Tese de doutorado Abordagem crítica do ensino jurídico no Estado capitalista

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TESE DE DOUTORADOABORDAGEM CRTICA DO ENSINO JURDICO NO ESTADO CAPITALISTALuiz Caetano de Salles

I IntroduoO crescimento numrico da quantidade de cursos jurdicos no Brasil tem sido acompanhado por um proporcional interesse na sua utilizao como objeto de pesquisa em trabalhos de ps-graduao, com abordagens das mais variadas espcies.A quantidade de dissertaes e de teses sobre esse tema demostra a sua importncia para os estudos acadmicos. A ttulo de exemplificao,

Este trabalho toma como referencial terico a obra de Louis Pierre Althusser, filsofo francs marxista nascido na Arglia em 16 de outubro de 1918 e falecido em Paris no dia 22 de outubro de 1990, aos 72 anos de idade. O pensamento althusseriano levou a esquerda marxista pensante efervescncia nas dcadas de 1960 e 1970 ao propor, como enriquecimento da teoria de Marx e Engels sobre Estado, a sua teoria prpria, a que denominou de Aparelhos ideolgicos de Estado, o que na definio de Althusser seriam certo nmero de realidades que se apresentam ao observador imediato sob a forma de instituies distintas e especializadas. (ALTHUSSER, 1980. p. 42).Como exemplo dessas instituies Althusser menciona, entre outros, a famlia, a Igreja, e a educao, cujos respectivos sistemas formariam os Aparelhos ideolgicos de Estado, os quais preencheriam os espaos existentes na superestrutura do edifcio metaforicamente construdo pela teoria marxista para explicar a estrutura da sociedade e as suas relaes. Todos os Aparelhos ideolgicos de Estado concorrem, segundo a teoria althusseriana, para a reproduo das relaes sociais de produo (que nada mais so, conforme Althusser, que relaes sociais de explorao).Antes de falar com mais profundidade sobre essa teoria e os contedos do pensamento althusseriano que do sustentao tese aqui desenvolvida sobre o ensino jurdico, oportuno falar um pouco sobre o prprio Althusser ainda que an passant pois no apenas a sua filosofia motivo de profunda reflexo, mas tambm a sua vida pessoal.Neste sentido, at os 21 anos de idade Louis Althusser foi catlico e militante daJeunesse tudiante Chrtienne (Juventude Estudantil Catlica), conhecida pela sigla JEC como organizao de resistncia ao nazismo. Com essa idade Althusser foi convocado pelo exrcito francs para lutar na Segunda Guerra Mundial. A experincia da guerra abalou tanto a sua sade fsica quanto a mental, causando-lhe profundas crises manaco-depressivas seguidas de tratamentos e internaes que o acompanharam por toda a sua vida restante. O jovem Althusser foi capturado pelo exrcito alemo aos 22 anos de idade e ficou preso os cinco anos seguintes (at o final da guerra) em um campo de concentrao nazista na Alemanha.Certamente que a condio de prisioneiro muito deve ter ajudado Althusser a desenvolver e amadurecer o ideal de uma sociedade igualitria, sem misrias, sem guerras e sem prisioneiros. H no livro 'Sobre a reproduo' uma nota de rodap (nmero 97) em que Althusser expe o seu inconformismo com que a sade pblica francesa cuidava dos seus doentes mentais, e ironizou o desprezo com que o Governo francs por no poder voltar no tempo e utilizar a Santa Inquisio tratou a obra de Michel Foucault:

At aqui temos mantido silncio sobre o que pensamos ter o direito de chamar, nas nossas formaes sociais capitalistas, o Aparelho ideolgico de Estado "mdico". Este mereceria um estudo exclusivo a respeito do qual a notvel obra de Foucault desprezado por nossas Autoridades Mdicas (infelizmente, elas j no o podem queimar), fornece-nos a genealogia de elementos importantes. Com efeito, a histria da "Loucura", que a histria de uma represso, continua mesmo atenuada pelo Humanismo de Pinel e pela farmacologia de Delay. E transborda muito amplamente o que, para sua comodidade, um grande nmero de mdicos chama de "loucura". (ALTHUSSER, 2008, p. 183).

Esta manifestao de Althusser deixa claro que ele no se conformava com o seu enquadramento como louco em decorrncia de suas crises psquicas. Essa questo foi novamente mencionada nesse mesmo livro agora de maneira menos frontal ao fazer um comentrio sobre o princpio da igualdade jurdica afirmando que nele esto includos, pelo Direito atual, todos os indivduos dotados de personalidade, "exceto a escria", como ressalvou, expresso para a qual ele inseriu a nota de rodap n. 41 explicativa:

Por razes patolgicas doentes mentais internados automaticamente ou por razes penais, ou por razes "infrajurdicas": as crianas menores, estrangeiros e, em parte, as mulheres, etc. (ALTHUSSER, 2008, p. 83).

