foi parceiro freqüente de Marino

Pinto.

GILBERTO MIADAIRA nasceu em Juquiá, São Paulo, em 7 de

janeiro de 1950. É arquiteto, formado pela Universidade

Mackenzie, e também artista plástico, ilustrador e músico.

Ganhou o Prêmio Abril de Jornalismo.

Page 12: Tem gato na tuba e outros poemas

S umár io

Modernos

• Sidónio Muralha

• Cecília Meireles

• Menotti del Picchia

Clássicos

• Casimiro de Abreu

• Olavo Bilac

• Gonçalves Dias

Poemas de raízes populares

• Braguinha e Alberto Ribeiro

• Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho

• Marino Pinto e Paulo Soledade

• Glossário

Page 13: Tem gato na tuba e outros poemas

M odernos

S ID Ó N IO MU RA LH A

CE CÍ L IA ME I RE LE S

ME N OT T I D E L P ICCH I A

Page 14: Tem gato na tuba e outros poemas

Sidónio Muralha

E impossível ler estes poemas sem sorrir.

O poeta brinca com as palavras, fazendo-as saltar e dançar.

Page 15: Tem gato na tuba e outros poemas

Dia de festa

A floresta

acordada

pela madrugada

de um dia

de festa

abria

a saia rodada

e a madrugada

sorria

sorria à floresta

na madrugada

da festa.

A alegria

estava lá,

a poesia

estava lá,

mas onde estava a alegria

mas onde estava a poesia

só sabia

o sabiá.

Só o sabiá

sabia

sabia

o que havia

— era um sábio o sabiá.

Dono

Page 16: Tem gato na tuba e outros poemas

do dia

da festa

e dono

da madrugada

só por ele a floresta

despertada

do seu sono

abria

a saia rodada.

E tudo o que lá

havia,

e tudo que havia

lá,

que se chamasse alegria

que se chamasse poesia

só sabia

o sabiá.

Ouçam como ele assobia,

assobia

o sabiá.

Page 17: Tem gato na tuba e outros poemas

Razão maior

Vizinhos e vizinhas

chamaram o galo

e mesmo as galinhas

quiseram acusá-lo:

— O senhor galo não vale nada

pois já não canta de madrugada.

Mas logo o galo falou assim:

— Que caia chuva, que suba o no, que haja calor ou faça frio,

eu sempre canto, pobre de mim,

mas desta vez o meu clarim

entupiu,

piu,

piu

Page 18: Tem gato na tuba e outros poemas

Cecília Meireles

Aqui a autora faz música com OS tamanquinhos.

Em vez de ler o poema, você poderá cantá-lo,

sem dificuldade.

Page 19: Tem gato na tuba e outros poemas

A canção dos tamanquinhos

Troc... troc... troc... troc...

ligeirinhos, ligeirinhos,

troc... troc... troc... troc...

vão cantando os tamanquinhos...

Madrugada. Troc... troc...

pelas portas dos vizinhos

vão batendo, troc... troc...

vão cantando os tamanquinhos...

Chove. Troc... troc... troc...

no silêncio dos caminhos

alagados, troc... troc...

vão cantando os tamanquinhos...

E até mesmo, troc... troc...

os que têm sedas e arminhos,

sonham, troc... troc... troc...

com seu par de tamanquinhos...

Page 20: Tem gato na tuba e outros poemas

Menotti del Picchia

Este poeta pregava uma renovação, mas ainda estava

preso ao modo tradicional de fazer poesia.

Neste poema, ele fala do destino dos peixes usando

rimas de sons musicais e um rico vocabulário, com

palavras pouco comuns.

Page 21: Tem gato na tuba e outros poemas

Destino

Amanhã eu vou pescar.

Há um peixe fatalizado

que a Ritinha vai guisar

na panela de alumínio

que brilha mais que o luar.

Hoje ele está no seu líquido

e opaco mundo lunar.

Pequena seta de prata

furando a carne do mar.

Qual será? O bagre flácido

de cabeça triangular?

O lambari que faísca

como uma mola a vibrar?

O feio e molengo polvo

monstruoso, tentacular?

