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TERMOS PRINCIPAIS USADOS POR PAULO NAS PERÍCOPES ESTUDADAS EM ROMANOS “O místico não consiste no como o mundo é, e, sim, no fato de que ele é” (Ludwig Wittgenstein, TLP, 6.44). , significa literalmente, colocado à parte para uma missão específica. Como passagens paralelas vejam-se At 13,2: “Separem-se <> Barnabé e Saulo para a obra a que os chamei”, e Gl 1,15: “Mas quando aquele que me havia escolhido <> desde o seio de minha mãe...” (cf. p. 134, nota 9). (proeppaggéllein), significa aqui, prometer, mais que preanunciar, nota 11, p. 135. deve ser entendido aqui, como sinônimo de (“glória”), e indica o esplendor da majestade própria de Deus. Confirma-o uma passagem do apócrifo Testamento de Levi: “Kai penéuma hagiosynês éstai ep´autóis”, cf. p. 136, nota 25. (...) A fé é dócil acolhimento do alegre anúncio e da ação divina que aí se revela (p. 138). Hendíadis figura que consiste em exprimir por dois substantivos, ligados por conjunção aditiva, uma idéia que usualmente se designa por um substantivo e um adjetivo ou complemento nominal (p. ex.: “enterrou suas mágoas no silêncio e no claustro em lugar de no silêncio do claustro ou no claustro silencioso”) (p. 137, nota 29). <>, ignorância, (cf. não é pela de Deus que os pagãos são acusados, como em Sb 13,1; 14,14.22 (p. 153, nota 14). , indica o vazio do idólatra (cf. Sb 13,1: “Sim, são fundamentalmente ‘vazios’ todos os homens que ignoraram a Deus”; ver também Jr 2,5: “Indo atrás do ‘vazio’, tornaram-se ‘vazios’ (p. 153, nota 17). , quer dizer exatamente o juízo de condenação, p. 163, nota 21 (cf. S. Lyonnet. Exegesis, I, p. 164-165). , indica a manifestação externa da cólera <> interna: é essa a relação entre os dois termos aqui usados, p. 163, nota 24. e , exprimem o destino de condenação, ao passo que (2,9-10), indicam o destino de salvação, p. 163, nota 27.

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Termos principais

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TERMOS PRINCIPAIS USADOS POR PAULO NAS PERÍCOPES ESTUDADAS EM ROMANOS

“O místico não consiste no como o mundo é, e, sim, no fato de que ele é” (Ludwig Wittgenstein, TLP, 6.44).

, significa literalmente, colocado à parte para uma missão específica. Como passagens paralelas vejam-se At 13,2: “Separem-se <> Barnabé e Saulo para a obra a que os chamei”, e Gl 1,15: “Mas quando aquele que me havia escolhido <> desde o seio de minha mãe...” (cf. p. 134, nota 9).

(proeppaggéllein), significa aqui, prometer, mais que preanunciar, nota 11, p. 135.

deve ser entendido aqui, como sinônimo de (“glória”), e indica o esplendor da majestade própria de Deus. Confirma-o uma passagem do apócrifo Testamento de Levi: “Kai penéuma hagiosynês éstai ep´autóis”, cf. p. 136, nota 25.

(...) A fé é dócil acolhimento do alegre anúncio e da ação divina que aí se revela (p. 138).

Hendíadis figura que consiste em exprimir por dois substantivos, ligados por conjunção aditiva, uma idéia que usualmente se designa por um substantivo e um adjetivo ou complemento nominal (p. ex.: “enterrou suas mágoas no silêncio e no claustro em lugar de no silêncio do claustro ou no claustro silencioso”) (p. 137, nota 29).

<>, ignorância, (cf. não é pela de Deus que os pagãos são acusados, como em Sb 13,1; 14,14.22 (p. 153, nota 14).

, indica o vazio do idólatra (cf. Sb 13,1: “Sim, são fundamentalmente ‘vazios’ todos os homens que ignoraram a Deus”; ver também Jr 2,5: “Indo atrás do ‘vazio’, tornaram-se ‘vazios’ (p. 153, nota 17).

, quer dizer exatamente o juízo de condenação, p. 163, nota 21 (cf. S. Lyonnet. Exegesis, I, p. 164-165).

, indica a manifestação externa da cólera <> interna: é essa a relação entre os dois termos aqui usados, p. 163, nota 24.

e , exprimem o destino de condenação, ao passo que (2,9-10), indicam o destino de salvação, p. 163, nota 27.

