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Entrevista PIRILAMPOS DA PENÍNSULA IBÉRICA Reportagem MEXILHÕES-DE-RIO: BIOINDICADORES Reportagem PAUL DO TAIPAL Ano XIII • N.º 47 • 22 de junho a 21 de setembro de 2014 Interview Bioluminescent bugs Report Thick-shelled river mussels Report Paul do Taipal: Wetland 3 euros IVA incluído TERRAS ÁRIDAS E MEDITERRÂNICAS + CORDÃO DUNAR + MIGRAÇÕES ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + PARQUES DE GAIA + ATUALIDADE

terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

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Page 1: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Entrevista

PIRILAMPOS DA PENÍNSULA IBÉRICA

Reportagem

MEXILHÕES-DE-RIO: BIOINDICADORES

Reportagem

PAUL DO TAIPAL

Ano XIII • N.º 47 • 22 de junho a 21 de setembro de 2014

Interview

Bioluminescent bugs

Report

Thick-shelled river mussels

Report

Paul do Taipal: Wetland

47

PA

RQUE

S E

VIDA

SEL

VAGE

M

3 euros IVA incluído

TERRAS ÁRIDAS E MEDITERRÂNICAS + CORDÃO DUNAR + MIGRAÇÕESESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + PARQUES DE GAIA + ATUALIDADE

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 3

Nuno Gomes OliveiraDiretor da revista “Parques e Vida Selvagem”

EDITORIAL 3

Um novo ciclo

ADe todas elas, sempre tive uma

espécie-fetiche, o papa-moscas-

preto (Ficedula hypoleuca) ou,

como o povo lhe chama em

algumas regiões, o “bate-a-asa”; chega ao

Parque Biológico, vindo do Norte e Leste da

Europa, invariavelmente por volta de 15 de

agosto, e vai continuando a sua passagem

migratória rumo a África até inícios de

novembro.

No passado recente era abundantíssimo,

particularmente no mês de setembro

mas, devido às alterações climáticas e

consequente variação dos ciclos dos insetos

de que se alimenta, a sua população, que se

avalia em vários milhões de casais na Europa,

tem vindo a decrescer continuamente.

Quando vejo o primeiro papa-moscas do

ano, fecho um ciclo e começo outro!

TURISMO DE NATUREZA: CONTRIBUTO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCALNão para de crescer o número de visitantes,

especialmente estrangeiros, que visitam

Portugal em autocaravana e, muitos,

utilizam o parque de autocaravanas do

Parque Biológico de Gaia para estadia.

No dia em que escrevia este texto (8

de agosto) tínhamos os 11 lugares do

parque completos e, ao fi m do dia, havia

mais 9 autocaravanas no parque de

estacionamento que ali pernoitaram. Em

julho a taxa de ocupação foi de 54%; em

2014 já acolhemos 730 autocaravanas,

e algumas fi caram vários dias no Parque

Biológico.

Esta forma de turismo é muito importante

para o desenvolvimento local, pois

os autocaravanistas fazem compras

localmente, vão aos restaurantes

próximos, ou seja, deixam dinheiro nas

terras que visitam; é aquilo a que se

chama turismo de base local.

Acresce que o turismo de natureza faz

com que afl uam visitantes a regiões com

menor movimento turístico, como Trás-os-

Montes, por exemplo. Sabemos que os

bungalows e o parque de autocaravanas

e campismo do Parque Biológico de

O dia 15 de agosto,

que se aproxima,

sempre foi para mim

a verdadeira viragem

do ano; na nossa

situação geográfi ca

completa-se um ciclo

de reposição da vida,

é a altura de maior

abundância de aves,

por exemplo, pois há

todas as nascidas

no ano e começam

a chegar do Norte as

migradoras de inverno

Autocaravanistas no parque de estacionamento do Parque Biológico, à espera de lugar no Parque de Autocaravanas (08/08/2014, 19h00)

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Page 4: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

4 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

4 EDITORIAL

Vinhais são, também, um sucesso.

Há milhares que se deslocam do

Centro e Norte da Europa para ver

um abutre ou uma pega-azul no

Douro Internacional, uma abetarda ou

um peneireiro-cinzento no Alentejo.

A biodiversidade tem um valor para

a economia nacional e é preciso

contabilizá-lo e, naturalmente, conservar

e fomentar essa biodiversidade.

A DESCOBERTA DE NOVAS ESPÉCIES NÃO PARAO Instituto Internacional para a

Exploração de Espécies, nos Estados

Unidos, divulgou em maio que, durante

2013, foram descobertas em todo o

Mundo 18 mil novas espécies. E não se

imagine que foram apenas pequenos

animais ou pequenas plantas: um

dragoeiro (Dracaena kaweesakii Wilkin

& Suksathan, 2013), árvore com 12

metros, tinha passado despercebida na

Tailândia, até agora.

O WWF (sigla em inglês de Fundo

Mundial da Vida Selvagem) anunciou

em junho a descoberta na região do

rio Mekong (que nasce na província

chinesa de Yunnan, atravessa Myanmar,

Tailândia, Laos, Camboja e Vietname) de

367 novas espécies animais e vegetais,

como por exemplo um esquilo-voador

gigante que estava à venda num

mercado do Laos e nunca tinha sido

identifi cado na natureza.

O Instituto da Biodiversidade e das

Áreas Protegidas da Guiné-Bissau

confi rmou, em maio, a existência de

uma pequena manada de elefantes-da-

fl oresta (Loxodonta africana cyclotis) no

Parque Natural das Lagoas de Cufada.

Esta manada está isolada devido

ao corte de árvores no seu corredor

migratório habitual.

A fragmentação dos habitats descrita no

mapa, nestas como noutras espécies, é

uma das causas maiores da diminuição

das populações por empobrecimento

genético.

ÁREAS PROTEGIDAS E A PROTEGERFinalmente foi dado um estatuto de

proteção à Ria de Aveiro, através da

Resolução do Conselho de Ministros

n.º 45/2014, de 26 de junho, incluindo

mais de 33 mil ha na Rede Natura 2000,

com a designação de “Sítio Ria de Aveiro”

e o código PTCON0061. Curiosamente a

delimitação da área é sensivelmente igual

à proposta por nós nos anos 70 do século

passado e à prevista no Decreto n.º 20/75

que criava o Parque Natural da Ria de

Aveiro, por iniciativa do Arq. Ribeiro Teles,

mas que nunca foi implementado.

De Baião vem, em junho, a boa notícia de

que várias entidades se juntaram para salvar

um valioso carvalhal (Quercus robur) de 15

ha, conhecido por carvalhal de Reixela. A

parceria integra a Ecosimbioses, Associação

Ambiental de Baião, o Agrupamento

de Escolas de Vale de Ovil e a Câmara

Municipal de Baião. O projeto prevê a

instalação do Centro de Interpretação

Ambiental da Reixela.

Vem a propósito recordar que nos anos 80

do século passado a QUERCUS, através

do Dr. Serafi m Riem e com a possibilidade

de apoio fi nanceiro do suíço Bernd Thies

(1951-1988), iniciou negociações com

vista à aquisição do carvalhal da Reixela;

as negociações não se concretizaram pois

Bernd Thies viria a falecer num acidente

rodoviário em Lisboa, em 1988. Deixou em

testamento a criação da Fundação Bernd

Thies, com sede na Suíça e que em Portugal

apoiou fi nanceiramente o Grupo Lobo.

Não deixa também, de ser interessante

refl etir sobre o nome do carvalhal: Reixela.

Reixelo era o nome dado antigamente ao

macho de cabra-brava, e na Beira e Trás-os-

Montes a carneiro novo, cabrito, etc. Haverá

alguma ligação entre “Reixela” e corço ou,

mesmo, cabra-brava?

OS PESTICIDAS E A FALTA DE POLINIZADORESEstá a tornar-se de tal modo preocupante a

falta, em todo o Mundo, de abelhas e outros

polinizadores que o presidente americano

Barack Obama ordenou, em junho passado,

à Agência de Proteção do Ambiente que

“avalie o efeito dos pesticidas, incluindo os

neonicotinóides, sobre a saúde das abelhas e

outros polinizadores, e tomar medidas se for

necessário”, em 180 dias.

Os neonicotinóides são uma classe de

inseticidas derivados da nicotina, descobertos

em 1972, e que desde 2004 são suspeitos de

matarem as abelhas e outros polinizadores,

suspeita confi rmada em 2008.

Estrasburgo, entre outras cidades, decidiu

atrair os polinizadores ao espaço urbano

instalando pradarias melíferas, fomentar

abrigos para insetos e ir abandonando o uso

de pesticidas.

OS MAMÍFEROS MARINHOS ANDAM A FAZER TURISMO?A 17 de julho um grande cardume (ou melhor,

Fragmentação das populações de elefante-africano (Loxodonta), incluindo o elefante-da-savana (Loxodonta africana africana) e o elefante-da-fl oresta (Loxodonta africana cyclotis). Fonte: African Elephant Status Report of IUCN

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Page 5: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Já há muito tempo que desisti de

revelar com quem gostaria de

tomar um Porto. Fui acusado de

parcialidade (o que é verdade),

e de outras coisas mais. Mas desta vez

não posso deixar de recordar o Professor

Delgado Domingos, cientista e docente

do Instituto Superior Técnico em Lisboa,

falecido a 5 de julho passado, o cidadão

conhecedor e probo que nos livrou de

um programa e de uma central nuclear

obsoletos, que a Westinghouse nos

queria impingir nos anos 70, tendo então

conquistado os amores

de alguns políticos e

governantes da época,

quando o responsável

em Portugal pelo

controlo das radiações

ionizantes e o

licenciamento das instalações onde elas

se produziam era um médico cuja principal

atividade científi ca era escrever versos

para as revistas do Parque Mayer, e um

físico do então LNETI teve chatices por

andar a medir a radioatividade dos rios

portugueses, nomeadamente os que

vinham de Espanha!

Lembram-se da projetada central nuclear

em Ferrel, Peniche? Lembram-se da

canção de Fausto “Rosalina se tu fores

à praia…”? Pois aquele professor foi a

consciência científi ca e cidadã contra

a sucatada atómica que então alguns

tecnocratas que ainda andam por aí nos

queriam impingir. Nas suas palestras

sempre tentou que os seus ouvintes

distinguissem a Física Nuclear dos

projetos comerciais de produção de

energia atómica a qualquer preço.

Vou pois tomar um Porto em sua

memória. (J. A. Gonçalves Guimarães, ex-

técnico de Radiologia, com formação em

proteção contra radiações ionizantes).

in Eça & Outras, III Série, n.º 71 – sexta-feira, 25 de julho de 2014.

Tomar um Porto comCONTINUA A SAGA DA ROLA-BRAVA, ATÉ À EXTINÇÃO!A rola-brava (Streptopelia turtur) é uma

espécie migratória que vem criar à

Europa e regressa a África no fi m do

verão, passando ali o inverno.

A sua população na Europa sofreu um

declínio de 69% entre 1980 e 2009;

em Portugal, entre 2004 e 2010, teve

um decréscimo de 31% (Fonte: SPEA

- Sociedade Portuguesa para o Estudo

das Aves).

Esse declínio populacional tem a ver

com o abandono das práticas agrícolas

tradicionais, a intensifi cação da fl oresta,

o aumento da desertifi cação em África

e a caça nos países mediterrânicos;

calcula-se que pelo menos 10% da

população de rola-brava é caçada

anualmente na Europa (Fonte: SPEA).

Ora apesar disso, no próximo dia 17

de agosto irá abrir, novamente, a caça

à rola-brava em Portugal, podendo os

130 mil caçadores existentes abater

dezenas de milhar de rolas-bravas.

Mas, mais grave ainda, estamos a

escrever a uma semana de 17 de

agosto, e ainda há rolas-bravas no

ninho, a alimentar crias, o que faz

ampliar os efeitos da caça.

Até quando?

manada, pois são mamíferos) de roazes-

corvineiros (Tursiops truncatus) entrou

no rio Douro e foi fi lmado a partir de um

barco; nada que não acontecesse no

passado, mas, nos tempos recentes,

apenas exemplares isolados, desta e de

outras espécies, têm sido por ali vistos.

Ainda em julho, uma foca-comum

(Phoca vitulina) resolveu usar como local

de descanso, durante várias semanas,

uns insufl áveis existentes na baía de

São Martinho do Porto (Alcobaça);

não é espécie da nossa fauna e veio,

provavelmente, arrastada do Norte pelas

correntes marinhas.

Uma outra foca-cinzenta (Halichoerus grypus) que dera à costa em 4 de janeiro

na Praia da Mareta, em Sagres (Algarve),

foi recolhida pela Polícia Marítima e

tratada durante meses no Porto de

Abrigo do Zoomarine (Albufeira), tendo

sido enviada, através da TAP, em 5 de

agosto para o Santuário de Focas de

Cornish, em Gweek (Cornualha), que

tratará da sua devolução ao habitat

natural, no Atlântico Norte.

Finalmente, em 27 de julho um juvenil de

baleia-comum (Balaenoptera physalus)

resolveu ir dar uma volta na Ria de

Aveiro.

Todos estes curiosos acontecimentos

estão à disposição em vídeos, na

internet.

Jorg

e G

om

es

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Page 6: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

6 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

6 CARTOONPor Ernesto Brochado

Desejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas: Livro “Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro”de vários autores ...........................................€3,00

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Livro “Áreas de Importância Natural da Região do Porto” de Nuno Gomes Oliveira .................................€15,00

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Livro “Cobras de Portugal” de Jorge Gomes .....................................................................................................€3,00

Livro “Uma Escola Sem Muros: Diário de Um Professor”, de Paulo Gandra ..................................................€3,00

Livro “Parque Biológico de Gaia - 1983/2013” ............................................................................................€23,00

Livro “Borboletas dos Parques de Gaia” de Jorge Gomes .............................................................................€10,00

Livro “Mauro e Emília”, cágados em perigo (Oferecido na compra de “Galvino e Galvão, a galinha-de-água e o galeirão” (em baixo)

Livro infantil “Galvino e Galvão, a Galinha-de-água e o Galeirão” de Manuel Mouta Faria ..................... €7,50

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MORADA ___________________________________________________________________________________________________________________________________

CÓDIGO POSTAL ____________________________ - _____ TELEFONE ________________

Enviar este cupão preenchido em letra legível para: Parque Biológico de Gaia Loja Rua da Cunha 4430-681 ou por e-mail para [email protected]

JUNTO COMPROVATIVO DE TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA PARA O NIB 0033 0000 0026 0035 17605 SOLICITO P. F. QUE ME ENVIEM À COBRANÇA (PORTES DE CORREIO NÃO INCLUÍDOS)

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Page 7: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 7

OPINIÃO 7

Eduardo Vítor RodriguesEduardo Vítor RodriguesPresidente da Câmara Municipalde Vila Nova de Gaia

Parque Biológico

garantir o futuro

Tem contribuído durante

as últimas três décadas

para o desenvolvimento

do concelho de Vila Nova

de Gaia, instrumento fundamental na

valorização do património, natural e

construído, na assimilação por parte da

população de práticas de preservação

ambiental e respeito pela fauna e fl ora

locais.

Perante os constrangimentos

legais, fi nanceiros e regulamentares,

associados à integração do Parque

Biológico na estrutura da empresa

municipal Águas de Gaia, impedindo

simultaneamente a subsidiação ao

investimento por parte da Câmara

bem como o fi nanciamento à

exploração proveniente das receitas

da faturação da água, o futuro desta

tão importante estrutura impõe

defi nições claras e sustentáveis.

Ninguém perceberia um

alheamento que signifi casse um

gradual defi nhamento da empresa

Águas e Parque Biológico de Gaia e,

consequentemente, um afastamento,

face aos princípios estabelecidos no

já longínquo ano de 1983, da missão

do Parque Biológico enquanto agente

multiplicador dos desafi os que se colocam

a uma sociedade moderna nos domínios

ambientais.

O Parque Biológico de Gaia,

enquanto projeto e instituição,

é um dos mais conseguidos projetos

de sustentabilidade ambiental

do nosso País

O processo de reestruturação

da empresa Águas de Gaia, cuja

discussão se iniciou recentemente,

que tem como um dos elementos

primordiais a internalização do Parque

Biológico na estrutura Camarária,

visa, simultaneamente à estabilização

organizacional e fi nanceira da

empresa mencionada, criar as

condições objetivas, sejam materiais,

organizacionais ou fi nanceiras, para

o reforço efetivo do projeto Parque

Biológico.

Salvaguardadas as condições objetivas

de todos os colaboradores da

empresa, fundamentais no percurso de

desenvolvimento atingido, repostas as

condições de atendimento integral dos

requisitos dos reguladores, a possível

internalização do Parque Biológico na

Câmara Municipal irá permitir que se

reinvista no projeto, projetando-o para

além do seu objetivo inicial para outras

dimensões desenvolvimentistas.

A afi rmação desse compromisso

será a máxima expressão simbólica

da importância e reconhecimento

que o Parque Biológico possui na

minha perspetiva de desenvolvimento

municipal: um desenvolvimento

inclusivo, integrador e sistémico,

assente na valorização em primeira

instância do património humano, social,

cultural e ambiental do concelho de Vila

Nova de Gaia. Jorg

e G

om

es

Comemorações do Dia do Animal

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Page 8: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

8 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem”

Diretor Nuno Gomes Oliveira

Editor Parque Biológico de Gaia

Coordenador da Redação Jorge Gomes

Fotografi as Arquivo Fotográfi co

do Parque Biológico de Gaia

Propriedade Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM

Pessoa coletiva 504763202

Tiragem 10 000 exemplares

ISSN 1645-2607

N.º Registo no I. C. S. 123937

Dep. Legal 170787/01

Administração e Redação

Parque Biológico de Gaia

Rua da Cunha • 4430-681 Avintes

Portugal

Telefone 227878120

E-mail: [email protected]

Internet http://www.parquebiologico.pt

Conselho de Administração

Serafi m Silva Martins

Presidente executivo

Tiago Filipe Costa Braga

Vogal executivo

José Manuel Dias da Fonseca

Vogal não executivo

Verão 2014

Na produção desta revista, ao utilizar um papel com 60% de fi bras

recicladas (Satimat Green) em vez de um papel não reciclado,

o impacto ambiental foi reduzido em:

www.facebook.com/parquesevidaselvagem

Capa: Parque de autocaravanas do Parque

Biológico de Gaia, foto de João L. Teixeira

pvs47.indd 8pvs47.indd 8 09/09/14 00:2609/09/14 00:26

kg de aterro1762

kg de CO2 (gases de efeito de estufa)1590

litros de água159

kWh de energia38170

kg de madeira3804

km de viagem num automóvel europeu de consumo médio

2863

Page 9: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

64

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 9

58 PAUL DO TAIPALreportagem Com 233 hectares, o paul do Taipal está classifi cado como

Zona de Proteção Especial para a Avifauna (ZPE). Além disso,

goza do estatuto de Zona Húmida de Importância Internacional,

sendo Sítio Ramsar. É um dos derradeiros exemplos deste tipo

de zona húmida no Centro do país.

6 Cartoon

7 Opinião

10 Ver e falar

12 Fotonotícias

24 Contra-relógio

30 Dunas

37 Espaços verdes

47 Recuperar

51 O voo das aves

66 Migrações

70 Atualidade

74 Biblioteca

75 Crónica

82 Coletivismo

44 PIRILAMPOS DA PENÍNSULA IBÉRICAentrevistaA Península Ibérica conta com bastantes mais espécies quando

comparada com a Europa além-Pirenéus. Dois cientistas desta

área, Raphael De Cock (Bélgica) e Ramón Guzmán Álvarez

(Espanha), de passagem por Portugal e com a colaboração do

Parque Biológico de Gaia, deram corpo a um workshop sobre

pirilampos da Península Ibérica no passado dia 14 de junho.

SECÇÕES

37 30

24

54 MEXILHÕES-DE-RIOreportagem O ciclo de vida de algumas espécies de mexilhão-de-rio depende

da truta. Em Figueiró dos Vinhos, no Posto Aquícola de Campelo,

há um projeto LIFE ECOTONE em curso, que tem em vista repovoar

os rios que reúnam condições para isso com esta espécie de

bivalve, um bioindicador de eleição.

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Page 10: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

10 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Revistas anterioresOs pedidos de leitores no sentido de

conseguirem adquirir também revistas

mais antigas continuam a chegar.

Como entretanto já não há exemplares

em armazém para atender a essas

solicitações, a alternativa de reunir uma

coleção completa recai na internet:

basta ir ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas – todas

as anteriores edições da revista «Parques e

Vida Selvagem» estão ali disponíveis.

10 VER E FALAR

Vidas de quem estuda a vidaTodos os que trabalham em contacto

direto com a natureza colecionam durante

a sua carreira episódios memoráveis que

nunca esquecerão. Pena é que essas

peripécias fi quem usualmente guardadas

apenas na memória de quem as viveu.

Foi para trazer à luz do dia essas histórias

que surgiu o projecto “BIOgrafi as: Vidas

de quem estuda a vida”, um livro onde 18

biólogos portugueses relatam na primeira

pessoa as 35 aventuras e desventuras mais

inesquecíveis da sua vida profi ssional.

A raiz deste projeto surgiu das contribuições

pontuais que um de nós (DV) desenvolveu

com a revista inglesa “BBC Wildlife”,

uma das publicações de

referência na área da

natureza e vida selvagem.

Esta colaboração centrava-

se na rubrica “Tales from

the bush”, na tradução

livre do inglês “Histórias

do mato”, onde biólogos,

conservacionistas e outros

aventureiros partilhavam

com o público os mais

marcantes episódios da sua vida profi ssional.

Eram histórias curtas, escritas sem jargão

científi co e giravam à volta do lado caricato,

cómico ou dramático do dia-a-dia de quem

trabalha na natureza.

Foi então que surgiu a ideia de replicar o

modelo em português e com protagonistas

portugueses. Numa altura em que ser

biólogo em Portugal parecia estar ligado

apenas à falta de saídas profi ssionais, era

oportuno passar a palavra a quem escolheu

esta carreira e ouvir em primeira mão o que

nos faz levantar da cama (às vezes a horas

impróprias) dia após dia.

Foi então altura de contactar outros

profi ssionais do estudo da natureza para

que se juntassem ao projeto. A resposta foi

muito positiva e as contribuições foram

várias, desde as histórias partilhadas por

um total de 18 autores, às ilustrações

do Gonçalo M. Rosa que acompanham

cada história.

Com o conteúdo defi nido faltava

conseguir um apoio editorial que

permitisse publicar o livro. Os contactos

multiplicaram-se, mas durante mais de

dois anos não obtivemos apoio para

levar avante este projeto. Até que surgiu

a luz ao fundo do túnel. A editora Escola

de Mar decidiu apoiar o projeto, embora

a falta de fundos obrigasse a um esforço

conjunto entre editora e autores para

angariar os 3000 euros necessários para

uma primeira edição de 500 exemplares.

A solução foi encontrada na forma

de uma campanha de crowdfunding,

organizada on-line através da plataforma

PPL. O desafi o não era simples:

conseguir recetividade por parte do

público para um livro que na realidade

ainda não existia.

Foi um mês de trabalho árduo para

divulgar a campanha ao maior número

possível de pessoas através de redes

sociais, artigos em plataformas como

o portal Greensavers ou entrevistas

com meios de comunicação social. No

fi nal valeu a pena:

recebemos o apoio

de 162 pessoas

e angariamos

um total de 3400

euros! Ficou claro

nessa altura que

o esforço ia ser

recompensado.

O projeto estava,

no entanto, ainda no

início. Depois de reunido o montante

necessário contámos com a preciosa

ajuda do José Pedro Martins, da Mooda

Project, que fez não só a paginação

como o design da capa. Depois

seguiram-se uma série de eventos

promocionais, inseridos em iniciativas

como a Semana Cultural da Faculdade

de Ciência da Universidade de Lisboa,

para divulgar o livro e fazê-lo chegar aos

leitores.

