4
Redação − Tema 6 − 2008 Por que o brasileiro não é bom leitor? Período: 08 a 14 de abril Orientações para o aluno O artigo de Chico Lopes (Texto 1) inicia-se com uma afirmação bem conhecida de todos nós: “A despeito das campanhas e dos apelos para que o objeto livro se torne mais popular e difundido, o velho problema continua: brasileiro não lê nada ou lê pouco e mal”. E não lê apenas livros, diga-se de passagem; não lemos revistas, jornais e, muitas vezes, sequer outdoors ou placas de trânsito. No colégio, o professor nos obriga a cumprir uma lista de lei- turas e apelamos para os tais “resumos”, que nem sempre dão certo. Desconsiderando que estejamos vivendo em uma época de cultura de internet e televisão, muitos de nós, teimosamente, sequer para esse tipo de cultura é capaz de olhar ou dar valor. Há muitas desculpas para isso: o Brasil é um país subdesen- volvido, o livro é caro (em média custa entre 40 e 60 reais), a vida é difícil e a primeira preocupação é com comida. A realidade é que somos um povo que herdou do colonizador uns conceitos estropia- dos: quem lê é esquisito ou comunista, ler faz mal à vista, quem lê fica exigente demais. O certo é que a leitura, seja qual for, instala no indivíduo fome por cidadania de primeira classe, por isso que ele fica perigoso ou tem idéias perigosas demais. Comece sua redação dissertativa por trajetória histórica e bus- que na coletânea os subsídios que tornem sua redação eficaz e inte- ressante. Não se esqueça de que o título é seu cartão de apresentação. Com relação à carta, você também poderá utilizar a trajetória histó- rica como recurso. Ao escolher o artigo crítico, procure tangenciar o trecho em que Gustavo Bernardo coloca em relevo que “Falta de dinheiro e falta de interesse pelo mundo e pelos livros são sintomas de um grande desrespeito humano institucionalizado. A instituição do desrespeito, que ‘escolhe’ por nós todos e a todos interdita o desejo, é o nervo da questão e não a falta de tal ou qual hábito.” Dicas: <www.youtube.com/watch?v=5bCbrHRt0ew>. <www.youtube.com/watch?v=57hum9zwjZc>. <www.youtube.com/watch?v=oUtsjUKZFDM&feature=related>. Há ainda um curta-metragem que também pode ser encontrado no Youtube (15min. de Yván Sains-Pardo, 2001, Espanha/Alemanha), aproveite: <www.youtube.com/watch?v=0iM1alyOR8w&feature=related>. Caso deseje assistir a um curta-metragem brasileiro, veja “O nosso livro”, baseado num poema de Florbela Espanca; você pode achá-lo no seguinte endereço: <www.portacurtas.com.br/filme.asp?Cod=4186#>. 2005, 15 min. Direção de Luciana Alcaraz e Cláudia Rabelo Lopes, com Vera Holtz e Marcos Caruso. Proposta de redação Antes de iniciar a leitura da coletânia, leve em conta: 1. fugir dos quesitos constantes do enunciado implicará anulação de seu trabalho, ou seja, sua redação valerá zero; 2. use a norma padrão da língua portuguesa para escrever seu texto; 3. tente alcançar pelo menos 30 linhas; 4. não discuta os fatos levado por emoção violenta, preferência ou es- colha de ordem individual; 5. observe seu posicionamento e evite a todo custo a falta de coerência interna; 6. procure dar exemplos, na parte argumentativa, de fatos recentes e que sejam de conhecimento público, divulgados por jornais e revis- tas. Texto 1 A leitora, óleo sobre tela de Jean-Honoré Fragonard, 1770-1772. Prazer da leitura: estranheza num país inculto Chico Lopes A despeito das campanhas e dos apelos, para que o objeto livro se torne mais popular e difundido, o velho problema continua: brasileiro não lê nada ou lê pouco e mal. Que se pode pensar de um povo aversivo a placa de trânsito? Tudo indica, pelo grau de grosseria e primitivismo das ruas, que somos um povo oral, que duvida da escrita. É muito comum a gente se deparar com pessoas que, mesmo al- fabetizadas, preferem se esclarecer com outra pessoa sobre o que está escrito numa receita de médico, num documento qualquer ou num le- treiro de ônibus. É como se a relação com a escrita fosse inspiradora de desconfiança e só mesmo através de uma conversa personalizada pudesse haver uma garantia de verdade. Naturalmente, um povo assim

Tema 6 Aluno

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tema 6 Aluno

Redação − Tema 6 − 2008Por que o brasileiro não é bom leitor?