A noção de consciência não é conhecida no judaísmo. Na Bíblia, encontra-se só em Sb 17,12. O termo, porém, se encontra também na tradução grega de Ecl 10,20 e Sr 42,18; cf., J. CAMBIER, Le jugement de tous les hommes par Dieu seul, selon la vérité, dans Rom 2,1-3,30, ZNW 67 (1976), p. 187-213.

Nomós autós ôn kaì thesmós ágraphos, ver p. 165, nota 43.

(...) A. PLUTA. Gottes Bundestreue. Eine Schlüsselbegriff im Röm 3,25 a. Stuttgart, 1969 (cf. Recensão de Torti, RivBi 19, 1971, p. 439s). A monografia defende uma nova interpretação da fórmula diá písteôs do v. 25, referida à fidelidade divina, não à atitude de fé dos homens. Também em Rm 3,3 pístis indica a fidelidade divina (p. 177, nota 34).

(“redenção”), carregado da cultura do clã. Exprimia o resgate de uma pessoa, promovido pelos membros do clã ou da tribo, movidos pela solidariedade do sangue.

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Uma vez aplicado ao campo das relações religiosas, caracteriza a intervenção libertadora de Deus em favor do povo israelita, feito escravo no Egito. Na passagem em questão, define a ação salvífica de resgate da humanidade pecadora, caída “sob o domínio do pecado” (3,9), sublinhando a solidariedade divina encarnada em Cristo (p. 178).

A “justiça” de Deus é ação redentora e expiadora que se enraíza na fidelidade a si próprio e às suas promessas: Deus é “justo”. Por força dessa ação o fiel em Cristo torna-se pessoa nova, que experimenta em profundidade o perdão dos pecados, o resgate da submissão à força do pecado, a parceria com o Deus da aliança, e a fraternidade com os outros. Em termos paulinos, torna-se “justo”, (p. 178).

Artigos citados na monografia.

CAMBIER, Stanislas. “Justice de Dieu, salut de tous les hommes et foi”. In. Revue Biblique, 71 année, n. 4 (1964), p. 537-583.

SiglasBTBib, Bulletin de Théologie Bibique.LumVi, Lumière et Vie.RT, Nouvelle Revue Théologique.RHPR, Revue d´histoire et de philosophie religieuse.RTLouv, Revue Théologique de Louvain.RTP, Revue de Théologie et de Philosophie.ZNW, Zeitschrift für Neutestamentliche Wissenschaft.

ENUNCIADO DO TEMA, 1,16-17

Ao anunciar o tema doutrinário da carta. Acrescente-se aí um dado de marca lingüístico-literária: os numerosos vocábulos com evidente densidade teológica: evangelho, “justiça” de Deus, salvação, fé e crente, revelar, vida, a dualidade judeu-pagão, o adjetivo “justo”, o apelo à Sagrada Escritura. São assim, introduzidos os principais temas da carta.

Paulo pretende apresentar aos cristãos de Roma o seu evangelho, a saber, o núcleo essencial da fé cristã, teologicamente interpretada por ele segundo a sua tese da justificação unicamente pela fé.

, indica em geral, a realidade última e definitiva que se terá na ressurreição dos corpos (cf. Rm 5,9-10). Todavia, o apóstolo já a vê antecipada na história (2 Cor 6,2), (p, 244, nota 8).

Segunda motivação do tema soteriológico do v. 17.“Sim, porque no evangelho se revela a justiça de Deus”.O alcance salvífico do alegre anúncio é compreendido pela “justiça” divina que nele se

revela e atua.O que significa a fórmula “justiça de Deus?1”

1 Cf. R. BULTMANN. Theologie des NT, p. 271-185 (tr. br. Teologia do Novo Testamento.); CERFAUX, L. Le chrétien dans la théologie paulinienne. Paris: 1962, p. 343-426; K. BARTH. E. KÄSEMANN. “Giustificazione e storia della salvezza nella lettera ai Romani”. In. Prospecttive paoline. Brescia, 1972, p. 93-118; G. EICHCHOLZ. La teologia di Paolo. Brescia, 1977, p. 232-255. S. LYONNET. “La sotériologie paulinienne”. In. Introduction à la Bible, II. Tounai, 1959, p. 852-858. —. “Justification, jugement, rédemption,

