185
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Alexander Homenko Neto Gestão estratégica na indústria criativa brasileira: heterogeneidade de desempenho nas coproduções internacionais de filmes de longa-metragem Doutorado em Administração São Paulo 2015

Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    3

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-SP

Alexander Homenko Neto

Gestão estratégica na indústria criativa brasileira: heterogeneidade de desempenho nas

coproduções internacionais de filmes de longa-metragem

Doutorado em Administração

São Paulo

2015

Page 2: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-SP

Alexander Homenko Neto

Gestão estratégica na indústria criativa brasileira: heterogeneidade de desempenho nas

coproduções internacionais de filmes de longa-metragem

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título

de Doutor em Administração sob a orientação

do Prof. Dr. Belmiro do Nascimento João.

São Paulo

2015

Page 3: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Banca Examinadora

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

Page 4: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Agradeço à CAPES/ PROSUP pela Bolsa de

Doutorado concedida para a realização desse

trabalho.

Page 5: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, Nancy e Mykola, por serem os pilares durante a minha trajetória até

este momento. Seu filho cresceu!

Agradeço imensamente a minha esposa Natalia, por sua paciência, inteligência,

companheirismo, contribuições, críticas, solidariedade, carinho, compreensão... Amo você!

Agradeço ao Bruno, nosso filho querido, que mesmo não entendendo por completo a situação,

me proporciou momentos genuínos de alegria. Espero que um dia você leia esta tese!

Agradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que

sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava você com conhecimento e acervo

incríveis. Valeu Chefe!

Tia Zilah! Sem você esta tese estaria imcopleta. Muito...muito obrigado! Créditos de

domingo!

Rodolfo, muito obrigado pelas contribuições teóricas e metodológicas! Quase sempre

acabavam em cerveja.

Maurício, obrigado pelas longas conversas! Juntando-as, virariam outra tese.

Obrigado, também, aos amigos Caio, Daniel, Enrico, Guilherme e Vinnícius! Vocês

contribuíram de alguma forma, ao menos no “café do bullying”.

Meu muito obrigado a todos os cineastas que contribuíram com esta pesquisa! Foi muito legal

conhece-los!

Se alguém se sentiu esquecido, obrigado!

Page 6: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

RESUMO

A interrelação das três perspectivas em estratégia - Estrutura-Concorrência-Desempenho, da

Visão-Baseada em Recursos e da Nova Economia Institucional - tem permeado os recentes

debates no campo da Gestão Estratégica por ter a seu favor um arcabouço teórico de escopo

mais amplo para analisar o desempenho das firmas. Esta pesquisa tem por objetivo articular as

três perspectivas em estratégia para explicar a heterogeneidade de desempenho, no mercado

externo, das coproduções cinematográficas internacionais brasileiras. Utiliza-se de métodos

quantitativo e qualitativo para coleta e análise dos dados. Na primeira etapa, adota-se o

método da Análise de Correspondência para um estudo exploratório a partir de dados

secundários que compreendem 96 coproduções. Segue-se com a seleção de empresas para o

estudo de casos múltiplos, nos quais a coleta de dados efetiva-se com entrevistas

semiestruturadas. Os achados sugerem que os principais direcionadores da heterogeneidade de

desempenho são: i) redes de relacionamento; ii) reputação; iii) ambiente regulativo; iv)

experiência; v) condições de demanda; e vi) ambiente normativo.

Palavras-chave: Gestão Estratégica; Estrutura-Concorrência-Desempenho; Visão-Baseada

em Recursos; Nova Economia Institucional; Heterogeneidade; Coprodução Cinematográfica

internacional

Título: Gestão estratégica na indústria criativa brasileira: heterogeneidade de desempenho

nas coproduções internacionais de filmes de longa-metragem

Autor: Alexander Homenko Neto

Page 7: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

ABSTRACT

The interrelation between the three strategy approaches- Structure-Conduct-Performance,

Resource- Based View and New Institutional Economics- has permeated recent debates in the

field of Strategic Management, as these approaches hold a broader theoretical scope to

analyze the firm performance. This research aims to join the three strategy perspectives to

explain the heterogeneity of performance of the Brazilian international film co-production in

the external market. In this light, the research applies the quantitative and qualitative method

to collect and analyze the data. The first stage of the research adopted the method of

Correspondence Analysis to conduct an exploratory study through the analysis of a secondary

data, involving 96 co-productions. The following stage selected the firms of the multiple case

studies examined through semi-structured interviews. The chief findings indicate that the

main drivers of performance heterogeneity are: i) network; ii) reputation; iii) regulatory

environment; iv) know-how; v) demand conditions; and vi) normative environment

Key-words: Strategic Management; Structure-Conduct-Performance; Resource- Based

View; New Institutional Economics; Heterogeneity; International Film Co-production

Title: Strategic management in the Brazilian creative industry: heterogeneity performance in

the international co-production of feature films

Author: Alexander Homenko Neto

Page 8: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ 9

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. 10

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................ 11

LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ 12

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13

1. INDÚSTRIA CRIATIVA................................................................................................. 18 1.1 Breve contexto e principais definições ........................................................................... 18 1.2 Sistemas internacionais de classificação ........................................................................ 26

2. INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA ............................................................................. 35 2.1 Indústria cinematográfica como diversidade cultural ..................................................... 35

2.2 Cadeia de valor da indústria cinematográfica ................................................................. 40 2.3 Globalização da indústria cinematográfica ..................................................................... 48 2.4 Breve histórico da indústria cinematográfica nacional ................................................... 56

3. COPRODUÇÃO INTERNACIONAL ............................................................................. 61 3.1 Breve histórico e principais definições ........................................................................... 61

3.2 Panorama da coprodução internacional no Brasil .......................................................... 68

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 74 4.1 Perspectiva da Estratégia-Concorrência-Desempenho ................................................... 74 4.2 Perspectiva da Visão-Baseada em Recursos .................................................................. 86

4.3 Perspectiva da Nova Economia Institucional ................................................................. 95 4.4 Interrelação das perspectivas estratégicas .................................................................... 100

4.5 Estrutura teórica da pesquisa ........................................................................................ 111

5. METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................................ 116 5.1 Design da pesquisa ....................................................................................................... 116 5.2 Etapa 1: Seleção das empresas ..................................................................................... 124

5.2.1 Fase 1: Selecionar a indústria e gerar dados de desempenho .............................. 124 5.2.2 Fase 2: Criar grupos estratégicos de firmas ......................................................... 126

5.2.3 Fase 3: Comparar os indicadores de desempenho entre os grupos estratégicos . 131 5.2.4 Fase 4: Identificar as firmas com melhores e piores desempenhos entre cada grupo

estratégico ...................................................................................................................... 132 5.2.5 Análise de Correspondência: Validação dos Dados Secundários ........................ 136

5.3 Etapa 2: Pesquisa de Campo ......................................................................................... 145 5.4 Etapa 3: Análise dos Dados - Codificação ................................................................... 149

6. DISCUSSÃO DE RESULTADOS ................................................................................. 151

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 157

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 159

ANEXO A – RELAÇÃO DAS COPRODUÇÕES INTERNACIONAIS BRASILEIRAS .. 177

ANEXO B - ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA ENTREVISTAS ................................... 179

ANEXO C - TERMOS DE CONSENTIMENTO .................................................................. 181

Page 9: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Lista de Figuras

Figura 1: Formas Articuladas de Criatividade .......................................................................... 19

Figura 2: Modelo dos “5 C’s”................................................................................................... 20

Figura 3: Modelo de Círculos Concêntricos ............................................................................. 30

Figura 4: Dimensões para captura da “diversidade” na Indústria Cinematográfica ................. 36

Figura 5: Cadeia de Valor Cinematográfica ............................................................................. 41

Figura 6: Principais Participantes da Indústria Cinematográfica ............................................. 44

Figura 7: Aspectos da Globalização na Indústria Cinematográfica ......................................... 49

Figura 8: Trajetória Histórica da Indústria Cinematográfica Brasileira – 1924 a 1990 ........... 58

Figura 9: As Cinco Forças Competitivas que Dirigem a Concorrência ................................... 75

Figura 10: Formas Institucionais – Tipologia .......................................................................... 97

Figura 11: Determinantes no Processo de Vantagem Competitiva Sustentável ..................... 103

Figura 12: Tripé da Estratégia: três principais perspectivas ................................................... 105

Figura 13: Proposições Baseadas no Tripé da Estratégia ....................................................... 106

Figura 14: Ativos Estratégicos vs Desempenho do Filme ...................................................... 108

Figura 15: Estrutura Teórica da Pesquisa ............................................................................... 113

Figura 16: Design da Pesquisa ............................................................................................... 117

Figura 17: Grupos Estratégicos de Empresas Produtoras ....................................................... 130

Figura 18: Mapas Perceptuais ................................................................................................ 138

Figura 19: Codificação dos dados .......................................................................................... 149

Page 10: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Lista de Tabelas

Tabela 1 Situação Patrimonial: Acordos Bilaterais de Coprodução Internacional .................. 69

Tabela 2: Total de Coprodução por Parceria - 2005 a 2014 ..................................................... 71

Tabela 3: Bandas de Sucesso - público/admissões em salas de cinema ................................... 72

Tabela 4: Número de Filmes por Banda de Sucesso - Brasil versus Europa ........................... 73

Tabela 5: Participação das Admissões na Europa .................................................................. 125

Tabela 6: Variáveis de Desempenho ...................................................................................... 126

Tabela 7: Experiência em Coproduções vs. Variáveis de Desempenho - público/admissões 128

Tabela 8: Comparação dos Indicadores por Grupos Estratégicos .......................................... 131

Tabela 9: Desempenho por Empresa Produtora entre cada Grupo Estratégico ...................... 132

Tabela 10: GE1 - Desempenho das Empresas Produtoras por filme ...................................... 133

Tabela 11: GE2 – Desempenho das Empresas Produtoras por Filme .................................... 134

Tabela 12: GE3 - Desempenho das Empresas Produtoras por Filme ..................................... 135

Tabela 13: Dados Secundários – Teste Qui-quadrado............................................................ 136

Tabela 14: Situação Patrimonial vs. Desempenho................................................................. 142

Tabela 15: País/região do diretor vs. Desempenho................................................................. 143

Tabela 16: Empresas Entrevistadas ........................................................................................ 148

Page 11: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Lista de Gráficos

Gráfico 1: Participação da Produção Nacional nas Admissões Totais – 2009 a 2014 ............ 38

Gráfico 2: Participação das Majors na Distribuição no Brasil ................................................. 43

Gráfico 3: Participação Global – Os Dez Principais Produtores Cinematográficos em 2011 .. 48

Gráfico 4: Crescimento da Produção Cinematográfica Acumulada - 2005 a 2011.................. 50

Gráfico 5: Evolução da Produção Cinematográfica Brasileira – 2005 a 2014 ......................... 56

Gráfico 6: Comparação por Decênio ........................................................................................ 57

Gráfico 7: Participação das Coproduções Internacionais - 2005 a 2014 .................................. 68

Gráfico 8: Situação Patrimonial - participação 2005 a 2014 .................................................... 70

Gráfico 9: Ciclo de Vida da Visão-Baseada em Recursos – de 1959 a 2010 ........................... 92

Page 12: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

Lista de Quadros

Quadro 1: Sistemas de Classificação da Indústria Criativa ...................................................... 28

Quadro 2: Sistema de Classificação da Indústria Criativa Brasileira ....................................... 33

Quadro 3: Principais Distribuidores na Cadeia de Valor ......................................................... 42

Quadro 4: Acordos Bilaterais de Coprodução Internacional .................................................... 64

Quadro 5: Países com Acordos ou Tratados Internacionais de Coprodução ............................ 66

Quadro 6: Modelo Genérico para Análise de Ramos e Oportunidades .................................... 81

Quadro 7: Premissas Básicas VBR vis-à-vis ECD ................................................................... 88

Quadro 8: O modelo VRIO ...................................................................................................... 90

Quadro 9: Os três Pilares Institucionais ................................................................................... 96

Quadro 10: Classificação por Variáveis de Desempenho - público/admissões...................... 127

Quadro 11: Resumo dos Achados da Pesquisa ....................................................................... 152

Page 13: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

13

INTRODUÇÃO

A Indústria Criativa envolve os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e

serviços que tem na criatividade e no capital intelectual seus insumos primários

(UNCTAD, 2010). O crescente interesse por este setor se deve, principalmente, pelas

possibilidades de geração de bem-estar, desenvolvimento e inovação (POTTS e

CUNNINGHAN, 2008). Pode-se dizer que elas são fundamentais à dinâmica das

organizações contemporâneas e fazem parte dos principais debates e círculos políticos ao

redor do mundo (CAVES, 2000; THROSBY, 2008).

Esta importância também pode ser notada devido ao interesse que tem despertado

às pesquisas das mais diversas áreas do conhecimento, que vão da economia (CAVES,

2000; RIFKIN, 2000; MEZIAS; KUPERMAN, 2001; THROSBY, 2008; HOWKINS

2007); passam pela geografia (PRATT, 1997; SCOTT, 2000, 2004, 2005, 2010; COE,

2000; FLORIDA, 2011) e Sociologia (GRISWOLD, 1987; ZUKIN, 1995; STEVENSON,

2003) até chegarem na Comunicação e Mídia (FLEW, 2011; HESMONDHALGH, 2013).

A Indústria Criativa chama a atenção também pelo seu desempenho econômico no

comércio internacional. Enquanto as exportações mundiais caíram 12% durante a última

crise financeira internacional, em meados da primeira década deste século, a Indútria

Criativa manteve um crescimento de 14% ao ano, entre o período de 2002 a 2008. No

Brasil as exportações totalizaram US$ 1,2 bilhão, crescendo a uma média anual de 4,9%

neste mesmo período (UNCTAD, 2010).

Com relação às pesquisas sobre este tema no Brasil, Almeida, Teixeira e Luft

(2014) descrevem e analisam a produção científica nacional e internacional sobre o tema,

entre os anos de 2000 a 2013. As autoras encontram 56 artigos publicados em periódicos

nacionais qualificados, entre A1 e B3, e sugerem que “as publicações nacionais são mais

voltadas para a indústria cultural, tem como tema central a educação, a abordagem teórica

mais adotada é a Teoria Crítica e são, essencialemente, teóricos.” Já as publicações

internacionais contam com 35 artigos e, segundo as autoras “são direcionadas para a

indústria criativa, tem como tema central a gestão dessas indústrias, a abordagem teórica

Page 14: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

14

mais utilizada é a Teoria do Capital Criativo e são, em sua maioria, teórico-empíricos”

(ALMEIDA et al., 2014, p. 23).

Contando com os mesmos termos adotados no mapeamento realizado por Almeida

et al. (2014), além de acrescentar os termos “cinema” e “coprodução", foram realizadas

consultas em dois importantes repositórios eletrônicos da produção acadêmica nacional, a

Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL) e os anais do Encontro da Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD). Constata-se que a

pesquisa no Brasil a respeito deste tema encontra-se em estágio embrionário, com lacunas

tanto em relação ao objeto de estudo, quanto ao método de pesquisa e as abordagens

teóricas utilizadas.

Ressaltando as mencionadas lacunas, dos 43 artigos filtrados na SPELL, 17 deles

apresentam metodologia similar, estudo observacional com suporte na linguagem fílmica.

Este método é utilizado para discorrer sobre temas como terceirização, ética, assédio

moral, comportamento empreendedor, competências, gênero e relações no trabalho. Estes

artigos pouco se aproximam do tema proposto por esta tese.

Embora de forma introdutória e teórica, Bendassolli, Wood Jr., Kirschbaum e

Cunha (2009) lançam luz ao tema ao discutirem o surgimento do termo Indústria Criativa

no âmbito das políticas públicas de desenvolvimento econômico e apresentam as diferentes

definições conceituais terminológicas. Os autores também apontam sete futuras

implicações ao tema, dentre elas, estudos que avaliem aspectos variados de gestão, como

gestão de pessoas, formulação e realização da estratégia e modelos de gestão em

organizações criativas. Tais implicações alinham-se em partes com esta tese.

Em linha com as lacunas sugeridas por Bendassolli et al. (2009), Gatti Jr.,

Gonçalves e Barbosa (2014) investigam a produção nacional para TV de filmes de

animação, na qual revela uma convergência entre fatores internos e externos como fontes

de vantagem competitiva às produtoras nacionais, enquanto Uchoa e Dias (2013) analisam

o cluster cinematográfico de Paulínia, em São Paulo. Já Guerra e Paiva Jr. (2011)

procuram compreender a ação empreendedora na produção cinematográfica do Estado de

Pernambuco e Bendassolli e Wood Jr. (2010) discutem os paradoxos na carreira dos

Page 15: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

15

trabalhadores da Indústria Criativa. Vale mencionar a pesquisa de Carvalho e Fischer

(2000) que descreve a formação de aliança estratégica entre uma empresa internacional e

outra nacional na distribuição e exibição de filmes no Brasil.

Na consulta às bases eletrônicas do EnANPAD, apenas três, dos 24 atigos filtrados,

aproxima-se do tema delimitado nesta tese. No mais recente deles, vinculado ao

EnANPAD de 2014, Azevedo e Souza (2014) abordam a internacionalização das empresas

criativas do segmento de Jogos Digitais e o papel do empreendedor internacional. Já no

segundo, apresentado no EnANPAD de 2013, Silva, Lopes e Muniz (2013) constatam a

importância do empreendedor nas alianças estratégicas e na competitividade da indústria

cinematográfica em âmbito nacional. Enquanto Araújo e Chauvel (2008), EnANPAD

2008, descrevem e analisam o apoio e a distribuição do filme francês no mercado

brasileiro.

Tanto no recente mapeamento sobre Economia Criativa de Alemida et al. (2014),

quanto nas consultas às bases eletrônicas da SPELL e do EnANPAD, ambos acessados em

setetembro/2015, não foram encontrados trabalhos que abordassem o tema acerca da

coprodução internacional na indústria cinematográfica brasileira.

Segundo Stein (2015), as coproduções internacionais são importantes para o

crescimento da indústria cinematográfica brasileira, pois geram propriedade intelectual,

trabalho, renda, cultura e ativos tangíveis e intangíveis. Para a autora, este regime de

produção enfrenta muitos desafios que envolvem tanto as empresas produtoras quando as

instituições reguladoras. Conforme afirma Eduardo Valente, assessor internacional da

ANCINE, “a coprodução deve ser entendida como elemento central para uma política de

internacionalização do audiovisual brasileiro”. Valente ainda destaca a atual fase brasileira

da coprodução, “o crescimento da coprodução internacional é resultado de uma

combinação entre uma maior abertura dos produtores brasileiros e uma política pública de

estímulo a essas parcerias” (REVISTA DE CINEMA, 2015, p. 39).

As coproduções internacionais representaram 11,2% do total da produção da

indústria nacional, entre os anos de 2004 a 2015. Além de terem sido produzidos 96 filmes

com 23 países, neste mesmo período (ANCINE, 2014). Vale ressaltar que o Brasil possui

Page 16: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

16

dez acordos bilaterais de coprodução internacional, dois acordos multilaterais, além de seis

Protocolos de Cooperação entre a ANCINE e outras Instituições internacionais (ANCINE,

2015).

Uma vez delimitado o tema, esta tese se organiza da seguinte forma:

Problema da Pesquisa:

o Por que existe heterogeneidade de desempenho, no mercado externo,

das coproduções internacionais brasileiras de filmes de longa-

metragem?

Objetivo Geral:

o Explicar a heterogeneidade de desempenho, no mercado externo, das

coproduções internacionais brasileiras de filmes de longa-metragem.

Objetivos específicos:

o Analisar o panorama das coproduções internacionais brasileiras;

o Desenvolver estrutura articulada com as perspectivas da Estrutura-

Concorrência-Desempenho; Visão-Baseada em Recursos e Nova

Economia Institucional;

o Identificar os pricipais direcionadores estratégicos que promovem

heterogeneidade de desempenho.

A fundamentação teórica parte da proposta de Barney, Ketchen e Wright (2011)

para revitalização da Visão-Baseada em Recursos. Para estes autores os principais temas

para as futuras pesquisas são:

Interrelações com outras perspectivas;

Processos de aquisição e desenvolvimento de recursos;

Os micro-fundamentos da teoria;

Visão Baseada em Recursos e Sustentabilidade;

Questões sobre métodos de pesquisa e mensurações dos recursos.

Adota-se neste trabalho duas destas propostas: i) interrelações com outras

perspectivas; e ii) Questões sobre métodos de pesquisa.

Page 17: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

17

A interrelação entre as três perspectivas foi proposta inicialmente por Peng (2006),

contudo autores como Oliver (1997), já haviam sugerido a integação da Visão-Baseada em

Recursos à Nova Economia Institucional. Mais recentemente, Hadida (2013) propõe esta

mesma integração para estudar a indústria cinematográfica.

Com relação ao método, esta pesquisa se divide em três etapas:

Etapa 1: adapta-se a proposta para pesquisa em Visão-Baseada em Recursos

de Rouse e Daellenbach (2009) que resume-se em selecionar empresas em

grupos estratégicos para pesquisa de campo. Nesta etapa aplica-se-a o

método de Análise de Correspondência para validação e exploração dos

dados secundários.

Etapa 2: Pesquisa de campo com estudo de casos múltiplos (YIN, 2015).

Coleta de dados com entrevistas semi-estruturadas.

Etapa 3: Codificação e análise dos dados (YIN, 2015, STRAUSS e

CORBIN, 2008).

A estrutura desta tese compreende: Capítulo 1 introduz o conceito de Capital

Criativo, passando pelas principais definições sobre Indústria Criativa e por um breve

histórico do seu surgimento e relevância econômica. Na outra parte, apresenta os principais

sistemas de classificação da Indústria Criativa utilizados internacionalmente. Já o foco do

Capítulo 2 restringe-se a Indústria Cinematográfica, no qual introduz o debate sobre

diversidade cultural para, posteriormente, discorrer sobre a Cadeia de Valor, passando

pelas visões de globalização e finalizar com um histórico da indústria nacional. Enquanto o

Capítulo 3 expõe um histórico das coproduções internacionais e suas principais definições.

Além de discorrer sobre os principais países desta cena, para encerrar com o panorama das

coproduções internacionais brasileiras. Por sua vez, o Capítulo 4 apresenta a

fundamentação teórica começando pela perspectiva da Estratégia-Concorrência-

Desempenho, passando pela Visão-Baseada em Recursos, chegando à Nova Economia

Institucional. Este capítulo ainda conta com uma seção que discorre sobre a interrelação

entre as três perspectivas em estratégia, para finalizar apresentando a estrutura teórica desta

tese. A Metodologia da Pesquisa é apresentada no Capítulo 5 e, finalmente, o Capítulo 6

discute os resultados da pesquisa. Este trabalho ainda encerra com as Considerações Finais,

as Referências Bibliográficas e os Anexos.

Page 18: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

18

1. INDÚSTRIA CRIATIVA

Este capítulo tem como objetivo introduzir o tema Indústria Criativa. Em um

primeiro momento, discorre brevemente acerca do conceito de Capital Criativo. A seguir,

contextualiza a utilização dos principais termos adotados para este setor da indústria,

perpassando pelo seu surgimento, em meados dos anos de 1990, e sua importância

econômica. Por fim, apresenta e discute de forma abreviada os principais sistemas de

classificação utilizados internacionalmente.

1.1 Breve contexto e principais definições

A criatividade pode ser vista como um fenômeno social intrincado no qual sofre

significativa influência, em sua constituição e forma, das difusas relações sociais (SCOTT,

2010). Trata-se de um importante atributo do ser humano que envolve o processo contínuo

no qual ideias são geradas, conectadas e transformadas em objetos de valor (HUI, CHUN-

HUNG; MOK, 2005). Segundo Howkins (2007, p.7), “criatividade é a habilidade de gerar

algo novo. Isto significa a produção, por uma ou mais pessoas, de ideias e invenções

personalizadas, originais e significativas.” Conceitualmente, o termo criatividade precisa

ser distinguido de outros dois termos correlatos: aprendizagem e inovação. Aprendizagem

fornece importantes fundamentos informacionais e metodológicos à atividade criativa; já a

inovação, por sua vez, procede das visões e percepções criativas, contudo, possui foco nos

diversos domínios de sua aplicação prática (SCOTT, 2010). A criatividade tem sido objeto

de estudos nas áreas de Sociologia, Psicologia e Economia. As duas primeiras se ocupam

em entender as origens da mentalidade e das atividades criativas, nos âmbitos da arte,

cultura e negócios (COHEN, 1981; SCHANK; CHILDERS, 1988; BODEN, 2004). Já a

última preocupa-se com o fato de a criatividade ser um fator gerador de inovação e

empreendedorismo (SCHUMPETER, 1934; NELSON; WINTER, 1982; METCALFE,

1998). As diferentes características da criatividade nas mais variadas áreas da atividade

humana são apresentadas na Figura 1 (MITCHELL; INOUYE; BLUMENTHAL, 2003).

A “Criatividade Cultural” ou “Artística” implica imaginação e capacidade de

geração de ideias originais e diferentes formas de interpretação do meio em que vivemos,

podendo ser expressa nas formas textual e audiovisual. Enquanto a “Criatividade

Page 19: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

19

Econômica” envolve um dinâmico processo orientado à inovação, principalmente nas áreas

técnicas e de gestão, para obtenção de ganhos econômicos. Já a “Criatividade Científica”

compreende a curiosidade e o desejo de experimentar e estabelecer novas conexões

voltadas à resolução de novos problemas. Por fim, a “Criatividade Tecnológica” se

interrelaciona, em maior ou menor grau, com as três formas de criatividade destacadas

anteriormente. Independentemente da forma de interpretação atribuída à criatividade,

pode-se considerá-la um elemento-chave no âmbito da Indústria e da Economia Criativa

(CAVES, 2000; JEFFCUTT; PRATT, 2002; HOWKINS, 2007).

Criatividade Cultural

Criatividade Econômica

Criatividade Científica

Criatividade Tecnológica

Figura 1: Formas Articuladas de Criatividade

Fonte: KEA European Affairs (2006)

Adaptado pelo autor

Em função da característica multifacetada em que acontece as manifestações da

criatividade na sociedade, associada à importância de mensurar a relação, nem sempre

aparente, entre criatividade e desenvolvimento sócio-econômico, Hui, Chun-hung e Mok

(2005) propõem um modelo conhecido como “5 C’s”. Conforme demonstrado na Figura 2,

este modelo abrange quatro formas de capital que, acumulado seus efeitos, resultam no

quinto “C”, o “Capital Criativo”. Para Hui et al. (2005, p.8), “as atividades criativas geram

não apenas resultados econômicos, mas também resultados partilhados e transacionados

entre a população.” Os autores ainda sustentam que tão importante quanto o resultado

econômico das indústrias criativas per si é medir o dinamismo e a velocidade com que a

criatividade se manifesta em determinados lugares. Portanto, o modelo “5 C’s” avalia os

Page 20: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

20

seguintes indicadores da Indústria Criativa: i) contribuição econômica1; ii) dinamismo da

atividade inventiva; e iii) retornos “não econômicos” da criatividade.

Capital Cultural Capital Humano

Capital Social Capital Institucional

Manifestações de Criatividade

Figura 2: Modelo dos “5 C’s”

Fonte: Hui et al. (2005)

Adaptado pelo autor

O “Capital Cultural” engloba a quantidade de recursos públicos e privados

comprometidos com o desenvolvimento das artes e cultura e com as normas e valores

centrados na criatividade, além da estrutura educacional voltada às artes e a legislação de

proteção dos direitos de propriedade. Hui et al, (2005) defendem que um ambiente

propício à participação – utilização, frequência e intensidade, em atividades culturais

produz novas ideias e expressões, ou seja, gera criatividade em um sentido mais amplo.

Com relação ao “Capital Humano”, Hui et al. (2005) argumentam que uma alta

mobilidade favorece a troca cultural, a transferência de conhecimento e a geração de novas

ideias. Os autores sugerem um conjunto de indicadores, dentre eles: i) gastos do governo

com educação; ii) parcela da população com terceiro grau completo; e iii) parcela da

população transiente - imigrantes, vistos de trabalho para imigrantes e fluxo de chegadas e

partidas de residentes e imigrantes.

1 De acordo com Hui et al. (2005, p.9), a contribuição econômica da Indústria Criativa pode ser: “tamanho da

população que trabalha na Indústria Criativa, valor de troca dos bens e serviços, contribuição do comércio

eletrônico, capacidade inventiva dos negócios, atividade inovativa em termos de patentes, entre outros.”

Page 21: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

21

Já o “Capital Social”, dialoga com um dos “3 T’s”2 preconizados por Florida

(2011), a “tolerância”. Hui et al. (2011) discutem que o capital social, no que diz respeito à

confiança, reciprocidade, cooperação e redes de relacionamento, propicia o bem-estar

coletivo, a expressão social e o engajamento civil. Alguns indicadores utilizados pelos

autores no modelo são: i) confiança institucional; ii) aceitação à diversidade e inclusão; iii)

engajamento político; iv) atitudes em relação aos imigrantes e aos direitos humanos; entre

outros.

Por fim o “Capital Institucional”, ou “Capital Estrutural”, determina as condições

de utilização e distribuição das outras formas de capital. Dentre alguns indicadores no

modelo de Hui et al (2005) estão: i) sistema de leis; ii) corrupção; iii) liberdade de

expressão; iii) estrutura financeira; iv) empreendedorismo.

Diante deste contexto, torna-se evidente a importância do Capital Criativo e,

consequentemente, das indústrias criativas como sendo centrais à dinâmica das

organizações contemporâneas (CAVES, 2000). O termo Indústria Criativa (IC) coexiste

com diversos outros termos cognatos, incluindo indústrias culturais, indústrias de direitos

autorais, indústrias de conteúdo, indústrias de produtos culturais, indústrias criativas

culturais, economia cultural, economia criativa e até economia da experiência (FLEW,

2013). Esta distinção reflete diferentes posturas analíticas e ideológicas, entretanto, nota-se

um ponto em comum neste debate, a disseminada utilização dos vários termos nos círculos

de políticas culturais ao redor do mundo (ANHEIER, ISAR, 2008; THROSBY, 2008;

UNESCO-UIS, 2013a).

A multidisciplinaridade que envolve o arcabouço teórico da Indústria Criativa passa

por trabalhos nos campos da Economia (CAVES, 2000; RIFKIN, 2000; MEZIAS;

KUPERMAN, 2001; THROSBY, 2008; HOWKINS 2007); da Geografia (PRATT, 1997;

SCOTT, 2000, 2004, 2005, 2010; COE, 2000; FLORIDA, 2011); da Comunicação e mídia

(FLEW, 2011; HESMONDHALGH, 2013); e da Sociologia (GRISWOLD, 1987; ZUKIN,

1995; STEVENSON, 2003). A IC pode ser considerada como sendo redes sociais

2 De acordo com Florida (2011, p. 249), os outros “T’s” são: “tecnologia” e “talento”.

Page 22: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

22

mercantilizadas3 que operam em condições complexas de oferta e demanda. Em outras

palavras, de um lado a natureza criativa dos insumos, do outro, a natureza dos direitos

autorais e de propriedade intelectual (HOWKINS, 2007; POTTS, CUNNINGHAM,

HARTLEY; ORMEROD, 2008). Na IC ocorre a convergência entre as artes, a cultura e as

tecnologias de informação e comunicação (TIC) mediante um cenário econômico

contemporâneo baseado no conhecimento e na constante interação entre produtores e

consumidores (JEFFCUTT, 2000; HARTLEY, 2005), podendo se relacionar com o

restante da economia, de acordo com Potts e Cunningham (2008), da seguinte forma:

Geradora de bem-estar: necessidade de subisídios;

Competição entre empresas: encarada como indústria;

Desenvolvimento: políticas de investimento;

Geradora de inovação: Políticas de fomento à inovação.

Para esta tese, utiliza-se o termo Indústria Criativa (IC) para definir, em um

contexto mais abrangente, o conjunto de bens e serviços produzidos pelas indústrias

culturais que possuem valor econômico. Não há interesse de o autor discutir criticamente

as diversas aplicações terminológicas. Sendo assim, adota-se a definição segundo a

Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, 2010, p.

8):

Compreendem os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e

serviços que utilizam criatividade e capital intelectual como insumos

primários;

Constituem um conjunto de atividades baseadas em conhecimento, focadas,

mas não limitadas à arte, sendo potencialmente geradoras de receitas

oriundas do comércio e dos direitos de propriedade intelectual;

Englobam produtos tangíveis e serviços intangíveis intelectuais, ou

artísticos, com conteúdo criativo, valor econômico e orientação ao mercado;

Estão no cruzamento entre o setor artístico, de serviços e manufatureiro.

Pode-se atribuir o surgimento do termo Indústria Criativa à primeira política

cultural nacional da Austrália, lançada em 1994, a partir do relatório intitulado “Nação

3 Do original em inglês: “social network markets” (POTTS; CUNNINGHAM; HARTLEY; ORMEROD,

2008).

Page 23: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

23

Criativa”4. Naquela ocasião, reivindicava-se uma postura mais participativa dos

governantes frente à importância das artes no contexto econômico e social daquele país.

Pouco depois, em 1997, o Reino Unido estabelece o Departamento para Cultura, Mídia e

Esportes (DCMS) com responsabilidade específica de definir, mapear e desenvolver um

conjunto de indústrias relacionadas às artes, mídia, cultura e tecnologias digitais, nomeadas

pelo governo de Indústrias Criativas. Diante da importância econômica e de inédito

subsídio público, promove-se um estudo mais amplo ao setor da IC, que o conduz ao

encontro das tecnologias digitais, da criatividade e do capital intelectual, reservando um

espaço nos debates sobre o rumo econômico do Reino Unido (LEADBEATER, 1999;

HOWKINS, 2007). Desde então, este estudo do DCMS atua como catalisador para

diversos outros ao redor do mundo; estudos na Europa, Ásia, Austrália, Nova Zelândia e

América Latina têm procurado identificar o tamanho, o escopo e a relevância das suas

respectivas indústrias criativas (BLYTHE, 2001; BENDASSOLLI, WOOD JR., 2010;

LANGE, 2011; PIERGIOVANNI, CARREE, SANTARELLI, 2012; FLEW, 2012).

De acordo com os mais recentes dados da UNCTAD (2010), o mercado global dos

bens e serviços da IC tem apresentado expressivo dinamismo. Em 2008, as exportações de

bens criativos alcançaram a marca de US$ 407 bilhões, praticamente o dobro do registrado

em 2002, que foi de US$ 205 bilhões. Acompanhando esta tendência, as exportações de

serviços criativos também registraram importante aumento. No ano de 2002, o total

apontado foi de US$ 62 bilhões; já em 2008 o resultado triplicou, passando para US$ 185

bilhões de serviços exportados. Sendo assim, o total transacionado globalmente, entre bens

e serviços provenientes da Indústria Criativa, foi de US$ 592 bilhões em 2008, o qual

sugere uma média de crescimento da ordem de 14% ao ano, entre o período de 2002 a

2008 (UNCTAD, 2010). Estes números denotam que a IC constitui um novo e promissor

segmento do comércio internacional, mesmo em períodos de turbulência, tendo em vista a

queda de 12% das exportações mundiais durante a última crise financeira global em

meados da primeira década deste século, na qual a IC manteve sua tendência de

crescimento (UNCTAD, 2010).

Este cenário econômico e institucional mundial promove oportunidades a um

crescente número de países, tanto aos países economicamente desenvolvidos, quanto para

4 Do inglês original: “Creative Nation”.

Page 24: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

24

os países em desenvolvimento. Estima-se que a Indústria Criativa represente cerca de 7%

do PIB global, indicando um avanço em ambos os grupos de países (UNCTAD, 2010). No

Reino Unido, por exemplo, onde o termo ganhou exposição para o resto do mundo,

conforme já destacado, a participação deste segmento atingiu 5% do PIB, em 2013, e

cresceu anualmente a uma taxa de 5,8%, entre os anos 1997 e 2013, quando o crescimento

do PIB total do Reino Unido foi de 4,2% ao ano (DCMS, 2015). Dados da UNCTAD

(2010), por outro lado, mostram que entre os anos de 2002 e 2008, os países desenvolvidos

registraram crescimento de 77%, enquanto que os países em desenvolvimento progrediram

132%, alcançando as marcas de US$ 227 bilhões e US$ 176 bilhões, respectivamente, em

exportações de bens gerados pela Indústria Criativa.

O fluxo do comércio global e regional de bens e serviços da Indústria Criativa

envolve transações de complexas interações entre cultura, economia e tecnologia. Estas

transações são regidas, em um primeiro momento, por regras e práticas institucionalizadas

mundialmente, tais como as regras multilaterais da Organização Mundial do Comércio

(OMC), além de outras disposições legais relativas aos acordos de livre comércio, uniões

aduaneiras e demais acordos de parceria econômica entre países e regiões. Este comércio

global também se comporta em função de outros instrumentos legais, a exemplo da

Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais,

organizada em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura (UNESCO), além de outros serviços específicos que lidam com regimes de direito

de propriedade intelectual, como a Organização Mundial de Propriedade Intelectual5.

No Brasil, a Indústria Criativa tem acompanhado esta tendência global. Embora

abaixo da média internacional, as exportações de bens criativos cresceram a uma média

anual de 4,9% entre o período de 2002 a 2008. Em 2002, o total de exportações foi de US$

742 milhões, atingindo o patamar de US$ 1,2 bilhão em 2008. O Brasil é o maior

exportador de bens da IC na América do Sul. Quando comparado às economias em

desenvolvimento latino-americanas, o país fica somente atrás do México, que cresceu a

uma média de 9% ao ano, e registrou um total de exportações da ordem de US$ 5,1 bilhões

em 2008 (UNCTAD, 2010).

5 Original em inglês: WIPO – World Intellectual Property Organization.

Page 25: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

25

Com base nos dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

(FIRJAN), entre os anos de 2004 e 2013, o PIB da Indústria Criativa nacional cresceu6

69,8% em termos reais, significativamente acima dos 36,4% de crescimento do PIB

nacional no mesmo período. Este avanço proporcionou a este setor da indústria alcançar

uma participação de 2,6% do total do PIB7 nacional em 2013, participação esta que era de

2,1% no ano de 2004 (FIRJAN, 2014).

Esses dados sugerem que a IC é parte ascendente da economia mundial,

desenvolvendo uma dinâmica própria de crescimento, pois não depende de outros setores

da economia, como manufatura, serviços ou finanças para manterem seus indicadores em

evolução. Segundo Howkins (2007), as indústrias criativas podem ser vistas como

precursoras da chamada Economia Criativa. Este conceito coloca criatividade e

conhecimento no centro do crescimento e do desenvolvimento econômico, ao identificar

produtos e serviços associados às artes, mídia e cultura. Estes bens intangíveis incorporam

insumos criativos únicos que tomam forma de propriedade intelectual comercializável,

tornando-os centrais para o futuro de cidades, regiões, nações e comunidades ao redor do

mundo.

6 “A Indústria Criativa gera mais de R$ 126 bilhões ao ano... na última década” (FIRJAN, 2014 p. 10). 7 Total do PIB em 2013, R$ 5,158 trilhões (ANCINE, 2015)

Page 26: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

26

1.2 Sistemas internacionais de classificação

Diferentes sistemas de classificação têm sido desenvolvidos com o objetivo de

proporcionar uma compreensão mais abrangente e detalhada das características estruturais

das indústrias criativas. A constante evolução deste debate se desenrola com o propósito

de adequação à realidade dos contextos locais, da cultura e dos mercados que expandem ao

redor do mundo (UNESCO, 2013). De acordo com Throsby (2008), uma divisão simples e

definitiva não pode ser feita entre os bens e serviços culturais. Para o autor, o conceito de

cultura se desloca entre uma percepção antropológica genérica do termo, como por

exemplo, o modo de vida de uma nação ou comunidade, e uma associação mais específica

do termo com as artes cênicas e criativas e elementos midiáticos. Os bens e serviços

culturais, conforme Throsby (2008), normalmente compartilham as seguintes

características:

Sua produção compõe-se de algum tipo de insumo de criatividade humana;

São portadores de mensagens simbólicas para quem os consome, ou seja,

atendem a um propósito comunicativo maior que não são somente o

utilitário;

Contém algum tipo de propriedade intelectual atribuída ao indivíduo ou

grupo que produz o bem ou serviço.

Devido esta complexidade de adequação, não há um sistema de classificação único

de negócio, ou de produção, que englobe todos os setores da Indústria Criativa. Ainda

segundo Throsby (2008, p. 147), “a definição de indústrias culturais e criativas prossegue

como um assunto a ser debatido, não existe ainda um acordo claro acerca de quais

indústrias, exatamente, devem ou não ser incluídas no setor cultural da economia”.

Algumas tentativas têm sido promovidas, Hesmondhalgh (2013) distingue dois modelos de

indústrias criativas, “publicação”8 e “transmissão”9, em função da relação entre produção e

distribuição. Enquanto Caves (2000) reconhece o que ele denomina de “bens culturais

simples” - tipicamente produzidos por indivíduos ou grupos pequenos, por exemplo, um

marceneiro ou um compositor musical, e “bens culturais complexos” - oriundos de

divisões complexas de trabalho, como filmes ou programas de televisão, o Fundo Nacional

8 Do inglês original: Publishing. 9 Do inglês Original: Broadcasting.

Page 27: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

27

para Ciência, Tecnologia e Arte (NESTA, 2006)10 sugere a diferenciação entre produtores

e provedores criativos:

Produtores originais criativos:

o Artes visuais, antiguidades, escrita e fotografia;

Produtores de conteúdo criativo:

o Filme, TV e rádio, publicações, músicas gravadas, mídia interativa;

Provedores de experiência criativa:

o Artes cênicas, museus, galerias e bibliotecas, apresentações ao vivo,

patrimônios e turismo;

Provedores de serviços criativos:

o Publicidade, arquitetura, design gráfico.

Flew (2012) agrega-se a este debate ao reivindicar que o segmento musical possui

elementos de produção cultural simples, no entanto, possui também elementos de

distribuição industrial em grande escala, além de elementos importantes de experiência

criativa por meio de apesentações ao vivo. O autor ainda acrescenta que este segmento da

IC possui relativa dependência dos provedores de serviços criativos, como os proprietários

de casas de espetáculos e promotores. Esta argumentação de Flew (2012) pode ser

estendida à Indústria Cinematográfica, que será abordada no próximo capítulo, devido à

complexidade similar de elementos que compõem sua cadeia produtiva composta por

produtores, distribuidores, exibidores e diversos canais auxiliares de distribuição e exibição

(ELIASHBERG; ELBERSE; LEENDERS, 2006).

Um requisito fundamental tanto para as políticas, quanto para as práticas

organizacionais voltadas às indústrias criativas, envolve uma melhor compreensão

sistemática da sua estrutura e de como seus diversos elementos se interrelacionam

(THORSBY, 2008). Alguns sistemas de classificação têm sido apresentados, cada qual

com sua própria interpretação. A Figura 3 consolida os seis sistemas de classificação de

acordo com o mais recente relatório da UNESCO (UNESCO-UIS, 2013a) para este setor.

