Tese Clarice Menezes Degani

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  • CLARICE MENEZES DEGANI

    MODELO DE GERENCIAMENTO

    DA SUSTENTABILIDADE DE FACILIDADES CONSTRUDAS

    Tese apresentada Escola

    Politcnica da Universidade de

    So Paulo para obteno do

    Ttulo de Doutor em Engenharia Civil

    So Paulo

    2010

  • CLARICE MENEZES DEGANI

    MODELO DE GERENCIAMENTO

    DA SUSTENTABILIDADE DE FACILIDADES CONSTRUDAS

    Tese apresentada Escola

    Politcnica da Universidade de

    So Paulo para obteno do

    Ttulo de Doutor em Engenharia Civil

    rea de Concentrao:

    Engenharia de Construo Civil

    Orientador:

    Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso

    So Paulo

    2010

  • Este exemplar foi revisado e alterado em relao verso original, sob responsabilidade nica do autor e com a anuncia de seu orientador. So Paulo, de fevereiro de 2010.

    Assinatura do autor ____________________________

    Assinatura do orientador _______________________

    FICHA CATALOGRFICA

    Degani, Clarice Menezes

    Modelo de gerenciamento da sustentabilidade de facilidades construdas / C.M. Degani. -- ed.rev. -- So Paulo, 2010.

    210 p.

    Tese (Doutorado) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia de Construo Civil.

    1. Sustentabilidade 2. Gesto ambiental 3. Servios (Qualida- de) I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departa- mento de Engenharia de Construo Civil II. t.

  • Ao meu orientador, prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso, por

    toda a sua pacincia e confiana na concluso deste trabalho

    e, especialmente, pelo apoio no momento em que eu poderia

    ter colocado tudo a perder.

    Ao meu querido filho, Henrique Degani Moreira, que foi meu

    companheiro nesta batalha e soube me compreender nos

    momentos de dedicao tese.

    Aos meus pais, Luiz Antnio Degani e Raquel Menezes

    Degani, pelo estmulo e apoio fundamentais em cada um dos

    momentos vividos ao longo destes cinco anos que tanto

    modificaram meu destino.

  • AGRADECIMENTOS

    Sou extremamente grata ao meu orientador prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso,

    pelas oportunidades profissionais e pelo apoio em cada uma das diferentes fases

    pelas quais esta pesquisa passou.

    Agradeo ao Centre Scientifique et Technique du Btiment CSTB, pela

    oportunidade de compartilhar de suas valiosas experincias no caminho da

    sustentabilidade. Mas, especialmente, equipe tcnica que to carinhosamente me

    acolheu na primeira fase dos estudos: Patrick Nossent, Sylvianne Nibel e Laure

    Nagy. Ao meu companheiro de bureaux Thierry Lacroix e sua esposa Selma

    Lacroix. minha querida Fattiha Slimane. s amigas Stephanie Berton, Pierrette e

    Florence.

    Um forte abrao de agradecimento Marcela Basile Leite pelo companheirismo e

    amizade durante toda a estadia francesa.

    Agradeo ao CNPq pelo suporte financeiro da pesquisa na etapa brasileira.

    Agradeo ao PECE-USP pela bolsa de estudos em duas disciplinas do MBA

    Gerenciamento de Facilidades.

    Agradeo Fundao Vanzolini, especialmente ao prof. Dr. Manuel Carlos Martins,

    pela oportunidade de integrar a equipe de desenvolvimento tcnico do referencial

    brasileiro para avaliao e certificao do desempenho ambiental de edifcios

    processo AQUA.

    Um abrao, mais do que especial, Ftima Domingues que sempre me orientou nos

    momentos de sufoco.

    Tambm agradeo muito todas as contribuies dos membros da banca

    examinadora, alm de meu orientador:

    Prof. Dr. Flvio Picchi

    Prof. Dr. Marcelo Romro

    Prof. Dr. Moacyr Eduardo Alves da Graa

    Prof. Dra. Sheila Walbe Ornstein

  • E, com muita gratido, referencio os grandes profissionais que disponibilizaram parte

    de seu tempo contribuindo para a concretizao deste trabalho:

    Alexandre Mendes Ferreira

    Ana Carolina Borges Pinheiro

    Andria Abreu

    ngela Costa

    Elizabeth Vargas

    Fernando Resende

    Gilberto Vicentim

    Juliana Pinheiro Gonalves

    Luiz Ruivo

    Maurcio Bernardes

    Maurcio Homma

    Pedro Sarro

    E, aos amigos de jornada, que tanta ajuda e alegria me trazem!

    Andreia Betioli, Caio Queiroz, Carla Santovito, Cssia Espada, Cludia Jesus,

    Cristiana Ohnuma, Cristine de Castro, Daniel Ohnuma, Diana Csillag, Eliane Suzuki,

    Erika Urbanjos, Fernanda Ormonde, Flvio Maranho, Luciana Alves, Luciana

    Peixoto, Mnica Camargo, Nixon Vilela, Patrcia Aulicino, Rogrio Santovito, Rosane

    Picolli, Srgio ngulo, Srgio Zordan, Vanessa Taborianski e Viviane Miranda.

  • RESUMO

    A sustentabilidade das facilidades construdas premissa para o desenvolvimento

    sustentvel global. Sendo assim, esta tese pretende reconhecer quais seriam os

    novos aspectos do gerenciamento de facilidades a serem desenvolvidos para

    garantir a perenidade e a evoluo do desempenho dos edifcios em uso.

    O modelo de gerenciamento da sustentabilidade de facilidades construdas proposto

    nesta tese elaborado a partir da caracterizao das atividades normalmente

    realizadas pelos gerentes de facilidades dos edifcios, agente relativamente novo no

    contexto imobilirio, mas que j tem demonstrado sua importncia em termos de

    reduo de custos operacionais e valorizao imobiliria. Os modelos de avaliao e

    certificao de edifcios e os sistemas de gesto ambiental tambm auxiliam na

    elaborao deste modelo de gerenciamento, uma vez que apresentam requisitos e

    ferramentas relevantes para as questes de desempenho ambiental e gerencial dos

    edifcios.

    Assim, fundamentado no conceito de gesto para o desempenho, o modelo proposto

    por esta tese indica diretrizes de gerenciamento e sugere requisitos para a avaliao

    do desempenho dos edifcios em uso nas suas diversas tipologias. A inteno

    apresentar uma forma concreta de inserir objetivos de sustentabilidade na rotina

    diria dos gerentes de facilidades, por meio de uma sistemtica de gesto e da

    identificao dos parmetros essenciais a serem controlados.

  • ABSTRACT

    The facilities sustainability is a premise for a global sustainable development.

    Therefore, this thesis aims to recognize what are the new aspects of facilities

    management to be developed to ensure existing buildings performance and its

    evolution along time.

    The model presented in this thesis for the management of facilities sustainability is

    drawn from the characterization of the activities usually performed by the facilities

    managers, which is a quite new staff member in the real estate market, but that

    already has demonstrated its importance in terms of reducing operating costs and

    value appreciation. The buildings evaluation and certification models and the

    environmental management systems also help in preparing this management model,

    as they present requirements and relevant tools to the issues of environmental

    performance and buildings management.

    Thus, based on the concept of management performance, the model proposed by

    this thesis suggests management guidelines and some requirements for assessing

    the performance of existing buildings in all kinds of typologies. The goal is to provide

    a concrete way to insert sustainability issues in the daily routine of facilities managers

    through a systematic management and a key parameters control.

  • SUMRIO

    Lista de Figuras

    Lista de Tabelas

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    1 INTRODUO E JUSTIFICATIVA 01

    1.1 CONTEXTO E JUSTIFICATIVAS DA PESQUISA 01

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA 07

    1.3 ESTRUTURAO DO DOCUMENTO 08

    2 METODOLOGIA 10

    3 GERENCIAMENTO DE EDIFCIOS EM USO 17

    3.1 GERENCIAMENTO DE FACILIDADES GF 20

    3.2 BOAS PRTICAS EM GERENCIAMENTO DE FACILIDADES 30

    3.3 ASPECTOS DE SUSTENTABILIDADE EM DISCUSSO

    PELOS GERENTES DE FACILIDADES 32

    4 SUSTENTABILIDADE DE EDIFCIOS 39

    4.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NO SETOR DA

    CONSTRUO CIVIL 39

    4.1.1 A sustentabilidade dos edifcios e seu ciclo de vida 41

    4.1.2 Cenrio brasileiro 44

    4.2 ASPECTOS DE SUSTENTABILIDADE RELEVANTES

    PARA A CONSTRUO CIVIL 52

    4.3 ASPECTOS DE SUSTENTABILIDADE DAS FACILIDADES

    CONSTRUDAS 57

    4.4 AVALIAO DA SUSTENTABILIDADE DE EDIFCIOS 68

    4.4.1 Metodologias de avaliao ambiental e certificao de edifcios 76

  • 5 BREVE ANLISE DO CENRIO ATUAL Estudo Exploratrio de prticas

    de gerenciamento de facilidades no Brasil 93

    5.1 DESENVOLVIMENTO DOS ESTUDOS 93

    5.2 ESTUDOS EXPLORATRIOS 97

    5.2.1 Edifcio 1 universidade privada 97

    5.2.2 Edifcio 2 edifcio corporativo nico ocupante uma torre 106

    5.2.3 Edifcio 3 loja de varejo 117

    5.2.4 Edifcio 4 laboratrio de anlises clnicas certificado LEED 123

    5.3 ANLISE DOS ESTUDOS EXPLORATRIOS 130

    6 MODELO DE GERENCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE DE

    FACILIDADES CONSTRUDAS MGS 140

    6.1 DIAGNSTICO INICIAL 146

    6.2 IDENTIFICAO DO POTENCIAL DE SUSTENTABILIDADE 149

    6.3 PLANEJAMENTO 150

    6.4 OPERAO 154

    6.5 MONITORAMENTO E CONTROLE 154

    6.6 AUDITORIAS PERIDICAS DE DESEMPENHO 155

    6.7 ANLISE CRTICA PARA MELHORIA CONTNUA 156

    6.8 SNTESE DAS DIRETRIZES PARA O GERENCIAMENTO

    DA SUSTENTABILIDADE DE FACILIDADES CONSTRUDAS 157

    6.8.1 Diretrizes de gerenciamento de sustentabilidade etapa Planejamento 159

    6.8.2 Diretrizes de gerenciamento de sustentabilidade etapa Operao 171

    6.8.3 Diretrizes de gerenciamento de sustentabilidade etapa

    Monitoramento e Controle 184

    6.9 MGS ESQUEMTICO 198

    7 CONSIDERAES FINAIS 200

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    APNDICE A FICHA 1 PROGRAMAO DAS ENTREVISTAS

  • APNDICE B FICHA 2 FICHA DO EMPREENDIMENTO

    APNDICE C FICHA 3 ELEMENTOS DE GESTO PRESENTES

    APNDICE D FICHA 4 ATRIBUIO DE RESPONSABILIDADES EM

    GERENCIAMENTO DE FACILIDADES

    APNDICE E FICHA 5 GERENCIAMENTO DE FACILIDADES PRATICADO

    APNDICE F FICHA 6 BOAS PRTICAS

    APNDICE G FICHA 7 ASPECTOS DE SUSTENTABILIDADE DO EDIFCIO

    APNDICE H DIRETRIZES PARA O GERENCIAMENTO DA

    SUSTENTABILIDADE DE FACILIDADES CONSTRUDAS

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.1 Custos relativos vida til do edifcio (Ceotto, 2007)

