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Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904 Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected] Acompanha este recurso cópia do acórdão do AgRg no REsp 1121653/PR, do STJ, ofertado como paradigma e publicado na Revista Eletrônica de Jurisprudência. OBS: Na jurisprudência citada, sempre que não houver indicação do tribunal, entenda-se que é do Superior Tribunal de Justiça. Índices Ementas – ordem alfabética Ementas – ordem numérica Índice do “CD” Tese 361 FALSO TESTEMUNHO – CRIME FORMAL – DESNECESSIDADE DE INFLUÊNCIA NA DECISÃO DA CAUSA EM QUE FOI PRODUZIDO. O crime de falso testemunho é de natureza formal e se consuma com o depoimento falso, independentemente do efetivo resultado lesivo visado pelo agente. (D.O.E., p. )

Tese 361 - mpsp.mp.br€¦ · Falso testemunho. Caracterização. O crime de falso testemunho caracteriza-se pela simples potencialidade de dano para a administração da Justiça,

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Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904

Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]

Acompanha este recurso cópia do acórdão do AgRg no REsp 1121653/PR, do STJ, ofertado como paradigma e publicado na Revista Eletrônica de Jurisprudência.

OBS: Na jurisprudência citada, sempre que não houver indicação do tribunal, entenda-se que é do Superior Tribunal de Justiça.

Índices

Ementas – ordem alfabética

Ementas – ordem numérica

Índice do “CD”

Tese 361

FALSO TESTEMUNHO – CRIME FORMAL – DESNECESSIDADE DE

INFLUÊNCIA NA DECISÃO DA CAUSA EM QUE FOI PRODUZIDO.

O crime de falso testemunho é de natureza formal e se consuma com o

depoimento falso, independentemente do efetivo resultado lesivo visado pelo

agente.

(D.O.E., p. )

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habeas corpus n. 0222476-34.2012.8.26.0000-- comarca de Ribeirão Preto

2

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA SEÇÃO

CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO

PAULO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, nos

autos do habeas corpus n. 0222476-34.2012.8.26.0000, comarca de

Ribeirão Preto, em que é impetrante e paciente E.L.M., vem

respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento no

art. 105, III, letras “a” e “c”, da Constituição Federal e, na forma do

preceituado pelos art. 541e seguintes, do Código de Processo Civil,

e art. 26 e seguintes, da Lei n º 8.038/90, interpor RECURSO

ESPECIAL para o Colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, contra o

v. acórdão de fls. 232/237, pelas razões adiante deduzidas.

1. HIPÓTESE EM EXAME.

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habeas corpus n. 0222476-34.2012.8.26.0000-- comarca de Ribeirão Preto

3

E.L.M., em causa própria, impetrou habeas corpus

sustentando que estaria sofrendo constrangimento ilegal por parte

do MM. Juiz de Direito da 4ª Vara Criminal da Comarca de Ribeirão

Preto, que teria determinado sua citação para responder ao

processo 1351/11, por crime de falso testemunho, previsto no artigo

342, § 2º. c.c. 29 caput do Código Penal.

Verifica-se que o impetrante/paciente foi denunciado

porque, na qualidade de advogado, nos autos do processo

criminal n. 3648/07, promovido pela Justiça Pública contra Paulo

Eduardo da Silva Paulino perante a Vara do Juizado Especial

Criminal da Comarca de Ribeirão Preto, induziu e orientou as

testemunhas Nelson Nogueira e Alex Sandro da Cunha a fazerem

afirmação falsa naquele processo penal judicial. Nelson Nogueira

e Alex Sandro da Cunha, por sua vez, também foram denunciados,

da mesma forma incursos no artigo 342, § 1º. c.c. 29 ‘ caput’ do

Código Penal, porque, orientados pelo impetrante/paciente,

fizeram afirmação falsa como testemunhas ouvidas em processo

penal (cf.denúncia de fls. 19/20).

