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1 MANUEL MONTEIRO RIBEIRO TEORIA DA SIMETRIA «Trabalho científico apresentado no ISE para a obtenção do grau de Licenciatura em ensino da Matemática»

TEORIA DA SIMETRIA - Portal do Conhecimento: … I – INTRODUÇÃO A teoria da simetria constitui hoje um belo exemplo de teoria inter-disciplinar, na qual problemas de diversos campos

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MANUEL MONTEIRO RIBEIRO

TEORIA DA SIMETRIA

«Trabalho científico apresentado no ISE para a obtenção do grau de Licenciatura em

ensino da Matemática»

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Orientadora: Professora Doutora NATALIA V. K. DIAS FURTADO

Trabalho Científico

O júri

_______________________________

_______________________

_______________________

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ISE Praia,........de.....................de 2008

AGRADECIMENTOS

Cordialmente, os meus profundos e sinceros agradecimentos, a minha imensa gratidão e

reconhecimento:

À Professora Doutora NATÁLIA V. K. DIAS FURTADO que, de forma sábia, se

disponibilizou em me orientar no trabalho, para que este se concretizasse;

Aos professores e colegas do ISE, pelo apoio prestado ao longo do curso;

Finalmente, o meu reconhecimento e gratidão aos meus familiares mais próximos,

pelo apoio e carinho dados em momentos difíceis na elaboração deste trabalho.

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“A Beleza está estreitamente relacionada com a simetria.”

H. Weyl

“Tu, no teu lago, te contemplas a ti mesmo.”

J. M. Legaré

“Os desenhos do matemático, como os do pintor ou o poeta, têm de ser belos: as ideias,

como as cores ou as palavras devem relacionar-se de maneira harmoniosa.”

G. H. Hardy

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Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família pelo seu apoio incondicional

e em especial ao meu filho Mauro.

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ÍNDICE

I – INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..7

1.1 OBJECTIVO DO TRABALHO……………………………………………………………...7

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO……………………………………………………………..8

II – TEORIA DA SIMETRIA ……………...………………………………………………10

2.1 SOBRE O CONCEITO DE GEOMETRIA……………………………………………………10

2.2 TRANSFORMAÇÕES ORTOGONAIS................................................................................... 12

2.3 ISOMETRIAS OU MOVIMENTOS RÍGIDOS .......................................................................... 17

2.4 GRUPO DE SIMETRIA DE UMA FIGURA PLANA ................................................................. 21

2.5 GRUPOS PONTUAIS DE SIMETRIA OU DE LEONARDO ....................................................... 25

Teorema de Leonardo ............................................................................................. 26

2.6 GRUPOS DE SIMETRIA DOS FRISOS .................................................................................. 28

2.7 CLASSIFICAÇÃO PARA OS GRUPOS DE FRISOS ................................................................. 36

Algoritmo de “Rose e Stafford” de classificação de frisos .................................... 36

Fluxograma para classificação de frisos de Wasburn e Crowe .............................. 37

Chave para a classificação dos grupos de frisos ..................................................... 39

2.8 GRUPO DE SIMETRIA DO PLANO ..................................................................................... 40

Algoritmo de identificação dos 17 grupos de simetria do plano ............................ 47

2.9 TEORIA DE MOSAICOS .................................................................................................... 48

III – CONCLUSÃO…………………………………………………………………………53

IV – BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………………...56

V – ANEXOS......…………………………………………………………………………….58

A.1 GRUPO DE LEONARDO E DESENHO ................................................................................. 58

A.2 OS FRISOS E A ARQUITECTURA ....................................................................................... 59

A.3 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS............................................................................................... 61

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I – INTRODUÇÃO

A teoria da simetria constitui hoje um belo exemplo de teoria inter-disciplinar, na qual

problemas de diversos campos científicos, artísticos e técnicos são abordados com a

metodologia comum da simetria.

A nível linguístico, como assinala H. Weyl, hoje em dia existem dois significados

distintos da palavra simetria: por uma parte a aceitação «simetria» equivalente a

«concordância, equilíbrio, boa proporção» utilizada principalmente em Arquitectura e por

outra a conotação geométrica da palavra. A este último significado se destina o presente

trabalho. Neste sentido se entenderá que a teoria da simetria é uma parte da geometria que

operando sobre o espaço euclidiano engloba como transformações todas as isometrias, sendo

seu interesse específico o estudo dos grupos de isometrias que deixam invariantes as figuras.

Em tal teoria se enquadram os grupos de simetria pontuais, os grupos de frisos, os

grupos de simetria do plano, a teoria de mosaicos,... etc. conceitos que se desenvolvem com

especial detalhe ao longo deste trabalho.

1.1. OBJECTIVO DO TRABALHO

No âmbito da elaboração do presente trabalho para o fim do curso de Complemento de

Licenciatura – Monografia – retratamos e desenvolvemos o tema “Teoria da Simetria” pois,

à Geometria deve ser atribuído um papel de relevo por se considerar o ramo singular da

Matemática para a consecução do desenvolvimento da capacidade de interpretar e intervir no

mundo que nos rodeia, de estruturar o raciocínio lógico, de analisar e sintetizar, de comunicar

pela imagem, mas também por contribuir para uma formação indispensável a muitas

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profissões e, em súmula, a Geometria é geradora de problemas de grande riqueza e

facilitadora da compreensão do Universo e é um campo tremendamente dinâmico e em

constante evolução.

Notemos que a presente monografia é ampliação e aprofundamento da matéria estudada

nas disciplinas “Álgebra Linear e Geometria Analítica”, “Álgebra Superior” e

“Geometria II” do Curso de Bacharelato e de Complemento de Licenciatura em Ensino da

Matemática. Por isso, a parte, ligada com as estruturas algébricas, as transformações

ortogonais e com isometrias, que foram detalhadamente consideradas, nas disciplinas

indicadas, não entram de maneira aprofundada no corpo do trabalho, mas fazem-se algumas

observações e lembranças. Pressupõe-se que o leitor ou utilizador desse material tem os pré-

requisitos necessários para acompanhar o texto.

O objectivo da monografia será a de:

1 – recolher e sistematizar material, através do qual os professores e alunos podem

aprofundar os seus conhecimentos adquiridos;

2 – mostrar a beleza da simetria e suas diversas aplicações na vida real.

1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO

Dada a complexidade do tema e a interligação entre a simetria, os frisos e a arquitectura

assim como a teoria de mosaicos, estruturamos o trabalho da seguinte forma:

I – Introdução.

II – Teoria da simetria.

2.1 – Sobre o conceito de geometria.

2.2 – Transformações ortogonais.

2.3 – Isometria ou movimentos rígidos.

2.4 – Grupos de simetria de uma figura plana.

2.5 – Grupos pontuais de simetria ou de Leonardo.

2.6 – Grupos de simetria dos frisos.

2.7 – Classificação para os grupos de frisos.

2.8 – Grupo de simetria do plano.

2.9 – Teoria de Mosaicos.

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III – Conclusão.

IV – Bibliografia.

V – Anexos.

Através desta monografia pode-se compartilhar nossa fascinação pelo tema da simetria e

pode encontrar por si mesmo um amplo campo de criação própria.

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II – TEORIA DA SIMETRIA

2.1.- SOBRE O CONCEITO DE GEOMETRIA

A geometria sempre parte da observação da realidade. Diferentes realidades motivam

diferentes modelações geométricas e diferentes linguagens matemáticas, provocando enfoques

metodologicamente diferentes da geometria, que é um campo dinâmico e evolutivo, sempre

interligado com o mundo real. Por isso, na pergunta “O que é a geometria” são dadas

diferentes respostas ao longo da história.

Em 1872 o matemático alemão Félix Klein publicou seu famoso trabalho Vergleichende

Betrachtungen Uber neuere geometrische Forschungen, conhecido posteriormente como o

Programa de Erlanger, onde se justifica a definição moderna e unificadora da Geometria.

Para Klein, numa geometria existem duas bases fundamentais: um espaço E e um grupo

EG de transformações desse espaço. O espaço E pode ser um conjunto finito de elementos,

a recta r, o espaço R3, …, qualquer conjunto não vazio. O grupo de transformações EG

(contínuo) com identidade, contido no grupo de todas as possíveis bijecções de E em E. A

partir desse par EG,E se pode classificar as figuras, os subconjuntos não vazios de E, de

acordo com as transformações de ,EG seguindo o seguinte critério: as figuras F e 'F de E

são equivalentes, e escreve-se ,'F~F se e só se uma transformação T de EG transforma F

em ,'F i. é, '.FFT Notemos as seguintes propriedades dessa relação:

a) F~F (propriedade reflexiva de ~ ou reflexividade);

b) se ,'F~F então F~'F (propriedade simétrica de ~ ou simetria);

c) se 'F~F e ,''F~'F então ''F~F (propriedade transitiva de ~

ou transitividade).

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Ser ~ uma relação de equivalência, facilita classificação das figuras do espaço: em cada

“classe” de figuras aparecem umas figuras dadas e todas as figuras obtidas a partir dessas

mediante as transformações consideradas, naturalmente, sobre um mesmo espaço podem se

considerar diferentes grupos de transformações, dando lugar com isso a generalização de

diferentes geometrias: existem tantas geometrias quantos possíveis subgrupos do grupo de

bijecções do espaço em si mesmo.

Qual é a distinção essencial entre uma geometria e outra?1

Conforme o Klein “o que caracteriza cada geometria são as propriedades das figuras que

são preservadas/ou, como também se diz, permanecem invariantes” para certo grupo de

transformações, quer dizer, permanecem verdadeiros após a figura ser transformada por uma

qualquer transformação do grupo.

Quanto mais “rica” é uma geometria, mais pequeno é o grupo de transformações

característico dessa geometria, e vice-versa. Grupos de transformações já vinham sendo

considerados em geometria, mas a novidade do programa de Klein foi transformá-los no

principal objecto de estudo, permitindo não só classificar as geometrias como traduzir

problemas geométricos (nomeadamente, em geometria projectiva) em linguagem algébrica e

resolvê-los por métodos algébricos da teoria dos invariantes, Klein também mostrou, que

existe uma relação entre o grupo das rotações do dodecaedro (um dos 5 sólidos platónicos,

poliedro regular com 12 faces pentagonais) e as raízes da equação algébrica geral do quinto

grau, a qual explica a razão pela qual dita equação pode ser resolvida por meio de funções

elípticas (mas não por radicais, como mostrou Abel).

As classificações das geometrias segundo Klein procedem da mais geral, a projectiva,

com maior grupo de transformações, para a mais especial ou particular, a euclidiana, que tem

o mais pequeno grupo de transformações. Pelo meio ficam, em generalidade decrescente, a

geometria afim, a hiperbólica, a elíptica e a parabólica.

As transformações que caracterizam a geometria euclidiana são as isometrias ou

movimentos rígidos, i. é, as colineações que preservam as distâncias para quaisquer pontos

P e Q , .Q,PdQ,Pd 2

1 C. Alsira – E. Trillas, Lecciones de Álgebra Y Geometria, Editorial Gustavo Gili, S. A., Barcelona, 1984 (pp.

12 - 14) 2 A. J. Franco de Oliveira, Transformações Geométricas, Universidade Aberta, 1997 (pp. 75 - 76)

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***Desde a óptica de Klein, se tem o seguinte esquema que corresponde às diferentes

geometrias:

Geometrias clássicas em R3

Geometria Transformações Invariantes

Uniforme Semelhanças Ângulos, paralelismo, razões

Euclidiana Isometrias Distâncias, ângulos,

paralelismo, razões

Afim Afinidades Paralelismo, razões

Projectiva Projectividades Razões

Assim, na geometria euclidiana, as transformações consideradas são as isometrias ou

movimentos rígidos (automorfismos), as translações, as rotações, as reflexões (inflexões

axiais) e reflexões deslizantes.

Intuitivamente, podemos dizer que uma isometria preserva ou conserva a “forma” e a

“grandeza” das figuras: se é uma isometria e 'FF então as figuras F e 'F têm a

mesma “forma” e “grandeza”.

