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Temas Gerais do Serviço social Profa. Dra. Lobelia da Silva Faceira Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Temas Gerais do Serviço social. - Profª Lobélia

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Temas Gerais do Serviço social

Profa. Dra. Lobelia da Silva Faceira

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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Conteúdo da Aula e principais referências bibliográficas1.     Relação entre Estado /Sociedade. MONTAÑO, Carlos & DURIGUETTO, Maria Lúcia. Estado, classe e movimento social.

2.     A questão social. IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. PASTORINA. A categoria Questão Social em debate.

3. Neoliberalismo e Exclusão social BEHRING, Elaine Rossetti. Brasil em contra – reforma: desestruturação do Estado e perda de direitos. MOTTA, Ana Elisabeth. A cultura da crise. SADER, Emir. Pós-meoliberalismo.

4. Movimentos sociais. DURIGUETTO, Maria Lúcia. Sociedade Civil e Democracia: um debate necessário. GOHN, Maria da Glória. Movimentos e lutas sociais na história do Brasil. ___________________. Movimentos sociais no início do século XXI: antigos e novos atores sociais. ___________________ . Teorias dos Movimentos Sociais: Paradigmas Clássicos e Contemporâneos.

5.     Terceiro Setor. MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social; crítica ao padrão emergente de intervenção social. 6.     Articulação em rede e conselhos de direitos. BRAVO, Maria Inês Souza e PEREIRA, Potyara Amazoneida (Orgs.). Política social e democracia. ELIAS, Nobert. A Sociedade dos Indivíduos. SCHERER-WARREN, Ilse. Dossiê: Movimentos Sociais: das mobilizações às redes de movimentos sociais. In: Revista Sociedade Estado (21). _______________________. Redes de Movimentos Sociais.

7. Implicações da atuação do Serviço Social na defesa e garantia de direitos da população em situação de vulnerabilidade social.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na cena contemporânea. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional.

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1.     Relação entre Estado e Sociedade.

Três principais evidências, que servirão de referência dessa reflexão:

1. Estado não é um fenômeno unívoco, isto é, igual ou idêntico em todos os momentos históricos e em todos os contextos socioculturais;

2. Estado não é o criador da sociedade, mas, ao contrário criatura desta;

3. Existem diferentes e competitivas doutrinas, teorias ou concepções sobre o Estado e suas relações com a sociedade.

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O Estado moderno e a Sociedade Civil nos clássicos da teoria política.

  Platão - Em sua obra “A República”, distingue as boas e más

formas de governar, classificando a monarquia, aristocracia, democracia, oligarquia e tirania.

  Aristóteles criticando seu “mestre”, cria a teoria clássica sobre

as formas de governo ou “politeias”, distinguindo as “constituições retas” (reino, aristocracia e a política) e “desviadas” (tirania, oligarquia e a democracia), a partir da intenção dos governantes em defender o interesse próprio ou o bem comum. Isso mostra, na teoria aristotélica, a clara idéia da existência de grupos (classes sociais), diferenciados por sua condição social: ricos e pobres.

  Nicolau Maquiavel – visou desvendar uma ética política (não

moral), independentemente da vida privada e da religião, em que a ação política e o ator político fossem julgados pelos resultados, e não pelos meios empregados >>> VIRTÚ E FORTUNA.

  Jusnaturalismo e Contratualismo – Hobbes, Locke e

Rousseau.

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Hegel Sociedade civil >>> sistema de necessidades em que se desenvolvem as relações e atividades econômicas e as regulamentações jurídico-administrativas – em que os indivíduos asseguram a defesa de suas liberdades, da propriedade privada e de seus interesses a administração da justiça, da polícia e das corporações.

Estado >>> conservação / superação da sociedade civil >>> reino em que se expressariam os interesses públicos e universais.

Para Hegel, caberia ao Estado garantir o bem público ao mesmo tempo que preserva a sociedade civil e seus fundamentos.

Estado = sujeito real que ordena, funda e materializa a universalização dos interesses particularistas da sociedade civil.

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Sociedade civil e Estado na tradição marxista (Marx, Lênin e Gramsci).