Os longos anos no cativeiro como prisioneiro de guerra propiciaram a Althusser, tambm, um vvido contato com operrios, camponeses e militantes comunistas, os quais contriburam para a formao do seu pensamento marxista. (ALTHUSSER, 1971).Em 1946 e, portanto, aos 28 anos de idade, resgatada a liberdade de ir e vir, Louis Althusser conheceu Hlne Rytmann uma revolucionria de origem judaico-lituana que havia lutado na resistncia francesa da segunda guerra mundial que foi sua companheira at 16 de novembro de 1980, data em que faleceu em circunstncias que destruram a vida de Althusser, como ser visto mais frente, na cronologia da sua vida.Em 1948, aos 30 anos de idade, Althusser filiou-se aoPartido Comunista Francs; mesmo ano em que se tornou professor da Ecole Normale Suprieure (Escola Normal Superior). Aos 47 anos de idade (ano de 1965) Althusser se destacou no cenrio intelectual ao publicar livro Pour Marx (A favor de Marx) e, quatro anos mais tarde, nova publicao de grande impacto, Lire le Capital (Para ler O Capital).

Com esses livros o filsofo francs desencadeou uma viva polmica de fundo terico-poltico, cuja irradiao mundial traou novos rumos ao sistema de pensamento contemporneo. (CABRAL FILHO; MOTTA. 1978, p. 4).

Aos 52 de idade (ano de 1970) Althusser causou novo frisson na intelectualidade marxista ao extrair de um manuscrito que vinha sendo por ele produzido, os fragmentos cujo conjunto foi publicado como um ensaio na revista francesa La Pense sob o ttulo de Idologie et appareils idologiques dEtat (ttulo traduzido para o portugus, literalmente, na publicao brasileira).Louis Althusser foi um dos filsofos marxistas mais traduzidos e publicados no Brasil, mas ao final dos anos 1970 a sua influncia intelectual havia comeado a descrever uma curva descendente, causada principalmente por mudanas na aceitao da teoria marxista pelos franceses.Aos 62 anos de idade (ano de 1980) Althusser sofreu o maior revs de sua vida por ter causado a morte de sua companheira, involuntariamente, em decorrncia de um surto de sua doena mental. Afastou-se, ento, do trabalho acadmico e da vida pblica, tendo continuado a sua produo terica imerso na solido e na culpa. As exatas circunstncias do ocorrido no so conhecidas. O prprio Althusser afirmou no se lembrar claramente do fato, e que matara sem inteno a sua mulher enquanto massageava o seu pescoo. Em 1981 a justia francesa considerou-o inimputvel por incapacidade mental no momento daquele acontecimento, e o absolveu da acusao de homicdio, reservando-lhe a internao em hospital psiquitrico.Nos ltimos anos de sua existncia Althusser viveu em Paris de forma reclusa, recebendo poucas pessoas e trabalhando somente em sua autobiografia, a qual foi publicada em 1985 sob o ttulo O futuro dura muito tempo (publicao brasileira no ano de 1993).Em 1995 foi publicado o manuscrito que havia originado o ensaio publicado 25 anos antes (Ideologia e Aparelhos ideolgicos de Estado). Sua publicao na Frana deu-se com o nome de Sur la reproduction; no Brasil veio a ser publicado no ano de 1999, com o ttulo Sobre a reproduo1Publicado pela Editora Vozes, tendo sido a 1 edio em 1995 e a 2 edio em 2008.

.A edio desse livro reacendeu o interesse pela obra de Althusser por propiciar uma viso mais abrangente do universo no qual havia sido intelectualmente concebida a sua Teoria dos Aparelhos ideolgicos de Estado.Fazendo-se uma busca na internet com o auxlio do localizador Google para as palavras Althusser, Freud, Marx e sexo, foram encontradas quantidades muito diferenciadas para essas buscas, como estampado na Tabela 1, abaixo:

Tabela 1 Resultados de buscas na internet utilizando-se o localizador GooglePalavra-chaveSites encontrados(em 08/02/2013)

Althusser1.070.000

Freud5.450.000

Marx96.000.000

Sexo399.000.000

Verifica-se da busca acima que embora Althusser tenha sido um dos maiores propagadores do pensamento marxista, ele quase desconhecido em relao ao prprio Marx, pois a busca na internet encontrou para Althusser algo em torno de 1% dos endereos eletrnicos que foram encontrados para Marx. Quando comparamos "Althusser" com "Freud" encontramos para este ltimo nome o quntuplo da quantidade de stios eletrnicos encontrados para o primeiro deles. Essas trs primeiras palavras-chave para busca na internet so muito menos difundidas, entretanto, do que a palavra "sexo", para a qual foi localizado mais do que o qudruplo do que havia sido localizado para Marx, 373 vezes mais do que foi encontrado para Althusser, e 73 vezes mais do que foi encontrado para "Freud" este, um defensor da tese de que o desejo sexualera a energia motivacional primria da vida humana. Por ser uma necessidade bsica vital, sexo assunto que desperta elevado interesse na quase totalidade das pessoas (talvez em todas), sejam elas militantes ou no, de esquerda ou de direita, crentes ou ateus, homens ou mulheres, proletrios ou burgueses.Em algumas poucas passagens de seu livro 'Sobre a reproduo' Althusser cita Freud, mas em uma dessas citaes fica claro que ele serviu-se da teoria freudiana para sustentar a sua teoria dos Aparelhos ideolgicos de Estado, ao afirmar que a ideologia no tem histria, colocada em proposio direta com a proposio de Freud segundo o qual o inconsciente eterno:

Se eterno significa no transcendente a qualquer histria (temporal), mas onipresente e, portanto, imutvel sob sua forma em toda a extenso da histria, irei ao ponto de retomar, palavra por palavra, a expresso de Freud e escreverei: a ideologia eterna, do mesmo modo que o inconsciente. E, antecipando em relao s pesquisas necessrias e, daqui em diante, possveis, acrescentarei que essa aproximao teoricamente justificada pelo fato de que a eternidade do inconsciente est baseada, em ltima instncia, na eternidade da ideolgia em geral. (ALTRUSSER, 2008, p. 198).