Para qualquer figura F R2

e isometria , também dizemos que é uma simetria de F

sse .FF É fácil mostrar que o conjunto

IsoFSim ( R2): FF

é um subgrupo de Iso(R2), chamado o grupo simétrico ou grupo de simetria de F, e também

designado, por vezes, .FS

Na geometria equiforme consideram-se as semelhanças, i. é, as composições de

homotetias com isometrias.

2.2 TRANSFORMAÇÕES ORTOGONAIS

No espaço euclidiano (Rn, ·) interessa muito especialmente estudar todas as possíveis

transformações que conservam o produto escalar. Para ele se estabelece a seguinte definição:

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Definição 2.2.1. – Um endomorfismo T: Rn R

n se diz ortogonal se conserva os

produtos escalares, isto é, se ,yxyTxT para todo par y,x

de R

n.

Podemos recopiar no seguinte teorema as propriedades básicas de ditas transformações.

Teorema 2.2.1. – Seja T uma aplicação linear e ortogonal de Rn. Então:

i) T conserva as normas, as distâncias e os ângulos.

ii) T transforma bases ortonormais em bases ortonormais.

iii) Se T admite um valor próprio , necessariamente é .1 ou .1

Demonstração:

Por conservar T os produtos escalares resulta xxxxTxTxT

, isto é, T

respeita as normas e, sendo linear verifica yxyxTyTxT

, as distâncias se

conservam. Relativamente aos ângulos cabe notar que

;cosyx

yx

yTxT

yTxTcos yxyTxT

de onde se segue i). Por conservar T as normas e os ângulos (e em particular a ortogonalidade)

resulta ii). Por último para iii), se ,vvT

para certo , necessariamente

vvTvv

e portanto 1 e .1

Do ponto de vista destes resultados podemos caracterizar matricialmente ditas

transformações:

Teorema 2.2.2. – As matrizes das transformações ortogonais se denominam

ortogonais e se caracterizam pelo facto de que sua matriz inversa coincide com sua transposta.

Em particular, seu determinante vale +1 ou -1.

Demonstração: - Seja T a matriz da transformação ortogonal T. Então

,yTTxyTxTyTxTyxtt

para todo ,y,x

onde nt

ITT e portanto .TT t 1 Reciprocamente, se 1

TT t

resulta yxyTTxyTxTtt

e T é ortogonal. Como, além disso, se 1 TT t é

Tdet/TdetTdetTdett

11

será 12Tdet e .Tdet 1 Portanto, os

endomorfismos ortogonais são bijectivos.

Quando 1Tdet se diz que se conserva a orientação da figura e quando 1Adet se

diz que se muda de orientação.

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O conjunto GO ( Rn) = :TT R

n Rn linear e ortogonal é um grupo

relativamente à composição que se chama ortogonal de Rn e, pelo teorema anterior, se

identifica com o grupo das matrizes nn ortogonais.

Vamos dar agora explicitamente as classificações de todas as transformações ortogonais

de R2 e R

3, i. é, os componentes de GO ( R

2) e GO ( R

3).

a) Transformações ortogonais em R2.

Seja T: R2 R

2 linear e ortogonal. Se sua matriz é

dc

baT ao ter que se verificar

1 TT

t resulta

ac

bd

Tdetdb

ca 1, ou equivalente

Tdet

da e

Tdet

bc

.

Distinguiremos os dois possíveis casos de 1Tdet . Se 1Tdet será ;bc,da

de donde

ab

baT e .ba 122 Existirá então um ângulo tal que cosa e senb e,

portanto T se poderá escrever como

.cossen

sencosT

Ditas transformações é um giro ou rotação de centro na origem 00, e ângulo (fig.

2.2.1.). Se º180 se fala também de simetria central.

Fig. 2.2.1.

No outro caso, se 1Tdet será ;bc,da e

ab

baT com ,ba 122 portanto

existirá também com cosa e senb e

cossen

sencosT

Dita matriz representa uma simetria axial com eixo, a recta ,xtgy 2 recta que passa

por 00, e forma um ângulo 2

relativamente ao eixo x (fig. 2.2.2.).

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Fig. 2.2.2.

No que se segue anotaremos por o

G o giro de centro o

e ângulo e por 2S a

simetria axial relativamente à recta .xtgy 2 Como elementos fixos, os giros só têm a

origem e as simetrias axiais, os eixos de simetria. Em particular, se ov

1 é um vector

unitário num eixo de simetria e se elege um 2v

unitário e ortogonal a ,v1

resultará que

relativamente a esta base ortonormal privilegiada 21 v,v

a matriz da simetria axial é

10

01.

b) Transformações ortogonais em R3.

Seja T: R3 R

3 linear e ortogonal. Vamos classificar T de acordo com a dimensão

do subespaço de seus vectores fixos

Ker xIT

3 R3 xxT

.

Por ser Ker 3IT R3, existirão quatro possíveis valores para sua dimensão:

b1) Se dim Ker ,IT 33 todos os pontos de R3 são fixos e é ,IT 3 a identidade.

b2) Se dim Ker ,IT 23 existe um plano de vectores fixos. Sejam 21 v,v

uma

base ortonormal de . Em particular 11 vvT

e 22 vvT

. Escolhendo (fig. 2.2.3) 3v

unitário e ortogonal a obteremos uma base ortonormal de R3: 321 v,v,v

. Como 11 vvT

,

22 vvT

e 3vT

é outra base ortonormal, necessariamente é 33 vvT

, mas então 1 .

Se fosse 1 seria 33 vvT

e 3v

estaria em , o qual é absurdo por construção.

Portanto é ,1 com o que 33 vvT

e em dita base ortonormal especial a matriz de

T é

100

010

001

T ,

tratando-se de uma simetria especular relativamente ao plano . Como a priori ,Tdet 1

resulta que dita simetria especular muda a orientação.

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Fig. 2.2.3.

b3) Se dim Ker ,IT 13 existe uma recta r de vectores fixos. Seja 1v

um vector

unitário em r 11 vvT

e sejam 32 v,v

uma base ortonormal do plano perpendicular a r que

passa pela origem 132 vv,v

(fig. 2.2.4.).

Fig. 2.2.4.

Por ser 321 v,v,v

uma base ortonormal de R3, será 11 vvT

, 32 vT,vT

uma base

ortonormal e, portanto, 132 vvT,vT

Então a restrição de T a actua como uma

aplicação linear :T que é ortogonal e não possui nenhum vector fixo em , salvo a

origem. Logo dita restrição é necessariamente um giro em de centro o

e certo ângulo .

Por isso é

,cos,sen,vT,sen,cos,vT 00 32

e a matriz de T será (na base especial 321 v,v,v

):

,

cossen

sencosT

0

0

001

tratando-se de uma rotação em torno do eixo 1vr

que conserva a orientação .Tdet 1

b4) Se dim Ker ,IT 03 somente a origem fica fixo por T. Por isso T não pode

ter um valor próprio +1; mas ao ser a equação característica 03 ITdet do terceiro grau,

admitirá uma solução real que necessariamente deverá ser -1. Seja 1v

unitário e tal que

.vvT 11

No plano 1v

escolha-se uma base ortonormal .v,v 32

Então, por ser (fig.

2.2.5.) 321 v,v,v

uma base ortonormal de R3, e 11 vvT

, resulta como antes

132 vvT,vT

e a restrição de T ao plano 21 v,v

será ,:T linear e

ortogonal sem nenhum ponto fixo salvo a origem, tratando-se pois T de um giro:

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.cos,senvT,sen,cosvT 32

Nesta especial base 321 v,v,v

a matriz de T é

e se trata de uma simetria rotacional ou rotação imprópria que muda a orientação .Tdet 1

Fig. 2.2.4.

Com o anterior esgotamos todas as possibilidades de análises e portanto a classificação

está completa, isto é:

Teoremas de classificação 2.2.3. – As únicas transformações ortogonais em R2 são os

giros em torno da origem e as simetrias axiais com eixos que passam pela origem. As únicas

transformações ortogonais em R3 são as rotações em torno de um eixo pela origem, a simetria

especular relativamente a um plano que contem a origem e a simetria rotacional.

2.3.- ISOMETRIAS OU MOVIMENTOS RÍGIDOS

Um movimento rígido ou isometria é uma aplicação F: Rn R

n que conserva as

distâncias, isto é, ,yxyFxF

para todo par de pontos y,x

de Rn.

Exemplos de isometrias são:

a) As transformações ortogonais, como endomorfismos T de Rn que conservam o

produto escalar yxyTxT são isometrias ao verificar-se:

;yxyxyxyxTyxTyxTyTxT

b) As translações aT : Rn R

n tais que ,axxTa até mesmo não sendo

lineares se ,a 0

conservam as distancias, pois:

yxayaxyTxT aa .

cossen

sencosT

0

0

001

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Notando que se F e G são isometrias sua composição GF também o é:

,yxyGxGyGFxGFyGFxGF

resulta um terceiro exemplo:

c) As composições de translações e transformações ortogonais são isometrias.

Podemos agora estabelecer o teorema fundamental de representação das isometrias,

segundo o qual toda isometria é do tipo c) descrito anteriormente.

Teorema 2.3.1. – Toda isometria F é uma transformação ortogonal, ou bem uma

translação composta com uma transformação ortogonal.

Demonstração – Seja F: Rn R

n isometria. Vamos distinguir dois casos:

Caso 1. – Seja 00

F . Neste caso para todo z

Rn se cumpre:

.zzzzFzFzFzFzF

222200

Como 22yxyFxF

resulta ,yxyyxxyFxFyFyFxFxF 22

e utilizando a propriedade primeiramente verificada ,xxxFxF yyyFyF

se

segue yxyFxF

. Assim pois, F conserva os produtos escalares. Falta verificar que F é

linear para poder concluir que, neste caso de ,F 00

F é uma transformação ortogonal. Para

isto notemos que se ne,...,e

1 é base ortonormal de Rn, ao conservar F os produtos escalares,

necessariamente neF,...,eF

1 é uma base ortonormal de Rn. Consideremos agora y,x

R

n

e R. para cada n...,,,i 21 se satisfaz:

,yexeyxe

yFeFxFeFyxFeF

yFxFyxFeF

iii

iii

i

0

portanto, ao ser o vector yFxFyxF

ortogonal a todos os elementos

neF,...,eF

1 da base ortonormal, necessariamente dito vector é nulo; i. é,

,yFxFyxF 0

e F é linear, como se queria demonstrar.

Caso 2. – Seja 00

F . Considera-se então a aplicação F~

: Rn Rn

, dada por

0

FxFxF~

. Evidentemente 0000

FFF~

e sendo F isometria F~

também o é,

pois

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yxyFxFFyFFxFyF~

xF~

00 .

Portanto, F~

é uma isometria que deixa fixo a origem e pelo caso 1, F~

é uma transformação

ortogonal. Como ,FxF~

xF 0

poderá escrever-se F~

TFF

0

e resulta que F é a

composição da transformação ortogonal F com a translação do vector 0

F . (Teorema está

demonstrado).

Como as isometrias são bijectivas e são afinidades, é fácil ver que o conjunto de todas

isometrias

GM ( Rn) TT : R

n R

n isometria

forma um grupo relativamente à composição que é um subgrupo do grupo afim GA ( Rn) e

que contem por sua vez como subgrupo o grupo ortogonal GO ( Rn):

GO ( Rn) GM ( R

n) GA ( R

n).

Grupo ortogonal Grupo métrico Grupo afim

(conserva o produto escalar, (conserva distâncias, (conserva paralelismo)

i. é, ângulos, rotações) translações, rotações)

Ao grupo métrico GM ( Rn) se lhe denomina também geometria métrica.

A nível de descrição matricial da isometria ,F~

TFF

0

sendo ijaA~

F~

uma

matriz ortogonal e na,...,aF 10

o vector translação, pode escrever-se a transformação F na

seguinte forma:

11001

2

1

1

1112

2

1

nnnnn

n

n x

x

x

aaa

aaa

'x

'x

'x

donde implicitamente se assume o convénio de identificar os vectores de Rn: nx,...,x,x 21

com os de Rn+1

: 121 ,x,...,x,x n de última coordenada 1. O seguinte esquema resume as

isometrias de R2 e R

3 (fig. 2.3.1.).