O método dialético >>> real >>> conhecimento teórico = reprodução intelectiva do movimento do real. Marx

Sociedade civil = intercâmbio material dos indivíduos = estrutura econômica.Estado = produto da sociedade civil, expressa suas contradições e as perpetua, e não como pensa Hegel, uma esfera independente, com racionalidade própria. 

Estado emerge das relações de produção >> moldado pela Sociedade Civil >> Sociedade Civil é moldada pelo modo dominante de produção e pelas relações inerentes a esse modo. Expressão “ditadura do proletariado” é utilizada para afirmar que as lutas de classes levam necessariamente à ditadura do proletariado e que essa ditadura

constitui apenas uma passagem para a fase de supressão de todas as classes, ou seja, a uma sociedade sem classe, e à supressão do Estado.

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LêninA função do Estado como aparelho repressivo da burguesia é destacada como o núcleo central do Estado burguês.Principais instrumentos da força do poder de Estado são o exército e a política, sendo a revolução violenta inevitável.O proletariado, depois de apoderar-se da máquina do Estado, transforma-se em classe dominante (o Estado aqui é o proletariado organizado em classe dominante); estabelece seu domínio político e elimina a burguesia.  GramsciEstado ampliado = sociedade política (aparelhos de repressão e coerção) e sociedade civil (hegemonia >>> consenso e aceitação dos setores subalternos).Sociedade civil = momento da superestrutura >>> não implica a negação da centralidade descoberta por Marx da base material como fator ontológico primário da sociabilidade. 

“Unidade na diversidade” >>> Em Gramsci, sociedade civil e sociedade política são distinções analíticas do conceito de Estado. Para ele, o momento unificador dessas duas esferas – sociedade política e sociedade civil – está presente na forma como o

grupo social realiza sua dominação.

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A teoria do processo revolucionário de transição ao socialismo >>> distingue 2 tipos de formações sociais:

        Sociedades de tipo oriental (Rússia Czarista) >>> onde não se desenvolveu uma sociedade civil forte e articulada, sendo esta primitiva, e comandada pela sociedade política e a lógica da dominação e coerção >>> as lutas de classes travam-se tendo em vista a conquista (pelos setores dominados) ou conservação (pela classe dominante) do Estado em sentido estrito >>> processo revolucionário se dá mediante a “guerra de movimento”, com vistas à tomada do Estado.

        Sociedades de tipo ocidental >>> é aquela em que a política sofreu significativa socialização, com uma relação equilibrada entre a sociedade política e a sociedade civil (terreno das lutas de classes) >>> centro do processo revolucionário dar-se-á como um progressão de conquistas, de espaços no seio e através da sociedade civil numa “guerra de posição” >>> refere-se tanto ao processo em que uma classe torna-se dirigente, quanto à direção que uma classe no poder exerce sobre o conjunto da sociedade.

  Catarse >>> momento em que Gramsci denomina a passagem

do momento econômico ao momento ético-político >>> processo de elevação da consciência da “classe em si” à “classe para si”.

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Hegemonia >>> construção do consenso >>> direção intelectual e moral, incorpora uma dimensão educativa, na medida em que a formação de uma consciência crítica é um dos alicerces de uma ação política que procura conquistar a hegemonia.

Gramsci atribui ao trabalho ideológico dos intelectuais orgânicos na construção ou manutenção da hegemonia.

Gramsci >>> perspectiva de sociedade sem Estado >>> sociedade regulada >>> reabsorção da sociedade política na sociedade civil.

Tomada do poder político que as classes subalternas atingem sua completa unificação política, tornando-se o próprio Estado e criando um

novo “bloco histórico”.

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Pensamento liberal – Tocquevile, Keynes e Hayek

Aléxis de Tocqueville (1805-1859)

Tinha plena consciência de que a implantação da democracia era inevitável, mas lastimava essa tendência que, segundo ele, levaria ao risco da "tirania da maioria", a um nivelamento cuja conseqüência seria o despotismo e ao conformismo da opinião. A democracia faria prevalecer a força do número sobre a individualidade.

