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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL TENOPLASTIA EXPERIMENTAL DO CALCÂNEO COMUM EM CÃES COM PERITÔNIO BOVINO CONSERVADO EM GLICERINA A 98%. JOÃO MOREIRA DA COSTA NETO ORIENTADOR: PROF. Dr. CARLOS ROBERTO DALECK Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias do Câmpus de Jaboticabal - UNESP, para obtenção do Título de Mestre em Medicina Veterinária - Área de concentração em cirurgia veterinária. JABOTICABAL - SP 1997

TENOPLASTIA EXPERIMENTAL DO CALCÂNEO COMUM EM … · utilização do peritônio bovino conservado em glicerina a 98%, no ... 21 cães, adultos, sem raça definida, machos e fêmeas,

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS

CÂMPUS DE JABOTICABAL

TENOPLASTIA EXPERIMENTAL DO CALCÂNEO

COMUM EM CÃES COM PERITÔNIO BOVINO

CONSERVADO EM GLICERINA A 98%.

JOÃO MOREIRA DA COSTA NETO

ORIENTADOR: PROF. Dr. CARLOS ROBERTO DALECK

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias do Câmpus de Jaboticabal - UNESP, para obtenção do Título de Mestre em Medicina Veterinária - Área de concentração em cirurgia veterinária.

JABOTICABAL - SP 1997

1

A meus pais Brivaldo e Maria Lúcia

A minha tia Glaúcia

A meus “filhos” Monique e Adriano

2

Àqueles que, na ânsia de aprender,

fizeram-me prosseguir na árdua labuta do saber,

meus alunos.

AGRADECIMENTOS

3

- Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Daleck, mestre e amigo, pela

colaboração e orientação em todas as fases deste trabalho;

- Ao Prof. Dr. Antonio Carlos Alessi, pela amizade e inestimável

colaboração;

- Ao Prof. Dr. João Gulherme Padilha Filho, pela amizade e valiosas

sugestões apresentadas;

- Ao Prof. Jaime Alves Silva, pelas condições que nos

proporcionaram no Laboratório de Microscopia Eletrônica.

- Ao Conselho Nacional de Pesquisas - CNPQ, pela concessão da

bolsa de estudos;

- Ao Departamento de Medicina Interna, Cirurgia e Reprodução

Animal da Universidade Federal da Paraíba, pelo apoio e liberação

para realizar o curso de mestrado, particularmente aos professores

Pedro Isidro, Marcelo Sá, Onaldo Guedes Pereira e Sérgio Ricardo.

- Ao Prof. José Dantas Ribeiro Filho pela amizade e estímulo;

- À supervisào e aos funcionários do H.V., particularmente ao

Arnildo, Antonio e Anésia, pela obtenção e manutenção dos animais

utilizados neste trabalho.

- As técnicas do laboratório de anatomia patológica, Francisca e Inês

pelo auxilio no processamento das amostras.

4

- A técnica do laboratório de microscopia eletrônica, Claudinha, pela

inestimável colaboração;

- Ao fotografo Claúdio pela amizade e auxilio na realização do

trabalho fotográfico.

- A Bibliotecária Tieko Takamiya Sugahara pela correção das

“Referencias Bibliográficas”;

- Aos irmãos da Republica “Filomena”, sem os quais, o caminho teria

sido demasiadamente árduo.

- Ao João Pessoa e Fabiana pela amizade, companheirismo e apoio.

- Aos amigos, Graça, Clodoaldo, Patrício, Eliane, Rosane e Albério,

pelos bons momentos;

- Aos companheiros da pós-graduação, Celso, Eraldo e Olísio pela

excelente convivência;

- As amigas Gisleine e Adriana, pelo estímulo e eterna amizade.

- Aos amigos Beto, Eliane, Juliana e Larrisa, pela amizade, apoio e

compreensão nos momentos difíceis.

- A todos que direta ou indiretamente, contribuíram para realização

deste trabalho.

DADOS CURRICULARES DO AUTOR

5

JOÃO MOREIRA DA COSTA NETO, nascido em 16 de

abril de 1965, em João Pessoa, PB,. Médico Veterinário formado

pela Universidade Federal da Paraíba - Centro de Saúde e

Tecnologia Rural, em maio de 1988. Professor Auxiliar III, lotado no

Departamento de Medicina Interna, Cirurgia e Reprodução Animal do

Centro de Saúde e Tecnologia Rural - UFPB.

RESUMO

6

Título: Tenoplastia Experimental do Calcâneo Comum de cães

com peritônio bovino conservado em glicerina a 98%

Autor: João Moreira da Costa Neto.

No presente estudo avaliou-se experimentalmente a

utilização do peritônio bovino conservado em glicerina a 98%, no

reparo de lesões induzidas no tendão calcâneo comum de cães.

Utilizaram-se, 21 cães, adultos, sem raça definida,

machos e fêmeas, com peso compreendido entre 10 e 15 kg,

subdivididos aleatoriamente em sete grupos de três animais cada,

sacrificados aos 02, 07, 15, 30, 60, 90 e 120 dias de observação

pós-operatória.

Analisaram-se os aspectos clínico-cirúrgicos referentes a

recuperação funcional motora, bem como, a integração da

membrana com o tecido tendíneo, mediante avaliação

macroscópica, por microscopia óptica e por microscopia eletrônica

de varredura.

Concluiu-se, com base nos aspectos morfológicos, que o

peritônio estimulou uma rápida deposição de tecido conjuntivo com

mínima reação inflamatória, sendo incorporado ao tecido cicatricial e

7

servindo como alicerce para o desenvolvimento de um novo tecido,

restabelecendo assim a estrutura do tendão.

Do ponto de vista clínico, o “neotendão” apresentou

resistência suficiente para suportar o estresse normalmente aplicado

ao tendão calcâneo comum.

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1. INTRODUÇÃO

A constante preocupação em tentar minimizar os danos

decorrentes das injúrias de tendões e ligamentos, têm sido objeto de

estudo, tanto na Ortopedia Humana como na Veterinária.

Inúmeras técnicas vem sendo desenvolvidas com o

intuito de proporcionar satisfatória cicatrização tecidual com mínima

formação de aderência, principalmente naqueles casos em que a

aposição das extremidades não é possível.

A ruptura crônica do tendão calcâneo comum, que figura

como umas das mais freqüentes injúrias tendíneas observadas em

cães, geralmente apresentam esse tipo de problema.

As membranas biológicas preservadas em glicerina, têm

sido amplamente utilizadas para reparação de inúmeras alterações

anatômicas e patológicas nas diferentes espécies. Porém, sua

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utilização em aplicações músculo-esqueléticas, particularmente nas

lesões do tendão calcâneo comum, ainda é pouco estudada.

Revendo a bibliografia, não detectou-se nenhuma citação

a respeito da utilização do peritônio bovino na reparação do tendão

calcâneo comum ou de quaisquer outros. Uma vez que essa

membrana biológica já se mostrou viável em outras especialidades

cirúrgicas, decidiu-se investigar seu emprego nestes casos.

Dessa forma, objetivou-se, no presente estudo, avaliar

experimentalmente o emprego do peritônio bovino conservado em

glicerina a 98% no reparo de lesões induzidas no tendão calcâneo

comum em cães.

10

2. REVISÃO DA LITERATURA

Na ortopedia e traumatologia humana a preocupação

em evitar a formação de aderências e manter a capacidade de

deslizamento dos tendões, têm sido alvo constante de estudos para

o desenvolvimento de novas técnicas e utilização de diferentes

materiais para reparação de tendões danificados, principalmente no

que se refere à cirurgia reparadora de ligamentos e tendões das

mãos. Na cirurgia ortopédica Veterinária, as aderências também têm

papel importante entre as considerações cirúrgicas, principalmente

em algumas espécies, como os eqüinos, caninos e felinos, talvez,

pelo tipo de atividade que desempenham (CLARK,1993).