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ISOMETRIAS

TRANSLAÇÃO

100

10

01

b

a

+1

R2

TRANSLAÇÃO E

GIRO

100

bcossen

asencos

+1

TRANSLAÇÃO E

SIMETRIA AXIAL

100

10

01

b

a

-1

TRANSLAÇÃO

1000

100

010

001

c

b

a

+1

TRANSLAÇÃO E

SIMETRIA ESPECULAR

1000

100

010

001

c

b

a

-1

R3 TRANSLAÇÃO E

ROTAÇÃO AXIAL

1000

0

0

001

ccossen

bsencos

a

+1

TRANSLAÇÃO E

SIMETRIA ROTACIONAL

1000

0

0

001

ccossen

bsencos

a

-1

Fig. 2.3.1.

A tabela anterior permite que se sinta a importância que tem a posição relativa da

translação da isometria com os elementos fixos da transformação ortogonal associada. No

caso particular de que exista paralelismo foram introduzidos denominações especiais. Tal é o

caso do movimento helicoidal (rotação axial com translação paralela ao eixo) ou simetria com

deslizamento (simetria axial do plano com translação paralela ao eixo).

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21

2.4. GRUPO DE SIMETRIA DE UMA FIGURA PLANA

No que se segue se entenderá por figura plana F qualquer subconjunto de R2. Estudar

«estaticamente» F consiste em analisar as propriedades métricas ou euclidianas de F (seus

ângulos, suas convexidades, e concavidades,... etc.). Mas por ser o grupo euclidiano ou

métrico GM (R2

) simples (toda isometria é uma translação composta com uma rotação ou

uma simetria axial), também cabe analisar F «dinamicamente», isto é, estudar sob que

movimentos rígidos permanecem F invariante. Para isso, dada a figura plana F, considere-se

,FS o conjunto de todas as isometrias que transformam a figura em si mesma, isto é,

GMTSF (R2

) .FFT

Ao considerar a composição de isometrias (que são bijectivas) se verifica trivialmente:

a) Se T, 'T FS então ,F

' STT

b) Se F

' ST então ,S'T F1

c) ,SI F2

propriedades que asseguram uma estrutura de grupo a .SF Por isso a FS se lhe denomina o

grupo de simetria da figura F. Tal grupo é, evidentemente, um subgrupo do grupo GM (R2

).

Vamos determinar FS para algumas figuras simples:

P

_________________r

B C

A D

B C

r1

1r

A D

r2

B

A C

B C

A D

Fig. 2.4.1.

1f : Por 1f se tratar de um ponto P, 1fS contem todas as rotações de centro O e todas as

simetrias axiais com O no eixo e as combinações de ditos movimentos. Se trata

O

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22

evidentemente de um grupo com infinitos elementos que, no entanto, não existe nenhuma

translação.

:f2 A recta r ficará invariante por todas as translações de vector paralelo a r, por todas as

simetrias com eixo ortogonal a r e por todas as rotações de 180º (simetrias centrais) com

centro num ponto de r. Os ditos movimentos gerarão 2f

S .

:f3 O trapézio irregular 3f só é invariante pela identidade e, portanto, resulta um grupo

de simetria trivial .IS f 23

4f : O rectângulo [ABCD], com ,BCAB_________

tem dois eixos de simetria 1r e 2r e é

invariante pelo giro de 180º ao redor do ponto P (intersecção de 1r com 2r ). Assim pois,

).S,S,G,I(S rrº

Pf 214

1802 Por tratar-se de um grupo com um número finito de elementos

cabe escrever a «tabela» do grupo:

O 2I

1rS

2rS º

PG180

2I 2I 1r

S 2r

S ºPG180

1rS

1rS 2I º

PG180 2rS

2rS

2rS º

PG180 2I 1r

S

ºPG180 º

PG180 2rS

1rS 2I

:f5 O triângulo equilátero [ABC] de centro de gravidade 0, é invariante para os três giros:

º2400

º1200

G,G e 2º360

0IG e pelas simetrias de eixos 0A, 0B e 0C. Eis, pois, a tabela de

dito grupo :S .f5

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23

O

2I o

oG120 o

oG240 1rS

2rS

3rS

2I

2I

o

oG120 o

oG240 1r

S 2r

S 3r

S

o

oG120

o

oG120

o

oG240 2I 2r

S

3r

S

1rS

o

oG240

o

oG240

2I

o

oG120 3rS

1rS

2rS

1rS

1r

S

3r

S

2rS

2I

o

oG240 o

oG120

2rS

2r

S

1r

S 3r

S

o

oG120 2I

o

oG240

3rS

3rS

2rS

1r

S o

oG240 o

oG120 2I

6f : O mosaico rectangular infinito gerado pelo ladrilho rectangular [ABCD] é invariante pelas

translações múltiplas dos vectores

AD e

AB (e suas combinações), assim como para as

simetrias axiais próprias de 4f e as de eixos paralelos que passam pelos centros dos ladrilhos.

Por se tratar de um grupo infinito não tem cabimento fazer a tabela, mas sim dar estes

movimentos geradores do grupo de simetria.

Recapitulemos depois das análises dos exemplos anteriores algumas observações que

podem ser úteis com vista a determinar grupos FS de simetrias de figuras F:

1) FS contem como mínimo a identidade .I2 Assim pois, qualquer figura por irregular

que seja «tem» grupo de simetria. Por isso cabe dizer que a figura é mais regular quantos mais

elementos tenham .SF

2) Figuras muito distintas podem ter o mesmo grupo de simetria. Isto é, FS não

caracteriza univocamente à figura F. Por exemplo, as seguintes figuras têm como grupo de

simetria 1f

S antes descrito.

Fig. 2.4.2.

3) Nas figuras cabe distinguir os pontos fixos dos elementos duplos. Os pontos fixos o

são pelos movimentos (centros de rotações, eixos de simetria, ….). Os elementos duplos são

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24

aqueles subconjuntos que se transformam «globalmente» em si mesmos (mesmo que não

tenham pontos fixos). Por exemplo, numa simetria axial o eixo é de pontos fixos, mas as

rectas ortogonais ao eixo são elementos duplos com um só ponto fixo. Note-se que as

translações não têm pontos fixos e, no entanto, admitem rectas duplas (as paralelas ao vector

translação).

4) Os grupos de simetria FS podem ser finitos ou infinitos. No caso finito pode fazer-se

a tabela completa do grupo e no caso infinito cabe enumerar os elementos geradores de FS ,

isto é, as isometrias que combinadas entre elas dão todos os possíveis elementos de FS .

Note-se que a finitude ou não de FS não está na relação a priori com a acotação ou infinitude

geométrica da figura F. Assim, um ponto ou círculo têm grupo de simetria infinito e, pelo

contrário, a seguinte figura F infinita tem grupo FS finito (fig. 2.4.3.).

Fig. 2.4.3.

5) As figuras podem «classificar-se» a partir dos grupos de simetria. Basta definir a

relação de equivalência: “ F~F’, duas figuras são simetricamente equivalentes, se e só se

existe uma isometria GMf (R2) tal que fSfS FF' 1 ”, ou equivalentemente,

“ fTf'T 1 para cada .S'T,ST 'FF ”

6) A quantidade de elementos do grupo de simetria FS de uma figura F coincide com o

número de maneiras diferentes em que a figura F recortada num plano de cartão pode

reintegrar-se no cartão.

Por exemplo:

(1) (2) (3)

Fig. 2.4.4

No caso (1) só existe uma possibilidade, no (2) existem 6 possibilidades (girando o

cartão de lado se é preciso) e no caso (3) há infinitas maneiras. Este princípio manual tão

elementar tem importância radical no problema do acoplamento, multiuso e coordenação de

desenhos.

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25

Nos sub-capítulos seguintes se estudarão com detalhe três tipos especiais de grupos de

simetria: os pontuais ou de Leonardo, os dos frisos infinitos e os chamados do plano.

2.5. GRUPOS PONTUAIS DE SIMETRIA OU DE LEONARDO

Um tipo especial de grupo de simetria é o chamado grupo pontual ou de Leonardo, em

honra de Leonardo da Vinci, quem utilizou tais grupos em alguns de seus desenhos

arquitectónicos de capelas.

DEFINIÇÃO 2.5.1. – Um grupo de simetria FS de uma figura plana F, se chama

pontual ou de Leonardo se FS é um grupo finito e existe um ponto O de F, fixo por todos os

elementos de FS . Ao dito ponto fixo se lhe denomina centro de simetria de F.

Vamos encontrar todos os possíveis grupos de Leonardo. Com efeito, se FS é um tal

grupo finito com um ponto O fixo [ao ser GMSF (R2)], FS não pode conter nenhuma

translação ao ser O fixo, portanto, FS só poderá ter giros ou rotações com centro O e

simetrias axiais com O no eixo. Vamos analisar dois casos:

a) Se FS contem um giro ou rotação oG de centro O e ângulo , necessariamente

deverá conter ,...GG...G,...,GGG,G kooooooo 2 todas os giros ou rotações de centro O

e ângulo .k Mas sendo FS um grupo finito, a única possibilidade para conter a anterior

sucessão é que a dita sucessão só contenha um número finito de elementos distintos, o qual é

equivalente a que, para certo n, resulte ,IGG ono 2

2 isto é, .n

2 Assim pois, se FS

contem um giro(ou rotação), este será de ângulo n

2 e FS também conterá as suas

repetições .IGG,G,...,G,G on

n

on

)n(

on

on

o 22

221

22

2

Indicamos por nC o grupo cíclico

gerado por ,G n/2 isto é,

n....,,,kGC n/kon 212

b) Se FS contem uma simetria axial rS relativamente a uma recta r, tal que ,rO

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26

então uma primeira possibilidade é que o grupo seja .ISS,S rrr 2 Se FS contem além

disso outra simetria 'rS , com 'rr ,'rO deverá conter ,GSSSS or'r'rr sendo o

dobro do ângulo formado por r e r’. Mas pela a), necessariamente será ,n

2 para certo

n>1. Neste caso FS deverá conter os ,rO elementos do grupo cíclico nC mais todas as n

simetrias axiais obtidas ao girar a recta r segundo os ângulos .n....,,,k,n

k 212

Chamaremos

nD ao grupo diedral com n giros e n simetrias axiais, isto é, para n>1:

.n,...,,iS,GDir

in

on 21

2

Para 1n temos .I,SD r 21 Note-se que é ,IC 21 mas ,IDn 2 para todo n.

Toda esta argumentação prévia tem permitido encontrar todos os possíveis grupos

pontuais, isto é, acabamos de demonstrar o teorema de Leonardo.

TEOREMA DE LEONARDO 2.5.1. – Os únicos grupos de simetria de Leonardo

são os grupos cíclicos nC ou os grupos diedrais ,Dn para ....,,n 21

Na figura 2.5.1. se recopiam os ditos grupos (com a notação n/ºo

n

º GG 360360 e

n

ºk

n

º)k(

n

ºG......GG 360360360

). Ressaltemos que se bem que todos os grupos são finitos, existem

infinitos deles.

Fig. 2..5.1.

Na tabela anterior foram dados figuras geradas a partir de um módulo, por iteração dos

grupos nC e .Dn Vamos evidenciar agora que, os grupos de Leonardo para ,3n se

correspondem univocamente com os grupos de simetria dos polígonos. Todo polígono de n-

lados ou n-polígono está determinado por n vértices distintos nV,...,V,V 21 e os n lados ou

segmentos 113221 VV,VV,...,VV,VV nnn (os lados só têm em comum os vértices). Cada três

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27

vértices consecutivos determina um ângulo. O n-polígono se diz convexo se dados os pontos,

situados nos lados, o segmento que os une está contido no interior do polígono ou na sua

fronteira. Quando o n-polígono é convexo e todos seus lados e ângulos são iguais, se diz que é

um polígono regular. Por exemplo, das figuras seguintes com 12 lados (fig. 2.5.2.) só a

primeira é um 12-polígono regular; a segunda (cruz grega) é um 12-polígono não regular e a

terceira não é um polígono. Clarificado este conceito de polígono, podemos prosseguir o

estudo dos grupos nC e .Dn

1) 2) 3)

Fig.2.5.2.

