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7/23/2019 Tese_LigacoesAsnas
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Anlise de ligaes em asnas de madeira
Samuel Amorim Soares
Dissertao para obteno do grau de mestre
Engenharia Civil
Orientador: Prof. Lus Manuel Coelho Guerreiro
Jri
Presidente: Prof. Fernando Manuel Fernandes Simes
Orientador: Prof. Lus Manuel Coelho Guerreiro
Vogais: Prof. Augusto Martins Gomes
Julho 2014
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Resumo
Sendo a reabilitao de estruturas um campo importante nos dias de hoje, necessrio ter omximo de informao da forma como actuam as estruturas mais antigas para conseguir obter
as melhores solues para a reabilitao das mesmas.
Este trabalho faz o estudo da forma de transmisso dos entalhes tradicionais em estruturas de
asnas de madeira com enfse no entalhe simples com um dente e no entalhe com dente
duplo. Este estudo foi efetuado atravs da utilizao do programa de clculo automtico
SAP2000.
O trabalho expe uma breve caracterizao da madeira em termos das suas caractersticas
fsicas e mecnicas. Os diferentes tipos de ligaes usadas em estruturas de madeira tambm
so aboradadas neste trabalho: ligaes tradicionais e ligaes com conectores metlicos.
A compreenso dos modelos estruturais e dos resultados obtidos complementada atravs de
figuras e grficos e, tambm, a comparao de resultados obtidos para as diversas anlises
efectuadas.
Palavras-chave:
Estruturas de madeira, ligaes tradicionais em madeira, entalhe simples com um dente,
entalhe com dente duplo.
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Abstract
The rehabilitation of structures is one of the most importants fields nowadays making it
important to know the way that the older structures act and give the best solutions possible to
their rehabilitation.
This study consists to know the way that traditional joint of roof timber structures act with
emphasis to the birdsmouth joint with a single tooth and the birdsmouth joint with two teeth.
The analysis was done using the automatic calculation program SAP2000.
This paper presents a brief characterization of wood in terms of its physical and mechanical
characteristics. The diferents types of connections used in wood strctures are also refered in
this study: traditional joints and joints with metal connectors.
Figures and charts complement the understanding of the structural models and their results,
doing the comparison of the results for the multiple runs.
Key-words:
Timber structure, traditional timber joints, the birdsmouth joint with a single tooth, the
birdsmouth joint with two teeths.
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Agradecimentos
Em primeiro lugar queria agradecer aos meus pais que sem eles a concluso deste trabalho
nunca poderia ter sido possvel e, tambm, pelo nimo que me foram dando durante este ano.
Ao professor Luis Guerreiro pela disponibilidade demonstrada e da prontido com que sempre
me recebeu para o esclarecimento de qualquer problema.
Um agradecimento tambm ao resto da minha famlia e amigos que me conheceram e que
tive o privilgio de conhecer, no so durante a elaborao deste trabalho mas tambm ao
longo da minha vida acadmica. Uma menso especial ao Pedro que sempre teve uma grande
disponibilidade para ajudar neste percurso acadmico.
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ndice
1. Introduo ............................................................................................................................. 1
1.1. Objetivo da dissertao ................................................................................................. 1
1.2. Organizao da dissertao .......................................................................................... 1
2. Madeira, o material ............................................................................................................... 3
2.1. Estrutura da madeira .................................................................................................... 3
2.1.1. Clulas ................................................................................................................... 4
2.1.2. O plano lenhoso macroscpico ............................................................................. 4
2.2. Tipos de madeira ........................................................................................................... 7
2.2.1. Madeiras Resinosas ............................................................................................... 7
2.2.2. Madeiras Folhosas ................................................................................................. 7
2.3. Propriedades fsicas....................................................................................................... 7
2.3.1. Higroscopia e Humidade ....................................................................................... 7
2.3.2. Densidade .............................................................................................................. 9
2.3.3. Retrao ................................................................................................................ 9
2.3.4. Durabilidade Natural ........................................................................................... 10
2.3.5. Resistncia ao fogo .............................................................................................. 10
2.4. Propriedades mecnicas ............................................................................................. 112.4.1. Valores caractersticos de elasticidade ............................................................... 12
2.4.2. Resistncia compresso longitudinal e transversal s fibras ........................... 13
2.4.3. Resistncia trao ............................................................................................. 14
2.4.4. Resistncia flexo ............................................................................................. 14
2.4.5. Resistncia ao corte ............................................................................................ 14
2.4.6. Fendimento ......................................................................................................... 14
2.4.7. Dureza ................................................................................................................. 15
2.4.8. Fluncia ............................................................................................................... 15
2.4.9. Resistncia Fadiga ............................................................................................ 16
2.4.10. Coeficiente de Poisson ........................................................................................ 17
2.5. Classificao da madeira ............................................................................................. 17
2.5.1. Classificao visual .............................................................................................. 17
2.5.2. Classificao mecnica ........................................................................................ 18
2.5.3. Classes de resistncia .......................................................................................... 18
3. Solues estruturais de cobertura ...................................................................................... 21
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4. Ligaes em estruturas de madeira .................................................................................... 23
4.1. Ligaes tradicionais ................................................................................................... 23
4.2. Ligaes modernas ...................................................................................................... 25
4.2.1. Ligaes por pregagem ....................................................................................... 25
4.2.2. Ligaes por parafusos de porca ......................................................................... 26
4.2.3. Ligaes por parafusos correntes ....................................................................... 26
4.2.4. Ligao por cavilhas............................................................................................. 27
4.2.5. Ligadores de superfcie ........................................................................................ 27
5. Modelos de clculo em entalhes na ligao Linha e Perna de uma asna ........................... 29
5.1. Entalhe simples com um dente ................................................................................... 30
5.2. Entalhe com dente simples posterior ......................................................................... 33
5.3. Entalhe com dente duplo ............................................................................................ 34
6. Modelao e anlise ............................................................................................................ 37
6.1. Introduo ................................................................................................................... 37
6.2. Caractersticas fsicas e geomtricas ........................................................................... 37
6.3. Anlise no linear ........................................................................................................ 42
6.4. Anlise e tratamento de resultados ............................................................................ 42
6.4.1. Entalhe simples ................................................................................................... 43
7. Concluses........................................................................................................................... 60
7.1. Concluses gerais. ....................................................................................................... 60
7.2. Desenvolvimentos futuros .......................................................................................... 60
8. Bibliografia .......................................................................................................................... 62
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ndice de FigurasFigura 1 - Esquema da parede celular de uma madeira resinosa (Core, H. et al., 1979) .............. 4
Figura 2Corte transversal do caule de uma rvore (LNEC E31 1955). ....................................... 5
Figura 3Crescimento anual da rvore do ponto de vista celular. Madeira de vero e
primavera. (Dupraz, P-A., et al. 2009) ........................................................................................... 6
Figura 4Direes principais da madeira. (Simes, A. Et al 2012) .............................................. 6
Figura 5 - Variao dimensional da madeira em funo do teor em gua. (Dupraz, P-A., et al.
2009) ............................................................................................................................................. 8
Figura 6Seco de uma viga de madeira lamelada colada, exposta ao fogo durante 30
minutos. (Pinto, E. 2004) ............................................................................................................. 11
Figura 7 - Relao entre o tempo de atuao das cargas e a resistncia (Mateus, T. 1978) ...... 12
Figura 8 - Diagrama tenso/deformao para madeiras resinosas submetidas a esforos de
trao e de compresso paralelas s fibras. (Natterer, J., et al 1983) ........................................ 13
Figura 9. Esforos de compresso longitudinais, localizadas e transversais em relao s fibras.
(Natterer, J., et al 1983) .............................................................................................................. 13Figura 10Deformaes em funo do tempo em dias. (Natterer, J., et al, 1983) ................... 15
Figura 11 - (a) Diagrama da carga em relao ao tempo; (b) Comportamento viscoelstico sob
carga constante. (Melo, R. & Menezzi, C., 2010) ....................................................................... 16
Figura 12Tipologia mais frequente de asnas de madeira (Branco, Santos, & Cruz 2010). ..... 21
Figura 13Ligao por respiga e mecha. ................................................................................... 24
Figura 14Entalhe em asnas de madeira. a) Dente simples anterior b) Dente simples posterior
c) Dente duplo (CECOBOIS 2012) ................................................................................................ 24
Figura 15Pregos Correntes. (Mendes, P.,1994) ....................................................................... 25
Figura 16Parafusos de porca. (Mendes, P.,1994) .................................................................... 26
Figura 17Parafusos correntes. (Mendes, P.,1994) .................................................................. 26
Figura 18Exemplo de ligao tipo cavilha. (ITABOLT) ............................................................. 27
Figura 19Pormenor de barras de perfil retangular e perfil T. (Mendes, P.,1994) ................... 28
Figura 20Esquema tradicional de ferragens para asnas de madeira. (Costa, F., 1955) .......... 28
Figura 21Tenso de compresso com um determinado ngulo em relao ao fio. (EN1995-1-
1, 2004) ....................................................................................................................................... 29
Figura 22Geometria e foras que atuam num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004) ...... 30
Figura 23Variao da transmisso das foras num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004)
..................................................................................................................................................... 31
Figura 24Decomposio do esforo de compresso N. (Natterer, J., et al 2004) ................... 32Figura 25Largura da perna para o entalhe simples. (CECOBOIS 2012) ................................... 33
Figura 26Geometria e foras atuantes num entalhe com dente posterior. (Natterer, J., et al
2004) ........................................................................................................................................... 33
Figura 27Espaamento necessrio para que no exista fissurao devido retraco.
