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Tese Avante Militância Socialista
ao VI Congresso Nacional do PT
Março de 2017,
Avante S21 e Militância Socialista
1- INTRODUÇÃO
01. Somos um coletivo de filiadas e filiados, dirigentes e lideranças do PT de todo o Brasil
que tem atuado historicamente na construção do partido, agrupados nas correntes internas
Avante S21 e Militância Socialista, assim como outros grupos regionais. Lutamos pela defesa
do patrimônio do PT, mas lutamos, principalmente, por seu futuro. Buscamos mantê-lo como
uma possibilidade revolucionária e democrática para o Brasil. O que somente se dará pela
esquerda, com trabalho de base, formação política, comunicação ágil e direta, com atuação em
movimentos sociais e sindical, gerindo governos participativos e mandatos parlamentares
engajados com as lutas sociais. Além disso, a atuação do PT deve se dar com base em um
programa e uma estratégia que rompa com o caráter classista da dominação dos ricos sobre os
trabalhadores. Lutamos por uma sociedade de iguais.
02. Acreditamos que o PT deu uma contribuição importante para a democratização do
Brasil e para promoção da justiça social. Porém, ao longo dessa trajetória, o partido se
burocratizou e se institucionalizou, perdendo vigor e capacidade de liderar as mudanças que o
país precisa. A despeito disso, temos convicção de que não há outras opções viáveis na esquerda
e por tanto é necessário (e urgente) recuperar o PT, com toda nossa capilaridade, para voltar a
ser a referência da classe trabalhadora no Brasil, diante de tantos desafios que estão colocados.
03. Por isso compomos nacionalmente o bloco chamado Muda PT, que reúne forças que
discordam da política burocratizada e do posicionamento rebaixado que o partido vem
assumindo nos últimos anos. Assim, apresentamos nossas concepções, opiniões e propostas ao
conjunto da militância respeitando a pluralidade e as diferenças que são parte das razões da
vitalidade e da força do Partido dos Trabalhadores. Precisamos de um PT forte para enfrentar
os dilemas atuais da esquerda e da luta pelo socialismo
04. No mundo todo a extrema direita avança. Seu sucesso é fruto da sua capacidade de
instrumentalizar os efeitos da crise do capitalismo para dividir a classe trabalhadora, mas
também dos erros cometidos pelos tradicionais partidos socialistas e social-democratas em
quase todo o ocidente.
05. Trata-se de uma conjunção de fatores que tem como pano de fundo dois elementos
centrais: o enfraquecimento dos valores democráticos e humanistas e a completa perda de
credibilidade de partidos de esquerda que, quando no poder, se envolveram em escândalos de
corrupção e passaram a implementar programas avessos às suas plataformas eleitorais e
programas históricos. Guardadas as especificidades de um país da periferia do capitalismo, e
sob fortes pressões imperialistas, no Brasil o estado da arte da luta de classes não é muito
distinto.
06. Ideias fascistas, preconceituosas e anti-civilizatórias crescem no Brasil a passos largos.
Seja em apoio às medidas recessivas na economia que ataca diretamente os direitos trabalhistas,
seja na indiferença da situação prisional brasileira, ao aumento da homofobia, feminicídio,
abandono da população de rua e violência contra os negros e indígenas no Brasil. Assim, os
movimentos de esquerda padecem, desde o golpe, em uma agenda defensiva e na organização
da resistência democrática. Atos políticos sendo brutalmente contidos pela polícia, retirada de
ocupações dos movimentos Sem Terra e Sem Teto e obstruções de greves sindicais passou a
ser regra no Brasil. A agenda conservadora - fruto da aliança do oligopólio da mídia, parcela
do judiciário, Ministério Público, Congresso Nacional, burguesia nacionaln e o capital
estrangeiro - produz a pior ameaça aos direitos dos trabalhadores e minorias desde o golpe de
1964.
07. Assim, é para nós evidente que o golpista Temer não é uma alternativa para o povo
brasileiro e o fim de seu governo é condição para a superação da crise e da recessão econômica.
Portanto a convocação de eleições é o único caminho imediato para superar este impasse. Nesse
sentido, para além das pautas específicas e a organização para barrar os retrocessos, as
principais bandeiras de luta e que dão unidade ao campo da esquerda hoje no Brasil são o Fora
Temer e o chamamento por Diretas Já. O acúmulo de forças progressistas no Brasil hoje se dá
estrategicamente em torno da luta pelo reestabelecimento democrático, mesmo considerando
os limites da democracia burguesa, e a defesa dos direitos sociais e dos trabalhadores.
08. Nesse contexto, o VI Congresso do PT se dará em meio à maior crise da história do
nosso partido. Não se trata do fim do PT enquanto instrumento de luta da classe trabalhadora,
nem tampouco do aniquilamento da esquerda para o qual nossos inimigos de classe trabalham
diuturnamente, mas da evidente necessidade de um balanço autocrítico de nossas ações que nos
permita apresentar um programa à altura dos desafios do nosso tempo.
09. Não é pouco relevante o golpe de Estado que sofremos junto com o povo brasileiro e, a
perda de confiança dos eleitores que produziram o maior número de perda de votos da nossa
história. Nas últimas eleições, o PT perdeu 10 milhões de votos em todo o país.
10. À luz da compreensão do nosso lugar no mundo, das dificuldades objetivas enfrentadas
por um partido de esquerda num contexto de ampla fragmentação no Congresso Nacional e das
arraigadas estruturas conservadoras da burocracia estatal, devemos realizar um aprofundando
balanço. Não se trata de personalizar o debate, mas de maneira fraterna discutir
nossas ações à frente dos governos; o papel do PT durante esse período; a política de alianças
que nos trouxe até aqui; e nossa relação com os movimentos sociais e a sociedade como um
todo.
11. Apenas por meio deste balanço sincero, teremos condições de retomar nossa
credibilidade junto à sociedade e ter elementos para construir um novo programa. Precisaremos
ainda de uma análise aprofundada da atual estrutura de classes em que estamos inseridos,
bastante distinta daquela em que o PT foi fundado, do caráter de um capitalismo profundamente
globalizado e financeirizado e das transformações da sociedade brasileira que ajudamos a
construir mas que pouco nos dedicamos a compreender e a disputar.
12. Portanto, a presente tese discute assuntos fundamentais para situar o Partido dos
Trabalhadores e sua militância no (1) quadro político internacional e (2) nacional, no que
entendemos que deve ser (3) o novo programa estratégico da esquerda brasileira e assim,
delimitar (4) o papel do PT e suas tarefas de reconstrução e organização. Mesmo entendendo
os limites desse VI Congresso – como por exemplo, ter como etapa municipal o PED –
acreditamos que podemos contribuir para apontar novos rumos para o Partido para que ele
retome seu papel de referência da esquerda e da classe trabalhadora rumo ao socialismo.
2- QUADRO POLÍTICO INTERNACIONAL
A crise do Capitalismo e a alternativa democrática e popular
13. As crises políticas têm sido o momento onde os partidos e forças neoliberais encontram
ambiente para a implementação de políticas recessivas e antipopulares, ampliando seu efeito
negativo sobre as economias dos países afetados, em especial dos países de economia
subordinada e emergente. As crises são, assim o espaço preferencial para o crescimento e
implantação do neoliberalismo. Na atual crise do capitalismo, também é possível perceber
soluções autoritárias como estratégias do capital financeiro.
14. A direita, vinculada ao grande capital financeiro internacional, utiliza as crises
neoliberais tanto como desculpa quanto como oportunidade para cortar impostos, privatizar os
serviços públicos remanescentes, diminuir a teia de proteção social, desregulamentar
corporações e massacrar qualquer crítica, em especial, os movimentos sociais.
15. Os efeitos da crise econômica internacional dinamitaram o ciclo neodesenvolvimentista
no Brasil e com ele ruiu a frente social composta pelo PT com setores da burguesia industrial.
A dinâmica hegemonista do capital financeiro atraiu a burguesia brasileira que,
progressivamente, foi abandonando esta política de investimentos produtivos e dirigindo seus
lucros ao rentismo global. Dinâmica esta que acelerou a crise econômica no País.
16. Essa crise econômica, ampliou a pobreza no mundo. Ao contrário de optar por superar
a pobreza com distribuição da renda e da propriedade, o capitalismo mundial aperta o cinto dos
ajustes fiscais e das altas das taxas de juros e amplia suas mediadas de segregação e opressão,
como o fazem com a repressão aos imigrantes e ao aumento da presença militar imperialista no
globo.
17. Os governos de esquerda, notadamente na América do Sul, e, em particular, no Brasil
representaram uma alternativa, ainda que claudicante, à esta hegemonia rentista no mundo. O
Brasil ampliou seu protagonismo político e econômico internacional, durante os governos Lula
e Dilma (2003 a 2014), a partir da defesa da multilateralidade das relações internacionais. Essa
defesa fortaleceu a perspectiva de liderança brasileira através da relação negativa com a
unipolaridade exercida pelos Estados Unidos da América. Nesse sentido, a ampliação do
protagonismo do Brasil se deu em um cenário e contexto de rompimento e erosão do consenso
neoliberal na América do Sul, com a eleição de governos de centro- esquerda na Argentina,
Uruguai, Bolívia, Equador, Paraguai e Venezuela, além, obviamente, do próprio Brasil. Com
esses governos, a região retomou uma pauta de reestruturação do papel articulador do estado e
de desenvolvimento das economias destes países, alicerçado no crescimento do mercado
interno, do incentivo às empresas locais e de inclusão social, além de uma política externa cujo
sentido foi o de questionar o alinhamento automático com a potência hemisférica hegemônica,
os EUA.
