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    UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    INSTITUTO SUPERIOR TCNICO

    Modelizao e caracterizao de descargas

    radiofrequncia em hidrognio produzidas num

    reactor de acoplamento capacitivo

    Lus Silvino Alves Marques

    (Mestre)

    Dissertao para obteno do grau de Doutor em Fsica

    Orientador:Doutor Lus Paulo da Mota Capito Lemos Alves

    Co-orientador:Doutor Grard Gousset

    Jri

    Presidente: Reitor da Universidade Tcnica de Lisboa

    Vogais: Doutor Carlos Renato de Almeida Matos Ferreira

    Doutor Lus Paulo da Mota Capito Lemos Alves

    Doutor Mikhail Vasilevskiy

    Doutor Grard Gousset

    Doutor Jacques Jolly

    Doutor Thierry Belmonte

    Maio 2005

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    memria do Dr. Gerard Gousset

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    RESUME

    Le travail prsent traite de la modlisation et de la caractrisation de dcharges

    radiofrquence (RF) dans lhydrogne. Le racteur utilis possde une symtrie cylindrique

    et ses deux lectrodes, parallles, permettent un couplage capacitif au plasma. Dans un

    premier temps, un modle bi-dimensionnel labor (qui dcrit la dynamique des lectrons et

    des ions H+, H2+, H3

    + et H- dans le racteur) y est coupl de faon auto-cohrente un

    modle collisionnel-radiatif homogne (qui inclut une description complte de la cintique

    vibrationnelle et atomique de lhydrogne). Ltude de la dcharge y est mene sur une

    gamme tendue de frquences dexcitation, de pressions du gaz et de tensions RF appliques.

    Un bon accord est observ entre les prvisions du modle et les mesures exprimentales dupotentiel plasma et de la puissance lectrique couple au plasma. En ce qui concerne les

    valeurs de densit lectronique et de tension dauto-polarisation, laccord nest que

    qualitatif - les valeurs calcules par le modle tant sous-estimes par rapport aux rsultats

    exprimentaux. Cet cart ne peut cependant pas sexpliquer compltement par le choix du

    schma cintique mais plus vraisemblablement par celui de la description homogne adopte

    pour le transport des neutres. Dans un deuxime temps, afin de clarifier cet aspect, un modle

    hydrodynamique, exploitant les quations de Navier Stokes, y est dvelopp pour le gaz etcoupl un module de transport ractif de masse multi-composants. Ce modle innovateur

    devant pouvoir tre utilis comme outil prdictif dans une optique doptimisation des

    racteurs plasma pour le traitement des matriaux.

    Mots-clef : Modlisation des plasmas, modle fluide, dcharge radiofrquence, modle

    collisionel-radiatif, cintique vibrationnelle, hydrogne.

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    RESUMO

    Este trabalho apresenta a modelizao e caracterizao de uma descarga radiofrequncia emhidrognio, produzida num reactor cilndrico de eltrodos paralelos de acoplamento

    capacitivo. O estudo da descarga foi feito para uma gama alargada de valores de frequncias

    de excitao (13.56-80.0 MHz), presses do gs (0.2 - 6 Torr) e tenses RF aplicadas (50-

    800 V), com recurso a um sofisticado modelo fluido bidimensional (que descreve a dinmica

    dos electres, e dos ies H+, H2+, H3

    +e H-no reactor), acoplado de forma auto-consistente a

    um modelo colisional-radiativo homogneo (que inclui uma verso muito completa da

    cintica vibracional e atmica do hidrognio). Verifica-se que existe um bom acordo entre as

    previses do modelo e as medidas experimentais do potencial do plasma e da potncia

    elctrica acoplada ao plasma. Contudo, o acordo apenas qualitativo no que se refere

    densidade electrnica e tenso de autopolarizao, com o modelo a produzir valores

    subestimados em relao aos experimentais. Este desacordo qualitativo depende apenas

    ligeiramente do esquema cintico adoptado, mas pode talvez resultar da descrio

    homognea aqui usada para o transporte de espcies neutras. Para clarificar este ponto,

    desenvolveu-se um modelo hidrodinmico bidimensional para o gs neutro baseado no

    sistema de equaes de Navier-Stokes que se completou com um mdulo de transporte

    reactivo de massa a multicomponentes. Este modelo inovador dever integrar uma poderosa

    ferramenta predictiva, que constituir uma importante mais valia na optimizao de reactores

    a plasma para o processamento de materiais.

    Palavras chave: Modelizao de plasmas, modelo fluido, descargas radiofrequncia, modelo

    colisional-radiativo, cintica vibracional, hidrognio.

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    ABSTRACT

    This work presents the modelling and the characterization of capacitively-coupled radio-frequency discharges in hydrogen, produced within a cylindrical parallel-plate reactor. The

    discharge characterization covered a wide range of excitation frequencies (13.56-80.0 MHz),

    gas pressures (0.2 - 6 Torr) and applied RF voltages (50-800 V), and used a state of art two-

    dimensional fluid model (to describe the dynamics of electrons, positive ions H+, H2+, H3

    +

    and negative ion H-in the reactor), self-consistently coupled to a homogeneous collisional-

    radiative model for hydrogen (including a very complete kinetic scheme involving

    vibrationally excited molecular species and electronically excited atomic species). There is a

    good agreement between calculated results and experimental measurements for the coupled

    electrical power and the plasma potential. However, model predictions for the electron

    density and the self-bias voltage show only a qualitative agreement with experiment, with

    calculated values understimated with respect to measurements. This qualitative disagreement

    is only slightly dependent of the kinetic scheme adopted, and probably is a direct

    consequence of the homogenous model describing the transport of neutral species. To clarify

    this, a two-dimensional hydrodynamic gas model is developed, based on the Navier-Stokes

    equation system plus a multi-component reactive mass transport module. This innovative

    model is the key part of a powerful predictive tool, to be used in the optimisation of plasma

    reactors for material processing.

    Keywords:Plasma modelling, fluid model, radio-frequency discharges, collisional-radiative

    model, vibrational kinetics, hydrogen.

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    Agradecimentos

    Ao Dr. Lus Lemos Alves pelo modo como perspectivou e supervisionou este trabalho,

    pelas dicas e encorajamento em momentos decisivos, pela leitura minuciosa destemanuscrito, pela amizade dispensada durante estes trs anos.

    Ao Dr. Grard Gousset pelo incentivo nos momentos de crise, pelas proveitosas

    discusses cientficas que ajudaram a concretizar parte significativa deste trabalho, e pela

    total disponibilidade em partilhar a sua vasta experincia em modelizao.

    Ao Dr. Jacques Jolly pelo interesse demonstrado por este trabalho e pela

    disponibilizao das vrias medidas experimentais usadas na validao do modelo,

    possibilitando a estreita ligao entre modelizao e experincia.

    Ao Dr. Aurel Salabas pela ajuda inicial na compreenso do modelo e amizade durante a

    estadia em Lisboa.

    Ao Claudiu Costin pela amizade e companheirismo, e numerosas discusses centificas

    durante as estadias em Orsay.

    Ao pessoal do Laboratoire de Physique des Gaz et Plasmas, em especial Dr. Jean

    Bretagne e Mme. Marie Claude Richard, pelo acolhimento dispensado durante as estadias

    em Frana.

    A todos os colegas do Grupo de Electrnica dos Gases, e em especial ao Dr.Vasco

    Guerra e ao Eng Marques Dias, pelas sugestes e ambiente de trabalho proporcionados.Aos colegas Mrio Almeida e Jorge Mendes do Departamento de Fsica da

    Universidade do Minho por se terem disponibilizado a assegurar parte do meu servio

    lectivo, durante o perodo de escrita da tese.

    Ao meu irmo Francisco e minha cunhada Ana por me receberem em sua casa

    durante as minhas estadias em Lisboa e pelo apoio dado durante estes trs anos.

    Aos meus sogros pela total disponibilidade e apoio dados a mim e minha esposa e

    filha durante este perodo.

    minha esposa Sandra pelo seu apoio e encorajamento, por fazer de pai e me e ter

    aguentado o barco durante os ltimos trs anos.Agradece-se o apoio financeiro da Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) e do

    FSE no mbito do III QCA, atravs da bolsa BD/ 5012/ 2001.

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    NDICE

    Rsum

    Resumo

    Abstract

    Agradecimentos

    ndice

    1. Introduo

    1.1.Aplicaes das descargas....

    1.2.Modelizao de descargas...

    1.3.

    Apresentao da tese...

    2. Modelizao de descargas radiofrequncia

    2.1.Apresentao do reactor..

    2.2.Descrio do modelo de descarga...

    2.2.1.Equao de Boltzmann electrnica....

    2.2.1.1.Desenvolvimento da FDE em gradientes de densidade...

    2.2.1.2. Desenvolvimentoda FDE em harmnicas esfricas. Aproximao

    clssica a dois termos da equao de Boltzmann....2.2.1.3. Equao de Boltzmann homognea e estacionria...

    2.2.2.Momentos da equao de Boltzmann. Equaes de transporte de partculas

    carregadas

    2.2.2.1.Equaes de transporte dos ies....

    2.2.2.2. Equaes de transporte dos electres

    2.2.2.3. Implementao do modelo de descarga.

    2.2.2.3.1.

    Equaes do modelo.....2.2.2.3.2.Implementao numrica......

    2.3.Modelocintico e parmetros de transporte das partculas carregadas..2.3.1.Modelocintico do gs......2.3.2.Parmetros de transporte inicos....

    2.3.3.Parmetros de transporte electrnicos....

    2.3.3.1. Hidrognio.

    2.3.3.2. rgon.2.3.3.3.Aproximao de campo local modificada......

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    3. Caracterizao de descargas radiofrequncia

    3.1.Fenomenologia de descargas capacitivas RF..

    3.1.1.Parmetros elctricos e correntes de descarga

    3.1.2. Manuteno da descarga. Mecanismos de aquecimento e perfis de

    ionizao

    3.2.Caracterizao sistemtica de descargas RF em hidrognio

    3.2.1.Efeito da tenso RF aplicada e da frequncia de excitao....

    3.2.2.Efeito da presso de gs..

    3.3.Sensibilidade dos resultados a alguns parmetros internos do modelo...

    3.3.1.Parmetros numricos internos.......

    3.3.2.Mobilidade do io H3+e coeficiente da reaco de converso do io

    H2+......3.4.Estimativa da contribuio de termos suplementares na equao do

    fluxo electrnico...

    4. Modelo cintico para descargas RF em hidrognio

    4.1.Cintica vibracional e atmica do hidrognio......

    4.2.Modelo colisional radiativo quasi-homogneo

    4.3.Influncia da cintica do hidrognio no funcionamento da descarga......

    4.3.1.

    Efeito da tenso RF aplicada e da frequncia de excitao........4.3.2.Efeito da presso do gs.

    5. Modelo hidrodinmico para descargas RF em hidrognio

    5.1.Equaes hidrodinmicas.

    5.2.Transporte reactivo de massa, quantidade de movimento e energia a

    multicomponentes.......

    5.3.Implementao do modelo...

    5.3.1.