    Figura 4.1 Ciclo de vida dos edifcios

    Figura 4.2 Exemplo da etiquetagem do Inmetro para eficincia energtica de

    edifcios

    Figura 4.3 Grupos de aspectos de sustentabilidade de edifcios em uso

    Figura 4.4 Grupos de aspectos de sustentabilidade aplicados na avaliao do

    desempenho de edifcios em uso

    Figura 4.5 APO e Gesto da Qualidade em Ambientes Escolares (ORNSTEIN,

    2005)

    Figura 4.6 Pesos dos diferentes temas nas principais metodologias analisadas

    Figura 6.1 Grupos de atividades do gerenciamento de facilidades

    Figura 6.2 Modelo de Gerenciamento da Sustentabilidade de Facilidades

    Construdas (MGS)

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 4.1 Temas e preocupaes abordados pelas metodologias analisadas

    (Cardoso e Degani, 2007)

    Quadro 4.2 Matriz de aspectos ambientais e impactos relacionados etapa de Uso

    e Operao

    Quadro 4.3 Caractersticas diversas de algumas metodologias estudadas em

    Cardoso e Degani (2007) e acrscimos

    Quadro 5.1 Caractersticas gerais dos quatro edifcios analisados nos estudos

    exploratrios

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ABRAFAC Associao Brasileira de Facilities

    APO Avaliao Ps-Ocupao

    ATEQUE Atelier dEvaluation de La Qualit Environnementale des

    Btiments

    BEPAC Building environmental performance assessment criteria

    BIFM British Institute of Facilities Management

    BRE Building Research Establishment

    BREEAM Building Research Establishment Environmental Assessment

    Method

    CASBEE Comprehensive Assessment System for Building Environmental

    Efficiency

    CBCS Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel

    CEF Caixa Econmica Federal

    CIB International Council for Research and Innovation in Building and

    Construction

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    CSTB Centre Scientifique et Technique du Btiment

    FCAV Fundao Vanzolini

    FICAM Ficha de Cadastramento de Manuteno

  • FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

    FM Facility Management

    FSC Forest Stewardship Council

    FUSP Fundao de Apoio Universidade de So Paulo

    GBC Green Building Challenge

    GF Gerenciamento de Facilidades

    HQE Haute Qualit Environnementale du Btiment

    HVAC Heating, Ventilation, Air conditioning

    IFMA International Facility Management Association

    iiSBE International Initiative for a Sustainable Built Environment

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade

    Industrial

    IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo

    KPI Key performance indicators

    LabEEE Laboratrio de Eficincia Energtica da Universidade Federal de

    Santa Catarina

    LEED Leadership in Energy and Environmental Design

    LSP/PCC Laboratrio de Sistemas Prediais do Departamento de

    Engenharia de Construo Civil da USP

    MGS Modelo de gerenciamento da sustentabilidade de facilidades

    construdas

    PBQP-H Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade do Habitat

    PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional

  • PMOC Plano de Manuteno, Operao e Controle

    PNCDA Plano Nacional de Combate ao Desperdcio de gua

    POLI/USP Escola Politcnica da Universidade de So Paulo

    PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais

    PROCEL Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica

    PSQ Programas Setoriais da Qualidade

    PURA Programa de Uso Racional da gua

    QEP Qualit Environnementale des Pratiques

    RCD Resduos de construo, manuteno e demolio

    SABESP Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo

    SBC Sustainable Building Challenge

    SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    SiAC Sistema de Avaliao da Conformidade de Empresas de

    Servios e Obras

    SiMaC Sistema de Qualificao de Materiais, Componentes e Sistemas

    Construtivos

    SINAT Sistema Nacional de Avaliao Tcnica de Produtos Inovadores

    SLA Service level agreements

    SPDA Sistema de Proteo Descarga Atmosfrica

    UFG Universidade Federal de Gois

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

    UFU Universidade Federal de Uberlndia

  • UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

    USGBC United States Green Building Council

    USP Universidade de So Paulo

  • 1

    1. INTRODUO E JUSTIFICATIVA

    1.1 CONTEXTO E JUSTIFICATIVAS DA PESQUISA

    A sustentabilidade das facilidades construdas premissa para o desenvolvimento

    sustentvel global. A proviso de facilidades construdas para habitao, ensino,

    produo industrial, produo de servios, lazer, esportes, sade, comrcio,

    infraestrutura e saneamento so necessidades do presente e do futuro para todas as

    naes.

    O ambiente construdo, que neste trabalho denominamos de modo mais amplo

    como facilidades construdas, tem potencial de contribuio para a minimizao de

    muitos dos impactos socioambientais da atualidade: a escassez de gua, o risco de

    indisponibilidade de energia eltrica, os desmatamentos, a m qualidade do ar

    interior dos edifcios, a degradao das edificaes e o efeito estufa.

    Agendas setoriais e mesmo de determinados pases colocam em pauta questes

    diretamente relacionadas ao ambiente construdo, tais como reduo dos consumos

    de gua, energia e materiais; conservao das reas naturais e da biodiversidade;

    reduo da emisso de gases contribuintes para o efeito estufa; manuteno da

    qualidade do ambiente construdo e gesto da salubridade do ar interior (CIB, 1999).

    Considerando as facilidades construdas sob um enfoque econmico, segundo

    Ceotto (2007), 80% do custo total de um edifcio, considerando todo o seu ciclo de

    vida, acontece na etapa de uso e operao, como apresentado no grfico da figura

    1.1. O restante dos desembolsos ocorre nas etapas anteriores, denominadas pelo

    autor de concepo, projeto e construo da obra, e tambm uma parcela na etapa

    final, que ele denomina de adaptao para reso. Partindo desta viso, esta

    pesquisa compartilha a idia de que alguns dos impactos ambientais e sociais

    ocorram nesta mesma proporo, ou seja, ao longo da vida til dos edifcios que

    estes impactos se manifestam, numa proporo semelhante.

  • 2

    Figura 1.1 Custos relativos vida til do edifcio (Ceotto, 2007)

    Contextualizando as facilidades construdas, percebe-se que nelas se desenrolam

    atividades de uso, operao e manuteno, e estas tarefas so realizadas por

    agentes distintos e com diferentes naturezas. As atividades de uso so aquelas

    praticadas pelos prprios usurios da edificao, dentro de condies adequadas e

    previstas em projeto. As atividades de operao e manuteno j possuem uma

    natureza mais tcnica por operao entende-se controlar o funcionamento de

    instalaes e equipamentos, com a finalidade de criar condies adequadas para o

    uso da edificao e por manuteno conservar ou recuperar a capacidade

    funcional da edificao e de suas partes constituintes de atender as necessidades e

    segurana de seus usurios (ABNT, 1998).

    Assim, a sustentabilidade das facilidades construdas apresenta-se como um grande

    desafio aos proprietrios dos edifcios e aos seus usurios, envolvendo questes

    como viabilidade econmica, atendimento de demandas, responsabilidade social,

    minimizao de impactos ambientais e, at mesmo, o fortalecimento do valor de

    mercado do imvel em funo de caractersticas como durabilidade, flexibilidade e

    adequao ao uso. Todos estes aspectos esto relacionados medida do

    desempenho dos empreendimentos.

    O tema desempenho de edifcios em uso h anos objeto de pesquisas acadmicas

    na rea de avaliao ps-ocupao (APO). No entanto, o objetivo dos estudos

    publicados tem sido identificar e retroalimentar os escritrios de projeto com

  • 3

    informaes que os orientem para a criao de edifcios semelhantes melhores no

    futuro e, aos proprietrios destes imveis, informaes que viabilizem a

    implementao de melhorias, adaptaes e correes nos ambientes construdos,

    quase sempre com base na percepo dos ocupantes do edifcio e de pessoas

    chave especializadas (zeladores, gestores, gerentes de facilidades, por exemplo) e

    de suas necessidades.

    Em se tratando de APO, um dos temas bem trabalhado e relacionado

    sustentabilidade a questo da eficincia energtica dos edifcios em uso. Nas

    APOs aplicadas, se percebe a relao entre o desempenho energtico e os

    aspectos de concepo de projeto, tais como: a implantao do edifcio em funo

    das dimenses do lote e do diagrama de insolao; a escolha dos materiais da

    envoltria; o percentual de faces expostas s radiaes solares; o uso e

    gerenciamento dos espaos no interior do edifcio os primeiros aspectos so

    essencialmente determinados na fase de concepo, entretanto, o ltimo fator ainda

    pode ser trabalhado nos edifcios em uso.

    Outros temas estudados para os edifcios em uso referem-se ao uso racional da

    gua, durabilidade de materiais e componentes e respectivas anlises de ciclo de

    vida, eficincia energtica e sua relao com os equipamentos e rotinas de

    manuteno. Ainda em termos de desempenho so pesquisadas as manifestaes

    patolgicas das construes e a sndrome dos edifcios doentes a primeira

    relacionada aos vcios das edificaes e a ltima mais relacionada a impactos na

    sade humana.

    Gerenciar sustentabilidade, sem sombra de dvida, uma questo fundamental

    para a sobrevivncia das organizaes no mundo todo, haja visto o contedo dos

    Princpios do Equador1, ao qual se submetem as instituies financeiras e que

    comandam toda a disponibilidade de recursos a todos os tipos de negcios.

    H dez anos atrs, um levantamento europeu2 indicou que muitas organizaes

    estavam perdendo oportunidade de reduzir custos e melhorar seu desempenho em

    1 Os Princpios do Equador so um referencial do setor financeiro para identificao, avaliao e

    gesto de risco socioambiental no financiamento de projetos. Disponvel em http://www.equator-principles.com. 2 Pesquisa europia, baseada em entrevistas com executivos do setor imobilirio, realizada por Arthur

    Anderson e referenciada em Then (1999).

  • 4

    virtude da falta de ateno aos aspectos relacionados gesto de suas instalaes

    fsicas.

    Neste contexto, e voltado ao gerenciamento das instalaes fsicas das

    organizaes, surge a figura do gerente de facilidades ou facility manager.