A liminar foi negada (fls. 171) e foram prestadas

as informações a fls. 174.

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habeas corpus n. 0222476-34.2012.8.26.0000-- comarca de Ribeirão Preto

4

A d. Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo

não conhecimento da impetração ou por sua denegação (fls.

221/225).

Os dignos Desembargadores integrantes da

Colenda 7ª. Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo, por votação unânime, “ CONCEDERAM A

ORDEM PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL N. 1351/2011 COM

RELAÇÃO AO PACIENTE E AOS CORRÉUS NELSON NOGUEIRA E ALEX

SANDRO CUNHA”

O Voto foi assim proferido:

HABEAS CORPUS nº 0222476-34.2012.8.26.0000

Comarca: RIBEIRÃO PRETO - (ação penal nº 1.351/2011)

Juízo de origem: 4ª VARA CRIMINAL

Órgão Julgador: 7ª CÂMARA CRIMINAL

Impetrante/Paciente: E.L.M.

Relator Desembargador FRANCISCO MENIN (voto nº 21.517-f)

E.L.M. requer habeas corpus para fazer cessar constrangimento ilegal, que alega sofrer da parte do MM. Juízo da 4ª Vara Criminal da Comarca de Ribeirão Preto.

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habeas corpus n. 0222476-34.2012.8.26.0000-- comarca de Ribeirão Preto

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Pleiteia o trancamento da ação penal em face da atipicidade do delito ou o reconhecimento da prescrição penal (fls. 2/17).

Indeferida a liminar (fl. 171) e prestadas as informações pela digna autoridade indigitada coatora (fls. 174/219), a douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pela denegação da ordem (fls. 221/225).

É o relatório.

O paciente foi denunciado por infração ao artigo 342, §1º, c.c. o artigo 29, caput, todos do Código Penal, porque, na data de 6 de agosto de 2009, na sala de audiências da Vara do Juizado Especial Criminal da Comarca de Ribeirão Preto, na condição de advogado, induziu Nelson Nogueira e Alex Sandro Cunha, fazendo brotar em suas mentes a ideia de mentir em juízo, instruindo-os com elementos, de forma a criar uma versão dos fatos que excluísse a culpa de seu constituído (Paulo Eduardo da Silva Paulino), réu em ação penal promovida pela Justiça Pública (processo nº 3.648/2007).

Depreende-se ainda que Nelson Nogueira e Alex Sandro também foram denunciados pelo mesmo delito (fls. 19/20).

Peço vênia para transcrever parte da r. sentença do processo nº 3.648/2007 do Juizado Especial Criminal de Ribeirão Preto que absolveu, com fundamento no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, Paulo Eduardo da Silva Paulino representado pelo paciente (fls 94/99):

“Além de outros aspectos mais que pudessem ser alinhados, referidas circunstâncias denunciam evidente a falsidade dos testemunhos, por isso que estes evidentemente aqui não podem ser levados em consideração.”

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“... Disso tudo decorre concluir inexistente nestes autos, suporte probatório suficiente para determinar a responsabilização criminal do acusado.”

“Por derradeiro, cabível consignar que, se marcantes as circunstâncias indicativas da falsidade inerente aos testemunhos de defesa (como antes já assinaladas), o mesmo não há dizer com relação ao testemunho policial coligido (fls. 92/6), pois que, bem compreendidos os seus termos, vê-se que o policial depoente, na descrição que forneceu sobre o fato e suas circunstâncias, esclareceu louvar-se em informes colhidos no local do acidente, sempre a partir de terceiros, por isso que não há pretender tivesse faltado com a verdade sobre a narrativa que proporcionou.”

A ordem deve ser concedida para trancar a ação penal. Conquanto em sede de habeas corpus seja inviável a análise probatória aprofundada, in casu, a ilegalidade é patente, pois os depoimentos de Nelson Nogueira e Alex Sandro Cunha não tiveram qualquer influência no deslinde da causa.