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Essa expressão não se figura freqüentemente no epistolário paulino. Com efeito está ausente nas cartas aos Gálatas e aos Filipenses; aparece uma única vez na carta aos Coríntios (2 Cor 5,21), e oito vezes na carta aos Romanos (1,17; 3,5.21.22.25.26; 10,3: duas vezes). A dificuldade de compreender seu sentido, está entre outros, na definição do genitivo “de Deus” (). Segundo M. Lutero, trata-se de justiça de divina “não pela qual Deus é justo, mas pela qual ele nos torna justos”. Lutero a compreende como uma realidade antropológica, ainda que originada de Deus. Já Rudolf Bultmann, a expressão trata-se de um genitivo de autor: é a “justiça” que Deus doa ao homem. Há vários exegetas que entende o genitivo da expressão paulina em sentido subjetivo. Isto é, trata-se da “justiça” própria de Deus; significa sua ação. Constitui um evento cujo protagonista é Deus, e se revela no anúncio evangélico (1,17); sua revelação acontece agora, independentemente da lei (3,21). Deus a manifestou na morte de Jesus (3,25-26). Em suma, “justiça de Deus” tem seu tempo, justamente o da presença na morte de Cristo. Entra, pois, na cronologia da história da salvação.

À expressão “justiça de Deus”, deve-se qualificá-la como atividade salvífica. Ela possui um caráter diferente da chamada ‘justiça divina’ punitiva e condenadora dos maus, como também da justiça retributiva, pela qual Deus julgará o homem segundo suas obras.

A “justiça” de Deus da qual fala Paulo, tem um sentido único e resulta sempre benéfica ao povo da aliança, mesmo quando este se torna culpável e infiel, e em relação à humanidade, como aparece no caráter ecumênico da teologia paulina da justificação.

Deus é ‘justo’ (dikáios) em si mesmo, i.é., é fiel e como tal age. A fórmula paulina pode ser definida como a atividade de Deus pela qual Ele é justo,

não porém enquanto condena os réprobos, mas enquanto Deus, segundo suas promessas, restaura seu povo e o liberta da servidão do pecado. É a justiça pela qual Deus ‘justifica’2.

A “justiça de Deus” pode ser entendida como uma atividade salvífica de Deus própria dos últimos tempos, vista assim, na sua projeção escatológica. Daí, seu caráter perene e absoluto. De forma diferente do judaísmo, Paulo compreende que essa justiça se antecipou efetivamente no evento de Cristo morto e ressuscitado, a quem reconhece um valor decisivo na história humana.

A atividade salvífica de Deus foi entendida por Paulo em termos jurídicos, como sentença graciosa de perdão para o homem pecador, criando um seu novo modo de existir perante Deus? Ou, ainda, o vocábulo passou, ao longo dos séculos, por uma evolução semântica, cujo esmaecer de conotação jurídica, passou a indicar simplesmente um gesto de salvação3?

Com efeito, a segunda opinião parece deixar esclarecer a distinção entre ‘justiça’ de Deus e ‘juízo divino’, embora o texto paulino isso não se mostra tacitamente.

É certo afirmar que o termo “justiça” de Deus procede uma secular tradição. O Deutêro-

Isaías procurou evidenciar seu significado soteriológico de evento esperado para o futuro último. Paulo, à luz da fé em Cristo morto e ressuscitado, a vê manifestar-se já no presente. O dia da salvação realizada potencialmente pelo Pai em Jesus é hoje, somente no fim realizar-se-á o julgamento4.

principalemment dans l´épître aux Romains”. In. Littérature et théologie pauliniennes. Bruges, 1960, p. 166-184. — “Gratuité de la justification et gratuité du salut”. In. Studiorum paulinorum congressus internationalis catholicus 1961, I. Roma, 1963, p. 95-110.2 Ver a esse respeito, S. LYONNET. Storia della salvezza nella lettera ai Romani. Napoles, 1967, p. 41. Cf., também, G. BARBAGLIO. As cartas de Paulo II. São Paulo: Loyola, 1991, p. 146. 3 Em conformidade com essa posição estão S. LYONNET. Cf., ibidem.4 Em Gl 5,5, testemunha que a justificação é objeto de esperança para o futuro.