    A princpio, os gerentes de facilidades eram indivduos, terceirizados ou no, que

    passaram a implementar e controlar, alm das funes operacionais e de

    manuteno padro dos edifcios, aqueles servios de apoio ao negcio central

    exercido pelas organizaes que o ocupam ou, at mesmo, de apoio ao prprio uso

    ou habitao atividades adicionais que acabaram trazendo maior complexidade

    administrao condominial convencional. Atualmente, as atividades de uso,

    operao e manuteno tm sido gerenciadas por diferentes nveis de especialidade

    profissional e sob as mais diversas formas de estrutura organizacional, sendo

    algumas vezes realizadas de modo ineficiente e informal. As questes ambientais e

    sociais ainda so pouco trabalhadas em termos de forma de ocupao, permanncia

    do desempenho e perenidade dos edifcios ao longo do tempo, sendo alvo as

    questes econmicas.

    De modo geral, o gerenciamento de facilidades abrange reas de conhecimento da

    engenharia, arquitetura e administrao. Seu propsito otimizar o uso dos recursos

    disponveis e aperfeioar o desempenho dos edifcios e seus sistemas, contribuindo

    para a eficincia do ambiente construdo.

    Nestes termos, otimizar recursos tambm pode significar preservar nossas reservas

    naturais e valorizar ao mximo todo o material j extrado e transformado, inclusive

    racionalizando o consumo de gua e energia. Outras demandas que surgem tratam

    da necessidade de considerao dos aspectos humanos e sociais das atividades

    produtivas e da prpria ocupao dos edifcios, sendo extremamente relevante a

    soluo de questes relacionadas qualidade do ar interno, sade ocupacional e s

    diversas caractersticas de conforto e sade humanos.

    O International Council for Research and Innovation in Building and Construction

    (CIB), por meio do comit CIB W070 Facilities Management and Maintenance,

    promove conferncias especficas para o gerenciamento de facilidades. Seus

    projetos pretendem promover o gerenciamento do ambiente construdo como um

  • 5

    processo holstico, fundamentado na compreenso de que as facilidades, vistas

    como elementos de um negcio sustentvel, devem ser gerenciadas de modo

    alinhado s necessidades operacionais, as quais esto em constante movimento em

    funo das demandas de mercado para este negcio (CIB W0703).

    Frente a todos estes desafios, surge a necessidade de formalizar e estruturar a

    atuao deste novo agente o gerente de facilidades, para que ele possa assumir

    o compromisso de manter e aperfeioar o desempenho dos edifcios, nas suas

    diversas tipologias, mais ou menos complexas, mas agora incorporando os critrios

    de sustentabilidade.

    A padronizao e normalizao dos procedimentos de gerenciamento de facilidades

    tambm pauta das reunies do comit W070 do CIB, nas quais se discute a

    elaborao de um modelo de gerenciamento de facilidades, identificando e

    formalizando as rotinas essenciais, mas que seja flexvel o bastante para permitir

    sua aplicao nas diversas tipologias de edifcios.

    Neste contexto, surgem questes tais como: Quais seriam os novos aspectos de

    gesto a serem implementados pelos gerentes de facilidades? E quais seriam as

    prticas e os indicadores relacionados capazes de lidar com os aspectos de

    sustentabilidade relevantes nas aes de uso, operao e manuteno dos

    edifcios?

    Como esse trabalho vai mostrar, so raros os estudos e a literatura que apresentam

    estes novos aspectos de gesto e as prticas e indicadores relacionados. Algumas

    fontes so as metodologias internacionais de avaliao ambiental de edifcios, as

    quais apresentam requisitos de sustentabilidade a serem atendidos pelos edifcios

    em uso e apontam algumas rotinas de gesto a serem implementadas, tais como o

    referencial HQE Exploitation aplicado na Frana (CERTIVA, 2008) e o Leed O&M

    aplicado nos Estados Unidos (USGBC, 2008). No entanto, as prticas e os

    indicadores avaliados por estas metodologias ainda no cobrem completamente

    todos os aspectos de sustentabilidade presentes na operao e no gerenciamento

    dos edifcios como, por exemplo, os sociais, alm de terem o foco nas prioridades de

    cada pas de origem.

    3 Informaes a respeito do CIB e seus comits de trabalho disponveis em http://cibworld.nl.

  • 6

    Tratando dos edifcios brasileiros, Silva (2003) analisa as metodologias

    internacionais de avaliao de desempenho ambiental de edifcios novos e conclui a

    inadequao das importaes destes sistemas entre pases com realidades to

    distintas.

    Assim, para lidar com o desempenho em termos de sustentabilidade nas atividades

    de uso, operao e manuteno de edifcios, alguns aspectos devem ser priorizados

    e outros, ainda, devem ser identificados e elaborados. Chama-se a ateno,

    portanto, para a necessidade de extenso dos trabalhos j existentes para a

    avaliao e certificao do desempenho ambiental de edifcios, atualmente em

    expanso no mercado de edifcios novos e aplicados s etapas de projeto e

    construo, mas agora estendida para a etapa de uso e operao dos edifcios

    atuando na garantia da continuidade e do aperfeioamento do desempenho

    ambiental original dos empreendimentos j entregues com alto nvel de desempenho

    ambiental, por exemplo.

    Enfim, o papel fundamental que o gerenciamento das facilidades construdas exerce

    para a perenidade e o aperfeioamento do desempenho dos edifcios evidenciado

    neste trabalho, sendo esta uma viso da gesto para o desempenho, a qual

    fundamenta e orienta toda a proposta desta tese.

    Sendo assim, deve-se entender a gesto para o desempenho como um meio de

    estruturao das rotinas de gerenciamento das organizaes, o qual busca

    identificar, analisar, planejar, aplicar e controlar aes especficas com o objetivo de

    alcanar melhores desempenhos para os edifcios em uso.

    Desta forma, nesta tese o autor pretende ampliar o escopo de trabalho do

    gerenciamento de edifcios, identificando as suas interfaces com as vertentes da

    sustentabilidade ambiental, social e econmica, com a finalidade de orientar os

    gerentes de facilidades em seus processos de gesto e tomada de deciso, na

    inteno de aperfeioar e garantir o nvel de desempenho das edificaes em uso,

    nas suas diversas tipologias, por meio da proposio de um modelo de

    gerenciamento da sustentabilidade de facilidades construdas.

  • 7

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

    As questes a serem resolvidas nesta tese so:

    Como garantir a permanncia e aperfeioar o desempenho dos edifcios frente s

    questes ambientais, sociais e econmicas relacionadas s atividades de uso,

    operao e manuteno?

    Quais seriam os aspectos de gesto, as prticas e os indicadores relacionados

    capazes de trabalhar os aspectos de sustentabilidade relevantes aos edifcios em

    uso?

    Deste modo, o objetivo principal desta pesquisa desenvolver um modelo de

    gerenciamento da sustentabilidade de facilidades construdas, a ser aplicado

    funo do gerenciamento de facilidades, tomando como princpio o conceito de

    gesto para o desempenho, estabelecendo diretrizes que identifiquem as

    potencialidades e as necessidades dos edifcios em termos de sustentabilidade,

    subsidiando os processos decisrios e os investimentos para a modernizao e a

    permanncia da adequao dos empreendimentos existentes.

    Trata-se de uma iniciativa para o atendimento da necessidade estratgica das

    organizaes ou dos proprietrios das edificaes em lidar com a sustentabilidade

    do ambiente construdo onde desenvolvem sua atividade fim ou simplesmente

    ocupam ou habitam. A sustentabilidade j percebida por estes agentes como

    durabilidade, permanncia de desempenho e valor imobilirio dos ambientes

    construdos.

    Outros objetivos especficos tambm so pretendidos nesta tese:

    contribuir para a consolidao de um referencial terico referente atividade de

    gerenciamento de facilidades e sua influncia no desempenho dos edifcios;

    identificar os aspectos de sustentabilidade tratados nas metodologias existentes

    para avaliao e certificao de edifcios, especialmente os relacionados aos

    edifcios em uso;

  • 8

    determinar os aspectos de sustentabilidade (analogia com aspectos

    ambientais) presentes nos edifcios em uso e indicar seus impactos potenciais;

    investigar, no Brasil e para algumas tipologias de edifcios, os modelos de

    gerenciamento de facilidades praticados, sua formalidade, estrutura

    organizacional, abrangncia, influncias e boas prticas em termos de

    sustentabilidade;

    elaborar mecanismo de gesto que retroalimente novos projetos, atuando

    complementarmente rea de avaliao ps-ocupao, mas com o foco na

    melhoria contnua dos aspectos de sustentabilidade dos edifcios;

    organizar uma lista de verificao para que os gerentes de facilidades, ou os

    agentes que exercem as tarefas relacionadas s facilidades construdas, possam

    avaliar o desempenho dos edifcios em uso tanto em termos de rotinas gerenciais

    praticadas quanto de aspectos de desempenho presentes.

    Deste modo, espera-se apresentar aos gerentes de facilidades, aos quais se destina

    o modelo de gerenciamento proposto, uma forma concreta de inserir objetivos de

    sustentabilidade em sua rotina diria, por meio de uma sistemtica de gesto e da

    identificao dos parmetros essenciais a serem controlados.

    1.3 ESTRUTURAO DO DOCUMENTO

    A presente tese est organizada em sete captulos, cujo contedo descreve-se a

    seguir.

    No Captulo 1 a autora contextualiza a pesquisa e apresenta as justificativas para o

    desenvolvimento da tese, seus objetivos, suas limitaes, o mtodo de pesquisa

    utilizado e a estrutura do documento.

    No Captulo 2 a autora descreve a metodologia utilizada ao longo do

    desenvolvimento da tese.

  • 9

    No Captulo 3 tratado o tema gerenciamento de facilidades e apresentado um

    referencial terico descrevendo conceitos, abordagens, escopo, boas prticas

    existentes, alm de identificar os aspectos de sustentabilidade em discusso pelos

    gerentes de facilidades.

    No Captulo 4 a autora entra nas questes de sustentabilidade propriamente ditas,

    detalhando as anlises e informaes reunidas durante todo o perodo de pesquisa.

    Neste captulo, os aspectos de sustentabilidade e os indicadores relevantes para a

    avaliao dos edifcios em uso so apresentados e discutidos.

    No Captulo 5 a autora detalha os estudos exploratrios realizados em quatro

    edifcios brasileiros de tipologias distintas, caracterizando suas rotinas de

    gerenciamento de facilidades, a formalidade da gesto praticada, as estruturas

    organizacionais, suas abrangncias e os aspectos de sustentabilidade trabalhados

    nestes edifcios estudados.

