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Tesouros que Desafiam o Tempo Paramahansa Yogananda com o Doutor e a Sra. Lewis Brenda Lewis Rosser Borrego Publications P.O Box 31, Borrego Springs California 92004 Copyright 2001

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Tesouros que Desafiam o Tempo

Paramahansa Yogananda com o Doutor e a Sra. Lewis

Brenda Lewis Rosser

Borrego PublicationsP.O Box 31,

Borrego Springs California 92004Copyright 2001

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Dedicado a Mildred Margaret Lewispor sua força, amor e sabedoria

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Prefácio

Não consigo pensar em uma tarefa mais complicada para alguém do que escrever sobre o próprio pai e mãe de uma maneira objetiva. Como é possível ser objetivo, quando há tanto amor, respeito e, até mesmo, reverência por seus pais? Dos meus anos de associação com pessoas de elevada estatura espiritual, cheguei à conclusão de que eles são as almas mais incompreendidas de todas as que habitam nesta terra. E, ainda assim, possuem as qualidades de caráter que a maioria das pessoas tenta imitar: eles são calmos, mais calmos que a maioria; são bondosos, mais bondosos que a maioria; são compreensivos, mais compreensivos que a maioria; e possuem sabedoria muito além da capacidade daqueles que não vivem a vida espiritual e talvez nem sequer sabem algo sobre o que é isso. E, portanto, quando minha mãe, Mildred Lewis, incentivou-me a escrever um livro que fosse refletir os primeiros dias de Paramahansa Yogananda nos EUA e seu relacionamento com seus dois discípulos mais antigos, na verdade foi uma tarefa titânica que precisei enfrentar.

Como muitos filhos amorosos fazem, sempre mantive afastado o pensamento de que um dia minha mãe iria partir desta terra. E, quando trabalhamos juntos (de 1966 em diante) para reunir anotações e cartas pertinentes ao manuscrito que estávamos planejando, eu sempre tinha a sensação de que ela iria estar comigo para me guiar através das partes difíceis e recordar-me das coisas que eu havia esquecido, pois ela tinha uma prodigiosa memória.

Minha mãe sentia que a impressão desta obra, sem a participação da Self-Realization Fellowship, era o certo a se fazer, pois não havia razão de “mãos extras” trabalhando nele, já que tínhamos todos os fatos e as informações conosco; além do mais, relatos de primeira mão não podem ser contestados.

Dotada de agudo poder discriminativo, minha mãe selecionou as cartas de Paramahansa Yogananda que seriam de maior importância espiritual e inspiração. A isso, acrescentou ainda histórias de sua experiência com o Guru que seriam de interesse para o leitor em geral. Um romancista escreveu certa vez que todos enxergam o mundo através de seu próprio prisma emocional, e quando alguns indivíduos espiritualmente adiantados contam suas experiências de primeira mão com um Guru ou com um grande discípulo, carregam consigo uma mensagem que possivelmente não poderia ser transmitida por algum jovem editor.

Jamais detectei nela qualquer ego ou desejo de glorificar o nome dos Lewis. Pelo contrário, seu maior prazer era viver em Borrego o máximo de tempo possível, como forma de recuperar as energias de uma agenda pesada, que incluía muitas entrevistas e atividades durante seus anos em Encinitas e, mais tarde, em sua casa no terreno do Templo de San Diego. Portanto, este livro não representa qualquer grupo ou organização que esteja de alguma forma disseminando os ensinamentos de Paramahansa Yogananda.

O leitor irá descobrir que as cartas de Paramahansa Yogananda para meu pai e minha mãe, assim como as histórias, falam por si. Muitas das cartas estão sem qualquer alteração editorial. Talvez alguns dos nossos leitores não tiveram a oportunidade até aqui de lerem as cartas do Guru em sua forma original sem edição, embora existam várias no livro Mejda, de Sananda Lal Ghosh, impresso pela Self-Realization Fellowship. Nosso propósito em publicá-las desta forma é proporcionar ao buscador da verdade uma imagem realista, fornecendo lampejos tanto da radiante divindade do Guru quanto da ternura humana que ele manifestava em todos seus atos. Espera-se que

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essas cartas irão revelar algo do divino relacionamento que unia o Guru com dois de seus discípulos mais antigos.

Antigamente, algumas histórias e eventos revelados neste livro não teriam sido publicados. Aqueles privilegiados de estar presentes quando as palavras foram proferidas iriam simplesmente guardá-las como tesouros silenciosos em seus corações. (É evidente que alguns dos ensinamentos de um verdadeiro Guru não podem ser transmitidos de forma escrita, mas apenas pela palavra falada do Guru ao discípulo; contudo, o devoto não precisa ficar desencorajado pelo fato de que o Guru não está conosco em forma física. Se os verdadeiros ensinamentos do Mestre forem seguidos, a pessoa descobrirá mais bênçãos do que talvez seja capaz de assimilar.) Alguns dos pronunciamentos mencionados acima foram escritos para proporcionar uma maior compreensão acerca do relacionamento guru-discípulo e para impedir que algumas distorções possam ocorrer devido à disseminação em massa dos ensinamentos sagrados.

Para mim é difícil categorizar meu pai como santo, pois ele era meu amigo mais querido, protetor e guia. Mas com o passar dos anos, tendo eu refletido sobre suas experiências espirituais e o fato de que ele jamais falava de coisas sobre as quais não tinha vivenciado, cheguei à conclusão de que ele foi um santo da mais elevada ordem.

Lahiri Mahasaya e Swami Sri Yukteswarji foram chefes de família, conduzindo a tocha brilhante da Auto-realização através dos anos. Meu pai, como chefe de família, pegou aquela tocha e a conduziu por toda sua vida, iluminando o mundo com a esperança de que todos aqueles sobrecarregados com o fardo das responsabilidades mundanas ainda assim podem encontrar Deus.

Se o leitor puder gentilmente perdoar uma referência a minha pessoa, gostaria de dizer que minha vida foi dedicada a servir. Jamais havia pensado que seria solicitada a escrever um livro. Tudo o que sei é que é a vontade de Deus que seja escrito, e aqueles que foram tocados por Ele, apenas esses, serão capazes de compreender a verdadeira magnitude destes escritos.

Aqueles que me conhecem sabem bem que não seria capaz de ter completado este manuscrito sem ajuda. Agradecidamente, reconheço a ajuda do Sr. Ed Martin, cujo talento nas artes gráficas e editoriais foram muito úteis neste livro; contudo, a mão condutora e o esforço supremo do Sr. James M. Roberts merecem o maior dos louvores, pois foi apenas por sua amizade e diligência, somadas a sua natureza curiosa sobre a vida espiritual, que proporcionaram que este livro fosse finalmente encaminhado à gráfica.

Brenda Lewis Rosser

26 de Março de 1991

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Introdução

Desde os primórdios da história, teólogos, acadêmicos e buscadores da verdade têm estudado as vidas dos santos. Suas conclusões variam desde a certeza de que os santos são porta-vozes de Deus, até a noção de que os santos são apenas fanáticos. A santidade é algumas vezes determinada de uma forma externa, baseada em coisas como martírio e vários milagres de cura. Esses critérios, entretanto, dizem pouco sobre o quanto um homem ergueu-se da consciência mundana à consciência espiritual, ou que o santo possui uma personalidade “mais suave que a flor quando se trata de bondade; mais forte que o trovão quando os princípios estão em jogo”.1 Na verdade, o que procuramos nos santos é o seu caráter, não seus milagres. Acaso não demonstrou Cristo na cruz o maior caráter jamais demonstrado, (o seu “poderoso milagre de amor”2), perdoando aqueles que: crucificaram-no injustamente, cravaram-lhe uma coroa de espinhos na cabeça, cuspiram nele, chicotearam-nos quarenta vezes com chicotes de pontas metálicas e enfiaram uma lança em seu peito? Imagine o caráter de um homem que suportou tamanha crueldade e ainda assim possuía ânimo suficiente para dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.3 Por suas tremendas qualidades de amor e perdão, oferecendo a outra face, recordando aos discípulos para “amarem-se uns aos outros (…)”, Jesus provou categoricamente que foi um dos maiores profetas de todos os tempos.

Se pudéssemos detectar na natureza humana uma pessoa que tivesse essa mesma força e amor, somados ao conhecimento de Deus, seríamos então verdadeiramente abençoados por estar dentro do alcance desse Personagem Divino. Foi minha grande sorte e bênção poder encontrar tal homem que, sem sombra de dúvida, manifestou as qualidades já mencionadas. Não somente eram essas qualidades evidentes em certo nível para aqueles que estiveram próximos o suficiente dele para detectá-las, mas uma indicação ainda maior de santidade manifestava-se quando ele recebia uma autorização interna para demonstrar seus incríveis poderes. Eu sei, pois vi tais coisas pessoalmente.

Na cultura indiana, considera-se que os santos possuem o poder de inspirar e abençoar por meio de sua presença. A pessoa recebe a bênção meramente por estar próxima a sua aura de magnetismo; os hindus chamam essa bênção de darshan. O darshan e a iniciação espiritual que o Dr. Lewis recebeu do jovem Swami Yogananda4 em 1920 despertaram imediatamente estados de consciência espiritual que estiveram dormentes, aguardando aquele dia especial quando seu Guru restabeleceria o vínculo jamais rompido. O primeiro encontro (nesta encarnação) entre o Guru e seu grande discípulo estabeleceu o início de um relacionamento pela vida inteira e encaminhou o trajeto daquele jovem para a realização espiritual, não para a realização mundana.

Que início mais improvável para um santo! O Dr. Lewis nasceu na Nova Inglaterra e foi criado em um ambiente muito conservador, fundado 300 anos antes pelos Puritanos e Peregrinos. E, muito embora a extrema moralidade e conservadorismo dos primeiros colonizadores fossem, de certa forma, um bom ambiente para uma vida espiritual, as normas restritivas dos habitantes da Nova

1 A definição védica de Sri Yukteswarji para um homem de Deus, extraída do capítulo intitulado “Anos no Eremitério do meu Mestre”, na Autobiografia de um Iogue.2 Da mensagem de Natal de Paramahansa Yogananda em 25 de Dezembro de 1950, em Mount Washington.3 Lucas 23:34.4 Posteriormente recebeu de Swami Sri Yukteswar o título de Paramahansa Yogananda.

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Inglaterra permitiam pouca liberdade para os buscadores espirituais, pessoas que poderiam procurar o conselho de um swami da Índia ao invés do de um ministro de uma igreja cristã ali estabelecida.

Paramahansa Yogananda, um dos maiores iogues que já viveu, atraiu para si vários discípulos quando chegou em Boston, em 1920. Um desses discípulos era o Dr. Minott W. Lewis, homem casado e com dois filhos. O Dr. Lewis havia buscado a verdade em sua ortodoxa igreja cristã, mas ela não havia satisfeito sua sede. Após seu batismo em Kriya Yoga e suas visões das “coisas do Espírito” interiormente, o Dr. Lewis perguntou a Yogananda: “Por que esses ministros não conseguem me dizer ou mostrar algo dessas verdades eternas?” Yogananda respondeu sucintamente com as palavras de Jesus: “Pode o cego guiar outro cego? Não cairão ambos no fosso?”1

Durante os primeiros três anos de Paramahansa Yogananda na América, ele passou muito tempo no estado da Nova Inglaterra, vivendo por longos períodos com a família Lewis. Quando o Mestre finalmente chegou ao ponto em seu ministério em que sabia ser a vontade de Deus que expandisse o alcance de seus ensinamentos, revelou ao Doutor que precisava para o oeste.2 Com a grande segurança e elevação que alguém sente quando está na presença de um iogue que é Um com Deus, o Dr. Lewis quis viajar com ele, em vez de permanecer com seus próprios afazeres. O Mestre, contudo, disse-lhe para permanecer em Boston, continuar sua prática e sustentar a família.

O Doutor continuou a pressioná-lo até que o Guru lhe disse: “A Luz que você vê é maior do que eu. Ela é o Próprio Deus!” (O Mestre havia mostrado ao Dr. Lewis essa Luz na véspera do Natal de 1920.3) Certa vez, perguntei ao Dr. Lewis quanto tempo ele havia levado para ver essa Luz sempre que quisesse, e ele respondeu: “Ela nunca me deixou”. O anel dourado, circundando um campo de luz azul sobrenatural, com uma palpitante estrela prateada de cinco pontas no centro, é a “Porta do Céu, pela qual todos passamos”, conforme o Dr. Lewis escreveu em um poema.4

Entretanto, mesmo em seu elevado estado de realização, o Dr. Lewis não havia atingido o ponto em seu sadhana no qual pudesse reconhecer perfeitamente o significado daquela Luz. É evidente que as palavras do Guru quebraram o último vestígio de ignorância acerca da percepção interior de seu discípulo e o arremessaram em direção ao Espírito.

Ninguém poderia jamais suspeitar, naquele início da década de 1920, que esse jovem morador da Nova Inglaterra fosse um santo em potencial, pois o início de sua vida foi muito parecido com o de qualquer outro cidadão de Boston: freqüentou a escola, colou grau (em odontologia), casou-se e se tornou pai de um filho e uma filha. Foi naqueles primeiros anos que seu desejo pela verdade já o estava conduzindo, atormentando, para descobrir qual o sentido da vida. Ele queria respostas para: “De onde eu vim? Por que estou aqui? Para onde vou?” O próprio Deus respondeu a essas sinceras interrogações através da voz e da ação de Paramahansa Yogananda, na véspera do Natal de 1920.

O Guru disse ao jovem dentista que, em Deus, ele encontraria tudo que sempre quis. Mas avisou que a disciplina era rigorosa e que sua vida até aquele momento “havia acabado”. Enquanto fazia alusão à nova vida no espírito que o Doutor iria viver, o Mestre acrescentou que as

1 Lucas 6:39. 2 A Self-Realization Fellowship foi oficialmente fundada como uma igreja não lucrativa em Mount Washington, em Los Angeles, no ano de 1925. 3 Nos próximos capítulos, o Dr. e a Sra. Lewis contam com suas próprias palavras a história daquela noite imortal. 4 As práticas requeridas para ver essa Luz – as quais, posso acrescentar, demandam grande parcela de esforço espiritual – são ensinadas pela Self-Realization Fellowship.

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recompensas estavam além da compreensão humana, pois a alma incendiada com a Grande Luz e o Amor do Infinito poderia suportar qualquer provação que o mundo enviasse para testá-la.

As instruções do Guru eram simples, mas não eram fáceis. O Dr. Lewis já sabia que um forte alicerce de moralidade e honestidade deveria ser a pedra fundamental para a iniciação em qualquer busca espiritual; porém, ele não sabia que as técnicas1 que o Guru lhe dera eram as “Chaves do Reino”. Essas técnicas acelerariam sua evolução espiritual, despertariam a kundalini – sem cujo despertar nenhum crescimento espiritual perceptível é possível – e, principalmente, levariam à tranqüilização da mente, que é o objetivo técnico da prática da ioga.2

A ênfase do Guru, todavia, era na meditação, pois se houvesse no discípulo alguma falha de caráter, a prática bem-sucedida da meditação iria rapidamente corrigi-la.3 A prática da meditação como uma ciência esteve perdida na selva da teologia, mas se procurarmos por sinais de sua importância, eles podem ser encontrados. Cristo disse com simplicidade: “Eis que o Reino de Deus está dentro de vós”4 Diz-se que Maomé ficou seis meses meditando em uma caverna, perto de Meca, antes de fundar a fé islâmica. Buda jurou meditar sob a árvore banyan até que não houve mais carne cobrindo seus ossos, se isso fosse necessário para alcançar o Nirvana.5

A escrituras hindus, particularmente o Bhagavad Gita, não só se referem em diversas passagens à meditação, mas ainda instruem como praticá-la. Santos menos elevados, se é que podem ser chamados assim, tais como Omar Khayyam, Zoroastro, Irmão Lourenço e Tomás de Kempis, falaram a respeito da meditação e de seu valor. O Irmão Lourenço simplesmente afirmou: “Procura-O no íntimo, e em nenhum outro lugar”.

Essa prática de meditação não era nova para o Dr. Lewis, pois ele já meditava antes de encontrar seu Mestre, já que a intuição de sua alma o impulsionava à prática. O Doutor certa vez me disse que, antes de encontrar o Guru, ele costumava ver uma luz na periferia de sua consciência. Após receber o batismo de Swami Yogananda, contudo, foi como se uma cortina tivesse sido levantada, e ele começou a ver “sinais e milagres”. Daquele momento em diante não houve mais escuridão em suas meditações.

Ele logo descobriu que suas experiências correspondiam às de outros santos – aqueles poucos que registraram o que viram por detrás da escuridão dos olhos fechados. Como todos os outros santos, o Dr. Lewis foi testado até o limite de sua tolerância, com dores físicas, perseguições e, por fim, crucificação psicológica. Ele, contudo, foi páreo ao desafio, pois seu amor a Deus brilhava espetacularmente sobre todos os problemas externos; no arrebatamento profundo de suas meditações foi capaz de perceber que aqueles “pequenos testes” nada significavam comparados às grandes bênçãos que Deus havia derramado sobre ele.

Para dissipar o mito de que todos meditam quando chega à Self-Realization para tentar dominar essa que é a mais difícil de todas as ciências, o Doutor Lewis costumava dizer para os buscadores da

1 O Doutor Lewis descreveria a Kriya Yoga como o mais rápido acelerador espiritual.2 “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus!” (Salmo 46:10).3 A imensa consciência de Deus fluindo para o interior do iogue afasta todas as tendências de raiva, luxúria, excitação, inquietude, apego e desejos.4 Lucas 17:21.5 Nirvana é por vezes incorretamente descrito como “vazio” – mas ele é corretamente definido como a aniquilação da mente para que o Espírito possa brilhar.

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verdade que existem dois tipos de meditadores: aqueles que tinham contato com Deus e os que não tinham. Ele explicou que os que não tinham o contato estavam armazenando uma grande quantidade de bom carma devido ao esforço para o êxito seguindo um verdadeiro instrumento de Deus, Paramahansa Yogananda, e também recolhiam uma certa felicidade ao aquietarem a mente. Mas aqueles que contatavam a Presença de Deus ficavam eletrizados por Sua Presença e carregados com Sua consciência e energia. A escuridão e a ilusão de encarnações eram removidas pelo poder de Deus fluindo através deles. Aberrações psicológicas tais como luxúria e raiva eram expulsas pelo poder de Deus para nunca mais voltarem a perturbar o iogue que está no caminho da Realização Divina. Mais do que tudo, o iogue que alcança o contato com Deus sente uma Bem-Aventurança sobrenatural que nenhuma felicidade mundana pode sequer chegar perto. É essa Bem-Aventurança e a felicidade que a acompanha que os grandes iogues procuram, século após século. O Dr. Lewis atingiu esse objetivo.

Enquanto o Dr. Lewis prosseguia em sua escalada para a libertação espiritual, os que estavam próximos notaram nele uma grande mudança. Sua espiritualidade atingiu um ritmo tão elevado que sua mulher sugeriu a ele que falasse para os membros da congregação em termos que todos pudessem mais facilmente compreender. O Dr. Lewis respondeu com bondade: “Eles terão que chegar lá”. Não surpreende que Paramahansa Yogananda disse: “Quando você compreender um santo (ou mesmo reconhecer um), você também será um”.

A esposa altamente espiritual do Doutor ponderou em silêncio, no fim da vida dele: “O que é você, afinal de contas?” A própria Sra. Lewis já não era uma mortal comum. Ela foi talvez a pessoa mais íntegra e virtuosa que já caminhou nesta terra, e Paramahansa Yogananda a considerava uma das mulheres mais espertas que já conhecera. Muitos devotos (até mesmo seu marido), confiavam em sua força psicológica sobre-humana. O Doutor Lewis me confidenciou que ela era muito adiantada espiritualmente.

Outros descobriram os fabulosos poderes do Doutor quando ele contava com detalhes sobre o passado deles e indicava possibilidades para o futuro. Muitas dessas indicações acerca da vida dos devotos acabaram-se realizando exatamente como o iogue predissera.

O Doutor passava muitas horas após o serviço dominical prestando aconselhamento aos muitos buscadores da verdade que vinham até ele para serem orientados. Não sabendo o estado espiritual do Doutor, grande parte dos conselhos era solicitada para questões familiares, financeiras ou de saúde. Poucos percebiam que, se olhassem para além dos problemas temporários da vida (que nunca acabam), esse grande iogue poderia ter-lhes mostrado como chegar rapidamente até o Infinito.1

Durante uma de minhas entrevistas com o Doutor, nas tardes de domingo, mencionei alguns devotos com os quais eu meditava e servia na Igreja de Hollywood. Eu tinha notado que recentemente houve um significativo número de casamentos entre meus amigos devotos solteiros. Por causa disso falei depreciativamente a respeito das mulheres que estavam afastando aqueles homens do caminho de Deus. Acredito que deva ter havido muito negativismo em minha voz, pois o Doutor falou firmemente: “Você não deveria falar assim sobre as mulheres; há uma em seu futuro!” Como eu era solteiro e refletia sobre a vida monástica, essas palavras foram um choque para mim, e reagi emocionalmente, embora nada tenha dito ao Doutor. Então ele me olhou e disse: “Isso é tudo que posso lhe dizer, John”. Três anos após sua morte eu me casei.

1 Quando dava seus conselhos espirituais, ele freqüentemente abria a Autobiografia de um Iogue e assinalava uma verdade eterna que poderia escapar a uma pessoa não-iniciada. Como se eu fosse uma criança gazeteira, ele me disse que esta terra não era o meu verdadeiro lar.

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Era realmente assombroso estar em sua presença e receber sua bênção, e então ouvi-lo contar algo que estivesse martelando no fundo de sua mente sobre alguma confusão espiritual, ou alguma coisa que você tivesse feito que não fosse boa para sua vida espiritual. Nessas ocasiões ele falava firme com palavras tais como: “Por que duvida da Presença de Deus dentro de você?” Nessas ocasiões ele também me contava algo sobre a prática da ioga. Muitas dessas instruções não foram escritas, e jamais poderão ser, pois só podem ser transmitidas de iogue para iogue.

Inúmeros buscadores da verdade viajam para a Índia com a esperança de encontrar um santo de realização divina ou um Guru completamente iluminado, mas essas almas são raras em qualquer país, em qualquer época. Paramahansa Yogananda disse que gastou a sola dos sapatos andando desde Cabo Cormerin até o Himalaia, na procura de um Guru que satisfizesse sua sede espiritual. Foi apenas quando encontrou Sri Yukteswarji (que muitos consideram o iogue mais sábio de todos os tempos), que seu coração ficou satisfeito. Yogananda disse que havia pressentido que seu Guru conhecia Deus e que poderia levá-lo até Ele. Foi com essa mesma impressão que encontrei no Dr. Lewis uma alma cuja realização espiritual estava além da compreensão humana (essas foram as mesmas palavras que Sri Yukteswarji utilizou quando descreveu o Grande Babaji). Sri Yukteswarji ainda acrescentou, ao descrever estado espiritual de Babaji: “A limitada visão do ser humano não pode atingir sua estrela transcendental. Inutilmente procura-se imaginar o alcance do avatar. É inconcebível.”1

O estado espiritual do Dr. Lewis era também inconcebível.

Poucos tinham uma idéia de sua realização espiritual. E a maioria o tratava como qualquer outra pessoa. Em todos os caminhos da vida, geralmente é preciso uma pessoa de talento similar para reconhecer a verdadeira genialidade de um músico, um artista, um cientista, etc. E parece que as mesmas leis para diagnosticar-se as qualidades humanas são ainda mais relevantes quando se trata de identificar um santo. E, conforme já dissemos, existe um estado que transcende os valores comuns de caráter que separam um santo de um pecador: o estado de consciência. Quando os buscadores da verdade tornam-se receptivos a essa consciência, então não há dúvida acerca do estado dessa pessoa. Começamos a sentir a nosso redor algo que não sentimos perto de ninguém mais: uma tremenda força ascensional, uma elevação, uma felicidade, um estado de consciência que está além da capacidade de descrição das palavras, pois nada há, na consciência exterior, com que pode ser comparada.

Em seus ensinamentos, os verdadeiros homens de Deus vão para além das costumeiras referências escriturais e mergulham fundo nas verdades eternas de Deus. Os sutras [aforismos] escritos por Sri Yukteswarji em seu livro The Holy Science [“A Ciência Sagrada”] são um exemplo das verdades até então mantidas fora do alcance do público nesta yuga. Mas é possível que as verdades mais vitais da ioga foram proferidas por homens que transcenderam as fronteiras dos mandamentos das escrituras e penetraram o próprio cerne da realidade. Poucos sabem o que é o olho espiritual – embora esteja representado nas imagens de Krishna e de Buda ao redor do mundo –, menos ainda já o viram e muito menos o penetraram. O Doutor Lewis falava em termos que estão para além da mente e do intelecto, quando descrevia o que era penetrar o olho espiritual. Descreveu visões que estão além do olho espiritual, onde o “sol da justiça” se ergue, e o devoto por fim se dá conta (após muitas encarnações) de que é Um com Deus.

Em uma meditação de Natal em Mount Washington, na época do Mestre (Paramahansa Yogananda), o Doutor Lewis estava escalado para ajudar a conduzir a meditação. Quando chegou a 1 Do capítulo intitulado, “Babaji, o Cristo-Iogue da Índia Moderna” na Autobiografia de um Iogue.

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hora de começar o serviço, as costas do Doutor estavam doendo muito: ele estava deitado no chão, incapaz de se mover. Ele falou para o Mestre que havia feito o melhor que podia para afastar a dor, mas não conseguira. Paramahansa Yogananda disse que ele deveria meditar. E então o Doutor desceu as escadas e participou da meditação. O Doutor me disse que durante essa meditação, um imenso Olho Espiritual veio até ele, tão expandido que seria fácil penetrá-lo e contemplar “o outro lado”. E isso ele fez, testemunhando inúmeras almas indo e vindo do Mundo Astral. Seu relato de primeira mão que me forneceu foi tão vibrante da verdade que teve um efeito permanente em mim, particularmente ao me recordar da frágil e curta realidade da vida terrena em comparação à natureza eterna da Consciência Espiritual.

Penetrar o olho espiritual confere ao iogue grandes poderes espirituais, não sendo o menor deles a capacidade de transmitir a outros a consciência espiritual – um feito que só pode ser realizada quando o transmissor conseguiu penetrar a pequena estrela, no centro dessa luz. Em mais de uma ocasião, o Dr. Lewis foi visto abençoando monges por esse método, levando o discípulo a perder o equilíbrio e tombar ao chão devido ao grande poder que o iogue fazia fluir através deles.

O Dr. Lewis sempre recordou a este escriba que ele “falava na Luz” e para ouvir a tudo o que dizia. Tamanha era a abundância da Bem-Aventurança que saturava o Dr. Lewis durante alguns serviços, que ele precisava ouvir posteriormente a gravação em fita da palestra para poder lembrar as palavras proferidas em seu estado superior de consciência.

Religiosos têm falado de Deus há milênios, mas as bênçãos mais profundas só chegam quando o buscador da verdade realizou Deus – não apenas com o simples estudo dos ensinamentos dos Grandes Seres. O Dr. Lewis sempre falava das tremendas verdades proferidas por seu Guru e pelos Param-Gurus do caminho da Self-Realization Fellowship, mas ele também aconselhava aos devotos que Deus não poderia ser conhecido através da mente ou do intelecto, mas apenas por meio da intuição da alma. Como exemplo, o Doutor ensinou que o profundo tratado de Swami Sri Yukteswar acerca das verdades paralelas do Hinduísmo e do Cristianismo (The Holy Science), só poderia ser compreendido pela realização, e concluiu: “Precisei de trinta anos para compreendê-lo”.

Uma vez que o buscador da verdade tenha realizado Deus, todos os que estão dentro do alcance de seu magnetismo serão elevados, pois a vibração é alta, e seus efeitos residuais permanecem no lugar onde ele comungou com Deus.1 Essa é a principal razão pela qual os devotos devem visitar os Lugares Sagrados onde santos e iogues comungaram com Deus como uma realidade viva, vital.

Em uma ocasião quando este escritor estava tendo dificuldade com certa disciplina, o Dr. Lewis comentou: “Eu fiz isto. É por isso que estou livre.” Essas simples palavras revelaram que ele havia finalmente alcançado a meta de toda vida humana: União com Deus. A salvação talvez tenha vindo eras atrás, mas existe um longo caminho até a libertação final em Deus: um estado em que por fim não existe qualquer separação entre a consciência do iogue e a consciência de Deus; um estado no qual o iogue sente a Presença de Deus o tempo inteiro; um estado em que o iogue enxerga o mundo como um imenso sonho de Deus e descobre que não há nada além de bem-aventurança em sua consciência – toda dor, sofrimento e preocupações da vida mundana se foram, juntamente com os apegos e desejos que haviam criado a separação.

Aproximadamente trinta anos após o primeiro encontro do Doutor com Paramahansa Yogananda, o grande guru entrou em Mahasamadhi. Naquela noite uma pesada chuva caiu em Los Angeles; estava muito escuro e trovejando – de certa forma lembrando a morte de Jesus, quando a

1 Essa frase refere-se a uma afirmação feita por Paramahansa Yogananda.

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Terra ficou escura e estremeceu. Como podem imaginar, aqueles próximos ao Guru ficaram muito abalados com sua morte. Os devotos iam ao culto e à meditação carregados de dor. Mas Deus não Se nega àqueles que foram atraídos por Seu puro representante, e assim Ele apareceu na forma do Guru para diversos devotos enquanto estavam profundamente imersos em seus devaneios. O Doutor soube dessas visões e se perguntou, por que ele, tendo conhecido o Guru mais intimamente e por mais tempo do que todos os demais, ficou privado da visão do Mestre. Mesmo assim, ele continuou suas meditações. Uma noite enquanto estava em meditação profunda, uma grande Luz preencheu interiormente sua testa. O Doutor ficou atônito com Seu brilho, até que ouviu uma voz, suave como o murmúrio de nuvens, a qual falou de dentro daquela Luz, e disse: “Fui Eu quem veio até você como o seu amado Mestre”.1

Durante os anos do Doutor na Califórnia, ele morou na Colônia de Encinitas (propriedade da Self-Realization Fellowship). Como vice-presidente da Sociedade, ele carregava pesadas responsabilidades, incluindo conduzir sete serviços por semana, cumprir tarefas administrativas da Colônia pela qual era o responsável e também passar inúmeras horas aconselhando a todos que procuravam sua ajuda. Uma vez por semana ia de carro até a Igreja de Hollywood e dava uma aula para os monges, bem como serviços de meditação para os discípulos leigos. Mas todos os iogues precisam encontrar tempo para ficarem sozinhos com Deus. Com sua agenda tão ocupada, esse tempo era ainda mais importante para o Doutor. Conseqüentemente, ele e a Sra. Lewis compraram uma casa que havia pertencido à famosa cantora de ópera Amelita Galli-Curci, para servir de retiro, no deserto de Borrego Springs.

Era apenas uma humilde casa do deserto, com um quarto, cozinha, banheiro e sala de estar. O Doutor se deliciava com o pensamento de estar em um lugar tão silencioso, com tempo de sobra para perseguir seus objetivos no Espírito. Ele saía de Encinitas na noite de segunda-feira, ou na terça-feira de manhã, e retornava na quinta-feira para fazer o serviço noturno na Colônia. Durante esses períodos no meio da semana, ele meditava por incontáveis horas.2 Foi lá, em um agradável noite de verão, que o Doutor contemplou um grande arco íris astral de muitos matizes, estendido com grandeza sobrenatural sobre o sul do Deserto de Mojave. Como pedras preciosas, as faces dos Gurus apareceram no interior da luz tremeluzente.

O deserto de Borrego Springs freqüentemente atinge temperaturas de 46 graus; durante os meses de verão o local possui como única e questionável atração o fato de ser o ponto mais quente do país. No pequeno quarto onde meditava, as janelas eram cobertas com um pano negro grosso, a fim de que nenhuma luz pudesse adentrar.3 O Doutor sentava-se na ponta da cama, sobre travesseiros e, de pernas cruzadas, meditava por horas. A Sra. Lewis deixava a pequena casa durante o dia para deixá-lo sozinho com Deus. Para ele, o calor opressivo jamais era problema, pois em seu estado de realização, ele escapava para além de todos os vestígios de consciência corporal. Quando retornava para Encinitas, os discípulos comentavam que tinham ouvido dizer que esteve muito quente no deserto. O Doutor respondia que não tinha notado. Ele apreciava aquele lugar. Nem sequer uma vez, após retornar, ele fez alguma menção ao calor de Borrego!

1 Isso revela uma das verdades mais vitais no relacionamento Guru-discípulo; qual seja, para avançar no caminho espiritual, a pessoa precisa saber que o Guru não é ninguém mais do que o Próprio Deus. 2 Desde sua experiência em Plum Island onde meditou por cinco horas sobre as pedras, na companhia do Mestre Paramahansa Yogananda, toda inquietude foi expurgada de sua consciência, de modo que ele conseguia ficar o tempo que quisesse em meditação. 3 Isso era feito para bloquear toda a luz solar, de modo que a Luz Divina não ficasse difusa.

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Durante uma festa de Natal com os monges na Igreja de Hollywood, em dezembro de 1958, o Doutor foi convidado a falar, tendo dito: “A Irmã Daya [agora conhecida como Sri Daya Mata1] me pediu para narrar uma experiência que tive no deserto. Em 1o de maio de 1958, nas primeiras horas da manhã, Deus me mostrou Sua Grande Face.” O Doutor continuou dizendo que precisou de 37 anos para ter essa realização espiritual, e que durante esse tempo nunca deixou de praticar suas meditações diárias, pela manhã, ao meio-dia e à noite. Essa experiência é incompreensível ao intelecto, pois o Doutor desde muito cedo já havia transcendido o olho espiritual e tivera uma experiência da Consciência Cósmica. Quando me relatou sua experiência na Consciência Cósmica, disse: “Eu podia ver tudo acima, abaixo e a meu redor. Foi a coisa mais inusitada…” Essas palavras foram proferidas com humildade e com a mais singela entonação.

Nove anos após o Doutor abandonar o corpo definitivamente, a Sra. Lewis construiu uma capela de meditação em Borrego, adjacente ao pequeno retiro em homenagem às realizações espirituais de seu marido. Em 1o de novembro de 1969, a pequena capela foi consagrada pelo Irmão Anandamoy, um dos irmãos veteranos da Self-Realization Fellowship e discípulo direto de Paramahansa Yogananda.

O Dr. Lewis freqüentemente dizia em suas palestras que quando a pessoa está firmada em Deus, no final da longa jornada, ela não sentirá medo algum, pois o apego a cada aspecto da consciência mundana foi removido, permitindo ao iogue que medita submergir conscientemente na Grande Luz do Infinito, da qual todas as coisas surgiram.

Pelo fim de sua vida, ele me contou que já não precisava meditar, porque sentia a Presença de Deus o tempo inteiro. Às vezes hesito em dizer isso aos devotos, para que não encontrem uma desculpa para não meditar, mas é preciso saber que uma vida inteira de muitas horas de meditação e a prática de mil Kriyas por vez resultaram na sua capacidade de comungar com Deus sem a imobilidade do corpo.2

O Dr. Lewis sempre teve muita energia e felicidade. indicativos de seu estado constante de comunhão com Deus, o iogue comunga com o Criador independentemente de estar com o corpo imóvel, caminhando ou dormindo. Ele foi o principal ministro das igrejas da Self-Realization no período de 1953 a 1960. Suas palestras foram ministradas principalmente no Templo de San Diego (na época chamado Igreja). O relato completo de como o grande iogue deixou o corpo pela última vez é narrado pela Sra. Mildred Lewis no livro memorial da Self-Realization dedicado ao Dr. Lewis, The Life Story of Dr. M. W. Lewis.3

John Rosser

26 de Março de 1991

1 Presidente da Self-Realization Fellowship.2 Aqueles que conheceram o Doutor sabem que ele jamais se vangloriava; ele nunca teria dito isso publicamente. Quando John Rosser exclamou que tivera uma excelente meditação na Igreja de Hollywood onde o Doutor Lewis estava falando, este replicou com ternura: “Você estava próximo do instrumento”.3 Curiosamente, a maneira como o Doutor Lewis abandonou o corpo foi prevista por Paramahansa Yogananda em uma carta escrita em Encinitas, no ano de 1945 (incluída neste volume): “Você será conscientemente levado para fora do corpo pelo Guru [referindo-se a Swami Sri Yukteswar]. Você mereceu isso por todos esses anos de prática da Kriya Yoga.”

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Dr. Lewis - 1948

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Conteúdo

Prefácio por Brenda Lewis Rosser ............................................................................................... i

Introdução por John Rosser...........................................................................................................iii

PARTE I – LEMBRANDO O MESTRE

1. Recordações de Mildred Lewis

Mildred Lewis Encontra o Swami Yogananda, 1 · Irmã Yogamata Encontra o Swami Yogananda, 1· O Doutor Encontra o Swami Yogananda, 2 · A Luz de Deus e o Rolo de Macarrão, 2 · Mildred Lewis Torna-se uma Discípula, 3 · As Três Folhas de Chá, 3 · O Passeio pelo Lago Mystic, 4 · A Pensão: Inverno, 1921, 4 · Órgãos, Limonadas e Saborosa Comida Indiana, 4 · A História do Stanley Steamer, 6 · A Primeira Cerimônia das Flores, 6 · A Trilha Mohawk, 7 · O Primeiro Ashram: Waltham, 8 · Sem Segredos, 8 - A Primeira Publicidade, 8 · "Sente-se, Swamiji," 9 · Os Anos Voam, 9 · A Estrada Congelada, 10 · Os Anos da Depressão, 11 · A Bênção do Guru, 11 · A Ajuda Instantânea de Deus, 12 · Oração no Patamar da Escada, 12 · Envolto em uma Luz Azul, 12 · A Intercessão do Guru, 13 · A Mudança para a Califórnia, 14 · A Calçada com as Lajes Arizona, 14 · Trabalhando na Estufa, 15 · O Chapéu do Doutor, 16 · O Caso da Melancia, 16 · Recordando a Irmã Gyanamata, 17 · A Dedicação Incessante do Doutor, 17 · O Retiro de Borrego, 18 · O Menor Desejo, 19 · O Retiro de Borrego Progride, 19

2. Recordações do Doutor Lewis

Uma Meditação de Cinco Horas em Plum Island, 24 · O Mestre Protege a Família do Doutor, 25 · Um Período de Grandes Bênçãos, 25 · O Mestre Ajuda o Doutor e sua Família, 26 · O Doutor Quase se Molha, 26· O Mestre Recupera a Saúde do Doutor, 27

3. Cartas de Paramahansa Yogananda

Paramahansa Yogananda escreveu muitas cartas ao longo dos anos (1921-1951) para o Doutor e Mildred Lewis. Oferecendo um relato raro e íntimo do relacionamento do Guru com dois de seus mais antigos discípulos, são apresentadas aqui noventa e cinco cartas. – 30

4. Adenda

4.1 Carta de Swami Sri Yukteswar - 143

4.2 Juramento da Kriya de Mildred Lewis – 144

4.3 Carta de Ananda Mohan Lahiri (Neto de Lahiri Mahasaya) – 145

4.4 Histórias do Mestre e de Dr. Lewis, contadas por Sr. John Rosser e outros – 147

4.5 O mahasamadhi do Doutor Lewis – 167

4.6 Música de Doutor Lewis – 169

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Tesouros que Desafiam o Tempo

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Paramahansa Yogananda e quatro de seus discípulos mais adiantados (Dr. Lewis, Rajarsi Janakananda, Yogacharya Oliver Black e Irmão Bhaktananda) após cerimônia de Kriya, em 1951.

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Capítulo 1

Lembranças de Mildred Lewis

Em outubro de 1920, quando estava indo almoçar, ele (o Doutor) passou por um “homem de aparência estranha” atravessando a rua. O Doutor Lewis lembrou-se desse incidente porque aquela figura ágil, vestida com uma túnica e um turbante alaranjados, realmente causava uma forte impressão. O Doutor mais tarde recordou como foi seu primeiro vislumbre de Swami Yogananda: “Após termos nos cruzado, dei meia volta e olhei para ele, e ele deu meia volta e olhou para mim”. Quase dois meses depois aconteceu uma oportunidade para o Doutor encontrar esse Swami, como a seguinte história irá contar.1

Mildred Lewis encontra o Swami YoganandaAntes de Swami Yogananda chegar na América, o Doutor e eu nos filiamos à Ordem Rosacruz,

visto que o Doutor já estava há vários anos procurando um maior conhecimento espiritual. Era costume da Ordem realizar palestras nos domingos à noite. Em certo domingo, numa noite muito chuvosa em novembro de 1920, convidei uma amiga para ir a uma dessas palestras em Boston. Andamos pela cidade de bonde e de metrô.

Quando chegamos ao local, a líder encarregada da Ordem, Sra. Clemens, encontrou-me na porta. “Sra. Lewis”, disse ela, “após o término da palestra, gostaria de apresentá-la a um Swami indiano que está nos assistindo”. Lembro-me de ter olhado ao redor procurando um cavalheiro indiano, mas não encontrei, pois o auditório, com exceção da plataforma, estava parcamente iluminado.

Quando a palestra terminou, minha amiga e eu fomos à recepção esperar. Poucos minutos depois, a Sra. Clemens apareceu com o swami indiano de pele escura, cujos longos cabelos caíam-lhe sobre os ombros. Ele usava um turbante e uma túnica alaranjados, polainas e uma espécie de sapato alaranjado com cordões. Eu não estava acostumada a ver alguém vestido dessa maneira; devo ter parecido uma pessoa estranha para esse Swami hindu, assim como ele o era para mim. A Sra. Clemens então me apresentou para esse oriental – Swami Yogananda Giri de Calcutá, Índia. Ao me lembrar desse encontro, posso dizer sem sombra de dúvida que fiquei tão impressionada a ponto de emudecer. Eu tinha muito pouco a dizer, mas jamais esqueci aquele encontro.

Quando cheguei em casa, imediatamente falei ao Doutor sobre isso, atiçando sua curiosidade. Falávamos sobre o assunto com freqüência. Dentro de uma semana, o Doutor voltou do consultório para casa e disse que havia visto aquele mesmo indiano oriental. O Doutor me disse: “Acho que o swami que você encontrou passou em frente ao meu consultório hoje”.

Irmã Yogamata encontra o Swami YoganandaPouco tempo depois de o swami ter passado próximo ao consultório do Doutor, aconteceu a

seguinte situação. A Sra. Alice Hasey, que mais tarde se tornaria Irmã Yogamata, estava preparando algumas flores em uma manhã de domingo na Igreja Unitária de West Somerville. Enquanto trabalhava com as flores, ela espiou no auditório um indiano oriental sentado em um dos bancos da igreja.

1 O Dr. Lewis era carinhosamente conhecido como o Doutor. As histórias neste capítulo foram compiladas e editadas a partir de vários diários e anotações guardadas por Mildred Lewis. Algumas vezes, a Sra. Lewis referia-se impessoalmente a si mesma como “Sra. Lewis”, e outras vezes ela escrevia na primeira pessoa. – O Editor.

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Aproximou-se dele e perguntou: “Posso fazer algo pelo senhor?” Ele agradeceu e disse que o ministro o havia convidado para uma visita. Agora Swami Yogananda estava morando em Boston, após ter comparecido no Congresso de Religiosos Liberais que era, aparentemente, o motivo único de ter vindo para a América. Após o serviço dominical, a Sra. Hasey teve um breve encontro com Swami Yogananda. Ela o convidou para ir a sua casa na Lester Terrace 9, West Somerville, Massachusetts, a fim de conhecer um grupo de amigas que liam e debatiam acerca de livros metafísicos.

Não muito tempo após esse dia foi que a Sra. Hasey ligou para seu querido amigo – Doutor Lewis – e por telefone contou-lhe sobre um certo Swami hindu que ela havia conhecido e que tinha conversado com suas amigas. Ela falou que o Doutor deveria conhecer esse Swami Yogananda. O Doutor estava cético, mas, ainda assim, pediu que ela providenciasse para breve um encontro com ele. Foi marcado um encontro para a véspera de Natal, na Unity House, no Park Square, em Boston.

O Doutor encontra o Swami YoganandaO Doutor estava muito desconfiado e cético quando foi se encontrar com Swami Yogananda,

pois já tinha sido muito alertado por seus pais e amigos para não ser enganado por charlatões em nome da religião. O Doutor começou fazendo muitas perguntas, e o Mestre lhe deu respostas satisfatórias. O Doutor disse: “É dito na Bíblia, ‘Se, portanto, o teu olho for único, todo o teu corpo será luminoso’.1 O senhor pode me dizer algo sobre isso?” O Mestre disse: “Acho que sim”. O Doutor então falou: “Já perguntei para muitos, mas ninguém parece saber sobre isso”. Swamiji disse para o Doutor: “Pode o cego guiar outro cego? Ambos cairão no mesmo fosso.”2 Tendo ouvido isso, o Doutor falou com grande entusiasmo: “Pelo amor de Deus, por favor, me mostre”.

O Mestre então olhou profundamente nos olhos do Doutor e perguntou: “Você sempre me amará, assim como eu o amo?” O Doutor respondeu que sim, e o Mestre disse: “Assumo responsabilidade por sua vida”.

O Mestre então colocou uma pele de tigre no chão de seu quarto e pediu para que o Doutor se sentasse com as pernas cruzadas; ficaram um de frente ao outro. Então o Mestre mostrou-lhe a Luz: o Doutor viu a estrela no olho espiritual e o lótus de mil pétalas.

O Doutor sempre dizia, após esses muitos anos de disciplina, que ele pouco entendeu na época o significado daquelas palavras e, também, pouco havia compreendido o que Mestre estava avisando quando disse: “Quero que me prometa que jamais irá me evitar”. O Doutor prometeu, porém muitas vezes foi difícil demais, pois a disciplina de um guru não é um caminho fácil, contudo, é sempre para o próprio bem do discípulo, ao guiá-lo para a única Morada da Luz.

Após descrever o encontro com o Mestre na Unity House, escreverei agora sobre o “incidente do rolo de macarrão”.

A Luz de Deus e o rolo de macarrãoEra nosso costume montar a árvore de Natal na véspera para que fosse uma surpresa completa

na manhã seguinte para nossos filhos Bradford e Brenda. O compromisso do Doutor com Swami foi na véspera de Natal, portanto quando o Doutor saiu de casa, ele me disse que estaria de volta a tempo de montar a árvore. Ele saiu pensando que ficaria fora por pouco tempo, mas passaram-se muitas, muitas horas até que retornasse. Eu não sabia para onde ele tinha ido. Ele apenas dissera: “Estarei logo de volta, e faremos a árvore de Natal”. Lembro-me de suas instruções para deixar tudo preparado.3

1 Mateus 6:22.2 Lucas 6:39.3 No capítulo seguinte, o Doutor Lewis conta essa história com suas próprias palavras.

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Enquanto a noite adentrava as horas, tudo estava preparado, mas não havia o papai para montar a árvore! Eu tentei fixar a árvore em uma caixa de madeira, da maneira que fazíamos antes de comprarmos apoios metálicos. Não adiantou: a árvore de Natal não ficava em pé naquela caixa. Então, abandonei a idéia e continuei pensando que o Doutor logo estaria de volta.

Hora após hora se passava, e logo já era meia-noite. Eu estava ficando irritada, pois como iríamos deixar a árvore pronta para o Papai Noel antes das crianças descerem correndo as escadas? Agora eu iria realmente fazer algo para montar a árvore, e então me preparei. Havia uma cadeira de pedra na cozinha e fiquei lá plantada, com as mangas arregaçadas e segurando firme um rolo de macarrão em minha mão direita. Então me sentei. Quando o relógio se aproximava de uma da manhã, ouvi primeiro o automóvel entrando na garagem, então ouvi as portas da garagem sendo fechadas, a porta da frente sendo aberta, e logo os passos foram chegando na cozinha. Eu estava realmente pronta para arremessar aquele rolo de macarrão!