Não há que se falar em crime de falso testemunho porque nos depoimentos considerados falsos e desprezados pelo julgador não houve qualquer potencialidade lesiva à Administração da Justiça.

Neste sentido, a lição de Guilherme de Souza Nucci1:

“Fato juridicamente relevante: é essencial que o fato falso (afirmado, negado ou silenciado) seja juridicamente relevante, isto é, de alguma forma seja levado em consideração pelo delegado ou juiz para qualquer finalidade útil ao inquérito ou ao processo, pois, do contrário, tratarse- ia de autêntica hipótese de crime impossível. Se o sujeito afirma o fato falso, mas absolutamente irrelevante para o deslinde da causa, por ter se valido de meio absolutamente ineficaz, não tem qualquer possibilidade de lesar o bem jurídico protegido, que é a escorreita administração da justiça. Defendendo ser indispensável a potencialidade lesiva à administração da justiça: STF: HC 69.047-RJ, 1ª T., rel.

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Sepúlveda Pertence, 10.03.1992, v.u., DJ. 24.04.1992, p. 5.377.”

A propósito, julgados deste egrégio Tribunal de Justiça:

“A capacidade de influir na decisão é requisito implícito do crime de falso testemunho, devendo, pois, referir-se a fatos juridicamente relevantes.”

“Não que se falar em crime de falso testemunho, se o depoimento falso não incide sobre fato juridicamente relevante e pertinente ao objeto do processo, com possibilidade de influência em seu futuro julgamento.”

De se concluir que a falsidade que não produz efeito no julgamento não atinge a prova e, por consequência, carece de tipicidade.

E, existindo identidade de circunstâncias, estendo os efeitos do julgamento, ex vi do artigo 580 do Código de Processo Penal, aos corréus Nelson Nogueira e Alex Sandro Cunha.

Ante o exposto, concedo a ordem para trancar a ação penal nº 1.351/2011 com relação ao paciente e aos corréus Nelson Nogueira e Alex Sandro Cunha.

FRANCISCO MENIN

Relator

Assim decidindo, a Colenda Turma Julgadora

contrariou o art. 342, § 1º, do Código Penal, assim como afrontou a

interpretação que vem sendo dada a esse dispositivo de lei federal

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pelos Colendos SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA no seguinte aspecto:

“Crime de falso testemunho. Esse delito se

caracteriza pela mera potencialidade de dano à

administração da Justiça, sendo, portanto, crime formal

que se consuma com o depoimento falso,

independentemente da produção do efetivo resultado

material à que visou o agente .

Por isso, acentuado no RHC 58.039-(RTJ 95/573), a

extinção da punibilidade por prescrição declarada no

processo em que se teria havido a prática do delito de

falso testemunho não impede que seja este apurado e

reprimido. Recurso extraordinário conhecido e

provido”. (RExtr. n º 112.808/SP, Rel. Min. MOREIRA

ALVES, RTJ 124; p. 340).

“FALSO TESTEMUNHO. Configuração em tese.

Irrelevância do fato de haver sido julgada extinta a

punibilidade do acusado em favor de quem aquele

fora prestado. Delito contra a administração da Justiça.

Justa causa para a ação penal. Recurso de ‘habeas-

corpus’ não provido. Inteligência dos arts. 342, § 1º, do

CP. e 648, I, do CPP.

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Falso testemunho. Caracterização. O crime de falso

testemunho caracteriza-se pela simples potencialidade

de dano para a administração da Justiça, não ficando

condicionado à decisão judicial condenatória no

processo em que se verificou. Recurso de habeas

Corpus denegado”. (RHC nº 58.039/SP, Rel. Min.

RAFAEL MAYER, RTJ 95/573 e RT 546/431).

“Crime de falso testemunho. Esse delito se

caracteriza pela mera potencialidade de dano à

administração da Justiça, sendo, portanto, crime formal

que se consuma com o depoimento falso,

independentemente da produção do efetivo resultado

material à que visou o agente .