TEOREMA 2.5.2. – Para todo 3n o grupo diedral nD é exactamente o grupo de

simetria do n-polígono regular.

Demonstração. - Evidentemente 3D é grupo de simetria de um triângulo equilátero.

Dado um polígono nP regular e com n lados (inscrito numa circunferência) este ficará

invariante por nD , ao conter nD os giros de centro, o centro da simetria e ângulo 2/n, e as

simetrias axiais relativamente às rectas determinadas pelos pares de vértices diametralmente

opostos e pelos pontos médios dos lados paralelos. Assim pois, .Fn nSD Mas se uma

isometria T está em ,FnS ao conservar T as distâncias e ângulos necessariamente enviará 1V

a outro vértice ;Vi0 então 2V irá parar a ,VV ii 1010 portanto T (que deixa fixo o centro) será

ou um giro ou uma simetria de nD , com o que nDT e .DS nPn Em conclusão,

nP DSn (fig. 2.5.3.).

Fig.2.5.3.

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28

Ao mesmo que sucede com os grupos 1D e 2D também os grupos cíclicos 1C e 2C são

especiais (fig. 2.5.4.).

Fig.2.5.4.

Para construir polígonos (não regulares) que correspondam a ,Cn com ,3n

consideremos uma circunferência C de centro O e um ponto 1W de C.. Seja 1M um ponto

médio do raio _____

1OP e tracemos o círculo 1C centrado em O e de raio _____

1OM . Ao dividir C em

n partes obtemos os pontos .W...,,W,W n21 Marque-se sobre 1C os pontos médios

nM...,,M,M 21 dos raios .OW,...,OW,OW_____

n

__________

21 Seja nQ o polígono orientado obtido ao unir o

caminho de pontos 11332211 M,W,M,W,...,W,M,W,M,W,M nnn (fig. 2.5.5.).

Fig.2.5.5.

TEOREMA 2.5.3. – Para todo 3n o grupo cíclico nC é exactamente o grupo de

simetria do n – polígono orientado .Qn

Demonstração. - Obviamente em .SCnQn Como

nQST deixa fixo O, T será um

giro de centro O ou bem uma simetria ao axial com eixo por O. Por ser T isometria, T enviará

1X a outro vértice .Wi0 Se T fosse simetria axial enviaria 2W a 1010 ii WW e então existiria

um giro G tal que TG fixaria O e 2W , pelo qual o segmento 3WM iria parar a 12MW que

não está em .Qn . Assim, T é giro, está em nC e é .CS nQn

2.6. GRUPOS DE SIMETRIA DOS FRISOS

Os frisos, elementos substanciais da ornamentação clássica, têm como denominador

comum a repetição de um determinado módulo, figura ou motivo ao longo de uma banda

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29

rectangular, dando-se sempre uma periodicidade sistemática na repetição do módulo, o que

constitui, precisamente, a base do ritmo que o friso comunica.

Por isso no desenho de frisos existem de entrada dois graus de liberdade: a eleição do

motivo gerador e a eleição de aquelas transformações que aplicadas ao motivo inicial

permitam «encher» a banda rectangular que contem o friso. Enquanto que o desenhador pode

eleger arbitrariamente o motivo inicial, resulta que as possíveis transformações para gerar os

frisos se limitam a uma gama muito limitada: os sete grupos de frisos que estudaremos com

detalhe seguidamente. Esta limitação generativa, longe de moderar as possibilidades criativas

vem mostrar a essência geométrica que se esconde por de trás de uns desenhos tão diversos

como sugestivos. Contemplemos antes de entrar na descrição matemática do tema os

seguintes sete esquemas (fig. 2.6.1.).

1F 11F

21F 3

1F

2F 1

2F

22F

Fig. 2.6.1.

Pode-se analisar visualmente quais são os movimentos que em cada caso foram

aplicados ao motivo inicial. Note-se que a efeitos de classificação serão indistinguíveis

aqueles frisos que contenham o mesmo «tipo» de transformações.

Vamos introduzir agora a definição formal de friso:

DEFINIÇÃO 2.6.1.- Seja r uma recta com vector director .a

Um grupo de simetria F de um

friso é qualquer grupo de isometrias do plano que deixa fixa r e contenha, como únicas

translações o grupo gerado pela translação ;Ta isto é:

a) GMTTF (R2

) e ,r)r(T

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30

b) ,nTF an e se FTb é anb

com .n

Evidentemente, todo grupo de friso conterá infinitos elementos, pois como mínimo

estará formado pelo grupo de translações gerado por .Ta

LEMA 2.6.1. – As únicas isometrias que podem formar parte de um grupo de friso com

recta fixa r são: as translações ,T an com n e a

vector director de r; a simetria axial rS

relativamente a r; as simetrias axiais 'rS com eixo r’ ortogonal a r; os giros n

AA GG de

centro um ponto A de r e ângulo 180º, e as combinações de todos os movimento anteriores.

Pode-se reconstruir facilmente a demonstração deste lema vendo que qualquer outro tipo

de isometria no descrito no enunciado violaria a invariância de r. No que segue utilizaremos

sistematicamente as notações introduzidas neste lema: ,anT rS , 'rS , AG e indicaremos

)(ATA ann e por nM o ponto médio de nA e .1nA

LEMA 2.6.2. – Com as notações precedentes se verifica:

a) Se rCBA ,, então ,DABCCBA GGGGGGG para certo .rD

b) .raar STTS

c) Se rA é .GGT MAa 1

d) ,. 'rra SST se r´´ ortogonal a r no ponto médio entre ´rrP e ).(PTa

e) Se rA e T é isometria, é .)(

1

ATA GTGT

Agora estamos em condições de começar a descrição sistemática dos sete grupos de

frisos.

1) Grupo de friso 1F só com translações. Neste caso, pela própria definição de grupo e

friso, 1F constará só das translações geradas por ;aT isto é,

.1 nTF an

Note-se que o grupo 1F estará contido em todos os demais grupos de frisos. Um friso

típico com grupo 1F é: (fig. 2.6.2.).

A0 M0 A1 M1 A2 M2 A3 M3 A5

Fig.2.6.2.

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31

2) Grupo de friso 2F que contem 1F e só tem isometrias que conservam a orientação.

Se é 12 FF e 2F só tem isometrias que conservam a orientação, necessariamente 2F deve

conter só giros ,AG com rA e não terá nenhuma simetria axial. Assim, se 21 FF e

22,FFGA deverá conter também os elementos da forma ., nGT Aan Em particular, 2F

conterá os elementos )A(amTamam GGT 22 [ c) do lema 2.6.2], isto é, todos os giros de

centro ),(ATA amm com .m . Também 2F deverá conter MmAam GGT

)12( giros de

centro mM , ponto médio entre )(AT am e ).()1( AT am

Vejamos agora que 2F não pode conter

nenhum outro tipo de giro.

Com efeito, se 2FGB seria 22

FTGGAB

AB e portanto deveria se ,an

AB TGG

para certo n de Z, pois tais são as únicas translações permissíveis em ;2F em tal caso ocorreria

,)()()( .nan

ABB AATAGGAG e portanto B seria o ponto médio entre A e ,nA isto é, B

seria um ponto .mM Assim temos demonstrado que 2F , por conter só isometrias que

conservam a orientação, só pode conter 1F , os giros nAG e os giros ,

nMG isto é:

,,,2 nGGTFnn MA

an

e 2F se gera combinando somente

aT com ,AG para certo .rA Um friso característico de

2F é (fig. 2.6.3.).

Fig. 2.6.3.

Como acabamos de ver 1F e 2F são os únicos grupos que só contêm isometrias que

conservam a orientação. Os restantes grupos de frisos resultarão de admitir simetrias axiais,

isto é, de ampliar 1F e 2F com ditas simetrias.

3) Grupo de friso 1

1F obtido ao ampliar 1F com tS e suas combinações. Se 111 FF

e 1

1

1

1 ,FFSt também conterá tanan

t STTS [ b) lema 2.6.2], sendo ,

ant TS com

,0, nn 1

1F não terá nem giros nem nenhuma outra simetria axial diferente de tS .

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32

Um friso típico com grupo 1

1F é (fig. 2.6.4.).

Fig. 2.6.4.

4) Grupo de friso 1

2F obtido ao ampliar 2F com tS e suas combinações. Assim 1

2F

conterá além de

aT e AG (geradores de 2F ) tS e todas as combinações do tipo:

(*) ,)2,1(,,;1

2 iknTGSFan

i

A

k

t

devendo-se recordar que tS comuta com

aT e AG (lema 2.6.2). Em particular de (*) resulta

que 1

2F contem a simetria com deslizamento tan

ST que transforma A em ).(ATAan

n

Também 1

2F conterá os elementos nrtAan

SSGT 2

e nrrAan

SSGT ')12(

, donde (fig.

2.7.1) nr ' indica a perpendicular a r em nA e nr ' a perpendicular a r em nM ponto médio de

nA e .1nA

Um friso característico com grupo 1

2F é (fig. 2.6.5.).

Fig. 2.6.5.

5) Grupo de friso 2

1F obtido ampliando 1F só com uma simetria )´(' rrSr

e suas combinações. Se 2

1F se gera com 1F e )´(' rrSr necessariamente todo elemento de

2

1F será da forma ''' rar STS , onde '','' rrr passa pelo ponto médio entre 'rrP e

)(PTa [pela d) do lema 2.6.2].

Por isso 2

1F não conterá rS , mas sim todas as simetrias com eixos perpendiculares a r

nos pontos nArrA ´, e .nM Um friso característico com grupo 2

1F (fig. 2.6.6.) é:

Fig. 2.6.6.

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33

6) Grupo de friso 2

2F obtido ampliando 2F com mmr MArrrrS ,',´(' se m

e suas combinações.

2

2F contem 2F (terá ,AG para certo A de r) e contem ´rS com r’ ortogonal a r. Se ´rr

fosse nn MA resultaria 1

2

2

2 FF o qual é absurdo. Seja pois ,´ Prr com mAP e

mMP para todo ..m Como 'ra

ST estará em 2

2F e pelo lema 2.6.2. d) dita

transformação é a simetria axial ,''rS com r’’ perpendicular a r no ponto médio de P e )(PTa

(fig. 2.7.1.), podemos supor sem perda de generalidade que P é precisamente o ponto médio

de A e M [pois ao ser ,2

2')( FrArAS SGSGr

necessariamente )(' ASr deve ser um dos

centros permissíveis de giro, isto é, MASr )(' ]. Além disso, 2

2F não pode conter a simetria

ArS ' ( Ar ' perpendicular a r em A), pois em caso contrário 2

2F conteria também a translação

Arr SS '' que envia A a M, o qual é absurdo ).aAM(___

Analogamente se vê que tão pouco

2

2F pode conter .rS

Em definitiva, 2

2F estará gerado por '',, rAa SGT com ''r ortogonal a r em P ponto

médio de A e M. Agora bem, por ser Ar GSL ' uma simetria com deslizamento que leva A

a M será

aTLL e ,'´ Ar GLS

e por ele Ar GSL ' e AG geram 2

2F . Um friso típico com grupo 2

2F é (fig. 2.6.7.).

Fig. 2.6.7.

7) Grupo de friso 3

1F obtido ampliando 1F com uma simetria com deslizamento e

suas combinações. Seja 3

1FI uma simetria com deslizamento. Como necessariamente

3

1FII é uma translação, deve ser de 1F e será ,TII am para certo m. Distinguiremos

os casos nm 2 ou .12 nm

Se fosse nm 2 seria ,TII an 2 e ao permutar I com aT resultaria

,I)IT()IT( anan 2

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34

e 31

FIT an seria .rS Então teríamos ,FTS aKr3

1 para todo ,K com o qual em

3

1F haveria os giros aKr TS e 1

2

3

1 FF ou não haveria nenhum giro e seria .1

1

3

1 FF Assim,

para que 3

1F dê lugar a um grupo de friso diferente dos anteriores será necessariamente

.12 nm Em tal caso, de a)n(TII 12 se deduz

,T)IT()IT( aanan

e tomando LIT an resultaria aTLL e portanto L mudaria a orientação. Como além

disso L leva A a M, L será simetria com deslocamento. Sendo então

am)m( TL 2 e ,LTL am

)m( 12

resulta que todas as simetrias com deslizamento em 3

1F são da forma .m,LT am Assim

3

1F se gera com aT e a simetria com deslizamento (ao redor de r) L tal que .aTLL Um

friso característico com grupo 3

1F é (fig. 2.6.8.).