No fi nal de contas este esforço parece

ter dado frutos. Mais de metade dos 500

exemplares da primeira edição já foram

vendidos e o livro encontra-se agora à

venda na loja on-line Naturfun (www.naturfun.pt), onde tem recebido muito

boas críticas.

E agora? Queremos continuar a

promover este livro como um exemplo

de comunicação direta entre quem

trabalha com a natureza e a sociedade,

mostrando de onde vem a paixão que

nos move como profi ssionais e nos leva

a seguir uma linha profi ssional que tantas

vezes nos desafi a a ultrapassar os nossos

próprios limites. Esperamos portanto, que

este livro inspire uma nova atitude para

com os biólogos portugueses, e que em

Portugal ser biólogo passe a ser sinónimo

de ser apoiado, admirado e valorizado. O

planeta agradece.

Por Diogo Veríssimo e Miguel Pais

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 11

Os leitores escrevem

Distribuída a revista

de primavera as mensagens

começam a chegar à redação

AquDe segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00Sábados, domingos e feriados das 10h00 às 18h00

Que borboleta é esta?Ana Margarida escreve através de correio

eletrónico: «Necessito de ajuda. Hoje de

manhã à entrada do meu gabinete encontrei

esta borboleta. Pela forma do corpo parece-

me uma borboleta noturna, tipo traça, mas a

sua cor e recorte das asas nunca tinha visto.

Camufl ado verde... lindo! Já procurei na

net, nos poucos livros que temos cá sobre

insetos, será que conhecem a espécie?

Obrigado pela ajuda».

Nem sempre é fácil, mas esta não complica

muito: trata-se da espécie de borboleta

noturna Mimas tiliae.

Pertence à família dos Esfi ngídeos e a lagarta

é verde, grossa, e costuma encontrar-se

com alguma sorte nas tílias, de cujas folhas

se alimenta sem alguma vez ser uma praga.

Sustentabilidade na Terra Uma professora escreve: «Sou Ludovina

Santo, professora na Escola Secundária

do Cartaxo, e estou a lecionar a disciplina

de Ambiente e Desenvolvimento Rural do

Curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural

e a disciplina de Ciências Naturais 8.º ano

“Sustentabilidade na Terra”. Sou apreciadora

da vossa revista e gostaria de saber se

há possibilidade de a receber, e em que

condições».

A melhor maneira de passar a receber a

revista em sua casa passa por se tornar

Amiga do Parque. Além da revista, fi ca com

um cartão que lhe permite durante um ano

visitar o parque Biológico de Gaia sempre

que quiser no seu horário de abertura normal

sem pagar entrada.

Deve consultar a página 83 desta revista a

fi m de obter mais informações.

Já sou fã! Escreve Carla Mota: «Olá, tive

oportunidade de ver uma das revistas

e já sou fã! Gostava de saber o que é

necessário para ter a revista.

Eu vivo numa aldeia e sou apaixonada

pela Natureza, por isso gostava muito de

ter a revista. Li uma dessas revistas num

consultório de um médico em Amarante,

o Dr. Pereira Sousa, que é do Porto. Fico

à espera de resposta. Obrigada!».

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Page 12: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

12 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

12 FOTONOTÍCIAS

Devagar se vai ao longe

Mais depressa ou a passo de caracol, os seres

vivos sentem o bafo estival à sua maneira: com

água e calor, um carvalho-alvarinho bem pode

ao seu ritmo fazer brotar novos ramos e folhas

rapidamente, mas nada comparado com o voo

de um animal alado que aposta na velocidade

para predar ou para se defender

Se falar de velocidade de crescimento entre

plantas, esta bem pode andar no pelotão da

frente.

Em Portugal vive em estuários do Sul e,

quando assoma o estio, é impossível não

reparar nela, já que a planta é belíssima no

que toca à sua fl oração.

Não havendo bela sem senão, é parasita.

Não resta outro remédio à Cistanche phelypaea.

Planta saprófi ta, não possui clorofi la, pelo

que, basicamente, não consegue utilizar o sol

para produzir açúcar, a energia básica que

lhe sustenta o organismo.

Tem por isso de parasitar outras plantas e

extrair delas o que lhe é vital. Será vítima o

valverde-dos-sapais que se agita ali perto ao

vento?

Fontes botânicas afi rmam que a Cistanche

parasita raízes de plantas do grupo das

Chenopodiaceae arbustivas...

A protagonista destas linhas pertence à

família Orobanchaceae e é uma das cerca de

150 espécies existentes em todo o planeta,

muitas delas da região mediterrânica, um

hotspot de biodiversidade.

Em fi ns de junho, vimos várias no estuário do

Sado, altaneiras, erguidas até meio metro do

solo arenoso.

Na vizinhança há salinas onde os

pernilongos, Himantopus himantopus, se

alimentam de invertebrados não longe

dos ninhos, como os pequenos camarões

da espécie Artemia salina. Curiosamente,

noutra banda, nas águas do estuário, um

mergulhão-de-pescoço-preto, Podiceps nigricollis, perseguia peixe debaixo de água.

Os estuários do Sul recebem ao longo do

ano bastante menos água doce oriunda da

chuva, pelo que a salinidade faz-se sentir,

fazendo com que a vegetação local se

distinga substancialmente.

Texto Jorge Gomes

e Henrique N. Alves

Jo

rge G

om

es

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 13

Um dos pontos de interesse da vida selvagem que o Parque Biológico de Gaia hospeda há mais de 30 anos é a primeira geração da pouco conhecida apatura-pequena, a que os entomólogos chamam em todo o mundo Apatura ilia. Uma verdadeira borboleta do Norte, de habitats atlânticos e de tamanho médio-grande, este lepidóptero da família dos Ninfalídeos gosta de libar a seiva que brota dos carvalhos antigos e não é difícil vê-la nos primeiros dias de verão. Em julho vai desaparecendo, mas uma segunda geração reaparece no início de agosto. Na fotografi a, um macho. O refl exo azulado que se entrevê denuncia-o.

Viva o verão!

Jorg

e G

om

es

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14 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

14 FOTONOTÍCIAS

Papa-moscas e não sóLigeirinhas mas sem pressa, a partir da segunda

metade de agosto, durante cerca de mês e

meio, há duas espécies de ave sensivelmente

do tamanho de um pardal que são parecidas e

começam a atravessar Portugal, rumo a África.

Uma é o papa-moscas-preto, a outra é o papa-

moscas-cinzento. Apesar do nome parecido,

distinguido apenas pela tonalidade, a verdade é

que nem sequer são do mesmo género, embora

se confundam à distância.

Trazem já penas de inverno, pelo que os machos

deixaram para trás o “fato” nupcial, bicolor, preto

e branco, confundindo-se agora sem preconceito

na cor com fêmeas e juvenis.

No Parque Biológico de Gaia recebem uma

menção especial e, com esta, difícil é os visitantes

não repararem neles.

Pousados num ramo, ora mergulham para o solo

com o bico certeiro a apanhar um inseto ora logo

voltam ao ramo de onde lhe tiraram a mira.

À medida que passam, todas as fasquias de

invertebrado que se mexam acima do chão

entram mais depressa na cadeia alimentar

desprovidos de etiqueta de pacote nutritivo.

Na primavera, sem praticamente os vermos em

Portugal, os que sobreviverem regressarão no

ano que vem à Europa Central e do Norte para

retomarem os ritmos da reprodução, levando os

machos de novo um traje de gala bicolor.

Mediterrâneo quente e seco

A vegetação mediterrânica evoluiu ao

sabor de estios quentes e secos, propícios

a fogos.

Numa evolução lenta, as plantas

selvagens conseguiram responder com

pequenas e vagarosoas adaptações

que acabaram por fazer dos matagais

mediterrânicos espaços especiais de

biodiversidade.

Contudo, quando o ser humano provoca

incêndios quase todos os anos está a

tornar-se ainda mais difícil resistir, e quem

perde com isso é a espécie humana:

com o solo a descoberto aumentam os

desertos, sítios onde a água escasseia e a

vida, se for viável, se faz de escolhos mil...

Papa-moscas-cinzento, Muscicapa striata

João L

. Te

ixeira

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Page 15: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 15

Papa-moscas-preto, Ficedula hypoleuca

Pé na terraDias compridos e noites amenas apelam a férias apetecidas.

Entre a praia e o campo há muitos percursos de descoberta

da natureza que pode fazer pelo seu próprio pé. Para

observar a natureza, as correrias não ajudam...

Máquina fotográfi ca para o que der e vier, caderno de campo

a tiracolo e, havendo um par de binóculos, pé posto na terra,

nunca se sabe o que vai aparecer...

Um inseto cuja imagem ainda não tinha registado? Uma

planta em que ainda não tinha reparado? Uma ave com

comportamento peculiar, quando os juvenis abandonam o

ninho ainda sob o cuidado dos pais? Um rato-de-água a

nadar junto das margem de um ribeiro?

Isto e muito mais encorpa a curiosidade que, neste período

de reposição de energias, há de satisfazer se se puser a

caminho.

Depois não deixe de partilhar as suas novidades nas redes

sociais e nos sites on-line com registo de dados. Conhecer a

diversidade da vida ajuda a conhecer-se melhor a si próprio.

Jo

ão

L.

Teix

eira

Jorg

e G

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16 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Céus que cativam o olharAs constelações envolvem

a Terra e desenham novas

fronteiras: o sonho de as

explorar perdura no ser

humano e este, sem resistir,

deita a mão a telescópios e

máquinas fotográfi cas para

as aproximar de si

Já é a segunda edição anual do concurso

nacional de fotografi a do Observatório

Astronómico do Parque Biológico de Gaia e os

trabalhos continuam a revelar uma qualidade a

que não se consegue fi car indiferente.

O júri, formado por Pedro Ré, Paulo

Casquinha e Carlos Soares, distinguiu estes

trabalhos: Vencedor Geral, 1.º Prémio, «Rho»,

de João Casimiro Vieira; categoria Terra e

Espaço, vencedor, «FOTO N4» de Miguel

Claro, 2.º classifi cado, «2013-06-01T0100»

de Jorge Miguel Resende Manuel; Sistema

Solar, vencedor e concorrente único, «Lua»

de Miguel Claro; Espaço profundo, vencedor,

«Rho», de João Casimiro Vieira – este prémio,

tendo sido distinguido para vencedor geral

pelo júri, segundo o regulamento dilui-se sem

ser cumulativo no do Vencedor Geral; 2.º

classifi cado, «6 - Nebulosa Cabeça de Cavalo:

H-Alpha» de Paulo César Mesquita; Prémio

Júnior: vencedor, «Lua» de Anaísa Cristina

Pereira Carvalho.

Sábado, 7 de junho, foi altura de entregar os

prémios.

Pode contemplar estes trabalhos em

exposição no salão de fotografi a da natureza

do Parque Biológico de Gaia, entre as 10h00 e

as 18h00, até 29 de setembro.

«Foto N4» de Miguel Claro, prémio vencedor da categoria Terra e Espaço

Jo

rge G

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16 PORTFOLIO

Abertura da exposição do concurso: à direita, Carlos Soares, membro do júri, João Casimiro Vieira e Jorge Resende Manuel, ambos premiados

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 17

«Rho» de João Casimiro Vieira, prémio vencedor geral

«2013-06-01T0100», de Jorge Miguel Resende Manuel, 2.º prémio da categoria Terra e Espaço

«Lua», de Miguel Claro, vencedor na categoria Sistema Solar««LLLLuaLuaLuaLua ddddd» d» d MiMiMie Mie Mie Mie Mi lllguelguelguelguel ClClClClaClaClaClarorororo encvencvencvenc dddedoredoredoredor nananana tttcatecatecatecate iiigorigorigorigori SiSiSia Sia Sia Sia Si tttstemstemstemstem SSSa Soa Soa Soa Sollllarlarlarlar

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Page 18: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

18 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

18 PORTFOLIO

«ISS, passagem por Lisboa a 28000 km/h» de João Carlos Gomes, categoria Terra e Espaço

«Nebulosa Cabeça de Cavalo», de Paulo César Mesquita, 2.º classifi cado na categoria Espaço Profundo

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«Nebulosa de Orion» de Paulo César Mesquita, categoria Espaço Profundo

«Janela» de Mário Luís Domingues Rocha, categoria Terra e Espaço «O Fotógrafo», de Pedro Esteves, categoria Terra e Espaço

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20 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

20 PORTFOLIO

«Aurora», de João Casimiro Vieira, categoria Terra e Espaço

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 21

«O céu na água», de Guilherme Limas, categoria Terra e Espaço

«Lua», de Anaísa Cristina Pereira Carvalho, Prémio Júnior

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22 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

22 CONTRA-RELÓGIO

A vida e o universoCarl Sagan (1934-1996) asseverou

que somos feitos do mesmo pó

cósmico que se originou com a

explosão das grandes estrelas

vermelhas; somos do mesmo material

que compõe uma estrela. Os átomos de

carbono, nitrogénio e oxigénio em nossos

corpos, assim como os átomos de todos os

outros elementos pesados, foram criados

em gerações anteriores de estrelas há mais

de 4,5 mil milhões de anos.

É incrível percebermos que em cada ser

humano há mais seres vivos do que, por

exemplo, a população mundial. Temos

uma íntima relação com a biodiversidade:

não é por mero acaso que no corpo de

cada ser humano há mais ou menos

71% de água (a mesma percentagem

que há no Planeta Terra), a nossa taxa de

salinização do sangue (3,4%) é a mesma

dos mares. Simplesmente, 60% do nosso

corpo é oxigénio. Se incluirmos o carbono,

hidrogénio e nitrogénio existentes no nosso

corpo, temos então 95% da massa total

do ser humano. De 92 elementos químicos

existentes na natureza, 17 deles regulam

todo o processo da vida.

Todos os seres vivos, incluindo, claro, o

ser humano (cuja origem fi lológica vem de

“húmus” que signifi ca “terra fértil, fecunda”)

são construídos a partir de um código

genético comum (são 30 aminoácidos

e quatro ácidos nucleicos). Acredita-se

que há algo próximo a 100 milhões de

diferentes espécies vivas (fauna, fl ora,

microorganismos) dividindo esse mundo

com a nossa espécie; embora atualmente

estejam catalogadas apenas 1,4 milhão de

espécies.

O biólogo e entomologista norte-americano

Edward Wilson pontua que “num só grama

de solo, ou seja, em menos de um punhado

de terra, vivem cerca de 10 mil milhões de

bactérias, pertencentes a seis mil espécies

diferentes”. Participamos ativamente dessa

rica convivência biológica, numa verdadeira

simbiose (“sim”, em grego, signifi ca “junto” e

“bio” é a própria vida).

Pela fotossíntese, as plantas, sob a luz do

sol, decompõem o dióxido de carbono,

“alimento” para elas, e libertam o oxigénio,

“alimento” para a nossa vida e a dos animais.

Com a participação do gás carbónico e da

água, as plantas, nesse processo, produzem

açúcares. A partir disso, outras substâncias

são produzidas, como as proteínas e as

gorduras que formam os nossos corpos.

Igual importância reside nas estrelas, que

além de iluminarem as noites, têm a função

de converter o hidrogénio em hélio e, da

combinação entre esses gases, provém o

oxigénio, o carbono, o nitrogénio, o fósforo e

o potássio.

Sem essa rica combinação não haveria

os aminoácidos e nem as proteínas

indispensáveis à vida. Pois isso tudo engloba

a biodiversidade, esse termo cunhado pela

biologia.

Absolutamente tudo o que for feito à

biodiversidade, às diferentes espécies de

vida, também será feito a nós próprios, e

atingir-nos-á. Agredir os ecossistemas, a

biosfera (conjunto de todos os seres vivos,

das amebas às baleias, das algas às árvores,

dos vírus aos homens) é agredir a própria

vida.

Lamentavelmente, têm-se dado ações

antrópicas de forma veemente no sentido

da delapidação do espaço-natureza.

Estudos apontam que entre 1500 e

1850 foi presumivelmente eliminada uma

espécie a cada dez anos. Entre 1850 e

1950, portanto, em cem anos, eliminou-

se uma espécie por ano. Com o avanço

das atividades humanas sobre a natureza,

desde 1990 está a desaparecer uma

espécie por dia.

As estimativas para o futuro são ainda

mais estarrecedoras. De acordo com a

União Internacional para a Conservação

Somos “provenientes” de um longo

processo biológico; somos “fruto”

da biodiversidade. Em nosso corpo

mantemos mais de 100 biliões

de células compartilhando átomos

com tudo o que está ao nosso redor,

enaltecendo assim a exuberância

da vida. Somos, dessa forma,

parte do universo

da Natureza, no mundo, por volta de 11%

das espécies de aves, 25% dos mamíferos,

20% dos répteis, 34% dos peixes e

12% das plantas estão ameaçadas de

desaparecimento para sempre nos próximos

cem anos.

Quando pensamos que toda a atividade

humana se desenvolve dentro da ecosfera

(dividida em quatro camadas: atmosfera,

biosfera, hidrosfera e litosfera), damo-nos

conta da real e intrínseca dependência que

temos da natureza, quando dela extraímos

todos os recursos necessários à produção

e, para ela devolvemos resíduos resultantes

dessa ação.

Por isso é necessário um cuidado (a palavra

“cuidado”, segundo a fi lologia, deriva do

latim cura, termo usado em condições de

amor e de amizade) todo especial para com

a biodiversidade, bem como em relação ao

planeta que nos abriga.

Para tanto, todas as ações políticas e,

principalmente, as económicas (visto que

a economia é o eixo articulador de uma

sociedade) deveriam, primeiramente,

pautar-se pelas premissas dos enunciados

ecológicos, expressos na busca da

sustentabilidade, ou seja, de uma ação

que procura devolver o equilíbrio à Terra e

aos ecossistemas; que procura, outrossim,

preservar a biodiversidade. Sem essa

preservação, a vida corre sério risco de

desaparecer.

Marcus Eduardo de OliveiraEconomista, especialista em Política Internacional pela FESP e mestre pela USP

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 23

Jorg

e M

anuel C

outinho

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24 PAR

24 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Terras áridas e mediterrânicas

Estes frágeis ambientes, lugar

de muitas espécies endémicas,

merecem atenção prioritária

para evitar a perda irreversível

de diversidade biológica.

A diversidade biológica das terras áridas

e sub-húmidas está bem adaptada

às severas condições tipifi cadas por

modelos inconstantes de precipitação

que provocam secas e inundações,

e em muitos casos temperaturas

elevadas.

As terras áridas são fonte de muitas das

plantas de cultivo utilizadas em todo o

Globo, tais como o trigo, a cevada e as

azeitonas.

Esta diversidade biológica está na

base de muitos modos de vida locais, e

mantêm uma grande percentagem da

produção de alimentos que o ser humano

consome.

As principais pressões sobre a

diversidade biológica nas terras áridas

resultam da conversão de habitats para

a agricultura, os transportes, o turismo e

a indústria, assim como provêm da má

gestão do solo e da água.

As alterações climáticas têm um impacto

particularmente forte nas zonas húmidas

das terras áridas, das pradarias, dos

bosques mediterrânicos, e na periferia

dos desertos. As espécies exóticas

invasoras afetam adversamente a

diversidade biológica nativa.

A recolha excessiva de madeira para

combustível, a sobreexploração das

plantas, a caça excessiva de fauna

silvestre e as práticas agrícolas

insustentáveis agravam o problema.

A conservação e a utilização

sustentável da diversidade biológica

das terras áridas são essenciais para

o desenvolvimento dos modos de

vida e a redução da pobreza, já que

a maioria das zonas áridas estão

em países em desenvolvimento. E

mais, como resultado da elevada

proporção de comunidades locais

que são responsáveis pela gestão dos

recursos da diversidade biológica em

terras áridas, estas zonas oferecem

24 CONTRA-RELÓGIO

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Page 25: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 25

As terras áridas cobrem aproximadamente

47% de área terrestre da Terra e incluem

regiões áridas e semiáridas, pradarias,

savanas e as paisagens mediterrânicas

uma infi nidade de oportunidades

para a participação das comunidades

na aplicação do Convénio sobre a

Diversidade Biológica. Infelizmente,

a união entre a diversidade biológica

e a mitigação da pobreza amiúde

não se espelha na planifi cação do

desenvolvimento ou da redução da

pobreza.

O referido convénio tem um programa

de trabalho para as terras áridas

que pretende subsidiar lacunas de

conhecimento, apoiar as melhores

práticas de gestão e promover as

relações entre os países e as instituições.

.

Fonte www.cbd.int

factos &números

Jo

ão

L.

Teix

eira

• As terras áridas e sub-

húmidas são o lar de

aproximadamente dois mil

milhões de pessoas, 35% da

população mundial.

• Abarcam aproximadamente

44% dos sistemas cultivados

do mundo.

• Cerca de 90% das pessoas

que habitam terras áridas e

sub-húmidas vive em países

em desenvolvimento.

• Seis países (Botswana,

Burkina Faso, Iraque,

Kazajstan, República da

Moldávia e Turquemenistão)

têm no mínimo 99% da sua

superfície classifi cada como

terras áridas e sub-húmidas.

• Devido às duras condições

(precipitações irregulares,

elevadas temperaturas,

etc.), muitas espécies têm

desenvolvido adaptações

únicas.

Os sapos do deserto

permanecem a dormir sob a

areia durante meses até que

voltem as chuvas.

Os tecelões sociais do

Sul de África constroem

ninhos comunitários que

pesam até mil quilos para se

isolarem o mais possível das

temperaturas extremas.

Os órix do deserto de Kalahari,

antílopes, podem sobreviver

durante semanas sem água.

• As terras áridas e sub-

húmidas incluem importantes

zonas de extraordinários

endemismos, tais como a

bacia mediterrânica, lugar de

mais de 11700 espécies de

plantas endémicas.

• Umas 2311 espécies

conhecidas das terras áridas

estão ameaçadas ou em

perigo de extinção.

Dry and mediterranean lands Dry land occupy approximately 47% of the Earth’s surface and is comprised of dry and semi-dry Regions, Prairies, Savannahs and Mediterranean landscapes. These fragile environments, where many endemic species live, are worthy of urgent attention, in order to avoid the irreversible loss of biological diversity and possible extinction.

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Page 26: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

26 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

26 QUINTEIRO

Carlos Garcez mora na Venda do

Pinheiro, perto de Mafra, e escreve

em 16 de junho sobre os pirilampos

que voam de noite nas imediações:

«Aqui no quintal são às dezenas. Não sei

distinguir o género e são difíceis de fotografar!

Não param quietos...».

Está a referir-se aos machos de pirilampo-

lusitânico, Luciola lusitanica, que dão à asa

pelo jardim.

Com apenas um centímetro de comprimento,

fazem um voo lento em que acendem e

apagam por alguns segundos

a sua “lâmpada” biológica.

Por sua vez, Aida Santos, de

Sobreira, em Paredes, digita

também nesse mesmo dia:

«Acabei de fotografar estas

larvas de Lampyris (16-6-

2014, 15h30). A primeira larva

estava debaixo de uma pedra.

Depois de a fotografar e a

colocar novamente no local,

encontrei a larva das fotos

seguintes, com mais 4 mm de comprimento,

debaixo de outra pedra. Ambas estavam

junto de bichos-de-conta, pequenas aranhas

e milípedes. O local é exatamente debaixo de

uma varanda que lavo com frequência, não

uso detergentes, só água. Junto, há também

um canteiro de morangueiros que vai sendo

regado quase diariamente. Devo explicar que

este terreno é de xisto quase compacto e a

amplitude térmica é acentuada, é uma zona

de micro-clima», adianta.

«Vou estar atenta a outras espécies. Acho

que reconheço o macho de Luciola lusitanica.

Vou tentar fazer registos».

Sensível decerto à Década da Biodiversidade,

Aida Santos remata: «Não há dúvida que

Portugal é, em termos biológicos e botânicos,

uma espécie de nicho, não só pela sua

Pirilamposlá de casa

A questão levantou-se: por que não tenho

pirilampos no meu jardim? Pois, é verdade que

a maioria não os vê, mas outros, pelo país fora,

provam que são uma exceção...

localização, mas também, pelo facto de, e

devido à morfologia territorial, não ser fácil a

exploração agrícola de grandes culturas, como

é o caso de Espanha, e consequentemente

a destruição dos ecossistemas originais.