Por isso, acentuado no RHC 58.039-(RTJ 95/573), a

extinção da punibilidade por prescrição declarada no

processo em que se teria havido a prática do delito de

falso testemunho não impede que seja este apurado e

reprimido. Recurso extraordinário conhecido e

provido”. (RExtr. n º 112.808/SP, Rel. Min. MOREIRA

ALVES, RTJ 124; p. 340).

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“FALSO TESTEMUNHO. Configuração em tese.

Irrelevância do fato de haver sido julgada extinta a

punibilidade do acusado em favor de quem aquele

fora prestado. Delito contra a administração da Justiça.

Justa causa para a ação penal. Recurso de ‘habeas-

corpus’ não provido. Inteligência dos arts. 342, § 1º, do

CP. e 648, I, do CPP.

Falso testemunho. Caracterização. O crime de falso

testemunho caracteriza-se pela simples potencialidade

de dano para a administração da Justiça, não ficando

condicionado à decisão judicial condenatória no

processo em que se verificou. Recurso de habeas

Corpus denegado”. (RHC nº 58.039/SP, Rel. Min.

RAFAEL MAYER, RTJ 95/573 e RT 546/431).

PENAL. RECURSO ESPECIAL. FALSO

TESTEMUNHO. CONFIGURAÇÃO. PERIGO E DANO.

TRANCAMENTO DA AÇÃO.

I - Para a caracterização do delito de falso

testemunho basta a potencialidade, sendo

despiciendo o efetivo dano à Administração da

Justiça. Trata-se de crime de perigo e não de dano

(Precedentes do Pretório Excelso e do STJ).

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II - A inépcia da exordial acusatória ou a

eventual falta de justa causa, de per si, para a

apuração de crime em cujo procedimento ocorreu o

testemunho não leva, de plano, à descaracterização

do injusto previsto no art. 342 do Código Penal.Recurso

provido.(REsp 507.804/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER,

QUINTA TURMA, julgado em 06/11/2003, DJ 19/12/2003,

p. 594, RSTJ vol. 176, p. 469)

PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME DE FALSO

TESTEMUNHO. POTENCIALIDADE DE DANO.

1. Esta Corte tem entendido que para a caracterização

do crime de falso testemunho basta a potencialidade

de dano à administração da Justiça,

independentemente de qualquer resultado posterior

que o depoimento venha ou não a produzir,

cuidando-se, pois, de delito formal.

2. Divergência jurisprudencial não demonstrada.

3. Recurso especial não conhecido.

(REsp 248.809/SP, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA

TURMA, julgado em 09/10/2001, DJ 18/02/2002, p. 524)

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Dessa forma, legitimada está a interposição deste

recurso pelas alíneas “a” e “c”, do art. 105, II, da Constituição

Federal.

2. DA CONTRARIEDADE À LEI FEDERAL.

Segundo conhecida lição do saudoso Ministro

ALIOMAR BALEEIRO, perfeitamente ajustável à hipótese em exame:

"... denega-se vigência de lei não só quando se diz que

esta não está em vigor, mas também quando se

decide em sentido diametralmente oposto ao que nela

está expresso e claro" (RTJ 48/788).

O art. 342, § 1º, do Código Penal, está assim redigido:

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar

a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor

ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,

inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei

nº 10.268, de 28.8.2001)

Pena- reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

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§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um

terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se

cometido com o fim de obter prova destinada a

produzir efeito em processo penal, ou em processo civil

em que for parte entidade da administração pública

direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

O falso testemunho é crime formal e autônomo,

caracterizando-se pela simples potencialidade de dano à

Administração da Justiça e consumando-se com o mero

depoimento falso, independentemente da produção de qualquer

resultado lesivo.