(Natterer, J., et al 2004) .............................................................................................................. 34
Figura 28Geometria e foras atuantes num entalhe com dente duplo. (Natterer, J., et al
2004) ........................................................................................................................................... 35
Figura 29Modelao do entalhe simples com um dente = 30 , v = 0.15........................... 38
Figura 30Modelao do entalhe com dente duplo = 30 , v = 0.15.................................... 39
Figura 31Pormenorizao do entalhe simplesSobreposio dos ns na superfcie deligao dos elementos. ................................................................................................................ 39
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Figura 32Pormonerizao do entalhe duploSobreposio dos ns na superfcie de ligao
dos elementos. ............................................................................................................................ 40
Figura 33Caractersticas das ligaes na juno da perna linha. Entalhe com um dente. ... 41
Figura 34Caractersticas das ligaes na juno da perna linha. Entalhe duplo. ................. 41
Figura 35Apoios existentes na modelao da asna................................................................. 41
Figura 36 - Anlise no linearFora aplicada em funo do tempo. ....................................... 42
Figura 37Tenses S11 do entalhe simples com um dente, ngulo de 30.............................. 43
Figura 38 - Fora actuante em funo do ngulo. ...................................................................... 44
Figura 39Notao utilizada para as superfcies de contacto ................................................... 45
Figura 40 - Fora actuante em funa do ngulocalculado atravs da resultante de tenses.
..................................................................................................................................................... 45
Figura 41Diagrama das foras atuantes. ................................................................................. 46
Figura 42Diagrama das componentes das foras a atuar nas superfcies. ............................. 47
Figura 43Localizao dos apoios verticas para o entalhe de 40 a) com = 10 cm b) com =
30 cm. .......................................................................................................................................... 48Figura 44 - Numerao dos elementos finitos, dos ns e eixos dos elementos, para o entalhe
simples de 40............................................................................................................................. 49
Figura 45 - Numerao dos elementos finitos, dos ns e eixos dos elementos, para o entalhe
simples de 30............................................................................................................................. 49
Figura 46 - Tenses na direo 1 ao longo do entalhe simples de 40....................................... 50
Figura 47 - Tenses na direo 2 ao longo do entalhe simples de 40....................................... 50
Figura 48 - Tenses na direo 1 ao longo do entalhe simples de 30....................................... 51
Figura 49 - Notao utilizada para as foras transmitidas em cada superfcie. .......................... 51
Figura 50 - Fora actuante em funo do ngulo ....................................................................... 52
Figura 51a) Entalhe de 30 sem nenhum corte na parte traseira do entalhe. b) Entalhe de 25com aponta mais espessa do que a restante pea ..................................................................... 53
Figura 52 - Fora atuante em funo do ngulo. ........................................................................ 54
Figura 53 - Numerao dos elementos finitos, dos ns e eixos dos elementos, para o entalhe
duplo de 45................................................................................................................................ 55
Figura 54 - Numerao dos elementos finitos, dos ns e eixos dos elementos, para o entalhe
duplo de 30................................................................................................................................ 56
Figura 55 - Tenses na direo 1 ao longo do entalhe duplo de 45.......................................... 56
Figura 56 - Tenses na direo 2 ao longo do entalhe duplo de 45.......................................... 57
Figura 57 - Tenses na direo 1 ao longo do entalhe duplo de 30.......................................... 58
Figura 58 - Tenses na direo 2 ao longo do entalhe duplo de 30.......................................... 59
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Tabela 1Classe de resistncia e valores caractersticos segundo a norma EN 388. Espcies
resinosas e folhosas. ................................................................................................................... 19
Tabela 2Classe de Qualidade e Classe de resistncia para algumas espcies de madeira.
(LNEC M1, 1997) .......................................................................................................................... 19
Tabela 3Caractersticas fsicas da madeira utilizada na modelao........................................ 37
Tabela 4Caractersticas geomtricas dos elementos constituintes do entalhe. ..................... 37
Tabela 5Profundidades e comprimento nos diferentes tipos de entalhe............................ 38
Tabela 6Caractersticas das ligaes entre a perna e a linha. ................................................. 40
Tabela 7Fora transmitida por cada superfcies de corte do entalhe ..................................... 44
Tabela 8Comprimento das superfcies de contacto. ............................................................... 44
Tabela 9Fora transmitida por cada superfcie de contactoCalculado atravs da resultante
de tenses ................................................................................................................................... 45
Tabela 10Percentagem da fora absorvida por parte das superfcies do entalhe .................. 47
Tabela 11 - Numerao dos nos para a Figura 46, Figura 47 e Figura 48 ................................... 49
Tabela 12Fora transmitida por cada superfcie de contacto. ................................................ 52Tabela 13Comprimento das superfcies de contacto. ............................................................. 52
Tabela 14Fora transmitida por cada superfcie de contatocalculado a partir da resultante
de tenses. .................................................................................................................................. 53
Tabela 15Percentagem da componente vertical absorvida por parte de cada superfcie do
entalhe duplo. ............................................................................................................................. 55
Tabela 16Percentagem da componente horizontal absorvida por parte de cada superfcie do
entalhe duplo. ............................................................................................................................. 55
Tabela 17Numerao dos nos para os grficos 10 e 11. ......................................................... 58
Tabela 18Comparao das foras atuantes na superfcie para o modelo e pelas equaes
existentes na literatura atual. ..................................................................................................... 60
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1. Introduo
A madeira surge como um dos recursos naturais mais usado pelo homem devido sua
disponibilidade para a construo de diversos elementos, desde mobilirio a edifcios. Desdeos primrdios, a madeira sempre foi muito utilizada pelo Homem, marcando a sua presena
em grande parte do patrimnio nacional e mundial.
Em Portugal, grande parte dos edifcios antigos constituda por asnas de madeira. Desta
forma, o interesse para o maior conhecimento estrutural deste tipo de elementos seja elevado
para se conseguir efetuar a reabilitao e a conservao de edifcios da melhor forma.
J existiu uma grande evoluo no que diz respeito s ligaes usadas comeando por ligaes
mais tradicionais como entalhes, at utilizao de conectores metlicos. Nesta dissertao
ser estudada a forma de funcionamento dos entalhes mais tradicionais usados na construode asnas de madeira, focando principalmente o entalhe tradicional com dente simples e com
dente duplo.
1.1. Objetivo da dissertao
As asnas de madeira j caram em desuso nas construes novas, mas mantm uma grande
presena nas construes antigas. Estando-se numa poca em que as remodelaes de
edifcios se apresentam cada vez mais importantes, a relevncia de ter informao detalhada a
propsito deste tipo de estrutura elevada.
As ligaes por entalhe vo estar no centro do estudo desta dissertao. Estas so as ligaes
mais elementares das asnas de madeira e so compostas por diversos tipos, sendo as mais
usadas o entalhe simples com um dente e o entalhe com dente duplo. A informao existente
sobre o entalhe duplo no de grande pormenorizao. Esta falta de informao deve-se,
sobretudo, como j se referiu anteriormente, falta de uso destes tipos de ligaes nas
construes novas. Portanto o estudo do trabalho vai se focar na forma como este tipo de
entalhe funciona, em termos de transmisso das foras de compresso existentes.
1.2. Organizao da dissertao
O trabalho est dividido em 7 captulos de forma a obter uma estruturao adequada para
uma mais fcil compreenso.
No primeiro captulo feita a introduo do trabalho, delineando todos os objetivos a atingir e
a sua respetiva organizao.
No segundo captulo feita a abordagem geral s propriedades e caractersticas da madeira,
comeando pela caracterizao da sua estrutura e dos diferentes tipos de madeira existente.
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Tambm so mencionadas as propriedades fsicas da madeira, em termos de higroscopia,
densidade, retrao, durabilidade e resistncia ao fogo. Quanto s propriedades mecnicas
referem-se os valores caractersticos de elasticidade, de resistncia compresso, trao,
flexo e corte. O fendimento, a dureza, a fluncia, a resistncia fadiga e o coeficiente de
Poisson so igualmente propriedades mecnicas apontadas neste trabalho. A madeira sendo
um material orgnico apresenta caractersticas que variam de rvore para rvore, por essa
razo tambm so abordadas os tipos de classificaes existentes para a categorizao do
material.
No captulo 3 so abordadas as solues estruturais existentes de coberturas em madeira,
focalizando-se mais nas asnas.
No captulo 4 feita uma caracterizao de vrios tipos de ligaes existentes em estruturas
de madeira comeando pelo mais elementar at s mais contemporneas. As ligaes por
pregagem, parafusos, cavilhas e ligadores de superfcie so abordadas neste trabalho.
No captulo 5 feita a abordagem terica dos modelos de clculo j existentes para o entalhe
simples com um dente, o entalhe com dente simples posterior e pelo entalhe com dente
duplo.
No captulo 6 referida a modelao efetuada e a respetiva anlise. So referidos os passos
realizados para a modelao dos entalhes, so mencionadas as caractersticas fsicas e
geomtricas utilizadas para os entalhes e o tipo de anlise efetuada. Neste captulo tambm
est exposta a discusso dos resultados das anlises efetuadas.
No captulo 7 so efetuadas algumas consideraes finais, apresentando as concluses sobre
os resultados obtidos e os possveis desenvolvimentos que podem ser efetuados no futuro.
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2. Madeira, o material
A madeira surge como um dos nicos materiais existentes com origem viva e renovvel. A
energia necessria sua elaborao provm unicamente do Sol. Sendo um material
proveniente da rvore, este tem caractersticas particulares de durabilidade e de
comportamento, sendo necessrio conhec-lo de maneira exaustiva para ser utilizado em
construes de forma adequada.