O peixe-espada de níquel,

a viva espada do mar?

Hoje estão vivos e lépidos

os lindos peixes do mar.

Amanhã...

Nem pensem nisso!

Amanhã eu vou pescar...

Page 22: Tem gato na tuba e outros poemas
Page 23: Tem gato na tuba e outros poemas

Clássicos

C A S I M I R O D E A B R E U

O L A V O B I L A C

G O N Ç A L V E S D I A S

Page 24: Tem gato na tuba e outros poemas

Casimiro de Abreu

Aqui está

um clássico do

romantismo,

um poema que foi lido e

declamado por várias gerações de

brasileiros. O poeta reforça a emoção

de suas lembranças da infância usando

exclamações e muitos adjetivos.

Page 25: Tem gato na tuba e outros poemas

Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado.

A vida — um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Page 26: Tem gato na tuba e outros poemas

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberto o peito.

— Pés descalços, braços nus —

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às ave-marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Page 27: Tem gato na tuba e outros poemas

Olavo Bilac

Este foi o primeiro poeta brasileiro a

escrever especialmente para o público

infanto-juvenil. Neste poemas, estava

maio preocupado em ensinar do que

em brincar e jogar com ao palavras.

Ensina sobre a Liberdade falando da dor

de um pássaro preso na gaiola, sobre

a lealdade falando da relação de

um cão com seu dono.

Page 28: Tem gato na tuba e outros poemas

O pássaro cativo

Armas, num galho de árvore, o alçapão;

E, em breve, uma avezinha descuidada,

Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,

A gaiola dourada;

Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos; e tudo:

Por que é que, tendo tudo, há de ficar

O passarinho mudo,

Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, criança, os pássaros não falam.

Só gorjeando a sua dor exalam,

Sem que os homens os possam entender;

Se os pássaros falassem,

Talvez os teus ouvidos escutassem

Este cativo pássaro dizer:

"Não quero o teu alpiste!

Gosto mais do alimento que procuro

Na mata livre em que a voar me viste;

Tenho água fresca num recanto escuro

Da selva em que nasci;

Da mata entre os verdores,

Tenho frutos e flores,

Sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola!

Pois nenhuma riqueza me consola

De haver perdido aquilo que perdi...

Prefiro o ninho humilde, construído

Page 29: Tem gato na tuba e outros poemas

De folhas secas, plácido, e escondido

Entre os galhos das árvores amigas...

Solta-me ao vento e ao sol!

Com que direito à escravidão me obrigas?

Quero saudar as pompas do arrebol!

Quero, ao cair da tarde,

Entoar minhas tristíssimas cantigas!

Por que me prendes? Solta-me covarde!

Deus me deu por gaiola a imensidade...

Não me roubes a minha liberdade...

Quero voar! voar!..."

Estas coisas o pássaro diria,

Se pudesse falar.

E a tua alma, criança, tremeria,

Vendo tanta aflição:

E a tua mão, tremendo, lhe abriria

A porta da prisão...

Page 30: Tem gato na tuba e outros poemas

Plutão

Negro, com os olhos em brasa

Bom, fiel e brincalhão,

Era a alegria da casa

O corajoso Plutão.

Fortíssimo, ágil no salto,

Era o terror dos caminhos,

E duas vezes mais alto

Do que o seu dono Carlinhos.

Jamais à casa chegara

Nem a sombra de um ladrão;

Pois fazia medo a cara

Do destemido Plutão.

Dormia durante o dia,

Mas, quando a noite chegava,

Junto à porta se estendia,

Montando guarda ficava.

Porém Carlinhos, rolando

Com ele às tontas no chão,

Nunca saía chorando

Mordido pelo Plutão...

Plutão velava-lhe o sono,

Seguia-o quando acordado:

O seu pequenino dono

Era todo o seu cuidado.

Um dia caiu doente

Page 31: Tem gato na tuba e outros poemas

Carlinhos... Junto ao colchão

Vivia constantemente

Triste e abatido, o Plutão.

Vieram muitos doutores,

Em vão. Toda a casa aflita,

Era uma casa de dores,

Era uma casa maldita.