Período: 08 a 14 de abril

Orientações para o aluno

O artigo de Chico Lopes (Texto 1) inicia-se com uma afirmação bem conhecida de todos nós: “A despeito das campanhas e dos apelos para que o objeto livro se torne mais popular e difundido, o velho problema continua: brasileiro não lê nada ou lê pouco e mal”. E não lê apenas livros, diga-se de passagem; não lemos revistas, jornais e, muitas vezes, sequer outdoors ou placas de trânsito.

No colégio, o professor nos obriga a cumprir uma lista de lei-turas e apelamos para os tais “resumos”, que nem sempre dão certo. Desconsiderando que estejamos vivendo em uma época de cultura de internet e televisão, muitos de nós, teimosamente, sequer para esse tipo de cultura é capaz de olhar ou dar valor.

Há muitas desculpas para isso: o Brasil é um país subdesen-volvido, o livro é caro (em média custa entre 40 e 60 reais), a vida é difícil e a primeira preocupação é com comida. A realidade é que somos um povo que herdou do colonizador uns conceitos estropia-dos: quem lê é esquisito ou comunista, ler faz mal à vista, quem lê fica exigente demais.

O certo é que a leitura, seja qual for, instala no indivíduo fome por cidadania de primeira classe, por isso que ele fica perigoso ou tem idéias perigosas demais.

Comece sua redação dissertativa por trajetória histórica e bus-que na coletânea os subsídios que tornem sua redação eficaz e inte-ressante.

Não se esqueça de que o título é seu cartão de apresentação. Com relação à carta, você também poderá utilizar a trajetória histó-rica como recurso.

Ao escolher o artigo crítico, procure tangenciar o trecho em que Gustavo Bernardo coloca em relevo que “Falta de dinheiro e falta de interesse pelo mundo e pelos livros são sintomas de um grande desrespeito humano institucionalizado. A instituição do desrespeito, que ‘escolhe’ por nós todos e a todos interdita o desejo, é o nervo da questão — e não a falta de tal ou qual hábito.”

Dicas:

<www.youtube.com/watch?v=5bCbrHRt0ew>.<www.youtube.com/watch?v=57hum9zwjZc>.

<www.youtube.com/watch?v=oUtsjUKZFDM&feature=related>.

Há ainda um curta-metragem que também pode ser encontradono Youtube (15min. de Yván Sains-Pardo, 2001, Espanha/Alemanha), aproveite:

<www.youtube.com/watch?v=0iM1alyOR8w&feature=related>.

Caso deseje assistir a um curta-metragem brasileiro, veja “Onosso livro”, baseado num poema de Florbela Espanca; vocêpode achá-lo no seguinte endereço:

<www.portacurtas.com.br/filme.asp?Cod=4186#>.2005, 15 min. Direção de Luciana Alcaraz e Cláudia Rabelo

Lopes, com Vera Holtz e Marcos Caruso.

Proposta de redação

Antes de iniciar a leitura da coletânia, leve em conta:1. fugir dos quesitos constantes do enunciado implicará anulação de

seu trabalho, ou seja, sua redação valerá zero;2. use a norma padrão da língua portuguesa para escrever seu texto;3. tente alcançar pelo menos 30 linhas;4. não discuta os fatos levado por emoção violenta, preferência ou es-

colha de ordem individual;5. observe seu posicionamento e evite a todo custo a falta de coerência

interna;6. procure dar exemplos, na parte argumentativa, de fatos recentes e

que sejam de conhecimento público, divulgados por jornais e revis-tas.

Texto 1

A leitora, óleo sobre tela de Jean-Honoré Fragonard, 1770-1772.

