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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA ALYSSON CHAVES ALMEIDA CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E BIOLÓGICA DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Centrolobium tomentosum GUILL. EX BENTH. FORTALEZA 2016

Tese De Doutorado - Alysson Chaves Almeida - 18.02 · ter iluminado minha vida com seu lindo sorriso. Você é a mulher com quem quero compartilhar todos os meus sonhos, minha eterna

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA

ALYSSON CHAVES ALMEIDA

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E BIOLÓGICA DE UMA LECTINA DE

SEMENTES DE Centrolobium tomentosum GUILL. EX BENTH.

FORTALEZA

2016

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ALYSSON CHAVES ALMEIDA

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E BIOLÓGICA DE UMA LECTINA DE

SEMENTES DE Centrolobium tomentosum GUILL. EX BENTH.

Tese de Doutorado submetida à

Coordenação do Curso de Pós-Graduação

em Bioquímica da Universidade Federal do

Ceará como requisito parcial para obtenção

do grau de Doutor em Bioquímica.

Orientador: Prof. Dr. Benildo Sousa

Cavada.

FORTALEZA

2016

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Aos meus pais Marta e Almeida, por terem me

oferecido o amor mais puro e terem feito de

seus sonhos os meus;

Aos meus avós Lurdinha e Zequinha (In

memorian) e à minha segunda mãe Mundinha,

por todo amor e carinho;

À minha amada esposa Rebecca, pelos

conselhos, apoio e muito amor;

Dedico.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela proteção, pela presença constante em minha

vida e pela benção que agora me oferece;

Ao meu orientador, Prof. Dr. Benildo Sousa Cavada, que acreditou no meu trabalho

e me acolheu em seu grupo. Agradeço também pelo exemplo de grande ser humano, de grande

liderança;

À Prof.ª. Dr.ª Kyria Santiago do Nascimento, pela colaboração na realização deste

trabalho e pelos valiosos conhecimentos transmitidos durante o convívio no laboratório.

À Prof.ª Dr.ª Alana de Freitas Pires, por aceitar fazer parte da banca examinadora

dessa tese, pelos valiosos ensinamentos e pela colaboração nos testes de atividade biológica.

Ao Prof. Dr. Francisco Nascimento Pereira Junior, por compor a banca

examinadora desta tese, pelos ensinamentos, pela amizade e honestidade sempre constantes.

Ao Prof. Dr. João Batista Cajazeiras, por aceitar fazer parte da banca examinadora

dessa tese.

À Prof.ª Dr.ª Ana Maria Assreuy, pela disponibilidade e atenção, e toda a equipe do

LAFFIN pelo apoio e colaboração nos testes de atividade biológica.

Um agradecimento especial aos amigos Mayara Queiroz, Vinícius Silva e Vanir

Reis, três grandes amigos, que colaboraram diretamente não só com a redação desse trabalho

de tese, mas também com seu artigo científico. Além disso, agradeço os inúmeros ensinamentos

nessa nossa nova empreitada pela bioinformática. Obrigado pela amizade, pelo convívio sempre

alegre, pela consideração e pela compreensão. Serei eternamente grato a vocês.

Aos amigos Alfa, Ana Cecília, William, Jorge, Mayara Queiroz, Mayara Torquato,

Vanir e Vinícius. Obrigado por tantos momentos de alegria que vivemos juntos, pelos milhares

de ensinamentos que me passaram e pelo apoio nos momentos difíceis. Agradeço também por

toda a ajuda na redação deste trabalho;

Aos colegas do BioMol-Lab, Clareane, Cleane, Cláudia, Ivanice, David, Gleiciane,

Batista, Lucas, André, Ronniery, Simoni e a todos os demais que compõe o BioMol-Lab que

contribuíram durante esta caminhada e a quem aprendi a ter um grande respeito.

À todos os professores e funcionários do Departamento de Bioquímica e Biologia

Molecular da UFC, pelos valiosos ensinamentos que me proporcionaram ao longo do curso;

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo

auxílio financeiro.

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De maneira mais que especial, agradeço aos meus pais, Marta e Almeida. Mãe,

obrigado pelo amor e carinho mais verdadeiro que pode existir neste mundo, por estar ao meu

lado em todos os momentos, por nunca parar de orar por mim um só segundo. Pai, obrigado

pelo exemplo de homem trabalhador e pai amoroso que, mesmo em face à dificuldade, nunca

deixou de acreditar que a vida é uma dádiva de Deus. Se hoje sou um homem vitorioso, é porque

vocês me ensinaram a seguir o caminho correto. Amo vocês e nunca os abandonarei.

À toda a minha família, que sempre acreditou em mim. Em especial, aos meus avós

Lurdinha e Zequinha, que me ensinaram a ter amor pela natureza e por me receberem sempre

com um abraço apertado e um sorriso. À minha avó pelo carinho mais tenro e pelas orações

constantes; ao meu avô, pelo exemplo de homem simples, íntegro, dedicado à família, sempre

perseverante e alegre. Amo vocês.

À Mundinha, minha segunda mãe, por ter feito parte da minha vida desde o primeiro

minuto e cuidado de mim sempre com muito amor. Obrigado por me mostrar que não há

problema algum na vida que valha a pena perder o sorriso e a esperança num futuro melhor.

Amo você.

À minha amada esposa Rebecca, por estar ao meu lado quando mais precisei, por

ter me mostrado tanta coisa que não conhecia, por ter me ajudado a ser o homem que sou hoje,

acreditando no meu potencial e me incentivando a caminhar sempre em frente. Obrigado por

ter iluminado minha vida com seu lindo sorriso. Você é a mulher com quem quero compartilhar

todos os meus sonhos, minha eterna companheira, a futura mãe dos meus filhos. Você fez e faz

minha vida muito mais feliz. Eu te amo muito;

À todas as pessoas que me incentivaram e acreditaram na minha vitória.

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“O mundo não é um mar de rosas, é um lugar duro e

maldoso e não importa o quanto você ache que é forte, em

algum momento ele vai te deixar de joelhos e te deixará

assim permanentemente se você permitir. Nem você nem

ninguém vai bater tão forte como a vida. Mas isso não é

sobre o quão forte você bate, é sobre o quão forte você

aguenta ser golpeado e seguir adiante. É assim que a vitória

é conquistada..."

Rocky Balboa

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RESUMO

Uma lectina glicosilada (CTL) com especificidade a manose e glucose foi detectada e purificada

a partir de sementes de Centrolobium Tomentosum, uma leguminosa pertencente à tribo

Dalbergieae. CTL foi isolada por cromatografia de afinidade de Sepharose-Manose. A estrutura

primária foi determinada por espectrometria de massas e consiste em 245 aminoácidos e um

sitio de N-glicosilação, demonstrando similaridade com a lectina de Platypodium elegans

(PELa), Pterocarpus angolensis (PAL), dentre outras, oriundas da mesma tribo. Duas estruturas

cristalinas de CTL, de formas monoclínica e tetragonal, ambas complexadas com metil-

dimanosídeo, foram resolvidas a 2,25 e 1,9 Å, respectivamente, apresentando alta similaridade

entre si. A lectina mostrou adotar uma organização dimérica canônica típica de lectinas de

leguminosas. O domínio de reconhecimento de carboidratos (CRD), local de ligação do metal

e local de glicosilação foram caracterizados e a base estrutural para a interação com carboidratos

foi elucidado. CTL mostrou efeito inflamatório agudo em um modelo de edema de pata. A

estrutura da proteína foi submetida a uma análise de interações com dimanosídeos e

trimanosídeos por Docking Molecular, revelando sua maior afinidade por trimanosídeos e suas

interações foram comparadas com lectinas similares que possuam a mesma especificidade de

ligação. Esse é o primeiro relato de estrutura cristalina de uma lectina nativa manose/glucose

específica da tribo Dalbergieae com atividade pró-inflamatória.

Palavras chave: lectina; Centrolobium tomentosum; estrutura primária; estrutura cristalográfica;

atividade pró-inflamatória; Docking molecular.

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ABSTRACT

A glycosylated lectin (CTL) with specificity for mannose and glucose has been detected and

purified from seeds of Centrolobium tomentosum, a legume plant from the Dalbergieae tribe.

CTL was isolated by mannose-Sepharose affinity chromatography. The primary structure was

determined by tandem mass spectrometry and consists of 245 amino acids and one N-

glycosylation site, possessing high similarity with the lectin Platypodium elegans (PELa) and

Pterocarpus angolensis (PAL) derived from the same tribe. Two crystal structures of CTL, with

monoclinic and tetragonal forms, both complexed with methyl dimanosídeo has been solved at

2.25 and 1.9 Å, respectively, with high similarity. The lectin adopts a typical canonical dimeric

organization of legume lectins. The carbohydrate recognition domain (CRD), metal binding

site, and glycosylation site have been characterized and the structural basis for interaction with

carbohydrate been elucidated. CTL showed acute inflammatory effect in a paw edema model.

The protein structure was subjected to ligand screening (dimannosides and trimannoside) by

molecular docking, revealing a higher affinity for trimannosides and their interactions were

compared with similar lectins, which have the same binding specificity. This is the first report

of a crystal structure of a native mannose lectin / specific glucose Dalbergieae tribe with pro-

inflammatory activity.

Keywords: Lectin; Centrolobium tomentosum; Primary structure; Crystal structure;

Proinflammatory activity; Molecular docking.

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LISTA DE ILUSTRAÇÔES

Figura 1. Classificação estrutural de lectinas vegetais. ............................................................ 26

Figura 2. Classificação das lectinas de plantas em famílias evolutivamente relacionadas. ..... 28

Figura 3. Processamento pós-traducional durante a biossíntese de ConA. .............................. 31

Figura 4. Estrutura de monômero típica das lectinas de leguminosas. ..................................... 32

Figura 5. Estruturas tridimensionais de lectinas da tribo Dalbergieae. .................................... 35

Figura 6. Processamento pós-traducional proposto para a lectina da Vatairea macrocarpa. .... 37

Figura 7. Centrolobium tomentosum Guill. ex Benth. ............................................................. 39

Figura 8. Representação esquemática dos três métodos de difusão de vapor para cristalografia

de macromoléculas. .................................................................................................................. 46

Figura 9. Etapas da Cristalografia de raios X. .......................................................................... 48

Figura 10. Diagrama esquemático dos passos do processo de autofagia. ................................ 56

Figura 11. Sequência de aminoácidos da CTL. ........................................................................ 62

Figura 12 - Alinhamento da sequência de aminoácidos de Centrolobium tomentosum (CTL)

com lectinas da tribo Dalbergieae. ........................................................................................... 63

Figura 13. Cristais de CTL complexada com Metil-Dimanosídeo. .......................................... 69

Figura 14. Gráfico de Ramachandran das coordenadas de CTL. ............................................. 72

Figura 15. Estrutura geral do monômero de CTL. ................................................................... 73

Figura 16. Estrutura tridimensional de CTL complexada com metil-dimanosídeo. ................ 73

Figura 17. Sítio de N-Glicosilação de CTL. ............................................................................. 74

Figura 18. Sítio de ligação à metais de CTL. ........................................................................... 75

Figura 19. Sítio de ligação a carboidratos de CTL interagindo com metil-dimanosídeo. ........ 75

Figura 20. Sobreposição do sítio de ligação a carboidratos das formas monoclínica e tetragonal

de CTL. ..................................................................................................................................... 78

Figura 21. Sobreposição dos monômeros das formas monoclínica e tetragonal de CTL. ....... 79

Figura 22. Sobreposição de entre as estruturas de CTL, PELa e PAL complexadas com

trimanosídeos. ........................................................................................................................... 80

Figura 23. Indução de edema da pata por CTL. ....................................................................... 85

Figura 24. Avaliação do efeito vasorelaxante de CTL. ............................................................ 86

Figura 25. Ensaio de citotoxidade de CTL em células tumorais. ............................................. 87

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Lectinas da tribo Dalbergieae. ................................................................................. 34

Tabela 2. Estatísticas da coleta de dados de difração de raios X de CTL em complexo com

metil-dimanosídeo. ................................................................................................................... 71

Tabela 3. Interações entre CTL e metil-dimanosídeo. ............... Erro! Indicador não definido.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAL Lectina de Andira anthelmia

ABU Ácido α-aminobutírico

ACA Lectina de Amaranthus caudatus

ACh Acetilcolina

AUC Área sob a curva

cDNA DNA complementar

CEUA Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará para Uso de Animais

CFL Lectina de Cratylia floribunda

CGL Lectina de Canavalia grandiflora

CID Dissociação induzida por colisão

ConA Lectina de Canavalia ensiformis

ConA Lectina de Canavalia ensiformis

ConBr Lectina de Canavalia brasiliensis

CRD Domínio de reconhecimento a carboidratos

CRLI Lectina I de Cymbosema roseum

CTL Lectina de Centrolobium tomentosum

CVL Lectina de Canavalia virosa

DDA Aquisição Dependente de Dados

DM Docking molecular

DMSO Dimetilsulfóxido

DRC Domínio de reconhecimento a carboidratos

DSL Lectina de Dioclea sclerocarpa

DVL Lectina de Dioclea violácea

ESI Ionização por Eletrospray

GMPc Monofosfato cíclico de guanosina

GNA Lectina de Galanthus nivalis

GTP Trifosfato de guanosina

HBSS Solução salina balanceada de Hank

LaL Lectina de Lonchocarpus araripensis

LC-MS/MS Cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas sequencial

LNLS Laboratório Nacional de Luz Síncrotron

MALDI Dessorção/Ionização a Laser Auxiliada por Matriz

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MDM Metil-dimanosídeo

MS/MS Espectrometria de massas sequencial

MT1-MMP proteína de membrana - metaloproteinase tipo 1

MTT 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio

NAG N-acetil-D-glicosamina

NCBI National Center of Biotechnology Information

NO Óxido nítrico

PAL Lectina de Pterocarpus angolensis

PCT Teste de Pré-Cristalização

PDB Protein Data Bank

PELa Lectina de Platypodium elegans

PPL-1 Lectina 1 de Parkia platycephala

PPL-2 Lectina 2 de Parkia platycephala

RIP Proteínas inativadoras de ribossomos

RMSD Raiz quadrada do desvio médio (do inglês root mean square deviation)

SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida com de Sódio Dodecil Sulfato

TNF-α Fator de Necrose Tumoral α

ToF Tempo de vôo (do inglês Time off light)

TriMan Trimanosídeo

TxLCI Lectina do bulbo da tulipa

UFC Universidade Federal do Ceará

VGL Lectina de Vatairea guianensis

VML Lectina de Vatairea macrocarpa

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16

2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 19

2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 19

2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................. 19

3 CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................... 21

3.1 Lectinas vegetais ......................................................................................................... 21

3.1.1 Aspectos históricos e definição de lectinas ................................................................. 21

3.1.2 Generalidades sobre lectinas vegetais ......................................................................... 23

3.1.3 Classificação estrutural de lectinas vegetais ............................................................... 25

3.1.4 Lectinas de leguminosas .............................................................................................. 30

3.1.5 Lectinas de Dalbergieae ............................................................................................... 33

3.1.6 Lectina de Centrolobium tomentosum ........................................................................ 38

3.2 Aspectos gerais da espectrometria de massas .......................................................... 40

3.3 Cristalografia de raios X ............................................................................................ 44

3.4 Docking molecular ...................................................................................................... 48

3.5 Atividades biológicas de lectinas vegetais ................................................................. 50

3.6 Aspectos gerais do processo inflamatório ................................................................. 51

3.7 Aspectos gerais da contratilidade .............................................................................. 52

3.8 Câncer, gliomas e autofagia ....................................................................................... 53

3.8.1 Câncer .......................................................................................................................... 53

3.8.2 Gliomas ......................................................................................................................... 54

3.8.3 Autofagia ...................................................................................................................... 55

4 CAPÍTULO II: DETERMINAÇÃO DA ESTRUTURA PRIMÁRIA DE CTL POR

ESPETROMETRIA DE MASSAS ....................................................................................... 59

4.1 Digestão proteolítica in gel e obtenção de peptídeos ................................................ 59

4.2 Sequenciamento de peptídeos por MS/MS ............................................................... 60

4.3 Análise da estrutura primária por bioinformática .................................................. 60

4.4 Resultados e Discussão ............................................................................................... 61

4.4.1 Estrutura primária de CTL .......................................................................................... 61

5 CAPÍTULO III: RESOLUÇÃO DA ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DE CTL

POR CRISTALOGRAFIA DE RAIOS X ............................................................................ 66

5.1 Ensaio de Cristalização .............................................................................................. 66

5.2 Coleta de dados e resolução da estrutura cristalográfica ....................................... 67

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5.3 Docking Molecular ........................................................... Erro! Indicador não definido.

5.4 Resultados e Discussão ............................................................................................... 69

5.4.1 Cristalização e coleta de dados .................................................................................... 69

5.4.2 Coleta de dados e refinamento da estrutura ............................................................... 69

5.4.3 Estrutura cristalográfica de CTL em complexo com metil-dimanosídeo .................. 72

5.4.4 Comparação entre as formas monoclínica e tetragonal de CTL ............................... 77

5.4.5 Docking molecular ....................................................................................................... 79

6 CAPÍTULO IV: AVALIAÇÃO Do ATIVIDADES INFLAMATÓRIAS,

VASORELAXANTES E DA CITOTOXICIDADE EM CÉLULAS TUMORAIS .......... 82

6.1 Modelo de edema de pata ........................................................................................... 82

6.2 Teste de contratilidade em aortas isoladas ............................................................... 82

6.3 Análise estatística ........................................................................................................ 83

6.4 Avaliação da Citotoxicidade em Células Tumorais ................................................. 83

6.4.1 Análise estatística ......................................................................................................... 84

6.5 Resultados e Discussão ............................................................................................... 84

6.5.1 Atividade inflamatória de CTL .................................................................................... 84

6.5.2 Avaliação do efeito relaxante de CTL ......................................................................... 85

6.5.3 Avaliação da atividade citotóxica de CTL ................................................................... 87

7 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 89

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 90

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1 INTRODUÇÃO

Os carboidratos são a maior fonte de biomassa do planeta Terra e sua complexidade,

especialmente em termos de variações estruturais, não tem igual em outras classes de

biomoléculas (NELSON; COX, 2014).

O enorme potencial biológico codificado por carboidratos resulta da sua capacidade

de criar estruturas complexas, incluindo pontos de ramificação a partir de monômeros simples

(lineares). Esta característica dos carboidratos é única entre todos os polímeros biológicos. Por

exemplo, dois aminoácidos diferentes podem se ligar apenas por uma de duas maneiras. Por

outro lado, um monossacarídeo simples, como a glicose, pode se ligar com o seu carbono

anomérico (α ou β) a cinco hidroxilas presentes em uma segunda glucose, dando origem a até

onze diferentes isômeros estruturais. É compreensível, portanto, porque o número de variações

estruturais fornecidas por este tipo de moléculas é enorme (SHARON; LIS, 1993).

A estrutura de glicanos (oligossacarídeos, glicoconjugados, polissacarídeos)

depende fortemente da sua composição e, além disso, a presença de ligações glicosídicas

introduz uma flexibilidade estrutural e conformacional considerável. A consequência direta

dessa variabilidade estrutural é uma grande diversidade no papel e localização de carboidratos

nos organismos vivos (TAYLOR; DRICKAMER, 2003).

Essa complexidade presente nos carboidratos permite que esses funcionem como

moléculas de sinalização, reconhecimento e adesão. Além disso, eles estão envolvidos em

várias funções fisiologicamente importantes que incluem: armazenamento de energia; defesa;

desenvolvimento embrionário normal; diferenciação; crescimento; inibição de contato;

reconhecimento célula-célula; interação hospedeiro-patógeno durante a infecção; resposta

imune do hospedeiro; desenvolvimento de doença; metástase; tráfego e localização intracelular

e controle de degradação e da rigidez da membrana celular (GHAZARIAN; IDONI;

OPPENHEIMER, 2011; TAYLOR; DRICKAMER, 2003).

No entanto, por mais de um século a pesquisa nas áreas de ácidos nucléicos,

proteínas e lipídios detiveram toda a atenção de pesquisadores em todo o mundo. Os

carboidratos, provavelmente por serem muito complexos e não codificados no genoma,

passaram a receber maior atenção algum tempo depois (GABIUS et al., 2011). No início do

século XX, os conhecimentos sobre a biologia dos carboidratos eram, ainda, limitados àqueles

com papéis estruturais, como a celulose nas plantas e a quitina dos exoesqueletos de insetos, ou

de acúmulo e transporte de energia, como a glicose e o amido. Apenas em 1968, os carboidratos

foram reconhecidos como moléculas biológicas extremamente importantes. Nessa época,

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admitia-se que todas as informações biológicas eram realizadas pelas duas principais classes de

moléculas: proteínas e ácidos nucleicos (LIS; SHARON, 1998; SHARON; LIS, 1993).

Grandes descobertas que marcaram a elucidação do papel dos oligossacarídeos: o

estabelecimento da estrutura glicídica dos determinantes do sistema ABO; a demonstração da

aglutinação de eritrócitos pelo vírus influenza pela interação entre a hemaglutinina e ácido

siálico; a observação de que a defucosilação de linfócitos impedia sua migração pelos tecidos.