    Transporte do gs5.3.2.Transporte das espcies neutras..

    5.3.3.Discretizao das equaes de Navier-Stokes. Mtodo dos

    volumes finitos..

    5.3.4.Soluo do sistema de equaes hidrodinmicas....

    5.4.Resultados e discusso.....

    Concluses

    Lista de publicaesBibliografia

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    Captulo 1

    Introduo

    Em geral, quando se fala dos estados fsicos da matria, refere-se apenas a existncia

    dos trs estados que nos so mais familiares: slido, lquido e gs, por serem predominantes

    no ambiente que nos rodeia. Esta sequncia de estados caracteriza-se pela crescente separao

    mdia entre as molculas, e portanto pela intensidade decrescente das foras de ligao entre

    elas, podendo-se efectuar a transio entre estados mediante o fornecimento de energia,

    atravs da quebra dessas ligaes intermoleculares. Existe no entanto um quarto estado damatria, identificado por Sir William Crookes em 1878, ao qual Irving Langmuir em 1928

    deu a designao de plasma, quando estudava descargas elctricas em misturas gasosas

    contendo vapor de mercrio [Langmuir, Rogoff]. Apesar da sua predominncia no universo

    (estima-se que cerca de 99% da matria do nosso universo visvel esteja no estado de plasma,

    como constituinte das estrelas e do espao interestelar), a formao de plasmas naturais na

    terra s ocorre em circunstncias especiais, de que os relmpagos e as auroras boreais so

    bons exemplos. no entanto possvel promover a criao artificial de um plasma, fornecendo

    energia (trmica, elctrica, ou de radiao) a um gs para quebrar as ligaes internas das suas

    espcies neutras (tomos e/ou molculas), ionizando-as e libertando electres. Quando o nvel

    de ionizao significativo, e conduz a uma alterao das propriedades elctricas do gs, diz-

    se que a mistura de partculas carregadas (electres e ies) e de partculas neutras forma um

    plasma, o qual electricamente quasi-neutro e reage colectivamente s foras

    electromagnticas externas que se lhe apliquem.

    1.1 Aplicaes das descargas

    Qualquer avano tecnolgico em ltima anlise o resultado duma manipulao da

    matria, estando a evoluo da humanidade intimamente associada a um domnio sobre os

    materiais, desde a Idade da Pedra Biotecnologia. O ltimo sculo caracterizou-se por

    avanos significativos na manipulao da matria escala microscpica, de entre os quais se

    destaca aqui a capacidade de criar e de manter artificialmente o estado de plasma. Como

    resultado da interaco entre partculas carregadas e partculas neutras, os plasmas oferecem

    uma grande liberdade na criao de composies qumicas, que seriam impossveis de obter

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    de outro modo, na gerao de radiao e na produo de partculas energticas, caractersticas

    estas que esto na base da sua explorao num nmero cada vez maior de reas de actividade

    e de aplicaes comerciais e industriais.

    Processamento industrial [Coburn]A tecnologia dos plasmas oferece uma vasta gama de solues econmicas, seguras e

    amigas do ambiente para vrias etapas de processamento industrial:

    oLimpeza de superfcies, no tratamento de artefactos arqueolgicos [Veprek], ou

    na remoo de contaminantes das superfcies.

    oModificao de superfcies, atravs da oxidao [Friedel], nitretao [Jindal],

    texturizao ou implantao inica [Conrad], a fim de modificar as propriedades

    superficiais dos materiais (dureza, resistncia ao desgaste e corroso, adeso,propriedades dielctricas e magnticas, resistividade, propriedades hidrofbicas)

    sem alterar as suas propriedades volumtricas.

    oGravura de superfcies, na indstria electrnica [Manos].

    oDeposio, de filmes finos metlicos, diamante, slicio amorfo (a-Si:H) e

    microcristalino (-Si:H) [Vossen], polmeros (Teflon, PTFE) [Yasuda], etc.

    oSntese qumica,principalmentede ozono que usado como agente oxidante na

    indstria farmacutica, e descorante na indstria txtil [Eliasson].oSoldadura e corte de superfcies [Fauchais].

    Ambiente [Eliasson]

    oPurificao do ar, usando ozono como agente desodorizante.

    oTratamento de gua, usando ozono para remover odores, cores, sabores e

    radiao UV para esterilizao.

    oTratamento de resduos industriais perigosos, como dioxinas, solventes, etc.

    oReduo das emisses emveculos automveis.

    oMonitorizao ambiental de poluio,por anlise espectroqumica [Blades].

    Fontes de partculas e radiao

    oFontes departculas, como ies [Hamilton], ou espcies atmicas.

    oLasers de gs [Garscadden],He-Ne, CO2, excmeros, etc.

    oLampdas de UV.

    Propulso espacial [Wilbur], em satlites e futuramente em naves interplanetrias.

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    Televises, atravs de micro-descargas em misturas Xe-Ne ou He-H2nos crans de

    plasmas [Punset].

    Energia

    o

    Produo de energia, a partir da fuso termonuclear controlada [Aymar].oComutadoreselctricos de corrente [Greenwood].

    Biotecnologia e medicina [Laroussi, Montie]

    oEsterilizao, deinstrumentos mdicos em medicina e de alimentos na indstria

    alimentar.

    oDescontaminao biolgica,atravs dadestruio de agentes biolgicos como

    o Antrax.

    Iluminao [Dakin]

    As lmpadas so sem dvida a aplicao prtica predominante da Engenharia dos

    Plasmas, sendo a luz por elas gerada uma das obras humanas que pode ser vista do

    espao.

    oLmpadas de non,usadas em painis publicitrios.

    oLmpadas de sdio, que produzem luz visvel prxima do mximo de

    sensibilidade do olho humano (589 nm), sendo por isso as lmpadas conhecidasde maior eficincia. So usadas sobretudo na iluminao pblica.

    oLmpadas fluorescentes, que usam uma mistura gasosa de rgon e de vapor de

    mercrio, a uma presso de 0.4% da presso atmosfrica. O plasma produz

    radiao UV (253.7 nm) que convertida em luz visvel atravs dum

    revestimento de fsforo nas paredes da lmpada.

    oLmpadas de arco, que usam em geral uma mistura gasosa a alta presso, sendo

    a luz visvel que emitem directamente produzida pelo plasma.

    A excitao e manuteno de um plasma requer a ionizao parcial ou total das espcies

    neutras (tomos e/ou molculas) de um gs. A ionizao do gs pode ser conseguida usando

    radiao ionizante, campos electromagnticos fortes, ou por coliso de partculas energticas

    com as espcies neutras do gs. Estas partculas energticas podem ser obtidas por via trmica,

    ou produzidas pela radiao csmica e aceleradas por campos elctricos externos. Esses

    campos aceleram os (poucos) electres livres existentes no gs, fornecendo-lhes uma energia

    suficiente para que provoquem a ionizao das molculas e/ou tomos do gs. Os novoselectres produzidos so mais uma vez acelerados, e deste processo de multiplicao de

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    electres resulta eventualmente uma avalanche electrnica e a ignio elctrica do gs. Se o

    campo elctrico fr aplicado durante um perodo suficientemente longo, pode ocorrer a

    multiplicao das avalanches iniciando-se uma descarga elctrica no gs. Esta descarga

    mantm-se enquanto o campo estiver aplicado, independente da sua natureza: constante no

    tempo, pulsado, peridico, ou produzido por ondas electromagnticas, distinguindo-se osdiferentes tipos de descargas consoante o modo de acoplamento de energia ao plasma.

    Descargas DC ou RF [Chapman]

    Neste tipo de descargas aplica-se directamente uma diferena de potencial [contnua

    (DC) ou radiofrequncia (RF)] a dois elctrodos condutores, entre os quais se encontra

    o gs, podendo estes estar em contacto directo com o plasma (DC ou RF) ou isolados

    deste atravs dum dielctrico (RF). Em sistemas de radiofrequncia os dois elctrodos

    funcionam como um condensador, pelo que estas fontes so normalmente designadas

    por descargas RF de acoplamento capacitivo ou descargas tipo E, devido ao papel

    desempenhado pelo campo elctrico externo.

    Descargas inductivas (ICP) [Hopwood]

    A descarga criada fazendo passar uma corrente de radiofrequncia por um solenide

    com um pequeno nmero de espiras, o qual envolve o tubo de material dielctrico que

    contm o gs a ionizar. A corrente de radiofrequncia d origem a um campo

    magntico oscilante no interior do solenide, o qual induz um campo elctrico no

    interior do contentor de gs, designando-se estas fontes por descargas RF inductivas

    ou descargas tipo H. O acoplamento no no entanto puramente inductivo, pois

    devido diferena de potencial existente entre o solenide e o plasma parte da

    potncia RF acoplada de forma capacitiva ao plasma.

    Descargas excitadas por ondas electromagnticas

    Nestas descargas usada a propagao de ondas electromagnticas num plasma ou na

    sua superfcie, as quais so posteriormente absorvidas pelo plasma resultando no

    aquecimento dos electres e na manuteno da descarga. Existem vrias descargas que

    adoptam este princpio, as quais diferem entre si no tipo de ondas electromagnticas

    usadas (microondas ou ondas de radiofrequncia), e na presena ou no de um campo

    magntico externo. Os tipos mais comuns so as descargas ECR (Electron Cyclotron

    Resonance) [Asmussen], as descargas Helicon [Boswell], e as descargas de Onda de

    Superfcie (SW) [Ferreira].

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    De entre os vrios tipos de fontes a plasma apresentadas, as descargas radiofrequncia

    de acoplamento capacitivo a baixas presses so hoje em dia amplamente utilizadas nas mais

    variadas reas tecnolgicas e industriais, e em especial no processamento de materiais, dada a

    sua versatilidade, baixa complexidade e custo de implementao, e facilidade de expanso

    para processamento de grandes reas a baixas temperaturas. As descargas RF so utilizadasnas vrias etapas de processamento de superfcies, com especial destaque na deposio de

    filmes finos assistida por plasma. A deposio pode ser feita por processos fsicos,

    recorrendo-se evaporao ou pulverizao [Vossen] do material a depositar e respectiva

    condensao no substrato posteriori, ou basear-se em processos qumicos, usando-se neste

    caso o plasma para criar uma atmosfera rica em espcies quimicamente activas, por

    dissociao das espcies existentes na mistura gasosa precursora, que posteriormente se

    depositam na superfcie do substrato dando origem ao filme fino. Esta ltima tcnica conhecida por PECVD (Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition) [Reif] e tem sido

    usada para depositar vrios tipos de materiais, em particular o silcio amorfo, micro ou nano

    cristalino hidrogenado (a-Si:H/c-Si:H/nc-Si:H), a partir de misturas gasosas base de

    hidrognio.