Prazer da leitura: estranheza num país incultoChico Lopes

A despeito das campanhas e dos apelos, para que o objeto livro se

torne mais popular e difundido, o velho problema continua: brasileiro

não lê nada ou lê pouco e mal. Que se pode pensar de um povo aversivo

a placa de trânsito? Tudo indica, pelo grau de grosseria e primitivismo

das ruas, que somos um povo oral, que duvida da escrita.

É muito comum a gente se deparar com pessoas que, mesmo al-

fabetizadas, preferem se esclarecer com outra pessoa sobre o que está

escrito numa receita de médico, num documento qualquer ou num le-

treiro de ônibus. É como se a relação com a escrita fosse inspiradora

de desconfiança e só mesmo através de uma conversa personalizada

pudesse haver uma garantia de verdade. Naturalmente, um povo assim

Page 2: Tema 6 Aluno

Redação − Tema 6 − 2008Por que o brasileiro não é bom leitor?

Período: 08 a 14 de abril

possui um atavismo infeliz, derivado das experiências com aqueles sujei-

tos que, através de letrinhas, sempre o manipularam com um misto de pa-

ternalismo e crueldade. Vistos como símbolos de cultura inacessível, os

livros são vistos como intimidadores e restritivos. A leitura como prazer

democrático, que poderia ser tão banal quanto tomar um refrigerante,

é associada a uma suspeita de elitismo (“é coisa de doutor”), e se os

preços dos livros afastam até gente que tem bons ordenados e algum

gosto pela leitura, imagine os pobres e mal-instruídos.

Além dos preços abusivos (entre 40 e 60 reais, em geral), fomos en-

sinados a não gostar de livros — as escolas sempre fizeram deles objetos

antipáticos, associando a leitura a dever penoso (quem não se lembra de

quantas vezes teve que resumir burocraticamente o infalível Iracema ou

Memórias de um Sargento de Milícias?). Isso mudou, há hoje práticas

mais libertárias e prazerosas entre professores de Português e Litera-

tura, mas a penetração do objeto livro segue sendo problemática: ela é

recheada de “boas intenções” e se esboroa facilmente na prática. Claro

que estatísticas mentirosas, por conveniência, podem dizer o contrário,

justificando a existência de alguns grupos armados para se perpetuar

com certos privilégios e fechados em patotinhas que passam por cultas.

A realidade da pouca ou nenhuma leitura, no entanto, acaba se impondo.

O Brasil, nesse aspecto, é um país notoriamente infeliz: quem tem cultura

se elitiza, inevitavelmente, e acaba adquirindo desprezo por quem não

tem (vasta maioria) ou, quando é preciso descer do pedestal para mantê-

lo, adulando massas sem cérebro com paternalismo demagógico. É uma

alternância fatal: ou se despreza ou se adula. Educar, nunca.

Um leitor fanático como eu, que costuma carregar livros para

ler em ônibus, sofre com os olhares de estranhamento e discriminação.

Quando há algum reconhecimento, é do tipo: “O senhor é pastor?”.

Naturalmente, acham que qualquer livro está mais para a Bíblia. Mas o

que mais me espanta, nessas ocasiões, é o olhar desconfiado e perplexo:

é aquela cara de alguém que está te achando esquisito, mas não diz. Não

se pensa o óbvio: que a esquisitice dá prazer. Não se associa a leitura

a algo assim mais ligeiro e normal. É um hábito praticado por minorias

pequenas demais.

Tanto é assim que uma vez um jornalista paulistano, não me lembro

quem, disse que teve seu carro depenado por ladrões, que lhe levaram

tudo que havia dentro dele. Tudo, exceto uma boa pilha de livros. Ele

comentou: “O ladrão é o brasileiro típico. Acha que livro não tem valor

algum”. É triste, mas é verdadeiro. E a sociedade de consumo frenético

em que vivemos transformou o livro numa mercadoria atraente também,

mas não para o grosso da população que, como cultura, consome tele-

visão e olhe lá.

E a televisão, em geral, pouco se importa em dar qualquer espé-

cie de refinamento letrado ao público. É precisamente o avesso disso,

e, se às vezes gosta de “prestigiar a Cultura” àquele modo arrogante

de quem manda e escolhe o que a massa deve ler e apreciar, às vezes

deixa cair a sua máscara. É precisamente o que acontece quando algum

televisivo vem a público dizer, com orgulho, que jamais pegou um livro.