10 Do inglês original: The National Endowment for Science, Technology and the Arts (NESTA)

Page 28: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

28

Modelo DCMS Modelo de Textos Simbólicos Modelo "American for the Arts"

Indústrias Culturais Centrais

Publicidade Publicidade Publicidade

Arquitetura Filme Arquitetura

Mercado de Arte e Antiguidades Internet Escolas de Artes e Serviços

Artesanato Música Design

Design Publicações Filmes

Moda Televisão e Rádio Museus

Filme e Vídeo Video e Jogos de Computador Zoológicos

Música Música

Artes Performáticas Idústrias Culturais Periféricas Artes Performáticas

Publicações Artes Criativas Publicações

Software Televisão e Vídeo

Televisão e Rádio Indústrias Culturais Limítrofes Artes Visuais

Video e Jogos de Computador Consumo de Eletrônicos

Esportes

Software

Moda

Modelo WIPO Modelo do Instituto para Estatística - UNESCO Modelo de Círculos Concênctricos

Indústrias Centrais de Direitos Autorais Indústrias de Domínios Culturais Centrais Artes Criativas Centrais

Publicidade Museus Literatura

Sociedades de Gestão coletiva Galerias Música

Filme e Vídeo Livrarias Artes Performáticas

Música Artes Performáticas Artes Visuais

Artes Performáticas Artes Visuais

Software Artesanato Outras Indústrias Culturais Centrais

Televisão e Rádio Design Filmes

Artes Gráficas e Visuais Publicação Museus

Televisão e Rádio Livrarias

Indústrias Parciais de Direitos Autorais Fotografia

Arquitetura Mídia Interativa Indústrias Culturais Expandidas

Design Serviços de Patrimômio

Moda Indústrias de Domínios Culturais Expandidos Publicações

Roupas e Calçados Instrumentos Musicais Gravação de Som

Artigos Domésticos Equipamentos de Som Televisão e Rádio

Brinquedos Arquitetura Video e Jogos de Computador

Publicidade

Indústrias Independentes de Direitos Autorais Equipamentos de Impressão Idústrias Relacionadas

Materiais sem Registros Software Publicidade

Consumo de Eletrônicos Hardware de Audiovisual Arquitetura

Instrumentos Musicais Moda

Equipamentos de Fotocópias e Fotografia Design

Quadro 1: Sistemas de Classificação da Indústria Criativa

Fonte: UNESCO-UIS (2013a) - Adaptado pelo autor

Page 29: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

29

Conforme discorrido na seção anterior, pode-se considerar a classificação do DCMS

como seminal ao debate acerca das indústrias criativas. Esta instituição britânica relaciona 13

setores criativos com base na definição de que as indústrias criativas envolvem “atividades

que tem sua origem em criatividade individual, habilidade e talento e que possuem potencial

para criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração de propriedade

intelectual” (DCMS, 2015, p. 4). Chama a atenção deste sistema de classificação a não

inclusão de setores como o setor de galerias e museus e os setores de turismo e esportes

(HESMONDHALGH, 2013), assim como, por outro lado, a inclusão do setor de software

que, segundo Garnham (2005), pode distorcer os números.

O modelo de direitos autorais11 proposto pela WIPO diferencia as indústrias do núcleo

dos direitos autorais - diretamente envolvidas na produção, transmissão e distribuição de

obras protegidas por direitos autorais, daquelas onde a propriedade intelectual é apenas uma

parte de suas operações como um todo. Classificações baseadas em indústrias de direitos

autorais tendem a considerar seu tamanho e importância como sendo maior do que os outros

sistemas de classificação para indústrias criativas, em parte, porque incluem setores como

transportes e manufatura em seus números, como, por exemplo, os distribuidores de produtos

criativos (FLEW, 2013).

Já o sistema de classificação proposto no modelo da instituição Americans for the Arts

tem se concentrado em firmas estadunidenses envolvidas somente na produção ou distribuição

das artes, desde firmas sem fins lucrativos, como museus, orquestras sinfônicas e teatros, até

firmas com fins lucrativos como agências de publicidade, arquitetura e ligadas ao cinema.

Este sistema de classificação não contempla a indústria de programação de computador nem a

de pesquisa científica, por exemplo, por não terem o foco nas artes, o diferenciando dos

modelos do DCMS e WIPO (AMERICAN FOR THE ARTS, 2016)

Por sua vez, o modelo de “círculos concêntricos”, desenvolvido por Throsby (2001,

2008), defende que o “valor cultural”, ou o “conteúdo cultural”, dos bens e serviços

produzidos os distinguem das demais indústrias. O autor ressalta que “diferentes produtos tem

diferentes graus de conteúdo cultural em relação ao seu valor comercial” (THROSBY, 2008,

p. 149). Sendo assim, o modelo propõe que quanto mais evidenciado for o “conteúdo cultural”

11 Do original em inglês: Copyright Model.

Page 30: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

30

de um determinado produto, ou serviço, mais relacionado ele está com a indústria cultural12.

Ou seja, conforme mostra a Figura 3, quanto mais próximo do círculo central, mais “conteúdo

cultural” o produto ou serviço contém, em contrapartida, na medida em que os círculos se

afastam do centro, a relação entre “conteúdo cultural” diminui no tocante ao valor comercial

dos bens produzidos.

Artes Criativas

Centrais

Outras Indústria

Culturais Centrais

Indústrias Culturais

Expandidas

Indústrias

Relacionadas

Figura 3: Modelo de Círculos Concêntricos

Fonte: Throsby (2008, p. 150)

Adaptado pelo autor

No centro do modelo destacam-se as indústrias da literatura, música e artes

performáticas e visuais. Consideradas em um segundo nível central, encontram-se as

indústrias dos filmes, museus e livrarias. Mais afastadas do centro, observam-se as “indústrias

culturais expandidas” - serviços de patrimônio, televisão e rádio, publicações, gravação de

música e vídeo e jogos de computador; e as “indústria relacionadas” - publicidade,

arquitetura, design e moda.

Este modelo tem sido criticado por estabelecer uma política de artes de facto, onde os

níveis e formas de subsídio público delineiam distinções entre alta cultura e cultura popular.

Distinção esta que tem sido criticada em áreas como estudos culturais (FROW, 1995), assim

como em artes e gestão cultural (HOLDEN, 2009).

12 Throsby (2001, 2008) utiliza o termo Indústria Cultural, ao invés de Indústria Criativa conforme adotado nesta

tese.

Page 31: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

31

Em contraste com o modelo de círculos concênctricos (THROSBY, 2001; 2008), o

sistema de classificação proposto por Hesmondhalgh (2013), difundido como “modelo de

textos simbólicos”, coloca no centro das indústrias culturais13 a indústria da produção e

circulação de textos, ou seja, as indústrias midiáticas. Estas, em sua maioria, se encontram

mais afastadas do centro no modelo de Throsby (2008). De acordo com Hesmondhalgh (2013,

p. 17), o núcleo das indústrias culturais no “modelo de textos simbólicos” é composto por:

Transmissão:

o Televisão e rádio (incluem as novas formas de transmissão por cabos,

satélite e digital).

Indústria do filme (cinematográfica):

o Incluem a disseminação de filmes em formato de vídeo, DVD e outros

formatos, inclusive televisão.

Indústria da música:

o Gravação de músicas, direitos autorais das composições e apresentações

ao vivo.

Publicação (impressa e eletrônica):

o Livros, bases de dados online, serviços de informação, revistas e

jornais.

Vídeo e jogos de computador:

o Incluem jogos todos os tipos de jogos digitais.

Publicidade, marketing e relações públicas:

o Publicidade e propaganda, por terem como foco vender e promover

outros produtos, são centradas na criação de textos requerendo o

trabalho de criar símbolos.

Web design:

o Envolve forte elemento estético, por isso, esta indústria faz parte da

classificação.

Estes setores interrelacionam-se de forma complexa, visto que competem pelos

mesmos recursos, tais como limitada renda dos consumidores, restritas receitas de publicidade

e mão de obra qualificada, assim sendo, compartilham idiossincrasias como produtores

13 Assim como Thorsby (2001, 2008), Hesmondhalgh (2013) utiliza o termo Indústria Cultural, ao invés de

Indústria Criativa conforme adotado nesta tese.

Page 32: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

32

primários de artefatos simbólicos que os definem como um setor produtivo; em outras

palavras, os define como indústria (HESMONDHALGH, 2013).

Por fim, o sistema de classificação identificado pela UNESCO reconhece a

importância econômica e social da cultura, além de permitir avaliações comparativas

internacionais. Este modelo classifica as indústrias criativas em domínios diretos e domínios

relacionados, que podem ser ordenados da seguinte forma (UNESCO, 2013, p. 25):

Domínios diretos:

o Patrimônio cultural e natural:

Museus, sítios arqueológicos e históricos, paisagens culturais e

patrimônio natural.

o Apresentações e celebrações:

Artes cênicas, música, festivais, feiras e festas.

o Artes visuais e artesanato:

Artes plásticas, fotografia, artesanato;

o Livros e mídia impressa:

Livros, jornais e revistas, outros materiais impressos,

publicações virtuais, bibliotecas e feiras de livros.

o Mídia interativa e audiovisual:

Cinema e vídeos, televisão e rádio, televisão pela Internet e

podcasting e jogos digitais.

o Design e serviços criativos:

Design de moda, design gráfico, design de interiores, projetos de

paisagem, serviços de arquitetura e serviços de publicidade.

Domínios relacionados:

o Turismo, hotelaria e hospedagem.

o Esportes e recreação, incluem parques de diversões, parques temáticos e

jogos de azar.

Conforme já destacado na seção anterior, a IC no Brasil tem assumido importante

papel na economia. Foram gerados 892,5 mil empregos formais em 2013, alta de 90% em

relação a 2004. Importante apontar que a média de aumento no mercado de trabalho brasileiro

foi de 56%, no mesmo período (FIRJAN, 2014). Como parâmetro, no Reino Unido, em 2013,

Page 33: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

33

o número de empregos criados pela IC foi de 1,71 milhão, com crescimento acumulado

próximo de 50% para o mesmo período (DCMS, 2015). Na equiparação em relação ao total

de empregos gerados, no Brasil a IC representou 1,8% dos empregos formais do país em

2013, enquanto no Reino Unido espelhou 5,6% do total, também em 2013 (FIRJAN, 2014;

DCMS, 2015). O mapeamento da IC brasileira elaborado pela FIRJAN sofreu algumas

influências dos estudos do DCMS. O Quadro 2 apresenta o sistema de classificação da IC no

Brasil.

Núcleo Atividades relacionadas Apoio

Consumo Indústrias

Publicidade Materiais para publicidade Obras e serviços de edificação

Arquitetura Confecção de roupas

Design Aparelhos de gravação e transmissão audiovisual Indústria e varejo de ferramentas e máquinas

Moda Impressão de livros jornais e revistas

Instrumentos musicais Tecelagem

Cultura Metalurgia de metais preciosos

Expressões culturais Curtimento e outras preparações em couro Ensino universitário e profissional

Patrimônio e artes Equipamentos de informática e eletroeletrônicos

Música Produção de hardware Telecomunicações

Artes Cênicas Cosmética

Equipamentos de laboratório Representação comercial

Mídias Fabricação de madeira e mobiliário

Editorial Comércio

Audiovisual Serviços Som e imagens

Registro de marcas e patentes Instrumentos musicais

Tecnologia Serviços de engenharia Moda

Pesquisa e Desenvolvimento Comércio de mídias audiovisuais Cosmética atacado

Biotecnologia Varejo de moda, cosmética e artesanato

Tecnologia de Informação e Comunicação Livrarias, editoras e bancas de jornal Manutenção de computadores

Suporte técnico em tecnologia da informação

Operadoras de televisão por assinatura Serviços de tradução

Agenciamento de direitos autorais

Quadro 2: Sistema de Classificação da Indústria Criativa Brasileira

Fonte: FIRJAN (2014, p.9)

Adaptado pelo autor

A elaboração deste sistema de classificação conta com o envolvimento da FIRJAN, do

Ministério da Culura e demais entidades de classe, agências de fomento e profissionais

ligados ao setor. Trata-se de um modelo abrangente, pois envolve setores ligados às

expressões culturais como folclore, artesanato e gastronomia, assim como biotecnologia e

pesquisa e desenvolvimento, vinculados ao setor de tecnologia. Ademais, setores da mídia,

audiovisual e editorial14, e consumo, publicidade, arquitetura e moda, se aproximando do

modelo do DCMS.

14 Em outros sistemas de classificação aparece como “Publicação”.

Page 34: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

34

Seja nos sistemas de classificação que não possuem distinção entre setores centrais ou

periféricos, como os sistemas do DCMS e do American for the Arts, assim como nos modelos

que possuem tal distinção, WIPO, UNESCO e FIRJAN, ou mesmo em sistemas de

classificação antagônicos como os modelos de “círculos concêntricos” e de “textos

simbólicos”, constata-se que a indústria cinematográfica, ou indústria do filme, integra-se a

todos os modelos apresentados, inclusive sendo considerada como indústria central nos

modelos da WIPO, UNESCO, “textos simbólicos”, “círculos concêntricos” e FIRJAN. O

próximo Capítulo discorrerá sobre a indústria cinematográfica como forma de avançar na

delimitação do tema desta tese.

Page 35: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

35

2. INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA

O principal foco deste capítulo consiste em demonstrar a importância cultural e

econômica da Indústria Cinematográfica ante ao contexto da globalização. Inicia-se com

uma introdução no tocante à diversidade cultural no cenário internacional e, posterior a

isto, apresenta a Cadeia de Valor e a evolução da forma de organização desta indústria, do

modelo verticalizado à especialização flexível, passando pelas visões de globalização, para

encerrar com um conciso histórico da indústria nacional.

2.1 Indústria cinematográfica como diversidade cultural

No ano de 2005, a UNESCO aprovou a Convenção sobre a Proteção e Promoção da

Diversidade das Expressões Culturais, em defesa de que “a diversidade cultural constitui

patrimônio comum da humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de todos...”

(BRASIL, 2005).

Dentre vários princípios diretores desta Convenção, pode-se distinguir o “Princípio

da solidariedade e cooperação internacional”, conforme a seguir:

A cooperação e a solidariedade internacionais devem permitir a todos os

países, em particular os países em desenvolvimento, criarem e

fortalecerem os meios necessários a sua expressão cultural – incluindo as

indústrias culturais, sejam elas nascentes ou estabelecidas – nos planos

local, nacional e internacional (BRASIL, 2005)

A Indústria Cinematográfica merece destaque nesta Convenção da UNESCO.

Países como a França e Canadá, cada um dos quais com o interesse em proteger suas

indústrias criativas, principalmente a indústria cinematográfica da hegemonia dos Estados

Unidos, lideraram a Convenção daquele ano de 2005. A votação na UNESCO foi

expressiva: 148 dos 154 Estados-membros votaram a favor da “Convenção para

Diversidade Cultural”, como ficou habitualmente conhecida, sob a égide de que cada povo

tem o direito de preservar sua cultura mediante as forças de homogeinização da

globalização (BOUCHIER, 2012).

Desde o seu surgimento, a indústria cinematográfica tem sido vista como parte

importante da cultura nacional (ANDERSON, 1983). A obra cinematográfica pode ser

vista não apenas como mérito do Estado em fomentá-la, mas também como o poder do

Page 36: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

36

Estado em promover ou impedir as iniciativas desta indústria, em outras palavras, a relação

entre autonomia e heteronomia15 (BOURDIEU, 1993, 1994; HEISE; TUDOR, 2007).

O conceito de “diversidade” tem sido abordado em várias áreas díspares do

conhecimento, desde a Física, passando de forma relevante pela Ecologia, pelas Ciências

da Informação, até a Economia e as Ciências Sociais (STIRLING, 2007). Embora seja um

conceito de complexa definição, tem estado no centro dos debates internacionais sobre

políticas culturais conforme destacado no início desta seção. O Instituto para Estatística da

UNESCO (UIS) tem se esforçado para entender a diversidade no contexto da Indústria

Cinematográfica (UNESCO-UIS, 2011). Diante disso a diversidade nesta indústria pode

ser capturada por meio de duas dimensões, conforme mostra a Figura 4 (UNESCO-UIS,

2011, p. 11):

Dimensão humana:

- Indivíduo

- Gênero e origem

dos

cineastas/diretores

Dimensão material:

- Nacionalidade do

filme

- Local da

produção

Figura 4: Dimensões para captura da “diversidade” na Indústria Cinematográfica

Fonte: UNESCO-UIS (2011)

Elaborada pelo autor

Estas dimensões podem ser analisadas tanto separadas como interrelacionadas,

porém alguns aspectos são mais difíceis de quantificar do que outros; por exemplo, a

nacionalidade de um filme está relacionada ao país aonde o filme foi produzido mas, por

outro lado, o conteúdo cultural pode ter sido influenciado pelo seu diretor (UNESCO-UIS,

2011). Isto concilia com as coproduções internacionais brasileiras, objeto de estudo desta

tese.

15 Este debate acerca da autonomia/heteronomia na indústria cinematográfica pode ser observado na França,

onde os impostos sobre a venda dos bilhetes de entrada são canalizados para um fundo dedicado aos

chamados filmes de artes ou experimentais. Este fundo subsidia os produtores independentes franceses e, de

certa forma, incentiva a produção de filmes com apelo cultural mais voltado ao público francês, o que

permite preservar a cultura nacional (SCOTT, 2000). O governo francês tem destacado a importância da

cultura nacional em sua indústria cinematográfica, contudo ressalta a importância das forças de mercado

reivindicando o princípio da diversidade cultural em suas produções (BOUCHIER, 2012).

Page 37: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

37

De acordo com o UIS (UNESCO-UIS, 2011; 2013b), a diversidade nesta indústria

pode ser entendida por diversos fatores, dentre eles: i) habilidade dos produtores em

trabalhar com diretores e atores de diferentes origens e nacionalidades - novamente aplica-

se ao caso das coproduções internacionais; ii) número de filmes produzidos por país; iii)

número de idiomas nos quais os filmes são produzidos em um determinado país; iv) país

de origem dos filmes mais assistidos globalmente.

Em relação ao último fator mencionado acima, a classificação dos “30

Blockbusters”16, entre os anos de 2010 e 2011, indica que 46,6% dos filmes são de origem

estadunidense. Ao acrescentarem-se os filmes nos quais os Estados Unidos entram como

parceiro, com a Alemanha, China e Reino Unido, por exemplo, este percentual sobe para

pouco mais de 70% dos filmes de maior sucesso no mundo. Esse predomínio

estadunidense tem influenciado o mercado consumidor de vários países (UNESCO-UIS,

2013).

Ao tomar o ano de 2011 como referência, últimos dados consolidados do UIS

(Ibid., 2013b), filmes de origem estadunidense em países europeus como Portugal,

Espanha e Áustria alcançam participação de mercado entre 70% e 90%. O mesmo

acontece com Canadá e Austrália e com países latino-americanos como México, Chile,

Venezuela e Colômbia. Vale destacar que a fatia de mercado da produção nacional destes

países não ultrapassa 10%, com exeção da Espanha, que corresponde, aproximadamente, a

20% do mercado local.

Já na Polônia, Alemanha, Reino Unido, Dinamarca e Holanda, a participação das

produções estadunidenses gira em torno de 60%, enquanto no mercado francês esta

participação está próxima de 50%. Por conseguinte, o mercado para as produções nacionais

destes países alcança fatia em torno de 30% a 40%, exceto França e Reino Unido, nos

quais atingem a marca próxima de 50% dos seus respectivos mercados nacionais17 (Ibid.,

2013b).

16 “Livro ou filme de enorme sucesso” (MICHAELIS, 2015). 17 Considera filmes com créditos de origem para mais de um país.

Page 38: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

38

Em contrapartida à análise acima, a República da Coréia é o único país no qual a

produção nacional responde pela maior fatia do mercado local, atingindo a marca de 54%,

contra pouco mais de 40% dos filmes produzidos nos Estados Unidos. Isto se deve ao fato

de aquele país possuir uma política nacional que impõe quotas para a distribuição da

produção nacional (UNESCO-UIS, 2013b).

A situação do mercado brasileiro não tem sido muito diferente da maioria dos

países apontados. Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (ANCINE, 2014), entre

os anos de 2009 e 2014, a fatia média que corresponde à participação da produção nacional

alcança a marca de 14,6%, conforme mostra o Gráfico 1.

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%2009

2010

2011

2012

2013

2014

Filmes - Brasil Filmes- E.U.A. Filmes - demais países

Gráfico 1: Participação da Produção Nacional nas Admissões Totais – 2009 a 2014

Fonte: ANCINE (2015)

Elaborado pelo autor

A média de participação no mercado consumidor brasileiro dos filmes produzidos

nos Estados Unidos chega a 81,5%. Já os demais países compreendem 4% deste mercado,

para o mesmo período. Vale apontar que o Brasil, em relação aos países latino-americanos

mencionados previamente, tem a produção cinematográfica nacional em melhores

patamares, uma vez que a produção daqueles países não ultrapassa 10% em seus

respectivos mercados consumidores nacionais.

Não obstante a análise da diversidade na Indústria Cinematográfica tenha sido

sustentada pelo fator “país de origem dos filmes mais assistidos globalmente”, cabe

Page 39: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

39

assegurar neste momento que, além de ser mais facilmente quantificável, este fator reflete

o desempenho dos filmes nas bilheterias em todo mundo. Em outras palavras, estes

números denotam a dimensão econômica, e suas assimetrias, na cadeia de valor desta

indústria, assunto das próximas seções deste Capítulo.

Page 40: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

40

2.2 Cadeia de valor da indústria cinematográfica

Contida nos principais sistemas internacionais de classificação da Indústria

Criativa, conforme demonstrado no Capítulo 1, a Indústria do Audiovisual compreende

filmes e vídeos de diversos tamanhos, rádio, televisão e outras formas de transmissões.

Essa indústria possui importantes ramificações nas políticas públicas ao redor do mundo e

tem se mostrado como sendo um difícil desafio para os governantes, principalmente para

os gestores públicos dos países economicamente em desenvolvimento. Muitos desses

países precisam estabelecer ou fortalecer suas estruturas regulatórias para fomentarem uma

indústria do audiovisual de qualidade internacional. Isto requer melhores mecanismos de

suporte para comprensar a falta de facilidades domésticas e de capital de risco. Para esses

países, os principais direcionadores envolvem o acesso aos insumos de produção e aos

canais de distribuição global; em outras palavras, participarem de forma mais competitiva

na cadeia de valor global desta indústria (UNCTAD, 2010).

A Indústria Cinematográfica, ou Indústria do Filme18, segundo dados19 do UIS

(UNESCO-UIS, 2013), contou com uma audiência global de aproximadamente 7,5 bilhões

de pessoas e receitas de bilheteria da ordem de US$ 32,6 bilhões, em 2011 (UNESCO,

2013; UNESCO-UIS, 2013). Esta indústria é considerada uma das principais expressões

culturais globais, assunto da seção anterior deste Capítulo, sendo parte importante das

culturas nacionais ao redor do mundo.

A cadeia de valor para os filmes de longa-metragem, produzidos para serem

exibidos comercialmente em salas de cinema, compõe-se de três estágios que antecedem o

seu efetivo consumo pelos espectadores20 (ELIASHBERG et al., 2006), demonstrados na

Figura 5.

Segundo Finney (2008, p. 108), “a gestão por projetos é o pilar central da indústria

do filme”, e o produtor é o seu “gerente-chave do projeto”. Para este autor, o papel e as

18 Do original em inglês: Film industry. 19 Estes dados abrangem os filmes de longa-metragem (feature film) de 60 minutos, ou mais, de duração,

produzidos com o intento de serem exibidos comercialmente em salas de cinema. Os filmes produzidos

exclusivamente para serem transmitidos por meio da televisão ou outras mídias, bem como filmes

publicitários, são excluídos destes números. 20 Do original em inglês: “Movie-going audiences” (ELIASHBERG et al., 2006).

Page 41: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

41

responsabilidades do produtor são amplos, tendo de lidar com o paradoxo de dominar os

princípios da Gestão por Projetos21 e adaptá-los à indústria cinematográfica, ao mesmo

tempo em que convive com o risco do fracasso e, a partir disso, aprender com os resultados

e utiliza-los no próximo projeto. O papel e as responsabilidades do produtor compreendem

(FINNEY, 2008, p. 108):

Reponsabilidade pelo portfólio de projetos da produtora;

Envolvimento no projeto desde a sua criação, pesquisa e desenvolvimento;

Desenvolvimento criativo e de seus correlatos de forma agregada;

Financiamentos e execução dos contratos;

Executivos adicionais, por exemplo, produtor executivo;

Serviços de advocacia, agenciamento e contabilidade;

Orçamento, cronogramas, locações, entre outros;

Equipe de produção;

Plano de distribuição e marketing;

Acompanhamento do filme em toda a cadeia de valor.

Pro

du

ção

Co

nsu

mo

Dis

trib

uiç

ão

Exib

ição

Canais auxiliares de Distribuição e Exibição

Figura 5: Cadeia de Valor Cinematográfica

Fonte: Eliashberg et al. (2006)

Adaptado pelo autor

O desenvolvimento de um filme cinematográfico22 reúne uma extensa sequência de

decisões criativas e propósitos econômicos, muitas vezes, distintos para diferentes partes

interessadas (ELIASHBERG et al., 2006). Em consonância com Finney (2008), Eliashberg

21 Do original em inglês: Project-based view. 22 Do original em inglês: Motion Picture.

Page 42: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

42

et al. (2006) sugerem que “cada processo de desenvolvimento de um filme é único...”, no

entanto, algumas observações gerais podem ser apontadas23 no estágio de produção, que

divide-se em três fases: pré-produção, produção e pós-produção. A primeira envolve o

desenvolvimento do roteiro do filme24, este que pode ser uma “ideia original” ou uma

“obra pronta com direitos autorais”, ou até mesmo um “evento real”. Nesta fase o produtor

responsabiliza-se por obter parte significativa do financiamento do filme, além de se

ocupar com o recrutamento do diretor, elenco, equipe técnica, locações, orçamento, entre

outras responsibilidades, a partir de então o filme entra efetivamente na fase de produção e,

em seguida, na última etapa deste estágio na cadeia de valor, a pós-produção, que engloba

atividades de dublagem, edição, adição da trilha sonora e dos efeitos especiais

(ELIASHBERG et at., 2006).

Após o filme ter sido produzido intercorre o estágio de distribuição. Nesta estapa

identificam-se dois importantes processos: i) a distribuição física das cópias dos filmes às

salas de exibição; e ii) o marketing do filme em todos os mercados nos quais o filme

contempla (ELIASHBERG et al., 2006; MICHEL, AVELLAR, 2012). Os grandes

estúdios25 concentram, além da produção e do financiamento, a distribuição e a

comercialização dos filmes produzidos tanto pelos próprios majors, quanto pelos estúdios,

ou cineastas independentes. Segundo Eliashberg et al. (2006, p. 647), “eles (os majors)

financiam e distribuem, também, filmes iniciados por cineastas independentes que, ou

trabalham direto para o grande estúdio, ou tiveram seu projeto selecionado depois de

algum progresso ter sido feito (na produção)”. Os grandes estúdios podem ser classificados

como “majors” e “mini-majors”, apresentados no Quadro 3.

Majors Mini-majors

Paramoutn (Viacom) MGM - Metro Goldwyn Mayer

Columbia TriStar (Sony) New Line Cinema

Buena Vista (The Walt Disney Co.) Miramax

Twentieth Century Fox (News Corp.) Lion's Gate

Universal (NBC Universal)

Warner Bros. (Time Warner)

Quadro 3: Principais Distribuidores na Cadeia de Valor Fonte: Eliashberg et al. (2006); Epstein (2006).

Elaborado pelo autor

23 Aspectos identificados na Indústria Cinematográfica dos Estados Unidos da América. 24 Do original em inglês: Screenplay. 25 Conhecidos como “majors” (EPSTEIN, 2006).

Page 43: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

43

Esta concentração no estágio de distribuição pode ser ratificada no mercado

brasileiro. Os 20 filmes mais assistidos no ano de 2014 movimentaram um público de 82,3

milhões de espectadores nas salas de exibição em todo o país (ANCINE, 2014). Os majors,

com exceção da Universal, dominaram a distribuição no mercado nacional com a marca de

87% das admissões, a fatia restante de 13% ficou por conta das distribuidoras brasileiras,

conforme ilustrado no Gráfico 2.

30,4%

20,9%15,6%

11,7%

8,4%

3,6%3,7%

5,8%

Twentieth Century Fox Buena Vista Paramount Warner Bros.

Columbia TriStar Downtown/Paris Filmes Imagem Paris Filmes

Gráfico 2: Participação das Majors na Distribuição no Brasil

Fonte: ANCINE (2014)

Elaborado pelo autor

O último estágio na cadeia de valor da indústria cinematográfica, a exibição, pode

ser considerada importante para o restante das janelas de exibição de um filme26, uma vez

que o seu desempenho no circuito das salas de cinema27 pode afetar o seu consumo em

outras janelas como o vídeo doméstico28, ou a televisão por assinatura (DANIELS;

LEEDY; SILLS, 1998). Entende-se por janelas de exibição:

Janelas de exibição é o intervalo de lançamento entre as janelas de salas

de exibição e vídeo doméstico... O estudo do intervalo entre as janelas de

cinema e vídeo é um instrumento de análise que evidencia o

comportamento geral dos filmes de longa-metragem distribuídos

26 Conforme destacado no início desta seção, filmes de longa-metragem produzidos com o intento de serem

exibidos comercialmente em salas de cinema. 27 Do original em inglês: Theatrical exhibition. 28 Do original em inglês: Home vídeo.

Page 44: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

44

originalmente para salas de exibição que depois são lançados no

segmento de vídeo doméstico (ANCINE, 2015)

Importante destacar que outras formas de exibição decorrentes da Internet, como

downloads, websites para streaming de filmes, dentre outras opções digitais, não são

consideradas nesta pesquisa. Para estas formas mencionadas e outras, como por exemplo,

jogos de computador, Eliashberg et al. (2006) as denominam como “canais auxiliares de

distribuição e exibição”.

Outra forma que pode auxiliar na representação desta cadeia de valor foi

apresentada por Lee e Holt (2006). Os autores partem das seguintes premissas: i) “a

indústria cinematográfica é um negócio basedo em consumidor-produto”; ii) “cada

participante contribui e confia nos demais participantes”; e iii) “a variedade dos públicos-

alvo são os elementos mais importantes de cada filme (LEE; HOLT, 2006, p. 1). As firmas

de cada categoria corroboram com estas premissas e, continuamente, modelam sua

participação individual em toda a cadeia da indústria cinematográfica, mostrada na Figura

6.

1.Público

2.Distribuidor

3.Produtor

4.Varejistas e mídia licenciada

5.Mercado internacional

6.Financiadores

7.Distribuidor subcontratado

8.Produção subcontratada

9.Licenças e mídias auxiliares

10.Marcas de consumo

Figura 6: Principais Participantes da Indústria Cinematográfica

Fonte: Lee e Holt (2006, p.2)

Elaborada pelo autor

Os principais participantes, para Lee e Holt (2006), são classificados em ordem de

importância, ou seja, do mais importante, o “público”, ao menos importante, as “principais

marcas de consumo”. Recebe atenção nesta representação, o “distribuidor”, pois figura à

frente do “produtor”, contrastando com Finney (2006), inicialmente citado. Por outro lado,

Page 45: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

45

compele a entender o importante papel do “distribuidor” no desempenho do filme. Tal

consideração pode ser exemplifica, até certo ponto, no debate ulterior.

A despeito da cadeia de valor da indústria cinematográfica operar em torno dos

grandes estúdios, majors e mini-majors, conforme discorrido anteriormente, restando aos

estúdios independentes menores participações no mercado consumidor, é exatamente nesta

relação entre “grandes” e “pequenos” que reside um dos principais debates acerca da forma

de gestão das firmas neste setor da IC – o debate sobre “verticalização” versus

“especialização flexível”.

Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos no tocante a este debate, Lampel, Lant e

Shamsie (2000) discutem os paradoxos da gestão em firmas da IC. Já Mezias e Mezias

(2000) examinam as vantagens da verticalização e da especialização flexível de produtores

e distribuidores na indústria cinematográfica estadunidense, enquanto Lampel e Shamsie

(2003) analisam a transição dos estúdios integrados à “Era do pós-estúdios”, também nos

Estados Unidos e Fu (2009) examina os efeitos da verticalização e da horizontalização no

estágio de exibição dos filmes no circuito de salas de cinema em Cingapura. Análogos a

estes estudos no que diz respeito ao debate, Litman e Ahn (1998), Waterman e Weiss

(1997) e Chipty (2001) investigam a verticalização no segmento de televisão por assinatura

e seus impactos no bem-estar e consumo e Starkey, Barnatt e Tempest (2000) exploram a

relação entre as emissoras integradas de televisão e seus fornecedores especializados, no

Reino Unido. Os resultados destes trabalhos sugerem que a estrutura deste mercado motiva

a estratégia e o comportamento das firmas, influenciando na competição e no desempenho

nesta indústria.

Segundo Mezias e Mezias (2000), o ano de 1913 marcou o surgimento da primeira

firma “generalista” na indústria cinematográfica dos Estados Unidos29, naquela época a

transição da produção de filmes de curta-metragem para os filmes de longa-metragem

exigia o desenvolvimento de um novo modelo de firma, um que integrasse produção e

distribuição. A emergência deste modelo de estúdio cinematográfico hierarquizado e

verticalizado se tornou dominante até o início dos anos de 1940, sendo considerado um dos

29 “A primeira destas firmas integradas apareceu em 1913 depois de a Universal ser absorvida por produtores

afiliados. Pathè e Fox Film Corporation seguiram o caminho”(MEZIAS; MEZIAS, 2000, p. 308).

Page 46: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

46

maiores episódios das primeiras décadas da indústria cinematográfica estadunidense

(MEZIAS; MEZIAS, 2000).

Há uma tendência de os países que possuem indústria cinematográfica mais

verticalizada, ou em outro termo, mais especializada, aqueles cujo mercado interno

compensa os altos custos para o desenvolvimento de um filme de longa-metragem, ou seja,

o oneroso investimento para produzir um filme exige um mercado mínimo relativamente

grande para o projeto gerar lucro (CAVES, 2000; WASKO, 2003). De outro modo, um

mercado doméstico limitado, por mais que o produtor se esforce em manter os custos do

projeto reduzidos, a maioria das produções precisa ser subsidiada (DE TUREGANO,

2006). Este cenário pôde ser ilustrado, naquela época, pela intensa verticalização de

Hollywood e os subsídios em países europeus, como França e Itália, para manterem a sua

indústria cinematográfica competitiva.

O declínio deste modelo de estúdio veio logo após a Segunda Guerra Mundial,

quando esta indústria experimentou a necessidade de modificar sua estrutura vertical,

transformando-a em horizontal e, conforme identificado por Lampel e Shamsie (2003, p.

2190), “historicamente, existem poucas indústrias que tenham sofrido uma transição de

burocracias hierárquicas para as novas formas de organização antes da década de 1990. A

indústria de Hollywood fora uma excessão.” Estas novas formas de organização são mais

voltadas para conhecimento intensivo do que para capital intensivo e apropriam-se de redes

de relacionamento para mobilizar recursos de fundamental importância (LAMPEL;

SHAMSIE, 2003).

O debate sobre integração vertical versus especialização flexível30 reside na

coordenação de toda a cadeia de valor e no consequente ganho de escala na contrapartida

de uma redução da liberdade de criação nas diferentes unidades estratégicas para

submeterem-se a uma maior coordenação (LAMPEL et al., 2000). Esta relação torna-se

essencial à indústria cinematográfica, pois o equilíbrio entre integrar e especializar pode

determinar o desempenho dos seus projetos e ambas as estratégias podem gerar resultados

para as firmas desta indústria (MEZIAS; MEZIAS, 2000). Uma firma com certo grau de

especialização pode direcionar seus recursos nas atividades que mais domina, enquanto

30 Utilizada nesta tese como sinônimo para horizontalização.

Page 47: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

47

delega o resto para outras firmas (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Os produtores e

distribuidores especializados de Hollywood, de acordo com Mezias e Mezias (2000),

possuem mais capacidades criativas do que os estúdios verticalizados, por outro lado, esta

capacidade de criar, dos considerados “estúdios menores”, favoreceu os grandes estúdios

integrados, pois a distribuição destes novos filmes proporcionou a expansão dos seus

portfólios de produtos31. Mesmo com o desequilíbrio de forças entre riscos e retornos,

ambos os tipos de firmas podem desenvolver uma favorável relação de interdependência,

na qual as inovações geradas pelas firmas especializadas convivem com os recursos dos

grandes estúdios integrados e, com isso, aumentar as chances de sucesso de um projeto de

filme (MEZIAS; MEZIAS, 2000). A estratégia de horizontalização decorre da

convergência entre a necessidade de escala e as incertezas quanto à previsão de demanda e,

na medida em que o mercado do filme se torna globalizado, algumas indústrias

cinematográficas nacionais orientadas para o mercado massificado, segundo Lorenzen

(2007), desevolvem um alto grau de horizontalização, haja vista a estratégia dos estúdios

de Hollywood, além de outros fatores propagados pela globalização.

31 Os majors concentram os principais canais de distribuição global, conforme já destacado.

Page 48: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

48

2.3 Globalização da indústria cinematográfica

A média anual global dos filmes produzidos, entre os anos de 2005 e 201132, com o

principal objetivo de serem exibidos comercialmente33 compreende, aproximadamente, a

seis mil filmes, e conta com a participação média de 84 países em todos os continentes34

(UNESCO-UIS, 2013). O Gráfico 3 mostra a participação dos dez principais países

produtores em 2011.

19,1%

12,5%

8,9%

6,7%

4,5%

4,1%

3,3%

3,2%

3,0% 2,4%

India E.U.A China Japão

Reino Unido França República da Coréia Alemanha

Espanha Itália

Gráfico 3: Participação Global – Os Dez Principais Produtores Cinematográficos em 2011

Fonte: UNESCO-UIS (2013a)

Elaborado pelo autor

Juntos estes países representaram 67,7% da produção cinematográfica mundial. Em

primeiro lugar, a Índia produziu 1,3 mil filmes em 2011, 53,2% acima da produção dos

Estados Unidos, que ocupou o segundo posto, com 819 filmes produzidos. A produção

chinesa atingiu a marca de 584 filmes produzidos e a japonesa, 441, ocupando o terceiro e

o quarto lugar, respectivamente. A classificação termina com o Reino Unido, 299 filmes

produzidos, França, 272, República da Coréia, 216, Alemanha, 212, Espanha, 199 e Itália

com 155 filmes produzidos em 2011. Neste mesmo período, o Brasil produziu 100 filmes,

o que representou 1,5% da produção global (ANCINE, 2014). Importante destacar, em

função da disponibilidade de dados mais atualizados da ANCINE, que a produção nacional

32 Últimos dados consolidados disponíveis no Instituto para Estatística da UNESCO-UIS (2013a). 33 Estes números não levam em consideração a produção da Nigéria, com o cluster de Nollywood (UNESCO-

UIS, 2013a). 34 Um dos indicadores de diversidade apresentados na primeira seção deste Capítulo.

Page 49: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

49

no ano de 2014 foi de 114 filmes e a média, entre os anos de 2011 e 2014, ficou em torno

de 105 filmes produzidos por ano (ANCINE, 2014).

Segundo Lorenzen (2007), a globalização da indústria cinematográfica pode ser

vista sob quatro aspectos, que são exibidos na Figura 7:

1. Envolvimento da indústria

2. Consumo do filme

3. Produção do filme4. Organização da

Indústria

Globalização

Figura 7: Aspectos da Globalização na Indústria Cinematográfica

Fonte: Lorenzen (2007)

Elaborado pelo autor

O primeiro aspecto da globalização considera que a produção cinematográfica tem

se tornado uma atividade mais comumente executada ao redor do mundo, conforme

demonstrado previamente nesta seção. O crescimento da produção cinematográfica dos

países pode ser observado no Gráfico 4. Constata-se expressivo crescimento, de acordo

com último relatório do UIS (2013a), entre os anos de 2005 e 2011, acima de 100% para

três países: Reino Unido, República da Coréia e China. Além de índices significativos para

países como Itália, Alemanha e Espanha, que cresceram duas vezes, ou mais que Índia,

Estados Unidos, Japão e França. Estes índices foram impelidos pelo ascendente poder de

compra dos consumidores e pelos investimentos em cinemas e outros canais de

distribuição e exibição naqueles países (LORENZEN, 2007). A produção cinematográfica

brasileira também pode ser incluída neste aspecto, conforme dados ANCINE, na

comparação entre os anos de 2005 e 2014 a produção cinematográfica brasileira cresceu

148%. No ano de 2005 foram produzidos 46 filmes, já em 2014, conforme mencionado,

ocorreram 114 produções (ANCINE, 2015).

Page 50: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

50

A produção de filmes também cresceu nos países considerados de mercados

menores devido às novas políticas governamentais e fundos de fomento, que tem fornecido

apoio aos produtores locais. Por exemplo, países como Dinamarca, Suíça e Islândia têm

chamado à atenção não apenas por aumentar suas escalas de produção, mas também por

ganhar mercado consumidor local em relação às produções estadunidenses. Este

crescimento na produção também pode ser observado em países como a República da

Coréia e Brasil, já destacados anteriormente, como também México e Nigéria, devido ao

crescimento das produções com apelo em temáticas locais facilitada por novos canais de

exibição e tecnologias de produção mais acessíveis à indústria (LORENZEN, 2007).

182%

148%125%

58%

45%

40%

24%

21% 17%13%Reino Unido

Rep. da Coréia

China

Itália

Alemanha

Espanha

Japão

Índia

E.U.A.

França

Gráfico 4: Crescimento da Produção Cinematográfica Acumulada - 2005 a 2011

Fonte: UNESCO-UIS (2013a)

Elaborado pelo autor

O segundo aspecto apontado por Lorenzen (2007) está relacionado ao consumo

global. Não somente em função do crescimento do mercado de massa para os filmes, mas

também para as oportunidades de exploração de audiências mais segmentadas. O autor

destaca alguns segmentos como, os aficcionados por arte, os especialistas em Kung Fu, os

amantes de Mangá ou as diásporas étnicas, que podem ser explorados em diversos países.

As oportunidades decorrentes deste cenário de consumo implicam uma mudança na

forma de internacionalização dos filmes. O que antes era produzido para audiências locais

e posteriormente exportado de forma gradual, atualmente, de acordo com Lorenzen (2007),

Page 51: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

51

o filme pode se tornar um “fenômeno global” desde o seu lançamento, uma vez que um

filme produzido para uma audiência global pode ser lançado simultaneamente em diversos

países.