Este captulo no tem por objetivo oferecer uma viso exaustiva das caractersticas fsicas e
mecnicas da madeira mas unicamente para oferecer bases de compreenso suficientes para a
aplicao deste material em construes.
2.1.
Estrutura da madeira
A madeira apresenta-se como um material orgnico com uma estrutura qumica baseada em
carbono. De facto, a primeira fonte de energia dos seres vivos provm da energia luminosa
proveniente do sol que transformada pelas folhas das rvores em glucose, atravs do
processo de fotossntese. Este processo ocorre dentro da prpria folha graas a clorofila que
se encontra na mesma. Este elemento capta a radiao luminosa do sol transformando-a em
energia qumica que desencadeia o crescimento da rvore.
Esta reao implica os seguintes elementos:
Dixido de carbono (CO2), que se encontra no ar;
gua (H2O), obtido no solo;
Energia luminosa fornecida pelo sol ();
A expresso da fotossntese a seguinte:
6CO2+ 6H2O + C6H12O6+ 6O2
Os glcidos gerados so seguidamente decompostos durante o processo de respirao celular
permitindo liberar a energia da ligao celular.
A diferena entre a energia produzida pela fotossntese e a que se perde durante o processo
de respirao utilizada para formar a parede da clula, sendo esta composta principalmente
por celulose que um derivado da glucose (C6H12O6). A celulose um dos compostos
essenciais da matria lenhosa influenciando as propriedades mecnicas desta (Dupraz, P-A., et
al. 2009).
A celulose e a hemicelulose encontram-se na madeira sob a forma de fibras, orientadas
longitudinalmente, constitudas por cadeias moleculares tridimensionais, conferindo madeira
boa resistncia trao e compresso axial. Outro dos constituintes das paredes celulares
a lenhina que o ligante para assegurar a rigidez transversal s fibras.
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2.1.1. Clulas
A madeira um conjunto de tecidos de origem secundrio, constitudos por diferentes tipos
de clulas. Algumas dessas clulas esto presentes em todas as espcies enquanto outras so
especficas a uma famlia. Estas clulas assumem vrias funes tais como o transporte deseiva, a resistncia ou a proteo contra agentes externos. A resistncia do material a funo
mais importante a estudar, de ponto de vista construtivo, e ser esta que ser analisada. A
resistncia oferecida por este material o feito da parede celular.
Os diferentes elementos constituintes da parede celular so os seguintes:
Uma camada intercelular: camada que cimenta as clulas
Uma parede primria: parede muito fina que se localiza contra a camada intercelular,
constituda por microfibras de celulose.
Uma parede secundria.
A parede secundria densa e rgida, e contm uma forte proporo de celulose. Esta se
subdivide em trs camadas S1, S2 e S3 (Figura 1). As camadas S1 e S3 funcionam como reforo
da camada S2, sendo esta a que representa a maior percentagem da espessura total da parede
celular, constituda por microfibras de celulose densas.
Figura 1 - Esquema da parede celular de uma madeira resinosa (Core, H. et al., 1979)
Estas trs camadas permitem reduzir a anisotropia da parede da clula.
2.1.2. O plano lenhoso macroscpico
Do ponto de vista macromolecular distinguem-se vrias zonas dentro do corte transversal da
rvore, sendo os seus principais constituintes a raiz, o tronco e a copa. No tronco encontra-se
para alm da madeira utilizada nas construes, o nico grupo de clulas que tem a faculdade
de se separar. Estas clulas dividem-se na direo radial para aumentar de dimetro e na
direo tangencial para assegurar o crescimento da circunferncia. Estas clulas dividem-se
para o exterior para formar a casca e para o interior para formar o lenho. Na parte exterior, a
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casca subdivide-se em duas camadas, o lber ou entrecasco, constitudo por clulas vivas com a
funo de proteger o lenho e efetuar o transporte de seiva para o crescimento da rvore e, a
camada epidrmica ou ritidoma, constituda por clulas mortas com funo de proteo do
lenho.
O lenho por sua vez constitudo pelo borne e pelo cerne. O borne situa-se na parte exteriordo lenho correspondendo madeira mais jovem da rvore e constitudo por clulas vivas
com funo condutora da seiva bruta por ascenso capilar, desde a raiz at copa. Quanto ao
cerne, este assegura a manuteno da rvore e constitudo por clulas mortas que por vezes
se carregam de substncias como resinas ou taninos que protegem a madeira contra agresses
de micro organismos.
Figura 2Corte transversal do caule de uma rvore (LNEC E31 1955).
A medula a parte central do tronco e composta por tecido sem qualquer resistncia
mecnica e durabilidade.
O cmbio tem como funo gerar novas clulas, sendo constitudo pelo tecido merismtico
que est em permanente transformao celular. Deste modo, a atividade do meristema lbero-
lenhoso responsvel pelo engrossamento e transformao do lber e do borne onde sero
visveis os anis de crescimento anual resultantes deste processo.
Por fim, os raios medulares ligam todas as camadas entre si e tm como funo transportar a
seiva transversalmente e armazenar as substncias nutritivas. Estes se estendem radialmente
e de forma perpendicular ao eixo do tronco. Tambm so importantes para a classificao da
madeira e para as suas propriedades, contribuindo para a rigidez da estrutura do tronco. Osraios medulares so constitudos por tecido laminar que mais brando do que a restante
madeira. Estes podem provocar o enfraquecimento da madeira, criando zonas de menor
resistncia quando submetida a cargas, podendo originar fendas e deslocamentos transversais
capazes de provocar roturas.
Observando a seco do lenho atestam-se os anis de crescimento anual, que resultam do
crescimento transversal atravs da adio de novas camadas concntricas e perifricas devido
ao do meristema lbero-lenhoso. Na primavera, com a retoma da vegetao, necessrio
um transporte importante de seiva, tendo-se assim uma madeira com cor mais clara e clulas
longas, de paredes finas e com escassez de fibras. Durante o vero, esta necessidade reduzida e observa-se a formao de clulas estreitas de paredes grossas, aumentando a
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quantidade de fibras e diminuindo a quantidade de vasos. Desta forma, o lenho de primavera
forma-se mais rapidamente que o lenho de vero. De referir que a largura e distino dos
anis de crescimento varia consoante as diferentes espcies de madeira e, dentro da mesma
espcie, depende da altura da rvore e das condies em que esta est exposta. Tambm
influenciado por fatores ambientais e climticos.
Figura 3Crescimento anual da rvore do ponto de vista celular. Madeira de vero e primavera. (Dupraz, P-A., etal. 2009)
Para alm de registarem a idade da rvore, os anis de crescimento do informao para a
considerao e estudo de anisotropia de madeira. O plano lenhoso , assim, analisado segundo
trs seces ortogonais. As direes consideradas so (Figura 4):
- Direo tangencial, direo transversal tangencial aos anis de crescimento;
- Direo radial, direo transversal radial dos anis de crescimento:
- Direo axial, no sentido das fibras, longitudinal em relao ao tronco.
Figura 4Direes principais da madeira. (Simes, A. Et al 2012)
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7
A anlise de uma amostra de madeira segundo estes trs planos permite a identificao da
madeira.
2.2. Tipos de madeira
A madeira divide-se em dois grupos botnicos consoante a sua estrutura atmica: as
Gimnosprmicas - mais conhecidas por resinosas ou madeiras brandas - e as Angiosprmicas
geralmente denominadas por folhosas ou madeiras duras.
2.2.1. Madeiras Resinosas
As madeiras resinosas surgiram antes das madeiras folhosas na histria fitogentica tendo
assim uma estrutura menos evoluda. As resinosas apresentam um crescimento rpido, que
resulta numa baixa densidade e uma baixa resistncia, sendo possvel cortar este tipo de
rvores aps 30 anos. Apresentam fracas qualidades naturais de durabilidade, a no ser que
sejam tratadas com conservantes, mas so economicamente mais acessveis por estarem
sempre disponveis no mercado (Porteous & Kermani 2007). Alguns exemplos de madeiras
brandas so o pinheiro bravo, cipreste ou o pinheiro branco.
2.2.2. Madeiras Folhosas
Como j se referiu as madeiras folhosas so mais recentes que as resinosas. Assim, estas
madeiras apresentam uma estrutura mais complexa tendo um crescimento lento que oferece
madeiras de maior densidade e com melhores capacidades resistentes. Nalguns casos amadeira atinge a maturao aps 100 anos, tendo assim caractersticas naturais que
beneficiam a sua durabilidade, mas, como seria de esperar, so mais dispendiosas do que as
resinosas com realce no custo de transporte por serem, na maioria, tropicais (Porteous &
Kermani 2007). Alguns exemplos de espcies de madeiras folhosas so a garapa, tatajuba ou o
carvalho.
2.3. Propriedades fsicas
Pelo facto de existir uma grande variedade de espcies de madeira torna-se necessrioconhecer as propriedades fsicas e a resistncia a solicitaes mecnicas da mesma, para que a
escolha da madeira se faa em conformidade com os requisitos de segurana e economia.
2.3.1. Higroscopia e Humidade
Como todos os materiais linho-celulsicos, a madeira um material higroscpico, ou seja, a
madeira sensvel s variaes atmosfricas (humidade e temperatura), e o seu teor em gua
muda sobre o efeito da absoro para atingir um estado de equilbrio com o ambiente. O teor
em gua da madeira (u) exprimido quantitativamente como a percentagem de massa de
gua presente na madeira, dividida pela massa da matria seca:
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=
100
(2-1)
Onde corresponde madeira hmida e massa da madeira anidra.