Esperemos que continue assim».

Ana Valadares mora no Algarve, na região de

Lagos: «Vivo no campo e tenho um terreno

relativamente grande. Normalmente encontro-

os perto de um pequeno relvado que tenho

à frente de casa, junto a pontos de luz. Nas

noites propícias posso observar muitas luzinhas

verdes, lindo». Com esta palavras,

Ana partilha uma fotografi a de uma

espécie que não vimos ainda na

nossa região, o pirilampo Nyctophila reichii! Bem, mas a pergunta inicial ainda

não foi respondida...

Será que usa pesticidas ou

herbicidas? De noite, há iluminação

artifi cial?

Estas poderão ser algumas das

perguntas-chave que, tendo

respostas afi rmativas, explicam a inexistência

de pirilampos no seu quinteiro.

Nenhuma fêmea de pirilampo consegue

concorrer com uma qualquer lâmpada de

fabrico humano, os machos não a encontram,

não se reproduz.

É oportuna outra pergunta: há caracóis e

lesmas ao redor da sua casa?

Bem, neste caso é ao contrário, se disser

que não, então tudo indica que o alimento da

fase larvar da maior parte dos pirilampos não

existe, logo, o ciclo de vida dessas espécies foi

interrompido e extinguem-se no local.

Os leitores mais imaginativos ainda podem

dizer: bem, mas por que não pode uma fêmea

com ovos fecundados aleatoriamente vir a

depositá-los nesse jardim?

Até aqui há obstáculos difíceis de contornar.

Cópula de pirilampos do género Lampyris: a fêmea é maior

Aid

a S

anto

s,

Pare

des

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lenath

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JorgeGomesCoordenador da revista Parques e Vida Selvagem

Espécie de pirilampo

Fêmea adulta com asas

Fêmea adulta sem asas

Luciola lusitanica x

Lampyris iberica x

Lampyris noctiluca x

Lamprohiza mulsantii x

Lamprohiza paulinoi x

Phosphaenus hemipterus x

Nyctophila reichii x

Se consegue ver nalguma altura do ano pirilampos no seu jardim, este terá decerto um encanto a conservar, mas certo é que para isso as suas plantas terão de hospedar algumas lesmas e caracóis, o alimento das larvas da maioria destes insetos bioluminescentes

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Page 27: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 27

Fireflies in the Garden The question arose: why don´t I have fireflies in my garden? Could it be true that most of us just don’t not see them; but others right across the whole country, prove this to be an exception. For the fireflies to flourish and continue their lifecycle, the plants in the garden must host some slugs and snails, which form the food of the larvae of insects that give joy to the night.

Diversas fêmeas no estado adulto não voam.

Umas porque não têm asas, acendem a luz

para que os machos as encontrem; outras

fêmeas adultas têm asas mas tanto quanto

se sabe parece que não voam...

Por isso, quem vê pirilampos no jardim

poderá ainda viver junto de habitats que os

integrem e o que observa na época própria

do ano resulta das características das

redondezas e pouco mais.

Quando assim não é, no que toca aos jardins

em que não há vaga-lumes, poderá

acontecer um dia que, acidentalmente,

por exemplo no transporte de vasos de

plantas ornamentais, uma postura fértil

ou uma fêmea com ovos viáveis possa

ser transportada para o seu jardim e, se

houver condições adequadas, vingar no

sítio.

Não é boa ideia andar a catar pirilampos

de outros sítios para os levar para o seu

jardim, sobretudo se forem de longe.

Pirilampo Nyctophila reichii, macho

Ana V

ala

dare

s,

Lag

os

Larva de pirilampo do género Lampyris

Aid

a S

anto

s,

Pare

des

Pirilampo Luciola lusitanica, macho

Carlo

s G

arc

ez,

V.

Pin

heiro

Para além da poluição genética que possa

sobrevir, diminuindo os recursos regionais

da espécie em matéria de adaptação e

sobrevivência às alterações do meio, a

regra de ouro em qualquer parte é sempre

esta: crie o habitat, respeite-o, e as

espécies tenderão a aparecer.

Se quiser saber mais, visite o grupo

aberto criado no Facebook para esse

efeito: https://www.facebook.com/groups/vistepirilampos.

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Page 28: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

28 QUINTEIRO

28 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Sem rejeitar em absoluto a luta química, a Proteção

Integrada evita-a ao máximo, reservando-lhe o papel

de “recurso fi nal”, só utilizado quando todos os outros

meios de luta são inefi cazes ou insufi cientes, sendo que

essa apreciação deve ter em conta fatores de natureza

económica, ecológica e toxicológica

1.ª Parte

A Lei n.º 26/2013 de 11 de abril,

que regula as atividades de

comercialização e de aplicação

de produtos fi tofarmacêuticos (PF)

para uso profi ssional, e o DL n.º 86/2010

de 15 de julho, que regula a inspeção de

equipamentos de aplicação desses produtos,

transpõem para a ordem jurídica nacional

a Diretiva n.º 2009/128/CE, do Parlamento

Europeu e do Conselho, de 21 de outubro,

que estabelece um quadro de ação a nível

comunitário para uma utilização sustentável

dos pesticidas, promovendo o recurso à

Proteção Integrada e à Agricultura Biológica,

incluindo abordagens ou técnicas alternativas

aos tratamentos com PF. Procura-se, assim,

reduzir e disciplinar a utilização destes

produtos, minimizando os riscos e os efeitos

da sua utilização na saúde humana e no

ambiente.

A operacionalização das normas previstas

no presente diploma foi possível com a

instituição do “Plano de ação nacional do

uso sustentável de PF”, também previsto

nesta Lei. Tal operacionalização assenta,

essencialmente, na defi nição de objetivos,

metas e indicadores, e na implementação

de medidas e ações a desenvolver,

nomeadamente ao nível da formação

e informação, da comercialização e da

aplicação de PF.

No presente documento pretende-se

abordar os principais aspetos do atual

enquadramento legislativo no âmbito

da aplicação terrestre de PF, visando a

segurança e a redução do risco em todas as

fases da utilização destes produtos.

A proteção Integrada

e seus princípios

Podemos defi nir Proteção Integrada

como uma modalidade de proteção das

plantas em que se procede à avaliação

da indispensabilidade de intervenção no

ecossistema através da estimativa do risco,

do recurso a níveis económicos de ataque

ou a modelos de desenvolvimento dos

inimigos das culturas e da ponderação dos

fatores de nocividade.

A Proteção Integrada baseia-se, pois, no

equilíbrio natural do ecossistema agrário ou

fl orestal, valorizando o papel dos organismos

auxiliares, que são preservados na medida

do possível, mas apostando, também,

na manutenção de condições culturais

favoráveis ao saudável desenvolvimento das

plantas.

Sem rejeitar em absoluto a luta química,

a Proteção Integrada evita-a ao máximo,

reservando-lhe o papel de “recurso fi nal”, só

utilizado quando todos os outros meios de

luta são inefi cazes ou insufi cientes, sendo

que essa apreciação deve ter em conta

fatores de natureza económica, ecológica e

toxicológica.

Não abordaremos aqui as componentes da

Proteção Integrada; os seus processos e as

suas técnicas. Diremos apenas que, cerca

de três décadas após a sua introdução em

Portugal, considera-se hoje ser a sua prática

comum à maioria dos agricultores. E embora

tal ideia possa não corresponder exatamente

à realidade, a verdade é que a Lei n.º

26/2013 determina que a partir de 1 de

janeiro de 2014 todos os agricultores estão

obrigados a orientar-se pelos seus princípios.

AquisiçãoDe acordo com a Lei n.º 26/2013 os PF

de uso profi ssional homologados em

Portugal só podem ser comercializados

em estabelecimentos de distribuição e/ou

venda para isso autorizados pela Direção

Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).

Tais estabelecimentos devem reunir os

requisitos mínimos estabelecidos na Lei,

Utilização sustentável de produtos fi tofarmacêuticos

Miguel Folhadela Rebelo e Jorge P. N. Costa

DRAPN - Divisão de Apoio ao Setor Agroalimentar

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Page 29: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 29

combustíveis, ser estruturalmente sólidas,

possuir boa ventilação e ter fácil acesso a

uma tomada de água. Devem, igualmente,

estar devidamente sinalizadas e fechadas

à chave, de forma a impedir o acesso a

crianças ou pessoas não habilitadas.

O chão do armazém deve ser

impermeabilizado e ter capacidade para

reter no interior qualquer líquido derramado

(bacia de retenção). Os produtos devem

ser arrumados em estantes e/ou prateleiras

metálicas e resistentes.

No armazém devem estar disponíveis

um extintor, balde com areia, vassoura,

apanhador e sacos de plástico fortes, para,

em caso de acidente (incêndio ou derrame)

serem utilizados. Devem, igualmente, estar

acessíveis os contactos de bombeiros,

serviços de emergência médica e serviços

de informação anti-venenos.

O armazém deve ter espaço sufi ciente

para guardar os sacos de plástico com as

embalagens vazias, até à sua entrega no

posto de receção.

Por fi m, salienta-se a obrigatoriedade de

existência do equipamento de proteção

individual (EPI): fato impermeável, chapéu,

viseira ou máscara, luvas de nitrilo e botas

de borracha.

nomeadamente a existência de instalações

de venda e/ou armazenamento exclusivos

e adequados para os PF, operador(es) de

venda reconhecido(s) pela Direção Regional

de Agricultura e Pescas (DRAP) e técnico

responsável acreditado pela

DGAV.

No território nacional só

podem ser vendidos PF

autorizados pela DGAV, com

rótulo em português, a pessoas

de maior idade e devidamente

identifi cadas.

A partir de 26 de novembro de

2015, no ato de compra de PF de uso

profi ssional, os compradores devem

também exibir a identifi cação de aplicador

deste tipo de produtos. No caso dos PF

de elevado risco, e com efeito imediato,

o comprador deve exibir a identifi cação

de aplicador especializado. Adiante

falaremos das habilitações requeridas para

o reconhecimento como aplicador de PF de

uso profi ssional.

TransporteA primeira regra a respeitar no transporte

de PF é a de que estes produtos devem ser

transportados separadamente de pessoas,

alimentos ou rações para animais.

O transportador deverá assegurar que o

meio de transporte se encontra em boas

condições, de forma a não danifi car as

embalagens, e assegurar que estas são

bem acondicionadas, de forma a que não se

desloquem, caiam ou danifi quem durante o

transporte (ex: embalagens leves por cima

de embalagens pesadas).

No veículo de transporte deverá haver

equipamento que permita a remoção

e limpeza em segurança de

qualquer derrame que possa

ocorrer (balde com areia, vassoura,

apanhador e sacos de plástico

fortes).

Armazenamento

na exploração

agrícola/fl orestalConforme é referido na legislação em

vigor, um dos objetivos principais da Lei

é o manuseamento seguro dos PF´s, que

também passa pelas condições do seu

armazenamento nas explorações agrícolas/

fl orestais.

Neste contexto, o armazenamento de

PF´s deve fazer-se em construções ou

dependências próprias, exclusivas para

esse efeito (no seu interior não devem

ser guardados produtos que não sejam

fi tofarmacêuticos), preferencialmente em

locais isolados, mas obrigatoriamente

situadas ao nível do solo e afastadas

de cursos de água, poços, represas ou

nascentes.

Essas instalações devem ser constituídas

por materiais de construção não (Continua no próximo número)

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Page 30: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

30 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014

30 DUNAS

É a fl ora dunar, constituída por largas

dezenas de plantas nativas, que dá

consistência às dunas, cuja dinâmica já de

si não é das mais estáveis.

Com raízes que se estendem invariavelmente por

uma extensão muito maior do que a parte visível da

planta ao ar livre, estas funcionam à maneira de uma

rede que dá consistência aos grãos de areia que

modelam o ambiente dunar.

Vila Nova de Gaia tem um litoral de cerca de

14 quilómetros de extensão. Neste espaço, pode

passear nos passadiços e fruir da paisagem, do sol

e da natureza que é própria das dunas.

Durante o verão, por vezes conseguirá ver uma cria

descuidada de borrelho-de-coleira-interrompida ou

agachada na areia a desejar ser invisível ou a dar

uma corrida e esconder-se algures. Não as persiga.

Estas aves são nidífugas, pelo que, pouco depois

de eclodirem – o ninho está nas dunas – tendem a

dispersar mas fi cam na mesma debaixo de olho dos

progenitores, que continuam a alimentá-las. Quando

o ser humano interfere, o ciclo vital não corre tão

bem.

CordãodunarAs dunas são um mundo,

mas revelam ser frágeis:

quando a população vai a

banhos, sem passadiços e

regeneradores dunares as

plantas não resistem e as

dunas desaparecem

João L

. Te

ixeira

João L

. Te

ixeira

Henriq

ue N

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lves

Cardo-marítimo

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Page 31: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 31

Parque de Dunasda Aguda

Os regeneradores

dunares são estruturas

que ajudam também

a reter a areia das dunas

com o objetivo de as

estabilizar

O nome vulgar de uma das plantas

que mais acompanha quem

passeia nas dunas é esporas-

bravas e é uma das muitas que

está explicada no Parque de Dunas da Aguda.

O nome que os botânicos lhe dão é bem

mais complexo, em latim: Linaria polygalifolia.

Com um ou com outro nome é linda de se

ver e não deixa de ser extraordinária a forma

como consegue fl orir num meio tão hostil

como o solo arenoso, onde a água escoa

sem demora e os nutrientes não abundam.

Nem por isso é caso único. Neste parque,

um projeto LIFE que perdura no tempo,

há muitas outras plantas que apostam na

diversidade para resistirem a quaisquer

agruras.

Esta pequena reserva natural tem em vista

explicar a necessidade de se proteger as

dunas e a sua biodiversidade e aguarda a

sua visita. Em tempo de praia ou fora dele,

não deixe de pôr ali o seu pezinho, mas sem

sair dos passadiços.

Jo

ão

L.

Teix

eira

Esporas-bravas

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Page 32: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

32 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

32 LITORAL

Estação Litoral da Aguda

José Pedro Oliveira e Mike Weber

Vocacionada para a educação

ambiental, investigação científi ca

marinha e o ensino universitário,

tem como atrativos um Aquário

com a fauna e fl ora aquáticas locais, e

um Museu das Pescas dedicado à pesca

artesanal. A ELA pertence à empresa

municipal Águas e Parque Biológico de Gaia,

e está aberta ao público todos os dias do ano.

A primeira tese de doutoramento, elaborada

na ELA, analisou a colonização biológica

do quebramar da Aguda, ainda destacado.

Agora foi concluída a segunda tese de

doutoramento que incidiu sobre os impactos

naturais e humanos na zona intertidal de

algumas praias da costa norte de Portugal.

Realizada ao longo dos últimos quatro anos,

foi apresentada ao Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar da Universidade

do Porto pelo autor principal e curador do

Aquário da ELA:

As populações humanas sempre se

concentraram perto de áreas costeiras e,

de acordo com as previsões mais recentes,

este comportamento deve aumentar nas

Impactos

humanos e naturais na zona intertidal

A Estação Litoral da Aguda ELA

assinalou no dia 1 de julho

de 2014 o seu 15.º aniversário

de abertura ao público: durante

este tempo atraiu 335 mil

visitantes, o que perfaz uma

média de cerca de 22 mil

pessoas por ano

próximas décadas. Este fenómeno está

associado a uma série de perturbações, que

incluem diversas modifi cações da paisagem:

• drenagens de zonas húmidas e sua

conversão para o meio terrestre;

• construções de estruturas de defesa

costeira nas zonas intertidais, e de

estradas e edifícios nas zonas adjacentes;

• pesca excessiva de organismos marinhos

com valor comercial;

• poluição e atividades recreativas, que

incluem o impacto causado pelo pisoteio

em costas altamente frequentadas.

Todos esses fatores podem operar

individualmente ou interagir entre si,

coexistindo ainda com outros distúrbios

humanos, como as alterações climáticas e a

acidifi cação dos oceanos; ou naturais, como

as tempestades mais intensas e frequentes

e a ação das ondas, com consequências

ecológicas imprevisíveis, na maioria dos

casos.

O objetivo era avaliar as respostas das

comunidades de algas e invertebrados

marinhos da zona intertidal a distúrbios

já existentes ou previstos para o futuro.

Foram utilizadas quatro abordagens de

forma a analisar, quer como os organismos

lidam com estes distúrbios, quer como

conseguem recuperar assim que estes

terminam, nomeadamente:

• calcular os efeitos das alterações da

intensidade e da época da aplicação dos

distúrbios;

• avaliar a capacidade de organismos que

Contagem de espécies numa poça-de-maré

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Page 33: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 33

ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDARua Alfredo Dias,

Praia da Aguda

4410-475 Arcozelo

Vila Nova de Gaia

Tel.: 227 536 360

fax: 227 535 155

[email protected]ção-ela.pt

modelam os ecossistemas como os

mexilhões, capazes de proteger outras

espécies, de amortecer distúrbios, quer

humanos, quer físicos, semelhantes

aos causados por eventos climáticos

extremos que ocorram simultaneamente;

• comparar a variação ao longo do espaço

e do tempo das comunidades naturais

entre áreas altamente urbanizadas e

outras de referência, menos impactadas;

Zona intertidal durante a maré baixa

Zona intertidal na praia da Aguda

Assoreamento intertidal junto ao quebramar da Aguda

Poluição intertidal

• examinar a capacidade de recuperação

de organismos bênticos após o fi m de

distúrbios experimentais.

De entre as várias conclusões realçam-se:

• o número total de espécies, um

indicador da biodiversidade, que se

manteve relativamente constante em

todos os locais avaliados, ao longo do

tempo, revelando uma semelhança

considerável entre todas as praias

investigadas;

• a relação direta entre a intensidade

do distúrbio (evidentemente dentro

de determinados limites) e a

heterogeneidade da comunidade;

• a necessidade da inclusão de escalas

temporais e espaciais adequadas em

estudos ambientais;

• a confi rmação da capacidade de

resiliência de organismos marinhos

intertidais a grandes variações das

condições ambientais e à ocorrência

recorrente de distúrbios, conseguindo

resistir-lhes ou recuperando deles

rapidamente, sendo introduzidas

apenas alterações na sua abundância

mas mantendo-se a sua identidade.

As conclusões obtidas no decurso deste

doutoramento contribuem de forma

relevante para o desenvolvimento do

conhecimento científi co que é essencial

para uma integração sustentável entre a

utilização humana do litoral e o bem-estar

ecológico, procurando dotar as autoridades

decisórias de ferramentas que possam

facilitar a gestão ambiental desta zona de

interface mar-terra.

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Page 34: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

34 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Local de passagem importante para

muitas aves migradoras, a Reserva

Natural Local do Estuário do Douro

continua a ser palco de inúmeras

observações de vida selvagem

Dez anos depois do primeiro

registo na Reserva Natural

Local do Estuário do Douro

(RNLED), 7/4/2004, o papa-

ratos, Ardeola ralloides, volta agora a

ser observado, e de novo na primeira

semana de maio.

A ave permaneceu pelo menos três dias

na zona de sapal da Reserva.

Apesar de ser uma ave colonial, em

Portugal nidifi ca de forma isolada ou em

pequenos núcleos, sendo rara e algo

irregular.

O “Livro Vermelho dos Vertebrados

de Portugal” considera esta espécie

“criticamente em perigo”.

É uma espécie migradora que inverna

em áreas a Sul do deserto do Sara,

valendo destacar que a população

Estuáriodo Douro

34 DUNAS

europeia está dependente das condições

existentes na zona de invernada.

Borrelho-pequeno--de-coleiraO borrelho-pequeno-de-coleira (Chara-drius dubius curonicus) é uma pequena

limícola que depois da reprodução se

junta em bando.

No passado era uma espécie que

nidifi cava em muitos locais dos rios

do Norte do país. As barragens do

Douro e a utilização das margens

para lazer, desportos e praias fl uviais

contribuíram para reduzir os areais que

proporcionavam locais adequados à

reprodução.

A distribuição na Europa Ocidental é

muito fragmentada, sendo a subespécie

“curonicus” muito migradora.

Na Europa ocorre a subespécie “curonicus”

que tem uma ampla distribuição Paleártica

(do Atlântico até ao Pacífi co), tendo esta

subespécie um caráter migratório muito

acentuado.

É mais solitária que o borrelho-grande-

de-coleira (Charadrius hiaticula) que

normalmente ocorre em bandos no litoral.

J. A. Júnior em “Aves de Portugal” (1931)

e William Tait em “Birds of Portugal” (1924)

referem que no passado o Charadrius dubius curonicus efetuava a passagem para Sul “em

certa quantidade na foz do rio Douro”.

Esta espécie está registada para o

estuário, contudo nos últimos seis anos

não havia nenhum registo de ocorrência

na zona. Assim, a presença desta ave

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Page 35: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 35

Ser andorinha-do-mar por uns dias

que foi documentada na RNLED de 7 a

13 de junho de 2014 torna-se um registo

importante.

No passado era uma espécie nidifi cante em

muitos locais dos rios do Norte de Portugal,

nomeadamente no rio Douro.

Hoje é pouco comum e muito localizada,

tal como comprova o “Atlas das Aves

Nidifi cantes em Portugal” (1999-2005).

É de referir que este borrelho é uma

espécie bastante fi lopátrica (fi el aos

locais de ocorrência), o que pode ser

uma caraterística determinante para que

comece a surgir com mais frequência na

RNLED que se tornou mais “apetecível”

dadas as condições atuais de baixa

perturbação e melhorias de habitat.

Texto Paulo Paes de Faria

Entre 28 e 30 de junho foi possível observar um grupo de mais de três dezenas

de andorinhas-das-barreiras (Riparia riparia) no mar batido por um vento

moderado de Noroeste, rasando as ondas.

Demonstravam grande perícia e agilidade, dignas de mestres de voo. Tal

como o fazem as andorinhas-do-mar, as pardelas e os paínhos, aves nascidas para

viver no alto-mar.

Estas andorinhas-das-barreiras, pequenos Passeriformes terrestres (pesam 18-20

gramas), certamente não realizaram esta “aventura marinha” por teimosia, diversão

ou para serem radicais, os riscos seriam demasiados…

Não apresentando sinais de estarem a alimentar-se, provavelmente estariam a

preparar-se para a primeira longa viagem, uma aventura que irá testar as suas

capacidades de sobrevivência. As andorinhas-das-barreiras são aves migratórias e

as suas vidas são feitas de desafi os, que representam a sua sobrevivência.

Dentro de poucas semanas estas pequenas andorinhas terão de realizar uma grande

viagem rumo a África, onde irão enfrentar grandes desafi os: o mar é um deles.

Atravessar extensões de mar agitado exige uma certa preparação e “endurance”.

Esta observação realizada na RNLED justifi ca que se chame à andorinha-das-

barreiras, andorinha-do-mar, demonstrando que não nos devemos preocupar

excessivamente em rotular, mas sim observar, conhecer e apreciar o que nos rodeia.

Quando visitar a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, se não conseguir

identifi car muitas das aves que observa não se sinta desmotivado.

Desfrute e usufrua dos momentos que lhe proporcionam as aves que vê. A seu

tempo vai dando conta que as conhece cada vez melhor.

Fica esta lição: uma andorinha-das-barreiras também pode ser uma andorinha-do-

mar…

Texto Francisco Bernardo e Paulo Paes de FariaFotos Francisco Bernardo

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36 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

36 MUSEU

Centro Interpretativo do Património da Afurada O Centro Interpretativo do Património da

Afurada (CIPA) é um espaço destinado a

interpretar, refl etir e expor o ambiente e a

atividade humana no território da Afurada.

O CIPA foi palco da “Hora do Conto”,

atividade em que um escritor convidado,

neste caso Aurelino Costa, contou uma

história a crianças em idade escolar.

Esta foi a primeira sessão de uma série de

"Horas do Conto" a realizar no CIPA com

a colaboração da Biblioteca Municipal,

e regressa em setembro com outros

escritores.