Ante tudo o que foi exposto caberia perguntar qual seria a justificativa para tomar a obra de Louis Althusser como referencial para uma tese de doutorado sobre o ensino jurdico.Como resposta pode-se afirmar que a obra de Althusser, alm de continuar atual, fornece suficiente sustentao terica para entender o entrelaamento entre as vrias instituies (Aparelhos ideolgicos de Estado) e o modo de produo do sistema capitalista em uma sociedade que sobreleva, em tese, os ideais de liberdade e de igualdade, mas pratica a dominao e a perpetuao das desigualdades.Neste contexto, altamente estimulante extrair da obra de Althusser o solvente intelectual adequado para remover o verniz ideolgico que d brilho ao ensino jurdico ministrado como atividade escolar, o que o objetivo deste trabalho.Pretende-se ao final deste trabalho ter demonstrado que dentro do gnero atividade escolar o ensino jurdico no apenas mais uma de suas espcies, mas sim uma espcie singular do gnero atividade escolar (educao), utilizado como eficaz instrumento auxiliar de reproduo do modo de produo dominante existente na sociedade.Assim como Marx utilizou a metfora de um prdio para descrever a sociedade como sendo constituda de uma infraestrutura e de uma superestrutura, tambm ser utilizada neste trabalho essa figura de linguagem que muito facilita a exposio de um pensamento, sendo que neste caso ser tomado como referncia o fenmeno natural de decomposio de um feixe de luz branca (luz do sol) em seus componentes bsicos por um prisma de quartzo, descoberto pelo ingls Isaac Newton no ano de 1668, como ilustrado pela figura abaixo: Fig. 1. Decomposio da Luz branca por um prisma de quartzo.

A metfora neste trabalho ser a passagem de um feixe de ensino jurdico por um ficto prisma althusseriano, o qual, tendo propriedades dialticas, permite por abstrao ver o que est por trs do aparente e desvelar as suas caractersticas e as relaes que constituem a essncia do seu objeto. semelhana da decomposio da luz branca pelo prisma de quartzo, o prisma dialtico decompe o ensino jurdico em seus constituintes bsicos que so Direito, Estado, Ideologia, e Modo de produo, como ilustra a figura seguinte:

Fig. 2. Decomposio do ensino jurdico por um prisma althusseriano. (Arte: Julia Maia)

necessrio ter clareza de que abstrair-se, dialeticamente, no significa separar uns dos outros os indcios percebidos mas atravs deles descobrir novos aspectos do objeto que traduzam as relaes essenciais. (BARBOSA; MAGALHES; ALVES. 2012).Com sustentao na teoria althusseriana dos Aparelhos ideolgicos de Estado possvel demonstrar a tese aqui esposada sobre o ensino jurdico.

II O ensino jurdico

Flui nos meios acadmico e forense a verso de que o ensino jurdico tem as caractersticas de ser conservador, de viver distante da realidade sociopoltica do pas e, consequentemente, de formar profissionais, em geral, com esse mesmo perfil, o qual se perpetua com o ingresso de ex-alunos no cargo de professor dessa modalidade de atividade escolar, reproduzindo a sua formao acadmica e dificultando, assim, muito alm da medida, o surgimento de uma viso crtica do prprio ensino jurdico. Esta espcie de atividade escolar tem se limitado a repassar o contedo das leis para os estudantes, para em seguida cobr-lo nas avaliaes, esperando respostas que digam o que j estava preestabelecido no prprio texto legal, o que contribui, por sua vez, para que os seus professores no reflitam sobre o desempenho dos seus prprios papis profissionais, levando-os a legitimar, por conseguinte, no s a forma do ensino jurdico, mas tambm o seu contedo. Embora o ensino jurdico fosse uma realidade no Reino Portugus desde o Sculo XIV com a criao da Universidade de Coimbra no ano 1308 no Brasil ele somente veio a ser institudo cinco anos depois da independncia poltica de Portugal (Sculo XIX), com um curso na cidade de So Paulo (SP), e outro na cidade de Olinda (PE), com a finalidade de formar recursos humanos para os cargos burocrticos no aparelho de Estado.

Os cursos de direito surgiram no Brasil em 1827, cinco anos aps a independncia da colnia e na esteira da necessidade de formar quadros para o estado nacional que iniciava sua estruturao. Nesse contexto, os cursos de direito foram concebidos como uma forma de garantir ao bacharel um cargo administrativo no governo, um papel na estrutura de poder poltico que se organizava no pas. (CARLINI, 2008, p. 210).