18. Neste ambiente de reversão do sentido hegemônico das relações internacionais na
região, surgiram ou se consolidaram um conjunto expressivo de iniciativas de integração e
regionalização, de caráter multipolar, os quais criaram dinâmicas econômicas e políticas que
ampliaram, proporcionalmente, o poder de barganha dos estados sul-americanos. De modo
global, as relações multipolares permitiram aos países emergentes, em via de regra, ampliar
sua influência internacional na relação com os países desenvolvidos. A multipolaridade
permitiu uma simbiose de objetivos entre os países emergentes e, em especial, credenciou o
Brasil para um exercício de liderança regional e global relevante, ainda que limitado.
19. Trata-se de um reposicionamento no sistema internacional que busca alterar o peso do
Brasil nas relações internacionais. Em um ambiente político institucional de questionamento
da unipolaridade dos Estados Unidos, os governos do PT reposicionaram gradualmente o Brasil
na arena global. Essas ações não possuíram capacidade para uma grande ruptura desse sistema.
20. Entretanto, mesmo que alternativas parciais, as políticas de autonomia e
reposicionamento internacional doas países sulamericanos forma insuportáveis para o
imperialismo capitalista. Em especial o continente sul-americano foi alvo da intervenção do
imperialismo estadunidense. O sistema militar e de espionagem dos EUA agiram e agem em
todo o continente no sentido de desestabilização dos governos de esquerda da região, estando
na base dos golpes e oposição que estes governos populares sofreram.
21. Em decorrência desta contra-ofensiva capitalista, vivemos hoje uma defensiva das
ideias socialistas e social-democratas no mundo. Os valores humanistas e civilizatórios estão
perdendo espaço para a xenofobia, racismo e preconceito. Os partidos que se reivindicam do
socialismo no mundo precisam, lado a lado aos movimentos sociais, construir a unidade no
combate e resistência ao golpismo e às políticas de ajuste fiscal e exploração que a direita
implementa em todos os continentes.
3 – QUADRO POLÍTICO NACIONAL E OS GOVERNOS FEDERAIS PETISTAS
22. O Brasil acompanhou as fases do desenvolvimento capitalista como país exportador de
minérios, riquezas naturais e agroexportador (expulsão dos índios, trabalho escravo e
imigração); industrialização e substituição das importações mantendo a condição de economia
periférica e dependente (trabalho assalariado e urbanização); e atualmente o Brasil é o paraíso
das altas taxas de juros.
23. Nos períodos mais recentes tivemos pelo menos quatro modelos: (1) Vargas e os
militares (desenvolvimentismo a partir do Estado, chamado “estadocentrismo”), depois a (2)
fase neoliberal iniciada por Collor e concluída por FHC e o chamado (3) “lulismo”, que foi um
ajuste conservador, ao passo que o maior líder popular da esquerda brasileira buscou aliança
com setores da burguesia produtiva para obter sustentação política e legitimidade para
implementar políticas públicas de cunho social-desenvolvimentista promovendo o maior e
mais duradouro círculo virtuoso da história do Brasil. Entre 2003 até 2012 foram 9 anos em
que a miséria foi reduzida em 40% e os pobres viram sua participação no PIB ampliada.
Atualmente, estamos vendo o início de uma nova onda neoliberal no Brasil e na América Latina
que mais a frente caracterizaremos melhor. Neste momento, basta dizer que é marcada pela
entrega de riquezas nacionais e setores estratégicos de desenvolvimento e ataque sistemático
aos direitos e garantias dos trabalhadores.
24. Importante ressaltar que na era que nos precede, o ex-presidente Lula, assim como sua
sucessora, a presidenta Dilma, abriu mão de fazer reformas estruturais importantes, porém,
aliou políticas sociais (aumentos reais do salário mínimo, políticas redistributivas e direitos
sociais históricos), investimentos estatais (Estado com papel indutor na economia através de
infraestrutura, bancos públicos e fortalecimento de empresas, especialmente a Petrobras),
somados a uma política externa proativa e independente (G-20, BRICs, Banco do Sul,
Mercosul, Unasul, motivador político e financeiro para os governos de esquerda na América
Latina e África).
25. Isso fez com que, mesmo diante de uma crise global e estrutural do capitalismo, o Brasil
se mantivesse numa fase de crescimento, pois havia aquecido o mercado interno de consumo
das famílias (com emprego, renda e consumo, gerando uma nova classe trabalhadora)
acompanhando o crescimento fantástico dos BRICs, enquanto países capitalistas centrais
entraram em recessão.
26. Na verdade, o fato mais relevante da economia brasileira nas últimas décadas têm sido
o ritmo acelerado do processo de desindustrialização. Para se ter uma ideia disso, é importante
considerar que em 1995 a produção industrial representava 36% do PIB brasileiro, quando vinte
anos após, segundo dados apurados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA,
ela não ultrapassa 9%; ou seja, um quarto daquela cifra. Consequentemente, o desemprego
explodiu. Em julho de 2015, o total de desempregados no país somava 8,6 milhões, o número
mais alto (em termos absolutos) já assinalado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD).
27. O Brasil encontra-se hoje nas mãos dos banqueiros. Os cinco maiores bancos (Itaú
Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander) controlam 86%
do total dos ativos financeiros; quando em 1995 o montante desses ativos por eles controlados
era de 56%. No primeiro semestre de 2015, enquanto o Produto Nacional Bruto entrava em
recessão, o lucro líquido contábil dos quatro maiores bancos do país crescia 46% em relação
ao mesmo período do ano anterior.
28. O desinvestimento, tanto público quanto privado, é um dos piores resultados da entrega
total da economia brasileira ao controle das instituições financeiras, nacionais e estrangeiras.
A Presidenta Dilma tentou um diálogo desde 2011 com o setor produtivo para manter os
investimentos, enquanto o Estado faria sua parte investindo em infraestrutura, nas políticas
sociais e incentivos para manter o mercado interno aquecido em diálogo com as pautas dos
trabalhadores, porém, o setor produtivo não respondeu, possivelmente por diferentes razões:
juros rentáveis não incentivam investimentos, crise internacional produz incertezas e, também
por razões políticas, com o intuito de derrotar o PT e a Presidenta Dilma em 2014 e eleger um
governo de matizes neoliberais.
29. Isso fez com que o governo se tornasse incapaz de segurar sozinho a pressão da crise
mundial, começando por retirar incentivos como da energia elétrica e combustíveis e depois
adotar uma agenda fiscal que chega a ter características típicas do período neoliberal.
30. Portanto, esse é o pano de fundo das disputas políticas que antecederam o golpe, de um
lado o setor financeiro, cada vez mais hegemônico internacional e nacionalmente, com apoio
da mídia e de outro setores políticos antipetistas no Congresso, na máquina estatal e na
sociedade. Essa é a pauta da chamada “contrareforma”, ou seja, dos que se contrapõem à
reforma desenvolvimentista conhecida como “lulismo”.
31. A disputa simbólica é a operação Lava-Jato porque envolve uma empresa estatal que
estava servindo de principal exemplo do modelo lulista, a Petrobras: rentável, num setor
estratégico (energia), com alta tecnologia (Pré-sal), capaz de financiar a política internacional
e ampliar a força do Brasil no mundo, bem como suas políticas sociais (royalties e fundo social
do Pré-sal) seriam a coroação e consolidação desse modelo.
32. Portanto, destruir esse patrimônio significa reafirmar que o Estado é ineficiente e
corrupto, e mais do que isso, o PT seria o grande artífice da corrupção brasileira e deve ser
derrotado, destruído e banido da história. Essa frente de batalha foi a que juntou todos os atores
políticos golpistas.
33. Mas, consideramos um sério equívoco afirmar a crise que enfrentamos como mera
função dos nossos acertos. Neste momento, mais do que nunca, é preciso que tenhamos
humildade para ouvir e reconhecer os descaminhos de nossa trajetória política.
34. Não nos restam dúvidas de que é pelo nosso sentido de classe e políticas antiliberais
que nos constituem como inimigos de classe da burguesia. É por não aceitarem o pequeno
processo de desmercantilização propiciado pelo Bolsa Família; a mobilidade social que
promovemos; a ampliação das possibilidades educacionais para a classe trabalhadora; a defesa
do patrimônio nacional representada pelo marco regulatório do Pré-Sal e a reorientação da
política de investimentos na Petrobras, dentre tantos outros avanços que promovemos, que
somos intragáveis para direita. Mas são em grande medida nossos erros e contradições que
servem de munição para os ataques que sofremos.
35. Não há como contornar o fato de quadros do PT terem transformado a relação
promíscua com a burguesia num fundamento da política, inclusive justificando-a do ponto de
vista estratégico. A operação de descredenciamento e criminalização ampliada sobre o PT,
encontrou guarida em fatos concretos que tornaram plausível e exequível este antipetismo para
a maioria da sociedade.
36. Os altos índices de violência têm sido instrumentalizados para que sejam trazidas para
a pauta medidas retrógradas, de puro populismo penal, tais como: a redução da maioridade
penal, a revisão do Estatuto do Desarmamento, e o aumento de penas sem que qualquer
dosimetria seja levada em consideração; a crise econômica que ameaça o poder de compra e os
empregos de trabalhadores e trabalhadoras, foi utilizada para legitimar um golpe de Estado; e
os erros enquanto partido e Governo nos levaram a uma situação de perda de credibilidade
junto à população
37. O forte apoio popular obtido pelo Governo Lula, no período entre 2006 e 2010, não foi
aproveitado para implementar, mesmo que parcialmente, reformas estruturais que permitissem
uma mudança na correlação de forças políticas. Essas reformas deveriam ter enfrentado o tema
do sistema político e eleitoral, do sistema financeiro e da política fiscal e tributária, da
reestruturação do aparelho de Estado, do oligopólio privado da comunicação, além da estrutura
fundiária no país.