Tocqueville admitia claramente o desprezo pelas classes médias, o que constituía um traço aristocrático da visão de mundo daquele nobre senhor de terras. Em uma anotação pessoal exprimia: "Tenho pelas instituições democráticas uma preferência cerebral, mas sou aristocrata por instinto, e isto significa que desprezo e temo a multidão. Amo apaixonadamente a liberdade, a legalidade, o respeito pelos direitos, mas não a democracia"'.

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Keynes - defendeu uma política econômica de Estado intervencionista, através da qual os governos usariam medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos. Suas idéias serviram de base para a escola de pensamento conhecida como economia keynesiana.

Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, as idéias econômicas de Keynes foram adotadas pelas principais potências econômicas do Ocidente. Durante as décadas de 1950 e 1960, o sucesso da economia keynesiana foi tão retumbante que quase todos os governos capitalistas adotaram suas recomendações.

Estado de bem-estar social (Welfare State), também conhecido como Estado-providência, é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (nação) como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com a nação em questão. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e proteção à população.

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Hayek - Em 1944 foi lançado o livro “O Caminho da Servidão” de Hayek, que foi considerado uma ofensa ao Estado de bem-estar, pois reagia duramente contra o Keynesianismo e o assistencialismo do Estado, tão defendidos naquele momento.

Contrariamente a tudo que pregava o Estado de bem-estar, Hayek e Friedman, acreditavam que o Estado deveriam ter funções menos autoritária e menos paternalista.

Para Hayek, mais especificamente, uma das funções principais do Estado (Mínimo) seria auxiliar na difusão de conhecimentos e informações permitindo uma maior mobilidade econômica, sem haver centralização de decisões, sendo totalmente contra o planejamento por parte do Estado.

A esse Estado (Mínimo), restaria zelar pelo bom funcionamento do MERCADO: garantindo a ordem, elaborando leis de proteção à propriedade privada, leis de proteção à liberdade de expressão, a manutenção dos cárceres e a defesa das fronteiras.

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Jeremy Bentham (1748-1832) é o fundador de uma escola chamada utilitarismo. Sofrendo a influência empirista, a teoria utilitarista pretende ser um instrumento de renovação social, a partir de um método rigorosamente científico.

O cidadão só deve obedecer ao Estado quando a obediência contribui para a felicidade geral. Da mesma forma, o governo deve concordar com o princípio de utilidade, e sua finalidade é alcançar a felicidade para um número maior de pessoas.

Por isso os objetivos do governo são: prover a subsistência, produzir a abundância, favorecer a igualdade e manter a segurança. Para tanto é necessário que haja eleições periódicas, sufrágio livre e universal, liberdade de contrato.

John Stuart Mill (1806-1873) - Desenvolve o liberalismo na linha de aspiração democrática. Preocupa-se com o destino das massas oprimidas e defende a co-participação na indústria bem como a representação proporcional na política a fim de permitir a expressão das opiniões minoritárias. Foi acirrado defensor da absoluta liberdade de expressão, do pluralismo e da diversidade, e considerava importante o debate das teorias conflitantes.

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Weber - definiu o Estado como "uma entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física", uma definição que se tornou central no estudo da moderna ciência política no Ocidente.

Identificou três principais fontes de legitimidade política: A legitimidade com base em motivos tradicionais. A legitimidade, por outro baseado em liderança carismática é a

devoção a um líder ou grupo que é visto como excepcional heróico ou virtuoso.

A autoridade racional-legal, no qual a legitimidade é derivada da crença de que um determinado grupo tenha sido colocado no poder de forma legal, e que seus atos são justificáveis de acordo com um código específico de leis escritas.

Estado moderno >>> autoridade racional-legal.

Max Weber >>> tipos de legitimidade >>> tipos de dominação.

Dominação é a possibilidade de um determinado grupo se submeter a um determinado mandato.

Weber define três tipos de dominação que se destinguem pelo caráter da dominação (pessoal ou impessoal) e, principalmente, pela diferença nos fundamentos da legitimidade. São elas: legal, tradicional e carismática.

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Habermas - concebe a razão comunicativa - comunicação livre, racional e crítica - como alternativa à razão instrumental e superação da razão iluminista - "aprisionada" pela lógica instrumental, que encobre a dominação.