O Anexo A contm a transcrio integral do texto da lei que criou este curso no Brasil, concebido, inicialmente, com o nome de Curso de Sciencias Jurdicas, e Sociaes. Antes da criao dos cursos jurdicos no Brasil os filhos da aristocracia rural e escravocrata brasileira deslocavam-se para Portugal, para estudar na Universidade de Coimbra, onde obtinham o grau de Doutor em Leis e uma carta de recomendao para ocupar cargos no aparato burocrtico da Coroa Portuguesa na sua ento colnia brasileira. (SALLES, 2002).

Cooptados pelas elites portuguesas para funes pblicas restritas, o ttulo de diplomado em Direito era a chave para uma carreira a servio do rei; a formao em Coimbra era um processo de socializao destinado a criar um senso de lealdade e obedincia ao rei. (ARRUDA JNIOR, 1988b, p. 28).

Como visto, o ensino jurdico sempre teve a funo de formar quadros para servir ao Aparelho de Estado.O ensino jurdico atual continua assim, propiciando uma formao bsica que habilita o formando a exercer a advocacia (privada ou pblica), ou ocupar cargo de juiz, de promotor de justia, ou de delegado de polcia, entre outros cargos ou funes de maior relevncia existentes no Aparelho de Estado. So exercidas por bacharis em direito, tambm, as funes auxiliares do poder judicirio, tais como as de juiz de paz, escrivo, notrio, tabelio, e de oficial de cartrio. fcil constatar, assim, que a formao acadmica dos estudantes dos cursos jurdicos revestida de acentuada importncia como instrumento de difuso da ideologia da classe dominante existente na sociedade.Convencionou-se referir-se s pessoas que ocupam esse conjunto de cargos ou que exercem essas funes como sendo operadores do direito, a se incluindo, tambm, o professor de curso jurdico, embora no exista a formao especfica de recursos humanos para o magistrio desta modalidade educacional, o que ocorre com os cursos superiores que no tm a licenciatura como modalidade de formao acadmica.Operador algum que apenas executa uma funo ou operao, sem participar intelectualmente da sua elaborao, como bem salientado por Joo Ibaixe Jr. na transcrio abaixo:Diante disto, caberia a crtica contra a expresso operador do direito, neste escopo visto como algum que opera os mecanismos do sistema tecnicamente, isto , como o profissional que aperta as teclas e botes das codificaes legislativas, um operrio dos cdigos legais. Logo, no h nenhum compromisso com a realidade efetiva dos fatos, mas to somente com o ordenamento normativo em si mesmo, transformando o conflito jurisdicional num debate de argumentos retricos. (IBAIXE JR. 2012, p. 1).O interesse cientfico pelo ensino jurdico como objeto de pesquisa tem se mostrado crescente nas ltimas dcadas motivado talvez pela expanso concomitante, em progresso quase geomtrica, da oferta de vagas em cursos de direito em instituies privadas de educao superior.Referidos trabalhos de pesquisa tm produzido excelentes contribuies para as abordagens cientfica e filosfica do ensino jurdico, ao qual tem sido atribuda a caracterstica de no formar juristas, mas apenas repetidores de cdigos de leis positivadas pelo aparelho ideolgico de Estado legislativo. o modelo copiado de Coimbra, discursivo e descritivo; adverte Joo Virglio Tagliavini (1999, p. 28).A Ordem dos Advogados do Brasil tem criticado tanto a postura do Ministrio da Educao (MEC) de autorizar novos cursos jurdicos pelo pas afora, quanto o baixo desempenho dos bacharis em direito que tm se submetido ao seu exame de admisso advocacia. A segunda crtica da OAB permite-nos concluir que o ensino jurdico duplamente deficiente, pois alm de formar apenas repetidores de leis, no consegue formar eficientes repetidores de leis, haja vista o elevado grau de reprovao no mencionado exame, o qual avalia, basicamente, o conhecimento das normas positivadas.Almeida Jnior afirma que a proliferao de cursos jurdicos no Brasil com o correlato aumento de bacharis em Direito e de docentes nessa rea "no implicou em mudanas de paradigmas, em alterao dos antigos pensamentos, e nem mesmo crticas a eles, talvez porque nunca se teve a preocupao de formar pensadores do Direito, mas sim de produzir repetidores de antigas lies e leitores de cdigos." (ALMEIDA JNIOR, 2008, p. 231).Autores de textos crticos sobre o ensino jurdico tm atribudo a essa atividade escolar um perfil positivista, por contentar-se apenas com a aferio da validade da norma como seu objetivo principal, e no a justia ou moralidade da norma, aspectos que ficam relegados sociologia jurdica e filosofia jurdica, respectivamente. O positivismo jurdico enclausura-se em uma rgida estrutura de normas inferiores e de normas superiores, impedindo que o direito seja construdo a partir de qualquer outra esfera que no seja a esfera do prprio direito. (CARLINI, 2008).Dizendo a mesma, mas com outras palavras, Althusser afirma que "o Direito no sai do Direito, ele reduz, 'honestamente' tudo ao Direito. No se deve critic-lo por isso: ele exerce honestamente seu 'ofcio' de Direito." (ALTHUSSER, 2008, p. 94).A obra de Louis Althusser permite compreender que os operadores do direito no operam somente os cdigos de leis positivadas, mas sim todos os aparelhos ideolgicos de Estado da superestrutura da sociedade, viabilizando assim, a reproduo das relaes de produo do modo de produo, no tempo e no espao.Exemplo dessa afirmao pode ser extrado do fato de o direito brasileiro na poca da escravido viabilizar a reproduo das relaes de produo deste modo de produo, ao mesmo tempo em que o direito dos pases europeus industrializados j estava regulando (para viabiliz-la) a nova relao de produo, assalariada, decorrente do surgimento do capitalismo naquele continente.Joo Virglio Tagliavini tem um comentrio bem ilustrativo do que foi afirmado:Se o modo de produo escravista, as ideias e, portanto, tambm a lei, tem uma dimenso que sustenta a escravido. Se o modo de produo capitalista, as leis seguem o esprito liberal que o fundamento do capitalismo, por pregar a liberdade, igualdade, livre iniciativa, tolerncia, etc. (1999, p. 192).