As novas formas de distribuição e exibição, como por exemplo, a televisão via

satélite e a internet, também facilitaram a globalização do consumo, pois proporcionaram

alcançar audiências em diversos lugares do mundo. Lorenzen (2007) expõe os exemplos do

Mangá e das diásporas étnicas. Os filmes produzidos sobre Mangá têm o potencial de

alcançar audiências cult espalhadas ao redor do mundo; já as obras que abordam o tema da

diáspora indiana são capazes de atingir os indianos espalhados, principalmente, pelo Reino

Unido, Estados Unidos e Canadá.

A globalização do consumo, em última instância, também foi impulsionada por

empresas produtoras dos mais diversos países, que conseguiram reduzir significativamente

seus custos de produção, distribuição e exibição recuperando, até certo ponto, sua

defasagem em investimentos e economia de escala em relação às empresas de Hollywood

(LORENZEN, 2007).

A produção do filme além das fronteiras nacionais é o terceiro aspecto da

globalização da indústria cinematográfica, levantado por Lorenzen (2007). O autor

apresenta duas formas de produzir além das fronteiras nacionais: i) os clusters35 globais de

produção e ii) as coproduções internacionais.

Os aglomerados produtivos locais ou clusters têm recebido relevante atenção por

parte dos pesquisadores nas últimas duas décadas, muito em função de sua importância

como potenciais geradores de inovação e competitividade, no qual empresas localizadas

em clusters tedem a ter melhor desempenho em relação àquelas posicionadas de forma

isolada (PORTER, 1990; LUNDVALL, 1992; AUDRETSCH; FELDMAN, 1996;

BEAUDRY; BRESCHI, 2003).

35 “Clusters são concentrações geográficas de firmas e instituições interconectadas em um campo particular.

Estas concentrações abrangem uma série de indústrias relacionadas e outras entidades importantes à

concorrência” (PORTER, 1998, p. 78).

Page 52: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

52

Expoente da indústria cinematográfica, os Estados Unidos, com o cluster de

Hollywood, têm sido objeto de estudo de pesquisas como as de Christopherson e Storper

(1987) e Storper (1989), que investigaram a especialização flexível e seus impactos na

produção e mão de obra; Mezias e Mezias (2000), com o compartilhamento de recursos

pela concentração de grandes empresas cinematográficas e pequenas firmas especializadas

na geração de inovação; e Scott (2004) que discutiu o cluster de Hollywood na era da

globalização. Outros trabalhos, como DeFillipi e Arthur (1998) e Goldsmith e O’Regan

(2003), também utilizaram o cluster estadunidense como objeto de estudo de suas

pesquisas.

Além dos estudos acerca do cluster estadunidense, outros aglomerados surgiram ao

redor do mundo e, por conseguinte, pesquisas como as de Coe (2000, 2001), que explorou

o aglomerado canadense de Vancouver e o caracterizou como sendo uma “forma híbrida

de distrito industrial”, Kong (2005), com seus estudos sobre redes sociais e

relacionamentos no cluster de Hong Kong e Vang e Chaminade (2007), que discutiram os

impactos das produções de Hollywood no cluster cinematográfico indígena de Toronto,

também no Canadá. Além de outros aglomerados de produção na Europa, como em

Londres (Nachum e Keeble, 2003) e Bristol (Basset, Griffiths, Smith, 2002), na Inglaterra

e em Munique (Kaiser e Liecke, 2007), Potsdam (Krätke, 2002) e Leipzig (Bathelt, 2002,

2005), na Alemanha.

Os clusters ao redor do mundo, principalmente o canadense, funcionam como

“locações satélites de produção” que difundem-se devido ao crescimento das ligações

externas promovidas por Hollywood em busca de locações mais realísticas para

filmagem36, ou por redução dos custos de produção37. Com forte apelo na localização, o

principal enfoque dos estudos sobre clusters está em identificar a formação destes

aglomerados de produção ao redor do mundo e demonstrar que a proximidade espacial é

importante para as firmas envolvidas num projeto de filme. Posto que ao estudar suas

interrelações locais motivadas pelas forças de aglomeração, as pesquisas acerca deste tema

têm sido aplicadas de forma intensiva, tornando-se de fundamental importância na

indústria cinematográfica global (SCOTT, 2000, 2005).

36 Do original em inglês: “creative runaways”. 37 Do original em inglês: “economic runaways”.

Page 53: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

53

Contrapondo-se a esta argumentação de Scott (2000, 2005), Morawetz, Hardy,

Haslam e Randle (2007, p. 422) defendem que: “este foco na localização, entretanto,

oferece uma visão estreita sobre a indústria nacional, pois negligencia importantes

desenvolvimentos fora do paradigma dominante de clusters, como o crescimento contínuo

das coproduções não estadunidenses das últimas décadas.” As coproduções internacionais,

foco desta tese, serão abordadas detalhadamente na seção ulterior.

O último aspecto pontuado por Lorenzen (2007) refere-se à organização da

indústria. As “formas globais de organização”, como o autor denomina, referem-se ao

surgimento de novos conglomerados globais.

Conforme já mencionado na seção anterior, na medida em que as firmas produtoras,

principalmente as de Hollywood, internacionalizaram suas operações integrando-as

horizontalmente, elas foram diversificando-se em corporações multimídia, por intermédio

de Fusões e Aquisições com conglomerados de negócios de países como França, Austrália

e Japão.

Estes conglomerados de multimídia originados, a princípio nos Estados Unidos, e

em um segundo momento na Europa e no Japão, são de atuação global e têm suas

operações de Financiamento, Marketing e Distribuição dos filmes espalhadas por diversas

localidas do mundo. Contudo, a difusão destes conglomerados internacionais, segundo

Lorenzen (2007), são geograficamente desigual. Em muitos países estas corporações

globais estão fortemente presentes com Distribuição e Marketing, oferecendo produtos

globais, entenda-se produções tipicamente estadunidenses, nos respectivos mercados locais

onde atuam. Por outro lado, um pequeno número de países possui operação de Produção

local destas companhias internacionais, normalmente com o foco em financiar e distribuir

produções de filmes de baixo orçamento para um mercado estritamente local.

Outra forma de organização global da indústria cinematográfica inclui explorar um

número modesto de países em busca de talentos e produtos com potencial de serem

produzidos localmente, visando atender ao mercado global. Lorenzen (2007) destaca as

Page 54: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

54

coproduções internacionais de altos orçamentos, que são produzidas localmente, todavia

com a promessa de serem distribuídas internacionalmente.

A globalização da indústria cinematográfica vai além destes aspectos formais, ela

implica em uma forma de organização mundial menos visível. Em função da inovação

nesta indústria transitar por projetos temporários, ela sustenta-se também com base em

relações sociais complexas e informais de pessoas que estabeleceram contatos em projetos

anteriores, construindo confiança para futuras colaborações. Em consequência da

significativa expansão global da produção, associada à mobilidade de talentos entre os

países ou clusters, essas relações ganham importância e difundem-se globalmente

(LUNDIN; SÖDERHOLM, 1995; HOBDAY, 2000; KONG, 2005; LORENZEN;

FREDERIKSEN, 2005; LORENZEN, 2007).

Outra compreensão a respeito da globalização da indústria cinematográfica pode ser

representada pelo que Fu (2006, p.814) descreve como “o desequilíbrio no comércio

internacional de filmes”, em que o comércio internacional de produtos audiovisuais é

dicotômico, um lado é dominado pelas exportações de alguns poucos países

desenvolvidos, no outro é composto por países importadores com relativa capacidade de

comercialização. Dessa forma, o autor elenca três visões, a saber: i) “imperialismo

cultural”, ii) “estudos culturais” e iii) “análise econômica”.

A primeira das visões, o “imperialismo cultural”, reitera que as exportações de bens

culturais são regidas por interesses corporativos e sustentadas por políticas

governamentais. Esta articulação favorece os grandes conglomerados midiáticos, o

exemplo mais evidente são as exportações de Hollywood (ELBERSE; ELIASHBERG,

2003), que disseminaram as normas e os valores da cultura estadunidense ao redor do

mundo através dos filmes de faroeste. Este domínio das exportações de produtos

midiáticos gera dependência cultural e, como consequência, hegemonia cultural (FU,

2006).

Os “estudos culturais”, por sua vez, centraliza seu debate na escolha estratégica do

conteúdo criado para mercados internacionais, “na qual este conteúdo é vestido por temas

universais e empacotado com aparência transcultural, tal senso estimulado de orientação

Page 55: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

55

pode, naturalmente, vencer as fronteiras internacionais de audiência” (FU, 2006 p. 814).

Muito do sucesso dos filmes de Hollywood podem ser creditados devido à habilidade

destes produtos em cruzar não só as fronteiras de diferentes nações, mas também as

barreiras demográficas dos diferentes tipos de mercado.

A terceira visão proposta por Fu (2006) fornece uma explicação racional de como

os mercados funcionam que é por meio da relação entre o tamanho do mercado doméstico

e o mercado exportador, isto é, o domínio das exportações está relacionado diretamente ao

nível de escala atingido pela indústria em seu mercado doméstico. De acordo com

Wildman e Siwek (1988), o poder de consumo e a competitividade do mercado doméstico

nos Estados Unidos, permitiu sua produção cinematográfica ser apreciada tanto no

mercado doméstico quanto no externo.

A globalização exerce significativa influência em como as diversas indústrias

cinematográficas nacionais desenvolvem suas estratégias ao redor do mundo. Para Porter

(1986), o desafio enfrentado pelas indústrias que competem em nível internacional diz

respeito a como coordenar e configurar suas atividades em nível global, com o intuito de

competir em determinados segmentos internacionais de mercado, ou em países e regiões

nas quais permitam explorar nichos de mercado em resposta a qualquer diferença local

presente. A indústria cinematográfica é um bom exemplo, visto que, embora a maioria dos

filmes produzidos atualmente seja orientada para o consumo de massa (UNESCO-UIS,

2013a), o cinema independente, por sua vez, ainda representa um nicho de mercado a ser

explorado em nível internacional.

Page 56: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

56

2.4 Breve histórico da indústria cinematográfica nacional

O mercado cinematográfico no Brasil encerra o ano de 201438 com uma renda de

R$ 1,9 bilhão39, crescimento de 3,9% quando comparado ao ano de 2013. De acordo com a

ANCINE (2014), além da renda, o parque exibidor nacional cresceu 5,8%, também em

relação ao ano de 2013, contudo, quando comparado ao ano de 2009, este percentual sobe

para 34,3%. O ano de 2014 fechou com 2.833 salas comerciais para exibição de filmes e

aproximadamente 155 milhões de ingressos vendidos (ANCINE, 2014).

Conforme mencionado brevemente na seção anterior, a produção cinematográfica

brasileira representa em torno de 1,5% da produção global. O Gráfico 5 mostra a evolução

da produção nacional entre os anos de 2005 e 2014.

46

71 78 79

84

74

100

83

129

114

-

20

40

60

80

100

120

140

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Gráfico 5: Evolução da Produção Cinematográfica Brasileira – 2005 a 2014

Fonte: ANCINE (2015)

Elaborado pelo autor

Foram produzidos 514 filmes do gênero ficção, 328 documentários, 15 animações e

um videomusical no período analisado, no qual a média anual de filmes produzidos no

quinquênio 2010-2014 foi superior, em 38,9%, à média produzida entre os anos de 2005 e

2009, refletindo-se também nas admissões, estas que foram 85,5% superiores na

38 Últimos dados consolidados da ANCINE em seu “Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro - 2014”. 39 Receita de bilheteria (box office) de produções nacionais e internacionais.

Page 57: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

57

comparação entre os dois quinquênios40. Estes números tornam-se mais relevantes quando

se equipara a produção da indústria cinematográfica nacional dividindo-a em dois

decênios, conforme apresentado no Gráfico 6.

77,7

160,8

265

858

-250

-50

150

350

550

750

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

1995-2004 2005-2014

Admissões (milhões) Produção

Gráfico 6: Comparação por Decênio

Fonte: ANCINE (2015)

Elaborado pelo autor

O total produzido nos últimos 20 anos foi de 1.123 filmes. Visto que o decênio

2005-2014 representou 76,4%, logo, a década de 1995 a 2004 compreendeu com 26,6% do

total da produção cinematográfica nacional, sendo assim, o crescimento foi de 223,8%, na

comparação entre as décadas. As admissões acompanharam esta tendência e evoluíram em

106,9%, na equiparação entre os períodos.

Quando se trata da trajetória histórica de formação da indústria cinematográfica

brasileira, faz-se a opção por divi-la em dois períodos, tendo o início da década de 1990

como um divisor destes períodos. Esta opção se deve ao fato, principalmente, de o objeto

de estudo desta tese abarcar as coproduções internacionais brasileiras realizadas entre os

anos de 2005 e 2014, assunto do próximo Capítulo, portanto um período mais recente da

nossa história. No entanto, faz-se importante contextualizar, mesmo que de forma

abreviada, a trajetória de formação desta indústria de modo a lançar luz ao ambiente

institucional no qual o cinema nacional foi construído.

40 Em números absolutos, o total de admissões para o quinquênio 2005-2009 foi de 56,3 milhões de

espetadores nas salas de cinema, enquanto para o quinquênio 2010-2014, o total das admissões foi de 104,4

milhões de espectadores (ANCINE, 2015)

Page 58: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

58

O primeiro período desta trajetória histórica toma como referência a evolução do

cinema brasileiro como indústria, proposta por Autran (2013), que divide este processo em

quatro períodos41 que são apresentados na Figura 8.

1924-1940:

Primeiras ideias de industrialização

1941-1954:

Criação da Cia. Vera Cruz

1955-1968:

Transição do modelo

industrial

1969-1990:

Criação da EMBRAFILME

Figura 8: Trajetória Histórica da Indústria Cinematográfica Brasileira – 1924 a 1990

Fonte: Autran (2013)

Elaborado pelo autor

O período de 1924 a 1940 demarca o surgimento das primeiras ideias de

industrialização do cinema brasileiro, da criação de uma associação de classe voltada para

os interesses do cinema nacional, passando pela discussão das formas de contribuição

governamental, até a reprodução do modelo de indústria estadunidense de Hollywood

(AUTRAN, 2013). A segunda fase, compreendida pelos anos de 1941 até 1954, assinala a

criação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, na qual teve exposição internacional

com o filme “O Cangaceiro”, escrito e dirigido por Lima Barreto, este que pode ser

considerado um dos filmes brasileiros de maior sucesso no mercado externo tendo sido

comercializado para mais de 80 países, além de ter recebido o prêmio de melhor filme e

melhor canção no Festival de Cannes, na França, em 1953 (websites ADOROCINEMA;

IMDB, 2015). Nesta fase também ocorre o questionamento do modelo de produção

vigente, no qual seguia os padrões de Hollywood, que influenciam nas propostas da criação

41 Outra forma desta trajetória histórica pode ser a interpretação por ciclos: Bela Época - início do século

XX; Cinédia – década de 1920; Atlântida Cinematográfica – 1940/1950; Vera Cruz – 1950; Cinema Novo –

1960; Cinema Marginal – 1960/1970; EMBRAFILME – 1969/1990 (BERNARDET, 1995).

Page 59: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

59

de um cinema independente, ou “cinema de autor”42, no qual seguia os passos do cinema

europeu (NEVES, 1966; AUTRAN, 2013). Já entre os anos de 1955 e 1968, depois do

fracasso da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, segundo Autran (2013), o debate

sobre a industrialização do cinema nacional torna-se mais abrangente no que diz respeito

ao cinema independente, intervenção estatal e investimento direto do exterior, entre outros

temas que emergiam naquela época. Por fim, os anos de 1969 a 1990, ficam conhecidos

como o período de estatização da indústria cinematográfica nacional, com a criação, em

1969, da EMBRAFILME43. Entretanto, este mesmo período marca o seu encerramento, no

ano de 199044, devido à crise que abalou o cinema brasileiro nos anos de 1980 e por

ausência de investimentos e de políticas para a indústria cinematográfica brasileira

(AUTRAN, 2013).

O segundo período, conforme delimitado previamente, compreende as duas décadas

que suscederam à queda da EMBRAFILME, em 1990, onde, segundo Nagib (2002, p 13),

“os dois primeiros anos da década de 90 estão certamente entre os piores da história do

cinema brasileiro... Em 1992, apenas dois filmes de longa-metragem foram lançados no

Brasil”. A partir do ano de 1992, a indústria cinematográfica brasileira entra no período

conhecido como “O Cinema da Retomada”, que tem seu marco na Lei do Audiovisual,

instituída em julho de 1993, e nos novos mecanismos de incentivos fiscais à produção

cinematográfica brasileira (NAGIB, 2002). Seguindo esta retomada, foi fundada no ano de

2001 a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), que tem como principais

responsabilidades fomentar, regular e fiscalizar o mercado do cinema e do audiovisual no

Brasil (ANCINE, 2015). Dentre várias ações e programas promovidos por esta agência

reguladora, três podem ser destacados, pois tem relação importante com o objeto das

coproduções internacionais, são eles:

Protocolos de cooperação internacional;

Programa Ibermedia;

Apoio à participação de filmes brasileiros em festivais internacionais.

42 Também conhecido como “Cinema Novo”, que tem como proposta uma maior liberdade para filmar, ao

sair do estúdio e ir para rua captar a realidade do Brasil (NEVES, 1966). 43 Empresa Brasileira de Filmes S.A.. 44 Programa Nacional de Desestatização, do então presidente da república Fernando Collor de Mello, no qual

encerra as atividades do principal financiador e distribuidor do cinema nacional, além de derrubar os

mecanismos de proteção frente ao cinema estrangeiro (MINISTÉRIO DA CULTURA, 1999).

Page 60: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

60

Os protocolos de cooperação e o Ibermedia serão apresentados na seção ulterior.

Sobre o apoio à participação em festivais internacionais de cinema, pode-se acrescentar o

surgimento, no ano de 2006, do programa “Cinema do Brasil”, no qual tem por objetivo

aumentar a participação do audiovisual brasileiro no mercado internacional. Este programa

foi desenvolvido através de uma iniciativa do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado

de São Paulo – SIAESP, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de

Exportações e Investimentos45 (APEX), do Ministério da Cultura e, posteriormente, da

ANCINE. O programa “Cinema do Brasil” proporciona, às cerca de 140 firmas associadas,

apoio logístico e estratégico à realização de coproduções internacionais e à abertura de

mercados para distribuição das obras audiovisuais nacionais (APEX, 2015 ).

Diante deste contexto histórico, é possível considerar que, atualmente, a indústria

cinematográfica brasileira encontra-se em um ambiente institucional mais maduro e, de

certa forma, menos instável do que em períodos anteriores, corroborado pela evolução da

renda e público das duas últimas décadas e, como será apresentado a seguir, com

desenvolvimento de novas estratégias expressas nas coproduções internacionais brasileiras.

45 Agência estabelecida em 2003 com o intuito de promover as exportações de produtos e serviços nacionais,

contribuir com a internacionalização e atarir investimentos estrangeiros. Vinculada ao Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio (website APEX, acesso em jul/2015).

Page 61: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

61

3. COPRODUÇÃO INTERNACIONAL

Este capítulo pretende mostrar a relevância das coproduções internacionais à

Indústria Cinematográfica, tanto internacional quanto nacional. Primeiro, discorre

brevemente sobre o histórico desta modalidade de produção cinematográfica para,

posteriormente, apresentar suas principais definições. A partir de então, mostra os

principais países que possuem acordos e/ou tratados internacionais de coprodução,

encerrando com o panorama das coproduções internacionais realizadas por firmas

produtoras brasileiras entre o período de 2005 a 2014.

3.1 Breve histórico e principais definições

As coproduções têm feito parte da indústria cinematográfica internacional desde o

primeiro acordo assinado entre França e Itália, como forma de reconstruir suas respectivas

indústrias nacionais logo após a Segunda Guerra Mundial. A partir dos anos de 1960 esta

modalidade de produção se tornou necessária em países com indústria cinematográfica

modesta e pequeno mercado consumidor, permitindo que esses países combinassem

recursos e competissem globalmente (TAYLOR, 1995; JÄCKEL, 2001).

Para Betz (2001), esta modalidade tem sido empregada de forma estratégica pela

indústria cinematográfica europeia e se confunde com a própria história do cinema sonoro

daquele continente. Taylor (1995) argumenta que elas podem ser encaradas como um

mecanismo de construção nacional. O autor se refere ao Canadá como um “jovem país

tentando se encontrar em uma cultura dominada pelo seu vizinho do sul”. Em outra

referência, desta vez à Europa, Taylor (Id.) indica que as coproduções também podem ser

vistas como uma oportunidade de criar conteúdos culturais específicos para determinados

mercados locais e desta forma, prevenir a entrada de conteúdos estrangeiros.

Baltruschat (2002) reforça que as coproduções internacionais tem o potencial de

promover a integração das atividades econômicas e culturais em escala global e, uma vez

regidas por acordos internacionais, permitem acesso a diversos mecanismos de

financiamento público possibilitando o aumento dos orçamentos de produção. Davies e

Page 62: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

62

Wistreich (2007) apresentam incentivos financeiros em 50 países ao redor do mundo como

forma de orientar os diversos produtores no processo de busca de financiamento para suas

obras audiovisuais. O acesso compartilhado aos recursos financeiros pode ser considerado

uma das principais vantagens das coproduções. Ademais, segundo Pendakur (1990) e

Jäckel (2001), esta modalidade de produção também proporciona o aumento do potencial

de mercado dos filmes, posto que desfruta do apelo para um público mais amplo.

Autores como Enrich (2005) e Goettler e Leslie (2005), discutem importante

distinção a ser feita entre as modalidades de cofinanciamento e coprodução. Para estes

autores, na primeira, o parceiro financeiro participa dos resultados da obra sem dividir a

propriedade da mesma. Já na segunda, além de compartilharem dos resultados da obra, os

parceiros dividem o direito de sua propriedade. Nesta mesma linha, Betz (2007) destaca

que as estratégias de coprodução internacional têm mudado desde os anos de 1970. Para

ele, a Televisão, principalmente a partir dos anos de 1980, torna-se um importante

financiador das produções nacionais e internacionais. Este modelo de cofinanciamento tem

se mostrado uma opção atrativa, uma vez que desconsidera as diversas regulamentações e

marcos legais presentes nos acordos internacionais de coprodução que, para Betz (2007),

historicamente tem se mostrado, em alguns casos, difíceis de sistematizar.

Outra diferenciação implica em classificar coprodução internacional e o que

Pendakur (1990) atribui a co-ventures. Para este autor, as co-ventures possuem como

característica o fato de não serem cobertas por um tratado, ou acordo internacional

existente, tanto entre os países quanto entre as empresas produtoras. Ele toma como

exemplo as coproduções estadunidenses, visto que o país não possui acordos de

coprodução internacional deve-se atribuir o termo co-ventures, e não coproduções

internacionais. Em linha argumentativa parecida, Lev (1993) distingue as coproduções

“europeias” e as “europeias-americanas”, estas últimas não podem ser consideradas

coproduções internacionais legítimas, pois não estão amparadas por tratados

governamentais, assim como não há programas de subsídios recíprocos.

Diante destas definições, em um primeiro momento, para que uma obra

cinematográfica seja considerada uma coprodução internacional ela deve ser estruturada

com base em acordos e tratados internacionais entre um ou mais países, além de possuir

Page 63: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

63

linhas de fomentos recíprocas reconhecidas por uma Instituição governamental. Enrich

(2005) ainda ressalta que nas coproduções internacionais dois ou mais produtores

cinematográficos acordam em colaborar com recursos, direitos autorais e serviços em um

projeto de filme cujo um produtor não conseguiria realizar por conta própria.

Ademais, deve ter como objetivo principal a produção de conteúdos culturais

relevantes para todos os países envolvidos e proporcionar aos produtores o acesso a

mecanismos de fundos de apoio como incentivo fiscais, subsídios e outras formas de

fomento com a expectativa de ampliar o potencial de mercado da obra cinematográfica.

Enrich (2005) identificou, em amplo sentido, as cláusulas mais usualmente encontradas em

acordos ou tratados de coproduções internacionais no que diz respeito às partes envolvidas,

conforme a seguir:

As contribuições culturais;

A propriedade dos direitos autorais;

A divisão da receita de exploração comercial;

A atribuição de direitos específicos para determinados mercados, ou países;

Os créditos do filme.

No Brasil a Instituição responsável pelas coproduções internacionais é a Agência

Nacional do Cinema (ANCINE), que define coprodução internacional da seguinte forma:

Uma produção audiovisual em regime de coprodução internacional é

aquela realizada por dois ou mais agentes econômicos sediados em países

diferentes, que exerçam atividade de produção, compartilhando as

responsabilidades pela organização econômica da obra. O incentivo à

realização de coproduções está em consonância com a competência legal

da ANCINE, no que diz respeito a articular-se com órgãos e entidades

voltados ao fomento da produção, da programação e da distribuição de

obras cinematográficas e videofonográficas dos Estados membros do

Mercosul e demais membros da comunidade internacional (website

ANCINE, 2015)

O Brasil possui dez acordos bilaterais de coprodução internacional, conforme

Quadro 1, firmados com países da América do Sul e Europa, à excessão de Índia e Canadá,

dois acordos multilaterais, o Convênio de Integração Cinematográfica Ibero-Americana e o

Acordo Latino-Americano de Coprodução Cinematográfica, além de seis Protocolos de

Page 64: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

64

Cooperação entre a ANCINE e outras Instituições internacionais da Argentina, México,

Itália, Portugal, República da Coréia e Uruguai (ANCINE, 2015). Vale destacar que a

ANCINE está em processo de negociação de acordos bilatetais com a África do Sul, Nova

Zelândia, Bélgica e Rússia, já os acordos com Reino Unido e Israel, encontram-se em

trâmite no Congresso Nacional46 (STEIN, 2015).

País Finalidade País Finalidade

Alemanha Audiovisual França Cinematográfico

Argentina Cinematográfico Índia Audiovisual

Canadá Audiovisual Itália Cinematográfico

Chile Audiovisual Portugal Cinematográfico

Espanha Cinematográfico Venezuela Cinematográfico

Quadro 4: Acordos Bilaterais de Coprodução Internacional

Fonte: Stein (2015)

Adaptado pelo autor

A “finalidade” dos acordos bilaterais refere-se às denominações “cinematográfico”

e “audiovisual”, na qual a primeira restringe-se às produções orientadas, prioritariamente, à

exibição comercial em salas de cinema, e a segunda, por sua vez, estende-se para obras em

outros canais de exibição, como a televisão por exemplo. Segundo Stein (2015), o que

diferencia a obra cinematográfica da audiovisual é:

[...]a destinação pretendida por seu produtor: a obra audiovisual é aquela

que independe do processo de captação ou suporte e independe dos meios

onde será veiculada, reproduzida, transmitida ou difundida, enquanto a

obra cinematográfica é aquela destinada prioritariamente ao mercado de

salas de exibição de cinema (STEIN, 2015, p. 64).

Em relação ao número de acordos internacionais, Canadá e França podem ser

considerados os países mais competentes na atividade de coprodução internacional, sendo

as nações com mais acordos internacionais firmados (BALTRUSCHAT, 2002;

MORAWETZ et al. 2007).

46 No período de elaboração desta tese.

Page 65: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

65

A Telefilm Canada, instituição ligada ao governo canadense, administra em torno

de 55 tratados bilaterais e memorandos de entendimento47. Esta instituição define a

coprodução internacional como tratados negociados entre dois países para delinear suas

respectivas obrigações no que diz repeito aos recursos necessários que envolvem uma

produção audiovisual, em que o resultado final desfruta de condição de produção nacional

para todos os países envolvidos (TELEFILM CANADA, 2015).

Na França, a instituição responsável é o Centro Nacional do Cinema e da Imagem

em Movimento (CNC), que gerencia em torno de 56 acordos internacionais bilaterais de

coprodução cinematográfica. O país é também um dos 47 membros do Fundo de Suporte

do Cinema Europeu – EURIMAGES. Desde a sua fundação, em 1989, este fundo já apoiou

1.685 coproduções internacionais com um total desembolsado de aproximadamente €508

milhões (CNC, 2015; COUNCIL OF EUROPE, 2015).

Também membro do EURIMAGES, a Espanha, através do Instituto da

Cinematografia e das Artes Visuais (ICAA), vinculado ao Ministério da Educação, Cultura

e Esportes, define que as coproduções são filmes realizados com firmas produtoras

estrangeiras regidos por acordos internacionais bilaterais e multilaterais. A Espanha possui

21 acordos bilaterais e três multilaterais com países espalhados por todos os continentes.

Outra definição para coprodução internacional, do DCMS do Reino Unido, também

membro do Fundo de Suporte do Cinema Europeu, estabelece que:

A condição de coprodução pode contribuir com cineastas, permitindo-

lhes o acesso a benefícios fiscais, subsídios de produção ou

financiamento tanto no Reino Unido como no país parceiro. Para se

tornarem elegíveis, os filmes devem respeitar o tratado de coprodução

vigente (DCMS, 2015).

O Reino Unido possui acordos internacionais bilaterais com dez países, conforme

mecionado anteriormente, o acordo com o Brasil está em trâmite para aprovação. Da

mesma forma, integrantes do EURIMAGES, Alemanha e Portugal contam com 18 e oito

acordos internacionais, respectivamente. O Quadro 2 exibe mais alguns países que

47 Do original em inglês: Memorandum Of Understandings – MOU’s

Page 66: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

66

possuem acordo ou tratados internacionais bilaterais e multilaterais (DCMS, 2015,

INSTITUTO DO CINEMA E DO AUDIOVISUAL, 2015; CINEUROPA, 2015).

País Nº de Acordos ou

Tratados Instituição

Argentina 14 Instituto Nacional de Cine y Artes

Audiovisuales (INCAA)

África do Sul 8 National Film and Video Foundation

Chile 6 Consejo Nacional para la Cultura y las

Artes

Coréia do Sul 5 Korean Film Council

Dinamarca 7 Danish Film Institute

Índia 10 India Film Council

Nova Zelândia 15 New Zealand Film Comission (NFVF)

Quadro 5: Países com Acordos ou Tratados Internacionais de Coprodução

Fonte: INCAA (2015); NFVF (2015); Conssejo Nacional para la Cultura y las Artes (2015);

Korean Film Council (2015); Danish Film Institute (2015); India Film Council (2015); New

Zealand Film Comission (2015)

Elaborado pelo autor

Uma das vantagens das coproduções internacionais deve-se ao fato da obra gozar

de prestígio nacional em todos os países envolvidos no projeto, proporcionando as

empresas produtoras acessar fundos governamentais de apoio em cada um dos países

produtores bem como aos investidores privados, permite se beneficiar de incentivos fiscais

(HOSKINS; MCFADYEN; FINN; JÄCKE, 1997; MORAWETZ, 2008).

De acordo com Morawetz et al. (2007), algumas mudanças institucionais criaram

oportunidades para esta indústria, posto que as inovações financeiras, como os incentivos

fiscais governamentais, estimularam os investimentos privados em uma produção

cinematográfica. O motivo principal para que as coproduções ocorram implica solucionar o

problema de financianciamento dos projetos cinematográficos. Em uma indústria

caracterizada pela constante falta de recursos financeiros, a consolidação destes recursos

por dois ou mais parceiros, torna-se uma solução atrativa.

Page 67: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

67

A participação das instituições governamentais assegura que um produtor

cinematográfico de determinado país não conquiste vantagem em relação ao subsídio de

outro coprodutor. Os acordos ou tratados internacionais garantem que os coprodutores

empenhem certos critérios para gastos no orçamento e para utilização de mão de obra

qualificada nos países participantes de forma mais equilibrada (MORAWETZ, 2008).

Dado que as instituições governamentais são responsáveis por habilitar a

coprodução internacional, como é o caso brasileiro da ANCINE, a próxima seção

apresentará um panorama das coproduções internacionais brasileiras regulamentadas por

esta agência.

Page 68: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

68

3.2 Panorama da coprodução internacional no Brasil

Conforme demosntrado no Capítulo anteior, o Brasil produziu um total de 858

filmes entre os anos de 2005 a 2014. Nesse mesmo período, as coproduções internacionais

totalizaram 96 filmes, e representaram 11,2% da produção nacional, no período analisado.

A participação das coproduções internacionais tem se mantido acima dos dois dígitos nos

últimos cinco anos, de 2010 a 2014. O que não ocorreu entre os anos de 2005 a 2009,

quando apenas em 2008 esta participação alcançou a marca de 15,2% do total da produção

nacional. O Gráfico 7 demonstra a participação das coproduções internacionais por ano.

2,2% 4,2%

7,7%

15,2%

7,1%

12,2%15,0%

10,8%

16,3%

12,3%

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Gráfico 7: Participação das Coproduções Internacionais - 2005 a 2014

Fonte: ANCINE (2015)

Adaptado pelo autor

Morawtez et al. (2007) sugerem que as coproduções internacionais representam

significativa parcela da produção cinematográfica nacional de diversos países da Europa,

em torno de 30% do total produzido. Em comparação com os últimos dados divulgados

pelo Instituto para Estatísticas da (UNESCO-UIS, 2013a), referente aos anos de 2005 a

2011. Nos principais países produtores da Europa, como França e Alemanha, a

participação das coproduções internacionais na produção nacional alcançou 42,5% e

34,8%, respectivamente.

Page 69: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

69

Em outros importantes produtores europeus, como o Reino Unido, esta participação

foi de 27,4%, na Espanha foi de 28,5% e de 22% na Itália. Embora Portugal não figure

entre os principais produtores europeus, contudo, trata-se de um importante parceiro nas

coproduções com o Brasil. Como será demonstrado a diante, o total das coproduções

internacionais daquele país alcança a marca de 43,6%, entre os anos de 2005 a 2011

(UNESCO-UIS, 2013a).

Já no Canadá, outro país com importantes acordos internacionais de coprodução,

com base nos dados de 2005 a 2013 da Telefilm Canada (2015) e da Canada Heritage

(2015), os produtores canadenses participaram de 186 parcerias internacionais, este

número representou 21,5% do total de filmes produzidos naquele país.

Ante ao total das coproduções internacionais brasileiras dos últimos 10 anos, há

uma predominância de filmes do gênero ficção, com 79 coproduções realizadas, ou 82,3%

de participação. Os documentários completam a produção com 17 filmes, que representam

17,7%. A situação patrimonial destes filmes refere-se ao aporte mínimo e máximo de cada

um dos países envolvidos no projeto de produção de um filme. Esta situação muda

conforme o acordo, ou tratado internacional de coprodução cinematográfica ou audiovisual

vigente, de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1 Situação Patrimonial: Acordos Bilaterais de Coprodução Internacional

País Aporte mínimo e máximo País Aporte mínimo e máximo

Alemanha 20% a 80% França 20% a 80%

Argentina 30% a 80% Índia 20% a 80%

Canadá 20% a 80% Itália 30% a 70%

Chile 20% a 80% Portugal 20% a 80%

Espanha 40% a 60% Venezuela 30% a 70%

Fonte: Stein (2015)

Adaptado pelo autor

No caso de não haver um acordo em vigor, a ANCINE determina que a empresa

coprodutora brasileira deva ter titularidade de, no mínimo, 40% dos direitos patrimoniais

Page 70: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

70

da obra. Além de 2/3 de técnicos e artistas brasileiros, ou residentes no Brasil a mais de

três anos, na sua produção (ANCINE, 2015).

Como correspondência, o Fundo de Suporte do Cinema Europeu – EURIMAGES

propõe que a situação patrimonial majoritária da empresa coprodutora em projetos

multilaterias não pode exceder 70% do orçamento, enquanto a minoritária não pode ser

menor do que 10%. Já em uma coprodução bilateral, a participação majoritária não pode

ultrapassar dos 80%, e a minoritária não pode ser abaixo dos 20%. Para coproduções

bilaterais com um orçamento acima dos €5 milhões, é permitida a participação majoritária

de 90% do orçamento total.

Somadas as participações das coproduções majoritárias e minoritárias, chega-se a

88% dos filmes, conforme Gráfico 8. Esta fração difere de forma moderada daquela de

países como França, 50,8% majoritárias e 49,2% minoritárias, Alemanha, 47,9% e 52,1% e

Itália, 54% e 46%. Vale destacar que estes países não registraram coproduções cuja

situação patrimonial fosse igualitária, ou “não informada”. A Espanha, com 51,7% de

coproduções majoritárias, 42,8% minoritárias e 5,5% igualitárias e Portugal com 64%,

34,7% e 1,3%, respectivamente, complementam este panorama (UNESCO-UIS, 2013a).

50%

7%

38%

5%

Majoritário Igualitário Minoritário Não Informado

Gráfico 8: Situação Patrimonial - participação 2005 a 2014

Fonte: ANCINE (2015)

Adaptado pelo autor

Page 71: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

71

As 96 coproduções internacionais realizadas nos anos de 2005 a 2014 envolveram o

Brasil com mais 23 países. Pode-se constatar, a partir dos dados da ANCINE (2015), que

76% foram compreendidas por parcerias entre o Brasil e mais um país, 21% envoleram

dois países e apenas 3%, três países ou mais. A Tabela 2 expõe o total de filmes

coproduzidos e a respectiva participação destas parcerias.

Tabela 2: Total de Coprodução por Parceria - 2005 a 2014

PaísesTotal de

Coproduções% Países

Total de

Coproduções%

Portugal 17 17,7 Chile / Espanha 1 1,0

Argentina 10 10,4 Cuba / Espanha 1 1,0

França 10 10,4 Espanha / Chile 1 1,0

Estados Unidos 6 6,3 Espanha / Portugal 1 1,0

Espanha 5 5,2 Espanha / Rússia / Portugal 1 1,0

Alemanha 4 4,2 França / Canadá 1 1,0

Inglaterra 4 4,2 França / Uruguai 1 1,0

Chile 3 3,1 Holanda 1 1,0

Chile / Argentina 2 2,1 Hong-Kong 1 1,0

Colômbia 2 2,1 Índia 1 1,0

Itália 2 2,1 Itália/Portugal/França/Espanha/Moçambique 1 1,0

México 2 2,1 Japão / Canadá 1 1,0

Portugal / Argentina 2 2,1 Líbano 1 1,0

Alemanha / Espanha 1 1,0 Portugal / Espanha 1 1,0

Alemanha / França 1 1,0 Portugal / México 1 1,0

Alemanha / Inglaterra 1 1,0 Turquia 1 1,0

Alemanha / Portugal / França 1 1,0 Uruguai 1 1,0

Argentina / Espanha 1 1,0 Uruguai / Alemanha 1 1,0

Argentina / França 1 1,0 Uruguai / Espanha 1 1,0

Bélgica 1 1,0 Venezuela 1 1,0

Fonte: ANCINE (2015)

Elaborado pelo autor

Observa-se relevante participação de Portugal, Argentina e França nas coproduções

que envolvem um país. Juntos estes três países correnpondem a 38,5% dos filmes

coproduzidos em parceria com o Brasil. Ao expandir a análise para filmes cuja

participação envolve dois ou mais países, Portugal aparece em 25 coproduções; Argentina

e França em 16 filmes; já a Espanha salta de cinco para 15 coproduções e o Chile de 3 para

7 participações, o que reforça a contribuição dos países ibéricos e sul-americanos neste

cenário das coproduções internacionais, além da França. Pode-se destacar, por outro lado,

coproduções realizadas com países como Estados Unidos, Líbano, Hong Kong, Turquia e

Japão, o que sugere, até certo ponto, que as coproduções internacionais não se limitam

apenas aos acordos internacionais já estabelecidos.

Page 72: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

72

No que tange ao desempenho de um filme nas salas de cinema, o Observatório

Europeu do Audiovisual (EAO, 2015) classifica o público em 18 “bandas de sucesso”48

que variam conforme a Tabela 3:

Tabela 3: Bandas de Sucesso - público/admissões em salas de cinema

1 1 - 1.000 10 2 - 3 Milhões

2 1.001 - 10.000 11 3 - 4 M

3 10.001 - 25.000 12 4 - 5 M

4 25.001 - 50.000 13 5 - 10 M

5 50.001 - 100.000 14 10 - 15 M

6 100.001 - 250.000 15 15 - 20 M

7 250.001 - 500.000 16 20 - 25 M

8 500.001 - 1 Milhão 17 25 - 50 M

9 1 - 2 Milhão 18 > 50 Milhões

Fonte: EAO (2015)

Elaborado pelo autor

As coproduções internacionais brasileiras do período pesquisado movimentaram

um público, em território nacional, de pouco mais de cinco milhões de pessoas. Dada a

relevância da Europa no cenário internacional das coproduções cinematográficas, bem

como nas parcerias com os produtores brasileiros, o mercado internacional europeu para

estes filmes contribuiu com um acréscimo de 82,3% ao público, o que representou próximo

de 4,2 milhões de admissões noutro continente. A Tabela 4 mostra um comparativo do

Brasil com a Europa em relação ao número de filmes por “banda de sucesso”, onde “ND”

refere-se a “não divulgado” e “SP” a “sem público registrado”. Vale ressaltar que o

número máximo de admissões alcançado por uma coprodução internacional brasileira não

superou a casa de um milhão de expectadores, ou seja, os filmes encontram-se

classificados entre as oito primeiras “bandas de sucesso”.

48 Do inglês: “Bands of Success” (EAO, 2015).

Page 73: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

73

Tabela 4: Número de Filmes por Banda de Sucesso - Brasil versus Europa

Nº Bandas de Sucesso Brasil Europa

1 1 - 1.000 19 8

2 1.001 - 10.000 33 15

3 10.001 - 25.000 9 8

4 25.001 - 50.000 12 3

5 50.001 - 100.000 10 4

6 100.001 - 250.000 6 2

7 250.001 - 500.000 3 3

8 500.001 - 1 Milhão 3 3

1 50

96 96

5.085.316 4.185.949

ND / SP

Total de Filmes

Total de Público

Fonte: ANCINE (2015); EAO (2015)

Elaborado pelo autor

Nota-se que 50 filmes não possuem admissões no mercado europeu; dentre estes,

apenas um filme não tem divulgado seus dados de admissões no Brasil. A maior frequência

ficou na banda entre 1.001 e 10.000 expectadores: são 33 filmes no Brasil, enquanto na

Europa, 15 filmes alcançam esta marca de público. Já entre 250.001 e um milhão de

admissões, a participação foi igual para Brasil e Europa, totalizando seis filmes para cada

um destes mercados.

Este breve panorama da coprodução internacional no Brasil servirá como parâmetro

ao Capítulo 5, tanto na primeira etapa da pesquisa, quando ocorrerá a validação

quantitativa dos dados secundários, quanto para a terceira etapa, quando serão analisados

os dados qualitativos.

Page 74: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

74

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Entender a heterogeneidade de desempenho entre as empresas, segundo Rumelt,

Schendel e Teece (1991) é a principal questão a ser pesquisada em Gestão Estratégica.