O Doutor entrou na cozinha com um sorriso divino no rosto, tão maravilhoso, com o brilho de ter estado na presença do Mestre, de modo que não conseguir bater nele. Deixei cair o rolo de macarrão. Houve algumas palavras, mas foi tudo. A árvore foi montada, enfeitada, e o Papai Noel chegou antes das crianças acordarem. Essa história o Mestre costumava contar em suas palestras. Moral: Quando você está na Luz de Deus, nada (nem mesmo o furioso rolo de macarrão de sua esposa!), pode atingi-lo. O Doutor sempre disse que aquele havia sido seu primeiro Natal de verdade.

Mildred Lewis torna-se discípulaBem, o Natal chegou e se foi. Pouco depois do Ano Novo, recebemos um convite para jantar na

casa da Sra. Hasey. Chegamos na casa dela – uma noite fria de inverno – e deixamos nossos agasalhos no corredor. Então, fui escoltada até a sala e, logo na minha frente, estava sentado Swami Yogananda. Isso foi muito perturbador: o Doutor e a Sra. Hasey haviam planejado esse encontro sem meu conhecimento. Após o incidente do rolo de macarrão, eu tinha dito que não iria me envolver com nenhuma religião – e nenhum hindu!

[Instantes depois Swami Yogananda chamou a Sra. Lewis para outro aposento, onde tiveram uma conversa a sós. Anos depois ela contaria que um véu havia obscurecido sua consciência em relação àquele encontro; ainda assim, ficou claro que o swami modificou a consciência dela durante aquela conversa. E, conforme nos conta o Doutor Lewis no capítulo seguinte, a devoção e lealdade dela jamais diminuíram a partir daquele momento. – O Editor]

Em junho de 1921, no final da estação, tivemos nosso primeiro piquenique em uma tarde de domingo, no Lexington Park. Estavam presentes todos os membros que vinham freqüentando os serviços em Boston e na casa da Irmã Yogamata. Quando acabou o encontro, o Mestre veio a mim: “Gostaria de lhe falar. Você poderia vir à casa da Irmã amanhã de tarde?” Eu fui, e foi então que o Mestre realmente me aceitou como discípula. Todos os pecados foram perdoados, assim como ele dissera ao Doutor na véspera de Natal de 1920. Fui acometida por muitas doenças nos anos seguintes – não muito sérias – mas, ainda assim, minha saúde por vezes não era lá essas coisas. O Mestre sempre me disse: “O que você está sofrendo agora não vem desta vida, mas de vidas anteriores”.

As três folhas de cháA história das três folhas de chá foi minha primeira noção dos poderes sobrenaturais de Swami

Yogananda. Em 1921, enquanto me tornava a cada dia mais familiarizada com o Mestre, eu lhe contava quando alguma coisa diferente perturbava a saúde de meus dois filhos, Brad e Brenda. Era um tanto comum que Bradford reclamasse de uma dor no estômago, não necessariamente após comer.

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Um dia ele estava reclamando muito. E então pensei em pegar o telefone e ligar para Swamiji, que estava em Boston naquela época. Pedi seu conselho sobre a situação de Bradford. Isso foi o que ele me disse para fazer: pegar três folhas de chá e colocá-las numa xícara; despejar uma pequena quantidade de açúcar sobre as folhas; espargir sobre as folhas de chá meia xícara de água quente; quando o chá tiver dissolvido, esperar alguns minutos e dar uma colher de sopa dessa infusão e continuar ministrando as doses até que a dor de estômago tenha desaparecido.

Fiz exatamente conforme ele me disse, e a criança não teve mais dores estomacais. Isso foi para mim um milagre de cura e, acredito, dessa época em diante, minha fé nos poderes espirituais do Mestre foi estabelecida. Eu sei, e todos nós sabemos: não foram as três folhas de chá!

O passeio pelo Lago MysticNuma noite quente em junho de 1921, o Mestre pediu para o Doutor levá-lo para uma bela área

arborizada nos arredores do Lago Mystic. Os jardins enchiam-se de lindas flores a cada primavera. O Doutor contou para a Sra. Lewis que durante o passeio ao redor do parque, Swamiji pedira para o Doutor parar o carro. Naquela hora já estava começando a ficar escuro. Swamiji saiu do carro e atravessou uma área de grama recém plantada em direção a um belo jardim florido.

O Doutor não conseguia acreditar em seus olhos. Swamiji estava colhendo as flores tão rápido quanto podia e então voltou para o carro com os braços carregados. Quando Swamiji entrou no carro, ele disse: “Peguei essas flores para você, Doutor”. O Doutor agradeceu e então saiu daquela área rapidamente, com medo de que a guarda florestal pudesse ir atrás deles. Mais tarde, o Doutor explicou para Swamiji que nos parques estaduais de Massachusetts não é permitido colher flores.

A pensão: inverno, 1921Antes de o Mestre ter morado com a Sra. Hasey ou com o Doutor e eu, ele morou em uma

pensão numa rua transversal da Harvard Square, em Cambridge. Havia vários estudantes hindus morando nesse alojamento. Uma noite, o Mestre pediu que o Doutor fosse até lá e jantasse curry com os estudantes. Enquanto comia o curry, o Mestre falou para o Doutor: “É um tanto picante”. O Doutor concordou!

Em outra ocasião no inverno de 1921, o Doutor – por alguma razão – estava querendo enviar uma mensagem para Swamiji. Enquanto eu saía para entregar a mensagem, o Doutor mandou sua enfermeira até a casa para cuidar de nossos filhos. Estava um frio de rachar. Precisei andar um bom trecho até o bonde, sendo que em uma das paradas, havia uma confeitaria. Entrei e comprei uma caixa de chocolates. Ao chegar no endereço do alojamento, toquei a campanhia, aguardando ser chamada para entrar. Uma mulher enorme foi até a porta, e perguntei se poderia falar com o swami. Ela fechou a porta, e eu fiquei naquele clima glacial esperando o swami aparecer. Finalmente aconteceu; ele abriu a porta. Entreguei a mensagem escrita pelo Doutor e dei a caixa com os chocolates. O que aconteceu então! Os olhos do Mestre encheram-se de lágrimas. Fiquei completamente consternada e voltei direto para casa. O que me induziu a levar um presente para o swami? Eu não sabia na época que sempre se deve levar um presente para o Guru.

Órgãos, limonadas e saborosa comida indiana Vários meses antes de nos casarmos, Minie (Dr. Lewis) estava interessado em comprar um

órgão Estey. Esses órgãos tinham uma alavanca elétrica anexa ao lado direito, encaixada de maneira tal que não ficava nem um pouco despercebida. Minie finalmente decidiu por o modelo que gostava (na época). Após a mudança para nossa nova casa, o aparelho foi entregue – um órgão bi-manual, completo com pedais e acabamento de carvalho.

Na Rua Whitman 19, nós tínhamos uma sala de estar, um escritório, sala de jantar, cozinha, três quartos e um banheiro. Todo nosso mobiliário havia sido pessoalmente escolhido e já estava pago;

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uma bela suíte de nogueira encerada para o quarto de casal nos foi presenteada por meus pais. Fiz todas as cortinas de linho, tendo costurado as bainhas com minhas próprias mãos. Moramos nessa casa por um ano e três meses, e decidimos que era grande demais. Uma casa mais simples com dois cômodos estava sendo construída no terreno vizinho pelo avô Lewis, e então nós trocamos de casa. Bradford tinha apenas sete meses de idade. Nessa nova casa na Rua Whitman 23, tínhamos um quarto e um escritório. Com certeza não tínhamos pensado direito, pois em abril de 1919 nasceu Brenda, e então ficamos apertados em um quarto.

Quando Brenda completou três meses de vida, compramos a casa logo atrás da nossa, na Eletric Avenue 24, onde havia três quartos, dois banheiros e um maravilhoso quarto só para as crianças brincarem. Essa é a casa que o Mestre tanto gostava. Lá nós tínhamos uma ampla cozinha bem equipada – um grande fogão, pia e despensa. Quantos jantares hindus saíram dessa cozinha para servir os muitos amigos hindus do Mestre! Era nessa casa que havia uma adorável varanda nos fundos, onde o Mestre e o Doutor sentavam-se nos entardeceres quentes e tomavam a limonada feita pelo Mestre.

Moramos nessa casa de junho de 1919 a novembro de 1926.

O maior problema quando nos mudamos do número 19 para o 23 na Rua Whitman foi a retirada do órgão Estey. Após consultarmos os carpinteiros, ficou decidido transportar o órgão através de uma ponte (no segundo andar) entre as duas casas. A mudança ocorreu em um dia frio de janeiro. Conseguimos, mas foi um baita trabalho!

Depois de algum tempo, o órgão de carvalho foi vendido. Um modelo maior de mogno foi comprado e entregue diretamente pela Companhia Estey em nossa casa na Eletric Avenue 24. Nessa casa tínhamos um espaço muito maior para o órgão. Quando o Mestre estava conosco, ele amava tocar esse órgão. Ele abria todas as chaves. Acredito que sua canção favorita era “Canção de Swami Ram Tirtha”. Eu dizia sempre: “Teremos que nos mudar, se o senhor tocar tão alto”. Com as janelas fechadas, era possível ouvir o órgão a uma quadra de distância!

Na área dos quartos, havia um belo banheiro com lajotas brancas. Fechando-se uma cortina circular, podia-se tomar banho dentro da banheira. Que atração para o Mestre! Já que uma comodidade dessas era desconhecida na Índia, agora compreendo porque o Mestre gostava tanto de tomar banhos em nosso banheiro! Após seu banho matinal, eu tentava arrumar tudo. Havia água por todo canto, e as toalhas estavam encharcadas. Sendo inexperiente no casamento, eu ficava por certo facilmente desencorajada sobre a dificuldade em se manter uma casa limpa. Após esse banho diário, o Mestre descia as escadas todo entusiasmado para cozinhar algum saboroso prato indiano para o almoço do Doutor. Então, de tarde, começávamos a cozinhar para o jantar, sendo que freqüentemente recebíamos convidados. Após o jantar, o Doutor e os convidados sentavam-se ao redor da mesa até as primeiras horas da madrugada, ouvindo as histórias do Mestre e discutindo sobre as escrituras hindus. Havia todo tipo de discussões!

Uma noite tivemos a família Wilbur Lewis (irmão mais velho do Doutor) e outros convidados para o jantar. Após a refeição, houve um telefonema para Swamiji. Nessa casa o telefone ficava no quarto de brincar das crianças, logo após saindo da cozinha. Durante o jantar, Wilbur Junior, então com seis anos de idade, não estava se sentindo muito bem e então o colocamos no sofá daquele quarto.

Então, após o jantar, estávamos todos sentados ao redor da mesa, sem dúvida ouvindo Swamiji nos contando alguma história interessante – quando o telefone tocou. A chamada era para Swamiji. Ao pegar o telefone na mesa próxima do sofá, o Mestre sentou-se. Ele estava falando quando repentinamente o jovem Wilbur gritou: “Você está sentando em mim”. Swamiji deu um pulo com o

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telefone nas mãos. Como ele gargalhou! Ele terminou a conversa e então voltou para a sala de jantar para nos contar o quanto ficou estupefato quando ouviu: “Você está sentando em mim!”

A história do Stanley Steamer Quando o clima começou a ficar quente na primavera de 1922, Swamiji pedia freqüentemente

que o Doutor o levasse para visitar alguém, ou para que fossem passear nos arredores da cidade a fim de encontrar um lugar calmo para meditar sob as estrelas. Em uma dessas noites, eles dirigiram até uma reserva próxima chamada Middlesex Fells, um parque estadual em uma área de floresta densa, em que também havia um observatório. Eles já tinham estado lá antes, onde meditaram no topo de uma colina, do qual era possível enxergar as luzes da cidade de Boston. Nessa época o Doutor possuía um Stanley Steamer: era um carro de passeio para cinco passageiros. Nenhum outro carro andava mais suave; o Mestre certamente apreciava os passeios noturnos, especialmente quando o tempo estava quente. Como não era possível dirigir dentro do parque, o Doutor estacionava o carro em uma rua próxima da entrada.

De minha parte, eu estava em casa com as crianças. Já era tarde, e fiquei preocupada de quando o Mestre e o Doutor estariam de volta. Nesse momento atendi uma ligação ao telefone:

“Polícia de Medford, aqui é o tenente fulano de tal. É a Sra. Lewis?”

“Sim, senhor.”

“Sabe onde está seu marido?”

“Não, senhor.”

“Encontramos o carro dele, um Stanley Steamer, em uma rua próxima da entrada de Middlesex Fells. Estamos preocupados pelo carro ter ficado lá, pois um grupo de jovens estava voltando de um baile. Notamos que havia um par de binóculos no banco traseiro. Então, para não corrermos o risco, guinchamos o carro até a delegacia. Quando seu marido entrar em contato, por favor informe-o do ocorrido.”

As horas iam passando. Lembro-me tão bem de ter ido várias vezes até a praça para ver se conseguia enxergar duas pessoas a pé voltando da montanha. Finalmente, ao longe, consegui ouvir passos arrastados e vozes. Eles estavam voltando do parque. Quando chegaram em casa, abri a porta sem dizer nada. Todos nos sentamos. Pude notar como estavam cansados. Quando lhes disse que a Delegacia de Medford havia ligado por volta da meia-noite (agora já passavam de duas da manhã) e contei que o carro estava lá, eles obviamente ficaram aliviados ao saber que não haviam sido roubados. Pobre Doutor! Precisou andar quase oito quilômetros a mais para pegar o Stanley Steamer, com os binóculos ainda no banco traseiro.

Swamiji e eu nos sentamos para esperar a volta do Doutor. Ele então nos contou como foi minuciosamente interrogado sobre seu paradeiro, e tudo o que pudemos fazer foi dar uma boa risada. Após uma leve refeição, fomos todos dormir uma merecida noite de sono.

A primeira Cerimônia das FloresA primeira cerimônia das flores aconteceu em junho de 1922. Foi realizada no segundo andar da

casa da Sra. Hasey. Os membros meditavam nos quartos do primeiro andar. Então, cada membro subia até um pequeno quarto em que o Mestre montara um pequeno altar. Nessa época apenas as fotografias de Lahiri Mahasaya e Sri Yukteswar ficavam no altar. Um vaso com lindas rosas brancas estava colocado entre os retratos. Conforme instruções do Mestre, cada um ajoelhava-se perante o altar, pegava uma rosa e a depositava sobre o altar. O Mestre ficava sentado ao lado do altar. Então ele abençoava a cada um de nós. Se ao menos eu soubesse o privilégio que era ser abençoada por um grande Guru.

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[Anos mais tarde Paramahansa Yogananda deu um par de chinelos como presente de Natal para a Sra. Lewis. Junto aos chinelos estava um cartão relembrando os esforços dela “no Primeiro Festival ou Convenção ocorrida na Igreja do Advento”:

Para Mildred,

Com bênçãos ilimitadas,

P. Yogananda

Uma pequena lembrança em reconhecimento por ter sido a porta-voz do primeiro festival Satsanga em Boston e por tudo o que você tem feito desde aquela época para divulgar a causa.

Muito atenciosamente, PY]

A Trilha Mohawk Durante os meses de inverno, Swamiji freqüentemente nos falava sobre fazer um passeio de

automóvel na primavera. Assim, em junho de 1922, planejamos fazer a famosa Trilha Mohawk, em White Mountain.1 Tínhamos um novo carro R & V Knight – Swamiji, Doutor, Sra. Lewis e Bradford foram os passageiros. Brenda ficou com os avós Lewis.

Deixamos West Somerville e cruzamos o estado até a pitoresca Trilha Mohawk, fazendo uma parada na primeira noite em Charlton, em uma pequena hospedaria na beira da estrada. O clima estava maravilhoso, quente e límpido. Como Swamiji ficou feliz por estar numa área rural! Pela manhã, deixamos Charlton e continuamos na estrada até North Adams, Massachusetts.

De lá partimos para Vermont, fazendo nossa primeira parada em Bellows Falls por volta do meio-dia. Estávamos equipados para cozinhar sobre chapas quentes, e foi justamente o que fizemos naquele dia. Compramos suprimentos em um armazém e descobrimos um local adequado perto de um riacho. Lá cozinhamos o curry. Um curry cozinhado em ar aberto fica melhor; e com Swamiji estando tão feliz, nós devoramos até o último pedaço!

Após termos lavado todos os pratos na água fria do riacho, retomamos a viagem em direção a Ludlow, em Vermont. No caminho até Ludlow, nos defrontamos com muitas colinas íngremes e, numa delas, Swamiji ficou dizendo: “Vá rápido, Doutor”. Não me recordo a velocidade em que estávamos descendo, mas era rápido. Perto do fim da descida, ouvimos um barulho sob o capô! Alguma coisa tinha caído. Finalmente o Doutor parou o carro, saiu, e verificou o que houve. Uma peça encontrada somente nos motores Knight estava danificada. Não havia chance de arrumar uma peça substituta lá no interior do país, mas, felizmente, logo depois da estrada, havia uma oficina, na qual entramos. O Doutor explicou o problema, e o mecânico fez o conserto. Após uma longa espera, prosseguimos até Ludlow, Vermont.

Após Ludlow, fizemos um passeio em White Mountain por um dia inteiro, e então seguimos até Dover, em New Hampshire, onde meus pais moravam. Estávamos sendo aguardados para chegar no fim da tarde, mas era muito mais tarde quando chegamos. As camas já estavam todas prontas para nós, minha mãe estava em Duxbury naquela época, e logo estávamos todos dormindo.

Pela manhã, fui até a cozinha, sendo que na mesa havia um grande ovo com um bilhete de meu pai. Era um ovo com duas gemas para o meu filho Bradford. Eu cozinhei para ele.

Quando Swamiji desceu para o café, contei para ele sobre o ovo com duas gemas que tinha cozinhado para Bradford. Deixa só eu dizer! Cozinhei errado e, pelo resto da vida de Swamiji, ele nunca me deixou esquecer.1 O poema de Paramahansaji, “Mohawk Trail”, faz referência a essa viagem. Esse poema encontra-se no livro Songs of the Soul, publicado pela Self-Realization Fellowship.

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Então em anos posteriores me vinguei. Eu sabia onde comprar ovos com dupla gema. A cada semana ele recebia duas dúzias de mim, e eu cheguei a comprar inclusive em nossa última visita a Mount Washington, antes do Mahasamadhi do Mestre.

O primeiro ashram: WalthamO Mestre começou suas palestras em Boston no outono de 1921 e continuou até a primavera de

1922. Nessa época, com a aproximação do verão, o Mestre quis fundar um ashram ou eremitério. Como isso era novidade para os Lewis, ele levou a Irmã Yogamata para ver algum lugar próximo, onde ele poderia sair da cidade. O Reservatório Hardy, em Waltham, foi escolhido. A Irmã possuía algum dinheiro com o qual adquiriu a propriedade, em conjunto, acredito eu, com a Moody Land Company.

Bem, a propriedade não estava no mapa e não tinha endereço específico, mas foi lá que Swamiji localizou seu primeiro eremitério! Obviamente, como havia falta de dinheiro, a casa foi construída humildemente muito próxima da margem do Reservatório Hardy. Ela foi erguida com blocos de cimento, sem instalações para banheiro. O cenário era um tanto panorâmico, é verdade, pois havia muitas árvores lindas no terreno. Lembro-me de outra coisa, a propriedade era a última no final da estrada, de modo que não havia mais ninguém além dela.

Íamos sempre aos domingos até Waltham, onde um bom grupo de estudantes se reunia, e o Mestre dava uma palestra, seguida por um jantar de curry. É claro, nos meses de inverno a propriedade de Waltham precisava ser fechada. Uns três ou quatro anos após a construção desse eremitério, a Irmã Yogamata decidiu ter uma cabana própria no lado esquerdo do eremitério. Ele morou lá por algum tempo.

Sem segredosUm dia, enquanto fazíamos uma visita com a Irmã Yogamata em sua casa de veraneio em Plum

Island, aconteceu o seguinte pequeno incidente em uma tarde. Swamiji estava descansando em seu quarto. A porta estava entreaberta, o Doutor e eu aguardávamos ansiosos o seu despertar. Como naqueles primeiros dias sempre havia um tom de brincadeira, decidimos amarrar um barbante no calcanhar de Swamiji, de modo que quando fosse se levantar, a porta, devido a sua localização, iria dar uma batida e se fechar. Com muito cuidado, executamos nossa brincadeirinha – andando na ponta dos pés pelo quarto, na certeza de que Swamiji estava dormindo profundamente. Após finalizarmos tudo, contemplamos nosso projeto com grande alegria e então assumimos nosso posto para observar e ouvir o barulho. Quando estávamos justo passando pela soleira da porta, ouvimos: "Há! Há! Então vocês vão amarrar seu Swami na porta?” Sem segredos com o nosso Swamiji.

A primeira publicidadeA primeira publicidade da Yogoda Sat-Sanga ocorreu em 1921 ou 1922, quando o Mestre quis

divulgar um pequeno livreto Yogoda. O Mestre pedia que o leitor enviasse dez centavos para nosso endereço na Eletric Avenue 24, a fim de cobrir custos de envelope e postagem. De vez em quando, chegava uma cartinha pedindo o livreto. O correio era então preparado em nossa mesa de jantar. De tempos em tempos o Mestre telefonava para saber se haviam chegado algumas cartas. As correspondências chegavam lentamente, mas foi o início da bola de neve que o Mestre havia sempre predito que viria.

Por volta dessa mesma época, o Mestre decidiu me ver uma vez por semana. Então contratei uma jovem moça para vir todo sábado de manhã tomar conta das crianças. Quando ela chegava, eu ia até a casa da Sra. Hasey (a Irmã), onde o Mestre me aconselhava. Ele falava comigo sobre meu comportamento e sobre a disciplina em geral de que eu precisava; e então nós meditávamos.

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“Sente-se, Swamiji”Era hábito de Swamiji passar quatro ou cinco dias por semana em nossa casa na Eletric Avenue

24, West Somerville, Massachusetts. Em uma dessas ocasiões, o dia começou cheio de atividades na cozinha. Vários tipos de curries estavam sendo preparados para o jantar. Naquela tarde em particular, Bradford, que tinha três anos de idade, estava muito bagunceiro, e piorando. Após tentar acalmá-lo várias vezes, para que pudéssemos continuar cozinhando, decidi colocá-lo em seu cercadinho. Não era isso o que ele queria! Ele ficava repetidamente descendo as escadas, e eu repetidamente o levava para cima.

Swamiji percebeu que com todas essas interrupções os curries não ficariam prontos. Assim, enquanto descascava ervilhas, ele as encheu em um balde e levou até o quarto, onde sentou-se para ficar cuidando de Bradford – e, incidentalmente, mantê-lo no cercadinho. Logo começou o berreiro; e que gritos naquele quarto! Bradford começava a escalar, e Swamiji o punha de volta. Após muitos minutos com esse procedimento, Bradford prometeu que ficaria comportado, então Swamiji desceu as escadas com Bradford o seguindo – ainda soluçando e com os olhos vermelhos pela disciplina que recebera.

Swamiji continuou preparando a comida, e Bradford ficou olhando por algum tempo. Não demorou muito e Bradford começou a empurrar uma cadeira na cozinha – arrastando-a ao longo do piso até onde Swamiji estava em pé. Antes que tivéssemos alguma reação, Bradford disse: “Sente-se, Swamiji!” Yogananda freqüentemente contava essa história. “Embora a criança estivesse triste com o castigo, ainda assim havia sido disciplinada com amor”.

Os anos voamO Mestre continuou trabalhando duro. A primeira série de palestras que ele deu fora da cidade

foi em Worcester, Massachusetts, no Hotel Bancroft, por cinco noites. Na última noite o Doutor me levou para a palestra, o que significou uma viagem de 75 km até Worcester, na ida e na volta, e dirigir assim não era tão fácil lá no início da década de 1920. Após a palestra, lembro-me, tivemos um jantar leve e então voltamos para Boston. Durante a viagem, o Mestre anunciou que gostaria de proferir uma série de palestras em Nova Iorque. Obviamente, não ficamos felizes do Mestre nos deixar. Quando começou a explicar seus planos, recebemos um golpe que jamais irei esquecer: “Doutor, vou precisar de mil dólares”. Tínhamos duas crianças pequenas e acabáramos de comprar uma casa e um novo automóvel. Fiquei muito contrariada, mas foi o que aconteceu. O Mestre conseguiu, e então partiu para Nova Iorque com a Irmã e dois ou três outros alunos que haviam assistido às palestras em Boston.

O Doutor e eu não freqüentamos essa série de palestras, porém, mais tarde, o Mestre voltou para Nova Iorque a fim de dar outra bem-sucedida série de aulas. O Doutor e eu fomos depois para Nova Iorque e comparecemos a algumas dessas aulas. Ficamos no velho Hotel Waldorf Astoria por um final de semana. Após isso, o Mestre permaneceu no Hotel Pensilvânia; em duas outras ocasiões nós também ficamos lá.

É claro que, nessa época, o Mestre estava ocupado viajando para muitas cidades, só que por alguns anos ele sempre passou o Natal conosco. Quão ansiosos aguardávamos sua vinda na época de Natal! Após a compra de Mount Washington, o Mestre ficava lá nas festividades. Em 1926, o Mestre escreveu uma carta para o Doutor na qual dizia: “Em dez anos vocês irão passar o Natal aqui comigo, e também Dolly e Roscoe”.1

Nos dez anos seguintes nós continuamos batalhando a vida. Em 1928 o Mestre realizou uma campanha de sucesso em Boston, que teve início em setembro. Aulas e a formação de um grupo

1 O Sr. e a Sra. Roscoe Elliot, irmã e cunhado do Dr. Lewis.

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continuaram até o final do ano. Não consigo me lembrar se o Mestre passou ou não o Natal de 1928 conosco.

Durante os oito dias do transcurso das palestras no Symphony Hall em Boston, nós estivemos lá. O Mestre insistiu que Brad e Brenda também fossem. Com freqüência, íamos para o Copley Plaza. Então chegava o serviço de quarto trazendo sorvete de pistache e chocolate quente. Que encontros inesquecíveis!

Em cada palestra no Symphony Hall, os auxiliares do Mestre faziam a coleta dos donativos voluntários. Algumas vezes o montante era bem elevado. O Mestre e o Doutor, eu e Dolly, pegávamos o dinheiro e levávamos até o carro que iria para o hotel. Numa noite, quando estávamos deixando o Symphony Hall, vimos dois homens mal-encarados em pé num dos lados da marquise do prédio. O Doutor observou os dois e rapidamente puxou Dolly e eu. Quando fez isso, aqueles homens fugiram, e fomos todos salvos.

Nessa época o Mestre conheceu muitas pessoas influentes em Boston, enquanto que, em 1920, ninguém estava interessado em ioga. Passados esses anos, o Mestre estava muito ocupado, e tinha muitos, muitos compromissos por toda a área de Boston e nas diversas universidades. O Doutor esteve bastante ao lado do Mestre nessa época, especialmente fazendo companhia ou servindo como motorista para algum compromisso.

O Mestre permaneceu em Boston por algum tempo em 1929. Um belo grupo foi formado e, na verdade, dois grupos foram criados: um era mantido na casa do Sr. e Sra. Joel Goldsmith em Brookline, Massachusetts; e o outro na Rua Boylston, 543, no estúdio da Sra. Clark. Como normalmente acontece, o inverno chegou com tudo, e então o comparecimento começou a diminuir. Porém, sempre houve as reuniões na Rua Boylston. Posteriormente, algumas pessoas do grupo quiseram ir para um hotel, e então mudamos para o Hotel Statler em Park Square. Esses encontros continuaram por mais de um ano.

Naquele ano, o Doutor e eu fomos à Califórnia, para Mount Washington, passar nossas férias de agosto. Durante nossa viagem, alguns membros decidiram reorganizar o grupo. O Mestre havia posto o Doutor na direção. Contudo, quando voltamos, soubemos de todas as mudanças na coordenação que haviam sido feitas em nossa ausência. Não demorou muito para que esse assunto fosse resolvido e os encontros continuassem como antes, embora com a ausência das pessoas que causaram o problema! Gradualmente, alguns daqueles que se juntaram ao grupo dissidente acabaram voltando um tanto constrangidos.

No decorrer dos anos, era feito um esforço freqüente para manter as reuniões acontecendo. As únicas vezes em que não havia encontros era no inverno, quando a neve ou as tempestades de gelo tornavam impossíveis as viagens de automóvel. Em cada solstício de junho havia uma cerimônia das flores idêntica a que o Mestre realizou na casa da Irmã Yogamata em 1922. Esse serviço marcava o fim dos nossos encontros dos meses de verão.1

A estrada congeladaDurante os anos em que o Doutor Lewis conduziu o Centro de Boston, ele precisava dirigir

após o término de seu expediente profissional – desde nossa casa em Arlington, Massachusetts, até Boston, onde o centro ficava situado. Normalmente ele saía atrasado e precisava correr. Em uma noite de inverno, quando as estradas estavam cobertas com gelo e neve, o Doutor foi acompanhado por sua irmã, Sra. Laura Elliott, e pela Irmã Yogamata.

Ao seguirem na estrada, tudo aparentava estar indo bem. Em determinado ponto no trajeto, havia uma ponte estreita um pouco acima do nível da estrada que fazia a ligação entre alguns trilhos

1 Os serviços eram retomados uma semana após o Dia do Trabalho.

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ferroviários. Ao atingirem novamente o nível da estrada após atravessarem a ponte, eles repentinamente se viram diante de um carro, e derraparam para o acostamento da estrada congelada.

Um pensamento surgiu na mente do Doutor: “Por que isso aconteceu, justo quando estamos indo para nossa reunião?” Entretanto, foi como se uma grande mão invisível tivesse segurado e parado o carro deles, porque eles conseguiram frear milímetros antes de bater no outro carro.

Reconhecendo que Deus os havia protegido, a Irmã Yogamata e a Sra. Elliott ficaram momentaneamente sem conseguir falar. Então a Irmã Yogamata disse: “Doutor, você sentiu essa grande Força?” E o Doutor respondeu: “Sim, Irmã, pois, caso contrário, jamais teríamos conseguido parar”.

Os anos da DepressãoDurante alguns daqueles primeiros anos, realizávamos as reuniões da Self-Realization na nossa

casa em Arlington, Massachusetts, na Field Road, 18; em 1929, mudamos para a Edgehill Road, 29, também em Arlington. As reuniões continuaram nesse endereço até 1943, quando foram levadas até um dos locais anteriormente utilizados: Rua Boylston, 543, em Boston. Em 1945, as reuniões ficaram sob a responsabilidade do Sr. Arthur Smith e do Sr. Bradford Lewis.

Durante nossa visita a Mount Washington em 1940, na época do Natal, o Mestre decidiu levar um grupo com ele até Mount Baldy. O clima estava maravilhoso, e o monte estava coberto com neve. Estávamos dirigindo na estrada quando, um tanto repentinamente, falei: “Quanto tempo ainda vai levar para que eu e o Doutor nos mudemos para Los Angeles?” O Mestre disse: “Em cinco anos”. E assim foi. Eu havia tentado por muitos anos obter uma resposta para essa minha pergunta.

Passagens para Los Angeles eram difíceis de se adquirir durante a guerra, mas tivemos sorte, em 1941, ao conseguirmos passar o Natal com o Mestre. Nossa boa sorte prosseguiu até 1945. Algumas vezes não tínhamos a confirmação das passagens até poucos dias antes da época planejada, que era o período de férias do Doutor – o Dia do Trabalho em Agosto.1

A bênção do GuruEm setembro de 1934, a Sra. Lewis sofreu um severo ataque cardíaco enquanto tentava evitar

que um barco escorregasse de um treiler.2 O médico que tratou dela disse que ela até poderia conseguir viver por mais uns cinco anos, desde que seguisse estritamente o tratamento médico que ele prescrevesse. Durante os próximos cinco anos, a Sra. Lewis precisou evitar muitas de suas atividades físicas costumeiras, sendo que por vezes ela mal conseguia caminhar dentro de casa.

Em algum momento, o Doutor e a Sra. Lewis visitaram o Mestre em Mount Washington. Numa noite, o Mestre pediu para a Sra. Lewis caminhar até sua varanda – do lado de fora da sala de visitas – onde lhe deu algumas técnicas para ela praticar (as quais ela nunca contou para ninguém). Ele então colocou as mãos dela entre as dele e disse: “Você ficará bem agora”. O cardiologista pessoal dela, amigo de longa data de ambos o Doutor Lewis e Sra. Lewis, percebeu que alguma coisa tinha acontecido, pois a melhora no estado de saúde dela não poderia ter ocorrido sob as condições físicas normais. A Sra. Lewis nunca falou sobre a doença, possivelmente para não preocupar as crianças. O Doutor Lewis, é claro, compreendia a seriedade do problema e da cura que aconteceu.

A ajuda instantânea de Deus

1 Nessa época o Doutor e a Sra. Lewis visitavam o Mestre duas vezes ao ano: durante as férias do Doutor, que geralmente eram em agosto, e na época do Natal. No dia 20 de fevereiro de 1939, Paramahansaji escreveu: “Sua carta transpirou uma inefável doçura e amor, nosso amor suportou firme o teste do tempo. Jamais conseguirei expressar a alegria que sinto quando vocês vêm aqui. Venham os dois neste verão e observem nosso progresso.”2 Esta história foi escrita por Brenda Lewis.

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Todos esperavam ansiosos pelas férias – que o Mestre planejava – a fim de aliviar um pouco as pressões da vida cotidiana em Mount Washington e Encinitas. Em 1939, o Mestre levou um grupo de devotos para a Feira Mundial em São Francisco. Eles seguiram em vários carros estilo caravan. Naqueles tempos, os hotéis não eram tão comuns quanto hoje, de modo que encontrar acomodações para muitos devotos quando chegava a noite não era sempre fácil.

Chegando em Santa Maria, mais ou menos na metade do caminho na rodovia que liga Los Angeles a São Francisco, os devotos estavam preparando-se para dormir, mas nenhum tipo de hospedagem aparecia. Finalmente, o Doutor Lewis pediu que o Mestre intercedesse. O Mestre fez uma breve pausa e, através da escuridão da noite, ele enxergou uma luz proveniente de uma casa não muito distante. O Mestre pediu para que a Sra. Lewis e outra devota fossem até a porta. A Sra. Lewis estava relutante, argumentando que ninguém teria acomodações para um grupo tão grande. Porém, apesar de seus protestos, ela seguiu a orientação do Mestre e se aproximou da porta da frente de uma adorável casa de Santa Maria. Uma gentil senhora atendeu à porta e, quando o problema foi exposto, ela graciosamente ofereceu a casa inteira para os iogues viajantes, tendo dito que ela própria iria dormir na casa dos fundos.

Numa outra ocasião em 1949, o Mestre e uma caravana de devotos atravessavam as montanhas na Califórnia central, as High Sierras, as maiores do país. Eles chegaram tarde da noite em Bridgeport, uma cidade localizada em grande altitude, pois havia sido uma longa viagem desde Los Angeles. Novamente, não havia hotéis ou albergues disponíveis. E novamente o Doutor Lewis pediu que o Mestre utilizasse seus poderes de intercessão divina. Naquele mesmo instante, um carro parou ao lado do carro que liderava a caravana.

O motorista perguntou se havia alguma coisa que poderia fazer. O Doutor Lewis respondeu que precisavam de um lugar para hospedar as pessoas que estavam dentro dos carros. O estranho era muito hospitaleiro e apontou para um edifício logo adiante de onde estavam parados, um novo hotel do qual ele era o dono, que ainda não estava inaugurado, mas que já estava pronto para ser ocupado. Ele convidou o grupo inteiro para permanecer lá.

Oração no patamar da escadaTodos os dias quando o Doutor Lewis ia para seu consultório no Edifício Lewis em West

Sommerville, ele subia alguns lances de escadas, entre os quais havia um corredor que levava a um canto isolado. Era seu costume parar naquele canto, praticar três kriyas, e aguardar o aparecimento do olho espiritual. Ele nunca subia os últimos lances da escada até que a luz viesse e então soubesse que Deus estava com ele.

A Sra. Lewis tinha um hábito parecido em sua casa no terreno do Templo de San Diego. Ela tinha que subir uma escada um tanto longa, sendo que havia um patamar de descanso no meio da subida. Ela subia lentamente em anos posteriores, entoando OM mentalmente a cada degrau. No patamar, ela descansava e repetia uma oração silenciosa antes de prosseguir até seu quarto no segundo andar.1

Envolto em uma luz azulEm 1941 o Mestre veio a Boston com um de seus discípulos. Providenciamos para ambos um

apartamento confortável no Hotel Myles Standish. Era um local maravilhoso para o Mestre receber as pessoas. Eles cozinhavam suas próprias comidas; todos os dias eu dirigia até a cidade e levava para eles frutas e vegetais frescos. Foi uma época muito feliz para todos.

1 Esta história foi escrita por Brenda Lewis.

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Durante a visita do Mestre em Boston, tivemos uma verdadeira confraternização em South Duxbury na nossa casa de veraneio. Foram preparados curries para a ocasião festiva. O Sr. e a Sra. Roscoe Elliott e o Sr. e a Sra. Bradford Lewis também estavam presentes.

O Mestre, o discípulo que o acompanhava e Bradford, todos disseram que iriam dar um mergulho. Eles vestiram seus trajes de banho, enquanto o resto de nós estava na varanda olhando a praia onde estavam. Tantos gritos e berros enquanto eles entravam na água gélida! Logo todos estavam completamente encharcados e voltaram para a casa, tecendo seus comentários sobre como estava fria a água. Bradford disse: “Enquanto eu estava na água com o Mestre, ele estava completamente envolto em uma luz azul”. Mais tarde, o Doutor perguntou ao Mestre acerca desse acontecimento. O Mestre disse: “Tive que me interiorizar completamente para suportar a água gelada”.

Mais tarde naquela noite, todos nós voltamos de carro para Boston. Que dia glorioso tivemos! O Doutor Lewis e Roscoe Elliott compraram para o Mestre um sedã Dodge. O Mestre foi levado de volta para Washington e, mais tarde, foi levado para o oeste, onde foi encontrando muitos devotos ao longo do caminho.

A intercessão do GuruEra sempre excitante quando o Mestre planejava levar um grupo de discípulos para algum

evento especial. Uma noite em particular de agosto, em meados da década de 1940, não foi exceção. O motorista do Mestre estacionou o carro sob o portão de entrada de Mount Washington; lá, os discípulos estavam reunidos enquanto se preparavam para ir ao Hollywood Bowl assistir a um concerto regido por Antonia Brico, uma maestrina.

O Doutor teria que, na manhã seguinte, embarcar no trem para Boston, de modo que pudesse chegar na segunda-feira de manhã para atender aos pacientes em seu consultório. Nesse tempo, não era tão incomum ficarmos aguardando o Mestre, pois ele tinha muitos compromissos e telefonemas; sempre havia alguém tentando falar com ele! Os discípulos estavam então esperando silenciosamente no carro, inclusive o Dr. Lewis. Ao se levantar, o Doutor inadvertidamente deixou sua mão no vão da porta aberta, e foi justamente então que a Sra. Lewis, inconscientemente, talvez devido a toda a excitação do momento, bateu a porta do carro.

O Doutor teve três dedos esmagados acima da segunda articulação que ficaram realmente no formato do batente da porta; a dor foi indescritível. O pânico assolou a mente da Sra. Lewis, pois o acidente aconteceu na mão direita. Tendo em vista que o Doutor era um dentista, todo o futuro deles estaria severamente comprometido caso sua mão tivesse sido danificada além da capacidade de recuperação. Num piscar de olhos, a Sra. Lewis subiu correndo as escadas, encontrou-se com o Mestre e, apressadamente, relatou a tragédia.

Com sua consciência super-humana, o Mestre olhou tranqüilamente para ela e disse: “Não fale. Volte para o carro e peça para o Doutor não olhar para a mão. Diga-lhe para colocá-la dentro do casaco.” O Doutor obedeceu imediatamente. O Mestre falou que não haveria atrasos, de modo que todos partimos imediatamente para o conserto no Hollywood Bowl.

Anos mais tarde, o Doutor contou para um discípulo que havia ficado perfeitamente à vontade mantendo sua mão dentro do casaco conforme a orientação do Mestre, pois, pelo tempo em que deixou assim, não sentiu qualquer dor ou preocupação acerca do estado, presente ou futuro, de sua mão direita. Na manhã seguinte, o Doutor e a Sra. Lewis tomaram o trem para Boston, conforme planejado.

O Doutor manteve sua mão machucada dentro do casaco. E assim ele continuou durante todos os três dias de viagem até Boston. Quando finalmente chegamos em casa, ele olhou para a mão;

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apenas um ínfimo resquício de marca permaneceu no local onde a porta esmagou seus dedos. Não havia desconforto ou paralisia em sua mão. No primeiro dia após seu retorno, o Doutor trabalhou a jornada inteira sem a consciência do ferimento, mas com a plena consciência da intercessão de seu Guru.

A mudança para a Califórnia No verão de 1945 nós não viajamos a Los Angeles para estar com o Mestre, pois havíamos

planejado que deixaríamos Boston em definitivo no mês de outubro, para morarmos na Califórnia. Vendemos a casa em Duxbury pouco antes da partida, e chegamos a Los Angeles no dia 31 de outubro. Durante os quatro meses seguintes, acompanhamos as viagens de ida e volta com o Mestre de Encinitas para Mount Washington. Estávamos sempre imaginando quando iríamos nos mudar para San Diego, conforme tinha sido prometido. Nossas coisas estavam guardadas em um bangalô nas proximidades da Igreja de San Diego, sendo que freqüentemente eu perguntava ao Mestre: “Quando o senhor irá permitir que nos mudemos para o bangalô?”

Entretanto, na primavera de 1946, o Mestre disse para o Doutor que não desejava que ficássemos em San Diego. Permanecemos em um quarto na área nordeste do Eremitério pelos próximos três anos – bem ao lado da nossa querida Irmã Gyanamata.

No geral, aquele foi um período de muitas tribulações para o Doutor. Quando o Doutor abandonou a prática e vendeu o Edifício Lewis, no qual manteve seu consultório por 31 anos, ele não disse que iria abandonar a odontologia, mas que estava apenas tirando um ano de folga. As cartas apareciam quase que diariamente: “Quando o senhor retornará? Quando abrirá seu novo consultório?” Finalmente, o Doutor e o Mestre conversaram muito seriamente sobre a situação. O Mestre disse: “Sem mais odontologia”. E, daquele momento em diante, o Doutor se tornou uma pessoa muito mais feliz.

O Doutor conseguiu acompanhar e ajudar de muitas maneiras os projetos nos quais o Mestre estava envolvido. Eu também fiquei muito ocupada. Muitos projetos ainda não estavam prontos, de modo que o trabalho naquela época era verdadeiramente pioneiro.

A calçada com as lajes ArizonaO Mestre estava entusiasmado com a Colônia Mundial Dourada em 1946. Um dia ele chamou e

disse que gostaria de construir uma calçada desde a pequena torre na Rua K até o Hotel da SRF. Fomos instruídos para construir a calçada utilizando lajes Arizona, e eu fui a incumbida de escolher as peças maiores e mais vermelhas. O Reverendo Michael e alguns dos rapazes ajudaram com o projeto.1

Primeiro, fizemos o enquadramento e preparamos a área para receber o cimento. O Mestre ficou satisfeito com a escolha das pedras. Após muita discussão, ficou decidido que a área ao redor das lajes seria preenchida com cimento pintado de verde. E então o verdadeiro trabalho começou!

O Mestre me instruiu para acompanhar os trabalhos do pedreiro que cimentava os esquadros; eu tinha que verificar que nenhum pingo de cimento seria deixado sobre as lajes. Quando um certo trecho era concluído, eu começava a escovar as pedras. Fiquei agachada movimentando os braços para lá e para cá durante dias, limpando as pedras e dando acabamento nas junções. Quando a calçada ficou finalmente pronta, não havia uma única mancha de cimento sobre as lajes.

Que visão tinha o nosso Mestre! Tudo isso foi feito antes de qualquer uma das torres ter sido erguida. As lajes foram colocadas ao redor e de frente ao Café. Passado algum tempo, depois de o Café ter ficado pronto para atendimento ao público, a calçada ao longo das extremidades do estabelecimento foi terminada.1 O Reverendo Michael recebeu posteriormente o nome monástico de Irmão Bhaktananda.

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Trabalhando na estufaApós o projeto da calçada, ficamos envolvidos por cinco anos na Estufa Paxton. Primeiramente,

dois jovens rapazes tomavam conta das estufas. Quando o Mestre soube que esses jovens passavam bastante tempo dormindo nos bancos, ele ficou terrivelmente perturbado com toda a situação.

Por meio de um integrante da colônia, nos encontramos com um especialista em estufas, um tal de Sr. Miller. Passamos muitas noites conversando com o Sr. Miller; devo admitir que ele foi de grande ajuda para nós. Na época, nossas estufas estavam repletas de mamoeiros. O Mestre estava com vontade de expandir, e assim, logo após nosso início em maio de 1946, uma nova estufa foi construída entre duas já existentes.

Naquele tempo, tínhamos um bom número de jovens rapazes, mas alguns possuíam um temperamento estranho. No primeiro dia, os rapazes foram colocados para limpar o terreno entre as casas. Quando solicitei que um dos jovens fizesse algo, ele primeiro ficou só me olhando. Então, arremessou contra mim a enxada que tinha em suas mãos! Nem é preciso dizer que a sua permanência na Colônia durou pouco. Ele partiu naquela noite!

O cultivo dos mamões pelo Sr. Paxton foi um sucesso, mas não rendia financeiramente. Quando a SRF assumiu, ela aprendeu alguma coisa da Sra. Paxton (pois o Sr. Paxton tinha morrido), e de alguns poucos livros. Conforme fomos saber, o mamão é uma fruta temperamental e, na estufa, ela crescia sob o teto de vidro. Essa planta é inimiga de um certo tipo de larva, além de não tolerar qualquer tipo de vermicida a base de óleo. A melhor sugestão que recebemos foi a de manter as árvores limpas eliminando-se as formigas. Algo quase impossível! Bem, nós mantivemos o negócio por quase dois anos.

O Sr. Miller sugeriu que cultivássemos plantas em vasos para o mercado: poinsétias, hortênsias, violetas, begônias tuberosas e, finalmente, nosso maior projeto: ciclamens. Plantamos 125 mil sementes, e acredito que cada uma delas germinou!

Muitas pessoas ajudaram no cultivo dessas plantas. O Reverendo Michael as levava para o mercado, e antes disso o Reverendo havia levado poinsétias para floriculturas. Ele era muito bom nesse ramo.

As estufas eram aquecidas por uma caldeira a vapor, que consumia óleo diesel. Quando a estufa foi adquirida, o óleo custava de um centavo e meio a dois centavos o galão; contudo, em 1951, ele custava oito centavos o galão. Esse custo tornou a manutenção da estufa algo muito caro, de modo que afinal ela foi vendida graças aos esforços de Rajarsi, do Doutor e de alguns outros.

O trabalho na estufa era extremamente difícil. As horas custavam a passar e o equipamento era ultrapassado; porém, ainda assim, aprendi muitas lições valiosas durante esse período de cinco anos. Rezo para que jamais tenha que sofrer novamente as agruras de possuir ou de trabalhar em uma estufa! Quando o Mestre primeiramente me colocou na estufa, eu disse que lhe daria cinco anos. E foi assim que acabou por acontecer, pois foi exatamente cinco anos depois que eu e o Doutor saímos.

Após deixar a estufa, o Doutor conseguiu fazer muito mais em termos de ajudar as pessoas na vida espiritual delas. O meu trabalho tendia a ficar mais centrado na manutenção e coordenação do Eremitério. Mas havia também algum trabalho nos jardins e na comida para o restaurante. Disso eu gostava.

