TEOLOGIA PRÁTICA MÉTODO

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    1/14

    Editora Sinodal, 1998Rua Amadeo Rossi, 467Caixa Postal 1193001-970 So Leopoldo- RSTel./Fax: (051) [email protected]

    Copidesque e reviso: Lus M. SanderPublicado sob a coordenao do Fundo de Publicaes Teolgicas/Programa dePs-Graduao em Teologia da Faculdades EST .Tel.: (51) 21111400 [email protected]: (51)21111411 www.est.edu.br

    Produo editorial e grfica: Editora Sinodal

    T314 Teologia prtica no contexto da Amrica Latina I [Organizado por]Christoph Schneider-Harpprecht e Roberto E. Zwetsch. 3. ed. rev.e ampl. - So Leopoldo : SinodaVEST, 2011.

    16x23 cm. ; 304p.ISBN 978-85-62865-54-11. Teologia prtica-Amrica Latina. I. Schneider-Harpprecht,

    Christoph. II. Zwetsch, Roberto E.CDU 24(7/8)

    Catalogao na publicao: Leandro Augusto dos Santos Lima -CRB 10/1273

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    2/14

    Captulo 3Reftexes em torno do mtodo da Teologia Prtica

    Lothar Carlos Hoch

    3.1 IntroduoOutro dia caiu-me s mos uma pequena brochura com o ttulo "O compromisso do cientista com a sociedade"1 Curioso, fui percorrendo o texto e topei comHNcguinte afirmao: "Uma forma fcil de diferenciar um cientista de um pseudo

    ~ ' i u n t i s t a que o primeiro est quase sempre ocupado trabalhando, enquanto que orjeKundo est sempre em reunio. Outra, que o cientista produz e o pseudocientistalllnta viver s custas dele".Ao refletir sobre a temtica deste ensaio, veio-me mente a seguinte per-1\Uftta: seria igualmente legtimo afirmar que uma boa teologia se distingue de uma

    iull teologia pelo fato de ter- ou no ter conscincia do mtodo que usa? E no justamente essa a crtica que se ouve em relao Teologia Prtica, a saber, o esponltmcismo de ir desenvolvendo seu mtodo de trabalhar medida que os problemas"urgem? Seria porventura procedente a tese de que os telogos das outras disciplinas1 1 ~ 0 mais dados pesquisa e que os telogos prticos tentam viver s custas deles?2

    Uma das formas de rebater eventuais crticas dessa natureza consiste em refieIh' seriamente sobre a questo do mtodo da Teologia Prtica. Pois a Teologia Prtica~ ~ ~ s e r capaz de mostrar o seu perfil prprio como disciplina teolgica na medida emque tiver clara a questo do seu perfil metodolgico especfico.

    Falar do mtodo da Teologia Prtica requer, todavia, que se fale antes sobre ai'Ompreenso de Teologia Prtica. A teologia em sentido amplo tem como horizonte11 trip: Deus mundo- igreja. O especfico da Teologia Prtica consiste em assumir

    I !'rlll.liSe de uma palestra proferida na FEDERASUL, em julho de 1995, pelo Prof. Dr. Ivao Izqterdo. A citaou seguir encontra-se na p. 1O.1 fi(lrmulas como: "As abboras se ajeitam no aodar da carroa" revelam o quanto a improvisao faz parte do

    llllSSO voc:abulrio metodolgico. A improvisao, em determinadas situaes, pode ser til e necessria, pois no(ICIKII de ser reflexo de uma capacidade criativa. A questo toma-se problemtica no momento em que se recorre hnprovisao por absoluta falta de clareza metodolgica. Eis por que, ao invs de usar a capacidade criativa paraimprovisar, convm us-la para refletir sobre um mtodo adequado.

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    3/14

    uma funo de mediao prtica entre Deus, o mundo c a igreja. Pela via da prxis,ela facilita o trnsito entre esses universos. Neste sentido, a Teologia Prtica deve sercompreendida como hermenutica da prxis crist.Entendo que cabe Teologia Prtica ser hermenutica da prtica crist em umduplo sentido:1) Ela ajuda a igreja a interpretar e atualizar a palavra de Deus, enquanto d

    palavra uma vida que ultrapassa o instante e o lugar nos quais ela foi pronunciadaou transcrita.3 Concomitantemente, a Teologia Prtica a disciplina teolgica queexamina de maneira crtica a:prtica eclesial na sua forma atual, visando a reprojetla de modo a que corresponda tradio crist e ao momento histrico presente. Elatem a funo de ajudar a igreja a explicitar a mensagem do evangelho de modo queo mundo e a prpria igreja acertem o passo com Deus.2) A Teologia Prtica tem igualmente a tarefa de zelar para que a igreja acerte o passo com o mundo. Para conseguir isso ela precisa se empenhar seriamente

    para entender este mundo, auscultar a sociedade atual em toda a sua complexidade,inclusive as diferentes formas de religiosidade modema. Isso explica a tentativa dedescrever a funo da Teologia Prtica como a de um "agente duplo"4 que age entrea confisso (tradio crist) e o esprito da poca, entre a prtica eclesial e as formaslivres de religiosidade ps-modema. A funo da Teologia Prtica promover a comunicao entre a tradio crist, a igreja e o mundo contemporneo.5Alm da questo da compreenso de Teologia Prtica, uma segunda perguntapreliminar precisa ser abordada quando se pretende falar sobre o mtodo da TeologiaPrtica. Trata-se da pergunta do que, afinal, vem a ser "mtodo".Segundo o dicionrio Aurlio, "mtodo" no sentido original (do grego: me-thodos) o "caminho para chegar a um fim". Em sentido derivado, "mtodo" "ummodo de proceder; uma maneira de agir" atravs da qual "se chega a um determinado resultado". Eis por que Wolfgang Beinerf!i entende por mtodo "o caminhoseguido por uma cincia para alcanar sua meta".