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Finalmente, mister se faz notar que na tradição bíblica a ‘justiça’ assume o conceito de relação. Não diz respeito a uma norma, como retidão de comportamento medida pelo metro de um princípio universal, como se pensavam os gregos. ‘Justo’ e ‘justiça’, no âmbito bíblico, se define tendo por base a fidelidade à lógica da aliança, que liga as pessoas entre si e com Deus. Ele é ‘justo’ porque é fiel à aliança feita com o povo, e assim permanece diante da infidelidade ou ‘injustiça’ do homem. Por isso está pronto a declara ‘justo’, isto é, para readmitir na aliança o povo pecador, com a condição de que se converta.

Não se trata de uma ‘justiça’ de Deus compreendida numa perspectiva individualista5. Na verdade, está em jogo a fidelidade divina ao mundo e à humanidade. Mas, deve-se ressaltar que é uma fidelidade exigente, pois chama os homens a serem coerentes com a aliança estabelecida com Deus, que se revela como o único Senhor. Portanto, a ‘justiça’ de Deus é força que cria espaços novos de obediência, rejeitando qualquer outro senhorio mundano.

No v. 17 Paulo afirma que o anúncio evangélico é o lugar de revelação da “justiça” de Deus. O uso do verbo no presente acentua que, é agora que se manifesta a atividade salvífica divina. Antecipa-se assim, na pregação apostólica, uma realidade do futuro último, como indica o verbo , expressivo do evento final. O apóstolo acentua que Deus finalmente se manifesta na sua ‘justiça’ salvífica. Não se trata, pois, de mera comunicação conoscitiva. Na realidade, Deus manifesta a sua ‘justiça’ oculta e, ao manifestá-la, coloca-a em ação.

Para o homem ela se faz evento, de forma subjetiva, segundo Paulo, “da fé para a fé”. Tal fórmula parece ser um semitismo já conhecido do epistolário paulino. Em 2 Cor 2,16, lê-se: “para uns, odor de morte para a morte; para outros, odor de vida para a vida”. Com efeito, Paulo pretende dizer que é apenas morte e apenas vida aquilo que é produzido, respectivamente, pelo odor de que fala. Assim, mutatis mutandis, ele acentua que é por força da fé, e somente da fé, que a “justiça” salvífica de Deus se realiza em nossa história.

Em 1,16-17, subentende-se não haver referência a (“obras da lei”), como será explicitado em 3,21-31, que retoma esse texto e esclarece-o. Paulo tem em mente a posição dos judeus e dos cristãos judaizantes, para os quais o homem se beneficia da ‘justiça’ de Deus com a condição de observar a lei mosaica. Em virtude disso, a contraposição entre fé e obras nos permite compreender o alcance exato da teologia paulina da justificação, do ponto de vista antropológico. Ao fazer do fiel beneficiário da atividade salvífica de Deus, Paulo pretende sublinhar, por um lado, a livre decisão do homem, em resposta à iniciativa divina, e, por outro, a renúncia à sua auto-suficiência de autocrata religioso, para acolher o dom gratuito que lhe é oferecido.

Ao enunciar o tema da carta, segue-se imediatamente o apelo à Escritura com a citação de uma passagem do profeta Habacuc: “Quem é justo por força da fé terá a vida” (Hab 2,4). Paulo lança mão dessa passagem para fundamentar sua polêmica anti-judaica. Ele o cita ainda em Gl 3,11 e Hb 10,38. Qual será, pois seu objetivo? As discussões parecem girar em torno do significado original de ‘fé’ e de ‘vida’. Mas, como entender o sentido que Paulo lhes atribui?

Em ambos os termos deve-se vislumbrar respectivamente a fidelidade às prescrições da lei ou o abandono confiante nas mãos de Deus; ou, a sobrevivência a um perigo de morte ou de vida como salvação, em sentido religioso último?

5 Veja, por exemplo, E. KÄSEMANN. “Giustificazione e storia della salvezza nella lettera ai Romani”. In. Prospettive paoline. Brescia, 1972, (tr. br. Pespectivas paulinas. São Paulo: Paulinas, p. 73-93). Veja também as ricas contribuições de P. STUHLMACHER. Das paulinische Evangelium I: Vorgeschichte. Gottingen: Vandenhoek & Ruprecht, 1968.

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Parece incerto se se deve ligar “por força da fé” ao sujeito “quem é justo” ou ao verbo “terá a vida”, como faz alguns estudiosos6.