    O silcio amorfo hidrogenado um material semicondutor com uma fotocondutividade e

    uma mobilidade dos portadores de carga muito superior do silcio amorfo, devido

    passivao pelo hidrognio atmico das ligaes pendentes (dangling bonds), que sofrequentes no silcio amorfo e responsveis pela sua fraca condutividade. Apesar de possuir

    propriedades elctricas inferiores s do silcio cristalino, tem a vantagem de possuir um

    elevado coeficiente de absoro ptica no espectro visvel, alm de poder ser uniformemente

    depositado de forma bastante mais econmica em grandes superfcies, sobre uma grande

    variedade de substratos tais como vidro, metais, polmeros e cermicas. Estas vantagens

    estimularam a sua aplicao num grande nmero de aplicaes, tais como no fabrico de

    transstores de filme fino usados nos painis de cristais lquidos a cores, de crans de matriz

    activa de computadores portteis, de crans de televiso a plasma, em sensores de imagem e

    de radiao (aproveitando o seu elevado coeficiente de absoro ptica), e no fabrico de

    clulas solares fotovoltaicas, para o qual se prev uma expanso num futuro muito prximo.

    1.2 Modelizao de descargas

    O uso generalizado do processamento baseado em plasmas nas mais variadas reas e as

    exigncias de competitividade enfrentadas hoje em dia pelas empresas, tm motivado a

    optimizao dos equipamentos a plasma existentes, bem como o desenvolvimento de novos

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    processos e aplicaes. No passado, o desenvolvimento e optimizao destes equipamentos

    era feito numa base experimental por tentativa e erro, construindo e testando diferentes

    dispositivos e procurando as suas condies ptimas de funcionamento, o que constitui uma

    estratgia demorada e dispendiosa. A modelizao de descargas hoje correntemente usada

    no projecto de processos assistidos por plasma, de forma coordenada com testesexperimentais, a fim de reduzir o nmero de iteraes de hardware necessrias e

    consequentemente o tempo e os custos de desenvolvimento. Para tal so necessrias

    ferramentas de simulao cada vez mais sofisticadas, capazes de descrever correctamente a

    diversidade dos fenmenos fsicos e qumicos envolvidos no funcionamento dos

    equipamentos reais de processamento assistido por plasma. Tais ferramentas devem ter em

    conta os seguintes fenmenos:

    Transporte de massa, quantidade de movimento e energia das vrias espcies

    carregadas do plasma, nos campos electromagnticos resultantes do sistema externo de

    alimentao e da distribuio interna de cargas e correntes;

    Descrio detalhada das cinticas em fase gasosa e de superfcie das vrias espcies;

    Transporte de massa, energia e radiao no reactor;

    Evoluo topogrfica da superfcie nalgumas aplicaes.

    Estes fenmenos esto fortemente acoplados entre si, pelo que a sua anlise requer uma

    descrio auto-consistente. Alm disso, caracterizam-se pela disparidade de escalas espaciais

    e temporais, sendo necessrio adoptar uma descrio multidimensional na maior parte das

    aplicaes reais, dada a complexidade da geometria do reactor e a necessidade de

    processamento de grandes reas. O desenvolvimento de ferramentas, que incluam todos estes

    fenmenos, e que forneam um conjunto de informaes relevantes sobre o funcionamento do

    reactor em tempo til, uma tarefa de enorme complexidade e ainda no totalmente

    conseguida, apesar da disponibilidade actual de potentes recursos computacionais. por isso

    frequente adoptarem-se modelos simplificados e que envolvem geralmente um grande nmero

    de aproximaes (a nvel dimensional, na descrio dos processos cinticos, etc), com vista

    obteno rpida de informaes especificas sobre o plasma de descarga.

    6

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    Actualmente, existem trs classes de modelos usados no desenvolvimento de ferramentas

    de simulao para descrever de forma auto-consistente a dinmica das vrias espcies de

    partculas presentes num plasma: modelos estatsticos, modelos fluido (ou hidrodinmicos), e

    modelos hbridos.

    Os modelos estatsticos adoptam uma descrio do transporte das partculas baseada emequaes do movimento bsicas, acoplada com o clculo de campos electromagnticos no

    caso das partculas carregadas. Dentro dos modelos estatsticos, incluem-se os mtodos

    baseados em partculas, como o DSMC (Direct Simulation Monte Carlo) [Bird] para as

    espcies neutras e o PIC-MCC (Particle-In-Cell with Monte Carlo Collisions) [Birdsall] para

    as espcies carregadas. Nestes mtodos, segue-se o movimento de um conjunto representativo

    de partculas de cada espcie do plasma, que avanam no espao das configuraes e das

    velocidades sob a influncia das foras aplicadas (sendo as suas trajectrias obtidas porintegrao das equaes do movimento) e das colises em que participam (cuja ocorrncia e

    natureza determinada a partir de probabilidades de coliso, calculadas atravs das seces

    eficazes respectivas). Nos modelos PIC calculam-se tambm os campos elctrico e magntico

    mdios, atravs das equaes de Maxwell e das densidades de carga e de corrente obtidas a

    partir de uma interpolao adequada da distribuio de partculas, na grelha computacional.

    Os mtodos baseados em partculas permitem obter a variao espacial e temporal das

    funes de distribuio das velocidades das vrias espcies, fornecendo assim uma descrioextremamente precisa do transporte das partculas. So no entanto mtodos bastante exigentes

    em termos computacionais, em especial para problemas multidimensionais, sendo em geral

    utilizados para baixas presses e adoptando cinticas relativamente simples. Uma vez que no

    assumem quaisquer hipteses no que diz respeito ao transporte de partculas ou s suas

    funes de distribuio, estes modelos so aplicveis numa gama alargada de condies de

    descarga. Na classe dos modelos estatsticos incluem-se tambm os mtodos baseados na

    soluo directa da equao de Boltzmann (sobretudo electrnica), tais como o esquema

    convectivo [Sommerer] e o modelo de aproximao no-local [Tsendin], os quais tm a

    vantagem de no introduzirem rudo no clculo das funes de distribuio das partculas.

    Nos modelos fluido ou hidrodinmicos [Gogolides 92, Salabas] cada populao do

    plasma identificada com um fluido, que se assume bem descrito por um conjunto de

    grandezas macroscpicas densidade, velocidade mdia, energia mdia, etc, definidas

    atravs de mdias sobre a respectiva funo de distribuio (momentos da funo de

    distribuio). Desta forma, as equaes de Boltzmann para as vrias espcies podem ser

    substitudas por uma srie infinita de equaes de conservao acopladas entre si, deduzidas a

    7

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    partir dos momentos da equao cintica [Delcroix, Shkarofsky]. A implementao deste tipo

    de modelos envolve assim duas hipteses principais:

    Em primeiro lugar necessrio truncar a srie infinita de equaes hidrodinmicas,

    definindo o nmero de momentos a usar para cada espcie de modo a obter umadescrio razovel do comportamento do plasma. Hoje em dia um facto aceite que os

    modelos fluido devem incluir trs momentos para descrever o transporte dos electres

    (equaes de conservao da massa, da quantidade de movimento e da energia mdia)

    e dois momentos para os ies (equaes da conservao da massa, e da quantidade de

    movimento),

    O conjunto de equaes hidrodinmicas definido na hiptese anterior no forma umsistema fechado, pois as equaes de conservao so escritas em termos de integrais

    da funo de distribuio (desconhecida), que se podem interpretar fisicamente como

    parmetros de transporte das partculas e/ou como coeficientes de reaco. Assim,

    para calcular estes integrais, necessrio assumir uma funo de distribuio, o que

    pode ser particularmente delicado para os electres, que normalmente no se

    encontram em equilbrio termodinmico, para os quais a soluo mais simples de

    adoptar uma funo de distribuio Maxwelliana no constitui uma boa aproximao.Para resolver o problema do fecho do sistema de equaes para os electres, adopta-se

    em geral uma de duas aproximaes: a aproximao de campo local (ACL) ou a

    aproximao de energia mdia local (AEL).

    A ACLassume que os parmetros de transporte electrnicos (PTE) e os coeficientes de

    reaco (CRE), calculados numa dada posio rr

    e instante t, so nica e exclusivamente

    funo do campo elctrico reduzido local, E( rr

    ,t)/N, ondeE a intensidade do campo e Na

    densidade de gs (assumida uniforme). A ACL corresponde a supr que a funo de

    distribuio de energia dos electres (FDEE) em ( rr

    ,t) a mesma que existiria num campo

    elctrico reduzido uniforme igual a E( rr

    ,t)/N. Este equilbrio implica que a energia ganha

    pelos electres do campo elctrico aplicado dissipada localmente em colises com o gs

    neutro. Esta aproximao foi introduzida nos primeiros modelos de descargas [Boeuf,

    Gogolides, Graves, Graves 87, Richards, Passchier] como uma tentativa para usar PTE

    experimentais obtidos em descargas DC de Towsend, juntamente com CRE calculados para

    diferentes valores de campo elctrico reduzido, e assim fechar o sistema de equaes

    electrnicas. Esta ideia foi mais tarde alargada ao uso de PTE e CRE obtidos por integrao

    8

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    de seces eficazes de coliso sobre FDEEs calculadas a partir da equao de Boltzmann

    electrnica (EBE), homognea e estacionria. No entanto, esta aproximao falha em geral na

    regio das bainhas, onde os electres no esto em equilbrio com o campo, levando a um

    aumento dos PTE e CRE junto s fronteiras da descarga.

    A AELconsidera os PTE e os CRE em ( rr

    ,t) como uma funo exclusiva do valor localda energia mdia electrnica, cujo perfil no espao e no tempo obtido resolvendo a

    respectiva equao de balano. Em termos prticos, a EBE homognea e estacionria, em

    geral escrita na sua aproximao a dois termos, resolvida para diferentes valores de campo,

    no gs ou na mistura gasosa em estudo. Em seguida, os resultados obtidos so usados para

    construir uma tabela com os vrios PTE e CRE em funo da energia mdia electrnica. Esta

    tabela usada para obter os valores dos PTE e CRE em cada ( rr

    ,t), a partir do valor local da

    energia mdia electrnica, obtido por resoluo do modelo fluido. Apesar de inexacta, estaaproximao permite eliminar as variaes no fsicas dos PTE nas bainhas, introduzidas

    quando se adopta a ACL.

    Nestes modelos fluido, as equaes hidrodinmicas so resolvidas de forma acoplada

    com as equaes de Maxwell, obtendo-se uma descrio auto-consistente da descarga. A

    grande vantagem destes modelos o facto de serem pouco exigentes em termos

    computacionais, quando comparados com um modelo estatstico equivalente, sendo por isso

    os modelos mais utilizados na anlise de processos assistidos por plasma. Dado o conjunto dehipteses assumidas, a validade e a preciso dos resultados obtidos deve sempre ser

    confrontada com medidas experimentais e/ou com resultados de modelos estatsticos

    equivalentes.

    Os modelos hbridos tentam associar uma descrio detalhada do plasma (como a

    fornecida pelos modelos estatsticos), a uma reduo da exigncia computacional. Estes

    modelos combinam em geral um modelo fluido auto-consistente com um mtodo de Monte

    Carlo (MC), onde se usa o perfil fluido do campo elctrico para calcular os PTE e os CRE

    [Sommerer 92]. Desta forma possvel reduzir o nmero de partculas no MC, desde que se

    garanta a obteno de PTE e CRE estatisticamente aceitveis. Por sua vez, o MC fornece ao

    modelo fluido um conjunto de PTE e CRE que so calculados preservando o carcter de no

    equilbrio da cintica dos electres. Outros modelos deste gnero combinam a aproximao

    no-local para os electres com um modelo fluido para os ies [Kortshagen], ou distinguem

    entre dois grupos de electres [Fiala]: um primeiro grupo que engloba a maioria dos electres

    do volume (e que tratado adoptando um modelo fluido), e um segundo grupo formado pela

    pequena fraco de electres aquecida pelo campo das bainhas (e que descrito usando um

    mtodo de Monte Carlo).