    3 Cf. a compreenso de hermenutica de G. Steiner apud GEFFR, Claude. Como fazer teologia hoje: hermenutica teolgica. So Paulo: Paulnas, 1989. p. 5.4 Cf. MEYER-BLANCK, Michael. Praktische Theologie und Postmodeme: ein Dalog mit Wolfgang Welsch. Pas-toraltheologie, Gttingen, v. 85, p. 225-238, 1996. p. 235s. O autor utiliza aqui uma expresso do filsofo psmodernista Wolfgang Welsch.5 Nessa mesma direo, porm num sentido mais restrito, vai a concepo de HEYNS, L. M.; PIETERSE, H. J. C.A Primer in Practical Theology. Pretoria: Gnosis, 1990. p. 68: "A Teologia Prtica preocupa-se primordialmentecom aes comunicativas para promover o evangelho em nossa prpria poca".6 Apud FLOR!STAN, Casiano. Teologa Prctica: teoria y praxis de la accin pastoral. 2. ed. Salamanca: Sgueme,1993. p. 194.

    60

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    4/14

    Reflexes em tomo do mtodo da Teologia Prtica3.2 Consideraes preliminares relativas ao mtodo da Teologia PrticaFalar sobre o mtodo da Teologia Prtica uma questo um tanto compli

    ~ ' H d a . No por acaso que as publicaes sobre Teologia Prtica falam to poucormhre o assunto. Em parte ainda continua atual a constatao de Henning Schrer7que, "ao contrrio das disciplinas histricas da teologia, a Teologia Prtica ainda

    t l l ~ n desenvolveu um instrumentrio metodolgico apropriado tampouco um cnonemetodolgico seguro".O problema do mtodo no ser resolvido de uma hora para outra. Em primeiro lugar, porque a prpria teologia encontra dificuldades para clarear a questo111ctodolgica e, em segundo lugar, porque a Teologia Prtica est recm adquirindo

    ~ ' u n s c i n c i a de sua maioridade como disciplina teolgica autnoma.Menciono a seguir alguns problemas que, a meu ver, precisam ser resolvidosjmra que a questo do mtodo da Teologia Prtica possa ser atacada. Ao lidar comt11is problemas, vislumbro algumas pistas que eventualmente possam contribuir paratlncaminhar a questo.

    Primeiro problema: A Teologia Prtica precisa clarear em que sentido ela sedistingue das demais disciplinas teolgicas.Quando se l sobre Teologia Prtica ou quando se discute com colegas de11utras disciplinas teolgicas, todos so unnimes em afirmar que no s a Teologiatll'tica, mas a teologia toda est voltada para a prtica. Isso levanta a pergunta cru

    ~ i a l : em que consiste o especificamente prtico da Teologia Prtica? A vinculao daTeologia Prtica com a prtica por si s no se constitui em justificativa suficienteflllra a sua existncia como disciplina autnoma. Para telogos como Karl Barth ateologia toda tem uma vocao eminentemente prtica.8Para mim ainda tem validade hoje a forma como o sucessor de Schleiermachernu cadeira de Teologia Prtica em Berlim, Carl E. Nitzsch (1787 -1868), resolveu otlilema da distino entre teologia e Teologia Prtica. Ele afirmava que teologia \ltna cincia para a prxis (scientia ad praxin) enquanto que a Teologia Prtica aciCncia da prxis (scientia praxeos).9A soluo da pergunta pela legitimidade da Teologia Prtica como disciplinateolgica no est, pois, no fato dela se relacionar com a prxis, mas na forma de

    I SCHRER, Henning. Forschungsmethoden in der Praktischen Theologie. ln: KLOSTERMANN, Ferdinand;i!ERFASS, Rolf. Praktische Theologie heute. Mnchen: Kaiser; Mainz: Grnewald, 1974. p. 206-224. p. 206.(Traduo prpria).H :f. Kirchliche Dogmatik, v. IV/3, p. 1007-11, apud HENKYS, Jrgen. Die Praktische Theologie. ln: AMMER,Hcinrich et ai. Handhuch der Praktischen Theologie. Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1975. v. 1, p. 33 .. 1 Cf. SCHRER, 1974, p. 208.