Para esclarecer por que algumas firmas superam outras, duas importantes pespectivas49 tem

influenciado a literatura deste campo da Administração, são elas: a perspectiva da

Estratégia-Concorrência-Desempenho50 (ECD) e a Visão Baseada em Recursos (VBR).

Mais recentemente, sob a influência das pesquisas de North (1990, 1991) e Scott (1995,

2014), uma terceira perspectiva tem sido incorporada ao debate sobre Estratégia

Empresarial, trata-se da Nova Economia Institucional (NEI). Este capítulo tem o propósito

de apresentar, teoricamente, cada uma das três perspectivas em Estratégia, discorrer acerca

da interrelação entre elas para, posteriormente, estabelecer a estrutura teórica e as

proposições desta pesquisa.

4.1 Perspectiva da Estratégia-Concorrência-Desempenho

A perspectiva da ECD, também conhecida como Visão-Baseada na Indústria, cuja

maior influência em estratégia empresarial remete aos trabalhos de Porter (1975, 1979a,

1979b, 1980, 1981, 1985, 1990), fundamenta-se em um modelo no qual as empresas

podem utiliza-lo para escolher e implementar estratégias orientadas para obtenção de

desempenhos acima da média. Esta perspectiva dispõe de três esquemas analíticos,

conforme a seguir:

Modelo das forças que dirigem a concorrência na indústria – cinco forças

competitivas;

Modelo genérico para análise de ramo e das oportunidades do ambiente de

negócios;

Conceito de grupos estratégicos.

49 “Modo de ver baseado em dados conhecidos” (MICHAELIS acesso em set/2015). 50 Original em inglês: Structure-Conduct-Performance. Traduzido na edição impressa no Brasil do livro de

Michael E. Porter, “Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência”, de 1986.

Page 75: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

75

No primeiro modelo, Porter (1980) identificou características estruturais básicas da

indústria51 que determinam seu potencial de lucro final, medido em termos de retorno a

longo-prazo sobre o capital investido. Estas características estruturais básicas são

representadas pelo conjunto das cinco forças competitivas conforme demonstrado na

Figura 9.

CompradoresFornecedores

Rivalidade entre as empresa

existentes na indústria

Ameaça de produtos ou

serviços substitutos

Ameaça de entrantes potenciais

Figura 9: As Cinco Forças Competitivas que Dirigem a Concorrência

Fonte: Porter (1986, p. 23)

Adaptado pelo autor

Este modelo das cinco forças amplia a discussão à análise competitiva, uma vez que

não se limita apenas a estudar as empresas com as quais há uma concorrência direta em

certa indústria. Portanto, além da rivalidade existente em determinada indústria, na qual as

ações tomadas por uma empresa normalmente estimulam ações competitivas nas demais,

outras forças como a ameaça de entrantes potenciais, a ameaça de produtos ou serviços

substitutos, o poder de negociação dos compradores e o poder de negociação dos

fornecedores determinam a intensidade da concorrência, bem como a rentabilidade do setor

(PORTER, 1980).

51 “Indústria é o grupo de empresas fabricantes de produtos que são substitutos bastante aproximados entre

si” (PORTER, 1986, p. 24).

Page 76: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

76

A intensidade da rivalidade existente em determinada indústria toma por premissa

que as empresas disputam posições no mercado, ou por estarem pressionadas ou por

perceberem uma oportunidade de melhorarem sua posição. Podem utilizar de táticas como

concorrência por preços, esforços em publicidade, introdução de novos produtos e aumento

dos serviços ou das garantias aos clientes. Normalmente as empresas procuram diferenciar

seus produtos daquilo que seus concorrentes ofertam, de modo que sejam valorizadas por

seus consumidores e obtenham vantagem competitiva com inovações e qualidade

(PORTER, 1986; HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008).

Neste ambiente de disputa, as mobilizações competitivas de uma firma exercem

efeitos visíveis em seus concorrentes, estes que podem iniciar retaliações ou movimentos

que mitiguem estas mobilizações, ou seja, as firmas são reciprocamente dependentes.

Segundo Porter (1986), este padrão de ação e reação permite, ou não, que a firma iniciante

ou o setor como um todo se desenvolva, podendo levá-los ao uma situação pior do que a

inicial. Determinadas indústrias são mais agressivas do que outras em função da interação

de alguns fatores estruturais, como:

Quantidade de concorrentes ou equilíbrio entre empresas: mesmo com

muitos concorrentes os movimentos estratégicos são percebidos podendo

gerar dissidências, por outro lado, em indústrias concentradas o equilíbrio

entre as empresas pode gerar instabilidade, uma vez que as firmas possuem

recursos similares para retalizações vigorosas.

Indústria de crescimento lento: indústria de pouco crescimento impele

firmas por maiores disputas por posições, onde o aumento de participação

no mercado, muitas vezes, significa diminuição da participação do

concorrente.

Custos fixos altos ou elevados custos de armazenamento: a necessidade de

utilizar o máximo de capacidade produtiva para diluir os custos fixos pode

ocasionar em excesso de produção e, consequentemente, aumento nos

custos de armazenamento.

Ausência de diferenciação ou baixos custos de mudança: produtos ou

serviços com pouca ou nenhuma diferenciação, considerados pelos

consumidores como de primeira necessidade, ou commodity, balisam a

Page 77: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

77

concorrência por preço e qualidade no serviço, limitando a dinâmica da

indústria, assim como os baixos custos de mudança facilitam a atração dos

clientes pela concorrência.

Concorrentes divergentes: diferenças quanto à estratégia, origens,

personalidades e relacionamentos dificultam as percepções quanto às

intenções dos concorrentes.

Grandes interesses estratégicos: quando a concorrência tem interesse em

desempenho superior, por exemplo, assumir posição de liderança em

determinado mercado, diversificação geográfica internacional, entre outros

interesses.

Elevadas barreiras de saída: mesmo com retornos sobre o investimento

baixos, ou negativos, algumas firmas optam por manterem-se numa

determinada indústria devido a barreiras elevadas de saída, tais como ativos

especializados, acordos trabalhistas, relações de dependência mútua e

restrições governamentais ou sociais.

Outra força, a ameaça de entrantes potenciais, pode trazer nova capacidade à

indústria e colocar em risco a participação de mercado das empresas existentes. Como

impacto desta força, os preços podem cair ou os custos dos participantes podem ser

inflacionados, reduzindo assim a rentabilidade. Novos concorrentes podem impelir

empresas existentes a serem mais eficientes e eficazes e a competirem em outras arenas de

negócios. Esta força não é representada apenas por novas empresas atraídas por

determinada indústria. Por exemplo, empresas oriundas de outros mercados, a procura de

diversificação, podem causar mudanças relevantes posto que a aquisição de uma grande

empresa existente por outra requer, normalmente, o ingresso de recursos significativos e

com isso alterar a estrutura da indústria (PORTER, 1986; HITT; IRELAND;

HOSKISSON, 2008).

A empresa entrante de uma determinada indústria pode esperar algum tipo de

barreira de entrada e retalização por parte dos concorrentes existentes. Segundo Porter

(1986), há seis fontes principais de barreiras de entrada:

Page 78: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

78

Economias de escala: declínios nos custos unitários de um produto.

Diferenciação do Produto: marcas estabelecidas desenvolvem um

sentimento de lealdade dos seus clientes, devido aos esforços de marketing,

pós-vendas ou mesmo por ter sido o primeiro na indústria.

Necessidade de capital: risco de investir altos recursos financeiros,

principalmente em atividades arriscadas e irrecuperáveis como publicidade

e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

Custos de mudança: custos que o comprador se depara quando muda de um

fornecedor para outro. Estes custos podem ser treinamento da mão-de-obra,

custo e tempo para testar e qualificar a nova fonte de suprimento, custos

psíquicos, custos de um novo projeto de produto, entre outros.

Acesso aos canais de distribuição: muitos dos canais de distribuição já estão

estabelecidos e, normalmente, são utilizados pelas empresas existentes.

Assegurar a utilização destes canais pode ser complexo para o entrante.

Desvantagens de custo independentes de escala: empresas existentes podem

ter vantagens muito difíceis de serem igualadas pelos entrantes potenciais.

Alguns exemplos são tecnologia patenteada, acesso exclusivo à matéria-

prima, localizações favoráveis, subsídios oficiais e curva de aprendizagem.

Com relação às retaliações previstas, Porter (1986) assinala quatro condições que

podem indicar uma resposta por parte das empresas existentes e assim, dissuadir o entrante

em potencial, são elas:

Passado vigoroso de retaliação aos entrantes.

Empresas estabelecidas com substanciais recursos de todos os tipos.

Empresas estabelecidas com alto grau de comprometimento com a indústria.

Por exemplo, empresas estabelecidas com altos investimentos em ativos de

baixa liquidez.

Indústria de crescimento lento, o que limita a capacidade em absrover o

entrante em potencial sem encolher as vendas e o desempenho financeiro

das empresas estabelecidas.

Page 79: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

79

Os produtos ou serviços substitutos executam funções iguais ou semelhantes às de

um produto que determinada indústria produz, por isso são considerados uma ameaça às

empresas já estabelecidas em um setor. Segundo Porter (1986, p. 39), “quanto mais atrativa

a alternativa de preço-desempenho oferecida pelos produtos substitutos, mais firme será a

pressão sobre os lucros da indústria”. A ameaça se torna mais evidente para uma empresa

quando os clientes se deparam com pouco ou nenhum custo de mudança e a qualidade do

substituto é no mínimo parecida ao do produto existente (HITT et al., 2008).

Os compradores, ou clientes de uma indústria, excercem seu poder de barganha nas

negociações ao exigir produtos de qualidade pelo menor preço possível. Eles também

pressionam as empresas por mais serviços, como por exemplo, maiores garantias ou mais

atendimentos de pós-venda, com isso podem jogar os concorrentes uns contra os outros e

isso impacta a rentabilidade da indústria. O poder desta força depende de algumas

características, que de acordo com Porter (1986) são:

Os compradores estão concentrados e compram grande parte da produção

total de uma indústria.

Os produtos comprados de certas empresas representam significativa receita

das suas vendas.

Os produtos adquiridos não tem muita diferenciação ou são padronizados e

o comprador, em função da capacidade de integração para trás, pode

produzir parte das suas necessidades de um dado componente internamente

e comprar o restante de outros fornecedores externos.

Mudar para outro produto requer baixo, ou nenhum custo para o comprador.

O comprador é bem informado quanto à demanda, aos custos de produção

do fabricante e preços reais praticados no mercado.

A tecnologia da informação e comunicação (TIC) tem contribuído para os

compradores devido ao acesso a uma maior quantidade de informações, tornando-se uma

alternativa de compra e distribuição, influenciando no aumento do poder de barganda dos

Page 80: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

80

clientes de uma indústria (Hitt et al., 2008). Em outras palavras, reduzindo a assimetria de

informação pelos compradores (NAYYAR, 1990; CACHON; ZHANG, 2006).

Da mesma forma, o poder de barganha nas negociações com os fornecedores

pressiona os concorrentes exitentes da seguinte forma:

Os insumos do fornecedor são imprescindíveis para os resultados do setor,

O fornecedor desenvole produtos diferenciados ou com alto custo de

mudança.

O mercado fornecedor é dominado por poucas empresas e é mais

concentrado do que a indústria para a qual vende.

Não se tem expectativa de produtos substitutos.

As empresas da indústria não são clientes relevantes para o grupo de

fornecedores.

O fornecedor oferece risco de integração para frente, principalmente quando

possuem muitos recursos e oferecem produtos diferenciados.

Caso a empresa não consiga resgatar os aumentos nos custos de seus fornecedores

por intermédio de sua própria estrutura de precificação, sua lucratividade será reduzida

pela ação desta força.

Outro esquema analítico da ECD, o modelo genérico para análise de ramo e das

oportunidades do ambiente de negócios, parte para uma análise mais específica da

estratégia. Este modelo considera tipos importantes de meios industriais que diferem no

que tange às suas implicações estratégicas fundamentais ao longo de uma série de

definições básicas que, segundo Porter (1980), são:

Concentração de indústrias;

Estado de maturidade da indústria;

Exposição à concorrência internacional.

Page 81: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

81

A partir destas definições básicas, este modelo identifica cinco tipos de ramos. O

Quadro 6 apresenta a classificação por tipo de ramo, assim como uma breve definição e as

respectivas oportunidades.

Tipo de ramo Definição Oportunidades

Ramos emergentes

Inovações tecnológicas; alteração

nas relações de custos;

surgimento de novas

nescessidades dos consumidores

O primeiro entrante leva

vantagem

Ramos fragmentadosElevado número de empresas que

possuem tamanhos próximos

Consolidação; concentração

no número de empresas

Ramos maduros

Limitado crescimento de

demanda. Consumidores

estáveis. Pouco inovativo.

Ênfase em serviços e

inovação

Ramos declinantes Sucessivas quedas de demanda.Explorar nichos;

desinvestimento

Ramos globaisRelevantes receitas oriundas do

mercado internacional

Multinacional; Global;

Internacional; Transnacional

Quadro 6: Modelo Genérico para Análise de Ramos e Oportunidades

Fonte: Barney e Hesterly (2014 p. 157).

Adaptado pelo autor

Os ramos emergentes possuem fatores estruturais comuns como incerteza

tecnológica, incerteza estratégica, empresas em estágio embrionário, altos custos iniciais e

compradores inexperientes, além de uma pressão para atender demanda e produção. Porter

(1986) ainda destaca a possibilidade de algumas indústrias emergentes, principalmente

aquelas com tecnologia nova ou dirigidas para áreas de interesse social, receberem

subsídios tanto públicos quanto privados.

De outro ponto de vista, os ramos fragmentados possuem, segundo Porter (1986),

diferentes motivos para nele competir. Os principais motivos podem ser de ordem

Page 82: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

82

histórica, em função dos recursos ou da qualificação das empresas que tradicionalmente

fazem parte de determinado ramo, ou de causas econômicas básicas:

Barreiras de entrada pouco significativas;

Ausência de economia de escala ou curva de experiência;

Custos logísticos elevados;

Baixo poder de barganha com fornecedores e compradores;

Falta de economia de escala;

Alta diferenciação do produto;

Barreiras de saída.

A forma mais comum de superar a fragmentação baseia-se na estratégia da

consolidação. A consolidação pode acarretar em resultados significativos, posto que os

custos de entrada neste tipo de indústria são, por definição, baixos e os concorrentes

menores oferecem pouco perigo de retaliação.

Como parte inerente ao processo de evolução, algumas indústrias passam de

períodos de crescimento rápido para a etapa denominada maturidade industrial. Estes

ramos maduros são considerados um período crítico para as empresas, pois ocorrem

mudanças fundamentais na estrutura da competição que exigem respostas estratégicas mais

complexas. Muitas empresas encontram dificuldades em perceber estas mudanças no

ambiente de competição, visto que a transição para a maturidade industrial traz consigo

não somente considerações estratégicas, mas também implicações na estrutura

organizacional da empresa em função de sua liderança. Tais mudanças administrativas,

segundo Porter (1986), estão no centro das dificuldades dos ajustes estratégicos necessários

à firma.

As prováveis mudanças que ocorrem na transição para a maturidade envolvem

lento crescimento devido à concorrência, aumento do poder de barganha dos compradores,

ênfase da concorrência orientada para custos e serviços, dificuldades para obtenção de

novos produtos e uma tendência de redução dos lucros (PORTER, 1986).

Page 83: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

83

Os ramos declinantes são representados, principalmente, por uma queda absoluta

das vendas unitárias durante sucessivos períodos. Esta queda não pode ser atribuída ao

ciclo econômico ou a outras descontinuidades de curto-prazo, como greves e escassez de

material, por exemplo. Para Porter (1980), trata-se de uma situação real, na qual estratégias

de fim de jogo precisam ser desenvolvidas com relação a condição de demanda,

instabilidade da rivalidade existente e barreiras de saída.

O último ramo proposto por este modelo, indústrias globais, exige que a base da

concorrência de uma empresa seja coordenada em nível mundial, caso não alcance este

nível de coordenação, a empresa terá de lidar com possíveis desvantagens estratégicas em

relação aos seus concorrentes. Há algumas diferenças entre competir internacionalmente

ou nacionalmente. De acordo com Porter (1986), estas diferenças interferem no

desenvolvimento de uma estratégica para competir em nível internacional, são elas:

Fator custos entre os países.

Mercados externos de diferentes conjunturas.

Diferenças entre governos.

Complexidade em monitorar os concorrentes estrangeiros.

As forças que operam em indústrias globais são as mesmas que em indústria

nacionais, com extensão para abranger a concorrência externa, um grupo mais amplo de

entrantes potenciais e um escopo mais abrangente para subtitutos, assim como maiores

possibilidades de concorrentes divergentes. Para Porter (1980), a maior parte das

estratégias bem sucedidas baseou-se no reconhecimento ampliado das cinco forças

competitivas que dirigem a indústria em nível global.

Por fim, o esquema analítico da ECD envolve o conceito de Grupos Estratégicos.

Este conceito surgiu como uma das possíveis respostas à heterogeneidade das empresas e

foi introduzido por Hunt (1972) ao estudar a competitividade da indústria de linha branca52

entre os anos de 1960 e 1970.

52 Linha branca compõe o segmento de bens de consumo composto por refrigeradores, condicionadores de ar,

freezers, lava-louças, secadoras, fornos de micro-ondas e fogões (Banco Nacional do Desenvolvimento,

acesso em dezembro/2015:

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se

t206.pdf .

Page 84: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

84

Inicialmente a perspectiva da ECD aponta a indústria como unidade primária de

análise e procura estabelecer a relação entre os fatores estruturais e o desempenho, onde o

resultado econômico sugere o nível de concentração em determinada indústria, resultante

das barreiras de entrada. O estudo de Hunt (1972) introduz ao debate o questionamento da

indústria ser a unidade primária de análise ao observar que diferentes firmas de uma

indústria adotam diferentes estratégias com o intuito de atingir suas metas organizacionais,

surge então o conceito de Grupos Estratégicos intra-indústria (FIEGENBAUM;

SUDHARSHAN; THOMAS, 1990; REIS, 2010). Rumelt (1991) e McNamara, Deephouse

e Luce (2003) revelam que a concorrência intra-grupos estratégicos é maior do que a

concorrência inter-grupos estratégicos. Em outras palavras, existe mais heterogeneidade de

desempenho entre firmas de um mesmo grupo estratégico do que entre os grupos

estratégicos. Para Caves e Porter (1977), firmas que fazem parte de um mesmo grupo

estratégico tornariam-se semelhantes em termos de fatores estratégicos chaves, o que

explicaria a heterogeneidade de desempenho dentro de uma mesma indústria. Sendo assim,

de forma habitualmente utilizada, grupo estratégico pode ser definido como: “grupo de

empresas em uma indústria que estão seguindo uma estratégia idêntica ou semelhante ao

longo das dimensões estratégicas” (PORTER, 1986, p. 133). Há grupos estratégicos por

diversas razões, dentre elas estão os pontos fortes e fracos iniciais divergentes das firmas,

as diferentes ocasiões de entrada no negócio e as vicissitudes históricas.

Posto que estabelecidos os agrupamentos, firmas do mesmo grupo tendem a

assemelharem-se em suas estratégias gerais, em paticipação de mercado e em respostas aos

acontecimentos externos ou a movimentos competitivos na indústria (CAVES; PORTER,

1977; PORTER, 1986). De forma mais ampla, pode-se definir grupo estratégico como:

[...] é um dispositivo analítico projetado para ajudar na análise estrutural.

É um quadro de referência intermediária entre a visão global da indústria

e a consideração isolada de cada empresa. Em última análise, cada

empresa é um caso único; assim sendo, a classificação de empresas em

grupos estratégicos levanta inevitavelmente questões subjetivas sobre que

grau de diferença estratégica é importante (PORTER, 1986, p. 135).

O conceito de grupo estratégico, de acordo com Peteraf e Shanley (1997), pode ser

utilizado tanto para diagnosticar a concorrência, como o posicionamento e a lucratividade

das empresas. A formação de grupos estratégicos possui implicações diretas nas

Page 85: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

85

características estruturais da indústria, ou seja, as cinco forças competitivas que dirigem a

concorrência não exercem o mesmo impacto em grupos diferentes (PORTER, 1986; HITT

et al., 2008).

Page 86: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

86

4.2 Perspectiva da Visão-Baseada em Recursos

Enquanto a perspectiva em estratégia da ECD evolui da indústria como unidade

primária de análise para o ramo, ou grupo estratégico, a questão da heterogeneidade de

desempenho das firmas ainda suscita por respostas mais convincentes, visto que esta

perspectiva pressupõe que há heterogeneidade de desempenho entre os ramos e grupos

estratégicos. No entanto, continua a implicar que as firmas de um mesmo grupo são

homogêneas. Não obstante haja mais heterogeneidade sob a perspectiva da ECD do que na

Teoria dos Custos de Transação, Williamson (1975), na Teoria da Agência, Jensen e

Meckling (1976), ou na Teoria Neoclássica, Alchian e Demsetz (1972), muitos

pesquisadores têm reivindicado que a unidade primária de análise mais adequada para

explicar a heterogeneidade de desempenho seja a própria firma. Portanto, o foco das

análises passam a ser os recursos e as capacidades controlados pela firma (LIPPMAN;

RUMELT, 1982; RUMELT, 1984; WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1986; BARNEY;

HOSKISSON, 1989; DIERICKX ; COOL, 1989; BARNEY, 1991; CONNER, 1991,

PETERAF, 1993).

O ponto de vista da firma esteve ausente da discussão no campo das organizações

até então. A ressalva havia sido o trabalho de Coase (1937), “A Natureza da Firma” que,

embora tenha tido reconhecida sua importância, teve pouco impacto na produção

científica. Ao considerar como ponto de partida a revisão do próprio conceito de firma

subjacente à análise de equilíbrio parcial, em que ela representa uma organização que toma

decisões referentes a preço e quantidade produzida de um determinado produto com o

propósito de maximizar seu lucro em um cenário estático, Penrose (1959) lança os

alicerces do que virá ser a perspectiva da Visão-Baseada em Recursos (VBR). A firma é

mais do que uma função de produção e uma curva de custo e adverte pela necessidade de

um novo conceito que caracterize a firma não como uma “price-and-output decision maker

for given products”, mas sim como uma “growing organization”:

[...] a firma é mais do que uma unidade administrativa: é uma coleção de

recursos produtivos, cuja alocação entre diferentes usos e ao longo do

tempo é determinada por decisões administrativas, destaca-se, dentre

esses recursos produtivos, o grupo gerencial, o qual caracteriza-se como

um grupo de indivíduos que tem experiência de trabalho conjunto, já que

apenas dessa forma o trabalho em equipe pode ser desenvolvido

(PENROSE, 1959, p.85).

Page 87: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

87

De acordo com Penrose (1959), o conhecimento em comum da firma limita sua

taxa de crescimento, por conseguinte, distancia-se do propósito clássico de que o limite do

crescimento de uma firma seria determinado pela demanda existente, esta deveria avaliar a

sua potencialidade em termos de recursos produtivos e de conhecimento acessível e alocar,

de forma eficiente, estes recursos. Diante disso, a autora sugere que o crescimento da firma

estaria diretamente ligado a sua aquisição de conhecimento, no qual seria um processo

evolutivo, amparado pela experiência coletiva alcançada pela organização.

Ao definir que “para a firma, recursos e produtos são os dois lados da mesma

moeda”, Wernerfelt (1984, p. 171) cunha o termo Visão-Baseada em Recursos e enfatiza a

importância de a firma ter o foco em seus recursos mais do que em seus produtos.

Recursos e capacidades são abrangentes no seu sentido, pois compreendem uma

combinação de fenômenos individuais, sociais e organizacionais (CHI, 1994; DEEDS; DE

CAROLIS; COOMBS, 2000). Os recursos de uma firma incorporam todos os seus ativos,

suas capacidades53, seus processos organizacionais, informação, conhecimento, entre

outros. Ou seja, são tangíveis e intangíveis e, sob a perspectiva tradicional de análise

estratégica54, podem ser considerados forças que são controladas pela firma e utilizadas

para conceber e implementar a estratégia (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991). Posto

isto, a perspectiva da VBR, no âmbito da Gestão Estratégica, vis-à-vis a perspectiva da

ECD, desloca as premissas básicas em relação à heterogeneidade das empresas e à

mobilidade dos recursos, conforme Quadro 7.

53 São subgrupos dos recursos, sua combinação dinâmica, de uma firma que a permitem utilizar por completo

todos os recursos que a firma controla. (BARNEY; HESTERLY, 2008). 54 Barney (1991, p. 100) refere-se a ferramenta de análise SWOT - Strenghts, Weaknesses, Opportunities and

Threats. Traduzido pelo autor: Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças.

Page 88: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

88

Premissas da ECD Premissas da VBR

Homogeneidade

vs

Heterogeneidade

Firmas que integram a mesma indústria (ou grupo

estratégico) são idênticas no que diz respeito aos recursos

estratégicos importantes e às estratégias que elas

perseguem.

Firmas que integram a mesma indústria (ou grupo

estratégico) podem ser diferentes no que diz respeito aos

recursos estratégicos que elas controlam, assim como nas

estratégias perseguidas - premissa da heteogeneidade entre

as firmas.

Mobilidade de

recursos

A heterogeneidade dentro de uma indústria (ou grupo

estratégico) é rapidamente rechaçada em função da alta

mobilidade dos recursos utilizados pelas firmas para

implementarem suas estratégias.

A heteorgeneidade dentro de uma indústria (ou grupo

estratégico) pode perdurar por longos períodos, pois os

recursos podem não ser perfeitamente móveis entre as

firmas.

Quadro 7: Premissas Básicas VBR vis-à-vis ECD

Fonte (Barney, 1991)

Adaptado pelo autor

As premissas básicas da VBR consideram que as empresas diferem entre si e que o

conjunto dos recursos e as capacidades são imperfeitamente móveis (RUMELT, 1984;

WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1986; DIERICKX e COOL, 1989; BARNEY, 1991;

CONNER, 1991; PETERAF, 1993). Esta perspectiva altera a ênfase direcionada ao

ambiente competitivo no qual a firma está inserida, para os recursos desenvolvidos pela

própria firma e utilizados para competir naquele ambiente, ou seja, o foco muda do

ambiente externo para o ambiente interno (MILLER e SHAMSIE, 1996). A capacidade da

firma de alcançar e manter-se em uma posição lucrativa no mercado decorre de sua

capacidade de ganhar e defender tal posição, combinando importantes recursos

relacionados à produção e distribuição (CONNER, 1991). Os recursos da firma podem ser

classificados da seguinte forma, segundo Barney (1991, p. 100):

Recursos de Capital Físico:

o Tecnologia utilizada pela firma;

o Infraestrutura da firma – planta e equipamentos;

o Localização geográfica;

o Acesso a matérias-primas.

Recursos de Capital Humano:

o Experiência;

o Treinamento;

o Relacionamentos;

o Julgamentos;

o Visões individuais dos gerentes e demais trabalhadores.

Page 89: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

89

Recursos de Capital Organizacional:

o Estrutura formal de relatórios;

o Planejamento formal e informal;

o Formas de controle;

o Sistemas de coordenação;

o Relações informais entre os grupos da firma;

o Relações informais entre a firma e aqueles do seu ambiente.

Aos recursos tangíveis, ativos mais facilmente quantificáveis, podem ser

acrescentados os recursos financeiros que são: i) capacidade da firma de captar

empréstimos de terceiros; ii) potencial da empresa de gerar caixa internamente; iii) lucros

retidos obtidos pela firma para reinvestimento. Quanto aos recursos intangíveis, arraigados

de sobremaneira ao histórico acumulado da firma e mais difíceis de quantificar, pode-se

acrescentar os recursos de inovação: i) capacitações científicas; ii) potencial para gerar

inovações e os recursos reputacionais: i) marca; ii) percepções de qualidade e

confiabilidade do produto; iii) reputação para com os fornecedores (GRANT, 1991; HALL

1992; GODFREY; HILL, 1995; BARNEY; WRIGHT; KETCHEN, 2001; BARNEY;

HESTERLY, 2008).

Elementos centrais da VBR no âmbito da Gestão Estratégica, os conceitos de

ambiguidade causal e imitabilidade, inicialmente explicados por Lippman e Rumelt (1982),

estão compreendidos em um pacote de ferramentas que pode ser utilizado para analisar os

diferentes tipos de recursos e capacidades controlados pela firma, isto é, identificar os

pontos fortes e as fraquezas internas inerentes à empresa. O modelo VRIO, apresentado no

Quadro 8, possibilita evidenciar os potenciais recursos geradores de vantagem competitiva

sustentável à empresa (BARNEY, 1991; BARNEY; HESTERLY, 2008).

Page 90: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

90

Principal definição

Valor VO recurso permite explorar uma oportunidade e/ou

neutralizar uma ameaça externa.

Raridade RO recurso é controlado por um número restrito de

concorrentes, ou potenciais concorrentes.

Imitabilidade IO recurso e demasiado custoso para imitar.

Imperfeitamente imitável.

Organização OA firma deve estar organizada para explorar ao máximo

seus recursos e capacidades.

Atributos

Quadro 8: O modelo VRIO

Fonte: Barney (1991, p. 105); Barney e Hesterly (2008, p. 66)

Elaborado pelo autor

Recursos e capacidades são valiosos (V) apenas quando possibilitam à firma

melhorar sua posição competitiva; ao contrário, são fraquezas. Os mesmos recursos e

capacidades podem ser potenciais forças em certo mercado e fraquezas noutro. Um recurso

somente valioso gera, no máximo, paridade competitiva à empresa. Com relação à raridade

(R), o número de firmas que detém um recurso, ou capacidade, valioso em particular deve

ser menor do que a quantidade de empresas necessárias para promover uma dinâmica de

concorrência perfeita em determinada indústria. Quando os recursos ou capacidades são

valiosos e raros, invariavelmente, eles são inovadores, pois permitem conceber e

implementar estratégias que outras empresas não conseguiriam, uma vez que não dispõem

de recursos e capacidades significativas, permitindo assim, uma vantagem competitiva

temporária a quem os detém (BARNEY, 1991; BARNEY; HESTERLY, 2008). Por sua

vez, a questão da imitabilidade (I), incorporada aos dois primeiro atributos, pode permitir à

empresa uma vantagem competitiva sustentável, em razão das desvantagens de custos para

imitar. Quatro aspectos de imitação custosa podem ser identificados (DIERICKX; COOL,

1989; BARNEY, 1991; MAHONEY ; PANDIAN, 1992; PETERAF, 1993):

Condições históricas peculiares: a firma tem acesso a recursos relevantes

em função da sua disposição no tempo e no espaço. Pioneirismo ou

dependência de caminho55 podem criar tais condições.

55 Original em inglês: path dependence.

Page 91: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

91

Ambiguidade causal: as vantagens de uma firma estão amparadas por

complexos conjuntos de capacidades que não podem ser percebidos com

clareza pelos concorrentes, tornando-se difíceis de imitar.

Patentes: inibe a duplicação direta por determinado espaço de tempo.

Complexidade social: são difíceis de imitar no curto-prazo. Relações

interpessoais, cultura e confiança são exemplos dessa complexidade.

Por fim, o atributo organização (O) está relacionado diretamente ao que Barney

(1991) classifica como Recurso de Capital Organizacional podendo ser representado pela

estrutura formal de relatórios, pelos sistemas de coordenação e controle formais e

informais, entre outros já mencionados anteriormente. A empresa deve estar organizada

para explorar ao máximo seus recursos e capacidades de modo que alcance a vantagem

competitiva sustentável.

Em edição especial de 2011 do Journal of Management, dedicada aos 20 anos de

pesquisas realizadas sobre VBR, Barney, Ketchen e Wright (2011) destacam que esta

perspectiva em estratégia tem se tornado amplamente reconhecida como uma das mais

relevantes e influentes teorias para descrever, explicar e prever as relações organizacionais.

Os autores salientam que a VBR, como muitas outras teorias, evolui tal qual o ciclo de vida

do produto, conforme definido por Levitt (1965): i) introdução, ii) crescimento e iii)

maturidade.

Barney et al. (2011) resumiram os três estágios de evolução da VBR em 38 artigos

chaves. Conforme demonstrado no Gráfico 9, o estágio introdutório da VBR conta com

dez artigos que estão dispostos entre os anos de 1959 e 1991. A fase de crescimento

considera 12 publicações entre 1992 e 1999. Já a fase de maturidade está representada por

16 trabalhos e compreende os anos de 2001 a 2010.

Page 92: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

92

26,3%

31,6%

42,1%

Introdução Crescimento Maturidade

Gráfico 9: Ciclo de Vida da Visão-Baseada em Recursos – de 1959 a 2010

Fonte: Barney et al. (2011)

Elaborado pelo autor

Após passar pelo estágio introdutório, representado principalmente por Penrose

(1959), Lippman e Rumelt (1982), Wernerfelt (1984), Dierickx e Cool (1989) e Barney

(1986; 1991), já referenciados anteriormente, o estágio de crescimento da VBR apresenta

importantes trabalhos que contribuem para a evolução desta perspectiva em estratégia.

Nesta fase, Barney et al. (1999) destacam-se, dentre outros, os trabalhos de Oliver (1997) e

Combs e Ketchen (1999), os quais integram a VBR com outras perspectivas; as pesquisas

de Hart (1995), que desenvole o conceito de Visão-Baseada em Recursos Naturais da

firma; Grant (1996), onde introduz o conceito de Visão-Baseada no Conhecimento; e

Teece, Pisano e Shuen (1997), em que acrescenta à VBR o conceito de capacidades

dinâmicas, ao explicar que a vantagem competitiva surge através da convergência entre

ativos, processos e caminhos evolucionários56. Ainda na fase de crescimento, a pesquisa de

Miller e Shamsie57 (1996) também merece destaque, uma vez que os autores testam

empiricamente a relação entre recursos e desempenho, utilizando a indústria

cinematográfica de Hollywood como objeto de estudo. A estrutura conceitual proposta por

Miller e Shamsie (1996) está fundamentada nos “Recursos-Baseados em Propriedade”58 e

nos “Recursos-Baseados em Conhecimento”59. Esta estrutura será explorada, novamente,

56 Original em inglês: evolutionary paths. 57 Melhor artigo do ano no Academy of Management Journal. 58 Original em inglês: Property-Based Resources. 59 Original em inglês: Knowledge-Based Resources.

Page 93: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

93

com mais detalhes na seção 4.5, quando serão apresentadas a estrutura conceitual e as

proposições teóricas que orientam este trabalho.

Ao ingressar no estágio de maturidade, a perspectiva da Visão-Baseada em

Recursos alcança a condição de teoria, ou “Teoria-Baseada em Recursos”60 (BARNEY, et

al. 2011). São diversas as contribuições para esta evolução, dentre elas, o debate acerca dos

micro-fundamentos da teoria, proposto por Lippman e Rumelt (2003) e Teece (2007); as

contribuições da VBR às pesquisas de empreendedorismo, de Alvarez e Busenitz (2001) e

Ireland, Hitt e Sirmon (2003); e a crítica aos métodos de pesquisa em VBR abordada no

trabalho de Armstrong e Shimizu (2007), bem como a revisão das críticas à Teoria-Baseda

em Recursos, de Kraaijenbrink, Spender e Groen (2010) (BARNEY, et al. 2011).

Embora o estágio de maturidade possa durar por muitos anos, invariavelmente o

ciclo de vida do produto é procedido por mais dois estágios: iv) revitalização ou v)

declínio. Como proposta de revitalização da VBR, os principais temas que emergem desta

edição especial de 2011 do Journal of Management, conforme Barney et al. (2011) são:

Interrelações com outras perspectivas;

Processos de aquisição e desenvolvimento de recursos;

Os micro-fundamentos da teoria;

Visão Baseada em Recursos e Sustentabilidade;

Questões sobre métodos de pesquisa em VBR e mensurações dos recursos.

Esta tese toma como ponto de partida: i) as propostas de interrelações com outras

perspectivas em estratégia; e ii) as questões sobre métodos de pesquisa em VBR. A

respeito da interrelação com outras perspectivas, Wan, Hoskisson, Short e Yiu (2011)

sugerem que a VBR pode ser integrada às contribuições da Economia Organizacional, da

Nova Economia Institucional e da Visão Baseada na Indústria. Yamakawa, Peng e Deeds

(2008) corroboram com esta integração de perspectivas conectando a VBR com a Visão

Baseada na Indústria e com a Visão Baseada nas Instituições61 para explicarem a

internacionalização das firmas dos países de Economia Emergente para os países de

60 Original em inglês: Resource-Based Theory. 61 Para este trabalho, Nova Economia Institucional e Visão–Baseada nas Instituições são utilizadas como

sinônimos.

Page 94: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

94

Economia Desenvolvida. Já Oliver (1997), destacada anteriormente de forma breve no

estágio de crescimento da VBR, combina esta perspectiva com a Institucional, ao

argumentar que a vantagem competitiva sustentável da firma depende da sua habilidade em

gerenciar o contexto institucional no qual as decisões sobre recursos estão inseridas. Em se

tratando de indústria cinematográfica, a interrelação da VBR com outras perspectivas foi

considerada por Hadida (2013). A autora propõe a combinação da VBR à Nova Economia

Institucional para explicar as diferenças entre a indústria cinematográfica francesa e

estadunidense. Esta discussão será retomada com mais detalhes na seção 4.4, mais adiante.

Com relação aos métodos de pesquisa em VBR e a mensuração dos recursos, uma

das principais discussões envolve o debate acerca dos recursos intangíveis (GODFREY;

HILL, 1995; BARNEY; WRIGHT; KETCHEN, 2001). Tanto a avaliação quanto a

validação dos constructos de recursos intangíveis normalmente obedecem a uma lógica

mecanicista, empírica e unidisciplinar, quando o mais indicado seria aplicar um modelo

teórico-conceitual e multidisciplinar (MOLLOY; CHADWICK; PLOYHART; GOLDEN,

2011).

A proposta de Molloy et al. (2011) envolve um “Processo de Avaliação

Multidisciplinar” (MAP – em inglês) que integra tanto a visão econômica quanto a visão

psicológica para promover um contexto teórico específico que melhor possa representar os

recursos intangíveis em estudos empíricos. Os autores argumentam que o MAP, ao

estabelecer uma conexão entre VBR e recursos intangíveis, torna compreensível o “como”

e o “por que” um determinado recurso intangível delineia-se na criação e na captura de

valor pelas firmas.

Outro modelo, apresentado por Rouse e Daellenbach (1999), envolve

complementar os consagrados métodos de pesquisa em VBR. A proposta destes

pesquisadores tem o potencial de evidenciar as diferenças, os pontos fortes e fracos e as

fontes da vantagem competitiva sustentável, promovendo a comparabilidade dos fatores

organizacionais e das combinações sinérgicas dos recursos. Esta abordagem metodológica

é uma das referências utilizadas nesta tese e será rememorada no Capítulo 5, no qual

descreverá a Metodologia da Pesquisa.

Page 95: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

95

4.3 Perspectiva da Nova Economia Institucional

Conforme apresentado nas seções anteriores deste capítulo, o arcabouço teórico que

tem sido utilizado em Gestão Estratégica para discorrer sobre a heterogeneidade de

desempenho entre firmas defende posições, em certo ponto, opostas. Enquanto a

perspectiva da ECD tem o foco no ambiente externo da empresa – neutralizar ameaças e

explorar oportunidades - a VBR concentra-se no ambiente interno – forças e fraquezas,

representadas pelos recursos e capacidades que estão sob controle da firma e são aplicados

para conceber e implementar a estratégia. Ambas as perspectivas têm recebido críticas por

não levarem em consideração os diferentes contextos e restrições nos quais são tomadas as

decisões estratégicas, em outras palavras, estas perspectivas tem negligenciado o contexto

institucional com o qual as empresas interagem (FLIGSTEIN, 1990; DOBBIN; DOWD,

1997; OLIVER, 1997; PRIEM; BUTLER, 2001; NARAYANAN; FAHEY, 2005). Para

Ingram e Silverman (2002) e Hambrick e Chen (2008), o campo de estudos da Gestão

Estratégica necessita de constante relação com outras perspectivas devido a sua relativa

“juventude” e, conforme defendido por Peng (2006), a perspectiva da Visão-Baseada nas

Instituições62 tem muito a contribuir com as duas perspectivas em estratégia já

consolidadas.

Ante a perspectiva da Nova Economia Institucional (NEI), as empresas atuam em

um contexto estrutural tomado como certo63, no qual as escolhas econômicas são

contraídas não apenas por questões tecnológicas, informacionais, ou por limites

mercadológicos defendidos pelos modelos neoclássicos, como também são restringidas por

limites construídos socialmente, os quais são intrínsecos à natureza humana e afetam

diretamente as empresas no que diz respeito à formulação e implementação de suas

estratégias (OLIVER, 1997; INGRAM; SILVERMAN, 2002). Esta perspectiva em

estratégia resulta da convergência64 de influências oriundas, principalmente, das ciências

sociais e econômicas e procuram englobar em seus conteúdos a ideia de instituições e de

arquétipos comportamentais, normativos e legais, no que tange às crenças, pressupostos,

normas e valores, imersos em indivíduos, grupos e organizações (MEYER; ROWAN,

1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983; NORTH, 1990, 1991; SCOTT, 1995, 2014).

62 Termo utilizado por Peng (2006) em Gestão Estratégica para se referir à Nova Economia Institucional. 63 Do original em inglês: taken-for-granted. 64 Subjacente ao que se denomina de forma mais ampla de Teoria Institucional.

Page 96: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

96

As instituições, conforme a definição de North (1990), representam “as regras do

jogo em uma sociedade”, ou mais formalmente são:

[...]restrições humanamente idealizadas que moldam a interação humana.

Como consequência, elas estruturam os incentivos à troca humana, seja

ela política, social, ou econômica. As mudanças Institucionais moldam a

forma como a sociedade evolui ao longo do tempo e, portanto, são as

chaves para entender as mudanças históricas (NORTH, 1990, p. 3).

North (1990) estabelece relação entre a Teoria do Comportamento Humano

(LUCAS, 1986; SIMON, 1986) e a Teoria dos Custos de Transação (COASE, 1937;

WILLIAMSON, 1975) para explicar por que as instituições existem e qual papel elas

exercem no funcionamento da sociedade. Ainda de acordo com North (1990), as

instituições, no decorrer da história, foram criadas pelos seres humanos com os objetivos

de estabelecer a ordem e reduzir as incertezas nas trocas humanas, sendo constituídas tanto

por restrições informais quanto por restrições formais. As restrições informais podem ser

representadas por tabus, códigos de conduta, costumes e tradições. Em outras palavras,

normas, culturas e códigos de ética. Já as restrições formais são representadas por leis,

regulamentações e demais regras políticas e jurídicas (NORTH, 1990; 1991).