Dentre as injúrias tendíneas mais freqüentemente observadas

no cão, encontram-se as lesões do mecanismo de Aquiles onde a

11

ruptura do tendão calcâneo comum é relatada com freqüência

(BRADEN, 1974; BRADEN, 1976; BREE, 1982; REINKE, 1982;

TOMLINSON, 1982; BONNEAU, 1983; GILMORE, 1984; BRINKER,

1990; REINKE, 1990; REINKE,1994).

Em cães, as rupturas do tendão calcâneo comum podem

ser parciais ou totais (POWER, 1981), agudas ou crônicas,

envolvendo todos ou partes dos três componentes tendíneos,

podendo ocorrer em qualquer ponto entre a junção músculo-

tendínea e o tubérculo do calcâneo (REINKE, 1982).

De acordo com POWER (1981) as rupturas parciais

geralmente acontecem na junção músculo-tendínea, e as rupturas

totais, ocorrem com maior freqüência próximo à inserção do tendão

junto ao tubérculo do calcâneo. Ainda, segundo o autor, a etiologia

das injúrias tendíneas podem estar relacionadas com a idade do

animal, uma vez que com o envelhecimento ocorre uma certa

degeneração dos tendões e eventualmente, uma moderada

contração pode resultar em ruptura. Essa hipótese também é

defendida por BRINKER (1990) e por REINKE (1993).

Muitas injúrias tendíneas se desenvolvem durante

corridas, provavelmente, quando os animais esforçam o membro

pélvico para apoio. Nos cães, as raças susceptíveis a este tipo de

12

injúria são as de grande porte, as esportivas e as de trabalho,

geralmente com mais de cinco anos de idade (BRINKER, 1990).

REINKE (1993) sugeriu que a etiologia da ruptura do

tendão, junto à sua porção tendínea, em fêmeas caninas idosas,

assim como ocorre em mulheres idosas, pode estar relacionada a

fatores que incluem: (i) osteoporose, (ii) hipotireoidismo, (iii) excesso

de peso, (iv) altas dosagens de corticóides e (v) vida sedentária

associada à inatividade. Todos esses fatores causam diminuição do

suprimento sangüíneo e subseqüente degeneração do tendão com

alteração na matriz colágena. Observou ainda que as fraturas

avulsivas de cães com menos de dois anos de idade, estão

associadas à incompleta maturação do osso no sítio de inserção do

tendão.

ARNER & LINDHOLM (1959) estudaram as mudanças

histológicas ocorridas após a ruptura do tendão calcâneo comum em

74 pacientes humanos e concluíram que as mudanças

degenerativas observadas, não foram secundárias ao dano do tecido

traumatizado, e sim, devido à ocorrência de rupturas das partes

livres do tendão. Porém, não puderam fornecer informações

definitivas a respeito destas mudanças degenerativas, sugerindo que

13

danos ao suprimento sangüíneo poderiam ser responsáveis por tais

mudanças.

Outros autores (GELBERMAN, 1984; MOUTINHO,1989;

BRADLEY, 1992; MORI,1996) corroboram com a hipótese

anteriormente descrita de que a diminuição do suprimento

sangüíneo no tendão calcâneo comum que ocorre após a terceira

década de vida, pode ser considerado fator desencadeante; e

explica a ocorrência natural de certas mudanças no tecido tendíneo

com o avanço da idade em humanos. Segundo esses autores outros

fatores também levam a diminuição da resistência do tendão, ou

seja, doenças reumáticas, infecções sistêmicas e aumento do

estresse implicado por exercícios extremos.

A cicatrização tendínea subsequente ao trauma segue,

segundo CLARK (1993) padrão similar ao da maioria dos outros

tecidos conjuntivos, sendo bem definida em relação ao tempo

necessário para perfeita união e resistência cicatricial após a união

das extremidades tendíneas por meio de suturas.

De acordo com RAIZER (1995), na primeira semana o

processo cicatricial se inicia com brotamentos capilares e invasão de

fibroblastos indiferenciados a partir do paratendão e tecidos

adjacentes. Por volta do terceiro dia já ocorre síntese de colágeno e

14

substância fundamental. Na segunda semana, a reação vascular,

assim com a proliferação fibroblástica e produção de colágeno,

alcançam seu pico máximo. Na terceira e quarta semanas as fibras

de colágeno próximas às extremidades tendíneas orientam-se

longitudinalmente e aquelas no centro da ferida cicatricial

permanecem desorganizadas e perpendiculares às linhas de

estresse. O estágio de remodelamento ocorre a partir da quarta

semana estendendo-se até a vigésima, havendo redução na massa

cicatricial conforme o processo de colagenólise e de produção de

colágeno direcionam as fibras de colágeno num plano paralelo ao

eixo longitudinal do corpo do tendão. Esta organização que confere

resistência à tensão é dependente de movimentação do tendão para

enfraquecer as aderências aos tecidos adjacentes

Segundo CLARK (1993) por mecanismos que ainda dependem

de esclarecimentos, a aplicação de força naturalmente direcionada e

sustentável ao tecido colágeno em processo de cicatrização induz ao

realinhamento das fibras de colágeno. Posteriormente, o

remodelamento da cicatriz diminuirá o número e a rigidez das

aderências que por ventura se formarem, melhorando assim os

resultados funcionais.

15

Em virtude do comportamento cicatricial tendíneo várias

pesquisas têm sido desenvolvidas, tanto na Ortopedia Humana

como na Veterinária com o objetivo de preservar a capacidade de

deslizamento do tendão. Dessa maneira SRUGI & ADAMSON

(1972) compararam histologicamente a reação tecidual de dez

diferentes tipos de fios de sutura colocados em tendão flexor de cães

e concluiram que: (i) o melhor material de sutura pode ser o náilon

se o critério da reatividade tecidual for o padrão fundamental de

julgamento; (ii) que o fio de aço inoxidável e outras suturas sintéticas

têm comportamento semelhante, embora outros fatores como

trauma tecidual, aperto do nó e edemaciação da região devam ser

considerados e (iii) que suturas trançadas produzem uma grande

resposta celular tecidual que pode ser explicada devido a maior área

de superfície de material estranho exposto.

ARON (1981) propôs um novo tipo de sutura para

tendões, “o ponto modificado de Kessler”, também chamado de

“loocking loop”. Esse padrão de sutura é de fácil aplicação, utiliza

pouco material e requer poucas penetrações. Assim, minimiza o

comprometimento da microcirculação promovendo menor formação

de tecido cicatricial e conseqüente diminuição de aderências.

TOMLINSON & MOORE (1982) utilizaram esse padrão de sutura

16

para o reparo de rupturas de tendão calcâneo comum no cão e

verificaram que, ao contrário da sutura de “Bunnell”, possui as

vantagens de preservar o suprimento sangüíneo intrínseco do

tendão, promover boa reaproximação das extremidades, além de ser

de simples e rápida aplicação. Por essas vantagens, minimizam a

formação de aderências. Os autores também recomendaram sua

utilização em outros tipos de injúrias de tendão.

GILMORE et al. (1984) descreveram o uso da sutura

com fio de aço multifilamentado “barbed” para reparo de lacerações

ou rupturas do tendão do calcâneo em cães, com fixação temporária

da articulação por meio de parafuso de osso esponjoso. Verificaram

que este tipo de sutura, apesar da facilidade de implantação, mínimo

manuseio de tecidos e colocação de pouca quantidade de material

de sutura não reativa. Não apresentou boa aposição das

extremidades tendíneas na maioria dos casos, embora os animais

tenham recuperado o uso funcional do membro após o processo de

cura.

Todos os tratamentos cirúrgicos para rupturas do tendão

calcâneo em cães têm em comum a imobilização temporária da

articulação társica em parcial extensão para diminuir a tensão e

promover uma revascularização precoce. Assim, BONNEAU (1983)

17

utilizou cerclagem com fio de aço para imobilização da articulação

társica em 145 graus de extensão por um período de seis semanas.