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    5/14

    estabelecer esse relacionamento. Como ciancia dn prxis, cabe a eJa estabelecer econduzir o dilogo da teologia com as cincias empfricas. Esse dilogo se d primordialmente com as cincias sociais e as cincias humanas.A Teologia Prtica adquire, portanto, o seu perfil prprio como disciplina teolgica na medida em que se entende como o ponto de interseco entre a teologia eas cincias empricas que lhe so afins. A sua tarefa consiste em refletir, em parceriacom essas cincias, sobre a forma mais eficaz de viabilizar a utopia do reino de Deus

    neste mundo. Na sua busca constante por uma prxis crist eficaz, a Teologia Prticaprecisa levar em conta todos os recursos metodolgicos e de anlise da realidade queas cincias colocam ao seu alcance. Esse fato determina em boa medida o perfil metodolgico da Teologia Prtica. Esse perfil evidentemente no poder ser uniforme,pois depende em boa medida do mtodo da respectiva cincia com a qual ela estcooperando de caso para caso.

    Segundo problema: A Teologia Prtica precisa clarear em que sentido ela sedistingue da pastoral. 10Casiano Floristan, como telogo comprometido com a teologia da libertao,tem o mrito de fazer uma distino entre o mtodo da Teologia Prtica e o mtodo

    das prticas pastorais.n Na estruturao do captulo referente ao mtodo da TeologiaPrtica, o autor distingue entre "mtodo em teologia", "mtodo na teologia prtica"e "mtodo na prxis pastoral". Examinando mais a fundo a sua exposio, perceberse-, contudo, que ele no consegue sustentar sistematicamente essa distino. Issose deve sua compreenso de Teologia Prtica como "teologia da prxis dos cristos", ou seja, como teologia que tem seu ponto de partida na experincia de f e devida dos cristos.12 Ora, precisamente assim que se tem definido a "pastoral" naAmrica Latina.13

    significativo que Floristan interprete o mtodo "ver, julgar, agir" da pastorallibertadora na Amrica Latina como mtodo "indutivo" da Teologia Prtica e no daprtica pastoral.14 Originalmente desenvolvido como mtodo de "reviso de vida" naJuventude Operria Catlica (JOC) na Frana, o mtodo "ver, julgar, agir" foi amplamente usado na prtica das comunidades eclesiais de base. Leonardo e Clodovis Boffinterpretam-no como aplicao da metodologia da teologia da libertao na prticapastoraL Ao relacionar a metodologia das mediaes socioanaltica, hermenutica e

    I O Para a apreciao dessa questo remeto ao ensaio de minha autoria que constitui o cap. I deste livro.I I Refiro-me s suas consideraes acerca do "mtodo de la Teologa Prctica", no seu livro Teologa Prctica, p.l93ss.12 FLORISTAN, 1993, p. 206.13 Cf., p.ex., LffiNIO, Joo Batista. O que pastoral. 3. ed. So Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9: "Pois, a partir dapastoral viva, encarnada nas comunidades eclesiais de base, na pastoral da terra e dos ndios, e em outras semelhantes, que o conceito terico de pastoral se nos esclarece. A teoria da pastoral brota desta prtica"14 Cf. FLORISTAN, 1993, p. 200ss.

    62

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    6/14

    Reflexes em tomo do mtodo da Teologia Prticallf(ttica com o mtodo j existente da Ao Catlica, eles procuraram integrar teoriap J'rtica para fazer uma "teologia p no cho" e politizar a prtica crist. O ver corresponde mediao socioanaltica e visa percepo da realidade de opresso no~ n n t e x t o concreto. O julgar corresponde mediao hermenutica e coloca a realidade11crcebida luz do evangelho, refletindo sobre a dimenso proftica damensagem crish\ c buscando critrios para transformar a realidade. O agir visa transformao con

    ~ ' 1 ' \ : t a da realidade, correspondendo pragmtica da teologia da libertao. A simples1 ~ 1 \ : n t i f i c a o da metodologia da teologia da libertao com o mtodo "ver, julgar, agir"llva a um estreitamento da compreenso de pastoral, pois a restringe sua dimenso1,nlitica. No entanto, a tarefa da pastoral vai muito alm do poltico, pois inclui as ditncnses da experincia religiosa tanto no caso da pessoa como da cultura. 15

    Destarte, a experincia de f e de vida do povo de Deus, ainda que seja umreferencial teolgico importante, no base suficiente para a Teologia Prtica comotlisciplina acadmica. A Teologia Prtica como disciplina acadmica teoria da prll.is crist e no prxis crist do povo de Deus em sentido imediato. Na sua funo~ t ' f t i c a , ela submete no s a teologia toda ao crivo da razo prtica do povo de Deustm base, mas tambm submete a prxis do povo de Deus ao juzo crtico do evangelho e da prpria teologia.

    A Teologia Prtica situa-se entre a pastoral e a teologia. Concebida como mediao hermenutica, a Teologia Prtica tem justamente a tarefa de promover o trnlito entre a pastoral e a teologia visando a uma fecundao recproca.