Fig. 2.6.8.

Nota: Se existisse um grupo de friso F tal que 31

FF ocorreria que F poderia ter, por

exemplo, ).'(' rrSr Se FSr ' então F teria o giro LSr ' e então seria ;FGA ao ter F,

AG e L, seria .2

2FF Desta forma se comprova que não existe nenhum grupo de friso

diferente dos descritos que contenha 3

1F .

Esta enumeração e discussão cuidadosa dos sete grupos de friso constituem na realidade

o esboço básico da demonstração do seguinte teorema:

TEOREMA 2.7.1. – Fixada uma recta r de vector director a

sejam:

a) :Ta Translação de vector a

.

b) :rS Simetria axial de eixo r.

c) :AG Rotação de 180º ao redor de .rA

d) :S 'r Simetria axial de eixo 'r ortogonal a r.

e) L : Simetria com deslizamento.

Então existem somente 7 grupos de frisos cujos geradores são indicados abaixo (veja-se

figura 2.6.9.).

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35

.G,LF,S,G,TF,G,TF

T,LF,S,TF,S,TF,TF

ArAaAa

a'raraa

22

122

31

21

111

A descrição detalhada dos sete grupos de friso que se acaba de oferecer permite por sua

vez resolver o problema de enquadrar qualquer friso dado de acordo com a classificação

estudada. Com vista a facilitar a dita classificação, é conveniente seguir um algoritmo claro

que vá delimitando passo a passo todas aquelas isometrias subjacentes ao friso. O algoritmo

de Rose e Stafford cumpre o dito objectivo. (*)

Uma generalização interessante dos frisos é o caso dos frisos ou bandas com diversas

cores.

Fig. 2.6.9.

Na tabela anterior (fig., 2.6.9.) aparecem as 31 classes de bandas bicolores. A figura

gerada é em geral um triângulo com uma cara branca e uma negra e nos casos 9, 14, 17, 19,

24, 26 e 31 um triângulo com as duas caras de igual cor. Cabe notar que em ditas bandas

aparecem rotações axiais especiais de 180º em redor da direcção do friso.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

31

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36

Os tipos de frisos possuem as seguintes características:

Tipo Meia -volta Reflexão horizontal Reflexão vertical Reflexão deslizante

1F Não Não Não Não

31F Não Não Não Sim

21F Não Não Sim Não

2F Sim Não Não Não

22F Sim Não Sim Sim

11F Não Sim Não Não

12F Sim Sim Sim Não

2.7. CLASSIFICAÇÃO PARA OS GRUPOS DE FRISOS

Durante a consulta de livros e artigos sobre os frisos deparamo-nos com algumas

notações diferentes para classificar os grupos de frisos, cada uma usando um processo

diferente.

(*) ALGORITMO DE “ROSE E STAFFORD” DE CLASSIFICAÇÃO DE FRISOS

11F

Não

Existe translação mínima? Não é um friso

Existe simetria

horizontal?

Existe simetria horizontal?

Existe um giro?

Sim

Existe simetria

vertical?

Existe simetria

com deslizamento?

Não

Sim

Sim

Não

Sim

Sim

Não

Não

Não Sim

Não

Sim

Existe simetria

com deslizamento?

1F

21F

31F

12F 2

2F 2F

11F

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37

Uma das outras notações provém da notação3 standard cristalográfica para os frisos e é

constituída por 4 símbolos. O primeiro símbolo “ p ” é igual para os sete grupos de frisos e

representa a repetição na direcção horizontal (translação) característica deste tipo de frisos.

Os restantes símbolos podem ser:

m: aparece em segundo lugar se existir reflexão vertical senão fica um “ 1 “ neste

lugar;

aparece em terceiro lugar se existir reflexão segundo uma linha horizontal e neste

caso, também, existirá reflexão deslizante. No caso desta simetria se verificar mas não existir

reflexão horizontal ou nenhuma das duas, o símbolo é um “ a “;

2: surge, sempre em quarto lugar se o friso manifestar simetria de rotação de grau 2

senão, o quarto símbolo será “ 1 “.

A classificação dos grupos de frisos, segundo esta notação é feita segundo o seguinte

fluxograma:

12

F 22

F 21

F 11

F 31

F 2F 1F

Fluxograma para classificação de frisos [de Wasburn e Crowe]

3 - in “www.prof2000.pt”

Existe uma reflexão (simetria) de eixo vertical?

sim não

Existe uma reflexão de eixo

horizontal?

Existe uma reflexão de eixo horizontal ou uma

reflexão deslizante?

sim não

Existe uma meia-

volta?

sim não

pma2 pmm2 pm11

sim não

p1m1

Existe uma reflexão

de eixo horizontal?

Existe uma meia-

volta?

sim não sim não

p1a1 p112 p111

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38

Outra notação4 usada é uma versão simplificada de símbolos internacionais de

duas dimensões, como tal é constituída por dois símbolos. O primeiro representa o elemento

de simetria perpendicular à direcção da translação e o 2º símbolo representa o elemento de

simetria paralelo ou perpendicular à direcção da translação (exclusiva para a rotação de grau

2).

Nesta notação utilizam-se as letras m e g e os números 1 e 2 com os seguintes

significados:

m: se for o 1º símbolo, o friso tem simetria vertical;

se for o 2º símbolo, o friso tem simetria horizontal;

g: aparece sempre como 2º símbolo se o friso apresentar simetria de reflexão

deslizante;

1: se for o 1º símbolo, o friso não tem simetria vertical;

se for o 2º símbolo, o friso não tem nenhuma simetria, além da indicada pelo 1º

símbolo;

2: aparece sempre como 2º símbolo se o friso tem simetria de rotação de grau 2

(180º).

Seguindo esta notação, a classificação dos grupos de frisos procede-se do seguinte modo:

Existe uma reflexão de eixo vertical?

Sim Não

Existe uma Existe uma Não existe Existe uma Existe uma Existe uma Só existe

reflexão de reflexão reflexão de reflexão de reflexão meia –volta simetria de eixo

horizontal deslizante eixo horizontal eixo horizontal deslizante translação

nem reflexão deslizante

12

F 22

F 21

F 11

F 31

F 2F 1F

Fluxograma (adaptado da APM)

4 - in “www.prof2000.pt”

m 1

1g 1m 11 m1 12 mm mg

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39

Se utilizarmos o programa Kali5 depararemos com uma notação que não coincide com

nenhuma destas, trata-se da notação “Orbifold” de John Conway. Contudo, podemos

estabelecer ligações entre a notação de Wasburn e Crowe e a notação “Orbifold” de John

Conway:

Wasburn e

Crowe

Orbifold

pmm2 *2200

pma2 2*00

pm11 *0000

p1m1 00*

p1a1 000

p112 2200

p111 0000

Chave para a classificação dos grupos de frisos

Como só há sete grupos de simetria possíveis, dado um friso qualquer, podemos

determinar facilmente a que tipo pertence.

Conforme as respostas, assim o grupo, tendo em conta a “chave” seguinte, onde “S”,

“N”, “meia-v”, “refl”, “refl-c” e “refl-d” abrevia “Sim”, “Não”, “meia-volta”, “reflexão”,

“reflexão na central” e “reflexão deslizante”, respectivamente.

1

31

21

11

2

22

12

:

:?:

:

?:

:

?:

:

:?:

:

?:

?

FN

FSdreflN

FS

reflN

FS

creflN

FN

FSreflN

FS

creflS

vmeia

5 - in “www.prof2000.pt”

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40

2.8. GRUPO DE SIMETRIA DO PLANO

Neste capítulo estudaremos certos grupos de isometrias que actuam sobre todo o plano

R2 e que por isso se chamam grupos de simetria do plano. E. S. Fedorov, estudando

cristalografia, demonstrou a existência de unicamente 17 grupos de simetria do plano. Na

realidade, como cita o próprio Fedorov, já em 1869 C. Jordan havia descrito 16 de tais grupos

e em 1874, L. Sohncke reconheceu que faltava, esquecendo porém em sua consideração 3 dos

que Jordan já havia falado anteriormente. Em 1924, G. Pólya e P. Nigghi redescobriram os

17 grupos de Fedorov. Desde então, tais grupos têm sido estudados exaustivamente e

aplicados não só a cristalografia (os 17 grupos são hoje simbolizados de acordo com as

Tabelas Internacionais de Cristalografia e Raios X), senão também a diversos aspectos de

desenho: mosaicos, pintura, escultura, e, como não, Arquitectura.

Para começar o estudo dos 17 grupos apresentemos inicialmente uma primeira descrição

visual dos mesmos (fig. 2.8.1.).

Fig. 2.8.1.

Em todos os casos se observa que, a partir de uma figura irregular, aplicando diversos

tipos de isometrias se gera um paralelogramo que por repetição é susceptível de cobrir o

plano, de forma que a distribuição plana final é por sua vez invariante pelas mesmas

isometrias que geraram a figura inicial. Vamos concretizar dita ideia com a seguinte

definição:

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41

DEFINIÇÃO 2.8.1. – Um grupo G de isometrias do plano [subgrupo do grupo métrico

GM (R2

)] se diz grupo de simetria do plano se existe uma figura F (compacta e conexa de

R2) tal que se cumprem as três condições seguintes:

a) R2 ).F(gGg

b) )F(h)F(g

então g(F)=h(F), onde indica interior.

c) Existem dois vectores independentes b,a

tais que G)m,nTT(bman .

«A figura f compacta e conexa» quer dizer que se trata de uma figura limitada por uma

curva fechada (F pode ser qualquer curva, polígono, …, etc.). A propriedade a) impõe que

todo o plano R2 esteja coberto (sem buracos) para todos os deslocamentos g(F) da figura F

segundo as isometrias g de G. A propriedade b) de «regularidade» impõe que F e suas

imagens g(F) se vão «associando» correctamente. A propriedade c) exige a existência de duas

translações independentes em G, isto é, existirá uma malha de paralelogramos subjacente.

Limitando pois o estudo aos grupos de simetria do plano que satisfazem as condições

precedentes de associação e periodicidade, estamos excluindo de facto toda uma série de

«mosaicos não periódicos».

Existem outros exemplos onde uma figura susceptível de encher R2 por repetição até

mesmo quando no grupo de isometrias que deixa invariante o mosaico resultante não pode

existir nenhuma translação não trivial.

Vamos aprofundar a estrutura real dos grupos de simetria do plano.

LEMA 2.8.1. – Se G é um grupo de simetria do plano e x

R2 então Ggxg )(

é um

conjunto discreto de R2, isto é, formado por pontos isolados.

LEMA 2.8.2. – Existem dois vectores independentes veu

tais que qualquer translação

do grupo se simetria G do plano, é da forma ,T vmun

com ., mn

Demonstração. - Pela propriedade c) da definição 2.8.1 se G é um grupo de simetria do

plano, e )(G indica o conjunto de translações de G, já sabemos que pelo menos existe um

par ba

, de vectores independentes com

)G()m,nT(bmbm

.

Seja u

R2 um vector não nulo tal que )(GTu e sua norma u

é mínima, isto é,

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42

,0 xu

para todo x

R2 tal que ).G(Tx

Dito vector existe, pois em caso contrário se poderiam encontrar vectores nx

tais que

),(0lim GTTexnxn

n

para todo n; e se este for o caso, escolhendo 0P R2 resultaria que

o conjunto de pontos INn)P(Tnx 0 não seria discreto ao aproximarem-se todos de ,P0 o

qual contradiz o lema 2.8.1. anterior. Analogamente se escolhe outro vector v

independente

de u

e tal que v

seja mínima: ,0 xv

para todo x

R2com ).(GTx Vejamos que,

necessariamente,

.)}m,nT{)G( vmum

Consideremos o paralelogramo (fig. 2.8.5.):

),,vuP(P 100

com p

arbitrário. Então R2

)P(T)G(TT

enche todo o plano pois como mínimo

).G()}m,nT{ vmum

Ao considerar então

,)}G(T)P(T{ 0

se existisse alguma translação T em )(G tal que )P(T 0 não coincidisse com nenhum dos

vértices da malha ,vmunP

0 então existiria um 2Rq com .Pqevquq

O

lema fica demonstrado.