A imobilização dessa articulação num ângulo de aproximadamente

135 graus (ângulo de 45 graus entre o tubérculo do calcâneo e a

tíbia) com auxílio de um parafuso de osso esponjoso, passado

através do tubérculo do calcâneo e fixado à porção distal da tíbia é o

método mais empregado por diversos autores, principalmente em

cães de porte grande e obesos (BRADEN, 1974 e 1976 ;

VAUGHAN, 1978; KELMAN , 1983; TOMLINSON & MOORE,1982;

GILMORE et. al.,1984; REINKE, 1994) Quanto ao período de

permanência do parafuso para esse tipo de imobilização, há certa

divergência entre os autores, variando de três (TOMLINSON &

MOORE,1982; REINKE, 1994) a oito (BRADEN, 1974) semanas. De

acordo com BRADEN (1974), o parafuso para osso esponjoso é o

mais recomendado pois utilizando-se o parafuso de osso cortical

corre-se o risco de, no momento de sua introdução, haver lesão no

tendão flexor digital profundo e na veia safena.

A imobilização externa associada à imobilização interna,

assim como a restrição da atividade física, são indicadas para evitar

o estresse excessivo durante o período de remodelamento

secundário e podem permanecer por mais algumas semanas após a

18

remoção da imobilização interna. Em contra-partida, esse tipo de

imobilização pode ser aplicada isoladamente em cães pequenos e

em gatos (BRADEN, 1974; BLOOMBERG,1993 , REINKE, 1994).

BREE (1982) empregou um método de imobilização

temporária da articulação társica, por transfixação externa, onde dois

pinos de Steinmann são transpassados na porção distal da tíbia e no

tubérculo do calcâneo e conectados lateral e medialmente com

acrílico por um período de sete semanas. Posteriormente HANN et

al. (1995) empregaram o mesmo método de imobilização em quatro

cães, por um período de seis semanas. Na opinião dos autores,

esse é um efetivo método temporário de imobilização da articulação

társica para proteção da cicatrização de tenorrafias do tendão

calcâneo comum em cães.

GALLAGHER et al. (1992) testaram as indicações e

eficácia da bota de fixação externa para suporte de vários reparos

cirúrgicos envolvendo a tíbia e o tarso. Segundo os autores, apesar

de algumas complicações encontradas, como, necrose da pata

devido a mau posicionamento da bota, deslocamento do pino fixado

à bota, desinserção do pino ao osso e contaminações, esse método

promoveu adequado suporte e proteção para sustentação de peso

após procedimentos cirúrgicos em 95% dos 21 casos analisados.

19

Uma das grandes dificuldades encontradas para o reparo

de tendões flexores, têm sido em situações em que há perda de

substância com conseqüente não união das extremidades tendíneas.

Tal situação têm despertado o interesse de vários autores, no

sentido de encontrar um material que seja adequado à cicatrização

do tendão lesado, com resistência suficiente, sem alterar seu

comprimento e manter sua capacidade de deslizamento. Assim,

CORDREY (1963) comparou em tendão calcâneo comum de

coelhos, o comportamento de enxertos autólogos frescos e

homólogos preservados em timerosal, etanol ou por liofilização e

concluiu que independentemente do método de transplantação ou

preservação este é um método viável para reparação tendínea.

MAGNAGHI et al. (1994) realizaram estudo experimental

do processo de integração e cicatrização dos enxertos tendíneos

homólogos liofilizados em coelhos. Esses autores observaram que o

processo de integração do enxerto se dá através de neoformação

vascular, invasão de células mesenquimais e organização de fibras

colágenas, dando ao enxerto características de tendão próxima ao

normal a partir da oitava semana da reconstrução. Relatam também

que a utilização de tecidos liofilizados proporciona bons resultados,

20

com as vantagens de diminuir a capacidade antigênica do tecido e

permitir sua preservação à temperatura ambiente.

Várias próteses tem sido empregadas no reparo do

tendão calcâneo comum, entre elas, a fibra de carbono é bastante

utilizada. VAUGHAN et al. (1978, 1985) empregaram filamentos

trançados de carbono para substituir o tendão calcâneo comum e

ligamentos laterais do joelho de cavalos, cães, ovelhas e coelhos

verificaram que após o período de cicatrização, o carbono

implantado foi encoberto por tecido semelhante ao tendão e após

um ano, o novo tecido se assemelhava, macroscópica e

histologicamente, ao tendão normal.

O reparo da ruptura crônica do tendão calcâneo comum

em cão, utilizando o implante de fibra de carbono, foi também

relatado por KELMAN (1983).

AMSTUTZ et al. (1976) estudaram a aplicação de malha

de dacron e silicone para reconstrução do tendão calcâneo comum e

do tendão patelar de cães, porém verificaram que apesar dessa

prótese fornecer um bom suporte para regeneração do tecido

tendíneo, os resultados, particularmente no tendão calcâneo não

foram satisfatórios.

21

As membranas biológicas, principalmente as

preservadas em glicerina têm sido amplamente utilizadas para

reparação de inúmeras alterações anatômicas e patológicas nas

diferentes espécies. Os primeiros relatos datam de l964, quando

PIGOSSI, utilizou dura-máter homóloga conservada em glicerina, em

cães e demonstrou ser a glicerina um excelente meio de

conservação e esterilização, possuindo inclusive a propriedade de

diminuir a antigenicidade do implante. Segundo o autor a glicerina é

fixador e desidratante de atuação rápida, substituindo a maior parte

da água intracelular, sem, entretanto, alterar a concentração iônica

das células; por este motivo, ela atua como eficaz protetor da

integridade celular em tais circunstâncias. Aumenta-lhe a resistência

à tração e não altera sua elasticidade. Age, ainda, como poderoso

anti-séptico, frente as variadas amostras de germes, patogênicos ou

não, exceto contra as formas esporuladas.

De acordo com ALVARENGA (1992) as membranas

biológicas consistem em implantes de natureza orgânica, livres,

inertes, de aplicação ortotópica ou heterotópica, autológos,

isogênicos, halogênicos ou xenólogos, por serem constituídos quase

exclusivamente por colágeno, apresentam baixa antigenicidade.

Suas aplicações são as mais variadas, pois sua utilização preenche

22

requisitos de disponibilidade, baixo custo, preparo simples,

esterilização viável, facilidade de estocagem e utilização e mínima

reação histológica ou tecidual.

A principal finalidade das membranas biológicas, assim

como dos implantes sintéticos é de fornecer um arcabouço para o

desenvolvimento de um novo tecido, restabelecendo a estrutura do

órgão afetado. Estas membranas podem ser obtidas de diferentes

espécies e conservadas em glicerina 98%, mantidas em temperatura

ambiente, o que facilita seu emprego em qualquer situação e

ambiente, pois dispensa meios de conservação de custo elevado e

difícil transporte. (BATISTA et al., 1997)

Desse modo, a reparação da parede torácica em cão, foi

estudada utilizando-se centro frênico de eqüino por ALVARENGA et

al (1980) e com pericárdio eqüino por STOPIGLIA et al. (1986),

ambos preservados em glicerina a 98%.

BARROS (1980) empregou fragmentos de pericárdio de

eqüino preservado em glicerina na substituição de porção da parede

da bexiga de cães.

DALECK et al. (1986) estudaram a viabilidade da

utilização de peritônio de bovino conservado em glicerina a 98%

como enxerto autólogo e homólogo, como solução de determinadas

23

enfermidades ou anomalias que requeiram a retirada de um retalho

esofágico, na espécie canina. Mais recentemente, ALMEIDA et al.,

(1996) utilizaram com o mesmo intuito e na mesma espécie o

pericárdio de caprino, conservado em glicerina a 98% ou refrigerado

em solução fisiológica a 0,9%.

RANZANI et al. (1986) utilizaram experimentalmente

implante de pericárdio eqüino preservado em glicerina a 98% na

correção de lesões diafragmáticas em cães. Experimento

semelhante foi realizado por DALECK et al. (1988) empregando

peritônio bovino também preservado em glicerina a 98%.