    Terceiro problema: A Teologia Prtica precisa distinguir os diferentes nveistm que a questo do mtodo se colocapara ela. 16

    J enfatizvamos acima a necessidade da teologia de buscar o concurso deoutras cincias para viabilizar uma atuao eficaz da igreja no mundo. Dizamos seroTeologia Prtica a interlocutora privilegiada da teologia e da prpria igreja com as~ i n c i a s sociais e as cincias humanas. Efetivamente, a partir dos anos de 1960, tantonu Europa como nos Estados Unidos, algumas subdisciplinas da Teologia PrticallUSSaram a se utilizar de forma consciente e intensiva das outras cincias. 17 Isso sedcu especialmente na rea da Educao Crist, com o concurso da Pedagogia, e nasareas do Aconselhamento Pastoral e da Missiologia, mediante o concurso da Psicologia e da Antropologia, respectivamente. Mas tambm a Homiltica (pregao)vcm se valendo de forma crescente da Retrica e das cincias da comunicao paraodesempenho de sua tarefa.IS Cf. BOFF, Clodovis. Teologia e prtica. ln: BOFF, Leonardo; BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da liberta-o. 3. ed. Petrpolis: Vozes, 1986.I l Cf. a j mencionada contribuio de SCHRER, 1974, p. 214ss.I'! Vale lembrar aqui que a Teologia Prtica esteve desde seus primrdios aberta s outras cincias. Schleiermacherpreocupou-se em obter uma viso emprica da igreja e, caso tivesse sua disposio os mtodos de pesquisa da

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    7/14

    O problema que, com o recurso s outras cincias, as diferentes subdiscipJi,nas da Teologia Prtica passaram por um processo de especializao, ou seja, caduuma delas se desenvolveu numa certa direo de acordo com o seu campo especftetlde atuao e de acordo com a parceria que assumia com uma detenninada cinciu.Assim, por exemplo, foram sendo desenvolvidos mtodos especficos para a atuaoda Educao Crist, outros para o Aconse1hamento Pastoral e ainda outros para uMissiologia e a Homiltica. A diversidade metodolgica de cada uma das subdisci'plinas da Teologia Prtica contribuiu para um distanciamento cada vez maior desSUhsubdisciplinas entre si. Em outras palavras, o processo de especializao tomou maiNaguda a pergunta pela unidade da Teologia Prtica. 18

    A meu ver, a pergunta pela unidade da Teologia Prtica no pode ser resolcvida em todos os seus eixos de atuao. A Teologia Prtica multifacetada. Senovejamos:No interior daprpria Teologia Prtica h necessidade de se distinguir entredois eixos de atuao e, por conseguinte, entre dois nveis metodolgicos diferentes,l) De um lado, h que se falar de um mtodo geral, que diz respeito sua forma especfica de traba1har. Isso se evidencia na forma de relacionar teoria e prtica, neste nvel que se define o rosto prprio da Teologia Prtica como disciplina emrelao s demais disciplinas teolgicas. Penso que seja nesse nvel que a TeologiaPrtica deve buscar e afirmar a sua unidade metodolgica.2) De outro lado, h mtodos de ordem particular que tm a ver com as diferentes subdisciplinas que compem a Teologia Prtica. Aqui se reflete, por exemplo,

    sobre o mtodo do Aconse1hamento Pastoral, sobre o mtodo da Educao Crist ousobre o mtodo da preparao de um sermo (Homiltica). Nesse nvel, cada subdisciplina tem um mtodo prprio. Aqui precisa ser afirmada e respeitada a necessidadeda diversidade metodolgica da Teologia Prtica.O que liga as subdisciplinas umas s outras so os pressupostos metodolgicos de ordem geral, que abordaremos no ponto seguinte da nossa exposio.Na relao da Teologia Prtica com outras cincias, a questo do mtodo

    coloca-se de modo diferente. Aqui se reveste de importncia para ela definir o tipode metodologia de pesquisa ou de recurso cientfico que deve usar para investigar arealidade emprica da igreja e da sociedade. No existem mtodos "teolgicos" deinvestigao da realidade. Os mtodos existentes so regidos por um estatuto prpriode natureza estritamente secular. Isso no impede que a Teologia Prtica se utilizedesses mtodos quando, por exemplo, se prope a pesquisar a postura dos fiis em18 Menciono como exemplo duas publicaes recentes que examinam a questo da unidade da Teologia Prtica: GRB, Wilhelm. Die Praktische Theologie auf der Suche nach ihrer Einhet und der Bestimmung ihresGegenstandes. ln: NIPKOW, Karl Ernst et al. (Orgs.). Praktische Theologie und Kultur der Gegenwart: eininternationaler Dialog. Gtersloh: Gtersloher, 1991. p. 7788. RSSLER. Detrich. Die Einheit der PraktischenTheologie.ln: NIPKOW et ai. (Orgs.), 1991. p. 43-51.

    64

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    8/14

    Reflexes em tomo do mtodo da 1l:o/o"l" /11llllllu;Juo a detenninados temas religiosos e seus motivos, bem como tendncias atual!!tjUC se delineiam entre os mesmos ou entre a populao em geral. A Teologia Prticajlfccisa ter um instrumental que a ajude a perceber tanto o que est na ordem do dia1111 mundo secular como no seio da prpria igreja. Ela precisa detectar igualmentellt problemas que se ocultam por detrs das prticas eclesiais e populares e criari'oitlstrumentos tericos mediante os quais interrogamos o real, o decodifi.camos e o

    l i " l ~ u n s t r u m o s teologicamente"19 Isso, todavia, no exime a Teologia Prtica de anallrntr criticamente os pressupostos ideolgicos que norteiam os diferentes mtodos dejll'"quisa da realidade hoje conhecidos.Em resumo, este captulo procurou demonstrar que o mtodo da Teologia Pr

    l i ~ a serve operacionalizao da teologia na medida em que promove o trnsitollllcrdisciplinar: entre a Teologia Prtica e as demais disciplinas teolgicas; entresubdisciplinas da Teologia Prtica entre si; entre a Teologia Prtica e as outrasd ~ n c i a s .