As flutuaes do teor em gua podem causar variaes dimensionais denominadas
inchamento e retrao consoante a existncia de aumento ou diminuio de volume
respetivamente. (Natterer, J., et al 2004)
Figura 5 - Variao dimensional da madeira em funo do teor em gua. (Dupraz, P-A., et al. 2009)
Quanto maior a humidade existente na madeira menor a sua resistncia mecnica at chegar
ao ponto de saturao das fibras. Para teores em gua iguais ou superiores a 30%,
correspondente ao ponto de saturao das fibras, verifica-se que a resistncia mantem-se
praticamente constante.
A variao de volume durante a variao do teor em gua inversamente proporcional
porosidade. Isto , as variaes dimensionais so mais importante quanto mais densa for a
madeira.
Falta referir de que forma a gua est presente na madeira. Esta est presente sob trs formas
diferentes: gua livre, gua de constituio e gua de impregnao. A gua livre ou gua
capilar encontra-se nas cavidades celulares e expulsa com relativa facilidade por secagemnatural ao ar, no causando variao dimensional dos elementos de madeira. A gua de
constituio encontra-se combinada com alguns componentes de matria lenhosa que se
encontra integrada, fazendo com que, s possa ser eliminada quando a estrutura molecular
eliminada. A gua de impregnao preenche os espaos entre as paredes das clulas, ligando-
se a estas por pontes de hidrognio e foras de Van der Walls, requerendo uma maior
energia para a sua libertao. Esta libertao provoca uma alterao no volume da pea
consoante o grau de humidade.
Aps o abate da rvore a gua livre sai de forma rpida, diminuindo drasticamente o teor em
gua da madeira at atingir o ponto de saturao. A gua livre altera os valores de massavolmica de madeira mas no influncia as suas propriedades fsicas e mecnicas.
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2.3.2. Densidade
A densidade uma das principais caractersticas fsicas da madeira pelo facto de condicionar a
maioria das propriedades mecnicas da mesma .
A densidade bsica da madeira definida como a massa volmica especfica convencional
obtida pela diviso entre a massa volmica seca e o seu volume saturado:
=
(2-2)
A densidade aparente estabelecida para um padro de humidade de 12%, sendo o resultado
entre o quociente entre a massa e o volume de madeira sujeito humidade padro. A
densidade aparente considerada em termos de massa especfica aparente, ou seja,
considerando um volume aparente em que no deduzido o volume compreendido pelosporos, como se pode observar na seguinte expresso:
=
(2-3)
Existe uma correlao entre a densidade e a resistncia mecnica, as madeiras pesadas so
geralmente mais resistentes. No entanto essa correlao no to linear devido grande
heterogeneidade e diversidade de espcies de madeira.
Em espcies de madeira idnticas tambm existe flutuaes em relao massa volmicadevido a diversos fatores. Um destes aspetos a velocidade de crescimento da rvore que
depende da altitude e da posio da rvore no seu meio que influenciado pela luminosidade
e evapotranspirao (Dupraz, P-A., et al. 2009)
Algumas propriedades fsicas e tecnolgicas essenciais da madeira esto condicionadas pela
sua massa volmica, sendo esta muitas vezes suficiente para determinar qual a madeira que
est apta para ser utilizada para uma determinada funo. (Natterer, J., et al. 1983).
2.3.3. Retrao
A retrao caracteriza-se pela reduo das dimenses de uma pea de madeira originada pela
sada da gua de impregnao. Como a madeira heterognea e ortotrpica, no apresenta os
mesmos valores de retrao nas trs direes principais (axial, tangencial e radial).
A retrao axial proporciona uma variao dimensional da ordem de 0,5%, enquanto a
retrao radial e tangencial podem apresentar variaes dimensionais nos valores de 6% e
10% respetivamente. As duas ltimas podem provocar problemas de fendilhao ou de toro
nas peas de madeira. O comportamento ortotrpico acontece pela existncia do lenho de
primavera e de vero em cada anel de crescimento. Como o lenho de vero apresenta paredes
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celulares muito mais espessas, os movimentos de expenso e de contrao deste so muito
superiores aos do lenho inicial.
As alteraes dimensionais ocorrem quando a humidade da madeira varia abaixo do ponto de
saturao das fibras. Tambm pode ocorrer expanso quando a madeira encontra-se em
condies de alta humidade, pois, em vez de esta libertar gua, incha por absoro de gua.(Szcs, C.A., et al 2008).
2.3.4. Durabilidade Natural
A durabilidade da madeira, em relao aos ataques provocados por agentes biolgicos,
depende da espcie e das caractersticas anatmicas. A durabilidade duma pea de madeira
tambm depende da regio do tronco onde a madeira foi extrada. Como referido
anteriormente o cerne e o borne apresentam caractersticas diferentes, sendo este ltimo
mais vulnervel aos ataques biolgicos por ser mais exterior. Para a existncia de degradaesbiolgicas na madeira necessrio que haja presena de gua e presena suficiente de
oxignio. Portanto a madeira que esteja protegida de intempries ou totalmente submersa
pode resistir s agresses durante sculos. (Dupraz, P-A., et al. 2009) Assim, a durabilidade da
madeira pode ser melhorada atravs de tratamentos, alcanando-se nveis superiores de
durabilidade, prximo dos apresentados pela espcie sem ter sofrido alteraes.
2.3.5. Resistncia ao fogo
Materiais combustveis como a madeira queimam na superfcie, libertando energia
contribuindo para a propagao do fogo e o desenvolvimento de fumo em caso de incndio.
Portanto uma das condies principais para efetuar estruturas em madeira uma segurana
adequada ao fogo. No entanto, as estruturas de madeira bem dimensionadas conferem
estrutura global uma resistncia ao fogo superior de outros materiais. Como j referido, a
madeira propaga o fogo com facilidade mas, aps algum tempo, a camada exterior carboniza
isolando assim o resto do material. Assim, esta camada retm o calor e auxilia na conteno do
incndio (Martins, T. 2010). Debaixo da camada carbonizada encontra-se a pirlise com cerca
de 5 mm de espessura. Esta camada alterada mas no completamente decomposta. A
restante parte interior do material mantm as capacidades mecnicas originais contribuindo
para a resistncia da estrutura.
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Figura 6Seco de uma viga de madeira lamelada colada, exposta ao fogo durante 30 minutos. (Pinto, E. 2004)
Percebe-se assim que o fogo degrada a resistncia da madeira pela diminuio da seco
estrutural e no pela diminuio das propriedades mecnicas da mesma tal como sucede no
ao. Uma estrutura metlica no gera uma reao inflamvel quando expostas a temperaturas
superiores a 500C, mas perde a sua resistncia mecnica em cerca de 10 minutos (Szcs, C.A.,et al, 2008).
A densidade interfere na reao da madeira ao fogo apresentando uma menor velocidade de
combusto quando a densidade maior. O teor em gua tambm influencia o processo de
combusto, porque quanto maior o contedo de humidade existente na madeira, menor o
seu poder de combusto. Isto deve-se ao processo de evaporao da gua que absorve
energia de combusto (Quirino, W. Et al 2005).
Pelo facto da madeira existente nas estruturas apresentar um baixo teor em gua, esta
propriedade j no to relevante neste contexto.
2.4. Propriedades mecnicas
A madeira como material natural apresenta propriedades mecnicas interessantes. Por esta
ser constituda por fibras e por ser porosa apresenta uma boa relao entre a massa volmica
e a resistncia, permitindo elaborar estruturas ligeiras que permitem vencer grandes vos. A
resistncia da madeira funo da espcie florestal e da qualidade das peas, avaliada de
forma objetiva pelo tipo e dimenso mxima dos defeitos presentes. A resistncia de uma
estrutura de madeira tambm afetada pelo seu teor em gua e pelo tempo de atuao das
aes e da direo das mesmas. Como j se referiu anteriormente, a resistncia mecnica
inversamente proporcional ao teor em gua da madeira para valores abaixo do ponto de
saturao das fibras.
O tempo de atuao das cargas reduz a resistncia da madeira como se verifica naFigura 7,
demonstrando que a aplicao de tenses elevadas situadas abaixo da tenso de rotura
poder conduzir ruina da estrutura ao fim de um perodo mais ou menos longo. Deste modo,
estruturas temporrias podero ser dimensionadas assumindo resistncias de clculo mais
elevadas do que no caso de estruturas permanentes.
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Figura 7 - Relao entre o tempo de atuao das cargas e a resistncia (Mateus, T. 1978)
2.4.1. Valores caractersticos de elasticidade
A madeira trata-se de um material fibroso portanto a sua resistncia depende da direo da
carga. Quando a madeira submetida a uma carga aplicada no sentido das fibras, esta tem,
at uma determinada carga, um comportamento quase elstico. Ao ultrapassar o limite de
elasticidade, ocorrem deformaes plsticas importantes que aumentam progressivamente
at rotura (Natterer, J., et al 1983). Pelo facto de a madeira ser composta por um esqueleto
de cadeias de molculas de celulose esta, quando solicitada trao, apresenta uma
resistncia superior do que quando solicitada compresso tendo uma rotura frgil. Esta
rotura acontece pelo rasgo das ligaes que advm de maneira brusca. Quando solicitada
compresso o comportamento praticamente linear at ao valor mximo de resistncia,
tendo uma rotura dctil que ocorre por encurvadura de algumas fibras que originam um plano
de corte (Correia, E, 2009).