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    1.3 Apresentao da tese

    Neste trabalho, realiza-se a modelizao de uma descarga radiofrequncia em

    hidrognio puro produzida num reactor cilndrico de elctrodos paralelos de acoplamento

    capacitivo. O estudo que aqui se apresenta cobre uma gama alargada de condies de

    operao da descarga em frequncia, presso de gs e tenso aplicada, sendo os resultados do

    modelo para a densidade electrnica, tenso de auto-polarizao, potencial do plasma, e

    potncia elctrica acoplada ao plasma, validados por comparao com dados experimentais

    obtidos no reactor. O estudo da fenomenologia tpica de descargas radiofrequncia em

    hidrognio puro revela-se de grande interesse, pois estas descargas desempenham um papel

    fundamental na produo escala industrial de filmes finos de silcio hidrogenado, cuja

    procura crescente se tem acentuado com a sua utilizao num nmero cada vez maior de

    aplicaes.

    O captulo 2 apresenta o modelo terico auto-consistente usado na descrio da descarga,

    sendo igualmente discutidas as vrias hipteses assumidas na sua formulao. Trata-se de um

    modelo hidrodinmico, cuja originalidade est na obteno das equaes macroscpicas de

    transporte dos electres e ies a partir dos momentos das respectivas equaes de Boltzmann,

    escritas numa forma consistente com a utilizada no clculo dos parmetros de transporte. O

    modelo testado para dois gases, rgon e hidrognio, sendo apresentada a sua cintica, bem

    como os parmetros de transporte e os coeficientes de reaco electrnicos usados nasequaes macroscpicas. Em seguida, apresentado um mtodo inovador utilizado no clculo

    dos PTE e CRE no hidrognio, o qual envolve a resoluo da equao de Boltzmann

    electrnica, com incluso da produo de electres secundrios, numa malha de energia a

    passo varivel. Por fim so apresentadas as dificuldades encontradas ao implementar-se o

    modelo no rgon, bem como algumas solues ensaiadas para as ultrapassar.

    No captulo 3 feita a caracterizao da descarga RF de acoplamento capacitivo em

    hidrognio puro, em funo da tenso RF aplicada, da frequncia de excitao e da presso dogs, usando o modelo apresentado no captulo anterior. Inicialmente dado nfase

    fenomenologia base deste tipo de descargas, comparando-se em seguida os resultados do

    modelo, obtidos adoptando uma verso simplificada da cintica do hidrognio, com medidas

    experimentais de vrios parmetros da descarga, em funo da tenso aplicada, da frequncia

    de excitao e da presso do gs. Conclui-se este captulo com um estudo da sensibilidade dos

    resultados do modelo variao de diversos parmetros numricos e internos da descarga,

    sendo ainda apresentada uma estimativa da contribuio de termos suplementares que foram

    desprezados na forma aqui adoptada para as equaes de transporte dos electres.

    10

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    No captulo 4 desenvolve-se um modelo colisional-radiativo homogneo e estacionrio

    para o hidrognio, que inclui as espcies moleculares excitadas vibracionalmente e as espcies

    atmicas excitadas electronicamente, o qual acoplado de forma auto-consistente ao modelo

    de transporte das partculas carregadas e equao de Boltzmann electrnica, homognea e

    estacionria (escrita na aproximao clssica a dois termos), com o objectivo fundamental declarificar o papel desempenhado pela cintica do hidrognio no funcionamento da descarga. A

    concluir o captulo, comparam-se as previses deste modelo hbrido (que inclui uma verso

    completa da cintica do hidrognio), com medidas experimentais e com os resultados do

    modelo quando se adopta a cintica simplificada do hidrognio, para vrias presses,

    frequncias de excitao e tenses RF aplicadas.

    No captulo 5 desenvolve-se um modelo hidrodinmico bidimensional para o gs,

    baseado no sistema de equaes de Navier-Stokes que se completa com um mdulo detransporte reactivo de massa a multicomponentes. Este modelo inovador, no quadro da

    modelizao de plasmas de descarga, constitui o primeiro passo na construo de uma

    poderosa ferramenta predictiva que dever acoplar, de forma auto-consistente, a descrio

    bidimensional do transporte e da cintica de espcies neutras e carregadas no reactor.

    Esta ferramenta, cuja produo final est fora do mbito desta tese, poder vir a

    constituir uma importante mais-valia em termos da optimizao de reactores a plasma para o

    processamento de materiais.

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    Captulo 2

    Modelizao de descargas radiofrequncia

    As descargas em gases a baixa presso so a forma mais usual de criao dos plasmas

    usados no processamento de materiais. Essas descargas so produzidas mediante a aplicao

    de campos elctricos (contnuos ou de radiofrequncia) e/ou magnticos ao gs ou mistura

    de gases, a fim de provocar a sua fragmentao com a consequente criao de espcies

    electricamente carregadas (via ionizao, attachment, etc) e/ou de espcies qumicas activas

    (via recombinao, detachment, dissociao, etc), que iro posteriormente interagir entre si

    em volume ou com as paredes expostas ao plasma. Uma das vantagens das descargas de

    radiofrequncia (RF) a sua grande versatilidade, pois podem ser utilizadas no processamento

    de materiais dielctricos ou condutores, ao contrrio das descargas DC que s podem ser

    usadas com condutores. As descargas RF so por isso muito populares em ambiente

    industrial, como por exemplo na indstria dos semicondutores na qual foram introduzidas nos

    anos 70, sendo hoje em dia indispensveis nos processos de gravura e deposio assistida por

    plasma (Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition, PECVD).

    Inicialmente, a utilizao deste tipo de tecnologia apoiava-se numa larga base de

    conhecimentos empricos, sendo a sua optimizao feita por meio de processos de tentativa e

    erro. Dada a complexidade e importncia crescente dos sistemas de processamento por

    plasma, a sua optimizao e o desenvolvimento de novos processos requer hoje um

    conhecimento cientfico aprofundado dos mecanismos fsicos e qumicos envolvidos nestes

    sistemas. Tal pode ser feito de forma eficiente recorrendo a modelos matemticos que

    descrevam as principais interaces fsico-qumicas presentes nos plasmas de descarga. Os

    modelos de descargas em gases comearam a ser desenvolvidos no incio do sculo XX

    (tendo os primeiros modelos numricos surgido em 1940), e descreviam de forma elementar

    a fenomenologia base dos plasmas de descarga [Townsend, Morton, Ward]. No entanto,

    devido complexidade dos sistemas em estudo, s recentemente que muitos aspectos do

    comportamento das descargas comearam a ser bem compreendidos, atravs no s do

    desenvolvimento de inmeros modelos numricos sofisticados (cujo tratamento agora

    possvel mediante recurso a meios informticos cada vez mais aperfeioados), mas tambm

    estimulado pelo uso crescente de sistemas de processamento a plasma na indstria.

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    Neste captulo comearemos por apresentar o reactor de plasma que motivou esta tese,

    no qual foram realizadas as medidas experimentais dos vrios parmetros de descarga

    apresentados neste trabalho.

    Em seguida ser descrito o modelo numrico usado neste estudo, sendo discutidas as

    vrias hipteses que esto na base da sua formulao e apresentada, de uma forma breve, a

    sua implementao numrica.

    Por fim ser abordado o problema do clculo dos parmetros de transporte electrnicos

    no hidrognio e as dificuldades encontradas com a utilizao do modelo no rgon, bem como

    algumas solues ensaiadas para as ultrapassar.

    2.1

    Apresentao do reactorA montagem experimental do reactor em que se baseia este trabalho est representada

    na figura 2.1, encontrando-se actualmente instalada no Laboratoire de Physique et

    Technologie des Plasmas (LPTP), Palaiseau, France. A cmara de descarga est inspirada nos

    planos da Clula de Referncia da Gaseous Electronics Conference (GEC), a qual usada

    como configurao standard em muitos estudos, quer experimentais, quer de modelizao. A

    clula GEC adoptada um reactor de elctrodos paralelos, com geometria cilndrica, cujo

    dimetro de 12.4 cm e a distncia entre elctrodos de 3 cm, sendo o elctrodo superior em

    alumnio e as restantes superfcies da cmara em ao inoxidvel. A clula GEC foi modificada

    de modo a satisfazer os requisitos necessrios realizao de depsitos de filmes finos de

    qualidade. Em particular, incluram-se elementos de aquecimento para controlar a temperatura

    do substrato, e introduziram-se um contra elctrodo e uma grelha metlica lateral massa,

    destinados a confinar o plasma regio entre os elctrodos e a conhecer com preciso a

    densidade de potncia efectivamente acoplada ao plasma. A injeco dos gases no reactor

    feita pelo elctrodo superior atravs duma estrutura tipo chuveiro (showerhead), de modo a

    garantir uma boa uniformidade do plasma criado. A par de todas estas modificaes foram

    adicionadas vrias janelas cmara, para permitir a instalao de diversos meios de

    diagnstico do plasma.

    A potncia radiofrequncia aplicada ao elctrodo superior, estando as restantes

    paredes da cmara massa. O acoplamento elctrico entre o gerador RF e o reactor de tipo

    capacitivo, sendo a adaptao de impedncia feita por intermdio de um adaptador em L,

    formado por um condensador de capacidade varivel (C1), em paralelo com umaassociao srie duma bobine com um segundo condensador varivel (C2). Como resultado

    13

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    Gs

    PLASMA

    Elctrodo RFContra-Elctrodo

    Espectrmetro de massa

    124 mm

    30 mm100 m

    Portasubstratos

    aquecido

    Grelha deconfinamento

    C1 C2

    BombaTurbo

    BombaTurboEspectrometria

    de massaHIDEN EQP 300

    BombaPrimria

    BombaTurbo

    Adaptador

    DiagnsticosLIF, CARS

    MedioVrfe Vdc

    Gases

    GeradorRF

    Figura 2.1 Esquema do reactor em estudo

    14

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    do acoplamento capacitivo, e do facto da rea total massa ser superior do elctrodo RF, a

    descarga produzida electricamente assimtrica, o que conduz ao desenvolvimento de uma

    tenso de auto-polarizao no elctrodo RF devido acumulao no circuito externo de carga

    elctrica proveniente da descarga.

