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N O 154 - JUNHO-JULHO/2016 2 Página 13 de junho-julho foi impres- so poucos dias depois do assalto da Polícia Federal às sedes nacionais do PT. O episódio é de extrema gravidade. Muito além das motivações e pretextos imediatos, a ofensiva conservadora trans- pôs mais uma fronteira. Confirma-se a necessidade de uma re- ação, que terá maiores chances de êxito se o Partido realizar uma mudança na linha política e eleger uma direção capaz de con- duzir-nos em “tempos de guerra”. A crise política é imensa e de difícil solução. Suas raízes são múltiplas: a crise internacional, a crise econômico-social na- cional, a crise político-institucional. Qual- quer que seja o resultado da votação de mé- rito no Senado, a crise vai prosseguir. E não será resolvida através de um pacto. Recuperar o apoio da classe trabalha- dora é nossa grande tarefa estratégica. Ga- nhando ou perdendo a votação de mérito no Senado, esta tarefa continuará posta. Ela será mais fácil de cumprir, no caso de vol- EXPEDIENTE Página 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Arculação de Esquerda, tendência interna do Pardo dos Trabalhadores. Circulação interna ao PT. Matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição da tendência. ISSN 2448-0150-154 Direção Nacional da AE: Adriano Oliveira/RS, Adriele Manjabosco/RS, Adriana Miranda/DF, Ananda Carvalho/RS, André Vieira/PR, Bárbara Hora/ES, Bruno Elias/ DF, Damarci Olivi/MS, Daniela Matos/DF, Eduardo Loureiro/GO, Eleandra Raquel Koch/RS, Eliane Bandeira/RN, Elisa Guaraná/DF, Emílio Font/ES, Fernando Feijão/ PI, Giovane Zuanazzi/RS, Gleice Barbosa/MS, Iole Ilíada/SP, Izabel Crisna da Costa/RJ, Ivonete Almeida/SE, Jandyra Uehara Alves/SP, Joel de Almeida/SE, José Gil- derlei/RN, Karen Lose/RS, Leirson Silva/PA, Lício Lobo/SP, Múcio Magalhães/PE, Olavo Brandão/RJ, Patrick Araújo/PE, Rafael Tomyama/CE, Rodrigo Cesar/SP, Rosa- na Ramos/DF, Silvia Vasques/RS, Sônia Fardin/SP, Valteci de Castro/MS, Valter Pomar/SP. Comissão de éca nacional: Ana Affonso/RS, Iriny Lopes/ES, Jonatas Moreth/ DF, Júlio Quadros/RS Edição: Valter Pomar e Emilio C. M. Font Secretaria Gráfica e Assinaturas: Edma Walker [email protected] Endereço para correspondência: R. Silveira Marns, 147 conj. 11 - Centro - São Paulo - SP - CEP 01019-000 Acesse: www.pagina13.org.br Tempos de guerra Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Nota do Pardo dos Trabalhadores sobre a Operação Custo Brasil O Partido dos Trabalhadores condena a desnecessária, midiática, busca e apre- ensão realizada na sede nacional de São Paulo. Em meio à sucessão de fatos e denúncias envolvendo políticos e empresários acusa- dos de corrupção, monta-se uma opera- ção diversionista na tentativa renovada de criminalizar o PT. A respeito das acusações assacadas con- tra filiados do partido, é preciso que lhes sejam assegurados o amplo direito de de- fesa e o princípio da presunção de inocên- cia. O PT, que nada tem a esconder, sempre esteve e está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos. São Paulo, 23 de junho de 2016. Comissão Executiva Nacional do PT tarmos ao governo, sempre e quanto mais voltarmos ao governo conscientes de que nosso programa, nossa política de alianças e nossa atitude geral devem ser outras. A luta contra o impeachment e em defe- sa dos direitos atacados pelo governo gol- pista não deve ser vista, portanto, como “a última batalha da guerra antiga”. Ao con- trário, devemos ver a luta pelo Fora Temer e em defesa dos direitos como “a primei- ra batalha de uma nova guerra”. Portanto, queremos vencer esta batalha contra os golpistas; queremos Temer posto para fora; e queremos voltar à Presidência — em tudo isso, necessariamente orientados por uma nova estratégia. Por tudo isto é fundamental que a pre- sidenta Dilma Rousseff divulgue uma carta deixando claro o que fará, quando voltar à Presidência. Por isto, também, torna-se fundamental colocar em discussão a ne- cessidade de uma Constituinte e a luta por uma reforma política. Por isto não deve- mos aceitar supostas soluções “pactuadas” que relativizem o golpe nem que facilitem a vida dos golpistas. Defender novas eleições, hoje, equivale a defender uma renúncia parcial ao man- dato conquistado em 2014. Defender um plebiscito para decidir sobre a convocação de novas eleições é apenas uma variante mais complicada da mesma proposta. São propostas que podem vir a ser corretas, caso a maioria do Senado aprove o impe- achment. Neste caso, será justo lutar para abreviar o mandato de um governo ilegíti- mo e golpista. Assim como é justo colocar em discussão um plebiscito para convocar uma Assembleia Constituinte e fazer a re- forma política. Em defesa dos nossos direitos e contra o golpe: Fora Temer! Reconquistar a Presi- dência da República!!!

Tempos de guerra - Deputado Rogério Correia · O episódio é de extrema gravidade. Muito além das motivações e pretextos imediatos, a ofensiva conservadora trans-pôs mais uma

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Página 13 de junho-julho foi impres-so poucos dias depois do assalto da Polícia Federal às sedes nacionais do PT.

O episódio é de extrema gravidade. Muito além das motivações e pretextos imediatos, a ofensiva conservadora trans-pôs mais uma fronteira.

Confirma-se a necessidade de uma re-ação, que terá maiores chances de êxito se o Partido realizar uma mudança na linha política e eleger uma direção capaz de con-duzir-nos em “tempos de guerra”.

A crise política é imensa e de difícil solução. Suas raízes são múltiplas: a crise internacional, a crise econômico-social na-cional, a crise político-institucional. Qual-quer que seja o resultado da votação de mé-rito no Senado, a crise vai prosseguir. E não será resolvida através de um pacto.

Recuperar o apoio da classe trabalha-dora é nossa grande tarefa estratégica. Ga-nhando ou perdendo a votação de mérito no Senado, esta tarefa continuará posta. Ela será mais fácil de cumprir, no caso de vol-

EXPEDIENTEPágina 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores.Circulação interna ao PT. Matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição da tendência.ISSN 2448-0150-154Direção Nacional da AE: Adriano Oliveira/RS, Adriele Manjabosco/RS, Adriana Miranda/DF, Ananda Carvalho/RS, André Vieira/PR, Bárbara Hora/ES, Bruno Elias/DF, Damarci Olivi/MS, Daniela Matos/DF, Eduardo Loureiro/GO, Eleandra Raquel Koch/RS, Eliane Bandeira/RN, Elisa Guaraná/DF, Emílio Font/ES, Fernando Feijão/PI, Giovane Zuanazzi/RS, Gleice Barbosa/MS, Iole Ilíada/SP, Izabel Cristina da Costa/RJ, Ivonete Almeida/SE, Jandyra Uehara Alves/SP, Joel de Almeida/SE, José Gil-derlei/RN, Karen Lose/RS, Leirson Silva/PA, Lício Lobo/SP, Múcio Magalhães/PE, Olavo Brandão/RJ, Patrick Araújo/PE, Rafael Tomyama/CE, Rodrigo Cesar/SP, Rosa-na Ramos/DF, Silvia Vasques/RS, Sônia Fardin/SP, Valteci de Castro/MS, Valter Pomar/SP. Comissão de ética nacional: Ana Affonso/RS, Iriny Lopes/ES, Jonatas Moreth/DF, Júlio Quadros/RSEdição: Valter Pomar e Emilio C. M. Font Secretaria Gráfica e Assinaturas: Edma Walker [email protected] Endereço para correspondência: R. Silveira Martins, 147 conj. 11 - Centro - São Paulo - SP - CEP 01019-000 Acesse: www.pagina13.org.br

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Nota do Partido dos Trabalhadores sobre a Operação Custo Brasil

O Partido dos Trabalhadores condena a desnecessária, midiática, busca e apre-ensão realizada na sede nacional de São Paulo.Em meio à sucessão de fatos e denúncias envolvendo políticos e empresários acusa-dos de corrupção, monta-se uma opera-ção diversionista na tentativa renovada de criminalizar o PT.A respeito das acusações assacadas con-tra filiados do partido, é preciso que lhes sejam assegurados o amplo direito de de-fesa e o princípio da presunção de inocên-cia.O PT, que nada tem a esconder, sempre esteve e está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.São Paulo, 23 de junho de 2016.Comissão Executiva Nacional do PT

tarmos ao governo, sempre e quanto mais voltarmos ao governo conscientes de que nosso programa, nossa política de alianças e nossa atitude geral devem ser outras.

A luta contra o impeachment e em defe-sa dos direitos atacados pelo governo gol-pista não deve ser vista, portanto, como “a última batalha da guerra antiga”. Ao con-trário, devemos ver a luta pelo Fora Temer e em defesa dos direitos como “a primei-ra batalha de uma nova guerra”. Portanto, queremos vencer esta batalha contra os golpistas; queremos Temer posto para fora; e queremos voltar à Presidência — em tudo isso, necessariamente orientados por uma nova estratégia.

Por tudo isto é fundamental que a pre-sidenta Dilma Rousseff divulgue uma carta deixando claro o que fará, quando voltar à Presidência. Por isto, também, torna-se fundamental colocar em discussão a ne-cessidade de uma Constituinte e a luta por uma reforma política. Por isto não deve-mos aceitar supostas soluções “pactuadas”

que relativizem o golpe nem que facilitem a vida dos golpistas.

Defender novas eleições, hoje, equivale a defender uma renúncia parcial ao man-dato conquistado em 2014. Defender um plebiscito para decidir sobre a convocação de novas eleições é apenas uma variante mais complicada da mesma proposta. São propostas que podem vir a ser corretas, caso a maioria do Senado aprove o impe-achment. Neste caso, será justo lutar para abreviar o mandato de um governo ilegíti-mo e golpista. Assim como é justo colocar em discussão um plebiscito para convocar uma Assembleia Constituinte e fazer a re-forma política.

Em defesa dos nossos direitos e contra o golpe: Fora Temer! Reconquistar a Presi-dência da República!!!

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Derrotar o golpe e retomar a presidência

Bruno Elias*

Em 2015, quando defendíamos a ne-cessidade de um PT para tempos de

guerra, éramos tidos por alguns como, no mínimo, exagerados. Naquele momento a mudança da estratégia, linha política, orga-nização e direção do Partido dos Trabalha-dores já afirmava sua urgência.

No partido e no governo, a opção por re-dobrar a aposta na estratégia de conciliação com as classes dominantes permitiu man-ter até certo ponto conquistas sociais da constituição de 1988 e dos governos petis-tas, mas não foi capaz de realizar reformas estruturais populares. Medidas de governo e de ajuste fiscal recessivo que afastavam o governo Dilma do programa eleito nas eleições gerais de 2014 agravaram a situa-ção econômica, o quadro político e a perda de apoio na classe trabalhadora. Acertada-mente, a Frente Brasil Popular lutou neste período articulando a defesa da democra-cia e dos direitos contra o golpe com a luta pela mudança da política econômica.

Em direção oposta, o grande capital na-cional e internacional, a direita brasileira, o partido da mídia, segmentos do aparato de Estado e setores médios conservadores dirigiam contra o governo Dilma, o ex-pre-sidente Lula, a esquerda e o PT a ofensi-va que desencadeou o golpe de Estado em curso. Essa unidade burguesa em torno de um programa conservador e de restauração do neoliberalismo atua pelo impedimento definitivo da presidenta Dilma Rousseff e sustenta o governo ilegítimo e provisório de Michel Temer.

O programa e as primeiras ações do governo golpista, que dificilmente seriam aceitos pela população nas urnas, demar-cam nitidamente o caráter de classe do golpe. Trata-se de um golpe contra a classe trabalhadora e marcado por amplos retro-cessos da soberania, dos direitos sociais e das liberdades democráticas no país. O

“plano Temer” alcança não só as realiza-ções dos governos de Lula e Dilma, mas também avança contra direitos conquista-dos na Constituição de 1988 e contra a le-gislação trabalhista e as instituições públi-cas constituídas depois da República Velha.