LANTZMAN (1986) empregou experimentalmente o

pericárdio de eqüino conservado em glicerina na reparação cirúrgica

do duodeno de cães.

A utilização do peritônio de bovino conservado em

glicerina para a reparação das hérnias perineais em cães foi relatada

por DALECK et al (1992).

Poucos estudos, relatam a utilização de membranas

biológicas em aplicações músculo-esqueléticas. ALVARENGA et al.

(1992) utilizaram o pericárdio de eqüino conservado em glicerina

98% na substituição do ligamento cruzado anterior ou cranial do cão.

24

BRADEN (1976) recomendou o transplante de fáscia lata

autólogo para reparo de defeitos crônicos na junção músculo-

tendínea do tendão calcâneo comun. Empregando inicialmente uma

sutura temporária de “Bunnell-Mayer” para diminuir o intervalo entre

as extremidades, o autor utilizou o transplante de fáscia lata para

recobrir o déficit deixado após a remoção da sutura. Dessa forma,

um retalho de fáscia lata, colhido da face lateral da coxa foi

transplantado para o sítio do defeito, onde recobriu de maneira

circunferêncial as extremidades do tendão sendo em seguida

suturado com sutura simples em pontos separados e sutura

horizontal de colchoeiro. Posteriormente, a articulação társica foi

fixada num ângulo de aproximadamente 135 graus com auxílio de

um parafuso para osso esponjoso. O autor concluiu ser esta técnica

uma boa forma de tratamento para as rupturas de tendões, em que a

anastomose término-terminal não pode ser consumada e que o tipo

de imobilização interna favoreceu a cicatrização tendínea.

HOLZCHUH et al. (1990) verificaram experimentalmente

a viabilidade do uso de pericárdio eqüino conservado em glicerina na

substituição parcial do tendão de Aquiles em coelhos.

Histologicamente, foi observado aos 30 dias uma delaminação e

destruição total do pericárdio, sendo o mesmo substituído por

25

intenso infiltrado inflamatório e proliferação de tecido conjuntivo

adjacente ao redor da membrana, aos 50 dias observaram áreas

ocupadas por infiltrado inflamatório invadidas por tecido conjuntivo

neoformado, do tipo frouxo, grande número de vasos neoformados e

restos de pericárdio tendendo ao desaparecimento. Aos 200 dias,

notou-se a presença de tecido conjuntivo denso que substituiu

totalmente o pericárdio, refazendo o tendão primitivo. Relataram

ainda que os animais retornaram suas atividades funcionais,

principalmente aqueles que foram sacrificados após 200 dias.

SILVARES (1990) investigou em ratos adultos, a

substituição do tendão calcâneo por pericárdio bovino tratado pelo

glutaraldeído. Foram analisados os achados anatomopatológicos em

sete momentos, e realizados estudos de resistência cicatricial

através de testes de ruptura em cinco momentos diferentes.

Concluíram, com base no estudo anatomopatológico, que nas

primeiras semanas, ocorre processo inflamatório com tecido

granulomatoso seguido de fibroplastia que, no decorrer do tempo vai

organizando-se e diferenciando-se em tecido fibrótico com focos de

metaplasia cartilaginosa e óssea. Com relação ao teste de

resistência, o estudo comparativo da força de ruptura entre os lados

operado e controle mostrou que, nas primeiras semanas, a

26

resistência à ruptura foi maior no lado controle, tornando-se, ao final

do experimento, igual nos dois lados ou mesmo maior no lado

operado. Sugerem possibilidade da utilização do pericárdio bovino

tratado pelo glutaraldeído na substituição de tendões e ligamentos

lesados no homem.

Mais recentemente BADYLAK et al. (1995) avaliaram as

propriedades remodelantes de submucosa de intestino delgado de

suíno como biomaterial para reparo de tendão do tendão calcâneo

comum em cães. Verificaram que o material xenogênico estimula

uma rápida deposição de tecido conjuntivo, que torna-se organizado

ao longo do eixo de estresse, sendo o mesmo rico em hidroxiprolina,

compatível com colágeno e proteoglicanos, o qual é destruído e

removido do sítio de implante, deixando apenas tecido conjuntivo de

substituição derivado do hospedeiro, que possui as características

morfológicas e funcionais do tendão. Concluíram que o material

serviu como alicerce que estimulou a deposição orgânica de tecido

conjuntivo.

Revendo a bibliografia, não detectou-se citação a

respeito da utilização do peritônio bovino como reforço, ou em

substituições a tendões e ligamentos. Uma vez que esta membrana

biológica já se mostrou viável em outras especialidades cirúrgicas,

27

decidiu-se investigar experimentalmente sua aplicação e seu

comportamento na reparação de lesões do tendão calcâneo comum

em cães.

Desta forma, este estudo tem por objetivo a avaliação

experimental do emprego do peritônio bovino, conservado em

glicerina a 98%, no reparo de lesões induzidas no tendão calcâneo

comum, visando a obtenção de informações sobre aspectos clínicos,

cirúrgicos, recuperação funcional motora dos animais, e também a

respeito de sua integração com o tecido tendíneo.

28

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1- Animais

Neste estudo foram utilizados 21 cães, machos e

fêmeas, sem raça definida, adultos, com peso compreendido entre

10 e 15 quilogramas, clinicamente sadios, fornecidos pelo Hospital

Veterinário Governador Laudo Natel da Faculdade de Ciências

Agrárias e veterinárias de Jaboticabal - UNESP.

Os animais passaram por um período de observação

clínica, foram vermifugados e receberam vacina anti-rábica,

alimentação balanceada e água “ad libitum ”.

3.2. Grupos experimentais

29

Os cães foram divididos, aleatoriamente em sete

grupos de três animais cada um e submetidos a procedimento

cirúrgico com implante do peritônio de bovino, conservado em

glicerina a 98%, para substituição de um segmento de tendão

calcâneo comum.

Os animais foram identificados conforme período

de observação pós-cirúrgico pelo qual passaram, conforme descrito

abaixo :

GRUPO I - Os animais foram sacrificados após 48 horas

de observação pós-cirúrgica.

GRUPO II - Os animais foram sacrificados após 7 dias de

observação pós-cirúrgica.

GRUPO III - Os animais foram sacrificados após 15 dias

de observação pós-cirúrgica.

GRUPO IV - Os animais foram sacrificados após 30 dias

de observação pós-cirúrgica.

GRUPO V - Os animais foram sacrificados após 60 dias

de observação pós-cirúrgica.

GRUPO VI - Os animais foram sacrificados após 90 dias

de observação pós-cirúrgica.

30

GRUPO VII - Os animais foram sacrificados após 120

dias de observação pós-cirúrgica.

3.3 Membrana biológica (Peritônio)

O peritônio utilizado foi obtido após sacrifício de um

bovino isento de doenças infecciosas, parasitárias ou outras

afecções sistêmicas. Após colheita, a membrana foi devidamente

lavada em água corrente , acondicionada em frasco estéril, ao qual

foi adicionado glicerina 1 a 98%, e mantida à temperatura ambiente.

Estando apta para uso após um período mínimo de 30 dias.

3.4. Procedimento cirúrgico

Os cães foram avaliados clínica e laboratorialmente

(hemograma completo) no pré-operatório. Após constatação do

estado de saúde dos animais, estes passaram por um período de

jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 6 horas, e receberam

antibioticoterapia à base de ampicilina benzatina2 na dosagem de 25

1Glicerina a 98 % - Apotheker Química e Farmacêutica Ltda. 2Optacilin - BYK Química e Farmacêutica Ltda

31

mg/kg de peso corporal (PC), por via subcutânea, 20 minutos antes

do procedimento cirúrgico.

A medicação pré-anestésica foi feita com tranqüilizante

do grupo dos fenotiazínicos, a acepromazina1, na dose de 0,1 mg/kg

(PC) por via intravenosa. Em seguida foi realizada a tricotomia e

limpeza da região a ser abordada cirurgicamente.