    2.2 Descrio do modelo de descarga

    A descrio microscpica dum plasma de descarga pode ser feita recorrendo Mecnica

    Estatstica [Nicholson, Balescu, Hwang], sendo cada partcula do plasma considerada como

    pontual e possuindo uma posio rr

    e uma velocidade wr

    bem definidas. Para definir o estado

    do sistema suposto conhecer com preciso o movimento individual de todas as suas

    partculas em cada instante de tempo, o que alis corresponde ao mximo de informao que

    se consegue obter do sistema. Em geral, no necessrio uma descrio to detalhada, sendo

    suficiente conhecer a funo de distribuio ),,( twrf rr

    das partculas do sistema, definida tal

    que wdrdtwrfdN rrrr 33),,( = representa o nmero de partculas que, no instante t, se

    encontram no interior do volume elementar wdrd rr 33 ,localizado em torno da posio ),( wr

    rr

    do espao de fases, e verificando portanto as seguintes condies de normalizao

    )(),,(33

    tNwdrdtwrf = rrrr

    (2.1a)

    ),(),,( 3 trnwdtwrf rrrr

    = . (2.1b)

    Nestas equaes,N(t) onmero total de partculas que, no instante de tempo t, se encontra

    em todo o espao de fases considerado e ),( trn r

    a densidade de partculas, na posio rr

    do

    espao das configuraes e, no instante t.

    Num plasma coexistem vrias espcies de partculas (electres, ies, neutros), pelo que

    o conhecimento da funo de distribuio de cada populao determinante para a descrio

    precisa das propriedades do sistema. Em princpio, o comportamento de cada uma das

    espcies j de partculas num plasma pode ser descrito atravs da correspondente equao

    cintica de Boltzmann. A equao de Boltzmann (EB) uma equao de continuidade no

    espao de fases ),( wr rr

    , que descreve a evoluo no espao e no tempo da funo de

    distribuio , devido existncia de gradientes espaciais, aco das foras

    electromagnticas aplicadas e ao efeito dos processos colisionais em que as partculas daespciejparticipam

    ),,( twrfjrr

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    col

    jj

    j

    jj

    t

    f

    w

    f

    m

    X

    r

    fw

    t

    f

    =

    +

    +

    r

    r

    rr j

    . (2.2)

    Nesta equao, ),,( twrfjrr

    a funo de distribuio das partculas da espciej; mj a massa

    dessas partculas; ( )BwEqX jrrrr

    +=j representa as foras exteriores que actuam sobre as

    partculas da espcie j, sendo qj a sua carga eEr

    eBr

    os campos elctrico e magntico locais.

    Por simplicidade, vamos assumir doravante que os campos externos so unicamente do tipo

    elctrico, i.e que .EqX jrr

    =j

    Frequentemente, as funes de distribuio das vrias espcies desviam-se da

    distribuio de equilbrio Maxwelliana, e nestas circunstncias o sistema diz-se fora de

    equilbrio. No caso de um plasma, os electres so mais leves que as outras espcies e

    recebem por isso a maior parte da energia do campo. Por outro lado tm maior dificuldade em

    perder a energia adquirida por colises com as outras espcies: as colises elsticas electro-

    neutro, apesar de frequentes, so pouco eficientes na transferncia de energia (devido s

    diferenas de massa entre os electres e os neutros), e embora o inverso se passe com as

    colises inelsticas electro-neutro e electro-io, elas so pouco frequentes nos plasmas

    fracamente ionizados. Por isso, os electres tm em geral uma energia mdia mais elevada,

    comparativamente com a das outras espcies, e a sua funo de distribuio na maior parte

    das vezes tpica duma situao de no-equilbrio. Nestas condies, para obter a funo de

    distribuio dos electres (FDE) necessrio resolver a EB correspondente. Por outro lado, a

    eficincia da transferncia de energia nas colises io-neutro, combinada com o facto dos ies

    terem uma energia mdia muito menor que a dos electres, permite assumir que a funo de

    distribuio dos ies uma Maxwelliana temperatura do gs.

    A soluo completa da EB electrnica requer uma representao do plasma num espao

    a sete dimenses, o que constitui uma tarefa de enorme complexidade e s possvel

    por via numrica. O problema torna-se ainda mais complexo se tentarmos uma soluo auto-

    consistente, que envolve o acoplamento da EB com a equao de Poisson para o clculo do

    campo de carga de espao, associado separao de carga que decorre do transporte das

    partculas carregadas. Tal nvel de detalhe desnecessrio na maior parte das aplicaes,

    podendo o problema ser consideravelmente simplificado se resolvido num espao , ao

    adoptar-se a aproximao hidrodinmica para descrever o plasma. Esta aproximao

    representa cada populao de partculas do plasma como um fluido, caracterizado em termos

    de grandezas macroscpicas acessveis experimentalmente, tais como: densidade, velocidade

    ),,( twr rr

    ),( trr

    16

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    mdia e energia mdia. Estas grandezas so definidas como mdias sobre a funo de

    distribuio (os chamados momentos da funo de distribuio), sendo a sua evoluo no

    espao e no tempo descrita respectivamente pelas equaes de conservao da massa,

    quantidade de movimento e energia, deduzidas a partir do clculo dos momentos da equao

    de Boltzmann.

    Neste trabalho adoptamos a aproximao de momentos da EB para descrever o plasma,

    devido no s simplificao do problema de transporte, mas tambm a uma maior

    proximidade em relao informao disponvel experimentalmente, com vista a uma

    validao do modelo. No entanto, esta aproximao levanta um problema que necessrio

    resolver. As equaes de conservao das partculas do plasma so escritas em termos de

    grandezas macroscpicas, as quais s se podem calcular depois de obtidas as funes de

    distribuio dessas partculas, resolvendo a EB correspondente ou impondo uma funo de

    distribuio conhecida. Para quebrar este ciclo seguiu-se a seguinte abordagem:

    Deduo das equaes de conservao macroscpicas, calculando os momentos da EB.

    Determinao de funes de distribuio, resolvendo a EB homognea e estacionria no

    caso dos electres, ou impondo uma distribuio Maxwelliana no caso dos ies.

    Fecho do sistema de equaes de conservao para cada espcie, usando a informaosobre as funes de distribuio obtidas.

    2.2.1 Equao de Boltzmann electrnica.

    Os electres so por excelncia a populao do plasma que se encontra fora de

    equilbrio, o que levanta o problema do clculo da sua funo de distribuio, . Tal

    pode ser feito resolvendo a equao de Boltzmann para os electres (EBE), o que constitui

    por si s uma tarefa muito complexa e exigente em termos computacionais. Em geral, a

    modificao da FDE devido aco dos processos de difuso ou do campo elctrico externo

    traduz-se apenas num pequeno desvio em relao ao seu estado de equilbrio, o que sugere a

    utilizao de um mtodo perturbativo para resolver a EBE. A tcnica consiste em expandir a

    FDE numa srie de funes (truncada a um nmero mximo de termos), que uma vez inserida

    na EBE conduz a um sistema de equaes cuja resoluo permite determinar os coeficientes

    da srie. No caso dos electres, os desenvolvimentos em srie mais usuais so a expanso em

    harmnicas esfricas no espao das velocidades e a expanso em gradientes de densidade.

    ),,( twrferr

    17

  • 7/25/2019 tese-IST

    26/190

    2.2.1.1Desenvolvimento da FDE em gradientes de densidade

    Neste tipo de expanso assume-se que, depois de um intervalo de tempo

    suficientemente longo, o gs de electres se encontra num regime de transporte estacionrio

    (regime hidrodinmico), em que a evoluo da densidade obedece seguinte equao com

    coeficientes constantes

    0),()(0

    =

    =

    trnt

    e

    j

    j

    rr(j) , (2.3)

    sendo as constantes coeficientes de transporte tensoriais de ordemj. Quando truncada

    segunda ordem, obtemos uma equao de difuso

    (j)

    ),(),(),(

    ),(

    trntrntrnWt

    trn

    eee

    e rrrrrrr

    r

    =+

    :D , (2.4)

    em que podemos identificar (1)=Wr

    como a velocidade de deriva, como o tensor

    de difuso e como a frequncia efectiva de ionizao.

    (2)D =

    (0)=

    No regime hidrodinmico, a dependncia espacial e temporal da FDE um funcional da

    densidade electrnica , ou seja [Kumar, Lin, Pitchford]),( trner

    ),,()()(

    ...),(:)(),()(),()(),,(

    0

    )(

    )2()1()0(

    trnw

    trnwtrnwFtrnwFtwrf

    e

    j

    j

    j

    e

    eeeeeee

    rrr

    rrrrrrrrrrrr

    =

    ++=

    =

    F

    F

    (2.5)

    onde as funes so tensores de ordem j, sujeitas s seguintes condies de

    normalizao obtidas usando as equaes (2.1)

    )()(

    wj

    e

    rF

    .j,w)dw(F

    w(w)dF

    r,t)dw,r(fN)w(F

    (j)

    e

    )(

    e

    e

    )(

    e

    00

    10

    10

    ==

    =

    rr

    r

    rrrr

    (2.6)

    Substituindo (2.3) e (2.5) na equao de Boltzmann (2.2), e agrupando os termos com a

    mesma dependncia em , obtemos a seguinte hierarquia de equaes cinticasj)(

    r

    ,0

    0

    )()1()(

    )0()0(

    =

    =

    =

    kwJ

    w

    FFJw

    j

    jk

    e

    k

    e

    k

    e

    ee

    FFFk

    (j)

    (0)

    rr

    r

    rr

    (2.7a)

    (2.7b)

    18

  • 7/25/2019 tese-IST

    27/190

    onde r

    representa o termo de aceleraoem

    Eer

    (eo mdulo da carga do electro) e J o termo

    de coliso

    col

    j

    t

    f

    da equao de Boltzmann electrnica. Resolvendo estas equaes

    sucessivamente [comeando por (2.7a)] obtemos os coeficientes da expanso (2.5). Em geral,

    para resolver estas equaes feita a expanso das )()(

    wk

    e

    rF usando funes de Burnett [Lin,

    Kumar], funes de Bessel modificadas [Wannier], ou harmnicas esfricas juntamente com

    B-splines [Pitchford].

    As expresses para os coeficientes de transporte obtm-se integrando as equaes

    (2.7a-b) em

    (j)

    wr

    , e usando as condies de normalizao (2.6). Separando a contribuio

    conservativa (J

    C

    ) e reactiva (J

    R

    ) no termo de coliso,J=J

    C

    + J

    R

    , obtemos

    .0,)(

    )(

    )()1(

    )0(

    +=

    =

    kwdJwdw

    wdFJ

    k

    e

    Rk

    e

    e

    R

    FF(k)

    (0)

    rrr

    r

    (2.8)

    Nota-se que os coeficientes de transporte tm em conta a criao/perda de partculas.

    Assim, para se calcular o coeficiente de transporte de ordem k necessrio resolver as

    equaes (2.7b) at ordem k, para obter )()( wker

    F . Como os coeficientes de transporte

    disponveis experimentalmente so no mximo de segunda ordem, para o seu clculo basta

    fazer a expanso da FDE em gradientes de densidade at ordem 2, se se incluir a

    ionizao/attachment, ou at ordem 1 se os efeitos da ionizao/attachment forem

    negligenciveis.