Sociedade = sistema + mundo da vida. O sistema refere-se à 'reprodução material', regida pela lógica

instrumental (adequação de meios a fins), incorporada nas relações hierárquicas (poder político) e de intercâmbio (economia).

O mundo da vida é a esfera de 'reprodução simbólica', da linguagem, das redes de significados que compõem determinada visão de mundo, sejam eles referentes aos fatos objetivos, às normas sociais ou aos conteúdos subjetivos.

É conhecido o diagnóstico habermasiano da colonização do mundo da vida pelo sistema e a crescente instrumentalização desencadeada pela modernidade, sobretudo com o surgimento do direito positivo, que reserva o debate normativo aos técnicos e especialistas. Contudo, desde a década de 1990, mudou sua perspectiva acerca do direito, considerando-o mediador entre o mundo da vida e o sistema.

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2. A Questão Social A concepção de questão social está enraizada na

contradição capital x trabalho, em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção.

“A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão” (CARVALHO e IAMAMOTO,1983:77).

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Gênese da Questão Social >>> final do século XIX.

A perda de processualidade nas análises da “Questão Social: Rosanvallon (1995); Castel (1998); Gorz (1987); Antunes (1996 e 1997).

Crise generalizada da economia capitalista mundial dos anos 70 >>> Neoliberalismo.

Globalização financeira - Reestruturação produtiva – “metamorfoses no mundo do trabalho” – “novas” expressões da Questão Social.

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CAPITALISMO > CAPITAL X TRABALHO↓

GÊNESE DA QUESTÃO SOCIAL > POLÍTICAS SOCIAIS / SERVIÇO SOCIAL

↓MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL > CAPITAL

FETICHE↓

“NOVAS” E “ANTIGAS” EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

↓ NATURALIZAÇÃO E CRIMINALIZAÇÃO DA

“QUESTÃO SOCIAL”↓

ASSISTENCIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS E REFORÇO NO ESTADO PENAL

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A mundialização do capital tem profundas repercussões na órbita das políticas públicas, em suas conhecidas diretrizes de focalização, descentralização, desfinanciamento e regressão do legado dos direitos do trabalho.

O capital financeiro ao subordinar toda a sociedade impõe-se em sua lógica de incessante crescimento, de mercantilização universal. Ele aprofunda desigualdades de toda a natureza e torna paradoxalmente invisível o trabalho vivo que cria a riqueza e os sujeitos que o realizam.

Nesse contexto, a “questão social” é mais do que pobreza e desigualdade. Ela expressa a banalização do humano, resultante de indiferença frente à esfera das necessidades das grandes maiorias e dos direitos a elas atinentes.

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3. Neoliberalismo e a exclusão social

Principais mudanças: Políticas – Econômicas - sociais – Culturais.

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4. Movimentos sociais. Dentro de uma perspectiva histórica, os movimentos

sociais sempre existiram, uma vez que representam forças sociais organizadas, tendo algumas vezes dimensões conservadoras e em outras progressivas.

Os movimentos sociais conservadores caracterizam-se por não desejarem as mudanças sociais emancipatórias, mas impõe as mudanças segundo seus interesses particularistas, utilizando muitas vezes a violência como estratégia principal de suas ações.

Já os movimentos sociais progressistas atuam de acordo com uma agenda emancipatória, realizando diagnóstico sobre a realidade social e propostas. Esses movimentos atuam em redes, articulando ações coletivas que agem como resistência à exclusão e lutam pela inclusão social, numa perspectiva de desenvolvimento do denominado empowerment de atores da sociedade civil. Nesse sentido, as redes constituem um tipo de relação social, que possui objetivos estratégicos e articulações.

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Gohn (2007) pontua que existem redes de diferentes tipos: redes de sociabilidade, locais, virtuais, temáticas, geracionais, históricas, de entidades afins e de governança. Nesse sentido, a autora destaca que os novos associativismos são menos reivindicatórios e mais propositivos e operativos, tendo como principais características a participação cidadã e a dimensão estratégica.