Derrotar o golpe contra a soberania, a integração regional, a democracia,

os direitos sociais e as liberdadesO golpe no Brasil deve ser situado em

uma perspectiva geopolítica mais ampla, de instabilidade e intensificação de confli-tos no plano internacional. Nos marcos da grave crise capitalista que se arrasta desde 2008, os Estados Unidos e seus aliados têm trabalhado contra o fortalecimento dos BRICS e a integração da América Latina como forma de deter o relativo declínio de sua hegemonia, a emergência dos países em desenvolvimento e de novos blocos de poder internacional.

Por meio dos chamados mega-acordos comerciais – como o TPP (Acordo de Parceria Transpacífica), o TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica em comércio e investimentos) e o TiSA (Acordo sobre comércio de serviços) – as potências capi-talistas buscam novas fronteiras de expan-são do capital financeiro e das corporações

transnacionais com a abertura econômica e desmonte dos Estados nacionais em áreas estratégicas como o comércio internacional de serviços, controle do fluxo de capitais, regulamentação do sistema financeiro, di-reitos de propriedade intelectual, compras governamentais, entre outros.

Esta ofensiva também engloba as res-postas à crise que têm prevalecido em grande parte do mundo, submetendo povos e países a políticas de austeridade e retirada de direitos que agravam as desigualdades sociais, a dependência externa e a restri-ção das liberdades democráticas. O fato é que a conta da crise tem recaído sobre a classe trabalhadora e os setores populares, escancarando a barbárie capitalista. Segun-do recente relatório da ONG internacional Oxfam, a riqueza apropriada pelo 1% mais rico do mundo equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes da população mundial. Em outras palavras, o 1% mais rico controla metade de toda a riqueza do planeta.

Na América Latina e no Caribe, os gru-pos e interesses apoiados pelos EUA na re-gião estão em ampla contraofensiva contra os países e forças políticas que defendem um projeto de integração autônomo. A re-tomada das relações diplomáticas dos EUA

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com Cuba sem suspensão do bloqueio eco-nômico, a adoção de tratados bilaterais de comércio com países da região e o apoio estadunidense a iniciativas como a Alian-ça para o Pacífico, a possível retomada de novas bases militares norte-americanas na região, as recentes derrotas eleitorais e ple-biscitárias em países como a Argentina, a Bolívia e a Venezuela, e o golpe em curso no Brasil compõem um conjunto de inicia-tivas que buscam retomar a América Lati-na como área de influência subordinada aos interesses dos Estados Unidos.

A nomeação de José Serra, notório agente dos interesses do capital internacio-nal no Brasil, como ministro interino das relações exteriores e o envolvimento cada vez mais evidente do Departamento de Es-tado dos EUA com o golpe no país apon-tam para a interrupção da política externa soberana e comprometida com a integração regional. Coerente com este propósito, Ser-ra caracterizou em seu discurso de “posse” a política externa dos últimos anos como partidária, enalteceu os acordos de livre comércio e minimizou os esforços de inte-gração regional, o papel do Mercosul, dos BRICS e da estratégia Sul-Sul.

Uma das principais frentes deste reali-nhamento do Brasil aos centros de poder do capitalismo nacional e internacional se dará por meio da entrega das riquezas nacionais e a privatização de setores estra-tégicos do Estado brasileiro. A orientação de “privatizar o que for preciso” é parte do DNA do golpe.

A Medida Provisória 727, enviada por Temer no primeiro dia do governo golpista, cria no âmbito da presidência da república o Programa de Parcerias de Investimentos – PPI, recepcionando integralmente o Pro-grama Nacional de Desestatização que con-cebeu as privatizações criminosas da déca-da de 1990, como a da Vale do Rio Doce. A MP estabelece a responsabilidade do PPI pela política de privatizações, concessões e parcerias público-privadas e prescreve um conjunto de normas que facilitam sua implementação. Prenuncia-se que a sanha privatista recairá não só sobre as estatais federais, mas também de forma destacada sobre estados e municípios. Para satisfazer estes interesses, também estão previstas a

volta do BNDES como financiador e “cor-retor” da privataria e uma série de dispo-sitivos que flexibilizam licenciamentos e proteções ambientais, urbanísticas, de ter-ras indígenas, de patrimônios culturais, etc.

As áreas de infraestrutura e energia ten-dem a ser das mais afetadas pelo processo de privatização anunciado pelo governo provisório ilegítimo. Ministro do apagão elétrico do governo FHC, Pedro Parente foi indicado como presidente interino da Petrobras e anunciou como prioridade a re-visão da lei da partilha do Pré-Sal e da polí-tica de conteúdo nacional. Com a medida, a Petrobras perderá a condição de operadora única nas áreas do pré-sal, a participação com pelo menos 30% nos investimentos dos consórcios de exploração de cada cam-po e poderá até mesmo retroceder ao regi-me de concessão, a depender da mudança legislativa apoiada pelos golpistas e pelos interesses das multinacionais do petróleo. Além disso, também foi anunciada a extin-ção do Fundo Soberano criado para receber recursos da exploração do pré-sal para edu-cação, cujo saldo atual é de R$ 2 bilhões.

Na política econômica, as medidas já anunciadas pelo governo interino expres-sam a opção por um ajuste fiscal radical e retrocessos de grande monta. Entre as propostas, serão encaminhadas mudanças constitucionais e na legislação como a re-forma da previdência, a imposição de um limite constitucional dos gastos públicos referenciado pela inflação do ano anterior, a desvinculação dos gastos constitucionais obrigatórios com saúde e educação e a transferência de recursos do BNDES para fazer caixa no Tesouro. Ademais, a des-peito da cantilena da austeridade fiscal, os golpistas se empenham em criar condições para “pagar a conta” do golpe, como no

“cheque em branco” da mudança da meta fiscal com déficit R$ 170,5 bilhões e na ampliação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) para 30%, que retira re-cursos orçamentários indispensáveis das políticas sociais.

Articulando retrocessos imediatos com reformas estruturais de corte neoliberal, os impactos do governo golpista sobre os direitos são de desmonte da Constituição de 1988 e das políticas sociais dos últimos anos. Por um lado, extinguiram-se minis-térios e áreas de governo relacionados à previdência social, cultura (parcialmente revertida pela luta dos movimentos sociais e culturais), mulheres, igualdade racial, juventude, direitos humanos, desenvolvi-mento agrário, moradia popular, comuni-cações, ciência e tecnologia, controladoria geral da União, entre outros.

Ao mesmo tempo, reformas estruturais como as da previdência e a trabalhista são anunciadas como prioridade e preveem re-trocessos como a elevação da idade míni-ma para a aposentadoria, a desvinculação dos benefícios previdenciários em relação ao salário mínimo, a flexibilização dos di-reitos trabalhistas inscritos na CLT, a ter-ceirização, a extinção da política de valo-rização do salário mínimo e a prevalência das negociações coletivas sobre os direitos trabalhistas legislados.

No mesmo sentido, o núcleo social da Constituição de 1988 – a seguridade social pública, que abrange as políticas sociais de saúde, previdência social e assistência so-cial – sofre a maior ameaça de sua história. Além da citada proposta de desvinculação dos gastos constitucionais obrigatórios com o SUS e a educação, que representaria um sequestro bilionário do fundo público já insuficiente para a manutenção dessas políticas, o golpe avança no terreno da pró-pria concepção dos direitos e da seguridade social.

A concepção destas políticas sociais como direito de todos e dever do Estado, dá lugar a ideia de que a seguridade social e as políticas sociais “não cabem no orçamen-to” e devem ser concebidas como serviços abertos à iniciativa privada. A universaliza-ção, a equidade e a integralidade do atendi-

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mento e acesso a esses direitos é substituí-da pela lógica residual, da focalização, dos seguros e planos privados.

As indicações na proposta do PMDB “Travessia Social – Uma ponte para o fu-turo”, por exemplo, de focalizar a proteção social para os 5% mais pobres, afetaria sensivelmente o alcance das políticas e direitos sociais. Em estudo elaborado pela Fundação Perseu Abramo é estimado que o impacto desta orientação sobre apenas uma das políticas, o Programa Bolsa Família, implicaria no corte do benefício para pelo menos 10,5 milhões de famílias em situa-ção de pobreza.

Outra frente de retrocessos se dá con-tra as liberdades democráticas e os direitos humanos. A criminalização dos movimen-tos sociais e os retrocessos nos direitos e políticas públicas de mulheres, igualdade racial, de juventude, LGBT, indígenas, das pessoas com deficiência e dos direitos hu-manos em geral, aprofundam no âmbito do governo golpista os ataques que já estavam em curso com a pauta legislativa conserva-dora. Projetos como o Estatuto da Família; a proposta da “Escola sem partido”; a PEC 215; o Estatuto do Desarmamento; a redu-ção da maioridade penal e o aumento do tempo de internação dos adolescentes no sistema socioeducativo; o PL 5069/13 re-lativo ao aborto que aumenta a criminali-zação das mulheres e dos profissionais da saúde; o Estatuto do nascituro; a redução da idade mínima para o trabalho; a des-caracterização legal do trabalho escravo, entre outras propostas e iniciativas como a criação de uma CPI da UNE, compõem uma agenda regressiva de direitos que deve ser enfrentada nas ruas e no Congresso Na-cional.

Mudar o PT: um partido para tempos de guerra

Diante de um quadro tão grave, as for-ças democráticas e populares do país têm como centro tático de sua luta impedir que o impeachment alcance 2/3 de votos no Senado, derrotar os golpistas e retomar o mandato constitucional da presidenta Dil-ma a partir de um programa de mudanças e reformas populares. Para tanto, será ne-cessário nas próximas semanas ampliar o

apoio popular e da classe trabalhadora à mobilização contra o golpe, levando a luta de massa no país a criar condições para uma greve geral dos trabalhadores em de-fesa dos direitos, intensificando a pressão junto aos senadores nas ruas e no parla-mento e mobilizando global e setorial-mente contra cada retrocesso do governo golpista.

Para enfrentar esses tempos de guerra, o Partido dos Trabalhadores deverá articu-lar o amplo engajamento de suas direções e militância na luta contra o golpe ao mes-mo tempo em que reorienta sua estratégia e linha política. O PT precisa mudar para estar à altura deste momento histórico. Fortalecer-se como partido socialista, mi-litante e como organização comprometida com a unidade do campo democrático e popular que tem sido impulsionada pela Frente Brasil Popular e outras articulações e frentes, pela Central Única dos Trabalha-dores e pela nova geração de lutadoras e lutadores sociais que têm ocupado as ruas contra o golpe e em defesa da democracia e dos direitos.

Nesse sentido, a realização do En-contro Nacional Extraordinário do PT deve impulsionar mudanças estratégicas, programáticas, de organização e direção partidária. A autocrítica sobre os rumos e opções do partido nos últimos anos deve vir acompanhada pela substituição da es-tratégia de conciliação que se esgotou com o golpe em curso por uma estratégia e pro-

grama democrático, popular e socialista. Para conduzir uma nova estratégia e linha política que articule a centralidade das lu-tas sociais com a organização de um par-tido militante e de massas e a disputa na institucionalidade a partir de um programa de reformas estruturais democráticas e po-pulares, defendemos a mudança das atuais direções partidárias.

As eleições de 2016 devem ser encara-das como parte desta luta e “autocrítica na prática”, motivo pelo qual é fundamental o partido não capitular diante do rebaixa-mento programático, proibir alianças com partidos e lideranças golpistas e se prepa-rar para campanhas municipais militantes e sem financiamento empresarial.

Para dar conta de tamanhos desafios, o En-contro Extraordinário do PT deve ser aber-to, democrático e construído com muito debate desde as bases do partido. Por esses motivos defendíamos a realização de eta-pas municipais e estaduais e somos críticos à decisão da Comissão Executiva Nacional do PT de realizar um processo similar ao Processo de Eleições Diretas (PED) para a eleição das delegações nacionais do En-contro. Junto com as tendências partidá-rias que participam das reuniões do Muda PT, defenderemos no diretório nacional do partido a obrigatoriedade de realização dos encontros partidários nos municípios.