O v.acórdão afastou a incidência do crime de falso

testemunho mediante o entendimento de que os depoimentos

falsos, prestados pelas testemunhas Nelson Nogueira e Alex Sandro

da Cunha, orientadas e induzidas pelo paciente/impetrante, não

teriam tido qualquer potencialidade lesiva, tanto que não

produziram efeito na sentença criminal proferida nos autos em que

os testemunhos falsos foram produzidos.

Contudo, a visão dos julgadores sobre o que deve ser

entendido por potencialidade lesiva sobre fato juridicamente

relevante, data venia, é deturpada e fora do contexto.

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Testemunho sem potencialidade lesiva é aquele que

se dá sobre fatos periféricos, sem ligação com a causa e ocorre “

quando o depoimento questionado incide sobre dados

secundários e sem importância do fato objeto do processo”

(Damásio de Jesus, Parte Especial, 16ª. Ed., Saraiva, SP, 2005, 4/304).

O eminente penalista dá como exemplo a testemunha que mente

a respeito de sua qualificação.

Nelson Hungria ao referir-se acerca do fato

juridicamente relevante a ser considerado no crime em questão

ensina que:

“ a falsidade do testemunho, para que se

considere criminosa, deve incidir sobre fato juridicamente

relevante e pertinente ao objeto do processo de que se

trate. Desaparece a ratio da incriminação se a falsidade

versa super accidentalibus ou fatos estranhos ao thema

probandum, sem nenhuma possibilidade de influência

sobre o futuro julgamento” (Comentários ao Código

Penal, 4ª.ed., Forense, Rio, 1958, 9/475).

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15

Ora, no caso dos autos, os testemunhos de Alex Sandro

e Nelson, como se vê de fls. 56/70 e da sentença de fls. 94/99, não

foram sobre fatos periféricos e sem importância, mas sim sobre as

circunstâncias do fato criminoso tratado nos autos, não podendo,

assim, ser considerados como despidos de potencialidade lesiva

ou sem relevância jurídica. Os testemunhos foram

desconsiderados pelo julgador que, após análise acurada de seus

conteúdos, concluiu pela falsidade. Contudo, essa circunstância,

por si só, não torna os testemunhos sem relevância jurídica ou

despidos de potencialidade lesiva. Fosse assim, somente haveria

crime de falso testemunho quando produzisse efetivo efeito danoso

no processo, com sua real consideração pela julgador, mesmo

quando se apercebesse de sua falsidade (?!).

Veja-se que o próprio acórdão referiu-se a

potencialidade lesiva e não à efetiva lesão à Administração de

Justiça.

Por outro lado, a circunstância de os testemunhos não

terem tido influência na decisão da causa não infirma a ocorrência

do crime, “ que é de natureza formal , em que o tipo descreve a

conduta e o resultado, não exigindo a produção deste. Em face

disso, a figura típica consumada não requer a efetiva lesão do

valor tutelado, sendo suficiente que o comportamento seja apto à

sua produção. Assim, não integra o crime a exigência de o falso

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testemunho haver influído efetivamente na decisão da causa,

sendo suficiente que tenha incidido sobre fato juridicamente

relevante” (Alberto Silva Franco e Rui Stoco , Código Penal e Sua

Interpretação Jurisprudencial, , ed. RT, 8ª. Ed., pág. 1676/1677).

Nesse sentido é toda a doutrina, referida por Silva

Franco: CARNELUTTI (Teoria del Falso, Padova, 1935, p. 135), EUSEBIO

GOMEZ (Tratado de Derecho Penal, Buenos Aires, Compania

Argentina de Editores, 1941, 5/597, n. 1397), MANZINI (Trattato di

Diritto Penale, Turim, Unione Tipografico-Editrice Torinense, 1950,

5/779,n. 1667), GALDIO SIQUEIRA (Tratado de Direito Penal, Rio, José

Konfino, 1947, 5/664), NELSON HUNGRIA (op.cit.p. 476).