    3.3 Consideraes de carter genrico acerca do mtodo da Teolo-Mhl Prtica

    Enquanto hermenutica da prxis, a Teologia Prtica tem uma funo mellindora por excelncia. A forma dessas mediaes que faz emergir o perfil metollnlgico da Teologia Prtica como disciplina teolgica. A questo decisiva para a1lclinio desse perfil a sua forma dialtica de relacionar teoria e prtica. isso que

    ~ c r l l examinado a seguir.O termo "teoria" origina-se do grego theorein (a palavra "teatro" vem da) e

    , , j ~ ~ n i f i c a "ver", "contemplar". Desde Plato, o objeto dessa contemplao passou aCf de forma crescente o esprito. Desse modo teoria, em termos filosficos, passou11 !4ignificar "a procura pelo conhecimento das causas ltimas, do divino"20 Em

    1 1 i ~ i o n r i o s e enciclopdias, esse verbete hoje identificado com conceitos como11\loutrina" ou "sistema de ideias", elaborados de forma sistemtica, implicandomtuele sentido de contemplao abstrata, do conhecimento puro ligado ao ato inlulcctivo em si.21 O conceito "teoria" est vinculado a uma faculdade superior do~ c r humano.

    Por trs dessa concepo est um conceito dualista de ser humano que o divideWft esprito e matria. Ao vincular-se o conceito "teoria" com a esfera do espiritual,I ~ S l f t S e relacionando o mesmo com a esfera divina, pois Deus Esprito.

    PI HOFF, Leonardo. E a Igreja se fez povo. 3. ed. Petrpolis: Vozes, 1986. p. 110 faz essa afirmao no contexto(te sua reflexo sobre o papel do telogo, mas ela serve tambm para a definio do papel da Teologia Prtica.mVerbete ''Theorie". ln: Lexikonfor Theologie undKirche. Freiburg: Herder, 1965. v. IO, p. 93.11 t'f. PEREIRA, Otaviano. Oque teoria. So Paulo: Brasiliense, 1982. p. 8.

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    9/14

    Por outro lado, tudo o que diz respeito prtica corre o risco de ser vinculado aesferas "inferiores" da existncia humana, pois o que se materializa se corrompe emsua pureza. O termo "prtica" (do grego prasso22 : "prtica imanente", "ao") temuma conotao prioritariamente negativa na medida em que utilizado de maneiraquase que exclusiva para descrever a ao hurnana.23 Ainda que a "prtica" swja da"teoria", ela se constitui numa manifestao inferior do ser humano. Essa ideia teveuma influncia profunda sobre a nossa civilizao. At hoje o trabalho da cabea considerado superior e por isso melhor remunerado do que o trabalho das mos.Por ora, asseguremos como resultado intermedirio o fato do dualismo entreesprito e matria ter como consequncia o dualismo entre teoria e prtica.

    Um avano importante para o restabelecimento de urna relao mais sadiaentre teoria e prtica se obteve atravs de um redimensionamento do conceito de histria ocorrido na poca do Iluminismo. O Iluminismo caracteriza-se "por procurar areconciliao entre realidades em conflito no no nvel da explicao racional, masno plano da realizao histrica do racional[ .. ]. O racional no algo a ser contemplado, pois j existe; mas a ser realizado, pois ainda no existe"24

    O que significa isso? Recorrendo figura do teatro, poderamos dizer que deixou de existir o dualismo entre os atores que atuam num palco superior e os espectadores que se situam num nvel inferior. Os que eram meros contempladores agoraso coatores. E o palco onde tudo se desenrola um s: a histria.Ora, na medida em que a histria passa a ser o palco dos acontecimentos que

    tem o ser humano como coator, est introduzida a categoria da prxis como o dadofundamental para todo o desenrolar da pea. O ser humano realiza-se atravs da suaprxis. Evidentemente, como um ser dotado de razo, ele no s age, mas tambmreflete sobre a sua ao. E justamente "esse conjunto de ao/reflexo, pelo qual semanifesta e realiza a historicidade do homem, o que se chama prxis"25Antes de ser um animal racional ambulante, o homem um ser que permanentemente buscaum sentido para si e para o mundo em que se v envolvido[ ..] o homem, protagonista de todoato terico, no um ser que s possui cabea, mas tambm corpo, corao[ .. ] que manifestapaixes, desejos, angstias e sobretudo possui braos para agir. por causa de tudo isso queteoriza. No teoriza s porque pensa. Teoriza tambm porque sente, porque age.26

    22 Em Aristteles, wn conceito distinto de poiesis: ao transitiva que expressa criatividade, p.ex., a arte. Cf. FLORISTAN, 1993, p. 173s.23 Cf. Verbete "Prasso". ln: Theologisches Wrterbuch zum Neuen Testament. Stuttgart: Kohlhammer, 1959. v. 6,p. 632s.24 TABORDA, Francisco. F crist e prxis histrica. Revista Eclesistica Brasileira, Petrpolis, v. 41, n. 162, p.250-278, jun. 1981. p. 252.25 TABORDA, 1981, p. 253. Cf. tambm VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Filosofia daprxis. Rio de Janeiro: Paz cTerra, 1968. p. 194.26 PEFUEIRJ\, 1982,p. 14