No período entre as décadas de 1960 e 1980 vários sujeitos coletivos organizaram suas reivindicações e construíram agendas políticas voltadas para defesa de direitos e do questionamento aos valores culturais conservadores em favor da política de identidade.

A década de oitenta representou ganhos no plano sócio-político, onde diferentes grupos sociais se organizaram para protestar contra o regime político vigente.

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Década de 90 >> declínio das manifestações nas ruas >> processo de institucionalização da organização popular através dos inúmeros fóruns - encontros periódicos para realização de diagnósticos dos problemas sociais, assim como a definição de metas e objetivos.

Houve um deslocamento da visibilidade para as organizações não governamentais. As identidades coletivas dos movimentos populares deixaram as contestações de lado, dando ênfase a um nível mais operacional e propositivo.

Os movimentos sociais sempre foram heterogêneos no que se refere às temáticas e demandas, porém na década de 1990 se constituem redes dentro do próprio movimento social.

Nesse sentido, a análise da sociedade civil e do significado e alcance da ação política, na década referida, tem nas redes de movimentos (network organizations) grande relevância. Ou seja, existe a hipótese de que através da organização e constituição de redes sociais se configura um novo movimento social, caracterizado por ações coletivas que vão além da defesa de interesses particulares, buscando intervir na formação das políticas gerais de organização ou transformação da vida social.

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A construção das abordagens teóricas sobre os movimentos sociais:

Histórico-estrutural → trabalhadores = sujeitos históricos → delineou o movimento social dos trabalhadores → movimentos sociais → reformistas / reacionários / revolucionários.

Culturalista-identidária (Kant, Rousseau, Weber, fenomenologia, Arendt, Bourdieu) → conflitos do cotidiano / diversidade de temas / “novos movimentos sociais” → abordagem culturalista / identidade dos movimentos sociais.

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Década de 90 → produções teóricas se voltam à questão das organizações não governamentais (ONG’s) e do terceiro setor. → alguns autores – de maneira equivocada – consideram as ONG’s como movimentos sociais. → as “redes sociais” passam a ser consideradas por alguns autores como mais importante do que os “movimentos sociais”.

↓ Novos movimentos sociais → centrados no

eixo da identidade e subjetividade → voltada para condição do indivíduo sem levar em consideração a teia de relações sociais → possibilitar aos indivíduos a sociabilidade coletiva.

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Perspectiva pós-estruturalista → reafirma o papel de heterogeneidade → movimentos = sujeito coletivo → Laclau, Mead, Honneth, Rawls, N. Fraser, Bauman.

Século XX → Wirth, Elias, Gimmel → interacionismo →”redes” → “sociologia relacional”

Jeffrey Alexander → solidariedade → relações sociais.

Século XX → movimentos sociais voltaram a ter evidência e centralidade → multiplicidade de movimentos heterogêneos.

Consciência histórica → processual → jogo de tensões, trocas e posições dos sujeitos em cena.

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Uma compreensão adequada dos Uma compreensão adequada dos movimentos sociais deve partir de movimentos sociais deve partir de

uma análise totalizante das uma análise totalizante das condições de reprodução do capital condições de reprodução do capital

na atualidade, a partir das na atualidade, a partir das mudanças verificadas na mudanças verificadas na

sociedade.sociedade.

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5. Terceiro Setor. A abordagem desse tema não pode ocorrer nem de forma

“ufanista” como se o terceiro setor viesse ocupar o papel que é do Estado na formulação e execução de políticas sociais e nem de forma “pessimista”, negando a sua importância e a dimensão de suas ações no enfrentamento de diferentes manifestações da questão social brasileira.

O termo “terceiro setor” tem sido utilizado com freqüência crescente e, por mais que, no contexto do Serviço Social, tenha sido recebido com ressalvas e até críticas contundentes , não há como negar a evidência social, econômica e política que esse “ setor ” tem alcançado no cenário internacional e nacional .

A sociedade atual está estruturada a partir de três grandes setores : o Estado ( primeiro setor ), o Mercado (segundo setor) e Organizações da Sociedade Civil que atuam sem finalidade de lucro com atuações de interesse público (terceiro setor).

