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SECRETARIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO E ASSISTÊNC IA SOCIAL - SEDAS

GERÊNCIA DE PLANEJAMENTO, PROJETOS E CAPACITAÇÃO

Av. Cruz Cabugá, 665 – Santo Amaro – Recife/PE CEP 50.040.00 – FONE: 3183 3045 / 3043

TEXTO 01

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: Uma breve história dos direitos da criança e do adolescente no Brasil

No Brasil, o Código Penal da República (1890) julgava os crimes cometidos por crianças e adolescentes

partindo do critério de idade e discernimento (TEJADAS, 2005), assim não consideravam criminosas as

crianças menores de 9 anos, assim como aquelas com idades entre 9 e 14 anos que não tivessem

discernimento. Estabelecendo que os com discernimento nesta faixa etária fossem encaminhados para

instituições educacionais disciplinares de recuperação para que com o trabalho fossem reeducados para o

convívio em sociedade.

O discernimento, categoria extremamente utilizada e ainda presente no imaginário nacional, era utilizado, à época, de forma corrente como ‘aquela madureza de juízo, que coloca o individuo em posição de apreciar com retidão e critério, as próprias ações’4. Trata-se de categoria repleta de subjetivismo, suscetível ao arbítrio de quem julga. (TEJADAS, 2005, p. 51)

Em 1927, com a criação do Código de Menor, idealizado por Mello Matos, fica evidenciada a preocupação

principal da “limpeza social” seguindo a ideologia da moralização do indivíduo e na manutenção da ordem

social. O Código de Menores não era endereçado a todas as crianças, mas apenas àquelas tidas como estando

em “situação irregular”. O Código definia já em seu Artigo 1º, a quem a lei se aplicava:

“O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e proteção contidas neste Código.” Código de Menores – Decreto N. 17.943 A – de 12 de outubro de 1927.

Em 1942, período considerado especialmente autoritário do Estado Novo, foi criado o Serviço de Assistência

ao Menor – SAM. Tratava-se de um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como um equivalente do

sistema penitenciário para a população menor de idade. Sua orientação era correcional-repressiva. O sistema

previa atendimento diferente para o adolescente autor de ato infracional e para menor carente e

abandonado.

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O Código de Menores (Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979) constituiu-se em uma revisão do Código de

Menores de 1927, não rompendo com sua linha principal de assistencialismo e repressão. Tinha como

princípio a “doutrina da situação irregular”, que não era dirigida a todos os “menores”, mas somente àqueles

que se encontravam em situação de exclusão social, que eram penalizados pelas condições sociais em que

viviam.

Além disso, a existência e reprodução das categorias “infância e menor” evidenciavam como a concepção

doutrinal afetava a materialidade dos direitos civis. Emílio Garcia Mendez (1998) resume o significado da

doutrina da situação irregular ao afirmar que esta dividia a infância em duas categorias distintas: as crianças e

adolescentes que viviam em suas famílias, e os menores, entendidos como aqueles que estão fora da escola,

os abandonados, os carentes, os infratores, transformando a questão social e suas expressões em questões

jurídicas. Assim, para aqueles que se circunscreviam na categoria da infância, a família e a escola cumpririam a

função de controle e socialização. Os demais, “os excluídos”, aqueles que não tinham acesso à escola ou

foram expulsos dela, quem se encontrava em situação diferente daquela que prescrevia a harmonia e a

coesão social, convertiam-se em “menores”. Estar em situação irregular, então, significava estar à mercê da

Justiça de Menores, cuja responsabilidade misturava de forma arbitrária atribuições de caráter jurídico com

atribuições de caráter assistencial. Dessa forma, a pobreza era motivo para retirada do poder familiar, e a

situação de abandono era motivo suficiente para privação da liberdade (VOLPI, 2001).

SITUAÇÃO IRREGULAR

•Adolescente autor de ato infracional;

•Menor carente e abandonado.