Um país que chega ao extremo de encontrar uma espécie de valor numa

declaração tão cabal e insana de incultura é, de fato, um caso alarmente

sobre que meditar. Talvez nada seja pior que a ignorância proclamada e

assumida com orgulho, porque pressupõe que o sujeito que a declara, na

verdade, representa um grande número de pessoas.

O prazer da leitura é escasso, e, assim, os livros têm vivido a re-

boque de outras mídias, tentando tirar proveito de outros produtos bem

mais sucedidos junto ao público: tornam-se extensões e linhas auxiliares

empobrecidas de sucessos da televisão e do cinema. Mas o sinal mais

evidente desse desvio é a proliferação dos livros de auto-ajuda, que, tro-

cando em miúdos, reduzem a nada o prazer estético: fazem do objeto

livro remédio, manual para fazer sucesso seja de um jeito, seja de outro,

dizendo sempre a mesma coisa: que o incauto pode, através da auto-

sugestão mais banal, mudar a sua vida. Como se injeções obstinadas de

otimismo nos dessem poderes mágicos e suprimissem a realidade, como

se afirmar “eu me amo” fosse resposta para todos os problemas. Aí o

livro tem um aspecto utilitário dos mais rasos. A incultura semiletrada

cresceu muito, o mundo cultural se tornou refém do entretenimento (os

próprios cadernos de Cultura dos grandes jornais caíram na futilidade)

e os livros, atualmente, já não são objetos que reflitam refinamento, ne-

cessariamente: podem significar é adesão a uma bobagem passageira

qualquer. A cultura se rebaixou em busca do faturamento.

Enfim, sofra a perversão que sofrer, o objeto livro, quando devi-

damente dignificado, é ainda das melhores coisas desta vida, seja como

fonte de informação indispensável, seja como fonte de prazer. E há algo

de positivo que o mercado, com todas as suas contradições, continue

soltando tantos títulos, abacaxis utilitários e caça-níqueis na maior

parte. No meio da enxurrada, sempre há coisas nas quais vale prestar

atenção. Lendo, lendo e aprendendo, talvez o consumidor de lixo ou de

mediania e modismo acabe descobrindo — se não for otimismo demais

de minha parte — o que é bom e necessário. Mas se tornará solitário, à

medida que for se refinando. É o inevitável num país de massas tragica-

mente devoradas ora pela futilidade ora pelos vernizes de cultura.

Março, 2008 <www.germinaliteratura.com.br/2008/letraeimagem2_mar08.htm>.

<[email protected]>.

Texto 2

Não existe hábito de leitura porque a maioria do povo é analfabeta, ou semi-analfabeta. Não há bons livros por isso também, e pelo perigo que trazem os bons livros. Não há dinheiro para comprar livros porque não há dinheiro para comprar pão, e não há dinheiro para comprar pão ou livros, porque vivemos num regime onde são secundários o direito de escolher e a liberdade de decidir, tanto quanto a de desejar. Falta de dinheiro e falta de interesse pelo mundo e pelos livros são sintomas de um grande desrespeito humano institucionalizado. A instituição do desrespeito, que “escolhe” por nós todos e a todos interdita o desejo, é o nervo da questão — e não a falta de tal ou qual hábito.

A expressão “hábito”, aliás, me parece plena de conotações be-havioristas e fascistas. Transfere problema humano para esfera mecâni-ca desprovida de consciência e de desejo. Os hábitos são transmitidos por imitação e por pressão, dispensando as pessoas de escolherem este ou aquele comportamento, dispensando-as do direito e dever de escolher e decidir por si.

Gustavo Bernardo, in Redação inquieta,São Paulo, Globo, 1985.