O chapéu do DoutorTwenty-Nine Palms, no final da década de quarenta, era uma silenciosa comunidade no deserto,

muito diferente de hoje em dia, com as vizinhas instalações militares e todas as decorrentes

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atividades que trazem.1 Nos anos quarenta, amplas áreas de deserto podiam ser vistas, livres da presença humana. As árvores de Joshua estavam em todo lugar. No fim das tardes, a natureza e os elementos uniam suas forças para proporcionar um verdadeiro espetáculo. Foi nesse ambiente que o Mestre construiu uma pequena casa para retiro.

Na beleza do deserto, o Mestre e o Doutor caminhavam juntos, tecendo suas considerações sobre o “Mestre Pintor” sobre o qual o Guru havia escrito; certamente, não poderia haver em qualquer outro lugar uma evidência maior de Sua mão artística do que lá. O Doutor estava sempre completamente vestido – mesmo no deserto – pois isso fazia parte de sua herança cultural da Nova Inglaterra. Ele usava um tipo de chapéu de feltro, que sua filha havia lhe dado. Ela achou que o matiz azul do chapéu combinava com os olhos dele. Pelo fato de Brenda tê-lo dado e porque o Doutor gostava tanto desse chapéu, ele ficou consternado quando uma rajada de vento o arrancou de sua cabeça, fazendo com que fosse arremessado com o forte vento para longe no deserto.

O Mestre e o Doutor correram atrás do chapéu fujão, mas o vento estava forte demais para eles, e a escuridão, que algumas vezes cai rapidamente no deserto, logo estaria por chegar. Eles caminharam de volta para onde a Sra. Lewis os estava esperando no carro e dirigiram de volta para a casa de retiro. Após terem voltado, o Mestre assegurou ao Doutor que se retornasse pela manhã até o lugar onde o chapéu havia desaparecido, ele iria encontrá-lo.

Com as primeiras luzes da manhã iluminando o deserto, o Doutor foi de carro até o lugar onde haviam estacionado na tarde anterior. O deserto, porém, parecia muito diferente pela manhã, e ele não tinha certeza sobre o lugar – o vento havia apagado as marcas do pneu. Sua intuição deve ter sido afiada como uma lâmina, pois parou o carro justo onde sentiu que haviam estado na noite anterior, saiu, e começou sua procura. Após trilhar pelas areias do deserto até que o sol estivesse a pino, ele olhou adiante e, viva! lá estava o chapéu azul, meio escondido sob um arbusto. O Doutor sorriu. Ele caminhou até o local, pôs o chapéu com um tapinha feliz, e retornou em direção ao carro. Sua mente voou até as palavras do Mestre na Autobiografia de um Iogue: “Pois sempre que a alegria da meditação volta subconscientemente durante as horas de atividade, sou sutilmente levado a adotar o procedimento correto em tudo, até nos menores detalhes”. O Doutor dirigiu feliz de volta à casa do deserto. Ele contou para o Mestre que suas instruções foram valiosas no ar matinal do deserto.

O caso da melanciaEm fins da década de 1940, quando o Doutor e a Sra. Lewis moravam em Encinitas, eles iam

com freqüência passear com o Mestre e alguns dos discípulos.2 Um dos passeios favoritos do Mestre era na área rural de Encinitas, onde por vezes faziam piqueniques e apreciavam a beleza do cenário. O Mestre tinha muitos amigos que possuíam fazendas nessa área, onde ele procurava frutas deliciosas, vegetais e nozes lechia.3

Em um desses passeios alguém deu ao Mestre uma melancia enorme, e ele ficou muito feliz por receber esse presente. No caminho para casa, a Sra. Lewis foi a primeira que imaginou: “O que ele vai fazer com esse melancia enorme?” Graças a sua intuição, ela compreendeu!

Chegando em Encinitas, já um tanto tarde, o Mestre anunciou, como era seu costume, que todos deveriam se dirigir ao gramado da frente para os exercícios. Após seu término, alguns dos presentes estavam caminhando lentamente a seus quartos no Eremitério, quando o Mestre anunciou que todos deveriam vir até a cozinha. Ele disse: “Iremos descascar a melancia e fazer um picles”.

1 A história seguinte foi contada a Brenda Lewis por sua mãe, Mildred Lewis.2 A seguinte história foi contada para Brenda Lewis por sua mãe, Mildred Lewis. 3 As nozes lechia vêm da árvore litchi, e são comidas secas ou conservadas. O Mestre costumava servi-las em calda sobre o sorvete.

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Qualquer um que já tenha feito esse serviço sabe que ele envolve um longo processo de cortar a melancia em pedaços idênticos, preparar o caldo e cozinhar, repetindo esse processo três vezes com a calda.

Com todos os utensílios da cozinha prontos, o melancia foi lavada e então descascada. O Mestre estava coordenando as atividades. Então, após algum tempo, a Sra. Lewis percebeu que alguns dos discípulos haviam deixado silenciosamente a cozinha e, finalmente, apenas o Mestre e a Sra. Lewis estavam trabalhando. E então o Mestre disse: “Estou saindo agora; fique aqui e termine o serviço”. Ela continuou sua tarefa por alguns minutos, e então caminhou pelo corredor até seu quarto. Ela estava chateada e enfrentou o Dr. Lewis, dizendo: “Não vou ficar em pé a noite inteira fazendo aquele trabalho sozinha. Todos deixaram a cozinha.” O Dr. Lewis disse: “Acho que é melhor você voltar e terminar o trabalho que o Mestre pediu para fazer”.

O resultado foi que a Sra. Lewis ficou em pé a noite inteira e terminou o trabalho. Ela nunca mais sentiu fadiga novamente!

Lembrando a Irmã GyanamataNos meses finais de vida da Irmã, ela gostava especialmente de ouvir o Doutor tocar os cânticos

para as aulas de quinta à noite. Ficou acertado que a porta da Irmã no Eremitério fosse deixada aberta, para que a senhora que cuidava dela durante a noite pudesse ouvir a palestra do Doutor Lewis. Era minha tarefa sentar no corredor, de modo que eu pudesse atender ao telefone ou o sino de chamada da Irmã. Essa rotina foi seguida por muitas, muitas noites de quinta-feira. Raramente fui chamada pela Irmã; contudo, em uma noite de quinta-feira em particular, ela me chamou. Fui imediatamente para seu quarto, onde ela me pediu que eu colocasse um xale sobre seus ombros. Então pediu que eu arrastasse uma cadeira até seu lado na cama.

“Sra. Lewis”, ela disse, “tem uma coisa que desejo lhe dizer esta noite.” Eu disse: “Sim, Irmã, o que é?” Ela disse: “Quero que saiba que desde que conheci você e o Doutor, todos esses anos, vocês jamais fizeram algo que me desagradasse”. Como foram doces essas palavras provindas daquela linda alma! No dia seguinte o Doutor e eu saímos de férias. Aquela foi a última conversa que tive com a Irmã. Ela morreu na semana seguinte, em 17 de novembro de 1951.

A dedicação incessante do DoutorApós a morte do Mestre, o Doutor envolveu-se muito em dar aulas para os monges, conforme o

Mestre havia desejado. Eu levava semanalmente de carro o Doutor até Mount Washington, para que ele pudesse dar as aulas. Nessas ocasiões eu visitava Ma Durga e então levava o Doutor de volta para Encinitas. Não demorou muito para os monges em Hollywood e no Lake Shrine reclamarem que não podiam comparecer nas aulas que eram dadas em Mount Washington. Como resultado, as aulas passaram a ser ministradas às sextas-feiras de noite no India Hall, em Hollywood.

Não demorou muito, um grupo de jovens rapazes ativos na igreja quis acompanhar os monges nas meditações. Havia uma aula teórica e depois uma meditação longa. Na época foi pensado que seria melhor excluir o público em geral da meditação dos homens, de modo que uma meditação em separado era conduzida para os leigos (homens apenas). Não muito após isso, houve um clamor das mulheres – visto que elas, também, queriam comparecer na meditação. Foi assim que o muito ativo grupo de meditação das sextas-feiras à noite, que atualmente ainda existe, foi iniciado.

O Doutor serviu a SRF 100%, como fazia em tudo aquilo que sempre empreendeu. Não importa o quão desafiadoras fossem as circunstâncias, nós continuamos trabalhando fielmente para o Mestre. O Doutor nunca tirou um domingo de folga. Ele ia para Los Angeles toda sexta-feira, deixando Encinitas às 2 da tarde e não voltava antes das 2 da manhã, ou mais tarde. Essa atividade prosseguiu até duas semanas antes de sua morte em 13 de abril de 1960. Era assombroso para todos o jeito

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como conseguia agüentar tudo, mas tenho certeza de que Deus e o Guru estiveram com ele por toda a vida. Durante esses anos, nossa filha Brenda o serviu como secretária e motorista.

O Retiro de Borrego Um dia Madame Amelita Galli Curci1 telefonou para o Doutor no Eremitério. Ela perguntou se

ele estaria trabalhando para Borrego dentro dos próximos dias; o Doutor lhe disse que planejava fazê-lo no próximo dia, Sábado.

[O Doutor estava indo ver Rajarsi, que tinha uma fazenda em Borrego – uma cidade no deserto a aproximadamente 160 km ao nordeste de Encinitas; a Madame Galli-Curci também tinha uma casa em Borrego, conforme descreve a seguinte história. – O Editor]

Duas semanas antes, Madame Galli-Curci teve que deixar às pressas sua casa em Borrego, pois seu marido havia sofrido um sério ataque de enfisema. Madame Galli-Curci estava preocupada sobre como tinha deixado as coisas – e se ela tinha ou não desligado a eletricidade ou a água – e então quis que o Doutor conferisse esses detalhes para ela. Ao final de sua conversa com o Doutor, ela disse: “Lewis, por que não compra a casa? Homer nunca mais poderá ir ao deserto novamente.”

Sábado ao meio-dia saímos para Borrego levando vegetais cultivados em Encinitas para Rajarsi, e também para atender ao pedido da Madame Galli-Curci. Chegando lá, o Doutor e eu fomos ver Rajarsi. O Doutor contou para Rajarsi sobre a conversa que teve com a Madame. E então perguntou se Rajarsi teria alguma objeção sobre nós termos uma casa em Borrego. Sua resposta foi: “Claro que não. Se você não comprá-la, compro eu.”

Nós então pegamos a Wagon Road e fomos até a casa. O Doutor abriu a porta e entrou. Eu segui atrás e, ao entrar, disse: “Se eu tivesse dinheiro, compraria esta casa”. Sentado em uma cadeira que ele no futuro usaria sempre, o Doutor respondeu com um antigo adágio inglês: “Estou perdido”.

Partimos então de Borrego, retornando via Rancho Santa Fé para entregar a mensagem de que tudo estava bem com a casa. Imediatamente, Homer perguntou para o Doutor: “Por que não a compra, Doutor? Eu a venderei para você completamente mobiliada.” O Doutor informou a ele que iríamos comprá-la. Nessa hora, eu tinha ficado no carro, pensando que Homer provavelmente estaria pior e que o Doutor estava sentado com ele, como costumava sempre fazer nas meditações.

Enquanto dirigia de volta para Encinitas, o Doutor me contou que havíamos comprado a casa. Mais tarde, os Samuels nos disseram com carinho: “Não construímos a casa para nós; construímos para os Lewis, e como os Lewis gostaram da casa. Temos a esperança de que ela será apreciada pelos devotos do Mestre por muitos anos vindouros.”

A idéia de uma casa surgiu antes da morte do Mestre em 1952. O Doutor sempre dizia que gostaria de ter um pequeno lugar no deserto, onde a atmosfera fosse seca. Bem, ele conseguiu!

Toda semana íamos para Borrego, às vezes saindo segunda-feira à noite ou logo cedo na manhã de terça. Ficávamos até quinta-feira de tarde e voltávamos a tempo para o Doutor proferir sua palestra noturna da quinta-feira, que acontecia no Eremitério. Verão e inverno, essa programação continuava. O Doutor tirava as quartas-feiras para seu dia de meditação longa, de noite na quarta e na quinta-feira, ele preparava o sermão dominical que proferia na Igreja de San Diego. Uma vez por mês, ainda, ele fazia um serviço dominical em Hollywood, e um serviço de meditação noturna no Lake Shrine.

Nenhuma mudança foi feita na casa em Wagon Road até a morte do Doutor, e não antes de terem passado quatro anos. Eu sentia a necessidade de erguer uma capela, mas, nessa época, um dos

1 Sra. Homer Samuels era seu nome de casada; Madame Amelita Galli Curci foi uma famosa cantora de ópera.

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meus amigos que estava de visita em Borrego sugeriu que primeiro eu aumentasse a casa original ou adicionasse um pequeno bangalô para hóspedes.

Para mim foi uma grande decisão ter que tomar um empréstimo. Meu visitante de Borrego graciosamente pagou as prestações do empréstimo por algum tempo, e então continuei por cinco anos, quando, pela Graça de Deus, recebi um presente que quitou o empréstimo completamente. Isso foi um grande alívio!

O menor desejoDurante uma turnê mundial em 1962, a Sra. Lewis e a Tia Dolly, irmã do Dr. Lewis, visitaram a

Madame Helene Tissot na Suíça.1 Durante a visita delas, a Madame Tissot arranjou uma viagem para a Sra. Lewis e a Tia Dolly até Zurique. Isso permitiu que a Madame Tissot pudesse visitar um amigo doente, e ao mesmo tempo permitiu que a Sra. Lewis e a Tia Dolly passassem algum tempo com a Madame Redard em sua loja de antiguidades.2

Na hora marcada, a Sra. Lewis e a Tia Dolly chegaram no antiquário. Enquanto aguardavam a Madame Redard terminar de atender a um cliente, a Tia Dolly e a Sra. Lewis examinaram dependências daquela curiosa loja. A Tia Dolly falou baixinho para a Sra. Lewis (bem longe dos ouvidos da Madame Redard): “Se você pudesse ter qualquer coisa que quisesse desta loja, o que iria escolher?” A Sra. Lewis selecionou um pequeno ferro de bronze utilizado para passar roupinhas de crianças. Então, por sua vez, ela perguntou à Tia Dolly o que gostaria. Tia Dolly olhou as prateleiras e apontou para um pequeno jarro de metal no alto de uma estante. Ela pensou que, como ele era muito pequeno, iria caber facilmente na sua mala e, ao mesmo tempo, seria uma lembrança de sua visita à Suíça.

Terminado o atendimento ao cliente, a Madame Redard se reuniu com as duas senhoras, perguntando se gostariam de algo em particular, ou alguma lembrança de Zurique. Mamãe respondeu: “Por que a senhora não escolhe algo para nós?” A Madame Redard levantou-se de sua cadeira e foi direto até a prateleira onde o pequeno ferro de passar estava exposto, pegou o ferro, e colocou nas mãos da Sra. Lewis. Depois, esticou-se até o alto de uma estante, pegou o jarro metálico, entregando-o para a Tia Dolly. Deus realiza os menores desejos dos verdadeiros devotos!

O Retiro de Borrego3 progrideEm todos os meus projetos eu tive, e ainda tenho, uma grande sensação de estar sendo guiada.

Compreendo agora a razão pela qual o Mestre sempre se esforçava ao máximo para terminar uma construção que era erguida somente para Deus e o Guru. O propósito tinha que ser o correto, de modo que este se tornasse um lugar mais útil e disponível para a realização da paz e da quietude, afastado das atividades mundanas que drenam a energia do indivíduo.

Após ter completado a construção do pequeno bangalô para hóspedes, eu ainda não estava satisfeita. Eu ainda não tinha construído a capela. Enquanto ainda pagava a dívida pelo bangalô, tomei a resolução de não mais tomar qualquer empréstimo na minha vida. Depois de pensar bastante sobre a idéia da capela, e após pedir que Deus e o Mestre guiassem minhas decisões, em janeiro de 1968, marquei uma reunião com o arquiteto que projetara a casa.

Quando ele chegou, na manhã combinada, falei sobre meu grande desejo de construir uma capela. Alguns anos antes, o arquiteto havia lido a Autobiografia de um Iogue. Ele disse que sabia que eu iria querer inserir algumas idéias ou tendências da cultura hinduísta e da filosofia oriental no

1 A Madame Tissot foi uma discípula devota de Paramahansa Yogananda que fez um grande esforço para fundar Centros da SRF na Suíça. – O Editor.2 A Madame Redard foi uma devotada integrante da SRF na Suíça.3 A Sra. Lewis gostava de chamar o Retiro em Borrego de Ananda Lok, Lugar da Bem-Aventurança.

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design da capela, e então ele iria ler o livro mais uma vez. Nossa reunião de duas horas parecia acender ainda mais minha vontade de erguer essa capela, e eu quis contar à Irmã Durga Mata sobre isso. Naquele tempo, durante os meses de inverno e primavera, ela ficava por longos períodos em Borrego.

Na próxima vez que vi Durga Ma, saudei-a, dizendo: “Tenho algo para lhe dizer”. Contei a ela sobre a reunião com o arquiteto e os planos para construir uma capela no deserto em memória do Doutor. Ela ficou extremamente entusiasmada com a idéia. Deixando o quarto por um momento, ela logo retornou. Apertando uma nota de vinte dólares em minha mão, ela disse: “Que esta nota inicie os fundos. Sei que irá aumentar.” Como suas palavras foram verdadeiras!

Daquele dia em diante até seu término em outubro de 1969, recebemos todos os fundos com a Graça de Deus e do Mestre. Nunca pedi um centavo. Para mim isso foi um milagre, pois eu não tinha o dinheiro para gastar. Eu, porém, sabia que teria que haver uma capela em homenagem ao Doutor que tanto amava o deserto, mas, principalmente, porque o Doutor teve um maravilhoso desenvolvimento espiritual naquele lugar.

A colocação dos Mestres no altar, um trabalho maravilhoso, foi obra de um fotógrafo alemão de San Diego. Esse fotógrafo também ampliou uma fotografia do Doutor sentado no púlpito da Igreja de San Diego. Próxima do altar está uma imagem do Mestre desenhada a lápis, circundada pela estola de seda do Mestre.

Um dia tivemos a visita de um querido amigo que ficou muito entusiasmado ao ver a capela. Quando estava de saída, ele se virou para mim e disse: “Mandarei um presente quando estiver de volta à cidade”. O presente veio conforme prometido e, como viemos a descobrir, foi a quantia exata para a compra de um necessário ar-condicionado! Situações assim foram repetidas várias e várias vezes na melhoria do Retiro de Borrego.

A capela foi dedicada em 1o de novembro de 1969; convidamos sessenta pessoas, e cinqüenta e oito estiveram presentes. A Irmã Daya Mata estava na Índia na época, de modo que, para a inauguração, o Irmão Anandamoy e alguns outros monges vieram de Los Angeles. Brenda tocou o harmônio no período dos cânticos. Após uma breve meditação, Irmão Anandamoy proferiu uma palestra. A Sra. Lewis então agradeceu a todos que haviam trabalhado no projeto, por sua cooperação e respeito.

Foi uma data linda, aquele Dia de Todos os Santos, em Borrego. Estava um pouco mais quente do que o normal, mas ainda muito límpido, e sem ventos. No pátio, mesas foram preparadas para os convidados, aos quais servimos um bufe.

No decurso dos anos, muitas e muitas pessoas visitaram a capela. Todos os que vinham tinham a intenção de meditar. Toda vez que adentro o local, sinto que o Mestre e o Doutor estão sorrindo, e o Mestre está (jocosamente) dizendo: “Lembra-se como ela era no início?” É tudo obra tua, Mestre.

Através dos anos, vários outros incrementos foram feitos também. Tantos amigos e visitantes afetuosamente contribuíram com seus corações generosos. Eles e os Grandes Seres sabem quem são; tudo vem através da Graça de Deus e do Mestre.

Mencionarei aqui apenas algumas dessas melhorias: o terreno adjacente à capela foi adquirido; a Irmã Durga me encorajou a fazer algumas mudanças na casa original; foi construída uma lareira; a cozinha foi remodelada e, durante 1976-1977, construímos uma belíssima casa para convidados anexa. Ao se entrar na casa anexa, logo se vê uma linda imagem do Mestre, cópia de uma pintura feita por seu irmão Sananda Lal Ghosh. Sempre senti que o Mestre teria amado o Retiro de Borrego. Ele o aprecia através de todos seus devotos que o freqüentam.

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Fixamos uma boa programação em Borrego. A capela é aberta logo cedo pela manhã. Todos que estão no retiro podem utilizá-la conforme quiserem. A meditação noturna começa normalmente por volta das 20h30m, iniciando com um período de canto.

Ao longo dos anos, decidi que iria melhorar a propriedade e cuidar dela o melhor possível dentro da minha capacidade, com a ajuda do Mestre e com a orientação de Deus. Todos os esforços foram feitos para manter a propriedade em boas condições, do jeito que o Mestre iria gostar. O terreno é mantido limpo e bonito por um homem que vive em Borrego.

Estar morando todos esses anos em San Diego também tem sido muito recompensador. Por vezes tem sido difícil, mas, ainda assim, sou abençoada por estar na propriedade do Mestre (na Igreja de San Diego), conforme ele havia previsto. É como o Mestre freqüentemente dizia para mim e para o Doutor, tudo já estava filmado e acabado.

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Capítulo 2

Recordações do Doutor Lewis

As histórias que estão prestes a ser contadas tiveram começo em uma tarde, no fim do mês de outubro de 1920, enquanto eu saía de meu consultório em Davis Square, Somerville, Massachusetts.1 Ao cruzar diagonalmente aquela praça, uma estranha figura passou por mim; andava ligeiro, vestia uma túnica alaranjada, polainas, sapatos amarelos e um enorme turbante alaranjado na cabeça. Obviamente surpreso por ter visto uma figura assim nas ruas de Somerville, virei a cabeça ao passar por ele e o observei enquanto desaparecia entre a multidão. Mal sabia eu do papel que esse homem de aparência estranha iria desempenhar em minha vida, pois ele não era outro senão o Mestre, na época conhecido como Swami Yogananda, e que mais tarde passou a se chamar Paramahansa Yogananda.

Embora não encontrasse o Mestre até a véspera de natal daquele mesmo ano, a Sra. Lewis já tinha trocado um aperto de mãos com ele, mais ou menos um mês antes da primeira vez que o vi na Davis Square, durante uma reunião metafísica na qual ele fora o palestrante convidado. Ela havia me contado sobre seu encontro com aquela pessoa estranha da Índia, e debatemos os prós e contras, mas foi só, e o assunto acabou esquecido.

Alguns dias antes da véspera de Natal, uma amiga minha, Sra. Ward Hasey, que mais tarde recebeu do Mestre o título de Irmã Yogamata, chamou-me ao telefone e me pediu, ou melhor, sugeriu enfaticamente, que eu reservasse um horário para conhecer Swami Yogananda, que estava morando em Boston na época. Não fiquei muito impressionado, mas ela insistiu e, como nós dois já estivemos juntos trabalhando para diferentes organizações metafísicas, finalmente acabei concordando em ligar para ele e marcar um encontro. Foi o que fiz e, na véspera de Natal, tive meu primeiro encontro com o Mestre na Unity House, em Park Square, Boston. Eu não estava muito entusiasmado para conhecê-lo, pela simples razão de que nutria um certo preconceito e, também, porque já tinha ouvido muitas histórias sobre os faquires da Índia com suas roupas estranhas e prodígios, de modo que pessoalmente eu não queria ser enganado ou levado na conversa por essas pessoas, por assim dizer; contudo, como já disse, aceitei encontrar com o Mestre naquela ocasião.

Assim, como bem me recordo, quando entrei na sala pela primeira vez, ele me encarou com um leve sorriso e, é claro, retribuí o olhar com o mesmo tipo de sorriso – como que para dizer que eu estava lá, mas que não iria aceitar ser feito de bobo. Trocamos algumas saudações, sentamo-nos, e começamos a discutir várias questões ligadas a temas religiosos.

Por fim, eu disse: “Senhor, já procurei em muitos lugares – nas escrituras e, também, já perguntei para muitas pessoas – o significado de passagens como: ‘Se, portanto, o teu olho for único, todo o teu corpo será luminoso’, e outras questões similares de natureza metafísica”. E eu disse ainda: “Até agora, ninguém foi capaz de me dar uma resposta satisfatória ou de me mostrar essa luz”.2 E o Mestre respondeu naquele momento, citando as palavras de Jesus: “Pode o cego guiar outro cego? Ambos cairão no fosso.”3 Essas palavras me impressionaram, pois eram de nossa Bíblia, e ainda forneciam uma resposta razoável a minha pergunta. Sendo norte-americano, eu, obviamente, logo perguntei: “O senhor já viu tais coisas? Conhece o olho único?” Lembro-me de o Mestre ter dito: “Acho que sim”. E eu disse: “Acha que eu poderia ver tais coisas?” Ele respondeu:

1 O Doutor Lewis gravou em fita cassete essas histórias em 1958.2 Mateus 6:22.3 Lucas 6:39.

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“Acho que sim”. Então, obviamente, pedi: “Bem, mostre-me”. E então ele sorriu e disse: “Está certo, daqui a pouco”. E continuamos a conversar sobre o assunto.

Então ele trouxe uma pele de tigre e a deitou sobre o chão. Sentou-se numa extremidade, na cabeça do animal, e disse para mim: “Você se importaria de se sentare de frente a mim?” Ele estava com as pernas cruzadas e eu, é claro, até onde conseguia me lembrar, jamais tinha me sentado assim sob quaisquer circunstâncias. Eu, porém, respondi: “Sim, certamente”, e de alguma forma consegui me sentar de pernas cruzadas. Posso, entretanto, lhes assegurar que não foi na postura de lótus!

E, assim, quando estávamos lá sentados bem próximos um do outro, o Mestre encarou fixamente meus olhos, e disse: “Doutor, você sempre me amará como eu amo você?” Bem, jamais alguém havia falado comigo nesses termos antes, mas, olhei para ele, e vi algo que não tinha ainda visto em ninguém antes, e rapidamente respondi: “Sim, eu o amarei”. Com isso, lembro-me nitidamente que o Mestre esfregou as mãos e disse: “Ótimo. Assumo a responsabilidade por sua vida.” Bem, eu não sabia exatamente o que ele queria dizer com isso na época, mas pelo menos intuí que estava tudo certo, e então condescendi, para então continuarmos.

Sentado a sua frente, ele foi tranqüilizando minha mente inquieta, tendo colocado sua testa contra a minha. Ele me disse para erguer minha vista e olhar para o ponto entre as sobrancelhas, o que prontamente fiz. Ali apareceu a grande luz astral do olho espiritual.

O Mestre não disse o que era para eu ver; ele não me influenciou de qualquer forma através de sugestionamento, mas aquilo que vi surgiu naturalmente. Eu estava totalmente consciente, totalmente desperto, totalmente alerta, e vi o olho espiritual, porque o Mestre paralisou as ondas de minha mente e permitiu que a minha própria intuição da alma me mostrasse a porta – o olho espiritual – a luz refletida do centro localizado no bulbo raquiano. Enquanto olhava mais profundamente naquela imensa luz dourada, o olho espiritual se apromixou, com seu centro escuro manifestando a Consciência Crística dentro de mim, e finalmente a pequena estrela prateada no centro, a epítome da Consciência Cósmica.

Eu fiquei, é claro, emocionado por ter encontrado alguém que conseguiu me mostrar a realidade interior que se encontra em cada um de nós. Eu tinha meditado o melhor que pude, seguindo diversas técnicas. Percebi a luz circundando minha cabeça, nos lados direito e esquerdo, mas não conseguia focalizá-la, pois era fugaz. Contudo, quando o Mestre focalizou minha mente e mostrou para onde deveria olhar, tornando possível que eu visse o olho espiritual, então percebi que ele não era uma pessoa comum, mas um homem muito diferente daquela classe comum de homens que professam saber algo sobre tais coisas espirituais.

Conversamos por alguns minutos. E, uma vez mais, ele pressionou sua testa contra a minha; foi então que vi a grande luz do lótus de mil raios – a coisa mais bela que pode ser vista, com suas muitas, muitas pétalas de raios prateados. Na base do lótus de mil raios, consegui enxergar contra a luz mais densa a forma das grandes artérias na base do cérebro. E viva! Enquanto observava, pequenas faíscas de luz dentro das artérias estavam sendo bombeadas, chocando-se contra suas paredes, enquanto passavam diante de minha visão. Esses eram os corpúsculos sangüíneos, cada qual com sua pequena fagulha de luz astral manifestando-se enquanto cumpriam seu dever no drama da luz de Deus.

Obviamente, após ter visto aquelas coisas maravilhosas, fiquei imensamente grato por ter encontrado um homem com tamanha realização. E recordo-me do que o Mestre disse. Ele falou: “Se me permitir que o discipline, e se praticar regularmente o caminho que vou revelar, essas coisas estarão para sempre com você”. Eu me decidi a fazer isso, e posso testemunhar que as palavras do Mestre provaram ser verdadeiras.

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Entretanto, teve uma coisa que ele me pediu. Ele disse: “Prometa-me uma coisa: que você não irá me evitar”. É claro, prometi na hora, pois estava feliz demais após ter visto as coisas maravilhosas que vi e ter tido a percepção [que tive]. Pouco sabia eu como seria difícil não evitá-lo no árido terreno intermediário da disciplina. Porém, mantive minha promessa e não o evitei; e assim consegui ser salvo de muito sofrimento e de muita ilusão.

Quando nossa ceia espiritual terminou, o tempo havia transcorrido depressa, e já era madrugada do dia de Natal quando deixei o Mestre. Era meu costume estar sempre em casa na véspera de Natal para decorar a árvore e estar na companhia da Sra. Lewis e das crianças; mas, neste caso, de certa forma, essas coisas tornaram-se secundárias em comparação com o manjar espiritual que obtive naquela véspera de Natal.

Assim, quando cheguei em casa, achando que tinha ficado apenas uma ou duas horas com o Mestre, a Sra. Lewis estava me esperando com o famoso rolo de macarrão. Entretanto, durante todo o caminho de volta para casa, aquela grande luz espiritual estava na minha frente. E, quando cheguei em casa e falei com ela, lembro-me de o quanto estava contrariada. E ela tinha razão para estar assim; contudo, ao ver meu rosto, evidentemente sentindo o efeito do batismo espiritual que o Mestre havia me dado – ao ver isso, ela foi incapaz de me causar qualquer desconforto.

Lembro-me de que levei quase um mês de cuidadosa conspiração, sob a orientação do Mestre, para promover um encontro entre os dois, o qual aconteceu na casa da Irmã Yogamata. Após aquela reunião, que durou apenas alguns instantes, um maravilhoso relacionamento foi restabelecido entre eles; a lealdade e devoção da Sra. Lewis jamais oscilaram desde aquele dia.

Uma meditação de cinco horas em Plum IslandNa primavera de 1921, por volta de abril, todos nós decidimos tirar alguns dias de folga e viajar

para a Costa Norte, como é chamada, de Massachusetts, até a casa de veraneio da Irmã Yogamata, a fim de passarmos alguns dias por lá. Quem de vocês conhece a Nova Inglaterra sabe que em abril a Costa Norte é muito fria e desagradável; contudo, fomos lá. Só que, embora fosse uma casa de verão, nós tínhamos pensado que poderíamos mantê-la aquecida e acender uma lareira. E então lá fomos nós. Chegamos no local e, ao anoitecer, acendemos o fogo.

Recordo-me da reação do Mestre ao nos ver esfregando as mãos e assoprando: “Uuuh, Uuuh, Uuuh”, sendo que ele ficou se perguntando o que seria aquilo. Ele, porém, disse: “Mais tarde naquela noite eu viria a descobrir”. Quando fomos para cama, ele tinha muitos cobertores e foi dormir de roupa, sapato e tudo o mais. Durante aquela noite, no intenso frio e umidade, ele puxou os cobertores até seu pescoço. Foi uma cena curiosa quando pela manhã vimos seu pé sobrando de fora do cobertor. Lembro-me de ele ter dito: “Agora sei o significado quando vocês faziam ‘Uuuh, Uuuh, Uuuh’.”

O dia seguinte foi claro e ensolarado, muito embora, como já disse, naquela época do ano o clima ainda era muito frio e penetrante. Há um bonito molhe de quebra-mar saindo da praia logo na frente da nossa casa. Enquanto caminhávamos pela extensão da praia – o Mestre e eu discutindo assuntos espirituais e falando sobre Deus – ele repentinamente lançou o olhar para aquele molhe construído com grandes blocos de granito. E ele disse: “Vamos meditar, Doutor. Este é um local maravilhoso perto do oceano.”

Então andamos pelo molhe, nos sentamos, e começamos a meditar. A maré estava baixa e sentamo-nos com segurança sobre as pedras. Aquela foi minha primeira experiência de qualquer tipo de meditação, especialmente sob tais condições. Bem, naquela primeira hora, não acredito que existissem no mundo pedras mais duras do que aquelas, mas de algum jeito consegui agüentar, pensando: “Se o Mestre pode sentar aqui, também posso – mesmo que isso me mate”. Assim,

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conforme disse, após mais ou menos uma hora, meu corpo ficou dormente, mas, pela Graça de Deus e a ajuda do Mestre, consegui permanecer onde estava.

E vocês sabem que ficamos lá por cinco horas? Repentinamente, fui despertado pelo Mestre dizendo: “Doutor, Doutor, Doutor, vamos, vamos embora daqui”. As ondas estavam subindo, quebrando-se naquelas enormes pedras, e então deixamos para trás aquela posição precária. Embora tenha sido um desafio e tanto, também foi uma grande bênção. Devido àquele grande esforço que fiz, a partir daquele momento, a meditação não foi algo pesado, mas sim foi tornada mais fácil devido ao meu comprometimento com aquela disciplina. E assim, vou para sempre me lembrar daquelas cinco horas sobre aquele molhe em Plum Island, em Massachusetts.

O Mestre protege a família do DoutorPouco tempo após a chegada do Mestre em Boston, ele começou a proferir suas palestras

dominicais em um pequeno salão próximo a Copley Square, conhecido como o Salão Faelton. Após as palestras, ele ia para seu quarto, onde cozinhava alguns pratos para mim. Conversávamos sobre Deus e os Grandes Mestres, e assuntos assim, e então ele normalmente vinha até minha casa e ficava durante a semana até sua palestra na quinta-feira – sua aula noturna de quinta-feira. Durante aquela época, muitas noites foram passadas em debates e ouvindo às histórias de sua vida, as quais vieram a público posteriormente na sua Autobiografia.

Recordo-me de que num final de tarde de domingo eu tinha entrado em seu quarto. Ele estava preparando a comida quando o telefone tocou, e então atendi. A Sra. Lewis ligou para avisar que minha filhinha tinha sofrido outra convulsão. Eu havia deixado algumas instruções de como proceder nesses casos, mas ela me chamou, e o Mestre sentiu que havia alguma coisa errada. Lembro-me de ele ter dito: “O que foi, Doutor, o que foi?” Bem, após conversar com a Sra. Lewis, baixei o telefone e lhe disse que minha filha havia tido outra convulsão.

Lembro-me bem de como seu rosto mudou. Ele foi para trás de uma pequena cortina que separava a “cozinha” do restante de seu quarto. Apenas alguns instantes depois ele voltou, seu rosto era só sorrisos, e ele disse: “Não se preocupe, Doutor, ela ficará bem, e nunca mais terá outra convulsão”. Lembro-me de que, naquela noite, após terminarmos o jantar e tendo conversado um pouco, fomos até minha casa. O Mestre permaneceu ao lado do berço da minha filha a noite inteira. E, é claro, desde então ela nunca mais sofreu com nada parecido. E então são essas coisas – e muitas outras que irei contar – que nos fazem perceber o quanto fomos abençoados por ter o Mestre presente conosco em nossa própria casa.

Época de grandes bênçãosComo já disse, passamos muitas noites ouvindo suas maravilhosas palavras e experiências, e

também corríamos pela casa como irmãos, deixando a Sra. Lewis em estado de alerta – o que parecia ser exatamente nossa intenção; mas, apesar de todas essas coisas, aquela maravilhosa devoção e reverência jamais foram manchadas o mínimo sequer; e o Mestre era o nosso Mestre, apesar daquele relacionamento tão próximo. Lembro-me de que, em uma ocasião, dormi com o Mestre. Ele pediu que dormisse com ele. Bem, eu pensei que estava tudo certo. Mais tarde, lembro-me que ele disse ser essa uma das maiores honras que um discípulo pode ter, a de dormir com seu Mestre.1

1 Esse privilégio também foi dado ao jovem Yogananda por seu Guru, Swami Sri Yukteswarji, de Puri. O significado de dormir com um Guru é que a elevadíssima vibração de um homem que está unido com Deus é absorvida (conforme a receptividade do discípulo) durante o sono, demolindo assim montanhas de carma e elevando o discípulo, de modo que cada célula de seu corpo seja eletrizada pelo poder de Deus fluindo através do Mestre liberto. Maravilhosas curas espirituais, mentais e físicas ocorrem quando tais bênçãos são recebidas. – O Editor

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Os dias foram passando, e o clima quente estava de volta. Muitas horas nos dias de calor eram passadas debatendo sobre Deus e os Grandes Seres. Recordo-me dos goles que dava naquela maravilhosa limonada que o Mestre fazia, daquele jeitinho que só ele conseguia fazer. Aqueles dias que estive com ele, apreciando grandes quantidades de sua limonada, certamente jamais serão esquecidos.

O Mestre ajuda o Doutor e sua famíliaAo contar essa história sobre o Mestre, não quero que vocês tenham a impressão de que ele e

seus poderes espirituais eram utilizados para cobrar dívidas perdidas, mas, ainda assim, foi isso o que aconteceu.

Pouco antes de ter encontrado o Mestre, apenas alguns meses antes, conheci um certo cavalheiro. E, por seu intermédio, fiz alguns investimentos em ações no mercado financeiro. Embora não me tenha trapaceado deliberadamente, talvez ele tenha se aproveitado do fato de que eu o havia apresentado à família e ter caído em minha graça: ele se aproveitou disso para me vender algumas carteiras de ações que não eram de grande valor.

Então, após algum tempo, a amizade acabou, e ele ainda me devia algum dinheiro. Foi quando o Mestre apareceu. Ao discutir alguns assuntos, por ele ser novo no país, vindo de uma terra estrangeira, falei para ele numa ocasião: “Como posso saber que o senhor não é como um certo cavalheiro que encontrei não muito tempo atrás? Fiquei seu amigo, e ele tomou vantagem dessa amizade. Como posso saber que talvez o senhor não esteja naquela mesma categoria?”

“Bem”, ele disse, “é claro, temos que ser cuidadosos com essas coisas, mas, com um homem verdadeiramente religioso, aquilo não é possível”. Contei sobre aquele cavalheiro e as atividades que tivemos. O Mestre disse: “Bem, digo que ele não foi bom para você”. Então ele falou claramente, e disse – tendo ainda falado o nome do cavalheiro, digamos, “Sr. Black”: “O Sr. Black está agora em Lowell, Massachussets. Se você enviar Mildred para lá, ela conseguirá receber o dinheiro que ele deve para vocês.” A Sra. Lewis foi para lá naquele mesmo dia, e achou o cavalheiro no endereço fornecido. Ela voltou com o dinheiro. E, é claro, mesmo quando as coisas são vistas sob a perspectiva da Consciência Divina, ainda assim esses detalhes são cuidados, pela maravilhosa proteção de Deus através do Guru.

O Doutor quase se molhaO próximo incidente que irei relatar é talvez um dos mais impressionantes acontecimentos

havidos em meu relacionamento com o Mestre. Acredito fortemente que foi graças à sua intervenção, que estou aqui agora, podendo contar essas histórias.

Aconteceu num domingo quente em julho de 1921. Tínhamos ido para a casa de verão de meu pai na baía de Plymonth, na cidade de Duxbury, Massachusetts. Chegando lá, velejamos num pequeno barco, nós três – meu pai, meu irmão e eu. Estávamos a aproximadamente três quilômetros da costa quando ficou evidente que iria cair uma violenta tempestade. O céu escureceu como um mau presságio, e trovões violentíssimos despejavam sua fúria no horizonte. Então veio a escuridão total. O vento havia parado. Vendo nossa dificuldade, começamos a remar de volta à costa.

O barco não era muito grande, de modo que apenas dois (um com cada remo) podiam fazer alguma coisa. Remamos feito loucos na direção de casa. Não conseguimos chegar na praia, estando ainda a cerca de 800 metros da costa, quando irrompeu a terrível borrasca. Felizmente, tínhamos uma pesada âncora que jogamos no mar. Contudo, apesar disso, se não tivesse havido alguma intervenção, sei que não teríamos sobrevivido a tanto vento, chuva, granizo, trovões e raios.

Recordo-me de ter pensado, enquanto espiava por debaixo da vela que segurávamos na cabine, como seria quando o fim chegasse. Então lembrei: a família, as crianças vieram à minha mente, e o

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pensamento de ter que deixá-las. E então pensei no Mestre. Nós mal havíamos iniciado um maravilhoso relacionamento espiritual, e agora isso iria acabar.

Lembro-me da enorme angústia que assolou meu coração enquanto pensava tais coisas. Naquele instante, porém, lembrei-me das palavras que o Mestre havia me dito não muito tempo antes. Ele disse: “Lembre-se, Doutor, quando você estiver na vibração de Om, quando sua consciência estiver focalizada no Centro Crístico na testa, quando você se fundir na vibração de Om, nada poderá feri-lo.” Ergui então meus olhos e focalizei onde ele havia me dito. Contemplei uma grande luz, uma luz no formato de um grandioso olho espiritual surgiu dentro daquela tempestade. E, com ela, desceu sobre mim uma tamanha consciência de paz e segurança, que eu sabia que nada me poderia afetar.

Na mesma hora a tempestade parou, e uma grande embarcação a motor veio para o resgate, tendo nos rebocado até a praia. Tivemos uma explosão de alegria. A comunidade inteira havia se reunido na praia durante a tempestade, temendo por nossas vidas. E houve uma grande festa por nosso retorno.

Passamos o resto do dia na casa de meu pai. Mais tarde naquela noite, voltei para minha própria casa em Somerville, Massachusetts. Logo quando entrei na porta, tocou o telefone. Atendi, e a voz do Mestre falou: “Bem, Doutor, você quase se molhou hoje, não foi?” Não consegui logo de primeira captar o que ele estava querendo dizer, apenas na segunda vez quando me disse a mesma coisa. Então percebi que ele devia ter sabido algo do que ocorrera. Ele foi, aliás, o primeiro a saber, mas nunca falou mais nada sobre isso.

Não foi até que vários anos tivessem passado, quando conversava com a Irmã Yogamata – que, aliás, foi a primeira Irmã ordenada na América, em Boston – quando ela me contou que naquele horário preciso, ao redor das três e meia da tarde daquele domingo, anos antes, ela e o Mestre estavam sentados em sua varanda. Ele estava lendo o ensaio de Emerson, “On the Sea”, quando, de repente, deixou cair o livro, deu um pulo e começou a andar de um lado para o outro, dizendo: “Irmã, o Doutor está em apuros, aliás, devo dizer, sérios apuros”.

Bem, depois que fiquei sabendo disso, logo na primeira oportunidade, coloquei o Mestre na parede, por assim dizer, até que finalmente ele admitiu que tinha visto o que estava acontecendo. Essa história demonstra que um verdadeiro mestre, como Paramahansa Yogananda, é sem sombra de dúvidas Uno com a onisciência de Deus. E, como Sua onisciência sabe de todas as coisas, Ele enxerga todas as coisas. Quem é Uno com essa onisciência pode da mesma forma saber de todas as coisas que estão acontecendo.1

O Mestre recupera a saúde do DoutorApós uma permanência de três anos em Boston, o Mestre começou sua viagem para divulgar a

Auto-realização, primeiro em Nova Iorque, e depois noutros lugares. Em janeiro daquele ano em que viajou para Nova Iorque, lembro-me, eu estava conversando com ele sobre meu progresso espiritual. Como era meu costume, eu sempre perguntava como estava me saindo, e pedi seus conselhos. Ele disse: “Você está indo bem, mas tenha cuidado com sua saúde no próximo verão”, e isso foi tudo que pude extrair dele.

Com o passar do tempo, esqueci seu aviso, pois estava muito ocupado em minha vida profissional. Porém, quando chegou o verão, logo lembrei, pois fui acometido de uma terrível condição física, que me causava dores enormes e fazia com que o exercício de minha profissão ficasse muito difícil. De alguma maneira continuei, mas num certo dia em particular, no ápice da dor, estava eu na casa de veraneio em Duxbury, aquele mesmo lugar sobre o qual vocês ouviram na história da tempestade. Naquela quarta-feira, lembro-me bem, estava sentindo muita dor, tanto que 1 Pouco tempo depois da morte do Mestre, o Doutor ministrou uma aula para os monges. Ele disse que se as pessoas soubessem quem o Mestre era, teriam todos caído prostrados a seus pés.

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nossa linda cadelinha pulou no sofá e começou a lamber meu rosto, como se estivesse tentando me confortar da maneira que podia.

Consegui de algum jeito passar a tarde e subi as escadas para me deitar. No meio da noite, houve uma agitação na estrada, e ouvi alguém chamando: “Doutor, Doutor, Doutor Lewis”. Logo descemos e descobrimos que o Mestre tinha chegado de Nova Iorque. Ele tinha conseguido de algum jeito encontrar um carro e um motorista, e tinha a companhia de uma ou duas pessoas. Ele tinha vindo todo o trajeto desde Nova Iorque, e chegou bem na hora em que eu mais precisava, naquela hora da madrugada. Lembro-me que após as saudações, ele entrou. Com que ansiedade eu havia esperado o momento em que poderia lhe contar o quão miseravelmente estava me sentindo!

Ele parecia não dar muita atenção, até que finalmente me pegou pelo lado e subimos as escadas para falar sobre minha saúde. Falei para ele que realmente estava me sentindo muito mal. Ele não falou muito, apenas sorriu um pouco e disse: “Você ficará bem. Apenas faça o que eu disser, e Deus cuidará de você.”

Lembro-me de que ele me deu um remédio bem peculiar, e drástico. Não é possível falar sobre ele agora, mas se algum dia souber de algum devoto que precisar, irei fornecer o remédio sem qualquer hesitação. Comecei a tomar o medicamento, e minha melhora começou imediatamente. Minha saúde foi se recuperando com firmeza, até que finalmente a enfermidade se foi para nunca mais voltar.

Lembro-me de que quando o Mestre me escreveu novamente de Nova Iorque, ele disse: “O problema realmente era sério e, obviamente, foi necessário um remédio muito sério, drástico e único para consertar a situação”. Mais uma vez, essa história demonstra que, para o devoto humilde que está realmente cem porcento sintonizado com o Mestre, este jamais o esquece, pois Deus ordenou que o Guru permanecesse com o devoto, até que finalmente Ele o leve para casa.

Alguns anos mais tarde, o Mestre retornou a Boston para nos visitar, e eu teria que encontrá-lo na Estação de Back Bar. Atrasei-me apenas alguns minutos por causa do estacionamento; nesse meio tempo, ele pegou um telefone e tentou me ligar. Justo nesse momento entrei na sala de espera da estação, que estava repleta de gente. De repente ouvi sua voz chamando, “Doutor, Doutor, Doutor Lewis”, e em apenas alguns momentos, vi o Mestre atravessando a multidão desde as cabines telefônicas em minha direção. Soube mais tarde que ele estava tentando me ligar quando viu meu rosto. Não seguindo a convenção de colocar o aparelho de volta no gancho, ele deixou o telefone suspenso no ar e começou a gritar meu nome, enquanto caminhava para me encontrar.