Estas descobertas foram a fonte de muita pesquisa que tem ligado o papel dos carboidratos nos

processos de comunicação e reconhecimento molecular (SHARON; LIS, 1993).

Os carboidratos localizados sobre a superfície das células contribuem para a maioria

das interações entre as células e o ambiente. Por formarem uma camada que recobre as células,

os carboidratos que constituem o glicocálice geralmente são as primeiras moléculas a serem

encontradas e reconhecidas por outras células, anticorpos e microrganismos invasores, como

vírus e bactérias. Moléculas secretadas, tais como hormônios e toxinas, também se ligam a

motivos de carboidratos que atuam como receptores para essas moléculas. Em função do já

conhecido papel da glicosilação na comunicação celular, não é surpreendente que padrões de

glicosilação anormais são conhecidos como marcadores ou, em alguns casos, até mesmo a causa

de certas doenças como, por exemplo, câncer (DENNIS et al., 1999).

Os avanços na pesquisa de carboidratos fizeram surgir o termo “Glicobiologia”,

definida como a ciência que estuda as estruturas, propriedades e funções dos carboidratos

presentes em diversidade nos seres vivos. Estes estudos não se restringem apenas aos

carboidratos, mas também a todas as outras classes de biomoléculas (proteínas, lipídios,

nucleotídeos) que interagem com eles. O objetivo do glicobiologia estrutural é, naturalmente,

determinar a estrutura tridimensional e estabelecer modelos para as interações envolvendo essas

moléculas (TAYLOR; DRICKAMER, 2003).

No entanto, não há como discutir glicobiologia sem referenciar as lectinas. Essas,

por serem moléculas capazes de “decifrar os glicocódigos” codificados na estrutura dos

glicoconjugados que compõem as membranas celulares, desempenham um papel fundamental

em muitos processos biológicos, tais como comunicação celular, resposta imunológica,

fertilização, desenvolvimento de infecções parasitárias e metástase de tumores (GABIUS;

GABIUS, 1997). Um dos maiores incentivos à pesquisa sobre lectinas, provavelmente, está

relacionado com sua capacidade única de decifrar as informações biológicas que são

codificadas na estrutura tridimensional de carboidratos. As lectinas são, de fato, os receptores

para as interações proteína-açúcar, tendo papel fundamental em vários processos de

reconhecimento molecular e sinalização celular (AMBROSI et al., 2005).

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Lectinas estão largamente distribuídas na natureza, sendo encontradas em seres

unicelulares (IMBERTY et al., 2004), animais (MOURA et al., 2006) e vegetais (SILVA et al.,

2011). Fica evidente, então, que a descoberta, o isolamento e a caracterização química, físico-

química e biológica de novas lectinas se revestem de grande importância, na medida em que

novas lectinas com diferentes aplicabilidades podem ser encontradas. Além disso, tendo em

vista que, atualmente, é forte a corrente que defende o papel de moléculas de comunicação para

as lectinas, a descoberta de outras lectinas com especificidades diferentes se torna atrativa, pois

podem servir como novos modelos para o entendimento dos processos dinâmicos de

comunicação célula-célula, célula-microrganismo ou célula-vírus (PEUMANS; VAN

DAMME, 1995).

Os estudos estruturais de lectinas servem como ferramentas para a compreensão do

reconhecimento celular entre carboidratos da membrana celular e proteínas e qual a sua

importância em diversos processos fisiológicos. Dentre as várias técnicas utilizadas para a

elucidação estrutural de proteínas, a espectrometria de massas e a cristalografia de raios X se

destacam pela sua eficiência.

A Espectrometria de Massas (do inglês Mass Spectrometry, MS) é uma técnica

muito utilizada em química de proteínas para identificar, caracterizar modificações pós-

traducionais, sequenciar proteínas e peptídeos com importância biológica, caracterizar a

interação em proteínas e outras moléculas (HOFFMANN; STROOBANT, 2007; DUIJN et al.,

2009; SCARFF et al., 2009; RUOTOLO et al., 2005).

Por sua vez, a cristalografia de raios X é considerada a principal técnica de

resolução da estrutura tridimensional de proteínas, sendo capaz de elucidar a estrutura de

moléculas com alto peso molecular e de resolver estruturas oligoméricas (BLUNDELL;

JONHSON, 1976; DRENTH, 1994).

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem por objetivo caracterizar estruturalmente a lectina de

sementes de Centrolobium tomentosum, CTL, avaliar sua atividade em modelos de inflamação

e testar sua citotoxicidade em células tumorais.

2.2 Objetivos Específicos

Determinar a estrutura primária da lectina utilizando espectrometria de massas;

Cristalizar a lectina em complexo com ligantes específicos;

Difratar os cristais obtidos e obter o conjunto dos padrões de difração;

Resolver a estrutura cristalográfica de CTL;

Simular interações por Docking molecular com CTL e carboidratos diversos;

Determinar o efeito inflamatório da lectina em modelo de edema de pata;

Avaliar o efeito vasorelaxante de CTL em segmentos isolados de aortas de ratos;

Avaliar a citotoxicidade da lectina em células tumorais.

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CÁPITULO I:

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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3 CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Lectinas vegetais

3.1.1 Aspectos históricos e definição de lectinas

As lectinas foram primeiramente denominadas de hemaglutininas ou

fitohemaglutininas, pelo fato de que essas proteínas foram detectadas pela primeira vez através

da aglutinação de eritrócitos e por terem sido encontradas quase que exclusivamente em plantas

(SHARON; LIS, 1993).

O primeiro relato de lectinas decorre do ano de 1888, tendo sido esse realizado por

Stillmark, quem pesquisava na época o princípio tóxico da Ricinus communis (Euphorbiaceae)

em sua tese de doutorado intitulada: “Ricina, um fermento tóxico de sementes de Ricinus

communis L. e algumas outras espécies de euforbiáceas”, publicada na Universidade de Dopart

(hoje Universidade de Tartu, Estônia). Stillmark descobriu que extratos de sementes de Ricinus

communis eram capazes de aglutinar células sanguíneas de diferentes animais. Ele denominou

essa substância de Ricina. (SHARON; LIS, 2004).

Na verdade, a ricina com que Stillmark (1888) trabalhou ainda era uma mistura

complexa de moléculas tóxicas de ricina com outras aglutininas não tóxicas. Mesmo assim, seu

trabalho pioneiro foi um marco na biologia, unindo a toxicidade da mamona à ocorrência de

um fator proteico hemaglutinante. Além disso, sua descoberta foi também um marco na

bioquímica de plantas, pois a ricina foi a primeira proteína vegetal cuja atividade biológica pôde

ser determinada (VAN DAMME et al., 1998, SHARON; LIS, 2004).

Substâncias tóxicas similares a ricina foram posteriormente identificadas em

sementes de Croton tiglium (crotina), Abrus precatorius (abrina) e em casca de Robinia

pseudoacacia (robina). Em 1898, Elfstrand introduziu pela primeira vez o termo

“hemaglutinina” referindo-se a proteínas hemaglutinantes vegetais como um nome comum a

todas as proteínas de plantas que causassem agrupamento de células. Esse novo termo foi

claramente inspirado na extrema similaridade entre a atividade macroscópica de algumas

proteínas vegetais e algumas aglutininas de soro animal e humano, essas últimas descritas

inicialmente por Landois (1875). (VAN DAMME et al., 1998).

Ricina e abrina foram amplamente utilizadas como modelos de antígenos em

estudos imunológicos. Isso permitiu a Paul Ehrlich, do Instituto Real de Terapia Experimental

(Frankfurt), estabelecer, no final da década de 1890, vários dos princípios fundamentais da

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imunologia, dentre eles, a especificidade da relação antígeno/anticorpo, o fenômeno da

memória imunológica e a transferência da imunidade humoral de mãe para filho (SHARON;

LIS, 2004).

A ideia de que a toxicidade é uma propriedade intrínseca das lectinas foi

abandonada no início do século XX, depois que Ladsteiner e Raubitscheck, em 1907, relataram

pela primeira vez a presença de uma lectina não tóxica nas leguminosas Phaseolus vulgaris

(feijão), Pisum sativum (ervilha), Lens culinaris (lentilha) e Vicia sativa. Após esse trabalho,

muitas outras hemaglutininas vegetais não tóxicas foram descobertas. Tornou-se, a partir de

então, evidente que lectinas estão difundidas no reino vegetal e que a toxicidade atribuída às

mesmas é exceção, e não regra (VAN DAMME et al., 1998).

Em 1919, James Sumner, ao purificar a urease através de precipitação e

cristalização a partir de sementes de Canavalia ensiformis, co-purificou outra proteína que ele

próprio nomeou de Concanavalina A (Con A). Dessa forma, Sumner obteve a primeira lectina

pura. Contudo, somente em 1936, Sumner e Howell demonstraram que a Concanavalina A

aglutinava células tais como eritrócitos e, também, precipitava glicogênio de soluções. Os

mesmos demonstraram posteriormente que a hemaglutinação era inibida pela sacarose da cana-

de-açúcar, monstrando, pela primeira vez, a especificidade das lectinas por açúcares

(SHARON; LIS, 2004). No entanto, somente em 1952, foi demonstrado que as propriedades

hemaglutinantes de lectinas eram baseadas em uma atividade específica de ligação a

carboidratos (WATKINS; MORGAN, 1952).

Alguns anos depois, Renkonen (1948) e Boyd e Reguera (1949) obtiveram um novo

marco para a história das lectinas vegetais. Eles constataram que algumas hemaglutininas

exibiam uma preferência clara por hemácias de um tipo particular de grupo sanguíneo humano

do sistema ABO. Foi observado que algumas proteínas vegetais obtidas de sementes de planta

podiam reconhecer um grupo específico e aglutiná-lo. Hemácias do sistema ABO respondiam

ao contato com essas hemaglutininas de maneira distinta, umas aglutinando e outras não (VAN

DAMME et al., 1998). A habilidade das aglutininas de plantas em distinguir eritrócitos de

diferentes tipos sanguíneos levou Boyd e Shapleigh a propor, em 1954, o termo “lectina”

(legere, do latim, significando “selecionar” ou “escolher”) para nomear tal proteína (SHARON;

LIS, 2004).

O marco seguinte foi relevante não só para a história da lectinologia, mas também

teve impacto revolucionário sobre a imunologia. No ano de 1960, Peter C. Nowell demonstrou

que a lectina de Phaseolus vulgaris possui atividade mitogênica sobre linfócitos. Essa

descoberta foi marcante na imunologia pelo fato de que até aquele momento acreditava-se que

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os linfócitos eram células incapazes de se dividirem ou se diferenciarem em outros tipos

celulares (SHARON; LIS, 2004).

Ao serem reconhecidas como proteínas ligantes de carboidratos, as lectinas

puderam ser distinguidas de outras proteínas com base em um critério funcional bem definido.

Goldstein e colaboradores (1980) conceituaram lectinas como sendo proteínas ou

glicoproteínas de origem não-imune ligantes a carboidratos que são capazes de aglutinar células

e/ou precipitar polissacarídeos ou glicoconjugados.

Atualmente, a definição mais aceita de lectinas de plantas e também mais utilizada

foi proposta por Peumans e Van Damme (1995), que definem lectinas como sendo proteínas de

origem não imune, capazes de se ligar reversível e especificamente a carboidratos e substâncias

que contenham açúcar, sem alterar a estrutura covalente de nenhum ligante glicosil.

3.1.2 Generalidades sobre lectinas vegetais

As lectinas representam um grupo heterogêneo de proteínas oligoméricas variando

em tamanho, estrutura, organização molecular e entre os sítios de ligação a carboidratos. Em

relação às suas cadeias polipeptídicas, as lectinas vegetais são caracteristicamente ricas em

aminoácidos ácidos e hidroxilados e, encontram-se associadas por interações hidrofóbicas,

pontes de hidrogênio e em alguns casos pontes de dissulfetos (KENNEDY et al., 1995;

RÜDIGER; GABIUS,1993).

Pelo número de cadeias polipeptídicas, as lectinas são denominadas monoméricas

quando apresentam apenas uma cadeia, como a lectina de Solanum tuberosum, com 50 kDa

(ALLEN; NEUBERGER, 1973), a heveína, com apenas 43 aminoácidos e 4 pontes de

dissulfeto (SOEDJANAATMADJA et al., 1995), e a arcelina de Phaseolus vulgaris (LORIS,

2002). Quando as lectinas apresentam duas cadeias polipeptídicas elas são denominadas

diméricas, com cadeias semelhantes ou diferentes entre si, ganhando respectivamente a

denominação de lectinas homodiméricas ou heterodiméricas. Erythrina speciosa possui uma

lectina homodimérica com 27,6 kDa por subunidade (KONOZY et al., 2003). Em Ricinus

communis a lectina é heterodimérica, com uma subunidade de 32 kDa e outra de 34 kDa

(FRIGERIO; ROBERTS, 1998), bem como a lectina de Erythrina indica com 65 kDa que é

heterodimérica, com uma cadeia polipeptídica de 30 kDa e outra de 35 kDa (KONOZY et al.,

2002).

Lectinas compostas por quatro subunidades são denominadas tetraméricas, como a

lectina JCA, também denominada jacalina, com 66 kDa (PRATAP et al., 2002; KABIR, 1998).

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Também a SBA, com massa molecular de 120 kDa, é tetramérica e cada uma de suas

subunidades possui massa molecular de 30 kDa, (CARVALHO, 1990). Ocorrem outros tipos

estruturais de lectinas, como as triméricas, pentaméricas, hexaméricas ou poliméricas. Uma

lectina trimérica ocorre em Geodia cydonium com cadeias de massa molecular 12,2, 13,0 e 13,8

kDa, conforme Müller e colaboradores (1983). Em Araucaria angustifólia ocorre, nas

sementes, uma lectina com 10 subunidades de 20 kDa, totalizando 200 kDa, e uma segunda

lectina com massa molecular relativa de 204 kDa, hexamérica, com subunidades de 34 kDa,

conforme Datta e colaboradores (1991).

As lectinas são encontradas nos vegetais desde organismos simples como musgos

(MOLINA; VINCENTE, 1995) até os mais complexos como gimnospermas (SANTI-

GADELHA et al., 2006) e angiospermas (MORAES et al., 1996; WONG; NG, 2005). Desde o

início do estudo sobre lectinas centenas delas têm sido identificadas, isoladas e caracterizadas.

Graças a disponibilidade e diversidade de ligação a carboidratos, as lectinas de vegetais são o

grupo melhor estudado.

A grande maioria das lectinas vegetais já isoladas foi obtida de sementes,

principalmente em leguminosas, onde são acumuladas no período de maturação, desaparecendo

após a germinação. No entanto, lectinas também podem ser encontradas em folhas (COELHO;

SILVA, 2000; RATANAPO et al., 2001), frutos (SAMPIETRO et al., 2001; WU; WANG; TB,

2011), cascas (INA et al., 2 005), raízes (HE et al., 2011; PEUMANS et al., 1997), e

tubérculos (OHIZUMI et al., 2009; SUSEELAN et al., 2002).

Nas células vegetais, as lectinas podem ser encontradas em corpos proteicos (ou

vacúolos de estocagem) que são pequenos vacúolos que sofreram diferenciação para serem

capazes de estocar proteínas durante a maturação da semente e hidrolisá-las durante períodos

de crescimento (CHRISPEELS, 1984). Ainda no ambiente celular, já foram identificadas

lectinas presentes no citoplasma, no núcleo (VAN DAMME et al., 2004), além de também

ocorrerem no espaço intercelular (ETZLER et al., 1986).

As lectinas mais estudadas são da família Leguminosae. Entretanto, muitas lectinas

de outras famílias também têm sido frequentemente isoladas e caracterizadas como, por

exemplo, lectinas de Solanaceae (PEUMANS et al., 2003), Cucurbitaceae (SULTAN;

KAVITHA; SWAMY, 2009), Amaranthaceae (RINDERLE et al., 1989), Cactaceae

(ZENTENO et al., 1995), Euphorbiaceae (VAN PARIJS et al., 1991), Labiateae

(FERNÁNDEZ-ALONSO et al., 2003), Moraceae (MOREIRA et al., 1998) e Urticaceae

(PEUMANS; DOLEY; BRACKAERT, 1984), entre diversas outras.

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Muitas funções têm sido propostas para as lectinas, tais como proteção contra

patógenos e insetos, transporte e armazenamento de carboidratos, reconhecimento celular

(dentro da célula, entre células ou entre organismos), proteínas de reserva ou reguladores de

crescimento (PUSZTAI, 1991).

Atualmente, essas proteínas têm mostrado aplicabilidades em diversas áreas

científicas, abrangendo áreas que vão da medicina à agricultura. Muitas dessas proteínas são

consideradas como ferramentas básicas para áreas de ponta, como a biotecnologia, tendo em

vista suas várias propriedades, tais como: atividade anti-inflamatória e pró-inflamatória (PIRES

et al.,2016; ROCHA et al., 2015; SANTIAGO et al., 2014; TEIXEIRA et al., 2014), efeito

vasorelaxante em aortas isoladas de ratos (BARROSO-NETO et al., 2016; ALVES et al., 2015),

efeito antidepressivo em ratos (RIEGER et al., 2014), efeito antiproliferativo em células

tumorais (SILVA et al., 2014), atividade inseticida (KAUR et al., 2015; MACEDO;

OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2015), efeito tóxico para Artemia salina (ALMEIDA et al., 2014;

BARI et al., 2013), agentes em drug delivery (IKEMOTO et al., 2016; BOGOEVA;

PETROVA; TRIFONOV, 2014), indução do fenômeno de apoptose (BARBOSA et al., 2001),

dentre outros.

Embora lectinas apresentem a propriedade comum de se ligarem, reversivelmente,

a carboidratos (LIS; SHARON, 1998), elas apresentam características próprias, principalmente

no que diz respeito a aplicações biológicas. Assim, mesmo lectinas que apresentem homologia

de sequências entre si, mostram-se diferentes quanto às várias propriedades biológicas. Isso faz

com que, em regra, cada lectina tenha as suas potencialidades de aplicação, o que justifica que

cada uma delas, por mais semelhante que possa parecer com outra lectina, mereça ser estudada

isoladamente.

3.1.3 Classificação estrutural de lectinas vegetais

As lectinas formam um grupo heterogêneo de proteínas. Van Damme et al. (1998)

subdividiu as lectinas vegetais de acordo com a estrutura em quatro classes principais:

merolectinas, hololectinas, quimerolectinas e superlectinas (Figura 1).

As merolectinas são proteínas que consistem exclusivamente de um único domínio

de ligação a carboidrato. Devido seu caráter monovalente, as merolectinas são incapazes de

precipitar glicoconjugados ou aglutinar células. A heveína, uma proteína do látex de seringueira

(Hevea brasiliensis), que se liga à quitina, é uma típica merolectina (VAN PARIJS et al., 1991).

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Figura 1. Classificação estrutural de lectinas vegetais.

Fonte: Adaptado de VAN DAMME et al., 1998. DRC: domínio de reconhecimento a carboidratos.

As hololectinas também são compostas exclusivamente de domínios de ligação a

carboidrato, mas com dois ou mais sítios ligantes que são idênticos ou parecidos. Devido ao

fato de hololectinas serem divalentes ou multivalentes, elas podem aglutinar células e/ou

precipitar glicoconjugados. As hololectinas comportam-se como verdadeiras aglutininas e

compreendem a maioria das lectinas de plantas, representando a classe de lectinas mais bem

estudada. São exemplos típicos de hololectinas as lectinas encontradas em sementes de plantas

pertencentes à subtribo Diocleinae (CAVADA et al., 2001).

As quimerolectinas são a fusão de proteínas compostas de um ou mais domínios de

ligação a carboidratos e de um domínio não relacionado com uma atividade catalítica bem

definida que age independentemente dos domínios de ligação a carboidratos. Dependendo do

número de sítios de ligação a carboidratos, as quimerolectinas comportam-se como

merolectinas ou hololectinas. Um representante desse grupo são as proteínas inativadoras de

ribossomos (RIP tipo 2), como por exemplo a Ricina (toxina da mamona), que possui dois

domínios de ligação para carboidratos comportando-se como uma hololectina e um domínio

para a inativação de ribossomo (PEUMANS; VAN DAMME, 1998). Um outro exemplo é a

PPL-2, uma lectina quitina-ligante isolada de sementes de Parkia platycephala que possui além

do sítio ligante a carboidrato um sítio catalítico com atividade endoquitinásica (CAVADA et

al., 2006).

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As superlectinas consistem de no mínimo dois domínios de ligação para

carboidratos. Diferentemente das hololectinas, os domínios de ligação para carboidratos das

superlectinas reconhecem açúcares estruturalmente e funcionalmente diferentes. Como

exemplo, a lectina do bulbo de tulipa (TxLCI) que são formados por dois domínios de ligação

a carboidrato, que reconhecem manose e N-acetil-D-galactosamina, respectivamente (VAN

DAMME et al., 1996).