    No Captulo 6 a autora apresenta o modelo para o gerenciamento da

    sustentabilidade de facilidades construdas (MGS) proposto por esta tese. So

    apresentadas diretrizes de gerenciamento, rotinas de planejamento e controle, alm

    da proposio de uma ferramenta de avaliao de desempenho, cuja finalidade

    formalizar a realizao de auditorias peridicas de desempenho nos edifcios em

    uso.

    E, finalmente, no Captulo 7 a autora faz as consideraes finais para a pesquisa

    realizada, retomando as questes e os objetivos apresentados no captulo 1.

  • 10

    2. METODOLOGIA

    A pesquisa partiu do interesse da pesquisadora em fortalecer a idia de gesto para

    o desempenho e nela integrar conceitos de construo sustentvel. Tal interesse

    tem origem em suas atividades e experincias anteriores:

    (a) Desenvolvimento de dissertao de mestrado propondo uma metodologia

    para a implementao de sistemas de gesto ambiental em empresas

    construtoras de edifcios uma abordagem da gesto com objetivo de

    solucionar e controlar os aspectos e impactos ambientais da realizao de

    obras de construo civil gesto para desempenho em canteiros de obra

    (DEGANI, 2003);

    (b) Participao ativa no processo de experimentao e validao do referencial

    tcnico para avaliao e certificao do desempenho ambiental de edifcios

    desenvolvido pelo Centre Scientifique et Technique du Btiment (CSTB), na

    Frana uma metodologia fundamentada no conceito de gesto do

    empreendimento para a garantia do alcance de um perfil de qualidade

    ambiental, definido em funo de cada contexto e dos aspectos de

    sustentabilidade mais relevantes gesto para desempenho de novos

    empreendimentos4.

    Estas experincias, aliadas a pesquisas bibliogrficas anteriores, consolidaram o

    conhecimento da pesquisadora para as questes envolvendo sistemas de gesto

    ambiental e metodologias de avaliao de desempenho de edifcios.

    Para o desenvolvimento desta tese, entretanto, os aspectos de sustentabilidade a

    serem analisados alteram-se. Aqui, o alvo passa a ser a etapa de uso do imvel e

    no mais o seu planejamento, concepo e execuo no canteiro de obras. E, ainda,

    surge um novo agente, extremamente importante e pouco conhecido no campo de

    4 Durante o perodo de setembro de 2003 at maio 2004, o CSTB acolheu esta pesquisadora em um

    estgio no qual ela pde auxiliar a equipe tcnica desta instituio francesa durante os trabalhos de reviso dos referenciais e na realizao das auditorias e atividades relacionadas ao acompanhamento da experimentao do projeto. Tal oportunidade partiu do estgio de ps-doutoramento, realizado em 2002 pelo orientador desta tese, durante o qual participou do desenvolvimento do referencial de certificao francs inicialmente denominado Certification Opration HQE

    tertiaire 2002.

  • 11

    atuao das pesquisas em engenharia civil o gerente de facilidades, assim como a

    atividade que ele desenvolve o gerenciamento de facilidades.

    O fenmeno em estudo a sustentabilidade dos edifcios em uso, nas suas diversas

    tipologias, a qual envolve atividades de uso, operao e manuteno (a primeira

    desempenhada pelos usurios e as duas outras pelo gerente de facilidades), e que

    representa uma renovao da funo gerenciamento de facilidades e, tambm, uma

    meta de desempenho para os edifcios em uso.

    Para responder s questes colocadas nos objetivos da pesquisa (item 1.2), esta

    tese se apia nos diferentes mtodos de pesquisa descritos a seguir.

    REVISO BIBLIOGRFICA situao CONCEITUAL

    Esta pesquisa parte da premissa de que o gerenciamento do edifcio em uso

    fundamental para a perenidade e o aperfeioamento do seu desempenho

    em termos de sustentabilidade, fundamentada na prpria experincia da

    autora e na reviso bibliogrfica realizada anteriormente abordando sistemas

    de gesto os quais tratam, inicialmente, de sistemas de gesto da qualidade

    e, posteriormente, consideram a integrao dos sistemas de gesto da

    qualidade, ambiental, segurana e sade ocupacional e responsabilidade

    social.

    Os modelos de avaliao e certificao de edifcios (HQE; LEED; CASBEE;

    NRCan& iiSBE; NABERS; AQUA; dentre outros) tambm foram analisados

    profundamente, todos auxiliando na reflexo sobre uma proposta de modelo

    de gerenciamento da sustentabilidade de facilidades construdas, uma vez

    que apresentam mecanismos de gesto e de avaliao por indicadores

    voltados melhoria contnua de processos e resultados. Diversos requisitos

    de avaliao identificados nesta anlise foram incorporados ao modelo de

    gerenciamento proposto nesta tese, especialmente nas fichas 7 e 8

    apresentadas nos apndices G e H.

    Em termos de desempenho dos edifcios frente s questes ambientais,

    sociais, econmicas e culturais, bem como aos indicadores relacionados,

    foram estudadas em profundidade as diversas metodologias de avaliao de

  • 12

    edifcios mencionadas no pargrafo anterior, aplicadas s diversas etapas do

    empreendimento, mas especialmente os referenciais tcnicos aplicados ao

    uso. A inteno foi identificar os indicadores de sustentabilidade mais

    relevantes e verificar aspectos de gesto capazes de influenciar os resultados

    de desempenho.

    Para obter o estado da arte dos edifcios em uso foram revisadas fontes

    bibliogrficas relacionadas a temas como manuteno predial, avaliaes

    ps-ocupao, patologias das construes, eficincia energtica, uso racional

    da gua, durabilidade de materiais e componentes, sndrome dos edifcios

    doentes e anlise do ciclo de vida de materiais e componentes.

    J para compreender o gerenciamento de facilidades e o papel

    desempenhado pela figura do gerente de facilidades, a reviso bibliogrfica

    no foi suficiente, uma vez que o conceito ainda no amplamente abordado

    no meio acadmico, sendo mais a nvel profissional. Por esta razo, em 2006,

    na primeira fase deste trabalho, a pesquisadora participou de uma disciplina

    conceitual do curso MBA em Gerenciamento de Facilidades, do Programa de

    Educao Continuada em Engenharia da Escola Politcnica da Universidade

    de So Paulo (PECE USP), no intuito de melhor compreender o cenrio no

    qual a tese seria desenvolvida.

    O mtodo de pesquisa desta tese tambm considerou, alm do contedo do

    referido curso, a troca de informaes entre a pesquisadora e os profissionais

    de gerenciamento de facilidades nele participantes, bem como os resultados

    das monografias apresentadas por eles como concluso de curso.

    Ainda como reviso bibliogrfica, as publicaes da revista Infra (revista

    peridica mensal, especializada em gerenciamento de facilidades) e as

    palestras dos Congressos INFRA (congresso anual que trata especificamente

    do gerenciamento de facilidades, organizado pela Talen, editora da revista

    Infra) auxiliaram na compreenso do escopo de atuao do gerente de

    facilidades, suas melhores prticas, as discusses em pauta e os seus

    interesses.

  • 13

    OBSERVAO DE MERCADO situao PRESENTE

    Durante a realizao da reviso bibliogrfica e dos estudos exploratrios

    (descritos a seguir) puderam ser observados diversos aspectos de mercado

    que auxiliaram a autora na identificao das boas prticas em gerenciamento

    de facilidades e dos aspectos de sustentabilidade em discusso, descritos no

    captulo 3 (3.2 e 3.3) e que foram fundamentais para a composio do modelo

    proposto nesta tese.

    ESTUDO EXPLORATRIO situao PRESENTE

    Apenas a reviso bibliogrfica no seria suficiente para fundamentar o

    desenvolvimento de um modelo para o gerenciamento da sustentabilidade de

    facilidades construdas que fosse aderente realidade brasileira. Por esta

    razo, foi preciso investigar em campo o gerenciamento de facilidades

    praticado em algumas tipologias de edifcios e suas boas prticas em termos

    de sustentabilidade. Assim, o modelo pde ser desenvolvido a partir da

    situao CONCEITUAL identificada na reviso bibliogrfica, mas tambm

    considerando a situao PRESENTE brasileira.

    Neste estudo exploratrio foram investigados os modelos de gerenciamento

    de facilidades praticados, sua formalidade, a estrutura organizacional

    presente, sua abrangncia, influncias e as boas prticas em termos de

    sustentabilidade em quatro edifcios brasileiros: uma universidade; um edifcio

    corporativo com nico ocupante; uma loja de varejo de materiais de

    construo; e um laboratrio de anlises clnicas certificado pelo selo norte

    americano do United States Green Building Council (Leadership in Energy

    and Environmental Design - LEED).

    Para a obteno das informaes desejadas, foi importante realizar este

    estudo em diferentes tipologias de edifcios, uma vez que o modelo elaborado

    e proposto nesta tese pretende ser aplicvel a todas as tipologias de edifcios

    em uso. E, a escolha por So Paulo, baseou-se em critrios de proximidade

    (considerando que a pesquisadora reside nesta cidade) e em critrios de

    representatividade (considerando que em So Paulo j h edifcios

    gerenciados por gerentes de facilidades e empresas gerenciadoras formais e

  • 14

    abrangendo escopos mais amplos, indo alm do simples gerenciamento das

    instalaes fsicas do edifcio).

    Outras diferenas que ampliam o escopo do estudo exploratrio, alm de

    terem sido considerados edifcios de diferentes tipologias, so: o edifcio 1

    apresenta um gerenciamento de facilidades bastante informal; j o edifcio 2

    tem contratada uma empresa especializada em gerenciamento de facilidades;

    o edifcio 3 pertence a uma tipologia bastante particular, o varejo; e, o edifcio

    4, tambm com particularidades por tratar-se de sade pblica, teve sua

    construo certificada pelo mtodo de avaliao de desempenho ambiental

    americano LEED.

    A pesquisadora realizou avaliaes tcnicas individuais nos quatro edifcios

    estudados, buscando compreender a forma de gerenciamento de facilidades

    praticada e as boas prticas existentes em termos de sustentabilidade. Sendo

    assim, este estudo teve apenas o aprofundamento necessrio para que a

    pesquisadora pudesse compreender as atividades de gerenciamento predial,

    perceber as dificuldades presentes e caracterizar alguns dos aspectos de

    sustentabilidade trabalhados nestes edifcios.

    Entretanto, de forma alguma este estudo exploratrio pretende representar

    um cenrio para a cidade de So Paulo ou caracterizar o desempenho

    ambiental destas edificaes, uma vez que aborda um pequeno universo de

    edifcios, apresentando diferentes graus de complexidade e tipos de

    ocupao.