Também para DAMASIO DE JESUS “ o falso testemunho

é delito formal, consumando-se com o depoimento falso,

independentemente da produção do efetivo resultado material

visado pelo agente... daí entender-se que o delito de falso

testemunho independe do exercício da punibilidade no tocante ao

processo crime em que foi cometido” (op.cit.pág. 305).

Portanto, de se ver que os fatos trazidos nos

testemunhos falseados não eram despidos de potencialidade

lesiva, porque produzidos acerca dos fatos criminosos objeto de

apuração na ação penal. Também, a circunstância de os

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testemunhos não terem influenciado no julgamento do processo

não produz qualquer efeito, haja vista que para a ocorrência do

crime basta a possibilidade de dano à administração da justiça,

independentemente da produção de qualquer resultado que o

testemunho falso venha ou não a produzir, dado tratar-se de crime

formal.

Evidente que ao determinar o trancamento da ação

penal que apura o crime de falso testemunho, o v. acórdão

recorrido contrariou, ou mesmo negou vigência, ao art. 342, § 1º,

do Código Penal.

3. DO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.

Assim decidindo, o v. acórdão recorrido dissentiu

de julgado o Colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, assim

redigido quanto ao seu acórdão, Relatório e Voto pelo digno

Relator, Ministro JORGE MUSSI, proferido no Agravo Regimental no

Recurso Especial n. 1 121 653/PR, j. 04/10/2011, publicado na sua

Revista Eletrônica Jurisprudência, na conformidade da cópia

anexa, que se adota como PARADIGMA:

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.121.653 - PR (2009⁄0103141-6) RELATOR : MINISTRO JORGE

MUSSI

AGRAVANTE : IRINEU FABIAN

ADVOGADO : ÁLVARO CÉSAR SABBI

AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

EMENTA

PENAL. FALSO TESTEMUNHO. CRIME DE NATUREZA FORMAL. RESULTADO NATURALÍSTICO. NÃO EXIGÊNCIA. 1. É pacífico, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, que o crime de falso testemunho é de natureza formal, consumando-se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-se quando encerrado o depoimento. 2. Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental.

Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Adilson Vieira

Macabu (Desembargador convocado do TJ⁄RJ), Gilson Dipp e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 04 de outubro de 2011. (Data do Julgamento).

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MINISTRO JORGE MUSSI Relator

RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Trata-

se de agravo regimental interposto por IRINEU FABIAN contra decisão de fls. 176⁄177 que deu provimento ao recurso ministerial para que fosse recebida a denúncia por reconhecer que o crime de falso testemunho é de natureza formal, não dependendo de resultado naturalístico para a sua configuração.

Alega o agravante que "ao contrário do que mencionou o Ilustre

Ministro Relator do Recurso Especial, a orientação do Superior Tribunal de Justiça, em caso de suposta ocorrência do falso testemunho, não se assenta na natureza formal do crime, mas sim na potencialidade lesiva do testemunho" (fl. 183).

Sustenta, dessa forma, que a tipicidade ocorre quando a

falsidade recaia sobre circunstância que impossibilite a aplicação da lei, fato que não ocorreu in casu, pois o Juízo do Trabalho não considerou por completo seu depoimento.

Requer a reconsideração da decisão agravada, ou que o feito seja

levado à Turma para julgamento com o consequente desprovimento do recurso especial.

É o relatório.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Em que pesem as razões recursais, a decisão agravada deve ser mantida por seus próprios fundamentos.

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Nota-se que o acórdão recorrido dissentiu da orientação desta Corte Superior no sentido de que o crime de falso testemunho é de natureza formal, consumando-se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-se quando encerrado o depoimento, podendo, inclusive, a testemunha ser autuada em flagrante delito.