TIPO DE ATENDIMENTO

•Internatos: reformatórios e casas de correção;

•Patronatos agrícolas e escolas de aprendizagem de ofícios urbanos.

Desde o Código de Menores de 1927 até a Política Nacional do Bem-Estar do Menor que ficou consagrada no Código de Menores de 1979 (Lei Federal nº 6.697, de 10 de outubro de 1979), foram mais de sessenta anos usando da prática de internação para crianças e jovens, independentemente de tratar-se de regime político democrático ou autoritário. Em certos momentos, a ênfase esteve na correção de comportamentos, noutros, na educação para a integração social.

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As crianças e os adolescentes foram sendo reconhecidos através de seus direitos conquistados a partir das

lutas sociais de movimentos de caráter internacionais comprometidos com a proteção e a efetivação dos

direitos humanos. Mesmo assim, permanecem neste terreno da infância e da juventude os desafios da

materialização dessas conquistas no solo das possibilidades da efetivação desses direitos no Brasil.

As Normativas Internacionais apresentam a infância e a juventude como titulares de direitos, no rol de novos

sujeitos de direitos que foram se constituindo no processo da discussão e disputa em torno da definição dos

direitos humanos. (TEJADAS, 2005, p.37).

Destaca-se como Normativas Internacionais que guardam interface com a garantia de direitos de crianças e

adolescentes, particularmente em relação aos adolescentes em conflito com a lei:

• A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança consagrou, conforme Saraiva (2003), um

corpo de direitos na legislação internacional denominado de Doutrina das Nações Unidas de Proteção

Integral à Criança.

• As Regras Mínimas das Nações para Administração da Justiça da Infância e Juventude conhecida como

regras de Beijing (1985), apresentam as medidas protetivas que possam ser efetivadas na infância em

situação de vulnerabilidade social. Garantindo o devido processo legal, a presunção de inocência, a

assistência jurídica e a participação da família em todos os momentos do processo. Ressaltando que a

privação de liberdade deverá ser evitada, caso necessário, deverá ocorrer em local apropriado.

• A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989) destacou quanto ao adolescente

autor de ato infracional, os seguintes direitos básicos: Nenhuma criança será submetida à tortura nem

a outros tratamentos ou penas cruéis; nenhuma criança será privada de sua liberdade de forma ilegal

ou arbitrária; toda criança privada de liberdade será tratada com a humanidade e o respeito que

O Código de Menores de 1979 atualizou a Política Nacional do Bem-Estar do Menor formalizando a concepção “biopsicossocial” do abandono e da infração e explicitou a estigmatização das crianças pobres como “menores” e delinquentes em potencial através da noção de “situação irregular” expressa no artigo 2º: [...] considera-se em situação irregular o menor: I – privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsáveis para provê-las; II – vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III – em perigo moral devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividades contrárias aos bons costumes; IV – privado de representação ou assistência legal, por falta eventual dos pais ou responsável; V – com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI – autor de infração penal [...]. (BRASIL, 1979)

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merece a dignidade inerente à pessoa humana; toda criança privada de liberdade terá o direito a

rápido acesso a assistência jurídica e a qualquer outra assistência adequada; (ONU, 1989, p.147).

• As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade (1990)

trazem orientação às ações das instituições voltadas para privação de liberdade, tais como, na

garantia dos direitos dos jovens privados de liberdade, na prevenção de ocorrência de maus-tratos,

vitimização e na violação de direitos humanos. Também assegurando o direito a escolarização

adequada à peculiaridade de cada jovem, assim como ao ensino profissionalizante, ao exercício de

atividades recreativas, ao culto religioso, conforme a crença de cada interno (TEJADAS, 2005).

• As Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil – Diretrizes de Riad, de

1990 são dirigidas para prevenção da prática do ato infracional por jovens, propondo a promoção de

ações planejadas e a socialização da criança e do adolescente, a partir das suas comunidades de

origem, desafiando os Estados membros das Nações Unidas a projetarem tais objetivos com a

presença fundamental da família.