Complementar à discussão proposta por North (1990), as instituições são

consideradas, segundo Scott (2014), um conjunto estruturado de atividades regulativas,

normativas e cognitivas, denominadas “pilares institucionais”, apresentados no Quadro 9.

Regulativo Normativo Cognitivo

Mecanismos Coercitivo Normativo Mimético

Lógica Instrumental Conveniência Ortodoxa (acreditada)

Indicadores Regras / Leis / Sanções Certificação e AceitaçãoCrenças comuns / Lógica de ação

compartilhada / Isoformismo

O que é afetado Medo da culpa / Inocência Vergonha / Honra Certeza / Confusão

Base de legitimação Legalmente sancionada Moralmente regulamentadaCulturalmente amparado /

Compreensível / Reconhecível

Bases de aceitação Adequação Dever social"Tomado como certo" /

Entendimentos compartilhados

Quadro 9: Os três Pilares Institucionais

Fonte: Scott (1995, p. 59)

Adaptado pelo autor

Page 97: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

97

Estes três pilares promovem estabilidade e significado social (SCOTT, 2014). O

pilar “Regulativo” pode ser equiparado às restrições formais propostas por North (1990),

posto que os indicadores, leis, regras e sanções devem ser legalmente sancionados como

forma de legitimação. Por conseguinte, os pilares “Normativo” e “Cognitivo” assemelham-

se às restrições informais, sugeridas por North (1990). O primeiro legitima-se no que é

moralmente compartilhado entre indivíduos ou grupos de indivíduos, ou seja, são as

normas que são intrínsecas às relações sociais. Por sua vez, o pilar “Cognitivo” está

amparado mais fortemente na cultura, no que é usualmente reconhecido como correto, em

outras palavras, são as creças comuns e as lógicas de ações compartilhadas no decorrer do

tempo.

As instituições também podem ser tipificadas de acordo com o seu escopo –

privada ou pública; e, de acordo com sua composição e operação – centralizadas ou

descentralizadas, conforme apresentadas na Figura 10. A dimensão do escopo define os

principais atores que encabeçam a instituição; por sua vez, a dimensão

descentralizada/centralizada identifica o encarregado pelo desenvolvimento e manutenção

das formas institucionais padrões (INGRAM; SILVERMAN, 2002).

Forma padrão: Normas

Atores: Grupos sociais

Direcionadores da estratégia:

- Política de Recursos

Humanos;

- Cultura Corporativa;

- Redes Inter-organizacionais.

Forma padrão: Regras

Atores: Organizações

Direcionadores da estratégia:

- Ferramentas estruturais e

estratégias convencionais;

- Grupos de negócios.

Forma padrão: Cultura

Atores: Sociedade Civil

Direcionadores da estratégia:

- Parcerias com grupos sociais

engajados de foram da

estrutura da empresa.

Forma padrão: Leis

Atores: Estados

Direcionadores da estratégia:

- Estratégias de “não-

mercado”;

- Atividades para política de

negócios.

Descentralizadas Centralizadas

Privadas

Públicas

Figura 10: Formas Institucionais – Tipologia

Fonte: Ingram e Silverman (2002, p. 10)

Adaptado pelo autor

Page 98: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

98

As instituições “privadas/descentralizadas” podem ser enquadradas como um tipo

de “restrição informal” (NORTH, 1990) e um “pilar normativo” (SCOTT, 2014), em

função de a norma ser sua forma padrão e as relações entre os diversos grupos sociais seu

princial ator institucional. Tanto os comportamentos, individual e grupal, como as

instituições, são afetados pelas relações sociais, nas quais as normas interagem com as

regras das empresas exercendo relevante inflência no seu desempenho (GRANOVETTER,

1985; NEE; INGRAM, 1998). Sendo assim, os direcionadores estratégicos das firmas

abrangem as redes inter-organizacionais, a construção de uma cultura corporativa e uma

política de recursos humanos que mobilizem as normas em seu favor.

No outro lado, as instituições “públicas/centralizadas” combinam com a “restrição

formal” e o “pilar regulativo”, uma vez que tem no Estado seu importante ator institucional

e nas leis a sua forma padrão de atuação e legitimação. Este tipo de instituição pode

facilitar as trocas entre os indivíduos, grupos e organizações e as suas orientações

estratégicas devem promover atividades políticas que incentivem os negócios, como

exemplos: i) oferecer um sistema de leis que proteja os direitos de propriedade intelectual;

ii) criar condições para redução dos custos de transação; e iii) desenvolver instrumentos

que regulem o cumprimento dos contratos (NORTH, 1990).

Por sua vez, as instituições “privadas/centralizadas” são, em sua maioria, firmas

com fins lucrativos, portanto convivem com o dilema dos custos de transação (COASE,

1937; WILLIAMSON 1975). Seus direcionadores estratégicos podem ser influenciados

pelas instituições “públicas/centralizadas”, posto que os arranjos institucionais formais as

formas de governança e o tipo de estratégia adotado pela firma. Esta discussão será

retomada com mais detalhes na próxima seção.

Por fim, as instituições “públicas/descentralizadas” podem ser consideradas como

“restrições informais”, sob a visão de North (1990), pois se fundamentam nas questões

culturais como forma padrão e tem na sociedade civil o seu principal ator. Para Ingram e

Silverman (2002), estas instituições diferem das demais:

[...]elas são diferentes das outras três formas institucionais. Elas diferem

em termos de intencionalidade. Leis, regras organizacionais e normas são

concebidas consciente e estrategicamente pelos Estados, organizações e

indivíduos. Estas instituições, nem sempre, têm os efeitos que os seus

Page 99: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

99

criadores e apoiadores intetam mas, não por menos, surgem de alguma

intensão (INGRAM; SILVERMAN, 2002, p. 18).

De acordo com Ingram e Silverman (2002), a potencial contribuição da Nova

Economia Institucional65 à Gestão Estratégica reside em destacar o papel interativo

praticado pelas instituições, ora promovendo, ora restringindo as decisões das firmas. Para

estes autores, a NEI determina diretamente a forma como as firmas formulam e

implementam suas estratégias e, por conseguinte, como as firmas conseguem alcaçar

vantagem competitiva.

65 Ingram e Silverman (2002) denominam de “Novo Institucionalismo”.

Page 100: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

100

4.4 Interrelação das perspectivas estratégicas

A heterogeneidade de desempenho das empresas e a complexidade de competir no

mercado globalizado têm impelido diversos pesquisadores e acadêmicos em promover

estudos empíricos e teóricos de escopo mais amplo, como forma de evolução do debate em

Gestão Estratégica. Desde os trabalhos de Schmalensee (1985), Rumelt (1991) e McGahan

e Porter (1997), passando por Oliver (1997), Peng (2006), Yamakawa, Peng e Deeds

(2008) e Carvalho, Bandeira-de-Mello, Vianna e Marcon (2009), até os mais recentes

como Goldszmidt, Brito e Vasconcelos (2011), Hadida (2013) e Kallas, Caldeira,

Bandeira-de-Mello e Marcon (2015), tem havido uma preocupação em introduzir neste

debate a interrelação entre perspectivas estratégicas.

Considerados seminais, os trabalhos empíricos de Schmalensee (1985), Rumelt

(1991) e McGahan e Porter (1997) analisam a importância do ano, da estrutura da

indústria66, da unidade de negócio67, do parente corporativo68 e dos efeitos transitórios na

indústria69, alcançando resultados diferentes. O primeiro analisa os lucros de empresas

manufatureiras estadunidenses do mesmo segmento de mercado, no ano de 1975, e conclui

que a estrutura da indústria corresponde diretamente a 20% da variação nos lucros das

unidades de negócios e próximo de 100% da variação total explicada. Schmalensee (1985)

ainda sugere que os efeitos do parente corportativo70 não exerce impacto na variação dos

resultados da empresa. Já Rumelt (1991) encontra resultados diferentes ao incluir dados

das empresas manufatureiras, coletados na mesma fonte71 de Schmalensee (1985), desde o

ano de 1974 até 1977. Rumelt (1991) conclui que o impacto das unidades de negócios

explica diretamente 44% a 46% das variações, representando 73% da variação total

explicada. Rumelt (1991) ainda reporta que a estrutura da indústria somada aos seus efeitos

transitórios explica somente de 9% a 16% do total das variações, subvertendo os achados

de Schmalensee (1985). Já o efeito do parente corporativo representa de 1% a 2% das

variações nos lucros das empresas estudadas. Para McGahan e Porter (1997), esta queda de

participação do efeito da estrutura da indústria, em relação aos achados de Schmalensee

66 Relaciona-se a perspectiva estratégica da ECD. 67 Relaciona-se a perspectiva estratégica da VBR. 68 Do original em inglês: “corporate-parent”. 69 Do original em inglês: “industry transient effects”. Também relacionada a perspectiva estratégica da ECD. 70 Em seu artigo o autor utiliza o termo “efeito firma”. 71 Federal Trade Commission (FTC).

Page 101: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

101

(1985), serve como fundamento à Visão-Baseada em Recursos, ou seja, enfraquece a

perspectiva da ECD defendida por eles. Como resposta à Rumelt (1991), McGahan e

Porter (1997) utilizam dados de outra fonte72 que, de acordo com os autores, cobre todos os

setores da economia estadunidense, exceto serviços financeiros, diferentemente do trabalho

de Rumelt (1991), além de ampliarem de quatro anos para 14 anos a série de dados.

McGahan e Porter (1997) concluem que o efeito da estrutura da indústria correponde

diretamente a 19% das variações nas unidades de negócios e 36% da variação total

explicada, refutando o resultado de Rumelt que ficou entre 9% e 16% no mesmo quesito.

Os autores ainda reportam que o ano explica 2% das variações, o efeito do parente

corporativo corresponde a 4% e o efeito transitório da indústria explica 32% das variações.

Tais resultados, em linhas gerais, corroboram com os achados de Schmalensee (1985) e

indicam que o efeito da estrutura da indústria exerce impacto significativo na rentabilidade

de um setor específico e colocam em dúvida os achados de Rumelt (1991), posto que para

este autor, a estrutura da indústria exerce pouca influência na rentabilidade das empresas

de um determinado setor.

Sob a influência de North (1990, 1991) e Scott (1995, 2014), outra perspectiva foi

introduzida ao debate a respeito da heterogeneidade das empresas, muito em função da

atual complexidade de atuar num mercado globalizado, no qual a internacionalização das

empresas não obedece apenas ao fluxo dos mercados desenvolvidos para os mercados em

desenvolvimento. O fenômeno da internacionalizacão das empresas provenientes de

economias emergentes é uma realidade e tem despertado a atenção de diversos

pesquisadores (MEYER; PENG, 2005; PENG, 2003; WRIGHT; FILATOTCHEV;

HOSKISSON; PENG, 2005a). Diante deste contexto emerge a perspectiva estratégica da

Nova Economia Institucional (NEI).

Pesquisas como as de Carvalho et al. (2009), Goldszmidt et al (2011) e Kallas et al.

(2015) partem do mesmo empirismo contido nos trabalhos seminais de Schmalensee

(1985), Rumelt (1991) e McGahan e Porter (1997). Contudo, lançam luz ao debate em

Gestão Estratégica ao acrescentar os efeitos dos países latino-americanos nos negócios das

empresas, em outras palavras, estes trabalhos acrescentam o turbulento ambiente

institucional dos países latino-americanos à perspectiva da ECD para explicar a inflência

72 Compustat Business Segment Reports

Page 102: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

102

das instituições e da estrutura da indústria nos resultados das empresas. O primeiro estudo

enfatiza a importância dos efeitos transitórios de cinco países latino-americanos entre o

período de 1998 a 2007, chegando à conclusão de que estes efeitos exercem relevante

impacto nos resultados econômicos das empresas. O trabalho de Goldszmidt et al. (2011)

analisa uma amostra de 10.000 empresas, de países de economia desenvolvida e

emergente, considerando três efeitos: país, estrutura da indústria e a interação entre país e

indústria, para chegar a uma consideração que o efeito país influencia de sobremaneira o

desempenho das empresas em países de economia emergente. Em contrapartida, a pesquisa

de Kallas et al. (2015) propõe como as mudanças institucionais afetam os negócios das

empresas em um determinado país, neste caso, o Brasil. Os autores utilizam o índice de

Retorno sobre o Patrimônio Líquido 73 das empresas listadas na Bolsa de Valores de São

Paulo (BOVESPA) entre os anos de 1986 a 2009. Os 24 anos são divididos em três

períodos, de oito anos cada, representando três fases institucionais diferentes. Os resultados

desta pesquisa sugerem que as mudanças institucionais influenciam no desempenho das

empresas. Estes trabalhos dialogam com os achados de Rumelt (1991), pois enfraquecem o

argumento de que a perspectiva da ECD tem influência dominante na explicação sobre a

heterogeneidade das empresas. Tais achados reiteram a importância de interrelacionar

diferentes perspectivas ao debate em Gestão Estratégica.

Outros trabalhos como Oliver (1997), Peng (2006), Yamakawa et al. (2008) e

Hadida (2013) também contribuem com o debate. O primeiro argumenta que a vantagem

competitiva sustentável da firma depende da sua habilidade em gerenciar o contexto

institucional no qual as decisões sobre recursos estão inseridas. Enquanto Peng (2006)

amplia o escopo ao integrar as três perspetivas estratégicas para explicar o processo de

internacionalização de empresas. Seguindo a mesma linha de Peng (2006), Yamakawa et

al. (2008) também integram as três perspectivas, nesta ocasião para explicarem a

internacionalização das firmas dos países de economia emergente para os países de

economia desenvolvida. Por sua vez, Hadida (2013) propõe a combinação da Visão-

baseada em Recursos à Nova Economia Institucional para identificar as diferenças de

desempenho entre a indústria cinematográfica francesa e a estadunidense.

73 Traduzido do inglês: “Returno On Equity”.

Page 103: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

103

A VBR e a NEI, aplicadas no contexto da Gestão Estratégica, assumem diferentes

enfoques com relação ao comportamento do indivíduo e da firma. O enfoque da VBR recai

sobre os indivíduos serem motivados a maximizarem as escolhas econômicas disponíveis,

enquanto a NEI assume que a motivação dos indivíduos incide em corresponder com as

pressões sociais. No nível da firma, a VBR considera que as escolhas economicamente

racionais estão relacionadas ao ambiente econômico no qual a empresa esta inserida,

todavia a NEI entende que as escolhas das firmas estão relacionadas ao contexto social e as

pressões que este exerce na empresa. Tais posicionamentos teóricos promovem diferentes

visões em relação à heterogeneidade das firmas. Para a VBR, os fatores de imperfeição do

mercado ampliam a variedade dos recursos e das estratégias de recursos das firmas. No

entanto, a NEI defende que as pressões sociais reduzem a variação das estratégias e das

estruturas das firmas (OLIVER, 1997). O modelo apresentado por Oliver (1997) é

demonstrado na Figura :

Recursos

Determinantes

Determinantes

Institucionais

Racionalidade

Econômica

Fatores

Estratégicos

Imperfeições

de Mercado

Racionalidade

Normativa

Fatores

Institucionais

Pressões por

Isoformismo

Escolha GerencialSeleção de

Recurso

Heterogeneidade

da Firma

Processo e

ResultadoVantagem

Sustentável

Individual Firma Interfirma

Figura 11: Determinantes no Processo de Vantagem Competitiva Sustentável

Fonte: Oliver (1997)

Adaptado pelo autor

No centro do modelo, o termo “Escolha Gerencial” refere-se ao nível individual das

decisões estratégicas tomadas pelos gestores com o objetivo de ganhos tanto pessoais,

quanto para a firma. Entre as escolhas das quais os gestores se defrontam está a “Seleção

de Recursos”, que consiste em decidir sobre quais recursos e capacidades são acumuladas

ou implantadas. Uma vez selecionados estrategicamente, estes recursos impactam na

Page 104: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

104

heterogeneidade da firma e na vantagem competitiva sustentável. Os fatores que afetam o

processo e o resultado são determinados pelas duas perspectivas estratégicas inter-

relacionadas neste estudo, a VBR e a NEI, no qual o conflito entre elas ocorre da seguinte

forma (OLIVER, 1997):

Racionalidade Econômica vs Racionalidade Normativa – nível individual;

Fatores Estratégicos vs Fatores Institucionais – nível da firma;

Imperfeições de Mercado vs Pressões por Isoformismo – nível interfirmas.

A implicação chave deste modelo desenvolvido por Oliver (1997) consiste em

enfatizar a importância de a empresa obter tanto o “Capital de Recurso”74 como o “Capital

Institucional”75, para estabelecer vantagem competitiva de longo-prazo. A autora sugere

que o processo de aquisição de recursos e de resultados econômicos sustentáveis não está

relacionado, simplesmente, aos fatores de imperfeição e assimetrias do mercado – ponto

central da VBR, mas fundamentalmente em função das decisões sobre recursos em

determinado contexto social. Seus achados presumem, no nível individual de análise, que

os “custos não recuperáveis”, oriundos de decisões individuais de caráter não econômico76

e a “conformidade com as tradições da firma” influenciam as decisões racionais sobre

recursos e, por conseguinte, diferenças na maximização de sua utilização. No nível da

firma, suas considerações recaem na política e na cultura organizacional que, como

mecanismos de isolamento institucional, afetam as decisões por recursos, assim como os

resultados econômicos. Por fim, Oliver (1997) ressalta aspectos relacionados no nível

interfirmas, nos quais o Estado e as alianças estratégicas são importantes fontes de

influência para mitigar a heterogeneidade das firmas e suas diferenças em rentabilidade.

A importância do ambiente institucional tem influência direta em um regime de

coprodução internacional, pois, normalmente, uma coprodução é regida por acordos

internacionais bilaterais ou multilaterais permitindo que dois ou mais produtores

cinematográficos acordem em compartilhar recursos, direitos autorais ou serviços em um

projeto de filme.

74 Termo utilizado por Oliver (1997). Do original em inglês: “Resource Capital”. Livre tradução do autor. 75 Termo utilizado por Oliver (1997). Do original em inglês: “Institutional Capital”. Livre tradução do autor. 76 A autora utilizada o termo “cognitivo”.

Page 105: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

105

Ampliando o escopo, Peng (2006) argumenta que as escolhas estratégicas não são

direcionadas apenas pela estrutura da indústria ou pelas capacidades das firmas, mas

também são influenciadas pelas restrições formais e informais de um determinado contexto

institucional que os tomadores de decisão das empresas se deparam. O autor considera que

as perspectivas estratégicas da ECD e da VBR têm dominado as pesquisas na literatura de

Gestão Estratégia, haja vista os trabalhos seminais de Schmalensee (1985), Rumelt (1991)

e McGahan e Porter (1997). Entretanto, em função do impacto de pesquisas mais recentes

que envolvem tanto os países como as empresas de economias emergentes, a Visão-

Baseada nas Instituições também tem ocupado seu espaço para explicar a heterogeneidade

das firmas. Diante deste contexto, Peng (2006) defende o que ele denomina de “Tripé da

Estratégia”77, conforme Figura 12.

Competição Baseada

nas Indústrias

Capacidades e

Recursos

específicos da firma

Condições e

Transições

Institucionais

Estratégia

Desem

pen

ho

Figura 12: Tripé da Estratégia: três principais perspectivas

Fonte: Peng (2006)

Adaptado pelo autor

O trabalho de Yamakawa et al. (2008) aplica o “Tripé da Estratégia” para explicar a

rápida internacionalização das empresas78 de economias emergentes para economias

desenvolvidas. Os autores argumentam que:

a perspectiva da ECD prevê que o processo de internacionalização tende a

ocorrer em indústrias com tecnologia intensiva e alto grau de

competitividade;

77 Do original em inglês “Strategy Tripod”. 78 Do original em inglês “International New Ventures”.

Page 106: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

106

a perspectiva da VBR indica que a empresas de rápida internacionalização

devem ter seu foco em aprendizagem organizacional, alianças estratégicas e

orientação empreendedora para alavancagem de capital social;

a perspectiva da NEI enlucida como as forças normativas, regulativas e

cognitivas, tanto nas instituições nacionais como nas internacionais,

exercem influência nas escolhas estratégicas.

Com base nestes argumentos, Yamakawa et al. (2008) desenvolvem uma estrutura

compreensiva, veja Figura 13, com uma série de proposições para explorar a lógica

subjacente por de trás deste processo de internacionalização.

Estratégia-

Concorrência-

Desempenho

Visão-Baseada em

Recursos

Nova Economia

Institucional

P1: Grau de competição da indústria

doméstica

P2: Grau de intensidade tecnológica da

indústria

P3: Imperativo do aprendizado

P4: Investidores e Capital de Riscos das

economias desenvolvidas

P5: Alianças Estratégicas com empresas

das economias desenvolvidas

P6: Orientação Empreendedora

P7: Ambiente regulativo nos dois

mercados

P8: Questões de legitimidade nos dois

mercados

P9: Características empreendedoras e

valores internalizados através da

expansão internacional

Rápida

internacionalização

das empresas de

economia emergente

para economia

desenvolvida

Figura 13: Proposições Baseadas no Tripé da Estratégia

Fonte: Yamakawa et al. (2008)

Adaptado pelo autor

A pesquisa de Yamakawa et al (2008) contribui com o desenvolvimento da

literatura sobre internacionalização, todavia, como os próprios autores denominam, ela

atende a interesses mais recentes das pesquisa explorando uma “outra forma em vigor”79,

ao abordar o tema da internacionalização das empresas de economias emergentes para os

79 Livre tradução do autor. Do original em inglês: “the other way around”.

Page 107: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

107

países de economia desenvolvida. Esta relação pode ser observada nas coproduções

internacionais brasileiras, visto que 67,7% das coproduções contam, ao menos, com um

parceiro europeu, o que representa 65 filmes, das 96 coproduções realizadas entre os anos

de 2005 a 2014, segundo dados da ANCINE (2015). Outra contribuição diz respeito à

interrelação das três principais perspectivas estratégicas, argumentando que a maioria das

pesquisas fundamenta-se em uma das visões, na qual limita entender a complexidade dos

temas relacionados a negócios internacionais, estratégia e empreendedorismo. Por fim,

Yamakawa et al. (2008) acreditam que seus achados contribuem com as pesquisas que

relacionam orientação empreendedora e internacionalização de novas empresas.

A interrelação das perspectivas estratégicas também foi recentemente empregada

utilizando a indústria cinematográfica como tema. Hadida (2013) propõe a articulação da

Visão-Baseada em Recrusos à Nova Economia Institucional para identificar as diferenças

entre a indústria do filme francesa e estadunidense. A autora parte do princípio que o

sucesso comercial e criativo de um filme está relacionado à como os estúdios

internacionais de produção combinam ativos estratégicos de forma equivalente ao redor do

mundo.

Elemento central no modelo teórico proposto por Hadida (2013), o “desempenho

passado”80, refere-se à capacidade ao longo do tempo dos participantes de um projeto, e do

próprio filme, em gerar a compra de ingressos por parte do público consumidor de cinema,

“sucesso comercial” e/ou receber nomeações e premiações em festivais, “sucesso criativo”.

Os participantes de um projeto de filme podem ser divididos em três categorias, segundo

Hadida (2013) são elas:

Produtores: tomam a iniciativa e respondem pelo desenvolvimento e

conclusão do projeto de filme, controlando o orçamento e as questões

administrativas.

Diretores: são os responsáveis pela parte criativa do projeto. Normalmente

colaboram com o produtor na formação da equipe técnica e na escolha do

elenco, além de cocoordenar as fases de produção e pós-produção.

80 Do original em inglês: “track record”.

Page 108: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

108

Atores principais: possuem visibilidade com as audiências e desempenham

relevante participação na promoção do filme.

A Figura 14 explora a relação entre os ativos estratégicos de um projeto:

produtores, diretores e atores principais, e o desempenho do filme, comercial e criativo.

“Desempenho

passado” criativo dos

participantes do

filme

“Desempenho

passado” comercial

do produtor

“Desempenho

passado” comercial

do diretor

“Desempenho

passado” comercial

dos atores principais

Sucesso comercial

Sucesso Criativo

H1

H2 alt H2

Figura 14: Ativos Estratégicos vs Desempenho do Filme

Fonte: Hadida (2013, p. 158)

A premissa teórica deste modelo envolve relacionar o elemento “desempenho

passado” de cada um dos ativos estratégicos de um projeto de filme, com o desempenho

comercial nas bilheterias e o sucesso criativo das nomeações e premiações. Para isso, a

autora fundamenta-se nas perspectivas estratégicas da VBR e da NEI. A Visão-Baseada em

Recursos está relacionada aos ativos estratégicos de um projeto de filme; já a Nova

Economia Institucional é articulada com o intuito de contrastar os diferentes ambientes

institucionais da indústria cinematográfica francesa e estadunidense, neste caso os regimes

de propriedade intelectual e as práticas sociais características entre os dois países, para

explicar suas diferenças de desempenho. Ao estabelecer esta interrelação de perspectivas

estratégicas, Hadida parte das seguintes hipóteses.

Page 109: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

109

H1: Ativos estratégicos relacionados ao produtor contribuem mais que todos

os outros na indústria estadunidense do que na francesa.

H2: Quanto mais sucesso comercial, maior será o sucesso criativo.

H2(alt): Quanto maior o sucesso criativo do filme, maior o sucesso

comercial.

A partir destas hipóteses, utilizando-se do modelo de equações estruturais, Hadida

(2013) conclui em relação ao “desempenho passado” que o histórico dos produtores

influencia mais o sucesso comercial nos Estados Unidos, enquanto na França o

“desempenho passado” dos produtores influencia mais o sucesso criativo do filme. Em

relação aos direitos autorais, no primeiro país os produtores “ditam as regras”81, os

diretores e roteiristas são considerados técnicos assalariados, em contraste com o segundo,

no qual os diretores são vistos como legítimos detentores dos direitos autorais. Já com

relação ao sucesso comercial e criativo, a autora conclui que os dois países são

complementares, pois ambas as indústrias atingem sucesso comercial e criativo cada qual

com um arranjo institucional diferente, os Estados Unidos com o livre mercado para

produção e distribuição; já a França com uma grande diversidade de filmes produzidos e

distribuídos por um sistema complexo de subsídios.

Dada a importância cultural da indústria cinematográfica no nível nacional e

internacional, associada à dependência de variados recursos tangíveis e intangíveis, bem

como as regulamentações formais e informais do mercado internacional, a integração das

três perspectivas permite analisar de forma mais ampla o complexo processo de

internacionalização do filme de longa-metragem. Cada perspectiva isolada, de acordo com

Young, Dimitratos e Dana (2003), não oferece argumentos suficientes para explorar este

fenômeno, enquanto Yamakawa et al. (2008) ressaltam que esta interrelação permite

responder uma das “quatro questões fundamentais em estratégia”, formuladas por Rumelt,

Schendel e Teece (1994), que refere-se a “Como as empresas se comportam?”. Esta linha

argumentativa está em consonância com o problema de pesquisa desta tese, que parte da

seguinte pergunta: “Por que existe heterogeneidade de desempenho, no mercado externo,

das coproduções internacionais brasileiras de filmes de longa-metragem?”. Ao alinhar as

81 No original em inglês: “call the shots” (HADIDA, 2013 p. 166).

Page 110: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

110

três perspectivas estratégicas para fundamentar a resposta desta problemática, esta tese não

só corrobora com algumas questões fundamentais propostas por Rumelt et al. (1991,

1994), como também atende a uma das futuras implicações para revitalização da VBR

propostas por Barney et al. (2011).

Page 111: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

111

4.5 Estrutura teórica da pesquisa

Esta tese tem como um de seus objetivos específicos “desenvolver estrutura

articulada com as perspectivas da Estratégia-Concorrência-Desempenho, Visão-Baseada

em Recursos e Nova Economia Institucional” e, conforme discutido na seção anterior,

alinhar-se a uma das propostas de revitalização da VBR.

Para enriquecer esta discussão e corroborar com a estrutura teórica desta pesquisa,

em um primeiro momento, discorre acerca da pesquisa realizada por Miller e Shamsie

(1996) na qual investiga a VBR diante de um contexto específico da indústria

cinematográfica de Hollywood para, finalmente, estabelecer a estrutura teórica desta

pesquisa.

A pesquisa de Miller e Shamsie (1996) parte da premissa de que barreiras à

imitação podem gerar desempenhos superiores para as firmas (LIPPMAN; RUMELT,

1982; BARNEY, 1991). Por conseguinte, Miller e Shamsie (1996) tecem seus argumentos

baseados em dois tipos de recursos: i) “Recursos-Baseados em Propriedade”; e ii)

“Recursos-Baseados em Conhecimento”. Os primeiros são representados por direitos de

propriedade, contratos, títulos de propriedade e patentes, enquanto o segundo, são

delimitados basicamente pela ambiguidade causal (LIPPMAN; RUMELT, 1982). Ambos

os recursos podem ser considerados “Sistêmicos” ou “Discretos”. Segundo Miller e

Shamsie (1996), esta discriminação acontece em função de um recurso ser valioso e raro se

ele é oriundo de uma rede de relacionamentos, ou se é único.

A partir deste ponto, Miller a Shamsie (1996) utilizam a indústria cinematográfica

de Hollywood em dois períodos, o primeiro compreendido pelos anos de 1936 a 1950 e o

segundo pelos anos de 1951 a 1965. Esta divisão sugere, segundo os autores, que a

indústria operara em dois ambientes distintos, o período de 1936 a 1950, no qual

representara um ambiente mais estável - portanto, mais propício para os “Recursos-

baseados em Propriedade” - e o período de 1951 a 1965, que correspondera a um ambiente

incerto e instável, ou seja, mais adequado aos “Recursos-baseados em Conhecimento”.

Estas colocações são as bases das suas hipósteses de pesquisa.

Page 112: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

112

Diante deste contexto, Miller e Shamsie (1996) procuram testar suas hipóteses ao

inserirem elementos que provocaram a transição entre os ambientes e a consequente

mudança na tomada de decisão quanto à utilização dos recursos. Dois destes elementos

chamam a atenção: i) a disseminação dos aparelhos de televisão nos lares estadunidenses e

a consequente mudança de hábitos dos consumidores; e ii) a decisão do Departamento de

Justiça dos Estados Unidos, pelo comitê antitrust, de obrigar os estúdios integrados a

venderem suas salas de exibição, enfraquecendo-os no que tange ao controle dos canais de

distribuição.

Embora os autores não tenham sugerido82, teoricamente, que tenha ocorrido uma

interrelação entre a VBR e as perspectivas da ECD e da NEI, pode-se inferir, a partir dos

aspectos supramencionados, que o aparelho de televisão representara um substituto

tenológico na estrutura da indústria cinematográfica (PORTER, 1980), e a decisão da

Justiça estadunidense, se apresentara como um “pilar regulativo” (SCOTT, 2014),

portanto, influenciando na vantagem competitiva dos grandes estúdios sustentada com base

nos “Recursos-baseados em Propriedade”.

A articulação das três perspectivas em estratégia, mostrada na Figura 15, pode

contribuir para explicaçar a heterogeneidade de desempenho, no mercado externo, das

coproduções internacionais brasileiras. Neste caso, o desempenho pode ser analisado de

três formas: i) participação em festivais internacionais de cinema; ii) admissões em salas

comerciais no exterior; e iii) vendas para distribuidores. Vale destcar que um filme pode

alcançar qualquer uma das três formas combinadas de desempenho.

82 É importante salientar que não há evidência no trabalho dos autores que indique interesse dos mesmos em

averiguar a interrelação entre a VRB e as perspectivas da ECD e da NEI.

Page 113: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

113

Estratégia-

Concorrência-

Desempenho

Visão-Baseada em

Recursos

Nova Economia

Institucional

Heterogeneidade de

desempenho

Participações em

Festivais

Internacionais

Admissões

- Barreiras de

entrada

- Condições de

demanda

- Elevados custos de

desenvolvimento

- Acesso à

investidores

- Experiência

- Redes de relacionamento

- Orientação

internacional

- Lei do Audiovisual;

ANCINE e APEX

- Legitimidade

- Valores da

globalização

internalizados

- Reputação

Comercialização do

filme

- Percepções de

qualidade e

confiabilidade

- Aceso à tecnologia

Perspectivas em estratégia Componentes estratégicos articulados Heterogeneidade de desempenho

Figura 15: Estrutura Teórica da Pesquisa

Elaborada pelo autor

A participação em festivais internacionais de cinema e o total das admissões no

exterior fundamentam-se, respectivamente, nas variáveis de desempenho, “sucesso

criativo” e “sucesso comercial”, ambas testadas empiricamente por Hadida (2013).

Importante destacar que na pesquisa de Hadida (2013) o sucesso comercial refere-se à

bilheteria83. Por sua vez, em função do acesso aos dados, esta tese utiliza-se das admissões

no exterior. No que diz respeito à comercialização do filme, de acordo com a cadeia de

valor desta indústria, os estágios seguintes à produção são: distribuição e exibição

(ELIASHBERG et al., 2006), sendo assim os produtores, normalmente, procuram negociar

a venda dos seus filmes aos distribuidores, para que estes possam comercializá-los para

serem exibidos.

Os componentes estratégicos articulados podem levar as coproduções

internacionais à heterogeneidade de desempenho. Estes componentes estão representados

da seguinte forma:

83 Do inglês original: Box Office.

Page 114: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

114

Perspectiva da Estratégia-Concorrência-Desempenho:

o Barreiras de entrada:

Acesso a canais de distribuição para os filmes;

Necessidade de capital – investimentos altos na produção e

comercialização.

o Condições de demanda – incertezas e tamanho do mercado para os

filmes coproduzidos.

o Elevados custos de desenvolvimento dos projetos – necessidade de

explorar o mercado externo para justificar os investimentos.

Perspectiva da Visão-Baseada em Recursos:

o Acesso a crédito e investidores públicos e/ou privados em dois, ou

mais, países coprodutores.

o Experiência e aprendizagem dos gestores/produtores.

o Acesso a novas tecnologias de produção e pós-produção, por

exemplo, efeitos especiais e edição de som.

o Redes de relacionamento.

o Orientação internacional – visão gerencial e pró-atividade para

desenvolver recursos específicos com o intuito de atingor s objetivos

da empresa no mercado internacional84.

o Reputação da firma.

o Percepções de qualidade e confiabilidade das produções.

Perspectiva da Nova Economia Institucional:

o Pilar regulativo:

Lei do Audiovisual;

ANCINE – acordos e protocolos internacionais para

coopetação.

APEX – Programa Cinema do Brasil.

o Pilar normativo:

Legitimação – reconhecimento da coprodução em ambos os

mercados. Cinema visto como expressão cultural local em

dois, ou mais países.

o Pilar cognitivo:

84 Para mais detalhes ver Knight e Kim (2009)

Page 115: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

115

Valores da globalização internalizados pelos

gestores/produtores.

A estrutura teórica apresentada orienta o roteiro para a pesquisa de campo, bem

como para a elaboração das proposições teóricas, assunto do próximo capítulo.

Page 116: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

116

5. METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo está dividido em duas partes. Primeiramente, descreve de forma

sucinta as três etapas da pesquisa, apresentando o Design da Pesquisa. A segunda parte

discorre de forma detalhada sobre cada etapa do design, bem como suas respectivas

subetapas, expondo de forma pormenorizada as opções metodológicas defendidas e

aplicadas na pesquisa. Ressalta-se que após concluída a Etapa 1, apresentar-se-a as

proposições teóricas desta pesquisa.

5.1 Design da pesquisa

A população engloba 96 projetos85 de filmes de longa-metragem produzidos em

regime de coprodução internacional, entre os anos de 2005 a 2014. Estas coproduções

envolvem o Brasil e mais 23 países, além de 63 empresas produtoras nacionais. Esta

população, segundo Malhotra (2011), representa o censo, uma vez que envolve a

enumeração completa dos seus elementos e compreende o universo do problema desta

pesquisa, que tem como objetivo geral explicar a heterogeneidade de desempenho, no

mercado externo, das coproduções internacionais brasileiras de filmes de longa-metragem.

Para tal, o Design da pesquisa está dividido em três etapas, e seus respectivos

desdobramentos, conforme Figura 16.

85 Vide Anexo A – Relação das Coproduções Internacionais Brasileiras

Page 117: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

117

Etapa 1 - Exploratória

Seleção das Firmas

Dados Secundários

Análise de

Correspondência

Fase 1

Fase 2

Fase 3

Fase 4

Análise dos Dados

Secundários

Etapa 2 – Coleta de Dados

Etapa 3 - Explicativa

Pesquisa de

Campo

Roteiro para

Entrevistas Coleta de

Dados

Documentação

Análise dos Dados Codificação

Eventos da área

Discussão dos

Resultados

Proposições Teóricas

Entrevistas

Figura 16: Design da Pesquisa

Elaborado pelo autor

O foco da Etapa 1 consiste em selecionar as firmas e, consequentemente, os

múltiplos casos para seguir com a Etapa 2. Esta primeira parte tem caráter exploratório e

descritivo e toma como referência o modelo metodológico sugerido por Rouse e

Daellenbach (1999) que é composto por quatro fases:

Fase 1: selecionar a indústria e gerar dados de desempenho com base em

fontes secundárias;

Fase 2: criar grupos estratégicos de firmas;

Fase 3: comparar os indicadores de desempenho entre os grupos

estratégicos;

Page 118: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

118

Fase 4: identificar as firmas com melhores e piores desempenhos entre cada

grupo estratégico.

Esta metodologia está em consonância com as cinco86 propostas de revitalização da

perspectiva da Visão-Baseada em Recursos que, segundo Barney et al. (2011), suscita

questões sobre métodos de pesquisa em VBR e mensurações dos recursos. Para Rouse e

Daellenbach (1999) esta metodologia complementa os consagrados métodos de pesquisa

em VBR, pois tem o potencial de evidenciar as diferenças, os pontos fortes e as fontes da

vantagem competitiva sustentável, promovendo a comparabilidade dos fatores

organizacionais e das combinações sinérgicas dos recursos preconizados pela VBR. Os

autores argumentam, ainda, que embora as pesquisas em Gestão Estratégica tenham

ampliado o foco do ambiente externo - fatores da indústria, para o ambiente interno,

recursos e capacidades da firma - o paradigma dominante das pesquisas sobre vantagem

competitiva e heterogeneidade das empresas ainda não mudou de forma significativa.

Partindo da premissa central da VBR de que apenas as empresas com recursos e

competências únicas são propensas a obter vantagem competitiva, os estudos que se

baseiam em grandes amostras são incapazes de segmentar a variedade de efeitos

relacionados às empresas. Em outras palavras, o que Rouse e Daellenbach (1999) se

referem, diz respeito aos estudos quantitativos que incluem grandes amostras de firmas são

incapazes de isolar as fontes de vantagem competitiva e, consequentemente, não fornecem

achados conclusivos convincentes.

Nesta etapa da pesquisa utiliza-se de dados secundários disponibilizados pela

ANCINE, EAO e Internet Movie Data Base (IMDb) para o processo de seleção das

empresas. Importante destacar que, em função da disponibilidade dos dados, algumas

adaptações são feitas em relação ao método de Rouse e Daellenbach (1999) no que tange

às variáveis de desempenho. Entretanto, as quatro fases são seguidas e a premissa principal

do método, selecionar empresas com desempenhos diferentes entre os grupos, mantém-se.

Vale acrescentar que esta estapa é corroborada pelo método indutivo87 para identificação

86 A outra proposta de revitalização da Visão-Baseada em Recursos utilizada nesta tese envolve a inter-

relação da VBR com outras perspectivas extratégicas. 87 Os outros dois métodos para identificação das variáveis, de acordo com Ketchen, Thomas e Snow (1993)

são: o método dedutivo – focado em variáveis com sólida fundamentação teórica; e o método cognitivo –

extensão do método indutivo, contudo, baseia-se nas opiniões e percepções dos especialistas como, por

exemplo, os principais executivos das empresas.

Page 119: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

119

das variáveis, conforme sugerido por Ketchen, Thomas e Snow (1993), pois, devido ao seu

caráter exploratório, utiliza-se de toda a informação disponível com o propósito de

aumentar a probabilidade de se encontrarem diferenças entre as empresas observadas. Para

estes autores, a opção pelo método indutivo se deve ao fato de não existir expectativa a

priori quanto a resultados, número de grupos ou a sua constituição.

Para analisar os dados secundários utiliza-se do software SPSS88 e do método de

Análise de Correspondência (AC). Segundo Hair et al. (2009), a AC é uma técnica de

interdependência para redução dimensional e mapeamento perceptual que utiliza-se do qui-

quadrado (χ2) para padronizar os valores de frequência de uma tabela de contingência e

formar a base para similaridades. Os valores de similaridades, a partir do cálculo do χ2,

fornecem uma medida padronizada de associação e criam um mapa perceptual que serve

para estimar dimensões ortogonais sobre as quais as categorias estão dispostas da forma

que melhor explique a intensidade das associações representadas pelas distâncias do qui-

quadrado. De acordo com Hair et al. (2009, p. 511), “Análise de Correspondência é um

método híbrido de escalonamento multidimensional, no sentido de que utiliza dados não-

métricos cruzados para criar mapas perceptuais que podem posicionar as categorias de

todas as variáveis em um único mapa”.

Para estes autores, a AC apresenta as seguintes vantagens para os pesquisadores:

A simples tabulação de múltiplas variáveis categóricas pode ser representada em

um espaço perceptual;

Retrata, além das relações entre as linhas e colunas, as relações entre as categorias

de linhas ou colunas;

Fornece uma visão conjunta de categorias das linhas e colunas na mesma

dimensionalidade, o que permite o exame simultâneo de ambas.

Como desvantagens, Hair et al. (2009) elencam três aspectos conforme a seguir:

Não é adequada ao teste de hipótese;

Não dispõe de procedimento para determinar conclusivamente o número apropriado

de dimensões;

É muito sensível a dados atípicos.

88 Statistical Package for the Social Sciences.

Page 120: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

120

Em linhas gerais, a AC adequa-se melhor às pesquisas exploratórias e fornece

relevante ferramenta analítica para o tratamento de dados não-métricos que, normalmente,

não são o foco das técnicas multivariadas (HAIR et al., 2009), tornando-se apropriado para

esta etapa da pesquisa, posto que contribui quantitativamente na validação das variáveis

utilizadas durante as quatro fases do processo de seleção das empresas. Ao final desta

etapa, formula-se, também, as proposições teóricas que serão confrontadas na pesquisa de

campo, próxima etapa desta pesquisa.

Uma vez selecionadas as empresas e formuladas as proposições teóricas, ingressa-

se na Etapa 2, que envolve a pesquisa de campo. Opta-se, nesta fase, pelo estudo de casos

múltiplos, pois fornece evidências mais robustas em relação ao estudo de caso simples.

Vale ressaltar que o método de estudo de caso, ou de casos múltiplos, de acordo com Yin

(2015), pode ser utilizado tanto para pesquisas exploratórias, quanto para as pesquisas

descritivas ou explicativas, tendo sido encontrado importantes estudos nos três tipos de

métodos.