Clarificadas as translações possíveis no grupo de simetria do plano G, passamos a

ocuparmo-nos dos possíveis giros em G, distintos da identidade.

LEMA 2.8.3. – (Restrição cristalográfica). Os únicos giros que podem formar parte de

um grupo de simetria G do plano, são os de ordem 2, 3, 4 ou 6, isto é, os giros de ângulo 180º,

120º, 90º e 60º.

Demonstração (W. Barlow, 1901). – Seja G um grupo de simetria do plano com algum

giro .GGP

0 O ângulo de giro será da forma ,

n

2 com INn , pois se fosse

distinto de n

2 para todo INn , resultaria impossível que G satisfizesse a condição b) da

definição 2.8.1. Assim pois GGG n/PP

2

00 para certo n. Como GGT n/

Pvmun 2

0 é um

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43

giro de ângulo n/2 ao redor de ,vmunA

podemos encontrar um ponto PQ da forma

vmunAQ

que seja ele o que dista menos de .P Seja 'P o ponto resultante de girar

P relativamente a Q um ângulo n/2 e seja 'Q a imagem de Q pelo giro de centro 'P e

ângulo n

2.

Então:

.'Q'P'PQQP

Se 'QP então aparece um triângulo equilátero e ,n 6

22 isto é, .6n Se 'QP no

trapézio de vértices 'Pe'Q,Q,P ocorreria necessariamente ,QP'QP pois Q teria

mínima distância em relação a .P Por isso deve ser ,n 2

2 isto é, .4n Assim

.43,2 oun Definitivamente as ordens possíveis são .6,4,3,2n

Como consequência dos lemas precedentes agora podemos enunciar:

TEOREMA 2.8.1. – Existem somente 5 tipos de grupos de isometria do plano (fig.

2.8.2.) que contêm isometrias que conservam a orientação e ditos grupos são gerados pelas

seguintes isometrias:

.G,T,TS

;G,T,TS;G,T,TS

;G,T,TS;T,TS

/Pvu

/Pvu

/Pvu

/Pvuvu

626

424

323

2221

0

00

0

1S 2S 3S 4S 6S

Fig. 2.8.2.

Para 6,4,3,2i também se escreve ii Sp (e o índice i faz referência aos tipos de

giros de ângulos i/2 presentes em ).Si O ponto p

é arbitrário, mas todos os centros de

giro de ,,,,i,Si 6432 estarão situados nos vértices da malha fundamental

m,ncom,vmunP

0 (fig. 2.8.6.).

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44

Exemplos típicos de distribuições do plano com grupos de simetria iS se dão na figura

2.8.1. e 2.8.2.

A forma mais simples de gerar esquemas com grupo de simetria iS )64,3,2,1( oui

é aplicar o seguinte teorema:

TEOREMA 2.8.2. – Dado 64,3,2,1 oui seja F R2 uma figura cotada com

F0

e grupos de Leonardo iC (grupo cíclico de ordem i). Sejam veu

dois vectores de R2

independentes. Então a figura infinita F R2 definida por

,)F)(TT(F vmunm,n

pode ter grupo de simetria .Si

Este resultado extremamente evidente (basta contemplar os 5 esquemas anteriores) é de

capital importância desde o ponto de vista geométrico-generativo: fixada a malha básica, a

simétrica cíclica iC da figura colocada num vértice e transladada aos demais vértices de

acordo com o ritmo da gelosia pode induzir na configuração final a simetria global de tipo .Si

Ao considerar a possibilidade de que o grupo de simetria do plano, além de isometrias

conservadoras da orientação, contém também simetrias axiais, aparecem 12 novos tipos de

grupos.

Seguidamente vamos descrever os ditos 12 grupos agrupados sob a norma de estudar

que simetrias axiais podem ser somado cada um dos 5 grupos .SeS,S,S,S 64321

a) Caso de ampliação de 1S com simetrias e deslizamentos.

Existem três possibilidades como se ilustra nos três esquemas seguintes (fig.2.8.3.).

Fig.2.8.3.

Tanto 11S como 2

2S admitem somente eixos de simetria paralelos entre si.

11S tem eixos de deslizamento paralelos aos eixos de simetria, mas 2

1S não os tem. 11S é

generalizável com uma simetria axial e uma simetria com eixo paralelo e com deslocamento.

11S precisa de duas simetrias axiais e uma translação. O grupo 3

1S se caracteriza por não

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45

admitir eixos de simetria, mas sim eixos de deslizamento, todos paralelos entre si. 31

S é

generalizável com duas simetrias com deslizamento de eixos paralelos.

b) Ampliação de 2S com simetrias e deslizamentos.

Este caso é extremamente rico pois dá lugar a quatro possibilidades (fig. 2.8.4.).

Fig.2.8.4.

Nos dois primeiros casos 22

12 SeS existem eixos de simetria ortogonais que

determinam um rectângulo (não cruzado por nenhum outro eixo). O troço de esquema dentro

de dito rectângulo, tem simetria 2C no caso 12S e simetria 1C no caso .S 2

2 12S é

generalizável por duas simetrias ortogonais e um semigiro e 22S o é por quatro reflexões sobre

os lados de um rectângulo.

No caso 32

S existem somente eixos de simetria paralelos e eixos de deslizamento

perpendiculares aos de simetria (uma simetria e 2 semigiros podem gerar 32

S ).

Por último, em 42S não existem eixos de simetria, mas sim eixos de deslizamento todos

paralelos entre si ( 42S se gera com duas simetrias com deslizamento com eixos paralelos).

c) Ampliação de 3S

Existem duas alternativas (fig. 2.8.5.).

Fig.2.8.5.

Em ambos os casos podemos encontrar três eixos de simetria que delimitam um

triângulo equilátero (não cruzado por nenhum outro eixo). O troço de esquema que fica dentro

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46

de dito triângulo tem simetria 1C no caso 13S e simetria 33 DouC no caso .S 2

3 A nível de

geradores mínimos pode considerar-se 13S gerado por uma simetria e um giro de 120º e 2

3S

por três simetrias relativamente aos eixos que formam um triângulo equilátero.

d) Ampliação de 4S

Duas possibilidades (fig. 2.8.6.).

Fig.2.8.6.

Em ambos os casos pode localizar-se um rectângulo R delimitado por quatro eixos de

simetria ortogonais entre si, não sendo cruzado o dito rectângulo por nenhum outro eixo.

No caso 14S o troço de esquema interior a R tem simetria 21 DouD e no caso 2

4S dita

porção tem simetria cíclica .4C

14S pode gerar-se com simetrias sobre os três eixos que formam um triângulo de ângulos

45º, 45º e 90º. 24S é gerado por uma simetria e um giro de 90º.

e) Ampliação de 6S

Existe uma única possibilidade (fig. 2.8.7.).

Fig.2.8.7.

Por cada vértice da malha passam 6 eixos de simetria e existe invariância global por

giros de centro nos vértices da malha e ângulo 60º. 16S está também gerado por três simetrias

nos lados de um triângulo de ângulos 30º, 60º e 90º.

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47

Enunciemos finalmente o teorema sínteses deste capítulo.

TEOREMA 2.8.3. – Somente existem 17 tipos de grupos de simetria do plano, 5 dos

quais somente contêm isometrias que conservam a orientação e nos 12 restantes, também,

aparecem simetrias axiais e simetrias com deslizamento.

ALGORITMO DE IDENTIFICAÇÃO DOS 17 GRUPOS DE SIMETRIA DO PLANO

Duas translações

independentes?

Não é um grupo de

simetria do plano

Não

Eixos de simetria?

São perpendiculares?

Eixos de deslizamento?

Centro de giro de

ordem 6?

Sim

Eixos de simetria não

paralelos?

Centro de giro de

ordem 3?

Eixos de deslizamento

paralelos a eixos de

simetria?

Buscar grupo de simetria da região acotada por três

eixos de simetria (não paralelos dois a dois) e tal

que nenhum outro eixo de simetria cruza dita região

(triângulo equilátero)

Buscar grupo de

simetria do rectângulo

determinado por pares

adjacentes de eixos de

simetria

perpendiculares

Buscar máxima ordem de

um centro de giro para o

padrão

Eixos de deslizamento

perpendiculares a

eixos de simetria?

Não

Sim

Sim Não

Sim

Sim

Não

Sim

Não

NãoSim

Não

Sim

Não32S 3

1S

16S

1S 2S 3S4S 6S

13S 2

3S

42S

11S

21S

22S 1

2S 14S 2

4S

1C 2C

3C

4C1D 2D

3D1C

1 2 3 4 6

Anteriormente facilitamos o algoritmo de Rose e Stafford que permite classificar passo a

passo os 17 grupos de simetria do plano.

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48

O mesmo que de 7 grupos de frisos do plano se passava a 31 classes de bandas

bicolores, de 17 grupos de simetria do plano se passa a 80 tipos de simetria plana, ao

introduzir critérios de bi--coloração ou seja configurações geradas por figuras com caras de

distinta ou igual cor submetidas às transformações planas e às rotações axiais especiais de

180º (fig. 2.8.8.).

Fig.2.8.8.

2.9. TEORIA DE MOSAICOS

Um tipo especial de recobrimento do plano é o de mosaico. Os diferentes tipos de

mosaicos surgem de adicionar, ao princípio geral de repetição de um módulo em duas

direcções, condições restritivas de acoplamento e regularidade. Vejamos neste capítulo os

mosaicos principais, deixando de lado os mosaicos não periódicos.

A) Mosaicos regulares

Resultam de acoplar entre si uma série infinita de polígonos regulares idênticos.

TEOREMA 2.9.1. – Os únicos mosaicos regulares são os quadrangulares, triangulares e

hexagonais (fig. 2.9.1.).

Fig. 2.9.1.

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49

B) Mosaicos semirregulares

São os gerados ao combinar dois tipos de polígonos regulares de dimensões apropriadas

para o acoplamento. Existem 8 tipos de tais mosaicos como ilustra a figura 2.9.2.

Fig. 2.9.2.

C) Mosaicos de Escher

O artista holandês M. C. Escher, a partir de observar o uso dos 17 grupos de Simetria

nos desenhos da Alhambra de Granada, elaborou uma série de mosaicos onde a figura

geradora era submetida a uma série de transformações.

Apresentamos aqui uma série de esquemas devidos a P. Butzbach sobre os elementos

geradores considerados por Escher (fig. 2.9.3.).

Fig. 2.9.3.

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50

(1) Mosaicos de P1. – Resultam de escolher um paralelogramo ou um hexágono com

lados opostos paralelos e aplicar o critério de que toda parte recortada num lado

(concavidade) se translada paralelamente ao lado oposto paralelo (convexidade).

(2) Mosaicos de P2. - Correspondem à existência de giros nos lados de triângulos

ou quadriláteros: ao recortar um troço num lado (concavidade) adicionando-o no mesmo lado,

mediante um giro de 180º com centro no ponto médio do lado em questão, pode conservar-se

a propriedade de embaldoseamento.

(3) Mosaicos de P3.- Neles existem recortes de um troço da figura num lado

(concavidade) e com centro num vértice se gira e se adiciona dito troço em outro lado. Os

giros são de 60º ou 120º e os vértices centros de giro não podem ser consecutivos.

(4) Mosaicos de P4. - Existem vértices centros de giro de 90º. Ditos vértices podem

pertencer a um triângulo, um quadrilátero ou um pentágono.

(5) Mosaicos de Pg.- São aqueles nos que existe simetria com deslocamento.

No seguinte quadro sintetizamos uma série de desenhos devidos a Escher e realizados

com os critérios anteriores (fig. 2.9.4.).

Fig. 2.9.4.