38. A convergência destes erros e destes recuos estratégicos produziu uma incapacidade
para o PT de disputar a hegemonia política na sociedade. Gradualmente o programa
efetivamente aplicado no Governo Federal foi se deslocando à direita, ficando cada vez mais
mimetizado com um programa conservador. Na disputa de valores culturais e éticos, o
significado do PT foi definhando e, progressivamente, perdendo capacidade de afirmação de
valores alternativos ao liberalismo e ao individualismo.
39. Junto a nossa então base social, a situação foi ainda mais grave em função das
particularidades da eleição de 2014. Naquele pleito fomos levados a apresentar as mais nítidas
propostas desde 2002. Em que pese o equívoco destas não terem sido calcadas em um robusto
e articulado programa de governo, e sim em declarações de nossa candidata, isso não apaga
suas virtudes.
40. Em resposta ao fundamentalismo presente em candidaturas nanicas, mas também na
de Marina Silva, apresentamos pautas como a criminalização da homofobia, o enfrentamento
ao extermínio da juventude negra, e a revisão da lei de anistia. Em resposta ao neoliberalismo
e o entreguismo presente em várias candidaturas, mas personificado em Aécio Neves, dissemos
nenhum direito a menos, defendemos a soberania nacional, e negamos um projeto de
independência da economia perante a política, e de retomada das privatizações.
41. O imediato descumprimento deste programa colaborou com o crescimento da inflação
e do desemprego. A manutenção de altas taxas de juros e o estabelecimento da contenção dos
investimentos estatais como estratégia de enfrentamento à crise solaparam o apoio popular ao
Governo. Assim, o Governo eleito por pequena margem de votos e a partir de ampla
mobilização popular, contribuiu com a crise econômica de maneira mais objetiva, e
fundamentalmente, com o aprofundamento de uma crise de legitimidade do PT na sociedade
que já nos acompanhava desde 2005, ao implementar uma política de ajuste fiscal rompendo
toda a dinâmica anticíclica do período anterior.
42. Jamais podemos nos limitarmos, no entanto, a análise do segundo governo da Dilma,
pois grande parte das razões da presente crise também derivam de um profundo erro estratégico
cometido pelo PT que se deu sob a direção do Governo Lula. O primeiro por não ter formulado,
e o segundo por não ter articulado.
43. É preciso que digamos que se, por um lado, o colapso econômico em plano
internacional produziu uma profunda recessão econômica no Brasil, potencializada por um
Congresso Nacional que inviabilizou o executivo em 2015 por meio das “pautas bomba” foram
as nossas políticas de ajuste fiscal e os erros políticos do segundo Governo Dilma que
possibilitaram uma combinação entre perda de apoio no Parlamento e na sociedade.
44. As eleições de 2016 por sua vez, se deram num quadro de profunda crise econômica,
agravada por uma crise política que resultou no golpe. Foi marcada também por uma completa
desorientação por parte de nossa direção partidária. Tentativas de manutenção do espectro de
alianças conservador que nos arrancou o mandato legitimamente eleito da presidenta Dilma, e
de ocultação do PT estiveram presentes e mostraram-se equivocadas.
45. Como já foi apontado, vivemos uma crise de credibilidade junto à população que tem
efeitos eleitorais, mas não será por meio da falta de nitidez ideológica que a superaremos. Ao
negarmos nossa história, escondermos o vermelho, e nos aliarmos no plano municipal com os
que enfrentamos no plano nacional, uma vez mais demos sinais trocados para uma militância
que foi às ruas nos eleger em 2014 e defender a democracia em 2016.
46. Não podemos negligenciar o recado das urnas nestas eleições municipais de 2016, as
primeiras após o golpe da deposição da Presidenta Dilma. Como socialistas que somos,
devemos retomar nossa história, lembrar que antes de optarmos pela disputa e transformação
do aparelho do Estado por meio das eleições, estas eram utilizadas como meio de propagandear
nosso ideário e medir a correlação de forças na sociedade. É preciso, paulatinamente, retomar
nossa capacidade eleitoral, mas sobretudo é preciso que voltemos a compreender os processos
eleitorais como meios de disputa de hegemonia, e que tiremos lições de seus resultados.
47. As últimas eleições foram péssimas para a esquerda e para o PT. Houve uma redução
concreta dos votos obtidos e a influência dos municípios governados por nós será bastante
inferior à resultante das eleições de 2012. Da mesma forma, os demais partidos de esquerda
não ampliaram sua votação. A vitória do PCdoB em Aracaju e seu crescimento em parte do
Nordeste, assim como o segundo turno do PSOL no Rio de Janeiro e Belém, são expressões
eleitorais isoladas em um contexto de vitória do PSDB e de candidaturas de pequenos partidos
com programa antipopular, que buscavam se caracterizar como “de fora da política” e, em
muitos casos, fundamentalista de direita.
48. O quadro é pior do que seria se fosse apenas a derrota de um único partido da esquerda.
Foram as ideias de esquerda, seus partidos, os valores humanistas, a igualdade de gênero e raça,
o desarmamento e a tolerância, as ideias de justiça e igualdade, enfim, o ser de esquerda que
sofreu um grande revés.
49. São estes partidos e essa ideologia de direita, amparados no poder judiciário e na
polícia, o oligopólio dos meios de comunicação, que deram formato final ao golpe, dando
guarida ao capital internacional imperialista, à eliminação de direitos e conquistas do povo, à
direita protofascista e a todas as manifestações e organizações de direita do país.
50. A disposição deste bloco conservador empresarial em implementar reformas
antipopulares, de reestruturar a economia de modo a ampliar os ganhos dos capitalistas sob o
empobrecimento dos trabalhadores, faz com que haja uma luta política no interior deste bloco,
entre várias frações, pelo comando do governo e da direção deste processo.
51. O grande empresariado, com sua disposição em implementar as reformas recessivas
que retiram direitos dos trabalhadores e aumentam o desemprego e o empobrecimento,
especula com a hipótese de dispensar seus "procuradores" atuais, como Renan e o PMDB, para
substituí-los por outros representantes de seus interesses antipopulares, que não estejam tão
desgastados aos olhos da classe média conservadora.
52. Do ponto de vista dos trabalhadores e da democracia, a saída para a crise não passa pela
estabilização deste arranjo golpista. Ao contrário, passa pela soberania popular e por um
programa de governo que retome o crescimento econômico, amplie o emprego e faça um
conjunto de reformas antineoliberais e democráticas.
53. Os golpistas se unem em uma plataforma de ataque aos direitos dos trabalhadores, das
juventudes e das mulheres, como nos casos da PEC 55, que limita os investimentos públicos
em pauta no Senado, da MP 746, reforma do ensino médio, e da PEC 287, reforma da
previdência, ambas tramitando na Câmara dos Deputados.
54. Frente a essa crise, todos os senadores e deputados dos partidos comprometidos com a
maioria do povo, devem intensificar seus esforços para impedir o andamento dos projetos
antipopulares, obstaculizar a pauta do Senado e do Congresso para que se criem as condições
para uma saída democrática para a crise. Devemos retirar da pauta de votação do Senado,
imediatamente, a “PEC do Teto”.
55. A direita venceu, isto é um fato. Mas venceu uma direita diferente daquela que
protagonizou o embate com a esquerda durante o período de nossos governos federais.
Assistimos ao surgimento como força eleitoral de uma direita mais reacionária, antidemocrática
e mais combativa e virulenta. Assistimos o surgimento de um conjunto de organizações
ultraconservadoras e ultraliberais que, filiadas à diferentes partidos e legendas em uma
estratégia de multipartidarismo, apresentou um programa comum calcado no antipetismo e na
disputa de valores ideológicos, sendo ponta de lança da estigmatização da esquerda e do PT.
56. Também no plano internacional há o crescimento de uma direita de novo tipo, nacionalista
e protecionista, que encara as relações internacionais a partir de um ponto de vista
contracionista, o que pode ampliar os confrontos internacionais, inclusive os armados.
57. Nesta esteira, o PSDB se deslocou mais ainda à direita. Sua fração vitoriosa, o PSDB
de Alckmin, é aquela organicamente vinculada ao empresariado mais conservador e ao capital
financeiro e internacional.
58. O centro democrático burguês se esfacelou e migrou para a direita, atraído pela força
ofensiva deste programa ultraconservador. A onda golpista tragou setores que apoiaram o
próprio golpe.
59. Esta vitória agregou legitimidade política para esta direita aprofundar o processo de
golpe, podendo chegar ao extremo da cassação do registro do PT e da inviabilização legal do
Lula.
60. Isto aponta para um quadro de enfrentamento agressivo, onde a pauta das reformas
neoliberais, tem como objetivo reorganizar o processo de acumulação de capital e da
criminalização do PT e dos movimentos sociais. Acabar com toda e qualquer resistência
popular é o centro da ação da direita.
61. A esquerda ainda sofre de uma imensa dificuldade de reorganização, em especial o PT que,
a partir de sua maioria, resiste a uma inflexão à esquerda e a uma construção sincera da unidade
dos partidos de esquerda.
62. Contudo, se a superexposição dos ataques seletivos da Justiça, Ministério Público e Polícia
Federal ao PT e ao Lula isolaram politicamente o PT e possibilitaram que o antipetismo se
tornasse plataforma política que coesiona a direita, isto não significou completa transferência
de votos para outro partido. O aumento expressivo dos votos brancos, nulos e da abstenção,
que não reduzem a dimensão da crise ou a intensidade do alerta que este resultado eleitoral
deve acender em nós, apresenta uma possibilidade real de reconquista de parcela expressiva do
eleitorado que não encontrou em 2016 alternativas que lhes fossem suficientes para confiar seu
voto.