    Este tipo de expanso pode ser visto como a aplicao, a um gs de electres-neutros,

    do mtodo de Chapman-Enskog (CE) usado na descrio do transporte de um gs neutro

    [Chapman, Breznotits]. Este mtodo permite obter uma classe de solues da equao de

    Boltzmann que depende da posio rr

    e do tempo t por intermdio de grandezas

    hidrodinmicas (densidade, velocidade mdia, energia do gs) e dos seus gradientes espaciais

    sucessivos, dizendo-se neste caso que o gs est num regime hidrodinmico. Na aplicao do

    mtodo CE a um gs de electres-neutros, admite-se que a FDE depende apenas de um dos

    invariantes colisionais: a densidade. O regime hidrodinmico s vlido se os gradientes

    temporais e espaciais forem pequenos.

    19

  • 7/25/2019 tese-IST

    28/190

    2.2.1.2Desenvolvimento da FDE em harmnicas esfricas. Aproximao clssica a dois

    termos da equao de Boltzmann

    O desenvolvimento em harmnicas esfricas consiste numa expanso local (na posio

    r

    r

    e no instante t) da FDE numa srie de funes esfricas dependentes da orientao, noespao da velocidades, do vector velocidade em relao direco da anisotropia total do

    sistema.

    Figura 2.2 Sistema referencial no espao das velocidades

    Usando uma representao em coordenadas esfricas para o espao das velocidades

    (figura 2.2) temos

    Em geral faz-se coincidir a direco da anisotropia total (que corresponde ao eixo de

    expanso ) com a direco do vector velocidadeaanisotropier

    zwr

    (zwe

    r), e uma vez que existe

    simetria cilndrica em torno de , a FDE independente da coordenada azimutal do

    espao das velocidades. Deste modo podemos desenvolver a funo de distribuio

    aanisotropier

    ),,,( twrfe r

    em termos de ,usando polinmios de Legendre [Lorentz, Allis, Delcroix]

    zwer

    ywer

    zwer

    wr

    wr

    = (w,,)

    ),,,,(),,( twrftwrf ee = rrr

    ....cos),,(),,(

    )(cos),,(),,,,(

    10

    0

    ++=

    =

    =

    twrftwrf

    Ptwrftwrf

    ee

    l

    l

    l

    ee

    rr

    rr

    (2.9)

    Assumindo que as seguintes condies se verificam

    O livre percurso mdio electro-neutro, e, muito menor que a dimenso tpica, L,

    do plasma;

    A energia absorvida do campo por um electro, entre duas colises, muito menor

    que a energia mdia de agitao trmica da populao electrnica,

    20

  • 7/25/2019 tese-IST

    29/190

    ento as anisotropias devidas aos gradientes espaciais e ao campo so pequenas e a expanso

    (2.9) converge rapidamente, pelo que suficiente usar apenas os dois primeiros termos desta

    srie para representar a FDE

    . ),,(),,(

    cos),,(),,(),,(

    10

    10

    twrfw

    wtwrf

    w

    wtwrftwrftwrf

    ee

    eee

    rrr

    r

    rrrr

    +

    +

    (2.10)

    A expresso (2.10) corresponde ao desenvolvimento a dois termos ou desenvolvimento de

    pequenas anisotropias da FDE, onde ),,(0 twrfe

    rpode ser interpretada como a parte isotrpica

    da FDE, enquanto aanisotropiee etwrftwrf rrrr

    ),,(),,( 11 representa o chamado vector 1 anisotropia.

    Introduzindo a FDE (2.10) na equao de Boltzmann (2.2), e igualando os termos

    semelhantes na dependncia angular [Allis, Ginsburg, Cherrington], obtemos a chamada

    aproximao clssica a dois termos para a equao de Boltzmann, e que consiste numa

    equao escalar para a parte isotrpica da FDE, ,0

    ef

    ),,(),,(),(3

    1),,(

    3

    ),,( 012

    10

    twrCtwrftrEwm

    e

    wwtwrf

    w

    t

    twrfe

    e

    ere rr

    rrrrrrr

    =

    +

    2

    e num e

    (2.11)

    1fr

    a equao vectorial para a primeira anisotropia, ,

    ),,(),,(

    ),(),,(),,( 1

    00

    1

    twrCw

    twrftrE

    m

    etwrfw

    t

    twrf e

    e

    ere r

    rr

    rrrrrr

    =

    +

    , (2.12)

    correspondendo C eC0 1

    raos dois primeiros termos da expanso em polinmios de Legendre

    do operador de coliso da EBE

    )(cos),,(),,,( =

    l

    le Ptwrtwrt

    f rrC

    0 =lcol. (2.13)

    o-se por

    isso desprezar o seu efeito no operador de coliso da equao de Boltzmann, ou seja,

    Num plasma fracamente ionizado, as colises electro-electro (e-e) e electro-io (e-i)

    so em geral muito menos frequentes do que as colises electro-neutro (e-n), podend

    21

  • 7/25/2019 tese-IST

    30/190

    ne

    e

    ne

    e

    ie

    e

    ee

    e

    col

    e

    t

    f

    t

    f

    t

    f

    t

    f

    t

    f

    +

    +

    =

    .

    As colises e-n correspondem a colises binrias, locais e instantneas, dos electres

    com os tomos do gs, o qual se considera em equilbrio com as paredes que o rodeiam,

    condies, os diferentes processos de coliso electro-neutro podem ser descritos por um

    conjunto de operadores, funo da energia electrnica

    apresentando uma distribuio de velocidade ra Tg. Nestass Maxwelliana temperatu

    2

    2mw

    = , expressa em eV. Assim,

    depois de renorm

    u

    alizar a FDE em energia de acordo com

    10),,(4),,( ,lduuturfdwwtwrf ee = 2 ll rr

    , (2.14)

    os da expanso em srie do operador colisional da EBE podem representar-se

    at

    os term

    ravs de uma soma de vrios processos

    [ ]),,(),,(),,(),,(4

    ),,( turIturSturJturRm

    e

    mtwrC lllleel

    rrrrr+++

    10,l= , (2.15)

    onde ,

    elstico de excitao, superelstico de desexcitao e de ionizao, respectivamente.

    os so definidos como:

    2e

    llll ,,, ISJR so os coeficientes da expanso dos operadores de coliso elstico,

    in

    No caso da componente isotrpica,0

    C , os vrios term

    Operador colisional elstico [Cowling, Allis, Delcroix]

    + ueumumM ee

    +

    turfTk

    turfuueNm

    turR egB

    ece ),,(),,()(

    22),,(

    002

    rrr

    , (2.16a)

    por colises elsticas com e isotrpica da FDE

    ribuio Maxwelliana

    ondeM a massa de cada tomo (ou molcula) do gs; kB a constante de Boltzmann; Tg a

    temperatura do gs em Kelvin; )(uc a seco eficaz de coliso elstica e-n para a

    transferncia da quantidade de movimento e N a densidade do gs neutro. Os dois termos

    deste operador contabilizam, respectivamente, as perdas e os ganhos de energia dos electres

    tender, atravs dessas uma dist temperatura T

    os neutros, e traduz o facto da component

    colises, para g, num

    22

  • 7/25/2019 tese-IST

    31/190

    tempo caracterstico )(1 uvmM e + , onde

    2m c

    e

    ecc meuuNuv /2)()( = a frequncia de

    coliso elstica e-npara a transferncia da quantidade de movimento.

    Operadores colisionais inelstico de excitao/superelstico de desexcitao [Delcroix,

    Ginsburg, Holstein]

    [ ] +++ eqppqepqqppqp turfuutVurfVuVuN

    N

    m

    e

    u

    NturJ ),,()(),,()()(

    2),,( 00

    rrr

    >p pqe

    (2.16b)

    [ ]

    pqp

    epq turfuvturJ,

    11 ),,()(),,( rrrr

    ;

  • 7/25/2019 tese-IST

    34/190

    Com o operador de coliso escrito em funo da energia,

    equao de Boltzmann para os electres (2.11) (2.13) num espao

    conveniente reescrever a

    ,,( urr

    , utilizando a

    renormalizao em energia (2.14) e as expresses (2.16a-f) e (2.17) apresentadas para os

    )t

    operadores colisionais

    ),,(),,(),

    ),,(),(3

    21),,(

    3

    2),,( 110

    turIturSt

    turftrEu

    m

    e

    uuturf

    u

    m

    e

    t

    turfe

    e

    er

    e

    e

    rrrr

    rrrrrrr

    ,(),,( urJturR

    r

    ++

    +

    +=

    ),,()(),(

    ),(2

    ),,(2),,( 1

    00

    1

    turfuvu

    turftrE

    m

    euturf

    m

    eu

    t

    turfe

    eff

    ce

    e

    er

    e

    e rr,

    rrrrr

    rr

    =

    +

    ,

    (2.18a)

    (2.18b)

    com a condio de normalizao

    ).,(),,(0

    trnduuturf ee0 rr =

    (2.18c)

    Da anlise de (2.18b) podem

    de densidade destruda pelas colises electrnicas com uma frequncia veff

    c ,

    a frequncia de relaxao da parte isotrpica (frequncia de relaxao da energia)

    aproximadamente igual a

    os ver que anisotropia criada pelo campo e pelos gradientes

    )(u . Por sua vez

    ++

    p

    I

    p

    pqp

    pq

    pqp

    pq uvuvuv

    M

    )()()(,,

    . Assim,

    excepto em situaes em que as colises inelsticas so dominantes, temos )()( uvuv eeff

    c >> ,

    ento dum equilbrio

    isotr

    onstante no

    tempo (regime DC), podemos simplificar a EBE eliminando todas as dependncias temporais

    ecundrios e tratar a

    a de equaes

    + ce

    e uvm

    uv )(2

    )(

    concluindo-se assim que as colises so mais eficazes no estabelecim

    pico do que um equilbrio termodinmico.

    2.2.1.3Equao de Boltzmann electrnica homognea e estacionria

    O sistema de equaes (2.18a-b) pode ser simplificado em alguns casos especiais.

    Supondo que a nica anisotropia a criada pelo campo e que este uniforme e c

    e espaciais, o que implica tambm ignorar a presena de electres s

    ionizao como um processo inelstico de excitao. Nestas condies, o sistem

    (2.18a-b) reduz-se equao de Boltzmann electrnica homognea e estacionria

    26

  • 7/25/2019 tese-IST

    35/190

    [

    ],)()())()()()()(

    ()()(

    )(3

    2

    uFuuVu

    uFuuVuFVuVu

    VuFVuVu

    duedumMduudu

    d

    N

    E

    eppI

    I

    q

    p

    q

    p pq

    q

    epq

    q

    ppqp

    ec

    +

    +

    +++=

    +

    >

    nde

    ()()(

    )()()

    )()()(

    2)(1 2

    FVuVu

    uFuu

    udFTkuFuu

    dmudFu

    epIppI

    pqepqepqppq

    eppq

    egB

    ecee

    eff

    ++

    +

    +

  • 7/25/2019 tese-IST

    40/190

    enquanto que o termo =

    tt

    n

    col

    1)(

    d conta das transferncias de energia nos

    wdf

    mw r32

    2

    processos colisionais.

    No caso dos electres, o fluxo total de energia Qr

    pode-se escrever numa forma

    semelhante do fluxo de partculas (2.31). Comearemos por assumir que a energia trmica

    uito superior energia dirigida vth m , tendo-se para a energia cintica mdia th ~ .