*Bruno Elias, secretário nacional de mo-vimentos populares do PT

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Greve geral em defesa dos direitos e contra o golpismo

A cada medida do governo usurpador de Michel Temer, fica claro que o

golpe foi contra o povo brasileiro. Entre-ga da exploração do Pré-Sal, pilhagem das empresas estatais, diminuição de ór-gãos públicos e privatização de serviços, paralelamente a uma série de medidas que atacam os direitos do povo trabalhador, como o arrocho salarial e uma redução drástica no investimento em educação e saúde, são provas disso.

Como se não bastasse, o governo in-terino golpista fala ainda na (suposta) ne-cessidade de uma nova reforma da Previ-dência, que visa aumentar a idade para a aposentadoria e, para dar legitimidade ao processo nefasto, busca envolver centrais

sindicais no processo obscuro. A CUT, que combateu o golpe e não reconhece este governo, acertadamente negou-se a participar da reunião em que a Farsa Sin-dical e a pelegada da UGT reuniram-se com o golpista Temer para mais esta tra-ma contra a classe trabalhadora.

No entanto, importante parcela da po-pulação já se deu conta que será o povo que pagará a conta da agenda do interino golpista. A afirmação do primeiro vice-presidente da Fiesp, Benjamin Steinbru-ch, deixa isso muito claro: “trabalhador não precisa de uma hora de almoço”, afir-ma. Ele ainda exemplifica que, nos Esta-dos Unidos, é comum ver trabalhador co-mendo o sanduíche com a mão esquerda e

operando a máquina com a direita.

O que os golpistas pretendem para o Brasil é o mesmo que Mauricio Macri tenta fazer na Argentina: reduzir direitos e salários e criminalizar os movimentos sociais. A Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA), que enfrenta cotidiana-mente um presidente anti-povo, lamentou o ocorrido no nosso país: “é um ataque co-varde à democracia do Brasil”. E lá só não avançaram mais contra os trabalhadores e o povo em geral por que há muita resis-tência e luta.

O que está claro é que vem ocorren-do uma ofensiva contra os direitos dos povos em todo o mundo, em particular contra os governos progressistas da Amé-rica Latina. O Brasil, que teve importantes avanços nos últimos doze anos, pode ver liquidadas as conquistas, caso este gover-no impostor não seja detido. E será justa-mente a força do povo trabalhador que os impedirá de passar.

Se Temer conta com o apoio da mídia golpista, dos frouxos ministros do STF, da maioria de picaretas do Congresso Nacio-nal, o mesmo não se pode dizer das ruas, das universidades, das escolas, do campo e do chão das fábricas.

A resistência ao interino, desde que in-

Ismael José Cesar*

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Foto: Fernando Frazão

Saiu o no 5 da revistaESQUERDA PETISTA

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vadiu através de golpe o Palácio do Pla-nalto, ocorre diariamente. São os artistas e produtores culturais que já impuseram uma importante derrota a Temer com a retomada do Ministério da Cultura. São os negros, os índios, as mulheres, os es-tudantes, os quilombolas, os atingidos por barragens, o campesinato e tantos outros segmentos que seguem em luta e não de-sistirão.

As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo têm demonstrado que não arredarão os pés das ruas enquanto a presidenta Dil-ma não regressar ao Palácio do Planalto e retomar o seu mandato para cumprir a agenda vencedora na eleição de 2014.

Nesta agenda estão mais empregos e melhores salários, mais moradias e refor-ma agrária, mais financiamento à saúde e à educação, mais universidades, escolas e creches, mais serviços públicos e mais direitos para os cidadãos. Ao retomar seu mandato, Dilma precisa selar uma aliança com a maioria do povo, com os movimen-tos sociais, centrais sindicais e partidos progressistas; fazer o que precisa ser feito para seguir mudando.

Entre o urgente que deve ser feito está uma reforma tributária que regulamente o imposto sobre grandes fortunas, que au-mente a abrangência do IPVA para tribu-tar jatinhos, helicópteros, lanchas e iates; o aumento de impostos sobre o patrimô-nio, heranças e doações; a revogação da isenção do imposto de renda sobre lucros e dividendos; a auditoria da dívida públi-ca; uma reforma política rumo à soberania popular; a democratização da comunica-ção para enfrentar a mídia golpista. Dilma tem que fazer um novo governo, onde a garantia da governabilidade será expressa pela vontade da maioria do povo.

Mas para derrotar de fato o golpismo será necessária a ação direta da classe tra-

balhadora. É necessário impor uma vio-lenta derrota ao capital, representado pelo ilegítimo governo Temer, financiado pelos banqueiros, por grandes sonegadores de impostos.

O que esta em jogo é o emprego de milhões de brasileiros, o poder de compra dos salários, os direitos que estão sendo questionados um a um. As ações deste governo atentam contra direitos consagra-dos: querem flexibilizar a CLT, querem que o negociado prevaleça sobre o legis-lado; querem diminuir a jornada de traba-lho com a diminuição dos salários; que-rem a regulamentação da terceirização; a redução da idade mínima para entrada no mercado de trabalho; o fim da indexação do salário mínimo e da estabilidade para o funcionalismo público. Querem o fim das correções das aposentadorias; querem o direito de negociar diretamente com o empregado, dispensando o sindicato. Querem isso e muito mais.

Aos trabalhadores e trabalhadoras, cabe continuar a resistência, organizar a luta e derrotar os golpistas. Daí a impor-tância da CUT organizar e convocar uma vitoriosa greve geral. O primeiro passo já foi dado com a decisão de sua diretoria executiva nacional, que em 24 de maio adotou uma resolução reafirmando o não reconhecimento do ilegítimo governo de Michel Temer. A CUT Nacional ainda orienta suas estaduais a realizarem ple-nárias. Já os sindicatos de base devem convocar assembleias para tratar do tema. Uma nova reunião ampliada da direção nacional já esta definida para primeira quinzena de julho, quando serão definidos detalhes sobre a greve geral.

*Ismael José Cesar é integrante da diretoria executiva nacional da CUT

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Vitórias e grandes desafios

Yuri Soares e Ismael Cesar*

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Em abril e maio tivemos duas impor-tantes eleições sindicais no Distrito

Federal: do Sindicato dos Professores e do Sindicato dos Servidores Públicos Federais. A Articulação de Esquerda compôs em ambas as eleições as chapas cutistas vitoriosas.

No Sinpro houveram outras duas chapas, uma ligada ao PCO e outra li-gada ao PSTU e PSOL. Durante a for-mação da chapa pressionamos para que o PCO compusesse uma chapa unitária cutista junto com a chapa das demais forças do campo, o que não ocorreu por problemas de composição.

A disputa foi dura na base da catego-ria. A chapa esquerdista fez um debate rasteiro e reacionário de crítica à CUT e ao PT para angariar o voto conservador. Sua principal proposta era encaminhar a desfiliação do sindicato da CUT e afas-tar o sindicato das mobilizações contra o golpe. Não expuseram, no entanto, suas ligações partidárias e sindicais, se colo-cando como sindicalistas “independen-tes” e que representariam a renovação. Tiveram 30,44% dos votos.

A chapa ligada ao PCO centrou sua apresentação como um grupo de comba-te ao golpe, e acabou angariando apoio de parte da base progressista da catego-ria, alcançaram 10,77% dos votos.

Nossa chapa era composta pela Art-Sind, CSD, AE, OT e CTB e grupos re-gionais e estava disputando a reeleição, apesar de ser a primeira vez que nós da Articulação de Esquerda compusemos a mesma. Pesava contra a chapa o desgas-te de estar dirigindo o sindicato há várias gestões, assim como falhas na condução política como, por exemplo, a falta de um trabalho de base mais consistente e qualificado.

Dentre os argumentos para compor-mos a chapa cutista foi a independên-cia demonstrada no último período. Por exemplo: na gestão petista de Agnelo Queiroz, o sindicato realizou uma forte greve que resultou em avanços no plano de carreira. Mesmo havendo questões que precisam ser discutidas e aperfei-çoadas a ampla maioria da categoria ainda demonstra confiança política nes-ta direção.

Fizemos um debate franco com a base nas escolas, falando sobre as di-ficuldades da conjuntura política que vivemos. No início da campanha tínha-mos a iminência de um golpe de Estado e na reta final já com um governo ilegíti-mo encaminhando a retirada de direitos. Dialogamos com os professores sobre a necessidade de termos um sindicato que siga filiado à CUT, a maior central sindi-cal da América Latina, para construir as lutas unitárias em defesa dos interesses das professoras e dos professores e de

toda a classe trabalhadora. A aceitação foi grande e resultou em uma expressiva votação de 58,82%.

No Sindicato dos Servidores Públicos Federais tivemos um cenário parecido. Apesar da ausência de uma chapa ligada diretamente ao esquerdismo, houve uma oposição ligada a setores autonomistas que também se apresentou com a pro-posta de afastamento do sindicato das lutas políticas gerais encaminhadas pela CUT e movimentos sociais.

Em que pese as dificuldades criadas pelo Governo Dilma, como o encami-nhamento do PL 257 ao Congresso Na-cional, que trata da renegociação das dívidas dos estados e que traz em seu bojo um forte ataque aos servidores e ao serviço público, a retomada do debate sobre uma possível reforma da previ-dência, ainda a não previsibilidade da garantia do reajuste dos servidores ne-gociado na greve de 2015, e com efei-

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tos financeiros para agosto de 2016, A chapa 1 reafirmou em sua campanha que a autonomia frente ao governo seria de-terminante para manter as conquistas da categoria.

Os servidores enxergaram na chapa da CUT a única capaz de levar a luta em defesa dos serviços públicos, ameaçadas pelos golpistas que tomaram de assalto o Palácio do Planalto. Apresentamos a categoria claramente como a chapa con-tra o golpe e não reconhecendo a legiti-midade do impostor Michel Temer.

Apesar de todas as dificuldades de uma conjuntura conturbada e o serviço público e os servidores colocados no centro da crise, a chapa 1 aproveitou da campanha eleitoral para organizar a ca-tegoria para enfrentar os golpistas e rea-firmar a necessidade da luta para manter e ampliar as conquistas. Isto resultou em uma vitória da chapa cutista unitária com 75,95% dos votos.

Após estas importantes vitórias co-meça o período mais difícil. Temos uma série de desafios pela frente. O primeiro deles é convencer as direções sindicais que temos pela frente um longo período de radicalização da política e que não há mais espaço para soluções conciliató-

rias. Esta nova con-juntura exige uma nova atuação, muito mais combativa.

A renovação das direções é uma tarefa essencial. A AE apresentou candidaturas mais jovens em ambas as eleições. Forta-lecer essa política de renovação é um desafio constante. Um dos meios possíveis para incentivar a aproximação de novas lideranças é a realização de espaços específicos de de-bate e formação política para os jovens trabalhadores em todas as categorias.

O trabalho de base precisa ser forta-lecido. Há um nítido distanciamento das categorias em relação aos seus sindica-tos. Não basta realizar os espaços gerais de luta das categorias, tais como assem-bleias e atos. É preciso ir a cada setor específico e a cada escola para travar o debate constante e cotidiano sobre as lu-tas específicas e gerais.

Outro desafio é convencer as cate-gorias da importância da construção dos espaços mais amplos de articulação

política, como é o caso da Frente Brasil Popular. Nenhuma categoria será vito-riosa isolada e lutando apenas por suas pautas corporativas específicas em um momento duro como o atual.

Todas estas ações devem estar articu-ladas com a construção da greve geral indicada pela CUT nacional, pelo Fora Temer e em defesa dos direitos. A con-vergência para este rumo estratégico co-mum é fundamental para o sucesso das campanhas das categorias. * Yuri Soares é historiador,secretário de Políticas Sociais da CUT Brasília e diretor eleito do Sindicato dos Professores do DF

* Ismael Cesar é servidor público federal e diretor executivo da CUT Nacional

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Em 1 a 3 de julho estaremos realizando o IX Congresso do CPERS com em

torno de 1.800 participantes. Este espaço servirá para debatermos os rumos da enti-dade no que se referem aos temas sindical, plano de lutas, políticas específicas, estatu-to, avaliação da gestão e das conjunturas. Através deste debate mais aprofundado sobre a nossa práxis, temos a projeção de construirmos uma unidade, mesmo que crí-tica, e sairmos fortalecidos diante dos desa-fios que estão postos.