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Figura 8 - Diagrama tenso/deformao para madeiras resinosas submetidas a esforos de trao e decompresso paralelas s fibras. (Natterer, J., et al 1983)
2.4.2. Resistncia compresso longitudinal e transversal s fibras
A resistncia compresso longitudinal das madeiras resinosas encontra-se, segundo as
caractersticas de crescimento destas, entre 30 e 90 N/mm2 (Natterer, J., et al 1983). A
compresso transversal a mais desfavorvel apresentando intervalos de resistncia entre 1
20 N/mm2 (Martins, T., 2010). A resistncia melhor quando a compresso localizada, por
exemplo, no caso de uma travessa em que as duas extremidades so contnuas. Os vrios tipos
de compresso podem ser observados naFigura 9.
Figura 9. Esforos de compresso longitudinais, localizadas e transversais em relao s fibras. (Natterer, J., et al1983)
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2.4.3. Resistncia trao
A resistncia trao de madeira com fibras direitas e sem nspode ser 22,5 vezes superior
resistncia compresso, isto , 60 a 150 N/mm 2 para as madeiras resinosas. De referir
tambm que a resistncia trao menos influenciada pela humidade da madeira do que aresistncia compresso. (Natterer, J., et al. 1983)
A resistncia trao transversal pode atingir 1,5 a 4,0 N/mm 2 em pequenas peas sem
defeitos. No entanto, esta resistncia praticamente reduzida a zero em madeiras de grande
seco devido s inevitveis fendas de retrao. Isto justifica-se, tambm, pelo escasso
nmero de fibras que a madeira possui na direo perpendicular ao eixo das rvores, e
consequentemente, pela falta de travamento transversal das fibras longitudinais e a debilidade
das ligaes intercelulares transversais. (Natterer, J., et al. 1983)
O comprimento das clulas relaciona-se com a resistncia trao axial da madeira. Asmadeiras cujas clulas so mais alongadas beneficiam de maior resistncia trao axial. Tal
facto pode ser explicado luz do arranjo microfibrilar que se obtm em clulas mais
alongadas.
2.4.4. Resistncia flexo
A resistncia da madeira flexo mais baixa do que os metais, mas mais elevada do que a
maioria dos restantes materiais no metlicos. Por exemplo, para o pinheiro bravo a
resistncia flexo esttica cerca de 140 N/mm2, sendo esta a tenso normal resultante da
flexo, atingindo valores prximos da resistncia trao longitudinal (Correia, E., 2009). Tal
como na resistncia compresso, a resistncia flexo influenciada pela massa volmica e
humidade da madeira e, tal como a resistncia trao, fortemente influenciada pela
direo das fibras e da quantidade de ns.
2.4.5. Resistncia ao corte
As tenses de corte podem existir no plano longitudinal e no plano transversal. O esforo
transverso provoca tenses tangenciais paralelas s fibras, sendo estas produzidas sobretudo
nas ligaes por entalhe de respiga e mecha, que ser abordada posteriormente.Paralelamente s fibras, a resistncia ao corte atinge unicamente 1/8 a 1/10 da resistncia
compresso; perpendicularmente s fibras, esta mais elevada, mas tendo em conta a fraca
resistncia compresso transversal, esta no tem praticamente nenhuma importncia.
2.4.6. Fendimento
O fendimento uma caracterstica tpica dos materiais fibrosos. Esta traduz a coeso ou
resistncia da madeira ao deslocamento entre fibras. A resistncia da madeira ao fendimento
axial baixa, rasgando-se assim com mais facilidade nessa direo. A resistncia ao
fendimento diferente para diferentes espcies de madeira. As madeiras com uma menor
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densidade, resinosas ou folhosas leves, apresentam uma menor resistncia ao fendimento.
Nas madeiras mais densas, folhosas pesadas, a resistncia ao fendimento superior.
2.4.7. Dureza
A dureza uma caracterstica mecnica que traduz a resistncia do material quanto
penetrao, riscagem e desgaste. Este parmetro importante para realizar uma seleo da
espcie de madeira em funo do fim a que se destina pelo facto de a dureza estar relacionada
com a densidade e trabalhabilidade do material. As madeiras so geralmente designadas, em
termos de dureza, como brandas (choupo ou pinho), medianamente duras (carvalho ou freixo)
e duras (Nogueira).
2.4.8. Fluncia
Os elementos submetidos a cargas prolongadas sofrem deformaes plsticas que variam em
funo do tempo. A fluncia corresponde ao aumento de deformao sobre uma carga
constante.
O diagrama da figura seguinte apresenta as deformaes em funo do tempo.
Figura 10Deformaes em funo do tempo em dias. (Natterer, J., et al, 1983)
Como se pode observar as deformaes tendem, aps algum tempo e dependendo da
importncia do carregamento, para um valor limite que de 1.6 a 2 vezes a deformao
elstica para um nvel de solicitao habitual (curva 1). Quando as solicitaes ultrapassam
certo nvel, o limite de fluncia, as deformaes crescem rapidamente e provocam finalmente
a rotura da barra (curva 2). Denomina-se resistncia rotura sobre cargas de longa durao
resistncia que permite barra de suportar indefinidamente o carregamento sem romper.
Falta referir que quando se retira o carregamento apenas uma parte da deformao
recuperada mantendo-se um resduo de deformao varivel com o tempo (Figura 11).
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Figura 11 - (a) Diagrama da carga em relao ao tempo; (b) Comportamento viscoelstico sob carga constante.(Melo, R. & Menezzi, C., 2010)
O teor em gua da madeira tem grande influncia no coeficiente de fluncia, sendo este o
quociente entre a deformao por fluncia e deformao instantnea. Para madeiras com
maiores teores em gua ou sujeitas a ciclos de humidificao/secagem, o valor do coeficiente
de fluncia bastante superior.
De modo a prevenir o impacto da fluncia na resistncia global de elementos estruturais da
madeira podem tomar-se certas medidas:
Garantir que o elemento estrutural no se encontra sujeito a grandes variaestrmicas e higromtricas;
Aplicao dos elementos estruturais devidamente estabilizados em termos de
percentagem de humidade;
Para efeitos de dimensionamento, sobrestimar as cargas atuantes ou subestimar o
valor do mdulo de elasticidade de forma a impedir que o elemento estrutural entre
em regime plstico;
Utilizar contra flechas. (Jnior, J., 2006)
2.4.9. Resistncia Fadiga
A resistncia fadiga a capacidade que um elemento tem em se deformar sem atingir a
rotura, quando exposta a esforos alternados de compresso e trao.
Atravs de dados experimentais apresentados por Albino Carvalho (1996), apresenta-se
algumas ilaes sobre a resistncia fadiga:
O quociente entre a resistncia fadiga e a resistncia flexo esttica, em mdia, da
ordem de um tero;
O quociente entre a resistncia fadiga e a densidade, denominada por cota de fadiga,
da madeira da ordem de 6 a 7, enquanto para o alumnio de 5 e de 2 a 3, para
alguns aos especiais;
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O teor em gua tem influncia no valor da resistncia fadiga, sendo que para cada
diminuio de 1% do teor em gua, verifica-se uma reduo de 3 a 4% do valor da
resistncia fadiga.
2.4.10.Coeficiente de Poisson
O coeficiente de Poisson na madeira varia entre espcies e na prpria espcie e afetado
principalmente pela humidade.
2.5. Classificao da madeira
Como j foi referido, a madeira um produto natural das rvores que apresenta grandes
variaes de qualidade segundo a espcie, a gentica, as condies de crescimento e
ambientais. As propriedades da madeira no variam unicamente de rvore para rvore mas
tambm na prpria rvore, segundo a sua seco transversal e ao longo do eixo da mesma. A
transformao da madeira redonda em madeira quadrada interfere na estrutura interna da
madeira natural.
Assim, as propriedades mecnicas da madeira de qualquer espcie que no esteja classificada
podem variar numa amplitude em que a pea mais resistente tenha uma resistncia 10 vezes
superior do que a pea mais fraca.
Em estruturas a utilizao da madeira baseada sobre os seus valores caractersticos de
resistncia. Deste modo, a resistncia elevada da maioria das peas no pode ser utilizada a
no ser que seja classificada. Isto demonstra que, por razes econmicas, a madeira tem deser separada em classes de diferentes qualidades, efetuando essa triagem pea por pea. A
classificao associa, a cada classe de resistncia, as propriedades necessrias para o
dimensionamento estrutural, onde esto includas as vrias resistncias aos vrios tipos de
esforos e o mdulo de elasticidade. No entanto, a avaliao da resistncia s pode ser
efetuada indiretamente atravs de parmetros que podem ser estabelecidos visualmente ou
por mtodos no destrutivos. (Racher, P., et al 1996)
2.5.1. Classificao visual
Tradicionalmente, a classificao realizada atravs de um exame visual da madeira tendo em
conta os fatores de reduo da resistncia que podem ser examinados. Os fatores so
principalmente os ns e a largura dos cernes de crescimento (Racher, P. Et al 1996).
A classificao visual tem certas fragilidades, por razes prticas, pelo facto de somente as
caractersticas reconhecidas visualmente poderem ser consideradas e unicamente regras de
combinao simples serem possveis. Uma caracterstica em estreita relao com a resistncia
tal como a massa volmica, no pode ser avaliada corretamente pelo mtodo de classificao
visual. De referir que a deciso da classificao efetuada pela opinio de um classificador,
portanto a mesma nunca pode ser totalmente objetiva.