    Supondo que a presso cintica populao de electres obedece

    a uma distribuio de equilbrio com temperatura Te, tal que

    escalar e isotrpica, e que a

    =3

    2

    e

    Tk eB , o tensor presso

    cintica escreve-se .II~P32 = enp Finalmente, o vector fluxo de energia trmica pode-se

    aproximar pela lei de Fourier =

    rr

    eTKq 32

    , onde eTK o coeficiente electrnico de

    condutividade trmica dado por eeT DnK e )2/5(= [Golant]. O fluxo total de energia escreve-

    e assim [utilizando tambm a equao (2.31)]s

    eeee nDEnD

    nqnPqQ

    =

    +++++rrr

    ee

    eethee

    n

    rrrrrrr

    35

    35

    35

    2()(

    vvv

    ou

    )( = ee nDEn

    3 v

    rrr, (2.34)

    onde e D so respectivamente os coeficientes de mobilidade e de difuso para o

    ansporte de energia mdia dos electres, definidos comotr

    e5

    e3

    eDD3

    5 . (2.35)

    As equaes de transporte (2.27), (2.30) e (2.33) esto escritas em funo das grandezas

    macroscpicas (2.26a-c), do tensor de presso cintica P e do fluxo total de energia Qr

    , no

    formando um conjunto completo e fechado de equaes capaz de descrever o comportamento

    macroscpico dum plasma, de forma auto-consistente. Com efeito, cada uma destas equaes

    encontra-se sempre acoplada equao de momento de ordem superior, pelo que a soluo

    para este problema requer a introduo de condies de fecho adequadas para cada espcie de

    partculas, por exemplo definidas atravs da imposio de hipteses simplificativas nas

    expresses de algumas das grandezas macroscpicas a calcular.

    32

  • 7/25/2019 tese-IST

    41/190

    2.2.2.1Equaes de transporte dos ies

    Os ies, devido sua inrcia, no respondem imediatamente s oscilaes rpidas do

    xplica porque motivo a energia mdia dos ies bastante inferior dos electres. Como por

    bastante eficiente, podemos

    este modo, para descrever o

    transporte dos ies suficien omentos da equao de

    Boltzmann para cada uma das espcies inicas i, o que corresponde s seguintes equaes.

    campo (sendo pouco acelerados por este) o que, combinado com o facto da transferncia de

    energia entre electres e ies ser bastante ineficiente, por causa da diferena de massas,

    e

    outro lado a transferncia de energia entre ies e neutros

    assumir que a funo de distribuio inica (FDI) uma Maxwelliana temperatura do gs,

    i.e, que a energia mdia dos ies igual do gs neutro. D

    te considerar apenas os dois primeiros m

    Equao de continuidade (cf 2.27)

    i

    i St

    n rr=+

    i ,

    (2.36)

    onde iinvrr

    i o fluxo inico e ii vnS i representa a taxa lquida de criao de ies devido

    , c i

    Eq

    Assumindo que os ies na temperatura do

    gs, o seu tensor de presso cintica escreve-se como [Hwang]

    aos diversos processos cinticos no plasma om v a respectiva frequncia lquida de criao.

    uao de transporte da quantidade de movimento (cf 2.30)

    seguem uma funo de distribuio Maxwellia

    Ipwnm == ))(( vv w iiiir vvr

    P ,

    comp =n k T . Substituindo este resultado na equao (2.30) obtemos a equao de transportei i B g

    da quantidade de movimento para os ies

    )()( iciiiiiiiii vvnmpEent

    nm +=

    +

    vvv

    v vrrvrv nii v

    (2.37)

    ( para ies positivos/negativos), ondeni

    cv

    frequncia mdia total de co para a

    transferncia da quantidade de movimento.

    O fluxo inico pode ser escrito na aproximao de deriva e difuso(cf2.31)

    liso i-n

    ii

    eff

    iiii nN

    N

    N

    EnNn =

    rDr

    r (r ))( vi ,

    (2.38)

    33

  • 7/25/2019 tese-IST

    42/190

    onde se introduziu o campo elctrico efectivo effiEr

    par a i, sendo Nia a espcie inic e NDi

    os respectivos coeficientes reduzidos de mobilidade e de difuso. O significado fsico do

    campo eff

    i

    Er

    pode ser entendido derivando (2.38) em ordem ao tempo, assum

    coeficientes de difuso, mobilidade e que o gradiente relativo a densidad variam

    lentam ite escrever

    indo que os

    d e inica

    ente, o que perm

    t

    NEN

    t

    eff

    ii

    i

    )/()(

    rrv

    .(2.39)

    A partir da equao (2.39), conclui-se que effiEr

    define o campo elctrico com o qual a

    espcie inica iest em equilbrio (recorde-se que s ies, devido sua in podemreagir instantaneamente s variaes do campo elctrico externo).

    o rcia, no

    A equao que descreve a evoluo no espao e no tempo de effiEr

    obtm-se, assumindo

    pequenos gradientes relativos de temperatura inica ( iiii nnTT

  • 7/25/2019 tese-IST

    43/190

    plasma que se encontra fora de equilbrio, sendo necessrio calcular a sua funo de

    distribuio resolvendo a correspondente equao de Boltzmann, ou uma aproximao desta

    m a

    es esp de

    densidade ) so pequenas, podemos usar o desenvolvimento a dois termos da FDE (cf 2.10)

    espao das velocidades. Nesse caso, atendendo s relaes de ortogonalidade dos

    polin

    ais adequada ao tratamento numrico. Assumindo que as anisotropias que afectam

    populao electrnica (devido aco do campo elctrico e dos gradient aciais

    no

    mios de Legendre, os valores mdios (2.25) de grandezas istropas (por ex.

    etcmw ,, 2211= ) no espao das velocidades so efectuados apenas sobre a parte isotrpica da

    FDE

    ),(

    ),,(,

    ),(

    ),,(),(

    ),( trn

    duuturfm

    eur

    trn

    dwwtwrfwr

    tr

    e

    ee

    r

    rr

    r

    rr

    r

    0

    20

    2

    4

    =

    ,

    (2.41)

    enquanto que os valores mdios de grandezas proporcionais a wr

    (por ex. wwr rr),(= ), no

    espao das velocidades, seefectuam sobre a primeira anisotropia da FDE

    ),(

    3),,(

    ),(

    3),(

    1

    trn

    duturfm

    trntr

    e

    e

    rr

    = .(2.42)

    Dado que os electres tm uma energia mdia muito superior das restantes espcies

    dade de movimento e da energia [cf. (2.27),

    (2.30)

    mos aqui a aproximao clssica a dois termos da EBE [cf. 2.18 (a)-(b)],

    a sua parte isotrpica contm o respeitante ao balano de partculas e

    potncia electrnicas, en ra a primeira anisotropia permite conhecer o

    ergias

    2,

    24),,(),( 31

    ueur

    m

    edwwtwrfwr

    ee

    rrrrrr

    r

    do pla descrever correctamente o sporte necessrio recorrer s equaes

    de conservao do nmero de partculas, da quanti

    sma, para seu tran

    e (2.33)] do gs de electres, correspondentes aos trs primeiros momentos da EBE.

    Uma vez que adopta

    toda a informa

    quanto que a equao pa

    modo como se processa o transporte dos electres no plasma.

    A equao de continuidade electrnica obtm-se integrando directamente a equao

    para a parte isotrpica [2.18 (a)] no espao das en

    ee

    e St

    n=+

    rr

    ,(2.43)

    nde nvo eerr

    o fluxo electrnico e vnSe iee = a taxa lquida de criao de electres

    devido aos vrios processos cinticos no plasma.

    35

  • 7/25/2019 tese-IST

    44/190

    Para obter o fluxo electrnico vamos assumir a condio de transporte electrnico em

    regime estacionrio

    11

    )( eeff

    ce fuvt

    f rr

  • 7/25/2019 tese-IST

    45/190

    os coeficientes de transp e (2.46) - (2.48), so dados por

    [Alves]

    orte e de reaco, nas equaes (2.43)

    Energia mdia electrnica

    =

    0

    2

    3

    ),,( duuturF r

    ;(2.51)

    Coeficiente de reaco electro-neutro

    = 0 )(),,( uduuturFmN je

    2evj r

    (2.52)

    onde )(uj a seco eficaz de coliso e-n correspondente ao processo reaccional;

    Mobilidade electrnica

    = 0 )(3 duuumN effe ),,(21 turFue

    ce

    r

    ;

    (2.53a)

    Coeficiente de difuso electrnico

    =

    0),,(

    )(

    2

    3

    1duturF

    u

    u

    m

    e

    ND

    eff

    ce

    e

    r

    ;

    (2.53b)

    Mobilidade electrnica para o trans rgiaporte de ene

    =

    2

    2

    3

    ),,(

    ),,(

    3

    duuturF

    du

    turFu

    mN er

    0 )(21 uue eff

    c

    r

    ;

    (2.54a)

    0

    Coeficiente de difuso electrnico para o transporte de energia

    =

    0

    0

    2

    2

    3

    ),,(

    ),,()(2

    3

    1

    duuturF

    duturFu

    u

    m

    e

    ND

    eff

    c

    er

    r

    ,

    (2.54b)

    Coeficiente de dissipao de energia em colises e-n

    +=

    N

    S

    N

    SNnS inelelase

    +=

    0

    2 ),,(),,()(22

    duu

    turF

    e

    TkturFuu

    m

    e

    M

    m

    N

    S gBelas

    e

    eelas

    rr

    ,

    =j

    j

    jinel

    N

    vV

    N

    S

    (2.55)

    onde Vj a energia de excitao do estado neutroj.

    37

  • 7/25/2019 tese-IST

    46/190

    Os parmetros de transporte electrn

    reaco (CRE) (2.5

    icos (PTE) (2.53)-(2.54) e os coeficientes de

    2) e (2.55) desempenham um papel fundamental nas equaes de

    transporte electrnic ica o esf ente os seus perfis

    espaciais e temporais. De facto, ariem significa te

    no espao e no tempo, dada a elevada mobilidade dos electres. O clculo dos seus perfis

    pode

    .

    Uma

    as, o que justif oro em calcular correctam

    de esperar que estes parmetros v tivamen

    ser feito atravs de um cdigo Monte-Carlo multidimensional e dependente do tempo

    [Sommerer 92], acoplado ao modelo fluido, muito embora esta aproximao hbrida seja

    bastante exigente em termos numricos. A fim de evitar a utilizao desta abordagem, os

    coeficientes de transporte foram aqui definidos em termos de uma FDEE, separando-se a

    contribuio da densidade electrnica, mas mantendo a sua dependncia no espao e no

    tempo. O problema resume-se ento determinao da FDEE para calcular os PTE e CRE

    hiptese possvel utilizar uma FDEE Maxwelliana de equilbrio temperatura Te, tal

    que 3

    2=

    e

    Tk eB , obtendo-se no caso especial duma frequncia constante de coliso para a

    transferncia da quantidade de movimento ( eff

    c

    eff

    c vv = ) as seguintes expresses para os PTE

    [cf. (2.32) e (3.35)]

    eff

    ce

    evm

    e

    3

    5

    3

    5 == e eff

    ce

    eBe

    vm

    TkDD

    3

    5

    3

    5 == . (2.56)

    Muitos modelos de descargas [Richards, Bouef, Graves] adoptam verses de equilbrio

    para os parmetros de transporte e respectivos fluxos electrnicos [(2.31)-(2.32), (2.34)-

    (2.35), (2.56)], as quais parecem favorecer a estabilidade e a convergncia numrica desses

    modelos. As consequncias desta aproximao so a eliminao do de difuso trmica

    a perda da descrio dum transporte de no equilbrio, contida nas expresses (2.52)-(2.55).