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    10/14

    Reflexes em torno do mtodo da Teologia PrticaEstabelecida essa interdependncia entre teoria e prtica, resta perguntar pela

    'IIm relevncia para a teologia. A teologia tem entendido que o teorizar seja a sua voruo primeira. Atravs do exerccio intelectivo, ela tem buscado um conhecimento''uperior, de natureza espiritual. A atividade p r ~ i c a , ligada esfera do mundo e !lutureza humana, tem sido considerada de qualidade teolgica inferior. O resultado11lsso foi que, a reboque da filosofia grega, tambm a teologia se tomou presa de um1luulismo entre teologia propriamente dita e teologia prtica. Os verdadeiros te

    l u ~ o s refletem sobre Deus num palco superior e os telogos prticos desenvolvemllttodos de aplicao daquelas verdades no palco inferior da histria.Porm, na medida em que "a histria da salvao no vista s como a hisflria que Deus faz com o homem, mas como a histria que Deus chama o homem a

    l h ~ e r ' m , a obra das mos humanas passa a ser uma atividade to valorizada quanto11 nbra da cabea. No existe mais uma hierarquia entre teologia terica e teologiajlf(ttica. Pelo contrrio, ambas se condicionam e se enriquecem mutuamente e geramH prxis crist. Onde falta a teologia, a ao crist toma-se uma prtica irrefletida,l'llrrendo o risco de ser ingnua e sujeita manipulao ideolgica. Onde falta a prlit:u, a teologia toma-se especulao abstrata que no gera vida.

    A Teologia Prtica a disciplina que mantm viva a conscincia de que pret\isamente essa dialtica entre teoria e prtica, esprito e corpo, entre f e ao queengendra uma metodologia e uma prxis crist legtimas, que participam da ao del ) ~ u s na histria rumo implantao do seu Reino.

    As consideraes de carter genrico feitas acima tm consequncias paranutras questes relevantes com as quais a Teologia Prtica necessariamente precisalidar. A seguir menciono algumas delas. Trata-se, no fundo, de exerccios de media~ i l o da relao entre teoria e prtica.

    a) A mediao nas relaes de gneroA dicotomia entre esprito (mente) e matria (corpo) teve e continua tendoI'Unsequncias de longo alcance em diferentes reas de atuao da igreja e da convivencia humana. Rosemary R Ruether nos alertou para o fato de que essa dicotomia,

    Nfi ltima anlise, responsvel pelo sexismo e pelo patriarcalismo. Ela diz que atlflrmao da equivalncia de masculinidade e feminilidade na imagem de Deus estjii'Ofundamente arraigada na tradio crist. Tendeu, porm, a ser obscurecida poruma segunda tendncia

    de correlacionar a feminilidade com a parte inferior da natureza humana num esquema hierrquico da mente sobre o corpo, da razo sobre as paixes. J que esta parte inferior do eu

    l i TABORDA, 198I,p. 252.

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    11/14

    considerada a fonte do pecado a queda do corpo de sua unidade original com o mente e, emconsequncia, no pecado e na morte -, a feminilidade tambm passa a ser ligada com a partedo eu propensa ao pecado28Assim sendo, continua Ruether, a mulher "nunca pode representar a imagemde Deus to plenamente quanto o homem, que considerado representante da parteracional e espiritual do eu"29 Vemos assim que a hierarquia entre mente e corpo aca-

    ba se transformando em fator de legitimao da hierarquia entre homem e mulher.Essa questo se reveste de importncia para a Teologia Prtica na medida em queesta tem a incumbncia de se ocupar com o sujeito que age, ou seja, averiguar emque medida a prxis desenvolvida poralgum regida por ideologias oumotivos quemais encobrem do que revelam a mensagem do evangelho. No pode haver reflexosobre o mtodo de uma determinada ao sem levar em conta o sujeito que o execu-ta. A suspeita ideolgica serve purificao do mtodo.

    b) A mediao entre razo e experincia de fO protestantismo histrico tem uma concepo de f fortemente marcada porelementos racionais e cognitivos. Tudo o que diz respeito mstica, meditao e experincia lhe parece sobremodo suspeito. Assim ns desenvolvemos a capacidadede nos relacionar de forma razovel com o mundo exterior, com a realidade que noscerca, com as estruturas sociais, com as instituies e com a cultura. Mas somos mui-to pobres em nos relacionar com a realidade interior, com sentimentos e emoes,

    com as ansiedades mais profundas que se localizam em instncias subcutneas eque escapam da alada do intelecto e da razo. Tambm nossa prtica de culto deixapouca margem para essa realidade.Em meio a esse universo religioso excessivamente sbrio, corroborado por umasociedade cada vez mais regida por critrios tcnicos que deixam pouco espao para ocontato com a vida interior, no de se admirar que experincias que causam emoese arrepios estejam sendo cultivadas margem. O constante aumento do uso de txicose de drogas alucingenas que proporcionam esse tipo de sensaes pode ser sintomade uma pobreza de expresso e de cultivo de nossa vida interior. Aquilo que no temespao natural para ser cultivado precisa ser produzido por meios artificiais.30A tradio da igreja est repleta de momentos histricos que privilegiam o ele-mento mstico e a experincia mais profunda da f, tanto em nvel individual comocomunitrio, e que envolvem a totalidade dos sentidos humanos. Cabe resgatar algo