De qualquer forma, parece mais plausível a primeira solução. Sendo assim, a citação parece mais atinente ao tema que Paulo pretende demonstrar embasado na Escritura, a saber: o “justo” é tal porque crê.

Com efeito, o justo relacionamento do homem com Deus e a sua situação existencial de liberdade do domínio da morte dependem do confiante abandono nas mãos da graça salvadora. No que se respeita a esse tema na desenvoltura da carta aos Romanos, deve-se notar, que se a justificação do homem está em primeiro plano na seção 1,18–4,25, nos capítulos 5–8 predomina o conceito de vida.

A polêmica do judaísmo e a interpretação exegética da Escritura aparecem, porém, a serviço de uma profunda teologia da história da salvação. A ação salvífica divina, manifestada em Cristo morto e ressuscitado e antecipada no AT – como testemunha o caso de Abraão – é coerente consigo mesma. Ela se realiza sempre mediante a fé. Agora como no passado, Deus torna “justos” os homens que, pela fé, confiam nele. Abraão é figura típica e exemplar do crente, acolhido graciosamente pelo Senhor. Como ocorreu com ele, assim também será conosco. Aquilo que a Sagrada Escritura disse a seu respeito – “a fé lhe foi levada em conta de ‘justiça’ – é endereçado também aos cristãos que crêem ‘n´Aquele que ressuscitou Jesus, nosso Senhor, do reino dos mortos” (4,24b) (cf. p. 185).

O capítulo articula-se em quatro trechos: os v. 1-8 dedicam-se à antítese fé-obras, cujos pólos correspondem à lógica da gratuidade e à lógica do devido (= katá chárin, katá oféilêma). Nos v. 9-12 o tema básico é o da justificação fora da circuncisão. A promessa de Deus a Abraão e aos seus descendentes caracteriza os v. 13-17a.

ANEXO ACERCA DA JUSTIFICAÇÃO

(Rm 4,25).

(...) No entanto, como via histórica e subjetiva que conduz à justificação, nega-se a lei mosaica com suas obras de observância; a fé é afirmada em termos exclusivistas. O esquema antitético: não as obras da lei, mas a fé em Cristo.

Em Rm 4,4-5 há um paralelismo antitético: “ora, a quem realiza ‘obras’, o salário não lhe é creditado gratuitamente (), e sim, segundo o critério de um débito (). Ao contrário, a quem não realiza ‘obras’, mas crê n´Aquele que justifica o ímpio, é a sua fé que é levada em conta de justiça.

No entanto, a atitude existencial conseqüente é uma orgulhosa auto-suficiência (, orgulho religioso), ou a renúncia a essa pretensão. Temos, pois, esta dupla série de fatores concatenados: a) a lei, o débito, o orgulho; b) a fé, a gratuidade, a exclusão do orgulho (p. 294).

2. Justiça, justificação.

“Deus calcula ou credita <> como justiça a fé”.Uma das primeiras séries de proposições. Todas elas se referem a Gn 15,6, e

evidenciam a interpretação que Paulo dá a esse testemunho bíblico. 6 Ver sobremodo, TOB, NT, p. 452, com., 39; J. BLANK. Warum sagt Paulus: “Aus Werken des Gesetzes wird niemand gerecht?”. In. Evangelische-Katholischer Kommentar, 1. Neukirchen: Verlag, 1969, p. 98.

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Rm 4,3;Rm 4,5;Rm 4,6;Rm 4,11;Rm 4,23-24.

Série antitética de expressões:Fl 3,9 – Fl 3,9.Rm 9,31-32 – Rm 9,30.Rm 10,5 (justiça que vem das obras) – Rm 10,6 (justiça que vem da fé). Gl 2,21 – Rm 4,6 (justiça independentemente ‘das obras’)Gl 3,21 – Rm 4,11 e 13.Fl 3,6 – Rm 10,4 Rm 10,10.Outra série de proposições afirma a justificação como resultado da ação salvadora de

Cristo:Rm 4,25.Rm 5,16.Rm 5,18.1 Cor 1,30.Fl 1,11.Em dois casos a justiça é apresentada em relação causal com o Espírito:Rm 8,10: “[...] O Espírito é vida para a justiça”.Rm 14,17: [...] O reino de Deus é justiça, paz, alegria mediante o Espírito Santo”.