    Os estudos exploratrios partiram de testes para a validao dos

    questionrios elaborados inicialmente. Aps este perodo inicial, a

    pesquisadora optou pela realizao de entrevistas orientadas por seis fichas,

    elaboradas com esta finalidade, cujos objetivos foram avaliar o modelo

    gerencial e as boas prticas relacionadas sustentabilidade, eventualmente

    presentes nos edifcios estudados.

    Estas fichas, apresentadas nos apndices de A a F, resultam de diversos

    ajustes feitos a partir das primeiras fichas, elaboradas e testadas em dois

    edifcios, e j representam uma das contribuies deste trabalho, pois

  • 15

    algumas delas acabaram sendo incorporadas no modelo de gerenciamento

    de facilidades proposto nesta tese.

    De modo geral, os estudos exploratrios foram realizados por meio das

    atividades seguintes:

    1 Reunio inicial com o gestor ou o proprietrio ou o funcionrio tcnico

    considerado responsvel pelo que se entenda em cada empreendimento

    como o gerenciamento de facilidades. O objetivo desta entrevista foi

    compreender a estrutura organizacional existente e a distribuio das

    responsabilidades pelas atividades de gerenciamento de facilidades.

    2 Programao das entrevistas orientada pela ficha 1 (apndice A).

    3 Preenchimento prvio das fichas 2 e 4 (apndices B e D).

    4 Visita s instalaes tcnicas e a todos os espaos do empreendimento.

    5 Realizao das entrevistas, validao das respostas dadas s fichas 2 e 4

    (apndices B e D) e preenchimento das fichas 3, 5 e 6 (apndices C, E e F)

    conforme a necessidade, foi realizado mais de um encontro at que todas as

    questes relacionadas nas listas de verificao pudessem ser esclarecidas.

    6 Levantamento da documentao tcnica (projetos e registros de rotinas de

    manuteno) e anlise dos projetos, quando disponveis.

    7 Finalizao do preenchimento das fichas de verificao 3, 5 e 6 (apndices

    C, E e F).

    8 A partir da caracterizao do gerenciamento de facilidades e das boas

    prticas presentes em cada edifcio, foi feita uma anlise comparativa entre

    eles e as informaes obtidas na reviso bibliogrfica, e, finalmente, foram

    desenvolvidas as consideraes finais para os estudos exploratrios.

    A origem e a descrio das fichas de verificao aplicadas pela pesquisadora

    durante as visitas e entrevistas realizadas nestes estudos exploratrios

    encontram-se detalhadas nos captulos 2 e 5, pois so informaes

  • 16

    necessrias anlise dos estudos exploratrios que se seguem e, algumas

    delas, tambm fazem parte do modelo proposto e apresentado no captulo 6.

    PROPOSIO DO MODELO

    Considerando a reviso bibliogrfica e os estudos exploratrios realizados ao

    longo desta pesquisa, foram estabelecidos os grupos de aspectos de

    sustentabilidade dos edifcios em uso (descritos no captulo 3), os indicadores

    de desempenho (apresentados no captulo 4, figura 4.4, e estruturados na

    ficha 7 Aspectos de Sustentabilidade do Edifcio, apndice G) e as diretrizes

    de gerenciamento representadas no quadro do apndice H e descritas no

    captulo 6, item 6.8.

    Todos estes elementos fundamentaram a proposta de modelo de

    gerenciamento da sustentabilidade de facilidades construdas, a principal

    contribuio desta tese.

  • 17

    3. GERENCIAMENTO DE EDIFCIOS EM USO

    O gerenciamento de edifcios, da forma como visto e praticado, alm das tarefas

    administrativas e contbeis condominiais, inclui a realizao e a superviso de

    rotinas operacionais e de conservao e manuteno dos edifcios em uso.

    Segundo a NBR 5674 Manuteno de edificaes (ABNT, 1999), a

    responsabilidade principal da manuteno do proprietrio do imvel ou seu

    representante legal, ou seja, o sndico, porm este poder delegar as atividades de

    manuteno para empresas e profissionais especializados, sendo que, dependendo

    do tipo de gesto implantada no condomnio, essa responsabilidade pode pairar

    sobre as administradoras ou empresas especializadas em manuteno.

    Os custos de manuteno devem ser acompanhados pelos gestores, uma vez que a

    manuteno um investimento feito ao patrimnio com a finalidade de minimizar

    desgastes naturais, evitar deterioraes precoces, desvalorizaes e,

    principalmente, manter a vantagem competitiva do bem no mercado imobilirio

    (IBAPE/SP, 2005). Por exemplo, determinados equipamentos e sistemas tem uma

    vida til de projeto em torno de 10 a 15 anos, como os sistemas de

    impermeabilizao, equipamentos de ar condicionado, dentre outros. Considerando

    que os mesmos tiveram atividades de manuteno peridicas durante sua vida, essa

    vida til poder ganhar uma sobrevida de mais cinco anos, aproximadamente. No

    entanto sempre chegar a hora em que haver um maior investimento sobre o

    sistema, a fim de recuperar de maneira significativa seu desempenho e atender s

    expectativas dos usurios. (IBAPE/SP, 2005)

    Tambm h ... a questo da importncia de haver registros e histricos das

    atividades de manuteno, bem como da evoluo do desempenho dos sistemas e

    equipamentos. Nesse sentido, a inspeo predial tambm serve como uma

    ferramenta de registro, se feita periodicamente. (IBAPE/SP, 2005)

    Observa-se que a manuteno predial medida obrigatria segundo a NBR 5674

    Manuteno de edificaes (ABNT, 1999), alm de ser exigncia dos manuais dos

    proprietrios fornecidos pelas incorporadoras. Ressalta-se que a perda ou

    deficincia do desempenho de qualquer sistema construtivo ou equipamento incorre

  • 18

    na perda da vida til projetada ou prevista, perda da capacidade de ganho de uma

    sobrevida, e coloca em risco questes de uso, conforto e segurana dos usurios.

    Portanto, a utilizao de procedimentos e rotinas de manuteno, aliada a um

    planejamento estratgico de gesto dos imveis, garante alm de um bom

    funcionamento dos sistemas, uma sobrevida aos mesmos e uma valorizao

    imobiliria.

    A inspeo predial um complemento das rotinas de manuteno, sendo um

    instrumento bsico do gerenciamento de edifcios. Trata-se de uma vistoria

    realizada com o objetivo de avaliar estados de conformidades de uma edificao,

    mediante aspectos de desempenho, vida til, segurana, estado de conservao,

    manuteno, desempenho, exposio ambiental, utilizao, operao, observando

    sempre o atendimento s expectativas dos usurios (IBAPE/SP, 2005).

    Assim, a inspeo predial associada a planos de manuteno minimiza os

    desgastes naturais e a depreciao fsica, reduzindo, inclusive, a obsolescncia

    tcnica, uma vez que poder estar ligada a estudos de modernizao e atualizao

    de sistemas ou da prpria edificao consoantes s desconformidades ou anomalias

    verificadas, analisadas na vistoria e no laudo tcnico (IBAPE/SP, 2005).

    O conceito preventivo que fundamenta as inspees prediais extremamente

    adequado e atual uma vez que parte de uma investigao de anomalias, por meio

    de uma vistoria detalhada dos elementos e sistemas constituintes do edifcio, para

    ento emitir um laudo de condies tcnicas, riscos, recomendaes bsicas e

    indicao de prioridades para servios e reparos. A partir deste laudo aplicam-se

    aes corretivas e reformulam-se os planos de manuteno preventiva. Este

    conceito interessante do ponto de vista do gerenciamento de facilidades, uma vez

    que sugere a realizao de rotinas de auditorias para avaliaes de desempenho do

    edifcio, alm de propor diretrizes sistemticas para o seu aperfeioamento.

    Retomando, segundo IBAPE/SP (2005), para uma eficaz inspeo predial

    recomenda-se analisar:

    Aspectos de manuteno - aspectos de desempenho e vida til dos

    elementos construtivos e equipamentos, fatores de degradao provveis e

  • 19

    existentes, durabilidade de materiais, alm dos planos, rotinas e registros de

    manuteno;

    Aspectos de operacionalidade - condies de manuteno efetivas, condies

    de operao de sistemas e seus dispositivos, eventuais abusos de uso

    relacionados operao de sistemas, falta de programao de operaes de

    sistemas e equipamentos, condies seguras de operao;

    Aspectos de funcionalidade - condies e formas de uso, atendimento a

    aspectos funcionais dos sistemas e expectativas de usurios sobre os

    desempenhos apresentados.

    Outra importante diretriz parte do item 8.4 da norma NBR 5674 Manuteno de

    edificaes (ABNT, 1999), a qual recomenda que as inspees devem ser

    orientadas por listas de conferncia padronizadas (checklists), elaboradas

    considerando: (a) um roteiro lgico de inspeo das edificaes; (b) os componentes

    e equipamentos mais importantes na edificao; (c) as formas de manifestaes

    esperadas da degradao do edifcio; (d) as solicitaes e reclamaes dos

    usurios.

    IBAPE/SP (2005) ainda sugere uma listagem bsica de documentao a ser

    analisada durante as rotinas de inspeo predial, dentre elas, interessante ressaltar

    as seguintes que se relacionam ao contexto desta pesquisa:

    Programa de Preveno de Riscos Ambientais (PPRA);

    Plano de Manuteno, Operao e Controle (PMOC);

    PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional;

    Projetos atualizados (estrutura, instalaes prediais, arquitetura e prefeitura,

    automao, sistemas de ar condicionado, impermeabiizao, dentre outros);

    Relao de reformas j realizadas ou j planejadas;

    Manual de operao, uso e manuteno da edificao;

    Manual do sndico e do proprietrio;

  • 20

    Ficha de Cadastramento de Manuteno (FICAM);

    Relatrio de acompanhamento de rotina da Manuteno Geral;

    Relatrios dos acompanhamentos das manutenes dos sistemas especficos

    (ar condicionado, motores, bombas, equipamentos eletromecnicos e demais

    componentes) realizadas pela equipe interna e tambm pelas empresas

    contratadas;

    Certificados e ensaios de anlise de potabilidade e fsico-qumica de guas

    de reservatrios, torres de refrigerao, etc.;

    Certificado de limpeza dos reservatrios;

    Atestado do sistema de proteo a descarga atmosfrica (SPDA);

    Regimento interno do condomnio.

    3.1 GERENCIAMENTO DE FACILIDADES GF

    As rotinas operacionais e a realizao das atividades de conservao e manuteno

    dos edifcios, nas suas diversas tipologias, foram por muito tempo conduzidas por

    funcionrios prprios ou contratados pelo(s) proprietrio(s), ocupante(s) ou

    usurio(s) dos edifcios eram os zeladores e sndicos.