    28 RUElHER, Rosemary R. Sexismo e religio: rumo a uma teologia feminista. So Leopoldo: Sinodal, 1993. p. 83.29 RUETHER, 1993, p. 84.30 Seria interessante examinar em que medida a procura por cultos pentecostas e carismticos bem como as formas

    de culto afro, que privilegiam a experincia de f e a emoo, tm uma relao com o que aqui afirmamos.

    68

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    12/14

    Reflexes em tomo do mtodo da Teologia Prticariqueza espiritual. Muitos dos fiis que ainda frequentam a igreja no desejamlllt:ontrar no culto a mesmice do mundo cotidiano. Eles buscam a alteridade do en

    1111tro e da experincia com Deus. No af de acertar o passo com o mundo, a igreja~ \ l i g e n c i o u o cultivo da esfera mais profunda ligada verticalidade da f. Ora, aputica crist e a espiritualidade que a sustenta correm o perigo da superficialidade namesma proporo em que permanecem na esfera da horizontalidade.

    Cabe Teologia Prtica alertar para a necessidade de recuperar para os diasl l l ~ hoje o equilbrio entre a dimenso vertical-subjetiva e a dimenso horizontallt14'ional do fazer teolgico, entre a f que pensa e age e a f que experimenta oijllt: cr. A f no tem apenas uma lgica, ela tem tambm uma mstica. As diversasllthdisciplinas da Teologia Prtica precisam averiguar as implicaes metodolgicasdlltlSU verdade.

    c) A mediao entre tradio crist e novas formas de religiosidadeO cristianismo sofre atualmente a concorrncia das mais diferentes correntestdigiosas. Esse fenmeno est relacionado com o advento da chamada ps-modertthlude. A questo bsica do ps-modernismo resulta da "conscincia agnica doslimites que a modernidade em si mesma dissimula"31 A verdade- e a pretenso do

    1 t i r ~ t i a n i s m o de ser a sua nica salvaguarda- parece estar se fragmentando em uma1111tltiplicidade de verdades. Um dos apstolos da ps-modernidade na Alemanha, olt) mencionado Wolfgang Welsch32 , afirma no ser mais possvel interpretar o mundode l'onna unvoca. Para ele, a categoria da diferena original e irreversvel. Em1wnrapartida, toda tentativa de explicar o mundo mediante uma frmula nica tlllltl postura saudosista. O slogan do ps-modernismo "Vive la diffrence!'m. Em-.ltHuse, na gramtica da ps-modernidade a verdade se conjuga no plural.

    O que isso significa para a teologia evidentemente no pode ser examinadollljUi, pois estamos diante de postulados de profundo alcance para todo o fazer teoh!Kico. Todavia, como ponta de lana da teologia e como posto avanado de escuta11!1 igreja, cabe Teologia Prtica a tarefa de buscar uma sintonia com as correnteslllntcmporneas de pensamento. Ela precisa pensar a prtica crist em meio s forIIHlS mais diversas de religiosidade e s verdades que essas reclamam para si.34 TantoIIIUN aqui na Amrica Latina e particularmente no Brasil, onde se condensou aohmgo dos sculos um verdadeiro caleidoscpio de manifestaes religiosas. Essas

    li WESTHELLE, Vtor. Teologia e ps-modernidade. ln: MARASCHIN, Jaci (Org.). Teologia sob limite. Rio de,lnnciro: ASTE, 1992. p. 145.11 i\tmd MEYER-BLANCK, 1996, p. 230s.11 I'IMM, H. Wege zurVielsprachlichkeit. Lutherische Monatshefte, Hannover, v. 30, n. 7, p. 315-317, 1991. p. 315.li ( 'f. MEYER-BLANCK, 1996, p. 231.

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    13/14

    podem no ser fruto da lgica ps-modernista35 , mas colocam de maneira incmodna pergunta pelo exclusivismo da verdade crist na nossa agenda teolgica.A Teologia Prtica no precisa temer o contato com a diversidade do fenmeno da religio e o pluralismo - ps-modernista ou no - que lhe inerente. ATeologia Prtica deriva a sua identidade da tradio crist, respectivamente do Evangelho de Jesus Cristo. Essa identidade lhe d a maturidade e o equilbrio necessriospara no cair em nenhum dos dois extremos, seja o de se tomar promotora de uma

    "teologia do vale tudo", onde cada um prepara o seu prprio coquetel religioso, ouo de se tomar porta-voz de um dogmatismo fechado e avesso possibilidade de queDeus fale igreja de fora dos seus prprios muros. O mtodo da Teologia Prtica determinado pela sua autocompreenso como disciplina que transita entre os limites.

    d) A mediao de valores alternativos aos que regem o presente sculoA era da globalizao da economia traz em seu bojo consequncias deveraspreocupantes para a comunidade humana. Cito apenas algumas:- a crescente estratificao tanto em nvel de classes sociais como em nvel denaes, ou seja, a diviso de pessoas e de pases em duas categorias: os que interessam sob o ponto de vista econmico e os descartveis;- a mercantilizao das relaes sociais, ou seja, a absoluta subordinao devalores humanos, tais como o direito a trabalho e salrio justo, s leis do mercado.