Nós da Articulação de Esquerda Sindi-cal temos a expectativa de contribuir aos debates do IX Congresso do CPERS, atra-vés dos nossos posicionamentos e avalia-ções no sentido de engrandecer o sindica-to e as suas lutas. Queremos um sindicato combativo e de massas. Vamos à luta!

Atualmente, fazemos parte da Dire-ção do CPERS, compondo um campo que reune as forças Cutistas e a CTB, porque entendemos como fundamental, diante da conjuntura, o fortalecimento de uma fren-te de esquerda no CPERS e no movimento sindical que enfrente a ofensiva da direita e combata os retrocessos que estão em curso no país e no RS.

Sartori quer vender oRio Grande do Sul

No RS há indícios que já comprovam o estreitamento violento das políticas pú-blicas e a implementação de uma visão neoliberal radical no estado gaúcho com a volta do PMDB ao governo, cuja força dá-se também pela sustentação no legisla-tivo por uma ampla base aliada: PP, PSDB, PTB, PDT, entre outros. Os ataques aos servidores públicos comprometem a efe-tividade do papel do Estado, promovendo o seu desmonte. Desde o início do seu go-verno, Sartoti já parcelou salários, os tra-balhadores têm sofrido com um absurdo arrocho salarial, que promete se prolongar até 2018, aprovou o congelamento dos in-

vestimentos, concur-sos públicos, retirou direitos e ameaça fre-quentemente retirar outros, não pagou o 13º salário dos ser-vidores, aumentou o ICMs, mexeu na pre-vidência, etc.

O Governo Sartori representa nitidamente no RS os interesses da burguesia. Seu governo está comprometido com grandes negociatas rumo a privatiza-ções e tem apoio da mídia golpista, espe-cialmente representada pelo grupo RBS, que tem acobertado as mazelas que a atual gestão tem promovido. Um exemplo con-creto disso foi à aprovação silenciosa da criação de pedágios por todo o nosso es-tado em concessões para os próximos 30 anos.

A política do PMDB e seus aliados no RS tem levado o conjunto da classe traba-lhadora a condições cada vez maiores de precariedade no que se refere ao acesso a serviços e direitos básicos. O descaso com as políticas de segurança pública está viti-mando milhares de gaúchos diariamente. Na saúde não é diferentes, os atrasos dos repasses aos municípios, hospitais e os cor-tes tem provocado verdadeiro caos.

O salário dos educadores está defasado 69% em relação ao Piso Salarial, o gover-no está privatizando as escolas, através do desenvolvimento de parcerias público pri-vadas a da tentativa de aprovar o PL 044, aumentou a carga de trabalho dos professo-res, quer implementar a lei da mordaça nas escolas, fechou escolas, turnos e turmas, encerrou a oferta de educação infantil, etc.

A diminuição do aporte de recursos, por parte do governo estadual, para os muni-cípios gaúchos resulta em diminuição da oferta de serviços básicos ofertados nos postos de saúde, no transporte escolar e

nos serviços em geral, especialmente nas unidades de estratégia de saúde da família.

Sartori passou o ano de 2015” choran-do” pela situação financeira do estado, no entanto, é visível que o governo prioriza um setor da sociedade em detrimento da maioria. Conforme dados do “sonegôme-tro” da AFOCEFE - Sindicato Técnicos Tributários, os RS perdeu com a sonegação de ICMS mais de 1,6 bilhões até o dia 22 de março deste ano. O RS deixou de arreca-dar por sonegação 7,8 bilhões no ano pas-sado, 27,6% de toda arrecadação de ICMS é sonegada, 13,1 bilhões são concedidos a empresas como isenção e o estado gaúcho encontra-se em 20° lugar no Brasil no que se refere ao investimento em pagamento de servidores.

Nesse sentido, pra além da mobilização dos servidores públicos que ocorreu em 2015 e da luta dos educadores, será funda-mental aglutinar forças com o movimento sindical e com os movimentos sociais de modo geral para que a resistência seja for-talecida em oposição às políticas neolibe-rais deste governo.

Construindo um CPERSunido e forte

Em 2015, o CPERS completou 70 anos e ao longo da sua história tem se mostrado forte e combativo em defesa da educação pública e dos direitos da categoria. Atual-mente, a sua direção política é composta por muitas tendências, as quais boa parte

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IX Congresso do CPERSO texto a seguir é baseado na tese apresentada pela setorial sindical da tendência petista Articulação de Esquerda ao IX Congresso do CPERS

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compõe o Conselho Geral da entidade, res-paldado pelas eleições gerais, dos núcleos e representantes 1 por mil, possibilitando democraticamente a expressão de diferen-tes ideias.

Está à frente da direção central um cam-po político formado por cinco correntes sindicais Cutistas e a CTB. Esse agrupa-mento foi formatado nas últimas eleições do sindicato com a intenção de superar o sectarismo da última direção. A política es-querdista promovida pela direção anterior ajudou a eleger Sartori, um governo radi-calmente neoliberal, que já está sendo um dos piores que o estado já possuiu. A táti-ca implementada se resumiu a derrotar o Governo Tarso, impedindo que a categoria conseguisse disputar e negociar conquis-tas. Os servidores estaduais da segurança pública, por exemplo, no governo passa-do conquistaram, através de projeto de lei aprovado na assembleia, reajustes salariais para o período e os próximos anos, assegu-rando reposição em uma conjuntura atual de extremo arrocho para as demais catego-rias.

Além disso, o CPERS acabou se isolan-do da relação com os demais movimentos de esquerda e da própria categoria, que se afastou do sindicato. O aparelhamento da entidade em torno da construção da Cen-tral Conlutas e dos partidos que a dirigem prevaleceu. Também, se implementou uma gestão financeira desastrosa, inclusi-ve questionada em auditoria, de beneficia-mento de assessorias e maquiagem do ba-lancete financeiro.

Portanto, com a intenção de reconquis-tar a categoria e aproximá-la, a atual dire-ção do sindicato assumiu a estratégia de diálogo com a mesma e reintegrar a luta de classe com os demais trabalhadores orga-nizados. Nesse sentido, realizaram-se di-ferentes encontros, dos Aposentados, Fun-cionários, de Juventude, de Formação, de Gênero e Diversidade, de Educação e even-tos culturais, Caravanas, Plenárias, etc, fo-

ram muitos os momentos de se reencontrar e de discussão. O CPERS reassumiu seu protagonismo nos espaços da CNTE, nos debates da Conferência Nacional de Edu-cação e em outros fóruns. Além disso, con-seguimos construir uma articulação consis-tente com os demais servidores estaduais, estudantes e comunidade escolar.

Avante educador@S!Sempre em pé!

Durante o ano de 2015, em virtude da reaproximação com a categoria e dos fortes ataques promovidos pelo Governo Sartori, o CPERS protagonizou a unificação extra-ordinária de mais de quarenta organizações de trabalhadores ligados ao serviço públi-co estadual e centrais sindicais. O CPERS realizou em 2015, depois de muitos anos uma grande assembleia que lotou o Gigan-tinho com em torno de 15 mil educadores. Posteriormente a categoria participou de assembleia com os demais servidores do estado, a qual reuniu em torno de 50 mil trabalhadores e deflagrou uma greve unifi-cada de quatro dias que marcou a história do RS. Depois disso as categorias segui-ram unificadas, trancamos o acesso a As-sembleia, acampamos na praça, realizamos atos públicos, pressionamos os deputados, denunciamos a precariedade dos serviços públicos e as opções maldosas do governo.

Mesmo frente a todas as lutas feitas, o

governo conseguiu aprovação na ALRS de muitos projetos danosos a sociedade e aos servidores como o PLC 206, alteração na previdência, aumento do ICMS, o calote das RPVs, entre outros, e continuou arro-chando e parcelando salários. Contudo, a avaliação do governo desabou, projetos como da diminuição das cedência sindi-cais, o que estabelece o fim das licenças prêmio e mudanças no IPE saúde, entre ou-tros, não se efetivaram. De fato, o governo não conseguiu implementar o seu progra-ma neoliberal com a velocidade desejada e se fragilizou devido a resistência dos traba-lhadores.

Internamente a luta dos educadores e o CPERS também se fragilizaram após a assembleia que finalizou a greve, devido o alto grau de tensionamento entre os apoia-dores da continuação e os que desejavam o seu fim. A categoria saiu extremamente dividida. Divisionimo que é incentivado pela Oposição, a qual tem como estratégia boicotar as ações de orientação estadual, promover o descrédito e desconfiança na categoria para enfraquecer a direção do sindicato.

Em 2016, o CPERS iniciou o ano bus-cando remobilizar a categoria, através de agendas de luta, juntamente com a CNTE (paralisações, atos públicos e greve) e deli-berou em sua primeira assembleia a cons-trução de uma grande greve. Diante da

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conjuntura estadual e nacional, o CPERS, pela sua grandeza e histórico, não tem como fugir da tarefa de protagonista das lutas no estado. Nessa pers-pectiva, iniciamos o primeiro semestre do ano articulando com a comunidade escolar, em especial com os estudantes, no sentido de construir um grande movimento em defesa da escola pública gaúcha.

Tal movimento resultou em ações de muito impacto. Os educadores deflagram gre-ve, ocuparam Coordenadorias Regionais e o Centro Administrativo do RS. Ao mesmo tempo mais de 180 esco-las foram ocupadas pelos estudantes, que também ocuparam a ALRS e a Secretaria da Fazenda. Apesar de, até o momento, as nossas pautas não terem sido atendidas de forma suficiente, como, por exemplo, a re-tirada do PL 044, que visa privatizar o en-sino, conseguimos arrancar questões pon-tuais, forçamos a abertura de negociação, desgastamos e denunciamos as políticas do governo e colocamos o tema do desmon-te da escola pública no centro da pauta do estado.

Assim sendo, a nossa luta não pode esmorecer. Diante do alinhamento a nível federal e estadual dos governos do PMDB que têm apresentado uma políti-ca neoliberal ofensiva, o CPERS precisa constantemente assumir uma postura com-bativa, assumindo o seu protagonismo his-tórico contra qualquer tipo de retrocesso e em favor da conquista de direitos. Não nos será permitido baixar a guarda.

É preciso desmoralizar esse gover-no, só assim a sua base de governo ficará mais frágil para votar novos projetos con-tra a sociedade. É fundamental continuar trabalhando a unidade e a mobilização da categoria pra fazer esse governo retroceder

e pra avançarmos na luta salarial, na manu-tenção com qualidade do IPE e em defesa da escola pública de qualidade. Temos a tarefa emergencial de envolver toda a so-ciedade contra a aprovação do PL 044, que tem como objetivo privatizar os serviços públicos. A aprovação desse projeto de lei significa o início do fim da nossa categoria, plano de carreira, precarizar ainda mais as nossas condições de trabalho e os nossos direitos.

Não podemos deixar por um segundo de continuar atacando às políticas do Governo Sartori, denunciar os aliados e os partidos envolvidos, em especial desgastando can-didaturas às eleições municipais. Também, é preciso intensificar as denúncias contra as ações da Secretaria de Educação, que ar-ticulou na votação da ALRS para retirar a exigência do cumprimento da Lei do Piso do Plano Estadual de Educação, tem pro-movido assédio e terrorismo contra a or-ganização sindical, está implantando uma política de privatização das escolas através de parcerias público privadas, aumentou a carga horária de trabalho dos educadores através de decreto, gerando demissões, não respeita a autonomia pedagógica das esco-las, exigindo a obrigatoriedade do ensino religioso, entre outras ações de desmonte da escola pública gaúcha.

Educador@s contra o golpe! ForaTemer!

Vencer o Golpe da direi-ta contra a democracia e os direitos dos trabalhadores é prioridade para a classe traba-lhadora brasileira no momento. O alinhamento dos governos do PMDB no RS e no Brasil intensificará ainda mais os ata-ques e fortalecerá as políticas neoliberais do Governo Sarto-ri. O CPERS acertou em estar nas ruas contra o Golpe e ao compor a Frente Brasil Popu-lar, que atualmente reúne as

principais forças políticas de esquerda e a favor dos trabalhadores, configurando um forte polo de resistência contra a ofensiva conservadora e da direita juntamente com a Frente Povo Sem Medo. Contra o Gover-no interino de Temer, que já tem imposto retrocessos às políticas sociais e promete arrancar mais direitos dos trabalhadores.

A quem beneficiou desfiliar o CPERS da CUT?