    Com o aumento da complexidade dos edifcios, outras atividades e servios foram

    sendo incorporados, aumentando as responsabilidades destes indivduos. A soluo

    encontrada foi a terceirizao destes servios. Assim, comeam a ser terceirizados

    os servios de limpeza, segurana, portarias, estacionamento, manuteno predial e

    assim por diante. Por fim, passa tambm a ser necessria a contratao de um

    profissional mais capacitado para organizar e monitorar todos estes servios,

    funcionrios e empresas contratados.

    Surge, ento, esta nova funo que pode ser conhecida como: gerente patrimonial,

    gerente predial, gerente de condomnio, gerente de infraestrutura, gerente de

  • 21

    manuteno, sndico profissional, property manager, building manager ou facility

    manager ou gerente de facilidades, que ser a denominao empregada neste

    trabalho.

    Segundo Santos (2007) 5, no Brasil, na dcada de 80, este era um profissional em

    fim de carreira, oriundo de outras atividades, e a autogesto predominava nas

    organizaes. Nesta poca, comeam a surgir as associaes destes profissionais

    para, mais adiante, ser iniciada uma forte presso para a terceirizao. O

    profissional era tido como um administrador de servios contratado pelo usurio

    final.

    Ainda segundo o palestrante, na dcada de 90, com a consolidao dos servios

    terceirizados, o mercado passou a ser uma mistura de tomadores e prestadores de

    servios, havendo uma evoluo do gerenciamento da infraestrutura predial.

    Assim, o gerenciamento de facilidades (GF) aparece como uma nova funo

    administrativa, que surge nas organizaes e nos edifcios em virtude das demandas

    da atualidade inicialmente, por razes econmicas relacionadas perda de valor

    imobilirio do edifcio em si, mas, tambm, em funo dos impactos nas atividades

    que o edifcio abriga e que podem ser afetadas quando o edifcio deixa de responder

    de forma adequada aos objetivos para o qual foi construdo.

    Em termos de normalizao para esta temtica, o Brasil dispe das normas NBR

    5674 Manuteno de edificaes Procedimento (ABNT, 1999) e NBR 14037

    Manual de operao, uso e manuteno das edificaes Contedo de

    recomendaes para elaborao e apresentao (ABNT, 1998). As normas de

    desempenho NBR 15575-1 Edifcios habitacionais de at cinco pavimentos

    Desempenho (ABNT, 2008) tambm j referenciam alguns aspectos de

    desempenho ambiental dos materiais e sistemas construtivos, ainda que de forma

    pouco abrangente.

    Dando continuidade ao histrico do gerenciamento de facilidades no Brasil, em 2003

    criado o curso de especializao em MBA de Gerenciamento de Facilidades da

    Universidade de So Paulo. Em seguida, tambm surgem as capacitaes do 5 Palestra proferida no IV Congresso Infra, ocorrido em abril de 2007, por Severiano Dacunto dos

    Santos, na ocasio diretor de Marketing e Comunicao da Associao Brasileira de Facilities (ABRAFAC).

  • 22

    Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e, em 2004, criada a

    Associao Brasileira de Facilities (ABRAFAC), num cenrio de avanos

    tecnolgicos e quebra de paradigmas no segmento.

    Inicialmente, os gerentes de facilidades surgem como indivduos autnomos ou

    pertencentes a empresas, geralmente denominadas gerenciadoras, e passam a

    implementar e controlar, alm das funes operacionais e de manuteno padro

    dos edifcios, os servios de apoio ao negcio central ou, simplesmente, de apoio s

    atividades complementares presentes nas diversas tipologias de edifcios

    atividades adicionais que acabam trazendo mais complexidade ainda

    administrao condominial convencional.

    Segundo uma pesquisa realizada em 2008 pela International Facility Management

    Association (IFMA) e respondida por membros dos Estados Unidos e Canad, h

    uma grande variedade de facilidades a serem gerenciadas. Entretanto, as matrizes

    corporativas so largamente a tipologia mais comum dentre as outras, como os

    edifcios de escritrios, fruns, edifcios multiuso, centros de pesquisa, instituies

    de ensino, fbricas, centros de atendimento, centros de processamento de dados,

    museus e centros culturais, hospitais e clnicas, residncias, centros de distribuio

    e depsitos, comrcio varejista, centros de lazer, prises, igrejas, centro de

    convenes, salas de espetculos, estaes de transporte, etc. A pesquisa tambm

    informa que 81% dos gerentes de facilidades atuam em edifcios que so ocupados

    pelos prprios proprietrios (revista Infra, edio no 106 de fevereiro de 2009).

    Outra informao obtida a partir desta mesma pesquisa publicada pela IFMA diz

    respeito s questes de manuteno e reabilitao associadas aos edifcios antigos

    os gerentes de facilidades nos Estados Unidos e Canad enfrentam edifcios com

    idade mdia de 33 anos (revista Infra, edio no 106 de fevereiro de 2009).

    Em linhas gerais, percebe-se que a forma de ocupao, o desempenho e a

    perenidade dos edifcios ao longo do tempo so aspectos que podem envolver uma

    grande diversidade de agentes. E que as atividades de uso, operao e manuteno

    dos edifcios tem sido gerenciadas por diferentes especialidades profissionais e nas

    mais diversas formas de estrutura organizacional.

  • 23

    Conceitualmente, o gerenciamento de facilidades (GF) visto das seguintes

    maneiras:

    Graa (2007)6 prope que o objetivo do gerenciamento de facilidades seja

    desenvolver permanentemente toda a infraestrutura de recursos fsicos

    necessria para a criao de ambientes cada vez mais adequados para

    suportar as atividades relacionadas aos objetivos primrios das

    organizaes. Ainda segundo o professor, o gerenciamento de facilidades

    uma atividade profissional que tem por finalidade o planejamento e operao

    de processos eficientes, integrando edifcios, equipamentos e servios

    (meios), visando dar suporte s pessoas para a efetiva consecuo dos

    propsitos (fins) das organizaes, ao longo do ciclo de vida das facilidades.

    O GF abrange reas de conhecimento da engenharia, arquitetura e

    administrao; seu propsito otimizar o uso dos recursos disponveis e

    aperfeioar o desempenho dos edifcios e seus sistemas, contribuindo para o

    desenvolvimento do ambiente produtivo e atendendo aos novos paradigmas

    da atualidade.

    De acordo com Then (1999), o gerenciamento de facilidades deve agregar

    valor ao negcio operante na edificao, por meio da contnua proviso de

    solues de facilidades, apropriadas e inovadoras. Ele , portanto, a busca do

    equilbrio timo entre pessoas, instalaes fsicas e tecnologia.

    Segundo Teicholz (2001), as informaes necessrias ao GF so aquelas

    relacionadas a pessoas (funcionrios e usurios), propriedades (espaos,

    localidades e recursos) e processos (uso e manuteno). De fato, as

    atividades de GF devem integrar as necessidades das pessoas, em termos

    de produtividade e satisfao pessoal, com o aparato fsico e tecnolgico da

    edificao que as abriga. Em outras palavras, o GF pode ser visto como uma

    gesto proativa que viabiliza o planejamento da operao e manuteno do

    edifcio e que, muitas vezes, seria capaz de suportar estrategicamente o

    6 Palestra proferida pelo prof. Dr. Moacyr Eduardo Alves da Graa, coordenador do MBA em

    Gerenciamento de Facilidades do PECE-USP e professor da Escola Politcnica da USP, em abril de 2007, para o IV Congresso INFRA.

  • 24

    objeto de negcio da organizao, suportando a evoluo prevista (Antonioli,

    2003; IFMA7; Then, 1999).

    O gerenciamento de facilidades alavanca o core business8 das organizaes

    por meio das aes efetivas de operao e manuteno das facilidades

    construdas (professor Dr. Moacyr Eduardo Alves da Graa, durante exame

    de qualificao desta tese).

    Assim, o gerenciamento de facilidades uma funo tcnico-administrativa, cuja

    vocao auxiliar as organizaes e os indivduos na busca de melhores

    desempenhos durante a ocupao dos espaos construdos. Tambm fica claro que

    o conceito de GF est diretamente relacionado gesto estratgica das

    organizaes.

    E quais seriam as atividades desempenhadas pelos gerentes de facilidades?

    A partir da reviso bibliogrfica de Antonioli (2003), de registros internos do CSTB9,

    de aspectos listados pelo Whole Building Design Guide10, e analisando oito relatrios

    de estudos de caso em GF11, esta tese, inicialmente, identificou e agrupou diversas

    prticas presentes ao longo da operao de edifcios produtivos, as quais

    geralmente esto sob a responsabilidade dos gerentes de facilidades (Degani e

    Cardoso, 2006):

    (1) Operao e Manuteno das instalaes fsicas do edifcio;

    (2) Operao das atividades de apoio ao negcio central;

    (3) Gesto do edifcio enquanto patrimnio imobilirio.

    7 International Facilities Management Association, disponvel em http://www.ifma.org.

    8 Core business o negcio central exercido pela(s) organizao(es) que ocupam o edifcio.

    9 CSTB Centre Scientifique et Technique du Btiment, importante centro de pesquisas do setor da

    construo civil na Frana. 10

    WBDG. Disponvel em http://www.wbdg.org. 11

    Estudos de caso apresentados por alunos de ps-graduao no 6 Workshop sobre Gerenciamento de Facilidades Estudos de Casos, em novembro de 2005, promovido pelo MBA em Gerenciamento de Facilidades do PECE/USP (programa de ps-graduao da Universidade de So Paulo).

  • 25

    Estes seriam, portanto, os atributos do gerenciamento de facilidades:

    (1) Operao e Manuteno das instalaes fsicas do edifcio

    Planejamento da operao dos sistemas prediais;

    Operao de equipamentos e sistemas prediais (instalaes eltricas,

    hidrulicas, gs, condicionamento de ar, exausto mecnica, ventilao,

    transporte vertical, transporte pneumtico, telefonia, interfonia, sistemas de

    proteo radiolgica e acstica, iluminao, automao predial, controle de

    acesso, circuito interno de TV, TV a cabo, som ambiente, e outros);

    Garantia da continuidade do fornecimento de servios essenciais ao

    desenvolvimento das atividades previstas, mesmo em perodo no habitual;

    Identificao de ameaas ao planejado e estabelecimento de planos de

    contingncia que garantam a proviso dos servios, mesmo em situaes de

    emergncia (manuais de operao, treinamento, instalao de dispositivos e

    sistemas de alarme, equipamentos reserva para componentes e sistemas crticos

    que elevem a confiabilidade operacional) gerenciamento de riscos;

    Planejamento da manuteno dos sistemas prediais: manuteno corretiva

    (emergncia, urgncia e rotina) e manuteno preventiva (monitoramento

    peridico das condies do equipamento ou parte deste);

    Manuteno de equipamentos e sistemas prediais;

    Limpeza;

    Atividades de modernizao, reformas e servios tcnicos relacionados, tais

    como projeto e planejamento, especificaes tcnicas, licenas e aprovaes

    legais, planos de ao;

    Gesto do consumo de energia (medies de consumo, anlises, correo de

    desvios, adoo de novas tecnologias tais como a co-gerao de energia ou o

    emprego de fontes limpas);

  • 26

    Gesto do consumo de gua (medies de consumo, anlises, identificao de

    perdas, reduo da demanda no consumo, uso de tecnologia nos equipamentos

    consumidores, adoo de prticas de tratamento e reuso da gua);

    Gesto do consumo de gs;

    Gesto dos resduos produzidos pelo edifcio (reduo na gerao, a partir da

    utilizao de materiais durveis e reutilizveis, e garantia de destinao

    adequada e segura, minimizando seu potencial de impacto ambiental coleta

    seletiva e disposio adequada).