Isso pode ser contemplado na prpria histria do Brasil, quando em sua fase escravocrata e latifundiria era legalmente permitido o castigo fsico aplicado aos escravos como pena e, em tempos atuais capitalista e liberal a sua Carta Magna estampa entre os seus direitos fundamentais que no pas no haver pena de morte (salvo em caso de guerra declarada), no haver pena de carter perptuo, de trabalhos forados, de banimento e nem penas cruis2Art. 5, inciso XLVII da Constituio Federal.

.Ainda nessa linha de raciocnio, outro exemplo pode ser extrado do fato de o Direito da poca da escravido negra no Brasil proibir os escravos de praticar a sua religio de origem africana e de realizar suas festas e rituais africanos e impor-lhes a obrigatoriedade de seguir a religio catlica.O Direito atual, concebido sob o modo de produo capitalista prev a inviolabilidade da liberdade de conscincia e de crena, permite o livre exerccio dos cultos religiosos e impe ao Estado a obrigao de garantir no apenas a proteo aos locais de culto, mas tambm s suas liturgias3Art. 5, inciso VI da Constituio Federal.

.Embora a obra de Louis Althusser nada contemple sobre o ensino jurdico, ela discorre muito satisfatoriamente, entre outras categorias, sobre Direito e Estado, as quais so os objetos de trabalho do ensino jurdico.Na teoria marxista o Aparelho de Estado compreende o governo, a administrao, as foras armadas, a polcia, os tribunais e as prises, constituindo o que Louis Althusser chamou de Aparelho repressor de Estado ladeando-o com a sua contribuio terica intitulada Aparelhos ideolgicos de Estado (AIE):

Designamos por Aparelhos Ideolgicos de Estado certo nmero de realidades que se apresentam ao observador imediato sob a forma de instituies distintas e especializadas. (ALTHUSSER, 1980. p. 42).

A distino entre os aparelhos ideolgicos de Estado e o Aparelho de Estado o uso predominante por este ltimo da violncia fsica e, secundariamente, a ideologia, ao passo que os AIE atuam, principalmente, por meio da ideologia e, secundariamente, por meio da violncia.Afirmando que no existem aparelhos unicamente repressivos ou unicamente ideolgicos, Althusser apresenta o exemplo do exrcito e da polcia, os quais atuam, tambm, por meio da ideologia, tanto para garantir suas prprias coeses e reproduo, quanto para divulgar os valores por eles observados. Em sentido oposto, exemplifica com as igrejas que elaboram por mtodos prprios as suas sanes, no apenas para os seus funcionrios, mas tambm para as suas ovelhas; e assim a famlia, o aparelho ideolgico cultural (com a censura), etc. (ALTHUSSER, 1980).A teoria althusseriana dos aparelhos ideolgicos de Estado um enriquecimento filosfico da teoria marxista do Estado, e assim, para que o leitor consiga entender uma e outra imprescindvel que assuma uma postura de classe, mais especificamente, de classe proletria. Neste sentido, refora Lui:

No possvel e isso foi mostrado, admiravelmente, por Lenin compreender, nem por fora maior da razo, expor e desenvolver a teoria marxista, nem que seja em relao a tal ponto limitado, a no ser a partir das posio de classe proletria no campo da teoria. (ALTHUSSER, 2008, p. 23).