O avanço da biologia estrutural em conjunto com modernas técnicas de DNA

recombinante deu um salto significativo na elucidação das mais diversas moléculas presentes

em estruturas dos sistemas biológicos. Muitas já possuem seus sítios de reconhecimento a

carboidratos bem estabelecidos, apresentando semelhanças quanto a aspectos estruturais.

Outras características como sequência primária, reconhecimento a açúcares e até mesmo quanto

a função desempenhada, já são bem conhecidas e estudadas (VAN DAMME et al., 1998).

Isso ocorreu de uma forma que tornou possível classificar lectinas não somente

quanto aos aspectos estruturais vistos anteriormente, mas como também em famílias que

estejam evolutivamente relacionadas, ou seja, que não possuam apenas estruturas quaternárias

semelhantes, mas que compartilham outras características que possam estar diretamente

relacionadas com a função desempenhada por cada uma delas (VAN DAMME et al., 1998).

Van Damme e colaboradores (1998) classificaram as lectinas de plantas em sete

grupos, ou famílias, de acordo com as semelhanças evolutivas e estruturais. Esses grupos são

nomeados de: lectinas de leguminosas, lectinas ligantes a quitina contendo domínios

heveínicos, lectinas de monocotiledôneas que se ligam a manose, proteínas inativadoras de

ribossomo tipo II (RIPs tipo II), lectinas de floema de Cucurbitaceae, lectinas relacionadas à

jacalina e lectinas de Amaranthaceae (Figura 2).

As lectinas de leguminosas correspondem à família de lectinas mais estudada até o

presente, com dezenas de representantes já purificados e caracterizados. As proteínas desse

grupo caracterizam-se por possuírem uma alta similaridade estrutural, porém, com

especificidade por carboidratos e propriedades biológicas distintas. Enquadram-se nesse grupo

a Concanavalina A (ConA), extraída de sementes de Canavalia ensiformes, e as lectinas

extraídas de outras plantas da subtribo Diocleinae (CAVADA et al.,2001).

As lectinas que se ligam a quitina são capazes de se ligar à resíduos de N-acetil-D-

glicosamina (principal unidade monomérica constituinte da quitina) e têm como característica

principal o fato de possuir um “domínio heveínico” em suas moléculas (VAN DAMME et al.,

1998). O termo domínio heveínico refere-se a uma pequena proteína (uma merolectina) de 43

resíduos de aminoácidos, extraída do látex da Hevea brasiliensis, a popular seringueira

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(WALJUNO et al., 1975). Lectinas pertencentes a esse grupo têm sido encontradas em várias

famílias de plantas não relacionadas taxonomicamente tais como Gramineae, Leguminosae,

Solanaceae, Urticaceae, Papaveraceae e Amaranthaceae. São também exemplos de lectinas

que se ligam a quitina as quitinases classe I (COLLINGE et al., 1993).

Figura 2. Classificação das lectinas de plantas em famílias evolutivamente relacionadas.

Fonte: Protein Data Bank (PDB). A: Lectinas de leguminosas (ConBr, código PDB 3JU9); B: Lectina ligante à

quitina composta por domínios heveínicos (Heveína, código PDB 1HEV); C: Lectinas de monocotiledôneas

ligantes à manose (GNA, código PDB 1NIV); D: RIP do tipo II (Abrina, código PDB 2ZR1); E: Lectinas

relacionadas à Jacalina (PPL-1, código PDB 1ZGR); F: Lectina da família da Amarantina (ACA, código PDB

1JLY).

O termo “lectinas de monocotiledôneas que se ligam a manose” refere-se a uma

família de lectinas estreitamente relacionadas que possuem especificidade para manose,

encontradas exclusivamente em plantas monocotiledôneas, como nas famílias Amaryllidaceae,

Alliaceae, Araceae, Liliaceae, Orchidaceae e Bromeliaceae. Estudos comparativos indicam

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que essas proteínas compartilham um alto grau de similaridade de sequência primária, porém

com uma completa heterogeneidade de estrutura molecular (VAN DAMME et al., 1998).

As proteínas inativadoras de ribossomos tipo II (RIP’s tipo II) são lectinas do tipo

quimerolectina, formadas por duas cadeias polipeptídicas sintetizadas a partir de uma única

molécula precursora que passa por modificações pós traducionais através da excisão de uma

ligação entre as cadeias. A primeira dessas cadeias (cadeia A) é formada por um polipeptídeo

constituído de um domínio adenosina glicosidase e a outra cadeia (cadeia B) constituída por um

domínio de ligação a carboidratos, sendo que as cadeias permanecem unidas por pontes

dissulfeto. Ao penetrar nas células, esta ligação dissulfeto é quebrada e a cadeia A adquire uma

forte atividade N-glicosidase tornando-se capaz de inativar cataliticamente ribossomos

eucarióticos e procarióticos (VAN DAMME et al., 1998). A Ricina (Ricinus communis) e

Abrina (Abrus precatorius) são exemplos clássicos de RIP’s tipo 2 com potentes atividades

biológicas (PEUMANS et al., 2001).

As lectinas do floema de Cucurbitaceae são proteínas diméricas compostas de duas

subunidades idênticas de 24 kDa que se ligam a resíduos de N-acetil-D-glicosamina. Todas as

lectinas conhecidas dos floemas de Cucurbitaceae mostram um grau de similaridade

sequencial, mas não apresentam qualquer similaridade sequencial com outras lectinas de

plantas ou proteínas (VAN DAMME et al., 1998).

A expressão “lectinas relacionadas à Jacalina” é usada para nomear um grupo de

lectinas que são evolucionaria e estruturalmente relacionadas a Jacalina, uma lectina com

especificidade para D-galactose extraída de sementes de jaca (Artocarpus integrifolia). Esse

tipo de lectina é encontrado principalmente em espécies de Moreaceae e Convolvulaceae (VAN

DAMME et al., 1998).

A Amarantina, uma lectina extraída de Amaranthus caudatus, não se assemelha a

nenhuma outra lectina de plantas, tanto com relação à sequência de aminoácidos quanto com

relação à estrutura tridimensional. Baseado nessas informações, a Amarantina é considerada

um protótipo da família de lectinas das Amaranthaceae. Várias outras lectinas extraídas de

plantas do gênero Amaranthus, como por exemplo, Amaranthus leucocarpus, contêm lectinas

que são muito similares à Amarantina, sendo todas elas lectinas ligantes específicas por N-

acetil-D-galactosamina (VAN DAMME et al., 1998).

Apesar de parecer clara, esta classificação das lectinas vegetais tende a deixar de

ser baseada em aspectos evolutivos e passa a levar em consideração somente os aspectos

estruturais. Isso se dá pelo fato de que, à medida que novas lectinas vão sendo descobertas e

caracterizadas, deixa de existir um limite taxonômico bem definido entre as famílias de lectinas

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vegetais. Um exemplo claro deste fato é a lectina específica para glicose e manose extraída de

sementes da leguminosa Parkia platycephala, PPL-1, cuja estrutura é composta por três

domínios repetidos relacionados à Jacalina. Outra lectina também purificada a partir de

sementes de Parkia platycephala, PPL-2, também é um exemplo de exceção, pois trata-se de

uma RIP tipo II (CAVADA et al., 2006; GALEGO DEL SOL et al., 2005; MANN et al., 2001).

3.1.4 Lectinas de leguminosas

Dentre as classificações em família evolutivamente relacionadas, as lectinas mais

bem estudadas pertencem ao grupo das leguminosas. Dezenas de lectinas deste grupo já foram

isoladas e caracterizadas, sendo a maioria dos estudos relacionados à lectinas de membros da

subfamília Papilionoideae, principalmente da tribo Phaseoleae (MANN et al., 2001;

SHARON; LIS, 1990). Em sementes, principal fonte de lectinas neste grupo, foi denotado que

o percentual de lectina pode variar de 1 a 10% do total de proteínas solúveis, embora algumas

espécies possam apresentar concentrações abaixo de 0,1% do total de proteínas solúveis

presentes nas sementes (SHARON; LIS, 1990; VAN DAMME, et al., 1998).

Sabe-se que algumas lectinas de leguminosas, especialmente as da subtribo

Diocleinae, são sintetizadas no retículo endoplasmático na forma de pré-pro-lectinas ou pro-

lectina glicosilada (Figura 3). A região correspondente ao cDNA contém 29 resíduos de uma

sequência sinal, que é removido posteriormente durante o transporte da pré-pro-lectina para o

lúmen do reticulo endoplasmático, originando uma pró-lectina. Em seguida encontra-se uma

região codificante referente aos aminoácidos 119-237 da Concanavalina A, e uma outra região

codificante correspondente aos aminoácidos 1-118 da lectina, seguida por último por uma

extensão C-terminal de 9 resíduos. Além disso, há entre os dois peptídeos uma unidade

oligomanose N-ligada a uma pentadecapeptídeo interno, o qual é excisado durante a maturação,

produzindo os dois peptídeos. Acredita-se que a presença da glicosilação iniba a atividade de

ligação a carboidrato da lectina. A lectina madura e ativa, portanto, é não-glicosilada. A maior

parte dos dois peptídeos formados são então covalentemente ligados por uma reação de

transpeptidação, concomitante com a clivagem da extensão C-terminal, formando a lectina

madura, onde o alinhamento dos resíduos 1-118 e 119-237 é o inverso de como se apresenta no

precursor. Esse processamento recebeu o nome de “Permutação Circular” (SHARON & LIS,

1990; SHARON, 2007).

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Figura 3. Processamento pós-traducional durante a biossíntese de ConA.

Fonte: Santiago, 2013.

Do ponto de vista estrutural, as lectinas de leguminosas são geralmente compostas

de 2 ou 4 subunidades, iguais ou diferentes com massa molecular em torno de 25 a 30 kDa,

compostas geralmente de uma cadeia polipeptídica simples com cerca de 250 aminoácidos, cuja

união é estabelecida por forças não covalentes como ligações de hidrogênio, interações

hidrofóbicas e eletrostáticas, que formam dímeros canônicos e estabilizam o tetrâmero pela

união destes dímeros. Cada uma destas subunidades apresenta um único sítio de ligação a

carboidratos com a mesma especificidade, além de um ou mais sítio de ligação a íons, podendo

ainda apresentar um ou dois oligossacarídeos N-ligados. Entretanto, algumas lectinas possuem

subunidades formadas por duas cadeias polipeptídicas, entre elas as lectinas da tribo Vicieae,

gêneros Pisum, Vicia, Lathyrus e Lens. Estas lectinas são dímeros formados por duas

subunidades iguais e cada subunidade é constituída de uma cadeia α (5 a 7 kDa) e uma β (15 a

19 kDa) mantidas por ligações não-covalentes (SHARON; LIS, 1989).

As estruturas dos monômeros de diferentes lectinas de leguminosas são

extremamente similares (Figura 6). Aproximadamente 20% dos resíduos de aminoácidos são

invariantes em todas as lectinas de leguminosas e outros 20% são similares. Entre os

aminoácidos conservados incluem-se aqueles envolvidos na interação com o carboidrato e

quase todos os resíduos que coordenam íons metais (BANERJEE et al., 1996; HAMELRYCK

et al., 1998). A resolução de estruturas tridimensionais de lectinas de leguminosas tem mostrado

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que cada subunidade é constituída de cerca de 60% de fitas-beta antiparalelas arranjadas em

duas ou mais folhas beta interconectadas por voltas, mais conhecido como enovelamento do

tipo “β-sanduíche”. Para todas as lectinas de leguminosas conhecidas, a estrutura terciária é

constituída de duas folhas-β antiparalelas, uma com seis fitas β (atrás) e outra com sete fitas β

(frente), conectadas por uma outra folha-β de 5 fitas (superior), gerando o conhecido motivo

"jellyroll', também referido como "lectin fold". (SRINIVAS et al., 1996; HAMELRYCK et al.,

1998) (Figura 4).

Figura 4. Estrutura de monômero típica das lectinas de leguminosas.

Fonte: Adaptado de Benevides, 2011. À esquerda, diagrama esquemático da estrutura terciária de um monômero

típico de lectinas de leguminosas. Do lado direito, estrutura terciária do monômero da lectina de Centrolobium

tomentosum (CTL) complexada com metil-dimanosídeo (código PDB:5EYX).

O sítio de ligação a carboidratos está localizado no lado côncavo do β-sanduíche,

próximo ao sítio de ligação a metais. O sítio de ligação a carboidratos consiste de diversos

“loops” com diferentes graus de variabilidade (SHARMA; SUROLIA, 1997). As

conformações destes loops são determinadas pela presença de íons de metais de transição, como

o cálcio e o manganês, na estrutura (BOUCKAERT et al., 2000; LORIS et al., 1998). Esses

metais se localizam a uma distância de aproximadamente 4,5 Å e ambos são coordenados por

cadeias laterais de pelo menos quatro aminoácidos e duas moléculas de água. O reconhecimento

das lectinas de leguminosas por íons é reversível e a remoção desses metais resulta em

importantes mudanças conformacionais. Em ConA, por exemplo, com a falta dos íons cálcio e

manganês, o peptídeo Ala207-Asp208, que para participar efetivamente do reconhecimento ao

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seu carboidrato específico necessita estar na conformação trans, passa a assumir uma

conformação do tipo cis (BOUCKAERT et al., 1995). A ausência desses metais, portanto,

resulta em uma instabilidade local e na perda da capacidade de ligar-se a carboidratos (LORIS

et al., 2004).

Além de um sítio de ligação a carboidratos, altamente conservado, juntamente com

um sítio de ligação a metais, que é responsável pela estabilização do “loop” que compõe o sítio

de ligação a carboidratos, estudos recentes mostraram a capacidade dessas proteínas de

interagirem com compostos hidrofóbicos. Algumas lectinas de leguminosas podem interagir

com outras espécies de moléculas, que não carboidratos, tais como adenina (HAMELRYCK et

al., 1998) e o ácido α-aminobutírico (ABU) (DELATORRE et al., 2007). A ligação das lectinas

a essas moléculas se dá através de uma região estrutural hidrofóbica, altamente conservada em

muitas lectinas de leguminosas e que, devido a esse alto grau de conservação, pode estar

envolvida em algum papel biológico importante (DELATORRE et al., 2007).

Algumas lectinas de leguminosas, como as lectinas extraídas de espécies da

subtribo Diocleinae, exibem uma oligomerização dependente de pH, onde a proporção entre

proteínas no estado dimérico e no estado tetramérico pode ser alterada de acordo com o pH do

meio (CALVETE et al., 1999; NAGANO et al., 2008). A alteração desse equilíbrio

dímero/tetrâmero dependente de pH pode influenciar diretamente nas atividades biológicas

dessas lectinas, pelo fato dessas proteínas serem capazes de se ligar aos receptores

glicoconjugados da superfície das membranas com uma maior afinidade quando na forma

tetramérica (DELATORRE et al., 2006).

Muitas lectinas de leguminosas são expressas nas formas glicosiladas e não

glicosiladas. É o caso da lectina de Vatairea macrocarpa que apresenta cadeias ativas com

um único ponto ou dois pontos de glicosilação, além de fragmentos, também ativos com frações

glicosilados e não glicosiladas (CALVETE et al., 1998). Algumas variações também são

encontradas nas lectinas de sementes de Phaseolus vulgaris, Griffonia simplicifolia e Vicia

villosa (VAN DAMME et al., 1998). Alguns pesquisadores citam que a glicosilação pode ser

uma estratégia celular para que novas estruturas tridimensionais surjam devido a impedimento

espacial causado pela presença do glicano (SHAANAN et al., 1991). Outros relatam que a

glicosilação em lectinas pode estar envolvida em outras funções celulares, como o

enovelamento diferenciado (TURTON et al., 2004).

3.1.5 Lectinas de Dalbergieae

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A tribo Dalbergieae, pertencente à família Leguminosae (Fabaceae), subfamília

Papilionoideae, compreende 48 gêneros e 1.200 espécies aproximadamente. Até o presente

momento, foram relatadas 16 lectinas pertencentes a esta tribo. A tabela 1 relata as espécies as

quais estas lectinas pertencem, além de suas especificidades a carboidratos.

Tabela 1. Lectinas da tribo Dalbergieae.

Espécie Especificidade Referência

Andira fraxinifolia Man/Glc RANGEL et al., 2009

Andira pisonis Man/Glc LÓSSIO et al., 2014

Andira surinamensis Man/Glc NOBRE, 2012

Andira anthelmia Man/Glc NASCIMENTO et al., 2015

Centrolobium microchaete Man/Glc VASCONCELOS, 2015

Centrolobium tomentosum Man/Glc ALMEIDA et al., 2014

Lonchocarpus araripensis GlcNac PIRES et al., 2008

Lonchocarpus capassa Gal/GalNAc JOUBERT et al., 1986

Lonchocarpus sericeus GlcNAc ALENCAR et al., 1999

Machaerium acutifolium GlcNAc BEZERRA et al., 2003

Platymiscium floribundum Man/Glc PEREIRA-JÚNIOR et al., 2012

Platypodium elegans Man/Glc BENEVIDES et al., 2012

Pterocarpus angolensis Man/Glc LORIS et al., 2003

Pterocarpus rotundifolius Man/Glc MARONDEDZE et al., 2004

Vatairea guianensis Gal/GalNAc SILVA et al., 2012

Vatairea macrocarpa Gal/GalNAc CAVADA et al., 1998

Fonte: Elaborado pelo autor.

Apesar da tribo Dalbergieae apresentar um número considerável de lectinas

caracterizadas, apenas três lectinas apresentam estruturas tridimensionais determinadas: a

lectina de Pterocarpus angolensis (PAL) e a lectina de Platypodium elegans (PELa)

(BENEVIDES et al., 2012; LORIS et al., 2003), ambas manose/glicose específicas; e a lectina

de Vatairea macrocarpa (VML), específica à galactose e seus derivados (SOUSA et al., 2015).

As estruturas tridimensionais das três lectinas estão ilustradas na figura 5.

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Figura 5. Estruturas tridimensionais de lectinas da tribo Dalbergieae.

Fonte: Elaborado pelo autor. Estrutura geral das lectinas: A: PAL (código PDB: 1Q8S), B: PELa (código PDB:

3ZVX) e C: VML (código PDB: 4WV8). Os monômeros estão representados em cartoon, com seus monômeros

coloridos em diferentes tons de cinza.

A estrutura da PAL (Figura 5A) contém um loop clássico de especificidade a

manose, mas seu loop de ligação a metal assemelha-se a de lectinas com especificidades não

relacionadas como Ulex europeus e Maackia amurensis. As interações com manose no sítio de

ligação primário são conservadas, mas detalhes da extensão desse sítio de ligação a carboidratos

difere de outros vistos em complexos a carboidratos equivalentes em ConA (LORIS et al.,

2004).

A estrutura tridimensional da PELa (Figura 5B) possui uma organização dimérica

canônica típica de lectinas de leguminosas. Cada monômero de PELa adota o clássico fold β-

sanduíche, com a presença de um íon cálcio e um íon manganês. Os dois monômeros na unidade

assimétrica se associam através de um arranjo paralelo de suas folhas β (trás), resultando num

dímero canônico típico, classicamente observado lectinas de leguminosas diméricas e

tetraméricas (BENEVIDES et al., 2012).

A estrutura da VML, por sua vez, é caracterizada como um tetrâmero, contendo 240

aminoácidos por monômero (CALVETE et al., 1998). A estrutura monomérica da VML

apresenta o enovelamento característico de lectinas de leguminosas, consistindo em um

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sanduíche β, formado por uma folha estendida de seis fitas e uma folha curvada de sete fitas

conectadas por alças de tamanhos variados (LORIS et al., 1998). O tetrâmero da VML é

composto por dois dímeros arranjados de forma oposta, formando uma grande cavidade central

(Figura 5C). A cavidade central do oligômero é formada por meio de interações entre as fitas

externas das folhas estendidas de cada monômero, originando uma interface canônica típica de

leguminosas. Os sítios de ligação a carboidrato e a metais apresentam-se conservados entre

lectinas de leguminosas (SOUSA et al., 2015).

As lectinas pertencentes à tribo Dalbergieae possuem características peculiares em

se tratando de seu processamento pós-traducional. Diferentemente das lectinas da tribo

Phaseoleae, subtribo Diocleinae, onde suas lectinas são processadas por permutação circular,

como citado anteriormente, as lectinas da tribo Dalbergieae podem apresentar um

processamento por uma asparaginil-endopeptidase, gerando cadeias que não sofrem religação,

mas que interagem entre si e são co-purificadas por cromatografia de afinidade. Um exemplo

de ocorrência desse processamento é a lectina de Vatairea macrocarpa (CALVETE et al.,

1998).

Calvete e colaboradores (1998) propuseram que o processamento pós-traducional

da VML funciona da seguinte forma: a cadeia α sofre uma clivagem pelo rompimento da ponte

entre Asn114 e Lys115. Essa clivagem é diretamente dependente da deglicosilação do resíduo de

Asn111. A partir dessa clivagem são gerados os fragmentos γ (N-terminal deglicosilado) e β (C-

terminal glicosilado). O fragmento β pode ainda sofrer ainda uma deglicosilação no resíduo

Asn183 seguido de processamento N- e C-terminal, gerando isoformas. Esses fragmentos são

reunidos por ligações não covalentes fazendo com que ela tenha estrutura tridimensional

praticamente idêntica àquela da cadeia alfa (não processada) (Figura 6).