Em 2015, o CPERS, em assembleia com em torno de três mil sócios deliberou pela desfiliação à CUT. O CPERS filiou--se à CUT na década de noventa após um esforço grande da esquerda da categoria que compreendia a complexidade da luta de classes no país e a necessidade de for-talecer a organização dos trabalhadores em favor da educação pública de qualidade e de uma sociedade mais igualitária.

O CPERS no RS era o maior sindica-to filiado à CUT e no Brasil um dos maio-res, reunindo mais de 80 mil associados. Para o sindicato dos professores e funcio-nários da rede estadual do RS, tal movi-mento significou um equivoco histórico. Fragilizar a Central Única e a unidade dos trabalhadores neste momento da história somente favoreceu a ofensiva da direita,

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em especial no RS. Inclusive o esquerdis-mo liderado pelo campo que perdeu as elei-ções do CPERS uniu-se a direita e setores conservadores para garantir tal delibera-ção, fortalecendo discursos reacionários, anti-central, corporativos e o antipetismo. No dia da assembleia de desfiliação vesti-ram a mesma camiseta do ódio à esquer-da, alimentando a serpente que está nos engolindo na atual conjuntura. Uma prova disso é que desde lá guardaram boa parte das bandeiras do Conlutas e retiraram da pauta a filiação a qualquer central sindical. O campo que se unificou contra a filiação Cutista sabe que a categoria que votou pela desfiliação não quer a filiação a nenhuma central.

Sabe-se que a desfiliação do CPERS da CUT foi como nadar a favor da corrente, o esquerdismo aliou-se a ofensiva da di-reita que conta com o poder hegemônico e da grande mídia, porém o campo Cutista também é responsável por tal retrocesso. A falta de nitidez política em defesa dos di-reitos dos trabalhadores, o posicionamento acomodado frente aos governos e o rebai-xamento da pauta programática ajudaram a afastar a CUT da sua base. É importante lembrar, que principal dirigente do CPERS ocupava a vice presidência da CUT/RS. Além disso, internamente, os Cutistas da categoria estiveram intimidados, enquanto

o esquerdismo promovia uma política ofen-siva, nós não fizemos o con-traponto, dia-logando com a base, trabalhan-do e fortalecen-do as nossas ideias. Buscou--se fazer isso apressadamente antes do último suspiro da filia-ção pela direção

eleita, não foi o suficiente.

Contudo, no último período, em espe-cial na conjuntura atual, é importante sa-lientar que a CUT tem recuperado o seu papel protagonista nas lutas em defesa da classe trabalhadora. A central esteve nas ruas repudiando o ajuste fiscal do gover-no federal, contra o PL das terceirizações e reforma da previdência, é liderança im-portante na construção da Frente Brasil Po-pular e acertadamente em defesa dos traba-lhadores está sendo basilar na luta contra o Golpe da direita e em defesa da demo-cracia. Enquanto isso, setores do PSOL, o PSTU e a Conlutas nos apresentam uma política confusa, que balança a favor a Gol-pe e buscam a construção de uma terceira via, em um contexto que se acirra os dois lados da luta de classes. A tal terceira via está esvaziada e não tem sentido algum no atual momento de resistência contra os re-trocessos que querem nos impor no que se refere às leis trabalhistas, a CLT, as políti-cas sociais, aos serviços públicos, crimina-lização dos movimentos sociais, ataque aos direitos humanos,etc.

Nesse sentido, é importante que o deba-te acerca da filiação a uma central sindical seja recolocado para a base da categoria, com o objetivo de conscientizar, construir uma identidade de classe e esclarecer sobre

os direitos que estão sendo ameaçados.

CPERS e a CNTE: juntos somos mais fortes em defesa da educação

pública brasileira! É preciso fortalecer cada vez mais a

nossa Confederação Nacional de Traba-lhadores em Educação, participando ativa-mente das agendas e espaços de discussão. Desta forma é possível incluir-se nos deba-tes à respeito da educação brasileira, inter-vir mais fortemente nas políticas e projeto pedagógico, resistir à retirada de direitos, lutar pela implementação do Piso Salarial e regulamentação dos royalties do petróleo para educação, enfim intervir no cenário nacional em defesa da escola pública.

O debate realizado pela CNTE no que concerne à conjuntura política e econômica mantém uma posição de defesa da demo-cracia e do estado de direito, do reconheci-mento de avanços nas áreas sociais dos úl-timos anos, mas de críticas acirradas no que tange à política econômica e do afastamen-to do governo com a base dos movimentos sociais e sindicais. A CNTE tem se somado aos movimentos de esquerda, contra os ata-ques aos direitos dos trabalhadores, espe-cialmente dos processos de terceirização, privatização e ajuste fiscal no lombo dos trabalhadores. Também temos incidido na defesa de um projeto educacional no viés de uma educação contra hegemônica, de qualidade social, laica, democrática e não discriminatória, que deve ser garantida pelo Estado com recursos públicos.

Considerando a conjuntura atual, numa correlação de forças de ataques à educação pública, dos processos de criminalização e repressão de governos neoliberais aos edu-cadores em vários estados, bem como da pauta conservadora em curso, a CNTE pre-cisa protagonizar e assumir uma postura de maior combatividade e enfrentamento com aqueles que atacam a educação pública.

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TENDÊNCIA

Os anos 2014 e 2015 foram marca-dos pela aprovação dos Planos de

Educação em todo o território brasilei-ro, vigorando o PNE no final de junho de 2014. No ano subsequente, estados e municípios debruçaram-se sobre suas elaborações e aprovações. Este proces-so é resultado de lutas da sociedade, dos seus anseios e demandas urgentes para a educação pública, no que se refere ao acesso universal, à gratuidade, à laicida-de, à valorização dos profissionais em educação, à gestão democrática e à qua-lidade social para a educação.

O Governo Lula iniciou a elaboração do Plano Nacional de Educação (2011-2020) por meio de Conferências de base. Sem dúvida, devido à sua repre-sentatividade, abrangência, qualificação do debate e ineditismo, a Conferência Nacional de Educação (CONAE) tor-nou-se um marco, embora tenha se rea-lizado apenas no último ano do segundo mandato. A forte participação dos sin-dicatos da educação básica e a reduzida presença dos setores conservadores ga-rantiram a elaboração de um texto geral com propostas que fortaleciam a educa-ção pública. Todavia, depois de quatro anos de atraso, o PNE foi aprovado pelo Congresso Nacional com importantes alterações, advindas do forte e intenso lobby do setor empresarial da educação, e que afeta diretamente a educação pú-blica. A desvalorização dos profissionais da educação, a partir da implementação da lógica econômica empresarial, pode resultar: 1) em processos avaliativos que estabelecerão uma universalização nos

sistemas de avaliações, na implementa-ção do exame nacional do magistério e no estabeleci-mento do cur-rículo único para entidades formadoras; 2) na respon-sabilização do profissional da educação pelos índices escolares a partir de uma lógica de pu-nição ou bonificação, 3) no reforço da lógica das privatizações e terceirizações da educação pública.

Em tempos em que a democracia tem sido bandeira da esquerda e descartada por muitos, a Gestão Democrática nas escolas é de fundamental importância para a construção de uma educação emancipatória. A gestão democrática é a representação da experiência gestacio-nal da educação, debatida e vivenciada pela sociedade, via comunidade escolar. É função profissional da educação se responsabilizarem pelo projeto de uma escola politizadora, exercendo a demo-cracia e empoderando todos os segmen-tos da comunidade escolar, levando as-sim o projeto de educação para fora da escola. É nossa responsabilidade forta-lecer os conselhos escolares e reforçar o pertencimento da comunidade em ins-tâncias representativas de democracia

e levar esta bandeira para estados nos quais ela ainda não existe.

Contendo um conjunto de intenções e uma miragem, os 10% do PIB, após quase dois anos de sua aprovação, pra-ticamente nada saiu do lugar. Os Planos Estaduais de Educação, em sua maioria, foram meros reprodutores da legislação nacional. Muitos avanços foram surru-piados do texto da lei, e execrado por se-tores das diversas igrejas, como a temá-tica de gênero e da sexualidade. A lógica do plano traduz um caráter meritocráti-co, evidente nos itens relativos à gestão escolar. Prevalencendo a lógica empre-sarial, os setores populares também fo-ram derrotados na defesa de destinação das verbas públicas exclusivamente para a escola pública. É fundamental a corre-ta aplicação de recursos públicos, com o fortalecimento dos órgãos fiscalizadores existentes e a ampliação da atuação dos conselhos do FUNDEB e dos conselhos escolares para que ele passe a fiscali-

TENDÊNCIA

A batalha da educaçãoA I Conferência Nacional Sindical de Educação da tendência petista Articulação de Esquerda realizou-se nos dias 26, 27 e 28

de maio de 2016, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Este encontro teve por objetivo, a partir de um debate geral sobre a situação política nacional e sobre os temas educacionais, oferecer uma orientação para os sindicalistas da AE que atuam no setor da

educação. Para alcançar este intento, o texto base, formulado pelos dirigentes sindicais da tendência, foi discutido nos estados e recebeu uma série de emendas, sendo debatido e aprovado na Conferência nacional sindical de educação da AE.

A resolução resultante do debate se estrutura a partir dos seguintes temas: a Educação na sociedade de classes: uma relação dialética e contraditória; a Conjuntura e a Política Educacional Brasileira nos anos Lula e Dilma; a educação básica no último decê-nio nos governos Lula e Dilma; o projeto da Universidade Democrática e Popular no governo Lula; a Educação Pública e a Ofensiva

Conservadora no Segundo Governo Dilma; ação político-sindical da AE nas entidades da educação nacional. Nas próximas páginas, publicamos pequenos extratos desta longa resolução. A íntegra está disponível na página eletrônica www.pagina13.org.br

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zar as verbas públicas que hoje não têm controle social.

Um importante projeto, esvaziado de verba e gestão, é o da Educação In-tegral. A lógica de uma educação cada vez mais tecnicista, destinada a inserir o estudante no mercado de trabalho, tem prevalecido sobre a construção do pro-jeto de formação de cidadania. Diversos estados fazem da atual crise financeira uma justificativa para a não contratação de profissionais e a não ampliação de es-colas de funcionamento de regime inte-gral, assim como a diminuição destas. É notório que a Educação Integral precisa da adaptação curricular, da formação de professores e dos espaços físicos das es-colas. Não há um estado brasileiro em que a maioria de sua escolas não preci-sem de reformas estruturais, consolidan-do-se a precarização da escola pública e a intenção de privatização.

Em relação ao financiamento, havia uma expectativa quanto à lei dos 10% do PIB para a educação. Essa sempre foi uma meta ousada, porque não se apre-sentava fontes novas de recursos, a não ser aquelas originadas da exploração do Pré-sal. Todos os cálculos feitos em relação à potencialidade do Pré-sal con-firmavam a ideia de que somente a apli-cação integral deste recurso garantiria este patamar. No entanto, o cenário só piorou: os recursos serão rateados com a saúde, o preço do barril do petróleo caiu consideravelmente e a exclusividade da Petrobrás na exploração do Pré-sal en-contra-se em risco.

Na última década, as leis referen-tes ao financiamento da educação e à valorização do magistério impacta-ram a educação pública. O governo Lula ampliou o fundo criado por FHC (Fun-def) para o conjunto da educação bási-ca. Hoje é a principal fonte de financia-mento, compreendendo 20% dos 25% dos recursos obrigatórios para estados e municípios investirem em educação. No entanto, as críticas se concentram na sua lógica de aplicação e na pouca par-ticipação da União na composição dos

fundos.

O Fundeb, seguindo o formato do Fundef, se baseia em um custo-aluno anual definido pela União. Ocorre que esse custo-aluno, invariavelmente, é baixo. Como a grande maioria dos es-tados brasileiros atinge a média definida nacionalmente, a União fica desobriga-da de repassar recursos. O Fundeb ficou conhecido como um “fundo socializador de pobreza”. Decerto, para a maioria dos municípios, ele se transformou em um importante instrumento de aumento de matrícula e de visibilidade da educação, especialmente no ensino médio, elevan-do a idade média de instrução dos nos-sos jovens em idade escolar. Todavia, até o momento, não conseguiu fomentar uma política efetiva de redução signi-ficativa do quantitativo de analfabetos, bem como do acesso a creches, um tor-mento para as mães e pais trabalhadores.