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Os sistemas nacionais de classificao visual assentam em normas aplicveis a um conjunto
reduzido de espcies, definindo classes de qualidade associadas limitao de defeitos. Uma
dessas normas a NP 4305 que aplicvel madeira de pinho bravo portugus ( Correia, E.
2009).
A nvel europeu tambm se encontra disponvel normas para a classificao visual demadeiras, sendo esta a EN14081-1 Timber structures Strength graded structural timber
with rectangular cross sectionPart 1General requirements.
2.5.2. Classificao mecnica
Pela crescente necessidade de apresentar uma madeira de alta qualidade surgiu a classificao
por mquina. Atravs deste tipo de classificao, os inconvenientes presentes na classificao
visual podem ser evitados. As primeiras mquinas existentes determinavam um mdulo de
elasticidade mdio, em flexo, com nveis de carga baixos. Este procedimento foi melhorado
ao longo dos anos sendo possvel agora determinar o mdulo de elasticidade atravs de
vibrao, micro-ondas, e ultrassons. Este ltimo mtodo tem a vantagem de no solicitar
mecanicamente a madeira e, assim, evitar qualquer tipo de dano na mesma.
Tal como para a classificao visual existe a norma europeia para a classificao por mquina:
- EN14081-2 Timber Structures Strength graded structural timber with rectangular cross
sectionPart 2Machine grading: additional requirements for initial type testing;
- EN14081-3 Timber Structures Strength graded structural timber with rectangular cross
sectionPart 3Machine grading: additional requirements for factory production control;
- EN14081-3 Timber Structures Strength graded structural timber with rectangular cross
sectionPart 3Machine grading: grading machine settings for machine controlled systems;
2.5.3. Classes de resistncia
O princpio das classes de resistncia a atribuio das principais propriedades fsicas e
mecnicas a uma dada populao de madeira para estruturas, de forma simples e objetiva,
para facilitar a sua aplicao em construes.
Este conceito, implementado na Europa atravs da EN 338, pretende tratar a madeira da
mesma forma que outros materiais estruturais como o beto ou o ao, introduzindo assim um
facto de segurana adicional na especificao dos materiais (Correia, E. 2009).
A introduo de classes de resistncia interessante tanto para o utilizador como para o
fornecedor de madeira. O projetista no necessita de conhecer uma multitude de classes
diferentes dependendo do local onde o projeto ser realizado. Em vez disso, escolhe uma
classe de resistncia que acha adequada para o projeto a partir de uma tabela, tal como outros
materiais de construo. O produtor de madeira tem a vantagem de poder obter um preo
mais elevado pela sua madeira se tiver um processo de classificao otimizado permitindo-lheafetar a madeira por ele produzida a classes de resistncia mais elevadas.
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A norma EN 338 d propriedades de resistncia, de rigidez e de massa volmica para cada
classe de resistncia. Na Tabela 1 encontram-se as classes de resistncia para madeiras
resinosas e folhosas.
Tabela 1Classe de resistncia e valores caractersticos segundo a norma EN 388. Espcies resinosas e folhosas.
Para ter uma noo das classes de qualidade de algumas espcies, apresenta-se naTabela 2
alguns exemplos para madeiras utilizadas em construes.
Tabela 2Classe de Qualidade e Classe de resistncia para algumas espcies de madeira. (LNEC M1, 1997)
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3. Solues estruturais de cobertura
As coberturas tradicionais de madeira so compostas por asnas. As asnas so os elementos
principais da cobertura e podem ter vrias configuraes geomtricas. A escolha desta
geometria depende da natureza das aes, do vo a cobrir, da inclinao da cobertura, da
arquitetura e das operaes de montagem e execuo (Branco, Santos,& Cruz 2010).
As asnas tradicionais so geralmente constitudas por um elemento horizontal denominado
linha, por duas pernas inclinadas que perfazem a vertente do telhado, por um elemento
vertical apertado nos vrtices do telhado pelas pernas pendural - e por duas escoras que
ligam as pernas ao pendural. De referir que sobre as asnas repousam as madres, a fileira, as
varas e as ripas, sendo que as duas ltimas so a substrutura de suporte cobertura (Branco,
Santos,& Cruz 2010).
As asnas com menor grau de complexidade tm espaamento entre elas at 4 metros. Para seatingir vos maiores a complexidade da estrutura aumenta. Nas seguintes figuras encontram-
se as tipologias mais frequentes de asnas de madeira.
Figura 12Tipologia mais frequente de asnas de madeira (Branco, Santos,& Cruz 2010).
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4. Ligaes em estruturas de madeira
As ligaes so geralmente o ponto mais fraco da estrutura de madeira pelo facto destas
encontrarem-se sujeitas a esforos e tenses localizadas, podendo por em causa a estabilidade
global da estrutura. No entanto, a ductilidade de algumas solues de ligao assegura um
bom comportamento das estruturas em madeiras submetidas a grandes cargas ssmicas.
4.1. Ligaes tradicionais
Desde os primeiros tempos em que se efetuaram construo em madeira foi necessrio
efetuar ligaes das vrias peas que iriam constituir a obra. As cabanas de madeira foram as
primeiras edificaes efetuadas pelo Homem com este material. Nos primrdios a formautilizada foi de varas inclinadas cravadas no solo de forma a cruzarem-se na extremidade
superior, surgindo, assim, o primeiro tipo de ligaes de madeira.
A ligao era efetuada numa primeira fase atravs de fibras vegetais, tais como lianas, sendo
que posteriormente usaram-se tiras de peles de animais.
Com a evoluo da humanidade desenvolveram-se ferramentas que permitiam trabalhar a
madeira descobrindo-se assim as direes prefernciais para esta ser trabalhada. Surgiram
superfcies lisas para ligar as peas de madeira aparecendo desta forma um novo tipo de
ligaes que ainda se empregam nos dias de hoje. Este tipo de ligao denominado por
entalhe. Inicialmente este tipo de ligao tinha como funo o travamento da estrutura, no
resistindo assim a esforos significativos.
A transmisso de esforos dos entalhes efetuada por atrito e compresso na interface entre
os elementos a unir, sendo que o esforo que estes suportam no permite a separao dos
elementos. Este tipo de ligao no admite a inverso de solicitaes e, tambm, tem como
inconveniente a grande concentrao de tenses na zona do entalhe devido reduo efetiva
da seco da pea. Desta forma os elementos eram sobredimensionados e compridos pelo
facto das emendas no serem admissveis em zonas tracionadas.
Este tipo de ligao continuou a desenvolver-se permitindo a realizao de estruturas de maiorporte, vencendo maiores vos. E, surgiu, assim, um tipo de ligao muito utilizada em asnas de
coberturas denominada por respiga e mecha (Figura 13). Consiste em talhar a extremidade de
uma das peas ficando esta com uma seco de extremidade com menor dimenso, tendo
geralmente uma forma quadrangular. Este elemento denominado por respiga. No outro
elemento abre-se uma cavidade para que o primeiro elemento possa entrar nessa cavidade,
que denominada por mecha (Segurado, J.E.S. 1949).
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Figura 13Ligao por respiga e mecha.
Este tipo de ligao assegura uma perfeita conexo entre as peas e previnem ao mesmo
tempo deslizamentos laterais das mesmas, por intermdio de penetrao (Branco, Santos, &
Cruz 2010).
Geralmente inclui-se um ou mais dentes na ligao tradicional respiga e mecha de forma a
aliviar o esforo exercido na respiga. Por exemplo, na juno de uma escora e uma perna, todo
o esforo da escora estar concentrado no canto da respiga, se esta for uma ligao respiga e
mecha tradicional. Por essa razo as fibras da respiga podem no aguentar a presso exercida
e, assim, efetua-se um ou mais dentes para dar repouso mesma (my, A. R. 1837).
Existe uma grande variedade de tipos de ligao por entalhe estando os principais utilizados
em asnas de madeira apresentados naFigura 14.
Figura 14Entalhe em asnas de madeira. a) Dente simples anterior b) Dente simples posterior c) Dente duplo(CECOBOIS 2012)
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Hoje em dia este tipo de ligao j entrou em desuso mas ainda se encontra em vrias
habitaes antigas sendo interessante o seu estudo do ponto de vista da reabilitao.
4.2. Ligaes modernas
As ligaes continuaram a evoluir aproveitando os conhecimentos adquiridos com as ligaes
clssicas. As ligaes por entalhes transmitem bem os esforos de compresso e de corte mas
no admitem a inverso de solicitaes. A partir desta tica que surgiram outros tipos de
ligao que junto com a ligao por entalhe formem uma conexo mais estvel entre
elementos, principalmente quando existe a possibilidade de inverso de esforos.
4.2.1. Ligaes por pregagem
O prego surgiu como a primeira tecnologia das ligaes modernas, por ser um ligador vulgar,
de fcil aplicao. O sistema de ligaes por pregagem impe que as reas de sobreposio
das peas sejam elevadas, para que no ocorram interaes entre o elevado nmero de pregos
que perfazem a ligao devido relativa proximidade entre os mesmos. O nmero elevado de
pregos em cada ligao resulta do baixo valor da tenso de rotura da madeira ao corte e, com
essa quantidade de pregos, evita-se que os mesmos rasguem a madeira. A estrutura pregada
acusa sensveis deformaes no tempo devido fluncia das suas ligaes, limitando a sua
aplicao em situaes com fracas solicitaes ou em obras de curta durao. (Clemente, J.S.
1976).