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SWAMI YOGANANDA, 1921

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Capítulo 3

Cartas de Paramahansa Yogananda

As cartas seguintes de Paramahansa Yogananda para o Doutor e a Sra. Lewis cobrem um período de trinta anos, entre 1921-1951. Organizadas em ordem cronológica, elas são únicas ao mostrar o pensamento do Mestre naquele longo período, praticamente cobrindo todo o tempo em que o Mestre viveu no Ocidente. Essas cartas não apenas mostram um pouco da sabedoria e aconselhamento prático do Guru, mas também demonstram a maneira pessoal, terna e afetiva com que lidava com seus discípulos – uma maneira quase infantil – convidando-os para passarem algum tempo com ele, ou para receberem os presentes de Natal. O Mestre dizia, e os demais também percebiam, que após o Doutor e Mildred terem visitado Mount Washington e retornado para Boston, que ele (Yogananda) perdia o apetite. Tamanho era seu apreço por eles. Em outras ocasiões, as cartas mostram como ele podia ser severo ou energético, conforme desejasse.

Assim como alguns preferem uma versão mais polida e editada em poesia ou prosa, outros preferem ler os primeiros trabalhos do autor. As cartas neste capítulo são especialmente apresentadas como foram originalmente escritas; exceto por alguma ocasional mudança na pontuação, ou uma pequena correção ortográfica nas palavras para tornar sua utilização mais consistente com a linguagem cotidiana comum, sendo que nada foi acrescentado. Por outro lado, alguns temas relacionados com saúde, finanças e assuntos particulares foram omitidos. Por exemplo, algumas recomendações específicas do Mestre para a saúde do Doutor Lewis foram dirigidas somente a ele, e seria inapropriado tentar generalizar seu conselho para todos os demais.

A figura abaixo mostra a caligrafia do Mestre:

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Lester TerraceWest Somerville, Mass.

Sexta-Feira, 12 de agosto de 1921

Querida Mildred,*

Fiquei feliz ao receber sua carta hoje. Imaginei o porquê de sua carta enviada na terça-feira ter chegado aqui hoje. Durante o período diurno, na maior parte, fico aqui, mas de noite geralmente permaneço em Cambridge.

Alegra-me saber que tenha gostado tanto da sopa de nabos, mas não se esqueça de entoar juntamente com ela a mensagem da Sat-Sanga. Sat-Sanga é o sal da sopa, sem o qual ela fica sem sabor. Dessa forma, ficarei sempre ainda mais feliz, se souber que todos vocês estão promovendo e divulgando as sementes da Sat-Sanga. Não subestime a força da alma dentro de si – faça pelo menos aquilo que puder.

Dito isso, vamos agora à sopa. Você sabe como descascar e cortar os nabos em pedaços, juntamente com as batatas e as abóboras. Adicione açafrão ou bastante páprica vermelha e sal. Ponha tudo na frigideira. Após, despeje água suficiente para cozinhar tudo. Adicione bastante açúcar e uma grande quantidade de manteiga. (Cubra a sopa quando estiver cozinhando) e retire do fogão quando o caldo estiver grosso e os ingredientes bem cozidos. (Não use Garam Mashala.) Coma quente.

Você pode dar aos Lewis uma amostra das minhas rodelas de cebola – corte as cebolas em forma de anéis – mergulhe-as em ovos batidos com sal e páprica (e Garam Mashala, se possível) e, então, frite-as com gordura.

Aproveitando o ensejo, não quero que pense que a estou de alguma forma desencorajando a dar para as pessoas o prazer de uma sopa. O que digo é que você não deveria parar aí – mas sim que deveria estar sempre pronta a dar algo mais junto com ela, sempre que as pessoas necessitarem de mais consciência e sobriedade. Minhas bênçãos a você, ao Doutor, Sr. Baba e Senhorita Lewis. Saudações a Dolly e sua irmã.

Com os Melhores Votos,

Swami Yogananda Giri

_________________________________

* A primeira carta do Swami Yogananda recebida por Mildred Lewis.

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Eremitério Sat-Sanga North Waltham, Mass.

4 de agosto de 1922

Querido Doutor,

Extremamente feliz por receber sua carta. Sim, você é o mesmo de sempre – você revela isso nas coisas que escreve. Alegro-me com isso, e ficarei ainda mais feliz se você permanecer o mesmo de sempre e com o decorrer dos dias progredir ainda mais.

É ótimo saber que você está desfrutando o tão sonhado descanso após um ano de trabalho duro. Bem, tudo leva a crer que as coisas irão melhorar na medida em que fortalecer seu corpo e seu espírito. O verdadeiro descanso, você sabe, está na meditação – nas outras horas a mente fica constantemente inquieta identificando-se com os pensamentos sempre mutáveis. Incessante e incansável paciência, vontade diamantina, zelo inflexível – fazem o devoto conquistar merecidamente os louros da vitória. Não falhe em melhorar sua boa metade através de bons e carinhosos conselhos – sugestões inseridas entre os intervalos de descanso da mente ou dos afazeres agradáveis – que adentram no íntimo do ser e tornam-se parte integrante dele. Isso demanda paciência e vigilância – o professor deve esperar o momento adequado. Sugestões forçadas inseridas impacientemente nos outros são repelidas rapidamente por eles. Muitas vezes, ao fazer as coisas com pressa, perdemos tempo, ao invés de economizá-lo conforme pretendíamos.

Como estão os pequenos, Brenda e Bradford – lembre de mim para eles e Mildred. Minhas bênçãos a todos vocês. Por favor, não deixe que Mildred o domine repetindo aquela “História do Mosquito”.

Sempre seu,

Swami Yogananda Giri

P.S. Por favor, diga a Mildred que irei lhe responder na minha próxima carta. Estou feliz que vocês irão me dar uma surpresa vindo aqui.

S.Y.

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Hotel BancroftWorcester, Mass.

8 de Novembro de 1923

Querido Doutor,

Infinitas são as maneiras pelas quais o Astucioso Ilusionista quer nos testar. Seja como for, serei páreo ao desafio, e estou sempre buscando receber Seu Poder, para que Ele possa me manter carregado com Sua Força, tornando-me capaz de sair bem-sucedido desta provação. Não esqueça que Ele é seu Pai, infinitamente bondoso além de qualquer definição. Abandone tudo, se for preciso, mas não fique longe Dele.

Por favor, perdoe-me o atraso no envio deste cheque, pois não sabia exatamente quanto dinheiro me sobraria após você compensá-lo. Bem, não se esqueça de que estou com você, assim como Deus está. Chegarei em Boston amanhã de tarde, e falarei com você sobre o assunto.*

Lembre de mim para Brendinha, Bradford, Mildred e você mesmo. Com amor eterno.

Permaneço muito sinceramente a

serviço do Senhor,

Swami Giri Yogananda

P.S. Encaminho anexo um cheque de $100.

DR. LEWIS E BRENDA - 1923

* Em outubro de 1923, o Mestre deu uma pequena seqüência de palestras no Hotel Bancroft em Worcester, Mass., e, na época, pediu ao Doutor a soma de mil dólares para que pudesse ir até Nova Iorque e dar algumas palestras. Esse foi o início da sua série de palestras neste país.

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The Waldorf-AstoriaNova Iorque, Nova Iorque.

23 de Novembro de 1923

Querido Doutor Lewis,

As palavras falham na tentativa de expressar o que você tem feito pela Sat-Sanga.* Através das suas mãos, vejo atuando as mãos de Babaji, Lahiri Mahasaya e do meu Mestre. Você tem sido o instrumento dourado do Toque Divino – para manifestar Sua Obra. Você tem me demonstrado repetidas vezes que Deus ajuda quando todo mundo falha.

Com a força do Todo-Poderoso, humildemente o abençôo, para que Ele possa lhe dar ainda mais força, vertendo sobre você o néctar imortal da realização. Que Deus possa lhe conceder uma fé interminável e realizar todos os seus desejos, tornando-o próspero em todos os sentidos.

Meu coração brilha com força como nunca, pois Deus escolheu uma nulidade indigna como eu para realizar Sua Obra. Seu espírito está comigo – sua verdadeira essência está agora se iluminando perante os refletores. Não tenha medo, filho da Luz Eterna. Continue marchando com passos inflexíveis – atropelando toda a escuridão. Ora, o que é o corpo, de que se trata este espetáculo passageiro – tudo passará – mas as velas que você está acendendo na casa do seu Pai irão iluminar seu caminho aqui e no além.+

A Sat-Sanga teve uma recepção esplêndida ontem – foi dada a maior demonstração da Obra de Deus. O pessoal da filmagem já estava indo embora devido à chuva e às nuvens, mas, apenas alguns minutos antes da nossa chegada o poder supremo dispersou as nuvens e fez surgir o sol, tendo como resultado as imagens que serão mostradas hoje em todo o país. Neste envelope estou anexando o que será lançado e o material que já saiu no Tribune.

Algumas pessoas se inscreveram para receber as lições antes mesmo de ouvir minha palestra. A Mão de Deus age através de tudo. A Sra. ______ veio me ver e prometeu ajudar em qualquer coisa. Nova Iorque recebeu a Sat-Sanga de uma maneira excepcional, nem tenho mais o que dizer.

* Demonstrando a caligrafia do Mestre, uma cópia da primeira página desta carta está incluída na página 30. + “A única realidade é Deus e nossa união com Ele. Nosso Mestre e fundador nos apontou isso maravilhosamente em uma carta que escreveu para mim; considero essa carta como talvez a melhor que ele me escreveu, pois a verdade que demonstrou na carta me despertou de maneira tal, que fiz o esforço para me erguer sobre esta consciência exterior e sobre a ilusão, e saber que não sou essas coisas, mas que estou com o Pai Eterno, assim como cada um de nós está.

“Essa carta que me foi escrita não serve apenas para mim, mas se aplica também a cada um de nós. Vamos lê-la. Foi escrita em 23 de novembro de 1923, há muito tempo, porém descobri ao longo de todos esses anos que a importância das palavras nela escritas não mudou. Elas se tornaram mais reais para mim. Até tentei encontrar alguma incoerência em seus escritos. Não fui capaz de descobrir qualquer falha, e por isso leio para vocês. Aquilo que ele diz se aplica a cada um de nós. Este é um trecho da carta: ‘Não tenha medo, filho da Luz Eterna. Continue marchando com passos inflexíveis – atropelando toda a escuridão. Ora, o que é o corpo, de que se trata este espetáculo – tudo passará – mas as velas que você está acendendo na casa do seu Pai irão iluminar seu caminho aqui e no além.’

“Pode haver palavras maiores do que essas? Não fiquem desencorajados. Continuem meditando, e as velas que estão acendendo na Luz Eterna de Deus sempre estarão lá para guiá-los, até que finalmente estejam unidos com a grande luz do Infinito. Tais são as palavras do Mestre. Elas valem a pena que as ouçamos e sigamos.” – Dr. Lewis, referindo-se a esta carta, na Igreja de San Diego, em 25 de janeiro de 1959.

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Como está Mildred, ela estava tão bem da última vez que a encontrei. Como você está? Permaneça com Deus e Seu Servo, e você verá a Mão Dele agindo.

Com amor infinito para todos vocês.

Carinhosamente,

Swami Yogananda Giri

P.S. Importante

Por que vocês dois não vêm aqui qualquer dia desses? Por favor, venham antes do Natal e passem a noite no Hotel Waldorf. Venham com o seu carro. Isso irá economizar bastante e poderemos ver toda Nova Iorque. E, por favor, traga Mildred também. Vocês não imaginam o quanto sentirei sua falta amanhã. Mesmo assim, seu espírito estará conosco, sua lealdade à verdade estará conosco. Por favor, venham. Por favor, é sério, venham. Os custos do aluguel de um automóvel são proibitivos, então peço que venham de automóvel. Vocês irão adorar ficar aqui. Tenho uma suíte com quatro camas. Você pode dormir em meu quarto e Mildred pode ficar no outro. Sem gastos extras. Você irá gostar muito, com certeza. Faremos para vocês pratos hindus preparados em um restaurante hindu e também uma boa comida americana. Venham. Venham. Venham.

Com amor,

Swami Yogananda

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, Nova Iorque.

10 de dezembro de 1923

Querida Mildred,

(…) Por favor, lembre-se de uma coisa: Sat-Sanga não depende dos erros de ninguém, pois está estabelecida na verdade e suas doutrinas devem ser recebidas como tal. Eu gosto de críticas construtivas, mas as críticas ásperas feitas em público pelo mero prazer de fazê-las, isso vai contra as leis até mesmo da amizade mais simples.*

Uma vez mais ouça o chamado de Deus, e dedique seu coração e alma para o trabalho Divino. Imagine, se o seu coração recebesse daqui inspiração e crítica, o quanto mais você terá ganho e se beneficiado. “Não julgueis para não serdes julgados.”

Por favor, não faça coisas ou crie situações através de julgamentos ríspidos, pois tais coisas estarão além da minha capacidade de consertar.

Permita-me encontrá-la quando eu for para Boston com aquela atitude angelical que você demonstra de vez em quando – deixe que os vírus, os agentes desarmoniosos que perturbam sua paz sejam removidos, e permita que a Sat-Sanga torne-se viva com sua nova atitude durante minha ausência. Escrevo tudo isto para seu bem e para o bem da Sat-Sanga. Sat-Sanga é para você, eu advogo para ela porque meus interesses identificam-se com os dela no momento – tempo virá em que não serei mais escravo de qualquer organização e não darei atenção para as mortais críticas, pois não acredito que tais coisas possam de maneira alguma me perturbar pessoalmente. A Sat-Sanga é sua casa mais ampla, um campo maior para sua alegre diversão, que estou construindo para você. Se você perturbar esse desenvolvimento, lembre-se que estará ameaçando os seus próprios interesses.

A partir de amanhã, darei três dias de palestras neste hotel. Grandes coisas estão acontecendo, e não se esqueça de me dar um curry quando eu for aí. Espero vê-la de bom humor. Com bênçãos para você, Doutor, Brenda e Bradford.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda Giri

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* Paramahansa Yogananda dizia com freqüência o quanto apreciava a honestidade de Mildred Lewis: “Ela não tem medo de me dizer a verdade”.

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, N.Y.

13 de dezembro de 1923

Queridos Doutor e Mildred,

Mesmo com nossa pouca fé Deus tem muitas e muitas vezes demonstrado que está conosco. Jamais abandonem o Seu lado – acreditem, pois precisamos ser leais se quisermos procurá-Lo. O devoto se recusa a perder sua fé.

Recebi a carta de Mildred, e fiquei muito feliz. Gostaria de não ter enviado a carta que mandei para você – eu a escrevi num momento de agonia. Meu amor e alegria por vocês estavam em seu ponto máximo quando ouvi que tinham feito críticas horríveis perante as outras pessoas, e quase chorei quando soube disso. Pensei comigo, “o que é isto, Deus, foi tão fácil criar confiança nas crianças, mas como é difícil com eles”. Por favor, tentem entender como eu me senti, e acreditem em mim, pois estou narrando os fatos conforme são. Se não confiarmos uns nos outros com apenas uma palavra, uma afirmação, onde o mundo irá parar?

Acho que entre os verdadeiros amigos a franqueza é a melhor, mesmo que doa. Acho que a sinceridade e a mente aberta que vocês possuem são os melhores remédios para qualquer mal-entendido. Seguirei esse princípio pelo tempo em que Deus permanecer comigo. Neste momento, por favor, façam um juramento solene que de agora em diante não irão mais se perturbar por essas coisas triviais, que irão erguer suas almas sobre elas, e sentir pena das pessoas que vivem atoladas nessas picuinhas. Façam um juramento que o nosso amor jamais será questionado por nossos corações, nem sequer perturbado por qualquer coisa ou pessoa. Esse amor é muito sagrado para ser perturbado desta maneira.

Essa não é a hora para ficarmos cabisbaixos – por favor, animem-se e mantenham-me encorajado quando estou doando tudo, meu corpo, mente, voz e sono por todos vocês. Esqueçam isso completamente, pois foi tudo um mal-entendido de ambos os lados, e não algo causado por nós. Vamos unir nossos esforços para fazer do Festival de Boston um sucesso na sua ausência. Deus está fazendo coisas maravilhosas aqui. Estou lotando os auditórios todas as noites, os estudantes estão vindo, apesar da época de Natal.

Esta é a hora da alegria, e não das lágrimas ou do aborrecimento – a promessa de Babaji está a caminho de ser cumprida. Vocês dois, arregacem as mangas e esqueçam essa bobagem. Lembrem-se do amor que existe por detrás das palavras.(…)

Permitam-me que veja, quando for a Boston, os seus rostos sorridentes brilhando com a alegria e o sorriso Divinos, e suas mãos ocupadas com a obra de Deus através da Sat-Sanga.

Com amor para Bradford e Brenda e para ambos vocês,

Eu continuo sempre,

muito sinceramente,

Swami Yogananda Giri

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Nova Iorque, Nova Iorque23 de dezembro de 1923

Dr. M. W. Lewis18 Field RoadArlington, Mass.

Amor e Bênçãos, para você, Mil e crianças. Mandei seus presentes hoje.

SWAMI

O Mestre com o Doutor e a Sra. Lewis

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, Nova Iorque.

7 de janeiro de 1924

Querido Doutor,

Fiquei muito feliz ao receber sua carta. Gostei dos panfletos, eles ficaram muito bem feitos. Alegra-me saber da resposta, também. Fico feliz que Mildred gosta do trabalho.

Sinto muito porque tive que colocá-lo em tantos apuros. Não seja impaciente, querido Doutor, justo quando os frutos estão surgindo. Pelo que entendi, você irá emprestar para o trabalho mais $800 além dos $500 que já prometeu doar (dos quais $200 você já depositou no banco). Bem, muito obrigado, sou extremamente agradecido por você estar salvando a vida desta obra, que foi fundada e trazida de volta após tanta luta. Acho que você está certo em sua sugestão de imprimir três mil folhetos Yogoda. Contudo, preciso saber agora quanto tempo irá levar para imprimir três mil, e se os 165 dólares necessários serão tirados dos 800 mais os 500, ou dos 300 mais os 200 (já depositados em minha conta). Por favor, informe-me acerca da taxa de juros e das condições de pagamento (se mensais ou trimestrais, e qual a quantia).

A Comissão de Palestras se reúne na sexta-feira e irá agendar definitivamente o roteiro das palestras que irei proferir. Estou dando o meu máximo para cumprir minhas obrigações, o resto deixo com Deus e com a fé que todos vocês têm. Por favor, lembrem-se de que o alimento deve chegar no estômago da pessoa doente antes que ela possa se sentir mais forte. Vocês não podem perguntar a ela se está se sentindo mais forte ou não, até que o alimento tenha chegado no seu estômago. Semelhantemente, os resultados irão aparecer quando tivermos plantado as sementes – temos que investir nas possibilidades com maior chance de sucesso. É impossível julgar o fruto quando ainda se está apenas semeando.

Muito me satisfaz a maneira com que vocês iniciaram as coisas, apenas continuem firmes – não olhem para trás ou tudo será apenas uma grande farsa. Impaciência – seja ela banida para a terra dos sonhos.

Com todo meu amor para todos vocês.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, Nova Iorque.

4 de março de 1924

Querida Mil,

Recebi agora sua carta. Curiosamente, justo na noite anterior, fiquei sentado uma hora tentando telefonar para você, de uma da manhã até às duas, ou até um pouco mais tarde, sem conseguir resposta. Realmente, sinto-me péssimo por você. Por favor, não pense que esqueci de todos vocês. Estou rezando para o Senhor e está dentro de Seu poder fazer alguma coisa. De qualquer maneira, não perca a coragem. Mandei algumas instruções as quais soube que você está seguindo religiosamente. Eu não sei o que você engoliu. Não tome nada gelado ou amargo. Se quiser, poderá comer mandioca, ovos e leite. Você precisa se manter bem alimentada. Não fique passando fome e recupere sua força. Não seja por demais sensível e não se sugestione com a idéia de doença ou mal estar. Caminhe regularmente e tente andar com os vidros do carro abertos. Se possível, procure evitar ficar o tempo inteiro na cama. Estou rezando bastante para Deus por sua rápida recuperação, a qual espero aconteça muito em breve.

Meu amor e bênçãos para Brenda, Brad, você e o Doutor. Por favor, escreva-me diariamente sobre sua condição.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda Giri

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, Nova Iorque.

26 de abril de 1924

Queridos Mil e Doutor,

Obrigado, Mildred, por ter se lembrado de mim e ressuscitado a mim por ocasião da Páscoa. Estou finalizando o redemoinho das atividades. Os estudantes farão um jantar de despedida. Será neste hotel, na terça-feira à noite, com aproximadamente 60 pessoas ao preço de 6 dólares o prato. Um grande esforço está sendo feito para o evento ser um sucesso. Coisas sem precedentes estão acontecendo – o Espírito de Deus, de Babaji e de Lahiri Mahasaya está mobilizando o seu povo. Estamos empacotando os materiais. Darei seis palestras na Filadélfia, sendo quatro nos grandes Clubes de Psicologia e duas nos pequenos.

Como estão as coisas no seu trabalho? Não vacile – continue todas as atividades com incessante esforço. Tenha fé e manifeste a fé em suas ações – e você verá a Deus. Diariamente estou crescendo, todos os dias consigo novas vitórias sobre mim mesmo – por que você também não? – é claro que consegue. É grande a alegria que surge quando se faz o trabalho de Deus com desapego.

Como estão Brad e Bren, você e Mil? Minha bênção e amor para todos vocês. Não deixem de escrever se eu não o fizer. Meu espírito está em todo lugar. Agrada-me receber notícias de todos vocês. Estou muito, muito, muito ocupado das nove da manhã às duas da madrugada.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda Giri

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The Bellevue StratfordFiladélfia, Pa.

9 de junho de 1924

Querido Doutor,

Recebi sua carta e o telegrama. Tenho estado extremamente ocupado. Por favor, diga a Mildred que gostei do sanduíche mais do que das cerejas, pois no primeiro havia algo de ambos vocês que não havia nas frutas, algo que não pode ser comprado. Eu havia me recusado a comprar cerejas justo na noite anterior e também várias vezes antes, devido ao seu alto preço, e simplesmente transbordei de júbilo ao receber esse presente.

Por favor, escreva-me imediatamente, dizendo qual a casa que você quer vender ou alugar. Se for a sua própria casa, por favor, apenas alugue-a, e não a venda agora. Não venda sua casa na Electric Avenue, 24. Você poderia alugá-la.

Estou feliz, querido Doutor, por você estar trabalhando para Deus. Nunca antes estive como estou agora, pois diariamente contemplo o milagre Dele. Todos aqueles que humildemente vierem a mim também verão Sua obra. Afinal, essa é a única coisa verdadeiramente duradoura. Deixei para trás todas as pequenas coisas, para me dedicar a Sua obra que está progredindo maravilhosamente. Faço isso por todos vocês e Seus filhos, para mais ninguém. Este foi e sempre será meu prazer.

Por favor, medite, concentre-se em desenvolver a Sat-Sanga que é a obra de Deus e de Babaji. Deus ajuda aqueles que ajudam material e espiritualmente os outros. Liberte-se de todos os temores, pois Ele o está guiando em tudo. Sinta que seu Pai está com você, conhece todas as suas necessidades e cuidará de você (já que não conseguiria sequer respirar sem Ele). Não se limite pelos desejos, pois se assim for, receberá somente aquele tanto e nada mais. Porém, se quiser ficar com Deus, terá tudo o mais.

Com amor e bênçãos para você, Mildred e as crianças.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

Escrevam usando a Entrega Expressa, a/c 83 Walnut Ave., Merchantsville, N.J.

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Hotel Pensilvânia24 de junho de 1924

Queridos Doutor e Mil,

Nem consigo dizer o quanto gostei da última vez, sua linda bondade silenciosa para comigo. Desde que conheci vocês dois, jamais me questionei acerca dos seus sentimentos por mim. Eu sei disso, e sempre saberei. Jamais questionarei seus sentimentos. Depois de tanto tempo, o passeio que nós tivemos me pareceu tão familiar, tão natural, repleto da mais agradável doçura. Podemos comprar carros mais possantes, contemplar paisagens mais belas ou viajar por roteiros melhores, mas jamais poderemos desfrutar de uma alegria maior do que aquela que tivemos naquele passeio em particular.

Algumas vezes fica muito difícil repreender Mildred, pois sei o que ela sente por dentro. Eu sei, e vocês sabem, o quão afetuosamente Deus fez crescer nossa amizade.

Com amor para vocês dois e para as crianças.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

P.S.

Estou o tempo inteiro celebrando as paragens da Natureza e bebendo de Seu Grande Néctar. A cada minuto Ele está comigo. Dia e noite passam voando. Fique em Deus e Om. A hora é agora.

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CARTÃO POSTALVancouver, B.C.

6 de setembro de 1924

Dr. M. W. Lewis24 Electric AvenueWest Somerville, Mass.

Cheguei aqui são e salvo (250 quilômetros de Seattle). Aqui moram 800 hindus e há um enorme templo. Você teria gostado de conhecer.

Seguirei para o Alasca no dia 9 de setembro e voltarei no dia 22 para Seattle, onde ficarei para proferir algumas palestras.

A verdade é nossa meta. A perseverança, o amor e a determinação levam até ela.

Com bênçãos e amor a todos vocês,

Muito Sinceramente,

S. Yogananda

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DR. LEWIS – INÍCIO DA DÉCADA DE 20

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Hotel AnchorageAnchorage, Alasca

18 de setembro de 1924

Queridos Doc e Mil,

Finalmente, cheguei aqui a salvo após atravessar um longo trajeto de centenas de quilômetros salpicado de montanhas verdejantes com o topo coberto de neve pairando sobre o mar estéril. Vim de trem desde Seward. Observei que há geleiras tanto no mar quanto na terra. A paisagem é quase idêntica a da Caxemira. A beleza do Alasca pode com justiça competir com as montanhas e os lagos de lótus da Caxemira.* Como eu gostaria que todos vocês estivessem aqui.

Estou levando comigo as novas descobertas das belezas de Deus encontradas na Natureza.

Deixemos que apenas a Consciência de Deus reine entre nós e que nosso laço espiritual eterno seja mais forte do que nunca. Nunca é tarde demais, se tentarmos novamente e novamente. Que a bondade, devoção e lealdade a Deus vivam para sempre em seu caminho. Permitam que o bem seja sempre fascinante perante seus olhos. Deixem as trevas partirem. Amem a harmonia. Boston me é muito querida e sempre será, seja ela travessa ou comportada. Boston mais do que nunca precisa da Sat-Sanga. Que minhas queridas lembranças de Boston floresçam e que aumente a confiança de minh’alma na bondade de todos vocês.

Possam seus corações dar boas-vindas à verdade, e então descobrirão que estarei sempre lá para ajudá-los além do que jamais sonharam. Porém, não duvidem quando Deus os estiver testando. Mantenham sua fé duradoura.

Com amor para Brad e Bren, e minhas bênçãos e melhores votos para vocês dois.

Muito Sinceramente,

S. Yogananda

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* Na primeira edição de East-West, Nov-Dez 1925, Swami escreveu sobre o Alasca: “Se fosse possível criar uma competição de beleza entre as paisagens mais deslumbrantes da Natureza, ficaria difícil escolher entre o Alasca e sua irmã indiana Caxemira. Se a suntuosa Caxemira, com seus jardins flutuantes e lagos de lótus, protegidos pela imensidão coroada de neve do régio Himalaia, é o ‘topo do mundo’, como dizem os geógrafos, então somente o Alasca é capaz de rivalizar com ela em beleza e diversidade gloriosa dos panoramas.”

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CARTÃO POSTAL

a/c Serviço de Entrega GeralSeattle, Washington

25 de Setembro de 1924

Queridos Doc e Mil,

Finalmente estamos bem próximos de nosso destino. Atravessamos o continente. Uma viagem maravilhosa.

Não importa o que aconteça no trabalho, por favor, não se esqueçam da relação que tenho com vocês, ou seja, nosso relacionamento Divino. Guardem isso incondicionalmente imaculado. A vida é curta. Cultivem harmonia, devoção, lealdade ao caminho e ao seu amigo espiritual. Vocês encontrarão a paz duradoura. Nunca percam a fé. Meus cuidados e minha boa vontade irão para sempre protegê-los.

S. Yogananda

Mais de 7.500 km de viagem terminaram de carro no Pico Pike. Gostaria que vocês dois estivessem aqui e vissem esse lugar maravilhoso. Muito sinceramente.

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a/c Serviço de Entrega GeralSeattle, Washington

14 de outubro de 1924

Queridos Doc e Mil,

Vocês sabem que toda manhã às sete horas eu envio uma mensagem espiritual para o seu maior desenvolvimento espiritual e sucesso na vida? Façam também sua parte. As sementes espirituais entregues a vocês na forma das lições darão frutos apenas se as regarem fielmente todos os dias com a água da prática paciente. Protejam o crescimento da sua plantinha espiritual contra os insetos da dúvida e da preguiça física e mental.

Vocês ficarão felizes em saber que cheguei em Seattle no dia 3 de setembro, após uma jornada de mais de 7.500 km de automóvel. Em 9 de setembro fui para Anchorage, no Alasca, para um passeio maravilhoso de 26 dias.* Dei uma palestra para 2.500 pessoas no teatro municipal em Denver. Uma filial da Sat-Sanga foi estabelecida em Denver. Após meu retorno do celestial Alasca, palestrei para mais de 2.000 pessoas no Auditório Maçônico em Seattle. Uma filial da Sat-Sanga em Seattle está nos planos. Seus irmãos e irmãs estão aumentando.

Não esqueçam que estarei chegando até vocês com renovada inspiração após ter visto as belezas da nossa magnífica América. Não esqueçam que Cristo está dormente em vocês, e que os mestres da Índia estão tentando ajudá-los. O mundo precisa tanto de vocês quanto precisa de mim. Espiritualmente, preparem-se para praticar regularmente os ensinamentos que lhes dei. Para que possam dar, precisam primeiro possuir.

Com minhas bênçãos e eternas orações, eu continuo,

Sinceramente,

Swami Yogananda

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* A bordo do navio S.S. Admiral Evans.

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Até 29 de out.a/c do Hotel Multnomah

Portland, Oregon

Queridos Doc e Mil,

Recebi sua carta tão gentil. Estive respondendo mentalmente dúzias de vezes sem ter sido capaz de fazê-lo fisicamente. O cartão anexo irá demonstrar isso. Eu ainda continuo dando aulas para enormes turmas. Venho palestrando para duas mil pessoas todos os dias.

Doravante, Deus criará em nós o maior relacionamento espiritual que já existiu. Entre nós existirão pensamentos positivos de bondade e um paraíso livre de quaisquer pensamentos negativos. Estou experimentando uma nova fase na vida. Deus tem sido muito generoso comigo. Da mesma forma Ele será gentil com vocês. Nunca antes vocês extraíram tanta bondade de mim quanto agora. Qualquer ajuda espiritual que precisarem será de vocês. E digo mais, o tempo provará que, se Deus alguma vez me der a oportunidade material, mostrarei a vocês tudo aquilo que posso fazer pelos meus pequenos Bradford e Brenda.

Descobri que as leis do amor e da bondade recíprocas são os elos mais fortes, as forças mais propulsoras que nos tornam responsáveis uns pelos outros. É por isso que os apegos materiais são fúteis e insignificantes, especialmente quando existe um laço espiritual. A organização deve muito a vocês materialmente, e isso ela retribuirá mil vezes. E se, talvez, o destino dela for outro, ainda assim a bondade que vocês criaram em mim irá para sempre gritar por vocês no éter Divino, para o seu bem e sucesso, bem como para que possam ver que Deus suprirá todas as suas necessidades e as de sua família, mais do que podem esperar.

Uma vida sem seus problemas e desafios fica sem sabor, insípida. Se os problemas surgirem, que venham, pois então servirão como pedras de apoio na sua escalada para o alto. Fico muito feliz que estejam se ancorando no Ser Infinito. Ele jamais irá falhar com vocês. Fico muito feliz ao saber que conseguiram um lugar para descanso. É tão esquisito que seu pai, apesar de ser um homem correto, não consiga demonstrar isso em suas ações.* Ele se esconde por detrás de suas fraquezas. É digno de pena. Em algum momento ele vai perceber o mal que está fazendo ao tratá-lo dessa maneira. Quero algum dia falar com ele. Vou lhe dizer, sem rodeios, tudo aquilo que está fazendo. Nesse meio tempo, se você puder falar com ele, seria muito bom.

Falando de mim – agora estou em Portland como pode observar no cartão anexo. Duzentas pessoas não conseguiram entrar. Falei no Assembly Hall. Existe um tremendo entusiasmo por toda parte. Em Seattle, em conformidade com o tamanho da cidade, tive duas mil pessoas diariamente no Auditório Maçônico. Escrevo a parte final desta carta em Portland. Nem vejo os dias e as noites passar. Por favor, até 29 de outubro pode escrever para mim aos cuidados do Hotel Multnomah em Portland, Oregon. Após essa data, escreva para São Francisco, na Califórnia. Você e Mildred, os dois, devem meditar cada vez mais profundamente. Toda manhã eu lembro de vocês e penso naqueles dias maravilhosos de nossos passeios juntos. Com minhas bênçãos para ambos e muito amor para Brendinha e Bradinho. Pergunte a ele se ainda se lembra de mim. Por favor, diga-me se recebeu os presentes que mandei de Seattle.

* Em outubro de 1935, Paramahansaji escreveu as seguintes palavras para o Doutor e a Sra. Lewis: “A cada pessoa, por direito Divino, é concedida independência para agir conforme quiser, de modo que nem mesmo Deus pode ajudar um indivíduo se este preferir permanecer no erro.”

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Mais uma vez, com minhas melhores bênçãos.

Muito Sinceramente,

S. Yogananda

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Swami Yogananda e Sra. Lewis – Início dos anos 20

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Palace HotelSan Francisco, Califórnia19 de novembro de 1924

Queridos Doutor e Mil,

Recebi sua carta muito gentil. Lamento que Minie1 não pôde usar os chinelos. Mesmo assim, você se divertiu muito, não foi, Mil? Muito bem, Minie, eu lhe enviarei algo muito bom – se tiver uma escolha especial, então escreva – qualquer coisa que gostaria de ter. Estou feliz por Brad e Bren. Por favor, dê a eles o meu amor.

Saibam que seu Swami consagrou seus membros, sangue, carne, conforto, vida, energia, tudo ao trabalho de Seu Deus e Seu Guru, e para glorificar a todos vocês. Tudo saiu como eu esperava. Tudo saiu exatamente como vocês esperavam também. Apenas conservem a Infinita harmonia que existe entre nós. Isso é de Deus e em Deus descansará. Por favor, alegrem-me de vez em quando com sua bondade. Não há palavra para descrever meu trabalho ocupado.

Com minhas bênçãos, sempre,

Atenciosamente,

Swami Yogananda

P.S. Como vai a sua meditação, Doutor?

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1 Doutor Lewis era conhecido como “Minie” por seus amigos íntimos.

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Hotel Biltmore Los Angeles, Califórnia

25 de janeiro de 1925

Querido Doutor,

Recebi sua maravilhosa carta. Fico feliz ao saber de seu desenvolvimento espiritual. Entendo perfeitamente aquilo que me escreveu. Por favor, perdoe-me por este atraso. Agradeço muito a sua paciência comigo. Por favor, não perca a confiança. Tenho derramado meu sangue e trabalhado por todos – americanos – hindus – todos – por todos os seus irmãos e irmãs no mundo. Este atraso se deve às necessidades da sua família mais ampla, não às minhas. Portanto, por favor, me perdoe. As tarefas parecem não ter fim, meu sangue jorra sem parar, preciso ser prudente, muito embora eu sangre por todos vocês. As coisas progridem maravilhosamente bem, mas as despesas também são muito pesadas. Estou imprimindo vários livros. Na verdade, assim que senti a hora chegar, fui até Los Angeles como um meteoro, ou como uma granada.

Lotei o Philharmonic Auditorium em todas as noites, três mil pessoas por vez, sendo que algumas ainda ficaram de fora. Assim, estarei dando uma outra série de palestras. Fiquei com 450 alunos – após isso a Sat-Sanga estará progredindo firme.

Deus conhece todas as suas boas ações e a ajuda que estão dando à causa da qual todos nós somos servos. Meu amor e bênçãos para vocês dois e para Brad e Bren. Vocês não fazem idéia como estou atarefado.

Com bênçãos,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

P.S. Gosto de receber suas cartas. Por favor, agradeça a Mil por sua carta. Por favor, escrevam-me ambos. Fico feliz por ela estar melhorando. Tenho saudade dos curries na casa de vocês.

S.Y.

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a/c Hotel MultnomahPortland, Oregon

30 de maio de 1925

Querido Doutor,

Estou feliz que tenha finalmente se lembrado de mim. Estive tão ocupado que é literalmente impossível manter em dia minha correspondência com as pessoas que amo. Mentalmente estou sempre pensando em todos vocês, mas não consigo escrever, simplesmente porque as enormes quantidades de correspondência que recebo diariamente exigem uma atenção formal.

Mas e aí, como estão todos vocês? Continua tudo da mesma maneira. Devemos seguir um caminho e acelerar nosso passo. Minha vida se tornou surpreendentemente ocupada, todas as noites, exceto em algumas, no resto do mês tenho que dar palestras.

Houve uma época em que eu tentava fazer coisas boas para receber elogios, mas agora a vida me tem oferecido uma nova proposta. Faço boas ações motivado não pelo compulsório chicote da responsabilidade, mas sim com um senso de privilégio. Meu único privilégio é agradar a Deus e fazer uso da correta discriminação, compaixão, etc., as quais Deus me concedeu. Gosto de fazer bem para os outros porque encontrei nisso minha maior alegria. Posso fazer o bem tanto no brilho da fama quanto na escuridão da crítica adversa. Servir eu devo, faça chuva ou faça sol, servir eu devo, pois essa é a minha alegria. Essa tem sido minha vida e valorizo todas as experiências da vida. Medite incessantemente, essa é a única maneira de se chegar diretamente ao Espírito.

Por favor, compreenda que devo escrever livros, responder centenas de cartas e preparar palestras. Estou sozinho, mas tenho meus amigos. Gosto de saber deles, mas está muito difícil para mim escrever de volta. Aqueles bons e velhos dias jamais serão esquecidos. Estarei palestrando em Portland em junho.

Por favor, contem-me tudo sobre Brad, Bren, Mil e também de você.

Com muitas bênçãos para todos vocês,

Muito Sinceramente,

S. Yogananda

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Hotel SentinelaParque Nacional de Yosemite

Califórnia

[antes de 1926]

Queridos Minott e Mildred,

Finalmente cheguei aqui. Está tudo coberto de neve, igualzinho a Boston. Como não pude ir até lá, tive que trazer Boston até mim. Ah, o Natal se aproxima. Espero que tenham recebido as coisinhas que mandei. Em anexo mando algo para as poupanças de Bradford e de Brenda, as quais espero que vocês já tenham aberto. Fisicamente estarei distante, mas não em Espírito. Na noite do ano novo, quando estiverem comendo, deixem uma cadeira vazia ao redor da mesa de frente para Minott – meu espírito estará lá.

Chegarei em Los Angeles no dia 2 de janeiro, no Hotel Biltmore.

Estou curtindo minha estada em Yosemite, pois é meu primeiro descanso após uma longa semana em São Francisco.

Minhas bênçãos de Natal para um novo despertar na fé e na meditação.

Com bênçãos e amor para todos vocês, Brad e Bren, sua mãe, avô e todos que conheço.

Afetuosamente,

Swami Yogananda

Sentirei sua falta na noite de Natal.

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11 de janeiro de 1926

Dr. M. W. Lewis24 Electric AvenueWest Somerville, Mass.

Querido Dr. Lewis,

Durante minha última visita a Boston, fiquei satisfeito ao saber das reuniões do grupo em sua casa, buscando preservar o espírito da Sat-Sanga. Pude perceber em minhas outras sedes nas diferentes cidades que é muito difícil manter um grupo unido sem que haja um líder. Algumas vezes, todos os membros de um grupo querem ser líderes, tendo ou não capacidade para se tornar um. Ser líder é ser o menor, o servo de todos. Os membros da Sat-Sanga que tiverem uma prática ininterrupta por cinco anos devem ser capazes de, quando estivermos ausentes, conviver harmoniosamente juntos e preservar o espírito da Sat-Sanga através de seus próprios esforços. É responsabilidade de cada um tornar-se melhor. A essência da mensagem da Sat-Sanga é o autodesenvolvimento pelo esforço próprio e pelo contato interior com o Espírito. Esse é o aspecto interno. Contudo, o aspecto externo da Sat-Sanga aponta para a necessidade de se criar um exército protetor de boas companhias, visto que materialmente o indivíduo é obrigado a escolher algum tipo de companhia.

Portanto, fico muito, muito satisfeito que, um pequeno grupo, uma colméia pequena, mas com muito mel espiritual, possa se reunir e confraternizar. Sei, pela minha experiência, que cada grupo, quando não tiver um líder da Índia, deve escolher um representante próprio, eleito pela própria intuição espiritual do grupo. Isso eu acho que eliminará a dúvida sobre quem deveria liderar e também impedirá ciúmes bobos, que são o tumor que devora as raízes da harmonia da qual uma organização extrai sua própria existência.*

Como já observei sua vida e fidelidade às práticas da Yogoda e aos meus ensinamentos, bem como sua amizade leal a mim, tenho o prazer de selecioná-lo como o atual líder do grupo da Sat-Sanga em Boston, e que os membros do referido grupo deverão colaborar com você na base da verdadeira amizade racional, harmonia e perfeita cooperação.(…)

Você e seus colaboradores poderão seguir qualquer plano para conduzir os encontros semanais na sua casa, atendendo às melhores necessidades e vontades da maioria. A decisão final dos assuntos envolvendo a Sat-Sanga de Boston caberá a você, agindo em cooperação com a minha vontade. Por favor, tenha uma organização constante, enviando correspondências introdutórias e convidando novos membros. Você deve buscar ter força tanto numérica quanto qualitativa na sua organização. Eu gostaria muito que você afirmasse semanalmente algo das Afirmações Científicas e do Bhagavad Gita. Por afirmações quero dizer que você deveria ler uma linha, seguido pela repetição da mesma em voz alta pelos outros, até que o verso esteja terminado.(…)

Por favor, leia minha carta para todos os membros do grupo, e guarde-a para mostrar a qualquer pessoa que possa questionar acerca das minhas vontades para o grupo de Boston. Meu mestre obedece a Deus – eu me harmonizo com as vontades do meu mestre – e todos aqueles que se

* Em uma carta datada de 15 de dezembro de 1941, Paramahansa Yogananda escreveu: “A menos que se concentrem no bem e procurem apenas o bem – a gravitação ao redor das coisas negativas dentro da organização irá deixá-los malucos. Apenas por ter visto o bem é que fui capaz de sorrir e manter minha sanidade. A vida organizacional torna-se diferente e a paz é encontrada somente se a concentração estiver focalizada no bem.”

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harmonizarem com as minhas vontades, não será a mim que obedecerão, mas a meu mestre, meu Guru e o grande Deus.

Novamente com minhas bênçãos para todos vocês, e que possa o Ano Novo lhes trazer muitas Novas Realizações.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Sra. Lewis com os filhos Bradford e Brenda - 1925

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, Nova Iorque

8 de fevereiro de 1926

Querido Doutor,

Estou muito feliz por ter recebido sua carta. Sinto muito por saber do Sr. Mills. Acredito piamente que você poderia tê-lo ajudado, se ele não tivesse transferido o fardo para a mente subconsciente. É estranho dizer, mas tive uma forte premonição de que o Sr. Mills iria fazer essa viagem através do éter até as regiões de maior liberdade.

Tudo é difícil neste mundo, mas a vitória está disponível apenas para aqueles que perseveram até o fim. Em breve enviarei uma lista exclusiva de proeminentes nova-iorquinos, cuja relação recebi por acaso e sem qualquer custo. Por favor, lembre-me novamente disso noutra oportunidade.

Estou trabalhando silenciosamente, e não quero perturbá-lo com minhas preocupações – e também não adianta falar muito até que aconteça algo em definitivo – cabe apenas dizer que as coisas estão progredindo conforme minhas expectativas. Estou dando meu máximo – o resto é com Deus.

Por favor, não espere por resultados sem praticar incessantemente Yogoda e seu planejamento. A atividade mental é sempre recompensada. Por favor, encaminhe milhares de livretos de acordo com a listagem exclusiva. Os resultados acontecerão obrigatoriamente. Temos que cobrir uma grande área. Todos por Deus e Deus por Todos. Estou apreciando Ele mais do que nunca – sem distrações, apesar das inúmeras e pesadas responsabilidades.

Sinto muito a falta de todos vocês. Com meu amor a vocês, Brenda e Brad. Como está sua meditação? Lembre-se, dois ou três anos com uma hora de meditação por dia é pouco. Vá com intensidade cada vez mais fundo. Através da dor e do desafio, permaneça sempre ao lado de Deus.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda Giri

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, Nova Iorque

14 de abril de 1926

Querido Doutor,

Voltei de Cuba apenas ontem, via Filadélfia. Seu telegrama chegou tarde. Porém, fiz o melhor que pude através das orações e tanto quanto o carma dela permitia. Embora não tenha escrito para você sabendo que sua mãe estava doente, ainda assim estive mentalmente ativo o máximo que pude. Você ainda não me deixou informado sobre ela. Por favor, conte-me todos os detalhes.

Será que você e Mildred não poderiam vir aqui algumas vezes – Oh, isso seria mais do que maravilhoso. As palestras começam em 18 de abril e vão até o dia 26, inclusive, exceto na segunda e no sábado.

Meu amor para as crianças e para vocês dois minhas bênçãos sempre.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, Nova Iorque

10 de maio de 1926

Queridos Estudantes de Boston:

Fiquei muito feliz ao receber suas felicitações pelo Dr. Lewis, que respira por seu espírito de união, amor e bondade.

Qualitativamente, melhorem a si mesmos ao aprofundar seus esforços na concentração; numericamente, tentem expandir-se incentivando algum amigo a pelo menos se interessar pela causa, e sirvam a todos com suas palavras gentis e todo o seu ser. Mantenham sua atenção fixa na harmonia, no desenvolvimento das atividades e na fé ilimitada no Poder Ilimitado de Deus.

Bênçãos e Eternos Bons Votos para todos vocês.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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The PlazaEsquina da 5th Avenue com a 58 Street

Nova Iorque, Nova Iorque25 de maio de 1926

Querido Doutor,

Espero que estejam todos bem, meditando e progredindo. Possamos de agora em diante sempre e sempre mais nos concentrarmos no relacionamento espiritual que existe entre nós, e enfatizar menos e menos as transações materiais. O material cuidará de si próprio. Dê meu amor para Bradford e Brenda.

Minhas bênçãos para ambos vocês.

Muito sinceramente em Om,

Swami Yogananda

P.S. Apenas fiz uma parada aqui para passar a noite, estarei voltando para Filadélfia esta tarde. Estou trabalhando incessantemente para Deus e para todos.

S.Y.

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Denver, Colorado19 de agosto de 1926

Queridos Doutor e Mil,

Recebi sua gentil carta e apreciei que tenham se lembrado de mim. Muitas coisas já transcorreram desde que aportei em Boston em 1920. Vocês sabem o quanto sofri calado todas as provações pela Sat-Sanga. Conhecem muito bem a maneira como tenho sofrido devido ao início frágil que teve a organização. Aqui [no Ocidente] a psicologia é um tanto diferente – até a Verdade precisa ser organizada, caso contrário, ela não somente deixa de ser recebida, como também é rejeitada e até menosprezada. Então, se você testar uma verdade entre uma pequena minoria, e se não souber as qualidades espirituais duradouras daquela minoria – então estará cometendo uma injustiça contra a Verdade. (Não estou duvidando da espiritualidade de vocês, nem tampouco os estou incluindo na minoria.) Eu sofri e derramei lágrimas somente porque não conhecia a lei da organização e da apresentação da Verdade. Algumas pessoas em Boston, porém, não pouparam esforços para tirarem vantagem disso e até mesmo menosprezaram a Verdade, aproveitando-se da minha falta de conhecimento.