Morreu Carlinhos...

A um canto Gania e ladrava o cão;

E tinha os olhos em pranto,

Como um homem, o Plutão.

Depois, seguiu o menino,

Seguiu-o calado e sério;

Quis ter o mesmo destino:

Não saiu do cemitério.

Foram um dia à procura

Dele. E, esticado no chão,

Junto de uma sepultura,

Acharam morto o Plutão.

Page 32: Tem gato na tuba e outros poemas
Page 33: Tem gato na tuba e outros poemas

Gonçalves Dias

Gonçalves Dias criou uma obra voltada para

a valorização do índio brasileiro.

Se você ler este poema em voz alta,

vai notar a preocupação do autor com o ritmo.

É como se os tambores de guerra ficassem

batendo, marcando a cadência do poema.

Page 34: Tem gato na tuba e outros poemas

CANÇÃO do Tamoio (Natalícia)

I

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

E luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos,

Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!

O homem que é forte

Não teme da morte;

Só teme fugir;

No arco que entesa

Tem certa uma presa,

Quer seja tapuia,

Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde

Seus feitos inveja

De o ver na peleja

Garboso e feroz;

E os tímidos velhos

Nos graves conselhos,

Curvadas as frontes,

Page 35: Tem gato na tuba e outros poemas

Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;

Se morre, descansa

Dos seus na lembrança,

Na voz do porvir.

Não cures da vida!

Sê bravo, sê forte!

Não fujas da morte,

Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,

Meus brios reveste;

Tamoio nasceste,

Valente serás.

Sê duro guerreiro,

Robusto, fragueiro,

Brasão dos tamoios

Na guerra e na paz.

Page 36: Tem gato na tuba e outros poemas
Page 37: Tem gato na tuba e outros poemas

VI

Teu grito de guerra

Retumbe aos ouvidos

D'imigos transidos

Por vil comoção;

E tremam d'ouvi-lo

Pior que o sibilo

Das setas ligeiras,

Pior que o trovão.

VII

E a mãe nessas tabas,

Querendo calados

Os filhos criados

Na lei do terror;

Teu nome lhes diga,

Que a gente inimiga

Talvez não escute

Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,

Traindo teus passos,

Te arroja nos laços

Do imigo falaz!

Na última hora

Teus feitos memora,

Tranqüilo nos gestos,

Impávido, audaz.

Page 38: Tem gato na tuba e outros poemas
Page 39: Tem gato na tuba e outros poemas

IX

E cai como o tronco

Do raio tocado,

Partido, rojado

Por larga extensão;

Assim morre o forte!

No passo da morte

Triunfa, conquista

Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,

Penetra na vida:

Pesada ou querida,

Viver é lutar.

Se o duro combate

Os fracos abate,

Aos fortes, aos bravos,

Só pode exaltar.

Page 40: Tem gato na tuba e outros poemas

Poemas de raízes populares

B R A G U I N H A

A L B E R T O R I B E I R O

C A R T O L A

C A R L O S C A C H A Ç A

H E R M Í N I O B E L L O D E C A R V A L H O

M A R I N O P I N T O

P A U L O S O L E D A D E

Page 41: Tem gato na tuba e outros poemas

Braguinha e Alberto Ribeiro

"Noite de junho" é de uma época em que soltar

balão não represe atava um perigo tão grande.

O poema tem as luzes, a alegria e o toque de

melancolia das festas de São João.

Em "Tem gato na tuba", o talento de Braguinha

aproveitou uma cena engraçada para compor a letra

de uma alegre marchinha de Carnaval.