Entretanto, até 21 de setembro, uma das

exposições que pode visitar neste espaço

museológico leva o título «Remanso» e

a autoria é de Osvaldo Gaia, um artista

brasileiro proveniente de uma vila piscatória

no Brasil.

Resultado de uma parceria entre o Parque

Biológico de Gaia e a Administração

dos Portos do Douro e Leixões, o CIPA

está equipado com modernos meios

tecnológicos, englobando áreas com

exposições permanentes e temporárias.

Trata-se de um lugar «identitário e

relacional» que ajuda à dinamização da

Afurada e incentiva a presença de turistas.

Mais dia menos dia, agora que o verão

apela a sair e visitar, dê um pulo ao CIPA,

que está aberto todos os dias, entre as

10h00/12h30 e 13h30/18h00.

“Hora do Conto”, histórias para crianças em idade escolar

«Remanso», da autoria de Osvaldo GaiaJoão L

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 37

ESPAÇOS VERDES 37

Situado na proximidade da Suldouro, este novo parque

possui um amplo jardim, um lago, um campo de futebol e

uma área de equipamentos geriátricos.

O presidente do Município de Vila Nova de Gaia disse

que «esta obra, que começa por ser um espaço verde,

vai agora continuar para espaço desportivo dedicado à

população, mas não será cativo de nenhum mega-clube

ou instituição».

O presidente da União de Freguesias de Grijó e

Sermonde, César Rodrigues, presente no certame,

sublinhou que «este local devia ter sido inaugurado há dez

anos», pois «era uma das contrapartidas à construção do

aterro sanitário».

Estas palavras não surpreendem na medida em que

o parque agora inaugurado responde a um desejo de

vários anos por parte da união de freguesias de Grijó e

Sermonde.

O Parque de Lazer de Sermonde foi alvo de um

investimento de 29 mil euros e é mais um exemplo da

expansão dos espaços de usufruto público no concelho

de Vila Nova de Gaia. No evento percebeu-se haver

vontade no futuro, por parte da Câmara Municipal, de

investir em melhoramentos diversos, como a construção

de um “court” de ténis e de um bar.

O presidente da Câmara de Vila Nova

de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues,

inaugurou o Parque de Lazer de

Sermonde no passado dia 28 de julho

Parque de Lazer de Sermonde

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38 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

38 ESPAÇOS VERDES

As mulheres do campo vêm à vilaAos sábados de manhã, venda de legumes

sem pesticidas.

YogaA orientação é da responsabilidade

da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona

a atividade em regime de voluntariado.

Quartas e sextas-feiras às 9h45.

Tai ChiÀs segundas e às quintas-feiras, aulas às 9h30.

Entrada grátis. Participação nesta última

atividade sujeita a marcação por e-mail:

[email protected]

Agenda

Parque da Lavandeira

Em Oliveira do Douro, este parque centra-se no lazer dos seus visitantes.

Proporciona percursos pedestres, locais para merendar, jardins temáticos e,

entre outros motivos de interesse, muita animação.

Os percursos no meio do avoredo, permeados com aprazíveis áreas para

merendar, passam nas imediações de um lago, elemento central do

Parque da Lavandeira.

Dali vê-se a cafetaria, um local onde pode tomar um chá ou um café

numa pausa dos passeios que ali fi zer.

Quem visita este Parque aprecia particularmente o percurso que, em pleno

estio, proporciona abundante sombra e uma bela paisagem.

Um espaço verde com estes atributos arrisca-se a ser o local ideal

para a realização das mais diversas iniciativas.

Não é de admirar por isso que novas atividades vão sendo marcadas à medida

do calendário mais próximo. A melhor maneira de as acompanhar é

através de uma consulta regular à agenda.

Propriedade do Município de Vila Nova de Gaia, este moderno espaço verde,

o Parque da Lavandeira, pode também ser visitado através de computador, no

modo Street view/Google maps. Mas agora que o verão se passeia pelos seus

dias, à sombra do arvoredo, mesmo que seja adepto da eletrónica, continua

é a apetecer mais, isso sim, pôr-se a caminho e apurar os seus sentidos ao

passear pelo seu próprio pé no parque.

Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook,

no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira),

ou telefonar para 227 878 138

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Parque da Quinta do Conde das Devesas

Embora se veja neste espaço verde mais fl ora além

dos numerosos exemplares de camélia, a abundância

de espécies deste grupo encontradas quando da

construção do parque sugeriu que fosse dedicado

um setor específi co a este grupo de plantas.

O Parque agrega perto de 130 exemplares destas

árvores muito próximas do arbusto do chá e também

chamadas japoneiras.

Curiosamente, um estudo de Frederick Gustav Meyer

(1959), do Departamento de Agricultura dos Estados

Unidos da América, indica que as camélias de Vila

Nova de Gaia são os mais antigos exemplares até

agora registados na Europa, plantados em 1550.

Com as portas abertas para si todos os dias, das

10h00 às 18h00, pode chegar a este parque também

através de GPS – 41º7’58.98”N/8º37’8.36”W, mas

para ali chegar basta saber que o Parque do Conde

das Devesas fi ca perto do Cais de Gaia, mais

propriamente na Rua D. Leonor de Freitas. O Parque da Quinta do Conde das Devesas acolhe uma importante coleção de camélias

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 39

Parque Botânico

do Castelo

Ao visitar o Parque Botânico do Castelo, em Crestuma,

difi cilmente deixará de ver este verão o maior lepidóptero

europeu, pelo menos entre diurnas: a borboleta-do-

medronheiro, Charaxes jasius Linnaeus, 1767.

Não é tida como ameaçada mas, curiosamente, a maior

parte das pessoas não a conhece

nem de vista.

A presença de medronheiro neste sítio é responsável pela

observação desta borboleta de asas

grandes e voo vigoroso. Enquanto lagarta, esconde-se

entre as folhas deste arbusto e vai crescendo até que,

depois de crisalidar, se transforma em borboleta.

É curioso notar as espécies de plantas de índole

mediterrânica que existem neste parque botânico, mercê

do microclima desta margem sul do rio Douro, que corre

mais em baixo.

Além dos medronheiros e das borboletas que dependem

deles, muito mais há para dar gosto à vista no parque, que

o fará apreciar a visita. Borboleta-do-medronheiro, habitual no verão no Parque Botânico do Castelo

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om

es

Parque da Ponte de Maria PiaEste espaço verde oferece à população um novo

local de lazer a partir dos antigos estaleiros dos

caminhos-de-ferro junto à ponte de Maria Pia, que

se encontravam desativados há anos.

É uma ponte com história. Na sua época, a ponte

de Maria Pia foi uma obra de engenharia que

deslumbrou portugueses e estrangeiros.

Inaugurada a 4 de novembro de 1877, contou com

a presença do rei D. Luís I e com a rainha D. Maria

Pia, que lhe deu o nome.

Localizado na Alameda da Serra do Pilar, na

freguesia de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia,

está aberto aos visitantes todos os dias entre as dez

e as 18h00.

O espaço da antiga linha de caminho de ferro Porto/

Lisboa, desativada com a construção da nova

ponte ferroviária, ganhou, assim, um novo uso com

vista a servir o interesse público.João L

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40 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

40 ESPAÇOS VERDES

Até 30 de setembro pode

concorrer à edição deste ano

do Concurso Nacional

de Fotografi a da Natureza

Parques e Vida Selvagem

Concurso de Fotografi a

Organizado pelo Parque Biológico de Gaia este concurso

conta já 12 anos e junta muitos fotógrafos da natureza.

Este tipo de trabalho é uma das formas de dar a

conhecer o património natural do país, fazendo com

que daí derive uma maior compreensão no sentido

de o conservar.

Encontra o regulamento e a fi cha de inscrição no site

www.parquebiologico.pt indo a Atividades/Fotografi a da Natureza. Dê um gosto ao dedo! Clic... clic, clic.

Agenda

Dos rios aos oceanosA Conferência Nacional Infanto-juvenil pelo Ambiente "Dos rios aos

oceanos, percursos entre muitas histórias", iniciativa apoiada por várias

instituições, reuniu centenas de crianças em idade escolar no Parque

Biológico de Gaia no passado dia 5 de junho.

Trata-se de um projeto pedagógico concebido e desenvolvido pela

ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental, da iniciativa

da Comissão Europeia e promovido pelo Centro de Informação Europeia

Jacques Delors (CIEJD), Direção-Geral dos Assuntos Europeus – Ministério

dos Negócios Estrangeiros, na qualidade de organismo intermediário

responsável pela execução do plano de comunicação para informação

sobre a União Europeia em Portugal.

Esta conferência nacional «tem por objetivo fortalecer a educação

ambiental nos sistemas de ensino, propiciando atitudes responsáveis e

comprometidas da comunidade escolar com as questões socioambientais

locais e globais», informam os organizadores, e adiantam que confi gura

«um espaço de refl exão e partilha de experiências por milhares de crianças.

Estas, juntamente com os seus professores, mostram ter sensibilidade

para as questões ambientais ao mesmo tempo que apresentam trabalhos

artísticos de interesse relevante para suscitar novas atitudes».

O evento contou com a presença da vereadora do Peloutro do Ambiente

do Município de Vila Nova de Gaia, Mercês Ferreira.

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 41

Sábado no Parque Dia 6 de setembro o Parque

prepara algumas atividades

especiais para os seus visitantes.

Com início às 11h00, há lugar

ao atelier “Abutres, recicladores

naturais”.

Às 14h30 decorre a conversa

do mês: “O abutre e suas

ameaças” (comemoração do

Dia Internacional do Abutre)

e às 15h30 haverá uma visita

guiada por técnicos do Parque

e, simultaneamente, percurso

ornitológico.

Em 4 de outubro, às 11h00,

o atelier é preenchido com

“Anilhagem científi ca de aves

selvagens” e depois do almoço

a conversa do mês será sobre

a comemoração do Dia do

Animal.

Nestes dias, às 22h00 há

observações astronómicas, se

as condições meteorológicas o

permitirem.

Em cada um destes sábados há um

novo Animal, uma nova Planta e um

novo livro do Mês.

Anilhagem científi ca de aves selvagens Nos primeiros e terceiros sábados

de cada mês, das dez ao meio-dia,

os visitantes do Parque podem

assistir a esta atividade na Quinta do

Chasco de passagem pelo percurso

de descoberta da natureza, se não

chover. Está em causa o bem-estar

animal.

Orientada por anilhadores

credenciados, há uma dúzia de

formandos que prosseguem no

objetivo de aprenderem sempre mais

nesta iniciativa útil para um melhor

conhecimento da população de aves

da região.

O Parque Biológico de Gaia

colabora com a Central Nacional de

Anilhagem, coordenada pelo Instituto

de Conservação da Natureza e das

Florestas, num projeto europeu de

Estações de Esforço Constante, para

monitorização das aves selvagens.

Ofi cinas de Verão Para crianças e jovens dos seis aos

14 anos. Decorrem nas semanas de

30 junho a 4 julho, de 7 a 11, de 14

a 18 e 21 a 25 de julho, de 28 de

julho a 3 de agosto, de 4 a 8, 11 a

15, 18 a 22 e de 25 a 29 de agosto.

A entrada diária é às 9h00 e a saída

às 18h00. Saiba mais no Gabinete de

Atendimento do Parque.

Vindima no Parque Dia 20 de setembro, sábado, entre as

dez e o meio-dia e entre as 14h00 e

as 15h00, há vindima no Parque.

Recriação da desfolhada Dia 11 de outubro, entre as 15h00

e as 17h00, o milho é rei, com

a colaboração de um Rancho

Folclórico. Contacte o Gabinete de

Atendimento do Parque.

Abertura da exposição do Concurso Nacional de Fotografi a da Natureza "Parques e Vida Selvagem" Dia 1 de novembro, sábado, às

15h00, abre esta exposição com a

entrega de prémios aos concorrentes

distinguidos pelo júri.

Observação de aves selvagensNos primeiros domingos de cada

mês, entre as dez e o meio-dia, leve,

se tiver, um guia de campo de aves

europeias e binóculos à Reserva

Natural Local do Estuário do Douro.

Com telescópio, estará um técnico

do Parque para ajudar os presentes

a identifi car as aves do litoral a partir

dos observatórios ali instalados.

Há iniciativas que irão decorrer

em breve no Parque Biológico de Gaia

que podem interessar-lhe...

Receba notícias por e-mailPara os leitores saberem

das suas atividades a curto prazo,

o Parque Biológico sugere

uma visita semanal a

www.parquebiologico.pt

A alternativa será receber os destaques,

sempre que oportunos, por e-mail.

Para isso, peça-os a

[email protected]

Mais informações Gabinete de Atendimento

[email protected] direto: 227 878 138

4430-861 Avintes - Portugal

www.parquebiologico.pt.

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Prémio na categoria Flora, Líquenes e Fungos: “Graal” (2013)

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42 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

42 ESPAÇOS VERDES

Workshop de

pirilampos ibéricosSábado, 14 de junho, o Parque Biológico de Gaia

organizou um workshop sobre pirilampos da Península

Ibérica, com coordenação científi ca de Raphael De Cock,

investigador associado da Universidade de Antuérpia,

Bélgica, e José Ramón Guzmán Álvarez, da Universidade

de Córdoba, Espanha.

O evento contou com cerca de 30 inscritos e teve uma

parte teórica, durante a tarde, seguindo-se a componente

prática de noite.

Raphael De Cock começou por dizer que há na Europa

65 espécies de pirilampo, de oito géneros, sendo 11 as

espécies da Península Ibérica.

É possível encontrar pirilampos

nos habitats onde haja

populações normais de caracóis

e lesmas.

Na fase de larva os pirilampos

são seus predadores.

Sítios que estejam nas

redondezas de charcos e ribeiros,

que não sejam iluminados de

noite e onde não haja uso de

pesticidas e herbicidas são

promissores para excelentes

observações e registos em várias

épocas do ano.

Regra justa e certeira:

obrigatório fotografar no local,

sem transporte do inseto

luminescente.

Depois, não deixe de partilhar

essa informação.

Para Portugal, concretamente, são dadas dez.

A mais recente é o pirilampo-ibérico, Lampyris iberica, que até 2008 se pensava ser a mesma que

Lampyris noctiluca, esta talvez a espécie europeia

mais generalizada com distribuição muito além dos

Pirenéus.

Um investigador britânico, John Day, a dada altura

descobriu que a enzima luciferase – que tem um papel

importante na produção de luz – não condizia numa

e na que é agora outra espécie. Na Península Ibérica,

contudo, considera-se hoje que existem ambas.

Ramon Álvarez, organizador do projeto Gusanos de

Luz, em funcionamento em Espanha, explicou o seu

gosto pelo tema e a participação obtida junto dos

seus conterrâneos.

Com vista a conseguir, com a ajuda de todos

os que queiram colaborar, agregar dados sobre

que espécies existem e onde, criou-se um grupo

aberto no Facebook – https://www.facebook.com/groups/vistepirilampos/ – ao qual qualquer pessoa

interessada pode aderir e participar através da

colocação das suas fotografi as com respetiva data

e local.

Como procurar?

Jorg

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 43

Namoro de pirilampos

O Dia Mundial da Criança e as Noites dos

Pirilampos incluíram, no formato de teatro de

fantoches destinado à infância, «O namoro

dos Pirilampos», uma peça que dá um

cheirinho dos encontros e desencontros

imaginários do amor entre estes insetos que

têm a particularidade de brilhar no escuro.

Com um ciclo de vida que passa por

ovo, larva, pupa e inseto adulto, os

pirilampos são animais do grupo dos

coleópteros e levam na peça nomes mais

acessíveis, nomeadamente Luciolinha,

Fosfanus, Pirilamponzinho, entre outros. A

desclassifi cação de pretendentes sucessivos

leva por fi m a um fi nal feliz.

Com produção de Ilha Mágica, a

dramatização da peça foi de Manuel Franklin

e parte de um texto de Jorge Gomes.

Os atores Diogo Azevedo e Andreia Rocha

deram voz e corpo à peça.

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Filip

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44 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Pirilampos – esses desconhecidos

Que os vaga-lumes

atraem muita gente,

disso não há dúvida:

as Noites dos

Pirilampos que o

Parque Biológico

de Gaia realiza há já

muitos anos são

prova disso…

luciérnaga?» (viste um pirilampo) que se apoia

no site gusanosdeluz.es.

Este workshop foi ótimo. Conseguiu-se

partilhar conhecimentos e trocar ideias.

Fiquei até surpreendido com a afl uência e o

interesse demonstrado pelas pessoas que

participaram.

Não há muita gente disposta a escutar

palestras durante três horas seguidas.

Tenho por isso razões para estar contente

porque houve uma boa resposta. Surgiram

as primeiras ideias e deram-se os primeiros

passos no sentido de se estabelecer

uma plataforma de índole nacional para

observação e registo de pirilampos em

Portugal.

Além disso, a visita noturna ao Parque foi

sensacional: observámos diferentes estádios

de desenvolvimento e espécies de pirilampos.

Vimos machos, fêmeas e larvas de Lampyris iberica, larvas e machos de Luciola lusitanica, e larvas, machos e uma fêmea de

Lamprohiza mulsantii – isto é muito bom!

Há algum interesse em que os leitores participem, e a população em geral, sobre o que se passa nos seus jardins e na sua região em matéria de ocorrência de pirilampos?

Armadilha luminosa

O problema coloca-se de forma

premente quando se fala de

investigação científi ca. Como

é possível haver ainda tanto

para saber sobre estes pequenos insetos

bioluminescentes?

Face à Europa além-Pirenéus, a

Península Ibérica conta com bastantes

mais espécies!

Aproveitámos a passagem por Portugal

de dois cientistas desta área, Raphael

De Cock, conhecido investigador belga

ligado à Universidade de Antuérpia, e

Ramón Guzmán Álvarez, de Espanha,

coordenador do projeto “Has visto una

luciérnaga?”.

Ambos, com a colaboração do Parque

Biológico de Gaia, deram corpo a um

workshop sobre pirilampos da Península

Ibérica no passado dia 14 de junho.

Como surgiu a ideia de realizar este workshop?Raphael De Cock – O facto é que, após

alguns anos de colaboração, temos

tido algum avanço em Espanha graças

ao trabalho de Ramón Guzmán Álvarez

através do seu projeto «Has visto una

44 ENTREVISTA44 ENTREVISTA

Observação noturna de pirilampos durante o workshop

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 45

Raphael De Cock – Na Bélgica

(waarnemingen.be) e em Espanha

(biodiversidadvirtual.org e gusansosdeluz.es) trabalhamos com muito bons

resultados nesse sentido.

Não é complicado pôr o sistema

a funcionar. Além da atenção dos

colaboradores, apenas se torna necessária

a cooperação de pessoas que saibam

identifi car a espécie que se vê nas fotografi as

e dar essa informação em tempo útil.

Os pirilampos estão mesmo a desaparecer?Raphael De Cock – Não temos dados

que permitam afi rmar isso. Um bom

começo será criar um sistema de colheita

de observações de todo o país, uma

vez que isso permitirá saber onde ainda

Bioluminescent bugs The problem is more urgent when it comes to scientific research. How is it possible that there is so much to learn about these bioluminescent bugs? When compared to the rest of Europe, the Iberian Peninsula has a much higher number of species. Without a doubt, Fireflies draw the attention of a lot of people: the very successful “Firefly Nights” organized by the Parque Biológico de Gaia are proof of that.

existem pirilampos e quais as espécies

observadas.

Um pouco por todo o mundo ouvimos

pessoas a dizer que já não os veem em

determinado lugar ou que são menos,

mas isso também pode resultar da

mudança do nosso ritmo de vida e de

termos no modo de vida citadina um

menor contato com a natureza.

Estamos em plena Década da Biodiversidade, criada pelas Nações Unidas. Se não se investigar agora os pirilampos, depois poderá ser demasiado tarde? Raphael De Cock – Penso que já é tarde

para saber tudo o que se podia saber.

Apesar destes insetos serem especiais

há poucos cientistas a investigá-los.

Especialmente na Europa temos uma

escassez de conhecimento geral sobre

a sua biologia e distribuição, nem sequer

um Livro Vermelho das espécies de

pirilampo existe quando algumas destas

parecem ocorrer apenas em áreas muito

reduzidas e sem qualquer estatuto de

proteção.

Texto e fotos Jorge Gomes

Os pirilampos são seres frágeis e pertencem ao grupo dos coleópteros

Raphael De Cock instala uma armadilha luminosa durante o Workshop sobre Pirilampos da Península Ibérica

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46 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

«É uma alegria imensa observar

estes insetos tão atrativos»,

diz Ramón Guzmán Alvarez e,

completa, «poder contemplar

o espetáculo da Noite dos Pirilampos, com

tantos Luciola lusitanica no Parque…»

deixa-o maravilhado quando o relógio já

marcava as 22h00.

Ao longo do percurso, no solo do bosque,

há muitas luzes, que correspondem a larvas

e fêmeas adultas de várias espécies de

vaga-lume. Pelo ar, piscam os machos do

género Luciola.

De nacionalidade espanhola, morador na

região de Sevilha, deslocou-se a Vila Nova

de Gaia propositadamente para participar

no Workshop sobre Pirilampos da Península

Ibérica, que decorreu em 14 de junho no

Parque Biológico de Gaia.

«É extraordinário poder trabalhar neste

projeto comum com colegas naturalistas

portugueses. Integramos a mesma área

de interesse e podemos aprender muito

uns com os outros», explica e assinala:

«Infelizmente, não pudemos contar com

mais presenças provenientes de Espanha.

É possível que o facto de Vila Nova de Gaia

fi car distante e de, na realidade, não haver

ainda muitos estudiosos de pirilampos no

meu país, tenha tido como resultado essa

que os pirilampos estão a desaparecer,

creio que é possível que isso possa estar

a acontecer».

Realmente, «as transformações recentes

das paisagens rurais não vão na direção

de favorecer os pirilampos, mas ao invés.

O aumento da luminosidade noturna,

a urbanização ou o uso excessivo de

produtos químicos não são bons para

estes insetos».

O facto de se estar em plena Década da

Biodiversidade, proclamada pelas Nações

Unidas, é interpretado por Ramón como

sendo «um bom estímulo para se ter mais

empenho no sentido de conhecer melhor

a biodiversidade».

O eventual excesso de iluminação noturna,

a chamada poluição luminosa, merece

mais um reparo. Ramón diz que «é uma

das grandes ameaças para os pirilampos

porque é um fator de confusão para o

acasalamento. Em todo o caso, quando

se passeia de noite é apelativo contemplar

tantas luzes e com tanta intensidade.

Mas é realmente necessário?», pergunta

e realça: «Além disso, deve custar muito

dinheiro. Às vezes fazemos coisas um

pouco exageradas», conclui.

Texto e foto Jorge Gomes

46 ENTREVISTA

Em Espanha os pirilampos são luciérnagas

ausência, mas a assistência e a hospitalidade

portuguesa foram sensacionais».

Inquirido sobre a validade do workshop,

sublinha que «o principal resultado consistiu

em dar sequência de algum modo ao

objetivo que nos tínhamos proposto:

contactar com os naturalistas portugueses

e começar a colaborar num projeto

comum sobre a distribuição e ecologia dos

pirilampos».

Adianta ainda que «tínhamos em vista

apresentar o site que possuímos sobre os

pirilampos de Espanha: “¿Has visto una

luciérnaga?” – www.gusanosdeluz.es».

Ramón afi rma que é importante haver

uma cooperação com a população em

geral no sentido de esta dar notícia das

suas observações através de fotografi as:

«As novas tecnologias permitem ampliar o

nosso conhecimento da natureza através

da participação social. De outro modo seria

impossível recolher tanta informação como a

que se obtém através destes colaboradores,

e todos podem contribuir com informação de

grande qualidade».

Aqui e ali ouve-se pessoas que creem que

os pirilampos já não brilham em tantos sítios

como no passado.