Em entrevista concedida em 1968 e publicada no ano de 1971 intitulada "A filosofia como uma arma revolucionria" Althusser afirmou que no era fcil ser um filsofo marxista-leninista e que o professor de filosofia, igual a todo "intelectual", um pequeno burgus que ao abrir a boca escoa a sua ideologia pequeno-burguesa, com infinitos truques e espertezas. (ALTHUSSER, 1971).O Estado concebido no pensamento marxista como uma espcie de mquina de represso que permite s classes dominantes garantir sua dominao sobre a classe operria, submetendo-a ao processo de extorso da mais-valia. "Nesse caso, o Estado , antes de tudo, o que os clssicos do marxismo designaram por aparelho de Estado, que define o Estado como fora de execuo e de interveno repressora 'a servio das classes dominantes' na luta de classe travada pela burguesia e seus aliados contra o proletariado." (ALTHUSSER, 2008, p. 97).Os aparelhos ideolgicos de Estado so instituies ou organizaes que constituem um sistema, citando-se como exemplo o AIE escolar, constitudo por diferentes escolas, diferentes graus de instruo do primrio ao superior de diferentes institutos, etc. (ALTHUSSER, 2008).Althusser listou como Aparelhos Ideolgicos de Estado os aparelhos religioso, escolar, familiar, jurdico, poltico, sindical, da informao (mdia), e o cultural (Letras, Belas Artes, desportos, etc.) ressaltando que o AIE escolar "foi colocado em posio dominante nas formaes capitalistas maduras, aps uma violenta luta de classes poltica e ideolgica contra o antigo AIE dominante [o religioso]." (ALTHUSSER, 1980. p. 59). Segundo Althusser a Revoluo francesa teve como um dos seus principais objetivos e resultados no apenas a transferncia do poder de Estado da aristocracia feudal para a burguesia capitalista-comercial, a quebra do antigo aparelho repressivo do Estado e a sua substituio por outro, mas tambm "o ataque ao ento aparelho ideolgico de Estado n 1, que era a Igreja. Da a constituio civil do clero, o confisco dos bens da Igreja e a criao de novos aparelhos ideolgicos de Estado para substituir o aparelho ideolgico de Estado religioso em seu papel dominante." (ALTHUSSER, 1980, p. 76). Podemos at acrescentar: o duo escola-famlia substituiu o duo igreja-famlia." (idem. p. 62).Ao referir-se ao AIE escolar o pensamento althusseriano ressalta o fato de que o tempo dirio de convvio da criana com a escola maior do que em qualquer outro aparelho ideolgico de Estado, o que permite escola ensinar ao futuro proletrio tcnicas, conhecimentos e regras do bom comportamento (regras de moral e de conscincia cvica e profissional, que na realidade so regras de respeito diviso social-tcnica do trabalho). Repetindo as palavras de Althusser, "regras da ordem estabelecida pela dominao de classe." Aprende-se na escola, tambm, "a falar bem o idioma, a redigir bem, o que na verdade significa (para os futuros capitalistas e seus servidores) saber 'dar ordens', isto , (soluo ideal) dirigir-se adequadamente aos operrios, etc." (ALTHUSSER, 1980, p. 58).O aparelho ideolgico escolar passou a ser a fonte de fora de trabalho para o modo de produo capitalista:Ao contrrio do que ocorria nas formaes sociais escravistas e servis, a reproduo da qualificao da fora de trabalho tende (trata-se de uma lei tendencial) a dar-se no mais no "local de trabalho" (a aprendizagem na prpria produo), porm, cada vez mais, fora da produo, atravs do sistema escolar capitalista e de outras instncias e instituies. (ALTHUSSER, 1980, p. 57).

Utiliza-se Althusser da metfora marxiana de que a estrutura de toda sociedade pode ser representada por um edifcio que comporta uma base (infraestrutura) sobre a qual se erguem os dois "patamares" da superestrutura:

[...] Marx concebe a estrutura de toda sociedade como constituda por 'nveis' ou 'instncias', articulados por uma determinao especfica: a infraestrutura ou base econmica ('unidade' das foras produtivas com as relaes de produo) e a superestrutura que comporta em si mesma dois 'nveis' ou 'instncias': o jurdico-poltico (o Direito e o Estado) e o ideolgico (as diferentes ideologias: religiosa, moral, jurdica, poltica, etc.). (ALTHUSSER, 2008, p. 79).

Nessa linha de raciocnio, dentro do aparelho ideolgico de Estado escolar, ganha importncia a atividade escolar de ensino jurdico, eis que esta especialidade de atividade escolar no apenas forma as pessoas que ocuparo cargos pblicos na superestrutura do Estado, mas tambm reproduz a ideologia da classe dominante atravs da disseminao das normas positivadas pelo Estado, o qual, em ltima instncia, representa os interesses da classe dominante, como teorizavam Marx e Engels:

O Estado a forma em que os indivduos de uma classe dominante fazem valer os seus interesses comuns, e na qual se resume toda a sociedade civil de uma poca [...]. (MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. 2005. p. 114).

O Direito reproduz a ideologia da classe dominante de maneira dissimulada, pois no lhe seria conveniente que o fizesse ostensivamente. No sem razo que o direito "expressa as relaes de produo, embora no sistema de suas regras no faa qualquer meno a essas relaes; muito pelo contrrio, escamoteia-as." (ALTHUSSER apud CASSIN, 2002. p. 75). ideolgica, portanto, a representao feita pelo direito de que todas as pessoas nascem livres e iguais perante a lei. Althusser desnuda essa "bela mentira" afirmando que o direito no explicita que alguns dos que nascem iguais sero mais iguais do que outros:

O Direito reconhece a todos os homens, sujeitos jurdicos iguais, o direito de propriedade, mas nenhum artigo reconhece o fato de que alguns sujeitos (os capitalistas) sejam proprietrios dos meios de produo, e outros (os proletrios) desprovidos de qualquer meio de produo. Esse contedo (as relaes de produo) est, portanto, ausente do Direito que, ao mesmo tempo o garante. (ALTHUSSER, 2008, p. 85).

