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Teste de AvaliaÇÃo Antero e Cesário

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Teste de avaliação - Antero de Quental / Cesário Verdee proposta de correcção.

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Page 1: Teste de AvaliaÇÃo Antero e Cesário

TESTE DE AVALIAÇÃO DE LITERATURA PORTUGUESA - 11º ano

A UM POETASurge et ambula!

Tu que dormes, espírito sereno,Posto à sombra dos cedros seculares,Como um levita à sombra dos altares,Longe da luta e do fragor terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,Afugentou as larvas tumulares...Para surgir do seio desses mares,Um mundo novo espera só um aceno... Escuta! é a grande voz das multidões!São teus irmãos, que se erguem! são canções...Mas de guerra... e são vozes de rebate! Ergue-te, pois, soldado do Futuro,E dos raios de luz do sonho puro,Sonhador, faz espada de combate!

Antero de Quental

I

1. Tendo em conta os destinatários da mensagem poética, divide o poema em partes lógicas, justificando a tua opção.

2. Como epígrafe para o soneto, o sujeito poético escolheu as palavras bíblicas “surge et ambula”, proferidas por Cristo a um paralítico que curou e fez andar.

2.1. Que razões terão levado o poeta a isso?2.2. Indica a principal função de linguagem que o poeta utiliza para incitar à revolta? (comprova com dados

do texto.)

3. Influenciado por Proudhon, a revolução pregada não é a sangrenta, mas utópica: são anunciados as ideias de Justiça, Amor e Liberdade.3.1. Faz o levantamento do campo lexical da guerra, 3.2. Mostra, tendo em conta o que conheces da poesia de Antero, o que se pretende com este vocabulário?3.3. O «eu» lírico aponta alguma razão concreta para se fazer a revolução? E abstracta? (corrobora a tua

resposta com dados do texto).

4. Muda o segundo terceto do poema para o discurso indirecto, começando assim: O «eu» lírico pediu ao soldado do futuro que….. (continua)

IICesário Verde, atento ao mundo que o rodeia e tirando poesia de realidades comezinhas ou até antilíricas, aprecia aspectos da sociedade do seu tempo.

Justifica esta afirmação, com referência breve às leituras que fez deste autor.

A professora,Paula Cruz

Page 2: Teste de AvaliaÇÃo Antero e Cesário

Proposta de correcção:

1-Podemos dividir este poema em duas partes lógicas. A primeira quadra corresponde ao primeiro momento em que, através duma apóstrofe, o sujeito poético se dirige a um tu, caracterizado como um espírito sereno que dorme à sombra dos cedros seculares, longe da luta e do fragor terreno, tal como o faz um levita (sacerdote) à sombra dos altares. Perante a passividade deste tu, na segunda parte do soneto, o sujeito poético passa a exortá-lo duma forma veemente, utilizando, para tal, uma gradação crescente, visível no uso dos verbos no imperativo: acorda, escuta, ergue-te, faze (espada de combate). Deste modo, poderemos tripartir esta segunda parte, seguindo a lógica da gradação crescente:

I. Acorda, porque é chegado o momento ("o sol..."); acorda, porque um mundo novo apenas está à espera de um sinal para despertar da letargia em que se encontra (2ª quadra);

II. Escuta! Quem? O quê? As canções de guerra que são vozes de rebate. Mas vozes de quem? Das multidões, dos irmãos que se erguem em armas, que se rebelam (1º terceto);Ergue-te, pois, poeta, se queres ser um soldado do futuro ao lado das multidões, ao lado de teus irmãos;

III. Ergue-te, sonhador (poeta), e transforma a tua poesia em arma de combate (2º terceto);

2.1- A escolha desta epígrafe não é aleatória. Como Cristo curou e fez andar o paralítico, também o sujeito lírico exorta os poetas à escrita de uma poesia revolucionária, comprometida, rejeitando, assim, o velho e anquilosado conceito da poesia como "arte pela arte".

2.2- A função de linguagem usada para incitar à revolução é a função apelativa (ex.: “Acorda!”, “Escuta!”, “Ergue-te”.

3.1- No soneto encontramos algum vocabulário ligado a um campo lexical bélico: “guerra”; “luta”; “soldado” e “espada de combate.”

3.2- Com este vocabulário, Antero pretende incitar os poetas à mudança e à revolução pela poesia.

3.3- As motivações do sujeito lírico podem ser consideradas abstractas na medida em que Antero deseja, pela poesia, transformar a sociedade. Antero considera que os poetas são soldados capazes da revolução. Antero é movido pelo desejo profundo de construir um novo mundo.

4- O “eu” lírico pediu ao soldado do futuro que se erguesse e que, sonhador, fizesse dos raios de luz do sonho puro, a sua espada de combate.

Page 3: Teste de AvaliaÇÃo Antero e Cesário

II. (alguns tópicos)

Cesário Verde é um poeta do olhar: pinta com palavras o que vê, fugindo às convenções do que até aí era considerado poético. Abre à poesia as portas da vida e assim traz o inestético, o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana.

Cesário Verde observa de forma atenta e minuciosa a realidade social e conclui que o povo é o elemento mais resistente, ainda que alvo de diferenciação social. Por este facto, o poeta identifica-se com o povo trabalhador e coloca-se do lado dos desfavorecidos, vítimas de opressão social da cidade, e denuncia as circunstâncias sociais que considera extremamente injustas. Um dos exemplos mais marcantes é o da pobre engomadeira que mortifica para pagar a conta da botica.

Cesário Verde transportou a linguagem humilde e prosaica para o clima da poesia autêntica. Demonstrou que a poesia anda derramada pelos seres e pelas coisas habitualmente consideradas prosaicas. Desceu deliberadamente ao concreto, ao imediato e, com um fino talento de reportagem artística, surpreendeu belezas inéditas que, em Portugal, ninguém antes vira.

A poesia de Cesário Verde organiza-se em torno do binómio cidade/campo, reflectindo as transformações da sociedade portuguesa da sua época. A deambulação pela cidade permite-lhe o contacto com a realidade exterior e confirma-se como um pretexto e uma necessidade para a criação artística. A cidade surge, assim, como o lugar da inspiração e da criação, mas também, contraditoriamente, como um espaço de opressão, de desconforto, perverso.

Portanto, isto leva-nos a concluir que a sensação de liberdade que a deambulação, em princípio, permitiria, esbarra assim com os limites de uma cidade estreita, que o deprime e sufoca (e de onde todos fogem), conduzindo-o a refugiar-se no campo, local puro e são. Mundo campestre que passará, deste modo, e por consequência, a ser motivo de composições poéticas.