Texto 3

Nunca é demais lembrar que, no Brasil, são muitos os desafios rumo à consolidação de uma sociedade leitora. Dentre eles, colocam-se aqueles mais diretamente voltados à figura do professor, ou seja, o pro-fissional formalmente encarregado pela introdução e permanência das novas gerações no universo da escrita através da alfabetização e do le-tramento. E tendo em vista que o ensino e o conhecimento são impulsio-nados por processos de leitura e escrita, cabe ao professor, no exercício

Page 3: Tema 6 Aluno

Redação − Tema 6 − 2008Por que o brasileiro não é bom leitor?

Período: 08 a 14 de abril

das suas responsabilidades, ter intimidade com todos os veículos que se utilizam da escrita como meio para a amplificação e circulação de idéias em sociedade. No extenso rol desses veículos, desde Gutenberg, os dife-rentes tipos de jornais ocupam uma posição insubstituível.

<www.alb.com.br/anaisjornal/leitura/index.html>.

Texto 4

JU — Que impacto a internet terá na produção e na difusão do livro? São instrumentos complementares ou excludentes entre si?

Bartolomeu Campos Queirós — Vejo que tanto a internet como o livro são instrumentos complementares embora exigindo maneiras di-versas de participações. Ambos abrem caminhos. Eu me lembro que ao surgir o vídeo muitos diziam que os cinemas seriam fechados. Nunca tivemos tantas salas como agora e com tanta freqüência. É necessário confirmar que o sujeito é que dá sentido às coisas. E como é bom desco-brir que por meio dos sentidos somos além de nós.

Marina Colasanti — Complementares. Durante alguns anos se disse e se temeu que a internet acabasse com o livro. O assunto foi discu-tido em todas as grandes feiras de livros, em seminários e em simpósios, nas editoras e nas universidades. Mas enquanto discutíamos, verificou-se progressivamente que isso não ia acontecer. Hoje, todos sabemos que nem a internet nem o e-book acabarão com o livro. Aliás, não era essa sua intenção.

Paulo Franchetti ww É difícil prever. O acesso à informação na internet deverá ainda sofrer muitas alterações. Basta pensar no que hou-ve com os jornais impressos. Num primeiro momento, todos foram para a web. O acesso era gratuito e geral. Parecia que seria o fim do jornal pago, que os anúncios na internet sustentariam o custo. Logo se viu que não era assim. Hoje, os grandes jornais vendem assinaturas eletrônicas e oferecem acesso eletrônico apenas aos assinantes do papel ou de um portal coligado. É difícil saber como será o futuro do livro na internet. Hoje a internet tem, sobre o livro impresso, duas vantagens: a acessibi-lidade imediata do que está digitalizado e o custo nulo ou irrisório. Se o custo subir, as vantagens do livro (manuseabilidade, portabilidade ili-mitada, durabilidade e disponibilidade da informação, independente de equipamentos, energia elétrica ou encerramento de homepages) voltarão a pesar muito.

Quanto à difusão do livro, a internet já tem um papel fundamental. Num país enorme e sem livrarias, como o Brasil, a possibilidade de ad-quirir, de qualquer lugar, qualquer livro disponível no mercado por meio do comércio eletrônico é algo de extrema importância.

Este texto foi publicado originalmente no Jornal da Unicamp, edição de 27 a 10 de julho de 2005.

Texto 5

Jardins*Comecei a gostar dos livros mesmo antes de saber ler. Descobri

que os livros eram um tapete mágico que me levavam instantaneamente a viajar pelo mundo [...] Lendo, eu deixava de ser o menino pobre que era e me tornava um outro. Eu me vejo assentado no chão, num dos quartos do sobradão do meu avô. Via figuras. Era um livro, folhas de tecido ver-melho. Nas suas páginas alguém colara gravuras, recortadas de revistas. Não sei quem o fez. Só sei que quem o fez amava as crianças. Eu passava horas vendo as figuras e não me cansava de vê-las de novo. Um outro li-vro que me encantava era o “Jeca Tatu”, do Monteiro Lobato. Começava