    O presente modelo foi desenvolvido [Salabas, Salabas 03] para corrigir osconstrangimentos associados verso de equilbrio das equaes de transporte electrnicas.

    Assim, estas equaes foram aqui obtidas calculando os m da EBE (escrita

    FDEE dependente do espao e do tempo. Esta pode ser deduzida resolvendo a EBE

    homognea e estacionria, na sua aproximao a dois termos (2.21)-(2.22) para vrios valores

    de campo elctrico. No entanto, a FDEE assim obtida no fornece de forma explcita uma

    informao de natureza espacio-temporal, pelo que para obviar este problema tm sido usadas

    duas condies de fecho para a cintica electrnica: a aproximao de campo elctrico local

    termo

    (associado aos gradientes de temperatura) das equaes do fluxo de partculas e de energia, e

    aproximao a dois termos), e os PTE e os vrios CRE foram definidos como integrais sobre a

    omentos na sua

    38

  • 7/25/2019 tese-IST

    47/190

    (ACL) e a aproximao de energia mdia local(AEL). A ACLassume que os PTE e CRE,

    calculados numa dada posio rr

    e tempo t, so uma funo exclusiva do campo elctrico

    reduzido local NtrE ),(rr

    , assumindo-se assim que a FDEE em ),( trr

    seria a mesma que

    existiria num campo elctrico reduzido e uniforme igual a NtrE ),(rr

    .Nesta situao de

    equilbrio com o campo elctrico aplicado a energia ganha pelos electres do campo

    dissipada localmente por colises com o gs, o que corresponde a ignorar na equao de

    energia electrnica (2.47) os po

    t

    ne)( e de transporte ( )rr

    termos de derivada no tem .

    Esta ap

    coliso so

    roximao seguramente vlida a altas presses, situao em que as frequncias de

    suficientemente elevadas para justificar um equilbrio local com o campo

    elctrico reduzido, e em regies de descarga caracterizadas por campos uniformes e variando

    lentamente no tempo. Nas bainhas de descargas RF, por exemplo, o campo elctrico no

    uniforme e varia rapidamente no tempo, o que significa que os PTE e os CRE podem no

    estar em equilbrio com esse campo. De facto a ACL conduz a resultados no fsicos nas

    bainhas de descarga levando a um aumento dos PTE e do coeficiente de ionizao nestas

    regies, pelo que muitos autores impem um conjunto de PTE constantes nas bainhas como

    soluo prtica para o problema.

    Na AEL [Nienhuis, Salabas] assume-se que a dependncia espacial e temporal da

    FDEE, bem como dos PTE e CRE, introduzida atravs do valor local da energia mdia

    electrnica, cujo perfil no espao e no tempo obtido resolvendo a equao de energia

    electrnica (2.47), ou seja

    )),(,(),,( truFturF rr= .

    Nesta aproximao, os perfis espacio-temporais dos PTE e CRE podem ser calculados

    da seguinte forma. Em primeiro lugar, a EBE homognea e estacionria [na sua aproximao

    ou mistura gasosa em estudo. Em seguida, os resultados obtidos so usados para construir

    uma tabela com os vrios PTE e CRE em funo da energia mdia electrnica. Finalmente,

    obtm-se o perfil espacial e temporal da energia mdia electrnica a partir das equaes de

    transporte, o qual depois usado para obter

    a dois termos (2.21)-(2.22)] resolvida para diferentes valores de campo elctrico para o gs

    os perfis dos PTE e CRE por interpolao dos

    result

    ra valores muito elevados de energia, violando a aproximao a dois termos.

    Esta limitao pode ser atenuada adoptando uma EBE dependente do tempo, que permite o

    ados da tabela anterior. Apesar de inexacta, esta aproximao permite eliminar as

    variaes no fsicas verificadas com a ACL para os PTE nas bainhas, desde que a EBE no

    seja resolvida pa

    39

  • 7/25/2019 tese-IST

    48/190

    crescimento da densidade electrnica lquida devido ao processo de ionizao [Yoshida] (ver

    sec

    e

    o 2.3.2). Neste caso, a energia de ionizao disponvel distribui-se entre os electres

    difundido e secundrio, com a consequente reduo de intensidade na cauda da funo de

    distribuio e na anisotropia electrnica. Uma alternativa a este procedimento consiste em

    usar a EBE homognea e estacionria para campos elctricos que garantam a condio de

    pequenas anisotropias [(E/N) 10-15

    Vcm2 ou 10 20eV], adoptando-se para energias

    mdias superiores uma Maxwelliana temperatura T, tal que 2

    =Tk eB . O valor de para a

    3e

    dia

    a dos PTE obtid BE cruza os correspondentes PTE

    calcu a Maxwelliana [Salabas 03].

    ara completar a descrio do transporte dos electres falta apenas definir os vrios

    processos cintico o e perda el o 2.3), iro calcular

    os PTE e CRE.

    2.2.2. Implementao do modelo de descarga

    zona do reactor (figura 2.1) q modelizar resume-se ao volume entre os

    elctrodos e a grelha de confinamento latera Dada a simetria do reactor, o domnio de

    simulao pode ser restringido a metade do volume e a uma descrio a duas dimenses, o

    que corresponde ao r relha lateral (r=R) eos elctrodos superior e inferior (z=0 e z=d respectivamente), conforme ilustrado na figura

    2.3. O circuito externo aqui representado pelo condensador de bloqueio CB, que impe o

    t

    nio de simulao

    transio depende do gs ou mistura gasosa, escolhendo-se em geral o valor de energia m

    para o qual a maiori os atravs da E

    lados com

    P

    s de cria ectrnicos (sec os quais permit

    3

    A ue interessa

    l.

    ectngulo delimitado pelo eixo da descarga (r=0), a g

    acoplamen o capacitivo.

    Eixo da

    r = 0 r= 6.2 cm

    descarga

    Grelha deconfinamento

    z= 3.0 cm

    Plasma

    CB

    Elctrodo RFGerador

    RF

    Substrato

    z= 0

    Plasma

    ~

    Figura 2.3 Representao do dom

    40

  • 7/25/2019 tese-IST

    49/190

    2.2.2.3.1 E

    A din na descarga RF descrita pelas respectivas

    equaes de transporte, acopladas com a equao de Poisson e com a equao de balano da

    energia m rtculas escrevem-se em funo de parmetros de

    transporte reduzidos densidade total de gs

    ),(/),(),( zrTkzrpzrN gB= coordenadas cilndricas (r,,z),

    assumindo-se a existncia de simetria azimutal devido a configurao do reactor.

    O trans

    da quantidad

    primeiros mo sua aproximao a dois termos), sendo escritas como

    qua elo

    mica das partculas carregadas

    es do mod

    dia electrnica. Os fluxos de pa

    , calculados em relao

    . As equaes escrevem-se em

    porte lectr descrito usando as equaes de continuidade, transferncia

    e de movimento e balano da ene trnica, obtidas atravs dos trs

    mentos da EBE (na

    dos e es

    rgia mdia elec

    Equao de continuidade [cf. (2.43)]

    e

    eee Szr

    r

    rt

    nzr =

    +

    +

    )(1,

    (2.57)

    onde ),,( tzrqe

    a componente q=r,zdo fluxo electrnico e ),,( tzrSe a taxa

    Fluxo electrnico [cf. (2.46)]

    lquida o de electres.de cria

    [ ]q

    nNN

    nN eeeeeq =))( q , (2.58)

    nde N e ND so os coeficientes reduzidos de mobilidade e difuso

    electrnicos, amente, e ),,)(/( tzrNE a componente q=r,zdo campo

    elctrico reduzido.

    NDE (1

    o e e

    respectiv q

    Equao de balano da energia mdia local [cf. (2.47) e (2.48)]

    SEzrrt

    e

    )(1)(

    zrrne =

    +

    +

    vr,

    (2.59)

    onde ),,( tzrS dia electrnica, por un e

    volume, dissipada em colises elsticas e inelsticas com o gs neutro, eq

    , a

    omponente q=r,zdo fluxo de energia dada por

    representa a taxa de energia m idade d

    c

    [ ]q

    nN e

    = )( q ,nND

    NN

    Ee

    )(1q

    (2.60)

    41

  • 7/25/2019 tese-IST

    50/190

    onde N e D de mobilidade e de difuso

    electrnicos para o tran

    Para o

    respectiva equao de Boltzmann, correspondendo s equaes de continuidade e de

    transferncia

    quao de continuidade [cf. (2.36)]

    N so os coeficientes reduzidos

    sporte de energia.

    trans do s consideram-se apenas os dois primeiros momentos da

    da quantidade de mo s como

    porte s ie

    vimento, escrita

    E

    ii S

    zr

    r

    rt

    n=

    +

    +

    zr ii

    )(1,

    (2.61)

    onde ),,( tzr componente q=r,z do fluxo da espcie inica i e ),,( tzrS qi

    i

    a taxa lquida de criao da espcie inica i.

    Fluxo inico [cf. (2.38) e (2.40)]

    qNNiiiq (2.62)

    onde obilidade e difuso da

    q=r,z do campo elctrico

    efectivo reduzido associado espcie inica i, dado por

    nNDEnN ii

    =

    )()(

    eff

    iq,

    Ni e NDi so os coeficientes reduzidos de m

    espcie inica i, e ),,)(/( tzrNEeff

    iq a componente

    qqzr i

    i

    iiii

    iqni

    c

    i

    N

    v

    zrNNNv vvvv

    mm

    +

    1. (2.63)

    qq

    i

    effeff EE

    t

    NE )/( =

    O tratamento auto-consistente do transporte de partculas carregadas feito acoplando o

    conjunto anterior de equaes de transporte com a equao de Poisson. Esta equao permite

    obter o potencial elctrico, V(r,z,t), no interior da descarga, em funo da diferena de

    potencial externa aplicada entre os elctrodos e da distribuio espacial de partculas

    carregadas no reactor

    =+ en np p nnnezVrVrr 02 , (2.64)r

    2

    1

    42

  • 7/25/2019 tese-IST

    51/190

    onde np a densidade de ies positivos, a densidade de ies negativos e

    permitividade do vcuo. O cam nte nas equaes de transporte (2.57 )

    obtm-se usando a relao )trV(r,z,t)E =

    nn 0 a

    po elctrico prese ) - (2.63

    ,,z(rr

    .

    Para que o problema fique matematicamente bem definido necessrio com o

    sistem

    imulao cor