Ramón pensa que, «apesar de ainda não

termos dados quantitativos para demonstrar

Raphael De Cock e Ramón Guzmán Álvarez observam uma larva de pirilampo do género Lampyris

No país vizinho, Ramón

Guzmán Álvarez tem em

mãos um projeto chamado

“Has visto una luciérnaga?”

que faz o levantamento

das espécies de pirilampo:

a que mais vê a voar

nas Noites dos Pirilampos

– Luciola lusitanica – em

toda a Península Ibérica só

está dada para Portugal

46 ENTREVISTA

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Page 47: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 47

ESPAÇOS VERDES 47

Noites dos Morcegos e das Borboletas Noturnas

Armadilhagem luminosa de borboletas noturnas

Em 4 e 5 de julho, às 21h00, o Parque

Biológico de Gaia abriu as portas e muita

gente fez questão de estar presente, ouvindo

atentamente e colocando perguntas a

Henrique N. Alves, técnico do Parque.

As Noites dos Morcegos permitiram

esclarecer que estes mamíferos

alados, animais «muitas vezes olhados

como mau presságio», são de

facto «inofensivos e não causam

prejuízo, revelando-se úteis, pois

destroem grandes quantidades

de insetos, combatendo assim

pragas agrícolas e fl orestais e

limitando a ação desses eventuais

propagadores de doenças». Dois

dos géneros, Myotis e Pipistrellus,

foram mais fáceis de identifi car através

do descodifi cador de ultra-sons.

Dias mais tarde, em 17 de julho, entre

as 21h00 e as 23h00, houve lugar no

mesmo Parque à celebração das Noites

Europeias das Borboletas Noturnas,

igualmente com elevada afl uência.

Nestas sessões foi possível dar a

conhecer aos visitantes fasquias de

biodiversidade menos conhecidas,

salientando o seu papel importante no

O ano do mochoNeste início de verão já não havia como

duvidar – 2014 é o ano do mocho no Centro

de Recuperação de Fauna do Parque

Biológico de Gaia.

Uma quantidade invulgar de juvenis de

mocho-galego deu entrada este ano no

centro de recuperação.

As razões não são claras ainda, mas

é normal as diversas espécies de vida

selvagem ano a ano fl utuarem em termos de

densidade das suas populações. Mais assim

será quão mais instáveis se apresentarem

as condições de sobrevivência em que se

enquadram.

O mocho-galego é uma ave de rapina

noturna de pequeno porte que se adapta

bem até aos subúrbios das grandes cidades.

Como se alimenta de pequenos mamíferos,

répteis de menor dimensão e até de insetos,

acaba por encontrar nutrição e cria prole

num nicho tantas vezes impercetível ao ser

humano.

Como acontece com outras aves de rapina

noturnas, é habitual as crias de mocho-

galego abandonarem o ninho precocemente,

embora fi quem debaixo dos cuidados dos

progenitores.

Não tendo a maior parte das pessoas noção

disso, quando vê uma cria – os pais são

discretos, não estarão à vista – pensa logo

estar abandonada e naquela circunstância

irá inevitavelmente morrer. No entanto,

há perigos à espreita: estradas próximas,

predadores domésticos, incêndios, etc.

Nestes casos não hesite, dê-lhes mais uma

oportunidade.

Será esta a história da maior parte das

aves deste jaez entradas no centro de

recuperação.

Estando ao longo deste tempo a ser

acompanhadas no seu crescimento, assim

que se encontrarem em condições de

regressar à vida selvagem serão rapidamente

libertadas em habitat adequado.

mapa da biodiversidade de que fazemos

parte. Nesta sessão fotografou-se para a

listagem do Parque mais duas espécies —

Bostra obsoletalis (Mann, 1884) e Caloptilia

robustella ou Caloptilia alchimiella, havia só

que analisar a genitália…

Caloptilia robustella ou Caloptilia alchimiella, havia que analisar a genitália para distinguir qual seria, se uma se outra

Moma alpium

Rhodometra sacraria

HN

A

HN

A

HN

A

JG

Centro de Recuperação

Jo

rge G

om

es

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48 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

48 ESPAÇOS VERDES

Fauna

O juvenil de milhafre nascido este ano, à esquerda

Vieram para fi car

O casal reprodutor selvagem chegou

ao Parque Biológico de Gaia em início

de março, vindo de África, e no verão

já pelo menos uma cria de milhafre-

preto, Milvus migrans, voava sobre o

ninho que os visitantes mais atentos

do parque se habituaram a ver junto ao

açude, na árvore mais alta desta parte

da margem do rio Febros.

Uma leitura do Plano Setorial da Rede

Natura 2000, disponível na internet, no

que diz respeito a esta ave de rapina,

aponta-a como espécie monogâmica

que mantém o mesmo par durante

vários anos, embora essa ligação seja

aparentemente sazonal nas populações

migradoras.

Adianta também que estes casais

podem nidifi car isoladamente ou em

pequenos aglomerados, formando

colónias geralmente pouco densas.

Quando em viagem, é frequente vê-los

entre março e agosto próximo das

estradas, onde procuram e recolhem

cadáveres de animais vitimados por

atropelamento.

Durante a época de reprodução,

os casais dormem no ninho ou nas

suas imediações. Os indivíduos não

reprodutores e os adultos fora da época

milhafre-pretoMilvus migrans

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Page 49: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 49 Parques e Vida Selvaagem veerão 20114 • 49

Planta do grupo das hepáticas, com um corpo taloso que

se bifurca repetidamente, com cerca de 2 mm de largura

e vários centímetros de comprimento. Cresce aderente

ao substrato, geralmente em planos verticais, em tufos

achatados. A superfície ventral (superfície aderente ao

substrato) tem pequenos pêlos hialinos que ajudam à

fi xação da planta. A intensidade da sua cor verde depende

do grau de luminosidade, mas os talos são quase sempre

semi-transparentes dado que são uniestratifi cados (apenas

uma célula de espessura), daí o nome comum se referir à

semelhança com um véu. A zona central, não transparente

do talo, corresponde à nervura.

Esta planta pode reproduzir-se de duas formas: de forma assexuada, através de

gemas em forma de disco que surgem na margem do talo; ou de forma sexuada,

através de anterídeos (órgãos reprodutores masculinos) e arquegónios (órgãos

reprodutores femininos) que se desenvolvem em plantas separadas, já que se trata

de uma espécie dióica.

Esta hepática é comum nos troncos de muitas espécies de árvores e arbustos

autóctones ou alóctones, geralmente em territórios com altitude até aos 600

metros. Em Portugal, é comum nas zonas de infl uência atlântica e é uma espécie

tolerante a alguma secura, mas não muita poluição atmosférica.

Tal como outras plantas, as espécies do género Metzgeria apresentam disjunções

intercontinentais, ou seja, as mesmas espécies podem ocorrer em continentes

separados por grandes oceanos. No entanto, nem sempre a realidade é o que

aparenta ser. A maior parte das espécies foi classicamente defi nida com base na

sua morfologia (aspeto exterior e mensurável a olho nu ou com a ajuda de um

microscópio), porém estudos genéticos recentes revelaram que as populações

de Metzgeria furcata do continente americano pertencem a uma espécie diferente

de outras duas espécies que ocorrem na Europa. Como estas três espécies só

se distinguem ao nível genético designam-se de “crípticas”, porque é impossível

distingui-las através da morfologia. Como tal, continuaremos a chamar-lhes o

mesmo nome, mas sabemos que a sua taxonomia é mais complexa do que é

pragmático reconhecer com as atuais formas de identifi cação de plantas baseadas

em chaves dicotómicas. Mais uma vez, o avanço do conhecimento científi co é mais

rápido do que o Homem pode absorver nas suas rotinas de trabalho e de vida.

Metzgeria furcata (L.) Dumort.

Hepática de véu

Flora

Cristiana Vieira e Helena HespanholCIBIO-InBIO

Paula

Port

ela

Jo

ão

L.

Teix

eira

de reprodução formam dormitórios

comunais, que podem ter dezenas ou

mesmo centenas de indivíduos.

No Choupal, em Coimbra, foram

já contados por diversas vezes a

entrar no dormitório cerca de 350

indivíduos. Os dormitórios podem

localizar-se vários anos nas mesmas

árvores.

As crias atingem a independência

em fi nais de junho e durante o mês

de julho. Ambos os progenitores

alimentam as crias, geralmente em

número de uma a três.

Voltarão para o ano?

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Page 50: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

50 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

50 ESPAÇOS VERDES

Anilhagem

Jo

rge G

om

es

O que pode a pena de um pássarodizer?

As aves são, provavelmente, o

grupo de animais que mais fascínio

suscita nas pessoas. Desde que

há memória, e que ela se propaga

na pedra, em papel ou por tecnologias mais

recentes, o ser humano olha para as aves

com um misto de inveja, adoração ou ódio.

Muita da admiração que damos às aves

vem da sua característica partilhada mais

distinta, herdada dos seus antepassados

dinossauros, que são as penas. Com as suas

várias formas e cores, estas permitem às

aves voar, protegerem-se do meio, exibirem-

se e camufl arem-se.

A nós as penas têm servido, entre outras

coisas, como adereço e material para

escrever, mas também podem servir para

as compreendermos melhor: quer seja

por nos ajudar a distinguir as diferentes

espécies entre si (por Portugal passam mais

de 300 espécies todos os anos), quer para

conhecermos melhor cada indivíduo. Nos

vários locais no nosso país onde se realizam

sessões de anilhagem, como no Parque

Biológico de Gaia, anilhadores e formandos

socorrem-se dos padrões da plumagem

para saber mais informações sobre as

aves que capturam, nomeadamente a sua

idade. Perceber a estrutura etária de uma

população de aves pode ser um passo

importante para interpretar as tendências

populacionais das espécies. Às vezes

diferentes classes etárias têm plumagens

bastante distintas. No entanto, se distinguir

um melro macho com dois meses de idade

de um adulto na primavera é fácil, dado que

o juvenil vai ser castanho malhado e o

adulto terá uma bela plumagem negra,

se olharmos para esse mesmo juvenil

no outono o caso tornar-se-á mais

complicado, dado que ele já se parecerá

com um adulto… será que dá para

resolver este problema?

Ao contrário dos nossos pelos, que

são estruturas biológicas relativamente

simples, as penas das aves têm

uma grande complexidade e o seu

crescimento é energeticamente bastante

exigente, e por isso não podem ser

renovadas constantemente. Assim, as

aves tendem a concentrar a muda da

plumagem em alturas específi cas do

ano, entre outros períodos mais críticos

como a nidifi cação, a migração ou a

invernada. Estas mudas consistem

numa renovação completa ou parcial

da plumagem, e muitas vezes o padrão

difere entre juvenis e adultos – para a

maioria das espécies de passeriformes

europeus, a principal época de muda

dá-se entre as épocas de nidifi cação

e a de migração outonal, e enquanto

os adultos tendem a fazer mudas

completas, os juvenis fazem mudas

parciais (geralmente penas do corpo).

No outono e inverno seguintes, a maioria

das aves já terá uma aparência de

adulto, mas os juvenis trarão em algumas

das penas a marca da sua idade, pois têm

penas de juvenil que fi caram por mudar

– estas tendem a ser menos coloridas,

mais translúcidas e com estrutura menos

consistente. Quando uma ave sai do ninho

ela tem de rapidamente ter um conjunto de

penas no corpo todo que lhe permita voar

e proteger-se, e por isso este crescimento

acelerado traduz-se em penas de pior

qualidade que as penas dos adultos.

Para a maioria das espécies, estas

diferenças são muito subtis, e somente

com uma ave na mão e alguma

experiência se poderão ver estes

contrastes entre penas de adulto e de

juvenil. Para algumas espécies, no entanto,

isto pode ser visto pelo observador

citadino um pouco mais atento. Neste

outono que se aproxima, comece a olhar

com atenção para os melros machos

que passam à sua frente no jardim: todos

parecerão pretos, mas as aves que

nasceram nesta época de nidifi cação de

2014 terão algumas penas castanhas

na ponta da asa, uma lembrança ao

observador que apenas agora começam a

enfrentar a aventura da vida!

Texto Pedro Andrade

Análise da plumagem de um melro na mesa de anilhagem científi ca

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Page 51: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 51

BATER DE ASA 51

Na Beira Alta, concretamente

em Celorico da Beira, distrito

da Guarda, foi recuperada em

15 de fevereiro de 2013 a anilha

23Z24781, que tinha sido aplicada

na Bélgica – Marksplas, Antuérpia

– em 12 de outubro de 2012 no

primeiro ano de vida da ave.

O pássaro em causa é mais uma

vez um tordo – Turdus philomelos

– e foi abatido por um caçador.

Face aos dados registados, é de

Jo

ão

L.

Teix

eira

Universidade Júnior Na lógica das Ofi cinas de Verão, este ano a Universidade Júnior apresentou um

novo programa de atividades.

Num dos cenários em que decorre esta iniciativa, o Parque Biológico de Gaia,

as ofi cinas direcionaram-se para temas específi cos.

Foi assim porque a Universidade do Porto abriu mais uma vez as suas portas,

no verão de 2014, a cerca de 5 mil estudantes nas idades entre o 5.º e o 11.º

ano de escolaridade.

De segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 18h00, participaram em diversas

atividades e projetos de investigação em áreas tão diversifi cadas como as

ciências, as tecnologias, as humanidades, as artes ou o desporto.

A propina de inscrição teve o custo de 75 euros por semana e incluiu o seguro

escolar, o material das atividades e as refeições do dia.

O voo dasavesconcluir que este tordo se deslocou

1523 quilómetros entre o local da

Estação de Esforço Constante de

anilhagem científi ca belga, onde lhe

foi aplicada a anilha, e o local de

recuperação da mesma.

Se algum dia chegar a sua vez de

deparar com uma destas anilhas, não

deixe de nos contactar. Trataremos de

saber mais dados a partir dela, a fi m

de melhor se conhecer o voo das aves

selvagens.

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Page 52: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

52 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

52 OBSERVATÓRIO

A recente confi rmação do modelo

Heliocêntrico proposto por

Nicolaus Copernicus, as primeiras

observações com um telescópio

por Galileu Galilei e a formulação matemática

das leis que descrevem o movimento dos

corpos celestes por Johannes Kepler e Isaac

Newton provocaram uma mudança radical na

visão ocidental do Universo.

Consequência incontornável desta revolução

científi ca foi a ideia, herética durante muitos

séculos, de que as estrelas não eram mais

do que outros sóis, situados a grandes

distâncias. A questão que se punha agora, e

que se tornou central para a Astronomia, era

a de determinar o quão distantes estavam as

estrelas.

Como veremos, o Universo não facilitou a

vida aos astrónomos e esta é uma questão

que atormenta ainda hoje os astrónomos

profi ssionais (e alguns amadores também).

Não se trata de um capricho, isto de

conhecer a distância de uma estrela.

Conseguir fazê-lo permite deduzir

diretamente muitas outras coisas sobre a

estrela em questão, por exemplo, o seu

brilho, o seu tamanho e indiretamente a

sua massa. Conhecer estes parâmetros

das estrelas é essencial para o estudo da

sua evolução e, em particular, de como

sintetizam nos seus âmagos os elementos

de que o mundo que nos rodeia é composto.

O método mais simples e direto para a

medição da distância de uma estrela é

designado de método do Paralaxe. De forma

As distâncias das estrelas

No início do século XVII,

a Astronomia dava os

seus primeiros passos

como ciência

muito resumida, trata-se apenas de medir

um ângulo no céu – o ângulo de paralaxe

– que depois é facilmente convertível na

distância da estrela através de uma fórmula

trivial.

Baseia-se numa observação muito simples:

um objeto próximo de nós parece mover-

se relativamente a objetos mais distantes

quando observado a partir de duas posições

diferentes. Por exemplo, na fi gura 1 o

rapaz coloca o dedo polegar à distância

de um braço estendido e observa-o

alternadamente com cada olho (o outro

olho deve estar fechado). Se fechar o olho

esquerdo, observando com o direito, vê o

dedo numa posição. Se fechar o olho direito,

observando com o esquerdo, o objeto

parece mover-se relativamente aos quadros

na parede. O deslocamento aparente é

inversamente proporcional à distância, isto

é, objetos mais próximos apresentam um

deslocamento maior. Medindo o ângulo

correspondente ao deslocamento aparente

do objeto e sabendo a distância entre os

dois olhos podemos calcular facilmente a

que distância se encontra o dedo.

Para as estrelas o princípio é o mesmo

mas com algumas adaptações (fi gura 2).

O dedo representa a estrela que queremos

observar, os quadros na parede são estrelas

mais distantes na mesma zona do céu e

os nossos olhos são substituídos por um

telescópio que observa a estrela em dois

pontos da órbita da Terra separados por seis

meses.

Desta forma a distância entre as

observações é de duas vezes a distância

da Terra ao Sol, ou seja, cerca de 300

milhões de quilómetros. Quanto maior o

deslocamento da estrela relativamente às

estrelas mais distantes, mais próxima ela

está. A metade do ângulo associado com

esse deslocamento (no céu as distâncias

medem-se em ângulos) é designado de

paralaxe. A precisão da distância obtida

depende apenas da precisão com que o

ângulo de paralaxe é medido, e aqui é que

começam as difi culdades.

Com o advento do telescópio, vários

astrónomos famosos dos séculos XVII e

XVIII, por exemplo, Galileo Galilei, Robert

Hooke, James Bradley e William Herschel,

tentaram medir a distância de algumas

estrelas que pareciam estar mais próximas,

por outras linhas de raciocínio, mas as

várias tentativas resultaram em fracasso

devido à difi culdade de medir ângulos tão

pequenos. Isto queria dizer que as estrelas

estavam a distâncias enormes, muito para

além do que os astrónomos da época

poderiam antecipar. Finalmente, em 1838, o

astrónomo alemão Friedrich Wilhelm Bessel

conseguiu medir o ângulo de paralaxe para a

estrela 61 da constelação do Cisne e calcular

a sua distância em 10.4 anos-luz (o valor

atualmente aceite é de 11.4 anos-luz). Quase

de seguida, em 1839, o astrónomo real para

a Escócia, Thomas Henderson, em missão

na África do Sul, publicou o paralaxe para a

estrela Alfa do Centauro, mostrando que se

Luís Lopes

fi gura 1

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 53

encontrava muito próxima do Sistema Solar,

a apenas 3.3 anos-luz (o valor atualmente

aceite é de 4.36 anos-luz). Ainda em 1839,

o astrónomo alemão Friedrich von Struve

calculou a distância à estrela Vega, uma das

mais brilhantes do céu, em 26.1 anos-luz (o

valor atualmente aceite é de 25.1 anos-

luz). A esta sucessão rápida de resultados,

sucederam-se determinações semelhantes

para outras estrelas, mas as medições eram

tão difíceis que no fi nal do século XIX apenas

se conheciam as distâncias de 60 estrelas.

O método de paralaxe continuou a ser

utilizado durante o século XX mas, apesar

dos avanços tecnológicos, as distâncias

só conseguiam ser determinadas para

estrelas até cerca de 300 anos-luz, e ainda

assim com erros substanciais. Para lá

dessa distância os ângulos de paralaxe

eram demasiado pequenos para poderem

ser medidos em observatórios situados

na superfície da Terra. A interferência da

atmosfera terrestre impossibilitava a medição

de paralaxes mais pequenos. Com o início

da conquista do Espaço, os astrónomos

começaram a pensar num observatório

espacial dedicado à medição de ângulos de

paralaxe.

No fi nal do século XX, mais precisamente

em 1989, foi lançado o primeiro destes

satélites, o Hipparcos, que, apesar de vários

problemas iniciais (um lançamento defeituoso

impediu que fosse colocado na órbita

correta), realizou observações que deram

origem a um catálogo com posições, brilho

e paralaxes para cerca de 118 mil estrelas.

Destas estrelas, cerca de 20 mil tiveram as

suas distâncias determinadas com um erro

inferior a 10% e 50 mil com um erro inferior

a 20%. Destas estrelas, 400 foram medidas

com erros de apenas 1% – até então apenas

50 estrelas tinham tido as suas distâncias

medidas com uma precisão semelhante a

partir de observatórios na Terra.

Mas o estudo da nossa galáxia, a Via Láctea,

e das estrelas que a compõem, necessita de

maior precisão. Por exemplo, para conhecer

a luminosidade real das maiores estrelas,

designadas de supergigantes, é necessário

determinar com exatidão as distâncias

de uma amostra signifi cativa. Num raio

de mil anos-luz, distância a que os erros

do Hipparcos já são da ordem dos 20%,

existem muito poucas estrelas deste tipo.

Outro exemplo diz respeito à estrutura da

Via Láctea. Para perceber como as estrelas

orbitam o centro da Via Láctea e a estrutura

dos seus braços espirais, é necessário

obter distâncias e velocidades de milhões

de estrelas, até à região do centro galáctico,

com elevada precisão. Estes problemas

deixados em aberto pelo Hipparcos

motivaram o desenvolvimento de uma nova

missão, mais ambiciosa.

Depois de duas décadas de

desenvolvimento, o observatório

astrométrico Gaia (fi gura 3), sucessor

do Hipparcos, foi lançado em novembro

de 2013. Orbita atualmente o Sol numa

localização especial conhecida por Ponto

de Lagrange 2 (L2), em que a gravidade do

Sol e da Terra se cancelam. Nesta altura

encontra-se numa fase em que os cientistas

e os técnicos da missão estão a avaliar e a

calibrar os instrumentos.

O observatório vai permitir determinar

as distâncias de cerca de 20 milhões de

estrelas com um erro de apenas 1% e para

200 milhões de estrelas adicionais, o erro

vai ser inferior a 10%. Estrelas situadas na

região central da Galáxia, a cerca de 27 mil

anos-luz, vão ter a sua distância determinada

com erros na ordem dos 10% apenas. Com

os dados recolhidos ao longo dos 5 anos da

missão será possível compilar um catálogo

com as posições, paralaxes, temperaturas

e velocidades de mais de mil milhões

de estrelas. Este catálogo servirá várias

gerações futuras de cientistas, contribuindo

de forma decisiva para o conhecimento da

Via Láctea, a nossa ilha no Universo, e das

suas estrelas.

fi gura 2

fi gura 3

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54 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

54 REPORTAGEM

Mexilhões de água doce

sentinelasdos riosEm Portugal há várias espécies de mexilhões de

rio: ameaçadas, estão no foco de uma parceria

multi-institucional, ao abrigo do programa LIFE-

Ecótono, que funciona no posto aquícola de

Campelo, em Figueiró dos Vinhos

«Os mexilhões-de-rio são

sentinelas da qualidade

da água, mais do que os

peixes»,

diz Paulo Lucas, coordenador do grupo de

trabalho sobre Biodiversidade da Quercus.

«Quando o meio se altera desaparecem:

estão a indicar que algo aconteceu ali.

Por outro lado, ao fi ltrarem grandes

quantidades de água acabam por

infl uenciar positivamente o meio ambiente,

ou seja, acabam por ter um papel fi ltrador

depurador – são aquilo que chamamos

nanoetares», conclui e acentua: «Boas

populações de mexilhão de rio indicam

água de qualidade».

O interesse deste trabalho já estava

essencialmente defi nido, mas o assunto

tinha ainda pernas para andar.

Enquanto a névoa se afasta a passo de

caracol, cedendo lugar ao sol, no tanque

que espreitamos nadam, velozes, umas

centenas de peixes de pequeno tamanho.

Lembram ruivacos. Os tanques refl etem

uma ideia de naturalização, com a presença

de várias espécies botânicas típicas dos

nossos rios, como salgueiros, tabua ou

feto-real.

«O que fazemos aqui é simular o que

acontece na natureza», refere Paulo Lucas.

A água que ali corre vem da ribeira de Alge,

nascida na serra da Lousã.

Os mexilhões não se veem nesta primeira

abordagem. São animais do grupo dos

moluscos com um ciclo de vida que

engloba também o fenómeno fantástico da

metamorfose.

Mas como saber mais sobre as espécies

que aqui se reproduzem para repovoamento

das respetivas bacias hidrográfi cas?

«São duas espécies de mexilhão de água

doce, bem diferentes: o mexilhão-de-rio do

Norte e o mexilhão-de-rio do Sul», explica.