Para indução e manutenção da anestesia foi utilizado

barbitúrico , o tiopental sódico,2 na dosagem de 12,5 mg/kg (PC) por

via intravenosa, com complementações no decorrer do ato

operatório, mantendo o paciente no 2o plano do 3o estagio de

Guedel.

Retalhos de peritônio, foram removidos do frasco com

glicerina 10 minutos antes do implante e colocados em uma placa

estéril contendo soro fisiológico, acrescido de polivinilpirolidona3 na

concentração de 0,1%. Sendo em seguida preparado um retalho de

2 cm de comprimento por 1,5 cm de largura.

Com o animal em decúbito lateral direito, o membro

pélvico esquerdo, foi preparado para cirurgia.

1Acepran - Lab. Andrômaco Ltda 2 Thionembutal -Abbot Lab. Brasil 3Riodene - Ind. Farmacêutica Rioquímica Ltda.

32

Uma incisão de pele de aproximadamente 10 cm de

comprimento foi realizada na região medial posterior da tíbia, desde

o 1/3 médio da tíbia até porção proximal do tarso. Em seguida, foi

realizada a divulsão do tecido celular subcutâneo e exposição do

tendão calcâneo comum desde sua junção músculo-tendínea até o

corpo do calcâneo, a hemorragia foi controlada através de ligaduras

com categute 3-0 e por compressão.( Figura 1, A)

Em seguida, realizou-se uma incisão de

aproximadamente 2 cm de comprimento, no aspecto posterior do

tubérculo do calcâneo, na bolsa calcâneal do tendão do músculo

flexor digital superficial, expondo-se o corpo do calcâneo. Com

auxílio de um guia de broca, um orifício foi perfurado na direção

postero/anterior através do tubérculo do calcâneo e a tíbia. Esta

perfuração foi realizada com a articulação do tarso em

aproximadamente 135 graus onde foi introduzido um parafuso de

aço inoxidável 304L auto-ataraxante (Figura 01 B, C, D). O tamanho

e diâmetro do parafuso, assim como o diâmetro do orifício, variaram

de acordo com o tamanho do animal. Utilizando-se parafusos de aço

inoxidável 304l de 5,0 x 0,3 mm, 5,0 x 0,2 mm e 6,0 x 0,3 mm.

Com o tendão exposto, utilizou-se duas agulhas

hipodérmicas para demarcar e auxiliar a ressecção de um segmento

33

de aproximadamente 1 cm de comprimento junto a sua porção

tendínea (Figura 02, A). Uma sutura modificada de Kessler com

mononáilon 4-0 foi realizada para promover o alinhamento das

extremidades (Figura 02, B). O espaço resultante foi preenchido com

um retalho de peritônio de 2 cm por 1,5 cm de maneira

circunferêncial partida, cobrindo 0,5 cm de cada extremidade do

tendão e fixado com mononáilon 4-0 através de dois pontos de

reparo (Figura 02, C). Uma sutura simples contínua iniciada em uma

das extremidades, unindo as bordas da membrana e terminando na

outra extremidade foi confeccionada (Figura 02, D), em seguida,

duas suturas horizontais de colchoeiro foram passadas através do

peritônio-tendão-peritônio em cada extremidade (Figura 03, A-B) O

tecido subcutâneo e a fáscia profunda foram aproximados com fio

categute 2-0 e a pele suturada com fio mononáilon 3-0, com pontos

simples separados (Figura 03, C).

Imediatamente após a cirurgia, aplicou-se um penso

esparadrapado no membro operado (Figura 03, D) seguido de

exame radiográfico. Os animais foram mantidos confinados

individualmente em canis de 1 m2, onde receberam antibioticoterapia

por mais nove dias.

34

Após sete dias de pós-operatório efetuou-se a retirada

dos pontos e troca do penso esparadrapado, que permaneceu por

mais 38 dias, na dependência do tempo de experimentação.

Naqueles animais que o tempo de experimentação excedeu quatro

semanas, após avaliação radiográfica, o parafuso foi removido e o

membro afetado novamente imobilizado com o penso

esparadrapado ficando os animais confinados por mais duas

semanas.

35

36

37

3.5 - CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

3.5.1 Avaliação clínica

O exame clínico foi realizado em todos os animais

diariamente, nos primeiros quinze dias e posteriormente a cada

38

semana até o final do período experimental, sendo feitas

observações especialmente relacionadas a manutenção do penso

esparadrapado, aspecto da ferida cirúrgica e uso funcional do

membro. Para avaliação do uso funcional do membro, no que se

refere aos graus de claudicação no pós-operatório e após a retirada

do parafuso. e da bandagem, utilizamos o método proposto por

SUMNER-SMITH (1993) abaixo descrito:

GRAUS DE CLAUDICAÇÃO

0 - Normal

1 - Ocasionalmente descansa o do membro

2 - Claudicação suave em trote lento, sem sinal ao caminhar.

3 - Claudicação suave ao caminhar

4 - Claudicação óbvia ao caminhar, mas apoia o membro quando parado.

5 - Graus de severidade

6 - Graus de severidade

7 - Graus de severidade

8 - Graus de severidade

9 - Apoia apenas a ponta da pata quando parado e suspende o membro

quando caminha

10 - Incapaz de pôr a pata sobre o solo.

3.5.2. Avaliação Radiográfica

Todos os animais foram submetidos a exame

radiográfico ao término do procedimento cirúrgico, ao final do

período experimental nos animais do grupo II e III e aos trinta dias de

39

pós-operatório, para avaliação do tipo de imobilização empregado na

articulação társica.

As radiografias simples da articulação társica do membro

pélvico esquerdo foram executadas na incidência ântero-posterior e

látero-lateral, sendo a calibração do aparelho fundamentada na

técnica que relaciona espessura da região em quilovoltagem (Kv) e

miliamperagem-segundo (mAs), conforme DOUGLAS &

WILLIAMSON (1980).

Utilizou-se aparelho de Raios-x de modelo Tridoros 8121 e

filmes Super HR-G2. A revelação e fixação foram realizadas em

processadora automática modelo Runzamatic 130 3

3.5.3. Avaliação Macroscópica

Decorrido o tempo pré-fixado para cada grupo, os

animais foram sacrificados. Após a dissecção da pele, desde o terço

proximal da tíbia até a região do tarso, do membro afetado,

1 -Siemens 2 -Fugi Medical X-ray filme 3 -Eletro Médica Brasileira Imp. e Exp. Ltda

40

observações foram feitas a cerca da presença ou não de aderências

e aspecto do enxerto (coloração, consistência e espessura).

Posteriormente o tendão foi dissecado e seccionado desde sua

junção músculo-tendínea até sua inserção ao calcâneo, sendo em

seguida incisionado longitudinalmente afins de melhor se observar

as mudanças ocorridas durante o processo cicatricial.

3.5.4. Avaliação Histológica

Após avaliação macroscópica, foram coletadas três

amostras de cada animal, ou seja, das áreas de transição (cranial e

caudal) e do segmento implantado, o que corresponde a nove

amostras em cada tempo de observação (três animais por grupo).

O material utilizado para exame histológico foi preparado

pelas técnicas habituais de fixação, inclusão, corte e coloração

normalmente empregados no laboratório de rotina de Anatomia

Patológica da Faculdade de Medicina Veterinária de Jaboticabal -

UNESP.

A fixação foi feita em formaldeído a 10%, com volume 5

a 10 vezes maior que o fragmento a ser fixado. O meio de inclusão

foi a parafina e os cortes histológicos foram efetuados com

41

micrótomo comum, em secções de 5 micra de espessura. A

coloração de rotina foi feita com Hematoxilina e Eosina (HE) e

também pelo do Tricrômio de Masson (TM).

3.5.5 - Avaliação por microscopia eletrônica de varredura.