Rezei para Deus e, quando todos os esforços humanos falharam, Sua força veio. Ele me injetou uma renovada coragem e me lançou rumo ao desconhecido. Tenho amado a Deus sobre todas as coisas e espero sempre continuar assim. Rezei para que Ele me afastasse de Boston, caso eu não fosse mais necessário. Ele me respondeu negativamente. Ele me queria, e é esse o motivo pelo qual vocês se recordam de eu ter me aventurado em desafios e planos praticamente destinados ao fracasso do ponto de vista humano. Vocês desempenharam um papel muito importante – lembrem-se da noite anterior a minha ida para Nova Iorque, quando vocês sentiram que Deus tocou em seus corações no seu automóvel R & V Knight. Eu jamais irei negar isso e, sempre que vocês quiserem, irei proclamar sobre os telhados para todos ouvirem. Pelo contrário, sempre os amarei como alguns dos seres mais queridos em meu coração. Vocês sabem disso, e quero que jamais percam sua fé nessa verdade. Pois, se isso for falso, Deus é falso, a Verdade é falsa, o Amor é falso, eu sou falso e o dinheiro é mais importante do que todas essas coisas.

Agora, lhes faço uma outra pergunta – alguma vez já me viram agindo com alguma motivação egoísta, que não fosse o bem da Sat-Sanga e das pessoas? Espero que jamais possam sequer sonhar o contrário. É desnecessário repetir a velha afirmação de que não tenho ambição por dinheiro, e que as quantias que vinham da Índia eram suficientes para me sustentar.

Acredito em organização honesta que visa unicamente a Deus. Os negócios são bons se conduzidos honestamente. E mais, aprendi recentemente que os negócios podem se aplicar tanto a grandes organizações quanto a uma pequena família. Contudo, é bem verdade que à primeira vista as duas coisas parecem bastante diferentes. O interesse da organização aparece sempre em primeiro lugar na minha mente. Assim como um homem que está se afogando procura se agarrar a qualquer coisa, eu também procurei um bom mercado para estabelecer os ensinamentos da Sat-Sanga.(…) Eu sabia que, espirituais como vocês são – o interesse da Sat-Sanga soaria mais profundamente em seus corações do que o interesse da sua família. Considero que almas são mais valiosas do que organizações, ou que tudo o mais.

Não sei porque Deus me testa tão duramente – alguns meses atrás vocês teriam ficado felizes em se verem livres do Curso por Correspondência. Vocês pensavam que não conseguiríamos mantê-lo. Então, uma vez mais, sem qualquer grande publicidade, o curso compartilhou o destino da

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organização de Boston. Agora, a questão é: vocês querem que eu continue conforme as coisas são, ou querem que eu aja de outra maneira?

Repetindo, vocês sabem como foram desafortunados meus esforços em Boston, somente porque eu não tinha conhecimento da lei da organização. Sou o mesmo Yogananda que atraía sessenta pessoas para ouvi-lo, sendo que mal conseguia chegar a esse número. Agora, ele fala para mais de duas mil pessoas. Eu continuo o mesmo, apenas tenho agora um alcance maior para servir e trabalhar por seus compatriotas. Falei em Denver no City Auditorium (maior do que o Symphony Hall de Boston). Agradeço a Deus por ter me dado tais experiências em Boston, e estou satisfeito.

Desejo sinceramente, daqui por diante, que a obra de Deus seja realizada do jeito de Deus, e não por alguma política paralela. Desejo manter o mesmo relacionamento respeitoso com todos os meus estudantes. Dessa maneira, todos vocês irão amar a verdade ainda mais. Por familiaridade, vocês têm me amado mais do que à Verdade. Eu não posso criar harmonia – posso plantar as sementes, mas o terreno mental do entusiasmo deve ser preparado pelos próprios discípulos.

Estarei me dirigindo a Yellowstone no dia 21 ou 22 de agosto, devendo chegar em 4 dias – permanecerei lá por 4 ou 5 dias. Então, seguirei para Seattle e talvez para o Alasca.

Com as mesmas bênçãos de sempre para seu completo sucesso, e com amor para ambos e para as crianças.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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a/c Hotel GibsonCincinnati, Ohio

9 de outubro de 1926

Querido Doutor Lewis,

Como estão as coisas – você me perguntou sobre sua fé. Sua fé é bastante prática, mas poderia ser melhor. A fé é adquirida ao se ter fé mesmo quando existe motivo para perdê-la. A fé precisa ser cultivada. Contudo, a fé individual aplicada ao problema alheio possui dois lados, como no caso de sua mãe. A fé é a janela através da qual brilha a Luz Divina. Ninguém deseja mais brilhar através da janela da nossa fé para nos dar saúde, prosperidade e Bem-Aventurança do que a própria Luz Divina. Porém, devido ao nosso longo período de mau comportamento e esquecimento de Deus, fechamos a janela da fé, bloqueando a Luz Divina, o que gera doenças e um vazio interior. A janela de sua mãe foi fechada – tentamos abri-la com a ajuda de Deus – ela abriu um pouco, mas havia alguém que a mantinha travada – sua própria mãe.

O Carma também interveio para que a Luz Divina não pudesse brilhar. A própria Luz Divina, com toda sua boa vontade, foi impotente – pois ela concedeu liberdade para suas leis Cósmicas e Cármicas que governam a vida humana. Perder a fé significa fechar janelas. É fácil acreditar naquilo que você vê – muito embora Deus já Se sugira bastante, como na natureza. ‘Porque Ele falou o suficiente comigo através dos botões das rosas e Seu rosto de pétalas corou-se de alegria ao me ver com o brilho do sol.’ Aqueles que mantém a fé apesar de tudo e de todos, gradualmente verão a Lei Suprema em ação.

Somos que nem crianças ainda pedindo isso e aquilo para a Mãe Divina, e quando às vezes Ela não pode nos dar algo por causa de Suas Leis – duvidamos Dela ou do Seu poder. Porém, continue meditando que, algum dia, quando o véu tiver sido rasgado – todas as cortinas das leis criadas por Maya terão sido abertas e estaremos livres para contemplar frente a frente o rosto da Mãe Divina – veremos então a proteção Dela atuando por detrás do plano físico – livre, ininterruptamente. Então nada, senão a brisa da Imortalidade e da Alegria perpétua, irá nos sustentar.

Trabalhe para esse objetivo – é uma longa caminhada – contudo, mantenha-se ocupado que, algum dia, de repente, atingirá o final da jornada. Não olhe o quanto ainda falta para chegar, mas sim o quão pouco terá que andar hoje – o quão pouco você deve meditar profundamente hoje. Devido ao fato de as pessoas negligenciarem suas práticas diárias em meditação, elas acham que a distância é grande demais. Deixe de lado todos os anseios, medos e desejos. Chore pela Mãe Divina todas as vezes após a meditação. “Mãe Divina, este dia terminou, e eu ainda não Te vi”.

Meu amor e bênçãos para você, Mil, Brad e Bren. Apesar da minha pesada agenda de compromissos, estou sempre O encontrando. Com as campanhas e o número de estudantes aumentando, meu trabalho também aumenta.

Com amor eu permaneço,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

P.S. Sua idéia de se mudar da Electric Avenue já me parece estar bem amadurecida. Se o fato de morarem apenas em um andar térreo for benéfico para Mildred, nada impede que se mudem

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imediatamente. Vocês já esperaram muito. Então apressem-se – e pensem em Deus enquanto estiverem se mudando.

Com Amor,

S. Y.

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Paramahansa Yogananda com o Doutor e a Sra. Lewis – Década de 1940.

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Hotel PensilvâniaNova Iorque, N.Y.

2 de janeiro de 1927

Querido Doutor,

As palavras falham para expressar o que sinto. A agradável memória de Boston e do Natal que passamos juntos permanece forte comigo. O tempo está passando, os eventos estão surgindo e, com infinita paciência, estou tentando fazer aquilo que for melhor.

Estou extremamente feliz em saber que você tem dado uma mão prática no grande trabalho que temos empreendido. Lembre-se, Roma não foi feita em um dia, e se você perseverar e demonstrar seu caráter de coragem e persistência mesmo um pouco acima do padrão comum, então, e apenas então, verá coisas que são extraordinárias.

Três reuniões no Town Hall estão sendo agendadas sob as expensas da Comissão. Você não acha que deveríamos distribuir “Yogoda” gratuitamente para todos no último encontro – seria de grande ajuda para as pessoas poderem compreender melhor, se puderem obter o livreto juntamente com a minha palestra. Contudo, até que enfim alguma coisa foi feita. A Comissão finalmente assumiu a responsabilidade, e os custos, pelas três palestras que darei no Town Hall. Que eles tenham dividido comigo essa responsabilidade demonstra que Deus finalmente fez alguma coisa.

Contudo, temos agora que tomar uma posição definitiva, e devemos ser capazes de enfrentar todas as situações com calma e sem preocupação. Falei para a Comissão que Boston havia até então coberto as despesas de Nova Iorque. Ao que o Sr. Hunsicker respondeu: “Obviamente, não queremos que Boston assuma nossas despesas”. Assim sendo, a partir daquele instante, a Comissão passou a assumir as palestras, e dizem eles que farão o Town Hall ficar lotado. Eles terão outra reunião hoje a noite. Duas Comissões foram designadas, uma Comissão de Palestras e outra Comissão Principal. O Sr. Hunsicker prometeu me enviar para outros lugares, como Chicago, Cleveland, etc.

Noite passada tivemos um grande encontro. Finalmente, algo prático foi feito. Houve um grande debate ontem. Em alguns momentos parecia que as coisas dariam erradas. Outras vezes, parecia que nada seria feito. Além disso, os tópicos das minhas palestras no Town Hall precisavam ser diferentes. Não tenho muitos livros da Yogoda, os tipos ainda estão preservados e a reimpressão não deve ficar muito cara. Devemos considerar essa idéia logo.

Imagine, agora de uma vez por todas não precisarei mais me preocupar em agendar reuniões. Noite passada foi a melhor reunião na história da Sat-Sanga.

Com minhas bênçãos e com a grande alegria que recebi neste último Natal.

Eu o manterei informado acerca dos últimos acontecimentos. Eu permaneço,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

P.S. Por favor, mandem meu amor para Bradford e Brenda.

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Hotel MayflowerWashington, D.C.

5 de fevereiro de 1927

Dr. M. W. Lewis253 Elm StreetEdifício Lewis, Davis SquareWest Somerville, Mass.

Querido Dr. Lewis,

Com grande alegria recebi sua carta. Lamento não ter comentado acerca dos magníficos presentes de Natal que me foram dados. Por favor, agradeça a Brad e Bren por sua escolha maravilhosa e pela consideração comigo.

Diga a Mildred que sua profecia foi cumprida, aquela de que qualquer dia desses eu veria o Cal (Calvin Coolidge).1 Eu me encontrei com ele. Em anexo, encaminho uma foto. Tenho feito muitos progressos aqui na obra de Deus.

[Há uma parte da carta faltando]

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1 O Presidente dos Estados Unidos na época. Paramahansa Yogananda foi recebido oficialmente pelo presidente Coolidge, na Casa Branca, em janeiro de 1927. (Nota do Tradutor)

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Hotel StatlerBúfalo, Nova Iorque

6 de maio de 1927

Dr. M. W. Lewis253 Elm StreetWest Somerville, Mass.

Querido Dr. Lewis,

Fiquei muito feliz ao receber sua gentil carta juntamente com o poema e o ensaio, os quais estou encaminhando para o editor da revista East-West, para serem publicados em um futuro próximo.*

Dê lembranças minhas à Mildred e às crianças.

Com Bênçãos,

Swami Yogananda

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* East-West era o nome original da Self-Realization Magazine. Ao longo dos anos, o Dr. Lewis contribuiu para a revista com vários artigos, poemas e palestras.

Numa outra carta (sem data), Paramahansa Yogananda escreveu: “Gastei meus dedos escrevendo os tremendos artigos na East-West. Fico tão feliz ao poder divulgar os ensinamentos de Babaji, Lahiri Mahasaya e meu Guru. Grandes verdades estão vindo. Leia a East-West cuidadosamente, e diga para todos que a Yogoda está ampliando a consciência do homem para que ela possa conter a Consciência Crística que Jesus possuía.”

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Colorado Springs, ColoradoAgosto de 1927

Querido Doutor,

Tenho estado extremamente ocupado, fiz todo o possível para ir a Boston. Já estava tudo pronto – a passagem havia sido comprada, mas como o meu telegrama voltou pensei que vocês estavam em Duxbury. Lamento muito ter perdido sua companhia. Tenho muita vontade de ver todos vocês. Só posso prometer que continuarei tentando. “É ver para crer” – está certo.

Por que ainda não me mandou uma foto da sua agradável casa? Eu a batizei em Espírito, pois meu espírito esteve lá com vocês. Medite cada vez mais profundamente – mergulhe profundamente como uma âncora de devoção até atingir o fundo oceânico da Mãe Divina.

Por favor, receba meu amor e minhas bênçãos, e transmita-os para Mil e as crianças.

Com amor eterno,

Muito sinceramente,

Swami Yogananda

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A casa dos Lewis em Duxbury

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Hotel LowrySt. Paul, Minnesota

3 de novembro de 1927

Dr. M. W. Lewis253 Elm StreetEdifício LewisWest Somerville, Mass.

Querido Dr. Lewis,

Recebi sua carta de 13 de outubro e lamento que meu telegrama não tenha sido recebido. Planejo partir para St. Paul no sábado e começar uma série de palestras grátis naquela cidade já no domingo à tarde. Você pode se encontrar comigo no Hotel Lowry.

Faça o melhor que conseguir acerca do Eremitério. Precisamos vender a propriedade.*

Com bênçãos incessantes para todos vocês. Oh, como anseio vê-los novamente.

Seu muito sincero,

Swami Yogananda

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* Era desejo de Paramahansaji vender o Eremitério de Waltham.

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Hotel LowrySt. Paul, Minn.

14 de novembro de 1927

Dr. M. W. Lewis18 Field RoadArlington, Mass.

Querido Doutor,

Recebi o bracelete sem danos. Agradeço por sua bondade em tê-lo feito e por ter enviado, bem como por ter cuidado da publicação dos meus discursos no Harvard Crimson.* A cópia que você tirou ainda não veio, mas acredito que dentro de um ou dois dias ela chegará.

Oh, como anseio vê-lo novamente, Mil, Brad e Bren. Vocês não imaginam – não prometo nada, mas tentarei.

Com meu amor, bênçãos e orações sempre,

Sinceramente,

Swami Yogananda

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* Uma publicação da Universidade de Harvard.

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Hotel StatlerFidadélfia, Pa.

Sem data

Querido Doutor,

Fiquei muito feliz ao receber sua amorosa carta. Por favor, saiba que uma vez oferecida minha amizade, serei amigo para sempre. Meu amor por você não está condicionado a qualquer circunstância.(…)

Bem, é minha sina ser agredido e crucificado repetidas vezes. Sucesso ou fracasso humano não significa sucesso ou fracasso com Deus – mesmo quando o indivíduo pensa que está arrasado e perdido. “Deus, meu corpo não consegue se mover, mas não desisti, pois mentalmente estou me dirigindo às Tuas Praias”. Para esse tipo de pessoa, quando a provação Suprema estiver terminada e cumprida, Deus virá – portanto, não desista. Mantenha-se firme.

Por favor, acima de tudo, informe-me acerca da sua saúde – estou orando continuamente – eu faria os exercícios de leve e cultivaria os sussurros mentais de devoção a Deus.

Com amor e bênçãos incessantes para todos vocês.

Muito sinceramente,

Swami Yogananda

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Hotel EvergladesMiami, Flórida

25 de janeiro de 1928

Dr. M. W. Lewis253 Elm StreetWest Somerville, Mass.

Querido Doutor,

Fico feliz ao saber que os pequenos presentes que mandei para o Natal foram tão bem recebidos. Junto com eles, estavam meus melhores votos.

Muito me aprazeria ter passado o Natal aí com vocês, contudo, como isso foi impossível, fiz aquilo que talvez fosse a única coisa possível – tentei expressar meus sentimentos e me fazer representar através dos singelos presentes.

Eu certamente ficaria muito feliz de ganhar e receber com carinho qualquer presente ou lembrancinha que vocês possam ter para mim. Se vocês enviarem logo, poderei receber o pacote ainda aqui no endereço do Hotel Everglades...

Miami é uma cidade adorável e, no que diz respeito ao clima e à própria cidade, ninguém poderia querer algo melhor. Meu único desejo é que vocês e seus amigos queridos estivessem aqui para aproveitar comigo.

Bênçãos,

Swami Yogananda

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Nova Iorque, Nova Iorque19 de março de 1928

Querido Doutor,

Por favor, tente o seu máximo para que a carta anexa seja publicada nos jornais, se é que já não foi, o que sinceramente tenho minhas dúvidas. Eu ficaria muito grato.

Tive um dia maravilhoso com vocês, Mil e as crianças.

Por favor, mexa todos os pauzinhos que conseguir para publicar isso nos jornais. Por favor, trabalhe duro por isso como jamais fizera pela causa – trabalhe rápido.

Oh, foi tão bom ter estado com todos vocês. Revivemos o amor e a alegria infinitos – senti uma nova vida. Oh, bem-aventurados do Senhor – vocês possuem eternamente todas as bênçãos do meu coração. Pergunte a Brad e Bren se eles pensam em mim. Mildred foi excelente – a harmonia coroa a todos vocês!

Amor e Bênçãos para todos,

Swami Yogananda

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SRA. LEWIS, PARAMAHANSA YOGANANDA E DR. LEWIS

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Yogoda Sat-Sanga SocietyQuinta Avenida, 509

Nova Iorque, Nova Iorque10 de maio de 1928

Querido Doutor Lewis,

Por favor, assine esta procuração autorizando ________ a ter total responsabilidade pela execução de meu Curso por Correspondência. Por favor, assine as quatro cópias perante o escrivão do cartório e duas testemunhas, depois encaminhe de volta para mim.

Estou muito agradecido pelo que você me mandou e estou orando profundamente pela sua melhora. Apenas o Grandioso pode ajudar.

“Tais coisas tomo de ti assimPara que recebas de volta então,De Minha mão,De Mim.”

Agüente firme, faça chuva ou faça sol, e Sua Luz irá contemplar brilhando plenamente por detrás das situações nebulosas e solares.

Com amor,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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23 de maio de 1929

Querido Doutor,

Estou partindo para o México com o coração pesado. Quando a espada das inúmeras responsabilidades balança por sobre minha cabeça, querido Doutor, precisamos enfrentar a batalha até o fim. O seu sucesso na vida é tão importante quanto este trabalho. Eu não iria aconselhar equivocadamente, embora seja difícil suportar a cruz. Todos nós temos que carregar nossas cruzes, nós, os poucos que amam viver para Deus e pelo trabalho de Deus. Neste sonho temporário da vida, enquanto os outros sorriem com o sonho material (sucesso), apenas para acordar em um pesadelo de sofrimentos, nós precisamos sonhar por Deus – nossa ambição deve ser o trabalho de Deus.

Eu nunca teria cobrado mais de você se Deus já não tivesse respondido. Sem a sua cooperação, não demoraria muito e já estaríamos enfrentando os mesmos desafios de antes. Portanto, por favor, não falhe com Deus agora. Pode ser difícil, mas, por favor, faça. Sem sua ajuda, um grande perigo espreita adiante. Iremos lutar para pavimentar o caminho até nossa liberdade.

Este é meu pedido, por favor, aprenda a segurar na mão de Deus quando todas as coisas estiverem conspirando para desencorajá-lo ou destruí-lo. Por favor, peça para Mildred não contrariar meus esforços para ajudar todos vocês.* Pois cada pessoa é um filho de Deus, e um escorregão, consciente ou inconscientemente, poderá gerar graves conseqüências – que talvez acabem ficando tarde demais para consertar. Quando você ajuda o trabalho de Deus e tem agido de livre vontade para tal, feliz e sorridente, então todo medo será expulso de seu coração.

Sigo minha vida, orando sempre. As bênçãos e a prosperidade surgem surpreendentemente, portanto tenha fé e atue, pois Deus jamais falhará com você. Contemple! Ele está sempre ao seu lado.

Amor e Bênçãos para todos,

Swami Yogananda

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* Algumas vezes, Paramahansaji era rígido com a Sra. Lewis, mas ele nunca duvidou de sua lealdade; conforme escreveu certa vez para o Doutor: “Nós dois pensamos da mesma maneira a respeito de Mildred, quando se trata de lealdade”.

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Segunda-Feira – Havana

Querido Doutor,

Longe e longe, continuo meu caminho. Estou na velha Havana. Gostaria tanto que estivessem aqui. Tirando uma folga de tudo – isso é o que tenho feito – de modo que eu possa me consagrar a Ele completamente. Tenho meditado dia e noite – alguma coisa chegará até vocês – meditem mais profundamente do que nunca. Meditação é amizade com Deus. Apenas na meditação é que se ouve a Sua voz de paz – Sua elevada tonalidade de Infinito Conforto. A meditação é a rede para pescar o Anfíbio Divino.

Tenha mais fé – não reclame – morda mais do que conseguir em Seu nome – e então mastigue. Tente além do que pode, e então faça.

Por fim, lembre-se – a hora é agora ou nunca. Medite profundamente à noite. Jogue-se aos pés de Deus. Inabalável determinação é necessária. O chamado sincero do coração irá fazê-Lo falar. Esqueça este sonho da vida – na antecâmara da imaginação – a vida já foi filmada e terminada. Não espere, incessantemente ore pela iluminação e pelo amor de Deus – não perca um minuto sequer. Não se empanturre esperando por isso ou por aquilo – alimente-se de Deus agora – nutra-se com a eternidade.

Amor e tudo o mais que sinto por você, Mil, Brad e Bren.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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MéxicoJulho de 1929

Querida Mil,

Obrigado por sua gentil carta. Gostei muito. O México parece muito a Índia. Gostaria que todos estivessem aqui.

Encontrei o presidente do México. Muitos progressos. Fiz filmes de longa duração – ficaram muito bons. Você gostará de vê-los.

Não esqueça o trabalho de Deus e Ele jamais irá esquecê-la.

Por favor, escreva para Los Angeles – chegarei lá no próximo sábado, 27 de julho.

Bênçãos incessantes para você, Brad, Bren.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Swami Yogananda e o Presidente do México Emílio Portes Gil

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Chapala, México21 de Julho de 1929

Querido Doutor,

Muito obrigado pelo bracelete, você realmente mandou para a pessoa na hora certa. Poupou um bocado de problemas.

Imagino se você recebeu meu cartão que mandei aqui do México há bastante tempo. Gostaria muito de saber o que achou. Você não está muito à vontade devido ao meu último pedido? Querido Doutor, há poucos neste mundo que pensam no trabalho de Deus com a mesma intensidade com que pensam em si mesmos. Poucos dão seu sangue por Ele. Poucos assumem responsabilidade por Sua obra como o fazem por seus próprios negócios. Você sempre foi um desses poucos – é por isso que lhe foi pedido para dividir o fardo na hora mais crucial. Poucos há como você que sofrem pela obra de Deus. Se pessoas como você e eu não derem seu máximo, como o Reino da Ignorância de Satã poderá ser destruído?

[a segunda página se perdeu]

Paramahansa Yogananda e Dr. Lewis Passeio de barco no sul da Califórnia

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3880, San Rafael AvenueLos Angeles, Califórnia

14 de Novembro de 1929

Querido Doutor,

Obrigado por nos salvar quando milhares faltaram. De qualquer forma, você terá seu retorno – apenas aguarde calmo e firme. Deus certamente agiu através de você – no futuro, a menos que esteja suficientemente concentrado, não irei pedir que você compre. Bem, quero que tenha certeza disso, não importa os desafios que surjam para nós – pois o que é meu é seu também - o tempo irá trazer inúmeras oportunidades e prosperidade o suficiente para possibilitar que você continue a perseguir seu objetivo espiritual. Apenas não duvide, Deus tem seus caminhos misteriosos. Finalmente, encontrei aquilo que estava procurando – eu gostaria, meus queridos, que estivessem aqui para aproveitar este Paraíso comigo.(…)

O que seria da vida sem a verdadeira alegria e sem Deus. Por que motivo deveríamos escravizar a vida inteira apenas para morrer de preocupações e afazeres. Oh, Deus está o tempo inteiro comigo. Quero tanto meditar com vocês aqui. Quero muito trazê-los aqui algum dia para que possam ver pessoalmente este lugar, o que é e como está se desenvolvendo. Estou meditando Nele o tempo inteiro. Quanta alegria!

Por favor, dê meu amor e minhas bênçãos incessantes para Mil, Brad e Bren.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Hotel Fort NelsonLouisville, Kentucky

Amado Dr. Lewis,

Obrigado pela ajuda que veio. Até sobrou um pouco. Não lamento pelas coisas que não consigo – pois nada desejo. Eu apenas faço pela obra de Deus o que as outras pessoas fazem por elas próprias.

Precisei me arrancar para fora de Boston. Minha felicidade por estar em sua casa foi além dos sonhos mais adoráveis. Pensem no quão afortunados vocês são, enquanto outros perderam suas casas e ainda ficaram com dívidas. O teatro da Mãe Divina é maravilhoso e sutil. Ela bate em nós para que possamos nos apegar Nela. Ela é muito esperta. Acho que já conheço todos os Seus infinitos truques para nos fazer esquecer Dela.*

Com um Feliz Ano Novo e muitas bênçãos e amor para você, Mildred, Bradford e Brenda, e todos os Yogodans.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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* O Dr. Lewis freqüentemente se referia a esta carta como “Truques da Mãe Divina”.

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3880 San Rafael AvenueLos Angeles, Califórnia21 de Janeiro de 193[?]

Querido Doutor,

Recebi sua carta. Por favor, não fique tão desencorajado. Existem pessoas passando por situações muito piores que as minhas ou as suas. É que apenas deveríamos sempre comparar nossas situações adversas com as terríveis dificuldades dos outros – então saberemos como somos afortunados.

Sua saúde já esteve mal antes – mas melhorou, você deveria pensar nisso. Se estiver ruim agora, poderá melhorar novamente. Se você desanimar, e abdicar de toda esperança – como poderá receber ajuda? O Divino só pode nos ajudar quando não desistimos e mantemos incessantemente aberta sem reclamar a janela da nossa fé. É nossa imemorial descrença que obscurece a abertura da nossa alma, impedindo que a Luz eterna possa entrar. Essa janela só pode ser mantida aberta através da fé inabalável apesar de todos os reversos. Quanto mais perto você se aproxima de Deus, mais os desafios parecem insuperáveis – contudo, aquele que persevera na fé, merecendo assim a ação direta da ajuda de Deus, encontrará uma varinha mágica que demolirá todas as terríveis montanhas das desafiadoras tribulações. Descobri isso várias vezes. Por que você não tem paciência? Por que você não se lembra de quando Deus o ajudou quando tudo poderia ter piorado.

1. Deus lhe deu uma casa na praia.

2. Deus curou seus problemas estomacais.

3. Deus lhe dá uma paz através da meditação diária que milhões, milionários não possuem.

4. Deus lhe deu uma esposa fiel.

5. Deus nos salvou de uma quebra em que tudo poderia ter sido perdido.

Ao invés de se lamentar sobre perdas imaginárias, você deveria pôr a mão na massa e me ajudar com a divulgação da obra. Tenho deixado tudo de lado e apostando todas as fichas na publicidade. Aquela velha maneira de fazer propaganda deve ser esquecida. O mundo é o nosso campo para divulgar a mensagem e captar os recursos para tanto.

Sei que nós somos duas almas espirituais que foram colocadas juntas para impulsionar esta obra a grandes alturas. Outras pessoas apenas ficam sentadas, rindo e assistindo. Você deve me ajudar nesta matéria, eu já lhe disse há muito tempo, embora nossa cegueira temporária nos levou a investir em negócios errados. Ao invés de ficar se remoendo por perdas imaginárias, venha me ajudar e lhe mostrarei como atrair liberdade financeira e com ela a liberdade espiritual. Porém, a liberdade financeira pode trazer a liberdade espiritual apenas para aqueles que estão constantemente tentando ser livres espiritualmente e estão vigilantes. Do contrário, a liberdade financeira é causa de cativeiro, precursora de toda as falsas alegrias e prazeres sensoriais. Um certo montante de preocupações (até determinado ponto) é estimulante para nossa alma. Querido Doutor, por favor, escreva-me contando em detalhes todas as suas aflições e farei imediatamente o possível.

E se meu corpo durar o suficiente, posso lhe dizer, nós iremos saborear a liberdade financeira, caso você coopere comigo sem qualquer medo. Se fosse apenas pela minha liberdade, não me incomodaria – simplesmente iria me abrigar debaixo de uma árvore.

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Querido Doutor, é pela própria liberdade que você procura que eu quero que você coopere comigo financeiramente de coração e alma – pois você verá os resultados na certa. Lembre-se das doações que você fazia no início e o quanto elas proporcionaram – com alguns milhares a mais e com trabalho iremos avançar muito nas fundações que positivamente trarão o tão desejado objetivo – Liberdade. Além disso, meu querido, além da liberdade financeira – muitas outras liberdades devem ser procuradas – das doenças, dos acidentes, dos infortúnios, das separações e, por fim, da morte. Você precisa agir rápido. É claro, a liberdade financeira desempenha um papel importante e a liberdade espiritual desempenha o mais importante – pois então você será livre mesmo que esteja em uma prisão.

“Paredes de pedra e doenças não fazem uma prisãoNem barras de ferro formam uma gaiolaPara mentes inocentes, os protegidos de DeusSerá um Céu, um Eremitério.”

É somente porque sinto total responsabilidade por sua vida que estou pedindo que me ajude – para ajudar você e a todos. Então, por favor, não interrompa o constante fluxo da divulgação da obra que já comecei. Não corte as artérias vitais que trabalham para nos libertar. Eu já investi muito na propaganda – os resultados são animadores – por favor, alimente essa artéria. Enfrente um pouco de dificuldade agora – mas não pare de nutrir essa artéria, alimente-a – este é o desafio de Satã, e eu tenho que pedir para você me ajudar. Pois Deus quer um verdadeiro filho (a ser testado), que seja digno de ajudar agora. Sei que nenhum daqueles ricos ociosos irá ajudar agora. Leia a história dos grandes movimentos – foram apenas os mais sinceros que salvaram o bote durante a tempestade.

Por favor, compreenda e tenha certeza de que este é a nossa grande arremetida para a liberdade espiritual. Estamos tentando obter liberdade financeira para que possamos atingir a nossa própria liberdade espiritual e a dos demais.

Confie em mim, não duvide, e lhe mostrarei o caminho para a liberdade. Amor incontido e tudo o que for meu está a seu serviço. Com amor e bênçãos incessantes para você, Mil, Brad e Bren.

Afetuosamente,

Swami Yogananda

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Kansas City, Missouri20 de fevereiro

Querido Dr.,

Você é um amigo que faz falta. Faça um verdadeiro esforço para vir em julho ou agosto. Leia a East-West. Estou abrindo uma escola de verão. A maioria dos líderes dos Centros virá – grandes ensinamentos. Tente seu máximo para vir – boa comida hindu, grandes meditações. Você ficará como meu convidado – você e Mil. Traga Brad e Bren, se for conveniente.

Após 6 de março ficarei em Los Angeles por um mês. Após, seguirei para Louisville, Kentucky.

Por favor, agradeça ao Sr. _____. Deus irá salvá-lo se ele meditar e cooperar. Gostei da carta dele.

Com profundas bênçãos – nem consigo dizer a catástrofe que superei com a ajuda de Deus e o milagre que aconteceu desde que conversei com você no telefone.

Profundas bênçãos para todos vocês.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Hotel WestMinneapolis, Minn.

1930

Querido Dr.,

Estou aproveitando muito aqui. Você está sumido, não disse nada – lembro-me vagamente que talvez você lamentou com a Sra. Butler por eu não ter pensado muito nela. Alguém lhe disse que não penso muito nela – por favor, afaste essa ilusão dela, pois estou sempre recebendo suas vibrações e gosto muito de ler as cartas que ela me escreve. Diga a ela para jamais duvidar disso. E peça-lhe que me perdoe por não ter escrito, pois mal tenho tido tempo para pensar sequer qual é meu nome. Porém, diga a ela que adoro receber cartas, pois sempre envio respostas espirituais. Não posso lhe dizer sobre aquilo que não me lembro.

Continue com sua dieta. Não coma muita comida quente – apenas morna. Peça para Mildred e as crianças fazerem o mesmo. Comida quente demais incha as células e é perigosa.

Algumas vezes, em um determinado estágio do desenvolvimento espiritual, a mente se torna negativa e as palavras são ásperas – nesse caso, é melhor controlar-se e manifestar paz, suavidade ao falar e demonstração de amor externo e interno para todos. Por favor, manifeste isso.

Com incontidas bênçãos e amor para um desperto Natal e Ano Novo para você, Mil, Brad e Bren.

Com amor e bênçãos incontidas,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Mount Washington20 de janeiro de 1930

Querido Doutor,

Estou tão feliz por receber suas cartas. Tenho estado extremamente ocupado e estive fora de Mount Washington depois do Natal. Senão, teria respondido antes para você.

A partir de fevereiro, tudo indica que teremos boas perspectivas, mas, é claro, almejamos sempre o melhor.

Continue por mais algum tempo com a dieta prescrita. Demandará ainda mais algum tempo para você me ver em sua meditação – olhe para a luz com muita determinação. Seja como for, eu sou muito pequeno comparado com o Espírito que você vê freqüentemente no olho.

Sua mensagem de Natal e sua poesia são maravilhosas e me fizeram muito feliz.*

Com meu mais profundo amor e bênçãos,

Swami Yogananda

Dr. Lewis e um amigo, voltando de uma pescaria

* Fazendo referência a revista East-West de 1933.

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Hotel San CarlosPhoenix, Arizona

7 de fevereiro de 1930

Dr. M. W. Lewis

Querido,

Quando não tinha ninguém para me voltar, voltei-me para Deus e Ele apontou você para mim – portanto, Deus Se manifestou através de você na hora da necessidade. Se ao menos as palavras pudessem demonstrar meu amor e o sentimento que tenho por você. É maravilhoso saber que Deus responde como Ele mesmo através de Seus devotos. Com certeza, foi na sua voz que ouvi distintamente Seu eco pela primeira vez. Em seu sorriso, ouvi o sorriso Dele.

Tenho ido muitas vezes até você. Agora é você quem deve vir a mim. Transbordei de alegria ao saber de sua saúde. Na busca da verdade, a qual sinto intuitivamente em tudo aquilo que faço destemidamente – segui minhas intuições acerca dos estranhos métodos que sugeri para sua saúde. Foi necessária uma ação drástica e atenciosa.

O que sinto sobre nossa amizade escrevo espontaneamente.

Deus, não ligo para riquezasNem fama ou pompa;Contudo, dá-me amigos verdadeiros!Nem que apenas um, se for eleAtravés de quem posso Te contemplarE em quem posso confiar e apreciar,Como Tua imagem,Sempre refletida no espelho do meu amor.Amigo é aquele que sente minha angústia como sua própria,Que sente por mim como sentiria por si. Ah, ondas da verdadeira amizade, nascidas no céu,Unam-se em Teu oceano único de vasto Amor!No mar da amizadeAs almas perdidas dos filhos pródigosRetornam ao seu próprio lar.

Naquele dia no telefone, na pressa, esqueci de falar com Mildred e perguntar sobre Brad e Bren. Por favor, peça para Mil me escrever.

Vocês virão em julho ou agosto?

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Hotel PennsylvaniaNova Iorque, Nova Iorque

8 de fevereiro de 1930

Querida Mil,

Foi tão doce da sua parte ter se lembrado de mim e também ter feito me lembrar da viagem à Califórnia. Toda as coisas são possíveis ao Senhor, desde que sejamos persistentes o bastante. Os resultados não aparecerão sozinhos, temos que lutar por eles. Por favor, use cada partícula de energia da sua mente para elaborar planos e colocá-los em prática. Envie milhares de livretos para as pessoas constantes nas listas de cadastro.

Estou realmente muito, muito triste por não conseguir ver Brad e Bren. Como estão eles? Eles se lembram de mim?

Ioga é o contato científico da alma com Deus, como sempre digo, porém com meu progresso no caminho espiritual, tenho percebido mais do que nunca que a reverência é um grande fator para a salvação. Estou tentando cultivá-la, o que está fazendo minha vida mais doce e livre de preocupações, livre de qualquer resquício de egoísmo que possa ter se escondido.

Como está sua meditação?

Com minhas bênçãos e boas intenções,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda Giri

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia 11 de fevereiro de 1930

Querido Doutor,

Lamento saber que sua saúde não está bem. Sei exatamente o que é isso – durante duas semanas, pare com os exercícios, então recomece com doze pela manhã e doze ao meio dia. Mantenha sua mente distraída. Não pense nessa triste dor. Sei que outros tiveram isso. O corpo deve ser posto em sintonia juntamente com o avanço da alma. Sua alma tem progredido mais rápido do que o corpo, de modo que este vem apresentando problemas. Não se sinta desencorajado por ter que parar com os exercícios.

Além do que, você está definitivamente precisando de um descanso e uma viagem. Você deve vir para a Califórnia e ficar comigo por um ou dois meses. Você terá uma atmosfera montanhosa e ainda a proximidade do mar. Estou reservando um lugar para todos vocês – não esqueça disso – um lugar para a duradoura felicidade.

Fico feliz que tenha gostado dos Whispers* – o livro está recebendo aplausos do público. Vou explicar – após sentir as orações conforme instruído, o significado surgirá para você.

Com amor incessante para você, bênçãos para Mil e amor para Brad e Bren.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

P.S. Incomensurável agradecimento por ter salvado a instituição das mandíbulas da morte instantânea. S.Y.

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* Whispers from Eternity (“Sussurros da Eternidade”), de Swami Yogananda.

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Hotel MissouriSt. Louis, Missouri.

11 de outubro

Querido Doutor,

Foi tremendamente gentil da sua parte ter ligado para Los Angeles para falar comigo. Recebi suas vibrações de alegria – infelizmente perdi a chance de falar com você no último instante. Estou muito feliz ao saber da sua melhora. Por favor, conte-me como tem estado. Gostaria de estar pessoalmente com você, agora, neste instante. Mais uma vez, está demorando muito para ver todos vocês de novo e já estou ficando impaciente. Sua lembrança e a lembrança de sua família são uma eterna fragrância em minha mente.(…)

Estudantes residenciais e grupos harmoniosos que permanecem alguns dias ajudam a sustentar a instituição. Temos uma grande área de cultivo de vegetais. Gostaria que você estivesse aqui para dirigir para nós o treiler, bem como para estar comigo e o Infinito ao longo das praias. Estou me aproximando Dele de todas as maneiras. Deus o abençoe, meu querido – perdoe os atrasos – sabe que escrevo para você centenas de vezes com meu amor e minha mente. Temos milhares de agradáveis lembranças imperecíveis, sempre florescendo, agradáveis experiências em nossas mentes. Não demore tanto para escrever quanto eu.

Amor e bênçãos para Brad, Bren, Mil e você.

Swami Yogananda

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Los Angeles, Califórnia20 de dezembro de 1930

Querido Doutor,

Sinto muitíssimo por sua difícil situação. Estou orando profundamente por você. Você sabe que seu problema é causado por suas dúvidas espirituais e desarmonia familiar. Sua meditação é profunda, mas certos probleminhas sobre finanças, família, etc, causam um conflito. Seu cavalo espiritual puxa a carruagem da sua vida para frente, mas suas dúvidas procuram trazê-la de volta. Isso produz vibrações erradas que se contrapõem às suas vibrações espirituais, perturbando o equilíbrio da sua força vital e sistema nervoso, dando origem às doenças.

Liberte sua mente para ser grande e generosa como você já é.

Oh, como sentirei a falta de todos vocês neste Natal. O Natal aproxima a todos mais do que qualquer outra ocasião.

A Grande Depressão está pior do que nunca. Suas conseqüências estão piorando. Talvez no ano que vem as coisas melhorem um pouco. Tenhamos esperança.

Coisas que já estavam praticamente garantidas acabaram não acontecendo. Satã apertou uma chave-inglesa e minha situação financeira está pior do que nunca. Tenho pensado profundamente acerca de minhas responsabilidades para com o empréstimo. Quando é o vencimento? Pode ser prolongado por mais um ano? Tenho vontade de pagar – não estou me esquivando do compromisso, mas sim tentando me preparar para o que conseguir fazer. Por favor, escreva-me sugerindo a melhor solução. Tenho uma centena de obrigações para quitar.

Meu presente natalino para todos vocês vai ser alguma coisa espiritual e deverá chegar aí um pouco depois do Natal, mas meu amor chegará antes até você, Mildred, Brad e Bren. Meu novo cartão de Natal é uma novidade. Uma combinação da Cruz com os Centros da Coluna Vertebral.

Se você estivesse com pedra nos rins elas teriam aparecido no raio-X. Tire outra chapa para descobrir se está com alguma pedra. Estou orando profundamente por você. Mantenha-me informado acerca do seu estado de saúde.

Meu amor e saudações natalinas e de ano-novo para você, Mil, Brad, Bren, Roscoe e Dolly. Como está o Sr. Pierce? Não pense na doença para não atraí-la de volta. Esqueça-a.

Com profundo amor a você.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Hotel AlbanyDenver, Colorado

11 de julho de 1931

Querido Doutor,

Recebi sua amável carta em Milwaukee. Venho sentindo muito sua falta e gostaria de ver todos vocês. Algumas felizes mudanças estão surgindo em minha vida. Mais do que nunca, estou com Deus. Deixei completamente para trás a consciência de vitórias ou derrotas, pois Deus assim me disse em Phoenix, quando falei que queria me libertar de tudo. Ele disse: “Você já é livre, mas pensa que não é, pois estava procurando pela liberdade no futuro. Se tanto a dança da morte quanto a dança da vida baterem à sua porta – saiba que elas provém de Mim e, portanto, alegre-se.” Desde então, não espero mais nada.

Fiquei apenas três dias em Milwaukee – e na estação de trem, falei para os estudantes: “Vim cantando e sonhando com Deus. Cantei, sonhei e senti Deus com vocês. Em Suas Canções e Sonhos estou agora de partida, e em Suas Canções e Sonhos iremos nos encontrar novamente, para jamais nos separar.”

Agora, estou com estudante muito devoto sob meus cuidados constantes e um outro estudante está precisando urgentemente de um bracelete. Por favor, mande um imediatamente e outro para breve – é uma situação muito, muito grave, e o bracelete irá estimular as coisas.(…)

Estarei aqui até 12 de agosto. Após, irei para Los Angeles. Com profundo amor para você, Mil, Brad e Bren.

Com o mais profundo amor, de seu

Swami Yogananda

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Los Angeles, Califórnia1º de dezembro de 1931

Querido Doutor Lewis,

Fiquei muito feliz em receber sua carta de apreço. Quando ouço que as demais pessoas encontram nas lições a beleza e a força que estão procurando, isso me torna muito feliz.*

Quando existe o desejo sincero, a realização surgirá. Meu único desejo é que mais pessoas possam ser despertadas através dos nossos ensinamentos. Eu gostaria que todos tivessem mais da beleza e da alegria em suas vidas.(…)

Gostaria que você estivesse aqui para desfrutar o Natal em 25 de dezembro. Oh, como eu gostaria disso!

Muito amor e bênçãos para você, as crianças e Mil.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

Querida Mildred,

Agradeço muito pelas fotos – tenho olhado para elas repetidas vezes. Gostaria que você estivesse aqui.

SY

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* Em uma carta anterior a 1945, Paramahansaji escreveu: “Fico feliz que você gosta das Lições – elas são o melhor que a América e a Índia têm a oferecer, pois elas provêm diretamente de Deus. Se você encontrar algum estudante excepcionalmente bom, conceda Kriya a ele – eu permito que o faça. Nós devemos treinar as pessoas verdadeiras.”

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia28 de fevereiro de 1934

Querido Doutor,

Obrigado por sua carta que recebi esta manhã.

Já respondi a carta da Srta. _____ e encaminhei via aérea. Lamento não ter respondido antes, mas parece que tenho milhões de coisas para fazer durante o dia depois que termino minha meditação matinal.

Se você estiver se referindo aos filmes que gravamos em Chicago, sim, eles estão sendo preparados, mas ainda não tive tempo para assisti-los. Isso pode dar uma idéia do quão ocupado tenho me mantido. Mandei para você as outras fotos. Por favor, diga-me se deseja também os filmes.*

Fico feliz que tenha gostado do panfleto de fevereiro. Todas as coisas ficam sob seu controle a partir do momento em que você se convence disso.

Estou desfrutando algumas das melhores sensações da vida ao trabalhar nos jardins banhados com a natureza de Deus toda ao meu redor e com Sua Presença vibrando em minhas mãos.

Por favor, incentive o estudo da Inner Culture East-West para todo estudante e interessado que você encontrar. Esse é seu maior dever.

Com o mais profundo amor, eu permaneço,

Muito Sinceramente,

S. Yogananda

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* O Dr. Lewis e outro discípulo se encontraram com Swami Yogananda em Chicago, a fim de visitarem a Feira Mundial de 1933.

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

8 de Março (antes de 1935)

Querido Doutor,

Recebeu minha carta conjunta para você e Mildred que mandei via aérea? Recebi sua carta datada de 18 de fevereiro. Sinto muito por você não ter estado bem.

Como _____ e _____ estão se saindo? Reconheça que você conquistou grandes poderes depois de todos esses anos de meditação, apenas deverá aprender a utilizá-los para modificar almas. Não sofra de complexo de inferioridade – pelo contrário, prossiga adiante e transforme almas. Lahiri Mahasaya trabalhará através de você. Procure fazer de _____ um grande devoto. Ele é o culpado por não melhorar após ter sido salvo de perder a cabeça. Por favor, veja-o com freqüência, medite com ele – ele irá mudar.

Meus queridos Doutor e Mildred – um assunto mais importante do que a Índia requer minha atenção – por favor, pensem nisso com muito carinho. Este é meu maior pedido em nome da obra. Sei que vocês não irão falhar comigo, como nunca falharam, e provarão ser verdadeiros filhos de Lahiri Mahasaya nesta hora de necessidade.

Que um amor ilimitado envolva os dois, protegendo você e Mildred para sempre. Gostaria que soubessem o que penso de ambos – e por quem irei até Deus e os Gurus para intervir, senão por aqueles que ajudaram a carregar minha cruz e permaneceram firmes ao meu lado nas horas de maior sufoco. Portanto, não me abandonem em meus esforços para estabilizar esta obra. As bênçãos de Deus aparecerão em cada curva se vocês mais uma vez responderem ao meu apelo por Sua obra. Por favor, compreendam.

Querida Mildred – tenho sido sempre um colaborador e um guardião para você e sua família – portanto, ao invés de atrapalhar, por favor, coopere na causa do Guru, e Deus cooperará com você.

Com ilimitadas bênçãos,

Sempre Seu,

S. Yogananda

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Los Angeles, Califórnia 4 de janeiro de 1935

Querido Doc,

Agradeço você e Mildred pelas camisas. Elas são os presentes mais adoráveis e úteis que vocês poderiam ter me dado. Oh, palavra alguma pode transmitir o quanto senti sua falta no Natal. Na véspera, meditamos o dia inteiro – Deus estava flutuando e inundando o jardim, os aposentos e tudo o mais. Estava tudo em fogo. Vocês teriam visto isso, como muitos dos presentes contemplaram a glória do Infinito.