Em sntese, pode-se sustentar a tese de que o ensino jurdico um eficiente instrumento de propagao do Direito e do Estado, os quais se interligam por efeito de uma goma ideolgica visando, em ltima instncia, a reproduo das relaes de produo. Isso ocorre sem que a grande maioria dos seus professores o perceba, o que acontece, tambm, em outras reas da educao escolar, como dito pelo mestre Louis Althusser:

Peo desculpas aos professores que, em condies terrveis, tentam voltar contra a ideologia, contra o sistema e contra as prticas em que este os encerra, as armas que podem encontrar na histria e no saber que "ensinam". Em certa medida so heris, mas so raros e, quantos (a maioria) no tm sequer um vislumbre de dvida quanto ao "trabalho" que o sistema (que os ultrapassa e esmaga) os obriga a fazer. (ALTHUSSER, 1980, p. 67).

O objetivo deste trabalho tomando a obra escrita por Louis Althusser como referencial terico demonstrar que, semelhantemente ao que fez Isaac Newton com a luz branca, o ensino jurdico ao longo da histria da humanidade no monocromtico como aparenta ser primeira vista, pois ao pass-lo por um prisma althusseriano constata-se a sua decomposio em suas cores principais, que so Estado, Direito, Ideologia e Modo de produo.O presente trabalho poder contribuir para instigar a conscientizao de classe dos professores dos mais de mil cursos jurdicos existentes no Brasil, o que poder colaborar para a reformulao dos projetos pedaggicos desses cursos, preparando-os para a sociedade do futuro, quando inexistiro classes sociais e, por conseguinte, tanto o Direito quanto o prprio Estado sero desnecessrios.Como apregoava Marx, no basta conhecer a realidade; necessrio transform-la sob os ideais da classe proletria.III Estado, Direito, Ideologia e Modo de produoA teoria althusseriana dos aparelhos ideolgicos de Estado contm fundamentos filosficos e cientficos suficientes para sustentar a tese de que o ensino jurdico tem a funo de auxiliar a aceitao do Aparelho de Estado, do Direito e da Ideologia, os quais atuam de forma concertada para viabilizar a reproduo das relaes de produo do modo de produo existente na sociedade.Althusser desdobra cada uma dessas categorias (Estado, Direito, Ideologia e Modo de produo) no livro intitulado Sobre a reproduo, com importantes abordagens e reflexes sobre cada uma delas, e sobre as relaes entre elas existentes, o que referenda o trabalho intelectual de formulao e de sustentao da tese aqui esboada.A importncia do Direito em uma sociedade de classes to relevante que Althusser o considera uma expresso dissimuladora de um sistema (Cdigos + ideologia jurdico-moral + polcia + os tribunais e seus magistrados + as prises, etc.) que merece ser pensado sob o conceito de Aparelho ideolgico de Estado, o aparelho jurdico. Abordando o Direito como um sistema, Althusser esmia as consideraes de Marx e Engels sobre trs de suas caractersticas que deverm ser levadas em considerao, que so a sistematicidade, a formalidade e a repressividade. A ideologia de sustentao do Direito a que se refere Althusser no a ideologia geral, mas uma ideologia especfica a que ele denominou de "ideologia jurdico-moral", cujo conhecimento ajuda a entender o funcionamento do Direito como aparelho ideolgico de Estado.No haver espao neste artigo para repetir essas abordagens feitas por Althusser devido limitao da quantidade de folhas a que se sujeita o presente trabalho. Haver necessidade, entretanto, de ampliar a base de sustentao terica dessa tese sobre o ensino jurdico, o que ser feito com o detalhamento dessas categorias acima destacadas. Referncias

ALMEIDA JNIOR, Fernando Frederico de. A proliferao dos cursos de direito no Brasil e a superao do positivismo jurdico como condies que favorecem a ampliao do acesso Justia. In: A superao do positivismo jurdico no ensino do Direito: uma releitura de Kelsen que possibilita ir alm de um positivismo restrito e j consagrado. Joo Virglio Tagliavini (Org.). Araraquara: Junqueira&Marin, 2008.ALTHUSSER, Louis. A filosofia como uma arma revolucionria. Disponvel em < http://www.marxists.org/portugues/althusser/1968/02/filosofia.htm>. Acesso em 02 fev. 2013.__________. Ideologia e aparelhos ideolgicos do Estado. 3. ed. Lisboa: Editorial Presena/Martins Fontes. 1980.__________. Sobre a reproduo. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 2008.ARRUDA JNIOR. Advogado e mercado de trabalho. Campinas: Julex, 1988.BARBOSA, Ivone Garcia; MAGALHES, Solange M. O.; ALVES, Nancy Nonato de Lima. Mtodo dialtico: uma construo possvel na pesquisa em educao da infncia? Disponvel em: . Acesso em 11 jul. 2012.CARLINI, Anglica Luci. O professor de Direito e a identidade docente: construindo reflexes a partir da aprendizagem baseada em problemas. In: A superao do positivismo jurdico no ensino do Direito: uma releitura de Kelsen que possibilita ir alm de um positivismo restrito e j consagrado. Joo Virglio Tagliavini (Org.). Araraquara: Junqueira&Marin, 2008.CABRAL FILHO, Severino Bezerra; MOTTA, Manoel Barros da. in Posies I. Louis Althusser. Rio de Janeiro: Graal, 1978.CASSIN, Marcos. Louis Althusser e o papel poltico/ideolgico da escola. 2002. 154 f. Tese (Doutorado em educao). Faculdade de educao, Unicamp. 2002. IBAIXE JR. Joo. As dificuldades do ensino jurdico. Disponvel em Acesso em 08/02/2013.MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alem: teses sobre Feuerbach. So Paulo: Centauro, 2005.SALLES, Luiz Caetano de. Da concepo de ensino educao jurdica: saberes institucionalizados e emancipatrios no Brasil. Dissertao de mestrado. Uberlndia, 2003.TAGLIAVINI. Joo Virglio. Filosofia do direito: uma proposta de ensino. Tese de Doutorado, Programa de Ps-graduao em Educao/UFSCar. So Carlos: 1999. 223p.