Uma amostra da área do segmento implantado de um

animal de cada grupo, assim como uma amostra de peritônio

conservado em glicerina a 98% e uma amostra de tendão calcâneo

comum normal foram coletadas para exame por microscopia

eletrônica por varredura. Após lavagem vigorosa em solução tampão

refrigerada de fosfato de sódio 0.1 M (PH = 7,7), as amostras foram

imersas em glutaraldeido a 2% na solução tampão mencionada, por

no mínimo 48 horas. Posteriormente lavadas em solução tampão

pura (5 lavagens em 15 minutos) submetidas à osmicação em

tetróxido de ósmio a 1% em tampão fosfato 0,2M (PH = 7,7)

refrigerado, durante uma a duas horas. A seguir, foram desidratados

em concentrações ascendentes de álcool etílico, utilizando como

série gradual 30, 50, 70, 80, 95 e 100 % (quinze a vinte minutos

cada). O processo foi executado a frio (4o c), repetindo-se,

finalmente, três passagens em álcool absoluto, sendo uma com

42

álcool refrigerado e duas ã temperatura ambiente. A secagem foi

realizada em secador de ponto crítico a base de dióxido de carbono.

Posteriormente, as amostras foram montadas em cilindro metálico e

recobertas com liga de ouro paládio em metalizador JEOL, modelo

1100. O material pronto para observação, foi fotografado em

microscópio eletrônico de varredura, marca JEOL, modelo JSM

25SII.

43

4. RESULTADOS

4.1. Avaliação clínica

Os animais operados apresentaram satisfatória evolução

clínica, com os parâmetros fisiológicos observados, dentro da

normalidade.

A ferida cutânea evoluiu com aspecto clínico de

cicatrização por primeira intenção.

O uso funcional do membro operado, avaliada

subjetivamente pelo método proposto por SUMNER-SMITH (1993),

de maneira geral, mostrou-se favorável. No segundo dia de pós-

operatório os animais apresentavam-se apoiando apenas a ponta da

pata ao solo (grau de claudicação 9), a partir do quarto dia

apresentavam claudicação, porém apoiavam o membro ao solo

quando parados (grau de claudicação entre 8 e 6). Naqueles animais

com período experimental superior a 7 dias, notou-se que a partir do

oitavo dia de pós-operatório, a maioria apresentava claudicação

suave ao caminhar, porém com descanso temporário do membro

(grau de claudicação entre 3 e 1). Aos 15 dias, os animais, só

apresentavam suave claudicação em trote lento sem sinal ao

44

caminhar, com descanso ocasional do membro (grau de

claudicação entre 2 e 1).

Após a retirada do parafuso ósseo, realizada nos animais

com período experimental superior a 30 dias de pós-operatório, os

mesmos mostravam-se, nos primeiros dois dias, receosos em apoiar

o membro ao solo (grau de claudicação 10). No terceiro dia, o faziam

apenas com a ponta da pata (grau de claudicação 9). A partir do

quinto dia, já apoiavam o membro ao solo e apresentavam

claudicação ao caminhar (grau de claudicação 8), que

gradativamente diminuía com o passar dos dias, até que no 45o dia

de pós-operatório, não apresentavam nenhum sinal de claudicação

ao caminhar, apenas quando em trote lento e ocasional descanso do

membro (grau de claudicação 2 e 1). Após retirada do penso

esparadrapado, aos 45 dias de pós-operatório, foi possível

evidenciar melhor a utilização funcional do membro. Por volta do 55o

dia de pós-operatório, já não se observava nenhum sinal de

claudicação, apresentavam deambulação normal, mesmo quando

corriam e saltavam (grau de claudicação 0). Ao longo do período de

experimentação não foram observados, nenhum tipo de alteração

que comprometesse o membro operado.

45

4.2. Avaliação radiográfica

As radiografias simples, da articulação társica, tomadas

no pós-operatório imediato, revelaram o posicionamento do parafuso

e serviram para controle radiográfico daquelas tomadas após sete,

quinze e trinta dias nos demais grupos. Nesses tempos, não se

evidenciou nenhuma alteração significativa que comprometesse a

articulação. Observou-se apenas uma pequena área de osteólise ao

redor do parafuso em ambos os ossos e moderada reação periosteal

da tíbia e do tubérculo do calcâneo (Figuras 04).

46

4.3. Avaliação Macroscópica.

Observou-se aumento de volume local em todos os

animais, independentemente do período de experimentação, sendo

mais evidenciado nos primeiros quinze dias.

Nos animais sacrificados aos 7 dias (grupo II), notou-se

adesão aos tecidos circunvizinhos, traduzindo-se em certa

47

resistência no momento da dissecção da pele. Esta aderência,

diminuiu gradativamente com a evolução pós-operatória nos animais

dos grupos III, IV e V (15, 30 e 60 dias), sendo pouco evidenciada

nos animais dos grupos VI e VII (90 e 120 dias).

Nos animais do grupo I, os quais foram sacrificados com

dois dias de evolução pós-operatória, observou-se

macroscopicamente, pequena quantidade de líquido serossanguíneo

ao nível da área de enxerto. O peritônio era facilmente identificado,

envolto por uma fina camada de fibrina. Após corte longitudinal,

identificava-se as extremidades tendíneas que apresentavam-se

edemaciadas envoltas por líquido serossanguíneo.

Notou-se nos animais sacrificados após sete dias de pós-

operatório (grupo II), que o edema era menos perceptível entretanto

a adesão aos tecidos adjacentes estava presente. Observou-se

ainda aumento de volume e relativa consistência da área do enxerto,

o peritônio era pouco evidenciado, exceto após corte longitudinal

sendo este recoberto por uma camada de fibrina e tecido de

granulação (Figura 05, A).

Nos animais sacrificados aos 15 dias de pós-operatório

(grupo III), externamente já não se evidenciava sinais de edema, a

aderência aos tecidos circunvizinhos era relativamente menor do

48

que nos períodos anteriores e a área de enxerto apresentava-se

uniforme, espessado e de consistência firme. Ao corte longitudinal,

identificava-se um tecido esbranquiçado, consistente, envolvendo as

extremidades do tendão e o peritônio, que apresentava-se encoberto

por tecido de granulação de coloração avermelhada (Figuras 05,B e

06,A).

Nos animais do grupo IV, sacrificados aos 30 dias, a

aderência aos tecidos circunvizinhos estava presente, porém menos

evidenciada do que nos grupos anteriores, a área de enxerto

permanecia uniforme, espessada e consistente. Após o corte

longitudinal, encontrou-se certa dificuldade para identificar o

peritônio que estava envolto por um tecido denso, esbranquiçado

com áreas de coloração avermelhada, que permeava as

extremidades do tendão (Figura 06,B).

Nos animais do grupo V, sacrificados aos 60 dias de pós-

operatório, à adesão aos tecidos adjacentes era mínima, o tendão

estava uniforme, porém, menos espessado do que nos períodos

anteriores e não identificava-se a área de enxerto. Após corte

longitudinal, dificilmente evidenciava-se o peritônio. Observava-se

tecido esbranquiçado, denso que era contínuo ao tendão. As

49

extremidades do tendão também não eram evidenciadas (Figuras

07,A-B e 08,A).

Nos animais sacrificados aos 90 e 120 dias de pós-

operatório, os aspectos macroscópicos encontrados, assemelharam-

se aqueles observados nos animais do grupo V. Todavia à aderência

aos tecidos circunvizinhos e o diâmetro dos tendões diminuíam

gradativamente à medida em que o período de observação

aumentava. Esses e outros aspectos estão mostrados nas figuras 08

a 09.

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54

4.4. Avaliação por microscopia óptica

A observação dos cortes histológicos mostrou que o

peritônio implantado podia facilmente ser localizado, desde a

primeira colheita, ou seja, dois dias de pós-operatório, até a última,

efetuada aos 120 dias de pós-operatório. De início, o peritônio

55

mantinha suas características histológicas e se apresentava

infiltrado por células inflamatórias (Figura 10,A), principalmente

polimorfonucleares neutrófilos (PMN). O material colhido aos sete

dias de pós-operatório, ou depois, já mostrava o peritônio infiltrado

por células mononucleares (MN). Com o passar do tempo, notava-se

também que as fibras do peritônio tendiam a se dissociar, permitindo

a infiltração de células MN, e, mais tarde, de algumas células

gigantes. Essa fibra também se mostraram em estreita associação

com fibras conjuntivas, fibroblastos e colágeno. Esses e outros

aspectos estão mostrados nas figuras 10,B a 12. Nas colheitas com

90 e com 120 dias de pós-operatório, o peritônio era encontrado, às

vezes, entre abundantes feixes de fibras conjuntivas (Figuras 13 e

14).