O melhor a fazer é pagar o máximo que puderem por um plano de previdência. Casas podem ser sempre alugadas, mas uma renda permanente de aposentadoria é uma grande vantagem.(…)

Lágrimas brotaram em meus olhos quando você se ofereceu para ajudar. Pense nisso, se não fosse por sua ajuda e a de nosso Sr. Lynn, onde é que estaríamos hoje. Pense nas colunas que vocês são a sustentar esta grande obra. Temos um segundo templo na cidade graças à ajuda do Sr. Lynn. Eu, porém, jamais peço a ele mais do que é necessário.

E, tem uma última coisa que gostaria de fazer, se pudesse, enquanto ainda estiver vivo meu Guruji na Índia. Ele pode deixar este mundo a qualquer hora – ficará visível apenas para mim e alguns poucos. Tenho uma grande vontade de adquirir uma propriedade para esta obra na Índia. Isso iria agradar sobremaneira o meu Mestre, o seu grande Guru. Se você conseguir levantar $2.000 e doar para o templo, então eu poderia pedir mais uns tantos milhares para o Sr. Lynn e alguns outros, para erguer esse templo ou comprar um já construído. É uma lástima não termos nada em Calcutá.

Então, por favor, da mesma maneira que você foi o primeiro que me ajudou na América, seja também o primeiro a começar esse templo na Índia. Eu sei que, a menos que você dê a partida, será impossível fazer qualquer coisa. Por favor, faça com que Mildred, ao invés de se opor, seja também uma coluna nesse templo na Índia que iria agradar Babaji, Lahiri Mahasaya e o Guru. Sei que você não irá me falhar. Você jamais irá se arrepender por todas as coisas que fez por Deus e os Gurus.

Pretendo fazer um anúncio na Inner Culture Magazine acerca desse Fundo para a Índia. Após ter me doado inteiramente nesses últimos 14 anos, chegou a hora de fazermos algo para estabelecer a missão do Guru em Calcutá. Por favor, não falhe comigo...

Por favor, avise-me imediatamente sobre Bradford e diga a ele que irei escrever, com certeza.

Fiquei muito feliz ao receber o livro de fotografias.

Você continuará a se sentir bem.

Com Amor Eterno – de Seu,

Swami Yogananda

PS. Vocês devem vir todos aqui no próximo verão – venham de carro.

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Los Angeles, Califórnia 16 de abril de 1935

Querido Doutor,

Fiquei tão feliz ao saber de sua decisão pelo telefone. Abençoado seja. Por favor, não entenda mal – jamais briguei com você – somente repreendemos aqueles que são nossos, pois estamos interessados em seu bem maior. Tudo parece estar se encaminhando bem.

(…)

Com incessantes bênçãos e amor,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

Passeio de Barco: Paramahansa Yogananda com a Sra. Lewis e outros discípulos, Sul da Califórnia

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

25 de abril de 1935

Querido Doutor,

(…) Deus e os Mestres podem fazer tudo com um milagre. Mas quando somos deixados para trás – então temos que dar o nosso melhor neste drama Cósmico. Já que Deus está jogando e quer que joguemos para vencer, de modo que, quando fizermos o nosso melhor, Ele ficará muito satisfeito e libertará a todos nós para vivermos eternamente em Seu Reino.

Com bênçãos intermináveis para você, Mildred, Brad e Bren, eu continuo,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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O Mestre entre seus dois amigos: Rajarsi e Doutor Lewis. Banquete de Natal de 1937, logo após seu regresso da Índia.

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Hotel NacionalUpper Bedford Place

Russel SquareLondres, W.C.I.

2 de Julho de 1935

Queridos Doutor e Mil,

Ficaremos aqui para uma semana de palestras. O panfleto anexo fala por si. Brad está bem fisicamente. Temos visto muitas paisagens bonitas. Tive um encontro muito proveitoso para nossa obra. Fui apresentado a um dos mais ricos marajás, o de Barode. Ele nos convidou a visitar seu palácio na Índia. Não tenho como agradecer por tudo o que vocês fizeram, senão com o amor de meu coração. Sinto muita tristeza por não estarem aqui. Nem adianta falar.

Estou viajando tanto para lá e para cá que nem vou tentar escrever muito. Não iremos para Istambul. Até 16 de agosto, vocês podem endereçar para Port Said, Egito, American Express Company. Chegarei em Bombaim no dia 22 de agosto, e então partirei para Calcutá. Escrevam sempre, aos cuidados da American Express, Calcutá, Índia.

Os gastos são terríveis – mas de alguma maneira conseguimos nos virar pela Graça de Deus.

Meu amor eterno e bênçãos para você, Mil e Brenda.

Com as bênçãos mais profundas,

Sempre seu,

S. Yogananda

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21 de julho

Querido Doutor,

Por favor, querido Doutor, próximo a Deus, meu Mestre e meu pai terreno,* você tem sido meu maior amigo na hora da necessidade. Algum dia, todos vocês saberão o quanto tenho sofrido por todos vocês.

Por favor, peça para Mildred me escrever uma agradável carta. Dê a ela minhas bênçãos e amor para as crianças e você. Acho que Mildred estará lutando para ir comigo ao Céu.

Com amor incessante para você, bênçãos para Mil e amor para Brad e Bren.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

Muito feliz que a organização esteja sendo conduzida tão habilmente por vocês.

SY

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* Em outra carta sem data, Paramahansaji escreveu para o Doutor: “Sua última ajuda, a qual estive tão relutante para aceitar, chegou em muito boa hora. Não tenho palavras para expressar o amor e a admiração que sinto por suas ações amorosas, doces e altruístas. Essa é a grandeza do caráter americano. Deus abençoe a essa América”.

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CalcutáA/C American Express Company

3 de outubro de 1935

Querido Doutor,

(…) Sobre ter visões, elas não são obtidas através de exigências, nem mesmo dos santos, e também não são obtidas se o coração estiver desencorajado. É somente a Deus quem cabe concedê-las. Isso não é uma desculpa – mas a verdade. Ninguém pode obrigar Deus. Se Deus concedesse visões tão facilmente para criar fé nas pessoas – não haveria trabalho e as pessoas não fariam seu próprio esforço para encontrá-Lo. É preciso trilhar os espinhosos caminhos das dúvidas, sangrar profusamente, cair muitas vezes e, de maneira incansável, levantar novamente com humildade para prosseguir adiante até conseguir a visão de Deus.

Estou desfrutando da companhia de muitos santos e dezenas de jovens rapazes que prostram suas cabeças procurando Deus através da devoção ao Guru. Estou feliz porque aqui não preciso persuadir ninguém a vir – eu gostaria que você estivesse aqui – então você compreenderia.

Estou enviando para você e Mildred um pedaço da vestimenta de Swami Sri Yukteswar Giriji.

Devagar e sempre a corrida se vence!

Amor eterno,

Swami Yogananda

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A/C American Express Company Calcutá, Índia

1º de julho de 1936

Queridos Doutor e Mil,

Desde que o Mestre partiu – não tenho me sentido o mesmo. Não faz muitos dias, eu o vi ressuscitado de uma nova e inusitada maneira – e fiquei muito feliz. Ele respondeu todas as minhas perguntas – só poderei descrever esse grandioso acontecimento quando estiver pessoalmente com vocês. O que houve vai além de qualquer descrição. Ele me disse: “Esperei 16 anos por você e agora não mais – eu o amo – estarei para sempre com você”. Ele cumpriu sua promessa. Oh, estou tão feliz agora.(…)

Seu Sempre,

Amor e bênçãos para vocês,

S. Yogananda

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[sem data]

Queridos Doutor e Mildred,

Estou tão feliz por receber a sua tão esperada carta. Por favor, tenham certeza de uma coisa: Natal sem vocês não é Natal. A vinda do Sr. Lynn também é incerta. Vocês devem vir – agrada ao Divino vê-los aqui.

Alegra-me saber que os agentes das forças do mal estão envergonhados – eles tinham que ficar, pois Deus tem agido tanto através de vocês desde o início para ajudar a causa.

Pensem positivamente em vir, sem falta, venham tão logo quanto puder – no dia 24 (para meditar) e fiquem até 8 de janeiro. Afinal de contas, o que é a vida – agora está aqui, depois, se vai. Por que vocês não deveriam ter essa alegria comigo nos últimos dias – eles são raros. Eu sinto a alegria de Deus mais próxima quando ambos estão aqui.

Deixem tudo estritamente organizado na sua ausência.

Sofrer faz parte quando se pratica o bem; os pais sofrem pelos filhos, Cristo sofreu por todos. Vocês sofreram na vez passada e agora sabem. Conquistem tudo com amor – dêem amor sempre, mesmo que Satã se vire contra vocês.

Vocês devem vir. Com o mais profundo amor para você, Mil, Brad e Bren.

S. Yogananda

Todos estão esperando vocês – seus presentes já estão aqui.

S.Y.

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Golden Lotus Temple [Templo do Lótus Dourado]31 de outubro – ano desconhecido

Queridos Doc e Mil,

Já faz tanto tempo que foram embora e sinto tanto a falta dos dois. Por isso, vocês devem vir neste Natal. Ambos receberão os mais lindos e adoráveis presentes de Natal que jamais viram. Eu já os comprei – portanto, devem vir e permanecer o máximo que puderem.

Finalmente, a propriedade nas margens do Ganges é nossa – através do sacrifício e da cooperação Divina de vocês dois. O que fizeram irá permanecer com vocês para sempre.(…)

Os bons filhos de Deus deveriam sofrer juntos pela obra de Deus, e não deveriam abandonar uns aos outros na hora de maior necessidade. O Céu jamais irá abandoná-los, se vocês não abandonarem o Céu na hora da necessidade.* O Céu e a Verdade estão constantemente lutando para se restabelecer contra as forças de Maya.

Todo mundo gosta de passear num lindo carro – mas poucos cuidam da manutenção. Nossas mãos estão prestes a concluir o carro da Yogoda para a posteridade – por que todos nós juntos não colocamos nossas mãos e terminamos de montar?

Quero que saibam que é minha responsabilidade para com a grande obra que me faz pedir ajuda para vocês e alguns outros no intuito de salvar financeiramente esta missão, ao invés de simplesmente me livrar desse constante fardo sobre minha alma, por ter que assumir a responsabilidade pela vida dos outros.

Por favor, compreendam nitidamente que a minha prosperidade significa a sua prosperidade, a minha liberdade financeira significa a sua liberdade financeira.

Se alguma vez amei um amigo – amei vocês – nada me dará mais satisfação do que ver vocês livres. Por que duvidam?

Com o mais profundo amor,

Swami Yogananda

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* Vários anos mais tarde (1944), Paramahansaji escreveu: “Devemos sofrer, nos preocupar, trabalhar e planejar por Deus – então Ele fará o mesmo por nós”.

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

22 de março de 1938

Dr. M. W. Lewis29 Edgehill RoadArlington, Mass.

Querido Doutor,

Muito agradecido por sua carta de 18 de março que estava me aguardando quando retornei de Encinitas. Devido à pressão do trabalho, tenho permanecido a maior parte do tempo em Los Angeles. Estou extremamente feliz que tenha se livrado da casa. Agora, tente vender a outra casa por $__ ou mais. Não tem problema de mudar para um apartamento. É mais barato também.

Que bom que o velho ____ é um daqueles devotos antigos e fiéis. Dê a ele meu amor. Penso nele com freqüência. Diga-lhe que conheço em espírito tudo o que ele faz. Ele terá uma grande vitória no fim. É o espírito que conta.

Seria uma grande idéia essa maneira que você planejou para vir a Los Angeles. Muitos mamões, luz solar e nosso amor. Não tem problema Mil, Bren e a amiga dela virem de carro. Quanto tempo vocês podem ficar?

Com o mais profundo amor e bênçãos para você, Mil e as crianças,

Sinceramente,

S.Y.

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Self-Realization FellowshipLos Angeles, Califórnia

27 de maio de 1938

Querida Mildred,

Fiquei feliz ao receber sua carta, mas minhas inúmeras idas e vindas me impediram de respondê-la mais cedo.

Quanto a sua permanência aqui, bem, se você prometer fazer um belo curry de channa de vez em quando, acho que isso seria a melhor coisa que eu poderia pedir.

Em sua carta você me apresentou tantos problemas complexos que eu não sei o que dizer. Estou certo de que os empregos na Califórnia estão mais disponíveis para os californianos, de modo que não sei se Brenda conseguiria arrumar um emprego aqui para o verão. Acredito que exista uma lei que exige que a pessoa esteja morando aqui por alguns meses antes de poder arranjar trabalho. Em outras palavras, os californianos têm a prioridade na Califórnia. Sua carta não está clara, por isso não posso falar nada sobre ____, mas fico feliz que ela tenha percebido o que aconteceria caso adentrasse uma família ortodoxa após ter sido educada com valores liberais.

Se você acha que não pode vir agora, quem sabe poderia vir junto com o Doutor e Brenda no mês de agosto próximo, para ficar uns 30 dias? Seja qual for sua decisão, estará bom para mim. Por favor, utilize seu discernimento nessa situação pela qual está passando, e me informe imediatamente o que planeja fazer. Cabe a você saber o que é melhor – contudo, qualquer que seja sua decisão, da minha parte estará tudo bem.

O desejo não deve ser contrariado. Entretanto, a vida na universidade irá estabelecer uma carreira para ela. Nesse meio tempo, se ela vier aqui e conversar sobre o assunto – então poderemos assentar as coisas e ela teria um vislumbre de como é a vida aqui, de modo que poderia comparar com sua vida atual. Então, ela poderá decidir.

Tente novamente vir em junho. A felicidade é mais do que dinheiro. O dinheiro é um escravo daqueles que perseguem a verdadeira felicidade. Ore e medite incessantemente. Faça de cada minuto um altar de Deus. Agradeço imensamente a você. Todos sentem muito sua falta. “Guru – Dr. Lewis e Mil”. Sinto muito a falta dos dois, e sempre que puder estarei com vocês. Por favor, tentem ser maiores do que já são e procurem trazer _____ de volta ao bom caminho. Ele precisa de orientação.

Dê a eles minhas bênçãos.

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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a/c Hotel New HouseSalt Lake City, Utah

Julho, 1938

Querido Doc,

Finalmente recebi notícias de Mildred – ela está de passagem por aqui. Espero que ela venha me ver. Recebi uma carta contando que ela, Brenda e uma amiga já começaram a viagem, e você não está vindo. Estou com o coração partido. Você deve vir – deve vir – deve vir – deve vir – deve vir – deve vir o mais rápido possível para passar suas férias de agosto. Não tem como fugir.

Diga-me como está Brad e o querido povo da Yogoda. Estarei de campanha aqui até 12 de julho. Então retornarei a Encinitas para passar agosto – você deve vir. Por favor, escreva para cá via área e me conte que está vindo.

Sempre seu,

S. Yogananda

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Encinitas, Califórnia22 de setembro de 1938

Querido Doutor,

Recebi sua tão amorosa carta. Transbordo de alegria ao ver que você notou a mudança em Mildred. Eu também tinha orado por ela – e com o próprio esforço – como ela mudou! Isso é o que eu sempre quis que ela fosse para você. Estou feliz além dos sonhos.

(…)

Você está nas mãos de Deus e dos Grandes – não há nada a temer. Tenha confiança infinita.

As palavras falham na tentativa de descrever o quão alegre me sinto por sua alegria, pela causa e por ____, pela vitória que teve em sua alma. Ela é uma das mais adoráveis que você pode imaginar – doce como a fragrância de uma flor. Sempre quando resistia aos meus esforços, ela habitava na escuridão e me odiava – porém, agora, estando na luz, ela escuta até mesmo os meus sussurros. Você pode bem imaginar o quanto estou feliz.

As coisas estão acontecendo rápido na obra divina, e terei a maior das alegrias quando puder vê-los todos aqui e a situação na Índia resolvida quando eu me for. Vim com nada e nada levarei da Índia ou da América quando partir – vim apenas com Deus e com Ele partirei e aguardarei para recepcionar todos vocês lá onde não existirá qualquer empecilho a nossa existência e felicidade.

Deus é muito maravilhoso. Ele nos ama tão silenciosamente e maravilhosamente através dos devotos. Estou tão feliz por sua grande colaboração à obra – um grande bem emergirá dela. Irei informá-los assim que os últimos preparativos forem iniciados.

Com incontidas bênçãos para você e Mildred – por sua cooperação de alma ao serem instrumentos do Divino para a continuidade da obra em uma hora tão importante.

Com meu amor infindável,

permaneço sempre seu,

Yogananda

Meu mais profundo amor a você e Mildred – estou eternamente satisfeito pela sua vontade, e especialmente a dela, em colaborar.

P.S.

Jamais conseguirei expressar a felicidade que tive ao ver a mudança em _____. Você sabe que eu notava que Satã estava virando ela contra mim e contra a obra – e você sabia que eu sabia que as minhas palavras eram inúteis – então, pedi ao Pai, Mãe Divina e aos Gurus – e silenciosamente prossegui falando com eles no carro. E aconteceu o milagre do Senhor. Satã foi expulso dela e Deus a empurrou para o trabalho.(…)

_____ respondeu uma vez ao meu chamado, e por causa disso a Graça Divina atuou. E foi maravilhoso ver nossa amada criança mudar. Não existe alegria maior do que ver nossos seres amados sendo protegidos em Deus. Mildred, estou tão feliz por você.

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Deus atendeu a uma das minhas maiores orações, pois sempre quis fazer algo para satisfazê-la plenamente, da mesma maneira como você sempre me satisfez em minhas tribulações.

S.Y.

Um avatar e três siddhas. O Mestre disse que quatro de seus discípulos diretos se tornariam “siddhas” ou “param muktas”, almas aperfeiçoadas e completamente libertas, com domímio completo sobre a morte. Nesta fotografia, estão três deles: Rajarsi Janakananda, Yogacharya Oliver Black e Doutor Lewis, todos os três deixaram o corpo conscientemente, em mahasamadhi. (A Irmã Gyanamata é a outra discípula que se tornou completamente livre.) O Mestre também disse que alguns outros discípulos dele se tornariam jivan muktas, livres do carma físico, mas com ainda carma astral e causal remanescente para resgatar após a morte. Tanto os siddhas quando os jivan muktas experimentaram o estado mais elevado de realização divina, nirvikalpa samadhi, mas os primeiros conseguiram estabelecer-se irrevogavelmente nesse estado supremo.

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia12 de outubro de 1938

Querida Mildred,

Obrigado por sua querida carta. Estive ocupado além da imaginação. Um livro e um novo projeto, Deus e um milhão de coisas consumiram todo o meu tempo.

Alegra-me além dos sonhos saber que você e o Doutor são tão grandes amigos e meus amigos. Jamais irei brigar com você, Mildred, pois jamais tinha imaginado o quão resoluta e continuamente você iria pulverizar para sempre todos os meus temores acerca de seu temperamento e ter se tornado uma santa mulher. Isso não é bajulação, mas sim é meu próprio coração quem fala. E, nós três, somos imesuravelmente felizes pela mudança de direção da sua vida, da matéria para Deus, por sua própria vontade.

Esperamos que Deus nos guie para termos um maravilhoso templo de todas as religiões.

Seja como for, certifique-se que você e o Doutor virão para o Natal, devendo ficar até 8 de janeiro, quando teremos a comemoração do segundo aniversário do Templo de Encinitas.

A sua colaboração comigo na cozinha foi muito eficiente e extremamente apreciada.

Com meu amor infindável e bênçãos para o Doutor e você, minha doce Mildred, eu permaneço,

Sempre Muito Sinceramente,

Yogananda

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Los Angeles, Califórnia2 de fevereiro de 1939

Querido Doc,

Estou feliz por receber sua carta. Você nunca saberá o quanto senti sua falta. Existe alguma coisa – algum elo do passado entre mim e você que fornece uma felicidade indescritível quando estamos juntos em Deus, e causa tanta dor quando você não está.(…)

Os pais são os instrumentos Deus para ajudar o indefeso bebê a crescer – de modo que, quando o bebê estiver adulto, ele possa seguir os desejos dos pais para o seu próprio bem.

Recebi uma agradável carta de Bradford e Mildred. Minha resposta a eles vai em anexo.

Estou realizando grandes coisas, tudo está dando certo. Não irei deixar passar um dia além do dia em que o Divino lhes disser para se mudarem para cá de mala e cuia. Tem muito trabalho a ser feito.

Será que você poderia, sem muitas complicações, deixar o dinheiro separado para o caso de eu precisar? Se não precisar, não pedirei. Contudo, algo grande está pendente, por isso escrevo, pois sei que você não irá me faltar. Você tem sido meu braço direito e um instrumento do Divino desde o início – continue sendo assim e você atingirá a meta final.

Tremendamente feliz que o Centro de Boston está progredindo – continue – de modo que ele possa se tornar uma colméia repleta com o mel Divino. Boston é minha primeira colméia de Deus neste país – e por isso ela é tão querida a mim.

Sempre Seu,

Yogananda

Dê meu amor ao grupo.

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Los Angeles, Califórnia27 de junho de 1939

Dr. M. W. Lewis29 Edgehill RoadArlington, Mass.

Queridos Doc e Mil,

Sua carta alegrou-me sobremaneira. Fiquei pensando porque sua resposta estava demorando, e eu estava preste a escrever na noite anterior à chegada da carta – quando algo me disse para aguardar e eis que de manhã sua carta chegou.(…)

Estou vivendo um sonho de infância e tudo o mais, devido principalmente a instrumentalidade de vocês, de Deus e dos Grandes Seres. Meu coração está repleto, o que mais posso dizer.

O sol de verão está maravilhoso – venham aqui correndo os dois. Estou extremamente feliz que ____ está indo bem e freqüentando regularmente o Centro de Boston. Pratiquem Kriya com ele – somente isso poderá lhe conferir uma nova perspectiva.

Com amor eterno para ambos, e pessoalmente grato por terem sido tão nobres instrumentos de Deus.

Seu Sempre,

Yogananda

Escrevam imediatamente informando a data aproximada da sua chegada.

Sua vinda é a minha emoção para o verão.

PY

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

20 de janeiro de 1940

Querido Doutor,

Fiquei feliz ao receber sua carta e saber da sua chegada ao lar. Sinto sua falta e da Mildred, e tenho esperança que chegará o tempo em que vocês não precisarão sair daqui. Vamos rezar por isso. Aprecio muito o seu lindo espírito. Você sempre terá minhas bênçãos e boa vontade para que possa atingir seu objetivo mais elevado. Quando a amizade tem suas raízes fincadas no Espírito, ela jamais perece. (…)

Por favor, mantenha-me informado sobre como estão as coisas com todos vocês. Dê a Mildred meu amor e bênçãos e diga a ela para meditar profundamente sempre que puder.

Com incessantes bênçãos e amor,

Muito Sinceramente,

Paramhansa Yogananda

P.S.

Tudo tem estado muito solitário desde que vocês saíram. Até o momento, estou planejando uma viagem de carro de Loredo até Cidade do México utilizando a nova rodovia. São apenas 1.120km de Loredo até Cidade do México. Vocês dois podem ir de trem para me encontrar lá. Será que podem chegar lá em 1º de maio, ou 1º de junho, ou 1º de julho – caso eu decida ir? Desejo viajar apenas na estação quando as mangas estiverem maduras. Estou me preparando. Vocês podem voltar para Boston direto de Loredo ou via Los Angeles, conforme quiserem. Por favor, me informem logo. Estou economizando para essa viagem. Tenho certeza que irão gostar. Se acabar sendo uma viagem de trem, eu os avisarei.

Com ilimitado amor e bênçãos para você e Mildred, eu continuo,

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

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Los Angeles, Califórnia15 de maio de 1940

Querido Doutor,

Acabei de receber sua carta escrita em 5 de maio. Então, finalmente você está morando em seu apartamento. Espero que esteja tudo bem de novo com Mildred, após tantas atividades.

O que Bradford e Brenda estão fazendo?

A maioria das pessoas está em busca de coisas novas o tempo inteiro. Elas são inquietas demais e não conseguem fixar o pensamento em algum estudo em particular. E também não querem fazer o esforço, seja fisicamente, mentalmente ou espiritualmente, a fim de se verem livres de seus problemas.

A melhor coisa a se fazer é continuar tentando com o máximo de sua capacidade. Aquelas poucas almas que forem sinceras serão atraídas para nossa obra, mais cedo ou mais tarde.

Se não formos para o México – você positivamente deverá vir aqui em Agosto para passar o mês inteiro, ou mais. Estou planejando minhas férias com as suas. Eu preciso tirar férias. Em breve o deixarei informado – mas esteja preparado para vir aqui a qualquer momento.

Dê a Mildred minhas bênçãos e meu amor para ambos.

Bênçãos,

P. Yogananda

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Golden Lotus TempleEncinitas, Califórnia25 de junho de 1940

Queridos Doc e Mildred,

Tentei até o último minuto ir para o México, só que a situação da guerra, a burocracia, a instabilidade política e o Serviço de Imigração disseram que não é seguro para eu viajar até lá. Assim sendo, para evitar que aconteça uma tragédia daquilo que deveria ser apenas uma agradável viagem, precisei abandonar a idéia. Entretanto, vocês devem vir aqui. Cheguem por volta de 5 de agosto e fiquem até 5 de setembro, ou então cheguem em 1º de agosto e fiquem até 1º de setembro. Eu talvez precise viajar para uma série de palestras no dia 7 de setembro, portanto, é melhor planejar adequadamente. Tenho muitos planos para pequenos e agradáveis passeios quando vocês chegarem – podemos ir de novo para San Francisco ou visitar as sequóias ou o parque Yosemite, o que vocês quiserem. Estou com um novo barco no Lago Hodges aguardando a sua vinda. Não me desapontem com atrasos.

Por favor, escrevam imediatamente informando o dia exato de sua chegada para que possamos traçar definitivamente nossos planos de agora em diante. Mande a carta via área, para ganharmos mais tempo. Como estão Brad, Bren e vocês dois?

Dê meu amor a Mildred, o grupo, a Irmã Yogamata e a você mesmo.

Com o mais profundo amor e com a alegria de aguardar a sua chegada.

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

P.S. É muito triste – Paramananda faleceu.

Paramahansa Yogananda com o Doutor e a Sra. Lewis visitando as sequóias, no norte da Califórnia.

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia18 de setembro de 1940

Queridos Doc e Mil,

Obrigado pelas cartas tão impregnadas com o seu lindo espírito.(…) Sinto bastante a falta de vocês dois, mas me conforto em pensar que estarão de volta em alguns meses.

Alegra-me que Roscoe e Dolly tenham gostado do prato. Por favor, dêem a eles minhas bênçãos e meus melhores votos. ...

Suas cartas são profundamente comoventes. Vocês devem saber o quanto sinto sua falta quando vão embora. Vocês são os meus mais antigos amigos na América.

Dêem minhas lembranças à querida Irmã Yogamata.

Com infindáveis bênçãos,

Muito Sinceramente,

Swami Yogananda

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Irmã Yogamata, Paramahansa Yogananda, Doutor e Sra. Lewis – Natal de 1944

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Los Angeles, Califórnia17 de junho de 1941

Querido Doutor,

Com a hora chegando, cresce minha ansiedade enquanto aguardo sua vinda. Venham alegremente para o lar. Estou planejando umas férias diferentes, porém muito divertidas, para passarmos juntos. Sei que você irá gostar.

Com bênçãos incessantes para você e Mildred, eu permaneço,

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

P.S. Acredite Nele, trabalhe por Ele e Sua graça irá fluir na sua vida.

P.Y.

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Washington, D.C.24 de setembro de 1941

Dr. e Sra. Lewis

Meus Queridos,

Finalmente, após muitos momentos maravilhosos – estou rumando em direção a Boston via Filadélfia e Nova Iorque. Terminarei meus compromissos em Filadélfia e Nova Iorque na terça-feira. Espero chegar em Boston na quarta. Por favor, marquem um encontro com o grupo completo (avisando todos pelo telefone, etc.), para quinta-feira às 20 horas na Rua Boylston. Por favor, peça para _____ fazer no próximo domingo o anúncio da minha vinda. O tema da minha palestra será “Quem Jesus foi antes”.

Permanecerei em Boston durante uma semana e gostaria de passar um final de semana em Duxbury com você e Mildred. Então, após nossa volta, podemos convidar alguns poucos para um jantar especial na sua casa a fim de assistirmos alguns filmes de Mount Washington e Encinitas.

Irei telefonar para você assim que tiver chegado e Mildred poderá me pegar na estação de trem, caso não seja possível para você devido ao trabalho no consultório.

Com o mais profundo amor para ambos,

P. Yogananda

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

12 de novembro de 1941

Dr. e Sra. M. W. LewisBoston, Massachusetts

Queridos Doc e Mil,

Recebi ambas as suas comoventes cartas em Washington. Estou feliz além dos sonhos que Mildred está vivendo como antes.

Lamento sobremaneira por não ter conseguido estar muito em contato com você, Doutor, durante minha visita a Boston, mas certamente fiquei feliz porque Mildred pôde me acompanhar bastante. Foi muito doce da parte de vocês terem me oferecido um apartamento tão agradável para ficar, pois minha ambição naqueles primeiros anos em Boston era morar em um apartamento, mas eu não tinha dinheiro para tanto. Realmente, vocês dois realizaram aquele antigo desejo. Não tenho dúvidas que ambos agiram como instrumentos de Deus nesse caso.

Estou aguardando para vê-los novamente. Sem falhas ou sem qualquer dúvida, vocês devem vir aqui para o Natal e permanecer até o dia 10 de janeiro, a fim de poderem descansar e recuperar as forças, pois tenho visto que andam trabalhando violentamente sem qualquer folga quando ficam em Boston. Esta é a sua única oportunidade para descansar. Estou esperando pelas férias junto com vocês aqui.

Com as bênçãos mais profundas e incessantes para você e Mildred, eu sou,

Muito Sinceramente,

Paramhansa Yogananda

P.S. Amor eterno para vocês. Venham logo para casa – tentem comparecer na meditação, se possível. Novamente, meu mais profundo amor. Estou impaciente para estar com vocês. Esta é a verdade do meu coração.

P.Y.

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Los Angeles, Califórnia26 de novembro de 1941

Querido Doutor,

Fiquei feliz ao receber sua carta. Contudo, a triste revelação foi você ter dito que não pode vir.

Não haverá Natal a menos que você venha. Já comprei tantos presentes, você deve vir para recebê-los.

Por favor, responda rapidamente via área informando em qual trem estará vindo. Venha no dia 23 de dezembro e fique até 7 de janeiro.

Deus manterá você e Mildred bem. Aproveitem a viagem. Estaremos aguardando.

Meu mais profundo amor e bênçãos a você.

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

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Mount Washington1942

Para o Doutor e Mildred,

Sei que foi a influência espiritual de vocês que atuou de modo indescritivelmente benéfico para _____ ter ajudado em uma hora de grande necessidade. Eu escrevi para ele. Ele é com certeza um diamante espiritual camuflado. Sua aparência exterior é rude, mas possui uma bondade interior surpreendente.

Foi extremamente doce da parte de vocês pedir minha opinião sobre o que desejam doar. Assim eu fico sem fala – vocês já têm feito tanto – doem aquilo que for possível dentro de suas condições. Eu certamente estou precisando de ajuda. Tenho utilizado o trator em algumas plantações. Obrigado milhões de vezes por ajudar através de _____ e por enviarem mais.

Não posso esperar até vocês virem aqui e passarmos bons momentos juntos. Meditem incessantemente.

Com o mais profundo amor,

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

1942

Queridos Mildred e Doutor,

Recebi sua carta, mas não gostei do tom nela contido acerca da indefinição sobre sua vinda. Eu planejei especialmente a cerimônia de abertura do templo (caso esteja pronto) para o dia 30 de agosto. Vocês devem ficar até o dia 7 de setembro. Aproveitem o ambiente divino enquanto puderem – nunca sabemos o que poderá vir depois. Eu me empenhei ao máximo para construir este templo com extrema beleza e capricho – pois vocês dois são os verdadeiros fundadores do templo. Lembrem-se que foram das suas doações que nasceram duas super instituições (uma nas margens do Ganges) e outra no coração de Hollywood, a partir das quais nosso trabalho será divulgado por todo o mundo.

Deus espera que eu faça meu melhor e termine a “Igreja de Todas as Religiões” da SRF em Hollywood. Vocês devem vir – a vida é curta demais para que negligenciemos os poucos instantes de pura alegria que desfrutamos quando estamos na companhia mútua.

Tenho certeza que, quando você olharem para a Igreja, concordarão que ela será uma das mais lindas existentes em Hollywood. Eu, pelo menos, assim penso.

Com bênçãos incessantes,

Swami Yogananda

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Los Angeles, Califórnia[1942?]

Queridos Doc e Mildred,

O Senhor tem me mantido tão ocupado que nem consigo dormir, e eu estava sentindo um certo desconforto mental na hora que recebi sua ligação telefônica.*

Fiquei muito feliz ao ouvir suas vozes, Doutor e Mildred. Lamento muito que vocês tiveram que passar por aquela intensa agonia e provação.

Apesar de todas as sugestões curativas, lembrem-se que Deus e os Grandes Seres são a sua âncora suprema, bem como tenham em mente que uma forte modificação dos padrões de pensamento, de maneira a eliminar a inflexível mentalidade de dor e doença, é o melhor e mais eficaz antídoto. Estejam assim ancorados em Deus enquanto tomam atitudes razoáveis para desfazer os carmas inconscientemente praticados no passado. Exercitem-se sempre que puderem.

Recebi seu telegrama. Fico feliz que você, Doutor, esteja mais confortável. Eu sei o quanto sofreu – mas seja forte e vença. Deus está do seu lado. Alegra-me que o médico tenha diagnosticado aquilo que internamente eu já tinha visto.

Continue praticando tudo o que falamos no telefone, já que sente que os resultados estão surgindo. Escreva-me diariamente via aérea para me dizer como está se sentindo. Reze mentalmente o tempo todo: “Pai, manifesta Tua perfeição em meu corpo”. Não tema – você estará completamente curado pela Graça de Deus, dos Gurus e da sua fé.

Meu mais profundo amor e compaixão para você, Mildred, Brad e Bren.

Muito Sinceramente,

Paramhansa Yogananda

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* O Dr. Lewis se referia a esta carta como “Modificando o Filme Cósmico”. Ele disse: “Caso houvesse algum problema cármico sério a ser resolvido em Boston, eu ligaria para o Mestre na Califórnia”.

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Los Angeles, Califórnia10 de janeiro de 1942

Querido Doutor,

Fiquei feliz ao receber sua carta. Mas você sabe, eu disse definitivamente, você deve vir. Nenhum dinheiro do mundo poderia me induzir a privar-me do prazer de vê-los – você sabe disso.*

Portanto, jamais me faça qualquer alternativa no que concerne a sua vinda. Por que estaria eu me quebrando todo para arrumar o templo se não fosse para sua alegria? Grande parte da minha felicidade se perderá caso não venha. Se isso acontecer, não terei nenhuma desculpa para tirar férias. Temos estado nos preparando para a sua chegada. Com dinheiro ou sem dinheiro – é impensável que não venha. Portanto, pense positivamente, compre as passagens agora e chegue no dia 7 de agosto, para ficar até 7 ou 8 de setembro. A vida é curta demais para relegar a felicidade que sinto ao ver vocês dois.

Com o mais profundo amor e bênçãos para ambos.

Sinceramente seu,

P. Yogananda

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* Em uma ocasião, após o Doutor e a Sra. Lewis terem visitado o Mestre, ele escreveu: “O Senhor atendeu minha oração e meu desejo que vocês viessem alegres e despreocupados passar as férias aqui. Sim, Deus faz tudo – se compreendermos Seus caminhos e aprendermos a amá-Lo. Ele é o nosso mais próximo dos próximos, o mais querido dos queridos.”

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Los Angeles, Califórnia21 de janeiro de 1942

Queridos Doutor e Mildred,

Dirijo-me aos dois, muito embora Mildred não me escreveu uma única linha.

Esta é a verdade nua e crua – levou dias até que eu me acostumasse a estar sem vocês dois. Eu continuava vendo o Doutor em pé à minha frente vestindo o sobretudo – com sua cabeça inclinada e reverente.*

E também parecia que eu ainda via o trabalho duro que Mildred humildemente prestava com toda jovialidade. Não digo isso para enaltecer Mildred acima do Doutor, mas é apenas uma descrição do que vi. Mal posso esperar até que chegue o verão.

Com o mais profundo amor e bênçãos incontidas para você e Mildred,

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

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* O sobretudo havia pertencido originalmente a Paramahansaji, sendo que posteriormente foi dado para o Dr. Lewis.

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Los Angeles, Califórnia7 de fevereiro de 1942

Queridos Doutor e Mildred,

Fiquei muito feliz ao receber suas cartas. Estou feliz que seu problema físico está diminuindo. Ainda restam alguns pequenos problemas – todos eles serão dissolvidos. Estou rezando por isso.

Não deixe de praticar seus exercícios. Isso foi uma sacudidela para por à prova sua consciência e para demonstrar-lhe como este mundo é terrível. Existe pouca ou nenhuma felicidade aqui, de modo que deveríamos procurar internamente e apenas com Deus. Imagine quem está sendo testado nos campos de batalha, com partes do corpo sendo destruídas – estilhaços de granadas alojados na carne. Deus, porém, vem o abençoando com grande fé e você não precisa se preocupar. Estou satisfeito por você possuir tanta fé em tudo aquilo que faz.

Fiquei tão feliz de ter notícias suas, Mildred, e satisfeito pelo Doutor possuir tamanha amiga e ajudante. Imagine, se você estivesse aqui e o Doutor sofrendo tamanha crucificação em Massachusetts – o que você teria sentido.

Com meu incessante amor e bênçãos,

Muito Sinceramente,

Paramhansa Yogananda

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Los Angeles, Califórnia21 de abril de 1942

Queridos Doc e Mildred,

O que posso dizer sobre sua generosidade – Roscoe, você e Boston, principalmente, salvaram minha vida nesta hora. O templo de Hollywood foi comprado e está aguardando que cessem as chuvas para que possa ser transportado até seu lugar em Hollywood. É a coisa mais linda que vocês jamais viram. Ele tem um tablado, um biombo azul e maravilhosas instalações elétricas. Quanto mais o vejo, mais gosto dele. ...

Milhões de agradecimentos por sua ajuda a tempo. Você deve vir em agosto – já está se aproximando.

Com o mais profundo amor e bênçãos para ambos vocês.

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

Yogananda na Igreja de Todas as Religiões em Hollywood - 1942

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Los Angeles, Califórnia29 de setembro de 1942

Queridos Doutor e Mildred,

Fiquei muito contente ao receber sua carta. Tenho sentido muito a falta de vocês. Não é preciso dizer o quanto desejo que ambos estejam aqui.

Fico feliz que tenham conseguido chegar a tempo para a cerimônia do avô Lewis. Ele me impressionou bastante com sua visita na última vez que estive aí – tanto que até escrevi sobre ele na Inner Culture. Eu realmente amava o vovô – pois o seu querido corpo (do Doutor) foi criado através dele, e ele era tão bondoso comigo. Estou muito contente que você e todos os seus familiares tenham gostado das minhas poesias – elas foram verdadeiras explosões de meu coração. De algum modo o vovô se parecia tanto com o meu pai, que realmente senti por ele o mesmo que senti pelo meu pai terreno.

Depois de muito tempo, vi meu pai uma noite assim como vi o avô Lewis, e sei que ele está feliz por sua libertação. Suas palavras de apreço e a doce manifestação de seu coração são inestimáveis para mim. Vocês sabem o que sinto por ambos.

Com todo o meu amor para os dois,

P. Yogananda

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Sede Central da SRF25 de dezembro de 1942

Para Dr. Lewis

Querido Doutor,

Estou inexprimivelmente feliz que esteja aqui para receber alguns presentes de mim.

Nenhuma palavra pode transmitir a alegria que você me traz, particularmente, e também para tantos outros aqui.

Este é meu presente espiritual para você: “Que a partir deste Natal e Ano Novo, você redobre seus esforços na meditação – agora terá que convencer ao Pai que você O deseja muito, e que está se empenhando constantemente na meditação e no serviço sagrado para satisfazê-Lo. Lembre-se, qualquer coisa que fizer, Ele sabe – portanto, jamais ponha a culpa Nele pela demora em responder com a Sua Completa Presença. Quando chegar o momento certo, Ele virá. Nunca duvide Dele, mas questione sempre até mesmo os seus esforços mais profundos para estar com Deus.

“Apenas mergulhe em Deus e nade em Alegria, pois então atingirá Suas Praias”.

Com bênçãos incessantes,

Muito Sinceramente,

Paramhansa Yogananda

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

13 de janeiro de 1943

Querido Doutor,

(…) Sentimos terrivelmente a sua falta. Eu mal conseguia comer – pois não havia mais sabor depois que vocês foram embora. Era por sua causa que eu apreciava a comida.

Neste ano, faça o maior esforço e procure conseguir sua transferência para cá. Descubra alguma legislação. E se Deus lhe conceder isso – deverá viver da maneira que planejei para você, pois somente então será feliz. Permaneça no controle das coisas, mas não se deixe envolver por elas.

Com incessante amor e bênçãos para você e Mildred.

Sinceramente seu,

P. Yogananda

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Los Angeles, Califórnia4 de março de 1943

Queridos Doc & Mil,

Fiquei contente ao receber suas cartas, mas irei responder em conjunto para economizar tempo. Além do que, vocês são dois em um – de modo que eu posso muito bem escrever para um só nos dois.

Deus é o objetivo primordial da vida – primeiro e último, o tempo inteiro. Quanto mais rápido descobrirem isso, tanto mais rápido serão libertos deste doloroso enigma de contradições.

Eu não desperdiço meu tempo, adicionei seis horas de silêncio toda semana – e descobri que essa prática é maravilhosa. Acrescentei esse hábito às minhas práticas regulares, as quais espero jamais perder. Por que vocês também não tentam fazer?

Com o mais profundo amor para ambos e Brad e Bren.

Sempre seu,

P. Yogananda

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Eremitério do Lótus DouradoEncinitas, Califórnia11 de junho de 1943

Queridos Doc e Mil,

(…) Bem, estou aguardando sua chegada – e desta vez vamos permanecer aqui. Nunca antes apreciei tanto Encinitas quanto agora. Eu estava agitado demais com tantas coisas neste local que não tinha tempo para aproveitar, então o Senhor levou o Lótus Dourado.* Agora estou livre para me divertir aqui e construir mais igrejas.(…)

Sério, nunca desfrutei tanto de Encinitas quanto agora – eu queria já ter feito isso oito anos atrás – tantos livros já teriam sido finalizados. Tanto tempo de vida já passou.(…)

Tente incentivar ou levantar alguns fundos para a Igreja da SRF em San Diego. Gastei todo o dinheiro que tinha disponível na obra, mas ainda falta alguma coisa. Ela é quase tão bonita quanto à de Hollywood – diferente e formidável. Não importa o quanto conseguimos captar, as despesas parecem aumentar sempre. Peça a Roscoe e Dolly, qualquer quantia que conseguirem doar de boa vontade – não quero ficar com nada para mim mesmo. Eles puseram suas mãos em uma igreja – peça-os para também colocarem-nas em outra. Estou muito feliz pelo filho deles – o bem aparece – quando se está em contato com Deus.

Medite profunda e incessantemente. Dê minhas boas-vindas ao pequenino que está vindo para a alegria de Brad e sua esposa. Brenda não tem escrito – estou esperando uma carta dela.

Com bênçãos incessantes

e o mais profundo amor,

P. Yogananda

P.S. Estou impacientemente aguardando por vocês – quando as férias começarem. Meu profundo amor a ambos.

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* Referência à erosão de terra que destruiu o Golden Lotus Temple. – Nota do Tradutor.

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Mount Washington12 de março de 1944

Queridos Doc & Mil,

Vocês não conseguem imaginar a alegria que senti ao receber o telefonema com as notícias de Bradford. Num momento em que centenas de milhares de filhos de angustiadas mães estão sendo arrancados de seus corações suplicantes – quando o carma mundial está tão forte que é muito difícil fazer o Pai Celestial escutar – mesmo assim, apesar dessas coisas, tenho pedido a Deus para que Bradford cresça e se modifique espiritual e afetivamente. Todas as coisas são possíveis para Deus. Permaneçam com sua fé forte e inabalável. Por favor, mantenham-me informado de tudo – toda e qualquer novidade.* (…)

Transbordo de júbilo ao ver como vocês estão determinados a trabalhar pelo Centro de Boston – meu primeiro amor na América. Devemos fazer o maior bem possível enquanto estivermos vivos. Todos vivem para si e assumem os riscos para si. Nós, contudo, devemos viver para Deus e assumir os riscos por Ele.

Quando me sentava nas margens do Rio Charles com a Irmã Yogamata, eu costumava ser consumido pelo desejo e pela vontade de criar um Centro em Boston. Quando um Centro permanente é criado, a atmosfera torna-se diferente, e a obra crescerá na medida em que for divulgada e bem preservada. É necessário haver um lindo altar e uma atmosfera espiritual. O tratamento sintomático de um Centro permanente criará uma nova confiança nas pessoas. Aquele terreno na esquina é atraente, mas também é problemático e consumirá muito dinheiro sem qualquer resultado. Se pudesse ser construída uma pequena igreja com uma cúpula dourada, ela seria maravilhosamente atraente.(…)

Esse seria o clímax da sua despedida definitiva de Boston. E será um gesto magnífico da sua parte fazer essa doação ao Centro de Boston, o qual administraram por tanto tempo. Eu sei que havia dito para vocês não doarem mais – da mesma forma como eu pensava em não gastar mais do capital ou dos fundos de emergência – ainda assim tenho que fazer – esse é o nosso caminho.*

Devemos trabalhar para Deus mesmo quando não podemos – é isso que O satisfaz. O Centro permanecerá como um monumento perpétuo de seus esforços e será o ponto culminante de seu trabalho em Boston. Por favor, concentrem-se.

Com o mais profundo e incessante amor para vocês dois, Brad e Bren.

Sempre Seu,

P. Yogananda

* Em outra ocasião (não datada), Paramahansaji escreveu: “Já que a virtude está tão escondida devido aos óbvios triunfos do mal – apenas Deus poderá demonstrar como a Sua invencível virtude atinge secretamente a vitória no fim. As guerras não são vencidas apenas por grandes canhões ou dinheiro, mas pelo bom carma da nação e pela Graça de Deus.” * Em maio de 1924, Paramahansaji escreveu: “Neste sonho temporário da vida, enquanto os outros sorriem com o sonho material (sucesso), apenas para acordar em um pesadelo de sofrimentos, nós devemos sonhar por Deus – nossa ambição deve ser o trabalho de Deus.”

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Mount Washington25 de maio de 1944

Queridos Doutor e Mildred,

Obrigado por sua carta. Alegra-me saber que vocês não querem se desfazer da nossa pequena igreja em Long Beach. Porém, recebemos uma oferta considerável por ela – muito mais do que pagamos.

Sobre a viagem, é melhor planejarem sua partida de Boston em 31 de julho, chegando em Los Angeles no dia 3 de agosto. Então, seguiremos para Encinitas no dia 5, pois tenho serviço lá no dia 6.

Tenho feito coisas muito importantes, sobre as quais falarei mais quando estiverem aqui.

Profundo amor e bênçãos para ambos. Estou mais uma vez aguardando sua chegada. Estou interminavelmente ocupado.

Amor para todos, Mil, Brad e Bren. Vai ser muito bom vê-los.

Paramhansa Yogananda

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Encinitas, Califórnia1945

Queridos Doc e Mil,

Obrigado por suas cartas de 11 de março. (…) Estamos avançando em Deus, mas o tempo de vida está se encurtando – isso é tudo que tenho a dizer. Vocês não são obrigados a saber o quão grandioso Deus é – tudo o que precisam fazer agora é saboreá-Lo como a sempre nova Alegria na meditação. Dúvidas e falta de coragem não ajudam. A fé nos leva para mais perto Dele. Estou contente que tenham tomado algumas resoluções para o Ano Novo.

Estou feliz que vocês viram o rosto vivo de Jesus. Nossa fé torna Deus vivo, isto é, manifestado. Ele apenas está escondido.