«O mexilhão-de-rio do Norte – Margaritifera margaritifera – tem um ciclo de vida em que

parasita basicamente trutas e salmões».

Ambas as espécies de peixe são do género

Salmo, portanto, muito próximas.

«Este mexilhão-de-rio precisa de os parasitar

durante um período de tempo de vai de sete

a nove meses. Nesta altura não os vemos à

vista desarmada», clarifi ca.

«Estão nas guelras! As fêmeas de mexilhão

quando estão grávidas e prestes a libertar

os juvenis lançam grandes quantidades de

larvas na tentativa de que estas se fi xem nos

Os juvenis de mexilhão, na fase em que são parasitas de algumas espécies de peixe, medem cerca de 200 mícron, pelo que não são visíveis a olho nu

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 55

Nos diversos tanques do posto aquícola de Campelo cria-se um ambiente

de transição face à libertação em rios da respetiva bacia hidrográfi ca

Thick-shelled river musselsMargaritifera margaritifera and Unio tumidiformis are species of filter-feeding bivalve mollusks that can reach up to 70 years of age in the Iberian Peninsula. They are good Bio-indicators of the water quality, since they only appear in unpolluted streams, especially the former species. The “Life-Ecótono” project, using a multi-institutional cooperative approach, aims to ensure the survival of these and other species.

peixes. Seria importante ter muitas trutas no

rio para haver possibilidades de maior êxito».

Continua o técnico: «Primeiro, é um processo

complicado! Têm de chegar ao hospedeiro

e é preciso apanhar o hospedeiro naquele

momento. E, chegando ao hospedeiro, é

preciso que o processo corra bem durante

a metamorfose. Mesmo que tudo corra bem

O posto aquícola de Campelo é o cenário da reprodução em cativeiro de duas espécies de mexilhão-de-rio: «Eles ficam sobre a areia e filtram a água que circula em volta através de um sistema de cílios que retêm as partículas nutritivas»

há uma mortalidade terrível a seguir…»,

descreve.

Bem, uma vida complicada: «Por isso é

que estes moluscos outrora, quando tudo

estava mais equilibrado, e havia grandes

populações de trutas e o homem não

interferia tanto, havia possibilidade de se

reproduzirem da melhor maneira».

Hoje em dia, onde ainda existem, vão

sobrevivendo de forma periclitante.

Estamos a falar de mexilhões que «duram

60 a 70 anos», mas «podem viver mais de

cem anos, como está documentado, por

exemplo, na Rússia».

Um destes moluscos, no estado adulto,

mede talvez dez centímetros!

Ruivaco e escalo

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56 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

56 REPORTAGEM

Paulo Lucas: estamos a falar de mexilhões que «duram 60 a 70 anos»

«O outro, endémico da Península Ibérica, o

mexilhão-de-rio do Sul – Unio tumidiformis

– é diferente. Não se reproduz com a

ajuda de trutas ou salmões, não necessita

de águas tão oxigenadas, frias, com

aquelas características que existem no

Norte. Enquanto os rios desta região têm

água todo o ano, os rios mediterrânicos

secam no verão, restanto os pegos»,

poços de água, onde refugiam peixes e

alguns outros organismos aquáticos, até

que venham as chuvas.

Na verdade, são mediterrânicos e

«parasitam escalos. Como estes são

peixes que gostam de viver em zonas um

pouco mais oxigenadas, eles aí têm mais

possibilidade de sobreviver».

Em suma, «diante das alterações

climáticas, torna-se fundamental proteger

estas espécies».

Fala-se nos anfíbios, mas estes

«movimentam-se, estão dentro de água,

estão fora de água, muitos têm ciclos

de vida em que basta uma charca para

sobreviver».

Pelo contrário, «os mexilhões-de-

rio precisam de massas de água

com alguma dimensão, precisam de

determinadas características de habitat

que são importantes», diz Paulo Lucas,

e remata: «Enquanto os peixes ainda se

movimentam dentro dos cursos de água,

os mexilhões têm uma locomoção muito

reduzida».

Por falar em peixes, este projeto LIFE

abriga em Campelo algumas espécies

endémicas da Península Ibérica,

concretamente «o escalo-do-arade, o

escalo-do-mira, a boga-do-sudoeste e o

ruivaco-do-oeste».

A funcionar desde 2008, o projeto tornou-

se possível graças a uma cooperação

institucional com o Município local e o

de Castro Daire, a Agência Portuguesa

do Ambiente, o Aquário Vasco da Gama

e o ISPA, merecendo uma homenagem

especial o já falecido Professor Doutor

Vítor Almada, mentor inicial do projeto em

curso.

Mesmo assim, compreende-se que «os

repovoamentos deveriam ter um caráter

excecional». A situação atual emerge

de um quadro preocupante: «Temos

cursos de água com galerias ribeirinhas

degradadas. Em 2001, e este estudo

esteve na base do Plano Nacional

da Água, concluiu-se que dos 17 mil

quilómetros de galeria ribeirinha só 7500

tinham galeria bem estruturada», afi rma

Paulo Lucas.

«Há efeitos combinados com outras

situações – poluição, extração de água,

atividades humanas que são por vezes

incompatíveis, ocupa-se cada vez mais os

cursos de água com barragens, com as

questões relativas à conetividade, tudo isto

exponencia efeitos das alterações climáticas

até meados deste século. Também os

poluentes derivados de práticas agrícolas

insustentáveis, os incêndios sucessivos

levam à necessidade de repensar o coberto

vegetal que existe à volta das albufeiras».

É igualmente por isso que se torna

necessário «promover a nossa fl oresta

autóctone. Se o Estado não se empenha

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 57

tendo instrumentos ao seu dispor, se

vamos deixar isto apenas às regras de

mercado, isto não vai correr bem. O Estado

pode restringir iniciativas ou incentivá-

las», a fi m de que o interesse público seja

salvaguardado.

«Pode pensar-se que os mexilhões

são algo de somenos importância, só

geram efeitos a nível da conservação das

espécies, mas não», na verdade, «são

seres que benefi ciam diretamente o meio»,

garante Paulo Lucas.

Dá que pensar: neste caso, quem se trama

é ainda o mexilhão, mas de nenhuma

maneira irá sozinho.

Texto Jorge Gomes

Fotos João L. Teixeira

Em julho passado, foram libertados 4 mil mexilhões-de-rio nascidos aqui no rio Paiva Nos tanques do posto aquícola há várias espécies botânicas típicas dos nossos rios, como salgueiros, tabua ou feto-real

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58 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

58 REPORTAGEM

Taipal novos voos no caniçalUm paul faz-se de mil voos, de água e lama,

onde medra caniço, bunho e outra vegetação:

em Montemor-o-Velho há 233 hectares com estatuto

de Zona de Proteção Especial (ZPE), e embora sejam

as aves selvagens que mais prendem o olhar ao paul,

esta zona húmida é uma montra singular de património

vital para o ser humano, a biodiversidade

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 59

«Um, dois, três, quatro,

cinco, seis… 12, 13... só

ali adiante estão 14 ninhos

de íbis-preto», assevera

Fernando Sabino, vigilante da natureza

do Instituto de Conservação da Natureza

e das Florestas (ICNF).

«Eles também estão a nidifi car mais lá à

frente», aponta.

A copa arredondada, longínqua, de

alguns salgueiros que se destacam

no vasto caniçal desenha o desfecho:

«Neste paul há muito mais que 20

ninhos».

Fernando pousa no parapeito do

observatório de madeira os binóculos

que o levaram ao mundo dos números

e esclarece: «Os íbis-pretos começaram

a aparecer há pouco tempo. Este ano

vieram em força!».

As aves escuras de longo bico

encurvado, os íbis, não são dos animais

mais conhecidos do cidadão comum.

Vista do Paul do Taipal a partir de um dos observatórios: a esmagadora maioria da sua vida selvagem está oculta no caniçal

Fernando Sabino: «Os íbis-pretos começaram a aparecer há pouco tempo. Este ano vieram em força!»

Taipal Wetland In Montemor-o-Velho, there is a 233-hectare of Wetland classified as Special Area of Conservation (SAC) of the Natura 2000 Network: although the wild birds are the most alluring part of this bog, it is responsible for safekeeping the whole range of the diversity of life; the Biodiversity.

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60 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

60 REPORTAGEM

O céu reverbera azul, batido por uma brisa

morna. Sem apelo nem agravo, o verão faz-

se sentir, sob o sol.

«Onze horas! É uma hora má. As aves param

com o calor», alvitra Fernando Sabino.

Serão tudo menos poucas as espécies de

aves selvagens que estamos a ver nesta

altura, até sem binóculos: andam na água

patos-reais, vários ardeídeos como a garça-

branca-pequena e a garça-boieira, a garça-

branca-grande e o colheireiro, a garça-real e

e a garça-vermelha...

Uma cria de garça-noturna acaba de se

ocultar entre o caniçal. À vista está o íbis-

preto, o corvo-marinho-de-faces-brancas e a

gralha-preta, entre outras.

Em voo contido, a lembrar posição alçada

na cadeia alimentar, aparecem na paisagem

duas águia-sapeiras, a rapina mais

dependente das zonas húmidas. Fernando

usa outro nome comum, tartaranhão-ruivo-

dos-pauis. Vê-los deslizar sobre o garçal

causa debandada.

Um quase pára no ar por instantes...

O caniçal dá abrigo a bastantes mais

espécies do que as áreas livres que estão

sob o nosso olhar: «Há muitas aves que

não estão à vista porque se aparecem

num descampado destes com as crias

tornam-se presa fácil», acentua Fernando, e

exemplifi ca: «É o caso das galinhas-de-água

e dos galeirões. Tentam agora não andar em

campos abertos por causa disso. Sabem

que se forem apanhados ali com os juvenis

são presa fácil. Os tartaranhões andam

sempre a sobrevoar...».

Aqui é bem possível que haja um casal,

por vezes dois, mas um macho com duas

fêmeas de águia-sapeira.

Ninhos aos molhosNo caniçal, nesta época haverá muitos

ninhos de rouxinóis-dos-caniços, o pequeno

e o grande, migradores inveterados!

São ali observados também o chapim-de-

faces-pretas e a escrevedeira-dos-caniços, a

felosa-dos-juncos e «garças, já contámos, eu

o meu colega Paulo Tenreiro, à volta de 150

ninhos, os que conseguimos encontrar!»,

sublinha.

«O calor ali dentro duplica! Aqui também se

consegue observar o caimão», diz Fernando.

Não se refere a um réptil, mas a uma ave

aquática que esteve há poucas décadas

perto de desaparecer de Portugal. «Nidifi ca

aqui! Há tempos vi-o ali mais em baixo,

Garça-branca-pequena, à esquerda, e garça-branca-grande entre patos-reais – no inverno ver-se-ão ali muitas mais espécies de patos-bravos, agora na Europa Central e do Norte

O voo da águia-sapeira a dado momento causa debandada geral, perante a hesitação de um juvenil de pato-real

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 61

estava a fotografá-lo enquanto alimentava

o fi lhote. Têm umas patorras grandes.

Apanhou o bunho, arrancou-o, depois

cortou-o e deu-o à cria», diz.

Embora a melhor altura de observação

seja mesmo o amanhecer ou o entardecer,

estamos agora de olho no paul do Taipal

a partir de um velho observatório que, no

instante em que lê estas linhas, já deverá

estar reabilitado.

Ora bem! Passou de novo à frente dos olhos

de todos, a dois metros, e quase ninguém

a viu. A envergadura é tímida, não chega a

meia dúzia de centímetros no voo saltitante

– é a cleópatra, Gonepteryx cleopatra, uma

borboleta habitual nos habitats de infl uência

mediterrânica.

Acompanha-nos também Luís Leitão, técnico

superior do ICNF licenciado em Geografi a e

ligado ao ordenamento do território. Refere

Ao ser construída, a estrada para a Figueira da Foz causou o alagamento destes terrenos: surgiu o paul sob a égide do caniçal

À vista desarmada, três íbis-pretos voam e preparam-se para pousar junto dos colhereiros

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62 REPORTAGEM

62 • Parques e Vida Selvagem primavera 2014

que o Município local o contactou com

vista a melhorar signifi cativamente a infra-

estrutura de apoio ao ecoturismo na fasquia

da observação de aves, para quem o paul é

cada vez mais uma referência.

A valências de vária ordem, com destaque

para o monumental castelo que vigia o paul

do Taipal, juntam-se as da vida selvagem.

«Adquirimos estes terrenos na década de

90», explica Luís Leitão, referindo-se à zona

apaludada. Emergem vantagens: permite

uma gestão autónoma, bem melhor do

que andar ao sabor do feitio de alguns

proprietários privados.

«O paul é esta área que se consegue ver e a

ZPE vai além do paul», acentua.

À esquerda do observatório vê-se a

estrada para a Figueira da Foz. Quando

foi construída tornou-se uma barreira que

segregou estes terrenos alagados dos que

se lhe seguem no Baixo Mondego. Além da

estrada há hectares de arrozal que se diluem

na linha do horizonte.

Aqui o arroz deixou de ser cultivado: «Tudo o

que vemos é do mais espontâneo que há».

O caniçal está, contudo, em sucessão

ecológica e isso quer dizer que esta tem

de ser contrariada para que as espécies

vegetais e animais que deram estatuto

de proteção ao ecossistema não se

deslocalizem: «A transição é rápida – há

30 anos era arrozal como do outro lado

da estrada e agora está assim, uma área

completamente naturalizada», explica.

«É comum a drenagem natural a partir dos

pontos mais altos do paul. As partes que

vão fi cando mais secas começam a ser

invadidas por salgueiros», diz.

«O salgueiral está a expandir. É aqui um

processo natural, mas estes sítios têm

importância devido à área alagada. Por isso

há que atrasar um bocado o processo».

Algo consensual?

«Isto é sempre discutível. Mas são opções

que devem ser tomadas. Como é que quero

esta área? O que deu importância a este

espaço? Ele não foi classifi cado por aquilo

que há de vir a ser, mas pela importância

que tem agora, pelos habitats, pela fl ora e

fauna que ocorrem».

Conclui: «Vamos ter de fazer algumas ações

de rejuvenescimento do caniçal».

Relíquia do MondegoO vale do Baixo Mondego antigamente era

uma enorme zona húmida. Com o tempo e o

avanço da agricultura, a ideia de drenagem

sucessiva dos terrenos vingou, pelo que

hoje sobraram umas poucas amostras,

como a Reserva Natural do Paul de Arzila,

o paul de Madriz e este, o do Taipal, uma

das derradeiras zonas húmidas da região.

Neste verão vemos espécies que não

estarão ali no inverno, como a garça-

vermelha por exemplo que em setembro

regressa a África, e vice-versa, outras aves

que estão a nidifi car no Norte da Europa

virão para aqui nas estações frias.

É esse o caso dos patos-bravos, como o

pato-trombeteiro, que irão começar a chegar

ali no outono avançado.

Aliás, na estação de esforço constante que

ali existe orientada por Paulo Tenreiro são

inúmeras as aves controladas com anilhas

estrangeiras, de países como a França e

a Inglaterra, a Holanda e a Bélgica, por

exemplo.

Difíceis de ver são os mamíferos, de que são

exemplo a lontra e o texugo.

Noite e diaAquela ideia de as aves estarem ativas

de dia e de noite dormirem não é lá muito

realista: «As que vemos no paul não têm

aqui alimento sufi ciente — não é um local

capaz de suportar tantas aves. Por exemplo,

os patos-bravos só estão durante o dia nos

pauis, de noite saem para os campos do

Luís Leitão: «Tudo o que vemos é do mais espontâneo que há»

De difícil observação, sempre no cerne do caniçal, o frango-de-água ouve-se com alguma facilidade

Caimão, também conhecido como galinha-sultana

Fern

and

o S

ab

ino

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Parques e Vida Selvagem primavera 2014 • 63

Reserva Natural do Paul de Arzila

Rua do Bairro, 1, Arzila

3045-356 Coimbra

(351) 239 980 500

[email protected]

www.icnf.pt

Paul do Taipal

Mondego e vão por vezes alimentar-se

tão longe como os vales do rio Pranto e

do rio Foja», assevera Fernando Sabino.

«Penso que, a nível nacional, em termos

de paul, de santuário, não há outro como

este. Acredito que não haja!», insiste e

explica: «Não há porque é um espaço que

tem um campo muito aberto e depois tem

uma área envolvente grande que serve de

suporte alimentar a esta zona. São muito

próximas, está a ver? Basta só passar

a estrada de Figueira e tem logo ali os

O bunho servia de matéria-prima em séculos anteriores para manufaturar esteiras

campos do Mondego», diz Fernando Sabino.

Por isso, já sabe: perto de Coimbra, em

Montemor, este paul espera por si.

Texto Jorge Gomes Fotos João L. Teixeira

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Page 64: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Jorge Araújoda SilvaECOLOGISTA, OBSERVADOR DE AVES E DIVULGADOR DA VIDA SELVAGEM

No fi nal do último inverno,

enquanto a The Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) divulgava a grande quantidade

de aves marinhas que, atingidas por uma

invulgar série de tempestades no Atlântico,

estavam a ser arrojadas para as costas do

Reino Unido, Ilhas do Canal, Norte de França

e Golfo da Biscaia, também no litoral de

Esposende me inquietava a sucessão de airos

(Uria aalge), tordas-mergulheiras (Alca torda) e, sobretudo, de

papagaios-do-mar (Fratercula arctica) encontrados mortos na

linha da maré.

O seu número era de tal modo elevado que logo me evocou

o “Prestige”. Só que agora a tragédia tinha origem em causas

naturais. Ou não? Será que podemos afastar por completo

a possibilidade daqueles fenómenos extremos estarem

associados às alterações que o nosso modo de vida provocou

no clima?

Seja como for, estes incidentes lembraram-me a resposta

Avifauna do Estuário do Cávado

desencadeada pelas autoridades nacionais para

combater os efeitos da poluição provocada

pelo afundamento daquele petroleiro. Com os

holofotes da comunicação social apontados para

a costa Norte, multiplicaram-se as promessas de

planos de prevenção, os anúncios de medidas

de intervenção e, sob a designação de Operação

Ganso Patola, foram convocados técnicos da

conservação da natureza de várias regiões

do país, biólogos, veterinários e a sociedade

civil em geral para a eventual necessidade de se proceder

à limpeza das praias e ao resgate de animais afetados. A

temida maré negra acabaria por nunca ter chegado mas as

aves petroleadas surgiram em catadupa. Foi assim criado

o Centro de Acolhimento e Recuperação de Espécies de

Esposende (CARE 3) onde, apesar do carácter temporário e

da precariedade das instalações, se desenvolveu um trabalho

louvável e foi adquirida experiência e conhecimentos que

importava não desperdiçar. Entre alguns dos envolvidos e

outros que procuraram acompanhar as operações nasceu

64 BLOCO DE NOTAS

64 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Papagaio-do-mar, Fratercula arctica

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Page 65: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Volta e meia vem-me à memória o malfadado

“Prestige”, o seu naufrágio na Galiza em novembro

de 2002, o derrame do fuelóleo que transportava,

a onda de voluntariado que as suas muitas vítimas

motivou, o Plano Mar Limpo e principalmente as

aspirações (frustradas) que então suscitou

então a esperança de ver defi nitivamente o estuário do Cávado

dotado de um Centro de Recuperação de Animais Selvagens

(CRAS) bem preparado como outros que naquela altura, vá-se lá

saber porquê, foram preteridos pelos responsáveis do ICN. Mas

menos de um ano depois do famigerado acidente já se percebia

que, sem a cobertura mediática, pouco ou nada haveria de

mudar na vigilância da nossa vulnerável costa e na proteção da

sua fauna.

Nem só o derrame de hidrocarbonetos justifi cava que os

decisores já tivessem ido além da mera apresentação de cartas

de intenções. Todos os anos são muitas as espécies afetadas

por condições climáticas adversas ou pela exaustão durante

as migrações e, em número crescente, apanhadas nas artes

de pesca descartadas e que agora derivam como armadilhas

à superfície de todos os oceanos. Estas circunstâncias,

associadas à maior sensibilidade ecológica da população, tem

trazido cada vez mais aves debilitadas ou até moribundas às

mãos de quem deve zelar pela sua proteção, no pressuposto

de que as conduzam aos CRAS, todos a muitas dezenas de

quilómetros do Parque Natural do Litoral Norte. Com isto é

causado um óbvio embaraço ético. Por um lado, é necessário

não frustrar quem legitimamente quer salvar uma ave, mesmo

que esta não tenha qualquer interesse conservacionista. Por

outro, o dever de gerir com equilíbrio os poucos recursos

públicos que coloca no prato oposto da balança os gastos

relacionados com aquela viagem. E não me refi ro apenas

ao preço do combustível. É certo que o tempo despendido

por uma equipa de vigilantes e os encargos do transporte

poderiam, muitas vezes, ser melhor aproveitados em ações

de conservação mais prioritárias. Mas também me interrogo

sobre os prejuízos ambientais: serão assim tão negligenciáveis

os danos causados pelo CO2 libertado nessas deslocações?

Enquanto andamos às voltas com estas questões, nos

próximos meses aguardam-se os habituais gansos-patolas

(Morus bassanus), negrolas (Melanitta nigra), gaivotas de

várias espécies e outras aves largadas para convalescerem no

hospital em que estamos a transformar o estuário do Cávado.

Pois parece que um CRAS aqui, «Nunca Máis»!

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 65

ganso-patola, Morus bassanus

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66 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

66 MIGRAÇÕES

Truta-marisca Salmo trutta Linnaeus, 1758

“Criticamente em perigo”, lê-se

no “Livro Vermelho dos Vertebrados

de Portugal” sobre esta espécie

que, no nosso país, na forma

migradora apenas ainda existe

nos rios Minho e Lima

É caso para dizer que há trutas e trutas. Aparentada

com o salmão do Atlântico, nesta espécie de truta há

tendências divergentes: se bem que todas nasçam

nos rios, nem todas ali permanecem – há as que não

hesitam em procurar o mar para ali crescer. Estas, no que diz

respeito a voltar à mesma água doce, só mesmo para procriar...

Imagino que para os manuais isto não venha de feição, mas

como os peixes não os leem, apesar da grave crise que esta

variação apresenta no mapa da biodiversidade, a tendência

existe e deseja-se que seja para perdurar.

O caso ainda está na penumbra, e requer muita investigação,

mas não é de admirar que numa mesma espécie haja

tendências variadas mediante as vantagens de adaptação

a diferentes meios e à sobrevivência, com oportunidade de

aproveitamento reprodutivo.

A vida de qualquer truta-marisca começa de forma larvar

quando da eclosão do ovo, num rio com águas pouco

profundas e bem oxigenadas, correntes de velocidade

moderada a deslizarem sobre gravilha ou cascalho. As margens

estarão vestidas de amieiros, freixos ou salgueiros.

Os juvenis permanecem nestes afl uentes durante um ou dois

anos. Assim que atravessam as transformações orgânicas que

lhes vão permitir crescer e amadurecer sexualmente no oceano

Atlântico, vivem no mar.

A migração reprodutiva dá-se no período da primavera/verão

e a maturidade sexual ocorrerá por volta dos quatro anos de

idade.

A truta-marisca, como o salmão, tem um comportamento

conhecido por “homing”. Quer isso dizer que tendem a voltar

ao afl uente em que nasceram.

Imagine se pelo caminho encontram obstáculos como uma

barragem sem dispositivo que lhes permita ultrapassá-la?

Ou, se conseguindo avançar na direção da nascente,

encontra água poluída ou pouco oxigenada?

Pode ocorrer a extinção local.

Portugal é um país com um interesse particular para esta

espécie porque é o limite sudoeste da sua distribuição.

Entre as medidas de proteção situa-se a legislação nacional

de defeso, o que impede durante esse período que este

peixe seja objeto de pesca.