Em Romanos aparece também duas passagens que ligam estreitamente graça e justiça, e evidencia a gratuidade desta última:

Rm 5,17: “(...) Aqueles que acolhem a abundância da graça e do dom de justiça”.Rm 5,21: “A fim de que (...) a graça, através da justiça, reinasse para a vida eterna”.

No capítulo 6, aparece como uma potência personificada, à qual deve obedecer com uma vida eticamente positiva: “[...] e coloquem à sua disposição os seus membros, como armas para a justiça” (6,16.18-20).

Enfim, o evento da justificação ocorre na nossa história atual.

3. O adjetivo “justo”.

Unicamente um texto é atribuído a Deus: “[...] de modo a ser o Deus justo que justifica o fiel em Jesus” (Rm 3,26).

Pouquíssimos são as proposições em que é atribuído aos homens. Além de Rm 2,13 e 5,19, em que eqüivale ao verbo : pela observância de um só a humanidade torna-se justa” – deve-se mencionar de modo particular a citação livre do profeta Habacuc (2,4): “Quem é justo por força da fé terá a vida” (Rm 1,17; Gl 3,11). A frase liga estreitamente justiça e fé; na prática, identifica o justo com o fiel.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

A REVELAÇÃO DA JUSTIÇA SALVÍFICA DE DEUS – 1,18–4,25

Primeira seção da parte doutrinária da carta, apresenta o leitmotiv do evangelho sob o ângulo específico da ‘justiça’ divina.

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Em dois momentos distintos e contrapostos, o tema é desenvolvido. Paulo se preocupa em mostrar o que acontece com o homem que está fora do evangelho. Seu proceder é dialético: revelação da cólera divina (1,18-3,20), revelação da ‘justiça’ salvífica de Deus (3,21-4,25). Assim, mostra-se claro que o anúncio cristão constitui para a humanidade a única possibilidade de salvação. Rm 1,18-32 e Rm 2,1-3,20 são os dois trechos paralelos. A parte dita positiva da exposição articula-se em dupla fase: apresentação da teologia da justificação mediante unicamente a fé (3,21-31) e prova escriturística, com apelo ao ‘caso’ exemplar de Abraão (cf. 4,1-25).

Nessa perspectiva, deve-se buscar a solução do problema da estreita ligação entre 1,18 e 1,17. Eis, pois, os textos: “Sim, porque no evangelho se revela a ‘justiça’ de Deus por força da fé” (1,17); “De fato, do alto do céu se revela a cólera de Deus” (1,18).

Mas, como explicar a surpreendente conjunção “de fato” <; [; ]>?

O pensamento teológico de Paulo é marcado pelo esquema antitético. O contraste entre situações, realidades, perspectivas, domina a sua visão, não atenta às nuances.

Em particular, não contará a posse da lei (2,12-16), p. 164.

Comentário aos v. 17-24.

(...) O judeu confessa verbalmente o dever moral de não roubar, não cometer adultério, mas sua vida é diferente.

Crítica aos pontos nos quais os judeus se apóiam:a) Confiança depositada nos privilégios religiosos (v. 17-20).b) A circuncisão (v. 25-29).

(...) A circuncisão do coração não deve, pois, ser interpretada de modo espiritualista. Ela está inscrita nas profundas raízes do homem: em suas escolhas e decisões operativas. É resultado da ação transformadora do Espírito de Deus (cf., p. 168).

A esse respeito veja as passagens vétero-testamentárias, Dt 10,16-20; 30,6; Jr 4,4; 9,24-25; Ez 11,19-20; 30,26.

O trecho de 3,1-8, marca um passo adiante na acusação do mundo judaico. Paulo ataca o último e mais sólido refúgio no qual os judeus buscam segurança: Deus confiou a eles promessas irrevogáveis e incondicionais. Trata-se de um motivo de orgulho que tem a mesma solidez na palavra divina indefectível, e que não está exposto à instabilidade das opções do povo. Em suma, está em jogo a própria fidelidade de Deus, que para sempre se ligou aos israelitas.

Nessa passagem, as duplas apistía-pístis (v. 3), pséustês-alêthês (v. 4), adikía-dikaiosynê (v. 5), pséusma-alêtheia (v. 7) são praticamente sinônimas e indicam freqüentemente o contraste entre a infidelidade humana e a fidelidade divina (cf., p. 168, nota 61).

Em que consiste o verdadeiro ser do homem? (cf., p. 167).Acerca da contraposição externo e visível; sentido espiritualista e material (cf., p. 168).