O devoto precisa praticar cada vez mais profundamente, até que a tranqüilidade e a alegria se tornem uma segunda pele, assim como o hábito do corpo que se constrói através das encarnações. Façam apenas com que a alegria da meditação esteja sempre com vocês. Nunca pensem que ela está distante e não voltará. Assim como não conseguem esquecer o corpo, da mesma forma chegará o tempo em que vocês não conseguirão esquecer a Alegria da alma.

Quando os devotos praticam com sinceridade, eles infalivelmente recebem a Graça Divina. Entretanto, Deus nunca se entrega até que esteja completa e minuciosamente certo sobre o devoto. É por isso que demora tanto, pois Ele está oculto por detrás de todas as coisas.

Ele jamais irá jogá-lo ao esquecimento. Você será conscientemente conduzido para fora do corpo pelo Guru.* Você mereceu isso por todos esses anos de prática da Kriya Yoga. Não sei ainda sobre Mildred, mas o seu bom carma irá ajudá-la e eu irei ajudá-la.

A mãe deu liberdade ao filho. O filho ficou embriagado, abusou da liberdade e foi para o brejo. O filho estava afundando cada vez mais, contudo, não percebia que corria perigo de vida, pois estava bêbado – de modo que não tinha muita vontade de sair e não sabia que estava afundando devido à embriaguez – sua mãe, porém, apareceu de repente e tentou salvá-lo, mas não conseguiu porque seu filho abusou da liberdade e estava fora do alcance da sua ajuda. Nesse caso, a mãe estava mais determinada a salvar o filho do que o próprio para salvar a si mesmo. Do mesmo modo estamos embriagados com a ignorância – não percebemos a profundidade que iremos sofrer no futuro – então a Mãe Divina não consegue nos libertar sem que utilizemos nosso livre-arbítrio. E, se nós mesmos não escolhermos ser livres – não existe ninguém que possa nos libertar.

Muitos agradecimentos por sua doação – ela ajudou muito, pois estou ajudando a Índia. Contudo, você tem que vir no dia 7 de agosto – não tem escapatória. Mildred, por favor, consiga uma boa máquina de lavar de tamanho médio. Por favor, medite mais para recuperar o tempo perdido. Uma boa máquina de lavar de segunda mão de boa fabricação deve servir bem.

* Em outra carta (sem data), Paramahansaji escreveu: “Não sei como agradecer com palavras – você tem sido tantas vezes um grande amigo na hora do aperto. Você sempre poderá contar comigo quando a sua Necessidade Maior surgir ao final deste drama da vida. Mantenha firme a fé.”

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Sobre a conversa que tivemos sobre vir aqui – nós sempre damos voltas, cada um esperando que o outro tome a iniciativa. Vocês devem tomar a iniciativa. (1) por favor, responda se o Dr. Lewis está se animando para seu exame em Los Angeles em agosto próximo. Você sabe quando exatamente a prova será realizada? Na verdade, vir para a Califórnia não é assim tão difícil quanto encontrar Deus.

Estou extremamente feliz que o massageador lhe poupou tempo e energia. (…) Estou muito feliz que tenha adquirido aquilo que eu queria que você arranjasse para o Doutor. Eles são difíceis de encontrar. Sua força de vontade, e também que tenha salvado seu próprio pescoço (pois não precisará mais fazer massagens por horas intermináveis) – você me deixou muito feliz.

Estou contente por saber que Brenda está feliz. Recebam vocês duas meu amor e bênçãos. Diga a Brad, Bren e à esposa de Brad que estou mandando meu amor e orações. O que Brenda decidiu?

Com o mais profundo amor e bênçãos para você e o Doc,

Paramahansa Yogananda

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Paramahansa Yogananda e Dr. Lewis – Point Lookout - Maryland

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia8 de fevereiro de 1945

Querida Mildred,

Estou tão feliz por receber sua carta e saber que vocês dois e a Irmã chegaram com segurança em Boston. Hoje em dia não penso mais em Boston como sendo a sua casa – pois você e o Doutor irão fixar residência na boa, velha e ensolarada Califórnia.

Estamos aguardando para tê-los aqui e nunca mais precisarmos dizer adeus por sua partida.

Estou contente que Brenda está se saindo bem. Transmita a ela minhas bênçãos. As coisas estão fervilhantes aqui. Agradeça ao Doutor pelo bracelete. São Lynn ficou muito satisfeito.

Amor para Roscoe, Dolly, vocês dois e Brad e Bren.

Vão fazendo as malas para L.A.

Muito Sinceramente,

P.Y.

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Los Angeles, Califórnia3 de agosto de 1945

Querida Mildred,

Muito agradecido por sua carta. Estou feliz pensando sobre a sua vinda para cá em definitivo, até que enfim. Gosto da atitude que você está tomando. Lembre-se da história que sempre contei acerca do plano original que os sábios indianos traçaram para a vida do homem. Após ter cumprido seus deveres na família, criado os filhos e trabalhado por eles, os últimos anos de vida do homem deveriam ser passados em meditação e trabalho para Deus.

Rezarei para que tudo corra bem quando vocês contarem a seus familiares acerca dos seus planos. Afinal, vocês não estarão se mudando para o fim do mundo. Apenas permaneçam calmos interiormente.

Meu mais profundo amor e bênçãos para vocês dois, para Brad e Bren e para sua família.

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia19 de setembro de 1945

Queridos Doutor e Mil,

Estou satisfeito por ter recebido sua carta e saber que tudo está se encaminhando harmoniosamente para que vocês possam vir aqui. Avisem-me quando estiverem chegando.

No último domingo, Dick Elliott me ligou na Igreja quando eu estava dando Iniciação e então veio na hora e recebeu a Iniciação. Eu tinha a expectativa que ele fosse para Mount Washington ficar algum tempo, mas ele teve que voltar para sua casa naquela noite. Ele parece estar muito bem e aparenta felicidade devido a sua boa sorte. Eu fiquei tão feliz ao ver Dick a salvo e com saúde. Ele é um rapaz muito bom e a vida na Marinha definitivamente não parece tê-lo afetado. Eu disse a ele que parte da doação de seu pai para a obra nos permitiu construir a “Igreja de Todas as Religiões” em Hollywood.(…)

Quando vocês virão? Tenho trabalhado sem parar dia e noite. Não vai demorar muito agora!

Com amor e bênçãos,

P. Yogananda

Yogananda no pátio da Igreja de Todas as Religiões em Hollywood.

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Mount WashingtonLos Angeles, Califórnia

7 de outubro de 1945

Querido Doutor,

Recebi sua carta e também uma de Brenda. Por favor, agradeça e diga a ela que estou aguardando sua chegada para logo depois que você e Mildred viajarem para Los Angeles e fixarem residência.*

Estou ansiosamente esperando a vinda de vocês, quando poderemos fazer muitos planos juntos. Venham, ou ao menos, planejem partir de Boston por volta do dia 21. Deverá haver nesse período uma chance melhor de conseguir gasolina o suficiente. Estou tão feliz que Bradford tenha assumido a questão da liderança de Boston com o espírito correto. Uma lasca daqueles velhos e sólidos tijolos espirituais (erguidos por você e Mil), deve fazer algo em Boston.

Por favor, deixe-me totalmente informado sobre a data da sua chegada.

Com amor e bênçãos incessantes,

P. Yogananda

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* O Doutor e a Sra. Lewis se mudaram permanentemente para a Califórnia em outubro de 1945.

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Encinitas, Califórnia26 de março de 1946

Para Doc Lewis

Meu Velho Amigo,

Este seu aniversário agoraCelebro como nunca outroraNa Terra sua chegadaTem sido para todos nós e Mildred uma fonte adocicadaPossa sua vida sempre serUma trilha espiritual que todos possam verE seguir – para a única morada da luzAonde vão todos cuja vida correta os conduz.

Feliz Aniversário.

Feliz Aniversário.

Com bênçãos ilimitadas para você e Mil,

Paramahansa Yogananda

Segue uma pequena lembrança do meu coração.

PY

Aniversário do Dr. Lewis - 1946

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Los Angeles, Califórnia17 de abril de 1949

Querido Doutor,

Uma Feliz Páscoa para você, Mildred e Bren. Diga a Brenda que gostei de sua carta, estou feliz por ela e estou orando.

Milhões de agradecimentos pelo excelente trabalho que você realizou com os supervisores.*

Eu gosto do seu jeito conservador e sincero de transformar as pessoas mundanas. Estou tão feliz que você teve sucesso em todos os seus empreendimentos (inclusive os arriscados). Deus o abençoe por tudo o que está fazendo e pela popularidade crescente ao servir às pessoas com seus maravilhosos sermões espirituais, que são o resultado de anos de prática de Kriya e das bênçãos dos Gurus. Faça de tudo para agradar a Deus e aos Gurus até o fim, pois então atingirá o seu cobiçado objetivo. Abandone todos os desejos mundanos pelo desejo somente por Deus.

Por favor, guarde para mim alguns bons mamões maduros quando eu for a Encinitas na semana que vem.

Com minhas bênçãos incessantes para o trio,

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

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* O Conselho de Supervisores do Condado de San Diego.

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Los Angeles, Califórnia26 de março de 1951

Dr. M. W. Lewis

Querido,

Seu aniversário trouxe uma grande alegria para seus amigos, família e especialmente para aqueles de nós que o conhecemos e sabemos de seu esforço constante para agradar a Deus, Cristo e os Gurus.

Possamos todos nós celebrar ainda muitos de seus aniversários. Feliz Aniversário e Parabéns!

Com todo meu amor e bênçãos,

Muito Sinceramente,

S. Yogananda

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Dr. Lewis ajuda o Mestre a abrir seus presentes de aniversário - 5 de janeiro de 1952

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Encinitas, Califórnia26 de abril de 1951

Mildred e Dr. Lewis

Queridos,

Tudo parece como nos velhos tempos, e muito melhor, já que vocês dois e Brenda estão trabalhando para Deus com tanto afinco. Minha bronca é o amor de Deus, pois neste mundo são poucas as pessoas que cuidam dos outros mesmo quando não têm nada para ganhar em troca.

O seu convite – “volte novamente em breve” – é tão doce, que chega a possuir uma atração magnética. A pobreza e a necessidade são boas, pois nos fazem apreciar a maior das riquezas, que são os nossos verdadeiros amigos.(…)

Muito Sinceramente,

P. Yogananda

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4. Adenda4.1 Carta de Swami Sri Yukteswar

Serampore21 de junho de 1922

Meu Querido Doutor,

Recebi sua carta de 9 de maio. Cordialmente celebro que você tenha avançado tanto na consciência espiritual e apreciado a real verdade da religião. Expresso meus inumeráveis agradecimentos a nosso Pai Todo-Poderoso, por cujas bênçãos meu discípulo Swami Yogananda se tornou uma ajuda para você. Se o nosso Sadhu Sabha conseguir um local em seu endereço para o SatSanga, ficarei extremamente feliz de estar aí com você e desfrutar de uma agradável viagem ao redor do mundo em sua companhia.

Com todo o amor do meu coração,

Eu permaneço,

Muito Sinceramente,

(Ass: Sy Giri [Sri Yukteswar Giri])

(Letra de Sri Yukteswar)

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4.2 Votos de Kriya de Mildred Lewis*

Casa da SatSanga, 10 de janeiro de 1921

Na presença do meu guia espiritual e do Senhor Deus que é seu instrutor, prometo e juro agir de acordo com as seguintes regras.

1. Praticar de manhã e de noite, no melhor da minha capacidade, os exercícios devocionais que o senhor me ensina.

2. Jamais irei revelar as técnicas para qualquer pessoa sem a sua permissão.

3. Tentarei ao máximo seguir seus conselhos, pois o senhor será o meu responsável.

4. Doarei minha vida à caridade e à santidade do corpo.

5. Se divulgar a técnica sem sua permissão, uma extrema miséria se abaterá sobre mim, de acordo com as leis naturais.

6. Irei de todas as maneiras ajudar a divulgar essa causa, pois tenho um débito com todos os seres humanos, visto que, de uma maneira ou de outra, assim como todo mundo, eu recebo a ajuda dos outros. Ajudarei que os demais obtenham este conhecimento divino, se eu mesma descobrir que me beneficiei após tê-lo recebido.

Mildred Margaret Lewis

* Os votos na iniciação de Kriya Yoga que Mildred Lewis escreveu de próprio punho, conforme ditado verbalmente pelo Swami Yogananda Giri, no dia 10 de janeiro de 1921. Ambos assinaram o documento.

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4.3 Carta de Ananda Mohan Lahiri (neto de Lahiri Mahasaya)

Ananda Mohan LahiriU.P. Índia

Sr. Minott W. LewisBox 266 – Eremitério de EncinitasCalifórnia U.S.A.

Senhor, devo desculpas por ter ficado tanto tempo sem tê-lo escrito. Só consegui receber sua carta muito tempo depois, devido à dificuldade de entrega pelos correios.

Tendo em vista que o senhor espera receber de mim alguma informação interessante sobre Lahiri Mahasaya, tenho a satisfação de lhe contar algo que é muito interessante, filosófica e científica também. Pelo que o senhor escreveu, entendi que está praticando Kriya mui regularmente. O senhor já deve ter aprendido algo sobre o “Kutastha” – ‘a visão interna universal’.

Há um poder universal de visão que enxerga através de tudo sem necessidade do instrumento denominado olho animal, ou “Chaksu Indriya”. Este poder de visão está presente em todo lugar, é sempre consciente, sempre atento, cobrindo a extensão do espaço infinito, ele é o próprio espaço ou a causa da idéia de espaço. Um contato real com este poder nos capacita a enxergar todas as coisas através dos olhos humanos, porém apenas de uma maneira limitada.

Este ‘kutastha’ é ‘Bisnu’. ‘Bisnu’ significa aquilo que está presente em todas as coisas e a que tudo permeia. É mais ativo e veloz do que qualquer onda de rádio responsável pelas transmissões de som e imagem nos modernos aparelhos de recepção. Lahiri Mahasaya predisse a um discípulo sobre as presentes descobertas da ciência relacionadas às transmissões de televisão e rádio, e que tais coisas seriam vistas como experiências comuns do cotidiano. Tal era o seu conhecimento.

Agora, qual o segredo que fez dele aquilo que ele era? Esta é a informação mais importante para todos os interessados em sua vida. Se um homem puder dedicar mais de doze horas por dia de atenção ininterrupta em ‘sthiti’ (enquanto cultiva também o hábito de manter grande parte da atenção em ‘sthiti’ nas outras horas – o que é um tipo de atenção dividida necessária para a vida mundana), ele pode perfeitamente ir além de suas limitações e contatar este ‘Bisnu’ ou presença universal de Deus como o poder consciente infinito da visão para enxergar os objetos por todos os lados, à distância, próximo e através deles. Lahiri Mahasaya era um homem prático, de modo que praticou Kriya um pouco mais de 12 horas seguidas por dia, durante mais de 12 anos, para atingir seu estado de super-homem, de maneira que podia enxergar através do olho universal de Deus. Ele previu a independência da Índia, sendo que esta ocorreu exatamente no tempo certo.

Existe na verdade apenas um olho – o próprio poder de visão e este mesmo olho foram descritos na Bíbilia Sagrada como ‘o olho único’! “Se, portanto, o teu olho for único, todo o teu corpo será luminoso”.

Eu ainda não expliquei o que é ‘sthiti’. O que é “Sthiti”? É descanso – descanso concebido como sendo contra ao seu oposto, movimento. Tudo o que se move – percorre de ponto a ponto com um descanso em cada ponto.* Cada ponto possui sua existência no espaço infinito, estando o ponto inseparavelmente relacionado a qualquer outro ponto, sendo que o espaço infinito nada mais é

* “Aquele que percebe a não-ação na ação e a ação na não-ação é o mais sábio.” (Bhagavad Gita)

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do que uma criação do poder divino da visão infinita eterna. De fato, a criação é tão somente a visão da divindade. “Yada as sikhata”, dizem os Vedas, “Então Ele viu”.

Portanto, ‘descanso’ ou ‘Sthiti’ está por detrás de cada ponto da existência e assim também está ‘Bisnu’ por detrás da existência universal. É através de ‘Sthiti’, ou descanso – tão pequeno quanto possa ser – que nós contatamos Deus e todos os seres divinos. Deste modo, podemos ver um Lahiri Mahasaya ou um Cristo no ‘Kutastha’ ou podemos nos tornar um Cristo ou um Lahiri Mahasaya através do contato permanente com o ‘Kutastha’ – o olho único universal, pelo qual podemos ver o corpo interno. É lá que descansamos, encontramos o ‘Sthiti’ ou simplesmente nos rendemos, no ‘Kutastha’.

Esse ‘Kutastha’ pode ser definido como um círculo, ou melhor, como uma esfera, cujo centro está em toda parte e a circunferência em lugar algum, ou seja, não circunscrita por qualquer limitação, é uma coisa repleta de poder infinito, poder de visão, audição, etc. Assim é possível focar o centro em qualquer lugar. É algo mais para ser concebido do que para ser descrito. Se prestarmos bastante atenção – um ‘Sthiti’, por menor que possa ser ao final de cada respiração – tendo em vista que cada ‘sthiti’ ou descanso em cada ponto está universalmente inseparável de cada outro ponto – ele nos fornece um contato universal.

Como o descanso, ou ‘Sthiti’, está inseparavelmente em todo lugar (caso contrário nada conseguiria se mover), então o ‘Sthiti’ está lado a lado com Bisnu, Kutastha ou o olho divino universal. (Como somos finitos, sua infinitude é derramada sobre nós muito gradualmente, e às vezes tudo de uma vez.)

A chave secreta para Sthiti é inata em cada ser humano, e pode ser conhecida especialmente através da Kriya. Um brâmane entra em contato com o olho universal logo em sua primeira atividade diária, ou antes que ele possa oferecer qualquer adoração, e isso é chamado de ‘Achman’, ou a primeira ablução da adoração ou de qualquer serviço religioso. O senhor está sendo ensinado por um instrutor capacitado, e espero que tenha sucesso. Possa ocorrer conforme o senhor espera, e que possamos algum dia nos encontrar pessoalmente. Perdoe-me pela verborragia filosófica a qual me entreguei – ela exige o cérebro de um Einstein para ser compreendida – eu posso ter sobrecarregado o seu cérebro. Eu lhe dou um lampejo do que pode ter feito de Lahiri Mahasaya um Lahiri Mahasaya ou aquilo que ele foi. Não é surpresa que histórias relacionadas a Lahiri Mahasaya sejam tão maravilhosas, pois ele se identificou profundamente com a própria fonte desta misteriosa criação. Estou contente de explicar ao senhor a causa da criação e me abster de narrar seus efeitos. Quando o senhor esperar visitar a Índia? Será juntamente com Swamiji?

O governo ideal é aquele que torna possível para cada homem possuir tempo suficiente para a auto-realização após ter trabalhado no mundo e arranjado as coisas necessárias. A Índia pode conseguir isso através de Paramahansaji e, através da Índia, o mundo irá aprender essa lição – o estabelecimento da paz com a prevenção de todas as guerras futuras. Portanto, ele é muito necessário na Índia para essa grande tarefa.

Com divino amor. Todo seu.

(…) ficarei feliz em saber se Paramahansaji virá para a Índia, pois a Índia o quer.

Sinceramente,

Ananda Mohan Lahiri

[neto de Lahiri Mahasaya]

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4.4. Histórias do Mestre e de Dr. Lewis, contadas por Sr. John Rosser e outros

Dr. Lewis foi um discípulo muito adiantado do grande guru Paramahansa Yogananda, e um de seus primeiros discípulos quando o grande Mestre chegou aos Estados Unidos.

O texto é de John Rosser. O Sr. John Rosser é casado com Brenda Lewis Rosser, filha do Dr. Lewis. Ele trabalhou como secretário de Dr. Lewis, quando este era ministro do Templo de Hollywood.

DR. LEWIS: IOGUE REALIZADO, DISCÍPULO DEVOTADO E CHEFE DE FAMÍLIAEm virtude de sua gloriosa vitória sobre a morte, Jesus nos lembrou de nossa natureza espiritual mais profunda. Todavia, como o Mestre assinala:1 “Assim como Cristo ressuscitou sua consciência do sepulcro das limitações mortais, assim também precisamos aprender, pela meditação, a ressuscitar nossa mente, do túmulo dos desejos materiais e do confinamento ao corpo, para a consciência da onipresença”. Entretanto, muitas vezes pensamos que esse elevado objetivo esteja distante demais daquelas pessoas que, como nós, carregam responsabilidades mundanas enquanto tentam alcançar a meta espiritual da Auto-realização!

O Doutor Lewis, um discípulos muito próximo e amigo íntimo de grande guru, Paramahansa Yogananda, é uma prova de que a meta da Auto-realização pode ser alcançada nesta vida, mesmo pelos que vivem em família. Desde o dia em que o Doutor encontrou-se com o Mestre, em Boston, na véspera do Natal de 1920 (ocasião em que se tornou o primeiro kriyaban da América e lhe foi mostrado o olho espiritual e o lótus de mil pétalas), até sua morte gloriosa, em 13 de abril de 1960, sua vida foi a de um iogue e discípulo exemplar, que seguiu fielmente os passos de seu guru.

Swami Yogananda viveu na casa do Doutor por três anos, antes de embarcar em sua viagem transcontinental que o levou à Califórnia. Quando Paramahansa Yogananda deixou Boston para divulgar seus ensinamentos na Costa Oeste, após compartilhar de sua casa por três anos, o Doutor expressou o desejo de segui-lo. O Mestre, porém, lhe disse para permanecer em Boston, sustentar a família, prover recursos financeiros (para ajudar a missão do Mestre) e dirigir o grupo de Boston. Obediente, o Doutor aquiesceu. Em 1945, recebeu a permissão do Mestre para juntar-se a ele em Encinitas.

Então, o Doutor palestrava em Encinitas e San Diego, sendo também o administrador da Colônia de Encinitas. Após a morte do Mestre, em 1952, Doutor Lewis tornou-se primeiro vice-presidente da Self-Realization Fellowship. Continuou a palestrar em Hollywood, Encinitas e San Diego, chegando a fazer palestras sete dias por semana, além de dar Iniciações em Kriya e ser o responsável pelo treinamento dos monges em Encinitas.

Apesar da sua agenda apertada, sempre reservava tempo para a meditação, guardando um dia da semana para a comunhão silenciosa com Deus, em sua casa em Borrego. A Senhora Lewis colocava espessos cobertores escuros nas janelas de seu quarto de meditação, para que a luz solar não perturbasse a maravilhosa luz espiritual que ele contemplava.

Sua morte, em grande estilo iogue, foi testemunhada por sua esposa, Mildred Lewis, e registrada no livro: Dr. M.W. Lewis: The Life Story of One of the Earliest American Disciples of Paramahansa Yogananda.2

1 “Ressuscite!” – Uma mensagem de Páscoa de Paramahansa Yogananda.2 Dr. M.W. Lewis: The Life Story of One of the Earliest American Disciples of Paramahansa Yogananda, Self-Realization Fellowship, 1960

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O exemplo do Doutor Lewis nos inspira para continuarmos nossos esforços no sadhana. Os ensinamentos e as palavras encorajadoras do Mestre (publicadas no livro Treasures Against Time: Paramahansa Yogananda with Doctor and Mrs. Lewis1) são aplicáveis a todos nós que batalhamos para alcançar o nosso objetivo espiritual enquanto carregamos nossas responsabilidades familiares e mundanas.

Pouquíssimos devotos sabem que Dr.Lewis foi um dos maiores discípulos de Sri Paramhansa Yogananda. Isto foi dito por nosso próprio grande Guru. O Dr. Lewis foi o primeiro kriyaban americano, iniciado por Paramhansaji, e ajudou o Guru de numerosas maneiras. É bem sabido que Yoganandaji e Dr.Lewis eram grandes amigos e nosso Guru costumava passar a maior parte do tempo (durante seus primeiros anos nos EUA) na casa de Dr. Lewis. Um relato comovente do relacionamento de nosso Guru com a família Lewis está apresentado no livro “Treasures Against Time”, da autoria de Brenda Rosser, filha de Dr. e Sra. Lewis.

Nas palavras de Sr. Rosser, genro de Dr. Lewis, “o Mestre disse ao Doutor que dificilmente um devoto alcançaria, nesta vida, seu elevado estado de realização. É claro que, estando eu ao redor dele e de outros discípulos, soube disso desde o princípio. Estamos nos preparando para a nossa meditação longa de Natal, aqui em Rancho Bernardo, em 20 de dezembro. Minha primeira meditação longa foi na companhia de Doutor Lewis, em Encinitas, quando meditamos das 10 horas da manhã até às 10 da noite. Meditávamos quatro horas sem intervalo. Ele sempre via o Olho Crístico nessas meditações. E, em uma ocasião, em Mt. Washington, ele penetrou sua consciência inteira pelo olho espiritual e contemplou incontáveis almas entrando e saindo do mundo astral.”

Depois de receber a diksha do Mestre, Dr. Lewis costumava ver o olho espiritual seguindo adiante dele, enquanto caminhava para o trabalho, em Boston. Foi isso que os sábios do Oriente viram, o olho espiritual seguindo adiante deles até parar e pairar sobre o local onde o menino Jesus estava deitado. Há mais de 400 livros escritos sobre a estrela do Oriente, mas só Guruji a explicou completamente e nos deu os meios e os métodos para que a experimentássemos.

Quando o Mestre deixou o corpo, seus discípulos próximos foram abençoados com a visão de sua presença, mas ao Doutor Lewis de algum modo foi negada essa experiência, apesar de que ele fora seu primeiro discípulo e um dos mais próximos. Todavia, ele não foi logrado, pois certo dia, algum tempo depois, durante uma meditação profunda, uma grande luz surgiu e de dentro da luz vieram estas palavras: “Fui Eu que vim até você na forma de seu amado Mestre”.

Esta página foi criada em memória dos dois grandes amigos: Sri Paramhansa Yogananda e Dr. Lewis. Continuaremos a postar histórias, mensagens e fotografias interessantes, até então não publicadas.

Se tiver qualquer informação a respeito de Dr. Lewis, tenha a bondade de enviá-la para ser publicada.

Por favor, entre em contato com Mr. Rosser em [email protected]

HISTÓRIAS…

Mamãe Lewis (esposa de Dr. Lewis) era uma grande alma. Há um grande número de devotos que tiveram o privilégio de passar um tempo com ela. Todos falam de sua generosidade e amor maternal. Ela era, realmente, todo amor. Conheceu o Mestre em 1920, e viveram na mesma casa junto com o marido e os dois filhos. Partilharam juntos todas as vantagens e desvantagens, os altos e baixos da

1 Treasures Against Time: Paramahansa Yogananda with Doctor and Mrs. Lewis, de Brenda Lewis-Rosser, Borrego Publications, 1992; publicado com a aprovação da Self-Realization Fellowship.

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vida cotidiana. Ela e o marido, Dr. M. W. Lewis, permaneceram firmes e leais ao Mestre e à SRF até o fim de seus dias.

O Dr. Lewis disse-me [Sr. John Rosser] para prestar atenção a tudo que ele dizia, porque ele falava “na Luz”. Fiz o que me mandou, e ainda faço até hoje. Por exemplo, escutamos as gravações das palestras que Dr. Lewis fez anos atrás, quando falava nos Templos de Hollywood e de Encinitas. Foram gravadas em gravador de rolo. Há quarenta anos realizamos meditações em nossa casa. Escutamos uma daquelas palestras todas as noites de terça-feira, antes de meditar.

Começamos essas meditações na casa de Dennis Weaver [o ator], em San Fernando Valley, e depois, quando Brenda e eu nos casamos, compramos uma casa em Hollywood. Nessa época, transferimos as meditações para nossa casa. Agora, em meus anos de aposentadoria, realizamos nossa reunião de meditação na comunidade de aposentados onde vivemos. É o melhor lugar do mundo para se meditar, pois dificilmente um carro passa por perto. Aqui não se ouve televisão, rádio, latidos de cães nem conversas de vizinhos. Até realizamos uma Meditação Longa de Natal. Que alegria!

Convidamos os devotos a participarem dessas meditações.

Mr. John Rosser

DOUTOR E SRA. LEWIS CONHECEM SWAMI YOGANANDA EM BOSTON

O primeiro lugar onde o Mestre palestrou, em Boston (1920), foi uma igreja metodista localizada no bairro onde morava a família Lewis e onde Doutor Lewis trabalhava. Alice Haysey, que tornou-se mais tarde conhecida como Irmã Yogamata, foi uma das primeiras moradoras de Boston a conhecer o Mestre. Ela ficou muito entusiasmada com esse Swami da Índia e convidou sua amiga, Sra. Mildred Lewis, para que viesse conhecê-lo na igreja de sua comunidade. A Sra. Lewis aceitou.

O jovem Swami trocou amenidades com as duas senhoras. Então, falou à Sra. Lewis que gostaria de conversar com ela em particular, e ela o acompanhou. Ele a levou para uma sala adjacente, onde pudessem estar a sós.

A Sra. Lewis disse depois que não se lembra de nada do que o Swami disse ou fez naquela sala, mas ela esteve com ele por quase uma hora. Quando saiu, estava banhada em lágrimas. Não sabe o que aconteceu, mas soube depois que o poder espiritual desse Mestre havia tomado posse de sua consciência e a transformado em todos os aspectos. (Desde esse dia até sua morte, em 1989, Sra. Lewis sempre esteve ao lado do guru. Freqüentemente, quando surgia uma situação em que fosse necessária uma mente forte e discernidora, o Mestre dizia: “Chame Mildred”.)

Após esse encontro, Sra. Lewis encorajou o Doutor para que conhecesse o Swami, apesar de sua grande relutância, até que a Sra. Lewis o convenceu. E desse encontro veio a primeira iniciação em Kriya Yoga na América e o começo da SRF. (A história do primeiro encontro do Doutor com o Mestre pode ser lida em “Treasures Against Time”.)

Logo depois, o Mestre mudou-se com a família Lewis e conviveram juntos, diariamente, até 1923. As crianças foram criadas com “o papai, a mamãe e o Swamiji”, como Brenda mais tarde nos contou.

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O MESTRE ACORDA A VIZINHANÇA EM DUXBURYO Dr. Lewis sempre aguardava ansioso suas férias em Duxbury, porque eram uma mudança radical em sua rotina de trabalho, como dentista, na ocupadíssima cidade de Boston. Em 1932, em um fim de semana, ele estava particularmente ansiando por repousar ali, porque sofria de dores terríveis nos rins. Nunca contou a ninguém sobre essas dores, mas a Sra. Lewis notou que ele se deitava durante horas no divã de sala, na companhia de sua pequena cadela.

O Mestre estava palestrando em Nova Iorque.

Às 3 horas da manhã, a Sra. Lewis ouviu a voz trovejante do Mestre chamando por Doutor Lewis. O Mestre sabia que estavam em Duxbury, mas não sabia o endereço exato. Parecia que o Mestre estava acordando o bairro inteiro. Finalmente, a Sra. Lewis conseguiu chamar a atenção dele e o conduziu para casa.

Alguns devotos tinham-no levado de carona, desde Nova Iorque até Duxbury, e o deixaram na entrada da pequena comunidade. O bairro inteiro tinha ouvido o Mestre e, depois, as pessoas perguntaram se o “Swami de Nova Iorque” havia encontrado o Doutor Lewis.

O Mestre diagnosticou o Doutor e, em seguida, lhe deu uma técnica que Lahiri Mahasaya ensinara a Sri Yukteswarji que, por sua vez, ensinou ao Mestre. Tinha a ver com a aplicação de compressas frias em certas partes do corpo. A técnica do Mestre funcionou, e o Doutor expeliu algumas pedras dos rins, que eram extremamente dolorosas; porém, depois de usar a técnica, ele nunca mais foi incomodado por elas. Oh, com que freqüência Mestre aparecia na hora exata em que eles mais precisavam!

“TARZAN”

O Doutor e Guruji foram ver Johnny Weismuller num filme de “Tarzan”, em Boston, e gostaram muito. Trocaram pilhérias a respeito do filme. Doutor comprou uma tanga de couro, estilo Tarzan, e um dia, quando Guruji estava sentado no gramado da casa dos Lewis, o Doutor deu um grito de Tarzan e pulou de uma janela alta sobre a grama. O susto de Guruji foi tão grande, que ele caiu da cadeira. Não conseguia voltar para a cadeira, de tanto rir. Então, insistiu para que o Doutor repetisse várias vezes a cena de que ele gostou muito. “Faça de novo, Doutor!” insistia.

Os dois eram excelentes amigos, e faziam muita palhaçada juntos. Também falavam durante horas sobre filosofia, freqüentemente até o dia amanhecer. A Sra. Lewis tentava ficar acordada, mas quase sempre dormia na cadeira, porém com os olhos arregalados. Levou anos para o Doutor e o Mestre notarem que ela estava dormindo de olhos abertos. O Mestre admirou a capacidade que ela tinha para isto, e ficou orgulhoso.

Depois que o Doutor morreu, ela percebeu que muitos conselhos e a sabedoria que Guruji e Doutor conversavam voltavam do estado de sono à sua mente consciente. Desse modo, ela havia absorvido tudo, afinal de contas.

“REVOGADA”Voltando aos primeiros dias em Boston, quando o Mestre vivia na casa dos Lewis, havia muita controvérsia na cidade a respeito de um homem condenado. A cidade estava dividida a respeito de sua culpa. Foram apresentados à corte um apelo após outro, para obter a anulação da pena, mas nenhum foi aceito. Então, o último apelo foi encaminhado ao governador e foi declinado. O Doutor era a favor do homem condenado, certo de que não era culpado. O Doutor perguntou ao Mestre se Ele poderia fazer alguma coisa a respeito, e o Mestre foi para seu quarto, dizendo: “Vamos ver…”

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De manhã, quando o Doutor abriu o jornal, só havia uma palavra na manchete: “REPRIEVED” (“REVOGADA”). A cidade pensou que o governador mudara de idéia, mas o Doutor sabia, em sua alma, que fora a intervenção do Mestre.

ÁGUA, SANGUE E ESPÍRITO

Uma vez, em seus primeiros anos juntos, o Mestre convidou Dr. Lewis para comparecer com ele a uma recepção social. O Doutor explicou que tinha obrigações de família, que o forçavam a recusar o convite, apoiando sua explicação com o ditado: “O sangue é mais espesso que a água” (quer dizer, as relações familiares são mais fortes que as relações sociais). “Sim”, disse o Mestre, “mas o Espírito é mais fino que o sangue” (isto é, o relacionamento espiritual com o guru transcende a todos os outros, inclusive os da família). O Dr. Lewis compreendeu e foi com o Mestre para a recepção.

O MESTRE CURA MAMA LEWISNo verão de 1935, a Sra. Lewis estava ajudando a retirar o barco do reboque, para lançá-lo à baía de Duxbury. De repente, o peso do barco se deslocou e ela se descobriu tentando equilibrar todo aquele peso sozinha. Ela caiu ao chão. Levada às pressas à casa dos Lewis, perto, o médico local trouxe à família más notícias. O peso do barco provocara um severo ataque cardíaco.

Se apenas o Mestre estivesse aqui, suspiraram. Mas ele estava na Índia… muito longe para ser alcançado.

A Sra. Lewis foi levada de volta à casa em Boston e recebeu ordens estritas. Não podia subir ou descer escadas, e tinha que limitar-se a caminhar no mesmo andar e aderir ao regime médico. O Doutor Lewis ficou ainda mais abalado quando soube que o prognóstico de vida seria, provavelmente, de apenas dois anos. As crianças foram colocadas num internato.

Finalmente, o Mestre foi localizado e informado do prognóstico. Quando soube dos dois anos, ele disse: “Cuidaremos disso”.

Com a receita do Mestre para sua recuperação e o poder espiritual dele, a Sra. Lewis começou a melhorar. E não demorou muito antes que estivesse vivendo uma vida normal.

Quando se mudou para a Califórnia, um cardiologista foi chamado para diagnosticar o problema. Ela confidenciou a ele que havia recebido uma cura espiritual e ele acreditou, porque conhecia Yogananda. O médico reconheceu que havia algo diferente no coração dela, mas nunca discutiu o assunto, porque ela estava vivendo como qualquer um de coração normal.

O MESTRE CURA OS DEDOS ESMAGADOS DO DOUTOR

(Como foi contado pelo próprio Dr. Lewis)

“A seguinte experiência pessoal mostra que uma mente poderosa pode impedir, mesmo na mente de outra pessoa, a formação de um padrão que teria causado uma mudança indesejável na matéria.

“Um dia, vários anos atrás [1938], Paramahansaji e eu tínhamos acabado de chegar a Mt. Washington em seu automóvel. Ele saiu do carro e entrou no edifício. Quando eu estava saindo, a porta de carro foi batida acidentalmente sobre meus dedos médio, anular e mínimo, até a segunda articulação. O automóvel era de uma época em que teria sido impossível prender os dedos na porta sem esmagá-los. Os meus ficaram achatados e dobrados com a mesma forma do umbral da porta; a dor física foi excruciante. Mas houve também grande sofrimento mental; porque eu estava bastante certo de que seria preciso hospitalizar-me, o que me impediria de voltar no dia seguinte para Boston, como estava planejado.

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“O Mestre, que nessa altura já estava no andar de cima do prédio de Mt. Washington, foi imediatamente informado de minha situação. A partir daquele momento, formou-se uma parede entre a minha consciência e a mão machucada. Quando eu atravessava a parede momentaneamente, sentia extremamente a dor; por isso, estava perfeitamente disposto a permanecer atrás da parede! Havia em minha mente um pequeno receio de que alguém tocasse minha mão, assim eu a mantinha junto ao peito, dentro do casaco; e isto foi tudo que fiz.

“Naquela noite, fomos em grupo assistir a uma apresentação no Hollywood Bowl. Tão completo fora o cuidado do Mestre, que pude ir com eles. No dia seguinte, tomei o café da manhã e jantei com o Mestre, mas ele não deu qualquer atenção ao meu problema. Fiquei satisfeito em deixar como estava, e não disse nada. Naquela noite, parti de trem para a Costa Leste, ainda sem pensar no machucado. A parede ao redor de minha consciência ainda estava lá. Na manhã seguinte, durante o desjejum, reuni bastante coragem para olhar minha mão. Os dedos estavam com a forma e o tamanho normais. Tudo que permaneceu foi uma pequena nódoa azulada em dois dos dedos. Não havia fratura.

“Esse foi um exemplo de cura quase instantânea da matéria. A mente poderosa do Mestre, sintonizada com o Poder de Deus, havia impedido que a fratura fosse aceita por minha mente. Fui desse modo poupado de muita dor e dificuldade.”

O MESTRE SALVA A VIDA DE BRENDA

Em 1950, Brenda descobriu que tinha um crescimento na glândula de parótida. Era preciso cirurgia. Era um caso extremamente sério, porque poderia ter resultado em paralisia da face ou até mesmo a morte.

O Dr. Lewis ficou aliviado quando, após a cirurgia, ela conseguiu falar, embora toda a sua cabeça estivesse coberta por bandagem, mostrando assim que não houve paralisia dos nervos faciais.

Mais tarde, o Mestre falou a Doutor Lewis que, carmicamente, chegara a hora de Brenda deixar este plano terreno, mas que ele havia pedido a Deus que mudasse aquele sonho. Dizendo isto, o Mestre concluiu: “Agora ela terá uma vida longa e feliz. Seu caminho está aberto, agora e por toda a Eternidade.”

Antes que ela deixasse a colônia, fez uma meditação profunda. Seu pai lhe pediu que descrevesse o que ela contemplara na meditação. Ao ouvir o que ela experimentara, o Doutor disse: “Você contemplou as praias da Consciência Cósmica”.

LEGUMES MÁGICOS…O Doutor obteve grande parte de seu conhecimento a respeito dos ensinamentos da SRF, da ioga e das verdades eternas, caminhando de um lado para outro, no gramado do Eremitério de Encinitas, na companhia do Mestre.

Uma noite, depois de uma conversa particularmente maravilhosa com o Mestre, o guru disse que estava ficando tarde e sugeriu que fossem à cozinha para comerem um pouco. O Mestre preparou alguns legumes frescos que, segundo o Doutor, foram os legumes mais deliciosos que já havia comido.

Depois de comerem, deram-se boa-noite e foram para seus respectivos quartos. Quando o Doutor abriu a porta do seu quarto, ficou tomado de assombro: o quarto inteiro estava cheio de uma grande luz divina.

Na manhã seguinte, o Doutor perguntou ao Mestre a respeito daquela luz. O Mestre disse: “Eu estava totalmente submerso em Deus quando cozinhei aqueles legumes!”

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A CASA DE FAZENDAEra costume do Mestre levar consigo seus discípulos trabalhadores para uma férias ocasionais. Isto requeria dois carros e uma viagem por algumas das paisagens majestosas da Califórnia. O Dr. Lewis, a Sra. Lewis e Brenda iam num carro junto com o Mestre e Daya Ma. Ananda Mata, Mrinalini Mata e Uma Mata geralmente iam no segundo carro.

O Mestre parecia adorar as High Sierras e dizia que seus contrafortes o faziam lembrar do Himalaia, particularmente as Sierras orientais, onde se pode ver Mt. Whitney, a montanha mais alta dos Estados Unidos. Os produtores de filmes pensavam assim também, pois o filme Gunga Din foi filmado ali, por causa de sua semelhança com a Índia.

Era logo depois da Segunda Guerra Mundial, quando os motoristas estavam finalmente livres do racionamento da gasolina; assim todos estavam ansiosos por dar um passeio com o Mestre.

Em um destas viagens, em 1948, eles foram de carro pela rodovia US 395, passando por Owens Valley, Independence, Big Pine e Bishop até chegarem à cidade de Bridgeport, a jóia das cidades das Sierras. Não era muito povoada naqueles dias, consistindo principalmente de grandes sítios espalhados e bem distantes uns dos outros. Isso foi antes da época dos ubíquos motéis de beira de estrada, mas havia pequenos hotéis e outras instalações para turistas. Mas nesta viagem em particular, seus esforços para acharem acomodações durante a noite não tiveram êxito e a comitiva inteira começou a se perguntar se teriam de dormir nos carros durante a noite.

O Mestre divisou uma luz distante, além de um imenso campo. Parecia vir de uma casa de fazenda. Foram até lá. Quando chegaram, o Mestre disse à Sra. Lewis que fosse ver se havia quartos para os viajantes cansados. A Sra. Lewis resistiu, dizendo que era uma casa de fazenda particular, e ninguém pensaria em hospedar dois carros cheios de viajantes. Mas o Mestre insistiu, e assim a Sra. Lewis obedeceu. Foi até a porta e bateu. Uma senhora muito amigável abriu a porta. A Sra. Lewis explicou que sua comitiva não conseguira encontrar acomodações para passar a noite e perguntou se ela teria um quarto ou dois que pudesse alugar.

A gentil senhora espiou os carros lá fora, cheios de viajantes, e disse: “Por favor, traga todos os seus amigos e ocupem os quartos da casa. Há bastante quartos para todos. Eu dormirei no quarto de empregados.”

O Doutor Lewis olhou para o Mestre, com ar de quem sabia de tudo. Uma vez mais, a Mão de Deus era evidente. Doutor Lewis freqüentemente dizia: “Deus faz as coisas tão bem”.

O PRIMO DICK

Dolly, tia de Brenda e irmã do Dr. Lewis, era seguidora do Mestre. O Mestre a chamava de “anjo”. Quando foi iniciada pelo Mestre em Kriya Yoga, viu a pequena estrela do olho espiritual. Foi ela que, no funeral do Doutor Lewis, em Forest Lawn, percebeu uma grande rajada de vento soprar sobre os caramanchões de flores, perto do caixão, e então viu seu irmão aparecer. Diz-se que as almas evoluídas sempre assistem a seu sepultamento.

Tia Dolly e o marido eram visitas freqüentes à casa dos Lewis e foram vizinhos em West Somerville, um subúrbio de Boston, quando o Mestre vivia com a família Lewis, em Eletric Avenue. Tia Dolly tinha dois filhos, um menino e uma menina. Seu filho mais moço, Dick, sempre foi atraído pelo Mestre, mas era muito jovem para compreender a mensagem do guru naquela época; não obstante, teve a bênção de crescer naquele ambiente espiritual muito forte. Mais tarde, passou uma semana em Mt. Washington, na companhia de Mestre, durante os feriados do Natal e, depois, um verão em Encinitas, quando escreveu sua tese: “Vivendo a vida da SRF no mundo”.

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Durante a Segunda Guerra Mundial, primo Dick alistou-se na marinha e foi colocado à bordo do couraçado Iowa. Preparando-se para entrar no conflito do sul do Pacífico, em 1943, o Iowa ficou ancorado em Long Beach, para se abastecer de combustível e suprimentos. Levaria vários dias e, assim, primo Dick telefonou para o Mestre, que estava no Templo de Hollywood. O Mestre convidou-o para vir ao templo e conversarem, o que Dick fez com entusiasmo.

O Mestre conhecia o rapaz desde a infância e assim o recebeu de braços abertos; logo em seguida, iniciou-o em Kriya Yoga. Primo Dick ficou tão cativado por esse encontro e com a grande elevação espiritual que sentira na companhia do Mestre, que quis ficar com o guru e tornar-se monge. Não, disse o Mestre, ele precisava voltar para o navio e servir o país, acrescentando que seria protegido.

E protegeu ele foi, pois o grande couraçado lutou em uma das batalhas mais encarniçadas do Pacífico Sul. Em uma ocasião, primo Dick viu todos os seus colegas de bordo serem metralhados diante de seus próprios olhos, mas ele permaneceu incólume.

Primo Dick tornou-se pediatra depois da guerra e exerceu a medicina em Plymouth, perto da casa da família Lewis, em Duxbury. Diz que sente o manto da proteção do Mestre até hoje.

O Mestre prometeu que aqueles que recebem a Kriya Yoga e o seguem serão protegidos, juntamente com suas famílias. Doutor Lewis acrescentava que uma das maiores bênçãos na SRF é a proteção que se sente na Presença de Deus.

O MESTRE VAI AO CINEMA

Nos anos 1940, depois do serviço dominical em San Diego, o Mestre convidava os devotos para irem ao cinema com ele. Freqüentemente, a casa estava cheia, mas quando o Mestre achava um assento, os fregueses costumeiros, já sentados, de algum modo trocavam de lugar, deixando amplo espaço para a comitiva do Mestre se sentar. (O Doutor dizia que era porque não podiam suportar as vibrações elevadas do Mestre.)

Durante o filme, o Mestre freqüentemente pedia a Mamãe Lewis que massageasse os pés dele, o que ela fazia, apesar de sentir-se muito embaraçada! Mamãe resistia, mas o Doutor sempre lhe dizia: “Será melhor fazer o que o Mestre diz”. O Mestre fazia isto para quebrar o ego dela…

Um dos filmes que o Mestre realmente gostava era “A Canção de Bernadete”. No filme, Santa Bernadete tem a visão de Nossa Senhora – o Mestre disse que a representação da Mãe Divina correspondia exatamente à realidade. Disse também que a atriz Jennifer Jones seria transformada permanentemente por ter feito esse papel. Confirmando as palavras do Mestre, ela às vezes vem visitar o Santuário do Lago…

Outro filme a que eles assistiram foi “Dubarry Was a Lady”. Há uma cena em que Red Skelton retrata Luís XV rolando da cama e caindo de cara no chão. O Mestre caiu na gargalhada – e ele mandou que todos os devotos continuassem sentados para a segunda exibição, só para verem a cena novamente! O Mestre estava sempre feliz e queria ensinar os devotos no caminho espiritual a não levarem tudo tão a sério.