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O Terceiro Setor é formado por instituições (associações ou fundações privadas) não governamentais, que expressam a sociedade civil organizada, com participação de voluntários, para atendimentos de interesse público em diferentes áreas e segmentos.

Principais razões da emergência do Terceiro Setor : A substituição gradativa e intencional das funções do

Estado de Bem Estar Social pelo chamado Estado Mínimo;

A legislação social trazida pela Constituição Federal de 1988 e decorrentes Leis Orgânicas que, garantidoras dos direitos sociais e de cidadania, com ênfase na participação popular, implicou na necessidade do reordenamento técnico e administrativo das instituições estatais e da rede privada.

O acirramento da questão social.

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O certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS) pode ser pleiteado junto ao Conselho Nacional de Assistência Social, desde que a instituição preencha os requisitos exigidos, dentre eles, o de atuar diretamente na área da Assistência Social. Já o certificado de Organização da Sociedade Civil que atua com Interesse Público (OSCIP) pode ser solicitado junto ao Ministério da Justiça, com uma abrangência maior de instituições que podem alcançar essa qualificação. Uma mesma instituição não pode acumular os dois certificados.

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6. Articulação em rede e conselhos de direitos.

A palavra rede vem do latim retis, significando entrelaçamento de fios com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido. A partir da noção de entrelaçamento, a palavra rede foi ganhando novos significados ao longo dos tempos, passando a ser utilizada em diferentes situações e contextos. As redes passam a ser analisadas, por diversos autores das ciências sociais, como novas dinâmicas sociais, políticas e econômicas da sociedade caracterizada pela informatização.

A idéia de “rede de movimentos” se propõe a pensar numa dimensão epistemológica na possibilidade de integração de diversidade, ou seja, implica buscar formas de articulação entre o particular e o universal, buscando interconexões entre as identidades dos diversos atores sociais.

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Redes de movimentos → hibridação entre o comunitário e o associativismo → multiplicidade de funções que as redes possuem → dimensões integradoras, utilitárias e contestatórias.

Redes de movimentos sociais → redes de conhecimento → alimentam e dão sentido informacional às visões e estratégias de ação e de direção dos agentes.

Resgate da noção de rede numa concepção mais ampla → Nobert Elias (“A sociedade dos indivíduos”) → superar oposição entre indivíduo e sociedade → idéia de interdependência → processo interativo amplo que envolve: dependência, interdependência, rede de funções, contexto social e estrutura.

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Trajetória sobre o estudo sobre as redes sociais no cenário internacional:

1930 – 1970 → sobretudo nos Estados Unidos → Antropologia, sociologia e psicologia social → estruturalistas e funcionalistas → identificação de vínculos interpessoais em contextos sociais específicos.

1970 – 1990 → especialidade das pesquisas das ciências sociais → desenvolvimento da análise das redes sociais.

Emergência de pesquisas multidisciplinares → aumento da complexidade da vida urbana e comunicações mediadas por computador.

Redes → análise de fluxos de informação através de interações entre pessoas.

Fase atual → análise de redes sociais mais sofisticada com base em técnicas e ferramentas computacionais.

Sistema de comunicação / redes → malha ou trama → ligação simétrica entre os nós / atores sociais.

Teia → padrões de relações estabelecidas.

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A idéia de controle social e público sobre as ações do Estado – mediante a organização e fortalecimento da sociedade civil – supera a dicotomia entre o privado e o estatal, uma vez que a mediação da esfera pública se caracteriza como expressão de processos democráticos, que publicizam interesses heterogêneos.

Conselhos >>> lócus do fazer político, como espaço contraditório, como uma nova modalidade de participação, ou seja, a construção de uma cultura alicerçada nos pilares da democracia participativa e na possibilidade de construção da democracia de massas >>> ampliação do conceito de cidadania, pautada por uma nova compreensão do caráter e papel do Estado.

Conselho >>> vem encontrando oposição de autores que têm defendido o mesmo como espaço de consenso, ou seja, pactuação entre sociedade civil e Estado. Nessa perspectiva, os Conselhos são concebidos ou como espaço de regulamentação dos conflitos, pautado na concepção liberal de democracia, ou espaço de consenso intersubjetivo.