63. Ainda que perspectiva da disputa política seja de extrema dificuldade para o PT, e que
isso possa significar que as eleições de 2018 se deem em um quadro de crise e isolamento ainda
maior que o vivido nestas eleições de 2016, a possibilidade da candidatura do presidente Lula
amplia e organiza a resistência. Vários setores populares, notadamente a juventude, abriram
um franco processo de luta contra o crescimento da direita. Dando combate às contrarreformas
neoliberais do Governo Temer, no campo concreto, como também um amplo enfrentamento,
no campo das ideias e do comportamento, ao fundamentalismo e obscurantismo crescentes.
4 - UM NOVO PROGRAMA E UMA NOVA ESTRATÉGIA
Retomar a estratégia socialista e um programa de reformas democráticas e populares
64. O próximo período será de confrontos, luta e resistência democrática, protagonizado por
um novo setor social que não quer recuar das conquistas e dos avanços conquistados até aqui.
Mais do que isto, um setor que espera uma reação dos demais setores do campo popular e
democrático, inclusive dos partidos e organizações de esquerda, em especial do PT.
65. A unidade do PT e a luta por uma mudança profunda no programa e na estratégia é
fundamental para a sobrevivência do Partido como alternativa de massas e de esquerda. O
capital político do PT torna inviável outra alternativa, no momento, que não seja sua
reorientação e sua reaproximação com um programa democrático e popular de reformas
profundas.
66. Mas a defesa do PT e de seu capital político não significa a submissão aos seus erros. Ao
contrário, significa dirigir-se à base social e política, surgida nas lutas contra o golpe e pelos
direitos e, em conjunto com ela, recriar uma esquerda em luta. Será o vínculo orgânico
com esta geração em luta, aprendendo com ela – suas narrativas e aspirações –, que
efetivamente poderá renovar e salvar o PT. A pura luta interna não será suficiente para
acumular a energia capaz de mudar mais de uma década de conciliação e burocratização no
interior do partido.
67. A luta pela reconstrução da esquerda é a luta contra o avanço do neoliberalismo, no
campo político e econômico, e o avanço do conservadorismo e do fundamentalismo, no campo
das ideias.
O papel estratégico do Estado e sua reforma de caráter democrático
68. As ideias de justiça, igualdade e, mesmo, da democracia perderam força na opinião da
sociedade, dos setores médios e até mesmo de trabalhadores. A crise de legitimidade da
democracia e de suas instituições cria as condições para o crescimento de seu contrário, a ideia
da ordem e da recuperação da estabilidade pela via autoritária, dando abertura política para o
aumento da repressão e dos cortes de direitos sociais e para a implantação de uma economia
neoliberal.
69. O neoliberalismo nunca é apresentado como ideologia. Os meios de comunicação,
grande parte da intelectualidade e o empresariado fazem parecer e buscam impor a noção de
que o neoliberalismo é um modelo inevitável e democrático de economia e sociedade.
70. O neoliberalismo vê a competição como a característica que define as relações
humanas. Ele define cidadãos como consumidores, cujas escolhas democráticas são melhor
exercidas ao comprar e vender, um processo que premia o mérito e pune a ineficiência.
Também sustenta a ideia de que “o mercado” proporciona benefícios que nunca seriam
alcançados por meio de planejamento.
71. Tentativas de limitar a competição são tratadas como inimigas da liberdade. Impostos
e regulamentações precisam ser minimizados e serviços públicos privatizados. A organização
do trabalho e a negociação coletiva pelos sindicatos são retratadas como distorções do mercado
que impedem a formação de uma hierarquia natural entre vencedores e perdedores. A
desigualdade é transformada em virtude: um prêmio pela utilidade e uma geradora de riqueza,
que se espalha para enriquecer a todos. Esforços para criar uma sociedade mais igualitária são
contraproducentes e moralmente corrosivos. O mercado garante que todos tenham aquilo que
mereçam.
Corrupção e a sonegação tributária como bases do capitalismo e o combate ético e político
a ambas
72. Abordar este tema com transparência e com a profundidade que ele merece é chave para
retomar o diálogo com vastos setores da sociedade que foram cooptados pelo bloco
político que se uniu para derrubar o PT do governo e que hipocritamente novamente se utilizou
do tema da ética para voltar a dialogar com as massas populares, como já havia feito nos aos
50 e 60 para derrubar Getúlio e o Getulismo.
73. Nos dois ciclos democráticos do país surgiram lideranças e organizações políticas com
alta capilaridade popular e que deram início a conquistas estruturais de direitos. Nos dois ciclos,
os setores que representam os interesses das elites, vastamente beneficiadas por formas
institucionalizadas ou não de corrupção, do país perderam completamente a capacidade de
dialogar com as massas populares. O tema da ética seletiva, foi em ambas vezes a estratégia
utilizada para afastar massas dos grupos políticos e suas lideranças.
74. Essa estratégia advém de uma doutrina vastamente utilizadas pelos EUA desde os anos
50 em operações financeiramente baratas e exitosas para derrubar governos e movimentos não
alinhados em todo o mundo.
75. Estratégia aliás utilizada massivamente no interior do próprio EUA, com a utilização
do FBI como polícia política, através das operações que procuram difamar eticamente líderes
dos movimentos negros, dos direitos civis, gays, mulheres, juventude e todos os líderes que se
oponham ao status quo.
76. Mas não é pelo fato da questão ética ser utilizada como ferramenta para derrubar
governos, que o PT e a esquerda não devam incorporar e fortalecer esse elemento, não como
mero tema de propaganda política, mas como elemento prático de mobilização social e
transformação do país e fundante de um novo modelo de economia e uma nova sociedade.
77. Ainda que a corrupção e a sonegação de tributos públicos sejam anteriores ao modo de
produção capitalista, foi sob o capitalismo que atingiu níveis de escala nunca vistos. A
corrupção e a sonegação se transformaram em mecanismos estruturais de sobre-acumulação
privada de capital e expropriação dos bens públicos em favor das elites que dominam o estado
e hegemonizam a sociedade.
78. Sob a proteção de um estado autoritário, obscuro e refratário ao controle público,
mesmo que em uma democracia liberal formal, que a corrupção, associada à sonegação de
tributos públicos, transformou-se em mecanismo de reincorporação privada do excedente que
deveria ser distribuído, através do estado sob a forma de políticas públicas, à maioria
trabalhadora, a qual produziu esta riqueza.
79. A manutenção das possibilidades de corrupção e de sonegação desfazem a distribuição
de renda produzida por medidas distributivistas. Portanto, a corrupção e a sonegação sãos
estruturalmente contraditórias com um programa de esquerda, minimamente distributivista.
80. No entanto, o PT só poderá retomar a ofensiva nesse tema se realmente enfrentar
apresentar uma reflexão sincera e medidas efetivas, éticas e programáticas, contra estes
mecanismos de acumulação privada de capital.
81. Só vamos conseguir inclusive fazer essa denúncia, se realmente não fugirmos da
realidade inaceitável de que filiados do PT se utilizaram dos espaços de poder, construídos
coletivamente e se apropriaram de forma privada de recursos públicos, o que produziu uma
imensa frustração e indignação em milhares de militantes históricos, que ao longo dos nossos
anos construíram esse Partido com suas melhores energias e até mesmo recursos financeiros,
motivados por um sonhos de mudança das práticas que por séculos expropriaram a riqueza do
país para as mãos de poucos.
82. A utilização dos bens públicos para fins privados é uma das marcas culturais mais
profundas da formação do Brasil. A referência das elites exploradoras se espalhou pelo tecido
social e constrangeu a formação de uma consciência coletiva sobre a coisa pública do Brasil.
83. Num ambiente em que as relações de poder estão marcadas por uma cultura da
“economia ilegal”, da riqueza que circula vastamente a margem da legalidade no país, nenhum
Partido político ou organização social está livre de enfrentar casos de corrupção.
84. Porém, o que vivenciamos no Partido foi algo muito mais grave. A crise ética no PT
possui duas grandes dimensões, ambas da mesma gravidade e que precisam ser enfrentadas de
forma específica: uma dimensão coletiva, voltada para impulsionar a ação política, e uma ação
individual, voltada para o enriquecimento privado.
85. No nível coletivo, houve paulatinamente uma aceitação silenciosa do inaceitável, que
antes de ter um “culpado” individual, precisa ser encarada como uma responsabilidade de
praticamente todos o Partido. Mesmo ocorrendo por fora de nossos elementos programáticos,
houve um acordo tácito, assumindo as regras tradicionais do jogo da política brasileira e
incorporando os modelos de financiamento irregular ou imorais de campanha como uma prática
cotidiana e que contaminou inclusive nossas disputas internas, o que deve ser analisado
criticamente entre nós de forma coletiva e conjunta.
86. A superação dessa dimensão exige um profundo repensar interno e uma completa
reformulação organizativa.
Disputa de hegemonia: O novo bloco histórico suas características
87. A força política para a reconstrução do PT e da esquerda deve ser buscada na luta
concreta ao lado destes setores em luta, novos protagonistas do combate ao conservadorismo.
Devemos nos somar à juventude e estudantes das ocupações de escolas e universidades em luta
contra a PEC 241, agora PEC 55, contra a reforma do ensino médio e a escola com mordaça.