Outro grupo que sofre o mesmo processo é a tribo Sophoreae. Exemplos de lectinas

pertencentes a esta tribo são a lectina de Luetzelburgia auriculata (OLIVEIRA et al., 2002) e a

lectina da casca de Sophora japonica (HANKINS; KINDINGER; SHANNON, 1988).

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Figura 6. Processamento pós-traducional proposto para a lectina da Vatairea macrocarpa.

Fonte: CALVETE et al., 1998.

Mesmo com um número pequeno de lectinas isoladas e caracterizadas, várias

atividades biológicas já foram demonstradas pelas lectinas da tribo Dalbergieae. A lectina mais

bem caracterizada é a lectina de Vatairea macrocarpa. Seus efeitos biológicos já demonstrados

incluem indução de efeito depressivo e expressão de marcadores neuroinflamatórios em ratos

(GONÇALVES et al., 2013), indução da infiltração de leucócitos em edema de pata

(ALENCAR et al., 2004), liberação de mediadores quimiotáticos por macrófagos (ALENCAR

et al., 2007), aumento da resistência vascular renal, da taxa de filtração glomerular e do fluxo

urinário (MARTINS et al., 2005), migração de neutrófilos in vivo por mecanismo indireto

(ALENCAR et al., 2003) e apresenta especificidade para resíduos de antígeno do tipo Tn (DAM

et al., 2007).

A lectina de mesmo gênero, Vatairea guianensis (VGL), exibiu atividade anti-

inflamatória associada à inibição da migração de leucócitos e uma atividade antinociceptiva

que pode estar associada à inibição da dor inflamatória. Além disso, VGL também exibiu um

efeito vasorrelaxante in vitro em aortas isoladas de ratos, sendo esse efeito dependente da

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presença de endotélio e envolvendo a participação do óxido nítrico e é mediado pelo sítio de

ligação a carboidratos da lectina (SILVA et al., 2012).

A lectina de Andira anthelmia (AAL) apresentou efeito analgésico envolvendo o

domínio de lectina por meio de mecanismos de nocicepção inflamatória periféricos

(NASCIMENTO et al., 2015).

Algumas atividades biológicas também foram evidenciadas em uma lectina extraída

de sementes de Lonchocarpus sericeus, como alta atividade anti-inflamatória em modelo de

edema de pata (ALENCAR et al., 1999), efeito anti-inflamatório e antibacteriano em um

modelo de peritonite infecciosa (ALENCAR et al., 2005), diminuição da migração leucocitária

e hipernocicepção mecânica pela inibição da produção de citocinas e quimiocinas

(NAPIMOGA et al., 2007).

Segundo Pires et al. 2008, a lectina de Lonchocarpus araripensis (LaL) possui ação

anti-inflamatória sobre o edema de pata induzido por carragenina, mas é desprovida de ação

pró-inflamatória quando injetada localmente. Recentemente, a lectina demonstrou atenuar a

inflamação aguda celular em ratos (PIRES et al., 2016).

Uma fração lectínica de Platypodium elegans (PELa) apresentou atividade

termiticida contra operários e soldados de Nasutitermis corniger, além de potencial fungicida

contra os fungos Fusarium solani, Fusarium oxysporium e Fusarium lateritium (BENEVIDES

et al., 2008). Essas duas atividades reforçam a participação de lectinas na defesa vegetal,

atuando contra fitopatógenos.

3.1.6 Lectina de Centrolobium tomentosum

A espécie Centrolobium tomentosum (Figura 7) é uma espécie exclusivamente

brasileira, ocorrendo na Bahia, Espírito Santo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo,

Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Habita preferencialmente matas

mesófilas semidecíduas e matas de galeria nas formações de Cerrado, podendo ocorrer também

em descampados, cerrados, matas mais secas e formações litorâneas, em solos de média e boa

fertilidade, rasos ou profundos.

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Figura 7. Centrolobium tomentosum Guill. ex Benth.

Fonte: LORENZI, 1992. A: Visão geral da árvore. B: Ramos com flores. C: Sâmaras. D: Flor.

Filogenia:

Família Leguminosae (Fabaceae)

Subfamília Papilionoideae

Tribo Dalbergieae DC.

Gênero Centrolobium Mart. ex Benth

Centrolobium tomentosum Guill. ex Benth.

A lectina de sementes de C. tomentosum é uma proteína ligante à manose/glicose e

relacionados, purificada através de cromatografia de afinidade em Sepharose-manose.

Demonstrou ser uma glicoproteína (1,7% de carboidratos em sua composição). A lectina nativa

é formada por 2 subunidades de 27 kDa, que formam um dímero em solução, independente de

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pH (ALMEIDA et al., 2014). Esse dado foi corroborado pela massa intacta obtida por

espectrometria de massas, que determinou que CTL possui uma massa de 27.452 ± 2 Da.

Quanto às suas atividades biológicas, CTL exibiu baixa toxicidade contra náuplios de Artemia

sp., sendo esse efeito mediado por seu domínio de reconhecimento a carboidratos com glicanos

presentes no trato digestórios dos náuplios (ALMEIDA et al., 2014).

3.2 Aspectos gerais da espectrometria de massas

A espectrometria de massas pode ser entendida como uma técnica analítica que

permite a identificação da composição química de um determinado composto isolado, ou de

diferentes compostos em misturas complexas, através da determinação de suas massas

moleculares na forma ionizada (ou seja, com carga elétrica líquida, positiva ou negativa) (VAN

BRAMER, 1998). Esta análise se dá através da determinação da relação entre a massa e a carga

(m/z) das espécies ionizadas em fase gasosa (AEBERSOLD; MANN, 2003).

A espectrometria de massas é uma das técnicas analíticas mais úteis e poderosas

para a investigação científica, tendo sido aplicada em várias áreas, como ciências biológicas,

biomédicas, geologia, produtos naturais, sequenciamento de proteínas, identificação de

marcadores biológicos entre outras. A espectrometria de massas pode ser utilizada em análises

quantitativas, mas é em análises qualitativas que ela tem se destacado, como na identificação

de compostos em misturas e, principalmente, na caracterização estrutural de compostos

desconhecidos (NANDAKUMAR et al., 2009).

Um espectrômetro de massas é constituído fundamentalmente por três partes: uma

fonte de ionização, que é fundamental para gerar os íons das moléculas de interesse a serem

analisadas; um analisador, que separa as moléculas pela sua m/z; um detector que converte os

íons em sinais eletrônicos; e um sistema de aquisição de dados, que são softwares que

interpretam os sinais elétricos emitidos pelo detector e os converte em dados para análise

(STEEN; MANN, 2004). Além disso, os íons podem chegar à fonte de ionização através de

insersor como um cromatógrafo gasoso ou líquido.

O princípio básico da espectrometria de massas consiste em gerar íons a partir de

compostos (orgânicos ou inorgânicos) através de um método de ionização apropriado, separá-

los através de sua m/z em um analisador de massa, e detectar quali e/ou quantitativamente os

compostos a partir da m/z e suas respectivas abundâncias por meio de um detector, que “conta”

os íons e transforma o sinal em corrente elétrica. A magnitude do sinal elétrico em função da

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m/z é convertida por um processador de dados, que gera o espectro de massas correspondente

(GROSS, 2004).

Inicialmente, a aplicação da espectrometria de massas era restrita à análise de gases,

substâncias voláteis e termicamente estáveis, pois as primeiras técnicas de ionização

empregadas (impacto de elétrons e química) são processos constituídos por duas etapas, nas

quais o analito é vaporizado com aquecimento e a ionização ocorre uma vez que a molécula

esteja na fase gasosa (KINTER; SCHERMAN, 2000).

O desenvolvimento de novas técnicas de ionização foi fundamental, pois permitiu

a produção de íons a partir de compostos de alta massa molecular e não voláteis. A fonte de

ionização é um passo primordial, pois é nela onde o analito é convertido em íon e posto em fase

gasosa. Há diversos métodos de ionização, porém os principais métodos para análise de

biomoléculas utilizados são a Dessorção/Ionização a Laser Auxiliada por Matriz (MALDI)

(KARAS; HILLENKAMP,1988) e Ionização por Eletrospray (FENN et al., 1990).

Nestas técnicas de ionização, íons são obtidos através da protonação ou

desprotonação, ou ainda pela adição de outros íons, como Na+, K+, NH4+ e Cl-, formando

aductos. Enquanto na ionização por elétrons, formam-se íons com energia interna elevada, que

se fragmentam e fornecem informações sobre características estruturais das moléculas, ESI e

MALDI são técnicas brandas de ionização, que formam íons com baixa energia interna,

permitindo a observação do íon molecular, entretanto com muito pouca ou nenhuma

fragmentação (CHAPMAN, 1993).

A ionização por electrospray (ESI) é um método de ionização brando, muito

utilizado para análise de proteínas e diversas moléculas polares e possui capacidade de análise

de moléculas com menos de 100 Da até maiores de 1.000.000 Da e é desenvolvida a pressão

atmosférica. Neste método, a amostra é dissolvida em um solvente polar e volátil e bombeada

através de um capilar de aço inoxidável em um fluxo de 1 µL/min a 1 mL/min. Uma alta

voltagem é aplicada a ponta do capilar (3 a 4 kV) formando um alto campo elétrico, a amostra

sai da ponta do capilar dispersa em forma de aerossol com gotas altamente carregadas. Esse

processo é auxiliado por um fluxo de gás nebulizador (geralmente nitrogênio) por fora do

capilar. Este gás auxilia o direcionamento do spray para o espectrômetro de massas e a

evaporação do solvente (HOFFMANN; STROOTBART, 2007). À medida que o solvente é

evaporado e as gotas vão diminuindo de tamanho, a repulsão eletrostática entre as moléculas

carregadas vai se tornando altíssima. Nesse mecanismo vão ocorrendo sucessivas explosões

coulômbicas de modo que gotas contendo apenas um íon são formadas. Paralelo a isso a

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diminuição da gota também faz com que a tensão superficial não suporte tantas cargas (limite

de Rayleigh) e induz a transferência dos íons para a fase gasosa (CANTU et.al., 2008).

A ionização por MALDI possui características muito importantes que a fazem uma

fonte de ionização importante na caracterização de proteínas como a alta sensibilidade

(amostras em baixíssima concentração e quantidade podem ser analisadas por esta técnica) e

tolerância a contaminação das amostras com sais, tampões, detergentes etc. (CHEN et al., 1998;

STUMP et al., 2002). Dentro da fonte e sob vácuo, a mistura de matriz e amostra será irradiada

por um laser pulsado durante um determinado período de tempo. O mecanismo pelo qual os

íons são formados no MALDI não é completamente elucidado, porém postula-se que a

irradiação pelo laser induz um rápido aquecimento do cristal formado pela matriz pela

acumulação de uma grande quantidade de energia na fase condensada pela excitação da matriz.

Este rápido aquecimento causa a sublimação dos cristais da matriz, ablação de uma porção da

superfície cristalina e expansão da matriz para a fase gasosa, levando o analito intacto na pluma

em expansão (DREISEWERD, 2003).

Posteriormente a ionização, os íons produzidos e em fase gasosa serão separados

de acordo com sua m/z. Na verdade o que é mensurado na espectrometria de massas é a m/z

para cada íon e esta é a função dos analisadores. Este papel é realizado pelos analisadores de

massas. Eles podem ser divididos em duas grandes classes baseados em suas propriedades.

Analisadores tipo varredura que transmitem os íons de diferente m/z sucessivamente em uma

escala de tempo. O analisador do tipo quadrupolo é um exemplo. Outro grupo é composto pelos

analisadores que transmitem simultaneamente todos os íons como o analisador por tempo de

vôo (Time of Flight - ToF) (HOFFMANN; STROOTBART, 2007).

Cada analisador tem características e aplicações distintas. Além disso, estes

analisadores podem ser utilizados de maneira individual ou em conjunto, acoplados entre si,

dando origem a equipamentos classificados como híbridos. Tais equipamentos permitem que

experimentos em sequência (tandem) sejam realizados, isto é, sendo possível detectar um

determinado íon e posteriormente submetê-lo a uma etapa de fragmentação. Uma vez

separados, esses íons são detectados por eletromultiplicadoras que constituem os detectores

mais largamente usados (CANTU et al., 2008).

A possibilidade da criação de espectrômetros de massas que contém mais de um

analisador de massas iguais ou diferentes foi um grande marco da evolução das tecnologias em

MS, dando início a geração de equipamentos híbridos. A análise de dados por mais de um

analisador de massas é chamada de espectrometria de massas sequencial. O primeiro aparelho

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híbrido comercialmente disponível e mais popularmente utilizado foi o Triplo Quadrupolo, que

é constituído de três analisadores quadrupolo em sequência.

A utilização de analisadores de massas em sequência possibilita utilizá-los para

desvendar a estrutura química de diversos compostos como peptídeos e proteínas. Diversas

técnicas são utilizadas nestes equipamentos, porém a mais popular e de melhor resposta é a

dissociação induzida por colisão (CID). Essa técnica consiste em selecionar o íon a ser

fragmentado utilizando o primeiro analisador de massas e em seguida enviá-lo a uma célula de

colisão, onde este íon irá colidir com um gás inerte. Em seguida, a energia cinética irá ser

transferida parcialmente em energia vibracional e os fragmentos resultantes serão analisados

por um segundo analisador de massas (HOFFMANN; STROOTBART, 2007).

A inserção de reflectrons nos analisadores ToF foi um incremento significativo à

resolução desse analisador. O acoplamento de um analisador quadrupolo como filtro de íons e

um analisador do tipo ToF com reflectron (gerando os equipamentos do tipo Q-ToF) foi um

salto de qualidade nas análises de estrutura de peptídeos, possibilitando diferenciar aminoácidos

que possuem diferenças de milidaltons em sua massa monoisotópica (HOFFMANN;

STROOTBART, 2007)

Os programas mais comumente empregados para a identificação de proteínas em

bancos de dados a partir de dados de MS são o “Sequest” e o “Mascot”. Ambos os programas

correlacionam espectros de massas de fragmentação (não interpretados) de peptídeos com

sequências de aminoácidos de proteínas registradas em bancos de dados (CHAMRAD et al.,

2004; ELIAS et al., 2005). Além disso, esses softwares também têm a capacidade de usar

sequências de nucleotídeos para fazer tal correlação. Para tal, eles primeiramente simulam as

sequências primárias potenciais das proteínas correspondentes àquelas sequências de

nucleotídeos encontradas nos bancos de genes, utilizando-se do código genético universal.

Posteriormente, simulam a fragmentação destas sequências primárias. De forma geral, estes

programas têm como objetivo encontrar a sequência de aminoácidos, em um determinado banco

de dados, que melhor descreve os íons fragmentos encontrados em um espectro. As sequências

“candidatas” são procuradas nos bancos de dados de acordo com a massa do peptídeo intacto e

com o espectro de fragmentação obtido para cada peptídeo (CANTU et al., 2008).

Além disso, a interpretação manual de espectros é recomendada em todos os casos

e indispensável em algumas situações. Por fim, existem situações nas quais o genoma de uma

determinada espécie ainda não está completamente sequenciado ou disponível e, neste cenário,

é necessário derivar a sequência primária de aminoácidos de um determinado peptídeo baseado

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única e exclusivamente nos dados obtidos por espectrometria de massas, isto é, sem recorrer a

banco de dados (sequenciamento “De novo”) (STEEN; MANN, 2004).

Atualmente a espectrometria de massas se tornou uma das ferramentas mais

utilizadas na caracterização de proteínas, devido a algumas características como a rapidez e

relativa simplicidade da amostra, a necessidade de quantidades pequenas de amostra e a

precisão dos dados obtidos. Esta técnica é capaz de determinar a massas molecular de uma

proteína, estados oligoméricos, localização de pontes de sulfeto, caracterização de modificações

pós traducionais (glicosilações e fosforilações) e identificação de proteínas provenientes da

separação de uma eletroforese bidimensional. A caracterização de proteínas e suas

modificações por MS tem se tornado uma técnica em constante expansão.

O potencial de aplicação de MS em estudos biológicos tem sido bastante estendido,

em razão dos impressionantes avanços observados nos últimos anos nas áreas de genômica, de

transcriptômica, de metabolômica, de proteômica, de lipidômica e de outras

plataformas “omicas”, e do desenvolvimento extraordinário dos equipamentos (FENG et al.,

2008; HOFFMANN; STROOTBART, 2007). A MS é atualmente uma técnica bastante

utilizada para identificação de proteínas e para estudo de modificações pós-traducionais em

diferentes condições fisiológicas. Além disso, a MS vem sendo utilizada no monitoramento e

na caracterização de diversos processos industriais, tais como processos fermentativos e até

mesmo análise de microrganismos intactos (CLAYDON et al., 1996; FENSELAU; DEMIREV,

2001).

3.3 Cristalografia de raios X

A cristalografia de raios X é provavelmente o método de análise estrutural mais

poderoso na elucidação de estruturas tridimensionais de moléculas e macromoléculas

biológicas. A aplicação da cristalografia de macromoléculas para o estudo estrutural,

especialmente de proteínas, deve o seu nascimento aos estudos de Max Perutz e John Kendrew,

que receberam o Prêmio Nobel em química (1962) pelo seu trabalho sobre a determinação da

estrutura tridimensional da hemoglobina e mioglobina. De 1959 até o presente, a biologia

estrutural tem avançado consideravelmente.

O principal objetivo da cristalografia é o estudo estrutural, por métodos de difração

de raios X. Através desta técnica pode-se determinar espacialmente a posição atômica de todos

os átomos que constituem uma macromolécula biológica como uma proteína. Esse estudo

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estrutural é fundamental para o entendimento molecular de vários mecanismos biológicos

(DELATORRE, 2006).

A cristalização de proteínas é, basicamente, um procedimento de tentativa e erro.

Algumas características potencializam a cristalização de proteínas. De uma forma geral, quanto

mais pura estiver a proteína, maiores as chances de crescimento de cristais. Neste caso, técnicas

como a espectrometria de massas são importantes para uma análise prévia da pureza da

preparação. A proteína é dissolvida em uma solução tampão aquosa contendo aditivos e agentes

precipitantes como sulfato de amônio, dentre outros. Cada proteína cristaliza sob determinados

parâmetros. As proteínas são peculiares devido ao seu alto conteúdo de solvente, valores de pH

e força iônica definidas para a sua estabilidade e função, dentre outros. Logo, estas proteínas

têm de ser cristalizadas sob suas condições nativas, através da utilização de soluções complexas

(DRENTH, 2007).

Cristais são caracterizados por apresentarem alto grau de ordenação interna, ou seja,

são formados por repetições translacionais de moléculas ou átomos em todas as direções. A

periodicidade interna é descrita por uma pequena unidade de volume uniforme da qual o cristal

pode ser considerado um derivado, chamada de cela unitária. Cada cela unitária é caracterizada

por três vetores a, b e c que definem suas arestas e pelos ângulos α, β e γ existentes entre elas

(DELATORRE et al., 2006).

Para crescer cristais de qualquer composto, as moléculas ou íons têm de ser

deslocados a um estado de supersaturação, um estado que é termodinamicamente instável, no

qual pode se desenvolver numa fase amorfa ou cristalina quando este retornar ao equilíbrio. A

Supersaturação pode ser alcançada pela evaporação lenta do solvente ou pela variação de alguns

dos parâmetros como temperatura, pH e força iônica. Neste estado, a solução de proteína

alcança a zona de nucleação, onde podem se formar os núcleos (primeiros agregados ordenados

da proteína). Com a diminuição da solubilidade da proteína, estes núcleos atingem a zona

metaestável, onde ocorrerá o crescimento do cristal (DUCRUIX; GIEGÉ, 1992).

Existem muitas técnicas para a cristalização de macromoléculas biológicas, todas

tendo como objetivo trazer a solução a um estado de supersaturação. A fim de obter cristais de

proteínas, um método frequentemente utilizado é a difusão de vapor. (HAMPEL et al., 1968).

Nesta técnica, uma gota contendo poucos microlitros da macromolécula biológica a ser

cristalizada em um agente de cristalização, tampão e aditivos, é equilibrada contra um

reservatório contendo a solução de cristalização a uma concentração mais alta do que na gota e

um volume largamente maior. O equilíbrio prossegue por meio da difusão das espécies voláteis

(água e solventes orgânicos) até que a pressão de vapor na gota se iguale àquela do reservatório.

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Se o equilíbrio ocorre por meio de troca da água (da gota para o reservatório), isto leva a uma

diminuição do volume da gota, e consequentemente a um aumento na concentração de todos os

constituintes da gota de cristalização, inclusive da proteína. Para espécies químicas com pressão

de vapor maior que a pressão de vapor da água, a troca ocorre do reservatório para a gota. Os

mesmos princípios se aplicam para gotas suspensas (hanging drops), gotas sentadas (sitting

drops) e gotas sanduíches (sandwich drops) (Figura 8).

Figura 8. Representação esquemática dos três métodos de difusão de vapor para cristalografia de macromoléculas.

Fonte: PEREIRA-JUNIOR, 2014. A: Gota suspensa, B: Gota sentada e C: Gota sanduíche.