    (2) Operao das atividades de apoio ao negcio central

    Proviso de suporte tecnolgico e servios de apoio;

    Suporte aos fluxos de informao: gesto de documentos e dados,

    telecomunicaes, reprografia, correio, sistemas udio-visuais, e outros

    inclusive suporte tecnolgico adequado para o acesso de informaes em tempo

    real e apoio ao desenvolvimento de tarefas distncia;

    Proviso de eficiente comunicao interna entre usurios e gestores, no intuito

    de atuar como interface entre as equipes, direcionando seus esforos para a

    obteno da efetividade de custos operacionais e da eficincia de sistemas e

    equipamentos instalados;

    Gesto das reas de estacionamento, sanitrios pblicos, restaurantes e reas

    de recreao;

    Proviso de servios de transporte e logstica: viagens, transporte (frota) e

    trfego (distribuio interna);

    Garantia da acessibilidade, promovendo o uso igualitrio do ambiente construdo

    para todos seus usurios, incluindo sinalizaes de acesso e ateno especial

    aos portadores de deficincias fsicas;

    Apoio a eventos;

  • 27

    Gesto dos espaos coletivos e da logstica interna (salas de reunio, tecnologia

    e instalaes especficas, etc.), de modo a integrar sistemas, garantir flexibilidade

    e alcanar as metas de desempenho da organizao;

    Gesto das estaes de trabalho individuais, de modo a obter melhores nveis de

    produtividade, flexibilidade, conforto, confiabilidade, ergonomia e funcionalidade;

    Humanizao do ambiente de trabalho e garantia da oferta de ambiente interno

    saudvel e confortvel aos usurios;

    Abastecimento em alimentao, gua mineral e caf;

    Aquisio de insumos diversos (mobilirio e outros bens de consumo);

    Recebimento e distribuio de insumos diversos;

    Gesto de outros servios e benefcios aos usurios, tais como agncias

    bancrias, academia de ginstica, dentre outros;

    Gesto de contratos com fornecedores;

    Conduo das pessoas atravs dos processos de mudanas gerenciamento de

    mudanas;

    Zeladoria e chaveiro.

    (3) Gesto do edifcio enquanto patrimnio imobilirio

    Gesto do patrimnio da organizao: terreno, mquinas e equipamentos,

    instalaes, edifcios, mveis e utenslios, veculos, equipamentos de informtica,

    linhas telefnicas, dentre outros;

    Planejamento da evoluo patrimonial;

    Ambientao do edifcio com o contexto das solicitaes externas (questes

    sociais e ecolgicas);

    Controle e avaliao dos servios disponveis, objetivando a melhoria contnua

    com relao s atividades suporte ao negcio central;

  • 28

    Gesto do custo operacional efetivo, especialmente baseado em anlises de

    ciclo de vida envolvendo a quantificao de todos os custos significativos

    durante a vida til de um ativo (custos de aquisio, projeto, instalao,

    operao, manuteno, valor residual ou disposio);

    Gesto da segurana envolvendo atitudes pr-ativas que antecipem e protejam

    os usurios do edifcio, sua estrutura e os recursos disponveis, contra roubo,

    atos de vandalismo, incndio, acidentes naturais, terrorismo, etc. segurana

    pessoal e patrimonial;

    Cuidados com a imagem considerando seu relacionamento com agentes

    externos, tais como rgos pblicos, prefeituras, instituies de sade,

    bombeiros, polcia, associaes de bairro, etc.;

    Gesto de portarias e recepo;

    Jardinagem;

    Adequao do edifcio e de sua operao quanto legislao e outros requisitos

    legais existentes.

    Relevante considerar que existem diferentes escopos de atuao entre os gerentes

    de facilidades norte-americanos e europeus. A International Facilities Management

    Association (IFMA) traz o conceito de Building Management e Facility Management,

    abrangendo o edifcio e seus componentes, os aspectos de manuteno, o

    gerenciamento de custos e o foco na edificao. J o conceito europeu, considera o

    Facilities Management, com uma viso mais ampliada e abordando aspectos desde

    a concepo dos edifcios at a sua demolio. O Facilities Management vai alm da

    edificao, abrangendo tambm os servios disponveis, voltando-se, portanto, aos

    usurios dos edifcios.

    Para identificar quais seriam as atividades desempenhadas pelos gerentes de

    facilidades, esta tese adota a tendncia europia, sinalizada pelo professor Moacyr

    Eduardo Alves da Graa, para a organizao das atividades do gerenciamento de

    facilidades ampliando de trs para quatro grupos de atividades, facilitando, assim, a

    proposio do modelo e a distribuio das responsabilidades pelo gerenciamento

    dos aspectos de sustentabilidade:

  • 29

    1. Technical FM (facility) edifcio fsico;

    2. Infrastructure FM rotinas administrativas e recursos humanos, servios

    associados;

    3. Workplace management layout, mudanas, conforto, produtividade

    4. Comercial FM properties, custos, gesto de contratos, rea comercial;

    O gerenciamento de facilidades, como visto, abrange aspectos de natureza tcnica,

    funcional, econmica, ambiental e humana. To ampla abordagem no poderia ser

    retratada integralmente nesta tese, assim, o escopo do gerenciamento de facilidades

    para esta pesquisa no ir considerar em profundidade os aspectos funcionais e

    humanos. A saber:

    Aspectos funcionais funcionalidade dos espaos e aspectos de

    produtividade;

    Aspectos humanos a gama de atividades das organizaes espalhada

    pelos espaos fsicos capaz de trazer separaes psicolgicas e de

    comportamento aos funcionrios (separao geogrfica, separao funcional,

    separao por status ou prestgio, separao por poder); os gestores de

    facilidades passam a ter responsabilidade ativa sobre a formatao

    organizacional, na medida em que estabelecem mecanismos de separao,

    conscientes ou no, dependendo das estratgias, cultura, valores e clima dos

    ambientes (QUINELLO; NICOLETTI, 2006).

    Da reviso bibliogrfica tambm se percebe que a formalidade desta gerncia

    bastante varivel. Entretanto, h algumas gerenciadoras operando por meio de

    sistemas formais de gesto, tornando possvel o acompanhamento peridico do

    desempenho dos edifcios em relao a metas e indicadores pr-estabelecidos.

    Assim, considerando os grandes desafios da atualidade, fica evidente a necessidade

    de se formalizar e estruturar a atuao deste novo agente, para que assim, ele

    possa assumir o compromisso de manter e aperfeioar o desempenho de diversas

    tipologias de edifcios, tambm segundo preceitos de sustentabilidade.

  • 30

    3.2 BOAS PRTICAS EM GERENCIAMENTO DE FACILIDADES

    Alm dos aspectos operacionais, de inspeo predial e verificao da conformidade

    tcnica mencionados, o gerenciamento de facilidades envolve muitas outras reas

    de conhecimento. Para a ABRAFAC, por exemplo, as principais reas de

    conhecimento para o profissional de facilidades devem passar por disciplinas de

    finanas, liderana, comunicao e informao, qualidade e inovao, negociao,

    operao e manuteno, sade, meio ambiente, segurana, planejamento e gesto

    de projetos, gerenciamento de propriedades e foco em resultados. E, para as

    competncias pessoais importante saber lidar com administrao de conflitos,

    convvio sob presso, relacionamento interpessoal, diplomacia, tica,

    comprometimento, viso sistmica e outros atributos.

    De modo geral, as empresas que oferecem servios de gerenciamento de

    facilidades apresentam em seu escopo as seguintes atividades: manuteno predial

    (civil, eltrica, hidrulica, automao e ar-condicionado); engenharia e operaes;

    elaborao de service level agreements (SLA) e key performance indicators (KPI);

    gerenciamento de ambientes crticos; gesto do edifcio; medicina e segurana no

    trabalho; service desk; limpeza; contas a pagar; gesto de contratos; planejamento

    de capital; relatrios operacionais e financeiros; projetos, obras e alteraes de

    layout; sustentabilidade (tratamento de efluentes, reciclagem de lixo e consumo de

    energia). E, geralmente, tambm realizam a gesto dos servios terceirizados pelo

    edifcio, que incluem estacionamento, segurana, limpeza, viagens corporativas,

    telefonia, controle de pragas, automao predial, convenincias, jardinagem, dentre

    outros.

    A partir de 2007, j se percebe nos escopos das grandes gerenciadoras de

    facilidades brasileiras, contedos de marketing mencionando aes minimizadoras

    de impactos ambientais.

    Em se tratando de boas prticas em gerenciamento de facilidades,

    internacionalmente muito tem se falado a respeito do desenvolvimento de softwares

    mais precisos para a deteco de no-conformidades de vrias naturezas e

  • 31

    fornecimento de indicadores mais representativos para a gesto predial. A

    tecnologia da informao importante.

    Outra evoluo apontada por Tiengo (2009), tem sido cada vez mais comum a

    indexao de contratos de prestao de servios com indicadores que norteiem a

    aplicao de nus e bnus, visando dar relao contratual do gerente de

    facilidades dinamismo e flexibilidade para melhoria contnua, bem como uma forma

    de manter a sua produtividade constantemente estimulada.

    Enfim, a implementao de sistemas de gesto nas rotinas dos gerentes de

    facilidades tambm pode ser considerada uma boa prtica em gerenciamento de

    facilidades. A prpria figura do gerente de facilidades vista como uma funo

    administrativa formal j um indicativo da importncia de sistemas de gesto na

    integrao das atividades multidisciplinares ao ambiente construdo e, tambm,

    como meio de controle dos impactos destas atividades sobre as pessoas e o

    ambiente de trabalho como contextualizado pelo British Institute of Facilities

    Management (BIFM).