A propósito, colhem-se os seguintes julgados do Superior

Tribunal de Justiça:

RESP. PENAL. FALSO TESTEMUNHO. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO RESULTADO DO PROCESSO PRINCIPAL. PENA - FIXAÇÃO. CRITÉRIOS. ART. 59 CP. SÚMULA 7⁄STJ. 1. Para configuração do crime de falso testemunho, de natureza formal, que se consuma com o depoimento contrafeito, é irrelevante o resultado do processo principal, porque aquele delito se dirige contra outra objetividade jurídica (a reta administração da Justiça). (...) 3. Recurso especial não conhecido." (Resp-224.774⁄SC, Rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, 6ª Turma, DJ de 2⁄10⁄00) "CRIMINAL. HC. FALSO TESTEMUNHO. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A INVESTIGAÇÃO NÃO-EVIDENCIADA. PRESCINDIBILIDADE DE SENTENÇA, NO FEITO EM QUE COMETIDO, EM TESE, O PERJÚRIO, PARA A INSTAURAÇÃO DA AÇÃO PENAL POR FALSO TESTEMUNHO. ORDEM DENEGADA. I. Hipótese em que o Magistrado requisitou a instauração de inquérito policial para apurar a suposta prática do delito de falso testemunho pelo paciente, que havia sido ouvido como testemunha de defesa em ação penal instaurada em razão da prática do crime de estupro. (...) III. O delito de falso testemunho consuma-se com o encerramento do depoimento prestado, quando se faz a afirmação falsa, embora o Código de Processo Penal admita que a retratação seja efetivada até a prolação da sentença no feito em que o ilícito teria sido cometido. IV. A eventual absolvição do réu pelo Tribunal não afasta a consumação do delito, mesmo que tal testemunho não tenha influído no resultado do julgamento, pois a ação que viola a lei é o próprio

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depoimento prestado com o fim de subverter a verdade dos fatos, causando dano à Justiça. (...) VII. Ordem denegada." (HC-73.059⁄SP, Rel. Min. GILSON DIPP, 5ª Turma, DJ de 29⁄6⁄07) Dessa forma, não procede a alegação que de a decisão ora

agravada dissentiu da orientação jurisprudencial predominante. Ante o exposto, nego provimento ao agravo. É o voto.

3.1. CONFRONTO ANALÍTICO DOS JULGADOS.

Nítida a similitude, evidente o paralelismo entre as

hipóteses consideradas pelo v. acórdão recorrido e pelo v. aresto

adotado como paradigma. Em ambos questiona-se sobre a

ocorrência do crime de falso testemunho em razão de sua

influência sobre a decisão no processo em que foi produzido. No

entanto, manifestamente diversas as soluções.

Para o acórdão recorrido:

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“Não há que se falar em crime de falso testemunho porque nos depoimentos considerados falsos e desprezados pelo julgador não houve qualquer potencialidade lesiva à Administração da Justiça.

Neste sentido, a lição de Guilherme de Souza Nucci1:

“Fato juridicamente relevante: é essencial que o fato falso (afirmado, negado ou silenciado) seja juridicamente relevante, isto é, de alguma forma seja levado em consideração pelo delegado ou juiz para qualquer finalidade útil ao inquérito ou ao processo, pois, do contrário, tratarse- ia de autêntica hipótese de crime impossível. Se o sujeito afirma o fato falso, mas absolutamente irrelevante para o deslinde da causa, por ter se valido de meio absolutamente ineficaz, não tem qualquer possibilidade de lesar o bem jurídico protegido, que é a escorreita administração da justiça. Defendendo ser indispensável a potencialidade lesiva à administração da justiça: STF: HC 69.047-RJ, 1ª T., rel. Sepúlveda Pertence, 10.03.1992, v.u., DJ. 24.04.1992, p. 5.377.”

A propósito, julgados deste egrégio Tribunal de Justiça:

“A capacidade de influir na decisão é requisito implícito do crime de falso testemunho, devendo, pois, referir-se a fatos juridicamente relevantes.”