Esta etapa alinha-se também com a proposta metodológica de Rouse e Daellenbach

(1999) para as pesquisas em VBR, pois, após a seleção das empresas, ou dos objetos de

pesquisa conforme denominação dos próprios autores, se faz necessário a pesquisa de

campo em profundidade, conforme a seguir:

O trabalho de campo que leva o pesquisador para dentro da organização é

essencial, no nosso ponto de vista, para ganhar conhecimento e

entendimento profundos da organização e dos seus processos. De fato, foi

o prenûncio do que veio a se tornar a visão-baseada em recursos da firma

[...] (ROUSE; DAELLENBACH, 1999, p. 489).

Em função do problema da pesquisa partir do seguinte questionamento: “Por que

existe heterogeneidade de desempenho, no mercado externo, das coproduções

internacionais brasileiras de filmes de longa-metragem?”, esta fase possui caráter

explicativo. Segundo Yin (2015), as questões de “como”e “por que” são mais explicativas

e sugerem o uso de um estudo de caso, uma pesquisa histórica ou um experimento como

método de pesquisa.

Page 121: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

121

Em alinhamento com o método eleito a partir desta fase, o roteiro das entrevistas

em profundidade tem como base a estrutura teórica demonstrada no Capítulo 4 e as

proposições teóricas sugeridas na etapa anterior. Já para a coleta dos dados, além das

entrevistas em profundidade, realizadas pessoalmente com os produtores e/ou diretores

cinematográficos, utiliza-se da documentação como outra fonte de evidências. Creswell

(2009) destaca dois tipos de documentos: os públicos, como minutas de reuniões e jornais

e os privados, como diários, cartas ou revistas. As vantagens deste tipo de fonte são, de

acordo com Creswell (2009):

Envolve o pesquisador com as formas de linguagem dos participantes;

Pode ser acessada de forma conveniente pelo pesquisador, desde que seja uma fonte

sem obstruções, como por exemplo, documentos digitalizados disponíveis na

Internet;

Podem poupar o pesquisador dos custos e do tempo de transcrição;

Permite o pesquisador focar em dados reflexivos durante a compilação.

Para Yin (2015), os documentos são importantes para corroborar e ampliar as

evidências de outras fontes; neste caso, os dados primários extraídos das entrevistas

pessoais. Os tipos de documento podem ser:

Cartas, memorandos, correspondência eletrônica, diários e outros tipos de

anotações;

Agendas, anúncios, minutas de reuniões e outros relatórios dos eventos;

Documentos administrativos;

Estudos formais ou avaliações relacionadas ao caso de estudo;

Recortes de notícias e outros artigos na mídia em geral.

Dadas a disponibilidade e acessabilidade, principalmente via Internet, notícias e

entrevistas concedidas por produtores cinematográficos, especialistas e pesquisadores de

cinema e outras partes interessadas são empregados na coleta de dados, bem como a

participação em eventos relacionados ao tema, com o intuito de contribuir com indícios à

pesquisa.

Page 122: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

122

A análise dos dados corresponde à terceira e última etapa da pesquisa. Esta estapa

tem por finalidade fornecer evidências para responder ao problema desta tese, ou seja,

cumprir com o seu objetivo geral conforme a seguir: “Explicar a heterogeneidade de

desempenho, no mercado externo, das coproduções internacionais brasileiras de filmes de

longa-metragem”. De acordo com Yin (2015), existem cinco técnicas analíticas que são:

Combinação de padrão;

Contrução da explicação;

Análise de séries temporais;

Modelos lógicos;

Síntese cruzada de casos.

A análise dos dados coletados nesta pesquisa utiliza-se de duas técnicas: a

combinação de padrão, que relaciona a descoberta empírica dos casos às proposições

teóricas; e a síntese cruzada de casos, aplicada somente à análise de casos múltiplos que,

segundo Yin (2015), totaliza a descoberta ao longo de uma série de estudos e fortalece

ainda mais as análises.

Para reforçar a análise dos dados utiliza-se a técnica de codificação, fazendo uso do

software Atlas.ti como apoio à técnica, que consiste em “[...] categorizar segmentos de

dados com uma denominação concisa que, simultaneamente resume e representa cada parte

dos dados” (CHARMAZ, 2009, p.69). Os códigos representam o modo de como se faz a

seleção, a separação e a classificação que resultam na interpretação analítica dos dados

coletados à pesquisa (Ibid.). A codificação, para Strauss e Corbin (2008), pode ocorrer da

seguinte forma:

Codificação aberta: os conceitos são identificados e categorizados e cria-se

as dimensões e propriedades. Capta as ideias centrais.

Codificação axial: estabele relacionamento entre as categorias e suas

subcategorias, “é chamado de axial porque ocorre em torno do eixo de uma

categoria, associando categorias ao nível de propriedades e dimensões”

(STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 123).

Page 123: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

123

Codificação seletiva: envolve o processo de integrar e redefinir a teoria.

Ocorre a saturação teórica.

Codificação para processo: Traz o processo à análise. Ao invés de analisar

os dados, o foco passa a ser as sequências de ação e interação.

Vale ressaltar que tanto a codificação seletiva, como a codificação para processo,

não serão utilizadas para análise dos dados, visto que esta pesquisa não corrobora por

completo com a proposta dos autores supracitados acima, os quais têm o foco na

construção de teoria fundamentada89. Posterior a esta última Etapa, este trabalho se

encaminha para as discussões dos resultados e as considerações finais.

89 Do original em inglês: Grounded Theory.

Page 124: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

124

5.2 Etapa 1: Seleção das empresas

A partir dos dados secundários disponíveis na Agência Nacional do Cinema

(ANCINE), no Observatório Europeu do Audiovisual (EAO) e no Internet Movie Data

Base (IMDb), aplica-se, nesta etapa da pesquisa, a primeira parte do método proposto por

Rouse e Daellenbach (1999) com a finalidade de selecionar as firmas para a etapa posterior

- coleta de dados. Este processo de seleção é realizado em quatro fases, conforme a seguir:

5.2.1 Fase 1: Selecionar a indústria e gerar dados de desempenho

Diante do total de 96 projetos de coprodução internacional, 67,7% deles contam, ao

menos, com um parceiro europeu, o que representa 65 filmes coproduzidos. A Europa pode

ser considerada um expoente nas coproduções internacionais, tanto pelo pioneirismo que

emergiu das necessidades de reconstrução da indústria após a Segunda Guerra Mundial,

quanto pelo número de acordos e tratados internacionais assinados com diversos países ao

redor do mundo. Além de possuir cinco, dos dez maiores produtores cinematográficos

globais, e um mercado consumidor forte e diversificado.

Neste contexto, torna-se evidente a importância europeia no contexto brasileiro das

coproduções internacionais, assim como no âmbito global da indústria cinematográfica.

Associada à disponibilidade dos dados de admissões/público daquele continente, utiliza-se

os seguintes indicadores de desempenho:

Desempenho relativo: participação das admissões na Europa em relação ao

público total;

Desempenho absoluto: total de admissões na Europa de acordo com a

“Banda de Sucesso”;

“Experiência em coprodução internacional”. Número de participações da

produtora nacional em projetos de coprodução entre os anos de 2005 a

2014.

No que diz respeito ao primeiro indicador de desempenho, a Tabela 5 demonstra a

distribuição por tercil em função da representatividade das admissões na Europa em

Page 125: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

125

relação ao público total - entende-se por público total a soma do público no Brasil e na

Europa. Neste caso refere-se ao percentual das admissões na Europa em relação ao total de

admissões por projeto de filme. Os filmes que não registraram público na Europa, portanto

desempenho 0%, também estão representados nesta tabela, entretanto a divisão por tercil

engloba somente os filmes com registro de admissões na Europa.

Tabela 5: Participação das Admissões na Europa

1º TERCIL 2º TERCIL 3º TERCIL Sem Públ. E.U. População

% Públ. E.U. no Públ. Tot. 71,3% a 97,7% 25,9% a 69,3% 0,1% a 24,1% 0% 0% a 97,7%

Total de Filmes (*) 16 15 15 50 96

Público Brasil (*) 483.448 1.555.326 1.709.821 1.336.721 5.085.316

Público Europa (**) 2.695.975 1.425.055 64.919 - 4.185.949

Fonte: (*) ANCINE (2015); (**) EOA (2015)

Elaborado pelo autor

Nota-se que 46 filmes, ou 47,9%, obtém relativo desempenho internacional; as

admissões na Europa representam 45,1% em relação ao público total da população desta

pesquisa. Por outro lado, 50 coproduções, ou 52,1%, não alcaçaram público na Europa. O

“1º tercil” é classificado como “público maior fora”; o “2º tercil” recebe a classificação

“público intermediário fora”; enquanto o “3º tercil” é indicado por “público menor fora”,

“sem público” completa a sistemática de classificação desta variável.

O segundo indicador, “desempenho absoluto”, tem como referência o sistema de

classificação do EAO, denominado “Bandas de Sucesso”90. Este sistema classifica as

admissões em 18 bandas, ou faixas, de sucesso que variam de “1 – 1000” espectadores à

“acima de 50 milhões” de espectadores, nas salas de cinema dos Estados-membros do

Observatório Europeu do Audiovisual. O público absoluto da população desta pesquisa

envolve as faixas de “1 – 1000” à “500.001 a 1 milhão” de espectadores. A classificação

desta variável esta representada na Tabela 6.

O indicador de “Experiência em coprodução internacional” é representado pelo

número de participações da produtora nacional em projetos de coprodução internacional

reconhecidos pela ANCINE, entre os anos de 2005 a 2014. Conforme a Agência Nacional

do Cinema, das 63 produtoras nacionais envolvidas em projetos de coprodução

90 Conforme discorrido com mais detalhes no Capítulo 3 desta tese.

Page 126: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

126

internacional, apenas 12 participaram de dois ou mais projetos de filme; no entanto, estas

produtoras produziram 45 filmes, praticamente a metade da coprodução internacional dos

últimos dez anos. A Tabela 6 resume as variáveis de desempenho e suas respectivas

classificações que nortearão as próximas fases desta estapa da pesquisa.

Tabela 6: Variáveis de Desempenho

Desempenho Variável Descrição

Público maior fora 71,3% a 97,7%

Público intermediário fora 25,9% a 69,3%

Público menor fora 0,1% a 24,1%

Sem público fora 0%

Banda alta 250.0001 a 1 milhão

Banda média 50.001 a 250.000

Banda baixa 10.001 a 50.000

Banda muito baixa 1 a 10.000

Sem banda 0

Muita experiência 5 a 7 filmes coproduzidos

Moderada experiência 3 a 4 filmes coproduzidos

Pouca experiência 1 a 2 filmes coproduzidos

Ab

solu

toR

elat

ivo

Ex

per

iên

cia

Fonte: dados da pesquisa

Elaborado pelo autor

Uma vez definida a indústria a ser pesquisada e os dados de desempenho oriundos

de fontes secundárias, proceder-se-á com a segunda fase desta etapa da pesquisa, seguindo

o método proposto por Rouse e Daellenbach (1999).

5.2.2 Fase 2: Criar grupos estratégicos de firmas

Esta fase consiste em aglutinar as firmas por tipos estratégicos, ou grupos

estratégicos (ROUSE; DAELLENBACH, 1999). Dada a peculiaridade da indústria

cinematográfica, segundo Kirschbaum (2006, p. 62), “a produção de um filme pode ser

considerada como uma firma de curta duração, na qual indivíduos se reúnem para

concluir um projeto e, depois, voltam a se dispersar”, os grupos estratégicos, em um

Page 127: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

127

primeiro momento, estão classificados em função do desempenho de cada projeto de filme

com base nas variáveis de desempenho de público relativo e absoluto, descritas na fase

anterior desta etapa da pesquisa, conforme Quadro 10.

Grupo

EstratégicoDescrição do Grupo

Número de

Filmes

A1 Banda Alta / Público Maior Fora 4

A2 Banda Alta / Público Intermediário Fora 2

M1 Banda Média / Público Maior Fora 2

M2 Banda Média / Público Intermediário Fora 4

B1 Banda Baixa / Público Maior Fora 5

B2 Banda Baixa / Público Intermediário Fora 4

B3 Banda Baixa / Público Menor Fora 2

MB1 Banda Muito Baixa / Público Maior Fora 5

MB2 Banda Muito Baixa / Público Intermediário Fora 5

MB3 Banda Muito Baixa / Público Menor Fora 13

SB4 Sem Banda / Sem Público Fora 50

96Total de filmes

Quadro 10: Classificação por Variáveis de Desempenho - público/admissões

Fonte: Dados da Pesquisa

Elaborado pelo autor

Nesta primeira classificação, evidenciam-se 11 grupos estratégicos, a considerar-se

cada projeto de filme como uma “firma de curta duração”. Porém, conforme já

apresentado, 12 produtoras nacionais coproduziram dois ou mais filmes, o que torna a

identificação de grupos estratégicos e, por conseguinte, a comparação dos desempenhos

entre as firmas produtoras, fases posteriores desta estapa da pesquisa, mais complexa, uma

vez que estas produtoras podem frequentar mais de uma das classificações apresentadas.

Ademais, ao acrescentar a variável “experiência em coprodução internacional”, conforme

Tabela 7, percebe-se que o número de participações da produtora em projetos de

coprodução, em alguns casos, pode estar relacionado ao desempenho do filme.

Page 128: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

128

Tabela 7: Experiência em Coproduções vs. Variáveis de Desempenho -

público/admissões

Desempenho

Absoluto

Desempenho

relativo

Pouca experiência 355.079 10,0% 55

Moderada experiência 671.834 45,0% 4

Muita experiência 3.159.036 41,5% 4

Total 4.185.949 63

Nº de empresas

produtoras

Variáveis de público

Experiência em coprodução

Fonte: Dados da pesquisa

Elaborado pelo autor

Observa-se que o “desempenho absoluto” das quatro produtoras com “muita

experiência” em coproduções internacionais representa 75,5% das admissões na Europa,

enquanto quatro produtoras com “moderada experiência” alcança a marca de 16%. O

restante, 55 empresas, representam 8,5% das admissões naquele continente. Com relação

ao “desempenho relativo”, tanto as produtoras com “muita experiência” como as firmas

com “moderada experiência” possuem desempenho parecidos, 41,5% e 45% na média,

respectivamente. Já as empresas produtoras com “pouca experiência” em coproduções

internacionais apresentam “desempenho relativo” médio de apenas 10%. Diante do

exposto, a Figura 17 mostra os Grupos Estratégicos por empresas produtoras tomando em

consideração as três variáveis de desempenho já discutidas.

O Grupo Estratégico 1 (GE1) é formado por quatro empresas que, juntas,

produziram 23 filmes, ou 24% do total das coproduções internacionais da última década.

Por sua vez, o Grupo Estratégico 2 (GE2), também é composto por quatro empresas e

contribuiu com 14 coproduções, representando 14,6%. Por fim, o Grupo Estratégico 3

(GE3), com 55 empresas e 59 filmes produzidos em regime de coprodução internacional.

Trata-se do maior grupo em representatividade, com 61,4% dos filmes coproduzidos e

conta com as empresas consideradas de “pouca experiência” em coprodução internacional,

sendo quatro firmas com duas coproduções, e 51 com apenas uma coprodução

Page 129: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

129

internacional. Por outro lado, é também o que menos possui respresentatividade nas

variáveis de desempenho relacionadas ao público, conforme será analisado na Fase 3.

Page 130: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

130

Grupo

Estratégico

(GE)

Experiência em

Coprodução Empresas Produtoras (EP) Classificação por Desempenho

Absoluto e Relativo

GE 1

GE 2

GE 3

Muita

Moderada

Pouca

EP I

EP II

EP III

EP IV

EP I

EP II

EP III

EP IV

EP I

EP II

EP III

EP IV

Demais empresas

A1; M1; B2; SB4

A2; M2; B2

A1, B1; B2; MB2; MB3; MB4

MB1; MB3; SB4

MB1; MB3

A1; SB4

B1; MB1; SB4

B1; MB1; SB4

M2; SB4

SB4

B1; B3

MB2; MB3

M1; M2; B1; B2; B3; MB1; MB2; MB3; SB4

Figura 17: Grupos Estratégicos de Empresas Produtoras Fonte: dados da pesquisa

Elaborado pelo autor

Page 131: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

131

5.2.3 Fase 3: Comparar os indicadores de desempenho entre os grupos estratégicos

Em sequência ao modelo proposto por Rouse e Daellenbach (1999), esta fase compara

os indicadores de desempenho entre os Grupos Estratégicos. Nota-se, conforme demonstrado

na Figura 17 da fase anterior, que em função da variável “experiência em coprodução

internacional”, uma mesma empresa, com destaque para as consideradas de “muita

experiência”, apresenta desempenho heterogêneo nas variáveis de público e,

consequentemente, o desempenho do Grupo Estratégico também é heterogêneo. Em outras

palavras, uma mesma empresa produtora, quando considerada um objeto de estudo isolado,

pode apresentar insights teóricos importantes, uma vez que cada projeto de filme é, por si só,

uma firma com diferentes desempenhos. Esta complexidade será esmiuçada na fase 4 desta

Estapa da pesquisa. Para esta fase, utiliza-se dos Grupos Estratégicos em função da

“experiência” da firma produtora e os respectivos desempenhos médios nas variáveis de

público por grupo, de acordo com o demonstrado na Tabela 8.

Tabela 8: Comparação dos Indicadores por Grupos Estratégicos

Experiência Absoluto% do Público

AbsolutoRelativo

GE1 5 - 7 filmes 3.159.036 75,5% 41,5% 4 6,3% 23 24,0%

GE2 3 - 4 filmes 671.834 16,0% 45,0% 4 6,3% 14 14,6%

GE3 1 - 2 filmes 355.079 8,5% 10,3% 55 87,3% 59 61,5%

Total ----------- 4.185.949 100,0% 22,8% 63 100,0% 96 100,0%

% dos

Filmes

Variáveis de DesempenhoNº de Empresas

ProdutorasGE

Nº de Filmes

Produzidos

% das Empresas

Produtora

Fonte: dados da pesquisa

Elaborado pelo autor

Os Grupos Estratégicos possuem desempenhos distintos no que se refere ao

“desempenho absoluto”, com destaque para o GE1, que registra cerca de cinco vezes mais

público na Europa do que o GE2. No tocante a variável “desempenho relativo”, GE1 e GE2

possuem desempenho próximo, 41,5% e 45%, respectivamente, na média. Já o GE3, empresas

com “pouca experiência”, esta média é de 10%, posto que este grupo conta com 55 empresas

produtoras e 59 filmes coproduzidos, e muitos destes projetos não tem registro de admissões

na Europa, com base nos dados do Observatório Europeu do Audiovisual. Uma vez analisado

o desempenho entre os Grupos Estratégicos, inicia-se a Fase 4 desta Etapa da pesquisa.

Page 132: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

132

5.2.4 Fase 4: Identificar as firmas com melhores e piores desempenhos entre cada grupo

estratégico

O GE1 é composto por quatro empresas produtoras com muita experiência e 23 filmes

coproduzidos, enquanto a GE2 é composto, também, por quatro firmas com moderada

experiência e 14 filmes, por sua vez o GE3 possui 55 produtoras com pouca experiência e 59

filmes produzidos em regime de coprodução internacional. A Tabela 9 mostra os

desempenhos, relativo e absoluto, por empresa produtora entre cada Grupo Estratégico.

Tabela 9: Desempenho por Empresa Produtora entre cada Grupo Estratégico

Absoluto Relativo Absoluto Relativo Absoluto Relativo

EP I 915.640 50,9% 6 EP I 8.598 33,8% 3 EP I 50.347 29,0% 2

EP II 1.223.245 52,4% 5 EP II 607.439 31,6% 3 EP II 0 0,0% 2

EP III 1.014.528 39,7% 7 EP III 30.521 66,3% 4 EP III 45.419 50,3% 2

EP IV 5.623 22,0% 5 EP IV 25.276 41,2% 4 EP IV 3.171 16,5% 2

------ ------ ------ ------ ------ ------ ------ ------ Demais 256.142 8,0% 51

Total 3.159.036 41,5% 23 Total 671.834 45,0% 14 Total 355.079 10,30% 59

Nº de

FilmesGE1

DesempenhoGE2

DesempenhoGE3

DesempenhoNº de

Filmes

Nº de

Filmes

Fonte: dados da pesquisa

Elaborada pelo autor

O melhor desempenho, tanto absoluto quanto relativo, no GE1 refere-se à empresa

produtora EP II. As empresas EP I e EP III possuem desempenho absoluto inferiores em

33,6% e 20,6%, respectivamente. Já a firma EP IV possui desempenho absoluto muito inferior

às outras empresas do grupo. No que diz respeito ao desempenho relativo, a EP I aproxima-se

da EP II, ficando apenas 1,5 pontos percentuais abaixo. Mais distantes, as empresas EP III e

EP IV, com 12,7 e 30,4 pontos percentuais de diferença, respectivamente, em relação ao

melhor desempenho do grupo. Quando se analisa o desempenho por projeto de filme, de

acordo com a Tabela 10, a EP I possui os filmes com maiores desempenho relativos, três dos

seus filmes alcançam patamares superiores a 85%, por outro lado, dois dos seus filmes não

registram desempenho no mercado europeu. No que tange ao melhor desempenho absoluto, a

firma EP III possui a coprodução internacional com a maior admissão na Europa, perto de um

milhão de espectadores. Pode-se destacar que a EP IV possui um filme de público muito

baixo na Europa, todavia, com desempenho relativo de 92,6%, classificado como MB1.

Page 133: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

133

Tabela 10: GE1 - Desempenho das Empresas Produtoras por filme

Absoluto Relativo Classificação

Filme 1 495.554 86,3% A1

Filme 2 264.754 92,3% A1

Filme 3 143.533 95,0% M1

Filme 4 11.799 32,0% B2

Filme 5 - 0% SB4

Filme 6 - 0% SB4

Total 915.640 50,9% -------

Filme 1 509.471 36,0% A2

Filme 2 486.871 65,3% A2

Filme 3 146.200 68,6% M2

Filme 4 50.846 49,2% M2

Filme 5 29.857 43,0% B2

Total 1.223.245 52,4% -------

Filme 1 948.346 76,6% A1

Filme 2 37.905 87,4% B1

Filme 3 21.038 38,8% B2

Filme 4 3.798 69,3% MB2

Filme 5 3.372 4,4% MB3

Filme 6 69 1,3% MB3

Filme 7 - 0% SB4

Total 1.014.528 39,7% -------

Filme 1 3.857 92,6% MB1

Filme 2 1.766 17,5% MB3

Filme 3 - 0% SB4

Filme 4 - 0% SB4

Filme 5 - 0% SB4

Total 5.623 22,0% -------

3.159.036 41,5% -------

EP III

EP IV

Total GE 1

Desempenho

EP I

EP II

ProjetoEP

Fonte: dados da pesquisa

Elaborada pelo autor

Portanto, fica evidente a empresa com o pior desempenho do grupo, EP IV. Contudo,

em função da heterogeneidade de desempenho dos projetos de filme das outras empresas,

qualquer uma delas torna-se importante objeto de estudo para esta pesquisa. Em outras

palavras, a EP II tem o melhor desempenho médio total, enquanto a EP I tem o maior número

de filmes classificados como A1 e, por sua vez, a EP III apresenta o filme com maior

desempenho absoluto deste GE. Vale ressaltar que tanto a EP I quanto a EP III possuem

filmes com classificação SB4, fortalecendo ainda mais a heterogeneidade de ambas.

No GE 2, moderada experiência em coprodução internacional, não é possível destacar

uma única empresa com melhor, ou pior, desempenho médio total, se faz necessário analisar o

desempenho das empresas por projeto de filme. A empresa EP II tem o projeto de filme de

maior desempenho absoluto e relativo, classificado como A1; entretanto, suas outras duas

Page 134: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

134

coproduções são classificadas como SB4, influenciando seu desempenho relativo médio, o

pior do grupo. Já a firma EP III apresenta o melhor desempenho relativo do grupo e o

segundo melhor desempenho absoluto, totalizando 30.521 espectadores. Enquanto a EP IV,

possui o segundo melhor desempenho relativo do GE 2 e o projeto de filme com o segundo

melhor desempenho absoluto, conforme Tabela 11.

Tabela 11: GE2 – Desempenho das Empresas Produtoras por Filme

Absoluto Relativo Classificação

Filme 1 8.326 94,6% MB1

Filme 2 165 1,0% MB3

Filme 3 107 5,9% MB3

Total 8.598 33,8% -------

Filme 1 607.439 94,9% A1

Filme 2 - 0% SB4

Filme 3 - 0% SB4

Total 607.439 31,6% -------

Filme 1 13.422 90,0% B1

Filme 2 13.196 89,1% B1

Filme 3 3.903 86,2% MB1

Filme 4 - 0% SB4

Total 30.521 66,3% -------

Filme 1 21.882 71,3% B1

Filme 2 3.394 93,6% MB1

Filme 3 - 0% SB4

Filme 4 - 0% SB4

Total 25.276 41,2% -------

671.834 45,0% -------

EP Projeto

Total GE 2

EP IV

EP III

EP II

EP I

Desempenho

Fonte: dados da pesquisa

Elaborada pelo autor

Em linhas gerais, neste Grupo Estratégico torna-se claro que a EP I conta com o pior

desempenho, e a EP II dispõe de um projeto de filme que contrasta com os demais. Em

contrapartida, as firmas EP III e EP IV possuem desempenho a serem considerados, posto que

têm os melhores desempenhos relativos do GE, além de desempenhos absolutos próximos

entre elas, tornando-se relevantes objetos de estudo para esta pesquisa.

As empresas produtoras com pouca experiência em coprodução internacional

compõem o GE 3. Este grupo divide-se em quatro empresas com dois projetos de filmes e 51

Page 135: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

135

empresas com apenas uma participação em projetos de coprodução. Portanto, a análise deste

grupo é feita a partir de dois subgrupos, empresas com duas coproduções e demais empresas

produtoras.

No primeiro subgrupo, torna-se evidente a empresa com pior desempenho, EP II;

contudo, a EP IV também possui desempenho fraco, quando comparada às firmas EP I e EP

III. Quanto aos melhores desempenhos, a EP I possui o melhor desempenho absoluto,

enquanto a EP III, o melhor desempenho relativo. Vale destacar que a EP I conta com um dos

seus filmes classificado como M2, no entanto, seu outro filme está classificado como SB4. Já

a firma EP III possui filmes classificados como B1 e B3, com relevância ao primeiro que

possui o maior público relativo fora em relação à população desta pesquisa, com 97,7% das

admissões, conforma Tabela 12.

Tabela 12: GE3 - Desempenho das Empresas Produtoras por Filme

Absoluto Relativo Classificação

Filme 1 50.347 58,0% M2

Filme 2 - 0% SB4

Total 50.347 29,0% -------

Filme 1 - 0% SB4

Filme 2 - 0% SB4

Total - 0% -------

Filme 1 29.406 97,7% B1

Filme 2 16.013 3,0% B3

Total 45.419 50,3% -------

Filme 1 1.277 25,9% MB2

Filme 2 1.894 7,1% MB3

Total 3.171 16,5% -------

Demais Filmes 256.142 8,0% Variada (*)

Total 256.142 8,0% -------

355.079 10,3% -------

(*) Predominância da Classificação SB4

Total GE 3

EP I

EP II

EP III

EP IV

Demais

EP ProjetoDesempenho

Fonte: dados da pesquisa

Elaborada pelo autor

No subgrupo das demais empresas, com uma coprodução internacional, somente 15

firmas contam com admissões na Europa, ou seja, 36 empresas produtoras têm seus projetos

de filmes classificados como SB4, conforme Tabela 12. Sob outra perspectiva, duas empresas,

ou dois filmes, detêm 75% do desempenho absoluto deste subgrupo e desempenhos relativos

Page 136: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

136

acima de 50% (51,6% e 74,6%), ficando atrás apenas de um projeto de filme que alcança a

marca de 93,6%, porém com baixo registro de público na Europa. Ressalta-se ainda que estas

duas empress produtoras, por meio de seus filmes, possuem os dois melhores desempenhos

absolutos do GE. Pois, quando se compara ao melhor público do subgrupo das empresas com

participação em duas coproduções internacionais, EP I com 50.347 de admissões, seus filmes

atingem praticamente o dobro de admissões, com 96.570 e 96.040 de espectadores no

mercado europeu.

Portanto, o GE 3 pode ter como objeto de estudo, no que se refere a pior desempenho,

qualquer empresa produtora cujo projeto de filme tenha a classificação SB4 e, como melhor

desempenho, as empresas cujos seus filmes estejam classificados como M1 ou M2. Isto

engloba a EP I, do primeiro subgrupo (duas coproduções) e duas empresas do outro subgrupo.

5.2.5 Análise de Correspondência: Validação dos Dados Secundários

A seção anterior selecionou os grupos estratégicos com base em três variáveis de

desempenho: i) desempenho relativo; ii) desempenho absoluto; e iii) experiência em

coprodução internacional. Para validação dos dados secundários analisados, utilizando-se do

método de Análise de Correspondência, outras variáveis não-métricas serão incorporadas: iv)

situação patrimonial; e v) país/região do diretor do filme coproduzido. A Tabela 13 resume os

cálculos do qui-quadrado e sua respectiva significância para as oito relações estabelecidas

entre as cinco variáveis utilizadas.

Tabela 13: Dados Secundários – Teste Qui-quadrado

Relação entre as variáveis InérciaQui-

quadradoSig.

País/região do diretor X Situação partimonial ,652 59,297 ,000a

País/região do diretor X Desempenho relativo ,479 45,943 ,000a

Situação patrimonial X Desempenho relativo ,476 43,280 ,000a

País/região do diretor X Desempenho absoluto ,415 39,837 ,005a

Situação patrimonial X Desempenho absoluto ,290 26,410 ,001a

Experiência em coprodução X Desempenho absoluto ,262 25,161 ,001a

Experiência em coprodução X Desempenho relativo ,308 29,542 ,000a

Desempenho relativo X Desempenho absoluto 1,324 127,110 ,000b

a. 10 graus de liberdade

b. 12 graus de liberdade

Fonte: Dados da Pesquisa

Elaboração do autor

Page 137: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

137

O teste do χ2 estipula se a distribuição entre as variáveis é aleatória ou se existe um

padrão determinado por dependência para cada uma das relações. Neste caso, para todas as

variáveis analisadas o teste do χ2 aponta que elas não se combinam aleatoriamente, uma vez

que todos os seus valores deram significância abaixo de (.0010), levando-se em consideração

seus respectivos graus de liberdade (HAIR, et al,, 2009). Os mapas perceptuais derivados pela

análise de correspondência são demonstrados na Figura 18

Page 138: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

138

MP 1 MP 2

MP 4MP 3

Figura 18: Mapas Perceptuais

Fonte: Dados da Pesquisa. Elaborada pelo autor.

Page 139: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

139

MP 6

MP 8

MP 5

MP 7

Figura 18 (continuação)

Page 140: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

140

Os oito mapas perceptuais representam a população desta pesquisa, 96 coproduções

internacionais, e estão organizados da seguinte forma:

Mapa Perceptual 1 (MP 1) – País/região do diretor X Situação patrimonial;

Mapa Perceptual 2 (MP 2) – País/região do diretor X Desempenho relativo;

Mapa Perceptual 3 (MP 3) – Situação patrimonial X Desempenho relativo;

Mapa perceptual 4 (MP 4) – País/região do diretor X Desempenho absoluto;

Mapa perceptual 5 (MP 5) – Situação patrimonial X Desempenho absoluto;

Mapa perceptual 6 (MP 6) – Experiência em coproduções X Desempenho

relativo;

Mapa perceptual 7 (MP 7) – Experiência em coproduções X Desempenho

absoluto;

Mapa perceptual 8 (MP 8) – Desempenho relativo X Desempenho absoluto.

Importante destacar que os resutados contidos nestes mapas perceptuais são de

natureza descritiva, não permitindo estabelecer relações de causa e efeito (HAIR, et al.,

2009). Todavia, esta estapa tem o foco em explorar e descrever as características da

população pesquisada e estabelecer relações entre as variáveis do objeto investigado (YIN,

2015). Visto que o tema das coproduções internacionais ainda é pouco explorado, os achados

desta etapa contribuem para a formulação das proposições e as análises das etapas

subsequentes, conforme apresentado no Design da Pesquisa.

O MP 1 sugere que a situação patrimonial “Majoritária” tem correspondência, em

relação a variável “país/região do diretor”, com o Brasil. Em contrapartida, um filme cuja

situação é “Minoritária”, a associação com a variável se faz com diretores estrangeiros -

europeus, sulamericanos e africanos (Angola e Moçambique). Já o MP 2 insinua que os

diretores europeus estão correspondidos com um melhor “desempenho relativo”; por outro

lado, os diretores brasileiros, norte-americanos e asiáticos aproximam-se dos desempenhos

mais baixos, ficando em uma posição intermediária os filmes dirigidos por sulamericanos e

africanos. Quando se trata das variáveis “situação patrimonial” e “desempenho relativo”, o

MP 3 propõe uma correspondência entre situação “Majoritária” e menores admissões; por sua

vez, os filmes minoritários associam-se aos maiores públicos no exterior.

Page 141: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

141

No que diz respeito à variável “Desempenho absoluto”, o MP 4 sugere que filmes com

diretores brasileiros, norte-americanos e asiáticos tedem a corresponder com as coproduções

que não apresentam admissões na Europa. No entanto, os diretores europeus e africanos

aproximam-se dos diversos tamanhos de público, dos mais baixos aos mais altos. As

coproduções cujos diretores são europeus tendem a se associarem as maiores admissões,

enquanto os dirigidos por sulamericanos, das intermediárias. Já o MP 5 admite que os filmes

com situação patrimonial “Majoritária” têm correspondência com os filmes sem registro de

admissões nas salas de cinemas europeias, enquanto as coproduções cujas situações sejam

“Minoritária” e “Igualitária” acercam as demais “bandas de sucesso”.

Ao que se refere à variável “Experiência em coprodução internacional”, o MP 6

propõe correspondências entre “Pouca experiência” e menores desempenhos relativos,

“Muita experiência” e desempenho relativo intermediário e “Moderada experiência” e alto

desempenho relativo. Vale destacar, neste momento, que as duas últimas “Experiências”

encontram-se ao lado esquerdo do eixo; portanto, com associações entre elas nos dois

quadrantes que ocupam. Quando se trata de “Desempenho absoluto”, o MP 7 sugere que

“Pouca experiência” associa-se a coproduções sem admissões na Europa; “Muita experiência”

a admissões intermediárias; e “Moderada experiência” a admissões de moderadas a baixas.

Finalmente, o MP 8 associa os desempenhos “relativo” e “absoluto”, estabelecendo

algumas relações, até certo ponto, óbvias. Quando não há admissões na Europa, o

desempenho relativo é nulo, enquanto que as coproduções com registros de admissões muito

baixas o desempenho relativo também é baixo. Ao que diz respeito às baixas, moderadas e

altas admissões nas salas de cinemas europeus, o desempenho relativo fica entre moderado e

alto.

Em resumo, pode-se destacar, a partir dos mapas perceptuais, as coproduções que

combinam com participação brasileira minoritária e diretor estrangeiro, pois associam-se a

melhores desempenhos no mercado europeu. O inverso acontece com a combinação da

situação patrimonial majoritária e diretores brasileiros, quando o desempenho das admissões

neste mesmo mercado piora. A Tabela 14 expressa em detalhes os desempenhos por situação

patrimonial.

Page 142: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

142

Tabela 14: Situação Patrimonial vs. Desempenho

Situação

patrimonial

Desempenho

relativo (média)

Desempenho

Absoluto

Total de

Filmes

Majoritário 3,8% 73.855 48

Igualitário 12,9% 611.231 7

Minoritário 52,0% 3.476.632 36

Não informada 6,0% 24.231 5

Total 18,7% 4.185.949 96

Fonte: dados da pesquisa

Elaborada pelo autor

O desempenho absoluto dos filmes cuja participação brasileira é minoritária representa

83,1% do total das admissões na Europa. Todavia, as coproduções majoritárias representam

apenas 1,8% das admissões naquele continente, mesmo a primeira contando com 25% a

menos de filmes coproduzidos. Fecham os números, as participações “Igualitárias”, com

14,6%, e as “Não informadas”, com 0,6% do total das admissões. O desempenho relativo

corrobora com os números apontados.

Na relação entre o país/região do diretor e os desempenhos absoluto e relativo emerge

um número singular. O desempenho absoluto das coproduções dirigidas por cineastas

brasileiros se mostra 58,5% maior em comparação aos filmes dirigidos por cineastas

europeus, conforme demonstrado na Tabela 15. Esta diferença ocorre em razão de três

coproduções vinculadas ao GE 1, como analisado na seção anterior. Juntos, estes três filmes -

dois minoritários e um igualitário - representam cerca de 2,1 milhões em admissões na

Europa; portanto, as demais 56 coproduções alcaçam um total de 187 mil admissões. Desta

forma, o desempenho relativo médio dos filmes coproduzidos sob a direção de cineastas

brasileiros alcança 8,1%, enquanto os dirigidos por cineastas europeus aufere a marca de

61%.

Page 143: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

143

Tabela 15: País/região do diretor vs. Desempenho

País/região do diretorDesempenho

relativo

Desempenho

absoluto

Total de

Filmes

Brasil 8,1% 2.252.223 59

Europa 61,0% 1.420.767 15

América do Sul (exceto Brasil) 33,0% 491.773 15

África 75,0% 21.186 4

América do Norte 0,0% - 2

Ásia 0,0% - 1

Fonte: dados da pesquisa

Elaborada pelo autor

Embasado na estrutura teórica sugerida previamente e na análise dos dados

secundários referentes às coproduções internacionais entre os anos de 2005 e 2014, as

proposições teóricas dessa tese são:

P1: O histórico do cinema nacional apresenta-se como turbulento, pois envolve muitos

períodos ao longo de sua história. Os pilares regulativos utilizados atualmente foram

criados em meados dos anos de 1990 e início dos anos 2000; portanto, a

heterogeneidade de desempenho pode ocorrer devido à forma de como as decisões

estratégicas são tomadas em uma indústria ainda em formação.

P2: A participação brasileira em coproduções internacionais tem aumentado nos

últimos cinco anos. A legitimidade dos filmes coproduzidos pode acarretar em

heterogeneidade de desempenho.

P3: Os grandes estúdios de Hollywood concentram cerca de 80% do mercado

internacional de filmes de longa-metragem. Os majors, como também são conhecidos,

estão concentrados igualmente no estágio de distribuição global para estes filmes

comerciais. No Brasil, por exemplo, os majors distribuíram 87% das 20 maiores

bilheterias em 2014. Resta uma fatia de mercado em torno de 20% para todas as outras

indústrias nacionais tanto para concorrerem em seus mercados locais como nos

mercados internacionais. Este limitado tamanho de mercado aliado à competitividade

global pode gerar heterogeneidade de desempenho.

Page 144: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

144

P4: A indústria cinematográfica tem por característica a especialização flexível, no

qual cada projeto de filme pode ser considerado uma firma de curta duração. Devido

às barreiras de entrada, assim como aos riscos inerentes às incertezas na demanda, a

heterogeneidade de desempenho pode acontecer devido ao acúmulo de recursos.

Estas proposições são utilizadas como parâmetros para as próximas etapas da

pesquisa, assim como para o Capítulo 6, quando serão discutidos os achados desta

investigação.

Page 145: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

145

5.3 Etapa 2: Pesquisa de Campo

Após ter sido feita uma análise exploratória a partir dos dados secundários disponíveis,

ingressa-se na segunda etapa, a pesquisa de campo. Para a coleta de dados foram utilizadas

três fontes de evidências: i) participação em eventos relacionados ao tema pesquisado; ii)

recortes de notícias e outros artigos na mídia em geral; iii) entrevistas com

produtores/diretores brasileiros das coproduções internacionais.

As participações em eventos relacionados ao tema ocorreram em duas oportunidades.

A primeira aconteceu em outubro do ano de 2014, na “38ª Mostra de Cinema Internacional de

São Paulo”, enquanto a segunda, ocorreu em janeiro do ano de 2015 no “Encontro do Cinema

do Brasil”, realizado no Museu da Imagem e do Som, também em São Paulo.

Naquela ocasião, o primeiro dos eventos contou com um painel intitulado “Estudo de

Caso: Coprodução Brasil-Espanha”, dele participaram produtores brasileiros e espanhóis que

debateram suas experiências conjuntas em coproduções internacionais de filmes de longa-

metragem. Algumas fontes de evidências podem ser destacadas deste evento:

As coproduções internacionais, primeiramente, devem ser pautadas na arte, para

depois serem encaixadas na burocracia dos acordos internacionais;

As coproduções internacionais são muito importantes em uma indústria

cinematográfica cada vez mais globalizada;

Problemas de acesso aos canais de distribuição na Espanha;

Importância de existir afinidade cultural entre os produtores de ambos os países;

A coprodução internacional pode impulsionar o filme à participação em festivais

internacionais.

Relevância das Instituições como ANCINE e APEX.

Já o segundo evento contribuiu de duas formas: i) para um melhor entendimento da

APEX e do seu programa de incentivo e fomento à internacionalização da indústria

cinematográfica nacional – o programa Cinema do Brasil; e ii) para um melhor entendimento

do circuito de festivais internacionais de cinema. Participaram deste evento profissionais da

Page 146: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

146

APEX, ANCINE e especialistas em mercado internacional de filmes. As evidências que

merecem destaque são:

A dimensão da APEX no que tange ao apoio às firmas ligadas à indústria criativa;

As diversas ações promovidas pelo programa Cinema do Brasil e da ANCINE nos

principais festivais internacionais como:

o Parceria realizada na feira “Mercado de Coproduções”, vinculada ao Festival

Internacional de Cinema de Berlim;

o Participação nas rodadas de coprodução internacional para cinema de autor no

Festival Internacional de Cinema de Locarno;

o Participação de produtores brasileiros em programas de treinamento e de rede

europeia de produção como, por exemplo, “Ateliê do Cinema Europeu”, na

França, e no programa “Empreendedores do Audiovisual Europeu”;

o Participação no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián como

parceiro no “Industry Club”, para promover as coproduções entre a América

Latina e a Europa.

Visão geral do mercado internacional de filmes:

o Definir estratégia internacional;

o Identificar um parceiro para coproduzir;

o Encontrar agentes de venda para o seu filme;

o Acessar linhas de financiamento.