assim: “Jeca Tatu era um pobre caboclo [...]” De tanto ouvir a estória lida para mim, acabei por sabê-lo de cor. “De cor”: no coração. Aquilo que o coração ama não é jamais esquecido. E eu o “lia” para minha tia Mema, que estava doente, presa numa cadeira de balanço. Ela ria o seu sorriso suave, ouvindo minha leitura. Um outro livro que eu amava pertencera à minha mãe criança. Era um livro muito velho. Façam as contas: minha mãe nasceu em 1896 [...] Na capa havia um menino e uma menina que brincavam com o globo terrestre. Era um livro que me fazia viajar por países e povos distantes e estranhos. Gravuras apenas. Esquimós, em suas roupas de couro, dando tiros para o ar, saudando o fim do seu longo inverno. Embaixo, a explicação: “Onde os esquimós vivem a noite é muito longa; dura seis meses”. Um crocodilo, bocarra enorme aberta, com seus dente pontiagudos, e um negro se arrastando em sua direção, tendo na mão direita um pau com duas pontas afiadas. O que ele queria era introduzir o pau na boca do crocodilo, sem que ele se desse conta. Quando o crocodilo fechasse a boca estaria fisgado e haveria festa e comedoria! Na gravura dedicada aos Estados Unidos havia um edifício, com a explicação assombrosa: “Nos Estados Unidos há casas com 10 andares [...]” Mas a gravura que mais mexia comigo representava um menino e uma menina brincando de fazer um jardim. Na verdade, era mais que um jardim. Era um mini-cenário. Haviam feito montanhas de terra e pedra. Entre as montanhas, um lago cuja água, transbordando, se transformava num riachinho. E, às suas margens, o menino e a menina haviam plantado uma floresta de pequenas plantas e musgos. A menina enchia o lago com um regador. Eu não me contentava em ver o jardim: largava o livro e ia para a horta, com a idéia de plantar um jardim parecido. E assim passava toda uma tarde, fazendo o meu jar-dim e usando galhos de hortelã como as árvores da floresta [...] Onde foi parar o livro da minha mãe? Não sei. Também não importa. Ele continua aberto dentro de mim.

Rubem Alves, Jardins, Correio Popular, Caderno C, 01/jul./2001.

Depois de ler os textos anteriores, você poderá escolher uma das propostas abaixo para desenvolver seu texto:

Opção 1. Um artigo crítico sobre o fato do brasileiro tradicionalmente ser to-mado como mau leitor e mau comprador de livros.Para tanto:

1. seu enfoque deverá estar ligado aos textos: 1 (Prazer da leitura: es-tranheza num país inculto, de Chico Lopes) e 2 (trecho do livro Gustavo Bernardo, in Redação inquieta, São Paulo, Globo, 1985.);

2. seu texto pode alcançar até 35 linhas;3. dê um título ao seu artigo;4. ele deverá ser escrito a tinta (preferencialmente azul);5. você pode trazer para o texto outras opiniões, citações, indicações

que não estejam presentes à coletânea, mas que tenham valor real para impulsionar, ilustrar ou, ainda, dar credibilidade àquilo que pro-ponha defender.

Opção 2.

Uma carta, dirigida ao senhor Gustavo Bernardo, em que você con-trarie o ponto de vista exposto no seguinte trecho:Não existe hábito de leitura porque a maioria do povo é analfabeta, ou semi-analfabeta. Não há bons livros por isso também, e pelo perigo que trazem os bons livros. Não há dinheiro para comprar livros porque não há dinheiro para comprar pão, e não há dinheiro para comprar pão ou livros porque vivemos num regime onde são secundários o direito de es-colher e a liberdade de decidir, tanto quanto a de desejar.

Page 4: Tema 6 Aluno

Redação − Tema 6 − 2008Por que o brasileiro não é bom leitor?

Período: 08 a 14 de abril

Não se esqueça de que:1. na carta, há que se manter a interlocução;2. existe, ainda, nesta modalidade, o quesito persuasão;3. a carta não precisa ter título;4. assine apenas com suas iniciais.

Opção 3.

Uma dissertação, cujo tema, retirado do texto 1, é:A leitura como prazer democrático, que poderia ser tão banal quanto to-mar um refrigerante, é associada a uma suspeita de elitismo (“é coisa de doutor”), e se os preços dos livros afastam até gente que tem bons ordena-dos e algum gosto pela leitura, imagine os pobres e mal-instruídos.

Anotações

www.sistemapoliedro.com.brEntre em contato conosco:[email protected]