Com o aumento do número de macromoléculas biológicas cristalizadas com

sucesso, tornou-se óbvio que muitas das condições de cristalização se assemelhavam, ou seja,

havia uma concentração de resultados positivos de cristalização que usava um número limitado

de precipitantes, tampões e aditivos (CARTER; CARTER, 1979), levando à produção dos kits

comerciais contendo numerosas condições com diferentes tipos de agentes precipitantes,

concentrações de precipitantes, tampões, pHs e sais. Uma vez que as condições iniciais foram

encontradas, é possível otimizar as condições de cristalização para a obtenção de melhores

cristais quanto ao tamanho e forma (WOOH et al., 2003; JANCARIK; KIM, 1991).

O passo seguinte na obtenção da estrutura de uma proteína é a difração do cristal

obtido em raios X. O sucesso dessa etapa depende, principalmente, da qualidade dos cristais e

da fonte de A coleta e o processamento dos dados a partir de difração do cristal em raios X é o

próximo passo no objetivo de se obter a estrutura. O sucesso desta etapa depende da qualidade

dos cristais e da fonte de radiação utilizada. Nesta etapa, os cristais são caracterizados, ou seja,

seus parâmetros de rede e suas simetrias são determinados. O conhecimento das amplitudes e

das fases permite a reconstituição da densidade eletrônica do cristal.

Ao ser colocado em um feixe de raios X, a densidade eletrônica de cada átomo do

cristal interage com a radiação, dispersando-a em todas as direções do espaço. É a presença de

uma rede cristalina que amplifica a radiação somente em determinadas direções, dando origem

ao padrão de difração característico. O cristal é girado em torno de um eixo geralmente

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perpendicular ao feixe de raios X e os raios difratados são coletados em um detector capaz de

gravar um grande número de pontos (spots) em um tempo de aquisição bem curto. Cada imagem

corresponde a uma rotação de 0,2-1º grau e pode ser considerada uma "fatia" do espaço

recíproco. A posição de uma reflexão contém as informações sobre a geometria do grupo

espacial e da rede cristalina, enquanto que a intensidade I medida depende da distribuição da

densidade eletrônica na unidade assimétrica. De posse das primeiras imagens, é possível

realizar a indexação e determinar o grupo espacial, dimensões e orientação da célula unitária,

além de estimar a mosaicidade. Esse passo é necessário para planejar uma estratégia de coleta

de dados eficiente, minimizando o tempo e maximizando os resultados (SMYTH; MARTIN,

2000; WLODAWER et al., 2013).

Durante o processo de difração é possível medir a amplitude de cada reflexão, mas

não sua fase correspondente, que é invariavelmente perdida durante o experimento de difração,

ou seja, toda a informação angular é perdida. Isso é chamado de “problema da fase” (LI; HE;

ZHANG, 2015; WLODAWER et al., 2013). Existem diferentes métodos criados para resolver

esse “problema”. A técnica mais utilizada para esse fim é a substituição molecular que se baseia

no princípio de que macromoléculas que apresentam alta homologia sequencial tendem a se

enovelar de forma similar, e desta forma, uma proteína já resolvida serve como modelo inicial

para a obtenção de um conjunto de fases que será subsequentemente refinado (ABERGEL,

2013; WLODAWER et al., 2013).

Uma vez que o modelo preliminar foi conseguido o próximo passo é o refinamento

das posições atômicas, ou seja, encontrar uma melhor concordância entre o modelo proposto

para a estrutura da molécula e sua estrutura real. O acompanhamento da qualidade do modelo

é analisado pelo fator de correlação Rfactor, que é um fator de correlação entre o modelo atual e

o modelo real (HOLTON et al., 1992; MURSHDOV et al., 2011). Uma estrutura com resolução

menor que 2,0 Å está considerada resolvida quando o valor do Rfactor atingir valores menores

eu igual a 20%. Um outro fator importante é o Rfree que é uma pequena porcentagem das

reflexões que são excluídas do refinamento e utilizadas como um teste para verificar se não

houve superrefinamento da estrutura, em geral a diferença entre o Rfactor e o Rfree não deve

ultrapassar 5% (KARPLUS; DIEDERICHS, 2015; MORRIS et al., 2014).

O último passo é a validação do modelo quanto aos parâmetros estruturais. Esses

programas realizam análises das as distâncias ideais entre as ligações, os ângulos de ligação, os

ângulos diédricos e os contatos de Van der Waals, usando para isso a comparação com proteínas

modelos. Uma das saídas destes programas é o diagrama de Ramachandran, que afere as

medidas dos ângulos diédricos Φ e Ψ e é um bom indicador da qualidade do modelo (COOPER

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et al., 2012; HOLLINGSWORTH; WLODAWER et al., 2013). Um resumo do processo de

cristalografia de proteínas está ilustrado na figura 9.

Figura 9. Etapas da Cristalografia de raios X.

Fonte: Elaborado pelo autor. A: Cristalização. B: Difração de cristal e obtenção do padrão de difração. C:

Resolução da estrutura por bioinformática. D: Estrutura tridimensional (VML, código PDB: 4WV8).

3.4 Docking molecular

O docking molecular é uma ferramenta computacional muito aplicada em projetos

de drug discovery e em estudos de interações de proteínas com ligantes. Tradicionalmente, o

docking molecular é utilizado para abordar uma das seguintes aplicações: 1) dada uma molécula

de um ligante e um receptor proteico, fazer a predição do modo de ligação do ligante com o

receptor, 2) realizar uma varredura de uma coleção de moléculas pequenas com um receptor e

fazer um ranking de acordo com a probabilidade de ligação com o mesmo e 3) dada uma

molécula de um ligante e um receptor alvo, predizer a afinidade de ligação entre os dois. A

orientação assumida pelas moléculas em um complexo depende da complementaridade em

tamanho, forma, distribuição de cargas, polaridade e potencial de interações, e da afinidade

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entre as moléculas (POLANSKI; KIMMEL, 2007). A simulação de docking pode ser realizada

utilizando-se um algoritmo capaz de prever o modo ideal de ligação entre o ligante e o sítio de

ligação de uma molécula alvo. No docking, usualmente a estrutura do receptor permanece rígida

e várias posições de possíveis para o ligante são identificadas pelo software (COLEMAN et al.,

2013; POLANSKI; KIMMEL, 2007).

Essa técnica permite realizar a triagem de grandes bibliotecas de compostos,

avaliando afinidade e a especificidade a partir de propriedades estruturais e químicas, como

tamanho, geometria, distribuição de cargas, polaridade e potencial de interações hidrofóbicas e

ligações de hidrogênio. O objetivo da triagem de bancos de possíveis ligantes é identificar

compostos que se ligam a uma proteína alvo. Dessa forma, a reação bioquímica que a proteína

alvo realiza pode ser alterada, permitindo a descoberta de possíveis ferramentas médicas e/ou

biotecnológicas (ROCHA, 2011). Atualmente, o acesso via internet a banco de dados de

estruturas de proteínas, como o PDB, e de grandes bibliotecas de pequenas moléculas

comercialmente acessíveis, como o ZINC database (IRWIN; SHOICHET, 2005) fornecem um

grande número de possíveis novos ligantes, uma vez que esses ligantes forem testados in silico

eles podem ser comprados ou sintetizados para teste in vitro e/ou in vivo, agilizando desta forma

a pesquisa farmacêutica e de biotecnologia (SHOICHET, 2004). Essa abordagem de se testar

uma grande quantidade de compostos por meio de docking molecular é chamada de screening

virtual.

Análises de DM podem permitir a localização de sítios de ligação em proteínas,

locais de ligação de drogas, análises de ligação entre lectinas e carboidratos, medida da força

das interações entre as moléculas. Além disso com o uso do docking é possível verificar como

alterações estruturais podem afetar a ligação da proteína com os ligantes, por meio análises

comparativas com moléculas mutadas (REGO, 2012).

O docking de moléculas com possíveis ligantes segue uma ordem. Primeiramente

se faz a separação dos prováveis sítios de ligação, depois disso se faz a sobreposição destas

regiões e por meio de análises estatísticas e funções de pontuação tenta-se obter os complexos

mais próximos do que ocorre experimentalmente. A análise dos encaixes é dada pontuando-se

a formação de cada complexo. A partir desta pontuação é realizada uma análise comparativa,

em que cada complexo formado é avaliado com uma pontuação, que ao final será posicionado

em um ranking (SCHNEIDMAN-DUHOVNY et al., 2012; SCHNEIDMAN-DUHOVNY et

al., 2005).

O docking molecular vem sendo bastante aplicado no estudo com lectinas no

objetivo de buscar estruturas glicídicas capazes de se ligar as lectinas de interesse. Alguns

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exemplos de aplicação dessa técnica são: uso do DM na lectina de Dolichos lablab para análise

de interação entre a proteína e oligomanosídeos (TEIXEIRA et al., 2014) busca de ligantes para

lectinas de bactérias (TOPIN et al., 2013), uso de DM para análise da forma de interação das

lectinas de Yucca filamentosa e Arum maculatum com ácido siálico (XU et al., 2012).

3.5 Atividades biológicas de lectinas vegetais

Cada vez mais as lectinas têm demonstrado novas aplicabilidades em diversas

áreas, abrangendo desde a medicina até a agricultura, vários estudos têm demonstrado que as

lectinas, sejam de origem vegetal ou de outras fontes, exibem uma gama de atividades

biológicas desencadeadas pela interação dessas proteínas com a porção glicídica dos

glicoconjugados da superfície celular.

Demonstrou-se já que lectinas de especificidades semelhantes por carboidratos

podem, em alguns casos, apresentar afinidade pelo ligante específico de maneira diferenciada,

como se alguma pequena diferença estrutural entre as lectinas pudesse ocasionar diferenças de

afinidade em cada complexo estabelecido entre lectina-ligante, e isto se referir na potência das

atividades biológicas desempenhadas por estas proteínas (CAVADA et al., 2001).

Dentre as atividades biológicas podemos citar a indução de efeito depressivo e

expressão de marcadores neuroinflamatórios em ratos (GONÇALVES et al., 2013), liberação

de mediadores quimiotáticos por macrófagos (ALENCAR et al., 2007), aumento da resistência

vascular renal, da taxa de filtração glomerular e do fluxo urinário (MARTINS et al., 2005),

migração de neutrófilos in vivo por mecanismo indireto (ALENCAR et al., 2003) a proliferação

de linfócitos com produção de interferon γ (BARRAL-NETTO et al., 1992), produção de oxido

nítrico (ANDRADE et al., 1999) e indução de apoptose (BARBOSA et al., 2001),

reconhecimento específico e atividade antiproliferativa sobre células cancerígenas (WU et al.,

2004; LIU et al., 2009), atividade anti (PIRES et al.,2016; NASCIMENTO et al., 2015) ou pro-

inflamatória SANTIAGO et al., 2014, TEIXEIRA et al., 2014), atividade vasorrelaxante

(BARROSO-NETO et al., 2016; ALVES et al., 2015), atividade antinociceptica (ALMEIDA

et al., 2015; PIRES et al., 2014), atividade cicatrizante (NASCIMENTO-NETO, 2012), agentes

em drug delivery (BIES et al., 2004), atividade inseticida (ZHU et al., 1996; MACEDO et al.,

2007), atividade antifúngica (CIOPRAGA et al., 1999; SOUZA et al., 2011), atividade antiviral

(FAVACHO et al., 2007) e antibacteriana (COSTA et al., 2010).

As possibilidades do uso de lectinas vegetais como ferramentas biotecnológicas são

consideradas devido ao grande número de trabalhos científicos exibindo atividades biológicas

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relevantes para essas moléculas (KITADA et al., 2010; KIMBLE et al., 2010). A propriedade

que muitas lectinas possuem de aglutinar células talvez seja seu aspecto imunológico mais

importante. Devido à multivalência de reconhecimento de carboidratos, muitas lectinas fazem

ligações cruzadas entre células e seus receptores (DUBOIS et al., 1998).

3.6 Aspectos gerais do processo inflamatório

O processo infamatório é uma sequência complexa de eventos que ocorre em

tecidos vascularizados, em resposta a agressão por agentes lesivos. Esta reação tem como

principal objetivo livrar o organismo do agente causador da injúria e também desencadear

processos que tendem a reparação do tecido lesado (McGEER; McGEER, 2000). Uma

característica importante deste processo é que, independente da natureza do estímulo, a resposta

inflamatória segue um padrão característico, podendo ser observadas modificações discretas no

padrão de resposta, inerente ao agente etiológico, ao tecido ou órgão lesado e ao estado

patológico do hospedeiro (RANG et al., 2001).

Os sinais clínicos da inflamação, eritema, calor, inchaço e dor, foram descritos por

Cornelius Celsus no início da era cristã (FANTONE; WARD, 1990). O quinto sinal da

inflamação, a lesão aguda dos tecidos, com perda da função dos órgãos foi mencionado mais

tarde por Virchow, no século XIX (ROCHA; SILVA, 1978).

A inflamação pode ser dividida em uma fase aguda e fase crônica. A primeira das

fases da reação inflamatória, fase aguda, depende de o estímulo ser ou não persistente, esta

reação pode tornar-se crônica, podendo, muitas vezes, ser prejudicial ao organismo.

Frequentemente, após a fase aguda, ocorre a resolução do processo, em razão da eliminação

dos agentes causadores.

Vários tipos de células estão envolvidos no processo inflamatório e estas podem ser

classificadas em três tipos: células endoteliais; células próprias do tecido (mastócitos,

fibroblastos e macrófagos residentes); células migratórias (neutrófilos, eosinófilos, basófilos,

linfócitos sanguíneos, plasmócitos e macrófagos livres).

A resposta inflamatória aguda envolve fenômenos vasculares (vasodilatação e

aumento da permeabilidade celular) e celulares (infiltração celular) decorrentes da liberação

local de mediadores químicos formados e liberados concomitantemente ou sequencialmente no

local da lesão. Estes mediadores podem ser divididos em nas seguintes categorias: Aminas

vasoativas, metabólitos do ácido araquidônico, fator ativador plaquetário, citocinas,

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quimiocinas, óxido nítrico, radicais livres derivados de oxigênio e neuropeptídeos (FERENCÍK

& STVRTINOVÁ, 1996; ABBAS et al., 2010).

A vasodilatação é um fenômeno que corresponde a alterações no calibre vascular,

que conduz a um aumento do fluxo sanguíneo, decorrente da ação de mediadores

principalmente em arteríolas. O aumento da permeabilidade vascular se deve a ação de

mediadores inflamatórios sobre as células endoteliais venulares, induzindo a contração das

mesmas. Isto permite a passagem de proteínas plasmáticas para o interstício, as quais não seriam

filtradas em condições fisiológicas. O aumento da permeabilidade vascular somado ao aumento

da pressão de filtração, por consequência da vasodilatação, leva à formação do edema

inflamatório (ABBAS et al., 2010).

A migração de leucócitos da microcirculação e seu acúmulo no foco da agressão é

uma das etapas fundamentais para a defesa do organismo. Os leucócitos ingerem os agentes

agressores, destroem as bactérias e outros micróbios e degradam o tecido necrótico e os

antígenos estranhos. Porém, os leucócitos podem prolongar a inflamação e induzir lesão

tecidual mediante a liberação de enzimas, de mediadores químicos e de radicais livres do

oxigênio (ABBAS et al., 2010).

A mobilização adequada dos leucócitos, da microcirculação para o foco

inflamatório (tecido intersticial), é também uma etapa fundamental para a defesa do organismo

e é denominada de extravasamento. Pode ser dividida nas seguintes etapas: (1) intraluminais:

marginação, rolamento e adesão; (2) transmigração através do endotélio (também denominada

de diapedese); e (3) migração nos tecidos intersticiais na direção do estímulo quimiotático

(ABBAS et al., 2010).

3.7 Aspectos gerais da contratilidade

O mecanismo contrátil do músculo liso vascular é de grande importância para o

conhecimento dos papéis funcionais, fisiológicos e fisiopatológicos do mesmo. O músculo liso

vascular, geralmente, opera em um estado de tensão devido a pressão que o sangue exerce sobre

a parede dos vasos. Este estado é conhecido como tônus, a partir do qual ele pode contrair ou

relaxar, induzindo assim o aumento ou redução da pressão no interior dos vasos (MONCADA

et al., 1991; FURCHGOTT; ZAWADZKI, 1980).

O estado contrátil do músculo liso é regulado pela concentração de cálcio livre no

citosol. Uma variedade de estímulos que induzem a contração do músculo liso, como

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despolarização da membrana, α-adrenárgicos, e agonistas muscarínicos ativam um aumento no

nível de Ca2+ (ALESSI et al., 1992; KARAKI et al., 1997).

Várias substâncias (fatores) que são produzidas pelas células endoteliais difundem-

se ou são liberadas, tanto para o sangue como para as outras camadas do vaso. Dessa forma,

elas podem controlar funções das células musculares lisas e das células circulantes que

participam das funções regulatórias. Dentre os fatores produzidos, destacam-se o óxido nítrico

(NO), a prostaciclina, o tromboxano, as endotelinas, a angiotensina II, o fator hiperpolarizante

do endotélio, a bradicinina, a serotonina, a histamina e os radicais livres de oxigênio, dentre

outros (VANE, et al., 1990; LUSHER; BARTON, 1997; VAPAATALO; MERVAALA, 2001).

Uma dessas funções regulatórias consiste no controle do tônus da musculatura lisa

vascular pela produção de mediadores que podem produzir vasodilatação ou vasoconstrição.

Os principais fatores relaxantes derivados do endotélio são o NO, o fator hiperpolarizante

derivado do endotélio e a prostaciclina (CARVALHO et al., 2001).

Dentre os fatores relaxantes, o NO é o mais potente e é produzido no endotélio a

partir da ação da enzima NO sintase sobre o substrato L-arginina, com formação de NO e L-

citrulina. O NO difunde-se para o interior das células musculares lisas, onde interage com o

átomo de ferro do grupo heme da molécula de guanilato ciclase, levando à ativação dessa

enzima; essa enzima ativada, por sua vez, atua sobre o trifosfato de guanosina (GTP),

transformando-o no composto ativado monofosfato cíclico de guanosina (GMPc). O aumento

da concentração de GMPc nas células musculares leva à diminuição da [Ca+2]i e ao consequente

relaxamento do vaso. Sob condições basais, o NO é continuamente liberado pelas células

endoteliais saudáveis (SILVA, 2006).

3.8 Câncer, gliomas e autofagia

3.8.1 Câncer

O termo câncer inclui diferentes patologias que tem como características comuns:

desregulação na divisão celular, perda da capacidade de diferenciação das células, aumento da

sobrevivência celular e aumento da capacidade de migração celular (CORNER; BAILEY,

2008). A tumorigênese em humanos é um processo complexo que reflete alterações genéticas

que direcionam uma transformação progressiva de células normais em derivativos altamente

malignos (TABASSUM; POLYAK, 2015).

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O processo pelo qual células normais se transformam progressivamente em células

tumorais pode ser resultado de processos endógenos como erros na replicação do DNA, a

instabilidade química intrínseca de algumas bases do DNA, a perda de heterozigose ou um

ataque de radicais livres gerados durante o metabolismo. Danos ao DNA também podem ser

resultado de interações com agentes exógenos como radiações ionizantes, radiação UV e/ou

carcinogênicos químicos (BERTRAM, 2000). As células possuem mecanismos para reparar

tais danos, mas, por várias razões erros podem ocorrer e, com isso, mutações no genoma dessas

células (BERTRAM, 2000).

A transição de célula normal para tumoral envolve a participação de genes

envolvidos em mecanismos de homeostase que controlam a proliferação e morte celular. Se

essas mudanças e mutações induzem a ativação de genes que estimulam a proliferação ou

protegem a célula da morte, esses genes são referidos como protooncogenes. Se mutações

inativam genes que normalmente inibem a proliferação, esses genes são referidos como

supressores de tumor (CHIAL, 2008; ZHU et al., 2015).

As marcas do câncer são seis capacidades adquiridas durante o processo de

desenvolvimento dos tumores. Elas incluem a manutenção de sinalização proliferativa, evasão

dos supressores proliferativos, resistência a morte celular, ativação da imortalidade replicativa,

indução de angiogênese e capacidade de invasão e metástase (HANAHAN; WEINBERG,

2011).

3.8.2 Gliomas

Gliomas malignos são os tumores cerebrais primários mais comuns. Os gliomas

mais comuns incluem astrocitomas, oligodendrocitomas, ependimomas e glioblastomas.

Mesmo que relativamente raros (menos de 1 % de incidência), tipicamente representam 30 %

de todos os tumores cerebrais de adultos, e cerca 80 % de todos os tumores cerebrais malignos

de adultos (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2014). Eles são caracterizados por uma

proliferação local, uma infiltração pelo parênquima cerebral e uma angiogênese robusta. O atual

tratamento convencional inclui cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Muitos agentes

terapêuticos como a temozolomida (TZM), cisplatina, carmustina e lomustina vem sendo

usados para tornar mais lenta a progressão desses canceres incuráveis (JOHNSON; WHITE;

GRIMALDI, 2011). Um problema que ocorre é que as células de glioma frequentemente

adquirem resistência a esses agentes (HEGI et al., 2005). O tempo médio de vida para pacientes

diagnosticados com glioblastoma é de aproximadamente 12 meses, por essa razão, tem se feito

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esforços para a busca de vias moleculares visando o desenvolvimento de novos agentes e

terapias contra este tipo de câncer (FURNARI et al., 2007).