Ajuda, mas não salvará por si só a forma migradora de

uma provável extinção, se se observar que “a redução

da população nos últimos 10 a 15 anos pode ter atingido

98% do número de indivíduos maduros e prevê-se que

possa continuar a verifi car-se nos próximos 10 a 15 anos

ou em qualquer outro período com a mesma amplitude

que abarque o passado e o futuro. As causas da redução,

embora geralmente compreendidas, não são reversíveis nem

cessaram”.*

Os fatores de ameaça a esta forma migradora de truta – e

a outros peixes com evidente valor comercial como o sável

e o salmão, entre outros – juntam poluição, obstáculos

impeditivos de acesso aos locais de desova, a extração

de inertes, a alteração do regime natural de caudais e a

sobrepesca.

O tamanho máximo desta truta assinala 140 cm e 50 kg de

peso.

Texto Jorge Gomes

o mar no horizonte

* “Livro Vermelho dos Vertebrados

de Portugal”, edição ICNF

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Page 67: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 67

Brown troutPortugal is the southeastern limit of this species’ distribution, and as such is a very important Country for the Brown Trout. Among the various protection policies are a set of laws that define periods when hunting or fishing for certain species is banned, including the Brown Trout. The IUCN Red List of Threatened Species, where this species is listed as “critically endangered (CE)”, says that the Brown Trout appears in the Minho and Lima rivers as a part of its migratory route.

A truta-marisca e a truta-comum são uma mesma espécie, só que algumas escolhem crescer no mar, outras no rio

João

Luí

s Te

ixei

ra

Rio MinhoRio Lima

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Page 68: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

68 RETRATOS NATURAIS

68 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Neste, estudam-se os anfíbios e também

os répteis na vertente taxonómica,

ecológica, comportamental, etc. É pois um

tipo de ilustração científi ca que se dedica

à ilustração de dois grupos de animais

diferentes, mas que foram agrupados

por serem animais que, durante a sua

locomoção, parecem de alguma forma

rastejar (herpeto) e, fi siologicamente, são

incapazes de conservar o seu próprio

calor de forma constante. Assim um

ilustrador herpetológico é um técnico

que se especializou na ilustração destes

magnífi cos seres, seja dos processos

etológicos, ecológicos, fi siológicos e,

de forma mais recorrente, na vertente

anatómica, seja ela interna ou externa (a

mais frequente, dita também ilustração

fi gurativa, descritiva, ou taxonómica), quer

de forma extantes (contemporâneas) ou

extintas (fósseis). O campo de intervenção

é assim extremamente vasto, como agora

se depreende, e em nada limitativo, como

à primeira vista pareceria...

A ilustração de répteis e a ilustração de

anfíbios regem-se por regras diferentes,

no que à ilustração descritiva se refere.

Incluem-se aqui as componentes/partes a

serem traduzidas em imagem desenhada,

bem como a pose a escolher para o animal

adulto, capazes de permitir uma diagnose

e identifi cação fi dedignas. Neste artigo

vamos dedicar a nossa atenção à ilustração

de répteis e, a título de exemplo, vamos

centrar-nos na fi guração de ofídeos, ou

répteis que evolutivamente perderam os

membros locomotores ou patas – as cobras,

ou serpentes.

Tal como a maioria dos peixes ósseos,

também estes animais apresentam o corpo

revestido de escamas (as quais são contudo

epidérmicas, de queratina, ao contrário das

dos peixes que são dérmicas, de tecido

ósseo), pelo que especial atenção deve ser

dada à forma, localização e dimensão destas

unidades de revestimento e de proteção,

bem como à sua textura, ornamentação e,

principalmente, ao padrão que no conjunto

de todas elas formam visualmente – o

qual pode ser mais colorido e diversifi cado

(como as cobras com cores aposemáticas,

ou cores de alerta, e que enunciam um ser

potencialmente venenoso e perigoso) ou

cromaticamente mais uniforme.

Como já tivemos oportunidade de referir

em diferentes ocasiões, a vista ou norma

em que o animal se desenha, tem como

principal propósito conferir familiaridade na

Vamos desenhar...

uma cobra-de-água

A ilustração zoológica

é um domínio que

abrange uma multitude

de categorias,

sub-categorias

e até infra-categorias.

Um exemplo desta

especialização e

sub-divisões pode ser

constatado na ilustração

herpetológica, que

ilustra um ramo da

zoologia, a herpetologia

Cobra-de-água-de-colar(Natrix natrix)

pvs47.indd 68pvs47.indd 68 09/09/14 01:0009/09/14 01:00

Page 69: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 69

Texto e ilustrações

Fernando CorreiaBiólogo e ilustrador científi co

Dep. Biologia,

Universidade de Aveiro

[email protected]

observação do espécime, em que ele é mais

frequentemente encontrado. Contudo, a

pose pode introduzir uma outra dimensão

na síntese gráfi ca da informação que irá ser

traduzida em imagem – o comportamento

mais típico do vertebrado. O compromisso

entre a norma e a pose resulta pois de

uma análise e ponderação, entre vários

fatores e aquilo que verdadeiramente é

importante transmitir naquela ilustração em

particular. Por exemplo, numa ilustração em

que seja importante observar a anatomia

interna, diferenciando sistemas diferentes (o

digestivo, do reprodutor; estes do excretor,

etc.), a norma a desenhar é a ventral (com

ou sem corte longitudinal mediano da

cavidade abdominal) e a pose em vida é um

fator que pouco infl uencia a forma como

corpo vai ser desenhado (geralmente,

em “s”, mais por uma questão de gestão

e economia de espaço na área/formato

disponível e a respeitar – uma vez que as

cobras são bastante compridas – do que

para mostrar um qualquer comportamento

de locomoção).

Regra geral a ilustração taxonómica de

um ofídeo, passa sempre pela ilustração

do corpo inteiro, em norma lateral ou

dorso-lateral, em disposição longitudinal

e ondulante (como se estivesse a

locomover-se) ou então enrolado sobre

si mesmo e como seja típico dessa

espécie (embora esta escolha também

represente numa clara economia de tempo

e paciência do ilustrador, que assim poupa

a reprodução de padrões repetitivos e,

por conseguinte, o desenho redundante,

em termos visuais e de acrescento de

informação). Nestas composições podem

ser ainda encontradas fi gurações da

extremidade posterior (término da cauda

e pormenor ventral da cloaca), mas as

mais correntes e importantes são as da

extremidade cefálica. Esta é desenhada

em norma lateral e dorsal, sendo que

por vezes também se apresenta em vista

ventral (mais usual em lagartos/lagartixas,

para se ver a prega gular e/ou o padrão

de escamas ventrais da mandíbula).

Nestas duas vistas da cabeça, uma

pequena alteração no número, forma e

localização de algumas escamas pode,

grosso modo e nas espécies do mesmo

género, conduzir a que se passe de uma

espécie para outra – como acontece nas

cobras de água, a viperina (Natrix maura)

e a de colar (N. natrix) – principalmente em

ilustrações de linhas apenas (sem padrões,

ou cores).

E se a Bíblia diz que a serpente enganou

Eva, o melhor é não nos deixarmos

encantar pelas serpentes e fi carmos

bem atentos à sua realidade anatómica.

Assim a metodologia usualmente descrita

noutros artigos desta rúbrica (elaboração

de uma lista de verifi cação dos carateres

diagnosticantes que devem ser o

obrigatoriamente ilustrados, seguido de

desenho preliminar e arte fi nal segundo a

técnica de expressão plástica que mais se

adequa ao propósito, ou que é mais familiar

ao ilustrador) deve ser seguida à risca, para

que o risco de errarmos e ilustrarmos a

espécie não desejada seja minimizado.

Feito isto, toca a serpentear riscos e cores!

Cobra-de-água-de-colar(Natrix natrix)

1. norma lateral2. norma dorsal3. corpo inteiro

1

2

3

pvs47.indd 69pvs47.indd 69 09/09/14 01:0009/09/14 01:00

Page 70: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

70 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Diversos estudos genéticos têm revelado uma complexa e antiga relação

simbiótica que estará na origem da fotossíntese das plantas.

Toda a imensa diversidade das plantas fotossintéticas da Terra reconduz

a uma única célula verde.

Há muitos milhões de anos uma ínfi ma alga terá engolido uma

cianobactéria transformando-a numa central interna de energia solar.

Uma hipótese deste género foi levantada durante a década de 60, mas

não terá sido levada a sério.

No entanto, em declarações prestadas à revista "Scientifi c American"

de fevereiro de 2012, a bióloga molecular Dana Price, da Universidade

de Rutgers, elucida sobre a história evolutiva das plantas e adianta que

do grupo das Glaucophyta – um grupo de algas de água doce – se

destaca a Cyanophora paradoxa. É assim porque em relação às demais

plantas esta espécie ainda retém uma versão menos domesticada da

cianobactéria original. Deduz-se então que células das plantas que hoje

conhecemos são derivadas de uma união simbiótica afi m.

A razão para que isto tenha ocorrido pode estar ligada ao facto de

alguns predadores de cianobactérias desviarem o seu interesse no

sentido não de as deglutirem mas de as absorverem, seja pela escassez

de presas seja pela abundância de sol.

O bisonte-europeu é o maior mamífero selvagem terrestre deste continente

Em 17 de maio foram libertados, após 250 anos

de ausência, nos Cárpatos, em território sob a

égide da Roménia 17 bisontes-europeus.

O Município de Armenis apelou a esta

reintrodução tendo em conta que boa parte

das terras comunitárias sob sua gestão abrem

naturalmente as portas à vida selvagem.

Os herbívoros são provenientes de estações

europeias de reprodução e confi guram a maior

reintrodução de bisontes alguma vez ocorrida

na Europa.

Com isto, conta-se que dentro de uma década

haja meio milhar de animais desta espécie

a viver pelos seus próprios meios nestas

montanhas.

O bisonte-europeu é o maior mamífero

selvagem terrestre europeu e outrora chegou a

percorrer praticamente toda a Europa.

Atualmente a população desta espécie

conta-se em todo o mundo em cerca de 5 mil

indivíduos. Deste número, apenas 3230 vivem

em liberdade. Isso faz com que seja mais raro

do que por exemplo o rinoceronte-negro.

Borboleta asiática Uma borboleta exótica que se tem estado a disseminar

«pela Europa Central foi agora encontrada como nova

espécie observada em Espanha, bem perto de nós, na

Galiza (Pontevedra)», diz Eduardo Marabuto, biólogo.

«Trata-se da Cydalima perspectalis, espécie aparentada

com a nossa Palpita unionalis.

É praga conhecida de uma planta largamente utilizada

em jardinagem, o buxo (Buxus sempervirens), e talvez até

já esteja em Portugal, especialmente no Norte do país».

É uma questão de pouco tempo até ser encontrada.

Quem vai ser o primeiro?

O aparecimento da primeira planta

Ate

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ons

70 ATUALIDADE

Bisonte-europeu reintroduzido nos Cárpatos

Palpita unionalis

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Page 71: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 71

Um investigador da Universidade de Columbia,

Peter Belhumeur, nos EUA, desenvolveu um

programa capaz de ajudar os observadores de

aves selvagens a identifi car aves que

ainda não dominem.

Com o seu iPhone, máquina fotográfi ca digital ou

computador deve tirar uma fotografi a à ave e clicar

no olho e nas penas caudais. Depois deve introduzir

o local e a data da observação.

O programa chama-se Birdsnap e funciona à base

de algoritmos que detetam partes da ave,

como o aspeto do ventre e do bico.

Não será muito diferente dos programas de

reconhecimento facial já existentes. A diferença é

que este novo programa em poucos segundos dá

uma dica sobre a espécie que provavelmente estará

a observar sem ter de folhear um livro na ordem das

300 páginas em busca da secção respetiva.

Um novo projeto Life+ Berlenga vai pressupor

um investimento de 1 milhão 380 mil euros

e ajudará a repor os valores naturais do

arquipélago.

O projeto LIFE+ Berlengas “Conservação das

espécies e habitats ameaçados da Zona de

Proteção Especial (ZPE) das Berlengas através

da sua gestão sustentável” foi um dos cinco

projetos recém-aprovados para Portugal, no

âmbito do Programa LIFE+ da União Europeia.

Durante os próximos quatro anos, a Reserva

Natural das Berlengas será alvo de um

projeto de restauração ambiental que tem

como principal objetivo garantir a preservação

dos seus valores naturais.

A parceria, que junta uma ONG, o Estado,

uma autarquia e uma universidade, prevê

assim aliar desenvolvimento sustentável,

turismo responsável e conservação dos

valores naturais da Reserva Natural das

Berlengas num exemplo de gestão de uma

Área Protegida.

A cidade de Peniche e as Berlengas são um

importante destino turístico do país, recebendo

mais de 200 mil visitantes por ano.

Birdsnap: programa para observadores de aves

Rola-do-mar

João L

. Te

ixeira

Jo

ão

L.

Teix

eira

Berlengas: santuário natural

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Page 72: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

72 PAR

72 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

72 PROJETO

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono

Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA

B3 • Agrupamento Vertical de Escolas de Rio

Tinto • Alice Branco e Manuel Silva • Alunos

do 9.º ano (2012/13) da Escola Secundária

do Castelo da Maia • Amigos do Zé d’Adélia

• Amigos do Zé d’Adélia e Filhos • Ana Filipa

Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana Luis

e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel

Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula Pires

• Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos,

Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e

Cláudia Neves do 11.º A (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Ana Sofi a

Magalhães Rocha • Ana Teresa, José Pedro

e Hugo Manuel Sousa • António Miguel da

Silva Santos • Arnaldo José Reis Pinto Nunes

• Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara Sofi a e

Duarte Carvalho Pereira • Bernadete Silveira

• Carolina de Oliveira Figueiredo Martins •

Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch •

Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues

Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa

& Garcia • Cónego Dr. Francisco C. Zanger •

Convidados do Casamento de Joana Pinto e

Pedro Ramos • Cursos EFA Básicos (2009/10)

da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes

Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes

Rodrigues • Departamento Administrativo

Financeiro da Optimus Comunicações, SA -

DAF DAY 2010 • Departamento de Ciências

Sociais e Humanas da Escola Secundária de

Ermesinde • Departamento de Matemática e

Ciências Experimentais (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Dinah Ferreira

• Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda

e Delfi m Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola

Básica da Formigosa • Escola Dominical da

Igreja Metodista do Mirante • Escola EB 2,3

de Valadares • Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto

Vasconcelos, Projecto Pegada Rodoviária

Segura, Ambiente e Inovação • Escola EB 2,3

Escultor António Fernandes de Sá • Escola

Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu

Aprender a Viver de Forma Sustentável •

Escola Secundária Augusto Gomes • Escola

Sequestro de Carbono

Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área

de fl oresta em Vila Nova de Gaia com a garantia, dada pelo Município,

de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência

ao seu gesto em favor do Planeta

Para mais informações pode contactar

pelo n.º (+351) 227 878 120

ou em [email protected] Biológico de Gaia,

Projeto Sequestro do Carbono4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia

Secundária do Castelo da Maia • Família

Carvalho Araújo • Família Lourenço • Fernando

Ribeiro • Francisco Gonçalves Fernandes

• Francisco Saraiva • Francisco Soares

Magalhães • Graça Cardoso e Pedro Cardoso •

Grupo ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola

Secundária dos Carvalhos • Grupo Ciência e

Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B (2009/10) da

Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira

Alves • Grupo de EMRC da Escola Básica D.

Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura Paredes

• Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês,

Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes

da Silva • Joana Garcia • João Guilherme

Stüve • João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita

Mendes, Rita Moreno, e Sofi a Teixeira, do 12.º

A (2011/12) da Escola Secundária Augusto

Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves •

Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António

Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso

• José António Teixeira Gomes • José Carlos

Correia Presas • José Carlos Loureiro • José da

Rocha Alves • José, Fátima e Helena Martins •

Lina Sousa, Lucília Sousa e Fernanda Gonçalves

• Luana e Solange Cruz • Manuel Mesquita •

Maria Adriana Macedo Pinhal • Maria Carlos

de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta Lopes

e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo

Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina

Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes

da Costa e Manuel da Costa Dionísio • Maria

Helena Santos Silva e Eduardo Silva • Maria

Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela

Esteves Martins Alves • Maria Violante Paulinos

Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da Rocha

• Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal •

Marisa Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes

• Mateus de Oliveira Nunes Miranda Saraiva • Miguel

Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e

André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão • Pedro

Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos e Paula

Sousa • Professores (2010/11) da Escola Secundária

de Oliveira do Douro • Professores e Funcionários

(2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro

• Protetores do Ambiente Professores e Alunos da

Escola Básica de Canidelo • Regina Oliveira e Abel

Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira

• Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos

do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira

do Douro • Serafi m Armando Rodrigues de Oliveira •

Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães

Rocha • Tiago Pereira Lopes • Turma A do 6.º ano

(2010/11) do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano

(2008/09) da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma

A do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11)

da Escola Secundária de Ermesinde • Turma A

do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Turma A do 12.º

ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde •

Turma C do 10.º ano (2010/11) da Escola Secundária

de Ermesinde • Turma D do 10.º ano e Professores

(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do

Douro • Turma D do 11.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Turma E do 10.º ano

(2008/09) da Escola Secundária de Ermesinde

• Turma E do 12.º ano (2010/2011) da Escola

Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º ano

(2010/11) - Curso Profi ssional Técnico de Gestão do

Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues

de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA

(2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da

Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A

e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores

(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro

•Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10)

da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas

B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G

e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha

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Page 73: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 73

Posto de Abastecimento de Avintes

Para aderir a este projeto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:

Parque Biológico de Gaia • Projeto Sequestro do Carbono • 4430 - 681 Avintes • Vila Nova de Gaia

Pretendo/Pretendemos aderir à Campanha Confi e ao Parque Biológico de Gaia o Sequestro do Carbono

apoiando a aquisição de m2 de área fl orestal X € 50 = euros.

Junto se envia cheque para pagamento

Nome do Mecenas

Recibo emitido à ordem de

Endereço

N.º de Identifi cação Fiscal

O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo

Telefone e-mail

Procedeu-se à transferência para o NIB 0033 0000 4536 7338 05305

1 m2 = €50 - 4 kg/ano de CO2

O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono

Colégio Luso-Francês

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Page 74: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

74 BIBLIOTECA

74 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

A Arte e a Natureza em Portugal

Há cerca de 105 anos concluía-se a

extraordinária e excecional publicação

de “A Arte e a Natureza em Portugal”,

um volume editado em oito fascículos e

que obedece a três temáticas bem defi nidas:

o património, os costumes e a paisagem

“A Arte e a Natureza em Portugal”Album de photographias com descripções; clichés originaes; copias em phototypia; monumentos, obras d`arte, costumes, paisagens.Diretores: F. Brutt; Cunha MoraesPorto 1902Emilio Biel & C.ª - Editores

A obra

conta

com

mais de

350 reproduções

fotográfi cas de

grande qualidade

e com uma boa

dimensão, fruto do

empenho de um

fotógrafo, editor e empreendedor alemão

sediado no Porto, Emílio Biel, a que se

junta a cumplicidade de algumas das mais

importantes fi guras da cultura do seu tempo.

É o caso do historiador de arte portuguesa

e incentivador da própria obra, Joaquim

de Vasconcelos – com quem partilhou a

preocupação pelo estudo do património

português – mas também de muitos outros

colaboradores, como Carolina Michaelis

de Vasconcelos, Gabriel Pereira, Ramalho

Ortigão, Augusto M. Simões de Castro,

Albano Belino, Júlio de Castilho e Manuel

Monteiro; a direção de execução é de

Fernando Brutt e Cunha Moraes (fotógrafo).

O gosto romântico de “A Arte e a Natureza

em Portugal” afi rma-se pela profusa

quantidade de paisagens e ruínas, imagens

de grande beleza, muitas delas, sobretudo

as do Sul de Portugal, fotografadas pelo

próprio Cunha Moraes.

Trata-se de uma obra volumosa, com

mais de três centenas de fotografi as sépia,

impressas em fototipia, que surpreendem

pela particular qualidade de execução: não

era conhecida até à época de edição outra

obra ilustrada com tal variedade e profusão

de registos. Todos os volumes contêm

uma introdução e incluem fotografi as de

monumentos, obras de arte, costumes

e paisagens, neste caso de Guimarães,

Barcelos, Évora, Porto, Lisboa, Sintra,

Lorvão, Coimbra e arredores.

Em cada área geográfi ca abrangida

existe um texto de apoio a cada

fotografi a. Os textos descritivos com

“ritmo” de um guia turístico e descrições

de aspetos culturais e costumes

portugueses enriquecem o livro, uma

verdadeira obra de arte e um marco

importante para a fotografi a portuguesa,

representando o mais marcante

repertório iconográfi co do século XIX e

início do século XX.

Pode consultar a obra completa na

Biblioteca do Parque Biológico de Gaia,

agendando a sua visita.

Filipe Vieira

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Page 75: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 75

CRÓNICA 75

NomenclaturaA nomenclatura vulgar dos seres vivos variou e varia ainda, desde frases [ex. “tremoceiro-de-folhas-estreitas” (Lupinus angustifolius) e “cercopiteco-de-garganta-branca” (Cercopithecus albogularis)], nomes com duas ou mais palavras [ex. “erva-ouriço” (Cenchrus echinatus) e “hiena-castanha” (Parahyaena brunnea)] até um único termo [ex. “medronheiro” (Arbutus unedo) e “babuíno” (Papio cynocephalus)].

Utilidade e relevância da nomenclatura e taxonomia biológica

Jorge PaivaBiólogoCentro de Ecologia Funcional da Universidade de [email protected]

CRÓNICA 75

Os nomes vulgares, além da

ausência de normas, têm

outras desvantagens. De

notar que, geralmente, são

considerados como vulgares, os nomes

vernáculos, embora, o nome vulgar não

seja genuíno de uma região ou país. Por

exemplo, “narciso” (espécies do género

Narcissus) é um nome vulgar derivado

do grego “nárkissos”, latinizado para

“narcissus”. Estas plantas, nalgumas

regiões de Portugal são designadas

pelo vernáculo “copinhos”, noutras por

“campainhas” e noutras por “cucos”; na

Zoologia também há muitos casos destes,

como, por exemplo, a “águia-pesqueira”

(Pandion haliaetus), que no norte de Angola

é conhecida pelo vernáculo “pemba” e por

“guicho” em Cabo Verde.

Entre as desvantagens dos nomes vulgares

ou vernáculos, destacamos:

1 - São muitas vezes indefi nidos ou

imprecisos; ex. “urze” aplica-se a várias

espécies do género Erica e, até, à Calluna

Urze (Calluna vulgaris)

Jorg

e G

om

es

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Page 76: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

76 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

76 CRÓNICA

vulgaris; “zebra” aplica-se a várias espécies

do género Hippotigris.

2 - Variam regionalmente, no mesmo

país ou em diferentes países; ex. Arachis hypogaea tem as seguintes designações

(entre muitas outras): (português)

alcagoitas (Algarve), amendoim, mancarra

(Guiné), ginguba (Angola); (espanhol)

alfoncigo de tierra, cacahué, cacahuey,

cacavet, mandavi, pistacho de tierra;

kakahuete (basco); cacauete (catalão);

arachide (francês); peanut (inglês); fi stik

(turco); erdnuss (alemão); mani (fi lipino);

jordnöt (sueco); orzech ziemny (polaco);

zemesriekstu (letónio); arachidi (italiano);

kacang (indonésio); földimogyoró (húngaro);

maapähkinä (fi nlandês); maapähkel

(estoniano); pinda (holandês); arašíd

(checo); kikiriki (croata); grondboontjiebotter

(afrinans); badiava (albanês). Entre os

animais, citamos, como exemplo, o atum-

branco ou atum-albino (Thunnus alalunga),

também designado por albacora ou

alvacora (Açores); avoador (Angola); peixe-

maninha (Cabo Verde) ou asinha, bandolim

e carorocatá (Brasil).

3 - Variam temporalmente; como, por

exemplo as “couves” (Brassica oleracea) já

se designaram por “veizas” (Idade Média),

mais tarde por “veiças” ou “verças” ou

“berças”, assim como ao “boi” (Bos taurus)

chamavam “zevro” ou “zebro” no período

entre o século XI e XII.