O Plano de Desenvolvimento da Edu-cação (PDE) também se afirmou como determinação da política educacional nos entes federados, tendo em vista a as-sinatura do Termo de Adesão que obriga uma série de ações conjugadas para a melhoria educacional. Todavia, o Plano consolidou a parceria do Estado brasi-leiro com o empresariado da educação, que cada vez mais adentra no centro ner-voso das decisões educacionais.

Outro aspecto do PNE é a consolida-ção do controle social como instrumento de empoderamento da sociedade civil, no acompanhamento e fiscalização da aplicação do dinheiro público na educa-ção básica e superior. Entretanto, com a

iminência do fim do FUNDEB em 2020, urge a necessidade da regulamentação do Custo-Aluno-Qualidade como refe-rência para o financiamento da educação pública brasileira, rompendo com o atu-al modelo que trata como iguais estados e municípios, ignorando as diferentes realidades educacionais do país.

Em relação à valorização do magis-tério, em julho de 2008, o Governo Lula sancionou a Lei do Piso Salarial Profis-sional Nacional (PSPN). Uma medida importante de valorização do magistério público, embora implantada com um valor inicial baixo, R$ 950,00 para uma carga horária de 40 horas. A redação complexa e confusa facilitou o ques-tionamento jurídico seis governadores (Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Ca-tarina, Rio Grande do Sul, Piauí e Ro-raima) que ingressaram com nova Ação Direta de Insconstitucionalidade (Adin) no STF. Em 2011, o Supremo julgou favoravelmente, mas o piso salarial e o direito ao 1/3 das atividades extraclas-se ainda não são uma realidade para a maioria dos professores do país. Vencida a tese da constitucionalidade, diversos governadores, na prática, transformam o piso em teto salarial, estrangulando a carreira. Este ano os estados de Sergipe e de Pernambuco passam por situações atípicas. Com o esfacelamento da carrei-ra, os dois governadores estão pagando o mesmo valor nacional de piso para o nível médio e para a graduação, uma vez que só garantiram o percentual para o nível médio. Há estados que sequer pa-gam o valor mínimo nacional de piso, a exemplo do Rio Grande do Sul.

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Neste cenário, a Confederação Na-cional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) aprovou em suas instâncias uma proposta de Diretrizes de Carreira. Este documento visa assegurar uma car-reira com valorização, estabelecendo percentuais mínimos de diferenciação entre classes e níveis. No atual cenário do Congresso Nacional, as esperanças de avanço estão cada vez mais reduzi-das.

O sistema de avaliação – libertar ou ranquear?

Outra questão polêmica dos anos Lula e Dilma é o sistema de avaliação nacional (PL 8035/2010), aplicado como uma política pública (Saeb, Ideb, Enem, Sinaes, Prova Brasil, Provinha Brasil). Calcado na pedagogia das competên-cias e habilidades, reforça no chão das escolas a concepção de uma educação mercadológica e meritocrática. Estas metodologias não conseguem avaliar o conjunto dos fatores que, direta ou indi-retamente, interferem na aprendizagem de crianças e jovens do Brasil. Assim, são resultados facilmente questionáveis diante das fragilidades do modelo e das imensas desigualdades sociais e territo-riais do país. Os resultados padronizam uma determinada concepção de sucesso escolar, estimulam um ranking entre as escolas, sistemas de ensino, entre setor público e privado e a hierarquização

curricular e enfraquece a centralidade dos Projetos Políticos Pe-dagógicos de cada unidade de ensino.

Na gestão do Ministro Renato Ja-nine, no ano de 2014, o MEC ado-tou outra m e t o d o l o -

gia de avaliação no sentido de superar o ranqueamento entre escolas. Apenas naquele ano foi incluído o indicador de permanência na escola, levando em con-sideração a vida escolar dos estudantes, de modo a verificar se eles cursaram total ou parcialmente o ensino médio no mes-mo local. Essa medida tinha objetivo de impedir as fraudes que algumas escolas privadas realizam para aparecerem bem nos ranking divulgados a partir do re-sultado do ENEM. Essas escolas tentam maquiar o ranking do Enem trazendo alunos brilhantes de outra escola para o 3º ano ou exclui os alunos que tem de-sempenho pior do 3º ano. Essa política adotada pelo MEC causou reação con-traria dos empresários da educação. O resultado do ENEM em 2014 colocou escolas públicas entre as melhores ins-

tituições de ensino do Brasil. Com a no-meação do Ministro Mercadante retorna o modelo que interessa aos empresários da educação de ranqueamento, descon-siderando, de novo, a realidade socioe-conômica das escolas e dos estudantes.

O ProJovemO ProJovem trouxe inovações meto-

dológicas com os arcos de saberes (daí o esforço de aproveitar a metodologia para a política de EJA do MEC), e intro-duziu as salas de acolhimento para mães e pais jovens levarem seus filhos – na prática, a primeira experiência de “cre-che” em escolas de educação básica. É um programa com muita dificuldade de execução, mas com foco em um públi-co que geralmente evadiu das escolas e da EJA. Foi também a primeira marca de uma política explicitamente para a juventude o que possibilitou uma dispu-ta importante dentro do MEC para um olhar para além do estudante, mas para os jovens como público diferenciado.

Entretanto, o programa não é isento de equívocos na sua implementação. Entre eles: 1) o lançamento voltado para as grandes metrópoles com um molhar excessivamente urbano; 2) a execução exclusivamente com prefeituras sem a devida ampliação para organizações de educação popular; e 3) a unificação de outras iniciativas, que não nasceram como ProJovem sob esse guarda-chuva, criando os ProJovem Trabalhador, Pro-

Foto: José Cruz/ Agência Brasil

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Jovem Adolescente e ProJovem Campo. Com isso perdeu-se a originalidade de outras ações como o Saberes da Terra (que virou ProJovem Campo) e o Con-sórcio da Juventude (renomeado ProJo-vem Trabalhador).

O Programa de Ações AfirmativasEsta política do governo federal

constitui-se numa grande vitória dos movimentos sociais. Apesar do seu im-pulso inicial, essa concepção ainda não está consolidada. O Programa é um me-canismo criado em defesa dos negros e negras, das nações indígenas, dos povos e comunidades tradicionais, das pessoas com deficiência e dos setores mais po-bres e injustiçados, alvos de uma exclu-são secular. Toda discussão que invoca o mérito como parâmetro, visando à con-traposição a essa medida, escancara uma ideologia da classe dominante.

O governo do PT, com muitas con-tradições, estimulou a organização e a demanda de segmentos historicamente invisibilizados na agenda governamen-tal, e, portanto, segregados do pleno acesso à educação. Apesar dos avanços, é necessário aprofundar e garantir os di-reitos LGBT, de negros, deficientes, mu-lheres, povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, entre outros, a partir da destinação de verbas direcio-nadas para a inclusão desses segmentos, visando incluir no currículo de forma-ção profissional dos professores, em ca-ráter obrigatório, para que estes tenham condições de compreender a realidade

específica desses grupos.

Houve também sinalização de recuo dos Governos Lula e Dilma. Um exem-plo importante foi a suspensão do pro-jeto Escola sem Homofobia, em 201, legitimando o espaço de grupos conser-vadores fundamentalistas no avanço do enfrentamento e disseminação do ódio contra as políticas públicas de gênero. Entre avanços e impasses, os temas edu-cacionais impuseram uma agenda sem, contudo, criar um vigoroso movimento social e popular, de base, que envolves-se professores, jovens e toda a sociedade na transformação da educação brasilei-ra. As consequências das contradições de gestão da educação no governo do PT, se fizeram visíveis quando parte da juventude protagonizou a defesa da campanha pelo impeachment da presi-denta Dilma. A falta de um projeto de educação libertador levou essa parte da juventude a ser educada pela mídia de massa, e não pelo projeto de educação democrático-popular.

A situação do ensino médioPara todos os trabalhadores em edu-

cação, a situação do ensino médio é dra-mática. A grande maioria das escolas se encontra sucateada estruturalmente e ul-trapassada do ponto de vista pedagógico, como resultado dos múltiplos governos neoliberais. A escolaridade líquida, ida-de esperada para o ensino médio, ainda é baixa na maioria dos estados brasilei-ros. Existem altos índices de abandono (13%), especialmente no primeiro ano, e

de reprovação (21,7%).

A diferenciação entre o ensino públi-co e as melhores escolas privadas acen-tua brutalmente a desigualdade social. Os filhos da classe dominante continuam tendo uma formação que contempla to-das as áreas de conhecimento, enquanto os pobres e os filhos dos trabalhadores são preparados para servir ao mercado e ao Capital. A “inserção no mundo do trabalho” revela-se apenas um disfarce para a formação de mão de obra barata e qualificada para os diversos ramos em-presariais. As propostas de reestruturação do ensino médio estão na contramão das necessidades e das aspirações dos jovens que estudam nas escolas públicas. O desejo de decidir sobre seu futuro, com ampla liberdade de escolha e condições dignas de vida continua a ser o sonho de nossa juventude.

A superação destas mazelas só será possível com políticas de investimento

na formação e valorização do magistério, aporte de investimentos para a ampliação e recuperação da rede física das escolas e a construção de uma nova proposta político-pedagógica, a qual será resulta-do de um longo processo de debate entre os sujeitos envolvidos, aguçando a sua consciência crítica.

Se faz urgente a tomada de consci-ência dos trabalhadores da educação no que se refere à necessidade de organizar e de radicalizar a resistência ao avanço do conservadorismo na educação e à perda de direitos adquiridos, assim como a luta pela ampliação de direitos, ocupando os espaços de representação nas escolas.

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Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR

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H á muito tempo a educação é palco da mais ferrenha disputa entre o público e

o privado. Neste aspecto, o plano de governo do PMDB nada apresenta de novo, a não ser a total licença para privatizar, através das ter-ceirizações, uma vez que a iniciativa privada foi louvada como foco principal das ações de governo. Os nomes especulados para ocupar o Ministério da Educação no governo interi-no de Temer bem sinaliza o que esse governo espera da educação, reduzida a moeda de tro-ca política, inicialmente com o PSDB (José Serra) e, mais recentemente, com o DEM (Mendonça Filho), que acabou confirmado. É significativa também a proposta do plano de mudança constitucional para eliminação da vinculação de receita em favor da educação, demonstrando que ela não é tão fundamental como a necessidade de garantia do superávit primário.

Não obstante, o que está em pauta, para um governo com programa declaradamen-te neoliberal, de direita, não é uma “pátria educadora”, com uma educação portadora de uma missão civilizatória da sociedade, mas, constituída em oportunidade de bons negó-cios e, ao mesmo tempo, instância de controle dos mecanismos de manutenção dos valores defendidos pelas classes dominantes como a meritocracia e a eficiência profissional como qualificadora da importância pessoal.

Os maiores interessados na privatização da educação,via terceirização das gestões e atividades fim e venda de materiais didáticos, ou seja, os empresários, inclusive os das mais variadas confissões religiosas, têm diante de si um grande dilema: se, de um lado, interes-sa-lhes uma sociedade composta por igno-rantes, incapazes de contestar seus valores, postos como naturais, universais ou divinos e, portanto, incontestáveis, por outro, essa ignorância não pode atingir o nível de atra-palhar o desempenho profissional e a capaci-dade de consumo, cada vez mais exigentes e refinados. Após a chamada terceira revolução industrial, as empresas passam a requisitar trabalhadores protagonistas no desempenho de suas funções e, portanto, qualificados com o desenvolvimento de uma visão mais ampla do que os antigos apertadores de parafusos e o mercado precisa de consumidores formata-

dos para uso de pro-dutos cada vez mais sofisticados.

A preocupação do empresariado com a educação explica-se, então, por essa dupla necessidade: aboca-nhar a maior parte possível dos recursos públicos destinados à educação e con-trolar a própria ação educativa em suas mais variadas dimensões. Após a aprovação do PNB, com planejamento de aplicação de dez por cento do PIB em educação (em geral e não só a pública), esta apresenta-se como negócio ainda mais apetitoso num futuro próximo. Por outro lado, a mudança de perfil dos estudantes do ensino superior, resultado das ações afirmativas dos governos petistas, para inclusão das classes marginalizadas, re-querem controle empresarial sobre a própria gestão das escolas e do sistema como todo. A presença e atuação das entidades educa-cionais privadas ou ligadas ao mundo empre-sarial foram dominantes nas discussões do Plano Nacional de Educação, conseguindo imprimir mudanças importantes na sua ver-são final, como por exemplo a supressão da palavra “publica” que qualificava a educação destinatária dos recursos investidos pelo Es-tado.