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Existem outros mecanismos que, se acionados, também podem e devem ser entendidos como espaços de

exercício de controle social, a saber:

O Ministério Público, que é uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbida na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Órgãos de defesa do consumidor, como o PROCON, que não só se dedica ao consumidor de bens e objetos, mas também prevê a proteção ao consumidor de serviços.

Meios de comunicação oficiais, apesar da dificuldade de acesso, e os alternativos >>> ????

Conselhos profissionais, em que é possível que qualquer pessoa denuncie um mau atendimento no Conselho respectivo.

Concebe-se o controle social não somente como um luta legal por um direito adquirido, mas como a potencialidade e a criatividade dos usuários na elaboração da política.

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Participação comunitária e social X Participação cidadã

↓ ↓ Não se resume a prestação de Política = interação com o

serviços à comunidade Estado ou organização isolada.

Sociedade civil → Espaço púbico → dimensão aberta/

plural/ pouco institucionalizada.

Esfera pública → estrutura mista,

onde percebe-se a presença da

sociedade civil + Estado.

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Questões que precisam ser enfrentadas: O poder público não tem respeitado as deliberações dos

Conselhos e Conferências; O poder público local tem contribuído para avançar ou

reprimir o controle social; As leis que regulamentam o funcionamento dos Conselhos

não têm sido respeitadas, em alguns Conselhos; O funcionamento dos mesmos tem priorizado a

burocratização das ações; A dinâmica dos Conselhos precisa ser repensada para maior

envolvimento dos participantes; Os Conselhos e Conferências têm se posicionado de forma

tímida em relação à agenda neoliberal; A sociedade civil organizada não tem ainda plena

consciência dos Conselhos; Os Conselhos, de forma geral, têm dado pouca contribuição

à democratização da esfera pública; A chantagem institucional do poder executivo ao acenar para

o prejuízo para a população, caso as propostas apresentadas sejam contestadas pelos conselheiros;

Falta de soluções jurídicas mais ágeis quanto à necessidade de se defrontar com o executivo.

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7. Implicações da atuação do Serviço Social na defesa e garantia de direitos da população

em situação de vulnerabilidade social.

Pós-modernidade >> individualismo; consumismo; “sociedade presentificada”; fragmentação do sujeito social; precarização e alienação do trabalho (“desfiliação social” – Castel).

Contemporaneidade >> Projeto ético-político > organização social da categoria e de sua qualificação teórica e política.

↓ Materializado nas dimensões: instrumentos legais;

expressões e manifestações coletivas da categoria; ensino universitário; entidades de Serviço social.

Base teórico-metodológica Serviço Social → Base ético-política Base técnico-operativa

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Serviço Social → prática inscrita num terreno político e ideológico com refrações nas condições materiais da existência dos sujeitos via serviços (políticas sociais), que interferem no padrão de consumo e na qualidade de vida das famílias trabalhadoras.

Maior pilar de sustentação do campo ocupacional → Estado → mediação do trabalho assalariado >> interesses contrapostos: demandas do capital X demandas do trabalho.

Serviço Social > reprodução das relações sociais como atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social. >> criador de condições favorecedoras da reprodução da força de trabalho.

O Serviço Social de hoje sintetiza o desafio de decifrar os novos tempos para que deles se possa ser contemporâneo. Para isso é necessário um novo perfil do profissional; que deve ser afinado com a análise dos processos sociais, criativo, inventivo, capaz de entender o tempo presente, os homens, a vida contribuindo para moldar os rumos de sua história.

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Dupla armadilha

* Fragmentação da Questão Social >> focalização do problema no indivíduo.

* Discurso genérico da Questão Social.

Serviço Social > profissional culto, crítico e capaz de formular, recriar e avaliar propostas que apontem para a progressiva democratização das relações sociais.

Autonomia profissional Tensão → Trabalho submetido ao poder do empregador

Demanda dos sujeitos de direitos

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Esquema síntese

Neoliberalismo >> Questão social ↕Movimentos Sociais >> Redes sociais Terceiro setor Controle Social ↕

Atuação do Serviço Social na defesa e garantia de direitos da população em situação de vulnerabilidade social.