Grámma <>, designa, pois, a lei enquanto norma apenas ‘escrita’ ou ‘prescrita’ e por isso entendida no sentido de ‘prescrição’ e, não ‘letra’, que passou a dominar a tradição exegética (p. 168, nota 59).

Em 3,9-20, Paulo conclui sua motivada acusação contra o mundo judaico, e retoma ao mesmo tempo a conclusão da acusação contra o mundo pagão, de 1,18-32. Os judeus não

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podem orgulhar-se de nenhuma superioridade: “Pois já estabelecemos acima, na nossa acusação, que todos judeus e pagãos, estão sob o domínio do Pecado”.

Nos v. 10-12 as passagens citadas sublinham que “Todos se desviaram”. Em 3,13-18 destaca-se também, que o mal invadiu e corrompeu a pessoa em todos os seus órgãos expressivos: garganta, língua, lábios, boca, pés, olhos.

Os versículos finais (19-20) aplicam expressivamente o testemunho escriturístico aos judeus. Pois, ele vale “para aqueles que estão sujeitos à lei”.

A Escritura, denominada de Lei, fala para eles. Devem, pois, se convencer de que, junto com os pagãos, formam um mundo de réus diante de Deus. Não podem sequer recorrer à observância das prescrições da lei. Por que, por força desta, ninguém pode tornar-se ‘justo’ perante Deus, isto é, ocupar a exata posição de parceiro no relacionamento religioso. Qual a razão? Porque se obtém justamente o contrário: na realidade, a lei é instrumento de domínio do Pecado, não de libertação.

(...) Paulo exclui, como justificadora, não a observância como tal dos mandamentos, mas a atitude de auto-suficiência do observante, que faz das suas obras de fidelidade motivo de autarquia religiosa e existencial. Esse, de fato, é o exato significado da fórmula paulina “obras da lei”.

O uso de .

Paulo recordou-se da frase de Hb 2,4: “o justo vive da fé” (Rm 1,17; Gl 3,11), para dela fazer um dos fundamentos escriturísticos de sua teologia da justiça. Ele exprime com o auxílio de diversas proposições a proporção entre a fé e a justiça. A variedade delas indica que ele não dá importância senão à relação, seja qual for: a fé toma o lugar das obras sobre as quais se apóia a justiça judaica. A expressão significa que a justiça tem sua origem na fé: talvez na sua base devamos colocar precisamente Hb 2,4; ela é usada em Rm 1,17 para introduzir esta citação; depois, em Rm 9,30; 10,6; Gl 5,5. Conforme o texto de Gn 15,6, o termo da fé é a justiça (Rm 4,5.22; 10,4.10). A proposição indicará que a fé é o fundamento sobre o qual se apóia a justiça cristã, dom de Deus (Fl 3,9). A preposição com o genitivo indica que a fé humana atrai sobre o homem a justiça de Deus (Rm 3,22). Todas estas relações são sintetizadas no genitivo: “justiça da fé” (Rm 4,11-13)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VIRGILIO. Eneida 6.791-5;——. Égloga 4.4-10. Virgilio exalta la misión divina de Roma para dominar, “para establecer la civilización sobre la base de la paz, para salvar a los conquistados y destruir a los arrogantes agresivos” (Eneida 6.852-853).

Sobre la paz romana, ver Klaus Wengst, Pax Romana and the Peace of Jesus Christ (Philadelphia: Fortress, 1987) 7-10. En la propaganda romana, “paz y seguridad” era el lema que expresaba la gran hazaña de Augusto. En sus Actas, el emperador afirma que durante su principado el senado, por tres veces consecutivas, proclamó “la paz asegurada por la victoria a través de todo el dominio del pueblo, en mar y tierra”. El emperador se gloría de haber cerrado el arco de Jano Quirinio, que representaba las puertas de la guerra (Res Gestae Divi Augusti 13). Según Virgilio, Augusto cumplió la profecía, que le hizo Júpiter, de que en su reinado las guerras cesarían. “La paz y seguridad”, que el poder romano daba al mundo, justificaba la pérdida de autonomía padecida por los países conquistados y el sufrimiento que ello acarreaba.

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TÁCITO. Anales 1,10,4.——. Agricola 20,2-3.PLINIO. Cartas 9.5.Flavio JOSEFO, Antigüedades 14,10. G. W. CLARKE. “Religio Licita”. In. ABD 5.665-67;