4 - O mesmo nome vulgar pode ser usado

para seres diferentes; como, por exemplo

“uva-de-cão” tanto pode ser Tamus communis, como Solanum dulcamara,

como Sedum acre; o nome “pardal” é

usado para designar aves do género

Passer e do género Petronia.

5 - A escolha de um nome vulgar não

obedece a qualquer regra.

Em Biologia, a nomenclatura consiste

na atribuição de um nome a um ser

vivo e a grupos de seres vivos (famílias,

ordens, fi los, etc.), de acordo com as

regras internacionais de nomenclatura

biológica. Esta função é regulada pelos

Códigos Internacionais de Nomenclatura

(International Code of Nomenclature of

Algae, Fungi and Plants; International Code

of Zoological Nomenclature; International

Code of Nomenclature of Bacteria e

International Code of Virus Classifi cation

and Nomenclature). Estes Códigos,

embora com regras semelhantes, são

independentes, mas todos utilizam a

nomenclatura binominal e em latim,

estabelecida por C. Lineu (1707-1778).

Os nomes das espécies são constituídos

por duas palavras: uma, o género, um

substantivo, iniciada por maiúscula, e

outra, o restritivo específi co, um adjetivo,

em minúsculas, que tem de concordar em

género (masculino, feminino ou neutro)

e número (singular ou plural), com o

respectivo substantivo (ex. Polygala albida

e nunca Polygala albidum ou Polygala albidus). Apenas nos vírus, os nomes das

espécies (sempre binominais) e géneros

têm de vir acrescentados com o termo

virus (ex. Beta gammavirus, é o nome da

espécie; Betavirus é o nome do género).

Nas bactérias os nomes científi cos são

binominais, como em qualquer outro ser

vivo (ex. a muito badalada Escherichia

coli… lê-se esqueriquia coli).

Enaima Vertebrados(com sangue vermelho; vivíparos ou ovíparos)Internamente vivíparos

1. Homem2. Cetáceos3. Quadrúpedes vivíparos (parte dos Mamíferos) Ovíparos ou, por vezes, extremamente

vivíparosCom ovos perfeitos

4. Aves5. Quadrúpedes ovíparos (= Anfíbios e maioria dos Répteis)6. Serpentes

Com ovos imperfeitos 7. Peixes

Anaima Invertebrados(sem sangue vermelho; vivíparos, vermíparos de geração espontânea ou por gemulação)Com ovos perfeitos

8. Cefalópodes9. Crustáceos

Com ovos especiais10. Insetos, aranhas, escorpiões, etc

Com gomos, massas geradoras ou de geração espontânea

11. Moluscos (exceto Cefalópodes), Equinodermes, etc.

De geração espontânea 12. Esponjas, Celenterados, etc.

Cla

ssifi c

ação

do

rein

o A

nim

al d

e A

rist

ótel

es

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 77

Coração (com 1 ou 2 ventrículos e 2 aurículas) sangue quente e vermelho

Vivíparos 1. Mamíferos

Ovíparos 2. Aves

Coração (com 1 ventrículo e 1 ou 2 aurículas) sangue frio e vermelho

Respiração pulmonar 3. Répteis Respiração branquial 4. Peixes

Coração (com 1 ventrículo e sem aurícula) sangue frio e incolor

Com antenas

5. InsetosCom tentáculos 6. Vermes C

lassifi c

ação

do

rein

o A

nim

al d

e L

ineu

Recentemente, os botânicos e os

zoólogos estabeleceram alguns acordos

nas regras de nomenclatura dos taxa

[sigular taxon, termo de origem grega,

proposto por H. Lam, (Congresso

de Estocolmo, 1950), introduzido na

4.ª edição do International Code of

Nomenclature of Algae, Fungi and Plants

(1952), posteriormente adotado pelos

outros Códigos e que serve para designar

qualquer grupo taxonómico, seja qual for

o respetivo grau (espécie, género, família,

ordem, fi lo, etc.)]. Assim, por exemplo,

em Botânica, o taxon Divisão passou a

designar-se por Filo, tal como na Zoologia.

Mas, continua a haver diferenças, como,

por exemplo, na Zoologia é possível a

tautonimia (o restritivo específi co pode

repetir o nome do género), como acontece

com os nomes da raposa (Vulpes vulpes)

e da lontra (Lutra lutra). Em Botânica isso

não é permitido. Por exemplo, o feijoeiro-

vulgar (Phaseolus vulgaris) nunca podia

designar-se por Pahseolus phaseolus. Outra

diferença é na citação dos autores, pois na

Botânica não se cita o ano da publicação.

Por exemplo, a geneta é Genetta genetta

L., 1758, mas o nabo, como é planta,

escreve-se o nome do autor sem data,

Brassica napus L. Tanto na Botânica,

como na Zoologia, admitem-se taxa infra-

específi cos. Nestes casos, o nome de um

dos taxa (o que inclui o tipo) tem de repetir

o restritivo específi co, sem autores. Como

na Botânica se admitem vários graus de

taxa infra-específi cos (ex. subespécies e

variedades), estas categorias têm que ser

indicadas, abreviadamente, com o nome

(ex. Alyssum alpestre L. var. alpestre e

Alyssum alpestre L. var. incanum Boiss.).

Como na Zoologia apenas se consideram

subespécies, na citação do nome, não é

necessário referir a categoria. Por exemplo,

o búfalo-africano (Syncerus caffer Sparrman,

1779) tem cinco subespécies: Syncerus caffer Sparrman, 1779 caffer (búfalo-da-

savana); Syncerus caffer Sparrman, 1779

nanus Boddaert, 1785 (búfalo-da-fl oresta

ou pacaça); Syncerus caffer Sparrman,

1779 brachyceros Gray, 1837 (búfalo-

sudanês); Syncerus caffer Sparrman, 1779

aequinoctialis Blyth, 1866 (búfalo-do-nilo) e

Syncerus caffer Sparrman, 1779 matthewsi

Lydekker, 1904 (búfalo-da-montanha), esta

última não universalmente reconhecida. Nos

seres procariotas e vírus não se consideram

taxa infra-específi cos, mas apenas estirpes

genéticas, tal com existem também nas

plantas e nos animais.

Nos animais domésticos, extremamente

modifi cados geneticamente e através de

cruzamentos controlados, consideram-

se, muitas vezes, raças. Com as plantas

cultivadas, como formam híbridos férteis

mais viáveis e como a manipulação genética

é mais fácil, a complicação na nomenclatura

de “cultivares” (não há raças na Botânica)

é enorme. Por isso, existe também um

International Code of Nomenclature for

cultivated plants cultivar.

Muitas vezes aparecem nomes de autores

entre parênteses [ex. Bellardia trixago (L.)

All.]. Isso indica que o primeiro autor a utilizar

o restritivo (neste caso trixago) é o que está

entre parênteses (neste caso Lineu), num

outro género ou para nomear um taxon infra-

específi co.

Gineta (Genetta genetta)

Jo

rge G

om

es

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78 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

78 CRÓNICA

Na citação de autores, há mais algumas

normas, mas não tão relevantes. Quando se

citam nomes científi cos em artigos de índole

não científi ca, não se devem indicar autores,

pois além do público não entender essa

citação, evitam-se erros.

O nome científi co em latim e curto (apenas

duas palavras) tem a vantagem de ser

universal (igual em todo o Globo) e numa

língua apátrida e “morta”, isto é, não sendo

uma língua nacional, o nome não pode ser

rejeitado com o argumento de estar numa

língua de um país diferente.

TaxonomiaTaxonomia [do grego antigo taxis (dispor,

organizar) e nomos (lei ou princípio comum),

que signifi ca dispor (organizar) segundo

uma lei ou princípio] é a ciência que trata da

identifi cação, nomenclatura e classifi cação

de objetos, particularmente de natureza

biológica.

Muitos restringiram o termo Taxonomia

apenas aos princípios básicos dos

sistemas de classifi cação, considerando a

Sistemática [do grego syn (junto) e histanai (colocar), que signifi ca juntar (colocar com),

sem dar a ideia de precisão] como sendo a

classifi cação dos seres vivos segundo um

determinado sistema nomenclatural. Assim,

permanecia a necessidade de um termo

coletivo único. Atualmente, taxonomista

é o indivíduo que identifi ca, denomina

e classifi ca seres vivos, considerando-

se sinónimos os termos Taxonomia e

Sistemática.

Identifi cação é o reconhecimento de que

um taxon é idêntico (semelhante) ou não

a outro já conhecido. Essa identifi cação

pode fazer-se recorrendo à bibliografi a

ou à comparação com exemplares

devidamente identifi cados (ex., plantas

secas, animais embalsamados, seres em

soluções conservantes, em preparações

microscópicas, etc.). Atualmente, nalguns

casos, conseguem-se identifi cações através

de recursos informáticos e fotográfi cos.

Em Biologia para denominar os taxa,

utilizam-se as normas da nomenclatura já

referidas.

A classifi cação consiste na colocação do ser

vivo, ou conjunto de organismos, em grupos

ou categorias, de acordo com determinado

plano ou sequência e em conformidade com

as regras internacionais de nomenclatura

respetivas.

As tentativas de classifi cação dos organismos

são muito antigas, pois classifi car é uma

atitude própria do ser humano, que mesmo

em épocas mais primitivas da civilização,

depressa reconheceu os organismos vegetais

e animais que podia usar na alimentação,

os que o poderiam matar por violência ou

envenenamento, os que o poderiam tratar

ou curar, etc. Estas primitivas classifi cações

foram, evidentemente, práticas e baseadas,

portanto, na observação e utilização dos

organismos. Com o aumento do conhecimento

dos recursos naturais e a estabilização das

civilizações, surgiram classifi cações mais

racionais, com sistemas baseados em

características estruturais e morfológicas. As

origens deste tipo de classifi cação remontam

a Aristóteles (384-322 a.C.), que classifi cou

os animais baseando-se no sangue e

processos de reprodução muito simplifi cados

e a Teofrasto (370-285 a. C.), que classifi cou

cerca de 480 plantas usando inicialmente os

carateres mais evidentes, agrupando as plantas

em árvores, arbustos, subarbustos e ervas.

Para os subgrupos usou sucessivamente

características mais aparentes como ovário

ínfero e súpero, pétalas unidas ou não, tipos

de frutos, etc. A estas classifi cações racionais

opõem-se as classifi cações empíricas, mais

utilizadas no agrupamento de objetos e não de

organismos, como, por exemplo, a ordenação

de uma biblioteca por ordem alfabética, pela

cor da capa ou pelo tamanho dos livros.

Estas classifi cações são artifi ciais, agrupam

os organismos de acordo com conveniências

práticas, principalmente como auxiliares de

identifi cação e, geralmente, baseiam-se em

poucos carateres ou apenas num único. A

partir do século XVI, com os «herbalistas»

publicam-se já muitas obras de Botânica e de

Zoologia em latim, mas é com C. Lineu (1707-

1778) que as classifi cações artifi ciais deixam

praticamente de ter como base a classifi cação

aristotélica. O célebre «Sistema Sexual de

Lineu» para o Reino Vegetal é bem conhecido,

mas, por ser baseado num pequeno número

de caracteres (estames e carpelos), foi

muito pouco seguido, até nessa época (por

ex.: a classe Cryptogamia incluía, além de

algas, fungos, líquenes, musgos, hepáticas,

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Page 79: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 79

incluía também algumas plantas superiores

fanerogâmicas, como as dos géneros

Lemna e Ficus, e até corais e esponjas).

Aconteceu o mesmo com o seu Sistema de

Classifi cação Animal, muito semelhante ao

de Aristóteles, bastante artifi cial e baseado

apenas na estrutura do coração, sangue,

tipo de respiração e formas de reprodução.

Aos sistemas artifi ciais seguem-se os

sistemas naturais, que procuram refl etir a

situação tal como se crê existir na Natureza,

utilizando todos os elementos disponíveis.

Estes sistemas naturais surgem na segunda

metade do século XVIII, em consequência

da enorme quantidade de plantas e animais

vivos ou «preparados» que chegavam aos

centros científi cos europeus, provenientes

de outros continentes. Assim, foi possível

a verifi cação da existência de maiores

afi nidades naturais entre os organismos do

que as indicadas nos sistemas artifi ciais.

Este período, onde sobressaíram J. Lamarck

(1744-1828) e a família Jussieu (1686-

1779), impulsionou a sistemática e, com a

rápida aceitação e difusão das teorias de C.

Darwin (1809-1882), surgem os sistemas

fi logenéticos (do grego phylos - raças, estirpe

e geneia - descendência) ou evolutivos,

que classifi cam os organismos segundo a

ascendência e descendência, de acordo

com a sua sequência evolutiva, refl etindo

relações genéticas. Classifi cações artifi ciais

e classifi cações naturais são classifi cações

horizontais, pois, não admitindo a evolução

dos organismos, consideram-nos sem

dimensão no tempo, isto é, baseiam-se

na semelhança estrutural, sendo pois,

estáticas. São portanto classifi cações

fenéticas, características do período pré-

darwiniano. As classifi cações fi logenéticas

são classifi cações verticais, por terem em

consideração a dimensão no tempo, isto é,

têm uma perspetiva dinâmica. São também

designadas por classifi cações fi léticas. As

classifi cações elaboradas após a publicação

da «Origem das espécies» (1859) de C.

Darwin, e respetiva difusão, supunham que

as semelhanças verifi cadas nos grupos

fenéticos eram provavelmente o resultado da

existência de um ancestral comum ao grupo,

passando a considerar grupos fenéticos

(como as famílias das Angiospérmicas) como

grupos fi léticos. Isso nem sempre é verdade,

pois nem toda a evolução é divergente.

Medronheiro (Arbutus unedo)

Jorg

e G

om

es

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Page 80: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

80 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

80 CRÓNICA

Como se pode constatar, a história dos

diversos sistemas de classifi cação, quer

botânicos quer zoológicos, pode ser

separada num certo número de fases

marcadas por acontecimentos notáveis

como os trabalhos de Aristóteles (384-322

a.C.) e Teofrasto (370-285 a.C.); a época

lineana da «explosão taxonómica» (para a

Botânica é data marcante 1753-1.ª edição

do «Species Plantarum»); a publicação

da «Origem das Espécies por meio da

Seleção Natural» (1859) por C. Darwin; a

redescoberta e difusão das leis de Mendel

(1900); o incremento da cariologia a partir

de 1920; a descoberta do microscópio

eletrónico por Max Knoll e Ernst Ruska

(1930-31); o início do desenvolvimento

das técnicas de taxonomia numérica e da

bioquímica (1957) e a estrutura da molécula

de ADN (Ácido DesoxirriboNucleico)

estabelecida por James Watson e Francis

Crick em 1953. Durante estes períodos

assumem também papel taxonómico

relevante a anatomia, a palinologia,

a paleontologia, a biogeografi a e a

embriologia.

Assim, para a Botânica podemos

considerar, resumidamente, as seguintes

fases nos sistemas de classifi cação: Fase

popular, fase com predominância da

nomenclatura trivial (vernácula ou vulgar)

como auxiliar na classifi cação das plantas.

Esta fase vai até à civilização grega

(século IV a.C.); Fase aristotélica (século

IV a.C. — século XVI), durante a qual

surgem as primeiras classifi cações escritas

numa forma permanente e lógica com

Aristóteles e Teofrasto, o “Pai da Botânica”,

e respetivos continuadores (Dioscórides).

A obra deste último «De Matéria Médica»

pode ser considerada como primeiro

«Herbal»; Fase dos herbalistas, através da

Idade Média, trabalhos sobre plantas foram

raros e todos baseados nas obras dos

«Físicos» gregos como, por exemplo, A.

Magnus (1193-1280), Bispo de Ratisbona,

o primeiro a reconhecer Monocotiledóneas

e Dicotiledóneas. Com a Renascença e

o aparecimento da imprensa na Europa

surgem obras de Botânica, algumas já

em edições numerosas e razoáveis; os

«Herbals», com o estudo das plantas

com interesse (valor) para o homem,

particularmente como plantas alimentícias

ou medicinais; Fase pré-lineana, que se

estende do fi m do século XVI até à obra

de C. Lineu (meados do século XVIII)

e que é considerada como a fase dos

primeiros taxonomistas, entre os quais

destacamos A. Caesalpino (1519-1603),

considerado o «Primeiro Taxonomista» e

J. P. Tournefort (1656-1708), o “Pai” do

conceito de género; Fase lineana, com

C. Lineu (1707-1778), considerado o

fundador da taxonomia biológica, sendo o

sistema nomenclatural atual baseado no

utilizado por ele. Pode dizer-se que com

Lineu nasceram os Códigos Internacionais

de Nomenclatura Biológica; Fase post-

lineana, que se estende desde a morte

de Lineu (1778) até à publicação de

«Origens das Espécies» de C. Darwin

(1859). Este período post-Lineano, é o

da fundação das famílias modernas e

a época das grandes explorações de

naturalistas pela Ásia, África, América e

até Austrália; Fase fi lética, fase marcada

pelas teorias evolucionistas de C.

Darwin e A. R. Wallace, a redescoberta

das leis de G. Mendel em 1900 e o

incremento da cariologia, surgindo,

então as classifi cações fi logenéticas

e os primeiros grandes sistemas de

Sistema Sexual do Reino Vegetal de Lineu

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Parques e Vida Selvagem verão 2014 • 81

classifi cação. Podem considerar-se três

períodos nesta fase: Período post-

darwiniano (até 1920), no qual não houve

grandes progressos nas classifi cações

que pudessem ser atribuídas às ideias

evolucionistas; Período citogenético-

biossistemático (1920-1960), em que

os rápidos avanços na citologia e na

genética permitiram aplicar novos

conhecimentos à taxonomia, sendo o

período da introdução e aceitação do

conceito de espécie biológica, com

utilização de informação genética («pools»

de genes), barreiras de procriação e o

reconhecimento do valor taxonómico

do número de cromossomas (cariótipo)

como bons «caracteres marcadores» para

a delimitação de grupos taxonómicos e

a elaboração de sequências evolutivas;

Período da Biologia Molecular

(1960…) com a sistemática bioquímica

(Quimiotaxonomia), a Taxonomia

Numérica (Taxometria) e a Sistemática

Molecular. A primeira forneceu uma

nova classe de dados para construir

ou modifi car as classifi cações e um

meio valioso para pesquisa de relações

fi logenéticas, particularmente as que

se referem a ancestrais comuns e

sequências evolutivas; a Taxometria é

um campo que incide basicamente em

problemas processuais ou operacionais,

procurando reconstruir as relações

evolutivas empregando meios numéricos.

Não é uma pesquisa para obter novos

dados, mas métodos de os tratar a fi m de

reduzir o factor subjetivo; a Sistemática

Biomolecular é um ramo da Sistemática

que analisa diferenças hereditárias

moleculares, fundamentalmente nas

sequências do ADN, de maneira a obter

informações nas relações evolutivas

dos organismos, com elaboração de

classifi cações e árvores fi logenéticas mais

fi áveis. Foi assim que aconteceu uma

autêntica “revolução” na classifi cação

das plantas, com o desaparecimento

de grupos como as Espermatófi tas, as

Dicotiledóneas e as Monocotiledóneas

e a agregação de muitas famílias (ex.

as Chenopodiaceae estão incluídas nas

Amaranthaceae) e a divisão de outras (ex.

as Asparagaceae e as Alliaceae foram

separadas das Liliaceae).

Finalmente, a determinação exata de

um organismo é fundamental. Assim,

por exemplo, conhecemos um caso

de uma tese de mestrado, classifi cada

com 19 valores, em que o autor estudou

produtos químicos de uma planta tropical,

indicando o nome da espécie, tendo-se

baseado no nome vernáculo fornecido

por um popular. Ora esse nome vernáculo

corresponde a duas espécies de plantas,

por acaso da mesma família, mas de

géneros diferentes. Ora aconteceu que

o nome científi co que o autor refere na

tese não é o da planta que ele utilizou

nos estudos químicos. Conclusão, a tese

estava toda errada. Em determinações

para a Medicina Forense é necessário

muitíssimo cuidado na determinação

dos organismos (ex. cogumelos, plantas

utilizadas em fi toterapia, material polínico).

Outro exemplo é o estudo ao microscópio

eletrónico de células ou organitos. Se a

determinação do organismo estudado

não é exata, os resultados ultra-

estruturais estarão todos errados.

Tradução “livre” ou à letra do Sistema Sexual de Lineu

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82 COLETIVISMO

Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesAvenida João Crisóstomo, 18 – 4º Dto

1000-179 Lisboa – Portugal

Tel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 39

[email protected] • www.spea.pt

82 • Parques e Vida Selvagem verão 2014

Tagis - Centro de Conservaçãodas Borboletas de PortugalMuseu Nacional de História Natural

Rua da Escola Politécnica, 58

1250-102 Lisboa

Tel. + Fax: 213 965 388

[email protected] • www.tagis.org

Tagis - Centro de Conservação

Dez exibições dez distritosCom o apoio do programa O Mundo na Escola

do Ministério da Ciência e Educação, a exposição

«Insetos em Ordem» está em itinerância pelo

país desde outubro de 2012, tendo já passado

pelos distritos de Faro, Évora, Santarém, Castelo

Branco, Viseu, Coimbra, Porto, Viana do Castelo

e Bragança.

Durante os meses de verão não deixe de visitar

os «Insetos em Ordem» no Museu Municipal de

Arouca. Esta mostra já vai em mais de 40 mil

visitantes.

Sugerimos também que aproveitar a ocasião

para explorar o Arouca Geoparque e conhecer

o Museu das Trilobites Gigantes e a Casa das

Pedras Parideiras.

Para observar e registar a natureza, em especial

a diversidade de insetos da Serra da Freita,

sugerimos o percurso pedestre que passa pela

Frecha da Mizarela, onde brevemente irá nascer

mais uma Estação da Biodiversidade.

Boas exposições, bons insetos, e boas férias!

Mais informaçõeswww.mundonaescola.ptwww.facebook.com/MundoNaEscola

O espetáculo da migração regressa em outubroO mês de outubro marca o regresso

do Festival de Observação de Aves &

Atividades de Natureza, que já vai na sua

5.ª edição.

O festival, que decorrerá entre os dias

2 e 5 de outubro, em Sagres, pretende

receber 800 pessoas e promover o convívio

entre os todos os visitantes quer sejam

especialistas ou simplesmente amantes das

aves, nomeadamente através de atividades

relacionadas com a natureza, tais como as

saídas de campo para observação de aves,

as saídas de pelágicas para observação de

cetáceos e de aves marinhas, os minicursos

de diversas temáticas, as iniciativas de

fotografi a, os passeios a cavalo e as

atividades de educação ambiental para os

mais pequenos.

Este ano, as atenções do festival

centram-se na toutinegra-de-bigodes,

um passeriforme que encontra no nosso

país condições ideais durante a época

reprodutora e migratória, nomeadamente

nas zonas de Trás-os-Montes e Beira

Baixa. Apesar de ser uma espécie que

não tem uma presença forte em Sagres,

durante a época migratória é possível

observar esta espécie com maior

frequência entre setembro e início de

outubro, período que coincide com a

sua época migratória. Outras espécies

também reúnem as preferências dos

visitantes como a cegonha-preta, as

águias, abutres e falcões.

Sagres é um local muito rico no que

diz respeito à avifauna nacional,

acolhendo as mais variadas espécies

e neste sentido o festival assume

grande importância em termos

socioeconómicos para a região, uma vez

que serve como elemento dinamizador

do turismo de natureza deste concelho.

A 5.ª edição é uma organização conjunta da

Câmara Municipal de Vila do Bispo, SPEA e

Almargem, e terá atividades gratuitas e outras

com desconto de festival. As inscrições serão

possíveis a partir de meados de agosto,

altura em que será também divulgado o

programa ofi cial. Mais informações em

http://birdwatchingsagres.com

Por Elson Baessa

e Joana Domingues

Por Patrícia Garcia-Pereira, Centro Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências

da Universidade de Lisboa - [email protected]

pvs47.indd 82pvs47.indd 82 09/09/14 01:0909/09/14 01:09

Page 83: terras áridas e mediterrânicas +cordão dunar + migrações estação

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Centro de CongressosHospedariaSelf-service

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