A atitude de Escher perante o problema dos mosaicos é, no entanto, muito diferente da

atitude da Matemática ou da Cristalografia do tempo. Para a Cristalografia o problema era

sobretudo de classificação de padrões. A Matemática coloca questões ainda mais gerais como,

por exemplo, a de saber que transformações geométricas podem ser realizadas sobre um

objecto de modo a deixar as suas propriedades invariantes. O interesse de Escher não era

classificar as pavimentações mas antes descobrir e aprender as leis que a governam. O seu

sistema, apesar de atribuir às isometrias um papel fundamental e de proceder com grande

rigor geométrico, é, tanto nas questões que coloca como nas definições que formula,

claramente distanciado dos sistemas “standard” em Matemática. O matemático parte da

análise de uma determinada estrutura (o objecto do seu estudo); Escher começava sempre por

uma folha de papel em branco (o espaço da sua criação). O ponto de vista estritamente

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científico é de natureza global (qual a estrutura, quais as simetrias da pavimentação, etc.); o

de Escher é eminentemente local: como é que um motivo simples pode ser rodeado por cópias

dele próprio, combinar-se ou evoluir para outro, ilimitadamente?

O ponto de vista local de Escher é ilustrado por 6Engel ao descrever a litolografia

Libertação (1955).

Neste contexto, o sistema de Escher aborda três aspectos fundamentais que eram então

ignorados pela Matemática e pela Cristalografia.

1. A criação de pavimentações com dois mosaicos distintos mas com origem numa

mesma figura geométrica.

2. A metamorfose, isto é, a possibilidade de ligar diferentes pavimentações por um

processo dinâmico que altera o mosaico mas não modifica as simetrias em jogo. Escher

reconhece que a metamorfose é possível para certos casos, mas impossível para outros,

identificando cinco grupos de simetria para os quais tal é possível.

3. O uso de cores contratantes para colorir a pavimentação de forma sistemática, de

modo a sublinhar a individualidade e a equivalência de mosaicos adjacentes.

O seu sistema de simetria policromática adiciona aos 17 grupos originais, 46 com duas

cores, 6 com três, 6 com quatro e 3 com seis cores. Note-se que o interesse pela coloração de

pavimentações e sua classificação, que constitui um aspecto fundamental na teoria de Escher,

apenas surge na Cristalografia no final dos anos 50. De facto só em 1951, Shubnikor e Belor

estenderam a teoria dos grupos de simetria combinando a repetição de formas com a repetição

de cores.

(D) Mosaicos de cor

Classicamente, a análise geométrica de mosaicos somente tem considerado peças (de

um ou vários tipos) idênticas entre si. Mas se se considera que peças iguais podem ter cores

diferentes, então ao classificar a simetria do embaldoseado de acordo com a cor pode resultar

uma classificação mais rica. Por exemplo, o mosaico de quadrados pode dar lugar, por

coloração dos quadrados, a mosaicos com grupo de simetria diferente relativamente à cor ou à

mudança dos centros de giro.

6 - Litografia Libertação (1955): “De baixo para cima acontece a metamorfose da matéria inorgânica

em pássaros. Quando estes estão totalmente desenvolvidos emergem na superfície e são libertos. Podemos

também adoptar a interpretação oposta: os pássaros que voam livremente encontram lugares na superfície onde

se encaixam com exactidão. E, assim, a pavimentação cresce continuamente. O mesmo processo corresponde ao

crescimento dos cristais. Claramente, os pássaros ignoram tudo sobre o grupo de simetria, mas sabem reconhecer

o lugar vago onde se encaixam.” Engel, 1986.

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Os mosaicos com cor podem enriquecer-se considerando também a possibilidade de

várias peças.

Assim pois, onde exista coloração deve realizar-se a classificação de acordo com as

cores e não com as peças construtivas básicas.

(E) Mosaicos de retícula da china

Daniel Sheets Dye passou um largo período de sua vida na China tratando de classificar

de forma sistemáticos os retículos chineses de janelas desde o ano 1000 a. C. até 1900 d. C. O

resultado de seu árduo trabalho foi o magnífico tratado “Chinese lattice designs” que contem,

classificados geometricamente, mais de 1200 exemplos. Estes retículos para janelas consistem

numa série de barras de madeira entrelaçadas que formam um retículo plano. Este retículo era

pintado de negro ou vermelho e uma vez colocado na casa por via da janela aderindo, desde o

interior, papel branco de qualidade ou papel floreado. A não existência de vidro e a mudança

contínua do papel permitia celebrar acontecimentos ou ritos anuais. Dito papel mantinha a

intimidade do interior e projectava ao exterior a tonalidade própria de sua coloração. (fig.

2.9.5.)

Fig. 2.9.5.

(F) Mosaico da Alhambra de Granada

Vejamos as ilustrações sobre o mosaico da Alhambra de Granada, donde podem

apreciar-se os 17 grupos de simetria e os 7 grupos de frisos (fig. 2.9.6.).

Fig. 2.9.6.

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III – CONCLUSÃO

A presente monografia é o fruto de uma pesquisa bibliográfica, na Internet e de um

aturado trabalho sobre resoluções de problemas.

O material recolhido e elaborado pode servir como suporte auxiliar para o professor no

processo de leccionação. Quanto ao leccionar, significa estar ao serviço dos alunos.

Pela afirmação antiga: “Quem não vive para servir, não serve para viver.” Nisso a

nossa vocação.

Gostaríamos, também, de salientar as ligações inter-disciplinares da simetria com os

outros ramos da vida real.

Além das concepções e aplicações da simetria que já foram abordados cabe citar o

importante papel que desempenha a teoria da simetria em outros campos:

1. Simetria em Química

Mediante o estudo de simetrias planas e espaciais tem sido possível elaborar

modelos de estruturas moleculares e chegar à caracterização de determinados agregados

químicos através, não da análise de reacção, senão através da determinação das simetrias

atómicas (mediante métodos experimentais como o bombardeamento por partículas

elementares ou análises com Raios X). A análise de moléculas dextrógiras e levógiras tem

sido de especial importância no estudo bioquímico da matéria orgânica. O estudo da estrutura

de crescimentos moleculares em espiral tem permitido obter um conhecimento extenso das

moléculas de DNA.

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2. Simetria em Ciências Naturais

A origem do estudo dos grupos de simetria foi precisamente o problema da

Cristalografia de caracterizar as formas de crescimento de cristais e classificar com este

conceito geométrico os grupos de minerais. Se conhece mais de três mil minerais, mas

existem apenas 32 classes. Em Geologia se tem feito estudos sobre as distribuições de

vulcões, glaciares, continentes e aparição de terramotos, partindo das possíveis simetrias no

globo terrestre a partir do princípio de que a dualidade «causa-efeito» poderia quiçá explicar-

se através de certa simetria de situação relativa. Neste sentido existem teorias sobre a

distribuição simétrica dos vulcões no globo. Os planos de simetria do globo também têm

importância geológica.

Outras aplicações notáveis da simetria foram dados na classificação de rochas, flores,

raízes... etc., que se faz em Botânica baseando-se nas regularidades simétricas de tais

elementos. Inclusive modelos de fósseis se têm elaborado a partir de supor uma simetria

original do fóssil.

As ideias sobre evolução das formas vivas têm sido notavelmente influenciadas pela

opinião de que os processos de simetrização das formas afectam directamente à maior

adaptabilidade ao meio, e por isso repercutem na evolução (extinção ou cambio da forma) das

espécies.

3. Simetria em Literatura e Cinema

Neste campo se tem feito experiências pontuais de uso de simetria no sentido de jogar

com a colocação das palavras (poesia visual moderna ou poesia clássica com rimas

simetricamente repartidas); jogar com a simetria entendida como contraposição de conceitos,

situações ou atitudes (consciência-inconsciência, bondade-maldade, vida-morte, princípio-

fim,...). Este último jogo tem influenciado tanto a Literatura como o cinema, dando-se neste

último não só as contraposições «simetrizantes» dos guiões senão, além disso, o jogo

geométrico visual das imagens (primeiros planos, planos médios, perfis, ambientes de grande

geometrização e simetria ligados ao clima de ficção,... etc.).

4. Simetria em Música e Dança

Recursos de simetria, tanto no seu aspecto auditivo como formal (colocação simétrica de

notas no pentagrama), têm sido pontualmente utilizados. Nas danças se tem feito,

especialmente no seu desenvolvimento coreográfico, usos de simetrias nas colocações dos

dançarinos.

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5. Simetria em representações simbólicas

Nas técnicas de publicidade, sinalizações, emblemas,...etc. aparecem claramente

recursos de simetrização. Na maioria dos casos se pretende transmitir através da simetria

visual umas indicações de proibição ou acesso permitido, de movimento ou calma,... etc.

Por último, façamos uma resenha a presença das concepções de simetria num sentido

amplo linguístico, lógico, visual.... O conceito de simetria no sentido de «imagem especular»,

«reflexão» tem sido associado à lógica e em especial às negações lógicas. As antinomias sim-

não, verdadeiro-falso, positivo-negativo, acção-reacção, esquerda-direita, bem-mal,...etc.,

admitem uma descrição dualizada: o operador negação é idempotente (o «”+” “-“»,

«simétrico/oposto ”a” “-a”», «não de não é sim», «menos por menos é mais»,... etc.) de

forma análoga como o é o operador simetria especular (« a imagem da imagem é o original»).

Este vínculo de simetria-negação (que só possui em comum a analogia de que aplicado o

princípio duas vezes se recupera o estado inicial) tem tornado possível que se realizem

discursos teóricos em que as contraposições lógicas adquirem rasgos caleidoscópios ( ).

Assim, quando em Física se falou de «acção e reacção», ou do «Princípio de simetria» de

Pierre Curie, ou da matéria-antimatéria,... etc. se está utilizando a simetria no sentido de

contraposição. Como em Literatura como em poesia.

Existe uma outra acepção de simetria, entendida dita palavra no sentido figurativo: se

bem que em todo rigor a perfeitíssima simetria geométrica escassamente aparece na realidade,

se enquadram sob a epígrafe de simétricos objectos de simetria aproximada ou aparente.

Assim, as afirmações «a figura humana é simétrica» ou as «colunas gregas são simétricas»

cabe entende-las mais como a fixação de um ideal do que como o resultado de um

experimento rigoroso.

Em qualquer caso, a simetria como beleza, como geometria, como contraposição ou

como aproximação se multiplica em aplicações e novas conceptualizações.

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IV – BIBLIOGRAFIA

LIVROS:

Alsina, Claudi & Trillas, Enric (1995), Lecciones de Algebra y Geometria –

Curso para estudiantes de Arquitectura, Editorial Gustavo Gili, S. A.,

Barcelona.

De Oliveira, A. J. Franco, (1997), Transformações Geométricas –

Universidade Aberta, Lisboa.

Farmer, David W. (1999), Grupos e Simetria, Gradiva – O prazer da

matemática, 1ª edição.

Grunbaum, Branko & G. C. Shephard (1987), Tilings and Patterns, Freeman,

1ª edição.

Veloso, Eduardo (1988), Geometria – Temas Actuais, Instituto de Inovação

Educacional, 1ª edição.