A N E X O SANEXO A

Lei de 11 de agosto de 1827, que criou os cursos de direito no Brasil

(A transcrio abaixo mantm tanto a graphia original do documento, quanto a sua forma, que a mais prxima possvel do original, exceto quanto ao nmero de folhas, que de duas, escritas na frente e no verso)

Lei de 11 de agosto de 1827

Crea dois Cursos de Sciencias Jurdicas, e Sociaes, hum na Cidade de S. Paulo, outro na de Olinda.

Dom Pedro Primeiro, por graa de Deus e unanime acclamao dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil: Fazemos saber a todos os nossos subditos que a Assemblia geral decretou, e ns queremos a Lei seguinte:

Artigo 1o.Crear-se-ho dois Cursos de Sciencias Jurdicas, e Sociaes, hum na cidade de S. Paulo, outro na de Olinda, e nelles no espao de cinco annos, e em nove Cadeiras, se ensinaro as materias seguintes

1o Anno1a Cadeira,, Direito Natural, Publico, Analize da Constituio do Imperio, Direito das Gentes, e Diplomacia.2o Anno1a Cadeira,, Continuao das materias do anno antecedente.2a Cadeira,, Direito Pblico Ecclesiastico.3o Anno1a Cadeira,, Direito Patrio Civil2a Cadeira,, Direito Patrio Criminal, com a Theoria do Processo Criminal.4o Anno1a Cadeira,, Continuao do Direito Patrio Civil.2a Cadeira,, Direito Mercantil e Maritimo.5o Anno1a Cadeira Economia Politica2a Cadeira Theoria e Pratica do Processo adoptado pelas Leis do Imperio.Artigo 2o. Para a regencia destas cadeiras o Governo Nomear nove Lentes proprietrios, e cinco Substitutos.Artigo 3o. Os Lentes proprietrios vencero o Ordenado que tiverem os Desembargadores das Relaes e gozaro das mesmas honras. Podero Jubilar-se com o ordenado por inteiro, findos vinte annos de Servio.Artigo 4o. Cada hum dos Lentes Substitutos vencer o Ordenado annual de oito centos mil reis.Artigo 5o. Haver um Secretrio, cujo Officio ser encarregado a hum dos Lentes Substitutos com a gratificao mensal de vinte mil reis.Artigo 6o. Haver hum Porteiro com o ordenado de quatro centos mil reis annuaes, e para o Servio havero os mais Empregados que se julgarem necessarios.Artigo 7o. Os Lentes faro a escolha dos Compendios da sua Profisso, ou os arranjaro no existindo ja feitos, comtanto que as doutrinas estejo de accrdo com o Systema jurado pela nao. Estes compendios, depois de approvados pela Congregao, serviro interinamente, submettendo-se porem approvao da Assembleia Geral, e o Governo os far imprimir, e fornecer s Escolas, competindo aos seus autores o privilgio exclusivo da Obra, por dez annos.Artigo 8o. Os Estudantes, que se quizerem matricular nos Cursos Juridicos, devem appresentar as certidoens de idade, porque mostrem ter a de quinze annos completos, e de approvao da Lingua Franceza, Grammatica Latina, Rhetorica, Philosophia Racional, e Moral, e Geometria.Artigo 9o. Os que frequentarem os Cinco annos de qualquer dos Cursos, com approvao, conseguiro o Gro de Bachareis Formados. Haver tambem o Gro de Doutor, que ser conferido quelles, que se habilitarem com os requisitos, que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e so os que o obtiverem podero ser escolhidos para Lentes.Artigo 10o. Os Estatutos do Visconde da Cachoeira ficaro regulando por ora naquillo, em que forem applicaveis, e se no oppuzerem presente Lei. A Congregao dos Lentes formar quanto antes uns Estatutos completos, que sero submettidos a deliberao da Assembleia Geral.Artigo 11o. O Governo criar nas Cidades de S. Paulo, e Olinda as Cadeiras necessarias, para os Estudos preparatorios declarados no Artigo 8o. Mandamos portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execuo da referida lei pertencer, que a cumpram e faam cumprir e guardar to inteiramente, como nella se contm. O Secretario do Estado dos Negocios do Imperio a faa imprimir, publicar e correr. Dada no Palcio do Rio de Janeiro aos 11 dias do mez de Agosto de 1827. 6o da Independencia e do Imperio.

(Rubrica do Imperador)

Abordagem crtica do ensino jurdico no estado capitalista