Hemorragia e edema foram encontrados nos tempos de

dois e sete dias, em proporções variáveis. Nos tempos

subseqüentes, estes fenômenos não foram observados.

A proliferação fibroblástica, presente, de forma incipiente,

desde a primeira colheita, mostrou-se exuberante já no sétimo dia

(Figuras 10,B e 11,A). Vasos neoformados também acompanharam

essa proliferação, caracterizando o tecido de granulação típico do

processo de reparação tecidual. A esse tempo, fibroblastos estavam

56

presentes, em grande quantidade, já se fazendo notar também a

presença de colágeno. No material das colheitas posteriores, a cada

tempo maior, notava-se maior presença de colágeno, cada vez mais

organizado, ou seja, com fibras dispostas de forma longitudinal

(Figuras 13 e 14,A). Constatou-se presença de tecido cartilaginoso

metaplásico de forma incipiente em duas amostras, em um animal

de 90 dias e em outro de 120 dias de pós-operatório (Figura 14,B).

Em nenhuma amostra foi verificado presença de

depósitos minerais ou ossificação ectópica.

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4.5. Avaliação por microscopia eletrônica de varredura:

Fragmentos de tendão normal, peritônio normal e dos

locais de enxerto, colhidos nos mesmos tempos que para histologia,

permitiram várias comparações. O tendão normal mostrou densa

concentração de fibras, finas, dispostas paralelamente, sem espaço

entre elas, com praticamente ausência de outras estruturas. As

fibras de peritônio normal mostravam-se mais espessas, também

dispostas de forma paralela, ligeiramente dissociadas umas das

62

outras. O “neotendão” mostrou disposição de fibras de maior

espessura tendendo a organização em paralelo.

Os aspectos ultra-estruturais observados estão

mostrados nas figura 15 a 25.

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5- DISCUSSÃO

74

A procura incessante de novas técnicas para

reconstrução de tendões e ligamentos, tanto na Ortopedia Humana

como na Veterinária, têm levado a utilização de diversos tipos de

tecidos. Muitos materiais de natureza biológica têm sido

empregados. É comum, na Ortopedia Humana o emprego de

enxertos tendíneos autológos ou homólogos na reparação de lesões

agudas ou crônicas. As membranas biológicas, principalmente

aquelas conservados em glicerina a 98%, tem sido amplamente

utilizadas no campo da cirurgia experimental, porém os estudos

acerca de sua aplicação em tendões e ligamentos ainda são

escassos. Encontramos relatos de transplantes autólogos ou

homólogos de fáscia lata em tendão calcâneo comum de cães

(BRADEN, 1976); em ligamento cruzado cranial (PICHLER, 1982;

BUTLER et. al. ,1983; DENNY 1984, 1987), e no reparo do

ligamento patelar (CULVENOR 1988), da utilização de pericárdio

eqüino conservado em glicerina, na reconstrução do ligamento

cruzado cranial do cão (ALVARENGA, 1982), na substituição do

tendão calcâneo comum em coelho por HOLZCHUH (1989) e na

substituição do tendão calcâneo em ratos por SILVARES (1990).

Apesar da utilização do transplante autógeno de fáscia

lata para reparo de defeitos crônicos do tendão calcâneo comum em

75

cães, proposto por BRADEN (1979) ter apresentado resultados

satisfatórios, o emprego de uma membrana biológica conservada

em glicerina com o mesmo objetivo, poderia exercer a mesma

função, com a vantagem de reduzir em muito, o tempo operatório.

A escolha do emprego do peritônio bovino conservado

em glicerina a 98% baseou-se na ausência, de acordo com a

literatura consultada, de trabalhos que fizessem menção à aplicação

desta membrana biológica, na cirurgia reparadora de tendões, mais

especificamente, do tendão calcâneo comum.

O peritônio bovino, assim como outras membranas

biológicas (pericárdio, dura-máter, centro frênico) é constituído

quase que exclusivamente por colágeno (ALVARENGA,1992), e

quando conservado em glicerina, tem-se mostrado biocompatível,

resistente à infecção, além de possuir conhecidas propriedades

mecânicas e fornecer um arcabouço para o desenvolvimento de um

novo tecido, restabelecendo a estrutura do órgão afetado (BATISTA,

1997).

No presente trabalho a ausência de reação tipo corpo

estranho, intenso processo inflamatório e reação local de caráter

imunológico, confirmaram as qualidades da glicerina como meio de

76

conservação, dessa membrana biológica, fato este também

observado nos experimentos de PIGOSSI (1964) e LEITE (1979).

O cão, animal escolhido para este trabalho, mostrou-se

cooperativo e adequado para o desenvolvimento deste tipo de

experimento, sendo o mesmo também empregado por SUGRI &

JEROME (1972), BRANDEN (1974), AMSTUTZ et. al. (1976),

ARON, (1981), TOMLINSON & MOORE (1982), VAUGHAN (1982),

KELMAN, (1983), GILMORE (1984), EGGER & BERG (1985),

HOLZCHUH (1990), BRADLEY (1992), GELBERMAN (1992) e

BAYDLAK (1995) para o desenvolvimento de estudos acerca do

processo cicatricial de tendões flexores. Por ser uma espécie que

freqüentemente é acometida por lesões do tendão calcâneo comum,

nos permitiu uma melhor avaliação da viabilidade da técnica.

Em relação a técnica cirúrgica empregada, ao invés de

optarmos por dois acessos cirúrgicos para a exposição do tendão

calcâneo comum e do tubérculo calcâneal, como proposto por

BRADEN (1976), optamos por um único acesso, obtido através de

uma incisão de aproximadamente 10 cm de comprimento sobre o

aspeto posterior da tíbia, desde seu terço médio até a porção

proximal do tarso, expondo todo o tendão calcâneo e a tuberosidade

calcâneal. A realização de uma ampla incisão, proporcionou boa

77

exposição e manipulação do tendão calcâneo comum, assim como

facilitou a abordagem ao corpo calcâneo para a perfuração do

orifício e a inserção do parafuso. Vale ressaltar o uso de agulhas

hipodérmicas para demarcar, auxiliar a ressecção e manipular de

maneira atraumática o tendão calcâneo comum.

A falha criada cirurgicamente, de aproximadamente 1

cm, foi suficiente para a função requerida, ou seja, avaliar a

capacidade do peritônio em orientar a cicatrização tendínea, uma

vez que neste caso havia ausência de contração muscular e a falha

foi realizada na porção tendínea do tendão calcâneo comum.

No que diz respeito ao fio e padrão de sutura utilizados,

verificamos que o fio de náilon monofilamentar número 4-0,

proporcionou boa resistência, não tendo sido constatado nenhum

tipo de reatividade tecidual significativa durante o processo

cicatricial, o que reforça a afirmativa de SUGRI & JEROME (1972).

O padrão de sutura. modificado de Kesller, utilizado com a finalidade

de proporcionar um melhor alinhamento das extremidades tendíneas

e evitar posterior contração muscular, apresentou resultados

satisfatórios e semelhantes aqueles encontrados por ARON (1981) e

por TOMLINSON & MOORE (1982), sendo de fácil e rápida

78

aplicação e apresentar mínimo comprometimento da microcirculação

intrínseca do tendão.

O retalho de peritônio, após reidratação mostrou ser de

fácil manipulação, com consistência fibroelástica, permitindo-nos

envolver de forma circunferêncial partida as extremidades tendíneas.