Como segunda fonte de evidência, foram utilizados recortes de notícias e outros

artigos na mídia em geral. Dentre inúmeras evidências estão:

“O filme já começou naturalmente internacionalizado... Nessas viagens, uma

produtora francesa se uniu ao projeto. Concluído, o filme foi a vários festivais,

ganhando visibilidade e sendo negociado”. (Júlia Murat, diretora de um filme em

regimende coprodução internacional, em entrevista concedida ao jornal Valor

Econômico em fevereiro de 2013);

“A coprodução deve ser entendida como elemento central para uma política de

internacionalização do audiovisual brasileiro... o crescimento da coprodução

internacional é resultado de uma combinação entre uma maior abertura dos produtores

brasileiros e uma política pública de estímulo a essas parcerias.” (Eduardo Valente,

Page 147: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

147

acessor internacional da ANCINE, em entrevista à “Revista de Cinema” edição de

setembro/outubro de 2015);

“Além do lado cultural e glamoroso, Cannes também é o lugar ideal para a realização

de negócios, como a venda de filmes para distribuidoras estrangeiras e projetos de

coprodução.” (André Sturm, presidente do Cinema do Brasil, em

http://www.cinemadobrasil.org.br/imprensa.php?lang=pt&pgn=24&idnews=366,

acesso em janeiro de 2015);

“O Brasil anda bem visto no mercado cinematográfico internacional. O nome do País

figura na lista das nações que se destacam pela produção de filmes de qualidade fora

do eixo Estados Unidos-Inglaterra, que inclui os já consolidados Índia, Japão,

Alemanha, França, China e Canadá.” (Danielle Motta, artigo “Coproduções

promovem intercâmbio no cinema”, em

http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/10571, acesso em janeiro de 2015);

A terceira fonte de evidência compreende as entrevistas com

produtores/diretores dos filmes coproduzidos. Conforme já discorrido em seções

anteriores, entre os anos de 2005 e 2014 foram realizadas 96 coproduções

internacionais com 63 firmas produtoras brasileiras envolvidas. Na primeira etapa

desta pesquisa, as firmas foram separadas em três grupos, a partir disto 25 firmas

produtoras foram contactadas, o que representaria 50 filmes, ou 52% da população

pesquisada. Deste número, retornaram com a intenção de conceder entrevista 11

produtores, entretanto, devido aos conflitos nas agendas, seis produtores/diretores91

foram entrevistados com base em um roteiro semi-estruturado fundamentado na

estrutura teórica e nas proposições desta pesquisa92, o que representa

aproximadamente 20% da população desta pesquisa. A Tabela 16 mostra as empresas

(EP) e seus respetivos desempenhos por projeto de filme.

91 Vide Anexo C – Termos de Consentimento 92 Vide Anexo B – Roteiro de Perguntas para as Entrevistas

Page 148: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

148

Tabela 16: Empresas Entrevistadas

Absoluto Relativo Classificação

Filme 1 495.554 86,3% A1

Filme 2 264.754 92,3% A1

Filme 3 143.533 95,0% M1

Filme 4 11.799 32,0% B2

Filme 5 - 0% SB4

Filme 6 - 0% SB4

Total 915.640 50,9% -------

Filme 1 3.857 92,6% MB1

Filme 2 1.766 17,5% MB3

Filme 3 - 0% SB4

Filme 4 - 0% SB4

Filme 5 - 0% SB4

Total 5.623 22,0% -------

Filme 1 21.882 71,3% B1

Filme 2 3.394 93,6% MB1

Filme 3 - 0% SB4

Filme 4 - 0% SB4

Total 25.276 41,2% -------

EP a */ GE 3 Filme 1 - 0% SB4

EP b */ GE 3 Filme 2 - 0% SB4

EP c */ GE 3 Filme 3 8.031 5,7% MB3

Total 954.570 30,0%

( * ) Empresas incluídas no subgrupo "demais empresas" no GE 3

EP IV / GE 2

EP / GE ProjetoDesempenho

EP I / GE 1

EP IV / GE 1

Fonte: Dados da Pesquisa

Elaborado pelo autor

Foram cerca de seis horas de entrevistas transcritas para serem analisadas.

Importante ressaltar que este recorte da população corrobora com a metodologia

qualitativa de estudo de casos múltiplos, visto que os três grupos estratégicos de

empresas produtoras foram contemplados, além dos 18 filmes englobarem,

praticamente, todas as classificações de desempenho, de A1 a SB4, o que caracteriza a

heterogeneidade de desempenho deste recorte.

Page 149: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

149

5.4 Etapa 3: Análise dos Dados - Codificação

Esta etapa da pequisa compreende a aplicação das técnicas de codificação aberta e

axial (Strauss e Corbin, 2008) nas quais fornecerão apoio para Capítulo posterior, quando,

enfim, ocorrerá a discussão dos resultados. A Figura 19 apresenta os dados coletados

codificados.

Heterogeneidade de

desempenho

Ca 1 - Barreiras de

entrada

Ca 2 - Estrutura do

mercado: local e

global

Ca 3 - Necessidade

de

internacionalização

Ca 4 - Orientação

internacional

Ca 5 - Redes de

relacionamento

Ca 6 - Reputação

Ca 7 - Percepções

de qualidade e

confiabilidade

Ca 8 - Experiência

Ca 9 -

Institucional:

nacional e

internacional

Codificação aberta (Ca) Codificação axial (Cx)

Cx 1 - Barreiras de

entrada e redes de

relacionamento

Cx 2 - Estrutura do

mercado e

internacionalização

Cx 3 - Redes de

relacionamento e

participação em festivais

Cx 6 – Regulação e

internacionalização

Cx 4 – Experiência,

reputação e barreiras de

entrada

Cx 7 – Legitimação e

acesso a recursos

financeiros

Cx 8 – Cognição e

internacionalização

Cx 5 – Percepções de

qualidade e acesso a

investidores

Figura 19: Codificação dos dados

Fonte: dados da pesquisa

Elaborado pelo autor

As categorias dos códigos submetem-se às três perspectivas em estratégica, ou seja,

ECD, VBR e NEI. A codificação aberta fundamenta-se na estrutura teórica proposta no

Capítulo 4 e está representada por nove subcategorias dispostas da seguinte forma:

Ca 1 a Ca 3: subcategoria relacionada à ECD.

Ca 4 a Ca 8: subcategoria relacionada à VBR.

Ca 9: subcategoria relacionada aos pilares regulativo, normativo e cognitivo.

Já a categoria axial combina as subcateogorias que, por sua vez, sugere a inter-relação

entre as perspectivas em estratégia e sua influência na heterogeneidade de desempenho. A

Page 150: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

150

seção ulterior discutirá os resultados e testará as proposições teóricas utilizando-se desta

codificação.

Page 151: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

151

6. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Para discutir os resultados, apropria-se das técnicas propostas por Yin (2015),

conforme já discorrido no capítulo anterior: i) combinação de padrão dos achados, que

relaciona a descoberta empírica dos casos às proposições teóricas; e ii) síntese cruzada de

casos. Além de utilizar como auxílio a codificação dos dados, realizada anteriormente. Neste

momento se faz importante resgatar as proposições teóricas apresentadas na seção 5.2.5, são

elas:

P1: O histórico do cinema nacional apresenta-se como turbulento, pois envole muitos

períodos ao longo de sua história. Os pilares regulativos utilizados atualmente foram

criados em meados dos anos de 1990 e início dos anos 2000, portanto, a

heterogeneidade de desempenho pode ocorrer devido à forma de como as decisões

estratégicas são tomadas em uma indústria ainda em formação.

P2: A participação brasileira em coproduções internacionais tem aumentado nos

últimos cinco anos. A legitimidade dos filmes coproduzidos pode acarretar em

heterogeneidade de desempenho.

P3: Os grandes estúdios de Hollywood concentram cerca de 80% do mercado

internacional de filmes de longa-metragem. Os majors, como também são conhecidos,

estão concentrados igualmente no estágio de distribuição global para estes filmes

comerciais. No Brasil, por exemplo, os majors distribuíram 87% das 20 maiores

bilheterias em 2014. Resta uma fatia de mercado em torno de 20% para todas as outras

indústrias nacionais tanto para concorrerem em seus mercados locais como nos

mercados internacionais. Este limitado tamanho de mercado aliado à competitividade

global pode gerar heterogeneidade de desempenho.

P4: A indústria cinematográfica tem por característica a especialização flexível, no

qual cada projeto de filme pode ser considerado uma firma de curta duração. Devido

às barreiras de entrada, assim como aos riscos inerentes as incertezas na demanda, a

heterogeneidade de desempenho pode acontecer devido ao acúmulo de recursos.

O Quadro 12 resume alguns dos achados da pesquisa em função das subcategorias

codificadas e das proposições teóricas. Opta-se por não citar o nome do entrevistado de forma

Page 152: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

152

a manter a impessoalidade, o padrão de referência das citações segue conforme apresentado

na primeira etapa do Design da Pesquisa.

Proposições

teóricasCitações diretas dos entrevistados Codificação

"O Brasil tem um ciclo de altos e baixos no cinema, ora está lá em cima, ora está lá em

baixo...em 93, quando surge a Lei do Audiovisual, se modifica o cinema brasileiro em função

de que vem este aporte do Estado para justamente levantar este cinema, que ainda não é um

indústria...está começando a se tornar uma indústria." (EP IV / GE 1)

"A própria lei demorou alguns anos para ser compreendida por todos nós, produtores...entre

os anos de 95 e 96 ela começou a se estabilizar...criou-se a ANCINE e o cinema teve um

crescimento enorme..." (EP IV / GE 1)

"Em um papo informal com este coprodutor espanhol a gente deu uma cópia de um filme

antigo nosso junto com o roteiro do nosso novo filme...no dia seguinte, quando estávamos

indo embora, já saindo do hotel, tinha uma carta deste coprodutor dizendo que tinha se

apaixonado pelo filme e fez questão de dizer que queria esta parceria...o filme ganhou um

prêmio lá, pois aumentou o turismo dos brasileiros naquele país."( EP c / GE 3)

"Uma frustração nossa foi o filme não ter sido exibido no mercado internacional...a

responsabilidade de distribuição era dos produtores de lá (país parceiro)...mas não podemos

impor a responsabilidade pela distribuição do filme ao coprodutor, não posso culpá-lo por

isso, tem que ver como é que a obra dialoga com seus públicos em ambos os países."(EP a /

GE 3)

"Se a gente tomar por base 100% do mercado para o cinema mundial...a gente tem uma

predominância de cerca de 85% de filmes de língua inglesa...tudo que é comercializado, em

torno US$ 35 a US$ 40 bilhões ano,é dominado claramente pela cinematografia de lígua

inglesa"(EP I / GE 1).

"Se você não participar de um festival importante, ou não ganhar um prêmio em algum

festival fica difícil...todos os meus filmes entraram em festivais...está cada vez mais difícil

entrar em festivais, tem uma quantidade de filmes absurda competindo...atualmente está

acontecendo algo que antigamente não acontecia, pois com esta globalização há uma

tendência de padronização do filme considerado de festival."(EP IV / GE 2)

"Comecei em mercados menores e fui aumentando a minha participação até mercados

maiores como Cannes, Berlim e Veneza, então você vai alastrando e fazendo

networking ...honestidade e credibilidade na entrega do filme são muito importantes para

atuar lá fora...com a experiência que tenho como produtor eu ajudo até a vender o filme,

pois conheço muitos distribuidores no mundo inteiro por causa do meu networking ." (EP IV

/ GE 1)

"Quem não vai com uma agenda aos mercados internacionais, se perde! O ponto número

um do desempenho dos nossos filmes deve-se ao fato da nossa preocupação com a sua

qualidade, independente do seu orçamento...a gente é conhecido no mercado porque a gente

é sólido! (EP I / GE 1)

P1

P2

P3

P4

Cx

6; C

x 8

Cx

6; C

x 7

Cx

1; C

x 2

; Cx

3C

x 1

; Cx

3; C

x 4

; Cx

5

Quadro 11: Resumo dos Achados da Pesquisa

Fonte: Dados da Pesquisa

Elaborado pela autor

A heterogeneidade de desempenho da coprodução internacional brasileira pode ser

entendida de três formas que interagem entre si: i) participação e/ou premiação em festivais

internacionais; ii) admissões em salas comerciais; e iii) comercialização dos filmes para os

distribuidores. A indústria cinematográfica possui idiossincrasias inerentes às indústrias

Page 153: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

153

criativas, dentre elas, chama a atenção o modo de como o produtor interpreta o desempenho

dos seus filmes, trata-se do que pode ser chamado de o paradoxo entre arte e negócio. As

entrevistas sugerem que os produtores encaram o desempenho de formas diferentes, sendo

assim, a heterogeneidade, a priori, pode estar relacionada a valores internalizados por este

profissional, ou seja, o pilar cognitivo (SCOTT, 2014). Por exemplo, para alguns dos

produtores a participação em festivais e a venda do filme para um distribuidor são “as coisas

certas a serem feitas para um filme de autor” (EP IV / GE 1), “o filme tem a função de educar,

de transmitir algo” (EP IV / GE 1), portanto, mais importantes do que as admissões per si.

Outros entendem que a participação em festivais internacionais e, por conseguinte, eventuais

premiações em dinheiro ou a venda do filme, não justificam a complexidade de se trabalhar

em um regime de coprodução internacional. Cabe ressaltar neste momento que todos, sem

exceções, entendem o cinema como arte, conforme mencionado, “até o filme ter a sua

produção finalizada ele é considerado uma obra de arte, já na distribuição ele passa a ser

considerado um produto”(EP I / GE I). Muito embora a maioria dos entrevistados considere

que as suas coproduções internacionais possuem características inerentes a cinema de autor,

ou cinema independente, ou até mesmo filme crossover93. Posto isto, as proposições teóricas

podem contribuir ao crescentar outras possíveis explicações para a heterogeneidade de

desempenho das coproduções internacionais brasileiras.

A P1 toma como premissa a trajetória histórica e turbulenta da indústria

cinematográfica nacional. Esta trajetória foi marcada por fases, ou ciclos, que não permitiam

dar continuidade aos diversos modelos de indústria adotados em cada uma das fases no

decorrer do século XX. Para Bandeira-de-Mello e Cunha (2004, p. 6), “a complexidade

ambiental, aliada às mudanças drásticas no ambiente, causadas, principalmente, pelo

dirigismo do governo federal na economia, gera turbulência ambiental e incerteza...” Da

Companhia Vera Cruz à EMBRAFILME, passando por diversos movimentos, como por

exemplo, o “Cinema Novo”, a indústria cinematográfica brasileira veio a estabilizar-se

somente a partir dos anos de 1993, com a criação da “Lei do Audiovisual”, e início dos anos

2000, com as instaurações da ANCINE e da APEX. Os achados da pesquisa sugerem que

entre as décadas de 1995/2004 e 2005/2014 a produção desta indústria cresceu 223,8%,

passando de 265 para 858 filmes produzidos, respectivamente. As coproduções internacionais

também acompanham esta evolução. Se a “Lei do Audiovisual” incentivou a produção

93 Filmes que cruzam fronteiras.

Page 154: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

154

nacional, a ANCINE, em parceria com a APEX, a partir de 2006, encorajou as coproduções

internacionais. Entre os anos de 2005 e 2009, foram 28 coproduções, enquanto que entre 2010

e 2014, este número aumentou em 142%, passando para 68 filmes. Todos os

produtores/diretores entrevistados afirmam que estas leis e regulamentações contribuem

significativamente para a internacionalização desta indústria. Por outro lado, por se tratar de

ações e programas recentemente institucionalizados, ainda carecem de ajustes e melhorias

para que os processos se tornem mais eficientes, o que pode gerar heterogeneidade de

desempenho em função de como as leis e regulamentações são interpretadas e colocadas em

prática pelos produtores cinematográficos brasileiros.

Associada a categoria da perspectiva estratégica da NEI e as subcategorias dos

“Pilares Normativo e Regulativo”, a P2 parte da prerrogativa de que um filme produzido em

regime de coprodução internacional deve conter elementos artísticos e técnicos dos países

envolvidos no projeto para ter acesso aos investidores, que são normalmente os governos por

meio de acordos e protocolos internacionais. Os elementos culturais do roteiro, a composição

da equipe técnica, assim como o elenco e as locações das filmagens devem preencher os

requisitos exigidos pelos acordos ou protocolos internacionais para que o recurso financeiro

seja liberado. Vale ressaltar que estas composições são expressas na situação patrimonial do

filme. Embora uma coprodução internacional seja aprovada pelas partes envolvidas, isto não

assegura que ela tenha legitimação no que se refere ao seu mercado consumidor. Legitimação

pode ser definida como “uma percepção generalizada de que as ações de uma entidade são

desejadas e apropriadas dentro de uma construção social de normas, valores e crenças”

(YAMAKAWA, et al., 2008 p.72). Portanto, um filme coproduzido internacionalmente deve

ser percebido como uma obra social e culturalmente aceita pelos mercados internacionais

envolvidos. Nos casos investigados pode-se identificar que algumas coproduções renunciam a

certos elementos criativos e artísticos para se ajustar às exigências regulativas, como por

exemplo, “estava rodando um filme em coprodução com a Argentina, mas o roteiro não

permitia um ator daquele país (...) rolou uma forçação (sic) de barra...” (EP IV / GE 2). Em

contrapartida, filmes que são concebidos desde o início de forma a atender os mercados dos

países envolvidos no projeto de coprodução têm mais chances de ter melhores desempenhos.

As incertezas quanto a legitimação são potencias fontes de heterogeneidade em uma

coprodução internacional, pois entrevistados relatam que há coproduções internacionais em

que não houve uma única exibição no outro país envolvido.

Page 155: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

155

Embora tenham ocorrido esforços da UNESCO para incentivar a diversificação

cultural na indústria cinematográfica globlal, nota-se que o mercado ainda se encontra

concentrado nas produções de lígua inglesa94, restando uma fatia menor, em torno de 20%, a

ser disputada pelas produções faladas em outros idiomas. A forma como esta indústria está

estruturada impele a internacionalização, uma vez que os altos custos para desenvolvimento

dos projetos não permitem restringi-los apenas ao mercado local e “a coprodução surge como

uma forma de ampliar o mercado” (EPI / GE 1). A heterogeneidade de desempenho intrínseca

na P3 sugere que as redes de relacionamento, desenvolvidas durante as participações regulares

em festivais internacionais, permitem ultrapassar barreiras de entrada, tais como o acesso a

canais de distribuição, conforme bem coloca os entrevistados “A frequência do produtor nos

festivais é muito importante para o processo de internacionalização” (EP IV / GE 1), visto que

a média anual, entre os anos de 2005 e 2011, de produção para 44 países ultrapassa mil

filmes/ano, “hoje nós vamos aos festivais e tem filme de todo os cantos do mundo!” (EP IV /

GE 2).

Finalmente, a P4 pode explicar que a heteorgenidade de desempenho nas

coproduções internacionais brasileiras são relacionadas ao que Barney (1991) denomina de

complexidade social. Relações interpessoais, cultura e confiança são exemplos dessa

complexidade. “Participando do festival de Cannes, um produtor francês me ofereceu um

projeto, após ter pesquisado várias produtoras brasileiras, ele optou em nos escolher em

função da nossa reputação no mercado” (EP I / GE 1). “O mais interessante desta parceria foi

que, além de ter sido um orçamento considerado alto para os padrões do segmento de

mercado em que atuamos, foi que houve uma transferência muito interessante de

tecnologia”(EP I / G 1). Em outras palavras, este relato demonstra claramente como o

acúmulo de recursos, muitas vezes, derivado da experiência do produtor nacional se torna

uma fonte importante para o processo da internacionalização.

Diante deste contexto, pode-se identificar quais são os principais direcionadores que

levam a heterogeneidade de desempenho no mercado externo: i) redes de relacionamento; ii)

reputação; iii) ambiente regulativo; iv) experiência; v) condições de demanda; e vi) ambiente

normativo.

94 Com predominância dos filmes de Hollywood (UIS, 2011).

Page 156: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

156

Além disso, vale destacar outros achados desta pesquisa que não foram cobertos pela

codificação estabelecida pela sua pontualidade e especificidade contextual, entretanto eles são

também importantes para a compreensão do objeto de estudo dessa pesquisa.

O primeiro refere-se a uma empresa produtora que possui um planejamento estratégico

baseado em unidades estratégicas de negócios, nas quais cada uma delas atua em segmentos

de mercado distintos como: i) filmes com forte apelo para o mercado local; ii) filmes em

regime de coprodução internacional; e iii) cinema de autor e filmes crossover, além de

produtos para televisão. Com isso, a empresa consegue ganhos de escala para competir no

mercado internacional e tornar-se majoritária na maioria dos projetos de coprodução

internacional, ademais permite competir com filmes de maiores orçamentos, também no

mercado externo.

Outro ponto detectado envolve olhar para as coproduções internacionais como co-

ventures, ou co-financing, sem ter por base os acordos ou protocolos internacionais, conforme

destacado no Capítulo 3. Entretanto, quando se entende as coproduções dessa forma deve-se

levar em conta que o acesso aos subsídios governamentais torna-se restrito, embora há ganhos

no comprometimento dos paceiros com o projeto. Pois, como é bem apontado nas entrevistas,

há casos de coprodução em que o coprodutor é minoritário não tem o mesmo nível de

comprometimento que o parceiro majoritário para com o projeto.

Por fim, os entrevistados indicam que há a oportunidade de se explorar o mercado

local de forma mais diversificada, uma vez que o predomínio das comédias não indica,

necessariamente, que não haja espaço para outros gêneros como suspense e aventuras, por

exemplo. Ao explorar o mercado local, a firma produtora pode ter economias de escala e

conseguir ampliar sua capacidade de concorrência em nível internacional. Países com grandes

mercados nacionais como Índia, Estados Unidos, China e Japão conseguem adotar esta

estratégia, além de serem os maiores produtores mundias nesta indústria.

Page 157: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

157

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A heterogeneidade de desempenho tem promovido um debate profícuo no campo da

Gestão Estratégica nas últimas três décadas. Esta pesquisa se dispôs a inseri-lo na Indústria

Criativa, delimitando seu objeto nas coproduções internacionais brasileiras de filmes de

longa-metragem. Para explicar a heterogeneidade de desempenho, no mercado externo, deste

regime de produção cinematográfica, esta tese se propôs a analisar o panorama das

coproduções internacionais brasileiras entre os anos de 2005 a 2014 e desenvolver uma

estrutura articulada com as perspectivas da Estratégia-Concorrência-Desempenho, Visão-

Baseada em Recursos e Nova Economia Institucional, além de identificar os principais

direcionadores estratégicos que provocam heterogeneidade de desempenho.

Apesar de esta tese ter limitações quanto ao número de entrevistados, entende-se que

sua fundamental contribuição teórica consiste em interrelacionar as três perpectivas

estratégicas aplicadas a um objeto ainda estudado de forma incipiente no país. A indústria

cinematográfica nacional foi estabelecida ao longo de uma trajetória histórica marcada por

recomeços e fragilidades institucionais que influenciam a estrutura desta indústria até os dias

de hoje. Por outro lado, no que tange a essa indústria em nível global, ela representa um dos

principais setores da Indústria Criativa, pois excerce relevante influência nas arenas cultural,

econômica, social e política. Em função desta abrangência, torna-se relevante articular as três

perspectivas estratégicas para se compreender esta indústria de forma mais ampla, pois ao

mesmo tempo em que o cinema influencia a arena cultural e chama a atenção de governos e

instituições públicas para políticas de fomento e proteção da diversidade cultural, esta

indústria estrutura-se de modo a produzir em média 6,2 mil filmes por ano, apenas para serem

exibidos comercialmente em salas de cinema, e contam com cerca de 40 países com

capacidade produtiva de aproximadamente mil longa-metragens anuais. Não obstante estes

números denotam uma razoável distribuição de poder, sabe-se que o mercado é extremamente

concentrado nos já consagrados filmes de Hollywood, restando um mercdo global menor e

mais segmentado para muitos competidores. Ademais de ser uma indústria baseada

fortemente em recursos tecnológicos e financeiros combinados com recursos intangíveis,

como conhecimento, criatividade e experiência, o que torna as decisões estratégicas ainda

mais complexas.

Page 158: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

158

Na prática, esta tese pode contribuir com o fornecimento do panorama de um setor da

indústria nacional que se encontra em expansão, ou, como identificado nos achados da

pesquisa, em uma indústria em formação, portanto, ainda pouco estudada com o viés proposto

por este trabalho. Outra contribuição prática diz respeito ao debate acadêmico e profissional

orientado para ampliar o entendimento da indústria cinematográfica brasileira tanto sob a

óptica da sua importância no contexto cultural como no campo da Administração.

Quanto às limitações desta pesquisa, a opção por um método quantitativo para as

análises dos dados secundários se mostrou apropriado para traçar o panorama das

coproduções internacionais brasileiras, contudo, mais variáveis métricas, como por exemplo,

bilheteria internacional e orçamento dos filmes seriam importantes para, de fato, mensurar o

desempenho. Outra limitação reside no número de entrevistas realizadas na etapa qualitativa

da pesquisa, pois se esperava um número de 20 produtores nacionais, o que representaria em

torno de 50% dos filmes coproduzidos, porém se alcançou 20% dos filmes da população

pesquisada.

No que diz respeito a futuras implicações, primeiramente seria importante ampliar a

base de dados quantitativos e qualitativos para obtenção de respostas mais conclusivas. Em

um segundo momento, realizar um estudo comparativo entre o Brasil e outro país cuja

coprodução internacional seja parcela representativa na sua produção nacional, como França,

Itália ou Portugal. Outros campos mais específicos da Administração também podem ser

pesquisados, como o perfil do empreendedor desta indústria assim como o comportamento do

consumidor para o consumo de filmes no mercado doméstico.

Page 159: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

159

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCHIAN, Armen A.; DEMSETZ, Harold. Production, Information Costs, and Economic

Organization. American Economic Review. [S.l.] v. 62, p. 777-795, 1972.

ALMEIDA, Aline S. de; TEIXEIRA, Rivanda M.; LUFT, Maria C. M. S. Mapeando a

Produção Científica Sobre Economia Criativa em Periódicos Nacionais e Internacionais de

2000 a 2013. Pensamento Contemporâneo em Administração. [S.l.], v. 8, n. 4, p. 23-47,

2014.

ALVAREZ, Sharon A.; BUSENITZ, Lowell W.. The Entrepreneurship of Resource-Based

View. Journal of Management. [S.l.], v. 27, p. 755-776, 2001.

ANCINE - Agência Nacional do Cinema Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro - 2014

Superintendência de Análise de Mercado. Observatório Brasileiro do Cinema e Audiovisual.

Disponível em:

<http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/DadosMercado/Anuario_Estatistico_do_Cinema_Brasi

leiro_2014.pdf> Acesso em: 23 jan. 2016.

ANDERSON, Benedict. Imagined Comunities: Reflections on the Origin and Spread of.

Nationalism. 2. ed. London: Verso, 1983.

ANHEIER, Helmut K.; ISAR, Yudhishthir Raj. Cultures and Globalization: The Cultural

Economy. London: Sage, 2008.

ARMSTRONG, Craig E.; SHIMIZU, Katsuhiko. A Review of Approaches to Empirical

Research on the Resource-Based View of the Firm. Journal of Management. [S.l.]v. 33, n.6

p. 959-986, 2007.

AUTRAN, Arthur. Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro. São Paulo:

Hucitec, 2013.

AUDRETSCH, David B.; FELDMAN, Maryann P. Inovative Clusters and the Industry Life

Cycle. Review of Industrial Organization. [S.l.], v.11, p. 253-273, 1996.

BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; CUNHA, Cristiano J.C. A. Administrando o Risco: Uma

Teoria Substantiva da Adaptação Estratégica de Pequenas Empresas a Ambientes Turbulentos

e com Forte Influência Governamental. Revista Administração Contemporânea. [S.l.], v.8,

p. 157-179, 2004.

BALTRUSCHAT, Doris. Globalization and International TV and Film Co-productions: In

Search of New Narratives. Media and Transition 2: Globalization and Convergence.

Cambridge, Massachussets, May 10-12, 2002. Disponível em:

<http://cmsw.mit.edu/mit2/Abstracts/DorisBaltruschat.pdf> Acesso em: jul. 2015.

BARNEY, Jay B. Strategic Factor Markets: Expectations, Luck, and Business Strategy.

Management Science.[S.l.], v. 42, p. 1231-1241, 1986.

_____. .Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management. v.

17, n. 1, p. 99-120, 1991. Disponível em:

Page 160: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

160

<http://www.business.illinois.edu/josephm/BA545_Fall%202015/Barney%20(1991).pdf>

Acesso em: jul. 2015.

BARNEY, Jay B.; HOSKISSON, Robert E. Strategic Groups: Untested Assertions and

Research Proposals. Managerial and Decision Economics. [S.l.], v. 11 n. 3, p. 187-198,

1989.

BARNEY, Jay B.; WRIGHT, Mike; KETCHEN JR, David J. The Resource –Based View of

the Firm: Ten Years After 1991. Journal of Management. [S.l.], v. 27, n. 6, p. 625-643,

2001.

BARNEY, Jay B.; HESTERLY, William. Administração Estratégica e Vantagem

Competitiva. São Paulo: Prentice Hall, 2008.

_____. Economia das Organizações: Entendendo as Relações entre as Organizações e a

Análise Econômica. In: CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R. (Orgs).

Handbook de Estudos Organizacionais: Ação e Análise Organizacionais. v 3, São Paulo:

Atlas, 2014.

BARNEY, Jay B.; KETCHEN JR, David J.; WRIGHT, Mike. The Future of Resource-Based

Theory: Revitalization os Decline?. Journal of Management. [S.l.], v. 37, n. 5, p. 1299-

1315, Sept. 2011.

BASSET, Keith; GRIFFITHS, Ron; SMITH, Ian. Cultural Industries, Cultural Clusters and

the City: The Example of Natural History Film-making.in Bristol. Geoforum. [S.l.], v. 33, n.2

p. 165-177, 2002.

BATHELT, Harald. The Re-emergence of a Media Industry Cluster in Leipizig. European

Planning Studies. [S.l.], v. 10, n. 5, p. 583-611, 2002.

_____. Cluster Relation in the Media Industry: Exploring the “Distance Neighbour” Paradox

in Leipizig. Regional Studies. [S.l.], v. 39, n. 1, p. 105-127, 2005.

BEAUDRY, Catherine; BRESCHI, Stefano. Are Firms in Clusters Really More Innovative?.

Economics of Innovation and New Technology. [S.l.], v. 12, n. 4, p. 325-342, 2003.

BENDASSOLLI, Pedro F.; WOOD JR., Thomaz; KIRSCHBAUM, Charles; CUNHA,

Miguel P. e. Indústrias Criativas: Definição, Limites e Possibilidades. Revista de

Administração de Empresas – RAE. São Paulo, v. 49, n. 1, jan./mar. 2009.

BENDASSOLLI, Pedro F.; WOOD JR., Thomaz. O paradoxo de Mozart: carreiras nas

indústrias criativas. Organ. Soc., Salvador , v. 17, n. 53, p. 259-277, June 2010 .

Disponível em<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-

92302010000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 jan. 2016.

BERNARDET, Jean-Claude. Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro. São Paulo:

Annablume, 1995.

BETZ, Mark. The Name Above de (Sub) Title: Internationalism, Coproduction, and Polyglot

European Art Cinema. Camera Obscura 46.[S.l.], v. 16, n. 1, p. 1-44, 2001. Disponível em:

Page 161: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

161

<https://muse.jhu.edu/login?auth=0&type=summary&url=/journals/camera_obscura/v016/16.

1betz.html> Acesso em: 13 jan. 2016.

_____. Co-production Today. Film Reference. Disponível em:

<http://www.filmreference.com/encyclopedia/Academy-Awards-Crime-Films/Co-

productions-CO-PRODUCTION-TODAY.html> Acesso em: jul. 2014.

BLYTHE, Mark. The Work of Art in the Age of Digital Reproduction: The Significance of

the Creative Industries. JADE, v.20, n.2, p. 144-150, 2001.

BODEN, Margaret A. The Creative Mind: Myths and Mechanisms. 2a Ed. London:

Routledge, 2004.

BOUCHIER, Diane B. Exportability of Films in a Globalizing Market: The Intersection of

Nation and Genre. Cultural Sociology. [S.l.], v. 6, n. 1, p. 75-91, 2012.

BOURDIEU, Pierre. The Field of Cultural Production. 1st. ed. New York: Columbia

University, 1993.

_____. Rethiking the State: Genesis and Structure of the Bureaucratic Field. Sociological

Theory. [S.l.], v. 12, n. 1, p. 1-18, 1994.

BRASIL, Ministério da Cultura. Cinema Brasileiro: Um Balanço dos 5 Anos de Retomada

do Cinema Nacional. Brasília: Ministério da Cultura, 1999.

BRASIL. (Ministério da Cultura) Convenção sobre a Proteção e Promoção da

Diversidade das Expressões Culturais. Paris, 20 de out. de 2005. Disponível em:

<http://www.cultura.gov.br/politicas5/-

/asset_publisher/WORBGxCla6bB/content/convencao-sobre-a-protecao-e-promocao-da-

diversidade-das-expressoes-culturais/10913> Acesso em: 10 jul. 2015

CACHON, Gérard P.; ZHANG, Fuqiang. Procuring Fast Delivery: Sole Sourcing with

Information Asymmetry. Management Science.[S.l.] v. 52, n. 6, p. 881-896, 2006.

CARVALHO, Carlos E,; BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; VIANNA, Silvio L. G.;

MARCON, Rosilene. Performance Heterogeneity in Latin America: An Investigation into the

Transient Effects of Country of Origin. Latin American Business Review. [S.l.], v. 10, n. 4

p. 289-308, 2009.

CAVES, Richard E.. Creative Industries: Contracts Between Art and Commerce.

Cambridge: Harvard University Press, 2000.

CAVES, Richard E.; PORTER, Michael E.. From Entry Barriers to Mobility Barriers:

Conjectural Decisions and Contrived Deterrence to New Competition. Quaterly Journal of

Economics. [S.l.], v. 91, n.2 p. 241-261, 1977.

CHARMAZ, Kathy. A Construção da Teoria Fundamentada: Guia Prático para Análise

Qualitativa. 1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.

Page 162: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

162

CHI, Tailan. Trading in Strategic Resources: Necessary Conditions, Transaction Cost

Problems, and Choice of Exchange Structure. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 15,

n. 4, p. 271-290, 1994.

CHIPTY, Tasneem. Vertical Integration, Market Foreclosure, and Consumer Welfare in the

Cable Television. The American Economic Review. [S.l.], v. 91, n.3, p. 428-453,2001.

CHRISTOPHERSON, Susan; STORPER, Michael. The City as Studio, the World as Backlot:

The Impact of Vertical Desintegration on the Location of the Motion Picture Industry.

Environment Plan D [S.l.], v. 4, n.3, p. 305-320, Sept.,1986.

COASE, Ronald H.. The Nature of the Firm. Economica. New Series [S.l.], v. 4, n.16. p.

386-405, 1937. Disponível em:

<http://www.colorado.edu/ibs/es/alston/econ4504/readings/The%20Nature%20of%20the%20

Firm%20by%20Coase.pdf> Acesso em: 23 jan. 2016.

COE, Neil M.. On Location: American capital and the Labour Market in the Vancouver Film

Industry, International Journal of Urban and Regional Research, [S.l.], v. 24, n. 1, p. 79-

94, 2000.

_____. A Hybrid Agglomeration? The Development of a Satellite-Marshallian Industrial

District in Vancouver’s Film Industry. Urban Studies, [S.l.], v. 38, n. 10, p. 1753-1775,

2001.

COHEN, Harold. On the Modelling of Creative Behavior. Santa Monica, California: Rand

Paper, 1981.

COMBS, James G.; KETCHEN JR, David J.. Explaining Interfirm Cooperation and

Performance: Toward a Reconciliation of Predictions from the Resource-Based View and

Organizational Economics. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 20, n. 9, p. 867-888,

1999.

CONNER, Kathleen R. A Historical Comparison of Resource-Based Theory and Five Schools

of Thought within Industrial Organization Economics: Do We Have a New Theory of The

Firm?. Journal of Management. [S.l.], v. 17, n.1. p. 121-154, 1991. Disponível em:

<http://www.wiggo.com/mgmt8510/readings/readings7/conner1991jm.pdf> Acesso em: 23

jan. 2016.

CRESWELL, John W.. Research Design: Qualitative, Quantitative, and Mixed Methodas

Approaches. 3. ed. Thousand Oaks: Sage Publications, 2009.

DANIELS, Bill; LEEDY, David; SILLS, STEVEN D.. Movie Money: Understanding

Hollywood’s (Creative) Accounting Pratices. Los Angeles: Silman-James Press, 1998.

DAVIES, Adam P.; WITREICH, Nicol. The Film Finance Handbook: How to Fund Your

Film. 1. ed. Glasgow: Netribution Limited, 2007.

DCMS (Department for Culture, Media & Sport - UK). Creative Industries Economic

Estimates, Jan. 2015. Statistical Realease, 13/01/2015. Disponível em:

Page 163: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

163

<https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/394668/Creat

ive_Industries_Economic_Estimates_-_January_2015.pdf> Acesso em: 23 jan. 2016

DEEDS, David L.; DE CAROLIS, Dona; COOMBS, Joseph. Dynamic Capabilities and New

Product Development in High Technology Ventures: An Empirical Analysis of New

BioTechnology Firms. Journal of Business Venturing. [S.l.], v. 15, n. 3, p. 211-229, 2000.

DEFILLIPPI, Robert J.; ARTHUR, Michael B.. Paradox in Project-based Enterprise: The

Case of Film Making. California Review Management. [S.l.], v. 40, n. 2, p. 125-139, 1998.

DE TUREGANO, Hoeffert T. Public support for the international promotion of

European films. Strasbourg: European Audiovisional Observatory, 2006.

DIERICKX, Ingemar; COOL, Karel. Asset Stock Acumulation and Sustainability of

Competitive Advantage. Management Science. [S.l.], v. 35, n. 12, p. 1504-1511, 1989.

DIMAGGIO, Paul J.; POWELL, Walter W.. The Iron Cage Revisited: Institutional

Isomorphism and Collective Rationality in Organizational Fields. American Sociological

Review. [S.l.], v. 48, n. 2, p. 147-160, 1983.

DOBBIN, Frank; DOWD, Timothy J.. How Policy Shapes Competition: Early Railroad

Foundings in Massachusetts. Administrative Science Quaterly. [S.l.], v. 42, n. 3, p. 501-

529, 1997.

ELBERSE, Anita; ELIASHBERG, Jehoshua. Demand and Supply Dynamics for Sequentially

Released Products in International Markets: The Case of Motion Pictures. Marketing

Science. [S.l.], v. 22, n. 3, p. 329–354, 2003. Disponível em:

<http://www.people.hbs.edu/aelberse/publications/Elberse_Eliashberg_2003.pdf> Acesso em:

out. 2015

ELIASHBERG, Jehoshua; ELBERSE, Anita; LEENDERS, Mark A. A. M. The Motion

Picture Industry: Critical Issues in Pratice, Currente Research, and New Research Directions.

Marketing Science. [S.l.], v. 25, n. 6, p. 638-661, 2006.

ENRICH, Enric. Legal Aspects of International Film Co-productions. European Audiovisual

Observatory, [S.l.], 2005. Disponível em:

<http://www.obs.coe.int/online_publication/expert/coproduccion_aspectos-juridicos.pdf.en>

Acesso em: set. 2013.

EPSTEIN, Edward J. The Big Picture: Money and Power in Hollywood. New York:

Random House Trade Paperback Edition, 2006

FIEGENBAUM, Avi; SUDHARSHAN, D.; THOMAS, Howard. Strategic Time Periods and

Strategic Groups Research: Concepts and an Empirical Example. Journal of Management

Studies. [S.l.], v. 27, n.2, p. 133-148, March 1990.

FINNEY, Angus. Learning form the Sharks: Lessons on Managing Projects in the

Independent Film Industry. Long Range Planning [S.l.], v.. 41, n.1, p. 107-115, 2008.

Page 164: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

164

FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro). Mapeamento da Indústria Criativa

no Brasil, Sistema FIRJAN, dez. 2014. Disponível em: <http://www.abradi.com.br/wp-

content/uploads/2015/05/Mapeamento-2014.pdf> Acesso em: 23 jan. 2016.

FLEW, Terry. Media as Creative Industries: Conglomeration and Globalization as

Accumulation Strategies in an Age of Digital Media. In: WINSECK, Dwayne; JIN, Dal

Yong. The Political Economics of Media: The Transformation of the Global Media

Industries. London: Blomsbury Academic, 2011.

_____. The Creative Industries, Culture and Policy. London: Sage, 2012.

_____. Global Creative Industries. Cambridge: Polity Press, 2013.

FLIGSTEIN, Neil. The Transformation of Corporate Control. Cambrige MA: Harvard

Business University Press, 1990.

FLORIDA, Richard. A Ascensão da Classe Criativa: e o seu papel na transformação do

trabalho, do lazer, da comunidade e do cotidiano. Porto Alegre: L&PM, 2011.

FROW, John. Cultural Studies and Cultural Values. Oxford: Oxford University Press,

1995.

FU, Wayne W. Concentration and Homogenization of International Movie Sources:

Examining Foreign Film Import Profiles. Journal of Communication. [S.l.], v. 56, n.4 p.

813-835, 2006.

_____. Screen Survival of Movies at Competitive Theaters: Vertical and Horizontal

Integration in a Spatially Differentiated Market. Journal of Media Economics, v. 22, p.59-

80, 2009.

GARNHAM, Nicholas. From Cultural to Creative Industries: An Analysis of the Implications

of the “Creative Industries” Approach to Arts and Media Policy Making in the United

Kingdom. International Journal of Cultural Policy. [S.l.], v. 11, n. 1, p. 15-29, 2005.

GATTI JR., Wilian; GONÇALVES, Marilson A.; BARBOSA, Ana P. F. P. L.. Um Estudo

Exploratório Sobre a Indústria Brasileira de Animação para TV. Revista Eletrônica de

Admninistração de Empresas – REAd., Porto Alegre, v.. 78, n. 2, p. 461-495, mai./ago.

2014.

GODFREY, Paul C.; HILL, Charles W.. The Problem of Unobservable in Strategic

Management Research. Strategic Management Journal. [S.l.], v.16, n. 7, p. 519-533, 2007.

GOETTLER, Ronald L.; LESLIE, Phillip. Cofinance the Manage Risk in the Motion Picture

Industry. Journal of Economics & Management Strategy. [S.l.], v. 14, n. 2, p. 231-261,

Summer 2005.

GOLDSMITH, Ben; O’REGAN, Tom. Cinema Cities, Media Cities: The Contemporary

International Studio Complex. Birsbane: Australian Film Comission, Screen Industry Culture

and Policy Series, 2003. Disponível em:

Page 165: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

165

<http://afcarchive.screenaustralia.gov.au/downloads/pubs/streport-final.pdf> Acesso em: 23

jan. 2016.

GOLDSZMIDT, Rafael G. B.; BRITO, Luiz A. L.; VASCONCELOS, Flávio C. de. Country

Effect on Firm Performance: A Multilevel Approach. Journal of Business Research. [S.l.],

v. 64, p. 273-279, 2011.