À luta contra toda forma de discriminação étnica, pela igualdade de gênero e raça,
contra a LGBTfobia, pelos direitos dos trabalhadores e contra a reforma da previdência!
Resistência à escalada da repressão sobre a juventude e os trabalhadores sem-terra!
88. Nossos dirigentes de organizações populares e do PT, vereadores, deputados e
lideranças devem tratar estas como as pautas centrais da luta política. Nesta conjuntura, barrar
o crescimento da direita em todas as suas dimensões e das reformas neoliberais é lutar contra
o golpe de estado em curso.
89. Assim, é fundamental que o PT se afirme como oposição classista e programática ao
Governo Temer, sem nenhuma espécie de colaboração à sua governabilidade. Ao contrário, é
fundamental opor-lhe uma contraposição de projetos e denúncias, expondo-lhe o caráter
golpista e suas reais intenções na política econômica.
90. Desta luta devemos forjar um renovado programa de rupturas como neoliberalismo e
de concepção de um novo projeto para o país, construindo uma nova forma de organização,
tanto popular quanto do PT, radicalmente democrática, participativa, socialista e humanista.
Esta nova organização partidária deve ser a dedução de um programa de rupturas e disputa de
hegemonia, para além de reunir capacidade de governar e vencer eleições. Deve estar baseada
na ampla democracia, com consultas e participação direta da base, na transparência na
condução dos assuntos partidários, com controle amplo das bases sobre a direção, e
organicamente vinculada às lutas sociais, com abertura para a participação direta destes
movimentos nas decisões do partido.
91. Temos tratado bastante na revisão da política conciliatória, o que é basilar, e oque se
impõe agregar nas ações de um partido reorientado e reorganizado é a necessidade de disputar
hegemonia frente ao crescimento dessa direita protofascista, misógina, racista e lgbtfóbica, a
qual cresceu e se tornou ofensiva na esteira deste golpe. Queremos de fato disputar a sociedade
para um pensamento de esquerda anti-capitalista ou nos bastará dar uma guinada que nos
reconduza ao poder? Queremos voltar a ter força de disputa nos executivos e parlamentos ou
queremos também disputar os corações e mentes para nosso projeto? Isso deve nos orientar em
como agir daqui para frente, acompanhado de um novo programa e estratégia. Isso requer um
partido “para fora” e não para dentro, requer criarmos instrumentos de comunicação de massa
e requer nova forma de organização partidária.
92. Um dos grandes desafios será construir um programa de desenvolvimento e um
programa de reformas articulados entre si. Este novo programa de desenvolvimento terá como
centro uma nova política econômica, agora não mais distributivista apenas, mas de contra-
corrente à austeridade neoliberal e transformação do modelo econômico, com forte
investimento em setores inovadores que signifiquem a articulação de setores econômicos não
rentistas, ou seja, de novas frações de classe fora do eixo do capitalismo financeiro e das
grandes indústrias por ele capturadas. Com base na sustentabilidade ambiental, inovação e
desenvolvimento de conhecimento autônomo e da reforma fundiária.
93. Isto significa uma recuperação do papel do aparelho de estado e sua reforma profunda.
Será preciso uma reorientação do papel do Banco Central do Brasil e dos bancos estatais para
garantir o nível de investimento nesta nova economia. Para que o aparelho de estado possa
cumprir este papel terá que sofrer uma profunda reforma de caráter democrático, quebrando o
núcleo conservador que dirige este estado contra a maioria, colocando sob maior controle
popular e público, com a mobilização constante da maioria do povo através de instrumentos de
eleição direta, consulta e plebiscito. Os poderes judiciários e legislativo terão que se
reestruturar e submeter-se à soberania popular. Com a implementação da eleição direta para
chefe destes poderes e revogabilidade dos mandatos. Também será necessário quebrar o
oligopólio privado dos meios de comunicação. Uma reforma política e eleitoral que valorize a
soberania da vontade popular e não as formas indiretas de decisão.
O PT e as Eleições 2018: Lula Presidente e a Frente Popular
94. Isto aponta para um quadro de enfrentamento agressivo, onde a pauta das reformas
neoliberais, cujo o objetivo é reorganizar o processo de acumulação de capital e da
criminalização do PT e dos movimentos sociais, cujo objetivo é acabar com a resistência
popular, são o centro da ação da direita.
95. A esquerda ainda sofre de uma imensa dificuldade de reorganização, em especial o PT
que, a partir de sua maioria, resiste a uma inflexão à esquerda e a uma construção sincera da
unidade dos partidos de esquerda.
96. A grande da tarefa da esquerda e do PT, em particular, é a articulação de uma frente de
partidos e movimentos em torno de um programa de reformas populares antiliberais e de
denúncia do ataque aos direitos dos trabalhadores em curso.
97. Tal plataforma democrática radical deverá retomar aquilo que o PT abdicou nos últimos
anos, disputar hegemonia, em torno da justiça, do socialismo, do igualitarismo, do feminismo,
da sustentabilidade e do desenvolvimento. O combate e a denúncia do capitalismo predatório
e destrutivo são dimensões inalienáveis desta luta cultural.
98. Este conceito estratégico, democrático radical, deve-se complementar com uma forte
defesa da soberania nacional e da riqueza do povo brasileiro. A defesa intransigente do
patrimônio estratégico do Brasil, como a defesa da Petrobras e do pré-sal, além da defesa dos
recursos e do patrimônio ambiental e natural do país são chaves na construção desta aliança. O
componente nacional é chave na defesa da democracia.
99. Ao constituir esta Frente o PT deve apresentar a candidatura Lula à Presidência como
efetivo instrumento de inversão da pauta de debates da política brasileira em favor de uma
contraposição de projetos entre o desenvolvimento e a igualdade versus o rentismo e a perda
sistemática de direitos.
100. O companheiro Lula é hoje o único nome da esquerda capaz de ligar a vanguarda que
organiza a luta de resistência ao golpe e o povo pobre e trabalhador do Brasil. A inauguração
popular da transposição do rio São Francisco este ano foi a prova concreta que Lula ainda é a
maior liderança de massas do país e a personificação de sonhos e esperança do povo brasileiro.
101. Mas, sua pré-candidatura, não pode servir para diminuir as autocriticas necessárias do
partido, muito menos seu programa de governo deverá ser uma repetição das alianças e
conciliações de seus governos passados. É necessário avançar para um agenda que enfrente os
problemas históricos brasileiros e rompa definitivamente os oligopólios das comunicações, do
agronegócio e com educação privada. Um novo rumo à esquerda é preciso.
5- UM PARTIDO DE LUTAS, DEMOCRÁTICO E SOCIALISTA
O papel do PT e da esquerda
102. O Partido dos Trabalhadores tem uma trajetória única no mundo. Um partido plural,
formado por diversas organizações que lutaram contra a ditadura, intelectuais, movimentos,
artistas e uma parcela da Igreja católica formaram o que seria em poucos anos o maior partido
de esquerda da América Latina. Uma trajetória meteórica, onde em pouco mais de duas décadas
assume o governo central do Brasil.
103. Mas há algo que assemelha o PT aos outros partidos de trabalhadores do mundo. Todos
aqueles que foram ao poder viveram intensas contradições. Da reforma da previdência proposta
pelo Lula até a centralidade do Partido na institucionalidade causou um afastamento da sua
base histórica e uma preocupação desmedida pela governabilidade.
104. Seria leviano dizer que facilitamos o golpe de Estado, mas é verdade que ao nos
afastarmos dos movimentos sociais, ao subvalorizar o judiciário indicando como ministros
inimigos de classe e ao deixar de fazer reformas estruturais geramos um ambiente mais profícuo
para os usurpadores. A direita brasileira deixou de se contentar com acordos e tomaram de
volta, através do golpe, o poder central do Brasil. O golpe nesse sentido é fruto dos nossos
acertos – quando diminuímos a desigualdade gerando ódio de classe – mas é também pelos
nossos erros.
105. Os resultados das eleições municipais deste ano, a continuidade da perseguição
policialesca e política ao PT e ao Lula, a implementação de medidas recessivas e antipopulares
como a “PEC da morte”, o início da implementação das privatizações, a entrega do “pré-sal”,
a reorientação da política externa em favor da subordinação aos Estados Unidos, o “escola sem
partido” são, entre outras, demonstrações do real sentido do golpe institucional em curso no
país para as elites brasileiras e imperialistas: retomar o controle absoluto sobre o aparelho de
estado e com isto garantir a acumulação privada de capital em uma nova onda de supremacia
da direita neoliberal no país.
106. Exatamente pelo caráter estrutural e classista deste golpe, que a esquerda não pode se
iludir sobre sua extensão. O golpe não se concluiu com a deposição ilegítima da Presidenta
Dilma Rousseff, ele continua em curso e seu objetivo é a aniquilação política da esquerda
brasileira e de sua maior liderança social, Lula. Está na pauta a extinção do PT, a criminalização
dos movimentos sociais, a prisão do Lula e sua inelegibilidade e a construção de uma narrativa
falsa sobre a crise do país. Na arena da luta de classes, na luta contra o desmonte das políticas
sociais e o arbítrio promovidos pelo governo golpista, a direita não se contentará em ganhar
por pontos, ela visa o nosso nocaute.
107. O ritmo das medidas neoliberais do governo golpista permanecerá acelerado. Para
refrear a agenda de retrocessos e ataques que estamos vivendo é fundamental que consigamos
vencer a leniência expressa pela atual maioria do Partido, reposicionar o PT frente aos desafios
do presente e intensificar a agenda de atos, manifestações e ocupações que estão acontecendo
em todo país. A agenda da resistência ainda tem muito espaço para crescer pois a maioria da
população ainda não pôde perceber ou sentir os efeitos das medidas reacionárias que estão
sendo adotadas. Os milhões que ascenderam socialmente nos últimos anos não aceitarão
retroceder pacificamente à posição em que estavam.