Existem diversos tipos de tumores cerebrais, a eles são classificados pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) baseando-se na sua origem celular e aparência

histopatológica.

Astrocitomas: a maioria dos tumores que se desenvolvem no cérebro começam

como células gliais chamadas astrócitos. Esses tumores são chamados astrocitomas. Dois de

cada dez tumores no cérebro são astrocitomas. A maioria desses pode se espalhar amplamente

pelo cérebro e se misturar com o tecido sadio, o que os tornam bastante difíceis de se remover

cirurgicamente. É muito raro que eles se espalhem para fora do cérebro ou medula espinhal.

Astrocitomas são geralmente classificados como de baixo grau, grau intermediário e de alto

grau baseado em como na aparência das células ao microscópio. O astrocitoma de mais alto

grau é conhecido como glioblastoma, sendo esse o de progressão mais rápida e o tipo de tumor

maligno cerebral mais comum em adultos (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2014).

Oligodendrogliomas: esses tumores iniciam em célula do cérebro chamadas

olidendrócitos. Como astrocitomas, a maioria deles pode se infiltrar nos tecidos próximos e não

podem ser completamente removidos com cirurgia. Oligodendrogliomas raramente se

espalham para fora do cérebro ou medula espinhal. Formas muito agressivas desses tumores

são chamadas oligodendrogliomas anaplásticos. Apenas 2 % dos tumores cerebrais são

oligodendrogliomas (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2014).

Ependimomas: esses tumores surgem a partir de células ependimais que delimitam

os ventrículos. Eles podem variar de tumores de grau muito baixo (menos agressivo) até

tumores de alto grau, chamados de ependimomas anaplásticos. Ependimomas não se espalham

para fora do cérebro ou medula espinhal. Diferentemente dos tipos anteriores esse tipo de tumor

não infiltra em tecidos saudáveis permitindo, na maioria das vezes, sua retirada por cirurgia

(AMERICAN CANCER SOCIETY, 2014).

3.8.3 Autofagia

Autofagia é um processo celular evolutivamente conservado de degradação e

reciclagem de proteínas e organelas. É um mecanismo induzido como resposta a diversos

estímulos como estresse oxidativo, hipóxia ou depleção de nutrientes. Sendo um processo

constitutivo, a autofagia basal tem importante função na manutenção na homeostase, através da

manutenção do controle de qualidade de proteínas e organelas. Mesmo que a maioria das

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evidências suportem uma função de manutenção da sobrevivência da célula, paradoxalmente,

a morte celular resultando de um consumo de células progressivo tem sido atribuído a autofagia

irrestrita (MIZUCHIMA, 2007; REEF et al., 2006).

Os mecanismos que regulam as funções mutualmente-opostas de sobrevivência e

morte para a autofagia ainda não são conhecidos. A explicação mais plausível é que o

catabolismo por autofagia é predominantemente para manutenção da sobrevivência. Mas um

desbalanço no metabolismo celular onde o consumo celular autofágico excede a capacidade

celular de síntese, promove a morte celular (MATHEW; KARANTZA-WADSWORTH;

WHITE, 2007).

Existem três formas de autofagia: macroautofagia, autofagia mediada por

chaperonas e microautofagia. Sendo a mais observada a macroautofagia (RAVIKUMAR et al.,

2010).

O processo de macroautofagia ocorre da seguinte forma: fagóforos (também

chamados de estruturas pré-autafagossomais ou membranas de isolamento) elongam e se

fundem enquanto engolfam uma porção do citoplasma em vesículas, chamadas

autofagossomos. Esses autofagossomos primeiro se fundem com endossomos para formar

organelas híbridas chamadas anfissomos que posteriormente se fundem com lisossomos ácidos

onde o conteúdo citoplasmático é degradado (Figura 10). Os mecanismos moleculares

responsáveis pela regulação da autofagia ainda não foram completamente elucidados, o que se

sabe é que diversos genes de autofagia (ATG) participam da regulação desse processo celular

(RAVIKUMAR et al., 2010).

Figura 10. Diagrama esquemático dos passos do processo de autofagia.

Fonte: Adaptado de Melendez e Levine (2009).

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Nesse contexto, Pratt e colaboradores (2012) mostraram a capacidade de ConA de

induzir morte autofágica de células de glioma na linhagem de células de glioma humano U87.

Foi mostrado que essa atividade se deve a regulação da proteína MT1-MMP (proteína de

membrana - metaloproteinase tipo 1), uma glicoproteína fortemente expressa em gliobastomas

radio- e quimioresistentes. Essa proteína é responsável por mediar a sinalização pró-apoptótica

e autofágica em células de câncer do cérebro. A lectina foi capaz de induzir a atividade da

proteína com consequente aumento de vacúolos ácidos característicos de processos autofágicos.

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CAPÍTULO II:

DETERMINAÇÃO DA ESTRUTURA PRIMÁRIA DE

CTL POR ESPETROMETRIA DE MASSAS

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4 CAPÍTULO II: DETERMINAÇÃO DA ESTRUTURA PRIMÁRIA DE CTL POR

ESPETROMETRIA DE MASSAS

4.1 Digestão proteolítica in gel e obtenção de peptídeos

A estrutura primária da lectina de sementes de C. tomentoseum foi determinada

através de sobreposição das sequencias de peptídeos oriundos de digestões proteolíticas

determinadas por espectrometria de massas sequencial (MS/MS).

O procedimento de digestão proteolítica da lectina para sequenciamento foi

realizado seguindo o protocolo descrito por Shevchenko e colaboradores (2006). A proteína

foi aplicada a um gel de 12% de poliacrilamida (SDS-PAGE), realizada segundo uma adaptação

ao método descrito por Laemmli (1970). A banda referente à cadeia alfa da proteína foi

recortada do gel, descorada por sucessivas lavagens utilizando uma solução de 50% de

acetonitrila contendo 25 mM de bicarbonato de amônio, desidratada em 100% de acetonitrila e

seca em Speedvac (LabConco).

Após a secagem, o gel contendo a lectina foi reidratado em uma solução contendo

uma das seguintes soluções contendo enzimas proteolíticas: 50 mM de bicarbonato de amônio

com tripsina (Sigma-Aldrich) ou quimiotripsina (Sigma-Aldrich); 25mM de bicarbonato de

amônio com endoproteinase Asp-N (Sigma-Aldrich); HCl 10 mM contendo Pepsina. A razão

enzima:substrato utilizada nos experimentos foi de 1:50 (m/m). As reações de digestão

permaneceram overnight à 37 ºC, sendo interrompidas com a adição de ácido fórmico a 2%. Os

peptídeos oriundos das digestões proteolíticas foram então extraídos do gel utilizando uma

solucao de 5% de ácido fórmico em 50%, concentrados em Speedvac e ressuspensos com 25

µL com ácido fórmico 0,1%.

Os peptídeos oriundos das digestões proteolíticas foram então extraídos do gel

utilizando uma solução de 5% de ácido fórmico em 50% de acetonitrila, sob agitação durante

15 minutos. Este procedimento foi repetido três vezes. O sobrenadante contendo os peptídeos

extraídos foram unidos, concentrados em Speedvac e ressuspensos com 25 μL com ácido

fórmico 0,1%.

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4.2 Sequenciamento de peptídeos por MS/MS

Os peptídeos obtidos das diferentes digestões proteolíticas foram injetados em um

sistema de cromatografia liquida de ultra performance (NanoAcquity®, Waters Corp. Milford,

USA) diretamente conectado a uma fonte de nanoeletrospray de um espectrômetro de massas

(Synapt HDMS, Waters Corp., Milford, USA). Os peptídeos foram previamente separados por

cromatografia fase reversa em coluna BEH300 C18 (75 μm x 100 mm), eluída com um gradiente

linear partindo de 10% a 85% de acetonitrila contendo 0,1% de ácido fórmico à 60 µL/min.

O espectrômetro de massas foi operado em modo positivo, com a temperatura da

fonte de 90 ºC e a voltagem do capilar de 3,0 kV. Os experimentos de LC-MS/MS foram

realizados utilizando a função DDA (Data Dependent Acquisition – Aquisição Dependente de

Dados), onde os íons precursores com carga entre +2 e +4 foram selecionados para análise de

MS/MS sendo fragmentados através de CID (Collision Induced Dissociation - Dissociação

induzida por colisão), utilizando argônio como gás de fragmentação. O instrumento foi

previamente calibrado com fragmentos do íon duplamente carregado do [glu1]-fibrinopeptideo

B (m/z = 785,84) gerados por CID enquanto que a correção de massas realizadas durante os

experimentos foi realizada com este íon intacto.

Os dados foram coletados, processados e analisados utilizando o programa

MassLynx v 4.1 (Waters Corp) e ProteinLynx v 2.5 (Waters Corp). Os peptídeos com sequência

de aminoácidos comuns a outras proteínas serão identificados por buscas em banco de dados

utilizando as ferramentas de pesquisa por padrão de fragmentação dos peptídeos ProteinLynx

2.4 (Waters Corp) e MASCOT (Matrix Science). Os peptídeos que não forem identificados por

estes meios terão suas sequências determinadas através da interpretação manual dos espectros

de fragmentação (sequenciamento de novo).

4.3 Análise da estrutura primária por bioinformática

Uma vez obtida a sequência primaria, esta foi submetida a analise onde utilizados

programas de alinhamento para análise de similaridade e homologia entre as sequencias de

aminoácidos obtidas e todo o banco não redundante de proteínas depositadas no National Center

of Biotechnology Information (NCBI). Inicialmente, a sequência primaria de CTL foi

submetida ao programa BLAST (ALTSCHUL et al., 1997) e as proteínas com maior score

foram selecionados para os alinhamentos de sequencias utilizando o ESPript 3.0 (ROBERT;

GOUET, 2014). A informação de ponto isoelétrico (pI) e a massa molecular media teórica da

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sequência de aminoácidos da lectina foram calculadas usando a ferramenta PeptideMass

(http://web.expasy.org/peptide_mass/) (GASTEIGER et al., 2009). A presença de sítios de N-

glicosilação foi avaliada usando o NetNGlyc (http://www.cbs.dtu.dk/services/NetNGlyc/)

(GUPTA; JUNG; BRUNAK, 2004).

4.4 Resultados e Discussão

4.4.1 Estrutura primária de CTL

A estrutura primária da lectina de sementes de C. tomentosum foi determinada

através da sobreposição das sequências de peptídeos, oriundos de digestões proteolíticas com

as enzimas tripsina, quimotripsina, pepsina e endoproteinase Asp-N, determinadas por

espectrometria de massas sequencial (MS/MS) (Figura 11). Como resultado, foram

sequenciados 15 peptídeos de tripsina, 10 de quimiotripsina, 6 de pepsina e 8 de endoproteinase

Asp-N, resultando em 245 aminoácidos, totalizando uma massa de 27.062,9 Da e um pI teórico

de 4,76. A sequência possui um sitio de N-glicosilação previsto (118QNE120).

Entre a sequência, seis resíduos (71QSQF74, 201VV202) não puderam ser identificados

por MS/MS, sendo determinados através do mapa de densidade eletrônica da estrutura

cristalográfica de CTL (descrito posteriormente). Os dados da estrutura primária foram

depositados no Uniprot Knowledgebase, um banco de dados de informações funcionais sobre

proteínas, sob o número de adesão C0HJX1.

A estrutura primária de CTL apresentou similaridade com outras lectinas de

leguminosas manose/glicose específicas pertencentes à tribo Dalbergieae, como a lectina de

Platypodium elegans (89% de identidade), Pterocarpus rotundifolius (84%), Pterocarpus

angolensis (77%) e Arachis hypogaea (71%) (Número de acesso: AEK69351, AAT57665,

CAD19804 e AAA74572, respectivamente). Além disso, CTL mostrou uma alta similaridade

(93%) com a lectina do mesmo gênero, Centrolobium microchaete (VASCONCELOS et al.,

2015). O alinhamento das sequencias estão exibidas na figura 12. Após alinhamento com

lectinas de Dalbergieae relacionadas e que já apresentam estruturas tridimensionais

determinadas, foi possível observar na sequência de da lectina de C. tomentosum regiões

bastante conservadas em relação ao sítio de ligação à metais e sítio de ligação á carboidratos,

bem como os cinco loops descritos como integrantes do sítio de ligação a carboidratos (LORIS

et al., 1998; SHARMA; SUROLIA, 1997).

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Figura 11. Sequência de aminoácidos da CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. A sequência de aminoácidos de DrfL foi montada pela sobreposição das sequências

de aminoácido de peptídeos, oriundos de digestões proteolíticas com Tripsina (T), Quimiotripsina (Q), Pepsina (P)

e Endproteinase Asp-N (D), determinadas por espectrometria de massas sequencial (MS/MS).

Outras lectinas pertencentes à tribo Dalbergieae já foram sequenciadas, porém

demonstraram baixa similaridade com a estrutura primária de CTL. Um exemplo disso são as

lectinas isoladas do gênero Vatairea, VML e VGL, que são específicas à galactose e seus

derivados, apresentam dois sítios de N-glicosilação e possuem um complexo mecanismo pós-

traducional envolvendo seus sítios de N-glicosilação (CALVETE et al., 1998; SILVA et al.,

2012). Por outro lado, as lectinas de Dalbergieae manose/glicose específicas, incluindo CTL,

possuem apenas um sítio de N-glicosilação, um pequeno peptídeo sinal, mas nenhuma

evidência de qualquer processamento proteolítico em suas regiões internas, apresentando

apenas uma cadeia polipeptídica (PEREIRA-JUNIOR et al., 2012; LORIS et al., 2004;

ALMEIDA et al., 2014; BENEVIDES et al., 2012). Essas diferenças sugerem a existência de

pelo menos dois grupos distintos de lectinas na tribo Dalbergieae. Além disso, pode-se inferir

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que as lectinas manose/glicose específicas de Dalbergieae devem exibir um mecanismo pós-

traducional diferente do descrito para as lectinas do gênero Vatairea (CALVETE et al., 1998).

Figura 12 - Alinhamento da sequência de aminoácidos de Centrolobium tomentosum (CTL) com lectinas da tribo

Dalbergieae.

Fonte: Elaborado pelo autor. Alinhamento da sequência de aminoácidos de CTL com lectinas da tribo Dalbergieae

usando o programa ESPript 3.0 (ROBERT; GOUET, 2014). Centrolobium microchaete (VASCONCELOS et al.,

2015), Platypodium elegans (Número de acesso: AEK69351), Pterocarpus rotundifolius (Número de acesso:

AAT57665), Pterocarpus angolensis (Número de acesso: CAD19804) e Arachis hypogaea (Número de acesso:

AAA74572). O alinhamento múltiplo e predições de estrutura secundária foram alcançados usando a ESPript 3.0

(ROBERT; GOUET, 2014). Os símbolos são como se segue: α-hélices (α), 310-hélices (η), folhas β (β), loops-β

(TT), resíduos do sítio de ligação a carboidratos (●), resíduos do sítio de ligação a metal (○) e sítio de N-

glicosilação predito (♦).

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A região C-terminal das lectinas de leguminosas geralmente exibem processamento

proteolítico (YOUNG et al., 1995). Embora este processamento não seja claramente

compreendido, Chrispeels e Raikhel (1992) sugerem que as proteínas são direcionadas para os

vacúolos através de pequenos domínios peptídicos, situados nas regiões C- e N-terminal.

Lectinas de Dalbergieae que tiveram seu sequenciamento realizado por cDNA exibem uma

extensão nas em suas regiões terminais em comparação à sequência de CTL, o que sugere que

a ela também sofra um processamento proteolítico em ambas as regiões (BENEVIDES et al.,

2012; LORIS et al., 2004).

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CAPÍTULO III:

RESOLUÇÃO DA ESTRUTURA TRIDMENSIONAL

DE CTL POR CRISTALOGRAFIA DE RAIOS X

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5 CAPÍTULO III: RESOLUÇÃO DA ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DE CTL

POR CRISTALOGRAFIA DE RAIOS X

5.1 Ensaio de Cristalização

Para determinar a concentração adequada de lectina para o ensaio de cristalização,

foi realizado o teste de pré-cristalização segundo manual de seu fabricante (PCT® - Pre-

Crystallization Test, Hampton Research). O teste PCT propõe-se a minimizar ou prevenir

situações em que ensaio de cristalização produza uma abundância de precipitados amórficos ou

gotas claras.

O kit PCT contém 4 reagentes únicos, pré-formulados e estéreis, utilizados para

avaliar a concentração de proteína para o posterior ensaio de cristalização. Inicialmente, uma

amostra da proteína é misturada com dois dos reagentes para determinar se sua concentração é

adequada para o ensaio de cristalização. Se a proteína é muito sensível à concentração de sal

ou precipitante, com base nos resultados de PCT iniciais, a proteína pode ser avaliada utilizando

o segundo conjunto de reagentes de PCT. Os resultados posteriores fornecerão informações

tanto à concentração da amostra adequada ou indicar que outros testes de diagnóstico, tais como

eletroforese em gel nativo devem ser realizados para demonstrar a homogeneidade da amostra

apropriada para cristalização.

O teste de pré-cristalização foi realizado com diferentes concentrações de lectina,

onde o melhor resultado foi obtido com a lectina à concentração de 15 mg/mL. Portanto, esta

concentração foi utilizada no ensaio de cristalização

Para o ensaio de cristalização, a lectina liofilizada foi solubilizada em água

ultrapura (Milli-Q®) na concentração final de 15 mg/mL. A solução da proteína foi então

centrifugada à 4.000 g por 10 minutos e o sobrenadante foi utilizado para o ensaio. A proteína

em solução foi também incubada com três carboidratos específicos, o 5-bromo-6-chloro-3-

indolyl-α-D-mannopiranosídeo (X-Man), o dissacarídeo Metil-O3-(α-D-manose)-α-D-manose

(Metil-Dimanosídeo), e α-(1,3)-D-manose (Dimanosídeo) na concentração final de 5 mM

durante uma hora. O carboidrato em solução foi utilizado para caracterizar e/ou estabilizar o

domínio de reconhecimento à carboidrato (CRD). A proteína foi então submetida ao ensaio de

cristalização, utilizando o método da matriz esparsa inicialmente descrito por Jancarik e Kim

(1991). Os kits utilizados foram o “Crystallization Extension Kit For Proteins” (Sigma

Aldrich), bem como o “Crystal Screen I” e “Crystal Screen II” (Hampton Research).

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O método utilizado foi no ensaio foi a difusão de vapor e gota suspensa com uso de

placas de microtitulação de 96 poços (fundo reto). As placas foram manuseadas no robô TTP

Labtech's Mosquito® Crystal. Foram adicionados 100 μL da condição de cristalização e a gota

foi composta por 100 nL da solução de proteína e 100 nL da condição de cristalização. Os poços

foram vedados com ViewDrop® II para placa de 96 poços para até 3 gotas suspensas. O poço

foi então vedado com silicone e deixado em repouso à temperatura de 18 ºC.

Após obtenção de cristais numa determinada condição, otimizações foram

realizadas, variando principalmente a concentração de concentração de sal, agente precipitante

e pH da solução, repetindo todo o ensaio de cristalização. Essa otimização visa melhorar a

condição de formação do cristal, produzindo assim, um cristal com características necessárias

para que ele possa ser mais bem difratado quando submetido aos raios X.

Diferentes condições foram manualmente preparadas para os ensaios de otimização

com base na formulação das condições originais onde obtiveram-se cristais. O ensaio utilizou

placas de Linbro de 24 poços. Foram colocados em cada poço da placa de cristalização 300 μL

da solução de otimização e a gota foi composta por 2 μL da solução de proteína à 5mg/mL e 2

μL da condição de cristalização. O poço foi então vedado com silicone e deixado em repouso à

temperatura de 18 ºC.

5.2 Coleta de dados e resolução da estrutura cristalográfica

Os dados de difração de raios X foram coletados a temperatura de -173,5 °C. Para

evitar formação de gelo, os cristais foram mergulhados em uma solução crioprotetora aquosa

de glicerol (30%). Os dados foram coletados em um comprimento de onda de 1,54 Å, utilizando

uma fonte de luz de radiação síncrotron (estação MX2 no Laboratório Nacional de Luz

Síncrotron - LNLS - Campinas, Brasil), utilizando um detector PILATUS2M® (Dectris,

Suíça). Foram coletadas 180 imagens com oscilação de 1º. Os conjuntos de dados foram

indexados, integrados e escalonados através do programa MOSFLM (LESLIE; POWELL,

2007) e SCALA (EVANS, 1993). Ambos fazem parte do pacote de CCP4 (WINN et al., 2011).