    Como exemplo, a presena de sistemas de gesto ambiental no gerenciamento de

    facilidades de grandes empreendimentos em Hong Kong conseguiu combinar o

    desenvolvimento de tais sistemas com as pesquisas a respeito de sistemas prediais

    e engenharia, incluindo atividades de operao e manuteno. O processo de

    anlise de falhas aplicado inclui auditorias nos edifcios e sistemas, possibilitando

    economias potenciais e a realizao das anlises de custos-benefcios (BURNETT,

    2002).

    De modo geral, os grandes benefcios das boas prticas no gerenciamento de

    facilidades podem ser verificados na reduo de custos operacionais, no aumento

    da confiabilidade, na melhoria da qualidade do ambiente de trabalho e da

    produtividade. Assim, o ambiente construdo passa a ser visto como fator essencial

    na sustentabilidade da prpria organizao que abriga.

  • 32

    3.3 ASPECTOS DE SUSTENTABILIDADE EM DISCUSSO PELOS

    GERENTES DE FACILIDADES

    O Whole Building Design Guide12 recomenda que um sistema de gerenciamento de

    facilidades (GF) tambm contribua para a sustentabilidade do edifcio como um todo,

    assumindo um compromisso com o gerenciamento ambiental. O GF deve, portanto,

    visar o equilbrio de custos e benefcios sociais e humanos no atendimento das

    necessidades funcionais do edifcio, e ainda abranger a diminuio do uso de

    recursos energticos, do consumo de gua e matrias primas, alm de minimizar e

    controlar os impactos ambientais causados ao longo de sua vida til, oferecendo ao

    mesmo tempo um ambiente construdo habitvel, confortvel, seguro e produtivo.

    Segundo Graa (2007)13, os edifcios so construdos para atender propsitos

    internos pessoais e coletivos (humanizao) e organizacionais, mas tambm para

    atender propsitos externos organizacionais (estratgicos) e sociais (tica,

    responsabilidade social e ecolgica).

    Uma viso de sustentabilidade tambm percebida a partir da palestra de Graa

    (2007), no momento em que o professor faz a caracterizao dos desempenhos

    esperados para os edifcios:

    Desempenho funcional comportamento do edifcio em uso envolvendo a

    sensibilidade e satisfao do usurio;

    Desempenho tcnico condies do edifcio;

    Desempenho econmico valor imobilirio e despesas compatveis com a

    realidade;

    Desempenho ambiental;

    Desempenho social; 12

    WBDG. Disponvel em http://www.wbdg.org. 13

    Palestra proferida pelo prof. Dr. Moacyr Eduardo Alves da Graa, coordenador do MBA em Gerenciamento de Facilidades do PECE-USP e professor da Escola Politcnica da USP, em abril de 2007, para o IV Congresso INFRA.

  • 33

    Desempenho do processo planejamento, projeto, construo, uso, operao

    e manuteno.

    Outra viso a ser compartilhada que, atualmente, os gerentes de facilidades tm

    valorizado o conceito de edifcio inteligente, muitas vezes o confundindo com o

    conceito de sustentabilidade. Neste caso, h que se tomar bastante cuidado nas

    escolhas dos sistemas, pois nem sempre a automao predial associa-se reduo

    no consumo de energia no sendo, portanto, uma ferramenta suficiente para

    resolver as questes impostas pela ineficincia arquitetnica de um edifcio, por

    exemplo. Tal fato ocorre da mesma maneira que os benefcios do desenvolvimento

    tecnolgico dos sistemas e equipamentos de condicionamento de ar, por exemplo, e

    que acabaram negligenciando a considerao da bioclimtica na arquitetura das

    ltimas dcadas (ROMRO, 1997). O autor ainda menciona que a inteligncia de

    um edifcio est na sua arquitetura e que, antes de se pensar no monitoramento de

    um circuito qualquer, preciso extinguir todas as possibilidades que as tecnologias

    passivas oferecem.

    Tratando da sustentabilidade, importante apontar que na rea do gerenciamento

    de facilidades as questes ambientais e sociais so pouco trabalhadas, j que o foco

    est nos aspectos econmicos. Entretanto, estas questes comeam a ser

    observadas pelos gerentes de facilidades, especialmente aquelas que proporcionam

    reduo de custos e melhoria na imagem do edifcio ou da(s) organizao(es) nele

    instaladas.

    A entrada no mercado imobilirio dos edifcios verdes ou green buildings e a

    tendncia pelo crescimento do nmero destes edifcios, certificados ou no, torna

    essencial garantir a continuidade e o aperfeioamento do nvel de qualidade

    ambiental disponibilizada. Esta funo cabe perfeitamente nas mos dos gerentes

    de facilidades.

    Alguns dos aspectos de sustentabilidade j em discusso pelos gerentes de

    facilidades no Brasil e levantados nesta pesquisa por observao de mercado e

    bibliografia so descritos para os temas detalhados a seguir.

  • 34

    EFICINCIA ENERGTICA

    Pearson (2009) aponta que a gesto da energia um processo contnuo que

    envolve a realizao de uma avaliao comparativa do uso de energia, o

    estabelecimento de objetivos e padres para melhoria, medida e verificao

    contnuas e a designao de responsabilizao.

    Segundo o autor, para os Estados Unidos, quando a gesto da energia aplicada

    em edifcios, reduzir seu uso vivel e eficaz em termos de custo em 33%. Ele

    ainda menciona que esta seria a forma mais rpida, limpa e econmica para ampliar

    o abastecimento de energia no mundo.

    Christopher Russell14 documenta a experincia de diversas empresas norte-

    americanas como Kimberly-Clark, Merck& CO, Dupont, Unilever, dentre outras que

    concordam que antes de se implementar novos equipamentos preciso ter uma

    base forte de habilidades e procedimentos energeticamente inteligentes.

    Alternativas para sistemas de condicionamento de ar mais eficientes e de menor

    consumo de gua e energia tambm so pauta das discusses entre os

    profissionais de facilidades, assim como as tecnologias para o aquecimento solar de

    gua.

    Outro aspecto de sustentabilidade em discusso pelos gerentes de facilidades a

    anlise das contas de energia e negociao de melhores tarifas, alm de

    monitoramento dos consumos do sistema de condicionamento de ar e o

    desequilbrio de temperaturas, do uso de geradores para os horrios de pico, da

    troca de lmpadas, etc.

    Sampaio (2009) relata economia de 25% dos custos mensais em edifcios brasileiros

    por meio da realizao de auditorias tcnicas, alteraes contratuais, instalao de

    sistemas e equipamentos mais eficientes e implementao de um programa de

    metas de consumo dirio, ajustado com a produo assim, mais uma vez esta

    pesquisa ressalta a importncia da gesto para o desempenho.

    14

    http://www.ase.org/section/topic/industry/corporate/cemcases

  • 35

    Nas discusses pblicas setoriais que tratam dos chamados green buildings tambm

    fala-se muito de alternativas como a co-gerao de energia como uma medida de

    sustentabilidade. Entretanto, esta soluo sustentvel apenas pelos benefcios em

    termos de aumento da oferta de energia eltrica, pois pode no o ser em se tratando

    de emisses de gases de efeito estufa, por exemplo.

    De modo geral e conforme demonstrado nos estudos de caso de Romro (1997),

    que utilizou a simulao computacional para identificar o potencial de melhorias, em

    termos de eficincia energtica de edifcios em uso, as recomendaes para o

    estoque construdo seriam:

    Substituio do sistema de iluminao artificial incandescente e fluorescente;

    Substituio de reatores eletromagnticos por eletrnicos;

    Reviso na posio dos sensores de temperatura;

    Alterao nas temperaturas do condicionamento ambiental em certas zonas

    em funo de seu posicionamento, funcionamento e ocupao, por exemplo;

    Instalao de persianas com controle de intensidade luminosa;

    Substituio da pintura com opo de tintas claras;

    Adoo de novo enquadramento tarifrio junto concessionria;

    Utilizar os recursos da ventilao natural nos perodos de inverno para retirar

    parte da carga trmica (programar abertura de janelas para o meio do dia, por

    exemplo);

    Instalao de sensores de presena;

    Dentre outros.

    USO RACIONAL DA GUA

    Em termos de uso da gua, j so discutidos pelos gerentes de facilidades solues

    como a substituio de torneiras, bacias sanitrias e vlvulas de descarga. A

    medio setorizada tambm discutida na inteno de identificar vazamentos e

  • 36

    efetuar controles mais localizados. E, o uso de fontes alternativas de gua so

    solues em estudo pelos gerentes de facilidades, quer seja por meio do

    reaproveitamento de guas pluviais ou por meio do reuso de guas cinzas.

    COLETA SELETIVA DE RESDUOS

    Para demonstrar engajamento com aes de sustentabilidade, muitas empresas

    disponibilizam em suas recepes e reas externas grupos de coletores para a

    triagem dos resduos. Entretanto, grande parte desta coleta seletiva no realizada

    corretamente muitas vezes h apenas os coletores para as classes de reciclveis,

    ocasionando o descarte errneo do resduo no-reciclvel em alguma delas;

    tambm acontece muito a triagem correta mas sua posterior mistura na rea de

    caambas; ou, ainda, h a inadequao ou no acompanhamento da destinao

    final dada aos resduos reciclveis, no-reciclveis e, especialmente, os resduos

    perigosos.

    ESCOLHA CONSCIENTE DE MATERIAIS E MOBILIRIO

    Durante a etapa de uso e ocupao dos edifcios, em relao s especificaes de

    materiais e mobilirio, os gerentes de facilidades timidamente comeam a discutir as

    suas escolhas. Fala-se basicamente do uso de tintas menos txicas (em funo da

    qualidade do ar interior) e do uso de carpetes em placas (para facilitar reposio e

    reformas).

    Outras questes envolvidas na escolha de materiais e mobilirio relacionam-se mais

    ergonomia, produtividade e imagem do usurio do edifcio.

    Vale mencionar que caractersticas relacionadas ao envelope e suas conseqncias

    para o conforto trmico e a eficincia energtica so pouco discutidas, porm mais

    nas etapas anteriores ao uso ou em processos de reformas maiores neste caso,

    so muito discutidos os tipos e formas de colocao dos vidros; outros materiais e

    elementos ainda so pouco abordados por estes profissionais no Brasil.

  • 37

    QUALIDADE DO AR

    A qualidade do ar tambm pauta das discusses entre os profissionais de

    facilidades em funo da divulgao das conseqncias para a sade e das

    preocupaes com a sndrome do edifcio doente.

    O monitoramento da qualidade do ar de interiores trabalhado a partir de anlises

    da qualidade do ar e superfcies dos ambientes, higienizao de dutos e

    equipamentos dos sistemas de climatizao, alm de sanitizao contra caros,

    fungos e bactrias comea-se a mencionar o risco de legionelose, porm de forma

    pouco objetiva.

    ACESSIBILIDADE

    Em 1994 publicada a norma brasileira para acessibilidade e iniciam-se os

    trabalhos de adaptao de a