COMENDO FORA COM O MESTREO Mestre preferia ir a drive-ins, como o Brown Derby, para que pudesse comer sem ser reconhecido. Um dia, uma garçonete se aproximou para anotar o pedido. O Mestre perguntou-lhe que igreja ela freqüentava. Ela disse que freqüentava uma igreja católica. Ele lhe disse: “Muito bem. Continue nela.” O Mestre nunca exibia sua religião e nem queria perturbar as pessoas que estavam firmes em sua fé particular.

Quando o Mestre comia em restaurantes, sempre ia à cozinha para dar uma gorjeta ao chefe e agradecer-lhe pelo bom trabalho!

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O MESTRE SE LEMBRA…

Quando Yogananda regressou à sua pátria para uma visita, em 1935, Bradford Lewis o acompanhou na primeira etapa da viagem. Bradford esteve com o Mestre na Torre de Londres, quando o Mestre disse ao guarda que havia um lavatório no final de um corredor. Mas o guarda objetou, dizendo que a Torre fora mapeada durante mais de 1.000 anos e que não havia tal lavatório. O Mestre disse: “Siga-me”, e levou o guarda até um lavatório secreto que estava escondido atrás de uma parede falsa.

Mais tarde, Bradford acompanhou o Mestre até Stonehenge. Há, no local, um círculo de monolitos, cujo significado nunca foi realmente explicado. O Mestre pôs-se de pé em cima de um deles e contou a Bradford que tinha vivido lá, 3.500 anos atrás…

SUANDO SANGUEDurante os anos de 1920, era possível comprar ações no mercado sem investir muito dinheiro… Chamavam isto de comprar na margem. Todos estavam se divertindo com a contínua elevação do mercado e, assim, o Doutor pensou em entrar e ganhar algum dinheiro para o trabalho do Mestre. Ele entrou com toda, investindo $500,000.00 que, em moeda corrente, representava vários milhões. Mas o mercado de repente caiu. Mamãe Lewis disse que o Doutor estava suando sangue, pois como poderia um modesto dentista recuperar tanto dinheiro? Enquanto estava na tensão da situação, o Mestre entrou na sala. O Doutor ligou o rádio para ouvir a notícia da bolsa de valores e descobriu que o mercado tinha voltado a subir, e ele foi salvo. O Mestre permanecera tranqüilo durante toda a provação. O Doutor lhe perguntou: “Como pôde ficar tão tranqüilo quando estávamos quase encarando a ruína financeira?” O Mestre disse, serenamente: “O mesmo Pai que me protege, protege você também. Ele é o nosso Pai comum.”

O Doutor disse, depois: “A maior de todas as seguranças é a proteção de sentirmos a presença de Deus”.

BANCOS FECHADOS

Durante a depressão, em 1933, todos os bancos estavam fechados. Mamãe Lewis ficou com medo por seus filhos, pois não tinham nenhum dinheiro em mão e não havia meios de adquiri-lo. Ela telefonou para o Doutor, que estava no consultório. Ele respondeu para que ficasse de olho na máquina de costura. Quando chegou em casa, ela abriu a máquina e dentro dela havia dinheiro suficiente para mantê-los, até que os bancos se abriram novamente.

Como disse o Doutor uma vez: “Uma das maiores coisas que temos na SRF é a grande segurança que sentimos na Presença de Deus”.

O CARNEGIE HALLDurante a primeira década de nosso Mestre na América, ele falou em muitos dos grandes salões de concerto do país, não sendo o menor deles o Carnegie Hall, onde a audiência cantou “Ó Formoso Deus” durante horas. O Mestre disse que, onde quer que um santo tenha comungado com Deus, o que ele obviamente fizera naquela noite, cria-se uma vibração que durará até o fim deste ciclo na Terra. E assim, apesar de muitos esforços para se demolir o Carnegie Hall original, ele ainda permanece de pé, exatamente como era naquela noite memorável.

Andrew Carnegie, grande industrial e filantropo escocês, sentia que em algum lugar, no meio do imenso distrito financeiro e centro de negócios da América, deveria ser construído um centro cultural. No final do século 18, ele planejou e construiu o Carnegie Hall, que hoje se ergue na esquina da Sétima Avenida com a 57th Street, em Manhattan.

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Foi inaugurado em 5 de maio de 1891 para um festival de música conduzido por Tchaikovsky. Durante os primeiros concertos, Beethoven imperava supremo, e Wagner era seu herdeiro moderno. Bach e Mozart praticamente não eram tocados.

Mas, ao longo dos anos, todas as grandes personalidades tocaram lá. Paderewski tocou ali seu primeiro concerto na América. Leopold Stokowski, Victor Herbert e Strauss lá se apresentaram. Em anos mais recentes, George Gershwin, Paul Whiteman e Madame Schumann-Heink subiram ao palco. Jack Benny conseguiu tocar seu violino em 1956, e Danny Kay finalmente se apresentou em 1958.

Personagens importantes de outros campos falaram naqueles salões consagrados, como Mark Twain, Albert Einstein e Winston Churchill. Woodrow Wilson falou a favor de sua campanha pela Liga das Nações, em 1919.

Parecia, porém, que em 1960, o palácio histórico seria demolido, até que Isaac Stern criou uma coalizão de patronos, num esforço de transferir a posse para a Cidade de Nova York. Tiveram êxito e, assim, em abril de 1960, o governador Nelson Rockefeller assinou os documentos que salvaram o Carnegie Hall da demolição.

Em 18 de abril de 1926, Swami Yogananda inaugurou lá sua série de aulas. O sucesso foi tremendo. O Carnegie Hall estava completamente lotado, e mais de mil pessoas não puderam entrar, e só foram embora depois que a polícia foi chamada para conter as multidões que cercavam o local. As 3.000 pessoas que conseguiram entrar estavam fascinadas.

Um crítico de jornal escreveu: “Nunca, em toda a minha experiência, encontrei tamanho interesse e entusiasmo em resposta às palavras de Yogananda”.

E por que não? Nosso Mestre deixara postes indicadores e práticas para que possamos encontrar Deus, não como um pensamento ou uma idéia, mas como uma realidade vital, viva, pragmática.

CRIANCINHAS

Depois que o Mestre desembarcou em Boston, não demorou muito para ele começar sua excursão de conferências. Um dos primeiros lugares onde falou foi o famoso Symphony Hall, em Boston. Havia na cidade muito interesse nesse homem da Índia, que falava no grande salão de concerto e esperava-se uma grande multidão. O Dr. e Sra. Lewis também estavam excitados, com a expectativa de ouvirem seu guru falar às multidões.

A Sra. Lewis estava preocupada com seus dois filhinhos, Bradford e Brenda. O Mestre lhe disse que trouxesse os dois para a conferência, e providenciassem para que ficassem acordados, pois assim seriam receptivos às palavras e à consciência daquela noite, as quais ficariam permanentemente gravadas nas almas deles.

Anos depois, o Doutor Lewis batizou duas criancinhas, no Templo de Hollywood. Disse que as duas crianças ficavam esfregando as testas, tentando apagar a sensação que experimentavam ali, provocada pela Vibração Divina. O Doutor sempre gostava de batizar as crianças, porque dizia que haviam acabado de chegar a este mundo, renovadas por Deus, e eram mais receptivas que os devotos mais velhos, cuja consciência já fora manchada pelo mundo.

A TENTATIVA DE ASSALTODurante a depressão, havia menos crimes do que em tempos comuns, embora sempre houvesse aqueles que espreitavam para conseguir algo de graça. Os consultórios de dentista, com seu estoque de ouro, eram sempre o alvo predileto.

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Um dia, enquanto o Doutor estava atendendo um paciente, um estranho entrou. O Doutor viu, imediatamente, que o homem portava uma arma e, obviamente, tentaria assaltá-lo. Mas o Doutor havia aprendido com o Mestre que a vibração do homem de realização pode repelir o mal e, assim, fitou o pretenso ladrão nos olhos e concentrou nele o olhar. O homem ficou muito nervoso e no momento seguinte, largou a arma e saiu do consultório.

O mal não tem força que possa superar a vibração divina.

O PELICANO

Um dia, o Mestre, o Doutor, Mamãe Lewis e Daya Mata foram fazer um piquenique numa praia da Califórnia. No caminho para a praia, depararam-se com um pelicano morto, ou quase morto.

Disse o Doutor (como sempre fazia em situações como esta): “Mestre, pode fazer alguma coisa?”

O Mestre disse: “Acho que sim”. O Mestre trazia sua bengala. Começou a catucar gentilmente o pelicano. A ave então sacudiu uma parte de seu corpo, depois outra, até que se levantou e saiu voando.

PEIXE GRANDE – LAGOA PEQUENARecentemente um labro de boca grande foi pescado em San Diego, no Lago Dixon, quebrando todos os recordes em tamanho de qualquer peixe previamente capturado.

Lembramos de uma época em que o Mestre quis um grande labro para a sua lagoa em Encinitas e enviou Doutor Lewis para um dos lagos ao redor de Rancho Santa Fe, os quais estão agora, é claro, privatizados. Em todo caso, o Doutor levou consigo um grande caldeirão para carregar o prêmio piscatório, e um jovem para remar o barco.

O Doutor seguiu implicitamente as instruções do Mestre no que dizia respeito a isca, aparelhagem e localização, mas nenhum de seus esforços parecia atrair a criatura que habitava as profundezas do lago.

Finalmente, o jovem que estava remando o barco disse que não adiantava continuar, pois nenhum peixe estava mordendo a isca, especificamente o peixe que o Mestre queria. Sugeriu que fossem para outra parte do pequeno lago, mas o Doutor disse que não. O Mestre lhe dissera o lugar exato onde a pesca seria feita e ele não sairia de lá. Quando o sol começou a se pôr, o jovem pensou que finalmente voltariam para casa, mas enquanto os últimos raios do sol desapareciam no oeste, um gigantesco labro mordeu a isca. O Doutor deu-lhe corda o mais que pôde e, então, o jovem lançou a rede, tirou-o da água e o colocou no caldeirão.

Quando Dr. Lewis voltou a Encinitas, o Mestre estava à janela e o chamou: “Conseguiu pegá-lo, não foi, Doutor?”

Às vezes nosso Mestre nos diz que façamos coisas que não queremos fazer. É então que precisamos colocar o ego de lado e dizer: “Seja feita a Tua vontade”.

DIETA & IOGA

Um das primeiras mudanças que o discípulo faz quando entra no caminho espiritual da SRF diz respeito à dieta. O Mestre defendia a alimentação adequada de acordo com constituição de cada um. Alguns devotos, entrando no caminho um pouco mais tarde, descobrem que omitir de uma vez toda proteína animal tem um efeito adverso sobre o corpo. E assim, nosso Mestre prescrevia mudanças para cada indivíduo, como, por exemplo, submeter a Sra. Lewis a uma dieta vegetariana durante 12 anos e depois instruí-la para que comesse um pouco de carne de carneiro. Voltar ocasialmente à proteína animal também era recomendado a alguns discípulos monásticos. O Mestre guiou a Sra.

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Lewis em detalhes desde o começo, e assim, em anos posteriores, os devotos a procuravam para serem aconselhados sobre os hábitos de alimentação. Quando ela viu que os lábios de uma devota estavam ficando azulados e a pele, transparente, recomendou que a proteína animal fosse incluída em pequenas doses na sua dieta. O conselho foi aceito e seguido, e a situação se corrigiu.

Doutor Lewis freqüentemente dizia que apenas 60% da proteína animal é utilizada pelo corpo, enquanto que a porcentagem restante flutua na corrente sangüínea na forma de toxinas. Nas antigas lições e velhas revistas havia muitas receitas para substitutos da carne que os devotos usam até hoje.

Sri Yukteswarji em seu livro The Holy Science (“A Ciência Sagrada”) escreve que, nos seres humanos, verificamos que seus sentidos de olfato, etc. nunca os conduzem a abater animais; ao contrário, eles não podem suportar sequer a visão de tais matanças. Sempre se recomenda que os matadouros fiquem bem afastados das cidades, e os homens, com freqüência, aprovam leis estritas, proibindo o transporte a descoberto de carnes para consumo. Pode a carne, então, ser considerada o alimento natural do homem, se tanto seus olhos quanto seu nariz são tão contrários a ela, a menos que disfarçada pelo cozimento com temperos, sal e açúcar? Por outro lado, quão delicioso achamos o aroma das frutas, cujo simples olhar nos enche a boca d’água!

Sri Yukteswarji nos deixa uma equação final sobre o assunto, quando defende qualquer dieta simples, não-irritante.

Há, porém, outro aspecto da dieta a que o iogue está atento. É o fluxo da força vital, ou prana, para o bulbo raquiano e, daí, para o lótus de mil pétalas. Lá, o prana é armazenado para ser usado quando preciso pelos órgãos, células e tecidos. A ordem divina programou a energia de tal maneira que ela flui primeiro para os chakras, de onde a inteligência onisciente a libera e envia para atender às diversas funções dos três corpos. Quando este fluxo do prana é harmonizado, o iogue pode então comer quase tudo, pois o corpo será capaz de utilizar o que come da melhor maneira. Como um exemplo, o Mestre falou que o Doutor Lewis já podia comer qualquer coisa porque, devido a seus longos anos de meditação e comunhão com Deus, o fluxo do prana estava completamente harmonizado.

Uma dieta vegetariana completa só deve ser seguida quando a pessoa estudou as necessidades nutricionais do corpo e as fontes de proteína que estão disponíveis. A maioria delas são tratadas nos ensinamentos da SRF.

Outra coisa: o Mestre disse que a diferença entre um homem mundano e um homem de realização é maior que a diferença entre um homem mundano e um animal.

RAJARSI JANAKANANDA MEDITANDO

O Mestre estava caminhando com Dr. Lewis pelo gramado de Encinitas quando avistaram Rajarsi meditando. O Mestre disse: “Um iogue meditando assim faz mais bem para o mundo do que todos os líderes mundiais, humanistas e políticos juntos”. Fazendo um sinal para fazer silêncio, o Mestre desviou o caminho e foi com o Doutor para outro lugar.

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CLARIVIDÊNCIA (DUAS HISTÓRIAS CONTADAS POR BR. MOKSHANANDA)Doutor Lewis costumava contar a história de quando ele estava uma vez caminhando com Paramahansaji em San Diego e, a uma grande distância, na rua, havia uma placa cujos dizeres o Mestre leu em voz alta. Doutor disse que embora estivesse usando óculos, mal podia ver a placa, para não mencionar lê-la! E quando chegaram à placa, viu que era examente como o Mestre a descrevera. Então, o Guru lhe disse que cada um dos sentidos – visão, audição, etc. – podia ser sutilmente desenvolvido. Nas Lições da SRF, ele explica que o poder dos sentidos pode ser expandido até transformar-se em clarividência, clariaudiência e as outras formas do que chamamos “percepções extra-sensoriais”. Elas se manifestam quando a intuição é despertada.

Em um Natal, Dr. Lewis deu uns chinelos de presente para o Mestre. Fez um embrulho quadrado e disse: Aposto que o senhor no sabe o que é este presente. O Mestre apontou para seus pés.

RECORDAÇÕES DO DR. LEWIS

O Doutor Lewis uma vez me falou de uma experiência que teve em consciência cósmica, nos termos mais humildes. Disse que podia ver acima, abaixo e ao redor dele; então disse, com simplicidade: “Foi a coisa mais inusitada”.

Meditando perto do Doutor, a pessoa tinha meditações maravilhosas. Eu lhe perguntei sobre isto e ele simplesmente disse: “Você estava próximo do instrumento”.

Uma vez, eu estava tendo dificuldade de ver o olho espiritual. Foi durante um serviço noturno, no Templo de Hollywood, que ele conduzia. Ele tirou do bolso uma tira da túnica de Sri Yukteswarji e pressionou-a firmemente em meu centro crístico; isto resolveu o problema.

Quando era jovem, eu sempre esperava Dr. Lewis chegar de carro no Templo de Hollywood, onde ele palestrava uma vez por mês. Na época, eu estava tendo muitos problemas com o mundo e com a vida espiritual, e estava bastante deprimido. Uma noite, ele chegou de carro e olhou-me nos olhos, e todo o meu problema desapareceu imediatamente. Nunca estive tão feliz. Acho que é isto o que se chama na Índia de darshan.

A HISTÓRIA DO PRIMEIRO ENCONTRO DA IRMÃ YOGAMATA COM O MESTREComo foi narrado pela Sra. M.W. Lewis

A Irmã Yogamata, na época Sra. Ward B. Hasey, era uma participante muito ativa na Igreja Unitária de Massachusetts, em West Sommerville, antes do Mestre ter chegado à América. Algum tempo após o Mestre ter participado do Congresso de Religiosos Liberais, ele foi convidado pelo pastor da Igreja Unitária para conhecer a igreja, mas não para falar, apenas como visitante.

O Mestre fez a visita em um domingo de manhã. De alguma maneira, o Mestre conseguiu encontrar o caminho desde Boston até aquela área suburbana ao norte da cidade. Curiosamente, a igreja ficava na mesma quadra em que o Doutor Lewis morou em sua infância e onde o Mestre visitou o pai do Doutor anos mais tarde.

Naquele domingo em particular era lembrado o aniversário da morte da mãe de Irmã Yogamata. Ela tinha falecido um ano antes, de modo que naquele domingo a Irmã colocou sobre o altar um arranjo de flores em sua memória. Ela havia entrado pela porta lateral, de onde estivera arrumando as flores em um balcão. No momento em que se virou para sair, ela viu um cavalheiro de pele escura e turbante alaranjado, sentado na primeira fila. Ela com freqüência relembrava o quão atônita ficou ao ver o Mestre pela primeira vez. Como tinha estudado misticismo, primeiramente pensou que estava tendo uma visão; contudo, ao se aproximar dele e cumprimentá-lo, ele imediatamente a fez sentir-se à vontade e então contou a história de como veio a conhecer a igreja.

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Tendo pensado nele o tempo inteiro na igreja, a Irmã foi imediatamente procurá-lo depois dos serviços e então lhe perguntou se poderia visitar sua casa, para conhecer seu marido e alguns amigos. O Mestre aceitou o convite. Já na casa da irmã, dois dos amigos dela demonstraram bastante interesse pelo Mestre e subseqüentemente compareceram às aulas e palestras que ele posteriormente ministrou.

Imediatamente após a visita, a Irmã ligou para o Doutor Lewis e lhe contou sobre aquele swami hindu, sendo que arrumou uma ocasião para eles se encontrarem em Boston, onde na época o Mestre morava na Unity House e onde morou até o início de 1921. “Muito estranhamente, eu havia encontrado o Mestre antes de tudo isso ter acontecido”, escreveu a Sra. Lewis.

Em l921, o Sr. e a Sra. Hasey abriram sua casa para o Mestre. Os encontros foram realizados lá nas sextas-feiras à noite, pelos próximos três anos. O Mestre também utilizava a casa da Irmã para suas entrevistas. A Irmã tinha reservado um quarto para o Mestre, no qual ele poderia ficar sempre que assim quisesse, durante o ano de 1921. Ele também tinha um alojamento próximo da Universidade de Harvard em Cambridge, onde ficava de tempos em tempos.

Em 1922 e 1923, o Mestre teve um quarto na Avenida Huntington n.º 30, em Boston. Ele dividia seu tempo entre aquele endereço e a residência dos Lewis em West Somerville. Durante aqueles anos ele desfrutou da hospitalidade da Irmã Yogamata, ministrando aulas na casa dela.

A Irmã Yogamata foi fundamental na ajuda que deu ao Mestre para construir seu primeiro eremitério em Waltham, Massachusetts. Ela serviu ao Mestre e seus amigos durante os três verões em que ele esteve lá. Foi naquele período que o Mestre conferiu a ela o nome monástico de Irmã Yogamata.

A Irmã também esteve ao lado do Mestre quando ele realizou sua segunda campanha de palestras em Worcester, Massachusetts, ocasião em que o Doutor também esteve com ele. A primeira campanha foi na cidade de Nova Iorque. Juntamente com a Irmã, estavam a Sra. Southwick, que era presidente da Escola de Oratória Emerson em Boston, e também um casal, Sr. e Sra. Smith.

Nas ocasiões em que o Mestre viajava em direção ao oeste, a Irmã Yogamata permanecia na região e durante muitos anos ajudou o Doutor Lewis a manter vivo o trabalho. Anos mais tarde, quando o Sr. Hasey faleceu, o Mestre pediu que o Doutor cuidasse da Irmã. Naturalmente, foi o que ele fez, ajudando-a com suas propriedades e tomando providências para sua aposentadoria, de modo que pudesse ter sua fonte de sustento e então viver em paz segundo a vontade divina do Mestre. Em 1944, o Doutor e a Sra. Lewis levaram a Irmã até a Califórnia, onde ele pode realizar o sonho de uma vida inteira.

OS ÚLTIMOS DIAS DO MESTRE

Como foi contado pela Sra. M. W. Lewis

Nos dias que precederam a partida do Mestre deste mundo, havia muitas indicações de que algo aconteceria na vida dele. Não nos atrevíamos a pensar que o fim desta encarnação do Guru estava próximo, embora ele dissesse ao Doutor coisas esta: “Vamos nos separar por pouco tempo, depois estaremos juntos novamente”.

O Mestre tinha estado no deserto algumas semanas antes de seu mahasamadhi, e disse à Irmã Durga que seu fim era possivelmente apenas uma questão de dias, até mesmo horas.

O Mestre havia assumido o carma de muitos discípulos e seu corpo sofria de dor, o coração e as pernas dele estavam debilitados. Contudo, mesmo com o sofrimento que assumira, ele tinha pouco interesse no corpo. Ele me disse em mais de uma ocasião que tinha que fazer um grande esforço para se manter interessado nos sentidos.1

1 Em outra ocasião, disse o Guru: “A minha vida é para o resgate de muitos”. – Nota do Editor

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Ele se recordava, junto com o Doutor, dos primeiros dias na Eletric Avenue, em Boston, onde a Self-Realization começou, e ambos cordaram que fora uma vida muito boa – muito melhor do que correr para boates e outras atividades mundanas. Mesmo assim, o Doutor se preocupava com a permanência do Mestre aqui na terra, por causa do que sentia nas palavras do Mestre. Mas o Mestre sempre voltava nossa atenção para Deus. Ele disse, naquela ocasião particular, que embora ele e Doutor fossem os melhores dos amigos, sua morte não mudaria isso, porque eles se conheceriam melhor um ao outro no outro lado.

Ao se aproximar, porém, o dia fatal, também aumentavam os sinais da grande transição do guru. Vários discípulos tinham grandes visões – visões que não tinham tido antes nem tiveram desde então.

Finalmente, chegou o dia em que estava programado para ele ir ao Hotel Biltmore, de onde nunca mais voltaria nesta vida. Lembramo-nos de suas palavras ao Doutor quando o Mestre se mudou para a Califórnia, e o Doutor queria segui-lo; o Mestre lhe dissera para ficar em Boston, e concluíu: “Não importa o que me aconteça. A Luz que você vê (em meditação) é maior do que eu. Ela é o Próprio Deus.”

Sempre há uma grande perturbação no cosmos quando uma grande alma parte deste mundo, e houve uma nesta ocasião. Uma grande tempestade, com raios e trovões, abateu-se sobre Los Angeles.

O Doutor estava em San Diego dando uma aula, quando o Mestre abandonou definitivamente o corpo. Eu não lhe falei do ocorrido até que ele voltou a Encinitas. Fomos então imediatamente para Mt. Washington, onde jazia o corpo do Guru. O Doutor disse que ele parecia tão calmo, e que finalmente estava livre dos tormentos da vida e dos problemas que alguns discípulos colocaram sobre ele.

Todavia, quando começamos a nos dar conta do choque de sua morte, foi difícil manter nossos ânimos elevados, pois nosso melhor amigo e Guru havia nos deixado.

Alguns discípulos experimentaram visões do Mestre e obtiveram grande confiança e paz; alguns o viram ressuscitado (isto é, em corpo físico). O Doutor estava preocupado porque parecia que lhe fora negada a visão do Guru até que, finalmente, a grande Luz do Infinito iluminou seu ser interior e ele sentiu grande Amor e Paz inundarem sua alma. Então uma voz gentil falou de dentro da Luz, e disse: “Fui Eu que vim até você como seu amado Mestre”. Ele ficou satisfeito. Sempre dissera que a verdadeira identidade do Mestre era essa Luz.1

BORREGO SPRINGS

Apesar de sua agenda ocupada, Dr. Lewis passava longas horas em meditação profunda, em Borrego Springs, durante o tempo em que era ministro da SRF, reservando um dia da semana para comungar silenciosamente com Deus. A Sra. Lewis estendia uma cortina preta, grossa, no quarto de meditação dele, para que a luz solar não perturbasse a grande luz espiritual que ele contemplava.

Depois que Dr. Lewis deixou o corpo, Mamãe construiu ali uma linda capela, em honra de seu falecido esposo. A capela foi consagrada por Irmão Anandamoy, e é agora usada pelos monges que vão fazer retiro em Borrego, depois que a casa dos Lewis foi doada recentemente para a SRF, seguindo os desejos do Doutor e de Mamãe.

“FAÇA O ESFORÇO”Havia um devoto do centro-oeste americano que havia recebido a Kriya de um monge, em Mt. Washington. Ele voltou para casa e a praticou fielmente, todas as manhãs e todas as noites, apesar de não ter, onde vivia, nenhum ambiente inspirativo da SRF. Durante dez anos, ele a praticou, e começou a se perguntar quando viriam algumas das experiências maravilhosas prometidas pelo 1 Essa experiência inspirou o Doutor a compor a letra de uma linda canção, intitulada: “O Amor do Mestre por Mim”.

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Guru. Finalmente, decidiu fazer um retiro em Encinitas e ali, talvez, conversar com alguém sobre sua prática. O Dr. Lewis era então o ministro responsável. O Doutor conversou um pouco com o devoto, e então disse que examinaria sua Kriya. O devoto praticou a Kriya e o Doutor ouviu os sons. Parece que nosso pobre amigo havia estado praticando de cabeça para baixo, durante todos aqueles dez anos! O Doutor lhe mostrou o modo correto de praticá-la e, em seguida, enviou-o para a capela, onde ele poderia praticar. Ele fez apenas uma Kriya correta e, no mesmo instante, uma grande visão da Mãe Divina lhe apareceu, banhando-o numa luz subrenatural, que irradiava a Bem-aventurança do Espírito. O Mestre diz: “Faça o esforço”. Não é este um exemplo característico?

“O QUE É VOCÊ?”

Doutor Lewis disse que não poderia ter chegado onde chegou sem seus retiros semanais em Borrego, quando se afastava de seus deveres como vice-presidente da SRF e de suas responsabilidades nos Templos de Encinitas, San Diego e Hollywood.

Quando estava em Borrego, a Sra. Lewis cuidava de todos os deveres de casa para tornar a permanência do Doutor o mais calmo e relaxante possível, porque ela estava sutilmente consciente de que seu marido não era igual às outras pessoas – ela sabia de seu tremendo sadhana e de suas experiências espirituais profundas.

Uma manhã, enquanto o Doutor comia devagar seu desjejum, Sra. Lewis estava sentada à mesa, em frente a ele, sem nada dizer. Ela o fitou por muito tempo, com olhos fixos, e então pensou: “Afinal, o que é você?”

Isto é semelhante à experiência que John Rosser teve com o Doutor Lewis, em sua sala no Templo de Hollywood. Depois de sua entrevista regular com o Doutor, John Rosser disse-lhe: “Ninguém sabe o que o senhor é, não é mesmo, Doutor?” E Doutor Lewis respondeu: “Não, nem Mildred me conhece”.

É dito que só podemos reconhecer verdadeiramente um santo quando nos tornamos um.

DOUTOR LEWIS CURA LUTHER MCKINNEYLuther McKinney viu Dr. Lewis pela primeira vez quando assistiu a um serviço no Templo de Hollywood, anos atrás. Luther havia acabado de entrar, quando o Doutor interrompeu a palestra para lhe dizer: “Com licença, preciso falar com o senhor depois do serviço”.

Luther pensou: nunca conheci este homem em minha vida, o que ele quer comigo? Após o serviço, Doutor veio até Luther e disse: “Você pertence ao Mestre”. Conversaram durante um tempo sobre várias coisas, então o Doutor curou Luther imediatamente de uma sinusite crônica, colocando a mão na testa de Luther. Luther disse que daquele dia em diante nunca mais teve esse problema. Dali em diante, ele e Doutor Lewis tornaram-se amigos íntimos.

A AURA DO DR. LEWIS

Havia uma garotinha que via regularmente o Dr. Lewis depois da escola dominical, e recebia suas bênçãos. Um dia, seu pai falava a ela e suas irmãs a respeito das auras. “Oh,” exclamou esta menina, “o senhor se refere à luz que está em volta de todas as coisas?” “Você pode vê-la?” perguntou o pai. “Sim, e a luz que está em volta do Dr. Lewis é enorme”, os braços dela não eram compridos o bastante para descrevê-la! Em comparação com o que ela descreveu como sendo apenas alguns centímetros do que via em torno de uma pessoa comum, parecia que a luz que o Doutor irradiava tinha quase dois metros de diâmetro e era fulgurante. Ela adorava ficar “dentro dela” e, anos depois, descreveu que o sentimento que essa luz lhe despertava era o suficiente para fazê-la ficar imóvel, de tão saturada de um grande amor. Ela ainda vê auras até hoje, em volta de tudo e de todos, mas em

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toda a sua vida só viu uma outra aura que fosse parecida à do Doutor Lewis. Continua sendo a mais profunda que ela já experimentou.

RECORDAÇÕES DO NATAL DE DR. LEWIS

O Natal sempre foi uma ocasião especial na SRF. O Mestre adorava comprar presentes para seus discípulos e amigos, e freqüentemente, ele e Dr. Lewis iam sozinhos ao centro da cidade, em San Diego, para fazerem compras nas grandes lojas de departamentos. O Doutor contou que, uma vez, o Mestre quis ir sozinho fazer compras, e o Doutor o observava do mezanino, enquanto o Mestre estava no primeiro andar. O Doutor disse que ali estava um grande avatar misturando-se com todos aqueles compradores, e ninguém fazia idéia de quem ele era.

Um dos grandes marcos do Natal aconteceu em 1958, quando Doutor Lewis estava sendo o anfitrião dos monges, na cafeteria acima do India Hall. Depois que a festividade começou, o Doutor ficou de pé e disse aos monges que a Irmã Daya (como Sri Daya Mata era conhecida então) lhe pedira para contar aos monges a experiência que ele teve no deserto.

O Doutor disse que foi em 1o de maio daquele ano, nas primeiras horas da madrugada, após uma noite inteira de meditação, quando, de repente, Deus lhe mostrou Sua Grande Face. Ele prosseguiu dizendo que foram necessários 38 anos e que ele nunca deixou de praticar sua meditação diária. Esta experiência está além de qualquer descrição, porque está além do olho espiritual, do lótus de mil pétalas e do “sol da justiça”. É axiomático que ninguém possa descrever esta grande experiência para outras pessoas até que elas próprias tenham a mesma experiência. A experiência significou que o Doutor havia alcançado a libertação final; a liberdade de todo carma.

O Doutor adorava as meditações longas e, depois que o Mestre se foi, ele conduziu pelo resto da vida essa meditação, sempre que os monges queriam. Eu estava presente em Encinitas, em 1956, e tive o privilégio de juntar-me aos monges naquele dia. O Doutor meditou quatro horas sem interrupção até o intervalo, depois meditou até dez da noite. Quando veio o intervalo, depois de quatro horas, alguns monges estavam tão absortos na Consciência Divina que continuaram meditando sem parar. Entre eles estavam Irmão Turiyananda, que era então [Field] Marshall, e Irmão Santoshananda, que era Roger [Dumont].

O Doutor sempre encorajava os devotos a participarem daquele dia especial, principalmente se estivessem hesitantes por nunca terem se sentado por muito tempo antes. Ele lhes dizia que, naquele dia especial, eles queimavam as trevas e a ilusão de muitas encarnações. Doutor tinha a bênção de contemplar naquele dia os olhos de Cristo.

– UMA CARTA DE DR. LEWIS PARA SR. ROSSER, DATADA DE 1956:Prezado Sr. Rosser:

Obrigado por sua carta. É um prazer receber uma carta cheia de um espírito tão positivo. Conserve-se assim, e eu sei que Deus cuidará de você. É um prazer ajudá-lo, pois nunca posso me esquecer do quanto o Mestre me ajudou. Que você seja ajudado é uma recompensa suficiente.

Sim, a companhia é muito importante e nos influencia, mas lembre-se de que a ajuda de Deus é maior. Continue assim – nunca O esqueça e Ele nunca o esquecerá. Mesmo no meio dos “iludidos”, Deus pode ser sentido.

Espero que seu desejo de voltar logo seja realizado.

Bênçãos para você,

Dr. M. W. Lewis

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PEQUENA HISTÓRIA DO RETIRO DE BORREGOEstive pensando como iria concatenar as idéias para narrar a história do Ashram de Borrego. Acredito que, até onde a SRF sabe, a primeira vez que surgiu o assunto Borrego foi quando o Mestre (ele próprio nunca foi lá), enviou Durga Ma e a Sra. Lewis àquele local para descobrir alguma propriedade para Rajarsi. Elas encontraram várias localizações, uma das quais Rajarsi adquiriu, uma enorme fazenda na qual desenvolveu o cultivo de diversos tipos de fruta e vegetais. Rajarsi enviou Bob Ramer, que era líder do grupo de Mineápolis e que o Mestre havia ordenado ministro leigo, e também Gene BenVau, devoto de longa data, até o Texas, a fim de obterem algumas amostras de toronjas provenientes de Red River Valley. Aquelas amostras foram as sementes das enormes fazendas de toronja que agora existem no Vale de Borrego. Recentemente, alguns israelenses encontraram na região um terreno similar ao existente em Israel, no qual eles cultivam pimentas French Bell. Na última safra, eles colheram quinhentas toneladas!

Depois que o Mestre faleceu, o Doutor estava tentando comprar uma pequena casa no deserto, que pertencia a Madame Galli-Curci. Ela vendeu a propriedade ao Doutor por um preço menor, chegando a dizer que tinha a impressão de que havia comprado a casa já predestinada para o “Lewis”, que era o jeito como ela o chamava. Todavia, ela precisou vender a casa por causa do marido; Homer Samuels fora aconselhado pelos médicos a se mudar, visto que o clima de Borrego não era o ideal para sua saúde.

A fazenda de Rajarsi foi um grande sucesso até sua morte. Ele morreu na própria fazenda, após três cirurgias no cérebro. Perguntei ao Doutor Lewis por que um devoto tão adiantado ter sido obrigado a abandonar este planeta sob circunstâncias tão dolorosas. Ele respondeu dizendo que não é possível para uma pessoa fazer tanto dinheiro sem ter movimentado bastante carma. Rajarsi era o dono de poços de petróleo, refinarias, companhias de seguro, transporte de cargas, grandes áreas de plantações agrícolas e era também sócio de outros investimentos. O Mestre disse para Brenda: “Seu pai, sua mãe, Rajasi e eu somos Um!” A SRF vendeu a enorme área da fazenda, mas a casa na qual ele viveu e morreu continuou por bastante tempo, até que a ação de vândalos e do próprio clima do deserto a deixaram em ruínas. Um devoto que costumava freqüentar o Centro de Palm Springs recuperou alguns compensados e outros materiais de construção, e construiu uma casa em Borrego.

Nesse meio tempo, Durga Ma havia construído seu retiro próximo a Galleria, cerca de um quilômetro e meio ao norte da propriedade dos Lewis. Ela levou as irmãs e pessoas leigas para lá durante anos, até que a idade avançada dificultou que continuasse a fazê-lo, de modo que ela entregou o local para as irmãs.

O Doutor Lewis freqüentava o retiro semanalmente. Como vice-presidente da SRF naquela época, também sendo responsável pelo Eremitério de Encinitas, ministrando ainda sete serviços por semana, um dos quais demandava que dirigisse até o Templo de Hollywood nas sextas-feiras para dar uma aula aos monges, e posteriormente aos discípulos leigos, o Doutor precisava de um local para descanso.

E Borrego era perfeito, pois não havia telefone ou televisão. Ele meditava por longas horas no quartinho adjacente à sala de estar, enquanto a Sra. Lewis saía para realizar diversos afazeres na cidade. Eu estava com os monges no Natal de 1958, ocasião em que o Doutor era o anfitrião de um banquete no India Center. Ele disse que a Irmã Daya havia lhe pedido para contar aos monges as experiências que tivera no deserto. Ele disse: “Foi no dia primeiro de maio de 1958, nas primeiras horas da manhã, que Deus me mostrou Sua Grande Face.” Ele prosseguiu dizendo que foi preciso ter meditado quarenta anos para atingir aquele estado, mas que não teria se importado caso fossem necessários mil anos (acredito que diante da Bem-aventurança de Deus o tempo não faz qualquer diferença). Naturalmente, não sabemos o que isto significa, pois ele já tinha visto e penetrado o olho espiritual, e visto o lótus de mil pétalas e o “sol da justiça”, mas essas experiências estavam muito

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além de tudo que a Sra. Lewis, como mulher, desejava; ela queria, por exemplo, decorar a pequena casa, mas o Doutor a proibiu, dizendo que depois que ele se fosse, ela poderia fazer o que quisesse com a casa. Desse modo, não muito depois da morte dele, ela iniciou as mudanças. Perto da sala ficava a garagem, mas ela sentia que seria necessário um quarto de hóspedes, de modo que fizeram um estacionamento para os carros no terreno e converteram a garagem em um outro quarto. A próxima coisa que ela fez foi construir a varanda, que originalmente estava sobre o pórtico de entrada. Providenciava um espaço extra quando hóspedes estavam presentes. Quando Brenda e eu chegamos, ela decidiu que nós necessitávamos de uma casa de hóspedes, e então construiu a casa ao lado. Posteriormente, Brenda ampliou a construção e incluiu um escritório nos fundos, onde podia escrever o livro.

O próximo acréscimo foi a capela. A Sra. Lewis sentiu que deveria erguer uma capela como um memorial à enorme realização espiritual de seu marido. Ela, porém, não tinha dinheiro algum, pois o Doutor havia doado tudo o que possuía para o Mestre. Durga Ma apareceu e lhe deu a quantia de vinte dólares, e garantiu a ela que o montante iria crescer. E cresceu. Ela nunca pediu dinheiro a ninguém, mas os recursos vieram, e ela contratou o arquiteto Richard Zerbe da prestigiada escola Julian para elaborar a planta, depois que ele leu a Autobiografia de um Iogue. Não era um projeto fácil de ser realizado pela equipe de construção, e os fundos inicialmente destinados à obra esgotaram-se antes de seu término, de modo que ela precisou de outras fontes. Quando terminou a construção, um devoto do Templo de Fullerton, que era dono de uma loja de móveis, doou as cadeiras que estão na capela. Foi idéia da Sra. Lewis fazer o altar com as transparências.

Em 1972, quem apareceu em cena foi James Arness. Ele vinha enfrentando muitos problemas pessoais e procurou a ajuda do [ator] Dennis Weaver. Dennis me ligou, e eu disse para que o mandasse assistir às aulas de asana em Hollywood, ministradas por Haig Koobatian (que agora integra o grupo de Sacramento).

O Sr. Arness não estava satisfeito apenas com os exercícios, então pedi que Dennis solicitasse a sua esposa que acompanhasse o Sr. Arness até nossas meditações de quinta-feira à noite. Imediatamente desenvolvemos uma grande amizade, e ele começou a passar os finais de semana conosco em Borrego. Ele já tinha passado por lá antes e conhecia o lugar, sobre o qual dizia que era um dos segredos melhor guardados da Califórnia. Após algumas visitas, ele sugeriu que uma piscina seria uma boa idéia para o verão, e então fez a doação dos fundos necessários à construção da piscina. Ele ainda decidiu que precisávamos mais quartos para convidados, de modo que ele e Dennis uniram forças e providenciaram os fundos para sua construção, bem com do muro que circunda todo o complexo, a fim de manter a propriedade protegida tanto da areia do deserto quanto dos olhares curiosos dos transeuntes. O mastro da bandeira também foi sua idéia. Todas essas coisas custavam muito caro, pois tudo precisava ser trazido desde a cidade. Acredito que a despesa total ultrapassou os cem mil dólares.

A Sra. Lewis contratou um jardineiro baixinho, chamado Henry Pekala. Ele chegou a Borrego ainda muito jovem, tendo vindo da Nova Inglaterra. Ele era um verdadeiro conhecedor do deserto, sendo que muitos dos cactos que atualmente vicejam ao redor da propriedade foram plantados por ele, que também desenvolveu um sistema para o cultivo de flores no terreno interno e também nas áreas circundantes. Havia flores por toda parte. Ficou realmente muito bonito. Henry morava na antiga casa da Sra. Raymer no caminho do Country Club. Ela era uma devota de Ananda Moyi Ma e possuía fotografias da santa espalhadas por toda a casa. Não me recordo se ela continuou visitando Borrego. Era daquela casa que Henry vinha trabalhar todos os dias. Não tínhamos necessidade de alguém específico para cuidar da piscina, pois ele também conseguia cuidar dela. Ele tinha um amplo conhecimento sobre o deserto, seu clima, sua flora e fauna. Não precisamos nos preocupar com nada enquanto Henry esteve conosco. Por fim, o avanço da idade cobrou seu preço e ele teve que abandonar este planeta.

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A Sra. Raymer originalmente morava com seu marido, Bob, na casa logo atrás da nossa, em meio a um brejo com todas as espirradeiras ao redor. Nos dias em que estava, o Doutor ia até lá para meditar com ele. Bob atualmente é o responsável pelo ashram de Oliver Black ao norte de Michingan. Certa noite, desaguou uma enxurrada sem qualquer sinal de aviso. Quando o Doutor quis ir embora, ele constatou que as ruas estavam alagadas com torrentes furiosas. A altura da água batia na metade dos braços, mas mesmo assim ele conseguiu atravessar a rua a salvo. Isso dá uma idéia do que pode acontecer quando acontecem essas enxurradas repentinas no vale, em determinadas ocasiões, felizmente, um tanto raras.

EM MEMÓRIA DE DR. LEWIS

“O livro TREASURES AGAINST TIME reacendeu meu coração e sinto-me honrado por ter conhecido Dr. Lewis. Ele tocou minha vida – tanto que não preciso fazer muito para manter viva sua memória. O Dr. Lewis adorava pinhas, por isso eu as compro e como algumas todos os dias, em sua memória. Ele sempre foi muito gentil e paciente comigo. Lágrimas estão fluindo agora, pois lamento tanto não ter sabido de sua morte e não ter assistido a seu enterro. Farei agora o melhor que posso difundir suas palavras de sabedoria. Meus anos de SRF (sou ex-monge) trazem gratas recordações e boas lições, que me têm ajudado em meu casamento e nas lutas para criar três filhos.

“De vez em quando, cito Dr. Lewis para nossos filhos e imito seu estilo paciente, e nos últimos anos minha esposa realmente se aproximou de nossa crença e recebeu as lições da SRF.

“Obrigado ao Mestre por compartilharem conosco a vida de Dr. Lewis.”

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4.5. O Mahasamadhi do Doutor Lewis

Os Últimos Dias do Doutor LewisPor Mildred Lewis

No domingo, 20 de março de 1960, o Dr. Lewis ministrou seu último serviço no templo da Self-Realization em Hollywood, bem como seu último serviço de meditação dominical noturna, na capela do retiro em Encinitas. No dia seguinte, no seu apartamento no Eremitério, o Doutor cumpriu sua agenda com os estudantes. Embora o Doutor nunca falasse de sua doença para os outros, nossa filha Brenda e eu notamos que ele parecia muito cansado. Na terça-feira pela manhã, ele e eu fomos de carro até nosso retiro no deserto, em Borrego Springs, onde ele poderia ter um revigorante descanso.

Lá estando, ele parecia diferente; aquele entusiasmo e fulgor externos haviam desaparecido. Uma atmosfera de distanciamento o cercava.

Na quinta-feira, dia 24 de março, retornamos para Encinitas. Naquela tarde, o Doutor foi ver seu médico, que vinha lhe tratando o problema cardíaco. O médico ordenou duas semanas de completo repouso.

O Doutor Lewis, entretanto, estava com diversos compromissos os quais sentia que deveria honrar. Após o jantar naquele dia, ele ministrou sua última aula de quinta à noite no Eremitério. No dia seguinte, conduziu os ritos funerários de um estudante da Self-Realization. No domingo, 27 de março, falou no templo de San Diego. No domingo seguinte, 3 de abril, ele deu seu último sermão naquela igreja. Essa foi a sua última aparição pública.

Não era fácil para o Doutor tirar um descanso; seu temperamento era ativo demais por natureza. Nós com freqüência implorávamos para que ele ouvisse os conselhos de seu médico. “Lembre-se”, Brenda lhe dizia, “o senhor pode se virar sem nós, mas nós não conseguimos seguir sem o senhor”. Com um doce sorriso, o Doutor respondia lisonjeado: “Eu compreendo”.

Como sua saúde não estava melhorando, no dia 7 de abril seu médico ordenou que ele desse entrada no Scripps Memorial Hospital, em La Jolla para uma bateria de exames. O Doutor tinha um quarto muito agradável no hospital – privativo, tranqüilo, com vista para o oceano. Brenda o visitava todos os dias pela manhã; eu ia de tarde e ficava com ele até a hora do término das visitas.

Os primeiros três dias no hospital foram difíceis para ele, devido aos exames. Na segunda-feira, contudo, ele parecia ter melhorado bastante. No dia seguinte ele tinha dito que já se sentia bem o bastante para voltar para casa.

Quando Brenda voltou do hospital para casa na quarta-feira, 13 de abril, ela parecia perturbada. (Mais tarde ela disse que durante a visita matinal, seu pai, embora amoroso como sempre, parecia estar muito distante e retraído).

Fui imediatamente para o hospital e encontrei o Doutor descansando confortavelmente. Naquele dia tivemos uns momentos tão felizes juntos! Após seu jantar, que saboreou bastante, ele sentou-se em uma cadeira por treze minutos e então voltou para sua cama. Às 19 horas, ele disse que iria cochilar um pouco. Dormiu calmamente até sete e trinta, quando acordou e me disse: “Quero me sentar ereto”. Então arrumei os travesseiros em suas costas enquanto ele assumia a postura de lótus para a sua rotineira meditação noturna. Suas mãos estavam viradas para cima, seus olhos, fechados. Sentei-me ao lado da cama, pensando comigo que também iria meditar

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Dois ou três minutos depois, um tremendo som chamou minha atenção. Parecia um som de sucção de uma enorme bomba, ou então a respiração de uma gigantesca Kriya. Junto com o som veio um grande relâmpago de luz espiritual branca, cujo brilho poderia ser comparado ao de um milhão de lâmpadas comuns.

Os olhos azuis do Doutor se abriram e raios penetrantes de luz azul emanavam deles. Então os olhos se fixaram no centro crístico, na testa. Sua cabeça se abaixou um pouco, mas seu corpo permaneceu ereto. Por um instante, a face de Sri Yukteswar apareceu, envolvendo o rosto do Doutor. Então estava tudo acabado.

Por quantas vezes tenho agradecido a Deus, aos Grandes Mestres e ao amado Mestre por ter tido o privilégio de poder assistir a uma morte tão gloriosa!

(Extraído de Dr. M.W. Lewis: The Life Story of One of the Earliest American Disciples of Paramahansa Yogananda, publicado pela Self-Realization Fellowship, p. )

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4.6. Música do Doutor Lewis

O AMOR DO MESTRE POR MIM

(MASTER’S LOVE FOR ME)

Meu Mestre se aproximaEm silêncio, docemente;Feliz e com amor,Me abraça ternamente.

As aflições se afastamE em paz eu tenho a mente.Em sua onipresençaEu vivo livremente.

No doce som de Om,A voz do Mestre ouvi,Vibrando no silêncio,Dizendo: “Estou aqui!”

Meu coração se alegra,Cantando até o fim:“Não há amor igualAo que o Mestre tem por mim!”

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