21
ÉMILE BENVENISTE E A TEORIA DA ENUNCIAÇÃO Lee Pontes

Teoria Da Eunciação

Embed Size (px)

DESCRIPTION

resumo de benveniste

Citation preview

Page 1: Teoria Da Eunciação

ÉMILE BENVENISTE E A TEORIA DA ENUNCIAÇÃO

Lee Pontes

Page 2: Teoria Da Eunciação

SAUSSURE E SUA DICOTOMIA

A linguagem humana, segundo Saussure (1916), tem um aspectosocial e um aspecto individual.

O aspecto social é o conhecimento internalizado da LANGUE,conhecimento partilhado por todos os falantes que permite acomunicação entre os membros de um determinada comunidade.

O aspecto individual (PAROLE) é o uso individual da LANGUE.

Assim, a LANGUE é convencionada socialmente pelos falantes.

Na langue, só há diferenças semânticas(conteúdo) e fônicas(forma)

Page 3: Teoria Da Eunciação

RESUMO DA TEORIA SAUSSURIANA

Saussure diz que a língua não é nada mais que um sistema de valorespuros. Descartando toda possibilidade de que a língua pudesse seruma descrição do mundo, o linguista apresenta sua teoria, enfocandoa língua como um fato social, produto da coletividade, queestabelece os valores desse sistema através da convenção social,sobre a qual o indivíduo não teria nenhum poder. Para perceber quea língua não é senão um sistema de valores, o linguista parte daanálise de dois de seus aspectos básicos, as ideias e os sons.

Page 4: Teoria Da Eunciação
Page 5: Teoria Da Eunciação

AS DIFERENÇAS E OS NÍVEIS

Fônicas

As vogais e as consoantes

Regras combinatórias

Relação entre substantivo e artigo, o uso do "NH", etc.

Essas regras tratam-se de conhecimento internalizado da LANGUE e são aplicadas em cada "ato de linguagem" (PAROLE).

Benveniste (1966, p. 284), [se] a linguagem é, como se diz,instrumento da comunicação, a que deve ela essa propriedade?

Page 6: Teoria Da Eunciação

SUBJETIVAÇÃO

Segundo Benveniste (1966, p. 286), "é na linguagem e pela linguagemque o homem se constitui como sujeito". Todo ato de linguagem é acolocação do homem na língua. Assim, a linguagem que faz o homemsurgir na sua realidade que é a realidade do ser: EGO.

Subjetivação é, por conseguinte, a capacidade do falante de sepropor como sujeito. Não trata-se de transferir a realidade do serpara a língua, pelo contrário, mas sim de conservar a individualidadeda experiência vivida por meio de uma atividade psíquica que fazassegurar a permanência da consciência do ser.

Tal subjetividade não se baseia numa visão fenomenológica do ser ouuma teorização da psicologia, mas trata-se de uma emergênciafundamental da linguagem. É o ego se diz ego. O Ego só diz ego anão ser se dirigindo à alguém, que será na minha alocução um tu. Taldiálogo é que constitui a categoria de pessoa.

Page 7: Teoria Da Eunciação

ENUNCIAÇÃO

LANGUE PAROLE

ENUNCIAÇÃO

O que é enunciação?

A enunciação é a instância* de mediação entre a LANGUE e PAROLE.

* conjunto de **categorias que cria um determinado objeto.

** Uma noção que serve para agrupar uma classe de elementos darealidade. Se são uma classe, esses elementos guardam traços comuns.

Page 8: Teoria Da Eunciação

CATEGORIAS DA ENUNCIAÇÃO

Se enunciação é a instância de mediação entre LANGUE e PAROLE, oenunciado é o dito. Assim, as categorias da enunciação procura reuniros elementos envolvidos nos processos de passagem daspotencialidades ou dos elementos linguísticos para os atos delinguagem.

As categorias da enunciação são os elementos linguísticos que sórecebem um significado quando tomadas pelo ato de linguagem porum falante em um determinado tempo e em um determinado lugar.

Segundo Saussure (2010) o signo linguístico é composto de umsignificante e um significado, ou seja, um parte sonora e uma partepsíquica.

Significado

Significante

Page 9: Teoria Da Eunciação

CONTEXTO DISCURSIVOa) Intenção, que se atribui ao locultor;

b) Relação social que o locutor mantém interlocutor;

c) A localização do sujeito em interação

d) Os mecanismos operantes sobre o universo de referência,produzido “estado de coisas reconhecidos como relevantes elegítimos ou susceptíveis de serem aceites como tal;

Competência comunicativa

- Competência linguística

- Competência situacional

- Competência interacional

Page 10: Teoria Da Eunciação

DÊIXIS: UMA NOÇÃOBenveniste foi quem propôs um entendimento dos elementosdêiticos, dentro da Teoria da Enunciação, que Cançadoapresenta como os pronomes pessoais, mostrativos,possesivos, indefinidos, interrogativos, tempos verbais,advérbios de lugar e tempo, etc.

Os elementos dêiticos são termos que só fazem sentidoquando estão em uso.

Para Cançado, seriam elementos cujas interpretaçõesdependem de informações contextuais, embora nãopossamos classificá-lo como elementos pragmáticos.

Benveniste, em “O aparelho formal da enunciação”, que aenunciação está em toda a língua. Por meio da subjetivaçãofoi possível explicar o uso do dêitico nos atos de fala.