108. A unidade dos partidos de esquerda, a defesa dos movimentos sociais, a convocação de
uma nova geração de ativistas à política e a reconstrução de um programa democrático e
popular com capacidade hegemônica é essencial para a virada e superação deste ciclo de
ofensiva conservadora e fascista que ocorre no mundo. É preciso apresentar sinais de mudança,
acenar para sociedade que nossa opção frente a crise e ao golpe não é pela reconciliação com
as elites. O sentimento da esquerda que está na luta de resistência não é o de reconciliar a luta
de classes que foi acirrada. E, para nossa sobrevivência, deveremos amplificar a revolta popular
e ter nitidez programática para não repetir os erros que contribuíram para nos trazer até aqui.
109. Se o PT é hoje o alvo dos ataques mais contundentes que a direita já promoveu desde a
ditadura civil militar, é porque seu papel estratégico na construção de uma sociedade
democrática e igualitária ainda não se esgotou. Porque ainda guarda a energia de um partido de
esquerda nascido, não em cartórios tampouco no parlamento, mas da luta social e da resistência
da esquerda popular. O PT pode, ainda, ser o Partido que contribuirá para organizar o
pessimismo e a indignação popular. Para isso, deverá esquivar-se do imobilismo conservador
que a ausência de direção política acarreta, e do voluntarismo cego dos que creem que a solução
para crise pode ser vislumbrada a partir de nomes, em um movimento messiânico.
110. O PT vive uma crise sem precedentes em sua história. É alvo de um profundo e virulento
processo de desconstituição, o qual poderá levar ao seu próprio desmantelamento. Porque então
“lutar por ele”? Qual a relevância de se fazer um balanço da trajetória do PT? Enfim, qual a
importância do próprio PT?
111. As respostas a essas perguntas derivam de uma questão chave para a disputa de
hegemonia política: o PT ainda não esgotou sua dimensão histórica para os trabalhadores
brasileiros e para a esquerda latino-americana, ao menos. Dois desafios políticos mantêm esta
atualidade: a manutenção da luta contra o golpe de estado no Brasil e a possibilidade da
candidatura do Lula à presidente em 2018. O PT, enquanto perdurarem essas possibilidades,
ainda manterá um capital simbólico e político muito relevante e se manterá como um
protagonista da luta democrática, mesmo com as derrotas duras que vem sofrendo.
112. Esta mesma leitura explica a guerra de aniquilamento, contra o PT e o Lula, levada a
cabo pela direita. Talvez seja ela, a direita, que melhor reconheça o significado e peso do
Partido dos Trabalhadores na política brasileira, o que explique a luta de aniquilamento
empreendida para remover o PT do caminho de seu projeto de classe. Sem o PT, ficaria aberto
o campo político para uma reforma profunda do Brasil sob o programa neoliberal, com a
desnacionalização da economia, a redução dos direitos trabalhistas e com a transferência do
controle do patrimônio estratégico do País, como a tecnologia e as reservas minerais e
ambientais, para empresas globais, além de um imenso mercado consumidor e produtor. A
transição do programa distributivista de Lula e Dilma para o programa de ajuste neoliberal está
sendo e continuará sendo feita de forma impositiva a exemplo das políticas de ajuste e
austeridade impostas pelo FMI e União Europeia à Grécia, Itália e Portugal e que começa a ser
imposta, igualmente, na Argentina e Paraguai. Esta transição, com o corte de direitos, se dará
com base na repressão à resistência popular, na maioria conservadora no Congresso Nacional
e em um forte apoio da mídia empresarial brasileira. Remover o PT é chave neste intento.
113. Com todos os equívocos e omissões, no que diz respeito às disputas estruturais sobre a
estratégia de desenvolvimento do país, o PT ainda é, cada vez com menor capacidade e
legitimidade é preciso reconhecer, uma referência de um bloco e um programa antiliberal e
antifascista no país, é uma organização com força indispensável para essa resistência. Ainda é
tido pelos grandes movimentos sociais brasileiros, como MST, MTST, CUT entre outros, como
um “companheiro’ a ser defendido.
Partido de combate e de lutas populares.
114. Partido com programa. O PT só continuará tendo relevância para a sua classe e para os
seguimentos populares se voltar a atuar por seu Programa. Os últimos anos foram marcados
por uma atuação exclusiva frente a conjuntura, frente aquilo que é possível fazer no Governo.
É preciso o contrário, um programa popular por reformas estruturais que oriente sua militância
para o máximo tensionamento das possibilidades que o sistema capitalista apresenta, tendo
como horizonte estratégico a ruptura para o socialismo. A Reforma Agrária, o fortalecimento
da agricultura agroecológica, a Reforma Urbana, a forte taxação do sistema e das transações
financeiras, a redução da jornada de trabalho sem redução de salário e a radical crítica às
desigualdades e ao modelo vigente de produção, que coloca em xeque a sustentabilidade
ambiental, são exemplos de tensões que devem hierarquicamente orientar nossa atuação;
115. Partido com horizonte estratégico socialista. Que o PT atualize imediatamente sua leitura
sobre a etapa atual de desenvolvimento do sistema capitalista, que continua a produzir bárbaras
desigualdades e crises nacionais em nome da acumulação de capital, e promova uma profunda
reflexão sobre o papel do movimento social, do Partido e do Governo em sua atuação nacional
e na América Latina. Nosso papel é caminhar sempre em direção ao socialismo, entendido
enquanto controle social sobre os meios fundamentais de produção, da saúde, da educação, do
transporte de massas e de segurança. Não é possível continuar convivendo em um sistema que
corrói o planeta e seu meio ambiente, que corrói a qualidade de vida da humanidade e que, em
2016, fará com que a riqueza de 1% da população ultrapasse a dos outros 99%. E aos que acham
antiquado falar em socialismo, afirmamos que o capitalismo não pode ser visto como estágio
supremo da evolução humana!
116. Partido com adversários e aliados claramente definidos. O que parece óbvio acaba por
não ser tão simples. Evidentemente que nossos inimigos são o fascismo (sim, é preciso incluí-
lo frente a recente conjuntura), a burguesia predatória, o grande capital e o sistema financeiro.
Porém, suas derivações e propostas se apresentam sob formas ardilosas, com forte apoio dos
oligopólios de comunicação, que fazem confundir a classe trabalhadora e a população.
Recentemente, junto à tentativa golpista de ataque à democracia, uma série de retrocessos
ganharam espaço no vácuo de nosso desgaste. Para repactuar o diálogo da esquerda com o povo
é fundamental o alinhamento do PT com uma grande agenda de unidade nacional forjada em
conjunto com os movimentos sociais através da Frente Brasil Popular, nossos reais aliados no
projeto de transformação do país. Vale lembrar que o PT não é um canal de mediação (vocação
de governos), sobretudo porque faz “parte de uma parte”, a medida em que tem lado, tem classe,
tem adversários e aliados;
117. Partido ousado na defesa dos direitos humanos. É preciso avançar na compreensão de
que a luta de classes não está somente no conflito capital-trabalho, mas também na luta das
mulheres, dos negros e negras, da população LGBT, dos indígenas, dos imigrantes, da
população em situação de rua, dos direitos das crianças e dos adolescentes, pelo
envelhecimento saudável, enfim, de todos e todas que são alvo da opressão, da violência, da
injustiça e da desigualdade. A luta de classes também se expressa em uma visão espúria que
defende que algumas pessoas são dignas de serem tratadas como seres humanos e outas não, e
é exatamente isto que se expressa através da cultura do ódio. Mais que nunca é hora de afirmar
que o problema não está nos pobres, mas na pobreza; não está nas pessoas com deficiência ou
sofrimento psíquico, mas na exclusão e falta de acesso e oportunidades; não está nas mulheres,
mas no machismo; não está nos negros e negras, mas no racismo; não está naqueles que querem
a liberdade de amar, mas na LGBTfobia. Trata-se de formar uma sociedade que queira e lute
por aniquilar com a exploração, a miséria, o preconceito, a violência! Não é à toa que, na crise,
a principal agenda de nossos adversários é fazer retroceder agendas trabalhistas e, notadamente,
agendas de Direitos Humanos. O PT e seus governos não podem seguir recuando nessa pauta
e ceder aos fundamentalismos, independente do ataque ou das pressões que sofra dos setores
mais conservadores. Além de toda a agenda “tradicional” dos Direitos Humanos, o PT deve
reafirmar sempre sua defesa do
internacionalismo, através do apoio a todos os povos que lutam por sua emancipação e
desenvolvimento social; a defesa da paz, através da solução negociada dos conflitos
internacionais e do desarmamento nuclear de todos os países; encarar verdadeiramente o debate
sobre a descriminalização e a regulação das drogas, que poderá diminuir o poder econômico
das organizações criminosas e a espiral de violência que assola o país; a firme defesa da
liberdade religiosa no Brasil, o enfrentamento ao desrespeito e a intolerância religiosa e a
reafirmação da laicidade do Estado; a defesa da educação como um direito humano e
emancipatório, não um objeto de mercantilização ou de infusão de valores da sociedade do
consumo; a descriminalização do aborto, com garantia de atendimento pelo SUS e da
autodeterminação da mulher sobre o seu corpo; a extinção do serviço militar obrigatório, além
da desmilitarização das polícias, com o fim dos autos de resistência; e sua luta contra o
genocídio da juventude negra. Para nós, a luta pelos Direitos Humanos é central na construção
do socialismo e o PT deve ser ousado em seu discurso e em sua prática neste tema.