Para resolução do problema de fase foi utilizado o método de substituição molecular

utilizando o programa MOLREP (VARGIN; TAPLYAKOV, 1997). As coordenadas atômicas

usadas como modelo foram obtidas da lectina de sementes de Platypodium elegans complexada

com trimanosídeo (PDB 3ZVX) (BENEVIDES et al., 2012), que apresenta 89% de similaridade

com a estrutura primária de CTL. Após a utilização de operações de simetria de rotação e

translação, obteve-se a melhor solução de acordo com os parâmetros Rfactor e o coeficiente de

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correlação, admitindo como modelo de qualidade a ser refinado os resultados que apresentaram

valores de Rfactor e coeficiente de correlação inferior a 40% e superior a 60%, respectivamente.

Após a substituição molecular, a estrutura obtida foi submetida a refinamentos de

corpo rígido e refinamentos posicionais para um melhor ajuste da molécula em sua unidade

assimétrica através do uso dos programas REFMAC5 (MURSHUDOV et al., 2011) e PHENIX

(ADAMS et al., 2010). A finalidade deste refinamento foi encontrar uma melhor concordância

entre o modelo proposto e a estrutura real da molécula, colocando o modelo na mesma posição

que a molécula real ocupa na sua rede cristalina. Para avaliar os resultados dos cálculos do

refinamento foram utilizados como referenciais os valores de Rfactor e Rfree (BRÜNGER, 1992).

Os mapas de densidade eletrônica foram gerados e visualizados através do

programa Coot (EMSLEY et al., 2010). Foram realizados ajustes manuais no modelo

(refinamento posicional), posicionadas corretamente as moléculas de metil-dimanosídeo, e

verificadas as moléculas de água. Todos os passos manuais foram seguidos de ciclos de

refinamentos posicionais e os valores do Rfactor e Rfree foram monitorados. Análises

estereoquímicas, dos ângulos de ligação, distâncias interatômicas e interações foram checadas

manualmente com ajuda do gráfico de Ramachandran e mapa de Fourier e a qualidade do

modelo foi avaliada através dos programas Molprobity (CHEN et al., 2010) e PDB Validation

Tool (READ et al., 2011).

As estruturas cristalográficas de CTL complexada com Metil-Dimanosídeo foi

visualizada através do programa Coot. Todas as figuras foram feitas utilizando os programas

PyMol (DELANO, 2002) e LigPlot (WALLACE et al., 1996). As coordenadas foram

depositadas no Protein Data Bank (PDB) nos códigos 5EYX e 5EYY.

5.3 Docking molecular

A capacidade de CTL em interagir com oligomanosídeos foi avaliado por Docking

Molecular. O Docking rígido foi realizado utilizando o software CLC Drug Discovery

Workbench Software (CLC Bio, Boston, MA, USA), uma plataforma integrada de predição de

interações de proteínas. O Raio selecionado foi de 11 Da ao redor do CRD e o máximo de

interações foi 5.000. A energia de interação proteína-ligante foi expressa na forma de escore

em unidades arbitrárias onde um valor mais negativo indica uma interação mais forte.

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5.4 Resultados e Discussão

5.4.1 Cristalização e coleta de dados

CTL foi cristalizada a partir de uma solução de 15 mg/mL da lectina solúvel em

água ultrapura, previamente incubada com 5 mM de Metil-Dimanosídeo por uma hora antes do

ensaio de cristalização. Cristais foram obtidos através do método de difusão de vapor em gota

suspensa após três semanas, com a placa sendo deixada em repouso à temperatura constante de

20 °C. A condição que apresentou crescimento de cristais foi a nº 30 do Kit “Crystallization

Extension Kit For Proteins” (HEPES pH 7.5 0.1 M, 2-Methyl-2,4-pentanediol 5%, PEG 6000

10%). Foram realizadas otimizações desta condição em placas de 24 poços variando o pH e a

concentração do agente precipitante. Foram realizadas otimizações desta condição o pH e a

concentração do agente precipitante, obtendo-se cristais em duas condições de otimização: A:

HEPES pH 7.0 0.1 M, 2-Methyl-2,4-pentanediol 5%, PEG 8.000 10% e B: HEPES pH 8.0 0.1

M, 2-Methyl-2,4-pentanediol 5%, PEG 10.000 10% (Figura 13).

Figura 13. Cristais de CTL complexada com Metil-Dimanosídeo.

Fonte: Elaborado pelo autor. Cristais obtidos a partir da otimização da condição nº 30 do kit “Crystallization

Extension Kit For Proteins”. A: HEPES pH 7.0 0.1 M, 2-Methyl-2,4-pentanediol 5%, PEG 8.000 10%. B: HEPES

pH 8.0 0.1 M, 2-Methyl-2,4-pentanediol 5%, PEG 10.000 10%. As setas brancas apontam os cristais de cada

condição utilizados para a difração de raios X.

5.4.2 Coleta de dados e refinamento da estrutura

Após congelados em solução crioprotetora (condição de cristalização com glicerol

30% v/v), dados de difração de raios X de cristais de CTL com metil-dimanosídeo foram

coletados, utilizando como fonte de radiação. Os dados foram coletados em um comprimento

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de onda de 1,54 Å, utilizando uma fonte de luz de radiação sincrotron a estação MX2 no

Laboratório Nacional de Luz Sincrotron (LNLS - Campinas, Brasil), utilizando um detector

PILATUS2M® (Dectris, Suíça). Foram coletadas 180 imagens de cada cristal, com um ângulo

de oscilação de 1º.

Após a indexação dos dados, determinou-se a existência de dois grupos espaciais

dentre os cristais difratados: um monoclínico C121 (α = 90º, β = 102.40º e γ = 90º) com

parâmetros de célula a = 145,84 Å, b = 41,55 Å, c = 94,64 Å; e um tetragonal P412121 (α = 90º,

β = 90º e γ = 90º) com parâmetros de célula a = 72.58 Å, b = 72.58 Å e c = 128.45Å. O

coeficiente de Matthew (2,59 Å3/Da) indicou a presença de um dímero na unidade assimétrica

do cristal monoclínico, com a presença de 52,60% de solvente. Já para o cristal tetragonal, seu

coeficiente de Matthew (3,38 Å3/Da) indicou a presença de um monômero na unidade

assimétrica, com a presença de 63,67 % de solvente. A tabela 2 demonstra as estatísticas

detalhadas da coleta e processamento de dados.

A estrutura cristalográfica da lectina de C. tomentosum foi obtida por substituição

molecular utilizando como modelo as coordenadas da estrutura da lectina de Platypodium

elegans (PDB 3ZVX) para o cristal pertencente ao grupo monoclínico. Para o grupo espacial

tetragonal, a substituição molecular utilizou a estrutura obtida no grupo espacial monoclínico.

As estruturas obtidas foram submetidas a refinamentos de corpo rígido e

posicionais, a fim de encontrar uma melhor concordância entre o modelo proposto e a estrutura

real da molécula, colocando o modelo na mesma posição que a molécula real ocupa em sua

rede cristalina. Após o último refinamento, a estrutura monoclínica obteve resolução máxima

de 2,25 Å e valores de Rfactor e Rfree de 17,98% e 23,45%. Já a estrutura tetragonal obteve

resolução máxima de 1,9 Å e valores de Rfactor e Rfree de 15,6% e 17,7%.

A qualidade estereoquímica da estrutura foi comprovada a partir do gráfico de

Ramachandran, gerado pelo programa Molprobity (CHEN et al., 2010), que analisa as torções

dos ângulos Φ e Ψ. O gráfico da forma monoclínica mostrou um nenhum resíduo em regiões

não permitidas e 2,5% dos resíduos presentes em regiões adicionalmente permitidas. A

tetragonal também não mostrou nenhum resíduo em regiões não permitidas e 3,4% dos resíduos

presentes em regiões adicionalmente permitidas (Figura 14).

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Tabela 2. Estatísticas da coleta de dados de difração de raios X de CTL em complexo com metil-dimanosídeo.

Parâmetros Grupo Monoclínico Grupo Tetragonal

Dados de Coleta

Grupo especial C121 P412121

Parâmetros de célula unitária

a, b, c (Å) 145,84 Å, 41,55 Å, 94,64 Å 72,58 Å, 72,58 Å, 128,45Å

Ângulos de célula (α, β, γ) 90,00°, 102,40°, 90,00° 90,00º, 90,00º, 90,00º

Reflexões totais 91.499 219.670

Reflexões únicas 26.323 27.589

Moléculas por unidade assimétrica 2 1

Limite de resolução (Å) 35,92 - 2,25 (2,33 - 2,25) 32,46 - 1,90 (1,97 - 1,902)

Rmergea (%) 9,7 (41,9)d 6,7 (16,5) d

Completeza (%) 98,4 (99,6)d 99,0 (94,3) d

Multiplicidade 3,5 (3,4) 8 (7,8)

(I)/σ (média) 9,7 (3,7)d 19,1 (10,2)d

Substituição Molecular

wRfactor 0,458 0,452

Score 0,580 0,650

Refinamento

Faixa de resolução (Å) 35,92 - 2,25 32,46 - 1,90

Rfactorb (%) 17,98 15,6

Rfreec (%) 23,45 17,7

Resíduos na unidade assimétrica 490 245

Moléculas de água 323 226

R.M.S.D

Comprimento de ligação (Å) 0,008 0,0101

Ângulos de ligação (graus) 1,04 0,958

Fator de Temperatura

Média do fator B (Å2) 21,64 17,10

Gráfico de Ramachandran

Resíduos em regiões mais favoráveis (%) 97,5 97

Resíduos em regiões adic. permitidas (%) 2,5 3,4

Resíduos em regiões não permitidas (%) 0 0

Fonte: Elaborado pelo autor.

a where I(hkl) is the intensity of the measurement of the reflection h and I(hkl) is the

mean value of the I(hkl)i for all I measurements.

b

c Calculated with 5% of the reflections omitted from refinement. d Values in parentheses represent the high resolution shell.

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Figura 14. Gráfico de Ramachandran das coordenadas de CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. A: Forma monoclínica de CTL. B: Forma Tetragonal de CTL. Os aminoácidos estão

representados em azul, as regiões mais favoráveis estão representadas em vermelho, as regiões adicionais mais

permissivas são representadas em marrom, as regiões permissivas aparecem em amarelo e as regiões não

permissivas correspondem à cor bege.

5.4.3 Estrutura cristalográfica de CTL em complexo com metil-dimanosídeo

A estrutura geral do monômero da lectina de Centrolobium tomentosum

complexada com metil-dimanosídeo apresenta 245 resíduos de aminoácidos, 323 moléculas de

água, 1 íon cálcio e 1 íon manganês. Uma molécula de N-acetil-D-glicosamina foi modelada no

seu sítio de N-glicosilação e a molécula de metil-dimanosídeo foi modelada no domínio de

reconhecimento a carboidratos (CRD). Dos 245 resíduos presentes na estrutura primária de

CTL, todos puderam ser identificados no mapa de densidade eletrônica, exceto pelos quatro

últimos aminoácidos da extremidade C-terminal (242AQKE245).

O monômero de CTL (Figura 15) apresenta o arranjo clássico de lectinas de

leguminosas (Sanduíche β), incluindo um íon cálcio e um íon manganês próximos a seu sítio

de ligação. Os monômeros são compostos por 14 fitas beta e 2 pequenas hélices alfa, sendo

interligadas por voltas (loops) e alças formando uma estrutura de forma achatada. Esse tipo de

enovelamento é conhecido como “β-sanduíche”, por ser composto majoritariamente de folhas

betas antiparalelas (cerca de 60%). A orientação antiparalela das folhas beta, e a mudança entre

uma face e outra, forma uma estrutura rígida forte, semelhante a um sanduíche (CHANDRA et

al., 2001).

CTL apresentou-se formando um dímero canônico, também observado em muitas

outras lectinas de leguminosas diméricas e tetraméricas (MANOJ; SUGUNA, 2001;

SRINIVAS et al., 2001). A estrutura tridimensional dimérica completa de CTL complexada

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com metil-dimanosídeo está ilustrada na figura 16. É possível observar a molécula de metil-

dimanosídeo localizada no sítio de ligação a carboidrato, assim como os metais Ca2+ e Mn2+

situados no sítio de ligação a metais. Um sítio de N-glicosilação em Asn119 encontra-se situado

sobre uma pequena hélice-α na superfície da proteína, sendo, portanto susceptível a estar

glicosilado na planta (Figura 17).

Figura 15. Estrutura geral do monômero de CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. Monômero de CTL representado em verde, seus ligantes estão representados em

sticks na cor amarela, o íon cálcio está representado em branco e o manganês em violeta.

Figura 16. Estrutura tridimensional de CTL complexada com metil-dimanosídeo.

Fonte: Elaborado pelo autor. Visão geral da estrutura dimérica de CTL em complexo com metil-dimanosídeo,

formada pelos monômeros A em verde e monômero B em vermelho. Presença dos metais Ca2+ e Mn2+ (esferas

branca e violeta, respectivamente), do ligante metil-dimanosídeo (MDM) em amarelo, e duas moléculas de N-

acetil-D-glicosamina (NAG) em amarelo.

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Já foi demonstrado em outras lectinas de Dalbergieae manose/glicose específicas o

mesmo padrão de glicosilação nas mesmas posições, quando comparadas as suas sequências de

aminoácidos. PELa apresenta seu sítio em Asn127 e PAL em Asn126 (BENEVIDES et al., 2012;

LORIS et al., 2004). Além disso, PELa apresenta também uma outra glicosilação próxima à

seu N-terminal (Asn7), sendo essa possivelmente relacionada ao mecanismo pós-traducional

ainda não esclarecido que as lectinas de Dalbergieae manose/glicose específicas realizam.

Figura 17. Sítio de N-Glicosilação de CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. Representação do sítio de glicosilação de CTL com mapa de omissão 2mFo-dFc (1σ)

para N-acetil-D-glicosamina em A) forma monoclínica e B) forma tetragonal.

A estrutura cristalográfica de CTL possui um sítio de ligação a metal contendo

resíduos conservados. Este sítio é semelhante aos presentes nas outras lectinas de Dalbergieae

que fazem a coordenação dos íons Ca2+ e Mn2+, bem como lectinas de leguminosas já

caracterizadas (BENEVIDES et al., 2012; DELATORRE et al., 2007; LORIS et al., 2004). O

sítio de ligação a metal presente na estrutura monomérica situa-se nas proximidades do CRD e

a ligação aos íons favorecem interações que auxiliam na estabilização do sítio de ligação a

carboidratos (LORIS et al., 2004). Quatro aminoácidos, principalmente através de suas cadeias

laterais, e duas moléculas de água coordenam cada íon metálico. O Ca2+ é coordenado pelos

resíduos Asp131, Phe133, Asn139 e Asp142. O íon Mn2+ é coordenado pelos resíduos Glu129, Asp131,

Asp142 e His147. A representação do sítio de ligação a metais de CTL está ilustrado na figura

18.

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Figura 18. Sítio de ligação à metais de CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. Representação do sítio de ligação com mapa de densidade eletrônica diferencial

(mFo-dFc) contornada à 3σ para Ca2+ e Mn2+ em A) forma monoclínica, B) forma tetragonal.

Analisando o metil-dimanosídeo complexado no domínio de reconhecimento a

carboidrato (CRD) de CTL, a ligação entre eles foi estabilizada por uma rede de ligações de

hidrogênio conectando os aminoácidos Gly107, Ser138, Asn139, Gly221 Glu222 e Gln223 aos átomos

de oxigênio O1’, O2’, O3’, O4’, O5’ e O6’ do metil-dimanosídeo. A interação também é

estabilizada por interações de Van der Waals com o subsítio hidrofóbico, envolvendo os

resíduos Ala86, Asp87, Gly107, Phe133, Ser138, Gly221 e Gln223. A representação do domínio de

reconhecimento a carboidratos de CTL está ilustrado na figura 19. A tabela 3 descreve todas as

interações entre CTL e metil-dimanosídeo.

Figura 19. Sítio de ligação a carboidratos de CTL interagindo com metil-dimanosídeo.

Fonte: Elaborado pelo autor. Sítio de ligação à carboidratos interagindo com metil-dimanosídeo com representação

do mapa de omissão 2mFo-dFc de 1σ contornando MDM. Traços azuis representam os contatos polares. A) Forma

monoclínica, B) Forma tetragonal.

A estabilização da estrutura cristalina na presença de um ligante já foi previamente

demonstrada em outras lectinas da tribo Dalbergieae, como PELa (BENEVIDES et al., 2012)

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e PAL (LORIS et al., 2004), bem como em lectinas da tribo Phaseoleae como CRLI (ROCHA

et al., 2015), DVL (BEZERRA et al., 2013) e CGL (BARROSO-NETO et al., 2014).

Tabela 3. Interações entre CTL e metil-dimanosídeo.

Aminoácido Metil-Dimanosídeo Forma Monoclínica (Å) Forma Tetragonal (Å)

Van der Waals

Gln223 CD C7’ 3,46 ̶

Gln223 OE1 C7’ 3,06 ̶

Gln223 NE2 C7’ 3,19 ̶

Gln223 NE2 C6 3,45 ̶

Phe133 CZ O2’ 3,43 3,25

Phe133 CD1 O4 3,30 3,44

Phe133 CE1 O4 3,41 ̶

Phe133 CE1 O2’ ̶ 3,45

Ser138 CB O2’ 3,22 ̶

Ser138 CB O3’ ̶ 3,48

Ala86 CB O6 3,45 ̶

Gly221 CA O6 3,33 3,28

Gly 221 C O6 3,43 3,44

Asp87 OD1 C4 3,42 3,45

Asp87 CG O4 ̶ 3,46

Gly107 N C4 3,47 3,50

Gly106 CA O3 ̶ 3,48

Ligações de Hidrogênio

Asp87 OD1 O4 ̶ 2,58

Asp87 OD2 O6 ̶ 2,73

Gln223 NE2 O1’ 3,05 ̶

Ser138 OG O2’ 2,85 2,86

Ser138 OG O3’ ̶ 3,35

Glu222 N O5 2,94 3,00

Gly221 N O6 3,16 3,20

Gln223 O O6 3,17 3,39

Gln223 N O6 2,98 3,08

Glu222 N O6 3,16 3,11

Asn139 ND2 O4 2,71 ̶

Asn139 OD1 O4 ̶ 2,89

Gly107 N O4 3,24 3,24

Gly107 N O3 2,69 2,68

Fonte: Elaborado pelo autor.

Comparando a estrutura tridimensional de CTL com as outras duas lectinas da tribo

Dalbergieae manose/glicose específicas que já tiveram suas estruturas resolvidas até o presente

momento, PELa e PAL, é possível notar algumas semelhanças importantes. Sharma e Surolia

(1997) descreveram que o sítio de ligação a carboidrato das lectinas de leguminosas consiste

em resíduos pertencentes a até cinco loops de cadeias polipeptídicas, nomeadas de A a E, as

quais variam em diferentes graus entre as lectinas com diferentes especificidades (Figura 12).

Os loops A e B, em geral, contêm um resíduo Asp essencial (invariavelmente

precedido por uma ligação cis-peptídica) e um grupo -NH suporte (usualmente de um resíduo

Gly), respectivamente. Em CTL, foi possível identificar o resíduo Asp87 no loop A e a Gly107

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no loop B, concordando com essa arquitetura, típica do reconhecimento a manose. O mesmo

padrão foi encontrado em PELa e PAL.

O loop C é a de ligação a metal, que envolve os íons cálcio e manganês

estruturalmente importantes. Em estruturas cristalinas conhecidas, cinco diferentes tamanhos

de loop (12-16 resíduos) adotando oito diferentes conformações são observadas (LORIS et al.,

2004). Não existe uma relação simples entre tipo de especificidade a monossacarídeos e o

tamanho e conformação do loop C. Em CTL, esse loop tem o comprimento de 16 resíduos,

similar em comprimento e conformação à PELa e PAL. Cadeias laterais específicas nesse loop

influenciam na natureza do açúcar que pode ser acomodado no sítio de ligação (LORIS et al.,

2004). Entre os resíduos descritos no sítio de ligação a de CTL, encontram-se nesse loop os

resíduos Phe133, Asn139 e Asp142, participantes do sítio de ligação a metal. Ao mesmo tempo,

também encontramos os resíduos Ser138 e Asn139 participando do sítio de ligação ao metil-

dimanosídeo.

Em contraste aos loops A-C, o D não interage diretamente com o íon cálcio

estrutural. Em sua grande variabilidade de comprimento, conformação e sequência, é referido

comumente como o loop determinante da especificidade ao monossacarídeo, assim como do

oligossacarídeo (LORIS et al., 1998). Em CTL, a conformação adotada por esse loop de 9

resíduos é idêntica àquelas encontrados em estruturas de lectinas manose/glicose específicas da

tribo Dalbergieae como PELa e PAL (BENEVIDES et al., 2012; LORIS et al., 2004), bem

como na subtribo Diocleinae, como por exemplo a lectina de Canavalia brasiliensis (SANZ-

APARICIO et al., 1997) e Dioclea guianensis (WAH et al., 2001). Em CTL, nesse loop

encontramos os resíduos Gly221, Glu222 e Gln223, participantes do sitio de ligação ao

dimanosídeo.