Page 11: Teoria Da Eunciação
Page 12: Teoria Da Eunciação

DÊIXIS COMO ROTEIRO

Segundo Ilari & Geraldi (1987) podemos entender o sentido dos dêitico é um certo “roteiro para encontrar os referentes”.

A Dêixis está ligada a três instâncias: pessoa, tempo e espaço;

Segundo Benveniste (1976), a dêixis é um fenômeno quedemonstra a presença do homem na língua colocando emdiscussão algumas visões que limitam o estudo dasignificação.

Vale ressaltar que os dêiticos são embreadores, no sentidoem que não pode ser entendido fora de uma referência àmensagem.

Page 13: Teoria Da Eunciação

ENUNCIAÇÃO A enunciação é processo pelo qual o falante toma a língua e a torna num ato de fala.

A enunciação é a instância de mediação, que assegura, segundo Greimas& Courtés, a colocação em funcionamento do enunciado/discurso dasvirtualidades da língua.

A instância é o conjunto de categorias que criam um determinadodomínio.

é uma noção que vai servir para

agrupar uma classe de elementos da

realidade

Elementos comuns em uma

característica funcional

As categorias linguísticas permitem o

agrupamento de elementos que se

unem por conservar uma característica

comum: artigo, pronome, verbo, objeto

direto, etc.

Page 14: Teoria Da Eunciação

ENUNCIAÇÃO

Para Benveniste, a enunciação é a instância de mediaçãoentre a língua e a fala. Ele aponta para a existência de umconjunto de categoria que permite ao individuo passar dalangue para parole.

Benveniste percebeu que existem elementos linguísticos que sófazem sentido quando tomado por um ato enunciativo ouquando tomamos a palavra num processo de enunciação. Umexemplo: o significado do “eu” é construído no ato deenunciar.

Eu comi muito bolo ontem aqui.

Assim, a enunciação é a instância do ego hic et nunc.

Page 15: Teoria Da Eunciação

ENUNCIAÇÃO

Essas três categorias são chamadas de dêiticos, pois apontam algo no texto.

Pessoa / Tempo / Espaço

Esses indicam as pessoas, os tempos e os espaços da situaçãode enunciação.

Podem ser chamados embreadores, pois colocam em relaçãoo texto e a enunciação.

Enunciação é a instância logicamente pressuposta pelapresença do enunciado.

Page 16: Teoria Da Eunciação

Como entender os enunciados a seguir.

Estive aqui e

não encontrei-a.

Amanhã, volto.

Page 17: Teoria Da Eunciação

"Quem cospe para o céu, na cara lhe

cai"

Page 18: Teoria Da Eunciação

NOÇÃO DE REFERENCIALIDADE

Distinção entre dêixis (sentido se dá em cada uso) e anáfora (se forma e se mantem pela manutenção do referente) se funda na distinção entre sentido e referência.

A anáfora consiste em identificar objetos, pessoas, momentos, lugares e ações, entretanto, isso se dá por uma referência a outros objetos, pessoas, etc.

Tem uma mulher aí fora. Ela quer vender livros.

Avise a Teresa que saí, se ela ligar.

O professor mandou avisar que as provas só serão entregues na terça-feira.

Ela já saiu.

Maria estava na sala, mas ela já saiu.

Page 19: Teoria Da Eunciação

Quando, Lídia, Vier o Nosso Outono -Ricardo Reis

Quando, Lídia, vier o nosso outonoCom o inverno que há nele, reservemosUm pensamento, não para a futuraPrimavera, que é de outrem,Nem para o estio, de quem somos mortos,Senão para o que fica do que passaO amarelo atual que as folhas vivemE as torna diferentes.

Page 20: Teoria Da Eunciação

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - Machado de Assis

Ao leitor

Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores,coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmenteconsternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nemcinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez.. Dez? Talvez cinco. Trata-se, naverdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livrede um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumasrabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado.

Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícilantever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave acharáno livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola nãoachará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves edo amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.

Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio éfugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menoscoisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evitocontar o processo extraordinário que empreguei na composição destasMemórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamenteextenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma étudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Page 21: Teoria Da Eunciação

1888

9 de janeiro

Ora bem, faz hoje um ano que voltei definitivamente da Europa. O que me lembrou estadata foi, estando a beber café, o pregão de um vendedor de vassouras e espanadores:"Vai vassouras! vai espanadores!" Costumo ouvi-lo outras manhãs, mas desta vez trouxe-meà memória o dia do desembarque, quando cheguei aposentado à minha terra, ao meuCatete, à minha língua. Era o mesmo que ouvi há um ano, em 1887, e talvez fosse amesma boca.

Durante os meus trinta e tantos anos de diplomacia algumas vezes vim ao Brasil, comlicença. O mais do tempo vivi fora, em várias partes, e não foi pouco. Cuidei que nãoacabaria de me habituar novamente a esta outra vida de cá. Pois acabei. Certamenteainda me lembram cousas e pessoas de longe, diversões, paisagens, costumes, mas nãomorro de saudades por nada. Aqui estou, aqui vivo, aqui morrerei.

Cinco horas da tarde

Recebi agora um bilhete de mana Rita, que aqui vai colado:

9 de janeiro

"Mano,

Só agora me lembrou que faz hoje um ano que você voltou da Europa aposentado. Já étarde para ir ao cemitério de São João Batista, em visita ao jazigo da família, dar graçaspelo seu regresso; irei amanhã de manhã, e peço a você que me espere para ir comigo.Saudades da

Velha mana,

Rita."

Não vejo necessidade disso, mas respondi que sim.