Page 42: Tem gato na tuba e outros poemas

Noite de junho

Noite fria, tão fria de junho

Os balões para o céu vão subindo

Entre as nuvens aos poucos sumindo

Envoltos em tênue véu

Os balões devem ser, com certeza

As estrelas daqui deste mundo

Que as estrelas do espaço profundo

São os balões lá do céu

Balão do meu sonho dourado

Subiste enfeitado

Cheinho de luz

Depois as crianças tascaram

Rasgaram teu bojo

De listras azuis

E tu que invejando as estrelas

Sonhavas ao vê-las

Ser astro no céu

Hoje, balão apagado

Acabas rasgado

Em trapos ao léu

Page 43: Tem gato na tuba e outros poemas
Page 44: Tem gato na tuba e outros poemas

Tem gato na tuba

Todo domingo

Havia banda

No coreto do jardim

E já de longe

A gente ouvia

A tuba do Serafim

Porém um dia

Entrou um gato

Na tuba do Serafim

E o resultado

Dessa "melodia"

Foi que a tuba

Tocou assim:

Pum, pum, pum — miau

Pum, pururum, pum, pum — miau

Pum, pum, pum — miau

Pum, pururum, pum, pum — miau...

Page 45: Tem gato na tuba e outros poemas

Ca r to l a ,

Ca r lo s Cachaç a e

H ermín io Be l lo de Ca rva lho

Cartola e Carlos Cachaça compuseram a primeira

parte deste poema que Hermínio Bello de Carvalho

completou. Há tanta luz e beleza neste poema quanto

a luz e a beleza ao alvorecer no morro cantado

pelos poetas.

Page 46: Tem gato na tuba e outros poemas

Alvorada no morro

Alvorada

Lá no morro, que beleza

Ninguém chora, não há tristeza

Ninguém sente dissabor

O sol colorindo

E tão lindo, é tão lindo

E a natureza sorrindo

Tingindo, tingindo

Você também me lembra a alvorada

Quando chega iluminando

Meus caminhos tão sem vida

Mas o que me resta

E bem pouco, quase nada

Do que ir assim vagando

Numa estrada perdida

Page 47: Tem gato na tuba e outros poemas

M ar ino P in to e

P au lo S o ledade

Este é mais um poema que é também letra de música.

Na verdade ele conta uma história, a lenda do

nascimento da estrela-do-mar.

Page 48: Tem gato na tuba e outros poemas

Estrela-do-mar

Um pequenino grão de areia

Que era um pobre sonhador

Olhando o céu viu uma estrela

Imaginou coisas de amor

Passaram anos, muitos anos

Ela no céu, ele no mar

Dizem que nunca o pobrezinho

Pôde com ela se encontrar

Se houve ou se não houve

Alguma coisa entre eles dois

Ninguém soube até hoje explicar

O que há de verdade

É que depois, muito depois

Apareceu a estrela-do-mar

Page 49: Tem gato na tuba e outros poemas

G LO S S Á RIO

As palavras estão explicadas neste glossário

só pelo sentido com que estão empregadas neste livro.

alvorada — amanhecer.

arrebol — cor avermelhada do nascer ou pôr-do-sol.

arrojar — lançar-se.

audaz — ousado.

aurora — o nascer do sol, começo de vida.

brasão — glória.

brios — valentia.

cobarde — forma antiga de covarde.

conselhos — reuniões, assembléias.

dissabor — desgosto, contrariedade.

entesar — esticar.

fagueiras -agradáveis, serenas.

falaz — enganador, fraudulento.

fatalizado — morto.

flácido — mole.

fortuna — destino.

guisar — cozinhar com molho e temperos.

impávido — destemido.

lépido — alegre, ágil.

natalícia — feita por ocasião de um nascimento.

plácido — tranqüilo.

pompas — grande luxo.

porvir — futuro.

renhida — disputada.

tapir — anta.

tapuia — índio considerado bárbaro pelos demais.

tênue — fino.

transidos — atingidos.

tuba — instrumento de sopro grande e grave.

Page 50: Tem gato na tuba e outros poemas

Esta obra foi digitalizada pelo grupo Digital Source para proporcionar, de maneira

totalmente gratuita, o benefício de sua leitura àqueles que não podem comprá-la ou

àqueles que necessitam de meios eletrônicos para ler. Dessa forma, a venda deste e-

book ou até mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é totalmente condenável

em qualquer circunstância. A generosidade e a humildade é a marca da distribuição,

portanto distribua este livro livremente.

Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir o original, pois

assim você estará incentivando o autor e a publicação de novas obras.

http://groups.google.com.br/group/digitalsource

http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros

Page 51: Tem gato na tuba e outros poemas