No Brasil a década de 80 foi considerada uma década muito importante no que se refere à afirmação dos

direitos das crianças e adolescentes, devido as grandes conquistas que as mobilizações sociais obtiveram na

elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de

1990, em acordo com a Convenção Internacional dos Direitos das Crianças, regulamenta o artigo 227 da

Constituição Federal de 1988, que preconiza:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2005, p. 128)

E o artigo 228 no qual declara que “são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às

normas da legislação especial.” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2005, p. 129). A partir dessas transformações na

legislação da criança e do adolescente podemos visualizar através do quadro comparativo entre o Código de

Menores e o ECA.

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Quadro Comparativo da legislação orientada pela Doutrina de Situação Irregular e pela Doutrina de Proteção

Integral:

Doutrina de situação irregular Doutrina de proteção integral

• Menores • Crianças e Adolescentes

• Objeto de proteção • Sujeitos de direitos

• Proteção de “menores” • Proteção de direitos

• Proteção que viola e restringe direitos • Proteção que reconhece e promove direitos

• Infância dividida • Infância integrada

• Incapazes • Pessoas em desenvolvimento

• Não importa opinião da criança • É fundamental a opinião da criança

• Situação de risco ou perigo moral ou “material” ou “situação irregular”

• Direitos ameaçados ou violados

• Centralização • Descentralização

• Juiz executando política social/assistencial • Juiz em atividade jurisdicional

• O assistencial confundido com o penal • O assistencial separado do penal

• Menor abandonado/delinquente • Desaparecem essas determinações

• Desconhecem-se todas as garantias • Reconhecem-se todas as garantias

• Atribuídos de delitos como inimputáveis • Responsabilidade penal juvenil

Em contraposição ao antigo marco legal, o Estatuto da Criança do Adolescente (ECA) afirma o valor intrínseco

da criança como ser humano; a necessidade de especial respeito à sua condição de pessoa em

desenvolvimento; o valor prospectivo da infância e da juventude, como portadora de continuidade do seu

povo e da espécie, e o reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes

merecedores de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado, o qual deverá atuar por

meio de políticas específicas para a promoção e defesa de seus direitos.

“Na aplicação da Doutrina da Proteção Integral no Brasil, o que se constata é que o país, o Estado e a sociedade é que se encontram em situação irregular” (SARAIVA, 2002a, p. 15).

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A partir do ECA, todo adolescente ao qual se imputa uma conduta prevista na lei criminal tem garantido o

devido processo legal conduzido por autoridade imparcial que ouve a acusação pelo promotor de justiça e

ouve a defesa praticada por advogado e recebe sentença ou decisão compatível com a sua peculiar condição

de pessoa em desenvolvimento.

“Somente pode ser passível de medida socioeducativa o adolescente a quem se atribua autoria de conduta típica, extraída esta do ordenamento penal positivo. Exclui-se a antiga ideia do ambíguo e vazio de conteúdo típico ‘desvio de conduta’” (SARAIVA, 2002a, p. 33).

A novidade apresentada pelo ECA em relação ao Código de Menores, entre outras, refere-se ao fato de que os

direitos processuais passam a ser obrigatoriamente invocáveis, deixando o processo de ser inquisitorial para

tornar-se contraditório, assegurando ao adolescente o direito à presunção da inocência e à ampla defesa,

inclusive com recurso à superior instância (SILVA, 2008).

É certo que a ideologia que norteia o ECA assenta-se no princípio da prioridade absoluta, ou seja, todas as

crianças e adolescentes, sem distinção, desfrutam dos mesmos direitos e obrigações compatíveis com sua

peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, rompendo no âmbito legal com a doutrina da situação

irregular até então admitida no Código de Menores. Entretanto, também é certo que a realidade que envolve

o adolescente autor de ato infracional continua impregnada de “velhas necessidades do sistema”, que

acabam por reforçar e manter, ainda que implicitamente, aspectos da doutrina da situação irregular,

tornando-a presente até os dias atuais (SALES, 2007).