Assim, entende-se o avanço cada vez maior de empresas de assessoria e ONGs co-ligada, nas parcerias com o Estado, em seus três níveis, para supostamente contribuir com a melhoria da qualidade do ensino. Quali-dade entendida como o domínio das habi-lidades requeridas para a formação do bom profissional e não do cidadão consciente e participante das decisões políticas de sua co-munidade. A escola pública, em todos os seus níveis, passa então a ser, de alguma forma, cada vez mais tutelada pelas assessorias pri-vadas, supostamente porque são ineficientes, mas, na verdade porque detêm o controle da avaliação e da definição de objetivos. Numa democracia, o poder público define objetivos e, consequentemente, os parâmetros de ava-

liação do processo de ensino e aprendizagem tendo o bem comum e uma educação integral como horizontes, não se restringindo aos in-teresses do chamado mundo corporativo. Por isso é necessário sequestrar da escola públi-ca a exclusividade da definição dos critérios de avaliação. Não é à toa que a avaliação da qualidade do ensino, no âmbito mundial, é atribuição da OCDE e não da Unesco.

No Brasil, após expressivas vitórias dos privatizadores e doutrinadores no processo de elaboração do PNB e, depois, nos planos municipais, têm eles agora as portas escan-caradas no programa “Ponte para o Futuro”, que estatui a iniciativa privada como princi-pal foco da administração pública.

Essa opção política significa, no campo educacional, o esvaziamento da escola pú-blica autônoma, formadora de cidadania, em favor das parcerias empresariais, voltadas à formação de bons competidores no mercado de trabalho e dóceis repetidores dos funda-mentos ideológicos que mantêm o sistema de apropriação particular de riqueza socialmente produzida, em que a meritocracia se sobre-põe à solidariedade como valor fundante da convivência social. Esse esvaziamento faz-se visível em vários estados governados pelo PSDB, que ora se posta parceiro do governo golpista, principalmente São Paulo, Paraná e Goiás, num processo que está produzindo a sua antítese: o fortalecimento do movimen-to estudantil. Felizmente a história não tem dono e nem cerca.

*Antonio Carlos Rodrigues de Moraes é professor aposentado e militante do PT Campinas

EDUCAÇÃO

As opções da “ponte para o futuro”Antonio Carlos Rodrigues de Moraes*

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Um desafio que se impõe às administrações municipais, es-pecialmente as de capitais e regiões metropolitanas, é a ga-

rantia, para a totalidade da população, do Direito à Cidade. Sobre esse conceito, adotamos aqui as palavras do geógrafo britânico David Harvey, em recente artigo a respeito do tema: “saber que tipo de cidade queremos é uma questão que não pode ser disso-ciada de saber que tipo de vínculos sociais, relacionamentos com a natureza, estilos de vida, tecnologias e valores estéticos nós desejamos. O direito à cidade é muito mais que a liberdade indi-vidual de ter acesso aos recursos urbanos: é um direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Além disso, é um direito co-letivo, e não individual, já que essa transformação depende do exercício de um poder coletivo para remodelar os processos de urbanização. A liberdade de fazer e refazer as nossas cidades, e a nós mesmos, é, a meu ver, um dos nossos direitos humanos mais preciosos e ao mesmo tempo mais negligenciados”.

Tendo, portanto, a garantia do Direito à Cidade como pers-pectiva fundamental na concretização de um modelo de espaço urbano que seja encarado como ambiente de exercício dos Di-reitos Humanos, da cidadania ativa, do desenvolvimento social, das relações de sociabilidade e de expressão e valorização das diversidades, que a Articulação de Esquerda, tendência petista, apresenta sua contribuição para a elaboração de um Programa Democrático e Popular para a cidade de Aracaju.

Importante ressaltar que aqui são apresentadas linhas gerais sobre eixos garantidores do Direito à Cidade que, na concepção da Articulação de Esquerda, não devem esgotar a discussão pro-gramática, mas, isto sim, iniciar o necessário debate e aprofunda-mento sobre o tema.

Eixo 1. Administração Participativa e Transparente

Participação popular, transparência e controle social são con-ceitos intimamente relacionados: por meio da participação na gestão pública e do acesso facilitado às informações de caráter público, os cidadãos podem intervir na tomada da decisão admi-nistrativa, orientando a Administração para que adote medidas que realmente atendam ao interesse público e, ao mesmo tempo,

podem exercer controle sobre a ação do Estado, exigindo que o gestor público preste contas de sua atuação e ampliando, assim, a qualidade democrática daquela sociedade.

Nesse sentido, é imperativo pensar a construção de espaços e mecanismos permanentes em que a participação cidadã se ex-presse na proposição, acompanhamento, supervisão e avaliação das decisões administrativas.

Eixo 2. Mobilidade Urbana

Uma das questões fundamentais no que diz respeito ao Direito à Cidade é a garantia da Mobilidade Urbana. A livre locomoção pelo espaço urbano é um direito previsto constitucionalmente aos cidadãos e cidadãs brasileiros/as, mas para que o direito de ir e vir e o livre trânsito sejam efetivados, é preciso uma série de po-líticas e ações planejadas, integradas e articuladas.

Eixo 3. Educação

Como nos disse Paulo Freire, “se a educação sozinha não muda a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Por isso, pensar um modelo de desenvolvimento pautado na inclusão social e na igualdade de direitos pressupõe um modelo de educa-ção participativo, democrático, baseado numa pedagogia liberta-dora de socialização dos conhecimentos, dos saberes e sua trans-missão e ressignificação, sendo elementos fundamentais também a priorização e ampliação do investimento público na área e a valorização dos trabalhadores e trabalhadoras da educação.

Eixo 4. Saúde

A experiência histórica das sociedades tem demonstrado que saúde e desenvolvimento estão diretamente relacionados. Pensan-do um modelo inclusivo e democrático de cidade, o crescimento econômico não pode estar desatrelado das melhorias dos níveis de saúde e qualidade de vida da população que ali vive. O aumento do volume de riquezas, mesmo que distribuído socialmente, não é suficiente para a garantia de bem-estar social, sendo fundamental para tanto a implementação de políticas públicas de saúde.

ELEIÇÕES 2016

Página 13 publica a seguir trechos do texto de contribuição programática que a tendência petista Articulação de Esquerda apresentou, como parte da preparação do PT e da esquerda de Aracaju (SE) para disputar e vencer as eleições

de 2016. A versão completa do texto está disponível no endereço www.pagina13.org.br

Aracaju: Nossa contribuição

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Eixo 5. Meio Ambiente

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um desafio à sociedade contemporânea e, sobretudo, ao paradigma de con-sumo imposto pelo capitalismo. Desenvolvimento e sustentabi-lidade constituem uma equação em que nem sempre é possível alcançar o consenso, resultado da dicotomia entre conceitos que ora se relacionam, ora se distanciam pelo abismo existente entre o que se discute e o que se pratica.

A execução da Política Nacional de Meio Ambiente, perpas-sando pelo atendimento às definições do Plano Nacional de Sa-neamento Básico e pela implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, deve ser o caminho para a construção de uma relação mais equilibrada com o ambiente. Nesse sentido, os mu-nicípios brasileiros – e especialmente uma cidade como Aracaju, que é entrecortada por rios e caracterizada pela predominância de ecossistemas como manguezais e restingas – devem exercer pro-tagonismo no que diz respeito à implantação dessas políticas.

Eixo 6. Valorização do serviço e do servidor público

Uma gestão pública qualificada e indutora do desenvolvimen-to social se faz com servidores públicos valorizados e com os seus direitos assegurados e com serviços essenciais administra-dos diretamente pelo poder público.

Eixo 7. Trabalho, Emprego e Renda

A Constituição Federal de 1988 estabelece que toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Dentro dos chamados direitos econômicos e sociais, o Direito ao Trabalho deve ser uma preocupação permanente dos gestores públicos de todos os âmbitos do Estado, incluindo os municípios.

Eixo 8. Desenvolvimento Econômico

O desenvolvimento é um processo histórico e complexo, re-sultante da forma de organização social, política e econômica da sociedade. Esse processo, por sua vez, para sua efetiva consoli-

dação, requer que os atores sejam capazes de se organizarem e formulares propostas em torno da promoção do desenvolvimen-to local, sendo desenvolvimento econômico e social entendidos como interfaces do mesmo processo. De um modo geral, a ad-ministração municipal brasileira encontra-se diante de uma po-tencialidade de ações de desenvolvimento econômico ainda não exploradas na medida em que estas têm sido consideradas como funções e competência dos Estados e da União. Atuando mais na área de políticas de uso do solo, poucos municípios têm conse-guido, por exemplo, integrar política urbana e desenvolvimen-to econômico. Porém é preciso compreender que o processo de reestruturação econômica rompe com as integrações regionais, compartilhadas territorialmente, e cria possibilidade de novas in-tegrações do município.

Eixo 9. Política habitacional

A moradia adequada foi reconhecida como direito humano em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tornando-se um direito humano universal, aceito e aplicável em todas as partes do mundo como um dos direitos fundamentais para a vida das pessoas. Vários tratados internacionais após essa data reafirmaram que os Estados têm a obrigação de promover e proteger este direito. Hoje, já são mais de 12 textos diferentes da ONU que reconhecem o direito à moradia. Apesar disso, a implementação deste direito ainda é um grande desafio. Entender moradia como direito significa entender que este integra o direito a um padrão de vida digno. Não se resume a apenas um teto e quatro paredes, mas ao direito de toda pessoa ter acesso a um lar e a uma comunidade seguros para viver em paz, dignidade e saúde física e mental, devendo incluir questões como dispo-nibilidade de serviços, infraestrutura e equipamentos públicos, condições de habitabilidade e adequação cultural.

Eixo 10. Assistência e Inclusão Social

A política de Assistência Social integra o tripé da seguridade social brasileira, em conjunto com as políticas de saúde e de pre-vidência social, e se consolidou como política pública a partir da Constituição Federal de 1988, com a concepção de ser uma obri-gação do Estado para as/os cidadãs/os em situações de vulnerabi-lidade social. Ao longo dos anos, o Sistema Único de Assistência Social se tornou realidade e formatou um sistema de inclusão social que envolve desde a existência de equipamentos públicos que protejam os grupos em vulnerabilidade (envolvendo ausên-cia ou renda insuficiente para manter sua reprodução social, si-tuação de violência, envolvimento com substâncias psicoativas, dentre outros aspectos) até a garantia de trabalhadores/as efetivos via concurso público, como caminho para aumento dos índices de desenvolvimento da política social.

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Eixo 11. Serviços Urbanos

A concretização de uma cidade limpa, organizada e interativa, com a disposição de um conjunto de serviços públicos eficientes e democráticos, é fator preponderante para a melhoria da quali-dade de vida da população local. Nesse sentido, o setor de servi-ços urbanos se caracteriza como um dos mais importantes, dado o seu contato direto e permanente com os cidadãos e cidadãs.

Eixo 12. Segurança Pública

Um dos maiores desafios é a Segurança Pública. Tema que exige uma articulação e integração entre todos os entes federati-vos, incluindo os municípios. Tratada no artigo 144 da Constitui-ção Federal como dever do Estado e direito e responsabilidade de todos/as, a política de segurança pública que seja comprometida com o desenvolvimento social deve não apenas ser um conjunto de mecanismos de prevenção da violência, mas acima de tudo um instrumento de garantia dos direitos e da cidadania.

Eixo 13. Cultura

A Cultura deve ser entendida como um fator estratégico de desenvolvimento de um povo. É por meio da Cultura que mani-festações, tradições, inovação e criatividade se articulam e dão movimento e dinâmica às sociedades. Para tanto, uma política municipal de Cultura deve tratar da preservação do patrimônio e da valorização das diferentes expressões artísticas arte, mas tam-bém, no mesmo grau de importância, das suas dimensões simbó-licas, cidadãs e de desenvolvimento humano.