118. Partido com novo olhar sobre os movimentos sociais, populares e sindical. O mundo tem
assistido, na última década, a formação de um novo tipo de movimento social e, mesmo, de um
novo comportamento coletivo: os indignados. Há uma transformação do ativismo
contemporâneo, uma geopolítica de indignação global. Quando menos se esperava essa
geopolítica apresentou seus efeitos ao Brasil em 2013, a partir da luta dos estudantes pelo passe
livre no transporte público, e tem gerado um rompimento de estruturas e uma crise de
representação que fazem surgir novos tipos atores, não só na juventude. Com este novo cenário,
o PT entrou em certa crise de compreensão, afinal, não dá para ser comandante do motim e, ao
mesmo tempo, comandante do navio. Para compreender os movimentos sociais atuais temos
que lhes perceber como um iceberg. A parte visível são os protestos, os repúdios, enfim, os
escrachos. Mas tem uma dinâmica interna que fica subsumida. São movimentos de
transbordamento, que sempre querem ampliar suas pautas, mas que quando chegam no ápice
em seu diálogo com a sociedade, na rua, acabam se defrontando com questões mais complexas
e a indignação, por vezes, não se transforma em projeto coletivo. Entender os diversos modelos
de organização social e popular no Brasil é algo central à construção de um partido de esquerda
e o nosso PT deve estar em permanente construção. A crise do capitalismo iniciada em 2008
continua a gerar desigualdades em escala crescente e não apenas com vieses econômicos e
sociais, mas que se materializam também através da cultura e do preconceito. Acreditamos ser
fundamental a atuação nos diversos movimentos sociais e populares, seja na luta urbana ou
rural, contra o latifúndio nacional e internacional, seja nas lutas comunitárias e nas periferias,
onde os movimentos sociais são um “braço” importante para a superação destas desigualdades,
buscando criar aproximações entre os movimentos tradicionais e estes, de novo tipo, dos
indignados. Além disto, precisamos apostar na renovação partidária e sindical, que passa pelo
fim das reeleições indefinidas, com limitação da continuidade de dirigentes em suas direções,
além de lutar por mais investimentos em políticas públicas ao mundo do trabalho, autonomia e
liberdade sindical, além do fim do imposto sindical obrigatório.
119. Partido da juventude e da renovação. Um dos maiores desafios do PT é disputar a
juventude brasileira com os valores da sociedade do consumo, em uma disputa sobre a
hegemonia cultural do capitalismo, onde a ideia de solidariedade está apartada da vida em
sociedade. Ao mesmo tempo, o fato de ser governo no país aumenta a responsabilidade do
Partido e de seu Governo em oferecer razões e apresentar uma agenda de novos direitos para a
juventude, sinalizando que esta é protagonista do nosso projeto estratégico. É a partir destes
elementos que o PT e os movimentos sociais se renovarão e se conectarão com a atual geração
de jovens. Por isso, defendemos que o PT construa uma Frente de Massas Autônoma, Libertária
e de Luta, capaz de formar uma combativa militância identificada com nosso programa, mas
com autonomia política que lhe dê condições de apresentar suas formulações críticas e
pressionar o partido e nossos governos à esquerda.
Radicalidade democrática
120. Defesa da democracia, do poder popular, do PT, da soberania nacional, da Petrobrás e do
Pré-Sal. As tentativas golpistas recentes nos fazem recordar que 1964 não é tão distante assim.
A defesa da democracia e da valorização da política está mais do que na ordem do dia. Porém,
para o PT, a Democracia e a construção do poder popular nunca foram algo formal, mas sim
um processo vivo de constante evolução. Defendemos a democracia participativa, o
financiamento público e exclusivo das campanhas, o voto no partido e um Congresso
Unicameral. Defendemos uma Política Nacional de Participação Social seja aberta a
referendos, plebiscitos, participação popular na definição do orçamento e que se realize a
democratização dos meios de comunicação, fortalecendo instrumentos alternativos para a
comunicação com a sociedade que hoje é refém dos grandes oligopólios.
121. Defendemos também a democratização do judiciário, através de eleições e mandatos
definidos, em todos os níveis. Mas para além disso, é preciso construir os instrumentos do
poder popular, da participação direta de massas enquanto sujeito ativo no controle das políticas
públicas e no controle do próprio Estado. O Estado, no regime capitalista, serve, em última
instância, aos interesses do capital e para a repressão dos de baixo e, justamente por isso, é
fundamental mantê-lo sob profundo controle social, direta ou indiretamente. Por outro lado, a
defesa do PT é atualíssima não apenas frente aos ataques da burguesia, mas também porque é
necessário um partido vinculado ao mundo do trabalho e aos movimentos sociais, socialista e
de intervenção unificada nestes movimentos, com profundidade democrática e ética nas
relações internas e no exercício de mandatos e funções. Defendemos a soberania nacional e as
riquezas geradas pelo petróleo e, ainda, um entendimento de que a República deve ser
compreendida como o compromisso com o bem comum;
Transparência e o combate à corrupção e aos desvios éticos
122. Nessa perspectiva, refletir sobre a questão ética é refletir profundamente sobre nossa
forma de organização política. O formato vertical e de ambientes internos ocupados por uma
burocracia partidária, só ela detentora de chaves reais de poder já não é compatível com as
novas energias sociais transformadoras que brotam nas ruas. Nosso modelo de uma
democracia interna formal, já não é mais suficiente se realmente quisermos impulsionar uma
revolução organizativa, modificando mais do que estatutos ou normas, a nossa cultura interna,
e efetivamente horizontalizando e democratizando as relações de poder partidárias, como
devem ser as organizações da nova geração anticapitalista em surgimento.
123. Embora a política não se confunda com a ética, com a moral ou com o direito, e seja
inerente dela as vicissitudes das relações humanas, a organização política do século 21 deve
primar por fazer a portas fechadas apenas aquilo que possa ser compartilhado na praça pública.
Embora a existência de uma direção forte e com efetiva capacidade de ação política continue a
ser um elemento fundamental, essa direção não pode se considerar acima da “base” partidária,
e apenas ela detentora de um conjunto de informações tão estratégicos que a autorize a fazer
“acordos secretos”.
124. Nossa força deve sempre brotar das ruas, da transparência e da luta pela distribuição
pública dos recursos públicos. Embora continuemos a ter um acúmulo político enorme, advindo
de nossas origens sociais, precisamos admitir que também passamos a utilizar o fisiologismo
como método de governabilidade política, o que também pressupõe relações de privatização
dos espaços públicos fora de acordos programáticos.
125. Precisamos efetivamente construir um novo modelo organizativo para dele reconstruir
nossa legitimidade social e assim estruturar, pela primeira vez desde nossas origens, um sistema
de financiamento coletivo. As pessoas somente colaborarão se puder efetivamente influenciar
nas decisões, não apenas elegendo direções, mas participando elas mesmas dos processos mais
difíceis de tomada de decisão política.
126. Por isso a estrutura partidária não pode ter uma direção burocratizada, uma elite
partidária mas a fonte de legitimação dessa direção deve ser realimentada em todos os
processos de decisão.
127. Somente essa profunda remodelação, praticamente um renascimento interno de nossa
organização pode demonstrar que efetivamente reconhecemos os erros que cometemos e com
eles aprendemos algo.
128. A atual direção é uma decorrência da estratégia posta em prática pelo PT, na luta social,
no embate político e no governo federal, desde 2002. Buscou liderar uma ampla coalizão de
forças com setores da burguesia e partidos conservadores, sem disputar a hegemonia política
na sociedade, sem disputar um programa para esta coalizão. Disputar a hegemonia sobre a
opinião pública e a posição política da população atendida pelos avanços sociais dos nossos
governos, deveria ter sido uma tarefa central. Para isto, não poderia ter contornado o
enfrentamento e a mudança radical das estruturas estatais e jurídicas, criadas ao longo de
décadas de domínio conservador sobre a política brasileira.
129. Ao achar desnecessário disputar hegemonia, abdicou da ideia das reformas,
substituindo-as por políticas compensatórias de grande vulto e capacidade de distribuição de
renda sem, no entanto, enfrentar os núcleos de reprodução da força da direita no país, a
propriedade privada, o monopólio da comunicação, o sistema financeiro, o sistema político e a
organização do estado.
130. Trata-se de uma direção política desarmada, a qual se viu perplexa e atônita em todo este
processo onde a direita retomou a ofensiva, pois abdicou do reconhecimento da luta de classes
no país e de compreender suas manifestações. Tardou a reconhecer que havia, em curso no
Brasil, um golpe de estado jurídico-parlamentar, executado através de uma ruptura
constitucional, e sempre tratou de obstruir e travar uma reação mais ofensiva do Partido. O que
teria permitido um nível maior de resistência ao impeachment e ao processo de perseguição
política levada à cabo por setores da burocracia judicial e policial e pela elite conservadora. A
direção política do PT, tanto em suas instâncias quanto no governo, sempre operou de modo a
desarmar qualquer contra-ofensiva em termos de denúncia e enfrentamento do golpe, sempre
optando por uma colaboração com setores conservadores e liberais que, afinal, nunca veio.
131. Ainda sobrevivem, em um setor burocratizado na direção do Partido, expectativas sobre
a normalização natural da política brasileira, o que se torna, a cada dia que passa, mais
improvável e insustentável na medida em que avançam as ações de criminalização do PT e do
Lula e se materializam as contra-reformas neoliberais. A luta prática que este núcleo
burocrático da Direção Nacional empreende, neste momento, é pela obstaculização das
possibilidades de reformas no PT e pela sua própria manutenção. Este não é o espírito da base
do Partido, inclusive da base do campo que sustenta esta maioria da direção política e de muito
de seus dirigentes, os quais já perceberam a dimensão da crise que envolve o PT. O que não
precisamos é de uma direção voltada para o internismo, exclusivamente voltada à sua
sobrevivência.