GRANOVETTER, Marc. Economic Action and Social Structure: The Problem of

Embeddedness. American Journal of Society. [S.l.], v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.

Disponível em: <https://www2.bc.edu/~jonescq/mb851/Feb26/Granovetter_AJS_1985.pdf>

Acesso em: 23 jan. 2016.

GRANT, Robert M. Contemporary Strategy Analysis. Cambridge: Blackwell Business,

1991.

_____. Toward a Knowledge-Based Theory of the Firm. Strategic Management Journal.

[S.l.], v. 17, Special Issue, p. 109-122, 1996. Disponível em:

<http://gul.gu.se/public/pp/public_courses/course40530/published/1298469899850/resourceId

/15964758/content/Grant%20-%20SMJ%201996%20-%20Theme%203.pdf> Acesso em: 23

jan. 2016.

GRISWOLD, Wendy. The Fabrication of Meaning: Literary Interpretation in the United

States, Great Briatain and West Indies. American Journal of Sociology. [S.l.], v. 92, n. 5, p.

1077-1117, 1987.

GUERRA, José R. F.; PAIVA JR., Fernando G. Empreendedorismo Cultural na Produção

Cinematográfica: A Ação Empreendedora de Realizadores de Filmes Pernambucanos.

Revista de Administração e Inovação. São Paulo, v. 8, n. 3, p. 78-99, jul./set. 2011.

Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rai/article/view/79227> Acesso em: 23 jan. 2016.

HADIDA, Allègre L. Institutions, Asset Combinations, and Film Performance: A U.S.-French

Comparison. Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts. [S.l.], v.7, n. 2, p. 155-

170, 2013.

HALL, Richard. The Strategic Analysis of Intangible Resources. Strategic Management

Journal. [S.l.], v.13, n. 2, p. 135-144, 1992.

HAIR JR., Joseph F.; BLACK, William C.; BABIN, Barry J.; ANDERSON, Rolph E.;

TATHAM, Ronald L. Análise Mutivariada de Dados. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.

HAMBRICK, Donald C.; CHEN, Mig-Jer. New Academic Fields as Admittance-Seeking

Social Movements: The Case of Strategic Management. Academy of Management Review.

[S.l.], v. 33, n. 1, p. 32-54, 2008.

HART, Stuart L. A Natural-Resource-Based View. The Academy of Management Review.

[S.l.], v. 20, n. 4, p. 986-1014, 1995.

HARTLEY, John. Creative Industries. London: Blackwell, 2005.

Page 166: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

166

HEISE, Tatiana; TUDOR, Andrew. Constructing (Film) Art: Bourdieu’s Field Model in a

Comparative Context. Cultural Sociology. [S.l.], v. 1, n. 2, p. 165-187, 2007.

HESMODHALGH, David. The Cultural Industries. 3ª Ed. London: Sage, 2013.

HITT, Mchael A.; IRELAND, R. Duane; HOSKISSON, Robert E.. Adminstração

Estratégica: Competitividade e Globalização. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

HOBDAY, Mike. The Project-Based Organisation: An Ideal Form for Managing Complex

Products and Systems. Research Policy. [S.l.], v. 29, n. 7-8, p. 871-893, 2000.

HOLDEN, John. How We Value Arts and Culture. Asia Pacific Journal of Arts and

Cultural Management.[S.l.], v. 6, n. 2, p. 447-456, 2009.

HOSKINS, Colin; MCFADYEN, Stuart; FINN, Adam. Evidence on the Performance of

Canada/Europe Co-productions in Television and Film. Journal of Cultural Economics.

[S.l.], v. 21, p. 129-138, 1997.

HOWKINS, John. The Creative Economy: How People Make Money from Ideas. London:

Penguin Books, 2007.

HUNT, Michael S. Competition in the Major Home Appliance Industry 1960-1970. Tese

de Doutoramento, Harvard University, 1972. [microform].

HUI, Desmond; CHUN-HUNG, NG; MOK, Patrick. A Study on Creative Index. Centre for

Cultural Policy Research. University of Hong Kong, 2005. Disponível em:

<://www.hab.gov.hk/file_manager/en/documents/policy_responsibilities/arts_culture_recreati

on_and_sport/HKCI-InteriReport-printed.pdf> Acesso em: 23 jan. 2016.

INGRAM, Paul; SILVERMAN, Brian S.. Introdution: The New Institutionalism in Strategic

Management. In: INGRAM, Paul; SILVERMAN, Brian S. (Orgs.). The New

Institutionalism inStrategic Management. Oxford: Elsevier Science, 2002.

IRELAND, R. Duane; HITT, Michael A.; SIRMON, David G.. A Model of Strategic

Entrepeneurship: the Construct and its Dimensions. Journal of Management. [S.l.], v. 29, p.

963-989, 2003.

JÄCKEL, Anne. The Search for the National in Canadian Multilateral Cinematographic Co-

productions. National Identities.[S.l.], v. 3, n. 2, p. 155-167, 2001.

JEFFCUTT, Paul. Management and the Creative Industries. Studies in Culture,

Organizations and Society. [S.l.], v.6, n.2, p. 123-127, 2000.

JEFFCUTT, Paul; PRATT, Andrew C..Managing Creativity in the Cultural Industries.

Creativity and Innovation Management. [S.l.], v. 11, n.4, p. 225-233, 2002.

JENSEN, Michael C.; MECKLING, William H.Theory of the Firm: Managerial Behaviour,

Agency Costs and Ownership Structure. Journal of Financial Economics. [S.l.] v. 3, n.4 p.

305-360, 1976. Disponível em: <http://www.sfu.ca/~wainwrig/Econ400/jensen-

meckling.pdf> Acesso em: 23 jan. 2016.

Page 167: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

167

KAISER, Robert; LIECKE, Michael. The Munich Feature Film Cluster: The Degree of

Global Integration and Explanations for its Relative Success. Industry & Innovation. [S.l.],

v. 14, n. 4, p. 385-399, Sep. 2007.

KALLAS, David; CALDEIRA, Carlos A.; BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; MARCOS,

Rosilene. Do Institutions Matter in Latin America?. European Business Review. [S.l.], v. 27,

n. 2, p. 124-147, 2015.

KEA European Affairs. The Economy of Culture on Creativity. European Comission:

Directorate-General for Educatrion and Culture, Brussels, 2006.

KETCHEN JR, David J.; THOMAS, James B.; SNOW, Charles C.. Organizational

Configurations and Performance: A Comparison of Theoretical Approaches. Academy of

Management Jornal. [S.l.], v. 36, n. 6, p. 1278-1313, 1993.

KIRSCHBAUM, Charles. Renascença da Indústria Brasileira de Filmes: Destinos

Entrelaçados? Revista de Admnistração de Empresa- RAE, [S.l.], Julho-Setembro, 2006.

KNIGHT, Gary A; KIM, Daekwan. International business competence and the contemporary

firm. Journal of International Business Studies. [S.l.], v.40, p.255-273, 2009.

KONG, Lily. The Sociality of Cultural Industries: Hong Kong’s Cultural Policy and Film

Industry. International Journal of Cultural Policy. [S.l.], v. 11, n. 1, p. 61-76, 2005.

KRAAIJENBRINK, Jeroen; SPENDER, J. C.; GROEN, Aard J.. The Reosurce-Based View:

A Review and Assessment of its Critiques. Journal of Management. [S.l.], v. 36, p. 349-372,

2010.

KRÄTKE, Stefan. Network Analysis of Production Clusters: The Potsdam/Babelsberg Film

Industry as an Example. European Planning Studies. [S.l.], v. 10, n. 1, p. 27-54, Jan. 2002.

LAMPEL, Joseph; LANT, Theresa; SHAMSIE, Jamal. Balancing Act: Learning from

Organizing Practices in Cultural Industries. Organization Science, [S.l.], v. 11, n. 3, May-

June, 2000. Disponível em: <http://www.creativetrust.ca/wp-

content/uploads/2010/12/Learning-from-Practices-in-Cult-Industries.pdf> Acesso em: 15 dez.

2015.

LAMPEL, Joseph ; SHAMSIE, Jamal. Capabilities in Motion: New Organizational Forms

and the Reshaping of the Hollywood Movie Industry. Journal of Management Studies,

[S.l.], v. 40, n. 8, p. 2189–2210, 2003.

LANGE, Bastian. Re-scaling Governance in Berlin’s Creative Economy. Culture Unbound.

v. 3, p. 187-208, 2011. Disponível em:

<http://www.cultureunbound.ep.liu.se/v3/a14/cu11v3a14.pdf> Acesso em: 23 jan. 2016.

LEADBEATER, Charles. Linving on Thin Air: The New Economy. London: Penguin, 1999.

LEE JR, John L.; HOLT, Rob. The Producer’s Business Handbook. 2a Ed.. Burlington:

Elsevier, 2006.

Page 168: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

168

LEV, Peter. The Euro-American Cinema. 1. ed. Austin: University of Texas Press, 1993.

LEVITT, Theodore. Exploit the Product Life Cycle. Harvard Business Review. [S.l.], v. 43,

p. 81-94, 1965.

LIPPMAN, Steven A.; RUMELT, Richard P.Uncertain Imitability: An Analysis of Interfirm

Differences in Efficiency Under Competition. Bell Journal of Economic. [S.l.], v. 13, n.2, p.

418-438, 1982.

_____. The Payments Perspective: Micro-foundations of Resouce Analysis. Strategic

Management Journal. [S.l.], v. 24, n.10, p. 903-927, 2003.

LITMAN, Barry. R; Ahn, H. Predicting Financial Success of Motion Pictures. In The

Motion Picture Mega-Industry. Needham Heights, MA: Allyn & Bacon, 1998.

LORENZEN, Mark; FREDERIKSEN, Lars. The Management of Projects and Product

Experimentation: Examples for the Music Industry, European Management Review. [S.l.],

v. 2, n. 3, p. 198-211, 2005.

LORENZEN, Mark. Internationalization vs Globalization of the Film Industry. Industry &

Innovation.[S.l.], v. 14, n. 4, p. 349-357, Sep. 2007.

LUCAS JR, Robert E.. Adaptative Behavior and Economic Theory. In. HOGARTH, Robin

M.; MELVIN, W. Reder (Orgs.). The Behavioral Foundations of Ecnomic Theory. Journal of

Business (Suplement). [S.l.], v. 59, p. 401-426, 1986.

LUNDIN, Rolf A.; SÖDERHOLM, Anders. A Theory of the Temporary Organization.

Scandinavian Journal of Management. [S.l.], v.11, n. 4, p. 437-455, 1995.

LUNDVALL, Bengt A. National Systems of Innovation: Towards a Theory of Innovation

and Interactive Learning.1st.. ed. London: Pinter Publishers, 1992.

MAHONEY, Joseph T.; PANDIAN, J. Rajendran. The Resource-Based View within the

Conversation of Strategic Management. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 13, n.5, p.

363-380, 1992.

MALHOTRA, Naresh K.. Pesquisa de Marketing: Uma Orientação Aplicada. 6. ed. Porto

Alegra: Bookman, 2011.

MCGAHAN, Anita M.; PORTER, Michael E.. How Much Does Industry Matter, Really?.

Strategic Management Journal. [S.l.], v. 18, Summer Special Issue, p. 15-30, 1997.

MCNAMARA, Gerry; DEEPHOUSE, David L.; LUCE, Rebecca A. Competitive Positioning

Within and Across a Strategic Group Structure: The Performance of Core, Secondary, and

Solitary Firms. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 24, p. 161-181, 2003.

METCALFE, J. Stanley. Evolutionary Economics and Creative Destruction. London:

Routledge, 1998.

Page 169: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

169

MEYER, John W.; ROWAN, Brian. Institutionalized Organizations: Formal Structure as

Myth and Ceremony. American journal of Sociology. [S.l.], v. 83, n. 2, p. 340-363,

September 1977.

MEYER, Klaus. E.; PENG, Mike W.. Probing Theoretically into Central and Eastern Europe:

Transactions, Resources, and Institutions. Journal of International Business Studies. [S.l.],

v. 36, n. 6, p. 600-621, 2005.

MEZIAS, Stephen J.; KUPERMAN, Jerome C.. The Community Dynamics of

Entrepreneurship: The Birth of the American Film Industry, 1895-1929. Journal of Business

Venture. [S.l.], v. 16, n. 3, p. 209-233, 2001.

MEZIAS, John M.; MEZIAS, Stephen J.Resource Partitioning, the Founding of Specialist

Firms, and Innovation: The American Feature Film Industry, 1912-1929. Organization

Science, [S.l.], v. 11, n. 3, p. 306-322, Jun. 2000.

MICHEL, Rodrigo C.; AVELLAR, Ana P. A Indústria Cinematográfica Brasileira: Uma

Análise da Dinâmica da Produção e da Concentração Industrial. Revista de Economia.

UFPR, v. 38, n.1, p. 35-53, 2012.

MILLER, Danny; SHAMSIE, Jamal. The Resource-Based View of the Firm in Two

Environments: The Hollywwod Film Studios from 1936 to 1965. Academy of Management

Journal. [S.l.], v. 39, n. 3, p. 519-543, 1996.

MITCHELL, William J.; INOUYE, Alan S.; BLUMENTHAL, Marjory S.. Beyond

Productivity: Information, Technology, Innovation, and Creativity. Washington: The

National Academy Press, 2003.

MOLLOY, Janice C.; CHADWICK, Clint; PLOYHART, Robert E.; GOLDEN, Simon J..

Making Intangibles “Tangible” in Tests of Resource-Based Theory: A Multidisciplinary

Construct Validation Approach. Journal of Management. [S.l.], v. 37, n. 5, p. 1496-1518,

Sep. 2011.

MORAWETZ, Norbert; HARDY, Jane; HASLAM, Colin; RANDLE, Keith.. Finance, Policy

and Industrial Dynamics: The Rise of Co-productions in the Film Industry. Industry &

Innovation. [S.l.], v. 14, n. 4, p. 421-443, 2007.

MORAWETZ, Norbert. The Rise of Co-production: The Impact of Policy Change and

Financial Dynamics on Industrial Organization in a High Risk Enviorment. Tese de

Doutoramento, University of Hertfordshire, 2008. Disponível em:

<http://ethos.bl.uk/OrderDetails.do?uin=uk.bl.ethos.573176> Acesso em: 23 jan.2016.

MORRISON, Donald; COMPAGNON, Antoine. Que rest-t-il de la Culture Française?. 1.

ed. Paris: Denöel, 2008.

NACHUM, Lilac. Keeble, David. Neo-Marshallian Clusters and Global Networks: The

Linkages of Media Firms in Central London. Low Range Planning. [S.l.], v. 36, n. 5, p. 459-

480, 2003.

Page 170: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

170

NAGIB, Lúcia. O Cinema da Retomada: Depoimentos de 90 Cineastas dos Anos 90. São

Paulo: Editora 34, 2002.

NARAYANAN, V. K.; FAHEY, Liam. The Relevance of the Institutional Underpinnings of

Porter’s Five Forces Framework to Emerging Economies: An Epistemological Analysis.

Journal of Management Studies. [S.l.], v. 42, n. 1, p. 207-223, 2005.

NAYYAR, Praveen R.. Information Asymmetries: A Source of Competitive Advantagefor

Diversified Service Firms. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 11, n. 7, p. 519-519,

1990.

NEE, Victor; INGRAM, Paul. Embeddedness and Beyond: Institutions, Exchange, and Social

Structure. In: BRINTON, Mary C.; NEE, Victor (Orgs.). The New Institutionalism in

Sociology. New York: Russel Sage Foundation, 1998.

NELSON, Richar R.; WINTER, Sidney G. An Evolutionary Theory of Economic Change.

Cambridge: Harvard Business Press, 1982.

NEVES, David E. Cinema Novo no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1966

NORTH, Douglass C.. Institutions, Institutional Changes, and Economic Performance. 1.

ed. Cambridge and New York: Cambridge University Press, 1990.

_____. Institutions. Journal of Economics Perspectives. [S.l.], v. 5, n. 1, p. 97-112, 1991.

OLIVER, Christine. Sustainable Competitive Advantage: Combining Institutional and

Resource-Based Views. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 18, n. 9, p. 697-713, 1997.

PENDAKUR, Manjunath. Canadian Dreams and American Control. 1. ed. Detroit: Wayne

State University Press, 1990.

PENG, Mike W. Institutional Transitions and Strategic Choices. Academy of Management

Review.[S.l.], v. 28, n. 2, p. 275-296, 2003.

PENG, Mike W. Global Strategy. 1st. ed. Cincinnati: South-Western Thomson, 2006.

PENROSE, Edith. The Theory of the Growth of the Firm. Oxford: Basil Blackwell, 1959.

PETERAF, Margaret A. The Cornerstones of Competitive Advantage: A Resource-Based

View. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 14, p. 179-191, 1993. Disponível em:

<https://www.researchgate.net/publication/243771372_The_Cornerstone_of_Competitive_Ad

vantage_A_Resource-Based_View> Acesso em: 23 jan. 2016.

PETERAF, Margaret A.; SHANLEY, Mark. Getting to Know You: A Theory of Strategic

Group Identity. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 18 (Special Issue), p. 165-186,

1997.

PIERGIOVANNI, Roberta; CARREE, Martin A.; SANTARELLI, Enrico. Creative

Industries, New Business Formation, and Regional Economic Growth. Small Business

Economics. [S.l.], v. 39, p. 539-560, Apr., 2011.

Page 171: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

171

<http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs11187-011-9329-4#/page-1> Acesso em: 23

jan. 2016.

PORTER, Michael E. Note on the Structural Analysis of Industries. Harvard Business

School Background Note. [S.l.], n. 9, p. 376-054, 1975.

_____. .How Competitive Forces Shape Strategy. Harvard Busienss Review. [S.l.], v. 57, p.

137-156, 1979. Disponível em: <https://hbr.org/1979/03/how-competitive-forces-shape-

strategy> Acesso em: 23 jan. 2016.

_____. The Structure within Industries and Companies Performance. Review of Economics

and Statistics. [S.l.], v. 61, p. 214-227, 1979.

_____. Competitive Strategy. 1. ed. New York: Free Press, 1980.

_____. The Contributions of Industrial Organization to Strategic Management. Academy of

Management Review. [S.l.], v. 6, p. 609-620, 1981.

_____. Competitive Advantage. 1. ed. New York: Free Press, 1985.

_____. Competition in Global Industries. Boston: Harvard Business School Press, 1986.

_____. Estratégia Competitiva: Técnicas para Análise de Indústrias e da Concorrência. 1.

ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986.

_____. A Vantagem Competitiva das Nações. 1. ed. São Paulo: Elsevier, 1990.

_____. Clusters and the New Economics Competition. Harvard Business Review. [S.l.],

November-December, p. 77-90, 1998. Disponível em: <https://hbr.org/1998/11/clusters-and-

the-new-economics-of-competition> Acesso em: 23 jan. 2016.

POTTS, Jason; CUNNINGHAM, Stuart D.; HARTLEY, John; ORMEROD, Paul. Social

Networks Market: A New Definition of Creative Industries. Journal of Cultural Economics.

[S.l.], v. 32, n. 3, p. 166-185, 2008.

POTTS, Jasom; CUNNINGHAM, Stuart D. Four Models of the Creative Industries.

International Journal of Cultural Policy. [S.l.], v. 14, n. 3, p. 233-247, 2008.

PRAHALD, Coimbatore K.; HAMEL, Gary. The Core Competence of the Corporation.

Harvard Business Review. [S.l.], v.68, n. 3, p. 79-91, 1990.

PRATT, Andy C. The Cultural Industries Production Systems: A Case Study of employment

Change in Britain 1984-1991. Environment and Planning A. [S.l.], v. 29, n. 11, p. 1983-

1974, 1997.

PRIEM, Richard L.; BUTLER, John E.. Is the Resuorce-Based “View” a Useful Perspective

for Strategic Management Research? Academy of Management Review. [S.l.], v. 26, n. 1,

p. 22-40, 2001.

Page 172: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

172

REIS, Elizabeth. A Análise de Clusters e as Aplicações às Ciências Empresariais: uma Visão

Crítica da Teoria dos Grupos Estratégicos. In: REIS, Elizabeth; FERREIRA, Manuel A.

M.(Orgs). Temas em Métodos Quantitativos: Análise de Dados. V. 1, 2ª edição, Lisboa:

Edições Sílabo, 2010.

RIFKIN, Jeremy. The Age of Access. London: Penguin, 2000.

ROUSE, Michael J.; DAELLENBACH, Urs S.. Rethinking Research Methods for Resourse-

Based Perspective: Isolating Sources of Sutainanble Competitive Advantage. Strategic

Management Journal. [S.l.], v. 20, n. 5, p.487-493, May. 1999.

RUMELT, Richard P. Toward a Strategic Theory of the Firm. In: RUMELT, Richard

P.Competitive Strategic Management. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1984.

_____. How Much Does Industry Matter?. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 12, n.

3, p. 167-185, 1991.

RUMELT, Richard P.; SCHENDEL Dan.; TEECE, David J.. Strategic Management and

Economics. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 12, p. 5-29, 1991.

_____. Fundamental Issues in Strategy: A Research Agenda. 1st . ed. Boston: Harvarda

Business School Press, 1994.

SCHANK, Roger C.; CHILDERS, Peter. The Creative Attitude: Learning to Ask and

Answer the Right Question. New York: Macmillan, 1988.

SCHMALENSEE, Richard. Do Markets Differ Much? American Economic Review. [S.l.],

v. 75, n. 3, p. 341-351, 1985.

SCHUMPETER, Joseph A. The Theory of Economic Development. Cambridge, MA:

Harvard University Press, 1934.

SCOTT, Allen J. French Cinema: Economy, Policy and Place in the Making of a Cultural

Products Industry. Theory, Culture & Society. [S.l.], v.17, n. 1, p. 1-38, 2000.

_____. Cultural Products Industries and Urban Economic Development Prospects for Growth

and Market Contestation in Global Context. Urban Affairs Review. [S.l.], v. 39n. 4, p. 461-

490, 2004.

SCOTT, Allen J. On Hollywood. The Place, The Industry. 1st. ed. New Jersey: Princeton

University Press, 2005.

_____. Cultural Economy and the Creative Field of the City. Geografiska Annaler: Serier B,

Human Geography. v. 92, n. 2, p. 115-130, 2010.

SCOTT, W. Richard. Institutions and Organizations: Ideas, Interests, and Identities. 1st. ed.

Thousande Oaks: Sage, 1995.

_____. Institutions and Organizations: Ideas, Interests, and Identities. 2nd . ed. Thousande

Oaks: Sage, 2014.

Page 173: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

173

SIMON, Herbert. Rationality in Psychology and Economics. In. HOGARTH, Robin M.;

MELVIN, W. Reder (Orgs.). The Behavioral Foundations of Ecnomic Theory. Journal of

Business (Suplement). [S.l.], v. 59, p. 209-224, 1986.

STARKEY, Ken; BARNATT, Christopher; TEMPEST, Sue. Beyond networks and

hierarchies: latent organizations in the UK television industry. Organization Science, v. 11,

n. 3, p. 299-305, 2000.

STEIN, Angelisa. Coprodução Cinematográfica Internacional: Como, Quando, Onde e

Por que Coproduzir com Outros Países. 1a. ed. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2015.

STEVENSON, Deborah. Cities and Urban Cultures. Maidenhead: Open University Press,

2003.

STIRLING, Andy. A General Framework for Analysing Diversity in Science, Technology

and Society. Journal of the Royal Society Interface. [S.l.], v. 4, p. 707-719, 2007.

STORPER, Michael; CHRISTOPHERSON, Susan. Flexible Specialization an Regional

Industrial Agglomerations: The Case of the U.S. Motion Picture Industry. Annals of the

Association of American Geographers, [S.l.], v. 77, n. 1, p-104-117, 1987.

STORPER, Michael. The Transition to Flexible Specialization in the U.S. Film Industry:

External Economies, the Division of Labor, and the Crossing of Industrial Divides.

Cambridge Journal of Economics, [S.l.] v. 13, n.2, p. 479-484, 1989.

STRAUSS, Anselm; CORBIN, Juliet. Pesquisa Qualitativa: Técnicas e Procedimentos para

o Desenvolvimento de Teoria Fundamentada. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.

TAYLOR, Paul W. Co-production-Content and Change: International Television in the

Americas. Canadian Journal of Communication. [S.l.], v. 20, n. 2, p. 411-416, 1995.

THROSBY, David. Economics and Culture. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

_____. The Concentric Circles Model of the Cultural Industries. Cultural Trends. [S.l.], v.

17, n.3, p. 147-164, 2008.

_____. Modelling the Cultural Industries. International Journal of Cultural Policy. [S.l.], v.

14, n. 3, p. 217-232, 2008.

TEECE, David J.; PISANO, Garry; SHUEN, Amy. Dynamic Capabilities and Strategic

Management. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 18, n. 7, p. 509-533, 1997.

TEECE, David J. Explicating Dynamic Capabilities: The Nature of Micro-foundations of

(sutainable) Enterprise Performance. Strategic Management Performance. [S.l.], v. 28,

n.13, p. 1319-1350, 2007.

TUDOR, Andrew. The Rise and Fall of the Art (House) Movie. In: INGLIS, David;

HUGHSON, John (Org.). The Sociology of Art. Basingstoke: Palgrave, 2005.

Page 174: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

174

UCHOA, Gustavo M.; DIAS, Reinaldo. O Cluster Cinematográfico de Paulínea: Uma Análise

da Inovação e do Empreendedorismo da Indústria do Cinema em Paulínea. Pensamento

Contemporâneo em Administração. Niterói, RJ, v. 7, n.3 , p. 20-37, jul./set. 2013.

Disponível em: <http://www.uff.br/pae/index.php/pca/article/view/254/194> Acesso em: 24

jan. 2016.

UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development). Creative Economy

Report: A Feasible Development Option, UNDP, UNCTAD, 2010. Disponível em:

<http://unctad.org/en/Docs/ditctab20103_en.pdf> Acesso em: 24 jan. 2016.

UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization). Creative

Economy Report – Special Edition: Widening Local Development Pathways, New

York/USA: UNDP; Paris: UNESCO, 2013. Disponível em:

<http://www.unesco.org/culture/pdf/creative-economy-report-2013.pdf> Acesso em: 24 jan.

2016.

UNESCO- UIS (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization - Institute

for Statistics). Measuring the Diversity of Cultural Expressions: Applying the Stirling

Model of Diversity in Culture. Montreal, Quebec, Canadá: Unesco-Uis, 2011. Disponível em:

<http://www.uis.unesco.org/Library/Documents/tp6-measuring-diversity-cultural-expression-

stirling-model-diversity-culture-2011-en.pdf> Acesso em: 24 jan. 2016.

_____. Emerging Markets and the Digitalization of the Film Industry - An analysis of the

2012 UIS International Survey of Feature Film Statistics, Montreal, Quebec, Canadá:

Unesco-Uis, 2013 (a). Disponível em: <http://www.uis.unesco.org/culture/Documents/IP14-

2013-cinema-survey-analysis-en.pdf> Acesso em: 24 jan. 2016.

_____. Feature Film Diversity, UIS Fact Sheet, May 2013(b), n. 24. Disponível em:

<http://www.uis.unesco.org/culture/Documents/fs24-feature-film-diversity-en.pdf> . Acesso

em: 24 jan. 2016.

VANG, Jan; CHAMINADE, Cristina. Cultural Clusters, Global Linkages and Spillovers:

Theoretical and Empirical Insights from an Exploratory Study of Toronto’s Film Cluster.

Industry & Innovation. [S.l.], v. 14, n. 4, p. 401-420, 2007.

WAN, William P.; HOSKISSON, Robert E.; SHORT, Jeremy C.; YIU, Daphne W..

Resource-Based Theory and Corporation Diversification: Accomplishments and

Opportunities. Journal of Management. [S.l.], v. 37, n. 5, p. 1335-1368, Sep. 2011.

WASKO, Janet. How Hollywood Works. Editora SAGE, 2003.

WATERMAN, David; WEISS, Andrew. Vertical Integration in Cable Television.Review of

Industrial Organization. [S.l.], v. 13, n. 5, p. 609-612, 1998.

WERNERFELT, Birger. A Resource Based View of the Firm. Strategic Management

Journal. [S.l.], v.5, n.2, p. 171-180, 1984.

Page 175: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

175

WILDMAN, Steven S.; SIWEK, Stephen E. International Trade in Films and Television

Programs. Cambridge: Ballinger, 1988.

WILLIAMSON, Oliver E. Markets and Hierarchies: Analysis and Antitrust Implications.

New York: Free Press, 1975.

WRIGHT, Mike; FILATOTCHEV, Igor.; HOSKISSON, Robert E.; Peng, Mike W. Strategy

Research in Emerging Economies: Challenging the Conventional Wisdom. Journal of

Management Studies, [S.l.], v. 42, n.1, p. 1-33, 2005.

YAMAKAWA, Yasuhiro; PENG, Mike W.; DEEDS, David L. What Drives New Ventures to

Internationalize form Emerging to Developed Economies? Entrepreneurship Theory and

Pratice. [S.l.], v. 32, n. 1, p. 1042-2587, Jan. 2008.

YIN, Robert K.. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman,

2015.

YOUNG, Stephen; DIMITRATOS, Pavlos; DANA, Leo P.. International entrepreneurship

research: What scope for international business theories? Journal of International

Entrepreneurship, [S.l.], v. 1, p. 31-42, 2003.

ZUKIN, Sharon. The Culture of Cities. Cambridge: Blacwell, 1995.

WEBSITES:

ADOROCINEMA. Disponível em: http://www.adorocinema.com > Acesso em: nov/2015

AMERICAN FOR THE ARTS. Disponível em:

<http://www.americansforthearts.org/search/site/creative%20industries: Acesso em: 12 jan.

2016

ANCINE – Agência Nacional de Cinema. Ministério da Cultura. Disponível em:

<http://www.ancine.gov.br > Acesso em: jul. 2015.

APEX-Brasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. Disponível

em: <http://www.apexbrasil.com.br/home/index> Acesso em: jul. 2015.

CANADIAN HERITAGE. Disponível em: <http://www.pch.gc.ca/eng/1268163020695>

Aacesso em: mai. 2015).

CNC (Centre National du Cinéma et de L’Image Animée) Disponível em:

<http://www.cnc.fr/web/en/co-production> Acesso em: jul. de 2015).

CONSEJO NACIONAL DE LA CULTURA Y LAS ARTES. Disponível em:

<http://www.cultura.gob.cl/artes/audiovisual/> Acesso em: jul. 2015.

Page 176: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

176

COUNCIL OF EUROPE. Disponível em:

<http://www.coe.int/t/dg4/eurimages/Support/SupportCoprod_en.asp> Acesso em: jul. de

2015.

DANISH FILM INSTITUTE. Disponível em:

<http://www.dfi.dk/Service/English/Funding/Co-production_oct_2014.aspx> Acesso em: jul.

de 2015.

EAO (European Audiovisual Observatory). Disponível em:

<http://lumiere.obs.coe.int/web/search/> Acesso em: maio de 2015.

EURIMAGES (European Cinema Suport Fund). Disponível em:

<http://www.coe.int/t/dg4/eurimages/Support/SupportCoprod_en.asp> Acesso em: jul.

2015).

ICAA (Instituto de la Cinematografia y de las Artes Audiovisuales). Disponível em:

<http://www.mecd.gob.es/cultura-mecd/areas-cultura/cine/industria-cine/convenios-

coproduccion.html;jsessionid=18A5E734FAEA99D4AF376768BEAD70E9> Acesso em:

jul. 2015.

INCAA (Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales). Disponível em:

<http://ant.incaa.gob.ar/castellano/index.php> Acesso em: jul. 2015.

INSTITUTO DO CINEMA E DO AUDIOVISUAL. Disponivél em: <http://www.ica-

ip.pt/pt/> Acesso em: nov.2015.

IMDb. Disponível em: <http://www.imdb.com/?ref_=nv_home> Acesso em: nov.2015

INDIA FILM COUNCIL. Disponível em: <http://indiafilm.org/policies/film-treaties/>

Acesso em: jul. 2015.

KOREAN FILM COUNCIL. Disponível em:

<http://www.koreanfilm.or.kr/jsp/coProduction/guide.jsp> Acesso em: jul. 2015.

MICHAELIS, 2015. Disponível em : <http://michaelis.uol.com.br/> Acesso em: jul. 2015.

NEW ZEALAND FILM COMISSION. Disponível em:

<http://www.nzfilm.co.nz/international-productions/co-productions> Acesso em: jul. 2015.

NFVF (National Film and Video Foudation). Disponível em:

<http://nfvf.co.za/home/index.php?ipkContentID=42&ipkMenuID=18> Acesso em: jul.

2015.

TELEFILM CANADA. Disponível em:

<http://www.telefilm.ca/en/coproductions/coproductions/agreements> Acesso em: mai. 2015.

Page 177: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

177

ANEXO A – Relação das Coproduções Internacionais Brasileiras

Filme Produtor Brasileiro

31 Minutos – o Filme Total Entertainment

400 Contra 1 – A História do Comando Vermelho Destiny International Comunicações Ltda.

A Coleção Invisível Santa Luzia Filmes Ltda.

A Festa da Menina Morta Bananeira Filmes Ltda.

A Guerra dos Vizinhos XR2 Cinevídeo Ltda. ME

A Ilha da Morte Bucanero Filmes (M. Margarita Hernandez Pascual)

À Margem do Lixo Casa Azul Produções Artísticas

A Memória que me Contam Taiga Filmes e Vídeo Ltda.

A Oeste do Fim do Mundo Accorde Filmes

A Outra Margem Plateau Marketing e Produções Culturais

A Pelada W.G. PRODUÇÕES E PUBLICIDADE LTDAA Primeira Missa ou Tristes Tropeços, Enganos e

UrucumCRYSTAL CINEMATOGRÁFICA LTDA

A Sorte em suas Mãos Gullane Entretenimento S.A.

A Última Estação Asacine Produções Ltda Epp

Amazônia Gullane Entretenimento S.A.

América – Uma História Portuguesa Dezenove Som e Imagens Produções Ltda.

Amor por Acaso Mgp Entretenimento Ltda.

Angie Mgp Entretenimento Ltda.

Área Q Sophia Filmes

Artigas - La Redota AIM PRODUÇÕES CINEMATOGRAFICAS LTDA

As Doze Estrelas Lapfilme Produções CinematográficasAstro – Uma Fábula Urbana em um Rio de Janeiro

MágicoAsas Da Imaginação Cinema E Comunicação Ltda

Bollywood Dream – o Sonho Bollywoodiano Miríade Filmes e Produções Artísticas Ltda.

Café dos Maestros Videofilmes Produções Artísticas Ltda.

Caleuche - O Chamado do Mar Dezenove Som e Imagens Produções Ltda.

Capitães da Areia Lagoa Cultural e Esportiva

Coração de Leão Unfinished Business Produções Artísticas, Cinematográficas e Audiovisuais Ltda.

Dawson Isla 10 VPC Cinema Video Produções Artísticas e Distribuidora de Filmes Ltda.

Diário de um Novo MundoLuiz Alberto Rodrigues ME. / ACORDE COMUNICAÇÃO LTDA / Panda

Filmes.Diário de uma Busca Tambellini Filmes e Produções Audiovisuais

Do Outro Lado do Rio ILLUD TEMPUS COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA

Dot.com Videofilmes Produções Artísticas Ltda.

Duas Mulheres Taiga Filmes e Vídeo Ltda.

Embargo Diler & Associados

Ensaio Sobre a Cegueira O2 Produções Artísticas e Cinematográficas Ltda.

Entre os Dedos Plateau Marketing e Produções Culturais

Entre Vales DEGRAU PRODUÇÕES CULTURAIS LTDA

Estamos Juntos Olhar Imaginário

Estômago Citizencrane Produções Artísticas Ltda.

Falsa Loura Dezenove Som e Imagens Produções Ltda.

Federal BsB Cinema Produções

Filmefobia Plateau Marketing e Produções Culturais

Getúlio Fogo Azul Filmes Ltda.

Girimunho Anavilhana Filmes Ltda. (Teia Produções Audiovisuais)

Habi, A Estrangeira Videofilmes Produções Artísticas Ltda.

Histórias Que Só Existem Quando Lembradas Taiga Filmes e Vídeo Ltda.

Infância Clandestina Filmes Mais Ltda.

Page 178: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

178

ANEXO A (cont.) Relação das Coproduções Internacionais Brasileiras

Filme Produtor Brasileiro

Jean Charles Já Filmes

José e Pilar O2 Cinema Ltda.

Juan e a Bailarina Parceria Produções E Projetos Jornalísticos Ltda

La Playa D. C. Bananeira Filmes Ltda.

Laura Gamarosa filmes ltda.

Lixo Extraordinário O2 Cinema Ltda.

Lope Conspiração Filmes

Marcha da Vida Conspiração Filmes

Maré, Nossa História de Amor Taiga Filmes e Vídeo Ltda.

Meu Pé de Laranja-Lima Pássaro Films do Brasil Audiovisuais Ltda

Morro dos Prazeres Nofoco Filmes Produções Cinematograficas Ltda

Mutum Tambellini Filmes e Produções Audiovisuais

Na Estrada - On The Road Videofilmes Produções Artísticas Ltda.Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo

CoelhoCuatro Damas Filmes Ltda

No Meu Lugar Videofilmes Produções Artísticas Ltda.

O Banheiro do Papa O2 Produções Artísticas e Cinematográficas Ltda.

O Céu de Suely Videofilmes Produções Artísticas Ltda.

O Grande Kilapy RAIZ PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS LTDA. ME

O Homem que Engarrafava Nuvens Good Ju-Ju Produções Ltda.

O Manuscrito Perdido Refinaria Produções Ltda

O Mistério da Estrada de Sintra RPJ Produtores Associados Ltda.

O Mundo em Duas Voltas Gullane Entretenimento S.A.

O País do Desejo Bananeira Filmes Ltda.

O Passado HB Filmes Ltda.

O Samba que Mora em Mim Bossa Nova Films Criações e Produções Ltda.

O Último Voo do Flamingo Videofilmes Produções Artísticas Ltda.

Olhos Azuis Coevos Filmes Ltda

Onde Está a Felicidade? Pulsar Produções Artísticas e Culturais Ltda.

Os 12 Trabalhos Polithema Filmes Ltda.

Os Famosos e os Duendes da Morte Dezenove Som e Imagens Produções Ltda.

Pau Brasil Truque Produtora de Cinema

Plastic City – Cidade de Plástico Gullane Entretenimento S.A.

Praia do Futuro CORAÇÃO DA SELVA TRANSMÍDIA LTDA

Proibido Proibir El Desierto Filmes Ltda

Raça Casa de Criação Cinema e Artes Ltda

Repare Bem Instituto Via Br

Réus Panda Filmes Ltda.

Segredos da Tribo Zazen Produções Audiovisuais Ltda

Show de Bola Ananã Produções, Eventos e Assessoria de Marketing

Solo Dios Sabe Dezenove Som e Imagens Produções Ltda.

Super Nada Confeitaria De Cinema Comunicações Ltda

Tabu Gullane Entretenimento S.A.

Terra Vermelha Gullane Entretenimento S.A.

Tokiori - Dobras do Tempo Primo Filmes Ltda

Trash - A Esperança vem do Lixo O2 Produções Artísticas e Cinematográficas

Última Parada - 174 RPJ Produtores Associados Ltda.

Vermelho Brasil Conspiração Filmes

Violeta Foi Para o Céu Bossa Nova Films Criações e Produções Ltda.

Viúva Rica Solteira Não Fica Plateau Marketing e Produções Culturais

Page 179: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

179

ANEXO B - Roteiro de Perguntas para Entrevistas

1. Por que a opção pelo regime de coprodução internacional para o Projeto de Filme

“Estamos Juntos”?

Orientado pela criatividade: elementos criativos do filme demandam por

produção além das fronteiras;

Orientado pela procura de recursos financeiros: Filme estruturado para captar

recursos financeiros de diferentes países. Elementos criativos podem ser

ajustados a fim de aumentar a captação;

Orientado pelo Capital Internacional: filme estruturado para explorar créditos

fiscais, normalmente são produções focadas em grandes bilheterias.

2. Em que momento do Projeto optou-se pela coprodução internacional? (Este projeto de

filme tinha orientação para o mercado internacional desde o início do processo de

produção?)

Pré-produção

Produção

Infraestrutura

Distribuição

3. Quais foram os principais direcionadores para se realizar esta coprodução

internacional?

A alta competitividade do mercado nacional. Em função da concentração em

toda a cadeia cinematográfica nacional, o mercado interno, até certo ponto,

impele que tipo de filme será consumido. Buscar o mercado internacional

torna-se uma boa alternativa.

Necessidade de significativo investimento em tecnologia (indústria

cinematográfica necessita de tecnologia), a internacionalização se faz

necessária para justificar este investimento.

Acessar o conhecimento do parceiro internacional. Adquirir novas capacidades

e competências (competência técnica, por exemplo).

Acesso a investidores/Capital de Risco (Ventura Capital).

Page 180: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

180

Necessidade de aprendizagem organizacional. Perceber que é necessário

aprender.

Assumir riscos, ser proativo, possuir agressividade nos negócios, autonomia e

ser inovador (características pessoais – orientação empreendedora).

Aliança estratégica para:

Incentivos legais e regulamentadores no país da produtora parceira em

consonância com os nacionais (acordos e tratados internacionais).

Participar de uma coprodução internacional legitima a produtora no mercado

nacional (por exemplo, acesso a recursos do governo local).

Possuir alguma experiência no mercado internacional. (por exemplo: ter

estudado, participado de eventos, trabalhado em algum outro projeto, entre

outros)

4. Este filme foi exibido em salas de cinema de outro (os) país (ses)? Quais? Tem ideia

do total de público fora e quanto ele representa do público total?

5. Este filme participou de algum Festival Internacional de Cinema? Qual (is)? Recebeu

algum prêmio?

6. Quais foram as principais barreiras para exibição nas salas de cinema no mercado

externo?

7. Quais foram as principais barreiras para participar de um Festival Internacional?

8. Quanto da receita de bilheteria (box office) deste filme foi oriunda do mercado

externo?

9. Este filme atingiu desempenho comercial? (receitas de bilheteria em relação aos gastos

com a coprodução)

10. Depois da experiência desse projeto, você entende que se estabeleceu algum tipo de

rede de relacionamento para futuros projetos internacionais?

11. Quais são os principais desafios para a internacionalização da indústria

cinematográfica brasileira? (exibição em salas de cinema e participação em Festivais

Internacionais)

Page 181: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava

181

ANEXO C - Termos de Consentimento

Page 182: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava
Page 183: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava
Page 184: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava
Page 185: Tese de Doutorado Homenko Neto.pdfAgradeço muito ao meu orientador e amigo professor Dr. Belmiro do Nascimento João, que sempre quando eu precisava “tomar um tranco” lá estava