“Não que se falar em crime de falso testemunho, se o depoimento falso não incide sobre fato juridicamente relevante e pertinente ao objeto do processo, com possibilidade de influência em seu futuro julgamento.”

De se concluir que a falsidade que não produz efeito no julgamento não atinge a prova e, por consequência, carece de tipicidade.

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..” (fls. 235/236).

Já para o julgado paradigma:

... o crime de falso testemunho é de natureza formal, consumando-se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-se quando encerrado o depoimento, podendo, inclusive, a testemunha ser autuada em flagrante delito.

(...)

RESP. PENAL. FALSO TESTEMUNHO. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO RESULTADO DO PROCESSO PRINCIPAL. PENA - FIXAÇÃO. CRITÉRIOS. ART. 59 CP. SÚMULA 7⁄STJ. 1. Para configuração do crime de falso testemunho, de natureza formal, que se consuma com o depoimento contrafeito, é irrelevante o resultado do processo principal, porque aquele delito se dirige contra outra objetividade jurídica (a reta administração da Justiça). (...) 3. Recurso especial não conhecido." (Resp-224.774⁄SC, Rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, 6ª Turma, DJ de 2⁄10⁄00) "CRIMINAL. HC. FALSO TESTEMUNHO. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A INVESTIGAÇÃO NÃO-EVIDENCIADA. PRESCINDIBILIDADE DE SENTENÇA, NO FEITO EM QUE COMETIDO, EM TESE, O PERJÚRIO, PARA A

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INSTAURAÇÃO DA AÇÃO PENAL POR FALSO TESTEMUNHO. ORDEM DENEGADA. I. Hipótese em que o Magistrado requisitou a instauração de inquérito policial para apurar a suposta prática do delito de falso testemunho pelo paciente, que havia sido ouvido como testemunha de defesa em ação penal instaurada em razão da prática do crime de estupro. (...) III. O delito de falso testemunho consuma-se com o encerramento do depoimento prestado, quando se faz a afirmação falsa, embora o Código de Processo Penal admita que a retratação seja efetivada até a prolação da sentença no feito em que o ilícito teria sido cometido. IV. A eventual absolvição do réu pelo Tribunal não afasta a consumação do delito, mesmo que tal testemunho não tenha influído no resultado do julgamento, pois a ação que viola a lei é o próprio depoimento prestado com o fim de subverter a verdade dos fatos, causando dano à Justiça. (...) VII. Ordem denegada." (HC-73.059⁄SP, Rel. Min. GILSON DIPP, 5ª Turma, DJ de 29⁄6⁄07)

(cópia anexa).

Assim sendo, para o v. acórdão recorrido “ a falsidade

que não produz efeito no julgamento não atinge a prova e, por

conseguinte, carece de tipicidade” (fls. 236), enquanto para o

aresto paradigma, “para configuração do crime de falso

testemunho, de natureza formal, que se consuma com o

depoimento contrafeito, é irrelevante o resultado do processo

principal, porque aquele delito se dirige contra outra objetividade

jurídica “ (copia anexa) .

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Por seu acerto, é de prevalecer a decisão do Colendo

Superior Tribunal de Justiça.

4. DO PEDIDO.

Ante o exposto, demonstrados de forma

fundamentada, a contrariedade ou negativa de vigência a lei

federal e o dissídio jurisprudencial, aguarda-se seja ADMITIDO este

RECURSO ESPECIAL, a fim de que, subindo à elevada consideração

do Colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, seja oportunamente

PROVIDO, cassando-se o v. acórdão recorrido para se determinar o

prosseguimento da ação penal contra os réus NELSON NOGUEIRA,

ALEX SANDRO DA CUNHA e EUSEBIO LUCAS MULLER.

São Paulo, 07 de fevereiro de 2.013.

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MÁRCIO FERNANDO ELIAS ROSA

Procurador Geral de Justiça

MARIA APARECIDA PIERANGELI BORELLI THOMZ

Procuradora de Justiça