Entretanto, as práticas sociais que definem o encaminhamento dos adolescentes para as instituições nem

sempre seguem o preceito normativo. Concepções higienistas, que em muito se assemelham com o ideal da

sociedade disciplinar existente no final do século XIX e até boa parte do XX, ainda permanecem nas práticas

institucionais socioeducativas de semiliberdade (FUCHS, 2004).

Assim, é através do Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA que o atendimento ao adolescente, com idade

de 12 a 18 anos, a quem é atribuído à autoria de ato infracional, fica contemplado como medida

socioeducativa com enfoque pedagógico priorizando a socialização e a responsabilização do adolescente,

sendo previstas as seguintes medidas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à

comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade, internação em estabelecimento

educacional e as medidas de proteção previstas no artigo 101, I a VI:

I. Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II. Orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III. Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV. Inclusão em programa comunitários ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;

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V. Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VI. Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e tratamento a alcoólatras e

toxicômanos;

VII. Acolhimento institucional;

VIII. Inclusão em Programa de Acolhimento Familiar;

IX. Colocação em família substituta.

O Estatuto definiu que a medida aplicada deverá levar em conta a capacidade do adolescente de cumpri-la e

as circunstâncias e gravidade da infração (Art. 112, § 1º). Determina, ainda, o tratamento individual e

especializado para portadores de doença ou deficiência mental. Garante também que, para aplicação das

medidas socioeducativas, deverá haver a existência de provas suficientes da autoria e materialidade da

infração, exceto nos casos de remissão. Quando, o adolescente, internado provisoriamente o prazo máximo

será de 45 dias para conclusão do procedimento.

Art. 127 – A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas prevista na lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação. (BRASIL, 2000, p. 46)

A finalidade das medidas socioeducativas apresentadas no Estatuto é a determinação pelas necessidades

pedagógicas, ou seja, as medidas devem ter o objetivo de educar o adolescente, e a proteção do restante da

sociedade passa a ser um efeito secundário (VERONESE, 2001). O reconhecimento do caráter pedagógico das

medidas socioeducativas é fundamental para que se rompa o paradigma tutelar que por muito tempo foi

presente no sistema sócio – educativo. As medidas socioeducativas devem ser aplicadas visando à

responsabilidade do adolescente perante o ato infracional cometido, ou seja, preocupando-se para não cair

na armadilha da velha doutrina de situação irregular.

No entanto, ainda se verifica, em que pese os avanços do ECA, a utilização de práticas sociais que oscilam

entre o tutelar e o punitivo. Na contra tendência a estas práticas destaca-se a recente e importante

contribuição do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), fruto de uma construção coletiva

que envolveu diversas áreas do governo, sociedade e profissionais interessados no tema.

A implementação do SINASE objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Persegue, ainda, a ideia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturado, principalmente, em bases éticas e pedagógicas. (SINASE, 2006, p.15)

Sendo importante destacar que apesar de todo esse aparato legislativo, os técnicos deste sistema devem

estar aptos para operacioná-lo, ou seja, devem considerar a constituição social do sujeito na adolescência,

pois pouco a pouco esse sujeito vai construindo sua bagagem histórica.