Em relação ao tipo de parafuso usado para imobilização

interna, não encontramos dificuldades em utilizar o parafuso auto

atarraxante de aço inoxidável 304L, até então não empregado para

este tipo de fixação articular. BRADEN (1976) e outros autores ,

aconselham apenas a utilização de parafuso para osso esponjoso,

na tentativa de evitar danos as estruturas adjacentes, como veia

safena e tendão flexor digital profundo, como também promover

melhor adequação entre a tíbia e o calcâneo. Tais riscos foram

contornados pela possibilidade de uma melhor visualização destas

estruturas e conseqüentemente preservação das mesma através de

manobras cirúrgicas.

Devido a grande divergência entre autores quanto ao

período de permanência do parafuso, optamos por sua retirada aos

30 dias de pós-operatório, uma vez que a partir da quarta semana de

pós-operatório o tecido cicatricial já apresenta razoável grau de

resistência e entra no estágio de remodelamento, sendo este,

79

segundo CLARK (1993) e RAISER (1995) dependente de

movimentação para enfraquecer as aderências aos tecidos

circunvizinhos.

A manutenção da imobilização externa (penso

esparadrapado) por mais duas semanas permitiu uma volta

gradativa do estresse e tensão de sustentação de peso que

favoreceu o remodelamento do tendão.

Os achados radiográficos encontrados, principalmente

aos trinta dias de pós-operatório, assemelham-se aqueles

observados por BRANDEN (1974; 1976). A presença de pequenas

áreas de osteólise e reação periosteal, tanto na tíbia como no

tubérculo calcâneal não ocasionaram comprometimento da

movimentação da articulação ou da função do membro.

A avaliação histológica e por microscopia eletrônica,

assim com a avaliação macroscópica realizadas nos tempos

experimentais pré estabelecidos, nos permitiram uma maior

compreensão do processo de regeneração do tendão calcâneo

comum por peritônio bovino conservado em glicerina a 98%.

A infiltração celular observada nos primeiros tempos de

colheita foram provavelmente parte da resposta inflamatória da

própria injúria. A proliferação fibroblástica, presente, de forma

80

incipiente, desde a primeira colheita e evidente já no sétimo dia,

juntamente com a neovascularização caracterizam a formação de

tecido de granulação típico do processo de reparação tecidual e

foram evidentes em todas as formas de avaliação.

A partir da terceira colheita (15 dias de pós-operatório) a

diminuição do processo inflamatório e a presença cada vez maior de

fibroblastos, já com a deposição de colagêno, dava início ao

processo de remodelamento, que nas colheitas posteriores traduzia-

se na deposição organizada de colágeno, com fibras dispostas de

forma longitudinal entrando em estreita associação com as fibras de

peritônio. Pode-se dizer que, a partir daí já havia a formação de um

novo tecido, que com o tempo tornava-se mais organizado,

principalmente após a retirada da imobilização interna e externa e

reinicio da não restrição de sustentação de peso. De forma que na

última colheita (120 dias de pós-operatório) o “neotendão”

apresentava tecido conjuntivo denso, com fibras colágenas

orientadas longitudinalmente, de aspecto uniforme, consistente, de

espessura semelhante ao tendão normal.

Observamos que o peritônio que esteve presente em

todas as amostras analisadas, estimulou uma rápida deposição de

tecido conjuntivo que começou a organizar-se ao longo do eixo de

81

estresse, servindo de arcabouço para o desenvolvimento de um

novo tecido e restabelecendo a estrutura do tendão. Esses achados

são coerentes com os achados de estudos anteriores em que o

peritônio foi usado na reparação de outras estruturas como esôfago

cervical, diafragma torácico e pélvico por DALECK (1986, 1988,

1992) e semelhantes aqueles encontrados por outros autores

quando outros tipos de membranas foram utilizadas na reconstrução

de diversas estruturas (ALMEIDA, 1996; ALVARENGA,1977;

LANTZMAN, 1986; RANZANI, 1990) reforçando o ponto de vista de

ALVARENGA (1992) que afirma que elas são incorporadas, sem se

verificarem sinais de eliminação.

HOLCHUH (1990) quando empregou experimentalmente

o pericárdio de eqüino conservado em glicerina, na substituição do

tendão calcâneo comum de coelhos e observou que por volta dos 30

dias de pós-operatório havia delaminação e destruição parcial do

pericárdio por intenso infiltrado inflamatório, tendo desaparecido

totalmente aos 200 dias de pós-operatório. Em nosso estudo, ficou

evidente que as fibras do peritônio apresentavam-se em estreita

associação com fibras conjuntivas - fibroblastos e colagêno e não

eram destruídas e sim incorporadas, sendo encontradas entre

82

abundantes feixes de fibras conjuntivas nas colheitas com 90 e 120

dias.

Nossos resultados também diferem daqueles

encontrados por SILVARES (1991) quando empregou o pericárdio

bovino na reconstrução do tendão calcâneo comum, e observou

severa resposta inflamatória local com exudação de

polimorfonucleares neutrófilos, fibrina e edema, havendo

hialinização e fragmentação de fibras conjuntivas do pericárdio,

fenômeno esse que o autor denominou de “necrose do enxerto”.

Segundo o autor, a partir da sexta semana de pós-operatório, pouco

ou nenhum resquício de enxerto foi encontrado, observando-se

ainda nesse tempo, sinais de metaplasia cartilaginosa, que por volta

da nona semana deu lugar a vários focos de metaplasia óssea,

acentuada a partir da décima segunda semana. Esses fenômenos

não foram observados no presente estudo.

No presente estudo o processo inflamatório mostrou-se

menos intenso, favorecendo o processo de cura. Tal observação

justifica-se pela atenção estrita aos princípios da assepsia,

manipulação e cuidados suaves ao tecidos, assim como pelas

características inerentes ao peritônio.

83

Os indícios de metaplasia cartilaginosa observados de

forma incipiente em dois animais (90 e 120 dias) são compatíveis

com o processo cicatricial, pois de acordo com Payne in BOJRAB

(1996) os tendões tendem a formar áreas de fibrocartilagem em

regiões de elevada pressão. A ausência, nestes tempos de

depósitos minerais ou ossificação ectópica descartam a

possibilidade de calcificação do “neotendão”.

Vale salientar que no presente estudo o número de

cortes histológicos, assim como sua orientação e método de

coloração (Hematoxilina/Eosina e Tricômio de Masson) foram

cruciais na observação dos aspectos histológicos durante o

processo cicatricial.

84

6. CONCLUSÕES

Considerando os resultados obtidos das avaliações

realizadas no período de observação pós-operatória dos cães

submetidos a tenoplastia do tendão calcâneo comum com peritônio

bovino conservado em glicerina a 98%, as seguintes conclusões

podem ser emitidas:

85

1. O peritônio bovino conservado em glicerina a 98% estimulou

uma rápida deposição de tecido conjuntivo com mínima

reação inflamatória e serviu de alicerce para o

desenvolvimento de um novo tecido, restabelecendo assim a

estrutura do tendão calcâneo comum.

2. O peritônio bovino não provocou nenhum tipo de reação tipo

corpo estranho, foi sim incorporado ao tecido cicatricial,

sendo encontrado entre abundantes feixes de fibras

conjuntivas 120 dias após o ato operatório.

3. O “neotendão”, do ponto de vista clínico, apresentou

resistência suficiente para suportar o estresse normalmente

aplicado ao tendão calcâneo comum.

4. A imobilização da articulação társica, num ângulo de

aproximadamente 135° com auxilio de um parafuso de aço

inoxidável 304L auto-atarraxante, mostrou-se eficaz,

promovendo efetivo suporte e proteção para sustentação de

peso após a tenoplastia.

86

5. A utilização do peritônio bovino conservado em glicerina a

98% mediante a técnica cirúrgica empregada neste trabalho

abre novas perspectivas para seu emprego na rotina

cirúrgica e representa uma alternativa na recuperação

funcional do tendão calcâneo de cães. Também nos permite

postular ser este material apropriado para reparação de

tendões e ligamentos no homem. Entretanto, nos parece que

será necessário maior número de estudos para confirmação

desta suposição.

87

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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