INTERNET:

Border Pattern Gallery, John Wolfe,

http://www.math.okstate.edu/~wolfe/borde.html

De vuelta a simetría, http://www.cienciateca.com/simetria.html

©Pedro Gómez-Romero, 2002

Fluxograma para a classificação de frisos,

http://www.apm.pt/apm/aer/fluxog.html

Frieze patterns, Alexander Bogomolny, http://www.cut-the-

knot.com/triangle/Frieze.html

Frisos, http://www.apm.pt/apm/aer/frisos.html

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57

Introduction to isometries,

http://www.scienceu.com/library/articles/isometries/index.html

Kali, http://www.geom.umn.edu/java/kali/program.html

Kali: Symmetry group, http://www.scienceu.com/geometry/ handson/kali/

kali.html

Mathematics and Symmetry,

http://forum.swarthmore.edu/mam/95/essay.html

Mathematics and Symmetry, http://www.ucs.mun.ca/~mathed/

Geometry/Transformations/transformations.html

Symmetry and ornament, Slavik V. Jabla,

http://rattler.cameron.edu/EMIS/monographs/jablan/

Tillings and Tesselations, Kali: Symmetry group,

http://www.scienceu.com/geometry/articles/tiling/index.html

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V – ANEXOS

A.1 – GRUPO DE LEONARDO E DESENHO

Ao introduzir os grupos de Leonardo foi citado de passagem o interesse que ditos grupos

tiveram no Renascimento para o desenho de plantas de capelas. Concretamente, Leonardo

realizou um estudo sistemático de tais grupos de simetria com vista a estabelecer os métodos

óptimos de juntar estátuas e capelas adjacentes a um núcleo central (ou capela principal), sem

romper a simetria central de dito núcleo. Leonardo usou essencialmente os grupos diedrais em

seus desenhos arquitectónicos, usando apenas alguns grupos clássicos em certas invenções de

engenharia. Leone Battista Alberti, nos seus dez livros sobre arquitectura, afirma que «... os

polígonos usados pelos antigos eram de seis, oito, ou algumas vezes de dez lados», fazendo

clara referência aos desenhos diedrais das plantas dos templos clássicos. Essencialmente o uso

mais constante de grupos diedrais tem sido no que poderíamos chamar arquitectura religiosa,

pois a simetria poligonal apresentada pelas plantas enlaça com o carácter nitidamente

simbólico que pretende argumentar o edifício. Naturalmente, existem usos de grupos de

Leonardo a nível arquitectónico civil. Desenhos de Soane, Ledoux, Wright,... etc., oferecem

dele belos exemplos.

Em tempos recentes o uso de grupos de Leonardo no desenho de plantas se tem visto

enriquecido com uma nova ideia: a existência de um ponto central de simetria na planta

(ponto que dará lugar a um eixo de simetria no edifício) permite localizar no centro todos

aqueles serviços e instalações de interesse geral (escadas, ascensores, conduções eléctricas, de

água, de gás ou de ar condicionado, pátios de luzes,... etc.). Esta centralização geométrica

aporta um notável valor económico e , o que é mais importante, um encobrimento natural de

tais instalações. No entanto o desenho de carácter centralizado acarreta problemas difíceis de

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resolver, como o da iluminação solar dos edifícios. Ora bem, em edifícios singulares ditos

problemas são irrelevantes.

Desde o ponto de vista da Arquitectura generativa, tanto os grupos cíclicos como os

hiedrais são de máximo interesse. Por exemplo, uma distribuição poligonal com edifícios nos

vértices ou arestas permite gerar no centro um espaço comum susceptível de conter uma praça

ou zona ajardinada ou ainda algum edifício de interesse comunitário (escola, serviços

administrativos,... etc.). A seguinte colecção de fotografias e desenhos dá exemplos actuais

destes critérios.

À margem do projecto arquitectónico ou do desenho urbanístico cabe citar outros usos

dos grupos de Leonardo no desenho de rosetas, elementos de mobiliário, elementos

construtivos suplementares,... etc. (fig. 1.1.).

Fig. 1.1.

A.2 – OS FRISOS E A ARQUITECTURA

A própria denominação «grupos de frisos» tem sua origem nos frisos arquitectónicos.

Como exemplo remoto poderia considerar-se que as filas uniformes de monumentos

megalíticos constituem um friso espacial sobre a paisagem. Não obstante, é no Egipto onde

aparecem, com toda a sua intencionalidade e técnica, os frisos ornamentais. Em muitas

câmaras das pirâmides existem frisos geométricos, quer seja como simples decoração ou

como bandas que delimitam a final da parede e o princípio do tecto. Os motivos que geram

ditos frisos costumam ser representações estilizadas de flores, animais ou esquemas

geométricos de figuras planas (fig. 2.1).

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Fig. 2.1

No templo grego é onde o friso adquire notoriedade construtiva: o friso como banda que

limita o acabamento das paredes ou colunas, sobre a arquitrave, marcando o elemento sobre o

que repousa o tecto ou cornija. Com ele o friso começa a desempenhar o duplo papel de

elemento arquitectónico construído e espaço susceptível de ornamentação. Além disso, pela

sua peculiaridade local, o friso constitui um elemento chave da fachada, o que dá lugar a que

sua decoração adquira uma carga simbólica notável.

Claro que, na ornamentação do friso existiam as distintas opções de pintura, escultura,

cerâmica, … ou simplesmente o friso rectangular, limpo, afirmando simplicidade e

delimitação. Assim, os frisos dóricos possuem esculturas (isoladas ou formando um

conjunto); os frisos estão esculpidos; os frisos paleocristianos são de obra vista (cerâmica,

ladrilho, … etc.). Em sua Gramática da Ornamentação, Owen Jones inclui múltiplos exemplos

de frisos egípcios e gregos. Claro que, no templo romano se segue privilegiando também o

uso do friso e ao longo de toda história da Arquitectura aparece dito elemento, sendo

especialmente notável o desenho de frisos árabes, como por exemplo, os existentes na

Alhambra de Granada.

Um tema interessante de estudo arquitectónico (mas sim decorativo) tem sido a análise

de tipos de frisos em decorações de instrumentos musicais (Paul Pfister: Decoration in

relation with music), em tipografia e orlas (Elliot Offner; Renaissance typographic ornament;

origins, use and experiments) e em elaborações têxteis.

Actualmente, embora continua a ser usado a concepção clássica do friso arquitectónico

(não somente em exteriores, senão também em interiores: frisos de gesso), se tem posto

repetidamente em crise o provérbio de Jones: «As construções devem ser decoradas. A

decoração nunca deve ser construída a propósito». Para arquitectos do Movimento Moderno

racionalista, como Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, a ornamentação, além de um rito,

seria o resultado de uma síntese, uma articulação de elementos ou a existência de um molde

gerador estrutural.

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Mas precisamente com as tendências modernas das correntes generativas em

Arquitectura surge uma nova concepção do friso: o friso das edificações conectadas. Com ele,

o clássico motivo geométrico que se repete ao longo de uma banda se vê substituído pela

planta (do edifício ou apartamento) capaz de gerar, por translação horizontal, uma série de

edifícios ou apartamentos em fileira. A partir de uma planta tipo, e de adaptar um determinado

módulo de translação, surgem duas possibilidades: que as plantas se enlacem sem espaços

intermédios (caso típico das vivendas em fileira) ou que as plantas se repitam com um

determinado espaçamento (caso típico das vivendas inglesas). Os seguintes exemplos aclaram

estas ideias.

É assim como o novo módulo da arquitectura generativa vê, através do uso de ritmos ou

deslocamentos, uma maneira válida de aumentar a capacidade repetitiva do mesmo.

Nada a dizer tem, a nível conceptual, que esta ideia dos frisos construídos levou

directamente ao problema da chamada coordenação modular.

A.3 – EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

1.- Indicar os grupos de simetria das seguintes figuras planas:

A B

F C

E D

a) b) c)

Fig.2.4.5

a) Resolução

0

O hexágono regular [ABCDEF] de centro (que coincide com o centro da

circunferência inscrita e o centro da circunferência circunscrita a volta dele) 0, é invariante

para os seis giros (rotações): ,, º1200

º600

GG ,, º2400

º1800

GG º3000

G e 2

º360

0 IG e pelas simetrias de

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eixos AD, BE e CF e ainda os eixos de simetria que intersectam simultaneamente os lados

[AB] e [ED], [BC] e [FE] e os lados [CD] e [AF] isto é, tem 6 eixos de simetria as quais

coincidem com ºG

1800

. Esses movimentos gerarão .fS5

b) Resolução

0

A figura com o formato da letra K de centro de gravidade 0, que é o ponto de

intersecção do traço vertical com os dois traços oblíquos, só é invariante pela identidade e,

portanto, resulta um grupo de simetria trivial .IS f 23

c) Resolução

1r

P 2r

A seta tem dois eixos de simetria 1r e 2r e é invariante pela rotação de 180º ao redor do

ponto P (intersecção de 1r com 2r ). Assim pois, trata-se do grupo ).,,,(214

º180

2 ffPf SSGIS

2.- Indicar o grupo de simetria da figura plana representada pela curva y=cos x

Resolução

2

2

32

Fig.2.4.6.

A curva y=cos x, como é sabido do ensino secundário, é simétrica em relação ao eixo

dos yy, o seu período é º.3602 A curva ficará invariante por todas as translações de

vectores paralelos ao eixo dos xx, por todas as simetrias com eixo ortogonal ao eixo dos xx

por um período de º.3602 Os ditos movimentos gerarão xcosfS .

3.- Escrever «números» que possuam grupos de simetria não triviais, ao considerar-se o

«número» como a figura do plano representada por seu grafismo.

2 v,v

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Resolução

Os números solicitados são: 3; 8; 0.

1r 1r

r 2r 2r

ºorf GS,IS 180

23 ;

218

1802 r

ºorf S,GS,IS ; .SS ff 80

4. - Achar os grupos pontuais de simetria das seguintes figuras:

a) b) c)

Resolução

a) 1r

2r

3r

4r

8r

i

Oa D4,3,2,1iS;GGi

42

Perfazendo 4 simetrias e 4 giros ou rotações.

b) 1r

2r

2,1iS;GGi

22

r

i

Ob Perfazendo 2 simetrias e 2 giros ou rotações.

c) 1r

2rc I;SG1

5. – Identificar os grupos pontuais de simetria das seguintes figuras:

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a) b)

Resolução

a) 8D

b) 12C

6. - Determinar os grupos de friso de cada um dos seguintes modelos:

a) AAAAA

AAAAA

b) BBBBB

c) CCCCC

d) DDDD

DDDD

e) EEEEE

EEEEE

f) FFFFF

g) GGGG

GGGG

h) HHHHH

HHHHH

i) IIIII

j) JJJJJ

Resolução: - a)

É um friso do tipo 2

1F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias não tem ponto de simetria, tem um eixo de simetria mas a recta central não é eixo de

simetria.

b)

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É um friso do tipo 11F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias não tem ponto de simetria e a sua recta central é eixo de simetria.

c)

É um friso do tipo 11F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias não tem ponto de simetria e a sua recta central é eixo de simetria.

d)

É um friso do tipo 3

1F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias não tem ponto de simetria nem eixo de simetria, mas é invariante para uma reflexão

deslizante

e)

.

É um friso do tipo 11F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias não tem ponto de simetria e a sua recta central é eixo de simetria.

f)

É um friso do tipo 1F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de simetrias

não tem centro de simetria, nem eixo de simetria e não é invariante para nenhuma reflexão

deslizante não trivial.

g)

É um friso do tipo 3

1F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias não tem ponto de simetria nem eixo de simetria, mas é invariante para uma reflexão

deslizante.

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h)

É um friso do tipo 12F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias tem um ponto de simetria e a recta central é um eixo de simetria.

i)

É um friso do tipo 12F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias tem um ponto de simetria e a recta central é um eixo de simetria.

j)

É um friso do tipo 1F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de simetrias

não tem centro de simetria, nem eixo de simetria e não é invariante para nenhuma reflexão

deslizante não trivial.

7. – Identificar os grupos de friso de cada uma das figuras:

a) b)

Resolução

a)

É um friso do tipo 2

1F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de

simetrias não tem ponto de simetria, tem um eixo de simetria mas a recta central não é eixo de

simetria.

b)

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É um friso do tipo 12F , pois um padrão tendo este tipo de friso como grupo de simetrias

tem um ponto de simetria e a recta central é um eixo de simetria.

8. – Identificar os grupos de simetria do plano a que corresponde cada uma das figuras:

a)

Resolução

a)

Pode localizar-se um rectângulo R delimitado por quatro eixos de simetria ortogonais

entre si, não sendo cruzado o dito rectângulo por nenhum outro eixo e o troço de esquema

interior a R tem simetria .DouD 21 Por isso é um grupo do tipo .S14

1

4W Pode gerar-se com simetrias sobre os três eixos que formam um triângulo isósceles

de ângulos 45º, 45º e 90º.

b)

Por cada vértice da malha passam 6 eixos de simetria e existe invariância global por

giros de centro nos vértices da malha e ângulo de 60º. Por isso é um grupo do tipo .S16

16S está também gerado por três simetrias nos lados de um triângulo de ângulos 30º, 60º

e 90º.

Eixos de

simetria?