Figura 15Pregos Correntes. (Mendes, P.,1994)
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4.2.2. Ligaes por parafusos de porca
A superfcie dos parafusos de porca lisa, com exceo da ponta roscada que permitir
aparafusar a porca. Em conjunto com o parafuso e a porca tambm so utilizadas anilhas, em
ambos os topos, que tm por objetivo distribuir a fora perpendicular s fibras por uma reaadequada, de forma a no ocorrer esmagamento localizado logo aps a montagem (Mendes, P
1994).
Pelo facto das ligaes com parafusos de porca reagirem sobre a madeira em rea muito
superior do que pregos, este tipo de ligao confere um melhor comportamento no tempo
sobretudo se se reapertar os parafusos a determinados intervalos de tempo (Clemente, J.S.
1976).
Figura 16Parafusos de porca. (Mendes, P.,1994)
4.2.3.
Ligaes por parafusos correntes
A superfcie dos parafusos correntes roscada. O tipo de tecnologia utilizado para este tipo de
parafuso , geralmente, o de pr-furao. O dimetro de pr-furao deve ser ligeiramente
inferior ao do parafuso, para que este mobilize, alm da resistncia ao corte, alguma
resistncia ao arranque. A utilizao deste tipo de ligadores pouco utilizada em estruturas de
madeira.
Figura 17Parafusos correntes. (Mendes, P.,1994)
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4.2.4. Ligao por cavilhas
Tal como as ligaes por parafusos correntes, a ligao por cavilhas tem uma utilizao
relativamente pequena em estruturas. As cavilhas so introduzidas sobre presso de forma a
ficarem justas, sendo que a fora de aperto transmitida por atrito ao longo da cavilha. Aeficincia deste tipo de ligao tem tendncia para decrescer muito por causa das sucessivas
variaes de humidade dos elementos ligados entre si. Em termos estticos este tipo de
ligao uma mais-valia pelo facto de permitir acabamentos que os parafusos de porca no
permitem.
Figura 18Exemplo de ligao tipo cavilha. (ITABOLT)
4.2.5. Ligadores de superfcie
Surgiram tambm os ligadores lineares que se situam entre faces dos elementos. Estes foram
importantes para a evoluo das tecnologias das ligaes, aparecendo posteriormente os anis
e as chapas denteadas. Este tipo de ligao geralmente acompanhado pelos ligadores
metlicos j enunciados (excetuando as ligaes por cavilhas), fazendo com que as tenses
atuantes nestes sejam bastante inferiores reduzindo tambm a deformao da ligao porque
ao terem tendncia para rodar mobilizam mais aperto nos ligadores.
As barras quando ligadas com este tipo de ligador tm tendncia a rodar devido ao binrio
provocado pelas aes. Para contrariar esse efeito pode se adotar outro tipo de perfil tal como
as barras com perfil T.
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Figura 19Pormenor de barras de perfil retangular e perfil T. (Mendes, P.,1994)
Posteriormente, com resultado de estudos, surgiram outros ligadores que permitiram
melhorar a eficincia da ligao tais como as barras dobradas ou arqueadas. Pelo facto destes
terem uma rigidez superior s barras de perfil retangular, estes contrariam os momentos
desenvolvidos na ligao.
Continuando com o raciocnio por uma maior rigidez tem-se uma maior eficincia da ligao
surgiram os anis metlicos. Em termos construtivos estes ligadores tambm garantem uma
aplicao mais simples porque os rasgos so efetuados atravs de uma mquina rotativa
provida de lminas.
Por fim, nos ligadores de superfcie encontram-se ainda as chapas denteadas e ferragens. Estas
ltimas so bastante utilizadas em asnas de madeira, com os ps-de-galinha so utilizados para
a ligao Perna-Pendural, os ts para a ligao Perna-Escora e as braadeiras para a ligao
Perna-Linha.
Figura 20Esquema tradicional de ferragens para asnas de madeira. (Costa, F., 1955)
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5. Modelos de clculo em entalhes na ligao Linha e Perna deuma asna
As ligaes por entalhe so ligaes que s tm capacidade para transmitir esforos de
compresso, sem qualquer tipo de aparelho para efetuar a conexo, sendo esta efetuada
unicamente pelas prprias superfcies. Estas ligaes contam com as foras internas de
compresso para manterem-se em contacto e, por vezes, tambm com a ajuda de ligadores
metlicos. Esta prtica mais comum nos pases ocidentais do que nos orientais. (Palma, P. &
Cruz, H., 2007)
Quando se efetua uma ligao por contacto entre duas peas de madeira, os cernes das peas
podem no ser coincidentes, havendo partes de madeira mais resistentes a apoiar-se em
madeira menos resistente (madeira de vero e madeira de primavera, respetivamente). Deste
modo pode existir uma possvel penetrao das fibras de uma seco para outra. A
probabilidade de penetrao maior em ngulos de conexo reduzidos sendo praticamente
desprezvel para ligaes com 90.
O Eurocdigo 5 no apresenta nenhuma informao para alterar a resistncia da madeira
devido penetrao de fibras entre peas. Isto justificado pelo facto deste fenmeno no
acontecer no domnio das tenses admissveis. Portanto os valores de resistncia em
compresso oblqua so obtidos pelas equaes de Hankinson.
Figura 21Tenso de compresso com um determinado ngulo em relao ao fio. (EN1995-1-1, 2004)
,, ,,
,,,,,
+
(5-1)
Onde:
,, a tenso de compresso num ngulo do fio;
,, a tenso de compresso de dimensionamento paralelo ao fio;
,, a tenso de compresso de dimensionamento perpendicular ao fio;
, um fator que toma em conta o efeito de qualquer tenso perpendicular ao fio.
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Onde:
, =
(5-2)
e
o comprimento da superfcie de compresso;
o comprimento efectivo de distribuio de acordo com o pargrafo 6.1.5 do
Eurocdigo 5.
A tenso de compresso ,, gerada por uma fora de dimensionamento a actuar na rea
carregada (bh/cos):
,, =
(5-3)
5.1. Entalhe simples com um dente
Segundo o modelo de clculo baseado pela norma Suia (SIA), toda a carga axial transmitida
atravs da superfcie de contacto na extremidade do entalhe.
Como j foi referido anteriormente a resistncia paralela ao fio superior resistncia
transversal ao mesmo, assim o ngulo de corte da madeira influencia a resistncia da ligao
de carpintaria. Se a perna da asna for cortada a 90 esta oferecer uma resistncia mxima,
mas a resistncia da linha ser reduzida. A resistncia tima obtm-se com um ngulo de corte
igual para os dois membros sendo o ngulo a bissetriz entre os mesmos.
Nos casos em que o entalhe se encontra prximo da extremidade necessrio garantir um
comprimento mnimo () para resistir tenso tangencial que surge na mesma.
Figura 22Geometria e foras que atuam num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004)
O modelo apresentado para a transmisso dos esforos do entalhe pode afastar-se
consideravelmente da realidade por poderem existir imprecises na execuo do entalhe,
variao das dimenses dos elementos devido retrao e inchamento e, tambm, atrito
entre as superfcies dos elementos.
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Figura 23Variao da transmisso das foras num entalhe simples. (Natterer, J., et al 2004)
Neste modelo admite-se que o esforo transmitido por contacto a componente horizontal
dado por:
= (5-4)
Pe-se a hiptese da componente de H que age na parte dianteira do entalhe tem o valor de:
=
/2=
/2 (5-5)
Esta fora age na superfcie A dada por:
=
/2 (5-6)
Sendo:
Largura das peas;
Profundidade do entalhe;
O valor de dimensionamento da tenso de compresso, j enunciada anteriormente, a agir na
superfcie A, dada por:
,, =
=
(5-7)
Sendo:
O valor de dimensionamento do esforo normal de compresso;
O valor de dimensionamento da componente horizontal de .
Atravs do valor de resistncia de dimensionamento oblqua enunciada anteriormente, limita-
se a profundidade do entalhe atravs da seguinte expresso:
,, (5-8)
Sendo =
Para evitar o enfraquecimento da pea entalhada, necessrio impor um limite para aprofundidade do entalhe. Este limite dado por (Natterer, J., et al 2004):
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50 (5-9)
60 (5-10)
A componente horizontal tambm transmitida por tenses tangenciais na parte exterior dalinha. O valor da tenso tangencial dada por:
, =
=
(5-11)
Sendo:
v A largura da parte exterior da linha como apresentada naFigura 22.
Ao utilizar a resistncia ao corte simples para limitar o valor de clculo da tenso tangencial,
obtm-se o valor mnimo necessrio do comprimento da parte exterior da linha.
, (5-12)
, Valor de clculo da resistncia da madeira ao corte.
Figura 24Decomposio do esforo de compresso N. (Natterer, J., et al 2004)
De referir que o limite inferior do comprimento de 15 cm para evitar o enfraquecimento
natural da madeira de extremidade (Natterer, J., et al 2004).
A componente vertical da carga transmitida, principalmente, pela parte traseira do entalhe.
A largura da perna (d) tem de ser suficiente para assegurar uma resistncia adequada, sendo
esta restrio praticamente desprezvel para ngulos inferiores a 60, ou seja, quando a
componente vertical do esforo axial pouco importante (Natterer, J., et al 2004).
,, =
(5-13)
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Figura 25Largura da perna para o entalhe simples. (CECOBOIS 2012)
5.2. Entalhe com dente simples posterior
Apesar de no se modelar este tipo de entalhe no mbito deste trabalho, considerou-seimportante apresentar o modelo de anlise do mesmo visto o entalhe com dente duplo ser
resultado da juno das principais caractersticas do entalhe simples com um dente e do
entalhe com dente simples posterior.
Neste tipo de entalhe o ngulo de corte geralmente perpendicular ao eixo da perna. Deste
modo evita-se a transmisso de cargas na parte da frente do entalhe que criaria esforos de
trao perpendiculares s fibras.