132. Há no PT, e na esquerda fora dele, um debate latente e manifesto de balanço destes trinta
anos e as causas desta impactante crise política, além do debate sobre seu rumo. A convocação
organizada de sua militância para este debate é essencial não só para a formulação de uma nova
estratégia para a defesa da democracia e o enfrentamento ao neoliberalismo como para a
reaglutinação dos ativistas do partido e dos movimentos populares. A mais recente reunião do
Diretório Nacional do PT convocou o 6º Congresso Nacional do Partido não sem polêmica e
discordância quanto à sua pertinência e sobre as formas de eleição de seus delegados. O núcleo
que dirige a maioria desta Direção Nacional se colocou contrário à convocação de um
congresso amplo no PT, os demais setores da direção assimilaram a proposta apresentada pelo
presidente Rui Falcão de convocação do 6º Congresso, com delegados eleitos em um processo
de encontros municipais, desde a base, com poderes plenos, observada a defesa do PT, para
discutir e pactuar uma nova estratégia e uma reorganização do Partido assim como o modo pelo
qual escolheremos sua nova direção.
133. O esforço para impedir a instalação de um congresso de plenos poderes, portanto de
ampla abrangência política, não nos permite outra leitura possível que não o de impedir um
balanço crítico de sua política e o surgimento de uma nova direção, ainda que mediada e
composta com setores críticos dessa mesma maioria. Há, nessa maioria, setores que se dispõem
a debater uma repactuação política no PT e reerguê-lo.
134. Os procedimentos e as formas desta pactuação são decisivas para a profundidade e
eficácia das mudanças no PT. A simples convocação de uma eleição entre filiados, nos padrões
do sistema eleitoral brasileiro para a eleição da direção e dos delegados ao 6º Congresso, terá
como resultado aprofundar a falência da atual estratégia e manter o poder burocrático de um
círculo muito restrito de dirigentes, os quais não representam nem mais a maioria do Partido,
muito menos sua totalidade. Este mecanismo de consulta, neste momento de crise de
insolvência da direção, se transformaria em um instrumento meramente demarcatório,
burocrático, inadequado para o momento de crise profunda que vivemos, pois não permite o
debate, apenas a instrumentalização de blocos impermeáveis para medir-se seu tamanho. A
demarcação pura é a extinção e abdicação da mediação da política para construirmos a unidade
em torno de um programa e uma estratégia que reoriente o PT e o faça reassumir seu
protagonismo, em novas bases, na disputa de hegemonia na sociedade.
135. Precisamos de mecanismos de concertação e diálogo no PT, que criem uma nova
elaboração pactuada entre todos, na exata medida da crise profunda em que vivemos.
Mecanismos que envolvam e convoquem toda a base do PT, inclusive estes movimentos e os
novos ativistas que foram às ruas em defesa da democracia. Precisamos de uma nova base
programática e uma nova estratégia que sirva como pactuação da unidade no Partido e não a
demarcação sectária e congelada proposta por alguns dirigentes nacionais, a qual levará a
consolidação da diminuição política do PT. Por isso o Congresso, com delegados eleitos na
base, ainda que com os limites desta crise, é o melhor círculo político que se possa criar para
estabelecer uma nova pactuação para virar o jogo.
136. Este é um momento de resistência onde a unidade e a reorientação política do PT são
chaves para superarmos o acantonamento ao qual fomos submetidos nestes dois últimos anos.
Esperamos ultrapassar esta barreira burocrática que impede a reorientação do PT e sua
preparação para enfrentar a conjuntura. Cada manobra, cada postergação, cada inação, significa
mais dificuldades e mais decepções na base militante do Partido e dos movimentos sociais.
137. Esse impasse político vivido no PT serve apenas à fragmentação e ao colaboracionismo
com a direita no Congresso Nacional. Não serve ao PT, tampouco à esquerda combativa, enfim,
não serve aos nossos objetivos de retomarmos a ofensiva na política. O PT precisa seguir vivo
e relevante para evitarmos o pior para a classe trabalhadora. Não há, nesse contexto,
organização capaz de substituí-lo na esquerda brasileira. Mas se não houver uma clara
superação do modelo de condução do partido, orientada por referências estratégicas e que seja
visível aos olhos dos setores organizados do movimento social e da população em geral, o PT
perecerá, sem nada substancial para substituí-lo por um largo período.
138. Existe uma crescente constatação dentro do PT que aponta o início do Processo de
Eleições Diretas como o principal responsável pelo enfraquecimento das instâncias de base
do Partido. O PED se tornou instrumento que visa quase exclusivamente o controle da máquina
partidária em detrimento, consciente ou não, a articulação de luta social. É urgente a revisão
do PED, não com a volta pura e simples do modelo congressual, mas com a criação de novo
mecanismo que combine a participação direta do filiado na escolha das direções, com a
característica congressual que é a da formação de um espaço capaz de gerar debate político e
concertação de forma simultânea. Também defendemos que o PT agregue no seu
funcionamento as formas de participação que defende na Reforma Política, como plebiscitos,
referendo e consultas que devem ser convocados sob diversos temas, onde a militância do PT
deve ser convocada também para definir as posições políticas do Partido.
7- AO CONGRESSO MUDAR O PT
139. O PT, ainda, possui força e densidade para ser o Partido que organizará a indignação
popular. Contudo, para estar à altura deste desafio histórico deverá esquivar-se do imobilismo
conservador que a ausência de direção política acarreta, e do voluntarismo cego dos que creem
que a solução para crise pode ser vislumbrada a partir de nomes ou de legendas. A conjuntura
não abre espaço nem para resignação passiva nem para o devaneio ingênuo, mas sim requer
um amplo e democrático processo de debate e reorientação estratégica.
140. É certo que são enormes as mudanças que o PT precisará fazer para ser capaz de
sobreviver e ser de novo referência para um programa transformador no Brasil, mas quem vai
decidir se o PT acabou ou não é a sua relevância para classe trabalhadora e a base partidária,
para isso ela precisa ser ouvida, participar do debate e contribuir na definição dos novos
rumos.
141. Para refrear a agenda de retrocessos e ataques que estamos vivendo teremos que vencer
a leniência expressa pela atual maioria do Partido, reposicionar o PT frente aos desafios do
presente e intensificar a agenda de atos, manifestações e ocupações que estão acontecendo em
todo país.
142. Espantosamente ainda sobrevivem, em um setor burocratizado na direção do Partido,
expectativas sobre a normalização natural da política brasileira, o que se torna, a cada dia,
mais insustentável na medida em que avançam as ações de criminalização do PT e do Lula e
se materializam as contrarreformas neoliberais. A luta prática que este núcleo burocrático
empreende, neste momento, é pela inviabilização das possibilidades de reformas no PT e pela
sua própria manutenção na burocracia partidária.
143. A resistência apresentada ao chamamento do Congresso e a busca por impedir seu
caráter plenipotenciário e, portanto, de ampla abrangência política não corresponde ao espírito
da base petista, inclusive da base do campo que sustenta esta maioria da direção nacional e de
muito de seus dirigentes, os quais já perceberam a dimensão da crise que envolve o PT e
sabem que, caso a guinada à esquerda não aconteça, poderão não ter mais Partido para dirigir.
144. Nossa luta e militância será para que o Congresso seja verdadeiramente capaz de
produzir uma nova elaboração pactuada entre todos, na exata medida da crise profunda que
vivemos. Esse Congresso precisa efetivar um balanço autocrítico que nos possibilite um
diagnóstico profundo dos erros e acertos que nos trouxeram até aqui. Deve consolidar uma
nova estratégia, um novo programa e uma nova forma de organização do Partido. Deve
também ser capaz de eleger uma direção sintonizada com esse novo momento do PT.
145. Enquanto a perseguição ao Partido se aprofunda, proliferam-se as polêmicas em torno
das questões secundárias. Leiloam-se nomes, debatem-se formas de eleição das direções, mas
não se discute o fundamental: a estratégia, os rumos, a organização, o balanço e as novas
tarefas do PT frente a atual conjuntura. Isso é o basilar e para isso queremos um congresso
real, democrático e militante.
146. Os que fogem do debate do congresso, os que tentam interditar a autocrítica e a
rediscussão estratégica do Partido, os que almejam eleger direção sem debater o programa,
precisam saber que todos e todas nós, petistas, estamos envolvidos hoje na mesma
encruzilhada, condenados a ter êxito ou a fracassar juntos. O momento é de mostrar que
rompemos com o pacto da conciliação de classes e nos constituirmos enquanto instrumento
de potencialização da revolta popular.
147. Não estamos dispostos a abrir mão do PT, ao contrário, queremos reorienta-lo frente ao
atual período histórico. Um racha no PT é o sonho da direita que comandou o golpe no país e
esta direita, através das medidas que vem implementando, está nos chamando para guerra. Lá
fora, na arena da luta de classes, na luta contra o desmonte das políticas sociais e o arbítrio
promovidos pelo governo golpista, a direita não se contentará em ganhar por pontos, ela visa
o nosso nocaute.
148. O VI Congresso ocupa, portanto, a centralidade na agenda petista, não obstante a luta e
a resistência contra o golpe e as medidas neoliberais e ditatoriais do governo ilegítimo. A
tentativa de contrapor essas duas trincheiras, a luta política e o debate pela reorientação do
PT, é d