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Portanto, a atenção ao adolescente que tenha praticado ato infracional deve considerar nas respostas das

políticas públicas e da intervenção técnica neste campo a realidade em está inserido o adolescente, pois no

seu espaço de relação social, o adolescente assimila regras, passa a respeitar normas e torna-se identificado

com leis que podem estar relacionadas ao seu grupo, seu processo de interrelação social, mas muitas vezes,

não compatíveis com as leis do Estado, enquanto instituição formadora de normas. Através das relações

estabelecidas, o ser humano busca constantemente a sua aceitação, o seu reconhecimento, visa conquistar a

ascensão diante da sua sociedade. Isso ocorre devido à sua necessidade de adaptação e crescimento junto ao

seu ambiente. (VERONESE, 2001, P. 86)

E quando colocamos em questão o adolescente como pessoa em desenvolvimento, que praticou um ato

infracional, esses aspectos nem sempre têm visibilidade e devem ser desvelados e considerados, pois, o

adolescente de alguma maneira busca a aceitação, o reconhecimento perante a sociedade para viabilizar o

seu acesso ao poder e a valorização de sua identidade.

Já segundo Saraiva (2002a), do ponto de vista das garantias penais, processuais e de execução do sistema da

justiça da infância e juventude para jovens autores de atos infracionais, houve mudança na condição de

“objeto do processo”, como eram tratados no regime anterior, para o status de sujeitos do processo. E conclui

que o ECA prevê medidas socioeducativas e estas têm natureza sancionatória, mas com conteúdo

predominantemente pedagógico, e oferece uma gama de alternativas de responsabilização, entre os quais a

mais grave prevê internação sem atividades externas.

Entre esses avanços no trato da questão infracional estão às garantias individuais (artigos 106, 107, 108 e 109

do ECA), as garantias processuais (artigos 110 e 111 do ECA) e a ordenação das medidas socioeducativas

aplicáveis aos adolescentes que comprovadamente (por meio de processo legal) forem autores de ato

infracional.

Entretanto, importante registrar que ao contrário do que se acreditava o Código de Menores e sua doutrina

da situação irregular não foram imediatamente substituídos pelo novo paradigma instituído com o ECA. A

atual política de atendimento (e as práticas institucionais decorrentes desta) ao adolescente em conflito com

a lei no Brasil carregam como herança a concepção doutrinária e, consequentemente, a materialização da

política, programas e serviços e, sobretudo, a manutenção de antigas práticas institucionais do atendimento

socioeducativo que ferem, em muito, os direitos civis, sociais, e, sobretudo, os direitos humanos dos

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa (FUCHS, 2004).

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Referências:

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília: Secretaria

de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente, 2002.

BRASIL. Secretaria Especial de Direitos Humanos. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).

Brasília: CONANDA, 2006a.

FUCHS, Andréa Márcia S. Lohmeyer. Entre o direito legal e o direito real: o desafio da efetivação da cidadania

do adolescente autor de ato infracional: a experiência da medida socioeducativa de semiliberdade. 2004.

Dissertação (Mestrado em Política Social) – Universidade de Brasília, Departamento de Serviço Social, Brasília.

SALES, Mione Apolinário. (in)visibilidade perversa: adolescentes infratores como metáfora da violência. São

Paulo: Cortez, 2006.

SARAIVA, João Batista Costa, Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção integral: uma

abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

SARAIVA, João Batista. Desconstruindo o mito da impunidade: um ensaio de direito (penal) juvenil. Brasília:

CEDEDICA, 2002b.

SARAIVA, João Batista; VOLPI, Mário. Os adolescentes e a lei: para entender o direito dos adolescentes, a

prática de atos infracionais e sua responsabilização. Brasília: ILANUD, 1998.

SILVA, Maria Liduina de Oliveira e, O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Menores:

descontinuidades e continuidades. In: Revista Serviço Social e Sociedade, n° 83, 2005, São Paulo, Editora

Cortez. P. 30 – 48

TEJADAS, Silva da Silva. Juventude e Ato Infracional: as múltiplas determinações da reincidência. Dissertação

(Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Serviço Social, PUCRS, Porto Alegre, 2005.

VERONESE, Josiane Rose Petry. Infância e adolescência, o conflito com a lei: algumas discussões.

Florianópolis: Fundação Boiteux, 2001.