O esforo transmitido por contacto sobre a superfcie cortada perpendicularmente ao eixo
longitudinal da barra que se ir apoiar na linha. Unicamente a parte de trs da ligao que
resiste fora aplicada sendo necessrio verificar a resistncia da linha compresso oblqua e
a resistncia da perna compresso paralela da fibra. O valor da resistncia compresso
oblqua ao fio inferior paralela assim, se a linha e a perna tiverem os mesmos valores de
resistncia unitria, a primeira que ser condicionante para o clculo.
Este tipo de disposio diminui a eficincia da transmisso de cargas porque o ngulo de
contacto no igual bissetriz como o caso no entalhe simples com um dente. Portanto a
desvantagem deste entalhe que a relao entre a capacidade de carga e a profundidade do
entalhe mais fraca do que no entalhe simples. No entanto, tem a vantagem de aumentar ao
mximo o comprimento da parte exterior da linha (Figura 26).
Figura 26Geometria e foras atuantes num entalhe com dente posterior. (Natterer, J., et al 2004)
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Para evitar a fissurao da frente do entalhe, deixa-se uma abertura de 1 a 2 mm entre esse
local e a linha.
Figura 27Espaamento necessrio para que no exista fissurao devido retraco. (Natterer, J., et al 2004)
As verificaes de segurana para este tipo de entalhe praticamente idntico ao do entalhe
simples com um dente sendo a nica diferena a mudana do comprimento da superfcie de
contacto, de dpara ts, na equao (5-13) pelo facto da superfcie de contacto neste caso s se
efetuar numa parte da perna. O valor de ts obtido pela seguinte expresso (Natterer, J., et al2004):
=
(5-14)
Obtm-se assim:
,, = (5-15)
5.3. Entalhe com dente duplo
O entalhe com dente duplo combina as vantagens dos dois entalhes anteriores (ngulo de
corte da pea e comprimento otimizado). Tm-se assim duas profundidades diferentes, t1 e
t2, sendo a primeira configurada como um entalhe simples e a profundidade t2 que apresenta
as caractersticas do entalhe com dente simples posterior. Para que as hipteses de clculo
sejam vlidas necessrio, tal como nos entalhes j referidos, superfcies de corte que
assentam perfeitamente entre as peas. Para facilitar a execuo deste tipo de entalhes pode-
se deixar um espaamento na parte do entalhe simples da ligao e assegurar unicamente ocontacto sobre a parte do entalhe posterior da ligao. Posteriormente colocam-se chapas
galvanizadas no local onde foi deixado o espaamento entre peas, para assegurar o perfeito
contacto entre os dois elementos que perfazem a ligao.
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Figura 28Geometria e foras atuantes num entalhe com dente duplo. (Natterer, J., et al 2004)
A transmisso do esforo de compresso efetuada sobre duas superfcies com inclinaes
diferentes. Assim, o ngulo dos valores de clculo de resistncia so diferentes para as duas
superfcies, sendo =/2 para a parte do entalhe simples com profundidade t1 e = para a
parte do entalhe posterior com profundidade t2. Para simplificar o clculo admite-se que o
angulo do valor de clculo de resistncia dado pela mdia entre os dois, ou seja, =3/4.
Assim, a condio da espessura dada por (Natterer, J., et al 2004):
,, = + =
(5-16)
A profundidade t1tem sempre de ser inferior t2para se ter duas superfcies independentes
para as tenses tangenciais que se formam.
Tanto o comprimento como a transmisso da componente vertical da carga aplicada para o
fundo do entalhe so calculados da mesma forma que o entalhe simples.
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6. Modelao e anlise
6.1. Introduo
Este captulo incide sobre a modelao dos entalhes at anlise dos mesmos. Comeou-se
por referir as caractersticas fsicas e geomtricas usadas para a modelao dos entalhes
simples com um dente e dos entalhes com dente duplo. Tambm foi referido o tipo de anlise
efectuada e a razo pela qual foi usada para este trabalho. Seguidamente esto indicados os
resultados obtidos atravs do programa de clculo automtico SAP2000 para as diferentes
anlises efectuadas. Estas anlises centraram-se para o entalhe simples com um dente e para
o entalhe com dente duplo para diversos ngulos de inclinao da asnas e para diversos
comprimentos da extremidade livre da madeira . A comparao dos resultados obtidos
apoiada por diversos grficos.
6.2. Caractersticas fsicas e geomtricas
A modelao dos entalhes foi efetuada tendo em conta a estrutura de uma asna de madeira.
Como o objetivo deste trabalho de estudar os entalhes entre os elementos de uma asna, a
modelao foi feita numa parte localizada, modelando-se assim unicamente metade da asna
de madeira.
Para a modelao de todos os entalhes as caractersticas fsicas da madeira so idnticas. As
caracterstic0as usadas so da madeira com classe de resistncia C18 (Tabela 3).
Tabela 3Caractersticas fsicas da madeira utilizada na modelao.
Madeira C18
Mdulo de elasticidade (kN/mm2) EO,mean 9
Mdulo de distoro (kN/mm2) G,mean 0.56
Densidade caracterstica (kg/m3) k 320
Densidade mdia (kg/m3) mean 380
As caractersticas geomtricas da perna e da linha esto enunciadas naTabela 4.
Tabela 4Caractersticas geomtricas dos elementos constituintes do entalhe.
Caractersticas Geomtricas Perna Linha
Espessura (m) 0.2 0.2
Largura (m) 0.1 0.15
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Para a definio das profundidades dos entalhes e do comprimento correspondente parte
da madeira exterior da linha, utilizaram-se as expresses definidas no captulo anterior de
forma a usar valores j utilizados em termos prticos.
As profundidades do entalhe (t1 e t2), o ngulo entre as duas peas e o comprimento
utilizados esto apresentadas naTabela 5.
Tabela 5Profundidades e comprimento nos diferentes tipos de entalhe.
Tipo de Entalhe t1(cm) t2(cm) v (cm) ()
Dente Simples 3 - 10-30 25-60
Dente Duplo 2 3 10-30 25-60
As profundidades dos entalhes sero idnticas para todas as modelaes efetuadas. Ascaractersticas variveis das modelaes so a extremidade livre de madeira, , e o ngulo
entre os elementos que constituem o entalhe.
O entalhe base para a realizao das anlises foi o entalhe com uma inclinao de 30 entre a
linha e a perna. Assim, todas as caractersticas, para alm do ngulo e do comprimento da
extremidade livre, mantiveram-se sempre inalteradas conservando-se, assim, as caractersticas
do entalhe base.
Na Figura 29 e na Figura 30 esto representados, respectivamente, um dos modelos
correspondente ao entalhe simples com um dente e um correspondente ao entalhe duplo.
Figura 29Modelao do entalhe simples com um dente = 30 , v = 0.15.
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Figura 30Modelao do entalhe com dente duplo = 30 , v = 0.15.
Ao efetuar a modelao das reas o programa assume que as peas esto completamente
ligadas entre si. No entanto, num entalhe de uma asna de madeira, a perna est simplesmente
apoiada na linha. Assim foram criados, na separao da linha com a perna, pares de ns
diferentes com coordenadas iguais, sendo um dos ns do par atribudo linha e o outro
perna da asna.
Figura 31Pormenorizao do entalhe simplesSobreposio dos ns na superfcie de ligao dos elementos.
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Figura 32Pormonerizao do entalhe duploSobreposio dos ns na superfcie de ligao dos elementos.
A conexo entre os pares de ns ser feita atravs de ligaes com uma rigidez equivalente
rigidez axial da linha. Esta uma hiptese simplificativa usada neste modelo para garantir que
a transmisso das cargas ocorra sem grandes deformaes relativas.
O programa permite escolher as direes em que as ligaes trabalham. A escolha destas estestritamente relacionada com a forma de transmisso de esforos realizada pelo entalhe.
Como j se referiu anteriormente, os esforos so transmitidos perpendicularmente s
superfcies entalhadas, sendo que a componente horizontal ser, principalmente, transmitida
pela parte frontal do entalhe.
Portanto, para aproximar o modelo no programa SAP2000 ao modelo terico criaram-se trs
ligaes com diferentes eixos para o entalhe simples com um dente e para o dente duplo.
As caractersticas destas ligaes esto enunciadas naTabela 6.
Tabela 6Caractersticas das ligaes entre a perna e a linha.
Nome Direes rgidas Rigidez(N/mm)
Ligao 1 U2, U3 270000
Ligao 2 U2 270000
Ligao 3 U3 270000
Como se pode observar naTabela 6 as ligaes 2 e 3 s foram modeladas para a direo U2 e o
U3 respetivamente, de modo a que as foras sejam transmitidas unicamente na direo
perpendicular as superfcies de contacto. Sendo que U2 e U3 correspondem a duas das trs
direes locais dos ns.
Estas podem ser observadas na Figura 33 e na Figura 34 para o entalhe simples e para o
entalhe duplo respetivamente.
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Figura 33Caractersticas das ligaes na juno da perna linha. Entalhe com um dente.
Figura 34Caractersticas das ligaes na juno da perna linha. Entalhe duplo.
Apesar do estudo ser concentrado principalmente na zona do entalhe, necessrio que as
condies de apoio reflitam ao mximo as condies estticas das asnas de madeira no ponto
de vista prtico. As asnas de madeira esto apoiadas nas duas extremidades da linha. Deste
modo, modelou-se junto extremidade mais prxima do entalhe um conjunto de apoios
simples que abso