    A mo de obra excedente e por isso mesmo cada vez mais barata est possibilitando,tambm entre os chamados pases de Primeiro Mundo, um retomo a condies detrabalho do sculo passado;- o enfraquecimento das instituies, entre as quais o prprio Estado, e a consequente ausncia de instncias de controle sobre a atividade econmica, bancria esobretudo sobre a pesquisa;- e, por ltimo, a perda da noo de que existam alternativas viveis ao modelo vigente. Parece que o nosso caminho est traado e que no faz sentido se entregar

    utopia de pensar um modelo diferente de sociedade.O maior perigo que existe para a igreja - e para a teologia - que ela searranje dentro da conjuntura atual, se desgaste em procurar salvar o que seu, emdefender seu rebanho da concorrncia das chamadas "seitas"; que ela promova ajustes econmicos, estruturais e litrgicos em nvel interno e que, de tanto se ocuparconsigo mesma, venha a negligenciar a sua funo teolgico-proftica; que deixe deter vises e de se preparar de forma adequada para participar do debate das grandes

    3S Pessoalmente, considero-as antes de natureza pr-iluminista.

    70

  • 7/22/2019 TEOLOGIA PRTICA MTODO

    14/14

    Reflexes em torno do mtodo da Teologia Prtica~ I I I C S t e s da pauta mundial. O desafio est colocado teologia como um todo. Cabe l'.:ologia Prtica lembrar a igreja que em Pentecostes ela recebeu o penhor do Esptllo de Deus. Ela s permanecer nesse Esprito enquanto inspirar os seus filhos e as,uas filhas a profetizar, seus velhos a sonhar e os seus jovens a ter vises (Joel 2.28).

    3.4 Concluso

    Tenho conscincia de ter abordado um tema dificil. Algumas questes ficaramjWndentes e carecem de aprofundamento. Dou-me por satisfeito, por isso, se minhasrunsideraes contriburam para motivar leitores e leitoras a continuar refletindor,uhre o assunto.Discutir aqui sobre o mtodo da Teologia Prtica foi para mim uma tentativa

    1le relacionar da melhor forma possvel os universos mencionados logo no incio:I ~ u s , mundo e igreja. No se tratou de pretender faz-los interagir - at porquell'l universos Deus, mundo e igreja no so fechados, mas tangenciais-, e, sim, dehuscar viabilizar uma comunicao ideal, de otimizar o trnsito entre eles. Destarte11 mtodo est a servio do objetivo ltimo da Teologia Prtica, que a busca porunm prxis coerente com a palavra de Deus, com a misso da igreja e com as reais

    l l e ~ c s s i d a d e s do mundo. Em ltima anlise, ela se coloca a servio da prxis de DeusIIII mundo, pois toda a ao humana outra coisa no seno parceria com Aquele que

    uutor e consumador de toda boa obra.36

    UlhliografiaI i !III', Leonardo. E a Igreja se fez povo. 3. ed. Petrpolis: Vozes, 1986.III )1111, Leonardo; BOFF, Clodovis. Como fazer teologia da libertao. 3. ed. Petrpolis: Vozes, 1986.I I UIUSTAN, Casano. Teologia Prctica: teoria y praxis de la accin pastoraL 2. ed. Salamanca: Sgueme, 1993.li IW LER, James W. Praktische Theologie und gegenwartige Kultur-Auf der Suche nach enem neuen Paradigma.ln: NIPKOW, Karl Ernst et ai. (Orgs.). Praktische Theologie und Kultur der Gegenwart: ein internationaler

    Ulalog. Gtersloh: Gtersloher, 1991. p. 155-169.I ii IIIIR, Claude. Como fazer teologia hoje: hermenutica teolgica. So Paulo: Paulinas, 1989.li!IU. Wilhelm. Die Praktische Theologie auf der Suche nach ihrer Einheit und der Bestimmung ihres Gegenstanth.:s. ln: NIPKOW, Karl Ernst et ai. (Orgs.). Praktische Theologie und Kultur der Gegenwart: ein internationaler

    l)ulog. Gtersloh: Gtersloher, 1991. p. 77-88.III'NKYS, Jrgen. Die Praktische Theologie.ln: AMMER, Heinrich et ai. Handhuch der Praktischen Theologie.

    Ucrlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1975. v. 1, p. 1-56.III VNS, L. M.; PIETERSE, H. J. C. A Primer in Practical Theology. Pretoria: Gnosis, 1990.ll)Uil!RDO, Ivan A. O compromisso do cientista com a sociedade. Porto Alegre: UFRGS, 1995.

    lt cllllfiCS W. Fowler nos lembra disso com muita propriedade. Cf. FOWLER, James W. Praktische Theologie und1\\liiCnwartige Kultur Aufder Suche nach einem neuen Paradigma. ln: NIPKOW et al. (Orgs.), 1991, p. 155s.