Finalmente, e em poucos casos, o loop E é encontrado interagindo com o

carboidrato ligado, geralmente entre oligossacarídeos e lectinas, agindo como um subsítio,

como em PAL em complexo com Man(α1-2)Man (LORIS et al., 2004). Em CTL, esse loop não

se encontra envolvida na ligação ao dimanosídeo. Na lectina PELA, esse loop também não está

envolvido no sítio de ligação.

5.4.4 Comparação entre as formas monoclínica e tetragonal de CTL

Como descrito anteriormente, a difração de raios X da lectina de C. tomentosum

gerou dois grupos de dados de difração: um pertencente ao grupo espacial monoclonal e um

pertencente ao grupo espacial tetragonal. Ambas as estruturas tridimensionais correspondentes

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foram resolvidas e suas coordenadas depositadas no Protein Data Bank (PDB) nos códigos

5EYX e 5EYY. Com relação à sua estrutura geral não há diferenças marcantes entre as

estruturas.

As estruturas diferem em apenas 1 aminoácido na extremidade C-terminal, Thr241,

presente na forma monoclínica e ausente na tetragonal. Essas diferenças podem se relacionar à

qualidade do mapa de densidade eletrônica gerada por cada difração. No entanto, quando

analisados os sítios de ligação à metal, à carboidrato, N-glicosilação, as estruturas são idênticas,

diferindo apenas pelo fato da mobilidade natural da molécula durante seu processo de

cristalização. Os aminoácidos que coordenam o sítio de ligação a carboidratos são os mesmos

em ambas as estruturas, da mesma forma que os aminoácidos que coordenam o sítio de ligação

a metais. Na figura 20 está ilustrado a sobreposição do sítio de ligação à carboidratos das duas

formas. Logo em seguida, a figura 21 apresenta a sobreposição dos monômeros de ambas as

formas da estrutura tridimensional de CTL.

Figura 20. Sobreposição do sítio de ligação a carboidratos das formas monoclínica e tetragonal de CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. Representação da interação do metil-dimanosídeo no sítio de ligação a carboidratos

das estruturas monoclínica e tetragonal de CTL. Os resíduos de aminoácidos da forma monoclínica estão ilustrados

em azul, os resíduos da forma tetragonal em violeta. As moléculas de metil-dimanosídeo estão ilustradas em

amarelo e verde.

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Figura 21. Sobreposição dos monômeros das formas monoclínica e tetragonal de CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. A: Representação em cartoon das formas monoclínica (vermelho) e tetragonal

(verde) de CTL. B: Representações em superfície da forma monoclínica (vermelho) e tetragonal (verde) de CTL.

5.4.5 Docking molecular

A fim de analisar as interações entre CTL e diferentes manosídeos, foram testadas

algumas interações por docking molecular com sua estrutura cristalográfica resolvida (forma

tetragonal). Os testes mostraram que, entre os açúcares que interagiram com a lectina, CTL se

ligou mais fortemente ao trimanosídeo Man(α1-3)Man(α1-6)Man com um escore de -63,11

(Figura 22), seguido pelo dimanosídeo Man(α1-6)Man com escore de -54,34 e por outro

dimanosídeo Man(α1-2)Man com escore -54,32.

Resultados anteriores demonstraram a forte ligação das lectinas de Pterocarpus

angolensis e Platypodium elegans à trimanosídeos (LORIS et al., 2004; BENEVIDES et al.,

2012). A superposição de da estrutura cristalográfica CTL com as estruturas de PEla (código

PDB: 3ZVX) e PAL (código PDB: 1Q8V) complexados com trimanosídeos demonstraram uma

notável semelhança em seu modo de ligação, especialmente nas duas primeiras moléculas de

manose, como visualizado na figura 22. A terceira manose apresentou um alto nível de

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variabilidade nas três estruturas, provavelmente devido ao menor número de interações com as

cadeias laterais de aminoácidos CRD.

Figura 22. Sobreposição de entre as estruturas de CTL, PELa e PAL complexadas com trimanosídeos.

Fonte: Elaborado pelo autor. Representação da sobreposição da estrutura de CTL complexada com o trimanosídeo

Man(α1-3)Man(α1-6)Man com as estruturas das lectinas de Platypodium elegans (PELa) e Pterocarpus angolensis

(PAL) complexadas com o mesmo ligante (trimanosídeo com carbonos amarelos: CTL; carbonos azuis: PELa;

carbonos laranja: PAL).

Trimanosídeos compõem o núcleo dos N-glicanos das células. Geralmente, glicanos

específicos estão relacionados a diferentes processos celulares (ROCHA et al., 2011). Baseado

nisso, a hipótese que o domínio lectínico e gliconjugados contendo resíduos relacionados com

manosídeos podem contribuir para atividades especiíficas, como o efeito inflamatório de CTL

(descrito posteriormente). Os N-glicanos de compostos manosídeos e os glicanos complexos de

manose estão envolvidos no reconhecimento molecular de células (MITOMA et al., 2007).

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CAPÍTULO IV:

AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES

INFLAMATÓRIAS, VASORELAXANTES E

AVALIAÇÃO DA CITOTOXICIDADE EM

CÉLULAS TUMORAIS

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6 CAPÍTULO IV: AVALIAÇÃO DO ATIVIDADES INFLAMATÓRIAS,

VASORELAXANTES E DA CITOTOXICIDADE EM CÉLULAS TUMORAIS

6.1 Modelo de edema de pata

Ratos Wistar fêmeas (150-200 g) foram criadas e mantidas (n = 6 por gaiola) em

salas com um ciclo controlado luz/escuro 12/12 h a 25 °C com comida e água ad libitum. Os

protocolos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética Institucional da Universidade

Estadual do Ceará para uso de animais (CEUA nº 10130208-8/40).

O volume da pata foi medido imediatamente antes (tempo zero) da injeção por via

subcutânea (s.c.) de estímulos inflamatórios na pata traseira direita dos ratos (n = 30) e depois

no intervalo de tempo selecionado (0,5, 1, 2-7 e 24 h) através de hidropletismometro. Os

resultados foram calculados como a variação do volume da pata (mL) ou a área sob a curva do

curso-tempo (AUC, em unidades arbitrárias) em relação ao tempo zero (LANDUCCI et al.,

1995). CTL, testada aqui como estímulo inflamatório, foi solubilizada em solução salina estéril

(NaCl 0,15 M), filtrada e injetada na concentração de 30 a 300 µg/pata por injeção via

subcutânea (s.c.). Foi também investigado o envolvimento do domínio lectínico de CTL, a

lectina foi previamente incubada (60 minutos, 37 ºC) com seu açúcar específico, metil-

dimanosídeo (0,1 M) antes das injeções. CTL e o metil-dimanosídeo também foram incubados

em soluções separadas utilizando as mesmas condições, como controles.

6.2 Teste de contratilidade em aortas isoladas

Ratos Wistar machos (250-300 g) foram criados e mantidos (n = 6 por gaiola) em

salas com um ciclo controlado luz/escuro 12/12 h a 25 °C com comida e água ad libitum. Os

protocolos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética Institucional da Universidade

Estadual do Ceará para uso de animais (CEUA nº 10130208-8/40).

Após o sacrifício dos animais por concussão cerebral, a aorta torácica foi

rapidamente removida e limpa e os segmentos em anel (3-5 mm) foram preparados para a

gravação da tensão (2 g) em banhos para órgãos de 10 ml preenchidos com solução de Tyrode

modificada (NaCl 136 mM, KCl 5 mM, MgCl2 0,98 mM, 2 CaCl2 mM, NaH2PO4 0,36 mM,

NaHCO3 11,9 mM) e 5,5 mM de glucose, pH 7,4 (a 37 °C, 95 % de O2 e 5 % de CO2). Em todos

experimentos a aorta foi testada com KCl (60 mM) após 45 minutos de equilíbrio para assegurar

a viabilidade do tecido. A resposta contrátil foi medida usando um transdutor de força ligado a

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um pré-amplificador e um sistema de aquisição de dados computadorizado (Powerlab, AD

Instruments). O software Chart® (versão 4.1) foi utilizado para análise de dados.

Para avaliar o efeito relaxante de CTL, foram realizadas curvas de concentração

cumulativa de lectina (1-100 µg/ml) em um platô de concentração induzido pela fenilefrina

(Phe, 0,1 µM) em segmentos de aorta com endotélio intacto ou desnudo. Aorta de controle

recebeu o mesmo volume de Tyrode. A remoção do endotélio foi realizada por meio de fricção

mecânica da superfície da íntima da aorta. O endotélio intacto foi considerado para respostas

relaxantes a acetilcolina (ACh, 1 µM) 75% maior que induzido por Phe (FURCHGOTT;

ZAWADZKI, 1980).

6.3 Análise estatística

Os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média (EPM) e as

diferenças estatísticas entre os grupos foram obtidas através da análise de variância (ANOVA),

seguida de teste de Bonferroni. Valores de p < 0,05 foram considerados significantes.

6.4 Avaliação da Citotoxicidade em Células Tumorais

Para avaliação da citotoxicidade em células tumorais, o método utilizado foi o

ensaio colorimétrico com sal de tetrazólio, MTT (3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-

difeniltetrazólio), proposto por Mosmann (1983).

Para a realização do ensaio, suspensão células C6 (linhagem celular de glioma de

rato), com concentração de 50.000 células/mL, obtidas após dissociação química por tripsina,

foram distribuídas em placas de 96 cavidades (100μL/cavidade). As placas foram incubadas

por 24 h, a 37 ºC, em estufa de 5% de CO2 até a confluência. Após 24 h, os poços foram tratados,

em diferentes concentrações da lectina (10, 30, 50 e 100 µg/mL). Decorridas as 24 h de

incubação com a lectina, o meio de cada cavidade foi substituído por 100 μL de uma solução

de MTT a 0,5 mg/mL, diluído em solução salina balanceada de Hank, HBSS (137 mM de NaCl,

0,63 mM de Na2HPO4, 4,17 mM de NaHCO3, 5,36 mM de KCl, 0,44 mM de KH2PO4, 1,26

mM de CaCl2, 0,41 mM de MgSO4, 0,49 mM de MgCl2 e 5,55 mM de glicose).

As placas foram incubadas por 1 h em estufa a 37°C. Em seguida, o meio contendo

MTT foi retirado e se adicionou 100 μL de DMSO/cavidade para dissolução dos cristais de

formazan. A placa foi agitada por 5 minutos à temperatura ambiente para que toda o formazan

fosse dissolvido e a absorbância foi medida em espectrofotômetro (Labsystems Multiskan MS

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352, Haverhill, MA, USA) a 540 nm. Os valores de absorbância, medidos para cada

concentração de cada amostra, foram transformados em porcentagens de viabilidade celular

(%) em relação à média dos controles celulares, considerados 100% viáveis.

6.4.1 Análise estatística

Os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média (EPM) e as

diferenças estatísticas entre os grupos foram obtidas através da análise de variância (ANOVA),

seguida de teste de Bonferroni. Valores de p < 0,05 foram considerados significantes.

6.5 Resultados e Discussão

6.5.1 Atividade inflamatória de CTL

A injeção subcutânea intraplantar de CTL nos ratos foi hábil em produzir edema

apenas a 300 µg/pata, atingindo seu pico de atividade a 120 minutos (0,6 ± 0,06 mL × 0,13 ±

0,06 mL), mantendo-se significativa até 300 minutos (Figura 24A). O aumento do volume da

pata promovido por CTL (AUC: 85 ± 9,93) foi aproximadamente 67% maior em comparação

com os animais injetados com o controle de solução salina (AUC: 28 ± 9,04) (Figura 24B).

Além disso, o efeito edematogênico de CTL (AUC: 56,25 ± 9,14) foi inibido em 66% pela

incubação prévia da lectina (300 µg/pata) com seu carboidrato específico: metil-dimanosídeo

(AUC: 18,9 ± 4,07). O carboidrato injetado sozinho não promoveu edema (Figura 24C).

Edema, um sinal clínico importante da inflamação aguda, tem sido amplamente

investigado no modelo experimental de edema da pata induzido por carragenina em ratos. Neste

modelo, vários mediadores inflamatórios estão envolvidos, incluindo a serotonina, a histamina

e a bradicinina (CRUNKHORN; MEACOCK, 1971; FERREIRA et al., 1974) na sua fase

inicial (0-2h); e prostaglandina E2, o óxido nítrico (SAUTEBIN et al., 1995) e citocinas na fase

tardia (2-5h) (FERREIRA et al., 1974), quer localmente ou sistemicamente (VAZQUEZ et al.,

2015).

O tempo de edema de pata induzido por CTL (2-4 h) sugere a participação de

mediadores da fase tardia. Assim como CTL, outra lectina da tribo Dalbergieae, VML, também

demonstrou atividade pró-inflamatória. VML induziu o edema da pata (ALENCAR et al., 2004)

e a migração de neutrófilos mediada pela liberação de TNF-α por macrófagos (ALENCAR et

al., 2003; ALENCAR et al., 2007). É notório salientar que o efeito edematogênico de CTL foi

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inibido pela sua associação com seu açúcar específico, metil-dimanosídeo, sugerindo a

participação direta do domínio de reconhecimento a carboidrato no efeito edematogênico

encontrado. A atividade inflamatória de VML também demonstrou ser dependente do domínio

lectínico. Com base na seletividade demonstrada por CTL em exibir um curso temporal curto

de edema (2-4 h), CTL pode ser posteriormente investigado como uma nova ferramenta em

estudos de inflamação.

Figura 23. Indução de edema da pata por CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. Os ratos foram injetados s.c. com solucao salina, CTL (30, 300 µg/pata), metil-

dimanosídeo (0.1 M) ou CTL (300 µg/pata) + metil-dimanosídeo (após incubação por 1h, a 37 °C). O edema foi

medido antes (tempo zero) e a 0.5, 1, 2-7 e 24 h após a injeção e expresso como a média ± S.E.M. (n=6) da

diferença do volume da pata (mL) (A) área sob a curva do curso-tempo (AUC, em unidades arbitrárias) em relação

ao tempo zero (B, C). * p<0.05 em comparação com a solução salina.

6.5.2 Avaliação do efeito relaxante de CTL

CTL (2,4% ± 2,7) não foi hábil a promover o relaxamento ou contração em anéis

de aorta à 1 e 100 µg/ml, após 40 minutos de estabilização comparado com o grupo controle

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(TN; 4,7 ± 5,2%) (Figura 25A). Em aortas pré-contraídas com fenilefrina (96,3% ± 5,2), a

adição cumulativa de CTL (107,7 ± 11,7%) não promoveu efeito relaxante em nenhuma das

doses testadas (Figura 25B).

Figura 24. Avaliação do efeito vasorelaxante de CTL.

Fonte: Elaborado pelo autor. A: CTL (1-100 µg/mL) não apresentou efeito sobre o tônus basal de aortas isoladas

de ratos. B: CTL não apresentou efeito relaxante em aortas pré-contraídas com fenilefrina (Phe). TN: solução de

Tyrode.

Os resultados demonstraram pela primeira vez a ausência de efeito relaxante de uma

lectina pertencente a tribo Dalbergieae sobre aortas isoladas de ratos. No entanto, lectinas que

possuem alta similaridade de estruturas, primária e terciária, e mesma especificidade a

carboidratos com CTL, tais como PAL, PFL e PELa (BENEVIDES et al, 2012; LORIS et al,

2004; PEREIRA- JUNIOR et al, 2012), não tiveram até o presente momentos seus efeitos

vasoativos avaliados in vitro.

Carboidratos localizados na superfície celular contribuem para a maioria das

interações entre as células e o ambiente externo. A lectina de sementes de Vatairea guianensis

(VGL), também pertencente a tribo Dalbergieae, porém com especificidade por galactosídeos,

apresentou o primeiro relato de atividade vasorelaxante em aortas isoladas de ratos (Silva et al.,

2012). No entanto, a ausência de atividade vasorelaxante em CTL não pode ser devido à sua

diferente especificidade em relação à VGL, pois outras lectinas glicose/manose específicas de

leguminosas já apresentaram efeito relaxante, como as lectinas de Dioclea sclerocarpa (DSL),

Canavalia grandiflora (CGL) e Canavalia virosa (CVL) (BARROSO-NETO et al., 2016;

BARROSO-NETO et al., 2014; OSTERNE et al., 2014).

Fica evidenciado a reavaliação dos parâmetros dos testes de contratilidade em

aortas para avaliação do efeito vasorelaxante da lectina de C. tomentosum, ou a necessidade de

um novo modelo para a validação ou não do efeito de CTL.

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6.5.3 Avaliação da atividade citotóxica de CTL

A avaliação da atividade citotóxica de CTL em células tumorais utilizou o método

do MTT. Este é um teste amplamente utilizado para determinação da viabilidade de células

isoladas. No ensaio o MTT, um sal de tetrazólio solúvel em água, é convertido em cristais de

formazan de cor púrpura, insolúveis em água, após clivagem do anel de tetrazólio por

desidrogenases mitocondriais e outras enzimas lisossomais (LIU et al., 1997). Na verdade, o

MTT não interage diretamente com as desidrogenases e sim com os seus subprodutos, NADH

e NADPH (LIU et al., 1997). Os cristais de formazan são solubilizados, formando assim um

composto colorido cuja medição da densidade óptica é feita em espectrofotômetro.

A intensidade do produto colorido formado é diretamente proporcional ao número

de células viáveis presente na amostra, confirmando a capacidade redutora do sistema sobre o

MTT (LIU et al., 1997; HEINRICH et al, 2005). Outros estudos têm examinado a

correspondência entre os resultados obtidos durante contagem direta de células e confirmou-se

que a análise com MTT é um indicador válido do número de células viáveis (KIM et al., 2009).

Como resultado do ensaio, verificou-se que CTL não foi hábil em reduzir

significativamente a viabilidade celular dos gliomas de (Figura 26).

Figura 25. Ensaio de citotoxidade de CTL em células tumorais.

Fonte: Elaborado pelo autor. Gráfico de “Concentração × Viabilidade celular” de CTL. Média ± Média do erro

padrão (n = 3).

Estudos anteriores mostraram a capacidade de da lectina de Canavalia ensiformis

(ConA) de induzir morte autofágica de células de glioma na linhagem de células de glioma

humano U87. Foi mostrado que essa atividade se deve a regulação da proteína MT1-MMP

(proteína de membrana – metaloproteinase tipo 1), uma glicoproteína fortemente expressa em

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gliobastomas radio- e quimioresistentes. Essa proteína é responsável por mediar a sinalização

pró-apoptótica e autofágica em células de câncer do cérebro. A lectina foi capaz de induzir a

atividade da proteína com consequente aumento de vacúolos ácidos característicos de processos

autofágicos (BELKAID et al., 2007; GINGER et al., 2000; PRATT; ROY; ANNABI, 2012).

Outros trabalhos também demonstraram que as lectinas de Canavalia ensiformis,

Canavalia brasiliensis e Cratylia floribunda foram citotóxicas, inibindo tanto a viabilidade

quanto a proliferação celular de diferentes linhagens tumorais murina (J774) e humanas (MCF-

7, HL-60 e MOLT-4) (FAHEINA-MARTINS, 2009; FAHEINA-MARTINS et al., 2012). Foi

possível observar no trabalho que houve uma variação na ação das lectinas em cada linhagem,

Sendo ConA, mais tóxica sobre as linhagens, pelo fato desta encontrar-se completamente

tetramérica em pH fisiológico, conseguindo exercer um efeito mais pronunciado que ConBr e

CFL, que se apresentam numa mistura de dímeros e tetrâmeros em pH fisiológico (SANS-

APARÍCIO et al., 1997; CALVETE et al., 1999).

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7 CONCLUSÃO

Os resultados apresentados neste trabalho de tese forneceram dados importantes

sobre a caracterização estrutural e bioquímica da lectina de sementes da espécie pertencente a

tribo Dalbergieae, Centrolobium tomentosum. A lectina demonstrou alta similaridade de

estrutura primária com outras lectinas de sua tribo. Além disso, os resultados sobre sua

sequência corroboraram a possibilidade da existência de dois grupos na tribo Dalbergieae,

apresentando especificidade a carboidratos, sítios de glicosilações e, principalmente,

processamentos pós-traducionais diferentes.

A partir de dados de cristalografia de raios X foram obtidas duas estruturas de CTL,

uma de forma monoclínica e a outra tetragonal, sendo elucidados dados importantes sobre suas

interações proteína-ligante. Esses foram aprofundados com o estudo de Docking molecular. A

lectina xibiu forte afinidade para manosídeos, sendo essa característica demonstrada tanto por

co-cristalização, como por Docking molecular.

De posse desses resultados, a lectina pode ser utilizada para reconhecer glicanos

específicos envolvidos eventos biológicos, tanto para entendimento do evento, quanto para

aplicação biotecnológica. Um bom exemplo disso foi a indução do efeito edematogênico

demonstrado por CTL no modelo de edema da pata, mostrando uma resposta inflamatória

aguda, com a participação de seu domínio de reconhecimento a carboidratos. A elevada

afinidade por complexos de manose apresentada pela sua estrutura cristalográfica pode explicar

os resultados obtidos nos testes em modelos de inflamação.

Este estudo apresentou, pela primeira vez, a estrutura tridimensional de uma lectina

nativa, específica à manose, pertencente à tribo Dalbergieae.

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