Eixo 14. Comunicação

Numa gestão pública municipal, a Comunicação deve servir como entendida como um direito humano fundamental para a transparência pública, para o desenvolvimento social e para a va-lorização da cultura local. Nesse sentido, ganha importância uma concepção que entenda a Comunicação não apenas como instru-mento de divulgação das ações do poder público municipal, mas como objeto de políticas públicas.

Eixo 15. Direitos Sociais

Pensar a cidade como uma coletividade inclusiva em que to-das as pessoas, independentemente de classe social, gênero, ida-de, crença, etnia, raça, orientação sexual ou deficiência, sejam reconhecidas como cidadãs e cidadãos, possibilitando os direitos econômicos, sociais, civis e culturais, abolindo quaisquer for-mas de discriminação e segregação, é tarefa democrática para

qualquer administração pública, incluindo as de nível municipal. Entendemos que a garantia dos direitos de grupos em situação de vulnerabilidade social deve ser uma preocupação transversal prevista em todas as áreas de atuação do poder público. Ainda assim, é preciso também pensar políticas específicas que deem conta da garantia dos direitos desses segmentos.

Eixo 16. Ciência e Tecnologia

Um dos maiores desafios na área de ciência e tecnologia é a elaboração e a implementação de uma política de longo prazo que permita ao desenvolvimento científico e tecnológico alcan-çar a população e que efetivamente tenha um impacto determi-nante na melhoria das condições de vida da sociedade. Afirmar isso significa dizer que ciência e tecnologia são áreas estratégicas para o desenvolvimento e, portanto, devem ser encaradas tam-bém como fator de integração das políticas públicas, ganhando relevância as ações de desenvolvimento local em ciência, tecno-logia e inovação.

Eixo 17. Turismo

A atividade turística tem adquirido, a cada ano, maior impor-tância no que diz respeito ao desenvolvimento e crescimento da economia mundial. No Brasil, o turismo é uma das atividades que mais cresce, tendo o potencial de constituir um investimento ini-cial gerador do processo ramificador da economia local, e por ex-tensão, regional. Por isso, o investimento no turismo deve ser visto também como uma alternativa positiva para complementação da economia municipal e para o desenvolvimento da cidade.

Eixo 18. Esporte e Lazer

Esporte e Lazer são instrumentos fundamentais no desenvolvi-mento integral de crianças, jovens e adolescentes, capacitando-os a lidar com suas necessidades, desejos e expectativas, bem como com as necessidades, expectativas e desejos da coletividade, de forma que os mesmos possam desenvolver as competências técni-cas, sociais e comunicativas, essenciais para o processo de desen-volvimento individual e social. Além disso, tanto o esporte quan-to o lazer devem ser encarados como instrumentos pedagógicos, integrado às finalidades gerais da educação, de desenvolvimento das individualidades, de formação para a cidadania e de orientação para a prática social.

ELEIÇÕES 2016

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Depois de muitas vitórias...Após oito anos e seis gestões petistas con-

secutivas no Diretório Central dos Estu-dantes da Universidade Federal de Santa Ma-ria, da construção intensiva de apontamentos do programa democrático e popular para as universidades, e do longo período em que esta entidade esteve comprometida com a constru-ção de uma sociedade justa e igualitária, no dia 8 de Junho de 2016 a direita e seu projeto neoliberal, representada pelos Estudantes Pela Liberdade (EPL), sai vitoriosa do processo eleitoral da entidade dirigente do movimento estudantil santa-mariense.

Esta vitória significa uma derrota aos avanços na construção de uma universidade a serviço da classe trabalhadora, comprometida com as demandas sociais e com a soberania nacional brasileira. Esta vitória significa o retrocesso no que diz respeito ao acúmulo da política de assistência estudantil e democrati-zação do acesso na instituição.

A fundação da Universidade Federal de Santa Maria ocorreu em 1960, sendo a primei-ra instituição de ensino superior do interior do país. A sua organização se deu no modelo norte-americano, em que as instituições eram centralizadas e afastadas dos centros urbanos, estando configuradas como “cidades univer-sitárias”. Este modelo certamente foi um dos principais pilares que favoreceram a organiza-ção do movimento estudantil. Isso, pois, du-rante a ditadura militar as casas de estudantes universitárias eram um dos raros espaços que possibilitavam discussões políticas e o exercí-cio da democracia para eleger representantes.

Na década de 70 a história da luta pela moradia na UFSM foi marcada pela ocupação das mulheres na Casa de Estudantes Univer-sitários II, em que as vagas eram destinadas apenas aos homens. Na década de 80 ocorre-ram ocupações com mais de 2.500 estudantes, conquistando ampliações da moradia univer-sitária. Ao todo, em 21 anos de ocupações conquistou-se 14 blocos de moradia.

Por este histórico, a Assistência Estudantil consolidou-se como pauta prioritária e unitá-ria do movimento estudantil da Universidade Federal de Santa Maria. Tendo como conse-quência o fato de que a UFSM passou a apre-

sentar um dos mais desenvolvidos programas de Assistência Estudantil do país, mesmo que entre 1997 e 2007 as instituições federais ain-da não recebessem recurso federal para tal política.

A consolidação da pauta de assistência es-tudantil no movimento estudantil faz parte do avanço na disputa da universidade pública pe-los/as e para os/as trabalhadores/as. No Brasil as instituições superiores historicamente ser-viram para a formação e demandas das elites sociais. Esse conservadorismo se expressava na falta de democracia de acesso ao ensino superior e falta de qualquer programa que ga-rantisse a permanência daqueles/as que não ti-nham condições de se manter na universidade e exercer, além do ensino, a pesquisa e a ex-tensão, devido a condições materiais. Realida-de que foi se transformando com as políticas de ações afirmativas (a partir de 2003) e com a criação do Programa Nacional de Assistência Estudantil (2007).

Além da luta pela democratização do aces-so e da permanência, o movimento estudantil da UFSM contribuiu com grande parte da ela-boração do programa democrático e popular de universidade, e com a luta pela Reforma Universitária.

A história da universidade brasileira é marcada por reformas universitárias conser-vadoras que transformaram o ensino por vias de interesses do mercado externo. Em 1968, em plena ditadura militar, após grande perío-do de mobilização popular e estudantil pelas reformas de base, incluindo a reforma univer-sitária, o estado implementa uma reforma es-trutural conservadora nas universidades. Esta reforma trouxe a estrutura departamental, que fragmenta e hierarquiza o ensino; ampliou as parcerias público-privadas, que coloca a pro-dução científica pública a servir interesses do mercado; o sistema de crédito que aumenta o divisionismo do ensino e a sua condição pro-dutivista, além de várias outras políticas auto-ritárias, fragmentadas e bancárias em relação ao ensino.

A Universidade Democrática e Popular, apesar de também expressar as contradições sociais e históricas, apresenta-se como uma instituição com potencial transformador. Em outros termos, ao contrário do modelo bancá-rio predominante hoje no Brasil, que trabalha para a manutenção do status quo social, o mo-delo democrático e popular trabalha a partir da superação das contradições sociais e eman-cipação dos povos a partir da produção de um conhecimento crítico e socialmente útil.

O movimento estudantil de Santa Maria protagonizou diversas outras pautas na uni-versidade e no município, como a organização pela redução da tarifa do transporte coletivo. Com muita mobilização e organização estu-dantil, por volta dos anos 80 conquistou-se a meia passagem para as/os estudantes. Des-taca-se também a organização e os avanços nas pautas de voto universal ou paritário para eleições de gestão de reitoria; democratização da gestão, a partir da participação estudantil dos espaços de decisão e reivindicação da pa-ridade nos conselhos superiores; inserção dos movimentos sociais na vida universitária, a partir da construção de projetos de extensão, ações, debates, pesquisas etc. em conjunto com o MST e demais movimentos do campo, MNLM e demais movimentos urbanos, movi-mento negro, indígena, de saúde, de mulheres, LGBT. O vínculo do movimento estudantil, a partir do DCE, também se dava para além de

Pamela Kenne*

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parcerias universitárias, as/os próprios mem-bros muitas vezes foram também parte de co-letivos e movimentos sociais.

A presença santa-mariense também se consolidou na construção do movimento es-tudantil nacional: em congressos e encontros da UNE, do movimento das casas de estudan-tes universitários, de executivas de cursos etc. O ME da UFSM esteve presente na luta pela redemocratização do país e nos debates da Constituinte, na disputa da educação do Bra-sil, na campanha Fora Collor, e na resistência ao projeto neoliberal de educação que trouxe reflexos intensos à UFSM – com a luta contra o Provão, o contingenciamento de recursos e a política de autonomia financeira de FHC.

Diante do acúmulo e da importância do Diretório Central dos Estudantes da UFSM para a organização do movimento estudantil nacionalmente, ter em sua direção uma ges-tão representante do projeto neoliberal de so-ciedade e educação é preocupante. Soma-se a isso o atual cenário de golpe contra o povo brasileiro – o impeachment forjado à primeira mulher presidente do Brasil, eleita e reeleita com o voto do povo, sem comprovação de ne-nhum crime de responsabilidade pelo qual foi acusada, com o objetivo de estagnar o com-bate à corrupção; a entrega da exploração do Pré-sal e demais patrimônios públicos; a pri-vatização de serviços públicos; o corte de re-cursos destinados a políticas sociais; o ataque aos direitos das/os trabalhadores/as, como o congelamento do salário mínimo e a reforma da previdência, e a redução drástica no inves-timento em educação e saúde.

Este cenário de golpe e ascensão do con-servadorismo tem bastante influência dentre os setores da juventude, incluindo o movi-mento estudantil. As manifestações de junho de 2013 demonstraram o interesse dos seto-res da direita na organização da juventude, e na construção da mobilização desta a partir dos aparelhos ideológicos. Bem como essa ampliação da inserção de representantes do projeto neoliberal nas entidades estudantis demonstraram que as organizações conserva-doras estão descobrindo cada vez mais possi-bilidades de capilarização entre os e as jovens.

Que sirva de alerta ao movimento estudan-til nacional e a própria direção da União Nacio-nal dos Estudantes: se não acertarmos no tom, com unidade, seriedade e comprometimento com a nossa base social, estare-mos ampliando o espaço de inserção da direita en-tre os/as estudantes.

Neste momento é fun-damental que a UNE e as demais entidades estudantis cumpram com o papel de disputar a consciência daqueles/as estudantes que serão prejudicados com o programa golpista – re-presentado, em grande parte, no documento “Ponte para o Futuro” -, com o fim da obriga-toriedade orçamentária pelo estado no inves-timento da educação pública; com os cortes na educação, gerando cortes no Programa Na-cional de Assistência Estudantil, nos progra-mas PROUNI e FIES; com o pagamento de mensalidades para cursos de especialização e extensão; com a flexibilização da inserção de setores privados nas universidades públicas etc.

Estes estudantes podem receber estas po-líticas destrutivas com uma visão errônea de que é culpa “da política brasileira”, sem fazer o recorte e a polarização necessária entre os

projetos de sociedade colocados em disputa. Ou seja, se a UNE insistir em não realizar as-sembleias gerais para debater o golpe e a edu-cação; não organizar ações locais e caravanas, construindo, conjuntamente com outros seto-res da educação, a possibilidade de paraliza-ções nacionais com a pauta unificada de “Não ao Golpe, Fora Temer” e em defesa da educa-ção; não organizar os e as estudantes contra os cortes na educação pública, contra o corte nos programas sociais de ensino superior, contra o pagamento de mensalidades nas instituições públicas, em defesa do Pré-sal e a destinação de seus recursos para a educação pública, e em defesa da Assistência Estudantil e da Re-forma Universitária Democrática e Popular... Perderá o curso da história e a possibilidade de avançar na democratização da educação.

Segue o alerta: que a direção da UNE não deixe de fazer o que deve ser feito para cair no conto da chamada das eleições gerais de for-ma inconsequente ou mesmo oportunista. Isso apenas confundiria os e as estudantes, reduzi-ria o seu potencial de disputa para o lado de cá da trincheira, e beneficiaria a base estudantil que legitima o golpe e concorda com o projeto liberal de educação.

As eleições gerais serão pautadas por essa nova gestão do Diretório Central dos Estudan-tes da UFSM, que ganhou com um discurso liberal e travestido da hipocrisia chamada de “apartidarismo”.

Pamela Kenne é diretora da União Na-cional dos Estudantes e foi coordenado-ra do DCE da UFSM.

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